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    Os modelos de mediao: modelos latinose anglo-saxes de mediao

    Jean-Pierre Bonafe-Schmitt*

    Resumo: A mediao se desenvolve como forma de gesto deconitos em todos os campos da vida social h mais de quarentaanos nos dois lados do Atlntico. Mediante essa constatao,

    pergunta-se se a renovao da mediao no reete o surgimentode novo modo de regulao social, pois, no contexto daglobalizao do comrcio, a mediao reduzida a simplestcnica de gesto de conitos que poderia se transferir de um

    pas para outro sem se preocupar com as diferentes realidadessocioculturais. O objetivo com este artigo vericar se hum ou vrios modelos latinos e anglo-saxes de mediao. Aresposta a esse questionamento problemtica, pois no fcilcategorizar a realidade social, como tambm proceder a anlisescomparativas de sistemas sociais em face das suas diversidadese complexidades. Portanto, a anlise do fenmeno da mediaoem cada pas no pode ser feita luz da coerncia social e dacontinuidade histrica de cada sociedade. Ter conhecimentodesse efeito social signicou respeitar, na anlise, o lugar e afuno utilizados pela mediao em cada pas e seus modelosde regulao social para vericar a existncia de vrios modeloslatinos e anglo-saxes de mediao.

    *Pesquisador no GLYSI (Groupe lyonnais de sociologie industrielle) CNRS/Universidade Lumire Lyon II. Mediador e Socilogo. Pesquisador do GroupedEtude Mdiation Centre Max Weber-CNRS/Universit Lyon II E-mail:[email protected].

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    Palavras-chave: Mediao. Culturalismo. Modos alternativosde soluo de conitos. Justia restaurativa. Modelos latinos eanglo-saxes de mediao.

    1 INTRODUO

    H quarenta anos assistimos dos dois lados do Atlntico, a um

    desenvolvimento de alternativas de justia, mais particularmentede mediao, como forma de gesto dos conitos em todos oscampos da vida social: a famlia, o bairro, o trabalho, a escola...Mediante essa constatao, perguntamos se a renovao damediao no reete o surgimento de um novo modo de regulaosocial, pois, no nosso contexto de globalizao do comrcio, amediao reduzida a uma simples tcnica de gesto de conitos

    que poderia se transferir de um pas para outro sem se preocuparcom as diferentes realidades socioculturais.

    baseando-se nessa anlise em termos de sistema deregulao social que construmos nossa hiptese sobre aexistncia de um ou de vrios modelos latinos e anglo-saxesde mediao, insistindo mais particularmente sobre a noo de

    historicidade dos sistemas de regulao social. No podemosanalisar o lugar e a funo das alternativas de justia e, maisparticularmente, de mediao, sem nos referirmos ao modelo deregulao social desenvolvido pelos pases, individualmente. Aanlise do sistema de regulao social nos leva a perguntar sea realidade da mediao na Frana a mesma da dos EstadosUnidos e, consequentemente, se existe um ou mais modelos

    de mediao. A resposta a essa pergunta problemtica,pois no fcil categorizar a realidade social, como tambmproceder a anlises comparativas de sistemas sociais em face

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    das suas diversidades e complexidades: trata-se de compararo incomparvel1.

    Num plano terico-metodolgico, a anlise comparada dossistemas sociais sempre suscitou controvrsias entre os defensoresdas abordagens universalistas e culturalistas. O fenmenoda globalizao s fez acentuar essa polmica com a tese daconvergncia das sociedades em razo da globalizao docomrcio, sustentada pelos universalistas ou, ao contrrio, a teseda especicidade e da pesquisa identitria para os culturalistas2.

    Para sair dessa oposio binria, tratamos, nos meus primeirostrabalhos, da hiptese da existncia de um efeito social defendidopela equipe do LEST de Aix-en-Provence3.

    Dividimos a ideia de que a anlise do fenmeno da mediaoem cada pas no pode ser feita luz da coerncia social e dacontinuidade histrica de cada sociedade. por essa razo que

    falar de modelos de mediao latino e modelo anglo-saxo no suciente, pois no existe um s, mas modelos latinos e anglo-saxes de mediao4. Ter conhecimento desse efeito socialsignicava respeitar, na anlise, o lugar e a funo utilizadospela mediao em cada pas e seus modelos de regulao social.Essa constatao nos fez indagar sobre a existncia ou no deum modelo latino, ou de modelos latinos que se oporiam aos

    1Cf. MAURICE, M. et al. Anlise social revisitada: Laboratrio de Economia ede Sociologia do Trabalho (LEST). In: CENTRO NACIONAL DE PESQUISACIENTFICA (CNRS). Seminrio LEST 98/8, set. 1998. Disponvel em: .Acesso em: 10 dez. 2012.

    2Cf. MAURICE et al., 1988.3Cf. MAURICE M.; SELLIER, F.; SILVESTRE J-J. Poltica de educao e

    organizao industrial na Frana e na Alemanha. Paris: PUF, 1982.4Trata-se de uma hiptese que procuramos vericar no mbito de nossaspesquisas e conduzidas pelo Grupo de Estudo de Mediao do Centro MaxWeber I/CNRS Universidade de Lyon II.

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    modelos anglo-saxes de mediao. Optamos por empregaro termo no plural, pois a mediao um fenmeno mltiplo e

    no chamado mundo latino existem diferenas notveis entrea Frana, a Itlia, a Espanha e Portugal. Da mesma forma queno se pode colocar no mesmo plano do mundo anglo-saxo osEstados Unidos, o Canad, a Gr-Bretanha, a ustria. Estou cadavez mais convencido de que as formas e o desenvolvimento damediao nos diferentes pases esto diretamente inuenciadospelos sistemas de regulao social.

    2 CONVERGNCIAS: O TEMPO DASHETERODOXIAS

    O desenvolvimento da mediao feito num contextoparadoxal, uma vez que a maneira de resolver os conitosbaseia-se, em parte, na promoo da oralidade, nas trocas entreas partes e numa sociedade caracterizada pela hegemonia daescrita. Por outro lado, a mediao visa a uma forma de equidade procura de solues, numa sociedade cada vez mais juridicizadae litigiosa. Enm, ela contribui para questionar uma forma deinterveno e de prossionalizao num mundo dominado pelosespecialistas.

    2.1 Contexto comum de crise dos mecanismos deregulao social

    A renovao da mediao nos dois lados do Atlntico foifeita num contexto em que existiam divergncias nos mecanismostradicionais de regulao social. A crise da instituio judiciria

    foi a mais ressaltada como uma das causas do desenvolvimento dealternativas da justia, contemplando, tambm, prazos excessivosde procedimentos que congestionaram a funo das jurisdies,

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    o custo da justia e a complexidade dos procedimentos5. Se incontestvel que a mediao foi originariamente apresentada como

    alternativa justia, seu desenvolvimento em todos os campos davida social (trabalho, famlia, escola, sade...) demonstra queela no pode ser reduzida a uma simples tcnica de gesto dosconitos, mas representa um novo modelo de regulao social.

    O desenvolvimento da mediao em todos os campos da vidasocial tambm uma constatao da crise das estruturas tradicionaisde resoluo dos conitos, uma vez que nossas sociedades sofreram

    profundas mudanas econmicas, sociais e culturais ao longo dessesltimos dez anos. Essas mudanas tiveram consequncias sobrea sociabilidade, mas no podemos ignorar o papel do Estado noprocesso de espoliao das solidariedades primrias em prol de umasociabilidade estatal, por meio da poltica do Estado-Providncia6.Essa constatao verdadeira, principalmente para a Frana, pois

    a inltrao do Estado em todos os poros da vida social contribuiupara recolocar em pauta as estruturas intermedirias entre o Estado ea sociedade civil, e isso explica por que um bom nmero de litgiosera regulado pela famlia, e os moradores do bairro tinham comonicas interlocutoras a polcia e a justia7. Nos Estados Unidos, ondea relevncia do welfare state menos forte que na Frana, em razode nosso centralismo, a situao no melhor, como testemunha

    a desagregao da sociedade americana em certos bairros, ondese registram fenmenos da violncia e da desintegrao do meiosocial.

    Esses fenmenos de desagregao das sociabilidades tradi-cionais so, tambm, consequncia do processo de individualizao

    5

    Cf. BONAFE-SCHMITT, J-P.A mediao: uma justia amena. Paris: Syros-alternatives, 1992.6Cf. EWALD F.Estado e providncia. Paris: Bernard Grasset, 1986.7Cf. BONAFE-SCHMITT, 1992.

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    de nossas sociedades modernas ou da relevncia do grupo, querfamiliar, quer prossional, da vizinhana... no tm mais efeito na

    internalizao de normas pelos indivduos. O colapso das grandesideologias polticas ou de crenas religiosas contribuiu, tambm,para a reutilizao de formas antigas de socializao, como parao controle social, acentuando-se, assim, a fragmentao de nossassociedades. Dos dois lados do Atlntico, os fenmenos migratriosampliaram os problemas de recomposio do lao social e daregularizao dos conitos.

    Nos bairros desfavorecidos das grandes metrpoles francesase americanas que se pode comparar melhor o fracasso daspolticas tradicionais de regularizao dos conitos conduzidospelos Estados, mesmo com a proliferao de estruturas espe-cializadas, que vo dos assistentes sociais setoriais at oseducadores, passando pelos animadores de centros sociais, alm dapolcia e da justia8. Essa superposio de instituies, que agemmais frequentemente no mesmo bairro sem nenhuma coordenao,no impediu as exploses sociais, como podemos constatar aolongo desses ltimos anos, em Los ngeles ou em Minguettes emVnissieux. Compreendemos que no aumentando o nmero deassistentes sociais, de magistrados e de policiais que se resolvera desorganizao social.

    Essa inltrao do Estado em todos os campos da vida socialest acompanhada, tambm, de uma juridicizao crescente dasrelaes sociais, com seu corolrio, a judiciarizao dos modosde regulao dos conitos. nos Estados Unidos, principalmente,que esses fenmenos de juridicizao ou judiciarizao so maisdesenvolvidos, como testemunha o crescimento das aes jurdicasno conjunto das jurisdies. Essa juridicizao e judiciarizao dasrelaes sociais atingem o conjunto da sociedade, compreendendo

    8Cf. BONAFE-SCHMITT, 1992.

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    domnios at aqui preservados, como os da sade, com o desaoda responsabilidade dos mdicos e dos hospitais; e escolar, com o

    crescimento dos recursos contra decises dos conselhos de classe(contestao da repetio e da orientao escolar...) e das notasatribudas pelo corpo de professores.

    O fenmeno de juridicizao ou judiciarizao das relaessociais foi favorecido por uma srie de fatores, como o recursoao class actionou, ainda, ao desenvolvimento dos seguros deproteo jurdica, que constituem um verdadeiro mercado em

    constante crescimento.

    Na Frana, os fenmenos de juridicizao ou judiciarizaoso apresentados como efeitos perversos da americanizaoda nossa sociedade, mas apresent-los apenas sob esse prisma desconhecer que so consequncia da fragmentao, daindividualizao de nossas sociedades e, tambm, uma forma

    de mercantilizao das relaes sociais. Sobre essa questo,J. Habermas apontou que nossas sociedades modernas eramcaracterizadas por uma inflao de textos jurdicos e, maisparticularmente, por uma extenso do direito com a juridicizaode realidades sociais, que eram at esse momento reguladas demaneira informal9. Esse fenmeno de juridicizao tambmaumentou com a tendncia da mercantilizao nas relaes

    sociais, isto , a invaso da lgica das relaes de mercado,que anteriormente enfatizavam a solidariedade, a ajuda mtua.Essa intruso da lgica de mercado no campo social explica, emparte, a juridicizao crescente das nossas sociedades, com odesenvolvimento das companhias de seguros10. O fenmeno demonetizao das relaes sociais foi denunciado por J. Habermas,

    9HABERMAS J. Teoria da ao comunicativa: por uma crtica da razofuncionalista. Paris: Fayard, 1981. t. 2, p. 393.

    10HABERMAS, 1981, p. 393.

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    que considera ter o Estado social, pelo seu intervencionismo.estendido [...] uma rede de relaes clientelistas nas esferas

    da vida privada, e que a acentuao desse processo tem comoconsequncias aumentar [...] os efeitos patolgicos indiretos daextenso do direito que signica simultaneamente burocratizaoe monetarizao dos campos centrais da vida11. O dilema daextenso do direito sob o efeito da interveno do Estado queela suscita [...] a desintegrao dos contextos vividos, os quaisso desvinculados mediante uma interveno social de natureza

    jurdica, dos mecanismos de intercompreenso, que coordenam aao convertendo-a em meios como o dinheiro e o poder12.

    nesse contexto paradoxal de juridicizao, de judiciarizao,de mercantilizao das relaes sociais, de crise dos mecanismostradicionais, de regulao dos conitos nas sociedades, de ambosos lados do Atlntico, que emergiram novos processos de regulaodos conitos. Estes ltimos foram frequentemente apresentadoscomo uma privatizao da justia, uma violao do estatuto deproteo do direito, integrando-se numa corrente liberal quetem mais conana no mercado que no Estado para a regulaodos conitos. Achamos que essas crticas nada justicam, sendoconveniente superar os falsos problemas do Estado. No aumentando o nmero de jurisdies ou de efetivos judicirios que

    os problemas judiciais sero resolvidos. Tambm no deixandopara o mercado a privatizao dos meios de regulao dos conitosque encontraremos uma soluo adequada. Acreditamos que asada para as crises sociais depende menos do Estado e do mercado,isto , passa menos pela criao de novos modos de regulao,por meio de estruturas hbridas/intermedirias, valendo-se menosdo Estado e do mercado.

    11HABERMAS, 1981, p. 400.12HABERMAS, 1981, p. 401.

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    2.2 Aparecimento de novos confitos

    Sem pretender que os conitos mudem de natureza, assistimosao surgimento, nesses ltimos anos, de novas formas de conitosligados a profundas mudanas de nossa sociedade e globalizaodo comrcio. o caso da proliferao de conitos relacionadoss relaes trabalhistas (assdio moral, sexual...), s condies detrabalho (distrbios osteomusculares, estresse...), sem se esquecerdos problemas relacionados a deslocamentos (licenas bolsistas,

    ocupao de fbricas...). Tambm no campo da famlia existemconitos relacionados ao estabelecimento de novas formas de gruposfamiliares (famlias recompostas, famlias homoparentais...) ou aindaconitos relativos educao da criana no caso de casamento entrepessoas com nacionalidades diferentes. Outro tipo de conito queest cristalizado, e que denominamos conitos ligados ao gnero, aquele por parte das mulheres (violncias conjugais, assdio

    sexual, diviso das tarefas domsticas, reconhecimento da igualdadeprossional, poltica...) ou por parte dos homossexuais (violnciashomofbicas, reconhecimento do casamento entregays...). Sobreesse tipo de conito relacionado ao gnero, destacamos que ospases anglo-saxes deram maior ateno ao fato do que os paseslatinos. Essa diferena se explica, como j indicado, em virtude do

    cuidado que aqueles pases dispensam questo da diversidadesocial e cultural.

    Encontramos um fenmeno similar no campo religioso, noqual o desenvolvimento de prticas religiosas, como a religiomuulmana, que suscitou diculdades tanto nos pases latinosquanto nos anglo-saxes. Podemos citar o emblemtico conitoligado ao uso do vu nos espaos pblicos na Frana destacando

    a diviso entre espaos pblicos e privados como forma demanifestar a identidade religiosa. Em outro plano, a reivindicaodo direito de receber produtos que atendam aos seus requisitos

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    religiosos em cantinas escolares ou em outros estabelecimentos,o que suscitou numerosos problemas. Acontece o mesmo fato

    com relao igualdade entre as religies no que diz respeito presena de representantes religiosos em certos rgos pblicos,como o exrcito, as prises...

    No campo da sade v-se o desenvolvimento de novosconitos relacionados perda de conana nos prossionaisde sade pelos pacientes, resultando em judiciarizao doconito contra os mdicos, seguida de ao de indenizao.

    Essa degradao das relaes acompanhada de fenmenos deviolncia, notadamente nos servios de urgncia dos hospitais,com o crescimento do nmero de agresses contra o pessoal daemergncia.

    Acontece o mesmo no meio escolar, onde se constata oaumento de violncia nos colgios, entre alunos, entre alunose adultos ou entre pais de alunos e professores. O contedo dosprogramas, como os mtodos pedaggicos, suscita novos conitos,como, ultimamente, a polmica sobre os benefcios da colonizaofrancesa, a questo do gnero, a educao sexual...

    O meio ambiente constitui um novo campo de conitoscom as novas polticas de desenvolvimento sustentvel, com asconsequncias do aquecimento global em nvel macro, concernente

    gesto da gua, dos recursos naturais, fauna e ora, epolticas de infraestrutura de transportes (estradas, rede ferroviria,aeroporto...). Tambm ao nvel micro a oposio criao deaterros sanitrios, loteamentos, planos de urbanismo... Esse tipode conito se desenvolve cada vez mais tanto na Frana como nosEstados Unidos, conforme recentemente noticiado a respeito daexplorao do gs de xisto.

    Enm, a multiplicao de motins urbanos ao longo dosdez ltimos anos, tanto no continente europeu como no norteamericano, ilustra as diculdades dos Estados para gerir esses

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    novos conitos, mas, sobretudo, a crise de modelos de integraosocial universalista ou diferencialista. Essa constatao foi bem

    analisada por J. Habermas, que considera que os conitos tocamesferas de reproduo material, como os do trabalho, que perderamsua centralidade na sociedade, substitudos por conitos quesurgiram nas [...] esferas da reproduo cultural, de integraosocial e da socializao13. As instituies que solucionam osconitos encontram cada vez mais diculdades para regularesses novos conitos, pois eles no nascem [...] de problemas de

    redistribuio, mas de questes que tocam gramtica das formasde vida14. Novos problemas so criados quanto qualidade devida, igualdade de direitos, realizao pessoal, identidadesocial15. Esses conitos traduzem, tambm, formas de resistncias tentativas de colonizao do mundo da vida, retomando aexpresso de Habermas, que se refere s consequncias de uma

    existncia mais coletiva e mais complexa (litgios de vizinhos,familiares, intercomunidades, de consumo, ambientais). Suaregulao necessita se ajustar aos modos de resoluo de conitosmais consensuais, baseados na conciliao e na comunicao, e nona sano ou na indenizao. No se trata de resolver um problemaproclamando quem tem ou no razo, [...] mas resolv-lo para queas pessoas envolvidas possam continuar a viver juntas16.

    2.3 Desenvolvimento das mediaes

    Alm das diferenas terminolgicas e cronolgicas,constatamos, em nossas pesquisas, que as similaridades entre a

    13HABERMAS, 1981, p. 390.14HABERMAS, 1981, p. 432.15HABERMAS, 1981, p. 432.16Cf. BONAFE-SCHMITT, 1992.

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    Frana e os Estados Unidos, com relao ao fortalecimento damediao na busca de alternativas da justia, foram feitas em

    vrias etapas.A primeira, remonta ao incio da dcada de 1970, e,

    contrariamente s ideias divulgadas, apoiamos a de que a mediaono foi importada dos Estados Unidos e que as premissas de seudesenvolvimento j existiam na Frana. A anlise da literatura dapoca mostra que na Frana, como tambm nos Estados Unidos,falava-se mais de justia informal (informal justice) que de

    mediao para qualicar essas alternativas da justia, que tinhamtomado forma de conciliadores na Frana, e de NeighborhoodJustice Centersnos Estados Unidos17. Estamos convencidos de queos conciliadores teriam sido chamados de mediadores se tivessemsido criados hoje. Na poca, a criao dessas alternativas pelosEstados foi palco de crticas dos prossionais e pesquisadores deambos os lados do Atlntico, que as denunciavam como formas

    de justia de segunda classe ou de justia dos pobres18.Nos meados da dcada de 1980, entramos na segunda etapa

    de fortalecimento da mediao, com o aparecimento das primeirasexperincias de mediao nos bairros, nas reas familiar e penal.Durante esses anos, houve um consenso sobre o conceito demediao, o qual foi denido como uma forma no judicial de

    17Cf. BONAFE-SCHMITT, J-P. A parte e o papel utilizado pelos modos formaise informais de regulamento dos litgios no desenvolvimento de um pluralismo

    jurdico: estudo comparativo.Direito e Sociedade, Frana-USA, n. 6, 1987.18Cf. ABEL, R-L. Conservative conict and the reproduction of capitalism:

    the role of informal justice. International Journal of the Sociology of Law,Portsmouth, UK, v. 9, 1981, p. 245-26; HARRINGTON C.Shadow justice:the ideology ans institutionalization dalterantives to court. Connecticut:Greenwood Press, 1985; TRUBEK D. M. Os perodos crticos na histria recente

    da teoria de acesso justia: o sujeito de direito em busca de sua autonomia.Anais de Vaucresson[S.l.], n. 29, jul./dez.. 1988., p. 45-65. Disponvel em:.Acesso em: 12 dez. 2012.

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    resoluo de litgios, como tambm a conciliao e a arbitragem.Nessa poca, a mediao era denida como uma alternativa de justia,

    mas ela ainda no estava habilitada pelas instituies judicirias,mas, ao longo dos anos, a mediao desenvolveu-se em todos oscampos sociais com a mediao escolar, intercultural, empresarial.A partir desse desenvolvimento, assistimos, progressivamente, aum deslizamento semntico, particularmente nos Estados Unidos,onde agora se fala mais em Alternative Dispute Resolution (ADR)ou Modos Alternativos de Resoluo de Conitos (MARC) que de

    alternativas relacionadas justia19

    . Mas em meio a esses conitos,a mediao tomou um lugar cada vez mais dominante, a ponto dena Frana o termo mediao ser utilizado de maneira extensivapara designar o conjunto de modos alternativos de resoluo deconitos, enquanto nos Estados Unidos ela representava apenasuma forma de ADR. Essa falta de rigor na Frana provocou umaconfuso conceitual, como ilustram a criao de Casas de Justia e

    de Direito e a origem da ao dos membros do Ministrio Pblico(magistrats du Parquet), que foram qualicadas de mediao.Foi preciso esperar a publicao de uma circular para clarear asituao, pois ela deniu que as misses de mediao no estavamsob a competncia dos magistrados nem de outros prossionais dodireito, mas dos mediadores cujo estatuto foi determinado nessemesmo texto20.

    O fortalecimento da mediao foi denido ao longo daterceira etapa, com sua institucionalizao a partir dos meados dadcada de 1990, com a criao de organizaes de mediadores,

    19Cf. GOLBERG, S.; GREEN, E.; SANDER, F.Dispute resolution. Boston: LittleBrown and Company, 1985; BARRET, J-T.; BARRET, J.A history of alterantivedispute resolution: the story of a political, social and cultural movement.San

    Francisco: Jossey-Bass, 2004. 336 p.20Cf. BONAFE-SCHMITT, J-P. A mediao penal na Frana e nos Estados

    Unidos. Paris: LGDJ, 2010, 199 p. (Col. Classics); FAGET, J. A mediao:ensaio de poltica penal. Toulouse: rs, 1997. 2010 p. (Col. Trajets)

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    o desenvolvimento de formaes de associaes e a publicaode certo nmero de textos que enquadram essa nova funo.

    incontestvel que a criao de grandes organizaes, como oInstituto Nacional de Ajuda s Vtimas da Mediao (INAVEM),para a mediao penal, a Associao para a Mediao Familiar(APMF) e a Federao Nacional da Mediao Familiar(FENAMEF), em matria de mediao familiar, favoreceu ainstitucionalizao da mediao. Podemos citar outras estruturascom vocao nacional como a Frana-Mediao, no campo da

    mediao social, ou a Rede de Mediadores de Empresas (RME).Aconteceu o mesmo nos Estados Unidos, com a criao

    de instituies de cunho federal, como a Academy ofFamilyMediators (AFM), uma das organizaes mais bem estruturadasno campo da mediao e nos trabalhos na rea de famlia. nocampo penal que encontramos outra grande organizao, como aVictim-Offender Mediation Association (VOMA), que conseguiu,ao longo dos anos, prestgio internacional, por meio do conceitoRestorative Justice. Na mediao comunitria, a NationalAssociation for Community Mediation (NACFM) teve a funo deliderar o reagrupamento das estruturas da mediao comunitria.Enm, no campo escolar, uma meno deve ser feita NationalAssociation For Mediation in Education(NAME).

    Originalmente e de maneira similar nos dois pases, cadaorganizao, para estruturar seu setor de interveno, esforou-se por denir a mediao em funo de sua especializao, o queno contribuiu para dar uma viso comum a essa nova funo damediao. Mas, com o correr dos anos, as prticas e a representaoda mediao de algumas organizaes mediadoras evolurampara certa convergncia de pontos de vista tentando denir uma

    identidade comum aos mediadores em face dos outros prossionaisda gesto do conito, como os magistrados, os advogados, osterapeutas... Essa identidade prossional foi construda por meio

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    de programas de formao ou de textos agrupando a funo demediao. Nos Estados Unidos, o reagrupamento de organizaes

    de mediadores foi feita progressivamente, com a criao, em 2001,de uma estrutura nacional: lAssociation of Conict Resolution(ACR). Essa organizao nasceu da fuso da AFM, da ConictResolution Education Network (CREnet), do National Institutefor Dispute Resolution (NIDR) e da Society of Professionals inDispute Resolution (SPDIR). No entanto, esse agrupamento no foitotalmente legalizado porque duas grandes associaes, a VOMA

    e a NAFCM, caram fora desse processo de fuso.Na Frana, assistimos ao desenvolvimento similar de uma

    tentativa de estruturao da mediao no incio do movimento,com a criao do Centro Nacional de Mediao (CNM), que nofoi coroada de xito e cujo pblico cou marginalizado no mundoda mediao. O mesmo sucedeu com tentativas realizadas anosmais tarde, como a da Rede dos Mediadores Associados (RMA)ou a Associao Nacional de Mediadores (ANM), da FederaoNacional dos Centros de Mediao, que fracassaram, porqueessas organizaes tambm no conseguiram o apoio das maioresorganizaes como a FENAMEF, a APMF ou INAVEM21.

    A institucionalizao da mediao em ambos os lados doAtlntico foi feita, tambm, por meio de programas de formao,

    quer pelo aumento da durao do programa, quer pela formaodos alunos e evoluo dos contedos. No que diz respeito durao, principalmente por causa da iniciativa das organizaesde mediadores familiares, tanto na Frana como nos EstadosUnidos, que a durao das turmas passou de 30 horas, para mais de100 horas nos Estados Unidos, de 30 dias na Europa, com a criaodo Frum Europeu de Mediao e do diploma estatal de mediao

    21Sobre este assunto, cf. ASSOCIATION FOR CONFLICT RESOLUTION(ACR). Disponvel em: . Acesso em: 12 dez. 2012.

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    familiar, na Frana22. Se no incio as formaes eram organizadaspor instituies particulares com especializao de curta durao,

    na estrutura universitria de formaes gerais da mediao, elasforam desenvolvidas em ambos os lados do Atlntico sob a formade diplomas universitrios23.

    A institucionalizao da mediao concretizou-se, tambm,sob a forma de elaborao de cdigos de deontologia, visandoestruturar no apenas a funo de mediador, mas tambm odesdobramento do processo de mediao. Os primeiros cdigosou normas de mediao foram publicados por intermdio deorganizaes de mediadores, principalmente as de mediadoresfamiliares, como a AFM, nos Estados Unidos, ou a APMF, naFrana. Foi somente num segundo momento que os Estados,principalmente na Frana, foram solicitados a regulamentar essenovo modo de gesto de conitos, com as leis de 1993 sobre a

    mediao penal e de 1995 sobre a mediao civil. Da mesmaforma, nos Estados Unidos, em nvel Federal ou de Estados, coma Administrative Dispute Resolution Act (ADRA) de 1996.

    A partir da dcada de 1980, podemos perguntar se noentramos numa quarta etapa de desenvolvimento da mediao, aqual consagraria uma forma de hegemonia paradoxal em matriade regulao social, e no simplesmente de conitos. Por que

    uma hegemonia paradoxal? A mediao institucionalizou-se e,paradoxalmente, houve certa estagnao e certo desencanto,quando constatamos que no houve um crescimento signicativodo nmero de mediaes e que permanece um problema denanciamento de mediao. Essa hegemonia paradoxal explica-se,

    22

    Cf. SASSIER, M.A mediao familiar.Paris: Dunod, 2001, 160 p.23Existe certo nmero de diplomas universitrios cuja denominao mais frequente

    Especializao em Conict Resolution aux Etats-Unis et Especializao(master) em Mediao, na Frana.

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    em grande parte, pelo sucesso da mediao, uma vez que esseconceito est se diluindo num certo nmero de atividades, que

    no destacam mais a gesto de conitos, mas a comunicao, aeducao e a segurana, aumentando, assim, a confuso conceitual.H alguns anos, a mediao explodiu e desenvolveu novas funes,que deniram a comunicao como adultos-transmissores (adultes-relais), os mediadores interculturais... que tiveram como objetivofacilitar as relaes entre as famlias de origem estrangeira eas instituies, como os organismos de sade (hospitais...) e

    os sociais (abono de fundos familiares [caisses dallocationsfamiliales]...)24. Esse fenmeno no se limita Frana; nosEstados Unidos, tambm, ocorreu uma diluio do conceito demediao, pois um nmero de pessoas trabalhando no consensusbuildingno collaboration, no colaborative Law, nopeacemaking...reivindicam a atividade de mediao25.

    O desenvolvimento dessas novas funes nos leva a perguntarse o conceito de mediao no deveria ter sido utilizado somentepara qualicar atividades ligadas gesto de conitos, de acordocom uma lgica racional, legal, em vez de seguir uma categoriaweberiana ou ser estendida a outras atividades de acordo com umalgica de racionalidade comunicativa, segundo a denio deJ. Habermas. Uma concepo mais extensiva da mediao nos

    levaria a reetir sobre a mediao no como uma simples tcnicade gesto de conitos, mas como um novo modo de regulaosocial.

    24Cf. DELCROIX, C. et al.Funes e perspectivas das femmes-relais na Frana.Paris: Agncia para o Desenvolvimento das Relaes Interculturais (ADRI),1996; BONAFE-SCHMITT, J.-P. et al. As mediaes, a mediao. Toulouse:

    rs, 1999, 302 p. (Col. Trajets); FAGET, J.Mediao: ocinas silenciosas dademocracia. Toulouse: rs, 2010. 210 p.25ADLER, P. The end of mediation. Disponvel em: .

    Acesso em: 12 dez. 2012.

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    3 DIVERGNCIAS: A EXISTNCIA DE UM EFEITOSOCIAL

    A existncia dessas convergncias no pode nos deixar esquecerde que a mediao se desenvolve em contextos histricos, sociais eculturais particulares, o que implica que uma anlise desse fenmenodeve ser feita tendo em mente o modelo de regulao social prpriode cada pas. Nossa hiptese sobre a existncia de um efeito socialnutriu nossa reexo sobre o declnio de um modelo anglo-saxo

    e de um modelo latino de mediao, assunto de que vamos trataragora, tanto no plano semntico quanto a partir da realidade dosmodelos de regulao social especca a cada pas.

    3.1 Diferenas conceituais

    A histria das alternativas justia, e mais particularmente

    da mediao, ainda est sendo construda de ambos os ladosdo Atlntico; sua escrita nos permitir compreender melhor asdiferenas e as evolues conceituais, as quais temos acompanhadonesses ltimos anos. Com efeito, a anlise comparada dos conceitosutilizados pelos pases demonstra que sua formulao e suaevoluo no so neutras, reetindo a existncia de diferentes

    modelos de mediao. As diferenas, como veremos mais frente,esto diretamente relacionadas aos sistemas de regulao socialespeccas de cada pas.

    Em primeiro lugar, sob um plano conceitual, convmsublinhar que os norte-americanos demonstraram um rigor maiorque os franceses quando utilizaram a expresso AlternativeDispute Resolution (ADR) para reagrupar os modos de gesto

    de conflitos como a mediao, a conciliao, a arbitragem,como tambm o Minitrial, o Moderated Settlement Conference,o Summary Jury Trial, como a Court Annexed Arbitration

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    Na Frana, os conceitos de MARL ou de MARC no obtiveram omesmo sucesso e se reagruparam com o nome geral de mediao,

    modos de gesto de conitos e como conciliao, negociao,consulta, facilitao...

    conveniente, tambm, interrogar sobre as diferenasterminolgicas utilizadas para denominar as instncias de mediaoentre os dois pases, que reetem, alm da simples semntica,diferenas de modelo. o caso, em matria administrativa ouorganizacional, em que os autores anglo-saxes demonstraramum grande rigor denominando Ombudsmanas instituies quechamamos de mediadoras, quer seja Mediadora da Repblica,quer do cinema, do setor pblico, de seguros, de banco... do setorprivado. Se nos referirmos ao seu funcionamento, essas instituiesse aproximam o mximo possvel de uma forma de mediao-arbitragem, que verdadeiramente da mediao26.

    No aspecto penal, o conceito de victim-offender mediation,utilizado nos pases anglo-saxes, e o da Mediao Penal, utilizadona Frana e nos pases francfonos, ilustram bem as diferenaslgicas que animam os projetos de mediao. No entanto, o termopenal existe em ingls, e os anglo-saxes poderiam denomin-lo penal mediation, mas a escolha de victim-offender mediationse insere bem na tradio sociocultural dos pases anglo-saxes e

    mais particularmente nos Estados Unidos. Nesse pas, existe umaforte tradio de interveno das comunidades na gesto da vidaquotidiana, o que explica a razo pela qual os primeiros projetosde mediao foram desenvolvidos por organismos pertencentes sociedade civil27. Na Frana,o desenvolvimento da mediao

    26

    Cf. BONAFE-SCHMITT, 1992.27Cf. UMBREIT. M.; COATES R. Victim-offender mediation: an analysis ofprograms in four states of the US. St. Paul: Center for Restorative Justice andPeacemaking, 1992.

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    penal foi feita por iniciativa de atores judiciais ou parajudiciais,em decorrncia do papel importante exercido pelo Estado nas

    relaes sociais28

    .No campo social que melhor se mede a especicidade da

    situao francesa; ao contrrio dos Estados Unidos, recusamos-nos a utilizar a noo de community mediationpara qualicar ostipos de gesto dos conitos entre as comunidades. Preferimosfalar de mediao do bairro, de mediao social ou, ainda, demediao intercultural para designar a resoluo dos conitos

    entre as comunidades. Na situao atual, a Frana teve problemaspara reconhecer a existncia de comunidades no seu territrionacional e preferiu utilizar terminologia mais neutra comomediao social ou intercultural29.

    3.2 Sistemas diferentes da tradio sociojurdica

    Alm das observaes de natureza semnticas, necessriointerrogar-se sobre as diferenas terminolgicas, pois elas traduzem,como constatamos em pesquisas anteriores, modelos de regulaosocial diferentes30. No podemos, com efeito, apreender o lugare a funo utilizada pelas diferentes formas de mediao sem terem mente o efeito social, as especicidades e as caractersticas

    relativas regulao social inerente a cada pas.Tendo em vista que a dimenso sociopoltica constitui a primeira

    varivel a ser levada em considerao, pois a anlise do fenmenoda mediao no pode se reduzir, como j havamos observado,a uma simples tcnica de gesto de conflitos, ela representa,principalmente, uma nova forma de ao, um novo modelo de

    28Cf. BONAFE-SCHMITT, 2010.29Cf. BONAFE-SCHMITT. A mediao social e penal. In: ______ et al., 2010.30Cf. BONAFE-SCHMITT,2010.

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    regulao social, implicando uma recomposio das relaesentre o Estado e a sociedade civil31. Para analisar a renovao da

    mediao, insistimos sobre a noo de historicidade dos sistemasde ao e sobre a necessidade de realocar a ao dos atores numquadro estrutural, pois pensamos que no podemos analisar o locale a funo da mediao sem nos referirmos ao modelo de regulaosocial desenvolvido pelos pases individualmente. Com efeito,existem diferenas notveis entre os pases, com sistemas de tradiosociojurdica diferentes: de um lado, os pases de roman law, como

    a Frana, marcados por uma tradio de direito escrito, e de outro,os common law, como os Estados Unidos. O sistema francs temcomo base instrumentos de regulao centralizados, funcionandopor meio de um modelo hierrquico, usando uma concepo dedireito muito regular, enquanto o sistema americano seria maisdescentralizado e contratual32. De maneira esquemtica, seramostentados a armar que os franceses tm o culto lei, enquanto osamericanos teriam o da negociao, o que explica, em grande parte,o maior desenvolvimento da mediao nesse pas com relao Frana. Uma ltima transformao dessas diferenas culturais, noplano judicirio, foi a recusa do Tribunal Constitucional (ConseilConstitutionnel) em endossar, durante um tempo, a transaopenal, enquanto o procedimento tem um grande papel nos Estados

    Unidos, por meio do plea-bargaining33

    . Num plano processual,poderamos acrescentar que o sistema penal francs ainda estmarcado por sua natureza inquisitorial, enquanto nos Estados Unidoso procedimento de natureza acusatria, e isso no signica queno podem surgir consequncias no desenrolar dos processos demediao.

    31Cf. BONAFE-SCHMITT,2010.32Cf. CROZIER, M. O mal americano. Paris: Fayard, 1980.33Cf. GOLBERG; GREEN; SANDER.1985.

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    modelos universalistas ou republicanos e diferencialistas oucomunitrios37. Na Frana, a integrao seria feita sobre uma

    base individual, por meio da noo de cidadania, enquanto nosEstados Unidos ele se produziria sobre uma base mais coletiva, ada comunidade. Essas diferenas de modelo explicam, conformej destacado, que se fala mais de community mediation nosEstados Unidos, enquanto na Frana se evoca mais a mediaodo bairro ou social. Essa integrao com base na comunidadedos Estados Unidos explica por que, nos projetos de mediao

    comunitria, os mediadores, de acordo com suas zonas de moradia,so essencialmente oriundos de comunidades de etnias negras,hispnicas, asiticas ou amerndias. Por outro lado, na Franacomea-se a perceber a existncia de mediao tipo comunitria,com a utilizao de mediadores interculturais nos projetosde mediao do bairro, reagrupando habitantes das diferentes

    comunidades.

    4 ILUSTRAES DOS MODELOS DE MEDIAO

    Para ilustrar as diferenas entre os modelos de mediaolatinos e anglo-saxes e mostrar em que esses modelos soinuenciados pelo sistema global de regulao social, destacamos

    dois sistemas particulares: a mediao nas relaes de trabalho ea mediao penal. Vamos nos deter nas relaes de trabalho, pois nesse campo que os modos no judicirios do trabalho porexemplo, a arbitragem, a conciliao e a mediao cam maisevidentes no que tange ao conjunto das relaes sociais. Na Frana,como nosEstados Unidos, a utilizao da mediao como forma

    37Cf. SCHNAPPER, D.A Frana da integrao: sociologia da nao em 1990.Paris: NRF; Gallimard, 1991; TODD, E. O destino dos imigrantes: assimilaoe segregao nas democracias ocidentais.Paris: Seuil, 1994.

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    de resoluo dos conitos nas relaes de trabalho no recente.Essa tcnica de resoluo de conitos sempre existiu e teve altos

    e baixos no que concerne aos contextos polticos e sociais.Por esse motivo enfocamos a mediao penal, pois nessa

    rea que a reflexo sobre outro modelo de justia foi maisteorizado, com base no conceito de justia restaurativa.

    4.1 A mediao nas relaes de trabalho

    A nova mediao nas relaes de trabalho na Frana e nosEstados Unidos funciona num contexto de crise das relaesprossionais dos sistemas, em razo no somente do declnio dosindicalismo, mas tambm do uso do poder hierrquico da empresa.Com efeito, no se pode ignorar o papel da mediao exercido pelosrepresentantes sindicais e o domnio das empresas no passado, noque se refere regulao dos conitos. No podemos nos esquecer,nesse ponto comum, conforme constatado nas pesquisas, de queos modelos de relaes prossionais entre a Frana e os EstadosUnidos so muito diferentes. A Frana se caracteriza por um sistemamuito centralizado com um culto lei negociada, isto , uma forteinterveno do Estado, enquanto os Estados Unidos tm um sistemamais descentralizado, com um culto negociao de empresas e

    uma vaga interveno do Estado.O conjunto desses fatores sociopolticos explica que a

    renovao da mediao, no nal da dcada de 1970, desenvolveu-se de maneira diferente na Frana e nos Estados Unidos. Nesteltimo, existe uma longa tradio de negociao e de arbitragemno regulamento dos conitos, o que explica o desenvolvimentoda mediao nas empresas. Sem retroceder muito na histria,

    podemos citar a criao, em 1947, logo aps o m da Guerrade 1939-1945, da Federal Mediation and Conciliation Service(FMCS), para prevenir as greves no setor pbico. Mas a verdadeira

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    renovao da mediao data dcada de 1970, com a integrao deprocedimento tradicional de gesto dos conitos individuais de

    trabalho nas empresas (grievance procedures), exatamente antes dafase de arbitragem38. Esse tipo de mediao foi desenvolvida coma iniciativa dos rbitros americanos, principalmente da AssociaoAmericana de rbitros.

    Para esse pas, a renovao da mediao, notadamente emmatria de resoluo de conitos individuais, se explica por meiode vrias causas. A primeira delas diz respeito aos sistemas dearbitragem, que so burocrticos, a ponto de os prazos e os custosdesse tipo de procedimento serem similares queles das jurisdiesclssicas. Na verdade, no o procedimento de reclamao queest em questo, mas sua fase nal: a arbitragem. Alm do custo,so postos em evidncia o formalismo, os prazos e o princpioda arbitragem. A segunda remonta crise do sindicalismo, que

    afeta tambm as organizaes sindicais americanas e que cobremenos de 20% dos assalariados, mediante uma conveno coletivaque prev um sistema de regulamento dos conitos(multi-stepgrievance procedure). Em terceiro lugar, muitos empregadores,buscando maior motivao para seus colaboradores e tentandoevitar a implantao de um sindicato, colocaram em funcionamentosistemas internos de regulamento de conitos39. Essa viso muito

    38Ogrievance procedureou procedimento de reclamao, para os moradoresde Quebec, um procedimento formal comportando de trs a quatro nveis,terminando, em caso de desacordo, com a interveno de um rbitro escolhidoem comum acordo entre sindicado e o empregador. O procedimento escritoe pesado porque implica discusses a cada nvel, o que aumenta os prazosde respostas, e ele pode ser oneroso, pois a arbitragem ca a cargo dasduas partes. Sobre essa questo, cf. BONAFE-SCHMITT, J-P. A criao de

    regras na empresa: um estudo comparativo: Frana-USA. In: BOUVIER, P.;KOURCHID, O. (Dir.).France-USA: les crises du travail et de la production.Paris: Mridiens-Klincksieck, 1991. 289 p.

    39Cf. GOLBERG; GREEN; SANDER, 1985.

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    gerencial da mediao no eventual, pois se na Frana essaforma de mediao ainda est engatinhando, nos Estados Unidos

    ela tem desenvolvimento signicativo.Uma das primeiras experincias de mediao foi introduzida

    no setor do bituminous coal industry, e a publicao de seusresultados favoreceu a difuso desse modo de regulamentao deconitos. O setor da indstria foi abalado por inmeras grevesselvagens e um nmero importante de negcios foi submetido aarbitragem, que onerava o custo nanceiro. A multiplicao dos

    recursos de arbitragem iria acentuar desinteresse pelo processode regulao dos conitos, o que levou as partes a experimentar agrievance mediation40. A arbitragem demarca, na realidade, umaruptura com o desenvolvimento do procedimento de reclamaes,o que, no seio da empresa, aparenta ser um verdadeiro processode negociao. O procedimento interno de resoluo de litgios uma questo das partes, toma forma de negociao e somente na

    fase da arbitragem que ela lhes escapa em favor de um terceiro,investido de poder decisrio para resolver o litgio. Para evitar aperda de controle de regulao, nesses ltimos anos numerosasempresas utilizaram a mediao antes de recorrer arbitragem41.De acordo o entendimento dos participantes da mediao, ainterveno de um elemento neutro permitiria desbloquear

    a situao e facilitar sua resoluo. Em caso de fracasso damediao, as partes seriam capazes de submeter seus conitos arbitragem.

    A renovao da mediao alm do Atlntico no se limitou grievance mediation, mas tomou outras formas, parecendo

    40BRETT, J.; GOLDBERG, S. Grievance mediation in the coal industry: eld

    experiment.Industrial Labor Relations Review, Ithaca, NY, v. 37, n. 1, p. 49,1983.41MATTHEW, R. et al. Grievance mediation: a management perspective.Arbitration Journal, v. 45, n. 3, p. 16, 1990.

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    mais atividades de mediao que de instncias de mediao42.Ao longo da dcada de 1970, vimos se multiplicar em vrias

    empresas americanas certos tipos de funes, tendo como objeto aregulao dos conitos e das relaes sociais, como as do Directorof Work Problem Counseling, Resident Manager, Director ofPersonnel Communication. Trata-se mais frequentemente decontatos (personnes-ressources) neutros que no pertencem linhahierrquica e cujas funes se aproximam mais do ombudsmanquedo mediador. Tais pessoas no tm por objeto estudar somente as

    reclamaes, mas tambm ajudar as partes a encontrar solues ede fazer recomendaes aos dirigentes das empresas43.

    No quadro de atribuies, impossvel demonstrar o conjuntode iniciativas; por tal razo nos limitaremos a apresentar somenteas da ouvidoria. Num plano semntico, convm sublinhar queos autores americanos demonstraram maior rigor terminolgico,quando no denominaram os ombudsmen de mediadores, como

    feito na Frana.

    Se os primeiros ombudsmenapareceram na dcada de 1970,sua funo desenvolveu-se na dcada de 1980. O crescimento dessainstituio foi rpido, e eles eram mais de 200 em 198744. Foi sob aliderana de algumas organizaes, como a Corporate OmbudsmanAssociated e a Ombudsman Association, que a funo estruturou-

    se, reagrupando o conjunto de pessoas que a realizam45

    . Estudosrealizados mostram que o papel do ombudsmanse aproxima dode mediador, mas com atribuies mais abrangentes. Na prtica,ele exerce papel de ouvidoria, tanto com relao aos assalariados

    42Atividades de mediao, verdadeiras instncias de mediao.43GOLBERG; GREEN; SANDER, 1985, p. 371.44

    ROWE, P. The corporate ombudsman: an overview and analysis.NegociationJournal, v. 3. n. 2, p. 139, 1987.45Cf. OMBUDSMAN ASSOCIATION. Disponvel em: . Acesso em: 15 dez. 2012.

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    quanto hierarquia, no que concerne s condies ou s relaesde trabalho. Com efeito, existe ressentimento por parte dos

    trabalhadores por no serem ouvidos; a experincia demonstraque a atividade de ouvidoria, s vezes, suciente para acalmaras frustraes, as cleras e as angstias.

    A efervescncia de iniciativas deve ter um novo lugar na crisegeneralizada dos sistemas das relaes prossionais, cuja crisedo sindicalismo apenas uma parcela. Na verdade, o mundo dotrabalho no escapa autoridade organizacional e precisa procurar

    outras formas de relao trabalhista nas empresas. O conjuntode iniciativas que vo do ombudsmanao mediador se enquadrana tentativa de instaurao de novas relaes sociais no meio daempresa.

    Na Frana, a renovao da mediao faz parte de um contextodiferente daquele dos Estados Unidos, pois os sindicatos patronais

    e o sindicato dos trabalhadores franceses, diferentemente de seushomlogos americanos, no colocaram em funcionamento sistemasautnomos de regulao de conitos, a exemplo do procedimentode queixas e de arbitragens. Sua atuao no Tribunal Industrialtraduz bem a natureza do sistema francs de relaes prossionais,caracterizada pela importante interveno do Estado. Na Frana,apesar de certo voluntarismo legislativo, a negociao das empresas

    minoritria e nela no se encontra, como nos Estados Unidos, asduas fases de negociao e de administrao da conveno, mas,antes, uma situao de negociao permanente. A instituio dedelegados do pessoal foi utilizada pelas organizaes sindicais paraa realizao de suas reivindicaes. A anlise dos pedidos includosna agenda das reunies mensais mostra que mais de 70% dasdemandas no eram reclamaes, mas reivindicaes. Como nos

    Estados Unidos, mas por outras razes, as reclamaes individuaisdos assalariados foram gerenciadas de maneira informal pelosdelegados de pessoal e pela hierarquia. S em casos excepcionais

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    46No passado, em certo nmero de textos previram-se procedimentos deconciliao e de mediao como a Lei de 11 de fevereiro de 1950, o Decretode 1955 e a Lei de 1957 com as modicaes feitas pela lei Auroux, de 13 denovembro de 1982. A legislao francesa citada est disponvel em: . (N.T.).

    47Cf. BONAFE-SCHMITT, 1992.48ORDONNANCE n. 2011-1540 de 16 novembro de 2011 sobre a transposio

    da diretiva de 21 de maio sobre a mediao em matria civil e comercial.Disponvel em: . Acesso em: 15 dez.2012.

    as reclamaes particulares eram inscritas na ordem do dia dasreunies mensais dos representantes do pessoal.

    A renovao da mediao se insere, tambm, no contexto dacrise do sistema de relaes prossionais, mas, diferentementedos Estados Unidos, no se pode dizer que os modos no judiciaisconstituam uma real alternativa das formas tradicionais deregulamento dos conitos trabalhistas. Se insistimos na noode mediao renovada, , principalmente, para lembrar que nopassado alternativas de institucionalizao dos conitos, por meio

    de procedimentos de mediao e de arbitragem, foram tentadas,mas resultaram em pequenas derrotas46. Na verdade, os principaisatores, quer patronais, quer sindicais, entendem as tentativas deinstitucionalizao dos modos de regulamento dos conitos peloEstado como ameaas potenciais aos seus respectivos poderes47.Essa posio foi conrmada recentemente, depois da consultaa respeito da transposio da Diretiva Europeia de 21 de marode 2008 sobre a mediao, quando as organizaes sindicaisse opuseram extenso da mediao para todos os conitos detrabalho, limitando-os aos transfronteirios48.

    Se as diferentes tentativas fracassaram no passado, devemosnos lembrar de que isso mudou, e a crise do sistema de relaesprossionais permitiu o desenvolvimento da mediao, tanto dos

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    49Cf. STIMEC, A.A mediao na empresa. Paris: Dunod, 2004.50MEDIAO e resoluo amigvel dos conitos. Relaes estabelecidas pelos

    grupos de trabalho de Gemme-Frana sobre a Ordonnance n 2011-1540 de16 novembro de 2011, tratando sobre a transposio da Directiva de 21 demaio de 2008, e do Decreto n. 22012-66, de 20 de janeiro de 2012, relativo resoluo amigvel dos litgios. Disponvel em: .

    Acesso em: 15 dez. 2012.51ENCONTRO INTERNACIONAL DE MEDIAO JUDICIRIA, 3.

    Disponvel em: . Acesso em: 15 dez.2012.

    conitos coletivos como dos individuais. O desenvolvimento damediao judiciria apresenta-se como o fenmeno mais inovador

    da Frana; a partir de alguns anos constatamos que os juzes nohesitaram, nos grandes conitos coletivos nos ltimos anos, emdesignar terceiros para realizar uma mediao entre as partes emconito49. As demandas trabalhistas individuais, foram, sobretudo,as iniciativas de juzes dos tribunais de apelao (cours dappel),que desenvolveram projetos de mediao, mas em proporesbem limitadas, apesar do esprito militante de alguns, reagrupados

    no meio da estrutura do GEMME50. Apesar da boa vontadedo Legislativo nacional e do europeu, no se deveria esperar,nos prximos anos, um grande desenvolvimento da mediaojudiciria, principalmente no que se refere ao tribunal industrial(niveau prudhomal), em razo da oposio dos principais atores,a exemplo das organizaes sindicais dos trabalhadores, que noveem na mediao uma forma de privatizao da justia, nem ouso da conciliao do tribunal industrial (niveau prudhomal),nem o carter paritrio dessa instituio51.

    Ao lado da instituio judiciria, outros rgos do Estado,como os inspetores do trabalho, desenvolveram prticas demediao, pois foram levados a intervir na busca de soluesamigveis, tambm, em matria de conitos coletivos e individuais

    do trabalho. Contudo, em razo de sua qualidade de representante

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    52Cf. BONAFE-SCHMITT, 1992.53Cf. BONAFE-SCHMITT, 1992.

    do Estado e de sua funo de controle, esses inspetores nopodem ser considerados como instncias de mediao, pois tm

    simplesmente atividades de mediao. Em matria de conitosindividuais, mais difcil avaliar a atividade da mediao dosinspetores e dos controladores de trabalho, pois esta se desenvolvede maneira informal52. A procura por soluo amigvel se passamais comumente por telefone ou por carta, e mais raramente pormeio de um encontro. Eles so constantemente levados a intervirem matria de ruptura de contrato de trabalho, pertencentes

    iniciativa dos assalariados, na maioria dos casos, das PMEs53. Aatividade de mediao no dividida pelo conjunto de inspetores econtroladores que tm a funo principal de observar a aplicao daregulamentao do trabalho e de sancionar sua transgresso. Almdos problemas de pessoal e de tempo, o papel da mediao pode, narealidade, colocar em dvida a identidade da prosso e mancharsua imagem perante os assalariados e os empregadores.

    Alm dos conitos coletivos, principalmente no campoda regulao dos conitos individuais de trabalho que se vdesenvolverem as experincias mais inovadoras em matria demediao. Assim, ao lado dos mediadores designados de acordo comos processos previstos nos cdigos de trabalho ou da justia, vimosaparecer, a partir da dcada de 1980, mediadores particulares

    que desenvolveram o que se chama de mediao extrajudicial ouconvencional. So esses mediadores que criaram, em 1990, a Redede Mediadores de Empresas (RME), principalmente composta deespecialistas ou de consultores de empresas. A rede se apresentacomo [...] um conjunto de pessoas independentes, que dividem asmesmas relaes da mediao, o mesmo cdigo de deotolongia e amesma tica. Eles se empenham em praticar, a mediao seguindo

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    54Cf. BONAFE-SCHMITT, 1992; REDE DE MEDIADORES DE EMPRESA. Por

    que a mediao de empresas. , Plaquette, 1990. 4 p.; PIAZZLUNGA V. Uma redede mediadores a servio das empresas.LUsine Nouvelle, n. 2. p. 305, 1991.55LE FLANCHEC. A. Mediao, autonomia e justia de procedimento: o caso SFR

    Cegetel (Compagnie Gnrale de Tlcommunication),Negociaes, n. 6, 2006.

    metodologia uniformizada e enriquecem seus conhecimentos pormeio de encontros regulares54.

    Os responsveis por essa rede de mediadores apresentama mediao como um utenslio de gesto, permitindo favorecera regulao dos problemas confrontados pelas empresas, mastambm como um instrumento que visa impulsionar uma dinmicasocial. Assim, o papel do mediador no se limita simplesmente aregular os conitos, mas tambm melhorar o social, promovendorelaes entre grupos na empresa ou entre esta e o meio ambiente.

    Essa rede de mediadores, em razo desses objetivos, desenvolveusua ao com mais ou menos sucesso com relao a grandesorganizaes. Na verdade, diferentemente do que ocorre nosEstados Unidos, as empresas francesas se interessaram pouco paracolocar em funcionamento dispositivos internos de mediao. exceo de alguns grandes grupos, como a Socit Franaise deTlcommunications (SFR), poucas empresas tm instncias de

    mediao destinadas a gerir conitos individuais de trabalho55. Poroutro lado, grande nmero delas criou postos de mediadores paragerir conitos com seus clientes, segundo uma lgica puramenteinstrumental, a m de evitar aes judiciais e, principalmente,evitar que estes se transram para os concorrentes. Esse ocaso das sociedades de seguros, dos bancos e das companhiasde transporte. A funo desses mediadores mais de mediao-arbitragem ou de ombudsman que a de mediador stricto sensu,pois eles atuam fazendo recomendaes visando resolver osconitos que lhes so transmitidos. Esses mediadores institucionaisso criticados por suas atuaes, e lamentvel que eles no

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    56

    Cf. JACCOUD M. (Dir.).Justia restaurativa e mediao penal: convergnciaou divergncia. Paris: LHarmattan, 2003.57Cf. BONAFE-SCHMITT, J-P. Justia restaurativa e mediao penal: dois

    modelos de regulao social? In: JACCOUD, 2003.

    tenham outra nomenclatura para no serem confundidos com osmediadores.

    4.2 A mediao penal

    As diferenas terminolgicas entre mediao penal evictim-offender mediation, como vimos, no so casuais e ocampo da mediao penal representa uma boa ilustrao danecessria incluso do efeito social para explicar as diferenas

    conforme o pas. Na verdade, o desenvolvimento da mediao serealiza nos contextos scio-histricos particulares, mostrando asespecicidades prprias de cada pas.

    Assim, os Estados Unidos se insere na antiga tradio doplea-bargainingjudicirio, uma tradio de negociao do contedodas decises judicirias entre as diferentes partes do processo.Mas a renovao da mediao nesse pas deve ser substituda por

    um movimento mais abrangente sobre a restorative justice, queemana da reexo de um grupo religioso, os Mennonites. No sepode entender a atual discusso sobre a restorative justice(justiarestaurativa) se no a situamos na histria do movimento dovictim-offendermediation do continente norte americano56. Sesse retorno histrico permite compreender como esse modelo dejustia se construiu ao longo dos anos e impregnou o movimentode mediao penal americano antes de se difundir em outrospases. Atualmente, esse conceito de justia restaurativa noparece suscitar o mesmo entusiasmo na Frana, onde se fala maisde mediao-reparao, ou ainda de terceira via, na deniodas novas polticas penais57. Se analisarmos a histria da mediao

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    penal nos Estados Unidos, constataremos que esta se confundecom a do Victim Offender Mediation Association (VOMA), que

    deixou sua marca, no apenas no desenvolvimento no movimentonorte-americano do victim-offender mediation, mas tambm nomovimento internacional de mediao penal58.

    Por meio das leituras dos textos que formalizaram essemovimento, podemos constatar que a mediao no pode seranalisada como uma simples tcnica de gesto de conitos,uma vez que ela atrai outro paradigma de justia: a restorativejustice. Na denio desse novo paradigma, encontramos doisprincpios bsicos: a ideia da reconciliao e a da comunidade.Esses dois princpios esto inscritos nos ttulos dos primeirosprojetos de mediao, que se intitulavam, na poca, Victim-Offender Reconciliation Program e que zeram do encontroface a face da vtima com o adversrio e com a interferncia de

    terceiros oriundos da comunidade, o ponto central do processo demediao59. O modelo de justia criminal deniu o Estado como aprimeira vtima de infrao, e os parceiros da justia restaurativacolocaram frente a vtima e a comunidade.

    Ao longo dos anos, o conceito de restorative justice foitomado por um grupo de autores norte-americanos e europeus queviram nesse conceito uma alternativa do modelo penal tradicional,

    baseado na retribuio e na reabilitao60. Com base nos resultadosde pesquisas-ao, esses pesquisadores enriqueceram o novo

    58Cf. BENDER, J. VORP: a begining. Victim-Offender Mediation, Londres, v.1. n. 4, 1990.

    59BONAFE-SCHMITT, 2010.60Sobre esta questo cf. os trabalhos da equipe da Universidade Catlica de Leuven:

    AERTSEN, I.; PETERS, T. Restorative justice in search of new avenues in judicialdealing with crime: the prsentation of a project of mediation for reparation. In:FIJNAUT C. (Dir.). Changes in society, crime and criminal justice in Europe.Antwerpen: Kluwer RechtswetenschappenBelgi, 1995. v. 1.

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    modelo de justia, fazendo uma reexo sobre a aplicao dosprincpios da restorative justiceno contexto dos Estados Unidos

    e na Frana61

    .Se o conceito da restorative justiceconhece certo sucesso nos

    pases anglo-saxes e em alguns pases europeus, como testemunhaa criao do European Forum for Victim-Offender Mediation andRestorative Justice, o mesmo no acontece na Frana, onde se falamais de mediao-reparao ou de medidas de reparao que,verdadeiramente, de justia restaurativa62. Apenas um nmero

    pequeno de pesquisadores ou de praticantes trata desse novomodelo de justia.

    Na Frana, estamos longe do movimento restorative justice,que se estruturou nos pases anglo-saxes em torno de umnmero de iniciativas, como os movimentos do Victim-OffenderMediations, dos Family Group Conferences ou, ainda, dosSentencing Circles63.

    Nesses pases, o modelo restorative justice parece umaforma de ultrapassar os limites do domnio penal para interferirnos campos da vida social e escolar.

    Podemos nos perguntar se a Frana ficar fora dessemovimento em nome de uma exceo cultural qualquer ou sesucumbir ao movimento de globalizao da restorative justice.

    Podemos supor, a exemplo do que se passou com a mediao

    61Cf. WALGRAVE, L.; AERTSEN I. Reintegrative shaming and restorativejustice: interchangeable, complementary or different. European Journal onCriminal Policy and Research, Amsterd, v. 4. n. 4, p. 67-85, 1999; BONAFE-SCHMITT, J-P. Justia restaurativa e mediao penal: dois modelos deregulao social? In: JACCOUD, 2003.

    62Cf. FAGET, J.Mediaes: ocinas silenciosas da democracia. Toulouse: rs,

    2010.63Cf. McCOLD, P.; WATCHEL T. Restorative justice theory validation. In:

    INTERNATIONAL CONFERENCE ON RESTORATIVE JUSTICE FORJUVENILES, 4, 1-4 out. 2000, Tbingen, Germany. (Artigo no publicado).

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    64Cf. AERTSEN, I.; PETERS T. Mediation for reparation: the victimsperspective.European Journal of Crime, Criminal Law and Criminal Justice,p. 106-124, 1998; COMMISSION DU DROIT.Da justia reparadora justiatransformadora. Canad: Comisso de Direito, n. JL-6, 1999.

    65Cf. FRANA.Decreto de 29/1/2001, relativo aos delegados e aos mediadoresdo procurador da Repblica (mdiateurs du procureur de la republique) e

    composio penal. Disponvel em: . Acesso em: 12 dez. 2012.66Entre as primeiras experincias mais representativas, podemos citar a da Ajuda

    de Informao s Vtimas (AIV), em Grenoble; a da Associao Amigvel

    familiar, que veremos se desenvolver esse novo modelo de justiasob o impulso de tradutores desse movimento, quer sejam

    quebequenses, quer belgas, em razo de maior proximidade comos movimentos anglo-saxes de restorative justice64.

    Para explicar essas diferenas, nossa hiptese sobre o efeitosocial encontra justicativa, pois, na Frana, a mediao penalnunca foi autnoma do Estado, diferentemente do movimentoamericano VOMA. Se na Frana, a partir de alguns anos, fala-se sobre a noo de justia restaurativa, ela est distante

    de corresponder quela em funcionamento nos pases anglo-saxes, uma vez que est limitada s medidas de reparao oude lembrana lei pronunciada pelos magistrados ou seusmandatrios como os delegados do Procurador da Repblica(dlgus du procureur de la republique) ou os novos mediadoresdo Procurador da Repblica (mdiateurs du procureur de larepublique)65. Na verdade, ao contrrio dos Estados Unidos, naFrana foi o Estado que teve papel dominante no desenvolvimentoda mediao penal, redenindo essas polticas penais, consideradacomo terceira via, situando-se entre as polticas de classicaoe nenhum procedimento adicional. Se encontrarmos, na origemdo movimento de mediao penal, um nmero de associaespertencendo rede de ajuda s vtimas ou do controle judicirio,

    logo essas estruturas sero nanciadas pelo Estado66

    . Esse tipo

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    de Coordenao para a Reinsero dos Detentos, a Preveno e a Ajuda sVtimas (ACCORD), em Strasbourg, a da Associao de Ajuda s Vtimasde Infranes (AAVI); em Besanon; e a Assistncia s Vtimas Limoges,do Prado e da Associao de Readaptao Social e de Controle Judicirio aBordeaux (ARESCJ).

    67Para as referncias histricas, cf. BONAFE-SCHMITT, 2010; FAGET, 1997;

    CARIO, R. (Dir). A mediao penal: entre represso e reparao. Paris:LHarmattan, 1997.68LAZERGES, C. Ensaio de classicao dos procedimentos de mediao.Arquivos de Poltica Criminal, n. 14, p. 17, 1992.

    de nanciamento, associado presena de vrios prossionais dedireito, notadamente magistrados, criou associaes parajudiciais,

    imprimindo carter particular ao desenvolvimento da mediaopenal na Frana67. Foram, principalmente, os promotores(magistrats du Parquet) que tiveram a iniciativa ou o interessede desenvolver esse tipo de projeto de mediao e repassaram oscasos s associaes, sendo por isso denominados de mediaodelegada (Mdiation Dlgue)68. Essas experincias de mediaopenal obedecem a uma lgica de gesto, j que a instituio

    judiciria est sobrecarregada pelo contencioso de massa denatureza penal.

    No surpreende que as primeiras experincias de mediaotenham ocorrido nesse tipo de associao, uma vez que elasrespondem por uma viso instrumental da mediao vistacomo uma forma de reparao das vtimas que esto sob aresponsabilidade das associaes de ajuda s vtimas, funcionandocomo um meio da reintegrao do controle do judicirio pelasassociaes que lidam com os autores de infrao. Essa visoinstrumental de mediao penal encontrada na estrutura dasorganizaes nacionais que tm por objetivo regular a mediaopenal. Dessa forma, o Instituto Nacional de Ajuda s Vtimas eda Mediao que foi criado em 1986, inclui nos seus servios

    tanto ajuda s vtimas quanto a mediao. Pertence a outra

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    organizao a Cidados e Justia, o desenvolvimento de controlejudicirio e de mediao. Constatamos que a Frana um dos

    pases onde no existe organizao autnoma de mediao penal.A coexistncia nas mesmas organizaes de servios de ajuda svtimas e de mediao, ou de controle judicirio e de mediao,causa problemas ticos, como o da independncia e imparcialidadedos mediadores69. No passado, tentativas para criar organizaesautnomas de mediao penal tendo como base as organizaesnacionais fracassaram, em razo das relaes de poder entre elas

    para controlar a mediao penal70. Recentemente foi criada aAssociao Nacional de Justia Restauradora, mas esta estruturaparece contar com poucos adeptos71. Contudo, ela testemunha apenetrao das ideias de restorative justice na Frana.

    O fortalecimento dessa viso instrumental de mediaoprosseguiu com a criao, no m da dcada de 1980, das Casas de

    Justia e do Direito (MJD), que tratam de mediao retida, pois oMinistrio Pblico (Parquet), em vez de transferir os casos para asassociaes, utilizou seus prprios servios de mediao tanto Casasde Justia e de Direito ou ainda na Antenas de Justia (AJ), queevidenciavam uma descentralizao das jurisdies nos bairros e maisparticularmente dos servios do Ministrio Pblico (Parquet).

    Todos desses projetos apresentam a particularidade de integrar

    a mediao numa reviso dos mtodos de gesto de negcios peloMinistrio Pblico (Parquet)72. Com efeito, a mediao se inserenum instrumento maior, incluindo a classicao sob condio,

    69Cf. BONAFE-SCHMITT, 2010, p. 41.70Cf. BONAFE-SCHMITT, 2010, p. 42.71

    A Associao Nacional de Justia Restauradora foi criada em setembro de2010. (Cf.ASSOCIATION NATIONALE DE LA JUSTICE REPARATRICE.Disponvel em: . Acesso em: 13 dez. 2012)

    72Cf. FAGET, 1997; CARIO, 1997.

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    a reparao. Por meio da experimentao do MJD, o Estadono se contentou somente em melhorar a eccia da instituio

    judiciria, mas tambm desenvolveu uma nova poltica de gestodos conitos, apelando para tratamento social, e no simplesmentepara o judicirio e litigioso. A criao dessas estruturas ilustra avontade do Estado de pacicar as relaes sociais nos bairros,mediante uma chamada lei e a novos mtodos de gesto dapequena delinquncia com as classicaes condicionando asmedidas da reparao e da mediao.

    A vontade para que haja pacificao social, ligada inteno da gesto em atender ao uxo das aes penais, levouo Estado a institucionalizar os MJDs, a transao penal e darstatuspara novos atores, como os delegados do Procurador daRepblica e os mediadores do Procurador da Repblica73.Essas evolues parecem ter sido feitas em detrimento dodesenvolvimento da mediao penal em proveito de umtratamento diferenciado das buscas em matria penal, coma transao penal, rappel la loi74e medidas de reparaespenais... As estatsticas judicirias parecem traduzir essasevolues conforme o aumento dos procedimentos alternativos,que passaram de 101.341 procedimentos em 1997 para 250.051em 2000 e para 544.715 em 2008, o que representa 19,3% dos

    casos tendo sido objeto de processos em 2000 e 36,3% em

    73Para os MJD, trata-se da Lei de 18/12/1998 e do Decreto de 29/1/2001 para osdelegados e para os mediadores do Procurador da Repblica e a composio

    penal. (LGIFRANCE. Disponvel em: . Acessoem: 15 dez. 2012)

    74O rappel la loi, literalmente lembrete sobre a lei , em direito penalfrancs, uma medida que permite lembrar ao autor de uma infrao dos fatos

    e das obrigaes resultantes da lei (artigo, 41-1, do Cdigo de Processo Penal).Esta medida alternativa ao processo judicial penal, aplicada pelo Procuradorda Repblica, geralmente escolhida quando os fatos no so graves e quandono h vtima (N.T.).

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    200875. Contudo, esses dados no nos devem iludir, porquanto aevoluo atual das polticas penais parece traduzir, como citamos,

    um parnteses da mediao penal, favorecendo uma lgica maisgerencial e punitiva s alternativas da justia. Assim, a mediaofoi reduzida de 33.391 em 2002 para 24.471 em 2008, enquantoos rappel la loiaumentaram para 1.166.942.692.002 no mesmoperodo.

    Os dados estatsticos sobre o retrocesso da mediao relativosaos rappel la loiou de alternativas justia parecem conrmar,

    de uma parte, as diculdades na utilizao desse modo de gestode conitos na Frana e, de outra, as crticas daqueles que veemas alternativas justia apenas como uma extenso do controlesocial, usando, na maioria das vezes, casos que zeram parte deum contexto sem ter havido sequncia. Considerando vlidasas crticas, no podemos ignorar outra faceta do movimento demediao, como o da restorative justice, que delimita certa ruptura

    com as polticas penais tradicionais. O conjunto de polticasde controle judicial, de indenizao das vtimas de trabalho deinteresse geral (TIG) e de mediao se ope s polticas repressorastradicionais, baseadas nos modelos de sano, com a aplicao depenas privativas de liberdade e/ou pecunirias.

    5 CONCLUSOA ttulo de concluso, advogamos pelo desenvolvimento de

    pesquisas comparadas em matria de mediao no apenas paravericar as hipteses dos modelos de mediao anglo-saxo elatino, mas, sobretudo, para aprofundar o conhecimento desse

    75Cf. ANURIO ESTATSTICO DA JUSTIA. Paris: Ministrio da Justia.Edies 2006, 2008, 2009-2010. Disponvel em: .Acesso em: 13 dez. 2012.

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    OS MODELOS DE MEDIAO: MODELOS LATINOS E ANGLO-SAXES DE MEDIAO

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    fenmeno social. No plano epistemolgico, podemos constatarcerto atraso da Frana com relao aos Estados Unidos sobre a

    teorizao da mediao, o que no se explica por uma simplesquesto de antecedncia histrica. necessrio lembrar que so,principalmente, os autores anglo-saxes que desenvolverammodelos avaliativos, transformativos e narrativos, e por esta razo necessrio criar um programa ambicioso de pesquisa comparadasobre a mediao. No quadro dessas reexes que lanamos,em colaborao com as universidades de Murcie, na Espanha, e

    de Luxemburgo, um projeto de criao de um observatrio dasmediaes. O objetivo com esse observatrio no apenas fazerum inventrio da mediao, mas tambm analisar esse fenmeno,que pode se reduzir a uma simples tcnica de gesto dos conitosou a apario de um novo ator, o mediador. Trata-se de constituirum banco de dados em linha para a avaliao dos dispositivosde mediao utilizando trs utenslios de avaliao: a cha deatividade, para avaliar a atividade das estruturas de mediao; oquestionrio de satisfao, para medir o grau de satisfao dosmediados a respeito do processo de mediao; e o questionrioefeito da mediao, para identicar o resultado da mediao comrelao s partes e gesto dos conitos ps-mediao.

    O projeto do observatrio tem dimenso europeia com a

    participao da universidade de Luxemburgo e de Murcie, mastambm de universidades francfonas, com a participao deorganizaes prossionais e de universidades do Quebec, o quenos permite avanar na reexo sobre os modos latinos e anglo-saxes de mediao.

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    Models of mediation: Latin and Anglo-Saxon models ofmediation

    Abstract: Mediation has developed as a form of conflictmanagement in all elds of social life for over forty years on bothsides of the Atlantic. Upon this realization, the question arisesas to whether the renewal of mediation reects the emergenceof a new mode of social regulation because, in the context oftrade globalization, mediation is reduced to a simple conictmanagement technique that could be transferred from one countryto another without worrying about different sociocultural realities.The purpose of this paper is to check whether there is one or moreLatin and Anglo-Saxon models of mediation. The answer to thisquestion is problematic because it is not easy to categorize socialreality and undertake a comparative analysis of social systems inlight of its diversity and complexity. Therefore, a review of themediation phenomenon in each country cannot be made in light

    of the social coherence and historic continuity of each society.Knowing this social effect meant that the review needed torespect the place and role of mediation used in each countryand their models of social regulation to conrm the existence ofvarious Latin and Anglo-Saxon models of mediation.

    Keywords:Mediation. Culturism. Alternative modes of conictresolution. Restorative justice. Latin and Anglo-Saxon models

    of mediation.

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