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MODELAGEM DE REGRAS DE NEGÓCIOS UTILIZANDO EKD: O CASO DE UM PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO Bárbara Ilze Semensato (EESC/USP) [email protected] Marcos Luiz Pagliarini Brefe (EESC/USP) [email protected] Bianca Soares de Oliveira Gonçalves (EESC/USP) [email protected] Danielle Magierski Valerio (UNIMEP) [email protected] Edson Walmir Cazarini (EESC/USP) [email protected] Este artigo apresenta resultados da modelagem de um Programa de Pós-Graduação utilizando a metodologia EKD (Enterprise Knowledge Development). Mais especificamente, apresenta o Modelo de Regras do Negócio da área de Pós-Graduação, uma das ááreas do departamento modeladas. O projeto foi uma das atividades de uma disciplina, com o objetivo de modelar todas as áreas do referido departamento, utilizando a metodologia EKD. Apresenta uma revisão bibliográfica sobre Regras do Negócio, introduz os conceitos principais do EKD e, finalmente os resultados da modelagem e do projeto real. Palavras-chaves: Metodologia EKD, Regras de Negócios, Modelagem Organizacional XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão. Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

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MODELAGEM DE REGRAS DE

NEGÓCIOS UTILIZANDO EKD: O CASO

DE UM PROGRAMA DE PÓS-

GRADUAÇÃO

Bárbara Ilze Semensato (EESC/USP)

[email protected]

Marcos Luiz Pagliarini Brefe (EESC/USP)

[email protected]

Bianca Soares de Oliveira Gonçalves (EESC/USP)

[email protected]

Danielle Magierski Valerio (UNIMEP)

[email protected]

Edson Walmir Cazarini (EESC/USP)

[email protected]

Este artigo apresenta resultados da modelagem de um Programa de

Pós-Graduação utilizando a metodologia EKD (Enterprise Knowledge

Development). Mais especificamente, apresenta o Modelo de Regras do

Negócio da área de Pós-Graduação, uma das ááreas do departamento

modeladas. O projeto foi uma das atividades de uma disciplina, com o

objetivo de modelar todas as áreas do referido departamento,

utilizando a metodologia EKD. Apresenta uma revisão bibliográfica

sobre Regras do Negócio, introduz os conceitos principais do EKD e,

finalmente os resultados da modelagem e do projeto real.

Palavras-chaves: Metodologia EKD, Regras de Negócios, Modelagem

Organizacional

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

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Introdução

As mudanças ocorridas no final do século XX, especialmente as dinamizadas pelos sistemas

computacionais integrados globalmente, os grandes avanços na Tecnologia da Informação

(TI) e a competição sem precedentes entre as organizações, conduziram a mudanças

conceituais nas organizações, como forma de adaptação a este contexto. Como exemplos

destas mudanças podem ser citados a utilização de sistemas integrados de tecnologia,

especialmente de informação, em detrimento de sistemas isolados; o enfoque em processos de

negócio, ao invés do enfoque em departamentos; a organização de pessoas e equipes em torno

de processos, ao invés de funções.

Estas mudanças modificaram a forma como as organizações se estruturam, e os sistemas de

informação até então implantados foram inicialmente orientados para o fluxo de dados e

processos dentro de departamentos, o que os tornou ineficientes do ponto de vista da

orientação por processos de negócio, que envolviam diversos departamentos. Neste cenário,

“ [...] para alcançar a integração do negócio, que é a integração total da empresa, é necessário

mapear seus processos [...] isso significa entender a organização e como seus processos

acontecem” (VERNADAT, 1996). Assim, os grandes ganhos estão entre os departamentos, e

não mais nos departamentos. Os sistemas de informação também devem responder a este

novo paradigma, possuindo papel preponderante para atingir tal nível de integração.

Para projetar e implantar estes sistemas, é necessário construir um modelo de empresa,

entendido como “um conjunto de modelos específicos e complementares utilizados para

descrever as várias visões de uma empresa, e que pode ser utilizado por diversos usuários”

(VERNADAT, 1996). Este modelo é “um referencial semântico de unificação

(compartilhamento de conhecimento) dentro da empresa, construído pela aplicação de

princípios e ferramentas específicas de modelagem” (GUERRINI, 2008). Ao conjunto de

atividades, ferramentas e métodos com estes objetivos denomina-se “Modelagem

Organizacional”.

Diversas metodologias, técnicas e ferramentas foram propostas ao longo dos anos, se

modificando de acordo com as novas necessidades empresariais e informacionais, bem como

a partir da observação de boas práticas. São exemplos: CIMOSA, proposto por François

Vernadat; IDEFX/SADT, proposto por Douglas T. Ross, do MIT; ARIS, proposto pelo Prof.

Scheer, na Alemanha; GRAI/GIM; ISO; GERAM; PERA (GUERRINI, 2008).

O projeto apresentado neste artigo utilizou uma destas metodologias, conhecida como EKD

(Enterprise Knowledge Development), que “fornece uma forma sistemática e controlada de

analisar, entender, desenvolver e documentar uma organização e seus componentes usando a

Modelagem Organizacional” (ROLLAND et. al., 2000). Entre os diversos modelos que a

compõe, está o modelo de Regras de Negócios, que será o foco desse artigo cujo objetivo é, a

partir de uma revisão bibliográfica e através de uma aplicação prática, apresentar a

modelagem desse projeto real. Na seqüência, serão apresentados a metodologia EKD e o

modelo de Regras de Negócios.

Metodologia Enterprise Knowledge Development (EKD)

Num contexto altamente competitivo e com mudanças constantes e rápidas, as organizações

devem buscar também flexibilidade para acompanhar essas mudanças, como forma de

sobrevivência.

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“O processo de mudança não é um processo simples. Para realizá-lo com sucesso, a

organização deve ter conhecimento e entendimento da situação atual, da situação futura que

se espera alcançar e como será alcançada. A TI deverá acompanhar as mudanças constantes

dos requisitos organizacionais” (PÁDUA, 2001).

A necessidade de reengenharia e gerenciamento de mudanças está crescendo rapidamente,

tornando-se um importante fator de sobrevivência e competência das organizações. Nesse

caso, a organização precisa desenvolver uma disciplina que organiza todo o conhecimento

necessário para identificar a necessidade de mudança na organização e cumprir essas

mudanças de maneira conveniente e profissional (BERNUS; NEMES, 1997).

Para KIRIKOVA (2000), “estruturas e abordagens de Modelagem Organizacional se diferem,

mas estão destinadas a atingir o mesmo objetivo: possibilitar o entendimento apropriado de

aplicações. Esse entendimento não significa apenas conhecer de que consistem os elementos

da organização e como eles estão relacionados em aspectos diferentes, mas também como

esses elementos trabalham juntos na organização como um todo. Entendimento significa

também uma consciência sobre a tarefa da organização no ambiente e razões para possíveis

mudanças no comportamento do sistema”.

O desenvolvimento e adoção de práticas, técnicas, métodos e metodologias de Modelagem

Organizacional é essencial para obter a flexibilidade, o conhecimento e um adequado

processo de mudança constante da organização. Deste esforço, especialmente de compreender

a organização para desenvolver sistemas de informação computacionais, nasceu o EKD,

desenvolvido na Suécia, a partir da necessidade para modelar sistemas de informação de

forma inteligente para grandes organizações (PÁDUA, 2001; BUBENKO et. al., 1998).

Segundo ROLLAND et. al. (2000), o EKD é uma metodologia que provém uma forma

sistemática e controlada de analisar, entender, desenvolver e documentar uma organização e

seus componentes, utilizando a Modelagem Organizacional. O objetivo ao se usar o EKD é

fornecer uma descrição clara e não- ambígua de: como as organizações funcionam

atualmente; quais são os requisitos e as razões para as mudanças organizacionais; quais

alternativas deveriam ser criadas para encontrar esses requisitos; quais são os critérios e

argumentos para avaliação dessas alternativas.

A família de modelos do EKD destina-se a responder as questões: O que, Como, Onde,

Quem, Quando e Por que. Essa estrutura serve como um esquema de classificação

conveniente ou similar a uma tabela periódica, analogia criada para as entidades de

informação. Como elementos químicos, essas entidades podem ser combinadas de infinitas

formas para produzir o sistema de informação de interesse da organização. A partir de outra

perspectiva, é possível ver essa estrutura como uma família de muitos modelos inter-

relacionados, onde relacionamentos entre elementos arbitrários pertencentes à submodelos são

permitidos (KIRIKOVA, 2000).

De acordo com BUBENKO et. al. (1998), o conteúdo básico da estrutura EKD inclui: um

conjunto de técnicas de descrição, a participação de stakeholders e um conjunto de diretrizes

para o trabalho. O conjunto de técnicas de descrições fornece um conjunto de modelos que é

utilizado para descrever o sistema a ser analisado ou construído, e a organização na qual ele

será operado. Esse conjunto de técnicas é usado pelos desenvolvedores do sistema. As

técnicas de descrições sozinhas não serão relevantes, sem que haja um envolvimento direto

dos atuais clientes, usuários finais, gerentes, proprietários, entre outros. Um fator crítico de

sucesso de um projeto que inclui a aplicação de EKD na construção de um sistema de

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informação ou reestruturação da organização é a participação e o envolvimento dos

stakeholders.

A metodologia EKD possui múltiplos propósitos, como a engenharia de requisitos para

definição e especificação de requisitos; a análise do negócio para detecção de problemas; a

reengenharia de processos do negócio para definição de novos sistemas de negócio; o

gerenciamento de conhecimento organizacional ou aprendizagem organizacional para formar

a base de programação e ampliação de conhecimento.

Podem ser listados como benefícios da Modelagem Organizacional utilizando a metodologia

EKD: entender melhor o negócio; facilitar a aprendizagem e comunicação organizacional

sobre questões essenciais; ajudar entender e promover as capacidades e processos da

organização e melhorar a comunicação entre os participantes.

Segundo LOUCOPOULOS et. al. (1998), o EKD pode ser visualizado em três “planos” ou

“níveis”: 1. Objetivos Organizacionais; 2. Processos Organizacionais e 3. Sistemas de

Informação.

Objetivos Organizacionais

Processos Organizacionais

Sistemas de Informação

Objetivos

Organizacionais

Objetivos

Organizacionais

Atividades

Organizacionais

Tarefas

Organizacionais Regras

Organizacionais

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Figura 1 – Os níveis de visualização do EKD.

Fonte: LOUCOPOULOS (1998)

Os componentes do EKD são modelos conceituais, enquanto abstração do mundo físico, que

examinam a organização e seus requisitos a partir de um número de perspectivas inter-

relacionadas. Estes modelos irão constituir coletivamente o Modelo Organizacional. O

conjunto de modelos do EKD é composto de: Modelo de Objetivos (ou Metas); Modelo de

Regras de Negócios; Modelo de Conceitos; Modelo de Processos do Negócio; Modelo de

Atores e Recursos e Modelo de Requisitos e Componentes Técnicos.

Usa, refere-se

Define, é responsável

Motiva, requer Motiva, requer Afeta, Definido por

Define, é responsável

Usa Usa, refere-se

Dispara Apóia

Realiza, é responsável por

Usa,

produz

Motiva, requer Refere-se Define

Figura 2: Submodelos que compõem o Modelo Organizacional

Fonte: BUBENKO et. al. (1998) p. 22

Regras de Negócios

As raízes das Regras de Negócios vêm da comunidade de Inteligência Artificial, onde elas

foram aplicadas com sucesso como uma forma de se representar o conhecimento (BAJEC;

KRISPER, 2005).

O conceito é intimamente ligado à TI, uma vez que crescentemente vem se observando os

benefícios tanto para o funcionamento de sistemas em si, quanto para o projeto do próprio

sistema, embora não seja exclusivo desta área. Alguns consideram as Regras de Negócios

como a ligação entre o mundo dos negócios com os sistemas de informação.

Existem várias definições de Regras de Negócios. KARDASIS e LOUCOPOULOS (2004)

definem Regras de Negócios como “declarações das políticas ou condições que precisam ser

Modelo de Objetivos (MO)

Modelo de

Conceitos

(MC) Modelo de Regras de

Negócios

Modelo de Atores e

Recursos

Modelo de Processo de

Negócios

Modelo de Requisitos e Componentes Técnicos

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satisfeitas e seu papel é determinar como decisões operacionais na organização devem ser

realizadas; em outras palavras, Regras de Negócios especificam a ação na ocorrência de um

evento de negócio específico, incluindo mudanças envolvendo pessoas e grupos de pessoas,

infra-estrutura, consumíveis, recursos informacionais e mesmo atividades de negócio”. De

acordo com LEITE e LEONARDI (1998), representam “um importante conceito dentro do

processo de definição de requisitos para sistemas de informação e devem ser vistas como uma

declaração genérica sobre a organização”. Para ROSCA et. al. (1997), são “uma nova

categoria de requisitos do sistema que representam decisões sobre como executar o negócio, e

são caracterizadas pela orientação do negócio e sua tendência às mudanças”.

As Regras de Negócios representam as condições, limitações e restrições vigentes na

organização para execução de suas atividades, refletindo políticas, procedimentos e metas da

organização (PÁDUA; CAZARINI, 2000).

Maciol (2008) apresenta um conjunto de definições esclarecedoras a respeito. A necessidade

de modelar e desenvolver ferramentas para o gerenciamento de Regras de Negócios está

intimamente relacionado à idéia de gerenciamento de processos de negócio. Esta concepção

indica que é necessário criar modelos de processos de negócios para as necessidades das

diferentes análises, enquanto também é necessário criar ferramentas computacionais para

apoiar tal processo, especialmente quanto à sua aplicação para a web.

Regras de Negócios podem ser utilizadas para apoiar a automação de decisões de negócio,

para estruturar políticas e práticas de negócio frouxas ou informais ou para aplicar conjuntos

de condições rigorosas que podem ajudar analistas de negócio e especialistas a expressar os

requisitos essenciais do comportamento de um sistema. Em um processo, as Regras de

Negócios são os componentes que implementam a lógica de tomada de decisão. Da

perspectiva do negócio, uma regra de negócio é uma diretriz mostrando que há uma obrigação

em relação à conduta, ação, prática ou procedimento em uma atividade ou esfera específica.

Duas importantes características das Regras de Negócios são: deve haver uma motivação

explícita para tal e deve haver uma política de garantia de aplicação declarando quais as

conseqüências se a regra for quebrada. Da perspectiva de sistemas de informação, uma regra

de negócio é uma declaração que define ou restringe alguns aspectos do negócio. É

intencionada a definir a estrutura do negócio ou controlar/influenciar o comportamento do

negócio (MACIOL, 2008; PÁDUA; CAZARINI, 2000).

Pádua e Cazarini (2000) colocam que, “do ponto de vista da Modelagem Organizacional,

especialmente para sistemas de informação, as Regras de Negócios são aplicadas no

tratamento dos bancos de dados, representando os eventos que ocorrem no mundo real, bem

como o comportamento reativo da base a estes eventos, segundo as regras colocadas. Existem

diversas formas de coletar, categorizar e representar as Regras de Negócios, como a

abordagem que utiliza a estrutura ECAA e a forma de representação das Regras de Negócios

como baseline, que utiliza expressões em linguagem natural”. Argumentam também que é

essencial buscar as Regras de Negócios já na fase de análise, permitindo maior facilidade para

manutenção e modificações em sistemas de informação gerados a partir das mesmas. As

Regras de Negócios, no caso, preencheriam o vazio entre Negócios e a TI.

Bajec e Krisper (2005) propõem uma metodologia para ajudar “pessoas de negócio” e

desenvolvedores de sistemas de informação a manter as Regras de Negócios no nível da

organização alinhadas com as regras implementadas no nível do sistema. A despeito dos

detalhes técnicos da metodologia proposta, acredita-se que a maior contribuição dos autores é

a visão da necessidade de uma ferramenta fácil de utilizar – que estimule seu uso – e

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independente do sistema de informação, como um repositório das Regras de Negócios, que

permita manter sistemas de informação e apoio consistentes com os requisitos da organização

em relação às Regras de Negócios, conforme evoluem. Desta forma, os autores chamam o

processo de BRM (Business Rules Management): gerenciar informações sobre a evolução das

Regras de Negócios e coordenar suas mudanças. É necessário estabelecer uma ligação

explícita entre organização e sistema de informação. Uma vez que as Regras de Negócios

representam elementos que são mais influenciados pelas mudanças no ambiente

organizacional, parece ser razoável utilizá-las como um meio para estabelecer esta ligação.

Modelo de Regras de Negócios do EKD

Como o colocado anteriormente, o EKD é composto por diversos modelos, entre eles o

Modelo de Regras de Negócios. Este modelo tem por objetivo definir e manter explicitamente

Regras de Negócios formuladas e consistentes com o Modelo de Objetivos e esclarecer

questões como: quais regras afetam os objetivos da organização; quais são as políticas

declaradas; como cada regra do negócio é declarada com os objetivos; como os objetivos

serão apoiados pelas regras (PÁDUA, 2001; BUBENKO et. al. 1998).

A modelagem de Regras de Negócios está intimamente relacionada com o Modelo de

Objetivos. Regras são definidas por objetivos enquanto também afetam a realização de outros

objetivos. Elas disparam processos de negócio e fazem referência a conceitos definidos no

Modelo de Conceitos. Atores do Modelo de Atores são responsáveis por alcançar e definir

Regras de Negócios. Regras de Negócios requerem funcionalidade do sistema de informação.

Componentes do Modelo de Requisitos e Componentes Técnicos podem ser motivados por

Regras de Negócios. Essas Regras de Negócios podem ser categorizadas em Regras

Derivadas, Regras de Evento-Ação e Regras de Restrição (PÁDUA, 2001; BUBENKO et. al.

1998):

- Regras Derivadas: são expressões que definem componentes derivados da estrutura da

informação em termos de entidades que já estão presentes na base de informação do modelo

da organização. Elas são introduzidas como um meio de capturar o domínio estrutural do

conhecimento, que não precisa estar armazenado e seus valores podem ser derivados

dinamicamente usando valores existentes ou outras informações derivadas. Uma regra

derivada é, por exemplo: o candidato é aprovado se obter nota igual ou superior a seis.

- Regras de Evento-Ação: estão relacionadas com a invocação de atividades. Em particular,

expressam as condições sobre quais atividades devem ser realizadas, como um conjunto de

condições disparadoras e/ou um conjunto de pré-condições que devem ser satisfeitas antes da

sua execução. Por exemplo: atualizar as normas do regimento do Programa (ação) logo após

o acontecimento dessas mudanças (evento).

- Regras de Restrição: estão relacionadas à integridade da informação, à estrutura dos

componentes, ou às atividades e comportamentos permitidos na organização. Uma restrição é,

por exemplo: o salário de um empregado não deve decrescer. As regras de restrição podem

ser estáticas e de transição. As restrições estáticas aplicam-se a todo o estado de base da

informação e são independentes do tempo, como por exemplo: a locação de cada cópia do

livro é única e apenas uma. As restrições de transição definem um estado de transição na base

de informação, desta maneira especificando restrições no comportamento do sistema. Uma

restrição de transição é, por exemplo: nenhum orientador credenciado junto ao Programa de

Pós-Graduação pode ter mais de sete orientados.

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Ainda neste Modelo de Regras de Negócios, existem dois tipos de relacionamentos: de apoio

e de impedimento:

- O relacionamento de apoio é essencialmente visto como vertical, podendo, por exemplo, ser

usado para refinar ou decompor regras.

- O relacionamento de impedimento é usado para mostrar influências negativas entre

componentes do Modelo de Regras de Negócios, e pode ser considerado como o oposto de

apoio.

Geralmente existem três formas sob as quais as Regras de Negócios podem ser declaradas:

informalmente, em linguagem natural; formalmente, utilizando o português estruturado ou

linguagens próprias para desenvolver regras. As duas últimas formas de expressar regras de

forma não-ambígua contribuem para facilitar suas implantações no projeto de sistema de

informação.

Cada expressão de Regras de Negócios deveria ter apenas uma regra atômica, que é uma

declaração específica e formal de uma simples restrição, fato, derivação, ou termo que não

pode ser decomposto posteriormente. É possível formalmente expressar apenas regras

atômicas. Regras que são mais complexas precisam ser expressas em linguagem natural ou

semi-natural e, então, decompostas e refinadas usando relacionamentos AND/OR. Existem

regras atômicas que são quase impossíveis de serem definidas de forma formal. Por exemplo,

regras que são relacionadas a requisitos não-formais.

Ao modelar Regras de Negócios, é importante considerar as seguintes questões:

1. Existem regras declaradas e políticas com a organização que podem influenciar esse

modelo?

2. Por quais regras os objetivos da organização podem ser alcançados?

3. A regra está relacionada a um objetivo particular?

4. Como essa regra pode ser decomposta?

5. Como a organização pode ajustar-se à especificação dessa regra?

6. Como validar se a regra é cumprida?

7. Quais processos disparam essa regra?

8. Essa regra pode ser definida em uma forma operacional?

9. Pode uma regra ser decomposta em regras simples?

Estudo da aplicação da Metodologia EKD – Modelo de Regras de Negócios

Com o objetivo de aplicar os conhecimentos teóricos adquiridos em uma disciplina de Pós-

Graduação, foi realizado um estudo aplicando a metodologia EKD em um departamento de

uma universidade pública. Para tal empreitada, o departamento foi divido de acordo com as

suas áreas, e cada área ficou sob a responsabilidade de um grupo de quatro alunos.

O resultado apresentado neste artigo refere-se à área de Pós-Graduação. Foram construídos

todos os modelo previstos na metodologia EKD – Objetivos, Regras de Negócios, Processos

de Negócio, Atores e Recursos, Requisitos e Conceitos – além de alguns relacionamentos

entre os modelos, quando necessário. É necessário reforçar que o Departamento não possuía

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nenhuma modelagem formal anterior e, portanto, esta é uma primeira tentativa de construir

um modelo preliminar.

Para realizar a modelagem, foram utilizados documentos formais do departamento, visitas in

loco, entrevistas formais e informais, reuniões e discussões com professores, funcionários e

outros colaboradores.

O primeiro modelo construído foi o modelo de Objetivos, que serviu de base para levantar e

relacionar Regras de Negócios. Foi levantado o objetivo mais estratégico (Objetivo 1), além

de outros objetivos relativamente independentes, mas que apóiam este objetivo principal

(Objetivos 2, 3, 4):

Objetivo 1 - Oferecer um Programa de Pós-Graduação de excelência na CAPES;

Objetivo 2 - Formar professores e pesquisadores;

Objetivo 3 - Criar e manter grupos de pesquisa;

Objetivo 4 - Garantir produção científica de alto nível.

Posteriormente, optou-se por desmembrar apenas o Objetivo 1 em objetivos secundários, que

oferecem apoio para a obtenção do primeiro (Objetivos 1.1 a 1.5):

Objetivo 1.1 - Selecionar os melhores candidatos;

Objetivo 1.2 - Adequar prazo para realização dos cursos da pós-graduação conforme

orientações da CAPES;

Objetivo 1.3 - Adequar o número de orientados por orientador de acordo com as

especificações da CAPES;

Objetivo 1.4 - Orientar alunos e docentes sobre normas da Pós-Graduação;

Objetivo 1.5 - Diminuir o número de desligamento de alunos.

A Figura 3 apresenta os objetivos levantados representados de acordo com a notação

específica do Modelo de Objetivos da metodologia EKD.

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Figura 3 – Modelo de Objetivos (EKD) da área de Pós-Graduação

Fonte: Resultado de pesquisa

O Modelo de Regras de Negócios foi construído considerando os dois objetivos mais

relevantes no momento, buscando captar as regras que poderiam apoiar os objetivos

explicitados. Buscou-se pelas regras mais simples e quantificáveis que pudessem delinear os

contornos das ações que podem conduzir aos objetivos. De uma forma geral, as regras

estabelecidas contribuem para a consecução do objetivo principal, que é oferecer um curso de

excelência. Como a referência para cursos de excelência são os critérios da CAPES para

avaliação e classificação dos programas, as Regras de Negócios estabelecidas refletem em

grande parte estes critérios utilizados, oferecendo um horizonte quantitativo e os limites e

restrições de como o “negócio” em questão deve ser conduzido para atingir os objetivos.

Com isso, a Figura 4 apresenta as Regras de Negócios representadas de acordo com a notação

específica do modelo de Regras de Negócios da metodologia EKD.

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Figura 4 – Modelo de Regras de Negócios da área de Pós-Graduação

Fonte: Resultado de pesquisa

Considerações Finais

A metodologia EKD ofereceu ferramentas para a Modelagem Organizacional em diversos

níveis, com diversos componentes e de forma que é possível relacionar, de acordo com a

necessidade, os diversos submodelos.

O modelo de Regras de Negócios permitiu a identificação, estabelecimento e relacionamento

de condições, restrições e limites com os objetivos identificados, de forma a estabelecer regras

explícitas para a condução das atividades, especialmente contribuindo para os objetivos.

Portanto, esse projeto foi o primeiro contato do grupo com Modelagem Organizacional e a

metodologia EKD, que ofereceu um conjunto de conceitos, técnicas e ferramentas

consistentes que permitiram a realização prática de um caso real de modelagem de forma

relativamente simples e direta.

Referências

BAJEC, M.; KRISPER, M. A methodology and tool support for managing business rules in organisations.

Information Systems Journal, nº30, p. 423-443, 2005.

BERNUS, P.; NEMES, L. Requirements of the generic enterprise reference architecture and methodology.

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