mobilização

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Planejamento da comunicação para a mobilização social: em busca da co-responsabilidade Márcio Simeone Henriques 1 Clara Soares Braga 2 Rennan Lanna Martins Mafra 3 RESUMO Tendo por base a discussão acerca de modelos de planejamento aplicáveis a projetos de mobilização social, o trabalho apresenta estudo realizado no Laboratório de Relações Públicas Plínio Carneiro, da UFMG, dentro do programa permanente de ensino, pesquisa e extensão “Planejamento de comunicação para projetos de mobilização social”.Trata-se de uma prospecção sobre a geração da co-responsabilidade como vínculo primordial entre projetos instituídos de ação social e seus públicos, através de estratégias comunicativas. Palavras-chave: Planejamento – mobilização – co-responsabilidade “Pois o mundo não é humano por ter sido feito pelos homens e tampouco se torna humano porque a voz humana nele ressoa, mas somente quando se torna objeto de diálogo.” Hannah Arendt 1 Professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais 2 Aluna do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais, habilitação Relações Públicas 3 Aluno do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais, habilitação Relações Públicas

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  • Planejamento da comunicao para a mobilizao social:

    em busca da co-responsabilidade

    Mrcio Simeone Henriques1

    Clara Soares Braga2

    Rennan Lanna Martins Mafra3

    RESUMO

    Tendo por base a discusso acerca de modelos de planejamento aplicveis a projetos demobilizao social, o trabalho apresenta estudo realizado no Laboratrio de RelaesPblicas Plnio Carneiro, da UFMG, dentro do programa permanente de ensino, pesquisae extenso Planejamento de comunicao para projetos de mobilizao social.Trata-sede uma prospeco sobre a gerao da co-responsabilidade como vnculo primordialentre projetos institudos de ao social e seus pblicos, atravs de estratgiascomunicativas.

    Palavras-chave: Planejamento mobilizao co-responsabilidade

    Pois o mundo no humano por ter sido

    feito pelos homens e tampouco se torna

    humano porque a voz humana nele ressoa,

    mas somente quando se torna objeto de

    dilogo.

    Hannah Arendt

    1 Professor do Departamento de Comunicao Social da Universidade Federal de Minas Gerais2 Aluna do Curso de Comunicao Social da Universidade Federal de Minas Gerais, habilitaoRelaes Pblicas3 Aluno do Curso de Comunicao Social da Universidade Federal de Minas Gerais, habilitaoRelaes Pblicas

  • 2A constituio dos projetos de mobilizao social tem sido um desafio

    permanente para o qual tm-se canalizado muitos esforos. No que se refere

    comunicao como fator preponderante para a tarefa mobilizadora, observa-se com

    freqncia a tentativa de gerar modelos de planejamento aplicveis estruturao das

    aes comunicativas que sirvam para alimentar os projetos de suas necessidade bsicas:

    criar condies para a participao e manter os atores sociais engajados em suas causas.

    possvel constatar que ao longo do tempo esta preocupao tomou as mais

    diversas feies, variando ao sabor da conjuntura poltica. Em todo caso, um problema

    bsico sempre foi o de encontrar uma metodologia de trabalho suficientemente

    organizada, que pusesse em movimento os diversos pblicos aos quais determinados

    projetos de ao social se referem, envolvendo-os de tal forma que garantam o sucesso

    das causas para as quais se mobilizam. A soluo para tal problema implica em definir,

    antes de mais nada, a forma pela qual projetos pretendem atingir suas finalidades e os

    instrumentos que podero ser utilizados em consonncia com a forma escolhida.

    Desta maneira, a gerao de um modelo de planejamento respeita, antes de tudo,

    a uma opo poltica, orientada por certos valores. Se estes valores, por um lado, podem

    remeter a um tipo de ao autoritria, paternalista, unidirecional, podem, sob outra

    perspectiva, propiciar aes abertas, multidirecionais, democrticas, sem abrir mo do

    planejamento como meio de coordenar e organizar as iniciativas. No primeiro caso,

    trata-se de tomar o planejamento como um procedimento caracteristicamente tcnico,

    sujeito a uma razo puramente instrumental, como define HABERMAS (1987). No

    segundo, deve-se reconhecer o planejamento como um ato poltico, guiado por uma

    razo dialgica ou comunicativa.

    A expanso dos movimentos sociais e a necessidade de implementar cada vez

    mais a mobilizao na sociedade civil para a soluo dos mais variados problemas e sob

    as mais diversas formas, traz o desafio de investigar os modelos de planejamento da

    comunicao que melhor se apliquem s aes democrticas e inclusivas, onde se

    permita alcanar uma co-responsabilidade entre os pblicos envolvidos.

    neste sentido que o Laboratrio de Relaes Pblicas Plnio Carneiro, da

    Universidade Federal de Minas Gerais criou, entre seus programas permanentes, o de

    Planejamento de Comunicao para Projetos de Mobilizao Social, e vem

  • 3desenvolvendo estudos sobre este tema para aplicao em demandas como, por exemplo,

    a do Projeto Manuelzo, de revitalizao da Bacia do Rio das Velhas. Este trabalho

    concreto suscitou reflexes e questionamentos de fundo conceitual e incitou busca de

    referncias para a realizao de um mapeamento de pblicos que, abandonando a idia

    das divises clssicas, pudesse compreender os diversos atores a partir dos vnculos que

    mantm com o projeto enquanto instituio.

    Sendo os vnculos o conjunto de relaes que definem o envolvimento com as

    causas e com os projetos em si, torna-se pertinente avaliar e problematizar, no

    diagnstico da comunicao, como se manifestam estas relaes e as suas conseqncias,

    bem como avaliar prospectiva e estrategicamente o que cada projeto considera desejvel

    e ideal. A partir desta compreenso possvel tecer planos coerentes com as vises

    polticas e os valores que orientam a iniciativa mobilizadora, sem descartar as decises

    estratgicas necessrias ao jogo de foras em que ir atuar.

    1 Mobilizao, participao e coordenao de aes

    Originalmente, o verbo mobilizar significa dar movimento a; por em

    movimento ou circulao. TORO (apud FONSECA & COSTA, 1996) amplia este

    conceito quando diz que mobilizar convocar vontades para um propsito

    determinado, para uma mudana na realidade. Se uma mudana se faz necessria

    porque existem problemas que esto impedindo um bom funcionamento da sociedade.

    Mobilizar, portanto, convocar estas vontades de pessoas que vivem no meio social (e

    optaram por um sistema poltico democrtico) para que as coisas funcionem bem e para

    todos; mostrar o problema, compartilh-lo, distribu-lo, para que assim as pessoas se

    sintam co-responsveis por ele e passem a agir na tentativa de solucion-lo. Isto no

    implica a retirada da funo do Estado de garantir a integrao, a regulao e o bom

    funcionamento da sociedade. Mas implica que a prpria sociedade gere meios de

    solucionar os problemas com os quais o Estado por si s no seja capaz de lidar.

    Numa perspectiva de estruturao dos projetos mobilizadores de forma aberta,

    multidirecional, participativa e democrtica, com a finalidade de acabar com a

    estagnao e a acomodao dos indivduos, preciso colocar estes problemas reais em

    movimento e circulao na sociedade, para o que essencial estabelecer estratgias

    comunicativas. As pessoas precisam, no mnimo, de informao para se mobilizarem,

  • 4mas alm disso, precisam compartilhar um imaginrio, emoes e conhecimentos sobre a

    realidade das coisas sua volta, gerando a reflexo e o debate para a mudana. Segundo

    TELLES (1999), se o espao pblico constri um mundo comum entre os homens, este

    mundo tem que ser pensado no apenas como aquilo que comum, mas como aquilo

    que comunicvel e que, portanto, se diferencia das experincias estritamente

    subjetivas e pessoais que podem ter validade na dimenso privada da vida social.

    O grande desafio da comunicao, ao mobilizar, tocar a emoo das pessoas,

    sem, contudo, manipul-las, porque se assim se fizer, ela ser autoritria e imposta.

    PERUZZO (1998) observa que estes movimentos implicam o exerccio da deciso

    partilhada e requerem a existncia de canais desobstrudos, informaes abundantes,

    autonomia, co-responsabilidade e representatividade

    A questo da participao vital e impulsionadora para os movimentos sociais.

    Para que pessoas se mobilizem e tomem uma deciso de se engajarem em algum

    movimento, preciso no s que estas pessoas tenham carncias e problemas em

    comum, mas que compartilhem valores e vises de mundo semelhantes. E, segundo

    TACUSSEL (1998), para que uma mensagem ou significado seja compartilhado,

    preciso que ele seja reapropriado de maneira intersubjetiva, ainda que essa

    reapropriao seja polmica ou conflituosa, argumentando que cada relao

    intersubjetiva na comunidade possui suas fronteiras, e as fronteiras do liame

    comunitrio so espaos de confiana alm dos quais certas coisas fazem ou deixam de

    fazer sentido.

    Fatores ligados a questes culturais, histricas e polticas tambm determinam a

    deciso de participar. Como lembra PERUZZO (1998), esta questo est diretamente

    ligada experincia histrica de um povo e sua tradio em relao a uma conscincia

    participativa. A isso juntam-se a reproduo de valores autoritrios e a falta de

    conscientizao poltica: Nossos costumes apontam mais para o autoritarismo e a

    delegao de poder do que para o assumir o controle e a co-responsabilidade na

    soluo de problemas. Peruzzo cita Maria Esther Dias, que salienta que transfere-se a

    algum situado em posio superior na hierarquia, a responsabilidade por aes que,

    na perspectiva de uma prtica participativa efetiva, deveriam caber aos componentes

    do prprio grupo, o que leva compreenso de que a participao sempre algo a ser

    construdo e recriado, no mbito das prticas culturais. Na sociedade brasileira, pelo

    menos nas duas ltimas dcadas, esta cultura participativa est sendo impulsionada,

  • 5principalmente quando se observa a ampliao da sociedade civil, pelo surgimento de um

    maior nmero de associaes, de movimentos populares e sociais, o que evidencia uma

    participao voltada para a mudana social.

    O conceito de solidariedade, no entanto, transcende o de participao. O

    socilogo Herbert de Souza (apud FRANCO: 1995) diferencia este conceito do de

    assistencialismo, quando diz que solidariedade um gesto tico, de algum que quer

    acabar com uma situao e no mais perpetu-la e assistencialismo, em contrapartida,

    a gerao de um certo comodismo atravs de situaes de ajuda que so constantes.

    Segundo FRANCO (1995) a solidariedade s pode ser praticada no presente,

    desencadeando uma ao concreta de cooperao e colaborao na tentativa de suprir

    carncias, ao contrrio de aes que tentam jogar a soluo dos problemas para o futuro,

    o que transferiria a responsabilidade da soluo do problema para outra poca e para

    outros indivduos. Salientando ainda que a ao concreta e solidria explica-se pela

    hiptese da existncia de uma conscincia moral que apreende o outro (que sofre)

    como um-outro-eu-mesmo e que induz ao reconhecimento de que eu sou responsvel

    pela soluo dos carecimentos que acarretam sofrimentos aos meus semelhantes , o

    autor desenvolve o conceito de compaixo quando esclarece que o sofrimento de um ser

    humano s pode ser aliviado no presente, pela compaixo de um outro ser humano.

    Estes conceitos de solidariedade e de compaixo podem ser considerados fundamentais

    para a gerao de um sentimento de co-responsabilidade, impulsionando a participao

    das pessoas.

    Compreendendo o carter aberto, dinmico e descentralizado, desejvel aos

    projetos mobilizadores, o fazer comunicativo, mais do que informar, tem por tarefa criar

    uma interao prpria entre estes projetos e seus pblicos, atravs do compartilhamento

    de sentidos e de valores. Deseja-se, assim, que sejam fortalecidos os vnculos destes

    pblicos com os movimentos e que sejam capazes de tomar iniciativas espontneas de

    contribuir causa dentro de suas especialidades e possibilidades.

    Prope-se ento que a comunicao mobilizadora deva ser entendida como uma

    coordenao de aes, e no como um instrumento de controle das aes. O conceito

    de coordenao de aes corresponde ao formulado por MATURANA (1998): duas

    pessoas esto conversando quando vemos que o curso de suas interaes se constitui

    num fluir de coordenao de aes. Isso traz conseqncias importantes, entre elas a

  • 6necessidade de gerar permanentemente uma espcie de congruncia recproca, que

    permita aceitar legitimamente o outro na convivncia.

    O desafio da coordenao de aes justamente o de gerar e manter canais

    desobstrudos para a comunicao, para que os pblicos interajam entre si e com o

    movimento, de uma forma que no seja catica e aleatria. O planejamento da ao

    comunicativa deve existir no sentido de permitir a tomada de posies a respeito de

    questes crticas e estratgicas e de motivar, associar e integrar os diversos pblicos

    atravs da criao, da manuteno e do fortalecimento dos vnculos de cada pblico com

    o projeto institudo. Por outro lado, como alerta FERREIRA (1987), importante que o

    planejamento evite uma reificao do mtodo, para que este no se transforme num fim

    em si mesmo e principalmente que, dentro desta lgica mobilizadora, com estruturas em

    que cabem iniciativas descentralizadas, ele no caia numa viso tecnocrtica, impedindo

    os que agem de pensar no que fazem, desvinculando os que pensam dos resultados da

    ao.

    2 Uma proposta de anlise a partir dos vnculos

    A complexidade dos prprios movimentos de ao social impe, portanto, a

    necessidade de transcender os mtodos clssicos de identificao e anlise de pblicos,

    considerando as relaes sistmicas que eles estabelecem entre si e com o projetos

    institucionalizados. Sendo que os pblicos, nestes casos, no possuem unicamente uma

    existncia por si prprios, identificvel por sua gnese e localizao, mas tambm e

    principalmente pelos tipos de relacionamentos que configuram os seus vnculos com o

    projeto, torna-se necessrio rastrear os caminhos e circuitos atravs dos quais a ao

    comunicativa em movimento proporcionar uma produo de sentido comum.

    O que se prope neste trabalho que o diagnstico da comunicao seja

    efetuado a partir da problematizao de tais vnculos, considerando que podem ser de

    forma e de natureza diferentes. Para isso, so estabelecidos oito critrios para anlise, em

    escala, que podem ser aplicados a uma segmentao de pblicos prpria de cada projeto

    e que podem caracterizar a natureza e a fora de tais vnculos: localizao espacial,

    informao, julgamento, ao, continuidade, coeso, co-responsabilidade e participao

    institucional. A anlise destes critrios auxiliar na determinao da posio relativa dos

    segmentos numa rede caracterstica de projetos de mobilizao social.(fig. 1)

  • 7

  • 8Figura 1 - Escala de critrios de vinculao

    VNCULO

    a) Localizao espacial: onde, no espao real (geogrfico) ou virtual esto localizados

    os pblicos dentro do universo de atuao e de influncia do projeto. Corresponde

    ao espao das relaes intersubjetivas tal como definido por TACUSSEL (1998), em

    seu conceito de comunidade.

    b) Informao: as pessoas podem ter mais ou menos informaes sobre um projeto de

    mobilizao social, com maior ou menor nvel de detalhamento. As informaes

    tambm podem ser de vrios tipos: informaes mediadas por meios de

    comunicao, oficiais ou no-oficiais; boatos; informaes transmitida pelo contato

    com a marca, vinheta ou slogan; informaes sustentadas por dados e pesquisas etc.

    c) Julgamento: uma certa quantidade de informaes, com determinado nvel de

    detalhamento, gera uma tomada de posio dos pblicos em relao ao projeto. O

    julgamento a constituio deste posicionamento, que se d a partir do

    estabelecimento de juzos de valor. Para a consecuo do julgamento, deve-se

    atentar s estratgias que os diversos pblicos constrem para a produo de sentido

    coletiva, ou seja, aos circuitos comunicativos que, para FONSECA (1998) se

    configuram como "caminhos atravs dos quais o sentido se produz e como tal

    aparecem como possibilidades dentro de uma rede possvel de sentidos". Assim

    ocorre quando a comunicao capaz de fornecer aos pblicos do projeto

    Localizaoespacial

    Participaoinstitucional

    Co-Responsabilidade

    Continuidade

    Coeso

    AoJulgamento

    Informao

    100

    Critrios

  • 9informaes consistentes, que produza um sentido determinado destes pblicos sobre

    o projeto, sentido este que os levem a api-lo, legitim-lo e defend-lo.

    d) Ao: gerao pontual, eventual ou permanente de idias, produtos, servios,

    estudos e contribuies diversas dos pblicos para o projeto de mobilizao social,

    que contribua direta ou indiretamente para os seus objetivos.

    e) Coeso: a coeso entre os pblicos de um projeto existe quando as aes destes

    pblicos so interdependentes, possuem elos de ligao ou contribuem para um

    mesmo fim, que podem ser os objetivos gerais ou especficos do projeto. Trata-se

    neste nvel de superar aes que sejam meramente fragmentadas e isoladas, que se

    encerrem em si mesmas e possuam pouca ou nenhuma ligao entre si.

    f) Continuidade: as aes dos pblicos so permanentes, gerando um processo

    contnuo de participao. Neste caso, trata-se de superar a pontualidade e a

    instantaneidade, de maneira que as aes tenham uma determinada permanncia e

    projetem-se num recorte temporal mais amplo.

    g) Co-responsabilidade: quando o pblico se sente tambm responsvel para o sucesso

    do projeto, entendendo a sua participao como uma parte essencial no todo. Esta

    gerada, basicamente, atravs dos sentimentos de solidariedade e compaixo,

    desenvolvidos por FRANCO (1995).

    h) Participao institucional: a participao no projeto institucionalizada atravs de

    convnios, acordos e documentos formais de qualquer espcie. Neste caso,

    celebrado um contrato tcito entre ambas as partes que gera um vnculo forte e

    obrigatrio, cujo rompimento unilateral e abrupto no desejvel.

    importante salientar que os critrios da escala de vinculao no se excluem,

    mas se somam, de modo que medida que um determinado segmento de pblico nela

    avana, o seu vnculo com o projeto vai-se fortalecendo.

    Colocar estes critrios numa linha progressiva permite entender claramente que a

    vinculao dos pblicos com os projetos de mobilizao social um processo que se

    constri atravs da interveno da comunicao. De acordo com os objetivos do projeto,

    pode-se determinar um tipo de ao comunicativa para posicionar os pblicos em seus

    pontos timos na escala de critrios de vinculao. A ao comunicativa bem planejada

    aquela que possibilita a criao, a manuteno ou o fortalecimento dos vnculos, j que o

    enfraquecimento dos mesmos, embora sempre possa acontecer, nunca desejvel.

  • 10

    O mapeamento deve ser feito para posicionar os pblicos nesta escala,

    estimulando e gerando referncias para a ao comunicativa. Ele deve ser uma

    metodologia permanente, pois os projetos de mobilizao social se configuram como

    uma rede na qual o posicionamento dos pontos sempre dinmico, mutvel. preciso

    acompanhar com certa freqncia esta dinmica de interaes, para que se mantenha

    uma coerncia entre ela e os critrios citados.

    Para o estabelecimento de aes coordenadas, os movimentos devem tender ao

    estabelecimento de um vnculo o mais forte possvel, que se materializa no nvel da

    participao institucional. Entretanto um projeto de mobilizao no deve buscar a

    participao institucional de todos os seus pblicos, em todos os momentos, pois assim

    se descaracterizaria: de um sistema aberto, no qual as pessoas se inserem atravs da

    mobilizao, passaria a um sistema fechado e pouco flexvel, sob o risco do

    engessamento burocrtico que acabe reproduzindo as relaes sociais autoritrias que

    pretende evitar. Isto refora a idia de que a busca da participao institucional deve ser

    uma deciso estratgica.

    Dessa forma, pode-se inferir que o verdadeiro ideal destes projetos deve centrar-

    se na busca da co-responsabilidade, construda a partir da interdependncia e da

    permanncia. E sendo os critrios de coeso e continuidade o elo entre a ao isolada e

    efmera e a ao co-responsvel, a comunicao deve ser planejada principalmente para

    atuar sobre estes dois pontos.

    Em suma, aes co-responsveis equivalem ao estabelecimento de vnculos

    fortes. Planejar a comunicao nos projetos de mobilizao social, estabelecendo fluxos

    que tendam criao da co-responsabilidade, o caminho mais vivel para gerar a

    participao, a mobilizao verdadeira e o efetivo xito das iniciativas.

    3 Referncias Bibliogrficas

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  • 11

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    Editora UFMG, 1999.