modelos de gestão estratégica de cadeias de organizações: um

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1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Departamento de Administração Programa de Pós-graduação em Administração Doutorado em Administração Modelos de Gestão Estratégica de Cadeias de Organizações:um estudo exploratório Celio Mauro Placer Rodrigues de Almeida * 2006 *

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    UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade

    Departamento de Administrao

    Programa de Ps-graduao em Administrao Doutorado em Administrao

    Modelos de Gesto Estratgica de Cadeias de

    Organizaes:um estudo exploratrio

    Celio Mauro Placer Rodrigues de Almeida

    * 2006 *

  • 2

    UNIVERSIDADE DE SO PAULO Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade

    Departamento de Administrao Programa de Ps-graduao em Administrao

    Doutorado em Administrao

    Modelos de Gesto Estratgica de Cadeia de Organizaes:

    um estudo exploratrio

    Tese apresentada ao Departamento de Administrao da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Doutor em Administrao.

    Doutorando: Mestre Celio Mauro Placer Rodrigues de

    Almeida

    Orientador: Prof. Dr. Fauze Najib Mattar

  • 3

  • 4

    Agradecimentos.

    A DEUS por todas as coisas e pela vida,

    Aos meus pais pela boa mo com que me conduziram nesta vida,

    minha esposa e filhos, meus companheiros, minha vida,

    Aos meus professores, que se tornaram meus amigos dividindo seu saber, suas

    vidas,

    Aos meus amigos que se tornaram meus professores, vidas,

    todo o povo desta terra brasileira, pela Universidade de So Paulo, em vida.

    Muito obrigado!

    E especialmente:

    Aos meus pais Clio e Miriam, pelo exemplo de amor, retido, dedicao e

    perseverana, transmitidos com carinho ao longo da minha vida.

    Alcinia, minha esposa e companheira, pelo apoio, compreenso, pacincia e

    incentivo, que durante esses anos em que me dediquei a este Doutorado esteve sempre

    ao meu lado.

    Aos meus filhos Stefania, Davi e Gabriel, em quem me inspirei para a conquista de um

    futuro melhor.

    Ao Prof. Fauze N. Mattar, pela orientao e incentivo recebido nestes ltimos anos

    junto ao curso de ps-graduao. Pelos seus valiosos ensinamentos, conhecimentos e

    experincia transmitidos ao longo de nosso convvio e pela inestimvel orientao.

    todos os professores da FEA-USP, pois souberam transmitir a paixo pelo

    desconhecido e a busca por novos caminhos do conhecimento, e em quem seguramente

    me inspiro para seguir minha carreira de docente.

    Ao pessoal da seo de ps graduao, particularmente Valria Loureno e Maria

    Aparecida J Salles pelo apoio, amizade e estmulo.

  • 5

    Aos Profs. Dagoberto H. Lorenzetti Dilson e G. dos Santos pela honrosa avaliao, que

    na qualificao dessa tese contriburam com suas valiosas crticas e sugestes para o seu

    aprimoramento.

    A Prof. Carlos T. Akamine pelo valioso auxilio na construo do modelo algbrico.

    Ao pessoal da Natura Cosmticos S.A.: Rodolfo Guttilla, Angel M. L. Rodriguez de

    Medeiros, Cristiane Moraes e Flvia Motta que tornaram esse estudo de caso possvel. E

    ainda ao Marco Carmini da Cognis Brasil Ltda, Dionsio Ferenc e Cristiane Medeiros da

    IFF Essncias e Fragrncias Ltda, Wagner Croce do Grupo Wheaton Brasil, Sergio

    Fernandes da Croda do Brasil Ltda., Paula Fres da Rexam Beauty Packaging do Brasil

    e Helen Augusto da Givaudan do Brasil Ltda.

    Aos amigos Prof Dr Geraldo LucianoToledo, Prof. Dr. Milton de Abreu Campanrio,

    Prof. Dr. Leonel C. Rodrigues, Prof. Dr. Ricardo L. Rovai, Prof. Dr. Antonio Amar

    Maximiano, Prof. Dr J A. Giesbrecht da Silveira, Prof. Dr. Abraham S. Yu, Prof. Dr

    Adalberto Fischman e Prof Dr Luis C. Di Serio pelas sugestes e a todos que de alguma

    forma contriburam para que eu chegasse at aqui.

    Celio Mauro Placer Rodrigues de Almeida

    Fevereiro de 2006

  • 6

    SUMRIO

    I. INTRODUO 1

    II. O PROBLEMA DE PESQUISA 6

    2.1. Formulao da situao-problema 6

    2.2. Questes de pesquisa 10

    2.3. Pressupostos conceituais 11

    2.4. Objetivo, delimitao e importncia do estudo 15

    III. FUNDAMENTAO TERICA 20

    3.1. A evoluo das artes e das cincias e a administrao atual 20

    3.2. Caracterizao da organizao empresarial 23

    3.2.1. Definies de organizao empresarial 27

    3.2.2. A organizao como uma clula 30

    3.2.2.1. A funo marketing 44

    3.2.2.2. A Logstica e a funo produo 53

    3.2.2.3. A logstica e a estratgia 66

    3.2.2.4. O modelo de estratgia logstica revisto 74

    3.2.2.5. A Morfologia das Clulas e das Organizaes 89

    3.3. Caracterizao de Cadeias de Organizaes 91

    3.3.1. A evoluo do conceito de cadeias de organizaes 98

    3.3.2. Definies de Gesto de Cadeias de Organizaes 103

    3.3.3. A Cadeia de Organizaes Como um Tecido 115

  • 7

    3.3.4 A dinmica sistmica e as cadeias de organizaes 120

    3.3.5. Modelos Organizacionais e a Cadeia de Organizaes: morfologia, processos e fluxos 128

    3.4. A organizao sistmica da firma, o mercado e as leis: a teoria dos custos de transao e a realidade operacional 165

    3.4.1. Classificao dos Custos de Transao 176

    3.5. Modelagem, estratgia e planejamento em gesto de cadeias de organizaes 183

    3.5.1. Definies e Conceitos Bsicos de Sistemas 186

    3.5.2. Caractersticas e Requisitos para se Elaborar Modelos e a Teoria de Sistemas 190

    3.5.3. Desenvolvendo um Modelo Estratgico de Cadeias de Organizaes 193

    3.5.4. Modelos e modelagem 206

    3.6. Um modelo de planejamento estratgico e gesto de cadeias de organizaes: gerenciar hoje e planejar o futuro 211

    3.6.1. Definies taxonmicas conceituais 214

    3.6.2. Propondo um novo paradigma: Princpios de Cadeias de Organizaes 217

    3.7. Proposio de um modelo anlise de eficincia e eficcia em cadeia de organizaes: Modelo de Eficincia da Cadeia de Organizaes 227

    3.7.1. O desempenho interno da cadeia de organizaes: a busca da eficincia 239

    3.7.1.1. A importncia da gesto dos estoques 245

    3.7.1.2. A importncia da gesto da movimentao 248

    3.7.1.3. A importncia da gesto da informao 251

    3.7.2. O desempenho externo da cadeia de organizaes: a eficcia confirma a eficincia 261

    3.7.2.1. Nvel de satisfao dos consumidores 271

  • 8

    3.7.2.2. Tamanho do mercado atendido pela cadeia de organizaes (participao de mercado) 273

    3.7.2.3. Taxa de inovao 275

    3.7.3. Retroalimentao e aprendizagem 277

    3.7.4. Desenvolvendo uma estratgia de implantao do Modelo de anlise de Eficincia e Eficcia em cadeias de organizaes 284

    3.7.5. Concluses 293

    IV. METODOLOGIA DE PESQUISA 296

    4.1. Definio do problema de pesquisa 298

    4.2. Pesquisa Qualitativa 300

    4.2.1. Reviso Bibliogrfica 301

    4.2.2. Estudo de Caso Mltiplo 303

    V. APRESENTAO DOS RESULTADOS E CONCLUSO 307

    5.1. A indstria de cosmticos no Mundo e no Brasil 308

    5.2. A organizao-foco: NATURA COSMTICOS S.A. 333

    5.3. As organizaes-chave na cadeia de organizaes estudada 351

    5.3.1. Croda do Brasil Ltda. 352

    5.3.2. IFF Essncias e Fragrncias Ltda. 366

    5.3.3. Cognis Brasil Ltda. 376

    5.3.4. Givaudan do Brasil Ltda. 388

    5.3.5. Grupo Wheaton Brasil. 401

    5.3.6. Rexam Beauty Packaging do Brasil. 411

    5.4. Resultados do estudo de caso e sugestes 418

  • 9

    VI. CONCLUSES E SUGESTES 434

    VII. ANEXOS 440

    VIII. BIBLIOGRAFIA 445

    NDICE DE FIGURAS E TABELAS

    Figura 1. Modelo de clula vegetal e suas organelas 35

    Figura 2. A organizao empresarial como uma clula orgnica 38

    Figura 3. Os departamentos como as organelas em movimento nas clulas 39

    Figura 4. Os departamentos como as organelas em movimento nas clulas 40

    Figura 5. A construo da funo marketing 45

    Figura 6: Desenvolvimento simultneo de marketing e logstica 48

    Figura 7: As fases da logstica na estratgia da funo produo 55

    Figura 8. As tarefas da logstica na organizao empresarial 62

    Figura 9. O papel da logstica da estratgia competitiva 67

    Figura 10. Os componentes chave da estratgia logstica 71

    Figura 11.O modelo de estratgia logstica revisto: os 4 nveis da

    logstica estratgica 74

    Figura 12. O modelo de estratgia logstica revisto em detalhes 75

    Figura 13. Atividades funcionais e fundamentais da logstica 81

    Figura 14. Definies de Supply Chain Management 100

  • 10

    Figura 15. A formao do tecido (cadeia de organizaes) a partir da

    interao celular 117

    Figura 16. Gerenciamento da cadeia de organizaes: integrando e gerenciando

    os processos de negcios atravs da cadeia de organizaes 129

    Figura 17. A estrutura de rede na cadeia de organizaes 130

    Figura 18. Combinando todos os processos gerenciados e integrados

    da cadeia de organizaes 131

    Figura 19. Mapas de fluxos de diferentes processos na cadeia de

    organizaes 132

    Figura 20. Elementos estruturais das redes de organizaes 133

    Figura 21. Biblioteca da estrutura da cadeia de organizaes 134

    Figura 22. Rede de cadeia de organizaes 135

    Figura 23. Canais genricos de distribuio 136

    Figura 24. Uma cadeia complexa de distribuio de alimentos nos E.U.A. 137

    Figura 25. Modelo da rede natural da cadeia de organizaes 138

    Figura 26. Padro da cadeia de organizaes do setor de computadores 146

    Figura 27. Elementos chave em cadeias de organizaes na sia 149

    Figura 28. Modelo de mapas de decomposio da cadeia de organizaes

    da empresa: uma arquitetura de distribuio da soluo

    de problemas 151

    Figura 29. Representao grfica detalhada da anlise da hierarquia

    de rede para seleo de um fornecedor estratgico 160

    Figura 30. Estabelecendo relacionamentos apropriados na cadeia de organizaes 199

    Figura 31. Ciclo de vida das cadeias de organizaes (cadeia A e B) 218

    Figura 32. Ligaes e fluxos de bens entre organizaes em uma cadeia de

    organizaes ampla 219

  • 11

    Figura 33. Ligaes e fluxos entre organizaes complexas (aglomerados,

    conglomerados e holdings) 219

    Figura 34. Organizao adquire capital acionrio de fornecedor e

    distribuidor imediatos 221

    Figura 35. Organizao foco exerce seu poder sobre toda a cadeia

    de organizaes 222

    Figura 36. Conglomerado avana vertical e horizontalmente adquirindo

    participao acionria 222

    Figura 37. Uma cadeia de organizaes com alinhamento nico 223

    Figura 38. Uma cadeia de organizaes com alinhamento mltiplo 223

    Figura 39. A transferncia de uma organizao A da cadeia de

    organizaes 2 para a cadeia de organizaes 1. Se a cadeia

    de organizaes 2 expeliu a empresa A, houve uma exogenia

    e se a cadeia de organizaes 1 atraiu a empresa A,

    houve endogenia 224

    Figura 40. Modelo de estratgia logstica revisto, com ajustes nos nveis

    funcionais e de implementao 229

    Figura 41. Fluxos nas cadeias de organizaes e suas direes (vetoriais) 230

    Figura 42. Fluxos relevantes para estabelecimento de um modelo de eficincia

    da gesto de cadeias de organizaes 231

    Figura 43. Integrao e alinhamento das organizaes num fluxo

    orientado pela estratgia 233

    Figura 44. A gesto estratgica de cadeias de organizaes 234

    Figura 45. Participao de cada nvel e organizao-chave nos resultados

    totais (em porcentagem %) 235

    Figura 46. Participao de cada organizao nos nmeros (porcentagem

    de lucro ou faturamento) na cadeia de organizao 236

    Figura 47. A relao tridimensional do gerenciamento estratgico 238

  • 12

    Figura 48: Indicadores dos servios de Qualidade Total 265

    Figura 49 Captando a aprendizagem a partir do desenvolvimento

    de projetos 279

    Figura 50: Sistema de Inovao da Natura S/A 283

    Figura 51. Modelo de Regras de Maturidade 291

    Figura 52. O Modelo de Eficincia da Cadeia de Organizaes e o

    relacionamento entre as variveis internas de avaliao da eficincia

    da cadeia de organizaes e seus resultados de eficcia no mercado 294

    Figura 53. Faturamento lquido da industria brasileira de cosmticos 326

    Figura 54. Desempenho financeiro da Natura Cosmticos S.A. 336

    Figura 55. Cadeia de Organizaes da NATURA COSMTICOS S.A. 350

    Figura 56. Cadeia de Organizaes da Croda do Brasil Ltda. 365

    Figura 57. Cadeia de Organizaes da IFF - Essncias e Fragrncias Ltda. 375

    Figura 58. Cadeia de Organizaes da Cognis Brasil Ltda. 387

    Figura 59. Cadeia de Organizaes da Givaudan do Brasil Ltda. 400

    Figura 60. Cadeia de Organizaes do Grupo WHEATON Brasil. 410

    Figura 61. Cadeia de Organizaes da Rexam Beauty Packaging do Brasil. 417

    Tabela 1. Medidas do SCOR Nvel 1 272

    Tabela 2. Participao da indstria de cosmticos, higiene e limpeza na

    produo da indstria qumica mundial (dados de 1996) 309

    Tabela 3. Faturamento do setor de cosmticos no mundo e por regio

    US$ milhes - 1990 e 1998 310

    Tabela 4. Principais mercados nacionais de produtos de higiene pessoal,

    perfumaria e cosmticos US$ bilhes 2000 311

    Tabela 5 Principais exportadores mundiais de produtos de perfumaria,

    cosmticos e higiene pessoal bens finais US$ milhes 312

    Tabela 6 Principais importadores mundiais de produtos de perfumaria

    cosmticos e higiene pessoal bens finais US$ milhes 313

  • 13

    Tabela 7 Principais pases participantes do comrcio mundial de produtos de

    perfumaria, cosmticos e higiene pessoal bens finais exportaes,

    importaes e saldo comercial em US$ milhes 2000 314

    Tabela 8 Principais exportadores mundiais de insumos para a

    indstria de perfumaria, cosmticos e higiene pessoal US$ milhes 315

    Tabela 9 Principais importadores mundiais de insumos para a

    indstria de perfumaria, cosmticos e higiene pessoal US$ milhes 316

    Tabela 10 Principais pases participantes do comrcio mundial de

    insumos para a indstria de perfumaria, cosmticos e

    higiene pessoal exportaes, importaes e saldo comercial

    em US$ milhes 2000 317

    Tabela 11. Evoluo do Produto Interno Bruto e da Indstria de

    Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmticos 327

    Tabela 12. Variao anual dos ndices de preos 328

    Tabela 13. Balana Comercial Brasileira 329

    Tabela 14. Balana comercial de higiene pessoal, perfumaria e cosmticos 329

    Tabela 15. Grupo de produtos de higiene pessoal, perfumaria e

    cosmticos nas exportaes brasileiras 330

    Tabela 16. Organizaes-chave apontadas pela Natura S.A. 420

    Tabela 17. Respostas Pergunta: Quem a organizao-foco na sua

    cadeia de organizaes? 424

    Tabela 18. Respostas questo: Voc utiliza a percepo de seu papel

    em suas negociaes com outras organizaes-chave ou com a

    organizao-foco? 425

    Tabela 19. Respostas da questo: Ocorre o gerenciamento formal,

    utilizando mtodos cientficos, da cadeia de organizaes

    como um todo? 426

    Tabela 20. Respostas questo: Na sua opinio quais so os pontos fortes

    em sua cadeia de organizaes? 427

  • 14

    Tabela 21. Respostas questo: Na sua opinio quais so os pontos fracos

    em sua cadeia de organizaes? 427

    Tabela 22. resposta questo: Na sua opinio quais so as oportunidades

    em sua cadeia de organizaes? 428

    Tabela 23. Resposta questo: Na sua opinio quais so as ameaas

    em sua cadeia de organizaes? 429

    Tabela 24. Resposta questo: O seu relacionamento com seus fornecedores

    poderia ser considerado: a. colaborativo b. concorrente c. neutro 430

    Tabela 25. Respostas questo: A sua posio em relao aos seus fornecedores

    poderia ser considerada: Sou dominado por eles / Exero o domnio

    sobre eles / No ocorre dominncia, h paridade entre ns 430

    Tabela 26. Respostas questo: Adota mtodos para otimizar os

    relacionamentos com seus fornecedores tais como CPFR, VMI.

    EDI etc? Cite os mtodos adotados pela sua organizao 431

    Tabela 27. Respostas questo: O seu relacionamento com seus distribuidores

    poderia ser considerado: a. colaborativo / b. concorrente / c. neutro 431

    Tabela 28. Respostas questo: A sua posio em relao aos seus distribuidores

    poderia ser considerada: Sou dominado por eles. / Exero o domnio

    sobre eles. / No ocorre dominncia, h paridade entre ns 432

    Tabela 29. Resposta questo: Adota mtodos para otimizar os

    relacionamentos com seus distribuidores tais como CPFR, VMI. EDI etc?

    Cite os mtodos adotados pela sua organizao 433

  • 15

    NDICE DE ABREVIAES

    ABIHPEC Associao Brasileira da Indstria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmticos

    ABVD Associao Brasileira de Vendas Diretas

    ANP - Analytical Network Process

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    B2B Business to Business

    CD Centro de Distribuio

    CDs Centros de Distribuio

    CLM Council of Logistics Management

    CNA Companhia Nacional de lcalis

    CPFR Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment

    CSN Companhia Siderrgica Nacional

    CT Custos de Transao

    DNA cido Desoxirribonuclico

    EDI Electronic Data Interchange

    ERP Enterprise Resource Planning

    EUA Estados Unidos da Amrica

    FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

    FMS Flexible Manufacturing System

    IFF International Flavors and Fragrances

    i. e. isto

    JIT Just in Time

    KPI - Key Performance Indicators

    LIS Logistics Information System

    LOC Lote timos de Consumo

  • 16

    LOP Lote timo de Produo

    Mercosul Mercado Comum do Cone Sul

    MKT Marketing

    MRP Material Resource Planning

    NAFTA - North American Free Trade Alliance

    NEI Nova Economia Institucional

    NTIC - Novas tecnologias de informao e comunicao

    NY New York

    ONG Organizao No Governamental

    P&D Pesquisa e Desenvolvimento

    PMI - Project Management Institute

    QLICAR Qualidade, Logstica, Inovao, Custo/Contrato, Atendimento,

    Rastreabilidade

    RNA cido Ribonuclico

    SAC Sistema de Atendimento ao Consumidor

    SCM Supply Chain Management

    SCOR Supply Chain Operations Reference Model

    SIPATESP Sindicato da Indstria de Perfumaria e Artigos de Toucador no Estado de So Paulo

    SQI - Service Quality Indicator

    SQT Servios de Qualidade Total

    TCT Teoria dos Custos de Transao

    TQM Total Quality Management

    UCLA University of California, Los Angeles

    UE - Unio Europia

    VMI Vendor Managed Inventory

    WMS Warehouse Management System

  • 17

    RESUMO

    ALMEIDA, CELIO M. P. R. Modelos de Gesto Estratgica de Cadeias de

    Organizaes: um estudo exploratrio. 2006. 463 pp. Tese de Doutorado Faculdade de

    Economia, Administrao e Contabilidade, Universidade de So Paulo.

    Com o crescimento do comrcio global e a ampliao das relaes de trocas em todo o

    mundo industrializado, muitas organizaes estabeleceram relaes com fornecedores e

    distribuidores globais, constituindo grupos de negcios denominados cadeias

    produtivas. Assim, o gerenciamento dessas cadeias torna-se essencial e pode propiciar

    ganhos de escala e aumento da capacidade em atender diferentes mercados e segmentos,

    tornando-as como um todo mais gil e flexvel, promovendo a reduo dos estoques e

    aumento dos fatores de produo em todas as organizaes-chave das cadeias de

    organizaes que delas participem. Existem muitas oportunidades de ampliao da

    qualidade e de reduo de custos na cadeia de organizaes e que pode aumentar

    substancialmente sua receita ou diminuir seus custos pelo gerenciamento eficaz.

    Acompanhar a evoluo de cada organizao no contexto da sua cadeia de organizaes

    e dos seus detentores de interesses oferece uma viso muito mais completa, uma

    imagem holstica das atividades, uma cadeia de capacidades e de know-how, de si

    prpria e das aliadas. Como o ambiente circundante, essas capacidades e

    relacionamentos recprocos se encontram em constante mutao e evoluo. Por

    conseguinte, a empresa deve monitorar e gerenciar todo o conjunto que compe a sua

    cadeia de organizaes, incluso os seus fluxos em processos e sistemas.

    Utilizando modelos de estratgia logstica e de gesto de cadeias de distribuio, teoria

    de sistemas, teoria dos custos de transao, modelos e modelagem foram propostos os

    Princpios de Cadeias de Organizaes e foi desenvolvido um Modelo de Eficincia em

    Cadeias de Organizaes. Um estudo de caso mltiplo na cadeia de negcios da Natura

    Cosmticos foi realizado para conhecer como est o conceito de cadeias de

    organizaes nessa indstria e seis fornecedores.

    PALAVRAS CHAVE: Cadeias de Organizaes; Gesto de Cadeias de Suprimentos;

    Estratgia Organizacional; Teoria de Sistemas; Logstica Integrada; Marketing.

  • 18

    ABSTRACT

    ALMEIDA, CELIO M. P. R. Strategic Organization Chains Model: an exploratory study.

    2006. 463 pp. Tese de Doutorado Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade,

    Universidade de So Paulo.

    Global trade growth and exchange relations enlargement in the industrialized world

    contributed to make many organizations establish links with suppliers and global

    distributors, building up business groups called productive chains.

    Therefore, managing those chains becomes essential in order to provide gains of scale

    and increasing capacity to accommodating different markets and segments in a more

    flexible and fast way, providing inventory reduction and increasing production factors in

    all key organizations of organizations chains that take part in them.

    There are many opportunities of enlarging the quality and the reduction of costs in the

    organizations chains that may substantially increase their revenue or decrease their costs

    through effective management. Acquiring a complete view and a holistic image of the

    activities for a chain of capacities and know-how of itself and its allies means following

    up the evolution of every organization in the context of its organizations chain and its

    interests owners. As the surrounding environment, those reciprocal capacities and

    relationships find themselves in constant change and evolution. Hence, enterprises

    should monitor and manage all the ensemble that determines their organizations chain,

    including their flows in processes and systems.

    With the use of logistic strategy and distribution chains management models, the systems

    theory, the transaction costs theory, models and modeling, the Organizations Chains

    Principles were proposed and Organizations Chains Efficiency Model was developed. A

    multiple case study at Natura Cosmetics business chain was held in order to getting to

    know how this industry and its suppliers deal with the concept of organizations chains.

    KEY WORDS: Organizations Chains; Supply Chain Management; Organizational

    Strategy; Systems Theory; Integrated Logistics; Marketing.

  • 19

    I. INTRODUO

    Com o crescimento do comrcio global e a ampliao das relaes de trocas em todo o

    mundo industrializado, muitas organizaes estabelecem relaes com fornecedores e

    distribuidores globais, constituindo grupos de negcios denominados cadeias

    produtivas. Assim, o gerenciamento dessas cadeias torna-se essencial e pode propiciar

    ganhos de escala e aumento da capacidade em atender diferentes mercados e segmentos,

    tornando-as como um todo mais gil e flexvel, promovendo a reduo dos estoques e

    aumento dos fatores de produo em todas as organizaes-chave das cadeias de

    organizaes que delas participem. Existem muitas oportunidades de ampliao da

    qualidade e de reduo de custos na cadeia de organizaes e que pode aumentar

    substancialmente sua receita ou diminuir seus custos pelo gerenciamento eficaz.

    Acompanhar a evoluo de cada organizao no contexto da sua cadeia de organizaes

    e dos seus detentores de interesses oferece uma viso muito mais completa, uma

    imagem holstica das atividades, uma cadeia de capacidades e de know-how, de si

    prpria e das aliadas. Como o ambiente circundante, essas capacidades e

    relacionamentos recprocos se encontram em constante mutao e evoluo. Por

    conseguinte, a empresa deve monitorar e gerenciar todo o conjunto que compe a sua

    cadeia de organizaes, incluso os seus fluxos em processos e sistemas.

    A Cadeia de Organizaes, por premissa, define-se como sendo um conjunto de

    organizaes encadeadas que trocam ativos entre si, sejam eles tangveis ou intangveis,

    relacionam-se e interagem umas com as outras a fim de atingirem seus objetivos de

    conquista de mercado, lucro, crescimento e perpetuao. Essas organizaes tornam-se

    partes de um processo de transformao de bens tangveis e intangveis que respeitam

    um fluxo direcionado desde os produtores de matrias-primas bsicas at os segmentos

  • 20

    de consumidores finais e seus retornos (retroalimentadores). Este fluxo se processa

    numa linha uni, bi ou multidirecional.

    O termo cadeia de organizaes aqui adotado tem sido tratado, ao longo da histria

    recente da administrao, por diversas denominaes para um mesmo conceito

    correlacionado; por exemplo, como gesto da cadeia de suprimentos, do ingls, supply

    chain management - SCM ou, distribuio fsica, cadeia de distribuio, cadeia de

    negcios, canais de distribuio, canais de marketing, cadeias de abastecimento, cadeias

    de suprimentos, cluster etc. Lambert & Stock (1992: 4), Gaither & Frazier (2001: 429),

    Slack et al (2002: 416) afirmam que durante os ltimos anos, tanto nos negcios como

    no meio acadmico, diversos nomes tm sido dados gesto da cadeia de organizaes,

    entre eles:

    Distribuio fsica, Distribuio, Engenharia de distribuio, Gerenciamento da cadeia de suprimentos, Gerenciamento de materiais, Gerenciamento logstico de materiais, Logstica, Logstica de distribuio, Logstica do marketing, Logstica de negcios, Logstica industrial, Sistemas de resposta rpida.

    O termo Gesto de Cadeias de Organizaes, conceitualmente, se refere basicamente ao

    processo de planejar, implementar e controlar um conjunto de organizaes encadeadas

    num processo produtivo com vetores orientados bem como o fluxo e armazenamento

    eficiente e eficaz de matrias-primas, estoque em processo, produtos acabados e

    informaes, desde o ponto de origem at o ponto de consumo, utilizando-se de

    movimentao e estocagem, com o propsito de satisfazer s necessidades e desejos do

  • 21

    cliente final. Este processo envolve todas as organizaes participantes dos processos

    produtivos e seus fornecedores, envolvendo organizaes to diferentes quanto uma

    extratora de minrios at uma prestadora de servios de tecnologia de ponta.

    A capacidade de estabelecimento da gesto estratgica da cadeia de organizaes no

    ambiente organizacional assume importncia significativa em mbito mundial. A

    estratgia, o marketing, a logstica e a anlise de sistemas e processos assumem um

    papel relevante na gesto de cadeias de organizaes, j que uma gesto eficiente das

    mesmas est diretamente ligada ao sistema de marketing e logstica integrada

    envolvidos em todas as etapas do processo produtivo. Elas podem atuar de forma

    primordial no gerenciamento do cumprimento das tarefas de criao, produo e

    comercializao de produtos e de servios, tornando-os disponveis para o consumo.

    A gesto estratgica assume importncia, pois o gerenciamento de uma cadeia de

    organizaes envolve diferentes organizaes, com suas idiossincrasias e

    especificidades, com as suas culturas organizacionais construdas ao longo de sua

    histria e suas descobertas e inovaes, com seus objetivos de mdio e longo prazos,

    com suas capacidades e fraquezas que podem ser ampliadas e reduzidas ou melhoradas

    e pioradas quando esto em relacionamento e passam a exercer influncias de umas

    sobre as outras, gerando aprendizagem e criando um conjunto relacionado que se torna

    complexo e amplo; em suma, uma cadeia de organizaes.

    A estratgia, o marketing, a logstica e a anlise de sistemas e processos no so apenas

    funes ou reas independentes de uma organizao que faz parte de um mundo isolado.

    Pode-se defini-las como disciplinas cientficas que ensinam como organizar e gerenciar

  • 22

    uma cadeia de organizaes e, ao mesmo tempo, tornam-se um conjunto de atividades

    que abraa completamente e acompanha cada fase do ciclo ao longo de todas as

    organizaes: desde o abastecimento da matria-prima do produto (ou servio) at o

    cliente final e todo o processo de servios ps-venda (de forma sistmica). Entende-se

    que qualquer organizao, de qualquer tamanho, que esteja operando no mercado

    formal ou informal, faz parte, pelo menos, de uma cadeia de organizaes. As

    atividades funcionais envolvidas no funcionamento e relacionamento entre uma

    organizao e seus interlocutores podem ser influenciadas fortemente pelas condies

    econmicas, tecnolgicas, geogrficas, pelo clima do ambiente natural e pela cultura e

    organizao scio-poltica do territrio de ao (entre outros fatores). Assim sendo,

    conhecer como se administra estrategicamente os fluxos entre todas as organizaes-

    chave1 envolvidas em uma cadeia de organizaes e suas interaes sob influncia das

    variveis incontrolveis, pode auxiliar a gesto estratgica a atingir os objetivos de

    conquista de mercados, perpetuao, lucro e crescimento com aumento da eficincia nos

    processos organizacionais.

    1 Organizaes-chave: So aquelas organizaes que apresentam papel crucial no funcionamento da cadeia de organizaes. Seu papel como participante da cadeia de organizaes pode ser crucial por possuir os seguintes diferenciais: monoplio do conhecimento, domnio tecnolgico, capacidade de produo em escala, monoplio ou parcela significativa do mercado, grande capital (intelectual e financeiro). As organizaes-chave geram fortes entradas de bens no sistema da cadeia de organizaes que geram a possibilidade de seu funcionamento ocorrer. Organizaes-chave so aquelas sem as quais o sistema de cadeias de organizaes no pode funcionar.

  • 23

    Na realidade atual, em que a globalizao e as relaes inter e intra-organizaes se

    tornam viveis pela evoluo das tecnologias de informtica e comunicao, estabelecer

    um programa de gesto estratgica de cadeias de organizaes torna-se estrategicamente

    relevante e a possibilidade de se estabelecer um modelo de implementao e conduo

    desta gesto pode se tornar uma ferramenta estratgica importante de diferenciao.

    Assim, estudar seus processos, mecanismos e funcionalidades torna-se uma tarefa

    pioneira de grande atualidade e utilidade.

  • 24

    II. O PROBLEMA DE PESQUISA

    2.1. Formulao da situao-problema

    Nestas ltimas dcadas, muito tem sido escrito sobre a Gesto de Cadeias de

    Suprimentos, termo cunhado originalmente em ingls - supply chain management -

    SCM, ou para este trabalho, Gesto de Cadeias de Organizaes. Existem relatos de

    utilizao do gerenciamento de cadeias de suprimento em forma de livros, artigos e

    estudos de casos. A preocupao com fluxos eficientes e administrao cientfica j

    havia sido formulada por Charles Babbage em seu livro On the economy of machinery

    and manufactures, em 1832, onde apresentou as idias sobre administrao

    consideradas de extrema atualidade como: estudos de tempos e movimentos para definir

    o modo mais eficiente de trabalho, comparao entre as prticas de administrao de

    diferentes organizaes e localizao industrial (Maximiano, 2002: 95).

    Desde a dcada de 60, diversos artigos escritos por autores em diversos pases e

    continentes tm tratado da gesto da cadeia de organizaes. Jay Forrester (1961)

    utilizava fluxos de produtos entre organizaes para exemplificar seus modelos

    sistmicos que fundamentavam sua dinmica industrial. No final da dcada de 80,

    algumas organizaes comerciais norte-americanas passaram a se preocupar com a

    gesto da cadeia de suprimentos. Entretanto, a preocupao era conceitual, tratando

    sobre o que poderia ser definido como gesto da cadeia de suprimentos, sem nfase

    clara na situao real que ocorre nas sociedades estruturadas, nem como poderia ser

    implantada a referida gesto, ou muitas vezes tratando erroneamente da logstica como

    sendo a SCM. Os estudos sobre a sua importncia estratgica no abordavam

  • 25

    claramente como implantar uma gesto da cadeia de suprimentos ao longo de toda a

    sua extenso - desde os produtores de matria-prima at o consumidor final, a maioria

    dos trabalhos tratava, de forma restrita, apenas do relacionamento entre dois ou no

    mximo trs elos (ou nveis) da cadeia. Esses trabalhos podem ser vistos como uma

    abordagem inicial para a elaborao do entendimento do funcionamento de uma cadeia

    de organizaes por inteira, j que em sntese, as funes de logstica, compras e

    marketing podem funcionar como elos de ligao entre duas organizaes, e seus

    mecanismos e processos quando multiplicados por toda a cadeia de organizaes podem

    ser utilitrios. Procura-se especificamente apresentar aqui que a Gesto de Cadeias de

    Organizaes transcende os estudos sobre gesto da logstica. Cooper et alli (1997a: 9-

    15) assim procederam em seu artigo: Supply Chain Management More Than a New

    Name for Logstics, publicado em 1997, onde demonstram claramente a diferena entre

    logstica e SCM.

    Estudos sobre o relacionamento e parcerias na cadeia de organizaes e a melhoria dos

    sistemas de informao se intensificaram na dcada de 90. Entretanto, somente com o

    advento da Internet e a franca utilizao de sistemas amplos e rpidos de informao e

    comunicao que se tornou possvel iniciar as conjecturas e reflexes sobre as

    possibilidades de integrao das organizaes relacionadas numa determinada cadeia de

    organizaes. No Brasil, as publicaes sobre este tema so ainda escassas e estudos

    morfolgicos e analticos so ainda, aparentemente, novidades nas organizaes aqui

    instaladas.

    Assim, identificar os mecanismos, processos, possibilidades, problemas e solues que

    possam ser observados junto realidade atual das cadeias de organizaes como um

  • 26

    todo e as organizaes com elas ou nelas envolvidas, pode permitir que se realize um

    tratamento com maior acuidade quando das ocorrncias nas organizaes. Desta forma,

    os problemas mais comuns relacionados com o planejamento e a implantao de uma

    gesto cientfica da cadeia de organizaes precisam ser identificados e a verificao de

    sua ocorrncia potencial num processo de implementao em organizaes brasileiras

    tambm, para que possam gerar uma base de conhecimentos que permita a

    minimizao ou eliminao de seus problemas e a maximizao de seus resultados

    estratgicos.

    A reviso da literatura demonstra que existem fatores crticos no processo de

    implementao do processo estratgico na gesto de cadeias de organizaes, ou seja,

    fatores importantes para sua implantao, que devem ser cuidadosamente considerados

    neste processo. O modelo definido por Porter (1992) para estratgia competitiva

    demonstra que fornecedores, manufaturas e distribuidores exercem aes em seu

    relacionamento que podem levar concorrncia pelos lucros vigentes, como

    decorrncia de seu poder de barganha. Os relacionamentos entre elos de uma mesma

    cadeia podem ser concorrentes e assim, por decorrncia ou substituio, tambm podem

    ser neutros ou colaborativos.

    Fine (1999: 114-5) apresenta um modelo estratgico que utiliza o mapeamento da

    cadeia de suprimentos de forma a se conhecer suas foras e fraquezas, bem como as

    ameaas e oportunidades que podem vir a incidir sobre essa cadeia de organizaes.

    Assim, este trabalho buscou encontrar uma compreenso mais clara de como se poderia

    planejar, implementar e controlar toda a Gesto Estratgica da Cadeia de Organizaes,

    a partir do conhecimento de modelos naturais encontrados na natureza e o estudo de

  • 27

    sistemas e processos em modelos sociais. Fine (1999: 115) apresenta trs nveis de

    mapeamento da cadeia de fornecimento: o primeiro mapeia as organizaes da cadeia

    de fornecimento, o segundo mapeia as tecnologias da cadeia de fornecimento e o

    terceiro mapeia a cadeia de capacidades das organizaes. Segundo este autor:

    Adotando-se uma viso da empresa a partir dos seus produtos ou

    processos, inicia-se coma enumerao dos fornecedores de matrias-

    primas ou componentes (certifique-se de incluir o item fornecido) que

    a empresa utiliza nos seus produtos ou servios.

    Simchi-Levi et al (2003: 42) afirmam que um problema tpico de configurao de rede

    envolve uma grande quantidade de dados, incluindo informaes sobre localizao dos

    clientes, varejistas, depsitos e centros de distribuio, instalaes fabris e fornecedores

    e todos os produtos, incluindo volumes e modos de transporte especial entre outros

    itens, e que o objetivo ao projetar ou reconfigurar a cadeia de organizaes minimizar

    os custos anuais do sistema, incluindo custos de produo e de compras, de manuteno

    de estoques, de operao das instalaes (custos fixos, de armazenamento e de

    manipulao) e os custos de transporte, sujeitos a uma variedade de exigncias quanto

    ao nvel de servio.

    Simchi-Levi et al (2003: 139-42) demonstram que organizaes que empreenderam uma

    gesto estratgica das cadeias de suprimentos concentrando-se em alianas estratgicas

    e utilizando depsitos centralizados entre outros aspectos, tornam-se especialmente

    diferenciadas, pois para a grande maioria das organizaes a sua cadeia uma rede

    complexa de instalaes e estruturas com objetivos distintos e conflitantes. Isto significa

    que, encontrar a melhor estratgia para a cadeia e para uma organizao em particular,

    implica desafios significativos.

  • 28

    2.2. Questes de pesquisa

    1. possvel se conhecer como est estruturada a cadeia de organizaes e

    quais so as organizaes-chave da cadeia de organizaes?

    2. possvel se conhecer como se comportam os fluxos de bens tangveis e

    intangveis que trafegam pela cadeia de organizaes?

    3. possvel se conhecer e realizar o gerenciamento da cadeia de organizaes

    como um todo? As organizaes pesquisadas j realizam sua operao dessa

    forma?

    4. As organizaes enxergam a cadeia de organizaes como um todo e o seu

    papel nela ao elaborar suas estratgias?

    Ao fim das pesquisas exploratrias, foi possvel se obter subsdios para apontar indcios

    sobre a possibilidade de se elaborar um modelo de estratgia sistmica para uma

    determinada cadeia de organizaes e as organizaes nela envolvidas. Harrison e van

    Hoek (2003: 276) afirmam que a estratgia da cadeia de organizaes no s

    imprescindvel para o sucesso como tambm oferece um quadro contextual para definir

    e priorizar a iniciativa para o reprojeto dos processos de negcios, melhorias dos

    sistemas e reestruturao organizacional.

  • 29

    2.3. Pressupostos conceituais

    Neste trabalho, organizao empresarial assume conceitualmente o papel de clula de

    produo de ativos de valor que podem ser oferecidos ao mercado para aquisio ou

    consumo. Esta clula est organizada, de alguma forma, racionalmente. Ela se apropria

    de recursos de diversas naturezas, tais como: inteligncia, conhecimento, pessoas,

    equipamentos, tempo, instalaes, informao, capital financeiro etc. As organizaes

    empresariais assumem um papel comercial na sociedade, mas tambm um papel social,

    na medida em que criam empregos e geram tecnologias que podem ser influenciadas ou

    podem trazer modificaes nos hbitos e comportamentos pessoais e coletivos.

    Estudos realizados sobre as organizaes pertencentes a partes das cadeias de

    organizaes, ao longo da histria, assumiram diferentes denominaes e conceitos, tais

    como: cadeia de negcios, cadeia de distribuio, distribuio fsica, canais de

    distribuio, canais de marketing, cadeias de abastecimento, supply chain

    management (SCM), cadeias de suprimentos, cluster etc; aparentemente todos estes

    termos so tautolgicos2 e esto relacionados s interaes entre dois ou mais nveis das

    cadeias de organizaes, e todos eles, por pressuposto, so considerados neste trabalho

    como um conjunto de organizaes encadeadas que trocam ativos de valor entre si,

    tangveis e intangveis, relacionando-se e interagindo umas com as outras a fim de

    atingirem seus objetivos de conquista de mercados, lucro, perpetuao e crescimento de

    seus negcios, sendo assumido aqui, por premissa, como sinnimos do termo cadeia de

    organizaes.

    2 Tautolgicos. Relativo tautologia. 1. Gram: Uso de palavras diferentes para expressar uma mesma idia, redundncia, pleonasmo. 3. Etim. Gr. Repetio (de forma ou significado), o que diz a mesma coisa j dita. Houaiss, Antnio & Villar, Mauro S. Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro, Ed. Objetiva, 2001, p. 2679.

  • 30

    Nvel na cadeia de organizaes o elo, ou os estgios, pelos quais, sucessivamente, os

    bens tangveis vo sendo transformados. Pode-se citar, como exemplo, a indstria

    automobilstica com seus diversos nveis: inicialmente, a mineradora de ferro e outros

    metais; o nvel seguinte o da siderurgia que transforma o minrio de ferro em lminas

    de ao; em seguida o das estamparias, que cortam e moldam as lminas para

    assumirem a conformao de uma pea funcional, e assim por diante at chegar ao

    consumidor final no nvel de varejo.

    A gesto da cadeia de suprimentos ou gesto da distribuio fsica, aqui denominada

    gesto da cadeia de organizaes, trata desde os produtos primrios (que se encontram

    na terra, na gua ou ar) at a venda do produto final para o consumidor final. Deve ser

    encarada como uma rede. A gesto da cadeia de organizaes o gerenciamento da rede

    como um todo, de ponta a ponta, dos seus fluxos e dos relacionamentos entre os nveis

    que a compem.

    Pressupe-se que, como todas as coisas existentes no universo, as cadeias de

    organizaes nascem, crescem, declinam e perecem. Processo assumido aqui como

    sendo um sistema de operaes que produz alguma coisa, uma srie de aes, mudanas

    ou funes que atinge um fim ou resultado.

    Por premissa, optou-se, neste trabalho, considerar que cada evento provocador de

    ineficincia, num nvel qualquer de uma cadeia de organizaes, pode tambm provocar

    um efeito deletrio pelo menos em todos os outros nveis posteriores em que haja

    correlao para aquela ineficincia.

  • 31

    Organizao empresarial assume, neste trabalho, o conceito definido por Maximiano

    (2002: 130), a saber: um sistema de recursos que procura realizar objetivos ou

    conjuntos de objetivos. Apresenta-se como um todo complexo e organizado, formado

    de partes ou elementos que interagem para realizar um objetivo especfico.

    Conforme demonstrado na bibliografia consultada, a anlise das cadeias de

    organizaes permite que se estabelea uma srie de concepes que podem ser teis

    sua gesto; desta forma, pode-se partir de algumas premissas bsicas:

    1. Existe um conjunto de regras que regem as cadeias de organizaes e

    suas interaes caracterizando-as como um conjunto coeso passvel de

    tratamento e estudo.

    2. Essas regras podem ser identificadas e testadas.

    3. As variveis controlveis e incontrolveis (ambientais), tanto diretas

    como indiretas que incidem sobre as organizaes, igualmente incidem

    sobre as cadeias de organizaes.

    4. O comportamento das organizaes participantes afeta a cadeia de

    organizaes como um todo e a situao da cadeia de organizaes como

    um todo afeta as organizaes participantes.

    O Planejamento das Necessidades Materiais (do ingls Material Resource Planning

    MRP), segundo Gaithier e Frazier (2001: 272), um sistema computadorizado que toma

    o Programa Mestre de Produo como um dado de entrada e o expande detalhando a

    quantidade exigida de matrias-primas, peas, submontagens e montagens necessrias

    em cada semana do horizonte de planejamento; reduz essas necessidades de materiais

    para considerar os materiais que esto em estoque ou sob encomenda; desenvolve um

    programa de pedidos de materiais comprados e peas produzidas durante o horizonte de

  • 32

    planejamento. uma tcnica de gesto racional para os materiais que apresentam uma

    demanda dependente, ou seja, aqueles que consistem em itens cuja demanda depende

    das demandas de outros itens tambm mantidos como estoque em processo, para apoiar

    a produo. Desta forma, no h necessidade de se realizar a previso da demanda por

    matrias-primas e produtos parcialmente concludos, porque so conhecidos de antemo

    quais produtos devem ser produzidas num determinado horizonte de trabalho. Assim, as

    quantidades de material necessrio para produzir estes produtos acabados podem ser

    exatamente calculadas.

    Just In Time - (JIT), segundo Slack et al (2002: 482-4), uma abordagem disciplinada

    que visa aprimorar a produtividade global e eliminar os desperdcios. Possibilita a

    produo eficaz em termos de custo, assim como o fornecimento apenas da quantidade

    correta, no momento e locais corretos, utilizando o mnimo de instalaes,

    equipamentos, materiais e recursos humanos.

    Neste trabalho assume-se modelo como sendo uma representao externa e explcita de

    parte da realidade, para ser usado para compreender, mudar, e para controlar essa parte

    da realidade de alguma maneira. Modelo aqui concebido como uma estrutura de

    smbolos interpretados e a representao do objeto especificado pela interpretao.

    Presume-se que as relaes entre os smbolos traduzam relaes correspondentes entre

    os elementos do objeto.

  • 33

    2.4. Objetivo, delimitao e importncia do estudo.

    O objetivo central deste trabalho foi, atravs da pesquisa exploratria junto literatura,

    atravs dos trabalhos desenvolvidos com foco em cadeias de organizaes, e atravs de

    um estudo de caso mltiplo numa cadeia de organizaes escolhida (Natura Cosmticos

    S.A.), conhecer as arquiteturas e modelos funcionais, analisar e conhecer os

    mecanismos e componentes que atuam de forma sistmica e dinmica relacionados

    gesto e ao funcionamento das Cadeias de Organizaes e seu comportamento.

    Desta forma, buscou-se desenvolver um estudo sobre a dinmica sistmica e a

    morfologia dos processos, fluxos e do funcionamento das cadeias de organizaes.

    Analisando-se os diversos modelos e seu instrumental para a gesto estratgica de

    cadeias de organizaes atravs do mtodo de pesquisa exploratria. Para a elaborao

    de questes de pesquisa buscou-se identificar os mecanismos, processos, possibilidades,

    problemas e solues que possam ser observados junto realidade atual das cadeias de

    organizaes como um todo, nas principais organizaes com elas ou nelas envolvidas;

    a partir da, procurou-se elementos que permitam avaliar seu envolvimento,

    desempenho e a possibilidade de se realizar uma gesto estratgica de cadeias de

    organizaes. Os problemas mais comuns relacionados com o planejamento e a

    implantao de uma gesto cientfica da cadeia de organizaes foram identificados e

    gerou-se uma base de conhecimentos que permitiu o levantamento de seus problemas e

    a possibilidade de melhoramento de seus resultados estratgicos.

    Assim, buscou-se compreender se os participantes da cadeia de organizaes tm

    conscincia do seu papel no sistema auferido, se tomam decises com foco em gesto

    da cadeia de organizaes como um todo, se elaboram seu planejamento estratgico

  • 34

    levando em conta toda a cadeia de organizaes e como consideram seu papel funcional

    diante de toda a sua cadeia de organizaes. A partir do conhecimento originado nessas

    duas pesquisas, foram apontados pontos relevantes inerentes gesto estratgica de

    cadeias de organizaes e um modelo de gesto foi proposto.

    Neste trabalho, ficou evidente a dificuldade citada por Shank e Govindarajan (1995: 77-

    8) e Fine (1999: 115) de se analisar pragmaticamente a cadeia de negcios como um

    todo, pois no nvel primrio pode ser relativamente fcil de se mapear conceitualmente,

    mas difcil logisticamente, pelo grande nmero de entidades que participam das cadeias

    de muitas organizaes. Nos outros dois nveis, que ele denominou mapeamento das

    tecnologias da cadeia de fornecimento e da cadeia de capacidades da empresa, os

    desafios so maiores, tanto em termos conceituais quanto logsticos. A maioria dos

    dados necessrios sua elaborao no se encontra nos bancos de dados de qualquer

    organizao, devendo ser levantados por pessoas com ntima participao nos processos

    tecnolgicos e empresariais da organizao. Assim, optou-se, neste trabalho, em se

    analisar apenas as organizaes-chave que compem uma determinada cadeia de

    organizaes.

    Este trabalho buscou, dentre as organizaes, aquelas que aparentavam ter grande

    controle ou influncia sobre os outros participantes dessa cadeia de organizaes. Foram

    consideradas apenas as organizaes principais e os outros participantes, considerados

    organizaes-chave na cadeia de organizaes. A importncia deste estudo pode ser

    avaliada a partir das declaraes formuladas por diversos autores, desde Forrester

    (1961) a Porter (1996), que demonstraram a importncia de se alinhar os processos ao

  • 35

    longo da cadeia de organizaes com vistas a encontrar melhor desempenho e

    diferenciao competitiva.

    O processo de globalizao iniciado desde as conquistas de Alexandre na Grcia

    Antiga, dos Csares da Roma Imperial at o momento atual, com a formao de blocos

    poltico-comerciais de interesse geo-econmico como a Unio Europia - UE, o North

    American Free Trade Alliance NAFTA, o Mercosul entre outros, justificam por si s a

    ampliao do conhecimento dos processos vigentes nas cadeias de organizaes, que

    transcendem as fronteiras geogrficas e os governos, e apresentam fluxos que podem

    ampliar a capacidade e o valor daquelas organizaes, alm de constiturem um

    planejamento estratgico a partir do amplo conhecimento de seu mecanismo de

    funcionamento.

    possvel identificar a importncia da gesto de cadeias de organizaes a partir das

    afirmaes feitas por Chopra e Meindl (2003: 3-5), que definem como sendo um fluxo

    dinmico e constante de informaes, produtos e dinheiro entre diferentes estgios.

    Cada estgio da cadeia de suprimento executa diferentes processos e interage com

    outros estgios da cadeia. O objetivo de toda a cadeia de suprimentos maximizar o

    valor global gerado. O valor gerado por uma cadeia de organizaes a diferena entre

    o valor do produto final para o cliente e o esforo realizado pelos seus participantes para

    atender seu pedido. A Cadeia de organizaes pode ento ser objetivamente definida

    como sendo composta por vrias organizaes vinculadas com o propsito de fornecer

    bens ou servios que os clientes finais demandam. Para Cooper et alli (1997: 2), a

    cadeia de organizaes responsvel pela integrao de processos-chave desde os

  • 36

    consumidores finais at os fornecedores e que disponibilizam produtos, servios e

    informaes que agregam valor aos consumidores e a outros interessados.

    A importncia da gesto de cadeias de organizaes fica evidente quando a rede de

    suprimento tambm vista como um sistema. Todos os processos dentro da rede

    precisam ser compreendidos em termos de como eles interagem com outros processos.

    Nas organizaes, as entradas e sadas so afetadas pelo comportamento de outros

    participantes da rede. Para Simchi-Levi et al (2003: 6365), a gesto da cadeia de

    organizaes ou rede logstica torna-se importante, pois formada por fornecedores e

    fabricantes que transformam matrias-primas em produtos acabados, e por centros de

    distribuio e depsitos, a partir dos quais os produtos acabados fluem entre as

    instalaes e so distribudos para o cliente. A configurao dessa rede pode envolver

    aspectos relacionados com a localizao das plantas produtivas, dos depsitos, que em

    grande quantidade podem melhorar o nvel de servio, gerar um acrscimo nos custos

    de estocagem, custos de transporte de entrada e nas despesas em geral, uma reduo nos

    custos de transporte de sada, e ainda envolver aspectos relacionados aos varejistas cujas

    decises estratgicas tm efeitos de longo prazo sobre a organizao.

    Cooper et alli (1997a: 8-14) consideram a gesto da cadeia de organizaes como uma

    filosofia integradora e necessria ao gerenciamento extensivo do fluxo total de produtos

    e informaes no canal de distribuio de um grupo de organizaes, desde o primeiro

    fornecedor localizado no incio da rede de negcios at o ltimo cliente dessa cadeia de

    valor. Nesta perspectiva de integrao, a gesto da cadeia de organizaes responde

    pela coordenao das atividades e processos dentro e entre as organizaes, e representa

    algo mais amplo que o conceito clssico da logstica industrial. Kobayashi (2000:

  • 37

    232) apresenta a sua importncia ao afirmar que a logstica no est limitada a uma

    funo empresarial independente que atua de forma isolada. uma disciplina cientfica

    que ensina como organizar a cadeia logstica e, ao mesmo tempo, um conjunto de

    atividades que abraa completamente e acompanha cada fase do ciclo da organizao:

    do abastecimento de insumos e da matria-prima para se transformar em produto, at

    o cliente final e todo o processo de servios ps-venda.

    Em concluso, pode-se afirmar que pela sua relevncia, carncia de pesquisas,

    inovatividade e atualidade, o estudo de cadeias de organizaes torna-se necessrio e

    pode permitir que seus resultados tragam maior conhecimento sobre a dinmica e os

    mecanismos que regem seu comportamento, possibilitando assim que se efetue o

    gerenciamento de seus fatores com vistas a alcanar os seus objetivos estratgicos.

  • 38

    III. FUNDAMENTAO TERICA

    3.1. A evoluo das artes e das cincias e a administrao atual

    As evolues da reflexo humana e da cincia atravs da histria revelam como os

    primitivos seres humanos das cavernas, que desenhavam suas pinturas rupestres

    grosseiramente, sem a perspectiva de que poderiam reproduzir com mais realidade a

    viso tridimensional, avanaram e conseguiram saltar extraordinariamente at seu pice

    no sculo XV, com o advento do movimento renascentista, quando no apenas a

    perspectiva tridimensional ganhava destaque, mas tambm a reproduo exata da

    natureza e do ambiente dos palcios e figuras humanas alcanavam uma beleza e

    excelncia muito grande com os famosos artistas Leonardo Da Vinci, Michelangelo,

    Rafael e Tintoretto, entre outros mestres da arte, que brindaram a raa humana com

    obras de arte at hoje admiradas pela sua perfeio multidimensional.

    Na administrao, tambm possvel se observar desde os construtores venezianos de

    navios at os primeiros ensaios de Taylor, Fayol e Gantt, no fim do sculo XIX, como

    evoluram as reflexes e a capacidade de vislumbrar os verdadeiros movimentos de

    anlise de processos com mltiplas variveis atuando concomitantemente e interagindo

    em sistemas complexos. Ao se observar a construo de modelos e grficos do incio do

    sculo XX, em que a maioria deles utilizava apenas duas dimenses (os eixos x e y),

    com os atuais (virtuais) que podem processar em segundos, centenas, milhares de

    variveis (em mltiplos eixos) atuando simultaneamente e de forma interagente,

    percebe-se claramente como o computador e seus programas tornaram a vida chapada

  • 39

    dos grficos e modelos bidimensionais, em uma rica viso tridimensional e at,

    multidimensional.

    Assim, a telemtica, aliada s modernas tecnologias de gesto, propiciou uma viso

    mais clara da funo multidimensional da administrao organizacional estratgica que

    pode permitir que se agregue mltiplas variveis interagentes com suas variabilidades

    dinmicas a um modelo de anlise sistmica. At 1960, os clculos deveriam ser

    realizados praticamente mo, e o tempo exigido apenas permitia que se chegasse a

    resultados conclusivos depois de dias e dias executando os clculos necessrios, muitas

    vezes ultrapassando o tempo necessrio implantao e aplicao de seus achados.

    A utilizao dos sistemas grficos era o suporte maior e estava na maioria das vezes

    restrita ao cruzamento de duas, quando muito, trs variveis, numa viso grfica. At os

    anos 80, a capacidade de elaborao de clculos mais complexos estava limitada aos

    grandes e caros computadores (mainframes), mas sua expanso j era claramente

    perceptvel e sua influncia nas artes militares, administrao, agronomia, medicina,

    engenharia e pesquisas em geral foi significativa. Ela propiciou a possibilidade de se

    efetuar clculos e anlises em variveis multidimensionais adotadas empiricamente pela

    pesquisa operacional j nos anos 50.

    A partir da evoluo da eletrnica digital e do recente mundo virtual, a possibilidade de

    gerar resultados tridimensionais e multidimensionais levou a estudos em diversas

    direes e disciplinas. Nos anos 90, a abstrao da tridimensionalidade se tornava algo

    comum no cotidiano das grandes metrpoles. Contribuiu para isso, fortemente, o

    advento da Internet, o crescimento do cinema, da propaganda, dos jogos eletrnicos, as

  • 40

    simulaes computacionais, mecatrnica e, mais recentemente, o telefone celular e

    todos os sistemas de comunicao sem fio. O pensamento tem se adaptado lentamente a

    lidar, cotidianamente, com mltiplas variveis mutantes, utilizando-se informaes de

    mltiplas origens para direcionar estrategicamente os objetivos e resultados pretendidos,

    com as informaes necessrias sendo transmitidas em tempo real, com extrema

    fidelidade, a qualquer regio do planeta.

    Desde meados da dcada de 80, a introduo dos computadores pessoais permitiu um

    avano extraordinrio nas possibilidades de clculos com modelos de mltiplas

    variveis atuando dinmica e concomitantemente, interagindo entre si, e produzindo um

    resultado satisfatrio. Assim, a capacidade de abstrao e a utilizao dos modernos

    sistemas informacionais possibilitam que o raciocnio e a cognio decorrentes das

    teorias de sistemas e da dinmica social apresentem uma grande interao das

    informaes sobre as variveis e seus comportamentos, e possibilitam que sejam mais

    rapidamente processados e reprocessados.

    Assim, as novas tecnologias de informtica e telecomunicaes tornaram vivel a

    possibilidade de se ampliar o relacionamento e a capacidade de trocas de informaes

    (dados, imagens e voz), em tempo real e com preciso, tornando a integrao da cadeia

    de organizaes factvel em sistemas ligados em tempo real e com portabilidade e

    flexibilidade total, sendo a cada dia acessveis e acessveis nos mais diferentes sistemas

    eletrnicos e digitais.

  • 41

    3.2. Caracterizao da organizao empresarial

    Por princpio, uma organizao empresarial se constitui numa clula de produo de

    ativos de valor que podem ser oferecidos ao mercado para aquisio ou consumo. Esta

    clula est organizada, de alguma forma, racionalmente. Ela se apropria de recursos de

    diversas naturezas, tais como: inteligncia, conhecimento, pessoas, equipamentos,

    tempo, instalaes, informao, capital financeiro etc.

    Para Coase (1988: 5), a firma, na teoria econmica moderna, uma organizao que

    transforma entradas (inputs) em sadas (outputs). Coase apontou a existncia de custos

    para realizar as transaes, o que no elimina a possibilidade da sua conduo via

    mercado; portanto, o sistema de preos continua sendo relevante, podendo funcionar

    como mecanismo alocador eficiente de recursos em casos particulares. Entretanto,

    Coase procura demonstrar que basta um olhar ao nosso redor para se perceber que

    pragmaticamente o mecanismo de regulao do mercado exceo, e o mecanismo

    contratual, a regra para alocao dos recursos na sociedade.

    Coase (1988: 3-9) apresentou crticas viso restritiva pela economia tradicional da

    firma como funo de produo, sugerindo ser um estereotipo que no tem aderncia ao

    mundo real e nem tem vigor analtico que sugira a sua adoo. Em seu artigo de 1937,

    apresentou a viso da firma como um nexo de contratos e deu incio possibilidade

    de estudo das organizaes como arranjos institucionais que regem as transaes, seja

  • 42

    por meio de contratos formais ou de acordos informais. As instituies foram re-

    introduzidas na teoria microeconmica e passou-se a considerar a firma como um nexo

    de contratos cuja estrutura forma de governana - varia de modo previsvel de acordo

    com variveis passveis de anlise, pautadas pelas regras institucionais.

    Zylbersztajn (2005: 3-5), afirma que o trabalho pioneiro de H. D. Coase discutiu as

    razes explicativas para a existncia da firma com base nos custos comparativos da

    organizao interna e de produo via mercado, e lanou as bases para o estudo das

    formas alternativas de organizao das firmas contratuais. Reconheceu que os mercados

    no funcionavam a custo zero, tampouco a organizao interna da firma era desprovida

    de custos. A sua preocupao foi, continuamente, de chamar a ateno dos economistas

    para os fenmenos do mundo real e para o rico laboratrio vivo do mundo das

    organizaes, que estavam espera de estudo cuidadoso. E que teorias da firma de base

    contratual avanaram a partir de mltiplas razes? A Economia dos Custos de Transao

    (Williamson, 1985 e 2005), Teoria dos Custos de Mensurao (Barzel, 2002), ambas

    ancoradas em Coase, Teoria dos Contratos Incompletos (Hart, 1995), Teoria com Base

    nos Recursos (Langlois, 1998), a Teoria das Redes (Thorelli, 1986), a Teoria de

    Agncia (Pratt e Zeckhauser, 1985), entre outras. A reconstruo de pontes entre a

    Teoria Econmica e a Sociologia e, mais recentemente, com as cincias cognitivas e

    com o questionamento a respeito do pressuposto de racionalidade, resultaram na quebra

    de paradigma.

    As organizaes empresariais criam especializaes e relacionamentos entre si, e

    assumem diferentes funes e papis na cadeia produtiva, j que para uma mesma

    organizao, individualmente, elaborar todo o processo produtivo desde a retirada de

  • 43

    petrleo ou ferro bruto de uma mina, at a montagem de um equipamento

    eletrodomstico, eletroeletrnico ou um avio e sua comercializao e manuteno,

    passando por diferentes etapas de transformao, at hoje no foi constatado. Henry

    Ford, que tentou eliminar completamente a dependncia e a necessidade de firmas

    fornecedoras criando as suas prprias, fracassou e foi por muitos considerado um

    megalomanaco. Sobre isto relatam Womack et al (1992: 26-7):

    Inclusive, chegou ele a agregar matrias-primas e transporte mo invisvel: uma plantao de borracha totalmente prpria no Brasil, minas de ferro em Minnesota, navios prprios para transportarem minrio de ferro e carvo pelos Grandes lagos at Rouge... ...Por fim, essas iniciativas alm de Highland Park no deram em nada... Porque o prprio Ford no tinha a menor idia de como organizar um empreendimento global, a no ser centralizando todas as decises numa s pessoa no topo: ele prprio.

    Desta forma, organizaes assumem especificidades peculiares e se voltam para

    determinadas especialidades; procuram se tornar boas em fazer algo especfico ou

    alguma coisa em particular, e passam a participar do processo produtivo seguindo os

    mesmos preceitos da diviso do trabalho conceituada pioneiramente em 1760 por Adam

    Smith (1993: 80-100), que desenvolveu a apologia da diviso do trabalho como

    evoluo social, em que a grande multiplicao das produes de todas as artes e ofcios

    conseqncia da diviso do trabalho, que origina, numa sociedade bem administrada,

    a opulncia generalizada que se estende s camadas inferiores da populao. Afirmava

    ainda que a diviso do trabalho ocasiona em todas as reas, na medida em que

    possvel introduzi-la, um acrscimo proporcional dos poderes produtivos do trabalho. A

    distino entre os diversos ofcios e profisses parece ter-se realizado em conseqncia

    desta vantagem e que tal como essa propenso que origina esta diferena de talentos

    to notvel entre homens de diferentes profisses, tambm ela que torna til a

  • 44

    diferena, ilustrando assim a importncia e a utilidade da diviso do trabalho ou funes

    em diferentes organizaes e sua inter-relao:

    Observe-se o suprimento do mais vulgar artfice ou jornaleiro num pas civilizado e prspero, e verificar-se- que o nmero de pessoas cuja atividade, ainda que s numa pequena parte, foi necessrio empregar para lhe proporcionar esse suprimento, excede todas as possibilidades de clculo. Por exemplo, o casaco de l que cobre um jornaleiro, por mais grosseiro e tosco que possa parecer, o produto do labor combinado de grande nmero de trabalhadores. O pastor, o classificador da l, o cardador, o tintureiro, o fiandeiro, o tecelo, o pisoeiro, o curtidor, e muitos outros, tm de reunir as suas diferentes artes para que seja possvel obter-se mesmo este produto comezinho. E quantos mercadores e carreteiros ho de, alm disso, ter sido empregados no transporte dos materiais de uns desses trabalhadores para os outros, que, muitas vezes, vivem em regies do pas muito distantes! Quanto comrcio e quanta navegao, especialmente quantos construtores navais, marinheiros, fabricantes de velas e de cordas tero sido precisos para reunir as diferentes drogas usadas pelo tintureiro, que muitas vezes provm dos mais remotos cantos do mundo! E que variedade de trabalho ainda necessrio para produzir ferramentas do mais nfimo desses trabalhadores! Para j no falar de mquinas to complicadas como o navio do marinheiro, a prensa do pisoeiro, ou mesmo o tear do tecelo, consideremos to-somente a variedade de trabalho requerida para originar essa mquina to simples, a tesoura com que o pastor tosquia os carneiros.

    Assim, a constituio de uma organizao que busca com sua especializao, ampliao

    de seus conhecimentos e o desempenho de suas tarefas em desenvolver, fabricar e

    fornecer bens aos seus mercados tornou-se importante fator econmico nos ltimos

    sculos. A interao e o relacionamento, mesmo que estritamente comercial, entre

    organizaes que participam de uma cadeia produtiva, tornam-se necessrios e seu

    gerenciamento pode determinar ganhos ou perdas. A compreenso do funcionamento da

    organizao empresarial e das inter-relaes entre as organizaes empresariais

    pertencentes a uma mesma cadeia produtiva pode propiciar um aumento da eficincia da

    gesto estratgica da cadeia de organizaes e na eficcia de seus resultados.

  • 45

    3.2.1. Definies de organizao empresarial

    Houaiss (2002: 2079) descreve organizao como sendo uma entidade que serve

    realizao de aes de interesse social, poltico, administrativo etc., e como sendo um

    grupo de pessoas que se unem para um objetivo, interesse ou trabalho comum. O

    mesmo autor, na pgina 1128, define o termo empresa como uma organizao

    econmica, civil ou comercial, constituda para explorar determinado ramo de negcio e

    oferecer ao mercado bens e/ou servios.

    A organizao se apropria de recursos de diversas naturezas, tais como: pessoas,

    equipamentos, tempo, instalaes, informao, inteligncia, conhecimento, capital

    financeiro etc. As organizaes empresariais detm um papel social, j que criam

    empregos e geram tecnologias que podem ser influenciadas ou trazer modificaes nos

    hbitos e comportamentos pessoais e coletivos, veja-se, recentemente, o efeito das

    viagens areas, da inseminao artificial, da transgenia, da Internet ou do telefone

    celular e seus efeitos no comportamento individual e coletivo das pessoas.

    Maximiano (2002: 130) define a organizao empresarial como sendo um sistema de

    recursos que procura realizar objetivos ou conjuntos de objetivos. Apresenta-se como

    um todo complexo e organizado, formado de partes ou elementos que interagem para

    realizar um objetivo especfico.

  • 46

    Drucker (1999: 33-5) define a organizao como sendo um agrupamento humano

    composto por especialistas que trabalham em conjunto em uma tarefa comum. Uma

    organizao sempre especializada e definida por sua tarefa. Ele afirma ainda que o

    termo organizao somente se tornou usual aps a dcada de 1960. Segundo este autor,

    a organizao ignorada em livros mais recentes sobre cincias sociais, e explica que

    isto acontece precisamente porque ela afeta profundamente tanto o Estado como a

    sociedade:

    A organizao incompatvel com aquilo que tanto os polticos como os cientistas sociais ainda assumem como sendo a norma. Eles ainda assumem que uma sociedade normal unitria, em vez de pluralista....Ela no comunidade nem sociedade, classe ou famlia, os modernos integradores conhecidos pelos cientistas sociais. Mas ela tambm no um cl, uma tribo ou um grupo de afinidade, nem nenhum dos outros integradores da sociedade tradicional. A organizao uma coisa nova e distinta.

    Assim, para Drucker (1999: 38-9), a funo das organizaes tornar produtivos os

    conhecimentos. As organizaes so o meio ambiente feito pelo homem, a ecologia

    social da sociedade ps-capitalista. A organizao uma entidade distinta e separada.

    As organizaes so instituies com fins especiais. Assim como Taylor, ele acredita

    que elas so eficazes porque se concentram em uma tarefa especializada. A organizao

    uma ferramenta e, como tal, quanto mais especializada for a sua tarefa, maior ser a

    capacidade de desempenho. Tambm necessrio que uma organizao avalie e julgue

    a si mesma, bem como o seu desempenho em relao a objetivos e metas claros,

    conhecidos e impessoais.

    Chandler (1992: 483) define a organizao como sendo uma entidade legal que

    estabelece contratos com fornecedores, distribuidores, empregados e, freqentemente,

    com clientes. Para ele, tambm uma entidade administrativa, j que havendo diviso

  • 47

    do trabalho em seu interior, ou desenvolvendo mais de uma atividade, uma equipe de

    administradores se faz necessria para coordenar e monitorar as diversas atividades.

    Uma vez estabelecida, a organizao se torna um conjunto articulado de qualificaes,

    instalaes e capital lquido. E finalmente, diz que em nome de lucros, organizaes tm

    sido e so instrumentos de economias capitalistas para a produo de bens e servios e

    para o planejamento e a alocao para produo e distribuio futuras.

    Levitt (1990: 26-8) afirma que a idia de que o propsito de uma organizao restringe-

    se a gerar lucros uma idia vazia, e que a mais poderosa de todas a idia e a viso de

    que o verdadeiro propsito de uma organizao criar e manter clientes. Segundo ele,

    no pode haver estratgia empresarial que no seja fundamentalmente uma estratgia de

    marketing, nem objetivo que no responda de algum modo ao que as pessoas esto

    desejando comprar por um preo determinado.

    Para este estudo assume-se que a organizao empresarial um sistema de recursos

    que procura realizar objetivos ou conjuntos de objetivos com vistas perpetuidade,

    crescimento e lucro. Apresenta-se como um todo complexo e organizado, formado de

    partes ou elementos que interagem para realizar um objetivo especfico.

  • 48

    3.2.2. A organizao como uma clula

    Comparaes com estruturas reais do meio ambiente e da natureza no so recentes nem

    raras. Desde os primeiros relatos de pensadores e estudiosos, sistemas ldicos ou

    imagticos so comparados com sistemas reais e vice-versa, a fim de se compreender

    melhor seu funcionamento. Desta forma, a comparao da organizao empresarial

    com uma clula biolgica pode permitir que se realizem algumas reflexes com relao

    ao seu funcionamento sistmico.

    Bertalanffy (1977: 54-6), demonstrando a relao entre leis que regem as diferentes

    disciplinas da cincia afirmava categoricamente que h um paralelismo dos princpios

    cognoscitivos gerais em diferentes campos da cincia. Postulava que existem modelos,

    princpios e leis que se aplicam a sistemas generalizados ou suas subclasses, qualquer

    que seja seu tipo particular, a natureza dos elementos que os compem e as relaes ou

    foras que atuam entre eles. Destacou que existem princpios que podem ser aplicados

    aos sistemas em geral e que a existncia de propriedades gerais dos sistemas gera, como

    conseqncia, o aparecimento de semelhanas estruturais ou isomorfismos em

    diferentes campos.

    Nada obriga a por um termo aos sistemas tratados em fsica. Ao contrrio, podemos aspirar a princpios aplicveis aos sistemas em geral, quer sejam de natureza fsica, biolgica, quer de natureza sociolgica. Se estabelecermos esta questo e definirmos de modo conveniente o conceito de sistema, verificaremos que existem modelos, princpios e leis que se aplicam aos sistemas generalizados qualquer que seja seu tipo particular e os elementos e foras implicadas.

    No pretenso deste trabalho estabelecer analogias vagas e sofismas estreis, mas

    como postulou Bertalanffy (1977: 57), uma teoria geral dos sistemas poderia se tornar

  • 49

    num instrumento til capaz de fornecer modelos a serem usados em diferentes campos e

    transferidos de uns para outros. O isomorfismo que ele postula uma conseqncia do

    fato de, sob certos aspectos, poder ser possvel se aplicar abstraes correspondentes e

    modelos conceituais a fenmenos diferentes. Assim, a possibilidade de se abstrair

    comportamentos eventuais dos fenmenos biolgicos existentes numa clula ou tecido

    podem trazer lies comparativas de grande utilidade s organizaes sociais (por

    exemplo: uma organizao comercial) e aos seus relacionamentos.

    Ackoff (1981: 27) demonstrou que a corporao passou a ser vista como um organismo

    vivo depois da primeira Guerra Mundial e que este novo conceito de corporao como

    um organismo emergiu gradualmente. Assim conceitualizado, a corporao tem uma

    vida e propsitos prprios. Seus propsitos principais se assemelham a qualquer

    organismo, como a sobrevivncia e o crescimento. O lucro to necessrio para a

    organizao como o oxignio para um organismo vivo. A administrao foi

    caracterizada como o crebro que dirige a firma e os empregados, como seus rgos.

    Gareth Morgan, em seu livro Imagens da Organizao, de 1996, afirma que todas as

    pessoas constroem imagens mentais das organizaes em que trabalham, e que estas

    podem ser vistas de formas diferentes por diferentes pessoas e que, uma mesma pessoa

    pode criar diferentes imagens sobre cada uma destas organizaes. Assim, conhecer as

    imagens criadas e entender seu significado pode propiciar uma compreenso maior da

    administrao e permitir uma gesto mais eficiente. Nesta linha de estudo, o autor

    prope oito imagens possveis das organizaes (mquina, organismo vivo, crebro,

    cultura, sistema poltico, priso psquica, sistema em fluxo e transformao, instrumento

    de dominao). O autor aponta que, na imagem do organismo vivo como uma metfora

  • 50

    biolgica das organizaes, a nfase est na capacidade de adaptao e no no arranjo

    ordenado das coisas. Assim, as tarefas e as linhas de autoridade podem ser mudadas

    continuamente, a fim de possibilitar o alinhamento da organizao com seu ambiente.

    Os pontos fortes deste tipo de funcionamento organizacional incluem a flexibilidade e a

    nfase no desenvolvimento de competncias humanas, o que segundo ele,

    particularmente apropriado para tratar com ambientes turbulentos e competitivos, tal

    qual nossas sociedades capitalistas.

    Os ingleses Burns e Stalker, em seu livro The Management of Innovation, de 1961,

    estudaram a transio de organizaes industriais convencionais para o mercado de alta

    tecnologia, bem mais dinmico e turbulento, e chegaram concluso que dividia as

    organizaes em dois tipos: o mecanicista e o orgnico. O tipo de organizao

    mecanicista est mais adequado s condies ambientais relativamente estveis. As

    tarefas so especializadas e precisas; a hierarquia de controle est bem delineada; a alta

    administrao responsvel pela coordenao e pela viso de conjunto; a obedincia e a

    lealdade so valorizadas, e a comunicao vertical enfatizada. J o tipo orgnico de

    organizao est mais adaptado a condies instveis, a ambientes com os quais a

    organizao no tem familiaridade e oferecem complexidades demasiadas que no se

    podem resolver apenas com funes especializadas. Desta forma, no sistema orgnico

    h contnua redefinio de tarefas, todos so generalistas e a natureza cooperativa do

    conhecimento juntamente com a interao nas comunicaes informativas so

    enfatizadas, o que favorece um alto nvel de comprometimento com as metas da

    organizao. Como concluso de seus estudos, manifestaram dvidas quanto

    capacidade de organizaes atuando sob o tipo mecanicista de organizao se tornarem

  • 51

    orgnicas, pois as alteraes de cultura envolveriam fortes quebras de paradigmas e

    objetivos pessoais.

    Amabis e Martho (1997: 82-4) relatam que, a partir da dcada de 1940, entraram em

    operao os primeiros microscpios eletrnicos de transmisso, e algum tempo depois o

    microscpio eletrnico de varredura, em que um feixe eletrnico, finssimo, projetado

    sobre a superfcie metalizada do material, permitindo se obter uma imagem

    tridimensional do microorganismo estudado. At esse tempo, as clulas que deveriam

    ser examinadas o eram de forma bem mais simples: era feita uma raspagem da

    superfcie de onde se queria analisar; em seguida, este material (raspas) contendo as

    clulas era homogeneizado e colocado numa plaqueta de vidro transparente, que era

    prensado em outra plaqueta e colocado sob a lente de um microscpio mecnico-ptico.

    Esta forma de observao permitia apenas uma viso bidimensional das clulas e seus

    contedos, e pior ainda, as clulas, alm de chapadas, estavam paralisadas, estticas.

    Com o advento da microscopia eletrnica, foi possvel estudar as clulas de forma

    tridimensional e, mais recentemente, ao vivo, o que permitiu conhecer no apenas suas

    organelas internas (componentes celulares), mas qual seriam as reaes e os processos

    dinmicos ali ocorrentes, bem como suas produes e funcionalidades. Da mesma

    forma, a anlise das organizaes, desde Gantt e Fayol (Crainer, 1999: 299 e 60) at

    recentemente, era feita de forma esttica e na maioria das vezes bidimensional

    (chapadas). Atualmente, com o advento da informtica e da telemtica, tornou-se

    possvel observar os processos de forma mais ampla, desde o tridimensional at o

    multidimensional e, ao vivo.

  • 52

    Assim, a possibilidade de se utilizar modelos da natureza (biolgicos) na otimizao dos

    processos organizacionais j tem sido largamente reafirmada desde a primeira metade

    do sculo XX {Bertalanffy, 1972; Mintezberg, 2000; Fine et al, 2002, entre outros}.

    neste contexto que se pode observar uma estrutura celular simples e correlacion-la a

    uma organizao empresarial para se observar seu funcionamento e aperfeioamento.

    Adotou-se neste estudo a possibilidade de comparao tridimensional, sem considerar

    invlida a possibilidade de se fazer anlises em um nmero maior de dimenses ou

    variveis de impacto na organizao empresarial.

    No exemplo a seguir, importante notar que a viso da organizao, assim como a de

    uma clula, est contida por uma membrana. No caso da clula, uma membrana celular

    (celulsica) que filtra e controla as substncias (produtos e subprodutos) que entram e

    que saem dela mesma. Da mesma forma, a organizao est contida por uma membrana

    tangvel traduzida pelos muros, paredes, portas, cercas, sua segurana, e por uma

    membrana intangvel que poderia ser no apenas seus limites fsicos, mas sua histria,

    sua cultura, poltica e seus limites de atuao. Os processos internos, caracterizados por

    departamentos ou reas funcionais, poderiam ser comparados aos processos celulares e

    suas estruturas. Cada um deles tem uma funo fundamental para o funcionamento

    eficiente da clula (Fig. 1).

    atravs dessa membrana que entram as molculas alimentares na clula biolgica, na

    organizao ocorre a entrada de matrias primas, componentes e insumos. Pela

    membrana celular so expelidos substncias e produtos celulares como hormnios que

    promovem aes em outras clulas alm das excrees, da mesma forma na clula

  • 53

    organizacional so expelidos produtos acabados e informaes ao mercado ou a outras

    clulas organizacionais.

    Assim como nas clulas biolgicas, a organizao comercial tambm sofre os efeitos e

    influncias do meio ambiente. O frio ou o calor, situaes de estresse e outras

    incidncias das variveis incontrolveis, exercem influncia significativa tanto sobre o

    funcionamento das clulas, quanto sobre o funcionamento das organizaes

    empresariais, restringindo e interferindo em seus processos.

    Figura 1. Modelo de clula vegetal e suas organelas.

    Fonte: http://www.geocities.com/celuled/serv03.htm, Acesso em 14/10/2004.

    Yourdon (1992: 15-17), citando a obra de Miller (1978), descreve uma analogia por ele

    encontrada, elaborada no agrupamento em categorias dos 19 principais subsistemas

    existentes que sempre esto presentes nos sistemas viventes, em nvel de clula, de

    rgo, de organismo, de grupo, de organizao, de sociedade ou de sistemas

    internacionais, todos eles contendo os seguintes subsistemas:

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    - O reprodutor, que capaz de dar origem a outros sistemas semelhantes ao sistema ao qual ele pertence. Em uma organizao comercial, pode ser a diviso de planejamento, que faz novas plantas e constri novos escritrios regionais. - O delimitador, que mantm coesos os componentes do sistema que os protege dos problemas ambientais e que impede ou permite a entrada de vrios tipos de matria-energia e informaes. Em uma organizao comercial, poderia consistir nas instalaes fsicas (prdio do escritrio, fbrica etc.), nos guardas e outros elementos da segurana que impedem intruses no desejadas. - O ingestor, que introduz matria-energia atravs dos limites do sistema a partir do seu ambiente. Em uma organizao comercial, pode ser representado pelo departamento de recebimentos ou de compras, que traz produtos in natura, material de escritrio e coisas afins. Pode ser constitudo tambm pelo departamento de entrada de pedidos, que recebe pedidos verbais e escritos para os produtos e servios da organizao. - O distribuidor, que transporta entradas de fora do sistema ou sadas dos subsistemas em torno do sistema para cada componente. Em uma organizao comercial, podem ser as linhas telefnicas, o correio eletrnico, os mensageiros, transportadoras e vrios outros mecanismos. - O conversor, que modifica certas entradas do sistema em formas mais adequadas para os processos desse sistema em particular. Numa organizao comercial poderia ser a alterao das unidades de volume e peso para atender a operao de produo. - O produtor, que forma associaes estveis que garantem, durante significativos perodos entre entradas de matria-energia no sistema ou entre as sadas do conversor, o material sintetizado para o crescimento, reparo dos danos ou substituio dos componentes do sistema, ou destinado ao fornecimento de energia para movimentar ou compor as sadas de produtos ou informaes de mercado para seu sistema de nvel superior. - O subsistema de armazenamento de matria-energia, que conserva no sistema, por diferentes perodos de tempo, depsitos de vrios tipos de matria-energia. - O extravasor, que envia matria-energia para fora do sistema sob a forma de produtos e resduos. - O motor, que move o sistema ou setores dele em relao a uma parte do ambiente ou todo ele ou move componentes relativamente um ao outro. - O suportador, que mantm o correto relacionamento espacial entre os componentes do sistema, de modo que eles possam interagir sem vantagens uns sobre os outros ou sem interferncias fsicas. - O transdutor de entrada, que traz marcadores com informaes para o sistema, modificando-os para outras formas de matria-energia adequadas para transmisso em seu interior. - O transdutor interno, que recebe, de outros subsistemas ou componentes do sistema, marcadores com informaes sobre alteraes importantes nesses subsistemas ou componentes,

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    modificando-os para outras formas de matria-energia que possam ser transmitidas em seu interior. - O canal e a rede, que se compem de uma nica via no espao fsico ou de mltiplas vias interligadas, pelas quais os marcadores com informaes so transmitidos para todas as partes do sistema. - O decodificador, que modifica o cdigo de entrada de informaes para ele, por intermdio do transdutor de entrada ou do transdutor interno, em cdigo privativo que pode ser utilizado internamente pelo sistema. - O associador, que executa o primeiro estgio do processo de aprendizado, formando associaes durveis entre os itens de informao no sistema. - A memria, que executa o segundo estgio do processo de aprendizado, armazenando