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Betão Armado e Pré-Esforçado I MÓDULO 3 Verificação da segurança aos estados limites de utilização 1. Introdução 1.1. VERIFICAÇÃO AOS ESTADOS LIMITES DE UTILIZAÇÃO Objectivo: Garantir um bom comportamento das estruturas em situação corrente de serviço (controlar o nível de fendilhação, limitar a deformação e controlar a vibração). Em condições de serviço, as acções tomam valores reais previstos (não são majoradas); o comportamento dos materiais é simulado através da utilização das propriedades médias (não minoradas). 1.2. ACÇÕES Para verificação aos estados limites de utilização são utilizadas combinações de acções com diferentes probabilidades de ocorrência: Combinação rara: pequena probabilidade de ocorrência (estado limite de muito curta duração – algumas horas no tempo de vida da estrutura) G m + Q k + i ψ 1i Q ik Combinação frequente: probabilidade de ocorrência superior ou igual a 5% do tempo de vida da estrutura (estado limite de curta duração) G m + ψ 1 Q k + i ψ 2i Q ik Combinação quase-permanente: probabilidade de ocorrência superior a 50% do tempo de vida da estrutura (estado limite de longa duração) G m + i ψ 2i Q ik G m – valor médio das acções permanentes Q k – valor característico da acção variável base Q ik – valor característico das restantes acções variáveis MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 104

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 1. Introdução

1.1. VERIFICAÇÃO AOS ESTADOS LIMITES DE UTILIZAÇÃO

Objectivo: Garantir um bom comportamento das estruturas em situação corrente de serviço

(controlar o nível de fendilhação, limitar a deformação e controlar a

vibração).

Em condições de serviço,

− as acções tomam valores reais previstos (não são majoradas);

− o comportamento dos materiais é simulado através da utilização das

propriedades médias (não minoradas).

1.2. ACÇÕES Para verificação aos estados limites de utilização são utilizadas combinações de

acções com diferentes probabilidades de ocorrência:

Combinação rara: pequena probabilidade de ocorrência (estado limite de muito

curta duração – algumas horas no tempo de vida da estrutura)

Gm + Qk + ∑i ψ1i Qik

Combinação frequente: probabilidade de ocorrência superior ou igual a 5% do

tempo de vida da estrutura (estado limite de curta duração)

Gm + ψ1 Qk + ∑i ψ2i Qik

Combinação quase-permanente: probabilidade de ocorrência superior a 50% do

tempo de vida da estrutura (estado limite de longa duração)

Gm + ∑i ψ2i Qik

Gm – valor médio das acções permanentes

Qk – valor característico da acção variável base

Qik – valor característico das restantes acções variáveis

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1.3. MATERIAIS

1.3.1. Propriedades dos materiais para verificação da segurança aos estados limites de utilização (i) Aço

fyd

σs

fyd

εs

Es

0.2%

fyk

curva simplificada de cálculo aos E.L. Últimos

curva realcurva característicacurva de cálculo

E.L. Utilização

Para a verificação da segurança aos estados limites de utilização,

Es = 200 GPa

εs

σs

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 105

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

(ii) Betão

εc

σc

0.85 fcd

3.5‰2‰

fck

Ec

0.4 fck

εc

curva realcurva característica

curva simplificada de cálculo aos E.L. Últimos

Para a verificação da segurança aos estados limites de utilização,

Ec

εc

σc

fctm

Nota: As propriedades mecânicas do betão variam ao longo do tempo devido aos

efeitos diferidos (fluência e retracção).

1.3.2. Efeitos diferidos no tempo do betão

A deformação do betão ao longo do tempo depende de dois efeitos:

− Fluência (depende da actuação das cargas)

− Retracção (independente do estado de tensão)

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 106

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

1.3.2.1. Fluência

Definição: Aumento da deformação no tempo sob a acção de um estado de tensão

(originada pela variação de volume da pasta de cimento que envolve os inertes).

(i) Exemplo:

(a) Instante de aplicação da carga (t0)

p

εc(to)

εc (t0) = σc (t0)Ec (t0)

(b) Tempo t∞

p

εc(to)εcc(t∞,to)

εcc (t∞, t0) = ϕ (t∞, t0) εc (t0)

onde,

εcc(t∞,t0) representa a deformação por fluência

ϕ (t∞,t0) representa o coeficiente de fluência (quociente entre o incremento de εc no

intervalo de tempo [t∞, t0] e o εc (t0))

Para idades de carregamento usuais, ϕ (t∞, t0) ≅ 2 a 4. Em geral, poderá utilizar-se o

valor ϕ ≅ 2.5.

(ii) Determinação da deformação a longo prazo (t∞) tendo em consideração o efeito da

fluência

t∞ = 10 000 dias (≅ 27 anos)

εc (t∞, t0) = εc (t0) + εcc (t∞, t0) = εc (t0) + ϕ (t∞, t0) εc (t0) = σc (t0)Ec (t0) + ϕ (t∞, t0)

σc (t0)Ec (t0) ⇔

⇔ εc (t∞, t0) = σc (t0)Ec (t0) (1 + ϕ) = εc (t0) (1 + ϕ)

⇒ εc (t∞, t0) = σcE*c

, com E*c = E c

1 + ϕ

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 107

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

Para determinar a deformação de uma estrutura, há que calcular em primeiro lugar, a

deformação elástica e depois a deformação a longo prazo por efeito da fluência.

A fluência do betão depende de:

− idade do carregamento (t0)

− período do carregamento [t, t0]

− humidade relativa do ambiente (> humidade ⇒ < fluência)

− temperatura relativa do ambiente (> temperatura ⇒ > fluência)

− composição do betão

− consistência do betão

− forma da secção

(iii) Efeito da fluência na deformação de uma viga

p

δ

δ = f

1

R

pelo P.T.V., δ = ⌡⌠

L M .

1 R dx

Como se pode observar na figura seguinte, a fluência do betão provoca um aumento

da deformação da zona comprimida e, consequentemente, um aumento da curvatura.

d

(+)

(-)

εc(to)

εs

εc(to)

(+)

εs

(-)

εcc(t,to)

1R (t, t0) =

|εc (t0)| + |εcc (t, t0)| + εsd

Deste modo, a flecha da viga aumenta, devido à deformação originada pela fluência.

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 108

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

1.3.2.2. Retracção

Definição: variação da dimensão de uma peça de betão (diminuição da dimensão) no

tempo, independentemente do estado de tensão da peça (na ausência de variações

de temperatura e de tensões aplicadas).

(i) Exemplo

εcs(t∞,to)

to t∞

εcs (t∞, t0) ≅ - 200×10-6 a - 400×10-6 = - 2.0×10-4 a - 4.0×10-4

100 m

ε = ∆LL ⇒ ∆L = ε × L

∆L=-4.0×10-4×100m=-0.04m

(uma ponte de 100m diminui 4cm apenas devido ao efeito da retracção).

A retracção pode ser tratada como um problema de variação da temperatura com um

valor de ∆Tequivalente

α = 10-5/°C – coeficiente de dilatação térmica do betão

εcs = -2 × 10-4 a -4×10-4 ⇒ ∆Tequivalente = -20°C a -40°C

(ε∆T = α × ∆T = 10-5/°C × (-20° a -40°) = -2×10-4 a -4×10-4)

Se a retracção livre for impedida por restrições ao nível da secção ou da estrutura,

produzir-se-ão tensões que podem levar à ocorrência de fendilhação.

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 109

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

A retracção do betão depende de:

– Humidade e temperartura relativa do ambiente

– Consistência do betão na altura da betonagem

– Forma da secção (espessura fictícia do elemento)

(ii) Efeito da retracção na deformação de uma viga

εs

εc

d (-)

Curvatura: 1R =

εs - εcd

A retracção do betão provoca uma curvatura na peça por efeito da restrição à

deformação provocada pela armadura ⇒ deformação.

δ

δ = f

1

R

pelo P.T.V., δ = ⌡⌠

L M .

1 R dx

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 110

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

2. Estado Limite de Fendilhação

2.1. MECANISMO DA FENDILHAÇÃO

Considere-se a seguinte barra sujeita à tracção.

N

σc

N As

Ac

com σc = N Ac

σs = εs Es ; σc = εc Ec

como εs = εc ⇒ σs σc

= Es Ec

⇔ σs = Es Ec

σc ⇔ σs = α σc , com α = Es Ec

Se σc = fctm → fendilhação ⇒ Todo o esforço passa a ser absorvido pela armaduraA tensão no aço aumenta bruscamente

Após o aparecimento da primeira fenda, ou seja, em secção fendilhada,

NN

σc = fct ⇒ fct Ac = As ∆σs ⇔ ∆σs = Ac As fct

⇒ ∆σs = 1 ρ fct , com ρ =

AsAc

(% de armadura)

(∆σs – aumenta de tensão no aço no instante da fendilhação)

ρ

σs

fyk

ρmin

∆σs

α fct

σs = α fct + ∆σs

ρmin - % de armadura mínima para que a armadura não atinja a cedência (não

plastifique) no instante da formação da 1ª fenda.

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 111

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

Por efeito da aderência aço/betão, na região adjacente à fenda ocorre uma

transferência de tensões do aço para o betão.

N N

σc

τm

s

σc = N Ac = fct ⇔ N = fct Ac

Quando as tensões na secção atingem uma distribuição uniforme, poderá ocorrer

outra fenda.

A distância entre fendas (s) obtém-se através de:

Nsolicitante,serv = Nresistente ⇔ fct Ac = τm × Acontacto ⇔ fct Ac = τm × u × s ⇒ smin = fct

τm ×

Acu

Como ρ = AsAc

⇔ Ac = As

ρ = πφ2

4ρ e u = πφ ⇒ Ac u =

πφ2 4ρ ×

1 πφ =

φ 4ρ

∴smin = fct τm × φ

Caso se trate de um problema de flexão (e não de tracção pura), a distribuição de

tensões na zona traccionada é triangular.

s

τm

fct

M

Dado que Nsolicitante = fct × Ac × 12 , smin = fct

τm × 1 2 × φ

A transmissão de tensões do aço para o betão através da aderência ocorre apenas

numa zona restrita em torno da armadura.

hc,ef

d

Ac,ef Ac,ef representa a área efectiva de betão mobilizada por aderência, sendo a altura hc,ef

definida através de:

hc,ef = min [2.5 (h - d); (h – x)/3; h/2]

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 112

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

Poderá definir-se então uma percentagem de armadura (ρp,ef) relativa à área de betão

efectiva, calculada de acordo com a expressão

ρp,ef = AsAc.ef

Deste modo, a distância mínima entre fendas poderá ser calculada através de

smin = 0.25 k1 k2 φ

ρp,ef

onde,

k1 - coeficiente que tem em conta as propriedades de aderência dos varões, e que

toma os seguintes valores

0.8 para varões de alta aderência (nervurados ou rugosos)1.6 para varões lisos

k2 - coeficiente que tem em conta a forma da distribuição de extensões na secção, e

que toma os seguintes valores

0.5 para flexão1.0 para tracção simples

No caso de tracção excêntrica, ou para zonas localizadas, devem utilizar-se

valores médios de k2, que podem ser calculados pela expressão:

M

Ac,ef

ε2

ε1

k2 = ε1 + ε2

2 ε1

k2 = 1.0 ⇐ ε1 = ε2 (tracção pura)0.5 ⇐ ε2 = 0

Nota: Quando forem utilizados, na mesma secção transversal, varões com diâmetros

diferentes, deve ser utilizado na expressão um diâmetro equivalente (φeq), dado por

φeq = n1 φ12 + n2 φ2

2

n1 φ1 + n2 φ2

O Eurocódigo 2 define uma distância máxima entre fendas que pode ser calculada

através da seguinte expressão:

sr,max = 3.4c + 0.425 k1 k2 φ

ρp,ef (= 1.7 srmin + 3.4 c)

onde c representa o recobrimento das armaduras.

Conclusões:

menor φ ⇒ menor distância entre fendas

maior quantidade de armadura ⇒ menor distância entre fendas

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 113

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

2.2. ABERTURA DE FENDAS

NN

L0

L

srm

σs

σc

εs;εc

εsm

εcm εsr εsrm

onde,

εsm = ∆LL0

= L - L0L0

(deformação média da armadura)

εsr – extensão relativa entre o aço e o betão

εsrm – extensão média relativa entre o aço e o betão

sss

N N

sss Ac

As

w w

w - abertura de fendas

s - distância entre fendas

εs = ∆L L = w

s

⇒ w = s εs

εs = σs Es

e σs = N As

Problemas que surgem no cálculo real da abertura de fendas:

− Determinação da distância entre fendas;

− Aderência aço/betão que obriga o betão a deformar-se, sendo a deformação relativa

entre os dois materiais que interessa para o cálculo da abertura de fendas (w = s εsr).

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 114

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

2.2.1. Determinação da extensão média relativa entre o aço e o betão

A extensão média relativa entre o aço e o betão pode ser determinada pela seguinte

expressão:

εsrm = εsm – εcm

(i) Determinação da extensão média do aço

Como se pode observar no gráfico seguinte, que representa a extensão média do aço

em função do esforço axial, a extensão média do aço é inferior à extensão do aço em

estado fendilhado (εsII), devido à contribuição do betão entre fendas.

N

εsm

I

II

εsm

N

Ncr

εsIIεsI

Contribuição do betão entre fendas

Deste modo,

εsm = Fs - Fc Es As = σs As - kt fct,ef Ac,ef

Es As = σs

Es - kt

fct,ef Es ρp,ef

onde

σs representa tensão no aço calculada com base na secção fendilhada;

kt é um factor de integração da distribuição de extensões, e que tem em conta a

duração ou a repetição das cargas (kt = 0.6 para acções de curta duração; kt = 0.4

para acções de longa duração);

fct,ef representa o valor médio da tensão resistente do betão à tracção (= fctm);

ρp,ef representa a percentagem de armadura relativa à área de betão efectiva

As

Ac.ef

(ii) Determinação da extensão média do betão

εcm = σc Ec

= Fc Ec Ac = kt fct,ef Ac

Ec Ac = kt

fct,ef Ec

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 115

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

Deste modo, a extensão média relativa entre o aço e o betão pode ser determinada

através de

εsm – εcm = σs Es

- kt fct,ef

Es ρp,ef - kt

fct,ef Ec = σs

Es - kt

fct,ef Es ρp,ef

1 + Es ρp,ef

Ec

⇒ εsm – εcm = σs Es

- kt fct,ef

Es ρp,ef (1 + αe ρp,ef) com αe = Es Ec

2.2.2. Determinação do valor característico da largura de fendas

O valor característico da abertura de fendas obtém-se através da expressão que a

seguir se apresenta

wk = sr,max × εsrm = sr,max (εsm - εcm)

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 116

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

EXERCÍCIO 11

Considere a estrutura representada na figura seguinte.

6.00 3.00

sc = 12 kN/mcp = 20 kN/m

γg = γq = 1.5

ψ1 = 0.6 ; ψ2 = 0.4

Materiais: C25/30

A400NR

Recobrimento:2.5cm

Secção do tirante: 0.25 × 0.25 m2

a) Verifique o estado limite último de tracção no tirante.

b) Calcule a abertura característica de fendas no tirante para uma combinação

frequente de acções.

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 117

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 11

ALÍNEA A)

1. Determinação dos esforços

3.006.00

p=1 kN/m

RA RB

ΣMA = 0 ⇔ RB×6 – 1 × 9 × 4.5 = 0

⇔ RB = 6.75kN

(reacção no tirante)

psd = 1.5 × (20 + 12) = 48 kN/m

Nsd.tirante = 6.75 × 48 = 324 kN/m (tracção pura)

As = Nsd fyd = 324

348×103 × 104 = 9.31 cm2 ⇒ Adoptam-se 8φ12

ALÍNEA B)

1. Cálculo da distância máxima entre fendas

Sr,max = 3.4c + 0.425 k1 k2 φ

ρp,ef

(i) Determinação de ρp,ef

ρp,ef = As Ac.ef = 9.05 × 10-4

0.0583 = 0.0155

0.0925

0.065

h – d = rec + φest + φL2 = 0.025 + 0.006 + 0.012

2 = 0.037m

2.5 (h – d) = 2.5 × 0.037 = 0.0925 m

Ac.ef = 0.25 × 0.25 – 0.065 × 0.065 = 0.0583 m2

(ii) Cálculo de sr,max

Sr,max = 3.4c + 0.425 k1 k2 φ

ρp,ef = 3.4 × 0.025 + 0.425 × 0.8 × 1.0 × 0.012

0.0155 = 0.348 m

(k1 = 0.8 – varões nervurados; k2 = 1.0 – tracção simples)

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 118

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

2. Cálculo da extensão média relativa entre o aço e o betão

εsm – εcm = σs Es

- kt fct,ef

Es ρp,ef (1 + αe ρp,ef) =

= 202.9×103 200×106 - 0.4 2.6×103

200×106 × 0.0155 (1+ 6.56 × 0.0155) = 6.45 × 10-4

Nfr = Ncp + ψ1 Nsc = 6.75 (20 + 0.6 × 12) = 183.6kN

σs = Nfr As = 183.6

9.05×10-4 = 202.9 MPa

kt = 0.4 – acções de longa duração

αe = Es Ec = 200

30.5 = 6.56

3. Cálculo do valor característico da abertura de fendas

wk = sr,max (εsm - εcm) = 0.348 × 6.45 × 10-4 = 0.224×10-3 m = 0.2 mm

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 119

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

2.2.3. Cálculo de tensões com base na secção fendilhada (flexão)

Se Mactuante > Mcr (= ω × fctm) para o cálculo de tensões na secção, é necessário

considerar a secção fendilhada.

Em estado fendilhado (estado II), a LN não passa no CG da secção (a posição da LN

poderá ser obtida através do equilíbrio de momentos estáticos entre a zona

comprimida e a zona traccionada, ou através de tabelas).

2.2.3.1. Cálculo de tensões através de tabelas

As2

As1

d2

d

N

σs2

x

Ms

b

σs1

c

Valores constantes: β = As2/As1; d2/d

1) Parâmetros a calcular:

α = Es Ec

; ρ = AsL b d ; es = Ms

N

Ms – Momento actuante na secção em

relação à armadura As1

2) Em função dos parâmetros αρ e es/d ⇒ Cs

Cc

3) Resultados

σs1 = α Cs Ms

b d2 ; σs2 = α σcx (x – 0.1d) ;

σc = - Cc Ms

b d2 ;

x = Cc(Cc + Cs) d

Notas:

– Flexão simples → N = 0 ⇒ es d = ∞

– Flexão composta → N ≠ 0 ⇒ es d = Ms/N

d

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 120

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

EXERCÍCIO 12

Considere a estrutura da figura seguinte (exercício 3):

4.00 4.00 4.004.00

10.00

3.00

S2

S1

Materiais: C25/30, A400

Acções:

Peso próprio

Revestimento=2.0 kN/m2

Sobrecarga = 3.0 kN/m2

Coeficientes de majoração:

γG = γQ = 1.5

Coeficientes de combinação:

ψ1 = 0.4 ; ψ2 = 0.2

Secção da viga: 0.30×0.85 m2

Espessura da laje: 0.15m

a) Determine a abertura de fendas na secção S1 para uma combinação frequente de

acções.

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 121

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 12

1. Cálculo dos esforços

pfrequente = cp + ψ1 sc = 28.25 + 0.4 × 12 = 33.1kN/m

(+)

DMF(-)

10.00S2

3.00S1

pfr

M frS1

MS1fr =

pL2 2 =

33.1 × 32 2 =149kNm

2. Cálculo do momento de fendilhação (Mcr)

σ = M ω ⇒ Mcr = ω × fctm = bh2

6 × fctm = 0.30 × 0.852

6 × 2.6×103 = 93.9 kNm < MS1fr

fctm (C25/30) = 2.6MPa

Deste modo, para combinação frequente, a secção do apoio está fendilhada

3. Cálculo de tensões em estado II (Tabelas)

0.30

5φ16

2φ25

d M

As1 = A (5φ16) = 10.05cm2

As2 = A (2φ25) = 9.82cm2

ρ = As1bd = 10.05 × 10-4

0.3 × 0.8 = 0.0042

β = As2As1

= 9.8210.05 = 0.98 ≅ 1

d2/d ≅ 0.05 ; α = 15

Nota: para ter em conta o efeito de fluência toma-se α ≅ 15 a 20 (α = Es / Ec)

αρ = 15 × 0.0042 = 0.063 →(pag.120)

Cs = 17.35Cc = 6.03

Posição da LN: x = CcCc + Cs

d = 6.036.03 + 17.35 × 0.8 = 0.21m

Tensão na armadura: M = Mfr ⇒ σS = α Cs Mfr b d2 = 15 × 17.35 × 149

0.3 × 0.82 = 202 MPa

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 122

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

4. Cálculo da distância máxima entre fendas

Sr,max = 3.4c + 0.425 k1 k2 φ

ρp,ef

(i) Determinação de ρp,ef

ρp,ef = As Ac.ef = 10.05 × 10-4

0.0375 = 0.027

Ac,ef

hc,ef

hc,ef = min [2.5 (h - d); (h – x)/3; h/2]

h – d ≈ 0.05 m ⇒ 2.5 (h – d) = 2.5 × 0.05 = 0.125 m

(h – x)/3 = (0.85 – 0.21) / 3 = 0.21 m

h/2 = 0.85 / 2 = 0.43 m

⇒ Ac.ef = 0.30 × 0.125 = 0.0375 m2

(ii) Cálculo de sr,max

Sr,max = 3.4c + 0.425 k1 k2 φ

ρp,ef = 3.4 × 0.03 + 0.425 × 0.8 × 0.9 × 0.016

0.027 = 0.283 m

k1 = 0.8 (varões nervurados)

0.125

0.21

ε1

ε2

k2 = ε1 + ε2

2 ε1 = ε1 + 0.8 ε1

2 ε1 = 0.9

ε10.85 - 0.21 = ε2

0.85 - 0.21 - 0.125 ⇔

⇔ ε2 = 0.515 ε10.64 = 0.8 ε1

5. Cálculo da extensão média relativa entre o aço e o betão

εsm – εcm = σs Es

- kt fct,ef

Es ρp,ef (1 + αe ρp,ef) =

= 202.0×103 200×106 - 0.4 2.6×103

200×106 × 0.027 (1+ 6.56 × 0.027) = 7.8 × 10-4

kt = 0.4 – acções de longa duração

αe = Es Ec = 200

30.5 = 6.56

6. Cálculo do valor característico da abertura de fendas

wk = sr,max (εsm - εcm) = 0.283 × 7.8 × 10-4 = 0.22×10-3 m = 0.22 mm

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 123

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

2.3. ARMADURA MÍNIMA

2.3.1. Tracção

Considere-se o tirante de betão armado representado na figura seguinte,

fct

N N

Para que após a formação da 1ª fenda ocorram outras fendas, e dado que nesse

instante todo o esforço normal vai para a armadura, é necessário que a força

transmitida por esta para o betão conduza a uma tensão fct.

Ncr = Ac × fct ⇒ Ac × fct ≤ As fyk ⇒ As.min = Ac fctfyk

(Critério da não plastificação da armadura)

Se As × fyk < Ac × fct, não é possível ocorrerem outra fendas, dado que a armadura

plastifica e a força transmitida do aço para o betão não é suficiente para atingir fct.

2.3.2. Flexão

MMh/2

h

b

(-)

(+)

σc

fct

Área de betão traccionada: Act = b h 2

Força de tracção no betão: FT = 12 fct Act

⇒ As.min = 1 2 Act

fct fyk

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 124

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

De acordo com o Eurocódigo 2, a expressão para o cálculo da área de armadura

mínima toma a seguinte forma:

As.min = kc k Act fct.ef

σs

onde,

As,min repesenta a área mínima de armadura a colocar na zona traccionada;

Act representa a área de betão traccionada;

σs representa a tensão máxima admissível na armadura imediatamente após a

formação da fenda, podendo ser adoptado o valor de fyk.

fct,ef representa o valor médio da resistência do betão à tracção na idade em que

se espera que ocorram as primeiras fendas;

k é um coeficiente que considera o efeito de tensões auto-equilibradas não

uniformes (diminuição da resistência efectiva à tracção devido a estados

autoequilibrados de tensões), cujo valor varia com a espessura (ou altura) do

elemento, de acordo com o gráfico seguinte:

1.0

h [m]

k

0.65

0.3 0.8

kc é um coeficiente que tem em conta quer a natureza da distribuição de tensões

na secção, imediatamente antes da fendilhação, quer a alteração do braço da

força.

Para tracção simples: kc = 1.0

Para flexão simples ou composta:

• Para secções rectangulares ou almas de secções em caixão ou em “T”

kc = 0.4

1- σc

k1 (h / h*) fct,ef ≤ 1.0

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 125

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

• Para banzos de secções em caixão ou em “T”

kc = 0.9 Fcr Act fct,ef ≥ 0.5

onde,

σc representa a tensão média actuante no betão, na zona da secção em

consideração (σc = NEd / b h);

NEd representa o valor do esforço normal actuante para a combinação

de acções utilizada (compressão com sinal positivo);

k1 é um coeficiente que considera o efeito dos esforços normais na

distribuição de tensões: k1 = 1.5 se o esforço normal for de compressão;

k1 = 2h*/3h se o esforço normal for de tracção;

h* = min (h; 1.0 m);

Fcr representa o valor absoluto da força de tracção no banzo, no

instante que antecede a fendilhação, devida ao momento de

fendilhação (Mcr calculado utilizando o valor de fct,ef).

Casos particulares

(i) Armadura mínima de flexão simples

As.min = kc k Act fct.ef

σs= 1 × 0.4 × Ac

2 × 3400 = 0.15% Ac

(valor indicado no REBAP para A400)

k = 1.0 (cargas aplicadas)

kc = 0.4

1- σc

k1 (h / h*) fct,ef = 0.4 (para secções rectangulares sem esforço normal)

fct,ef ≈ 3 MPa

σs = fyk = 400MPa (A400)

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 126

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(ii) Armadura de alma (para vigas com h > 1m)

(-)

b

h/2(+)

σ

M

Na zona da face inferior, a armadura controla a fendilhação. Na alma, se não existir

armadura, a fendilhação tende a concentrar-se e a originar fendas de grande abertura.

Para controlar estas fendas, há que colocar uma armadura mínima.

As.min = kc k Act fct,ef

σs= 1.0 × 0.5 × bh

2 × fct,effyk

k = 1.0 (cargas aplicadas)

kc = 0.5

A armadura calculada, deverá ser extendida a toda a alma, visto que, numa viga

contínua a zona traccionada da alma está em baixo na zona do vão, e em cima nos

apoios.

(iii) Armadura mínima em banzos traccionados

M M

(+)

σ

(-)

ou

Act Act Act

quase tracção pura

As.min = kc k Act fct,ef

σs= 1.0 × 0.9 × Act × fct,ef

fyk

k = 1.0 (cargas aplicadas)

kc = 0.9 Fcr Act fct,ef ≈ 0.9 (para banzos, caso se considere, simplificadamente, que o

diagrama de tensões ao longo do banzo é constante.)

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 127

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(iv) Armadura mínima para deformações impostas

As.min = kc k Act fct.ef

σs

k = 1.0 se h ≤ 0.30 m e k = 0.65 se h ≥ 0.80m

Exemplos:

a) Muro de suporte

h

Problema: fendilhação no muro, pelo facto da sapata

(betonada anteriormente) constituir um impedimento ao

livre encurtamento do muro por efeito da retracção e

temperatura.

É necessário adoptar armadura mínima na direcção

horizontal:

As.min = kc k Act fct,ef

σs= 1.0 × k(h) × h ×

fct,effyk

[cm2/m]

k = k(h) (deformação imposta)

kc = 1.0 (tracção pura)

Act = h × 1.0

b) varanda (consola)

h

Problema: fendilhação na consola, pelo facto da laje

interior constituir um impedimento ao livre

encurtamento da consola devido a variações de

temperatura e retracção.

É necessário adoptar armadura mínima na direcção paralela ao apoio :

As.min = kc k Act fct,ef

σs= 1.0 × k(h) × h ×

fct,effyk

[cm2/m]

k = k(h) (deformação imposta)

kc = 1.0 (tracção pura)

Act = h × 1.0

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 128

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EXERCÍCIO 4

Considere a estrutura da figura seguinte:

1.00

1.00

0.20 0.20

0.15

Materiais: C20/25, A400

Acções: pp + revest. = 20.0 kN/m

sobrecarga = 40.0 kN/m

Coeficientes de majoração: γG = γQ = 1.5

S1S2

10.00 3.50

cp

3.50

sc

c) Para a estrutura já analisada, calcule as armaduras longitudinais mínimas e

pormenorize a secção transversal.

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 129

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RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 4 (CONT.)

ALÍNEA C)

1. Armadura mínima de flexão

Act

k = 1.0 (cargas aplicadas)

kc = 0.4 (para secções rectangulares ou almas sujeitas a

flexão simples)

As.min = kc k Act fct.ef

σs = 0.4 × 1.0 × 0.20 × 1.0

2 × 3400 × 104 = 3.0 cm2

(Pelo REBAP, ρmin = 0.15% ⇒ As.min = 0.15100 × 0.95 × 0.20 × 104 = 2.85cm2)

2. Armadura de alma

Act

h/2hc,ef

k = 1.0 (cargas aplicadas)

kc = 0.5

As.min = kc k Act fct.ef

σs = 0.5 × 1.0 × 0.20 × (0.50 – 0.125) × 3

400 × 104 = 2.8 cm2

2.8 cm2/2 faces = 1.4 cm2/face

3. Armadura no banzo

Act

k = 1.0 (cargas aplicadas)

kc = 0.9 (para banzos, considerando que o diagrama de

tensões ao longo do banzo é constante)

As.min = 0.9 × 1.0 × 0.60 × 0.15 × 3400 × 104 = 6.1 cm2

6.1 cm2/2 faces = 3.1 cm2/face

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 130

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

2.4. LIMITES ADMISSÍVEIS DE FENDILHAÇÃO (NO QUE RESPEITA AO ASPECTO E À DURABILIDADE) Na ausência de requisitos específicos (impermeabilidade, por exemplo), para

elementos de betão armado em edifícios o EC2 estabelece os seguintes limites:

Classe de exposição Valores recomendados

de wmax [mm] X0, XC1 0.4

XC2, XC3, XC4

XD1, XD2

XS1, XS2, XS3

0.3

Nota: No caso das classes de exposição X0 e XC1, a abertura de fendas não tem

influência na durabilidade, sendo apresentado um limite apenas para garantir um

aspecto aceitável do elemento. Caso este não seja aparente, não hé necessidade de

respeitar este limite.

A abertura de fendas deve ser calculada para a combinação de acções

quase-permanentes.

De referir que os valores especificados no REBAP para o controlo da fendilhação são

inferiores aos do EC2.

Classes de exposição segundo o EC2 1. Sem risco de corrosão ou ataque

Classe de Exposição Ambiente

X0 Para betão simples: todos os ambientes excepto os com gelo, abrasão ou

ataque químico

Para betão armado: ambiente muito seco

2. Corrosão induzida por carbonatação

Classe de Exposição Ambiente

XC1 Seco ou permanentemente molhado

XC2 Húmido (raramente seco)

XC3 Com humidade moderada

XC4 Com ciclos de molhagem e secagem

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 131

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3. Corrosão induzida por cloretos

Classe de Exposição Ambiente

XD1 Com humidade moderada

XD2 Húmido (raramente seco)

XD3 Com ciclos de molhagem e secagem

4. Corrosão induzida por cloretos da água do mar

Classe de Exposição Ambiente

XS1 Zonas costeiras marítimas

XS2 Zonas imersas

XS3 Zonas de maré (com ciclos de molhagem e secagem)

5. Acção gelo / degelo

Classe de Exposição Ambiente

XF1 Saturação moderada de água, sem agentes descongelantes

XF2 Saturação moderada de água, com agentes descongelantes

XF3 Saturação elevada de água, sem agentes descongelantes

XF4 Saturação elevada de água, com agentes descongelantes ou água do mar

6. Ataques químicos

Classe de Exposição Ambiente

XA1 Ligeiramente agressivo do ponto de vista químico

XA2 Moderadamente agressivo do ponto de vista químico

XA3 Muito agressivo do ponto de vista químico

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 132

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2.5. CONTROLO DA FENDILHAÇÃO SEM CÁLCULO DIRECTO (EC2) É possível, em geral, limitar as larguras das fendas a valores aceitáveis e evitar uma

fendilhação não controlada caso se utilizem pelo menos as quantidades mínimas de

armadura e:

para fendilhações causadas por deformações impedidas se limitem os diâmetros

dos varões a utilizar em função da tensão na armadura no instante após a

fendilhação (Tabela 7.2);

para fendilhações causadas por cargas aplicadas devem limitar-se ou os

diâmetros dos varões (Tabela 7.2) ou o espaçamento entre varões (Tabela 7.3),

ambos função da tensão na armadura no instante após a fendilhação.

Para cargas aplicadas poderá estimar-se de forma simplificada a tensão nas

armaduras considerando σIIs ≈

fyd 1.5, uma vez que para o estado limite último se

adoptou, para a combinação fundamental de acções, uma tensão fyd.

Para deformações impostas a armadura mínima obtém-se considerando σs = fyk. No

entanto, se o diâmetro das armaduras não satisfizer o estabelecido na tabela 7.2,

deverá adoptar-se o par (σs, φ) que respeita o controlo indirecto dessa tabela, e a

armadura necessária deverá ser calculada através da expressão de As,min adoptando

esse valor de σs.

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 133

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

2. Estado Limite de Deformação

2.1. CÁLCULO DA DEFORMAÇÃO

2.1.1 Deformação em fase não fendilhada (Estado I)

a

p

M

1/r

EI I

curvatura: 1 r = M

EII

deslocamento: a = ⌡⌠

L 1 r

–M dx a = 1 EII ⌡

⌠L M –M dx (P.T.V.)

–M − diagrama de momentos para uma carga virtual unitária aplicada na direcção de a.

2.1.2. Deformação em fase fendilhada (estado II)

Problemas:

Determinação das relações momentos-curvatura

Consideração da variação de rigidez ao longo dos elementos

Definição das condições de fronteira da estrutura

DMF

p

(+)

Nota: Cada zona da viga tem uma rigidez diferente,

consoante o nível de momento actuante. 1/r

EI I

EI IIMcr

M

Estado II

Estado IM

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 134

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

Por forma a ter em conta a fendilhação da viga, é necessário considerar uma curvatura

média para cada zona do elemento.

M M

IIEIII

1/r

M

Mcr

EII

MI

(1/r)I (1/r)m (1/r)II

Conforme se pode observar pelo gráfico momento-curvatura acima, esta curvatura

média pode ser calculada através de uma média ponderada entre as curvaturas em

estado I e II, considerando para isso um coeficiente de repartição (τ):

1 rm = (1 − τ) 1

rI + τ 1 rII

a = ⌡

⌠0

L 1rm

–M dx

Ο coeficiente de repartição, para o caso da flexão simples pode ser obtido através de:

τ = 1 – β1 β2

σsr

σs 2

= 1 – β1 β2

Mcr

M 2 para M > Mcr

onde,

β1 – coeficiente que tem em conta as propriedades de aderência dos varões

(β1 = 1.0 para varões de alta aderência; β1 = 0.5 para varões aderência normal);

β2 – coeficiente que tem em conta a duração ou repetição das cargas (β2 = 1.0

para uma única carga de curta duração; β2 = 0.5 para cargas actuando com

permanência ou para vários ciclos de cargas);

σsr – tensão na armadura de tracção (calculada em estado fendilhado) resultante

da actuação das cargas que provocam o início da fendilhação;

σs – tensão na armadura de tracção (calculada em estado fendilhado) resultante

da actuação do valor da carga para a qula se pretende calcular a flecha.

Nota: Se M < Mcr ⇒ τ = 0 ⇒ 1 rm = 1

rI

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 135

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

2.1.2.1. Cálculo da curvatura em estado I

A curvatura em estado não fendilhado pode ser calculada através da expressão

1 rI = ks1 × 1

rc + ks1 kϕ1 ϕ × 1 rc + 1

rcs1 ,

onde,

ks1 – coeficiente que entra em linha de conta com a acção das armaduras

1 rc – curvatura de base

1

rc = M Ec Ic

kϕ1 – coeficiente que entra em linha de conta com o efeito da fluência

ϕ – coeficiente de fluência

1 rcs1 – acção da retracção

1

rcs1 = kcs1 εcs d

2.1.2.2. Cálculo da curvatura em estado II

1 rII = ks2 × 1

rc + ks2 kϕ2 ϕ × 1 rc + 1

rcs2 ,

1

rcs2 = kcs2 εcs d

2.1.2.3. Método Bilinear (τ constante)

i) Cálculo dos parâmetros

ks1, kϕ1, kcs1, ϕ e ks2, kϕ2, kcs2

ii) Cálculo do coeficiente de repartição τ

M = MD Mcr ⇒ τ = 1 – β1 β2 Mcr MD = constante

onde MD representa momento na secção determinante.

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 136

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

Secções determinantes (secções de momentos máximos) - Exemplos

τ = τvão

τ = τapoio

τ = 2 τvão + τapoio 3

τ = τapoio 1 + 2 τvão + τapoio 24

iii) Cálculo de flechas

τ = constante ⇒ a = ⌡⌠

0

L 1 rm

–M dx = ⌡⌠

0

L

(1 - τ) 1

rI + τ 1 rII –M dx = ⇔

⇔ a = (1 – τ) ⌡⌠

0

L 1rI

–M dx + τ ⌡⌠

0

L 1rII

–M dx ⇔ a = (1 – τ) aI + τ aII

com aI = ⌡⌠

0

L

ks1 (1 + kϕ1 ϕ) × 1

rc + kcs1 εcs d –M dx

aII = ⌡⌠

0

L

ks2 (1 + kϕ2 ϕ) × 1

rc + kcs2 εcs d –M dx

2.1.2.4. Método dos Coeficientes Globais (coeficientes constantes), definidos para a

secção determinante

coeficientes constantes ⇒ aI = ⌡⌠

0

L

ks1 (1 + kϕ1 ϕ) × 1

rc + kcs1 εcs d –M dx ⇔

⇔ aI = ks1 (1 + kϕ1 ϕ) ⌡⌠

0

L 1 rc

–M dx + kcs1 εcs d ⌡⌠0

L –M dx

Desprezando a parcela da retracção, aI = ks1 (1 + kϕ1 ϕ) ac

Da mesma forma, aII = ks2 (1 + kϕ2 ϕ) ac

Deste modo, a expressão do deslocamento vem igual a

a = (1 – τ) aI + τ aII = (1 – τ) ks1 (1 + kϕ1 ϕ) ac + τ ks2 (1 + kϕ2 ϕ) ac ⇔

⇔ a = [ ](1 – τ) ks1 (1 + kϕ1 ϕ) + τ ks2 (1 + kϕ2 ϕ) ac = k ac

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 137

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

Aplicação do Método dos Coeficientes Globais

a) Cálculo do deslocamento ac considerando um modelo elástico linear e rigidez de

flexão dada pelas secções não armadas e não fissuradas.

b) Correcção do deslocamento para ter em conta as armaduras, a fendilhação e a

fluência.

Deslocamento instantâneo (t = 0): a0 = k0 ac (tabelas pág. 97)

Deslocamento a longo prazo (t = ∞): at = η kt ac (tabelas págs. 98 e 99)

ac – flecha base (tabelas páginas 154 e 155)

k0 – coeficiente que entra em consideração com o efeito das armaduras e da

fendilhação ( )função de d/h, αρ, Mcr / MD

kt – coeficiente que entra em consideração com o efeito das armaduras, da

fendilhação e da fluência ( )função de ϕ, d/h, αρ, Mcr / MD

η – coeficiente que entra em consideração com a influência da armadura de

compressão (função de ρ’/ρ, αρ, ϕ)

(k0, kt e η para as secções determinantes → cálculo de coeficientes ponderados)

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 138

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

EXERCÍCIO 13

Considere a viga representada na figura seguinte (viga do exercício 2)

0.55 0.60

5.000.30

p

3φ20

Materiais: C25/30

A400 NR

Calcule a flecha para a combinação frequente de acções (pfreq = 20 kN/m)

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 13

1. Cálculo da flecha elástica

a) Pelo P.T.V.,

DMF[kNm]

(+)

pfr

D 1/R62.5

Mmax = p L2

8 = 20 × 52

8 = 62.5 kNm

1 R =

M EI

1.25

(+)

1

DMF[kNm]

Mmax = P L

4 = 5 4 = 1.25 kNm

a = ⌡⌠

L 1r M dx = ⌡

L M M

EI dx = 1EI × 53 × 62.5 × 1.25 ×

1 + 2.52

52 = 9.88 × 10-4m

(tabelas pág. 153)

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 139

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Betão Armado e Pré-Esforçado I

E = 30.5 × 106 kN/m2

I = 0.3 × 0.63

12 = 0.0054 m4 ⇒ EI = 164700 kNm2

b) Por tabelas (pág. 154)

δ = 5 384 × pL4

EI = 5 384 × 20 × 54

164700 = 9.88 × 10-4 m ⇒ ac = 9.9 × 10-4 m

2. Cálculo da flecha a longo prazo (método dos coeficientes globais)

(Considera-se ϕ = 2.5)

α = Es

Ec = 200 30.5 = 6.6

ρ = As bd = 9.42 × 10-4

0.3 × 0.55 = 0.0057⇒ αρ = 0.038

Mcr = ω × fctm = bh2

6 × fctm = 0.30 × 0.602 6 × 2.5 × 103 = 45kNm

Mfr = 62.5kNm > Mcr

⇒ McrMfr

= 0.72

(ϕ = 2.5) ⇒ kt = 3.75

ρ’ = As' bd = 0 ⇒ ρ’/ρ = 0 ⇒ η = 1

at =

h

d3

η kt ac =

0.60

0.553

× 3.75 × 9.99×10-4 = 0.0048 m = 4.8 mm

3. Cálculo da flecha instântanea

αρ = 0.038

Mcr Mfr

= 0.72 (Acções repetidas) ⇒ k0 = 2.3

a0 =

h

d3

k0 ac =

0.60

0.553

× 2.3 × 9.99×10-4 = 0.003 m = 3 mm

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 140

Page 38: MÓDULO 3 Verificação da segurança aos estados limites de … · Combinação rara: pequena probabilidade de ocorrência (estado limite de muito curta duração – algumas horas

Betão Armado e Pré-Esforçado I

MÓDULO 3 – Verificação da segurança aos estados limites de utilização 141

2.2. LIMITE DE DEFORMAÇÃO

De acordo com o EC 2 (parágrafo 7.4.1)

δmáx = L 250 para a combinação de acções quase-permanentes

Caso a deformação afecte paredes divisórias, δmáx = L 500

2.3. CONTROLO INDIRECTO DA DEFORMAÇÃO

p

Lac

ac = K pL4 EI

Para uma secção rectangular: I = bh3 12 ⇒ ac

L = K 12 p b E

L

h3

∴ A deformação pode ser controlada de forma indirecta pela esbelteza (L/h)

De acordo com o EC2, a deformação pode ser controlada indirectamente caso sejam

respeitados os limites de esbelteza indicados na Tabela 7.4N.