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1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ – UTP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO E AUDITORIA TRIBUTÁRIA COM DOCENCIA SUPERIOR PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO: ELISÃO E EVASÃO FISCAL Estudo de Caso AMANDA CORDEIRO SILVA LEUDERLY SILVA PEREIRA São Luís/MA Novembro, 2009

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ – UTP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO E

AUDITORIA TRIBUTÁRIA COM DOCENCIA SUPERIOR

PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO: ELISÃO E EVASÃO FISCAL

Estudo de Caso

AMANDA CORDEIRO SILVA

LEUDERLY SILVA PEREIRA

São Luís/MA Novembro, 2009

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ – UTP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO E

AUDITORIA TRIBUTÁRIA COM DOCENCIA SUPERIOR

PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO: ELISÃO E EVASÃO FISCAL

Estudo de Caso

AMANDA CORDEIRO SILVA

LEUDERLY SILVA PEREIRA

TCC apresentado ao programa de Pós-Graduação em Planejamento e Auditoria Tributária com Docência Superior, como parte dos requisitos para obtenção parcial do Título de Especialista em Planejamento, Gestão e Auditoria Tributária com Docência Superior. Orientador (a): Cláudio Nogas

São Luís/MA Novembro, 2009

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DEDICATORIA

À nossa família, pelo apoio e compreensão.

Em especial ao professor Silvio Gulias pela boa orientação.

Aos professores pela orientação recebida no decorrer do Curso.

Aos amigos do Curso, em especial a Vitor n osso “coração”, amigo de

todas as horas, momentos e segundos.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, nosso grande e fiel amigo, que mesmo diante dos obstáculos da

vida, jamais esqueceu de me mostrar as soluções. É por estar sempre presente

em toda minha caminhada.

Aos nossos pais, pelo amor, apoio e estímulo.

Aos mestres, os meus agradecimentos por saberem ser não somente

líderes, mas amigos.

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“Eu até entendo que o homem possa olhar para a terra e continue sendo ateu, mas não posso entender como alguém possa olhar para o céu e afirmar que Deus não existe”.

“Abraham Lincoln”

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PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO: ELISÃO E EVASÃO FISCAL

Esta monografia foi julgada adequada como trabalho final do Curso de

Pós-Graduação Lato Sensu (Especialização) em Planejamento e Auditória e

Tributária com Docência Superior da Universidade Tuiuti do Paraná, e aprovada

em sua forma final pela Coordenação do Curso.

Aprovada em: ______/______/______

____________________________________________________

Cláudio Nogas

Professor Orientador

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RESUMO

O presente trabalho trata sobre Planejamento Tributário: Elisão e Evasão

Fiscal. Foi desenvolvido no segundo semestre de 2009, através de vasta pesquisa

bibliográfica, foi utilizado o método dialético que permite uma reflexão do

conteúdo coletado. A Elisão fiscal compreende a não-incidência tributária,

sendo este legalmente admitido, já a evasão fiscal diz respeito a uma ilicitude

para escapar da tributação. Desta forma, a exemplo uma empresa que muda de

sede para outro lugar onde se oferece uma obrigação tributária menor, está

primando pelo planejamento tributário, instrumento este que a elisão fiscal se

fundamenta, repercutindo numa economia fiscal planejada para a empresa de

forma legal.

Palavras-chaves: elisão, evasão, planejamento tributário.

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ABSTRACT

The present work treats on Planning Tributary: Elimination and Fiscal

Evasion. It was developed in as semester of 2009, through vast bibliographical

research, was used the dialético method that allows a reflection of the collected

content. The fiscal Elimination understands the not-incidence legally tax, being

this admitted, already the fiscal evasion says respect to an illegality to escape of

the taxation. In such a way, the example a dumb company who of headquarters

for another place where if it offers to an obligation lesser tax, is primando for the

planning tributary, instrument this that the fiscal elimination if bases, reing-echo

in a planned fiscal economy for the company of legal form.

Key-words: elimination, evasion, planning tributary.

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SUMÁRIO

Resumo

Abstract

Introdução ................................................................................................. 10

1 Planejamento Tributário .......................................................................

1.1 Evasão e Elisão Fiscal ........................................................................

2. A Norma Antielisão ...............................................................................

3. Alguns casos ..........................................................................................

Conclusão ..................................................................................................

Referência Bibliográfica ............................................................................

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10

INTRODUÇÃO

No Brasil pode-se verificar à luz da doutrina e da jurisprudência as

normas tributárias em vigor, e se verificar que pouco se avançou. O Brasil,

através da lei 9430/96, promoveu-se a incorporação das regras para

determinação do preço de transferência, observando-se que este foi um dos mais

relevantes.

Diante de um cenário nacional caótico em que o contribuinte se vê

submerso num sem número de reiteradas modificações em nossa legislação

fiscal, as quais ensejam quase sempre em aumento de carga tributária, muitas

empresas voltam-se, neste momento, a necessidade de efetivar um Planejamento

Tributário.

Apesar de renomados juristas já terem mergulhado nos estudos acerca da

Lei Complementar nº 104/2001, a qual introduziu o parágrafo único ao artigo

116 do Código Tributário Nacional, vemos que ainda persiste, na prática, uma

série de dificuldades sobre a real dimensão do que se caracteriza como "elisão

tributária".

Este parágrafo único reacendeu de imediato a discussão doutrinária acerca

da possibilidade, ou não, de se admitir uma norma antielisiva no sistema jurídico

do país. A questão acerca do direito do contribuinte a um planejamento fiscal

vem há muito sendo debatido no campo da doutrina, com posicionamentos dos

mais controvertidos. Contudo, a positivação de uma norma para coibir a elisão

acaba inevitavelmente por ter sua constitucionalidade contestada por diversos

autores, sob a alegação de atentar contra princípios não só entabulados na Carta

Magna, mas também previstos em dispositivos infraconstitucionais.

(MOREIRA, Andre, 2003)

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Sob este enfoque pretende-se fazer neste trabalho monográfico uma

reflexão sobre a possibilidade de realizar um planejamento tributário lícito sem

configurar evasão fiscal.

Apesar de efetuar a interpretação econômica de qualquer tipo de ato ou

negócio jurídico negocial deverá acima de tudo o fisco respeitar o preceituado

pelo art. 110 CTN que prega:

"Art. 110 - A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o

alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados expressa

ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados,

ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou

limitar competências tributárias."

Este alerta se dá com relação ao fato de que o respeito aos institutos do

direito Privado deverá acontecer e os princípios constitucionais tributários.

Ademais, sob este enfoque pretende-se fazer neste trabalho monográfico uma

reflexão sobre a possibilidade de realizar um planejamento tributário lícito sem

configurar evasão fiscal.

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1 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Elisão fiscal e evasão fiscal são dois institutos do direito tributário

antagônicos. O primeiro expressa uma não-incidência tributária legalmente

admitida, também podendo significar uma tributação reduzida. Por sua vez o

segundo se trata de uma ilicitude para escapar da tributação (MALERBI, Diva,

1984).

Segundo Gomes de Souza (1982) o que distingue a elisão da fraude fiscal

é que, neste último caso, trata-se de um descumprimento ilícito de obrigação já

validamente surgida com a ocorrência do fato gerador, ao passo que na elisão

impede-se o surgimento da obrigação tributária evitando a ocorrência do fato

gerador.

Assim, é na economia fiscal e no mais das vezes no planejamento

tributário que a elisão fiscal se funda. Aliás, a conseqüência mais evidente do

planejamento tributário bem sucedido é exatamente a economia fiscal. A par da

conceituação acima descrita da elisão fiscal, bem se vê que quando o sujeito

analisa a legislação que deve obedecer, com os olhos daquele que busca

maneiras de, sem violá-la, encontrar comportamentos que culminarão em

economia fiscal, temos então o planejamento tributário bem sucedido.

O planejamento tributário consiste na organização da vida da empresa e

faz parte do cotidiano das empresas, com objetivo de evitar o desperdício de

dinheiro, diante não só da acirrada competitividade incrementada com a

globalização, mas também, particularmente no Brasil, da elevadíssima carga

tributária a que se sujeitam os atos e negócios comerciais e civis. (MOREIRA,

Andre, 2003).

Para Malkowski (2000) o planejamento tributário circunda-se pelo

exercício de atividades econômico-tributárias com o escopo de promover a

gerencia dos tributos de modo a reduzir o montante recolhido aos cofres

13

públicos, podendo ser tomadas medidas de natureza administrativa como o

redirecionamento de atividades, reorganizando a rotina contábil ou

reequalizando o quadro societário.

Nesse sentido, pode-se afirmar que o planejamento tributário é atividade

não-vedada pelo Sistema Constitucional Tributário, onde se permite ao

contribuinte, dentro de um ordenamento infraconstitucional deveras amplo e

muitas vezes omisso e contraditório, eleger a forma com que conduzirá suas

relações negociais, bem como a forma que disporá seu patrimônio. Ocorrendo a

"brecha" na lei ou mesmo incentivos fiscais promovidos pelo Estado, o

contribuinte poderá deles se valer para pagar quantidade reduzida de tributos.

1.1 Evasão e Elisão Fiscal

Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, evasão significa

desvio ou sonegação da renda tributária por parte do contribuinte, detectada ou

apurada em seu conjunto. Já elisão, vem de elidir, que significa fazer elisão de,

retirar, excluir, eliminar, suprimir a ocorrência do fato gerador.

A expressão "elisão fiscal", de uns tempos para cá, deixou de ser apenas

uma expressão utilizada no mundo jurídico, passando a figurar no vocabulário

das pessoas. Tudo em função da edição de norma que, segundo o senso comum,

teria a função de evitar que as pessoas deixassem de pagar tributos com a

utilização dos vácuos legislativos. O objetivo era evitar ou minimizar a evasão

ou sonegação fiscal.

É importante ressaltar a diferença entre a elisão fiscal e a evasão fiscal,

havendo entre elas uma distância grande. A elisão fiscal é a atividade lícita de

busca e identificação de alternativas que, observados os marcos da ordem

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jurídica, leve a uma menor carga tributária. Essa atividade – planejamento

tributário – requer o conhecimento de duas grandes áreas do hodiernamente

chamado Direito Empresarial: a do Direito Positivo e a dos Negócios e portanto,

não se restringe à descoberta de lacunas ou "brechas" na lei. O planejamento

tributário envolve o manejo inteligente dessa complexidade que é o Direito

Positivo e a atividade Empresarial.

Por outro lado, evasão ou sonegação fiscal é o resultado de

engendramento ilícito, punível com pena restritiva de liberdade e multa. A

expressão "sonegação fiscal" adveio com a Lei nº 4.502/64. De acordo com o

preceito normativo citado, sonegação fiscal é o resultado de ação dolosa

tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento da

ocorrência do fato gerador da obrigação principal, sua natureza ou

circunstâncias materiais; e das condições pessoais do contribuinte, suscetíveis de

afetar a obrigação principal ou o crédito tributário correspondente.

A doutrina tem adotado critérios temporais e de validade para diferenciar

elisão de evasão ou sonegação. Assim, afirma-se que o sujeito passivo que age

conforme o Direito Positivo antes da ocorrência do fato gerador, a conduta é

incensurável. Esse entendimento tem sido adotado por boa parte da doutrina,

conforme o ensinamento de Oliveira (1988:191): "Portanto, os limites entre

elisão e evasão situam-se na anterioridade da ação ou omissão do sujeito passivo

em relação à ocorrência do fato gerador e na perfeita juridicidade do seu ato ou

omissão".

O Contribuinte tem o direito de adotar condutas que tornem menos

onerosos, do ponto de vista fiscal, os negócios jurídicos que realiza. Esse direito

subjetivo tem um limite que é o ordenamento jurídico, de modo que se não há

comportamento ilícito não há censura jurídica.

O parágrafo único do art. 116 do CTN inaugura uma nova etapa no

combate à elisão fiscal, agora por intermédio de norma geral de competência

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deferida a todas as pessoas jurídicas de direito constitucional interno detentoras

de parcelas do poder de tributar. Trata-se de norma com largo espectro de

aplicação, o que pode dar motivo à exigência de tributar com base em simples

raciocínio por analogia, que continua vedada a pelo inciso I do art. 108 do CTN.

O que importa, realmente, é saber se o comportamento adotado pelo

contribuinte para fugir, total ou parcialmente, ao tributo (evasão fiscal, ou

tributária), ou para eliminar, ou suprimir, total ou parcialmente, o tributo (elisão

fiscal, tributária), é um comportamento lícito ou ilícito. Em outras palavras a

questão essencial que deve ser enfrentada é a de saber se em determinado caso

ocorreu, ou não, o fato gerador da obrigação tributária e qual a sua efetiva

dimensão econômica.

Tomando-se por base a Lei Complementar 104/2001, está posto ser

possível a desconsideração de atos ou negócios jurídicos que tenham sido

praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do

tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária.

É possível, portanto, desde logo afirmar-se a inutilidade dessa norma, se

interpretada, como deve ser, nos limites que permitem sua compatibilidade com

os princípios constitucionais, e com outros dispositivos do próprio Código

Tributário Nacional. Fica claro que a desconsideração de atos e negócios

jurídicos, pela autoridade administrativa, com fundamento no parágrafo único,

de seu art. 116, depende de um procedimento especial, próprio para esse fim, a

ser ainda estabelecido.

E como já dito, a lei ordinária que virá regulamentar dita Lei

Complementar, trará apenas normas de aspecto procedimental ao Administrador

Tributário, não trazendo critérios para se reconhecer em quais situações o

negócio jurídico, praticado com vistas à redução da carga tributária, é permitido

ou é passível de desconsideração.

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2 A NORMA ANTIELISÃO

A vigência da norma do parágrafo único do art. 116, do CTN, como dito

anteriormente, com redação dada pela Lei Complementar 104/2001, somente

tornou-se plena, quando entrou em vigor a lei ordinária a que a norma se refere.

É norma cuja aplicação depende da disciplina, em lei ordinária, dos

procedimentos a serem observados pela autoridade administrativa.

De qualquer forma, tem-se que admitir que a vigência da norma geral

antielisão nada mais é do que um reforço aos poderes da Administração

Tributária. Se colocada em texto de lei complementar pode ter sua

constitucionalidade contestada, pois colide com o princípio da legalidade que

tem como um de seus desdobramentos essenciais a tipicidade, vale dizer, a

exigência de definição em lei, da situação específica cuja concretização faz

nascer o dever de pagar tributo.

Greco e Libertuci (1999:10), embora admita a norma antielisão, envolta

em cautelas, diz:

"A própria noção de Estado Democrático de Direito repele uma norma antielisão no perfil meramente atributivo de competência ao Fisco para desqualificar operações dos contribuintes para o fim de assegurar de forma absoluta a capacidade contributiva. O fato gerador é qualificado pela lei e uma pura norma de competência não convive com a tipicidade, ainda que aberta".

Aliás, ainda que residente em norma da própria Constituição, nesta

introduzida por Emenda, a norma antielisão, considerada como aplicação da

competência tributária, capaz de amofinar o princípio da legalidade, pode ter sua

validade contestada em face da cláusula de imodificabilidade albergada pelo art.

60, § 4º, inciso IV, de nossa Carta Maior, segundo a qual não será objeto de

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deliberação propostas de emenda constitucional tendente a abolir os direitos e

garantias individuais.

Dirão que a norma antielisão constitui simplesmente uma diretriz

hermenêutica. Apenas aponta um caminho para o intérprete, que deve dar maior

importância à realidade econômica do que à forma jurídica. Essa norma

simplesmente deixaria expressamente autorizada a denominada interpretação

econômica, que já foi objeto de profundas divergências na doutrina dos

tributaristas, no Brasil como em outros países. Ou seja, levaria em consideração

única e exclusivamente a arrecadação; o interesse do Estado em cada vez

arrecadar mais.

Não é necessário discorrer a respeito da importância da segurança jurídica

como valor fundamental a ser preservado pelo Direito. Sabemos que a

segurança, além de ser importante para viabilizar as atividades econômicas, é

essencial para a vida do cidadão. Nem é necessário demonstrar a importância do

princípio da legalidade como instrumento de realização da segurança jurídica.

Ela é evidente. E qualquer amesquinhamento do princípio da legalidade implica

sacrificar a segurança.

Por tais razões o princípio da legalidade tem sido concebido pela doutrina

como uma exigência de previsão legal específica das hipóteses de incidência

tributária, tendo essa concepção doutrinária sido incorporada pelo Código

Tributário Nacional, que o explicitou em seu art. 97, estabelecendo que somente

a lei pode estabelecer, entre outros elementos essenciais na relação tributária, a

definição do fato gerador da obrigação principal, vale dizer, o fato gerador do

dever jurídico de pagar tributo.

O mestre Machado (2001), assim preleciona:

"Isto quer dizer que temos em nosso sistema jurídico o princípio da legalidade a exigir tipos tributários, tal como no direito penal existem os tipos penais. Ao legislador cabe, para preservar a segurança, definir

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com precisão esses tipos, pois a segurança jurídica propiciada pelo princípio da legalidade é diretamente a esta proporcional".

O próprio legislador brasileiro não é totalmente livre para definir as

hipóteses de incidência dos tributos, pois a Carta Magna, reportando-se às

espécies de tributos por ela autorizadas, definiu precisamente as atividades

estatais às quais se devem ligar as taxas e a contribuição de melhoria. E quanto

aos impostos, ao atribuir competência à União, aos Estados e Distrito Federal e

aos Municípios, para criá-los, estabeleceu o âmbito de cada um dos impostos

atribuídos a essas entidades.

Determina, no art. 150 da Constituição Federal, as vigas mestras do

Sistema Tributário, estabelecendo as limitações impostas aos entes tributantes,

restringindo o seu poder de tributar.

Assim, se nem o legislador pode alterar institutos, conceitos e formas de

direito privado, é inadmissível que a autoridade administrativa possa

simplesmente desconsiderar atos ou negócios jurídicos.

Para Machado (2001):

"A leitura atenta do art. 116 do CTN demonstra que a questão da elisão fiscal deve ser resolvida pelo legislador ordinário, ao definir a hipótese de incidência dos tributos. Se define a hipótese de incidência tributária como uma situação de fato, afasta desde logo quaisquer questionamentos jurídicos que a questionada norma antielisão possa resolver. O aplicador da lei tributária, neste caso, deve simplesmente cogitar da configuração, ou não, daquela situação de fato, para exigir, ou não exigir o tributo. Entretanto, se o legislador define a hipótese de incidência de um tributo como situação jurídica, caso no qual a norma antielisão poderia ser aplicada, está editando uma norma de incidência tributária que não poderá ser alterada pelo intérprete, seja qual for o elemento de interpretação que utilize. Nem pode a omissão dessa norma ser suprida mediante integração analógica".

Diante disso, a norma antielisão somente pode abrange os casos em que os

atos ou negócios jurídicos tenham sido praticados com a finalidade de

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dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos

constitutivos da obrigação tributária.

Em linguagem jurídica, dissimular quer dizer disfarçar, alguém,

artificiosamente, a vontade real. Procurar encobrir ou ocultar com astúcia a

verdade do ato, ou fato, dando-lhe feição ou aparência diferente.

Seja como for, a dissimulação a que se refere o parágrafo único do art.

116, do CTN, é sempre um ato ilícito. Não se confunde com a situação na qual o

contribuinte, embora com a intenção clara e até confessada de fugir ao tributo,

ou de reduzir a sua carga, opta pela prática de um ato, ou a realização de um

negócio, em vez de outro. Desde que não se trate de prática abusiva ou anômala,

estará no campo da licitude e contra ele o fisco nada pode fazer.

Assim, essa norma geral antielisão, se interpretada em harmonia com a

Constituição Federal, e assim aplicada apenas aos casos nos quais esteja

configurado evidente abuso de direito, nada vai acrescentar, posto que nossa

jurisprudência já admite a desconsideração de ato ou negócio em tal situação.

Por outro lado, se interpretada de forma mais ampla, com alcance capaz de

emprestar à autoridade administrativa o poder para desqualificar qualquer ato ou

negócio jurídico apenas porque o seu conteúdo econômico poderia estar contido

em ato mais oneroso do ponto de vista tributário, estará em flagrante conflito

com o princípio da legalidade e em aberta contradição com as normas constantes

do próprio Código Tributário Nacional, especialmente as dos artigos 108, § 1º e

116, caput, inciso I.

Porém, não é o que pretende o Administrador Fiscal. Teremos, assim, que

conviver com abusos e ofensas a outros princípios tributários, como, por

exemplo, o da igualdade, pois poderemos ter situações em que, em dado

momento o Fisco entenda possível um determinado negócio jurídico, praticado

por um contribuinte para reduzir a carga tributária, e, em outro dado momento,

entenda, em situação análoga, não ser possível aquele mesmo negócio jurídico,

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praticado por outro contribuinte, desconsiderando-o, tributando o fato com se

não houvesse aquele negócio. Ou seja, é o fim da segurança jurídica nos

negócios jurídicos, que poderá levar ao fim de institutos jurídicos já

sedimentados em nosso ordenamento jurídico.

A edição da Lei Complementar nº 104/2001 e a futura superveniência da

Lei Ordinária Regulamentadora, trará ao sistema, hoje posto, um profundo

desequilíbrio. Hoje convivem em perfeita harmonia o Sistema Tributário e a

Elisão Fiscal? Os contribuintes buscam formas lícitas para diminuir a carga

tributária, com vista a melhor a condição do seu produto no mercado.

Com o advento da Lei Complementar, essa harmonia vê-se abalada. O

fisco, com uma ferramenta poderosa em suas mãos, pretende desconsiderar

todos os negócios jurídicos ou atos tendentes a diminuir a incidência de tributos,

para aumentar a sua arrecadação; por outros lado o contribuinte se vê acuado,

sem nenhuma saída, restando a ele pagar o que se lhe é cobrado.

O que fazer? Agir de forma ilícita, dissimulando situações e correndo o

risco de vir a ser autuado pelo Fisco, ou agir conforme a lei, dentro dos limites

da licitude, mas correndo o risco de ver o seu negócio desconsiderado e

compelido a pagar como se o negócio não existisse. É igualar o bom

contribuinte, o contribuinte sério àquele que age à margem da licitude.

De forma brilhante, Leonardo Boff (1998:46), fala esse desequilíbrio no

sistema, e quais as conseqüências:

"Antecipamos aqui o que iremos detalhar num capítulo específico mas adiante. A lógica do universo e de todos os seres nele existentes é esta: organização – desorganização – interação – reestruturação – nova organização. Nunca há um equilíbrio estático, mas dinâmico e sempre por fazer. Sempre há a eco-evolução. A virtude principal não é a estabilidade, mas a capacidade de criar estabilidades novas a partir de instabilidades. A lógica da natureza não é recuperar o equilíbrio anterior, mas gestar novas formas de equilíbrio aberto. Esta aptidão permite à vida desenvolver-se, produzir a diversidade e perpetuar-se. A vida inventa até a morte para poder continuar num nível superior e mais aberto.

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O universo se constitui e se constrói a partir e através do dia-bólico, do caos, o big bang primordial. Esse dia-bólico é generativo, pois propicia novas formas de organização. Faz evoluir o cosmos sob formas cada vez mais sim-bólicas, complexas e ricas. Nas palavras de nosso tema, o sim-bólico se constrói a partir do dia-bólico. O simbólico se refaz e se reestrutura continuamente na medida em que se confronta, integra e eleva a níveis mais altos o dia-bólico que carrega sempre dentro de si. ... A questão é complexíssima. Talvez o caminho seja até inacessível à pura razão analítica. Exige, antes, uma razão prática e simbólica, sensível a valores. Efetivamente. A demência humana comporta uma dimensão ética. Vale dizer, supõe responsabilidade, culpa, reparação, reversibilidade e evitabilidade. O mal ético na história sempre, desde Jó, foi e continua sendo um desafio para toda concepção humanística da vida. O mal não está aí para ser compreendido, mas para ser combatido. Na medida em que é superado, deixa entrever sua ordenação a um todo maior no qual deixa de ser absurdo. Apresenta-se como incentivador na construção de novos caminhos e de estados de consciência mais altos e maduros. A partir daí ele vem investido de sentido. Do dia-bólico gesta-se o sim-bólico. Importa, portanto, descongelar o mal e o dia-bólico. Colocá-los em movimento, como parte de um processo. Fazem parte da cosmogênese e da antropogênese. É condição originária da evolução. Mas cabe honestamente reconhecer: nem sempre esse sentido é preceptível. Ele exige fé e esperança. Essas atitudes não são voluntarísiticas. Estão fundadas no caráter virtual da própria realidade que carrega em seu bojo o sentido encoberto. Num sentido global, esse sentido se revela em sua patência somente no fim. Até lá cabe-nos esperar e crer pacientemente. Essa atitude exige desprendimento, serenidade e sabedoria. É uma condição inevitável de nosso estado de criaturas, limitadas e sempre abertas para frente e para cima".

Mesmo com essas alterações, o sistema com o passar do tempo se

adequará a essa nova realidade, possibilitando a volta do planejamento

tributário.

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3 ALGUNS CASOS

É o caso, por exemplo, de uma empresa de serviços que decide mudar sua

sede para determinado município, visando pagar o ISS com uma alíquota mais

baixa. A lei não proíbe que os estabelecimentos escolham o lugar onde

exercerão atividades, pois os contribuintes possuem liberdade de optar por

aqueles mais convenientes a si, mesmo se a definição do local for

exclusivamente com objetivos de planejamento fiscal.

Nesse sentido, a Empresa F. Alves Pacheco Ltda, resolveu mudar-se de

Peritoró para São Mateus, municípios do Maranhão, tendo em vista a

diminuição do ISS, que na cidade de São Mateus tem uma alíquota mais baixa.

Desta forma, exemplifica-se um caso de elisão fiscal legítima, e não constitui

evasão.

CSLL - BÔNUS DE ADIMPLÊNCIA FISCAL

A partir de 01.01.2003, é instituído, em relação aos tributos e

contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, bônus de

adimplência fiscal, aplicável às pessoas jurídicas submetidas ao regime de

tributação com base no lucro real ou presumido.

CÁLCULO DO BÔNUS

O bônus corresponde a:

I – 1% um por cento da base de cálculo da CSLL determinada segundo as

normas estabelecidas para as pessoas jurídicas submetidas ao regime de

apuração com base no lucro presumido;

II – será calculado em relação à base de cálculo referida no item I, relativamente

ao ano-calendário em que permitido seu aproveitamento.

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Exemplo:

Base de cálculo da CSLL no 1o. trimestre de 2.003: R$ 100.000,00

Bônus: R$ 100.000,00 x 1% = R$ 1.000,00

Na hipótese de período de apuração trimestral, o bônus será calculado em

relação aos quatro trimestres do ano-calendário e poderá ser deduzido da CSLL

devida correspondente ao último trimestre.

IMPEDITIVO AO DIREITO DO BÔNUS

Não fará jus ao bônus a pessoa jurídica que, nos últimos cinco anos-

calendário, se enquadre em qualquer das seguintes hipóteses, em relação a

tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal:

I – lançamento de ofício;

II – débitos com exigibilidade suspensa;

III – inscrição em dívida ativa;

IV – recolhimentos ou pagamentos em atraso;

V – falta ou atraso no cumprimento de obrigação acessória.

Na hipótese de decisão definitiva, na esfera administrativa ou judicial, que

implique desoneração integral da pessoa jurídica, as restrições referidas nos

itens I e II acima serão desconsideradas desde a origem.

O período de cinco anos-calendário será computado por ano completo,

inclusive aquele em relação ao qual dar-se-á o aproveitamento do bônus.

UTILIZAÇÃO DO BÔNUS

A dedução do bônus dar-se-á em relação à CSLL devida no ano-

calendário.

A parcela do bônus que não puder ser aproveitada em determinado

período poderá sê-lo em períodos posteriores, vedado o ressarcimento ou a

compensação com outros tributos.

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REGISTRO CONTÁBIL

O bônus será registrado na contabilidade da pessoa jurídica beneficiária:

I – na aquisição do direito, a débito de conta de ativo circulante e a crédito de

Lucros ou Prejuízos Acumulados;

II – na utilização, a débito da provisão para pagamento da CSLL e a crédito da

conta de ativo circulante referida no item I acima.

Exemplo:

1) Aquisição do direito ao bônus:

D - CSLL - Bônus de Adimplência a Compensar (Ativo Circulante)

C - Lucros ou Prejuízos Acumulados (Patrimônio Líquido)

2) Na utilização, mediante compensação com a própria CSLL a pagar:

D - Provisão da CSLL a Pagar (Passivo Circulante)

C - CSLL - Bônus de Adimplência a Compensar (Ativo Circulante)

Base: art. 38 da Lei 10637/2003.

ICMS – CRÉDITOS DECORRENTES DE REFORMAS

A Lei Complementar 102/2000 trouxe alterações na sistemática de crédito

de ICMS a partir de 01.01.2001:

1. O crédito do ICMS nas compras do ativo imobilizado será efetuado na

proporção de 1/48 por mês.

2. As entradas de materiais de uso e consumo somente darão direito ao

crédito a partir de 01.01.2003.

Uma correta classificação entre imobilizado e material de uso e consumo

poderá gerar melhor aproveitamento fiscal.

O imobilizado caracteriza-se como bens que são incorporados á atividade

operacional do contribuinte, com prazo de vida útil superior a 1 ano. Exemplo:

veículos, máquinas, ferramentas, etc.

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Já o material de uso e consumo é aquele que se consome nas operações,

que tem uma vida útil inferior a 1 ano. Exemplo: materiais de manutenção,

descartáveis, etc.

Mas existe uma categoria que, normalmente, recebe a classificação de uso

e consumo, mas que é característico de imobilização. Como exemplos, peças e

componentes para reforma de motores, máquinas e outros objetos móveis, que

tenham por objetivo aumentar a vida útil do bem.

Desde que contabilizados no ativo imobilizado e escriturados sob o

Código Fiscal adequado, tais imobilizações podem representar créditos lícitos de

ICMS.

DEPRECIAÇÃO DE BENS - TAXAS BASEADAS EM LAUDO TÉCNICO

DO INSTITUTO NACIONAL DE TECNOLOGIA

Para itens de imobilização com rápida obsolescência tecnológica ou

excessivo desgaste, é interessante aplicar a possibilidade advinda do artigo 310,

parágrafo 2, do Regulamento do IR. Este artigo especifica que o contribuinte

poderá pedir ao Instituto Nacional de Tecnologia (INT) a elaboração de laudo

para adoção de taxas de depreciação, adequadas às condições de utilização dos

bens, diversas daquelas que forem divulgadas pela Secretaria da Receita Federal.

Os equipamentos são normalmente depreciados á taxa de 10% ao ano.

Mas se os mesmos tiverem vida útil de 5 anos, segundo laudo do INT, a taxa

dobrará para 20% ao ano, permitindo economia fiscal pela maior contabilização

de despesas de depreciação, para as empresas optantes pelo Lucro Real.

Atualmente, essa competência está afeta à Divisão de Avaliação

Tecnológica, órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que

funciona no seguinte endereço:

26

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), que

se localiza na Cidade Universitária, em São Paulo, também é uma entidade

habilitada a atestar a adequação de taxas de depreciação em função das

condições de uso de bens. Os interessados devem encaminhar pedido de parecer,

instruído com descrição dos bens e o setor em que são utilizados, para a Divisão

de Engenharia Mecânica.

IMÓVEIS: FORMAS DE CONTABILIZAÇÃO PARA ECONOMIA

FISCAL

As empresas que detém imóveis em seu patrimônio, observando os

seguintes critérios contábeis, poderão gerar economia fiscal do IRPJ e CSLL no

Lucro Real:

1. Segregar custo de aquisição das edificações do respectivo terreno: ao

adquirir um imóvel, é necessário registrar os valores da aquisição na escritura,

constando separadamente as edificações (obra civil) do valor do terreno. Isto

possibilitará contabilizar destacadamente tais valores, sendo que o custo relativo

ás edificações poderão sofrer contabilização de cotas de depreciação á taxa de

até 4% ao ano.

2. Construções em andamento: contabilizar separadamente o valor da

construção civil (depreciável futuramente a 4% ao ano) das instalações elétricas,

hidráulicas, de segurança, ambientais, etc. As instalações são depreciáveis á taxa

de 10% ao ano, gerando, portanto, quota maior de depreciação anual daquela

oriunda do registro conjunto com as edificações.

3. Baixa dos bens demolidos ou substituídos: as alterações nos imóveis, que

impliquem demolição ou substituição, podem gerar baixas contábeis dedutíveis

na tributação. Observar o Parecer Normativo CST 72/1977.

27

4. Despesas de manutenção e conservação: os custos relativos a conservação

do imóvel não devem ser ativados, podendo ser deduzidos diretamente como

despesa operacional, desde que não impliquem em reforma ou aumento de vida

útil do imóvel como um todo.

INSTRUÇÃO NORMATIVA 15/2001 – NORMAS PERMITEM

PLANEJAMENTO FISCAL

A Instrução Normativa SRF 15/2001 regulamenta a tributação pelo

imposto de renda para as pessoas físicas. Com base nas normas previstas, há

procedimentos que poderão vir a ser utilizados pelas pessoas jurídicas e físicas,

simultaneamente, permitindo economia fiscal:

1) ISENÇÃO - DIÁRIAS DE VIAGEM (art. 5o, II), para cobertura de despesas

de alimentação e pousada, por serviço realizado em município diferente da sede

da empresa. Como tais custos são dedutíveis na apuração do Lucro Real,

conclui-se que é interessante as empresas utilizarem esta forma de pagamentos,

ao invés de reembolsarem, por exemplo, tais verbas na folha de pagamento

como gratificação ou ajuda de custo, que são tributados normalmente. Há ainda

de se destacar não incidência de INSS e FGTS sobre tais diárias, desde que

limitadas a 50% do salário do empregado.

2) ISENÇÃO - CONTRIBUIÇÕES A PREVIDÊNCIA PRIVADA (art. 5o,

VIII): inclusive a dirigentes (sócios-gerentes, diretores, etc.). É interessante

substituir aumentos salariais (cujo custo tributário pode chegar a mais de 60%,

computando-se INSS, FGTS e IRFonte) ou pró-labore (custo de até 47,5%,

compreendendo INSS e IRFonte) por aludidas contribuições. Deduz-se do lucro

real e não há tributação na declaração da pessoa física.

3) ISENÇÃO - BOLSAS DE ESTUDO E DE PESQUISA (art. 5o, XVII)

caracterizadas como doação, apesar de serem indedutíveis do lucro real,

28

permitem economia fiscal se evitarem acréscimo salarial tributado pelo INSS,

FGTS e IRF.

4) TRIBUTAÇÃO NA FONTE - RENDIMENTOS DE MÚTUOS (art. 6o,

XXII), creditados a partir de 1999, são dedutíveis para a pessoa jurídica

tributada pelo lucro real, como despesa financeira, podendo gerar economia de

até 34% (IRPJ + CSL), enquanto que a tributação na fonte é de 20%. Ainda, é

vantagem substituir pelo rendimento de mútuo:

a) Crédito de pró-labore, que tem custo de até 27,5% de IRF e 20% de INSS.

b) Aluguéis ou outros rendimentos tributáveis até 27,5%.

5) ISENÇÃO - LUCROS PAGOS A SÓCIO DE MICROEMPRESA OU EPP

(art. 5o, L): a tributação de até 27,5% de IRF mais 20% de INSS na prestação de

serviços autônomos poderá ser reduzida para até 8% (3% Simples + 5% ISS) nas

hipóteses em que não há impeditivo legal para atuação destes profissionais como

empresas optantes pelo Simples Federal.

6) DESPESAS DE IMPOSTOS, TAXAS, CONDOMÍNIO E

EMOLUMENTOS DE IMÓVEL LOCADO (art. 12), não integram a base de

cálculo para fins de imposto de renda. Assim, se a empresa está utilizando-se de

algum imóvel dos sócios, tais despesas reembolsadas não se caracterizam como

rendimento. Por vezes, tais despesas são superiores até ao próprio aluguel. É

uma brecha importante para diminuir o ônus fiscal da locação.

COFINS – ASPECTOS DO FIM DA CUMULATIVIDADE A PARTIR DE

Com a Medida Provisória 135/2003, para as empresas optantes pelo lucro

real, a partir de 01.02.2004, acaba a cumulatividade da COFINS sobre a receita

bruta.

29

Entretanto, a alíquota é elevada para 7,6%. Como haverá créditos relativos

á aquisição de materiais, serviços e custos operacionais (exceto mão de obra), o

ponto de equilíbrio, em relação á atual sistemática, ocorre quando o contribuinte

tem um custo de venda (exceto mão de obra) superior a 60,53% das vendas.

Portanto, é necessário lançar mão de todas as possibilidades admitidas na

legislação para obter a minimização da nova carga tributária.

CRÉDITOS ADMISSÍVEIS

3. Bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos

produtos adquiridos com substituição tributária ou submetidos á

incidência monofásica da COFINS;

4. bens e serviços utilizados como insumo na fabricação de produtos

destinados à venda ou na prestação de serviços, inclusive combustíveis e

lubrificantes;

5. energia elétrica consumida nos estabelecimentos da pessoa jurídica;

6. aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, pagos a pessoa jurídica,

utilizados nas atividades da empresa;

7. despesas financeiras decorrentes de empréstimos, financiamentos e o

valor das contraprestações de operações de arrendamento mercantil de

pessoa jurídica, exceto de optante pelo Sistema Integrado de Pagamento

de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de

Pequeno Porte - SIMPLES;

8. máquinas, equipamentos e outros bens incorporados ao ativo imobilizado

adquiridos para utilização na produção de bens destinados à venda, ou na

prestação de serviços;

9. edificações e benfeitorias em imóveis de terceiros, quando o custo,

inclusive de mão-de-obra, tenha sido suportado pela locatária;

10. bens recebidos em devolução, cuja receita de venda tenha integrado

faturamento do mês ou de mês anterior, e tributada conforme a MP 135.

30

CÁLCULO DO CRÉDITO

O crédito será determinado mediante a aplicação da alíquota de 7,6%

sobre o valor da soma de:

• dos itens mencionados em 1 e 2 acima, adquiridos no mês;

• dos itens mencionados em 3 a 5, incorridos no mês;

• dos encargos de depreciação e amortização dos bens mencionados em 6 e

7, incorridos no mês;

• dos bens mencionados em 8, devolvidos no mês.

RECEITAS QUE NÃO INTEGRARÃO A BASE DE CÁLCULO

Não integram a base de cálculo da COFINS não cumulativa, as receitas:

I - isentas ou não alcançadas pela incidência da contribuição ou sujeitas à

alíquota zero;

II - não-operacionais, decorrentes da venda de ativo imobilizado;

III - auferidas pela pessoa jurídica revendedora, na revenda de mercadorias em

relação às quais a contribuição seja exigida da empresa vendedora, na condição

de substituta tributária;

IV - de venda dos produtos de que tratam as Leis nº 9.990, de 21 de julho de

2000, nº 10.147, de 21 de dezembro de 2000, e 10.560, de 13 de novembro de

2002, ou quaisquer outras submetidas à incidência monofásica da contribuição;

V - referentes a:

a) vendas canceladas e aos descontos incondicionais concedidos;

b) reversões de provisões e recuperações de créditos baixados como perda, que

não representem ingresso de novas receitas, o resultado positivo da avaliação de

investimentos pelo valor do patrimônio líquido e os lucros e dividendos

derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisição, que tenham sido

computados como receita.

31

NÃO INCIDÊNCIA DA COFINS

A COFINS não incidirá sobre as receitas decorrentes das operações de:

I - exportação de mercadorias para o exterior;

II - prestação de serviços para pessoa física ou jurídica domiciliada no exterior,

com pagamento em moeda conversível;

III - vendas a empresa comercial exportadora com o fim específico de

exportação.

APROVEITAMENTO DO CRÉDITO NOS PERÍODOS

SEGUINTES

O crédito não aproveitado em determinado mês poderá sê-lo nos meses

subsequentes.

CRÉDITO DA COFINS NA EXPORTAÇÃO

A pessoa jurídica exportadora poderá utilizar o crédito da COFINS

apurado para fins de:

I - dedução do valor da contribuição a recolher, decorrente das demais operações

no mercado interno;

II - compensação com débitos próprios, vencidos ou vincendos, relativos a

tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal,

observada a legislação específica aplicável à matéria.

RESSARCIMENTO

A pessoa jurídica que, até o final de cada trimestre do ano civil, não

conseguir utilizar o crédito apurados em relação a custos, despesas e encargos

vinculados á receita de exportação, por qualquer das formas previstas

anteriormente, poderá solicitar o seu ressarcimento em dinheiro, observada a

legislação específica aplicável à matéria.

32

CRÉDITO PRESUMIDO - AQUISIÇÃO DE MERCADORIAS DE

ORIGEM ANIMAL OU VEGETAL

As pessoas jurídicas que produzam mercadorias de origem animal ou

vegetal, classificadas nos capítulos 2 a 4, 8 a 12 e 23, e nos códigos 01.03,

01.05, 0504.00, 0701.90.00, 0702.00.00, 0706.10.00, 07.08, 0709.90, 07.10,

07.12 a 07.14, 15.07 a 1514, 1515.2, 1516.20.00, 15.17, 1701.11.00, 1701.99.00,

1702.90.00, 18.03, 1804.00.00, 1805.00.00, 20.09, 2101.11.10 e 2209.00.00,

todos da Nomenclatura Comum do Mercosul - NCM, destinados à alimentação

humana ou animal, poderão deduzir da COFINS, devida em cada período de

apuração, crédito presumido, calculado sobre o valor dos bens e serviços

utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de

bens ou produtos destinados á venda, adquiridos, no mesmo período, de pessoa

física residente no País.

O valor do crédito presumido será determinado mediante aplicação, sobre

o valor das mencionadas aquisições, de alíquota correspondente a 70% (setenta

por cento) da COFINS.

DESCONTO RELATIVO AOS ESTOQUES

A pessoa jurídica, submetida à apuração do valor da COFINS por estas

novas regras, terá direito a desconto correspondente ao estoque de abertura dos

bens adquiridos para revenda e de bens e serviços utilizados como insumos na

fabricação, adquiridos de pessoa jurídica domiciliada no País, existentes em 1º

de FEVEREIRO de 2004.

O montante de crédito presumido será igual ao resultado da aplicação do

percentual de 3% sobre o valor do estoque.

O crédito presumido dos estoques será utilizado em doze parcelas

mensais, iguais e sucessivas, a partir de fevereiro/2004 (inclusive).

33

Exemplo:

Estoques existentes em 01.02.2004 R$ 1.000.000,00

Crédito Presumido da COFINS = R$ 1.000.000,00 x 3% = R$ 30.000,00

Crédito mensal = R$ 30.000,00 dividido por 12 = R$ 2.500,00

O crédito aplica-se também aos estoques de produtos acabados e em elaboração.

PROPORCIONALIZAÇÃO DE CUSTOS E DESPESAS

Na hipótese de a pessoa jurídica sujeitar-se à incidência não-cumulativa

da COFINS, em relação apenas a parte de suas receitas, o crédito será apurado,

exclusivamente, em relação aos custos, despesas e encargos vinculados a essas

receitas.

O crédito proporcional será determinado, a critério da pessoa jurídica,

pelo método de:

1. apropriação direta, inclusive em relação aos custos, por meio de sistema

de contabilidade de custos integrada e coordenada com a escrituração; ou

2. rateio proporcional, aplicando-se aos custos, despesas e encargos comuns a

relação percentual existente entre a receita bruta sujeita à incidência não-

cumulativa e a receita bruta total, auferidas em cada mês.

O critério de alocação deverá ser o mesmo para todo o ano-calendário.

Exemplo:

Contribuinte do “Novo COFINS” que apurou os seguintes valores em

fevereiro/2004:

RECEITAS Valor R$ %

Tributadas pelo Novo COFINS 10.000.000,00 66,67%

Tributadas no Regime Monofásico 5.000.000,00 33,33%

TOTAL 15.000.000,00 100,00%

CUSTOS/DESPESAS (CRÉDITOS

34

ADMISSÍVEIS)

Produtos Tributados pelo Novo

COFINS 5.250.000,00 57,38%

Produtos Tributados no Regime

Monofásico 3.900.000,00 42,62%

TOTAL 9.150.000,00 100,00%

Cálculo do Crédito do COFINS:

Critério de Proporcionalização de

Receitas:

Percentual de Receitas Tributadas 66,67%

Total dos Custos 9.150.000,00

Base de Cálculo do Crédito 6.100.000,00

1. Crédito COFINS Proporcional á

Receita 7,6% 463.600,00

Critério de Sistema de Custos

Contábeis:

Base de Cálculo 5.250.000,00

2. Crédito COFINS Proporcional

Custos 7,6% 399.000,00

Diferença de Critérios (1 - 2) 64.600,00

Conclusão: se este contribuinte adotar o critério de crédito da COFINS na

forma de proporcionalização de receitas, poderá pagar menos R$ 64.600,00 de

COFINS em 15.03.2004.

35

O método eleito pela pessoa jurídica para determinação do crédito, será

aplicado consistentemente por todo o ano-calendário e, igualmente, adotado na

apuração do crédito relativo à contribuição para o PIS não-cumulativo,

observadas as normas a serem editadas pela Secretaria da Receita Federal.

CRÉDITO - NÃO INCLUSÃO NA BASE DE CÁLCULO DA COFINS

Observe-se, ainda, que o valor dos créditos apurados da COFINS de acordo com

a MP 125 não constitui receita bruta da pessoa jurídica, servindo somente para

dedução do valor devido da contribuição.

AQUISIÇÃO DE BENS POR MEIO DE CONSÓRCIOS –

CONTABILIZAÇÃO E DEDUÇÃO NO LUCRO REAL DAS DESPESAS

DE VARIAÇÕES DAS QUOTAS

REGISTROS POR OCASIÃO DA AQUISIÇÃO DO BEM:

Por ocasião da aquisição do bem adquirido por Consórcio, há necessidade

de registrar o custo total na conta própria desse bem, no subgrupo ativo

imobilizado, bem como os ajustes decorrentes do (a):

a) total dos pagamentos realizados (inclusive lance, se for o caso), dando-se

baixa na conta transitória em que foram registrados inicialmente;

b) dívida assumida, calculada pela multiplicação do valor atual da parcela

mensal pelo número de parcelas restantes, a qual será registrada em conta (s) do

passivo circulante e exigível a longo prazo, se for o caso.

Portanto, para fins de apuração do resultado contábil, é interessante que estes

registros sejam feitos imediatamente por ocasião do recebimento do bem, para

permitir a dedução como despesa financeira do ajuste de valor das parcelas

vincendas.

36

Exemplo:

Valor de veículo adquirido mediante consórcio: R$ 50.000,00

Valor das quotas já pagas (registradas no ativo) R$ 20.000,00

D – Veículos (Imobilizado) R$ 50.000,00

C – Adiantamentos de Consórcio R$ 20.000,00

C – Consórcios a Pagar (Passivo) R$ 30.000,00

Valor de cada parcela: R$ 1.000,00

Número de parcelas a pagar: 40

Saldo devedor na data do recebimento do bem: R$ 40.000,00 (40 x R$ 1.000,00)

Valor do ajuste: R$ 40.000,00 – R$ 30.000,00 (valor já existente na conta) = R$

10.000,00

Ajuste contábil:

D – Variações de Consórcios a Pagar (Despesas Financeiras)

C – Consórcios a Pagar (Passivo) R$ 10.000,00

ACRÉSCIMOS DA DÍVIDA A PARTIR DO RECEBIMENTO DO BEM

Os acréscimos no saldo a pagar que ocorrerem no futuro por mudanças no

preço do bem serão considerados despesas de variações monetárias, visto que se

referem à atualização monetária de obrigações em função de índices

contratados.

EFEITOS FISCAIS:

A contabilização da forma apresentada é respaldada pelo PN CST 1/83, e

poderá representar menor pagamento de IRPJ e CSL sobre o Lucro Real de até

34% sobre o valor da despesa financeira contabilizada.

37

USO DA EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL PARA REDUZIR O

GANHO DE CAPITAL TRIBUTÁVEL

A venda de investimento relevante em sociedade coligada ou controlada

deve ser procedida de avaliação pelo valor do patrimônio líquido, com base em

balanço ou balancete patrimonial da coligada ou controlada, levantado na data

da alienação ou até 30 dias, no máximo, antes dessa data.

Base: artigo 427 do Regulamento do IR/1999.

É importante atentar que o resultado da equivalência patrimonial não será

incluído na base de cálculo do Lucro Real e da Contribuição Social sobre o

Lucro (artigo 389 do RIR/99).

Na hipótese de o resultado ser credor (receita), economiza-se imposto de

renda e contribuição social, pois o ganho de capital ocorrido na venda será

menor.

Entretanto, algumas empresas, por não terem investimentos relevantes em

relação ao Patrimônio Líquido (conforme previsto pelo artigo 384, parágrafo 3

do RIR/99), precisarão adotar a seguinte estratégia, antes de efetivarem a venda

de seus investimentos, para minimizarem o custo fiscal do ganho de capital, se a

contabilização da equivalência resultar credora:

1) Reduzir o capital para o valor que resultar em redução do Patrimônio Líquido

que torne o investimento a ser vendido em relevante.

2) Realizar a contabilização do resultado da equivalência patrimonial.

Um planejamento que obtenha um aumento de custo do investimento a ser

vendido poderá resultar numa economia de IRPJ e CSLL sobre o resultado

auferido em até 34% deste valor.

Assim, uma contabilização credora de equivalência na data de venda de

R$ 1.000.000,00 poderá resultar em uma menor tributação do negócio em até R$

340.000,00.

38

CRÉDITO DE JUROS TJLP – ABATIMENTO NO LUCRO REAL

As empresas poderão deduzir, para efeitos de apuração do lucro real e da

base de cálculo da contribuição social sobre o lucro, os juros pagos ou

creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de

remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio

líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo –

TJLP (Lei 9.249/95, art. 9º e art. 347 do Regulamento do IR).

Esta dedução está condicionada à existência de lucros, computados antes

da dedução dos juros, ou de lucros acumulados e reservas de lucros, em

montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem pagos ou

creditados

Há retenção de imposto de renda na fonte de 15% sobre o valor

respectivo.

PLANEJAMENTO FISCAL

A utilização do crédito de juros TJLP pode permitir o seguinte

planejamento no Lucro Real:

1) Imposto de Renda: retêm-se 15% dos sócios mas deduz-se integralmente

como despesa financeira (dentro dos limites e condições fixados pelo artigo 347

do Regulamento do IR), podendo reduzir até 25% de IRPJ. A diferença pode

resultar em menor IRPJ de até 10% sobre o valor pago/creditado dos juros.

Nota: a tributação, para os sócios pessoas físicas, é exclusiva na fonte

(parágrafo 3o art. 9 da Lei 9249/95).

2) Contribuição Social: pode deduzir-se até 100% do valor pago/creditado,

dentro dos limites e condições fixados, podendo economizar até 9% do valor.

Em síntese: a utilização deste planejamento poderá resultar numa economia de

até 19% do valor pago/creditado.

39

CUSTO DE CAPITAL – REMUNERAÇÃO DOS SÓCIOS VIA

CONTRATO DE MÚTUO

Nas empresas tributadas pelo Lucro Real, o capital próprio dos sócios e

acionistas é remunerado, no máximo, pela TJLP, hoje em 0,9167% ao mês.

Mas existe alternativa de transformar capital em empréstimo de mútuo, com

crédito de juros pelo valor de mercado (hoje, em torno de 2,5% ao mês).

A operação seria a seguinte:

1) Redução de Capital Social, mediante restituição em créditos (duplicatas e

valores a receber) aos sócios pessoas físicas;

2) Os sócios efetuam contrato de depósito de títulos e créditos, com a empresa,

com a transformação automática dos créditos liquidados em conta de mútuo;

3) O saldo do mútuo é remunerado á taxa de mercado, sendo tributado na fonte

em 20 % (conforme art. 729 e 730, III, do Regulamento do IR).

Para o beneficiário pessoa física, o IRRF sobre os rendimentos de mútuo é

considerado definitivo, o que importa dizer que os rendimentos não integrarão a

base de cálculo do imposto devido na declaração de Ajuste (serão declarados

como rendimentos sujeitos à tributação exclusiva) e o imposto retido não poderá

ser compensado na declaração (art. 773, II, do RIR/99).

Vantagens deste planejamento:

A empresa tomadora (mutuária) poderá deduzir as despesas financeiras

decorrentes do mútuo, reduzindo o IRPJ e a CSLL a pagar em até 34% do valor

creditado. Como haverá um custo tributário de 20% pela retenção do IRF

(definitivo para a pessoa física), a economia fiscal poderá atingir até 14% sobre

a despesa financeira do valor mutuado.

No caso de mútuo com pessoa jurídica, haverá incidência do IOF, PIS e

COFINS além da tributação pelo IRPJ e CSLL na empresa mutuante (que recebe

40

os rendimentos financeiros). Neste caso, há necessidade de estudo específico

para avaliar as vantagens ou não da operação.

APROPRIAÇÃO DE RECEITA PARA FINS TRIBUTÁRIOS:

FATURAMENTO ANTECIPADO x VENDA PARA ENTREGA FUTURA

As receitas e as despesas devem ser reconhecidas contabilmente quando

auferidas e incorridas, respectivamente, independentemente do efetivo

recebimento ou pagamento (art. 177 da Lei nº 6.404/76 e artigos 247, 248 e 274

do RIR/99).

Tal regra impõe o reconhecimento da receita proveniente da venda de

mercadorias, produtos ou serviços no momento em que a empresa vendedora

adquire o direito ao recebimento do preço pela conclusão da operação, de acordo

com as normas do direito comercial, independentemente do efetivo pagamento,

salvo em relação aos optantes pelo Lucro Presumido ou Simples Federal, que

poderão tributar as receitas pelo regime de caixa (observar os critérios

estipulados na IN SRF 104/98).

A doutrina predominante afirma que, como regra geral, no direito

brasileiro, o contrato de compra e venda não é capaz de, por si só, transferir o

domínio da coisa vendida, não produzindo efeitos reais, mas apenas

obrigacionais. A transferência do domínio somente se opera mediante a tradição

(entrega do bem). De forma análoga, o mesmo raciocínio pode ser estendido aos

contratos de serviços.

Isto significa que, pelo ajuste do contrato de compra e venda, o comprador

não se torna proprietário do bem (ou receptor dos serviços), mas sim credor do

vendedor, relativamente à transferência do domínio do bem (ou recepção dos

serviços), que se dá mediante a tradição (entrega).

41

A distinção que se faz entre faturamento antecipado e venda para entrega

futura é que o primeiro ocorre quando uma empresa vendedora emite nota fiscal

e fatura de uma mercadoria (ou serviços) que ainda não produziu ou não

adquiriu de seu fornecedor (para revenda), enquanto, na segunda, a empresa

vende mercadoria já produzida ou adquirida, mas que, por conveniência ou

interesse do comprador, continua em poder da vendedora, transformando-se esta

em mera depositária da mercadoria vendida.

Portanto, a distinção básica que se faz entre essas duas operações reside

no fato de a empresa vendedora possuir ou não a mercadoria (ou serviços)

objeto da compra e venda em seu ativo (estoques) ou a comando executório

(serviços em andamento).

Esta distinção, que foi reconhecida pelo 1º Conselho de Contribuintes

(Acórdão nº 101-87.747/95 da 1ª Câmara), é importante para determinar o

momento em que cabe o reconhecimento da receita em conta de resultado,

possibilitando assim gerar economia fiscal, pelo reconhecimento da receita, para

fins de apuração do IRPJ, CSLL, PIS, COFINS (e ISS, no caso de serviços) e

SIMPLES, além do ICMS e do IPI, quando devidos.

O faturamento antecipado existe porque, para fins de cobrança bancária

(duplicata), a empresa fornecedora é obrigada a emitir a fatura (nota fiscal).

MOMENTO EM QUE A RECEITA DEVE SER CONTABILIZADA

Como regra geral, a receita decorrente de contrato de compra e venda

considera-se auferida quando efetivada, juridicamente, a transferência da

propriedade do bem (PN CST nº 73/73) ou execução dos serviços.

No caso de vendas de mercadorias (bens móveis), a transferência da

propriedade opera-se mediante a tradição, que normalmente se materializa com

a efetiva entrega do bem.

42

Todavia, a tradição pode se dar também de forma consensual, quando o

bem é colocado à disposição do comprador, mas, por conveniência deste,

permanece em poder do vendedor.

Desse modo, pode-se concluir que:

a) no caso de faturamento antecipado, entendido como tal a emissão de nota

fiscal e fatura, antes que o vendedor esteja de posse da mercadoria ou serviço a

ser entregue, não se pode cogitar do reconhecimento de receita, até porque não

existe ainda o custo a ser com ela confrontado; neste caso, a receita somente será

reconhecida quando ocorrera entrega da mercadoria ou serviço e, se antes da

ocorrência desse evento houver recebimento por conta da operação,

contabilmente, o valor recebido deve ser classificado em conta do passivo

circulante, pois reflete a obrigação da empresa para com o seu cliente;

b) no caso de venda para entrega futura, isto é, quando a mercadoria vendida é

colocada à disposição do comprador, mas, por conveniência deste, permanece

em poder do vendedor, aí sim, cabe o reconhecimento da receita da venda e do

respectivo custo no momento em que foi emitida a nota fiscal.

Exemplos práticos:

1) Empresa prestadora de serviços de manutenção, cujo contrato prevê a

execução de serviços de julho a novembro/2003. Para fins de cobrança bancária,

o fornecedor dos serviços emite a fatura/duplicata em junho/2003, no valor de

R$ 100.000,00.

Valores da receita: junho = zero, julho a novembro (1/5 por mês) R$ 20.000,00.

Nota: determinadas prefeituras municipais não reconhecem a possibilidade de

tributação pelo ISS dos serviços, quando da execução, entendendo que a mesma

deva ocorrer pelo faturamento. Recomendamos consulta (por escrito) á

repartição municipal competente, antes de ser adotado o critério exposto.

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2) Fornecimento de materiais com faturamento antecipado, para fins de

cobrança bancária, no valor de R$ 150.000,00. Faturamento em outubro/2003.

Os materiais são adquiridos e entregues somente em novembro/2003.

Momento da apropriação da receita: novembro/2003.

REEMBOLSO DE CUSTOS E DESPESAS X FATURAMENTO

Em contratos de prestação de serviços, os custos e despesas com a

execução do mesmo são, normalmente, faturados, gerando custos tributários

adicionais.

Caso haja previsão contratual entre as partes, é admissível a sistemática de

repasse dos referidos custos ou despesas, diretamente, em nome do contratante.

Exemplo 1:

Máquinas e equipamentos alugados para execução de serviços no cliente

“C”.

A empresa “P” (prestadora dos serviços) contrata, em nome e por conta de

“C”, as referidas máquinas e equipamentos, junto a Locadora “L”. O

faturamento de “L” é direto contra “C” e não contra a empresa prestadora dos

serviços (“P”).

Exemplo 2:

Numa empresa de serviços cujos custos e despesas operacionais diretos

sejam de 40% sobre a receita, a viabilização de tais repasses poderá significar

uma economia de até:

ISS (5% x 40%) 2% PIS e COFINS (3,65% x 40%) 1,46% IRPJ Lucro Presumido (32% x 25% x 40%) 3,2% CSLL Lucro Presumido (32% x 9% x 40%) 1,152% TOTAL DE ATÉ 7,812% SOBRE O FATURAMENTO

44

INCENTIVOS FISCAIS – CONTABILIZAÇÃO COM MENOR ÔNUS

TRIBUTÁRIO

O art. 182, § 1º, alínea d, da Lei 6404/76 (Lei das S/A) define que serão

classificadas como reservas de capital as contas que registrarem as doações e as

subvenções para investimento.

Não serão computadas na determinação do lucro real as subvenções para

investimento, inclusive mediante isenção ou redução de impostos concedidas

como estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos, e

as doações, feitas pelo Poder Público (art. 443 do Regulamento do IR).

Portanto estes valores não integrarão resultado do exercício. Entretanto, o

valor do imposto de renda que deixar de ser pago em virtude das isenções e

reduções não poderá ser distribuído aos sócios e constituirá reserva de capital da

pessoa jurídica, que somente poderá ser utilizada para absorção de prejuízos ou

aumento do capital social (art. 545 do Regulamento do IR).

Exemplo:

Incentivo na área do ISS, decorrente de implantação de pólo de software,

em que haja redução da base de cálculo do imposto em decorrência do

programa, pode ser contabilizado da seguinte maneira:

1. Contabilização do ISS normal:

D. ISS s/ Receita (conta de resultado)

C. ISS a Recolher (passivo circulante)

2. Atendimento das condições do programa, previsto em lei municipal, para

redução do ISS:

D. ISS a Recolher (passivo circulante)

C. Reserva de Incentivos Fiscais – ISS Pólo de Software (patrimônio líquido)

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Os efeitos tributários desta contabilização podem permitir um ganho de até

38,65% em tributos (25% de IRPJ, 9% de CSL e 4,65% de PIS/Cofins), em

relação á contabilização tradicional (como receita do exercício).

Desta forma, um incentivo que gere, anualmente, uma redução de ISS de R$

100.000,00 poderá permitir uma economia fiscal (adicional ao incentivo) de até

R$ 38.650,00.

ISS – OPÇÕES DE REDUÇÃO COM A LEI COMPLEMENTAR 116/2003

Um correto planejamento do ISS requer o conhecimento da legislação

municipal específica. Como são quase 6.000 municípios no Brasil, fica difícil

uniformizar um padrão para todos os contribuintes.

Entretanto, tendo em vista as modificações do ISS previstas na Lei

Complementar 116/2003, determinadas prestadoras de serviços poderão

viabilizar uma ou mais alternativas de planejamento a seguir:

1. Filial em município com menor alíquota do ISS: se a empresa presta

serviços em diversos municípios, poderá ser interessante criar filiais para

atendimento de clientes estabelecidos em municípios cuja alíquota seja menor

que a matriz. Observar que o artigo 3 da LC 116/2003 estipula para diversos

serviços que o imposto é devido no local da prestação.

2. Operações de vendor: as operações que exigirem financiamento dos serviços

poderão ser realizadas pelo sistema de vendor, onde o agente financeiro (banco)

efetua o pagamento á vista para o fornecedor e cobra á prazo, com juros, do

cliente. Ganha-se a redução dos custos tributários sobre a parcela dos juros

cobrados na fatura, já que esta é emitida pelo valor á vista. Há impacto ainda em

outros tributos, como PIS, COFINS, IRPJ, CSLL e Simples, e, em alguns casos,

no INSS (11% retido sobre a nota fiscal).

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3. Não inclusão na base de cálculo: Não se incluem na base de cálculo do ISS

o valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviços previstos nos itens

7.02 e 7.05 da lista de serviços anexa a Lei Complementar 116/2003, ou seja,

aqueles materiais incluídos na respectiva obra civil (art. 7, § 2, I, da LC

116/2003).

4. Serviços com emprego de bens móveis: a atividade afeta à locação de bens

móveis que figurava na lista do Decreto-Lei nº 56/87, no item 79, foi vetada, o

que implica, em nosso entendimento, que tais operações não são mais tributáveis

a partir da vigência da Lei Complementar 116/2003, ou seja, a partir de

01.08.2003. Desta forma, ao prestar serviços que envolvam utilização de bens

móveis, os contratantes poderão estipular preços distintos para cada contratação

(um preço para serviços, o outro para locação temporária dos equipamentos). A

base tributável será o preço dos serviços.

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CONCLUSÃO

Diante desse panorama apresentado, pode ratificar que é possível através

do Planejamento Tributário fazer uma programação das estratégias de negócios,

visando uma tributação mais condizente com a sua realidade, ou até mesmo,

com a realidade do mercado, e também face a realidade econômica nacional e

mundial.

Deixa-se para o Administrador Tributário a incumbência de, caso a caso,

determinar quando e em qual situação deverá desconsiderar o negócio jurídico,

mesmo estando revestido de licitude.

A elisão fiscal não visa a lesão aos cofres públicos, mas uma forma de

recolhimento mais justo ao contribuinte.

A diferença entre elisão fiscal (planejamento fiscal) e evasão fiscal

(sonegação fiscal) é que no primeiro caso, trata-se de atividade lícita de busca e

identificação de alternativas que leve a uma menor carga tributária. No segundo

caso, trata-se de engendramento ilícito, punível com pena restritiva de liberdade

e multa.

Assim afirma-se que o sujeito passivo que age conforme o Direito

Positivo, antes da ocorrência do fato gerador, a conduta é correta, lícita e

incensurável. Tem o contribuinte direito de adotar condutas que tornem menos

oneroso, do ponto de vista fiscal, os negócio jurídicos que realiza. É o

ordenamento jurídico o limiar desse direito subjetivo. Não há comportamento

ilícito onde não há censura jurídica.

A norma antielisão nada mais é do que um reforço aos poderes do Fisco,

trazendo consigo a insegurança jurídica. A segurança, além de ser importante

para viabilizar as atividades econômicas, é essencial para a vida do cidadão.

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