modernismo - primeira fase

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Page 1: Modernismo - Primeira Fase
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O que significa ser moderno? O que faz uma música ser moderna? E um filme? E uma roupa?

Na verdade, a noção de modernidade é um tanto relativa. Ser moderno é romper com o passado de alguma forma. Por isso, todas as escolas literárias que existem são “modernas”: de alguma maneira, o Classicismo rompeu com o padrão estético da Idade Média, assim como o Barroco rompeu com o do Classicismo, o Arcadismo com o do Barroco, o Romantismo com o do Arcadismo, o Realismo com o do Romantismo e assim por diante.

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Mas essa ideia de modernidade, que desfaz a impressão de que ela existe em grau absoluto, não é exatamente o mesmo que Modernismo. Esta é a designação de um movimento artístico do início do século XX que, de maneira ampla e sistemática, rompeu com as tradições estéticas anteriores. De todas as escolas literárias que conhecemos, o Modernismo é, até agora, a mais “moderna”. E tudo começou com uma tal de Semana de Arte Moderna...

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Contexto HistóricoA primeira fase do

Modernismo no Brasil estende-se de 1922 a 1930. Período em que o Brasil vive o fim da chamada República velha, quando as oligarquias ligadas aos grandes proprietários rurais detinham o poder.

Em termos econômicos, o mundo encaminhava-se para um colapso, concretizado pela quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929. O Brasil, que dependia em grande parte das exportações de café, sofreu um duro golpe com a quebra da bolsa e passou a vivenciar um período de grande instabilidade econômica.

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A semana de Arte ModernaEm 1917, Anita

Malfatti realizou uma exposição de quadros em São Paulo.

Monteiro Lobato, que assistiu a exposição, publicou um polêmico texto: Paranóia ou mistificação?

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Contra-ataque!O grupo modernista

decide, em razão do ataque sofrido, unir-se em torno de objetivos comuns, em uma tentativa de tornar mais visível para a opinião pública as novas tendências artísticas européias.

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Ano de 1922 – dias 13, 15 e 17 de fevereiro

No Teatro municipal de São Paulo, em noite de gala, seriam realizados os eventos da Semana de Arte Moderna!!

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Resultado Positivo!!!Embora causassem

escândalo, os modernistas se fizeram notar! Deixaram claro que não tinham apenas intenções artísticas, mas um conjunto de obras em que as novas propostas eram concretizadas, demonstrando a viabilidade dos novos rumos estéticos.

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Revistas e ManifestosRevistas: era criado

espaço para as divulgações das produções literárias inspiradas pela nova visão artística.

Manifestos: funcionavam como espaço de definição e divulgação dos próprios princípios modernistas.

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KlaxonO primeiro número da

revista foi aberto por um editorial manifesto:

A busca do atualO culto ao progressoAfirmação de que arte

não é cópia da realidade

Incorporação de novas formas artísticas, como o cinema.

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Revista de AntropofagiaComo conciliar o direito à inovação

estética com o peso da tradição?Como estabelecer o limite entre o

regional, o nacional e o universal?O objetivo dos antropófagos era de

promover uma nova agitação cultural, de modo a manter acesas as inquietações estéticas e culturais que deram origem ao Modernismo Brasileiro, que nos últimos anos assumira uma face bem acomodada.

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Outras Revistas

Estética, 1924.A revista, 1925-1926.Terra Roxa e Outras Terras, 1926.Verde, 1927.

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Manifesto Pau-Brasil – Oswald de Andrade

No manifesto, Oswald ironiza e critica a visão “oficial” da história brasileira.

Contrapondo a uma visão parótica e bem humorada.

Princípios do primeiro momento da literatura modernista:

“Ver com olhos livres”.

Fazer uso da língua sem preconceitos, tal qual se manifesta na fala popular

“a contribuição milionária de todos os erros”.

Recuperação do passado histórico sob uma perspectiva crítica.

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Manifesto AntropófagoOswald de Andrade, lança esse

manifesto aprofundando as teorias do Movimento pau-Brasil e como resposta ao nacionalismo do Grupo da Anta, movimento conservador, associado ao fascismo.

Valendo da antropofagia como metáfora do que deveria ser culturalmente repudiado, assimilado e superado para que alcançássemos uma verdadeira independência cultural. O escritor sintetiza as conquistas do movimento modernista ao mesmo tempo que lança um lema para os tempos futuros:

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Tupy or not Tupy that is the question.

Assumindo um tom contestador e anarquista, Oswald propõe, no “Manifesto Antropófago”, o caminho contrário ao das correntes nacionalistas que defendiam a idealização de um estado forte.

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Postura Nacionalista apresenta duas vertentes distintas:

de um lado, um nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade brasileira, politicamente identificado com as esquerdas;

de outro, um nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes políticas de extrema direita.

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Características LiteráriasA primeira fase do

modernismo, marcada pelo signo de transformação, ficou conhecida como fase “heróica” ou de destruição. Tal designação deveu-se, em grande parte, à opção pelo rompimento com o passado, postura vista por muitos como anárquica e destruidora.

Negação do passado;Eleição do moderno como

um valor em si mesmo;Valorização do cotidiano;Nacionalismo;Redescoberta da

realidade brasileira;Desejo de liberdade no

uso das estruturas da língua;

Predominância da poesia sobre a prosa;

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Poemas-piadas e paródiasCanto de regresso à pátria

Oswald de Andrade

Minha terra tem palmaresOnde gorjeia o marOs passarinhos daquiNão cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosasE quase que mais amoresMinha terra tem mais ouroMinha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosasEu quero tudo de láNão permita Deus que eu morraSem que volte para lá

Não permita Deus que eu morraSem que volte pra São PauloSem que veja a Rua 15E o progresso de São Paulo

Canção do exílio Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.

Em  cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar –sozinho, à noite– Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que disfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. 

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Oswald de AndradeA obra de Oswald de

Andrade talvez seja a única a reunir todas as características que marcaram a primeira fase do Modernismo. Ele escreveu poesia, romance, teatro, crítica e, em todos os gêneros, deixou patente sua vocação para transgredir, quebrar expectativas, polemizar.

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ProsaOs romances escritos por Oswald de Andrade

trouxeram para a Literatura Brasileira uma estrutura inovadora. Os capítulos curtos emprestam à narrativa características da linguagem cinematográfica, como uma sequência de cenas encadeadas de um imenso mosaico em que a realidade nacional é flagrada em flashes rápidos.

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Mário de AndradeEscreveu poesia,

prosa e contos.Foi o primeiro que

escreveu um texto teórico, no Brasil, sobre a natureza da arte contemporânea – No prefácio de Paulicéia Desvairada.

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PoesiaEncontramos em suas poesias um fluxo de

lirismo, muitas vezes associado ao cotidiano. Além de uma visão crítica da elite, e a afirmação da possibilidade de uma existência multifacetada (pessoal e cultural).

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Ode ao Burguês Eu insulto o burguês! O burguês-níquel

o burguês-burguês!A digestão bem-feita de São Paulo!O homem-curva! O homem-nádegas!O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!Que vivem dentro de muros sem pulos,e gemem sangue de alguns mil-réis fracospara dizerem que as filhas da senhora falam o francêse tocam os "Printemps“[primavera] com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto[cruel]!O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!Fora os que algarismam os amanhãs!Olha a vida dos nossos setembros!Fará Sol? Choverá? Arlequinal[Arlequim – palhaço]!Mas à chuva dos rosaiso êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!Morte às adiposidades cerebrais!Morte ao burguês-mensal!Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!"— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?— Um colar... — Conto e quinhentos!!!Más nós morremos de fome!"

(...)

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ProsaAssim como na prosa de Oswald, Mário

apresenta um questionamento das estruturas típicas do romance do século XIX.

O autor experimenta diferentes organizações para a prosa: ora eliminando a marcação de capítulos, ora criando um narrador, que embora onisciente, atua quase como uma personagem do livro, numa linguagem que explicitava a busca do português “brasileiro”.

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MacunaímaTexto responsável pela redefinição do “herói”

brasileiro. A personagem, a cada instante, se transforma

assumindo as feições das diferentes raças que originaram o povo brasileiro (índio, negro e europeu)

Em Macunaíma, o narrador vai apresentando lendas folclóricas revisitadas e misturando gêneros literários, ao mesmo tempo que o protagonista, “o herói sem nenhum caráter”, é a representação de um povo ainda sem características próprias definidas, de um país em busca de sua identidade.

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Manuel BandeiraA solidão, as

frustrações provocadas por uma vida limitada pela tuberculose, uma ternura imensa e a capacidade de perceber o lirismo nas pequenas coisas da vida, serão as marcas características da poesia de Manuel Bandeira.

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PoesiasInovação modernista

– uso de formas livres, tanto no que diz respeito a métrica, quanto a rima.

Capacidade de ver as cenas mais banais do dia-a-dia filtradas por lentes críticas e de recriá-las poeticamente em uma linguagem simples.

Sua história pessoal empresta aos poemas que escreve uma forte consciência da precariedade da vida.

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Poética Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportadoDo lirismo funcionário público com livro de ponto expedienteprotocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionárioo cunho vernáculo de um vocábulo.Abaixo os puristasTodas as palavras sobretudo os barbarismos universaisTodas as construções sobretudo as sintaxes de exceçãoTodos os ritmos sobretudo os inumeráveisEstou farto do lirismo namoradorPolíticoRaquíticoSifilítico

De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmoDe resto não é lirismoSerá contabilidade tabela de co-senos secretário do amanteexemplar com cem modelos de cartas e as diferentesmaneiras de agradar às mulheres, etcQuero antes o lirismo dos loucosO lirismo dos bêbedosO lirismo difícil e pungente dos bêbedosO lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

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Momento num café Quando o enterro passou

Os homens que se achavam no caféTiraram o chapéu maquinalmenteSaudavam o morto distraídosEstavam todos voltados para a vidaAbsortos na vidaConfiantes na vida.Um no entanto se descobriu num gesto largo e demoradoOlhando o esquife longamenteEste sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidadeQue a vida é traiçãoE saudava a matéria que passavaLiberta para sempre da alma extinta

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Novo caminho a ser trilhadoManuel Bandeira foi o único que conseguiu

produzir uma poesia que, embora refletindo as transformações estéticas do momento, transcendeu seus limites históricos e refletiu sobre angústias e conflitos de natureza universal, como o amor, a paixão pela vida, a saudade de uma infância idealizada e o medo da morte.