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XV CONGRESSO DO PARTIDO SOCIALISTA/AÇORES MOÇÃO DE ORIENTAÇÃO POLÍTICA GLOBAL RENOVAÇÃO COM CONFIANÇA POR UMA AUTONOMIA COM FUTURO PRIMEIRO SUBSCRITOR Vasco Cordeiro Ana Luísa Luís; Ana Paula Marques; André Bradford; Andreia Costa; António Alves; António Cordeiro; Bárbara Chaves;

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Page 1: MOÇÃO DE ORIENTAÇÃO POLÍTICA GLOBAL€¦ · Moção de Orientação Política Global 5 Introdução Em outubro último, o PS/Açores propôs aos Açorianos uma liderança renovada

XV CONGRESSO DO PARTIDO SOCIALISTA/AÇORES

MOÇÃO DE ORIENTAÇÃO POLÍTICA GLOBAL

RENOVAÇÃO COM CONFIANÇA POR UMA AUTONOMIA COM

FUTURO

PRIMEIRO SUBSCRITOR

Vasco Cordeiro

Ana Luísa Luís;

Ana Paula Marques;

André Bradford;

Andreia Costa;

António Alves;

António Cordeiro;

Bárbara Chaves;

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Berto Messias;

Bruno Pacheco;

Carlos Ávila;

Carlos César;

Carlos Mendonça;

Catarina Moniz Furtado;

Cláudia Cardoso;

Décio Santos;

Francisco César;

Francisco Coelho;

Hernâni Jorge;

Isabel Almeida;

João Bettencourt;

João Castro;

João Pedro Garcia;

João Ponte;

José Carlos San-Bento;

José Contente;

José Élio Valadão;

Lúcio Rodrigues;

Luís Botelho;

Luís Maciel;

Manuel Avelar;

Manuel Paulino Costa;

Manuel Silveira;

Maria João Carreiro;

Mariana Matos;

Mark Anthony Silveira;

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Moção de Orientação Política Global

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Marta Couto;

Miguel Costa;

Mónica Ávila;

Nuno Menezes;

Óscar Rocha;

Osório Silva;

Paulo Linhares Dias;

Ricardo Rodrigues;

Ricardo Silva;

Roberto Monteiro;

Roberto Silva;

Rogério Sousa;

Rogério Veiros;

Sérgio Ávila;

Sara Brum;

Sónia Nicolau.

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Índice Introdução ..................................................................................................................... 5

CAPÍTULO I

PS/Açores: O Partido dos Açores e da Autonomia .................................................. 9

CAPÍTULO II

Renovar para Vencer Novos Desafios..................................................................... 15

CAPÍTULO III

Um Poder Local Forte ............................................................................................... 18

CAPÍTULO IV

O Desafio da Autonomia: Sustentabilidade ............................................................ 29

CAPÍTULO V

O Mar, a Autonomia e o Estado ............................................................................... 38

CAPÍTULO VI

A Afirmação externa da Autonomia Açoriana ........................................................ 46

CAPÍTULO VII

Compromisso com a Juventude Açoriana................................................................54

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Introdução

Em outubro último, o PS/Açores propôs aos Açorianos uma liderança renovada

e uma atualização programática que, sem nunca esquecer as bem sucedidas

governações desde 1996, pretendeu encarar com convicção e esperança os

desafios que o difícil contexto económico e financeiro, de âmbito internacional e

nacional, trouxe aos Açores.

Com ideais, energia e uma enorme vontade de honrar o seu passado

governativo e de, simultaneamente, ganhar o futuro, o PS/Açores foi merecedor

da confiança inequívoca dos Açorianos, que, concedendo-nos a honra de

continuarmos a servir com dignidade a nossa Região, souberam também

transmitir sinais evidentes de que os tempos exigem toda a nossa

disponibilidade e uma vontade clara de inovar, questionar ou fazer de novo o

que falta fazer ou o que deve ser melhorado.

Cumpre-nos, por isso, no âmbito do XV Congresso do PS/Açores, responder

positivamente aos sinais de confiança e esperança que recebemos,

fomentando uma reflexão profunda, abrangente e plural, sobre o futuro do

nosso partido, mas, sobretudo, acerca das soluções mais adequadas para o

futuro coletivo da nossa Região.

Uma vez mais, o PS deve dar o exemplo, afirmando a sua união e reforçando a

sua capacidade de ação.

Temos orgulho no que fomos capazes de fazer. Nos últimos 16 anos, os

Açores conheceram um salto qualitativo sem precedentes. A Região abriu-se

ao mundo, modernizou as suas infraestruturas, investiu na qualificação e

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formação profissional, alargou a rede de proteção social, diversificou a sua

estratégia económica e diminuiu o impacto da insularidade.

Fruto da confiança renovada dos Açorianos, os governos do Partido Socialista

são responsáveis pelo ciclo da qualificação da Autonomia regional.

Com rigor nas contas públicas e com uma aposta centrada no progresso e no

desenvolvimento sustentável, a Região aproximou-se da média europeia e

cresceu, em média, mais do que a maioria das restantes parcelas do território

nacional.

Mas temos também plena consciência de que vivemos um período conturbado

e desafiante da nossa vivência coletiva, o que implica o redobrar das

responsabilidades e um contínuo aumento das exigências que legitimamente

se fazem a quem tem o dever de governar.

É esse espírito que nos deve continuar a animar, neste novo ciclo que se sabe

árduo mas também motivante, exigente mas também desafiante, incerto mas

também, e por isso mesmo, necessariamente reformista.

Não ignoramos as dificuldades que as presentes circunstâncias impõem. As

reformas que preconizamos para a Região, no âmbito da Saúde, da Educação

e da Solidariedade Social, pretendem, acima de tudo, garantir a

sustentabilidade futura da Autonomia regional através de ganhos de eficácia,

eficiência e operacionalidade. Devemos fazê-lo, no entanto, sempre com as

pessoas no centro das nossas preocupações.

Para o PS/Açores, a gestão equilibrada das finanças públicas não é um fim em

si mesmo, mas, sim, um instrumento essencial para a Região apoiar os mais

fragilizados, incentivar as empresas e promover o progresso e o

desenvolvimento. Queremos manter este legado, reforçando, com uma

governação renovada, a marca social que nos distingue do resto do país.

É também por isso que pretendemos reforçar os laços do PS com todos os

Açorianos. Queremos reafirmar o PS como o grande fórum de discussão

política dos Açores, com a presença de militantes e não militantes. O exercício

da atividade política, tal como a concebemos, constitui-se numa permanente

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dialética entre eleitos e eleitores, e hoje, mais do que nunca, essa missão exige

maior capacidade de resposta, maior disponibilidade de acesso, maior rapidez

e um reforço dos mecanismos de transparência nos processos de decisão, de

modo a que a corresponsabilização seja uma tendência natural da relação que

se estabelece entre os cidadãos e aqueles que têm o privilégio de servir a

causa pública.

Os próximos dois anos serão marcados por diversos desafios. A defesa e a

sustentação da Autonomia regional, a afirmação dos Açores no contexto

nacional e europeu, as reformas necessárias para a defesa e criação de

emprego, a promoção de um ambiente económico favorável ao investimento e

ao crescimento da economia, a salvaguarda de uma rede de proteção social

que garanta dignidade nos momentos mais difíceis, constituem, nesse

enquadramento específico, as prioridades da ação governativa.

Por outro lado, o PS, para continuar a merecer a confiança dos Açorianos, terá

que continuar a promover a abertura à sociedade e o aprofundamento da

participação política. As eleições autárquicas constituem, neste sentido, mais

um desafio que o PS pretende vencer para continuar a trabalhar pelo modelo

de desenvolvimento local que serve as pessoas. Temos muito orgulho no

trabalho dos autarcas do Partido Socialista. E, por isso, o PS assume como

objetivo vencer mais freguesias, mais assembleias e câmaras municipais do

que as outras forças políticas.

A Reforma do Poder Local que a maioria que governa o País pretende impor

aos cidadãos é uma ameaça que, nos Açores, o PS tudo fará para impedir que

se realize. Assumimos claramente que a melhoria da estrutura autárquica dos

Açores é matéria que compete aos Açorianos através dos seus órgãos de

governo próprio.

Os desafios que se colocam à Autonomia regional nos próximos dois anos

exigirão do Partido Socialista uma redobrada atenção. Rejeitamos que, a

pretexto da crise, o Estado se demita das suas funções na Região Autónoma

dos Açores ao mesmo tempo que, noutras áreas, procura limitar e condicionar

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as competências regionais, não resistindo à tentação de procurar apropriar-se

de ativos estratégicos da Região.

A sustentabilidade da Autonomia é, pois, matéria central e prioritária da ação

política do PS para os próximos anos.

A afirmação externa dos Açores é, igualmente, um desafio para o qual o PS

deve garantir respostas que permitam reforçar a cultura identitária açoriana

num quadro internacional de grande incerteza e em que todos os ativos

açorianos, na diáspora e no país, são convocados para uma estratégia comum

de reforço da presença e de afirmação dos interesses dos Açores. Sem

interferir nas funções do Estado, o PS Açores defende que há espaço para o

desenvolvimento de iniciativas nas quais a Região pode dar um contributo e ser

mais eficiente na defesa dos seus interesses.

A Moção “Renovação com Confiança por uma Autonomia com Futuro” que

propomos ao XV Congresso Regional do PS/Açores não é, porém, um ponto

de chegada. É antes um ponto de partida, um conjunto de propostas de

orientação estratégica que deverão merecer aprofundamento, reflexão e

aperfeiçoamento. Na política, como na vida, nada é estático. A capacidade de

se renovar, repensar e alargar o seu âmbito de ação, com uma cada vez maior

participação dos açorianos, tem sido ao longo dos anos, a principal

responsável pela confiança que o PS tem merecido nos Açores. Saibamos,

pois, estar à altura das responsabilidades e do privilégio que os Açorianos nos

concederam.

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CAPÍTULO I

PS/Açores: o Partido dos Açores

e da Autonomia

O PS/Açores surge, na sequência do 25 de Abril 1974 e no dealbar do

processo autonómico, adentro da tradição portuguesa e europeia do

Socialismo Democrático, da esquerda descentralizadora e Europeia. Partido

uterinamente Democrático e Autonómico, adepto e artífice da construção

Europeia, o PS/Açores foi fundamental para a Instauração da Autonomia, da

Democracia e das Liberdades Cívicas nos Açores.

Com um projeto forte, com grande tradição de participação militante, cívica e

frontal, o PS/Açores desde cedo tomou posições claras acerca da Autonomia, e

da construção de uns Açores fortes, livres, prósperos e solidários. Não há

verdadeira realização autonómica que não tenha contado com a participação

construtiva e decisiva do PS/Açores. Não houve afronta, desvio ou atropelo que

não tenha merecido o combate destemido e aberto dos Socialistas açorianos.

O PS/Açores solidificou, ao longo do exercício democrático na oposição, um

diagnóstico realista acerca da construção de uma Nova Autonomia, mais justa,

mais solidária e mais próspera. Cientes de que os princípios Autonómicos só

se enraízam e frutificam perante uma prática quotidiana de maior justiça social,

dignidade institucional e solidez da economia, coube aos Socialistas, com a

oportunidade de exercício de poder democraticamente conquistada em 1996,

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explicitar a concretização das medidas de atenuação dos custos de

insularidade.

É por isso que o PS/Açores se apresenta ao seu XV Congresso Regional como

o Partido dos Açores e como o Partido que deu corpo a uma Nova Autonomia.

A vitória do PS/Açores em 1996, liderado por Carlos César, constituiu a

consagração de uma nova forma de fazer política e do acerto de uma nova

ambição para os Açores. Concretizando, por um lado, a abertura do partido a

uma sociedade que se sentia limitada no seu desejo de participação cívica e

renovando em permanência, por outro, os seus ativos e a sua forma de

atuação, o PS soube construir as condições necessárias para responder aos

anseios dos Açorianos e para se tonar numa força política capaz de interpretar,

a cada momento, as prioridades da sociedade açoriana.

O PS/Açores assumiu o governo dos Açores num momento em que a

Autonomia definhava nas quezílias resultantes da incompreensão de um poder

central sempre desconfiado face às autonomias regionais e de um poder

regional incapaz de afirmar e de defender os Açores, num período que,

progressivamente, se revelava como sinónimo de estagnação e de inércia.

Ousámos repensar a Autonomia nas suas diversas expressões e, alicerçados

no diálogo e na cooperação, criámos um novo ponto de partida no

relacionamento com a República. Foi isso que permitiu ao PS/Açores resolver

problemas que se arrastavam há muitos anos e abrir novos horizontes para o

futuro do nosso modelo de autogoverno.

Foi com a governação do PS/Açores, e na sequência da liderança que o nosso

Partido assumiu em sucessivas revisões constitucionais, que os poderes

legislativos da Região se libertaram das peias de conceitos vagos como

“interesse específico” e “princípios fundamentais de leis gerais da República”.

Ampliámos, como nunca até aí, os poderes legislativos da Região,

revitalizando, também por essa via, a ambição histórica da Livre Administração

dos Açores pelos Açorianos.

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Desde logo, através da negociação e aprovação de uma Lei de Finanças das

Regiões Autónomas, que consagrasse de forma justa, objetiva e solidária um

relacionamento ao nível dos recursos financeiros da Região que deve ser justo

e solidário, objetivo a imparcial. A luta por essa manutenção, como se vê hoje,

continua atual e da maior pertinência.

Tal conquista possibilitou uma diferenciação fiscal positiva, também ao nível do

IRS e do IRC, que tem sido fundamental para o nível de vida das famílias e a

robustez das empresas.

Tendo por base um quadro de incerteza e de imprevisibilidade no

relacionamento financeiro entre o Estado e as Regiões Autónomas,

conseguimos afirmar a nível nacional os méritos duma solução juridicamente

sólida e financeiramente previsível.

A Lei de Finanças das Regiões Autónomas, quer na sua conceção originária,

quer nos sucessivos melhoramentos de que foi alvo, tem, pois, a marca

indelével do PS/Açores. Essa constitui uma das mais preciosas conquistas do

património político e autonómico do nosso Partido, em cuja defesa não

podemos vacilar nem ceder.

Temos uma dupla legitimidade para travar essa luta: por um lado, a

legitimidade soberana de quem mereceu a confiança dos Açorianos para

defender os seus interesses e, por outro, a legitimidade moral de quem gere

bem as contas públicas regionais, não contribuindo, assim, para a situação de

desequilíbrio orçamental verificada no país.

Com a mesma ambição assumimos a tarefa de clarificar o relacionamento

institucional com o Estado, conseguindo, nesse caso, aperfeiçoar a sua

representação na Região, através de uma reconfiguração de poderes do então

Ministro da República. Ao reconduzir as suas funções às do Presidente da

República, eliminando competências executivas e centrando-as na aferição da

constitucionalidade dos diplomas regionais e de nomeação do Executivo, o

PS/Açores criou estabilidade onde antes havia um foco permanente de

potencial conflito competencial e político.

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Também internamente não descurámos uma intervenção ambiciosa e

transformadora, apanágio da Nova Autonomia. Assim, é com o PS/Açores que

se reforça a democraticidade da nossa Autonomia.

Com a reforma da nossa Lei Eleitoral, aumentámos proporcionalidade do

sistema eleitoral para a Assembleia Legislativa, favorecendo a pluralidade na

sua composição e fazendo corresponder a verdade do voto à verdade do

mandato, mesmo que outros, umas vezes menos ostensivamente outras sem

pejo de o afirmar, tenham recorrentemente procurado encontrar nessas

virtudes supostos custos acrescidos do sistema político.

A virtualidade do atual sistema eleitoral foi testada, com sucesso, nos dois

últimos atos eleitorais, que permitiram à Assembleia Legislativa da Região

Autónoma dos Açores uma maior pluralidade democrática, através da presença

de seis forças partidárias.

Com uma nova postura na governação, chamámos à participação milhares e

milhares de Açorianos que, quer individualmente, quer através do movimento

associativo, puderam dar o seu contributo para a definição e para a execução

quotidiana das políticas públicas.

É, igualmente, com o PS/A a liderar os destinos da Região que se consegue a

mais ambiciosa reforma do Estatuto Político-Administrativo desde o surgimento

da Autonomia Regional. Também aqui o PS/Açores lutou e conseguiu

concretizar uma nova visão da Autonomia. Deixando de ser uma simples carta

da organização administrativa e competencial dos órgãos de governo próprio, o

Estatuto passa a ser a verdadeira Lei Fundamental da Autonomia Açoriana,

assumindo uma carga política sem precedentes.

No entanto, a transformação dos instrumentos legais e institucionais que

servem a Autonomia não basta ao PS/Açores.

Ao mesmo tempo que avançámos na defesa e na afirmação face ao País,

também agimos para, cada vez mais, afirmar uma Nova Autonomia de

resultados para os Açorianos.

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A compensação dos sobrecustos de insularidade foi conseguida ao nível do

tarifário elétrico, da redução significativa do preço das passagens aéreas e da

melhoria substancial dos contratos de concessão do serviço público do

transporte aéreo para os Açores.

Em simultâneo com a revitalização de setores tradicionais da nossa Economia,

como a Agricultura e as Pescas, abrimos novos caminhos para o surgimento do

Turismo como um setor de referência no nosso desenvolvimento.

Nas áreas da Saúde, da Educação e da Ação Social, aumentámos os recursos

humanos e financeiros a elas afetos, aumentámos a capacidade de resposta e,

por isso, aumentámos o número de Açorianos que beneficiam desses serviços.

O ensino secundário foi alargado a todas as Ilhas dos Açores e o parque

escolar sofreu uma remodelação e ampliação completa e profunda, denotando

hoje uma qualidade inegável.

Todo o normativo da Educação nos Açores sofreu uma adaptação profunda e

até pioneira, permitindo a organização de um sistema próprio, adaptado à

nossa realidade.

Também ao nível da Saúde, entraram em funcionamento dois novos hospitais

e a rede infraestrutural de cuidados de saúde primários sofreu uma profunda

renovação.

Ao nível do Apoio Social, para além da completa implementação e

acompanhamento do Rendimento Social de Inserção, o número de valências

criadas e apoiadas aumentou exponencialmente, numa filosofia de proximidade

assente no apoio à iniciativa da sociedade civil e das suas IPSS’S, que

culminou na existência de uma rede de apoio social ímpar a nível nacional.

Ainda no plano social, e numa visão integrada e solidária, foram criadas a

remuneração complementar para os funcionários públicos, o acréscimo

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regional ao salário mínimo para os trabalhadores por conta de outrem e o

complemento de pensão para os reformados e pensionistas.

Nas áreas das infraestruturas, lançámos planos de investimentos sem

precedentes, requalificando e construindo estradas, portos, aeroportos e outros

equipamentos públicos, numa aposta vencedora nas acessibilidades, na

coesão e no bem-estar dos Açorianos.

Recuperámos o transporte marítimo de passageiros e mercadorias, com os

Açorianos a disporem, atualmente, de uma operação estável, reparando,

assim, o erro inconcebível de quem acabou com este serviço, fatura que ainda

hoje as populações e as economias de todas as ilhas estão a pagar.

Em suma, aproximámos as ilhas umas das outras, criámos as condições para

que os Açores tenham a geração mais qualificada de sempre, inovámos nos

apoios sociais e nos incentivos à economia, construímos infraestruturas com

efeito reprodutor e melhorámos o bem-estar social e material dos Açorianos.

Na prática, demos expressão concreta, com reflexo na vida de cada Açoriano,

à Autonomia Regional.

É por isso que a governação do PS/A é mais do que uma simples etapa no

percurso iniciado em 1976.

Ela constitui, na sua génese, na sua ação e nos seus resultados uma

verdadeira refundação da Autonomia Açoriana, que se inscreve no nosso

património político e que faz de nós, sem receios, herdeiros orgulhosos de um

enorme esforço de revitalização da nossa Região, renovando ambições,

quebrando medos atávicos, rasgando horizontes de desenvolvimento,

libertando muito do nosso potencial natural, humano e económico.

Tudo isto fez com que os Açores tenham atingido patamares de

desenvolvimento que os aproximaram significativamente das médias nacionais

e europeia, com níveis de rendimento e bem-estar inéditos na sua História.

Com isso os Açores têm resistido melhor à crise que atingiu de modo especial

toda a Europa. Apesar de, num mundo globalizado, ninguém poder ser

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totalmente imune ao que se passa nos espaços onde estamos

economicamente integrados.

Há que persistir neste caminho de rigor na gestão dos dinheiros públicos, de

defesa das virtudes da Autonomia e da Descentralização como traves–mestras

do Portugal Democrático e de firme oposição às teorias neoliberais, que

sonham com um Portugal centralista, de baixos salários e em que a proteção

social é um anacronismo despesista.

Hoje, como ontem, só o Socialismo Democrático tem a iniciativa, a memória e o

engenho de renovar o Estado Social, promover a descentralização e manter

politicas ativas de solidariedade.

É o que nos propomos fazer. É o que nos comprometemos continuar a fazer.

CAPÍTULO II

Renovar para Vencer novos

Desafios

O PS/Açores apresenta-se nesse XV Congresso regional com a ambição de

continuar a ser a força política merecedora da confiança dos Açorianos.

Alcançar este objetivo, significa termos a lucidez, a ambição e a capacidade de

mobilizar o Partido para estar ao serviço dos Açores e ao serviço dos

Açorianos.

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A ação do PS/A não se esgota, pois, na reflexão daquilo que tem de fazer

quanto à sua estrutura e quanto ao seu funcionamento.

Queremos ser cada vez melhor Partido, para termos cada vez melhores

condições de corresponder ao que os Açorianos esperam de nós: uma força

impulsionadora da construção de soluções, uma força motivadora da

participação cívica e um polo multiplicador do debate, da reflexão e de

propositura a favor dos Açores.

Impõe-se, assim, e desde logo, a importância de reafirmar essa marca histórica

da ação do PS/Açores e que é a da abertura ao contributo e à participação de

todos aqueles que querem ajudar a construir uns Açores cada vez melhores.

Nós, PS/Açores, não descobrimos agora as virtudes dessa participação, nem a

importância da mesma para o sucesso da ação política e governativa que se

tem caracterizado por ser Autonomista e por ser Açoriana.

A Convenção Para Uma Nova Autonomia (1996) e o ciclo de Conferências “Um

Novo Ciclo para Vencer Novos Desafios” (2012), constituem bons exemplos,

entre tantos outros, da liderança que o PS/Açores imprimiu ao debate, reflexão

e propostas sobre os Açores.

Esse modelo de participação política, iniciado, de forma inédita nos Açores,

pela ação de Carlos César, constitui um dos principais ativos do património

político do PS/A e uma das razões para uma cada vez maior e mais expressiva

confiança que os Açorianos depositam em nós.

A estes exemplos juntam-se muitos outros, noutros formatos e sem esse

formalismo, mas nos quais a nota característica da ação do PS/A é a de que a

legitimidade para participar no debate sobre o nosso futuro coletivo radica, tão

só, na vontade e no interesse de construir o futuro dos Açores.

Hoje, mais do nunca, é fundamental o PS/A reafirmar a importância de estar

presente, atento e atuante face aos desafios e às problemáticas do quotidiano.

O PS/A está dotado dos mecanismos que permitem o reforço deste trabalho e

a esperança na sua utilidade e na sua importância.

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Moção de Orientação Política Global

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O estatuto do simpatizante, o Conselho Consultivo do PS/A e a Associação

Socialista de Autarcas Açorianos, são três exemplos desses instrumentos que

o Partido deve rentabilizar melhor, ativando-os com maior frequência e com

maior dinamismo.

Estes elementos, que só funcionarão na sua plenitude com o envolvimento

ativo e empenhado dos militantes do PS/A, são fundamentais para a

construção de uma capacidade de representação e de propositura que muito

enriquecerá o projeto político do PS/Açores.

Assim, consideramos que a sua dinamização deve constituir uma prioridade na

ação futura do Partido.

Em especial no caso do Conselho Consultivo, a alteração do seu elenco de

competências na recente revisão dos Estatutos do Partido, ampliando a sua

ação, não apenas de aconselhamento do Presidente do PS/Açores, mas de

verdadeiro espaço de germinação de ideias e propostas políticas setoriais, abre

novos horizontes de contributos efetivos e de participação cívica no âmbito do

nosso projeto político.

Também no que diz respeito ao funcionamento da Associação Socialista de

Autarcas Açorianos, afigura-se útil e necessário uma maior dinamização do seu

funcionamento.

Hoje as solicitações da sociedade ao poder local, por um lado, e, por outro, os

ataques a que o mesmo tem estado sujeito fruto duma visão centralizadora e

minimalista da ação do Estado, levam a que seja necessário, também, nesse

domínio afirmar o projeto político da esquerda democrática, participativa e

descentralizadora.

Naturalmente que a ação do PS/Açores, enquanto estrutura, não se esgota nos

aspetos atrás referidos.

É também essencial dinamizar a participação dos militantes na vida interna do

Partido, em todos os níveis da estrutura de organização do PS/Açores.

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Se é inquestionável que a ação do Partido em benefício dos Açores depende

de forma decisiva da nossa capacidade de fomentar a participação cívica que

extravasa as fronteiras partidárias, também não é menos certo que esse

trabalho será tanto mais profícuo quanto maior for a nossa capacidade de

termos uma estrutura militante ativa, dinâmica e participativa.

Entendemos, pois, que não se coloca, como nunca se colocou, qualquer

questão de submissão ou dependência de uma componente em relação à

outra, mas reafirmamos que elas se complementam e enriquecem

mutuamente.

É, no fundo, esta capacidade de agregar e potenciar contributos em benefício

dos Açores que constitui a grande riqueza e o grande potencial do projeto

político do PS/Açores.

CAPÍTULO III

Um poder local forte

O PS/Açores venceu as eleições autárquicas de 2009 de forma clara, tendo

conquistado doze das dezanove presidências de câmara da Região. Vencemos

a maioria das assembleias municipais e das freguesias. Como resultado dessa

vitória histórica, o PS/Açores conquistou a presidência da Associação de

Municípios da Região Autónoma dos Açores.

É, pois, com orgulho, ambição e sentido de dever cumprido que o PS/Açores

se apresentará às eleições autárquicas de outubro próximo, procurando

renovar a confiança dos açorianos.

Apesar do nosso anterior sucesso, o PS/Açores não poderá repousar a sua

ação nos méritos do passado. O calendário político com que a nova liderança

do PS/Açores está confrontada, em conjugação com o conjunto de reformas

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Moção de Orientação Política Global

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organizativas que o Governo da República pretende implementar, torna

necessária uma reflexão aprofundada sobre o poder local, a sua missão, a sua

articulação com os restantes níveis de poder, bem como sobre os meios e

objetivos da sua inestimável ação política.

Nas próximas autárquicas, o PS/Açores deve acentuar o sentido renovador,

inovador e meritório das suas candidaturas aos diversos órgãos de poder local.

Nuns casos enfatizando mais estas características nas listas de candidatos,

noutros casos ao nível de projetos e propostas e ainda noutras situações em

ambas as dimensões.

O PS/Açores não pode, a este propósito, ter receio de tomar as decisões

difíceis que se impõem.

Ao contrário do Governo da República do PSD e do CDS/PP, o PS defende e

respeita a autonomia do Poder Local e reconhece a forte legitimidade

democrática dos titulares de órgãos autárquicos.

O Governo da República desenvolveu uma reforma autárquica em que revelou

precipitação, confusão e arrogância.

A única preocupação foi reduzir freguesias a régua e esquadro e não a de

apresentar uma verdadeira reforma estrutural do Poder Local, alterando em

articulação, conforme o PS/Açores defende, a lei de atribuições e

competências, a lei de Finanças Locais, a lei eleitoral autárquica, o estatuto do

pessoal, o regime jurídico do setor empresarial local e a reorganização de

autarquias.

No caso particular do mapa autárquico, e ao contrário do que muitos

apregoaram, o verdadeiro objetivo da reforma do mapa de freguesias não

deveria ter sido a redução da despesa pública em si, mas sim o reforço da

coesão nacional, a melhoria da prestação dos serviços públicos locais e a

otimização da atividade dos entes autárquicos, com a correspondente

racionalização de custos.

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Com efeito, a reforma do mapa das freguesias, iniciativa da responsabilidade

dos partidos que apoiam o Governo da República e que consta do Documento

Verde da Reforma da Administração Local, tem implicações de tal forma

impressivas na reorganização política territorial regional que o PS/Açores não

pode deixar de continuar vigilante e interventivo na liderança de um movimento

político e social de adequação às reais necessidades e especificidades da

Região, definindo o objeto, o modo e o tempo da respetiva implementação.

Na verdade, falar de reorganização territorial numa região arquipelágica como

os Açores compreende um conjunto de pressupostos que só os Açorianos

conseguem interpretar, e que o PS/Açores, agente político decisivo no poder

político autárquico e regional, está em melhor condições de interpretar:

I. Um pressuposto de identidade histórica e de representatividade democrática

que obriga a que a dinâmica do desenvolvimento se adeqúe ao respeito pelas

especificidades locais e pela adequada representatividade política dos

territórios e das populações.

II. Um pressuposto organizacional que identifica a necessidade das autarquias

poderem:

1. Cumprir com maior efetividade as suas atribuições e competências;

2. Ter capacidade para receber mais delegações de competências;

3. Reunir, numa redefinição de competências entre freguesias, municípios,

poder regional e poder central, condições para a execução de novas missões

em prol das suas populações;

III. Um pressuposto financeiro que identifica a necessidade de:

1. Otimizar recursos;

2. Aproveitar economias de escala na execução das competências;

3. Repartir mecanismos de financiamento.

A própria lógica da reforma em causa apelava à necessidade de promover e

dinamizar consensos importantes, quer no plano político, quer no plano social.

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Moção de Orientação Política Global

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Infelizmente nada disso foi feito. O Governo da República não soube ouvir, não

retirou ensinamentos com o decorrer do processo e, no final, não respeitou a

opinião de ninguém.

Assim, uma das maiores contendas, que se constitui também como um dos

maiores desafios para o progresso das nossas Ilhas, é a que assola a relação

entre poder central, o poder regional e o poder local.

Para o PS/Açores, antes de se falar de extinção de freguesias, importa

escrutinar o equilíbrio entre o aumento das competências que o Estado central

tem vindo a delegar nas autarquias, muitas vezes à custa, ou apesar, das

competências regionais, e, por outro lado, conseguir que estas cumpram as

atividades que lhe estão associadas com a dotação anual instaurada.

Ora, se para alguns a solução passa pela simples concentração com o fito de

poder controlar e administrar melhor as finanças locais, para o PS/Açores o

futuro passa por encontrar, dentro do quadro legal e político que define a

territorialidade açoriana (freguesias, municípios, conselhos de ilha e Governo

Regional), uma solução que garanta dimensão, mas sobretudo eficácia e

capacidade aos poderes locais para que, adquirindo mais competências e

financiamento, cumpram melhor o serviço público a que estão

constitucionalmente votados.

É por isso que o PS/Açores pretende liderar, no espaço público mas,

sobretudo, no espaço político que é a Assembleia Legislativa da Região, a

elaboração de um Livro Verde da Organização Territorial dos Açores, que

procure definir quais os melhores paradigmas de organização e gestão

territorial, compreendida em três círculos concêntricos - poder regional, poder

de Ilha e poder local - para ser dada resposta adequada às necessidades de

bens e serviços públicos dos cidadãos nos Açores.

Não obstante, o PS/Açores considera-se legitimado na defesa, e tendo em

conta o superior interesse da nossa Região, cujo território é marcado pelo

isolamento e pela dispersão, em que grande parte das nossas localidades está

afastada dos centros urbanos e de importantes equipamentos e serviços

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públicos, de que as autarquias locais, ao nível de freguesia, são um edifício

essencial da nossa democracia participativa e asseguram o princípio da

solidariedade nacional, da coesão territorial e representam o último reduto dum

serviço público de proximidade.

As nossas freguesias são um instrumento fundamental de dinamização do

desenvolvimento e da coesão dos Açores.

O PS reafirma e relembra que, de acordo com a Constituição da República e o

Estatuto Político Administrativo dos Açores, a competência para criar, extinguir

ou modificar a área de qualquer autarquia local no território da Região é uma

competência legislativa própria da nossa Autonomia. Está apenas sujeita à livre

deliberação do nosso Parlamento.

O PS/Açores estará sempre contra reformas que reforçam o centralismo, que

atacam a Autonomia e enfraqueçam o papel insubstituível do Poder Local.

Mesmo preservando o essencial da estrutura do Poder Local, uma batalha

longe de estar ganha e para a qual o PS/Açores deverá estar sempre vigilante,

é inegável que a atual conjuntura que o nosso País atravessa constitui um

enorme desafio para todos os Autarcas.

Depois dos Autarcas eleitos pelo PS/Açores terem desenvolvido uma ação

inovadora, em que se acentuou uma visão complementar entre o Poder Local e

outros níveis de poder, em que se acabou com a velha cultura de tutela do

movimento associativo, de delito de opinião e em que se procurou promover a

qualidade de vida como o grande paradigma das sociedades modernas chegou

a hora de, mais uma vez, o PS/Açores liderar a dinâmica da procura de

soluções para os problemas.

O desafio é simples de formular. O momento que Portugal atravessa impõe aos

municípios um enorme e incontornável desafio: utilizar toda a capacidade de

ação e todo o quadro de atribuições e competências das autarquias para

desempenhar uma ação de atenuação da crise e de contra ciclo à forte

austeridade que o Governo da República tem desenvolvido.

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Moção de Orientação Política Global

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O PS/Açores entende assim que o Poder Local está confrontado com um

verdadeiro desafio histórico. Um desafio que exige uma ação corajosa e uma

sensibilidade política que só o PS/Açores está em condições de garantir.

A história e o nosso património político demonstram que mesmo em contextos

de cortes, reduções e diminuições, a ponderação do PS/Açores é bem

diferente da de outros partidos.

E se os autarcas têm razão nas críticas que expressam ao Governo da

República, não podem eximir-se de contribuir para atenuar o momento difícil

que atravessamos.

Mesmo com menos transferências do Estado, mesmo contando com menos

receitas próprias e mesmo perante o preconceito do Governo da República em

relação ao Poder Local, os municípios têm um papel importante a

desempenhar na luta contra a crise.

Ao PS/Açores importa mais que a representação territorial nos Açores se

apresente como uma administração política sedimentada territorialmente e

descentralizada politicamente, mas também, porque o contexto assim obriga

aos atores políticos e os decisores públicos, que se assuma como um elemento

dinâmico de promoção do desenvolvimento económico sustentado e,

sobretudo, concertado com os diferentes entes políticos territoriais.

Nos dias de hoje, vários fenómenos favorecem a alteração da forma de exercer

a governação territorial nos Açores.

Desde logo, os desafios da nova economia, com as prioridades da

competitividade e da promoção do emprego, obrigam a uma organização

territorial com um nova filosofia de promoção da economia local fora da

tradicional construção de infraestruturas e prestação de serviços públicos

básicos.

Acresce que a sanha ideológica de outras paragens faz perigar sobre o Estado

Social, não só, a sua essência como a própria sustentabilidade a médio e longo

prazo, através das anunciadas mudanças de política financeira do Estado, o

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que por sua vez desintegrando a ideia da gestão autárquica tradicional, obriga,

a que, pelo menos nos Açores, e com o PS/Açores, os conceitos de

solidariedade intergeracional e de coesão social se entrecruzem de maneira

mais impressiva com a organização e os espaços competenciais territoriais

regional e local.

A somar a estes, a comprovada experiência dos Açorianos nos processos

democráticos e a maior fiscalização dos cidadãos em assuntos e eleições, a

vontade dos cidadãos em participar politicamente através de outros meios que

não os tradicionais, os maiores índices de associativismo e de participação

cívica não convencional, de que os Açores são exemplo nacional, fazem

despoletar e obrigar a gestão autárquica da responsabilidade do PS/Açores a

novas formas de absorver a participação dos cidadãos nos processos de

decisão, a que a implementação dos orçamentos participativos, de forma

generalizada, ainda que desejavelmente enquadrada, não pode ser alheia.

Contudo, para o PS/Açores, o princípio da autonomia das autarquias é um

racional proporcional à responsabilidade das mesmas. Ou, dito de outro modo,

o novo paradigma de gestão autárquica defendido pelo PS/Açores deverá ter

em conta as novas funções de desenvolvimento económico.

O facto de haver maior participação nas eleições autárquicas resulta

certamente da convicção dos eleitores de que o seu voto pode influenciar

diretamente o padrão de qualidade de vida da sua comunidade e o nível dos

serviços que lhes são prestados.

Exige-se, pois, dos autarcas - e as mulheres e homens autarcas socialistas dos

Açores são disso verdadeiros intérpretes - capacidade para ir muito mais longe,

acionando, dentro e fora dos seus espaços, os mecanismos necessários para

uma intervenção consistente em áreas que, no passado, não eram entendidas

como fazendo parte do seu quadro de responsabilidades.

A implementação de políticas objetivamente direcionadas para a promoção do

emprego, competitividade empresarial e do território, sem descurar uma

atenção estruturada em matéria de solidariedade social, são exemplos

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Moção de Orientação Política Global

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emblemáticos das novas responsabilidades do poder local, que o PS/Açores

pretende fomentar.

Os futuros candidatos do PS/Açores às eleições autárquicas devem assim, em

nome do Partido, concentrar os seus compromissos em desenvolver uma ação

que ajude as famílias carenciadas, que apoie as empresas e que defenda o

emprego.

Os autarcas do PS/Açores devem por isso procurar criar sinergias com várias

entidades. É necessário desenvolver uma ação de parceria e

complementaridade com o Governo Regional e o setor de solidariedade social,

visando melhorar a resposta às situações crescentes de insuficiência

económica resultantes do crescimento do desemprego.

As IPSS’s têm, neste domínio, um papel central mas também devem merecer

atenção as associações e grupos informais que prestam solidariedade à

comunidade. Estes agentes promovem uma ação de grande mérito. Através

desses apoios é possível ajudar mais pessoas e mais famílias carenciadas.

No plano da melhoria do ambiente de negócios, o PS/A defende que a

componente fiscal e de taxas e licenças deve merecer uma atenção especial

procurando contribuir, de todas as formas, para a desoneração dos encargos

das empresas e das famílias. Os licenciamentos, o tratamento burocrático e

toda a estrutura de custos devem merecer atenção no sentido de ganhos de

eficiência e de poupança.

A tributação sobre os lucros das empresas, sobre o património e as taxas e

licenças de diversos serviços disponibilizados devem ser, dentro do possível,

contidas ou mesmo reduzidas. Todas as contribuições são importantes para

apoiar as empresas e ajudar as famílias.

Há medidas, por outro lado, que, postas em prática pelas autarquias, a nível da

Indústria, do Comércio, da Agricultura, do Turismo ou das Novas Tecnologias,

revertem em importantes mais-valias para o todo Regional, e são várias as

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autarquias socialistas dos Açores que, neste aspeto, podem ser apontadas

como exemplo a nível regional e nacional.

Os executivos camarários devem também procurar aproveitar o máximo de

fundos comunitários possíveis, no sentido de promoverem diversos

investimentos ajustados ao tecido empresarial do concelho e que recorram ao

maior número de mão de obra intensiva, como são, claramente, o caso das

intervenções de reabilitação urbana.

A política de preservação dos centros históricos é essencial. Centros

revitalizados permitem que estes espaços recuperem as suas funções

habitacionais, económicas, sociais, culturais e turísticas.

O Turismo é, apesar de todas as dificuldades, um dos setores que revela

melhores condições para relançar a economia e promover empregos. O

PS/Açores entende que as autarquias devem dar uma atenção especial à

reprogramação de atividades com o objetivo de concentrar iniciativas na época

baixa turística. As prioridades devem passar também pela dinamização de

agentes locais que permitam aos concelhos, ou à Região, reter os valores

financeiros envolvidos nessas contratações.

As autarquias devem integrar o Turismo como um catalisador da economia

local ao nível do comércio, da restauração, da animação e do artesanato, entre

outros.

O papel qualificador do Turismo em vários domínios implica que não se

descuide a aposta de fundo que a generalidade dos municípios e freguesias

nos Açores têm procurado desenvolver no domínio das políticas de ambiente e

do desenvolvimento sustentável.

A qualidade do Ambiente é uma imagem de marca dos Açores e as autarquias

têm um papel central na sua preservação e proteção.

O PS/Açores considera que este é um momento difícil que exige coragem para

o desempenho de cargos de eleição.

O PS/Açores deve incitar os seus autarcas a liderarem uma nova tendência de

desempenho de cargos executivos com maior abertura, inclusão e

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Moção de Orientação Política Global

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consideração de contributos. Os autarcas em geral, e os que desempenham

funções executivas em particular, devem procurar construir consensos mais

amplos na sua ação de modo a integrarem pontos de vista das oposições e de

vários setores socioeconómicos e culturais relevantes.

O PS/Açores reafirma que a atual conjuntura exige dos políticos mais

cooperação e sentido de compromisso do que conflitos e divergências.

Revela-se também oportuno que as estruturas locais do PS promovam uma

ação consistente e permanente de proximidade com as suas comunidades.

Esta é a melhor forma do Partido melhorar a sua inserção social e de

engrandecer as suas propostas políticas.

Neste quadro de intensos desafios à governação local, exige-se, pois, uma

visão estratégica de fundo, a conceção de um modelo de desenvolvimento

devidamente estruturado e a existência de um adequado planeamento das

ações a realizar com incidência em diversas áreas em simultâneo.

O PS/Açores não acredita que haja outra forma de promover o

desenvolvimento sustentável.

Se em qualquer círculo de representatividade política, seja regional seja local,

estas obrigações forem iludidas com iniciativas casuísticas, com obras e

realizações mais ou menos vistosas mas sem enquadramento num quadro de

referência regional orientado para o futuro, o desenvolvimento integral,

harmonioso e sustentável dos Açores não passará de uma miragem.

E aqui a atitude dos Autarcas, e em especial dos Autarcas Socialistas

Açorianos, terá de ser só uma: disponibilizarem-se para elaborar em conjunto

com o Governo dos Açores um Plano Estratégico com objetivos de médio

e longo prazo e batalhar em todas as frentes para encontrar fontes de

financiamento indispensáveis à sua implementação.

A falta sentida de planeamento e de uma estratégia nacional só pode ser

atribuída a um Terreiro do Paço pesado, centralista, burocrático, que, com o

seu mau desempenho na gestão dos dinheiros públicos, acabou por causar

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dificuldades à administração regional e à local, que, ao contrário, na

generalidade, investem melhor e desperdiçam menos.

Assim, o PS/Açores tem, não só, a competência, como a legitimidade, os meios

e os instrumentos, para implementar um processo complexo e participado de

definição de um rumo estratégico regional que contemple uma integração dos

diferentes níveis da administração no território dos Açores, segundo um modelo

com duplo sentido.

Ou seja, um Plano Estratégico de Desenvolvimento Territorial,

interpretando territorialmente os desafios da Estratégia 2020 da União

Europeia, que deva definir o enquadramento dos planos regionais e estes, por

sua vez, os dos planos de ilha e estes os dos planos municipais e estes os dos

planos de freguesia.

As linhas estratégicas regionais, de ilha e locais estariam assim em completa

sintonia. Cada Ilha e cada autarquia estaria a seguir uma verdadeira e coerente

estratégia, originando interações positivas para todos os restantes, em vez de

se anularem e, por vezes, de concorrerem entre si com políticas muitas vezes

redundantes.

Na situação atual, e apesar do esforço desenvolvido pela associações mais

representativas, como a AMRAA e a AMISM, temos participações esporádicas

dos municípios na definição de uma política de planeamento global muitas

vezes entrecruzada ou anulada pela politização das intervenções dos

Conselhos de Ilha, os quais, neste modelo de órgão difuso e heterogéneo,

contribuem de forma não sistematizada, deixando um espaço de não inscrição,

mas sobretudo, de não corresponsabilização coletiva que não é compaginável

com as obrigações e com as emergências que o contexto atual impõe.

É por isso que o PS/Açores entende que as autarquias não podem reclamar

para si um planeamento estratégico sem qualquer enquadramento regional,

mas o PS/Açores também sabe, porque o pratica, que as autarquias dos

Açores podem ver no Governo dos Açores do Partido Socialista um parceiro

catalisador e não num adversário conjuntural ou político.

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Moção de Orientação Política Global

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É assim que para o PS/Açores assume-se como estrutural para o

desenvolvimento dos Açores que as autarquias da Região, através dos seus

órgãos representativos, participem ativa e decisivamente na definição do

essencial do enquadramento e da gestão das verbas provenientes do próximo

Quadro Comunitário de Apoio.

É este novo ciclo de desenvolvimento que o PS/A, vitorioso nas Eleições

Regionais de outubro, pretende continuar a liderar no espaço autárquico,

também com a conquista da maioria dos municípios e das freguesias dos

Açores, pugnando com todos, mulheres e homens, que se vêem

representados num projeto do PS/Açores como o único projeto político regional

competente para um novo ciclo em que a palavra Açores acrescenta sempre e

nunca diminui.

CAPÍTULO IV

O Desafio da Autonomia:

Sustentabilidade

O regime autonómico é uma das grandes conquistas da democracia

portuguesa. O reforço da participação política e o cumprimento do princípio da

proximidade entre eleitos e eleitores propiciaram um ciclo de desenvolvimento

sem precedentes no Portugal insular.

Neste contexto, a Autonomia Regional dos Açores é um caso de sucesso da

democracia portuguesa. Apesar de nem sempre bem compreendidas por

alguma classe política nacional, as legítimas aspirações autonómicas açorianas

e os resultados alcançados nas últimas décadas pelos Açores são motivo de

orgulho para o País.

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Os Açores acrescentam dimensão atlântica ao país e contribuem de modo

significativo para a afirmação geopolítica de Portugal.

O tempo em que hoje vivemos, de imposição de grandes sacrifícios, em que

aumentam as dificuldades sentidas pela maioria dos portugueses e onde

perpassa um sentimento generalizado de injustiça por grande parte dos

cidadãos, torna a perceção da realidade autonómica mais difícil e difusa.

Por outro lado, as exigências de contenção financeira e de reestruturação da

ação do Estado, misturadas com uma indisfarçável vocação ideológica de

quem governa na República, abrem àqueles que estruturalmente advogam um

país mais centralizado um novo leque de possibilidades, permitindo que se

proponham e decidam medidas que, a coberto de justificações pretensamente

económico-financeiras, visam sobretudo fazer retroceder o processo

autonómico, contê-lo, e, mesmo que isso signifique desrespeitar as leis

fundadoras, ajustá-lo a um ideário que vê no autogoverno insular uma benesse

e não uma formulação legítima de organização político-institucional do Estado.

É certo que a imagem das autonomias regionais é hoje também negativamente

influenciada pela situação gravosa em que se encontra a Região Autónoma da

Madeira. O PS/Açores deve, por isso, estar alerta para as tentativas, mais ou

menos disfarçadas, de condicionar as autonomias regionais.

Compete ao PS/Açores a tarefa de contribuir para sensibilizar a opinião pública

nacional para o valor e para o potencial da autonomia regional, sobretudo num

contexto que o que parece cristalino para os olhos dos Açorianos, ainda assim,

parece pouco claro aos olhos de muitos: os Açores e a Madeira vivem

situações distintas.

São duas regiões culturalmente diferentes, com exercícios democráticos

diversos e com resultados de governação distintos. A realidade geográfica e

territorial é, também ela, diferente. Estas são razões mais do que suficientes

para não serem percecionadas de igual modo.

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Moção de Orientação Política Global

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Cabe, por isso, ao PS/Açores fazer sempre, a nível nacional e junto de todos

os quadrantes políticos e institucionais, a pedagogia das virtudes de uma

Autonomia responsável e credível, também como mais-valia que representa

para Portugal.

É, assim, fundamental que os Socialistas Açorianos se mantenham, ainda que

muitas vezes de modo solitário, na linha da frente da defesa da Autonomia.

Para os Açorianos, a Autonomia não é apenas uma palavra. É um modo de

vida e uma afirmação cultural e política que enriquece o país pelos bons

resultados que produz. É, além disso, a melhor forma de expressão da

portugalidade insular.

Mas as circunstâncias extraordinárias que hoje vivemos, no plano nacional

como a nível europeu, constituem, para os Açores, um desafio suplementar,

perante uma convicção cada vez mais generalizada e fundada nas evidências

de que o “modelo de austeridade” desenvolvido à escala europeia está a falhar

e de que a adaptação que o Governo da República fez para o plano nacional

regista ainda piores resultados.

As causas não são, pois, circunscritas à dimensão portuguesa, e as suas

consequências, infelizmente, fazem-se sentir nos Açores, mesmo com os

esforços dos governos do PS/Açores para as mitigar.

Os resultados do crescimento europeu no terceiro trimestre de 2012 – com

Portugal a crescer negativamente -0,8%, a Itália -0,2%, a Espanha -0,3%, a

Holanda -1,1%, e a França e a Alemanha a crescer residualmente 0,2% - são

reveladores de que a travagem económica é generalizada e de que a crise que

vivemos, está a tornar-se sistémica, tendo em 2013 um potencial elevado de

desajustamento económico e social sem paralelo desde a Grande Depressão.

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Nesse contexto genericamente negativo avolumam-se as injustiças, as

diferenciações e uma inexplicável tendência das políticas europeias para a

desvalorização dos fatores de coesão territorial e social.

Mesmo aqueles que desvalorizaram as políticas de crescimento e o valor do

investimento público reconhecem progressivamente que o caminho está

errado.

Em Portugal, também o próprio Presidente da República e outros setores

conservadores e neoliberais recuperaram recentemente o que o PS tem vindo

a salientar há muito. Economistas reputados, americanos e europeus, já

utilizam em praticamente todas as suas intervenções públicas sobre a crise

europeia, as palavras “reestruturação” e “renegociação” do ajustamento, com

um despudor quase inacreditável, para quem assistiu a esta mesma discussão

há apenas seis meses atrás.

Apesar de governos, como o alemão e, infelizmente, o português, ainda não

terem integrado essas novas perceções, torna-se óbvio que, não obstante os

ajustamentos estruturais das economias periféricas da Europa serem

necessários e implicarem alguma austeridade, os apelos retóricos ao

crescimento não são suficientes para alcançar os resultados positivos

pretendidos.

A nossa convicção é partilhada por uma crescente maioria de cidadãos

europeus, que se confrontam não apenas com as dívidas públicas e os

desequilíbrios orçamentais dos seus Estados, como com a degradação dos

rendimentos pessoais e das economias empresariais.

A reclamação é cada vez mais forte no sentido da União Europeia agir

pensando como um todo e não nos interesses particulares dos países que

neste momento a suportam como maiores contribuintes líquidos. O atual

impasse político europeu acarreta um risco real de desintegração pela

destruição do que foi construído à custa das “lições de vida” pós Segunda

Guerra Mundial.

Requerem-se políticas concertadas de reestruturação da dívida pública e

privada dos países do sul da Europa, e uma vigilância apertada a outras

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Moção de Orientação Política Global

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economias motrizes na Europa que podem ter problemas. A União Europeia

necessita cada vez mais, como muitos reclamam, de um “Plano Marshall” à luz

dos paradigmas atuais de desenvolvimento, assente em fundos comunitários

corretamente direcionados e orientados, entre outras prioridades, para uma

nova vaga de industrialização e de investigação em contexto empresarial, de

desenvolvimento rural e também ao nível das “energias verdes”, que melhore a

competitividade do espaço económico e resolva, tendencialmente, problemas

estruturais de todos países envolvidos.

Todavia, para prosseguirmos esses desígnios necessitamos de aprofundar

política e democraticamente o processo institucional na União Europeia, para

uma governação efetiva e eficaz e, indispensavelmente, com objetivos comuns.

Necessitamos, simultaneamente, de preservar um fator que identificou o ideal

europeu no Mundo e que nos proporcionou o maior período de prosperidade e

estabilidade na história da humanidade: o compromisso do Estado em garantir

um conjunto de direitos sociais indissociáveis à existência de qualquer cidadão

e um enquadramento favorável para a igualdade de oportunidades seja no

acesso à Saúde e à Educação, seja na proteção perante o infortúnio. Quanto

maior for a efetividade desse Estado Social, ainda que necessariamente

sustentável, mais próximos estaremos da visão humanista e solidária que deve

informar a organização social.

O PS/Açores, por isso, deve associar-se ao máximo esforço para que essa

visão tenha acolhimento em todos os níveis da governação e, em especial, na

nossa Região.

Recusamos a ideia de que a procura e a realização do bem-estar social sejam

uma utopia contranatura e antieconómica.

O Estado que preconizamos, tal como a Europa que queremos, é o que realiza

em simultâneo o mínimo de equilíbrio orçamental com o máximo de políticas de

promoção de empresas e bem-estar. Um Estado investidor, um Estado

regulador, salvaguarda dos novos riscos, mediante o cumprimento das regras

orçamentais, um Estado garante do contrato social, um Estado imparcial…

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A Europa não pode continuar a adiar a sua autoconstituição e a sua

autoregulação. É urgente concretizar o verdadeiro governo europeu, sob pena

das novas gerações viverem sem perspetivas e olharem os políticos e a política

como razão dos males ora pelas suas ações ora pelas suas omissões.

A crise financeira e económica coloca-nos, então, perante uma verdadeira

mudança de paradigma. Na verdade, nem o desafio da competitividade pode

mais ser resolvido à custa dos despedimentos laborais, nem o desafio da

geração de emprego pode ser superado à custa da sua sustentação artificial.

O PS/Açores tem consciência que essas orientações devem informar a sua

ação governativa, mas é importante, também, entender e atender à emergência

de problemas sociais e realidades empresariais associadas à caracterização da

atual crise entre nós.

Por isso, os Socialistas entendem que a política governativa nos Açores deve

incluir duas dimensões revitalizadoras da economia, que se desenvolvem

através, por um lado, de uma agenda conjuntural, e por outro de uma agenda

estrutural.

Salienta-se a importância de todo o cêntimo público investido e todas as

políticas públicas serem aproveitados predominantemente em áreas definidas

como prioritárias para a economia, tendo em conta a emergência que vivem

esses setores e as necessidades de ajustamento estrutural projetadas para a

economia açoriana.

A agenda conjuntural deve consistir, primeiramente, em assegurar que

mecanismos essenciais para o funcionamento da economia açoriana, como o

consumo interno e o crédito bancário, abalados por efeitos externos na Região,

não sejam paralisados pelos efeitos da crise na banca, no emprego e no

rendimento. As terríveis restrições que se têm sentido no acesso ao crédito

bancário, quer pelas pessoas quer pelas empresas, evidenciam-se pela

constatação das centenas de milhões que a banca retirou à economia

açoriana, em termos de financiamento anual, que é sensivelmente o mesmo

valor do plano de investimentos do Governo dos Açores.

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Moção de Orientação Política Global

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Na prática, em vez de termos dois efeitos multiplicadores económicos, que se

somam e que se complementariam na economia açoriana, hoje, estes

praticamente se anulam.

O PS/Açores tem consciência que a resolução destes problemas não passa,

somente, pela ação do Governo dos Açores. Precisaríamos de, pelo menos,

duplicar o nosso plano de investimentos para que tal fosse suficiente e tal não

é possível nem seria nunca normal.

O apoio às famílias e às empresas - no primeiro caso com recurso às

capacidades disponíveis do chamado Estado Social e da diferenciação fiscal, e

no segundo caso com a promoção de programas de apoio à manutenção de

postos de trabalho e linhas de crédito especializadas em restruturação de

crédito bancário e de injeção de liquidez - afigura-se, portanto, essencial para

serem minorados alguns dos efeitos recessivos das políticas de austeridade

que nos chegam da administração central. Essa consciência deve continuar

muito presente na ação governativa impulsionada e apoiada pelo PS/Açores.

A principal defesa que podemos fazer da Autonomia são os resultados que,

com ela, alcançamos. O PS/Açores, embora consciente das enormes

dificuldades que o atual contexto apresenta, está empenhado nas reformas

necessárias para garantir progresso e sustentabilidade à Região. Estamos

convencidos de que a melhor forma de acautelarmos o futuro passa, assim, por

perspetivarmos e definirmos os objetivos a longo prazo. É, por isso, que

defendemos a criação de uma plataforma de reflexão sobre as prioridades

estratégicas, ameaças e oportunidades, objetivos, desafios e resultados

potenciais que até 2020 se colocam à Região, e deve envolver toda a

sociedade civil e os mais diversos setores de atividade e opinião.

Queremos uma Região mais competitiva, focada no crescimento económico

como forma de criar postos de trabalho, consolidar a classe média e atrair

investimento externo, sendo certo que a Autonomia regional só tem a ganhar

quanto maior for, também, a sustentabilidade económica do seu modelo de

desenvolvimento.

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Por isso, esta agenda estrutural a ser prosseguida pelo PS/Açores deve ter

como objetivo sustentado a reorganização do setor produtivo e de serviços

tendo em vista a melhoria da nossa balança comercial.

Toda a lógica de fomento ao crescimento económico, todo o investimento

público, deve assentar em quatro premissas base: A diminuição do custo das

importações; a substituição de importações; o aumento do valor da nossa

produção transacionável; e o suporte do atual tecido produtivo regional durante

o período de ajustamento estrutural.

Para tal, temos de incentivar as empresas açorianas existentes e outras que

surjam a incorporarem maior valor acrescentado nos seus produtos, quer

através da diminuição dos custos de produção e de financiamento, quer

através da diferenciação dos seus produtos nos mercados alvo.

Mas este reforço de competitividade, com efeitos reais na nossa balança

comercial, não será possível sem um esforço considerável das entidades

públicas e privadas no aumento da I&D em contexto empresarial, em parceria

com a Universidade dos Açores, na redução dos custos de contexto, na

diminuição da carga burocrática do Estado, na promoção da Marca Açores, nos

incentivos públicos ao investimento privado e na diversificação de fontes de

financiamento.

A necessidade de melhorarmos o desempenho no setor primário da economia

e das indústrias a ele associadas não deve ser descurada pelo programa do

PS/açores.

O Turismo é, sem dúvida, uma área essencial da agenda estrutural. Neste

setor, todo o trabalho que tem vindo a ser realizado é meritório, é estrutural e

deve ser continuado, sobretudo, ao nível da valorização do tipo de “produto”

que vendemos e da diversificação dos mercados emissores de fluxos turísticos.

Mas face ao “esmagamento” do mercado continental com a austeridade a que

o país está sujeito, temos de ter a noção que, nos próximos dois anos, nem

com uma baixa significativa das tarifas aéreas contaremos com um contributo

sustentado desse mercado emissor.

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Moção de Orientação Política Global

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A curto prazo, a limitação de danos para este setor passa pela redução de

custos e pelo aumento da eficiência das unidades hoteleiras existentes, de

forma a aumentar a sua competitividade, bem como, pela entrada no nosso

mercado de novos investidores nacionais e internacionais com capacidade de,

por si, trazerem mais fluxos turísticos estrangeiros.

O fomento da parte do Executivo do Partido Socilalista destas estratégias,

aliado ao trabalho que tem vindo a ser realizado e que deve ser continuado,

podem permitir a este setor aguentar e superar esta turbulência com menos

dificuldades.

No setor da construção civil, o PS/Açores sublinha a adequação de uma

estratégia em que, ouvidos os parceiros sociais, consolide a Carta de Obras

Públicas para os próximos quatro anos, de forma a fomentar fusões e parcerias

no setor e a estabelecer a possibilidade de, por exemplo, no âmbito do próximo

quadro comunitário de apoio, arrancar com um programa de reabilitação

habitacional em parceria com os Municípios.

Este programa permitirá, por um lado, reabilitar os nossos centros de

freguesias, vilas e cidades, travando assim a ocupação de novos solos, úteis

para outros setores e, por outro lado, aumentar a riqueza de pequenas

empresas de construção civil e diminuir o desemprego nesta área.

Sendo estes alguns dos desafios que enfrentamos e que nos afetam, temos a

consciência reforçada de que, com a integração constante das economias e

dos efeitos das políticas, as medidas que projetamos e que executamos nos

Açores não surtem efeitos independentes e suficientes na nossa economia

como na nossa estrutura social. Por isso, não pensamos a Região dissociada

do País e dissociada da Europa: da Europa coesa, humanista e solidária em

que nos empenhamos com convicção e urgência.

Uma Região que é hoje referência histórica e modelo exemplar do processo de

descentralização política e administrativa consubstanciado na afirmação do

regime autonómico, que tem, por isso, a responsabilidade maior de defender a

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Autonomia dos ímpetos centralistas e dos atropelos às competências dos

órgãos próprios das regiões autónomas.

Uma Região que tem, também, a obrigação de consolidar, do ponto de vista

político e económico, o seu modelo de autogoverno, tornando-o também cada

vez mais autossustentado, reforçando o seu sistema imunitário e a sua

capacidade impulsionadora.

Sendo um desígnio que se cultiva em permanência, o PS/Açores entende que

a Autonomia tem de ser também um instrumento eficiente de concretização do

nosso potencial e uma via estruturada de obtenção de resultados concretos,

porque essa é também a melhor demonstração da sua valia prática.

Cumpre-nos, por isso, enquanto partido da governação, alicerçá-la numa visão

de futuro para o desenvolvimento da nossa Região, assente em opções e

prioridades claras do ponto de vista orçamental e num conjunto articulado de

medidas específicas de prossecução do nosso próprio caminho de progresso.

O contexto de excecionais desafios que agora atravessamos não é, por isso,

apenas um período de acrescidas ameaças à solidez do adquirido autonómico.

Constitui também um estímulo à nossa capacidade de projetar o futuro do

nosso desenvolvimento coletivo. Essa missão incumbe particularmente a

quem, como o PS/Açores, sempre soube adaptar os princípios autonómicos às

exigências dos tempos, renovando sem desvirtuar o legado histórico da luta

pelo autogoverno.

CAPÍTULO V

O Mar, a Autonomia e o Estado

O Mar dos Açores, sendo um dos maiores ativos estratégicos da Região e por

consequência do País, é, para um Açoriano, uma extensão natural da sua

História, do seu património e do seu território.

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Moção de Orientação Política Global

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O PS/Açores reconhece que esta é, pois, muito mais do que uma questão de

jurisdição. O Mar faz parte da essência e do futuro das nossas ilhas.

Esta evidência tem sido, contudo, mistificada por uma visão míope e

centralizadora que impede um Estado como o nosso de exercer e potenciar a

sua influência nos grandes espaços marítimos que lhe estão jurisdicionalmente

afetados.

Na verdade, a posse de uma área terrestre de cerca de 90.000 Km2, coloca

Portugal no 110º lugar do ordenamento dos países em função da sua

dimensão, apenas subindo, nesse ranking, quando são incorporados os

espaços marítimos sob jurisdição nacional, salto que se fica a dever ao facto de

o Estado português possuir a 11ª maior área mundial de águas jurisdicionais,

incluindo águas interiores, Mar Territorial e Zona Económica Exclusiva, na qual

se destaca naturalmente a ZEE dos Açores.

Esta posição de destaque será ainda reforçada com a inclusão esperada dos

novos territórios oceânicos provenientes da extensão da Plataforma

Continental e que, só por si, farão com que a área marítima se expanda até aos

3,6 milhões de Km2, duplicando a já sua extraordinária extensão de fundos

marinhos.

Como pode, pois, esse espaço marítimo interterritorial, cruzado por importantes

rotas marítimas a ligar o Norte e o Sul da Europa e esta ao resto do mundo, e

em especial ao mundo desenvolvido do espaço continental americano, para

além das suas funções de via de transporte e de fonte de recursos naturais,

deixar de assumir um estatuto vital para a unidade e sobrevivência do país e,

por sua vez, como catalisador indispensável para uma região arquipelágica

como os Açores?

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O PS/Açores defende por isso que os Açores são a Região do país com maior

potencial de crescimento da Economia do Mar, quer no campo da

biotecnologia, quer nos domínios da gestão e exploração dos recursos

marinhos, da investigação científica, ou da Indústria de Turismo e Lazer.

A verdade, contudo, é que hoje aqueles que ao Mar não souberam reconhecer

o devido potencial, ou dele retirar o devido valor, olham-no com a cobiça de

quem, no desespero da angariação de recursos financeiros em nome de meta

ideológica inconfessadas, não utilizam abordagens precaucionarias e invertem

as prioridades e as potencialidades que esse recurso imenso carrega.

O PS/Açores entende, por isso, que, em especial no atual contexto político e

económico-financeiro do país, a exploração dos recursos do mar açoriano é

matéria sobre a qual os Açorianos, através dos seus órgãos de Governo

próprio, terão sempre a primeira e a última palavra.

O PS/Açores não abdicará da defesa intransigente deste património açoriano

de modo a garantir que qualquer exploração futura permita a preservação e a

sustentabilidade dos ecossistemas e que os Açores e os açorianos sejam

beneficiados pela exploração dos seus recursos naturais.

O PS/Açores entende, igualmente, que o processo a decorrer nas Nações

Unidas com vista ao aumento da plataforma continental portuguesa não deve

colidir com os interesses do reconhecimento da vasta plataforma oceânica em

que se insere territorialmente a Região.

O Mar dos Açores deve, por isso, concitar todos os esforços para que poderes

públicos e iniciativa privada criem na Região as condições para a afirmação de

um cluster da Indústria do Mar.

É por isso que, neste âmbito, o PS/Açores pretende liderar uma Frente

Comum em defesa do Mar dos Açores que envolva toda a sociedade

açoriana e os diversos setores com intervenção nos recursos marinhos.

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Moção de Orientação Política Global

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Deste processo devem resultar as linhas orientadoras de uma estratégia de

defesa deste importante recurso dos Açores.

Esta estratégia deve ser construída pelos Açores, mas pode e deve contar com

o apoio e contributo de parceiros privilegiados com especial relevância nas

plataformas europeias e internacionais sobre este tema.

Em causa está tão simplesmente a transfiguração de um país com modesta

superfície terrestre num Estado compensado prodigamente com vastos

territórios marítimos, a grande “janela de liberdade” para um devir que, por isso,

ou também por isso, é o devir Açoriano.

É por isso que o PS/Açores pretende defender e explorar todo o potencial

estratégico que emana da dimensão euro-atlântica dos Açores.

E fazê-lo em todos os palcos nacionais e internacionais, com especial atenção

ao europeu, de forma a fomentar a estruturação de uma economia ligada ao

Mar, ou, reversamente, a “maritimização da economia” dos Açores, uma vez

que nenhum Estado, e muito menos uma Região Autónoma e arquipelágica

como os Açores, está em condições de desperdiçar ou dispensar, sem

consequências graves para o seu desempenho económico, a utilização do Mar

que a rodeia e os seus recursos.

Ora esse objetivo coletivo deve ser interpretado pelo PS/Açores, no seu círculo

de responsabilidade política e social, ao nível regional e autárquico, sem

descurar um intensa agenda de afirmação nacional, seja, institucionalmente,

junto dos órgãos de soberania, seja, política e socialmente junto dos restantes

parceiros e intervenientes nas políticas de desenvolvimento, em especial, as

relacionadas com o Mar.

Se é verdade que, no caso português, a importância do Mar é geralmente

reconhecida e aceite no discurso oficial, contudo, o PS/Açores não pode deixar

de salientar a falta de atenção que as questões do Mar têm merecido dos

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sucessivos Governos da República, tanto ao nível da definição das políticas,

como da operacionalização das estruturas adequadas para as implementar.

E se a crise estrutural do País, a que se soma a dos mercados energéticos e

das matérias-primas, e os novos paradigmas relacionados com as energias e

os produtos alimentares, reforçam a necessidade de se olhar para o Mar e para

os seus diversos recursos e potencialidades com uma nova ambição, com

novas estratégias e, sobretudo, com uma nova geração de políticas, medidas e

ações que capacitem a sociedade portuguesa para a defesa, promoção e

desenvolvimento dos recursos potencialmente disponibilizáveis, compete ao

PS/Açores, como responsável e intérprete da História, mas sobremaneira do

Futuro, do Povo Açoriano, continuar a sublinhar que o uso do Mar, em

segurança e de forma sustentada, é um bem precioso de mais para ser

deixado sem regra e governação, ou pior, com as regras e com a governação

de quem tem por método o casuístico e por fito o momentâneo.

Daí a importância da presença dos Açores na conceção das políticas nacionais

para o Mar e, em especial, das respetivas respostas estratégicas.

Mas, também, é fundamental tornar claro que a par de uma qualquer política

nacional deverá existir sempre uma estratégia regional, enquanto expressão de

poder autonómico e um instrumento de força e de afirmação de um Povo que

diariamente se legitima no seu exercício sustentável.

Uma verdadeira estratégia marítima que, devidamente balizada nos seus

termos de referência e de ação, conceba todo um rigoroso e coerente plano de

atividades que, de forma integrada e, necessariamente, coordenada, se

desenvolva e execute a jusante, nos vários níveis e domínios-alvos de

interesse público e privado e especificidade regional e local.

Um desses objetivos tem um caráter transversal e traduz-se na imperiosa

necessidade de ocupar racionalmente o espaço marítimo com atividades muito

diversificadas – económicas, ambientais, científicas, de recreio e outras –, pois

o reconhecimento internacional da legitimidade dos Açores sobre uma tão

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Moção de Orientação Política Global

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grande área marítima estará sempre relacionado com o tipo de ocupação que

nela formos capazes de concretizar.

Um outro objetivo assenta na necessidade de serem rentabilizadas as

atividades ligadas ao mar, já que tanto as empresas como os particulares só

nelas estarão interessados se delas retirarem proveito e benefício.

O Mar dos Açores deve, portanto, equacionar-se economicamente e justificar-

se também nessa base.

O PS/Açores entende e propõe-se, por isso, a pugnar por uma maior atenção

dos responsáveis nacionais e parceiros europeus, para a questão do Mar no

âmbito do diálogo europeu, no sentido de assegurar que as nossas

especificidades sejam atempadamente acautelados, nomeadamente para que

os recursos do mar e das zonas costeiras possam contribuir, em termos

significativos, para a promoção do desenvolvimento económico e social dos

Açorianos e das empresas açorianas.

O PS/Açores entende propor aos poderes públicos regionais, nacionais e

internacionais, em especial no âmbito das parcerias europeias, o

desenvolvimento de uma nova geração de políticas marítimas, económica e

socialmente sustentáveis, que possibilitem a satisfação das várias partes

interessadas nos diversos setores e atividades relacionadas com o mar,

designadamente na pesca, na indústria transformadora dos produtos da pesca,

e, em particular, nas conservas de peixe, na construção e reparação naval, nos

transportes marítimos, na área marítimo-portuária, nas atividades turísticas e

na investigação e na biotecnologia.

Na opinião do PS/Açores, são estas as áreas que devem merecer uma atenção

mais cuidada, coordenada e consistente por parte das políticas relacionadas

com o mar.

O PS/Açores entende por isso que, sobretudo, no âmbito das instâncias

europeias, o Mar deve ser utilizado como argumento de diferenciação e um

quase-símbolo nacional, o que deverá/poderá conduzir a condições negociais

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mais favoráveis em setores como as pescas, a proteção das zonas costeiras, a

segurança marítima, a investigação científica e outros.

Contudo, a importância e relevo que as atividades económicas relacionadas

com o Mar assumem para grande parte das populações, e em especial para os

Açorianos, obrigam a que, numa intervenção contínua e persistente, o

PS/Açores, através dos órgãos de governo próprio da Região, batalhe para

merecer por parte do Estado e da União Europeia uma focalização nas

políticas de defesa da coesão social e da sustentabilidade económica e

ambiental, assegurando complementaridades e sinergias em favor daqueles

que vivem no, e exclusivamente do, Mar e que, por isso, se não podem deixar

de ser os principais aliados, não podem deixar de ser, seguramente, os

principais beneficiários, no desenvolvimento de uma nova geração de políticas,

económica e socialmente sustentáveis.

Assim, o PS/Açores entende que eventuais concessões que venham a ser

atribuídas pelos poderes públicos terão de considerar sempre a gestão

partilhada dos recursos, em conformidade e respeito pela Constituição e

Estatuto Político-Administrativo dos Açores.

Na verdade, pretendemos continuar a lembrar ao Estado português que não

pode ser ligeiro em acomodar os interesses europeus na gestão partilhada dos

recursos naturais, em especial os piscícolas, com consequências que os

Açorianos, infelizmente, bem conhecem e sentem, e, em matéria de recursos

minerais e fundos marinhos, teimar na concentração de competências que, se

por si já se consideram ilegítimas, no atual enquadramento legislativo se

tornaram ilegais.

E por isso se defende, igualmente, que eventuais contrapartidas a oferecer

pelos concessionários da investigação e exploração dos nossos recursos

marinhos, tanto em termos de produção efetiva como em termos de

investigação e de criação de uma base tecnológica industrial sólida e integrada,

não pode esquecer o contributo primeiro para a empregabilidade das

comunidades locais das nossas ilhas, para a dinamização da economia das

nossas empresas e para a valorização do adquirido cientifico da nossa

Universidade.

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Moção de Orientação Política Global

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É por isso que o PS/Açores, antes de falar de contrapartidas, pretende falar de

desenvolvimento. E é por isso que considera que ao Estado Português e às

entidades competentes da União Europeia compete olhar para o Mar dos

Açores no sentido de aqui se desenvolver uma intensa investigação de ponta,

tanto em matéria de recursos biológicos marinhos como no que se refere ao

conhecimento dos fundos marinhos e respetivos recursos, biotecnologia

marinha aplicada e exploração energética.

Ao desenvolvimento deste conhecimento deve ser atribuída elevada prioridade

europeia, uma vez que os Açores e o potencial que o Mar encerra somam à

Europa seguramente muitos mais milhões do que aqueles que a título de

Coesão ou de Ultraperiferia nos são disponibilizados.

A este propósito o PS/Açores entende dever continuar a trabalhar para um

novo horizonte geo-económico e político, em que o hypercluster da economia

do mar, a que acresce, no caso específico açoriano, a articulação com um

hypercluster das comunicações, se constitua como esteio de oportunidade e de

liberdade.

E ao PS/Açores impõe-se, também, continuar a relembrar os deveres de um

Estado costeiro. É que não basta ter direitos, há que exercê-los e se, ou

quando, não existirem capacidades autónomas, há que saber negociar

parcerias atlânticas.

Nesse exercício inscreve-se a obrigatoriedade de que uma gestão eficaz da

Zona Económica Exclusiva e da Plataforma Continental, o que implica, não só

um modelo correto de “governança”, de capacidade empresarial e tecnológica,

uma atitude de preocupação com a sustentabilidade, mas sobretudo de um

sistema de fiscalização.

Ou seja, a defesa dos interesses dos Açores, e por isso dos interesses

nacionais, reside hoje também na capacidade de ocupar o nosso Mar, um

interesse nacional vital e também europeu, convém lembrar, pelo exercício do

“poder do conhecimento”, que hoje constitui um expoente da valorização do

poder de qualquer país.

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Ora, esses dois objetivos – ocupação da área marítima e conhecimento – só

estarão ao alcance do Estado português se, este, perceber que aqueles que

melhor conhecem e gerem o Mar dos Açores são os Açorianos, através das

suas instituições de governo, de saber e de cultura.

Este é um combate duro e difícil na defesa e preservação deste recurso que é

nosso.

Mas, independentemente da dimensão competencial, jurídica, jurisdicional ou

económica em torno do Mar, há um princípio intocável para o PS/Açores – o

Mar dos Açores é dos Açorianos, o Mar dos Açores deve ser gerido pelos

açorianos, e devem ser os Açorianos a beneficiarem das suas mais-valias em

primeira instância.

CAPÍTULO VI

A afirmação externa da

Autonomia Açoriana

O PS/Açores entende como um dos grandes desafios do Século XXI a

afirmação dos Açores no exterior, tanto no plano político e institucional, como

no plano económico.

Em boa verdade, tratam-se de dimensões indissociáveis e que devem fazer

parte de uma matriz comum de projeção dos Açores no Mundo, com especial

relevância para o espaço europeu e para as zonas do mundo com

comunidades açorianas.

Quanto ao Velho Continente, a Europa vive hoje um dos seus maiores

desafios. A crise internacional colocou o processo de construção europeia num

impasse. A solidariedade e a ideia de cidadania comum e da identidade

europeia parecem ter dado lugar a políticas mais conservadoras, que

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Moção de Orientação Política Global

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privilegiam a concentração do poder político de facto no centro geográfico

europeu, e a posturas mais nacionalistas, que retomam o papel motor dos

interesses soberanos de cada Estado e deixam menor margem de afirmação

às regiões.

A Europa, para o PS/Açores, é um caso de sucesso que, durante gerações,

permitiu garantir a paz, a promoção do modelo social, o desenvolvimento e o

crescimento económico. A crise que hoje assistimos na Europa marca o início

de uma nova fase do processo europeu. Apesar das incertezas quanto aos

resultados e ao rumo que esta nova fase implica, parece certo que, para

garantir a manutenção do projeto europeu, a coesão e a paz social, a Europa

terá, a prazo, de adotar políticas mais próximas do modelo federal,

materializadas na construção de uma Europa das Regiões, onde as soberanias

nacionais mantêm o seu estatuto, mas ganham uma interação mais

consentânea com os desafios da modernidade.

O PS/Açores defende que por isso, e para isso, os Açores devem reforçar a

sua presença no palco europeu. Para tal, é fundamental melhorar o

conhecimento dos Açores à escala europeia. De igual modo, é preciso

melhorar o conhecimento dos açorianos relativamente à Europa como espaço

de identidade comum.

O que aconselha a que, do nosso lado, existam ideias claras acerca do

caminho mais adequado a percorrer.

O PS/Açores entende, por isso, que os Açores não podem continuar a

aguardar por saber qual o contributo de Portugal para o projeto europeu no

Sec. XXI.

O PS/Açores entende que a criação de polos periféricos de valor internacional

implica, naturalmente, a definição de especializações competitivas ao nível da

Europa e da nossa relação com o mundo.

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Por outro lado, essa afirmação supranacional impõe o desenvolvimento de

estratégias de cooperação e complementaridade com atores e coletividades

territoriais de outros países.

Neste particular, o PS/Açores afirma uma necessidade crescente de diplomacia

política e económica para a nossa Autonomia.

Para o desenvolvimento da sua atividade externa e aprofundamento da

respetiva projeção e afirmação internacional, os Açores devem privilegiar,

como instrumentos da sua «política externa», contatos oficiais com entidades

congéneres, a promoção cultural, comercial e turística, as ações de assistência

às respetivas comunidades de emigrantes no estrangeiro e a participação na

política de cooperação internacional para o desenvolvimento, através de uma

cooperação regional e integração aprofundada no espaço da União Europeia.

O PS/Açores entende que o desenvolvimento de uma ação exterior dos Açores

não é rival da política externa do Estado, antes complementar daquela noutros

níveis e, sobretudo, uma dimensão inevitável do exercício da Autonomia numa

sociedade internacional cada vez mais interligada e aberta, onde as

competências regionais adquirem uma crescente relevância além das fronteiras

dos Estado.

É por isso que o PS/Açores entende que a ação exterior regional em geral, e a

participação na política comunitária em particular, deve ser interpretada

fundamentalmente como uma melhoria no exercício da gestão pública

autonómica.

É funcionalmente mais positivo que sejam os representantes do próprio nível

político diretamente afetado por uma determinada questão quem deve

protagonizar diretamente a defesa destas causas ante as instituições

internacionais ou europeias representando, também assim, o Estado a que

pertencem.

É, pois, necessário aplicar a lógica regional a todas as dimensões deste Estado

autonómico, incluindo a exterior e a comunitária, o que passa por um grande

movimento político liderado pelo PS/Açores, que ofereça solução a problemas

que se vêm agravando desde há anos e que impedem um correto exercício da

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Moção de Orientação Política Global

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Autonomia e uma correta inserção do Estado autonómico na cena

internacional,.

Um movimento com estas características teria o valor extra de possibilitar uma

participação mais dinâmica do Estado português no plano internacional.

Significaria também uma demonstração de que em Portugal o princípio da

lealdade constitucional é um caminho de duas vias. Por ele, ou como

consequência dele, é necessário estabelecer fóruns multilaterais de

cooperação interautonómica onde os Açores e a Madeira consensualizem a

sua posição perante os diferentes temas sem esquecer a simetria do sistema

autonómico português.

O PS/Açores entende que a maioria destes procedimentos de cooperação, que

noutras paragens europeias já se desenvolvem com maturidade, são aplicáveis

sem necessidade de violentar a Constituição.

Em matéria de construção europeia, o PS/Açores assume, por isso, a

convicção de que é necessário avançar para um modelo de desenvolvimento

mais policêntrico para a Europa e que esse objetivo tem implicações óbvias.

Ao nível do discurso, é essencial atribuir uma maior centralidade à componente

territorial no debate sobre o projeto europeu. O PS/Açores entende que a

construção da Europa como comunidade imaginada não pode prescindir de

uma visão territorial e da ação de atores de base territorial. Mas o

reconhecimento mais generalizado da importância da componente territorial

para o projeto europeu exige um esforço sério de colocar estas questões nas

agendas política e mediática.

Este é um objetivo que o PS/Açores deve assumir e desenvolver junto do

Partido Socialista Europeu, bem como através dos espaços institucionais em

que estejam representados os órgãos de governo próprio da Região

Ao nível dos princípios, a orientação geral de um espaço europeu das Regiões,

já consagrada em diversos documentos comunitários e europeus, deverá

integrar-se numa finalidade mais ampla: a coesão territorial.

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O reforço da coesão constitui uma trave mestra do projeto europeu,

encontrando-se formalmente estipulado no Tratado.

Mas, para além de pouco valorizada, a ideia de coesão territorial encontra-se

ainda excessivamente associada à necessidade de combater disparidades

regionais.

Ora, o policentrismo tem, do ponto de vista analítico, a vantagem de adicionar à

“velha” (mas sempre necessária) componente redistributiva da política regional

uma postura pró-ativa de consolidação de polos de valia europeia, onde os

Açores, podem ser ponto focal pelas potencialidades que encerram nível da

investigação, dos recursos marinhos ou da geostratégia das comunicações.

Esta inflexão que o PS/Açores defende, desde logo, implica uma reformulação

radical do relacionamento dos “beneficiários”, coletivos ou individuais, com as

entidades comunitárias.

A questão essencial a colocar deixa de ser “que posso eu receber da Europa?”,

para ser “que tenho eu de distinto suscetível ser valorizado no contexto

europeu?”.

Ao nível dos processos de decisão comunitários, a concretização da ideia de

policentrismo exige uma articulação mais eficiente não só entre os diferentes

níveis de governação, mas também entre entidades do mesmo nível,

nomeadamente regional, pertencentes a distintos países.

O PS/Açores sublinha que, se para uns uma nova organização “multinível” dos

processos de decisão comunitários implica apenas a existência de mecanismos

mais eficientes de cooperação transnacional, para outros, como nós, essa

constitui uma tarefa suficientemente exigente que impõe reformas institucionais

e para as quais os Açores e o PS/Açores devem estar mobilizados.

Finalmente, e ao nível das políticas, a concretização de um modelo de

desenvolvimento mais policêntrico significa, sem dúvida, um esforço

suplementar de articulação e coordenação das intervenções regionais e

sectoriais já existentes, em especial, e no que se refere a estas últimas, nos

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Moção de Orientação Política Global

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domínios da Agricultura, das Pescas, das Redes Transeuropeias de

Transportes, da Investigação e da Competitividade.

A concretização deste objetivo pressupõe visão – europeia, nacional e regional

–, atores exigentes, processos de negociação complexos. Mas a alternativa

entra pelas nossas casas todos os dias, através de um quadro de inação, a

submersão no subdesenvolvimento e na exclusão, e, como consequência, uma

posição cada vez mais marginal do projeto europeu no seio do mundo

desenvolvido.

A construção de um espaço europeu mais policêntrico constitui, assim, um

tema essencial para uma Região como os Açores.

O PS/Açores entende que só a diversidade regional possibilita à Europa a

capacidade de promover o crescimento sustentável e integrado que garanta a

recuperação económica que a Europa necessita.

O PS/Açores entende que a diversidade territorial europeia é um importante

ativo para a competitividade, coesão e recuperação económica da Europa.

O PS/Açores entende que o Estado Português e os órgãos de governo próprio

da Região não podem deixar de trabalhar no sentido de acomodar um novo

quadro de coesão justo, equilibrado e politicamente aceitável, que permita

diferenciar os apoios dados pela UE nas áreas prioritárias de investimento.

Estas medidas permitirão aos Açores apoiar o processo de transição

económica de forma gradual e estar melhor adaptados à utilização dos fundos

da política regional à luz dos objetivos da Estratégia Europa 2020.

O PS/Açores reconhece que a Europa não tem tido uma estratégia atlântica,

preferindo centrar a sua atenção no arco atlântico costeiro europeu do que no

Oceano, centro de uma bacia multiregional de grande e cada vez mais

importante valia estratégica. Novos ventos sopram no Atlântico para os quais

os Açores terão de ser tidos em conta.

O PS/Açores entende que a Região deve, como tal, liderar a elaboração e a

execução deste projeto de atlanticidade europeia, dando-lhe a perspetiva da

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sua experiência histórica e a valorização das suas posições estratégicas, mas

igualmente usufruir diretamente deste instrumento privilegiado de valorização

do espaço europeu no ordenamento internacional.

Ao nível da Diáspora, o PS/Açores entende que também aqui temos ainda um

longo caminho a percorrer. A ligação e a afirmação dos Açores não pode ficar

circunscrita ao sentimento saudosista e às primeira e segunda gerações de

emigrantes. É fundamental uma estratégia de afirmação externa e de reforço

de laços de entendimento e de reconhecimento recíprocos junto das novas

gerações de descendentes de emigrantes açorianos, bem como junto das

grandes comunidades em que os açorianos se inserem. Esta afirmação política

e promocional poderá abrir novos caminhos na referida dimensão económica.

É por isso que assumimos a diplomacia económica, em nome dos Açores,

como um princípio fundamental da nossa estratégia de médio prazo.

Quer junto das comunidades, quer ao nível internacional, temos de ter a

capacidade de explorar novas possibilidades ao nível económico, na abertura

de novos mercados recetores de bens transacionáveis feitos na Região, bem

como na captação de investidores externos e de maiores fluxos de visitantes

com os mais variados objetivos.

É nesse âmbito que o PS/Açores defende um reforço da ligação a Cabo Verde

e a parcerias políticas e económicas com este País arquipelágico. Essa ligação

política pode potenciar uma maior e mais consequente ligação económica com

um País que se pode assumir no médio prazo como uma porta de entrada para

o continente Africano.

Assim, o Partido Socialista dos Açores não pode descurar a sua presença nas

plataformas de reflexão e entendimento dos Partidos Socialistas Europeus e

dos Partidos Irmãos na Diáspora onde residem muitos açorianos.

Além desta vertente partidária de presença nas plataformas europeias e

internacionais, o Partido Socialista/Açores defende que, ao nível institucional e

formal, no âmbito do Governo dos Açores é possível potenciar as afinidades e

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Moção de Orientação Política Global

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relações políticas e económicas com os nossos parceiros externos

privilegiados.

Perante este panorama, o PS/Açores entende como indispensável a adoção de

um conjunto de princípios para uma estratégia de relações externas dos Açores

a médio longo prazo:

Definir uma estratégia institucional dirigida à valorização exterior da Região, à

qual cabe um papel próprio, correspondente às posições estratégicas

respetivas relativamente aos continentes Europeu e Americano;

Exigir legitimamente a participação e liderança na elaboração e na execução

do projeto de atlanticidade europeia/portuguesa, dando-lhe a perspetiva da sua

experiência histórica e a valorização das suas posições estratégicas.

Usufruir da contribuição nacional para o novo cenário de segurança

internacional que passa:

- pela Base das Lajes, que, apesar da redução de efetivos anunciada, continua

a ser o centro da relação do país com os Estados Unidos da América, o que

impõe que os Açores devem ser o primeiro beneficiário dessa relação;

- Pela Agência Espacial Europeia, procurando que a Região seja beneficiária

direta do acervo tecnológico que a estação de Santa Maria garante à UE, seja

no campo das comunicações, da meteorologia, da monitorização dos mares e

recursos naturais regionais;

-Pela Agência Europeia de Segurança Marítima, que garanta por parte da UE

uma especial atenção e dedicação à Zona Económica Exclusiva dos Açores.

- Cimentar uma efetiva e institucional participação da Região enquanto tal nas

instâncias da UE, para conhecimento e defesa permanente e primeira dos

direitos e interesses daquelas.

- Estatuir de reuniões formais periódicas entre o Estado e as Regiões

Autónomas, onde as matérias europeias e internacionais sejam

adequadamente tratadas, desenvolvidas e concertadas também na defesa dos

interesses específicos destas.

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- Aproveitar as Casas dos Açores espalhadas pelo mundo, motivando uma

representação efetiva e estruturada no Continente Americano, assente numa

vertente de promoção turística e do reforço dos laços económicos com as

comunidades de referência.

- Reforçar os laços histórico-culturais e linguísticos das comunidades de

açorianos e seus descendentes e que assumem a maior importância para a

Região e para do seu prestígio e dimensão internacionais.

CAPÍTULO VII

Compromisso com a Juventude

Açoriana

Os jovens são o mais fidedigno barómetro da modernidade, conectados que

estão diariamente às rápidas alterações dos nossos dias.

A juventude açoriana é o nosso recurso mais valioso e o maior ativo para

conquistarmos o futuro. É por isso nosso dever permitir que a geração melhor

preparada de sempre possa ser colocada ao serviço dos Açores e de uma

Região mais desenvolvida, beneficiando de correspondentes condições de

exercício das suas competências e de concretização das suas aspirações.

Por isso, o PS/Açores é categórico na afirmação do seu compromisso com a

juventude açoriana.

Queremos convocar os jovens açorianos a participarem no projeto de

desenvolvimento da nossa sociedade em cada uma das nove ilhas. Os Açores

são, e serão sempre, a sua terra. O PS/Açores tem exata noção de que as

dificuldades que hoje enfrentamos só serão verdadeiramente ultrapassadas

com a mobilização dos nossos jovens, pela sua vontade de ultrapassar

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desafios, com a sua enorme generosidade e sentido de pertença e identidade

regional.

Por isso, nos Açores - e ao contrário do que acontece noutras parcelas do país

– os jovens não são convidados a partir, mas sim a ficar e, no caso dos que,

por razões académicas ou profissionais tiveram que se ausentar, a regressar.

Porque acreditamos nos Açores e, sobretudo, porque acreditamos e estamos

comprometidos com o futuro da nossa Região.

Não ignoramos perante as dificuldades hoje sentidas, que, no nosso país, a

emancipação jovem tornou-se mais difícil do que há uma década, fruto de

opções políticas erradas a nível nacional e europeu.

Apesar das circunstâncias difíceis, o PS Açores não hesita em redobrar todos

os esforços para combater o desemprego jovem, conforme já anunciado pelo

Governo dos Açores na Agenda para a Criação de Emprego e Competitividade

Empresarial.

O emprego jovem e o combate à precariedade laboral têm de estar no centro

da nossa agenda política. Não fazê-lo é hipotecar o futuro.

Acreditamos nos jovens açorianos e precisamos da sua energia e da sua

vontade de vencer. Queremos, por isso, desenvolver políticas que promovam o

espírito empreendedor que existe na juventude açoriana.

Para isso o PS/Açores continua a acreditar na transversalidade das políticas de

juventude. É por isso que consideramos os desafios da competitividade, da

sustentabilidade e da solidariedade como eixos fundamentais para a

afirmação da Autonomia Açoriana. Uma afirmação que, a cada geração, se

renova e se qualifica promovendo uma Região melhor e menos desigual.

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No PS/Açores partilhamos a ideia comum de que os Açores são uma Região

única cujo potencial é superior às limitações geográficas e à condição

arquipelágica e insular. Acreditamos que a Autonomia Regional permitiu, em

pouco mais de uma geração, um salto civilizacional de grande envergadura.

Temos noção de que há muito ainda a fazer. E, mesmo num quadro de

dificuldades e de incerteza face à conjuntura nacional, o PS/Açores tem a

ambição de corresponder às legítimas aspirações de todo o jovem açoriano

que deseja ter a oportunidade de continuar a viver e a trabalhar na sua terra.

O nosso compromisso e a nossa obrigação geracional para com a juventude

açoriana é, pois, o de continuar a garantir que as próximas gerações continuem

a ter melhores condições do que aquelas que as precederam.

É, pois, fundamental reforçar e consolidar a identidade açoriana como um ativo

estratégico que une intergeracionalmente os açorianos.

Desta forma, qualquer projeto político orientado para o futuro deve ter a

capacidade de reunir um conjunto de ideias e propostas que consigam

responder, da melhor forma, aos anseios e preocupações desta faixa etária.

Devemos garantir que os jovens que estão hoje no exterior da nossa Região a

estudar e a qualificar-se, e que querem voltar para os Açores, tenham as

respostas necessárias para regressar e aqui fixar-se, da mesma forma que os

que estão nos Açores possam aqui ficar e aqui contribuir para o nosso

desenvolvimento.

Isso só será possível se perceberem que têm nos Açores as melhores

perspetivas de vida.

É por isso que a inovação, a criatividade, o espirito de iniciativa e a energia das

novas gerações assumem especial relevância para o futuro.

O Partido Socialista é o partido dos jovens nos Açores, assumindo esse papel

não de forma tutelar e condicionadora, mas de forma aberta, livre, que fomenta

a participação e a coresponsabilização, defendendo o princípio fundamental de

que as políticas de e para a juventude devem ser definidas pelos jovens.

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No cumprimento da nossa estratégia de valorização dos jovens, a nossa

organização partidária de Juventude – a Juventude Socialista Açores – tem

uma importância muito relevante.

A JS/Açores tem desenvolvido um trabalho de reflexão, de propositura e de

proximidade com os jovens dos Açores que orgulha o PS/Açores e que

complementa e continuará a complementar a nossa ação no futuro.

O PS/ Açores respeita e respeitará a sua organização partidária de juventude e

conta com a sua energia, o seu empenho e a sua determinação para vencer os

desafios do futuro, onde o emprego jovem e a fixação de jovens nos Açores

assumem especial relevância.

Queremos estar perto dos jovens, socialistas e não socialistas, ouvi-los,

perceber os seus problemas e as suas preocupações, com eles, adaptar-nos

às evoluções dos tempos e, com eles, arranjar soluções para ultrapassar os

desafios do futuro.

Não temos dúvidas que a Juventude Socialista tem e terá, neste quadro, um

papel fundamental.

Acreditamos que, desta forma, será possível continuar a materializar a velha

máxima de que dar mais JS ao PS será sempre dar mais Juventude aos

Açores.