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José Aristides da Silva Gamito MISTÉRIOS DO TEMPO Poemas sobre a Mortalidade E-book Edição Independente

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José Aristides da Silva Gamito

MISTÉRIOS DO TEMPOPoemas sobre a Mortalidade

E-bookEdição Independente

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MISTÉRIOS DO TEMPOPoemas sobre a Mortalidade

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José Aristides da Silva Gamito

MISTÉRIOS DO TEMPO

E-bookEdição Independente

Poemas sobre a Mortalidade

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© 2013. Todos os direitos reservados a José Aristides daSilva Gamito.

Texto, capa, revisão e edição deJOSÉ ARISTIDES DA SILVA GAMITO

Gamito, José Aristides da Silva, 1980 -Mistérios do Tempo: Poemas sobre a Mortalidade /José Aristides da Silva Gamito.- Conceição de Ipanema:Publicação Independente, 2013.

Edição digital.

1. Literatura. I. Poesia.

DADOS PARA CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Esta publicação eletrônica é independentee de livre distribuição, desde que a autoria seja citada.

Blog: www.joaristides.blogspot.com.brE-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

Nesta publicação, apresento alguns poemas que compus sem compromisso e os

postei no meu blog (www.joaristides.blogspot.com.br). Eles são do período entre 2008 e

2013. Escrevo poemas desde os meus oito anos, tenho mais de quinhentos guardados.

Aguardo uma oportunidade para publicar de forma impressa os mais provocativos. A

coletânea que agora divulgo representa um ensaio sobre a condição de ser mortal da

qual todos nós participamos. Espero que alguns versos toquem vidas, histórias e

momentos de quem ler.

É fundamental admitir-se mortal. Pois, é aceitando a fugacidade da vida é que nos

desfazemos de tantas presunções e abraçamos a simplicidade do cotidiano. A

sabedoria exige de nós esta percepção, esta escuta: Simplicidade, humildade e

coração aberto.

Boa leitura! Aguardo retorno e comentários!

José Aristides da Silva Gamito

Conceição de Ipanema, 13/09/2013.

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POEMAS

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PROCRASTINAÇÃO

Queria produzir um filme, pintar um quadro,

Publicar um livro, conhecer Buenos Aires,

Reencontrar um amigo,

Mas fica pra depois!

Ainda está no começo do mês,

Tenho trabalho todos os dias,

O dinheiro anda curto,

O dever é prioridade.

O capital está acima dos planos,

E sobreviver acima do viver.

Este é meu defeito,

Mas vou dar um jeito

Porque a vida também tem seu defeito,

Ela não deixa nada pra depois.

Conceição de Ipanema, 19/08/2013.

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RITUAL DA VIDA

A vida é mesmo imensurável.

Não há como medir seu desenrolar.

Pois tudo nela se faz vizinho:

A alegria de uma chegada

E a tristeza de uma partida.

Quem destinou seu dia ao júbilo

Pode encerrá-lo em prantos,

Pois a tragédia é ligeira,

Invasiva e traiçoeira,

Visita o politicamente correto

E o pobre imprudente.

Nem sempre nossos planos

Têm garantia de conclusão,

Mas para quem deseja viver sem ilusão

Deve entregar-se ao ritual da vida,

No qual gozo e dor se misturam.

Quem nos fará justiça?

Às vezes há uma sensação de abandono.

Nem sempre há respostas!

O que farei quando a tragédia me visitar?

Vou renegar a princípio.

Mas pretendo amar meu mau destino

Como se amasse aquele que hoje é bom,

Porque não existo sem minha história!

Conceição de Ipanema, 23/07/2013.

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VIDA EM VERSOS

Voltei a compor verso

Quando percebi meu coração disperso

Divagando somente em assuntos da razão.

A sanidade nos salva de muitos egoísmos,

Mas não pode nos obrigar a esquecer de fruir,

De sentir que a vida se faz também de sensações.

Um homem mal dono do presente,

Precisa se lançar às oportunidades de estar vivo,

Pois tudo se esvai, todos se vão,

Enquanto o orgulho de nossas verdades

Encerram-nos em cárceres de arrependimento.

Em cada rua, em cada espaço, deixo minha marca,

Antes que se vá o último suspiro,

Em toda parte um pouco dos meus sonhos,

Uma prova de que a justiça vale a pena,

De que a solidariedade e o silêncio vencem

Com muito mais categoria.

Quando eu compuser meu último verso,

Espero que seja de esperança,

Mas se eu clamar da dor insuperável,

Levem em suas recordações que

O choro e o sorriso dependem do

Tamanho do significado que se

Dá à vida!

Conceição de Ipanema, 15/04/2013.

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BREVÍSSIMA VIGÍLIA

Abrimos os olhos para a luz,

Um instante só dura a vida!

Ela é um sonho tão tênue,

tão sofisticado e tão fascinante.

Mas que basta uma ruptura mínima

Para que venha ruir e reduzir-se

A bocadinhos de saudades.

Enquanto, os desavisados empregam

Em vão seu tempo com a violência,

Eles se esquecem da efemeridade da vida!

Já que tudo é tão breve,

que valha a pena viver bem,

que valha ser lembrado com sorrisos!

Ninguém gostaria de morrer....

E muito menos gostaríamos de viver

A tortura de ter de aceitar a morte alheia.

Mas a vida que nos resta é esta:

Muito mais perguntas que respostas.

Os sons de nossas questões se perdem

No silêncio imenso do universo!

Quem poderá nos responder?

Quem poderá nos valer?

Tímida razão, esperança debilitada!

Apesar de tanta dor, ainda podemos

Sorrir porque é a mais bela recordação

Que podemos deixar do tempo que existimos.

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VIVER É TÃO BREVE

Poema para refletir no dia que morre alguém

Como posso saber a exata dimensão do que é viver?

Há dias tão doces quanto ouvir uma canção em espanhol,

Há dias tão penosos que contamos as horas para tudo acabar.

Muita gente acorda feliz e anoitece com uma tragédia em sua história.

Para tudo mudar? Bastam segundos.

Tudo é devir! Tudo é incerteza!

Vivemos de apostas:

O amanhã é uma possibilidade!

O que vale tanta arrogância e tanta misantropia?

Apenas para deixar uma detestável biografia?

Cada dia nós escrevemos um epitáfio!

Candidatamo-nos a uma lápide!

Para tudo mudar? Bastam segundos.

Tudo é devir! Tudo é incerteza!

Vivemos de apostas:

O amanhã é uma possibilidade!

Morramos com mais dignidade e vivamos um dia mais humano,

Mas tudo sem prever, sem precisar sentir a desgraça como prenúncio

Para depois se descobrir mortal, efêmero, capaz de falhas.

Viver é tão breve e a nossa esperança é infinita!

Para tudo mudar? Bastam segundos.

Tudo é devir! Tudo é incerteza!

Vivemos de apostas:

O amanhã é uma possibilidade!

Então, apostemos em mais um dia

E façamos dele o mais belo, o mais coerente, o mais ativo!

Enquanto vivemos, façamos bem feito nosso último dia.

Pois, esta é nossa condição! Ou, talvez prefira viver como se não fosse!

Conceição de Ipanema, 20/06/2012.

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INDIGNA-ME SER MORTAL

Indigna-me suportar a mortalidade,

Aceitar que não sou eterno,

Que todos os lindos dias esvanecerão.

Essa condição me condena a construir sempre,

Quando se realizará a profecia, a utopia?

Sempre existe um caminho novo,

Uns iniciam e outros terminam,

Sem continuidade, sempre há interrupções!

Para onde caminharemos cegamente assim?

Queria ter prazo para o meu epitáfio,

Queria ver reconhecida a minha poesia;

Decididamente não quero morrer nesta estação.

Quero tempo para ver em volta o que estou deixando!

E quando protesto, onde está a fé?

Se o amor se foi e o bebê africano morreu de fome;

Se a solidariedade desapareceu e não há mais irmãos;

E a razão? Não é mais ouvida por ninguém.

Enquanto isso, luto contra o tempo

para deixar um bem, tomara que eu o faça!

Tomara que eu o faça!

E, enfim, morra justiçado!

Conceição de Ipanema, 02/06/2012.

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PERENE RISCO DE SER

“Dum loquimur, fugerit invida aetas: Carpe diem quam minimam credula postero”.

Horácio.

Viver e existir são quase sinônimos!

Existir é o perene risco de quem vive,

Às vezes, dá medo a gente existir.

Há fases como tudo na vida!

Há vezes que gostaria de existir

Aos bocados, saltitando, pulando pesadelos,

Como um animal ágil e sorrateiro.

Mas não tem como não apostar.

Para poder se alegrar

É preciso estar vivo

Correndo o risco também da dor!

A existência se mostra medonha,

Cheia de mistérios e de riscos,

Fenômenos sem sentido acontecem,

Tem gente que vive explicando tudo,

Vive fugindo desesperada do inefável.

Tudo inútil! Viver dói mesmo.

Às vezes, suspendo meu existir

Por instantes para perceber como é

Não ser, mas é só pra testar!

A graça e a tragédia sempre se aliarão,

Não existe vida sem alternância

Entre essas duas dimensões.

Insisto em continuar a ser mesmo

Em face à possibilidade da dor.

Porque existir sempre será

O perene risco de quem vive!

Conceição de Ipanema, 30/04/2012.

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TERMINAL

Lembre-se de mim mesmo quando eu me for,

Meus olhos ausentes não vão ver o que ficou,

Um lugar vazio à mesa vai anunciar o fato,

E na parede a saudade vai bater quando vir meu retrato.

Você vai lembrar que eu gostava de rimar meus poemas,

Meus discursos tinham sempre os mesmos temas.

O fenômeno que me tragou está na vida de todo mundo,

A gente se indigna baixinho ao se lembrar de quem se foi,

Mas é um mistério por demais tão profundo!

Eu sei que dói forte quando se lembra de certas canções,

Elas se tornaram senhas de acesso ao nosso reencontro,

A gente queria recomeçar tudo, sentir as primeiras emoções,

Mas viver é suportar o devir e entender que tudo se dissolve,

Mesmo os mais lindos sonhos como eu e você.

Lembre-se de que mesmo que o epitáfio diga “descanso”,

Eu estarei lutando para viver mais dia perto de você,

Mesmo que tudo pareça ausente, minha lembrança vai permanecer.

Só peço: Lembre-se de mim mesmo quando eu me for!

Conceição de Ipanema, 28/02/2012.

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SONETO DE UM SONO TRANQUILO

Quando a sombra se estica sobre a serra,

A gente pensa no dia que findou,

Nos milhares de fatos sobre a terra,

Em que a gente fez e em que errou.

Quando a noite envolve a cidade

E o sono ronda nossa presença,

A consciência lamenta as faltas com a verdade

Ou se alivia no bem feito com alegria imensa.

Pois, quando vemos o dia partir

Com a sensação de ter realizado o bem

Não há o que lamentar e nem ressentir.

Não fechar o propósito de um dia

É perder a chance única de fazer acontecer

Talvez o passo decisivo de uma utopia.

Conceição de Ipanema, 2012

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SEGREDOS DE UM OLHAR

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

(José Saramago)

Teus olhos guardam mil e um segredos,

Posso ver tua angústia e tua alegria,

Teu desejo, teus medos,

Eles são as janelas de teus abismos,

Os mesmos que me atraem,

Ora me afastam de ti.

Cada olhar tem sua singularidade,

Dói-me tanto ver olhar de fome

Projetado pelas ruas,

Mas olhares opulentos não vêem miséria.

Olhar, enxergar, reparar, ver –

Uma questão de aprender!

Olhares trazem apelos,

Quem vive na penumbra ignora.

A tarefa que o mundo nos confia a toda hora:

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.

Pois, tem tanto egoísmo aqui dentro

Quanto tem dor lá fora.

Olha, vê, repara!

Conceição de Ipanema, 14/02/2012.

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AUT VIAM INVENIAM AUT FACIAM

Pra seguir pelo caminho que escolhi,

Muitas coisas deixei pra trás,

Muitas pessoas não pude trazer,

Talvez umas delas seja você,

Mas não é por querer selecionar,

Mas a gente aprende um dia

Que existem encruzilhadas na vida

E chega um momento que nem todos

Podem seguir pela mesma estrada.

Assim se separam amores e amizades,

A gente opta por novas ideias,

E mesmo por novas verdades,

Isso não é falta de personalidade,

É o curso da vida e seu constante devir.

“Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio”,

Dizia já o antigo filósofo.

É tão contentador quando há reencontros

Como é desolador admitir que alguns não voltam mais,

Viver é isso, é aprender a encarar despedidas,

É agradecer pelos encontros e reencontros.

No fim do fim, por trás do véu da morte,

Esperamos ainda um último reencontro,

Reencontrar e refazer aquilo que passamos

A vida inteira tentando completar e não fizemos.

Como a esperança é dona de si, dá-se a quem quiser,

Façamos hoje o que amanhã possa ser motivo de prantos.

Eis o desafio: Seguir pelo caminho que escolhes!

Conceição de Ipanema, 30/12/2011.

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OCASIÃO RARA

Há gente confundindo euforia de uma tarde

Com amizade de uma vida inteira,

Sei que está raro um amigo de verdade,

Mas nem por isso confundiremos empolgação

Com cumplicidade e entrega até a cruz.

Amizades não nascem assim,

Só paixões resolvem um ano em um dia,

Amor, amizade, todos são morosos,

Mesmo aquilo que é sólido se dissolve no ar,

Imagine as emoções de instante!

Fast food, fast life, não há!

Uma bela paisagem se esculpe

Num milênio de atividade sem parar,

O ser se dá por etapas penosas,

Só o nada se faz num piscar de olhos!

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VÉU DE ILUSÕES

Espero em cada estação estar mais maduro,

E sem chance para me encantar com velhas ilusões,

Pois há um tempo em que tudo parece obscuro,

Mas a gente aprende a ver além dos montes.

Quando a gente amadurece, vê mais nítido

Como era ridículo querendo ser absoluto,

Achando que tinha razão em tudo,

Hoje, diante de algumas questões fico mudo.

Saber silenciar é tão sábio quanto

Expressar-se no tempo certo,

A gente aprende de modo esperado

E passa a ver o que antes não poderia enxergar.

O instante é véu das ilusões,

Somente a distância ajuda a transparecer

A verdade de nossas decisões,

Quando se percebe que não dá pra voltar,

O jeito é se reinventar e prosseguir...

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MISTÉRIO DO TEMPO

Relembrar é protestar contra a fugacidade do tempo,

Seja bom, seja ruim, vale a pena sempre recordar.

Saudade é um desejo de repovoar velhos cenários,

Fotos, recordações, tudo pede um revisitar.

Cartas, muros, árvores são registros do que se foi,

Mas o passado não pode ser prescindido do agora,

Coisas do passado molduram o nosso presente,

Tudo que passa, vem à tona uma hora.

Lembrança e saudade andam de mãos de dadas,

As provas cabais de nossa mortalidade,

Sinal de que tudo se esvai e se relativiza,

De que o absoluto humano com o nada faz divisa.

Por isso, enquanto eu tiver o hálito da vida,

Vou revisitar minhas antigas lembranças

E a cada dia vou lutar para realizar ações

Que valham à pena outro dia recordar!

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RITMO DE UMA MANHÃ

As manhãs entre nós

Não terão o mesmo sabor, nem o mesmo som;

As canções não atingirão o mesmo tom

Deste instante que não sairá da minha mente.

É tão difícil falar... Às vezes, prefiro o silêncio.

Minha voz se perde dentro da multidão,

São tantos murmúrios e vãs opiniões.

Sempre o ideal fica pra trás,

O real não se atinge jamais.

O justo morre na cruz,

Enquanto, o corrupto se deleita frente aos holofotes.

Não importa seu título, sua razão,

Amar é mais... A vida é sacrossanta.

Filosofar é despertar de um sono pesado

À base de entorpecentes aristocráticos.

Quando amanhece e de ressaca se padece,

É que a gente vê o ritmo da vida na manhã,

Não vale a pena ceder à voracidade do mal,

Morrer não é normal. Tenho sede de vida!

De vida bem vivida em paz e justiça,

Além do bem e do mal!

Conceição de Ipanema, 29/03/2011

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ENTRE O SONO E A VIGÍLIA

Desde os 8 anos que gosto de compor poemas, produzi muito; passei por uma fase de descrédito e

apat ia; mas, vol te i a acredi tar que a poesia é uma l inguagem fascinante.

Já não tenho mais ilusões,

Já fui curtido pelas tragédias,

Mas como é doce se iludir,

E pensar que há vida sem dor!

Às vezes, fecho os olhos e acredito em fadas,

Mas em segundos minha razão se recobra

E me lembra que estou no mundo, no Brasil,

E que a dor que me dói é real.

Já parei para pensar em milagres,

Para considerar os discursos dos profetas,

Mas tudo era abstração e mera abstração.

Hoje dizem que sou “seco”, digo que sou real,

Se não tenho mais ilusões,

Não significa que não tenho mais esperança

E que não amo mais,

Apenas amo com a exata medida do amar

E não tenho mais medo de me ferir.

Conceição de Ipanema, 14/03/2011.

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GENTE DE SÉCULO XXI

Somalis, Auschwitz, Nagasaki, Hiroshima

Será que ainda posso ter esperança?

Humanidade tresloucada, sedenta de sangue

Homens de cima e de baixo

Que no fundo são os mesmos

Sob outros rótulos e etiquetas

Nas favelas e nos condomínios

Sinto cheiro de sangue e de cobiça

Vá ao culto ou vá a missa

Sempre coniventes, indecentes.

Nós queremos ser mais do que

Cidadãos do século vinte e um,

Queremos ser humanos

Mais que humanos humanados

Contra todo holocausto, apartheid,

Olho para o futuro e vejo só escuro,

A tímida esperança se esvai

Lutando contra o desespero.

Conceição de Ipanema, 5/07/2010.

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EMERGÊNCIAS DE AGOSTO

As estações são instáveis.

Já é agosto

O ano caminha pro final

Não podemos continuar com o mesmo gosto

Vivendo o mesmo carnaval

Há urgência em Brasília

E ventos novos sobre o Vaticano

Como vai a família?

Será que não temos mais um plano

Um vento e uma direção.

Porque é final de ano, é agosto

Porque pede um novo gosto

Pra quem só viu desumanização

Já é tempo de re-aprender a amar

Para nova estação chegar!

Guerras acontecem no Oriente Médio

Enquanto povos celebram o esporte

Cientistas procuram um raro remédio

Só ninguém sana o egoísmo que traz a morte

Tempestades vêm na nossa direção

Cerramos os olhos diante da ameaça

De tanta desumanização e desgraça.

No fim do ano tem sol, tem verão

Só não sei se haverá janeiro

Pra vivermos uma nova estação

Porque não pode passar de agosto

Nossa decisão de recomeçar

Sem muros, sem furos

Sem guerras religiosas

Sem disputas partidárias

Apenas um «com» será aceito

Bastante, infinita com-paixão.

Conceição de Ipanema, 21/08/2008.

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REVISITANDO SONHOS

Preciso revisitar um antigo sonho,

Este já povoou a minha tenra juventude

Estimulou-me a pensar numa realizável utopia,

E me deixou repleto de humana atitude.

Quero falar do sonho de Zamenhof

Que também se tornou o meu desejo,

A vontade de ver o mundo rompendo

Barreiras linguísticas e humanas

Para se tornar uma comunidade global.

Simplesmente Esperanto!

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MUITO ALÉM

Esta é uma homenagem a Aristides, o pequenino;

Que nasceu homem e morreu menino.

Tudo que restou de nós dois

São apenas umas imagens e assinaturas

Gravadas em arquivo de família

E todas as emoções e aventuras

Se esvaíram dentro de segundos

E tu levaste com teu último suspiro

Tu que fomos pai e filho e amigo.

Não adianta presunção,

Pinta de modernos,

Quando a mortalha nos cobre,

Descobrimos que não somos eternos,

Somente um amor imenso

Que atravessa os meus sonhos

E me deixa pelo avesso

Quanto mais me tenta matar a saudade,

Menos eu esqueço.

Mas aquela hora choro sem jeito

E sinto tudo me dilacerando o peito!

Tuas lições serão perenes em mim,

Tua franqueza e tua indulgência,

Fortaleza na hora do sim

E compaixão no momento do não:

Tudo que restou de mim e de você

Vai mais além de uma fotografia,

Tudo que levarei comigo todo dia

...o homem que me tornei....

Tão ambíguo...doce...e rude...

Ao mesmo tempo.

Mas tentei te amar mais que pude!

Meu pai, meu pai, meu mestre.

Conceição de Ipanema, 28/06/2010.

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POEMA FÚNEBRE

(Em homenagem a: Ozéias Ribeiro de Paula, Evelina de Faria Rodrigues Valamier,

Ricardo Miranda Braun, Altieres de Souza Barbosa, João Batista da Silva, Mariana (filha

de João Batista da Silva) e Rosilene Machado Alves da Silva.)

Por que hoje os sinos soam com tanta tristeza?

Não tenho todas as respostas, mas direi:

Talharemos vossos nomes em nossas mentes,

Como se gravássemos em placas de bronze,

Sim, não nos esqueceremos de vós jamais,

Porque a amizade transcende os umbrais da morte!

O silêncio, o discurso mais eloquente sobre a morte,

Nós o tomaremos por testemunha. Sim!

Resquiecant in pace, in vera pace!

Por que nossos corações estão constritos?

Escapam-nos as palavras entre as lágrimas, mas direi:

Inscreveremos vossos nomes em nossos corações,

Como marcas indeléveis, com instrumentos perenes.

Sim, conservaremos vossas imagens em nós,

Porque assim como a amizade, a esperança

De vos reencontrar transcende os limiares da morte!

O silêncio, o discurso mais eloquente sobre a morte,

Nós o tomaremos por testemunha. Sim!

Resquiecant in pace, in vera pace!

Conceição de Ipanema, 09/12/2012.

Mistérios do Tempo - José Aristides da Silva Gamito

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José Aristides da Silva Gamito, 33 anos, casado coma p r o f ª J o a n a R e g i n a G a m i t o S i l v a , n a t u r a l d eVermelho Velho (MG), é bacharel e licenciado em filosofia,pós-graduado em Docência do Ensino Básico e do Superior.Atualmente, é professor de filosofia na E. E. CoronelCalhau (Ipanema - MG) e reside em Conceição de Ipanema (MG).

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