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Condies Desumanas e Superlotao: O caos do sistemapenitencirio Brasileiro
Csar Lopes CRUZ1Srgio Tibiri AMARAL
RESUMO: Neste artigo abordamos a atual situao dos presdios brasileiros,mostrando primeiramente dois exemplos, ambos do estado do Esprito Santo, umadelegacia transformada em presdio, no meio do municpio de Vila Velha, na qualtem capacidade para 36 presos e contava com 300 homens, violando os direitoshumanos. O outro exemplo de atentado dignidade do ser humano so as temidasprises containers, usadas no municpio de Serra-ES, superlotadas e imundas. Osdois exemplos foram retirados do documentrio exibido pela rede Record deteleviso com o nome de Presdios: longe da dignidade, que ganham os jornais
impressos. Fizemos uma viso geral das condies das prises brasileiras,mostrando que precisa melhorar muito, pois existem muitas prises em quepresidirios esto em condies inimaginveis. Por fim tentamos dar algumassolues, que exigem muitos esforos, contudo totalmente possveis e que pelomenos iria desafogando aos poucos esse sistema j falido.
Palavras-chave: Sistema penitencirio. Superlotao. Pssimas condies.Direitos Humanos. Dignidade da Pessoa Humana.
1 INTRODUO
Logo depois do documentrio produzido pela Rede Record de
Televiso exibido no dia 08\03\2010, com titulo: Presdios, longe da dignidade,
buscou-se fazer uma abordagem sobre as condies dos presdios dentro dos
direitos humanos. O documento mostrou que a situao das penitenciarias
capixabas cruel e atentatria dignidade da pessoa humana, o que trouxemotivao para a busca do artigo acadmico. H uma dificuldade sobre a produo,
os dados coletados so oriundos na reflexo sobre o tema como tambm dos relatos
televisivos, pesquisou-se nos livros de direitos penal, direito penitencirio e da
legislao. Percebeu-se que a falncia do sistema penitencirio no exclusividade
do Esprito Santo, todos os relatos so graves. O problema existe em todo o Brasil,
com graves violaes.
1 Discente do 1 ano do curso de direito das Faculdades Integradas Antonio Eufrsio de Toledo dePresidente Prudente.
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Procurou-se dar um panorama das condies de algumas prises e
discutir as formas de resolver ou pelos menos amenizar os problemas, respeitando
as condies mnimas estabelecidas pelos direitos humanos. E com toda certeza,
esse artigo ir mostrar explicitamente que muitas situaes poderiam ser evitadas,
como a maior rebelio j vista no estado de So Paulo, na qual o PCC uniu 29
presdios quase simultaneamente. Bastaria apenas nossas autoridades mostrarem
mais preocupao com nosso sistema penitencirio.
2 DESENVOLVIMENTO
INSTALAES PRECRIAS
Busca-se fornecer um relato sobre o contedo do programa televisivo,
que denunciou s violaes dos direitos humanos dos presos. Como fica patente, os
locais so amontoados de presos, que no cumprem a funo de recuperar ou
mesmo de oferecer as mnimas condies na busca de ressocializao. Do jeito
que eles tratam nis aqui, humilhando nis, como eles querem que a gente saiabom daqui? Nis sai daqui pior, porque aqui nis somos tratado igual cachorro,
a alguns querem descontar na sociedade. Essa a fala de um presidirio do
presdio de Vila Velha, Esprito Santo, quando indagado pela jornalista do programa
de TV Reprter Record sobre as condies que vivia.
O programa jornalstico mostra mais. A delegacia de Vila Velha, que foi
transformada em presdio, com capacidade para 36 presos, atualmente conta com
300 homens e apenas um banheiro funcionando. A cela esta to lotada que acabasendo impossvel os presos se mexerem, muitas vezes as necessidades fisiolgicas
dos que esto longe do banheiro so feitas nas embalagens que vem o almoo.
necessrio revezamento para dormirem, pois eles no conseguem ficar todos
deitados ao mesmo tempo. Uma soluo encontrada por eles foi fazer na parte
superior um amontoado de redes para dormir. No existem janelas, o sol nunca
visto; a nica ventilao um ventilador fixado na parede do corredor, que diga-se
de passagem estava imundo.
Higiene pessoal no existe, banho muito menos, furnculo comum
entre eles (inclusive com grande incidncia nos rgos genitais), porm muitos se
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queixavam de no terem recebido medicao. No existe separao dos presos,
condenados dividem o espao j limitado com homens ainda aguardando
julgamento.
Em Vila Velha os presos reinam; os policias civis, que fizeram concurso
publico e se especializaram em investigar crimes, passam o dia inteiro cuidando de
presidirios. No possuem controle nenhum sobre eles, dentro das celas impera a
vontade dos presos. visvel marcas de tiros nas paredes, os policiais argumentam
que a nica maneira de afastar os presos quando necessitam entrar na cela.
No municpio de Serra, ainda no Esprito Santo, existe o complexo de
Novo Horizonte, outro exemplo de enorme desrespeito a pessoa humana. Para
tentar resolver o problema da superlotao o governo do Esprito Santo, construiuem carter provisrio prises containers. O problema que esse carter provisrio
durou muito tempo, assim, aconteceu o previsvel, eles tambm se encheram!
Impossvel de se imaginar como viver nessas celas metlicas no vero,
quando temperaturas atingem facilmente 35C. As paredes literalmente queimavam,
chegava a ser impossvel encostar nas paredes. Era apenas um banheiro para cada
20 homens, o esgoto dos presidirios era deixado a cu aberto, o lixo que eles
produziam raramente era recolhido, assim ficava se acumulando entorno docontainer. A quantidade de ratos era incrvel, muitos mesmo! O cheiro era intragvel,
uma mistura de urina com fezes humana, como era descrito pelos presos,
impossvel de definir. Esse presdio s foi desativado no final de 2009, 4 meses aps
sua interdio. Os dois exemplos citados acima foram retirados do documentrio
citado na bibliografia.
GRAVES VIOLAES DOS DIREITOS HUMANOS
Infelizmente essas duas cadeias no Esprito Santo no so exceo no
Brasil, muito pelo contrrio; pois bem essa a realidade. Para mostrar outro
exemplo, quem no se lembra da obra Estao Carandiru, do mdico Drazio
Varella, que posteriormente foi adaptado em filme e livro. L a situao no era
muito diferente da descrita acima.
Quando isto acontece, esto sendo afrontados: Artigo 5 da CF,
incisos:III - ningum ser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante;
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No de hoje que o sistema prisional do nosso pas est nessa
situao, temos problemas desde nossa origem. Quando ainda ramos colnia, em
quem prises ficavam no trreo das cmaras municipais j tnhamos problemas,
como as pssimas condies oferecidas. Passamos pelo imprio na mesma
situao, entramos na era da republica, passamos 15 anos em um regime ditatorial e
ainda um grande perodo sob o regime militar. Contudo, nenhum deles conseguiu
uma alternativa para pelo menos amenizar todas as falhas existentes nas prises do
Brasil.
A pena privativa de liberdade teve sua origem na revoluo industrial e
que seu objetivo foi e eminentemente utilitrio, ainda que o discurso ideolgico
tenha sido humanitrio. Para isso, se faz indispensvel o respeito norma comrigidez em nome do princpio da legalidade.
J estamos no sculo XXI, temos uma constituio que proporciona
amplos direitos para os presidirios: artigo 5 inciso XLIX assegurado aos presos o
respeito integridade fsica e moral; no inciso XLIII: diz que a pena deve ser
cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a
idade e o sexo do apenado.
E ainda como exemplo a lei 7210/84 que no seu artigo 84 diz quepresos condenados devem ser separados de provisrios. Basta lembrar dos
exemplos das penitenciarias citadas acima, fica explicito que essas leis so
completamente violadas.
A verdade que nossas penitencirias no esto recuperando
ningum. Pelo contrrio, esto fazendo com que pessoas que passam um tempo
nessa situao, quando entram em liberdade, acabam voltando para a vida do
crime. Esses presdios ou cadeias so verdadeiros depsitos humanos, na qual aquantidade s aumenta. Em um local na qual pessoas no conseguem dormir
tranquilamente, passam grande parte do tempo sem fazer nada em um ambiente
sem ventilao alguma, sem a luz natural; nessas condies a pessoa levada ao
definhamento fsico e mental.
O sistema penitencirio conta com; como por exemplo as prises de
segurana mxima, na qual so destinadas a presos de altssima periculosidade;
no so superlotadas e conseguem cumprir seu papel. O restante das prises esta
em estado de calamidade. O chavo de que a cadeia uma legtima universidade
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do crime totalmente verdadeira, pois elas no esto oferecendo nem o mnimo de
condies de vida para o encarcerado.
A falta de estrutura fsica facilmente perceptvel, temos um dficit de
vagas crescente. Muitas vezes faltam casas para cumprimento do regime semi-
aberto, falta vagas em colnias agrcolas. Assim ocorre que todos esses presos
acabam direcionados para penitenciarias, s inflando ainda mais um sistema que j
est falido.
fcil entender em parte a atitude dos presidirios quando se conhece
um pouco do sistema. Uma pessoa que por problemas sociais, falta de condies de
sobrevivncia, ou algum outro motivo comete um crime, que o condena pena
privativa de liberdade. Chega penitenciaria saudvel, depois de um tempo essapessoa estar dilacerada, pois vivera em um ambiente propcio para contgio de
doenas, isso unido a m alimentao, descaso a higiene pessoal, sedentarismo,
violncia, perigo de ser violentado sexualmente a todo momento, caso no conte
com a proteo de algum dos chefes. No vejo como ser possvel caracterizar o
psicolgico dessa pessoa nessas condies, fora que fisicamente com certeza essa
pessoa estar aniquilada.
3 CONCLUSO
Lembrem-se dos presos como se vocs estivessem na priso com
eles. Palavras do apstolo Paulo de Tarso, na carta aos Hebreus. Falo com total
tranquilidade que estamos longe disso. Dados de 2008 dizem que temos
aproximadamente 440 mil pessoas presas em todo o Pas, contudo temos um dficit
de quase 200 mil vagas, ou seja, estamos trabalhando com quase o dobro de nossa
capacidade.O jus puniendido Estado deve ser exercido dentro do respeito aos
direitos humanos.
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fundamental a construo de novos presdios, pois alm da demanda
s aumentar, a forma consolidada de se punir modernamente. No se pode pensar
que pode haver recuperao se no h condies mnimas de higiene.
A pena privativa de liberdade a mais empregada, mas h
necessidade de humanizar os presdios. Por isso precisamos de investimentos
macios no sistema penitencirio. Uma alternativa para curto prazo deixar a pena
privativa de liberdade para os realmente perigosos. Para delitos mais leves, colocar-
se em pratica as penas alternativas, que por ventura j existem, s precisam ser
usadas com mais ateno e freqncia.
Alm de melhorar os locais, a sociedade precisa discutir a necessidade
de deixar em um presdio um ru primrio com pena no seja superior a oito anos eque no delito no houve grave ameaa a pessoa. Pode-se tranquilamente aplicar a
liberdade assistida, multa, prestaes de servios comunidade.
Para os que realmente necessitam a privativa de liberdade, devemos
oferecer s mninas condies de instalao fsica. Alm disso, deve haver
assistncia jurdica eficiente, estudo obrigatrio e possibilidade de trabalho, o que
deve facilitar na ressocializao.
A alimentao deve ser adequada, atualmente at j se discute odireito de voto para cerca de 200 mil presos.
Para que essas condies se concretizem necessrio dinheiro, mas
tambm uma poltica carcerria que respeite os direitos humanos e no viole a
dignidade do ser humano. O crcere no deve ser um depsito de presos, mas um
local para punio e reabilitao; que permita o cumprimento da pena com dignidade
e com chances do indivduo retornar ao convcio social.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil.Braslia: Senado, 1988.
CARVALHO, Luis Francisco. A Priso. So Paulo Publifolha, 2002.
VARELA, Druzio. Estao Carandiru. So Paulo. Companhia das Letras.1999.
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DOTTI, Ren Ariel.Violncia e Criminalidade. Propostas de soluo.(organizador: Damsio Evangelista de Jesus) Rio de Janeiro: 1980.
ALBERGARIA, Jason. Manual de Direito Penitencirio, So Paulo, Ed. Aide. -
1998.
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e Das Penas. So Paulo: RT, 1999.
BLIBIA SAGRADA. Carta ao Hebreus:13,3
PRESDIOS: LONGE DA DIGNIDADE, [registro vdeo via internet], realizao:programa Reprter Record, da emissora Record, 2010