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CENTRO UNIVERSITRIO UNIVATES
CURSO DE TECNOLOGIA EM DESIGN DE MODA
MODA COM PROPSITO: A ROUPA COMO INSTRUM ENTO DE
INCLUSO SOCIAL DAS MULHERES COM NANISMO
Helosa Sangalli Beneduzi
Lajeado, julho de 2017
Helosa Sangalli Beneduzi
MODA COM PROPSITO: A ROUPA COMO INSTRUM ENTO DE
INCLUSO SOCIAL DAS MULHERES COM NANISMO
Artigo apresentado na disciplina de Trabalho
de Concluso de Curso, do Centro
Universitrio UNIVATES, como parte da
exigncia para obteno do ttulo de
Tecnloga em Design de Moda.
Orientadora: Prof. Beatriz Kintschner Rossi
Lajeado, julho de 2017
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MODA COM PROPSITO: A ROUPA COMO INSTRUMENTO DE
INCLUSO SOCIAL DAS MULHERES COM NANISMO
Helosa Sangalli Beneduzi1
Prof. Beatriz Kintschner Rossi2
Resumo: O presente artigo visa analisar a importncia das roupas no processo de incluso social das mulheres
com nanismo. Buscou-se entender as questes mdicas que envolvem a estatura abaixo da mdia e o que
caracteriza o nanismo, a partir de pesquisas bibliogrficas e de entrevista com uma mdica endocrinologista.
Para que ficassem claras as questes envolvendo as roupas e quais as principais dificuldades encontradas pelo
pblico, foi realizado um questionrio com perguntas relacionadas ao assunto. Aps o estudo sobre os aspectos
clnicos, estticos, sociais e econmicos que envolvem a moda inclusiva, foi possvel pensar em solues que
possam facilitar o dia a dia das mulheres com nanismo, contribuindo para a realizao do desejo deste pblico de
usar roupas adequadas aos seus corpos, o que consequentemente colaborar com a melhora da qualidade de vida
e a insero social.
Palavras-chave: Moda Inclusiva. Nanismo. Incluso social.
1 INTRODUO
notria a importncia que as roupas exerceram na sociedade, ao longo dos sculos.
No princpio, suas funes fundamentais eram referentes proteo e adorno do corpo
humano, porm, atualmente, as roupas tm desempenhado uma srie de outros propsitos
alm dos anteriormente citados, e que podem ser considerados to importantes quanto.
possvel valer-se das roupas como meio de expressar desejos, valores, identidade e, hoje,
devido ao grande destaque das questes relativas diversidade, elas tambm podem vir a ser
uma eficiente ferramenta para a incluso social, sobretudo no que diz respeito s pessoas com
deficincia. Diante disso, o presente estudo visa analisar de que forma a roupa pode colaborar
com a incluso social das mulheres com nanismo, bem como apresentar solues plausveis
referentes carncia de vestimentas apropriadas a esse pblico no mercado da moda.
Referente abordagem do presente estudo, foi utilizada a pesquisa qualitativa, a qual
cilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hiptese ou
problema, analisar a interao de certas variveis, compreender e classificar processos
1 Acadmica do Curso de Design de Moda do Centro Universitrio Univates, de Lajeado-RS, e-mail:
2 Professora do Centro Universitrio Univates, de Lajeado-RS, Especialista em MBA Executivo em Negcios de
Moda, Graduada em Tecnlogo em Moda e Estilo, pela Universidade de Caxias do Sul-UCS e-mail:
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dinmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuies no processo de
mudana, criao ou formao de opinies de determinado grupo e permitir, em maior grau
de profundidade, a interpretao das particularidades dos comportamentos ou atitudes dos
Quanto aos objetivos, utilizou-se a pesquisa exploratria, em que, de acordo com
Marconi e Lakatos (2010), o objetivo da investigao envolve trs questes: desenvolver
hipteses a respeito do assunto, familiarizar o pesquisador com um determinado fato,
fenmeno ou ambiente ou modificar conceitos.
Atravs de verificaes em bibliografias e de entrevista com uma mdica
endocrinologista, foi possvel compreender os aspectos clnicos que envolvem a questo do
nanismo, elucidando quaisquer dvidas sobre o assunto. Analisou-se, por meio de artigos
cientficos e documentos, a forma como o nanismo visto pela sociedade e as principais
mudanas ocasionadas a partir da legislao que facilitou a entrada das pessoas com
deficincia no mercado de trabalho. Ponderou-se a respeito da relao entre a moda, as mdias
e o corpo-padro, bem com verificou-se a existncia das teorias que desconsideram as
propores como meio de encontrar a beleza em contraponto quelas alusivas beleza das
propores.
A partir das reflexes anteriores, surge a importncia de se falar a respeito da
relevncia da moda, hoje, na incluso social das pessoas com deficincia. Para melhor
compreender as dificuldades do pblico foco da pesquisa, foi realizada a coleta de dados, por
meio de um questionrio, onde posteriormente fez-se a anlise e exposio das respostas
obtidas. Por fim, foram abordadas as questes que envolvem o nanismo e o vesturio, de que
forma esse nicho de mercado poderia ser melhor aproveitado, alm do ponto de vista da
incluso, tambm de acordo com os negcios, e em seguida, foram apuradas as consideraes
finais a respeito do estudo.
2 O NANISMO
De acordo com Meloni et al. (2013, p. 357),
importantes etapas do desenvolvimento infantil e depende inteiramente da complexa interao
entre fatores genticos, hormonais, nutricionais e psicossociais. Deve-se considerar que a
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estatura de cada indivduo varia de acordo com o grupo tnico o qual ele pertence e, em meio
a isso, pela influncia da herana gentica transmitida pelo seu respectivo grupo familiar
(MELONI et al., 2013). Se forem observadas anormalidades no crescimento, com relao
velocidade e altura, estas podem indicar a presena de uma doena, conforme afirma Arajo
et al. (2016).
A baixa estatura de uma criana deve ser investigada quando, segundo Meloni et al.
(2013), ao ser realizado o clculo de desvio-padro, o percentil indicado for menor que dois.
O clculo feito a partir da seguinte frmula:
Escore Z = ( X1 X2) (1)
DP
Escore Z: Variabilidade;
X1: Altura medida;
X2: Altura mdia esperada para a idade e sexo;
DP: Desvio padro do referencial, obtido por meio de uma curva de referncia, em uma tabela
especfica para um determinado pblico, com mesma idade e sexo.
Meloni et al. (2013, p. 358) afirma que
exatamente a - 2 desvios-padro abaixo da mdia, ou seja, com um escore Z = - 2, ele est no
que, em um determinado pblico de mesma idade e sexo, esse
indivduo o segundo com a menor estatura entre outros cem (MELONI et al., 2013). De
acordo com Arajo et al. (2016), para se obter a velocidade de crescimento de uma criana,
devem ser realizadas medies por um perodo mnimo de seis meses.
Para que se tenha mais preciso com os dados apresentados no clculo do Escore Z,
deve-se considerar tambm a altura dos pais, conforme alega Meloni et al. (2013, p. 360).
[...] uma criana filha de pais baixos, que se encontra no percentil 3 para estatura,
pode ser considerada anormalmente baixa, porm, se for considerada a mdia das
estaturas parentais, a estatura corrigida de uma criana pode estar entre os limites
normais.
Meloni et al. (2013) apresenta o clculo das estaturas parentais da seguinte forma:
Meninas: Altura da me + (altura do pai 13 cm) (2)
2
Meninos: Altura do pai + (altura da me + 13 cm) (3)
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Do ponto de vista clnico, a baixa estatura pode ser dividida em variantes normais do
crescimento, patologias proporcionadas, e patologias desproporcionadas (MELONI et al.,
2013).
Figura 1 - Etiologia da baixa estatura
Fonte: Lopes, Puccini e Strufaldi (2013, p. 61).
Com relao s patologias desproporcionadas, possvel dividi-las em displasias
esquelticas e doenas metablicas do osso, as quais caracterizam-se por doenas que esto
associadas a anormalidades no tamanho e formato dos ossos, resultando na baixa estatura com
desproporo, deformidades e malformaes do esqueleto (MELONI et al., 2013).
As patologias proporcionadas podem aparecer tanto no perodo pr-natal, quanto no
ps-natal. Meloni et al. (2013) afirma que as patologias mais comuns no pr-natal so
decorrentes de sndromes dismrficas e anomalias cromossmicas, enquanto no perodo ps-
natal, podem ser causadas pela desnutrio, distrbios emocionais, doenas endocrinolgicas,
doenas crnicas e tambm por medicamentos que inibem a produo de GH, o hormnio do
crescimento.
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Popularmente utiliza-se o termo nanismo para caracterizar os indivduos com a
estatura muito abaixo da mdia, onde, quando analisada a altura, esta ser cerca de 20%
menor que a mdia da populao (NANISMO..., 2013). Em geral, a estatura de um homem
com nanismo de 145 cm, e de uma mulher 140 cm (FIGURA 2).
Figura 2 - Acondroplasia. Aspecto clnico mostrando baixa estatura desproporcionada,
micromelia rizomlica, dedos curtos com posicionamento em tridente,
macrocefalia relativa, fronte proeminente, ponte nasal deprimida com hipoplasia
da face mdia, trax
Fonte: Meloni et al. (2013, p. 385).
Para que fossem obtidos maiores esclarecimentos a respeito do nanismo, foi realizada
uma entrevista com a mdica endocrinologista Dra. Marcia Murussi3. De acordo com Barros e
No apndice A encontram-se as perguntas com as
respectivas respostas obtidas.
3 Faculdade de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especializao em Medicina
interna pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Registro de Qualificao de Especialista (RQE) no
CREMERS em Clnica Mdica n 11778. Especializao em Endocrinologia e Metabologia pela Associao
Mdica Brasileira. Mestrado em Medicina: Endocrinologia pela UFRGS. Doutorado em Endocrinologia Clnica /
Metabolismo e Nutrio pela UFRGS.
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3 O NANISMO, O PRECONCEITO E AS LEIS DE IN CLUSO
Diferente do que se pensa, o grande problema do nanismo no est associado sade
do indivduo. Camargo e Valente (2011) afirma que as principais adversidades enfrentadas
por uma pessoa que possui nanismo esto relacionadas ao preconceito, a dificuldade de
insero social e a falta de seriedade com que so tratados. Exemplo disso o fato de no
obterem as mesmas oportunidades de trabalho que uma pessoa de estatura normal, sendo que
a nica caracterstica que difere uma pessoa com nanismo do indivduo que no o possui, a
sua baixa estatura, uma vez que as suas capacidades intelectuais so equivalentes (ARAJO
et al., 2016).
As pessoas com nanismo enfrentam empecilhos referentes falta de acessibilidade em
locais cotidianos como bancos, restaurantes, supermercados, banheiros pblicos e transportes
coletivos. Frequentemente passam por constrangimentos, sofrem com piadas, apelidos e
olhares indiscretos de pessoas que no possuem conhecimento de que a baixa estatura uma
caracterstica que no os impede de trabalhar, estudar, ser socialmente ativo, formar uma
famlia, enfim, de levar uma vida absolutamente normal.
Visando transformar essa realidade e buscando pela incluso social dos indivduos
com nanismo, no Brasil, por meio do Decreto n 5.296 de 02 de dezembro de 2004, Art. 5, o
nanismo passou a ser considerada uma deficincia:
1o Considera-se, para os efeitos deste Decreto:
I - pessoa portadora de deficincia, alm daquelas previstas na Lei no 10.690, de 16
de junho de 2003, a que possui limitao ou incapacidade para o desempenho de
atividade e se enquadra nas seguintes categorias:
a) deficincia fsica: alterao completa ou parcial de um ou mais segmentos do
corpo humano, acarretando o comprometimento da funo fsica, apresentando-se
sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia,
tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputao ou
ausncia de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade
congnita ou adquirida, exceto as deformidades estticas e as que no produzam
dificuldades para o desempenho de funes (BRASIL, 2004).
Com o Decreto n 5.296, o nanismo tambm foi includo na Lei 8213/91, chamada de
Lei de Contratao de Deficientes nas Empresas (BRASIL, 1999):
LEI N 8.213, DE 24 DE JULHO DE 1991, lei de contratao de Deficientes nas
Empresas. Lei 8213/91, lei cotas para Deficientes e Pessoas com Deficincia dispe
sobre os Planos de Benefcios da Previdncia e d outras providncias a contratao
de portadores de necessidades especiais.
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Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados est obrigada a preencher
de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficirios
reabilitados ou pessoas portadoras de deficincia, habilitadas, na seguinte proporo:
I - at 200 empregados.......................................................................2%;
II - de 201 a 500..................................................................................3%;
III - de 501 a 1.000..............................................................................4%;
IV - de 1.001 em diante.......................................................................5%
A lei transformou a maneira de esses indivduos serem vistos pela sociedade,
proporcionando novas oportunidades para ingressar no mercado de trabalho, bem como
estimulando as empresas a tornarem seus ambientes acessveis aos colaboradores que
possuem algum tipo de deficincia. Aps a lei, outras questes importantes vieram tona,
exemplo disso foi o modo como ela afetou diretamente a relao desses indivduos com as
roupas e o seu modo de vestir. Entende-se que antes da criao da lei, como as chances de
uma pessoa com nanismo conseguir um emprego eram difceis, os cuidados com a vestimenta
e com a aparncia possuam pouca relevncia em suas vidas, j que passavam grande parte
dos seus dias em seus lares, no ambiente domstico, em virtude da falta de oportunidade.
Posteriormente criao da lei, com maiores chances de ingressar no mercado de
trabalho, surgem dificuldades relativas carncia de roupas adequadas a esse pblico.
Independente de possuir algum tipo de deficincia ou no, todas as pessoa necessitam de
roupas apropriadas de acordo com a sua profisso, seu estilo de vida e seus gostos, afinal,
(GUERRA, 2013, p. 22).
No Brasil, atualmente, no existem marcas que confeccionem e comercializem roupas
adaptadas ao pblico com nanismo. As peas em tamanhos padres tm que passar por
diversos ajustes, o que, na grande maioria das vezes, no garante um bom caimento e nem
uma boa vestibilidade. Alm disso, para que se possa adaptar, cortar e ajustar qualquer pea
de roupa se faz necessrio o trabalho de uma costureira, o que acaba tornando o preo final da
roupa mais elevado em comparao quelas que no precisam de ajustes. Outra opo obter
roupas feitas sob medida, porm o valor tambm costuma ser alto, e muitas pessoas no
possuem tempo ou condies financeiras para encomendar todas as peas que necessitam.
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4 O CORPO E A MODA
As pessoas com nanismo possuem uma estrutura corporal distinta, caracterizada pela
sua estatura abaixo da mdia e, em boa parte dos casos, pela desproporo dos membros,
como braos e pernas mais curtos. A partir do momento em que compreendemos isso,
possvel perceber de um modo mais claro quais as dificuldades desse pblico em encontrar
peas adequadas para o seu biotipo, uma vez que, as roupas que esto disponveis atualmente
no mercado, so produzidas com base em tabelas de medidas padro.
Criou-se, na modernidade contempornea, o corpo-padro, a moda do corpo
perfeito. H de se considerar, portanto, dois aspectos quando tratamos da questo da
moda: a moda do corpo e a moda para o corpo. Qualquer que seja o posicionamento
da utilizao do corpo no sistema de comunicao, o resultado est num
posicionamento tico, moral e esttico que envolve o fator filosfico, poltico e
social, portanto ideolgico (GARDIN, 2008, p. 75-76).
Apesar de nos encontrarmos em um perodo onde muito se discute sobre a quebra de
padres, a grande maioria das marcas ainda cria as suas colees baseadas na ideologia da
moda do corpo, expresso que soa um tanto inadequada para a atual realidade, afinal, essa
ideologia visa vestir um corpo estereotipado, que dificilmente alcanado pelas pessoas.
Essa questo do corpo padro vai alm da esttica, afinal, a influncia de um
esteretipo de beleza amplamente exposto pelas mdias pode gerar consequncias negativas,
inclusive com relao sade, conforme afirma Gardin (2008, p. 80).
A supremacia dos veculos de comunicao de massa na criao de padres
ultrapassa os limites estticos e envereda, muito sistemicamente, sobre o campo que
inclui, inclusive, a sade. intrigante o modo como se cria padres de beleza por
masculino quanto o
feminino.
Etcoff (1999, p. 13) fala a respeito da influncia da mdia e alega que ela:
[...] controla e dirige o desejo e reduz a amplitude de nossa faixa de preferncias.
Uma imagem que agrada a um grande grupo se torna molde, e a beleza seguida
pelo seu imitador, e depois pelo imitador do seu imitador.
A partir disso, surge um questionamento importante a respeito do tema, indicando que
certos pontos deveriam ser revistos para os dias atuais: De que maneira uma pessoa que no
se encaixa nos determinados padres de beleza pode se sentir representada, se no h
identificao por parte dela com as imagens que so mostradas pela mdia? Uma possvel
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soluo para essa questo pode estar em uma ressignificao n de conceitos por parte de quem
cria, bem como de quem difunde a moda.
No ter chegado o momento dessa discusso furar a universalizao do corpo-
modelo que vigora na moda? Afinal, h um corpo-modelo que hegemoniza as
imagens difundidas pelos meios de comunicao. Ele suporta alguns traos distintos
(cabelo, olhos, cor da pele), desde que no violem o modelo-padro que esteja em
vigncia, em um escancarado exerccio de excluso pela incluso praticado por
todos os envolvidos (KATZ, 2008, p.74).
Pode-se utilizar como exemplo, para evidenciar que a viso da representao por meio
das mdias verdadeira e bastante necessria, pela escolha de uma das atrizes que configurar
em outubro de 2017. Juliana Caldas (FIGURA 3) tem nanismo e foi escolhida para interpretar
a personagem Estela (TOLETO, 2017). De acordo com Toledo (2017, texto digital):
Ter o assunto debatido em nvel nacional saber que um nmero muito maior de
pessoas ser sensibilizado, tanto para um comportamento socialmente digno em
relao [sic] quem tem nanismo, quanto para apoiar a luta por polticas pblicas de
incluso social e acessibilidade.
Figura 3 - Juliana Caldas e Walcyr Carrasco.
Fonte: www.instagram.com.
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4.1 Proporo X beleza
compreensvel que, desde a antiguidade, o corpo que estivesse em evidncia
influenciasse os demais a buscar por aquele mesmo padro, j que, de acordo com Gardin
(2008, p.75) o corpo considerado o primeiro veculo de comunicao e expresso utilizado
pelo homem [...] . Diante disso, pode-se afirmar que, ao longo dos tempos, existiram diversos
conceitos relativos beleza do corpo humano, os quais eram apontados por vezes como
perfeitos ou at mesmo divinos.
Um dos conceitos mais difundidos relacionados beleza diz que o belo est
diretamente ligado proporo e simetria, sendo Pitgoras o primeiro a defender essa ideia. A
respeito disso, Eco (2010, p. 61) afirma que:
[...] com Pitgoras nasce uma viso esttico-matemtica do universo: todas as coisas
existem porque refletem uma ordem e so ordenadas porque nelas se realizam leis
matemticas que so ao mesmo tempo condio de existncia e de Beleza.
Seguindo as teorias de Pitgoras, Vitrvio tambm relacionava a beleza proporo e
dele partiu a ideia de [...] exprimir as justas propores corporais em fraes da figura
inteira: a face deve ter 1/10 do comprimento total, a cabea 1/8, o comprimento do trax, 1/4,
e assim por diante [...] (ECO, 2010, p. 74). Considerando a sua argumentao, fica evidente
que a figura humana apresentada por Vitrvio proporcionalmente perfeita, algo
possivelmente aceitvel para obras de arte, como esculturas e pinturas, por exemplo, porm,
quando esse conceito utilizado para referir-se a um corpo humano, a ideia pouco condiz com
a realidade.
De acordo com Eco (2010, p 95), [...] quando se entende a proporo como regra
rigorosa, ento se percebe que ela no existe na natureza, e pode-se chegar s argumentaes
Eco
(2010, p.94) alega que:
[...] em todos os sculos falou-se da beleza da proporo, mas que segundo as
pocas, apesar dos princpios aritmticos e geomtricos declarados, o sentido da
proporo foi mudando. Afirmar que deve haver uma justa relao entre o
comprimento dos dedos e a mo, e entre ela e o resto do corpo, uma coisa;
estabelecer qual seria a relao justa era matria de gosto que podia mudar ao longo
dos sculos.
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Ainda que alguns estudiosos da antiguidade defendessem a ideia das justas
propores, outras teorias sobre a beleza surgiram para contrapor quelas que exaltavam os
nmeros. Etcoff (1999) afirma que os sistemas de medidas falharam ao tentar encontrar a
frmula da beleza nos ideais matemticos, pois, aps diversos experimentos, constatou-se que
os critrios de beleza possuem maior ligao com a biologia do que com os nmeros. Etcoff
ressalta essa ideia afirmando [...] para os cientistas deste sculo, a chave para a
compreenso da beleza humana est em nossa biologia, no na matemtica. (p. 168).
5 MODA COM PROPSITO
Mesmo que algumas pessoas no compreendam a importncia da moda no mundo
contemporneo, no h como discordar de rte vital da construo
do eu. SVENDSEN, 2010, p 20). Ao longo dos tempos, a moda, por meio das roupas,
cumpriu uma srie de finalidades diferentes, assim como discorre Carvalhal (2016), quando
afirma que antes, as suas funes principais estavam relacionadas proteo, ao adorno e
diferenciao e assim, posteriormente, evoluiu tambm para questes mais profundas, como
tornar-se veculo esttico de expresso de ideias e valores, alm de contribuir com o
autoconhecimento e estabelecimento de dilogos e laos sociais.
Segundo Lobo, Limeira e Marques (2014), em seu princpio, na Europa, por volta do
sculo XV, a moda era utilizada como instrumento de diferenciao das classes sociais, onde
existiam leis que restringiam tecidos e cores somente uma pequena parcela da populao: os
nobres. A moda, conforme discorre Lobo, Limeira e Marques (2014, p. 12) [...] um
fenmeno de mutao que sempre est se reinventando e que isso que a torna interessante e
. Sendo assim, compreende-se que desde o seu incio, a moda desempenhou papis
expressivos no mundo. Nem sempre positivos ou democrticos, porm, devido a sua
habilidade de transformao, h algum tempo ela vem se tornando uma importante ferramenta
em prol do rompimento de barreiras relativas ao preconceito, incluindo minorias que no se
encaixam nos determinados padres, como o caso das pessoas com nanismo.
Assim como qualquer outro indivduo, homens e mulheres com a estatura abaixo da
mdia so consumidores em potencial, que necessitam de roupas adequadas para seus corpos
e, igualmente, desejam ter a moda a seu favor. Apesar de ouvirmos falar com frequncia a
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respeito da diversidade e a incluso social na moda, as marcas ainda no se conscientizaram
sobre a importncia de entender e atender esse nicho de mercado e, assim, rever seus
conceitos como marca e ir alm de objetivar somente o lucro, mas tambm gerar outro valor
to importante quanto: o de carter social. A respeito disso, Carvalhal (2016, p. 170) afirma
que [...] preciso gerar benfeitorias para a sociedade e estimular o desenvolvimento. Gerar
valor econmico (como consequncia) .
5.1 Moda Inclusiva
Quando se fala em moda com propsito, possvel pensar em diversos modos de
coloc-la em prtica nas atuais e futuras empresas do mercado, seja com relao ao meio
ambiente ou visando o meio social, colaborando com o desenvolvimento humano a partir de
projetos e aes que beneficiem a comunidade onde a companhia est inserida, e refletindo
sobre as reais necessidades das pessoas. De acordo com Chaves (2017), a moda, no momento
em que explorado o seu aspecto de incluso, no suprflua como alguns pensam, ao
contrrio disso, ela fundamental para que as pessoas com deficincia possam ganhar mais
espao e visibilidade.
Conforme Cietta (2017, p.36)
suficiente apenas p observa-se a importncia de repensar a
maneira como as empresas do ramo da moda esto atuando, para que a ideia de apenas gerar
demanda seja substituda pela busca por solues para os problemas das pessoas,
principalmente com relao quelas que possuem algum tipo de deficincia. Novos tempos
exigem novas atitudes, inclusive na maneira de empreender.
Este o momento em que a moda precisar resgatar sua essncia, o que deve
comear nas pessoas que fazem a moda (ei, voc a!). Precisamos compreender e
aprimorar a importncia do servir. O servio autntico se baseia na genuna empatia
com as necessidades do outro. Leva ao desenvolvimento e ao crescimento e expressa
amor, cuidado e compaixo, artigos em falta em tudo o que fazemos - enquanto
estamos ocupados demais pensando em planilhas, faturamento, lucro, esquecemos
muitas vezes "por que", "o que", e "para quem" estamos trabalhando
(CARVALHAL, 2016, p.76).
A moda inclusiva uma dentre tantas alternativas que colaboram com a autenticidade
e a gerao de valor social para as marcas. Por meio dela, um determinado pblico ser
diretamente beneficiado, alm de, consequentemente, essas benfeitorias servirem de exemplo
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para que outras companhias busquem se engajar com atitudes que possibilitem a incluso
social daqueles que, por vezes, ainda passam despercebidos pela sociedade.
6 DISCUSSES E RESULTADOS
Para obter informaes que pudessem contribuir com um melhor entendimento sobre
as principais necessidades e dificuldades do pblico alvo do presente artigo, foi realizada uma
pesquisa de campo, por meio de um questionrio, sendo esse [...] o instrumento mais usado
(BARROS; LEHFELD, 2007, p. 105). De acordo com
Barros e Lehfeld (2007), esse mtodo de pesquisa possui vantagens como: alcanar um
grande nmero de pessoas, inclusive em diferentes localidades, garantir o anonimato, o que d
maior liberdade nas respostas e o pesquisado pode refletir sobre as perguntas antes de
respond-las, pelo tempo que achar necessrio. Ao todo foram contatadas 95 mulheres,
localizadas em dois grupos de discusses de temas relacionados ao nanismo, por meio de uma
rede social, sendo que a porcentagem de obteno de respostas foi de 33%, ou seja, 32
mulheres responderam ao questionrio.
Foram levantadas 13 (treze) questes, sendo elas: Qual a sua idade (APNDICE B)?;
Qual a sua profisso (APNDICE C)?; Qual o diagnstico mdico para a sua baixa estatura
(APNDICE D)?; O que voc gosta de fazer nas horas vagas (APNDICE E)?; Na hora de
comprar roupas, qual a sua maior dificuldade (APNDICE F)?; Qual ou quais peas voc
possui mais dificuldade de encontrar: partes de cima, partes de baixo ou ambas (APNDICE
G)?; Em qual setor (masculino, feminino, infantil) voc costuma comprar as suas roupas
(APNDICE H)?; As opes encontradas lhe agradam (APNDICE I)?; Voc possui roupas
feitas sob medida ou faz ajustes nas peas compradas em loja (APNDICE J)?; A roupa
influencia no seu bem estar (APNDICE K)?; Voc se sente mais confiante de acordo com
roupa que est vestindo (APNDICE L)?; Voc gosta de moda? Acompanha as tendncias
(APNDICE M)?; Qual o seu sonho de consumo (APNDICE N)?;
Aps a finalizao do questionrio, foi possvel fazer constataes importantes sobre
as principais dificuldades encontradas pelo pblico alvo e quais as suas preferncias e seus
desejos quando buscam por roupas novas. Referente primeira pergunta, a faixa etria das
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mulheres que responderam ao questionrio se manteve entre 15 (quinze) e 54 (cinquenta e
quatro) anos.
Os diagnsticos mdicos das entrevistadas foram variados, no qual foram
mencionadas 12 (doze) patologias diferentes. A condio mais citada foi a acondroplasia, em
que, de acordo com Meloni et al. (2013, p. 384)
Styne (2013) afirma que
a acondroplasia uma condio que se caracteriza por braos e pernas curtos, cabea
relativamente grande, ponte nasal proeminente e lordose lombar ao longo da vida. Ainda com
relao pergunta sobre o diagnostico mdico, foi possvel observar que, em alguns casos, as
entrevistadas desconheciam qual a patologia que acarretou na sua baixa estatura.
Com relao s profisses, foi possvel comprovar que suas atividades de trabalho so
independentes do nanismo, ou seja, h atrizes, bancrias, professoras, palestrantes,
farmacuticas, bibliotecrias, dentre outras ocupaes, nos mais diversos ramos de atuao.
Com a obteno de respostas referente pergunta de nmero quatro, foi possvel analisar e
concluir alguns aspectos sobre o estilo de vida das mulheres foco da pesquisa. Dentre as
principais dificuldades ao buscar por roupas novas, est a de encontrar peas que no
precisem de nenhum ajuste. Na grande maioria das vezes necessrio encurtar o
comprimento das calas, saias e vestidos, alm das mangas de blusas, camisas e casacos.
Quando perguntadas quais as peas com maior dificuldade de encontrar nas lojas, a grande
maioria citou as partes de baixo em geral, tendo menos dificuldade para conseguir encontrar
as partes de cima [...] o comprimento do (MELONI et
al., 2013, p. 126) ou por ter de fazer uma quantidade menor de ajustes nessas peas.
As participantes do questionrio tambm afirmaram que costumam revezar as compras
de roupas entre os setores feminino e infantil, mas que raramente as opes encontradas lhes
agradam. Com relao ao setor feminino, elas justificam que tm de ser feitos diversos
ajustes, cortes e adaptaes e que isso, na grande maioria das vezes, prejudica o caimento e a
modelagem das peas. Para exemplificar essa situao, foi citada a cala estilo flare, que
atualmente, inexistente para esse pblico, a menos que seja feita sob medida, pois, a cala,
quando cortada, perde a sua caracterstica principal.
No setor infantil, as modelagens e propores so inadequadas para os corpos de
mulheres adultas. Enquanto as crianas possuem formas retas, e as suas roupas acompanham
16
esse biotipo, as mulheres, mesmo aquelas com a estatura abaixo da mdia, possuem formas
mais avantajadas, como nos seios e quadris, consequentemente, as peas infantis no
proporcionam uma vestibilidade adequada. Em relao pergunta de nmero nove, todas as
participantes afirmaram que necessitam fazer ajustes nas roupas que compram e um grande
nmero declarou que possui ao menos uma pea feita sob medida devido dificuldade de
encontra-las prontas, ou porque, quando as encontram, apesar dos ajustes, o resultado no fica
satisfatrio ou apropriado.
Quando questionadas se a roupa influencia no seu bem estar e se elas se sentem mais
confiantes de acordo com o que esto vestindo, a grande maioria das respostas foi afirmativa.
Concluiu-se que a roupa possui uma grande influencia no bem estar, na autoestima e na
autoconfiana das entrevistadas. Um grande nmero de participantes afirmou que adora moda
e, dentre elas, um nmero razovel disse que acompanha as tendncias sempre que possvel.
Com relao aos seus sonhos de consumo, as respostas foram pessoais e no necessariamente
relacionadas s roupas, como por exemplo, viajar e conhecer outros pases, comprar um carro
e at mesmo desejar um mundo mais justo e sem preconceitos. J com relao moda, as
respostas permearam na vontade de encontrar uma marca especial para mulheres com
nanismo e obter roupas onde no seja necessrio fazer ajustes.
7 O NANISMO, A ROUPA E A MODA
A partir da pesquisa realizada para o desenvolvimento do presente artigo, bem como
com base nas respostas do questionrio aplicado ao pblico alvo, ficou claramente
compreendido que, enquanto para algumas pessoas o ato de comprar roupas simples e
prazeroso, para as mulheres com nanismo, esta se torna uma atividade incmoda e frustrante
devido a grande dificuldade para encontrar peas apropriadas para seus corpos. Aps os
estudos relacionados ao tema, ficou evidente o obstculo de se criar uma tabela de medidas
para as mulheres com nanismo, visto que dentro do grande grupo de patologias que se
encaixam nessa definio, os corpos e medidas diferem-se muito entre si.
Foi constatada a existncia de uma tabela de medidas especfica para as mulheres com
acondroplasia, um dos tipos mais comuns de nanismo, porm, a mesma no proporcionou
17
resultados satisfatrios quando aplicada, devido falta de dados antropomtricos colhidos e a
limitada quantidade de participantes para a coleta que foi realizada, o que determinou que os
tamanhos presentes na tabela possussem grandes diferenas de medidas entre si.
Apesar de no ser vivel instituir uma tabela de medidas para esse pblico sem estudos
mais aprofundados a respeito do assunto, pode-se ter como alternativa para a criao de uma
coleo de moda para as mulheres com nanismo, roupas confeccionadas sob medida. De
acordo com Gomes (1992) apud Treptow (2007, p.43) oleo a reunio ou conjunto de
Uma coleo de moda
deve ser coerente com o perfil do consumidor, com a identidade da marca, com o tema da
coleo e tambm com as cores e materiais utilizados, conforme Treptow (2007).
Este artigo servir de base para o desenvolvimento de uma coleo de moda para a
marca Singular, que foi criada anterior ao presente estudo. De acordo com o dicionrio, o
(ROSA, 2014, p. 264). A marca tem
como propsito oferecer roupas especialmente pensadas para atender aos desejos da mulher
moderna, unindo conforto, beleza e singularidade nas peas. Embora a Singular atenda ao
pblico feminino utilizando de uma modelagem padro, ser criada uma nova linha da marca,
a qual visa atender s mulheres com nanismo, intitulada Singular Small Size. Conforme
Treptow (2007, p.68 sa posicionada pela identidade da marca decidir
ampliar a linha de produtos poder faz-lo atravs da extenso de linha ou extenso de marca
[...] .
A finalidade da nova linha consiste em promover a incluso social das mulheres com
nanismo atravs das roupas. A primeira coleo da Singular Small Size possui como tema de
inspirao a quebra de paradigmas relativos aos padres de beleza, mostrando que pode haver
beleza mesmo sem proporo. Devido a isso, as roupas possuiro modelagens com assimetria
e desproporo, visando enfatizar o conceito de beleza fora dos padres. A cartela de cores da
coleo ser inspirada nas tendncias de moda apontadas pela ferramenta de pesquisa Use
Fashion, para o outono/inverno 2018, onde diz que:
[...] a cartela de cores que representa esse momento de reconsideraes pode
parecer, em um primeiro olhar, um jogo de opostos, mas na realidade, ela trabalha
com a proposta de complementar. Se a neutralidade est presente para fundamentar a
ideia de uma desconexo e valorizar o conforto, cores vibrantes adicionam um toque
de alegria ou ironia ao dia a dia (USEFASHION, 2016, texto digital).
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Figura 4 - Cartela de cores da coleo
Fonte: www.pantone.com. Adaptado pela autora
Os tecidos utilizados para a confeco das roupas da coleo sero os mesmos das
peas da marca Singular. No houve a necessidade de buscar por tecidos especiais para o
pblico com nanismo, uma vez que, a diferena das roupas ficar por conta dos tamanhos e
comprimentos.
Tambm sero empregados elementos como transparncias e sobreposies de tecidos
e cores para mostrar que as roupas possuem uma atmosfera jovem e moderna, visando atender
aos desejos do pblico alvo, com o diferencial de que as peas sero confeccionadas sob
medida, o que possibilitar modelagens de acordo com as propores dos corpos, que
consequentemente contribuir com a boa adequao das peas. No ser obedecido um padro
de tamanhos e, devido a isso, a unidade da coleo ficar por conta do tema, das cores,
tecidos, formas e no prprio conceito de incluso proposto.
Aps a confeco das roupas, ser feita uma sesso de fotos com cinco modelos com
nanismo e seus respectivos looks. Em conjunto com a ideia de incluso proposta pelas roupas
da coleo, as fotos para a produo de um catlogo da marca Singular Small Size sero
realizadas em meio a um cenrio noturno comum para o pblico jovem. apropriado destacar
que a escolha do local e a iniciativa da produo fotogrfica ser feita em um ambiente de lazer
e convvio social, visam retratar a incluso, evidenciando que as mulheres com nanismo
possuem uma vida social ativa, frequentam bares e festas com grupos de amigos e desejam ter
roupas adequadas e belas para participar dessas atividades.
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8 OS NEGCIOS DE MODA E A INCLUSO SOCIAL
A moda ofertada pelo mercado provm das tendncias de moda e comportamento.
Considerando que a tendncia no uma certeza, mas sim algo que pode vir a acontecer,
entende-se o risco que envolve um negcio de moda (FACCIONI, 2012). As tendncias so
apostas que podem ou no ser aderidas pelo consumidor final.
Cada um dos membros do ciclo de produo, cada operador da cadeia e cada
consumidor participa de um pedao da construo do sucesso ou do fracasso de um
produto, mas ningum tem condies de determin-los com certeza. Mesmo as
campanhas publicitrias, com seus milhes de dlares de verba, no esto em
condies de garantir um sucesso, e so muitos os casos de investimentos
milionrios feitos em vo. Alm disso, os fenmenos globais parecem cada vez mais
ligados a elementos de imprevisibilidade. Ao lado do sucesso do grande
investimento de marketing e publicitrio (aquele efetuado pelas empresas que
previses (o 2017, p. 270).
Uma empresa que pretende fabricar produtos de moda inclusiva no deve agir como as
mencionadas por Cietta (2017), pois, campanhas milionrias no so ferramentas
adequadas quando se foca em um pblico restrito, no caso em questo, as mulheres com
nanismo. Considerando que o nicho selecionado pela marca Singular Small Size seja restrito,
logo, com poucas chances de sustentar um negcio, necessrio criar uma boa estratgia de
gesto. Essa estratgia deve ser pensada para, no s concretizar os objetivos da marca com
relao incluso social, mas igualmente para que este se torne um negcio economicamente
sustentvel, contribuindo com o desenvolvimento do meio em que est inserida.
Cietta (2017) destaca a fala de Walter Rodrigues, palestrante no Frum de Inspiraes
e um dos grandes estilistas brasileiros, que atua em diversos polos produtivos do pas,
principalmente em projetos de recuperao da criatividade:
Ns somos muito corajosos. Quando apresentamos todo questionamento da
pesquisa, que o Frum de Inspiraes, no nos diferenciamos dos bureaus [sic] de
moda existentes no mercado, somos tambm um bureau de estilo. Mas o que nos
diferencia termos aes realizadas dentro das empresas. Elas no esto sozinhas.
Temos consultores que entram nas empresas e trabalham a partir do que elas
possuem de maquinrio, histrico e meta. Falamos de tendncias em curto, mdio e
longo prazo. Nos baseamos muito no comportamento do consumidor, que o que
nos interessa, e comeamos sempre pelo instantneo (60% da produo), para depois
ir para as apostas (30%) e, por fim, as inovaes (10%) (RODRIGUES, 2015 apud
CIETTA, 2017, p. 280).
De acordo com Rodrigues (2015, texto digital), [...] a moda feita por metades: 50%
Esta pode ser considerada uma soluo para fabricar produtos de
20
moda com minimizao de riscos. Considerando as possibilidades de produo, os
compromissos como meta de faturamento e o desejo do consumidor, possvel dividir o
percentil total previsto para a produo, em cotas baseadas na escala de risco.
A marca Singular acredita que seja possvel desenvolver e confeccionar produtos para
um pblico especfico e restrito, como o das mulheres com nanismo, porm, tendo estes
produtos como foco, mas sim, como uma produo alternativa. Portanto, sendo a moda
inclusiva voltada s mulheres com nanismo o foco alternativo, esse seria o menor percentil de
produo da empresa, sendo confeccionado pela diviso Singular Small Size. A maior parte da
produo permanece voltada para produtos de moda com uma modelagem feminina padro, o
que teoricamente, representaria uma menor margem de risco para o negcio, assegurando a
sua sustentabilidade econmica.
O foco de produo da marca Singular estar nas colees de moda feminina em
tamanho padro, com periodicidade de quatro colees ao ano: outono/inverno, alto inverno,
primavera/vero e alto vero. A venda dessas colees seria feita para lojas multimarcas,
atravs de representantes. A proposta de moda inclusiva da linha Singular Small Size,
desenvolver as peas em formato de colees cpsula, ou seja, com opes selecionadas da
coleo Singular em tamanho padro, adaptando conforme as medidas necessrias.
Considerando que o pblico alvo bastante especfico e que este pode se tornar ainda menor
depois de segmentado, a estratgia venda dessa linha deve ser distinta da estratgia utilizada
na coleo normal.
O pblico com nanismo ainda pode ser segmentado de acordo com caractersticas
semelhantes entre si, assim como afirma Costa (2013), utilizando dos aspectos demogrficos,
por diferentes faixas etrias, estilos de vida, atitude e comportamento, isto , vivem de formas
distintas umas das outras, o que de fato influencia seus hbitos de consumo.
Para atingir este grupo to especfico, a marca pretende comercializar suas colees
atravs de dois canais de venda: por meio de e-commerce e com espao exclusivo no site da
marca e atravs de um catlogo especfico da Singular Small Size, o qual ser oferecido pelos
representantes das colees padro para os lojistas das multimarcas. De acordo com Costa
(2013), com a comercializao feita atravs de sites, possvel abranger produtos, preos e
clientes em diferentes segmentos e nichos de mercado. A proposta de moda inclusiva ser
apresentada no caso de o lojista ter alguma cliente que faa parte desse pblico, onde assim,
21
ele poder efetuar o pedido das peas da coleo. Destaca-se que o grande diferencial da
Singular Small Size que ela atender as mulheres com nanismo, oferecendo modelos
especficos, que sero produzidos conforme as medidas fornecidas pelo prprio cliente, no e-
commerce ou por meio do lojista.
9 CONSIDERAES FINAIS
fato que as pessoas com nanismo enfrentam diversas dificuldades em seu cotidiano,
desde aquelas relativas falta de acessibilidade, o preconceito e, inclusive, de no terem a
chance de vestir uma roupa que lhes proporcione conforto, que v de acordo com a sua faixa
etria, que no precise de diversos ajustes e, principalmente, que desempenhe a funo de
inclu-lo na sociedade em que est inserido.
Tendo em vista as constataes realizadas ao longo da pesquisa, pde-se chegar a
concluses relevantes a respeito do assunto. Notou-se que a roupa, quando est adequada de
acordo com o corpo, gosto e estilo de vida desse pblico, torna-se item fundamental para
contribuir com o aumento da autoestima e autoconfiana, o que consequentemente resultar
na melhora da qualidade de vida e contribuir com a insero social dessas mulheres.
Pode-se afirmar que existe a viabilidade de uma marca de moda oferecer produtos
pensados para esse pblico, mesmo que restrito, por meio de estratgias de gesto
diferenciadas. A partir da pesquisa, ficou constatada a possibilidade de uma empresa ser
economicamente sustentvel e, ao mesmo tempo, ter propsitos que vo alm do faturamento.
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24
APNDICES
25
APNDICE A - Entrevista com a mdica endocrinologista
ENTREVISTADOR: correto afirmar que, se o indivduo possui uma estatura em
torno de 1,40 m, ele tem nanismo?
ENTREVISTADA: Sim, est correto. As pessoas que tem nanismo so muito baixas,
com a estatura em torno de 1,40 m e em geral, possuem alguma alterao gentica. Dentre as
doenas que alteram a proporo do corpo, associada ao nanismo, as mais comuns so a
acondroplasia e a hipocondroplasia.
ENTREVISTADOR: necessrio haver deformidade dos membros para que a pessoa
tenha nanismo?
ENTREVISTADA: No. H o nanismo proporcional, como por exemplo, aquele
relativo falta de GH, o hormnio do crescimento e o nanismo desproporcional, sendo a
acondroplasia a doena mais comum, onde geralmente a cabea maior em relao ao corpo,
os membros so curtos e grossos e h uma deformidade corporal visvel. H tambm a
hipocondroplasia, que uma forma menos intensa da doena e caracteriza-se pelo
encurtamento de membros, como antebraos e pernas. Existem outras doenas e sndromes
genticas associadas baixa estatura extrema, porm so muito raras.
ENTREVISTADOR: O nanismo uma patologia hereditria?
ENTREVISTADA: O nanismo pode ser passado de pai para filho, porm isso no
regra, j que cada caso um caso. Geralmente o nanismo decorre de uma alterao gentica,
e, na maioria das vezes, essa alterao nova, ou seja, mesmo no havendo um histrico da
doena na famlia, pais com a estatura normal podem gerar uma criana com nanismo. Assim
como existe a possiblidade de um casal, onde ambos possuem nanismo, de gerar uma criana
com uma a estatura normal.
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APNDICE B Respostas do questionrio
27
APNDICE C Respostas do questionrio
28
APNDICE D Respostas do questionrio
29
APNDICE E Respostas do questionrio
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APNDICE F Respostas do questionrio
31
APNDICE G Respostas do questionrio
32
APNDICE H Respostas do questionrio
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APNDICE I Respostas do questionrio
34
APNDICE J Respostas do questionrio
35
APNDICE K Respostas do questionrio
36
APNDICE L Respostas do questionrio
37
APNDICE M Respostas do questionrio