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UNIVERSIDADE TUIUTI DO I'ARANA HIDROPONLA COMO RECURSO NATERAPIA OCUPACIONAL sONLA MARGARETE BATISTA l'l{ADE KRACHENSKI Monografia aprescntada .1 UlliYcrsid'ldc Tuiuti do Paran:'i como rcquisito pa,'cia! p.lra a obtcnt;ao do titulo de cspccialist<l em Tcrapia Ocupacion.11 em Saude Mental. Oricnwdora: Pror~ l~itH Aparecida Ocrnurdi Percinl Co-orient:ulor: Prof. Milton e:lrlOS Mariotti Mal'~o, 2002

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO I'ARANA

HIDROPONLA COMO RECURSO NATERAPIA OCUPACIONAL

sONLA MARGARETE BATISTA l'l{ADE KRACHENSKI

Monografia aprescntada .1 UlliYcrsid'ldc Tuiuti doParan:'i como rcquisito pa,'cia! p.lra a obtcnt;ao dotitulo de cspccialist<l em Tcrapia Ocupacion.11 emSaude Mental.

Oricnwdora: Pror~ l~itH Aparecida Ocrnurdi PercinlCo-orient:ulor: Prof. Milton e:lrlOS Mariotti

Mal'~o, 2002

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SUMA.RIO

LlSTA DE ILUSTRAr;:OES

RESUMO

INTRODUr;:ii.O .....

INSTITUlr;:ii.O TOTAL.. ...

REABILlTAr;:AO PSICOSSOCIAL .

pRAxIS E OCUPAr;:ii.O HUMANA .

TERAPIA OCUPACIONAL ...

6 TECNICA DA HlDROPONIA.

7

12

16

20

HIDROPONIA NO HOSPITAL COLONIA ADAUTO BOTELHO... 22

7.1 BREVE HIST6R1CO... 22

7.2 DESENVOLVIMENTO DA HIDROPONlA.. 24

7.3 ASPECTOS AVALIADOS.... 25

7.4 ORGANlZA<;:AO DO ATENDIMENTO NA HIDROPON1A.. 26

7.5 ETAPAS DA HlDROPONIA.. 27

7.6 METAS DO PROGRAMA... 30

7.7 ANALISE DA EXPERIENC£A... 31

CONSIDERAr;:OES FINAIS...... .. 33

REFERENCIAS... . 34

ILUSTRAr;:OES.... 35

iii

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L1STA DE lLUSTRA<;:OES

FIGURA I - CAMINHO DA HIDROPONIA. ... 35

FIGURA 2- SEMEADURJI ... 35

FIGURA 3- RETIRADA DAS MUDAS DAS BANDEJAS E LlMPEZA 36

DAS RAiZES ...

FIGURA 4 - TRANS PLANTE NO BER<;ARIO .. 36

FIGURA 5- RETIRADA DAS MUDAS DO BER<;ARIO ... 37

FIGURA 6- TRANS PLANTE NAS BANCADAS DEFINITIVAS ... 37

FIGURA 7- COLHEITA. ... 38

FIGURA 8- RETIRADA DO LIXO E PLACAS DA BANCADA ... 38

FIGURA 9- LlMPEZA DA BANCADA. ... 39

FIGURA 10- COLHEITA PREPARADA PARA A VENDA ... 39

FIGURA 11- VENDA DE ALFACES NA FRENTE DO HCAR .. 40

FIGURA 12- VENDA DE ALFACES - RESPONSA VEL PELO CAIXA. .. 40

iv

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RESUMO

o presente trabalho e urn relato de experiencia de Terapia Ocupacional realizado no

Hospital Colonia Adauto Botelho com grupo de pacientes com transtornos mentais

cr6nicos moradores e nao moradores, utilizando como recurso a tecnica de

hidroponia (cuttivo de plantas na agua). E apresentada urna breve revisao sobre

institui¢es fechadas, reabiljta~o psicossocial, praxis, ocupayao humana, Terapia

Ocupacional e grupo de atividades, para fundamentar a utilizayao da hidroponia

como urn recursa para a Terapia Ocupacional no contexto atual de saude mental.

Sao discutidos as resultado obtidos com a trabalho no periodo de 5 anos de

implantac;:ao no intuito de compreender a necessidade de ac;6es adequadas para 0

resgate de habWdades, desejos e principalmente cidadania do portador de

transtorno mental.

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1 INTRODUC;ii.O

Este trabalho e urn relato de 5 anos de experiencia da utiliza<;ao da tecnica

da hidroponia na Tempia Ocupacional no Hospital Colonia Adauto Botelho (!-ICAH)

com pacienles portadorcs de transtornos rnentais cronicos moradores e nao

moradores

Durante a pralica de atendimcnto a pacientcs corn transtornos mentais

cronicos c com Janga pcriodo de intcrnnyao em hospital psiquiiHrico, buscava-se

uma fonna de atendimento dil-erenciada para reativar sua motivayao, desenvolvcr

suas habilidadcs, proporcionar reintegra<;iio social, melhor qualidade de vida e

resgatar sua cidadania.

Perccbeu-sc que varios aspectos da Iccnica da hidroponia contribuiam para

alcam;ar tais objctivos e que integrada a outras ayocs promoveriam a reabilita<;ao

psicossocial.

A hidroponia, cultivo de plantas na agua. aprcsenta-se como alternaliva de

recurso na Tcrapia OcupacionaJ com pcssoas ponadoras de transtornos menrais. Esta

lecnica permile urn conlato com a natureza atravcs do manuseio de plantas em

etapas seqlienciadas e com rolinas diarias, favoreccndo a reorganizaI;ao da rOlina de

vida dcstas pessoas.

Sabe-sc que de hidroponia tCI11 side utilizada pela Terapia OCLIpacional

com portadorcs de deficicncia mental, crian~as e adolesccntes infratores. mas miD harcgislros dessas expericncias.

Durante os atcndimentos observou-se que os pacientes conseguiam

desenvolvcr aspectos cognitivos, scnso-perccptlvoS, melhorar auto-estima,

integra~ao de grupo, socializa9ao alem de ohter urn produto de qualidade e a

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possibilidade de Icr uma atividade remunerada.

Para maior cornprecnsao deste trabalho proclirou-se a fundamcnta<;:ao de

ideias sabre lim novo paradigm3 para a saude mental, onde prctendc-sc, atravcs da

rcabilita~ao psicossocial, proporcionar mclhor qualidadc de vida. resgatando a

cidadania das pcssoas portadoras de transtornos menlais.

o primeiro capitulo discorrc sabre as caracteristicas de lima instituir;ao

IotaI, quais as l11udan<;3s que a institucionalizac;:ao acarreta para a pcssoa imcrnada

nestc 1ipo de inslituic;:ao,qual 0 objctivo de tratamento em hospital psiquiarrico.

No segundo, sao aprescntados questional11cntos sabre a instiluic;:ao

psiquialrica. considerac;:oes sabre a reabilitac;ao psicossocial e como 3c;:oes integradas

podem mclhorar as condic;6es de tratamcnto e de vida para as pessoas ponadoras de

transtornos mentais.

a lercciro capitulo traz 0 conceito de praxis c como a ocupac;ao humana

esta inlcgrada no sistema de transfoflllac;ao do homem no arnbiente e de si proprio.

Em seguida discUlc-se a Terapia OClIpacional e sell instrumellto basico

que c a atividadc hum3na para uma mclhor comprccl1sao do processo terapeutico

Ulilizado na expericncia cm qucstao.

Todos os tcmas acima fUl1damcntam c tomam mais comprccnsivel a

expcricncia dcsenvolvida na Tcrapia Ocupacionai utilizando a tccnica de Ilidroponia

no HCAB com pacicntcs com rranstornos memais, que c 0 tema do llitimo capitulo.

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21NSTITUIVAO TOTAL

A definiyao de Institui9ao Total e suas caracteristicas principais

baseados nos preceitos de GOFFMAN (1999, p.11-23) sao importantes para a

compreensao do local onde a pesquisa desta monografia foi realizada, em urn

hospital psiquiatrico publico (Hospital Colonia Adauto Botelho - HCAB), situado em

Pinhais, no estado do Parana.

o autor define instituic;ao total como urn local de resid€mcia e trabalho

ande urn grande numero de individuos em situ8yao semelhante, separados da

sociedade mais ampla par longo periodo de tempo com uma vida fechada e

formalmente administrada. Esta defini~ao aplica-se a varios tipos de institui~o,

mas principalmente em Hospitais psiquiatricos e manic6mios.

Na sociedade madema, ha uma disposiyao basica para 0 individuo

dormir, brincar, trabalhar em diferentes locais, com diferentes co-participantes, sob

diferentes autoridades e sem urn plano racional gera!. Nas instituiyoes totais 0

aspecto central pode ser descrito pela quebra das barreiras que normalmente

separam essas tres esferas da vida.

Para 0 autor, nessas institui90es todos os aspectos da vida sao

realizados no mesmo local e sob uma (mica autoridade, cada fase da atividade

diaria do participante e realizada na companhia de um grupo relativamente grande

de outras pessoas, todas elas tratadas da mesma forma e obrigadas a fazer as

mesmas coisas em conjunto, todas as atividades sao estabelecidas em horarios e

as atividades sao impostas pela equipe dirigente, final mente, as atividades sao

reunidas num plano racional unico, planejado para atender aos objetivos oficiais

da institui980.

GOFFMAN afirma que a lator basico das institui~6es totais e a controle

de muitas necessidades humanas pela organiza98o burocratica de grupos

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completos de pessoas. Existe uma divisao entre urn grande grupo control ado

(intern ados) e uma pequena equipe dirigente. Os participantes desta equipe

sentem-se superiores e corretos: as internados, em contra partida sentem-se

inferiores, fracas, censuraveis e culpados.

o autor comenta sabre a restric;ao de comunicac;ao e a transmissao de

informac;6es, principal mente quanta aos pianos dos dirigentes para as intern ados.

"OesenvoJvem-se dais mundos socia is e culturais diferentes, que caminham juntos

com pontos de contato oficial, mas com pouca interpenetrayiio·.(GOFFMAN,1999,

p.20)

Na sociedade, quando 0 trabalhador recebe seu pagamento em dinheiro

ele decide como gasta-Io e constitui urn mecanismo pelo qual a autoridade do

local de trabalho tern limites bern restritos. a incentivD dado para as internados em

relac;ao ao trabalho nao tera 0 significado que tern no mundo externo, havera

diferentes motivos para 0 trabalho e diferentes atitudes, as vezes tern tao poueo

trabalho que os internados, poueo instruidos para as atividades de lazer, acabam

aborreeidos.

A deseriyao abaixo das caraeteristicas do mundo do internado e de

acordo com as ideias de GOFFMAN (1999, p.23-43).

Quando urn individuo ehega a uma instituiyao total apresenta urna

~eultura aparente", isto e, forma de vida e varias atividades ate entrar na

instituigao. Seja qual for a organiza98o pessoal, fazia parte de uma organiz8980

mais ampla, dentro do seu ambiente civil. Se 0 tempo de interna980 e muito longo,

quando 0 individuo retorna ao mundo exterior oeorre um "desculturamento"

dificultando temporariamente a retomada de alguns aspectos de sua vida diaria.

Em muitas instituigoes sao proibidas as saidas do estabelecimento

ocasionando urna ruptura inicial com os papeis anteriores. Mesmo que alguns dos

papeis possam ser assurnidos, se ele voltar para a mundo externo, outras perdas

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sao irrecuperaveis. Por exemplo, 0 tempo nao empregado na eduCa9aO ou

profissao, no namoro ou na criaC;80 de filhos.

Para que a pessoa nao perca sua identidade e importante ter um certo

controle de sua apresenta<;80 pessoal, precisam de objetos de uso pessoal,

roupas, local seguro pra guardar seus pertences.

No HCAB alguns pacientes tern a oportunidade de ter um armario para

guardar seus pertences, mas a maioria usa roupas do hospital e seus objetos

pessoais sao guardados pela equipe ou devolvidos a famflia.

Alem da deforma9iio pessoal devido a perda da identidade, he a

desfigura9ao pessoal consequencia das marcas diretas e permanentes no corpo.

Em certas ocasioes 0 intern ado expoe fatos e sentimentos sobre 0 eu,

individual mente ou em grupo.

o processo de controle social atua em qualquer sociedade organizada,

mas numa instituic;ao total torna-se minucioso e limitador.

LANCMAN (1999,p.32) refere que, a partir do tratamento moral,

reconhecimento da especificidade da doen9a mental e da necessidade de separa-

la das outras problematicas, criou-se um espac;o terapeutico pr6prio, 0 Hospital

Psiquiatrico. Acreditava-se que 0 isolamento social era uma das principais

condi90es para a sua existencia, dar as hospitais serem construfdos em locais

distantes do centro urbano.

a objetivo quando 0 hospital psiquiatrico foi criado vai ao encontro da

defini9iio de institui9iio total de GOFFMAN, pois je surgiu com a finalidade de

separa9iio de pessoas da sociedade .

De acordo com a 8utora, desde 8 institucionaliza9ao, a pSiquiatria nao se

limitou as quest6es da loucura e do confinamento, inf1uenciando outros aspectos

como 0 conceito de normalidade e aspectos sociais de segrega<;ao dos

divergentes.

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6

Como consequ€mcia do desenvolvimento politico - economico do Brasil,

onde ha grandes desigualdades, encontram-se muit"s pessoas excluidas desse

sistema, alguns DGlIpando as asilos psiqlliatricos como pacientes cronicos.

Constata-se esse fato em varios hospitais psiquiatricos. No HCAB, 40%

dos leitos e ocupado par pacientes cr6nicos asilares; pois perderam 0 cantata com

as seus familiares.

A Institucionalizu9iio da loucura, a definic:;ao de quem tcm 0 poder de segregar aperda da c.idadania, da responsabilidade civil e 0 convivio com as difercn~asvohmn a tona GOin II qll~stao a pennanencia DU nau dos <lsilos psiquiatricos.A 'em e claro dos preconceilos em rela9fio ;lOS IDUCOS e de lIma visnogcneralizada de sua periculosidade, da necessidadc de confinamento e da perdada nlzfio COITIO sendo algo definitivo inerenle, irrevcrsivei e ameat;.ador no niveida seguram;a, da ordem ~ da moral. (LANCMAN, lQ99, p.36)

Para a autora, a solw;ao dessa realidade, incluiria limitar novas

interna90es, pensar no destino dos ja psiquiatrizados e romper 0 isolamento a que

esses pacientes estao submetidos, com a abertura dos hospitais e com urna

reaproxima9Eio deles com a comunidade. A abertura dos asHos deve levar em

conta as comunidades que, apesar de terem as foucas como parte integrante do

seu grupo social, tambem tern urna certa ideologia e transmissao cultural a

respaito da lour:ura.

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3 REABJLlTA~AO PSJCOSSOCJAL

7

SARACENO (1999, p.62-75) escJarece bem 0 processo de reabiiital'iio

pSicossocial. Considera reabilitac;ao psicossocial 0 conjunto de 890es que procura

aumentar as habilidades au diminuir as desabilitac;oes e promover a reinsen;ao

mais completa passivel em uma vida normal e produtiva.

Ele comenta nao ser passivel pensar em reabilitayao psiquiatrica sem

levar em conta 0 hospital pSiquiatrico, pois e 0 lugar de reprodugao da doeng8 e

da pSiquiatria, e onde S8 deu mais claramente a construc;ao das alternativas e a

invenc;ao das praticas reabilitativas. ~Continua mudando formas, linguagens e

competencias, 0 processo de cereD it laucura de exclusao da desrazao".

Lembra que nos ultimos cinquenta an os foram questionados 0 papel

hegemonico do hospital psiquiatrico em diversos lugares, tempo e de maneiras

diferentes, mas mesmo assim ainda e 0 lugar e 0 continente central da psiquiatria

na maioria dos paises do mundo e da cultura psiquiatrica.

A institui9aO manicomial tern uma fung80 ordenadora complexa e

ambigua da ordem do patriio e tambem do pai.

As arquiteturas manicomiais geralmente em locais bonitos, quietos, on de

se experimenta uma especie de proteyao nao s6 da sociedade do ~Iouco~

ameac;ador, mas tambem dos que sao viti mas da sociedade ameac;adora. Urn

projeto paterno onde a sociedade forte cuida dos seus membros fracas.

o autor comenta sabre uma suposta cienda que exercita duas fungoes:

de paternidade e de domfnio.

Como ilustrayao, na hist6ria do HCAB, na decada de 70 havia mais de

1000 pacientes, muitos erarn andarilhos recolhidos das ruas devido ao frio

excessivo. Com urn mutirao feito na decada de 80 para identifica9ao dos pacientes

e busca de familiares muitos retornaram a comunidade. Hoje, 0 hospital tern 291

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8

pacientes sendo 121 asilados.

SARACENO refere que a ruptura da segrega<;iio manicominal foi

iniciada par Franco Basaglia em 1964, mais que urn significado de humanizac;ao,

era a interrupc;ao da cientjficidade que S8 fundava em normas paternas e

dominadoras.

A func;ao protetora e dominante da relac;ao paterna e substitulda na

proposta de reabilita9aO psicossocial pela fun9aO solidaria e no resgate da

cidadania que sao aspectos de relac;ao de fraternidade.

Depois da decada de 60, grande parte da psiquiatria critica buscava a

legitima<;iiomoral, politica, cultural e psicol6gica do doente mental e da doen~

mental.

o auter relata resultados de pesquisas em relac;:ao a esquizofrenia que

demonstraram progressiva perda de habilidade e a instaura<;iio de deficits das

func;oes cognitivas, a que constitui perda de poder tanto pSicol6gica quanta social,

independente da cronificac;:ao e institucionalizac;:ao.

Observa-s8 em pacientes internados par Ion go periodo no HCAB,

gradativa perda das habilidades, dificuldades na aprendizagem, diminuiyao da

iniciativa e expresseo dos desejos, alguns pacientes estao internados ha mais de

15 anos, alguns desde crianc;as.

U A critica do manic6mio como lugar desumano e antiterapeutico, se nao

assume que tais conotac;oes nao sao do manicomio, mas da ideologia psiquiatrica

(da qual 0 manic6mio e 0 produto) se traduzira simples mente em criaC;ao de Qutros

cenarios para ° exercicio da mesmissima ideologia psiquiatrica". (SARACENO,

1999, p.69)

o esvaziamento do manicomio deve corresponder a assumir a

responsabilidade em relaC;ao ao paciente que tem direito e tern necessidade. ° fim

do manic6mio nao quer dizer que 0 paciente desaparecera.

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Deve-se considerar a diferenc;a entre desospitaliza~o, urn ato

administrativQ onde 0 paciente sai da instituic;ao-hospital e desinstitucionalizayao,

urn processo que 0 paciente sai da instituic;8o-psiquiatria.

Quando se fala em reabilitac;ao deve-se modificar, recolocar e circular

traca, reconstruir historias subjetivas, inventar, produzir e exigir recursos,

reformular direitos, desmascarar privilegios. 0 trabalho deve ser 0 de se ocupar

das necessidades e entrar atraves delas em antagonismo com a instituic;ao

(psiquiatrica).

SARACENO (1999, p.94-134) ainda comenta sobre os instrumentos

Dteis da reabilitayao psicossocial, alguns dificeis de serem padronizados, como a

escuta, solidariedade, afetividade, promoc;ao de urn confronto entre interesses do

paciente e do contexto familiar, transformagBo material da vida cotidiana e

favorecimento de trocas afetivas. E necessaria uma praxis que acompanhe 0

paciente na constru9Bo de espagos de troca.

Um servi90 de alta qualidade ocupa-se de todos as pacientes e oferece

reabilitagao a todos que possam benefrciar-se, deve ser um lugar permeavel e

dinamico onde 0 recurso esta sempre a disposigao. 0 servi90 apresenta

integragao interna e extern a onde ha troca dos saberes e dos recursos. Lembra a

importancia de uma legislayao adequada para orientar um programa de

reabilitagBo psicossocial.

No Brasil, na decada de 90, surgiram varias portarias que nortearam 0

processo de reabilitagao psicossocial, mas ainda poucos estados conseguiram

efetiva-Ias.

Os pacienlcs psiquiittricos estiio nos hospitais psiquiinTicos e a sua reabilitayaotern a ver com esse eslar. Os pacienles psiquhltricos que nilo estao nos hospitaispsiquiatricos estao mlS casas das proprias ramilias. Alguns pacientes sem familiaCSlao em casas solilitrias e OlilroS, ainda, cslao nas ruas ou nas eSlayocsferroviarias C .. ) Manicomio e 0 lugar onde e ncgado 0 habitar e afirmado 0estar.(SARJ\CENO, 1999, p.114)

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A reabllitac;ao tern a ver com a ideia de casa e morar. Urn dos

compromissos da reabilitac;ao e se ocupar da casa (conquista concreta) e do

habitar (atival'ilo dos desejos e habilidades).

A maiaria dos pacientes que participaram da hidroponia desenvolvida no

HCAB "estavamn no hospital. Portanto, para restabelecer 0 exercicio de habitar

buscava-se ativ8r 0 interesse, as desejos, 0 sentido de vida.

o autor refere que 0 trabalho e importante nos programa"s reabilitativos

nao apenas como simples desenvolver de tarefas, mas como inseryao laborativa,

promoc;ao de interesses, necessidades e desejos dos pacientes.

Na hidroponia desenvolvida no HCAB, urn dos objetivos era despertar 0

interesse do paciente, promover a auto-85tima, participar de urn processo com urn

produto final de qualidade, socializayilo.

o autor lembra que os doentes psiquiatricos sempre foram "colocados a

trabalhar" com objetivos de passar a tempo au substituir 0 trabalho do funcionario.

o desenvolvimento do trabalho antiinstitucional no manic6mio e a partir de

cooperativas, quando foi retirada dos estatutos da cooperativa a finalidade

terapeutica, as pacientes se tornaram juridicamente capazes de se constituir

s6cios.

Segundo essa linha de raciocinio, urna das propostas para a

continuidade da hidroponia no HCAB era a criayilo de urna cooperativa para a

produyao ser vend ida no mercado formal e os pacientes poderem ser pagos

devidamente. A hidroponia foi fechada antes que a organiz8c;;ao da cooperativa

fosse efetivada.

o instrumental da Terapia Ocupacional, se mostra condizente comas proposi~ocs de lransrorm(]Qao assislencial all/aIS, uma vez que 0doente menlal e encarado como urn cidadao que se realiza ereslabelece sua saude atraves da sua inscrQao social, feita narclaQao com as atividades que Ihe proporcionem uma melhorqunlidnde de vidn. (MEDE1ROS, 1996, p.7)

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11

A autera refere que 0 diferencial da Terapia Ocupacional entre as demais

profissoes de s8ude e 0 fatc de ter como seu objeto e instrumento de trabalho as

atividades humanas. Comenta que varios terapeutas ocupacionais participaram de

movimentos com propostas alternativas de tratamento aos portadores de

transtornos mentais e de projetos transformadores, realizando modifica~6es na

pratica assistencial com Qutros profissionais. Assim, reciclam e fornecem

instrumentos para quest6es e formagao de urn novo paradigma para a Saude

Mental. (MEDEIROS, 1996,p.8,14)

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12

4 PRAxIS E OCUPAC;:ii.O HUMANA

"Toda praxis e alividade, mas nem lodaatividade e praxis' (VASQUEZ, 1977, p, 185)

Obse/Va-se que pacientes intemados em hospitais psiquiatricos par urn

lango perfodo apresentam a praxis diminuida, com as possibilidades de

transformayao interna e externa anuladas.

Compreendendo a importancia de a 8tividade humana estar em

movimento para a transformayao do hom ern e do meio; como S8 de 0 processo da

ocupayao humana e quando as disfun~6es interferem nesse processo, constata-

S8 que a Terapia Ocupacional pade promover ao paciente 0 exercicio da praxis.

IS50 acorre, pais con segue fornecer-Ihe condi90es para que interaja e mude 0

meio e a 5i proprio.

VASQUEZ (1977, p.S) utiliza a terma praxis para designar a atividade

humana que produz objetos, sem que essa atividade seja concebida com 0 carater

apenas utilitario que se infere ao significado do pratico na linguagem comum.

o canceita de atividade e am pia e englaba atividade fisica, relayoes

nucleares, atividade de um 6rgao, atividade psfquica, sensorial, reflexo, instintivas,

etc. A atividade propria mente humana e quando os atos dirigidos a urn objeto para

transforma-Io se iniciam com urn resultado ideal, finalizam com urn resultado ou

praduta efetiva, real.

A atividade humana e atividade que se desenvolve de acordo com

finalidades e s6 existem atraves do homem, como produtos de sua consciencia.

Toda a9ao humana precisa certa consciencia de um objetivo que se

sujeita ao processo da atividade. A necessidade que 0 homem sente em

transformar 0 mundo e transformar-se e devido ao hom em nao aceitar sempre 0

mundo como ele e e a si mesmo em seu estado atua\. a Homem age conhecendo

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da mesma maneira que se conhece agindo.

A atividade pratica se manifesta no trabalho humano, na criayao artistica

ou na praxis revolucionaria,e uma atividade adequada e para realiza-Ia enecessario certa atividade cognoscitiva.

A forma de praxis pode mudar de acordo cam a materia prima de

atividade pratica. 0 objeto sabre 0 qual 0 individua exerce sua ayao.

As formas de praxis apresentadas pelo autor seo as seguintes:

Atividade pratica produtiva - relayeo material e transformadora que 0

homem estabelece frente ao seu trabalho, com a natureza. A praxis produtiva e a

praxis fundamental porque nela 0 hom em nao s6 produz urn mundo humanizado,

como tambem 0 homem se produz, forma ou transforma a si mesmo.

Praxis artistica - criayao de obra de arte, do mesmo modo que 0

Irabalho humano e transformayao de uma materia a qual se imprime urna

determinada forma exigida nao por uma necessidade pratica - utilitaria, mas

expressao e objetivayao.

Praxis cientlfica experimental - que satisfaz as necessidades da

investigayao te6rica.

Praxis social - e a atividade de grupos ou classes que leva a transformar

a organiz8yao ou realizar mudanyas frente a atividade do Estado.

Praxis politica - participayao de amplos setores da sociedade, nao e urna

atividade espontanea, segue determinados objetivos de interesses das classes

sociais.

13

Se 0 homem existe como urn ser pratico, afirmando-se com sua

atividade pratica transformadora frente a natureza exterior e de sua pr6pria

natureza, a praxis revolucionaria e a praxis produtiva constituem duas dimens6es

essenciais de seu ser praticc.(VASQUEZ. 1977.p.85-202)

De acordo com este conceito de praxis e revendo 0 que foj descrito nos

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capitulos anteriores a respeito das perdas que 0 paciente institucionalizado sofre,

verifica-se que sua praxis fica alterada, au seja, sua atividade humana, pois dentro

de urn hospital psiquiatrico quase naD hit transforma90es internas eu externas, as

inten90es de realizar algo se perdem.

Durante 0 trabalho realizado na hidroponia do HCAB percebia-se que a

ayao intencional dos pacientes realizava-se atraves do produto desenvolvido,

cultivado e trocado par eles, havia urn sensa de responsabilidade pelos pacientes,

urn deseja de participar e de ser importante no processo. Promovia-se urn

exercicio da Praxis.

Acreditando que a ocupac;ao humana e fator importante na vida do

homem pretende-se entender como aconteee esse processo. E necessaria que a

homem explore 0 meio atraves dos impulsos, desejos e, ao conhecer 0 meio, va

desenvolvendo habitos e apurando suas habilidades interagindo e transformando

o mesmo. Esta mudan9a traz informa96es diferentes que retornam ao homem e

estabeJece urn sistema aberto.

KIELHOFNER e BURKE (1990, p.55-67) descrevem um modele de

ocupac;ao humana buscando uma maior compreensEio de cerna esse sistema

acontece e de que formas pede-se intervir.

o modelo da OCUpa9E1ohumana, dizem eles, e um sistema aberto em

forma920, organizando-se aspectos da motiva920, comportamento, cogni9ao,

importantes para se entender a ocupayao.

A OCUpa9E1oe importante na experiemcia humana, 0 que torna 0 homem

diferente entre os anima is. E 0 impulso em rela<;Elo a expJora9Eio, dominio e

habilidades para simbolizar.

Deve-se levar em considerag8o a interagao dinamica do sistema com

seu ambiente e a integridade do sistema no meio de transformag6es. 0 sistema

transforma e e transformado pelo ambiente.

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A organiza~o social faz-s8 continua mente entre 8980 e trabalho, ande 0

homem produz de acordo com suas necessidades e tambem as do grupo social.

KIELHOFNER (1991, p.41) refere ciclos benignos e malevolos no

sistema.

Cicio benigno e quando sustenta a adapta<;iio, isto e, a adapta<;iio surge

da satisfagao do impulso interno e as demandas do ambiente, ocasionando um

equilibrio. 0 cicio malevolo naD hit satisfaC;8o de impulso e nem do ambiente, naD

ocorre a adaptaC;8o, ha urn desequilihrio.

Acredita-se que as pacientes intemadas em hospital pSiquiatrico

apresentam muitas vezes urn cicio malevola, de acordo com 0 modelo descrito,

pois naD he uma satisfac;ao de impulsos internos de explorar 0 ambiente, a

ocupac;ao destes pacientes e restrita au inexistente.

A hidroponia no HCAB como recurso da Terapi8 Ocupacional procurou

resgatar desejos, habitos e desempenho destes pacientes e movimentar 0 cicio,

promovendo uma melhor adaptac;ao, ativando a vontade de experimentar e entrar

em contato com outros ambientes.

o autor comenta que a Terapia Ocupacional engloba a intencionalidade,

desafio e satisfac;ao que compoem uma ocupa9ao.

A Terapia OcupacionaJ baseia-se na capacidade de 0 homem conseguir

restaurar sua habilidade como ser ocupacional. (KIELHOFNER, 1991 ,p.128)

Para entender como a Terapia Ocupacional pode promover a

reslaura,iio das habilidades e atividade humana transformadora do homem, enecessario conhecer melhor sua forma de atuac;ao.

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5 TERAPIA OCUPACIONAL

A Terapia Ocupacional tern muitas formas de atu8C;8o, por ;ssa a

dificuldade de urn paradigma unieD. Sao diferentes os conceitos de ser humano e

usa da atividade humana de acordo com a area de atuac;ao.

Essa diversidade da Tera pia Ocupacional contribui para que as agoes

sejam adequadas para cada individuo levando em consideraC;8o seu ambiente e a

situac;ao que S8 encontra.

HAGEDORN (1999, p.15) cita a definigiio de Terapia Ocupacional da

World Federation Ocupational Terapy (WFOT - 1989). "A Terapia Ocupacional eo

tratamento de condic;oes flsicas e psiquiatricas atraves de atividades especificas

para ajudar as pessoas a alcanc;arem0 seu nivel maximo de func;ao e

independencia",

E fundamental para a Terapia Ocupacional considerar a pessoa

integrada no seu ambiente, promover capacitac;ao do individuo para realizar suas

atividades de vida diaria e melhorar sua qualidade de vida, diminuir os efeitos da

disfun980 usando como instrumenta terapeutica a atividade, havenda parceria

entre 0 terapeuta eo individuo no processo terapeutico.(HAGEDORN, 1999, p.17)

Para JORGE (1981, p.22), a Terapia Ocupacional previne, corrige

disfun~oes e perdas geradas pela ociosidade e abandono atraves do trabalho

criativo, pramovenda novas habitos socia is, cantata com a realidade e nova auta-

imagem.

A ocupa<;ao, por si 56, e a clemento de cura, mas a constdncia do cmpenhotrunsformador, 0 rilmo da lransformu<;ao, a propricdade de indic<Jc;ao, aidentifica<;ao com a alivid<ldc e as materiais, sao elementos que nao se podemcsquccer, do contrario a mcsma ocupac;:ao que cum pode interpor-se na relac;aocomo instrumento de barru.gem pade significar ate reforc;o de condula doenlia,pode transformar a hospitaJiza<;ao (quando for 0 caso) au a doenc;a em um dacegostoso de comer.(JORGE, 1981, p.37)

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Experimentar 0 fazer para 0 terapeuta ocupacional eo fundamental, pois

assim compreendera que aspectos estao envolvidos na atividade, mudan<;as que

ocorrem durante 0 processo do fazer, para entaD participar do processo do

paciente, qual 0 significado para ele.

Na opiniao de PIREGROSSI e GILBERTONI (1997, p.36), a atividade e 0

componente basieD na experi€mcia da Terapia Ocupacional. 0 significado interno

da 8<;80 no paciente e no terapeuta 8sta Iigada ao processo de transforma9ao

interno que S8 desenvolve junto com a 8980 externa das atividades.

Para BENETTON (1991, p.39) e preciso saber fazer para se conhecer a

dinamica do processo de realiz8980 de urna atividade, possibilitando trocar ou

alterar eta pas para, S8 necessario, orientar 0 paciente ou nao interferir em seu

processo de realiz8980. A forma de realizayao de uma atividade pode mostrar 0

estado do paciente e como e sua relagao com 0 Fazer.

o relacionamento interpessoal proporcionado nos atendimento de

Terapia Ocupacional deve ser visto com atengao para evitar que os desejos e

expectativas do terapeuta ocupacional se sobressaiam aos do cliente, seja em

atendimento individual ou em grupo a participagao ativa do cliente e fundamental,

assim como 0 terapeuta conhecer seus sentimentos para haver um

relacionamento interpessoal coerente estabelecendo-se confianc;:a.

No modelo rclacional, atraves da intera93.0 com 0 paciente, 0 tcrapcuta Cnlra noque era antes urn mundo fechado de formas incorretas e deficientes derelacionamcnto, abrindo para 0 paciente novas possibilidades relacionais (. .. )Explorando e experimcntando a interac;3.o lanto com objetos quanto com pessoas,o pacicnte lentamcnte desenvolve destreza funcional com bases intemas ecxternas, tendo, .portanlo, 0 potencial de tornar-sc parte integrante doself.(PIERGROSSI e GILBERTONl, 1997, p.37,39)

Na Terapia Ocupacional a comunicagao nao verbal, au seja, atraves do

significado da atividade, contribui para 0 processo, mas essa forma de

comunicagao precisa estar ligada a outros fatores, pois 0 significado de uma

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atividade e diferente para cada individuo de acordo com suas experiencias de

vida.

Para BENETTON (1991, p.42), a atividade pode ser uma forma de

comunica98o quando S8 considera a historia, simbologia e indica9ao dada pelo

pr6prio paciente sabre 0 significado de tal atividade.

o significado da comunic898o nao verbal tambem S8 aplica em grupo,

apresentado nas rela96es interpessoais e atividade de grupo au grupal.

A T erapia Ocupacional atende muitas vezes em grupo, principalmente

em institui90es psiquiatricas onde 0 numero de pacientes e grande e precisam

estabelecer rela90es interpessoais e socializantes.

BENETTON (1991, p.29) define dois tipos de grupo ligados ao uso de

atividade, Grupo de Atividades, ande cada paciente desenvolve sua atividade e

mantem com 0 terapeuta urna relayao individual e Atividade Grupal, onde os

pacientes decidem realizar uma (mica atividade em conjunto e 0 terapeuta pode

manter 0 grupo nessa relagao de trabalho conjunto.

Para MAXIMINO (1995, p.27-31), grupo de atividade e quando a

consigna do grupo e "estamos aqui para fazermos atividade", implicando em agao

e uso de materiais, podendo utilizar atividades artesanais, plasticas, teatrais, etc.

dependendo do material, espac;o e escolha ou necessidade do paciente

o grupo pode ampliar as possibilidades de intervenyao quando se

apresenta como uma caixa de ressonancia, para que 0 paciente possa

estabelecer relag6es e usar objetos e necessario ser urn ambiente confiavel I

facilitador da explorayiio do mundo de maneira gradual.

"Construir uma representa<;ao de grupo implica em poder ver aquele

conjunto de pessoas como uma unidade, da qual se faz parte". MAXIMINO (1995,

p.29)

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E importante urn trabalho pre-grupal, ou seja, uma prepara<;iio, pois 0

percurso de urn grupo nee e linear, mesma quando S8 constr6i au S8 desmancha

a representayao interna deve sobreviver as mudanyas do grupo concreto.

Esta compreensao de grupo e importante para 0 trabalho realizado na

hidroponia. Os atendimentos eram feitos em grupo de 15 pacientes cnde 9 eram

pacientes cranicos e moradores do hospital. Estes ultimos ajudaram a construir a

representa980 do grupo, pais, mesma saindo e entrando novos pacientes, 0 grupo

conseguia adaptar-s8 as novas alterac;6es e estar aberto as transforma90es.

Em hospitais psiquiatricos, a tecnica de hidroponia vern ao encontro dos

abjetivos da Tera pia Ocupacional para reabilitar psicossocialmente as pessoas

portadoras de transtornos mentais cr6nicos.

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6 TECNICA DE HIDROPONIA

Para que se entenda mais profunda mente 0 efeito da hidroponia com

pessoa porta dora de transtorno mental e a experlemcia levada a cabo no HCAB, enecessaria que S8 conhecya com mais detalhes a tecnica de hidroponia.

o site HIDROPONIA (2001) esclarece que hidroponia e um sistema de

cultivo na agua, sem usa de solo e dentro de estufas. as nutrientes necessarios

para 0 desenvolvimento e produ980 da planta sao fornecidos par agua enriquecida

(solu980 nutritiva) que eontem nitrogemio, potassio, fosforo, magnesia, NFT, etc.,

dissolvidos na forma de sais. 0 sistema utilizado na Hidroponia do HCAB era 0

sistema de tel has que formam as bancadas.

As plantas sao cultivadas em bancadas 80 em aeirna do solo, par ande

circula uma soluc;ao nutritiva composta de agua pura e de nutrientes dissolvidos

de forma balanceada, de acordo com a necessidade de cada especie vegetal. A

SOlug80 nutritiv8 tern urn controle rigoroso para manter suas caracteristicas e efeito monitoramento do pH e da concentra980 de nutrientes periodicamente. Essa

solugiio fica guardada em reservatorios e e bombeada para as bancadas,

conforme a necessidade retornando para 0 mesmo reservatorio.

o produto final cultivado em hidroponia e de qualidade superior, com

aproveilamento total, por ser cultivado em estufa prolegida e limpo, livre das

varia~es do clima, dos insetos, animais e outros parasitas que vivem no solo.

Atualmente, a alface ainda e a mais cultivada, mas pode-s8 plantar

brocolis, feijao-vagem, repolho, couve, salsa, melao, agriao, tomate, morango,

forrageiras, entre outras especies.

Os produtos hidrop6nicos, devido ao aumento da procura e aceitac;ao

pelo consurnidor, ja tern urn valor de venda proximo aos outros produtos, alem de

serem mais saudaveis e sem agrotoxicos.

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o trabalho na hidroponia e feito com tecnologia mederna, limpa e com

vantagens como a maior higienizayao e contrale da produ98o; a planta cresce

saudavel, pois longe do solo esta menos sujeita a infestayao de pragas e a

praduyao e durante 0 ano todo.

A ergonomia e multo methor, pois S8 trabalha em bancadas, 0 trabalho emais leve e mais limpo; nao hit desperdicio de agua e nutrientes; par $er colhida

com raiz a planta hidroponica dura mais do que a cortada no solo; pode ser

realizado em qualquer local, mesma ande 0 solo e ruim para a agricultura.

Constata-se, pois, que essa e a tecnica que pode facilmente ser utilizada

em Tera pia Ocupacional, nao haven do necessidade de grande espa<;o fisico, a

produc;ao e durante 0 ana todo, independentemente do clima, e realizado em

posi9Bo ergonomica. Isso pode ser constatado na experiencia desenvolvida no

HCAB, relatada no proximo capitulo.

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7 HIDROPONIA NO HOSPITAL COLONIA ADAUTO BOTELHO

7.1 BREVE HISTGRICO

No decorrer da pratica de atendimentos de Tera pia Ocupacional com

pessoas portadoras de transtornos mentais no HCAB, eram oferecidas oficinas de

ariesanato, culinaria, atividades expressivas, horta, atividades de lazer, grupos

operativQs, organizayao das atividades de vida diari8 (comissoes). Observando as

pacientes com lango periodo de interna<;8o no hospital e sem vinculo com a

familia e a comunidade (moradores). pensava-se: que Dutro recurso 0 hospital

poderia oferecer para proporcionar-Ihes melhores condi<;6es de vida, resgatar a

cidadania e urn maior cantata com a comunidade, objetivo a ser alcanyado alem

dos muros do hospital?

A hidroponia surgiu como esse novo recurso na Terapia Ocupacional

para atingir tais objetivos. Em 1995, 0 setor de Terapia Ocupacional iniciou a

implantac;ao desse programa, contando com 1 terapeuta ocupacional, 1 tecnico e

o apoio da Secreta ria Estadual de Saude do Parana (SESA). Estes profissionais

fizeram curso sobre a tecnica de hidroponia e a ada pta ram a realidade do hospital.

Os pacientes participaram desde a constru9ao ate a implanta9iio completa do

programa.

Em 1998, ampliou-se a participa9iio de pacientes com a entrada de mais

1 terapeuta ocupacional no programa.

Os pacientes eram atendidos em grupos e desenvolviam algumas eta pas

da tecnica. Nao acompanhavam completamente 0 processo, pois havia

funcionarios que davam continuidade as outras eta pas para manter uma

produC;ao, 0 grupo participava principal mente da etapa inicial e a colheita.

Per raz6es administrativas e reduyao de gastos, estes funcionarios

sairam do programa e 0 trabalho continuou somente sob os cuidados da Terapia

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Ocupacional e do tecnico. Antes, produzia-se hortalig8s e verduras para 0

consumo do hospital e da rede hospitalar estadual.

Com a sarda desses funcionarios, 0 espago ficou apenas para os

atendimentos de Terapia Ocupacional, diminuiu-se a produc;8o de acordo com 0

ritmo dos pacientes e respeitando-se as horarios dos grupos. Com esta alter8980,

observou-se que as pacientes puderam acompanhar todo 0 processo da

hidroponia, pois desenvolviam as etapas iniciais, intermediarias e frna1iZ8QBO, 0

que nao acontecia antes. Passaram a desenvolver urn trabalho naD alienado.

Comegaram a constituir-se em urn grupo com ictentidade, tinham 0 mesma

objetivD, sentiam-se respons8veis pela continuidade do trabalho, sabiam que

dependia do trabalho deles para que as plantas nascessem, crescessem, fossem

cuidadas, transplantadas, colhidas e levadas para 0 con sumo, alem de

participarem da venda de um produto de qualidade.

a grupo era composto de no maximo 15 pacientes da ala feminina,

sendo 9 pacientes constantes, pois eram moradoras, e outras seis variavam, pois

eram pacientes que participavam da hidroponia durante um curto periodo de

interna~ao (nao moradoras). Para as moradoras que participaram deste processo,

a evoluyao era notavel, desde 0 aprendizado, a divisao de tarefas, ate 0 interesse

em ir para a hidroponia. Nas paclentes nao moradoras percebia-se que ja nos

primeiros atendimentos conseguiam boa integrayao, melhoravam a auto-estima e

diminuiram os epis6dias de deliria durante a atividade.

Pretendia-se ampliar 0 programa com a criac;:ao de uma cooperativa

social e inseryao dos pacientes na comunidade atraves do outros programas como

residencias terapeuticas.

o programa foi interrompido em dezembro de 2000 por determinac;ao da

SESA, par motivos administrativos. No entanto, a passibilidade de retorno da

hidroponia para atendimento aos pacientes nao foi excluida.

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7.2 DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA

As vantagens que a cultivo hidroponico oferece sao muitas. a trabalho,

sendo realizado em bancadas e mais limpo e leve do que no solo, nao sendo

necessaria a usa de materiais pesados como enxada, cortadeiras. Grande parte

do grupo, devido a idade e a cronificayao da doenc;a, apresenta perda de

habilidades. Algumas (oram resgatadas durante 0 processo de trabalho, alem da

auto-estima, par verem todos as dias que havia urna prodUC;80 de qualidade

executada par eles e pronta para ser consumida e vend ida.

A atividade e desenvolvida em grupo onde cada integrante e importante

para alcanyar 0 produto final. Promove ao paciente urna percep9Bo da sua

importancia no mundo (auto-estima) ligados a um trabalho de equipe e

solidariedade, pois as eta pas sao interligadas e sequenciadas, preparando a

pessoa para conviv€mcia na sociedade. Cada um faz a sua parte, compartilha

suas dificuldades para construc;ao do projeto, melhorando seu relacionamento no

grupo experimentando aspectos para 0 convivio na sociedade.

Na continuac;ao desse processo, os produtos sao vendidos pelos

proprios pacientes, tentando resgatar a nOC;ao do valor e troca do produto, do

dinheiro e socializac;ao.

o objetivo geral e estruturar a base para a pessoa resgatar sua

cidadania, associada cada vez mais com outras ac;6es da reabilitac;ao psicossocial

como Residencias Terapeuticas, ambulat6rio, Hospital-dia evitando 0 re-

internamento e melhorando a qualidade de vida.

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7.3 ASPECTOS AVALIADOS

Durante 0 processo da atividade com hidroponia pod em ser avaliados os

seguintes aspectos:

Iniciativa - Se 0 paciente soricita novas orientagoes, S8 espera pela

orientav:8o, S8 precisa estimulo e orientayao, au se inicia a tarefa sozinha.

Aten,:(8o-ConcentraC;80 - S8 0 paciente dispersa-s8 com facilidade, au S8

tern boa concentrayao durante a tarefa.

Coordena~o motara - Se ha dificuldade e em que niver, au S8 tern boa

coordenag8o matara.

Comunicag8o - Durante a execuc;ao da tarefa a comunicac;ao verbal e nao

verbal podem ser avaliadas tanto quantitativa como qualitativamente e a

dificuldade de expressar-se.

Tolerancia - Se 0 paciente permanece por poueD tempo na atividade, au

permanece 0 tempo integral.

Senso-pecepc;ao - E passivel ser avaliada, pais ha contato com diversas

texturas - Substrato (terra), agua, folhas, raiz, esponja, semente, metal

(prego), pedras, isopor.

No<;iio espacial - Pode ser avaliada percep<;iio do local onde Ii plantada a

semente, as mudas. Observay80 do espac;o externo do hospital (caminho),

dentro da estufa da hidroponia.

Orienta<;iio temporal - Se 0 paciente apresenta nOl'80 quanto ao periodo do

dia (manh8 ou tarde), clima (quente, frio, chuva). Fatores que infiuenciam

na colheita e em sair do hospital para ir ate a hidroponia.

Socializa980 - Pode se avaliado como 0 paciente integra-se ao grupo

atraves da atividade - divisao de espa90 para a realiza980 das tarefas

(irrita-se, con segue dividir com os outros). - Competi<;iio (indiferente, quer

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fazer melhor, mais rapido). Percebe como 0 Dutro desenvolve a tarefa,

colabora quando percebe dificuldade, solicita ajuda, prefere realizar sDzinho

isoladamente.

Cuidados com a higiene - pade ser avaliado se 0 paciente usa roupas

adequadamente com a tarefa, como avental, usa de botas, lavar as maos,

lavar 0 material utilizado, deixar 0 ambiente organizado e limpo.

Maior cantata com a realidade - Durante 0 processo da atividade, pade

ser avaliado se 0 paciente apresenta diminuic;:ao de delfrios.

Reagao it frustrat.;;8o - Como 0 paciente reage quando nao consegue

executar uma tarefa, se ace ita au nao orientac;6es, quando Ihe e neg ado

alga.

7.4 ORGANIZA<;AO DO ATENDIMENTO NA HIDROPONIA

o trabalho na hidroponia era feito 3 vezes por semana com durayao que

variava de 50 a 90 minutos, conforme as tarefas a serem executadas. Os grupos

eram de no maximo 15 pacientes. Parte do grupo era composto de pacientes

moradoras (fixo) e as outras vagas para pacientes nao moradoras (rotativo).

A tecnica e dividida em eta pas definidas, graduadas, repetitivas e

diferenciadas, proporcionando a pessoa experimentar todas as eta pas, escolher a

de maior interesse e habilidade. Por ter gradua<;oes de tarefas, das mais simples

as mais complexas, pacientes com dificuldade de aprendizagem, como no casa de

pacientes cr6nicos com altera<;oes orgimicas instaladas, conseguiam desenvalver

varias eta pas.

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7.5 ETAPAS DA HIDROPONIA

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Para compreensao da sequencia de eta pas realizadas na hidroponia,

segue urn detalhamento destas. 0 trabalho inicia dentro das unidades, Ha a saida

dos pacientes para urn ambiente ao ar livre, a execuyao das taretas e 0 retorno aun ida de com urn produto final, seja para venda ou para consumo.

A primeira etapa e a saida da unidade fechada para a hidroponia, nesta

etapa da-se a organizayao do grupo na unidade; a grupo era estabelecido em

grupo operativD dentro da unidade e sendo combinados as horarios e dias da

hidroponia e as participantes; pacientes salam da unidade fechada atravessavam

urn caminho em contato com a natureza. (Fig.1)

A segunda etapa e a preparayao para iniciar a atividade, que comp6e-se

dos seguintes passos: higienizayao; calocar avental; pisar em cal (antifungos) -

para evitar contaminaC;:Elo atraves dos sapatos.

A terceira etapa e a semeadura, escolha e prepar~ do local adequado:

mesa (Fig.2), e utilizado os seguintes materia is: bandeja de isopor (quadriculada);

substrato; recipiente para sementes (ex: cope descartavel); sementes de alface

(especial para hidroponia) e material auxiliar para enterrar a semente (ex.prego).

Esta etapa segue as seguintes passos: colocar a bandeja sabre a mesa; distribuir

o substrato no quadriculado da bandeja de modo que nao falte e nao exceda;

colocar 1 a 2 sementes em cada quadriculado da bandeja; empurrar a semente

com 0 prege enterrando-a no substrata; espalhar 0 substrata cobrindo par

completo as sementes; colocar em local adequado para naD acumular agua no

fundo da bandeja e permanecer arejado (bancada de telha Eternit levemente

inclinada); regar diariamente durante 30 dias, ate as mudas alcan~rem 0

tamanho ideal para serem transplantada no berc;ario.

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A quarta etapa e a retirada das mudas das bandejas e limpeza das

raizes (Fig.3), contando com os seguintes materia is: bandeja com mudas; balde

com agua; bacia plastica; bancos para melhor posicionamento dos pacientes para

esia atividade. Unica etapa realizada na posic;80 sentada.

A quarta etapa tern como passos retirar cada muda da bandeja, e

necessaria controle da forc;a e coordena98o para naD quebrar as raizes; colocar

em uma bacia plastica; pegar cada muda cuidadosamente mergulhando a raiz na

agua agitando levemente ate sair 0 exceSSQ do substrata; colocar em Dutra bacia

plastica; trocar a agua quando estiver multo suja; depois de retirada todas as

mudas, lavar a bandeja com mangueira e mergulhar em solu980 de agua com

agua sanitaria e limpar balde e bacias.

A quinta etapa as pacientes nao participam, e responsabilidade do

tecnico: controle do nivel da agua (pH, alcalinidade); coloca~ao de nutrientes e

sals.

A sexta etapa e a transplante no ber~ario(FigA ) leito em uma bancada

de telha com pedra brita e agua corrente controlada par timer (a agua esta

preparada com nutrientes e sais em um reservat6rio), necessita de bacia com

mudas limpas pedra brita e agua. Desenvolve-se atraves dos seguintes passos:

abrir um pequeno espa90 entre as pedras; colocar a raiz da mud a nos espac;os e

cobrir com as pedras para fixa-Ia; deixar um espa<;amento de aproximadamente 5

em entre cada muda; as mudas fiearn no ben;ario par urn perfodo de 15 dias ate

alcan<;arern tamanho ideal das folhas e ereseirnento da raiz para 0 transplante em

bancadas definitivas.

Obs: Quando as pedras eome9arem a eriar limo, devem ser retiradas e lavadas ou

substituidas.

A setima etapa e 0 transplante nas bancadas definitivas feitas ern

bancada de telha levemente inclinada canalizada com agua preparada, coberta

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com placas de isopor perfurado com esp8yamento intercalado de

aproximadamente 15 em. Necessita dos seguintes materia is: bacias plasticas;

placas de isopor e agua. Esta etapa segue as passos de retirar cada muda do

berc;arioagitando levemente a raiz para retirar as pedrinhas que se fixam (Fig.5);

calocar em bacia plastica; calocar uma muda em cada furo do isopor (Fig.6);

observar que a raiz fique na parte funda da telha e as folhas para fora do isopor;

abrir a torneira que contrala a passagem de agua; nos primeiros dias rever S8

todas as mudas estao na posiyao correta (repique); as mudas permanecem na

bancada definitiva par aproximadamente 15 dias quando ja estao prontas para

colheita.

A oitava etapa e a colheita (Fig.7), precisando dos seguintes materiais:

caixa plastica au saeo plastico grande transparente; saeo de lixo; uma mangueira

com esguicho; botas de borracha e avental impermeaveL Conta com as seguintes

passos: fechar a torneira que controla a agua; retirar 0 cano de escoamento para

evitar que entre a sujeira na canalizac;ao; retirar cada pe de alface da placa de

isopor com a raiz; fazer a limpeza de alface, retirando as folhas amareladas ou

estragadas; colocar na caixa plastica na posic;aovertical (raiz para baixo e folhas

para cima); retirar 0 lixo que ficou sobre 0 isopor (Fig. B); retirar as placas de

isopor para serem lavadas uma a uma; lavar a bancada com agua corrente (Fig.9)

e recolocar as placas limpas.

Obs: 0 local de trabalho da hidroponia necessita ser conservado limpo. As pedras

e as pia cas de isopor podem ser substituidas por um material plastico.

A nona etapa e a destinal'iio da produl'ii0 (Fig.10), a maior parte da

prodUc.;:80 era encaminhada a cozinha do hospital para consum~ interne e uma

pequena parcela da produ98o (aproximadamente 50 unidades por semana) era

enviada para venda (Fig.11). Esta tarefa incluia uma vendedora e uma

responsavel pelo caixa (Fig.12).

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Para a venda necessita·se os seguintes materia is: caixas plasticas com

alfaces; livro caixa (controle de vendas); sacolas plasticas e dinheiro.

As tarefas sao divididas entre as pacientes - vendedor e respons8vel

pelo caiX8. As vendedoras cabia oferecer 0 produto. auxiliar na escolha das

alfaces embalar as alfaces e a respons8vel pelo caixa anotar 0 nome do

compractor, quantidade e 0 valor, reeeber 0 dinheiro e fazer 0 treGO.

A decima etapa e a utiliza9ao do dinheiro que era depositado na

tesouraria do hospital na conta das unidades participantes da hidroponia e a

utilizac;:ao era decidida com 0 grupo de cada unidade de acordo com as suas

necessidades.

Durante urn periocto de 5 meses que 0 ISEP naD autorizou compra de

materia is para a hidroponia, a verba foi utilizada para a compra de material para

continuidade do programa.

7.6 METAS DO PROGRAMA

Havia a proposta da criaC;80 de uma cooperativa para que a produto

pudesse ser colocado no mercado formal, assim a verba poderia ser utilizada para

manter a hidroponia e 0 lucro ser dividido entre os pacientes que participavam da

cooperativa, dignificando 0 trabalho realizado por eles. A hidroponia foi fechada

antes da formaC;80 da cooperativa.

Durante 0 perf OdD que pacientes nao moradores participavam da

hidroponia, aprendiam tecnicas que poderiam ser utilizadas em suas casas para

consumo proprio ou como fonte de renda.

A hidroponia pode ser feita em casa necessitando de algum espac;o e um

investimento inicial, atualmente existem vari8s opc;oes para construc;ao de

pequena hidroponia.

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Uma etapa da tecnica de hidroponia interessava bastante aDs pacientes

que ja trabalhavam com horta, a etapa de semeadura que produzia mudas em

bandejas, esta tecnica pode ser feita com qualquer outra plant a que precise fazer

mudas para depois serem plantadas em local definitiv~, entaD era orientadas as

pacientes cnde poderiam encontrar as bandejas e substrata ah~m de aprenderem

a tecnica.

7.7 ANALISE DA EXPERIENCIA

Durante 0 perlocto que as pacientes participaram do programa de

hidroponia pode-s8 observar varias diferen~s entre as pacientes moradoras e

nao moradoras quanta ao desempenho, iniciativa, tolerancia e significado da

atividade.

A diferenya inicia-se no perfecto de participa<;ao do programa. Para as

pacientes moradoras a atitude era con stante, permanecendo por pelo menos 3

anos. As na~ moradoras participavam por um periodo de, no maximo, 2 meses.

As pacientes moradoras come9aram na hidroponia quando havia

funcionarios que cuidavam da produ9ao e por mais de 1 anD desenvolviam

basicamente 2 etapas: a col he ita e, principal mente, a semeadura. Nesta ultima

tarefa, observou-se que melhoraram seu desempenho, coordena<;Bo motora,

concentrac;:ao, senso-percepc;:ao, noc;:ao de profundidade na colocac;:ao das

sementes e quantidade de substrato colocada nas bandejas, ah§m da organiza<;Bo

de grupo. Pacientes com maior dificuldade de concentra~o ou apresentando

deficit de aprendizagem necessitavam maior orientac;::ao para desenvolver esta

etapa.

Quando as pacientes passaram a desenvolver praticamente todas as

etapas da hidroponia notou-se um envolvimento maior das mesmas com a

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atividade. Elas experimentavam todas as etapas, entendiam a importancia de seu

trabalho e sentiam-se respons8veis pelo resultado e gratificadas com 0 produto

final. A atividade deixou de ser alienada para ser uma atividade humana integrada

e ajudou tambem na estrutura980 interna de cada paciente.

o interesse de ir para a hidroponia aumentou, preocupavam-se ern saber

sabre 0 crescimento das verduras e S8 estava na epoca de colheita.

As pacientes moradoras escolhiam algumas tarefas que requeriam maior

habilidade e interesse. Quanta mais realizavam a atividade, melhor 0

desempenho, maior a iniciativ8. No entanto, apresentavam urn ritmo mais len to em

rela~o as pacientes naD moradoras aguardavam pela orientac;ao e algumas

pacientes com maior dificuldades demonstravam menor tolerimcia.

Em geral, as pacientes nao moradoras apresentavam mais iniciativa em

rela<;ao as moradoras, perguntando 0 que era necessario fazer e escolhendo 0

que preferiam desenvolver. Referiam sentir-se melhor quando saiam da unidade.

Algumas lalavam da sensa,ao de liberdade, privada quando estao internadas.

o relato a seguir ilustra a integra<;ao do grupo com a atividade e 0

significado nao verbal que acontecia com cada um.

o grupo chegou a hidroponia e havia algo dilerente naquele dia. Todas

as verduras estavam murchas, muitas estragadas, pois havia faltado energia

eletrica e nao pode ser bombeada a agua para as bancadas.

As pacientes demonstraram sua tristeza e decep98o. Neste dia, a tarefa

foi de recuperar as verduras que estavam boas e separar as estragadas.

No dia seguinte, quando retornaram, as verduras estavam verdes e

vi<;osas. A expresseo das pacientes era de alegria e gratifica<.;ao. Compreenderam

a possibilidade de recupera<;8o atraves de cuidados necessarios para que as

verduras nao morressem e que pode ser comparado com 0 processo de

recuperagao das pacientes.

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Mesmo a hidroponia sendo uma atividade estruturada, ocorriam fatos

inesperados, gerando movimento, diferente da apatia nas unidades fechadas. As

pacientes podiam vivenciar Qutras formas de relac;oes e integrac;ao.

8 CONSIDERA<;OES FINAlS

Ao abordar 0 tema hidroponia como recurso na Terapia Ocupacional,

abjetivou-se apresentar urn recurso alternativo integrado a Qutras 8c;oes para a

reabilitac;ao psicossocial da pessoa portadora de transtornos mentais

A experiencia da Terapia Ocupacional na hidroponia do HCAB confirma

a contribuiyao desta tecnica quando devidamente ulilizada pelo terapeuta

ocupacional para 0 atendimento a pacientes moradores e nao moradores,

demonstrando a possibilidade de ativar a motivayao, desenvolver habitos e

habilidades muitas vezes adormecidos.

A hidroponia no HCAB esta ligada a reabilita9ao pSicossocial

demonstrando a possibilidade de um atendimento adequado, respeitando a

paciente como um cidadao, resgatando a direito de saida da instituiyao para um

ambiente aberto, realizando um trabalho transformador e de equipe e obtendo um

produta final de qualidade podendo ser uma atividade remunerada.

Quando a hidroponia foi fechada interrompeu-se 0 processo nao sendo

possivel a implantayao de uma cooperativa que favoreceria ao padente ser pago

dignamente e a hidroponia ser auto-suficiente.

Este trabalho mostra como a Terapia Ocupacional esta integrada ao

contexto atual da Saude Mental. Essa experiemcia e um exemplo da

transformayao do paciente, dia-a-dia, no exercicio de sua praxis enquanto

cidadao.

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