modelagem matemÁtica da moagem de carvÃo em...
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XXI ENTMME Natai-RN, novembro 2005.
MODELAGEM MATEMÁTICA DA MOAGEM DE CARVÃO EM MOINHO DE BOLAS
L. C. M. Montenegro', R. Galery1, R. Barroso', A. E. C. Peres ·'
I -Departamento de Engenharia de Minas da UFMG. R. Espírito Santo .\),Centro, Belo llorizonlc. Minas (icrais. CEP:
30.160 030
lcmm(aJdcm in.u fmg.br : rgalery (a .dcm in.ufmg. br
2- V & M do 13ras il S . /\ ., Avenida Olintn Meireles , 6'i- Barreiro Belo llorizonte, Minas (ierais. CEP:.\0640-010.
rbarroso(a!vmtu hcs .C(llll . br
3- Departamento de Engenharia de Materiais da UFM(i. R. hpirito Santo .15.Ccnlro, Belo Horiwntc. Minas Gerai s. CEP :
:Hl.160.0JO
al't.:percs (a 'tkm i n.u fh1g . h r
A etapa de moagem é o principal custo na preparação do pó de injeçào dos altos l(mws. O objeti vo deste trabalho é
determinar o efeito da mudanças do teor de cinzas c na distribuição granu lomctrica no consumo de energia na moagem de
carvão. A informação obtida pela rcalin•,·àn de testes experimentais pode ser amplificada pelo uso da técnica de
modelamento e simulação. Os modelos matemúticos baseados na equação do balanço populacional vêm sendo largamente
utilizados na simulação c otimizaçfio do processo de moagem industrial de minérios. Este moddo é baseado em dois
parâmetros que descrevem o processo de quebra: a taxa específica de quehra e a funç:.lo distribuiç<-1o dos fragmentos ou
função quebra. Com o uso do modelo do balanço populacional pode-se avaliar em computador o impacto de possíveis
melhoramentos na moagem de uma forma mais realista, sckcionado as opçôcs de melhor custo-hc.:ncficio ('lll ptltcncial e
evitando as que incorram cm riscos iljustificúvcis na pr~ttica. A possibilidade de se dt..'lcrminar as melhores condiçücs
operacionais. a bai xo custo experimental c rcdu1.ido prazo de cxccuç<io. f~11. da t.:cnica de modclamcnto (.' simulação uma
poderosa ferramenta para" otimi zaç ~1o de circuitos de moagem.
Palavras-chave: mode lagem, simulação, otimizaçào. moagem
Área Temálica: Tratamento de Minérios
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L. C. M. Montenegro, R. Galery, R. Ba!Toso, A. E. C. Peres
INTRODUÇÃO
As c in zas de: carvôo vegetaL ou ma is espccifi camt..: nt ~ as impurezas presentes, são bastante danosas ao processo de produção
de ferro g usa implicando num aumento do consumo d e ca rvão vegetal, maior volume de escória c custo mais elevado, sem
contar o impa~..:to no desempenho dos equipament os. S(..,H.lo imperativo sua eliminação o u minimização. O objctivo deste
traba lho 0 Lkll!rmi na r o efeito de mudanças do tc:or de cinzas c na distribuição granulomCtrica no consumo de energi a na
moagem d~ carvüo. A eta pa de moage m é o principal c usto na preparação do pó d~ injeção dos a ltos fornos. Na atualidade,
tt'rn-s~ t~tllado com pree nder melhor este processo a través de modelos cinéticos de quebra d as partículas . baseados na teoria
do balanço po pulac io nal. O sucesso deste m ode lo é atribuído ao "llo de que cada uma dos s uo-processos da moage m, is to é,
a frag me ntação d o m a teria l c a d is tribuição dos fragmentos de ntro do moinho podem ser representadas por eq uações
descriti vas de caJu um dessas etapas. Dessa l'orma. os moJdos rnatemúti cos originados tê m permitido tanto a simulação e a
otimizaç;Jo dos circuitos <.k moagem industrial cm opl·ra~üü, co mo no desenvol vimento de novos projctos industriais .
Re sumid amen te o modelo do balanço popula..:i o nal para moagem (Reid, 1965) é dado pe la Eq uação I, abaixo:
dw;(t) , H --=-S w(t)+L~ S w(t) ( I) dt ' ' j =t ~ · J J
Na E4uaçào I. Wi (t) c a fraçtlo cm massa tk partkulas contit..b s no interva lo J c taman ho i : Si , ê a taxa cspccí tica de
quebra da s pa rtí cu la s de tamanho i : b;i . 0 a d ist ribuiç ão dos fragmentos, co nhecida como função quebra. Essa função
represe nt a a fraçào de material do tamanho superi o r j que após a quchra se dirigiu para o tamanho i.
A taxa ~spce itica de quebra é um parúmctro qu e pode se r obtido através d e testes cinéticos de moagem. Conforme
apresentado na Eq ua ç:1o 2. a velocidade de qw:h ra 1.! dependente Ja massa de material contida no intervalo c ohcdccc uma
cinL·tic4t de 4U ~.!hra d e primeira on.km .
dw;(t) -d-t -=-S; W;(t) (2)
Para diversas t:dxas g ranulométricas de tamanho, a forma funcionaL discrcti zada, da taxa específica de quebra pode ser
representada pela Equaçüo .1:
(3)
~a Equação J. o pa rii mctro a é co ns iderado como s..:ndo L'~lfal' tcrí s tico do material. Na prát ica. seu va lo r pode va riar entre
0.5 a 1. 5. O segu nd o parúmetro, a é modelado como se ndo depende das con<Jiçôes de moagem. Sua unidade é igual a
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tcmpo-1
• No caso de fratura normal. o fator de: corrc~;1o Q;. tende para a unidadt.:. Para fratura anormaL Q; somente tende
para a unidade quando os va lo res de X i< X111 ( X111 é t) tamanho de partkula para o qual Si 0 mú .\i mu). Na pdtica. os
va lo res de Q; podem ser calculados pda seguinte n.:laç i.i o empírica:
Q; I
I + ( - I )A . A > o -~i Jl
(4)
Verifica-se. po rtanto . que :.1 modelage m da ta xa es pecífica tk quebra ou velocidade cspcciri...:a de qu ebra exige, no caso de
.fi·atura anormal. cálcu los ex tra~ envolvendo a lh:tcrminaçào dl' outros dois par<lmctros adicionais:,U c.: A .
A Fi gura I mostra o n.:sultado típico da va riação da velocidade L'SJK'cÍiica de quL·hra. Si . cm funç~io do tamanh o J c
partículas. X i. A rark tracejada da curva representa a cotH.liçües de moa gL' Ill UtHk a fratura é normal.
'2
f 0,1
v;
0,0'1
100
/ ___ _..
thtm-a nonnal
/'/ - -"-,_ //' "\,
1000
frattu·a ::~.n onna.l
Tamanho da pllf1icula (.~m)
-
1001):1
Figura I - Vdoc iuauc cspccilica de quebra c m ft1111:<lo do tamanh11 da partícula.
A forma funcional característica da lltnçüo quebra. a di stribui çJo acumulada passanle dos fragmentos. Bij . pode ser
representada como a associaç;.lo de duas l'unçúes de poll'nL' Ja que. num gr;"tfíco log-log. representam dua s retas u.Hl1
dife rentes indinaçôcs. !\ rorm a caracte rística para essa !'unç;lo l· aprcscnlada abaixo. pda Fqua~:ào ~-
R=<D/x;.-t l dt - <D)[X~- t J'' l·\ .1 .\I
( 5)
N<1 L::quançào S os parâmetros <I> j .y c fJ podem ser Lktcnninados grúlíca ou numericamente . l ~nquanto os valores típit: os
Uc r variar~llll entre 0.5 a 1.5c os va lo res d t: f3 l'!lf.:ontralll-SL.' na l~li\a de~ .) c ) .
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A função quebra representa a distribuiçüo média resultank dos diversos mecanismos de quebra: abrasào, compressão c
impacto. /\ Figura 2 mostra a distrihui\·ào resulta ntc dos mecanismos de fratura.
/ -Almmio " ) •
(Ten.wio Loculi~utlu) l ~ ./·
1,00
.!!i 0,90 ~
0,80 "' VI VI 0,70 "' c. ~ 0,60
"' :; 0,50
§ 0,40 <.> ~ 0,30
'"' :;r 0,20
~ 0.10
('ompressão
Impacto
Energia
-Impacto
·Compressão Abrasão
~ /
/
I I
/
I I
I
I .
0,00 +----~----.----'::::_---,------r------1
o 0,1 0,2 0,3 0.4 0,5
tamanho
Figura 2 Distrihuiçào r~sultante dos m~canismos de fratura modificado de Kclly and Srottiswood ( 19X2).
PROCEDIME~TO EXPERIMENTAL
O consumo de cspccilico de L":ncrgia na nwagcm de carvão vegetal foi avaliado cm duas amostras. A amostra I consiste do
carvão vegetal que atualmcnte alimenta o sistema de moagem da V &M para i1jcçào do pó cm alto forno. A amostra 2 foi
obtida após a amostra I ter sido alimentada cm um processo de separação Uinúmica. No processo de separação
aproximadamente li o_-íJ do carvão é perdido c o teor de cinzas, ou mais especificamente as impurezas presentes, são
reduzidas de X. lo,-;) (amostra 1) para 5.1°--;) (amostra 2). Os testes cinéticos de moagem roram realizados cm um moinho de
holas de laboratório cujas dimens()es internas eram iguais a l05mm x )05mm. As condições operacionais são apresentadas
na Tabela I.
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Tabela I -· Condições operacionais do testes cinéticos de moagem de carvão vegetal.
Especi tic ação Valor
Massa de minério ::'60g
Diâmetro interno do moinho .105mm
Velocidade de rotação 70rpm
Carga moedora - Distribuiçií o dos diümctros das bolas de aço
Número de bolas Massa das bo las(g) Diâmetro( mm)
43 X770 3(15
67 7(1 70 30.2
lO 7 15 24.4
71 2015 19.1
94 1.130 15.9 L_ __ -- -- -- ---- -·- - - - -
Os testes c inéticos de quebra realizados em labora tório visaram a ca libração do modelo do balanço populac ional com a
determinação dos parâmetros da função quebra c da função sclcção por meio de técnicas de PNL (<i radien tc Reduzido c o
Método Evolucionário) . O rctro-cálculo. bascadl> cm técni cas não lineares de otimizaçào tratam uma distribuição
granulométrica natu ral c usam cquaçiics empíricas para a ve locidade específica de quebra c para a função quebra. Os
va lores dos parâmetros dessas equações empíricas são procurados por uma rotina de bu sca c de otimizaçào , de forma que
pe rmit am ajustar os valores ca lculados com os obtidos experimenta lmente .
RESULTADOS e DISCUSSÃO
A comparação entre os valores observados experimentalmente c aque les estimados pelo modelo é apresentada na Figura 3.
O coeficiente de correlaç ão (R') entre os valores observados c estimados pelo modelo é superior a 0,99 . Entretanto. a alta
correl ação ex istente não permite concluir que os parúmctros obtidos representem a natureza real do fenómeno de quebra.
Como di sc utido nos traba lhos de Austin c Klimpel( 19X4), os va lores de S c B dctenninados nes te tipo de simula,ào p L> dem
conter grandes erros compensatórios, os quais resultam cm pequenos erros de aj ustes cnlrc os valores cakulados c
experimentais.
Os resultados indicam que não há diferença entre as distrihui~Cõc s granulométricas médias (função quebra) para as duas
amostras estudas (1-'igura 4) . A veloc idade especifica de quebra (função sclcç:lo) são prati camente as mesmas (figura 5) . A
peq uen a dife rença entre a taxa cspccitica de quebra das duas amostras pode ser atribuído ao maior conteúdo de <:inzas
(exemplo: quartzo) prese nte na amostra I. Veritica-sc que a taxa cspecilica de quebra apresenta ti·atura normal. ou seja.
quanto mai or o tamanho da partícula maior c a velocidade específica de quebra . A 111 ~1 ior vdocidadc de quebra inicialmente
observada. para amostra com 5% de c in zas (amo stra 2). pode ser ex plicada pelo li1to da ci nética de quebra ser de primeira
ordem (K iimpel . R. R .. Austin . L. G .. 1991 : Austin. L.G .. Klimpcl. R. R .. Luckic. P.T. . 19X4: llcrbst. .1.11 .. Fue rstcnau.
D.W .. 1973).
Com base na simulação (Figura 5) podemos afirmar que a instalaçi'io de uma etapa intcrm~.:diúri a para a scparaçüo das
impurezas presentes no carv<1o vegetal não implicar:.i cm maior demanda d.: en t.:rg ia por tonelada de carv<:lo vegetal.
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1 . 0 ~-------------------------------------------------------------.
0.9
=- 0,8 .!B c:
~ 0.7 ·c:
"' o. ,g_ 0.6 </>
~ 0 ,5 E ·;;,
13 0.4
~ ,g 0,3 o-"' "' 0 .2
0,1
0,0
e carvão vegetal 8% de e cinzas ~amostra 1)
R = 0,99
0,1 0,2 0,3
carvão vegetal 5% de cinzas (amostra 2)
R2 = 0,99
0.4 0,5 0,6
fração retida simples (calculada)
0,7 0,8 0,9 1 ,O
Figura 3 -A comparação entre os valores observados expe rimentalmente c aqueles estimados pelo modelo.
cri i!: .o
~ 0 ,10 o '13. c: ~
"-~=5,0
~:
0 .01 +---~~~~~~--~--~~~~----~~~~~r---~~~~~
0. 01 0,10 1,00
abertura (mm)
10,00
Figura 4 Função quebra obtida para as amostras de carvão vegetal.
501
100,00
10
9
8
7 (f)-
o 6 '"' '-"
"' Qj 5 "' o
'"' '-" 4 c :J lL
3
2
1
o
1,0
0.9
0,8
?:: 0,7 (1) 'O
-3 0,6 E :J
~ 0,5 2 c ~ 0,4 (1) a. '#- 0,3
o
XXI ENTM M E Natai-RN. nowmbro 200) .
-carvão vegetal 5% de cinzas (amostra 2) a= 15,39 a = 0,97
2 4 6
-carvão vegetal 8% de cinzas (amostra 1) a= 15,39
" = 0,95
8
abertura (mm)
10
Figura 5 · Fun~<io sclcçào obtidas par<l as amostras de ~.:a r v:.lo vcgcla l.
32kwh/t ~ 1 - ---- ---- ~ ~X16kwh/t 4 kwh/t
Pó de injeção
1 kwh/t O kwh/t
-carvão vegetal 8% de cinzas (amostra 1)
-carvão vegetal 5% de cinzas (amostra 2)
12
0,0
0,100 1,000 10,000
abertura (mm)
Figura 6 Si mulação da moagem de carvflo vcgc lal em moi nhos de bolas.
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CONSLlJSÕES
A reali zação de testes de bancada é esse ncial para avaliar llS efeitos de mudanças cm um circuito industri a l de moagem A
in formação obtida pela reali zação de testes ex perimenta is pode ser ampl ificada pelo uso da técn ica de modelamcnto e
simulação. Neste sentido podt..::-s c avaliar cm ..:omputaJor o impacto de possivt! is melhoramentos no circu ito de uma forma
mais rea li sta , se lcc ionado as opções de melhor custo-beneficio cm potenc ial c ev itando as que incorram cm ri scos
injustificáveis na priltica.
Com base nos resu ltados obtidos podemos afirmar que a instal ação de uma etapa intermediária para a separação das
impurezas prese ntes no carvão vegetal não implkará cm maior demanda de energia no processo de moagem.
REFERÊNCIAS
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