monitoramento das demandas judiciais por medicamentos em … · 2018-09-02 · anexo 1 – carta de...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA DENISE SGUAREZI Monitoramento das demandas judiciais por medicamentos em município brasileiro de grande porte. Monitoring of drug lawsuits in a large Brazilian municipality. Piracicaba 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

DENISE SGUAREZI

Monitoramento das demandas judiciais por medicamentos em município

brasileiro de grande porte.

Monitoring of drug lawsuits in a large Brazilian municipality.

Piracicaba

2017

2

DENISE SGUAREZI

Monitoramento das demandas judiciais por medicamentos em município

brasileiro de grande porte.

Monitoring of drug lawsuits in a large Brazilian municipality.

Orientadora: Profª. Drª. Luciane Miranda Guerra

Piracicaba

2017

Dissertação de Mestrado Profissional

apresentada à Faculdade de Odontologia

de Piracicaba da Universidade Estadual

de Campinas como parte dos requisitos

exigidos para a obtenção do título de

Mestra em Odontologia em Saúde

Coletiva.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA

ALUNA DENISE SGUAREZI, E ORIENTADA

PELA PROFª. DRª LUCIANE MIRANDA

GUERRA.

Dissertation of Profissional Master

presented to the Piracicaba Dental

School of the University of Campinas in

partial fulfillment of the requirements for

the degree of Master in Collective Health

Dentistry.

3

Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): Não se aplica.

Ficha catalográfica Universidade Estadual de Campinas

Biblioteca da Faculdade de Odontologia de Piracicaba Heloisa Maria Ceccotti - CRB 8/6403

Informações para Biblioteca Digital Título em outro idioma: Monitoring of drug lawsuits in a large Brazilian municipality Palavras-chave em inglês: Pharmaceutical services Health evaluation Right to Health Área de concentração: Saúde Coletiva Titulação: Mestra em Odontologia em Saúde Coletiva Banca examinadora: Luciane Miranda Guerra [Orientador] Karin Luciana Migliato Sarracini Jaqueline Vilela Bulgareli Data de defesa: 04-09-2017 Programa de Pós-Graduação: Odontologia em Saúde Coletiva Powered by

4

5

Dedico este trabalho à minha mãe Maria Conceição Pinho Marques, à minha irmã Diolena

Sguarezi, pelo incentivo e apoio na busca pelos meus ideais, pela compreensão e colaboração

constante nas profícuas opiniões, pelo exemplo de dignidade e perseverança. Unidas

vencemos mais essa caminhada.

Amo muito vocês!

Muito obrigada!

6

AGRADECIMENTOS

A Deus pela sabedoria, discernimento, força e coragem nos momentos mais

difíceis na busca pelos meus ideais;

À Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), na pessoa de seu Reitor,

Prof. Dr. Marcelo Knobel e à Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), nas pessoas de

seu Diretor, Prof. Dr. Guilherme Elias Pessanha Henriques e de sua Coordenadora dos cursos

de Pós-Graduação, Profa. Dra. Cinthia P. Machado Tabchoury.

À orientadora Profª. Drª Luciane Miranda Guerra, pela paciência, competência,

disponibilidade e incentivo durante esse trabalho a qual possibilitou que aqui chegássemos.

Ao Prof. Dr. Antônio Carlos Pereira, pela qualidade, objetividade do trabalho

desenvolvido e, por compartilhar de sua sabedoria e instrução do conhecimento. Obrigada.

A todos os professores desse Mestrado pela relevância dos conhecimentos

transmitidos, que contribuíram para o meu aprimoramento profissional.

Às Tutoras Jaqueline Vilella Bulgarelli e Karine Laura Cortellazzi pelo

profissionalismo, carinho e atenção que nos conduziram durante o curso.

À Brunna Verna Castro Gondinho, pela dedicação em suas orientações prestadas

na elaboração deste trabalho, me incentivando e colaborando no desenvolvimento de minhas

idéias.

Às funcionárias do departamento de Odontologia Social e da Pós-Graduação, pela

atenção em todas as fases administrativas.

Ao Prof Dr Willian Pereira de Souza que me orientou com muita clareza,

conhecimento e esclarecimentos aos meus anseios e dúvidas.

Aos colegas do Curso de Mestrado FOP-UNICAMP, pela troca de experiências e

alegre convivência. Obrigada pelos momentos especiais e por termos caminhado juntos nessa

etapa especial de minha vida.

A todos os amigos que direta ou indiretamente contribuíram para o alcance de

mais esta etapa de realização profissional. Muito obrigado a todos.

7

RESUMO

Processos judiciais têm desempenhado importante papel para o usuário do Sistema Único de

Saúde (SUS), como via alternativa ao acesso, efetivação e resolução dos serviços no SUS.

Estudo realizado na Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso, no período de janeiro a

dezembro de 2013, que teve como objetivo monitorar as demandas judiciais por

medicamentos no município de Cuiabá – Mato Grosso. Trata-se de um estudo descritivo,

transversal de natureza quantitativa, desenvolvido no município de Cuiabá – Mato Grosso.

Foram analisadas 135 ações judiciais relativas às solicitações de medicamentos e os 166

medicamentos requeridos nas mesmas, em quatro dimensões. As características

sociodemográficas dos autores, demonstraram a predominância da renda familiar de até 1

salário mínimo (52,60%), faixa etária entre 20 e 59 anos (57,78%), de trabalhadores

autônomos (34,81%), e que 32,60% possuem vínculo formal. Quanto às características das

ações judiciais, todas elas foram concedidas. Em 127 ações (94,07%) o réu foi o Estado de

Mato Grosso; dos 166 medicamentos solicitados, 48 (28,91%) pertencem ao subgrupo

terapêutico de agentes antineoplásicos e imunomodulares, 92 (55,42%) foram prescritos pelo

nome genérico, 110 (66,26%) não constam nas listas de medicamentos essenciais. Todos

possuem registro na agência reguladora, 107 (64,46%) não constam em nenhum bloco de

financiamento da Assistência Farmacêutica e não houve solicitação de medicamento para uso

off label. Os indicadores demonstraram capacidade de embasar ações de gestão e

planejamento para avanços jurídicos, políticos, sociais e econômicos no SUS. Espera-se com

isso contribuir para a produção de alternativas mais efetivas para otimização e ampliação do

acesso à Política Nacional de Assistência Farmacêutica.

Palavras – chave: Assistência farmacêutica. Avaliação em Saúde. Direito à Saúde.

8

ABSTRACT

Judicial processes have played an important role for the user of the Unified Health System

(SUS), as an alternative way of accessing, effecting and resolving services in the SUS. Study

carried out in the Public Defender's Office of the State of Mato Grosso, from January to

December 2013, whose objective was to monitor the legal demands for medicines in the

municipality of Cuiabá - Mato Grosso. This is a descriptive, cross-sectional study of a

quantitative nature developed in the city of Cuiabá - Mato Grosso. A total of 135 lawsuits

related to drug applications and the 166 drugs required in four dimensions were analyzed. The

sociodemographic characteristics of the authors showed a predominance of the family income

of up to 1 minimum wage (52.60%), age group between 20 and 59 years (57.78%), of self-

employed workers (34.81%), and 32.60% have a formal bond. As for the characteristics of the

lawsuits, all of them were granted. In 127 lawsuits (94.07%), the defendant was the State of

Mato Grosso; of the 166 drugs requested, 48 (28.91%) belong to the therapeutic subgroup of

antineoplastic and immunomodulating agents, 92 (55.42%) were prescribed by the generic

name, 110 (66.26%) are not on the essential drug lists. All of them are registered with the

regulatory agency, 107 (64.46%) are not included in any Pharmaceutical Assistance funding

block and there was no request for off-label medication. The indicators demonstrated the

ability to base management and planning actions for legal, political, social and economic

advances in SUS. It is hoped that this will contribute to the production of more effective

alternatives for optimizing and expanding access to the National Pharmaceutical Assistance

Policy.

Key words: Pharmaceutical care. Health Assessment. Right to Health.

9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Dimensões de avaliação e monitoramento das demandas judiciais

por medicamentos 22

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Características sociodemográficas do autor da ação judicial,

Cuiabá (MT), 2013 25

Tabela 2 – Características processuais das ações judiciais, Cuiabá (MT), 2013 26

Tabela 3 – Características médico-sanitárias das ações judiciais, Cuiabá (MT), 2013 26

Tabela 4 – Características político-administrativas das ações judiciais, Cuiabá (MT),

2013 27

11

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF – Assistência Farmacêutica.

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

ATC – Sistema de Classificação Anatômica Terapêutica e Química.

CBO – Código Brasileiro de Ocupação.

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa.

CF – Constituição Federal.

CID-10 – Código Internacional de Doenças.

CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde.

CNJ – Conselho Nacional de Justiça.

DATASUS – Departamento de Informática do SUS.

FOP – Faculdade de Odontologia de Piracicaba.

HIV/AIDS – Vírus da Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.

IPVS – Índica Paulista de Vulnerabilidade Social.

MT – Mato Grosso.

PNM – Política Nacional de Medicamentos.

REMUME – Relação Municipal de Medicamentos.

RENAME – Relação Nacional de Medicamentos.

SM - Salário Mínimo.

SUS – Sistema Único de Saúde.

TJDF – Tribunal de Justiça do Estado do Distrito Federal.

TJMS – Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul.

TJMT – Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso.

TJRJ – Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

TJRS – Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.

TJSP – Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

12

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas.

UTI – Unidade de Terapia Intensiva.

13

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 14

2 ARTIGO: Indicadores de avaliação e monitoramento das demandas judiciais

por medicamentos em município brasileiro de grande porte 18

3 CONCLUSÃO 41

REFERÊNCIAS 42

APÊNDICE 1 – Questionário características processuais das ações judiciais,

Cuiabá (MT), 2013 45

ANEXOS

Anexo 1 – Carta de Submissão à Revista Ciência & Saúde Coletiva 46

Anexo 2 – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia

de Piracicaba – Universidade Estadual de Campinas (FOP-UNICAMP), 2014 47

Anexo 3 – Autorização Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso 48

Anexo 4 – Questionário das características sócio-demográficas das ações judiciais,

Cuiabá (MT), 2013 49

14

1 INTRODUÇÃO

No anseio pela efetivação da garantia dos seus direitos, o usuário do Sistema

Único de Saúde (SUS) recorre ao Poder Judiciário, produzindo um elevado número de ações

judiciais na área da saúde, conhecida como judicialização da saúde. Pesquisas recentes

salientam o crescimento acelerado das ações, pertinentes ao tema saúde (Nunes e Ramos

Junior, 2016; Vieira et al., 2015).

Reivindicações ao Judiciário, por medicamentos e insumos no SUS, com intuito

de obter garantia do acesso e continuidade do tratamento de forma direta, rápida, eficaz e não

atrelada à judicialização, denotam a relevância de informações consistentes dos entraves a

esse acesso.

A expansão do acesso via judicial ocorreu após a ampliação dos direitos humanos,

a partir da II Guerra Mundial, como mecanismo de controle dos demais poderes. A

Constituição Federal de 1988 legitimou o Poder judiciário e, o Estado assumiu a

responsabilidade de garantir a saúde à população e proteger os direitos fundamentais (Gomes

et al., 2014).

Lisboa e Souza (2017) relatam os diversos estudos sobre judicialização, porém, as

causas dessa via de acesso, encontram-se incipientes. No estudo, foram identificados alguns

fatores dos recursos ao Poder Judiciário aludido nos autos, como: dever e obrigação do

Estado, dificuldades burocráticas, hipossuficiência financeira e a maioria por estarem em

tratamento com profissionais que discordam das políticas públicas de saúde.

O fenômeno da judicialização na saúde, como alternativa em obter bens e direitos

nos tribunais, apresenta-se como garantia da saúde, do usuário a medicamentos especiais,

acessos a cirurgias e outros serviços de saúde. O que demonstra lacunas na inviabilização dos

princípios ideológicos do SUS, como: universalidade, equidade e integralidade e, em outro

aspecto assegura o acesso à saúde, pelo dever, e em cumprimento aos mandatos judiciais,

acarretando gastos não programados (Carvalho e David, 2013).

A concessão de medicamentos antirretrovirais para portadores de HIV/Aids, via

ação judicial, tornou-se um marco, na ampliação dos direitos aos serviços de saúde, com o

reconhecimento do dever do Estado. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), analisando o

aumento das demandas e a importância do Poder judiciário, nos assuntos da saúde, articulou

ações coordenadas e estratégicas, no estabelecimento de políticas judiciárias para a saúde, tais

como: criação do Fórum Nacional do Judiciário para a saúde, Comitês Estaduais de Saúde,

15

recomendações aos juízes acerca das demandas necessárias (Asensi e Pinheiro, 2015).

Em 2010, o crescimento do número de processos sobre ações de saúde corroborou

com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ao propor medidas com o intuito de nortear os

tribunais e subsidiar os magistrados, priorizando a eficiência na resolução e a diminuição dos

custos processuais. Foi publicada a Recomendação nº 31, com as seguintes indicações:

celebrar convênios com equipes técnicas de profissionais médicos e farmacêuticos, para

corroborar nos assuntos específicos de cada área; instruir as ações com relatórios médicos,

descrição da doença (inclui CID-10), prescrição de medicamentos (por nome genérico ou

princípio ativo), produtos, órteses e insumos em geral (com posologia e quantidade

adequadas); vetar a autorização de fornecimento de medicamentos não registrados pela

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), ou em fase experimental, salvo

exceções previstas em lei; inserir o direito sanitário nos respectivos concursos de ingresso na

carreira de magistratura; proporcionar visitas de magistrados nos Conselhos Municipais e

Estaduais de Saúde, para conhecimento do funcionamento; entre outros (Brasil, 2010).

A Recomendação nº 36, publicada em 2011 pelo CNJ, versa sobre regramentos

exclusivos para as ações envolvendo a saúde suplementar, frisando a necessidade de informar

a ANVISA e de incluir nos Comitês Estaduais de Saúde, representantes das operadoras de

planos de saúde. Tais medidas significaram avanços institucionais do Judiciário, ao priorizar a

celeridade das decisões, relacionadas diretamente com a vida e, distinguir o direito a saúde

dos demais direitos sociais (Brasil, 2011a; Asensi e Pinheiro, 2015).

Diversos estudos demonstram a relevância acerca do processo da judicialização,

pouco elucidado, que se apresenta de modo atemporal com impacto direto no orçamento

público, obstruindo a execução dos princípios doutrinários do SUS (Nunes e Ramos Junior,

2016).

Em São Paulo (TJSP) o número de ações sobre saúde, em 2015, alcançava mais

de 78.111 ações judicias em saúde, seguidos pelo Rio Grande do Sul (TJRS) com 28.800

ações e o Rio de Janeiro (TJRJ) com 13.417 ações judicias sobre saúde (Brasil, 2017a; Brasil,

2017b; Brasil, 2017c).

Na região Centro Oeste, no mesmo período, Mato Grosso (TJMT) registrou

17.900 processos sobre ações judicias em saúde, seguido pelo Distrito Federal (TJDF) com

11.022 ações e, Mato Grosso do Sul (TJMS) com 5.980 ações judiciais em saúde (Brasil,

2017d; Brasil, 2017e; Brasil, 2017f).

16

O estudo de David et al (2016) destaca que na esfera federal, Ministério da Saúde

(MS), o cumprimento das despesas referente a ações judiciais, em desfavor do SUS,

vinculadas ao orçamento das ações programáticas da Assistência Farmacêutica (AF), originou

um acréscimo de 1000% no período de 2008 a 2015, com despesas referentes a medicamentos

(incluindo os não regulamentados no país), que corresponde a 13,7% do orçamento total. Fato

que causa impacto na variação do orçamento, impede a aquisição conforme a demanda, gera

um desabastecimento de medicamentos essenciais e dificulta a possibilidade de recebimento

simultâneo, por parte do autor da ação, em razão de não haver entrecruzamento dos bancos de

dados, entre os entes federados.

A judicialização da saúde interfere, no andamento do sistema público de saúde, no

que concerne ao acesso a medicamentos, bens e serviços da área da saúde, cirurgias não

previstas pelo SUS, responsabilidade médica, liberação de leitos de unidades de terapia

intensiva (UTI), dentre outros. Apresenta questões importantes, para discussão como: o

fornecimento de medicamentos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e os tipos de

solicitação acolhidos pelo Judiciário (D’Espíndula, 2013).

A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LXXIV, refere-se ao princípio de

acesso à justiça, “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que

comprovarem insuficiência de recursos”. Garantido através da gratuidade da justiça, as

Defensorias Públicas asseguram o direito à saúde, a todos os cidadãos, principalmente aos que

não possuem melhores condições socioeconômicas (Brasil, 1988).

A assistência terapêutica integral, na dispensação de medicamentos e produtos de

interesse para a saúde, amparada pela Lei nº 12.401, de 28 de abril de 2011 que altera a Lei nº

8.080 de 19 de setembro de 1990, proporcionou avanços no acesso a medicamentos no SUS.

Na referida Lei, as prescrições precisam estar em conformidade, com as diretrizes terapêuticas

definidas em protocolo clínico para a doença, agravo à saúde a ser tratado ou, no caso destes,

não estarem disponíveis, com base nas relações de medicamentos, instituídas pelo gestor

federal do SUS (Brasil, 2011b).

A partir do Decreto Presidencial nº 7.508, de 28 de junho de 2011, regulamenta a

Lei nº 8.080 de 1990, fornecendo aos dirigentes e profissionais de saúde, uma compreensão

maior acerca da gestão e organização do SUS, e o cidadão sobre o seu direito à saúde,

consolidando melhorias permanentes no SUS (Brasil, 2011c).

17

Diversos estudos desenvolvidos acerca da judicialização da saúde divergem nas

regiões do país, sendo pouco esclarecidos, por ausência de padrões relativos às informações

fornecidas, conforme a região estudada. A padronização dos estudos, utilizando indicadores,

entre os diferentes locais e períodos, fornecem subsídios nas esferas municipal, estadual,

federal e, Poder Judiciário, uma vez que auxilia a integração entre os sistemas, a formulação

de políticas públicas, como também contribui na melhoria e ampliação do acesso aos

medicamentos necessários, seguros e eficazes (Pepe et al, 2011).

Como nas demais regiões do país, na região Centro-Oeste, ainda são incipientes

os estudos na área da judicialização da saúde, fato que sinaliza para a necessidade em

descrever, através de indicadores de avaliação e monitoramento, as demandas judiciais por

medicamentos no município de Cuiabá – Mato Grosso (MT), o que reforça o interesse em

contribuir com a melhoria na gestão dos serviços de saúde, especialmente da Assistência

Farmacêutica.

18

2 ARTIGO: Indicadores de avaliação e monitoramento das demandas judiciais por

medicamentos em município brasileiro de grande porte

Artigo submetido à Revista Ciência & Saúde Coletiva. Autores Sguarezi, Denise; Gondinho,

Brunna Verna; Sguarezi, Diolena; Bulgareli, Jaqueline; Meneghim, Marcelo de Castro;

Cortellazzi, Karine; Pereira, Antônio Carlos; Guerra, Luciane Miranda Guerra (Anexo 1).

Resumo:

Descrever o monitoramento das demandas judiciais por medicamentos no município de

Cuiabá – Mato Grosso, realizado na Defensoria Pública Estadual em 2013. Foram analisadas

135 ações judiciais relativas às solicitações de medicamentos e os 166 medicamentos

requeridos nas mesmas, em quatro dimensões. As características sociodemográficas dos

autores, demonstraram a predominância (52,60%) da renda familiar de até 1 salário mínimo,

faixa etária entre 20 e 59 anos em 57,78% e, 34,81% são trabalhadores autônomos, enquanto

32,60% possuem vínculo formal. Quanto às características das ações judiciais, 135 (100%)

foram concedidas. Em 127 (94,07%) o réu foi o Estado de Mato Grosso; dos 166

medicamentos solicitados, 48 (28,91%) pertencem ao subgrupo terapêutico de agentes

antineoplásicos e imunomodulares, 92 (55,42%) foram prescritos pelo nome genérico, 110

(66,26%) não constam nas listas de medicamentos essenciais. Todos possuem registro na

agência reguladora, 107 (64,46%) não constam em nenhum bloco de financiamento da

Assistência Farmacêutica e não houve solicitação de medicamento para uso off label. Os

indicadores são informações obtidas de dados coletados sistematicamente do cotidiano dos

serviços de saúde e, no presente cenário, demonstraram capacidade de embasar ações de

gestão e planejamento para avanços jurídicos, políticos, sociais e econômicos no Sistema

Único de Saúde.

Palavras – chave: Assistência farmacêutica. Avaliação em Saúde. Direito à Saúde.

19

Introdução

Parte integrante do direito constitucional à saúde, o direito à assistência farmacêutica

(AF) e às políticas de acesso a medicamentos possibilita melhores condições de vida à

população ao equalizar situações sociais desiguais a partir de normas constitucionais1.

Em 1998, foi elaborada a Política Nacional de Medicamentos (PNM) 2

que garante aos

brasileiros acesso a medicamentos eficazes, seguros e de qualidade, bem como promove o seu

uso racional3,4

.

Porém, por questões político-administrativas e de organização dos serviços, não

acontece efetivamente, na prática, o que a legislação brasileira e a PNM asseguram5,

configurando-se, portanto, em uma lacuna do estado que abre pressupostos para acionamentos

judiciais6,7

.

Assim, é crescente o número de pacientes que têm recorrido ao Poder Judiciário para

obter medicamentos, fato que pode acarretar prejuízos à equidade4, além de grave

comprometimento do orçamento da saúde, em razão do elevado preço de alguns

medicamentos solicitados. Em muitos casos, tais medicamentos não se apresentam como

pertencentes à lista oficial de regulamentação da assistência farmacêutica no âmbito do

Sistema Único de Saúde8.

Este cenário de judicialização da saúde preocupa os gestores de todos os níveis

federativos, uma vez que as decisões judiciais, predominantemente favoráveis aos autores,

desconsidera a normatização da Política Nacional de Medicamentos quanto às

responsabilidades de cada esfera do governo no âmbito da assistência farmacêutica9.

A busca, pelas esferas governamentais e pelo poder judiciário, de subsídios que sirvam

à formulação e reformulação de políticas públicas de melhoria e ampliação do acesso a

medicamentos seguros e eficazes, fez com que Pepe et al.10

propusessem um modelo de

indicadores por meio da interação Saúde – Justiça.

20

O referido modelo é organizado em quatro dimensões de avaliação e monitoramento

das demandas judiciais por medicamentos, sendo uma referente ao autor da ação e as outras

três relativas às ações judiciais, a saber: caracterização sociodemográfica do autor da ação,

características processuais das ações judiciais, características médico-sanitárias das ações

judiciais e características politico-administrativas das ações judiciais.

É, portanto, justificável que as informações a respeito dos indicadores mencionados

embasem ações de gestão e planejamento para avanços jurídicos, políticos, sociais e

econômicos no Sistema Único de Saúde – SUS11

. Entretanto, a carência de estudos que

embasem a avaliação do fenômeno da judicialização é preocupante e contribui com o seu

crescimento no país.

Dessa forma, o presente trabalho teve por objetivo descrever os indicadores de

avaliação e monitoramento das demandas judiciais por medicamentos em município brasileiro

de grande porte.

Metodologia

Estudo descritivo, transversal de natureza quantitativa, desenvolvido em município

brasileiro de grande porte. É parte de uma pesquisa que teve início após aprovação pelo

Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade de

Campinas, sob o protocolo número 111/2014.

Foram analisados os atendimentos relativos a medicamentos e serviços de saúde

identificados e quantificados pela Defensoria Pública do Estado do Mato Grosso em

município brasileiro de grande porte, de janeiro a dezembro de 2013, totalizando-se 535

processos. Destes, 135 ações por medicamentos e 166 foram os medicamentos solicitados,

objetos desse estudo. As demais ações foram solicitações por: cirurgias (192), leitos de

Unidade de Terapia Intensiva (UTI) (75) e, por consultas com especialistas, exames,

21

tratamento fora de domicílio (TFD), serviços de home care, próteses, implantes, internações,

cadeira de rodas, entre outros (133).

Visto que os processos são classificados como ação civil pública identificada por um

número de controle, para a coleta de dados foram realizados levantamentos individuais nos

processos judiciais dos usuários que procuraram atendimento junto à Defensoria Pública do

Estado do Mato Grosso no município de Cuiabá – Mato Grosso.

Foram excluídos os processos propostos por usuários que foram a óbito antes do

atendimento da solicitação, os processos sujeitos ao regime de segredo de justiça e os

processos constantes como arquivados na data da consulta.

As informações relevantes extraídas foram compiladas em planilhas eletrônicas no

programa Microsoft Excel®

. Cabe ressaltar que no período selecionado, a Defensoria não

possuía sistema informatizado de cadastro e arquivo dos processos instaurados, utilizando-se

de busca individual em cada processo, realizada diretamente pela pesquisadora.

Neste estudo empregou-se a análise descritiva dos dados coletados para a construção

de tabelas de contingência com frequências absolutas e relativas, a partir das orientações do

“Manual de Indicadores para Avaliação e Monitoramento de Demandas Judiciais por

Medicamentos”, desenvolvido por Pepe et al.10

.

O manual utilizado como referência para esta pesquisa baseia-se no conjunto de trinta

indicadores, divididos em quatro dimensões definidas. Porém, alguns indicadores do manual

em questão, por não estarem relacionados com as especificidades desta pesquisa, não foram

utilizados.

Os indicadores utilizados para este estudo estão organizados por dimensões no quadro

1:

22

Quadro 1 – Dimensões de avaliação e monitoramento das demandas judiciais por

medicamentos, segundo Pepe et al.10

.

Dimensão 1 – Características sociodemográficas do autor da ação judicial.

Características da população em relação aos aspectos sociais e demográficos.

Indicador Adaptado* - Renda familiar mensal

Método de cálculo: (Número de demandantes por renda mensal familiar declarada / população total

de demandantes) x 100

Plano de análise: Recomenda-se que os resultados sejam expressos em faixas por número de

salários mínimos da seguinte maneira: até 0,5 salários mínimos (SM); > 0,5 a 1 SM; >1 a 3 SM (por

ser o critério de gratuidade de algumas Defensorias Púbicas - Lei Federal n.º 1.060/1950).

Indicador – Proporção da população por faixa etária

Método de cálculo: (Número de demandantes por faixa etária /população total demandante) x 100.

Plano de análise: Neste indicador, sugere-se fortemente contemplar as faixas etárias do

Departamento de Informática do SUS (DATASUS), quais sejam: menor 1 ano 1, 1 a 4 anos, 5 a 9

anos, 10 a 14 anos, 15 a 19 anos, 20 a 79 de 10 em 10 anos, 80 anos e mais.

Indicador – Proporção da população por ocupação

Método de cálculo: (Número de demandantes desocupados e por grupo de ocupação/população

total de demandantes) x 100.

Plano de análise: Sugere-se, neste indicador, a classificação pelo subgrupo do Código Brasileiro de

Ocupações (CBO) - http://www.mte.gov.br/

Empregador/CBO/procuracbo/conteudo/tabela1.asp?gg=01).

Dimensão 2 – Características processuais das ações judiciais.

Aspectos que se encontram em conformidade com as leis nacionais e locais.

Indicador – Proporção de concessão da liminar ou antecipação de tutela

Método de cálculo: (Número de ações em que foi concedida a liminar ou antecipação da tutela/

número total de ações judiciais) x 100.

Plano de análise: Sugere-se que os resultados deste indicador sejam expressos de acordo com a

situação de concessão da liminar ou antecipação de tutela, se integral ou parcial.

Indicador – Proporção de ações judiciais impetradas por tipo de réu da ação

Método de cálculo: (Para cada tipo de réu, freqüência absoluta de denominação de réu específico /

número total de ações judiciais) x 100.

Plano de análise: Sugere-se que este indicador seja apresentado por tipo de réu, incluindo

instituições e pessoas (p.e. estado; município; secretário de saúde etc).

23

Dimensão 3 – Características médico-sanitárias das ações judiciais.

Aspectos relativos ao corpo de conhecimentos das Ciências da Saúde. Neste caso, aplicados

também aos Estudos de Utilização de Medicamentos.

Indicador – Proporção de Medicamentos por subgrupos

terapêutico/farmacológico/substância química

Método de cálculo: (Número de medicamentos de cada subgrupo terapêutico, ou subgrupo

farmacológico ou substância ativa demandados/ número total de medicamentos demandados) x100.

Plano de análise: Neste indicador, sugere-se que a análise pelo subgrupo terapêutico, pelo

subgrupo farmacológico e pela substância ativa utilize o Sistema de Classificação Anatômica

Terapêutica e Química (ATC), disponível em http://www.whocc.no/atc_ddd_index/.

Indicador – Proporção de medicamentos prescritos pelo nome genérico

Método de cálculo: (Número de medicamentos prescritos pelo nome genérico/número total de

medicamentos prescritos) x 100.

Plano de análise: Neste indicador, sugere-se que a análise dos medicamentos seja de acordo com

a natureza jurídica do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde CNES (SUS/não SUS;

hospital universitário).

Indicador – Proporção de medicamentos requeridos que figuram nas listas de medicamentos

essenciais vigentes

Método de cálculo: (Número de medicamentos requeridos que figuram em cada lista de

medicamentos essenciais de interesse/número total de medicamentos requeridos nas ações

judiciais) x 100.

Plano de análise: Freqüência relativa dos medicamentos presentes em cada lista de medicamentos

essenciais de interesse (federal, estadual e municipal). É importante que esteja a Relação Nacional

de Medicamentos Essenciais (Rename) e a lista local vigente, caso exista.

Dimensão 4 - Características político-administrativas das ações judiciais.

Aspectos relacionados às competências executivas, administrativas e econômicas da

Administração Pública. Neste caso refere-se à gestão da Assistência Farmacêutica no

Sistema Único de Saúde.

Indicador – Proporção de medicamentos registrados na Agência Nacional de Vigilância

Sanitária

Método de cálculo: (Número de medicamentos em acordo com o registro na Anvisa / número total

de medicamentos requeridos nas ações judiciais) x 100.

Plano de análise: Neste indicador, sugere-se que a análise dos medicamentos seja de acordo com

a natureza jurídica do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde CNES (SUS/não SUS;

hospital universitário).

24

Indicador – Proporção de medicamentos, por componente do bloco de financiamento da

Assistência Farmacêutica

Método de Cálculo: (Número total de medicamentos nas ações por componente do bloco de

financiamento da AF/ número total de medicamentos requeridos nas ações judiciais) x 100.

Plano de análise: Neste indicador sugere-se que a análise da freqüência relativa do medicamento

seja expressa por cada lista de financiamento do Sistema Único de Saúde. A análise deve abordar

também os não presentes nas listas.

Indicador – Proporção de ações judiciais que incluem ao menos um medicamento prescrito

para indicação de uso off label**

Método de cálculo: (Número de ações que demandam ao menos um medicamento para indicações

off label/número total de ações judiciais) x 100.

Plano de análise: Neste indicador, sugere-se que a análise dos medicamentos seja de acordo com

a natureza jurídica do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde CNES (SUS/não SUS;

hospital universitário).

*No formulário da Defensoria Pública do Estado do Mato Grosso preenchido pelos demandantes não há a opção para o quantitativo de pessoas de uma mesma moradia, apenas o espaço para renda mensal familiar declarada. **Considera-se prescrição para indicação de uso off label quando um medicamento é prescrito para uma indicação diferente daquela que foi autorizada pelo órgão regulador de medicamentos em um país. Fonte: Pepe et al, 2011.

Resultados

Das 135 solicitações judiciais com demandas de medicamentos no período estudado e

dos 166 medicamentos solicitados nessas ações, 100% foram analisados segundo as

dimensões de avaliação e monitoramento das demandas judiciais por medicamentos propostas

por Pepe et al.10

, sendo apresentado os resultados por dimensões.

Dimensão 1: Características sociodemográficas do autor da ação judicial.

Os resultados encontrados na tabela 1 demonstram que a renda familiar predominante

é de até 1 salário mínimo (52,60%). Em relação à faixa etária dos autores das ações, 57,78%

encontra-se entre 20 e 59 anos e, quanto à ocupação profissional, 34,81% são de trabalhadores

25

por conta própria, enquanto que 32,60% são de trabalhadores com carteira de trabalho

assinada.

Tabela 1: Características sociodemográficas do autor da ação judicial, Cuiabá (MT), 2013.

Indicador - Renda familiar mensal N %

até 0,5 SM 5 3,70

>0,5 SM a 1 SM 66 48,90

> 1 a 3 SM 44 32,59

> 3 SM 20 14,81

Indicador – Proporção da população por faixa etária N %

Menor de 1 ano 1 0,74

15 a 19 anos 2 1,48

20 a 29 anos 13 9,63

30 a 39 anos 18 13,34

40 a 49 anos 19 14,07

50 a 59 anos 28 20,74

60 a 69 anos 26 19,26

70 a 79 anos 22 16,30

80 anos e mais 6 4,44

Indicador – Proporção da população por ocupação N %

Aposentado/Pensionista 41 30,37

Trabalhador por conta própria 47 34,81

Empregado com Cart. Trab. Assinada 44 32,60

Desocupado 3 2,22

Total 135 100%

Dimensão 2: Características processuais das ações judiciais.

Na tabela 2, 135 (100%) ações investigadas tiveram liminar concedida e, o réu da ação

em 127 solicitações judiciais (94,07%) foi o Estado do Mato Grosso.

26

Tabela 2: Características processuais das ações judiciais, Cuiabá (MT), 2013.

Indicador - Proporção de concessão da liminar ou antecipação de

tutela N %

Liminar concedida 135 100

Indicador - Proporção de ações judiciais impetradas por tipo de réu

da ação N %

Estado de Mato Grosso 127 94,07

Município de Cuiabá 8 5,93

Total 135 100%

Dimensão 3: Características médico-sanitárias das ações judiciais.

Na tabela 3, 48 (28,91%) medicamentos solicitados pertencem ao subgrupo

terapêutico de agentes antineoplásicos e imunomodulares, 92 (55,42%) apresentam prescrição

pelo nome genérico e 110 (66,26%) não constam nas listas de medicamentos essenciais.

Tabela 3: Características médico-sanitárias das ações judiciais, Cuiabá (MT), 2013.

Indicador - Proporção de medicamentos por subgrupos

terapêutico/farmacológico/substância química N %

Agente antineoplásico e imunomodulares 48 28,91

Anti-infecciosos para uso sistêmico 5 3,01

Sistema nervoso 22 13,25

Preparações hormonais sistêmicos, excluindo hormônios sexuais e

insulinas 7 4,22

Medicamentos dermatológicos 2 1,20

Aparelho respiratório 29 17,47

Aparelho digestivo e metabolismo 16 9,64

Sangue e órgãos hematopoiéticos 15 9,04

Produtos antiparasitários, inseticidas e repelentes 1 0,60

Órgãos sensitivos 8 4,82

Não pertence a nenhum grupo farmacológico 7 4,22

Continua

27

Continuação

Indicador - Proporção de medicamentos por subgrupos

terapêutico/farmacológico/substância química N %

Sistema cardiovascular 2 1,21

Aparelho geniturinário e hormônios sexuais 1 0,60

Sistema musculoesquelético 3 1,81

Indicador - Proporção de medicamentos prescritos pelo nome

genérico N %

Genérico 92 55,42

Não genérico 74 44,58

Indicador - Proporção de medicamentos requeridos que figuram

nas listas de medicamentos essenciais vigentes N %

Faz parte das listas medicamentos essenciais 56 33,74

Não faz parte das listas medicamentos essenciais 110 66,26

Total 166 100

Dimensão 4: Características político-administrativas das ações judiciais.

Os resultados apresentados na tabela 4 demonstram que os 166 (100%) medicamentos

requeridos possuem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e que

107 (64,46%) não pertencem a nenhum bloco de financiamento da Assistência Farmacêutica.

Não foi solicitado nenhum medicamento de uso off label.

Tabela 4: Características político-administrativas das ações judiciais, Cuiabá (MT), 2013.

Indicador – Proporção de medicamentos registrados na ANVISA N %

Possui registro na ANVISA 166 100

Não possui registro na ANVISA - -

Indicador – Proporção de medicamentos, por componente do bloco

de financiamento da Assistência Farmacêutica

N %

Componente Básico 10 6,02

Componente Especializado 45 27,11

Continua

28

Continuação

Indicador – Proporção de medicamentos, por componente do bloco

de financiamento da Assistência Farmacêutica

N %

Componente Estratégico 4 2,41

Não pertence a nenhum bloco 107 64,46

Indicador - Ações judiciais que incluem ao menos um

medicamento prescrito para indicação de uso off label N %

Sim - -

Não 166 100

Total 166 100%

Discussão

O crescente aumento na demanda judicial em saúde, especialmente por

medicamentos, evidencia, a priori, uma necessidade da análise, avaliação e monitoramento

dessas ações judiciais. Ademais, como questões políticas administrativas e de organização dos

serviços causam lacuna, na prática, ao acesso efetivo da população à PNM5, elucidar os

principais motivos que levam a população a acionar os meios judiciais certamente poderia

nortear novas formas de organização da assistência farmacêutica nos municípios, além de

apontar e especificar responsabilidades dos diferentes entes federativos.

Entretanto, essa descrição carece de detalhamento e de oportuna classificação das

demandas, de forma a caracterizá-la segundo alguns aspectos que, do ponto de vista da

organização da atenção em saúde são prioritários, como: características sociodemográficas do

autor da ação; características político-administrativas; processuais e médico-sanitárias das

ações.

O município estudado, por ser de grande porte, capital do terceiro maior Estado da

federação em extensão territorial, atrás dos Estados do Amazonas e Pará, localizado na região

Centro Oeste do Brasil, onde os estudos a respeito do assunto ainda são raros, é lócus

privilegiado para a presente investigação, uma vez que a quantidade de processos judiciais é

considerável e a organização da AF local demonstra, em suas recentes ações, a

29

intecionalidade de promover o uso racional e a qualificação do acesso a medicamentos e

fórmulas no SUS12

.

Dessa forma, importantes aspectos apurados nesse estudo podem sinalizar

fragilidades na assistência farmacêutica.

Entretanto, quando gestores da saúde, farmacêuticos e defensoria pública foram

convidados a discutir o assunto à luz dos dados coletados nesse estudo, não compareceram.

Isso induz à questão: será que a agenda desses atores está demasiadamente tomada com o

problema, dificultando, assim, a devida reflexão sobre o mesmo? Ou será que o problema,

embora de grandes dimensões, não ocupa a agenda das prioridades, nem municipais, nem

estaduais?

Já na primeira dimensão analisada – a socioeconômica e demográfica - ao se

constatar que metade dos autores das ações judiciais possuía renda de até um salário mínimo,

infere-se que, provavelmente, os prescritores locais não estejam respeitando a Relação

Nacional de Medicamentos – RENAME13

ou, então, que tais medicamentos prescritos, ainda

que constantes nas relações municipais de medicamentos – REMUME14

não estejam

disponíveis nos dispensários locais do município estudado. Outras pesquisas nacionais,

contudo, apresentam resultados semelhantes. Ronsein15

em Santa Catarina e Provin16

em

Goiânia identificaram 13,8% com renda de 1 a 2 salários mínimos e, 71,3% com renda de

zero a 3 salários mínimos, respectivamente, apontando que tal situação parece ser comum em

outros locais também. No entanto, Chieffi e Barata1 analisaram as demandas em São Paulo

associando-as com o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS), demonstrando que os

beneficiários pela intervenção do Judiciário foram pessoas que possuem melhores condições

socioeconômicas e com acesso a informação.

Na segunda dimensão, que trata das características processuais das ações judiciais

encontradas, a concessão de liminar ou antecipação de tutela a favor do autor da ação,

30

corrobora os dados identificados por Santos-Pinto17

com mais de 80% dos pedidos julgados

favoráveis; e Borges e Ugá8, ao relatarem que 89% foi a favor do autor da ação e 7%

parcialmente deferido. Estes achados demonstram a tendência do judiciário em deferir os

pedidos, baseado nos documentos apresentados pelo autor da ação. Em relação a isso, Pepe et

al.18

concluíram, que as intervenções judiciais acabam interferindo nas políticas de saúde,

planejadas e executadas pelo Poder Executivo, expondo limitações e instigando respostas

efetivas dos agentes públicos do setor de saúde e do judiciário. As decisões judiciais

proferidas pelo Poder Judiciário se sobrepõem ao Poder Executivo ao determinar a

disponibilização deste ou daquele medicamento, embasando-se no direito à saúde e

desconsiderando as políticas públicas, bem como os princípios e normas do SUS com o

deferimento de fornecimento de medicamentos não padronizados nas listas do SUS19,8

.

Das ações judiciais impetradas por tipo de réu na ação, a maioria foi em desfavor

do Estado de Mato Grosso, dados semelhantes foram encontrados nos estudos realizados por

Chieffi e Barata20

em São Paulo, Borges e Ugá8 no Rio de Janeiro, Machado et al

9 em Minas

Gerais citam que todos os processos analisados figuram como réu, o Estado. Embora, Santos-

Pinto17

relate pesquisa realizada em Mato Grosso do Sul: 42% como réu o município e 58%

Estado e município e, Pereira e Pepe21

em pesquisa feita no Paraná, 296 (42,7%) das ações

contra a União, 225 (32,4%) contra o Estado e 14 (2%) em desfavor do município. Importante

ressaltar que o Poder Judiciário, não raro, indica os três entes federativos como réus e,

concede a liminar ou antecipação de tutela, a partir do entendimento que são solidários, não

reconhecendo a divisão de competências no financiamento dos medicamentos. Essa tendência

compromete uma das diretrizes do SUS e um dos eixos da Política Nacional de

Medicamentos, que é a descentralização8. Considerando-se a concentração populacional nas

capitais, por provável organização da rede de serviços de saúde e jurídicos, verifica-se que a

população desses locais fica favorecida em relação à população de municípios de outras áreas

31

do estado. Dentre os entes da federação, a maioria das ações judiciais são, geralmente, em

desfavor do Estado22

.

Na terceira dimensão, referente às características médico-sanitárias das ações

judiciais, o subgrupo com maior solicitação foi o dos agentes antineoplásicos e

imunomodulares, resultado acima do encontrado em outras localidades do país, como o

Estado do Paraná, onde esse subgrupo foi responsável por 23,4% das ações judiciais por

medicamentos21

e semelhante ao estado vizinho Mato Grosso do Sul, onde esse subgrupo foi

responsável por 25% da demanda judicial17

. O aumento na incidência de doenças e agravos

neoplásicos – consequência da transição epidemiológica – impacta na assistência

farmacêutica de diversas formas, especialmente no aumento de prescrições de medicamentos

que não constam na RENAME13

e que se apresentam como inovações tecnológicas capazes

de vencer desafios terapêuticos.

Os medicamentos prescritos pelo nome genérico, conforme informação nos autos

da inicial do processo totalizaram 55,42% das ações judiciais, resultados semelhantes aos

encontrados por Pereira e Pepe21

, que identificaram 48,4% dos medicamentos assim

prescritos. A prescrição pelo nome genérico, conforme Torres23

, utilizada como estratégia

para o uso racional do medicamento genérico, promove uma segurança maior, se considerar

que a qualidade é a mesma que o de referência, além de otimizar os recursos públicos, em

relação ao custo, priorizando os princípios da eficiência e impessoalidade da administração

pública.

Outra importante constatação desse estudo diz respeito às demandas por

medicamentos que não constam nas relações municipais de medicamentos – REMUME14

.

Considerando-se que as listas são concebidas a partir de critérios epidemiológicos e de

eficácia, segurança e qualidade dos medicamentos, a adesão a tais listas municipais é um

importante indicador de qualidade das prescrições24

. Assim, frente aos resultados do presente

32

estudo, revelando mais da metade das ações pleiteando medicamentos não constantes da

REMUME14

, duas possibilidades se apresentam e devem ser refletidas pelos gestores dos

serviços de AF: ou os prescritores não aderiam - seja por desconhecimento ou por não

concordância aos padrões da lista - ou então a lista estava desatualizada ou tecnicamente

insuficiente para suprir as necessidades terapêuticas daquela população.

A quarta dimensão, referente às características político-administrativas das ações

judiciais, revela boa perspectiva, já que 100% dos medicamentos prescritos possuíam registro

na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), da mesma forma como encontrado

no Paraná por Pereira e Pepe21

, apuraram 99,5% dos medicamentos prescritos com registro na

ANVISA.

No que diz respeito aos medicamentos por componente do bloco de financiamento

da AF, infere-se que há necessidade de se repensar a constituição de tais blocos, já que, em

Cuiabá, 64,46% das ações foram por medicamentos que não pertencem a nenhum bloco de

financiamento da AF. Da mesma forma, em 2010, Chieffi e Barata20

em São Paulo e, Pereira

et al18

em Santa Catarina, relataram, respectivamente, 62% e 62,2% de medicamentos não

pertencentes a nenhum bloco de financiamento.

No presente estudo, 100% das ações judiciais não possuem nenhum medicamento

prescrito com indicação de uso off label, refere-se ao uso diverso ao aprovado em bula ou, uso

de produto não registrado no órgão regulatório de vigilância sanitária no País (ANVISA).

Dado divergente do encontrado por Pereira e Pepe21

que relataram 19,3% ações por

medicamentos de uso off label e Santos-Pinto17

que identificaram baixa incidência de

prescrições de medicamentos para uso off label.

Gonçalves e Heineck (2015)25

destacam que o termo off label referem-se a

medicamentos prescritos de maneira diversa da orientada por compêndios oficiais ou bulas e,

abrangem a dose, a indicação, a faixa etária, o intervalo e a forma de administração. Cabendo

33

ao prescritor avaliar as melhores opções terapêuticas e, o risco benefício de acordo com a

indicação clínica.

As políticas públicas direcionadas aos serviços de saúde possuem limitações

quanto às necessidades terapêuticas da população brasileira. São elaboradas com base na

tomada de decisões coletivas em consonância com a legislação vigente, sob uma perspectiva

coletiva e distributiva. Nesse contexto, a garantia de acesso a bens e serviços por intermédio

do recurso a ações judiciais ocasiona impossibilidade de previsão orçamentária dos gastos nos

âmbitos municipal, estadual e federal, provocando impasses26,1

.

Conforme Oliveira et al.27

a organização e o financiamento da AF no âmbito do

SUS encontram-se em duas realidades distintas. A primeira consolidada e estruturada pelas

respectivas Leis e Portarias que norteiam e contribuem para melhor organização da AF nos

municípios. A segunda, com inúmeros problemas de ordem organizacional e financeira

comprometendo o acesso dos usuários aos medicamentos indispensáveis para sua terapêutica.

Ressalta-se o acesso do usuário aos serviços de saúde, as facilidades ou obstáculos

oferecidos pelos serviços: a organização do serviço para receber o usuário, os aspectos

inerentes ao funcionamento, o modo adequado de atendimento às necessidades de saúde da

população de forma contínua e eficiente.

A estruturação e a implementação da AF efetiva na esfera municipal, inicia-se na

conscientização, por parte dos gestores, da importância da estruturação através de

investimentos em estrutura física, organização dos processos e capacitação permanente dos

trabalhadores envolvidos com as atividades que compõem o ciclo da AF, de modo a tornar a

distribuição de medicamentos meio viável, racional e mais eficiente27

.

A ineficiência na prestação dos serviços de saúde e dispensação de medicamentos

derivam de um conjunto de fatores, sendo um dos principais a insuficiência numérica de

farmacêuticos, conforme dados apresentados28

. Da mesma forma, a insuficiência no

34

atendimento, por parte do município, da demanda por medicamentos tem resultado na

inversão das vias de acesso. Se antes os usuários do SUS utilizavam a via judicial como

último recurso, ao longo dos anos a judicialização tem se mostrado como o caminho mais

rápido e seguro de obtenção dos serviços ou medicamentos pleiteados.

As informações do presente estudo são relevantes aos processos judiciais e

demonstram que a gestão dos órgãos responsáveis pela distribuição de medicamentos e

insumos – quer por insuficiência de recursos, quer por desorganização, quer por excesso de

burocracia - não cumpre de forma eficaz seu papel, acarretando danos ao abastecimento nas

unidades de saúde.

Os resultados encontrados são reveladores, tanto por apontarem que a despeito da

intencionalidade de promover o uso racional e a qualificação do acesso a medicamentos e

fórmulas no SUS não há prioridade para o debate dos presentes resultados na agenda atual do

município, quanto por evidenciarem a importância de pesquisas e produção de trabalhos

científicos que subsidiem os gestores a diagnosticar possíveis entraves, promover debates

sobre os problemas identificados e proporcionar mudanças eficazes e resolutivas.

Sugere-se a continuidade do presente estudo, com nova proposta de elaboração

oficinas de trabalho e que essas tenham, enfim, a efetiva participação de todos os envolvidos

na demanda por medicamentos em Cuiabá: defensoria pública, gestores municipal estadual de

saúde, coordenador de assistência farmacêutica e farmacêuticos da rede pública a fim de

discutirem os dados e formularem propostas de forma compartilhada e democrática.

35

CONCLUSÃO

A descrição dos indicadores de avaliação e monitoramento das demandas judiciais por

medicamentos são informações capazes de embasar as ações de gestão e planejamento para

avanços jurídicos, políticos, sociais e econômicos no Sistema Único de Saúde.

A análise dos indicadores demonstra que as ações pesquisadas obtiveram concessão de

liminar ou antecipação de tutela o que, reforça a importância da atuação dos Núcleos de

Apoio Técnico (NAT) ao Poder Judiciário, uma vez que ela estimula o embasamento técnico-

científico das ações judiciais.

A significativa quantidade de medicamentos prescritos pelo nome genérico que, não

figuram nas listas de medicamentos essenciais vigentes e, em nenhum bloco de financiamento

da Assistência Farmacêutica sinaliza o desconhecimento ou a não adesão dos prescritores

pelos medicamentos constantes nas listas oficias de medicamentos, fato que evidencia a

relevância relativa à elaboração das listas de oficiais de medicamentos embasadas no perfil da

população.

É necessária a discussão desses indicadores entre todos os atores envolvidos nas

demandas judiciais, o que, para o presente estudo não foi possível devido à ausência dos

mesmos no fórum estabelecido para tal discussão.

Espera-se que este recorte fomente a reflexão sobre o aprimoramento da atenção

prestada ao público usuário do sistema.

36

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41

CONCLUSÃO

O impacto da judicialização da saúde ocasionado à aquisição de medicamentos e

insumos por força de medida judicial com pagamento de preços mais altos, comparando-se ao

produto licitado, o que interfere na programação orçamentária dos órgãos administrativos.

É importante que se debata entre os gestores e demais atores inseridos no

contexto, a reestruturação e reorganização da Assistência Farmacêutica, pautando em políticas

públicas definidas, efetivas. E que as mesmas sejam norteadas por pesquisas e produção de

trabalhos científicos, os quais subsidiem o diagnóstico de entraves e problemas que desafiam

o direito à saúde, proporcionando mudanças eficazes e resolutivas.

42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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experiência. Conselho Nacional de Justiça. Brasília: 2015. 142p.

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Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e

dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-

2014/2011/decreto/D7508.htm

__________________________________________________________________________

* De acordo com as normas da UNICAMP/FOP, baseadas na padronização do International

Committee of Medical Journal Editors - Vancouver Group. Abreviatura dos periódicos em

conformidade com o PubMed.

43

Brasil. Lei nº 12.401, de 28 de abril de 2011b [acesso 15 Out 2014]. Altera a Lei no 8.080, de

19 de setembro de 1990, para dispor sobre a assistência terapêutica e a incorporação de

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45

APÊNDICE 1

Questionário das características processuais das ações judiciais.

01) Qual o motivo principal. Diagnóstico principal (por categoria diagnóstica-CID-10)?

02) Tempo mediano de decisão liminar ou antecipação de tutela, a partir da solicitação do

prescritor, até a proposição pela Defensoria.

Data consulta:

Data proposição:

Tempo:

03) Tempo mediano de decisão liminar ou antecipação de tutela, a partir da proposição pela

Defensoria, até o recebimento/atendimento e/ou o momento da pequisa.

Data proposição:

Data atendimento da solicitação:

Tempo:

04) Medicamentos prescritos pelo nome genérico. ( )Não ( ) Sim. Qual a descrição

fornecida?

05) Os medicamentos prescritos estão contemplados pelas Portarias Ministerial e/ou

Estadual?

Qual?

06) Documentos adicionais, que não a prescrição de medicamentos.

07) Pacientes com cadastro na instância da saúde, anterior a demanda judicial (pacientes que

já haviam solicitado medicamentos ou procedimentos, recebidos ou não, para o Sistema

Único de Saúde).

46

Anexo 1

Carta de Submissão à Revista Ciência & Saúde Coletiva

47

Anexo 2

Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Piracicaba –

Universidade Estadual de Campinas (FOP-UNICAMP)

48

Anexo 3

Autorização da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso

49

Anexo 4

Questionário características sócio-demográficas do autor da ação judicial.

Nº processo:______________________________________

Genêro: ( ) masculino ( ) feminino

Data Nasc.:______________________________________

Estado civil: ( )solteiro

( )casado

( )divorciado

( )viúvo(a)

( )união estável

Endereço:______________________________________________________________

Bairro:_______________________________________________________

Município:____________________________________________________

Tipo de moradia: ( )casa própria

( ) alugada

( ) cedida

( ) dos pais

( )possui outros bens

( ) outros. Qual?

Profissão:_______________________________________________________

Empregado:________________________________________Salário:__________

outros rendimentos:________________________________

Dependentes: ( )não ( )sim. Quantos?_____________________.