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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ RODRIGO MISLERI FERNANDES A EFICÁCIA DA SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA NO BRASIL Tijucas 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

RODRIGO MISLERI FERNANDES

A EFICÁCIA DA SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA NO BRASIL

Tijucas 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

RODRIGO MISLERI FERNANDES

A EFICÁCIA DA SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA NO BRASIL

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção de título de Bacharel em Direito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Tijucas.

Orientador: Prof. Edemir Aguiar.

Tijucas 2007

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RODRIGO MISLERI FERNANDES

A EFICÁCIA DA SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA NO BRASIL

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel

em Direito e aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí,

Centro de Educação de Tijucas.

Área de Concentração: Direito Privado.

Tijucas, 30 de Novembro de 2007.

Prof. Esp. Edemir Aguiar

UNIVALI - CE de Tijucas

Orientador

Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas

UNIVALI - CE de Tijucas

Membro

Prof. Esp. Renato Samir de Mello.

UNIVALI - CE de Tijucas Membro

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Tijucas, 30 de novembro de 2007.

_________________________ Rodrigo Misleri Fernandes

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“Aos meus pais, que de forma irrestrita me deram total

apoio em tudo que aspirei alcançar, com palavras de

incentivo e de críticas construtivas quando se fez

necessário, á minha namorada por todo seu amor, aos

meus amigos por acreditarem em mim”.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor orientador Prof. Edemir Aguiar, pelo empenho máximo para a

realização deste trabalho.

Ao coordenador do Curso de Direito de Tijucas, Celso Leal da Veiga Júnior

que sempre esteve acessível e aberto às reclamações e sugestões dos acadêmicos.

Ao Professor Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica, Marcos Alberto

Carvalho de Freitas pela compreensão e por todo apoio prestado durante a

realização deste trabalho.

A Leila e demais funcionários da UNIVALI que de alguma forma,

influenciaram positivamente minha jornada.

A esta cidade de Tijucas e seu povo que me acolheram desde meu ingresso

neste curso.

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“O homem está sempre disposto a negar tudo aquilo que não compreende”.

(Pascal)

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LISTA DE ABREVIATURAS

a.C. Antes de Cristo

Apud citado por

Cap. Capítulo

Caput Cabeça

CF/88 Constituição Federal de 88

CPC Código Processo Civil

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

d. C. depois de Cristo

ed. Edição

Ex.: Exemplo

p. Página

s.d. sem data

Séc. Século

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

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ROL DE CATEGORIAS

Arbitragem: A arbitragem é a instituição pela qual um terceiro resolve o litígio que

opõem duas ou mais partes, exercendo a missão jurisdicional que lhe é conferida

pelas partes.

Árbitro: O árbitro é quem irá julgar a questão submetida à arbitragem, ficando na

posição do juiz.

Sentença Arbitral: é a decisão fundamentada do árbitro, visando decidir o conflito

que lhe foi proposto.

Sentença Arbitral Estrangeira: é a decisão fundamentada do árbitro, visando

decidir o conflito que lhe foi proposto quando as partes são estrangeiras.

Clausula Compromissória: é o acordo das partes pelo qual, voluntária e

antecipadamente, se obrigam a solucionar as divergências decorrente de relação

jurídica havida entre elas por meio de juízo arbitral.

Compromisso Arbitral: é a convenção através da qual as partes submetem uma

determinada controvérsia á solução pela arbitragem.

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SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................... 11

ABSTRACT........................................................................................................... 12

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 13

2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA ARBITRAGEM................................................. 16

2.1 HISTÓRIA INTERNACIONAL.......................................................................... 16

2.2 HISTÓRIA NACIONAL..................................................................................... 22

2.3 PRINCÍPIOS INFORMADORES DO INSTITUTO........................................... 25

2.3.1 Princípio da Autonomia da Vontade............................................................. 26

2.3.2 Princípio da Garantia Processual................................................................. 27

2.3.3 Princípio do Contraditório e Igualdade das Partes....................................... 29

2.3.4 Princípio do Livre Convencimento................................................................ 30

2.3.5 Princípio da Imparcialidade do Julgador....................................................... 31

2.3.6 Princípio da Obrigatoriedade da Sentença................................................... 32

3 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A ARBITRAGEM........................................ 35

3.1 CONCEITO DE ARBITRAGEM....................................................................... 35

3.2 MODALIDADES DE ARBITRAGEM................................................................ 37

3.3 NATUREZA JURÍDICA.................................................................................... 38

3.3.1 Teoria Jurisdicional....................................................................................... 39

3.3.2 Teoria Contratual.......................................................................................... 41

3.3.3 Teoria Híbrida............................................................................................... 42

3.4 OBJETO........................................................................................................... 44

3.5 DO PROCEDIMENTO ARBITRAL E SUAS DISPOSIÇÕES GERAIS............ 45

3.5.1 Disposições Gerais do Procedimento Arbitral.............................................. 45

3.5.2 Da Convenção e Seus Efeitos...................................................................... 46

3.5.2.1 Da cláusula compromissória...................................................................... 47

3.5.2.2 Do Compromisso Arbitral........................................................................... 49

3.5.3 Dos Árbitros.................................................................................................. 52

4 OS EFEITOS DA SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA NO BRASIL...... 54

4.1 DA SENTENÇA ARBITRAL............................................................................. 54

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4.2 DA NULIDADE DA SENTENÇA ARBITRAL.................................................... 58

4.3 DOS EFEITOS DA SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA NO BRASIL..... 59

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 69

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 71

ANEXOS................................................................................................................ 75

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a utilização da Arbitragem

como método para solução de conflitos. A arbitragem é um método extrajudicial para

a solução de litígios, no qual as partes litigantes escolhem um ou mais árbitros a fim

de solucionar o conflito. Surge como uma alternativa há muito utilizada pelos países

desenvolvidos, porém pouco praticada no Brasil devido à cultura jurisdicional do

país, onde foi regulamentada pela Lei nº 9.307/96. A Arbitragem traz inúmeras

vantagens a solução de litígios comparativamente aos tribunais judiciais,

especialmente em função da prevalência da autonomia da vontade das partes, da

rapidez, da maior especialização do árbitro nas questões levadas à sua apreciação,

do menor custo e também da possibilidade de ser mantido o sigilo da questão em

debate.

Palavras-chave: Arbitragem, Sentença Arbitral, Conflito.

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ABSTRACT

The present work has as objective to demonstrate the use of the arbitration as

method for solution of conflicts. The arbitration is an extrajudicial method for solution

of litigation, in which the litigant parts choose one or more arbitrators in order to solve

the conflict. It appears as an alternative has very used for the developed countries,

however little practiced in Brazil, where it was regulated by the Law in the 9.307/96,

due to jurisdicional culture of the country. The arbitration comparatively brings

innumerable advantages to the solution of litigations to the courts judicial, especially

in specialization of the arbitrator in the questions taken to its appreciation, of the

lesser cost and also of the possibility of being kept the secrecy of the question in

debate.

Key-words: Arbitration, arbitration sentenced, conflict.

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1 INTRODUÇÃO

Constitui objeto desse trabalho o estudo do Instituto da Arbitragem e

examinar os efeitos da Sentença Arbitral Estrangeira no Brasil. Dentre os diversos

dispositivos voltados à tutela arbitral, esta pesquisa concentra-se em analisar a

Sentença Arbitral à luz da legislação vigente, destacando-se desta, a lei arbitral

9.307 de 23 de setembro de 1996.

A importância do estudo deste tema reside no fato, da insatisfação da

sociedade com a prestação jurisdicional estatal, e com a possibilidade da criação de

mecanismos alternativos para a solução de litígios.

O objetivo geral deste trabalho é demonstrar os procedimentos básicos da

arbitragem como forma de solução para os litígios.

O objetivo institucional da presente Monografia é a obtenção do Título de

Bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de

Tijucas – CE TIJUCAS/UNIVALI.

O objetivo específico, Conceituar Arbitragem e analisar os critérios de

validade da sentença arbitral.

Para o desenvolvimento objetivo da presente pesquisa foram formulados os

seguintes questionamentos:

a) Qual o objeto da relação arbitral? b) Como se reconhece a Sentença

Arbitral Estrangeira no Brasil ?

Já as hipóteses consideradas foram as seguintes:

a) O objeto dos interesses conflitantes, sobre o qual versará a relação no

juízo arbitral, deverá consistir em direito patrimonial disponível. b) A sentença arbitral

estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os

tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência,

estritamente de acordo com os termos da Lei 9.307/96.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação

foi utilizado o método dedutivo, e, o relatório dos resultados expresso na presente

monografia é composto na base lógica dedutiva, já que se parte de uma formulação

geral do problema, buscando-se posições científicas que os sustentem ou neguem,

para que, ao final, seja apontada a prevalência, ou não, das hipóteses elencadas.

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É conveniente ressaltar, enfim, que, seguindo as diretrizes metodológicas do

Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, no presente trabalho as

categorias fundamentais são grafadas, sempre, com a letra inicial maiúscula e seus

conceitos operacionais apresentados ao início do trabalho.

Ressalte-se que a estrutura metodológica e as técnicas aplicadas neste

relatório estão em conformidade com as propostas apresentadas na obra de Pasold

[Prática da pesquisa jurídica]; e no Caderno de Ensino: formação continuada. Ano 2,

número 4.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais,

nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da

estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a Arbitragem.

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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ARBITRAGEM

Analisar-se-á nesse capítulo a história do surgimento da Arbitragem no Brasil

e no Mundo, com a intenção de compreender sua origem e evolução ao longo dos

anos, culminando no instituto consagrado que analisaremos no presente trabalho.

2.1 HISTÓRIA INTERNACIONAL

A arbitragem como instituto jurídico é um dos institutos mais antigos de que

se tem notícia na história do Direito e, especificamente, surgindo em meados de

3.000 anos a.C. na Grécia antiga e em Roma (FIGUEIRA JÚNIOR, 1999, p. 32).

A história da arbitragem apresenta um rico desenvolvimento acompanhando a

história do povo judeu desde os primórdios do ano de 1500 a.C. até os tempos

modernos. O velho testamento narra como vários conflitos foram resolvidos pela

conciliação através da via arbitral, incluindo ainda no Gênesis alguns episódios de

conflitos entre pastores de rebanhos que receberam solução pacífica, através de

intervenção de terceiros (MARTINS, 2002, p. 60).

CINTRA (1999, p. 21), conceitua arbitragem como instituto de pacificação de

conflitos era conhecida muito antes do surgimento dos legisladores e do Estado

como juiz, visto não existir no princípio um Estado suficientemente forte para superar

os interesses individuais dos homens. Não existia um órgão estatal soberano para

garantir os direitos e as leis impostas a todos, devendo o interessado, com sua

própria força e na medida dela, tratar de conseguir, por si mesmo, a satisfação de

seu interesse.

MARTINS (2002, p. 70), dispõe que a arbitragem historicamente se

desenvolveu na Judéia entre os sábios, onde as questões econômicas eram

decididas por três árbitros, na qual cada parte escolhe um julgador e ambas as

partes escolhem um terceiro árbitro. A parte condenada deveria se conformar com o

resultado e cumpriria espontaneamente a decisão, pois por ele mesmo ter escolhido

um dos julgadores, este conseguiria levar a uma decisão que lhe fosse favorável se

isso fosse justo.

Muito antes do surgimento do Estado os conflitos interpessoais se resolviam

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por intermédio da autotutela, em que se aplicava a lei do mais forte. Com a

organização social o Estado passou a se impor sobre os particulares e, prescindindo

da voluntária submissão destes, impor-lhes autoritativamente a sua solução para os

conflitos de interesse (DIAS, 1995, p. 450).

Dispõe REIS (2006, p. 02), que as civilizações primitivas buscavam como

forma de resolver seus conflitos amigavelmente e de forma imparcial, recaindo-se

geralmente aos sábios e aos clérigos a responsabilidade de solucionar de tal forma

que satisfizesse as partes, originando-se a arbitragem de tais costumes.

A história revela que a arbitragem perdurou ao lado da jurisdição do Estado,

sendo utilizada nas fases da civilização como forma rápida e segura para a

resolução dos conflitos surgidos entre indivíduos ou, até mesmo, entre povos. A

divergência entre indivíduos gerados dentro e fora de grupos sociais e entre

membros de um ou outro grupo levou o homem a buscar meios para a solução

pacífica dos conflitos (MUNIZ, 2006, p. 20).

A prática aperfeiçoou esse sistema levando os indivíduos a preferir uma

solução amigável e imparcial alcançada com o auxílio de árbitros, pessoas de mútua

confiança, que teriam o encargo de resolver as questões submetidas a sua

apreciação, sendo geralmente confiada ao chefe do clã ou à pessoa mais idosa da

comunidade, que detinha sabedoria, costumes e princípios morais que

predominavam na época (BASTOS, 1999, p. 1.462).

O direito e o Estado judiciário surgiram com a finalidade de desenvolver

mecanismos para a resolução de conflitos pacificamente, mas antes destes, a

utilização de formas pacíficas para a solução de litígios entre os grupos já se fazia

presente e, a partir do surgimento do judiciário e da intervenção do Poder Político,

ora com o destaque de um ora com o destaque de outro, evoluindo e retrocedendo

de acordo com o desenvolvimento social, político, histórico, cultural e econômico da

própria sociedade (MUNIZ, 2006, p. 20).

As civilizações antigas buscavam uma forma de solucionar conflitos

amigavelmente através dos árbitros. Geralmente quem solucionava essas questões

eram os sábios ou os sacerdotes, que conheciam os costumes do grupo social da

comunidade em que pertenciam (CINTRA, 1999, p. 25).

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Superada a fase da autotutela as partes passam a socorrerem-se à intervenção de um terceiro, um árbitro por elas eleito, que imparcialmente solucionará o conflito. No começo, a arbitragem era exercida pelos sacerdotes, pois se acreditava que estes tinham ligação com os deuses . Em um segundo momento, a arbitragem foi exercida pelos anciãos que, por serem as pessoas mais antigas da comunidade, possuíam o respeito desta, que os considerava dotados da sabedoria dos ancestrais, e conhecedores de todos os costumes (MORGADO, 1998, p. 25).

As características das cidades antigas propiciaram um meio de

desenvolvimento do instituto da arbitragem, com a proliferação dos valores comuns

a todos, formando normas válidas para todas as cidades de uma pequena região.

Com o movimento de comercio alem das fronteiras, passou a arbitragem, seguindo a

expansão, a ser utilizada nas questões entre cidades, sendo aplicado o direito

comum a todas as cidades, tendo como base do compromisso arbitral os contratos e

tratados (MUNIZ, 2006, p. 22).

Explica LEMOS (2001, p. 21), como eram publicados os laudos arbitrais na

Grécia antiga, vejamos:

Entre os povos antigos a arbitragem era constituída no meio comum para

sanar os conflitos entre pessoas, merecendo destaque para a relação arbitral na

Grécia antiga, onde as soluções amigáveis faziam-se com muita freqüência por meio

de arbitragem, sendo os árbitros indicados pelas partes e o povo tomava

conhecimento do laudo arbitral gravado em plaquetas de mármore ou de metal e sua

publicidade dava-se pela afixação nos templos das cidades.

Na Grécia antiga no ano de 445 a.C, em um tratado firmado entre Esparta e

Atenas, utilizou-se à cláusula compromissória, o que evidencia a utilização e o

desenvolvimento da arbitragem por aquele povo e demonstra sua eficácia como

meio de solução pacífica dos conflitos (MORAIS, 1999, p. 287).

Apesar de sua presença entre diversos povos, seu maior desenvolvimento se deu na Grécia, considerada o berço da arbitragem e do Direito Internacional Privado. A prática da arbitragem era reflexo da própria religião grega cuja cultura trazia em sua mitologia a resolução das questões entre deuses e heróis através da presença de um terceiro chamado a intervir. A evolução do instituto acompanhou o desenvolvimento da sociedade grega, a princípio dentro da delimitação de cada cidade e, aos poucos, foi se inserindo

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e delineando sua forma nos costumes, leis e tratados firmados entre as cidades gregas (MUNIZ, 2006, p. 21).

Surgindo então na mesma época a figura do árbitro que, contrastando com a

figura do juiz estatal, decidia controvérsia de modo breve, tendo a faculdade de

julgar conforme a eqüidade enquanto o juiz julgava conforme a lei (CRETELLA

JÚNIOR, 1998, p. 129).

O árbitro possuía duas funções principais, a primeira denominada de tentativa

de conciliação, em que o julgador se empenhava em resolver o litígio

amigavelmente; e a outra, denominada de fase puramente arbitral, em que o árbitro

proferia sua decisão visto as partes não conciliarem. A decisão fundamentava-se na

convicção pessoal do árbitro e na imparcialidade, que sacramentava a sentença por

meio de juramento (CRETELLA JÚNIOR, 1998, p. 129).

Na Roma antiga, criaram-se listas de nomes de cidadãos idôneos com o

objetivo de dirimir, extrajudicialmente, questões resultantes de negociações

comerciais, sendo cumprido pelo Estado a execução da sentença caso o vencido

não a acatasse (GARCEZ, 1997, p. 35).

A evolução da arbitragem como forma de solução de conflitos aparece em quatro etapas: a) a resolução de questões pela força individual ou do grupo, sendo que os costumes, com o passar dos tempos, foram estabelecendo as regras para distinguir a violência legítima da ilegítima; b) arbitramento facultativo, através do qual o ofendido, ao invés de usar da força e violência individual ou coletiva contra o ofensor, opta em comum acordo com a parte contrária a receber indenização e escolher um terceiro para fixa-lá; c) arbitramento obrigatório determinado pelo Estado quando os litigantes não indicavam árbitros de sua escolha para dirimir a controvérsia. O Estado passou também a assegurar a execução forçada da sentença caso o sucumbente não cumprisse espontaneamente; d) justiça pública, porque encampada pelo Estado para a solução dos conflitos, com execução forçada da sentença, se necessário (FIGUEIRA JÚNIOR, 1999, p. 32).

O direito romano previa a possibilidade de acionar a parte resistente para

fazer respeitar o convencionado, em caso de descumprimento pelo que foi pactuado,

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desde que estipulada na cláusula essa penalidade poder-se-ia executar a quantia

devida a título de pena e não de decisão (MUNIZ, 2006, p.23).

No Oriente Médio, sob a égide da legislação alcorânica as partes conflitantes

pertencentes a comunidades distintas, resolviam seus conflitos em uma espécie de

lei internacional privada que decidiria o conflito entre as normas através de um

julgamento arbitral de equidade e imparcialidade (SZKLAROWSKY, 2005, p. 05).

Os árbitros eram livres para solucionar conflitos, pois não se submetiam a

quaisquer preceitos legais ou rituais de cunho religioso, levando as autoridades

públicas a preestabelecer regras destinadas a servir de critérios, afastando os

temores do julgamento arbitrário (CANDEMIL, 2006, p. 32).

Os cidadãos em conflito compareciam perante o pretor, comprometendo-se a aceitar o que viesse a ser decidido. E esse compromisso, necessário porque a mentalidade da época repudiava ainda qualquer ingerência do Estado (ou de quem quer que fosse) nos negócios de alguém contra a vontade do interessado. Em seguida, escolhiam um árbitro de sua confiança, o qual recebia do pretor o encargo de decidir a causa. O processo civil romano desenvolvia-se, assim, em dois estágios: perante o magistrado, ou pretor, e perante o árbitro (CINTRA, 1999, p. 26).

Na idade média a arbitragem já vinha sendo difundida entre os cristãos com a

participação de forma acentuada da Igreja Católica. A influência da Igreja devia-se a

sua influência nas questões do Estado e nos tratados que lhe davam o direito de

atuarem como árbitros para resolverem litígios públicos ou particulares nas mais

variadas formas de solução de controvérsias (MUNIZ, 2006, p. 23).

Na idade média era comum a arbitragem, como meio de resolver os conflitos

entre nobres, cavaleiros, barões, proprietários feudais e, fundamentalmente, entre

comerciantes (SZKLAROWSKY, 2005, p. 03).

Ainda na idade média, a arbitragem ganha novo espaço pelas mãos dos

comerciantes, que com a expansão do mercado comercial entre os povos, não

queriam ver suas divergências resolvidas pelo ordenamento jurídico estatal, mas sim

pelos usos e costumes aplicados pelos árbitros (CANDEMIL, 2006, p.32).

As populações urbanas desejavam proceder seus próprios

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julgamentos, em seus próprios tribunais. Eram contrárias às cortes feudais vagarosas, que se destinavam a tratar dos casos de uma maneira estática, e totalmente inadequada aos novos problemas que surgiam numa cidade comercial dinâmica. Que sabia, por exemplo, um senhor feudal sobre hipotecas, letras de crédito, ou jurisprudência de negócios em geral? Absolutamente nada. As populações urbanas queriam estabelecer seus próprios tribunais, devidamente capacitados a tratar de seus problemas, em seu interesse (RAMOS, 2001, p. 30).

Nas relações comerciais, que não conhecem fronteiras, os comerciantes

passaram a utilizar a arbitragem por ser um meio mais rápido, ante a possibilidade

da aplicação dos usos e costumes comerciais, mais confiável, por ser julgado por um

terceiro escolhido pelas partes, e informal, uma vez que o árbitro não se prendia aos

procedimentos legais (GUIDO, 1990, p. 233).

A Igreja medieval valia-se da arbitragem pois seu poder fundava-se no poder

arbitral e disciplinar, evitando com isso o juízo contencioso e furtando-se das

contendas judiciais relativas aos bens eclesiásticos temporais, determinando que

sempre que a matéria exigisse, seriam obedecidas as formalidades ordenadas, por

direito, para a alienação de coisas eclesiásticas (SZKLAROWSKY, 2005, p. 04).

Há três razões para o sucesso do instituto da arbitragem na idade média, a

primeira seria a prática reiterada, até mesmo dentro da própria Igreja, onde o clero

muitas vezes era o soberano por ser grande proprietário, e pela facilidade de se

resolverem às questões dentro da comunidade; a segunda seria a aplicação de

regras nas questões territoriais nas arbitragens entre comunidades; e terceiro seria a

atomização do poder decorrente do feudalismo onde os detentores do poder

estavam ligados de forma hierarquicamente superposta e em conjunto ao rei. Para a

resolução de conflitos entre senhores feudais era utilizada a arbitragem do superior

hierárquico, o suserano que estivesse acima deles, até chegar ao maior dos

suseranos, o Rei (CANDEMIL, 2006, p. 32).

Com o surgimento do Estado Moderno e a concentração de poder dentro deste, ligada à noção de soberania, da qual decorria que a lei e a ordem seriam impostos dentro do território pelo próprio poder dominante sem intermediários ou superiores ao poder estatal vigente, a lei passa a ter um caráter territorial, com maiores restrições a sua aplicação, e passam a surgir peculiaridades que vão diferenciar a ordem jurídica de uma e de outra sociedade política,

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perdendo a lei muitas de suas características comuns. Diante desses fatos ocorre um retrocesso da arbitragem, primeiramente em relação aos Estados, posteriormente em relação aos particulares (MUNIZ, 2006, p. 24).

Com a Revolução Francesa, em 1789, a arbitragem consolidou-se em

decorrência da evolução dos Direitos do Homem e do Cidadão, tornando-se

obrigatória para a resolução de várias questões (BASTOS, 1999, p. 1.462).

A partir do final do século XVIII com a criação de organismos internacionais, a

assinatura de tratados buscando a estabilidade da Sociedade Internacional, as

grandes guerras e a idéia da necessidade do estabelecimento de mecanismos

eficientes para a resolução de conflitos e manutenção da paz, fizeram com que

reavivasse o instituto da arbitragem (MUNIZ, 2006, p. 25).

No século XX, a anuência de diversos tratados internacionais que

disciplinaram a arbitragem comercial provocou a inserção automática desse instituto

na maioria dos sistemas jurídicos nacionais (CANDEMIL, 2006, p. 33).

A partir de 1950 o interesse pela arbitragem multiplicou-se devido a maior

freqüência de contratos comerciais internacionais e da maior freqüência de cláusulas

arbitrais em tratados de comércio e navegação, em favor de particulares dos

Estados contratantes, e o aparecimento de inúmeras instituições permanentes de

arbitragem internacional (GUIDO, 1990, p. 394).

Com isso a arbitragem se estabeleceu como mecanismo capaz, eficiente e

prático para a manutenção do equilíbrio, estabilidade e desenvolvimento das

relações internas e internacionais, quer entre particulares, quer entre entes públicos,

quer entre estes e particulares (MUNIZ, 2006, p. 25).

2.2 HISTÓRIA NACIONAL

No Brasil colônia as ordenações Filipinas vigoraram até após a proclamação

da República, disciplinando a arbitragem no livro em que tratava de juizes árbitros e

dos arbitradores (SZKLAROWSKY, 2005, p. 06).

A primeira lei do Brasil colônia a regular a arbitragem no Brasil foi a

Constituição do Império de 1824, que dispunha sobre a matéria no título destinado a

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tratar do Poder Judiciário, indicando que nas ações civis e nas penais civilmente

intentadas, poderão as partes nomear juizes árbitros e suas sentenças serão

executadas sem recurso, se assim o convencionarem as partes (FIGUEIRA

JÚNIOR, 1999, p. 32).

Durante o Império, ocorreu um caso acerca de um litígio em que eram partes

o Almirante Lord Cochrane e o Brasil. A arbitragem por equidade se realizou em sete

meses, pondo fim ao litígio, enquanto que a Corte de Presas, para resolver litígio do

mesmo diapasão levou meio século para tentar a solução do conflito, sem êxito

(SZKLAROWSKY, 2005, p. 06).

Nesse quadro, a arbitragem sofria retratações derivadas de normas dos

Estados que faziam restrições ao seu uso, principalmente com o cerceamento da

autonomia da vontade em relação ao processo, sendo previamente declarado em

quais casos poderia ser utilizada. Mesmo com esses impropérios esse instituto

persistiu entre particulares por suas características de rapidez, facilidade e baixo

custo (MUNIZ, 2006, p. 24).

Já no regulamento n° 737 de 1850, relacionavam-se diversos temas que

deveriam ser solucionados através de decisões arbitrais, inclusive enumerando

alguns assuntos a serem resolvidos obrigatoriamente pela arbitragem, como era o

caso das relações comerciais e de todas as questões resultantes de contrato de

locação mercantil (FIGUEIRA JÚNIOR, 1999, p. 33).

O Código Comercial de 1850 prevê a arbitragem para as questões sociais

entre sócios, durante a existência da sociedade, ou da companhia, sua liquidação ou

partilha e todas as questões concernentes a contratos de locação mercantil

(SZKLAROWSKY, 2005, p. 06).

A Constituição do Império de 1824 previa a possibilidade da solução de

conflitos pelo juízo arbitral, independentemente de recurso ao judiciário, sendo que

em 1850 a legislação vigente passou a prever a arbitragem para dirimir pendências

entre sócios de empresas e em 1916 para solucionar dissídios judiciais ou

extrajudiciais, pendentes de homologação (REIS, 2006, p. 01).

Com o advento da república, o instituto da arbitragem contemplou algumas

variações (não era mais obrigatório), passando a ser disciplinado pelo Código Civil

de 1916, hoje revogado pela lei nº 10.406/2002, sendo que nunca se instaurou o

hábito de utilização desse instituto para resolução de inúmeros conflitos existentes,

podendo, como em tantos outros países, ajudar a dar celeridade ao judiciário e

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ensejar a paz social dos litígios diante da rapidez e economia com que as demandas

são solucionadas (FIGUEIRA JÚNIOR, 1999, p. 39).

O Código Civil, de 1916, dispunha, nos artigos 1037 a 1048, sobre o compromisso e a solução das pendências judiciais e extrajudiciais, mediante a indicação de árbitros, juízes de fato e de direito, não estando seu julgamento sujeito à alçada ou recurso, salvo se pactuado pelas partes . O artigo 1037 era bastante claro e autorizava as pessoas capazes de contratar louvar-se em árbitros, mediante compromisso escrito, com o objetivo de resolver os conflitos judiciais e extrajudiciais (SZKLAROWSKY, 2005, p. 06).

A arbitragem no Brasil encontrava-se em desuso e a lei n° 9.307/96 resgatou

de nossas instituições jurídicas o acordo de vontades por meio do qual as partes,

preferindo não se submeter ao Poder Judiciário, confiam aos árbitros a solução de

seus conflitos (REIS, 2006, p. 02).

A lei n° 9.307/96 regulamentou a situação da arbitragem, resgatando esse

instituto que se encontrava como letra morta no ordenamento jurídico brasileiro,

tornando-o mais célere, prático e eficaz, contribuindo para seu desenvolvimento

como instituto e reduzindo a participação do Poder Judiciário no processo arbitral,

suprimindo a homologação da decisão proferida pelo árbitro e corrigindo seus

principais pontos de enfraquecimento e desuso (MORAIS, 1999, p. 16).

Lei n° 9.307/96. Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo.

É evidente que a lei n° 9.307/96 constitui uma verdadeira revolução cultural

nos meios jurídicos brasileiros, abrindo novas possibilidades para a solução de

conflitos de interesses tanto internos, quanto externos, eliminando os empecilhos

existentes anteriores a essa lei (MARTINS, 2002, p. 146).

A arbitragem com o advento da lei n° 9.307/96, tornou-se uma instância

jurisdicional em função de regime contratualmente estabelecido para dirimir

controvérsias entre pessoas de direito privado e público, com procedimento próprio e

força executória perante os tribunais de cada Estado (REIS, 2006, p. 02).

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2.3 PRINCÍPIOS INFORMADORES DO INSTITUTO

Verifica-se que em todas as decisões advindas do Poder Judiciário ou pelo

árbitro ou Tribunal Arbitral, exige-se que não haja nenhum vicio passível de nulidade

ou anulação, devendo-se ser respeitados os Princípios gerais de Direito, as normas

legais e os bons costumes (MARTINS, 2002, p. 33).

2.3.1 Princípio da Autonomia da Vontade

Esse princípio expõe que a liberdade individual é garantida pelos direitos

políticos e civis. Sendo que o mais importante desse princípio é de dar regras ou

normas aos seus próprios atos, ou seja, o indivíduo pode criar e extinguir direitos de

acordo com sua vontade, salvo os indisponíveis (MUNIZ, 2006, p. 97).

A autonomia dá ao indivíduo o poder de criar o direito, funcionando como uma

espécie de delegação de poderes, essa delegação investe o indivíduo de

capacidade para fazer normas, através do contrato, de acordo com sua vontade, que

melhor se adaptem às suas necessidades, sendo a suprema lei para as partes a

vontade da qual decorre o contrato que tem o poder de dizer o direito válido entre

elas, incluindo tal poder a faculdade de realizar a ordem jurídica, pondo em

movimento a força do Estado para coagir a vontade resistente, restrita somente pela

capacidade, moral e interesse coletivo (MUNIZ, 2006, p. 67).

A vontade das partes não pode ultrapassar os limites determinados em lei, ou

seja, essa liberdade não é tão exaltada ou ilimitada, sofrendo restrições quanto à

ordem pública e aos bons costumes. A liberdade existe mas não pode ser utilizada

para ferir a lei, não podendo as partes, a exemplo, alterar elementos essenciais do

contrato, nem tornar capaz um incapaz, assim como só podem ser solucionados

através da arbitragem os direitos disponíveis (DINIZ, 2002, p. 27).

Com tais limitações a lei busca garantir o equilíbrio entre as partes, fazendo

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com que o aspecto conjuntural1 da contratação possa ser suprido (GOMES, 1978, p.

258).

O princípio da Autonomia da vontade das partes se manifesta na arbitragem

pela liberalidade que tem o indivíduo de extinguir o litígio surgido, por ato de sua

própria vontade, dentro dos casos permitidos e dos limites estabelecidos pela lei. A

aplicação do princípio inclui a liberdade de escolher as diversas leis para reger o

contrato, inserir cláusulas, excluir ou afastar qualquer direito nacional e escolher as

normas aplicáveis (MUNIZ, 2006, p. 69).

Para que se possa ter uma idéia da arbitragem, segundo o Direito interno e internacional, é necessário esclarecer, desde logo, as disposições fundamentais do Direito comum e do Direito Internacional Privado. Em matéria de contratos, e o compromisso é um deles, as obrigações são reguladas pelas leis do país em que se constituírem. Consagra-se em toda a extensão o princípio da autonomia da vontade limitando no que mais importa pelos bons costumes, pelas disposições consideradas de ordem pública. O princípio da autonomia da vontade tem, aliás, categoria constitucional pois ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (SILVA, 1988, p. 16).

A lei de arbitragem privilegiou a autonomia da vontade tanto no campo

material quanto processual, manifestando-se na possibilidade de as partes criarem

normas processuais específicas, reportar-se às normas de um órgão arbitral

institucional, adotarem as normas de um Código de Processo Civil Estrangeiro,

terem a liberdade de escolher o direito material aplicável à solução da controvérsia,

optarem pela eqüidade e pelos princípios gerais do direito, bem como aos usos e

costumes.

Verificar-se-á que o instituto da arbitragem no Brasil tem aplicação plena do

princípio da autonomia da vontade, desde a sua instituição2 até sua auto-

regulamentação3, sofrendo algumas limitações que visam garantir a validade e

executoriedade da sentença arbitral no território brasileiro, quer seja ela nacional, 1 Aspecto Conjuntural: Refere-se à situação em que se encontram as partes no momento da negociação. São elas: Liberdade de contratar ou não contratar; Liberdade de negociar livremente sem se submeter à imposição de outra parte; Liberdade para concluir contratos atípicos; Liberdade de modificar o esquema legal derrogando artigos de lei, que não sejam normas imperativas (GOMES, 1978, p. 258). 2 Liberdade de escolha, meio de solução de conflitos. 3 Lei aplicável ao litígio, uso da eqüidade, número de árbitros.

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quer internacional (MUNIZ, 2006, p. 72).

2.3.2 Princípio da Garantia Processual

Esse princípio zela para que através do processo sejam atingidos a justiça e o

direito, sendo necessário para que isso ocorra se estabeleçam instrumentos de

garantia para seu desenvolvimento. Cabe mencionar que o sistema constitucional de

garantias do próprio processo, o torna instrumento de justiça e efetivação de direitos.

Se não se der ao processo garantias e ao Judiciário poderes, sua atuação será

inócua ou impossível. Para tal, nosso ordenamento jurídico prevê como instrumento

de tutela um conjunto de normas relativas ao processo, de modo a lhe propiciar

segurança e efetividade (GRECO FILHO, 1997, p. 34).

O devido processo legal é o princípio fundamental do processo civil, servindo

de base de sustentação a todos os demais princípios. Seria a possibilidade efetiva

de a parte ter acesso à justiça, deduzindo pretensão e defendendo-se do modo mais

amplo possível (NERY JR, 1992, p. 25).

As partes ao estabelecerem as normas procedimentais que regerão o juízo

arbitral, não podem violar os princípios de ordem pública que garantem o processo.

Seu caráter jurisdicional requer a aplicação dos princípios jurídicos informadores do

processo civil ao procedimento arbitral, quer nas arbitragens internas, quer nas

internacionais (MUNIZ, 2006, p. 73).

No processo arbitral, mais do que a garantia de solução da lide, é essencial que a atuação do árbitro se dê com a observância das garantias processuais estabelecidas na Constituição, com o reconhecimento e a estipulação do direito ao devido processo legal, assegurando-se a tutela efetiva. Não basta a simples afirmação de que no processo arbitral se garantirá a resolução da questão litigiosa, seja por eqüidade ou de Direito, senão que é preciso, ademais, conectar a atividade de garantia que se leva a cabo mediante a atividade do árbitro com o sistema das garantias processuais que se encontravam estabelecidas na própria Constituição (LEMOS, 1992, p. 72).

A nova lei prestigiou os princípios básicos do devido processo legal, devendo

as partes estabelecer normas procedimentais próprias ou ficará a cargo das

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instituições de arbitragens faze-lo, porém em qualquer dos casos, devem ser

atendidos os princípios da garantia processual4, acarretando a nulidade da decisão

proferida se não forem respeitados esses princípios (CARMONA, 1993, p. 53).

Não há tutela efetiva que possibilite a realização do direito e da justiça, sem o

devido processo com as garantias decorrentes, assegurando a igualdade das partes,

o contraditório e a ampla defesa. Não é suficiente que sejam seguidas as normas

processuais, é necessário que haja igualdade entre as partes, a mesma

possibilidade de defesa, liberdade para o julgador e imparcialidade para que possa

não só decidir, mas dizer o direito que melhor se aplica à questão (MUNIZ, 2006, p.

74).

Há dois lados a serem analisados, no primeiro cabe ao árbitro o dever de

respeitar as partes e garantir-lhes a mesma posição, dando-lhes a mesma

oportunidade para apresentar defesa e manifestarem, devendo ser imparcial em

relação a elas; no segundo momento, o árbitro tem direito à liberdade de formar seu

raciocínio, que o levará a julgar da melhor forma, não podendo as partes impor

quaisquer regras ou pressões, que retirem do julgador essa liberdade, é seu poder

formar livremente sua decisão (MARTINS, 2002, p. 46).

Para que o procedimento arbitral seja válido e eficaz devem as partes, no desenvolvimento da relação processual, respeitar e garantir o devido processo legal para se chegar à tutela jurídica efetiva. E, para tal, é necessário que prevaleçam os princípios da garantia processual, cujo desrespeito ocasiona a nulidade da sentença arbitral (MUNIZ, 2006, p. 75).

2.3.3 Princípio do Contraditório e Igualdade das Partes

Os princípios do contraditório e da igualdade das partes são equivalentes

entre si, se manifestando no procedimento arbitral. O contraditório pressupõe a

igualdade das partes e, se são iguais, exige que sejam dadas oportunidades iguais a

ambas as partes, devendo receber do árbitro tratamento idêntico entre si (MUNIZ,

2006, p. 75).

O contraditório é por si só a própria defesa, pois todo ato produzido caberá

igual direito da outra parte opor-lhe ou de dar-lhe a versão que lhe convenha, ou de 4 Princípio do contraditório, igualdade das partes, imparcialidade do árbitro e livre convencimento.

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fornecer uma interpretação jurídica diversa daquela feita pelo autor (BASTOS, 1999,

p. 46).

Toda oportunidade concedida a uma das partes deve ser estendida a outra,

para se manifestar, para apresentar suas razões ou para produzir provas, da

maneira que melhor o convir, propiciando aos litigantes as mesmas possibilidades

de influir na formação do convencimento do julgador (MUNIZ, 2006, p. 76).

No procedimento arbitral da mesma forma que ocorre no procedimento

judiciário, existe um tripé processual, onde na base estão as partes e no topo está o

árbitro solucionador de conflitos, que conduzirá o procedimento de forma que a cada

pronunciamento, sejam concedidas as partes a oportunidade de manifestar-se

(MUNIZ, 2006, p. 76).

O processo civil se desenvolve em atos de ataques e defesas, mas também de ataques e contra ataques, donde resultará imperioso o tratamento paritário das partes, a fim de que elas possam, em igualdade de condições, exercer seus direitos e cumprir seus deveres processuais. O juiz está eqüidistante das partes e pelo dever de imparcialidade no julgamento, ao ouvir uma, não deve deixar de ouvir a outra, não podendo decidir sobre uma pretensão, se não der oportunidade à outra, contra que é proposta. É o direito de defesa, tem que ser oferecida a oportunidade ainda que a outra parte não queira dela se utilizar. Imprescindível é a oportunidade para defender-se. Oferecida essa oportunidade, respeitando quando se dá a todas as partes a possibilidade de defender-se; que o façam, efetivamente, que compareçam a juízo e ofereçam as suas razões, ou permaneçam inativas, ou mesmo sejam contumazes, depende de sua livre determinação (SANTOS apud MUNIZ, 2006, p.76).

Os dois elementos que fundamentam esse princípio são a informação e a

possibilidade de defesa, não sendo necessário que a parte contrária se defenda,

basta que lhe seja oferecida a oportunidade e que seja comunicada para tomar as

providências que forem cabíveis e que achar serem necessárias. Se a parte não se

manifestar, depois de corrido o prazo e ela tiver sido cientificada de sua

necessidade, considerar-se-á que foram dadas iguais oportunidades para ambos

(NERY JR. 1992, p. 122).

Para decidir no procedimento arbitral, deve o arbitro ouvir ambas as partes,

averiguando suas pretensões e proporcionando as mesmas possibilidades de

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manifestação em relação às provas e documentos apresentados. Por conseguinte,

não é imperativo que haja o contraditório, mas que seja dada a oportunidade para tal

(MUNIZ, 2006, p. 77).

2.3.4 Princípio do Livre Convencimento

Esse princípio refere-se à liberdade de apreciação e avaliação das provas

existentes nos autos para decidir a causa. O árbitro deve formar sua convicção

baseada nas provas produzidas no procedimento, tendo a liberdade para valora-las

de acordo com seu entendimento. Essa liberdade não pressupõe arbítrio, devendo o

julgador analisar todas as provas e fatos como lhe vieram, não cabendo a esse se

desfazer das provas trazidas a sua presença (CINTRA, 1999, p. 55).

Ao árbitro é dado o poder de formar livremente sua decisão, contudo, na

formação de sua convicção, deve se manter e ficar condicionado às questões nas

quais se funda controvérsia, à apreciação dos fatos apresentados e das provas

trazidas ao seu conhecimento, bem como dos argumentos expendidos e demais

atos que julgar oportunos, podendo pesa-los com sua experiência e todo seu

raciocínio na formação da decisão (MUNIZ, 2006, p. 78).

O Brasil também adota o princípio do livre convencimento: o juiz não desvinculado da prova e dos elementos existentes nos autos, mas a sua apreciação não depende de critérios legais determinados a princípio. O juiz só decide com base nos elementos existentes no processo, mas os avalia segundo critérios críticos e racionais. Essa liberdade de convicção, porém, não equivale à sua formação arbitrária: o convencimento deve ser motivado, não podendo o juiz desprezar as regras legais porventura existentes e as máximas de experiência (CINTRA, 1999, p. 68).

O árbitro deve formar seu conhecimento dentro do que lhe é trazido, devendo

expor as razões que o levaram a decidir, sendo através da exposição de sua

motivação que o julgador vai demonstrar seu raciocínio e sua imparcialidade na

analise da questão (MUNIZ, 2006, p. 78).

2.3.5 Princípio da Imparcialidade do Julgador

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Esse princípio é um dos requisitos essenciais para que se possa conduzir o

procedimento arbitral, dando igual tratamento às partes e decidir de acordo com a

justiça das informações contidas nos autos. O árbitro, como autoridade julgadora,

não pode deixar de se colocar em absoluta isenção em relação a qualquer dos

interesses ou partes envolvidos na questão a ser por ele decidida (MUNIZ, 2006, p.

79).

O caráter de imparcialidade é inseparável do órgão da jurisdição pois o juiz coloca-se entre as partes e acima delas: esta é a primeira condição para que possa exercer sua função dentro do processo. A imparcialidade do juiz é pressuposto para que a relação processual se instaure validamente. É nesse sentido que se diz que o órgão jurisdicional deve ser subjetivamente capaz. A imparcialidade do juiz é uma garantia de justiça para as partes. Como só a jurisdição subtraída as influências estranhas podem configurar a justiça que dê a cada um o que é seu e somente através da garantia de um juiz imparcial o processo pode representar um instrumento não apenas técnico, mas ético também, para a solução dos conflitos interindividuais com justiça (CINTRA, 1999, p. 53).

O princípio da imparcialidade do julgador é um princípio técnico e ético. É

técnico pois vai dar ao procedimento arbitral a possibilidade de através do devido

processo, chegar à tutela jurídica, conseguindo propiciar um julgamento justo, dando

a cada um o que é seu por direito. E sua condição ética pauta a atuação do julgador

em relação à sua independência, competência, diligência e discrição, trazendo os

casos de suspeição e impedimento do julgador (GRECO FILHO, 1997, p. 233).

Por ser a arbitragem instituto de solução privada, com uma pequena

interferência do Judiciário, onde a confiança exerce influência preponderante, é

fundamental que as suas regras assegurem às partes envolvidas todas as garantias

necessárias à imparcialidade do procedimento (MARTINS, 2002, p. 42).

Esse princípio procurou impor aos árbitros deveres e responsabilidades, de

modo a prevenir deslizes na conduta do rito arbitral e resguardar a possibilidade de

sanção do árbitro faltoso ( MARTINS, 2002, p. 43).

A imparcialidade é pressuposto de validade do julgamento e do próprio juízo

arbitral, baseando-se em que o árbitro deve se posicionar em posição eqüidistante

mas sem perder o contato entre as partes e também sem pender para nenhum dos

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lados (MUNIZ, 2006, p. 80).

2.3.6 Princípio da Obrigatoriedade da Sentença

Para a arbitragem atingir sua finalidade, não basta estabelecer normas

garantidoras do procedimento no intuito de chegar a uma solução justa, sendo

necessário que se assegure seu acatamento e obrigatoriedade, o que somente é

possível se não mais houver a possibilidade de discussão de suas decisões,

incorporando-se o decidido ao patrimônio das partes. Sem esse caráter, a

estabilidade e segurança na utilização do instituto da arbitragem estariam

comprometidos, servindo como meio protelatório e um empecilho a sua aplicação,

vez que retiraria uma de suas principais vantagens, que é a de ser célere na

resolução de conflitos (MUNIZ, 2006, p. 81).

Essa característica da arbitragem, que confere segurança às relações

desenvolvidas e acolhidas pela sentença e torna obrigatório seu acatamento pelas

partes envolvidas é a imutabilidade da decisão. A atividade Jurisdicional possui

como característica a imutabilidade das decisões que produz, dada a força de coisa

julgada de que reveste, uma vez esgotados os recursos cabíveis (BASTOS, 1996, p.

141).

A característica de imutabilidade, própria da jurisdicionalidade, impossibilita a revisão ou modificação da sentença arbitral por outro órgão jurisdicional, pelo legislador ou, até mesmo de vir a ser rediscutido pelas partes. As normas processuais, quando estruturam o desenvolvimento da atividade das partes e do juiz, devem atender bens jurídicos nem sempre conciliáveis. De um lado, deve ser estabelecido sistema processual que garanta a efetivação do direito e da justiça da forma mais perfeita possível; de outro, deve ser garantida a estabilidade das relações jurídicas, a fim de que não se instaure a insegurança, terrivelmente prejudicial à convivência social (GRECO FILHO, 1997, p. 53).

Após serem esgotados todos os recursos, a decisão judicial torna-se imutável,

tornando-se coisa julgada, não podendo mais ser alterada. Uma vez proferida a

sentença e não mais cabendo recurso, a decisão torna-se inalterável, não podendo

ser objeto de nova discussão, ainda que lei nova traga tratamento diverso ou que a

decisão tenha sido contraria ao direito (GRECO FILHO, 1997, p. 55).

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A sentença arbitral tem a mesma força da sentença do Poder Judiciário,

constituindo-se, inclusive, em título executivo judicial, sem necessidade de

homologação. Não cabem as partes se opor ao seu cumprimento, pois a autoridade

da sentença arbitral é outorgada pela lei e é independente da vontade dos litigantes

ou do juiz que não podem se furtar ao seu cumprimento ou alterar-lhe a força e

eficácia (MUNIZ, 2006, p. 83).

Pelo laudo arbitral o juiz não togado escolhido pelas partes decide toda a controvérsia formada entre elas, cuja sentença tem força de coisa julgada. A sentença arbitral como é aplicação do direito ao caso concreto por juiz não estatal, é manifestação de atividade jurisdicional. A conseqüência disso é que se reveste de autoridade da coisa julgada (NERY JR, 1992, p. 68).

Não é cabível recurso de sentença arbitral, exceto nos casos de nulidade de

sentença, sendo que no juízo arbitral a sentença é irrecorrível e definitiva, cuja

decisão tem caráter obrigatório e imutável, depois de submetido o objeto do litígio a

todos os níveis previstos na convenção arbitral (MARTINS, 2002, p. 48).

A lei conferiu aos árbitros o poder de decidir definitivamente o direito aplicável

à questão, sem a necessidade do controle prévio do Estado, para sua

obrigatoriedade e executoriedade, ou a possibilidade de recursos, estabeleceu a

força de coisa julgada da decisão arbitral, garantindo a segurança e a estabilidade

da resolução apresentada ao litígio e da relação desenvolvida no juízo arbitral,

acentuando o aspecto jurisdicional do juízo arbitral, tornando sua adoção mais

atrativa, favorecendo sua adaptação e evolução, possibilitando um julgamento mais

célere e seguro para as partes (MUNIZ, 2006, p. 84).

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3 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A ARBITRAGEM

Analisar-se-á nesse capítulo os aspectos gerais da arbitragem, abordando

seus conceitos, modalidades, naturezas e objetos, com a intenção de compreender

seu mecanismo de funcionamento para melhor entendimento desse trabalho.

3.1 CONCEITO DE ARBITRAGEM

“A arbitragem é a instituição pela qual um terceiro resolve o litígio que opõem

duas ou mais partes, exercendo a missão jurisdicional que lhe é conferida pelas

partes” (PEREIRA, 2003, p. 03).

A palavra arbitragem é derivada do latim arbiter5, sendo especialmente

empregada na linguagem jurídica para significar o procedimento utilizado na solução

de litígios (BARSA, 1981, p. 520).

Observar-se-á que a arbitragem é uma forma alternativa para solucionar

conflitos na área privada, sem qualquer interferência do poder estatal. As partes,

capazes, com conflito versando sobre direitos patrimoniais disponíveis, escolhem

uma ou mais pessoas, denominadas árbitros, para que pronunciem uma decisão,

por meio de uma sentença que será eficaz, válida, sem a necessidade de

homologação judicial, e de caráter definitivo, conforme prevê a própria Lei de

Arbitragem (FIGUEIRA JÚNIOR, 1999, p. 29).

Arbitragem é uma técnica para a solução de controvérsias através da intervenção de uma ou mais pessoas que recebem poderes de uma convenção privada, decidindo com base nesta convenção, sem intervenção do Estado, sendo a decisão destinada a assumir eficácia de sentença judicial (MORAIS, 1999, p. 187).

Poder-se-á entender arbitragem como o modo, meio e forma de pessoas,

empresas ou instituições particulares poderem dirimir, resolver e, assim, dar fim aos

eventuais conflitos oriundos do relacionamento entre elas, sejam pessoais ou

negociais, fora do Poder Judiciário (CAETANO, 2002, p. 23).

5 Juiz, louvado, jurado

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Arbitragem é o sistema especial de julgamento, com procedimento, técnica e princípios próprios e com força executória reconhecida pelo direito comum, mas a este subtraído, mediante o qual duas ou mais pessoas físicas ou jurídicas, de direito privado ou de direito público, em conflito de interesses, escolhem de comum acordo, contratualmente, uma terceira pessoa, o árbitro, a quem confiam o papel de resolver-lhes a pendência, anuindo os litigantes em aceitar a decisão proferida (CRETELLA JUNIOR, 1988, p. 137).

Entender-se-á arbitragem como um sistema de solução pacífica de

controvérsias nacionais e internacionais, rápida e discreta, de direito público ou

privado, consistindo na criação de um julgador não pertencente à jurisdição normal,

escolhido pelas partes conflitantes, para dirimir divergências entre elas, abrangendo

desde os pequenos conflitos pessoais até as grandes controvérsias empresariais ou

estatais, tendo como julgadores advogados ou pessoas consideradas capazes de

conhecer e decidir a questão em litígio (STRENGER, 1996, p. 33).

Dizer-se-á que a arbitragem é a forma de solução dos conflitos na qual as

partes envolvidas convergem as suas vontades no intuito de eleger uma ou mais

pessoas, terceiros distintos das partes interessadas, para que apreciem a demanda

e decidam aos que previamente aceitaram a cumprir (MORAIS, 1999, p. 188).

Poder-se-á dizer que a arbitragem pode ser definida como um meio de

resolver litígios civis, atuais ou futuros, sobre os direitos patrimoniais, disponíveis,

através de árbitro ou árbitros privados, escolhidos pelas partes, cujas decisões

produzem os mesmos efeitos jurídicos de sentenças proferidas pelos órgãos do

Poder Judiciário (ROCHA, 1998, p. 37).

A arbitragem é o sistema especial de julgamento, com procedimento, técnica e princípios informativos próprios e com força executória reconhecida pelo direito comum, mas a este subtraído; mediante o qual duas ou mais pessoas físicas ou jurídicas, de direito privado ou de direito público, em conflito de interesses, escolhem de comum acordo, contratualmente, uma terceira pessoa, o árbitro, a quem confiam o papel de resolver-lhes a pendência, anuindo os litigantes em aceitar a decisão proferida (CRETELLA JUNIOR, 1988, p. 128).

A arbitragem pode ser definida como uma convenção privada, celebrada entre

duas ou mais pessoas, para solução de suas controvérsias, através de intervenção

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de uma ou mais pessoas, que recebem os seus poderes dos seus convenientes,

para com base nesta convenção, decidirem os seus conflitos, sem a intervenção do

Estado, sendo que a decisão destinada às partes, tem a eficácia da sentença judicial

(ROCHA, 1998, p. 38).

Arbitragem é a técnica que tem por objetivo dar solução ao problema entre as

relações de duas ou mais pessoas, confiando poderes ao árbitro, mediante

convenção privada, e que decidem, que este lhe solucione o litígio (ROCHA, 1998,

p. 38).

É a instituição jurídica, na qual duas ou mais pessoas possuindo um litígio de

matéria determinada, determinando que seja resolvido o litígio pela presença de

terceiros, designados voluntariamente, a cuja decisão expressamente se submetem,

quer seja ditada pela equidade ou pelo direito (CRETELLA JUNIOR, 1988, p. 133).

No enfoque internacional, a arbitragem pode ser entendida nas palavras de

CARMONA, (1998, p. 43).

A Arbitragem é o meio alternativo de solução de controvérsias através da intervenção de uma ou mais pessoas que recebem seus poderes de uma convenção privada, decidindo com base nela, sem intervenção estatal, sendo a decisão destinada a assumir a mesma eficácia da sentença judicial, é colocada a disposição de quem quer que seja para solução de conflitos relativos a direitos patrimoniais acerca dos quais litigantes possam dispor.

Compreender-se-á então que a arbitragem nacional e internacional é a

faculdade dada as partes de subtrair as controvérsias que as dividem aos juízes

escolhidos por elas e que se denominam árbitros (CANDEMIL, 2006, p. 24).

3.2 MODALIDADES DE ARBITRAGEM

As modalidades da arbitragem podem ser analisadas sobre diversos

aspectos, sendo os principais, quanto ao seu procedimento e quanto às pessoas

envolvidas (MUNIZ, 2006, p. 26).

A arbitragem de acordo com seu procedimento, pode ser ad hoc

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ou institucionalizada. Quando as partes estabelecem, na convenção arbitral, as normas que devem ser seguidas durante o procedimento arbitral, descrevendo o modo detalhado, como se realizará e elaborando um regulamento para o juízo arbitral, teremos a chamada arbitragem ad hoc. Se a opção for à adesão aos preceitos de algum órgão ou entidade arbitral, os quais regerão o procedimento, escolhendo o árbitro dentre aqueles ligados à instituição, teremos a arbitragem institucionalizada, de grande destaque no âmbito internacional. Levando-se em consideração as pessoas envolvidas na arbitragem podemos classificá-la em privada ou pública. A arbitragem pública é a que se destina a dirimir conflitos entre entes públicos ou entre esses e particulares, relativos a atos de império do Estado, com grande destaque no cenário internacional, no que se refere à composição de litígios entre Estados, ela será sempre internacional. A arbitragem privada refere-se à resolução de conflitos entre particulares ou entre particulares e entes públicos, desde que as relações entabuladas sejam frutos de atos de autoridade dos entes públicos (MUNIZ, 2006, p. 26).

Na modalidade ad hoc,6 as partes definem o desenvolvimento da arbitragem,

que poderá ser de direito ou de eqüidade, devendo ser criado apenas para aquele

determinado caso. Nesta modalidade, o tribunal arbitral não tem existência

permanente, apenas se constitui na medida em que seja necessário e a sua

competência é expressamente delimitada pelas partes, não podendo o tribunal

conhecer outros fatos que não os relevantes à situação em causa (ROQUE, 1997 ,p.

46).

Na modalidade institucionalizada, já existe um órgão especializado em mediar

e arbitrar litígios, com regulamento próprio e lista de árbitros, de conhecimento

prévio pelas partes. O órgão arbitral institucional é uma organização aparelhada

para a prática da arbitragem, com estrutura para o exercício de suas funções e um

corpo de árbitros. O tribunal arbitral institucionalizado tem como característica ser

permanente e pré-existente ao litígio que se dispõe a regular (ROQUE, 1997, p. 44).

3.3 NATUREZA JURÍDICA

De acordo com a natureza jurídica atribuída à arbitragem, é que a doutrina

traça os contornos de seu conceito. Dentre as teorias que procuram explicar sua

natureza, encontramos a dos publicistas que, salientando a atuação do árbitro de

6 Ad Hoc: Para isto, para esta finalidade específica.

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dizer o direito, lhe atribuem natureza jurisdicional, a dos privatistas que, dando

destaque à figura da convenção arbitral, ressaltam sua natureza como puramente

contratual, e a daqueles que, dando igual ênfase às duas fases da arbitragem e

conciliando os dois aspectos, vão caracteriza-la como de natureza híbrida,

considerando os aspectos contratual e jurisdicional (MUNIZ, 2006, p. 30).

3.3.1 Teoria Jurisdicional

Analisando a teoria jurisdicional, a arbitragem age como substituta da

jurisdição, porém, esta sua atuação é limitada dentro de parâmetros legais.

Baseiam-se para defender sua teoria, em que a função dos árbitros é

substancialmente a mesma dos juízes, ou seja, decidir litígios. A arbitragem é uma

forma de administração da justiça semelhante ao processo estatal, sujeita as normas

e princípios desta, e a força coativa das decisões se funda numa delegação de

poderes soberanos (VICENTE, 1990, p. 66).

A arbitragem atua com a participação do indivíduo a quem é possibilitado definir as normas e o juiz da questão, o que reafirma seu caráter de participação popular na justiça, seu fim social e caracteriza o fim político da jurisdição como procedimento, atividade para se chegar à solução de conflitos e a realização da justiça. Ou seja, o árbitro, nomeado pelo particular, exerce atos de jurisdição, aplicando a regra geral ao caso concreto, pronunciando uma sentença arbitral, com força de título executivo judicial, que possui força executiva no sentido potencial, no sentido da possibilidade de procurar o uso da força (CARMONA, 1993, p.37).

O árbitro exerce jurisdição, mas não possui o exercício pleno desta, visto não

poder efetivar medidas coercitivas ou cautelares, contudo, pode determiná-las,

deferindo ou indeferindo provas. A decretação da medida cabe ao árbitro, porem seu

cumprimento e efetivação se dará com o Poder Judiciário, possuidor da força para

executa-las, assim permanecendo ao Estado o poder sancionatório (MUNIZ, 2006,

p. 33).

Não se pode contestar o caráter jurisdicional da arbitragem, na impossibilidade jurídica de o árbitro impor sanções pelo descumprimento eventual das determinações do laudo. A noção de jurisdição não compreende necessariamente a atuação da sanção

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contida na norma jurídica. A realização do comando sancionatório, em concreto, é própria do juízo de execução, estando claramente ausente no condenatório, no declaratório ou no constitutivo. Dessa forma pode perfeitamente haver atuação jurisdicional sem a realização concreta do preceito sancionatório (GUERREIRO, 1993, p. 65).

Considera-se que jurisdição é a atividade ou movimento do órgão judicante no

processo, com o fim de atuar o direito ao fato concreto, declarando o direito aplicável

à espécie (MUNIZ, 20006, p. 33).

A jurisdição é uma atividade que movimenta o aparelho judiciário por meio da

ação, com a finalidade de dizer o direito objetivo à lide que lhe é concretamente

apresentada. Não é privativa do Estado, podendo ser delegada por força de lei a

outra autoridade (CANDEMIL, 2006, p. 35).

De um lado colocam-se, irredutíveis aqueles que vêem no instituto apenas seu lado contratual: a arbitragem origina-se de uma convenção, os poderes dos árbitros são apenas aqueles concedidos pelas partes e o árbitro acaba sendo qualificado quase como um mandatário comum das partes, encarando-se o laudo como a manifestação comum da vontade destas. Para outros, que partem da idéia de que a administração da justiça é um serviço público, a jurisdição dos árbitros só deve ser admitida se puder integrar-se a tal serviço; assim a decisão arbitral é um julgamento, no qual chega ao árbitro através de um procedimento assinado pelo contraditório e com a garantia maior da imparcialidade (CARMONA, 1993, p. 304).

O exercício da arbitragem, respeitando os limites da lei, realiza função

jurisdicional, pois a escolha pelo instituto implica a submissão da decisão proferida

pelos sujeitos indicados pela lei7, na forma estabelecida, para concluir sua tarefa e

somente estes poderão realizar esta função, de caráter jurisdicional. Não é somente

a vontade das partes que atribui jurisdição aos árbitros, é também a do Estado como

titular desta jurisdição que, frente ao cumprimento de certas exigências, a possibilita

através do ordenamento jurídico (MORAIS, 1999, p.195).

O poder estatal é uno, porém, seu exercício é distribuído por órgãos que a lei preestabelece, de forma a otimizar essa prática e melhor

7 Os árbitros.

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pacificar os conflitos. Ao ser investido na qualidade de árbitro, o indivíduo está conferindo ao julgador competência, prevista e admitida em lei, para apreciar e solucionar a questão posta em toda a sua latitude. Assim sendo, mesmo exercendo o árbitro função julgadora por vontade soberana das partes, que lhe investiram neste encargo por convenção de arbitragem, a partir do momento em que sua origem está amparada por norma legal, sua função e seu exercício passam a ter verdadeiro caráter público (MARTINS, 2002, p. 38).

3.3.2 Teoria Contratual

Segundo a teoria contratual defendida pelos privatistas, a arbitragem tem

natureza puramente contratual, destacando-se a figura da convenção arbitral na qual

as partes acordam a resolução do conflito, entregando a decisão a terceiros,

outorgando-lhes poderes. Esses atuam como mandatários das partes e sua decisão

nada mais é que a manifestação da vontade das partes, assemelhando-se a

sentença arbitral a um contrato que põe fim ao litígio (MUNIZ, 2006, p. 34).

A ausência de poder de coação do juízo arbitral para fazer cumprir sua sentença se alicerça no monopólio estatal do uso da força, pelo que, as partes não podem pactuar este poder, pois ele é inerente ao Estado, nem podem os árbitros, apesar de considerados pela lei como juízes de fato e de direito, lançar mão da força para que suas designações sejam cumpridas, quer em relação à sentença, quer em relação às medidas cautelares e instrutórias do juízo arbitral, cabendo ao judiciário, havendo necessidade, por requerimento e determinação dos árbitros, implementar as medidas ou executar a sentença (MUNIZ, 2006, p. 34).

O árbitro, no exercício de suas funções de julgador, não detêm os elementos

da jurisdição, tais como a coercibilidade8 e a executoriedade9, tornando o laudo

arbitral mero parecer técnico a necessitar de uma chancela estatal para ser válido e

surtir efeitos. A base do compromisso arbitral está regulamentada pela liberdade

contratual, onde esta cessa, ou sofre restrições, aí cessa ou é limitada a faculdade

de se comprometer. (MARTINS, 2002, p. 38).

8 Direito de fazer respeitar o veredicto; o poder de reprimir ofensa à lei. 9 Ato de tornar obrigatória a decisão emanada.

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A arbitragem é um contrato, uma convenção na qual as partes concedem

poderes ao árbitro e o laudo é uma manifestação das mesmas. Os poderes dos

árbitros são apenas concedidos pelas partes e o árbitro acaba sendo qualificado

quase como um mandatário delas, encarando-se o laudo como mera obrigação de

fazer, assumida na convenção arbitral (SANTOS, 1998, p. 133).

Para a teoria contratualista, os árbitros não são juízes, mas sim agentes

particulares10, que obtêm suas faculdades da vontade das partes, caracterizando um

contrato. O laudo arbitral não tem poder de coerção sobre particulares a fim de obter

o cumprimento forçado de uma determinada conduta; os contratualistas se baseiam

fundamentalmente no fato de os órgãos do Estado serem os únicos que podem

exercer jurisdição (MUNIZ, 2006, p. 35).

3.3.3 Teoria Híbrida

A teoria híbrida é um meio termo para as duas outras teorias, unificando-as

com seus melhores elementos.

Arbitragem é instância jurisdicional praticada em função de regime contratualmente estabelecido, para dirimir controvérsias entre pessoas de direito privado ou público, com procedimentos próprios e força executória perante tribunais estatais. As partes que decidem submeter à arbitragem esperam também que a sentença arbitral seja a culminação de um procedimento que apresente as mesmas garantias que as da instância judiciária, mesmo que uma certa liberdade seja deferida às partes para a organização desse procedimento (STRENGER, 1998, p.18).

Em posição conciliadora frente às duas teorias, surge a teoria híbrida,

apresentando aspecto contratual em sua primeira fase, em razão da convenção

arbitral que lhe dá nascimento e jurisdicional na segunda, como forma privada de

dizer o direito, fazer a justiça, solucionar o litígio, através de uma atividade ordenada

para tal fim, que se dá com a instalação e desenvolvimento do juízo arbitral e

principalmente ante sua natureza pública, por decorrer de lei a possibilidade de sua

utilização (MUNIZ, 2006, p. 35).

10 Muito embora sejam equiparados a funcionários públicos, inclusive estando sujeitos às mesmas penas.

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A base da arbitragem é contratual. Consubstancia-se na convenção arbitral na qual prevalece a autonomia da vontade e nela as partes não só vão conferir a terceiros a solução do litígio e estabelecer as normas que irão regê-lo, mas também fixar os fundamentos e os limites do juízo arbitral, Contudo, essa vontade das partes vai ser limitada pela disponibilidade do objeto e pelos princípios de ordem pública, tanto em relação ao contrato quanto em relação às normas do juízo arbitral, que deve reger-se de acordo com os princípios que fundamentam a atividade processual (contraditório, ampla defesa, imparcialidade do julgador) os quais não podem ser renunciados ou alterados pelos contratantes (MUNIZ, 2006, p. 36).

O Estado, visando assegurar a estabilidade das relações arbitrais, outorga à

cláusula compromissória o efeito de afastar a jurisdição estatal, vinculando as partes

à via arbitral, a não ser que, mediante nova avenca, elas optem por outros

mecanismos para a resolução do conflito. Porém, não é somente o efeito vinculante

e obrigatório da cláusula compromissória que o poder estatal estabeleceu em

relação à arbitragem. O Estado, por intermédio de lei, atribuiu poder, garantias e

força à decisão do julgador, independentemente da vontade das partes. A

arbitragem também se reveste, de jurisdicionalidade, tendo por finalidade decidir as

divergências, pondo fim aos conflitos, atuação esta estabelecida pelo poder estatal

(SANTOS, 1998, p. 134).

A arbitragem possui base contratual, que é o compromisso, de característica estritamente consensual e que estabelece as diretrizes do juízo arbitral que instituiu. Mas o laudo arbitral não é ato integrativo do compromisso, nele tem seus fundamentos e seus limites, mas seus efeitos decorrem da lei e não da vontade das partes. Assim, a arbitragem é contratual em seu fundamento inicial, e é também jurisdicional, ante a natureza pública do laudo arbitral, como força privada de solução de litígios (BASTOS, 1999, p. 138).

Funda-se no contrato, na convenção arbitral na qual as partes optam pelo juiz

privado e traçam as normas que, dentro das restrições legais, regerão a atuação dos

julgadores, mas encontra sua autoridade na lei, que lhe confere a competência , as

limitações, a função, os direitos, os deveres e os poderes, que evidenciam o caráter

jurisdicional de sua atividade (CANDEMIL, 2006, p. 35).

Sinteticamente, podemos dizer que o direito de opção foi dado ao

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indivíduo, o poder de dizer o direito foi entregue ao árbitro, mas o uso da força permaneceu com o Estado. Devemos encarar a arbitragem olhando-a em seu todo: sua fase pré-arbitral, onde encontramos a convenção arbitral, de natureza contratual; e sua fase arbitral propriamente, que se inicia com a instituição do juízo arbitral e termina com a sentença arbitral, de natureza jurisdicional (MUNIZ, 2006, p. 39).

3.4 OBJETO

O objeto dos interesses conflitantes, sobre o qual versará a relação no juízo

arbitral, deverá consistir em direito patrimonial disponível.

O patrimônio é uma projeção econômica da personalidade. Esta característica, indissoluvelmente ligada à pessoa, não se constitui propriamente em direito, mas dela irradiam-se direitos, os quais o homem adquire e assume para a satisfação de suas necessidades e interesses nas relações econômicas e sociais. Sendo assim, patrimônio é formado pelo complexo de bens, materiais ou não, móveis, imóveis ou semoventes, como veículos, direitos, ações, posses e tudo mais que pertença à pessoa física ou jurídica e que possa ser passível de apreciação econômica, ou possa ser traduzido monetariamente. Disponíveis são aqueles suscetíveis de livre disposição pelas partes através de negócio jurídico, até porque os interesses tutelados são predominantemente individuais. A expressão da lei alcança todo e qualquer direito disponível, incluindo os imateriais, relativos ao direito comercial, como o direito ao nome, fundo de comércio, marcas e patentes. Os indisponíveis, que correspondem aos vedados de serem vendidos, doados, cedidos, negociados, não poderão, portanto, ser objeto de questão a ser resolvida por via arbitral (MUNIZ, 2006, p. 117).

A expressão direito patrimonial disponível proporciona diversas possibilidades

aos contratantes, principalmente no que se refere àqueles que atuam na área

mercantil e internacional, alcançando todos os direitos ou bens que compõem o

patrimônio das partes. Somente o conflito de interesses que verse obrigatoriamente

sobre direitos disponíveis pode ser objeto para solução na via arbitral (DINIZ, 2002,

p.473).

3.5 DO PROCEDIMENTO ARBITRAL E SUAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Verificar-se-á nesse capítulo as disposições gerais da matéria e os

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elementos do procedimento arbitral, analisando-se a cláusula compromissória, a

convenção, o compromisso arbitral e a figura do árbitro

3.5.1 Disposições Gerais do Procedimento Arbitral

Regula a lei 9.307/96, que a capacidade e o objeto da arbitragem são apenas

as pessoas capazes de contratar o instituto, com lide versando sobre direitos

patrimoniais disponíveis. Toda pessoa, que tenha capacidade jurídica para contratar

e convencionar qualquer negociação com outra, tendo por objeto direitos

patrimoniais, que possa vender, comprar, dar, ceder, locar, fornecer, emprestar ou

etc., pode se valer da arbitragem (CAETANO, 2002, p. 57).

Só poderão valer-se da arbitragem as pessoas que sejam maiores ou emancipadas, não se podendo ultrapassar o terreno dos direitos patrimoniais disponíveis, vale dizer que não entram nessa esfera jurisdicional, questões relativas aos bens indisponíveis, nem questões que ofendam a ordem pública interna ou internacional (STRENGER, 1998, p. 17).

Cabem as partes acordarem se à arbitragem será de direito ou de eqüidade,

especificando se o procedimento arbitral e a sentença arbitral terão como

fundamento à legislação em vigor ou fundar-se na circunstância especial de cada

caso concreto, concernente ao que for justo e razoável (MUNIZ, 2006, p. 52).

Se o julgamento for de direito cria-se necessariamente vínculo com as regras

jurídicas vigente, subordinando os árbitros aos ordenamentos que formam os

mandamentos legais de ordem interna e internacional. Se o julgamento for de

eqüidade, terá o árbitro uma gama de meios para solucionar o conflito, podendo

livremente fazer da maneira que lhe parecer mais adequado dirimir o litígio

(STRENGER, 1998, p.19).

3.5.2 Da Convenção e Seus Efeitos

O Lei 9.307/96 em seu artigo 3° dispõe que as partes interessadas podem

submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de

arbitragem. Tratar-se-á nesse tópico o conceito e explanações acerca da convenção

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arbitral.

Convenção de arbitragem é uma convenção pela qual as partes decidem submeter à arbitragem todos ou alguns dos litígios surgidos ou a surgir entre elas com respeito a uma determinada relação jurídica, contratual ou extracontratual. A convenção de arbitragem deve ser reduzida a escrito. Considera-se que uma convenção tem forma escrita quando constar de um documento assinado pelas partes ou de uma troca de cartas ou qualquer outro meio de comunicação que prove sua existência, ou ainda da troca de alegações referentes à petição e à contestação na qual a existência de uma tal convenção for alegada por uma parte e não seja contestada pela outra. A referência num contrato a um documento que contenha cláusula compromissória equivale a uma convenção de arbitragem, desde que no referido contrato revista a forma escrita e a referência seja feita de tal modo que faça da cláusula uma parte integrante do contrato (STREGER, 1998, p. 34).

A convenção arbitral tem por finalidade encontrar normas para a instauração

do juízo arbitral e julgamento do litígio, excluindo a jurisdição estatal. Sua validade,

depende do preenchimento dos requisitos essenciais aos contratos, respeitando as

especificidades relativas a ela, tais como as capacidades das partes, livre

manifestação de vontade que, na arbitragem, deve ser expressa, objeto lícito

(disponível), e forma não prescrita em lei a qual exige seja firmada a convenção por

escrito (MUNIZ, 2006, p.86).

A convenção arbitral é o acordo de duas ou mais partes para constituir, regular ou extinguir, entre elas, uma relação jurídica, mas não patrimonial. Nisso irá se distinguir a arbitragem do contrato. Todavia, as partes contratam para resolver um problema de natureza patrimonial. Pode-se considerar a arbitragem como um sistema convencional para estabelecer uma jurisdição (ROQUE, 1997. p. 16).

A convenção de arbitragem, entre suas diversas funções, constitui prova de

que as partes admitiram submeter-se ao regime arbitral para solver suas pendências

na execução de um contrato. Esse elemento consensual, sem o qual a arbitragem

não pode existir validamente (STRENGER, 1998, p. 36).

3.5.2.1 Da cláusula compromissória

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A cláusula compromissória é o acordo das partes pelo qual, voluntária e

antecipadamente, se obrigam a solucionar as divergências decorrentes de relação

jurídica havida entre elas por meio de juízo arbitral. Nela as partes convencionam

resolver, por meio de arbitragem, as divergências que surjam entre elas, geralmente

quanto à execução e interpretação de um contrato (MUNIZ, 2006, p. 87).

A cláusula compromissória esta instituída no artigo 4° da lei n° 9.307/96:

Art. 4°. A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um

contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam surgir.

Esse tipo de convenção antecede o litígio, tendo em vista um caráter preventivo. A

cláusula exterioriza a intenção das partes em instituir árbitros para a resolução de

eventual litígio futuro, que talvez sequer apareça (ROQUE, 1997, p.17).

Através deste contrato, as partes se comprometem a subtrair a apreciação do Judiciário, levando a questão ao juízo arbitral e afastando assim o juiz estatal. A cláusula inserta no contrato, encerrando a promessa de que as divergências havidas entre os contratantes serão submetidas ao veredicto de árbitros, escolhidos no momento oportuno. Porém, a principal finalidade desta cláusula é que as partes terão a faculdade de exigir sua eficácia, justificando a intervenção judicial para a constituição definitiva da arbitragem, estabelecendo o compromisso arbitral e enviando as partes ao julgamento de árbitros; ou se em descumprimento ao acordado, uma das partes iniciar a ação no Judiciário, pode a outra parte invocar que seja remetido do juiz ao arbitro (MUNIZ, 2006, p. 87).

A cláusula compromissória deve ser pactuada de forma escrita, podendo

estar inserida no próprio contrato ou em documentos apartados, que se refiram a

ela. Sua pactuação implica, no afastamento da competência do Judiciário em

solucionar o conflito, remetendo-o ao árbitro escolhido pelas partes. (ROQUE, 1997,

p. 17).

A cláusula compromissória possui caráter obrigatório e efeito vinculante,

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obrigando as partes a instituir a arbitragem. Em caso de negativa do outro

contratante na instauração do juízo arbitral, poderá a parte interessada requerer, em

ação própria, que seja firmada a cláusula arbitral (MUNIZ, 2006, p. 88).

Na cláusula compromissória as partes poderão indicar, além da adoção da

arbitragem, também o possível órgão arbitral e outros detalhes pertinentes. A

cláusula compromissória pode ser completa, que é aquela que designa, em seu

texto, as modalidades que permitirão a futura escolha e nomeação dos árbitros,

podendo as partes instituir a arbitragem ou se reportarem às regras preestabelecidas

de algum órgão arbitral institucional ou entidade especializada11; ou a cláusula

compromissória pode ser vaga ou em branco, indicando apenas a arbitragem como

forma de solução de conflitos, mas não designando como seria aplicada, ficando em

aberto o órgão arbitral que se ocupará da questão e qual será o direito aplicável

(ROQUE, 1997, p. 17).

A estipulação da cláusula compromissória deve ser por escrito, no próprio

documento do contrato ou em outro, até mesmo por carta, ou qualquer outro meio

escrito que façam referência ao contrato, admitindo-se sua contratação no momento

da celebração do negócio jurídico ou posteriormente a ele. Pode ser contida em um

só documento, ou podem as partes inserir outras avenças a respeito da arbitragem

em documentos distintos que formarão um todo em relação ao compromisso arbitral.

Por conseguinte, as partes podem estabelecer normas referentes à instituição da

arbitragem na própria cláusula ou documento distinto (MUNIZ, 2006, p. 89)

A cláusula gerará uma obrigação de submeter-se à arbitragem. Se não cumpri-la oferecerá à outra parte o direito de exigir na justiça o cumprimento dessa obrigação. Havendo a cláusula e não havendo acordo sobre os termos do compromisso, pode a parte interessada exigir, em juízo, o seu cumprimento forçado, isto porque, agora, a sentença judicial disporá sobre os termos do compromisso, inclusive nomeando árbitro ou instituição arbitral, valendo a sentença como compromisso arbitral (MORAIS, 1999, p. 203).

Apesar de fazer parte do contrato, são independentes a cláusula

compromissória e o contrato no qual ele estiver inserido , de tal forma, que a

11 Entidade Especializada: Câmaras de Comércio e lugares que possuem serviço de arbitragem, embora de âmbito restrito.

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nulidade do contrato não significa, necessariamente, a da cláusula; assim como, a

invalidade desta não faz perecer o contrato. Se não, argüida a nulidade ou

invalidade daquela, ou do instrumento em que estivesse inserida, não mais

produziria efeitos, ficando vedada a atuação do árbitro e retornando a apreciação do

judiciário. A lei confere aos árbitros competência para julgar e decidir acerca da

existência, validade e eficácia, não somente da cláusula, mas também do contrato e

da própria convenção de arbitragem no todo (CARMONA, 1993, p. 63).

3.5.2.2 Do compromisso arbitral

Compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem

uma determinada controvérsia à solução pela arbitragem, podendo ser judicial ou

extrajudicial. O compromisso arbitral ao contrário da cláusula compromissória que se

refere a litígios futuros e eventuais, se refere a já existência de determinada

controvérsia, onde simplesmente as partes acordam em submetê-la ao julgamento

de árbitros (MORAIS, 1999, p. 209).

O compromisso arbitral é o ato pelo qual as partes constituem o juízo arbitral e se obrigam a acatar seu veredicto. É a convenção firmada por duas ou mais pessoas, em virtude da qual confiam a árbitros a solução de pendências ou controvérsias havidas entre elas. É o contrato pela qual os figurantes se submetem, a respeito de direito, pretensão, ação ou exceção, sobre que há controvérsias, à decisão de árbitro. (MARTINS, 2002, p. 238).

O compromisso arbitral será judicial quando instituído pelo juiz em

procedimento requerido pela parte, ocorrendo quando já existe na justiça comum

uma demanda judicial, mas as partes decidem retirá-la da jurisdição pública para a

jurisdição privada. Celebrar-se-á por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal,

onde está em curso a demanda, não importando se o processo já estiver no tribunal

superior, com sentença judicial (ROQUE, 1997, p. 56).

O compromisso arbitral será extrajudicial quando for instrumento particular

subscrito por duas testemunhas ou por escritura pública, sendo um documento

formal, pois a lei prescreve para ele vários requisitos, sendo que deverá conter a

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qualificação das partes12 e a qualificação do árbitro13 (MORAIS, 1999, p. 57).

Os requisitos obrigatórios do compromisso arbitral estão elencados no art. 10

da lei 9.307/96, podem ser complementados a qualquer momento e sua falta

acarreta a ineficácia do compromisso arbitral e nulidade da arbitragem. O aspecto

que exige maior cuidado se refere ao objeto do litígio, porque é por meio dele que se

determina a atuação dos árbitros. A descrição perfeita do objeto do litígio delineia a

atividade do juízo arbitral, evitando assim, julgamento extrapetita14, que leva a

anulação (ROQUE, 1997, p. 58).

Art. 10 - Constará, obrigatoriamente, o compromisso arbitral: I – o nome, profissão, estado civil e domicílio das partes; II – o nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbitros, ou, se for o caso, a identificação da entidade à qual as partes delegarem a indicação de árbitros; III - a matéria que será objeto da arbitragem; e IV - o lugar em que será proferida a sentença arbitral.

Os requisitos facultativos do compromisso arbitral são elencados no art. 11 da

mesma lei, podendo conter no compromisso arbitral.

L.9307/96. Art. 11 - Poderá, ainda, o compromisso arbitral conter: I – local, ou locais, onde se desenvolverá a arbitragem; II - a autorização para que o árbitro ou os árbitros julguem por eqüidade, se assim for convencionado pelas partes; Ill – o prazo para apresentação da sentença arbitral; IV – a indicação da lei nacional ou das regras corporativas aplicáveis à arbitragem, quando assim convencionarem as partes; V – a declaração da responsabilidade pelo pagamento dos honorários e das despesas com a arbitragem; e Vl – a fixação dos honorários do árbitro, ou dos árbitros. Parágrafo único - Fixando as partes os honorários do árbitro, ou dos árbitros, no compromisso arbitral, este constituirá título executivo extrajudicial; não havendo tal estipulação, o árbitro requererá ao órgão do Poder Judiciário que seria competente para julgar, originariamente, a causa que os fixe por sentença.

12 Nome, domicílio, documentos de identificação; se for pessoa física, estado civil e a profissão; se pessoa jurídica os registros em órgãos competentes. 13 Nome, profissão e domicílio do árbitro; se for uma entidade, deverá ter sua identificação. 14 Fora do pedido.

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O prazo para apresentação da sentença arbitral é um requisito facultativo,

estando sempre submetido ao prazo legal de seis meses, permanecendo com as

partes a faculdade para fixá-lo e devem fazê-lo a fim de manter uma das vantagens

da arbitragem sobre a jurisdição, que é a celeridade da sentença arbitral (ROQUE,

1997, p. 59).

Nos contratos internacionais é importante estabelecer qual o ordenamento

jurídico nacional a ser adotado. Em caso de omissão no compromisso arbitral sobre

a lei em que será aplicável, deve preponderar a vontade presumida das partes. Em

regra, tem-se o cuidado para não dificultar a tarefa do árbitro, escolhendo a lei do

local que ocorrerá a arbitragem (ROQUE, 1997, p.59).

Quanto à decisão por eqüidade, autorizada no art. 11 da já mencionada lei,

visa adaptar as normas do direito a um caso concreto, buscando amenizar o rigor da

lei e impedir que os preceitos se convertam em atentado do próprio direito (MORAIS,

1999, p. 210).

Quanto aos honorários dos árbitros, se o valor for estipulado pelas partes no

compromisso arbitral, será considerado como quantia líquida e certa e, assim, o

árbitro poderá, por meio de Processo de Execução, perante o Poder Judiciário,

pleitear seu crédito (CAETANO, 2002, p. 69).

O compromisso arbitral extingue-se quando é proferida a sentença, podendo

ser extinto também, por vontade das partes. Por ser negócio bilateral, todas as

partes devem concordar com o distrato, podendo ser efetuado a qualquer momento,

mesmo se já proferido a sentença (ROQUE, 1997, p. 60).

O compromisso arbitral pode se extinguir de três maneiras, de acordo com o

art. 12 da lei de arbitragem n° 9.307/96.

Art. 12 - Extingue–se o compromisso arbitral: I – escusando–se qualquer dos árbitros, antes de aceitar a nomeação, desde que as partes tenham declarado, expressamente, não aceitar substituto; II – falecendo ou ficando impossibilitado de dar seu voto algum dos árbitros, desde que as partes declarem, expressamente, não aceitar substituto; e Ill – tendo expirado o prazo a que se refere o art. 11, inciso III, desde que a parte interessada tenha notificado o árbitro, ou o presidente do tribunal arbitral, concedendo–lhe o prazo de dez dias para a prolação e apresentação da sentença arbitral

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Verificar-se-á por fim, que no compromisso arbitral estão estabelecidas as

normas para a instauração e condução do procedimento arbitral, dando inicio a fase

jurisdicional da arbitragem (MUNIZ, 2006, p. 95).

3.5.3 Dos Árbitros

Na arbitragem, as partes envolvidas em alguma controvérsia, poderão de

forma livre e voluntária optar que essas questões devam ser decididas por um

terceiro, o árbitro.

Entende-se por árbitro, toda pessoa capaz, escolhida pelas partes para

decidir alguma pendência, cujos poderes devem restringir-se à vontade destas, com

o intuito de solucionar o litígio, obedecendo as normas legais vigentes (ROQUE,

1997, p. 60).

Art. 13 - Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes. § 1º - As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo nomear, também, os respectivos suplentes. § 2º - Quando as partes nomearem árbitros em número par, estes estão autorizados, desde logo, a nomear mais um árbitro. Não havendo acordo, requererão as partes ao órgão do Poder Judiciário a que tocaria, originariamente, o julgamento da causa a nomeação do árbitro, aplicável, no que couber, o procedimento previsto no art. 7º desta Lei. § 3º - As partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha dos árbitros, ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada. § 4º - Sendo nomeados vários árbitros, estes, por maioria, elegerão o presidente do tribunal arbitral. Não havendo consenso, será designado presidente o mais idoso. § 5º - O árbitro ou o presidente do tribunal designará, se julgar conveniente, um secretário, que poderá ser um dos árbitros. § 6º - No desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, independência, competência, diligência e discrição. § 7º - Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral determinar às partes o adiantamento de verbas para despesas e diligências que julgar necessárias.

“O art. 13 e seus parágrafos são um elenco quase de caráter administrativo,

pois se limita a distribuir as diferentes obrigações relacionadas diretamente com a

função do árbitro” (STRENGER, 1996, p. 92).

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O árbitro é quem irá julgar a questão submetida à arbitragem, ficando na

posição do juiz. O arbitro é juiz de fato e de direito, primeiro porque os fatos são a

ele submetidos para apreciar livremente e porque ele é livre para aplicar o direito ao

caso concreto, respeitando os limites impostos pelas partes (ROQUE, 1997, p. 60).

Para exercer a função de árbitro não é necessário ser advogado ou juiz. O único requisito é que a pessoa indicada deve gozar de plena capacidade civil. A confiança é decisiva para o efeito da nomeação dos árbitros, podendo mesmo deduzir-se que, se ela existir, nada obsta que possa servir de árbitro até mesmo um parente ou um amigo de qualquer das partes (MORAIS, 1999, p. 210).

É recomendado que o árbitro escolhido seja possuidor de conhecimentos

técnicos e científicos suficientes para que a decisão tomada por ele seja a mais

acertada de acordo com a especificidade do litígio em questão. A escolha de um

árbitro que domina a questão do litígio, traz uma maior confiança na decisão que

será tomada (ROQUE, 1997, p. 61).

É dever do árbitro cumprir suas funções com presteza e perfeição, sendo

exigido pela lei que, no desempenho destas, o mesmo deverá proceder com

imparcialidade, independência, competência, diligência e discrição. As pessoas

indicadas para funcionarem como árbitros têm o dever de revelar, antes da

aceitação da função, qualquer fato que denote dúvida justificada quanto à sua

imparcialidade e independência (MORAIS, 1999, p. 210).

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4 OS EFEITOS DA SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA NO BRASIL

Em fim, por se tratar esta monografia dos efeitos da sentença arbitral

estrangeira no Brasil, dar-se-á prosseguimento ao presente estudo, discorrendo

sobre os principais aspectos da Sentença Arbitral.

Após o tracejo destas considerações preliminares, prossegue-se ao estudo

pretendido.

4.1 DA SENTENÇA ARBITRAL

A sentença arbitral provém do árbitro, sem jurisdição, sendo diferente da

sentença judicial, mas produzindo os mesmos efeitos das sentenças prolatadas pelo

Poder Judiciário, obrigando as partes a cumpri-la em razão do compromisso arbitral

(MORAIS, 1999, p. 211).

A sentença deve ser pautada nos critérios e parâmetros apontados pelas

partes na convenção arbitral e preencher os requisitos legais, apresentando a

motivação e a fundamentação que o levaram à solução (MUNIZ, 2006, p. 131).

Não é o laudo um julgamento de plano, uma decisão arbitrária, e muito menos caprichosa, inteiramente distanciada dos termos da controvérsia. Mesmo que esteja autorizado a decidir com eqüidade, tem o árbitro de fundamentar a sua decisão, dizendo os fatos a que se apegou, os existente e os inexistentes, bem como os motivos por que chegou a uma determinada solução (BARROS, 1980, p. 510).

Isto implica na necessidade de apreciar as provas produzidas, os fatos e os

argumentos aduzidos, atendo-se às normas legais escolhidas pelas partes, às

normas de ordem pública, à moral e aos bons costumes e às máximas da

experiência (MUNIZ, 2006, p. 131).

A sentença arbitral deverá ser proferida no prazo de seis meses, contados da instituição do árbitro, podendo ter sido estipulado outro prazo pelas partes, se estendendo por prazo superior. Vencido o segundo prazo, se não tiver sido prolatada ou apresentada à sentença, deve a parte interessada intimar o árbitro para que em 10 dias o faça, sob pena de se extinguir o compromisso arbitral. A sentença arbitral deve ser sempre de forma expressa em documento

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escrito, atendendo os requisitos do art. 26 da Lei 9.307/96 (CAETANO, 2002, p. 89).

Analisar-se-á o exposto na lei 9.307/96 em seu artigo 23 sobre o prazo da

sentença arbitral:

Art. 23. A sentença arbitral será proferida no prazo estipulado pelas partes. Nada tendo sido convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, contados da instituição da arbitragem ou da substituição do árbitro. Parágrafo único – as partes e os árbitros, de comum acordo, poderão prorrogar o prazo estipulado.

Se o prazo é expresso em meses, expira à meia noite, no dia do último mês

que tem o mesmo dia no início da missão. Se o prazo expira em um sábado,

domingo ou feriado, prorroga-se automaticamente para o primeiro dia útil seguinte

(STRENGER, 1998, p. 135).

Prosseguindo, especifíca a lei 9.307/96 em seu artigo 26 os requisitos da

sentença arbitral:

Art. 26. São requisitos obrigatórios da sentença arbitral: I – o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio; II – os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de direito, mencionando-se, expressamente, se os árbitros julgaram por eqüidade; III – o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem submetidas e estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o caso; IV – a data e o lugar em que foi proferida. Parágrafo único – a sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos os árbitros. Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a sentença, certificar tal fato.

A sentença não pode desobedecer a certas formalidades, sob pena de tornar-

se ineficaz. O papel dos árbitros é resolver o conjunto de pontos litigiosos e exprimir

essa decisão em um ato submisso a certas exigências de forma, não podendo a

sentença arbitral fugir dos requisitos de efetividade que a lei impõe (STRENGER,

1998, p. 152).

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A sentença deverá conter, o relatório, com o nome das partes, identificando-

as, e o litígio, esclarecendo o objeto, os atos e elementos ocorridos no juízo arbitral;

os fundamentos, com as questões de fato e de direito, mencionando a forma de

julgamento, trazendo a certeza e a segurança para as partes; o dispositivo é à parte

em que o árbitro vai registrar a conclusão que desenvolveu na fundamentação,

devendo ater-se ao conteúdo da controvérsia que lhe foi apresentada, devendo

apresentar a solução para as questões que lhes foram apresentadas; deve conter

ainda a data e local em que foi proferida, determinando a nacionalidade da

arbitragem; assinatura de todos os árbitros ou a manifestação do presidente do

Tribunal certificando a impossibilidade de fazê-lo (MUNIZ, 2006, p. 132).

Na sentença arbitral, deve abranger todo o litígio, estipulando penalidades e

prazos para seu cumprimento. Versará sobre a responsabilidade das partes sobre as

custas e despesas do procedimento, caso não tenha sido convencionado

anteriormente. Cabe ao árbitro o poder e o dever de resolver e decidir todas as

questões de fato e de direito (CARNEIRO, 1997, p. 148).

A Lei confere à decisão arbitral eficácia de sentença declaratória ou constitutiva, viabilizando-a como título executivo nas decisões condenatórias, possibilitando, assim a execução das obrigações de dar e fazer. A sentença arbitral não necessita de homologação pelo Poder Judiciário, tendo força de uma sentença judicial, produzindo modificação, extinção e criação de uma relação jurídica, ou produzindo titulo executivo extrajudicial quando for condenatória (MARTINS, 1995, p. 49).

A arbitragem termina ao ser proferida a sentença arbitral e enviada sua cópia

para as partes, com prova do recebimento. A remessa da cópia da sentença deverá

ser feita pelo próprio árbitro ou pelo presidente do tribunal arbitral. Também não

deve haver impedimento algum que possa ser feito pelo órgão arbitral institucional

ou entidade especializada se assim ficou estabelecido na convenção arbitral

(CAETANO, 2002, p. 86).

As partes sendo notificadas da sentença arbitral, terão o prazo de 5 dias, para solicitar ao árbitro que corrija qualquer erro material da sentença ou esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição da sentença, ou pronuncie sobre ponto omitido a respeito da qual devia manifestar-se a decisão, devendo ser comunicado a outra

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parte a respeito da solicitação, tendo o árbitro prazo de 10 dias para analisar o pedido (CAETANO, 2002, p. 87).

Contudo, por não ser possível cabimento de recurso da sentença arbitral, por

criar coisa julgada, nada impede, no entanto, que as partes estabeleçam a

possibilidade de recorrer para outro órgão arbitral, nomeadamente na contingência

de se submeterem ao ordenamento de entidade, câmara arbitral ou organismo

internacional, que preveja recurso para outro órgão arbitral, prevendo isso no

compromisso arbitral (VENOSA, 2002, p. 22).

4.2 DA NULIDADE DA SENTENÇA ARBITRAL

Dispõe a Lei 9.307/96 em seu art. 32 sobre a nulidade da sentença arbitral:

Art. 32. É nula a sentença arbitral se: I – for nulo o compromisso; II – emanou de quem não podia ser árbitro; III – não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei; IV – for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem; V – não decidir todo o litígio submetido à arbitragem; VI – comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva; VII – proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e VIII – forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, §2º, desta Lei.

A nulidade da sentença arbitral se dará quando houver a nulidade do

compromisso, atingindo todo o procedimento15; quando for proferida por quem não

podia ser árbitro16; não contiver os requisitos da sentença17, devendo o órgão arbitral

proferir outra sentença; exceder os limites da convenção arbitral, pois como se

constitui pelas vontades das partes, esta deve ser preservada e observada na

prolação da decisão, que não pode ir além do que foi requerido18; quando não

decidir todo o litígio, pois a sentença deve apreciar toda a matéria discutida pelas

partes19; se comprovadamente foi proferida com prevaricação, concussão ou

15 Como ocorre por exemplo nos casos de incapacidade e direito indisponível. 16 O incapaz ou aquele que não goza de confiança das partes. 17 Relatório, fundamentação, dispositivo, data e local. 18 Compara-se a uma sentença ultra petita. 19 Compara-se a uma sentença citra petita ou extra petita.

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corrupção passiva do órgão arbitral, isto se deve ao fator confiança, requisito

essencial à função do árbitro; se proferida fora do prazo estipulado pelas partes20; ou

se ferir os princípios da garantia processual: contraditório ou igualdade das partes,

imparcialidade do árbitro e livre convencimento (MUNIZ, 2006, p. 138).

A parte interessada deverá pleitear junto ao órgão do Poder Judiciário

competente a decretação da nulidade da sentença arbitral. O prazo decadencial é de

noventa dias após o recebimento da notificação da sentença arbitral para a sua

propositura. A demanda para a decretação de nulidade da sentença arbitral seguirá

o procedimento comum, previsto no Código de Processo Civil (VENOSA, 2002, p.

23).

Vejamos o disposto no art. 33 da Lei 9.307/96:

Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a decretação da nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei: § 1º A demanda para a decretação de nulidade da sentença arbitral seguirá o procedimento comum, previsto no Código de Processo Civil, e deverá ser proposta no prazo de até noventa dias após o recebimento da notificação da sentença arbitral ou de seu aditamento. § 2º A sentença que julgar procedente o pedido: I – decretará a nulidade da sentença arbitral, nos casos do art. 32, incisos I, II, VI, VII e VIII; II – determinará que o árbitro ou tribunal arbitral profira novo laudo, nas demais hipóteses. § 3º A decretação da nulidade da sentença arbitral também poderá ser argüida mediante ação de embargos do devedor, conforme o art. 741 e seguintes do Código de Processo Civil, se houver execução judicial.

“A ação anulatória não é recurso, pois não visa o reexame do mérito da

sentença proferida, visando apenas a sua nulidade por vício formal” (VENOSA,

2002, p. 25).

4.3 DOS EFEITOS DAS SENTENÇAS ARBITRAIS ESTRANGEIRAS NO BRASIL

O reconhecimento da sentença arbitral no Brasil é de grande importância visto

que as grandes relações comerciais têm gerado movimentação dos tribunais, no

20 Salvo a exceção do prazo de 10 dias concedido pelo art.12, III da Lei 9.307/96.

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sentido de permitir aos vencedores que façam valer a titularidade de seu direito fora

de seu país. É fundamental abordarmos o tema no âmbito internacional e nacional.

Vejamos o exposto no art. 34 da Lei 9.307/96:

Art. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os termos desta Lei. Parágrafo Único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional.

A arbitragem vem cada vez mais contribuindo para o desembaraço do

controle legal e dos órgãos judiciais estatais, contribuindo com a celeridade da

convenção arbitral até a sentença final (MUNIZ, 2006, p. 139).

Os participantes do comércio internacional temem o procedimento e os juízes estatais. Temem o procedimento por seu ritualismo, sua publicidade, sua lentidão e seu custo, temem os juízes por uma falta de tempo e de especialização para resolver os casos, e por sua identificação nacional com uma das partes em litígio. Temem, portanto, a sentença judicial, uma sentença de improvisado desenlace, tecnicamente incorreta, na qual predominam as considerações domésticas e, acima de tudo, caras. O procedimento arbitral é, em contrapartida, flexível e rápido. Desenvolve-se com discrição que, por razões mercantis e fiscais, interessa às partes. Seu custo em termos relativos é menor. A designação do árbitro para resolver um caso concreto, feito pelos interessados ou encomendada a uma instituição responsável, é garantia de dedicação e perícia. Eqüidistante dos tribunais dos Estados, sob cuja jurisdição se encontram as partes, o árbitro se considera órgão neutro. Daí a esperança no acerto de uma sentença, fruto de escrupulosa atenção de profissionais versados e, por acréscimo, comparativamente barato, que permite às partes não interromper suas relações comerciais (STRENGER, 1998, p. 168).

A execução de sentenças arbitrais estrangeiras está sob a égide de diversas

convenções internacionais. Dessa forma, o objetivo principal dessas convenções é

facilitar a cooperação internacional, facilitando o trânsito das decisões que

dependem de execução forçada, apesar de ser óbvio que as sentenças são

proferidas com o propósito de que sejam cumpridas espontaneamente (STRENGER,

1998, p. 169).

Não é possível revisar sentença arbitral mesmo que se aluda ao

aparecimento de documentos ou provas dos quais não se tinha conhecimento até

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então, por causa de força maior, com anterioridade, e de que se fossem na ocasião

conhecidos e apresentados, mudariam a parte dispositiva da sentença (VENOSA,

2002, p. 29).

O que torna eventualmente possível essa situação é a interposição de

procedentes recursos extraordinários contra a sentença, nos moldes da Convenção

de Nova York, em seu artigo 6º:

Se a anulação ou a suspensão da sentença é pleiteada à autoridade competente, e a autoridade diante da qual a sentença invocada pode, se ela o considerar apropriado, suspender a execução da sentença; ela pode também, por petição da parte que requer a execução da sentença, ordenar à outra parte que forneça as garantias desejáveis.

Conforme a referida convenção, a autoridade competente aprecia de ofício

somente duas circunstâncias, a primeira seria que o objeto da divergência é,

segundo a lei do foro, passível de solução por arbitragem; e que o reconhecimento e

execução da sentença não contrariam a ordem pública (STRENGER, 1998, p. 171).

A sentença arbitral, uma vez proferida, adquire autoridade de coisa julgada,

como já se acentuou, e por isso possui força probante e faz fé de sua autenticidade.

Inexistindo convenção internacional vinculativa, cada ordenamento aplica a própria

disciplina processual para fazer com que a decisão arbitral estrangeira adquira

eficácia no próprio território, consistindo na execução ou no reconhecimento da

sentença arbitral (STRENGER, 1998, p. 172).

No Brasil, o reconhecimento para efeito de execução de sentença se fará

perante o Supremo Tribunal de Justiça, verificando-se primeiramente a existência de

vários requisitos, para em seguida declarar por sentença a eficácia da sentença

estrangeira. Assim, o titulo executivo é representado pela decisão estrangeira e pela

sentença do Supremo Tribunal de Justiça que declara sua eficácia (STRENGER,

1998, p. 172).

O maior interesse da parte vencedora em uma disputa é garantir a concreção

de seus direitos reconhecidos, impõe-se delimitar com algumas precisões as

principais causas de denegação da execução. Entre as principais causas de

obstáculo da execução são: a inexistência ou nulidade do acordo arbitral;

irregularidade na constituição do tribunal arbitral; falta de respeito ao direito de

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defesa; incongruência entre o conteúdo da sentença e do acordo arbitral; falta de

obrigatoriedade da sentença; desativação da sentença; não arbitrabilidade do objeto

da divergência; e incompatibilidade da sentença com a ordem pública do foro

(MUNIZ, 2006, p. 140).

Inexistência ou nulidade do acordo arbitral - A vontade das partes é o fundamento da arbitragem e, portanto, se essa vontade, não reflete adequadamente o acordo, faltam os alicerces sobre os quais se assenta a sentença (STRENGER, 1998, p. 177)

O primeiro a apreciar a existência e validade do acordo arbitral é o árbitro,

devendo sempre analisar a origem de tal acordo, embora seus critérios de

apreciação desses requisitos não são necessariamente os que vão presidir a opinião

da autoridade competente da execução (STRENGER, 1998, p. 177).

Irregularidade na constituição do tribunal arbitral - Determinar as relações existentes entre o acordo das partes e a lei do país onde se celebrou a arbitragem, chegando o momento de apreciar a regularidade da constituição do tribunal arbitral e do procedimento. Se as partes em um acordo arbitral previram submissão a uma instituição permanente de arbitragem, o procedimento se desenrolará conforme seu regulamento, mas se as partes previram submissão de suas controvérsias a um procedimento arbitral ad hoc, poderão, a seus gostos, nomear ou estabelecer o modo de designação dos árbitros, determinar a sede do tribunal arbitral e fixar as normas de procedimento (STRENGER, 1998, p. 177).

Poderá denegar o reconhecimento e a execução da sentença arbitral se a

parte contra a qual se invoca, alegue e prove, diante de autoridade competente, que

a constituição do tribunal arbitral e o procedimento, não forma ajustados entre as

partes, segundo a lei do país onde se efetuou a arbitragem (FIGUEIRA JÚNIOR,

1998, p. 233).

Falta de respeito ao direito de defesa – Não existem convenções ou tratados que admitam reconhecimento e execução no caso de haver desrespeito ao princípio do contraditório. Todos objetivam o pressuposto mais comum da falta de defesa: o que se produz quando o demandado não é citado ou o é incorretamente pela forma ou momento (STRENGER, 1998, p. 178).

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O árbitro deve examinar a forma de citação, sua regularidade e o momento

em que foi efetuada, para que o procedimento arbitral não desrespeite o direito de

defesa (FIGUEIRA JÙNIOR, 1998, p. 234).

Incongruência entre conteúdo da sentença e do acordo arbitral – Pode alegar e tratar de provar diante de autoridade competente, aquele contra o qual se endereçar a execução, é a de que a sentença se refere a divergência não prevista no compromisso ou não compreendida nas disposições da cláusula compromissória ou contém disposições que excedem os termos do compromisso ou da cláusula compromissória,. Se a sentença não resolveu todas as questões submetidas ao tribunal arbitral, a autoridade competente do país em que se peça o reconhecimento ou execução, poderá, se o julgar oportuno, aprazar ou subordinar a garantia que determine (STRENGER, 1998, p. 178).

A vontade das partes é à base da arbitragem e tudo que rebaixe dita vontade

deve ser descartado, pois a sentença deve suprir o que foi solicitado no acordo

arbitral (FIGUEIRA JÚNIOR, 1998, p. 234).

Falta de obrigatoriedade da sentença – A obrigatoriedade da sentença se produz quando esta não mais é suscetível de um recurso ordinário, ainda que contra ela caibam recursos extraordinários (STRENGER, 1998, p. 179).

Se a sentença for fruto de arbitragem administrada por uma instituição,

poderá sua obrigação derivar exclusivamente de seu regulamento (FIGUEIRA

JÚNIOR, 1998, p. 234).

Desativação da sentença – O reconhecimento e execução de uma sentença arbitral poderão ser denegados se a parte contra a qual se invoca alega e prova que foi anulada ou suspensa por autoridade competente do país que, conforme sua lei, foi proferida (STRENGER, 1998, p. 179).

Para que ocorra a desativação da sentença, é necessário que a anulação e

suspensão tenham precedência sobre o processo de execução (FIGUEIRA JÚNIOR,

1998, p. 235).

Não arbitramento do objeto da divergência – Quando a autoridade competente comprove que, segundo a lei do foro, o objeto da

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divergência não é suscetível de solução por via da arbitragem, recusará a sentença (STRENGER, 1998, p. 180).

Em relação à matéria submetida ao procedimento arbitral, cada país limita em

sua legislação a matéria permitida, variando assim, de um país ao outro (FIGUEIRA

JÚNIOR, 1998, p. 235).

Incompatibilidade da sentença com a ordem pública do foro - A sentença arbitral não será reconhecida e executada no caso de a autoridade competente comprovar que o reconhecimento ou a execução seriam contrários à ordem pública do país que a solicita. Nenhum Estado está disposto a renunciar, em nível de princípios, as suas próprias concepções. Somente a uniformização de normas materiais em convenções internacionais é capaz de restringir eficazmente as infiltrações de ordem pública (STRENGER, 1998, p. 177).

O próprio conteúdo da decisão que parecerá intolerável à autoridade

competente, porque a execução supõe a realização de atos que infrinjam normas de

aplicação necessária do direito do foro (FIGUEIRA JÚNIOR, 1998, p. 235).

O reconhecimento de matéria já julgada em procedimento arbitral é um meio

de defesa, com o intuito de padronizar as sentenças arbitrais, vejamos:

Utiliza-se o reconhecimento quando a um tribunal é submetida demanda versando litígio que já tenha sido objeto de arbitragem. A parte a quem a sentença deu satisfação evocará a autoridade da coisa julgada, cuja prova poderá ser feita perante tribunal, pedindo-lhe o reconhecimento da validade da decisão e do caráter obrigatório das questões sobre as quais deliberou. Se a sentença decidiu todas as questões levantadas no novo procedimento, o tribunal denegará o requerimento da parte em razão da autoridade da coisa julgada que se vincula à sentença. Se a sentença não se pronunciou a não ser sobre algumas questões levantadas no novo procedimento, seu reconhecimento permitirá obter que a coisa julgada seja declarada irrevogável, a fim de impedir que questões já decididas possam ser argüidas de novo (STRENGER, 1998, p. 182).

Vejamos agora o exposto no artigo 35 da Lei 9.307/96:

Art. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, a homologação do Supremo Tribunal de Justiça será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia

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no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os termos desta Lei. Parágrafo Único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional.

Os mesmos recursos previstos para contestar a execução de sentença de um

julgamento poderão ser opostos às sentenças arbitrais, exigindo para sua execução

a reciprocidade e a conformidade da sentença ao direito e ordem pública internos. O

Brasil, por seu turno, exige mais uma dupla homologação, uma pelo juiz do lugar da

arbitragem e pelo Supremo Tribunal de Justiça, antes de conceder execução à

sentença. Porém, o Supremo Tribunal de Justiça vem admitindo a concessão direta

da execução, quando se trata de países onde a arbitragem tenha se processado

sem regras de homologação da sentença (FIGUEIRA JÚNIOR, 1998, p. 237).

Qualquer decisão emanada de jurisdição estrangeira está sujeita a

homologação do Supremo Tribunal de Justiça. Para ter ingresso no regime brasileiro

a arbitragem concluída no exterior só adquire eficácia executória se receber a

homologação do Supremo Tribunal de Justiça. O reconhecimento se dará pelo

sistema deliberatório, não se admitindo intervenção no mérito da questão, só

analisando as questões de ordem formal (STRENGER, 1998, p. 188).

Lei 9.307/96 - Art. 36. Aplica-se à homologação para reconhecimento ou execução de sentença arbitral estrangeira, no que couber, o disposto nos artigos 483 e 484 do Código de Processo Civil.

Os artigos 483 e 484 do Código de Processo Civil contêm os dizeres:

Art. 483. A sentença proferida por tribunal estrangeiro não terá eficácia no Brasil senão depois de homologada pelo Supremo Tribunal Federal. Parágrafo Único. A homologação obedecerá ao que dispuser o Regimento Interno do Supremo Tribunal de Justiça.

Art. 484. A execução far-se-á por carta de sentença extraída dos autos da homologação e obedecerá as regras estabelecidas para execução da sentença nacional da mesma natureza.

Prosseguir-se-á os estudos verificando o art. 37 da Lei 9.307/96:

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Art. 37. A homologação de sentença arbitral estrangeira será requerida pela parte interessada, devendo a petição inicial conter as indicações da lei processual, conforme o art. 282 do Código de Processo Civil, e ser instruída, necessariamente, com: I – o original da sentença arbitral ou uma cópia devidamente certificada, autenticada pelo consulado brasileiro e acompanhada de tradução oficial; II – o original da convenção de arbitragem ou cópia devidamente certificada, acompanhada de tradução oficial.

O requerimento pela parte interessada, far-se-á mediante a constituição de seu

advogado para que proceda o mesmo (MUNIZ, 2006, p. 148).

Ao lado dos requisitos do 282 do CPC, se juntará necessariamente à inicial a

sentença arbitral homologada, ou cópia devidamente autenticada pelo consulado

brasileiro e apresentada ao Supremo Tribunal de Justiça oficialmente traduzida, por

tradutor juramentado, brasileiro ou não. Também deverá se apresentar o original ou

cópia devidamente autenticada da convenção arbitral, certificada em tradução oficial,

para fins de verificar se houve acordo arbitral, não cabendo nenhuma interferência

maior no sentido de desfazer a sentença submetida à homologação (STRENGER,

1998, p. 190).

Na oportunidade da homologação se verificará a competência dos árbitros. O controle exercido pelos direitos estatais sobre a sentença se efetua de uma parte, no lugar da sede da arbitragem, onde estão, em regra geral, as vias recursais em relação a sentença e, de outra parte, em todos os Estados nos quais sua execução forçada poderá ser solicitada, esses Estados se reservando sempre o direito de subordinar a execução da sentença a certas verificações de forma e de fundo. As convenções internacionais existentes sobre a matéria concernem essencialmente ao reconhecimento e execução das sentenças. Se o Brasil estiver subordinado a uma ou várias delas deverá forçosamente cumprir suas disposições (STRENGER, 1998, p. 190).

Prosseguir-se-á verificando o art. 38 da Lei 9.307/96:

Art. 38. Somente poderá ser negada a homologação para o reconhecimento ou execução de sentença arbitral estrangeira, quando o réu demonstrar que: I – as partes na convenção de arbitragem eram incapazes; II – a convenção de arbitragem não era válida segundo a lei à qual as partes se submeteram, ou, na falta de indicação, em virtude da lei do país onde a sentença arbitral foi proferida;

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III – não foi notificado da designação do árbitro ou do procedimento de arbitragem, ou tenha sido violado o princípio do contraditório, impossibilitando a ampla defesa; IV – a sentença arbitral foi proferida fora dos limites da convenção de arbitragem, e não foi possível separar a parte excedente daquela submetida à arbitragem; V – a instituição da arbitragem não está de acordo com o compromisso arbitral ou cláusula compromissória; VI – a sentença arbitral não se tenha, ainda, tornado obrigatória para as partes, tenha sido anulada, ou, ainda, tenha sido suspensa por órgão judicial do país onde a sentença arbitral for prolatada.

I – A incapacidade das partes na convenção de arbitragem equivale ao

exercício de contratar sem estar na plenitude de seus direitos civis, e será ditada

pelo regime jurídico que tutela cada uma das partes. Assim se uma delas for incapaz

de acordo com a Lei que a tutela, será invalida a convenção arbitral genericamente,

deixando ao Estado que determine a Lei pessoal segundo suas próprias concepções

(STRENGER, 1998, p. 193).

II – Apreciar-se-á aqui a validade da convenção segundo o direito ao qual as

partes se submeteram (STRENGER, 1998, 193).

III – A falta de notificação de designação do árbitro ou do procedimento

arbitral são menções de pouco alcance, pois se a parte integrou o procedimento

arbitral, está sanado o vício, e se não, a arbitragem não poderia ter-se realizado,

somente valendo a hipótese de revelia. A questão essencial é a violação do

contraditório e da ordem pública, estando ligados a igualdade das partes frente a

possibilidade de invocar suas pretensões e seu respaldo jurídico (STRENGER,

1998, p. 194).

IV – Os árbitros não respeitam sua missão de resolver as pretensões que lhes

são solicitadas, julgando infra petita ou ultra petita, resultando má apreciação da

extensão de sua competência.

A infra petita pode resultar também, independentemente de qualquer questão de competência, do fato de não terem os árbitros estatuído sobre alguma dentre as pretensões das partes, quer se trate de omissão ou de recusa deliberativa. Contudo é preciso reconhecer que os árbitros não estão de nenhuma maneira obrigados a se pronunciar sobre cada um dos meios de fato ou de direito articulados pelas partes e, menos ainda, sobre cada um dos argumentos que as partes desenvolvem. Igualmente ocorre nas decisões ultra petita,

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ocorrendo desrespeito aos limites do debate, avançando o árbitro para soluções não articuladas (STRENGER, 1998, p. 195).

V – Avaliar o compromisso e a cláusula compromissória invade questões de

mérito, que não podem ser objeto de apreciação judicial para o cabimento de

homologação. A cláusula compromissória é extremamente simples e será muito

difícil que se torne imprópria numa medida que induza falsamente a instituição da

arbitragem (STRENGER, 1998, p. 195).

VI – Somente são homologáveis sentenças definitivas, devidamente

certificadas como tais. Este é o momento em que se tornam obrigatórias. Esta

exigência não precisa ser demonstrada, porque é condição formal de admissibilidade

para a homologação. A suspensão da sentença por autoridade competente do país

no qual ou de acordo com a sentença foi proferida conduz igualmente a recusa do

reconhecimento da execução (STRENGER, 1998, p. 197).

Art. 39. Também será denegada a homologação para o reconhecimento ou execução da sentença arbitral estrangeira, se o Supremo Tribunal Federal constatar que: I – segundo a lei brasileira, o objeto do litígio não é suscetível de ser resolvido por arbitragem; II – a decisão ofende a ordem pública nacional; Parágrafo Único. Não será considerada ofensa à ordem pública nacional a efetivação da citação da parte residente ou domiciliada no Brasil, nos moldes da convenção de arbitragem ou da lei processual do país onde se realizou a arbitragem, admitindo-se, inclusive, a citação postal com prova inequívoca de recebimento, desde que assegure à parte brasileira tempo hábil para o exercício do direito de defesa sentença arbitral não se tenha, ainda, tornado obrigatória para as partes, tenha sido anulada, ou, ainda, tenha sido suspensa por órgão judicial do país onde a sentença arbitral for prolatada.

A não arbitrabilidade é um impeditivo para o reconhecimento e execução de

sentença arbitral, devendo para ser válida, uma convenção deve ser fruto de um

consentimento isento de vícios e deve ser objetivamente lícita (STRENGER, 1998, p.

198).

A ordem pública referida pode ser avaliada também quando a sentença arbitral foi prolatada através de processo que não respeitou exigências elementares de justiça. O parágrafo único introduz norma altamente salutar ao excluir, das incidências da ordem pública, a efetivação da citação nos moldes da convenção de arbitragem ou da

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lei processual do país onde se realizou a arbitragem, com muita freqüência homologações foram obstaculizadas por irregularidade formal da citação. Embora pudesse ser refeita a citação mediante correção do procedimento, a demora decorrente desse impasse era, muitas vezes, altamente prejudicial ao requerente (STRENGER, 1998, p. 199).

Finalizar-se-á verificando o art. 40 da Lei 9.307/96:

Art. 40. A denegação da homologação para reconhecimento ou execução de sentença arbitral estrangeira por vícios formais, não obsta que a parte interessada renove o pedido, uma vez sanados os vícios apresentados.

Os vícios formais não impedem o prosseguimento do processo, uma vez

sanada a irregularidade, com o que se permitirá a renovação do pedido

(STRENGER, 1998, p. 199).

Verificou-se nesse capítulo o aprimoramento e facilitação dos procedimentos

arbitrais de homologação de sentença, seus efeitos e requisitos no nosso direito

nacional, chegando ao fim do presente estudo.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização desta pesquisa, chega-se a algumas considerações acerca

do tema proposto.

Destaca-se, todavia, que a presente investigação bibliográfica é apenas o

início de um estudo que, certamente, merece maior aprofundamento, em face da

constatação de que a Arbitragem, ao longo do tempo vem sofrendo grande

transformação, em especial após a promulgação da Lei 9.307 de 23 de setembro de

1996, que fortificou a Arbitragem no direito brasileiro.

Desta forma, o objetivo geral do presente trabalho foi estudar os institutos da

Arbitragem, desde sua origem, seus conceitos, sua evolução histórica no mundo e

no Brasil, sua introdução em nosso ordenamento até os dias de hoje, e como foco

principal, as principais particularidades e efeitos da Sentença Arbitral Estrangeira no

Brasil. Dentre os diversos dispositivos voltados à tutela arbitral, esta pesquisa

concentra-se em analisar a Sentença Arbitral à luz da legislação vigente retratada

pela lei e pela doutrina pátrias.

Por seu turno, a análise do tema procedido nos três capítulos desta

monografia resultou nas seguintes constatações com relação aos objetivos

previamente estabelecidos para a realização desta pesquisa: 1) Historicamente a

arbitragem se desenvolveu na Judéia entre os sábios, onde as questões econômicas

eram decididas por três árbitros, na qual cada parte escolhe um julgador e ambas as

partes escolhem um terceiro árbitro; 2) A arbitragem é a instituição pela qual um

terceiro resolve o litígio que opõem duas ou mais partes, exercendo a missão

jurisdicional que lhe é conferida pelas partes; 3) A sentença deve ser pautada nos

critérios e parâmetros apontados pelas partes na convenção arbitral e preencher os

requisitos legais, apresentando a motivação e a fundamentação que o levaram à

solução; 4) A nulidade da sentença arbitral se dará quando houver a nulidade do

compromisso, atingindo todo o procedimento.

Assim sendo, o presente estudo limitou-se a reunir elementos dispersos na

doutrina, na Lei 9.307/96 e nas jurisprudências dos tribunais pátrios, a fim de

demonstrar o reconhecimento da Sentença Arbitral Estrangeira no Brasil.

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Outrossim, em resposta aos problemas apresentados na introdução e em face

da investigação realizada ao longo desta monografia, pôde-se chegar à confirmação

das hipóteses, nos seguintes termos:

Primeiro problema: Qual o objeto da relação arbitra ?

Primeira hipótese: O objeto dos interesses conflitantes, sobre o qual versará a

relação no juízo arbitral, deverá consistir em direito patrimonial disponível.

Análise da hipótese: A Arbitragem é o meio alternativo de solução de

controvérsias através da intervenção de uma ou mais pessoas que recebem seus

poderes de uma convenção privada, decidindo com base nela, sem intervenção

estatal, sendo a decisão destinada a assumir a mesma eficácia da sentença judicial,

é colocada a disposição de quem quer que seja para solução de conflitos relativos a

direitos patrimoniais acerca dos quais litigantes possam dispor.

Segundo problema: Como se reconhece a Sentença Arbitral Estrangeira no Brasil?

Segunda hipótese: A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada

no Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia no

ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os termos da

Lei 9.307/96.

Análise das Hipóteses: No Brasil, o reconhecimento para efeito de execução

de sentença se fará perante o Supremo Tribunal Federal, verificando-se

primeiramente a existência de vários requisitos, para em seguida declarar por

sentença a eficácia da sentença estrangeira. Assim, o titulo executivo é

representado pela decisão estrangeira e pela sentença do Supremo Tribunal de

Justiça que declara sua eficácia. Restando confirmada a hipótese em todos os seus

termos.

Desta forma, as hipóteses destacadas na introdução, ao longo da

investigação realizada, restaram confirmadas em sua totalidade.

Finalmente, o tema relativo a Sentença Arbitral Estrangeira é instigante, tendo

importantes desdobramentos que não podem ser deixados de lado e que sugerem

que as pesquisas devem continuar.

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ANEXOS:

Presidência da República Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos�

LEI Nº 9.307, DE 23 DE SETEMBRO DE 1996.�

� Dispõe sobre a arbitragem.�

���� O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte Lei:�

Capítulo I�

Disposições Gerais�

Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.�

Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de eqüidade, a critério das partes.�

§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.�

§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.�

Capítulo II�

Da Convenção de Arbitragem e seus Efeitos�

Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. �

Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.�

§ 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira.�

§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.�

Art. 5º Reportando-se as partes, na cláusula compromissória, às regras de algum órgão arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem será instituída e processada de acordo com tais

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regras, podendo, igualmente, as partes estabelecer na própria cláusula, ou em outro documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem.�

Art. 6º Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir a arbitragem, a parte interessada manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem, por via postal ou por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento, convocando-a para, em dia, hora e local certos, firmar o compromisso arbitral.�

Parágrafo único. Não comparecendo a parte convocada ou, comparecendo, recusar-se a firmar o compromisso arbitral, poderá a outra parte propor a demanda de que trata o art. 7º desta Lei, perante o órgão do Poder Judiciário a que, originariamente, tocaria o julgamento da causa.�

Art. 7º Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição da arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra parte para comparecer em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência especial para tal fim.�

§ 1º O autor indicará, com precisão, o objeto da arbitragem, instruindo o pedido com o documento que contiver a cláusula compromissória.�

§ 2º Comparecendo as partes à audiência, o juiz tentará, previamente, a conciliação acerca do litígio. Não obtendo sucesso, tentará o juiz conduzir as partes à celebração, de comum acordo, do compromisso arbitral.�

§ 3º Não concordando as partes sobre os termos do compromisso, decidirá o juiz, após ouvir o réu, sobre seu conteúdo, na própria audiência ou no prazo de dez dias, respeitadas as disposições da cláusula compromissória e atendendo ao disposto nos arts. 10 e 21, § 2º, desta Lei.�

§ 4º Se a cláusula compromissória nada dispuser sobre a nomeação de árbitros, caberá ao juiz, ouvidas as partes, estatuir a respeito, podendo nomear árbitro único para a solução do litígio.�

§ 5º A ausência do autor, sem justo motivo, à audiência designada para a lavratura do compromisso arbitral, importará a extinção do processo sem julgamento de mérito.�

§ 6º Não comparecendo o réu à audiência, caberá ao juiz, ouvido o autor, estatuir a respeito do conteúdo do compromisso, nomeando árbitro único.�

§ 7º A sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso arbitral.�

Art. 8º A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória.�

Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória.�

Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.�

§ 1º O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal, onde tem curso a demanda.�

§ 2º O compromisso arbitral extrajudicial será celebrado por escrito particular, assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público.�

Art. 10. Constará, obrigatoriamente, do compromisso arbitral:�

I - o nome, profissão, estado civil e domicílio das partes;�

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II - o nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbitros, ou, se for o caso, a identificação da entidade à qual as partes delegaram a indicação de árbitros; �

III - a matéria que será objeto da arbitragem; e�

IV - o lugar em que será proferida a sentença arbitral.�

Art. 11. Poderá, ainda, o compromisso arbitral conter:�

I - local, ou locais, onde se desenvolverá a arbitragem;�

II - a autorização para que o árbitro ou os árbitros julguem por eqüidade, se assim for convencionado pelas partes;�

III - o prazo para apresentação da sentença arbitral;�

IV - a indicação da lei nacional ou das regras corporativas aplicáveis à arbitragem, quando assim convencionarem as partes;�

V - a declaração da responsabilidade pelo pagamento dos honorários e das despesas com a arbitragem; e�

VI - a fixação dos honorários do árbitro, ou dos árbitros.�

Parágrafo único. Fixando as partes os honorários do árbitro, ou dos árbitros, no compromisso arbitral, este constituirá título executivo extrajudicial; não havendo tal estipulação, o árbitro requererá ao órgão do Poder Judiciário que seria competente para julgar, originariamente, a causa que os fixe por sentença.�

Art. 12. Extingue-se o compromisso arbitral:�

I - escusando-se qualquer dos árbitros, antes de aceitar a nomeação, desde que as partes tenham declarado, expressamente, não aceitar substituto; �

II - falecendo ou ficando impossibilitado de dar seu voto algum dos árbitros, desde que as partes declarem, expressamente, não aceitar substituto; e�

III - tendo expirado o prazo a que se refere o art. 11, inciso III, desde que a parte interessada tenha notificado o árbitro, ou o presidente do tribunal arbitral, concedendo-lhe o prazo de dez dias para a prolação e apresentação da sentença arbitral.�

Capítulo III�

Dos Árbitros�

Art. 13. Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes.�

§ 1º As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo nomear, também, os respectivos suplentes.�

§ 2º Quando as partes nomearem árbitros em número par, estes estão autorizados, desde logo, a nomear mais um árbitro. Não havendo acordo, requererão as partes ao órgão do Poder Judiciário a que tocaria, originariamente, o julgamento da causa a nomeação do árbitro, aplicável, no que couber, o procedimento previsto no art. 7º desta Lei.�

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§ 3º As partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha dos árbitros, ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada.�

§ 4º Sendo nomeados vários árbitros, estes, por maioria, elegerão o presidente do tribunal arbitral. Não havendo consenso, será designado presidente o mais idoso.�

§ 5º O árbitro ou o presidente do tribunal designará, se julgar conveniente, um secretário, que poderá ser um dos árbitros.�

§ 6º No desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, independência, competência, diligência e discrição.�

§ 7º Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral determinar às partes o adiantamento de verbas para despesas e diligências que julgar necessárias.�

Art. 14. Estão impedidos de funcionar como árbitros as pessoas que tenham, com as partes ou com o litígio que lhes for submetido, algumas das relações que caracterizam os casos de impedimento ou suspeição de juízes, aplicando-se-lhes, no que couber, os mesmos deveres e responsabilidades, conforme previsto no Código de Processo Civil.�

§ 1º As pessoas indicadas para funcionar como árbitro têm o dever de revelar, antes da aceitação da função, qualquer fato que denote dúvida justificada quanto à sua imparcialidade e independência.�

§ 2º O árbitro somente poderá ser recusado por motivo ocorrido após sua nomeação. Poderá, entretanto, ser recusado por motivo anterior à sua nomeação, quando:�

a) não for nomeado, diretamente, pela parte; ou�

b) o motivo para a recusa do árbitro for conhecido posteriormente à sua nomeação.�

Art. 15. A parte interessada em argüir a recusa do árbitro apresentará, nos termos do art. 20, a respectiva exceção, diretamente ao árbitro ou ao presidente do tribunal arbitral, deduzindo suas razões e apresentando as provas pertinentes.�

Parágrafo único. Acolhida a exceção, será afastado o árbitro suspeito ou impedido, que será substituído, na forma do art. 16 desta Lei.�

Art. 16. Se o árbitro escusar-se antes da aceitação da nomeação, ou, após a aceitação, vier a falecer, tornar-se impossibilitado para o exercício da função, ou for recusado, assumirá seu lugar o substituto indicado no compromisso, se houver.�

§ 1º Não havendo substituto indicado para o árbitro, aplicar-se-ão as regras do órgão arbitral institucional ou entidade especializada, se as partes as tiverem invocado na convenção de arbitragem.�

§ 2º Nada dispondo a convenção de arbitragem e não chegando as partes a um acordo sobre a nomeação do árbitro a ser substituído, procederá a parte interessada da forma prevista no art. 7º desta Lei, a menos que as partes tenham declarado, expressamente, na convenção de arbitragem, não aceitar substituto.�

Art. 17. Os árbitros, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, ficam equiparados aos funcionários públicos, para os efeitos da legislação penal.�

Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário.�

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Capítulo IV�

Do Procedimento Arbitral�

Art. 19. Considera-se instituída a arbitragem quando aceita a nomeação pelo árbitro, se for único, ou por todos, se forem vários.�

Parágrafo único. Instituída a arbitragem e entendendo o árbitro ou o tribunal arbitral que há necessidade de explicitar alguma questão disposta na convenção de arbitragem, será elaborado, juntamente com as partes, um adendo, firmado por todos, que passará a fazer parte integrante da convenção de arbitragem.�

Art. 20. A parte que pretender argüir questões relativas à competência, suspeição ou impedimento do árbitro ou dos árbitros, bem como nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem, deverá fazê-lo na primeira oportunidade que tiver de se manifestar, após a instituição da arbitragem.�

§ 1º Acolhida a argüição de suspeição ou impedimento, será o árbitro substituído nos termos do art. 16 desta Lei, reconhecida a incompetência do árbitro ou do tribunal arbitral, bem como a nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem, serão as partes remetidas ao órgão do Poder Judiciário competente para julgar a causa.�

§ 2º Não sendo acolhida a argüição, terá normal prosseguimento a arbitragem, sem prejuízo de vir a ser examinada a decisão pelo órgão do Poder Judiciário competente, quando da eventual propositura da demanda de que trata o art. 33 desta Lei.�

Art. 21. A arbitragem obedecerá ao procedimento estabelecido pelas partes na convenção de arbitragem, que poderá reportar-se às regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada, facultando-se, ainda, às partes delegar ao próprio árbitro, ou ao tribunal arbitral, regular o procedimento.�

§ 1º Não havendo estipulação acerca do procedimento, caberá ao árbitro ou ao tribunal arbitral discipliná-lo.�

§ 2º Serão, sempre, respeitados no procedimento arbitral os princípios do contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento.�

§ 3º As partes poderão postular por intermédio de advogado, respeitada, sempre, a faculdade de designar quem as represente ou assista no procedimento arbitral.�

§ 4º Competirá ao árbitro ou ao tribunal arbitral, no início do procedimento, tentar a conciliação das partes, aplicando-se, no que couber, o art. 28 desta Lei.�

Art. 22. Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral tomar o depoimento das partes, ouvir testemunhas e determinar a realização de perícias ou outras provas que julgar necessárias, mediante requerimento das partes ou de ofício.�

§ 1º O depoimento das partes e das testemunhas será tomado em local, dia e hora previamente comunicados, por escrito, e reduzido a termo, assinado pelo depoente, ou a seu rogo, e pelos árbitros.�

§ 2º Em caso de desatendimento, sem justa causa, da convocação para prestar depoimento pessoal, o árbitro ou o tribunal arbitral levará em consideração o comportamento da parte faltosa, ao proferir sua sentença; se a ausência for de testemunha, nas mesmas circunstâncias, poderá o árbitro ou o presidente do tribunal arbitral requerer à autoridade judiciária que conduza a testemunha renitente, comprovando a existência da convenção de arbitragem.�

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§ 3º A revelia da parte não impedirá que seja proferida a sentença arbitral.�

§ 4º Ressalvado o disposto no § 2º, havendo necessidade de medidas coercitivas ou cautelares, os árbitros poderão solicitá-las ao órgão do Poder Judiciário que seria, originariamente, competente para julgar a causa.�

§ 5º Se, durante o procedimento arbitral, um árbitro vier a ser substituído fica a critério do substituto repetir as provas já produzidas.�

Capítulo V�

Da Sentença Arbitral�

Art. 23. A sentença arbitral será proferida no prazo estipulado pelas partes. Nada tendo sido convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, contado da instituição da arbitragem ou da substituição do árbitro.�

Parágrafo único. As partes e os árbitros, de comum acordo, poderão prorrogar o prazo estipulado.�

Art. 24. A decisão do árbitro ou dos árbitros será expressa em documento escrito.�

§ 1º Quando forem vários os árbitros, a decisão será tomada por maioria. Se não houver acordo majoritário, prevalecerá o voto do presidente do tribunal arbitral.�

§ 2º O árbitro que divergir da maioria poderá, querendo, declarar seu voto em separado.�

Art. 25. Sobrevindo no curso da arbitragem controvérsia acerca de direitos indisponíveis e verificando-se que de sua existência, ou não, dependerá o julgamento, o árbitro ou o tribunal arbitral remeterá as partes à autoridade competente do Poder Judiciário, suspendendo o procedimento arbitral.�

Parágrafo único. Resolvida a questão prejudicial e juntada aos autos a sentença ou acórdão transitados em julgado, terá normal seguimento a arbitragem.�

Art. 26. São requisitos obrigatórios da sentença arbitral:�

I - o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio;�

II - os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de direito, mencionando-se, expressamente, se os árbitros julgaram por eqüidade;�

III - o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem submetidas e estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o caso; e�

IV - a data e o lugar em que foi proferida.�

Parágrafo único. A sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos os árbitros. Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a sentença, certificar tal fato.�

Art. 27. A sentença arbitral decidirá sobre a responsabilidade das partes acerca das custas e despesas com a arbitragem, bem como sobre verba decorrente de litigância de má-fé, se for o caso, respeitadas as disposições da convenção de arbitragem, se houver. �

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Art. 28. Se, no decurso da arbitragem, as partes chegarem a acordo quanto ao litígio, o árbitro ou o tribunal arbitral poderá, a pedido das partes, declarar tal fato mediante sentença arbitral, que conterá os requisitos do art. 26 desta Lei.�

Art. 29. Proferida a sentença arbitral, dá-se por finda a arbitragem, devendo o árbitro, ou o presidente do tribunal arbitral, enviar cópia da decisão às partes, por via postal ou por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento, ou, ainda, entregando-a diretamente às partes, mediante recibo.�

Art. 30. No prazo de cinco dias, a contar do recebimento da notificação ou da ciência pessoal da sentença arbitral, a parte interessada, mediante comunicação à outra parte, poderá solicitar ao árbitro ou ao tribunal arbitral que:�

I - corrija qualquer erro material da sentença arbitral;�

II - esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição da sentença arbitral, ou se pronuncie sobre ponto omitido a respeito do qual devia manifestar-se a decisão.�

Parágrafo único. O árbitro ou o tribunal arbitral decidirá, no prazo de dez dias, aditando a sentença arbitral e notificando as partes na forma do art. 29.�

Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo.�

Art. 32. É nula a sentença arbitral se:�

I - for nulo o compromisso;�

II - emanou de quem não podia ser árbitro;�

III - não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei;�

IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;�

V - não decidir todo o litígio submetido à arbitragem;�

VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva;�

VII - proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e�

VIII - forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2º, desta Lei.�

Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a decretação da nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei.�

§ 1º A demanda para a decretação de nulidade da sentença arbitral seguirá o procedimento comum, previsto no Código de Processo Civil, e deverá ser proposta no prazo de até noventa dias após o recebimento da notificação da sentença arbitral ou de seu aditamento.�

§ 2º A sentença que julgar procedente o pedido:�

I - decretará a nulidade da sentença arbitral, nos casos do art. 32, incisos I, II, VI, VII e VIII;�

II - determinará que o árbitro ou o tribunal arbitral profira novo laudo, nas demais hipóteses.�

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§ 3º A decretação da nulidade da sentença arbitral também poderá ser argüida mediante ação de embargos do devedor, conforme o art. 741 e seguintes do Código de Processo Civil, se houver execução judicial.�

Capítulo VI�

Do Reconhecimento e Execução de Sentenças�

Arbitrais Estrangeiras�

Art. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os termos desta Lei.�

Parágrafo único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional.�

Art. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Supremo Tribunal Federal.�

Art. 36. Aplica-se à homologação para reconhecimento ou execução de sentença arbitral estrangeira, no que couber, o disposto nos arts. 483 e 484 do Código de Processo Civil.�

Art. 37. A homologação de sentença arbitral estrangeira será requerida pela parte interessada, devendo a petição inicial conter as indicações da lei processual, conforme o art. 282 do Código de Processo Civil, e ser instruída, necessariamente, com:�

I - o original da sentença arbitral ou uma cópia devidamente certificada, autenticada pelo consulado brasileiro e acompanhada de tradução oficial;�

II - o original da convenção de arbitragem ou cópia devidamente certificada, acompanhada de tradução oficial.�

Art. 38. Somente poderá ser negada a homologação para o reconhecimento ou execução de sentença arbitral estrangeira, quando o réu demonstrar que:�

I - as partes na convenção de arbitragem eram incapazes;�

II - a convenção de arbitragem não era válida segundo a lei à qual as partes a submeteram, ou, na falta de indicação, em virtude da lei do país onde a sentença arbitral foi proferida;�

III - não foi notificado da designação do árbitro ou do procedimento de arbitragem, ou tenha sido violado o princípio do contraditório, impossibilitando a ampla defesa;�

IV - a sentença arbitral foi proferida fora dos limites da convenção de arbitragem, e não foi possível separar a parte excedente daquela submetida à arbitragem;�

V - a instituição da arbitragem não está de acordo com o compromisso arbitral ou cláusula compromissória;�

VI - a sentença arbitral não se tenha, ainda, tornado obrigatória para as partes, tenha sido anulada, ou, ainda, tenha sido suspensa por órgão judicial do país onde a sentença arbitral for prolatada.�

Art. 39. Também será denegada a homologação para o reconhecimento ou execução da sentença arbitral estrangeira, se o Supremo Tribunal Federal constatar que:�

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I - segundo a lei brasileira, o objeto do litígio não é suscetível de ser resolvido por arbitragem;�

II - a decisão ofende a ordem pública nacional.�

Parágrafo único. Não será considerada ofensa à ordem pública nacional a efetivação da citação da parte residente ou domiciliada no Brasil, nos moldes da convenção de arbitragem ou da lei processual do país onde se realizou a arbitragem, admitindo-se, inclusive, a citação postal com prova inequívoca de recebimento, desde que assegure à parte brasileira tempo hábil para o exercício do direito de defesa.�

Art. 40. A denegação da homologação para reconhecimento ou execução de sentença arbitral estrangeira por vícios formais, não obsta que a parte interessada renove o pedido, uma vez sanados os vícios apresentados.�

Capítulo VII�

Disposições Finais�

Art. 41. Os arts. 267, inciso VII; 301, inciso IX; e 584, inciso III, do Código de Processo Civil passam a ter a seguinte redação:�

"Art. 267.........................................................................�

VII - pela convenção de arbitragem;"�

"Art. 301.........................................................................�

IX - convenção de arbitragem;"�

"Art. 584...........................................................................�

III - a sentença arbitral e a sentença homologatória de transação ou de conciliação;"�

Art. 42. O art. 520 do Código de Processo Civil passa a ter mais um inciso, com a seguinte redação:�

"Art. 520...........................................................................�

VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem."�

Art. 43. Esta Lei entrará em vigor sessenta dias após a data de sua publicação.� Art. 44. Ficam revogados os arts. 1.037 a 1.048 da Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916, Código Civil Brasileiro; os arts. 101 e 1.072 a 1.102 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Código de Processo Civil; e demais disposições em contrário.� Brasília, 23 de setembro de 1996; 175º da Independência e 108º da República.�FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Nelson A. Jobim �Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 24.9.1996�

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