monografia - alexssandra vaz

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UERJ-FEBF UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA BAIXADA FLUMINENSE DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALEXSSANDRA JULIANE VAZ Caracterização e Avaliação dos Problemas de Saneamento e a Qualidade de Vida Ambiental no Bairro do Cangulo- Município de Duque de Caxias (RJ) Monografia apresentada ao curso de Licenciatura Plena em Geografia, da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense/UERJ Orientador: Andréa Paula de Souza Duque de Caxias 2009

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Caracterização e Avaliação dos Problemas de Saneamento e a Qualidade de Vida Ambiental no Bairro do Cangulo- Município de Duque de Caxias (RJ) Monografia apresentada ao curso de Licenciatura Plena em Geografia, da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense/UERJ. Orientador: Andréa Paula de Souza

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Page 1: Monografia - Alexssandra Vaz

UERJ-FEBF UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA BAIXADA FLUMINENSE DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

ALEXSSANDRA JULIANE VAZ

Caracterização e Avaliação dos Problemas de Saneamento e a Qualidade de Vida Ambiental no Bairro do Cangulo- Município de Duque de Caxias (RJ)

Monografia apresentada ao curso de Licenciatura Plena em Geografia, da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense/UERJ

Orientador: Andréa Paula de Souza

Duque de Caxias

2009

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FICHA CATALOGRÁFICA

Vaz, Alexssandra Juliane.

Caracterização e Avaliação dos Problemas de Saneamento e a Qualidade de Vida

Ambiental no Bairro do Cangulo- Município de Duque de Caxias (RJ)/ Alexssandra Juliane

Vaz. Duque de Caxias, 2009. 87f.: il. Monografia (Licenciatura Plena em Geografia) – Universidade do Estado

do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, Departamento de Formação de Professores, 2009.

Orientador: Andréa Paula de Souza

1. Problemas Urbanos. 2. Bairro do Cangulo. 3. Problemas Ambientais

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3

FOLHA DE APROVAÇÃO

Alexssandra Juliane Vaz

TÍTULO: Caracterização e Avaliação dos Problemas de Saneamento e a Qualidade de Vida

Ambiental no Bairro do Cangulo- Município de Duque de Caxias (RJ)

Aprovado em Duque de Caxias, 13 de Março de 2009.

Banca Examinadora:

______________________________________________

(Andréa Paula de Souza – FEBF/UERJ Orientador)

______________________________________________

(Flavia Lopes Oliveira – FEBF/UERJ)

______________________________________________

(Valesca Silveira Silva – PROURB/UFRJ)

Page 4: Monografia - Alexssandra Vaz

4

Agradecimentos

Durante os anos de faculdade tive o apoio incondicional de pessoas muito

especiais, importantíssimos durante a minha caminhada e fundamentais para que esse

trabalho chegasse ao fim. Agradeço a Deus que me ilumina e dá forças, e aos anjos que

me protegem. Ao meu pai José, que mesmo sem ter sido alfabetizado soube me ensinar

os maiores e mais importantes valores da vida, sempre me alertando sobre a necessidade

de estudar acima de tudo. Assim como à minha mãe, Julia, que sempre cheia de ternura

procurava me ajudar e dar apoio.

Agradeço eternamente aos meus professores, por cada novo aprendizado, e que

além de transmitir conhecimentos serviram de inspiração para a carreira geográfica. E

de modo muito especial, à minha orientadora Andréa Paula de Souza, que sempre

sorrindo conseguiu tornar as coisas mais fáceis, diminuindo meu desespero de estudante.

Lembro ainda dos meus colegas de curso, fiéis companheiros de estudo e aventuras, que

me viram rir e chorar, e me proporcionaram momentos de muitas risadas que jamais

serão esquecidas.

Infinitos agradecimentos também ao bairro Cangulo, palco da minha pesquisa,

aos moradores, que muito me ensinaram durante a realização dos questionários, me

recebendo com respeito e paciência em suas casas, sempre atentos às minhas indagações.

Sem a importante participação de vocês a finalização desse trabalho não seria possível.

Obrigada ainda a todos que me ajudaram na realização dos questionários,

principalmente a minha irmã Juliana.

Não poderia deixar de agradecer ao meu querido namorado William, presente

durante todo o meu curso, por seu companheirismo, paciência, amizade e amor.

Desculpa pelos momentos de estresse e nervosismo, você não merecia meu mau humor.

E aos seus pais, Cícero e Dedé, que me aturaram durante horas na sua casa enquanto eu

usava o computador. A Todos, meus sinceros e eternos agradecimentos.

Page 5: Monografia - Alexssandra Vaz

5

“Uma idéia de cidadania é mais invisível do que um

cano de esgoto, sua instalação pode dar o mesmo

trabalho, mas seu proveito público pode ser maior.

Criar cidadãos conscientes dos seus direitos e do seu

poder também é uma competência municipal”.

(Luis Fernando Veríssimo)

Page 6: Monografia - Alexssandra Vaz

6

RESUMO

Diante das diferenças sócio-ambientais presentes no espaço geográfico, surge a necessidade de estudar a relação existente entre o espaço físico e o bem-estar das populações humanas. Verificando aquilo que pode ser fundamental para a qualidade de vida ambiental. Tomamos como área de estudo o bairro Cangulo no município de Duque de Caxias, analisando as condições de vida da sua população, os equipamentos e serviços urbanos necessários ao bem-estar coletivo. Sobretudo os serviços de saneamento básico, que envolvem a oferta de água tratada e canalizada, a coleta dos resíduos sólidos, a captação e tratamento do esgoto doméstico e o manejo das águas pluviais, conforme a Lei Federal 11.445/07. É traçando um paralelo com o conceito de qualidade ambiental, ao considerar que o homem e o meio exercem influências mútuas entre e sobre si. Ao resgatar o histórico e a conjuntura da Baixa Fluminense, é possível avaliar o processo de formação do município caxiense e consequentemente do bairro Cangulo. Inicialmente ocupado por volta de 1955, o bairro e seus moradores ainda sofrem com problemas de infra-estrutura urbana, revelados na precariedade dos serviços de saneamento básico, que mantém a população sem abastecimento público de água e na presença de esgoto a céu aberto. O saneamento ambiental é considerado primordial para a garantia da qualidade de vida da população. Apesar de essa qualidade ser um desejo comum entre todas as pessoas, e considerando as diversas definições atribuídas ao termo, referentes às condições ambientais e socioeconômicas, vamos partir da análise da relação da população com seu local de moradia. Atentando às necessidades dos moradores que visem o seu bem-estar pleno. Avaliar temporalmente os investimentos públicos em infra-estrutura voltados para o saneamento da região da Baixada Fluminense, seus planos de saneamento, as lutas e conquistas da população nas reivindicações por melhorias. Existe uma relação direta entre o saneamento e a saúde da população, condições ambientais impróprias para moradia acarretam diversos tipos de doenças, como parasitoses, infecções e problemas de pele. Tais enfermidades são ainda mais visíveis nos países não desenvolvidos, entre famílias pobres que habitam áreas desprovidas de saneamento básico, locais com presença de esgoto a céu aberto, água sem tratamento e ruas sem pavimentação, sobretudo na África, Ásia e América do Sul. Sendo inegável que as crianças são as mais prejudicadas. A solução desses problemas está no investimento em serviços e equipamentos de saneamento, principalmente na distribuição da água e posterior coleta e tratamento do esgoto, evitando conseqüências danosas desagradáveis para o meio e para a saúde humana. O respeito às leis que asseguram e regulamentam os serviços de saneamento, assim como o cumprimento de suas diretrizes, torna-se fundamental, constitui um direito do cidadão. Entretanto, compete a ele também participar dos planejamentos e da fiscalização. Assim com o cabe à sociedade civil participar da elaboração do plano diretor municipal. Sendo assim, governantes e cidadãos devem trabalhar em conjunto na construção e preservação do espaço, para que possamos todos gozar de um ambiente limpo e sadio, indispensável para uma vida com qualidade.

Palavras Chave: 1. Problemas Urbanos; 2. Bairro do Cangulo; 3. Problemas Ambientais

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7

Lista de Figuras pág.

Figura 1. Localização da Baixada Fluminense (A), em destaque o Município de Duque de Caxias (Modificado de Farias, 2005), visualização dos distritos (B) e imagem do bairro do Cangulo (C) em 2008. Fonte: Google Earth

8

Figura 2. Planta do Bairro do Cangulo (Duque de Caxias), em A (2006), nota-se a falta de infra-estrutura urbana como calçamento, enquanto em B (1985) tem-se uma pequena lagoa que aterrada entre 2006 e 2007, em C visualiza-se área de remobilização de material, utilizado em obras. Em D tem-se a vista geral da REDUC, próximo do bairro do Cangulo. Fonte: Próprio autor

9

Figura 3 Bacia hidrográfica sujeita a inundação, a qual pertence o rio estrela (ressaltado em circulo), em A. Destaca-se em B o número dos pontos de enchentes em Duque de Caxias (Modificado de SEMADS, 2001), enquanto em C visualização de área de inundação no bairro do Cangulo (Jornal do Brasil, 2003).

10

Figura 4 Esquema demonstrando a importância da ação conjunta do poder público e da participação da comunidade para melhor condição de vida ambiental (Kobiyama et. al., 2008).

13

Figura 5 Estimativa de países afetados por mortes a partir da precariedade de qualidade e acesso a água, esgoto e falta higiene em 2000 (Clarke e King, 2005).

27

Figura 6 Esquema do ciclo de relação entre água, saneamento e pobreza (Razzolini e Günther, 2008).

32

Figura 7 Espacialização das operadoras de Água e Esgoto do Estado do Rio de

Janeiro, nota-se que o município de Duque de Caxias tem como operadora a

CEDAE (Sales, 2007).

43

Figura 8 Planta do bairro do Cangulo, em A, nota-se manchas representativas das áreas onde foram realizados os questionários de forma aleatória, enquanto em B, encontram-se tracejadas as ruas onde foram aplicados os questionários em domicílios.

51

Figura 9. Distribuição da classe etária, em A, nível de escolaridade, em B, renda média dos amostrados, em C, e tempo de moradia, em D, dos entrevistados para o Bairro do Cangulo.

56

Figura 10 Condições de moradia e propriedade de habitação (terreno), conforme questionário aplicado por entrevistados (%) por domicilio.

57

Figura 11 Maiores problemas locais por percentagem de entrevistados. Fonte: Próprio autor

58

Figura 12 Percentual de exploração/uso da água, em A, e classes de qualidade da 59

Page 8: Monografia - Alexssandra Vaz

8

água por entrevistados, em B.

Figura 13 Variação percentual dos locais comuns de despejo do esgoto, segundo moradores. Fonte: Próprio autor

60

Figura 14 Variação dos problemas ambientais associados à degradação ambiental e o problema de saneamento, por ordem de importância, na percepção dos entrevistados.

61

Figura 15 Resposta sobre realização de avaliação da qualidade de água dos domicílios, em A, e se o entrevistado gostaria de ser informado sobre a qualidade em relação ao risco à saúde, em B.

62

Figura 16 Formas de abastecimento de água por domicílio, em A, características de qualidade da água, em B, periodicidade de abastecimento pela rede geral, em C, e periodicidade de compra de água em D, por entrevistado/domicílio.

64

Figura 17 Freqüência de ocorrência (%) das possíveis causas da poluição em recursos hídricos por entrevistado/domicílio. Fonte: Próprio autor

65

Figura 18 Despejo do esgotamento sanitário, em A, distância média entre fossa e poço, em B, característica de auto-contrução poço/fossa, em C, visão geral de falta de cuidado do bombeamento da água próximo à vala, em D. Fonte: Próprio autor

68

Figura 19 Associação dos entrevistados (domicílio) em relação a doenças versus problemas ambientais, em A, e ocorrência de doenças na família com falta de controle ambiental, em B.

70

Figura 20 Intenção da população local em ter algum tipo de informação ou participação efetiva no planejamento de obras públicas, em A, alegação de falta de informação sobre obras, em B, e visão das obras de saneamento no bairro, em C e D. Fonte: Próprio autor

71

Figura 21 Percepção dos moradores (domicílio) sobre o que está atrelado a qualidade de vida, em A, percepção sobre a vivência em local com qualidade, em B, opinião sobre responsabilidade na geração de poluição, em C e associação de qualidade de vida com preservação ambiental, em D.

73

Page 9: Monografia - Alexssandra Vaz

9

Lista de Quadros pág.

Quadro 1 Modelo de classificação ambiental de infecções e principais medidas de controle (Razzolini e Günther , 2008)

29

Quadro 2 Relação entre o nível de acesso a água versus necessidades atendidas e grau de efeitos à saúde (Razzolini e Günther, 2008)

30

Quadro 3 Processos e definidores da poluição das águas 36

Quadro 4 Máximos valores de padrão permitidos de bacteriologia na água (Roque, 2002)

38

Lista de Anexos pág.

Anexo 1 Questionário básico para fins de caracterização geral da população local.

80

Anexo 2 Questionário complementar aplicado aos domicílios, para fins de aprofundamento dos problemas ambientais.

82

Anexo 3 Questionário Básico do Censo de 2000, conforme IBGE. 84

Anexo 4 Questionário Suplementar de Meio Ambiente de 2002, conforme IBGE. 85

Anexo 5 Fotografias ampliadas 88

Page 10: Monografia - Alexssandra Vaz

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Lista de Siglas

ABCON Associação Brasileira das Concessionárias de Serviços Públicos de Água e Esgoto

ABM Amigos de Bairro de Meriti ANAC Agência Nacional de Aviação Civil BID Banco Internacional de Desenvolvimento BNH Banco Nacional de Habitação CEBs Comunidades Eclesiais de Base CEDAE Companhia Estadual de Águas e Esgotos CIDE Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro CPRM Serviço Geológico do Rio de Janeiro CSBF Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense DNOS Departamento Nacional de Obras Públicas DSBF Diretoria de Saneamento da Baixada Fluminense ENSP Escola Nacional de Saúde Pública ETE Estação de Tratamento de Esgoto FASE Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador FEEMA Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Trabalho FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz GT Grupo de Trabalho IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias IDH Índice de Desenvolvimento Humano IDH-M Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IEF Instituto Estadual de Florestas IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicada JK Juscelino Kubitschek MAB Movimento Amigos do Bairro MTE Ministério do Trabalho e Emprego MUB Movimento União de Bairros ODM Objetivos do Desenvolvimento do Milênio OGU Orçamento Geral da União OMS Organização Mundial de Saúde ONG Organização Não Governamental PAC Programa de Aceleração do Crescimento PBV Programa Baixada Viva PDBG Programa de Despoluição da Baía de Guanabara PIB Produto Interno Bruto PLANASA Plano Nacional de Saneamento PMDC Prefeitura Municipal de Duque de Caxias PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPP Parcerias Público-Privadas PSDB Partido Socialista Democrático Brasileiro REDUC Refinaria Duque de Caxias SEDEBREM

Secretaria do Estado de Desenvolvimento da Baixada e Região Metropolitana

SEMA Secretaria do Estado de Meio Ambiente

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11

SEMADS Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável SERLA Superintendência Estadual de Rios e Lagoas SESP Secretaria de Estado de obras e serviços Públicos SOSP Secretaria de Estado de Obras e Serviços Públicos TCE Tribunal de Contas do Estado UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

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12

Sumário pág.

1 Introdução 13

2 Objetivos 14

3 Duque de Caxias na conjuntura da Baixada Fluminense 15

3.1 Breve característica do meio físico com relevância aos problemas

ambientais

17

4 Qualidade de Vida e Saneamento Ambiental 23

4.1 Qualidade de Vida 23

4.2 Saneamento Ambiental 30

4.2.1 História do Saneamento na Baixada Fluminense: lutas e ações

30

4.2.2 O Programa de Despoluição da Baía de Guanabara 34

4.2.3 Saneamento e saúde 37

4.2.4 Tipos e Equipamentos de Saneamento 44

4.3 Características e Contraposições da Lei de Saneamento 52

4.4 Estatuto da Cidade e Plano Diretor: como instrumento de qualidade

59

5 Etapas de Desenvolvimento do Trabalho 61

5.1 Questionários 61

5.1.1 Desenvolvimento e tratamento dos dados 62

6 Análise dos Resultados 66

7 Considerações Finais 87

8 Referencias Bibliográficas 89

Page 13: Monografia - Alexssandra Vaz

13

1 Introdução

As diferenças sócio-ambientais são visíveis nos inúmeros espaços terrestres,

existindo uma série de fatores responsáveis e determinantes pela qualidade de vida

ambiental das cidades. A contaminação dos recursos naturais e a poluição do meio

são fatores contribuintes para a desvalorização do espaço, que acaba por abrigar

uma população de baixo poder aquisitivo, constituindo áreas de segregação sócio-

espacial (Souza, 2000).No entanto, é importante não somente compreender como

essa desvalorização ocorre, mas também quais os interesses sociais envolvidos nos

processos relacionados à produção espacial.

Considerando as condições precárias em que vive exposta grande parcela da

população brasileira, o saneamento básico é encarado como um desafio para os

governantes administradores do país e uma meta a ser alcançado dentro do

planejamento urbano. Sabemos que as características do meio determinam de certa

forma as atividades humanas, assim como os homens exercem influência sobre o

espaço. Portanto, torna-se necessário que haja um equilíbrio entre a vida e o meio

em que vivem, onde os aspectos negativos que interferem na qualidade de vida e

ambiental devem ser superados, em prol do bem-estar das populações e gerações

futuras.

Se as oportunidades e condições de vida não são iguais para todos os seres

humanos, ao se considerar as diferenças de qualidade de vida entre os indivíduos

de uma mesma cidade, torna-se imprescindível investigar as razões das

desigualdades sócio-espaciais e a lógica de interesses dos agentes modeladores do

espaço (Feu, 2007). E que o planejamento urbano, com as contribuições do Plano

Diretor, deve ser instrumento para o desenvolvimento sócio-espacial, pensando as

políticas públicas em saneamento básico como direito assegurado por lei a todas as

pessoas, independente de posição social, visando eqüidade no atendimento e

melhoria na qualidade de vida ambiental.

O município de Duque de Caxias apresenta uma configuração espacial

desordenada onde a maioria dos recursos são destinados ao Centro, ou seja, os

investimentos aplicados no município são mais direcionados para o primeiro distrito.

Tal constatação se dá mediante as carências infra-estruturais básicas verificadas,

por exemplo, no segundo distrito de Campos Elíseos do município, que abriga

diversos bairros precariamente equipados com serviços urbanos, onde se localiza o

Page 14: Monografia - Alexssandra Vaz

14

bairro do Cangulo, recorte espacial em questão. O bairro como parte importante na

vida social e econômica da cidade, merece ser estudado como parte integrante da

sua conjuntura, principalmente por se localizar espacialmente próximo a Reduc

(Refinaria Duque de Caxias), uma das maiores fontes de arrecadação econômica

para o município e para o Estado do Rio de Janeiro.

A análise do bairro envolve discussões acerca da qualidade de vida,

considerando a definição do termo que refere seu uso ao atendimento das

satisfações e necessidades humanas que visem o bem-estar coletivo. O que não

será possível sem a análise da sua inter-relação com o conceito de qualidade

ambiental. Esses, são termos de difícil definição devido às suas complexidades,

trata-se de conceitos amplos e subjetivos, cheios de componentes, que trabalhados

conjuntamente permitem resultados mais precisos. Silva (2006) diz que a qualidade

de vida depende fundamentalmente das características do meio, e termina

constatando que “a melhoria da qualidade de vida da população passa por uma

correspondente melhoria da qualidade ambiental do local onde ela se encontra

instalada” (p. 7).

2 Objetivos

Faz-se relevante caracterizar o processo de ocupação do município de Duque

de Caxias e, consequentemente, à compreensão da ocupação desordenada do

bairro Cangulo, permitindo avaliar a infra-estrutura urbana do local. Pode-se dizer

que os maiores problemas das cidades, em geral, está pautado na ausência de

instrumentos urbanos como a falta de rede de esgoto que evite o lançamento direto

dos dejetos humanos nos córregos da região; de um fornecimento de água

canalizada e tratada que evite a necessidade de perfuração de poços nos quintais,

assim como a utilização de água imprópria pelos moradores; da coleta de resíduos

sólidos nas residências para evitar o acúmulo de lixo em terrenos baldios, capazes

de facilitar a proliferação de animais transmissores de doenças para o homem.

Sendo necessário analisar como o homem altera o lugar e de que forma essas

alterações retornam para a população local e são percebidas pela mesma. Desta

forma, analisar qual o “impacto” da organização estrutural do espaço na qualidade

de vida ambiental da população local e traçar um paralelo entre a urbanização, seus

impactos no meio físico e social. Sendo assim, o presente trabalho visa:

Page 15: Monografia - Alexssandra Vaz

15

- Caracterizar e apontar alguns problemas associados à falta de infra-estrutura

urbana;

- Assinalar e analisar os serviços de saneamento básico relacionados à água, ao

esgoto domiciliar e a coleta de lixo residencial, assim como sua aplicação no bairro;

- Analisar a relação entre a qualidade de vida e a falta de infra-estrutura urbana,

traçando um paralelo entre os conceitos;

3 Duque de Caxias na conjuntura da Baixada Fluminense

Será feito um breve resgate histórico e conjuntural da Baixada Fluminense

(Figura 1A) na tentativa de compreender o processo de formação, assim como as

condições de vida da população do município de Duque da Caxias (Figura 1A), que

faz parte da região metropolitana do Rio de janeiro e situa-se a 22º 47' 09'' S e 43º

18' 43''. A ocupação populacional da Baixada Fluminense teve seu marco no ciclo da

cana de açúcar, que contava com mão-de-obra escrava e no ciclo do ouro, que

utilizava a região como passagem para o escoamento da produção, e seus rios

pertencentes à bacia hidrográfica da Baia de Guanabara faziam a conexão entre o

interior (Minas Gerais) e o litoral (Rio de Janeiro). No final do século XIX, o ciclo do

café (que não substituiu a cultura da cana) propiciou a construção das primeiras vias

férreas. No mesmo século, foram instaladas as primeiras fábricas, de pólvora e

indústria têxtil, que proporcionou o surgimento de vilas operárias, igrejas, armazéns,

escolas, entre outros (Silva, 2007). Destaca-se ainda no final do século o início do

cultivo da laranja, principalmente em Nova Iguaçu.

Investimentos públicos foram realizados no final da década de 1920 para

expansão do sistema de transportes: abertura das avenidas Washington Luís,

Automóvel Clube e antiga rodovia Rio-São Paulo. Além da expansão da rede

elétrica, da eletrificação da Ferrovia Central do Brasil, que caracterizou uma

expansão urbana pelo eixo ferroviária entre 1940 e 1960 e a implantação de

programas de saneamento em 1934, durante o governo Getúlio Vargas. Essas

medidas contribuíram para o desenvolvimento da região, importante fornecedora de

mão-de-obra para a cidade do Rio de Janeiro, o que caracterizou os municípios

como “cidades dormitório” entre os anos de 1940 e 1970 (Figuerêdo, 2004 apud

Silva, 2007). Durante o auge do processo migratório a região foi importante por

Page 16: Monografia - Alexssandra Vaz

16

absorver o excedente populacional da capital, devido sua fácil ligação com a

metrópole e os baixos custos de moradia.

Como os serviços e programas sociais eram direcionados à metrópole, a

região apresentou ao longo da sua história um déficit de equipamentos urbanos de

cultura, lazer, hospitais, universidades, transportes etc. Verifica-se assim uma

precariedade nas ofertas de serviços públicos ou privados que contribuem para a

marginalização social dos seus moradores.

De acordo com o SEDEBREM (Secretaria do Estado de Desenvolvimento da

Baixada e da Região Metropolitana) 2005, a região conta atualmente com 13

municípios, sua área total representa 61% da área total da região metropolitana. E

segundo o Censo Demográfico do IBGE (2000) sua população corresponde a 33%

dos habitantes da região metropolitana, correspondendo a 25% do contingente

populacional do Estado.

Tratando especificamente de Duque de Caxias, seu povoamento data do

século XVI, começou em uma área doada a vários sesmeiros por Estácio de Sá em

1565, onde hoje fica o Núcleo Colonial São Bento. O cultivo da cana-de-açúcar foi a

atividade econômica que ensejou a ocupação da área. Foi importante ponto de

passagem durante o ciclo da mineração, e quando esse entrou em declínio

funcionou como ponto de descanso, abastecimento e transbordo de tropeiros e

mercadorias. Até 1943 chamava-se Vila Meriti, pertencente ao município de Nova

Iguaçu, conseguindo a emancipação política em 31 de dezembro do mesmo ano.

Em 1971, Duque de Caxias foi decretada como Área de Segurança Nacional pelo

regime militar, e retomou sua autonomia em 1985.

Seus limites fazem fronteira com os municípios de Miguel Pereira, Nova

Iguaçu, Petrópolis, Magé, São João de Meriti e Rio de Janeiro. Possui quatro bacias

hidrográficas principais: Meriti, Sarapuí, Iguaçu e Estrela. Até o ano 2000 a

população caxiense correspondia a 23% da população da Baixada, enquanto em

2007 contava com 842.686 habitantes (IBGE, 2007). Nas últimas décadas seu

crescimento populacional se manteve estável em 1,7% ao ano.

O bairro Cangulo em análise localiza-se no segundo Distrito do município, ou

seja, o distrito industrial de Campos Elíseos, responsável por 10% da arrecadação

de ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias) do Estado (Prefeitura de

Duque de Caxias), e que engloba os bairros Jardim Primavera, Saracuruna, Vila São

José, Parque Fluminense, Campos Elíseos, Cangulo, Cidade dos Meninos, Figueira,

Page 17: Monografia - Alexssandra Vaz

17

Chácaras Rio-Petrópolis, Chácaras Arcampo e Eldorado. De acordo com a planta do

bairro fornecida pela prefeitura sua área é de 371,35 hectares, e foi instituído

oficialmente no ano de 1987, (Decreto nº 1.864, artigo 1º) a partir do Plano Diretor

Urbanístico sob mandato do prefeito José Carlos Lacerda (Secretaria de

Planejamento e Urbanismo).

Começou a ser ocupado por volta de 1955 (Magalhães et al, 2006) e conta

atualmente com 5.539 habitantes (IBGE, 2007). Trata-se de uma área próxima aos

mangues, de difícil ocupação e escassez de água potável, onde era comum a

plantação de arroz, até os desastres de 1966 e 1967 onde diversos óbitos ocorreram

em decorrência das chuvas, segundo informação do Corpo de Bombeiros do Estado

(Magalhães et al, 2006).

Já com 50 anos de existência o bairro não dispõe de posto de saúde, de

opções de lazer, serviço de abastecimento de água encanada e tratada, nem rede

de esgoto. A coleta de lixo começou a ser promovida recentemente, mas apenas em

algumas ruas de mais fácil acesso e locomoção. Tem apenas uma escola municipal,

uma praça, e poucas ruas asfaltadas. Possui muitas igrejas e alguns pontos

comerciais, como padaria, mercadinho, pequenas lojinhas e duas casas de material

de construção que atendem a população local.

3.1 Breve característica do meio físico com relevância aos problemas

ambientais

O município de Duque de Caxias tem área total de 464,573 km², divida em

quatro grandes Distritos: 1º Centro, 2º Campos Elíseos, 3º Imbariê e 4º Xerém

(Figura 1B). Em termos de características de ocupação da superfície ocupada pelo

homem associada à geomorfologia existem dois principais domínios

geomorfológicos segundo Dantas (2000), o primeiro são planícies Colúvio-Alúvio-

Marinhas (Terrenos Argilo-Arenosos das Baixadas). Superfícies subhorizontais, com

gradientes extremamente suaves e convergentes à linha de costa, e interface com

os Sistemas Deposicionais Continentais (processos fluviais e de encosta) e

Marinhos. Terrenos mal drenados com padrão de canais meandrante e divagante.

Presença de superfícies de aplainamento e pequenas colinas ajustadas ao nível de

base das Baixadas. O outro domínio é o de Colinas Isoladas, com formas de relevo

residuais, com vertentes convexas e topos arredondados ou alongados, com

Page 18: Monografia - Alexssandra Vaz

18

sedimentação de colúvios, remanescentes do afogamento generalizado do relevo

produzido pela sedimentação flúvio-marinha que caracteriza as baixadas litorâneas.

Estão também classificadas ilhas oceânicas. Densidade de drenagem muito baixa

com padrão de amplitudes topográficas inferiores a 100m e gradientes suaves.

A geologia é caracterizada como depósitos fluviais e flúvio-marinhos, areno-

siltico-argilosos com camadas de cascalheiras associadas a depósitos de tálus e

sedimentos lacustrinos e de manguezais retrabalhado. Além de depósito marinho e

flúvio-marinho, síltico-areno-argilosos, ricos em matéria orgânica, englobando linhas

de praias atuais e antigas, além de manguezais (CPRM, 2001). Outra característica

é de colinas isoladas, com formas de relevo residuais, com vertentes convexas e

topos arredondados ou alongados, essas áreas, em geral são utilizadas para

retirada de material para a construção e obras, que acaba sendo agravante, uma

vez que feições como estas estão sendo apagadas da paisagem, além do material

mobilizado ficar exposto a erosão superficial e posteriormente carreado para os

canais, o que acaba por contribuir para processos como enchentes (Figura 2B e C).

Assim como na grande parte da Baixada Fluminense, no município de Duque

de Caxias predomina o clima tropical semi-úmido, com uma temperaturas média de

24ºC. Porém, apresenta temperatura mais amena no 3º e 4º distrito (Imbariê e

Xerém, respectivamente) em virtude da área verde e da proximidade com a Serra

dos Órgãos. As chuvas são abundantes no verão, enquanto o inverno se apresenta

seco.

O bairro do Cangulo se encontra inserido na Bacia do Saracuruna que

abrange parte dos Municípios de Duque de Caxias e Petrópolis, e a partir da

confluência com o Inhomirim, passa a se chamar Rio Estrela (Figura 3A). Os

formadores têm suas cabeceiras nas escarpas da Serra do Mar, com acentuada

declividade e alta densidade de drenagem. O início da área de planície coincide com

os primeiros núcleos urbanizados, onde as inundações são decorrentes,

principalmente, da baixa declividade e de estrangulamentos (SEMADS, 2001).

As enchentes urbanas constituem-se num dos mais importantes impactos

sobre a sociedade, são normalmente localizadas e podem ser provocadas por

crescimento desordenado, além do estrangulamento da seção do rio devido a

aterros e pilares de pontes, estradas, assoreamento do rio e lixo. Outro impacto em

relação à produção de sedimentos (Figura 2C) tem conseqüências ambientais

graves para as áreas urbanas, como assoreamento da drenagem, com redução da

Page 19: Monografia - Alexssandra Vaz

19

capacidade de escoamento de dutos, rios e lagos (Figura 2B); transporte de

substâncias poluentes agregadas ao sedimento devido à lavagem das ruas,

ressalta-se ainda a degradação da qualidade da água drenada pelos esgotos

pluviais e contaminação dos aqüíferos.

Pode-se dizer que o Município de Duque de Caxias não é diferente da

realidade brasileira, pois segundo SEMADS (2001), em 2000 existiam 123 pontos,

isto é, responsável por 19.2% do total de pontos críticos da Região Metropolitana

(Figura 3B). O bairro do Cangulo também é alvo do processo de inundação,

conforme pode ser notado na Figura 3C, que mostra a ocorrência de enchente em

2003.

Page 20: Monografia - Alexssandra Vaz

20

8

A

B Município de Duque de

Caxias

Figura 1 Localização da Baixada Fluminense (A), em destaque o Município de Duque de Caxias (Modificado de Farias, 2005), visualização dos distritos (B) e imagem do bairro do Cangulo (C) em 2008. Fonte: Google Earth

C

A

Page 21: Monografia - Alexssandra Vaz

21

Figura 2. Planta do Bairro do Cangulo (Duque de Caxias), em A (2006), nota-se a falta de infra-estrutura urbana como calçamento, enquanto em B (1985) tem-se uma pequena lagoa que aterrada entre 2006 e 2007, em C visualiza-se área de remobilização de material, utilizado em obras. Em D tem-se a vista geral da REDUC, próximo do bairro do Cangulo. Fonte: Próprio autor

Sentido REDUC

A

B

C

D

9

Page 22: Monografia - Alexssandra Vaz

22

Figura 3. Bacia hidrográfica sujeita a inundação, a qual pertence o rio estrela (ressaltado em circulo), em A. Destaca-se em B o número dos pontos de enchentes em Duque de Caxias (Modificado de SEMADS, 2001), enquanto em C tem-se a visualização de área de inundada no bairro do Cangulo (Jornal do Brasil, 2003).

B

C

10

A

Page 23: Monografia - Alexssandra Vaz

23

4 Qualidade de Vida e Saneamento Ambiental

4.1 Qualidade de Vida

A qualidade de vida é um desejo comum entre as pessoas, independente da

sua posição social e de suas aspirações futuras, sendo imprescindível para o bem-

estar humano em qualquer fase da vida, desde a infância, quando é fundamental

para o desenvolvimento físico e mental, até a velhice. O viver bem pode ter diversas

visões e significados, mas talvez seja o objetivo fundamental das sociedades

humanas, assim como a busca por felicidade.

Após os anos 1920, os cientistas sociais se dedicaram a desenvolver

indicadores socioeconômicos como: perfil demográfico, atividade econômica e infra-

estruturas. Com o passar dos anos, a noção de qualidade de vida também começou

a ser discutida, e do ponto de vista do desenvolvimento, passou por uma evolução

(Silva, 2007), ganhando mais expressividade nos últimos 30 anos (Feu, 2007). Até

os anos 1950, o conceito estava relacionado diretamente ao víeis econômico (renda,

PIB, emprego), uma década depois já havia entrado no debate a questão do bem-

estar. Na década de 1970 o conceito ganhou uma conotação mais abrangente ao

considerar a questão social, como escolaridade, saúde e emprego, se tornando

“uma referência nas discussões do planejamento do desenvolvimento e dos padrões

de intervenção do Estado, principalmente no nível local” (Vitte, 2002 apud Silva,

2007, p. 40).

Já na década de 1980, é incorporado ao debate a questão ambiental. Tanto

no Brasil, como nos demais países da América do Sul, o fator ambiental ganhou

mais visibilidade a partir de três eventos de importância internacional: a Conferência

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizado na Suécia, em 1972; a

divulgação do “Relatório Brundtland”, no documento “Nosso Futuro Comum” da

Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1988), marco

referencial do conceito de desenvolvimento sustentável (Viola, 1992), e na

Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio-92

(1992). Dentre esses, a Rio-92 destaca-se como um marco na discussão ambiental

brasileira, onde o ambiente, passou a ser visto também como ambiente social e o

movimento ambientalista ganhou destaque como importante ator social (Viola,

1992). Contando com a participação de diversos segmentos da sociedade, o evento

Page 24: Monografia - Alexssandra Vaz

24

teve como principal fruto a elaboração da Agenda 21, colocando em pauta direitos e

responsabilidades em relação ao meio ambiente (Viola, 1992).

Dessa forma, a manutenção da qualidade de vida futura depende da

sustentabilidade urbana, que segundo a Agenda 21 brasileira depende, entre outras

estratégias, de:

- buscar o equilíbrio dinâmico entre população e a base ecológico-territorial,

diminuindo significativamente a pressão do homem sobre os recursos disponíveis ou

remanescentes;

- ampliar a responsabilidade ecológica, disseminando informação e

promovendo a capacidade dos diversos atores de identificar as relações de

interdependência dos fenômenos sociais, ecológicos, econômicos, e aceitar o

princípio da co-responsabilidade, isto é do governo e da sociedade para a gestão de

recursos (naturais e humanos), conforme exemplo da Figura 4;

- formular e implementar políticas sistemáticas de alteração dos padrões

atuais de produção e consumo. Buscar uma utilização menos intensiva de recursos

naturais na própria confecção dos produtos. Controlar e diminuir resíduos. Na linha

do consumo individual, vale a cultura dos “três erres” – reduzir, reciclar, reutilizar;

- recuperar áreas degradadas e repor estoque de recursos estratégicos (solo,

água, cobertura vegetal);

- manter a biodiversidade natural e cultural;

- combater a pobreza urbana, praticando os princípios da economia solidária

e promovendo sempre que possível estratégia de desenvolvimento econômico que

integrem dimensões ambientais relevantes (troca de lixo reciclável por cestas

básicas, mutirão de reflorestamento com remuneração da comunidade, garis

comunitários, recuperação de praças e jardins).

Page 25: Monografia - Alexssandra Vaz

25

Figura 4 Esquema demonstrando a importância da ação conjunta do poder público e da participação da comunidade para melhor condição de vida ambiental (Kobiyama et. al., 2008).

Se o bem-estar social depende das condições do meio físico, deve haver um

equilíbrio entre os componentes do sistema, que propicie um estado de normalidade.

Mudanças podem provocar um stress ambiental, sendo preciso compensá-lo

posteriormente por meio da restauração, recuperação ou reabilitação da condição

ambiental anterior. Toda localidade deve possuir a capacidade de produzir e

consumir reduzindo impactos, possibilitando assim uma sustentabilidade urbana.

Para que os municípios cumpram esse papel a administração pública deve

assegurar determinados serviços, que atendam às necessidades humanas de

sobrevivência de forma satisfatória. A qualidade de vida ambiental deve ser

produzida de forma socialmente justa, ambientalmente sustentável e

economicamente viável (Silva, 2006).

Constata-se que a qualidade de vida depende da interação entre os aspectos

do meio físico, do meio biótico e dos elementos socioeconômicos, e caminha junto

com a qualidade ambiental, devendo haver um equilíbrio entre ambas, porque “a

melhoria da qualidade de vida passa, necessariamente, pelo atendimento do

contexto ambiental onde se insere uma determinada população” (Silva, 2006).

Page 26: Monografia - Alexssandra Vaz

26

A palavra ambiente já não remete somente à idéia de natureza, é encarado

como “produto social resultante da relação sociedade-natureza no processo de

construção do espaço” (Galvão, 1992 apud Feu, 2007), ou seja, está associada ao

processo histórico de ocupação do espaço geográfico, a transformação da natureza

a partir do trabalho humano. Assim, o meio é analisado como ambiente socialmente

construído, houve uma junção entre o urbano e o ambiental. E sendo os problemas

ambientais todos aqueles que atingem negativamente a qualidade de vida das

pessoas, a partir da sua interação com o ambiente (Souza, 2000), estima-se que as

questões ambientais devem levar em consideração a forma como as sociedades se

organizam no espaço. Sendo assim, são questionáveis os grandes eventos

ambientais de caráter internacional, como os já citados acima, que lançam propostas

e objetivos em escala global, desconsiderando as peculiaridades de cada lugar.

Juntam no mesmo pacote diversos países que viveram processos históricos

diferentes, onde as relações sócio-ambientais são diferentes, com formas de

ocupação diferentes, devido à cultura diferenciada de cada povo. Dessa forma, os

debates ambientais precisam estar de acordo com o ambiente socialmente

construído, políticas ideais para um país podem ser irrelevantes para outro, se

considerarmos que nem todos os lugares apresentam as mesmas necessidades e

deficiências.

A qualidade de vida é uma abordagem de diversos campos disciplinares, mas

sobre o prisma geográfico é considerada a partir da construção social e histórica do

espaço.

Em uma perspectiva geográfica, o conceito de qualidade de vida e seu uso como instrumento à gestão do território (através de seus indicadores) permite a detecção de desigualdades espaciais que um determinado território apresenta, constituindo-se em uma base de diagnóstico e perspectiva útil aos processos de planejamento e formulação de políticas públicas para o desenvolvimento. (Feu, 2007, p. 2).

Para Souza (2002), o desenvolvimento vai além da esfera econômica, se

traduz numa mudança para melhor, porque altas taxas de crescimento econômico

não garantem a erradicação da pobreza, nem melhoria nas condições de vida. Tem

aqueles que acreditam que para o desenvolvimento de fato acontecer é necessário

haver um controle da natalidade e distribuição de terras. Mas o desenvolvimento

sócio-espacial só será de fato possível, quando houver mais justiça sócio-ambiental,

com melhor distribuição de renda e conseqüente erradicação da pobreza, não

adianta ter a posse da terra e viver segregado, sem os equipamentos urbanos

Page 27: Monografia - Alexssandra Vaz

27

mínimos necessários, como o saneamento básico, que permitam uma melhor

qualidade de vida ambiental.

A população tem o direito não somente ao saneamento básico, mas

principalmente ao saneamento ambiental que, conforme Kobiyama et. al. (2008),

visa o aproveitamento do meio ambiente para obter um bom saneamento, pois

possui alta potencialidade no alcance do desenvolvimento sustentável. Ainda de

acordo com Souza (2002), havendo justiça social “a satisfação das necessidades

básicas dos grupos menos privilegiados terá prioridade sobre a satisfação das

necessidades não-básicas dos grupos mais privilegiados” (p. 64), o que parece

inatingível nas sociedades modernas capitalistas, onde não existe equidade nem

comprometimento com os ideais de justiça entre os homens.

De acordo com Silva (2007), o debate sobre qualidade de vida ganha ainda

mais fôlego nos últimos anos a partir do planejamento, que para Souza (2002) deve

ter como objetivo fundamental o desenvolvimento urbano, que deve levar ao

aumento da justiça social, afirma ainda que “a finalidade última do planejamento e

da gestão é a superação de problemas, especialmente fatores de justiça social, e a

melhoria da qualidade de vida, ambos deveriam ser vistos como pertencentes ao

amplo domínio das estratégias de desenvolvimento” (p. 73). Segundo Souza (2000),

esses dois fatores estão interligados, são essencialmente complementares. O

planejamento é então referência para instrumentalizar à ação pública mediante o

conhecimento das necessidades coletivas, já que o planejamento ajuda no

cumprimento dos compromissos sóciopolíticos. “A avaliação das condições de vida

da população de um município através dos indicadores sociais pode revelar

situações importantes na identificação de carências e deficiências quanto ao acesso

a serviços e bens públicos” (Silva 2007, p. 1).

Segundo o mesmo, a qualidade de vida de uma população não deve ser

discutida “sem antes identificar e refletir sobre as condições que permitem satisfazer

as necessidades de bem-estar social dessa população” (p. 7). Assim, a qualidade de

vida depende tanto das condições de vida, que engloba a má distribuição de renda,

o baixo nível de escolaridade e as condições de habitação, quanto do déficit social,

definido por Jannuzzi (2003, p. 3) como a “parcela da demanda populacional não

atendida adequadamente em termos de programas sociais ou de bens públicos e

privados, segundo um padrão normativo desejável de bem-estar”.

Page 28: Monografia - Alexssandra Vaz

28

Outro fator importante na busca por qualidade de vida é a possibilidade de

maior autonomia para os indivíduos, nas palavras de Souza (2002), “sem autonomia

individual, dificilmente muitos dos fatores que garantem uma boa qualidade de vida

podem ser concretizados” (p. 66). Assim, qualidade de vida significa menos

privação, como acesso aos bens e serviços públicos, e mais liberdade (Feu, 2007).

Verifica-se que a complexidade do tema qualidade de vida engloba diferentes

dimensões no debate dos autores que tratam à questão, há inclusive, aqueles que

falam de fatores que negam a qualidade de vida, como o desemprego, a exclusão

social e a violência (Minayo et al., 2000). De acordo com a OMS (Organização

Mundial de Saúde), a qualidade de vida é definida como sendo “a percepção do

indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos

quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e

preocupações” (Silva, 2007. p. 10).

Em Nahas (2002 apud Silva, 2007):

o uso da expressão “qualidade de vida” remete à demanda por melhores condições de saúde e bem-estar, face aos impactos e desigualdades sociais geradas pelo crescente processo de urbanização, mas remete sobretudo, a componentes de caráter imaterial, imprimindo ao conceito o enfoque indivíduo, da pessoa, vinculado a aspirações por felicidade, bem-estar e satisfação social (p. 27).

Essa afirmação vai ao encontro de Souza (2000), que diz que a qualidade de

vida engloba:

coisas que não podem ser simplesmente adquiridas pelos indivíduos no mercado (e, em vários casos, nem se quer podem ser mensuradas, a não ser eventualmente, em uma escala ordinal), mas que interferem no seu bem-estar. Exemplos são a beleza cênica, a qualidade do ar e a liberdade política (p. 117).

Akerman (1996 apud Silva, 2006) “afirma que a qualidade de vida pode ser

entendida como a possibilidade de melhor distribuição e usufruto da riqueza social e

tecnológica auferida por um determinado agrupamento humano” (p. 29). O PIB

(Produto Interno Bruto) e o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) servem de

índices para avaliar a qualidade de vida em escala nacional, porém, não são

adequados para a realidade brasileira devido às suas diferenças regionais e enorme

heterogeneidade (Silva, 2006). Em âmbito nacional, dados da pequena minoria

detentora de renda escamoteia os resultados reais. Por isso, foi criado pelo IPEA

(Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) e pela Fundação João Pinheiro (1996),

o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), considerando os

indicadores: renda familiar per capta média, o número médio de anos de estudo da

população adulta (acima de 25 anos) e a taxa de analfabetismo. Cabe ressaltar que

Page 29: Monografia - Alexssandra Vaz

29

esse índice também é falho, em geral seus resultados não são capazes de mostrar o

conjunto da realidade, e acarretam na distorção quando avaliados.

Assim tanto os elementos ambientais quanto os socioeconômicos servem

para qualificar a vida da população, mas de acordo com Silva (2006), as

características sociais e econômicas sempre receberam maior atenção, assim como

todos os critérios sempre privilegiaram a vida na cidade em detrimento da vida no

campo.

É preciso considerar também que os padrões de qualidade podem variar de

um lugar para outro, de um indivíduo para outro, e da percepção individual dos

sujeitos. Segundo Feu, a “qualidade de vida não diz respeito somente a

necessidades básicas, os demais fatores estão ligados diretamente ao que cada

sociedade ou cultura valoriza” (2007, p. 9). Logo, a qualidade de vida não é

percebida da mesma forma em todos os lugares, não sendo possível um consenso

universal para o termo, principalmente devido à carga de subjetividade que carrega.

As prioridades para alcançar qualidade de vida ambiental nos países da Europa são

muito diferentes das prioridades dos países latino-americanos, por exemplo. Nesses,

onde o processo de urbanização acelerado não contou com o planejamento

necessário, a qualidade de vida é mais discutida a partir da não universalização de

parâmetros como direito à moradia, alimentação saudável, serviços de saúde,

educação e saneamento básico (Feu, 2007).

Os tipos de bens e aspirações almejadas pelas diferentes classes sociais

variam muito, mesmo que concentradas na mesma área territorial da cidade, já que

as realizações possíveis e as oportunidades oferecidas não são acessíveis a todos.

São grandes as diferenças em relação aos níveis de exigência para a satisfação,

“isso está ligado à questão da percepção individual, e também às conquistas já

realizadas (ou não realizadas) pela população em relação aos direitos sociais,

fazendo com que as aspirações e níveis de exigência mudem” (Feu, 2007, p. 20).

Se analisarmos do ponto de vista da habitação, sendo a salubridade, no

tocante à habitação um indicador muito útil para avaliar a qualidade de vida (Souza,

2002), percebe-se que algumas pessoas possuem rede de esgoto em casa

enquanto outras não, o que acaba sendo igual para todas se considerarmos a

necessidade de um rede coletora que envolva todo o bairro, já que os dejetos de

todas as casas tem o mesmo destino final, ou seja, algumas questões que envolvem

a qualidade de vida só fazem sentido quando pensadas a partir da coletividade,

Page 30: Monografia - Alexssandra Vaz

30

como bens e investimentos públicos, obras de engenharia e infra-estrutura em

saneamento básico, que visam o bem coletivo da população.

Assim, concorda-se com todas as interpretações sobre a qualidade de vida

apresentadas acima, mas pretende-se analisá-la a partir da questão estrutural da

população com seu local de moradia. Devido à multiplicidade do conceito, vamos

pensá-lo no âmbito local, mediante as necessidades coletivas do conjunto dos

moradores que podem refletir em melhoria de vida ambiental para todos, avaliando

suas satisfações e insatisfações, mesmo que não tenham consciência sobre seus

direitos sociais garantidos juridicamente. Segundo Feu (2007), a imprecisão com

relação à qualidade de vida está associada ao uso que se dá ao conceito, e não a

sua definição, aqui vamos utilizá-lo para atentar às necessidades dos moradores do

bairro que visem seu bem-estar pleno.

4.2 Saneamento Ambiental

4.2.1 História do Saneamento na Baixada Fluminense: lutas e

ações

A Baixada Fluminense, ao longo da sua história, passou por vários processos

de crescimento econômico com importância significativa para a economia do Estado

do Rio de Janeiro, principalmente devido a sua localização e às características do

solo e dos rios, que eram navegáveis. Participou da produção açucareira (século

XVII); do escoamento do ouro entre Minas Gerais e a metrópole, através dos portos

(século XVIII); da produção cafeeira (século XIX); e da produção de laranjas (século

XX).

Devido esses fatores econômicos, durante as décadas de 1920 e 1930,

aumentaram os investimentos públicos visando a melhoria de infra-estrutura da

região, porém, de acordo com Amador (1997)

o saneamento da Baixada foi sem dúvida um dos exemplos mais perversos de agressão a natureza e reprodução e acumulação de capital, praticados com recursos públicos. Enormes somas de dinheiro foram utilizadas na valorização das terras de grandes proprietários, que as adquiriam (se é que adquiriram) por preço vil, e as revenderam com grandes lucros, na medida em que passaram a ser loteadas e vendidas para a população proletária, que foi empurrada para a Baixada inóspita (p. 338).

Já na década de 40, com o declínio do ciclo da laranja houve a necessidade

de redirecionar as atividades econômicas, passando a interessar os loteamentos

Page 31: Monografia - Alexssandra Vaz

31

populares (Oliveira, 1991). “Os loteamentos que se desenvolveram na Baixada

Fluminense na sua grande maioria não tiveram nenhum planejamento nem seguiram

as condições mínimas de infra-estrutura” (p. 11). Resultando em uma ocupação

desordenada e predatória sob o ponto de vista urbano e ambiental.

A ocupação sem planejamento mais o assoreamento dos canais ocasionou

problemas de insalubridade que afetavam a qualidade de vida daquela população.

Para o autor, a luta pelo saneamento básico era a luta pela democracia, porque ela

permite o acesso de milhões de pessoas a melhores condições de vida. O saneamento básico possibilita melhores condições de saúde, acessibilidade, segurança, lazer e relação saudável como o meio ambiente. O direito ao saneamento básico possibilita, enfim, uma melhor apropriação da cidade por seu habitante (p. 65).

Segundo Monteiro (2008), entre os anos de 1906 e 1930 ocorreram algumas

tentativas de sanear a Baixada Fluminense, foram propostas políticas de

saneamento para toda a região que se encontrava em estado pantanoso propício às

endemias. Em 1910, durante o governo Nilo Peçanha foi criada uma comissão para

estudar a região, desencadeando algumas obras até 1916. No governo Getúlio

Vargas em 1930 foram criadas propostas um pouco mais eficazes para a

configuração da área (Monteiro, 2008). Em 1933 foi criada a Comissão de

Saneamento da Baixada Fluminense, sob subordinação do Departamento de Portos

e Navegação do Ministério da Aviação e Obras Públicas. Esta tornou-se autônoma

em 1936 passando a chamar-se Diretoria de Saneamento da Baixada Fluminense,

“que representou a consolidação da atuação dos engenheiros na intervenção

ambiental visando o saneamento de regiões rurais” (Fadel, 2008, p. 1), legitimando

as medidas de combate à malária, sob comando do engenheiro Hildebrando de

Araújo Góes.

Órgão de escala nacional, o DNOS (Departamento Nacional de Obras e

Saneamento) criado na década de 1940, afirma em seus relatórios ter saneado

4.500 quilômetros da região e desobstruído 3.800 quilômetros de rios, além da

construção de diques, canais e reservatórios de compensação (Monteiro, 2008).

Anos mais tarde, o autoritarismo do golpe militar de 1964 desarticulou diversas

organizações e perseguiu lideranças populares e sindicais. Na Baixada a

desarticulação mais imediata foi nos centros pró-melhoramentos de bairros (Oliveira

et. al., 1995). Ainda assim, no final da década de 70 a ONG FASE (Federação de

Órgãos para Assistência Social e Educacional) começa a atuar na Baixada,

Page 32: Monografia - Alexssandra Vaz

32

articulando as federações de moradores e capacitando suas lideranças, papel

desempenhado até os dias atuais.

O PLANASA (Plano Nacional de Saneamento) foi criado em 1971 com

recursos do BNH (Banco Nacional de Habitação) para superar o déficit no acesso

aos serviços de saneamento, se antes o objetivo era o controle das enchentes

vinculado aos interesses econômicos da Baixada, dentro desse projeto a meta para

a região passou a ser o abastecimento de água. Durante esse período, segundo

Porto “a Baixada Fluminense, na qualidade de espaço periférico, tem intervenções

pontuais, geralmente concentradas nos centros dos seus municípios e capturadas

pelos interesses políticos e eleitorais que dominam essas cidades” (2003, p. 63).

Na segunda metade da década de 70 ressurgem os movimentos populares,

articulados com dois atores importantes, a igreja católica com as comunidades

eclesiais de base (CEBs) e os partidos comunistas, com destaque para o PCB

(Partido Comunista Brasileiro) e o PC do B (Partido Comunista do Brasil). Ambos

atuavam na denúncia do autoritarismo e na crítica à espoliação urbana,

principalmente na questão da saúde e das enchentes. “As enchentes eram nesse

período a calamidade pública que denunciava a ausência de serviços de

saneamento que atingia o conjunto dos moradores da região” (Porto, 2003, p. 65).

Até início da década de 1980 a luta pelo saneamento da Baixada se apoiava no

discurso da espoliação urbana e da desigualdade social.

Em 1984 surge o Comitê Político de Saneamento da Baixada Fluminense,

uma conquista das federações de moradores de Nova Iguaçu – Movimento Amigos

do Bairro (MAB); Duque de Caxias – Movimento União de Bairros (MUB); São João

de Meriti – Amigo de Bairros de Meriti (ABM); Nilópolis – Pró-Federação das

Associações de Moradores de Nilópolis. Inicialmente faziam manifestações públicas

diante da sede dos governos municipais, posteriormente estenderam as

reivindicações ao governo do Estado. Lutavam com o apoio da igreja católica pela

melhoria das condições de habitalidade, denunciando o abandono da região,

promoviam encontros para discutir os problemas comuns e elaborar as

reivindicações, sendo as principais:

• Maior aplicação de verbas públicas em saneamento básico para a

Baixada;

• Prioridade dos orçamentos municipais e estaduais para saneamento

básico;

Page 33: Monografia - Alexssandra Vaz

33

• Participação das associações de moradores através de suas

federações, nos planejamentos e projetos de obras;

• Aplicação de recursos de maneira integrada, oriundos do governo

municipal, estadual e federal.

Toda essa articulação promoveu um encontro com o então Secretário de

Obras e Meio Ambiente, Luis Alfredo Salomão, em dezembro de 1984, culminando

na elaboração do Plano Global de Saneamento e Meio Ambiente na Baixada

Fluminense. As obras começaram em 1985, mas foram paralisadas no ano seguinte

com a extinção do BNH, pelo governo José Sarney. As obras retomadas em 1987

sob o governo Moreira Franco não foram suficientes para evitar as enchentes de

1988 que deixaram milhares de desabrigados na região. Outras ações importantes

foram a inauguração da primeira estação piloto de tratamento de esgoto da Baixada,

em Vilar dos Teles (1989) e as obras de limpeza e canalização dos rios e afluentes

(1990).

As enchentes de 1988 que deixaram à região em estado de calamidade

reorientaram a agenda política do comitê, elaborando um plano emergencial de

saneamento. Mobilizações de massa serviram para que o Estado elaborasse um

projeto de macro e mesodrenagem que viesse a minimizar as enchentes, dentro do

Projeto Reconstrução Rio. Entretanto, o comitê precisou organizar uma caravana

para Brasília com mais de 20 ônibus para pressionar o Governo Federal, pois

mesmo com a aprovação do projeto pelo Banco Mundial as obras esperaram dois

anos para ter início. Esse projeto foi de ação emergencial e esteve centrado na

prevenção das enchentes. Entretanto, devemos considerar o caráter paliativo

dessas obras, “visto que as condições climáticas (de chuvas intensas), de topografia

(terrenos baixos) e de geologia serão mantidas, e que persistem os fatores

responsáveis pelo assoreamento dos canais fluviais, como o desmatamento, o uso

irracional do solo e a erosão na bacia” (Amador, 1997, p. 377). Dessa forma, o cerne

do problema persiste, ocorrendo apenas uma ilusão temporária de recuperação da

área, que estimula as ocupações.

Em 1990 a dimensão ambiental foi incorporada à luta do comitê, que passou

a chamar-se Comitê Político de Saneamento e Meio Ambiente da Baixada

Fluminense. Mais tarde, em 1994, introduziu uma nova temática - a habitação,

passando a chamar-se Comitê Político de Saneamento, Habitação e Meio Ambiente

da Baixada Fluminense. Esse órgão era reconhecido pelo Estado como interlocutor

Page 34: Monografia - Alexssandra Vaz

34

do movimento organizado, se constituiu como uma das principais organizações

populares do Rio de Janeiro.

A luta do comitê era uma luta clara pela cidadania, por justiça sócio-

ambiental. Em 1991, solicitaram uma audiência pública com o então, governador do

Estado Leonel Brizola, através de uma carta com o título “Saneamento Básico:

direito à cidade, direito à vida”, que ressaltava:

A luta pelo saneamento básico da Baixada significa para sua população sofrida melhores condições de vida. Significa diminuir os índices de mortalidade infantil e os números de doentes; ter mais segurança no seu local de moradia; ter direito a morar com dignidade, com espaços de lazer e um ambiente ecologicamente saudável. Enfim, a luta pelo saneamento altera consideravelmente as desigualdades sociais impostas ao povo da Baixada Fluminense.

Com a eleição de Marcelo Alencar para o governo do Estado pelo PSDB

(Partido da Social Democracia Brasileira) houve uma desarticulação do Comitê com

a esfera governamental, que estruturou uma política enfraquecedora em torno do

saneamento, dando vez às máquinas partidárias clientelistas locais (Porto, 2003).

Passou a vigorar uma nova política de saneamento dentro do Programa Baixada

Viva (PBV), com atuação reduzida para o âmbito dos bairros, contando com atuação

da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) no intuito de desenvolver

estudos e reuniões com objetivo de intervenção no PBV.

4.2.2 O Programa de Despoluição da Baía de Guanabara

É de suma importância, considerar o Programa de Despoluição da Baía de

Guanabara (PDBG) ao analisar os programas de saneamento na Baixada

Fluminense, de acordo com Kornis e Vargas (2002) esse é o mais ambicioso projeto

de intervenção ambiental da história recente do Estado do Rio de Janeiro. E um

“instrumento de melhoria da qualidade de vida dos habitantes dos 15 municípios

limítrofes com a Baía de Guanabara” (Kornis e Vargas, 2002, p. 16). Constitui uma

tentativa de reverter o quadro de degradação ocasionado pelo modelo de

desenvolvimento, segundo Amador (1997), o modelo agrícola-exportador e depois o

industrial-urbano promoveram “modificações radicais no cenário físico e humano da

região da Guanabara” (p. 8). Segundo o mesmo, a ocupação da região foi

predatória, e as atividades no seu entorno geram problemas ambientais assim como

sua utilização para transporte de cargas e mercadorias, “a atividade que é dádiva da

baía colabora efetivamente para sua destruição” (p. 333). Com a execução do Plano

de Metas do presidente JK (marco do crescimento da poluição da Baía de

Page 35: Monografia - Alexssandra Vaz

35

Guanabara) a baía passou por vários aterros para instalação de indústrias, com

destaque para a construção da refinaria de Duque de Caxias (REDUC), hoje

considerada a principal fonte de poluição das águas da baía.

Esse crescimento urbano-industrial atraiu um fluxo migratório de

trabalhadores ocasionando um incremento populacional da metrópole, o que

aumentou consideravelmente os níveis de degradação da baía devido à falta de

planejamento urbano:

A maioria esmagadora da população da Bacia da Guanabara vive em condições de miséria, desassistida dos serviços urbanos mais elementares como saneamento básico, rede de esgoto, coleta de lixo, transportes adequados etc. o que acaba comprometendo a Baía de Guanabara, que recebe quase todo o esgoto bruto produzido na Baixada e o lixo flutuante trazido pelos rios (Amador, 1997, p. 346).

Outros problemas são decorrentes dos desmoronamentos, assoreamento,

lançamento de esgoto e resíduos sólidos, elementos líquidos industriais, entre

outros.

O PDBG começou a ser discutido na década de 1980, principalmente a partir

de 1987, quando foi criada a Comissão para a Recuperação Gradual da Baía de

Guanabara, integrada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA),

Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), Instituto Estadual de

Florestas (IEF), Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA), e a

Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano e Regional. Em 1991, é firmado um

convênio entre o Brasil e o Japão para realizar junto a FEEMA um diagnóstico dos

processos de deterioração socioambiental da Baía de Guanabara, e em 1993 o

governo do Estado cria a Comissão Coordenadora para a Execução do PDBG. Com

apoio do Banco Internacional de Desenvolvimento (BID), o programa entra em

funcionamento em 1994 com a missão de recuperar a Baía de Guanabara, tendo

como prioridade o saneamento básico (Kornis e Vargas, 2002), e como principais

objetivos reduzir a carga orgânica industrial, a carga orgânica do esgoto lançado “in

natura”, a carga tóxica industrial, o volume de óleos e graxas e o destino do lixo

produzido. Para os autores, esse é um ambicioso projeto ambiental com impacto

direto sobre o desenvolvimento do Rio de Janeiro.

O programa é realizado por etapas e conta com agências co-executoras para

gerenciamento técnico, administrativo e financeiro em unidades próprias. Sob a

coordenação da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE), pretende

melhorar a oferta de água tratada na Baixada Fluminense, e em São Gonçalo,

beneficiando 1 milhão de habitantes. Outros 5 milhões serão beneficiados com os

Page 36: Monografia - Alexssandra Vaz

36

investimentos em esgotamento sanitário, mediante a construção e recuperação de

estações de tratamento de esgoto (ETE), assentamentos de rede coletora,

construção de emissários terrestres e submarinos, estações elevatórias e ligações

domiciliares. Já os resíduos sólidos ficam a cargo da Secretaria de Estado de Obras

e Serviços Públicos (SOSP), para melhorar os sistemas de coleta e destinação do

lixo, com instalação de usinas de reciclagem e compotagem, aterros sanitários e

aquisição de veículos de coleta. Neste setor Duque de Caxias merece atenção

especial devido à presença do aterro sanitário de Jardim Gramacho, devido a sua

extensão, e sua localização às margens da Baía, e pela consequente quantidade de

resíduos que recebe (5.000 toneladas/dia) de vários municípios do Estado. Calcula-

se o beneficiamento de 2,8 milhões de pessoas. A macrodrenagem é de

responsabilidade da SERLA, e compreende obras de canalização, retificação e

recuperação dos muros laterais de rios, visando o controle de enchentes, sendo

capaz de beneficiar 550 mil habitantes, principalmente de comunidades ribeirinhas.

Em suma, no decorrer das três últimas décadas, a Baixada recebeu pelo

menos seis grandes projetos de saneamento: Plano de Impacto (1975); Projeto

Especial de Saneamento para a Baixada Fluminense e São Gonçalo (1984); Plano

de Setorialização da Rede de Abastecimento de Água da Baixada (1986); Projeto

Reconstrução Rio (1988); Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (1994);

Programa Nova Baixada (1995). Porém, para Porto (2003), ainda está “longe de

expressar maior justiça social e ampliação dos direitos da cidadania. Na região ainda

vigoram fortes desigualdades sociais e ambientais, que se traduzem no baixo

acesso a bens e serviços urbanos” (p. 14). O saneamento é encarado como uma

questão social na Baixada Fluminense, porque as políticas adotadas atendiam as

necessidades de uma clientela específica.

Para o autor, o padrão das políticas públicas de saneamento adotadas na

Baixada nos últimos 30 anos foram patrimonialistas e clientelistas, fundado na

apropriação privada dos recursos públicos, para atender as elites locais e as

empreiteiras responsáveis pela execução das obras. O que explica o fato de 1 bilhão

de dólares investidos não terem causado alterações significativas na qualidade de

vida da população.

Page 37: Monografia - Alexssandra Vaz

37

4.2.3 Saneamento e saúde

É de conhecimento mundial a relação existente entre saneamento e saúde,

principalmente por parte da ciência médica, responsável pelo diagnóstico e

tratamento das enfermidades humanas. Países desenvolvidos apresentam melhores

condições de saneamento ambiental, o que pode ser atribuído a uma melhor

qualidade de vida da sua população. Enquanto países não desenvolvidos,

principalmente na África, América do Sul e partes da Ásia, enfrentam problemas de

saúde quase inexistentes entre os países ricos. São problemas associados à falta de

infra-estrutura urbana, como os serviços de saneamento básico, que ainda matam

centenas de pessoas todos os anos (Figura 5), principalmente aquelas que vivem

em áreas abandonadas pelo poder público, em contato com valas-negras, esgoto a

céu aberto, água sem tratamento, ruas sem pavimentação.

O quadro de desigualdade social verificado entre países e regiões está

associado aos problemas de saúde relacionados à pobreza e à falta de acesso a

políticas sociais, e os investimentos em promoção de saúde não dão vazão à

demanda. Pesquisa do Datafolha revelou que 29% dos entrevistados citaram a

saúde como sendo o principal problema do Brasil (Folha de São Paulo, 31/03/2008).

No país, a falta de saneamento básico ainda é responsável por um grande número

das internações nos hospitais públicos. Ou seja, fica evidente que a “dimensão

ambiental penetra no social” (Iniguez e Oliveira, 1996, p. 2). É possível estabelecer

uma relação entre a queda da mortalidade infantil e o aumento da expectativa de

vida às melhorias das condições sanitárias (Minayo et al., 2000; Minayo, 2006).

Vemos constantemente ruas sem calçamento, inexistência de redes de

esgotos e para o escoamento das águas pluviais, valas negras e mosquitos. Toda

essa precariedade urbana é intensificada pela falta de postos de saúde e hospitais

capazes de atender as necessidades dos moradores. Assim, o descuido com a

saúde pública e o saneamento faz com que essas periferias tornem-se espaços de

endemias e epidemias (Corrêa, 2001). É inadmissível, o número de pessoas

acometidas por parasitoses, doenças de pele, respiratórias e diarréicas, que na

maioria das vezes tem como causa a falta de higiene e, como agravamento o próprio

local de moradia, que deveria ser assistido pelo poder público. Sendo o espaço

geográfico produzido socialmente, possui formas associadas ao poder político,

econômico, sócioambiental e cultural. É uma das funções da geografia, assim como

Page 38: Monografia - Alexssandra Vaz

38

de outras ciências, estudar a produção do espaço e seus agentes modeladores,

buscando a compreensão das desigualdades sociais e do ordenamento espacial.

Dessa forma, encontra-se na saúde da população mundial respaldo para as lutas e

reivindicações por melhores condições de moradia, de vida.

Em Corrêa (1988) vemos que caminham juntos, “a subnutrição, as doenças, o

baixo nível de escolaridade, o desemprego, ou o subemprego (p. 29)”. Enquanto,

Jannuzzi diz que os tipos e formas dos domicílios é outro fator que deve ser

considerado, para buscar melhores condições de vida:

A adequação domiciliar na zona urbana depende, entre outros fatores, do acesso à rede de serviços de infra-estrutura básica de luz elétrica, abastecimento de água tratada, saneamento e coleta de lixo. Historicamente os grandes progressos contra a mortalidade infantil no Terceiro Mundo, decorrente de doenças infecto-parasitárias, se devem à ampliação da cobertura desses serviços. (Jannuzzi, 2003, p. 109)

A água como substância essencial à existência dos homens é um direito de

todas as sociedades, mas segundo Clarke e King (2005) mais de 1 bilhão de

pessoas não tem acesso a fontes de água segura, e que 2,3 bilhões de pessoas

sofrem de doenças disseminadas pela água, informações compartilhadas também

pela OMS. O Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (2007) aponta a febre

tifóide, a disenteria, o cólera, a diarréia, a hepatite, a leptospirose e a giardíase como

sendo as enfermidades mais transmitidas pela água no país. Dentre elas, a diarréia

é a de maior abrangência entre os países não desenvolvidos, “cerca de 4 milhões de

pessoas são afetadas anualmente, e muitas delas, na maioria crianças, morrem em

conseqüência da desidratação que acompanha os casos de diarréia” (Clarke e King,

2005, p. 47), conforme mostra a Figura 5. O TCE-RJ (2007) ressalta ainda que “a

água de qualidade também é importante fator de inclusão social, uma vez que a

população de baixa renda dificilmente tem condições de pagar medicamentos para

tratar as doenças de veiculação hídrica, ou até mesmo ter recursos para acesso à

água de qualidade para beber” (p. 15).

Page 39: Monografia - Alexssandra Vaz

39

Figura 5 Estimativa de países afetados por mortes a partir da precariedade de qualidade e acesso a água, esgoto e falta higiene, em 2000 (Clarke e King, 2005).

Muitos estudiosos têm desenvolvido pesquisas que apontam a relação direta

entre a qualidade da água servida e disponível e a saúde da população, dentre os

serviços de saneamento básico, esse é o que tem recebido maior atenção nos

trabalhos acadêmicos. Razzolini e Günther apontam que “a falta ou a precariedade

do acesso à água representa situação de risco que propricia aumento da incidência

de doenças infecciosas agudas e da prevalência de doenças crônicas” (2008, p. 21),

conforme Quadro 1. Ainda corroboram, que as condições de abastecimento trazem

conforto, bem-estar, prática de hábitos de higiene e produtividade econômica.

Áreas sem rede de abastecimento de água, além de agravar as condições de

vida obriga a busca por fontes alternativas, onde a qualidade sanitária é duvidosa. O

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em trabalho

desenvolvido em 2005, estabeleceu como meta no documento Objetivos do

Page 40: Monografia - Alexssandra Vaz

40

Desenvolvimento do Milênio, reduzir em 50% a população mundial sem acesso à

água segura. Assim, reduziria as longas distâncias percorridas diariamente por

pessoas (principalmente mulheres e crianças) para buscar água em outras fontes,

que pode comprometer sua estrutura física, devido o peso carregado em baldes e

vasilhames, às vezes sobre a cabeça, propiciando a ocorrência de doenças

crônicas, como as dores nas costas. Essa prática é ainda mais grave quando

praticada por crianças, já que a ossatura não está devidamente formada,

comprometendo seu desenvolvimento (Razzolini e Günther, 2008).

O abastecimento seguro e constante também evitaria a prática de estoques,

que propicia a criação de larvas. Na maioria dos casos a coleta, o transporte e o

armazenamento da água são feitos de forma inadequada, os utensílios utilizados

ficam nos quintais, sem proteção alguma, e podem estar sujos, contaminando a

água. E por dispor de um volume diário baixo, muitas atividades são comprometidas,

como a higienização das roupas, o banho diário, a lavagem das mãos e utensílios

domésticos e o preparo dos alimentos (Quadro 2).

Segundo Feachem e col (1983 apud Razzolini e Günther, 2008) existem cinco

grupos de enfermidades associadas à água: a) vinculadas à falta de higiene pessoal

e doméstica pela ineficiência do abastecimento; b) contato com a água; c)

transmitida por vetores aquáticos; d) as que são disseminadas pela água, e e) as

que são transmitidas pela água. Exemplos são os casos de febre tifóide, de

tracomas, de diarréias, de parasitoses, dores de barriga e doenças de pele. E os

indivíduos mais atingidos e suscetíveis a essas doenças são aqueles com sistema

imunológico comprometido, seja por desnutrição ou por não estar plenamente

desenvolvido, como as crianças menores de cinco anos. Também se enquadram os

idosos e os imunodeprimidos.

No mundo todo, as crianças são indiscutivelmente as mais prejudicadas. A

diarréia que atinge amplamente essa classe etária pode matar por causar

desidratação, e em sua fase crônica a criança já desnutrida fica ainda mais

vulnerável. Quando não mata debilita o doente de tal forma que torna-se facilmente

suscetível a outros males. Um bom exemplo é a esquistossomose, parasita que

retarda o crescimento e o desenvolvimento das crianças. Não dá para afirmar se a

pobreza agrava essas doenças ou se é a própria causa delas.

No Brasil, a qualidade da água para atendimento humano deve atender a

padrões de potabilidade, segundo a Portaria nº 518/2004 (Ministério da Saúde), a lei

Page 41: Monografia - Alexssandra Vaz

41

especifica parâmetros físico-químicos, químicos e bacteriológicos por contaminação

fecal. Fezes humanas ou animal contaminam a água com bactérias e outros agentes

causadores de doenças infecciosas (disenteria amebiana, cólera, tifo, e poliomielite).

O solo também é contaminado por esses agentes patogênicos, constituindo perigo

para as pessoas que estão em contato direto com ele.

Quadro 1 Modelo de classificação ambiental de infecções e principais medidas de controle (Razzolini e Günther , 2008)

Classificação

Infecção

Via dominante

de transmissão

Principais medidas de controle

Doenças feco-orais não-

bacterianas

Enterobíase,amebíase, giardíase, balantidíase

Pessoal e doméstica

• Abastecimento doméstico de água

• Educação sanitária • Melhorias habitacionais

• Instalação de fossas

Doenças feco-orais

bacterianas

Salmonelose, cólera, disenteria bacilar, diarréia por E. Coli

Pessoal, doméstica, por água e alimentos

• Abastecimento doméstico de água

• Educação sanitária • Melhorias habitacionais

• Instalação de fossas • Tratamento dos excretas antes do

lançamento ou do reuso da água

Helmintos do solo

Ascaridíase, tricuríase, ancolostomíase

Jardim, campos e culturas agrícolas

• Instalação de fossas • Tratamento dos excretas antes da aplicação no solo

Teníases

Teníases

Jardim, campos e pastagens

• Instalação de fossas • Tratamento dos excretas antes da aplicação no solo

Helmintos hídricos

Esquistossomose e outras doenças causadas por

helmintos

Água

• Instalação de fossas • Tratamento dos excretas antes do

lançamento na água • Controle do reservatório

animal Doenças

transmitidas por insetos

Filariose e todas as infecções anteriores, das quais moscas e baratas podem ser

vetores

Vários locais contaminados

por fezes

• Identificação e eliminação de criadouros

de insetos vetores

Page 42: Monografia - Alexssandra Vaz

42

Quadro 2 Relação entre o nível de acesso a água versus necessidades atendidas e grau de efeitos à saúde (Razzolini e Günther , 2008)

Nível de acesso

Distância percorrida e tempo gasto

Provável volume

coletado

Demanda atendida

Grau de efeitos

Sem acesso

> 1 km e > 30 minutos

Muito baixo (em torno de 5 L per capita

por dia)

Consumo não assegurado, o que

compromete a higiene básica e dos

alimentos

Muito alto

Acesso básico

< 1 km e < 30 minutos

Média não excede a 20 L per capita por

dia

Consumo pode ser assegurado e deve-

se possibilitar a higiene básica e dos

alimentos. Há dificuldade de se

garantir a lavagem da roupa e banho,

atividades que podem ocorrer fora dos

domínios do domicílio

Alto

Acesso intermediário

Água fornecida por torneira pública (à

distância de 100 m ou 5

minutos para coleta)

Média aproximada de 50 L per

capita por dia

Consumo assegurado. Não há comprometimento da higiene básica e dos alimentos. É possível garantir a lavagem da roupa e o banho, que

provavelmente ocorrem dentro dos

domínios do domicílio

Baixo

Acesso ótimo

O Suprimento de água ocorre

mediante múltiplas torneiras

Média aproximada de 100 L a 200 L per

capita por dia

Consumo assegurado. Práticas

de higiene não comprometidas.

Lavagem da roupa e banho ocorrem dentro

dos domínios do domicílio

Muito baixo

A ausência da rede de esgoto agrava ainda mais esses problemas, “o

descarte seguro das fezes humanas é um fator básico na luta contra muitas doenças

infecciosas, e o esgoto seguro sem tratamento constitui um problema de saúde

permanente” (Clarke e King, 2005, p. 50). O despejo sem tratamento em rios, lagos

e oceanos é um problema a ser enfrentado por todos os países, mas nas áreas mais

pobres existe carência até de instalação de vasos sanitários. Assim, falta

privacidade e incentivo para as práticas de higiene, é impossível ensinar as crianças

a lavar as mãos após fazer suas necessidades fisiológicas se elas não dispõem de

banheiro, torneiras e água. Razzolini e Günther completam que “as ações de

Page 43: Monografia - Alexssandra Vaz

43

saneamento se tornam ainda mais efetivas quando acompanhadas de intervenção

de educação sanitária, capazes de promover mudança comportamental na

população, que se traduz na incorporação de hábitos e práticas de higiene” (p. 29).

Melhores condições de governabilidade, desempenho do governo são necessários

para terminar com esse quadro de insustentabilidade ambiental e desrespeito aos

direitos humanos. Verificados na iniqüidade social, na degradação ambiental e na

exclusão dos serviços públicos básicos.

Analisando especificamente os dados de saneamento básico do município de

Duque de Caxias, o estudo socioeconômico do município apresentado pelo TCE-RJ

(2007), apurou dados no ano 2000, informando que “no tocante ao abastecimento de

água, Duque de Caxias tem 69,3% dos domicílios com acesso à rede de

distribuição, 27,9% com acesso à água através de poço ou nascente e 2,7% têm

outra forma de acesso à mesma” (p. 17). Pesquisas também foram feitas com

relação aos resíduos urbanos, no tocante ao município caxiense, o TCE-RJ (2OO7)

informou que “88,9% dos domicílios tem coleta regular de lixo, outros 3,6% têm seu

lixo jogado em terreno baldio ou logradouro, e 6,8% o queimam” (p.18). Já a

Fundação CIDE (2006) informa que são coletadas 756,8 toneladas de lixo por dia

em Caxias, tendo como destino o Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, no

próprio município. No relatório do TCE-RJ (2007) “a rede coletora de esgoto

sanitário chega a 57,1% dos domicílios do município; outros 20,9% têm fossa

séptica, 4,3% utilizam fossa rudimentar, 13,2% estão ligados a uma vala, e 3,5% são

lançados diretamente em um corpo receptor (rio, lagoa ou mar)” (p. 18).

Pesquisa divulgada pela ENSP (Escola Nacional de Saúde Pública) com

dados do IPEA (2008) revela que “apesar do crescimento de 3,2 pontos percentuais

desde 2001 na cobertura dos serviços de saneamento no país, 34,5 milhões de

pessoas ainda vivem sem acesso à coleta de esgoto nas áreas urbanas” (Fiocruz,

2008). No mesmo artigo, pesquisadora da instituição diz: "os mais pobres têm

menos saneamento, é isto que temos que discutir" (p. 01) e pesquisador do Ipea e

Anac “cita dados dos censos demográficos de 1980 a 2000 e mostra que as famílias

com renda acima de dez salários mínimos têm cobertura de água 50% maior e, na

coleta de esgoto, quase 100%, concluindo que os investimentos, embora

majoritariamente públicos, não conseguiram anular os efeitos da concentração de

renda (p.02). Confirmando a relação direta entre pobreza, carência dos serviços de

saneamento básico e doenças, conforme elucida a Figura 6.

Page 44: Monografia - Alexssandra Vaz

44

Figura 6 Esquema do ciclo de relação entre água, saneamento e pobreza (Razzolini e Günther, 2008).

4.2.4 Tipos e Equipamentos de Saneamento

A distribuição pública de água exige sua posterior coleta, para afastamento

da área servida capaz de evitar a poluição do solo e contaminação das águas

superficiais e subterrâneas. De acordo com Pereira (2003) “o rápido afastamento

dos dejetos e águas servidas é um dos objetivos quando da construção das

habitações, o que precisa ser realizado de forma tecnicamente correta, pois, caso

contrário, essas águas residuárias poderão poluir/contaminar as proximidades e até

mesmo locais mais distantes da habitação, trazendo conseqüências danosas e

desagradáveis para o meio ambiente e para a saúde pública” (P. 37).

São comuns as reivindicações por abastecimento de água, mas pouco nota-

se em relação as manifestações em prol da instalação de rede de esgoto, e muitos

ainda desconhecem sua necessidade de tratamento. Considerando o abastecimento

de água e a rede de esgoto que são elementos fundamentais e inseparáveis do

saneamento básico, segue uma abordagem sobre os principais tipos desses

equipamentos (Layrargues, 2002, Rosso et. al., 2002, Braga et al., 2002).

����Esgoto e Água

Existem três tipos básicos de esgoto:

Page 45: Monografia - Alexssandra Vaz

45

1) Esgoto Sanitário: proveniente de atividades domésticas,

comerciais e públicas, composto basicamente por substâncias orgânicas,

água de banhos, fezes, urina, restos de comida, sabão e detergentes;

2) Esgoto Industrial: composto por substâncias orgânicas e

minerais, pode causar obstruções e corrosões na tubulação devido à

presença de resíduos ácidos;

3) Esgoto Pluvial: é intermitente e sazonal por depender do regime

de chuvas, a precipitação provoca lavagem do terreno, telhados, tubulações,

entre outros. Possui elevada carga poluente e muitas vezes é difícil conter

seu fluxo para tratamento.

A população em sua maioria não dá muita atenção ao manejo de águas

pluviais, que consiste no “conjunto de intervenções estruturais e não estruturais, com

o objetivo de controlar o escoamento superficial das cidades, evitando assim

desastres naturais relacionados ao excesso de água e doenças decorrentes de

inundações” (Bernardes et al., 2006 apud Kobiyama et al., 2008). Segundo os

autores, o manejo das águas pluviais é fundamental no contexto da saúde pública,

as inundações podem acarretar contaminações, principalmente quando poços e

fossas se rompem e transbordam espalhando os detritos.

Vamos nos ater ao esgoto sanitário, que tem por objetivo coletar e remover

de forma rápida e segura as águas residuárias, evitar a poluição do solo, tratar os

afluentes e eliminar odores e aspectos estéticos desagradáveis. É constituído por

99,9% de água e 0,1% de matéria sólida orgânica ou mineral, além de bactérias

aeróbias (Layrargues, 2002, Braga et al. 2002).

Um esquema de esgoto sanitário é constituído por dispositivos e canalização

para coletar e afastar os resíduos das residências, existindo diversos tipos de

coletores (Rosso et al., 2002). Exemplo:

- coletores prediais: canalização que leva as águas residuárias das

edificações para coletores públicos;

- coletores secundários: canalização que recebe os efluentes dos

coletores prediais;

- coletores tronco: canalização principal que recebe afluente de vários

coletores e conduz para interceptores ou emissário;

- coletores interceptores: canalização que evita descargas diretas em

praias, lagos e cursos d’água por interceptar fluxos coletores;

Page 46: Monografia - Alexssandra Vaz

46

- emissários: conduto final que afasta os efluentes da rede pública até

seu local de lançamento não recebendo contribuições ao longo do curso;

- estação elevatória: instalações eletromecânica comum em terrenos

planos que empurra as águas através de bombeamento, não necessitando de

declividade para o escoamento, para entrada dos efluentes em estação de

tratamento ou corpo d’água receptor.

Em locais que não dispõem dos serviços públicos de esgoto são adotadas

medidas individuais por parte dos moradores, sendo comum à privada sanitária ou a

fossa séptica. A primeira é mais comum em áreas rurais e com pouca

disponibilidade de água, porque não ocorre o transporte dos dejetos. A segunda é

uma solução para residências que dispõem de abastecimento de água.

• Privada Sanitária: as excretas humanas são lançadas em um buraco no

terreno, o solo possui um poder depurador que irá decompor a matéria orgânica

presente nas fezes e na urina através da ação das bactérias. Ocorre decomposição

aeróbia (presença de oxigênio) na parte externa da excreta e anaeróbia (sem

oxigênio) na parte interna, gerando odores fétidos. Devem ficar longe de poços

porque as excretas podem contaminar o lençol freático. Logo a adoção de privadas

sanitárias não é uma solução adequada para o bairro Cangulo, onde grande parte

das residências utiliza água de “poções” perfurados nos quintais.

• Fossas Sépticas: consiste em câmaras construídas abaixo do nível do

terreno, onde o esgoto fica retido para decantação dos sólidos e retenção das

gorduras provenientes das cozinhas, lavanderias, chuveiros, vasos, ralos, entre

outros. A fossa permite a saída de líquido isento de matérias decantáveis e

flutuantes, mas com odor desagradável devido a decomposição, e grande

quantidade de bactérias. Esse material será lançado em corpos de água receptores

(geralmente rios); em sumidouros (escavações com paredes protegidos com tijolos,

pedras ou madeiras sem rejuntamento para facilitar a infiltração. Deve ficar

localizado a uma distância mínima de 20 metros de qualquer fonte subterrânea,

segundo NB-41/81); vala de infiltração (manilhas de juntas abertas ou tubos

perfurados para infiltração no terreno); vala de filtração (duas canalizações

superpostas com camada de areia entre elas, imprópria para solo com baixa

capacidade de absorção segundo NBR 7229/93); filtros de areia (mesmo princípio

da vala de filtração, mas utilizado para unidades maiores de fossas sépticas).

Page 47: Monografia - Alexssandra Vaz

47

A parte sólida (lodo) que fica retida no fundo da fossa deve ser removida no máximo

a cada três anos pra não comprometer sua eficiência. Antes de começar a limpeza a

fossa deve ficar aberta para permitir a saída do gás produzido, que é danoso à

saúde (Kobiyama et al., 2008). Quando em pequena quantidade pode ser

descartado na solo ou em rios, caso contrário deve ser transportado até uma ETE.

Já as medidas coletivas de disposição do esgoto podem ser e três tipos:

1º) Lagoas de estabilização: é um sistema de tratamento biológico mediante a

decomposição da matéria orgânica pela ação de bactérias (aeróbias e anaeróbias) e

algas. Tem como vantagem o baixo custo de operação e manutenção;

2º) Emissários submarinos: sistema que utiliza o poder de depuração da água do

mar (mais rápido que em água doce) para matar bactérias. Ocorre grande diluição e

dispersão, dos poluentes para bem longe das praias. No Rio de Janeiro é obrigatório

que haja um tratamento prévio do esgoto antes de ser despejado no mar para

retirada de sólidos grosseiros;

3º) Estação de tratamento de esgoto (ETE): o Rio de Janeiro foi à terceira cidade do

mundo a ter uma ETE, um conjunto de instalações que tratam o esgoto em

diferentes níveis (preliminar, primário, secundário, terciário) e tempo de

processamento de acordo com o uso que será dado no corpo receptor (banho,

irrigação, abastecimento). Sua implantação se justifica quando se pretende atender

toda uma bacia ou região. O grau de tratamento pode conter processos físicos,

químicos e biológicos.

Pereira (2003), chama atenção para os inconvenientes do lançamento de

esgoto bruto em corpos de água, como o prejuízo ao aspecto estético, a redução do

teor de oxigênio e a contaminação da massa líquida. Complementa dizendo que

após o tratamento do esgoto é preciso cuidar do destino final dos subprodutos

gerados, o lodo e os gases. Geralmente, os efluentes gasosos são coletados e

lançados na atmosfera, enquanto o lodo é encaminhado para aterros sanitários e

incineradores.

Em relação à água para consumo, pode-se dizer que estas são poluídas de

diversas formas, o que depende da origem, a qual poder ser de fonte poluidora

natural ou humana, conforme o Quadro 3 abaixo, nota-se os principais processos

poluidores.

Page 48: Monografia - Alexssandra Vaz

48

Quadro 3 Processos e definidores da poluição das águas

Deve-se ressaltar a questão da poluição do solo, uma vez que eventuais

mudanças em suas características podem acarretar em problemas nocivos à

população. Os cuidados quanto à poluição do solo estão principalmente associados

à relação água-solo superficial e subsuperficial, assim como a preservação da

qualidade das águas.

Em relação à poluição associada a atividades humanas, são atribuídas à

disposição de resíduos sólidos e líquidos, a urbanização e ocupação do solo, as

atividades agropecuárias, as atividades extrativas e a acidentes no transporte de

cargas (Rosso et al., 2002). Atividades de cultivo, plantações de diversas espécies

vegetais, fundação para edificações, aterros, estradas, sistema de disposição de

resíduos, entre outros, podem ocasionar impactos ou modificações importantes

relativos às:

●obras civis, a partir de urbanização e ocupação do solo, alterações na estrutura e

no ciclo hidrológico;

●na exploração extrativa do solo: remoção de grandes quantidades de materiais,

alteração do relevo e erosão;

●nas atividades agrícolas com a aplicação de nutrientes e defensivos agrícolas

altera o ambiente, polui as águas superficiais e subsuperficiais. A remoção sazonal

da cobertura vegetal ocasiona a erosão.

A solução para o controle da poluição da água e do solo leva em

consideração estratégias que se considere a bacia hidrográfica como um todo, para

Processos Definição Contaminação Lançamento em água de substancias químicas orgânicas,

inorgânicas e microorganismos, nocivas a saúde e as espécies de vida aquática, como por exemplo, patogênicos e metais pesados.

Assoreamento Acumulo de areia. argila e outras substancias minerais ou orgânicas (lodo) em um corpo d'água que provocara a redução de sua profundidade e de seu volume útil.

Eutrofização Lançamento de excesso de nutrientes na água (nitrogênio e fósforo), ocasionando um crescimento excessivo e descontrolado de algas e plantas a aquáticas.

Acidificação Queda de pH, como decorrência da chuva acida (chuva que carreia substancias químicas, tais como bióxido de enxofre, óxido de nitrogênio, amônia e bióxido de carbono, provenientes da poluição do ar), contribuindo para a degrada da vegetação e da vida aquática.

Page 49: Monografia - Alexssandra Vaz

49

efeito de planejamento das atividades urbano-ambientais, uma vez que tal não

ocorra o controle terá eficiência limitada. Desta forma, deve-se considerar a

implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos sanitários e industriais; o

controle de focos de erosão, sendo importante considerar o papel da drenagem

pluvial; recuperação dos rios, permitindo a restauração de suas condições naturais,

anteriores a degradação. Conforme o PDBG (Rosso et al., 2002, Roque, 2002), as

medidas que devem ser tomadas visam atender as leis de controle de poluição

vigentes: abastecimento de água, esgotamento sanitária, coleta e destino de lixo,

disciplinamento dos usos e da ocupação do solo, reflorestamento e reintrodução de

espécies de animais e peixes.

Segundo Roque (2002), em relação ao padrão de potabilidade da água,

o Ministério da Saúde define no Brasil os padrões de água para consumo

humano. Enquanto que a resolução CONAMA no 20/86 divide as águas do território

nacional em função dos usos em águas doces (salinidade <0,05%), salobras (salinidade

entre 0,05% a 0,3%) e salinas (salinidade 0,3%). A Portaria no 36/90 do mesmo

ministério estabelece um conjunto de valores máximos permissíveis das

características da água. Em relação a algumas características das águas, ressaltam-

se as seguintes:

●Cor - a cor da água, quando e de origem natural, não apresenta riscos à

saúde, mas se a origem for de atividades humanas como, por exemplo,

despejos industriais podem ser tóxicos. A cor existe devido a material

dissolvido na água.

●Sabor e Odor - não apresentam riscos à saúde em águas naturais, o sabor é

associado à combinação entre o gosto (salgado, doce, azedo e amargo) e o

odor (cheiro), podem causar repulsa ao consumo.

●Turbidez - o grau de turbidez traduz a turvação da água, de forma geral não

apresenta inconvenientes sanitários diretos, porém, é esteticamente

desagradável e os sólidos suspensos que geram a turbidez podem servir de

abrigo para microorganismos patogênicos.

Algumas substâncias causam desconforto visual, como: o ferro e o manganês

causam manchas nos tecidos, louças e tem grande importância na fabricação de

papel e celulose; enquanto os sulfatos e o magnésio produzem efeitos laxativos; a

dureza pode causar odor desagradável e não permite a formação de espuma,

Page 50: Monografia - Alexssandra Vaz

50

aumentando o consumo de sabão, podendo causar incrustações em tubulações de

água quente, como caldeiras e aquecedores.

Dentre os padrões nocivos associados ao consumo humano, deve-se

considerar os que são provenientes das atividades industriais, dos detergentes, do

processamento e refinamento de petróleo e dos agrotóxicos. Relevantes também

são as características bacteriológicas da água, as quais indicam a presença de

coliformes fecais, diretamente associadas ao saneamento, conforme Quadro 4

notam-se os valores de padrão máximo.

Quadro 4 Máximos valores de padrão permitidos de bacteriologia na água (Roque, 2002)

Características Unidade Valor máximo permitido

Bacteriológicas

Coliformes fecais

Coliformes totais

NMP/100ml

NMP/100ml

ausente*

ausente

Ausente - NMP/100ml – número mais provável de microorganismos coliformes ou coliformes fecais

por 100 ml de água. *Somente se aplica quando for água para consumo

Os coliformes são grupos de bactérias indicadores de contaminação da água por fezes

ou esgotos, utilizados para detectar microorganismos patogênicos capazes de causar

doenças em uma determinada amostra de água, para cada individuo a media de eliminação

de bactérias é em torno de 10 a 100 bilhões de bactérias/por dia. Os coliformes totais são

utilizados como indicadores indiretos da probabilidade de a água estar contaminada por outros

microorganismos, capazes de causarem doenças, enquanto os coliformes fecais são

utilizados como indicadores para padrões de banho como mar e piscina, com limite de NMP

coliformes fecais 1000/100m (Braga et al. 2002).

O Documento-Base para Formulação da Fase II do PDBG (Rosso et al.,

2002) especifica os sistemas responsáveis pelo abastecimento de água dos

municípios que integram a bacia da Baía de Guanabara, que juntos atendem a

7.700.000 habitantes:

� Sistema integrado do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense (Guandu,

Ribeirão das Lajes e Acari);

� Sistema integrado de Niterói e São Gonçalo;

� Sistemas isolados para municípios de Itaboraí, Magé, Cachoeiras de

Macacu e Rio Bonito.

Page 51: Monografia - Alexssandra Vaz

51

O município de Duque de Caxias é abastecido pelo primeiro dos sistemas

expostos, ficando sob responsabilidade da CEDAE, que infelizmente não atende a

todos os bairros do município, como verificado no bairro Cangulo. O sistema de

distribuição da água precisa ser monitorado periodicamente para evitar estragos à

água servida, já que ela pode sofrer uma série de mudanças no caminho que

percorre entre a estação de tratamento e a casa do consumidor, como variações

químicas e biológicas. Segundo Freitas et al. (2008), “a qualidade da água liberada

para o consumidor pode variar espacial e temporalmente dentro do sistema de

distribuição” (p.111). Os principais fatores dessa variação podem ser: a qualidade

química e biológica da fonte hídrica; a eficácia no processo de tratamento,

reservatório e distribuição; a idade e o projeto de manutenção da rede; a qualidade

da água tratada; e a mistura de diferentes fontes (Clark e Coyle, 1990 apud Freitas

et al., 2008).

Esse cuidado com a rede de distribuição, além de melhorar a qualidade da

água distribuída, evitaria as perdas, principalmente de água já tratada e potável, que

dependendo do caso pode chegar a 60% (Kobiyama et al., 2008). Os domicílios que

não contam com abastecimento público utilizam água proveniente de: poço freático;

poço artesiano; cisterna; carro-pipa. Ou percorrem longos caminhos para buscar

água em bicas e canos, o que pode ocasionar problemas físicos (conforme item

Saneamento e Saúde) e contaminação da água (Quadro 2). Fica sempre a dúvida

quanto à qualidade dessas águas, sobretudo para as populações mais carentes que

desconhecem a existência de laboratórios de análise de potabilidade da água, ou

não podem arcar com os custos cobrados.

A ONU, reconhecendo o elevado número de mortes infantis em conseqüência

da carência de água potável, condições higiênicas saudáveis e esgotamento

sanitário adequado, instituiu o ano de 2008 como o Ano Internacional do

Saneamento. Dados do PNUD (2008) confirmam que 41% da população mundial

não tem acesso ao saneamento básico. O objetivo da ONU é promover um alerta

mundial para essa situação, promovendo uma sensibilização que acelere o

cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). A cúpula do

milênio, que contou com 189 países, reunida em Nova Iorque no ano 2000

estabeleceu uma série de objetivos visando melhoras em saúde, educação,

habitação, saneamento, meio ambiente e promoção da igualdade de gênero.

Page 52: Monografia - Alexssandra Vaz

52

No tocante ao saneamento, a meta é reduzir pela metade, até 2015 o

contingente populacional sem acesso a água potável e esgotamento sanitário. No

Brasil, melhoras são esperadas com a implantação do Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC) lançado em 2007 pelo Ministério do Planejamento. De acordo

com o Ministério das Cidades (2008) 40 bilhões deverão ser investidos no setor

entre 2007 e 2010. Dentro do PAC fica estabelecido: políticas de desenvolvimento

econômico, de infra-estrutura, de urbanização de favelas e saneamento, contando

com investimentos do Orçamento Geral da União (OGU), do Fundo de Garantia por

Tempo de Serviço (FGTS) e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

A participação do Brasil no Ano Internacional do Saneamento contou com um

Grupo de Trabalho (GT) formado pelo governo e pela sociedade civil e coordenado

pela Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades. Foi

criada uma agenda de ações com os seguintes objetivos: avançar na

universalização dos serviços; colaborar no alcance aos ODM; apoiar a produção e

disseminação de informações sobre o setor integrando pessoas e instituições;

mobilizar e articular entidades gestoras, prestadores de serviços, instituições de

ensino, pesquisadores, entre outros.

A necessidade estabelecer um ano como “O Ano Internacional do

Saneamento” acena para a gravidade do problema em âmbito mundial e para o

descaso em que vivem milhões de pessoas pela falta dos serviços básicos de

saneamento. Porém, no Brasil, somente com cumprimento da Lei 11.445 é que os

objetivos apresentados poderão ser alcançados, beneficiados ainda pela

regulamentação da Lei dos Consórcios (11.107/2005), o que caracteriza um

momento promissor para o setor no país (Costa, 2007 apud Sales, 2007).

4.3 Características e Contraposições da Lei de Saneamento

No Brasil, existem diversas leis elaboradas para assegurar e regular os

direitos e os deveres da população brasileira, assim como garantir sua segurança e

bem-estar. Segundo as intenções desse trabalho, a Lei das Águas (9.433/1997) e a

Lei de Concessões (8.987/1995) que regulamenta a participação do capital privado

nos serviços públicos, são exemplos claros, por abordar especificamente assuntos

relacionados ao saneamento básico. Entretanto, vamos nos ater a Lei 11.445,

aprovada em 2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento

Page 53: Monografia - Alexssandra Vaz

53

básico e cria regras para usuários, operadoras e titulares. Pode-se dizer que essa

Lei, elaborada pelo Ministério das Cidades, é um marco regulatório do saneamento

no país, "acenando para um novo tempo de investimentos" (Sales, 2007, p. 17).

Dessa forma, o setor de saneamento passa por uma reformulação, durante o

governo militar, o PLANASA foi um modelo centralizador, mas com a aprovação da

Lei 11.445/2007 o setor caminha para sua descentralização (Sales, 2007).

Durante a década de 1980 o país passou por um processo de

democratização, e com a promulgação da Constituição Federal de 1988 houve uma

descentralização de poder e de responsabilidades. União, Estados, Municípios e

Distrito Federal são dotados de autonomia, ao contrário do que ocorria nas

Constituições anteriores, principalmente com relação aos municípios. Com a maior

autonomia dos municípios houve a municipalização de alguns serviços, assim como

a transferência de verbas. Mas, segundo Oliveira Filho (2007 apud Sales, 2007) “as

mudanças começaram a serem sentidas com a criação de políticas originadas pelo

processo de democratização, como a elaboração de leis orgânicas municipais, a

criação de planos diretores, do orçamento participativo, o fortalecimento dos

conselhos municipais e das transferências de verbas” (p. 68).

Quando trata-se de governo, descentralização é o mesmo que transferência

de responsabilidades e poder da União para outros entes da Federação, com

destaque para o município, já que a maioria dos serviços é de interesse local. Assim

sendo, essa esfera governamental ganha novas atribuições e responsabilidade,

além de subsídios para a sustentação dos serviços, exigindo uma reestruturação

das prefeituras. Segundo Sales (2007), "a titularidade dos municípios não impede,

no entanto, que outras esferas de governo atuem nos mesmos setores, desde que

amparados por legislação pertinente" (p.36). Este é um fator importante, tendo em

vista a desigualdade existente entre as regiões. De acordo com o censo demográfico

do IBGE, em 2005 o Brasil contava com 5.564 municípios, mas nem todos possuem

capacidade de gerar receitas próprias, sendo dependentes de transferências de

recursos financeiros de outras esferas do governo. Em valores absolutos, o

município de Duque de Caxias apresenta um dos maiores PIB do estado, no qual a

força econômica explica-se, principalmente, por sua inserção na cadeia produtiva do

petróleo, conforme a Fundação CIDE (2003) o PIB per capita (R$) é de 11.477,26,

em relação ao Estado do Rio de Janeiro.

Talvez ainda não esteja claro que esfera governamental é de fato

Page 54: Monografia - Alexssandra Vaz

54

responsável pelos serviços de saneamento básico, mas fica evidente que existe

disputa pela titularidade de determinados serviços capazes de gerar lucros

orçamentários. Diz-se que "se as estruturas físicas necessárias à prestação do

serviço ultrapassam os limites municipais, o serviço deixa de ser de interesse local

e passa a ser de interesse comum, assim de competência do Estado" (Sales, p. 39),

entretanto, o interesse gira em tomo das concessões, principalmente sobre as

grandes cidades e regiões metropolitanas.

Prefeituras sem recursos econômico-financeiros precisam ser atendidas

pelas companhias estaduais que, "perdendo as concessões das grandes cidades,

ficariam impedidas de praticar o princípio da subsidiaridade e arcariam com o ônus

de espaços geográficos que não apresentam capacidade de auto-sustentação"

(Sales, 2007, p. 39). Ou seja, o Estado não quer perder as concessões sobre as

áreas lucrativas, e o município deseja receber subsídios para o setor. A verdade é

que as companhias estaduais continuaram com o monopólio do setor mesmo após

a titularidade municipal, e isso só começou a ser modificado com a aprovação da

Lei de Concessões (8.987/1995) em 1995.

Sabe-se que o objetivo da Lei 11.445/2007 é atingir a universalização nos

serviços de saneamento básico, e os serviços de água e esgoto no Brasil vêm

sendo feito através dos contratos de concessão, conforme pode ser observado na

Figura 7 para o Estado do Rio de Janeiro. Ou seja, uma entidade privada ou uma

concessionária fica responsável pelos serviços nas atividades de gestão,

manutenção, operação e investimentos, por um período de 15 a 30 anos, mas os

ativos permanecem como propriedade do poder público. Ao término do contrato, se

o investimento não for recuperado a concessionária deverá ser ressarcida pelo

concedente. Os serviços prestados são pagos diretamente pelo consumidor, e se

os custos de operação e capital ultrapassar a renda líquida o próprio órgão privado

arca com as despesas extras. Essa modalidade tem sido adotada no país

principalmente após a aprovação da Lei de Concessões (8.987/1995). No setor de

saneamento, de acordo com a ABCON (Associação Brasileira das Concessionárias

de Serviços Públicos de Água e Esgoto), 51 municípios apresentam concessões

privadas, dentre estes se encontra o Estado do Rio de Janeiro conforme Figura 7.

Page 55: Monografia - Alexssandra Vaz

55

Figura 7 Espacialização das operadoras de Água e Esgoto do Estado do Rio de Janeiro, nota-se que o município de Duque de Caxias tem como operadora a CEDAE (Sales, 2007).

O mercado de concessões nos serviços de água e esgoto entra em

expansão no país após a aprovação da Lei de Saneamento Básico, porque serve

de estímulo para a realização de parcerias com o poder público (gerando enorme

competição no período de licitação), visando à ampliação dos serviços necessária

para a universalização no atendimento. Essa meta depende fortemente dos

Mu

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Du

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s

Page 56: Monografia - Alexssandra Vaz

56

municípios, “responsáveis” pela titularidade do setor, não existe em âmbito nacional

uma agência reguladora e as agências estaduais já não têm capacidade de

investimento. O PLANASA foi o primeiro plano de saneamento a nível nacional, sob

regulação do BNH, almejava o abastecimento de água para 90% da população e os

serviços de esgoto para 65% da população de regiões metropolitanas e cidades de

grande porte, (conforme item 5.1) até 1990, não atendendo as zonas rurais, já que

concentrou os investimentos nas áreas mais desenvolvidas. Entretanto, existia a

necessidade de regulação do setor, através da criação de regras que delineassem

seu desenvolvimento. Tal necessidade decorreu na aprovação da Lei de

Saneamento Básico no início de 2007.

Esta Lei constitui um marco regulatório para o saneamento básico do país

ao anunciar um novo cenário de desenvolvimento, que pode ampliar a participação

do capital privado no setor, porque diminui os riscos de investimentos. Isso pode

ocasionar uma ampliação das Parcerias Público-Privadas (PPP) que segundo a

ABCON é o caminho necessário para atingir a universalização no atendimento. Uns

dos princípios fundamentais da Lei é a universalização do acesso, a integralidade

dos serviços e a transparência das ações. E considera como serviços de

saneamento básico a limpeza urbana, o manejo e drenagem de águas pluviais, o

abastecimento público de água potável e o esgotamento sanitário. Também

estabelece a integração entre os serviços e os recursos hídricos, tendo como base

a bacia hidrográfica na qual se insere o município.

O problema é que a própria Lei torna-se confusa por não apresentar clareza

na distribuição das tarefas entre as três esferas do governo, não define a quem

cabe as competências, atribuições e responsabilidades estipuladas em seu corpo.

Também não define uma estrutura para conselhos federais, estaduais e municipais

que venha a constituir um sistema nacional, e isso torna ainda mais difícil o controle

dos serviços pela população. A existência de conselhos com participação no âmbito

municipal, estadual e federal, conforme a esfera de interesse e a titularidade

facilitaria o controle das atividades pela sociedade. Esse grupo de interesse precisa

de uma participação maior, não só para exigir e reivindicar, mas porque são

importantes fontes de consulta para os órgãos, empresas e concessionárias

responsáveis pela execução das obras e serviços de saneamento prestados.

Entretanto, de forma geral, ainda não há de fato casos em que a população local

seja consultada antes da intervenção ambiental para obras públicas, mesmo

Page 57: Monografia - Alexssandra Vaz

57

sabendo-se que eles conhecem mais que ninguém seu local de moradia. Trata-se

de um conhecimento empírico, adquirido no cotidiano, que pode ignorar, por

desconhecimento, os termos técnicos dos profissionais, mas sabem relatar com

precisão os problemas locais, assim como a incidência dos fatos negativos que

afligem a comunidade. Cita-se como exemplo as características da água e a

regularidade do abastecimento, que podem ser informados pelos moradores,

conforme pesquisado nos questionários aplicados nas residências do bairro

Cangulo.

Além de contribuir com a experiência vivida os moradores locais deveriam

atuar na fiscalização do cumprimento das normas, tarefa que dificilmente será

desempenhada sem a concretização de uma agência reguladora. A ausência da

agência reguladora é outro ponto negativo a ser analisado, porque caberia a ela

definir e fiscalizar o cumprimento da Lei de acordo com as normas estabelecidas.

Juntamente com a sociedade civil organizada, conforme exemplo de organização e

ação do orçamento participativo verificado em algumas cidades. Porém, com intuito

de controle sobre as políticas de saneamento, não tendendo apenas para o caráter

reivindicatório como é mais comum nesse tipo de participação.

No capítulo II que trata da titularidade dos serviços fica uma impressão

ambígua que compromete sua implementação (Feu, 2007), apenas estabelece ser

dever do titular formular a política pública de saneamento básico, elaborando

planos que deverão ser revisados dentro de um prazo de até quatro anos,

antecedendo a elaboração do Plano Plurianual. É dever dos titulares também fixar

os direitos e deveres dos usuários, assim como estabelecer mecanismos de

controle social.

A Lei aponta o controle social como um dos princípios da prestação dos

serviços, mediante a seguinte definição de controle social: “o conjunto de

mecanismos e procedimentos que garantem à sociedade informações,

representações técnicas e participações nos processos de formulação de políticas

de planejamento e de avaliação relacionados aos serviços públicos de saneamento

básico” (Inciso IV, Artigo 2º). Assim, parece demonstrar que o saneamento não é

apenas um direito do cidadão, mas que compete a este também participar do seu

planejamento e da sua fiscalização. Porém, não define os mecanismos para que o

controle social seja exercido.

Outro fator negativo que cabe ser mencionado é a não garantia da

Page 58: Monografia - Alexssandra Vaz

58

participação popular no planejamento (Capítulo IV), apenas divulga a realização de

audiências e consultas públicas. Se o usuário constitui o principal beneficiado com

a eficiência da prestação dos serviços de saneamento, o interesse da coletividade

popular deveria no mínimo ser levado em consideração. Mesmo que a Lei assegure

o acesso às informações sobre os serviços prestados mediante divulgação pública,

contando com registros atualizados, nada estabelece sobre a periodicidade desse

tipo de publicidade.

Resta ainda outra questão relevante, ainda que a Lei garanta o acesso às

informações sobre os serviços prestados, permanece a dúvida quanto aos órgãos

de reclamação. Não se sabe a quem recorrer para fazer reclamações, a

responsabilidade pelos serviços é da prefeitura ou da empresa/concessionária

contratada para sua execução? Se a Lei estabelece que o saneamento básico é

um direito, deveríamos ser tratados como cidadãos e não como meros

consumidores de um serviço prestado (Feu, 2007). Considero o saneamento básico

como um direito social, que constitui uma conquista da população, dessa forma,

não deveríamos procurar um órgão de defesa do consumidor para fazer uma

reclamação, como quem compra uma mercadoria com defeito.

Ainda que, a Lei faça menção à qualidade de vida (satisfação das

necessidades básicas e manutenção do bem-estar coletivo) ao estabelecer sua

articulação com políticas de interesse social (desenvolvimento urbano, habitação,

combate à pobreza, promoção da saúde, proteção ambiental), comete falhas que

precisam ser reparadas, porque sua legislação parece ser insuficiente, apresenta

acertos importantes e necessários para a política de saneamento, mas parece

esquecer de alguns pontos chaves indispensáveis para sua eficácia.

Sabe-se que, a manutenção da qualidade de vida ambiental depende, entre

outras coisas, do monitoramento permanente dos serviços de saneamento básico

prestados, tanto pelo poder público quanto por empresa privada. A fiscalização

desses serviços é indispensável para o seu cumprimento, mas, sobretudo para

monitorar sua regularidade, por isso a participação da população é tão importante.

Se o abastecimento de água não é regular obriga a população a manter a prática

de estocagem e reduzir o volume de consumo diário, que pode comprometer sua

higienização. Se a coleta de lixo domiciliar não é periódica provoca o acúmulo de

resíduos sólidos que podem atrair vetores.

Diante das informações apresentadas, esclareço tratar-se de interpretações

Page 59: Monografia - Alexssandra Vaz

59

pessoais sobre o corpo da Lei, com base nas interrogações que ela deixa no ar, já

que não disponho do conhecimento jurídico necessário para uma análise mais

sucinta.

4.4 Estatuto da Cidade e Plano Diretor: como instrumento de qualidade

Institucionalmente, o país teve alguns avanços no que concerne à proteção

ambiental para garantia de ambiente mais sadio para sua população. Em âmbito

nacional, foi criada dentro do Ministério das Cidades (2003), a Secretaria Nacional

de Saneamento Ambiental, tendo como missão “assegurar os direitos humanos

fundamentais de acesso à água potável e à vida em ambiente salubre nas cidades e

no campo, mediante a universalização do abastecimento de água e dos serviços de

esgotamento sanitário, coleta e tratamento dos resíduos sólidos, drenagem urbana e

controle de vetores reservatórios de doenças transmissíveis” (Rezende & Heller,

2008).

O Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001) é uma legislação criada com o

princípio de construir cidades ideais, ou seja, sustentáveis, estipulando a criação de

planos diretores municipais. Segundo o Estatuto, até o ano de 2006, os municípios

com mais de 20.000 habitantes, os que pertençam a regiões metropolitanas e

aglomerações urbanas, e integrantes de áreas de interesse turístico e sujeitas à

atividades de impacto ambiental, deveriam promover a elaboração e aprovação de

seus plano diretores.

Dessa forma, preconizado pelo Estatuto da Cidade, o Plano Diretor é uma lei

municipal que estabelece diretrizes para a ocupação da cidade, devendo identificar e

analisar suas características físicas, as atividades predominantes, as vocações da

cidade, assim como seus problemas e suas potencialidades. Sua elaboração deve

considerar aspectos econômicos, sociais, culturais, ambientais e urbanos. Ele deve

ser discutido e aprovado pela Câmara de Vereadores e sancionado pelo prefeito,

mas além dos setores do governo podem participar da sua discussão e elaboração,

associações de moradores, sindicatos, conselhos comunitários, comerciantes,

universidades, ONGs, conselhos regionais, incorporadores imobiliários, entre outros.

Segundo Brandt (2008), “o Plano Diretor é um instrumento da Política Urbana, é o

plano de desenvolvimento da cidade, de modo a garantir uma cidade eqüitativa no

que diz respeito a condições de moradia, trabalho, transporte, saúde, mobilidade e

Page 60: Monografia - Alexssandra Vaz

60

equipamentos urbanos”. Já em Silva apud Brandt (2008), “o Plano Diretor é um

plano, porque estabelece os objetivos a serem atingidos, o prazo em que estes

devem ser alcançados, as atividades a serem executadas e quem deve executá-las.

É diretor porque fixa as diretrizes do desenvolvimento urbano no Município”.

Assim sendo, Duque de Caxias instituiu seu Plano Diretor Urbanístico em

outubro de 2006, estabelecendo diretrizes e normas para o ordenamento físico-

territorial e urbano do município, tendo como um dos seus princípios fundamentais:

Art. 3º. Este Plano Diretor e suas revisões sucedâneas devem promover o

pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade e o uso

socialmente justo e ecologicamente equilibrado do território, de forma a assegurar

aos habitantes condições de bem estar e segurança.

Assim, é possível trabalhar para uma cidade mais justa, diminuindo as

injustiças sociais. De interesse direto para o tema deste trabalho, cito como sendo

fundamental os artigos abaixo apresentados do presente plano diretor:

Capítulo II - dos objetivos estratégicos

Art. 6º. III Promover a destinação de verbas orçamentárias para elevar as

condições gerais de mobilidade e segurança pública, de habitação de interesse

social e saneamento ambiental, em especial de infra-estrutura de rede de esgotos,

de macro-drenagem, de abastecimento de água, bem como para áreas verdes

urbanas, de interesse ambiental e para o ordenamento urbano.

Capítulo II - das políticas sociais

Art.12. As políticas sociais são aquelas que visam prover benfeitorias e

serviços de saúde, educação, lazer e habitação de interesse social à população, de

forma a garantir e promover eqüidade social e qualidade de vida.

Capítulo IV – da política de obras e de infra-estrutura urbana

Art.20. Constituem infra-estrutura urbana os Sistemas de Abastecimento de

Água, de Drenagem Pluvial, de Esgotamento e Tratamento Sanitário, de

Fornecimento de Energia em suas diversas modalidades, de Iluminação Pública e

de Disposição de Resíduos Sólidos, com foco permanente em processos de

reciclagem;

Art.22. O órgão municipal competente de obras deverá promover a integração

de ações de instalação e manutenção de infra-estrutura de água, esgotos e

drenagem pluvial aos programas de saúde pública e educação sanitária, em

consonância com as normas de proteção ao meio ambiente.

Page 61: Monografia - Alexssandra Vaz

61

Verifica-se no município que o centro (1º distrito) é mais contemplado com

infra-estruturas e equipamentos urbanos, em detrimento das áreas periféricas

distantes da sede administrativa, naturalmente ocupadas por população mais

carente, onde predomina a precariedade na oferta de serviços. Seguidas as metas

do recente aprovado Plano Diretor da cidade será possível uma melhor alocação de

recursos, e reordenamento de acordo com as peculiaridades da dinâmica da cidade,

contribuindo para solucionar e abrandar seus problemas, decorrentes do seu

processo histórico e da ineficácia das políticas até então implementadas.

5 Etapas de Desenvolvimento do Trabalho

Para a melhor compreensão das características dos problemas urbanos e

ambientais, faz-se necessário o desenvolvimento de nível compilatório e correlatório,

importante salientar, para uma melhor avaliação dos resultados. Além disso, foi e é

de primordial importância as etapas como de levantamento bibliográfico da área de

estudo, para a análise mais detalhada da formação espacial e localização do

município de Duque de Caxias e do bairro do Cangulo, assim como a etapa de

campo para o reconhecimento da área, estudo do meio físico e da infra-estrutura

local, a qual permite a avaliação dos problemas sócio-ambientais associados ao

saneamento.

5.1 Questionários

Questionários são instrumentos para se aferir dados quantitativos, assim

como qualitativos, já as entrevistas são primordiais na obtenção direta de

informações qualitativas, embora seja possível a obtenção de informações de

caráter quantitativo. Muitas vezes, essa última é indispensável para se iniciar a

construção de questionários. Em relação aos questionários, é importante ressaltar

que estes devem apresentar uma redação objetiva, clara, seguida de um

agrupamento das questões, uma boa apresentação gráfica e concisa (Marangoni,

2005). Para não haver problemas na obtenção dos dados em campo, faz-se

primordial uma preparação prévia na elaboração do questionário, sendo assim foi

realizado um primeiro campo prévio de reconhecimento da área. Posteriormente, a

percepção de alguns problemas ambientais no Bairro, foi-se elaborado o

Page 62: Monografia - Alexssandra Vaz

62

questionário (Anexo 1 e 2) e discutida a relevância das perguntas a partir da base

teórica do trabalho. Para uma maior acuidade das informações foram utilizadas no

trabalho algumas variáveis com base no questionário básico do censo demográfico

do IBGE, de 2000, conforme Anexo 3, assim como o questionário suplementar de

meio ambiente da mesma instituição, de 2002, com mostra o Anexo 4. Uma vez

finalizada tais etapas o mesmo foi aplicado em um universo total de 123

questionários, tais foram levados para laboratório com fins de quantificação e análise

dos dados, o que permitiu a geração de informações.

5.1.1 Desenvolvimento e tratamento dos dados

Para a obtenção de resultados de qualidade faz-se necessário alguns critérios

como: considerar os objetivos da pesquisa, elaborando um questionário apropriado

ao tema proposto. Ressalta-se que, cada quesito a ser abordado deve ser

cuidadosamente analisado quanto a sua utilidade para os resultados a serem

alcançados, uma vez que a aplicação de questionário no campo exige um grande

dispêndio de tempo e trabalho.

Algumas indagações foram realizadas para fins de caracterização da

população local, isto é, se constituiu como técnica de classificação socioeconômica

do indivíduo. Para fins de uma boa investigação o universo de amostragem foi

caracterizado e delimitado em duas etapas, a primeira foi realizada com indivíduos

ao acaso e a segunda , posteriormente foi proferida em unidades domiciliares

(Figura 8 A e B).

Page 63: Monografia - Alexssandra Vaz

63

Figura 8. Planta do bairro do Cangulo, em A, nota-se manchas representativas das áreas onde foram realizados os questionários de forma aleatória, enquanto em B, encontram-se tracejadas as ruas onde foram aplicados os questionários em domicílios. (Fonte: Prefeitura de Duque de Caxias, 2009, adaptada pelo autor)

Área de distribuição dos questionários em rua

Área de distribuição dos questionários em rua domicílios

A

B

Page 64: Monografia - Alexssandra Vaz

64

Segundo Marangoni (2005) o pesquisador deve ter um prévio conhecimento

das pessoas que serão alvo das questões formuladas. É de fundamental importância

que o pesquisador tenha prévio conhecimento das pessoas que serão alvo das

questões formuladas, principalmente no que se refere à linguagem a ser utilizada,

uma vez que deve ser adequadamente compreendida pelo público.

Pode-se dizer que para um bom desenvolvimento da pesquisa de campo a

partir de questionários é importante:

- elaboração de listagem de toda e qualquer pergunta que possa ser feita, cuja

resposta deva atender de forma direta ou indireta as intenções do pesquisador,

possibilitando a seleção posterior das perguntas que de fato interessem ao melhor

conhecimento em relação ao objeto de estudo e a hipótese de trabalho.

- composição de lista de possíveis cruzamentos das variáveis em questão, tal pode

ser fundamental para elaborar quesitos não lembrados, ou para mostrar a inutilidade

de dados que a priori seriam interessantes. Ressalta-se que cada pergunta que não

se refira ao tema específico resulta em perda de tempo e pode prejudicar o

desenvolvimento e analise dos resultados.

- deve-se considerar uma ordem lógica de encadeamento entre as perguntas, acaso

essas sejam desconexas podem acarretar em má compreensão do indivíduo

questionado.

- para cada quesito indagado deve-se pensar no formato da resposta, como por

exemplo, o número de categorias possíveis, assim como a facilidade de aplicação

do questionário e tabulação dos dados. Pode-se dizer que cada pergunta

corresponde a uma variável, e as respostas possíveis, a categorias da variável,

conforme Marangoni (2005). Segundo o mesmo autor as perguntas podem: prever

respostas abertas sem condução, quando não se prevêem as categorias possíveis,

ou fechadas, quando se predeterminam as categorias que devem ser indicadas.

Ressalta-se que embora formato fechado facilite o preenchimento do questionário e

a tabulação dos dados, não se deve utilizá-lo de forma indiscriminada, dessa forma

acaba-se perdendo informações preciosas. Normalmente, questionários utilizados

para obter uma grande variedade de dados apresentam mais de uma maneira de

formulação de questões.

- importante fazer teste de aplicação e tabulação dos dados e posteriormente corrigir

eventuais problemas.

Page 65: Monografia - Alexssandra Vaz

65

- posteriormente a aplicação dos questionários deve-se proceder à tabulação dos

dados, o mais cedo possível, para que não se percam detalhes sobre o

procedimento e se possam corrigir eventuais falhas de informação.

Ressalta-se que a sistematização de dados quantitativos, aplica-se a qualquer

tipo de informação, seja ela produto de questionários ou mesmo de medições

específicas em cada área do conhecimento (Galvani, 2005).

A analise de um conjunto de dados com uso de tendência central nos permite

avaliar para onde converge o dado. Desta forma, foi aplicada no tratamento dos

dados a média aritmética e freqüência.

A media aritmética é uma metodologia simples e comum, passível de

aplicação a qualquer conjunto de dados, e expressa o somatório de todos os

elementos da serie dividido pelo numero total de elementos. Em que Xi e cada

elemento da serie, e i varia de 1 a ni n e o numero de elementos e o símbolo L

significa somatório de todos os elementos da série (Galvani, 2005). Tal é expressa

pela equação abaixo:

Já para o calculo de variáveis ordinais ou quantitativas estas se expressam a

partir da freqüência, tal é o número de vezes que determinado evento ocorreu entre

todos os elementos amostrados, isto é, segundo Galvani (2005) o número de vezes

que determinado evento ocorreu (na) em relação ao número total de elementos da

serie (n), a qual é dada pela seguinte equação:

Obs. Ambos os dados gerados no questionário foram manipulados em termos

de percentagem.

Page 66: Monografia - Alexssandra Vaz

66

6 Análise dos Resultados

O resultado dos questionários realizadas no bairro Cangulo (Anexo 1),

possibilitaram uma boa avaliação quanto à infra-estrutura local, no que tange a

ausência ou precariedade dos serviços de saneamento básico, considerados

fundamentais para a qualidade de vida ambiental. Para a obtenção dos mesmos

foram aplicados 72 questionários e descartados quatro, totalizando 68,

posteriormente foram quantificados os dados no quesito perguntas fechadas e,

assim como, a criação de classes quanto a perguntas abertas.

Foram realizadas perguntas relacionadas à faixa etária, renda, escolaridade,

profissão, tempo de residência no bairro, características de condições de saúde,

oferta de serviços, competência do trabalho da prefeitura, e problemas locais. Além

desses, também foram avaliados o acesso à água e qualidade da mesma, coleta de

lixo, ocorrência de alagamento, condições da rede de esgoto e sua relação com

problemas de saúde e degradação ambiental.

Após a análise dos resultados obtidos no primeiro questionário, foi elaborado

um segundo questionário (Anexo 2), no mesmo formato do primeiro, porém, com

perguntas mais específicas sobre as questões apontadas pelos moradores no

questionário anterior, aprofundando tanto os dados quantitativos quanto os

qualitativos obtidos no primeiro contato. Ressalta-se que, durante a elaboração do

segundo questionário seguiu-se alguns padrões já pré-estabelecidos pelo IBGE

(Anexo 3 e 4). A diferença é que no questionário 1 os entrevistados foram abordados

aleatoriamente nas ruas do bairro, enquanto no questionário 2, foram feitas visitas

às residências, totalizando um total de 51 casas, distribuídas por 23 ruas do bairro.

Apenas três perguntas se repetiram em ambos os questionários, as referentes à

faixa etária, escolaridade e tempo de moradia no bairro. As demais perguntas eram

referentes à forma de abastecimento de água, a periodicidade do recebimento, o

volume das caixas da água, o tipo de poço, a qualidade da água para consumo,

assim como do rio local, e as possíveis fontes poluidoras do recurso hídrico,

conforme Anexo 2. Questionou-se também o tipo de escoadouro dos dejetos

humanos e do esgoto doméstico, o destino dos resíduos sólidos, se existia relação

entre esses serviços de saneamento e a saúde dos moradores. Interrogou-se sobre

a atuação da prefeitura ou de outros órgãos públicos no monitoramento da qualidade

da água e no diálogo com a população local sobre as obras de pavimentação

Page 67: Monografia - Alexssandra Vaz

67

realizadas atualmente no Cangulo e finalizando com questões relacionadas à

percepção dos moradores sobre a qualidade de vida ambiental do lugar em que

vivem.

Em relação às características gerais da população local (conforme

questionário 1) e relações de propriedade (conforme questionário 3), pode-se dizer

que o maior número de entrevistados está na faixa etária dos 20 aos 50 anos (Figura

9 A), em conformidade com o município (Farias, 2005). Em torno de 75% têm

apenas o primeiro e segundo seguimento do ensino fundamental de escolaridade

(Figura 9 B), possuem uma renda média de dois salários mínimos (Figura 9 C), e em

maioria trabalham com serviços e comércio, característica também encontrada para

o município como um todo (MTE, 2003). E conforme Silva (2006), deve-se observar

que a qualidade de vida depende tanto das condições de vida, que engloba a má

distribuição de renda, o baixo nível de escolaridade e as condições de habitação,

quanto do déficit social.

Trata-se de pessoas que, em sua maioria, residem no bairro entre 11 e 25

anos (Figura 9 D), dando maior consistência as informações obtidas, uma vez que

moram a mais de 10 anos, assim como nasceram no próprio local. Em cada

domicílio residem em torno de 3 pessoas, em média, o que vai de acordo com o

trabalho de Farias (2005) para o Município de Duque de Caxias. Tais informações

foram reafirmadas a partir das três perguntas repetidas, conforme colocado

anteriormente, quais obtivemos resultados semelhantes aos do questionário 1, ou

seja, trata-se de pessoas com idade entre 20 e 50 anos, que moram no bairro a mais

de 16 anos e possuem o ensino fundamental incompleto, na sua maioria, conforme

pode ser percebido na Figura 9.

Page 68: Monografia - Alexssandra Vaz

68

Figura 9. Distribuição da classe etária, em A, nível de escolaridade, em B, renda média dos amostrados, em C, e tempo de moradia, em D, dos entrevistados para o Bairro do Cangulo.

A B

C D

56

Page 69: Monografia - Alexssandra Vaz

69

Já em relação ao quesito posse do terreno ou domicílio, de grande

importância por indicar relações com o espaço vivido, pode-se observar que 85%

dos entrevistados têm domicílio próprio (Figura 10 A), enquanto ao que se refere a

posse da propriedade (terreno) 77% é proprietário, menos de 20% vive em terreno

cedido e apenas uma pequena parcela tem algum outro tipo de condição sobre a

propriedade ou não respondeu, por não saber quais suas condições de habitação

(Figura 10 B).

Figura 10. Condições da fora de moradia e propriedade de habitação (terreno), conforme questionário aplicado por entrevistados (%) por domicilio.

próprio (quitado)

próprio (quitando)

alugado

cedido (por empregador)

cedido (outra forma)

outra condiçãocondição do domicílio

A

B

0 20 40 60 80 100

próprio

cedido

outra condição (aluguel ou invasão)

não respondeu condição do terreno

% entrevistados

Page 70: Monografia - Alexssandra Vaz

70

A grande maioria dos moradores não mostrou vontade de residir em outro

bairro, principalmente pela baixa violência, entretanto em um primeiro instante

detectam que a falta de infra-estrutura, transporte e serviço são piores problemas

locais, conforme 80 % dos amostrados, e associam tal a baixa qualidade do trabalho

da prefeitura.

Ao questioná-los quanto à qualidade do serviço de saneamento, o

abastecimento de água foi considerado o pior serviço para 41% dos entrevistados,

enquanto a coleta do lixo foi considerado o mais eficiente, contemplando 91% das

residências, por atender a maior parte do bairro (Figura 11). Próximo dos 40%

percebem que suas casa se encontram em área de alagamento, mas não tem

consciência que estão sujeitos a enchentes.

Figura 11 Maiores problemas locais por percentagem de entrevistados. Fonte:

Próprio autor

A quase totalidade dos domicílios não dispõe de abastecimento de água

encanada, de responsabilidade da CEDAE, 82% das residências utilizam poços

perfurados nos quintais para o consumo familiar, a minoria compra e alguns não

sabem nem de quais lugares provem à água de consumo (Figura 12 A). Porém,

muitos duvidam da qualidade da água disponível que consomem, foram apontados

problemas relacionados principalmente a cor (27%), ao sabor atrelado ao salobro

(21%) e a poluição (24%), conforme Figura 12 B. Tais classificações variam

Page 71: Monografia - Alexssandra Vaz

71

conforme a localização do domicílio no bairro, uma vez que o mesmo se encontra

em área de ocupação sobre mangue. Em suma, pode-se dizer que o abastecimento

de água é tão precário quando a captação do esgoto. Este conjunto de fatores

acarreta nas condições de saúde da população.

Figura 12 Percentual de exploração/uso da água, em A, e classes de qualidade da água por entrevistados, em B.

Quanto ao sistema de esgotamento sanitário, percebe-se o desconhecimento

dos moradores sobre o que é a rede de esgoto, já que quase metade dos

entrevistados (49%) disseram dispor da mesma em sua casa, contraditoriamente

apontaram como destino final dos dejetos as valas negras presentes nas ruas

(Figura 13), enquanto outros, simplesmente não souberam responder. Tal retrata a

situação do próprio município, pois conforme o censo (IBGE, 2002), expõem-se que

em relação ao saneamento que apenas 56% dos domicílios no município têm

saneamento adequado, isto é, esgotamento sanitário, abastecimento de água e

coleta de lixo. Ressalta-se que o IBGE considera como adequada às ligações de

esgoto na rede geral, não há distinção entre galerias de captação de esgoto e

galerias de captação de águas pluviais. Sabe-se que em geral, as galerias são

utilizadas com dupla função, o que ocasiona o despejo do esgoto “in natura” nos rios

da região e na Baía de Guanabara. Em geral, os domicílios não possuem saídas de

esgoto ligadas à rede geral ou fossa séptica, o que significa que continuam a lançar

o esgoto diretamente nas valas.

A B

Page 72: Monografia - Alexssandra Vaz

72

Os entrevistados afirmam saber que a falta de tratamento do esgoto traz

prejuízos ambientais, mas não sabem apontar quais são de fato. Quando indagados

da relação esgoto sem tratamento x saúde, foram quase unânimes em concordar

com a questão, as doenças foram apontadas como o maior prejuízo decorrente do

esgoto a céu aberto. No entanto, não souberam identificar quais são as doenças

advindas da questão. Ou seja, sabem da relação entre os dois fatores, mas

desconhecem as causas e os problemas afins. Quanto aos problemas decorrentes

do esgoto a céu aberto, os moradores classificaram como sendo os maiores: a

transmissão de doenças (38%), a presença de insetos e ratos (22%) e o mau cheiro

(22%), conforme Figura 14.

Figura 13 Variação percentual dos locais comuns de despejo do esgoto, segundo moradores. Fonte: Próprio autor

Page 73: Monografia - Alexssandra Vaz

73

Figura 14 Variação dos problemas ambientais associados à degradação ambiental e o problema de saneamento, por ordem de importância, na percepção dos entrevistados.

Quando do maior aprofundamento dos quesitos relativos às questões

domiciliares (questionário 2) explana-se, de forma geral, que mais de 50% não

dispõe de abastecimento de água pública, fazem uso de poços, construídos

principalmente pelos próprios moradores, sem a participação de um técnico

responsável pela perfuração. Tal vai de encontro ao exposto por Faria (2005) e TCE

–RJ (2007), pois o Município de Duque de Caxias tem 69.3% com fornecimento de

água por rede geral. Enquanto, do tocante da população do município 27,9% tem

acesso à água através de poço ou nascente e 2,7% têm outra forma de acesso à

mesma. Desta forma, deve-se advertir para a questão da concentração de alguns

equipamentos urbanos principalmente na área do primeiro distrito (centro) do

município, o que não responde a realidade local.

Além disso, mais de 90% dos poços nunca passaram por nenhum tipo de

análise quanto à qualidade da água (Figura 15 A), ou seja, a prefeitura não tem a

preocupação de monitorar a água consumida pela população ali residente. E os

próprios moradores não têm essa iniciativa, seja por desconhecimento ou pelo alto

valor cobrado em laboratórios que fazem esse tipo de serviço, considerando aqui o

baixo poder aquisitivo da população local (Figura 9 C), que recebe em média um

Page 74: Monografia - Alexssandra Vaz

74

salário mínimo, conforme resultado do primeiro questionário. Porém quando

perguntados se era de interesse saber a qualidade da água que consomem e se ela

traz algum risco para a saúde, mais de 90% dos entrevistados disseram que sim

(Figura 15 B).

Figura 15 Resposta sobre realização de avaliação da qualidade de água dos domicílios, em A, e se o entrevistado gostaria de ser informado sobre a qualidade em relação ao risco à saúde, em B.

Do total de moradores que utilizam água proveniente de poço (Figura 16 A),

mais de 50% deles utilizam uma espécie de poço coletivo, ou seja, um único local de

perfuração atende a diversos domicílios, concomitantemente, devido o fato de serem

poucos os locais possíveis de captar água em condições para consumo imediato.

Quanto às características associadas à falta de qualidade da água, o sabor foi

apontado como o principal fator negativo, seguido da cor e do odor (Figura 16 B).

Muitos moradores informaram que não possuem poço no próprio quintal porque a

água captada naquele ponto apresenta-se muito amarelada, com alto teor de

ferrugem e gosto salgado, não servindo para beber, mesmo após processo de

filtração. Conforme Roque (2002), de forma geral, a cor e sabor quando de origem

natural não são tão nocivas à população. Entretanto, algumas substâncias causam

desconforto visual e alguns pequenos problemas domésticos como manchas em

roupas ou utensílios, que acabam por onerar o gasto como, por exemplo, o sabão.

Entre os moradores usuários de poços, mais de 50% dispõem de água canalizada

em pelo menos em um cômodo da casa, através da instalação de canos e bombas

avaliação sobre qualidade da água 7,84%

92,2%

avaliação sobre qualidade da água

sim

não

90,2%

9,8%

simnão

informações sobre qualidade de água

informações sobre qualidade de água

A B

Page 75: Monografia - Alexssandra Vaz

75

que fazem a sucção da água diretamente do poço para caixas de água, a maioria

com capacidade para mil litros de água, sendo necessário o reabastecimento diário

da mesma, o que é feito por mais da metade desse percentual de pessoas.

Entre os demais moradores que não dispõe de poço (Figura 16 A), 20% deles

são abastecidos por uma rede geral, ligada ao sistema da CEDAE. Porém, a

irregularidade no recebimento da água faz com que muitos moradores se vejam

obrigados a comprar água, prática realizada através de carros pipas. Pouco mais de

40% dos entrevistados disseram receber água diariamente através dos canos da

CEDAE, outros quase 40% informaram receber água entre uma e duas vezes por

semana, enquanto quase 20% só são abastecidos a cada quinze dias (Figura 16 C),

cabe ressaltar que foi percebido, em diversas vezes, que os moradores confundem o

bombeamento da água de poço com o fornecimento da CEDAE, pois alguns têm os

dois sistemas.

É importante salientar, que a compra de água é praticada também entre

alguns moradores usuários de poço, porém esses compram garrafões de água

apenas para beber e preparar alimentos para crianças ainda de colo, por

desconfiarem da qualidade da água que utilizam. Há ainda uma parcela menor de

moradores que não dispõe de poço nem são abastecidos por sistema público de

água. Desse percentual de pessoas, mais de 40% compram água, segundo os

dados analisados, apresentando uma certa freqüência de uma a duas vezes por

semana, enquanto outros só podem efetuar a compra quinzenalmente (Figura 16 D),

não por dispor de uma capacidade maior de armazenamento do galão para

consumo, mas por não ter condições financeiras de comprar em intervalos menores.

Concomitante ao já mencionado, a maioria dos residentes do bairro sobrevive com

um salário mínimo (Figura 9), sendo assim, a necessidade de comprar água, além

de comprometer o orçamento das famílias faz com que o uso diário seja reduzido,

comprometendo sua higiene pessoal e consequentemente sua saúde, conforme

demonstra o trabalho de Razzolini e Günther (2008). E ainda conforme os mesmos,

se o abastecimento de água não é regular obriga a população a manter a prática de

estocagem e reduzir o volume de consumo diário, que pode comprometer sua

higienização.

Page 76: Monografia - Alexssandra Vaz

76

Figura 16 Formas de abastecimento de água por domicílio, em A, características de qualidade da água, em B, periodicidade de abastecimento pela rede geral, em C, e periodicidade de compra de água em D, por entrevistado/domicílio.

23,7%

26,3%

36,8%

11,8%1,32%

0 10 20 30 40 50 60

somente da rede geral

poço ou nascente

rede geral e compra

poço e compra

somentecompra

outras formas

forma de abastecimento de água

0 10 20 30 40 50

diáriamente

1-2 vezes por semana

quinzenal

periodicidade de abastecimento de água

0 10 20 30 40 50

diáriamente

1-2 vezes por semana

quinzenal

periodicidade na compra de água

Odor

Cor

Sabor

nenhum

não resondeu

A B

C

D

(%) (%)

64

Page 77: Monografia - Alexssandra Vaz

77

Ao interrogá-los sobre as possíveis causas da poluição desse recurso hídrico,

o despejo de esgoto doméstico foi apontado por mais de 40% dos entrevistados,

constituindo, na opinião dos moradores, o principal motivo da contaminação, logo

após foram assinalados consecutivamente, a disposição inadequada dos resíduos

sólidos, o despejo de resíduos industriais, o derramamento de óleos ou graxas, entre

outros (Figura 17). Notou-se que, embora não estejam satisfeitos com a água

consumida os mesmos não tem informações plausíveis sobre a qualidade da água

consumida o que deve ser considerado um problema, pois conforme a Lei de

saneamento é assegurado o acesso às informações sobre os serviços prestados

mediante divulgação pública, contando com informação atualizada, embora não

sejam encontrados registros sobre a periodicidade desse tipo de informação.

Figura 17 Frequência de ocorrência (%) das possíveis causas da poluição em recursos hídricos por entrevistado/domicílio. Fonte: Próprio autor

0 5 10 15 20 25 30 35

Despejo de resíduos industriais

óleos ou graxas (inclusive derramamento de petróleo)

Ocupção irregular em área de recarga de lençois

Despejo de esgoto doméstico (inclusive fossa rudimentar)

Disposição inadequada de resíduos sólidos (lixo)

Ocupação irregular em área de proteção permanente

possíveis causas da poluição da água

Page 78: Monografia - Alexssandra Vaz

78

Assim como no primeiro questionário, o serviço de coleta dos resíduos sólidos

apresentou resultado positivo, representando novamente o melhor dos serviços de

saneamento desenvolvido pela prefeitura no bairro. Mais de 70% dos entrevistados

disseram ter seu lixo coletado por serviço público de limpeza, pouco mais de 10%

precisam levá-lo até uma caçamba de coleta, outros jogam em terreno baldio ou

queimam se o carro de coleta demorar demasiadamente para fazer o serviço, tais

dados obtidos vão de acordo com o trabalho de Faria (2005) e TCE-RJ (2007).

Sendo assim, não vamos nos ater a questão do lixo doméstico, e sim a análise do

esgoto doméstico.

Na observação do destino do esgoto (Figura 18 A) das residências do bairro,

mais de 40% das casas utilizam à fossa séptica, a fossa rudimentar foi apontada por

um número inexpressivo de entrevistados. Outros 40% apontaram como destino a

rede geral de esgoto, que no caso do bairro está atrelada à rede de coleta de água

pluvial, ou seja, o esgoto pluvial e o esgoto doméstico têm o mesmo destino. E

menos de 10% dos entrevistados mostraram como destino do esgoto as valas, ainda

existentes em alguns logradouros, tendo em vista que nem todo o bairro foi atendido

pelas obras de pavimentação recentemente implementadas, entretanto vale

ressaltar que a diferença temporal entre os questionários nos mostra dois

momentos, uma vez que quando do primeiro instante a maioria colocou as valas

como destino final do esgoto (Figura 12), enquanto no segundo momento tal não

aparece com mesmo percentual. Cabe contrapor tal informação, as obras

recentemente implementadas são perceptíveis e já causaram mudanças no sistema

de coleta do esgoto ou muitos moradores realmente não tem consciência do despejo

final.

Com a tentativa de verificar a relação existente entre esgoto doméstico,

poluição e saúde, os moradores foram interrogados quanto a esses fatores.

Constatamos que quase 70% dos domicílios possuem apenas um banheiro com

sanitário, mais de 20% disseram ter dois banheiros e outros disseram não ter

nenhum ou mais de dois banheiros. Entre o total de entrevistados, mais de 60% não

acreditam que seu esgoto seja capaz de poluir a água, mesmo o esgoto doméstico

tendo sido considerado um dos principais fatores de contaminação do recurso,

conforme já mencionado na Figura 17. Essa resposta foi mais comum entre aqueles

que utilizam o chamado poço coletivo (mais de 50% dos entrevistados), até por que

Page 79: Monografia - Alexssandra Vaz

79

a distância entre o poço e a fossa destes é bem maior do que aqueles que possuem

poço próprio, ou seja, no quintal.

Adverte-se que, dentre as estratégias da Agenda 21 Brasileira tem-se a

questão de ampliar a responsabilidade ecológica, disseminando informação e

promovendo a capacidade dos diversos atores de identificar as relações de

interdependência dos fenômenos sociais, ecológicos, econômicos, e aceitar o

princípio da co-responsabilidade, isto é, do governo e enfatizando da sociedade para

a gestão de recursos, embora a grande maioria não tenha consciência quase

nenhuma de suas responsabilidades. Toda localidade deve possuir a capacidade de

produzir e consumir reduzindo impactos, possibilitando assim uma sustentabilidade

urbana (Silva, 2006).

A maioria dos entrevistados não soube dizer qual é a distância existente

exata entre o poço e a fossa. Mas em um grande número de residências essa

distância não chega ao mínimo necessário (20 metros) para evitar a contaminação

da água do poço. Em mais de 10% das residências essa distância não chegou aos

quinze metros, e em apenas quase 30% a distância é maior que trinta metros

(Figura 18 B).

Embora, muitos domicílios tenham sistema de esgoto ligado à rede geral ou

fossas, cabe ressaltar que, a grande maioria não somente faz autoconstrução para o

poço, mas também para sua fossa, Figura 18 C e D, logo indaga-se a forma ou

padrão destas construções. Dentre a carga poluidora da água os efluentes

domésticos possuem elevada concentração de carbono orgânico, cloretos,

nitrogênios, sódio, magnésio sulfato, alguns metais pesados, dentre os de maior

risco à água são os nitrogênios e microorganismos patogênicos. Hirata (2001),

exemplifica tal mostrando que em áreas de densidade populacional de 20 pessoas

por hectare pode gerar uma carga de 100kg/ha/ano de nitrogênio que se oxidado por

100mm/a de infiltração de água da chuva, pode resultar em recarga local de

100mg/L de nitrato para o aqüífero, isto é, dez vezes maior que o aceitável para o

nível de potabilidade. Segundo o mesmo autor, o estabelecimento de zonas de

proteção em torno de um poço é fundamental, pois tal estratégia baseia-se na idéia

de que, quanto mais próxima uma atividade do poço, maior é o perigo de

contaminação.

Page 80: Monografia - Alexssandra Vaz

80

0 5 10 15 20 25 30 35 40

até 15

15-30

> 30

não sabe

distância entre fossa e poço

B

(%)

Dis

tân

cia

em m

etro

sauto-construçãopoço/fossa

construção coletiva

técnico

41,4%

55,2%

3,45%

construção de poço/fossa

C D

0 10 20 30 40 50

rede geral de esgoto ou pluvial

fossa séptica

fossa rudimentar

rede geral mais fossa

vala

rio, lago ou mar

outro tipo deescoadouro

ligação sanitária do domicílio

A

(%)

Figura 18 Despejo do esgotamento sanitário, em A, distância média entre fossa e poço, em B, característica de auto-contrução poço/fossa, em C, visão geral de falta de cuidado do bombeamento da água e próximo à vala, em D. Fonte: Próprio autor 68

Page 81: Monografia - Alexssandra Vaz

81

Na sequência do questionário, a saúde e as doenças começaram a ser

abordadas, perguntando sobre os problemas de saúde que atingem as famílias.

Com relação aos problemas associados às doenças, mais uma vez a poluição do ar

ganha destaque, foi o fator mais apontado pelos entrevistados, assim como a

presença de esgoto a céu aberto, presença de lixo na proximidade e questões

relacionadas à água, como poluição e contaminação (Figura 19 A). Fatores como

desmatamento, ocupação irregular, contaminação do solo, queimadas e a poluição

sonora foram apontados quase na mesma proporção pelo total de entrevistados.

A poluição atmosférica apontada como o principal fator pode estar

relacionada à proximidade com a Refinaria Reduc, já que os moradores conseguem

perceber que a constante presença de fumaça, próximo às casas, polui o ar,

comprometendo o bom funcionamento dos pulmões, e consequentemente a saúde,

sobretudo das crianças que apresentam problemas respiratórios, conforme apontado

no primeiro questionário. Em segundo lugar, apontaram à qualidade da água como

provável fator dos problemas de saúde, seguida pelo esgoto e pelo lixo. Entretanto,

um número considerável de entrevistados (em torno de 20%) não apontou nenhum

desses problemas ou não soube responder, Figura 19 B.

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82

0 3 6 9 12 15

Contaminação de nascente ou de água subterrânea

DesmatamentoOcupação irregular e

desordenada do territórioTráfego pesado em vias urbanas

Contaminação de rio, baia, lago, lagoa, açude

Escassez de água

Poluição do ar

Presença de esgoto a céu aberto

Contaminação de recurso solo

Inundação

Poluição sonora

Queimadas

Deslizamento de encosta

Presença de lixão na área de ocupação

não respondeu

doenças versusproblemas ambientais

Figura 19 Associação dos entrevistados (domicílio) em relação a doenças versus problemas ambientais, em A, e ocorrência de doenças na família com falta de controle ambiental, em B.

0 5 10 15 20 25 30

qualidade de água

sanitárioesgoto

resíduoslixo

poluição atmosférica

nenhum dos itens

associação desaúde comproblemas

A

B

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83

Ao se observar as obras de reestruturação do bairro realizadas durante o

período de pesquisa do trabalho, também constatou-se com a população local a

ausência de diálogo entre os setores responsáveis pela infra-estrutura do bairro e

seus moradores, interessados diretos no investimento em equipamentos urbanos.

Mais de 90% (Figura 20 A, C, D) dos entrevistados mostraram interesse em

participar de alguma reunião de esclarecimento ou de simplesmente ser informado

sobre as obras em andamento. Porém, mais de 60% deles alegaram não ter

recebido nenhum tipo de informação sobre o que seria feito (Figura 20 B, C, D).

Cabe ainda retornar a questão da Lei 11.445/07, na qual aponta o acesso as

informações pela sociedade como um dos princípios de prestação dos serviços,

mediante a seguinte definição de controle social: “o conjunto de mecanismos e

procedimentos que garantem à sociedade informações, representações técnicas e

participações nos processos de formulação de políticas de planejamento e de

avaliação relacionados aos serviços públicos de saneamento básico” (Inciso IV,

Artigo 2º), compete ao cidadão não somente o direito, mas também participar do

seu planejamento e da sua fiscalização, mas nem tais premissas foram expostas à

população local, pois o interesse da coletividade popular deveria no mínimo ser

levado em consideração.

92,2%

5,88% 1,96%intenção de ser informado e de

participar de reuniões

simnãonão respondeu

35,3%

62,7%

1,96%Informação à população

sim

simnãonãorespondeu

A B

C D

Figura 20 Intenção da população local em ter algum tipo de informação ou participação efetiva no planejamento de obras públicas, em A, alegação de falta de informação sobre obras, em B, e visão das obras de

saneamento no bairro, em C e D. Fonte: Próprio autor

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Na finalização do questionário, algumas situações básicas foram apontadas

como necessárias à qualidade de vida, o fato de ter ou não hospital próximo à

residência foi o item mais assinalado pelos moradores, considerado primordial para

que vivam bem, ficando à frente de questões como a canalização da água, a

regularidade no abastecimento e a presença de rede de esgoto. Podemos

estabelecer uma relação com a constante necessidade de cuidados médicos dos

moradores e a distância dos postos de saúde e hospitais públicos.

Por fim, buscou-se avaliar o que é qualidade de vida na opinião dos

moradores do bairro, através de uma pergunta aberta os entrevistados puderam dar

sua definição. O item saneamento básico foi apontado pela maioria, aparecendo

com freqüência de 25% (Figura 21 A), confirmando a importância do investimento

nesse setor para o bem-estar da população, assim como esse trabalho almejou

demonstrar. O item saúde ficou em segundo lugar, o que mais uma vez revela a

carência dessa população nesse setor, que tem relação direta com o saneamento

ambiental. Respostas referentes à cidadania e assistência social ficaram na terceira

colocação (Figura 21 B), merecendo atenção emergencial por parte das autoridades

do governo, sobretudo do poder executivo municipal. O complemento a essas

respostas aparece na quarta colocação, o emprego. A geração de postos de

trabalho que atenda a uma mão-de-obra de baixa escolaridade e qualificação, o que

não é um problema apenas local. O lazer, a moradia e o meio ambiente também

foram apontados, em menor índice, como importantes para a qualidade de vida

ambiental dos moradores do Cangulo.

De acordo com as definições de qualidade de vida apontadas pelos

moradores, percebe-se que eles são privados daquilo que consideram mais

importante para que possam viver bem, coisas que dependem mais da atuação da

prefeitura, no investimento em serviços de infra-estrutura urbana. Pode-se dizer que

a percepção de qualidade de vida para os entrevistados ainda é dúbia, uma vez que

ao se indagar sobre a qualidade de vida da família a diferença entre o ter e não ter

foi entorno de menos de 15% (Figura 21 C), além de não se perceberem imbuídos

no processo de degradação do ambiente, pois em 64% das vezes não se acham

fontes de poluição para os recursos hídricos, embora mais de 80% acreditem na

relação entre qualidade de vida e meio ambiente preservado (Figura 21 D).

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0 5 10 15 20 25 30

saúde

saneamento

emprego

lazer

moradia

cidadania e assistencia social

meio ambiente

não respondeu

percepção de qualidade de vida

(%)

A

não respondeu

43,1%

54,9%

1,96%

ter qualidade de vida

percepção sobre ter qualidade de vida

sim

não

não respondeunão respondeu

B

23,5%

64,7%

11,8% população como geradora de poluição

população como geradora de poluição

simnãonão respondeu

C

86,3%

9,8%3,92%

qualidade de vida

qualidade de vida versus ambiente preservado

sim

nãonão respondeu

D

Figura 21 Percepção dos moradores (domicílio) sobre o que está atrelado a qualidade de vida, em A, percepção sobre a vivencia em local com qualidade, em B, opinião sobre responsabilidade na geração de poluição, em C e associação de qualidade de vida com preservação ambiental, em D. 73

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De certa forma, os entrevistados disseram não ter qualidade de vida,

justamente pela má atuação da prefeitura no bairro, que ainda não conseguiu

atender às suas necessidades básicas de cidadãos. Tal resultado concorda com o

encontrado no primeiro questionário, onde 80% dos entrevistados reprovaram o

trabalho realizado pela prefeitura no bairro.

O Exposto vai de encontro ao Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001), assim

como ao art. 3º do Plano Diretor de Duque de Caxias, de 2006, uma vez que tem

premissas em promover o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e

da propriedade e o uso socialmente justo e ecologicamente equilibrado do território,

de forma a assegurar aos habitantes condições de bem estar e segurança.

Deve-se considerar a relação do morador com a identidade do espaço vivido,

pois grande número dos entrevistados não tem como objetivo morar em outro bairro

ou cidade (ver questionário 1), por acreditar que esses problemas podem ser

resolvidos mediante investimento em serviços públicos, como os de saneamento e

saúde, já que consideram o Cangulo como um bairro tranqüilo para morar, com

baixos índices de violência, fator que tem afligido considerável parcela da população

do Estado.

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7 Considerações Finais

Após o primeiro estudo do bairro Cangulo, notou-se a baixa qualidade de vida

ambiental dos moradores, no que se refere às condições de saneamento básico,

consideradas medidas indispensáveis para o bem-estar da população. Apesar de a

grande maioria dispor de domicílio e terreno próprio, as condições de moradia

muitas vezes são consideradas insalubres, devido à presença de esgoto a céu

aberto, não abastecimento de água canalizada e tratada, dúvida quanto à qualidade

da água dos poços, e ruas sem calçamento e sistema de drenagem. Dentre os

serviços de saneamento, a coleta de lixo é o único que atende a maior parte dos

moradores. Compreende-se que a falta desses serviços compromete o meio físico

trazendo prejuízos diretos para a saúde, o que impede o desfrutar de uma vida

saudável. Mesmo os moradores não tendo consciência dos problemas ocasionados

à sua saúde pela carência em saneamento, é consenso que a falta desses serviços

constitui o maior problema do bairro.

Pode-se dizer que os moradores não tem consciência de serem integrantes

do ambiente que vivem, uma vez que não se percebem como possível fonte

poluidora, embora a grade maioria tenha interesse em obter informações referentes

a intervenção do espaço, mas também sobre a qualidade do meio físico.

Recomenda-se o desenvolvimento de trabalhos mais acurados a partir de

monitoramento da qualidade de água e suas relações com o desencadeamento de

doenças nocivas a população. Sendo assim, o investimento nesse setor contribuiria

indiscutivelmente para a melhoria da qualidade de vida ambiental dos moradores do

Cangulo.

Constata-se aqui o descaso com o saber e os interesses dos moradores, pois

quando não são consultados sobre as intervenções no seu próprio espaço perdem o

direito de opinar sobre aquilo que julgam melhor para si. E nem é preciso dizer que a

preservação do meio só se concretiza com a participação conjunta do poder público

e dos habitantes da cidade, por isso é proposto à participação das associações de

moradores e organizações da sociedade na formulação dos planos diretores

municipais.

Em suma, pode-se dizer que é a partir da prática de participação que se faz o

aprendizado social, uma vez que permite a maior integração e estreitamento das

relações sociais no espaço e a conseqüente defesa dos interesses coletivos e

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alcance das informações. Para tal, retoma-se a importância primordial da valoração

do saber local, que juntamente com o conhecimento da ciência possibilita maior

eficiência em políticas públicas, no planejamento urbano e ambiental, assim como

uma justa qualidade de vida ambiental.

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ANEXO 1 Questionário básico para fins de caracterização geral da população local.

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ANEXO 2 Questionário complementar aplicado aos domicílios, para fins de aprofundamento dos problemas ambientais.

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ANEXO 3 Questionário Básico do Censo de 2000, conforme IBGE.

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ANEXO 4 Questionário Suplementar de Meio Ambiente de 2002, conforme IBGE.

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ANEXO 5 Fotografias utilizadas nos gráficos, de modo ampliado. Fonte: própria.

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