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Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento - RC: 7080 - ISSN: 2448-0959 https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-civil/manutencao-rodoviaria Massapê, Item de Desequilíbrio na Manutenção Rodoviária: O Caso da Rodovia BR-324/BA. CUERVO, Juan Cabral [1] , MELO, Leandro Costa [2] , ALMEIRA, Patrícia Silva [3] , CAMPOS, Luiz Edmundo P. [4] CUERVO, Juan Cabral; et.al. Massapê, Item de Desequilíbrio na Manutenção Rodoviária: O Caso da Rodovia BR-324/BA. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 02, Ed. 01, Vol. 15, pp. 149-162. Fevereiro de 2017. ISSN: 2448-0959 RESUMO O objetivo deste artigo é apresentar uma comparação entre parâmetros de desempenho de pavimentos que tenham ou não o solo massapê na sua estrutura, sua influência na manutenção de uma rodovia e importância nas avaliações de desempenho de uma Concessão.Com os ensaios realizados e monitorações das condições do pavimento do trecho compreendido entre o km 551 e o km 603 da rodovia BR-324/BA pode-se fazer uma análise da influência do tipo de solo massapê sob o pavimento através da verificação de parâmetros de desempenho de manutenção de pavimento estabelecidos no Programa de Exploração Rodoviária (PER).Nos trechos com massapê constatou-se um pior comportamento do pavimento, suscitando um investimento diferenciado em manutenção da via na busca por atender aos parâmetros de desempenho das Concessões que, se não respeitados, são passíveis de penalidades, como multas e reduções tarifárias. Esta situação expõe a fragilidade na metodologia de análise de desempenho imposta às Concessionárias. Palavras-chave: Concessão de rodovias, Solo Massapê, Custos com manutenção rodoviária. INTRODUÇÃO Este trabalho trata de um estudo de caso na BR-324/BA no trecho entre os municípios de Simões Filho e Amélia Rodrigues, segmento rodoviário que apresenta locais com presença na camada de subleito material expansivo pertencente a Bacia sedimentar do recôncavo Baiano, conhecido popularmente na Bahia como massapê. Na engenharia, as primeiras contribuições de estudos sobre o massapê foram apresentadas em função das dificuldades de implantação da rodovia BR-324/BA entre Salvador e Feira de Santana (Simões & Costa Filho, 1981). Esta rodovia liga a cidade de Salvador a cidade de Feira de 1 / 13

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Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento - RC: 7080 - ISSN: 2448-0959https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-civil/manutencao-rodoviaria

Massapê, Item de Desequilíbrio na Manutenção Rodoviária: OCaso da Rodovia BR-324/BA.

CUERVO, Juan Cabral [1], MELO, Leandro Costa [2], ALMEIRA, Patrícia Silva [3], CAMPOS, LuizEdmundo P. [4]

CUERVO, Juan Cabral; et.al. Massapê, Item de Desequilíbrio na Manutenção Rodoviária: O Caso daRodovia BR-324/BA. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 02, Ed. 01, Vol.15, pp. 149-162. Fevereiro de 2017. ISSN: 2448-0959

RESUMO

O objetivo deste artigo é apresentar uma comparação entre parâmetros de desempenho de pavimentos quetenham ou não o solo massapê na sua estrutura, sua influência na manutenção de uma rodovia eimportância nas avaliações de desempenho de uma Concessão.Com os ensaios realizados e monitoraçõesdas condições do pavimento do trecho compreendido entre o km 551 e o km 603 da rodovia BR-324/BApode-se fazer uma análise da influência do tipo de solo massapê sob o pavimento através da verificaçãode parâmetros de desempenho de manutenção de pavimento estabelecidos no Programa de ExploraçãoRodoviária (PER).Nos trechos com massapê constatou-se um pior comportamento do pavimento,suscitando um investimento diferenciado em manutenção da via na busca por atender aos parâmetros dedesempenho das Concessões que, se não respeitados, são passíveis de penalidades, como multas ereduções tarifárias. Esta situação expõe a fragilidade na metodologia de análise de desempenho impostaàs Concessionárias.

Palavras-chave: Concessão de rodovias, Solo Massapê, Custos com manutenção rodoviária.

INTRODUÇÃO

Este trabalho trata de um estudo de caso na BR-324/BA no trecho entre os municípios de Simões Filho eAmélia Rodrigues, segmento rodoviário que apresenta locais com presença na camada de subleitomaterial expansivo pertencente a Bacia sedimentar do recôncavo Baiano, conhecido popularmente naBahia como massapê. Na engenharia, as primeiras contribuições de estudos sobre o massapê foramapresentadas em função das dificuldades de implantação da rodovia BR-324/BA entre Salvador e Feira deSantana (Simões & Costa Filho, 1981). Esta rodovia liga a cidade de Salvador a cidade de Feira de

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Santana, se caracterizando como uma das principais vias de escoamento e circulação da região, comelevado tráfego de veículos leves e pesados.

Presa (1980) define que o solo expansivo, seja ele no estado natural ou compactado, é aquele em que avariação volumétrica é muito elevada, de forma a produzir efeitos prejudiciais nas obras construídas sobreos mesmos ou nas proximidades.

Concessionada desde 2009, a BR-324/BA embora com manutenção rotineira, apresenta em alguns trechoselevada demanda por recuperação do pavimento, com destaque para o trecho compreendido entre o km551 e o km 603, foco desta análise. Conforme estudo de Simões (1991), neste trecho rodoviário apresentasolo massapê na sua constituição.

De acordo com o manual de pavimentação do DNIT de 2006, o massapê é classificado como um soloargiloso, de plasticidade, expansibilidade e contratilidade elevadas, características responsáveis pelosurgimento de problemas nas estruturas do pavimento.

Sobral (1956) avaliou as percentagens das diversas frações dos solos constituintes dos massapês(localizados na região de Água Comprida, São Sebastião, Candeias Usina aliança e atual BR-324/BA) apartir do método brasileiro MB-32 da ABNT, concluindo que os massapês são solos constituídos defrações muito finas, com porcentagem da mistura de silte – argila entre 65 e 93% e as percentagens deargila entre 32 e 74%

Materiais expansivos ocasionam sérios problemas técnicos durante a implantação e operação nas obras deengenharia, em especial em pavimentos rodoviários, devido a sua grande instabilidade frente a variaçãode umidade, o qual se torna muito expansivo na presença de água e na ausência apresenta retração, issodevido a elevadas quantidades de argilo-minerais da família da montmorilonita na fração argila destesolo. A repetição do fenômeno expansão-retração provoca efeitos prejudiciais aos pavimentos(Simões,1991).

A presença de solos expansivos em obras rodoviárias está intimamente ligada a deformações, originandodanos à pista e à taludes de corte e aterro, estabelecendo redução do nível de conforto e significativoaumento de necessidade de manutenção, o qual demanda maiores investimentos. Nos trechos da rodoviaonde não ocorrem solos expansivos a incidência desses problemas tende a ser significativamente menor.

O serviço de manutenção do pavimento é realizado pela concessionaria, conforme cronograma efrequência definido em contrato e com apresentação periódica de relatórios ao órgão concedente. Nesteprocesso, a presença de material expansivo como o massapê pode se caracterizar como um elemento dedesequilíbrio, suscitando uma maior atenção na serventia da via.

Contudo, embora alguns trechos apresentem comportamento diferenciado do seu subleito, o quedetermina uma maior necessidade de manutenção, o pavimento da BR-324/BA, conforme contratovigente de concessão, é avaliado de forma homogênea pela ANTT, através de parâmetros de desempenhofixos estabelecidos no Programa de Exploração Rodoviária - PER, que não refletem as particularidades dotrecho em foco.

Apesar do conhecimento da existência desse solo na região, sua influência não é considerada nos modelos

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tradicionais de dimensionamento de pavimento, sendo um dos fatos que motivou o desenvolvimento destetrabalho.

O estudo apresentado foi elaborado com base em pesquisa de campo, documentos e ensaios cedidos pelaempresa responsável na administração atual da rodovia, tendo como objetivo geral visualizar o impactoque o material expansivo, no caso o massapê, promove no pavimento, o qual influência no acréscimo demanutenções e, consequentemente, pode demandar maiores investimentos, além de evidenciar, no casodas concessões, a necessidade de se desenvolver parâmetros de análise de desempenho do pavimentocompatíveis com as características locais, que acompanhem a heterogeneidade e particularidades dostrechos da rodovia.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada na BR-324/BA, rodovia que liga as cidades de Salvador e Feira de Santana, comfoco para o trecho compreendido entre o km 551 e o km 603, local que segundo resultados de ensaios daconcessionária responsável apresenta maior necessidade de manutenção no pavimento.

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Figura 1: Mapa de visualização do trecho em estudo. Fonte: Google Earth

Para o desenvolvimento do presente estudo, realizou-se primeiramente uma análise bibliográfica paracaracterização do solo do trecho compreendido no trecho em estudo. Com os ensaios e monitorações dascondições do pavimento cedido pela Concessionária pode-se fazer uma análise da influência desde tipo desolo sob o comportamento do pavimento e, assim, tornou-se possível verificá-los com base nosparâmetros predefinidos de desempenho de manutenção de pavimento estabelecidos no Programa deExploração Rodoviária (PER).

Pretende-se também verificar a diferença de quantidade de manutenção do pavimento em trechos com esem a presença de massapê nas camadas inferiores à capa asfáltica, tornando possível avaliar se osparâmetros de desempenho hoje estabelecido no PER vigente são compatíveis com a realidade local.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A rodovia em estudo pertence a bacia sedimentar do recôncavo que tem área aproximada de 9.800 km²,limitada ao norte pelos municípios de Alagoinhas e Feira de Santana; a oeste por Muritiba, Maragogipe eNazaré; ao sul por Valença, Nilo Peçanha e Camamu; e a leste pelo Oceano Atlântico (Simões, 1991).

Conforme Simões (1991), nesta Bacia são encontradas as maiores ocorrências de materiais expansivos doBrasil, pertencentes aos grupos Brotas, Santo Amaro, Ilhas e Massacará. Nos três primeiros grupos, oprocesso de intemperismo das rochas, originaram solos argilosos com elevada plasticidade eexpansividade (o massapê), já o grupo Massacará é formado por mantos espessos, pouco consolidados, desegmentos granulares intercalados por camadas de massapê.

A Rodovia BR-324/BA atravessa a Bacia Sedimentar o Recôncavo, conforme ilustração abaixo:

Figura 2 - Perfil longitudinal esquemático da rodovia BR-324/BA, mostrando os limites da baciasedimentar. (Fonte: Estudo cedido pela Concessionária VIABAHIA)

De acordo com estudo do perfil geológico realizado pela Concessionária, no trecho compreendido entre okm 551 e o km 603 da rodovia BR-324/BA, ocorrem os folhelhos. No trecho adjacente ao km 603, emdireção a Salvador, ocorrem sedimentos da Formação Barreiras, constituídos principalmente de materiais

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de matriz arenosa e no trecho adjacente ao km 551, em direção a Feira de Santana, também ocorremmateriais mais arenosos e menos expansivos.

Figura 3 - Perfil esquemático da rodovia BR-324/BA expondo o trecho de ocorrência dos folhelhos.(Fonte: Estudo cedido pela Concessionária VIABAHIA)

Brito (2006) define massapê (vertissolo) como um solo plástico, com elevado teor de argila, contendominerais argílicos expansivo tipo montmorilonita, camadas mistas ilita-montmorilonita e ilita,provenientes da intemperização das rochas argilosas e de alguns siltitos das formações dos GruposBrotas, Santo Amaro e Ilhas. Pequenas variações de umidade, em torno de 2%, são suficientes parapromoverem significativas expansões no solo massapê.

ENSAIOS GEOTÉCNICOS REALIZADOS

Os resultados das investigações geotécnicas realizadas pela concessionária comprovam a grandeincidência de solo expansivo (massapê) no subleito da rodovia, ao longo do trecho estudado, e que pelasua acentuada característica de retração e expansividade, justificam os danos frequentes e repetitivosverificados no pavimento da rodovia em estudo.

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Figura 4 - Resumo dos ensaios geotécnicos realizado pela concessionaria. (Fonte: Relatório deMonitoramento do Pavimento cedido pela Concessionária VIABAHIA)

Na figura 4, observa-se elevados percentuais de argila 63 a 69% com expansão variando de 81,9 a 93,2%.Através dos resultados é possível verificar que o solo avaliado possui textura predominantemente finacom grande plasticidade e expansividade.

Os elevados valores percentuais de expansão obtidos nos ensaios indicam que o subleito, quandosubmetido a grandes variações de umidade, tende a apresentar variações volumétricas significativas(expansão e retração), que provoca o aparecimento de defeitos no pavimento, como pode-se verificar nasfiguras 5 a 7:

Figura 5: Pista Salvador – Feira deSantana, km 564 + 300 m; subleito em massapê, pista e acostamento danificados; local de ocorrência defolhelho. (Fonte: Relatório de Monitoramento do Pavimento Cedido pela Concessionária)

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Figura 6: Pista Salvador – Feira deSantana, trecho entre o km 563 e o km 564 – ondulações e danos na pista e acostamento; local deocorrência de folhelho (Fonte: Relatório de Monitoramento do Pavimento cedido pela Concessionária)

Figura 7: Pista Salvador – Feira deSantana, trecho entre o km 563 e o km 564 – ondulações e danos na pista e acostamento; local deocorrência de folhelho (Fonte: Relatório de Monitoramento do Pavimento cedido pela Concessionária)

Assim, antes de expor a comparação dos resultados da avaliação do pavimento no trecho proposto poreste estudo, que é realizada através de parâmetros técnicos preconizados no PER, como por exemploirregularidade longitudinal (IRI) e deflexão característica (Dc), primeiramente é necessário apresentar afinalidade do Programa de Exploração Rodoviária (PER) e como nele é definida a etapa de Manutenção.

PROGRAMA DE EXPLORAÇÃO RODOVIÁRIA (PER)

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“O Programa de Exploração Rodoviária foi elaborado com o intuito de apresentar as obrigações deinvestimento da concessionária e definir os parâmetros de desempenho a serem atendidos ao longo doprazo de concessão. Tais especificações são divididas em três etapas: trabalhos iniciais, recuperação emanutenção” (PER,2008)

A rodovia BR-324/BA por definição contratual encontra-se na etapa de manutenção, foco do presenteestudo e, portanto, a etapa a ser abordada.

MANUTENÇÃO

“A Manutenção compreende o conjunto de intervenções físicas programadas que a Concessionária deverárealizar com o objetivo de recompor e aprimorar as características técnicas e operacionais do SistemaRodoviário, conforme os Parâmetros de Desempenho e as especificações técnicas mínimas. As atividadesde Manutenção deverão iniciar-se após a fase de Recuperação da rodovia e desenvolver-se até o final doPrazo da Concessão.” (PER,2008)

Em seguida, são apresentados as definições de alguns parâmetros de desempenho e os resultados domonitoramento anual do pavimento da rodovia em estudo, disponibilizados pela concessionária.

PRINCIPAIS PARÂMETROS PARA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO E RESULTADOS NOMONITORAMENTO ANUAL DO PAVIMENTO

IRREGULARIDADE LONGITUDINAL DE PAVIMENTO (IRI)

A irregularidade longitudinal é o somatório dos desvios da superfície de um pavimento em relação a umplano de referência ideal de projeto geométrico que afeta a dinâmica do veículo, o efeito dinâmico dascargas, a qualidade ao rolamento e a drenagem superficial da via. (BERNUCCI, 2008)

O parâmetro de irregularidade fornece condições de avaliar a interação entre o veículo, usuário epavimento, de maneira a ser também meio de análise das condições de conforto da via.

Figura 8 – Condição da via por QI e IRI (Fonte: Relatório de Monitoramento do Pavimento cedido pelaConcessionária).

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Gráfico 1 – Comparativo Anual de Irregularidade Longitudinal (IRI) – BR-324 – Sem Massapê. (Fonte:Relatório de Monitoramento do Pavimento cedido pela Concessionária)

Gráfico 2 - Comparativo Anual de Irregularidade Longitudinal (IRI) – BR-324 – Com Massapê. (Fonte:Relatório de Monitoramento do Pavimento cedido pela Concessionária)

Com base nos gráficos apresentados é possível observar que nos trechos com presença de massapê ascondições de irregularidade eram mais acentuadas no ano de 2010, tendo uma significativa redução nosanos posteriores em função provavelmente das obras de recuperação e posterior manutenção realizadaspela concessionária.

DEFLEXÃO CARACTERÍSTICA (Dc)

Conforme o PER, trata-se de um indicativo do comportamento elástico da estrutura, também denominadadeformação ou deflexão recuperável. Quanto maior seu valor, mais elástica ou resiliente é a estrutura emaior o seu comprometimento estrutural. As deflexões características do pavimento flexível devem sermedidas de forma dinâmica através de equipamento dinâmico de impacto tipo Falling Weight

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Deflectometer – FWD, de acordo com a norma DNIT PRO 273/96, com espaçamentos máximos, em umamesma faixa de tráfego, de 200 metros.

Deflexão elevada é o indicativo de elevada deformação, consequência da deficiência de capacidade desuporte do pavimento, o que caracteriza uma condição estrutural ruim. Portanto, a análise da deflexãocaracterística permite uma melhor compreensão do comportamento estrutural dos pavimentos. Dentre osparâmetros citados, diante da sua relação com o comportamento estrutural do pavimento nas suascamadas mais profundas, a deflexão se destaca como principal parâmetro para diferenciar e avaliar ainfluência do solo tipo massapê na deficiência estrutural.

Os valores de deflexão máxima representam a condição estrutural geral do pavimento. Para este estudofoi levada em consideração a deflexão característica (Dc) de cada segmento avaliado, que pode sercalculada através da média das deflexões de um segmento somada ao desvio padrão.

A seguir são apresentados os resultados dos levantamentos deflectométricos realizados com o FallingWeight Deflectometer (FWD) entre 2010 e 2015, com exceção para os anos de 2012 e 2013. (PER,2008)

Figura 9 - Condição da via por Dc. (Fonte:Relatório de Monitoramento do Pavimento cedido pela Concessionária)

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Gráfico 3 – Comparativo Anual da Deflexão Característica (Dc) – BR-324 – Sem Massapê (Fonte:Relatório de Monitoramento do Pavimento cedido pela Concessionária).

Gráfico 4 - Comparativo Anual da Deflexão Característica (Dc) – BR-324 – Com Massapê (Fonte:Relatório de Monitoramento do Pavimento cedido pela Concessionária)

Com base nos resultados apresentados, pode-se observar que no trecho com massapê a condição estruturaldo pavimento era mais crítica no início da concessão, passando por uma significativa redução até o ano de2014. Também foi observado uma perda na capacidade estrutural de ambos os trechos (com e semmassapê) entre os anos de 2014 e 2015, com maior impacto no trecho com massapê.

O gráfico a seguir ilustra os resultados desta análise, evidenciando a maior necessidade de restauração nopavimento em trechos com a presença do massapê.

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Gráfico 5 – Percentual de área restaurada – BR-324 (Fonte: Relatório de Monitoramento do Pavimentocedido pela Concessionária).

Analisando os resultados é possível observar que embora os trechos com o solo expansivo (massapê) játenham sido restaurados nos anos de 2010 a 2012, apresentaram necessidade de nova restauração emcerca de 35% no ano de 2014, evidenciando assim, um pior comportamento do pavimento e uma maiorquantidade de manutenção nos trechos com massapê, na busca por atender aos parâmetros de desempenhoda concessão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As rodovias em regime de concessão são avaliadas pelo poder concedente através de parâmetrosdefinidos no PER para avaliação principalmente das condições do pavimento. Parâmetros estes que, senão atendidos, são passíveis de penalidades, como multas e reduções tarifárias.

A dificuldade das Concessões de atender o modelo de avaliações proposto é constatada, nos quais osparâmetros de avaliação preconizados no PER são os mesmos independentemente do trecho em que arodovia está assentada. Para trechos críticos, como é o caso onde encontra-se o massapê, sem aflexibilização dos parâmetros de avaliações ou a apresentação de novos padrões de desempenho quepossam efetivamente serem cumpridos, o risco que a Concessionária precisa absorver tende a ser maior,podendo afetar não só a saúde financeira da instituição, como também a boa serventia do pavimento,essencial para o conforto e segurança da pista de rolamento ao usuário.

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REFERÊNCIAS

BRITO, A.A.S. Estudo de manifestação patológica em edificação assente sobre solo expansivo –massapê. Monografia (Especialização em Gerenciamento na Construção Civil) - Curso de Especializaçãoem Gerenciamento da Construção Civil, Universidade Estadual de Feira de Santana, feira de Santana,2006.

NUNES, A. J. da Costa. (1988). Problemas e Soluções em Folhelhos e Massapês da Bahia nas Obrasde Engenharia.

PRESA, E. P. (1980). Parâmetros Convenientes para projetos de rodovias em Solo Expansivo. IISeminário Regional de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações – NRBA/ABMS – Salvador-Ba.83-106.

Relatório de Monitoramento de pavimento e resultados de ensaios geotécnicos fornecidos pelaConcessionária VIABAHIA, 2016.

SIMÕES P.R.M & Costa Filho, L.M (1991). Características Mineralógicas, Químicas e Geotécnicasde solos expansivos do Recôncavo Baiano, Simpósio Brasileiro de Solos tropicais para Engenharia,PUCRJ. 569-588p.

SIMÕES, Paulo Roberto. Mecanismo de Instabilização dos Taludes Naturais das FormaçõesExpansivas da Bacia Sedimentar do Recôncavo Baiano. Tese para obtenção do grau de Doutor emEngenharia Civil. COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 1991.

SOBRAL, H.S. Contribuição ao estudo de massapê como solo para construção. Tese para Cátedra dematérias de construção. Universidade Federal da Bahia. Escola de Belas Artes, Salvador-Bahia,1956.

[1] Engenheiro Civil, Pós-graduando em Engenharia de Infraestrutura Rodoviária pela Escola deEngenharia de Agrimensura.

[2] Engenheiro Civil, Pós-graduando em Engenharia de Infraestrutura Rodoviária pela Escola deEngenharia de Agrimensura.

[3] Engenheiro Civil, Pós-graduando em Engenharia de Infraestrutura Rodoviária pela Escola deEngenharia de Agrimensura.

[4] Mestre Engenheiro Civil.

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