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JOSt CARLOS [,lEY VASCO SOARES DA VEIG/\ Estatuto dos Indfgenas Portugueses das Provfncias da Guine, Angola e Anotado e Legisla<;:ao complementar: ESTATUTO DOS JULGADOS MUNICIPAlS (Decreta n.o 39.817, de 15 de Setembra de 1954) REFORMA PRISIONAl DO ULTRAMAR IDecreta-Lei no" 39.997, de 29 de Dezembra de 1954) PORTARIA N.o 15.612, de 21 de Novembro de 1955 2 .. 1 edic;ao llSBOA I 9 S 7

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Page 1: Mo~ambique - O Governo dos Outros | Imáginários ... · seguir-se-lhe outros diplomas que especialmente se oc-upem de cer .. tos aspectos que exigem regulamenta~ao pormenorizaJa

JOSt CARLOS [,lEY FU~PEIHA

VASCO SOARES DA VEIG/\

Estatuto dos Indfgenas

Portugueses das Provfncias

da Guine, Angola

e Mo~ambique

Anotado

e

Legisla<;:ao complementar:

ESTATUTO DOS JULGADOS MUNICIPAlS

(Decreta n.o 39.817, de 15 de Setembra de 1954)

REFORMA PRISIONAl DO ULTRAMAR

IDecreta-Lei no" 39.997, de 29 de Dezembra de 1954)

PORTARIA N.o 15.612, de 21 de Novembro de 1955

2 .. 1 edic;ao

llSBOA I 9 S 7

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Act. Col.

B. O.

C.Org.

C6d. Gvil

ad. de Trab.

C6d. Penal

Con~t. Pol.

D. do G.

Dec.

Dec.-Lei

Dip. Lt·g.

ABREVIA TURAS

- Acto Colonial, promulgado por Dec. n.o 18.570, de 8 de Ju. lho de 1930. Substituiu 0 titulo V da Constitui\ao PoHtica da Republica Portugucsa, de 1911. Considerado materia cons­titucional pelo art. 133.° da Constitui\ao de 1933, foi integrado no texto da Constitui(ao pela l.ei n.o 2.048, de 11 de Junho de 1951.

- Boletim Oficial.

- Carta Orgcinica do Imperio Colonial Portugues, aprovada poe Dec.-Lei n.o 23.228, de 15 de Novembro de 1933.

- COdigo Civil Portugues, aprovado por Carta de Lei de 1 de JuIho de 1867, alterado pelo Dec. n.o 19126, de 16 de De­zembro de 1930 e tornado extensivo ao Ultramar por Dec. de 18 de Novembeo de 1869.

- C6digo do Trabalho dos Indfgenas nas Co16nias Portuguesas de Africa, aprovado por Dec. n.o 16.199, de 6 de Dezembro de 1928.

- C6digo Penal Portugues, publicado por forc;a do Dec. de 16 de Seternbro de 1886, com alterac;oes introduzidas pelo Dec.­-Lei n.o 39.688, de 5 de Junho de 1954.

- ConstituiC;3.o PoHtica da Republica Portuguesa, de 11 de Abril de 1933, modificaJa pclas Leis n.os 1.885, 1.910, 1.945, 1.963, 1.966, 2.009 e 2.049, respectivamente de 23 de Marc;o e 23 de Maio de 1935, 21 de Dezcmbro de 1936, 18 de Dezern­bro de 1937 23 de Abril de 1938, 17 de Setembro de 1945 • e 11 de Junho de 1951.

- Diario do Govemo.

- Decreto.

- Decreto-Lei.

- Diploma Legislativo.

Dip. ()rg. das ReI. de Dt.o Priv. - Diploma Organico das Rela<;5es de Direito Privado entre Indi-

genas e nao Indigenas, Dt,c. n.o 16.474, de 6 de Feveceiro de 1929.

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6 ESiATIJTO DOS INDiGENAS P()Rl_'l_-iG-l-JE--'S-E-S-----

Est. _ Estatuto dos Indigenas Portugueses das Provincias da Guine)

Angola e 11o<;arnbique, Dec.-Lei n.O 39.666, de 20 de Maio

Est. de 1916

Est. de 1929

Est. dos J. ~L

L.Org.

Port.

<-

de 1954.

_ Estatuto Politico, Civil e Criminal dos Indigenas de Angola e Mo~ambique, Dec. n.o 12.533, de 23 de Outubro de 1926 (tornado extensivo aos indigenas da Guine e da Companhia de :l'.{o\,ambique pelo Dec. D.O 13.968, de 30 de Maio de 1927).

_ Estatuto Politico, Civil e Criminal dos Indigenas, Dec n.o 16.473, de 6 de Fevereiro de 1929.

_ Estatuto dos J ulgados Municipais das Provincias da Guine~ Angola e ~Ao<;ambique, Dec. n.o 39.817, de 15 de Setembro de 1954, reet. no D. do G. I serie, de 10 de Dutubro de 1954 (0 Julgado Municipal de Dio rege-se tambem pelas disposi~5es deste diploma).

_ Lei Organica do Ultramar Portugues, Lei n.o 2.066, de 27 de Junho de 1953, alterada pela Lei n.o 2.076, de 25 de 1't1aio de 1955.

- POliaria.

Rtf Pris. do Vlt. - Reforma Prisional do Ultramar. Designa-se por este nome 0

Dec.-l:ci n.o 39.997, de 29 de Dezembro de 1954, que toma extenslVO ao Ultramar, com as altera<;oes dele constantes 0

Dec.-Lei .n.o 26.?~3, ~e 28 de Maio de 1936 (Reorganiza{ao dos Servl<;OS PnslOnals) e 0 Dec.-Lei n.o 39.688, de 5 de Junho de 1954 (que introduz profundas altera(oes no COd. Penal).

R. A. U. - Reforma Administrativa Ultramarina., promulgada pel0 Dec.--Lei n.o 23.229, de 15 de Novembro de 1933.

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I

Estatuto dos Indfgenas Portugueses

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Decreto-Lei n°. 39.666

A Lei Organica do Ultramar (Lei n.O 2.066, de 27 de Julho de 1953) contem varios preceitos relativos a popula~oes indigenas das provincias da Guine, Angola e Mo~ambique. Alem das bases componentes da sec~ao especialmente epigrafada «Das popula~oes indigenas», encontram-se, nomeadamente, 0 n.O V da base LXV, sobre 0 julgamento das questoes gentilicas, e 0 n.O II da base LXIX, sobre a extensao dos sistemas penal e penitenciario.

A regulamenta~ao dos principios gerais contidos nestas bases exige que sejam alterados alguns dos preceitos dos chamados «Es· tatuto Politico Civil e Criminal dos Indigenas» e «Diploma Or· ganico das Rela~oes de Direito Privado entre Indigenas e nao In­digenas» Decretos n.OS 16.473 e 16.474, de 6 de Fevereiro de 1929), que, por outro lado, haveria ja anteriormente conve· niencia em modificar e aditar em parte, a fim de uniformizar pro· cedimentos, extinguir regimes locais inadequados e alargar 0 am­bito das reformas.

COIn efeito, 'em leis gerais de canicter fundamental, como 0

Acto Colonial, a Carta Organica do Imperio Colonial Portugues e a pr6pria Constitui~ao Politica, algumas das regras contidas no

· estatuto e no diploma organico foram gradualmente aperfei~oadas, ao mesmo tempo que outros diplomas - como 0 Decreto n.O 35.461, de 22 de Janeiro de 1946, sobre 0 casamento - enunciavam pre­ceitos que bem caberiam no estatuto. Acresce que certas n1aterias importantes, entre as quais a aquisi~ao da cidadania por antigos indigenas, eram reguladas apenas em textos locais, falhos de ho· mogeneidade.

o presente decreto aplica os principios fundamentais, hoje consignados na Constitui~ao Politica e na Lei Organica, e desen­volve-os, na extensao compativel com a sua natureza, devendo seguir-se-lhe outros diplomas que especialmente se oc-upem de cer .. tos aspectos que exigem regulamenta~ao pormenorizaJa.

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10 ESTATUTO DOS INDfGENAS POR'I1JGUESES

Deseja-se acentuar tel' havido agora a preocupa(;ao de, sem enfraquecer a protecs,:ao legal dispensada ao indigena, considerar situas,:6es especiais enl que ele pode encontrar-se no caminho da civiliza~ao, para que 0 Estado teln 0 dever de 0 impelir.

Nestes tern10S :

Ouvido 0 Conselho lJItramarino (*) ;

lTsando da faculdade conferida pela l.a parte do n.O 2.° do artigo 109.° da Constihlis,:ao, 0 Governo decreta e eu promulgo, para valer con10 lei, 0 seguinte :

(.) Rtd'.O;io ~gundo rertifica~io d P ·de . d n.fJ 132. de ]9 ~ Juuho de 11)~4. a re$1 nCla 0 ConseJhQ, l'\l.bJicada no D. do (y.

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CAPITIJLO I

Dos indisenas portugueses e do seu estatuto

ARTIGO 1.0

(Ambito de apliGl(ao territorial do estatuto de indigena) .(*)

Gozan1 de estatuto especial, de harmonia com a Constitui~ao Politica, a Lei Organica do Ultranlar e 0 presente diploma, os indi­genas das provlncias da Guine, Angola e Mo\ambique.

§ unico. 0 estatuto do indigena portugues e pessoal, devendo ser respeitado em qualquer parte do territ6rio portugues onde se ache 0 indivlduo que dele goze.

1. 0 «estado» de indigena. «Estatuto».

o facto de os n.ativos das provincias portuguesas da Africa continental se encon­tra.rem ainda em determinado grau inferior de civilizac;ao irnplica a necessidade de se processar urn ordenamento juridico adequado a possibilidade de efectivac;ao de poderes e deveres por parte desses nativos.· Isto e, os indtgenas (conceito que 0

art. 2.0 (**) escIareceni) encontram-se numa posic;ao especial perante a ordem juri­dica geral. Ora essa posic;ao especial dos sujeitos de direito perante a ordem juridica designa-se em terminologia tecnica pelo nome de <<:estado» (status) au «sitllarao jm'idica» ou «qualidat/Je jurfdica» e depende de urn conjunto de qualidades, circuns­tancias ou situa.~6es pertinentes ao individuo ou grupos de individuos (v. g., estado de filho, estado de casado ou solteiro, estado de funcionirio, estado de indigena) -Cf. Prof. Guilherme Moreira, IJJstituiroes do Direito Civil Portugltes, vol. I, pig. 168 ; Prof. Jose Tavares, Os Principios Fundamentais do Direito Cit!il, vol. II pigs. 25-31 ; Prof. Cabral de Moncada, uroes de Direito Cit!il, 2.& ed., 1954, vol. I, pigs. 300-303.

«Situa.~ao juridica», «posi~ao juridica» e «estado» sugerem-nos logo a ideia de posifao perante algo. Esse algo que nos interessa para esdarecimento do conceito de eJtado de indigena e a ordem juridica gera!. Em sentido mais res tri to, entende--se todavia por estado a posi~ao perante 0 instituto familiar (status familiae) ou ate­sentido restritissimo - apenas perante 0 casamento; por outro lado, pode tambem distinguir-se entre «situa~ao juridica» e «estado» : sitlla{"tlO ;uridica geral sera. a posi­(ao da pessoa titular dum poder ou dever que a lei atribua abstractamente a quantos se encootrem em dada situac;ao de facto; sitlla(ao ;urrdica individual sera a posic;ao da pessoa titular dum poder ou dever com conteUdo pr6prio. definido segundo .IS

suas condi~6es particulares (d. Prof . .Marcello Caetano, Manual de Direilo Admj"is­Ira/ivol 4.- ed., 1956, pags. 172-173). Os poderes constitutivos do estado de indigen.t

(.) As epigrafes nao constam do te:..:to legal ; sio dll exdusiva responsabilidade dos autorcs &sta edi~io.

(H, ~ artigos IIlcncionados sem io..1i(a~iio ..10 diploma 11 que perteocem, sao do Est. actual.

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12 FSTATInD DOS INDlGENAS PORTIJGUESES

Artigo 1.°

oriein,un uma situa(io juridica geral; mas os indigmas pod em ter situa(oes. juridicas ind'ividuais as nl.lis variadas.

o que nos interessa por ora e acentuar que quando falamos em e.rtddo de indfgel14 nos repNtamos ao conceito amplo primeiramente assinalado.

o conjunta de poderes e deveres inerentes ou respeitantes aa «estado» bem como (I mnjunto de oomus que organizam e disciplinam esse complexo de poderes e deve­res tomam 0 nome de «estatuto». Par esta mesma expressao designam-se assim duas realidades que indubilh-e1mente se interpenctram, mas que conceitualmente se distin­guem: a1em estaJuto esta tornado nUID sentido subjec/iI'o (conjunto de poderes e deve­res) ; aqui, num sentido objectil'o (conjunto de regras de Direito). Distin<;ao paraleJa - e derivada - da que costuma fazer-se entre direito subjectivo e direito objectivo, tern imediata aplica~ao nesta materia: quando rcferimos 0 Dec.-Lei n.o 39.666 como ~Estatuto dos Ir,digenas) tomamos a palavra no seu sentido objectivo; quando este art. 1.0 nos afirrna que os indigenas af referidos «gozam de estatuto especiah), usa-se a palavra nUID sentido subjectivo.

2. <,EstadO» e {{Clpacidade».

A igualdade juridica das pessoas. como tais, postulada pela filosofia politica, e expressamente declarada no art. 5.° da Const. Pol. e no art. 7.° do COd. Civil nao !=. que correspond~r ~~essariarnente ~ identidade de posic;ao perante tod~ os rnsurutos da ordem Jundica gera!. A dectJ.va diversidade de aptidoes, de mentalida. d~, de ~Ituras, gera como resultado necessario uma diversidade de situa~oes juri. dicas. Asslm, a cap.:zc;dade, enquanto medida de p0deres e deveres sof . - J~' vadas do estad'" ' re varla!:oes u,cCl-

Tociavia, 0 «estado de indigena» niio dad' , tis diminuti(») " "d d gera uma ver elra IIIca/Jacidade (<<capi-

, Ja porque as l11capaC! a es como exe~oes a rege I d . dade:, tern de Set expressa e taxativamente 'decl d . " a gera a capaC!­aos indigenas 0 Est actual estabelece _ ara as pela Ie!, Ja porque em rela<;io poderes e dev'eres r;tirando antes d' , ~o urn c~rceamc-nto, mas a diversifica<;ao de para rC,c':ular situ~~oes entre indige~~C!t:to~~)va a ~er~a p~cela do direito comWTI usos e costumes pr6prios das sociedades i~di' e f,U stltUln 0-0. p;'la recqx;ao dos pela lei. genas, dentro dos l11Illtes e5tabdecidos

A esfera juridica dos indigenas nao e ,)', d' , ., de <lplical;ao do direito comum pn'vad '! bl>ll~, Im/JIUl~ a. RC1:rai-s(;, sim, 0 ambito

• , 0 e pu lCO,

3. «Indigena» e «cidudao» Nacionalidade r . . . ,~onCCltos.

o presentc Est. contrap6e indi"ena a (idada (- . , , gena (ou ('stado de indigena) a cidad " N 0 n~o l11dlgena) e cOlldlCdO de indf-corr d an a. est! termmologia' d'-. espon e urn eSlado caracterizado peJa at 'b . _ d ' a C011 l\ao de cidadania 15to e, pela integraJ aplicadi.o d~ dire't 'brl~ wc;ao . 0 estatuto de direito comum (art - "J' - 10 pu ICO t prtvado dos c'dad- , '- . laos portugueses

hto ass-=nte, deve apartar-se 0 c· '_ . outrc' acep~ii(-<> que tambem 11 - oncelto de cldadao, asslln de!imitado de duas nil) correspondem de modo alb~~a~ ~:~fn~~~ ~as legislac;oes e nji doutrina; mas lIC

A~slm, a condirao de l'nd' _ g C; 0 que este Est. da ao termo q d r ". Irena nao se cont" - . . . Ee :;C1ona Idade, isto t, vinculo jurldico perm r~po(' a c/~tlda1/iC1 cil·il, 110 .rentido

s 0 (rJffi~ membro do seu PO'Vn. Ta t 'dne~te que IIga um indivlduo a ~or;r: 0 IndlfJe~C1 tem na(i(;nalidade po~t~ ,~e:~ .adao, ~o. senti do rderido nrste E~

gt"fTl a duvldas: ,,0 ("Statut( d . d' g • , 0 § lInIeo deste art 1 0 - d ' .. , naJ - silbdit da ) 0 10 Igena portug • N '. nilO elxa

- 0 = Cl dai') tanto . d' Iit'I •.. ). a sinoni . d . ad .. daos, porque it uni~de POlit~cal~(~g~~~~O:~r~ nad inJi~tna s~~gU~I~:~~~ pon eo lo!?lnunente a atribuit;:io

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ESTATIJTO DOS INDfGENAS PORTVGL1:SES 13

Artigo 1.0

da. naeionalidade portuguesa a twos os elementos popuJacionais do Esta.do, exeep­tuados os estrangeiros.

Por outro lado, nao pode eonfundir-sc 0 significado estatutario de cidadao com cidadania polifica (au aetiva), isto e, a participa<;ao no que alguns auton, ehamam «carpo de ddadaos» (v. g. Duguit, IrLwuel de Droit Constilut;onnel, 4.· ed., pag. 138), quer dizer, 0 eorpo eleitoral ou 0 conjunto de indivfduos que gozam de cectos dire:­tos poHticos pertinentes a interven<;ao no exerdcio da soberania. Repare-se que, se o indigena nao goza de direitos poHticos em reJa<;ao as institui<;5es dos <'nao indi­genas» (art. 23.' deste Est.), tambem 0 eidadao (no sentido do presente E~L) pode estar privado de direitos politieos se na sua pessoa nao concorrerem os requisitos legais neeessarios ao seu exerdcio.

«Temos assim que 05 indigenas sao subditos portufueSeJ, Jubme!.'d~s a protecrao do Estado porlugues, mas sem fazerem parte da Nac;ao, quer esta seja considerada como comunidade cuJhlral (visto faltarem-lhe os requisitos de assimila<;ao de cultura), quer como associac;iio polftica dos cidadaos (por nao teRm ainda conquistado a cidadania).» - Prof. Marcello Caetano, A Conslituirao de 1933 - Ej/,.do de DireiJo Pol1tico, 1956, pag. 23.

4. Cidadania origimlria e cidadania derivada (assimila~ao).

Torna-se, par outro lado, necessario distinguir entre eid:rdania origin aria e cida­dania derivada (assimila<;ao), :rtribuindo sempre ao termo eidadm.ia 0 canteudo que acim:r se indicou. A primeira nunea se perde, ao passo que a segunda pode ser reb­rada nos termos do art. 64.° de5te Est. (Cf. Prof. Adriano Moreira, Admm;strafao da furtira aos lndigenas, 1955, p,ig. 118). Veja-se aplica<;ao directJ. desta distin(io em nota 7 ao art. 2.0

5. Pessoalidade do estatuto de indigena.

a § unico deste artigo 1.' constitui uma regra inovadora que "cio pOr fim a uma querela que empenhou a doutrina na vigencia do Est. de 1929. Discutia-se enUo o carieter pessool au territorial do estatnto do indfgena. No primeiro sentiJo­agora consagrado legislativarnente - pronuneiou-se 0 Prof. Silv,l Cunha, in 0 Sistem.;t Portugues de Politiu bldigent/, Coimbr.l, 1953, p,ig. 181; no s<?gundo senti do. emi­tirarn Pareceres a Repllrti(ao de Justic;a da Direcc;ao Geral de AJrninistr-ac;iio Politica e Gvil do Ministerio do Ultramar e 0 Conselho Consultivo da Procuradoria Geml da Repllblica, apud Bo/t!lim Gerd d;ls CoI6fli,/J. ana XXVI, n.o ~95 (Janeiro de 1950), pags. 102 e seguintes.

6. Remissao para legisla"ao geral.

Corn referencia ao corpo do artigo, d. Canst. Pol., art. 138.° e L. arg., Base LXXXIV, n.os I e III, onde se indicarn as provinci.ls ultr,UTIMin'ls de' indi­genato.

7. Legisla(ao preterita.

a corpo do artigo cOI'responde .10 art. 1.0 do Est. de 1".:'9. qulC' prt'\ia 0

regime de indigenato apt'n~s nas tres pro\'in(ias cnnmeracias no actu.1.1 E,t P,)rem, a Lei n.o 2.016, de 29 de 1hio de 1946 (Lei de revisih) ,.l.J C. Or-".) , nL' tt"Xto

revi~to do § unieo do art. 246.° da refl'rida C. Or", .. apenas e~cluia J,> regime de indigenato 0 Estado d,l India, 1L1Clll e eli)l) V crde, 0 que <"qui\'J1ia J. ampiiar tal l'<>gime a S. Tome e Prin(ipe e Timor. A L. Org. (Rl'C LXXXIV) restabele.:eu \)

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14

Aritigo 1."

bl r~l'" "'''(101111 ;l l,,"oposta do Dcputi'.Jo '. f . vada na A~s(;m - ~ 1~... •• • C .i~te1n.l de 1929, PO!' 01 apro • d ' texto do (ontr:lprojecto da c.1.mara or-S"I1>.' Pinto no sentido de'dmanotenl 0-5e

1o H < S Tom!. ~ Timon) .

. ' . d n as pa avr:" \. . t:" p<.)rativa. serem ellmUl:l as 0 . • .

B. Estara 0 Est. de 1929 inteiramente revogado ?

Cf. notas ,\0 .lft. 65."

ARTIGO 2/'

(NO(ao legal de indigena)

Consideram-se indigenas das referidas provincias os ind~d­duos de ra<;a negra ou seus descendentes q~e, ten~o nas~ldo ou vivendo habitualmente nelas, nao possuam a111da a tlustra~ao e os h,lbitos individuais e sociais pressupostos para a integral aplica­do do dircito publico e privado dos cidadaos portugueses. , § unico. Consideram-se igualmente indigenas, os individu~s l~as­cidos de pai e mae indigena em local estranho aque1as prov111C1as, para onde os pais se tenham temporariamente deslocado.

1. Legisla~ao preterita. Confronto.

o art. 2." do Est. de 1929 dispunha:

Artigo 2.0 Para OS dc.-itos do prc:sente Estatuto, sao considerados in­dlgenas os individuos da r3.\:J. negra ou dela descendentes que, pela sua ilustra\ao e costumes, se nao distingam do comum daquda ra\a ; c: nao indigenas, os individuos de qualquer ra<;a que nao c:stejam nestas con­C!i<;6es .

• \05 governos d.ls co16nias compete definir, em diploma lc:gislativo, as condi<;6es especiais que devf111 caracterizar os individuos naturais del as ou nebs habitando, para serem considerados indigenas, para 0 efeilo da apli­Cat;ao do £Statuto e dos diplomas cspeciais promulgados para ilJdigenas.

Do confronto entre 0 comeito de indigena fOlmulado na primtild parte do art. 2." do Est. de 1929 e a definic;:ao do carpo do art. 2." du Est. actual result.'t que:

a) .- 0 texto adual ja nao ofen:ce, COlnO 0 Est, anterior, suces~ivaml'nk uma defim<;ao de indigena e outra J(: nao indigena, reJundanr ia manif(:stammlc (>scus,lda porque aquela exdui a n·cCl",~idu.dc Jesta; ,

b) -- 0 [,t. dt: 1929 wn~idef.lva lndigr.:nas 0, «individuos da nu;a n(~gra ou deJa descendtntes que, pela sua lluslra<;ao e (Ostwnc:s, SE" nao distingam do COUlum ~asuela r:~ar" l:?quanto qL~(' • para. 0 n~vo Est. ~ao. i.ndigenas os que <mao possuam amda ~ I. u'>tra<;ao e ?s habltos IfidlVldualS. e s.?CJals prE"ssupOMos pdra a integral ap!Jca~ao do d~f/Clto pUblIco (: _ pnvado dos cldadaos portuguese,>)). isto t:, situa entre (J COfllelto malS ,restrlto do hI., de, 1929 e 0 do actual,novas categorias de indio genas - {h d<:'>tnballzlIdvo e OS JI1dlgena; em <:volll(ao (Cf. para rnelhof l.ntt:ndi.

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ESTATUTO DOS INDfGENAS PORrJGL'EsES 15 ._---- -- --"----, -.. ._----

Artigo 2."

mento sobre a nC'Ccssicladc de promover um estatuto parJ os indigenas destribalizulos ~~ a~ota(J)('s ao art. 21."). Assim, 0 indigcna sO deixa de 0 set, nao por se di<;­tmgwr do comum da sua rar;a (E<;t. de 1929), mas quando !>e identifiCd.c com 0

grau de civiliza<:ao do, cidadaos. Na situa<;ao intermedia de indigentt deJlribaiiz,uiQ pode conferir-se .:.to indfgLn:J., sem perda (kssa qualidade, a faculdade (art. 27.(') ou mr:smo a obngatonedadc (art. 29.") de se re-geT pela lei comum. (U. anota­(DeS aos arts. 27." e 29." e Prof. Adriano MoreIra, AdmitliJ!fJrao d1 fur/i(a aM il1dJ,;ellas, pag. 21 (. segs.).

c) - A definic;ao de indigena do Est. actual i: ger.11 t: i!xcluJi,p. Geral, por­que coroum it todas as provlncias de indigenao (c me-smo fora debs - § unic i) do art. 2.°): cxclusiva, porque 0 Est. actual nao atribui aos Governadores de provincia, como sucedia na vig&ncia do Est, de 1929. mmp<.-teocia pJI3. ddimIC'tIl, em diploma especial, as condi<:;oes qu-e devem caracterizar os indigenas das respecti­vas provincias. Tao poueo a le,f:islac;ao local podeni alterar a presente defini<;ao -de indigena, por fon;a do principio consignado no § 2.° do art. 151.0 da C01lSt. Pol. ;

d) - 0>; (Titerios sobre que assentava a definir;ij.o do Est. dt' 1929 - criterios etnico e cultural- foram alargados, acrescentando-!>e-Ihes tres nOH>S criterio> que funcionam acessoriamente, nos termos inJicados na nota seguinte,

2. Conceito de indigena. Criterios gerais da ddini\ao.

Os criterius utilizaJos pela ddinic;ao dt' indigena do Est. de 1929 sao ainciJ. hoje os prillcip,lis .. mas 0 Est. actual enumefllu outros critt-nos alt'5s6rios. Assim :

1-Criterios principals:

{/) - Crilerio etnico ou racial; 56 sao indigenas, em ~ntido k,c;aJ. 05 "individuos de rap ntgra uu os seus descendentes» ...

b) - Crif<;r;o w/lltI'al: ... «que nao possuam :unda a iJus/r,;,';io» (indices lite­d.rios: d. alineas b) e d) do art. 56.0 e alinea c) do art. 60.°) «t as hibitos inJiYi­duais e sociais» (indict'S sociais: d. aJineas c), d) e c) do art. 56." e aJine;ls a), h) e d) do art. 60.°) «prt>supostoS» (peJos arts. 56.°, 57." e 60,") "par~ a inte~ J.pli~a­<;:ao do direit() publico e privado .los cidadaos portugueses» ...

Este (Titt-rio lllitural e enunciado por via ncgativa: «que "ao POSStL.lID, , ,,.; 0

seu preJl'minio sobrt ('> criterio etnic:o rounifestu-se pllr aquele ceder per-ante est<-: individuos dt' ral,.' ncgr.l (,riterio etnico) podem deixJ.r de ser indigenas, verifjc~d.l.5 as condi<;6"s t'xigl'i.!> "dus arts, 56." e segllintes (criterio cultuml),

n -- Criterio, .lct'"orios ou subordinaJos:

•. ) _ Cnl~,i(i do "jl'f soli» Oil do IUf,ll do 11.1Jcimenlo; ... "que knlum tuS­

cido» nas provinci,ts de indigenato .. , (Extep,ao: meSlllO fora dtSo..l5 provin.:.ias nos casoS previstos no § unico - preJominio do «jus SJ.ngUlnis»).

d) - Criterio tlu «ius r/utTIiciJii» ou '/.1 rt!JiJ,~nci.~: . , , «vi,,:ndo h.lbitualmente» n.l~ provinLia, de indigenato, Mas nem por pas5:lr a vi""r b,rhifu.:J "ie,,:e em local csfranho aqudJs pruvinLias (Metr6pole, Provincia.~ de nao indi!!enat,' - Cabo Verde, S, Tume e:: Principt:, India, Macau t' Timor -- ou Eslmn,c:elfO) 0 tndigena deiutli de o ser alltullI:ltilamcnte (ipso jurC->. ,om dispensa dm fl"q"i~lt"S cnul1<.iaJos nt"~ arts. 51." e seg', (0', nU

• 1.", 3." e 'j," d.l Port. n," 11.612, transcrit.i na II pane' deste volume) -- preJominio do criterio cultural.

e) - Criterio do «jus sa!Jguitlis» ou tiP jili,J.-(io. I\'i 0 prt'SSUp..)st\.' da consi­def;J.<;ao d" S Ilni,,,, em conjuga\ao wm (I criterio ,u1tlll;1. fX~r i~ ~u .. , ponder.!. a influi::miJ cultural dos pais sobre os fllho" meSInO subtr.lldL'" as tnoJ<:nclJ.s .unblcIl­tais: predominio subre 0 jllJ JOIJI/,i/II,

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16 f~TATI)TO DOS IND1GENAS PORTUGU.b:'.b:' ---~~.----

Artigo 2."

. . . d . terpreta~ao da defini~ao legal de indigena. 3. DUvldas susClta as na 10

. " .' interpreta<;ao da definic;ao legal de indi-Nao obst.U1tc os cfltenos mdICados, .a A' ' dial dadas as evidentes

gt"IU nao e isent,l de duv~~s. alias de ImportanCla pnmor ,

impiica(ol"$ ptiticas da, F',OSI~ao qU~Jse adoptar'""dem colocar-se e quais as soluc;5es Enuncicrnos as hlpOteses dUVI osas que t'~

que mdbor Ihes convem:

I - Hip6teses que podem co!ocar-se: . f'lh d rooenitor Que nao e de rac;a negra

.1) -0 individuo mestI~o. 1 0 e urn p co· ~ . d'gena nem dela descendente, e de Dutro progenit?r !ndigena d: ~c;a ,negra) ou nao In 1

(assirnilado) dessa rac;a e originariamrnte lllcilgeoa _ ou ,nao lllcilgena . d la des-bJ _ 0 individuo filho de progenitor que nao e. d~ :ac;a negra nem e)

d de DUtro progenitor mesti<;o (descendente de mdivlduo de ra<;a negra , mas ceo e e ,,- . d' ) olo indigena., e originariammte inaigt"IU ou nao m !gena . . . 'd

O . ,1' .'d £'H 0 de progenitores mestIi;OS (descmdentes de mdivl uos c) - m_I~1 uo I] • 'I d ) ~ .. ,. t' eli

de rac;a negra) que ja adquiriram a cidadania (asslfIll a os t' OflgInanamen e 10 -

gena ou nan indigena ? . . 'd d d) _ 0 individuo filho de prog~ni.to: ~esti<;o (descendente de mdlvl ~ UO. e, rac;a

negra). mas assimilado, e de pro~eru,to.r !n.dlgena d~ r~<;a negra, ~m ~e ?ao l~dlgena (assimilado) dessa mesma ra(a e, o!1?m~na:nente l~dl?ena ou nao mdlg~ . .

e) -0 individuo filho de p:us nao !ndl~~~ .aslmllad.os, ,Tlamdo depot! d~ aqll1; sittio d .. cidadania por parte dos p.1/S, sera ongmanamente meligena ou ?ao ~nd:gena . E se sO urn des pals e nao indigena assimilado, sendo 0 outro progerutor mdlgena ?

II - Inlerpretafao iitertU da dfjinifiio legal.-

Numa interpreta~ao estritamente literal da defini<;ao legal, desde que os indi­viduos, cuja situac:ao particular se contempla nas hip6teses anteriores, tenham nas­cido ou vivam habitual mente em provincias de indigenato, dado que, em qualquer dos casos figurados, descendem de indidduos de ra(a negra, seriam originariamente indfgenas e 56 perderiam essa qualidade quando reunissem as condic;5es exigidas nos arts. 56." e seguint<:s. E is to, indepedrntemente do grau em que se situem na sua ascendencia os individuos de rac;a negra., porque a lei nao estabelece distinc;5es e, segundo urn conbecido preceito de hermeneutica, onde a lei nao distingue, nao deve o interprete distinguir (ubi Jex non diJtinguit, nee nos distingllere debe1lJ1Is).

III - Critic a da allterior interpretafao literal .-

Esta interpreta~ao contraria, contudo, OS principios fundamentais da politica indigena purtuguesa que se orienta no sentido de considerar a situa(ao de indigena meramente transitoria e excepcional. Na interpreta~ao literal anteriormente enunciacia, o criterio thnico assunllria urn relevo que esta longe de corresponder as constantes da nos;;a politica indigena, pois que na pr6pria economia da defini(ao legal de indi­gena e 0 criterio cultural 0 dominante (Cf. nota anterior),

Kao parec<: curial que os descendentt"'S de indig<:nas, me<mo apOs urn proccsso de m(.-stl~gem, devam considerar-se para sempre originariamentt' inJigenas. Tal solu­~ao seria urn retroctsso na nossa legisla~ao de inJigcnato, r<:troct'Sso tanto mais int'Xplicavel quanto e certo que 0 Est. actual csta dominado pda ideia mestra da transitoriedade da condi~ao de indigen~. Na verd,ade, os diplomas espelia.is antc.-rior­mt:Ott' ~ vigor nas p~OVln(~aS ultram~n~a: de mdl):wnJto, consagravam a solu~ao legal de (ooslderar corno nao mdlgenas os mdlvlduos nt"ssas condi<;5es. Assim :

~m Mo<;arnbique, _0 art. 3,· do Di\J. Leg. n,· 36, de 12 de Nov<:mbro de 1927 (puh\tcado tm ('xerU(;ao d? bt. de 1926" mas qU(- 5e IDankl'(' ('m vigor na vigen­CUl do Est de 1929), consldcrava caractenzados pelas condi\5es exigidas no art. 1.0

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ESTATIJTO DOS INDJGE;\lAS PORTcGCESES 17 -------------- --------------Arti,Vo 2.(1

do mcsmo diploma (condi(oes para aquisi(;.o cU cidadania). a:, mulheres e O'i filhos 005 nao indigenas e os filhos dum indigma e dt' t:m nao indigcna, mas perfilhados por cste.

. . ~a Guine, consideravam-se para tC)Jos os dei~O$ como cidadios portugueses os It;dIV.ld~os de mc;a n(.'!ra. ou dela descendr:ntcs, qut:' se encontra ,5em l'..as situat;6oes dlscmrunadas no art. 2." do Dip. Leg. n." 1.364, de 7 de Outubro de 1946, de entre as quais interessa referir a da aHnea. a): <6et mulher, viuva ou filho de cidad2.o originario ou que haia adquirido r:ssa qUJlidade».

IV - So/ufao do PI·oj. Silt.~ Ctmh,/:

Como solucionar 0 problema. em face do E:>~. actual ? Perfilhamos a opini~(' recentcmentr: sustentada pelo Prof. SilYa CUT!:'3 D:lS suas

li<:oes de Polltica Indigcna, proferidas no Instituto Superior de Estudos U:nmarinO$ (Cf. Pol/tica Indigena, II, apontarnentos de li<;5e5, 1956-195', p.ig. 18), segundo a qual se devera fazer uma intel'pl'etarao restritilla 2.., art. 2.". por forma a nao induir na Gltegoria de indigena os inclividuo<; .1nteriormente- indicados. deJde que filhos legitim os 011 perfilhddos do progenitor nao indigena, pois em tais C.15C'5 «0 nor­mal e que 0 teor de vida dos fi!hos decor.a sepmdo 0 padriio normal cia cultura por_ tuguesa) (op. cit., pag. 19).

Ao referido Professor ja se «apreseDta m:l.is duvidoso 0 C<ISO de filhos de cicla­dio oriundo do gmpo dos indigenas e indigenas, mas, desdt:: que a qU:llidade de cidadao perten,a ao pai talvez se ppssa sustentar 3. meSIlla solu(io, interprt'-o.an.do a con!l'dl'io sellJ:i 0 art. 57.0 do Estatuto» (op. e pags. ciL).

As solw;iies expost:!s restringem-se. porem, aos filhos ltgitimos ou ilegitimos perfilhados. A legitimidade ou a pe:rfilha<;ao ir;culcam qu.e 0 filho $(on!. educacio peIo progenitor que vive segundo 0 p.drao da cultura ponugutsa (ou de outro tipo de cultura «civilizada») e nao ab:tndonado ,\ lei cia selv2.. Nesta ultima hip6tese. pode considenr·se que ? incidencia ambiental e a influcneia educ:l!.iol12.1 do proge­nitor indigena s6 dificilml:me poderiam str superadas POl' uma hipcMtica assimi­Ia(iio proccssada ateaves do progenitor nao indigcn.l.

IlTIpressionado~ peb circunstancia de se nos afigurar impossin"1 J. face ::!o Est., fUn<.hllTIe:ntar :! dife-ren(:! de regime entre filhos Icgitimos e perfilhaclos, p"r urn lado, e filhos nao perfilh:!dos, por outro, cheg.imos a p.cn'i~r que a 501u<;5.0 do Prof. Silva Cunha sO poderia considerar-st' «de jure constituendo». Mas ,1 necessid.1de de enenntear uma solu<;ao corresponJente ao verdadeiro sentido <b. nossa politica indigcfu"l, leva·nos a aphudir agora, sem reservas, .: soill(;:io do ilustre Professor.

(Em sentido contrario,' pelo menos quanto ,1 filhos de cidadaos oriundos da categoria de indigenas, d. Prof. Adri.lno Morl·ira. Admi'Zilfr.:trao d.; J uJ/ira 305

1 ndigellt/S, pag. 29).

4. Situa~ao juridica dos Whos de J..Ssimilados nascidos :lctes da J.qui­si<;ao da cidadania pOl' parte dos pais.

Em n:la(iio a aqu:<,::., da cidadania por p.';t, de filhos legitim os OIl perfilh;>.­<los de nao indigenas, u..IsridoJ mller d,[ d..Jla at! "qlliJi(.io 1.z .. id.:..i.lr.!J ~los pais. mas menores de 18 an()s, na mesma dat,l. vip;or:l a reg!J. dl' art. ')7,". sc!!unJo 0 qual estes «podem tambem adquiri-Ia. no ClS(' de <.ltisLut'rem aos rt"qUiSltos cias alin(~s b) e d) do art. 56.°».

~ unM &.itlla<;~lO interm(·di.1 enlre 0 pro(e"SSO de aquisi,J.<.' .l.ut<.'1fl1iw.":l Ja cida­dania Cut. 60.") e a aquisi~l,) PO[ processo nonna!, rt',:.ulad.~ n,'s JIt.'. "t>-" t:' segs. deste Est. (Cf., nl'ste sentido, Prof. Adriano ",krcira, .iJm. d;1. .hst. .:,).i Ind., p:.ig. 117).

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Ifl

Artigo 2:

5. SitU.lt;:iO juridica da mulher indigena casada com individuo que adquira a cidadania.

Ci. am)t.l~0es ao art. 57.0

6. Indiaenas nascidos fora das provindas de indigenato, para onde os p~s se tenham deslocado definitivamente.

~J.o obstant~ a interpreta(ao literal da liltim;~ parte do . § lini_co .d~te art. 2.· p<)dtr sus(itar duvidas sobre se os incllviduos nasc.tdos de ~ e mae mdigcnas, em local esttanhQ as provincias de indigenato para onde o~ pru.s. se tenham fes/ocado dejinith:.lmente, adquirem ou nao automaticamente a Cldada~I~,. as sol.u~oes apc:~~ tadas na Port. n." 15.612 (nas hipOteses contemplada~ peIo cnten? do filS .do~n1Cl11I - d. nota 2 a este artigo) inculcam que devem contmua.r a c.0nslderar-se mdlgenas ate preencherem as condi<;oes ex.igidas pelos arts. 56. 0 e segwntes do presente Est.

7. Os individuos de ra~a negra (ou dela descendentes) originiuia­mente nao indigenas, porque naturais de provincias de nao iudi­genato, quando passem a viver habitualmente numa provinc.ia de indigenato, nao perdem, por esse simples facto, a sua quahdade de cidadaos.

A solu<;ao em epigrafe impOe-se perantc- a distin(ao entre cidadania origin aria e cidadania derivada (Cf. nota 4 ao art. 1.0). 0 problema dos e!>tado5 jurfdicos e de ordem publica (V d. no<;3oo de ordem pi/blica em nota 7 ao a.."i:. 3.°) e 0 Est. apenas considera um uruco caso de perda de estado de indigena, 0 do art. 64 que obvi::c.ment(;" se reporta a cidadania derivada: «A cidadania concedida ou 1"eCOllhecida nos termos dos arts. 58.° e 60.° poden\. ser revogada ... » (0. Prof. Adriano Moreira, Adm. da Just. aos Ind., pags. 24-25).

8. Alcance da expressao «viver habitual mente».

o Prof. Adriano Moreira, ponde-rando que 0 E,>t. :lctual substituiu 0 conceito basilar de «domicilio» pda expressao «vivendo habitualmente» e considerando que tal substitui<;ao, por inteneiana!, so poderia itr () significado de juntar as regras tra­dicionais do jus soli e do jus sanguinis, consagradas no art. 18.° do C6d. Civil, uma nova regra de atribui<;/io de nacionalidade, exdusiva dos indfgenas, com 0

alcance positivo de abranger pOpUb~Ul" fronteiri<;as cuja sede de viua, flutuantc, poderia deslocar-se para territ6rio portugues, condui que sao s,;bdiloJ Oil llaciofJais portugueses os indiJ.!<:nas originariamente estrang<:iros «em ruio teur normal de vida se inscreve a desloca~ao para tcrritorio portugues», C'xduidas as «deslocac;oes puramente acidentais,. ~O,!IO M:rao as. que se inscrevem .no plano do recrutamento para o tr&balho em terntono estrani-,tlro» (vd. aut. CIt., Adm. da jllS!. ,/OJ illd., pags. 18-20) .

. , 0 probl~a .d,: saber St? ef~ivamentt:', 0 art. 2.° do hI. consagrou urn novo cnteno de. atrlbwc;ao de nauonahclade, ic'Vanta uma questao previa: determinar se u Est. l: dlPI()ffi~ legal competente para dt-finir um regime juriJico de nacionalidade. Porqu,:" com delta, 0 art. 7.

0 da Con>t. Pol. cornete it lei eivil a fa.culdade de dc1)er-

111lQar como 5(:'. adqulfe e wmo se percle a qualilhJe de ciJadao portugucs (no smudo de na(lOn~\Jdade), ~as parf'ce que cleve LlltenJer-se lei civil no sentido de leI comum, })OlS a deterffima<;ao. da esfera pessoal do btado e cll:: interesse tio geraJ t: rek'vantc que, durante mUlto tempo, a n:,pLttiva regulamenta~ao 5t: (Oll-

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ESTATUTO DOS INlJi(JENAS POR11JGUESES 19

Artigo 2.°

~inha. entre .n?s. no pr?prio .texto co,nstitucional (att- a (' ... onstirui~ao PoHtica de 911. exclusIve). IX.-vera, asslln, conslderar-sc abrangida na rernissao do art_ 7.­

da Co~st. Pol. 0 Est., .q~e e exernpl.o tirico duma lei especial? Nao obstante a duvlda. a doutema portugu(:"~a tern considerado que 0 Estatuto

consagra de facto urn novo criterio de atrirui~ao da naciooalidade baseand~se na c.onj.uga~ao do art. 2." com 0 § unico do art. 1.", on·Je se fala ~prl"Ssamcnte em m~lg~nas portuguescs e ponJo-se ainda em relevo a epigrafe do capitulo I: «Dos mdlgenas portllglleres e do seu cstatuto».

Este problema pn:nde-sc com questoes prJ.ticas de manifesto interesse; fot exactamente urn caso concreto, levado a considera~ao do itustre PrOClirJdor dJ. Re­publica junto da Rela1;ao de Louren<;o Marqucs, Dr. Alberto Cabral cia Silva Basto que provocou urn judicioso Parecer deste magistrado que, pelo sea intercssc, ir~ edenr.

o Comando da Policia consultara a Repacti1;ao Central dos Neg6cios Indigeoas cia Provincia de Moc;ambique sobre se <mm indigena estrangeiro. que entrou nesta provincia scm documentos pode ser dc¥:umentado com caderneta indigena emitida por qualquer uma das administra<;oes, e, em caso afirmativo. qual a dispo­si1;ao legal que tal autoriza». A Rcparti<;ao citaJ.t rcspondea afirmativamente, e levantou 0 problema da nacionaliciade de indigenas estrangeiros. a face do an. 2,­do Est. 0 Governador-Geral ouviu sobre 0 mesmo assunto a Procuradoria da Re­publica.

No parecer. invoca-se a opiniao, ja citada, do Prof.. Adriano Moreira., mas conclui-se por uma interpretac;ao mais esteita cia lei:

«Embora se;a de exclllir a necessidacle de residenda perm.mente, parece-nos porem, a n6s qUe", em face da letra da ki e d05 :C!1te-cedentes dela ia referidos. uma simples reguIaridade de eomparenel:! nao bastara por. mais do que isso, ser necessario que 0 individuo, para vivcr habituaImente, cstabeIeca assim a sua vida com caraeter de regular estabilidade, implicando easa ou palhota propria. acompa­nhamento de familia. se a tern. dcpendente de si e f'nrdcio dumJ. ac>iyidade normal, denteo do territorio nacional plra que seja considerado indigelu da Provincia.

o 1!iver do artigo pareee impor esse minimo normal de condicoes pan que possa considerar-se que se efectua habitlMlme/lle jet que 0 habito rcsulta d.l pratica repe­tida e. ate certo ponto, prolongada desse conjunto de aetos vulgares nJ. existencia de cada urn.

Desta forma se ('"c1ui tlh.Io 0 que se desloca durn para outro lado da frooteira. cmhora com regularidade - como e, alias, normal nas populaC;5es indigenas. com o proposito de regresso ao territoria estrangeiro dande vdo como aqueJe que de Ja passou paLL 0 nosso territorio para prestlr determil4'ldos se'cvi.;-os ou efectuar trabalhos de caeaeter temporirio e com 0 mt'smo proposito de regrcsso findos eles - exemplo este que 0 Dr. Adriano r, foreira, alias feputa como n:io acarretando mlld.l1l<;"a de nacionalidade (ob. cit.) (*).

Interprdando assim mais estritamente a lei supt'}e-se que se estei.l tambem mais I de harmonia com 0 sell fim e interesse superior do Est:!da i.i que rcstringie a

possibilidade de naturaliza<;"ao dos indigen:ls oriunJos de krrirorio cstrm..iZeiro impede que, a titulo de re-ciprocidaJe. qut' represenhuia umJ. /·tt'.:lI/chl!. ndcs se proceda de modo prejudicial para connosco.

De forma contraria pouco lurrariamo<; e muito nos suieitarbmos a perder <::m Angola, rebtivamente ao Congo Bd,Qa e Rlde~i'l d,~ ~l'rt(", como em ~h"-'lffir.ique bastando ter em mnta. como bern frisJ. a Rcparti,ao Central dos i\e~xios Inji~>n..lS, os 100.000 indigenas qlll' trab,dh.>,m na Africa dn SuI.

DuviJas porem nJO pode haver que a simples entrada dum inJi.>'eru esU'.lfl~

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Artigo 2."

. a 'I'onol- contr.irio como isso stria a todos . nlo p,·rt'llte ,onsiJer.l·k> lOme) n. t.. , . f . 1 d' '-

gelw. .' . d 1 n do til' resulta da anahse da fL erll a IsposlC;ao 0;: rnnClplO~ In er<lh,(ntlffic te G f P " 0 41/1')56 da Proeuradoria le'Ml como (lUff que eia s<: cr..tencia») (C. arnLr n.. ..' °8 0 1956

t""-" j • bI" a 10 111 0 Dn·C/to ano" , )0 til. Republic'.l de Lourenco M.u-qu\:s; e,;t., pu Ie ( -' " Fax n" 3" r·igs . .'(,8 e scgs,). . C h . . . :,. - pleno apl~uso do prof Sliva un. a, nas suas

Esta lnkrrrdJ(ao nwrcceu 0 .~ . '. . (b' hC0es de Politic .. Co/un;.;! no Instituto Sureflor de Estll,lllS L'ltlamannos o. CIt.,

pacs. 15 e segs.). . b . -' . r d d • Embora no, choque \:tTIa m0dalidade 2.: atn ~lC;ao de naClOn~ 1 a e ~em 0

conamo da vontaJe do t:strangeiro (por \'Cr.tur~ ate contra t1a), s~ pelo ~Imples iacto da residencia - fieis. Clssim. a uma doutnna que nos ,'em. p de PIllet-. part;;;e-t'05 estulticia discordar aqui. em simples anota<:5~~ a urn dlplom~ .~egal, de ti~ abaiizadas opinioes, pelo que nos absttmos de troltIr qualqu,er oplnlao sobre est:: mt.·linJr,1so e (l·mpJexo assunto.

ARTIGO 3.°

(Contemporiz<l<;ao LOtTI os USQS t costumes dos indigc--nas. Seus limites)

Salvo quando a lei dispuser deutra maneira., os indigenas regem­-se peios uses e costumeS proprios das respectivas sociedades.

§ 1.0 A contemporiza<;ao com os usos e costumes indigenas e limitada pda moral, r·dos ditames cia hurnanidade e pdos inte­resses superiores do livre exercicio da sob~ra!1ia portuguesa.

§ 2.': Ae aplicarem os usos e coshlmes indigenas as autcriclaces prccurarao. sempre que posslvel, harmoniz(t-los com os prindpi05 fundamentais do direito publico e privado portuguts, buscancJo promover a evolw;ao cautelosa das institui<;"oes nativas no sentido indicado por esses principios.

§ 3.° A medida de aDiiGlcao dos usos e costumes indio-enas l- :. 0

sera regulada tendo em conta 0 grau de (::voJ w;:io, as qualidades morais, a aptidio profissional do indigena e 0 afastamento ou inte­grac;ao deste na socied~lde tribal.

1. Legislat;ao prcterita. Confronto. Codificat;oe5 de US()s e costllme~ indigenas.

Omniu-sc no actual Est. a n'gra ccns~graJa no art. 2." do Est. de" 1926, depois J;(:produLlda p.r, art. 4." do Est. Jt- 1929 nos termos seguintcs:

. Art. 4'.D

As c~d~fjcar;:o~ do~ u~os c co~tun:c:s privativos indigcnas scrao f(;ltas por c~rcun~n\oc:s admlf1lstLltIvas ou n:glUC::S, sc::gundo as circunstancias, !; nelas SE:rao acclte:s todo> os usos e costumes da vl'u'a 50'1' I' I-

_ r _. .' _ . • _ l a Inltlgena que nao or~ndam o~ dlrcltos de: sobcranla ou nao rcpu "I1Cll1 aos Inincll)ios d >

humanJdacr'. b C

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______ ES_'fATUTO D9S _fNDIGENAS PORnJGUESES 21 ,-,~ ------- - ----- - --........ _---

Arti2;o 3.'

_ § unico. Em rCi~ra, nJ. codifi(a~ao das tradit;oes de direito civil deve­ra? ;ldoptar-se, de inicio, somente as disposit;oes clue {orem indispensa­Vets para. regular, dum modo geml, as rda(oes desse direito entre os in­dlgcnas.

Sc :omarm?s ,.em con.sid7'ra(ao - ~omo impOe a .indok destas ~ota.<;oes - apenas as actuaJ.5 provwClas de wdlgenato, so em Mo<;amblque as tentatlv2<; de codifi~io foram particularmente numero5JS.

JA .em .1852, 0 Dr. Joao Pinto de Magalhaes, Juiz de Direiw e Govtrnador­-Geral_wtenno (1851-1854), por Port. de 12 de Maio de lR52, encarregou wna comissao de lhe aprescntar urn projecto de regulamcnto que, depois, sancionou por Port. de 4 de Junho de 1853. Mais tarde. 0 Consdheiro Tenente-Coronel FrarlclSCO Maria da Cunha, Governador-Gl:!.d da Provincia (1877-1880). nomwu comj~ ?istr~tais encarregadas, igualmcnte, de codificarcm os usos e tOstumes indlgenJ..S; mfcllzn:mtc:, pare<;e que nada se produziu nesse senti do, registando-se apenas, CorDe;

nota pltorcsca, a insoIita opiniao do presidente da comissao distrital de Moc;am­bique que deciarou (maO julgar nece~sirio a codifica<;ao dos usos e costumes, pur conformarem-sc os povos indigenas com as nossas leis»... (Ci. Dr. Albano de Ma,galhais, EstlldoJ C%niai.r - I - Leghlacao C%l1i,tI, seu EspfriJo, Sua Form:J(ao (! JellS Defeitos, Coimbra, 1907, pag5. 140 e 2(3). A terceira tentl~:-:.l de codi!"ica­c;oes coube ao Tenente-Coronel Agostinho Coelho. Governador-GeraJ de 1882 a 1~~,,5 : em 1882 rffomendava, em alvara de 12 de ,Maio, que os us os t costumes dos indfgenas «devem sec respeitados, desde que nd.o ofcndam a lei>,. nomeand" enuo l!ffia comissao para org:wizar urn regularnento paD as caw,as Cl!rl":lj, (Cf. 0 Orier:te AfricailO PorJlI[!.lIh, de M. Simots Alberto e Francisco A. Toscano, pac:, 1691. Embora a comissao fosst" numerosa. pareee que pouco proouziu, pois que 0 GO'\'er­nador-Geral. por Port. de 21 de Setembro dc 1883, encarregou 0 Sl:cretario-Gec.!i da Provfncia, Dr. ]oaquim de Almeid.l e Cunha, do tr:th:dho .LtC ai comeudo a comis;:oes, A.,sim surgiu 0 Ertztdo tlcerC..l dOJ fI'OJ e (Uf!:m:CJ d'lJ bane,l71eI, lathMs, mOHroJ, gel/Jias e ind;Y,elhlJ (1885). Em 1889 publicou-se 0 «Cecii"" dos Milan20s Inhambanenses», aprovado por Port. Prm·inci:tl n.o 269, de 11 de i\f.lio d"ss<: aBO,

() qual vein rLvO,;;ar 0 velho «C6di~0 cll' lviiland05 Cafrea.is do Distrito de Inham­hane», cle 29 de Setembro de 1852, que: nunea reee-bera aprovac;:io do Govemador da Provfncia.

P(}rcm 0 mO\'imento rodificadnr melis (':>..tenso foi empr""'ldidu peio Go~c:m.!­dor-Geral Freire de Andrade, :to ordenar ,lOS C'pitae<;-Mores, Com.lOd.mk~ \!":lit2r~'s e Administradores de Cjrcllm("fi~ao que apre<;entasscn1 relat6rio<; ttn0j!rificos .:k~t:-1l;J(bs a servirem de h,lse a (:blw;'l(aO de (odipos de mi!aodo;; (Port. Provo n." 144. dL' 1 de Mar(o de 1<)07, no 13. O. n: 9 d.l Prov, de MO\.). Para 0fienta<;ao des,,,, tf:lb~lhos parlciares, hOllVl 0 (lliJ;ldo de: distrihlIir rl"LI~ fntiJade-s m'''CiC,!11das um Pro;ecto de RiJg"l,rm~lIl{) /1.11'./ jtllgamelJlr) J" l\fil.1nd,,r. ebb\)rado pelt\ Pn:sidentc cI,) 'rr'hunal da Rda~ao de 1,OUrell(O MarqUe'S, Dr. Albano de M l?:,alh:ii;;, Os tr"b:llhc's (,lltar) iniciados revelaram-se muito fl"lUndos, publicanJo-se dric, subsidios. estuJo~ (' proje'Ctos, de tntre os quais roJem (itar"se: R.lur. Uso, t CUI/kr.,,'.' dos l>td':S"';J< do Vi,trito de IIlIJ<llllb_mc, por Augu,,\o Pl'reira Cilirctl (1910) ; Al',:,.: .. mewo .• J'Jbre ltIiIIiU/Ui, colhidos pelo Pn:~idel1te d,l Rela(io Dr. Albano de 1f.lL:.l!h'lIs (1910): In!orm_l(oeJ sobre Usos <' CO.fllmWr Jndlgell,/J", pelo A,lmin;~tr:iJor J.i ".' Circuns­cric:ao (1Lll'u\o), Joan Bravo Faldo (l')1ll); U.ros e Crll;,.1S do.' hi,("-':':"- do Ditlrito du 11!/J.{mh,lIIe, pDf Bento Casimiro Feio (1910): In/urmJ\'jo lob'e dlgU1IS UfOS e Cos/limes lliJigenas d,., Cirfll11So'h·oe. de AI,.nica " S·,faL t 1 "10) : .1po/J.'.'1"r.c·t:tor !ur" 0 P,u/cUr, de IItTl Ccidigo de j\I:!.',idoJ, peL) IntffiJente do GovernL) .10 Ibv. Antoni(. Ferreira dl' Carvalho (1910) ; [,,·jOrf11.1r i., , sobr~ ,r1g!"IJ ['sur .. ,_:OSll4m';i

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">"'I _____ E_S_T_A_Tl_TTO __ DO_S_ll\,'DIGENAS PORTlTGUESES

AltlgO 3.°

IIlJig<:,.czs nos ConcelhDJ Jo lbo, Lago, Mef,1/"ic,1, Qllissanga e Ttmglle (Companh' do Nl<lSsa), (1910); P:oj~cto de C6digo de COJtumes Ca/reais, POt Augusto' Ca: do5O, Gov:rnador do. Dlstnto de Inhambane (1910) ; P"oiecfo de Regulamento para o JulgJm~nto de Mt/andos, pelo Intendente do Governo da Beira D At d 'Id h r__ ' . varo e ~ an a e ,~tro (19~O) ; Bases par,'/ um Regulamento de Milal1dos (1910); Pro-I,eto de Cod/go de Mr/andos pm'a a Cirmnsc";[!io do SenfT, elaborado por Manoel Monteiro Lopes (Beira, 1909).

A codificar;ao dos usos e costumes gentilicos foi poueo depois preconizada no :U:. 37.:, n.O 3.°, da «Organizar,;ao ~dministrativa da Provincia de Mor;ambique», de Aires d Ornelas (Dec. de 23 de MalO de 1907), e competia a entao criada Secretaria dos Neg6cios Indie;enas.

Ainda no proposito de dotar as provincias de indigenato com codigos de Jjze.ito consuetudinario dos povos aborigenes, a «Lei Organica de Administrac;ao Civil das Provincias Ultramarinas», de Almeida Ribeiro (Lei n.O 277, de 15 de Agosto de 1914), mandava proceder, no n.o 7.° da Base 18.-, a codifica<;ao dos usos e costumes indigenas, «no mais breve espac;o de tempo».

Em Angola tentou-se dar cumprimento a essa deterrninac;ao. 0 Secretario dos Neg6cios Indigenas e Curador Geral da Provincia, Ferreira Diniz, elaborou nesse sentido um «Projecto de Estatuto Civil e Politico dos Indigenas», curto diploma de cinco artigos, que se completava e articulava com um «Projecto de Administra­c;ii.o de Justic;a aos Indigenas da Provincia de Angola», diploma mais longo, onde se compendiavam as regras de direito adjectivo e substantivo respeitantes a indigenas, coordenadas com as norroas consuetudinarias tradicionais assim, e de certo modo, codificadas (d. aut. cit., Os Indtgenas da Provlnc;a de Angola, Coimbra, 1919, anexos I e II, pag. 610 e segs.).

SO em 1941, para cumprimento do disposto no art. 24.0 do Est_ de 1929, 0 General Tristao de Bettencourt, Governador-Geral de Moc;ambique, deu inicio a Unica tenta­tiva de codificar;ao moderna, incumbindo 0 Dr. Jose Gonc;alves Cota de elaborar os projectos de Codigos Penal e Civil dos Indigenas (Despacho d~ .28 de Julho de 1941). Em 1946, publicaram-se efectivamente os Projectos Defmlt!vos. do Esta­tuto de Direito Privado e do C6digo Penal dos Indigenas de Mor;amblque que, todavia, mo foram p05tos em vigor. . '

Como se disse de principio, 0 Est. actual absteve-se de enunClar. urn ?recC'llo tendente a codificac;ao dos u50s e costumes gentilicos. A razao d~sta oIlenta(ao pode encontrar-se na preocupac;ao que inspira 0 nossa direito ultramann.o ~ctu:ll de a.fa~taI os obstaculos a natural evoluc;ao dos ioJigenas no sentido da asslmdac;ao (as~JmJ!a-

- d' I 'I . rt do § 2" deste art 3 0) dado que as co(lIfl(a~oes c;ao ten enCla - u tJlna pa e . .. , . , 1 - de certo modo urn elemento cristalizador do direito, como p pOOl era~a ? ~~f _ :Marnoco e So~za, ao afirmar que «t~s c6digos imobili1.am os costu.mes /fidl-

enas tirando-Ihes a flexibilidade que eles tlOham e retardando urna t:Volu(ao natural g , od". ta to do dominio europeU» (aut. ot., Antolog/tl Colo1l1.11 que se pI uZlna ,lO con c PorlJlgUeJa, voL 1, pag. 107). , . d "

Contudo as compilac;6es existentes d?s usos e costumes gentlhc~s, e c.aracter • . .' ~ de rova de direito gentiilco, por forc;a do art. 14. do Est. dos

otlCral, secvlfao. P desenvolvemos n(."Sla nota a bibliografia refert-ote a codl-J. M. Essu, a razao porque fical,;Oe de direito gentilico.

2. Remissiio para legis1a~iio gera!.

Cf. art. 138.0 da Const. Pol. e n.o III da Base LXXXIV cia L. Org.

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ESTAn 7TO OOS INDIGENAS PORn;GUESES 23 ------------- -----------------

~ .... rtigo 3.·

3. Conju&;}(;aO com outras disposi~oes deste Estatuto que ~-stabelecem e~,cep\()c'i it regra do corpo do art. 3.0.

. G. arts. 25." (prindpio da assimila<;ao penal). 27." (faculdade de op~w pela leI comum) , 29." (aplica~ao exclusiva cla lei comum) , 31." (0 direito de propriedade sobre coisas mobili:irias e regulado pela lei comwn) , e 47." (as re1l1{Oes avis e comerciais entre indlgenas e nao indigenas regubm·se pela lei comum).

4. A contemporiza\uo com os usos e costumes gentilicos.

f no direito colonial, como observou Del V(:cchio, que a cc>labora~ '~~tre as duas Fontes tfpicas do Dirt'ito -- a lei e 0 costume -- deve ser 0 mais harmo. nica possivel e, mesmo. convergente (CE. Brever Re!le..:io,les Jobre Derecho Colonial, apud «Atti» da XXV reuniao da S. 1. P. S.. em Tripoli, reunido na colectanea espanhola de obras do A., llerhos y DOCIrina.f, Madrid. 1942, pag. 166).

Os motivos que tdeologicamente informam a ordem juridica geral devem, por certo, ser relevantes em todo 0 territ6rio nacional. mas nao segundo urn doutrina­rismo abstracto, uniformalizador e simetrico. de olhos cegos para a relatividade das condi,oes de vida.

o presente artigo, ponderando os imperativos culturais e etnicos, reconhece jurisdicidade aos usos e costumes pr6prios das sociedades indigen..'ls, consagrando assim, expressamente, tal ordenamento consuetudinario como fonte de direito privado colonial. Mas na forma programatica cia ultima parte do § 2." reve1a~se a preocupa­(aD de convergencia da orde.m jiiridica consuetudinaria no sentido da ordem juridica geral, de resto corolario do pr6prio desenvolvimentn da ac(ao civilizadora de carReter tendenci:dmmte assimilador, na sequencia da ideia da progressividade. elemento que distingue as sociedades humanas d:ts sociedades animais (AutO! cit.. uroes de Pilo­lolia do Direito, trad port., 2.' ed., 19)1, pag. 331).

5. A ordcm juridicI consuetudinaria como ordem juridica dcrivada.

Por ordem jurfdica entende~se 0 complexo de normas de Din'ito que possuem, como base ultima da sua jurisdicidade, 0 mesmo fundamento (Cf. Kelsen. Teoria PJlrtt do Direito, 1945, pal'. 61).

Quando 0 fundamento da jurisLlicidade das normas de dc-terminada ordem juri­<lica ja nao e apenas outra norma juridim f!l..'lis solene mas urn princfpio hipotetico (a constitui~ao hipotetica de Kdsen, op. cit. pag. 6S) ou urn postulado insusceptivel de demonstra~ao «(Om pretende Morelli, I.e::;olli di Diritto Inlernaziol/.11e Prit'aJo, 1941, pag. 3) estamos perante uma ordem juridica aut6noma.

Contritri.lmc-nte, se 0 fllndarnento da jurisdicidade das norma' de derenninada orJ~m juridica e uma norma de outra ord'11l juridica, aquela diz·se derivada ou slIbordinaLla.

Or:1 as normas juridic:ts consuetud'inarias cuja manuten~io se consente., ~ram o fundamento cia sua jurisdicidade cIa norma pl:rmj~si\'a do corpo do art. 3." deste Est. - sao, pois, orJen; juridicas subordinadas au derivadas.

6. Limites da contemporiza~ao com os us os e costumes indigenas.

A (ondmao que apontamos na nota anterior conduz-nos a co[lsC'<juencias feo rundas: tratando-se de orJt'I1~ juridi(:ts derivacIas, i: legitimo que .1 ordem juridica principal estabele~a certos limites a jurisdicidade das normas UsualS e costumeiras das sociedades indigenas. Quais sejas esses limites, e problema que de hi muiw tem prt'o(upado a doutrina.

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F5TATUTO DOS I~DiGENAS PORTI1GUESES ---- ---_._------------Artigo 3."

.1) A:;sim, I) Coegc(>Ss,) Iutem:«!olul de S[>eiologia Colonial, reunido ~m Paris em 1900, :l q~and,) da grande Exposi<;:io Inkrnacional, aprovou um voto, proposto T'"r Arthur Glrault 1'0 seu not:,vd relatorio sobre a Conditioll des Indigi!l1e.r au r~ml1 de 1-11<' de /,[ UgiJl4tion Ch'ii et Crimil1cl/e cf de ia DiJlfdwlt;(JJ' de fa Tllstiee ~egundo 0 qual seria «dcseja.Yel d('ix~r aas indigenas 0 beneficio dos s('Us costumes' ~t'~rr,' que esse'S COStl.\lDes oilo fossem incomrativeis com 0 respeito devido a vid~ e ,\ hberdade hun1.lnas,>. Du,cmk a discussao do citado rdat6ril). 0 advogado Paul \'.'.n em" er:.bc,,,,he c1l'."gou a propor qlle sc' acrescentasse a f6nnula de Girault a seguinte fras.e (, ... ou quan,1o nao \'iolem as no;;sas ideias de justic;a e nao sejam conL.irios 0105 interesses dos inciigcnas», mas 0 Congresso aplaudindo a replica do relator de que tal formula. scri:1 (<abrir a r-orla a todas as tentativas de :lssimilac;ao», rejeitou a emenda. (d. CmgrL lmemacional de S()cioi"gi{' C%l/i,d, tW.1I a Pa/';s aM 6 (111 11 Ao.; 1900, P~~ris, 190" pi,(!_ 55 - rc!atorio de Girault -, pags. 214-216 - dis~'Ussao do cit. rd.at6rlO. - (:. r',1g. 443 - yolo - todas no \'01. I).

b) Logo no ~o segJinte. 0 Congr.:sso Colonial Nacioml. reunido em Lisboa em 1901, emitiu sobre 0 mesmc· assunto novo yoto, segundo 0 qual as instituic;oes jurldicJ.s dos n,i r !\'o5 dev('riam S!:'f reconhecidas enqu:mto nao contrariassem a moral e a justic;a. Esti f6nnuJa, como se \'c, harmonizava de certo modo as propostas de Gi.rault e de Van Ccluwe,,~er.c:he ao Congresso de Paris. (Cf. Congle.rso C%1J;a/ Nacir'rJal iJ;auglJrado no dj,i '2 de Dezembro de 1901, Acia.r das Sessoes, Lisboa, 1902, pa,Q. 277, voto VII).

.. AGr" depois, 0 Prol:'. L('?o Vaz de Sampayo e Mello, criticando largamente o voto do Congres5o Je P.:ris (que, em sell eatender. conte:nporizaria, ipro facto, COr.1 uma forma de D..:.t[('POf?,~i.:.l que se limitasse a devorar as vitimas de motte llltural). considera c;ne «as institui<;6es e COS::Ul:~('5 dos indip;enas devcm ser conser­vado5 auan<!.o nao sc'p.m incompativeis com os preceitos do Dirc-ito Natural ou com 3. segu;:,m<';~l politica <1.'1 coJcnia_ e ainda qc::cndo nao represen;l-rI1 pritica de if!tole­rivd seh-ageria» (d. (l!te.li&eS Coloniaes - Politica li,d;geil:J, Porto, 1910, pay,. 16).

d; - 'Foi c Cons.-:lheiro Almeida Ribtiro quem, entre n6s, introduziu no pluno !egislauvQ a rrimeira dcfini~J.o das limil1\';c;, impostas it ac~i~a,ao dos usos e cos­m:IDcs indil:enas. E CGmo os trabaJhos do Congresso de So~iolo:;ia Colonial tinham impression~do viv::uTI"ate os coloni:llistas coevos (0 Prof. Marno:o e Sou~ d::s,ifiwu liS aetas L_:' Congres50 como «ffionumcnto lmorredouw" - Admlll/J/iclfc/o ~()loJlI{/,I, 1905. pag. 401). a Lei n." 277, de 15 de Agosto de 1~14 (Lel Organ!ca ue Administra<;ao Ci\ il das PrC'vincias Ultramarinas), _ na ~s.telra das con~lus~)(:~ de Paris, dispunha na l:S:ls:: 18.\ n." 2.", que "~lS rda<;ol'S C!VlS entre :Ics [lndlg(:ll,a~} serw reguladas pelos usos e costwnc:, pnv;,tlvos. el7l tudo 0 que nao for contr:HLO aos direiros f'.!.nc!;:'E)l'otais da vi,h (: da libenlade human;!» .. , " ,

e) __ 0 r:.;~. de 1929, no ~eu art. 4." -- repetlndo, ahus, ? .art. 2. uo ~s:: ~e 19-' ~ di<DO<tO na ultima parte cia Base III, das Basts Ol'gaDlt3S LIt Admlllboa-_~' c~l~nial' (Bacelar Bebiano), aprovadas p<:lo Dec. n." 15.241? ?t: 24 d; Ma((;o : 928 _, '. exigir wmo Iimites do dirdto consuetucimano .lflcilgena, (}

1 IP;5SOd :Ur .~, _ d"; s'oh(;.rania ( a "',e"uranca politica da coI6n1.l". de que rf>sjX:1to IX 0" "r:" .Yo ~ • b' . • . ,. d f~h';a Sampa}'o e l\fdlo) c pe!os principios de ~lUm;l!Jldade. Nos. «pn~(!p!Os. _ e

h 'd d <·nt·~;-ova se tJ l("lte6do do voto lll: Par!s -mas aInd.! ot omltlU umam a' e)) JI cu",_ - .. , 1 L' b .1 1901

1_. ,.'.1. pc.la moral enunClado no Congrt>so ce IS oa oC . o lrrt1te cor:'.·1tu\u(Y ~, b' J t 246" I C

} Foi. p( i'. do art. 22· do Act. Ct,!., com IJl~'.\U com. o. ~',. , } .. La .,.' f ~_1 ~Uffier3."~o malS extens3 e cUieada do:, lUftltt:S ao ItLonit.-Or" que rC~<.lltOu wna ~..,~ <Xl . . . . 'J,-, d '. tumes indi (T~nas os quais nao p 'eflam contranar os Prlll-

c:o-.(-mo 05 1~>OSl c (d(>:tam~ c\a l;~ma~i(l.ldt: e as condi~ues et" livre exerdcio cia C'PI'i'· d.a JilOla, os I

:.oOtllUlia r"Jrtugu(;S~. . . d Act C I " a O'n~t ) (_ lim.ites anteriormentt indlGldo, tran,<t':lr::.r.1 0 ". O. PJIa " ' . ,g j, c' uando aqtlde diploma deixou de s(:r m~tcnalmffitt llutollomo,

PUt. (;;.rt. l~S. ), <j. t ~to clJn.,titucioru:d as rc!,ras q'.le continha (1951). pa:.:>an~lCJ .. J[K(.rl'porar-~e no (!

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ESTATUTO DOS INDiGENAS PORTIJGUESE5 25 . ---- -----_._-._-----

Artigo 3.°

Desta sortc-, us Jimilcs gerais da contunporiza(~o com 05 l1~;Oo;. " costumes locai~ cnunciados no texto con~titu(iollal, sao l'cpdidos no art. 3.· dcc.tt E~t.

7. A no~ao ue «ordem publicd coloriial».

D"v(;' notar-se, porem, que 05 Jimites estabelecidos pda ordem Juridic;, prin­cipal a ordem jurldica dcrivaJa nao sao arbitricios.

A accita<;ao dos US05 e costumes tradicionais das soeie-dadc-<; gentiJicas nao se faz sem certo sacriflcio da soberania da ordem juridicJ. principal (p,.rque:-. como_ ~e ilis5e, se vai l'etirar eficacia normativa a part~ do direito (ornwn em rda<;iio aos in.:igenas - art. 1.0, nota 2, in fine) - sacrifieio que ted, n.1.turalmente, )irnites b"hL.l(.b, por certas conceN5~s fundam:·ntJ.is J~ ()r~aniza\ao e dir,ciplina social de que niio i: possive! abdicar. Tais concep\ues CO:1c,titU(:rn de urn mojo ~eral a no<;:io de «Qrdem pllblica» que, quando reveste (} uLnicter, Gue agora f'.lnieuJarrnente:- nos irr~eressa. de por de acordo a concepc;ao de civiliz,!(ao adoptada pelo Estado civiliz.:Jor com a manutenc;ii.o (12 ordem juridica indig~'Ila, toma 0 flU!;1e de «ordem p:tb/i," c, ;·~niaJ •.

Ii no re3peito pcb moral, pelos dilames da hununiJ~d'_· e pc/os intere:;:>{;'i supe­riores Jo livre excrdcio da sobe-r:u1ia portuga:.'sa que 5(' 1Ul.!lioa. no mommto actual, a ordem pllblica colonial portugm:sa.

(Suhre 0 conceito de «ordCTIl publica cobni~hl, cf. l) estudo A S'/(';'/ de Ordem Pltb/iea Colonial, do Prof. Silva Cunha, ill E."t/doJ Col!/.'li..;;.;. E~vi;.t.l QJ. Escola SuperiGr Colonial, VCII. I, f~. n.'" 2-3, PUt;';. 107 e s('[.lLin~cs).

Nao 5C confunda, porem, a OV\30 de odem I~ubljca (conjunto de principICl'S) com as chu1l1.ldas 110rmrlJ de il1tell:sr< e oldem Phb!ic", Ii.> ql!ai, mc'Smo no c;:mru geralmerrte reserlfado it autonomia ,t, vontade (como 0$ contnto'). nao podcrn ser afa~~.l'.bs pcbs partes. E,':mplo de norma de iokresse e or,ltlD puJ-,lic.' de f:5peci.ll aplica,iio 11(1 LTltramar t: 0 .ut. l." du D.c n." 36.909 ('L!Sptc;,~o ,!~ ac(Oes de db;:2jO contra 0 Estado) de 11 ,L Junho de 1948.

8. ConLclldo da «ordem publica colonial» porruguesa : A) -A moral.

A COl1,:, PoL ap.:n,IS feconhece e"mo limites dJ '"bl-rani t do E:>tado p: ~(",:U.:'-' ;l mot'.1l e 0 dlre/lo. c.:,..t pc·r 1!'JoraJ, t:pc'(ifi -:1 ainda a lei cl.ln:;titucionaj, el1lenJe-".­a mOI',1i cri-rt,;, tl'aJicional no pais (a't. 43.·, § 3.") (U. i'c"F. M.lI'cello C~eL'tn,·. A C-,}""ilJlj(:io dc 1933. pa~s. 32-~\ (' Frof. Silva Cunha, .1 Nor.]., d" O"j,J'; Pub/i,-,; Colonial, lit.. r;igs. 119-121J). A ch se repona. tamI~tm, l,l:)\'ian'e"~, 0 .lrt. 1'\8." da !l!l·SITI.l COilst. Pol. e, POlt.l!lto, () § 1." do art. 3." JLste- Est.

M.l:> a l ';i,:CUliJ do respt'ito Ft'b mor.Ii erista ,IL ve entt-n,:er·se ern l;ecm& h.ibeis, imprimindo a esse Jimite LUlU cuta flexihijid.hlC'.

Com (cfLito. " mor.d e 0 funJ;unento e a finaliJadl: de todo 0 Direito. t'. ~s>im, o pr,"prio direito Uln"uduJill.;rio Jos indigents (no qlt.d Sf: insncvt1TI .. alih, ;c,,,,,,, regras wrinicas, principalllll:nk nn, slxiedades isl;unizad.ls J.l Guin~ e do f1<:.rt<: de MtX;Jlllbi'lue) kill a sua funlLun('nta\~L> mor~l- lit;rna ed(a ql:C' 010 :: ~ If'_':~, ]"')' i,m, 11ll1a jntel!'r~ta(Uo inflexlvcl dos lin,itL's impostCl'S pc-la m(·'~.l! 01 :;..::cit!l(!io dos !lSI)S indigcnas, miria no extrl'r110 JL' r(>ijr~ .. jurj',!icidade a tc ... ia$ as n.>rmas do din.itLl inJigc:na, cuja fundamcf't .• c.',) mG,J! nie> wincid" <: <em .i nll'~.d (r-j:;.::a.

N0.() e t',,~e, eviJwtemente, () pI:[b"mcnto <10 j.:gisbdor. ;-,'mn rcsulta .1" Jispo-5i,iies do pr6priu Est. ASSJrI1, dJ. pn-:,uo<;:" c·;.!<lbe1ecid:l r,,' ~ 3: Ce' .IC-:. 3l},", inf(c.rC' .. s~, a '-Ol.':""r;o, que, trol l~!San1('ntos cr.·I. ... br.:.Jos sL;t:undl) os L"~I..~," ~~,--'fl:{!~a)~ t2 adl1litid::t a pnligamia- pd.tlu que, todavia. f: d,,·I~.'U:1(:nt. l0~1tr.':I.: .I T.,':~l

crist'i. o liIIlitL Jjer,d Ja apli(at;iio dos usus e costun1t~ gt:·ntlH~i..·' 1...~~J.!x~~;:lid,_) n~

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rSTATI:ro OOS INDIGENAS PORl1JGLESES

Artigo 3,·

, " "I'tel ~da moral crista - tern formula<;oes cspedfic~" em " 1· Je-ste 'rt 1 -respt ~. , (' 'I'" d 'd d ~,' '.~' d" E t tai"- como: art. 15.· ill fme pnVI t:glOS as auton a es div("rsos artli:O$ 0 S." , hJ ti'I")' t 30 0 § 1. " ).' 170 00.· (actO'S "edacos aos c t:les gen lCOS , ~r. ., . ~t~ti~I;-asd " art. ,~.' nde' maricio por parte cia mulher indigena e prolbi<;ao do levi-,hl'<;'lUl ... ce esCOwa . ., I' d' . d'

) -'0" ~~ 2· e 3 0 (rroibi<;ao de poiIgamla e po I3n Cia aos 10 19enas rato : art. :> •• ~'ii' • (.lsaJ"S (lflonicamente) ; etc.

9. Cent.: B) - Os dit:unes da humanidade.

A expressao - «ditames da humanidade» - e de significac;;ao ~as,tante fluida e S(L<'(f"ptivel de extensao varia, mas .unanimam,ente se the tern atnbU1d~ 0 ~a1c~n.c,e de induir no seu conteUdo 0 respelto pela Vida human~ pela pe~sonal~za<;ao ~u.n­dica das Fl~soaS humanas (proihic;;ao da escravatura) e pela sua Integndade flSlca e li1:>t:rdade.

10. Cont.: C) - Os interesses superiores do livre cxercicio da sobe­rania portuguesa.

Contrariam 0 livre exercicio da soberania pOliuguesa as normas consuetuJinarias des indigenas que cerceiam as condi~6es que permitam exercer plenamente as fun­~Oes juridicas (legislativa e txecutiva) e nao jurfdicas (poHticas e tecnicas) do Estado ou se substituiam a este no exerdcio do poder politico e da soberania.

T::mbem 0 Est., alem da regra geral do § 1. 0 deste art. 3.°, dissiminou por outras disposi~6es formulac;;oes tendentes a limitar os usos e costumes indigenas em func::'o da salvaguarda da soberania portuguesa, tais como: art. 10.", § 2.°, 2.­parte (condi<;oes para a manuten<;ao das autoridades gentilicns) ; art. 11.°, § unico (homologac;iio da designa<;ao des regedores); a:t. 12.0 (homologaC;;ao da escola de, chefes _de ~rupo e ~hefes de povoa<;ao) ; art. 14." (proibic;ao de destitui<;ao ou ~t'lnt~gra~ao aas autondades gentiEcas); art. 15.0 (Iimites aos previlegios das aut:da;les _genti!ic:;s) ;. art. 17.0 (actos vedados aos chefes gentilicos); art. 18.° (su rdin;u;ao hlerarqulCa das autoridades gentllicas as autoridades administra-tlvas) ; etc. '

11. Medida da contemporiz~ao com os usos e costumes gcntilicos.

DefinidfJ> os jim ;It' da ct' - 'Ii r"~p . abe ' on emponzac;ao com os USGS c costumes genh cos, -"".4 re agora est- lee r d'd d ". \.1m cr'" ,"' 1 e a me ] a e5sa contemporizac;ao. 0 Est. ac.tual enuncra

. I.ena a ta respe!' ° 1\ 3 0 d cue ('ra omi<so t '. nO

I 'ii . este art. 3.0

- ao contrario do Est. de 1929 . ." nes e partleu at.

Convem ainda acentu' . , . d como tais _ a 0 ~ ar que, enquanto se faculta aos mcilgenas - contmuan 0

~e Ihes cor":':rc ~c;ao P?b'l~guma ou algumas das materias enumeradas no art. 27,0 de ap\icar,ao d<x pom, I 1 ade de cstabelc:cerem, por iniciativa propria, a medlda 'f". 5eUS uses e costumes .. I - . 'd' d . 'tul es t:. nma Impor+ant'· . _ as re ac;oes Jun leas e que sqam h ar .

, ISSlma movar;ao de<;t E t f f I' e ·S., que se nos a .igura particularmente e 11:,

12. Os indigena~ destribalizados.

'" 0 af ta " ~- ... as mento dos incH/!.·· d" J ql!e slgnlflca uma v d"" en.lS a sOCleJade tubal i: de tal modo rna1'ca 0 c. r l; . (>f "'-ltlTa <,ubtracra' \ ..

J re ·,.\Jv;< mtegra!;ao Of ,. h'h', . ' ? a tra'lCIonal disciplina da tribo, seID uma aph, - d h altos mdlv'd" . t ral a~AO 0 dircito puh]' .. 1 lUllS e SOCialS pressupostos para 10 eg "W(JOtr" J( 0 e PTlvado d . I d- ( f 2 u) f: C< i!lJl~nos em prestn,a da si _ os ,Cl,.a aos port.u.l~u.eses C.' art. . ,

.>ntempiado nf)$ aru 210 2 • tiIa,ao de mdlJ,:ena destnhallzaJo cUJO problema . " 2. e 29.0 dt·.,te E<;t.

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ESTATIJTO ooS INDiGENAS PORTIlGUESES '2i

ARTIGO 4.°

(Fins cia Politica Indigena)

o Estado promovera por todos os meios 0 mtIhommento das condi~6es materiais e morais cia vida dos indigenas, 0 desenvolvi­mento das suas aptid6es e faculdades naturais e, de maneira geral, a sua educac;ao pelo ensino e pelo trabalho para a trans{orma~ dos seus usos e costumes primitivos, valorizac;ao da sua actividade e integrac;ao activa na comunidade, mediante acesso a cidadania.

1. Legisla\"ao prete rita. Confronto.

o actual art. 4." corresponde, em parte, aos arts. 3.~ e 4.· do Est. de 1929:

Art. 3.° A Republica Porruguesa garante a todos os indi'genas os dire:i­tos concorrentes a Iiberdade, seguranc;a individual e propriedade, a defesa das suas pessoas e propriedades, singulares ou colectiva, a assistencia publica e liberdade do seu trabalho; e promove, por todos os meios, 0 cumprimento dos seuse deveres conducentes ao melhoramento das condic;:oes materiais e morais da sua "ida, ao desenvolvimento das suas aptid6es e faculdades na­turais e, de maneira geral, a sua instruc;:ao e progresso, para a transfor~o p,radual dos seus usos e costumes privativos, valorizac;ao da sua acti\ridade e sua integrac;:ao na vida da colonia, de modo a constituirem urn e.:emento essencial da sua administrac;:ao.

Yd. art. 4.° do Est. de 1929, transcrito em nota 1. aD art. 3.· deste Est.

2. Remissao para Iegislac;:ao geral.

o presente artigo constitui urn desenvolvimento ,Li B,l'(' LX,.XXlV, n." J, da L. Org. Relacionar com os arts. 6.°, n,· 3.", 8.· e 137 .° .la Const. Pol.

ARTIGO 5.°

(A~si,tcncia sanit:lria e h~cnica as pOPlJla('~ indigerus)

o Estado prestara a assistencia necess{iria ao melhoramento da. sanidade das popula~oes e seu crescimento demogr:i£ico, e bern assim a introdu<;10 de novas tccnicas de produ<;3.o na economia das socieJaJes nativas.

1. Legisl~ao pretcrita. Confronto.

Cf. I~st. de 1929, art. 3." (em nota 1 ao .itt 4· df"Sk Est) c' ,ut. 5,"

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28 ESTATI iTO DO~ 1J\.UTGENAS PORTUGUESES

-----------------Artigo 5."

Eft. d.· 1929:

Art. 5.~ Os indlgenas tern direito a protecQio, assisten( i:l, ccluca\,ao e ins-

tm,:1o por p:1fte do l~stado. ..". ' S unico. Uma parte elas receitas pro"ement~ ~o Imposto l~dlg.~l:a sera

c~fig,ttoriamente destin:ld3. a efectiYa\"ao destes dlreltos e aos lr~lhoral!1entos de odem material respectivos.

O ~ .' do art <; 0 Jq Est de 1929 foi diminado, taJvez por contrariar 0 ~ umeo . ,. . . 1 . 1

rrindpi~ da «nao (oilsigna(tlO de IHeilas», uma das r~gras func ament'lIs ,~a orga; ni;.a~lo do Or(amento. segundo a qual «toJas as r:celtas devem 5e~ efecdv~das a - bert de todas as despesas indistintamente e nao algumas n:celtas destmadas co ura .. 'b . F r -:10 pagamento de cert,1~ despesas}) (Cf. Prof. Ten,elra ill Clro, meme,H, l<;oes pro· feridas em 1941-1942, pig. 43).

2. Remissao para legi.sht;ao geral.

Cf. Port. :1." 12.544. de 13 de Sl"t",C]bro de 1948, que insere disposi<.;oes atinentes a mdhorar as condi~6es -de o.ssistencia sanitaria aos indigenas.

ARTIGO 6.°

(Educa<;ao e ensino)

o ensino que for especiaimente dcstinado 20'; indigenas cleve visar aos fins gerais de educa~rrc moral, dvica, intelectual e fisica, estabelecidos nas leis e tambfm a aquisi~ao de hibitos (:; aptid5es de trabalho, de harmonia com os sexos, as candi~l}::s sociais e as conveniencias das economias regionais.

§ I." 0 ensino a que est.:: artigo S~ reEere proclll'J1'a sempre difundir a lingua portuguesa, mas, como il15trurnento dcle, poded. ser autorizado 0 empregG de idiomas nativos.

§ 2.° Ao,,- incJigcnas habilitados com 0 e:nsino de ac.lapta~ao ou que mostrem, pda forma que a lei previr, dcmecessidade dele, e garantida a admiss~lo ao (nsino publico, nos tcrmos aplicavcis aos outros po:tugueses.

1. Legi~!".~o preti:rita. Confronto.

Cf. Est. at: 1929. arts. 3." e 5." (em nota aos OLftS. r.." c 5." dt's(e :Est.).

2. Remhsao para lcgi~b;::i;) ge:ral.

u. § 3." do art. 42." da Con;,t. Pol.

o ~(;;c.-~i n.", ~1.207. J: ,5 de llbril de 1941 (E'itatuto Mi"ionario), (()nfiou ;"J pt:sso .. l /T'I'~W)nano {' ",uxdlar da; Mb,oes Catoll'cas - ' f' . I ' I . ' ., 0 L11,!nr) 0 Ina ("p(,(la-

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____ ESTAT'UTO DOS INDIGENAS PORTL"GI;ESES 29 ----------- -----'-------- -_._-------_._--------

Artigo 6.°

mf:fJtc d~st1n'k;" .1:)s. indigenas (Jrts. 66." e 68."), sem djMin~ao de credos reIJf!'(:sos (esclareClmtnto ofxaal da Port. 0.° 14,440, de 3 de Julbo de 1)53). .

3. Remissao para legisla\i'io local.

COIn_ rdl'rencia ao § 1.". (f. () Dip. Leg. n." 167, de 3 dc' Agosto d~ 1929 (M.r.c;alnblquC'), ond~ se dispiic q~e os mlssionarios {'Strange-iros, p~a ministrar~ (;.05100 aos nossos In,iI,:-:c-n~s sao obr~gados a a~rl'ndu(m a t.llar previamente porLTccs, Imgua tin que 0 seu msmo devera ser dcctuado.

CAPITULO II

Da sjtua~ao iuridica dos indigenas

SEC<;AO I

Os organh:3~aO politica

ARTIGO 7.°

(l-.Lmuten(i:o transitoria. d.ls institui(oes politicas tradicionais dos indi;l:trus)

As institui<;:6es de natureza politica tradicionais elos incligcnas sao tr:msituriamente mantidas e conjugarn-se com J.S instituiC;6es J.c!minis~L'~ivas do Estado p(1rtu:~L!~S peb forma Jccbrada nd lei.

I. LegisL1~iio preterita. Confronto.

Cf. £:,t. de 1')29, art. 6.":

Art. G.O 0 Lt.Hlo assegura 0 bom funcionamento c progressi\o .lFifei­«(}~,m('llto Jas institui<:6es politil.ls dos indi,genas e mantem as autoridades gentilich, como Lll rcconhecicias pcbs autoridades admini:;trativJs.

2. Conjuga,ao com outras disposi\()cs deste Estatuto.

Os indl,,,eI1.l~ so gozam de din:1t05 politlWS em rda~iio ,'s SNJJ ins!ihW;Oe5 tradidonais (,1ft. 23.°).

j. Emllladramento politico-administrativo das popuIa<;oes indigenas.

() tnquadr"mt:1h) politico-adnuni,tr,lti"o Jas populJ,oes io,l,,;,'OJS roJ", r::-.i:­z.ll'-Se atclvt-> de qu.ltros sistemas:

,f) - .l1dtllIJli.rlr,J(.:io )n'c:'L"I.l.' n:io fcuH1hel"e as organiz.!(o('s stl·u.lis e 3Uh.lridaJes jndigen~s. suostituinJo-<ls intq:;nlmente por institui,oes organi?aJas e dirird:1s pOl' fumion.irios. adnll!l1,ttativos do [,t"do m)onizadoc. (A(tualmenk este Si'IC'm.l nan': sL'guiu" na pniti(:J. nem mesmo peJos pJI"'" qut' ~doptam unlJ pl1litl1.1 franca. lJ1t'nte assimiladoI'J).

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:;0 INDlGENAS pORTUGUESES

ESTATLTTO DO:;

,Arrigo 7.·

I . d' I rule) . mantem as organiza.;oes sociais .. ..... (we In Ira . f b) _.1dmlfJlsh.J\.UJ 11UJlrt(l~ . 'h fes tradicionais. Como escreve 0 Pro .

. • . -trutura e os seus l e . hi' WJlgenaS COOl a SU.! e,. . Ih ~ proprias nao se mtegram na erarqUla :;I1\., Cunha.. ~as auton~adC'S que e s:am jlmto delas por meio de funcionarios ,dministr.itiw. d~ colon:zadores, .qluh,e ac(p of Silva Cunha, 0 Sistema Portllgues de (oro fun("ao de flSGlhza~ao e con,c 0» r. ~

po/hie.; Indigena. 19~3, pa;:. 1.89): da lu""ar a formulas mistas, designadas ) A cooJuga~ao do, dOls SiStemas '" .. - . J'

C .- _-' .: • d' eeta alenuath e admln/SlrafaD mulrecla ale-respe<.ilY-amentc por _mlmslrafao Ir

r.1I.w.1.

4. 0 sistema portugues de enquadramento poHtico-administrativo das

populac;oes indigeoas.

A nossa politica colonial orientoo-se a !,~r de 1820 por ~~ sistema de J.Jministrac;ao directa, alias mais no plano leglslanvo do que na pranca, dado que os terri~6rios africanos nao estavam efectivamente ocupados. . .

Em 1899, Mouzinho de Albuquerque, no Sell Relat~no sobre Mo~~blq~e. IlJ. esteira do pensamento de Antonio Enes, propOs urn sistema de admmlstrac;ao indirecta atenuada, atrav!':s de pc.oquenas unidades politicas indigenas control ad as pel as autoridades administrativas (Vd. Mor;ambique, 1896-1898, Lisboa, 1899, pag. 177).

Desde entao e este sistema de administra~ao que tem vingado no plano legisla­tivo, embora na prltica, por vezes, se note uma tendencia para uma poHtica de adminislfa(:i.o direct .. atenuada. Tanto 0 Est. de 1929, como 0 actual se inscrevem na orienta~J.o legislativa mencionada. De notar que 0 Est. actual acentua a transi­toriedade cia rnanuten~ao das institui(oes nativas e refere expressamente a conjflgafao destas com as institui<;5es administrativas do Estado portugues, ideia imp Hcita, ainda que oj\) expressa, no art. 6.0 do Est. de 1929. Assim, a formula de administra~o indir~(la e mais nitida no enunciado do texto actual.

A. politica indigena portw;uesa esta, neste ponto, absolutamente conforme com os enslOamentos da melhor doutrina. Ponderemos neste e~larecedor trecho de uma obra do Missionario Suic;o Henriquc A. Junod, que 0 Prof 1:>. Malinowski, da Univer­s~cl~J: de Londres, conslderou «0 melhor !iv.ro de etnografia» de sociedades primi­tn.s.. e.1Jguns sonhadores querem ver 0 SIstema tribal inteiramente abolido e a dualidade de governo _desaparecer imediatamente pela absorcao dos poderes dos chefes, e ~ sua. mtegra<;ao _nos dos comissarios dos negocios incligenas. Isto seria urn eIro. AdSsrffi, 3.Inda que nao ~ndo urn cidadao eleitor no Estado 0 indigena n5.o (''..Lza 0 permanece urn membro res"on' I d 1- ' d ,-- Se' e - save 0 seu c a, Nao apressemos por isso OJ, mo!"!:' (J c a. este tlver de morrer que seja de I (d e C'.diu'hes dos Bantos _ A Vida dll' T'b mo;te natura ... » apu US.0J pig. 545 trad port J . Ma ma rJ 0 Sul-Affleal1a, tomo I, Vida SOCltll,

. , . ., .ouren(o rques 1944) C P f M d Curr<Cd. ('... mesmo perantc ula iie ' . omo es.creveu 0 1'0. .en. es de c:-sfon;os inabe!s para obter :~ m~d: menos. atrasadas, reconheu:ll-se 0 pengo lidade, da Sua wltura do St'U re' dn<;a.clamulto brusca ou rapida da sua menta-N " , glme e VI do seu t'p d . - . I

)5 mlfil!>tro,; fflmanticos que pret d' ,.' Joe orgaruza,ao SOCIa. <0 delicia.s <ill C6digo Civil (; Aden. I~m utoplcamente aplicar a estas pobres gentes ~entes monarquicus e rF-hublic n ministratlV~ da metropole, suceJeram-se os diri-

. -y a os que no inlC10 do . I XX '''_''fl''~ m3.l'> rl-ali,ta". «Pouco a p< '. secu 0 • test<=munharam urn fin.;, fora de estIitas prto<:upa\~~~o'c~~~tl~ulu:se 0 novo edificio. Se bem que os Illesmcn;. a protf:c~iiIJ. a CJvilizara( . es.sll~als, se tenbam mantido sempre os mnral 1 . 1 - ' I, a aSSlml ar;ao e 0 be . I

. Co.> IXJPU a~,)t:S, uS mttodos j' c . m-cstar tanto matena comO "~!>lm <umo a~ po~sibilidade. ICJo.is evx.tram e f()r~rrn adaptados as circumtancias, ProfC:'CiO,j !lU Sem.line CF)/rn//(//e {,' I erent<.~ consoante os tercitorios» (Discurso /' -tw,ci 1 d A J I/IlJerfll(//r~ Abril d 1949 1 . II . d &,. "1{1r/ n "drmJ flu,};.!,;/! de I'U'. , '. e .' pU). no BII etm e

t 61). IIIVtnU" C()/()n/ale de Bd)!,iqlll', p{lgS.

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______ E_:S_l_'A_T_U_T<->_D_O_SI:\'DIGENAS PORTl'GUESI:S 31 ---- ------- -- -----

ARTIGO 8.°

(Denomlla\ao dos agregados politilO~ tradicionais)

Os agregados politicos trauicionais sao genericamente consi­derados :egcdorias indig~nas, consentindo-se cmbora a design~ao estabel,ec~da peIo uso regIOnal (sobado, regulado, reino, etc.).

§ . u.ll1.co. Quando a sua extensao 0 justifique as regedorias podem ser dlvldidas em grupos de povoa~6es e em povoa<;6es.

Legisla~ao preterita. Confronto.

cf. R. A. u. art. 9l.° e seguintes.

ARTIGO 9.°

(Integra<;ao dos indigenas nos seus agregados poHtico.s)

A cada regedoria pertencem todos os indigenas que no ;<)dl

territ6rio habitam permanentemente. Os que nele apenas resid.ir.l transitoriamente, ainda que por efeito de contrato de trabalho, 56 para efeitos de policia dependem das autoridades gentilicas locais.

§ unico. A mudan~a de residenci;l de urn indigenJ. de uma para outra regedoria, dentro da mesma circunscri~ao, depende de :mto­riza~ao da entidade administrativa local; a mudant;a para rege­doria situada noutra circunscri\"ao depende de autorizac;ao dos .lJmi­nistradores interessados.

legi~hu;jo pret~rita. Coofrooto.

Este art. reproJuz 0 ~lrt. 92.0 da R. A. U. com a seguinte diieren\3. no § lmiu>; onJe t'stA no E,t. «da entiJade administrativa 10C.l1», li.l-se na R. A. e. «do administradoI».

Quer dizer: nos Concdhos e CirlllDSai(oes subdivididos em Post,,, AJnllnistra­tivus, u rl:spedivo Chefe de Posto poJe autorizaf a muJ.ln~.1 .Ie residencia de urn indlgena de lima p.lra outra regedori.a dentro da area do ~u. Po~tu. Mas ~ 0

indlgena pretender ft'sidir em n:-gedona de outro Posto Admllllstuuvo, dentro da !l1es~a Circunscri,iio, a autoriza.;ao rl"'IK'ctiva ted. de ser-Ihe J.lda pdo AJminis­u·ac!or, por ser est..: fUDcionario a autoriJaJe comUDl com lOmpetencia territori.ll enl all1b.ls as fcgedorias.

ARTIGO 10.°

(Autoridade~ gentilicas. Alribui(Jlcs)

Fm caela regedoria indigena excrce autoridade s,)br,_' J.S p0pU­la.~5es gentilicas um rcgcl!Or indigcn:J.. Em cldJ grupo J~ po\ua-

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~_2 ____ . __ ~~~T_A_TLTO DOS INDiGENAS PORTUGLlESES

Artigo 10.°

\Ot~ ou pO\'OO(ao ser:! ess~ autoridade confiada a urn chefc de 1 - 1 -,(ll!P" de povoa~oes ou ce pcvoas;ao.

§ 1." 0 exer".-icio das funs;6es de autoridaJe gentilica e normal­r~1(nte remuneradc.

§ 2.' Os regedores e chefes de grupo de pcvoa~6es ou de povca\3.o des.:mpenham as func;:6ts atribuiclas peIo uso local, com as limitas;oes est~beleciclas neste diploma. A obcdiencia que as popuh;6es Ihes devem e a r.:sult8nte da tradis;ao e sera ma11tida engtl~nto respeitar os prindpios e interesses cla aclministra<;:iio, a CO!lt'.:nto do Gcverno.

1. Legis:,,";-ao prcterita. Confronto.

CL R. A. l·., art. 94.". que e r('produzido no corpo do art. e § 1.0 do Est. o § 2.° do Est. wrresponde ao § tinieo do art. 94.0 cia R. A. LT., com ciiferent;as de n:dacc;ao: «fiO Ql_'._' nao for contririo a soberania nacionaJ» foi substituido peJa exprtssao mais ampJa «com as Iimitacoes estabelecidas neste diploma», pdo que se deve conjugar com () art. 3.°, § 1.0, d(:"ste Est.

2. S6 03 indigenas poderao exercer funr;oes de autoridade gentilica.

{(As hml;Gt:S de autoridade indigena nao podem s.c:r cxercidas por nao indlgenas, mesmo que pertenc;am ~, m91 negra ou dela sejam descendentcs», porqut: {(a novo Est.itutu ( ... ) distingue claramente entrc- indigenas e nao indfg,-,lUs considerando expre'~amente estes cidadaos portuguestS (arts. 56." e stgts.) 05 quais se regc-m integralmente pdo direito publico e priv?do portugues (art. 2.") 0 que, evidentc­mente. exelui a aplica<;ao dos USGS e (ostumes .do~ iodigtnas ;em qualquer except;ao. ( ... ) Admitir 0 contnirio, secia admit!r urn privilegio injustificavel a favor de uma cl:isst de individuos - os antigos indigenas - visto que otnhum arti­ficio de interpreta<;ao justificaria a atribui~au de tal direito aos portugueses de ra<;a branca ( ... )>> - de urn Parecer pn.:;tado an Mini~,terio do lJltramar pdo Prof. SlIva Cunha e pub. em 0 Direilo, anD 88.", 1956, pags. 88-90.

ARTIGO ll."

(Designa~ao do; regedort:.)

Os regedores sao cleitos ou de sucessao dirccta ou colateral, confcrme os usos e costumes Jocais.

& {mico. A investidura dos regedores que a e1ei~ao OLl a suces­sao designarem fica dependent.:: de homologa~ao pelo gove.rn:dor da provinCIa ou do distrito, que podem igualmentr: des~tUl-los quando nao desempenhcm convenientemente as funr.;oes do (argo.

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ESTATUTO DOS INDIGENAS PORTUGVESES 33 ----------------------Artigo 11.-

1. Legislal;aO preterita. Confronto.

. Cf. com os arts. 96." e 97." da R. A. U. que estabdeciam regras mais pormeno­Clzacias. A homologa~ao dependia, no regime cia R. A. U., do administrador cia Circllnscric;ao ou do Concclho e nao do Governad0r cia Provincia (Guine) Oll de Dj.~­tlito (Angola e Moc;ambique), como se estabelece no Est. actual.

Cum pre distinguir, hoje, entre:

.:) -- Acto de esco/ha 011 designarao que compete aos incligenas e se processa segundo os seus usos e costumes (arts. 11.", 12.· e 13.°) ;

b) -- Acto de investidllra, atribuido as autotidades administrativas (vd. art. 14.°); c) -- Arto de hom%gariio, da competencia do GovernaJor da Provincia (Guine)

ou de Distrito (Angola e Moc;ambique), ~(que pod em igualmente destitui·los» (aos regedores] «quando nao desempenhem convenientemente as func;5es do cargo .. (§ irnico do art. 11.°).

2. Condi~6es pessoais para 0 exercicio de fun<;6es de regedores :

a) -- Ser indlgena portugues (Cf. nota 2 ao art. 10.°) ; b) -- Ser do sexo masculino (Cf. nota 3 a este art. 11,"); .) -- Ser maior (como parece resultar da referencia a mello,id;1Jr. sob It/Ie/a,

do art. 13." -- por maioria de razao) ; d) -- Ser designado por e1ei,ao ou sucessao, conf(lfmc os usos e costumes locais

(Cf. nota 1 a este artigo) ; e) -- Set investido e homologado como regedor (Cf. nota 1 a este artigo) ; f) -- Respeitar os prindpios e interess('s da administrac;a() a contento do Governo

(CE. § 2." do art. 10.").

3. Os individuos de sexo feminioo oao podem ser designados rege­dores.

A doutrina em epigrafe reslllta de que este E,t. so consente que mlllhtres sejam investidas no cargo de CheEes de povoa,ao (art. 13."). Na hipOtese de 0 legisla­dor qUl'rer estender a permissao do art. 13." a todas as categorias de autoridades gentilicls, referir·se·ia a {(chefes gentilicos», em gerai, como nos arts. 1·i.· e 15:, e nao a «(heft'S de povoa,am), em particular. Como regra excepcional, este preceito e insllsceptivel de interpteta,iio extensiva (COd. Civil, art. 11."). 0 sexo masculino e, assim, condic;iio pessoJI de exerdcio de fun,lies de rcgedor e de chefe de grupo de povoo~oes.

ARTIGO 12.0

(Dt'signa(ao dos chefes de grupo e de povoa<;ao)

Os chefes de grupos de povoa~oes e os chefes de povoac;ao serao escolhidos, con forme os usos, pelos regedores, com aprova-4',ao das entidades administrativas locais.

3

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}'4 [~TATt:Y() DOS Ir-.:DfGENAS PORTUGUESES ~-- ._----_._------------_.

1. legisla(ao prete rita. Confronto.

O. R. A. F ~ts. 109:', 11l .. ~ e 112." No. r~t!im(' deste diploma (R. A. U.) ()s chC'fes dt' IXwoa<;ao eram escolhtdos pelo admlfilstrador e nl0 pdo regedor, pdo qUt' no Est. actual se :lcentuou 0 principio da administra!:iio indirecta.

2. Condic;oes pessoais para 0 exercicio das func;oes de chefe de grupo de poyoac;oes c de chefe de povoa~ao :

a) - Ser indigena portu.t.:ues (Cf. nota 2 ao art. IlL") ; b) - Ser do sexo masculino (s6 para (hefes de grupo de pllvoacoes; os chefes

de povoacao podem ser do sexo feminin<>-Cf. nota 3 ao art. 11." e o art. 13.") ;

c) - Ser maior; J) - Sec escolhido pelo regedor. segundo os usos; e) - Ser essa escolha aprovada pelas entidades administrativas Jocms; f) - Respeitar os prindpios e i~tE-resses da administrac3.0 a contento do governo

(Cf. § 2.° do art. 10.°).

ARTIGO 13.0

(As mulheres podem ser chefes de povoacao)

As mulheres podem ser investidas no cargo de chefe de povoa­\3.0 quando esta for form ada por uma 56 familia e se derem as hipOteses de ausencia temporaria do chefe ou da menoridade deste, seu tutor, ou quando essa for a tradic;ao local.

Legisla<;ao preterita. Confronto.

Cf. R. A. 1' .. § unico do art. 112.". l" wrpo do art. i17,"

ARTIGO 14.0

(Proibi<;ao de destituit.;ao das autoridades gentilica " pela~ popula<;oes)

As populac;5es nao podem depor os chcJes gentilicos investi­dos em exercicio ue func;5es por autoridadc administrativa, nem reintegrar quem de1as legttimamente tenha sido destituido.

1. IJegisla~ao prete rita. Confronto.

R{;produz as regras dos §§ 1." e 2.n do art. ')7." da R. A. II.

2. Conjugat;"ao com outras disposic:;oe~ deste Estatuto.

A~ regras d(~tt: artigo "ao um corohlrio da subordin,iI.)o das alltoridaJ~s gen­tili(,,~ i.~ administrativalo - Cf. art. 18."

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ESTATUTO DOS Ii\D1GEl\A', POHTl'GUESES 35

ARTIGO 15.0

(Privilegios das autoridades ~entili(a5)

. ?s chefes gentilico~ tem os privilegios que os usos e costumes lndlgenas Ihes confenrem, podendo scr·lhes recusados aqueJes enjo cxerdcio se mostre jncon\'eni~nte ou imoral. .

1. Legisla<;ao prct~rita. Confronto.

Re:produz a duutrina do art. 98." d" R. A. t-,

2. Conjuga<;ao com outras disposi<;6es deste Estatuto.

Cf, art. 3,"

ARTIGO 16."

(Conselhos J1as regedorias)

Junto de cada regedor paden!, haver urn conselho de sua escolha, formado peios indigenas de maior respeitabilidade dJ regedoria ou povoa~)io, tendo por dever auxiliar 0 chere no E'xercicio das suas fun~6es.

§ j ," Os regedores deverao apresentar a auwridade adminis­trativa os indigenas que fizerem parte l!O conselhn referido no present~· artigo e nao poderao substitui-Ios sem conhecimento dela.

§ 2.° Os indigenas que fac;am parte do conselho terJo a des(:-:oJ.­<;.10 que, por uso antigo, Ihes pertencer C' os regedores poderao wnfiar-Ihts a direc~ao de determimdos negocios indigenas_

Lcgi:,lal,-Jo prctcrita. Cllnfronto.

ARTIGO 17,"

(Adl)S v(cdad()~ olO, lht"l", g"ntililOs)

1~ proibido aos chefes gentilicos, sob pena de prislo ou de trabalhos p6blico:, de quinze dias a dez meSeS, aptic.lda n ... )$ rer­mos da lei:

1." Cobrar impostos em seu prm eiw : 2," Aplicar mulras :

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30 ESTATUTO D()_~_~~_D!GENAS POR11JGlT_E_SE_S ____ _ ~------

" 0 Sefvir-se do nome da autoridade administrativa ou dos ).

seus delegados, sem seu previo conhecimento, para con-secu~ao de qualquer fim ;

4.° Saif da area da sua circunseric;ao sem previa Iieen~a da autoridade administrativa eompetente ;

5.0 Opor resisteneia ao cumprimento das ordens das auto­ridades administrativas ou ineitar a eia ;

6.° Proteger ou deixar de reprimir 0 fabrieo ou a venda ilegal de bebidas alc06Iieas ou t6xieas ou outros aetos imorais e eriminosos ;

7.° Manter encarcerado algum indigena, sem dar imediato conhecimento a autoridade administrativa.

Legisla~ao preterita. Confronto.

Cf. com 0 art. 108.° da R. A. U. que este artigo reproduz em parte.

ARTIGO 18.0

(Hierarquia das autoridades gentHicas)

Os chefes de grupos de povoas;oes ou de povoas;ao estao directa­~ent.e subordinados as regedorias indigenas ; estes ficam na depen­denCla do administrador da circunscriS;ao.

§ unico. As ordens e instru<;oes serao transmitidas as au tori­clades gentilicas, quer clirectamente pelo administrador, quer pelos (hefes dos poctos adml'nl'str t' ., 'd' ., a IVOS em cuJa area reSl lrem.

Legislac;ao prete rita. Confronto.

Estc: artigo n:produz 0 ' t 9 - 0 d R d ar, rtigo a frase' d 1 ar_, ). a . A. U. que continha a mais, no corpo 0

, . " esempen lJ.rau os se tugueses a cont<:- t d G • us cargos enquanto s<:-rvirem os interesscS por-d n () 0 uverno» A e - '. I. • a o § 2." do "ft 100 d . xpressao serra tnutil it £Jee da regra gcncflC

~, . este Est. '

ARTIGO 19.0

(Atribui('6t~ cia ' ", s autondadt:s 'J " . ) a ffilnlstratlvas em rda,ao aos indlgenas

As autoridacles adm' . ~ . . . __ Itgai c relat' lnLtratIvas exercerao as suas atnbul~oes

-> Ivamente aos' " 'b 1 com a cord.d· - In(Jlgenas que vivam em regime tn a

Juva~ao dos eh f ,) d segundo ()<' U', d" e <'S uos agregados pollticos forma os

, "0, tra lUonai,.

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ESTATIlTO DOS L\IDIGENAS PORTUGCESES

Artigo 19."

Conjugar;ao com outras disposirroes deste Estatuto.

Cf. com 0 art. 18." 11 a enunciarao do prl'ncl'pl'O da ~ administra~ao indirect.a..

ARTIGO 20.0

(Devc:res dos chefes gentilicos. Fun~ao directiva das autoridades administrativas)

37

Os ch~fes gentilicos Rrocura~ao desempenhar-se das fun~5es que Ihes m~bem, respcItando, quanto possivel, os usos, costu­mes ou. tradI~6e,s pern:itidos pelo artigo 3.0 e sellS paragrafos deste dIploma; a auton.dade administrativa cumpre dirigi-Ios por forma a, com reconheClmento publico, integrar a sua ac~ao na Qbra civilizadora.

1. Conjugarrao com outras disposirr6es deste Estatuto.

O. com 0 § 2." do art. 3."

2. Prepararrao educacional das autoridades gentilicas.

Visando a integra<;ao das autoridades gentilicas na ac.;iio civilizadora pressuposta pel a coloniza(iio portuguesa, 0 Dec. n." 38.886, de 25/5/948, detenninou quI." II

educa.;iio das futuras autoridades gentilicas Fosse feita em estabeIecimffitos de =ino denominados esco/as de preparaciio de alllorid,ules gentilicas. 0 mesmo diploma criou duas dessas escolas (para 0 sexo masculino e para 0 seX0 f"mininl» em cada \UIUl

das provincias de Angola e Mo(ambique.

ARTIGO 21.°

Ollrisdi<;iio exdllsiva d'ls autoridades administrativ.l.S sobre os indigf'n.l.S destriOOlizados)

As autoriJades aclministrJ.tivas exercerao por si 50S jurisdi~io e poJicia sabre os indigenas que deixarem de estJr integrados nas organiza~6es poHticas tradicianais.

1. Indigenas destribalizados.

o pcesente artigo constitui :1 cons.lgr,l~lo Iegislativa da n,...:essidadt.' de lL'll regime especial para os ifldige!J,H deslribaliz~os, na? assimilados compl~.'l.'llente. e qu~ porlanto, ainda nao ct'unicam as conJl(iies eXlgldas paca a aqul"l(.ll' 0.1 ctJ.J.i":1IJ.::

(art. :56." e segs.). Dc'sde hi muito que a doutrina acentuava a necessidade J~ a legisl.l(lo atent.1f

em quI;' h.i indigenas com graus de civiliz:1(ao muito divecsos. D0s rr..i:,('-o;,M p,im:­Ii/)us intl'iramente integ-cados nas soci(-cbdes trib.lis primitivas. de:- viJa social e econ6mica rudimentar, dominado> pelos seus chefcs tr,ldicionais, hJwri.l 'Ie.' distin­guic os indfgenas em eflo/tI[iio qut', «embora mantenJo .1 organiZJl(io ",,-,:ial pricnitin 'e muito, tca~os dil Irumt'ira Je viver st'rtaneja, ji aCU$.llU influen.:us patcntes do

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r.~TAll'TO DO::' INDIGENAS PORTUGl1ESES ----------------

lt~nt;lcto Cl'n1 os (uropeus e come(am <1 I1lt:lhorar 0 seu nivd de vid.:», t' os ilzdtgellas d~jtrjbaJi::.td,.'." ist() t, aqueks qt'e' «tminade5 nas missoes ou a Vlvt-r em fazendas, t.abriras ou dwdt's., ( .. ,) abandonar:un a vida tribal (? grande par,t~ dos usos e t()stumt~ tr.ldicionais p;lr;l ado[:'tarun lim paJldo de vida em que D pra~1Ca d~ alguns h.iliitos cuwpeus se mistura com a persi5teocia de tra«(~s caractcris.hcOS a!n~~ da map-ur.l de ser do gentio e qut', par i550, embora ja dissoClados dns. tnbos pf1mltJva~, n~l() dC1xaram de ser indigena,» (Prof. :Marcello Caetano, Os NallllOS na Econo1ma .1irica/l.:l. 1954, pag. 17).

Tais indigenas destribalizados subtrairam-se a disciplina politiea e moral das triblY, tradicio~ais, e porqu~ ainda nao absorYeram stnao parte dos aspectos exteriores Ja (iviliza~ao, vivem, moral e socialmente, num perigoso estadio de an;trquia. Sao os nativos marginais como preferentemente lhes cham am os soci6logos. 0 enquadra­mwtL) cit'S destribaJizados em novos rnoldes sociais, qu,e lhes sejam adequados, era por isso, uma das preocupat;oes dominantes do. doutrina nos ultimos anos de vigencia do Est. de 1929, onde 0 problema nao era contemplado (vd. Prof. M2.rcello Caetano, Declarac:;ao de voto no Parccer do Conselhll do Imperio Colonial, actual Conselho lTltramarino. rdativo ao Projecto de Dec. sobre OI'{!,C/lliza(ao Social e Ecollomica das Popularoes IlIdigellCls. apuci Bo!elim Gera! dC/s Co!olliaJ, anD XVII, n.o 191, Maio de 1941. pags, 86-88 ; aut. cit., Os N,ltil'oS ... ; Prof. Silva Cunha, 0 EIZO/ladl'cI1nel1to Social do, Illdigel/as Destribalizados, Lisboa, 1952 e 0 Sistema Portugue; de politica Indigena, 1953, pag. 185 ; Dr, Gon~alves Cota. Projecto DefillitillO do Estcrtllto de D!rello Prit'ado dor 1l1df{!,elJaJ da Colonia de Mo(ambique, Louren(o .Marques, 1946, pJ.)::.66).

A preocupa~ao de eomiJerar 0 probltrna dos destribalizados era hio vincada ern certos sectores da doutrina. qut: 0 projecto de Estatuto aprovado pelo Conselho Ultra­manno., e do qual na.sceu 0 aetual Est.) dividia 0 Estatuto dos Indlgenas ern EJk/tllto dus ,lIlfi.lg:I1Cl.r em ref,lme Irrbal e Erlalilio dus illdfgelldJ deJtribciliz"dos. A orientat;ao, pore~, r:ao fu! perfllhaJa pdo G~vt:!'no, pC'lo que as disposi<;5es aeerca do:; indlgenas destnbahzados se encontram dlsslrnmaJas em Jiversos lu<>ares t: na b t'd, . um titulo comum. ~ . () su me 1 a, ,(

2, Conjuga\ao com outras disposi\oes deste Estatuto.

Conjugar com I) an, 29.": os d 'b I' I J . estn a Izat os, fj/JC hgis, poclem re"er-~e pela (:1 COfllurn, b

ARTIGO 22."

(Autoridades do, aglomerado, de indigenas destribalizados)

Quando se tenham formado aglomerados t¥lp I' . . 'd . r~ u aClOnalS C0115-taUt os excluslvamente por indiV'enas nas C'ondl'('O"'es I t' . d - , c)' '! (0 ar 19f) ante-nor, pc erao as autondades administrativas no .' d hrb t -d ", L mear, e entre as

a nan es, rege ores admlOlstrahvos e cabo d ~ d' ' serao' 'b' d - . . . s e or ens, aos (IUalS

atn UJ as fun\,oes policlals e de auxiliarcs da admini;;lrara-o civil. '!

§ unic(), A competencia destes auxiIiar'" e '1' d . r e .'. ' d ' . L , L S emals regras l-(eS-~afl_d.S a a mll1l.strat,ao dos referidos agloo1erado's

J b 1 populacio-lCUS st'rao (."Sta e eClda'> em diploma c:,pecial.

Vide annta'.oL'S ao art 21.°

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~ ___ -=E::.:::S-=-TA~TT'TO DOS INDIGENAS PORn;GUESES 39

ARTIGO 23.0

(Denega(ao de dir<:itos politicos em rela(ao a j"'titul'.~ naC d' . "" .' 0 J[j Igenas)

. ~ao. s~o ((~nc~di~os aos inclfgenas direitos politicos em rela~ao a mst!tulc;oes nao I11dlgenas.

§ tinieo. as indigenas te60 representantes, escolhidos pela f~rn:a legal, nos conselhos legislativos ou de Governo de eada pro­VJnCla.

1. Legisla~ao preterita. Confronto.

o corpo do artigo reproduz 0 art. 7." do Est. Je 1929, substituindo apen.ls a expressao «instituir;oes Je caracter europeu» por «instituic;oes nao indio-ems» Este principio fora J'a enunciado nl) n." :::'." da' B • d I' C>' , use 18. a _l'l n.o 277, de 15 de Agosto de 1914. -

2. Direitos politicos dos indigenas.

. ,!mpos-sl' a,? legislador ~onJt'rar a possibilidade de real efeltivu~lo dos poderes Jundlcos confendo5 aos II1dlgenas, e. nesse sentido. concluiu-se que em relJ~-al} }, .fllas instituir;oes tradicionais tern estes cultural, social e, portanto, juricii, Jmente (art. 7." destc Est.) possibilidades de consciente exerdcio de direitos politicos. Mas, sem qUt se lhes recuse qualquer tlas garantia~ (onstitucionais )a rtft'rida<. nao e curial cOnCtUef-se aos indigenas podereJ juridicos .lbstr.H tJOll"ntt: uniiormt's .tLlS coo­eedidos aos cidadao$ (nao indigenas), mas pdtiCilmente insusceptin·is de ext:rdno wnsciente em r('1.1~Jl) a institui,oes n:io indigenas (ujo significado Ojl) apreendeLlm integralmt:ntc. POltJnto. nao devt: falar-se: em dimiJllli(ao de poderts juridi(()-politicos dos illdigenas (c:lpitis diminutio), mas ,im num processamentt: diferenci.1do do exercicio tlesses pi)deres. 0 Prof. Adriano J\l"rcir.l considera mnmo qut: «nao sO, portanto. se nao uispensd nenhuma das gariluuils <.jut: ~ todos os nolcionais se garan­wm, como st: organizam garantias especiai.'i no senti do de asst:gurar que as garanti.h tratiicionais st'jam, para os indigenas, mais do que um.t dedara(:io piJtonil.i» (apud AdmiHiJ/r.l(iin d" J/II/ .• 10.1' Iud., pag. 17).

). Rcpresent:1;-ao dos Indigen<1s nos Comelhos Legislativos (' de Governo,

A cin'lIl1'tamia tit' " § llnico destc art. 25." dt'tnrmo.ll qllC l" loJI~"n,i' [l'r1l) rl'presmtanlt, nos Consl.'lhos Legislativos de:: An.goLl ~ MO(.lmn!qU\' t" ne' C,)nsdho de Govt-rno da GlIin~ nao rlpn:scllta uma contf.ltl".lO cum .1 negra do C(>rpo d" mt'~m[) artigo que lin'S n<:ga di r,ito, pplitilOS em feia(aO ;1 instltui(oes _ nao indi­gen.". com,) induhit,lvc:lmt:lltC' sao O'i mcncionad,)., Cl)l1sdhos. J1 que a tormula<;:i,) Jo ~ uniro "stt tit: harmonia com .1 seguoda p.lrtt d.l J.lin(u d), Jo n." III. cia ll.l"~ XXV da 1.. Or". e aline.t b), do n." III d.l l);t:>t' XXXlI Ja mesma LeI, ~lnde se prt'(eitllJ. que 05 fepresmtantes das popula(~iies. tn~Hgenas de Ange'lJ. e ;\f,·\.lffi!'ique estarJ.o entre 0> vog;tis 1/I)/II.:.idOf e, em rda,ao a Gmnt'. do me-mo modl>. 0 (,,0\'er­

nador l/ul1u-,lr,i vogais nao ofiUJis atraves dos quais ~. pfll<'llIa J.lf represcnta(3.0 aDs «scctores da popuia(ao naciun.d tI" mns.id"r.ivei impL'It.i.nci.l nol ~"l.unomiJ. e nol

. vida publi,a Ja provin,ia, qut' nao tivc:rt'1ll Vl'tl) nos {ole-pLl> "k-itnfaj,,, - isto e, no (:ISO Ja Guine, aos indig<:nas.

De h,lrmoni.l lorn .1'; disposi(O"'i da 1. On:. c do rre,c'ntt' E~t.. 0,; Estatutl1'>

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40 __ ~~~TATUTO _DOS INDiGENAS PORTUGUESES

----------------Artigo 23.0

p()\itt", t\J:I'Jnl~tr.!ti\ l', da5 Provincias de Angola (Dec. 0.0 40.225, de 5 de JU~hl' de 1955) e Mo<;ambique (Dec. n." 40.226, de 5 de Julho de 1955) em astigos dt' numera<;ao e contexto iguais, dispoem: '

Art. 21.0 .......................................................................... . _ § 1.

0 -- 0 Cons~lho. de Governo designara dois vogais para r.epresenta-

910_ no Cons:lho Legtslattvo d~ inte~es~es das popula\oes indigenas, os quais serao escolhtdos de entre uma ltsta tnpltce elaborada pelo Governador-Geral.

§ 2.° - Os dois \"ogais a que se refere 0 paragrafo anterior contar-sc-ao entre os nomeados nos termos do n.Q III, alio.ea d), da Base XXV da Lei Org-lnica do Ultramar.

Paralelarne:nte, 0 Estatuto Politico-Administrativo da Guine (Dec. n.O 40.22~, de 5 de Julho de 1955) preceitua no

Art. 17.0 0 Conselho de Governo e composto pelos seguintes vogais : . ........................................................................................

e) - Urn nomeado peIo Governador, em representa¢o da popula\iio indigena;

ARTIGO 24. 0

(Direito de peti~ao e rec1am.ac;ao)

Os indfgenas tern os direitos de petic;ao e de reciamac;ao, que podem ser exereidos em todos os graus de hierarquia administrativa e, em especial, perante os curadores dos indlgenas e os inspectores administrativos.

§ tinieo. Constitui infrao:;:ao disciplinar dos funcionarios ultra­marinos a tentativa de obstaculo ou de represalia relativamente ao exercielo pelos indfgenas do direito conferido no corpo do artigo.

Remissao para legisla\ao geral.

Repete-se a garantia consagrad:! no n." 18 do art. 8." dJ. Coast. Pol.

SEC(Ao II

DO$ crimes e des penas

ARTlGO 25. 0

(Principio da a5simiJa~ao penal)

d 1 · . 1 e t d'~~tI'l'ladas aos inJigeo.as serao Na falta e CIS eSpeCla m n e '-J

apliciveis as leis pcnais comuns.

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______ E_ST_A_TI1=-=--T::...:O DO~NDJGENAS PORTI!GUESES 41 -----

Artigo 25.-

§ 6nico: 0 juiz apreciara sempre as condutas e cominara as penas, constderando a .infIlIe~cia. glle sobre 0 deJinquente e os actos deste exercerem as C1rcunstanCtas da vida social dos indigenas.

1. 0 prindpio da assimi1<l\ao penal.

o corpo do art. 2~.· ~ons:lgra 0 principio da assimila<;ao penal. segundo 0

qual 0 subs/rae/11m do IOStJtuto penal dos indigenas e constuido pela legislac;.io penal com urn.

A justifiw;ao dcstc principio resulta de tff·s ooserva,5es:

a) - Em primeiro lugar, porquc 0 Direito Penal desempenha importantissim.t fun~ao de defesa da Socicdade e das condic;oes essenciais It sua existencia e assim ao principio da unidade nadonal (Const. Pol.. art. 5.°), deve logiramente' co~ ponder uma correlativa unidade de meios de defesa social com prI"VJJencia do sistema jurIdico-penal do povo civilizador;

b) - Em segundo lugar porque. do contacto entre indigenas e nao indigenas surge a necessidade de defender uns e outro> contra violencias e choques inevitaveis, protecc;ao que nao esta organizada no dirtito penal tradicional 0 qual, evidentemerue, desconhecia esta necessidade particular de defesa social, resultante do contacto de ra~as.

e) - Em terceiro Jugar porque 0 sistema penal tradiciOllal dos indigena.s i: imperfeito e insuficiente, vi\'endo em brga m(,>dida do arbitrio dos chefes tradicionais que se arrogavam poderes discriciomirios ilimitados nos julgamento5 dos seus subditos, - arbftrio e discricionariedade que e impossive! consentir Sffil ofender 0 respeito pdcl sohcrania portuguesa que deve sempre incukar-se no, indigenas.

2. legisla"iio preterita. Confronto.

o princirio da as,imilac;ao penal nao constitui inova~ao introduziJ.l no nosso dirtito 11ltram'lrino pflo E>t. actual.

o Cod. Pen,d, de 1852 (e, dcpois, a nova compil.l,jo oficial de jSS6), foram m:lOdadn> apli,ar ao Ultramar e, durante muito tempo (ate 1894 - Vd. nota 2 ao alt. 26."), sem restri~:i() al.~uma, a indigenas e nao intligenas, como reflexo de urn largo pCrlodo de as,imila~ao uniformizadora que pode hali/~r-st·. na nossa politio ultmmarina. entre 1820 e 1910 (Cf. Prof. Silva Cunha, 0 SiJ/em,j, ••• pig. 121 c segllintes).

AI"" criticas acerbas de Ant,mio Enes ao sist('Ol~, no sell relat6rio sob1'\: ~M(r <;ambique)) (na ed. da Agencia Ger.d <las Col6nias, pag. 73), abrandou a tent'encia para a assimib,iio uniformizadora e nas Leis Organicas de Alm:o'iJa Ribeiro aknuou­·se mcsmo 0 principio da assimiLu:3o pen.ll ao admitir-se urn direito crimin.:1 espe­cial para indig"nas (Base XVIII. n,· 4.·, da Lei n.o 277, de 15 de Aj:.osto de 1914, di~;posi\1io que, alias, nunc;! foi regulamentada - nlo obst:mte a tent.1tiva. j.i rderida, Je Ferreira Diniz, d. nota 1 ao art. 3." -, continuando, port.llllt). a ~pliL.lf­·se a legisla<;D.o /1lctropolitana lnl'",tiva). (h Est. de 1926 e 1<)29 \'oltaram de non) :10 ,istema tradicional tla assimila~ao penal, embora com t'J.r,lckr transit6rio, orde­nando (Jrt. 11.° do Est. til' 1926 e art. 13.0 do Est. de 1929) que, enquanto n3.o fossem publiuldos os rcspectivos Codigos do indigeflatn, se observas.sem as dispo­si(iks do Cod, ]'In,d. de 1886, «tendo na de\'ida aten~ao 0 cst.ldo e civil17:t(,:io do> jndlgen.ls e seus usos e costumes».

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~~ ____________ ~!~1:An:l0 DOS INDiGENAS PORTUGUESES --------_. -- --- -- --- ----------

L\rtigll 25."

3. 0 cst~,do de civiliv.<;:io cos indigenas COI11~) «circunsdlncia» da in­frac()o.

Os Est. de 1920 (- 1929 intruduziram, pOf(~I11, UIlla importante liIllita(';ao ,i .I~simila,ao pellal unifonDlzaJora, m;mdando atender aD esl~Llo de civiliza(ao dos indi;;,-:'." n.l ;ldministra(ao d.l ju~ti.;a penal.

\) Est. actuaL no ~ unico deste art. 25.". seguindo uma orienta(ao iJentica, diSthle qut: (> juiz consiciere a influeneia que sobre 0 ddinqu~nte e os act os destc exercertm as cir(un~t.1nci;ls &1 vida social dos indfgenas.

QJet dinr que 0 grau de ci\"ilizJ(ao do indigena deve ser tornado como «(ircuns­tanu.ll> nl) senticlo pmalista uo krmo. isto e. como facto juridico acessorio modifi­cativo dl rel.l(10 juriJicl punitiva. Com efeito, alem dos elementos cJJellciais da infrac<;io ploJ.l. isto e, dos t1ementos que d(:vem concorrer no facto para que constitU'l llma infrac<;:lo, existem os ·eleflumtos cirC1fI1.ftt1l1ciaiJ - as circunstancias­que ji njo influem na existtiZcia, cem modificam 0 caracter do dtlito ou a sua cunfigura<;1io juridica, mas sim a grat'/dade do crime (Cf. l\fu"el-, Tratado de Derr!­cho Pn'_d. traJ. de Rodriguez Munoz, vol. I, pag. 180; Prof. Cavaleiro de Ferreira, LifoeJ de Diretto Poul. 1945. pag. 466 e segs_). A descric;1io legal dos crimes encontra-" n:! parte esp.ecial do Cod. Penal (e na kgisla<;1io extravagante, contanclo­-se entre esta as leis penais esp.:ciais destinadas aos indigenas, nos term as do corpo deste art. 25.°). mas 0 Est. actual "CH __ sceota it teoria das circunstancias Jo Cod_ Pen:!1 mais uma cil·om.rt/lI1ci,t quanto ao agelJle da ;11jraC((10 (0 indigeoa) : a inte­,..cr,tC)." deste na vida tribal (Cf. nes:e sentido Prof. Adriano Moreira. /ldmilliJ/m­(ao d,1 .1I1J/;('1 ,10.1 ]ndigeiMJ. pag. 134).

o Prof. Silva Cunh" - que, alias, de jllre cUiiJJituendo e contr[lrio ao prin­dplO cia ,lssimlla~ao p~n"-l, lorno se ve em 0 Si.rtema PorlllglJCs de PO/lliu llldigena, pag. 206 e segs. - ensina nas SU:iS li(0(:5. que 0 § unico do art. 25." denoga 0

trinclpio d_1 le;:;didade eJtl'itu. rermitindo, cons(::qu(::ntcmente, que 0 juiz ponclu-c mais equitativamente 0 con,liciunalismo especial dos indigtr;as. Nao se podera com­preender 0 sentido da opiniao do Prof. Silva Cunha, seill saber ° que deve <:ntender-se relo prindpio da /'Jtri/a /cy:dJdads·. 0 principia costuma expor-se a partir da sua fl'rmula~ao htina: tmlium alille" sine lege, nulla tlOell<l sill!! lexe; quer dizer: ~O DOCie comiderar-sc crimt: 0 f.lcto que a lei considere romo t<I1 (art. 5_" do C6d. Pen'aI ; n.o 9." do art. 8." da Const. Po!.), e a cada crime correspondera l!ma pena, ql,e sO quantitatiYJ!1Knt(: F".je se-r aIte-rada, dentm t]c;'; limites tstabe!u:ir.ios pela propria lei tarts_ 54." e 8'i." do Cod. Pwal}_ .

C Prof_ Silva Cunha (:ntende, portanto, que- n~o apt-na" num aEpeeto qllillllJ/.I­

iivo (como a (inunstancia pressupoe), mas tambem num aspecto qualitativo St'

deve tomar enl linha de (onta a influtncia que sobn: 0 delinqut'Ilte e os ,1((0$

d(-,t~ exerecram a, cir(pmtilncias da vida social dns incligen,!s.

ARTIGO 26. 0

(Substitui~ao cI<.- perus)

As penas de prisao podem ser substituidas por trabalho obri­

gat{)rio.

1. Legisl:ic)i.o prcrC:ri.1. Confronto.

I Eel. r-(,J· promul17ado, ° art. 26.0 wntwha um § ,miw, trami· Quando {j ,it tua. r-

lorio, il~~jm n:-di;:ido;

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~ unico (transitorio) -- Enquanto nao for publl'c d .. . , .,. 1 '. a 0 0 no\.'o slsterru pe-nltcnClano u tramanno contmuam em vit'or' . f d . D L 4 d' '" os paragra os 0 artlgo 13." do • ecreto n.n In. 73, e 6 de Fevereiro de 1929.

Promulg:lJa ,I Ref. Peis. do {'It. (De?" dt' 19~4), 0 citado § Unico caducou.

2. A subs~itui\ao das medidas juridico-penais aplicaveis a indirtenas Evolu\ao. '" .

Corohirio directo de um:l tenJencia uniformizadora ab<oluta '. . •. d "1 - .• " ConjU';4U" lOm 0 pnnClplO a aSSlml a(ao penal (Vd. notas 1 e ') ao art )< 0) s-' .. I' - . . I . d' . • . -. . - >. , ,da a ap lCa(ao para e ~Im!, ES aos e1Inquentes l.ndigcnas das mt'dldas )uridico-penaUs organizadas para OS nao Indlgen~s. ~ durante mUl~o tempo assim se procedeu entre nOs, pois 0 Cod. Penal. d~ 185., f01 mandado aplKar ao LTltramar sem modific3~Oes quer dos precelt')s incri­mmaJores, quer da escala das penas e 5W modo de cumprimtntc. I

Certo . e, porem, que as medidas juridico-penais obedecem a urn pensamento de Jef~sa SOCIal que, com acento tonieo na intimida,a(1 ou na. r(edUl2~Jo social dos Jehnquentes, procu.r~ estruturar·se em fun(ao das sociedades que serve. Diftrentes as c.D?rdenadas SOCIalS em que se integram os suieitos passivos da reb,ao juriJica pumtIva, as penas podem revelar-se de nulo valor intimidativo (: constituir are lim serio enlrave a reeduca.;ao social do delinquenle.

No sentido destas considerar;i5es_ e tomando partiruJarmente em conta 0 problem:! Jos delinquentes indigenas, a palavra de ordem do pensamento (oIL.nial portugues escrevcu-a Antonio Ene,: «a prisao sem trabalho e sem tscola., nao benefieia 0

africano».

Compreendeu-se entao que " regime ptnitenciario de John Hml'.lrJ. intr(1Ju­zido entre nos pela Lei de 1 de Julhl> de 1867 (e defendido i.i no ProlE-cto de LC'Vi Maria ]ordao), produziria efeitos contrJproducent(.'S quando aplic.do aos indio genas. A redus50 celuJar, ililgada rnr:io ideal para a penitellfiJ mor.1! do ddinquenh; transformava-se, para os indigenas, no dim.l optimo da ocio,iJade que tanto Ihb mmpr,lz, ademais acompanhada de aumento dt" bem-estar material porql!t', no dizer de Enes, «:I pior cadt'ia i: mais abrif,ada de intemperies do que a palhGt;, eu r:uruda. a tarimha mt:nos ispera do qU(: ,1 tt:rra nUJ, 0 r,lI1dlO Inai, apetitoso e varia.!o do que a maSs.l de nltlpir.1». (M()r.lmbique, ed. da A.genciJ Geral das Colonia." pig. 73). E assim, 0 Rt·gimeoto dOl Admini;tr.IC)l> Ja ]ustt(a nas Provincias Cltramann.l:' . .lprovJdo por Dl·'. cit' 20 de Fl'\er~lm de 1894 (e regulamt:ntaJo For Dec. de 21) de St"tembro do lllt'Smo ano) no alt. 3.· estabdt<tia ,\ fa.culdade de substttuir as penas de: prisiio por trabalh"s publiws, n.b PlOvin( ia> de Timor, S. Tome e nas Costas OriellLd e Oridwtal de Africa, e ,lUtorizJva 0 G"vc·rn,) a e,tJbdecer pt'll.l<

dl' tmbaJho «)fnccional. Pm outro Ltdo, .j doutrinJ, tallto nalinllal (DmO cstr.lngeira, tern siJo unanime

no aplauso a substitui(3o das penas dl' pris5.o por pt'nas de trnh:llho: Prof. Ma.r­nolO e Sou", (Admit/isH,/ra" C,,!ou; .. t!, 190), pag. 439); Proi. 5.lmp.lh) e .\i::!lc, (()lteJ/oeJ CU!OUi .. lt'l - PIJli/if.1 illdige/l,1, 1910, p,ig. 194) ; Lord H.llk), ( ,h Afri(~.,. SIIfI'ey, 2." "d. 19'1,\, pags. 309 e segs.) ; Prof. Silva Cunha(O Tr.,/; .. Iho I.:Jigena. 2:' l'd., 19)5, pags. lil3·184; 0 Sistema P,;f/IIKI/if do! P ·,'.f!,,1 InJfgm.l. l')';3,

pag>. 121 t" stgs.) ; Prof. Adriano MOlc·ira (0 Problem .. PrlJlolul J, [·[tr.lm.u.

pag. 311 ; AdminisJr.t(do d" jm/ira dOJ Iudigo!nus, 19'\5, pig. 14l); D:. Antbn.io Martinez Val.ulas Prdu (Exh'l/Jao ,10 U/lr,lTIl.lr tid Rej,)rma Pri!iollaJ, RdJ.torio publicado no Bole/im du Mi"iJ/t1ria Ju jllslir.l, n.U 46, prin(ipalmente p.;g>. 197 e se/<,'uintes).

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44 ESTA'!"UTO DOS INDtGENAS PORTIJGUESES

Artigo 26.0

S. }'(lrtanh., na sequencia ciesla orientac;;ao quC' tanto 0 Est. de 1929 (§§ do art. 1 ~. >.'. como o. c~rpo do art. 26.0 deste Est. estabclcccram 0 principia de que cra pernllUdo suhshtUir as penas dt' prisao por ttabalho obrigat6rio.

3. A sllbsti~i~ao para indigenas d~s medi?as juridico-penais previs­tas no Codigo Pen,ll. A) - Idelas geraiS.

. \.) art. 26." no seu parigrafo unico, transit6rio, como que remetia para novo dip!oma s0'r~ 0 s.istema penitenciario ultramarino 0 desenvolvimento e a regulamen­bc;;ao cia lciela aflmlada no corpo do artigo que, na verdade, apenas concede uma fa cui dade a0 kgislador, porque nao ordena a substituic;;ao das penas, nem a proibe: ape!laS perrmte que as penas de pri~~.o sejam substituidas por trabalho obrigat6rio o que tern 0 valor de simples afirmar;ao de principios.

A substituil,;3.o das penas e hoje regulada pelo art. 26.0 da Ref. Pris. do Ult. :

Art. 16.0 :E tornado extensivo ao ultramar 0 Decreto-Lei n.O 39.688, de 5 de Julho de 1954.

§ 1." Para 05 indigenas, as penas maiores serao sempre substituidas pela peru de trabalhos publicos pelo periodo correspondente acrescido de um ter-1)'0 e as penas correccionais seriio sempre substituidas pela pena de igual tem­po de trabalho correccional agravada.

§ 2.0 A pena aplicada aos indigenas indisciplinados sera. sempre acrescida de metade da durat;ao que the caberia nos termos do paragrafo anterior e nunca inferior ao minimo da pena de trabalhos publicos e mais um tert;o. IstJ. ultima pena sera a aplica.vel nos casos em que aos nao indigenas caberia sO uma medida de seguran<;:a.

Da analise deste importante preceito tiram-se desde ja duas conclusoes, em cuj.lS consequencias cumprt atentar:

1) - Em primeiro lugar, note-se que 0 corpo do art. 16.0 da Ref. Pris .. do LIt. ordenou a extensao ao ultramar do Dec.-Lei n.O :'>9.688, que aiterou mUitas etas disposi&;oes da parte geral do Coo. Penal de 1886, especialmente a escala das penas. Os §§ do art. 16.0 da Ref. Pris. do Ult. est1i? neccssari.ammte em c?nexii? com essa extensao e com a escala das penas estabeJenda pelo Cltado Dec.-Lei. 1?a~, uma coo£equencia: sO as medidas juridico-penais estabelecidas nas normas incnml­naJoras do COd. Penal (convcrtidas nos term os do art. 129." do mesmo Cod.) ~u (;.,. Jegisla&;ao avulsa que rem~ta .·para as penas da escala

o do C6d. P.':nal scrao

U1TJ:'U cvnvertidas nos termos wdllados nos. §§ .do art. ~6. da Rd. :r:5. do Ult . .Ii ;umrario, as penas estabelecidas erl! !eglslac;ao espeCial, sem rcmlssao pa~:l a ." .. ' d Co'd Penal poderao set substitUldas pm penas de trabalho (0 art. 26. do

(£_1.1 0 . , fl')' I - , r:st. tem C()mo dissemos. caraC1er de norma I aWl ta~lva , Imas sdc- o-ao. apenAas . na

'd'd nos exaclos JermOJ em que a ep,> a<;ao avu ,>a 0 etcrmmac. SSlm, errr!!" me 1 :1 e 0 J ~ . M" (, I das penas enum(:r"das no art. 26. do C6 , de Justl,a llItar . apro-e P"f e'J{etJl6o, 0] 1 292 de 25 de Novembro de 1925 e torn;ldo extenslVO ao ,\,ld~ ~or ,(;(O;· n.O '12.393, de 27 de Set~mbro de 1926) s6 as G.,ue 0 ar~. ~l.. ultl'~m.itr pu. . d regular pclas disposlc;5es do C6d. Penal serao subslItUldas do [f.t:'stno COd. man ~ dI. Rd. Pris. do Ult. (pelo que d(:vl'rao consider~r-se [('vo­nos t~-nnos do art. 16. d D • 14021 de 1 de Agosto de 1927), wntmuando as _~,I rt5 ~ 5 e 4· 0 ec. n. ., . b . Id t rm,,:; ~m (IS il -' ·1' <las a militart:s indl.genas, a serem su Shtll as nos c: restantc:$ • quando lIP lea Jo D(~. fl,· 12.393, cit.

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ESTATUTO DOS INDIGENAS PORTUGUESES 45

Artigo 26.'

2)- Em segundo Jugar, ao passo que 0 art 26' do J:r s' <~ -

b . . - d •. -.. >c ft'lere apenas a su stltUl(ao e penas de prisao, 0 art 16 0 da Ref Prl·s do {J·lt db· t . - I . ..... or ena a su st!-b~~aope (as sen as mal~re~ ed~or.reccionais (que, aU"ffi de penas de prisao englo-

• nas e suspens~o e IreJtos .politi.cos, penas de multa, penas de dtsterro e ate pen~s. de repreen.sao), 0 que nao delxa de levantar problemas dificeis coma se reEenra. . "

Nas not.as seguintes,.. trataremos s<'>mente da suhstitui~ao das medidas juridico­-penalS prevlstas no Coo. Penal, que actualm<-nte se distribuem "'"las se,,.,,int categonas : r-. b~ es

<I) - Penas maiores (art. 55.' do Cod. Penal); b) - Penas corre~c~onais (art. 56.0 do Cod. Penal); c) - Penas espeCIalS para empregados publicos (art. 57.' do COd. Penal); d) - Medidas de seguran~a (art. 70.0 do Cod. Penal).

4. Idem. B) - As pe!las maiores .

. As pen.as ~e prisao maior (n.o. 1.. a 5.' do art. 55.· do Coo. Penal), quando apl~caJas a mdlgenas, serao se:npre substituidas por penas de trabalhos publicO'S, pelo pefHxlo correspondente, acresCldo de urn ter,o da sua dura~ao.

Por sua propria natureza, a pena maior de suspensiio de dirtitos politicos por tempo de quinze ou vinte mos (as pen as fixas do n.O 6.· do art. 55.0 do Coo. Penal), e insusceptivel de se aplicar a indigenas, porque estes 050 gozam de direitos politicos em rela~ao as institui~Oes dos nao indigenas (art. 23.0 deste Est.). Mas como, por outro laJo, os indigenas podcm ser agentes das infrac~6es penais a que corresponde tal pena, deve substituir-se a pena de suspensao de direitos politicos pcb pena corree-cional inJicada no art. 90.0 do C6J. Penal e esta, por SU.i vez, por trabalho correccional, nos termos do § 1.° do art. 16.° da Ref. Pris. do lilt. Afastamo­-nos assim, decididamente, da solu~ao que comistiria em proceder directamente a (onversao da pena de suspensao de direitos politicos por igual tempo de trabalhos publicos mais urn te[(;o, como poderia rnult.lr de uma interpreta~iio demasiado lite-ral do § 1.0 do art. 16.0 da Rd. Pris. do Vlt. E isto, pelas f:lz6es seguintes:

1.0 - Procedendo directamente a conversao, n05 term os citados, cair-se-ia no absurdo do cominar uma pena dCeSJoria (n.ltureza que doutrinlriamente costuma atribuir-se a pena de susptnsao de direitos politicos que apenas nos .lpa.rece como pena principal no crime prc'visto no art. 2B·!.0 do C6J. Penal, insusctpcivel de sec pratiL·;hlo por inJigenas) mais grave, em certos casas, que a propria pc·nJ. prin.-ip .. !. Assim slICederia, por cxemplo, no crime previsto e punido pdo art. 16'.· do COd. Penal (tentdtiv.l de altera(ao da Canst. por meios ilkitos), cuja pena principal e a de prisao maior de oito a doze anos, 011 st"ja, para indigenas, a pena de tnbalhos publicos de dez anos e oito meses a dezasseis Jnus e cuja pena acessoria sena de mais vinte ou vinte e seis anos de trabalhos pUblicos (pais a condena<;ao por crimes contra a scguran(a do Estado acarreta a pena acess6ria de suspensl0 de direitos politiws - art. 175.· do COd. Penal- neste caso a pena do n.· 6.° do art. 55! do Cod. Penal: suspensao de dircitos politicos por tempo de quinze ou vinte ane>;;) ;

2.° - Acresce que a conversiio dircctJ iria alterM a tsed.!. das penas est;u'->el",iJas no art. 55.° do Co.!. Penal (ou seja, 3 sua gravidaJe re].Hi,·a), pass;mJo a Fna do n.O 6. 0

, em orelem de gravidade, para terceiro lugar. Or:l a Ref. Pris. do lIlt. estabelece urn regime de exccu~ao das renas diverso do que corresponde aos delinquente ni.o indi­gm,ls em ordem a obter um poder cominatorio adequ;ldo a personaJiJade do delin­qucnte indigena. Alterou 0 tipo de penas aplid.veis a indfgenas - mas nao a gravi­dade rclativa destas, ate porque essa gr.lviJ.lc!e relativa se projecta nas pr6pr.us normas incriminaJoras da parte geral do Co,1. Penal que, pelo l'rin.:ipi,) Ja .J.5simi­la~iio penal, sao comuns a indigenas e 050 indigenas. Ora a gravidade reiJ.tiva das

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46 ESTATl'TO DOS Il'\DiGENAS POR1_'l_iG_l_JE_S_'E_S _____ _

Arti,l;O 20,"

d, - ,lc' direitos politicos c, inciubitavdmcl1(c·, no sistema J() CoJ.

plnl' ~ ~u'r,-n,.ll' . C'd P '. ~ulta d" ,ubstitui"jo ordmada [lelo art. 90," do mesm(l o. A con-

l'l1 'l a qu~ r ,,' "", ' ':' J' .,. U· I'a, pOl'~ contraflar 0 art. 97." do Cod, P('flaL segundo 0 qual «a

VCfs..lO Ire, ,a " d d d" .' 1 I' das penas con<idera-sc em ~eraL segundo a or em e freee cnoa por

.f;ra\H. ll..t' ...., II '-0 .~

GUt' ycm enume-rad,ls nos arts, 55 .• 56. e 57. », , . '. Resta ladear llma dificuldade. 0 act. 90." do Cod. Penal refere a substltlllr;ao da

pena maior fixa de suspensao de dir::it<?s polit~c?s por l';nfe anOJ, nao mencionando a pena maior fixa de suspensao .de dueltos 'pO~ltJC~S por qUIIIZt? al1~;f. ,

Esta omissao tem a sua ongc-m na propna genese do art. 90. do Cod. Perull, o qual proveio da combina\ao das disposi!;oes d:! Nova Reforma Penal (Cuta de Lei de 14 de Junho de 1884) n>m 0 art. 7S." do Cod. Penal de 1852,

o art. 75.' do Cod. Penal, de 1852, dispunha sobre a substitui,ao da pena de perda de a'ireitos polillCOr (pen:! maior perpetua, art. 29,", n." 3." do COd. Penal de 1852) e da pena de ~iiJPeuJ'II. do exe,ic1cio de fodoJ ou al/!,ul1J de.rses dil'eitoJ (penJ. correccional, temporaria, artS. 30." e 40." do mesmo Cod.). Ora 0 art, 56." da Nc,\'a Reforma Penal aboliu a pena de perda de direitos politicos e substituiu-a pela pena fixa de suspensao de direitos politicos. Nao 'existia, portanto, na parte geral do C6d. Pen.11 outra peI1J. senao a de suspensao de direitos politicos por vinte .lnllS t por isso que 0 art. 90.° d0 COd. Penal de 1886 apenas se refere il substi­tui,ao dessa pena.

. Sucede porem que 0 art. 284." da Nova Reforma Penal ao punir 0 crime pre­"bta no mesmo artigo do Cod. Penal de 1852 substituiu a pena perpetua anterior­m~nt'." cOffilOada pda pena Je quinze: anos de suspensao de direitos politicos; isto e, cnou-se n,a parte especial uma pena nao prevista na parte geral. _ 0 ~od: Penal, de 18S6 obviou 0 if'.conveniente inscrevendo a pena de suspen­

sao de dUCltos poht:cos por ~uinze anos na parte geral. a par da pena de natureza paralela de suspen.sao por Vlnte anos. Simplesmente 0 lel!islador esqueceu-se de levarp a s,ua correcc;ao att 0 art. 90.°, qUl' continuou c~m a r~daccao da Nova Refor-rna ena. "

de 1~1; an n:~~ss~eo-Jac;aotdcl} art. .\75." pdo Dec.-Lei n." 36.387, de 1 de Julho , .. nao If'.la :lCl.illiadc- pnitica p . d - d

direitos politicos tinha nat d . '. OIS <jut: a pena e suspensao e arts. 155" e 158" do Co'oJ uprtza

l) e pena pnnClP. a. I (v. g. ant(rior redacc;ao dos

'. (·W' e: com J' , pn:\laa penade suspensao'por' ~.' 0 se 1~5e, so 0 art. 284.0 do Cod, Pe:nal d ' qumze an as por cflrn~ cu· (.. - I'

C1xar de gozar de direitos port'. Cf ~)o agente JUIZ) nao I"" t:na Alld,t(oer 40 Lit'fa Pri1lleiro d 1 CIC~~. ( p' neste sentldc) Abel Pueira do Vale, O' N 0 0'''1'0 flU I Porll '64 1 ' S{)no, otas tI(, Cfjdl{'.O Pella! 2' . I.]C ': ~f;/lez pag. 2 e Ccms. .UIS

f.pos a nova redacc;ao do 'an' ~~'i 0 ')23, pag. 310 do vol. I). 3'SWllern 0 cad.cter dt' pc-nas acess6ri' .. , as ptna; dt: suspensao de direitos politicos Llffiltamu-nos a considerar 0 pro bl- as, como ~e diSSe. Como 50lueionar a Jificuldade?

1 I 0 ema cOm re"'r· , . • U gamos qut' 0 jul~ador d'. _: d .... ao as pe~. apllClivei~ a ir.Jigena~; sao 1 d' . '.' ,-vcra (on cnar 0 . d' ' l.t lreltos politicos p<Jr tel)' j' In Igena .Jf7JI/Jre a pt:lla. de SUo,IX"O-

pen . ' . IpO 'C vlOte ana ( d rt ;\t~e~OrLa" uma pena maior); substitu' ,s d quan () for caso de .Lplicar. como

a . ~): , 0 Cod. Pena\. utili7anr!",se.1 ,~ra epOIS essa pena nus termas do .10 aphCJ.·la ("Ill b-" - . uo C"rader IOfl d . f b'" su ,tJtulc;ao, a graduar f. xo a pena corrf.'ccilmal VITa.

dim, su stltUI[" a pena correc(ional em un~alJ Ja culpa du delinquente. Pur () § 1 0 do art 16" d por pc oa de t . b II . , . , . , a RA. Pri,. do Ult. r.1 a 10 co rre((lIm:t1, nos krmos

S. Idem. C) - A~ })0 ,,11,l., cOrreccion;lis.

f,.ltc, d~ analisarmc, ;'ll.:i;' ui'e:r:.as ~. . . '0 proc~,o de sub·( l . - d (ar'b<' uma "£'u 1(:, quando aplicadas ., "nd; I UIl.:lO as p,nas UJrr,ctiOn,lis Has

- questao" , 1 1gen f utilizado lV.- d pf(~Vla, qual seja a de s~b as, a Igura-st'-110$ qu" c\t:ve (O!()-

z·v' uas vues no § 1" d er () exacto aleaoct: do aJ",rbl'o ('SLlnpr(:'» , , 0 art 16 0 d' .'"

, . a Rd. Pus. do L'lt. SU><.itando 0

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ESTATl. ru DOS INDIGEi'.AS POfl.n;Gl[ESES 47

Artip) 26,"

probLma na anota()o refeccntt' :'$ pen,)s (of]'t't(ion.!l'. ,)~,o prctcn.lc imulcar,se que .l solu(iio Ja duvida nao apm.cite t'lmilem as pmas rnaiore., ma, na n.:alidade. lUmo ~c vera, l: pcr,mtc ,':i penas 'orrco:ionais qut: asswnt malOr J( uidaJL

A qucstdo rode lolrKlc-se n()~ !;e,l:uintcs termo; :

a)--Ou () adverbio «scmpc(:» qun ,jgni(icJ.c que ",daJ a1 t'Jphie! de penas lorrelCio[],' is rdcridas no art. 56," do e6,: Penal deVtfll wnvt:rter-~t" na esp.:cie {mica de pena de trabalho CP[rclli()nal ;

b) _. Cll, difeecntement<-, padeni enteZJ,ler-Sl' que 0 le.,.i"Lhlf,r utiJizou 0 ad vir­bin «sempef:» para melhor accntuac 0 principio quc ,hamaremu., da ofi(ioJJJade na substitui(ao das pwas, isto e, que 0 julgador devcr';' substituir caja espeli<: de p~na' cacflxcionJi, (de sua natmelJ. Sl!bstituiveis, nth tnmo, a cLf([ir) <-111 t .. dos os casos concretos da sua apliw.:;iio. N. ,to' interpreta<;ao. a ofitioJid::d~ na suhstitui<;ao da<; penas contr:lpor-se-ia a urn principio de oporlllllidade Oil d/rcricionaried.Jd., segundo 0 qual se rocieri;l deixar a pondera(:io do julgador a falulddde de suhsti­tuir au niio as penas (orreccionais das diversas especie, por penas de; trabalho Ct'[I-cccional. segundo os casos concretos, orient.lndo-se 0 julgador por l1m prevlO juizo valorativo sobrt' a ("fid.eia cominat6ria das plnas correccionai, das dlVen.lS esperies, rderidas a determinado delinquente indih'-'OJ, concluindo pela nece»idade (lU di,peosabilidade Ja ((Jnversao,

No primeiro laso teriamos: «sempre» = t1TI t(>das as especies de Pl'11J'

wrr,,( cionais; 11:1 s('guncIa hipotese, surge·nos: «se;mpr::» = em loJo, 05 casos d<: aplt, ,Il.lO concreta de p,·n:ts eorreccionais substituiveis por sua prDpn" nall!rc-za por pena, de t;.lb:t1ho cocreclional. Alem, 0 adverbio reportar-se.ia a t-xkns~() das perus subotituidas, que seriam toda> as wfn:(lionais (e maillre") ; aqui, ('SCmpr,,), rdenr-se· .ia ,1 extensio d,lS conversoes dentm de' od,l lip.., J, l'Ln.,~ por Stu r..lturtLa (011-

vertiwis. Que pl'Osar du problema; Afastarll '-nos decididamentc da pcimei!'.l hipoteSt, pc-lJ simp/t.s ruJu de gut:

e h\ niumente impossivt/ sllbstituir, nos t~rmos indjeados pela Rd. PrJ,. Jo l :It., tOJ,IS as .e!>pecit:"s de pen as correccionais por penas de trabalho corren iLlna!. Lt:"mbre-11'05 que a pena de: repreellJ:io (n," 5." do art. 5(,." do Cod, P<:fl,!I) C: in,u<lt ptive/ de mensllea~iio temp()ra1 e, assim, impos,ivel se torna a eqlli\alencia apontad.l peb Ref. his. do Vlt.: «igll.tl lemt'{J dt:' tmbalho correcoonal"'» (an, J(,,"_ ~ 1 "\.

Scndo a.'lSim. paft'l,,-nOS legitim,) tirar duas (dndusii"s.

I," - A Rl·f, /'ris, do Vlt. niio unpoe a substItui';,i<) Je loa" < '" (,pellt'., de p,nas lIIlT,(cionai, pel.t plna de tr,lbalho rorre«ion:;1 A substilUi()n f,u-se-.i arenas, como e /tipd), qu,lllclo litolicamelllc pOHh·d. d:tndo a t'xpn:ssiio <:lastilid.td,· sufi­,it'nk para ~br'lOgt'r n:1 salv.lgL!ada 0, I'r6prios prindpios tecni,o·juriJi«)s do direito pl-nal 'Ide n:\n I" ,dtm ",-1' af(-rt.IJ<" pd'l ';uhstitUlf,:io d,lS pen.1' (orrelL-ionai, ~"r Pt'lU' de trab:rlho corre( ciona! :

2." --- Pur outrn ladn. tm (ad .• ,-,spe' h: dt" pULl (orrenH,nal '"l.! ,,"b,tltuj~i() '''i'' I"f nicnmen(, p""iv<-i. c:sta {dl'-Sc,,! tlTl tod,,) ('S (,1'(" de' ar11Ll\10 conCfl'U (prtlH il'll' d,l oficiosiJadr: da (ol1ver<io).

1st" a,sent<:, vc:jamos quai, .IS Pl'fl.", tureen'jun .• i, t:m qUl' ,1 ,ub.,utui(iiG pl)r 1'l'1l3S de: trabalho (Orrcllion,d (: lil fllt"mente pOS5ivel t: t"tn qlll- krnws ,;",v.:ra pnK(:ller-se a tal )Llb,titul<:~Il,

a) .-' A~ Plll;" «'rreccionai, dl: pn.,;io I: d,· mult,! (il."- J," e 4,') ",ra" ;.ubstJ' tlli,la~ pda p"n:1 dt' trabalho (rIffu lional por l,l.;u.d t(lnpo (eX(l-pto s.: a l11ulta r"u/t:U' de COfllrJve-n(f1t', - .d, not.l 9)_ A Ref. Pri,. do l'lt, par., ,rei!l)s de !'JUh.,tlll'l(ao, nlaI1,~~ agr;p"lf a p(.11~{ lonecllollal $C'ln (on~lI~JLJ Jt:linlitar d, tt.'rUl\)S de lJl "gea. ,~ii() -- ofefcu:ndo .• ls,il1l, m,line filMt.:em .10 (ul.C:Jdtl( pJr.! .l,!t·qU.u .! pl'na II I" rson.didade do ddinqllentc: inlligl'na.

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FSTATITTO DOS IND1GENAS PORTIJGUESES

b) - A pm.l de desterro (n." 2.· do art. 56.· do CbJ. Penal),. c~ ~ossa opiniiio, niio det'e JubstJluir-Je por pen .. de Ir.1b .. lho co1r,"-(J,mal. Talvez seJa util demorarm()­-nos na justifica';;in desta opiniao. porgue esta pena de desterro (como pena prin­(ipJ.l) C lIe aplica(J.o frequente a indigenas.

S.lDe-se que a pena de desterro 56 e prevista, nos preceitos incriminadores do 0:'<1. Penal, num unico caso: 0 art. 372.° desse C6digo. Dado que a pena a{ crrminada e a pena fixa de desterro por seis me~es, resultaria, quando aplicada a inciigenas, em pena tambem fixa de seis meses de trabalho correccionaJ. Continuando a pemar neste preceito incriminaJor, figuremos uma dupla hip6tese: se a of ens a corporal prevista no caso do art. 372." do Cod. Penal fOr a do n.· 3." do art. 360.·, a pena convertida seria, como se disse, a de seis meses de trabalho correccional; mas se urn indigena cometesse a mesma of ens a corporal do art. 360.°, n." 3.°, do C6d. Penal, com a atenua(iio prevista no carpo do art. 370.° desse Cadigo, a pena, por for(a do n.O 3." do mesmo artigo, poderia ser reduzida de tres dias a seis meses de trabalho correccional. Quer dizer: a mais forte das atenua~5es da culpabilidade prevista no nosso C6d. Penal- que em certos casos vai ate 11 pro­pria exclu~ao cia culpa-, a do art, 372.", seria relegada para urn plano de menor eficJ.cia que a atenuat;a.o, de vaIN menos relevante, do art. 370.° do mesmo Codigo. Ademais, a pena de desterro cominada no art. 372,0 do C6d, Penal ~ menos uma pena dirigida «contra» 0 agente (passe a expressao), do que urna medida desti­nada a mitigar 0 alarme social produzido pela ao;ao socialmente mais reprovavel do conjuge adiIltero, trazida ao primeiro plano da publicidade pela reac(ao do conjuge of en dido - alarme social esse que a presen~a do conjuge of end ida aviva e alastra, Dai, 0 seu afastamento for<;ado da comarca onde praticou a infraq;ao penal.

Se, paralelamente a estas considera<;oes, pensarmos que a pena (em sentido estrito) e car3.Cterizada pela proporcionalidade ao acto (Mezger, Tratado de Derecho Penal, 1949, vol. II, pag, 381 e segs.) ; que essa proporcionalidade resulta de urn juizo de reprova<;ao social que impende sobre 0 acto; que tais juizos de reprova<;ao­pelo principio da assimija,ao penal - constam dos preceitos incriminadores do c:.?d, Penal, nao prossc:guindo a Ref. Pris. do Ult., neste aspecto, outro fim que nan, SC:Ja. 0, d: alterar 0 modo de exeeu,ao das penas - poderemos bern dizer que a tecnlCa, JundlCa desaconselha a substitui<;:ao da pena de desterro pela de trabalho corrtcClOnal.

'! -1-- pena de suspensao temporaria de direitos politicos (n." 3,° do art. 56,0 do Cod. Penal), pelas consldera<;oes que ja tecemO$ a propo'sl't d 'd

I J -, . 0 a pena malOr e

natu.reza para t: a, nao nC:CE:sslta dE: ser estudada em part'c JAb . ,_ , ' I U ar. sua su stltUl<;:ao

proc:s~-se nos, !ermos .&1, asslOal~~05: substituir-se-a primeiramente a pena de sus-pen~o temporarla de dueltos politiCOS pela p'::na de p , - 'I C6d P _ I I ~ Clsao carrccClona (art. 90." do

, tna) e esta pe a pella de trabalho carrt-aiona!'

d) - Tambem ja pro:unimos demomtrar que a pena de repreenJ(~U nos oucos casos em que pode ser aplicada e insusc('pti vd d· b' '- ,p

. 'd d . 'f' ' ' e su stltuH;ao, Se a problema oferec~ CUT/OSI a e Clentl !Ca, raramente se colocara ! ' as chamadas «bagatelas penaiS» c na pratlCa, porque tal pena corresponde

que nao costumarn (xupar os tribunais,

6, Idem. D) - As penas aplicaveis a indigenas indis~iplinados. B,,>t'ada nllma orienta~ao essencialmente . . . ._

N'r \' ' reprtSSlva - onenta<;'lO fundarnentada, r':; vezes, na preva enoa que aSSumE: a Justira 'b' ' (CJ Prof. Silva Cunha 0 Sis/em p ", rNn utlva entre os povos indigenas 20 ,a orillgues de P Ii,' I d' ,

7) -, a Ref. Pris, do Ult. estabdeceu u '. () I eel fI Igena, 1953, pag-m Slstl'ma de agrava(ao espelial das,

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ESTATIJTO DOS INDfGENAS PORnTG{}ESES -------------------- 49

Artigo 26.·

penas maiores e correccionais quando aplicadas a delinquentes indigenas indisdpli­nadoJ (art. 10.· da Ref. Pris. do U1t.), isto e, indfgenas a quem eaiba qualquer das qualifica~6es juridicas aplicaveis a05 nao indfgenas de delinquentes de difjdl correo;ao (art. 67.· do COd. Penal), vauios e equiparados (art. 71.° do COd. Penal).

Tal sistema de agrava,ao consiste em considerar, em rela~iio a (ada caso con­creto de infrae,ao penal, a configura~ao caracterol6gica de de/mquenle indigenes illdir­rip/inado como circunstancia da pena, agravando-a quanto it dura,iio (pena normal­mente substituida, aerescida de metade da sua durac;ao), e quanto ao seu limite a quo (que nunea sera inferior a perla de trabalhos puhlico<; par dois ano<; e oito meses).

7. Idem. E) - As penas especiais para empregados publicos.

o C6d. Penal (art. 57.°) estabelece tres penas especiais para empregados pu­blicos: demissao, suspensao e censura.

Como nada obsta a que 0 indigena seja empregado piiblico -- e para ronfirmar esta afirma,ao basta reparar na redac,ao do § unico do art. 60.° deste Est.--, dado que a Ref. Pris. do Ult. apenas disp6e quanto a substitui~ao das penas maiores e correccionais -- deve entender-sc que as penas especiais para empregados piiblicos se aplicam a indigenas e nao indigenas nos rnesmos termos.

8, Idem. F) - As medidas de seguran~a.

Debate·se ainda na doutrina 0 problem:l da distin,ao entre pena5 e medidas de seguranc;a. Tradicionalrnente assenta-se a destrinc;a em que a p<:Ocl corresponde a uma ideia de justip e de repara,ao do m,1/ (aus.ulo e a medida de seguran,a a uma ideia de seguran,a e pre~'en,ao social. Scm neg"r 0 valor indiciario destes crite­rios, pode ponderar-se, todavia, que, se penas e medidas de seguranc;a sao arnbas especies do genera medidas jurldico-penais, a unidade do direito penal pressup5e que os fins que tckologicamente informam tais !lledidas sejam, a urn tempo, de justi(a e de seguran,a social, de retribui,ao e prtvt:n(ao dOl criminalidade. A n0550 ver, Mezger aprofundou melhor 0 problema, ao base.u a distin(iio entre as duas especies de medidas penais no prindpio de qUE' a pena e necess.i.riamente adequada e proporcionada a urn acto ilkito-penal (dogma do acto) ; a medida de seguran(a, mesmo quand" rderida tambcm a urn acto, nlo e proporcionada ao mesmo. mas sim ao agente, a sua personalidade, ao grau de perigosidade que revela, ,1 capaci­dade de corrigir-se (dogma do agentf'). -- Cf. Mezger, Tratado de Der".ho PmJ1. II, p,\g. 383.

Esta peqllt-nO! introdu(ao afigura-se-nos indispens.\vel para que pOSS.l compreender­-se a solu(je) da Rd. Pris. do Ult. pemnte 0 prohlema das medidas de seguranc;a aplicaveis a indigenas. Se pc·nsarmos na nahm~za juridica de tais rnedidas e nas caractedsticas d.l adrninistrJ(ao da justi,a a indlgenas, logo se discurtinam as princi­pais dificuldades: a mentalidade primitiva dos indigelilas so compreende e aceita uma ]ustic;a de tipo retrihutivo -- e as rnedidas de seguran(a, como vimos. assentam na prevaltneia da finalidade preventiva; it no,ao de Justic;a dos indigen.1S repugn.l admitir que ao mesmo LIdo ilicito mrrespondam penas de dura,lo diferente -- e a medida de segllran(a e essencialmente urna medida penal desligada da adequJc;ao e pruporcionalidade ao facto, porqut: toma t1n conti, predominantememe, 0 gnu de corregibilidade do agente.

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ESTATUTO DOS INTIiGENAS PORTIJGUESES

Artigo 26. 0

Peunte tais dificuldades, qual a solu<;ao aJoptada pela Ref. Pris. do Ult.? , _ ~,guiu-se 0 sistema de punir ,) conduta associaJ como rmu infrafao ~C£.

Prof. Adriano Moreir:t, Adm. d,1 JUJ/. aOJ Ind., pag. 193). pdo que as medldas dt seguranc;a Sf traosformam, para os indigenas, na ptna fixa de trabalho correccional de d:)is anos e oito meses (ultima parte do § 2.° do art. 16.

0 da Ref. Pris. do

Vlt.). Ao que se nos afigura. em rigor, nao pode falar-se na aplica<;ao de medidas de seguran,a a indigenas, mas sim em penas que cominam a ilicitude - peri gosidade do agente. Portanto, penas de segllran{a e nao medidas de seguran<;a.

C,'mo, todavia, n5.o existe ilicito penal onde faltac a cuJp,tbilidade, considerada csta como juizo de repro\'ac;5.o da ordem juridica que incide sobre 0 agente (Mez­ger. Tratado de Derecho Penal, vol. II, pags. 1-2; Prof. Cavaleiro de ferreira, Licon de Direilo Penal, 2." ed .. 1945, pag. 319), teremos que afastar da identifica­(ao perigosidade Cl"iminal = infraccao pentZ! uma situac;ao de facto a que corres­ponde, para os nao indigenas, uma medida de seguranc;a, alias de cacacter slii generis: a anomalia mental perigusci e respectivo intemamento em manicomio criminal (COd. Penal. art. 70.0, n.o l.0). E evidente que aos indigenas afectados de anomalia mental perigosa 5e aplic:mi tambem a medida de seguranc;a de intcrnamcnto em manic6mio criminal (Ref. Pris. do Vlt., § 5.°, aHnea b), do art. 9.°, conjugado com 0 § 2.0 do art. 3.° do mesmo diploma). e nao a pena de seguran<;a convertida nos te[m05 da ultima parte do § 2.0 do art. 16.0 da Ref. Pris. do VIt.

9. Idem. G) - Especialidades quanto as penas de multa por contra­ven~oes.

Importa, por fim, acentuar que 0 regime geral da substitui<;iio das penas cor-. reccionais aplicaveis a indige:1as sofre dt-svios perante a natureza' espe(ial das con­Irave71(Ues.

_ :t. sabido que 0 Cod. Penal vigente estabelece wna divisao bipartida das infrac-(oes em ("mes e contravenroes. Nao entraremos na discu5sao doutrinaria sobr nah - 'd t - . e a . l~r:za as .con ravenc;oes, .mas Importa lembrar que a estas se aplica urn regime JundlCo partICular, caractenzador que representa UITI des' • t' I d . f - " 1 ' VlO aeona gera a 111 racc:;ao, de resto aphcavel tamlX:m as contraven r 6es AIgu!ls t (Cf P f C 1 · d F . L' - .. .,.. au ores . ro. ava-elro e errelra, Ifoes de Dire/to Pellal 2." ed 1945 -' 17) d ,- d' "" pag. 0 apontam como uma as caractenstlcas esse regime especial 0 cham ad p' • . d I - , .

Importa ao nOS50 est d I' . I'.,. 0 rmcllilO (/ vb arao pO/1m/arid. . . u () ana Isar ta pnnoplO e tirar dele as • .

se proJectam no regllTIe da substituk~o das penas par' . d' consequenclas que P hi - , .' a 10 1genas. - "f 0 a(ao voz,mtarta entende-se a faculd d .

ven<;oes quando estas se)' am pun' . I a e confenda ao agente das contra-, lVCIS com mUla de se s bt . • b'I'd d

penal, pagando voluntariamente a mit. d d: . u ~alf. a responsa I I a e administrativo por um acto volunt' .u d

a, . tfgra a-se aSSlffi 0 tliClto penal em i1icito

ana 0 m factor. Ora bern : para que () principio da obi - , .

em rela~ao as infrao;6es contrav'~' . a.;ao. voluntana possa adquirir significado d

. ~ .. C1onaIS comettdas p . d' , ... . quan 0 a essas mfrac~6es correspond or m 1genas, e necessano que, pagamtnto volunt2ri0 e s6 na h' , a Pdena. de multa se Ih(~ faculte previamente () f Ipotese 0 mfracto . I' acu!dade a pena cit multa Ihe ser' . b . 'I r JOe 19"na se nao utilizar de tal

a su stttUl< a pela de t b II . E~ta soliJ~ao nao fon;a de d I . ' fa a 10 mrrCo'cClonaJ.

aa It,_f. Pm. do Ult que' an I~~ () a gum, as thsposi<;ocs lu,;aj·. <los §§ do art 16 0

refl:r{:m-~,e a ~ub~titul~ao das Ina ~dsal'Jmo, nou.tro lugar (cf. no~ 5). Essas dishf>~iC;(j~ . ,~ as penals c . 6' " r-

VUUbS, it obla~io volunt"ria degrada T'. ?ffi.ltlat rtas cle Iituto criminal e, como o I lelto cnmlnal em ilkilo admini~trativo.

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APlICA<;:AO NORMAL AOS INDiGENAS DAS PENAS MAJORES r-~----~ .. ~~m. ...... __ .... __ .m .... ~ ... ~~ ... ,~-=~ .......... __ ................................. ..

NAO INolGENAS

r Penes do C6digo de 1886

(abolidas)

(1)

- Prlsao rna i a r celular par 8 II nos seguldo de degredo par 20 anos, com prlsao no lugar do degredo ou sem ela. t

., - Degrcdo por 28 anos com prisao no lugar do degredo par 8 a 10 anos.

- Prisao m a lor eelular par 8 anos segulda de degredo par 12.

, - Degredo par 25 6nos.

,

_ Prisao mllior celulor par 6 a nos seguida

i, de degredo par 10.

- Degredo par 20 anos.

Penas segundo o Dec.-Lei n.' 39.688

(aclual.)

Prlsao moior de 20 II 24 anos

Prisao maior de 16 6 20 Ilnos

Prisao maior de 12 II 16 anos

Penlls subsliluldos

(2)

Trobolhos pu-blleos par 25 an as e 8 meses a 3'2 IInos

Trabalhos Pll-bllcos par 21 anOS e 4 meses a 26 6nos e 8 meses

Trabaihos pu­blicos par 16 onOS a 21 0 nOS e 4 meses

I

INOiGENAS

Atenua,1I0 especie'

(3)

Minimll:

Trllbalhos pli-blicos por 24 IInOS

MinIma,

T rabalhos pu-blicos po r 18 IInos e 8 meses

Minima,

Trobalhos p6-bllcos par 13 enos e 4 meses

At.nua~ilo exlreordinilria

(4)

SubSlltvl,eo par ums pena de tra-bel has p u-bllcos me-nos 9 fllVe

Idem

Idem

Agl'1lva~io extraorc!intn.

(5)

Trabeillos pu-bllcos par 40 a 48al>os

Trebalnos pu-blicos par 32 «140 anos

Treb61hes pu­bllces P Of 24 a 32lln05

1-___ '" -----,----11.----1----11----1------. -- I'rt560 m 6 lor celular

par 4 6 nos seguida Ii' de degredo par 8.

_ De!lr~d0 par 15 anos.

,_ Prisiio moior celular de 2 d 8 anos.

, _ Pris;:'o mol 0 r tempo­, ranB de 3 " 12 anos.

_ D .. gredo ternporarlo d" :j a 12 onOS.

Prisao malor de 8 a 12 anos

Prisiio mllior de 2 I! 8 ~nos

Trabalhos pu­bllcos po r 10 anos e 8 meses a 16 anos

Trabolhos pu­blicos po r 2 anos e 8 meses I! 10 IInos e 8 meses

Minimll:

Trabllihos pu­blicos par 8 anos

Idem

- Redu.;:iio ao minima de I ,,"0 e 4 me­ses de Irll­balhos pu­blicos

-Substllul~iio por peno de trab"lho co r recclo­nol

Trabalhos pu­bliCOS por 16 II 24 arros

Trab,,\"OS po­blic~s po r -4 II 16 anos

--,---I-----"-~I·---I-~~I Trabdlho cor-suspenS80

dos di ceitelS poillicos

Suspens80 dos dlreitos poli/ieos:

_ por 15 an os por 20 onos

-par 150005 por 20 Ilnos

reccional de 1 a :2 flnOS

(61

) (4) (~)" (6) - Vide paginJ ,cguilltc. (1). (2). (3, •

Trablllh,:, cor­recclon,,' "te 1 eno

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IN DIGENAS OAS PENAS CORRECCIONAIS

APlICA<;AO NORMAL AOS ,'-

:1 INOIGENAS

NAO INOIGENAS !I

I -I Agrava~80.

Penas segun.do penas Alenua~ao exlraordinlmll exlraordinari8

Pen •• do C6digo de 1886 o Dec.·Le, subsliluidas (4) (5)

(abolid.s) n. 39.688 (2)

(11 (.cluais)

,--_ Redu,iio. ao

mlnimo ,n·

Trabalho cor- dicado do Trabalhos pli-recclo n .:11 pen. de Ira- blicos por

Prlsiio de 3 de 3 dias " ba,ho cor- 2 anos e 8

Prisao ccrrece'onel de 3 dias Il 2 !lnOS d ia s " 2 2 anoS reccional meses enos

la 9 ravada J _ SubstilulC;iio

por desier-ro

I

I 1 Idem

Desterro Desterro Desterro

Trllbalho cor-Sus pensa.o reccional

Idem temporarla de dlrei/os pcii- tern porana de 3 diss II

SuspensaCl de direitos 1 8no licos pcliticos

(6)

Trablliho cor-reccional

(dem Mults Multa ate 1 ano

(7)

Repreensiio Repreensao Repreensao

(1) - Os termos da substjtui~io das penas decretadas no Cod. de 1886 pelas que Ihes correspondem na nova Iedac~io introouzida pelo Dec.·Lt. n,o 39.688, de 5 de Junho de 1954, estao cstabelecidos no art.° 129.° do COd. Penal, na redac~io do citado Dec.·Lei.

(2) - Nos t<rmr)s do f 1. 0 do art.O 16.0 da Reforma Prisianal do Vltramar. (3) - Nos termos do art.o 92.0 do Cod. Penal conjugado com a § 1.0 do art.O 16.0 da Reforma Prisional do

Ultramar.

(4) - Nos !ermos do art.' 94.v do COd. Penal conjugado com 0 1. 0 do art. 0 16. 0 da Reforma Prisional do UItUillJr.

(~) - Nos termos do § 2." do art.· 16.· da Reforma Prisional do Ultramar.

(6) - No, termos do art." 90. 0 du COd. Penal, aplic:ivel por for,a do art. 0 23. 0 do Est., e conjugado com 0 § 1.0

do art." 16.0 cia Refr,rma Prosion"l do UJtramar. (7) - $.[;0 (' prmcipio dOl. <lbla~1io v<lluntaria (vide nota 9 01.0 art.O 26.").

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SEC(';AO III

Das rela~oes de natureza prlvada

SUBSECC:AO I

Da op~Ao pel a lei comum e dos factos que Importam a aplica~ao desta

ARTIGO 27.0

(Direito de o~ao pela lei (omwn)

, E permitido aos indigenas optar pela lei comum em materia de relac;oes de familia, sucess5es, comercio e propriedade imobi­liaria.

§ linico. A opc;ii.o pode ser requerida pelo interessado ou aceite pelo juiz com limita<;ii.o a algumas das especies de relac;oes indica­das no corpo do artigo.

1. Legisla<;ao preterita. Confronto.

o Est. de 1929 nao previa a faculdade de op~ao pela lei comum dos indigenas, continuando como tais.

Contudo, 0 Dec. n.O 35.461, de 22 de Janeiro de 1946. veio permitir aos indIgenas que, sem perda dessa qualidade, pedissem a isen,ao J~ aplica«;ao do seu direito tradicional em materia de direitos de familia e sucersoes, quanJo alegJ.ssem e provassem que praticavam religiao incompativel com os USt)S l" costumes rriv.nivos da ra,a ou tribo a que os mesmos indigenas perkncessem.

Detl:rmina 0 art. 40. 0 do Dec. n.O 35.461 :

Art. 40. 0 Sao is.entos da aplicac;-ao do seu direito tradicional, em materia de direitos de familia e sucessoes, os indigena.s que, per.mte a .lutoridade administrativa competente para intervir nas rela\oes juridic.lS entre des, J.le­garem e provarem cjue praticam religiao incompativel, pclos SellS prind­rios morais, com os usos e costumes privativos da ra~ ou tribo a. que os ~ mos indfgenas pertencerem.

§ unico - Dcsta aleg.l<;ao e pro\'a l.lvrar-se-a tenno, de que secio pas­sadas capias autenticas que forem pedidas.

A regra do novo Est. e, asssim, mais va,ta quanto ao objecte) dJ. isen.;io (in~lui tambem 0 comercio c a propried.,de imobiliariJ) e <juJ.n\() ao fundamento do pediJo. que nao restringe a motivos de i/lcompatibilidade rdigiosa.

2. Os estatutos mistos.

A opc;ao peb lei comum - em tlXIa., ou algumas das ~eI;l(0<"S m~(~onJ.d.b no corpo do .U"t. 27" - dctermina uma esp&ie d<· <JUlulV mma PJ.!".l lnJl<:c:nJS qut!

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Artj~o 27'-

. ' . . . '.' sta para arlicac;ao das leis C?ffiUnS fa adqulflram JdmltIv.ur.C-ntc a (nn':Juta pressupo, E) as nao ppsswlm aInda a

I - . 1_ " t "S ° deste 'st m' I' ~ que re}::ulJ.m ,1S re :1<;oe5 rdenuas ,ar, -,",' ',' p'ra a i"Jegral ap Icac;ao ilu~tr,,,;a() e l'S habitp, individoais e SOCIalS pressupos,os "aO )

do Jireito publico e pr;Y;ld" dos cidaJ:ios portugueses (,lrt, -' .

.• . d art 40 0 do Decreto j, A questao da rc:VOh>"a\,dO on sobrevlvcnCla 0 . •

n.O 35.461.

" . deva considerar-se revo-As consIJer:l~6es da nota 1 nao Imphcam, parem, que .

~do 0 art_ 40 .. do Dec n,O 35.461, ror dois motivos :

1.0 _ Porque e principio interprctativo assente que a lei /feral nao revogal

a lei especial anterior, Tal revoga<;ao s6 se veri fica quando uma lei geral ve;n re~f·ar totJlmcnte urn instituto contid'O em lei e=\pccial anterior, hip6tese que se nao yen Ica

no caso presente ; 2.0 -=- Porque, se e certo que ambos iazem apiica<;ao do principi.o da op<;ao

voluntaria pela lei comum, a motivac;ao da Op,3.0 do art. 4O:o ,~ espeClflca, como se disse, isto e, 56 se reporta .10 caso de incompatibilidade de rehglao.

5endo assim, os indigc1iJS que pratiquem religiao incompativel, pelos seus principios morais, com os seus usos e costumes tradicionais, indepedentemente do processo reguiado no art. 28." deste Est. e da prova de que adoptaram com cadcter definitivo a conduta pressuposta para aplicac;-ao das leis comuns em materia de direi­tos de familia e sucessoes, podem, nestas materias, requerer a isen<;ao de aplica<;ao do seu direito tradicional, bastando que provem a pnitica da religiao mencionada (an, 40,0 do Dec. n." 35.461).

E. assim, 0 indigtna que tenha optado pela lei comum em materia de direitos de fami!i:;, nos termos do art. 27." do Est., tanto podera celebrar casamento pura­mente CIVt!, como casamento can6nico, ao passo que 0 indigena que tenha optado nos termos do art. 40." do Dec. n,O 35.461 sO poder:i celebrar casamento canonico nos term os regulados no art. 3D." deste Est. e arts. 23." e segs. do Dec. n.o 35.461:

_ (No sentido defendido no texto, Prof. Silva Cunha nas suas Ii<;oes orais COffi-

p~ladas por A. ~erra Lopes e M. Cortc-s Rosa in Adminislrar{;o e Direito Colonial ~sboa, 1955, pags. 467-468 ; contra, Prof. Adriano Moreira Adm. da JIISt aos I d' pag, 119, nota). ,. 11 .,

4. A ops-ao pda lei comum.

Como regra, os indigenas regem-se pel os seus u~s e cos podem optar pela lei comum nas materias enumera(la< no co tum

d es (art. 3.") ; mas

... cpo este art. 27."

" E ,. d " ' specle e ops-ao pela lei comum.

A (>~ao regulada no presente artigo pode cl 'f' asSI lCar-se : a) - Quanta ao objecto:

J} - Op(ao, geral- Se 0 indigena rc~uer eo' , a totahdad,C das relac;oes J' uridic Jlll2 defere a opc;ao para

')}' 0 -, as enumeradas n d' ~ - NtJo espeC/al- Se 0 indl'g'~a • 0 corpo 0 artIgo' " J ". so reguer a - ' 0'-" a gumas das rtIa<;iies juridicas ef 'd ' op<;ao quanto a alguma par' too ' . r en as ou m " as, 0 IUIZ ~6 defere a opc;- ,esmo requerenJo dessas rtlac;oes, ou ainda na hip6tes~od~uanto a alguma ou algumas rosamente nlo pOOe falar-se em OPrao}. art. 29.

0

(caso em que rigo-

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_____ ..:.::.c..:.::~f'AT_! ~~~ ~~ ___ IND_~~ENAS PORl1JG_,U_E_SE_-S ____ --.:..~.:..~

Artigo 27.·

b) - Qll.m/o a illlcialiva:

Como Sf: .oi.sse ~m not,a ~ 1 ao 3.", 0 E,t. actual pc>!>slbilita aos indfgenas estabe­leeerem, por JnICJatIva propna, a medtda oa apli(3(ao dus S{'Us usos c costumes, optanoo pela b mmum em alguma ou algumas da~ mathias enumeradas ne'te art. 27.0 Essa espfcie oe op<;-ao e St:mpre t dun/at'ia. J

Mas poJem as autoriJades, ope ie!;ix, determinar 'lue ncr.; aJ;lomerados refe-ndos no art. 22." deste Est., as relac;oes comerciais (-rItre inJigena~ e entre (-stes e os nao indigenas sejam regulados excJusivamente pda lei comum. Nao se trata entio duma o~r~o. (que supoe voluntariedade). mas de uma verdaJeira mtdida ltmitativa da efICaCla normattva 0 dos usos e cost~mes tradicionais, disti,nta cia figura juridica regu­lada neste art. 27. , emf-x)ra de efettos de certo modo analcgoo.

6. Processo de opC;iio voluntaria.

Cf. art. 2R. 0

ARTIGO 28."

(Proctsso de op<;?o pda lei comwn)

A op\ao sera. feita perante 0 juiz municipal da residencia do interessado, e s6 devera ~er aceite dtpois de 0 juiz se ter certifi­cado, pela abonac;ao de dois cidadaos id6neos e outras diligencias que julgue necessarias, de que 0 requerente adcptou, com cadcter definitivo, a conduta pressuposta para a aplrca~&o dessas leis.

§ unico. Da aceitac;ao da opc;ao sera lavrado termo, de que serao passadas as capias autenticas pedidas.

Proccsso de opc;ao.

1," Fait!: R~~ut:fimc-nto verbal:

Nao obstante.' 0 § unico do art. 27.° utilizar J. expre;s.lo ,m'queridaJ>, repo£­tando-se a op<;ao, nao pareee curial exigir-se ao indi;;ena a elabora<:;.lo de urn P,/[1IIt'­

rime)/Io eJoito. Dc\(- antes aplicar-se, por analogia. a doutrina do n.· 1.0 do at. 40.~ destt: Est. to do n." 1." do art. IS." do Est. dos J. M. e considenr-se que a ~io sera solicitad.l por requl:fimento vlCrbal, reduzido a auto e wnfirmado pera.'1te 0 iuiz-

o requerenk deve oferecer a abonac;ao a que 5{' rcfete {) corpo do .ill. 2;:-.'

2," Fase: Verifil.l(iio :

Visa indagar se 0 indigena adoptou com caractef definitivQ as condic;.5fS pres­supostas para a aplica~iio das normas da lei l-omunl que tt.'guJam as l:u!e:ias em ql!l: prett nde a op<;ao.

A verifi(.l~ao pro.:essa-sc atr:lVes das seguimL~ diligen.:ias:

a) - AbonJt;ao de dois cidadaos id6neos (Jiligencu obrigatOria) ; h) - Outras oiligencias facult.ltivas.

Tem-,c sustentado que a idonliLl.'.de t"xigida no corpo dl\ .ut. 28.' e a ciciadunU originiria ; porque a ki nao distinguc-, WinOS' tociavia de opinao ~ a iJnod~adl: ~ sec da livre aprecia(iio do juiz, podeodo este ;Ileitar L~Xl1() tJL)n<.'\.'s <,~adJ.os aiaU que nao nri~in,\rio~ e, im-crsammte julgar nat) idt)neos "iJaJ:i,~ l'L'lgm~los..

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pORTIJGUESES IX)S Il'.'1)IGENAS

ESTATIrTO ~---------

1'">-. . • • for proferida sera 3· F ,r,': J.-"."(I~O: .' Se a op,ao did 1 . d' - ',.,wferida poc despacho dOdlUlZ~< copias autenticas pe as pe 0

}.. e(1s.lLl", . . seriio passa as ~ lavrado tt-rmLl l § lintel», de que intert'5""dO,

ARTIGO 29.0

, os destribalizados) I . d.t let corouID a (Casos de aplica(ao exc \lSlva

. . ill lorna legislativo que nos agIo-Podera ser deterrrunado por P d' 1 IDa as rela<;oes comer-

t ' 22 0 deste Ip 0 . merados referidos no ar 190. t e nao-indigenas seJam

h b't tes ou entre es es ciais entre os seus a 1 an . e pelos usos correntes exdusivamente reguladas pela leI comum do comercio.

YJ. JIlota<;oes aos arts. 22." e 27"

ARTIGO 30.0

. . d' Liberdade de escolha (Casamento cm6mco entre ~ .I~enas. . de roarido e proibl<;ao do !e\lrato)

Os indigenas baptizados podem celebrar 0 casame~to no~ ~er­mos das leis canonicas perante os ministros da IgreJa Catoltca, desde que retinam as condi~6es exigidas pela lei civil. . _

§ 1.0 A mulher indigena e livre na escolha do mando, nao sendo reconhecidos quaisquer costumes que se oponham a essa liberdade ou segundo os quais a mulher ou os filhos devam con­siderar-se perten<;a de parentes do marido ou pai quando este falecer. I

§ 2.° 0 clisamento celebrado entre indigenas nos termos das leis can6nicas produzira na ordem civil todos os efeitos de natu­reza pessoal respeitantes quer ao conjuge, quer aos filhos, mas 50 esses, pe10 mero facto de na delegacia do registo civil ser lavrado o respectivo assento, que substituira a transcrit;ao.

§ 3." A celebra~ao do matrimonic segundo 0 rito cat61ico e de aconlo c0r.n .:5 Iei~ canonicas, mesmo com dispensa do impedi­m~to .da relIglao ~lsta ou de disparidade de cui to, importara a renunCla por pa~te de ambos os nub(:!ltcs a potigamia e aos usos e costume) CC)nlranos ao casamento canonico.

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EST A 11JTO DOS 11'.'D1GENAS POR11JGUESES -------------- -- -

Artigo 30."

1. Quem pode celebrar casamento canonico.

_ Pod em celebrar casamento can6ni(O (nao se estranhe termos utilizado a expreS­sao «~elebrar casamento» em vez de «contrair casamento», porque, no casamento can6fl1co, os nubentes sao ministros, islo e, sao des proprios que se confer em 0

sacramento do matrim6nio) 05 indigenas que:

a) - Tenham optado pela lei comum em materia de direitos de familia nos termos dos arts. 27." e 28.' deste Est. e reunam as condi~Oes exigidas pela lei civil (art. 30.°) ;

b) - Tenham optado pda lei comum nos termos e nos limitl'S do art_ 40.· do Dec. n.O 35.461 e reunam as condi<;oes exigidas pelos arts. 27." e 28." do mesmo Dec. ;

c) - Mesmo sem terem optado pela lei com urn, se forem baptizados e reunirem as condi<;oes exigidas pda lei civil.

2. C:0~o deve interpretar-se a expressao «condi~5es exigidas pela lei cIvIl».

As condi<;oes exigidas pela lei civil para celebra~ao do casamento can6nico entre indigenas sao as mencionadas no Dec. n." 35.461, nos arts. 27." e 28.', porque esse diploma constitui a lei civil reguladora do casamento canonico entre indIgenas. Se 0

legislador pretend esse reportar-se as condi<;5es exigidas aos nao indigenas remeteria para a lei romllm e nao para a lei civil.

3. Celebrac;ao do casamento canonico.

A celebra<;ao do casamento canonico entre indIgenas e hoje regulada pelo Dec. n." 35.461, arts. 23.0 e seguintes.

4. Liberdade de escolha de marido e proibic;iio do levirato.

o § 1.0 reproduz a doutrina do art. 42." do Dec. n.O 35.461. Recentemente, em 4 de Setembro de 1 Y56, nJ. 24.' sessa0 da Conferencia de

Plenipotenciarios para a elabora<;ao duma Conven~ao Suplementar relativJ. it aboli<;ao da escravalura, do trMego de esaavos e das instituic;iies e pdticas an.ilogas a escra­vatura, cia O. N. U., aprovou-se uma COIlJ't'llr.'io SupJementar relativa aos mesmos assuntos em que no art. 1.0, alinea c), se consiJera como pritica analoga a eSL-rava­tura, <doda a institui(ao ou pdtica em virtude das quais:

1- uma mulher e, scm que tenha 0 direito de recusar, promctiJa ou dada em casamento mediante a entrega de dinheiro ou de generos, feit.l em contrapartida a seus pais, ao seu tutor, 11. sua familia ou a qualqucr outra pt:550a ou qualquer outro

grupo de pessoJ.s ; , . _ • .' II _ 0 marido de uma mulher, a famtha ou eha deste, ttom 0 duelto de il

ceder" um terceiro, a titulo oner050 ou de qualquer outra ll1aneira; HI __ a mulher pocle, por morte do seu n1.lrido, ser tra.nsmitid.i :l outr.:!. p~"0tllt.

Ainda segundo 0 projccto aprovado, no intuito de pOr fim js institui;;;:,"" e pr:lticas "nterionnente prl'vi~tas, os Est.ados (Ontr'lt.ante~ compromder-St'-IJ .. !l1 ~ .l • «~~xlr, oncle houver lugar a 1550, lel.leks mimmas apropnad:ls p.J.ra 0 casan:ento• - dd~l~ o recurso a um pnxesso que pcrmita a urn ou a outro de)' futuros Cl'n!U~<:s t'xpnmrr Iivn:mcnte 0 seu consentimellto ao Cas.lmento em presen(J. de uJ11.l .IGh'nJ<l1ie Cl"\oil Oll rt'ligiosa cornpetente e a facilitar 0 l't'gisto dos cas.lnK'iltos».

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ESTA'llITO IYh I'\lD?GENAS PORTI.rGU.'_E_S_E_S _____ _ ---- ~-------

_"'-rugo 30.-

~ d' '- d C - S pi t -'~pktam as da Convenl:ao sobre .n.S lsptlSl(OeS est;! ~nr'~l1rao U fmCII ,,'r u.... -' - P f Escrayatura, 25 de Setl'mbro de 1926 (Cf. estudo desta cunven(ao ~m: -, co , Marcdlo Caetano. Porth,r:,d e 0 Dir('ilo C%ni.:! lrz:t'fI:.<oc)r:.tl. 1948. pags. 1,0 e S<',c:s; Prof. Slh'a Cunha. 0 Trabalbo Indif!,t"na, 2,- cd" 195'), r.l,l;'· ~6 e segs,) ; a..~ ~id3S Jegislativ3.s preconizad:ls e 3consdhadas aOs Estados contrJt.lOtc;; e~ns; t.l\:lm dJ JepsJa(ao intcrna PO~U:~Uf:~J com,., mtfis de dez anOJ de an~eClp'l~ao .

(Podt- ver-se 0 Projecto de ConVL"fl(3.0 de 4 de Sctcmbro de 1956 pubhcado lO~e­g:almt1lte em 0 Direilo, anD 88 .... fasdculo 4.", 1956. pags. 349 e segs, na secl:ao «Factos & Docurnentos»)_

". Efeitos do casamento canonico.

o § 2.° restring(: aos eteitos eivis de natureza pessoal. respeitante ao con­Juge e :105 filhos (mas sO esses) a re;.:.rJ., mais vasta. do art. 24.° do Dcc. n.o 35.461, ~>Elo qual tais easamt1ltos pr';--:clziriam todos os deilos avis e n:lo 56 os de natureza pt'JSoal.

A restri~ao e justifidvel. Podendo, pela ampla regra do art. 30.°. cdebrar casamento can6nico mesmo os iflJ;,~enas que nao optaram pela lei comwn na genera­lidade das materias do direito de tamfiia, as relal:oes patrimoniais emerge-ntes desses casa:nc-rltos continuarao a regular-se pelo direito consuetudinirio, salvo posterior op~ao, nos termos do art. r:," deste Est.

6, Presum;ao de renuncia it poligamia.

A presun~ao «juris et de jure» - que, portanto, nao podera ser ilidida por prova em contracio - do § 3.0 deste artigo reproduz a doutrina do art. 41.0 do Dec n.· 35.461.

ARTIGO 31.0

(DJreito de propriedade sobre m6veis)

o direito de propriedade sobre coisas moveis e reconhecido e protegido, nos termos gerais de direito.

1. Legisla~ao preterita. Confrc,nto.

,0 co~teudo do presente artigo e uma inovacao d a!jlll uma Imporlante excepc;iio it n:gra do co d' o. Est. actual. Estubelece-se g'O'p.2S se ,re-gem, em prindpio, pelos usos e cos:!~es ° ~rt~. 3. 'd segundo ~ qual os indi-

Ass:m, ol)e it-gis, e para alem da fa.cuJJade Se p IC:S as resp~ctJvas sociedades. em rela(ao a outras materias 0 direito d . -J op<:ao co.need'da pdo art. 27. 0

sobre coisas mobiliarias. co~o veremos e proPfIt 4ade sobre COlsas move-is (e tambem s btr • d - d' , J' d .. na nota a este- art go) . d f' . , u al 0 a Isnp lfIa 0 dHUlo consuetudinari d fee Iml:Jvamente

0, passan 0 a regular-se pela lei comum

2_ Direitos reais. Direito de Propri dad C . . coisas. e e. oncelto e especie de

. Para que se possa interprctar CO[[('ctament • ~~dar algumas nO(0(,5 COrrenks de direito e/ .~on.te~~o de~te art. 31. 0 e mister .. ce e SJg;uflCadO dos termos utilizados da t l

, 10 lspensaveis para definir 0 DJZ-se a,rt:Jlo real (jus in l'e) 0 q P f el.

ue con tre ao seu tit J u ar urn poder directo e

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_ EST AniTO OOS INDfGENAS P --__ ORTIrGUESES

Arti~ ~ 1. 6

imediato sobre uma £"Oi fa Cl"rta c: de . , FNlI~dme"lajJ do DlretlO Civil vnlt~lOa~a (Cf. ~rof. )o<A;' Tavuef, 0, Prinripiol No[oer FUl1damelllaiJ de Dire; C', ," 2, ed" Pllt;. 2g~ to Prof. Antunes Varela,

o direito real m:lxlmo I r) ._/1'1.' vol., 2:'" 19~O. pi,!:, 1). de pro/"It!r.Lzde, isto e, (10 ix~~~I<IISU caractl"f1'ttco, compioo e importante e 0 direi/a quef, titulo lep;itimo sUJeitou ao ~(~ ~ 0 ~(lmem. tern ~ohre a, COusas, qUI; por qual­e d15por como Ih~ aprQU d OffitnlO exduSlvo, ( de qUC' J>()f(anto pode usar (Prof. Jo~e Tavares, op. cit~e~.;.::~:,~~ )dos limites impu,tos pda orJtm juridica»

Seg~l1ndo atn,h a doutrina tradic' I . , , . uma calIa isto e ludo looa, 0 obletto dum thrc1l(' real e Stmpte art. 369." 'do' Cod' C 'I 0 que t<lrece dc' personalidade (scntido' Jalo do termo leenico) (0. Jose' T IVI ) e qut' ,pode "set ob)e<.to de dinitos e obrif;a~i'ies (sentid~

T d avares, op. Cit, 2. vo\., 1 ns pag, 248) oman 0 em conslJen<;ao as pr6p . I'd j d '

de varia.> classificac;oes q'uer I',' nas ~Ia I ~ ~s as (oiras~ e'.\tas '~1<.. susceptiveis aqui a c1assifita(ao ro:nanista t'gats quer outnnal', uas qual" so interessa referir coisas saO move]'; ou im6vt-is;ut: nos surge no art. ;7},I~ do Cixl. Civil- .,As naturalistico). . consoante poJem Oll n.l.) ,lc')locar-o;e (criterio

I MJ.~ ~ara alem cia fundamt:nr~<;ao natur.IHstica ciesta primeira distUltio a canc,e Jund~co ?a classifica<;iio. e "7a,is vasto, porque os arts. 374.", 375'.· e 376.~ do COd. CIVIl dtstInguem depots varlas especies de i",ot'eiJ e de ",ot"is. Assim;

a) - Os im6veis podem ser :

1) - Par natureza (conct'ito naturalistico impliClto nl' 37~ 0 J COd C

· art. J. 0 . Ivil e expresso no art. 374,") ;

2) - Por acc;ao do homem (art. 374." do COJ. Civil) , 3) - Par disposil;J,O da lei (art. 375." Jo Cod. Civil). '

b) - Os tnrj/".'Ir poJem Sf:!:

1) - Par natureza (art. 376." do COd. Civil e aincia art, 373.°) . 2) - Por disposic;ao da lei (art. 376." do Cbd. Civtl). •

Contudo, 0 nosso COd. Civil, depoi.; de utilizar nos artigos citados urn ConCc1tO ampJo dos termos movd e im6vel, consagrou·lhes um conceito reslrito, ao declarar. no art. 377." que, como dl'llltnto sistematiuj d" inlt'rpn1a<;iio, quando a lei se refere a move! ou imovel Sffil outra qualifical,iio, quer significar "reUJ U coisas ou bens que a sao por natureza (criteria naturalistico), n><;cr','l1lJo as expre>s5es colrm imobiii,iriaJ C cl.JiJar mobilidri'lf 0 significado de abrangerem t.mto as coisas imtiveis e m6veis por natureza, (omo as que 0 sao por a(~ao do homem (categori:a. excIusiva das coisas imobili.iri,l,) ou por disposi~ao da lei.

Recordando 0 qUt sao moveis t' im6vcis l' 0 que sao mobiliarjos e irnobili.irio" tercmos elementos P,lf,1 discutir 0 akance c 0 entendilllr:nto que deva atribuir-se .i ('xpressao (Icoisas nH)vf'i~», utilizaJa neste art. 31." do Est, (vJ. nota 4). Antes, porem, procurt'tnos escIart'Cer 0 proprio significado geral da regc:! (l>(lUda neste artigo.

3. Interpreta~ao sistematIca da expressao «reconhecido e protegido nos termos gerais de direito».

Confff1!ltando a expressJ,o utilizada Ill'ste ,migo - ~O Jlrcito de pruprie.itcie ... C! leconhecitiu e /Jrutegido, I/U! It:rmOJ gerJi, JI! dirertlJ» - com out~as. disp05i~Oes. deste Est. em que 0 lcgisladt)f wnfere a lei cornum 0 poJer de dlsclpluur determmadas rela(Ues juridicas (v. g., :trt. 27.°, 2~.· 37.°, 4.,."), vert1t1os que, enquanto o<.:re5 artigos se utiliza a exprcssau «pela leI comum)~, ao P:lSSO qu~ 0 ut. 31.° se rden: a «(termos gerais de dircito», ConSlderando esta dlfen.!1(J como mtmclOo.l.I, e pemanda

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60

Artigo 31.°

h · to do direito consuetu-. '. .b. e 0 reCon eomen 0 3 0) q~ena tecIllca g=t1 deste" Est. se c~Jn:( c ~pr la lei (cf. notas ao art. :'

dlnarJ" do,; mdigen.ls com os hmJtes Impostos r;. d propricdad~ sobre colsas po..kria conduir·se qUe" 0 art. 31.· ao r<'Conhecef 0 HC'ltO te mes gentilicos, enquanto

abel , . . . . - dos usos e COS u . imt'J\'eis est e<:eca urn Jmlle a acelta<;ao 'd . ridico das normas con-nc·.;as,.em tal direito de propriedade. Quer dizer. : 0 cont~ 0 I~veis n50 seria afastado '. I d· . d edade 5(>ore mo . •. 5u<'!udinan:s que regu avam 0 ~reIto. e I?ropn . ii desse direito, em pn~ClplO.

enqlllIlto nao of end esse a pr6pna aceltao;~o e ~rotc't<; oJ) d direito de propnedade SO 0 (,re.:onheeimento» e a «protee~ao» (IDC~USIVe Jen~ (0 nao nos termos da lei sobre m6veis se processaria n~s tecmos genus de d Ir&t~eit: costumeiro, continuaria comum) ; a sua regulamenlafao, se fora obJecto e nos moldes tradicionais .

.Mas nao e assim. . I Est rejeita in limine Vma interprcta<;ao sistematica dos prt"CeJ~o.s do actua - p~la lei com urn na h·' C f . 27· pernlltmdo a op(ao , . esta lpotese. om e elto, 0 an. . , _.. materias susceptlvels

genecalidade das cda<;oes jucfdico-privadas nao wclUI :n.tr.~ a~ so pode concluir-se de serern objecto dessa op,ao a propnedade, sobre m~~e1.. ulamenta(aO geral e que omitiu tal materia porque a submetera Ja, ope legIS, a reg

exclusiva da lei comum. .. devera entender-se com Portanto, a expressao «nos termos gerais. de dlrelto»

o significado mais preciso de <tnos tamos da k'l comum».

4. Interpreta .. ao eJ..1:ensiva da expressao «coisas moveis».

Assente 0 significado geral da regra contida neste art. 31.°, resta-nos ainda resolver 0 problema da sua extensao. .

Como se disse 0 COd. Gvil fomeee-nos no art. 377.°, urn elemento de 1Oter­preta.;:ao sistetruitic;, ao deIinir a signifiea(a~ das palavras movel e imovel, quando desacompanhadas de qualquer qualificativo. Os arts. 35.° e segs. do Est. regu­lam a materia referente aos direitos sobre coisas imobiliarias (logo, incluindo as im6veis por natureza, por ac~ao do homem e por disposi~ao da lei) ; 0 art. 31.' refere-se apenas a coisas moveis - que pensar, pois, da regulamentac;ao dos bens mOveis por disposi~ao da lei, ou seja, de todos os direitos nao compreendidos em on." 2." do art. 375." do Cod. Civil (ex vi do art. 376.° do mesmo COd.) ?

o Prof. Adriano Moreira ensina que a lei e susceptive! duma dupla inter­preta~ao :

a) - Ou se pretendeu estabelecer a regra de que os bens m6veis por detenni­na<;ao cia Jei sc mantem sob 0 regime do direito tradieional ;

.h) - Ou se ad~it~ que a lei disse menos do que pretendia (mirltlJ dixit l/flam r(J/urt) , devendo, polS, Iflterpretar-se extensivamente 0 art. 31.°, par forma a atribuir it palavra mot·el 0 significado de mobiliario.

~ Em favor. da segund:: intefJ?reta~a?, 0 Prof. Adriano Mortira lembra que a 01'(30 .., ~Ia leI cornum n~o. esta ~rev:sta em rela,;j.o aos bens mobilidrioJ (d, art. 2: ); ,donde, a .admltlr a pnme!ra, hipotese de interpreta~ao do art. 31.0, :L'Sl.i!tarlJ t"Ste verJ~d~lro. absur~o: a Incitgcna estaria inJubitavclmmte submetido a It::! COIDt;JT) em rela,ao a propnedadt sobre movds . poJeril ()ptar pela I,·

.. d . d d . b··'· ' (! comum em matena 7 propneda .e Ilno Jilana (art. 27.°) - mas, paradoxalmente continua-n .. sempre SllJelto an Iretta conSUttudlnario quanto a prOI)fl·'··'aJ'· b 'b·I·'·

~ d .. . cU c so re mo I laClDS enqtianto nao a qUlfJ"C: 0 estatuto da cidadania Dev(: pois t·b· . I • ,. d t u .. f· .', a f1 uu-se a pa a vra

tr.~:'elJ usa d 00 art. 3 . 0 ~lgnI Icado leg:d consagrado para a x - b 1.' . pdo C6d. Civil (CE. Prof. Adri;rno Moreira L:I prop,ihJ dl J Ie ppressao mOdi larlOS M P . d I ' ,{ n es ro'vlncl'S 'Of lIre­

- tr. ,orluJ;JlJeJ, apu Verr tl l'rrI1lioll'JIl de /'1!co7lomie I7Idi (me C dli <..O!llilj;U CrJlomai JU,. 1'P.conomil1 Indigine ed do I t"t gd ' ~omp:e Relidll cia. Univt-rsidade Livr!:" de BruxeJas, 1956, pag. 404). ns I uta e SOClologla Solvay

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_____ Es·r AniTO oos INDfGENAS PORllJGlJESES 61 -- ---- _._- ~-----~----. ._-----

SUBSECCAO II

Do trabalho dos Indigenas

ARTIGO 32.0

(Proibi~ao do trabalho compelido)

o Fstado procurara fazc:r reconhecer pelo indigena que ° tra­balho constitui elemento indispens:LVel de progresso, mas as auto­ridades s6 podem impor ° trabalho nos casos espedficamente pre­vistos na lei.

1. 0 trabalho dos indigenas. Importfmcia do problema.

Qualquer no(ao de coloniza!;ao nos conduzid, i, ideia de que tsta representa urn esforc;o particularmente intenso de transjormarao e aper/ei[oamen/O: procw:a-se acmar sobre 0 elemento humano e sobre 0 meio fisico no sentido de valorizar ambos, introduzindo a civilizac;ao e 0 progresso numa evoluc;ao harmonica e paralela,

Nas provincias portuguesas do continente africano - e, de uma maneira geral, em tocla a Africa ao sui do Saara - 0 meio fisico facultou ao e1emento humano aborigene a possibilidade de satisfazer as suas necessidades elementares Jem trabalbo, ou atraves duma forma tao atenuada de labor que bem pode reduzir-se a negativa apontada, :e ponto assente entre os observadores dos problemas africanos que a satisfa(ao das necessidades primirias dos indigenas primitivos nao incita ao trabalho,

Dai, 0 problema de forma qn:tse dilematica: sem necessidades que 0 incitem ao trab:dho, 0 indigena nao 0 procura; sem trabalho nao se criam nem podem satisfazer-se novas necessidades,

A questao, ainda que de base fundamentalmente economica, reveste, todavia, larguissima projec~ao social e moral: trabalhando e produzindo, os indigenas auto­-valorizam-se, «passando a viver de harmonia com a dignidade de seres racionais. (Prof. Marcello Caetano, Os N,lIit1oJ na Ecollomicl Ajricana, pag, 44), E 0 problema do tnbalho dos indigenas assume ainda implica,oes morais, enquanto e necessario evitar que esse trabalho, de meio ao s:rviC;o do pro~resso dos in,digenas e ~a(tor de pcosperidade geral, se transforme em mstrumentu IiIClto de excIu-'l\"a prospendade

alheia. - d Nos numecos seguintes daren10s uma ripida resenha, das _ solu~~. encontra .is

para 0 problema do trabalho dos inJigenas" quer na leglsla,:lo prctenta" quer na actual (Cf" para melhor infocmac;ao, Prof. SlIva Cunha, 0 T,.;b,tlho Indlgen.J, 2_'

ed., 1955),

2. Legislat;ao preterita. Confronto.

Pondo de lado 0 periodo de utiliza<;5.o geral e sisten1itica Jo, tr:lbalho esc!'aVO

_ stndo de acentuar que ndO foram os portugueses nt'm os ,1fllCladores n~ ~s , b f"" d "a' n1a-o d p obra servIi - penoclo que se esten e principalS ene ICiaflOS 0 rewr,o ' , f d b.th

• t n6s ate un6 0 da sua utiliza(3.o simuitanea com Qutras ormas e tra ~ ::J en re ' , 'd l'b (186CJ 1875) consldecemos as pnoa-(1836-1869) e ainda 0 regIme os « I ertos» .- '. ; . :" ,; ') pais fases por que passou 0 problema do trabalho dos mdigenas na legts.!:J.\_o rc c-

tuguesa: a) _ Ftlse do tr.lbalho obrigat6rio Jas libt'rtoJ:

J - d I'bert Me Lei de ~Q de ~ril AntecipaJo 0 termo final da con U(lO os« 1 ,os»,, r" " ,~- ,

de 1875 (0 Dc", de 25 de Fl'Vereiro de 1869. que extlfigulra a es..:ra~atuta, prevll. a

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62 ESTATVTO DOS I!-;Di0ENAS POR11Ju l)1',Cl_C_;)_-----

. 18-9) publicou.!K· em 20 _de ~·'nut~~.-ao do rCl.:ime tran,it61in dos lib.f/()J ale , n' tt'rmos de compensa(ao. "~-"" I entar qUI: (1 ob' - d DC7~mbro do l1l:;-smo ano urn IA;c re!~u amt rbert 'fix.llldo-Ihes a nga<;W e tt.ln"l;i,) com v tr.tbalho obrigatMio dos (3'- lOS,

servir~1l1 IX'r dois aIlOS os S("\lS .. ntip)s pau,)CS. J laIh l('f i"digentts;

h) - F,IJt' d" /.'budaJe (Ib.l ollila e Ira,; 0 ~'. 878 um novo 'b •. pubhcou·se em 1 .

Rt'>olvid(), assim, 0 pcoblema dos «II L'r,o'.". __ t adam"nte liberal, lffi cuJa Regul.uncnto do tcabalho dos indigena-s, de ftH;ao ,a~;~~ui:m ;odia ser obrigado a di!>pc)';i,;ip fundamenta! (act. 3.°) sC' .esw~de(ia qU~ider;das "adios, noS termas do contrat;if os seus SetVI(OS, ~h-o os Ifldl'l~uOS (On. f' lamento). art. 256." do Cud. Penal de 1852 (art, 22. do Clt~ R ~islativa dum pensamento de

o Regulamento de 1878 re:-presenta a <:"pr~ssao I ~ . entidades ligadas aos :!S~imil:t(i.o unifoffilizadora que de ha mUI~o 1flfo~;~'l ::: Cansdho Ultramarino, problemas ultramarinos. Ja em 25 de JaneIro d~ ., 'aclar de Angola que esua­IL1lllido para Jdiberar sobre uma per<!.,~UJltJ. '!1m AI ?Hffl ~ nrnhum; profissiio util nhav~ a fJ.LaO por que «nao pode ao negro e n~a,. qu < pondera nus seguintes neece, ser Rgul~~ente:- imposto (> tr"balho fon;a O)~~ rr~a tal maneira de ver, termos: <, E de lastJmar que 0 GO\ e:-rnadar d: Ans:ola P s hom ens livres e

d d . l' 'd e n 'a '-dO escravos rna e,que:-cen 0 que se trata e InQlV~ uos qu ~. J; d em' re ar 0 seu trabalho "UbJitos portugueses e como talS. tendo 0 dm·.to e P g h b't . , d' -. . . as dos brancos que a 1 am pessoal como melhor enle:-nJ'Ull. em con I(UL~ I~I.S d A fa 1926 pac:. 268). An ~'<l '» (0 G"nend Norton de Matos .A PfonnCltJ e r.go J '. C I

,,"v ~. ., , I . d VIscera «pre-Mas 0 ccrto {; quc- a generosiciacie libeL,1 colocava ao a canc~ a

dd,-

. . , -b d d d - . II' r A dIversIdade e con lc;oes gwC;<i. lDJI -'(-neD, ;J. gOst05J. II er a e e ... nao rcana 1a . . ' 1 . I _ ;ociais in~:rtia os tecmos duma aparente cocrencia idl~16g1Ca,. porque. a , egIS aC;aO liberal equivalia, na abalizada opiniiio de AntrJniu Enes, a ensl~ar ao mdlgena q~e <'(inba a liberdade de contjnua.r a viver no estado selvagc"m, pOlS qU(; tal e a ne:-ccs­siria consequenda da Jjberdade de ruo trabalhar, deixada a quem s~ pclo uabalho pode- enuar no gremio da civiliza,iio» (Mu(amblqlle, ed. de 1946, pag. 71) .

• ) - f'..;,e do trabalhu dus ilidf:;en':H como d2l'er moral e legal:

o RC'l,'Ulamt'f)to de lR78 esteve em Ylg{)r ate 1899. Mas uma poruria de 26 cit Outubr;j do ano anterior, nomeara ja urna wmi~5lio, presidida por Ant6nio E~es, a que cometia 0 encargo de estudac "os meio, praticos mais eficazt~ para obrlgar os inJigenas a urn trabalho regular, t:"mpregando para esse efeito todos os incentivos e todas as imposiroes que, ~em repre:-sl.."'l1tarem violencia nem dtrroga~lio das ltis e reguJamentos liberais em vigor, pOS'3m con5cguir uma s6lida IransforllJar;ao das rondi(ues i/ctuais da existencia das popula<;otS indigenas das nossas wI6nias., .. ».

Do trabalho da comissao n3<;{(,U 0 1\.L,LCulanJtnl() Je: 1299 (Dec de 9 de No­vembro) 0 qual consagrava, logo no art. 1.", a ohrixalo,.iedade do trabalhl), ao afirmar que dodos os indigenas das provincias ultramarinas portuguesas sao sujeitos it obri.~a,;au moral e legal, de prucurar adquirir pe\o trabalho os me:jo, qUe lhes faltt'f!!. de subsistir (; de mdhorar a prbpri:l condi(;iio social». Conferia-se aus inciigenas «(plena liberdad(; para escoJher 0 modo dt cumprir essa obrjga~ao mas se a ~ao Cllmpre:m de moJo a.Igum, a autoridad(; publica poJ(; impor-Ihes '0 ~~ cumpnmtnto».

Para cum~ri~ento desla ~J~irna imposi(ao, ~ autoridadt's poderiam mandaI' ;"pn"5oe'ntar OS l~dlg(.'flaS rdractanos ao trabalho a particulares que: carecessem de mao·de·obra natJVa (art; 32."), Se os indigt::lla~,. ainda assim, se furtassem ao tra­balt.o compehdo, podeflam s(;r conci(;nados a trabalho correccional utilizavel +. t,ntid~d(;s ofJCiais e pclo5 proprios particulares (arts. 33." t' 34." do cit. RC"ul Ptt a),

O R • 1- . d 1 k' ( f· L' 'd I:i amen 0 .

2- d Mf_~UI amt1

dlt() e ')Y, ~J SUf)~tltul ° pcIo Regulatn<.:nto de 1911 (Dtc. de

'R e I 310, ond

<.: lie rr:Pff(;"IuzbJram ,a~ suas disposic;ik~ fundamentais. Por sua vez o t"gu arnt'ntu e 19l I OISU stJtUIUO peJo Rr:gIlJt¥1!Jenlo Gem! do Trabalh(; dOI

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ESTt\'II;T() nos INDtrE" "s v l~n.: PORTCGUESES

._----Arhl'O 32,"

/"digenas ,un Co/6,!iaJ Por'NI;U~j.1J (D", n,· 9~1 J" , m,.nt"nJo-':e 3m,b 0 sistema do Regulamc-nto de lil~) ~ i <It Outubn; de' 1914)

Amda d, ntrn ,ILst!: perio.b, <levc reft-rir-se ue i.' ., _ .' em Angola pdo Alt" COllli:,,;.ieio Norton I M ~ (~.'L~ao espcoal pr"mulgada d; 192 J) proibim C) tr'lhalho compdiJo p:~ h;,~r. ~:: n." 40, de 3 de Ag~to filllCla de Allgo/", cit .. rag, 126 t: ~"-'.,,~.). - It'l> t partlculan" (C,r. ,1 Pr,,-

d) -- FtlJt: do Trabtllho d,,, indlg"J/dr cOtlJ;d~r"d d I ,. (' como ('(Ier frlor..! .

A primeira altera~iio ~uh<tancial de d. . , . mento de Ul99 aparcce-nos no art ~" d or Ecm rnal . ao :.l>tern.1b:1k do Re-gu!a­Conven,iio J(. 25 de Sdc~b I")' O\t; (e 19:;6 que, wb a influencia da

b .. t' . . [' . co l lsse 3.00, t(-rmmou deflO.t1\·3111CI1t.: 'em 0 t-L Ino o flRa orlO para 1111, de Interesse p' t'· I "'. J' nwa d T b r I f J • ae ItU ~r. v"l~ anns CpOI~, publica-fr: (> C6J.

e ea., (IP oma un, am<:nt,t/ qut", ankClpanJo-se quase dois anos it C _ de ,2,8 de Junho l~e 1')30 .. sobre trabal~to obrigatorio da OrraciZJ.,).o lntc~~::;-=; do I raballm, se oncnt:!va J~ pclas segulOtes tOordt'!lad~; :

- 0. trabalho wmtitui urn Jever moral para 0'> inJigena, - Ltberda.:le de escolha de #mero de trabalho; - Prolbl(J.O do !rabalho obrigatono para fins de intert',~e particular ; - R~g~lamenta,ao do emprego de trabalho obeigalorio para fms de trltC'fc-;S'"

publICo;

- Disciplina e fisc.diza\ao tUldar do Estado sobre ;!(ti "idade, d,' f()crutJrnento e contratament() de trabalhadores indigen.l'> ;

- Prott'CC;a() e assistencia ao trabalhador indigena.

~s prineipios do CeiJ. de Trab. Iramitar,Hll para (} Est. de 1929 (arb. 'J." <." 13."). mantlveram-st" 1I0 Act. Col. (arts. lS.U a 21."), na C. Org. (arts. 240." ~ 245 .• ), na R. A. U. (arts. 28.·, n.· 1."; 41.·; 51.", n.o 5."; 70.", § 2.", n." 3.·, entre outros). E ainda 0 sisteml qllt' inform a ,I nossa rnodt rna legisL1;;lo ultrJl11.lr'I\J.: Cons!. Pol. (arts. 1401 a 147.°), 1. Or;.:. (Base LXXXVI) e actu,1I Est.

Como 0 C6d. de Trab. continWl em vigor (ainda que esteja em estudo a sua r~­forma), pcomrtmos enllnciar os grandes prineipios qUl' informant a~ rela~oes juri­dicas de trabalho dos indigenas segundo esse diploma, wnjugando as 'U_1S disposi,;ut::> com as de legislac;ao posterior, prindpalmente com 0 E~t. actual.

3. Principios dominantes das relac;oes de trabalho d05 indigenas A) - A liberddde de trabalho.

o principio cia Jiht'rJade de trahalho dos indigenas moslste em se lhes iacultar a possihilidade de trab,i1h:m:m por (Ont.a propria (>u por mnta alheia. t·, na segunda hipl)lese, ,I <"wlha do genem de trabalho, do local e da l'I1tidade a que prestari 0

concurso do seu lahor. bern wmo a forama juridica por que [u'>Cer.i. a relal,;i.o de tmbalho. M;l~ /l,l regra da Itbt'rdadl' de tmbalho nao ~c conkm a facu1dad~ legal do indigena traballdr ou ni1O, porqllC' a segunda parte da altenuti.a se op&- Q

plincipiu. p.lraldo, do trnbalho COIllO dever moral (vd. alinel B). . () principio da liherdadc de trabalho (arb. 3." e 4." do COJ. de Tub.) asSumlU

dignidade de [egra Ulmtitllcional ao indllir-se no Act. Col. (arts. 19.0 e 20.-), transitou para os ,Irts. 145." t' [·(6." da Const. Pol., repcte-se nn H"'e LXXXVI da 1. Org. l' reafirmou-se. finalrJllnte, na lilt1lna parte do art. ~2." e nos arts. H." e :>4 .• deSk Est.

a) --- CoroUriol do /Irindpio J;1 /il'~I'J .. 1<l, de t,.lv:lJbo t: rc.'.'". JOJn..:a"5 a. 411eg1i1W' 0 sell p/e/lo exe",ifio,'

1) .-. Fncarado do !ado do trabalhador, 0 "i!leu1,) ,ontrdtual tern c .. rio"" zndi. ·/·,dual, significandu, as~im, qUl' 0 It(Tutamento ou (ootrat.amento Je urn inJigl1.lJ.

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64 I1\VfGENAS PORTUGUESES

[STATUTO OOS ------

Arrigo 32.0

d 'regado familiar. Este corolario do - . r'a 0 recrutammto de membros .a St'll~g:to Internacional com as Conven.

n:I~' 1;nF' IJ~ liberdade de trabalho 56 surglll no I ::::~nto de trabalhadores indigenas) pnnc1plO d 9'6 (*) (sobre reau.,.." d . d' ) . ' - de 20 de lunho ~ 1 .> • 't de tr tbalho e In Igenas , porem, <;oes . (oh on'ratos escn os "

~1 de Junho de 1939 , re c. :j d T b quanto a recrutamento e contra-e - . . J . t J nosSO Co e ra., informava ji h>aO 0 51S e~a ,0 .

tamento de trdbalhadores lOdlgena~. " d' 'strativos recrutarem trabalhadores 2) - £: proibido aoS fun(J~n~~1O~6~. ~:\rab.; art. 9.° da Conv~c;ao de

PJfa empresds pnvadas (ru:., 38. ividade Jicita dos recrutadores partlculares, 19,6) em bora devam faClhtar a lac.t b r~rutamento . , . I' elS so re CL •

quando se proces~. no respelto pe as d rE~ de empresas privadas e regulamentada 3) -A actlVldade dos recruta 0 f rzada pelas autoridades (art. 24.° do

(art. 25.0 e 26.° do C6d. do Teab) e ~5eaal Iiberdade dos recrutados (Conven~iio

C&!. de Trab.), por fllfma a g,uandr a pen

de 1936, arts. 11.° a 17.°). d d fsealizar a celebrac;iio e 0 cumprimento 4) - Incumbe aa Estada 0 e,:'er eo do Cod. de Trab. ; Convenc;ii.o de 1939,

dos contratos de trabalho (a.rts. 12. e 95; t d 0 trabalha dos indigenas (Est., art. 6.°) e vigiar as condl(oes em que e pres a 0

art. ~~.~i£ f~;:;bida a transferencia de trabalhadores indige::as ~e ~m patrao para utro' (Cod de Trab. art. 113.°; Convenc;ao de 1939, art. 10. , n .. 1. )'.

o 6) _ 53.0 punid~s os que ilegalmente impuserem .trabalho obn!?at6no ~~ u,sarem d ' . t' eac;a.s ou of ens as corporais com 0 flm de compehrem os wdlgenas e lOtlffia Ivas, am ° 460) a trabalhar ou a contratar os seus servi<;os (Cod. de Trab., arts. 329. e 3 . .

b) - Exap[oes ao principio da liberdade de Irabalho:

Dissemos ja. que 0 trabalho obrigatorio para fins de interesse particular e intei­ramente proibido (COd. de Trab., art. 294.'; Const. PoL, art. 145, c~mespondente ao art. 19. 0 do Act. Col. ; 1. Org., Base LXXXVI, n.O II) ; mas admItem-se certas modalidades de trabalho obrigatorio que, todavia, sao taxativamenle enumeradas no art. 146.0 da Const. Pol. (correspondendo ao art. 20.0 do Act. Col.) :

1) - Trabalho penal (Est., art. 26.0; Ref. Pris. do Vlt., arts. 8. 0

, 9.°,. §§ 2.", 3.° e 4.°, 12.", 16.0

; COd. de Trab. art. 296.0 e 303.° e segs.). 0 trabalho obnga­torio de caracter penal devera ser exdusivamente utiJizado para fins publieas (art. 303." do COd. de Trab.) ;

2) - Trabalho obrigat6rio em obras publicas de interesse directo dos indigcnas e tambem em casos de calamidade publica (nesta ultima hipotese, por interpreta~lio extensiva do art. 146." da Const. Pol., fazendo·o coinciJir com 0 art. 296.° do Cod. de Trw. - a. Prof. Silva Cunha, 0 Trabalho IndJgella, 2." ed., pag. 259) ;

3) - Trabalho obrigatorio em ocupac;oes de interesse directo dos indigenas (de que 0 art. 296°, n.o 3.", alineas a) a d) do C6d. de Trab. enumefa varios casos) ;

4) - Trabalho obrigat6rio para cumprimento de obriga(oes fiscais (0 Cod. de Trab. nlo previa est~ especie de trabalho obrigat6rjo que, actualmente, se encontra ugulada apenas em dIplomas de caeaeter local: Guine, port. n." 51 de 17 de .Ma.io d~ 1937; Angola, DIp. Ltg. n.O 237, de 26 de Maio de 1937; Mo(ambique, Port. n. 6.401, de 30 de Maio de 1946).

(Subre ,trabalha obrigatorio d. Prof. Silva Cunha, 0 Trabalho Indigena 2.& ed., 1955, pags. 252 e segs.). '

(0) 115 r(jnvt'n~i'ies da Off'. 'za - I ' ntific.dzs pelo or)\So pais d~n. u;ao _ ntcmaClOnal do, Traba.lho de 1930, 1936 e 1939 nao foram tlham~!>t a conlconto do ~ltal q I nao coostrtuem dlfe.to loteroo. As cita~6es do tcxtu des­~()f~ ()(UtI/.urn hii m'uito d~ Ie 'i:l~u ia

clara mente que as principais disposi,i)cs dessas woven. ( (J DUtil', ColOnial IflIfr"a{i&~al ~ 1~4~oter~a portugutsa (Cf. Prof. Marcello Caetano, Porlllf,(U Jlldi'mJ i.' pd Je,.,) I' J. 4' ' )' P gs. lin t scgs. e Prof. Silva Cunha, 0 Trabalbo CI . • .... , J.l. )..1"... J t segs ..

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EST ATUTO DOS INDfGENAS PORTUGUESES

Artigo 32.~

4. Idem. B) - 0 trabalho como clever moral.

o principio da. li?erdade de trabalho completa.se e articula-se com a re~a de que 0 traba!ho constJ.tu~, em rela~ao aos indigenas, urn dever moral. L.

~ superfluo InSlstlr em que, no estado actual cia sociedade, 0 trahalho aassume o ~aracter de d<:,er getal - comum a indigenas e nao indigenas _ de solidariedade .SOCl~1. ¥as a afl~a{aO de t~1 principio ~ssume interesse particularis~imo em rela<;ao aos Indl$enas, a fIm de se VIncar com nItldez que liberdade de trJhalhho niio pode confundlr-se com hberdade de ociosidade .

. Quando o. Est. de 1926 aboliu 0 trabalho obrigatorio p:lra fins de interesse partJcu~ar, sentlU-se exactamente a necessidade de acentuar a complernentariedade entre hb<:rd~de de trabalho e dever moral de trabalhar. 0 eM. de Trah., no sen art. 3.°, reaflfmou, com nitidez a mesma ideia:

.. Art. .3.0:- 0 Govcroo da Republica nao impOe nem permite que se

eXIJa aos lOdlgenas das suas co16nias qualquer especie de trabalho obrigat6rio ou compe1ido para fins particulares, mas nao prescinde de que eles cumpram o dever moral, que necessariamente lhes cabe, de procurarem pdo trabalho os meios de subsistencia, contribuindo assim para 0 interesse geral da hurna­nidade.

Poded. parecer que 0 pnnClplO do trab:ilho como dever moral COQstHUI men afirma<;ao platonica, de nenhum interesse pr;itico. Mas nao i: assim. Na medida em que enuncia tal principio, 0 Estacio imp5e-se 0 clever de prosseguir em rela<;lo I.OS

indigenas uma politica geral persuasiva tendente a incutir no nativo a ideia de que o trabalho constitui um imperativo social dignificante; obriga-se a kntar modificar as inibi<;5es morais e as condi<;5es sociais que favorecem a idiossincrasia da ociosidade indigena.

Deve notar-se que 0 Est. actual nao repete, ip.ris f'erbis, 0 principio do trabalho como dever moral. E que desde 1937 (Dec .. Lei n.· 27.552, de 5 de Mar(o) 0

Estatuto do Trabalho Nacional (promulgado pelo Dec.-Lei n.o 23.048, de 23 de Setcmbro de 1933) esta em vigor no Ultramar, aplicando-se portanto ,lOS indigenas o seu art. 21.°:

Art. 21.° 0 trabalho, em qualquer das suas fOimas legitimas, e para todos os portugueses urn dever de solidariedade .social. 0 dir~it? ao tubalho e ao salario humaoamentc suficiente sao garantldos scm preJUlzo cia ordem cconomica, juddica e moral Ja sociedade.

Nao se julgou por isso, nt'n~ssario repetir em rela(ao aos inJigen:ls urn pcincipio que e comum para todos os p~rtugueses. Pressuposta tal Idf1~.~ pnmelfJ. PU;~ do art. 32.0 Jeste Est. assume mtldamente 0 mrader progr.lITI,lhco que asSlIlJ.l:mOS como valor pratico da regra que afirma a obrig~(a~ moral do tnbaiho d~ ~~~~ genas: «0 Estado procllrara fazer reconhccer aos mdlgena.s que 0 trabalho <.on,tItUl c!t:mento inJispensavel de progre-sso (, .. »).

5. Idem. C) - A protec\ao do trabalhador indigena.

o principio da protec<;ao do trab.llhador i~Jigena ass~e, a pJX do principio d! rt dad de trabalho, 0 (anicter Je regra constltu"lonal, pOlS que, se,;undo 0 art. 141. (;:e~on:t. Pol. (correspondente .10 art. 25.0 do Act. ell!.), «0 r<'proe do con-

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66 DOS INDIGENAS PORTIGlfESEj __ ESTATUTO __ - ----

ArtiFo 32"

rb, ',1, indJ\'idlLll e no direito a ju~:,' trotto de trabaJh~) dO'S inJigc:nas assent, ~daded~~bl'Cl somente p:lr3 {iscali7.a<;ao», sahino e dssistenClil. mkJ"\ I~Jl' a auto,:? "/2" reatinnl.lU a mesma rej;m que,

A L. Org., Ba.5t' LXXXVI, Il,~, 1: I Do' confronto entre 0 pr('ceitn da ~ t - 4 0 do f''" actua. ' finalmmtt', se rt'~ e no ar. :> • .., • 4" d ,eN. interpretlr-se extenSJ vamente,

L Org. e (> do Eq resultJ._ qut' 0 artih

:> . ,-,f'\mJir;en,l.I n1:1." tambem a f'n:sta~·5.(> pois qUl' nall apel1as a rresta~ao de traba () \'l,".'dade 'wn'ratual e no principio de de trab.1lho a indi~enas devcd ;l%entar na I d '

proteq·.ll) ao tl'.th,llhador. , 1 d [('c:itos wndentes a rromovcr o COd, d.. Too. contem uma vasta reue e p

uma eficaz protec~ao do trabalhador inJigerLl, como St'}JlD ; 'I' - d. 'd-' -, 'f,'r,',·, p-ar .. 0 Ir .• baJho ; a) - V. rl.' ;,:1-(.1', .:l al'll ao .el!'" t •. . _ " 1_ , ,

o C6d de Trab. indila (LiidaJosaffiente as c(,!ldi~"cs Ide Ja~ftJu:lU p.u" 0 tra­balbo, exd~ndo a possibilidade legal de CO~1:?~alllent(l (OS m,lgenas abrangidos nessas wndi(oes, ori~-ntadas p<:lus seguintt:' cntenos :

1) _ ldade mini.m.!: 14 anos (art. lUG .. " do COd. de, Trab.) ~ d 14 os m"s menores de 18 2) _ Autorizac;ao paterna: para os majOres e an '. ~

anos (art 100,· do Coo. de Trab,) : . f d 1 . 3) . c,. . lL .. -~ .J.. n"d~m W!ltratar-Sf' n:.ra SefVl<:001',t 0 ocal da - ""xo. as mu HeH... "" r- ~ r-... _ .

sua residencia quando [ort1D acom]Y'a.I1.hacias do marido. paJ, tlOS ou l~maos malores, salvo se 0 contra to for para S{;[\'l,O domestico (art. 99.°. § 2.° do Coo. de. TI;ab,) ;

4) - Robustez fisica e sanidade: nw e permitido 0 contratamento. de mdlge~s velhos. raquiticos, atalados de a!ienac;w mentai, doen<;a do sono ou qualsquer moles­tias ou enfermidaci(s que os tomem inaptos para 0 trJ.b~lh.o (corro. do art 99~o .do Cod. de Trab.), podell do as autoriJacies, em caso de duvlda, EXlgU' exame mediCO (art. 99.·, § 1.0).

b) - Tipificd(.iU do! (vlllra/v, dt Jr.:balho:

Os contratos de trab:t1ho de indfgenas sao tipificados, islO e, tern de conformar­-Sf' com u.m modelo legal ruidadosaffit-nte reguLunentado. Sao ainda contrato:; de aaesao briateral, pois que tanto os trabalhadores indigenas como os empregadores tem de se submeter as dausulas legais, que assu.mem 0 caracter de disposi(oes de intt-resst- e ordem publica, nao podendo modifica-Ias QU e-..:dui-las.

Como, por seu lado, os tipos de contrato descritos pela lei sao orientados no sentido de j;ar.an~rem a maior protecc;aG dos trabalhadores indIgena.s, a tipifjca~iio dos contratos e, mdlfectamc-ntt-, uma forma de protecsao dos mcsJnOs trabalhadores.

c) - Horarios de Jl'abalhr;, Dias de descall50:

O~ t:aball];ldorc~ indigenas nao podem sec obrigados a trabalhar mais de nove horas utus ern cada. di~ (art. lID." ~o COd, de Trab.) e tem direito a urn dia de de~.anso se~a.!13.1 e a dlspensa de trabalho nos dias feriados, sem perda de salarios e a Imenta(ao (arts. 110,0 e 111.0 do Cod. de Trab,).

d) - Del'ere! gerais dos patron:

o Cod de Trab ao e . d . parte das ~antias e ~~ _nunC!~ os everes g<::r;w, dos patroes, refere a maior Assim. alem cIa obrigac;:ssoes. que ~stabelece em favor dos trabalhadoces indigenas, p;,.triies nao podem exigi I' ::e;IC~ the dcumpnmento das c~ndic;5es do mntrato, os sua condi<;iio de mulhere~ uu ~~n~re~ .orJs ~~aba~ho s~pefJor JIS suas forc;as ou ;l mentr; higic-nic0, quando 0 contra.to for ~o n ar-. ~es-ao al.lmentac;:o saudavel e aloja­u caso, prOVCf a sua subsi~t[ncia em c"~ dlftlco a all,ment~c;~o, devenJo, on tudo tal fim ate mc-1ade do sa[: , , ,,0 dt ~rlse alunentlCla, despl:udendo para

arlO se 0 contrato nao f ' d" assegurariio aos trabalhadores a assi C '. or com lrelto a alimentac;ao; puJ'.m rcter-lht"s OS saLiri(n que de:.,enu~ a que seJam legalmente obrigados; rulo

"m s(r pagos no local do servi~o; nao podem

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67

npmpriar·~(', ~h prett .. ,t .. a1.t:"I11, ,Ie <J\l;\lqucr valor qU(' (hc, p':rten~a; ruin lh("<; L!rln abonO'> Oll JC"~«''lt''~ que \l,in scp.m ('xprl'SSmn{"I1te r<-rmitidr)<' pot h-i; nl" !,odem ohstar ,\ qut' 0 tr.lh,lhaJor viva ,0111 sua Lunih.1 no local do trabalho; nio poderao dispt:n".u-M: de dar ,11' trabalhaJor uma rctrir,ul(;'in ema em dinhnro (eL \,.('.1, de Trab., arts, II·tO e 116,", I IR." e 1 19.").

(,. Idem. D) -- E~l:Ibilidade do vinculo contratual.

Este principio tmduz·se ILl wminJ.,ao de s,ln<;(ll'S ,1<: cackter !,l'nal aos infrac. tores <las disposi(llCS .los lontr;ttl)s de trab.llhl'. qUl'r sCJam dadnrc, de trA~lho ou trahalh,ldorcs, indig.:nas ou nao indi.l',L'rl.1S (C6d, de Tl'ab" arts, 3 ~ L" to se~,),

Este principio, na actual IL-!-:isla~a() de canicter !l:eral, 56 (()nsta do C6d. de: Trab, Nem a Cnn~,t. Pol., nem a L Orl'., nem 0 prtsente Est, Ihe L,zt'm qualquc-r rcferenria, :e que tal princir:o represmta 11111 desvi() ~rave j, rel;fa.s gt"CaIS do dir<':ito comum do trabalho c, <k certo modo, wntraria 0 principio da liberJC\de de trabalho. A sua manuten~ao e forc;osamente tramit6ria, enquanto 0 prim ipio <1" boa fe (pacta stint serrttnda) nao adqll!ra para '" indig~n;ls V'I\()[ d" tivo. Assim, dcixou·se ,[ legisla<;ao especial, meno, solene que (,~ diplomas indicad"", a falllldade de ma.nterem as s,'lnt;oes penais na estrita medida <':m <1"t forem nells,j.rias t just!· ficaveis para fomentarem no espirito d(l> in,ligtu.1S a ideia lla respon~biljJadt' I'tla~ obrigac:oes livremente assumillas.

(50bfe 0 senti do a imprimir ao futuro direito wh'nial do tr.lbalho. induindo o problema das san<;Oes penais, 'Ill. ProL Silva \llnh'l, 0 Tl.1h.llbu bldigel1.1. 2," <."<1., 1955, pags, 282 e segs,),

ARTIGO 33."

(LiberJ.lde de lscolha dt' trabalho)

Os ind;genas podem livremente escolher 0 trabalho que dest­

jam efectuar, quer de conta propria, quer de cnnta alheia, ou nas

sua::; terms au nas que para esse deito Ihes forem destinadas.

Ci. L. Org" B;lse LXXXVI, n." IV (' (6tl. llv Trah" alb, 3." e 4," Vei notas ao art, 32.", princip.lIrnente nota, 2 e 3.

ARTIGO 34.0

A prcsta~lo de trabalho a ll:lO-inJigenas assentl m liberdade

n)f1tr~tllal e 11l~ dire-ito a jl'~tll saL'trio e assistencia, de\c'ndo ser

fiscalizada pelo EstaJn, atray(:s de tlrg:l.OS apwpriados.

O. L Org. Base LXXXVI, I Ln.'" 1." e 2." t" Cl.J, ,1c Trab .... rt-; ::'," c -\.'"

Yd. notus <to art. 32.", prin"ipalmt:ntt: notas 2 ( 5,

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ENAS PORllJGUESES rSTAllJTO DO~. TN~:.:...' ___ -----------_ ...

SUBSEC<;:AO III

Dos dlreltos sobre eolses Imobllittries

ARTIGO 35.0

(Regime das terras das tribos)

A . d' Vl·,'am em orrranizacoes tribais sao garantidos,

os In 1genas que b·' d· , . . ~ fruirao na forma consuetu mana, das

em conJunto, 0 uso e a ~, ~ d terras necessJrias ao estabelecimento das suas povoa<;oes e . as suas

culturas e ao pascigo do seu gado. . § linico. A ocupa<;ao realizada ~e han:r:on~a. com ° co:po do

artigo nao confere clireitos de propf1~dade mdlvldual e sera regu­lada entre os indigenas peJos respectIvOs usos e costumes.

1. Regime das terras. Geoeralidades. A terra co~no factor de pro­du~ao e sua impomocia oa politica ulttamanna.

Em not:! 2 ao art. 31.° deste Est. reIembrou-se que, do ponto de vista do objecto do direito de propriedade, este incide sobre coisas mobiliarias e so~re coisas imobi­lii:i,lS. A inttIprtt.'~J.o extensiva do art. 31.° levou-nos a condillr, com 0 Prof. Adrimo Moreira, que este artiFo regula, de modo geral, 0 regime da propriedade sabre mobili;irios ; a presente subsec(iio disciplina os direitos sabre coisas imobiliarias.

De entre os direitos de propric:JaJe sobre coisas imobiliarias, reveste especial importincia. no ultramar, 0 problem:! da apropria~ao das terras. E compreende-se porque: a agricultura e ainda hoje 11m dos maiores, senao 0 maior, factor de pro­du~ao econ6mica. ultramarina e neIa participam bntt' as indfgenas como as cidadaos. A necessidade d~ regulamentar 0 regime das tem!s e ainda urn reflexo da necessidade de evitar confJitos que poderiam surgir entre indfgenas e nao indfgc-nas. _ Com~ n?ta 0 ~rof. Silva Cunha, «0 nativo e 0 colono, para organiza(ao de explora­

~oes ~onoffilcas pnv~das, e 0 Estacio, para 0 fomento publico e instala(ao de servi(os, ~ecesSl~ de pOSSUl~ terras. ~ntrechoeam-s~ assim tres ordens de interesses que e mdlspenS:lye! .harmomzar - ~ IOtetesse do Estado, 0 interesse das colonos e 0 inte­re<;5{' dos natlvo~». (Prof.. Sliva Cunha, Lhoes cit., pag. 472; no mesmo sentido d. Prof. Ruy U1CJCh, op. CIt., pags. 126-127). ) . 'iliO pr7blema. ~o_ re.~me ~~ terras cifra-se, no seu aspecto primordial, no processo jun co ce aqUlSl{dO ao dJrelto de propriedade sabre elas na d<»e . - d t. ':lIare<; desses d· . t J ·f· _ ,"l rmlnar,;ao os .,. Ira as e na qua 1 lea<;ao da natureza jurfdi cl

Por outro lado a ter 'od . ca as mesmos. MeJio do capital e da tecn;:a soO ~ tued sedr valo:lzada ;ttL'VCS do trabalho e par inter-

. cS I 0 0 regime das terras c I • . 10' mente, pdo estudo do regime de t ! 11 1 ,. omp ela-se, pOlS, glCa-protec{3.0 e defesa do solo Do t abflahJ:l 10, ~ 0 eredIto e dos meios tecnicos de

. r. a 0 dos lOdfgeru ' artS, 32." e-segs.; os meios tecnicos de clef' , s _ocupamo-nos :m n~tas aos Jados no DK n,' 40.040 de 20 d 1 . esa e protecr,;ao do solo ('stao hOJe regu­~pecialmente Jo credito ('*) mas l~; ::el[o de. 1955. 0 Est. actual nao se orupa

, vu sas tern promulgado importantes disposi-

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______ E_,S_T_A TIJTO_DO __ S _I_~D_l_G_EN_AS_~~~ TlJG{JESES -------

Artigo 35.·

<Des a .este respeito, c~o poc exemplo 0 Dec. n.6 34.633, de 28 de .Maio de 1945, ,ue cnou em Moc;amblque um Fundo de Crcclito Rural exdusivametlte destinado a concessao ~e empresti,mos aos agricultores indigerus. nos termos previstos n() Esta­tuto do Agncultor Indlgena, de MO\ambique (Dip. Leg. n." 919 de 5 de Agosto de 1944). '

2. Aspectos politicos do regime das terras. A solu~ao porruguesa.

D~d: da organizac;ao politica da MetroJX>le e da dos tt-rrit6rios ultramarinos a det;er~nac;ao de qual a etltidade compctente para legisiar sobre 0 regime das terras c, pnnClpaimente, qual a estmtura geral desse regime.

No inic~o d~ coionizaC;ao, os reis, senhores absolutos cia soberania, e sim(Jitanea­mente propnetano~ dos territ6rios coloniais, podiam dispor deles discricionariAffiente, porquanto a propnedadc se confundia na pr6prio soberania.

«A separac;ao. do erario regio e do tesouro publico, devida a revolu<;ao francesa, acabou com este slstema e as autoridades constitucionais da metropole ficaram pecten­ccndo nesta materia as func;oes que antes desempenhavam os chefes de Estado. Algu­mas v~es, pOf(~m,. essas func;ues pertencem as autoridades da col6nia. em que ";gora tun reglme de mats au metlOS larga autonomia; entao ha ainda a considerar quando a colonia aut6noma constitui uma federa\ao, se 0 regime das terras eo findo dum modo unitario e geral ou se eo estabelecido pela legisla<;1io propria de cada membro cia confederac;ao, nao havendo a tal respeito uma solu<;ao uniforme. Enfim. POde dar­-se ainda a hipotese duma colonia subordinada a uma companhia privil~giada, I­

cuja administra<;ao competic:i naturalmente provideociar sabre 0 assunto. A questao das concess5es e tambem influenciada pela politica iodigena que se

seguir. Desta derivaca na.turalmente 0 maior ou menor respeito pelos direitos d05 indIgenas sobre os terri tori os que habitam». (Prof. Rur Ulrich, Econorr.i.l Colonial, 1910, pags 135-136).

Numa politica de assimila\ao dos indigenas e simuitaneo respeito pelos seus direitos tradicionais, como a nossa, e natural e coerente a disposic;ao do a.rL 143.· da Const. Pol. que garante aos indigenas, nos tecmos da Jei, a proprieciade e posse Jos seus terrenos e cultucas, devendo scr respeitado este prindpio em to.i.1.5 as COIl­

cessoe~ feitas pelo Estado. A Base LXXXV da L. Or,::., especificando esta materia, (nou a possibilidade

de se definir uma orienta.;ao nova rebtivamente ao regime C!11 vi.iro::. A L Org.., nesta Base, preve a cria~ao de regimes especiais de propriedade imobiliiri,a. em ..-ez de se Iimitar a afirmar 0 reconhecimento do direito consuetudio.mo dos indi~na:> a pcopriedade colectiva sobre as terns. Esta referencia a criac;ao de regimes e~t'eci&is de proprieJade imobiliaria destina-se a permitir aD legislador liberdade de rnov!men­tos para, reb consagtac;ao do Jirc:ito de propriedade individual dos indigenas, d.:u resoluc;lio a determinadas situac;oes de facto. «T ffiha·se ern vista os indi~..as que exp!oravam grandes extensik""S de fXi1m;,rc:s ou cafu.lls. detendo a sua posse Ii'...l:)

que juridicamente nao er,un consiJendos ~eus propriti.lrios». Eft ..... "tinmente .... du01.ote muito krnpo considerou-se 0 direito dos indit:enas ;l terr:; apenas como urn -dirrito de frui<;ao, pois em (.ISO algurn Ihes era concedid3o a faculdade de J.rtopri.1.~l" iruli­Vilhul. Es~a situJ(ao manteve-se ate ;1 pub!ica(ao da Lei Or~inic:;,., e-mbota rn.mitrna­menl<.' ja n:iQ correspond esse :l It.-alid:1Je. A Lei Orglnica ,cio alter.u profundamenre

triplo ns~cto d~5 nect'SSidaJe-s • S.H1S1.lZer (problenu d.t ;>n. .... 'U.ra do aiJiwl. .do$ \l¥'i,,,,. disl>o­uiveis p.\'U provocar 05S;\ satisfa.;:'u (pwbk-mJ da "iertA do cri:dite). t .a t~.:r"'1 '~~70~1 de comcguir 0 encontro efe.:tivo d, "feetJ t d., rro.."1f~ de «(,Ltc. Id. <"St'".]." :;t,. in • ,-1 U ,...­motiotl tit' r [j, ontfmi,' InJn:.' n,', que." (eune as (~)r .lun:ca.;:6es .li?,r~-,ilCas -.' c:l_~:-H,~:.:~ ~(t~ls1 $U(

I'\!conomie indigene», organizado pdo Instltuto de S..-ciol<ll!l" s...,l.-ay dA l'n;Yc-:-S.bJ< L,n:: .k l\ru,-,IJ>, d.> I) a 13 <k Janeiro de 1956. i"'I>. 239 c 54'S.}.

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~\)

rsnnTO DOS INCIGE"-iAS l'ORWGUESES -----­,------

,,\,ti,go 35,"

----

d LXXXV (CE. Prof. Sil\',l Cunha, LicoN tcste "'CdJ,) Jt wis.1>i,. na J3. rtftrt a ba~ •• dL p.i.>: 473).

Em (ondusiio : .' " L Or f1953J OJ ir.diger/;li ,rpmas lin ham 11m dif1(!ito illdi-

A,/i.enONTIt'1:.t'.1 • g. , . - indif!iallai das len·,if. ,_'",d de jrpi('Ju, sem a facu/dade de dpr?prld(dO LXXXV d L 0 E

A,,/kalml!11!e, desent'oiz-clido a dOktrma d.:J B'lfe ," . r~.,. () st; Ll f . - das lerra r em COli/IiIIIO, e na Torma Iradlclonal, e

eJ/arx eee que 0 IIS0 e fUI(aO '. . d a' d" d 'J ' ,P "( t 3 < oJ nao ito co/dum 0 to aVla, JreJlOJ e pro-

.~Jranl: 0 .10 r "wIgen." ar • ~., J ,. i . J' , tJriNaae il1Jifiduai, segundo a I~ com:l1I: (§ NTlICOO mes:lO a:l1g o '0 n.as a :tpropridrJo indlliduai e (OflJi!ctida aO,r mdigenJJ (cj. ,II'IJ. 37. ,38. e 39. ), com .If limiIJrij"s conJ.:tgrad.1J nos a,./r. 42: e 44.·

3. 0 principio constitucional da fuo\ao social da propriedade.

o an. 35." da Const. PoJ. atnbul it propriedJ.ue, como ao capital e ao trabalho, uma iun(ao social.

D6ta regra constitucional decorrem as limita<;oes consignadas em leis ordinarias rdativamentt ao din,:,ito de propriedade e ao valor social que a mesrna propriedade asswne, designadameme quando na titularidade comum ou singular de indigenas.

Esta fun~ao social cia propriedade projecta-se, por exempJo, em certas obriga~6es impostas ao proprictario indigtna (art. 41.°) ; na rtsoJubiJiciade da propriedade. se nao for aproveitaJa a terra nos krmcs impostos pela lei (art. 42."') ; na sua trans­missib;lidade apenas rdativa (art. 44·); (; oa impcnhorabilidade, tambem relativa, dos pefdios rusticos e urbanos £los inciigenas (art. 46.°), etc.

4. Aspectos intemacionais do regime das terras.

AcentU()ll-S<';' _ (s~pra, nota 2) que 0 nosso direito actual nao s6 reconhece a pwpnedade dos mdlgenas sob forma tradicional, como favorece a apropriac;ao indi-VIdual das terras por parte dos 'nd' I ef . . . _ " " I 1gena," nteressa agora r enr, paralelamente, quais as pOSI~~ que, no dlrelto e na doutnna lOkrnadonais se c.--sbocaram a este r<:s-peltO. ' .

Pode dizer·se que a nega<;ao dos direitos de proprl·eda.de d . J' te . 'f d . . os 10 1genas soon: ~~~USt1 lean o-se aSSlm a lIvre expropria(ao das mesmas, esta ha muito ultra-

Nc-m criterios fundados na diver,id"de de fa _ - , . de, nivd cultural ou te:\niU) pod . T I;as, nem tao pouco na deslguaIJ;!Je j:>nvJ.\ao de direitos dus indigO (:' emb J~stJ lrar perante a Sociedade Internacionul a

. - nas >0 rE as suas terras Esta c - . ongmada nas modernas idtias an'" 'I 'I .,' once~ao, que parL-< ena , I dCG "nla lsta'> J" a defend" J

sect! 0 () Prof. .Marn'xl) e Souza (f . ".. _ la, p?rem. no corne~o 0 pig. 462). .l. Adllllll1Jtra(,/(j CoiomaJ, Coimbra, 1905,

A rtcl-n1:t: revolta dus quicuios nl Q ' '. " na questio do. regime das terras p;r.l :n'1;~cnla~ ongmou .. s.(. ~m parte, aD que parect:, trado que a vlOla,Ao do direito d - gc-ndaa,. J:.. experlenCla colonial tern d(;'lDons· I1Didade e,harmonia entre inJigtn e proP

lw:. de mdigc'lla cayJ. perniciosa brt'(ha n.l

P a,,> e co oruzadores ()r, ISSO, as 1\acij~s ttndr-m od . , l' . .' ,m (mament . .

<llreJtO<; a( qUlfldr)s e as aspiraci es d I _ e a respeltar progresslvamente os a .,' d . ) as popu aCOes md' p gJu, JX)l~, 1ru:.C.-pt'll t11!tmente de" .. _ '. Jgenas. ortugal Sl..wpre a..~sim "'·Iit' , I . '. UISpoSl~Of'S legalS e t b' I'V 1(;1 U tramanna a Idela de unid J, . , s ev~ 5{:mpre em viva na nossa uJtc~rin()s, indit:enas. e nab indigl:a~>. 19ualdade e ff'Spf'ItO pelos direitos Jo, povos

Mas <jlldJ'> as pnncipais 00' -(ontra I) liini!(} de pcopnedade dOS}l,,(,ocd'~ que autores estrangeiros tem apn,sc:ntado

1 L!" ' In Igtnas I , - r "mdm. no Congr(:-so It' . .

, > n ecnanOllai Cc,lonial, nt:gavd 0 dirdto de pro-

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71

Artigo 35."

prie~ade aos indi.l:ln,L'>. com 0 fund:un';nte> de qUl' os nativo'> nao tern uma ide. preclsa e rigoro<,! do dlleito de propriedade.

o Jrgumento ~lao colht". Sf': e (erto que mUlta, vez~s n.io pO~"'tm a rn:x;ao de proptlcdade IndlVltluaJ, ti-m-na contudo de prupriloJade col(':'(tlv~. pocque entre o~ natJvos .afncano<;, cornu entre a gentrJlida,)e dos povn~ prunltIHJ">. existia em regea. '<a data da ()(upac;ao europeia, a propried:lde- cola.tiva. A terra. peL~e i tnbu ou ao regulo, que distribui as terr.', ou I'M todos os mcrnbros da. tribo ou pelns seus. indunas., que por 'iua Vl"Z as diviJem pela sua gC'Iltel> (Prof. ~uy E~ncs FInch. up. nt.. pag. 154; no IDl-smo ~entido. Prof. Jl.1.Jrn,":o e Souza, op. ut.. ~g, 463 e Pruf. Sliva Cunha. uroer cit., pa.g". 13·24; C("sar<: Cosciani. Of'. lit.. pags. 96 e 97).

Por isso 0 nosso direito prott:gi.l tradicicn,tlmente a propriedade- cLJlc'(:tn ... WIDO

<t' ~0':5agra no art. 35.0 do Est. e, para alt~m deJa, admik-<>e hojt: a propria propm-dade mdlvldual (art. 37." l. qut' 0 Estado reconhece e favorece.

2) - Qutros autores socorriam-se do nao mcn(l, tragi! argumento de que nao poderia delimit:tr-St: com rigor as tura-, apropriadas pdos indigenas.

Mas logo SI; objc-ctou que essa dificuldade nao e ri!Nrosamente uma lIDpOS"bil.i­dade. Chailley-Bert cnunciou mesmo alguns criteric, t":ndcntts J. dililritar a pro­priedadc dos indif!Cl1aS - tais como: o..'Ilpac;ao e cultiyc dJ.s ttrras: colheiu. do<, frutos espotaneos de determinado Sf:<..tor de terreno; tt:rras percorridas periOdicamenle pelo indigena no apascent3.r dos s(;us rebanhos ; certos esp~~')s que os indigenas por vezes reservam ante(il'.d:unente p<ira futuro amanho quundo 0 aumento do seLl

grur" familiar ou das suas necessicuJes 0 exigir - criterios que. t(.>davia, nos parecem pouco de acordo com a fe-i<;3.o itineLlntc da agriculturJ. e Ja vida lOdi~t!llS.

o Prof. Ruy Ulrich indicava 0S dois seguintt~ processos p:lra delimiur as terras dos indf;';':!1as: «a) - C0nvidam-s<; 0, interessados J fazcr yalu ns seU5 direi­tos e adjudicam-se it colonia todos os territcSrios MO reclamadus: e dtficil Lonst'guir, porem, que os indigenas satisfa,am a estas formalidad("5, cuja necessidadc- nao com­pretndem, dada a sua natural indolencia. Com este ,istema. pois, nada se wnsegue, visto que nao e possive! conflscar-Ihts as terras. cuja rroprieda.Je deixaram de rc-cI3.lTllIC. - b) - Procede-se directamtnte it delimita<;ao, uu eSt.lbdecendo reservas em redor das povoal;oes ou reconhecendo as propriedades existentes de facto. E5te processn delTIoudo e: dispendioso e 0 (mien eficaz» (01'. cit., pag. 1511.

o art. I 'i7." do D,-"L. n." 3.983, de 16 de Mar(o de 1918, que- apwvou 0 hc-gula­mento para a (oncessao dos terrenoo do Estado na Pro-vincia de Moc:.unbiquc. disp(ie que «,I ocupa<;ao Jos indigenas l't:\'e1a-se pelas suas palhot:ls ou ,L 'U.l fJ.IDilia. pela> culturas ou relos vestigim de pascigo dt' gados».

5. Regime: de terras dos indi~enas portugue~es. Si~temas.

N,l r"",une <las terras dos indigenas pJftU!!UDO - .l<;pecto d" que pnocipab,;:-r.te nos (lcupamos - h;i que distingllir dois sistemas: 0 i.1' re .. "n';J, pel,) qu;!.l ".lo ~arantidos .lOS indigenas 0 uso ear ruit)'o na forma wnsuttuJin':ri.l dZ$ {eIT.l5 necess.irias ao (-stabele-cimento das suas povn.l~ii"s c das suas cultw:.is 0: ;w p;l:'(i~ do 5l:U pJD, e (j (/lhm..: d.1 propr,;cdade hldlvidual. Ocupaf-no,>-c!"l05 d,') si5te:::2 <las rcscrvas em nota subsequente a l ste art. ,5.· l' ao .1rt. 36:: trataremOS d;1 propriedade individl.Wl em notas .10 art. 37."

6. 0 sistema da~ reservas indigenas. A) - IdeiJ.5 geuis.

o PnL Ruv l'lrich ('Ilsinav<i jli [l,iS suas LieoH que «" E>ot.iJo dc'\(; e>u.b"te<:"r rtoSt'rvas em Lv:.r J(,~ indif(ll;j5, i,tn i:. Jeve concL>der aos indigenas <"'l:ten.<;()cs de t"rrenos, para elt.s os cultivarem ~ ... xplorarem. {fI'.b .. 'ra ,'" nao pt.'6..-..J.(l\ ~.1en.u-.• -\~ n~~erV'l, .1bn!n,t.:LT:in . .lli:m da5 tend, iA efl'<:tiv.unmtt' O .. Up.ldaS Delos ;!lc!.l"t·"~J'. as

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72 EST ATUTO OOS rl'.'DJGENAS PORTIJGUESES

Artigo 35. 0

que Ihes serao nt'Ce>sirias, atendendo as suas necessidades econ6micas e ao set!

descrn olvimento futuro. Garantir·se-a assim aos indigenas a sua existencia ( ... ) ». «Os indigenas terao assim urna extensao 5ufieiente para nela vagucarem e para cu1tivarem 5ucessivamente novas terras como 0 exige a imperfei<;ao da sua cultura, e nao preci<~rao portanto das enorrr:es extensoes restantes. 0 sistema s6 tern 0

defeito de isolar os indigenas dos europeus, dificultando a fusao entre eles». «lim ponto importante e 0 da determiroc;ao da quantidade de Ic:rras que devem

entrar nas reservas indigenas. Por vezes 56 se inc1uem nelas as terras em cultivo ou cecentemente cultivada>. Ora os govemos devem ser generosos nesta materia, nao sO para garantirem 0 futuro da popula<;ao indigena, eomo para evitarem conflitos e dificuldades. Os indigenas habituados a vaguearem livremente em extensos territ6-rios, nao compr(tndem nem adrnitem que uma regulamenta<;ao restritiva os vcoha coibic de colherem os produtos naturais do solo, fora da area limitada das suas reser-us». A ravor do sistema das reservas, invoca ainda 0 Prof. Glrich 0 facto de ser este sistema 0 que melhor se harmoniza com as institui<;oes dos indigenas, entre os quais esta ainda, em regra, consagrada a propriedade colectiv!!. (Prof. Ruy Ulrich, op. cit., pigs. 152, 153 e 156).

7. Idem. B) - As resen'as como meio de proteq:ao e nao de segre­ga~ao dos indigenas.

Com'6n acentuar que a designa~ de rcu;rMS indige1l.;t, tern sido dada a ceali­dades distintas :

1'13. Unlao S~I Afri~ana e no Querua, as reservas definem-se em func;ao do criterio de segre.r;a(ao raoul servlOdo como Oleio de manter a colour-bar (poHtica do apartheid).

Entre n05 as reser-lias constituem uma garantia para os indigenas (corpo do art. 35.") e servem ao Estad() de mcio de rumprir 0 pn-ceito do art. 143.° da Const. Pol. 0 afast~mc;nto que as reservas estabelecem CC1tre indigenas e C!ao indigenas e UlD2. consequenClas que se lastima e nao urn resultado que se deseja.

8. Idem. C) - As reservas como parte do domiaio pUblico do Es­tado.

A . l' . ' ~ rC5{7Va5 1OG/~CC1as, como cJaramentc: r,,~;ult:l do art. 35.°, prosseguem fins

esp.::nflco: de protec\ao e garantia dos indfgenas (ct. supra nota 7) fins que int re5sam dlt~'Ctamente a actividade civilizadora do Estado &: as<im / . t .' , e-d~v"m eo",'d, f d . d ." c, eS:1S C(servas ~ " _01 _f:ur-se ora 0 ctglme as terras f)agas sob . '. , ( fota " 0) , . . ' re as quaIs, (omo se vera ~ ~ r: ~. aD art ;)8. , as ProvlllClas Ultramannas exercem um direito real de dispo­

SH;ao: t: 0 que rcsulta do pr6prio sis:ema do Est que C~ f CCJ c!r rt 38 o. . .. . ' - ~ re ere a terras t'agas no

rpo .-'J a ... . e, como real I dade (liferente, ;is reJeTtk/S indtgenas (§ 1 0 d ._ mo artJgo). . 0 mb·

Qual a natureza juridica que deverc.ll1OS atribuir - , . as reservas indigc-nas ? ' en tao, as ten-as que constltuern

Scrvindo 0 interesse do Estado, e sendo urn . d . _ . cole-ctwas dos ind[genas, part-ce devec(1ll en lobar-se mel~ e, s.attsf~ze~ necess~dades o qUi.! (-x~rce, ~':" consequenria, 50bre das ~rn . " no Oml1l1o. PUb/ICO do lJslat/o, ne:;te 5('lltLdo Pmf. Adriano Mortl'ro I-A P P .dl~eldto J!:fPropnedade publica. (Cf. .) • cO, _ ro Tlete ans es P' d'r 'OrJI.!J'.o1lJeJ, l<Dud Vers fa Prr.m'I,·' 11 d j'E' rOVl1lces )lItre-Mer ". v ,-,.j e 'conorme Ii d" (C

Coll"<jue CO!ilfli'J.! sur rfconomif' Indi,,('D" 9 12' .1 'gene ompte RenJu du , (.vrno wisas do dom/nio publico ''as '-r~~ J .Jan;'l!:r 19562, pag. 406).

!UCdho-pr'vad(J., lst() l:, sao «jn5m(~pt;ve' 1.as l~dl~en~s estao .rora do comercio 'h~1 .( ". 15 C( f' ( ur aD a "rot" 1 d . I -- IO:J"'V(,15, lrnpres...lltlveis, irnpenhrmlveis c nao ~ > ,'. I p.Jl"{ a e partlCU ar, pr'\Jo, tllquanto UJi'.~ publiC<1'>'" (Prof Mar IJ r eravcl~ pelos modos de Direito

. ce 0 ..aetano, M(lfIllaJ de Dirc;to Admi-

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Artigo 35."

ni:tr~ilJO" 1~56, pag. 187). ~f~s. consid.eraJos do ponto de vi,ta das norma.~ do D~re~to Publico, os bens dOnl1~alS admltem a chamaJa comerciairdaJe de dirrilo pu~lr~o. No. asp:eto que no~ l?te~e.,~,. tal comercialidade pode manifestar-se na ,?ropr~a_ autonzac;ao de apropnac;ao WdlVlliual dos terrenos anteriorm{"tlte dC'itinado.s a frUI~ao conJunta, nos tcrmos do § 1.0 do art. 38.°, por forma a rea1izar a finali­?ade expressa no art. 37.°: 0 Estaclo reconhece e favorel:e din:itos indiviJU3is de mdigenas sobre predios rUsticos ( ... ).

9. Idem. D) - Estrutura juridica da-, reservas indigenas.

£ diffeil estudar a estrutura interna <las rt:~as indigenas, pois que nao hi actualmente disposi~oes de caracter geral sobre as mesmas, c"Ocootrando-se 0 sell

regime definido indirectamente nas leis que organizam a concessao de terrenus, atraves dos limites que a esta sao impostos. (V d. legislac;ao 50bre coru:essOes em nota ao art. 37.").

No Direito comum, 0 instituto que mais se aproxirna <las reservas e 0 du coisas comuns, peIo que as reservas, no que toea a organizac;ao do St."u regime interno, se aproximam da ·contitularidade de direitos, designadamente da compropriedade, regulamentada nos arts. 2175." e segs. do COd. Civil. (Cf. Prof. Adriano Moreira, op. cit., Vers /a Promotion . .. , pag. 406).

o instituto da contitularidade consiste em yarias pessoas terem direito a urn todo sem que haja determinac;ao da parte de cada ll.'I1a, ou ainda, quando a mesma coisa e objecto de poderes juridieos respeitantes a pessoas juridicas diferentes.

o conteudo da contitularidade rderida e um direito de uso, frui<;ao e ocupa­c;ao; a forma deste, e definida pelo direito consuetudinirio e a legitirnidade dos contitulares resuIta da sua integra<;ao na organizac;ao politica tradicional a qU3l a reserva esta afectada.

Como coisa publica, a reserva e imprescritivel, pelo que a ocupac;ao realiza.h. peIos contitulares nao confece direito5 individuais de propriedade (prescri,iio aqui­sitiva) .

ARTIGO 36.0

(Concessot:S de terr:L, a niio indigmas)

Nao serao efectuadas concess6es de terrenos a nao-i..'1digen;J..S sem que, pela forma prescrita na le-i, seja protegida ;l situ~io des indigenas estabelecidos nesses terrenos.

Cf. a alinea a) da Base LXXXV da L 01,". . A ~ituac;ao dos inJigenas t"sLlbelccicl0S em tc-rrenos lOnceJl~os (fon d~ r;;e:­

vas inJigenas) foi acautdada pelo art. 155.° do DLHdo n.U 5.841-C, de 31 Clt' ~"'-u.o de 1919 e pelo art. 232.° Jo Dec. n.o 33.727, Je 22 de Junho Je 1944 (su.s~'C",)._

Yd. ainda nota 2 ao art. 35.0

ARTIGO .n.')

(Ret:onhecimento de dirc:tos indi\iduai, ><-x,re pre,1iv;;)

,. d··· d··d . -l .-1'.,. ~' o Estado reconLece e r~vorece lr::ltos tn 1\,1 '.lalS uC lnc.l5e11_~

$Obrc predios ruslicos e urbanos. , . Os indigenas que tenham optaJ\) peLt lei. (VillUfll em matena

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F<T/,lr;,) DOS '~DiGENAS POK1_~L'~ "~~:: . _. ~----- ----_._--

de propricdaJe imobili,iria pcdem ad~ui~ir ? dire~to de propriedade l")tl outras direitos reais sobre bens ImOVClS pot heranc,a, leg.ido,

dC';lcaO OLl (cmr:-[ '. . Na falta d; opdo. os indigenas podcm Jdqu.icir direi~os snbre

bens im6veis, com as limitd(OeS constal1tes dos artlgos segumtes. ,': {inieD. Os contratos de compra de bens imoveis em que 0 ,) d d' . ~ 't 1 comprad(1r seja indigcn:I e os aetcs e lspOSH;ao: a, tl u.O onewso

ou gr:ltuito, de bens dessa natureza pertencentes a mdlgenas, quando ieitos a favor de nao-inJi!:::::-nas. so serao validos depois de allto­rizados peIo juiz municip:;.I,Lque se certifiGwi da capacidade daqueles

e de que os seus interesses nao sofrem lesiio.

1. 0 sistema da propriedade individual dos indigenas.

Observou.se ja (nard 5 ao art. 35.°) que 0 regime das terras dos indigenas ,e descobrava em dois sistemas: 0 d:l resen'as, tradicional na nossa legislac;ao, e 0 Ja p;vpriedade individual. cuja criac;ao, em regime especial. a Base LXXXV da L. Org. pre\-ira e que 0 art. 37," do Est. veio efectivamente estabelecer.

o corpo do art. 37.0 afimla que 0 Estacio reconhece c jtJt!ofece direitos indivi­duais _de ,indit;ffilS sobre pr~ciQ~ rUsticos e urbane.s, 0 que corresponde a uma preo­cufX',;:') m~enclOnal de politJCa mdigem, twdente a evitar a proletarizac;ao dos inJi­:::enJ.s, mediante. a constitui<;ao de UlTI.'l dasse media de pequenos proprietarios rurais. ,~cr2ves dos quats melho! 5e poaw\. processar uma politica de assimila<;ao.

Ap~entemen~e, 0 regime de propriedade individual dos indigenas estrutura-se da segumte mantua : ~

.1) - Ou 0 indigenJ. optou pela lei comum nos termos do art. 27.0 e fica suieito ao que. es~a presc::eve sobre a materia (2." parte do corpo do ~rt. 37.°) ;

b) - Ou 0 Indlgena nao optou pela lei comum e entao pod J ., d' 't sobr be ' - ' ..", e a qUlnr IrC! os

(' " e ns ImovClS, com as lImlta<;oes constante:s dos arts. 38.0 e segs. ,. parte do corpo do art, 37."),

MJs, em rela(i·J a estes ultimos I I

· ' perguntar-se-i: ~e tais incH 2:enas se nao reg~m. _pe a el .comum. qu.: lei ha.-de - v

lh f entao regulamentar os direl'tos r~al's rllJ'a

:.qUlsl"ao tS (Jl conscnt;da ! C C

Segundo 0 Prof. Acriano Moreira «sob d . pit.rece qUt outra n3:o pude ser senao" I' ptna e se GUf em plano arbitrhio,

. " ,a el comum' ass'm e f· d o l!:cllgena tenha previamtnte opwd I I' "", no 1m e contas, que ;:"!<llviduais sem opdio previa e ",ope? Ie! cornum uu que ele aJquira direitos

_ . . . . ~rnpre a el cornum . ' b . re-sp::IW aos dlrt'1tos rtais individuais (A d que e~tJ su metH]o no que In Vers 1.1 Pro"!.fJlil/ll ... , pag. 409). », pU. Prof. Adnano .Moreira, op, cit,.

, E!n c~c1usao, a dualidade a estabel'-ler . Vidual dus wdigenas cleve ser a seguinte ; quanto ,10 regime da propriedade indi-

.z) - A'Js indi,!!ena, que optarcm I J' esta e aplicada Scm restrir5 Pe a del c1omum, nos krmos do art. 27.", d ' d d ' ,s, po ent () us me' d· . d" e pmpne a e ou outros di . , . . -Sl11uS a qUlnr 0 Irelto J d d

- .rtltos rtals 'ubr- b ,. , . . ega 0, oa~ao OU compra t "'" ens Imuvels, por heranc:;a, r) .. . d' , nos trmos da '). d ' '/ - n.OS In lJ.;c-nas que nao opt I . . _. parte 0 LOrpo do J.rt. 37,°· r '_ r- ararn pe a lei , '. "

UDltR,Of:5 constantes dos arts 38 0 ,comum, tsta e apllLada com as Em fue da di5tin(ao anlt:riorme; . e segumtes do E·.t.

na~ d.i~i(,(jl-; ,do~ arts. 38," a 1(, on de apresent"da .. 0 usa d,l palavn «illJige:na~ "penas z . d' ), eve enttndc . . '

In Igt1hlf que /lilo upt{lram pel I·. '[-,(, rl,tntlvamente referindo-se a e/ '0111I1rl1. )

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______ E_,S_TAI~TO DOS I~D1GE'\AS PORTfJGUESES 75 --~,~ - .. ~ .... '-~-~--. --------

Artigo n," 2, Remissao para legisla\ao geral.

.. ~ A .wnn:".:io ~c Jlfeito~ in,iivlJuais de propmJ,lL:' rtgula":,-se ate 1944 pur lcglsla(:1O mUlto (hsptr~a, Nes~t: ano publicou-se ,\ Lei n,' 2.001. de 16 de Maio, poueo depOiS r:guJam:ntada pt:lo Dt·c n." 33,727, df' 22 dt Junho de 1944 fRegula­meNlo par,r ,I COIIL"essao de Tt'rreflfl, do Erldd{) l/ar CO//)'J!aJ Continenf.:ziJ tie Africa). Aos ,\rb. 226." e segs., desse diploma wrrtspondia urn tapitulo sobn: «Coru:ess<ies a II1dlg<:n,lS». rna:, devldo a ltetas disposi~ik"S de carac tc'r tis<-al sobrf' cx')lora<;ao florestal, 0 Dec n-" 33,727 foi suspenso pel0 DeL n." 34.597, de 2!'l de julho de 1945. Voltou, pOlS, a aplicar.~e a antiga legisla<;ao sobre WO<.c--ssOes (e I'eservas de terrenos indigenas) : Guine: Port. n." 27, de 8 de Fevereiru de 1938 ; Angola: Dec. n." 5.847·C, de 31 de I-Lli" de 1919; Mcx;ambiqut:: Dec n:' 3.9-R3, de 16 de l\far<;o de 1918. 0 Dec. n.O 36.330, de 6 de Junho de 1\147. rrundou no-por em exu:uC;iio os arts. 43.",256.".263.",265.",315." e 316.· do Dec n,· 33.727 (suspenso). Esta pr::sent<:mt::nte em t:stuclo a rcposi,3.o em vi!.;or deste ultimo dccreto, com algurn~s altemc:oes e aditamentos.

ARTIGO 38."

(Terrenos vagos apropriavcis inJividu.llmtnte)

Sao apropri:tveis individual mente 05 terrenos vagos ou abando­nados, aqueles em (uja apropria~ao consintam os seus proprietarios e os que £orem objecto da pro'.'idencia especial referida no § 1.' deste artigo.

§ 1.0 A requerimento dos regedore-s, (om 0 V0l0 concordante dos seus conselheiros, pede 0 governaJor do distriro auw!"izar <Iue sejam tornados individualmente apropriaveis terrenos .111tcriormente destin ad os a fruic;-ao conjunta, onde cstejJm instaladas. com ca:-ic­tel' eshivel, povoac;6es e culturas indigen:ls.

§ 2." Nos terrenos rderides no paragrafo antef1Cf, 56 05 indi­genas da respectiv,! fEgeciciia s}o lC'gitim~)s FJ.r;! :H:iquirir hens im6veis.

§ 3.° N;io sao reconhccidos direitos sobre predlcs rUsticos de t'xtensao inferior a 1 11:1 au sobre constrw;6es que nao possam ser consideradas clefinitivas.

1. Terrenos apropriaveis indiyidualmente.

() art. .'iH." lonsider.! .lpr0pli,i\eis indi"Jualmmk .

d) -- Os ttrrenos VJgos uu .ili.UlcllJnado> ; b) _. (h ttrrenus ja objeeta dunl direito ,k PWpf!",lJ.L· r: c:-m (Ul~ apropriJ.(.1<>

consint.un os seus proprietJri"S ; .. . c) -~~ 0., terreo\), anteriormmte de-stip.!d,~S .~ trui .. "i~ COO1,uuta (~~JS :ncll­

/(ellas) , quanc!o ()b)edo .1.1 rrovlJenu,1 ;;-'p':lI11 ret<T1d.! n~ :-; 1. do .Irt. 38."

bludJrulllls sUlessivaml1l:,', t:,t." dl\,er,.I, EpOtes<'i.

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76 ESTATI'TO DOS I~D!GENAS PORTIJGUESES

Artigo 38.·

2. Tcrr-.L.<; ngas. Sua natureza juridica.

Tem.se esbo\ado. na douuina e na polloUt colonial. ttl'S solu~6es quanto a propric,bdl" das terr.!s vagas ou abandonadas :

.;) ·-SiJfcma das «res nul/iNS» (coiJas de? Ilillguem):

As terras vagas. nao pertcncendo a ninguem, podl"riam ser liv~er.nente. ~pada~. Como not.! 0 Prof. Adriano Moreira «0 sistema liberal do COdlgO CIVil lmph-

caria logicamente que se confiasse ao instituto da orllpafao a constituic;ao dos direi­tos re-Jis princip;dmente no que respeita as terras vagas» (op. cit., in Vers la Promo­liol1 . ", pig. 394).

Assim, 0 Cod. Civil, ao dec!arar a ocupac;ao como modo de aquisi~ao, estabelece no seu art. 383." que «e Jicito a qualquer apropriar-se. pela ocupac;ao. dos anima is e ouUas coisas, que nunea tiveram dono ou que foram abandonadas ou perdidas, salvas as dedaral,;oes e resui~6es conteUdas nos capltulos seguintes».

Todavia, a aplica~ao deste sistema como modo de aquisic;ao de propriedade presta-se a abusos, por os particulares poderem des~e modo apropriar-se de terrenos Duma exteosao muito maior do que eles puderiam explorar e aproveitar. Entre nos o sistema carecia ainda de fuod2.mento juridico, pelo menos a partir de 1901, como adiante se veri.

De resto, este sistema sO troricamente foi defendido, porque todos os Estados com territorios ultramarinos se recusaram a admitir a ocupal,;iio como processo de exdusiva aproprial,;ao individual das terras vagas.

2. Sistema da proprhdade do Estado .

. " Neste sister.?a, d.efen?ido por B~untschli e Hamelin, 0 Estado adquire pela con­qUbta e. ~~pa~.:lO, oao so a soberarua sabre a colonia. mas ainda a propriedade do sell terntono nao ocupado.

Este sistema ter}a a vantagem de atribuir ao Estado a resolu(ao do melindroso problema da ocuPJ~ao d~ .teeras vag~s .e j~ tem sido defendido como 0 que melhor sc: coa

4duna com) uma polIt.lca de asslmllac;ao (Hamelin, Des concessions coloniales

pag. 9 e segs. . I

Em Portugal, nC" dominio da Lei de 9 de Maio de 1901 (e resp cf I

~:t~o~\~u~~e~~~~).~~~~:~~>[~~~e c:e l~e %a~~m~~i~ do Es~ad~, ~:~. ~~fr~t~ propneC1J.u~ pnvada adqUlrida nos termos da I ~ . I _ 901 nao conslItul<;sem

, -gl~:t<:ao portuguesa (*). 3." Sistema da propriedade das C%niaJ.

1.s terus vagas pertencem ao d ';. . . d d ' . legisla<;1o local que deve regular 0 :l:~.v~ ~f1~a 0 .as colomas e, portanto. e a este terceiro sistema de:-fendido por G gt me Ga ~ropf1edade nas mesmas. segundo

E ' us ave affiler eDt' I sta Co;).cep~ao corresponde a urn re' . d . emar la .

no Congresso Intemacional Colonial d/~~~o e (~ton?mla das co!6ni~s e prevaleceu J.Jn! ~es Colrmies, pags 85 e 5egs. ap d p' r ;rOler, fA LegISlation Domaniale Colomal, pag. 4(9). ' u ror. J:unoco e Souza, AdmirJistrafao

, ~.) Erradamcnte, 0 Built/in de I'An -', . !~'~r~/J //rrlltl.:'jJ d:01<lre./'Iur, flO seu n~!/~~o: ~,.~ AT"CI>'nJ ElrdianlJ df "/mtit"t UniflerJ;'

.. H.unan') ;. urelfa a ~flf,cJo~a d .,. Clmestc" de 1956 . 6 'b . das '<tcrus va '''S <;11 q " .. " 0 e ~er l'Sta a tr:so !'ovcrnament I { a pags 1 4, atn UIU d,)aUn'" pUb"~,,». Nil) ug IJao t~trJlam ddinitiyarnent.e' no rc'im ad actua '. quanto a. propciedade

1"<Jm"J&1I J,. fE, 'I'm; ~ssdm: na [(cente publica~au do Ins~'t ~ d ~~oP.C1eda.de pClvada (til do u <'1>", •. : I Go Pro( Adl .:~ n If.en., CIt., aparecida posteriorm I U 0 e, oC,'(Jlugla Solvay, V, rJ 11# a Lu IJ:-;.;:nic:t dv Ull~nu., MOrtlfa em questa". no qoal pod ci,te ao I "!efldo iJl/lIe/in, contcm-se

. t. •. uzr (ODSl(ura que as terras va"as _e dec.sed a pa'~s. 396 : (.pcesentemente .. sav <) ominlo dn Pc", incia». •

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77

Aetigo 38.·

Distinta das tres solu,oes referidas e 1-a expor: < a so uc;ao portuguesa anua! que passamos

4.0

0 sistema portllglles actllal . v~gas . u~ direito real, urn d017linio' dlsposI<;ao.

as Provincias Ultram:uin3S tern sobre as terras ~ml7lente, que se traduz !1um poder geral de

C.onvem acentuar uma vez mais ue P t - , mas s~m Provincias Ultramarinas (~r(. 13~ro u~al nao POS~UI actualmente col6nias, da Lei n." 2.048, de 11 de Junh d" 1 l' a Const. Pol., segundo a n:dac(ao e financeira (art. 148.0 cia Const 0 p 7 9~), gozanJo de autonomia adrnmistrativa tuto I;'0l1tico-administrativo pro~rio °d~t:da:sd IV da L.. Org,): P~)ssuind~ urn t'Sta­colecuvas de direito publico' art' 11)5 0 d Ce persopn3

1iIJaJe JundICa (sao pessoas

que tal co • . ' . . a onst. (). e Base LI da L Org) e tug~es (Co:~ ~or~;:n~13as5 o~etLroPOolitanBas, faIz1t)-m p::rtc integrante do E;tado Por-

o ') • ',. rg.) ase . Pois bern' e ao pt' •. d .

"f't ' . . a nmOnIO essas provinna< ultrarnJrinas t(;rritorios com peA el a a~to~omla, que a l3ase ~In da L. Org. diz pertencerem «~S terrenos va os ou ~u~ n:l? ':,ljam entraJo deflrutlVamente no regime de propriedade pr' 'ad gd domlfilO pubbco». I, a ou e

Mas, que deveri entender-se ror patrimonio da Prot'irrcia ? . 0 patrimo,?io da provincia. abrange urn complexo de direitos reais, de natureza

dlve:~a, q~e, nao pod em reduZlr-se aos tipos chissicos dos direitos reais previstos no Cod. CIVIL '

. Segundo a orienta~ao preconizada pelo Prof. Adriano Moreira podemos dis-tlf:guir, no patrim6nio cia provincia, os seguintes direitos reais : .

,1) - De aquisi~ao originiria, - individualizados por actos de autoridade, que revestem, regra g~ral, a

no.tureza de propriedade perfeita; ou - sobre espa,os indeterminados, em rela(ao :It)5 quais a provincia exerce

urn dominio eminente ; b) - De aquisir;ao derivada.

Quando de aquisi(iio derivada, as coisas do patrim6nio da Provincia mantem a natureza juridiC.! que possuiam quando na titubridade do seu ultimo proprietirio : assim sucede quanto as heran(as )1.lgas (a que a Base LUI. n.o II, chama, incorrecta­mente, heran,as jdCl!I1teS) I por exemplo, cujo contc-udo passa para 0 patrimonio cia ProviL'ia com a me.<ma natureza que possuia na titulariJade do de cuild.

Qu,melo de aquisi,ao originaria, os bt:llS patrimoniais ainda podem ter dUll naturezas, como joi dissemos :

Se ,l Provincia, por acto de .mtoridade, intlividualiza urna frac(i.o do seu patri­monio e 0 aft:cta a detecminado fim ou i satisfa(10 de ddermin.!da,s nxessidades. 0

direito que a Provincia exercera sobre essa fral(aO Jo seu patrim6nio revestlli a natureza mais conformc- com 0 fim em vista ou com a necessidaJe a satisfazer. Por C'xemplo, se a Provincia cria nas !crrJ.s VJg.1S urn quint.l expuimentJ.l, afecta uma parte do seu patrim6nio indeterminado a urn oble<:ti\'o determin.ld,). A espe:i~' de Jircito real mais conformt' ,1 finalidade prnssegui'!J sed J de prGpritJade reriei:a.

:Mas os rest.lntes bens ratrimoniais indetcrminados - J< tefIas vag~s iii,. deli­mitaJas por acto de autoridade - n50 sao obic( to de direito de propriedade. A Provimia exerce sobre des meros direitos dominiJis. u'rrc;pondentes .10 a';mJ"io emilU!I1lc do soberano e n5.o ao dominio do propriet.irio.

QU~U1tO a estes bens patrimoniais - os que a~t)ra e>p(--:i.ltmente nos OCUp.llIl­

a Provim"i.l exerce, indubitavelmente. urn pod"r g,tf.ll de di,rpMi{:ia do qtU! Jcriva C'xactaml'ntc a possibilidade ,Ic consentir na sua Jprnpria.;J.o pelos indi,;.:n.!s. atraves de ronn-SSJO feita pelo gOV<-fllO do Provincia (,let. -'9,", alir;,'J .i J ou de se admitir

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rSTATllTO lX~:) T:\DfGE:"AS PORn ;GFF.SE~ ______ _

Art,p) -"s."

- - - ( "" aJ' -~ d) que n:io rlderia «(lncC~1t'f-S(, M: as terras ,I I'fc>cri(iio aqUi,!ti\ ,1 art_ 3,,-. Inc"-. _ - . _ I

J .' 'U' 0 n[)r natUrL'Z'\ llT'prc,.ntl\(-. \'a~,l' !,<Ttenn'ssc'm ao nmmw PUllilC . ,". .' .' ; y' 394-"9()

• (Cf. r".! ,'\Jriaon ~fonifa, 01'- (it .. 10 Ve/'J 1.1 p,.OT/ln!,O/l •• " I ,l,l,'S. -).

3. Apropria~ao de tClTa~, '·:lg.t~. A wncessav c a prescri\,iio aquisi­tin.

o~ incligen.!s que sc regcm pc·los llSl)~ c wstwne:- tradiciotJais ,ro .l).o~em adquirir .Lrt'itos reais~ sOOre terrenos "il,!!OS atravcs dos seguintes titulos de nqulS1(aO :

a) - ConcL'SSao do gO\t'rno da Pr:ydncia ; au

b) - Preslri(ao aquisitiv<l.

A (OnCeSSao do gO\crno podcni wmpreenJ"f a pwpricdadc ple~,: ou ;:p~~as ,I dominio L,ti I (afOfamento) - art. 39 .... alinea (I) e § 6nico; a petscn(ao aqlllSltl~a _ alinca d j. do art. 39." - abr:mg.:r5_ sempre c s6 a proprie-dade plena. porqlJc nao h.\ prescri(ao ;l<]ulsilin do domiuio uti!. . .,

o~ indigena:s que- s<:: rcc:em pehl lei COllum em mJtc6n de propnedade. Imobl­li.iriil. (nos tL~rm()~ do art. 27>') pode-m tambcm adquirir direitos reais sobre tillS terras pelas fl111DJS supra indicadas, mas adquiridos des. nao estao sujeitos as Iimita<:6es dos .1rtS. 41." e st',!!uHltes.

4. Apropria<;ao consentida peios anteriores proprietarios,

St' os terrenos ocupados por indi;::enas sao objecto de direito de propriedade poe parte de outros ti(uJares. os indigem_s 56 sc podem deles apropriar com 0 con­sentimento dos respectivos proprictarins. A lei especifica qt!~lis as modalidades que esse cons<::ntimento deye revestir:

a) - C{)nu __ ssao ou SUbWDCessiio, devidamente autor!Lada, feita por particulares, nus tennos kgais - alinL-'3. b) do art. 39.";

b) - Alicn.a<;ao por partf: de organismos de credito uu de assistencia e(ono­mica. tstabelecidos por lei a favor dos indixenas. de predios dados em garantia pelo> indigenas em r:!Zao de creditos concedidos em seu favor.

Ve-se, J5sim, que a lei nao estabelece J normal prescri\d' ) aquisitiva em favor c,-" indigenas de predio, anteriorment<:: obj('(to de dire-ito de propric-dade, porquc a cnumt:ra\ao do art. 39." f: taxativJ

5. Apropria{ao de terrenos anteriormente dcstinados a fruic;ao conjunta.

Pl)rqUt: () Estado n:i.o so rcwnhcct:. como favort(e, ;l constituic;ao de dircitos indlviduals de pwpriedadc (art. 37."). 0 art. 3H." peeve que os tcrn;nm usados c frUJJo~ em comum pe10s indigena5 ('m regime tribal pos·;.lm por des sec apropriados jndl'.'idualmente mediante:

.1) -- R(;quuimento dos rt:gtdor~'s;

b) -- Voto con((Jfd(' dos seus ((),1sdheiros (quando os haja - d. art. 1 (,.") ;

C/ --- Aut0f1Za\2 t) do G(~'i::rn.ad()r do distr;!<: (~ngola (' Mo(ambique; na Guint, naturalmenre do Guvcrnador de PWVlflll<t, por analogia ('om 0 art. i 1.").

. 0 '-~rii~kr £Jldt'e/ e...:ipido pd(~ § I." [lao eXc1l!i () rotativismo proprio das tUltur~~ Jndlj;(."fI;:~, dentm d2 propna prol'lil'dadc (hojl', os tI~cnicos agricolas joi tondulr;;.m Gut" {/, P[(X(",o<; .lp:JfcntcWen:t· rrirJlitil'Os da (uhura ;unblllantc sao

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Ani!,:!) ,fL'

t'ptimo meio ,ll- <Ides;! l' prot('("<;:io do \pjo n.ntr,'l t(;"rm). a ews;'o c (> ~gotamentr, ttl

. C0l110 C Ohvio, ~ll O~ indigcnas da f(~pe(tjv.1 r(''''d .. _. tlrnt6~'w habit am pl'fmancntemente (art. 9.°) __ sJ.~(; Ofl,;t. l~tO 1::, o~ que .nn "'I, Im6vels l'(:suitantcs da apropria~ao da . ti' (legltJffiOS para adquHlr ben. nt:n::ssaria do regime dc mntl'! iJ. . I' J an g.L propneOade (OtnUffi, consequenci.1

U fie Oi [' ql1e ldra,(t(rt· a '. - . (d. nota 9 an art. 3'i.O). ' a ~ua organIZafJ', W~('rnl

ARTIGO :W."

(Titulo, de aqui'll;ao de- direitm de pCllpriedadc inc!IVlJtJ;i!)

Sao apenas os seguintes os titulos de aquisi(~ao dcstes direito5 :

(/) Conccssao do govern!) cia provincia; b) Concessao ou subconcessao feita por 1',\1 ticularcs, devida­

mente autorizada, nos tumos legais ; c) Transmissao de harmonia com () artigo 46." deste di­

ploma; d) Posse de boa fe, continua, pacifica e publica durante dez

an os, pelo meno~, Je terrenos anterioiffitTIte vagos ou abandonados, onde se prove tratament,) de arvores ou cui hlra permanente real izados peln possuidor.

§ lll1ico. 0 direito concedido poded. (c[1sistir apenas no domi­nio Util, (om a taxa de foro que for espcClalmente estabcb:ici.i

pm lei.

V d. Ll.nota~6es ao i.ift. )~.o

Not,lr qUe (I propriedade comedida e ITsoillvel nos tt:rnw.' do art. 42.".

ARTIGO 40.'

t Provas cia aquisl~;i() dt' prop[lcclud(' indlvldud)

o indigell<L (llie pretender d(,l~onstr;lf a aqlli~j\'a~ da, proprie~ dade nos termus da alinca d) do artlgo al1t~'[IL)r jusdflCJ.-la-a recant ...

o JUIZ municip,t1, nos termos segl1intcs :

1." 0 pl'diclo verbal J~ inh'r('s~a~J() "'~rl :edl!~i?~ a ~U_;:i'l. 110 qual se (o(1signara a dt'5Crt~;:O, Lll~~1t~. F'~l ... el eX3.Lt:: da a[(;,:a posSllida e ns d('m:l1~ tal fI.)~ akgados pdo lUS<i

ficante ;

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All ESTATtTTO DOS INDIGENAS PORTUGUESES ---- ------~~------------------

2." 0 juiz municipal procedera, por si ou por funcionario em quem dcleg3f, a vistoria do predio, pra vcrificar os brtos alegados pe10 justificante e no caso de cste ser favor,lvel despachari para que se fa~am 0 registo provi­sl)rio da propriedade e a passagem do titulo provis6rio ;

3.0 Os <!~tos serJo seguidamente enviados aos servi~os ca­dastrais, que procederao a identifica~:io, demarca<;ao e passagem do titulo definitivo.

Vd. anot:l(oeS ao art. 45. 0

ARTIGO 41.°

(Obriga<;5es do proprietario indigena.)

o proprietario indfgena e obrigado a manter 0 predio rlIstico peImanentemente limpo, a colher os frutos produzidos e a trans­formar progressivamente a mltura por formas primitivas em cul­tuIa ordenada, ficando nesse caso dispensado de obriga~oes publicas que envolvam afastamento das suas terras por mais de tres meses, salvo as resultantcs do servic;o militar OLl de senten<;a judicial.

Ja tivemns ensejo de refc:rir 0 prindpio constitucional da funC;iio social da propriedade, definido no art. 35.0 da Cunst. Po!. (CE. nota 3 ao art. 35. 0 deste Est.).

As obriga<;ocs impostas ao proprietario indigena neste art. Jevcm compreender-se como urn corohirio do preceito constitueional rderido, vaJido, evidentemente, em tode) 0 territorio portugl.lcs.

ARTIGO 42.0

(RtoS(J]ubiJidade da concessiio de propriedade sobre pn:dim)

A proprieclade conccdida f: resoillvel dUi."antc 0 periodo que a lei fixar, desde que 0 concessionario nao aproveite a terra, a aban­done, a dcixe de cultivar sem motivo de for~a maior ou sejo ex­pulso justificadamentc do agregado social em razao do qual hou­vessc recebido a concessao.

A. It'Solubilidade cia propriedade concedicla, prescrita neste artigo, constitlli a ~an~ao w[n-sponciente ao nao cumprimento das obriga<,:tics impostas no art. 41.°, (' dt'Vc ainda jnt~rpretar-sc como rorohlrio do primipio constitucional cia fllnc;ao social cia proprieJaJe.

Cumo l('suita do art. 37.°, a fl'50lubilidade 56 pode dccrdar-se em n Ll~ao a jndff{t1);t~, que S(: regcm pel os usos e costumes tradicionais e nao cm rdac;ao aos <jL,' em n:atl:ria de pmpfJc<JaJc imobiliaria, op!aram pela ki comum. A mesma res;.r;]. St· inl. n' cia parte fin,,J dt~te art. 42."

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______ --=~:::ST:...A:.:.:TU.::'T(~~~lGENAS PORnJGVESES 81 - -----------'--~--.:.:.

Arti .. o 42."

prop::ed~J~ ;4!;:r ~ ~~~~~ i~ ~t1d:lllc .lompettnle para dtuetJJ a. re',olu~ao da t:ssa ('ntidaue clcvera ,"r :: m. par.ddl~mo, ~ <;al~o dlSPO~15io wntrana da lei, arts, ,R,o e 39." ' t'm.l qlll: procedt' a COOU;';,aC) nos term05 doe

ARTlGO 43."

(G.lrantias do proprietario indigena)

~alvo nos c~f>O~ 'pr~is,tos na lei paLl a caducidade das con­cessoes, 0 rr~pnetano mdl~cna nao pode ser privado da proprie­dade .constltUlda de harmonta com os artIgos anteriores, a n5.0 sec em vlr~de de expropriac;ao por utilidade publica, mediante com­pensapo com outros terrenos disponiveis ou indemnizac;ao nos ter­mos legais.

As .!?fantias do yroprietario indigena consignaJas Oe-.te artigo COOStItut:rn urn dC-;.tl1Volvlmento do ,hsposto na alinea a) da n.l';l' LXXXV da L Org,

ARTIGO 44.°

(Repme da transmissao dos direit()', de propriedade)

Os direitos referidos nos artigos 38.0 e seguintes deste diploma sao transmissiveis apenas entre indigen2.s, de harmonia com 0 que estiver disposto na lei ou no acto da eonstitui~ao desses direitos ou segundo 0 prescrito pelos usos c costumes.

§ {!Oieo. as predios situados fora das ,lreas destinadas a frul­C;iio conjunta dos indigenas organizados em tribos pcJem ser t"ans­

mitidos por sucessao lcgitima a indiviJuo:; nao-ioJigenas chama­dos a heran~a nos ternl0S da lei COIl1Uffi.

t. Limite ... a livre disposi<;ao das terras dos indigenas. Suas razoes.

«Nada de c-sp~(ial ha ;l observar (om r(,,'I't'itn a venda de terras feitas pL'f indlgen,ls <l l)utroS indigl'nJs. 11 ciJro que 0 E,tJJu nao Jt:Ve pda sua prOlt>i<;j,;) obstar au desenvolvimento econ6miw da socieJ.1Je indigena, entre cuios mt:111bl1)S nJo ha as difert'l1(as enormes que existem entre inJivj..iuos de r:l';3.. de civili::.l;;:lo c de situa<;ao econ6mic;l diversas» (Prof. Ruy Vlrich, 01'. cit., pag. 1 'P).

Pl'los arts. 141." c I-B." da Const. Pol., 0 EstaJo garante pm mectiJas especialS ,\ prott ll)" e ,kfc-S;l dos indigenas nas provincils onde OS h0uver, ;l5SUn .:omo a propriedade e posse Jos seus tt'tfenos e culturas. J, venda sec rc'Sptitado este principii) ~'m todas as concl:SSOCS f,l'ltas pelo EstaJo.

Dt· facto, torna·~e poc vezes necessaria cecta adividade de tutela p.ua a"mteia! jmprevid~ncias de popuia<;ot's mais dttch,hi.h que. para s.atisfao;::,~ de qualquer capricho. nlio raro put:riL nao hesitariam, porvt:ntura. em (,'l11pfDl11etcr .is seas terras. E 0 pr6prio intt:resse dos colonizadores e, UU t'l".l pelo menos, deste m(l<io N-haguardado.

6

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Bl ESTATIJTO DOS INDIGENAS PORTUGUES_t_S __

Artigo 44.~

poi, ainda no prindpio do serulo, ~egLll1Jo nJ.rra 0 Prof. ]I,~.H:nOCO e Souza, ,?S indi!;enas venJiam por vezes, aos recem-che.gaJos aOs st'us tcrntonos, tetras que nan pos;ui:un ou nem sequer existiam (up. cit., ;XI!!. 466). . 1'. .

Conduimos, com 0 Prof. Marnoco e Souza: Quando um lflUlgtna "ende uma terra .1 um indigena ou urn nao indipena a Dutro nao .ir:Jf,~ena, este contra to. no:mal­mente apenas poe em jogo interessf:s puramentc: pnv.ados. Mas que urn m~lgcna venda uma terra a urn nao indil(ena, trata-se, soD multos ;l;pC'.·tos, de (lpera~ao de interesse "'eral oue 0 Estado cleve acautelar e regulamentar (Prof. Marnoco e Souza, ()p."cit., pig. 467; no mesmo sentido, Prof. Ruy Vl;ich, op. cit., pag. 157-158).

Foram estes os motivos que dctermimfJ.IIl 0 legIslador a estabelccer neste art. 44." urn dos raros (:lSOS de p.::oibi,iio de reLH;oes juddica.~ entre indigenas c nao inciigenas.

2. Regime da transmissibilidade dos direitos de propricdade dos indigenas.

1 - QUtl-l1t() ;; p,.~d:I)J rhJtj,OJ e :"hanoI:

a) - Dentro das reservas indIgenas : absoluta intransmissibilidade de indi­genas para nlo indfgenas (corpo do art. 44.°) ;

b) - Fora das reserv.lS indigenas: transmissiveis, po:- sucess.1o legftima, entre indigenas e nao indIgenas chamados ;\ sucessao nos termos da lei coroum (§ tinieo do art. 44.°);

c) - Entre indfgenas, transmissibilidade como regra.

II - Quanto a OIlIWJ beflS im6t1cis :

a) - Tmnsmissibilidade relatft'a, entre indigenas e ruio indigenas, mediante autbriza<;ao do juiz municipal (art. 37.°, § unico) ;

b) - Entre inrugews. transmissibilidade sem restri(Oes (,! contra~io),

ARTIGO 45.0

(Registo da. prollriedade indlgena)

No juizo municipal ou nas cooservat6rias do registo predial existidio registos especialmente destinados a inscric;:ao dos direitos de indigenas.

§ 1.0 A inscri~ao dos dirfitos titulados de harmonia com as alineas a) e d) do artigo 39.0 far-se-a oficiosamente; nos casos das alineas b) e c) do mesmo artigo depende de requerimento de qualquer dos interessados.

§ 2.0 Os direitos fundados em transmissao s6 depois de regts­tadas sao protegidos pelo Estado.

i, Rtgisto predial especial para indigenas.

Dv Vj~ora anl1ah~tnt(: ?o Ultramar ° C6digo. de Registo Predial, aprovacto poc a I ~ 38,(804, d<: 27 d~ Junho de. 1952. A~tcIlor ao actual Est. (1954) c mesmo

- Ig. J 953 ), 0 Cod, de Regulo PredIal nao Pl'L~/C 0 registo especial para

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____ ESTAlLJTO DOS I:";DIGI:NAS PORl1JGUESES 83 --. ----- - _. - -_ .. _----- -- _ .. _--------

Artigo 4~.o

~nd~~nas, pela f<1Z:i,) 6bvia de que os indigenas n~lO tin.ham entao aces~ a propriedade ~~lvI1~al s('g~IOUO as regras do ~ireito com 11m (U. nota 2 ao art. 35.", in fine).

ao . 01 PlIbhmdo, entrc:tanto, ulploma algum tendl'llte a regula.mentar 0 registo e~p.e( loll q~e 0 co.rpo ~e:te art. l7.· .lssegur.l a05 indigcnas, pdo que devem aplicar-se P I analogla a.~ dlsposl~oes do Cod. de Regislo Predial vigcnte.

2. Titulo (' rcgisto da propriedade dos indigcnas.

A propriedadc incligena c susceptive! de titulo e reg.i~to por for(3 da alinea a) da Base LXXXV cla L. Org.

. TIll/if). em terminologia juddka rigoro'\a, C 0 fund.lInt-nt" cll' aquisic;ao do di­relt~. Nest.e sentJdo se emprega a p:.lavra «titulo» nos arts. 518.· e ~19." do C6digo CIVJ: e alnd~ nas. ~xpress6es muito vulgares «titulo (j{)(rD",OY> «titulo gratuitl)Jt, (.a titulo de emprestlmo», etc. Mas usa-se a palavra titulo como stn6nimo de do­el/mento, designadarn<:nte no C6digo de Processo Civil (v, g, «(titulo ex ecutivo. ) e no C6digo Civil na materia referente ao registo de rropriedade.

Quando a L. Org. dc-clara a propriedade dos indiFtnas susce'plivcl de titulo, parece querer significar que ela e susceptive! d<: ser dOCMneTJlada, atraves do registo, de que pod<:m extrair-se, cerlidues e certificados, alem d.1S notas (Arts. 170.·, 177.· e 178.° do C6digo de Registo Predial do Ultramar). M:1S ;1 palJvra //iil/adoJ, do § 1.° deste artigo 45.°, parece caber melhor 0 significado rigoroso que primeiro assinali­mos; 0 mesmo se diga de iJentico termo utilizaJo no corpo do artigo 39." (vd.).

3. P.egisto voluntiuio e registo ofidoso.

Uma das especiulidades do registo predial de bens cujos titulares sejam indige­nas aparece referida no § 1.0 do artigo 45.0 0 registo ofhioso -ty ; dirt::itos titulados de harmonia com as alineas a) e d) do artigo 39.· C uma ('xcep<;ao, estabelecida em favor dos indigenas, i regra do artigo 88.0 do C6digo de Regi~to Prtdial do Ultra.­mar, segundo a qual «05 actos de registo ou a cle relativos n50 ser50 oficiosamente praticados pclos conservadores, mas sim em virtude de requtrimento de pf'ssoa leg{­tim a» (0 artigo 173." do C6digo do Registu Predial em vigor na Metr6pole t de con­teudo similar).

Na hipotesl' dos direitos dos indigenas serem titulados de harmonia com as ali· neas b) e c) do artigo 39." do l~st. (e em relal:iin aos restantes direitos 5U5ct'ptiveiJ de registo prf'dial) segue-se a regra grral enunci;lda no artigo 88." do C&hgo de Reg-islo Predial, constLlerando-se peS';".l Iegitima para r<:<Juerer 0$ aClns de reglsto «quem tiver intf'resse, direito 011 obriga(iio nos mesmos actos» (.lftigo 89,· do C6Ji­go de Registo Predial) e enl especial as pc:ssoas mumer:l<hs no JrtI,CO 90.· do mes-­mo diploma.

4. Efeitos do registo.

Aproximar 0 disposto no § 2." do art. 45." dt"Ste Est. d.l regra Jo art. 188." CO C6digo de Registo Predial do Ultr.unar.

ARTIGO 46. 0

(Impenhorabilidade dos prt·dios ritsticos e urbanos dos ifidjgenas)

Os predios rUsticos e urbanos do~ indig(,t:~\'s :.3.0 impenhodveis e insusceptiveis de servir de g:uantl3. a obngJ\=oes, salvo quando

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ESTATIlTO DOS INDIGENAS PORTI!GVESES

estas forem assumidas perante organismos de crcd.ito, ou de assis­tem."i.l econ6mica estabelecidos por lei a favor dos md~genas.

~ unico. No caw de os organismos a que este artlgo se refere vir! a adquirir os predios dados em garantia dos seus creditos, sO poderao aliena-los Je novo a indigenas.

1. Impenhorabilidade e insuseeptibi!idade de hipoteca dos prcdios dos indigenas.

A impenhorabilidade dos predios rusticos e urbanos dos indigenas e estabelecida na alinea c) da Base LXXXV da L. Org., que especifica ainda que a impenhorabi­lidade nle> abrange as frutos. pendentes au oao, os quais fiearn sujeitos a lei geral nesta materia.

A penhora e, como se sabe, a apreensao judicial de hens para garaotia da exe-cu~ao. Como regra, s6 0 patrim6nio do devedor pode sec objecto de execu!;ao judi­cial (artigo 821 ".do COdigo de Processo Civil), mas todo 0 patrim6nio do devedor esti sujeito a execuc;ao (idem e artigo 822.° do mesmo COdigo). A maior parte dos hens impenhoraveis vern rtferidos no artigo 822.° do C6digo de Pro':esso Civil, mas a enumera,ao n.io e taxativa, como se vi: do 0.° 16.° do mesmo artigo oode se prevem «outros bens iseotos de penhora por disposic;ao especial». E exactarnente 0

caso deste artigo 46'-A iosusceptibilidade, declarada pda lei, de os predios dos iodigenas servirem de

garantia (necessiriamente real) a obriga!;oes, excepto quando forem assumidas pe­unte os orgaoismos de credito referidos no corpo do artigo 46.0 liga-se Iogicamente a impenhocabilidade anteriormente referida. ,-

2. A1ien~ii() de predios adquitidos nas condi~6es indicadas no § limeo.

_ A ali~nac;ao pre;vista no § \mico deste artigo articula-se como 0 titulo de a uisi-~ao ~unC!ado n~ _almea c) do artigo 39.0 A L. Grg., Base LXXXV aI' )q-prevIa esta restrH;ao. ., Inea c n.a()

SUBSEC(AO IV

Das rela~aes civis e comerciais entre indigenas e nao-indigenas

ARTIGO 47. 0

(Regea geral para resoJw;ao de conflitos coloniais de leis)

As reJac;6es de natureza civil ou comercial entre indigenas e r soas que se r~gem pela lei comum serao reguladas por esta ultlma, quando nao houver outra especialmente aplicavel.

1. 0 conflito colonial de leis.

Sempce que: dcterminado facto ou rela ao' 'd' ntamente por divecsas leIS materiais TV ~, Jun lca possa see eegulado simulti· . , i ' r·)r se encontrar em coot -t ' . d JlU1( KaS, estamos tID pr("s<''1I~a do que c tu h ac 0 COIn vanas or cos.

os rna c amar-se urn conllito de If/ir

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F.STAl1fTO OOS INDiGENAS PORTUGUESES --------- 85

Artigo 47.-

1(~b5taim>():, intmcior~alm:::'Ilre ~05 conflito.~ de lei, no tf!mpr) , prefigurando a colisao de l'IS materIalS JlmllJtaneaf e nao JlluJril"zr) ,

rid' ~ C;id~te que podem suseitar·st' conflitos de leis guec em rtla.;3.o a ordens iu-• JCas e ESlado, soberanos: quer em rela,ao as varias ordens juridicas de urn s.6

E_sta~o de ordenamento plunleg,tslativo. Se, como no pcimeiro caso, 0 facto ou rela,­~ao e atravessado por uma fro?tei~a politi.ea (no <li;(CC expressivo de Niboyet) esta­mos e~. peesen,a de ~m conlilio tnlernaClonaJ ie lei!; se 0 conflno se gera deutro das v:ana.-; !?rdens Jundlcas dum mesmo Estado sobecano, depara-se-nos 0 dwnado mll/hlo nacronaJ de leiJ,

A exhtencia, nas p~ovincias ultramacinas portuguesas, de ordens juridius deri­vadas (vd. nota 5 ao ~t1go 3.°) privati vas de individuos que Sf regem por urn 1'11,,­

~lIto pefsoa/ contemponzador com os usas e costumes gUt Ihes SdO privativos _ os m.dIgenas - a par da ordem juridica geral aplicavel a inruviduos que se regem pcb. lei comum em todas - nao indigenas - ou algumas das reia<;oes juridica., _ in­~ig~as. d~stribalizados (artigo 29.°) ou que optaram pela lei comum (artigo 27.0), 1Sto e, iOdlgenas de eftallllo milto - gera uma esph:ie de wnflitos defaro do g~/t conflito naciooal de leis.

A doutrina (Cf. Prof. Silva Cunha, 0 Confllto COIUlli .. [ de Leis. Seu Reg1l'lU 110 Direito PorlUgul:s, in 0 Dire-ilo, ano 82.°, pags 81 e segs.) designa es.ta espe_ cie de conflitos de leis intemas pelo nome de ronflito dl! ieis de civiliz.lfiio deJigud, con/lito inter-raci.z/, cont/ito intergenliJ ou, mais vulgarmente. por COll~/it,) wlo"i. de leis.

o conflito colonial de leis e urn conflito de Tlarmas materiJiJ, quer dizer, de nonnas que regulam substancialmente qualquer facto ou rda~ao. Ora cia. simples enuncia.;;ao dos casas t!IIl que pode surgir uma colisao de Itis do tiro que nos vern ocupando, logo sc conclui que 0 conflito colonial de leis reve'>te duas moJlli<iades :

.J) - Colisao entre normas materiais de ordens coosuetudinarias diversas: b) - Coli sao de norm as materiais das ordens consuctudinirias C(1fi1 normas da

ordeITI juriJiu gel"dl (ou conflito colonial ?ropriam~llte dlto,.

Na primeira modalidade, as norma, materials I'm (ooflito esuo no mesmo pla­no, pois se trata, em qualquer hip6tese, de norma; pe~e:ncentes a ()rd~~ }uridi~ derivadas. Concebe-se, pois, que se dtixe ;i.> ordens jundlGls consuetudmana.<; ruras normas colidam a faculdade dt: ,olucionarem, ainda segundo 05 usos e costumes, 0

respectiyo confliw, 0 actual Est. a~stem-se. por issl), de ~mitir qu.alquer Mml.l br­mal destinada a n:so\vec esta modahdade .It: wnfhto COl00121 de: kl~.

No sel'undo casa as orJc'lls juridicas em conflito nao cstao no rnc:smo pLioo, por iss() ql:::: llma e a 'principal t: as ordens consueturunarias. simpl~ente deri:~ Desta diferente posi~ao hierarquica resulta, como e na:ural: que seJa ~. ordem rundl­(a principal :l dettrminar, atra\'ts duma TJOrm.1. de SOlliiao de ccnl.ltos. _ qml <las normas materiai" em coli sao dc'vera regul.l!" lfe-.:uvamente 0 facto OIl rela<;.l.o. _,

o artigo 47.° constitui, txactamtntt:, a nonnd formal que sulu.:iona 0 coothw Lo)onial de leis propri.lmentt- dito.

2. Solu~ocs doutrinarias tum 0 ronfEto colonial de lek :\ legis­la\au preterita.

A ' 1 -, om' uJas f)t"la lloutrina ou :l.dopta~ p.:lib k.ci~la.;-lX-s do~ dii.:-s so U\tlLS pfL'\. . • .,. ,r' i rentes Estados P;!f.l os conflitos mk)nlJ.l\ de kl~ pn:>pnarncrlte Ito<> po.: em agtU-

par-se Ja sc:guinte forma'

t I J' -. ·ndl.-' , .l.S fl()lr;l'_.~ dQs ru\, ia-aj - 0 (onflito rt">O \<-S<.' ap I'Jn. (} .t • .,. ..~-

dlgenas;

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1'6 ESTATUTO DOS II\,.TI)fGENAS peR TIJGUESES

Artigo 47."

1 r ao .10 nao indigena da. nor­b) - Jnvt'rMffiente (> ,-onflito resolve-se pc a ap Iea<; rna do dirt'it~ consuetudinario i~Jigcn'i; 'J d (-~ aequo et bono).

e) _ }·inalmente. (> mnflito e resolVldo pela eqUI a e L ,

fl ' C I 'aJ de Leis cit pags. 83-84), Segundo 0 Frof. Silva Cunha, (0 Con tlo 0 ont 'IOf'ln'~"1 prossegueIIl

• " f E t dos que como a . ", . t< primeira solu,';1o e a !TIals. requente ent:~ sa.. '1' - Veremos que e a solu-D(lS seus territorios ultramannos uma polItlCa de aS~~~~:d:ode resoluC;ao do conflito (aO actualmente eonsagrad~ ?~ Est. A segunda mo a . ue rocuram manter no colonial surge-nos nos terntonos ultramannos dos Estados, q P da Gra--Bretanha

. . . - . d' como e 0 caso . IDJ.is alto grau a pureza das mstItUI,oes 10 Igena~, I" h I desas e segundo Finalmente a ter(eira. solu,a? foi seguida nas antlgas ~o o~~s d: ~p. Org: das ReI. Jllguns autores, Jevena conslJerar-se consagrada no utIgo . de Dt.o Priv.

Dispunha 0 artigo 3.0 desse diploma:

Art. 3.0 As questoes de natureza civil e comerci~ ,entre in~i~enas e nao indigenas sao julgadas ex aequ~ et bono pelos JUlzes de duel to e processadas nos termos do presente dIploma.

§ unico. Exceptuam-se as quest5es sobr~ estado de p~soas ~ as re­suItantes de contratos de prestac;ao de servlC;os que contmuam "- regu­lar-se peIas leis em vigor.

o conteudo deste artigo suscitou duas correntes de interpreta<;ao :

a) - A Juiu(ao de eqllidade,'

Foi defendida nas suas prelec<;5es na Faculdade de Direito de Lsboa pe10 Pro­fessor .Marcello Caetano (cf. Conf~itos CoIonia~s, in 0 Direito) ano ~2.0,. 19~O. rags. 123 e segs.), para quem 0 artIgo 3.° do DIp. C!rg. das ReI. de Dt. P!IV., VIsa a «realiza<;ao da justi<;a comutativa - que nem 0 nao-mdigena possa Iesar 0 mdigena oem este, a titulo de que e ignorante, possa contrariar todos os pianos do nao-indf­gena, ludibriando-o com a conhecida manha dos falsos inocentes». Essa justi(a com,!-­tativa tera que obter-se conforme as circunstancias de cada caso, como e da essenCla da equidade. Assim, se 0 nao indigena e 0 indigena estabeIecem reIa<;5es juridicas no meio social deste ultimo, devendo presumir-se que. por esse facto, 0 nao indigena conhec;a os U50S e costumes que vigoram entre os indigenas, a solu<;ao equitativa do conflito exige a apliea~ao dos usos e costumes locais; se, peIo contrario 0 indigena mnheee 0 direito comum e a maneira como actuam normalmente os nao indfgenas, cleve aplicar-se a solu~ao do conflito colonial de leis a norIDa. do nao indigena.

b - 0 artigo 3." do Dill. Org. dUJ ReI. de Dt." Priv. como norma de direi/o proceslud:

o Prof. Silva CunhJ. (cf. 0 conilito CoIoTlial de Leis, cit. e 0 Sistema Portu-11th d,; Po/ilic.1 Indfgena, 1953, pag. 208 e segs.) afastava-se da solu<,ao de equida­de ;omo norma. de solUl;ao de conflitos porque 0 artigo 3.°, em sua optniao, tinha caracter rrtdommantemente proeessual, aUm de que nao indicava a solUl:;ao do con­flito no momento cia cria<;ao dos direitos mas tao somente quando se suscite urn li­tigio, isto /:, no momento da aprecia<;ao judicial do conflito de normas. Ora 0 con­fI.ito colonial ,de leis tem de resolver-se •. necessariamente, no momento da eria(,'ao dos dir'.,tt)~. I<;to e, ~o estabelecer-sc dettrml~ada reJa<;ao entre indigenas e nao indlgenas, t'1'D de saiY.:f-se a somo~a ?e qual dos Sistemas juridieos (direito consuetudinario uu lel (omum) nasft-rn os ~If(C~tos e obriga~i5es para ambas as parks.

o arrlj;O 3.° parc-(Ia mdlc~r um caminho - 0 da soluc;ao de compromisso, ern Gue arnb:,~ ..s partt-s estaoek-;eflam por acordo 0 r(:!~im" particular para eada hipotese ,oncIda -- mas ao Pruf SJlva Cunlla ta.mhem se nao afigurava viavcl tal solut;'ao

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1~STI111JTO IX>S JND1GENAS PORTIJGUESES --. ---~-~- -------_ .. 87

Artigo 47."

quer. porque contrariava a t('ndcn~ia da legisla(af) n:laliva a, indigenas, que e de ca?sl~e!a-Ios s~mpre como ne\t:s.sltados de protlc~ao do Estado, quer porque pelos pnnClpJOS gt:ral~ da ord~m~ JundlC~ portu,guesa a vontade dos particulares 56 e fele­vante, como meJO de cnaC;ao de dlrelto, quando uma di5posi~ao legal expressamente Ihes atribua tal faculdade .

. Afastad~ a solu<;ao anterior, 0 Prof.. Silva Cllnha sustentava que, mesmo na vi­genCla do DIp. Org. das ReI. de Dt.· Pnv., a (mica solu<;ao para 0 conflilo colonial .de leis seria regular a :eia<;iio de que nasce 0 confJito peIa lei do nao inciigena.. As razoes em que se apOlava eram, esquematicamente as seguintes :

1) - As ordens juridicas indigena e nao indigena nao estao valorativamc-nte no mesmo plano, an~es a prime!r~ f: resultado de uma contempori~~ao que a st~da consente por motlvos humaOltanos e de ordem pritica;

2) - As orde-ns juridicas consuetudinarias sao transit6rias porque 0 objec~vo f~nal da politica u1tramarina e a total integra<;ao dos indlg~s no agregado na­Clonal ;

3) - Sendo assim, na falta de preceito expresso, deve dar·se prefercncia, em caso de canflito, a norma do nao indlgena, ja porque e a mais perfeita, ja porque stria injusto submeter 0 nao indigena a norma do indigena, sem que a inversa seja verdadeira, exactamente, porque presumindo-se a norma do nao indlgena superior a do indlgena, aquela assegurara melhor proteo;ao aos pr6prios interesses do indigena..

Nem a soluc;ao referida calide com 0 artigo 3.·, exactamente pel a razao, que em primeiro Jugar se acentuou, de conter urn preceito de indole processual que india. ao juiz como cleve orientar-se no julgamento dos conflitos coloniais. 0 juiz "deveri aplicar a lei do nao indigena mas, na aprecia<;ao das cir(unstancias de facto que cons­tituem a premissa menor do silogismo de que a decisao final e a conclusio, deveri ter na dt'\'ida conta as diversas situa<;6es em que se encontram as pessoas a que a mesma decisiio se dirige, particularmente a situa<;3.o do indigena atendendo a sua mentalidade, as inibi<;6es nele produzidas pelos seus usos e costumes, ao seu teor de vida social. ~ afinal de contas um simples alargamento dos poderes que 0 C6digo de Processo Civil confere ao juiz para aprecia<;ao da prova». (Prof. Silva Cunha, 0 Conllito C%rtial de Leis. Seu Regime 110 Direito PurJugues, in 0 Direik', ano 82.", pltg. 98).

3. A sohl(;ao actual do conflito colonial de leis.

A soluc;iio do conflito colonial de leis obedece actualml>rlte ao seguinte esquema.:

a) - FdctOS 011 re/afoes que podem gerltr a con/lila clJ/orti.u d~ Ids; os de na­tureza civil ou comercial.

by -Norm.l materia! apJira/lel:

1) - Como regra, a_ lei comum, i5~0 e,.o direito p.~va~o ~\:e nO!ID.ilmente rege t.us relac;oes quando estaodecldJ.S entrc: ouad~o" . ,

2) - COml) excepr'lO, outra<; norm as, em t'a~os espC:Cl,almentC' rre:'!stos e regulaJos por Jegisla(ao avulsa - artlgo 47.° 111 f:"~, AssllIl. pol exemplo, as n:lac;6es juridicas de trabalho entre In.:hgenas e pessoas que se regem pela lei comum n3.o 530 re)!Ulad~s relo;; rre.:cltos do C6di£:o Civil e dcmais legisla(iio comum, mas ~lffi pebs normJ.S do C6digo de Tw. dos Ind .

• ) _ SlIjeiloJ J.H relJfOeS jllrJdic.lJ t'm que p:JJc l'N'ific':f-Jf 0 rOllf!ito Je lei,:

1) - Pe,slAls que se r;gem pda ki comum, expJ:e$Slo que engloba.:

iI} -- Os cid;\d1ios (lX'SSOas sin£ul.!rt's) :

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88 EsrAniTO DOS INDf~~ POR'ruGllESES ~ ___ _

b) _ As pessoas colaiiv.l5. quer de direito priv.!do. quer de direito

publico; . _ . ,.) _ Os indlgenols que, n.! molt~na da ° eelol(llo em ta~sa, tenham

optado pel,t lei comum ~artlgo 027 . ) ou a eJa t'ste]am 5ujeitos por disposi(ao legal (.Irhgo 29. ) ;

1) I d' "nterpretada a palavra restritil',lmelJle, poe forma a abean-_ - n Jg-t"na~. J t.. , d . , ge ~penas de entre os indlvlduos que possuam 0 status e mdlge_ ~~, aquel~ que, nol rela(ao j~ridica em causa, se re-gem p~los. us?~ e costumes privativos. Com efelto, ~e travar-se wna rda<;ao ]~CI~ICa entre pessoas que se regem pela lei comwn, po~ urn lad?, e Indl$e­nas, por outro lado, sem q.ue, 5e gere .um confht? color:ua1 de leis; basta que 0 indigena, na hlpotese preflgurada, s.e]~ su]elto duma re­la.;.1o juridica que se inserc'.'a num ramo de dlrelto ern que tenha optldo pela lei comum, nos tcrmos do art, 27.°, ou a cIa esteja sujeito por disposi<;ao legal (art. 29.").

d) -Mumerlfo da reso/u(!io do con/lilo: 0 da cria<;ao ~os direitos, ou seja, 0

momento do nascimento da propria relac;ao juridica, Quer dlzer; a relaC;ao juridica susceptivel de gerar urn conflito colonial de leis nasce, ab initio, a sombra do direito com urn , Mas nem por isso 0 sujeito que se rege pela lei comwn deve eximir-se a urn", prc:via yerifica<;ao do exacto contelido da vontade do sujeito incligena, pois que no momento da cesolw;ao judicial do conflito (se houver litigio), 0 juiz decidini sempee de modo a nao impor ao indigena 0 eumprimento de cleveres que de nao pudesse razooive1mente ter previsto ou quecido aceitar (actigo 48),

e) - OrgJoJ ;udiciais competentes para apreda(Jo do conflito colonial de leis: Na yigenci .. do artigo 3." do Dip. Org, das ReI. de Dt.° Pciv., 0 julgamento das qU~tUL"S em .qu.e se vecific~se 0 conflito colonial de leis era sempre da competencia do ]UIZ de duel to. Na leglsla~ao actual ha que distinguie tees hip6teses ;

1) -.Se a qu,,5tao se sU5cit.l entre indigenas e nao indfgenas (considerando ~~peeen?l~as entr~ estes as pcssoas co/e(iivas), 0 6rgao judicial competc-nte c 0 JUIZ de duel to (art/go 55.°).

2) - Se a que~tao se .su~ita (:ntee inJfgenas (evidentemente quando wna das das p~rtes, na rela~ao .sub ludlce se rege pelo direito comurn) , {, competente 0 juiz munICIpal (artlgo 51., almea a) do Est. e artigo 8." n." 9 0 do Est J" M) excepto .. , ' ' --". •

.l__ 3).,. se ,0 confIito colonial de Itis st: verifiea aC(:'f(a de questats sobre estado ua:. pessoas hlp6tese em que mc"Sm '. d . d' , ,..;~ , h d ' ° stn ° 10 Igenas 0 ceu e 0 autor '! ('Olnpeten-..... para con t"Ccr a quest- rt ' '. , ' go 8.·, § 2,0). ao pe ence ao lUlZ de dire-ito (Est. dos J, M., arti-

f) - Forma do proceSJo . como "fr I' . tenoa dt uma rtlar'ao /' 'd' ' 0 lOn Ito (OoOlal de Ie-IS sUpOe sempee a exis· , un lea em qu(:' urn dos s "t ., d' I

UW) (: UJ'>tumes tcibais 'f d uJel os C 10 Igena que se n:ge pt· os (capitulo IV do ht. d~s a] Mo

rma elY'coccsso adequada e a das qller/ues gentilietls

. I' ' .) «ap I(av('] [! todl . 'h ffiGlgen.Ls, C-XC(-pto acr; process( f .' .,' >s os processos el11 q Ut: lOterven am indfgClLJs» (awgo 12,0 do Est~ Csr J cr;:;s.mmes ~m que nUll todos 'os reus sej~rn (Cf. Prof, Adciano Mortica Ad d ,). 0 IC,l;lslador. com aplauso da doutrlfla ,ustifj(a 0 (ott-rio aJoptado ~(-stJ m~s: JlISJ. ao.! [,;(~" 1955, pag, lOR (' segs.), ml''iCTlO quando 0<' problcmas ~uscj/d g7 do Rc1.ltono do Est. dos J. M.: «, .. <:

tn.di!:':na impllcam a prevalcncia d: ~:I;e- ~ .con,C(~rrcncia da lei Portll,!~u(:sa com a lei ttibUll"l~ (omun\ 0 pcocesso dev. q ,t JustI~lcam em tal (aSO a intervt'Oc;lio dos potqut" 0 dever dt' ProtCCl ao do~ m~~tec-se uOiforme, tao simples quanto possfvd. plex.t~ f"rmas PrcJ{(:~~lL;JjS • qu . ~n 19l-nas ~(;Ol justifica que se afastl'fll as com-

, e para este: scr' ' , ) lalll 1O(!J1l1pn:l'n-,iv(:is, dando-se aS~IOI

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______ ES~~~il.:'O _ DOS Tl\iDIGENAS PORnrGI rESP.S 89

Artigo 47."

~a grande liherdade aD juiz para re~olvl'r probk . COlsas, largo rt ... urso it equiJ,tdel>. 1nas qUt t"Xlp;etn, pda. oatu= das

. g) - (;rl!t:n() de iulg<tf1lenlo: 0 jul" do" . aplica,iio oa lei wmum (ou de Dutra I: or .c"Vera resolver. () confhto de leis peLl gislac;ao avulsa) mas sem impor '10 ind' ~P(xI.t1rIlt·nt(' apheavel. por virtude de Ie·

I .' • 1gena 0 cumpnrnento de ieveres 1-puc esse razoavehnente ter previ~to ou querido ,I( citar. l que e e IUD

ARTIGO 48,"

(Regra sub,iJiaria dol ('quidad,,)

Ao aplicar a lei, nos tcrmos do artigo anterior, () juiz decidiri sempre de modo a nao impor ao indigena 0 cumprimento de deve­res. que ele nao pudesse razoavelmente tel' previsto ou querido sceJtar.

1. Fun~ao da equidade no conflito colonial de leis.

. Comecemo? por r~ordar a afinna,ao de que 0 julgamento se reduz .1 urn silo-g1Sf110. A pren:ls~ mawr do. silogismo judiciirio e pree'nchida peta nomn juridiC! C:>U !egra de dnelto; a premlSsa menor, pel us facto, qut configurarn a qllE'Stao 1,,/1 ,udlfe ; a senten<;a mrrespondera a canelusao do silo;:,jsmo,

Se uma rtla\uo juridic;! de direito civil ou come-reial {: ohjecto de urn confliw colonial de leis, no momento judicial da sua aprccia<;J.l}. 0 5ilogismo judicial'll) ron. figurar-sc::-a desta forma:

a) - Prenthra m,tior: lei (Olnum (ou Dutra c::spc(ialme-ntt J.plicivd) - am. go 47.0

;

b) - Pf'l;!miJJel 1JJt!lIor; [adOS a qut' a re.~r.1 de dicl'ito h.i.-de aplicar-se; c) - COllclIlSaO; senten\a.

Ora e exactamente na ilprecia~3.o tins factos, Ista i.. na derC'rrlllnJ~:io do .:onteu.­do da pft'missa menor do silogismo judiciario, que se inscrev~ a rl:gra deste art_ 48."; o juiz deve «nalisar as circunstan( i.IS em que se desenrolou a ce-b<;ao juridica. mate­rial ern litigio, prOcnl(-r ,I unlJ avalia(iio equitati\'.t dn contcudo rCJl da vl'ntJde do sujt'ito que se rc-ge ptlos usos e w,tumes tradicionais (inJi~ em sentido res· tritn - rf. alinea c), n," 2. ela (lot.l 3 ao artigo 47.°). pl.r forma a IUD Ihe 1mpot' devert's que njo pudessc l'aZo;lVeimente tef prtvisto ou queriJo .lct'itar.

o artigo !)S," lonstitlli, assim, uma extcnsJo da regra pW<.t'ssual do direlt(l CH­IllUlll que institui 0 t'l'1l1c'i/Jio da li"t'e tl/'rec;a<.i() d:1J I'rol',/f ou da f'e"J.Jrie m.lten • .,J (C6digo de Prou:sso Civil, artigos 625,", (,'i') " c 791."), Slmpbmente, a relevS.!l<:1.l <jut: a lei atribui it jw,ti~a tOmlltativa p,ua dirimir ~s questul'S gentilic;J.S vai .10 pontu de a equidade, no 1l10fl1ento ,\;t apr('Ci<l<;ao judiri,d do conflito, ~ prole<tar 3tt: d

prctlli",:l InJior do silogismo juJiciario St', pelo prudent<: p.m"Cer do julgador, sO assim puder l'vitar·se a imposi<;iio de dt,,\,t'ft:'S que 0 indlgen.l. J!yi<-tfl JeIf"-II. nao. pu­dera. rawlvdmcnll' peever. Rf'p()rt~ndo-nos ls antinomi.1S qUt· R.l.dbruch, ""~IOJO Kant, <lssinala ;\ iJ"i.1 de direito (ct. FiloJ(;.fia do Dir~ilo, tuJ. do Prof. CIbr.ll de Moncada 2." ed., 1947. pig, 195 c ,;e~s.), dm'mel, que ,) artigo .... q." s:Krifi(,a .:l s~gll­rdfJ«/ do' conhecinwnto dJ. norma (que beneficia 0 Ilio inJl~-n.l) a jlll1ir'a que deSlt· seja a,segurar ~os indigenas, ja que a equi1.J<1., {", c:m ultima anil~se: a. ;\l,:t,a ~. cada cat;O partH'llLLr. Assl/Jl (I eXlgc a essenCll ClnhzaJUf'! d;t N3.\30 }>ortu~esa (Const. Pul., artil~" 133.°) c " wrrdatlvo dever dl' protc\:~.u, do:; tnd~, (t.,>!ht. I'o!., 'lrtigo 141.").

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i\ rtir,o 4fl. <,

. COOJ'ugU\UO COni outras disposir;oes deste .;!, Legisla\iio pre:tnta.

btatuto.

f . t',,) 3" do Dip. Org. das Rd. de Dt.° Priv

, 48" 01 0 ar I.".l . 'b . f' ., .1\ fonte' d(,tc artl.':') . p f Silva Cunha (d. :Ihnea ), rn mc, da nota

11<\ intcrrrda(ii,) que- the Jeu 0 , co ct"go 3 0 tambem cst(: artigo 48,° tern natureza :2 !O :trugo 47."). Tal como ,) ut, a I . , •

pr'X"f'~,'lll (ou.ldjccti~'a). d uiJade dcste artig-o 48. 0 com a_ norma formal, subs-ConJugue·~e a fl,c,f.1 eft.'{j. do-se as n:spc,tlV;lS anot:l(oes, maxrme, nota 2

t ' do n .... ;go 4c " (on fontan ' tan IV.!, ......... .' • , ) .illne.l t in fi!i/'. e nota 3, alwe3. J) e g .

ARTIGO 49.0

(Limites a venda livre de generos indigenas)

A venda a nao-indigenas de generos da produ.~~o agricola dos indfgenas pode ser condicicnada, lim~tada ou prOlbtda pelas auto­

ridades administrativas nos casos segumtes :

1.0 Sempre que da aliena<;ao de generos ali~entares possa resultar a escassez dos alimentos na reglao ;

2.0 Quando 0 produto oferecido se apresente extraordina­riamente depreciado em rela<;ao aos tipos correntes nego­ciaveis por motivo de colheita antecipada, prepara~ao deficiente, mau estado de conserva~ao, ou outra causa de deteriora~ao ;

3.0 Quando seja necessario para cumprimento da lei que imponha regime especial de compra em beneficio (lireeto do cultivador, para melhoramento da produ<;ao ou no i[)t,:,resse da economia geral.

§ unico. Onde as circunstancias 0 aconselharem, poded. a venda dos produtos dos indigenas a niio-indrgenas ser autorizada unica­ment~ em ftiras peri6dicas ou em me-rcados, sob a vigiBncia das autof1d~des e em condi~6es de prc~o por elas reguladas para acaute­Jar os mteresses dos produtores,

1. Legis~ao preterita. Confronto.

o~ be dt: Inr, t 1929 P.:i . h '.,' 0

C · f - - . 0 contlO am rtgra alguma similar a destt artJf"O 49. Uta5 votes SAO (:111 rtlac;ao ad' b '

1 'l,,;Ii!(j do) Af.r~c;ltr, Ind' 0 corpo 0 a~tlgo c seus flfuncros, 0 artigo 25.0

do Ot- } at l;~ost~ de 1;44 ~g;::r;\ ~c:~O(ambl~u.e (aprov~do pdo Dip. Leg. n.o 919, Amha5 .;; di'!'I,.,~j~{j,-. <.3~ 1('p ! d~d~ao ao § U~ICO, 0 artlgo 26,0 do mesmo EstatutO.

- , IO( UlJ as quasc htcralmentt:.

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Mtigr, 49.'

2. CondicionLlmento e proibidio de da ); yen de produtos agricolas.

Os n.OO 1.- e 2.° do ,trtigo 19 0 (onferem AS l I re, -- devercs dcstinados a prott-"er .(' .. prf'" t ,audt.orlt,:., es ad~inistratjvas pode-f · h J" ruU orcs 10 I"enas nas h p6t Iguram. Os t{)piU)~ determinantes d"~1<: n.. - "I d ',eS{~ que COD-

. ,. ' , , sao por urn a 0 d Imprev'd' . d qUl.1ll como os tnUigenas viveu trad" I ' . ' - 1 enCia e , .,." 1CIOna mente num sistema de 'd 1 1 mentares de fanl satI5fa\ao; por outr ) d ' : necessla, es e e-da idcia de «valor ccon6mico» dos be~ a 0, a car~ctenstl~a : extre~a ~ubJ(~tivac;ao ~iio rawaveJ do custo da prodUl;ao c ~e:lsoovaagl'orrlC~tor ,lOdlge

dDa nao.~em uma nr ....

I I' ~,onomlCO os pnXJutos d.a SWl ~,:ra exc uSlvamente peJo poder aquisitivo que a sua venda Ih<:5 faculta (poder '

Slhvo por sua vez afcrido atraves dum conjunto de bens da "rodu~- _ . d~qul­valo~ados mui~o subjectivamente). r conhecicla, a ('ste respeit;, a a!t:

o v~~:ral~~olg:: n6mlCa das mlss~n~as, dos espelhos, das bugigangas berrantes, de toda de'

produtos "para mdlgenas» , . . uma gama

Es~es n~ec~ cepresentam, ponanto, uma espt."ciaiizal;3.0 do p.xler-dever de p:otec:ao cl,os ,mdlgenas que 0 artigo 65.0 comete a todos os ramos e graus dJ. admi­mstra<;ao publICa,

. 0 n.O 3." articula-se com 0 sistl'Illa, em u~o no ultramar, de conces~ mon~ It~t~s. Ja compra de certos produtos da agricultura indigena - as chamadas cult,.,.:! dlrrgJdas -, como 0 algodao, ° arroz, ricino, etc. (cE., quanto ao algodao. os De­cretos n.O 3~.~84, de 31 de Agosto de 1946 e n.- 37,523, de 15 de Agosto de 1949; q~anto ao C1ono, 0 D:creto no" 33.925, de 5 de Setembro de 1944 ; quanto aD arroz. DJp. Leg. de Moc;amblque n.o 754, de ]6 de Junho de 1948).

3. As feiras e mcrcados.

o § unico do artigo 49." confere as .. l,ronJaJt'S administrativas locais (a lei nio de~igna expressamente 0 titular cia faculdade que confere, mas 0 confrooto do § uruco com 0 corpo do artigo nao deixa diividas a este respeito) 0 poder de determi­narem que a venda dos proJutos dos indigenas aos nao indigenas se efectue sbm.ente em feiras peri6dicas ou em mercados,

Esta disposi~iio tem ampla justificat;;ao, quer do ponto de vista hist6riw. quer do ponto de vista cia politica legislativa.

Sob 0 ponto de vista historico, .IS feiras tem uma larga tradi(ao no nosso l:ltra­mar, pu.knJu mesmo afirmar-se qut' os portugueses ja en.::ontraram tal tradi<;io n.l

costa orient,Ii de Africa. J.embrarnos que em Glrta dirigiJa ao Rei D, Manuel, pro­vaveJmentt: em J 515 ou 1') 16, 0 oEieial de Sofala Gaspar V doso. narranJo a via gem 010 l\fonomotapa de Antonio Fernandes, afirma qut' t'Ste observara L'Ill Inh.H c,u.::e (-.) - l'ossivdlllt'nt<: nas margens do rio MuJa - fciras semanais do gnndc:s «como a <las vcr tt'llldes» (como uI que ai t,M!!!; suocotenda-se, 0 Rei) Dade os mourn., venJiJm aos indigenas as ~uas mer(adorias em troca de pesos de ouro l V d. a carta de GJspar Vl'!OSO. encontrada pelt> Dr. Eric Axelson, in Hugh Tracey, .11.· Ionia PeYII.l1ldeI deJcob,.iJur do A1ollumolapu, trad. de Cat'tano Monte%, louren.;o Marques, 194{). Quase urn seculo depois, Fr. Joio dO$ S&ntos Jc:scce-.C'-nus na ~ua. Elbio/Ji.l Or/"/llul e V<lria iInlori,: de COUJ"J Notat'eiJ do Oriente \ 1." ed .. 16{l9 as feif.Js de MassapJ, Luama c MallZovo, toJas 11.1 regilo de MO"'.H:.{".j:;a (actual Rode.. sia do SuI) oode exerria jurisJi<;ao sobre get1tios, moucos t' pc)rtUgudes \Lrt\ capitiio portligutS (op. cit., I Parte, Linn 11. Capitulo IX, pags. 194-197 dol ~>d. de Mello de AZL'Vl·do, BibJiutcca de C1:lssicos l'ortuguest:s, Lisboa, 1891). QlUnt0 a Angou., Lopes de Lima rdere 'Ju .... no se.:ulo XVll. 0 Govcro.idor jol..."1 Correi~ de s,,'usa niara as fcieas de DonJo, lkj.i e Lucambo, (uja organiu()'o des~rcve (0 . .lose JOJ.­.:)uim Lopes dt' Lima. En raio.r Sl,b,e oJ ESlaliI/ica das POJJ""I">-!' Po)f'IJlt;1t~S4j, L1.sbo1a. 1846, 1'omo III, Lvro III, P.lrte 1, pags. 63 e scgs.).

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92 ESTATUTO DOS INDfGENAS PORl1JuUJ:!;'r.;,

-------------- --------

Arti~o 49."

1 . 1 J": -a indfUPn:l as feiras tem inegaveis vantagens . :-,,,-" 0 1'onto (,' \"Ista ua po Ju< 0---' •

. . . - d t r'dades administrativas evitam ini-a) -Reahzadas soh a flS':Ihzl~ao as au 0 J f . f "d L: uiJ.ldes de wmerdantes sem escnipuJos. RC\:orJe-se q~c as eleas. re ~I1 as por, )­

</ . de Lma for.un instituidas para reavj,'ar 0 comerClo com os mdlget1as, apos a pe\. - d' ct d 1620 peJo GoveflLldor LuIs .Mendes de Vasconcelos de os pro~l(ao(*)tHt a ~1 em . Ids no sertao _ tlis as violencias e desatinos que

ha.Jt'l, os "~dercl(l ~,arem,t_ ISO aecoonh' ec;: a's feiras 0 mcrito que agora the assinala-

\'lam (otneu o. a en ao se r ~ '. roo; dt" faciJitarem' a fiscaJiza<;ao das autoridades, redundando em ma.lOr garantla de protec(i" dos indIgenas. _

b) _ A presen(J. das autoridades, por outro lado, assegura .que ~ o:re~ac;o~ eo­merciais se realizem segundo 0 contrato de compra e venda, cuJa essenCla Impl~e~ 0

papmento em di.;heiro. e roo se~nj(l 0 eontrato de esc~ ?u troea, p~Olbldo pelo artigo 50. 0 entre indIgcnas e roo indIgcnas, mas que na pratlca anda mUlto ge-neralizado ainda.

c) - A presen(a das autoridades IX:"fI?ite ain~a ?irimir pn:nta:ner;te quaisquer quest6es suscitadas peJas reJa(oes eomerCll1S entre Indlgenas e nao md!genas; •.

d) - 0 conhecimento das quantidades de produtos comprados faetItta a pobela economica e fiscal.

o sistema das feieas ou mercados est! generalizado para a eompra dos produtos das culturas em regime monopulista; mas tern dado bons resultados na pd.tiea, para muitas outras cuJturas de compra e venda livre. Quando os produtos nao tern pr~os previamente tabe/ados, usa-se 0 sistema da previa licita(1io entre os comerciantes in­teressados e presentes a feira. a partir dum prC(o base por unidade de medida esta­beJecido pelas autoridades administrativas. 0 arrematante obriga-se a comprar qual­quer quantidade do produto apresentado a feira e a paga-Io integralmente a pronto em numerano. As operac;oes de qualifica(ao do produto, pesagem e pagamento sao fiscalizadas pcbs autoridades administrativas. Reportando-nos ao suI de Moc;ambi­que. diremos que os indIgenas acorrem em numero crescente a estas feiras ou mer­cados, mesmo quando a t1enda do produlo e lit1re, 0 que demonstra nao sO que 0 sis­tema tem vantagens como que 0 indIgena as eompreende.

(Cf. sobre este assunto, Prof. Marcello Caetano. as N.I:it'f)s Iitt Ecollomia Afri-C.Jn.1: pags. 105 e segs.), '

ARTIGO 50. 0

(Proibi!;ao da alienac;ao de produtos por tcoca)

Os produtos vendi.dos pelos indfgenas a nao-indigenas ser-lhes-ao sempre p~g.os excluSlvamente a dinheiro e a pronto pagamento, sendo prolblda a permuta com outros produtos ou artigos.

1, Legisla~ao pretcrita. Confronto.

ParaleJameflte ao que sucede com art' 0- •

Est. de 1929 continham disposidio J 0 l~O. ante,flor, nem ? Est. de 1926 nem 0

bira-se de ha muito a permuta qur.:: gum~ Sl~r1ar a deste artlgo 50.0 Todavia prot-, em ngo a, quer em MO\a.mbique (desconhece-

.", Dt:Signa"am-se pur ~"'i,,dOJ comer' t ""Q ."~~:~'~f,tes oc-,he!"Cld'~ (;oniiOlvam faze~d~ ~ ~oJantes. sertanej,;;. sem capita.l proprio, a ':!ue

.ano;, ,nl"lD <:UIT1{.rQ'·, am.jular,te desi n~m-s ' ,utrm l'rodutos para os negoCl:uem Ii') sertaO. =b .. ",., ~.u "umt:j,~). pret.-" ou mufat05 q~ mal~ prOPfJ;llnln~e pur junantcs. Havia tambe~ 0& • uohetJa, lef ">pes de I.i[03 "P I ];Ie etravam mals pr"fundamentc no sertao :und;l.

p .. es 9' 'i- I . (" IX. CIt. e Prof. Marcello Caetano, OJ Nalh'oJ .• "

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, ______ E_S_T_A~~~ INDIGENAS POR11JGLESES 93

Arb!!o ~o."

mos 5e tamb6n na Guine), Soon' cst!: assunto vi orava em M 'amb' 0

do Estatuto do Agricultor Indigena (Dip. u;g. n ~ 919 Ie 5 de: A. Iqued

0 art. 27. (jual servlU de fonte ao ,l!tigo 50.0 do actual Est' ( t' ( t dgosto §c ,1944), 0

aqu.el~ .artigo contem). No btJ.tuto do Agricuit~r ~Ii~':: ~on~ o~. uruco que prOlbltlvl. ~o a~tigo 27."" arbclda-se (Om 0 pr(:ccito sanli~na~or d~;;:' ;5.~e~~ ~:J:;n~c ~;c~~a, mas o.Est. actual" tal,:ez na inten<;ao de faeilitar uma mai(}r liber­bitivo do ar' a de sa,n<;oes nas l.eglslaco~s provincia is. nao compk-ta 0 pren-ito proi­nota 3). bgo 50, com qual5quer dlsposic;oes punitivas especifIca, (cf., infra,

2. A proibi~ao . ~a permuta e obrigatoriedade do pronto pagamen­to. Seu slgmflcado no ambito da politica indigena.

A permuta, ou seja, a ~roca de proJutos por prociutos sem intel'\'en~ao de moe­da. f(:presenta a forma tradmonal de rela~6es comerciais entre indigenas e nao in­Jigcnas.

A preferencia dos indigenas. por esta moJalidade de cnntrato explica-se facilmente pelo seu apego aos val ores reats e correlativa reJutancia em cenmhecen::m e darem cursu a valores simooJicos, como a moeda em geral e, em opecial, 0 papel mneda, A pre~erencia dos ~omerciantes nao. indigenas peJa permuta asstTIta, por sua vez, em razoes de comodldade, de economla (menor em pate de capital, pois que as mercado­rias permutaveis se adquirem a credito com maior facilidade do que 0 proprio di­nheiro) e ate de necessidade, quando a esC .. hS;:Z de moeda se sentia fonemen[t:: rus nossas provincias uJtramarinas. Alem disso na permuta 0 comercianre n:aliza urn du­plo lucm numa sO opera<;ao comercial : 0 do proJuto indigena que ir.i revenJer eo cia mercaJoria que Ihe cede em tcoca. Ainda quanto .lOS nao indigc:nas, para J.km destas vantagens parece nao ser dificil encontrar outros motivos de preferen(ia, pois que a permuta faciJita, infelizmente, todas as artimanhas dolosas teodt-ntes a preju­dicarern os indigenas. Vale .. l pena reier, a este respeito, as seguintes palavras do Prof. Marcello Caetano:

«Os inconveniences cia perm uta sao manifestos. 0 nativo apresenta a sua merca­doria e 0 comerciante, depois de aceite estl, exibe-lbe 0 sortido donde eIe podera escolher os artigos que hii-de levar em troca, Come(a en tao a discussao. 0 comerciante prop6e 0 que julga bast.lllte para pagar 0 que se prop6e adquirir, 0 indigena aceita Oll [('eusa. Mas todo 0 neg6cio decorre em bases puramente subjectivJ5; 0 indigena da m;lis valor ao qUe mais cobi(a. 0 comerciante procura Iisoojear .! vaidade Oll a in­fantilidade do c1iente de modo a fazer-Ihe aceitar por boa e vaJiosa qualquer ninharia.

Os monhes em Mo<;ambique tem fama de mestres neste neg6cio. Recebido 0 in­Jigena na loja, nao contam mais 0 tempo que v:io gastac em conversar com de, en­trecortando a discussao de anedotas e de alguma bebida que JisponhJ. bern pUJ. um :'corci,) amistoso. 0 indigen.t no final sai da 10iJ. lesado mas agraJecido. E e fce-quente ficarem Jmigos. . . ,. _

~ na verdade difieilimo estabelecer urn.! Justa equlparac;ao de volio-res na per­muta. E n:io se pense qu(.' na caprichosa estimativa em que redunda 0 neg6ci0. 0 lesa­do seia sempre ° nativo, por9uc nj,) faltam (~so~ em. que. 0 rurof'eU. desell~'~\ de adquirir mercadoria ou prC1ntJo pd~ con~orrenc1J., nao, fIC'} de melhor parn,-,o». (Cf. aut. cit., as Nafivos ,1.1 EC{)nOfnT.l A/nc.ma, 1954, pags. 98-99).

Portanto, no ambito Ja politica indigena a proibi(~o ,1.1 perrnuta. ~ssume 0

(adeter de norma nitidamentc destinada a proteger 0 mdlg~ encamlOh.mdo-o para 0 sistemJ que Ihe e mais vantajoso da (()~rrol e venda a dl~helro a pronto P.l­gamento. Ii ainda uma norma dt efeitos mc)flltZjdl)l'l" [Ja~ rda,oes «(lfilef(hUS entre lOdigenas e nao indfg(-na~.

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ESTATIIT'O DOS rNDiGi:NAS pORTUGUJ:::>t.c-.

--------- --Artigo 50.0

3. Ambiw da proibi~ao de permuta .

.A) - QIf.:'1I,' .. os Jlljeilof: Quando dcterrr.in.imos quais os sujcitos dJ$ rcla(oes !ur1dic~S 5usceptiveis de

provourcm 00 conflito colonial de leis, acentwlmos que 0 artIgo 47. emprega a pal~­vrJ. illdigo:,; em ~entido restrite>, por forma a abra~g~r apenas, de .e~t~e a generah­dade dos indigenas, aqueles que se regem pelo dlrelto consuetudlflano local (Cf.

ar:igo 47.", nota 3, alinea c), n." 2.·). . o Pfohlana volt;l a colocar-se a prop6sito deste artigo 50.", e a mterroga<;ao colcxa-s~ agora desta forma: estara abrangida nD ambitD da proibi<;iio dD art. 50.

0

a F"-:rmutJ entre nao indi.cenas e indigen,u que se regem pela Jei comum em materia

de (()~'i,'l'do, por fOorc;a dos artigos 27.0

e 29." ? A resposta rartee-nos afirmativa, pela razaD seguinte: ND artigo 47.

0

0 legis-hiv[ cuid:1dosameme contrapos indigena a «pessoas que se regem pela lei comwn», fOorc;ando desde 10gOo 0 interprete a atribuir urn significadOo restritOo ao termo indI­gClIJJ. Niio concebemos que 0 legislador, tres artigos depois, tenha abandonado essa cautela se. de facto. pretend esse restring-ir a proibi<;ao de perm uta apenas em reIar;ao aos indigenas que ~e regem peIos usos e costumes tradicionais. Baseados, consequen­temente, nesta razao de sistema e no prindpiD de que nao deve distinguir-se onde a lei naa distingue (ubi lex nOl1 distinguit, nee nos disf;'lgrlere debemrtS) pareee­-"os que cleve dar-se a palavra indigena 0 seu significado normal omnicompreensivo_

Inversamente, jlllgarnos a permllta consentida entre indigenas de estatuto misto

e indigenas que se regem pelos usos traclieionais.

B) - Quanto (/0 facto:

Devem c~nsiderar-se como cootcatos iHcitos rontra legem nao s6 os contratos de troca pura e SImples, ComD os que se ceIebram com fraude it lei atraves de dois con­tratos de campra e venda mutuamente compensados de modo instantaneo. Se ° indi­ge~~,se aprestnta ao_ comprador nao indfgena, Ihe entrega 0 seu produto, f creditado r:o- ~m prc~o ?u£ nao chega a receber e depois 0 comereiante Ihe apresenta mercado­!las que 0 mdlgena escolhe e adquire, Stm chegar a paga las em d' nh . operaclo 1 0 _ ( . - 1 ellO pOor se ter

.um_ :ompensac;ao o~ urn eneontro de contas), 0 circuito econ6mico f cbou-se mstantaneamente sem mtervenc;iio efectiva de d I e-pres d moe a - ogo estamos em

tn<;a uma permuta que substancialmente f tal e b f I ' vestir 0 caracter de compra e venda 0 a _ • ,'. mora orm,a mente parec;a re-libr a fraude a lei. ' pego a IOgIca formal sen a, neste caso, faci-

e) - Qllanto 110 objecto:

Da circunstancia da fonte do artigo 50 & ter . d ' do Estatuto do Agrlcultor Indrgena d M . b' SI 0, _como dlssemos, 0 artigo 27," tos agrkolas estejam abranr";dos ~ e ?b~a~ lqlle, nao se segue que 56 os produ-d d ." h- prol l(ao de permut o· .

os pro utcs In(Jlgc-nas e de origem 'I a. malOr contmgente . , I d - agnco a mas tambe d P!SClCO as, e artesanato domestico de .' .. m os pro utos pecuarios,

perm'Jta enfre indigenas e nao indfgena:.esQll1

o,a mlnclra, etc., sao insusceptiveis d",

4, Viola<;:ao do artigo 50_0 Sanfues.

. Disse-se ja (J1I/"ra, nota 1) que 0 Estat t . l,lQue, (omplcta a fcgrl do V.'1l artigo 27 0 U 0 do AgrtcuItor Indlgena, de Moc;am-l-~' com d' . , (oIn"'ipondente . "" 0 I',pt)stv n'J ntj[~{) 35.0 : ao artlgo 50." do presente

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______ E-='S~T :A!l~1~~~ _I~'.:DIGENAS PORTUG!":ESES - ~~-~ -- ______ ..:...9..:.:>

Artigo ;0.0

E.rtaluto do Agriwllor 1 nd;liena :

Artigo 35. 0 it infrac~ao ao disro~to n t' . , . ., 0 ar JOe ' co e punlda com multa de 2 000$00 . 'd~O .27. ou >etJ. § unl-

~ -.', na runCl cnCla com a multa de 5.000." 00, aprccnsao de llcenca industrl'al . t d' - d b . . e In er l~ao eo' - d noYa llcen~a peIo comerciante condenado para. eot b.1 .. ~ ,to<;ao e . 1 '. - ,> a C tClmenta comer-

eta oa. mesma. Clrcuoscfl~ao, peIo prazo de 2 anos. - - -; ~, ..

~ons~quen_tcmentc, ~m Mo~ambiquc a viola~ao do aru 0 50' d ~. .'.'! tambem vlOla\ao do artlgo 27.' do Estahlto d A.'· I gI d'· ~ J:.SL. COnshtul

" I d 0 fJll U tf,r n Igena <1essa provincia. e cal, assl~, no. a cance a sanc;ao prevista no artigo 35.' deste ultimo di lama. Neste sentJdo eXlste mesmo urn dcspacho do &"ct5.rio-Gtra[ da Provincia: p

«Verificada qualquer infrac\ao ao artigo 50. 0 do Th'Creto-Le· 0 39666 d de Maio de .1954, deve ser levantado 0 rcsptctivo auto no~ term~snda lcl ' er 20 ~e trata de f - t b' . e. po que '. 10 ra.cc;ao am ~m prevlsta no artigo 27.0 e punida pelo artigo 35.· do Estatuto do Agncultor Indlgena,. aprovado pelo Diploma Legislativo n.o 919, de 5 de Ag?st.o de 1944, deve ser aphcada ao transgressor a rena do rderido artigo :>5." deste ultImo Estatuto» (Despacho de H de Junho de 1956 do Secretario-Geral do Governo de. M05amblque, l.anc;ado na informa<;iio n.o 196/1", de 19 de Junho de 1956, da Dlreq;ao dos Servl~Os de Administra<;li.o Civil).

Em reIa~ao a Angola, a 501U(;ao e identica. o artigo 22.0 do Dip. Leg. n.o 2.049, de 16 de Junho de 194B, publia..do no

B. O. n.o 24 da Provincia de Angola, (que regulamenta 0 funcionamento d2.s p0VOQ­

<;oe5 comerciais), dispoe:

Art. 22.0 13 expressamcnte vcdada J. permuta como forma. de comer­ciar com os iodlgco:ls, deveodo todas as compos e veodas ser efectua.­das excIusivamentc a dioheiro.

A inobst'rvanci.l desta disposic;ao {; punida peIo artigo 28:' do memJo diplotm com a multa de 5.000$00 Ags. (hoje escudos, por fllrc;a do que dispoe 0 Decreto n.o 39.515, de 20 de Janeiro de 1954) e perd.l. a favor dOl. Ddega~ao PrO'Vi.ncial. do Instituto de Assistencia Publica das m('f(ad()ri'lS qul' forem objecto dl permuu (3. que 0 Dip. Lt'p:. nO 2.049 chama incorrectamente ,«(nmprl e vend.l por m-:io dt.' per:nu­tal>; compra e v(-mh e perm uta s:io moJa[idades juddicas de ttlns.:w;li.o C"tmt'..lral­mente diferentes - nao poJt' realizar-se uma atraves cia outr.l).

Portanto, e pamlelamente ao que ocorre em Mot;ambique, a vi()h~jo do :lrtip.') 50.0 do Est. e tambem infr3(~ao ao artigo 22.0 do Dlp. Leg. 0.

0 2.049 e, porUnto, punivd nos termos do artigo 28." deste ultimo diplom,!.

Na Guine a permula de acroz pOl' quaisquer proJutl)' foi proibid.l rdo art. 16." da Port. n.O 65, de 18 de 1'.faio de 1942. Slmplesf1Wiltc:, ('Sll' dirlvnu n;10 e apli­cavel a indigenas pOl' for<;:J. do SeU artigo 22.n N1,. (onhecemc·s. assim, Jisposi.;,-;es que se rcfiram it proibi(ao dt' permuta entre ind;gends C 1].lv ;,:di,~e7!.l.f ru. le,;isla¢o privativa da Guine e em que, portanto, se ('$tabc\e~am as ~:tecoes respectins. En­quanto a lacuna se mantivl"r, e na falta de s,tncao .ie c.tr.icrer c:Jm.inistrativQ, jll!:::a­mos de artiear a doutrina do artigo 692," do C(\\i;.:o Ci\'it, por fon;:!. 30 .l!ti,,~) 47.­deste Est., pois que a pumuta entre indlgLna~ e nll.) i:ldi~nil.s c ilegal rur viob.~:;v directa da lei (contralL) funJr.I Ifgpll).

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DOS. INDIGENA~ PORTLiGUESES ESTATI1TO - --------

SECCAO IV

Dos tribunals e do processo

ARTIGO 51.°

d " municipais) (Competencia os )Ulzes .

,.' petem a instrucao e Aos juizes mUDlC1pa1S com '~f'

do por let nao orem dos seguintes processos, quan atribwdos a outros tribunais :

o julgamento especialmen te

, ' ., quando 0 autor e reu a) Pro(eSSOs (IVelS e comerClatS, sejam indigenas ;. '

b) Processos relativos a cnmes contra a propnedade ~ome-, 1 ' d'genas a que corresponda pena correcclOnal,

twos por m 1 '. , f' e relativos aos restantes (funes, quando reus e 0 endtdos

sejam indigenas,

1. Principios fundamentais do sistema judiciario dos indigenas: A) - Especialidade do foro,

o corpo do artigo 51.° consagra 0 prindpio da 5pecialida~e ,d,? foro, logica­mente correspondente ao principio da ~re:ial!da~e, de orden: )Und1Ca~ ,a que os indigenas estao sujeitos, Est::! correspondenoa e loglca, ,mas nao nece~sarla porque, como veremos, podem os juizes municipais aplicar aos lfldig~s a leI comum, ,

Na doutrina e nas legislar;oes tem-se estabelecido tres sIstemas fundamentals quanto a organizar;ao dos servi<;os jurisdicionais para indigenas :

a) - SiSiema de organiza(dO ;lIdicidria unica, segundo 0 qual as institui~5es iu­Ciciirias devem sec comuns :i metropole e ao ultramar e, neste, aos indigenas e nao indrgenas, Corresponde ao sistema da assimila<;ao uniformizadora, ,

b) - Sistema de orgtmiza(ao ;lIdicidria diferenci,lda, segundo 0 qual a espeCla­lidade de estatutos corresponde uma absoluta diferencia~ao de 6rgaos judiciarios, o,u pela conserva~ao das jurisdi<;oes indigenas tradicionais ou pda criac;ao de tribunals csJ>e::iais para indigenas, nos quais as fun<;oes de julgamento sao atribuidas ou a magIstrados de carreira ou a funcionarios administrativos, Num sistema de organiza­<;ao judiciaria diftIenciada, a manuten<;ao das antigas institui~5es juJiciarias indige­nas ou a ,cri~<;a,o _de ?OVo~ orgaos, d;p~de de se adoptar ou nao 0 principio da ,uni­dade de Junsdl<;ao, IstO e, 0 pnnclplO da unidade do poder de julgar (Cf. mfra nota 2),

. . c) ,- SiJte','1,! de or?anfza(tio jlldicidria mista, que se caracteriza por existirem t~lbuna.ts espeClalS para I?dlge~ com competencia para julgamento de certas ques­toes :' paraldame~te, tT1bun~ls ,comuns competentes para 0 julgamento de outras questoes ~m que selat? p~rtes, Ifldlgenas, Fala-se ainda em organiza,ao judiciaria mist,a quanto e'Xlste espenal,Iza5ao ngorosa nos tribunais de primeira instancia, mas tribunalS de I'O(Urso :o~uns, a !ndl$enas e na,o indigenas, isto e, t'Specializa~ao no primeiro grau da comlX-tenCJa 11lc<rarqulca dos tnbunais e unificac;ao no se"unJo grau dessa com-petenua, '"

Entrt' 1I0S iii 0 Regt·mento da Adm" - d' "'I ri-- J d" 1fi1~trac;ao a Justl~a nas PrOVInClaS U trama na~. t 20 e Ft-ver~IO de 1894 se f t d ' , _ ' ",' , '. , a as ava 0 sistema da orp;<lmza(ao )UdlClana unt

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ESTKrl1TO DOS Il\'D1GENAS POR1lJ(;CESES 97

Artigo 51.'

ca, ao eriae. tribun.lis com lOostituir;ao c'peciai para 0 julgamento de u{:st6es entre gentJOs (artlgo 177."). q

. " (~ ~st. .de 19~9 parecia indinar-se de<..iJidamtnte para 0 sistema de organiza~ao ,udlc~ar!,a dderenCl.da, pUr.!, ao d,spor no art. 14." qUt: n a.dministra,ao da Justi~a aos IOdlgenas rcge:5C por foro p~lvatlVo, indepmdellte da organlZac;ao ju.diciana ~ortugu~~.». Ef~vam~'!1te, 0 artlgo 15." do mcsmo diploma (r,ava em cada clcc;mscw;a.o a~mmlstratlva urn Tribu;za! p,.iwth·o dos ]rzJigenuJ e 0 artigo 20.· ins­htUla udma JIlsta~C1al dde recu

d rso

l ?C?om

d l1~acW. Tribunal Superior Pritat!t'o dl)J Indigena.r,

com se e na capita e ca a co orua e lOdlgt"llato. Mas seria urn sis~ema de organiza~ao judiciaria diferenciada, 0 que a kgisla~ao de

19~9 ;onsagrav~ ? Nao, p~rque .logo 0 artibu 3." do Dip, Or,t;. das Rd. de Dr," Priv. a~lbUla, competenCla aos tribunalS comuns para julgarcm as questoes mtre indigenas e na~ mdlgenas, embora. 0 respec~lvo processo come(asse a coreer pennte 0 tnbunal pri­vatIvo. Portant?, um sIstema mlsto, logo no primeiro grau cia compettntia hierirquu:a.

A tendenCl~ para uma organiza\ao judiciiria mista acentuou-se ainda mais quan­do em Mo~amblque e em Angola os respedivos Tribunais Supenores Privativo5 dos Indigenas fmam suprimidos, revertendo a sua competenc-l.l pJra a.s Rda~6es de Lou­renc;o Marques e Luanda (respectivamente por Derreto n." 21.215, de 1 ~ de Abril de 1932 e Port. do Govemo Geml n.o 4.304, de 17 de Fevereiro de 194,). SO !l:l Guine se manteve 0 Tribunal Superior Privativo dns Indigenas (artigos 4.' e 34.' do Dip. Leg. da Guine n.O 455, de 15 de Abril de 1929).

A L. Org., ao consagrar no n.· IV da Base LXV que a lei pode admitir julgados municipais comp'eendidos liaS COffurcas parece estabe!ecer uma nova orienu;;iio neste assunto, inelinando-se para 0 sistema da org,miza~ao judiciaria unica. Com efeito os Julgados Municipais sao comuns as provineias ultramarinas de indigenato e de nlo in­digenato - 0 Est. dos 1- M. s6 eriot! julgados municipais n.lS provincias de indigt'1lato, mas ja existia, e manteve-se, um JuJgado Municipal em Dil), oa India Portnguesa que nao e uma provincia de indigenato - e tem urna competencia que excede 0 julgaroento das quest5es gentHicas, pois the foi atribuida, alem de Dutra, a compelencia que antes pertencia ao eharnados Julgados Instrutores (artigo 44.° da Or.~.lnlZa~ao JuJiciiri.l das Col6nias, aprovada pelo Decreto n." 14.453, de 20 de Outubro de 1927), sa.ln) diie­renc;as de pormenor, Estes elementos parecl'm orientar-IlOS no smtiJo de considerarmos os Julgados Municipais como tribunais comuns, do tipo dos chamados //7buruis ittf,,­riore! (sem al\ada) e como orgaos nao espedficos da justit;a inJigL"rl:l.

Mas se .1profund;lrm()S as disposi~iks legais e 0 espirito que as ditou, teremos que conduie que existe especialidade de foro p3U julgamento das questaes indip:TIJ,s e que, portanto, 0 si,tema da organiz3(iio judiciaria para inJigenas e do tipo misto. Na verdade;

.,) - 0 Tulgado Munilipal aparece·nos como tribunal eJpeci.zJ quando julga que,toes gentiiie,ls, pois qut', segundo 0 artigo 52.", 0 juiz municipal sent ass.istiJo, em ta.is casos, por dois assessores indigena~ ;

b) - 0 Julgado Municipal tem uma compdcmia diferenci.ul.t para indigenas e nao inJigenas (artigos 51.° e 55.°) ; _

c) - Os termos processuais Jas questi3es gentili'-Js ~jo especiflCOS, 0 que e C1I:lC­

teristico duma organiza\ao judiciaria do tipo dift'rt:Ociado ; d) - Finalmente, segundo dispiie 0 artigo 9:' ,jo hr. dos J ?If, quando 0 Jul­

gado Municipal corresponcla a circunscri\ao Oll con,dho qu<O' for sed", de eDmarca, a. competencia dos juizes municipais restringe-se ao iuh~Jmento de quest3es ~entilicas. adquirindo a fei(ao nitida de tribunal especial para indigen.l"

o tipo misto da organiza(ao judieioiria revela-se, por sua YCZ,. nos seguintes factos:

a) - Alem do Julgado Municipal, 0 Tribunal de Com area ta.mbem p...-.Jeri julgar <juestoes em que as parks sejam indigmas (d .• utigo 55.°) ;

7

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_ , )S JNDiGENAS POl~TLJGUl!SES FSTA1~IEl~y<-' --------------- ___

_ Tribunais de Comarc;L e Rela<;oes - sao trib , J re(ur,o - "d' -. u-

b) -As in,tano.ls e _ em'o,. define urn;! das .e~pec!es a orgamzac;ao Judiciaria -- comuns 0 que, como dlss - - ";ro "cau e unlflGI(aO no segundo grau cia cOn-. n31' - I' ao no prim.. t- 'W

d - mist,): (~ped.1 Iza, _

e tiro . d tribunal' ->f- 'i.1 hier;irqUica os ..

p",enL . . d' -. ,. da unidade de 11IflS t~ao.

, Idem. B) - PnnoplO -

-. . do (c impllcitamente, no sistema misto) pode . . d' 'ario dHerenCla. d d I Num sistema JU 1(1 -J d J urisdi~5es. enten en napa avra como lnani-. . -J de ou plurah .1 e ~ J ., E t d admitJr"e uru .1. ao da ~oberama dO s a ,0. _ . .".

festa~ao do poder de Ju!gar, ema.n:;nte !U manuten<;ao dos orgaos JudlC1arlOs tradicio_ Se 0 Estado cololllzador c~nb . trl'bais gentllicos -. confere-Ihes urn poder de . d' - os tn unllS ~ .-

nais entre os 10 Igenas 'b' . us proprios tribunals. Estamos em presen~a duma julgar paralelo .ao. q~e _atn UI aOS se

pluralidade de-,unsdlc'o~-. Q trutorJ 0 Estado Portugues (Const. PoL, arts. 5." e OLl 3. umdade pohtJla q~- es -t ~";a cio exeedcio da fllO(aO jurisdicional. Assim ()

13< 0)' rca uma orgaOlzac;aO um oU' E d I' d ' ,I. Im~ 1 . i ' tituido por orgaos do sta 0 co onlZa or - as Jul.

f - 1 para lndlgenas e cons d" I d . . oro espeClJ.. C nao elas institui<;oes nativas que tra lClOna mente etIveram 0 gados .M~C1P;US - e _ Ptr'bos gentilicas. Por outro lado, na medida em que a pro. poder de Jul"ar !Us antJgas I . ,. d 'd' t -' t _

- b _ cii com 0 direito consuetudlOano os 10 19enas em carac er transl-p;Ja contempoflza. 0 sl'bl-lidade de atribuir a outros tribunais, alem dos Julgados Mu-tona acentuou-Sf a pos I' d rt' 520 (2 a . . '. . 1 to das questoes enurneradas nas a IOtas 0 a l~ . . parte UlClpals, 0 JU gamen co corpo do mesmo artigo) ... , . -, 'd . d"f ,_.oJ

Portanto, 0 sistema ludmdrlo dos 11IdlgeIJ.ls portugueses e .0. tlpo : er~cl_o--fIIiJto. com unid.ui< de ;urisdifiio por parle dQS 6rgiio! que admtnlstram Justlfa, por­que :;dos perfencelll exclusil'ameflte ao Es/adu portugues.

3. Idem. C) - Diferencia~ao organica e fuocional entre juiz muni­cipal e administrador, com identidade de agentes.

A L. Org., Base LXV, n." IV, norteada por urn pensamento de economia judicia­ria conferiu a urn 56 6rgao com preen dido nas Comarcas - os Julgados MllOicipais -as ~tribui~oes e compcteneia que antes se distribuiam pelos ]uJgados Munieipais oedi­nuios (artigo 44. 0 da Organiza~ao Judieiaria das Col6nias, aprovada peIo Decreto n.· 14.453, de 20 de Outubro de 1927), ]ulgados MunicipalS especiais (artigo 53.u da Organiza~ao Judiciaria das CoI6nias), Julgados Instrutores (artigos 12," e 15." do Dip. Org. das Rd, de Dt." Priv.) e Tribunais Privativos dos Indigenas (Est. de 1929, artigos 14." e. ~egs.), ~bora como dissemos, como tribunal privativo dos indigenas 0

]ulgado MUflmpal funcJOne como tribunal especial, com diferente composit;ao (cf. su­pra nota 2).

do 0 Est. dos ]. .11·, .em execu~ao do disposto na L. Org., estabeleceu a constitui~" c' S Julgados. Mun~ClPaJS e~ conslderando que «(as circunstincias peculiares das ywvlO-

laS ultraID:,I1!Us nao permltc:m, nem sequer aconselham que se entregue excluSIVatJl,ell" te av~ magJstra~os .de carreira a administrac;ao da justi~;» aos indigenas, consagrou que os JUlzts mUnJclpllS sao em rr." ' 'd d d'" . ' ~...., ou

Ih ( . ,c~ra, as auton a es a mlOlstratlvas das ClrcunscrH;OCJ conce CIS artlgo 2 " do Est ] ~f) AI" . - - d . 'es

" '. '. " H •• las a lnten<;ao de entregar as fun(oes e JUlZ mUnJClpals as autondad d" . ?, . 52. d E d ' ,es a ffilOlstrahvas Ja se descortinava no § unico do artlgo .

o st., quan 0 at se dlspunh ,., ' > 0-lhido 1 dm·· a que Os assessores dos Juigados MuoJClpals senam (;se s pt 0 a IOlstradoJ' da res t' C' . _ V· . pee Iva Ircunscr,e;ao ou Concelho.

tmos aS51m que 0 suport'· p"SS( I d '- d f - . . d" 1 0 Jul-~..J "f -. I C L >a urn orgao -1 unrao Juns loona -f>A'lO JY unlClplI - t dum 6r - d f - ,.' > • - J Cr-Cun~ccjrao ou r"nc-lh g,ao a unt;ao admlnlstrativa _ a AdmiOlstrac;ao a. ~

.. VJ t 0 ~- e 0 mesm d .. d I '. -crH;ao ou cooreJhr) ou cr. L, • 0 agente; 0 a ffilnlstra' or (e urluns .... u SUI)JtItuto l<:gal.

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{,STAnTO DOS INDICF.NAI:, PORlLi('l'E~ES 99

Arti~o 51."

Quais as r.uoc<; qm' Jevaram 0 legisladoc a aI..l,tar-se por t<t for d h' , . '1" d .- d ". > .! ma, 0 .... cmCJ-plO ~dassJ('o a ,epara~a? _ 0\ Pfode~es formulad{) por M"ut~ui('u I: que- pode hoje (OOSI ('uc·se como ,lC]UI'iI<;a() '-Ie LOlttva das sociedauC:5 mvdcrnas i

-'; razao fund;untnt~1 e de ordem slxiologi':3 : .0 in~ig(:na n~o tern apre\;o pda sc­para,;ao dc. J:oderes e ~ao compr~dc mcsm~) a dJVcrslh('a~ao d.ts fun~oes jurisdicio­nOll e .admtnlstratJva. [,1.1 observac;ao vem J3 de longe OJ. nUSS'l litcratura colonial : Mouzmho de Albuqul:rquc cscrevia ("IlJ 18':)9 :

. «Para os negros, como para todos os povos primitivos, a autorichde t 56 uma, de-nvada da mesma fonte -:: a f'lrf;a,. Quem pode, pode em todos os LImO!>, quem manda, manda em todas as O:asl?~. E a~slm n:i.o mmprt:lnde qut' 0 imposto seja pago e 0 tea­balho prest,ado a urn tndlvlduo ~ltferen.te daqude que () domina pda foc~.l, que lhe re­solve os md:lIl.do:'J que lh~ JlstnhuJ a Justl~a, que 0 protege coolra roubos e os ataquK das tnoos lrumlgas» (CI. lHIJ(clmblque-1896-1898, pag. 17') d., l.' ed., 1899).

No mesmo sentido se pronunciou Eduardo da Costa no seu relat6rio sabre «Des­centralizac;ao da ac~ao administrativa nas Co\onias», aprestntado ao Congre550 Colo­nial de 1901, cuja conclusao XIII e do seguint.: teor :

«E preciso remodeIar a administrac;ao relativa aos indigenas africanos, de modo a eoncentrar na mesma entidade - e em eada grau da hierarquia que essa administr~ao compotta, - a dupla autoridade administrativa e judicial, coodic;ao fundamental para manter 0 pRstigio dessas autoridades aos olhos das raC;Js inferiores» (pag. 89).

Da identidade de agentes nao se se.';ue, porem, que- se possam confund.tr os orgao5 e as hmt;6es. Como suporte dum 6rgao jurisdicional, isto e, como juiz municipal, 0

administrador e independcllte e desintegra-se da hierarquia administrativa pau se inte­grar na hierarquia judiciaria (a qual se nao caracteriza, como aquela, peIo dever de obedienria) - artigo 3.° do Est. dos J, M. :

Art. 3.° Os juiz(:s municipais sao independentes no exercicio da sua jurisdic;ao c irrcsponsavcis pelas sentenc;as que proferirem, nos mesmos termos que os magistrados judiciais.

Logo no exerdcio das suas fun\1ies de juiz municipal, 0 administradof n:io ra:d>e ordens d()~ seus superiol't's hier.irquiws admioistrativos. .. ~ . .

Por outro !ado 0 admioistrador como agente da admmlstr:u;-ao e como jUlI, de­scmpt'nha a(tividad~s de execw;1io liS /tis fuocilmalmentc- diferentes:. alem. a exe­Lu~au das leis ft".diza·se peJa l'ia ddmj,,'I"ifd,/hl, ('anllterizada pel;! p:lrcr.zlldadf! e pela inidatifJ4; aqui, a extcuc;ao das lei, decurrt> pela 1'la jllriJdici(mJi, ddinH:Ia. p~la !111P.rr­rj,l/iJ.1Je e pela {',nridd_tde (0. Pmf. Marcello Cld.tl1o. "I.mllai de n'rnto Adrr.I-/llJ-lr,ltil'o, 4." t:J., 1956, pags. 5-6). ... .... .,

Conduindo, diremos qUt· a len·"ir.1 (.ll.IcteriJi/<'.1 do flUt'fn./ ,ud,o.1f',.o.dos rRdrge­I/<IJ porillg/li/leJ i- .1 ((lfICemr,ICdO Tid meImt.l pe.H(JoJJ (,)fIIO rt/g~.1. (0 aa.mllll.rtr.:u!o"; di ilt'lilJid.tdt/J Ol'gall;('{ " jUfI/'ionalme'lfe di/erolic/dd:i l : .1> d,' lUI: 111umclp,j1 € .z!!.o'J'Jte d.l

alh'lilliJlr,l(do.

II. Os Julgados Municipais.

Rderidus os prilllipius fuodaml'Otais d.l organizJcao iudi(iiri~ .dos iruHfen.lS, e ~abidu qut: 0 6rgao basilar dessa organizac;lio I: 0 Julgado MUOlClpal. a5s1l1.l.lem<.~s alguns tca,os essenciais da sua estrutura :

a) - Os Julg,ld()s l\fulliCl{il1iJ SdO tf'ibuTI,lls do lipo d .. , <I."lJgiJf,..ttur.JJ i"jmores»:

A admissibilidade das m,lgistratur.b iuferiores, (ontlOlcias a juizes que nil' di~ de forma~iio juridica au nao e'stao intt-gradas l'nl l.lrreiras ph)fissionais de IlJtureza JU-

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-l\rtigo 51.°

, u<>oacia por alguns autores, como Ltssona, COm 0 fun f ' ,. 'oros.1mc'll'e ll11p ~ . I ef' • di.:ijriJ, ()J ... o ,i di"t merece protec(ao 19u:l mente Kaz, segura e certa e POt

dJJllen, to de qu~ tl)d) reI 0" ~"'''J.r50 tecnica identica. Parece que este ti po de c;itica ' 'I~trados com .. ,r(,.~ , d d .. - d . .

i,,,', elUge mJ,!; , 'I ca"O qut' nos interessa a a mlrustra~:lO e Justr~a aos in levall 'II especll no, ' I - s6 od •

S>SIUDt~ re, ". . ,'d. le civilizadora em re a<;ao a estes p e scr valorizada r polS que a aCU\1 au . ' D ( d d ..

"Jt:etI.lS• ,.- d ,f' dministra(ao de justl(a. e ,.leto, na a espresugra mais I -e"U!lO urn.! t !Cal a , " '. . Fe of' _" ~ . u'tu'c"o aos olhos de povos prumtlvoS, que a lruqwdade cia

urn org:!O au urna IDS I, ....

SUJ ju.ri~a. . '/ r ,. inferiores tambem encontraram defensores em autores tao 1fJ.' as magI"ra ur~ I e6 . d . .' u eta que ponderam num P ano menos t nco, que a a mrnistra.

eJIlJOeflteS como ",,0 ra,' .-_ d . ',,' ais f ;cil em certos ti pos de causas e, consequen,emente, sao men ores ~J,) a )b~sltIJ<,ade md er;os que comprometam 0 valor da Justic;a. Por outro lado, a mul-,. pasSJ I 1 J es e .' . t . 6' ri~hc~\ao das magislrJturas infe~i?res, toma a Jusu~a mars pron a e mrus econ mIca 0

ue rcJunda em manifesto benefloo dos povos. . . '. q Quanto aOS ]ulgados Munici~ai~, a def~s:a deste UfO ~e magr,:;traturas mferJOres

, ~~ f ,'litada' a aplicarao do dJrelto tradIClOnal dos mdlgenas nao requer uma cul-p",t.,e all ., Db . 'f' tura juridica especializada; antes pafE'Cc qu~, 0ls co ecl1Dentod~ etnogra lC?Sdpor parte de quem. como os administradores, tem urn Ja. ongo c~ntacto lrecto com ~n _lg~. fa­cilita a administra(ao duma justi\,a certa. Os rnconveruent:s ~a menor ayudao tecruc().. -iuridica foram obtemperJdos pda~ limita\.oes de competer:C1a em razao da materia, quando os juizes municipais nao seJam maglstrados de carreJra.

b) - Os ]JI/gados Mlmicipais possuem competencia conlenc;osa:

Os ]ulgado5 Municipais sao tribunais com competencia contenciosa, pois que po­dem resolver conflitos de interesses alheios por autoridade propria, aplicando a norma ao caso concreto (senten~a). Ja 05 Juizos de Paz nao sao tribunais propriamente ditos, pois nilo tern competencia contenciosa (§ unico do artigo 5.° do Est. dos J. 11.), limi· tando-se a ext;rcer fun~6es de 6rgaos judiciais acessorios (n.oo 2.°, 3. 0 e 4.° do arugo 11.' do Est. dos ]. M.) ou a sancionar a concilia~ao das partes (caso em que 0 confli­to de interesse'S e !tSolvido pelas pr6prias partes e nao por autoridade propria do or­giG judiciliio - artigo 11.°, n.o 1.°, do Est. dos J. M.).

e) - Os JulgadoJ MUllicipais sao Jrib/lna;s singuiares :

Nao obstante os ]ulgados Municipais serem susceptiveis de composi~ao especial quand~ j~guem questoes gentilicas - porque nesses casas os jufzes municipais podem sec assIStldos p~r a~~~res indig~nas (artigo 52.° do Est.; artigo 14.0 do Est. dos J

s M.) - 0 umco Ju~z.e 0 admln!strador ou 0 magistrado de- carreira (artigo 2." do

E t. dus J. M.),. espcclflcando a lel que os assessores apenas concorrem ao julgamento par~ p{ova ~o ~lrelto gentilico (artigo 14,0 do Est. dos ]. M.).

I ~a vrgenua do Est. de 1929 0 Tribunal Privativo dos Indfgenas era urn tribunal co ectIvo. ,formado ~Io administrador, como presidente e dois vogais com voto delibe-ratIvo alem dos dOlS assesso b' . ' .. '. (E d res que su slstrram na actual estrutura dos ]ulgados Mu-~olpeIlSd' st. de 1G92~, artigo 15."). Era ainda urn tribunal colectivo 0 Tribunal Espe-aa n 19tna, a UJoe formado po tr' d " d se destInava ao ' I'd r (:5 a rnmlstra ores e quatro assessores, e que 77." e 78." do tit ga~ento. e processos. eTf1 que fossem arguidos regulos (artigos 76.",

, p. g. n. 455, da Gume, de 15 de Abril de 1929). d) - OJ Ju/gadO! Municipa' - •

• IS nao tern re/Jresental1/e do Minislerio PI/b/ico : t.rugo 4.0 do Est. dos ]. M.

hte facto tern projec<;ao jam indigenas (e£. nota 2 au :;,tr;t)~ do processo penal em que todos os reus se-

e) - OJ ]lIlyadQ! Munic;pais sao 1 'b' I . rl unalS sem a rada :

D1Z.l>(; de al~ada {J valor limit ' d e ate 0 qual 0 tribunal julga sem admissibiJidacle e

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101

Artigo 51.·

.recUfso, isto e, 5!:ffi possibilidade de impu,l;na~}o judicial da sentelv;a ou decisio que profJra,

Os Julgados Municipa. is nan t':m all;ada (uti"" 21 • do E t d J M' I ' d ' i I d " ' s, os, .J, pe 0 que sera sempre a miss ve re<.urso as suas decisOt"s no, tcrmos a' j. (V d

artigo 53.°); ,111< Iwe . nota 1 ao

f) - O~ JuJgados MunicipaiJ sJo /ribunais de iOmpelencia 1.lriJ,'e/ reg",dQ SIW ou nao 1I1ag/Slrddos de carreira OJ resper/il'os jutze,.

Co~o. se vera na nota seguinte, ao estudar em ponnenor a compet~cia do<; Julga­<los MunlClpals para 0 Julgamento das Gut-stoes gentilicas.

5. Competencia dos Julgados Municipais.

Co~J;>ctencia e a medida. de jurisdi~ao dum tribunal ou seja, a parcela do pocler <jue genencamente cabe aos trlbunais de definirt-m 0 direlto (iurlS d,cere),

Nestas ~O~I;?eS ao Est., apena~ nos interessa esquematizar a competC!ncia dos Julgados MunlClpaIs em fe/arao aos mdigenas, isto e, em rela~an as diversas espeaes de causas em que estes possam ser reus e (ou) auto res.

A - Competencia dos julgados municipais quando os respectivos juizes nao se­jam magistrados de carreira:

1-Competencia em questoes de natureza civil:

Regra:

a) - 0 Julgado Municipal e competente para todas as ao;ol'S de natu­reza civil em que autor(es) e reu(s) sejam indigenas, nan im­portando se se regem ou nao pela lei COffium, (E 0 que rt=sulta tanto da alinea a) deste artigo 51.° como do n." 9." do art. 8." do Est. dos J. M. De notar que este ultimo diploma jli. corrigiu a de­ficiente redac~ao do Est. actual que refere ('processos civil e .0-merciais» quando a partir do C6digo de Pwcesso Gvil de 1939, todo 0 processo civil se unificou, deixando de existir, como cate­goria aut6noma, 0 processo comercial). Se a1gurna das partes ou mesmo a1gum dos co-reus ou algum dos co-autores for nao indi­gena a competencia reverte para os juizes de direito (a.rt. 55.°).

b) - 0 Julgado Municipal e, consequentemente, 0 tribunal compe­tente para julgar 0 conflito colonial de ki~ que surja tntre indi­genas, urn d~ quais se reja, na materia respectiva, pda lei comum (Cf. alinea e) da nota 3 ao art. 47.°).

E.\wtJ(6es (§§ do arti~o 8.· do Est. dos ]. M.) :

o Julgado Municipal, em que nlo seja juiz ~ m~gi~trado de ca.rrein., e incompetente para conhecer dos segwntes mCldentes :

a) - Nomeal;ao a ao;ao (artigos 325.· e 329.0 do C6digo de Processo Civil (*», inciJente que visa a colocar no processo como ri":u 0

vtrdadeiro interessado em contradiz,r a preten,ao do autor; b) - Chamamento a autoria (artigo 330.0 do C6digo de Processo Ci­

vil), incidente atr.lvcs do qual se procura truer p~ca. 0 process.> nao 0 sujeito passivo da rela<;iio juridlCa controvertlda, mas 0 su­jeito duma rela~ao juridica conexa fOm ela;

(0) Nas aHneas d) a f) enumeram·St f), incident~ de inteC\~n~iv dL' ttr,"ell", ,~' '" citam os artigos do C.6digo de PnlCc"-'" Civil que deimem ou enumer:un os CSS06 en' <le< t~; ,.cidentes podem surgir.

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ISTAn;TO DOS I\:DiGENt~S PORTVGUESES _1_l)2_____ _. ____ -.---

Artigo 51."

_ ,-, . Olamento a demand.! (artigo 335." do COdigo de Proccsso d-~nd - -' '- d -. Civd). incidente que aspJra it InVlstIr na posl~ao e reu ll~n co-

.obrigado, sujeito paSSIvo. tal como 0 demandado. na rela~ao ju-ridic~ wntrovertida ; . "

J) 0 -j 1 ineidente qul' poJera revcstir Llua~ moJalJdacles' - posl~.(, .

1) _ Oposi~ao expontanea, (artigo 348,0 d~ C6di~o de ProcesS() Civil). incidcnte em que 0 oponente se propoe urna verda­dcira ac(io. atraVl'ssaado-se, como autor, num processo que decorre entre outros sujeitos ; 0 • '

2) _ Oposi<;iio I;IOvocada (artigo 3';2, do COdlg0 ,de ProCl'SSO Civil), inudl11te que. no, dl:er de Gol~s~~dt, tern ca­rarter de uma litis-denunClar;ao com posslbllIdade de inter­vtn\ao principal: 0 ;eu esta pronto a satisfazer .1 presta­tar;ao m.lS tendo conhecimento de que terceiro, ,dem do autor: se arroga 0 mesmo direito deste,_ denuncia-o ao pro­(es50 requerendo a sua notificat;ao. 0 otado tern a possibi­lidade de entrar no processo como interveniente principal, mas se nao intervif'f Jeixa de poder arrogar-se direitos so­bre 0 reu citante,

e) - Assistencia (artigo 340,0 do C6digo de Processo Civil), incidente em que 0 terceiro intervem para auxiliar (como parte acessOria) ou 0 autor ou 0 reu, porque tem interesse juridico em que a de­cisio seja favorawl a parte que vern auxiliar ;

f) -laterven~ao principal (artigo 358," do C6digo de Processo Civil), incidente eDl que 0 tem:iro inten'em com urn direito proprio, paralelo ao do autor ()U do feU. para com de coexistir m) proces,o ;

g) - FalsiJade, quer de documentos (artigo 365." do C6digo de Pro­cesso Civil), quer de actos judiciais (artigo 374,~ do C6digo de Processo Civil) ;

h) - Habilita~ao (artigo 375.° do COdigo de Processo Civil), inci­dente pelo qual se traz ao processo os suces~ores de parte falecida na pendencia da causa,

o Julg~do Municipal e ainda incompetente, quando 0 juiz nao seja ma-gIstrado de carre·ira, para:

i) - l~t~:v!r em eXnUi';o,es, quando sejam dados it penhora bens imo­. bllianos (vd, conCetto de imobiliarios em nota 2 ao artigo 31.°) ; I) - Conhecer, mesmo lOudentalmente, de questob sobre estado das

pessoas,

1l - Compete'fl(ia em questoes de natureza (fiminal :

Regras: 0 ]uJgado Municipal e competente para julg<lf :

_I) - Twos os feitos-crim~s ~ . 1 . ~ que nao pertenrarn a JU1ZO espeua em que ;t pena' ] : I . ~ d ap leave se)a, stparada ou cumulativamente qualquer

Pas elnumeJrada5 n05 artigos 65. 0 e 66. 0 do Cadi go d~ ProctSSO ena am a que f d'd ' ,

b) Cr" 0 0 en I 0 seJa nao indigena . - Imes contr - d ' Cd- p a a propne ade (furto: artigos 421. 0 e segs. do

o Igo_ en;, I ;, r~ub(): artigos 432." e segs. do COdigo Penal ; u~lUpa~:t de tmovtl, artigo 445,0 do C6Jigo Penal' arranGl­mf entdo] t mar(~s: actigo 446,0 do C6di('0 Penal' i~solvencia cau u tnta 'artl 136 0 d ' ..., •

artigos 450 '" e g~, 7, ? ~6d.igO de Processo Civil ; ~u.rla: , S(gs, do CWlgO Penal; abuso de wnilanca:

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F5TATIY'r() D(le' INDl',FNAs' , ~, I'OR'rt 'GL bf:S 10'>

Artigo ~ I."

Jrtlgos 4~ ,," e 5e,lts do l 'I F' I' -10 (-'>J'g , P ',. f" ,1 (1'1.1;11 "n.l: 'unlll.H •• 1O .lftlgo 455: , ,.t I 0 ena rauuc' ilrtJl>O «(i" d ..." I' ' t . f ' - " ',., ., ,. 0 '.0. 114') Pen.11 . (' (on· r.lel~1l0: .lrtt~o,tn," do Co.Ii~() P'11.11) .1 que u'rr~ nJI

pt'O.t rOfrl'«(ton,ll (arti'>o ';6" do' C<",' \; j') 'd~' r ' ,.. " .l)I. Il.!,lt ,'na comctJ os por In, ,I.s.;mas,,, atOcia. que 0 ofendidu sq,l nio in(\lt;('n:l ( .. Iinl" b) do .lrtl,t.:O 51. _ do bt. ,I: n," ,>," Jo 8rh!!" H ," do [,t, <los I M _ ~~ )a~o~~~.1" ao dr!IS.o j~."), SI:' 0 rell for ind[gm~. 0 'clm:hdo

(. m<lgena e<to trlme, ct?rresponJt'r pma mall'r, a (Oftlp •. 1.eocia . r~erte para 0 IUlZ de dm:lt() (.Irtigo 'i5.") ; I) - Cnmes, de qualqucr nature/,I, em gUt' .Iutor e teu sejam indi,l;e-

n.1", m,k-pendentemtllk .1." pena.; 't"t' ao crime ,orr..,pond;rn. EweprJo :

Se 0 juiz municipal nao e mag,istr.1(\o de LarreilJ, n~ll) Pl>JcrR mnht,<er do Inudente dt' falsldade (artlgp I Ill,· Jo C{)JIg,) de Pm(ess() Pt"llal),

B - Competen, i.! dos Julgados Mlinicipais qu.lndo os respectivos juizt:'~ st'jam maglstraJos de c<lrrt'ira: sao Lompl'kntc~ p.ILI t(>J,,~ os «",,0; ,l(ll<:riorrnente utados como regra e como t:xc(l',;ao.

Fundamt'ntll da afirma<;ao :

. 0 artipo 10.0 do Est. dos J. M, tratanl!o tin competencia dos juizes municipJis que

sejam magtstrados de carreira, declde.l no Sell S unico :

§ unico. Nao sao apliciv(-is .lOS juizes rderidu, no ,orpo do artigo as restri\oes contidas nos panigrafos do art it:o anterior.

Simplesmente, 0 artigo anterior - u ~rtigu 9," - nj" ,(Intern paroigcOItos I lmp(ie­-se, portanto, consiJerar a excep~a() reh'ri,la aos §§ do artigo 8.", exact;unente onde se emtnciam as f('stri,5e,'; l wmp<:ten,ia dos juiz(-s munidpai~ qUl' nao ,ejalll m.,,-,,,tr,u.los de carreira a que nos rt'ferimos anteriOrmt!lk (u [)lcftto n,· )9,t> 17, de t 5 de &:tern­bro de 1')'i4, que ,,}Utem 0 Est, dos J. M" foi Larg'lmtnte rec:tificado no 0, do G, de 16 de Outubfll Jo mt'~m,) ano mas aind.l ,nr:io eSClplHl e~k pormenor),

ARTIGO 52."

o juiz muuiup,J, para () julgamcnto Jo~ pnxessos ;1 que se refere 0 artigo anterior, sent assistiJo pm dois assessores illdigenas, que 0 inform.nao sobre os L1S0S e costumes localS.

§ unico. Os assessores serlo escolhidos pelo administrador da respectiY;l circunsnic;ao ou concelho, de entre os (hefes ou outros illdigenas de reconhecido prestigio Clue conhc,am as tradi\'Oes juri­diclS locais.

1. Lcgi~la~ao pretcrita. Confronto.

Os a~~es~res, tambem com O1t:ra f\ln~:i(J de informJ e igualmente escolhidos pdo administ.rador, assistiam ji dO anti~o Tribunal Privativo dos Indi~l"nas (art. 15.~ do Est. de: 1929).

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fSTAn;TO DOS INDfGENAS PORTUGUESES _1_04 __ ---" _. _______ - -'-

Artigo 52.'

R .;; P It 1 () E,tatuto dos Julgados Municipais.

, CI1lISS"0 .' --

0, t' 14 • do Est dos]. M.: os assessores assistem ao ]ulgado Municipal

ar 1';0·· -I' / d ./ - f'" a fim d~' taz~rt'ffi prova do direito gentilico, na ,iJ Itl c compl tlfoes 0 !ClalS.

ARTIGO 53.0

(Recutso das sentenc;as dos jufzes municipais e de direito)

Das senten~as do juiz municipal proferidas nestes processos cabe sempre rerurso para 0 juiz de direito, de cujas decis6es se recorrera para 0 Tribunal da Rela~ao, ou obrigatoriamente, como a lei determinar, ou facultativamente, fora da respectiva al~ada.

Dos acordaos do Tribunal da ReIa~iio proferidos nestes proces-

50S nao hi rerurso. § tillico. As senten~as dos juizes municipais que cominem. pena

maior so se torn am exerutorias depois de confirmadas pelo juiz de direito ou pelo Tribunal da Rela~iio, con forme nao existisse ou existisse rerurso obrigat6rio.

1. Os Julgados Municipais nao tern al~ada.

Como e de regra entre tribunais inferiores, os ]ulgados Municipais nao tern ai­~ (a:u~o 21.0 do Est. dos J. M.), similarmente ao que sucede na Metr6pole com os trJb.u~s do mesmo nome (artigo 77.0 do Estatuto Judiciario, aprovado pelo Decreta­-LeI n. 33.547. de 23 de Fevereiro de 1944).

Diz-se .al~a.da. 0 .valor limite ate 0 qual 0 tribunal julga sem admissibilidade de recurso ; a lfl~stenCJa de al.c;ada nos ]ulgados Municipais e, assim, uma consequencia cia re~a enunCla?a neste artJgo 53.· de que cabe sempre recurso das senten~as do juiz mu!Uclpai profendas nos processos enumerados no artigo 51.0

2, Regime dos recursos.

Restringindo 0 estudo do reg' d . {; a"" p.ocessos em' Ime os recursos apenas .is qu<:stoes gentHicas, lsto , VJ , que 10tervenh . d' em (j..!t: nem todos os' . ~md:n Igenas, excepto aos process os por feitos-crimes

, reus sCJam 10 Igenas (actigo 12 0 d Ed] M) Jam da competencia do] . M " . 0 st. os. ., e que se-o seguinte quadro do r<'''UIZ. dUfllClpal (Cf. nota 5 ao artigo 51.°), pod<:mos esbo~ar

",lme os recursos ; .

a) - Pro[[ (lOS em que e adml' • 1 HIve reCllr so "

Em todos (artigo 53 0 dE' de simpk-s transgre'so:' o( .s.t.; arugo 21.° do Est. dos ]. M.), ('xccpto os

. "es artJgo 17 0 n 0 9 0 d E d b Ob

' " . " 0 st. os J. M.) ; ) - tecto dr.. recllrso "

A~ M:ntenus (artigo 53" d . fin:ti!> (arti!;o 17 0 • 14' 0 Cd) Es,t.) , entwJendo por tal apenas as Jecisoes

, . , n, ., 0 Est. dos J. M.) ;

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r:STATIJTO DOS INDIGENAS P --------------- 'ORTIJGL~ES 10)

Artigo :'>3."

c) - Quem !Jode reco"er:

Nas quest5es criminais 0 reu salvo h'p6t d . (art. 16·., n.· 10.· cart' 17. n:' 130 d a

E I esc e r'~:urso oongatOrio

as partes (art 15· n o '6 0 'd' E' d' ° ,to d()~ J. M.); nas quest5es civis, . .., • ., 0 st. os J. M) melhor d' d C1da (art. 680" dux]' d . .. '. Izea 0, a parte ,en-

f . " 0 IgO e p[()(c<;<;o CIvil). Nos pf(X:~ crimin· ora das hlpoteses de recurso oorigat6rio 56 o' ode . -. '<)S _ au,

admitida ·tu· - d reu p e re(orrcr nao sendo ( a. consa I\ao e parte acusadora nos crimes cometid~ por indi

genas arttgo 16· § 10 0 d E t d J M) " -processo ; . , ., 0 .5. os . . ° feu e parte (mica nlJ

d) - Prazos de recursos :

o interessado recorreni dentro de cinco dias a (on tar da lcitura da senten _ .. (Est. dos J. M., art. 15.·, n.· 6.·, e art. 16.·, n." 10 .• ) ; \

e) - Processamemo dos recurSOJ:

Os recUISOS das decisoes dos juizes .m,!ncipais serao processados e julgados como os r;c~rsos de agravo ~ dlrelto proces>ual civil (artigos 733.· e segs. ~~ Codlgo de Processo CIVIl, para os quais remete t.unbem 0 art. 649." do COdlgO de Processo Penal) - n." 15" do artigo 17." do Est. dos J. M ;

f) - Efeitos dos recllrsos :

1) - Em processo criminal, os recursos tern scmpre efeito meramente devo­Jutivo, isto e, nao impedem que a decisao recorrida produza efeitos ate o tribunal superior emitir a sua decisao (Est. dos J. M., artigo 17.·, n.· 15.0) ;

2) - Em processo civil, os recursos tern sempre efeito suspCDsivo. isto e, a sua interposi\ao impede que a decisao recorrida produza efeitos, ate decisao do tribunal para 0 qual se recorrru (Est. dus J. M., art. cit.);

g) - Mod,did,uies de leClirsos :

Os recursos das senten<;as dos j uizes municipais poJem revcstir JuJ.S mo­dalidacles:

1) - RecUIsos obrigat6rios: subirao oficiosamente par-a 0 Tribu'1::1 J.z Re­/arao, sem passarem pelo Tribunal de Comarca (recurso per .r.utl;,r, J.

os proc.:ssos criminais em que os juizes municipais :

./) - knham aplicada ao reu pena maior ; ou h) -- tenham dedarado 0 reu perigoso (<I<) (.utigo 17.', n.o u· do Est. dos J. M.) ;

2) -- Recursos facultativos : nos restantes casos em que 0 cecurso seia inter-pmto pelas partes.

Os recursos Jas sentea<;as Jos juizes de direito podem tamkm ser de du.iS especies:

I) - Recursos obriga t6ri os, que subiriio ofidosamt'llte para 0 Tribunal da. Rela(io, das decisOes que em primeira instinda ou em ro.."UfSO (ne.te caso facultativo), aplicarem ao ceu indigena pena maim ou () deda­rem perigoso (inJiscipllmJo) - n.' 13.° del art. 17.' J" Est. dos J. M.

(0) A illcluir na (~tet;UtlJ de d"Ilnquentes que ~ Rd. Pri,. d" t'!l art- 10.·, design" rx illdhcipli l .'.:duJ.

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INDfGENA:'_ POR.T .. l,rGVESES F:,HTtITO D(~~ _ _ _______ _

Artigo 5)."

, J d 'jqics Jos juizes municipais em causas ')--R"cursl1

, facultaovos: a5 ,n 'I . .'J ('Est "rino 3'i." c arti"o 21 0 - j e<,'tlVl a ~a a " " , ..' ". cHIO v:t!or ~xceCl a resP

tI ada dos tribun.lis de com area e hojc de do b:, dos .J. M)-d Ap', 't 0 9~677. de 30 de Outubro de 1940, '00)$)0 ( "1>: a "r.n.. I' 601 ;t. 1, l n, •. Id de conferida ao GOWf!10 pe 0 artl1'O .' (() De-que, usa.nd~ da faeu ; 'R de M,lio de 1939. tornou extenslvo ao UI-creto-Lel n. 29,037, e _. "1) tramal' 0 COdigo Je Pnxcsso CIVI ;

jl) - TribllnalS de roClOlW .' , . d ' ' -' an IS questoes "c:ntliIcas, quer e nature-

Em regra, os tnburt.m cle retu~,o t : " Tribunal de Comarca e 0 TribUna! za civil. quer de l1atureza cnmJl1J. , sa dO 0 rtl'go 53" do Est. afirmava mesmo

- 0 >' od do corpo 0 a. . cia Rela<;ao. 0 2. ptn 0 - be recurso dos acordaos profendos pelo que, em rela~iio a tais quest6es, nao (~ 21 0 do Est dos]. M. apenas consi-

'b 1 d R I - Todavla 0 arugo.. . Tn una J., e_ a<;ao, 'b '1 d Rela,ao insusceptiveis de recurso ordflZa­derou os 'lCordaos do Tn ~a ,a '. ~ de recursos extraordillal'ios ate rio. 0 que equi,'ale a pemutIr a JI1terposH;ao o Supremo Tribunal de JustIc;a,

Sao recursos extraordinarios : . , . '1 ··sa- (art ~71 0 do COdigo de Processo Clvtl) 1) - De natureza elVI , a ren 0 . I ' , d' )

e a oposic;ao de terceiros (artigo 778,0 do mesmo ~o Igo ~ 'l) -De natureza criminal, a revisiio de sentenc;as (artlgo 673 .. e ,sef?s. do - COdi 0 de Processo PCl1al) e, de certo modo, a provldencla de

«Hab~ Corpus;.) (Decreto-Lei n.o 35.043, de 20 de Outubro de 1945, e Decreto-Lei n.o 36.198, de 23 de Mar,o de 1947).

ARTIGO 54:'

(Termos do processo perante juizes municipais)

Diploma especial regulara os termos do processo perante os iufzes mun1C1pais.

, § unico. 0 processo sera sumario e adequado as circunstancias, devendo, pon~m, se: acautelados os meios de prova que permitam o exame das insttincias de recurso nos casos em que este seja admitido.

J, Remissao para 0 Estatuto dos Julgados Municipais.

o diploma especial rtgulador dos termos do processo perante os juizes municipals, a que se rdert 0 corpo deste actigo 54.", e 0 Est. dos J. M. que St ocupa das questoes gt'!ltilicas no capItulo IV, artigos 12." a 20. 0

2. 0 principio inquisitorio do processo em que se julguem questoes genti1ica~.

Qu~u ,'>eanali~m as p[indpi~s gerais do formalismo processual, e possive! en­cootr,,[ '''':cJaS OfJ(l1ta(:Ot"s funJamentals que definem outros Lint,,:. tipos de processo:

d.) - PTUCtfJU de lipo dIJju)silllJo:

!',e--..t.e tipo de prucessD, .0 formalismo processual e:,trutura.se segundo a idtia f~n • .lJrr.t'ntAl dt" que a~ partes dlJpoem do pro«:s~o. 0 processo e 0 meio de Juta jUridICI

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ESTATl'TO DOS I:\DIGENAS P ,-----__ .___ _ ORTUGlJE5-ES 107

Artigo H,·

das p,lrtcs; produto da iniciatIvJ destas 0 ro<: t ' diversas fases, peIa propria actividade do P t LS~OJ em q~I" SC:r aVlventa.do, nas suas , , 'a/ ',.J f ' S 10 eres'-l O~ Nao 56 'p I-I Inter ,que wtrcJUuz 0 Clto em juizo como . /. ' U 1m U JO p,oceJJY,.. t1es,e~olam a marcha do proces~o. sa~ comet?J;m!iII jf):dP,oreIJ,yaiJ f,ub,re~uenteJ, que o Jm2 e apenas 0 arbitro da pugna . acima J S rt

ao CUI ado e a ~nJCIahva das partes,

, ,. . ' as pa es r{:~uld e VI'''a I'J d d mews proceSSUalS utll!zados por das decidi d 'f" 'I '" a regu an a e os n-ados para 0 prou'sso pelos int'-rl:s-aJ,~ , d nl 0 a I,na 5l'gundo os dementos cat-

I) d - , J,>, ecaraasslm.iler'dejo--'(

ccssua ,porquc esconheu:: a vt::rdade fora d .. ( ~ ":- mtra-pw-, 0 pwccsso verdadc matenal)

00 ponto de vista da prossecu~ao penal ao rind' ]' , . ' rigor 0 principin acusat6rio : a a(~ao pl:nai t~d d~ se PlOt ode ISP?'IdIUVO co~responde em

6 • J" I 'b ' r In r UZI a ern JUIZO como n: gra, por rgao IstlOto ( () tn unal - () Ministerio PUbliC( , I' -.;ao investigat6ria indispens;ivd para fundamentar a acusa '.-, ,aff) qua. competeda fun-

PI' , ..., ~a'J, 1> d'. a estrutura 0 pro-

ces,so ena, por sua proprIa natureza, nao adrOite geralmt'nt. a disponibild 1 d teflal de provas, ' laue () rna-

b) - Processo de tipo il1qui.ritorio .-

No processo de tipo inquisitorio, tambem 0 juiz se mantem INutr .. /, no sentldo de q.ue nao p~de favo~ecer uma p-arte em detrimento de outCd, mas uma vez introduzido I.' felto em JUlZO, ~a15 do que as partes, e 0 juiz quem dispoe do processo, dirige-o, exercendo a sua actJvlJade para alem da vontade das pr6prias partes, com 0 fim Uniw de obter e decbr a verdade, Nao hoi verdade formal e verdadt: material - J. verdade e s6 uma e essa procura-Ia-a 0 tribunal livremente,

Sob 0 aspecto da prossecu<;ao penal, 0 principio inquisit6rio puro manifesta,se !U

circunstancia de a exerdcio da ac(ao penal pertencer ao proprio tribunal 0 qual conse­quentemente, exerce a fun(ao investigat6ria necessaria para fundamentar a acusa90,

o Est. dos J, M, consagrou, indubitavelmc-nte, 0 tipo inquisitorio de processo par.! as questoes gentilicas. Nas ac(oes de natureza civil, a cal.!:teristica manifesta-se pda desnecessidade de impulso processual subsequente: uma vt:z introduziJo 0 efeito em jut­zo, par simples requerimento verbal, nao se exige ao inJigen.l actividade processw alguma. E 0 juiz que procurari orientar as partes, (Olher delas os elt'lTH:-ntos indispensa­veis para reconstruir os factos aos quais J.plieara 0 direito apurac10

Nas ac(oes de natureza criminal, 0 tiro inquisit6rio de pn)((SS(l e ainda mais nt­tido e logo sc manifesta na propria lusenci,1 de Mini,tl'l'l() PUblico junto dos Julgados Municipais, E 0 juiz que introduz 0 feito em JulZO, investiga. diri~e 0 processo, pratica oficiusamente os actus que, por lei, depend'lm de promo,ao dos ma,gistrados do Minis­reTio Publico (artigo 4," do Est. dos J M,),

Para alem duma caracterizu(iio puramentc: juridieJ. interessa determinar quais as Iilzoes que leva ram 0 legislador a aderir ao processo de tipo inquisitorio, SJ.0 varias :

a) - &1zoeJ d~ ordem soci%gi".l'- os indigenas nao comprecrlderiam as vanta­gens duma actividade processual complex:! e seriam incJ.pJ.zes de ,d~l­ver os act os dt'ixados 1 iniciati"J. das partes no rrocesso de tip<) diSPOSltlVO, o ritlwl do direito pro<:'essual moderno e dt.> natureza interna, e 0 indi~a apenas compreende e nprecia 0 ritual de natureza extern;! que liga .1 Juso\a ao sobrenatural ;

b) _ Rd:ues de pali/iea ilidi/ierJoJ: pois que 0 prU<.(,s~0 de tipo lO':lui~t6n0 reset­vando larga actividade 30 juiz, e 0 qut' melhor tanllta .1 fl"ailz.l(30 do dever geral de protec(ao dos indi.lien:ls.

3. Estrutura geral do processo de natureza civil :

A estrutura gecal do processo pau Juigamentc) de questo"s gt:ntilic:ls de ruturel.l civil apresenta «(ill pode apresentar), tres fases: !au J.;!,;',lIuri .... f"sl! Jt! rUU'Jv C

JaJe de eXeCII[dO,

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IGENAS PORTUGUESES F5TATIJTO D(~S_IN~ID~::='l~~ __________ _ _ l_~_R _____________ -------

Artigo 54.'

a) - Fasr da/.1r.Jtori" " . • . . . certeza da eXlstenna dum facto ou dum direito

Esta primeira fase Ylsa a obter. a _ ) terminando por uma senten.;;a de condena controvertidos (actividade de apreCla(aO , -

na(ao, se for ca,o disso. d b os seguintes aetos processuais : A fase dedarat6na des a ra-se n

. bal ded zido peIo autor, que sera reduzido a auto, coo-l) -- Reque1'lmenlo 1'er : '. ~ ual eonstario:

firmado pcrante 0 lUll, e 0 q

_ a identifica(ao das part~s ; _ os fundamentos do pedldo ;

edido ou pretensao do autor ; - 0 P f 'd 'nc1uindo a identifiea<;ao das testemunhas que nao po-_ provas 0 ereel as, 1

derao exceder dez, na totalidade.

(d. artigo 15.', n.o 1.', do Est. dos J. M.).

) A - . to 'onduJao ao ,'uiz e m:t''Ca{ao de audiencia conciliatoria. 2 - uluacao. reglJ , • d- nf' d I" o pedido do autor e reduzido a auto, como se ISse e co Irma? p~ 0 IUlZ.

A autuacao consiste na organizac;ao dum process? com ess~ pnmelra p~a al Devera em se<>uida proceder-se ao f'eglJlo no «Livro de entradas

processu . bEd J M) d . de questoes GveiS)} (actigo 20.", n.o.1:0, do st. os. ., ~Ol~ do qu.e o escrivao fara 0 auto eoncluso ao IUlz para este marcar a audlenCla concl-liat6ria.

3) -Tenlath'a de (onciiia[ao. Mareada a.data da au~i~c!a conciliat6ri~, ~ par­tes sao convocadas para uma tentatlva de conClita<;ao. A comparencla das partes e pessoal e obrigat6ria (artigo 17.' n." 5.", do Est. dos J. M.). Na tentativa de conciiia(ao, como 0 nome indica, procurara 0 juiz conciliar as partes. Se 0 conseguir, 0 processo terminara; se 0 reu recusar a eoncilia~ao, o pro::esso prosseguira nos terrnos a seguir indicados. Em qualquer dos ca-50s lavrar-se-a auto da audiencia de conciJia<;ao do qual constara a concilia­<;ao ou a recusa do reu (artigo 15.", n." 2.", do Est. dos J. M.).

4) - DiligenciaJ probatoriaJ. Marcaf'ao de audiencia de jlllgamento. Se 0 juiz nao obtiver a coneilia<;ao das partes, 0 processo prosseguira, facultando-sc ao juiz determinar as diligencias que entender necessarias para 0 apuramento dos fae· tos (vistorias, avalia<;oes, exames, inspec<;5es judiciais etc.) - n.o 2.", il! fine, do artigo 15." do Est. dos J. M. ; mareara ern se~ida a audiencia de julgamento e ordenara a convoca<;ao de todas as pessoas que devam eOID­pareeef (n." 3." do mesmo artigo).

5) - J uigamelllo e Jentenia . . No julgamento 0 juiz apreciara. as provas ouvira as testemunhas e os depOlmentos das partes. Lavrar-se-a em seguida aCla de de que eonstara :

-- a constitui<;ao do tribunal' - 0 res~~o do depoimento das parte'S e das testemunhas ; - descn<;ao de outras provas oferecidas . - !nf<:rm~<;ao dos as~sores donde con~te 0 direito gentilico apurado (ou

JOdl~a<;.ao de colI!pda<;5es oficiais) - actigo 15.", n.o 5.", conjugado com o § UOICO do artJgo 18." do Est. dos J. M.

Os resumos e as descriro-es d 'b'I' I . •. .. , evem POSSI I Itar 0 exame das provas pc JS mstanClas de recurso (§ .. d . . . . umeo 0 artJgo 54." deste Est., in fille). o IUlz ~ode dltar para a acta do julgamento a sua decisao ou proferi-la por esmto publican do-a d d d' ' -lht-a i. . no pr~o e ez las. Neste caso, 0 processo ser-

COOe uso para tal flln (artlgo 15.°, n." 6, do Est. dos ]. M.).

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Artig!.) 54.·

A Jerl/enf" :

- ConJenari 0 (eU no \X'Jido ou em pa.Ite A .,- t ~ _ .. , , d . d d . ~~n en,a nao p,-",cra con e-n;lr ~ quanti a e superior ou t-m objel:to diverw do \X'dido (art 661. d~ ;O~I~O de. Proces,;o Civil, aplicado subsidi:iriamente PM' fu;r;a d'o n:. 1: 0 1Irtl~0 17. do Est. dos J. M.) ;

- hX;Lfa ~m eqwvalente pecuniirio do pedido ou cia pan", do pedido em _ que 0 r~~ for Zond<''1Ia~lo (E~t .. dos]. M. artillo 15.", n." (,.oJ;

Absolvera 0 reu se nao asslshr ao auto! direito au pe(lJdb ou a """rtc dele; r-

- Sed lida publicaIDl:nte (Est. dos J. M. arti,·o 15 0 Il' 6°) tr 't" I . d ' <> ., •• ,e ~ua OgD em Julga 0 em rela~ao J. P;Htt: que nao comparetet.

b) - FaJe de recurso.

Se for a~issivel recurso, e este for interposto em tt-mpo, abre-se Ulna nova fase do processo. D1ZtmOS not'a f~se, porque, ao co~trJ.rio Ju que suce-de = dircito proces­sual (omum, 0 Julgamento nao exttngue a mstaoClu, sendo admissivd um.l tetceira fase (ou segun~, ~a ~~sencia de recurso) em que 0 reu requer a execu~ao d;l ,':oten,a OIl

da traasaCl;ao JudICial em lermo do pr6prio processo ern que uma ou outra foi Iavra.­da ou sancionacla.

Nao nos ocuparemos aqui ,h fase de recurso (eL nota 2 ao artigo ')'.") e pas­saremos j a a analisar a fase seguinte :

c) - Fase de execu(iio.

Se n:lo se interpue recurso ou este for julgado, a final, improcedent<:. pode 0 autO! requerer que 0 reu condenado de satisfao;ao a senten~a. 0 mt:smo suct'tle quando tenha havido transac<;-ao homologada. A fase de execu~ao desdobra-se entao em tres sub-fases:

1) - Pedido de execu(ao, deduzido pelo autor por declara~ao verbal e reJu­zido a lermo. Conduso dt: novo 0 auto ao juiz, este ordena.ra que 0

reu seja intimado a cumprir (a lei utibza incorrectamente 0 termo; clImprimeoto e 0 pagamento pontual, qUt aesta hip6tese ji nlo pode yerificar-se) a stnten~a ou transacc;ao, em prazo findo peIo jwz, ate trinta dias (Est. dos J. M., artigo 1 -; .. , n.· 7.°) ;

2) - Execurao inlim,u/a. Notificado 0 n,u da intjnlol~ao do juiz, Je.:orre 0

o prazo da tx"cu~ao intimada da senten(a ou tranSJ.e~ao_ Se 0 n,u sa­tifaz, tennina a ac<;ao; st: nao S<ltisfaz, abre-se t<:c(eira e ultirru sub-fase, a da ...

3) - Exeftl[Jo coarliva: Ao eootrario do qut: sueede no Jirciro processual comum em que 0 proces,o de extcu<;iio 1:, em regra, urn meio executi­vo de s~brog;u;iio, esta sub-fase do proces~o especial para qu~ gen.­tilicls subordina-se aD prindpio da co.tCfao como meio .xec/<tlt () ; 0 julgado Illuninpal tenta obrig.lr 0 feU J. satisfuer 0 qUe dt've. influin­do na sua tJontdde, atr.m:s ue meios J" (oar,ao psiwI6",ica. que Ie\'em o nmisso a conduir que 0 melhor cJlninho J. ~egwr I: pr.:st.1r 0 que devt'. 0 meio de coae~iio executivo por excdfficia e a pris.i.o. ASSIID,

o IUlZ rondenara oficios.u1l.cnte 0 red .1 tr.lbalho (orreceiollal ale um anD, «pt:n.l que cessa logo que cumpra. J. senten~J. OIl \~o que por qualqutr outro modo se extinga J ooriga<;iOl) (art. 1 ~.' do Est. 005 J. M., n." 7.°). (Sobre meios ext"CUtivos, d. Giuseppe Chi~eoJ.l, jllJljlMjoller de Der.:r[.o Proct>ral Civil, trJ.d. de E. Orb,mt'j.l., vol. 1. 194H, pags. 294 e segs.).

4. Estrutura geral do proct:~w de natureza criminJl.

No proc("'Sso para ju\gamento de feitos-,rimes ~om(1.idos ,,0 POt inJiF~' p:-hlt1l1 analisar-se as seguintes fases: inJlrUfaO pr"p.mU6rla i I'fjJtrJjfiio CcJII!rsalt1Nt.J; fulga· menlo c reCIII'JUJ.

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DOS ll'iDIGEI'AS POR_TI_J_G_U_E_S~E __ S ___ _ E.'TATLTTO __ ~ _______ - - _ 1111

Artigo 5--t"

;I) _bHlr •• -jv I'r.rw .JIOfi.f: , _ _' . . _ esta caracte'flstll'] : perante 0 (onhecunento duma in-

E uma fase- d~mlln~da Pforgu~ como tal) n;Jsce a ,ruspeita (juizo de possibilidade) - a1 (au ,,0 qll_ M' a I'd 'I' ' d'" d .tr.lq.hl pen _ d 'd' prJticoll determma 0 acto 1 1C1tO, em t'lermma as condi_

1 d'termlllo! ollligenol -j 1 I'd "d ,,(:, qllt' c , 'd d 'd ' - 5e exerce no sentle () (e conso 1 ar 0 lUIZO e Suspeita -it'S Toda:l adlVl ;l e 0 JUIZ "d ' ~l " . d 'por urn )-uizo de probabdlda e, ,ubstltUJO (H , . • - _ 0 rocesSO inicia-se com 0 dfif(l de 1rol/ChI, envlado por qualquer au-

I) Pd d l-UI'z municipal ou mandado lavrar por este, quando se te-ton a e ao ,-' 'I 'b 'd· 'd' h 1 -'mento de wfracc;ao cnmlOl ;ltn UI a a lfi 1gena., Do au-

n acOnJt'\:1 0' 6°d E d J M) to de noticia co!lstara (n,O 1. do artlgO 1, " st, os, ':

c', '"n-l'.1 de tempo e lugar da infra((;ao ; _ Iflun,,[;l L • , _ldentificac;:io de infractor e of en dido e das pesso-as que possaro de-

par sobre os £actos ;

2) -AIIIII:tfao, registo e COl7clllS(iu dO juiz.' nos termos indicados para 0

pracesse> de natureza aVlI ; , ' _ '\) _ 0 juiz inicia depois a reuniao de ~r~vas tendentes a IOstruc;ao do pro­- cesso, E " que 0 artigo 170,° ,do COdlg,O de Pr~esso Penal cham~ cor­

p,-, de delifo, 0 corp a de dehto podera conduz!r a algum dos tres re-~ultados seguintes :

_ demonstra a existtncia de infrao;ao ; _ nao sao descobertos os agentes da infrao;ao ; _ apurou-se, ao menos provisbrimante, a existencia de infracc;ao e

seus agentes.

No primeiTO ca50, 0 juiz mandara arquivar 0 pracesso ; no segundo easo, 0 proccsso fieara a aguardar melhor prova; no terceiro caso, segue-se ...

4) -, '. 0 desp:lcho de classijicarCzo. que e urn juizo de probabilidade; atraves da instru~ao preparatoria 0 juizo de mera possibilidade com que a fase fe inieiou. adquiriu elementos para Sf' aproximar mais da certeL,!, transformando-se em jUlzo de probabilidade, Mas ha que dis­tinguir: - Se ao crime corresponder ptna correceional, 0 despacho de c!assifi­ca<;ao i: desde logo definitivo. omitindo-se uma fase no processo: passar-se-a, imediatamente, ao julgamento (n,O 6,° do artigo 16,0 do Est. dos ). M,) ; - Se ao crime correspooder pena maior 0 despacho dt classifica!;ao sera meran:ente t~rol'is6rio, pois que, notificado ao n':u, pode cste, no prazo de (,lOCO dlas, requerer as deligencias que cotendee (n," 7.° do mesmo artlp:r,) Neste ulrimo caso abre--st nova fase.

b) -inJJrll(aO (olIlradit6ria.'

Por simile com 0 pWCtsso pen I 'I' d ,.' (jOt};!1 (COd d P r p ,a comum e utI lzan 0 lima tE:rmmologla constltu-( l.~'n'" ,a ....;~ fe 'd,e, ,-nal, !rt!gn 326,°, Const. Po!., artigo 8,°, n.o 10.°), poderemos

-.... .. ..... ase t Il' l lrur"/; c 1 d't" 0 ' f _.1 .J d h d' . ~ / on ra lo"a, processo deixou de sec secreto e, notl-ILiWO ,,0 rspac 0 r t· da..,"lflcarao . d 'J der tJf-fC'Ssan 5 d J ~, po e 0 argllJ f) rc:querer as dilig[ncias que enten-

(J\) di~.6rl"',a m' . () d(jur:- ':.; favrara termo. 0 Jui;-- s6 dderini. as que nao julg.lr inuteis .' "", <l' t-vr"ra undamtnt . d f ' 6 0

r;' 7.),' . ar 0 10 e l:flmento (Est. dos ]. M" atigo 11. ,

D~~ fl{Na~ pru\las (arrtad ' , ;.jI'<WlJ da5 ~jtua';-Jt ... ' " f • ~J af) prrA:ess(J pc b Jnstm<;ao contradit6ria pode rtsultar

. Ja [( tn as a prop6·.jti, do curpo de dclito: dUfwmtra<;ao da

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Artig-I) 54,"

inexisteocia da infracdo ; demonstra\ao dl CIUt 0 'iPuido n-ao . d 'f -b ' • . d ': d ob b' , , . I'> e 0 aJ!ento: 2 lD rac{ao'

ou SU slstenna 0 JUIZO e pr a Illdade exi,tente a quandc dr d . I d " provis6ria. N~~te ca~o, 0 juiz !avrara : ) J ('SpaC)1) e pronunCla

1) - DesPdc/Jo de cl{Hlijica«1O definilil,tl, mO,!lfIcand,. ou wnfirmando 0

despacho de pronuncia provisOria (E,t. dos J M miD'( J('. n U 7.", alinea b) : ' ., . ".1 I"

2) - NotifictTrao de: 1)~onJjll~id e 110JificafoeJ p.:ra julgan:ell/Q.

A nov~ p!'"nuoCla defwltlva devera Sl't notificada ao arguido (por aoa.lo;':la com ? ,que suc:=ede com a pronunCla provJs6ri~ e. are, pot malona de fnao). depots do que: 0 juiz mandar~ notificar pau julga­mento as Pl'SSoaS enumeradas na alinea c) do artigo 16,", n.' -,0. do Est. dos J. M, .

c) - j"lgamei/!I;

Nesta oo~a fase, procura 0 juiz tr:ImfOflTIlr em juizo de certeza (a certeza. fda-a, ya dos conheClmentos humanos, que nao e mais que urn alto grau de probabilidade como ja afirmava Claude l>t:rnard) 0 julzo de pflAlabilidade tnundado nO' despa~ dt: c1assificac;ao definitivJ,

o julgamento come<;ani pelo interrogatorio do reu ; segllir-se-a 0' inteno,<;atorio do of en dido (se 0 houver), das testernunhas e declarantes ouvidos em corpo de delioo e, finalmente, das apresentadas para julgamento (no maximo de 5 ou 10, segundo an cri­me corresponder pen:l wrreccional ou pena maior - arti,c:o 16.0 do Est d05 J. M., n.o 7." e n.o 8,0, alinea c).

Findo 0 julgamento hvrar-se-a acta, de que constar:io os elementos j:i enunciad05 para os processos de natureza civil. A sentenp - enuncia.;ao do Julzo de cenr..a a que 0' processo visa - e elaborada PO! forma identila a apontada anttriormentt (artigo 16 c, r. ° 9,°, do Est dos]. M,),

d) - ReclirsoJ

Nos tt'rmos estudados, qUt'r em nota ao artigo 53,", que! "m nota 3. alinea t'), 2-

(,tt' artigo.

ARTIGO 55.0

(Competencia do, juizes de direito)

Compete aos jUlzes de direito eonhecer das ac~6e5 civeis. comer­ciai5 ou criminais em que sejam interessaJos iodigenas, desde que uma das partes ou dos co-reus OLl Jos ofendidos nio seja ind!gena.

§ {mieo. Aus iuizc:s municipais paded Stf ~n~l.l~'t)1~a ;l mst~­,ao do processo, no t0Jo ou em parte, e a presldenCla .aa tentatl\.l de concilia~ao quando a ela h:li:l lugar, J,J (1ua! se tera s..:mpre em conta a situa~a0 do:> in(Jigenas, dt?endo ser-lhes d;~r(l1sadl J pro-

teq:ao que for necessaria e justa.

A wmpt·tenci,l dos jUiLt-& dt' direito para (l}:lh~"(\:r j,,,, qUt':>tOes ern que ~sm ift­teres~ados iodigt:n.1s dt,termina·se i;J,(ilmentt- por c,c\u51o Je F.i.rtes. rllJ l') que b.l:>tar.l

wnf Tonlar ;IS anotac;oes .10 artigo S 1."

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112

I . 1'1 e 0 de harmonizar a ultima parte do CO""o d • 'co robkrn.l que se evan. 0 -.- este

o ~ P n alinea b) do arugo 51. , artiFO 55. , com , 0- os crimes contra a propnedade, a que corres'''' d

. 510 cOlllO VIm " ,.' I 0 'I:'vn a Pdo artJFO . ~ 'J d s pplos J'IUl('S mUOlClpalS ; pe 0 art. 55, , pareceria q , I serao JU ga 0 , . _ . . ue rena (orre(cj()na 'd f - iio indi~ena, a competenCia revertena para 0 juiz d'

desde que 0 of end! 0 a,se n • e

direito. L~~onl'ZaraO J'a nao e necessaria, porque 0 artigo 8,0 nO 90 H . 0 'so vcr a "au", , d . 0 • ' •

oJe, an). , deiinitiv:unente a doutrina 0 artJgo 51. '. do Est. dos J,M. wnsagrou .

CAPI11JLO III

Da extincao da condi~ao de indigena e da . aquisi~ao da cidadania

ARTIGO 56. 0

{Condi<;oes de aquisi<;ao da cidadania pelos indigenas)

Pode perder a condi~ao de indigena .e adquirir a cidadania o individuo que prove satisfazer cumulatlvamente aos requisitos seguintes:

a) Ter mais de 18 anos; b) Falar corrtctamente a lingua portuguesa ;

c) Exercer profissao, arte ou ofieio de que aufira rendi­mento necessario para 0 sustento proprio e das pessoas de familia a seu cargo, ou possuir bens suficientes para o mesmo fim;

d) Ter born comportamento e ter adquirido a ilustra~ao e os habitos pressupostos para a integral aplica~ao do direito publico e privado dos cidadaos portugueses;

e) Nao ter sido nota do como refractario ao servic;o militar nem dado como desertor.

§ l.0 A prova dos faetos referidos no corpo deste artigo far-se-a pelas formas previstas nas leis, mas os requisitos das alineas b ), c) e d) podem tambem provar-se por certificados dos administradores dos concelhos ou circunscric;6es onde 0 individuo tenha residido nos ultimos tres anos.

Para prova do born comporta men to, alem deste atestado, c

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indispensavel ccrtidao do registo crJ' . I d . . d"d - mlOa emonstratJva d o In IVI uo nao sofreu conden~Jr'ao . e gue

d d '-; em pcna maJOr, nem mais de uas con enac;6es em prisao correccional.

§ 2.0 Da recusa da passagern d . 'f' d d · b e C(;rtl lCa Os pel os administra-

ores ca e recurso para as e fd d f'd d' 1 '.. n I a es re en as no artigo SR.' deste Ip oma, as quaIs deCldlrao em ultima instancia df'"n()' d t

mandado proc d ' dT A , -..AS e erem o e e~ as 1 Igencias que julguem conv(;nientes.

§ 3. Para efeltos de concessao da cidadania considera-se anu­lada a nota de refractario, uma vez cumprido 0 servi\o militar.

1. A e:xtin~ao da ~~ndi~ao de indigena e a aquisi~ao da cidadania. LegIsla~ao pretertta. Confronto.

o art. 4.°_ deste Est., ao enunciar os fins da politica indigena, act:ntllJ q'je 0

Estad? se propo.e .promov.er, a par. d~ desenvolvimento e mdhoramCDto das con,j_,C\es mor~ls e matenal,s d.a vIda. dos mdlgenas, a sua integra.;ao activa na comunidade, medl~n.t~ acesso a CIdadan.la .• Aquele artigo define, assim, nitiJamentc. 0 ur"Lle' tranSI/orro do estatuto de rndrgena; de acordo com esse caracter de transitoritdade, o Est. actual reservou urn capitulo - 0 Capitulo III, que se inicia com este art. 56.. -I;'a.r:: agrup~r as .regras reguladoras da extinl;ii.o da (ondi,ao de indigena pela aqmsl,ao da Cldadanta (arts. 56.· a 63.°) e dos termos em que a cidadania derivada pode ser objecto de revoga,ao (art. 64.°).

o Est. de 1929 nao continha regras sobre a materia da aquisi,ao da cidadania, que era objecto de legislac;ao avulsa, «falha de homogcneidad~ como bem acentua o relatorio que precede 0 actual Est SOOre 0 assunto ~igorava a' seguinte legisla(ao:

Na Glline, 0 Dip. Leg. n.O 1.364, de 7 de Outubro de 1946, diploma bastante completo que foi a Fonte principal das disposi,iies deste Est. ;

Em Angola, apenas 0 § 2.° do art. 1.0 do ,<Regulamento do RecenSt'tiIlento e Cobranc;a do Imposto Indigena» (Dip. Leg. n.· 237, de 26 de Maio de 1931. publi­cado em suplemenfo ao B. O. n.o 22, de 4 de Junho do mesmo ano) continha uma defini,ao de «assimilado» para efeitos de isen,ao do respecti\"o imposto. A conces­sao da cidadania era objecto do pocIer discricionario dos funcion.i.rios administn.­tivos que, como e natural, nao seguiam todos urn crih~rio uniforme. Pau ob'nar este inconveniente 0 Inspector Sr. Ribeiro da Cruz, quando Cur.ldor dos Indigenas de Angola, publicou umas InslTllfoeS $Obre 0 assunto (Luanda, 1942) que, embora ~ cadeter oficial, ajudaram a obter maior uniformidade de criterios ;

Em MO(dmbiqlle, 0 Dip. Leg. n." 36, de 12 de Novembro de 19~". rublicado para execu<;ao do art. 3.° do Est. de 1926.

A conJi(ao de indfgena extingue-se sempre e so pela aqUlsl<;.il) cia condi90 de nao indigena (estado da ciJadao). A aquisi,ao cia ciJadania e que rNe revestir

. formas diversas, que podem agrupar-se da seguinte m.lOcira:

a) - F()rma norm,:! de aquisirJo dol cidad'lIIia, regul.lda nos arts. 56." .. 59.·, caracterizada por se realizar atraves dum processo administrativo (jurisdicio(Ializacio na fase dos recursos) e atraves do qual se devera demonstrar que 0 iadigen.l reune os requisitos enunciados no art. 56.· (ou parte deles, Oil hip6tese do art. ~~ .. );

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FSTATUTO DOS INDfGEN':' __ -;_POR.:r:tIGUE-:S-E-S-__ _ ~l~l&~. ________ -------- ______

',- de IIqnisic;Jo d.1 ddadania, rr~vista no art. 60.°, s<:gund b) -- F",.r'l.i ",,/om.; /C.I, ." d' . d d - h (I _ J Id tidade "T' F35S .. do scm <lepen enCla 0 espac 0 a que s 1 0 IlJlhete e en -' - , - .-1 '" e

a qua d rt 5"· e port.iOto ~em prevlo processo a~mlnlstratIvo, a qu"'" ~ 2 • pJrte 0 a . ;t.,' .• . "U

re ere a . d to comprovativo de alp1ma das Clccunstanclas enumerad.1.'i nas arrc~('nt1r (l(umen aline;'< d" art. 60." : d '1 J' , d - d ~- -. eI. 'q"iririio e r:aaH.W;.l. atr~ves e concessao os gover e) _Forl1M graCltJs.; H' U - - 0 -

oadores de Pfovlncia, nos term os do art. 61.

3. A aquisic;ao da cidadania peb forma normal: A) - Requisitos.

A . . - l~ cl'dadania por forma norm::! prcssup6e a demonstra<;iio do:> requi. aqwslc;ao Q~ • , • d - 0 0 . d' · , art 56· salvo as hlpoteses f11UnCla as no art. ) 7. 10 Ividuo SItos enumerauos no . .,' . . ,"d' _ • ' .; f er cumulaJit'.1mn:te ,: todos 05 requIsItos eXIgI OS, mas a enumera<;;ao ae>-er.l saus aZ d .., tr . .

L . - odendo exigi- sc por acto a rrurustratIvo, ou os reqUlsltos SUI Ie-c toJX.;1.ttt.:l} nao F ~.lp, - -

mentarcs. d I' d rt 56.": Analisemos os requisitos qut: const.JJTI as a IDeas 0 a -

~) - Ter maiJ de 18 anos.

Iste requisito e inovat;;iio do ~st. actual; nao constava da legisla~iio local em vigo~ na Guine, Angola e Mot;amolque. . .. " ., . .

o requisito da idade e dispensado aos fIlhos l~gI:~os ou deglt~os pe~dhados que yivam sob a direcc;ao do pai, quando este seJa lOdlVlduo que adqu"ra a Cldadania depois do nascimento dos filhos (art. 57.°).

b) - Fdar correctamel11e a lingua portuguesa.

f 0 indice ate agora adoptado em Mot;;ambique (alinea a) do art. 1." do Dip, Leg. n.O 36) ; na Guine e em Angola exigia-se ainda que se lesse e escrevesse a lingua portuguesa (allnea a) do art. 1." do Dip. Leg. n." 1.364, na Guine; n.o 2.° do § 2.· do art. 1.0 do Dip. Leg. n." 237, em Angola).

o Est. exige que 0 indigena, para adquirir a conclit;;ao de cidadiio, fale correcia­mente a lingua pmtugutsa; tal correct;;ao devera aferir-se peIo tipo medio de cidadao originario da mesma dasse social e iguaI grau de cultura. 1: a correc<;ao reIativa do anal/abtto. plJrque, como se disse, a lei nao (:xige que se leia e e5creva portugues,

e) - Exercer prolissao, arte ou olicio de que aufira rendimel1to necessario para o Jllstento proprio e das peJJo.:1S de familia a seu cargo, 011 tlOssuir ben!" .rlljicielltes par,/ 0 mesmo fim.

Estt rcquisit l) corrtsponde, groJSo modo, ao enunciado na alinea b) do art. 1." do Djp. Ltg. 0.° 1.30 (Guine) ; acrescentando-se-Iht a alternativa da segunda parte cia a1m(~: «~u pOSSUlr bens suficientes para 0 mesmo fim»), prevista nJi alinea c) do an 1." do DIp. Leg. n.O 36 (Mo<;amhique).

On.: .4.", do § 2." d~ art. 1.0 do Dip. It-,~. n.o 237 (Angola) exigia que a artt ou o.fmo/?sse ('compatlVel com a civiliz;:~ao europeia» e os rendimentos obtidos <,por !-DelOS 110:OS». A especifica(ao e dtsnecessaria no Est., em face do n;quisito enunuado na altnea d) deste art 56.0

d) - Tcr hom Cr)flJpol'tamelJlo e ler adquirido a ilfIJtrafao e as lJabitos flressu­PO]!!)S pau a integral aplica[ao do direito pf,b/iro e prit'ado dus c-iddaOf POrlttJ!Jii!: rer.

.. ~(~--n\OI~eu.-5e 0 It'quisiro tnunciado na aHm:a c) do art. 1." do Dip. kg· n. 1.)64 (Gwne).

· ?j indfgen" que des<.ie adquirir a cidadania aiim d(- bom comportanJel1to moral ~ C1VI wmrrovado atraVl':s d t d d' . ..' l' 1 d . ,r .J ,to a esta () p:!5sa 0 pd,j entH.lade admln1~tratJva oca,

t\t:l:l. \.ItmOnstur aU-aves (I" " .... :.J;- I " .. I ;-:. , • e .... uao GC n:gJ.sto cru01na1, que nao sofreu con, (."Oa~"V

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115

Artigo 56.·

em /Jena maior, oem rna is dt; duas condena<;oes em . § tinieo do art. 56.0 ). pn<io correcciona.l( 2.& part\': do

Que dever;]. entender-se porem p d - . -, ,or con en.lfoes em t'r:rao rorrucionai ? Sabe-se que, ~esenvolv~do a doutrina do art. 26.· deste Est., 0 art. 16· § 1.

d~ Ref. Pns. do lit. substltulU as penas cOTn:ccionais par p d 'b Ih' , c ••

'IOnal nos t" .)' , . enas e tr" a 0 corree­~ , . t: ermn;; que an~ IS~OS ,nas notas 3 e 5 ao art, 26.' do Est. De acordo com a 10 erprcta~ao que ill perfIlhamos J' ul''''mos q' d 'd' _ § 1 0 d t 560 . '0- Ue se nera ar a expltSSao do .' 0 ar. . 0 segwnte entc-ndimento: «nem mais de duas condc'lla~f>es """

cnmes a que corresponda a pena de p . - . " ....... d § 0 0 nsao, anterlOrmeote a respectlva conn'f';ao nos term,os . 0 1. do, art. 16. da R("f: PrJ>, do Vlt.». De outra forma, a c.;pressiio Oll f!Cana s("m conteudo - porque os Indigenas nao sao conden d d ~ . . 'f' -. a ns a penas e PrJ SWD - ou tena a S~gnl Ica,ao demaslado extensa de abranger as penas de destc-rro multa por contraven,oes e repreensao. '

e) - Nao Ie,. sido notaJo como rejraf/,ll'io ao sen'iro miiiJ..lr, ntm d..ldo como deserlor.

, Na l(gisla<;ao local anteriorrnente citada, apenas a alinea d) do art. LO do ~I~. Leg. n.o 1.364 (Guine) exigia 0 cumprimcnto dos devf:re-s militares ~ue .ws lOdlg~~as co~bess~ nos termos das leis sobre recrutamento militJr, para que pudessem adqulflr a C1dadarua. Cumprindo 0 dever civico representado pela submissao as leis sobre recrutamento militar, 0 indigena demonstra que a assimila(jo cultural se acompa.­nhou de uma assimila(ao social correlativa.

A redac<;ao da alinea e) do art. 56." deve aproximar-se do disposto nas Ba­ses XIII e XV, § 2.° da Lei n." 2.060, de 3 de Abril de 195~ (Lei da Organ.i~ao Geral, Recrutamento e Servi(o Militar das For(as Terrestres l:lrramarinas). A Base XII da Lei n.· 2.060 prescreve que «todos os portugueses naturais do ultr.lmar podeclo ser obrigados ao servi(o militar em eondi(oes identicas as est.lbelecidas para 0 sdvi<;o militar na mctr6pole», mas a Base XV, § 2." da mesma Lei concede que, em regioes au nticleos onde nao seja ainda passive! 0 recensC'amento militar, as autoridades militares fixem 0 nfunero de recrutados que as autoridades administrativas locais dever.io man­dar apresentar para cumprimento do servi.;o militar. Assim, 0 ind/gena p,'Xie nw cumprir as suas obriga.;oes militares por heto estranho a sua vontade, se ViVt'f em regiues onde nao esteja organizado ainda 0 recenseamento militar; compreende-se pais que a aJinea e) do art. 56." apenas exija que 0 indigena nao tenha sido nntacio como refl'<lctJl'io (quando da Ofj.;.lOiza(.io dos contingente-s previsto no § 2.0 cia Base XV da Lei n." 2.060) n~m dado como dcserfor (crime previsto e punicle) nos arts. 136.0 e seguintes do C6digo de )usti(a Militar).

Do conteudo desta alinea do art. 56.· resulta que so os indfgNlJs PMlugkcses podem ,tdqllirir a cidadallid, ja que 0 cumprimLl1tt' 2o~ deveres militares e urn d~ exclusivo dos flMio1Jdis (como logo r~ss3lta el.l rda(~:i.o Ja Base XIII da Lei n.o 2.060: «todos os porlll[!,flI'seJ naturais ... »).

4. Idem: B) - Prova dos requisitos exigidos para .1qUlSit;:.l.o da cidadania.

A regra geral <ileC(a dos ll1::itlS pcobat6rios que podUl1 uttlizar-se Pol!.l .lemons­tra<;ao de que () indigena reline oS requisitns en,um('r.J.~o, n.15. :tl!neas ,do ar:- ~(..o enlOntra-se na 1." parte do § 1.": a pcova de t:11S ft-qUlSlto~ .:Ie bci~) lar-se-a pelas fonnas pn:vi~tas na, Ids,

Algumas especi.ilid.ldes :

,/) _ A proya da idade rode fazer-sc atraves da form.;. \."st.lbe\t(i.1o 00 .l.rt. 139." do C6di~() de Registo Civil, quandl) nao (onstt J, J(><.:um~nto esrc..:ihco Ff. n.O 4."

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116 ESTATUTO DOS TNDfGEl\.'AS PORl1JGUESES -

Artigo 56."

6 d "I de Novembro de 1955, publicada oa II parte d-te da Pn[L.lrj,j n." 15. 12. e - ~~

volume), b)-Os faetos referidos nas alineas b), c) e d) pode-m tambem provar-se:

1) _ Nas prof'incias d( indigenalo, atraves d~ c~ficados dos ~d~inistradorcs dos concelhos ou circunscri~oes oode 0 lOdlVlduo tenha resldldo nos ulti­mos tres anos - § 1. 0 do art. 56.· ;

2) - Na melfopole e. ~s !,:ovincias ,de Ilao indigenaJo, por certificados das autnridades admlOl,tratlvas da area da sua residencia, nos term os do 0." 5." da Porta ria n.o 15.612.

Em Mo(ambique, estao isentos do i~posto do selo os ~'1testad?s de comportameoto civil relativos a iodigenas e os requerunentos em que sao pedldos (cf. Pareeer da Procuradoria da Rcrublica de Lourenc;o Marques n.o 76, de 28 de Outubro de 1948, in Dr, Agostwho Torres Fe-vereiro, ParecereJ, 1949, pag. 375).

Tanto nas provincias de indigenato, como na metr6pole e nas provfocias de oao indigenato e necessario, para prova do bom comportamento, alem deste atestado certidao de registo criminal demonstrativa de que 0 iodividuo nao sofreu as conde: na~l)es Itferidas OJ ultima parte do § 1.0 do art. 56.° (doutrina Iepetida no n.O 6.' da Port. n,· 15.612).

Da recusa de passagem de certificados cabe recurso para as entidades referidas no art. 59.° (nas provlncias de indigenato) - § 2.° do art. 56,° ; a Port. n.o 15.612 e omissJ. sobre a mociJlidade de recurso a que esta sujeita a recusa de passagem de certificados pelas autoridades administrati\'as a que se refere 0 n.o 5.° do mesmo diploma. Partee-nos que nas provincias de nao indigenato se devera aplicar por analogia, a doutrina do art. 59." '

ARTIGO 57.0

(Condi<;ves de aquisi"ao da cidadania por parte das mulheres e filhos dos individuos. que adquiram a cidadania)

~ mulher indlgena casada com indivlduo que adquira a cida­~arua nos ~ermos do artigo anterior e os filhos legitimos ou ilegi­timos pe,rftlhados, menores de 18 anos, que vivam sob a direq;ao do pal a d~ta daquela aquisi~ao podem tambem adquiri-la, no ~aso de sahsfazerem aos requisitos das aHneas b) e d) do ar­tigo 56.0

1. Aquisido normal da Cl'd d' d' . , , a ama com lspensa de alguns requ1S1toS.

A forma normal de aquisiC;a d 'd d' .' . 2 ao art 56°} P I' 0 a C1 a aOla caraLttuza-se como se d1sse (vd. nota . . , or se rea IzaI atraves du d . . ' . . os elementos probatorios dos r u" m proc.esso a mlOlstrabvo tendente a rewlhe: corny sendo os pressupostos de {a:S1tos enuncla~os, expressa ~ .taxativa~" nte .na ,lei dualS e sociais que earacteriz to de que 0 .mdl,?ena adqulClu os habltos md1vl­requisitos sao, como regra tO~~J 0 comum. dos Cldada~s portugueses originarios. TillS

estabeltee uma ("J(cep(aO ~-rn fav;:Cs enun~Iado: nas almeas do art. 56.°; este art. 57." certos requisitos. dos wdlvlduos que enumera, dispensando-os de

Vejamos quais os bencficiarios d _ a excep~ao consagrada oeste art. 57. 0 :

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E5TATIJTO DOS INDIGF:\t\S PORTUGUESES 117 ------ -- -- - --------'--------

Attigo 57.·

<1) - A mulhpr t".lsuda com aJJimilaJo.

~) art .. 57.° c.omec;a por se rcleric a «mulher indigt'f1J. cas.1da com individuo ue adqulCa a Cldadanm no, termQS do artigo anteriof» Hoi. qu di t' . ,. l' 6 q a saber: .. e S mgul! vanas up teses,

I) - ~m .p;imeico lugar par('Ce nitido que 0 artigo se refere a mulher indigena casada com mdlvlduo que, poslertormeflle ao ,'asamefll ad ., 'd" D' d - ." 0, qUInU a CI auama. ISpen.5a. -se nes~e (a 50 a. emonstra~a() dos requisltos e,:!unciados nas alinl'lls 11), c) f: e) do art. 56. A dlsP,!'nsa de IdaJ~ resulta de que a 1<1aJe nubil, que! estabelecida pela lei comum (~rt;? do Det:. n. 35.461, de 22 de Janeiro de 1946), quer relo dirdto cons.uetudmano d~s mdlgenas [nc'Ste caso, mais hipoti,ticamente (*)] se aproxima sensl~c1menf~e da l.da?le ~m que pode presumlr·ge certa muturidade intelectual Gue garan a a e Icaz ass.lfill .1,ao da cultura portuguesa ; a dispt'Ilsa da aline-a f) do art. 56.~ resulta do correlatIvo dever" 9ue impende sobre 0 marido assimilado, de provt"J' ao sustento das pessoas de. famlha a seu cargo; fmalmente, 0 rt-quisito da alinl;J. e) do art. 56,°, por sua pr6pna natureza, nao seria de exigir a mulheres .

. 2) -. Se a ~lJlher indigena casou com individuo nJ-o indigena, que adquirira a ndadama anlerlormenle ao casamento, sera de aplicar a doutrina do art. '57 •• ? Pa.r:eee-no~ que ~i~, A primeira p~rte do art. 57,0 emprega a expressao «adquira a ndadama», suflnentemente ImpreClsa pan que se nao dt"Va distinguir entre cidadania adquirida antes ou depois da eelebra~ao do casamento (repare-se que a distin,iio e nitida na segunda parte do artigo em relar;ao aos filhos «que vivam sob a direc\ao do pai a data daquela .Iquisifao»).

3) - E se a mulher indigena casa (ou estli ja casada) eom imliviJuo que adquiriu (ou adquira) a (idadania nos termos dos arts. 60.· e 61.° deste Est., quid iurir?

Pareee intuitivo que a solU(;ao - ate por maioria de razao - deveria ser iden­tica a consagrada para as hip6teses anteriores ; mas a duvida toma-se legitima d fa,,;; daespecificaC;ao da 1." parte do art. 57.· que se rdere arenas ,j ddadania adquiriJa «nos te-rmos do artigo anterioo>, i5to e, nos terml!S do art. 56,"

Julgamos legitimo (onsiderar como manifestamente wntnirio ao espirito que preside a este Est. a restri<;5.o assim f"stabelecida. 0 legislador nao podia qllerer - em nosso entender - uma restri\ao para a qual se njl) encontra justifiu(ao al,:.:uma.. Quando se fadlita a aquisi(ao da cidadania aos inciividu(h enumerados neste art. 57" proclIra fortalecer-se a unidade da familia conferindo a todos os memhros del.! a possibilidade de ascenderem al> st-ltllS da ciJadania mJlJ 0 minimo possive! de requi­sitos; n50 hoi razao para proCt·der diferentemcnt<: segundo a forma dt' ;lqulsi~ao da eidall.tnia por parte do marido,

Devcr.i recorrer·st', entaD, a tUna Illtcrpreta\ao extensiv;l da lei? Parece·nos que nao. A lei naD llissc menos do que queria. Disse (> que nao queria: 0 st'fltiJll externo da lei nao correspl!nde a vontade interna cia kl. CorriginJO-a . considerando nao escrita a cxpressao restritiva «nos tecmos Jo artigo anterion) - nao se submetera II

interprete ao verdadl:iro coll1ando legal? »'" C'(c-nos que sim.

b) - OJ Ii/hos J"j!,/,imoJ Oli ileg1JimoJ /)lftji/h"dof do a!Jimilaao,

Quantr) aDs filhos Icgitimos ou ilcgitimos pcrfilhade>', menores de 18 anos, 0 art. 57." csp(·cifica c1Jramente que s6 adquirem a dJadaniJ., no caSL> de satisfJ.zerem

(0) A v<cdad. ~ que a rap:<riga indigena casa genlmcnte entr~ 0; 14 e os 15 anos.. scndo cxcepcional 0 (aso dJ.5 16m""J " d.s f1IdCUdl nao islamlzadas de Mo\arnbiqut. que che~3m • casar com 7 ou H anos (ef. Dr. jMe Gonplves Cota, Proieclo De!i"itito J~ E.I.z/ .. /o dt DJ''I/iJ Pm'ado dOl InJigendl dol CuJor!!.J ,i< hlo{dmbiq,,~, 1946, pig. 1( 1 ). Mas neste ultimo e.so oio podec;l. diz<:HC que a mulhcr (e mesmo Q marido) tcnha satjsf~ito 0 requisito d. alinea tI) do art. 56,· , , .

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'GfNAS PORTllGUESES ESTATUTO ~?S~_~I ~ , ____

118::...-__ --- _-------

Anip;o 57.~

bJ ,', do art. 56.", os que vivam sob a clirecc;ao do pa' _ ui,;ros diL~ allneas '. e " J l

aos n'q .' '_ - _ Ii cidul Id4 por ",me dole. J d,,,,l da "qu;m;ao J. ,. '. 'dio da cidadania por parte do r ai ? Pnconizamos ja

E t~S na:l-lJos arOS J. aqdUlsI ~ 57 0 seguindo a doutrina defendida pelo Prof

'. reta\, to a cunlr:1rrO 0,. " ~ "d . a m,c'rp "f ~ art? 0) . devr>r5o aSSlm, conSl erar-se como odgina SilYJ Cun~.l ~C; nota , ao . _.' - . , riamentt' nao IOdll!'CnJS- '1 •. rf-lh do de ../ d . '". f'lh ledtimos e I egltwlOs pt- I a s aSSlml a os que Em r~h, '0 aos I os , ~ 6 0 d 18

• C ",-'J d ' nos temios dos artS. 60.° e L. menores e anos e que .l?qUIn1n: .. a ~. a ~~a do pai a delta daquela aquisi(ao, parece-nos de perfilhar solu~ao ~~am S(";- a Irec~ "~O' nan 0 caso da mlliher indigena que case com cidadao que Identlc.1 a que ap(1'n,~u . t . , ascendeu a estc estado nos term os dos mesmos artlgos.

I A' d . terpretacao do artigo 57.0 para esclarecimento 2. mportancIa a ffi >

da 'defini~ao legal de indigena.

Cf. nota 3 ao art. 2.0

ARTIGO 58.0

(Autoridades competentes para concederem a cidadania)

o requerimento para a aquisi~ao da cidadania deve ser dirigido ao govemador do distrito da residencia do interessado, au, na Guine, ao governador da provincia, e sera entregue, na sede do concelho, circunscri~ao ou posto administrativo, convenientemente instruido com os documentos tornados necessarios pelo presente diploma e pelos reguladores do bilhete de identidade.

§ unico. Os administradores do concelho ou circunscri~ao devem enviar os requerimentos para despacho, com 0 seu pareeer concreto e fundamentado, nos quinze dias seguintes a recep~ao deles.

1. 0 processo administrativo de aquisi<;ao normal da cidadania .

. A forn:a normal. de aquisir;iio da cidadania prtssupoe a existencia dum proceJIq admtnls1~al1vo, ou sela, ,de ~n:a SUCt,ssao ordenada de formalidadts, segundo prazos estabel,r.·ndos, tendentes a prahca ou a execu<;ao dum acto de autoridade: 0 despacho da entldade a quem f: dirigido, concedendo OU denegando a cidadania.

Neste processo adm' . t t' d . d . .• . • lOIS ra IVO e Interesse particuhr (porque nasce sempre a IDlClattva de uma pesso~ ~itular de intt-rtsses diferentes dos da administrac;iio: o. indio gena que pretende adqulflf a cidadania), encontramos os seguintes elementos:

a) - Requerimento iJJicial:

o processo administrativo p , ~ d' - . ....to ... 1 d . j' J[,! concessao a Cldadanw comec;a relo requerun .... lnJCla 0 me Jgena, t'ndere<;ado:

- ba~ govcernadord

do distrito da residencia do inter{-,sJdo em o\.ngola e Mo<;am-. lqU(: corpo 0 an. 58.") ; ", • - ao governador da provinci,l, na Guine (' 1 )' - ao MIOlstro do Vltramar ,. . u' It.tm,,.. t 6-

pr)j,. (n 0 1 "d p , .• e 0 In Igena tun resldenua pumanente na Ioe r '. , . a ort. n," 15.612, dt' 21 de Novtmbro de 1955) ;

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_______ ES~T::.:A~ru=__=__TO DOS n\iDIG[~I~S PORTl"GLTESES -_.- --.-~---- 119

Artigo 58.·

.10 iWvlrnador da provincia s~ 0 inJi8t"n 'd' , . de nao indigenato (n. 30 d' P a resl Ir nul'] I prOVlflna u!tramarina

. " a ort.n.o15.(12).

o requ('rimcnto devcr:; sec escrito em 1-processo: art. 63.°) e assinaJo pelo ioter~3P~ nt ~dado (dada a gratuitidade do souber escrever, assinado a ro"0 (art <.I()" dssaC~d 3

JSSInputura ~ut6"rafa) ou, se n51)

• ,., • • J"t. 0 o. e roc. ('(vIi) Do re<lllCnmcnto alem do el1derero d' 'd' .

a exposirao' f!tndame~/"d'1 do objecto d' eyer~. const1C (a 1 en:~d:u1e do req:J~,ente, pedido e 0 fecho onde se discri' -' -0 rt~~Clmffito. mnces'ao da Cldadania), 0 . ' mmara a esr-c1e e 0 numero de docum t mntarn para prova dos factos alegados. en os que se

o rcquerimento devera ser entrl'glle, con forme os casos, as seguintes c:ntiJacles:

- nas ptovincia~ ?Itr~arinas d" indigenato, na sede do concdho, circuDs<.ri~ao ou posto, ad:nmlstratlvo. da residencia do interessado «(orpo do art, 58 .• ) ;

- n?s pr~vm:l~ ultramanms de nap indigenato, em identicos servi<;os de admi­flIstra-;ao CIvIl (n." 3.° da Port. n." 1 ).612) ;

- na metropole, na Inspec~:io Superior dos J\'eg6cios Inuigenas do Ministerio do Ultrarnar (n.'" 1.0 da Port n.· 15.(12).

o interessado podera cobrar recibo do requerimento (art. 486.·, § 4.·, do Est.1-luto do Funcionalismo UJlramarill'J. aprovado peIo Dec. n." 40,708, de 31 de Tulho de 1956). •

o requerente deveri juntar .10 requerimento os c'Xllmtntos tornados necessarios p-.ua prova dos factos enunciados nas alineas do art. 56." Oll P.IS indicadas pelo art, 57.0 e ainda os necessarios para concessao do bilhett de iuentiuade (J.rt. 12,0 e seguintes do Dec. n.· 40.71 t, de 1 de J\!::osto de 1956).

c) - P'lrecel' ;

Parecer e a propoJla de J01UfaO dum proceJJO :u1minJ.ilr:tJito. 0 .m. 58.· ordena qu~ os auministraJorts dt conceJho ou (ircunscri,ao emitam 0 Stu pa.recer concreto e funJarnentado sobre os requerimcntos de pedido de concessao de cidadania, nos quinze dias seguintes ,\ !C'cep~ao ddes. Pdt) n.O 3.° da Port. n." 15.612, impende oil mesma obcigac;uo sobre os strvi,o~ de adlllinistra~iLo civil, nas provinci:1s de oao mdigenato. Mas na mctropole, se a Inspec(io Superior dos Negocios InJi,cenas river deJegat;'ao para dcspaclur os pedidos de concessao, () p;l!l'Cer de-vera ser lbgic:un:;nte ~ubstituiJu pdo deJp'lcho fllnd,l!IIo!fll.uio; se 0 1finistro n}o delegou na Inspec~o. ;J esta (ompcte apreci'lr tais pedidos, dando l1<.'ste caso ,> sell pJcecer.

Emitido 0 /),II"'cel', 0 processo devera .o;er envi.ldo para despacho .t entidaJ" com· fwtmte, dentro do prazo assin.lIado .

./) - Der/M"ho de dccisiio ;

lnstmrdo 0 prnct'S'W.) com 0 n-spt'uiyo parl,(f'C, recaid sabre 0 redido de con.:~..ao dt" cidaJania 0 dcspacho de decisiio da :1utorid.1d" competente.

Qual a autllridade competC11te P3C'.l L'mitir 0 despacho ? Em prindpio, a entidade a quem 0 requerimento ini.:i.1! e endere(JJo, Mas hi

uma excepc;ao: 0 Ministm do Ultramar p"Jt:r.i Jdeg.lr na lnsp<-",--ao Superior dos Ncg60ps Indigtnas a resoluC;:lu dos peJidos de concessao de ciJadania de indigenas que tcnham rt'siJencia permanmle na metr6pole (n.·· 1.0 e 2,· J.l Port. n" 1;,612).

Se 0 despacho .:: de Jderimento, sera comunicado oticic'samente J. entidade ('mpe­Ie-nte para .1 passagt'm Jo biIlwte de identidaJ(:, (2.' I'arte dl) corp<) do art. 59,-).

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bTA 11}TO OOS INDIGEN~S PORTUGUESES --- -----Artigo 58."

2. fase jurisdidooalizada de recursos.

h d toridade competente e de indeferimento do requeriment so" 0 despac () a au T 'b I d R I ~ 0 para - - _ '. 'd' d . eWe recurso para 0 n una a c a!;ao, nos term"'" d COIlCessJ.U de d a ama, 0 ~~ 0

art. 59. 0 (vd. nota 1 ao art. 59. ).

ARTIGO 59.0

(Recurso do indeferimento da concessao de cida.dania)

Do despadlO de indeferime~to cabe recurs,?, a interpor no prazo de quinze elias, para 0 Tnbw:al da R~la~ao. . .

o despacho de deferimento sera comufllcado oflC1osamente a entidade eompetente para a passagem do bilhte de identidade.

§ tinieo. 0 bilhete de identidade sera entregue ao interessado, depois de satisfeitas as eondic;5es regulamentares que nao sejam contdrias a este diploma.

1. Fase jurisdicionalizada de recursos.

Ap6s a fase administrativa do processo para concessao de cidadania abre-se uma fase de recurso, jurisdicionalizada, se 0 despacho que pOe fim a fase administrativ~ c de indeferimento. 0 6rgao jurisdicional de recurso e 0 Tribunal da Rela!;ao.

A lei nao exige formalidades para este rt;'CUrso, no manifesto pcopOsito de facilita! a sua utiliza~ao pe/os indfgenas. 0 recurso podera ~r interposto por simples reque­rimento, stm necessidade de set articulado.

Como este recurso e apenas uma nova. fase do processo de concessiio da cidadania. n5.o nos custa admitir que 0 rtqu(:rimento de recurso possa ser entregue na propria administra~ao do conctlho ou circl!nscri~ao, que 0 enviarci, pelas vias legais, para 0 Tribunal da Rela~ao,

2. Prazo para a interposi(;iio de recurso.

o interessado dcvera remrr!:r no prazo de quinze dias. ~ste ~r~o deve contar·se a partir da IlOtificar1lO, isto e, do conhecimento dado

prj( via oflC1a~, ,do _contelido do dt'Spacho de indeferimento. A boa pratica sera lavrar tt"r~o da ~()tlflCa~ao, dond~ crJfJStI: a data desta, para que 0 Trinllnal da Rcla~ao ]XILa (;Jnl:ccer se 0 rtcurso e Intcrposto em tempo.

Ha amda a considerar a hipotese da /Jassh'idtlde da Administrar;ao. 0 indigena ~~~er:"U a :cmcessao da cidadania e sobre 0 seu pedido recai apenas 0 siJencio da n.wIlJnIstra~ao' oem Ih' 'f' d ed-'d d' ; , r~ e nott lCa 0 dcspacho de indeferimento nem se the (one ~ ~ (1 .a a~I:. t-'t"'ita hJjJ~t(:st (: de aplicar a doutrina do art. 489." do Estatuto do ,uo:JJ~JOad1"mo Ultramano? (aprovado por Dec. n." 4O.708 de 31 de Julho de 1956);

T._>:< ,dn o-se que os qulO'c d' , 0 d elll d

Z w') a que 5e !efcre 0 § unico do art. 58, ev contar-,,: entro cia fase de' t - ( ~ ·:to d '., d' ( . lnS ru,ao art. 490." do citado Est:Ituto) e nao no pr~ ,

f: Vlfl,t las a que se referc 0 art 48 "d I - d fml-ti d' . 9. 0 m~sm(J Jjplom-l) para rc:so u~,'o e va '-6 n~luerullentos l' 1X1j~ot\, •

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ESTA l1]TO DOS INDI ---- -- _____ ~ENAS POR11JGUESES --------- 121

ARTIGO 60.0

(Aquisi,ao autOlUlitica da cidad d' ad . ama env a)

o ?ilhete de ideotidade sera passado sem de den - das formaltdades previstas oeste diplo, pen C13.

. - rna ,I quem apresente documento comprovatIvo dalguma das seguintes circunstancUts :

a) Excrcer ou ter exercido cargo publico, por nomea{ao ou contrato;

b) Fazer ou ter feito parte de corpos administrativos.

c) Pos~uir 0 1." cicio dos liceus ou habilita~ao lit~niria equlvalente ;

d) Ser cornerciante matriculado, sOcio de sociedade comer. cial, exceptuadas as an6nimas e em coIrulndita por acc6es ou proprietario de estabelecimento industrial que fun. cione legalmente.

§ (JOico. Nao e considerado para 0 efeito da alinea a) 0 exer. dcio de cargo publico que tenha terminado por demissao ou res. cisao do contrato por motivo disciplinar.

1. Forma automatica de aquisi~j,o da cidadania.

Alcm da forma nomlal de aquisi,iio da cid.1Jania, atIaves dum prOcc5S0 admmis­trativo demonstrativo da existencia dos pressupostos de hcto exigidos no art. ~.o (ou 57."), 0 Est. actual pre\·iu outras duas formas de aqui,i(do dol cidada.ni.a: a aquisi(ao alltomatica e a :lquisi<ao graciosa.

A aquisi(iio alltomiitica <la ciJadania apellllS estava previsra na legisl.l(:ill local da Guine, art. 2.· do Dip. Leg. n." 1.364; mas 0 contomo juridico da flgura cia aquisi(io :Iutom;ltica da ddadania derivada n.io "ra nitiJo, pois se confundia com Eormas que melhor 5cria consider,lf como de ciJadania originiri.a (d. alinea .;) do art. 2." do cit. diploma).

o indigena qlle precncha qualqu( r <idS condi(()cs t'Xj:~!JJ..< na~ aline-oL; deste art. ()O." aciquire a ciJaciania ope It/[,Is (: nJo atr;lves ell'!IJ acto adm:fljstr~ti\"o de (00-

cessiio. 10 urn:! forma de concessao hgd, a u'ntr.1!)()r 'IS (,)rmJs de CQOC~() de caracler ddmil2islratit'u (tanto normal tOmo gr,rcio:;a) ; 0 corp,) do m_ (-..4." exprime correctamente esta distin(,'ao, rt:ft:finJo--se J (j,b6nia rcc01,h~,:J., (lrt. 6O.G

) e J.

cidadarua concedida (art. 58.").

2. Requ:~iLOS que justificam a aquisi~ao autom.irica cIa ddJ.d.mia.

S!.·"unJo t:ste art. 60.0 justificJ.1ll a aquisir,;io aUlomatic .. cia ckhdlnl3. ,;., ,c'g'.lintes cirCllllst:tncias, ducuIIlL·t1talmente comprovJ.,las :

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D''-'',S INDIGENAS PORTUGUESES [STAl1 TTO

Artigo 60.°

., clrgo [],ib/ico POT lIom<tJ(;i /) 011 (Olllr,lIo re,n r.. >11 It:r n" r .. !<, tJ·· i' - .,. a'le ... ) - J;:..<ffCff ( . .. ha I'rmina:io por (om.Lflw oil reSOsao do c •

. a <,xerclcio d:J cargo tim ' Oll/rato

flor f'1o/it'o diJcipJilMr. '. I' c ) do art. 60.° foi a aHnea b) do art. 2." do Dip.

A fonte dm'(:ta desta a me .. d. ".It: (G . e) . Leg. n.· 1.364. de 7 de Outubro Je 1:r<V um .

C 'd se para todos os efeitos cidadaos portuO''leses 0 Art 2 0 anSI eramo, . 0' s individu'os . de ra<;a negra, on dela descendentes, que se encontrem em qual.

quer das seguintes condic;6es ;

""'bj'~i~~~~~;' ~~'~~;'~~~~~id~'~;';~~ '~6bli~~"~' ~~~ '~;;;~~;~'d~ '~~~ci~ ent de Categoria sendo indispens;\.vel, no segundo caso, que 0 tenha exer.

m 0 , , . . 'd 1 D cido com as habilita<;oes literarias m1mmas, extgi as pe ° ecreto n.O 8, de

24 de Dezembro de 1901.

A referencia a «vencimento de categoria» no Dip. !-eg. n.o 1.364 e a especifica_ !:ao da investidura «por nomea.c;ao o~ contrato)~ na almea a) do art. 60:0 do Est. actual levantam uma dificuldade de mterpreta~ao paralela: tanto 0 venClrnento de cateO'oria como a forma de investidura por nomeac;ao ou contrato sao moJalidades pr6;rias do regime dos agentes funciomirios e os indfgenas, por forc;a da alinea a) do art. 12.0 do Estatuto do Funcionalismo Ultramarino (aprovado por Dec. n.o 40.708 de 31 de Julho dt 1956), nao podem ser funcionarios (como ja dispunha 0 art. 7.~ do Dec. n,o 16.473, de 6 de FC'vereiro de 1929),

Entendendo que a aIinea a) deste art. 60. 0 apenas se refere a fllnciollclrios, como partee indubitawl a face do § unico do art. 26.0 do Estatuto do Funcionalismo Ultramarino - «Considera-se <lagente» 0 indivfduo provido em cargo publico; «fun­eionario)) 0 agcnte provido por nomeac;ao, provisoria ou definitiva, ou por contrato»­partee nao h2Vtr possibilidade de existirem indigenas que invoquern a referida. circunstaneia.

(ct, 0 bem elaborado Parecer da ProcuraJoria da Republica de Lourcn<;o Mar­ques n.O 69, de 20 de Julho de 1956, que cbega a conclusao identica, mas base-ado, como e 6bvio, na It,(!isla(ao "nterior ao Estatuto do FuncionaJismo Ultramarino que a data ainda nao fora publiciuo ; pode ver-se 0 Pareeer reftrido in 0 Direito, ano 88:, 1956, Pasco 4.°, pags. 36~-368).

b) - Fazer ou IeI' feilu pade de corpos administrativoJ.

, TIo-POliCO pance de apnm:itar aos indlgenas a circunsunda enunciada nestll almea b) do art. 60.0

I C':'P05 adn:~/JiJtTaljl'(jJ sao, na conhecida defini<;ao do Prof. Marcello Caetano, os o:gaos colegJ<Us .de gesta()io permanente d05 intl'n;,ises das autarquias locais e que e:pnmem a re<ptetlva vontade (Cf. Ma/7l/al de Direito AdminisJfI1tivo, 4." ed .. 1956, p2g. 130;.

},~ (~;:~ as . au~qliias locai~ sao pessoas colectivas de direito publico, e'lll rdar;a~ au> qU.I~ os WdJgffias por nao go' d d" , . . t'tUi - de - , ; - , zarem e lreltos politicos concernentes a !fiS J • ~lje" nao mdl "'(l1a5 (art 23 0) - d ~ . Eo. ., nao po t1I) excreee quaisquer podeees de gestao,

&)-Pf)rfllirOprimeirodc/odosl" hb'!' /... . / teo ueu.!' ou a 11tafao lterana equlva en '

G. n." 8." da I'ort n° 15612 d d . , e dt'V1: cOO\ide' • h b"'.' .. ' . ' e 21 e Novembro de 1955, qUl' espeoflcR 0 qu

C;;C·St: q a I ltll.,ao htc·ra.cia equival<:nte)~

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.Attigo 6n,o

d) - Ser ,'omerciante matriruJado 6' J ' , . ,r Cl0 fO.e 'oeteddde . I

.If ,tnommar e em comal1dila t _ ~ comerrta, exceptuaaal . d . I f >fJr aCfoes 011 propr; 1" d b 1ft uUrra que II11C;one hgalmefllc. e ano e ('sla eluimenlo

o A m'~tr!cula do"> eomcrciantes ern nome . d" , . 47. do Cocllgo Comereial 0 3«()'("'" • ~n IVldu;l, cMa rr:gulada nO'; arts 46 0 e

• • C 1\0 «matneul J ' Of"~ • , eula dos comcrnantes ern nome indo 'd I f a< 0» (mh lea-sf' pdf) facto tla mau!-

- . I" IVt ua sec acult'III\J' , t;ao aos IO'.lgmas. e urn indice not6r' d ' .., mas a matncuh, em rela-assume terto caracter de permaneoti~ C e qUdC () trato (omercial que e!.k desenvolve indigenas. se esenrola segundo os habitos dos nao

As diferentes especies de sociedades com .. _ . do C6d. Comercial e no art. 1.0 da Lei de 11 ~C!~~ ~tdao f'!JunC1ad~5 00 art. 105.' por Quotas). e n e 1901 (U1 da, S{)ciedades

3. ~egime de recursos por recusa da passa~em de bilhete d 'd tldade. 0 e 1 en-

Se a pa;;sa~em de bilhete de identidade I't'querida nos term05 d ,. recusada, 0 mdlgena podera recorrer para 0 Tribunal da Cornarca ~osartt (,0. f~r art. 439.· do C6d, de Registo Civil e do art. 70" do C6d d P 'G'I ermos 0 S . d' . '. e roc. VI

I ed

0 10 Igena vlver em provincias ultramarinas, utilizar-se-,i do proce~50 ~pecial regu a 0 nos arts. 1082.· e seguiotes do C6d. de Proc. Civil' se vive-r na m';r6 - I regem os arts. 165.· e seguintes da Lei 2.049, de 6 de Agosto 'de 1951. '- po e,

ARTIGO 61.°

(Dispensa da prova dos requisitos exigidos pam concessao normal cia cida.d.mia)

Os govern adores de provincia poderao conceder a cidadania com dispensa da prova dos requisitos exigidos no artigo 56.0 aos indivfduos que notoriamente os possuam ou que tenham prestado servic;os considerados distintos ou relevantes a Pitria Portuguesa.

1. Forma gradosa de aquisi<;ao da ddadanb.

A aquisi(ao da cidadania por forma ,graciasa realiza-se, tll como a aqUlSl(ao por forma normal, atraves dum acto administrativo de (onct"ssao. ?\f.!,; enquanto a forma nonnal de aquisic;ao da cidadania resulta do exerckio dum direito por parte dos interessados (susceptive!, por isso mesm0, dt" disrussiio judicial, na f.lSe de recurso ja referida na nota 1 ao art. 58."), nesta forma de aquisi~3.() de cidadania e discricio­nario 0 poder confc-rido aos ,governa,lorcs de provincia de consi,krarem (ou olo) not6ria a existencia dos requisitos cxigiJos no art. 5~,o ou a (oocessao da cidad.mia por servi(os considerados distiotas ou relev.lntes, prestados .i T'.itri.l Portuguesa.

No primeiro caso, e,tamos em preStO(3 dum.1 exteosao do princlrio prLxessll.ll de direito comum de que os factos not6rios nao carecem de prova (art. 518.· do C6d. de Proc. Civil),

2. A concessao da ddadania por h)ftn~ gr-.lciosa e irrevogavel.

Como resulta da sua pr6pria natureza e ds especifk:u;io nitiJa do corp.' Jo art. 64.· (vidt), a COO«'Ssao da cidadania por forela gmciosa e irrevogi-,,·el.

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124 --ARTIGO 62.0

(Valor probat6rio do Bilhete de Idcntidadc)

o bilhete de identidade faz prova plena ~a cidadania e, no caso de se ter extraviado, pode a sua concessao provar-se pelos

meios admitidos em direito. § tinieo. as alvaras de assimila~ao e outros _ d~~entos actual-

mente destin ados a provar a quahdade de nao-mdlgena poclem em qualquer tempo, ser substituldos pelo bilhete de identidade' mediante simples pediclo dos interessados a entidade competent~ para a passagem dos bilhetes, mas,. enquanto nao 0 forem, produzem, quanto a cidadania, 0 efeito do bllhete.

1. Legisl~ao preterita. Confronto.

A fonte do corpo do art. 62.0 foi 0 art. 4. 0 do Dip. Leg. D.O 1.364, de 7 de Outubro de 1946 (Guine).

A prova da passagem da situa.~lio juridica de indigena para a de nao indigena fazia-se:

a) - Por certificado ou a/tiara de aJJimila(ao passado pelo administrador da circunscri\ao ou concelho (Angola) ;

b) -Pela cerlidao da sentenra da Relal;ao (acordao) ou do Tribunal Privativo dos indigenas (MO\ambique) ;

c) -Pda conccssao de bilhete de identid _Je (G . , 4 0 d D' L • 64 au Ulne: art. . 0 Ip. ego n. 1.3 ).

2. Remissiio para legisla~ao geral.

Cf. as disposi\oes do Dec n° 40711 d d A rial 0 -:.., e 1 e gosto de 1956 atentando espe-mente no art. 60. que estJpuia sec d" - d '., . indig em as lSpOSli;oes este decreto aphcavels aoS

enas apeoas na parte em que para tlas remete 0 presente Est.

ARTIGO 63.0

(Gratuitidade do processo de aquisi(ao de cidadania)

o processo de aquisir'£i d 'd d ., . • .• " • 's 0 a (1 a ama e gratUlto, excepto quanto as taxa) normas do bIlhete de ident'd d 1 a e.

Taxas e emo!umentos.

~da ('xetu~io do~ servit;05 rt,· ',1 ",.~ - • kle':iJ,~ nos arts 36. . - J. fcntd,uH,dO scrao cobrados os emolumentos esta • • c: s<:gUlnt("~ do 0" 4 ,c. 0.711, de 1 de Agosto de 1956,

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___________ EST~~!T<?_ DOS ~~~GENAS PORTI]GUESES ------------- 125

ARTIGO 64.0

(Rl'voga~1io da conces~iio de cidadania)

A cidadania concedida ou rcconhecida nos t' d . gos 58 0 e 60 ° d ' ermos os artl-. . po era ser revogada d' - . . por eCisao do Juiz d d' . oa respectIva comarca mediante J'ust'f' _ . e Helto

, 1 lCa~ao promovlda pel r~te~te autoridade administrativa, com intervenrao do Min

a. Ct~~­

PublICo. l' 15 eno

§ 1.0 A deeisao sera notifieada aos interessados que del d d . . ,apo em

reeorrer, no prazo e tnnta dlas, para a Rela\ao.

§ 2.° .Julg~do definitivamente 0 recur so, sera. apreendido 0 bi­lhete de IdentIdade e 0 interessado vol tara a ser considerado indi­g~na, excepto para ~ cumprimento das obriga~6es que haja assu­rrudo para com tercelrOs.

§ 3.° 0 processo de rerurso e isento de custas e selos.

1. Revoga~ao da cidadania.

, . Em ?ota 4. ao ar~. 1.0 deste Est., estabeleceu-se a distinC;1io entre eidadania origi­

na~Ia. e cldadaDIa d~nv~da e logo se acentuou que 0 principal interesse da distin~ao resldla em qu_e a. pnmelra nunea se perJe, ao passo que a segunda pode Jer revogada, voltando 0 nao Indigena a eondi~ao juridi,3 originaria de indigena.

o art. 64.° estabelece as condi~oes gerais em que pode verificar-sf: a revogac;a.o da cidadania :

a) - Formas de aquisifao derillada de cidad.mia que podem ser ab;ecta d .. re­vogafao:

Se e certo que so a cidadania derivada e susceptive! de revoga~iio, nao se segue que tal revoga<;ao possa incidir indiscriminaJamentf: sabre lod.1S as formas par que pode obter-se a ciJadania derivada (cf. nota 2 ao art. ~6") : 0 corpo do art. 64.­acentua que 56 a cidadania concedida ou reconhecida nos term OS dos arts. 58.0 (forma normal de aquisil,'ao da eiJadania) ou 60. 0 (forma automatica de aquisil;lo d.1 cida­dania) e susceptive! de r~voga(ao. Dondt se conclui pela insusceptibilidadt de reve­gac;ao da cidadania obtida por forma gracio5.'l (art. 6.°).

b) - Fundamentol jlJ.rtijicalit'os d.t /JromOfao de rlft'agilr!i!:' ill cid.J.d,.'1iu :

A autoridade administrativa competente para promover a n.vogal,'ao da cidadania tera de fundamentar a sua pretensao em eertos pressupostos de facto que demonstrem a regressao do nao indigena aos habitos sociais e individuais dos lndigt1U5. Tais pressupostos determinam-se facilmente, a COl/lurio, atraves dol analise das .Jineas C), d) e e) do art. 56."

c) - Elltid"de competente P,tr.t pru1Jlol'er a fn'ogaf,jo da cidaJania:

o corpo do art. 64." ref cre-se ,1 «wmpetente J.utoridade administf'ati .. -a» para promover a revogacao da cidadania, mas sem especificar qual sqa, c(1ncretaru,nte, essa autoridade. Pode assim suscitar-se a duvida seguinte: 5([" compctente a .luto­ridade administrativa local ? ; sen! competentc a autoridade administrativs que concede a cidadania nos tt'rmos du art. 'i8.0 ?

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J26 n.)..: INDiGENAS PORTUGUESES [.'T!\TlTTO JJ'''' ______ ~ --Artigo 64. 0

, I . h'p6t ",,", m lis dcfcnsavel, joi por uma r,:.~J.o de simet . J 1 'amos -,t<l u tuna I \..." ' 'd d d" Cia

U F. • L f ' (oncetlia a uma auton a c a mlfllstrativa a faculd d' ., rq' dc Dutra orma sc d . h" . a e Jl po Ut 1 ~ d acto administrativo um seu supenor lcrarquico. de prom(}"er a anu a(ao urn •.

J) _ Compt'J['1J(ia p.:roJ ,1 dcci.rJo re"l'OgaJont " . "

." "" decisilo revogat6ria pertence aD IUIZ de direito ou A competenl :.l pU.l a . _ , ern ca.so de recufSl). ao Tribunal da Rdat;ao.

t') - R';dlrJ<lJ "

A d ':, d 'iz de dirt'ito e susceptive! de recurso para 0 Tribunal da Rela~ao • casao 0 JU "f' - (!; 1 0 do art 64 0) ,

no prazo de trint.l dias a coolar da notl lca-;ao S . A '0" , , • ,

o r('(urso tern cacader JIIJpenJltJo, .como se ve d~ § 2, , pOlS so apos 0 Julga-t " d f' 'to '0 se fara apremsao do Brlhete de Identldade 0 qual, antes de apreen_

men () e lru 1\ . ' ( 0 6 0) d' d dido, constitui prova pltna da odadarua ~t. 2., mesm~ epo~s a scntcn-;a fetorrida do ;uiz de direito, se esta for no sentldo de revogar a cldadarua. Na hlp6tese routriri.l, 0 probkilla nlo chega a colocar-se.

, ") Paralel0 entre a cidadania derivada e a op~ao pela lei comum

perante a possibilidade de revoga~ao.

o Est. actual 56 peeve a revoga(ao da cidadania (nos termos indicados), sendo omisso sobre se podeni retirar-se ao indigena a faculdade de se reger pel a lei comum em alguma ou algumas das materias enunciadas no art. 27.0

Se, paralebmente ao que sucede com 0 processo de aquisi(ao de cidadania regu­Iado no art. 58.°, tambem a op(ao pe!a lei comum e objecto de uma indaga(ao sobre se 0 indigena adoptou com caraoer definitivo a conduta pressupo:,ta para a aplica-;lio da lei comum - nao pode negar-se a vantagem de fazer corresponder a revog:L-;ao dessa faculdade a uma eventual regressao aos habitos tribais primitivos.

Simplesmente, 0 Est. nada disp5e a esle respeito, peIo que s6 {,de jure consti­tuendolt se pode precornzar a solu(ao referida.

CAPITULO IV

Da execu;ao do estatuto

ARTIGO 65.0

(Atribui-;oes espeeiais dos governadores ultramarinos quantu a indigenas)

Cvmpete aos govern ad ores das provlncias ultramarinas superin­t~der till ~do. qU;lllto respeite a protec<;:ao, bem-estar e progresso das popula~oes mdlgenas e fazer observar as disposi~oes do presente estatuto em todos os pmos d d " - , bl' '" e graus e a mlll1stra~ao pu !Ca.

1. l.egisla~ao pretcrita. Confronto.

A urX.Jfli.:tI{a() AdminiJJr, " d P ,. " . de lYM) dr A" "J ( a/va ,a rOt'lnCM de iYfo(mnbiqlle (Dec. de 23 de Maw poHti(oi ~ld1g('fl~rl('S (r, Co 9)r~':!;~s, atrlbuia ao GC)Vl'rnador-Gc-ral 0 dever de- «dirigir a

, ,I. • uu art. 1 J." do cit, D(,.'(.); cri()u-se entao 0 cargo de

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127

Arti"o 65."

Sccrctario dos Neg6cios I ad ig'.1l.1S, lom as ' " _ do Dc-c de 23 de Maio de 1907. amplas at!lbul~oes lO\1stllnks do arLO 37."

A b,l:,e 16.' da Lei n." 277 de 15 d A niJtracao Cil'il t/,/f Pl'ovJnc;as ['ltr",. ,e g;lsto de 1914 (Lei Organica de A4mi­Governador da col6nia por si (Hl '~)r'Urltn'lJl J.'J ~ Adlmuda RIbeiro) wosagrou que 0 '- ' . t" 10 erm", 10 os funeionar' , lib eli " 0 protector nato do~ IOJlgenas cia col6 . 10$ \(.'U', S or !lAdos,

N .• . I nla». a vlgenCla c a C. Org., art 30" ',. 'f' J

protector dos indlgenas. '. , CSP_lI lca-se e novo que (J gt}v,mador e 0

A regra deste art. 65," t("IIl assi ." I . _ Ultraroarino. ' ro, uma Ja ar,~'l tradl<:au no nOS5() Dirello

o Est. de 1929, arts. 22." e 23." criou urn 6rgio t:'Specit d _ indlgenas, as chamadas comisroes de d;f~s..1 dor ',/d'genar A qu "t~ de ~~r:::tu:~o_ d~ d' . . - d' . .., . . , ' .au a ....... re'l;lV{''1lCla

estas co?11ssoes no omlOlO da legisJa,;lo 8dual e convt'1'tida. com' nota segulOte. . 0 se vera na

2. A: c?missoes ~e ?efesa d.os indigeoas. A questao da ~ua sobrevi­venCla ou extlll<;ao relaClonada com 0 problema da derrogru;io ou ab-rogac;ao do Est. de 1929. ...

Com? se disse, 0 Est. de 1929 criou urn orf:ao espc. ... dfico dt' protc-c,io dos incl1-genas, clIJa constitlli~ao e competencia (OiEta'l::! dos art.·s 22." e 23" desse diplOfllil:

Art. 22.0 Em Angola e Moc;ambique havcra uma comissao de de­f esa dos indigenas oa scde de cada distrito administrativo, presidida por um funcionario da Direc<;ao dos S!:rvic;os e Negocios Indigenas, que exerced. as fUIlt;Oes de delegado dos Negocios Jndigenas, no respectivo distrito, e composta de dois vogais nomeados pelo governador da colo­nia, sob propostJ. do Tribunal Superior Pri vativo dos Indigenas, que ser­virao por do is anos.

§ l.0 A oomea<;ao dos dois vogais recaira, de prd"rLI1Ua, em mis­sion~irios porlugueses em servi<;o nas miss6es n:lcionais do respectivo distrito, ou no d,Jcgaelo do Procllrador da Republica ou conserv;ldor do reglsto predial da seele do distrito.

§ 2. ,j As comiss6es de ddesa desempenham as SLl.l~ {unr;oes com a indcpendt?ncia de ;1((;iio necessaria ao exerdcio das atribuic;oes que lhes con[crc csk Estatuto, e no exerdcio das mesmas fun(oes correspon­J(;m-se directamcntc com a Direcc;-ao dos Servi(os e Nc'g0Cios Indigenas (' com todas as autoridadcs Ja area do distrito.

§ 3.° Na Guine a comissao de dcfesa fUl1cionarJ. nJ. capital da co­](lnia c sed prcsidid,L pdo director dos Servic;-os e Ncg6cios Indi~enJ.s.

§ 4.° Nas comp:lnhias privilcgiadas funcion:,r.io n;1 seJc: do goyer-110 de cada uma delas c (om jurisdi\ao em toda a SU;l .lre.l, s:.:ndo presi­Jida~ pdo curador dos indigen:E do territ6rio e os sellS \'og.llS nomea­dos pclos governadon:s dos rcspc:cli\'os territLlrios.

Art. 23.0 Compete as comissol's de defesa dos indigena5 :

1.0 - Receber todas as queixas contra as .lUtorid.lci('S que tenha.tn como c.msa as rcla\6cs destas com os indigenas :

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12R

Arti}!o 65. 0

2." __ Ouyi r os chefc:s indigcnas sobre as necessidades das Suas po-

PU13(Oes ; . , . . ,. • 3." -- Proct:dcr, quando 0 Jul~em ncccssa.rlO, ~ tnquento sobre

d os assuntos referentes aos numeros antenorcs , to os . 1" d d'd 4." _ Propor ao gon:rnado~ .da co ~m~ to as as me I as que en-tenderem com cnientes em beneflC10 dos tndlgenas ; "

5.U _ Consultar sobre todos os assuntos rderente;> ~ tndlgenas em ue {orem mandadas ouvir pelos governadores das col~nlas ;

q 6." _ Aprovar os contratos a que se rdefe 0 artlgo 10.0;

7.0 _ Exercer as demais atribuir;5es que lhes forem consignadas nos C6digos do Indigenato e. regulament~s locais e 9.ue os governadores das col6nias julguem convemente confer~r~lhe~, ~o lOteresse da melhor execw;ao dos servir;os de protecc;ao e pohtlca lOdlgenas.

A quest:'.o de determinar se devem ou nao sobreviver as comis~5~s de defesa .dos indigenas, no domfnio do actual Est., prende-se com 0 problema prev~o. de determlOar se 0 Est. de 1929 foi ab-rogado (totalmente revogado por forma taClta) ou apenas derrogado parcialmente pelo Est. actual. _

A doutrina tem pres5uposto geralmente a total revoga{ao do Est. de 1929. Assim, o Prof. Silva Cunha escreve a paginas 212 da 2.8 edi<;ao do livro 0 Traba!ho Indigena: ~<O Estatuto Politico Civil e Criminal, de 1929, foi substituldo, em 1954, pelo Esta­tuto dos Indigenas Portugueses das Provlncias da Guine, Angola e Mo<;ambique, apro­ndo pdo Dec.-Lei n.o 39.666, de 20 de Maio» ; e 0 Prof. Adriano Moreira tambem st rdere ao (t • •• domfnio do revogado Estatuto Politico, Civil e Criminal dos Indi­g::-nas ... 1>, de 1929 (AdminisJYarao da flJJ/ita aOJ IndigenaJ, 1955, pags. 114).

Mas 0 certo e que estas afirmac;5es sao incidentais; nao se estudada, nos locais audos, a questao da revoga<;ao ou sobrevivencia parcial do Est. de 1929 em pormenor. Porero a duvida passou a revestir especial aquidade quando a Reparti<;ao Central dos Neg6cios Indigenas da ProvIncia de Moc;ambique expos a conveniencia de se escJarecer .SC 0 Est. de 1929 se acharia revogado, especialmente em ordem a resolver 0 problema cia sobrevivencia das comissoes de defesa. Consultada a Procuradoria da Republica de Lourenc;o Marques, 0 ilustre Procurador, Dr. Alberto Cabral da Silva Basto, emitiu o douto Parecer n." 84/55, de 22 de Dezembro de 1955, pdo qual se coneluia:

,,1." Nao podtm considerar-se totalmente revogados os Decretos n.ol 16.473 e 16.474 pelo Decreto n.O 39.666.

o 2:' Entre as disposi<;6es que devem considerar-se em vigor do Decreto n.O ] 6.473 eXJ.5te a ~o ~.o 22." peln que subsistem as Comiss5es de Defesa dos Indigenas com a competeoCla do seu art." 23.0 embora alttrada de harmonia com 0 que deixarnos expostO.1>

o Parecer fundamenta a sua conc1usao nas seguintes considerac;oes :

:'0. Decreto no': 39.666 que aprovou 0 «Estatuto dos lncligenas Portugueses das PreJVlDClas cia GUlfit, Angola e Mo~ambique}) nan contfm nc:nhuma disposi<;ao final <em qut: express:rri'_~Jtt se n:vogue qualquer legislac;ao anterior. d A revoga~ao tac~ta 56 podera rtsultar da antinomia dos preceitos deste segundo

1 erlf:\I'd) {urn (f', do pnITJ(·!t(), (.CJIDo demon~trac;ao implicita da mais recente vontade do e~l!> a or t: con~f-nuentl'rrJf:ntf' n~a( ha d . J I' , do-. ~. -:' .. - -, ) vcn 0 que consJ( crar ncsta lJpotcse 0 pre

mintO de It-J esp<XJul ~1(' a rr""cal d t ' J

. d . - ,,'- ,por se tratar e normas da rne~rna natureza, tin t" att"n u- SoC a c ada c.uo c( nt{1T} I d . I _ _ ) p a (: ern urn e outro dc..ocretos para se condult pc a

n-vog1.t;1U) OU oao d(h s.eus I("~r>t1:tjV('>s pf(on:it()'>.

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ESTATIJT() DOS_ I~fGENAS PORTCGUESES ------~ ------ 129

Artigo 65,'

Em materia de IntlTprctarao tcrn d d d . textos respectiv()') se houve re;;lm(-nt. e e ~ZI!'St:, elll !>uma, da comparacao dos preceitos anteriores regulando de forme a dl?fterll;ar, da parte do le~5l.ador em ·rev<>tH.~

b I d · a 1 erente (J~ mesm( -IY" csta t' ecen 0 novos principios de direito absolu ~. '" ca~>s .ant'~ previ5to~ ou

E a rc-vogar;ao do primeiro peIo se rn~ trunt.-nte l.ncompatlVt1S com eles. antinomia dos seus preceitos ou prin/~' (f dos rcfendos E~tatut(>s seria tC1tal >e a v(1'ificar sOmente quanto a alguns de1e2)IOS osse total como ',.f:na parcial 'Ie tal se

Na primeira hip6tt.~ l'ra curial que la s fT. . . . no segundo consignado pren:ito txpres'sope· ua ~II Id.ldt. em heM tecnJca 'Ie tiv~

~ 'd f' rev(w.an, (> totalmente ( . pot nao ter 51 0 tHo Ic-varia so por si a c " ~ .} pnmellO 0 que, lador considerando que pn.'C~itos havi; do r:~t!~~rn~ t(.~e tal Int::!,t(: ~ ulti~ legi~ p.or menor facilidade, a contigencia de uma dis<ri::U~a("a('-vlam 5 Slstlr I:Vltando-!le, nalmente revogados. 0 menos segura drys espt'-

............................................................. • ••••••••••••••••••••• & ••••

o proprio relat6rio do Decreto n.O 39.6<i(, 0 mostra quando diz:

«A regula.ment~r;~o dos prindpios gerais contidos ne~t:l.) base,> (bases LXV e ~IX da Lei Orgamca do Ultramar) f'Xige- que se;am alleradoJ alg1l1fS dos pIt­

Ce1tos dos e~mados «Estatuto Politico, Civil e Criminal dos Indigena.s» e <tDi­ploma Orgameo das Rela~(}c'S de Direito Priva.do entre Indigenas e nao Indi~ (dees. n.o. 16.473 e 16.474, de 6 de Fl'ven:iro de 1929) ... »

Sublinhamos @Iguns» para mostrar que 0 novo legislador do Decreto n." 39.666 nal) teve intenr;ao de os alterar «todos».

Desta forma ao interprete 56 e possive] eonduir quando se deu essa altenu;io, em cada easo concreto, pela analise comparativa dos respectivos textos.

Na hip6tese da presente consulta pretend(~se saber se se a.cha revogaco () art.' 22..· do Decrtto n.o 16.473 tendo, por isso, deixado de cxistir as ComissOes de Defe5Q. dos Indigenas.

A resposta tern de set fon;osamente negativa desde que nenhum prect1W do Decreto n.O 39.666 da a entender que el.ls ten ham sido suprimidas ou substltuidas.

Ter-sc-ao cxtinguido, porem, tais comissoes por ter transitado pan outrem a materia da sua competencia f"stabelecida no art." 23. 0 do Decrcto n:' 16.473 i

Analisando a argwnentac;ao nesse sentido wnstante da informa~ao que serve de hase a esta consulta conduimos:

Pode considerar-se do confronto do art." 24." do Dl'lrtto 39.666 com 0 n." Le

desse art.o 23." que, efectivamente a materia deste nUm(;ro - recebimento de queixu de indigenas contra as autoridadcs - resultou alterada e dimiouida. nessa parte Ii

competencia de tais Comissi'ies. Igualmente do confronto do § unico do art.o 37.0 do Decreto n.o ,9.666 com 0

n." 6." do art.° 23." citado f(:su/ta que Ii compc-tencia das Comiss3es fm subtraida unicamente a autorizac;ao para compra de hens im6veis por indigenas e os altOS de disposic;ao por e~tes, a titulo oneroso ou gratuito, de tal especie de hens a. fa,or de nao indigenas .

. . . . . . . . . . . . . ~ ........................................................................... , ....................... . Exceptuadas tais hip6te5e5 a competencia <las Comiso;Oes, referida nos n.'" 2:·,

3.°,4.°, 5.° e 7.° ( ... ) mantt-m-~(' 0 que basta 56 por SI par;t se (~lulf que e~ nao desapareceram por nao haver a lei nova tranferiJo essa~ ..ltTlbUI';Oes paI'll enbdaOe diferente.» (,.)

(0) _ V ... ja-5e 0 Part"{u que .aqui transcrcvanos p.r(1a1mt1l~ ia 0 D:f"t1t~. uo 88.', !~. deul" 4.°, 19~6, pags. 369 e SegulDtcS.

,

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ESTATlI'f() OOS .!ND~GEi'<.A~ PORnrGUES~_~ 13(l_~-.----- - ______

Mig' 65."

'to concor~aroos. com os qllC "~)flsideram 0 Est. de ') s'1h'o 0 d(\"ido respel , mSl.lbslstentc; no dlrelto actual as COl11i,,,,,29-9

intej~1L'nte ab-rogado e. portanto, """""" de defesa do> i!1di.l:ena~.

Com efeit0; . ' . Est. de 1929 fOI ab-rogado t..lCltamente pelo Est

II) - Cremos I que '~ndkio juridica dos indIgenas por urn sistema novo ~ act~1. o Est. ~ctua~ ::gu d:'e~.i substituir-se a forma de in.daga~ao da antinomia de n~:Sllll, em nossa oplOla.o, '1 reconhecimento de uma anttnon11:J. geral de sistema gu m( as,

-dto a prece1to. pc 0 . ' - d d' I d' e CVa pree.' • d I<ldo todas as dlSpoSl.;oes um Ip oma quan 0 consagra ' o leglsl:tdor a por e l:untnta.;ao da mesma situac;ao juridica ou do mesmo lnst.ltnte. ,,-'mente ooutro a reJ:;u . . d 'd d - 1 utu ,.;r"" A po-sic;iio de que 0 }eglsla or cons! erou e antemao ab-rogado t' "

h) - E presdsu 1929 It"\"da-se da:Tamente, a nosso modo de ver, na incl a;I' talllente 0 . st e . . d ti . d' us"o d § .' (t~nsit6rio) do art_a 26.·_ Nao ex!st.tn 0 an nomla !Iccta entre ° corpo d~ a:.~l~~.o (ou quaJguer outra ~isposic;ao do ~st. actual) c~m 05 §§ do art.· 13.'

d 9'9 - '~\'e a necess!dade de 0 leg!slador ter rcssalvado expreSSatnent do Est e 1 - nao ~ 'd I' , e .• '. d t u'I';~os se devessetl10S cons! erar apenas a lIpotese da revogara" a vlI:.:nCl<l es es UlU , • d d 4 d' ., 0 , ". -' J do Est de 1929 0 Iegtsla or e 195 etermmou que contInuassem em taota parel,j . - , 'd . ~~ d "IT 0 13 0 do Est. de 1929 exac,amente porque cons! erava que ° Est VIgor os:,;~ 0 ~ c, • • 1 d ".'

aduaI ab-ropY<l completamente esse dip ~ml1; .sen 0 p?rtant? necessarlO dlSposi~ao

P ra manter em vigOI 0 comando JundlCo de tatS paragrafos.

expressa a . 1 • d rt 0 67 0 dEb ) _ Finalmentt: cremos saber que a lilcusao 0 a. . este st. 0 ecltcelJ ao p~to de compensar a inexistencia das comiss5es de ddesa.

ARTIGO 66.°

(Atribui<;5es da 1l15pec~ao Superior dos NegCcios Indfgenas)

A Inspec~ao Superior dos Neg6cios Indigenas averiguara regu­lannente 0 modo como e aplicado 0 presente estatuto e em especial como sao garantidos aos indigenas os direitos que por ele Ihes sao reconhecidos.

Esta atribui,,;io fora ja cometida it Inspec<;ao Supe-riot dos Neg6cios IndigerulS pelo art.· 2." do Dtc.-Lei n." 35.962, de 20 de Novembro de 1946, que eriou a rde­rida Inspec(;iio Superior em substituir;ao da Secr;ao dos Neg6cios Indigc:nas, da Repar­ti~ao 0_05 Ne.l:?<-ios Politicos e de Administra\;ao Civil, da Direcc;ao-Geral de Admi­OIstra<;ao PolitiC.! e Civil do Ministerio do Ultramar.

ARTIGO 67.0

(Relatorios sobrt a aplica<;ao do Estatuto. Part'cere~ du ConseJho Ultrallurino)

., Os Go:ernos da Guine, Angola e M~ambique remeterao, at,e ')0 de Abril, ~e cada ano, a Inspec~iio Superior dos Neg6cios In?!­genas rtlatono da aplica~ao do presente estatuto do ano anteriOr e n~n:eadamente sobre a sitlla~ao das popllla~6es indigenas (1n

matena de educa~ao, justi~a, sat/de, bem-estar ~ regime de terras.

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A Inspec~ao enviara esses relat<>rios, al.Umpanhados de outros elementos que tenha por convellicntcs, ao Conselhn Ultramarino, que so?r~ eles elaborad. p~re(er, em sess;lo plena.

§ tlOleo. Para clab~ra\ao do parceer referillo no corpo do artlgo, o Con.setho Ultramanno podcra solieitar a quaisquc[ autoridades c servl<;-OS as mforma\ocs de que necessltc.

Vd. now 2 ao art." 65.", in tme, ef. alinea a), n." 2.", do art. 30,' do Regimt'tlto J" Cun~lho Ultramarioo

(aprovado pdo Dec n," 39.908, de 17 dt" NOVL'mDro de 1954).

Publique-se e eumpra-se cornu nelt: sc eontem.

Pac;:os do Governo da Republica, 20 de Maio de 1954. - FRAN­oseo HIGINO CRAVEIRO LOPES - Antonio de Olin!;,.J Sala­zar- Jotiu Pinto da Costa Lt'ite-h'rlJdlldo Jos San/uJ Custa­Joaquim Trigo de Negreiros - Ahmucl G01J(aJ/'Ci Cu'a/eiro dt.! Fi'r­reira - Artur Aglledo de Olilleira - Ameriw DelIS l?.odrigues Tho­maz _ p(lUlo Arsenio Virls.rimo Cmd,'{ - Edu..Jl'llo de: .1r..Jntes c Oliveira - Manuel Maria Sarmentu RodriguC:J - Fernando ,,1n­Jrade Pires de Lima - Ulisses em::. de Agui.,1' CorteJ - Mal1ut!i Gomes de Ara'ijo - Jose Soares dfl FOnJN.1,

Para ser publicado no Boletim Ojic;,.l Jc tod~ as provin­cias ultramarinas. - At M, S.JrtJlt!IJ1, , R"drrgtlt'J,

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I I

legisla~ao complementar

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ESTATUTO DOS JULGADOS MUNICIPAlS DAS PROVINCIAS DA GUINE, ANGOLA

E MO~AMBIQUE

Decreto n.O 39.817, de 15 de Setembro de 1954, rectificado no Diirio do Governo, l.a serie, de 10 de Outubro de 1954.

Promulga a organiza<;ao dos Julgados Municipais nas co­marcas judiciais da Guine, Angola e Mo~ambique; define a com­

petencia dos juizes municipais e de paz; sujeita ao disposto no prf'S{.~te diploma os Julgados Municipais de Dio e do Chinde.

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Decreto n.O 39.817

A Lei Organica do Ultramar, de 27 de Junho de 1953, previu que nas comarcas do ultramar se compreendessem' 1 d . . . , . Juga os muni-opals, e para as provlnclas do continente afrl'canA det .

T . u erminou, na base L?,-: ' que .0. Julgamento das questoes gentilicas fosse cometi­do ao JUIZ munlcipai.

Surgiu . ainda a n~c:ssida~e de,. em. execu~ao do principio le­gal, organlzar a admlnlstra~ao da Just1~a, ate agora confiada aos Julgados municipais, ordinarios e especiais, julgados instrutores e tribunais privativos de indigenas.

Deve, alias, recordar-se que esta multiplicidade de tribunals era mais aparente do que real, visto que vinham a confundir-se, (orno regra geral, na mesma pessoa - 0 administrador - as va­rias fun~Oes que as leis atribuiam a cada urn.

As circunstancias peculiares das provincias ultramarinas nao pennitem, nem sequer aconselham, que se entregue exclusivamen­te aos magistrados de carreira a administra~ao CIa justi~a. Por urn lado, e necessario dar especial relevancia as questoes gentilicas, submetidas em grande parte ao direito tradicional dos indigenas, cujo conhecimento implica intimidade, hio profunda quanto pos­sivel, da autoridade com a vida local. 56 ° directo representante da Administra\ao, protector dos indigenas e agente con stante da cultura portuguesa, est a indicado para resolver, ern :egra, as ques­toes gentHicas, aproveitando do prestigio da auto!1~a?e, que as­~im aparcce indivisa, para obter 0 cumpri111ento paclf1co das de-

cisoes. F rneSlno quando os problen1as suscitados pela con:or~encia

d 1 . 1 .. l' . pll'cao1 '1 f)revaienCla da-a el portuguesa COITI a el IOC tgena In1"" . ... " .

<lu<:la, e justificarn eln tal caso a interven\ao dos tnbunats lon1~ns, . f t;' 11 les guanto POSS! \ret,

l) proccsso devc: rnanter-se unlonne, ao SIn ") . . .. , "" t,' d'g" 'is 11crl1 Justtftca oue ~e POf{llJl' () dt.'vcr de protcc~ao l. os ttl 1 eH.... ' 1 ,

f · f . . . .. .', lUC para cst es senatn a ash.'ln as (Olllpk'x,{s ()rrna~ pf()lessu,us, II .

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FSTATUT() DOS JCLGADOS jvHJNICIPAIS 138 . __ --- ________

incompreemiveis, dando-se assin: uma grande liberdade ao juiz para resolver problemas que eXlgem, pela natureza das coisas,

largo recurso a equidade. '-Por outra lado~ a ocupa~ao judicial de todo 0 territorio nao

pode prescindir da int~rven~a.~ d~s a~n1inistradores p~ra a prepa­ra~ao e julgan1ento de qucstoes Intelramente suborchnadas a lei comum. Como, porem, a complexiclade e a multiplicidade das atri­bui~oes que a lei Ihes confere nao permite cometer-Ihes 0 encargo dos melindrosos problen1as juridicos, que s6 os especialistas po ... clem convenientemente resolver, manteve-se 0 sistema de guardar para a sua competencia as providencias mais simples ou mais ur· gentes, e no restante~ actuando como delegado do tribunal~ co­mum, receberao deste, para cad a caso, a orienta~ao necessaria. Pensa-se que deste lTIodo se assegura simultaneamente a ocupa~ao judicial do territ6rio e 0 respeito 'pela legalidade.

Nestes tennos, OUYido ~ Conselho Ultramarino ;

Us.an~~ da faculdade conferida pelo n.O 3.° do artigo 150.° da Constltul\2.0, 0 lYfinistro do Ultramar decreta e eu promulgo 0

seguinte :

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CAPITULO I

Organiza~ao dos iulgados

~-\rtigo 1.° Nas eomareas judiciais da Guine' An. 1 M . h ' . 1 d ' go a e 110-

~amblque avera JU ga os municipais. § unieo. A area do julgado municipal corresponde e . . ,.., , m regra,

J d~s clrcunscn~~es ou concelhos. O,Mi.nistro do Ultramar pode, sob.re , propo.sta 00 gove~n? da provIncIa, autorizar a cria~ao de mats oe urn Julgado municIpal nos concelhos ou circunscri~6es em Gue isso se justifique.

Art. 2.° Os juizes n1unicipais sao, em regra, as autoridades administrativas das circunscric;6es ou concelhos.

§ 1.0 Quando num concelho Oll circunscri~ao houver mais que um julgado municipal, as func;6es de juiz serao exercidas pela au­toridade administrativa que for designada pelo governador-geral ou de provincia.

§ 2.° Sobre proposta do Governo da provincia, fundada na na­tureza e quantidade do servi~o judicial do julgado, 0 Ministro do Ultramar pode determinar que as fun\oes de juiz municipal sejam exercidas temponifia ou definitivamente por magistrados de car­reira, judiciais ou do Ministerio Publico.

§ 3.° Nas suas faltas e impedimentos os jUlzes municipais que forem autoridades administrativas serao substituidos pela forma

que a lei administrativa indique. , . Art. 3.° Os jUlzes municipais sao independentes no exe~clclo

ca sua jurisdi~ao e irresponsaveis pelas .sen~~n~as que profenrem, nos mesmos tern10S que os magistrados Judlclals. .

Art. 4.° Nos julgados municipais nao ha representante do 111-nistfrio Publico, praticando 0 juiz oficiosamente os ~ctos. que ,por 1 'd ,.. d 1 ' t ado ou seJam Incluldos el ependam de promos;ao ague e magIs r

na Sua competencia. h ' b dm' . t t' os avera a ran-Art. S.r, Nas freguesias e postos a lnlS ra IV ,

gendo as respectivas {lreas, julgados de paz.

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]40 l:~T:\TUTO DOS JULG~DOS Ml._fN_I_C_IP_A_I.S _____ _ -

{' , . - 0' J'ulzes de f1az nao tem func;5es jurisdicionais e sao ~ unIlO, :. . .

as ;utoridades administrativas locals ou quem por leI as subs_

iituir. . f - 'b 'd Art. 6.° Nos julgados municipals as unc;oes atrt Ul as por lei

aos oficiais de justic;a serao desempe.nl:adas; segun~o as respec­tjYas categorias. roc funciomirios ~d~mlstratIVos, desIgnados pelo governador de provincia ou ~~ dl~tnto. . . .

Art. 7.° Os juIgados mUnICIpalS espec~als ac_tuaimente .exIsten-tes em Moc;ambique e no Estado da IndIa serao converttdos em comarcas a medida que forem orc;amentadas as correspondentes

despesas. . ' . Os juIgados municipais de DJU e de Chmde fteam desde ja su-

jeitos ao disposto no presente diplo~a, devendo os respectivos juizes ser sempre magistrados de carreIra e mantendo-se em vigor a Iegislac;ao relativa aos respectivos subdelegados.

CAPITIJLO II

Competencia dos iuizes municipais

Art. 8.° Compete aos juizes municipais :

1.° Preparar e julgar os feitos-crimes que nao perten~am a JUlzo especial e em que a pena aplicivel seja, separada ou cumu­lativamente, qualquer das enumeradas no artigo 65.0 do C6digo de Processo Penal, mesmo que se trate das transgressoes referidas no artigo 66.0 deste c6digo ;

2." Preparar as acr;oes clveis de valor nao excedente a 6.000$ e julga-Ias quando qualquer das partes nao requeira nos articula­dos a remessa ao juiz de direito ;

3." Conhecer das execuc;5es de valor nao excedente a 6.000$, ate a arrematar;ao dos bens penhorados ;

4:" ~oma~ as prov~dtncias conservat6rias que se tornem indis­pensavels a flm de eVltar 0 extravio de bens, de harmonia com 0

Decreto n.O 14974, de 30 de Janeiro de 1928 . 5." Proceder .ao embargo de obra nova e .1 ratific~ao do mes­

mo embargo f~ltO extrajudicialmente e, bern assim, a arrestos, ar.IOl~me~tos (: Imposi\=oes de selos quando 0 valor destas provi­denclas nao txceda 6.00M, ;

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6.° Prati.car os actos process~a~s que nao envolvam julgamen­to e Ihes sel.a~ d~legados pelo lUIZ de direito, nao podendo nos processos Cn~1I1a1S dar 0 despacho de pronuncia OU equivalente ;

7.° Cum.rnr n:andaJ~s, cartas dt ordem, precat6rias de outros juizos ou tnbunals, IOclullldo cita\oes e notifica\oes ;

8.° E~p.edir m~n.dados e cartas, oficios ou ttlegramas precato­rios e sohCltar ao lUlZ de direito 0 envio de cartas rogatorias ;

9." Instruir e julgar, quando por lei nao forem especial mente atribuidos a outros tribunais, os processos que tenham por objecto questoes dveis, sempre que auto res e reus sejam indigenas, os processos relativos a crimes contra a propriedade a que correspon­da pena correccional, cometidos s6 por indigenas, e os processos relativos a quaisquer outros crimes, quando os reus e ofendidos sejam indigenas.

§ 1.° Quando em qualquer processo se deem os incidentes de intervenc;ao de terceiros, falsidade ou habilita\ao, ou quando nas execuc;6es forem dados a penhora bens imobiliarios, a competen­cia reverte ao juiz de direito.

§ 2.° Os juizes municipais nao te~1 competencia para conhe­eer, mesmo incidentalmente, de questoes sobre estado das pessoas ou (.las questoes clveis em que 0 Estado seja parte. ~

Art. 9.° E restrita ao n.') 9.° do artigo antecedente a competen­cia dos juizes municipais de julgados correspondentes a orcuns-cri<;oes ou concelhos que forem sede de comarcas. .

Art. 10.° Aos juizes municipals que forem maglstrados de

carreira compete aincIa :

.. ' t A

• os feitos-crimes que 1 0 Preparar e julgar, em 1. 111S anCla, . . . . . 1 - devam ser Julgados em nao pertenr;am a JUIZ espeoa e que nao

processo de querela ; ~, . - de valor nao 2.° Preparar e julgar as ac~oes ~lv.els e ex.ecU(;oes

d 50 000$ respectlvos tnCldentes , exee ente a . . e _ " u oes de valor excedente a

3." Preparar as a(~oes ClvelS e exec \ 50.000$ ate aos seguintes aetoS:

. 1 0 despacho referido no .Ir-a) Nos processos em que haJa ugaf ad"!... . C il t' este e5paUlO,

tigo 514.° do C6digo de Processo tv: a e 'ben noo-nhor-ados' , , atacao dos sr· .... · · b) Nas exew\Oes, ate a arrem ~

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1'() OOS· JUI GAlX)~ MUNIOP1US ESTAW, , - .

----- ----') Nos inventarios orfanologicos ,e de maio~es, ate a promo-

_ • t . bf..? a forma da partilha, excluslve ; C10 l>U respos a so . i) Xos casOS nao abrangidos no artigo anterior, ate a decisao

-. 'I, que comnctira ao juiz de direito. 110.1. r-

4.0 Autorizar, nos termos legais, registos de nascimento e obi­

to fora dos prazos normalS;

5.0 Conhecer dos recursos interpostos em materia de registo

civil: 6." Rubricar os livros notariais, os de registo civil, predial e co­

I:lerci3.l e, bern assim, os dos comcrciantes.

~ tinieo. Nao sao aplidveis aos jUlzes re£eridos no corpo do ~rti~o :1S restri~6es contidas nos parigrafos do artigo anterior.

--CAP1TULO III

Competencia dos iuizes de paz

... \rt. 11.0 Compete aos jUlzes de paz :

l.0 Tentar, a requerimento de qualauer interessado, a conalia-. ...

\"ao das partes em suas demandas, sendo obrigatorio 0 compared.-menta das partes, sob pena de multa ate 500$, e lavrando auto no livro proprio;

2," Levantar autos de notkia dos crimes praticados na sua ':'rt.::J., enviando-se imediatamente a autoridade judiciaria superior, (om 05 prtsos, se os houver, e com os instrumentos do crime e provas de qualquer natureza que possa reunir ;

. 3." Organizar corpos de delito, sempre que tal the seja corne­tldo ptla autoridade judiciaria superior, nao the cabendo nunca dar 0 d(;spacho de pronuncia ou equivalente ;

, -1." Prat!<..ar todos os actos proces5uais que Ihe f01".:m delega­d:J~:, permancl1te OL tcmporariamente, pda juiz de direito ou mu­lUup~d {:xcc;pt(j lju:.tlqucr actu que: importe julgamento.

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CAPITIJLO IV

Das questoes gentilic:as

Art. 12." 0 disp~Jsto nos artigos seguintes f: aplicave1 a todos os processos em que lOtc:rvenham indige '

f . . oas, excepto aos proce~sos por _eItos-cnmes em que nem todos os re . . d' ~

A . 0 N - _, us seJam lfl 1genas. rt. 13. estas questoes nao <: perm1'tl'd' _

d a a 1l1terv'eocao de

advoga os, excepto no caso prc-visto peio artigo 17 0 § 2 .,' d _ diploma. ' , ., e~te

!rt. ~~.o. A prova d~ direito gen~il~co sed feita pelas campi­lacoes ohclals ou, na SUa falta Dar Cl01S assessores 1'nd'

, . • , ' .1.' - 1genas, es-colhIdos pelo adm101strador da respectiva circuns(fic:to ou conce-l~o, de entre os chefes ou .o~tro~ i~digenJ.5 de reconhecido presti­glO que conhes:arn as tradl(;-oes jUfld!Cas locais, devendo declarar­-se na sente!1~a as regras apuradas.

Art. 15.0 As quest6es dveis serao proce.;,sadas do seguinte modo:

1.0 As acsoes comec;arao por requerimento verbal, que sed reduzido a auto confirmado ptr~lllte 0 juiz e do qual conStlrao a identi£.icas:ao das partes, os fundamentos, 0 pedido, as provas ofe­recidas, incluindo a identifica\ao das testemunhas, que nao pode­ra.o exceder dez ;

2," 0 juiz marcad.. logo uma audieo(!a conciliat6ria., a que de­vern comparecer ~1..utor e reu, lavrando-se auto donde constad a concilia<;ao ou a reCllsa do reu, com a indica~ao dos mesmos de­mentos referidos no numero anterior. Neste easo 0 juiz deterrru­para as diligencias que entender para 0 apuramento dos bdos ;

3,0 Marcado 0 julgamento, serlo convocadas todas as pessoas

(lue devarn compareeer ; . 4.° Ao acto de jn1p·:tmcnto imprimir-se-j comtme:lte sole-

nidade'

5 S' , 1 d d . l~am<·nto A·, qual (onstad. l ." era avra a uma ada e jU b ",H ,~ ...

, '- d 'b 1 d--s d"poirnentos !,restado$, constItUl~ao 0 tn una, 0 resumo II .. _ . ~. _

b J . - d ' t ro\'a-; ·-.tereodas e <b mfor-reve escflc;ao e quatsquer OU ras p , v

mac;6es dos assessores ; d'" :' /" ., I' t 10 )'ul 'a'l':-Oro .1 SUJ t."(lsaO D.o Pode 0 JUll (ltar paD a ac a u C ' ...

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_ -lTO DOS ]eLGADOS Ml1NIOP AIS £:,1:\1 _--.----____

144 -~-~----

I ,'dade da causa 0 justificar, proferi-la par es ' ou, se a comp eXI . . , , CTtto

. " 1. razo de dez dlas, A senten\a, que flxara sem ~ pubhca- .l no p 'I'd . bI' pre t: , , l' t pecuniario, sera I a pu lcamente em dia des' um equ!\a en e. _ 19-

d considerando-se transltada para a parte que nao compare_ oa 0, 'f d d d .' r N.:; acto serlo as Flartes In orma as e que po em reeOr le", e.se , rer

. 1 del'laradio de que se tamara termo, no prazo de Cl'n pOr SImp es :;"" co dlas subinJo os autos Imedltamente ,

;,0 Homologada a transaq:ao ou~ transitada a ser:tenc;a, e sen-

d dida a execuc;ao par declarac;ao verbal reduZlda a termo ope '1 c' d ,,'

I 0 reu intimado a eumpn- a no prazo .i.lxa 0 pelo JUIZ, ate sera _. I f" trinta dias, Sendo indigena, se a nao cumpnr sera 0 lC10samente condenado nos autos em trabalho correecional ate ao maximo de urn ano, pena que cessa logo que cumpra a senten~a ou logo que por qualquer outro modo s~ ex~nga a obrigac;:ao" ?s reg~lamen­tos de execu~ao das penas ftxarao a parte do salano destmada a indernniza~ao dos autores, ate ao montante do equivalente peeu­niario fixado na senten~a, Nao sendo indigena, 0 condenado sera coercivamente obrigado ao cumprimento pelo processo das execu­«;oes fiscais,

Art, 16,0 As questoes criminais serao processadas do seguinte modo:

1.0 Qualquer autoridade ou funeionirio a quem seja dado co­nhecimento de infrac<;iio criminal atribuida a indigena deve lavrar auto de noticia, que mencionara dia, hora, local e cireunstancia em que a infrae<;:ao foi eometida, nome, estado, profissao, natura­lidade e resideneia do infractor e do of en dido e das pessoas que possam depor sobre os factos ;

2',0 0 auto deve ser enviado ao juiz municipal, quando nao y­ver sldo rnandadf) laVIar por este, 0 qual ordenani as diligeoClas q~e c~osiderar neeessarias para apuramento da infrac<;:ao e deter­mma\ao dos seus agentes, procedendo a exarne directo, sernpre que possivel, ouvindo os arguidos e of en diu os e as pessoas que estes nomearem ;

, 3,0 0 corpo de deli to deve ser concluido no prazo de quinze dlas s "f - de . ' e ~ In rac<;:ao corresponder pena correceional, e no prazo , tnnta dlas, se lhe corresponder pena maior salvo justo impedl-mento' ' •

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______ E_S_T_A_TI!TO DOS JULGADoS MUNIOPA1S 1.(5 ~-------- -- -------

4.° Terminado 0 corpo d d l·t ,. . . e _ : 1 0, 0 processo sera arqUlvado,

se estlver demonstrada a mexIskncia da infracc:io ou d d d lh ., man a 0

aguar ar me Or prova, se nao tiverern sido descobertos os seus agentes ;

. . '5." ~e tiverem sido apuradas a infracc;ao e as seus agentes, 0

lUl2

dara u~ desRacho de classificac;ao no prazo de cinco dias, no <"fual relatara 0 CrIme com todas as circunstancias e indicara as dis­posi<;6es penais violadas, e mandara notifiear 0 reu desse despa­pacho;

. .6.0

Se ~o crime c~rresp~nder pena correccional, no despacho lOdlCar-se-a logo 0 dla do Julgamento, e mandar-se-ao notifiear, para comparecerem, todas as pessoas ouvidas e os assessores. 0 rtfu podera no julgamento apresentar novas testemunhas, ate ao ma­ximo de cinco. Nestes processos nunea se mandarao Ouv;r teste­munhas fora da area do tribunal;

7.°' Se ao crime corresponder pena maior, a reu sed. advertido, no acto da notificac;:ao do despacho, de que pode, no prazo de cinco dias, requerer as diligendas que entender, do que se lavrani termo. 0 juiz so deferira as que nao consid.:rar inUteis au dilat6-rias, mas cleve fundamentar 0 irideferimento.

a) Se, em face das provas produzidas depois do Jespacho de classifieac;:5.o, se verificar qualquer das hipoteses do n.O 4.°, 0 juiz mandara que os autos sejam arquivados ou aguardem melhor prova;

b) Nao se verificando a hipotese da alinea anterior, 0 juiz rno­dificara ou confirmara 0 despacho, can forme a prova produzida, e mareara 0 diJ do julgamento, notificando 0 reu ;

c) Mandar-se-ao notificar tooas as pessoas ouvidas residentes na area do tribunal para comparecerem, incluindo os assessores, e 0 reu podera apresentar em tal acto novas testemunhas, ate ao m.iximo dt: dez.

8.° 0 julgamento das causas criminais, a que .sed. impri,~ida a conveniente solenidade, comec;:ara sempre pelo mterrogatono do reu, seguindo-se 0 interrogatorio dos of en didos e d~s testemu~has e declarantes, prime-iro as ouvidas em corpo de dehto e depots as

~presentadas n9 julgamento ; ~. 9.° Sera lavrada acta do julgamento, donde constarao a consh­

tui~ao do tribunal, 0 resumo dos depoimentos prestad\.)s, breve

10

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. - d 5 restantes provas :lpresentadas e as informaroes d JC,,;crJ(:lO a A • ~ . os.

• , lU -, se fani referenoa na senten<;a; assess(\ res, :l (l ~ • , _

10." A senten~a podera ser ditada par~ a acta ou set proferida .. ' --") e Fllblicada no prazo de dez dUlS. A senten~a sera sem par e~Uh( _. ,-

pre lida publicamente no dla deslgnado. Nesse acto sera 0 reu in-formado de que pode recorr~r por. simple~ declarac;ao, ~e que St

romari termo, no prazo de cmeo dlas, submdo os autos Imediata. mente. Havtndo mais de urn reu, 0 recurso de urn deles nao pet­mitid. agravir a sant;ao aplicada aos ~estante.s, embora 0 tribunal de recurso eonhe~a da causa em relac;ao a todos.

§ 1.0 Durante a instru<;ao s~ta sempre n~guisitado o. c_ertificado do registo criminal dos argUldos e, tra~sltad~ a deC1:ao, 0 juiz mandata emitir boletim de onde constarao as Impressoes digitais dos condenades, a sua identificac;ao civil e 0 extracto da decisao, para ser enviado aos servic;os do registo criminal.

§ 2.° SeLio sempre perdidos a favor da provincia os instru­mentes do crime e os objectos deixados pelo criminoso no local do delito, excepto os que pertencerem a of en didos, a quem se or­denara a restituic;ao, logo que sejam desnecessarios para a instru­~ao. 0 nao levantamento de tais objectos no prazo de urn ano, contado da notifica~ao, implica a sua perda a favor da provincia.

§ 3.° Quando for necessario fixar 0 valor do objecto da infrac­~ao, recorrer-se-a a urn perito e, na impossibilidade de 0 fazer, ao juramento do of en dido, tendo 0 juiz 0 poder de corrigir 0 valor.

§ 4.° No caso de homiddio ou morte por causa desconhecida, proceder~se-a sempre a identifica<;:ao do cadaver, ao seu exame e £lutopsia por dois peritos, deveI"ido 0 relat6rio descrever as feri­'das e outros vestigios externos de violencia e 0 modo e instru­mentos com que podiam ter sido feitos. ~ § 5.° ,Nos crimes de of ens as corporais os dois peritos descreve~

rao 0 numero, extensao e gravidade das of ens as, declarando se del as resultou doens;a ou impossibilidade de trabalho e por quan­to ttmpo, cortamento, priva~ao, aleijao ou mutila~ao de algum memb:o ou ~rgao do corpo ou se 0 of en dido fleou privado do usO

da r~za~) ou Impossibilitado de trabalhar para sempre. . . fa ~ 6. Nos ([lines contra a honestidade os dois petitos :er~fLca. o :el~pre St houve ptrda da virg.indacle e se existem swatS de

'Vwkncla.

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r. 7" A' d l' . .). In . a (lue Se ap lque 0 processo comum, em flagrante dehto, por cnme a q~e correspond a pena de trabalho, os indige­nas serao sempre dcttdos e aguardarao 0 julgamento em regime de trabalho corrcccional.

Fora ~o flagrante delito, os indigenas serao detidos sempre que ao cnme. corre,s~onda pC.na mai~r, sejam reincidentes ou peri­gosos, ou haJa legltImo receto de (lue fujam ou dificu1tem a ins­tru~ao. Serao sempre detidos os que oeixarem de comparecer a qualquer acto judicial para que tenham sido chamados. Em todos 05 casos aguardarao 0 julgamento em regime de trabalho correc­donal.

A deten~ao sofrida pelos indigenas sera tomada em conta por inteiro na pena cominada.

§ 8.0 Nunca se usara com os indigenas 0 processo de ausentes, devendo 0 processo, quando haja varios reus, seguir contra os presentes e aguardar a oportunidade de seguir contra os que nao forem encontrados nem comparecerem, sem necessidade de extrair culpa tocante.

§ 9.° Os autos a aguardar melhor prova seguirao logo que 0

tribunal tenha conhecimento de quak1uer elemento probatorio novo que sirva para esclarecer 0 processo.

§ 10.0 Os crimes cometidos por ou contra indigenas tem 0 re­gime dos crimes Pllblicos, nao sendo admitida a constitui()o de

parte. Art. 17.0 Em todos os proces~os que tenham por objecto ques­

toes gentilicas obscrvar-se-a ainda 0 seguinte :

V Nao serao admitidas provas que nao sejam consentid;J.s pela

lei comum ; 2.0 Todos as autos sao validos desde que assinados por fun-

<-ionario competente ; 3.0 Os indigl::nas menores de 14 e maiores de 7 anos PQdcm sec

ouvidos como declarantes ; 4.0 Nlo poderao ser testemunhas, mas podem ser dedar.mtes,

os asctndentes, desct'nJentes, irmaos ou ~lfins no mesmo grau:_? conjuge de algum dos autores, ~~us O~l otendldl)~. ~~e~ os pafUl.l­pantes ou interprete de pessoa p ounda no rrole~::.o ,

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1~ TAn "TO oos JULGADOS MUNIOP AIS ES . ___

5.0 0 chamamento a jUlZO sed. efectuado e sancionado pela

seguinte forma:

a) Os indlgenas serao ch~ma,dos por ~vis~ ;-erbais_ tra?smitidos por intermedio de regedores mdlgenas e em lUlZO serao Cltados ou

t"f -·ldos. do que se lavrara termo. No acto ser-lhes-ao sempre ;:p~i~~~dos 0 objec~ivo e 0 significado da diligencia, bern como as di­reitos que Ihes aSSlStem ;

b) Os indigenas que deixarem de comparecer, tendo sido devi­damente chamados, serao condenados em multa ate 200$ e enviados a jUlZO sob prisao, se nao justi~icarem .a falta d:ntro de pr.azo, r~zoa­vel. A justifica~ao pode ser feita por mforma~ao de, f~ncl0narto au comprovada por duas testemunbas que merec;am credlto ;

c) Os nao indige.n~s ser~o citados au noti~icados por intermedio das autoridades admlll1strahvas, usando-~ aVISO escnto ou carta re­gistada com aviso de recep;ao e com as cominac;5es da lei comum.

6.° As testemunhas residentes fora da area do tribunal serao ouvidas por carta, ofieio ou telegram a precatorio ;

7.° As testemunhas indlgenas prestam juramento pelos sens usos e costumes de que dirao toda a verdade, sendo sempre adver­tidas da gravidade do juramenta e das sanc;5es penais em que in­carrem;

8.° Todos os processos, salvo justo impedimento, devem ser julgados em 1.a instancia ate tres meses depois de instaurados. as Julgamentos s6 podem ser adiados uma vez, par falta da parte ou arguido ou de testemunha nao prescindivel ;.

9.° As simples transgressoes serao julgadas sem recurso, por d,es.racho: ... com as previas diligencias que 0 juiz entender e obriga­tuna aUdltncia do arguido ;

1O.~ T odas as multas revertem para 0 cofre da provincia, salvo se aIel lhes cler outro destino . ,

.11.0

A lei comum sera aplicada subsidiariamente aoS caso.s

O~l1SS0S qu~ nao possam ser resolvidos por analogia com dispOS1-~ao deste dlploma ; \

1:.0

S6 cOHstituem nulidades processuais a falt~ de audiencia

do feu e a omissao de diligencia probat6ria que ainda possa sef

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_ F~TA11JTO OOS Jl:LGADOS Ml'NJOPAIS 149 ._----_ .. _-- -- -----

realizada e afecte a justa decis:io da cau<a As I' I ddt '. .'. nu Ie a es a sen en-<,:a apltca-se a lei comum e serio cOllhect'das f" U l(losamente .

13.0 Os processo' . . . . . . . ' .. . . • . s ~rumnalS em que 0 IUIZ mUniCIpal ou 0 JUIZ

de dlrelto, c',1ll. lOstancia ou em recurso, tenham mandado apli-c~r pena mawr ou tcnham dcclarado 0 rt-u perigoso, subidi.o of i­oosamente em r('curso ao Tribunal da Rela<,<io ;

14.0 Apenas sao admitidos recursos de decisoes fll1ais'

15.0

Aos recursos sera aplicavel 0 processo de rcc~rso de agravo, nunea tend~ efeito susptn:;ivo em processos criminais e tend? s~mpre tal efelto nos processos dveis para as partes que fo­rem tndtgenas.

. § 1.0

Quando os processos digam respeito a inJigenas e nao lOdigenas, estes deduzirao os seus direitos por meio de requeri­mento e aqueles por simples declara~ao reduziJa a auto.

§ 2.° Nos recursos os interessados nao indigenas podem fazer intervir advogados para defesa dos seus dire'itos cumprindo ao Ministerio Publico sustentar os direitos dos indigenas.

Art. 18.0 Quando a competencia pertencer ao juiz Je direito, os processos ser-lhe-ao remetidos depois do despacho definitivo de classifica~ao, sendo de natureza criminal, e depois de cumpri­do 0 disposto no n.o 2.° do artigo 15.·, senJo dveis.

§ lillico. 0 juiz municipal fad acompanhar os processos pOl'

informa~ao donde conste 0 direitu gentilico apurado, de harmo­nia com este diploma, para aplica\iio ao caso.

Art. 19.0 A administra~ao Ja justi~a {; inteiramente gratuita

para os indigenas. . Art 20," Em todos os tribunais competentes para 0 conheCl­

mento das questoes gentHicas t'xistiriio, a cargo do chefe da res­pcctiva secrdaria, os seguintes livros obrigat{jrins, alem de outros

jlllgados convenientes :

1." Livro de rc:gisto de entrada lie questoes dveis, que cleve menciol1ar data da entrada, nomes e residc:ncias das partes, natu­reza da qllcstao, data do julg:unento ~l~ tra.ns3.CI;50, decisao toma­da, remcssa ao tribunal supenor e deClsao flllal ;

2.0 Livro de registo de processos criminais, ,que Je~'em men­(ionar nomes e residco({as dos reus e dos l)fenJ1Jos, emoe come-

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ESTA11 JT() D()S HJLGAO()S MlJNJCJPA.JS --------- ---------- ---

tido, data do julgan1ento, decisao tomada, remessa ao tribunal su­perior e decisao final.

.~ lHlico. Estes livros terao termo de abertura e encerramento ~ ~

assinados pelo presidente do tribunal.

CAPITULO V

Disposi~oes gerais e transitorias

Art. 21.0 Os julgados, salvo disposi~ao especial da lei, nao tern al~ada. Das senten~as do juiz municipal ha sempre recurso para 0 juiz de direito e deste havera recurso para 0 Tribunal da Rela~ao, se 0 valor for superior a sua al~ada clvel ou se for apli­cada pena maior ou 0 reu for declarado perigoso. Dos ac6rdaos do Tribunal da Relacao nao hi recurso ordinario .

.>

Art. 22.0 Os autos de que ao juiz municipal 56 incumbe a pre-para~ao devem ser remetidos a autoridade judiciaria superior sem necessidade de conta, sendo esta feita, a final, na comarca.

Art. 23.0 As referencias legais ao julgado instrutor e ao tribu­nal privativo dos indigenas passarao a entender-se relativamente ao julgado n1unicipal.

Publique-se e cumpra-se como nele se contem.

Pa~os do Governo da Republica, 15 de Setembro de 1954. -FRANCISCO HIGINO eRA VEIRO LOPES - Antonio de Oli­veira Salazar - Manuel Maria Sarmento Rodriglles.

Para ser publicado no Bo{etim 0 ficial de todas as provincias ultramarinas. - M . .i\1. Saf171ento RodrigfleJ.

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R.EFORMA PRISIONAL DO ULTRAMAR

Decreto-Lei n.O 39.997, de 29 de Dezembro de 1954, rectificado no Diario do Governo, l.a serie, de 12 de Janeiro de 1955.

Torna extensivos ao Ultramar, com as modifica~6es especi­ficadas~ os Decretos-Leis n.O 26.643, de 28 de Maio de 1936, e n.O 39.688, de 5 de Junho de 1954, que, respectivamente, pro­mulga a reorganiza~ao dos servi~os prisionais e substitui va-

rias disposi~5es do C6digo Penal.

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Decreta-Lei n.O 39.997

A base LXIX da Lei Organica do Ult d .., . £ ramar, e 27 de Junho de 195), prevlu que Osse tornado extensivo It .

., l' . 'd ao u ramar 0 regIme prlSlona 111stttUI 0 pelo Decreto-Lei n 0 26 643 d 2 d .

6 E . d d d .,. . , e 8 e Malo de 193 . ~sta unl a e e prl11cIplOS corohirl·o d ·d d d 1· . ,a unl a e a el pe-nal vlgente em todo 0 terri to rio portugues impll·c t b' . .. ,a am em que se pro~ure uttl1zar 0 .conJunto dos estabelecimentos existentes no senttdo de proporclonar ao delinquente 0 regime prisional . d d ' . - mats

a e'etua 0 a sua p~rsonaltdade. E nesse sentido que se providencia com. 0 present.e d~ploma, estabelecendo as regras necessarias para reahzar tal obJecttvo, atendendo aos meios disponiveis e ao movi­mento da criminalidade.

Acolhendo as recomenda~oes da experiencia propria e alheia, estabelece-se a rigorosa separ~ao de indigenas e nao indlgenas, suprimindo, para os primeiros, 0 regime celular, excessivamente cruel para 0 seu modo de ser e ineficaz como instrumento de rear bilita~ao. 0 trabalho e a instru~ao religiosa sao os dois principais instrumentos que se consagram para actuar sobre os delinquen­tes indigenas, aceitando que a priva~ao da liberdade flsica e a 10-caliza~ao dos estabelecimentos prisionais em locais afastados da sua sede habitual de vida realizam uma intimida~ao suficiente. Os aldeamentos onde se permite a constitui~ao d~ £amn~a ao~ indlge­nas que se tenham mostrado aptos para segulrem vIda l!v~e, ~o­nesta deverao ser utilizados como instrumento de asslmda~ao. -

P~nsa-se tambem que 0 regime de execu~ao das penas de~e de-. d . I'd d do delinquente e nao da pender essenclaitnente a persona 1 a e '. ,

. P' d termina que os lndl genas natureza da pena a a nl1car. or lSS0 se e '-', . I , . grupados em coionlas

decl arados judicialmente perlgosos seJam a . . . . . d ' e para os restantes se orga-

penalS cspCClalS adnl1ttn 0, porem, gu l' . ~ cor , ' . S· . f isto que as co anlas -

Dlzc:m arenas co16nias penals. 19n1 lca . . ,l·d -I . , . "'" .... 1 vilnento da cnn1111,1. 1 at. e,

recclOnatS serao detcrmlnada::; pe 0 rno ; d;spen\:ados 1 t s m'lS que serao 1 .. ,'

OU pela djficu Idaue dos transpor e, ,;

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REFOR1\1fA PRISIONAL DP lJLThl\_f,11iR ------'---.-sempre que as eo16nias penais possam ser eficientemente utiliza­das para 0 cumprimento ?e todas, a~ penas. Dentro d?s estabeleci­mentos penais e que sera necessarlO agrupar os dellnquentes de modo que nao se verifiquem ac~5es de mutua corrup~ao, nao se decretando-categorias abstractas porque nao 0 aconselha 0 estado actual da experiencia. -

Nestes termos :

Usando da faculdade conferida pela l.a parte do n.O 2.° do ar­tigo 109.° da Constitui~ao, 0 Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, 0 seguinte :

-,

Artigo 1.° E tornado extensivo ao ultramar 0 Decreto-Lei n.O 26 643, de 28 de Maio de 1936, com as modifica~6es resultantes do presente diploma.

§ unico. Nos estabelecimentos prisionais nunea sera consenti­~o 0 co~~a:to entre. indigenas e nao indigenas, e s6 por excep~ao ve permltlra que eXlstam estabelecimentos mistos.

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CAPI11JLO I

Dos n50 indigenas

Art. 2.° As cadeias com areas serao tambem destinadas aos fins do capitulo II do titulo I do referido decreto-lei, com obe­diencia aos seus n.O 4.° do artigo 19.0 e § tinico do artigo 10.0

§ 1.0 Nas provincias da Guine, S. Tome, Macau e Timor ha­vera apenas uma cadeia central para o,cumprimento de todas as as penas de' prisao simples, com see~5es especiais para os fins pre­vistos no corpo deste artigo.

§ 2.0 Nas restantes provincias as cadeias centrais obedecerao ao disposto no panigrafo anterior em rela~ao a comarca onde esti­verem localizadas,

§ 3.° Sempre que 0 tribunal tenha jurisdi~ao sabre indigenas, a cadeia respectiva sera dotada de sec~ao especial para as detidos a aguardar julgamento.

§ 4.° Quando 0 movimento da criminalidade 0 aconselhar, po­dent 0 Ministro do Ultramar autorizar, por portaria, 0 des dobra­mento dos estabelecimentos previstos nos panigrafos anteriores.

§ 5.° Fora das sedes das comarcas, as autoridades a quem COffi­

petir a instru~ao de processos criminais dispodio de urn estabele­cimento de deten~ao apropriado, nos termos dos artigos 19.° e se­guintes do Decreto-Lei n.o 26643.

Art. 3.° As penas maiores e as medidas de seguran~a serao cumpridas nos estabelecimentos especialmente construldos para tal efeito, em conformidade com 0 disposto no Decreto-Lei n.O 26643.

§ 1.0 Enquanto nao existirem tais estabelecimentos as refer~­das san~6es poderao ser eumpridas na metropole, nos estabelecl­mentos dependentes do Ministerio da ]ustic;a, fica~do. a cargo das respectivas provincias 0 transporte de e para a prOVIncIa e a manu­ten~ao dos condenados ate a sua libertac;ao.

§ 2.° Os governadores designarao os estabelecimentos de as-

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. ~ . , l: 1,"("'1 110snitais e maternidades onde, em cada provin-SlstenCla PU) .... , - I ' . _ . .

_" ".:-, r'sF,cctivamente orgamzadas secc;oes espcClals para os UJ. ~er,l( t _ (" _ , . fins da seq<lo I (prisoes-escolas).' :eq:ao II .pf1soes-sanato~lOs e fnsCles-hospitais). sec~ao III (pf1soes-matern~d~d~s) e .se:~a~ IV (prisoes-asilos) do capitulo Y, secca~ I (mantCOmI~s. cnm111als) e !:ec~5.o III (estabelecimentos para delmquentes alcooh~os oe outros intoxicados), do capitulo VI do. t~tul~ I do Decreto-Lel 11. 26 643, destinadas aos condenados a pnsao Simples ou aguardando trans­fereneia para estabelecimento proprio.

Art. 4.° Sempre que necessario e possivel, a separa~ao interna dos presos tera em conta os respectivos c~~dos religiosos. 0 regi­me de trabalho sera predominantemente ohana!.

Art. 5.° As func;5es dos anexos psiquiatricos ficadio compe­riodo aos servic;os hospital ares designados pel os govemadores.

Art. 6.° Na senten~a sera ordenado que cumpram a condena­s:ao na sua provincia originaria ou na metr6pole, conforme a pro­veniencia e os estabelecimentos existentes, os condenados cuja de­linquencia se relacione com uma inadaptas;:ao ao meio onde se en­contrem.

§ 1.0 S6 poderao ser objecto desta dec1ara~ao os delinquentes que se encontrem hi menos de dois anos na provincia ou tenham sido ja objecto de outra condenac;ao e que peIo seu teor de vida ou moti:~s dete~m!nantes mostrem nao ser provavel que venham a adqumf condlc;oes de vida licita.

§ 2.° Relativamente aos estrangeiros, 0 tribunal, oficiosamente o~ ~ re9ue~imento do Ministerio Publico, podera, atendendo as con­dl(;oC's mdlCadas no fim do parigrafo anterior recomendar a sua expulsa? da provincia, antes ou depois do cu~primento da pena.

,Art. 7.° Os tribunais ordenarao na senten~a que as san<;6es apIlCadas aos nao l'nd' . . , _ _ Igenas seJam cumpndas no regIme de exe-cu~ao das sanroes rf"servada . d'

1 ,:;- , . - s para os 111 1genas sempre que 0

mOG? de ser lndlvldual do delinquente ou 0 teor de vida social dommante mostrem que ce t r t d . . d '

.' oJ ra a 0 regIme ma1S adequa 0 a sua personalJdade .

.3 unico. A dedsao do t'b 1 . ", , n una a este respelto em nenhum caso Hnpl1Cara aumento do p , ,J d . - . al .- .L.. " e:lol...JU e pnva<;ao de liberdade fisica ou

terac;ao ~ garantta.s Junsdicionais.

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_-------~EFORMA PRJSIONAL DO lILTRAM.AR

CAPITIJ LO II

Dos indigenes

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Art. 8.° Os estabelecimentos risio' . . nas destinam-se a detencao e ao p ~als pnvatIvos dos indige-

Ih ' b . J cumpnmento da p'na d t b os pu l1~os ou de trab~lho correccional. cera a-

'A. rt. 9. Os estabe1eClmentos prisionat's sa~o d as seguintes es­peCles:

1.: Estabelec~mentos de deten~ao ; 2. EstabeleClmentos destinados ao

nas, que podem ser :

a) Colonias penais ; b) Co16nias correccionais . , c) Granjas correccionais.

3.° Estabelecimentos especiais.

(umprimento de pe-

§. 1.0 Os ~st~~elecimentos de deten~ao destinam-se a prisao pre­~entIva e eXlshrao arenas nos casos referidos no § 3.° do ar­tIgo 2.°

§ 2.° As co16nias penais destinam-se ao cumprimento das pe­nas de trabalhos publicos e trabalho correCCil)nal.

§ 3.° As eolonias correccionais destinam-se ao cumprimento da pena de trabalho eorreecional .

§ 4.° As granjas eorreeeionais destinam-se aos fins do § 1.0 e ao eumprimento da pena de trabalho eorreecion,ll nio superior a trcs meses, sempre que nao seja possive! transferir 0 delinguente para uma colonia penal ou eorrcccional. Serao organizad~ rdos administradores de cirllInScri<;ao, que nao permitiriio 0 eontacto dos detidos com os indigenas livres.

§ 5. 0 Os estabelecimentos especiais, enguanro nolo for pas­sive! eriar cstabeleeimentos exclusivamente destinados a esses fins, serao organizados do seguinte modo:

'I) Nos estabelecimentos Jcstinados ao ll.unprimento dJ.s penas haveni scc(oes rigorosamente separadas para 0S menores de 21 anos;

b) Nos hospitais, matl'rnidades e mani(l)Qlios "1uC forem dcsig-

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ns RH"'()RMA iJoRISION,\L DO ULTRAMAR -----------l1a.:.los pdo governador. haven! se«;ocs rigoiosamente separadas para os fins do § 2.° do artigo 3.° ;

c) Os indisciplinados serao internados em eolonias pcnais es­

peciais.

Art. 10.° Serdo declarados indisciplinados os indigenas a quem caiba a qualificac;:ao de delinquentes de difkil correc~ao, de vadios ou equiparados.

~ twico. Quando a dedara~ao de indisciplina nao tiver sido feit; na sentenc;:a conuenatoria, sera requerida pelo procurador da Republica e deve ser feita peIo tribunal da rela~ao.

Art. 11.° Dentro dos estabelecimentos prisionais 0 agrupa­mento dos reclusos far-se-a de modo a evitar ac~5es de mutua corruncao . .l ,

Art. 12.° 0 trabalho dos reclusos sera predominantemente agrkola. Nas colonias penais procurar-se-a seleccionar e adestrar os mais aptos para 0 exercicio das profissoes manuais.

§ tinieo. A vida prisional sera orientada no sentido de eriar 0

habito do trabalho em cooperas:ao. Nao haved regime celular, excepto para castigo ou para estudo do delinquente, por tempo nao superior a urn mes e no eomes:o do internamento.

Art. 13.0 Sao obrigatorios, dentro do regime prisional, a ins­tru~ao reIigiosa e 0 casino da lingua portuguesa.

Art. 14.0 Nas colonias penais serao organizados aldeamentos para os indigenas que, cumprido urn ters:o da pena e mostrando condi\oes de adapta<;ao a uma vida honesta, pretendam constituir famnia monogamica.

§ unico. Os indigenas a quem for concedida esta regalia serao, no fim da pena, encaminhados para os colonatos indigenas desde que se reconhep que nao exercerao ali uma ac~ao deleteria.

~r:. 15.0 Os condenados a pena de trabalhos publicos cum­

p~Ha-~o, sempre que posslvel, em colonia penal situada em dis­tnto dlferente daquele em que tenham sido condenados ou resi­dido b~ mr:!j()" d~ dez anos; os con den ados a pena de trabalho correcCl.onaJ supenor a tfes mcses cu.mpri-la-ao em circunscris:ao Jetermmada nos mesmo!) termos.

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CAPITULO III

Diz~csi~oes gerais e transitoi"ias

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Art. 16.0

f! tornado extensi\ {) ao ultramar 0 Decreto-Lei n.O ~9 688, de 5 de JUllho de 1954.

S 1." Para os indig , ' _ . ~d 1 en as, as penas malO res serao sempre subs-

tltUl as pe a pena de trab Ih ' bi' , d ' a os pu 1eos peio perlOdo eorrespon-e~te. ac,~sclclo de um ter\o e as penas correccionais serao sempre

su stltUl· as pela pena de igual tempo de trabalho (orreeeional agravada.

§ 2.° ~ pena aplicada aDs indigenas incliseiplinados sera sem­pre ,acresClda de. metade da dura~ao que the eaberia nos termos do paragr~fo. antenor ~ nunea inferior ao minimo da pena de traba­Ihos pubhcos e malS urn ter~o. Esta ultima pena sera a aplidvel nos casos em que aos nao indigenas eaberia s6 uma medida de se­gurans:a.

Art. 17:° Guardadas as disposi\oes do prescnte diploma, 0

Decreto-Lel n.o 26643, de 28 de Maio de 1936, e 0 Dccreto-Lei Il.O 39688, de 5 de Junho de 1954, sao apliciveis subsidiariamente aos indigenas.

Art. 18,0 Ao cumprimento da pena na metr6pole sed inteira­mente apIidvel 0 regime vigente nesta.

Art. 19.0 Nas provincias de governo-geral 0 conselha dos ser­vis:os criminais sera constituido pelo procurador da Republica, que preside; pelo seu adjunto, que tam bern a substituiri nas suas ausencias ou impedimentos; por urn representante do curador dos indigenas ou dos servic;os de administra<;ao politica e civil, con forme 0 caso ; por urn medico dos servi<;os de saude, de pre­ferencia versaJo em psiquiatria ; por urn ministro de religiao ca­t61ica designado pelo ordinario do lugar.

§ l." Nas restantes provil1ci:IS 0 conselho sera presidido relo delcgado do procuradof da Republica nuis anti~o que Fes,tar seI­vi~o na comarca da capital e composto, na medlda do posslvd, de llarmonia com 0 (orpo do artigo,

So 2.° 0 prcsidente pode comicI.if a tL)l11.lf FolCk nlS reuni5e~, scm'S voto, quaiclucc pessoa que peLt su,~ L·l'c:pet~nll.: fossa .lUX1-

liar 0 cOllsclhu no exercicio das respectlvas fUn\Lh~s.

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REFl>RMA l'lHSlONAL DO ULTRAMAR 10() ~ ____ - ~~-- ~-- ---- -------~ ~~O <' Em C:lJa provincia pertcncerao, respectivamente

11ft. ... • . ... , ao I, e "0 eonsdho dos serVl~OS cnml11alS as fun.oes q Foycrna.},)r ~..... ~ . "lie

pdo DecrL'to-Lci n.O 26643, de 28 de Maw ~e 1936, pert~ncern ao ~tfinistro da Justic;a e ao Conselho Supenor dos ServIC;oS Cri-

minalS. . d 'b' § unieo. Logo (]ue sciam org~nlza ~s ?S ~n llnalS ~e execuc;ao das penas. os conselhos do: servl~'o~ cnmmalS .manterao: relativa_ mente aos indigenas, as func;oes refcndas nos artlgos antenores.

Art. 21.0 As cadeias centrais setao dirigidas peIo delegado do procurador da Rept'lblica das comarcas onde ficar:m situadas, excepto nas provincias de governo-geral, em que terao urn direc-

tor proprio. Compete aos delegados do pro.curador d~ ~ep~bl~ca inspec­

donar frequentemente os estabeleClmentos pnslOnals SItu ados na sua comarca.

Art. 22." Compete aos govern adores aprovar os regulamen­tos dos estabelecimentos prisionais. situ ados na provincia, com excep<;ao dos dependentes do Minish~rio da Justic;a.

Art. 23. 0 No prazo de cento e oitenta dias devem os governa­dores apresentar os primeiros program as de criac;ao ou remodela­~50 de estabelecimentos prisionais das respectivas provincias, os quais, depois de aprovados pelo Ministro do Ultramar, setao exe­cutados conforme as verbas que para esse fim forem mandadas inscrever nos orc;amentos.

Art. 24.0 Os deJinquentes nao indigenas que a data da entra­da em vigor deste decreto-lei se encontrem a cumprir pena em es­tab~lecimentos prisionais nao conformes ao disposto no Decreto­-Le~ n." 26643 serao transferidos para os estabelecimentos metro­pohraDos, segundo for acordado entre os Ministt~rios da Justis:a e do , Ultramar.

Art. 25.0

Este decreto-lei entra em vigor no dia 1 de Janeiro de lY5S.

Publique-se e cumpra-se como nele se contern.

Pa\~s do Governo da Republica, 29 de Dezembro de 1954. -FRANCISCO HIGINO CRA VEIRO LOPES _ Antonio de O/ivei· fa Salazar - /r;(i() Pinto del Costa Leite _ Fernando dos SantoJ

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REFORMA PRISI(Jl\iAL DO tTfRAMAR 161 --------------- .---------------Costa - Joaquim Trigo de Negreiros - lOaf) de Matos Antunes Varela - Artttr Aguec/o de Oliveira - America Deus Rodrigues Thomaz - Pitulo Arsenio Virissimo Cunha - Eduardo de Arantes (: Oliveira - Marmet Maria Sarmento RodrigueJ - Femando An· drade PireJ de Lima - UliJJes Cruz de Aguiar Cortes - Manuel Gomes de Araujo - /oJe S(Jares del Pamer".

Para ser publicado no Bolelim Oficial de todas as provincias ultramarinas. - M. M. Sarmento Rodrigues.

Para ser presente a Assembleia NacionaL

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PORTARIA 11.° 15.612, de 21 de Novembro de 1955

Esclarece algumas das disposi~5es do Estahlto dos Indigenas; considera dificuldades surgidas quanto a dorumenta~ao neces­

saria para os indfgenas adquirirem 0 direito a cidadania e 0 hi­

lhete de identidade; determina os servi<;os do Ministerio do tramar e os das Provlncias Ultramarinas de nao indigenato por onde deve correr 0 expediente respeitante a estes assuntos.

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Portaria n.O 15.612

_ ~ren~o 0 Governo-Geral da provincia de Mo~alnbique pedido es(.:l~reclmentos sobre algumas das disposi~oes do Estatuto dos Indlgenas, aprovado pelo Decreto-Lei n.O 39.666 ,de 20 de Maio de 1954 ;

Consider .... ando tan:b~m outras dificuldades surgidas quanto a documenta~ao necessarIa para os indigenas adquirirem 0 direito a cidadania e 0 bilhete de identidade . ,

Sendo necessario deterlninar os servi~os do Ministerio e os das provincias ultramarinas de nao indigenato por onde cleve correr o expediente respeitante a estes assuntos :

Manda 0 Governo da Republica Portuguesa, pelo Ministro do Ultramar, nos term os da base LXXXVIII da Lei Organica do lJltramar Portugues :

1.0 Os indigenas com residencia permanente na metr6pole ou ilhas adjacentes que pretendam adquirir 0 direito a cidadania e a concessao do bilhete de identidade devem dirigir os seus requeri­mentos ao Ministro do Ultramar, acompanhados da documenta­~ao exigida por lei, fazendo deles entrega na Inspec~ao Superior dos N eg6cios Indigenas.

2.° A esta Inspec~ao compete apreciar tais pedidos e resolve­-los sempre que para tanto tenha delega~ao do Ministro do UI­tramar.

3.0 Os indigenas residentes nas provincias ultramarinas onde nao vigore 0 regime de indigenato que pretendam adquirir direito a cidadania e a concessao do bilhete de identidade devem dirigir os seus requerimentos, acompanhados da documenta~ao exigida por lei, ao respectivo governador da provincia, por intermedio dos servi~os de administra~ao civil, a quem competini dar 0 parecer referido no § unico do artigo 58.0 do Decreto-Lei n.O 39.666, de 20 de Maio de 1954.

4.° Quando do dOCUlnento referido na aHnea a) do artigo 56.0 do

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PORTARIA N.o 1 ).612 ~1~~ ____ --------------- -------------------____

_ f ·d De -reto-Lei n.O 39.666 nao conste a data do nascimento re en 0 L . A. ,

)odem os indigenas, seja qual for 0 local ~a sua resldenCla, suprir ~ssa falta pela forma estabelecida no ~ ~rtlgo 2:9.° do C6digo do Registo Gvil (*), aprovado pelo Decreto n. 22.018, de 22 de Dezembro de 1932.

5.0 A proya dos factos referidos nas alincas b), c) e d) do arti-

00 56.0 do Decreto-Lei n.lI 39.666 far-se-a pela forma prescrita nas

leis, tnas podem tamb~m provar-se, gu~nt? aos in~J~en~ residentes na metr6pole. ilhas ad~accntes ou pr?Vln~las de na,o Indlgenato, POf

certificados das autondades ad1TIIDlstratIvas da area da sua resi-

dencia. 6.0 A prova do facto a que se refere a alinea e) do artigo 56.0

do Decreto-Lei n.O 39.666 faz-se juntando documento comprovativo passado pela autoridade lnilitar competente da metr6pole, das ilhas adjacentes ou das provincias de nao indigenato.

7.° E sempre exigivel para prova do born comportamento a cer­tidao do registo criminal demonstrativa de que 0 interessado nao ~ofreu condena<;ao em pena maior, nem mais de duas condena~5es em prisao correccional.

8,0 Nos termos e para os efeitos do disposto na alinea c) do ar­tigo 60.() do Decreto-Lei n.O 39.666, consideram-se habiIita<;oes lite­rarias equivalentes ao l.() cicIo dos liceus aquelas que pelo Ministro da Educa~ao Nacional, nos termos da lei, tenham sido ou venham a ser equiparadas a tal cicIo para 0 efeito do desempenho de fun~5es pllblicas.

Ministerio do Ultramar, 21 de Novembro de 1955. - 0 Minis­tro do Ultramar, Raul J ofge Rodrigues Ventura.

Para ser publicada no Boletim alicial de todas as provincias ultramarinas. - R. Ventura.

(.) - Art. ~39.Q do COdigo de R . t C··1 . d 1..{ anOS que nao tiverem 0 seu ; . ~lS 0 IVI: «A todos os indivlduos malO res . e I i.dade. 0 seu nascimento naSC,~to mscr!to. e. permitido declararem eIes proprios, eOl qua qu~ tunci0t.tirio se (t;rniique d~:~ e .0 funoonano do )ugar do . seu domidlio. desde que 0 d\ de: regIsto:, exigir.~e quatro t .,,1Clda

hde <its dec~ara~IJ(:s do reglstando, deyeodo p:lra esta espCa

eS •• mun as que a!'smetn 0 assento>'.

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,

Indice

Abn."Viatllras ...

EST ATUTO DOS INDfGENAS PORTUGUESES

Relat6rio ... Capitulo I - Dos indigenas portugueses e do seu estat~~o ::: Capitulo II - Da situa~ao juridica dos indigenas ...

SeC/;ao I - Da organiza<;ao poHtica .. . Sec<;ao II - Dos crimes e das penas .. . Sec~o III - Das relaC;5es de natureza privada ...

Subseq;ao I - Da opc;ao pela lei corown e dos betos que importam a aplicac;ao desta ...

Subsee<;ao II - Do trabalho dos indigenas ... Subsecc;ao III - Dos direitos sobre coisas imobiliarias ... Subsecc;ao IV - Das relac;5es civis e coroerciais entre indigenas e nao-

-indigenas ....

Secc;ao IV - Dos tribunais e do processo ...

Capitulo III - Da extinc;ao da condic;ao de indfgena e da aquisic;ao da. cidadania Capitulo IV - Da execuc;ao do estatuto ...

II

lEGISLAC;AO COMPLEMENTAR

Estatuto dos Julgados Municipais

Relat6rio ... Capitulo I - Organizac;ao dos julgados ... Capitulo II - Competencia dos juizes rounicipais Capitulo III - Competencia dos juizes de paz ... Capitulo IV - Das quest5es gentHicas ... Capitulo V - Disposi~5es gerais e transit6rias .. ,

Reforma Prisional do Ultramar

Relat6rio ... Capitulo I - Dos nao indigenas .. . Capitulo II - Dos indigenas ... ... ... . .. Capitulo III - Disposic;5es gerais e transit6rias ...

Portaria n.O 15.612

Portaria n.o 15.612, de 21 de Novembro de 1955 .. ,

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