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Moçambique Maputo Números-chave Superfície, em milhares de km 2 : 802 População, em milhares de habitantes (2004): 19 182 PIB per capita, em dólares (2003): 229 Esperança de vida (2000-2005): 38.1 Taxa de analfabetismo: 50.9

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Moçambique

Maputo

Números-chave• Superfície, em milhares de km2: 802• População, em milhares de habitantes (2004): 19 182• PIB per capita, em dólares (2003): 229• Esperança de vida (2000-2005): 38.1• Taxa de analfabetismo: 50.9

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Perspectivas Económicas na África 2004/2005 Em inglês: www.oecd.org/dev/aeo Em francês: www.oecd.org/dev/pea
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DESDE O FIM DE UMA GUERRA devastadora, em 1992,Moçambique tem registado uma das mais elevadastaxas de crescimento do mundo, com uma média de8.1 por cento desde 1993, tendência mantida em 2003e 2004. Contudo, o rendimento per capita ainda seencontra entre os mais baixos do mundo: 229 dólaresem 2003. O nível de pobreza descresceuconsideravelmente, porém mais de 50 por cento dapopulação é ainda considerada pobre e as desigualdadesquanto ao rendimento e à riqueza continuam evidentes,sendo possível que tenham até aumentado em algumasregiões. O crescimento de Moçambique deve-se emgrande parte a consórcios estrangeiros de grandesdimensões (os “mega-projectos”), mas pouco se tem feitopara alcançar um crescimento mais geral, ou para criarcapacidades de produção competitivas. Além disso,Moçambique tem de lutar contra o HIV-SIDA, um

grave problema que se tem agravado cada vez mais, econtra um dramático défice de recursos humanos.

O crescimento real do PIB atingiu os 7.1 por centoem 2003 e aumentou para 7.8 por cento em 2004segundo as estimativas,devido principalmenteaos dois mega-projectosfinanciados por investi-dores estrangeiros: ogasoduto da Sasol e aexpansão da fundiçãode alumínio Mozal II. Se for confirmado, esse resultadoestará de acordo com o objectivo de um crescimentode 8 por cento, fixado no Plano de Acção para a Reduçãoda Pobreza Absoluta (PARPA) para o período de 2001-05. Prevê-se um crescimento do PIB de cerca de

Prevê-se um forte crescimento económico com a implementação bem-sucedida dos “mega-projectos”, mas esforços devem ser envidados com relação à redistribuição de rendimentos e à redução da pobreza.

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2006(p)2005(p)2004(e)20032002200120001999199819971996

Figura 1 - Crescimento do PIB real

Fonte: Dados do FMI e do Instituto Nacional de Estatística; cálculos dos autores para as estimativas (e) e as projecções (p).

7.7 por cento para 2005 e uma descida do mesmo para6.7 por cento em 2006. Contudo, mantêm-se asapreensões quanto à sustentabilidade desse padrão decrescimento e quanto às possibilidades de se transformaros mega-projectos – que beneficiam de substanciaisexonerações fiscais e têm pouca repercussão no restoda economia – em novas fontes de criação de empregose de receitas fiscais.

Em Dezembro de 2004, o Presidente JoaquimChissano, que estava no poder desde 1986 e haviavencido as duas últimas eleições multi-partidárias, foisubstituído por Armando Emílio Guebuza, um altodirigente da Frelimo (Frente de Libertação deMoçambique) durante cerca de quatro décadas eveterano da luta pela libertação de Moçambique contrao colonialismo português. Apesar de alguns protestos

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por parte da oposição, observadores independentesnacionais e internacionais ficaram em geral bastantesatisfeitos com a justeza da eleição.

As novas autoridades terão de enfrentar numerososdesafios. Precisam melhorar a governação, incluindo amodernização na área da justiça, combater maisactivamente a corrupção, e proceder a reformasestruturais coordenadas e coerentes para melhorar adistribuição de recursos e criar novas capacidades. Essasmedidas são da maior importância para que se possaalargar as bases do desenvolvimento e do crescimentoda economia, acelerar a criação de empregos, erradicara pobreza e cumprir as condições impostas pelosparceiros para o desenvolvimento.

Progressos EconómicosRecentes

Em 2003 e 2004, a actividade económica foipraticamente sustentada pelo sólido desempenho dasindústrias extractivas e manufactureiras, dominadaspelos dois mega-projectos. O que também contribuiupara um elevado crescimento foram as boas colheitasdas principais culturas de exportação, bem como acrescente procura dos serviços de transportes ecomunicações.

Apesar da agricultura de Moçambique ser bastantefavorecida pelos solos férteis do país, ela sofre com a

irregularidade das chuvas, especialmente no sul, maisárido. Tanto em 2003 como em 2004, a seca afectouo sul do país, enquanto que nas regiões do Norte eCentro as chuvas foram abundantes. A agriculturacresceu mais de 8 por cento em 2003 e 2004. No geral,tanto a produção das culturas de base (feijão, milho emandioca), como a das culturas de exportação (caju,algodão, açúcar e tabaco) excederam os níveis dos anosanteriores e, em muitos casos, atingiram os níveis maisaltos jamais alcançados. Houve um aumento notóriodas áreas de cultivo, para a maior parte dos produtose em todas as zonas. Os sectores do açúcar e do tabacoregistaram um rápido crescimento, devido à privatizaçãode numerosas plantações de cana-de-açúcar e ao acessopreferencial ao mercado da União Europeia, assimcomo à contracção da produção de tabaco no Zimbabué,respectivamente. A produtividade também cresceu,devido a uma disponibilidade maior (mas aindainsuficiente) de fertilizantes e de variedades de altorendimento, e devido também, embora de maneiramais limitada, ao Programa de Investimento Públicopara o Desenvolvimento do Sector Agrário (PROAGRIII), que permitiu melhorar os serviços de valorizaçãoe de extensão das terras.

No seu relatório de análise da vulnerabilidade, oPrograma Alimentar Mundial indica que a insegurançaa nível alimentar diminuiu significativamente desde acolheita de 2001-02, e que ainda serão registadasmelhorias suplementares na próxima colheita. Estima-se que a produção agrícola cresça 6.5 a 7 por cento ao

■ África ■ Moçambique

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Figura 2 - PIB per capita em Moçambique e na África (em dólares actuais)

Fonte: FMI.

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■ Volume

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Agricultura, silvicultura e pesca

Exploração mineira e de pedreiras

IIndústrias manufactureiras

Construção

Gás, electricidade e água

Serviços

PIB a custo de factores

Figura 4 - Contribuições sectoriais ao crescimento do PIB em 2003 (percentagem)

Fonte: Estimativas dos autores baseadas em dados do Instituto Nacional de Estatística.

Agricultura, silvicultura e pesca

Exploração mineirae de pedreiras

Gás, electricidade e água

Construção

Indústriasmanufactureiras

Serviços

26%

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44%

15%

13%2%

Figura 3 - PIB por sector em 2003 (percentagem)

Fonte: Estimativas dos autores baseadas em dados do Instituto Nacional de Estatística.

ano, entre 2004 e 2007. Apesar desse progresso geral,o aumento da produção do sector requer esforçosconsideráveis visando melhorar o acesso ao crédito,estimular a adopção de novas tecnologias e investir eminfra-estruturas rurais.

Nos últimos cinco anos, a dimensão do sectormanufactureiro em Moçambique evoluiu de maneiraespetacular com a conclusão de uma enorme fundiçãode alumínio (Mozal) na província de Maputo. Com aexpansão da capacidade de instalação para 512 000

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toneladas, no final de 2003, a produção aumentou 82 por cento no primeiro semestre de 2004. O alumínio,por si só, representa 50 por cento da produçãomanufactureira total. Outros ramos do sectormanufactureiro de capital intensivo, tais como bebidase cimento, também registaram um crescimentosignificativo, enquanto que a produção agro-industrialregistou um desempenho mais fraco. A crise do sectortêxtil e de vestuário continuou. A produção de têxteise de vestuário passou de 20 por cento (do sectormanufactureiro) na década de 80 para menos de 3 porcento em 2003. Apenas duas fábricas de vestuário aindase encontram em funcionamento e todas as quatrograndes usinas têxteis fecharam. O segundo megaprojecto concluído em 2004 foi o gasoduto para

transporte de gás natural que liga a província deInhambane à África do Sul. Esse gasoduto gerou umaumento brutal da produção de gás nacional, quecresceu 130 por cento no primeiro semestre de 2004.

O sector da construção, concentrado em grandesprojectos, sofreu um decréscimo de 10 por cento apósa conclusão do gasoduto da Sasol e do programa deextensão da Mozal. Contudo, espera-se que esse sectorse recupere em 2005-06, com o lançamento de umprojecto do valor de 500 milhões de dólares para aextracção e a exploração das jazidas de areias pesadasde Moma (que contém titânio), e com a renovação daslinhas-férreas de Ressano Garcia e do Corredor deNacala, e da linha-férrea de Sena, que liga Tete à Beira.

Tabela 1 - Componentes da Procura (percentagem do PIB)

Fonte: Dados do FMI e do Instituto Nacional de Estatística; cálculos dos autores para as estimativas (e) e as projecções (p).

1996 2001 2002 2003 2004 (e) 2005 (p) 2006 (p)

Formação bruta de capital 21.8 41.5 44.7 44.7 44.3 48.1 50.9Público 11.2 16.6 14.3 14.3 12.0 13.0 12.9Privado 10.6 24.9 30.4 30.4 32.3 35.1 38.1

Consumo 101.8 72.9 68.0 68.0 63.1 60.2 59.1Público 8.0 13.9 14.3 14.3 13.8 13.6 13.4Privado 93.8 59.0 53.7 53.7 49.3 46.7 45.7

Saldo externo -23.7 -14.4 -12.7 -12.7 -7.4 -8.4 -10.1Exportações 12.2 29.2 33.0 33.0 35.1 34.1 31.5Importações -35.8 -43.6 -45.6 -45.6 -42.5 -42.5 -41.6

No sector dos serviços, o transporte e ascomunicações cresceram 35 por cento no primeirosemestre de 2004. O progresso do ramo dos transportesdeveu-se ao desenvolvimento das actividades portuáriase ao aumento do tráfego aéreo, devido à criação deuma nova transportadora privada. O crescimento doramo das comunicações deveu-se por sua vez à criaçãode uma segunda operadora de telefones móveis, aVodafone. Quase 80 por cento dos investimentos notransporte são efectuados nos três corredores seguintes:Maputo-África do Sul, Beira-Zimbabué e Nacala-Malawi. Em 2003, foi aprovada uma concessão para agestão do porto de Maputo e espera-se que oinvestimento de 70 milhões de dólares para os trêsprimeiros anos melhore as ligações entre o corredor deMaputo e as regiões do interior da África do Sul,

permitindo assim uma concorrência directa com oporto de Durban.

A tendência ascendente do investimento privadocontinua, devido sobretudo ao aumento do investimentoestrangeiro em alguns mega-projectos. O investimentopúblico tornou-se estável, depois de ter registado umpronunciado aumento no início da década de 2000,resultante dos esforços excepcionais de reconstrução apósas inundações. Os gastos do Governo diminuíram em2004, devido a uma escassez de donativos vindos doexterior. Segundo as estimativas, a procura externamelhorou em 2004 devido ao rápido crescimento dasexportações de alumínio e à diminuição das importaçõesde bens de equipamento, após a conclusão da MozalII e do gasoduto da Sasol.

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Políticas macroeconómicas

Política fiscal e monetária

O Plano de Acção para a Redução da PobrezaAbsoluta (PARPA) 2001-05 apresenta os principaisobjectivos de política económica de Moçambique. Noseguimento de uma avaliação globalmente satisfatóriada implementação dessa estratégia nos últimos quatroanos, as autoridades moçambicanas e o FMI assinaram,em meados de 2004, um acordo quanto a um Programade Financiamento para a Redução da Pobreza eCrescimento, por três anos. Apesar do Governo terconseguido consolidar a estabilidade macroeconómica,ainda tem que remediar uma série de pontos fracos,principalmente com relação a uma utilização maiseficaz do orçamento destinado às despesas sociais e asupressão dos obstáculos ao desenvolvimento do sectorprivado.

Os parceiros para o desenvolvimento estabeleceramum diálogo com as autoridades de Moçambique comrelação a áreas prioritárias, entre as quais: a gestão fiscal,as reformas do sector público e financeiro, a melhoria

do ambiente empresarial e a modernização da justiça.Em 2003, no contexto da revisão conjunta do programagovernamental, os objectivos do PARPA foram definidosde uma forma mais racionalizada tomando-se como baseuma matriz de avaliação de desempenho denominadaQAD (Quadro de Avaliação de Desempenho). O QADfornece uma série de indicadores de desempenho como fim de acompanhar o progresso na implementaçãoda estratégia nacional, a médio prazo, e ajudar osdoadores a tomarem decisões relativas à ajuda. Osdoadores financiam cerca da metade das despesas doGoverno.

O resultado do orçamento de 2003 não foisatisfatório, já que o défice global (incluindo os custosda reestruturação bancária) excedeu o objectivo oficial,fixado a 3.9 por cento do PIB. Apesar da redução dosgastos com bens e serviços, estima-se que o défice globalde 2004 tenha aumentado para 5.2 por cento do PIB,face aos 4.9 por cento de 2003, o que reflecte umainsuficiência significativa de donativos e de receitas. Osatrasos de algumas empresas em cumprir com ospagamentos de acordo com o novo código sobre osimpostos das sociedades comerciais, bem como o

1. Em Janeiro de 2004, as autoridades publicaram um decreto aumentando em 2 por cento os impostos especiais sobre o combustível

e adoptando um mecanismo trimestral automático para evitar a erosão dessas receitas em termos reais.

Tabela 2 - Finanças Públicas (percentagem do PIB)

a. Apenas os mais significativos constam do relatório.Source : Dados do FMI e do Ministério das Finanças e Planeamento; cálculos dos autores para as estimativas (e) e as projecções (p).

1996 2001 2002 2003 2004(e) 2005(p) 2006(p)

Total das receitas e donativosa 17.6 28.1 25.9 24.9 21.8 20.9 20.6Receitas fiscais 9.8 11.8 12.5 13.3 12.8 12.5 12.6Donativos 7.0 14.8 11.8 10.6 8.0 7.4 6.9

Total das despesas e empréstimos líquidosa 20.7 34.7 33.8 29.8 27.0 27.9 27.5Despesas correntes 9.4 14.7 15.6 16.3 15.5 14.8 14.7

Sem pagamentos de juros 8.0 14.0 14.1 15.0 14.4 14.0 13.9Salários e remunerações 2.2 7.0 7.3 7.5 7.3 7.2 7.1Pagamentos de juros 1.4 0.7 1.5 1.3 1.1 0.8 0.8

Despesas de capital 11.2 16.6 14.3 13.0 10.9 11.9 11.8

Saldo primário -1.6 -5.9 -6.4 -3.7 -4.1 -6.2 -6.2Saldo global -3.1 -6.6 -7.9 -4.9 -5.2 -7.0 -7.0

impacto adverso da apreciação do metical nas receitasprovenientes dos direitos aduaneiros, resultaram emreceitas de impostos mais baixas do que o previsto.

Apenas os impostos sobre produtos petrolíferos tiveramresultados positivos, devido à introdução de um ajustetrimestral1 automático dos impostos sobre os

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combustíveis visando evitar a erosão das receitas pelainflação.

Segundo a ordem prioritária das despesas públicasprevista pelo PARPA, as despesas (sem pagamentosde juros) dos sectores prioritários – educação, saúde,agricultura, infra-estruturas, boa governação e gestãofinanceira e macroeconómica – aumentaram , passandode 55 por cento do total das despesas em 2003 para63 por cento em 2004, ligeiramente abaixo do objectivode 66 por cento fixado pelo PARPA. Os números daexecução orçamental diferiram enormemente entresectores e províncias, com a saúde e a água apresentandotaxas de execução particularmente baixas (o que levoua uma produção insuficiente), contrariamente a outrossectores que apresentaram gastos superiores aos limitesfixados. Essa situação reflecte os atrasos e a poucaprevisibilidade dos desembolsos dos doadores e dosministérios respectivos, e as irregularidades deplaneamento e orçamentação por parte dessesministérios.

De forma a melhorar a eficiência e a transparênciaquanto à utilização dos fundos públicos e permitir aatempada execução do orçamento nos principaissectores estratégicos, as prioridades para 2005 incluemo reforço da fiscalização e da auditoria do processoorçamental, bem como das funções da administraçãopública. As medidas principais incluem a adopção deum sistema detalhado de classificação por função, umcontrolo mais apertado da massa salarial e a introduçãode um orçamento integrado, de uma gestão do tesouroe um sistema de contabilidade e de controlo interno.Cinco grandes ministérios também estão sendoreestruturados. Além disso, desde 2003 os distritos sãoreconhecidos como parcelas orçamentais, podendoagora aceder a fundos criados por doadores parafinanciar trabalhos de infra-estruturas de pequenaescala, com base num processo de planeamentocolectivo. Quinze doadores assinaram um Memorandode Entendimento com as autoridades nacionais emAbril de 2004, visando clarificar os mecanismos decoordenação, alinhar os programas dos doadores comos ciclos de planeamento e implementaçãogovernamentais, reduzir a volatilidade dos desembolsose maximizar o impacto causado pela ajuda ao

orçamento e a balança de pagamentos sobre odesenvolvimento. Os dados do apoio orçamentaldirecto são apresentados de forma detalhada nessememorando.

Prevê-se que as despesas orçamentais aumentemem 2005-06, porém mais lentamente do que nos últimosanos. Estima-se também que as despesas relacionadascom o PARPA atinjam 67.3 por cento do total dasdespesas em 2005, sendo principalmente canalizadaspara a educação, a criação de infra-estruturas detransportes e de programas de revitalização nos hospitais.O orçamento também prevê a contratação de novosprofessores e profissionais de saúde. Esse aumento dasdespesas correntes e de capital será apenas parcialmentecompensado pelo aumento das receitas fiscais, geradopelos esforços para melhorar a administração fiscal epela supressão dos benefícios fiscais concedidos a algunsprojectos. Estima-se que os défices orçamentais atinjamuma média de 7 por cento em 2005 e 2006.

Em 2004, os objectivos da política monetáriaincluíam uma redução do crescimento da massamonetária para 15 por cento (19 por cento em 2003)e uma inflação anual de 11.4 por cento. O BancoCentral tem-se voltado progressivamente parainstrumentos de mercado indirectos, tais comoarrematações semanais em hasta pública de títulos à vistae a curto prazo. Outra medida foi o alargamento, emmeados de 2004, da base jurídica para cálculo derequisitos de reserva de modo a incluir depósitos de nãoresidentes e de terceiros. Além do mais, o Banco Centralaumentou a utilização de vendas de divisas para esterilizaro impacto monetário dos gastos do Governo, noseguimento da oferta de títulos de dívida pública, noprimeiro semestre de 2004.

Apesar das importações de petróleo de Moçambiqueserem expressas em dólares americanos, a maior partedos outros produtos importados por esse país vêm daÁfrica do Sul e da Zona Euro. A desvalorização dometical face ao rand foi de cerca de 30 por cento em2003, e de 13.5 por cento no primeiro semestre de2004. Essa erosão teve repercussões sobre os indices depreços ao consumidor (IPC), por que os produtosalimentícios, importados na sua maioria da África do

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Sul, representam mais de dois terços do cabaz utilizadopara o cálculo do IPC. A inflação média do IPC chegouaos 13.4 por cento em 2003, sendo portanto mais altado que o objectivo de 10.8 por cento fixado peloGoverno.

Ainda assim, desde Maio de 2004 que a moedalocal se tem tornado cada vez mais forte, em termosnominais, face ao dólar americano e ao rand sul-africano.A apreciação de 18 por cento face ao dólar americanoem 2004 resulta da forte concentração de pagamentos(relativos aos desembolsos atrasados) por parte dosdoadores, nos quatro últimos meses do ano. Ofortalecimento face ao rand reflecte a depreciação damoeda sul-africana, após a baixa na taxa de juros impostapelas autoridades financeiras sul-africanas em Agostode 2004. A força do metical teve um impacto positivosobre a inflação. A inflação média anual desceu para12.4 por cento em 2004, acabando o ano a 9.1 por cento(abaixo do objectivo fixado pelo Governo), após umaumento mais moderado dos preços dos alimentos,que contrabalançou aumento dos preços do petróleo.Prevê-se uma inflação média de 9.1 por cento em 2005e de 7.1 por cento em 2006, se as colheitas de 2005forem favoráveis e se o metical mantiver a força que temdemonstrado recentemente.

Posição face ao exterior

Moçambique faz parte de várias acordos regionaisde comércio preferencial. Como parte integrante doProtocolo Comercial da Comunidade deDesenvolvimento da África Austral (SADC), o paísassumiu o compromisso de baixar gradualmente assuas tarifas para os outros países membros da SADCaté chegar ao comércio livre. Essa redução tarifária teráinício em 2008 e o comércio livre será efectivo em2012 com todos os países, à excepção da África do Sul(a eliminação total de tarifas é prevista para 2015).

As relações comerciais com a UE melhoraramsignificativamente com a assinatura do protocolo doaçúcar – que autoriza as exportações sem quotas e autilização das quotas não utilizadas por outros paísesACP. Finalmente, desde 2003, Moçambique satisfazos critérios de elegibilidade fixados pela AGOA (lei

norte-americana relativa ao crescimento eoportunidades na África). Devido a isso, Moçambiquetêm um acesso preferencial ao mercado norte-americanopara certos produtos, particularmente o vestuário.Contudo, as fracas capacidades de produção, sobretudono sector manufactureiro, impediram as empresas detirar o máximo partido dos referidos produtos.Moçambique só beneficiaria de um Acordo de ParceriaEconómica (APE) com a UE, se esse acordo contivesseuma sólida vertente relativa ao desenvolvimento, quepudesse reforçar as capacidades produtivas einstitucionais do país.

Os mega-projectos influem consideravelmente sobrea balança comercial. Em 2003, as exportações dealumínio – responsáveis por mais de 50 por cento dototal das exportações de bens do país– aumentaram40 por cento, fazendo com que o valor total dasexportações crescesse para 880 milhões de dólares(contra menos de 700 milhões em 2002). Moçambique,que até 2000 ainda não produzia alumínio, é agora oterceiro maior exportador de alumínio para a UE.

Alguns dos produtos que registaram um fortecrescimento foram, entre outros, o açúcar, a madeirae o algodão, enquanto que os camarões continuamnuma tendência decrescente. Com a conclusão doMozal II e o início das exportações de gás por parte daSasol, as estimativas provisórias para 2004 mostramum aumento de 60 por cento nas exportações geradaspelos grandes projectos.

A parte da África do Sul nas exportaçõesmoçambicanas aumentou para 18 por cento, apesarda Bélgica permanecer como o maior mercado para oMoçambique. Essas estatísticas são, de uma certa forma,enganadoras, já que o alumínio é comercializado porintermédio de uma empresa de comércio com sede emAntuérpia. A África do Sul continua a ser, de longe, omais importante fornecedor das importações deMoçambique, com cerca de 40 por cento dasimportações do país. Os produtos alimentícios sãoquase exclusivamente provenientes da África do Sul. Aelectricidade, o equipamento e a maquinaria são tambémimportados, na sua grande maioria, desse poderosovizinho.

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O défice comercial caiu de 13 por cento do PIBem 2003 para 64 por cento (estimativa) em 2004,apesar do aumento das importações de petróleo eelectricidade. No período de 2005-06, o esperadoaumento das importações de bens de equipamento,resultantes da construção da fundição de titânio emMoma e da expansão prevista do gasoduto, seráparcialmente compensado pelo dinamismo dasexportações de alumínio e pelo primeiro ano completode exportação de gás.

Com a implementação da exploração das jazidasde gás natural e de areias de titânio, estima-se que,no início de 2006, esses produtos representarão cercade 80 por cento das exportações de Moçambique.Apesar das previsões de um aumento substancial novalor líquido das exportações, ainda existempreocupações com relação à vulnerabilidade dessasexportações às flutuações dos mercados mundiais dematérias-primas. Existem também dúvidas quanto àspossibilidades de se transformar os mega-projectos –que beneficiam de consideráveis exonerações fiscaise outros incentivos – em novas fontes de criação deempregos e de receitas fiscais.

A actividade do IDE nos últimos anos tem sidomantida por dois fenómenos relacionados: os mega-projectos, responsáveis por mais de 90 por cento dosfluxos de IDE acumulados durante o período de 1998-2004, e o interesse do meio empresarial sul-africano naeconomia de Moçambique. Desde 1985, o centro depromoção ao investimento registou mais de 262projectos sul-africanos, elaborados por 182 empresas.O valor total dos investimentos desses projetos atingiu1.33 mil milhões de dólares no final de 2003, fazendo

de Moçambique o principal beneficiário regional do IDEda África do Sul. Quanto aos sectores orientados paraa exportação, os investidores sul-africanos (incluindoas empresas que, apesar de serem sul-africanas, estãoactualmente principalmente cotadas em bolsas de valoresestrangeiras) são atraídos pelos recursos naturaisabundantes, incluindo reservas de gás, pelos baixoscustos de mão-de-obra e das taxas de electricidadesubsidiadas, assim como pelos numerosos incentivosgovernamentais. A BHP-Billiton investiu 2.2 milmilhões de dólares na usina de Mozal; o grupo Sasol(carburantes sintéticos) é o principal investidor doprojecto de extracção de gaz Pandé-Temane, tendo neleinjectado mais de mil milhões de dólares; e a empresapública Spoornet está a recuperar a linha-férrea RessanoGarcia. Os investidores sul-africanos, que adoptaramuma estratégia de expansão regional, controlam tambémtrês dos quatro complexos do açúcar, grandes fábricasde cereais, todas as fábricas de cervejas e deengarrafamento de refrigerantes e a maior parte doturismo, principalmente fora de Maputo. Um númeroconsiderável de pequenas empresas também estãoenvolvidas.

Apesar da positiva contribuição dos mega-projectos para o PIB e para as exportações do país,contribuições essas que quase triplicaram nos últimoscinco anos, o principal fornecedor desses mega-projectos é a África do Sul, o que não estimula odesenvolvimento das empresas locais. A maior partedo IDE tem capitais intensivos e conhecimentosespecíficos, o que restringe as possibilidades dearticulação com as empresas locais. Apesar do aumentodas articulações ascendentes e descendentes (aSociedade Financeira Internacional lançou um

Tabela 3 - Conta Corrente (percentagem do PIB)

a. O rendimento dos factores está incluído nos serviços.Fonte: Dados do FMI e do Banco de Moçambique; cálculos dos autores para as estimativas (e) e as projecções (p).

1996 2001 2002 2003 2004(e) 2005(p) 2006(p)

Balança comercial -19.6 -10.5 -18.7 -13.1 -6.4 -5.8 -6.9Exportação de bens (f.o.b.) 8.0 20.5 18.9 20.4 25.0 25.7 23.8Importação de bens (f.o.b.) -27.5 -31.0 -37.5 -33.5 -31.4 -31.4 -30.7

Serviços -3.2 -17.6 -5.7 -5.5Transferências actuais/correntesa 7.9 13.7 11.7 12.4

Balança de transacções correntes -14.9 -14.5 -12.7 -6.2

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programa que permitiu a doze empresasmoçambicanas de assinarem contratos com a Mozalno valor de 3 milhões de dólares), a integração entreempresas locais e estrangeiras é ainda muito limitada.

Em 2001, Moçambique tornou-se terceiro país(depois da Bolívia e do Uganda) a atingir o ponto deconclusão da iniciativa PPAE, ponto este que dá direitoao alívio da dívida. A maioria dos membros do Clubede Paris já concederam à Moçambique o alívio dadívida, ou concederão em breve. Um esquema dereaquisição da dívida comercial moçambicana tambémjá foi implementado. Como resultado, o peso da dívidaexterna moçambicana estabilizou num nível suportável.Prevê-se que o actual valor líquido do rácio “Dívida/PIB”decrescerá progressivamente até 20 por cento em 2006.O Governo tem tomado medidas para melhorar agestão da dívida. O rápido progresso na redução do rácioda dívida externa em relação ao PIB (apesar de serainda muito alto quando comparado com o Gana ouCamarões), bem como o crescimento sustentado dasproduções e das exportações, melhoraram a capacidadedo país quanto ao pagamento das suas dívidas, o quelevou a Fitch a colocar Moçambique na categoria B denotação financeira.

Questões estruturais

Apesar de Moçambique ter conduzido, nos anos 90,o programa de privatização mais ambicioso da África,os resultados foram mitigados e a esperados ganhosadicionais – em termos de investimento, de produçãonacional e de criação de empregos – não sematerializaram. Durante esse processo, muitas pequenase médias empresas, que constituíam a maioria dasempresas públicas (EPs) adquiridas por moçambicanos,enfrentaram graves dificuldades financeiras e faliram.Por outro lado, médias e grandes empresas, adquiridaspor estrangeiros no sector do cimento, cerveja, tabacoe açúcar, obtiveram mais sucesso e conseguiramaumentar a sua produção e as suas vendas.

Em meados de 2002, restavam por privatizar 20grandes e 200 pequenas EPs, principalmente do sectordos transportes e comunicações. Não houveram grandesprivatizações nos últimos anos, e poucos progressos sãoprevistos. Reconheceu-se que, em sectores como o daenergia, o resultado geral das privatizações tem sidomitigado. Contudo, sabe-se muito pouco sobre os níveisde emprego, o valor dos activos e os resultados financeirose operacionais da maioria das empresas públicas. Em

■ Dívida/PNB Serviço/Exportações

0

50

100

150

200

250

300

350

400

20032002200120001999199819971996199519941993199219911990

Figura 5 - Montante do Total da Dívida Externa (percentagem do PNB)e Rácio do Serviço da Dívida sobre as exportações (percentagem)

Fonte: Banco Mundial.

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teoria, a criação, no início de 2002, de um organismodestinado a gerir as participações do Estado e a preparara cessão das empresas públicas, representou um avançoinstitucional significativo. Na prática, esse instituto,denominado Instituto de Gestão de Participações doEstado (IGEPE), não tem nenhuma autonomiaoperacional. Até agora, o Governo não conseguiu definiruma estratégia clara quanto à escolha de sectoresestratégicos que devem ser mantidos sob a tutela doEstado e quanto aos objectivos da privatização a longoprazo. Enquanto que algumas empresas foram transferidasao sector privado, outras – incluindo a Companhia dePortos e Caminhos-de-Ferro de Moçambique (CFM),os correios, os aeroportos e a Electricidade deMoçambique – não têm merecido a devida atençãoministerial. Um consórcio reunindo CFM e CornelderMoçambique (dos Países Baixos), que já co-administrao terminal de contentores da Beira, obteve o contratorelativo à gestão do porto de Quelimane.

O progresso na liberalização de serviços públicostem sido limitado. No que se refere às telecomunicaçõesmóveis, foi concedida em Agosto de 2002, uma segundalicença GSM à Vodacom International, empresaassociada a parceiros locais (Emotel, um grupo deempresários locais, e a associação dos veteranos deguerra). Contudo, o lançamento dos serviços daVodacom Moçambique foi feito com um ano de atraso.Quando finalmente começou a operar, no final de2003, a Vodacom cobria apenas algumas partes do paíse o preço dos cartões pré-pagos permanece basicamenteinalterado apesar de, em teoria, haver mais concorrência.Quanto aos transportes, a revogação do decreto queconcedia à empresa pública LAM o monopólio dasrotas aéreas internas permitiu que uma nova companhiade aviação privada, a Air Corridor, operasse no país,oferecendo melhores serviços e preços mais baratosfora da época alta. Além disso, apesar do gasoduto daSasol ser, em princípio, um prestador de serviços de livreacesso regulamentado pelo Governo, ainda existempreocupações quanto ao monopólio exercido pela Sasol,não só sobre esse gasoduto como também sobre omercado do gás sul-africano.

Os doadores têm dado grande importância àsquestões de governação, num sentido mais amplo, e

estão preparados para impor condições mais rígidasquanto ao desembolso da ajuda orçamental. Os meiosde comunicação, as organizações da sociedade civil eas associações de empresas estão se implicandogradativamente e são cada vez mais ouvidos. Aindaassim, houve pouco progresso, se é que houve algum,em 2003-04, quanto à modernização dos sistemasjurídico e financeiro, às reformas do aparelho judiciárioe à luta contra a corrupção. A fraca vontade política,juntamente com a falta de recursos orçamentais ehumanos, agrava a situação. O código comercial, ocódigo de processo civil e o código relativo aos contratospúblicos, cujas revisões se revestem de uma importânciacrucial, estão longe de estar prontos para seremdiscutidos no parlamento. Apesar do parlamento terrecentemente aprovado uma lei referente aos tribunaise o Conselho de Ministros ter aprovado um planoestratégico para o sector, a implementação de certoselementos-chave, tais como a nomeação de novos juízese procuradores, a execução dos orçamentos aprovadose o acesso do público aos meios de defesa, permanecemainda fracos. Por último, é necessário um combate maisdeterminado contra a corrupção a alto nível, já que oprojecto de lei anti-corrupção foi bloqueado. Esseprojecto de lei foi aprovado pelo Parlamento no finalde 2003, mas vários disposições foram consideradas anti-constitucionais e a lei ainda não foi ratificada. Existeum departamento anti-corrupção no gabinete doProcurador-geral mas falta-lhe autonomia e recursosfinanceiros.

Os resultados mitigados quanto à reforma daregulamentação e o fraco progresso na redução davulnerabilidade do sistema financeiro reforçam a ideiageneralizada de que o ambiente empresarial emMoçambique é fraco e não incita os investidores a selançarem em emprendimentos arriscados e actividadesde criação de empregos. Inquéritos sobre o ambienteempresarial identificam uma série de entraves àactividade do sector privado: a ineficácia da burocracia,que conduz a atrasos nos procedimentos de registo deempresas, e um sistema judicial fraco, que prejudica ocumprimento contratual e permite uma corrupçãogeneralizada. A legislação laboral é rígida,condicionando, por exemplo, o emprego de expatriados,e a justiça é lenta. Os abusos de poder e os conluios

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aumentam os custos para as empresas em Moçambique,devido às pequenas dimensões da economia e a faltade uma política de concorrência. Surpreendentemente,o risco político ou a instabilidade política quase nuncasão citados como problemas, um avanço considerávelpara um país que há uma década estava atormentadopor uma guerra civil.

Indubitavelmente, esses entraves afectam a actividadeempresarial de Moçambique de diversas formas,dependendo das dimensões e das características dasempresas. As grandes empresas estrangeiras estãosatisfeitas quanto ao clima de investimento local, porquesão beneficiadas por um tratamento preferencial daparte do Governo e formam, por assim dizer, umaespécie de ilha dentro da economia local. Por exemplo,de forma a acelerar as importações de material necessáriopara o gasoduto Pande-Temane, a Sasol foi autorizadaa implantar um terminal alfandegário próprio. Alémdisso, através das empresas às quais estão afiliadas, asgrandes empresas estrangeiras têm acesso aofinanciamento, à tecnologia e aos mercados.

Por outro lado, todos estes obstáculos têm um forteimpacto no sector privado local, que compreende27 800 empresas, que registam um volume de negóciostotal de 60 mil milhões de meticais e empregam 274 000pessoas. Além disto, o sector privado contribue comuma parte substancial da actividade económica,principalmente na área do comércio e dos ramosconexos, apesar de não haver uma estimativa credívelquanto ao peso que têm na economia. A maior partedessas firmas são micro-empresas que empregam 10 oumenos pessoas, concentradas na zona de Maputo. Asempresas pequenas são extremamente frágeis e nãopodem rivalizar com a concorrência regional em termosde práticas modernas de gestão e de produção, o queanula a vantagem que representa a abundante oferta demão-de-obra barata.

Mais de 80 por cento das empresas considera ocusto elevado dos empréstimos bancários como seumaior problema, enquanto que 75 por cento consideraque o acesso ao crédito interno e externo é muitolimitado. A grande maioria das empresas moçambicanasconta com os próprios recursos para fazer face às

principais necessidades de investimento efuncionamento. O sector agrícola e agro-alimentar éo que menos acesso tem às instituições financeirasoficiais. No total, apenas 16 por cento do crédito vaipara a agricultura, principalmente para as grandespropriedades pertencentes a estrangeiros, enquantoque 35 por cento vai para a indústria e 49 por centopara o comércio e outros serviços. No entanto, espera-se que a parte do crédito à agricultura aumente, devidoà nova estratégia de dois bancos sul-africanos (StandardBank e ABSA), que apoiam os médios e grandesagricultores comerciantes, principalmente zimbabuenses,em Manica.

Uma vasta gama de iniciativas visando promovero financiamento às Pequenas e Médias Empresas(PMEs) têm sido implementadas por agênciasgovernamentais, associações privadas e instituiçõesde doadores. Esses dispositivos incluem geralmente osempréstimos em condições facilitadas, acompanhadosda prestação de serviços de apoio técnico, deaconselhamento e de marketing às PMEs. Enquantoque os fundos especiais do Governo para as PMEs,bem como os mecanismos de assistência, têm sidoimplementados a uma escala muito pequena, compouco impacto, algumas das iniciativas dos doadoresforam muito mais bem sucedidas. Entre as instituiçõesmais pequenas, privadas e para-estatais, que funcionamnuma pequena escala, e apoiam associações depequenos agricultores, principalmente do sector agro-alimentar, pode-se citar: o GAPI (Gabinete de Apoioà Pequena Indústria), o FFPI (Fundo de Fomento àPequena Indústria) e o FCC (Fundo Comunitário deCrédito). Contudo, essas instituições dependemfortemente dos fundos dos doadores, têm um alcancelimitado e carecem de capacidades a nível interno erecursos financeiros. Em geral, há muito poucainformação sobre outros mecanismos financeiros, taiscomo as instituições de micro-financiamento,especializadas nos empréstimos individuais nas zonasurbanas, cujos montantes não ultrapassam os 2 000dólares.

O apoio ao financiamento das PMEs parece em geralfragmentado. A falta de uma estratégia deindustrialização coerente limita as possibilidades de

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Caixa 1 – Linhas de crédito concedidas por doadores

com base numa repartição dos riscos e numa monitorização pontual

Vários doadores apoiaram directamente o restabelecimento da base económica das PMEs moçambicanas

que haviam tido graves prejuízos com as cheias que assolaram o país em 2000. A USAID elaborou um plano

específico, pelo qual um montante em meticais equivalente a 22 milhões de dólares foi canalizado, através

do sistema bancário local, para as empresas afectadas pelas cheias. Foi criado um comité, composto por

representantes da USAID e do Governo de Moçambique, para atribuição dos fundos provenientes da

USAID. O comité contratou uma empresa local para formar um Departamento de Gestão de Projecto

(DGP) para gerir o fundo de empréstimo. O DGP encarregou-se de coordenar e pôr em prática o plano

do empréstimo e de delinear um acordo com os bancos locais de forma a adoptar regras e procedimentos

para gerir os empréstimos. O plano de empréstimos tem sido conduzido com base nos seguintes critérios:

• Os empréstimos às empresas afectadas são concedidos a uma taxa de juro inferior à taxa praticada

no mercado (8-10 por cento, contra 34-36 por cento para os empréstimos comerciais normais). O

pagamento do empréstimo e dos juros é feito trimestralmente.

• O risco comercial é dividido - em duas partes iguais - entre a USAID e os bancos.

• Os beneficiários desses empréstimos têm até cinco anos para fazer o respectivo pagamento, com um

período de carência que pode ir até um ano.

• O limite máximo do empréstimo, originalmente fixado em 100 000 dólares, foi aumentado

gradativamente até atingir 250 000 dólares.

• O Comité tem de pagar aos bancos uma comissão de 2 por cento sobre o valor de cada crédito

desembolsado e já reembolsado.

Os bancos devem apresentar um relatório mensal ao DGP com:

• O volume de crédito desembolsado.

• O montante dos reembolsos recebidos.

Com base nesses relatórios mensais, o DGP faz a auditoria e monitoriza as operações de crédito.

Esse programa já possibilitou a aprovação de 274 empréstimos. O maior desses empréstimos chegou aos

250 000 dólares e o menor aos 1 471 dólares. Os pagamentos dos empréstimos são controlados através de

um sistema de vigilância pontual efectuado pelo DGP. Essa forma de fundos de garantia foi adoptada por

outras agências de doadores, obtendo o mesmo sucesso.

Deve salientar-se contudo, com relação a esse sistema, que alguns bancos tendem a aproveitar-se dos

fundos de garantia e dos acordos de repartição de risco sem reduzirem, por exemplo, as taxas de juro ou as

garantias exigidaa aos seus clientes. Novos procedimentos estão sendo elaborados para resolver esse problema

e aumentar a concorrência entre as instituições financeiras locais. Um mecanismo de repartição de risco será

concedido às instituições financeiras locais que oferecerem as melhores condições de crédito aos beneficiários

finais do fundo de garantia. Essa estratégia, além de permitir a repartição dos riscos, permite também

incentivar as instituições financeiras a exigirem condições mais leves de concessão de crédito (i.e. nível de

garantia colateral, taxas de juro, prazo para pagamento).

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coordenação e de definição de prioridades. Essa situaçãoreflecte a falta de uma política nacional dedesenvolvimento do sector privado e a insuficiênciado diálogo entre as autoridades, os doadores e o sectorprivado.

Contexto social e político

A 3 e 4 de Dezembro de 2004, tiveram lugar emMoçambique, pela terceira vez consecutiva, as eleiçõespresidenciais e legislativas multipartidárias, umaconquista considerável para um país que, após aindependência, viveu 16 anos de guerra, até 1992. Aparticipação foi fraca, já que apenas 36 por cento dapopulação votou. Os observadores nacionais einternacionais independentes consideraram no geral aeleição justa, apesar de algumas irregularidades.Armando Emílio Guebuza, o candidato da Frelimo, opartido no poder, obteve 32 pontos percentuais a maisdo que o principal candidato da oposição. Apenas doispartidos, a Frelimo e a coligação Renamo-União Eleitoralconseguiram passar a barreira dos 5 por cento e elegeramdeputados (a Renamo com um número bem maisreduzido de parlamentares). Os resultados da eleiçãodesmistificaram a ideia de que o país está politicamentedividido por zonas geográficas, já que a Frelimo, nãosomente mantém uma forte presença no Sul, mastambém ganhou em todas as regiões excepto duas(Sofala e Zambézia).

O Presidente Guebuza designou as lutas contra apobreza, a corrupção e o crime como prioritárias noseu programa de governo. No discurso inaugural, a 2de Fevereiro de 2005, sublinhou a necessidade decoordenar as políticas e acções contra a corrupção e deencorajar a responsabilidade colectiva dentro doConselho de Ministros e do Governo como um todo.O novo gabinete tem 26 ministros (incluindo oprimeiro-ministro) e 15 vice-ministros. Destes, 11 sãomulheres (sete ministros, incluindo o primeiro-ministroe 4 vice-ministros). Apenas 13 membros do gabineteanterior (que contava 42 pessoas) permanecem, entreos quais a Primeira-Ministra, Luisa Diogo, e os dez ex-governadores de províncias, que foram nomeadosministros ou vice-ministros.

Antes das eleições gerais de Dezembro, o Parlamentoeleito em 1999 havia aprovado, na sua última sessão,a nova Constituição da República, que introduz algumasinovações importantes: reforço da justiça e da legalidade,criação de um Conselho de Estado no qual o líder dosegundo partido mais votado tem assento, e outraspequenas alterações ao texto anterior. A novaConstituição foi aprovada por unanimidade.

Segundo a recente sondagem de 2002/03,denominada Inquérito aos Agregados Familiares (IAF),a taxa da pobreza em Moçambique caiu de 70 porcento em 1996/97 para 54 por cento em 2002/03.Contudo, esses dados não reflectem as significativasvariações regionais. A incidência da pobreza parece terdiminuído de maneira espetacular no centro do país,sobretudo nas províncias de Tete e Sofala, onde aproporção de pobres caiu de mais de 80 para 60 e 36por cento, respectivamente. Contudo, a taxa de pobrezana província de Inhambane, no Sul, continua aultrapassar os 80 por cento. Outra sondagem recenteconduzida pelo Ministério da Agricultura, com base norendimento e não nas despesas, indica uma redução dapobreza de apenas 4 por cento.

Segundo os resultados do IAF, Moçambique está“a caminho” de atingir o objectivo fixado no PARPAquanto à redução da taxa de pobreza para 50 por centoem 2010, e atingir o primeiro Objectivo deDesenvolvimento do Milénio (ODM) em 2015. Apesarde tudo, é muito pouco provável que o país atinja osoutros ODMs, relativos a igualdade de sexos, ao acessoa água potável nas zonas urbanas, à redução damortalidade materna e à luta contra a malária. Essasituação mostra que, apesar da redução na pobreza, orendimento per capita, o capital humano e outrosindicadores de desenvolvimento humano emMoçambique estão ainda entre os mais baixos domundo: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)de 2004 das Nações Unidas coloca Moçambique em171.º lugar, entre 177 países.

A avaliação do PARPA sublinhou o progresso nareabilitação das infra-estruturas, na formação deprofissionais de saúde e no fornecimento deequipamento aos centros de saúde. Devido a esses

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progressos, a taxa de mortalidade infantil caiu de 149por 1 000 nascimentos em 1995, para 101 por 1 000em 2003. Outras melhorias dignas de nota foramregistadas nas taxas de vacinação infantil e napercentagem de partos assistidos por profissionaisqualificados na área da saúde (de 38 por cento em1999 para 46 por cento em 2003). Apesar dessasmelhorias, subsistem ainda várias carencias no sectorda saúde, incluindo a falta de uma estratégia na áreados cuidados maternos e pediátricos, a baixa taxa deexecução orçamental, devido a atrasos nos desembolsospor parte do Governo e dos doadores, e umadesigualdade entre as províncias quanto ao acesso aserviços de saúde. O objectivo do PARPA de colocarredes para mosquitos em 80 por cento dos lares deduas províncias está longe de ser atingido. As políticassalarial e de incentivos não favorizam a produtividadenem motivam os profissionais de saúde a trabalharemnas zonas mais afastadas do país. Os recursos das pessoasque trabalham nos cuidados de saúde são muito baixose o rácio “médico/população”, que está entre os maisbaixos do mundo, continua a descer ainda mais.

O HIV/SIDA permanece como uma das maioresameaças ao desenvolvimento do país, tendo feito caira esperança de vida de 47.1 anos em 1997 para 37.9anos em 2004. A taxa de infectados era de 15 por centoda população em 2004, e está a aumentar rapidamente.Os esforços dos dois últimos anos têm-se concentradona criação de um quadro institucional e político paraa implementação do Plano Estratégico Nacional (PEN)2001-03. Foi também criado um Conselho Nacionalde Combate ao HIV/SIDA (CNCS) para garantir umaabordagem multi-sectorial e uma maior parceria entrea sociedade civil e demais participantes. Contudo, aacção do Governo para combater o HIV/SIDA enfrentadificuldades estratégicas e institucionais. Avaliaçõeslevadas a cabo pelo PEN revelam problemassignificativos no que respeita às capacidades humanase institucionais do próprio CNCS para conduzireficazmente uma resposta nacional e para absorver osrecursos atribuídos. O acesso à prevenção, aos cuidadose ao tratamento é ainda muito limitado. Apesar dorecente compromisso assumido pelo Brasil de construiruma fábrica em Moçambique para produção degenéricos anti-retrovirais genéricos (mais baratos), o

preço desses medicamentos é ainda demasiado caropara poder ser distribuído nas devidas quantidades. Aestigmatização dos doentes prejudica muitas acções ea campanha de consciencialização é insuficiente. Arevisão do PEN, em preparação, tentará remediar essasfalhas através da adopção de uma abordagem multi-sectorial para melhorar os sistemas de distribuição e agestão financeira. Actualmente, a comunidade dedoadores tem disponibilizado mais recursos,especialmente para o fornecimento de anti-retroviraise a redução da transmissão do vírus de mãe para filho.

Apesar de ameaçado pelo HIV/SIDA, Moçambiquetem feito progressos na educação desde a instauraçãodo PARPA. O número total de inscrições de rapazesno ensino primário (primeiros cinco anos deescolaridade) cresceu mais de 100 por cento desde2001, e o de raparigas aumentou de 43 por cento em2000, para 46 por cento em 2003, superando largamenteos objectivos do PARPA. As despesas com a educação,que representam mais de 5 por cento do PIB,conduziram a progressos substanciais na formação deprofessores e na construção de escolas. No entanto,essas melhorias são desiguais de uma província a outrae a taxa de execução do investimento é ainda baixa. Afalta de fiscalização e avaliação dos fundos provenientesdo exterior criou graves problemas em meados de 2004,altura em que a má utilização dos fundos levou oMinistro da Educação a reembolsar o doador. Alémdisso, as taxas de reprovação e abandono permanecemaltas (cerca de 22 e 8 por cento respectivamente, noensino primário) e o número de professores habilitadosé baixo, devido em parte ao impacto do HIV/SIDA.Encontra-se em preparação um novo plano estratégicopara a educação 2005-09, que se centrará na melhoriada gestão de recursos financeiros e no aumento da taxade conclusão do ensino primário, através da introduçãode novos programas escolares e a implementação dedispositivos para a formação (tanto a formação inicialcomo a continuada) de professores.