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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - UFCG CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL - CSTR UNIDADE ACADÊMICA DE MEDICINA VETERINÁRIA - UAMV CAMPUS DE PATOS MONOGRAFIA DESEQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO EM CÃES COM DIABETES MELLITUS: REVISÃO DE LITERATURA MAYARA GUEDES JUVÊNCIO DE ARAÚJO PATOS, 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - UFCG

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL - CSTR

UNIDADE ACADÊMICA DE MEDICINA VETERINÁRIA - UAMV

CAMPUS DE PATOS

MONOGRAFIA

DESEQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO EM CÃES COM DIABETES

MELLITUS: REVISÃO DE LITERATURA

MAYARA GUEDES JUVÊNCIO DE ARAÚJO

PATOS, 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - UFCG

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL - CSTR

UNIDADE ACADÊMICA DE MEDICINA VETERINÁRIA - UAMV

CAMPUS DE PATOS

MONOGRAFIA

DESEQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO EM CÃES COM DIABETES

MELLITUS: REVISÃO DE LITERATURA

MAYARA GUEDES JUVÊNCIO DE ARAÚJO Graduanda

Prof. Dr. Antônio Fernando de Melo Vaz

Orientador

Patos-PB

Dezembro de 2017

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO CSRT DA UFCG

A658d

Araújo, Mayara Guedes Juvêncio de

Desequilíbrio ácido-básico em cães com diabetes mellitus: revisão de

literatura. – Patos, 2017.

61f. il.; color.

Trabalho de Conclusão de Curso (Medicina Veterinária) – Universidade

Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, 2017.

“Orientação: Prof. Dr. Antônio Fernando de Melo Vaz.”

Referências.

1. Canino. 2. Diabetes Mellitus. 3. Cetose diabética. 4. Cetoacitose

diabética. I. Título.

CDU 616:636.7

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CAMPUS DE PATOS-PB

UNIDADE ACADÊMICA DE MEDICINA VETERINARIA

MAYARA GUEDES JUVÊNCIO DE ARAÚJO

Graduanda

Monografia submetida ao curso de Medicina Veterinária como requisito parcial para a

obtenção do grau de Médico Veterinário.

APROVADA EM 05/12/2017 MÉDIA: ________

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ _______

Prof. Dr. Antônio Fernando de Melo Vaz Nota

Orientador

___________________________________________ _______

M.sc. Fernanda Vieira Henrique Nota

Examinador I

____________________________________________ _______

M.sc. Olívia Maria Moreira Borges Nota

Examinador II

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AGRADECIMENTOS

Ao Pai Celeste e a espiritualidade a qual por todos estes anos me instruíram,

destino minha eterna gratidão, pois até aqui me sustentou e me presenteou com o dom da

vida, com as pessoas que me cercam e com direito de escolha.

Agradeço ao meu pai Márcio Guedes pelo afeto, dedicação e ensinamentos, os

quais mesmo não estando ao meu lado em matéria, mas através de tudo que me devotou e

ensinou, fez edificar um alicerce forte com o seu exemplo de vida para que eu conseguisse

prosseguir.

Agradeço a minha mãe de coração que apesar de não ter me gerado, mas que me

fez sentir imensamente amada e que mostrou-me que os laços que interligam as pessoas

vão muito além da herança genética, mas sim na doação e cuidado para com os outros, é o

doar sem esperar nada em troca, o compromisso com a vida de um ser que não foi gerado

em você fisiologicamente, no entanto foi gerado dentro do seu ser. Mãe, obrigada por esse

amor incondicional que apesar de também não ter sua presença física ao meu lado te sinto

constantemente através desse amor que nos uni.

Agradeço também a minha avó paterna a qual exerceu um papel de mãe, aliás,

além disso, pois falam que os netos são filhos com açúcar, pois bem criou-me e cuidou-me

com um amor puro e é meu maior exemplo de força.

Agradeço a minha irmã caçula Maria Luiza Guedes por despertar um amor

protetor incondicional e por me mostrar a alegria da vida.

Agradeço ao meu irmão Marcel Guedes por ter existido e me ensinado que o amor

nos faz batalhar pela vida de quem nos importa e que temos que ser mais atenciosos com

os que nos cercam, na verdade isso não cabe só em agradecimentos, mas em um pedido de

desculpas por não ter sido mais presente.

Ao meu professor e orientador agradeço do fundo do meu coração não só pelos

ensinamentos, mas pela paciência e pelo comprometimento com o que faz.

Agradeço os familiares e amigos e todos os quais fazem parte ou que de alguma

forma passaram por minha vida, pois ninguém cruza o caminho do outro sem que deixe

ensinamentos.

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

2,3-DPG: 2,3-difosfoglicerato

acetil-CoA: Acetil coenzima A

AG: Ânion Gap

AGL: Ácidos graxos livres.

ATP: Trifosfato de adenosina

𝐵𝐸𝐹𝐸𝐶: Excesso de base no líquido extra celular

β-OHB: β-hidroxibutirato.

CAD: Cetoacidose diabética

CD: Cetose diabética.

𝐶𝑎2+: Cálcio

𝐶𝑂2: Dióxido de carbono

𝐶𝑙_: Cloro

DM: Diabetes Mellitus.

DMID: Diabetes Mellitus insulinodependente.

DMNID: Diabetes Mellitus não insulinodependente

EB: Excesso de base.

FEC: Fluido ExtraCelular.

GLUT 4: Transportador de glicose.

𝐻+: Hidrogênio.

Hb: Hemoglobina.

𝐻𝐶𝑂3 –: Bicarbonato.

𝐻2𝑂: Água.

LCR: Líquido cefalorraquidiano

𝐾+ : Potássio.

𝐾𝐴𝑇𝑃: Canal de potássio dependente de ATP

KCl: Cloreto de potássio

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𝑁𝑎+: Sódio

NaCl: Cloreto de sódio

𝑁𝑎𝐻𝐶𝑂3: Bicarbonato de sódio

𝑁𝐻4+: Amónio

NPH: Neutral Protamine Hagedorn

pK: Logaritmo da constante ionização.

𝑃𝑐𝑜2: Pressão parcial de dióxido de carbono

𝑃𝑜2: Pressão parcial de oxigênio

OH-:

Hidroxila

SNC: Sistema Nervoso Central

Spec Cpl: Lipase pancreática específica canina.

Spec fPL: Lipase pancreática específica felina.

VLDL: Lipoproteína de baixa densidade

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SUMÁRIO

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Sumário

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 15

2 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................................... 17

2.1 Pâncreas ....................................................................................................................................... 17

2.2 Insulina e seus efeitos .................................................................................................................. 20

2.3 Diabetes Mellitus (DM) ............................................................................................................... 21

2.3.1 Classificação ............................................................................................................................ 21

2.3.2 Fisiopatologia ....................................................................................................................... 23

2.3.3 Aspectos Clínicos ................................................................................................................. 29

2.3.4 Diagnóstico das endocrinopatias .......................................................................................... 31

2.3.5 Prognóstico das endocrinopatias .......................................................................................... 34

2.3.6 Tratamento ........................................................................................................................... 34

2.4 Distúrbios eletrolíticos ................................................................................................................ 43

2.5 Equilíbrio Ácido-básico .............................................................................................................. 44

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 58

Referências ............................................................................................................................................ 60

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LISTA DE QUADRO

Pág

Quadro 1 - Classificação do diabetes Mellitus quanto à patogênese ................................... 22

Quadro 2 - Processos do metabolismo da glicose. .............................................................. 23

Quadro 3 - Anormalidades clinicopatológicas comumente encontradas em cães e gatos

com Diabetes Mellitus Simples. .......................................................................................... 31

Quadro 4 - Complicações da Diabetes Mellitus no Cão e no Gato ..................................... 35

Quadro 5 - Causas reconhecidas de resistência à insulina em Cães e Gatos ....................... 37

Quadro 6 - Práticas de abordagem para melhoria da qualidade de vida de cães diabéticos,

visando uma reeducação de condutas .................................................................................. 40

Quadro 7 - Protocolo inicial de cães com cetoacidose diabética Grave .............................. 41

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LISTA DE TABELA

Pág

Tabela 1- Características dos cães diabéticos dos subgrupos cetoacidose diabética e cetose

diabética. .............................................................................................................................. 30

Tabela 2 - Manifestações clínicas dos cães diabéticos com cetoacidose diabética (CAD) ou

cetose diabética (CD)........................................................................................................... 30

Tabela 3 - Interpretação da concentração de frutosamina sérica em cães normais e

diabéticos em tratamento. .................................................................................................... 33

Tabela 4 - Proposta para a classificação da cetose e da cetoacidose diabética em cães ...... 34

Tabela 5 - Propriedades das preparações de insulina disponíveis no Brasil. ...................... 36

Tabela 6 - Alterações ácido-basicas correlacionando as primárias com as secundárias. .... 48

Tabela 7 - Resposta compensatória imediata e tardia dos distúrbios acidobásicos. ............ 49

Tabela 8 - Valores do pH sanguíneo (venoso), da pressão venosa de CO2, do bicarbonato

plasmático, do excesso de base e do anion gap de cães saudáveis ...................................... 50

Tabela 9 - Mecanismos de compensação, renais e respiratórios, esperados nos distúrbios

ácido-básicos de cães. .......................................................................................................... 53

Tabela 10 - Concentrações aproximadas de cátions e ânios do plasma de cães normais .... 54

Tabela 11 - Cálculo de dose para déficit de base ................................................................ 55

Tabela 12 - Resultados de pH sanguíneo, pressão dos gases sanguíneos, déficit de base e

anion gap dos cães dos subgrupo cetose diabética (CD) e cetoacidose diabética (CAD). . 57

Tabela 13 - Valores dos eletrólitos dos subgrupos cetose diabética (CD) e cetoacidose

diabética (CAD) ................................................................................................................... 57

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LISTA DE FIGURAS

Pág

Figura 1 - Desenho esquemático do aspecto ventral do pâncreas, mostrando os lobos

esquerdo (L) e direito (R). ................................................................................................... 17

Figura 2 - Sistema endócrino do pâncreas ........................................................................... 18

Figura 3 - Secção histológica do pâncreas de um gato saudável, mostrando uma ilhota de

Langerhans cercada por tecido exócrino ............................................................................. 19

Figura 4 - Transporte de glicose para um miócito pelo GLUT4 regulado pela insulina. .... 24

Figura 5 – Metabolismo da glicose e da insulina no estado bem alimentado. .................... 26

Figura 6 - Metabolismo energético no fígado durante jejum prolongado ou no diabetes

Mellitus não controlado ....................................................................................................... 27

Figura 7 - Esquema para interpretação da curva glicêmica seriada .................................... 39

Figura 8 - Par ácido acético/acetato como sistema tampão. ................................................ 45

Figura 9 - Sistema tampão do bicarbonato .......................................................................... 47

Figura 10 - Abordagem passo a passo para a interpretação de distúrbios acidobásicos ..... 51

Figura 11 - A. Indivíduo normal. B. Indivíduo com anion gap elevado. C. Indivíduo com

anion gap normal ................................................................................................................. 55

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LISTA DE GRÁFICOS

Pág

Gráfico 1 - Demonstração de curva glicêmica seriada. ....................................................... 38

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DE ARAÚJO, MAYARA GUEDES JUVÊNCIO. DESEQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO

EM CÃES COM DIABETES MELLITUS: REVISÃO DE LITERATURA. UFCG,

2017, 61 p. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Medicina Veterinária,

Clínica Médica de Pequenos animais) - Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária,

Universidade Federal de Campina Grande.

RESUMO

Diabetes Mellitus é uma endocrinopatia que acomete vários mamíferos e a revisão de

literatura em questão reúne informações desta patologia fazendo referência à espécie

canina. O organismo dos animais sofre intensas transformações causadas por consequência

das alterações metabólicas devido à falta da produção de insulina ou resistência insulínica,

gerando déficit de energia para funcionalidade tecidual, e podendo ser fator desencadeante

da cetose diabética ou da cetoacidose diabética devido a produção de corpos cetônicos. A

avaliação do equilíbrio ácido-básico se faz necessária, pois fornece ao médico veterinário

os valores dos eletrólitos, assim como dos gases sanguíneos, para que através destes dados

possa correlacionar com as informações coletadas na anamnese e na avaliação do exame

físico, a fim de melhorar o diagnóstico e o tratamento, utilizando os recursos disponíveis e

mais eficientes nas diferentes formas de evolução da doença, assim como a melhor

abordagem em relação ao animal recém diagnosticado ou que já se encontre em um quadro

complicado.

Palavras-chaves: diabetes Mellitus, cetose diabética, cetoacidose diabética, eletrólitos,

ácido-básico.

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DE ARAÚJO, MAYARA GUEDES JUVÊNCIO. ACID-BASIC IMPAIRMENT IN

DOGS WITH DIABETES MELLITUS: Literature review. UFCG, 2017, 61 p.

Monograph (Work Completion of course in Veterinary Medicine, Medical Clinic of

equine) - Academic Unit of Veterinary Medicine, Federal University of Campina Grande

ABSTRACT

Diabetes Mellitus is an endocrinopathy that affects several mammals and the literature

review in question gathers information of this pathology with reference to the canine

specie. The organism of the animals undergoes intense transformations caused by the

metabolic changes due to the lack of insulin production or insulin resistance, generating

energy deficit for tissue function, and it can be a triggering factor for diabetic ketosis or

diabetic ketoacidosis due to the production of ketone bodies. The assessment of the acid-

base balance is necessary because it provides the veterinarian with the electrolyte values as

well as the blood gases so that through these data can correlate with the information

collected in the anamnesis and physical examination evaluation, in order to improve the

diagnosis and treatment, using available and more efficient resources in the different forms

of disease evolution, as well as the best approach for newly diagnosed or already

complicated animals.

Key words: diabetes Mellitus, diabetic ketosis, diabetic ketoacidosis, electrolytes, acid-

base

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1 INTRODUÇÃO

Os animais de companhia têm assumido um papel de destaque na economia

brasileira, devido ao crescente mercado de produtos e serviços que são voltados para os pets.

Esses animais se tornaram parte integrante da família e em decorrência desse fenômeno os

proprietários estão cuidando mais efetivamente dos mesmos. Esse fato faz com que se tenha

maiores investimentos a fim de melhorar a qualidade de vida desses animais.

Várias doenças que acometem o ser humano também acometem estes animais.

Visando aperfeiçoar os tratamentos destas patologias, diversos estudos fisiopatológicos estão

sendo desenvolvidos a fim de melhorar a terapêutica e o prognóstico do paciente. A diabetes

Mellitus (DM) é uma endocrinopatia que se caracteriza pelo aumento da glicose no sangue

provocada pela incapacidade do pâncreas em secretar a insulina e/ou da deficiência da

insulina nos tecidos. É uma doença de ocorrência comum e precisa de tratamento adequado,

pois tende a ser fatal.

Essa patologia pode ser classificada em três tipos, sendo o Tipo 1 o mais comum,

caracterizado pela hiperglicemia. O Tipo 2 se caracteriza pela resistência aos efeitos da

insulina e, finalmente, o Tipo 3 ocorre pelo aumento da concentração de hormônios

diabetogênicos.

A análise do equilíbrio acido-básico, tem como exame ouro a hemogasometria, a

qual vem sendo bastante empregada na rotina veterinária, e é utilizada em animais que

possuem o quadro clínico complicado, o que pode ocorrer em animais diabéticos. A avaliação

deste equilíbrio é rotineiramente realizada através da associação dos valores obtidos pela

hemogasometria e dos resultados dos eletrólitos, com o intuito de avaliar o grau de severidade

causada pela doença de base e suas consequências nos tecidos, bem como as perdas sofridas

pelo organismo.

Diante desta realidade, este estudo busca aprofundar a pesquisa na área de

endocrinologia referente ao diabetes Mellitus focando nas alterações metabólicas que ocorrem

nos cães por consequência da evolução da doença, tal como o desequilíbrio ácido-básico,

fazendo uma correlação entre a história pregressa, o exame físico e os achados laboratoriais.

A revisão de literatura em questão, tem o intuito de atualizar as informações relacionadas a

terapias atualmente empregadas, nos diversos graus de alterações metabólicos decorrentes da

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diabetes Mellitus, além de reunir recursos informativos de estudos empregados para o

tratamento e diagnóstico.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Pâncreas

Reusch, Robben e Kooistra (2010), afirmam que o pâncreas é um órgão essencial,

responsável pela digestão e pela homeostase da glicose. Ele está localizado nos segmentos

epigástrico e mesogástrico da cavidade abdominal e consiste em um lobo direito (duodenal)

comprido e delgado e um lobo esquerdo (esplênico) mais curto e grosso, que são unidos no

corpo pancreático (Figura 1). Na maioria dos cães, o pâncreas tem dois ductos excretores, em

conformidade com sua origem de dois primórdios diferentes. O sangue é fornecido por ramos

das artérias mesentéricas celíaca e cranial, e a drenagem venosa é realizada por veias que

terminam na veia porta.

Figura 1 - Desenho esquemático do aspecto

ventral do pâncreas, mostrando os lobos

esquerdo (L) e direito (R).

Fonte: Reusch.; Robben; Kooistra (2010).

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O pâncreas endócrino se assemelha aos neurônios em relação a baixa capacidade de

regeneração. Para que a hiperglicemia surja é necessário que mais de 70% deste órgão esteja

comprometido. Histologicamente este órgão é composto por um arranjo de células conhecidas

como ilhotas de Langerhns, sendo estas disposta por todo o parênquima pancreático

(ENGELKING, 2010a). No animal adulto, as ilhotas de Langerhans constituem

aproximadamente 1 a 2% da massa pancreática total. (REUSCH; ROBBEN; KOOISTRA,

2010). De acordo com Pöppl e Elizeire (2015) as ilhotas de Langerhans apresentam

histologicamente quatro subtipos celulares: alfa, beta, delta e PP. Na figura 2 poderá ser

observado a disposição destas células endócrinas e cada subtipo respondendo pela liberação

de hormônios específicos.

Figura 2 - Sistema endócrino do pâncreas

Fonte: NELSON; COX (2014a).

As células α, produzem glucagon, as células β (de longe, as mais abundantes),

produzem insulina e amilina; as células δ, que produzem somatostina; e as células PP, que

produzem polipeptídio pancreático. A distribuição das células β é diferente entre as espécies e

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em cães e gatos estão localizadas na periferia (figura 3) (REUSCH; ROBBEN; KOOISTRA,

2010).

Figura 3 - Secção histológica do pâncreas de um gato saudável, mostrando

uma ilhota de Langerhans cercada por tecido exócrino

Fonte: Reusch; Robben; Kooistra (2010).

A insulina e o glucagon são hormônios produzidos no pâncreas e que controlam a

glicemia, embora existam outros hormônios e substâncias neuroendócrinas que influenciem

nas concentrações glicêmicas, sendo responsáveis pela resposta do organismo a longos

períodos de jejum ou maior necessidade de glicose (EHRMEYER; LAESSIG; ANCY, 2010).

A insulina dificulta a liberação de glucagon, devido ao fluxo sanguíneo que se dá do

centro das ilhotas e parte para a periferia, este sangue segue para veia porta hepática. O

sistema nervoso autônomo atua nestas estruturas promovendo ação simpática, o que causa

aumento na síntese de insulina e inibição da síntese de glucagon, e também atua através da

resposta parassimpática, e por meio desta ação há aumento tanto da produção de glucagon

quanto de insulina. As ilhotas de Langerhans são mais vascularizadas que o tecido pancreático

exócrino (ENGELKING, 2010a).

Os capilares das ilhotas são fenestrados, o que aumenta a permeabilidade. Um

sistema porta ilhota-ácino faz a comunicação entre os tecidos pancreáticos endócrino e

exócrino. Supõe-se que o sangue que vem das ilhotas flui pelos capilares dos ácinos antes de

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deixar o pâncreas e que os hormônios da ilhota têm papel na regulação do pâncreas exócrino

(REUSCH; ROBBEN; KOOISTRA, 2010).

2.2 Insulina e seus efeitos

Os tecidos mais afetados pelo diabetes mellitus são os que têm insensibilidade à

insulina. Algumas estruturas são afetadas patofisiologicamente devido à condição de não

serem insulinodependentes, e quando há aumento nos níveis intracelulares de glicose ocorre

também um forte aumento nas células epiteliais tubulares renais glomerulares, nas células

nervosas, no cristalino e nos eritrócitos. A reabsorção pelo túbulo proximal da glicose a partir

do filtrado renal mantem-se sem alteração, porém existe um limiar que corresponde à

concentração de reabsorção de 180mg/dL, e quando este valor é ultrapassado, surge

glicosúria. Há uma relação em que, se os níveis de glicose plasmáticos aumentam, então o

valor da glicose nestes tecidos tendem a subir também (ENGELKING, 2010b).

Foi constatado que nos casos de estresses fisiológicos, os níveis sanguíneos de

cortisol, glucagon, catecolaminas e hormônio do crescimento sobem, e há resistência à

insulina. A taxa de metabolismo basal, glicemia e os níveis de ácidos graxos também são

elevados (HARRIS; CRABB 2007).

A capacitação de glicose por tecidos sensíveis a insulina – isto é, muscular e adiposo

– é diminuída no estado diabético. O paciente diabético ou não tem insulina ou desenvolveu

“resistência à insulina” nestes tecidos. Resistência insulínica resulta de anomalia no receptor

de insulina ou em etapas subsequentes de transdução de sinal, mediadoras dos efeitos

metabólicos da insulina (HARRIS; CRABB 2007).

A resistência insulínica é uma condição na qual uma quantidade normal de insulina

produz uma resposta biológica subnormal, e pode ser decorrente de problemas antes da

interação da insulina com seu receptor, no receptor ou, ainda, nas cascatas fosforilativas pós-

receptor. Os defeitos pré-receptor são resultantes de redução na quantidade de insulina

metabolicamente ativa, incluindo aumento na degradação da insulina e anticorpos anti-

insulina. Os defeitos de receptor incluem decréscimo na concentração de receptores de

insulina na membrana plasmática ou menor afinidade de ligação hormônio-receptor, ambos

levando à redução na atividade tirosinoquinase do receptor (PÖPPL; ELIZEIRE, 2015).

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Pág 21

2.3 Diabetes Mellitus (DM)

A diabetes Mellitus (DM) é uma patologia que acomete animais domésticos devido a

uma deficiência ou resistência periférica ao hormônio insulina. Os sinais clínicos da DM

geralmente se desenvolvem de forma gradual. Entre eles estão poliúria, polidipsia, polifagia,

perda de peso e fraqueza. Os exames laboratoriais revelam hiperglicemia constante e

persistente. Sua condição metabólica envolve defeitos na secreção de insulina ou na

transdução do seu sinal intracelular, o que leva a uma regulação anormal da glicemia

(COLVILLE, 2010, MOYES; SCHULTE, 2010).

A Organização Mundial da Saúde define o DM como um grupo de doenças

metabólicas de origens múltiplas, caracterizado por hiperglicemia crônica e distúrbios no

metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas, resultado de defeitos na secreção da

insulina, na ação dela ou de ambos (PÖPPL; ELIZEIRE, 2015).

2.3.1 Classificação

De acordo com Greco (2013) a diabetes Mellitus: insulino-dependente (DMID),

também denominado diabetes tipo 1, é a condição diabética em que a secreção endógena de

insulina não é suficiente para impedir a produção de cetonas. Cabe ainda dizer que a presença

de hipoinsulinemia sem aumento nas concentrações séricas de insulina frente de um desafio

com glicose, caracterizam o DMID na maioria dos cães quando é realizado o diagnóstico

(PÖPPL; ELIZEIRE, 2015).

Segundo Greco (2013) a diabetes Mellitus não-dependente de insulina (DMNDI),

também denominada diabetes tipo 2, que é uma condição diabética na qual a secreção de

insulina geralmente é suficiente para prevenir cetose, mas não para impedir hiperglicemia. A

secreção da insulina pode ser alta, baixa ou normal, mas é insuficiente para superar a

resistência à insulina nos tecidos periféricos. As características metabólicas do diabetes tipo 2

são: prejuízo à secreção de insulina, maior síntese hepática de glicose e resistência à insulina;

O diabetes tipo 3, ou secundário, é resultante de uma doença ou condição primária de terapia

medicamentosa que induz a resistência à insulina. A maior parte dos cães apresentam diabetes

tipo 1. No quadro 1, estão demonstradas os tipos de diabetes e a sua respectiva patogênese.

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Quadro 1 - Classificação do diabetes Mellitus quanto à patogênese

Classificação Patogênese

Tipo 1 Destruição das células β

Deficiência absoluta de insulina

Autoanticorpos

Autoanticorpos anticélulas das ilhotas

Autoanticorpos antiinsulina

Autoanticorpos antiácido glutâmico descarboxilase

Autoanticorpos antitirosina fosfatase IA-2 e IA-2B

Tipo 2 Resistência à insulina, com defeito de secreção do hormônio

Deficiência relativa de insulina

Tipo 3

Gestacional

Associados a condições secundárias

Defeitos genéticos da função das células β

Doença pancreática

Doença endócrina

Indução farmacológica ou química

Anormalidades dos receptores de insulina

Outras síndromes genéticas

Intolerância à glicose durante a gravidez

Decorrente de alterações metabólicas e hormonais

Fonte: Freeman (2010).

Estudos revelam que cães com diabetes Mellitus tipo 1, são propensos a desenvolver

cetoacidose e precisam de insulina para sobreviver. Anticorpos contra as células beta são

encontrados na maioria dos casos em humanos. Em cães, foram achados anticorpos contra

células beta em 50% dos casos de diabetes recentemente descritos, sugerindo componente

imunológico da doença também no cão. Os alvos celulares dos anticorpos no diabetes

Mellitus canina são desconhecidos. Sugere-se que, nos cães, os anticorpos não estejam

envolvidos no processo de destruição primária das ilhotas pancreáticas, mas como processo

secundário (ECCO; LANGOHR, 2014).

Diabetes Mellitus tipo 2 é mais frequente em gatos. Uma terceira forma de diabetes

Mellitus observada no cão, acontece em conexão com outras endocrinopatias e é também

conhecida como diabetes secundária e se dá em razão do frequente antagonismo entre insulina

e outros hormônios. No cão está mais associada ao hiperadrenocorticismo e ao uso de

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progestágenos que aumentam a liberação do hormônio do crescimento na glândula mamária.

Corpos lúteos persistentes ocasionando pseudogestação, também podem causar diabetes

proestro na cadela (ECCO; LANGOHR, 2014).

Pöppl e Elizeire (2015) afirmam que o destino final desses diferentes fatores é a

inativação na função das células β, hipoinsulinemia e como consequência o aumento da

glicose sanguínea. A incapacidade da função de células β em cães com DMID é irreversível,

sendo necessário a insulinoterapia até o fim da vida em quase todos os casos.

2.3.2 Fisiopatologia

De acordo com Ehrmeyer; Laessig e Ancy (2010), a obtenção de energia pelo

organismo se dá pela oxidação de compostos orgânicos complexos como aminoácidos,

lipídeos e carboidratos. Armazenado na forma de glicogênio muscular e hepático e sendo

fonte primária de energia para células da retina, do cérebro e eritrócitos, o carboidrato está

relacionado à hiperglicemia e hipoglicemia.

A glicogenólise é o processo pelo qual o glicogênio é convertido de volta até glicose-

6-fostato, para entrar na via glicolítica. A tabela 2 resume as principais vias de obtenção de

energia envolvidas direta ou indiretamente com o metabolismo da glicose (EHRMEYER;

LAESSIG; ANCY, 2010).

Quadro 2 - Processos do metabolismo da glicose.

Vias no metabolismo da glicose

Glicólise Metabolismo da molécula de glicose até piruvato ou lactato, para produção de

energia

Gliconeogênese Formação de glicose-6-fosfato a partir de fontes não-carboidratas

Glicogenólise Degradação do glicogênio até glicose para uso como energia

Glicogênese Conversão de glicose até glicogênio, para armazenamento

Lipogênese Conversão de carboidratos até ácidos graxos

Lipólise Decomposição das gorduras

Fonte: Freeman (2010).

Quando a ingestão de uma refeição rica em carboidratos gera uma concentração de

glicose sanguínea excedente àquela comum entre as refeições (cerca de 5 mM), o excesso de

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glicose é captado pelos miócitos dos músculos cardíaco e esquelético (que a armazenam como

glicogênio) e pelos adipócitos (que a convertem em triacilgliceróis). A captação de glicose

pelos miócitos e adipócitos é mediada pelo transportador de glicose GLUT4. Entre as

refeições, alguns GLUT4 estão presentes na membrana plasmática, mas a maioria encontra-se

sequestrada nas membranas de pequenas vesículas intracelulares (Figura 4). No diabetes

Mellitus do tipo I (dependente de insulina), a incapacidade em liberar insulina (e, portanto,

mobilizar transportadores de glicose) resulta em baixas taxas de captação de glicose pelo

músculo e tecido adiposo (LEHNINGER, 2014).

Figura 4 - Transporte de glicose para um miócito pelo GLUT4 regulado pela insulina.

Fonte: NELSON; COX (2014b).

Pöppl e Elizeire (2015), afirmam que a ausência relativa ou absoluta de insulina reduz

a captação muscular e adiposa de glicose, bem como a metabolização da glicose nos

hepatócitos, e promove maior produção hepática de glicose. Após ultrapassar o limiar de

reabsorção renal (180 a 220mg/dℓ), há ocorrência de poliúria, desidratação e polidipsia

compensatória estimulada pelo centro da sede hipotalâmico. A perda de glicose na urina, bem

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como a proteólise e a lipólise estimuladas pela deficiência de insulina, provoca a perda de

peso do paciente. A deficiente ativação do centro da saciedade no hipotálamo mantém ativo o

centro da fome, estimulando a polifagia típica do diabético não descompensado.

Embora o diabetes Mellitus ocorra devido à falta de insulina, a produção hepática de

corpos cetônicos, resulta de uma ação descontrolada do glucagon. Apesar de as concentrações

séricas do glucagon serem altas no diabetes Mellitus, a incapacidade do pâncreas em secretar

insulina leva a uma baixa proporção de insulina/glucagon; desta forma, o fígado funciona

somente com ação do glucagon (HERDT, 2008).

De acordo com Nelson e Couto (2015), o acúmulo de cetonas no meio extracelular

pode ultrapassar o limiar tubular renal comprometendo a reabsorção e, assim são eliminados

pela urina, promovendo a diurese osmótica provocando glicosúria e favorecendo a excreção

de solutos como magnésio, sódio e potássio. As perdas renais excessivas de eletrólitos e água

podem ser ocasionadas pela deficiência em insulina provocando a desidratação, a azotemia

pré-renal e a hopoperfusão.

Segundo DiBartola (2007a) severos efeitos deletérios são causados pela acidose

grave. Com a evolução do transtorno, a função cardiovascular é comprometida, ocasionando

redução do débito cardíaco, inclusive predispondo a arritmias ventriculares ou fibrilação

ventricular, além de exercer efeito vasodilatador direto. Ocorre também diminuição da

pressão arterial, e na circulação venosa ocorre vasoconstrição o que é um fator para que haja

congestão pulmonar. Além disso, ocorre redução do fluxo sanguíneo para órgãos como fígado

e rins. Poderá ainda provocar obnubilação e coma devido à variação do volume cerebral. A

acidose metabólica crônica provoca osteodistrofia e hipercalciúria devido à ação de tampões

envolvendo o carbonato e o cálcio. A captação periférica de glicose é prejudicada devido à

resistência à insulina induzida pela acidose o que inibi a glicose anaeróbica pelo impedimento

da ação da fosfofrutocinase.

Logo após uma refeição calórica, podemos observar a complexidade entre as reações

no estado bem alimentado e a entrada dos aminoácidos, da glicose e dos ácidos graxos no

fígado. A absorção de açúcar pelos tecidos se deve a insulina liberada devido à alta

concentração sanguínea de glicose. Assim, parte da glicose é enviada ao cérebro e aos tecidos

adiposo e muscular. O excesso de glicose no fígado é oxidado a acetil-CoA para sintetizar

ácidos graxos e enviados aos tecidos muscular e adiposo como triacilgliceróis, em

Lipoproteína de baixa densidade (VLDL). Na via das pentoses-fosfato ocorre a oxidação da

glicose produzindo o NADPH responsável pela sintetização dos lipídeos. O piruvato e acetil-

CoA, é obtido a partir do excesso de aminoácidos também usados para a síntese de lipídeos.

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As gorduras da dieta se deslocam na forma de quilomicra, via sistema linfático, do intestino

para o músculo e o tecido adiposo (figura 5) (LEHNINGER, 2014).

Figura 5 – Metabolismo da glicose e da insulina no estado bem alimentado.

Fonte: Nelson; Cox (2014c).

Dessa forma, a razão insulina/glucagon não pode aumentar, o fígado ativará sempre

as vias gliconeogênicas e cetogênicas, e não pode controlar adequadamente os níveis

glicêmicos. Na verdade como a gliconeogênese hepática é continua, o fígado contribui para

hiperglicemia no estado bem-alimentado. No músculo e no tecido adiposo, GLUT4

permanece retido dentro das células. A Gliconeogênese acelerada, alimentada por proteólise

descontrolada músculo esquelético, mantém a hiperglicemia, mesmo no estado de jejum. A

lipólise descontrolada no tecido adiposo aumenta os níveis de ácidos graxos do plasma e a

produção de corpos cetônicos pelo fígado. Cetoacidose se desenvolve devido ao acúmulo de

corpos cetônicos e íons de hidrogênio. A oxidação de ácidos graxos e cetogênese não

conseguem utilizar completamente os ácidos graxos captados pelo fígado, e o excesso é

esterificado e dirigido para a síntese de VLDL. Hipertriacilglicerolemia resulta porque VLDL

e quilomícrons não podem ser depurados do sangue pela lípase lipoproteíca, cuja, expressão é

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dependente de insulina. Assim, nestes pacientes, todos os tecidos desempenham o papel

catabólico que deve desempenhar em jejum, a despeito de chegada adequada, ou até em

excesso, de combustíveis provenientes do intestino (dieta). De fato, pacientes com diabetes

tipo 1 ficam presos ao jejum e isso gera um severo desgaste aos tecidos corporais (HARRIS;

CRABB, 2007). Parte deste mecanismo poderá ser observado por meio da figura 6.

Figura 6 - Metabolismo energético no fígado durante jejum prolongado ou no diabetes Mellitus não controlado

Fonte: Nelson; Cox (2014a).

Conforme explica Pöppl e Elizeire (2015), através do processo de glicólise, a glicose

oxidada se torna precursora de aminoácidos, lipídeos, ácidos nucléicos e glicogênio. O fígado

através da glicogenólise e da gliconeogênese, secreta a glicose para a corrente sanguínea,

sendo o principal efetor do controle da glicemia no organismo.

Nos mamíferos há um controle particular e preciso sobre os níveis de glicose no

sangue, pois o encéfalo de mamíferos é dependente da glicose como substrato energético. O

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aumento da glicemia causa aumento da atividade metabólica da célula β, resultando nos níveis

intracelulares de ATP. O aumento da concentração de ATP envia um sinal ao canal de

potássio dependente de ATP (𝐾𝐴𝑇𝑃), causando o seu fechamento. O fechamento do canal de

𝐾+ irá causar a despolarização da célula. Essa mudança no potencial de membrana provoca a

abertura de canais de 𝐶𝑎2+ controlados por voltagem, causando influxo de cálcio para célula.

O aumento de cálcio intracelular atua como um sinal para a exocitose das vesículas contendo

insulina. A insulina liberada da célula é transportada pela circulação sanguínea até as células-

alvo, como o fígado, o tecido adiposo e o músculo. Nas células-alvo a insulina liga-se ao

receptor tirosina-cinase. O receptor ativado é então autofosforilado, iniciando uma complexa

rede de transdução de sinal. O último efeito dessa via de transdução de sinal é aumentar a

captação e a reserva de glicose na célula-alvo, resultando em uma diminuição dos níveis

glicêmicos (MOYES; SCHULTE, 2010).

Neste contexto, a hidrólise de triacilglicerol, a oxidação dos ácidos graxos, a

gliconeogênese e a formação de corpos cetônicos são aceleradas, e com isto os níveis destes

corpos cetônicos no sangue tornam-se excepcionalmente altos, uma condição conhecida como

cetose. Como os corpos cetônicos são ácidos, sua alta concentração sobrecarrega a capacidade

tamponante do sangue e do sistema renal o qual controla o pH sanguíneo pela excreção do

excesso de H+ na urina. A excreção do H+ é acompanhada pela excreção de NH4+, Na+, Ka+,

𝑃𝑖 e de H2O, causando desidratação chamada de diurese osmótica (VOET; VOET; PRATT,

2008).

Em pacientes humanos com diabetes e com cetoacidose, em geral, bicarbonato e

dióxido de carbono total estão diminuídos, em decorrência da respiração de Kuss-maul-Kien

(respirações profundas). Esse é um mecanismo de compensação para a eliminação do dióxido

de carbono e remoção de íons hidrogênio. As condições de sódio tendem a ser mais baixas,

em parte em razão das perdas (poliúria) e, em parte, por conta de desvio de água das células,

em decorrência de hiperglicemia. Normalmente, ocorre hipercalemia; como resultado do

deslocamento de potássio das células em quadros de acidose (EHRMEYER; LAESSIG;

ANCY, 2010).

Conforme Greco (2013), a cetoacidose diabética (CAD) é o extremo do DMID e

resulta da formação descontrolada de corpos cetônicos no fígado, acidose metabólica,

desidratação grave, choque e, possivelmente, óbito. Com o tempo, o diabetes Mellitus pode

progredir para cetoacidose diabética ou diabetes complicado. Nesses animais a deficiência de

insulina compromete o metabolismo hepático de lipídios, de modo que ácidos graxos não

esterificados são transformados em acetil coenzima A (acetilCoA), em vez de ser

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incorporados aos triglicerídeos. A acetil-CoA acumula-se no fígado, sendo convertida em

acetoacetil-CoA e, então, em ácido acetoacético. Finalmente, o fígado começa a gerar cetonas,

como ácido acetoácetico, β-hidroxibutirato e acetona.

A progressão da diurese osmótica é determinada pela cetose e hiperglicemia, devido à

glicosúria e à excreção de eletrólitos (sódio e potássio, fósforo e cloro) e de ânions cetônicos

pela urina. As perdas de liquídos através da hiperventilação, eliminação pela urina e êmese

acarretam uma desidratação. A hipovolemia é responsável pela redução do processo de

filtração glomerular. A diminuição no volume intravascular acentuado com ação sinergica da

acidose metabólica e possíveis doenças relacionadas são responsáveis pelo choque durante a

progressão da CAD e também pelo surgimento da insuficiência renal aguda (SILVA, 2015).

2.3.3 Aspectos Clínicos

Nelson e Couto (2015) afirmam que a demora no diagnóstico do diabetes em cães

favorece a incidência da CAD, visto que esta é uma complicação grave do diabetes Mellitus,

que rotineiramente ocorre simultaneamente com um distúrbio hormonal, resistência à insulina

ou com um processo de infeção. Cães tratados com insulina correm menos risco de

desenvolver a CAD. A CAD apresenta epidemiologia parecida com a dos diabéticos não

cetóticos e está intimamente associada ao diabetes Mellitus.

A cetoacidose está presente no momento do diagnóstico em aproximadamente 35 a

40% dos casos, evidenciada muitas vezes por anorexia e vômitos ao diagnóstico. Anamnese

minuciosa deve sempre ser realizada à procura de doenças concomitantes presentes na

maioria dos casos de DM. Em muitos cães, o antagonismo aos efeitos da insulina causado por

outras doenças, como pancreatite, infecções, insuficiência cardíaca congestiva,

hiperadrenocorticismo ou até estro recente ou piometra, é o evento que desencadeia o início

da doença (PÖPPL; ELIZEIRE 2015).

Nesse contexto, a natureza progressiva da doença e o tempo entre o início da CAD e

seu reconhecimento pelo cliente demonstram evidencias a partir do histórico e com base no

exame físico os quais são variáveis. Não há como prever o tempo entre os sinais clínicos do

diabetes e os sinais sistêmicos da CAD, podendo surgir de dias a meses. Contudo, a partir do

momento que se inicia a cetoacidose, a doença grave se evidencia em um curto período com

proximidade de uma semana (NELSON; COUTO, 2015).

Silva (2006) realizou um trabalho de pesquisa para avaliação dos distúrbios ácido-base

e eletrolítico de cães com cetose e cetoacidose diabética. Na tabela 1, estão descritos a

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variação quanto a gênero se macho ou fêmea, animais recém diagnosticados, idade, peso,

glicose sérica, β-HOB e uréia sérica, e correlacionando estes de acordo com o tipo de

manifestação clínica, no subgrupo: (CAD, n=22 e CD, n=18). As frequências dos principais

achados do histórico e exame físico do grupo de estudo dos subgrupos estão arroladas na

tabela 2.

Tabela 1- Características dos cães diabéticos dos subgrupos cetoacidose diabética e cetose diabética.

CAD (n=22) CD (n=18) Valores de P Valores de

referência

Sexo -

Fêmeas/machos (n) 17/5 14/4 0,640 -

Fêmeas castradas (n) 5 5 0,490 -

Recém diagnosticados 12 10 0,801 -

Idade (anos)* 10 ± 3,8 9,9 ± 2,4 0,892 -

Peso 14,9 ± 10,0 12,0 ± 8,4 0,328 -

Glicose sérica (mg/dL) 450 ( 273 a 1670 492 (341 a 750) 0619 65 a 125

(mmol/dL) 25 (15 a 93) 27 (341 a 750) 3,6 a 6,9

Β-HOB(1)

(mmol/L) 7,0 (3,1 a 10,5) 3,2 (0,1 a 7,7) ˂0,001 0,02 a 0,15

Uréia sérica (mg/dL) 64,5 (17 a 343) 40,9 (15 a 71) 0,079

Fonte: Silva (2006).

Tabela 2 - Manifestações clínicas dos cães diabéticos com cetoacidose diabética (CAD) ou cetose diabética

(CD)

Todos (n = 40) CAD (n = 22) CD (n = 18)

Achados clínicos n (%) n (%) n (%)

Poliúria/polidipsia 32 (80) 16 (73) 16 (89)

Desidratação 19 (48) 13 (59) 6 (33)

Anorexia/disorexia 18 (45) 18 (82) 0

Êmese 17 (43) 17 (77) 0

Emagrecimento 16 (40) 8 (36) 8 (44)

Hálito cetônico 14 (35) 11 (50) 3 (17)

Letargia 11 (28) 8 (36) 3 (17)

Polifagia 8 (20) 1 (5) 7 (39)

Hipotermia (˂ 37,7°C) 7 (18) 5 (23) 2 (11)

Catarata 6 (15) 1 (5) 5 (28)

Dispnéia 6 (15) 3 (14) 3 (17)

Ataxia 5 (13) 4 (18) 1 (6)

Caquexia 5 (13) 3 (14) 3 (17)

Abdômen pendular 5 (13) 3 (14) 2 (11)

Sopro 4 (10) 4 (18) 0

Hipetermia ( ˃ 39,3 °C) 3 (8) 0 3 (17)

Dor abdominal 2 (5) 1 (5) 1 (6)

Fonte: Silva (2006).

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2.3.4 Diagnóstico das endocrinopatias

O diagnóstico da doença baseia-se na presença dos sintomas apropriados (poliúria,

polidipsia, polifagia e perda de peso), associado à verificação de hiperglicemia persistente

após jejum de oito horas e glicosúria. Os diversos aparelhos portáteis para medição da

glicemia disponíveis permitem o rápido diagnóstico (PÖPPL; ELIZEIRE, 2015).

Após a realização de exame físico e levantamento da história pregressa e/ou a

identificação da cetoacidose, testes adicionais podem ser necessários. No quadro 3, pode-se

observar as potenciais anomalias clinicopatológicas presentes na DM simples (NELSON;

COUTO, 2015).

Quadro 3 - Anormalidades clinicopatológicas comumente encontradas em cães e gatos com Diabetes Mellitus

Simples.

Hemograma Completo

Tipicamente normal

Leucocitose neutrofílica, neutrófilos tóxicos se a pancreatite ou a infecção estiver presente.

Painel Bioquímico

Hiperglicemia, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia (lipemia)

Aumento da atividade da alanina aminotransferase (tipicamente <500 UI/L)

Aumento da atividade da fosfatase alcalina (tipicamente <500 UI/L)

Urinálise

Densidade específica da urina geralmente > 1,025

Glicosúria; Cetonúria variável; Proteinúria; Bacteriúria

Exames Complementares

Teste específico de Spec cPL ou fPL sérico normal ou aumentado se a pancreatite estiver presente

Lipase sérica normal ou aumentada se a pancreatite estiver presente

Imunorreatividade sérica semelhante a tripsina (TLI)

Baixa se a insuficiência pancreática exócrina estiver presente

Normal ou aumentada se a pancreatite estiver presente

Concentração basal de insulina sérica

DMDI: baixo, normal,

DMNDI: baixa, normal, aumentada

Resistência à insulina induzida: baixa, normal, aumentada

Fonte: Nelson e Couto (2015).

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Segundo Greco e Stabenfeldt (2008), nas alterações laboratoriais, o nível de glicose

encontra-se bastante elevado. A concentração sérica média de glicose em pacientes com CAD

é de 25 mmol/L. Os valores podem variar de 10mmol/L a mais de 50mmol/L, mas o último é

mais característico de coma hiperosmolar. Todos os pacientes com CAD apresentam uma

deficiência relativa ou absoluta de insulina e uma produção excessiva de glicose pelo fígado,

resultando na hiperglicemia. A maioria dos pacientes de CAD apresenta um déficit de 𝐾+

corporal total, causado por perdas urinárias (diurese osmótica, gastrointestinais, vômito e

diarréia) e devido anorexia. A acidose metabólica, deficiência relativa ou absoluta de insulina,

e a hipertonicidade sérica juntas, levam a um alteração do 𝐾+ do compartimento intracelular

para o extracelular. A terapia à base de insulina, juntamente com a correção do distúrbio

ácido-básico com fluidos e bicarbonato, direciona o 𝐾+ paro o meio intracelular, podendo

levar a uma hipocalemia circulante. Em geral, a CAD causa déficits totais significativos de

𝑁𝑎+ no organismo. A perda urinária excessiva de 𝑁𝑎+ resulta da diurese osmótica induzida

pelas altas concentrações de corpos cetônicos e glicose.

Testes realizados com fitas as quais detectam alterações na urina para verificar se há

presença de glicose, permitem fácil comprovação do diabetes Mellitus. (PÖPPL; ELIZEIRE;

2015). A documentação concomitante de cetonúria estabelece um diagnóstico de cetose

diabética (CD) e a documentação da acidose metabólica estabelece um diagnóstico de CAD

(NELSON; COUTO, 2015).

Reusch, Robben e Kooistra (2010), comentam que nos cães, a mensuração de

frutosamina não é necessária para o diagnóstico em si, mas é útil no manejo a longo prazo,

fornecendo um ponto de referência.

Em cães que demonstrem estresse ou agressividade na ocasião da coleta de sangue

para avaliação da glicemia, a utilização da avaliação sérica de frutosamina é uma ferramenta

mais indicada, representando um recurso diagnóstico com melhor acuidade (PÖPPL;

ELIZEIRE, 2015).

Como descrito por Reusch, Robben e Kooistra (2010), a frutosamina é o produto de

uma reação irreversível entre glicose e grupos amino de proteínas do plasma, e reflete a

concentração média de glicose no sangue, em uma ou dois semanas precedentes. Ela não é

afetada por alterações a curto prazo na concentração de glicose no sangue. Os intervalos de

referência diferem ligeiramente entre diferentes laboratórios, mas geralmente estão por volta

de 200 a 350 μmol/l. Em um cão recentemente diagnosticado com diabetes, a frutosamina está

geralmente > 400 μmol/l e pode estar até > 1.000 μmol/l.

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A tabela 3 apresenta valores normais de frutosamina para cães e sua interpretação

em cães diabéticos em tratamento, lembrando que pacientes recém diagnosticados podem ter

valores normais até maiores que 500 μmol/ℓ, dependendo do tempo de progressão dos

sintomas (PÖPPL; ELIZEIRE, 2015).

Tabela 3 - Interpretação da concentração de frutosamina sérica em cães normais e diabéticos em tratamento.

Cães Frutosamina (μmol/L)

Saudáveis 225 a 375

Diabéticos

Excelente controle 350 a 400

Bom controle 400 a 500

Controle razoável 450 a 500

Controle insuficiente > 500

Hipoglicemia crônica < 300

Fonte: Nelson e Couto (2015).

Na tabela 4 é mostrada uma proposta para a classificação da cetoacidose diabética em

cães, com a ressalva de que a gravidade da CAD depende muito das doenças concomitantes.

A mensuração do β-hidroxibutirato (β-OHB) plasmático na admissão pode fornecer

informações adicionais. Pode-se suspeitar de CAD em cães com plasma β-OHB > 1,9

mmol/ℓ, os quais devem receber acompanhamento ambulatorial e tratamento até os resultados

de testes adicionais. Se as concentrações de β-OHB forem maiores que 3,8 mmol/ℓ, o

diagnóstico de CAD é confirmado, justificando-se a internação do paciente para cuidados

intensivos. Coincidentemente, uma investigação em seres humanos com CAD sugeriu que o

mesmo valor de corte de plasma β-OHB deve ser utilizado para o diagnóstico da CAD,

utilizando um medidor portátil. Esse dispositivo já foi validado para utilização em cães

(SILVA, 2015).

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Tabela 4 - Proposta para a classificação da cetose e da cetoacidose diabética em cães

Cetose Cetoacidose

Discreta Moderada Grave

Glicemia ˃ 250 mg/dL ˃250 mg/dL ˃250 mg/dL ˃250 mg/dL

pH arterial ≥ 7,35 ˂ 7,35 ˂ 7,20 7,00

[HCO3-]p ≥ 18 mEq/L 15 a 18 mEq/L 10 a 15 mEq/L ˂ 10 mEq/L

β-OHB ≤ 1,9 mmol/L ˃ 1,9 mEq/L ˃ 3,8 mEq/L ˃ 3,8 mEq/L

Fonte: Nelson e Couto (2015).

2.3.5 Prognóstico das endocrinopatias

Nelso e Couto (2015) relatam que o tempo médio de sobrevida em cães diabéticos é

de aproximadamente três anos a partir do momento do diagnóstico. Este tempo de sobrevida é

um pouco distorcido porque os cães estão muitas vezes com oito a 12 anos de idade no

momento do diagnóstico, e uma taxa de mortalidade relativamente alta existe durante os

primeiros seis meses, por causa de doença concomitante que põe a vida em risco ou quando

esta é incontrolável (p. ex., cetoacidose, pancreatite, falha renal). Os cães diabéticos que

sobrevivem os seis meses iniciais podem facilmente manter uma boa qualidade de vida em

mais de cinco anos, com bom monitoramento proporcionado pelos proprietários, avaliações

oportunas pelo veterinário e uma boa comunicação cliente-veterinário.

2.3.6 Tratamento

2.3.6.1 Tratamento do diabetes Mellitus

O tratamento do DM implica em uma mudança no estilo de vida do animal. É preciso

evitar as complicações crônicas da doença, além de eliminar os sintomas secundários à

hiperglicemia e à glicosúria, impedindo ainda que episódios de hipoglicemia ocorram

(PÖPPL E ELIZEIRE, 2015).

Para Nelson e Couto (2015), impedir os sinais clínicos do diabetes é a principal

finalidade da terapia. A duração da hiperglicemia e sua intensidade estão diretamente

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relacionadas à durabilidade dos sinais clínicos e ao desenvolvimento de complicações

crônicas às quais estão descritas no quadro 4. Em cães diabéticos, o controle da hiperglicemia

pode ser estabelecido com insulina, dieta, exercício, prevenção ou o controle concomitante de

doenças com antagonismo à insulina e a descontinuidade de medicamentos que causam

resistência à insulina tais como os glicocorticoides e progestágenos.

Quadro 4 - Complicações da Diabetes Mellitus no Cão e no Gato

Comum Incomum

- Hipoglicemia iatrogênica

- Poliúria, polidipsia, perda de peso

persistente ou recorrente

- Catarata (cão)

- Uveíte induzida pela lente (cão)

- Infecção bacteriana, especialmente

envolvendo o trato urinário

- Pancreatite crônica

- Cetose recorrente, cetoacidose

- Lipidose hepática

- Neuropatia periférica (gato)

- Hipertensão arterial sistêmica (cão)

- Neuropatia periférica (cão)

- Nefropatia diabética

- Proteinúria significativa

- Glomeruloesclerose

- Retinopatia

- Insuficiência pancreática exócrina

- Paresia gástrica

- Hipomotilidade intestinal e diarreia

- Dermatopatia diabética (i.e., dermatite

superficial necrolítica)

Fonte: Nelson e Couto (2015).

A aplicação de insulina e a fluidoterapia são os tratamentos mais eficaz para

combater a acidose decorrente de diabetes Mellitus não controlada. A insulina promove a

utilização de glicose pelo músculo esquelético e pelo tecido adiposo, reduz a síntese hepática

de glicose, inibe a lipólise e a cetogênese e propicia o metabolismo periférico dos cetoácidos

(DIBARTOLA, 2007b).

De acordo com Pöppl e Elizeire (2015), as insulinas disponíveis para o manejo a

longo prazo do paciente no mercado nacional são a insulina de ação intermediária NPH

(Neutral Protamine Hagedorn), a insulina lenta e os análogos insulina glargina e insulina

detemir. Essas preparações de longa ação são mais utilizadas no manejo a longo prazo do

paciente diabético, por promoverem suplementação contínua por horas após uma simples

injeção. Já a insulina regular tem um começo de ação rápido e curto tempo de duração do

efeito, sendo utilizada no controle intensivo de pacientes com cetoacidose diabética. A tabela

5 demonstra os tipos de insulinas utilizadas no Brasil e seu mecanismo de ação.

Eventualmente, podem-se utilizar misturas de insulinas de longa e de curta ação disponíveis

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no mercado (70% NPH/30% regular ou 50% NPH/50% regular), quando preparações mais

convencionais de insulina falham em estabelecer o controle glicêmico devido a pico de ação

tardio, por exemplo.

Tabela 5 - Propriedades das preparações de insulina disponíveis no Brasil.

Tipo de insulina Via Começo do efeito Pico de ação (h) Duração efeito (h)

Regular cristalina

IV Imediato 1/2 a 2 1 a 4

IM 10 a 30 min 1 a 4 3 a 8

SC 10 a 30 min 1 a 5 4 a 10

NPH SC 1/2 a 2 h 4 a 6 8 a 14

Lenta SC 1/2 a 2 h 2 a 10 8 a 20

Glargina SC 1/2 a 4 h 6 a 10 10 a 24

Detemir SC 1/2 a 2 h 8 a 10 ˃ 24

Fonte: Nelson e Couto (2015).

É importante ressaltar que a terapia insulínica pode ser iniciada com 0,25 U/kg, de 12

em 12 h em cães com glicemia menor que 360 mg/dℓ, ou 0,5 U/kg, em cães com glicemia

maior que 360 mg/dℓ. Ainda cabe dizer que a indicação da NPH ou da lenta como primeira

escolha para cães parece unânime na literatura, embora haja diferentes orientações quanto à

dose inicial de prescrição para a insulina (PÖPPL; ELIZEIRE, 2015).

Caso ocorra, a resistência à insulina pode ser devido a um processo inflamatório,

infeccioso, hormonal ou neoplásico simultaneamente e, assim, interferir na eficácia da terapia

com a insulina. Logo, identificar e tratar as doenças concomitantes é fundamental para se

obter êxito no tratamento do cão diabético (NELSON; COUTO, 2015). O quadro 5,

demonstra doenças concomitantes relacionadas a resistência insulínica, classificando-os em

severos assim como em leves e flutuantes.

O monitoramento ocasional da glicosúria e da cetonúria é útil em cães diabéticos que

têm problemas recorrentes com cetose ou hipoglicemia e para identificar cetonúria ou

glicosúria negativa persistente, respectivamente (NELSON; COUTO, 2015).

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Quadro 5 - Causas reconhecidas de resistência à insulina em Cães e Gatos

Distúrbios Tipicamente Causadores de Severa

Resistência Insulínica

Transtornos Tipicamente Causadores de

Resistência Insulínica Leve ou Flutuante

- Acromegalia

- Carcionoma adrenocortical secretores de

progesterona

- Fármacos diabeticogênicos (mais notavelmente

glicocorticoides e progesterona)

- Doença cardíaca

- Doença da cavidade oral

- Doença hepatobiliar

- Doença inflamatória intestinal grave

- Doença renal crônica

- Feocromocitoma

- Glucagoma

- Hiperlipidemia

- Hipertireoidismo

- Infecção

- Inflamação crônica

- Insuficiência pancreática exócrina

- Neoplasia

- Obesidade

- Pancreatite crônica

- Fêmeas caninas intactas em diestro (provoca

aumento na progesterona sérica e no hormônio do

crescimento)

- Hiperadrenocorticismo

Fonte: Nelson e Couto (2015).

Uma ferramenta de grande utilidade para o ajuste na terapia com insulina é a utilização

da curva glicêmica, ela deve ser empregada após a revisão da história pregressa, avaliação do

exame físico, dos achados clínicos e da mensuração da frutosamina. A indicação da curva

seriada só não é recomendada se o animal estiver estressado, agitado ou demonstrando

agressividade. A curva glicêmica seriada fornece diretrizes para a realização de ajustes na

terapêutica com insulina. A avaliação de uma curva glicêmica seriada é mandatória durante a

regulação inicial do cão diabético e é necessária no cão em que as manifestações clínicas da

hiperglicêmia ou hipoglicemia se desenvolveram (NELSON; COUTO, 2015).

As avaliações dos dados anteriormente mencionados, permitem reduzir a frequência

de realização de curvas glicêmicas seriadas, diminuindo, desse modo, o número de

venipunções e o tempo de permanência do animal no hospital ou na clínica, o que minimiza a

aversão e o estresse do paciente a esse tipo de procedimento, permitindo que curvas

glicêmicas seriadas, quando necessárias, apresentem resultados mais significativos (PÖPPL;

ELIZEIRE, 2015).

Nelson e Couto (2015) afirmam, que ao mensurar a glicemia a cada duas horas durante

o dia, o clínico será capaz de determinar se a insulina é eficaz, bem como identificar o nadir

de glicemia, o tempo de efeito do pico da insulina, a duração do efeito da insulina, e o valor

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da glicemia de um cão. Este procedimento pode ser observado no gráfico 1, o qual demonstra

o valor da glicemia média em oito cães diabéticos, após a administração de insulina NPH (↑) e

fornecimento da alimentação de tamanho igual às 8h e 18h (linha azul) ou sem refeição (linha

vermelha), durante as 24 h em que o sangue foi coletado.

Gráfico 1 - Demonstração de curva glicêmica seriada.

Fonte: Nelson e Couto (2015).

Um algoritmo para a interpretação dos resultados de uma curva glicêmica seriada

encontra-se na figura 7. O objetivo ideal é manter a glicemia entre 100 mg/dL e 250 mg/dL ao

longo do dia e da noite, embora muitos cães diabéticos passem bem, apesar de apresentarem

concentrações glicêmicas sanguíneas constantes superiores a 100 e inferiores a 300. Se o

limiar de glicose no sangue for superior a 130 mg/dL, pode ser necessário aumentar a dose de

insulina, e se um valor mais baixo for menor do que 80 m/dL, a dose de insulina deve ser

diminuída (NELSON; COUTO, 2015).

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Figura 7 - Esquema para interpretação da curva glicêmica seriada

Fonte: Nelson e Couto (2015).

DiBartola (2007a) menciona que os cuidados individuais recomendados pelo clínico

durante o tratamento do cão com diabetes é mais fundamental do que o protocolo de

administração de insulina em termos de resultado final. Portanto não é adequado

simplesmente ministrar insulina e não ter a atenção necessária com o manejo recomendado

para melhoria e manutenção de um bom quadro do animal e para que isto ocorra, esta

associação deve ser bem empregada.

A ocorrência e a gravidade dos sinais clínicos dependem da taxa de diminuição da

glicose no sangue e da gravidade da hipoglicemia. Em muitos cães diabéticos, os sinais de

hipoglicemia não são aparentes para os clientes e a hipoglicemia é identificada durante a

avaliação de uma curva seriada de glicose no sangue ou é suspeitada quando for identificada

uma baixa concentração de frutosamina sérica. (NELSON; COUTO, 2015).

O controle glicêmico pode ser melhorado através da dieta terapêutica, promovendo a

correção da obesidade, quando presente, e o incremento da quantidade de fibras. Além de ser

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fundamental no tratamento da DM, a dieta reduz o risco de pancreatite e ajuda a controlar

alguns aspectos da hiperlipidemia. Assim, cães diabéticos devem ser submetidos à dietas com

baixo teor de gordura (menos de 30% de gordura em uma base de energia metabolizável).

Cabe ainda dizer que a alimentação rica em gordura leva à resistência insulínica, suprimindo a

função das células β e estimulando a produção de glicose hepática (PÖPPL; ELIZEIRE,

2015).

Nelson e Couto (2015) destacam que para controlar a glicemia em cães diabéticos e

combater à obesidade, a dieta deve ser rica em fibras. Muitas empresas de alimentos para

animais já oferecem dietas formuladas para cães diabéticos, as quais contêm uma mistura de

fontes de fibras solúveis e insolúveis promovendo a diminuição da absorção de glicose pelo

intestino e minimizando a hiperglicemia pós-prandial (Quadro 6).

Quadro 6 - Práticas de abordagem para melhoria da qualidade de vida de cães diabéticos, visando uma

reeducação de condutas

RECOMENDAÇÕES PARA O TRATAMENTO DIETÉTICO DE DIABETES MELLITUS EM CÃES

Corrigir a obesidade e manter o peso corpóreo em um intervalo aceitável

Controlar a ingestão calórica diária

Aumentar o exercício diário

Evitar quantidades excessivas de insulina

Manter a consistência no conteúdo calórico e momentos das refeições

Alimentar no intervalo de duração da insulina

Fornecer a metade da ingestão calórica diária aproximadamente no momento de cada injeção de

insulina com terapia de insulina a cada 12h ou no momento da injeção de insulina e de 8-10 h mais

tarde, com a terapia de insulina a cada 24h.

Minimizar o impacto dos alimentos na glicemia pós-pradial.

Evitar os monossacarídeos e os dissacarídeos, o propileno glicol e o xarope de milho.

Deixar gatos e cães mordiscar ao longo do dia e de noite; garantir que outros animais de estimação não

tenham acesso ao alimento.

Aumentar o teor de fibras na dieta.

DIETAS VETERINÁRIAS PARA CÃES DIABÉTICOS

Dieta Hill sob prescrição c/d Royal Canin Diabético

Dieta Hill sob prescrição r/d (cão obeso e

diabético)

Royal Canin Caloria

Purina DCO Control CC High Fiber (cão obeso e diabético)

Purina OM (cão obeso e diabético) Iems Glicose e Perda de Peso Plus

Fonte: Nelson e Couto (2015).

2.3.6.2 Tratamento de Cães Diabéticos com Cetose Diabética ou Cetoacidose Diabética

Nelson e Couto (2015) afirmam que se o cão apresentar sinais sistêmicos da doença

(letargia, anorexia, vômitos); o exame físico revelar desidratação, depressão, fraqueza ou uma

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combinação destes, ou se a acidose metabólica for grave (com um total de 𝐶𝑂2 venoso ou

concentração de bicarbonato arterial <12 mEq/L), deve ser iniciado um tratamento agressivo.

Os cinco objetivos do tratamento de uma cetoacidose grave no animal diabético doente são:

(1) fornecer quantidades adequadas de insulina para suprimir a lipólise, a cetogênese e a

gliconeogênese hepática, (2) restaurar as perdas de água e eletrólitos, (3) corrigir a acidose,

(4) identificar os fatores que induzem a doença atual e (5) proporcionar um substrato de

hidrato de carbono (ou seja, dextrose), quando necessário, para permitir a administração

contínua de insulina, sem causar hipoglicemia (Quadro 7).

Quadro 7 - Protocolo inicial de cães com cetoacidose diabética Grave

Fluidoterapia

Tipo: salina a 0,9%, se a hiponatremia estiver presente; solução cristaloide isotônica como a de

Ringer, a solução lactato de Ringer, Plasma-Lyte 148 ou Normosol-R, se a concentração de sódio sérico for

normal.

Taxa: inicialmente, 60 a 100 mL/kg, a cada 24 h, ajustar em função do estado de hidratação, da

produção de urina e da persistência de perdas de fluidos.

Suplementação de potássio: baseada na concentração de K+ no soro, adicionar inicialmente KCl

para se fornecer 40 mEq de KCl por litro de fluido.

Suplementação de fosfato: não indicada até que o fósforo sérico seja menor que 1,5 mg/dL, em

seguida, 0,01 a 0,03 mmol de fosfato/kg/h, em fluidos intravenosos isentos de cálcio.

Suplementação de dextrose: não indicada até que a concentração de glicose, no sangue, seja

inferior a 250 mg/dL e, então, começar a infusão de dextrose a 5%.

Terapia com Bicarbonato

Indicação: Administrar, se a concentração de bicarbonato de plasma for inferior a 12 mEq/L ou se

a concentração total de CO2 venoso for menor do que 12 mmol/L, caso não se saiba, não administrar a menos

que o animal esteja gravemente enfermo e, em seguida, apenas uma vez.

Quantidade: mEq HCO3– = peso corporal (kg) × 0,4 × (12 - HCO3– do animal) × 0,5; se o

HCO3– do animal ou a concentração total de CO2 for desconhecida, usar 10 no lugar de (12 - HCO3– do

animal).

Administração: Adicionar aos fluidos intravenosos e fornecer por um período de seis horas; não

fornecer como infusão em bolus

Retratamento: somente se a concentração de bicarbonato no plasma permanecer inferior a 12

mEq/L, após seis horas de terapia

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Continuação: Quadro 7 - Protocolo inicial de cães com cetoacidose diabética Grave

Insulinoterapia

Tipo: insulina cristalina normal

Técnica de Administração:

Técnica intramuscular intermitente: dose inicial, de 0,2 U/kg, por via intramuscular, em seguida,

0,1 U/kg, por via intramuscular, a cada hora, até que a concentração de glicose no sangue seja inferior a 250

mg/dL; depois mudar para a insulina regular administrada subcutaneamente, a cada 6 – 8 h.

Técnica de infusão intravenosa de insulina em baixa dose: Para preparar a infusão, adicionar 2,2

U/kg (cão) ou 1,1 U/kg (gatos) da insulina regular em 250 mL de solução salina a 0,9%; correr 50 mL através

do conjunto, de gotejamento e descartar; então administrar, através de infusão ou de uma seringa, através de

uma linha separada da utilizada para a fluidoterapia, a uma taxa inicial de 10 mL/h; ajustar a taxa de infusão

de acordo com as medições de glicose no sangue, de hora em hora, mudar para a insulina regular subcutânea, a

cada 6-8 h, uma vez que a glicose no sangue seja inferior a 250 mg/dL, ou continuar a perfusão de insulina, a

uma taxa diminuída para se evitar a hipoglicemia, até que a preparação de insulina seja trocada por um

produto de ação mais prolongada.

Objetivo: declínio gradual na concentração de glicose no sangue, de preferência em cerca de 75 mg/dL/h, até

que a concentração seja inferior a 250 mg/dL

Terapia Auxiliar

Pancreatite concomitante é comum em cetoacidose diabética, nada por via oral e fluidoterapia

agressiva são geralmente indicados.

Infecções simultâneas são comuns na cetoacidose diabética; uso de antibióticos parenterais de

amplo espectro é, geralmente, indicado.

Terapia adicional pode ser necessária, dependendo da natureza dos distúrbios simultâneos.

Monitoramento de Pacientes

Inicialmente, mensurar a glicemia a cada 1-2 h, ajustar a terapia com insulina e começar a infusão

de dextrose, quando a glicemia diminuir para menos de 250 mg/dL.

Estado de hidratação, respiração, pulso a cada 2-4 h; ajustar fluidos em conformidade.

Eletrólito sérico e concentrações total de CO2 venoso a cada 6-12 h; ajustar a terapia com fluidos e

com bicarbonato conforme a necessidade

Produção de urina, glicosúria, cetonúria a cada 2-4 h; ajustar a fluidoterapia conforme a

necesssidade

Peso corporal, volume globular, temperatura e pressão sanguínea diária

Monitorização adicional, dependendo de doença concomitante

Fonte: Nelson e Couto (2015).

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2.4 Distúrbios eletrolíticos

Em todos os líquidos corporais são encontrados eletrólitos, tanto nos líquidos

intravasculares como nos extravasculares, mas as concentrações são tipicamente medidas no

sangue, soro ou plasma. A concentração sérica de eletrólitos pode não refletir precisamente o

balanço de um eletrólito particular em todo corpo, especialmente para eletrólitos que são

predominantemente intracelulares. Sódio e cloro são eletrólitos cujas concentrações são

maiores no líquido extracelular (LEC). As concentrações de potássio, cálcio, fósforo e

magnésio são maiores no líquido intracelular (LIC). A manutenção da concentração de cada

eletrólito nos líquidos intra e extracelulares, dentro de limites estreitos, é essencial para a vida

(BOHN, 2015).

As alterações nos níveis de eletrólitos mais comuns em cães com CAD é a

diminuição nos níveis de potássio, magnésio e fósforo. Em muito dos casos estes precisam de

suplementação, mas é necessário a realização de uma avaliação detalhada.

A hipopotassemia é responsável por alterações clínicas na condução da eletricidade

nas membranas das células o que resulta em arritmias cardíacas, fraqueza muscular, paralisia

e letargia. Para que estas alterações se manifestem, a concentração de potássio deve ser menor

ou igual a 2,5 mEq/L. Vale salientar que em cães e gatos a baixa concentração de potássio é

descrita como o distúrbio eletrolítico mais encontrado (SILVA, 2015).

A maioria dos cães e gatos com CAD tem, inicialmente, concentrações séricas de

potássio normais ou diminuídas. Durante a terapia para a CAD, a concentração sérica de

potássio diminui por causa da diluição ocasionada pela reidratação, da captação celular de

potássio mediada pela insulina com glicose, descontínuas perdas urinárias e da correção da

acidemia (translocação de potássio para o compartimento de fluido intracelular (NELSON;

COUTO, 2015).

Na cetoacidose diabética há também perda de fósforo evidenciada e ocorre pela

perda de líquido através de êmese, da depleção urinária e pela redução corpórea causada pela

anorexia. A hipofosfatemia grave corresponde a valores menores ou igual a 1,5 mg/dL e em

associação com a diminuição aguda apresenta sintomas clínicos como fraqueza muscular,

anemia hemolítica e alterações no sistema nervoso com possíveis convulsões e coma. Ainda

pode ocorrer baixa concentração do 2,3-DPG nas hemácias. Havendo deficiencia deste

composto no organismo há um aumento no grau de afinidade entre o oxigênio e a

hemoglobina o que resulta em hipóxia tecidual (SILVA, 2015).

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Os efeitos adversos da administração em excesso de fosfato incluem hipocalcemia

iatrogênica e seus sinais neuromusculares associados, hipernatremia, hipotensão e calcificação

dos tecidos moles. A concentração de cálcio ionizado no soro deve ser determinada

simultaneamente à concentração de fósforo sérico e a taxa de infusão de fosfato reduzida, se a

hipocalcemia for identificada. A suplementação de fósforo não é indicada em cães e gatos

com hipercalcemia, hiperfosfatemia, oligúria ou suspeita de necrose tecidual. Se a função

renal está sendo questionada, a suplementação de fósforo não deve ser realizada até que o

estado da função renal e a concentração de fósforo no soro sejam conhecidos (NELSON;

COUTO, 2015).

2.5 Equilíbrio Ácido-básico

De acordo com Ehrmeyer; Laessig e Ancy, (2010), a análise do equilíbrio

acidobásico exige uma revisão de diversos conceitos básicos: ácido, base, tampão, pH, pK,

princípios do equilíbrios de ação das massas.

Silva (2015) afirma que o pH expressa a proporção de íons H+ de uma solução de

modo inverso, isto é, quanto maior o pH de uma solução, menor é a sua concentração de íons

H+ e vice-versa. O pH é considerado neutro quando é igual a 7,0. O pH do plasma é

discretamente básico ou alcalino (aproximadamente 7,4).

A concentração total dos íons hidrogênio a partir de todas as fontes é

experimentalmente mensurável, sendo expressa como o pH da solução. Em organismos

multicelulares, o pH dos fluidos extracelulares é rigorosamente regulado. A constância do pH

é atingida principalmente por tampões biológicos: misturas de ácidos fracos e suas bases

conjugadas. . Tampões são sistemas aquosos que tendem a resistir a mudanças de pH quando

pequenas quantidades de ácido (H+) ou base (OH

-) são adicionadas (LEHNINGER, 2014).

O pK corresponde ao valor de pH no qual o tampão está apresentando sua maior

capacidade tamponante. Uma relação entre força do ácido e pH pode ser estabelecida por

meio do pK. O valor do pK é numericamente semelhante ao do pH da solução na qual as

concentrações do ácido e de sua base conjugada são iguais. Ou seja, o pK de um ácido

corresponde ao pH da solução no qual esse ácido se encontra 50% protonado, 50%

desprotonado. Na faixa de pH próxima ao pK, a adição de uma base forte não resulta em

grandes variações de pH, uma vez que cada vez que íons OH- se dissociam da base, um próton

proveniente do ácido os neutraliza, formando água. Dessa forma, até que o ácido esteja

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completamente dissociado, a base é tamponada. Sistemas de tamponamento fisiológico, como

o bicarbonato no sangue, são fundamentais ao bom funcionamento do organismo. É o balanço

entre ácido carbônico e bicarbonato (balanço esse que pode ser influenciado pelo ritmo

respiratório – aumento de saída de CO2 que mantém o pH do sangue sempre em 7,4 (POIAN;

FOGUEL, 2009).

Para DiBartola (2007b) o tampão é um composto que pode receber ou doar prótons

(íons hidrogênio, minimizando a alteração do pH. Uma solução-tampão consiste em um ácido

mais fraco e seu sal, os prótons dissociados do ácido forte são doados para o sal do ácido

fraco e a alteração do pH é minimizada. Na prática clínica, o par de tampões bicarbonato-

ácido carbônico é utilizado para monitorar o equilíbrio ácido-básico dos fluidos corporais.

A Figura 8 explica como um sistema tampão funciona. Sempre que H- ou OH

- é

adicionado em um tampão, o resultado é uma pequena mudança na razão das concentrações

relativas dos ácidos fracos e seus ânions. O decréscimo na concentração de um componente

do sistema é equilibrado exatamente pelo aumento do outro. A soma dos componentes do

tampão não muda, somente a sua razão (LEHNINGER, 2014).

Figura 8 - Par ácido acético/acetato como sistema

tampão.

Fonte: Nelson; Cox (2014b).

Sendo bicarbonato, o composto-tampão mais significativo no sangue é importante

ressaltar a capacidade tamponante do sangue a qual depende principalmente de dois

equilíbrios: (1) entre o CO2 gasoso dissolvido no sangue e o ácido carbônico formado pela

reação e (2) entre o ácido carbônico e o bicarbonato formado pela dissociação de 𝐻+ .

Distúrbios no sistema tamponante do sangue podem levar a condições conhecidas como

acidose, com um pH tão baixo quanto 7,1, ou alcalose, com um pH tão alto quanto 7,6. Os

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desequilíbrios ácido-basicos são aliviados pela correção do problema fisiológico subjacente.

Em curto prazo, a acidose é comumente tratada pela administração de 𝑁𝑎𝐻𝐶𝑂3 (bicarbonato

de sódio) intravenoso. A alcalose é mais difícil de ser tratada. A alcalose metabólica às vezes

responde a KCl ou NaCl (o 𝐶𝑙_ adicional ajuda a minimizar a secreção de 𝐻+ pelos rins)

(VOET; VOET; PRATT, 2008).

A anidrase carbônica, nos eritrócitos, converte 𝐶𝑂2 e 𝐻2𝑂 em ácido carbônico, o qual

se dissocia em 𝐻+ e 𝐻𝐶𝑂3−. O bicarbonato se difunde para fora da célula em troca de cloreto,

de modo a manter a neutralidade intracelular das cargas iônicas. Esse processo converte 𝐶𝑂2,

potencialmente tóxico no plasma, em um tampão efetivo. O bicarbonato tampona o excesso

de íon hidrogênio combinando-se com ácido e dissociando-se em 𝐻2𝑂 e 𝐶𝑂2 nos pulmões,

em que o gás ácido 𝐶𝑂2 é eliminado (POLANCIC, 2010).

O plasma sanguíneo é tamponado em parte pelo sistema tampão do bicarbonato,

consistindo em ácido carbônico (H2CO3) como doador de prótons e bicarbonato (HCO3-)

como aceptor de prótons (K1 é a primeira de várias constantes de equilíbrio no sistema de

tamponamento do bicarbonato):

Esse sistema tampão é mais complexo que outros pares ácido-base conjugados

porque um de seus componentes, ácido carbônico (H2CO3), é formado a partir de dióxido de

carbono dissolvido (d) e água, em uma reação reversível:

O dióxido de carbono é um gás sob condições normais, e CO2 dissolvido em uma

solução aquosa está em equilíbrio com o CO2 em fase gasosa (g):

O pH de uma solução tampão de bicarbonato depende da concentração de H2CO3 e

HCO3-, os componentes doador e receptor de prótons. A concentração de H2CO3 por sua vez

depende da concentração de CO2 na fase gasosa, ou da pressão parcial de CO2, designada por

pCO2. Portanto, o pH de um tampão de bicarbonato exposto a uma fase gasosa é determinado

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pela concentração de HCO3- na fase aquosa e pela 𝑃𝑐𝑜2 na fase gasosa. (LEHNINGER,

2014).

Segundo Polancic (2010), existem outros tampões importantes como o sistema-tampão

fosfato (HPO4-2

- H2PO4-) que desempenha papel no plasma e nos eritrócitos, estando

envolvido na troca do íon sódio no filtrado de H+ urinário. As proteínas plasmáticas, em

especial os grupos imidazóis de histidina, também constituem um importante sistema –

tampão plasmático. Grande parte de proteínas circulantes possuem carga negativa final, sendo

capazes de ligar H+.

DiBartola (2007b) afirma que os sistemas tampões corporais podem ser classificados

como sistema bicarbonato, que é o principal sistema tampão do FEC, e sistema tampão não-

bicarbonato (por exemplo, protéinas e fosfatos inorgânicos e orgânicos), que constituem o

principal sistema tampão intracelular. As proteínas plasmáticas tem participação limitada nos

sistemas tampões extracelulares, enquanto as proteínas intracelulares têm importante papel na

resposta tampão final do organismo. O sistema bicarbonato-ácido carbônico é o único dentre

os tampões em que o ácido carbônico está em equilíbrio com o 𝐶𝑂2 dissolvido; normalmente

a concentração deste é mantida constante pela ventilação alveolar.

Lehninger (2014) demonstra através da figura 9 a relação em que o CO2 no espaço

aéreo pulmonar está em equilíbrio com o tampão bicarbonato do plasma sanguíneo que

circula pelos capilares pulmonares. Como a concentração de CO2 dissolvido pode ser ajustada

rapidamente por mudanças na taxa de respiração, o sistema tampão bicarbonato do sangue

está em estreito equilíbrio com um grande reservatório potencial de CO2.

Figura 9 - Sistema tampão do bicarbonato

Fonte: Nelson; Cox (2014b).

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De acordo com Silva (2015) os termos acidose e alcalose são usados para designar os

processos fisiopatológicos que causam acúmulo de ácido ou base, respectivamente, no

organismo. Os termos acidemia e alcalemia são usados para designar o pH do sangue. Um

paciente pode estar com acidose, mas não ter acidemia.

Segundo DiBartola (2007a) acidose e alcalose podem ser metabólicas ou

respiratórias; como resultado, há quatro distúrbios ácido-básicos principais: acidose

metabólica, acidose respiratória, alcalose metabólica e alcalose respiratória.

Todo distúrbio ácido-básico metabólico ou respiratório primário é acompanhado de

alteração secundária ou adaptativa no componente oposto do sistema como descrito na tabela

6. Por exemplo a acidose metabólica é acompanhada de alcalose respiratória secundária ou

adaptativa. A acidose respiratória é acompanhada de alcalose metabólica adaptativa ou

secundária (DIBARTOLA, 2007a).

Tabela 6 - Alterações ácido-basicas correlacionando as primárias com as secundárias.

Distúrbios pH [𝑯+] Distúrbio Primário Resposta compensatória

Acidose metabólica ↓ ↑ ↓[𝐻𝐶𝑂3 −] ↓𝑃𝑐𝑜2

Alcalose metabólica ↑ ↓ ↑[𝐻𝐶𝑂3 −] ↑𝑃𝑐𝑜2

Acidose respiratória ↓ ↑ ↑𝑃𝑐𝑜2 ↑[𝐻𝐶𝑂3 −]

Alcalose respiratória ↑ ↓ ↓𝑃𝑐𝑜2 ↓[𝐻𝐶𝑂3 −]

Fonte: De Rose (1989).

Conforme Ehrmeyer; Laessig e Ancy, (2010), se o desequilíbrio tiver origem não-

respiratória, o organismo fará compensação alterando a ventilação. Para distúrbios do

componente respiratório, os rins compensam excretando ou reabsorvendo seletivamente

ânions e cátios. Na tabela 7 demostra-se a correlação entre as respostas compensatórias do

organismo e as alterações dos compostos orgânicos, os quais se fazem com o intuito de

manter o sistema em equilíbrio. Os pulmões podem fazer compensação imediatamente, mas a

resposta terá pouca duração, sendo, com frequência, incompleta. Entretanto, os rins

respondem mais lentamente de dois a quatro dias, mas a resposta é mais prolongada e

potencialmente completa.

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Tabela 7 - Resposta compensatória imediata e tardia dos distúrbios acidobásicos.

Anormalidades acidobásica Resposta imediata (pulmonar) Resposta tardia (renal)

Acidose metabólica ↓ 𝑃𝑐𝑜2 por aumento da ventilação ↑ Retenção de 𝐻𝐶𝑂3 –

↑ Excreção de ácido

Alcalose metabólica ↑𝑃𝑐𝑜2 por diminuição da

ventilação

↓ Excreção de 𝐻𝐶𝑂3 –

↓ Excreção de ácido

Acidose respiratória ↓ 𝑃𝑐𝑜2 por aumento da ventilação ↑ Retenção de 𝐻𝐶𝑂3 –

↑ Excreção de ácido

Alcalose respiratória ↑ 𝑃𝑐𝑜2 por diminuição da

ventilação

↓ Excreção de 𝐻𝐶𝑂3 –

↓ Excreção de ácido

Fonte: Wallach (2013).

A acidose metabólica é uma das características mais proeminentes da CAD.

Conforme os corpos cetônicos se acumulam no sangue, superando a capacidade de

tamponamento do organismo, há um aumento nos íons hidrogênio e uma redução de

bicarbonato. À medida que se agrava a desidratação, o fluxo sanguíneo para os tecidos

periféricos diminui e a acidose lática resultante pode contribuir paro o distúrbio ácido-básico

irreversível (GRECO; STABENFELDT, 2008).

Segundo DiBartola (2007a) geralmente suspeita-se de acidose metabólica quando se

constata baixo valor de 𝐶𝑂2 total no perfil bioquímico; a confirmação é feita pela análise dos

gases sanguíneos.

Entre as resposta do organismo a acidose, está o aumento da excreção de H+ na

urina. Além disso, a reabsorção de HCO3− é quase completa, com 90% do bicarbonato filtrado

reabsorvido no túbulo proximal; o restante é reabsorvido no túbulo distal. (EHRMEYER;

LAESSIG; ANCY, 2010).

A hemogasometria é o exame de referência para avaliação do equilíbrio ácido-básico

sanguíneo que determina o [H+], a PO2 e a PCO2, no sangue, o [H+], é a concentração de H+

livre no sangue. Ela reflete o efeito final dos processos corpóreo sobre [H+] sanguínea e é

relatado como pH. A Po2 (mmHg) é a pressão parcial de 𝑂2 dissolvido, mas não mede O2

associado a hemoglobina. A 𝑃𝑐𝑜2 (mmHg) é a pressão parcial de 𝐶𝑂2 no sangue, ela reflete a

quantidade de 𝐶𝑂2 dissolvido no sangue. Equipamentos portáteis: pequenos equipamentos de

análise química que utilizam cartuchos descartáveis contendo eletrodos seletivos para íons

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podem ser empregados para: (1) determinar os valores gasométricos sanguíneos comuns

(pH, 𝑃𝑜2 e 𝑃𝑐𝑜2), (2) determinar as concentrações de analitos sanguíneos comuns (𝑁𝑎+,

K+, Cl−, ureia, glicose, 𝑓𝐶𝑎2+ e Hb) e (3) calcular diversas concentrações ou valores (HCO3−,

tCO2, ânion gap, 𝑆𝑜2, 𝐵𝐸𝐹𝐸𝐶 , 𝐵𝐸𝑆 e hematócrito). Os valores ácido-base e gasosos sanguíneos

podem ser calculados a partir da determinação do pH, PCO2 e PO2 usando outros fatores

conhecidos (p. ex, temperatura corpórea ou [Hb]) (STOCKHAM; SCOOT, 2011).

Utilizando os valores de pH e de PCO2, a concentração de bicarbonato é calculada

por intermédio de software e é expressa em mmol/ℓ. Quando a amostra for de sangue venoso,

os valores de pH e bicarbonato são os mais úteis para a interpretação de distúrbios

acidobásicos. A pressão parcial de oxigênio (O2) dissolvido no sangue é mensurada em

milímetros de mercúrio (mmHg). Normalmente, essa mensuração somente é útil para a

análise da oxigenação do sangue e, portanto, é de valor interpretativo unicamente quando for

colhido sangue arterial especificamente para avaliar o paciente quanto a distúrbios de

oxigenação (WEISER, 2015).

Silva (2015) indica que para realização do procedimento da coleta para realização da

hemogasometria, amostras de sangue arterial são preferidas às de sangue venoso, pois a

pressão parcial de CO2 (𝑃𝑐𝑜2) e a pressão parcial de O2 (PaO2) podem ser avaliadas de modo

mais preciso. A artéria femoral é a de escolha para obtenção de sangue arterial em cães.

Amostras venosas podem ser usadas para a avaliação do componente metabólico, assumindo-

se que não exista um distúrbio respiratório associado. Alguns autores acreditam que amostras

obtidas de uma veia braquial (p. ex., cefálica) representam melhor o estado acidobásico dos

tecidos. O pH do sangue venoso é menor, em decorrência do maior conteúdo de CO2 (a 𝑃𝑐𝑜2

no sangue venoso é aproximadamente 6 mmHg maior). Para a realização de hemogasometria,

amostras de sangue venoso devem ser colhidas com aplicação mínima de torniquete. Os

valores de referência da hemogasometria em cães saudáveis estão apresentados na tabela 8.

Tabela 8 - Valores do pH sanguíneo (venoso), da pressão venosa de CO2, do bicarbonato plasmático, do excesso

de base e do anion gap de cães saudáveis

pH sanguíneo 7,30 a 7,45

PvCO2 29,0 a 51,0 mmHg

HCO3– 18 a 27 mmol/ℓ

Excesso de base –9,7 a –2,3 mmHg

Anion gap 11 a 24 mEq/ℓ

Fonte: Nelson e Couto (2015).

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Normalmente, a relação entre o bicarbonato e o CO2 é de 20:1. Nessa razão, o log de

20 + 6,1 produz o pH sanguíneo desejado de 7,4. Para fins interpretativos, é útil pensar no

bicarbonato como sendo o componente metabólico da regulação do pH sanguíneo e a 𝑃𝑐𝑜2

como sendo o componente respiratório da regulação do pH sanguíneo. Por exemplo, se o

bicarbonato for utilizado para tamponar um aumento do ácido metabólico (H+), uma

diminuição do bicarbonato na equação acima resulta em diminuição do pH, ou acidose. Em

resposta, a respiração pode aumentar a expiração de CO2 para normalizar parcialmente a

relação, conhecida como compensação. A resposta compensatória tenta normalizar a relação,

que, por sua vez, ajuda a normalizar ou regular o pH. Esse quadro de componentes

metabólicos e respiratórios poderá ser visto de forma mais elucidativa através da figura 10, à

qual fornece um esquema para identificar e interpretar anormalidades acidobásicas (WEISER,

2015).

Figura 10 - Abordagem passo a passo para a interpretação de distúrbios acidobásicos

Fonte: Weiser (2015).

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Segundo DiBartola (2007b), para a coleta de sangue para realização da

hemogasometria deve-se usar uma seringa de 3 mL com agulha calibre 25 lavada com

pequena quantidade de heparina (1.000U/mL). Aspira-se volume de heparina suficiente para

preencher o interior do cilindro; em seguida o êmbolo é pressionado, deixando o espaço morto

da seringa preenchido com heparina. O espaço morto da seringas de 1 a 5 mL corresponde a

0,1 a 0,2 mL; esse volume de heparina é suficiente para impedir a coagulação do sangue.

Após a coleta, se necessário, as bolhas de ar são retiradas batendo-se o dedo indicador no

cilindro da seringa, até que saia todo ar. Com frequência a agulha é introduzida em uma

borracha para evitar que a amostra seja exposta ao ar ambiente, isto porque a 𝑃𝑐𝑜2 do ar

ambiente seco é extremamente baixa, a 𝑃𝑐𝑜2 da amostra de sangue diminui e o pH aumenta

caso a amostra seja exposta ao ar. Além disto, a 𝑃𝑜2 do ambiente é mais alta do que a do

sangue venoso ou arterial, assim a 𝑃𝑜2 da amostra aumenta quando exposta ao ar.

A temperatura é um fator importante na determinação do pH e dos gases sanguíneos.

A equação de Nernst especifica a produção de voltagem esperada por uma célula

eletroquímica em determinada temperatura. Se a temperatura do sistema de mensuração

mudar, ocorrerá mudança no resultado. A solubilidade dos gases em um meio liquido também

depende da temperatura: à medida que a temperatura baixa, a solubilidade do gás aumenta.

Tendo em vista que as determinações do pH e dos gases sanguíneos são extremamente

sensíveis à temperatura (EHRMEYER; LAESSIG; ANCY, 2010).

DiBartola (2007b) retifica que para interpretação dos valores da hemogasometria o

veterinário deve avaliar se há um distúrbio ácido-básico; qual seria o distúrbio primário; a

resposta secundária ou adaptação seria a espera no caso do distúrbio ser simples ou misto; e

quais doenças primárias poderiam ser responsáveis pelos distúrbios ácido-básicos.

Inicialmente o clínico deve verificar o pH do sangue do paciente, se o valor não estiver na

faixa de referencia então haverá um distúrbio ácido-básico, porém mesmo o pH estando na

faixa de normalidade poderá ou não haver um distúrbio. Contudo, não se deve excluir a

possibilidade de haver distúrbios ácido-básicos complicados, os quais podem alterar o pH na

mesma direção do distúrbio primário. Então a etapa seguinte é calcular a resposta

compensatória esperada no componente oposto do sistema fazendo uso da regra prática da

tabela 9. Se a resposta de adaptação ou secundária estiver dentro da faixa, então deverá haver

um distúrbio ácido-básico simples, porém se a resposta estiver fora da faixa poderá existir um

distúrbio misto.

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Tabela 9 - Mecanismos de compensação, renais e respiratórios, esperados nos distúrbios ácido-básicos de cães.

Distúrbios Alteração

Primária

Resposta compensatória

Acidose metabólica ↓[𝐻𝐶𝑂3 −] Redução de 0,7 mmHg na 𝑃𝑐𝑜2 para cada diminuição de 1mEq/L

na [𝐻𝐶𝑂3 −]

Alcalose metabólica ↑[𝐻𝐶𝑂3 −] Aumento de 0,07 mmHg na 𝑃𝑐𝑜2 para cada aumento de 1mEq/L

na [𝐻𝐶𝑂3 −]

Acidose respiratória

aguda

↑𝑃𝑐𝑜2 Aumento de 1,5 mEq/L na [𝐻𝐶𝑂3 −] para cada aumento de 10

mmHg na 𝑃𝑐𝑜2

Acidose respiratória

crônica

↑𝑃𝑐𝑜2 Aumento de 3,5 mEq/L na [𝐻𝐶𝑂3 −] para cada aumento de 10

mmHg na 𝑃𝑐𝑜2

Alcalose respiratória

aguda

↓𝑃𝑐𝑜2 Redução de 2,5 mEq/L na [𝐻𝐶𝑂3 −] para cada diminuição de

10mmHg na 𝑃𝑐𝑜2

Alcalose respiratória

crônica

↓𝑃𝑐𝑜2 Redução de 5,5 mEq/L na [𝐻𝐶𝑂3 −] para cada diminuição de 10

mmHg na 𝑃𝑐𝑜2

Fonte: DiBartola (2007a).

Além disso, um dos parâmetros analisados na gasometria, o anion Gap (AG),

corresponde à diferença entre os cátions (sódio e potássio) e os ânions (cloretos, bicarbonato)

rotineiramente medidos no sangue. Os graus aproximados dos cátions e ânions estão descritos

na Tabela 10. Esta diferença pode ser normal, alta ou baixa. Os níveis elevados indicam

acidose metabólica. Alguns autores sugerem o uso do ânion gap como mecanismo de controle

para os eletrólitos, através da incidência do diagnóstico de diminuição ou aumento do AG,

porque a exatidão desta medida é reflexo das medidas dos eletrodos. Considerando-se que a

maioria dos pacientes para os quais se solicita gasometria está em situação crítica, ás

atividades de controle de processo na análise dos gases sanguíneos tornam-se imprescindíveis,

sobretudo pelo tipo de decisão clínica a ser tomada com base nestes resultados. As atividades

de controle da gasometria estão intimamente relacionadas com a segurança dos pacientes e a

confiabilidade das condutas terapêuticas (MENDES; SUMITA, 2012).

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Tabela 10 - Concentrações aproximadas de cátions e ânios do plasma de cães normais

Cátions Resultado Ânions Resultado

Sódio 145 mEq/L Cloro 110 mEq/L

Potássio 4 mEq/L Bicarbonato 21 mEq/L

Cálcio 5 mEq/L Fosfato 2 mEq/L

Magnésio 2 mEq/L Sulfato 2 mEq/L

Elementos restantes 1 mEq/L Lactato 2 mEq/L

Outros ácidos orgânicos 4 mEq/L

Proteína 16 mEq/L

Total 157 mEq/L 157 mEq/L

Fonte: DiBartola (2007a).

A soma das concentrações de cátions excede a soma das concentrações de ânions

comumente mensurados; essa diferença é denominada anion gap. Em vários estudos o AG é

calculado a partir de (𝑁𝑎+) + (𝐾+) − (𝐶𝑙−) + (𝐻𝐶𝑂3−) é aproximadamente 12 a 24mEq/L, em

cães. A elevação no valor do anion gap é mais comum do que sua queda, o resultado obtido é

mais empregado como ferramenta na classificação da acidose metabólica. A alta significativa

deste valor é indício de que se trata de uma acidose orgânica complicada (DIBARTOLA,

2007a).

Silva (2015) menciona que quando os ácidos se acumulam no organismo, o que é

caracterizado como possível acidose normoclorêmica, significa que o anion gap está

aumentado e o bicarbonato está diminuído. Se o valor do anion gap demonstrado na acidose

metabólica estiver na faixa de normalidade, então se tem uma prerrogativa de acidose

hiperclorêmica devido a elevação da quantidade de cloro no organismo. Esta relação nas

variáveis do AG pode ser observada na figura 11. Não existe um “anion gap” verdadeiro,

pois a somatória dos cátions é sempre igual à somatória dos ânions (lei da eletroneutralidade).

Em condições normais, a concentração plasmática dos ânions “não mensurados” é pequena, e

o valor do anion gap é determinado pelas proteínas plasmáticas, principalmente a albumina.

Pacientes com hipoalbuminemia podem ter diminuição do anion gap. O valor do anion gap

de cães pode ser corrigido para o valor da concentração de albumina do paciente pela fórmula:

Anion gap (em mEq/ℓ) = anion gap + 4,2 × (3,77 – albumina do paciente).

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Figura 11 - A. Indivíduo normal. B. Indivíduo com anion gap

elevado. C. Indivíduo com anion gap normal

Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos. 2015.

Portanto se um animal apresentar um quadro de acidose metabólica com base nas

informações coletadas, poderá ser necessária a terapia com bicarbonato, em pacientes com pH

sanguíneo < 7,1 ou caso a concentração séria de HCO3 seja inferior a 12 mEq/L. Na tabela 11

está descrito o cálculo para obtenção da dose de bicarbonato a ser ministrada (GRECO, 2013).

Tabela 11 - Cálculo de dose para déficit de base

pH Concentração de bicarbonato Dose de bicarbonato Taxa

<7,1 <12mEq/L IV = 0,1 x peso corporal (Kg) x (4 – HCO3

[mEq/L])

Ao longo de 2h

Manual Saunders: Clínica de Pequenos Animais. 2013.

Segundo Silva (2015), outra forma de calcular a quantidade de bicarbonato a ser

utilizado é pela formula: ([HCO3-] desejado – [HCO3

-] do paciente) × 0,5 × peso (kg). Este

cálculo é baseado em estudos empíricos, e é recomendado que o cálculo seja realizado para

que haja uma administração suficiente a fim de atingir um pH de 7,2.

Delvin (2007) afirma que uma mudança na concentração de qualquer componente de

uma reação de equilíbrio requer uma mudança concomitante de todos os componentes. A

equação de Henderson e Hasselbalch (pH = pK’ + log

([𝑏𝑎𝑠𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑗𝑢𝑔𝑎𝑑𝑎 á𝑐𝑖𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑗𝑢𝑔𝑎𝑑𝑜]⁄ ) é um modo conveniente de visualizar a relação

entre o pH de uma solução e quantidades relativas de base e ácido conjugados presentes.

DiBartola (2007b) relata que a equação de Henderson e Hasselbalch é obtida a partir

da expressão de [𝐻+] e 𝐾′𝑎 em moles por litro ou por equivalentes por litro e transformando a

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equação para forma logarítmica obtêm-se pH = 6,1 + log [ 𝐻𝐶𝑂3

−]

0,03 𝑥 𝑃𝑐𝑜2 . Esta é a forma

clinicamente relevante da equação e mostra que nos fluidos corporais o pH é uma função da

proporção entre a concentração de 𝐻𝐶𝑂3 – e 𝑃𝑐𝑜2.

Alguns clínicos utilizam excesso de base para avaliar o componente não-respiratório

(metabólico) do distúrbio acidobásico dos pacientes. Um valor positivo (excesso de base)

indica excesso de bicarbonato ou déficit relativo de ácidos não-carbônicos e sugere alcalose

não respiratória (metabólica). Entretanto, a alcalose ou acidose não respiratória indicada pode

ser decorrente de distúrbios primários ou de mecanismos compensatórios. Como

consequência, não se deve utilizar isoladamente os valores do excesso de base ao avaliar o

quadro acido-básico do paciente (EHRMEYER; LAESSIG; ANCY, 2010).

Weiser (2015) demonstra outra forma de se calcular a quantidade necessária para

administração de bicarbonato em um paciente com acidose metabólica por meio do valor

obtido do EB, a quantitade de bicarbonato resultante deve ser administrada juntamente com a

fluidoterapia. O cálculo é baseado no peso corporal e o objetivo é fornecer bicarbonato ao

líquido extracelular, que é aproximadamente 30% do peso corporal. Uma fórmula

representativa utilizando o valor absoluto de EB seria: Dosagem de bicarbonato (mmo/L) =

0,3 x Peso corpóreo (kg) x EB (mmo/L).

Um estudo feito por Silva (2006), no qual avaliou 40 cães diabéticos, destes (22 =

CAD) cães haviam sido diagnosticados a pouco tempo e os outros (18 = CA) animais já

estavam fazendo uso de insulina e foram divididos em grupos conforme os que já estavam

sendo tratados e os recém diagnosticados. Foi utilizada o calculo de Van Slyke-Henderson-

Hasselbalch para observar o equilíbrio ácido-básico e estes serem comparados com um grupo

controle de 37 cães hígidos. Foi necessário para a pesquisa que se realizasse a

hemogasometria para obtenção dos componentes listados na tabela 12 e, de eletrólitos

descritos na Tabela 13. O distúrbio mais proeminente foi a acidose metabólica (n = 27),

destes, 15 apresentaram compensação através da alcalose respiratória associada. A maior

parte dos animais apresentaram acidose normoclorêmica e a acidose hiperclorêmica pôde ser

observada em sete animais.

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Tabela 12 - Resultados de pH sanguíneo, pressão dos gases sanguíneos, déficit de base e anion gap dos cães dos

subgrupo cetose diabética (CD) e cetoacidose diabética (CAD).

CAD (n = 22) CD (n = 18) Valores de P Valores de

referência

pH sanguíneo 7,262 (7,001 a 7,487) 7,407 (7,267 a 7,459) ˂ 0,001 7,37 a 7,47

PCO2 (mm Hg) (1) 22,0 (13,9 a 29,5) 28,7 (14,2 a 38,2) 0,001 26 a 41

PO2 (mm Hg) (2)

106, (72,1 a 299,9) 86,4 (69,6 a 147,0) 0,001 79 a112

[HCO3-] (mmol/L)

(3) 9,0 (5,3 a 17,3) 17,3 (6,2 a 22,3) ˂ 0,001 17 a 25

BE (mmol/L) (4)

-16,2 (-24,4 a -3,1) -5,8 (-17,2 a 0,4) ˂ 0,001 -6 a 2

SO2 (%) (5) 95,8 (88,2 a 99,9) 95,9 (91,7 a 98,4) 0,861 94 a 99

AG (mmol/L) (4)

32,2 (14,0 a 43,8) 22,9 (10,6 a 31,8) 0,008 11 a 23

Fonte: Silva (2006).

Tabela 13 - Valores dos eletrólitos dos subgrupos cetose diabética (CD) e cetoacidose diabética (CAD)

CAD (n = 22) CD (n = 18) Valores de P Valores de

referência

Na+

(mmol/L) (1)

139,2 (121,7 a 158,6) 140,6 (131,7 a 154,3) 0,904 142 a 151

Cl- (mmol/L)

(2) 104,1 (82,7 a 126,4) 104,7 (90,7 a 118,6) 0,968 105 a 115

K+

(mmol/L) (3)

3,4 (2,3 a 5,0) 4,4 (2,9 a 5,8) ˂ 0,001 3,5 a 4,6

Pi (mg/dL) (4)

6,3 (3,3 a 10,9) 6,4 (4,0 a 9,3) 0,946 2 a 7

Ca2+

(mmol/L) (5)

1,121 (0,741 a 1,613) 1,163 (0,827 a 2,489) 0,778 1,22 a 1,48

Mg (mg/dL) (6)

2,2 (1,2 a 3,7) 2,1 (1,3 a 2,6) 0,396 1,8 a 2,5

Fonte: Silva (2006).

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa do presente estudo permitiu agregar as informações das literaturas

relacionando-as em um material de forma a abordar temas como anatomia, histologia,

patologia, fisiologia, bioquímica, clínica médica veterinária e correlacionando todas essas

vertentes ao diabetes Melittus em cães, para que houvesse uma avalição generalista com

enfoque nas alterações do equilíbrio ácido-básico.

Com base nas informações agregadas neste trabalho pode-se perceber a extrema

importância de uma monitoração constante do animal diabético e, para que isto ocorra é

necessário que exista uma parceria entre o tutor e o médico veterinário, pois desta forma,

qualquer variação no quadro do paciente com tal afecção poderá ser captada e as devidas

providências terapêuticas serão empregadas.

Todo o sistema que envolve a patogenia da diabetes Mellitus é bastante complexa e

requer um conhecimento profundo e adequado para que seja estabelecido o tratamento ideal,

visto que o mesmo é basicamente uma tríade a qual envolve: terapêutica, mudança de hábitos

e monitoramento.

Como visto no matéria,l o DMID é a forma que acomete os caninos praticamente em

toda sua totalidade, portanto é necessário que se realize aplicações de insulina diariamente,

BID, para que o limiar ideal seja alcançado. Qualquer indicio de mudança na resposta do

animal a este tratamento deve ser comunicado ao veterinário para que investigue por meios de

exame clínico e por exames complementares tais como monitoração da glicose através do uso

de glicosimetros, avaliação da glicose na urina, se necessário o emprego da curva glicêmica,

ou ainda se a dosagem da glicose não for empregada devido a altos níveis de estresse fazer a

utilização da dosagem de frutosamina.

Todos os cuidados empregados devem ser seguidos com total responsabilidade para

que tais práticas evitem a evolução da diabetes Mellitus para um quadro complicado, no qual

o aumento de corpos cetônicos no organismo venham causar a cetose e/ou a cetoacidose

diabética.

A pesquisa demostrou a importância da avaliação do equilíbrio ácido-básico, visto que

o mesmo reflete o grau de severidade da doença, tendo-se a possibilidade de mensurar os

gases sanguíneos, juntamente com valor de pH através da gasometria e a partir destes valores

calcular a concentração de bicarbonato, o anion gap e o excesso de base, e a partir da análise

destas informações classificar o tipo de desequilíbrio primário presente: (acidose metabólica

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ou alcalose metabólica, acidose respiratória ou alcalose respiratória). É possivel ainda

detectar se existe uma resposta compensatória pelo organismo ou se até mesmo esse

desequilíbrio está sofrendo um possível sinergismo.

A interpretação de exames permite a avaliação dos distúrbios ácido-básicos, como a

dosagem de eletrólitos, a hemogasometria e exames complementares que se julgar

necessários. Todavia, o quadro clínico subjacente serve de referência para a interpretação dos

dados coletados.

Estes tipos de exames vêm se tornando mais presentes na rotina clínica, porém o

emprego da hemogasometria não é tão acessível, apesar dos avanços, e é de interesse

veterinário que esse procedimento se faça mais presente e venha exercer toda sua

potencialidade para um melhor diagnóstico.

Durante a elaboração deste material pode-se notar a necessidade de estudos voltados

para o desequilíbrio ácido-básico, referente a diabetes Mellitus. Devido a relevância do

assunto se faz necessário que pesquisas mais aprofundadas se realizem para que obtenha-se

melhores resultados com as terapias empregadas a fim de que cães portadores de DM, possam

desfrutar da melhoria na qualidade de vida com mais longevidade e descarte de problemas

decorrentes desta doença.

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