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MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

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MISSÕES:PREPARANDO AQUELEQUE VAI

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Harley, David

Missões: preparando aquele que vai / David Harley; tradutora Neyd

Siqueira. — São Paulo: Mundo Cristão, 1997.Título original: Preparing to serve: training for cross — cultural

missionBibliografiaISBN 85-7325-127-1

1. Missionários — treinamento 2. Missões — países em desenvolvi-

mento 3. World Evangelical Fellowship. Missions Comission 1. Título.

97-4241 CDD-266.007

Índices para catálogo sistemático:1. Missionários: Treinamento: Cristianismo 266.007

2. Treinamento de missionários: Cristianismo 266.007

Título do Original emInglês:PREPARING TOSERVE: TRAINING FOR CROSS - CULTURALMISSIONCopyright© 1995 porWorld EvangelicalFellowship Missions CommissionPublicado pela William Carey Lsdibrary,Pasadena, California, E.U.A.

Tradução: Neyd SiqueiraCapa: Pedro SimãoSupervisão editorial e de produção: Jefferson Magno Costa1 a edição brasileira: setembro de 1997Impressão: Imprensa da Fé, São Paulo, S.P.

Publicada no Brasil com adevida autorizaçãoe com todos os direitos reservados pelaAssociação Religiosa Editora Mundo CristãoCaixa Postal 21.257, CEP 04602-970São Paulo, SP, Brasil

MISSÕES:PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Como criar um programa de treinamento de missionários

Dr. David Harley

TRADUZIDO POR

Neyd Siqueira

EDITORA MUNDO CRISTÃOSão Paulo

SUMÁRIO

Prefácio. 7Prefácio do Autor 11

1. A Necessidade de Treinamento 132. Exemplos do TerceiroMundo 273. A Natureza do Treinamento 47

4. OComeço 615. Quem Faz o Treinamento2 75

6. A Escolha dos AlunosCertos 917. Planejamento do Currículo 1038. Treinamento Integral 1179. Treinamento e Cultura 13510. Treinamento e Questões Pastorais 15111. Avaliação e Aperfeiçoamento 163Conclusão 173

Apêndice 1: Questionário para centrosde treinamento

missionários associados ao IMTF 177

Apêndice 2: Treinamento integral 183

Apêndice 3: Cursos práticos 185

Apêndice 4: Principais temas doutrinários 187

Apêndice 5: Biblioteca Para Um Candidato a Missionário 189

Apêndice 6: Avaliação dos Curssos de Palestras e Trabalhos 191Apêndice 7: Associação de Missões e Comissionamento do

Mundo Evangélico 195

Bibliografia 203

PREFÁCIO

Emboraa preocupação como treinamento de missionários sejatão antiga quanto o moderno movimento missionário, o pro-gresso em oferecer esse treinamento tem sido lento, especial-mente no Terceiro Mundo. Até a última década pouca aten-ção foi dada ao preparo de missionários transculturais.

Hoje, porém, aquestão tomou um aspecto diferente. Desdequea World Evangelical Fellowship Missions Commission (WEF)(Associaçãode Missões eComissionamento do Mundo Evan-gélico) iniciou uma consulta em Manila em junho de 1989,cresceu acentuadamente o interesse no treinamento

transcultural de missionários, tanto no Ocidente quanto noTerceiro Mundo. Existem pelo menos quatro razões para esteinteresse crescente.

Primeiro, o rápido progresso do movimento missionário noTerceiro Mundo e o número cada vez maior de baixas. Se-gundo, maior percepção quanto à necessidade do treina-mento de missionários. Isto é devido aos vários semináriossobre treinamento missionário promovidos pela WEF

Missions Commission e grupos evangélicos nacionais na Áfri-ca, Ásia e América Latina.

Terceiro, a International Missionary Training Fellowship for-neceu a estrutura necessária para energizar o movimento de

treinamento missionário em todo o globo. Essa entidade patro-cinou vários especialistas em treinamento missionário, queviajaram para diferentes países a fim de ampliar a visão eau-xiliar no preparo de missionários transculturais. Quarto, umnúmero cada vez maior de livros foi publicado pela WEFMissions Commission de treinamento missionário, principal-mente a obra Internationalising Missionary Trainíng: A GlobalPerspective (Internacionalizando o Treinamento Missionário:Uma Perspectiva Global).

O livro do Dr. David Harley trará valiosa contribuição aeste tipo de literatura em crescimento. Ele não tem como obje-

tivo oferecer um estudo em profundidade de qualquer setor

em particular, tal como teoria educacional, estudo missiológico

ou preparação de um currículo, mas fornece uma introdução

abrangente ao treinamento missionário transcultural cristão.A obra irá beneficiar todos os responsáveis pelo treinamentode missionários, tanto no Ocidente como no Terceiro Mundo.Será especialmente útil para os que estiverem pensando emabrir novos centros de treinamento missionário.

O Dr. Harley é uma pessoa peculiarmente preparada para

escrever sobre o treinamento missionário. Primeiro, ele foi pro-

fessor de uma das principais faculdades de treinamento missi-

onário do mundo, e ocupou o cargo de diretor durante oito

anos. Segundo, ele visitou inúmeros centros de treinamentomissionário não só no Ocidente, mas também na África, ÁsiaOcidental (Índia), Ásia Oriental, Sudeste da Ásia e AméricaLatina. O Dr. Harley lecionou nesses centros e escreveu umatese de doutorado, tendo como tema o treinamento missioná-rio. Isto não sódá a ele uma posição estratégica paraexaminaro assunto com visão microscópica, como também com perspec-tiva macroscópica. Terceiro, a sua experiência como missioná-

rio na Etiópia eprofessor de umainstituição de ensino interna-cional lhe confereampla oportunidade para observar indiví-duos de diferentes contextos culturais.

Desse modo, o Dr. Harley tem podido ressaltar vários as-pectos do treinamento missionário transcultural. Nem tudoseráaplicável a toda cultura, mas os preparadores de missio-náriosem todo o mundo poderão extrair lições valiosas do queele escreveu e aplicá-las ao seu próprio contexto cultural. Osquequiserem abrirum novo centro de treinamento missionárioacharão o material especialmente prático e útil, tanto no quediz respeito ao planejamento como àadministração do centro.Os que estiverem administrando instituições estabelecidaspoderão avaliar o seu trabalho à luz do que se encontra escritoaqui.

Este livrodeve ser traduzido em vários idiomaspara ficar àdisposição dos interessados em muitas partes do mundo, a fimde promover eencorajar o treinamento eficaz. Que ele possaser usado para dar maior honra e glória ao Senhor da Seara.

— David Tai-Woong Lee, D.Miss.Seoul, Korea

Presidente da WEF Missions Commission

PREFÁCIO DO AUTOR

O rápido crescimento do movimento missionário no TerceiroMundo criou uma demanda sem precedentes em relação aopreparo adequado de missionários. O treinamento tem sidosempre tão necessário para os candidatos a missionários doOcidente como para osde outras partes do mundo. Ele é essen-cial para o bem-estar dos candidatos a missionários esuas fa-mílias, epara a eficácia do seu futuro ministério.

Este livro foi escrito para aqueles que quiserem levar a sé-rio a tarefa do treinamento de missionários, os que estãoconvencidos de que deve ser estabelecido um intervalo detempo adequado para o preparo do missionário e os queestão igualmente convencidos de que a educação teológicade per si não é um preparo suficiente para o ministério emoutra cultura.

Vamos examinar uma ampla variedade de tópicos relacio-nados ao treinamento de missionários, desde o preparo de umnovo programa até a seleção de candidatos a missionários edaqueles que irão treiná-los. Veremos também como planejar

um currículo para treinar a pessoa de maneira total e comoassociar o treinamento à cultura.

Este volume não dará todas as respostas, nem oferecerá umpadrão fixo parao treinamento de missionários. Meu objetivoé compartilhar o que aprendi sobre o treinamento missionáriodurante os 15 anos em quefiz parte do pessoal da Ali NationsChristían Coilege do Reino Unido, e o que observei nos centrosde treinamento de missionários quevisitei em outras partes domundo. Ficarei muito satisfeito se osjá envolvidos no treina-mento missionário, ou os que estiverem para estabelecer umnovo programa, encontrarem alguma ajuda e encorajamentonestes capítulos.

Gostaria de aproveitar esta oportunidade para expressarminha gratidão aos que tornaram possível a publicação destelivro: primeiro, aos professores e alunos da faculdade Ai!Nations que me ensinaram tanto sobre missões e treinamentomissionário; segundo, à faculdade da Coiumbia InternationaiUniversityque orientou meus estudos de doutorado sobre trei-namento missionário, especialmente o Dr. Kenneth Mu-lholland e o Dr. Robert Ferris; terceiro, aos centros de treina-mento do Terceiro Mundo que bondosamente aceitaramtomarparte em minha pesquisa original e ajudaram no preen-chimento do questionário queaparece no Apêndice 1; quarto,aos que tomaram tempo para ler ecriticar este manuscrito emseus vários estágios — William Taylor, Jonathan Lewis, ‘BayoFamonure, Prakash George, Andrew Swamidos, SamuelDevadason eDavid Tai-Woong Lee. Sou igualmente grato aoDr. Lee pela sua gentileza em escrever um prefácio. Finalmen-te, agradeço aminha esposa, Rosemary, que passou tanto tem-po trabalhando em cada capítulo comigo. Sem a sua ajuda eincentivo este livro não poderia ter sido escrito.

1A NECESSIDADE DE TREINAMENTO

O Crescimento da Igreja“Iniciamos 15 igrejas nesta cidade nos últimos quatro anos ecada uma delas tem hoje mais de 500 membros.” Eu tinha via-jado para pregar na cerimônia de consagração de uma igrejanova em Ibadan, na Nigéria. A pessoa comque eu falava era obispo da diocese que viera para consagrar o novo prédio daigreja.

A igreja recebeu o nome de “Igreja Evangélica Anglicanados Embaixadores de Jesus Cristo”. Ela teve início 11 mesesantes, quando um pequeno grupo de crentes começou ase reu-nir numa cabana de madeira na parte mais pobre da cidade.Issoaconteceu em janeiro. Estávamos agora em dezembro eospoucos crentes haviam crescido até chegar a uma congrega-ção de quase mil pessoas. Elesjá haviam plantado uma igreja“bebê” em outro distrito vizinho e começado um grupo casei-ro em outro.

Os membros angariaram fundos para o grande prédio daigreja em que estávamos agora, apertados em meio a várias

14 MISSOES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

centenas de nigerianos em seus trajes vivamente coloridos. Láfora, sob o ardente sol da Nigéria, centenas de outros espiavampelas janelas ou ouviam o serviço transmitido por meio do sis-tema de alto-falantes.

Alguns meses mais tarde, minha esposa e eu visitamos aigreja presbiteriana Onnuri em Seu!, na Coréia. Fundada oitoanos antes por um pastor e sete famílias, ela possuía agorauma membresia de 10 mil pessoas. Uma igreja eum conjuntoadministrativo de um milhão de dólares haviam sidoconstruídos e a cada semana maispessoas estavam se entre-gando aCristo.

Essas duas igrejas, uma na África eoutra na Ásia, ilustramo extraordinário crescimento que vem ocorrendo na Igrejacristã em algumas partes do mundo. Não se trata de casos ex-cepcionais. NaNigéria, inúmeras denominações estão inaugu-rando novas igrejas todos os anos. Na Coréia, algumas igrejassão maiores do que a Igreja Onnuri, especialmente a YoiodoFui! Gospei Church com uma membresia de mais de meio mi-lhão de pessoas!

Segundo as estatísticas apresentadas na publicaçãoOperation World (Operação Mundo), existem mais de 1 bi-!hão e750 mi! pessoas no mundo que afirmam estar seguindoa Jesus Cristo. A Igreja Cristã está crescendo anualmente auma taxa de 2,3%. O declínio na membresia da Igreja ocorri-do no Ocidente, especialmente na Europa, foi mais do quecompensado pelo fenomenal crescimento em outras partesdo mundo.

Na Coréia do Sul, a primeira igreja protestante foiestabelecida em 1884. Hoje, 27% da população é protestante.Há aproximadamente 30 mil igrejas protestantes em todo opaís, sete mil somente na capital, Seu!. Uma das minhas lem-branças favoritas da Coréia do Sul é quando eu olhava pelajanela do hotel à noite e via doze letreiros luminosos com acruz vermelha, indicando apresença de igrejas cristãs em todaa cidade.

A NECESSIDADE DE TREINAMENTO 15

A Igreja Cristã também está tendo um crescimento espeta-cular no Quênia. Embora sóse tenham passado 150 anos apósa chegada dos primeiros missionários protestantes, 4/5 dapopulação afirmam ser cristãos e as igrejas continuam a cres-cer. Um bispono Quênia Ocidental calculou existirem cerca de250 mil anglicanos em sua diocese, mas ele esperava que essenúmero subisse para meio milhão em cinco anos.

O Reavivamento da África Oriental, que influenciou inú-meras igrejas tradicionais no Quênia, deixou também suamarca na Tanzânia. Muitas igrejas estão superlotadas e algu-mas congregações sentem realmente o peso da sua obrigaçãode levar o évangelho a outros. Em 1991, os líderes de umadiocese decidiram concentrar suas energias num distrito gran-de eremoto onde havia apenas 500 crentes. Cinqüenta pasto-res eevangelistas foram enviados para trabalhar nesse distritoe em três anos a membresia da igreja chegou a 11 mil pessoas.

A América Latina tem sido predominantemente católica-romanahá séculos; mas, durante osúltimos 100 anos as igrejasprotestantes cresceram rapidamente. O número de protestan-tes no Brasil passou de alguns milhares em 1900 para 23,8 mi-lhões em 1993. A população evangélica da Costa Rica dobrouentre 1980 ç 1990. O número de evangélicos na Guatemalasubiu para 23% da população.

Ocrescimento da igreja nessas áreas induziu inevitavelmen-te a dispersão dos cristãos pelo mundo. Existem hoje muitomais cristãos na África, América Latina e Ásia do que na Euro-pa eAmérica do Norte. O centro de gravidade da Igreja Cris-tã se afastou do Ocidente. Segundo aOpera tion World, 62%dos cristãos vivem no Terceiro mundo ou no mundo não-oci-dental da África, Ásia, América Latina e Oceania.1

O Novo Movimento MissionárioO crescimento da Igreja no Terceiro Mundo causou considerá-vel impacto sobre o movimento missionário mundial. À medi-da que as igrejas foram crescendo nos países recém-desenvol-

16 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

vidos, elas começaram a assumir maior responsabilidade peloevangelismo mundial. Países quecostumavam receber tradici-onalmente missionários, começaram a enviar seus própriosmissionários em grande número.2

A Coréia serve novamente de exemplo. Segundo o KoreanMissions Handbook(Manual de Missões Coreanas), 3.272 mis-sionários coreanos servem em diferentes partes do mundo. Istorepresenta um acréscimo de 700 missionários em dois anos.3

Um grande número de jovens cristãos coreanos está hoje seoferecendo para o serviço missionário. Em uma convençãohavia tantos jovens desejosos de se tornar missionários que osorganizadores não tiveram condições de registrá-los comodeviam. Em conseqüência, foi sugerido que realizassem a con-venção apenas acada trêsanos. Isto evitaria quehouvesse tan-tos candidatos à vida missionária!

David Tai-Woong Lee, presidente da World EvangelicalFellowship Missions Commission, oferece uma perspectivacoreana sobre este crescimento espantoso esugere várias ra-zões para ele.4 Em primeiro lugar, afirma o Dr. Lee, a Coréiaaperfeiçoou rapidamente suas ligações diplomáticas, facilitan-do assim aos coreanos viajarem por todo o mundo. Segundo, aeconomia cresceu rapidamente e as exportações industriaiscriaram enormes oportunidades para os coreanos serviremcomo fazedores de tendas.

Terceiro, a igreja da Coréia experimentou notável cresci-mento, tanto em números como em maturidade, com o resul-tado de existirem inúmeros cristãos amadurecidos prontos ecapazes de servir em missões ou sustentarem missionários.Quarto, vários líderes de igreja coreanos passaram a se inte-ressar pela missão mundial por meio da sua participação emconferências internacionais, tais como a de Berlim (1966),Lausanne (1974) ePattaya (1980).

O Brasil é outro paísonde as igrejas têm uma visão cada vezmaisampla em relaçãoà missão mundial. Muitos cristãos bra-sileirossentem quedevem assumir a responsabilidade de levar

A NECESSIDADE DE TREINAMENTO 17

o evangelho ao mundo inteiro e quedevem continuar agora otrabalho da evangelização mundial que esteve por tanto tem-po nas mãos dos cristãos do Ocidente. Alguns pastores usam ametáfora de uma corrida de revezamento em que o bastão daevangelização do mundo está sendo entregue pelo Ocidenteaos paísesdo Terceiro Mundo. Durante osúltimos cinco anos,maisde cinco mil brasileiros foram enviados como missionári-osa outros países.

A Índia tem uma longa história de missões nativas. Apri-meira sociedade missionária indiana foi fundada em 1903. Em1973 havia 420 missionários indianos. Em 1994 mais de 10 milmissionários serviam em 200 sociedades missionárias. Mais dametade deles está envolvida em trabalho transcultural, esten-dendo-se para os grupos de pessoas carentes e marginalizadase também para a classe dominante dos hindus.

A Índia é um grande país com uma população de mais de900 milhões de pessoas. A maioria dos missionários indianostrabalha transculturalmente na Índia e grande parte deles ésustentada por cristãos indianos. Alguns trabalham fora daÍndia, seja com sua própria missão ou com uma sociedademissionária internacional. Outros trabalham entre os cerca de13 milhões de indianos que emigraram para outras partes domundo.

A Nigéria também se tornou um dos países que mais têmenviado missionários do mundo em desenvolvimento. Segun-do os últimos cálculos disponíveis, existem 36 sociedadesmissionárias indígenas e2.180 missionários nigerianos.5 Amaior missão nigeriana é aEvangeiical Missionary Society quepossui 900 missionários. O orçamento anual para esses 900missionários éde aproximadamente 40 mil dólares!

A tarefa especial dos cristãos nigerianos é levar o evangelhoaos muitos povos não-alcançados em seu próprio país. Elesestão igualmente a par da sua responsabilidade para com osoutros países da África Ocidental, onde podem viajar compoucas restrições e a um custo relativamente baixo.

18 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Larry Pate,que tem feito muitas pesquisas sobre as missõesdo Terceiro Mundo, descreveu o crescimento contínuo do movi-mento das missões protestantes não-ocidentais como fenome-nal. Com base nas estatísticas coligidas por ele,Pate calculouqueosmovimentos de missõesdo Terceiro Mundo estavam cres-cendo a uma taxa de 13,3% ao ano, e que em 1990 os missioná-rios dos paísesdo Terceiro Mundo representavam 35% do totalda força missionária protestante em todo o mundo.6

É impossível prever se ataxa de crescimento vai continuar.Fatores externos, tais como mudanças nas leis governamen-tais, modificações no que diz respeito àtolerância religiosa evariações nas taxas cambiais podem causar um impacto dra-mático sobre o movimento missionário em um dado país. Nãoobstante, éprovável que mais cedo ou mais tarde o número demissionários dos países do Terceiro Mundo irá exceder os doOcidente.

A Exigência de TreinamentoO rápido crescimento do movimento missionário no TerceiroMundo criou uma séria demanda de treinamento adequadopara os missionários. Vários líderes cristãos no Terceiro Mun-do falaram da urgência da situação e do tipo de treinamentoque eles consideram necessário.

O cônegoJames Wong, escrevendo de Cingapura em 1973,notou a falta de programas de treinamento missionário nospaísesasiáticos. Em conseqüência, os queeram enviados parao exterior não tinham o benefício do treinamento ou estavammal preparados para o serviço missionário transcultural.7

Três anos mais tarde, a Dra. Chun Chae 0k, a primeiramissionária coreana no Paquistão, expressou a mesma preocu-pação. Ela observou que havia bem poucos lugares onde osjovens voluntários podiam receber treinamento adequado ouconfirmar sua chamada.8

Em 1981, Paul Long escreveu sobre as grandes oportunida-des que ainda existiam no Brasil ea necessidade da continua-

A NECESSIDADE DE TREENAMENTO 19

ção do trabalho missionário. Ele comentou sobre o númerocada vez maior de brasileiros que estavam se oferecendo paraservir como missionários tanto no Brasil como além das suasfronteiras. Enfatizou também a urgência de treinamento espe-cializado para que esses novos missionários pudessem se tor-nar eficientes.9

No mesmo ano, Panya Baba, escrevendo de uma perspecti-va africana, enfatizou a importância de oferecer treinamentomissionário e centros de pesquisa no Terceiro Mundo, paraque os locais pudessem aprender com mais facilidade, a umcusto menor eno seu próprio contexto cultural.10

Todos esses líderes de igreja ficaram emocionados ao ver oaumento no número de missionários, mas estavam convenci-dos de que esses novos servidores precisavam ser adequada-mente treinados. Eles conheciam os problemas e, em algunscasos, as tragédias, que podiam resultar quando missionárioseram enviados com pouco ou nenhum preparo. O seguinteartigo foi publicado por P.S. Thomas, que serviu como missio-nário no Norte da Índia eéagora diretor associado da MissãoEvangélica Indiana. Ele ilustra as possíveis conseqüências dopreparo mal feito:

Há vinte e cincoanos,dois homens solteiros da região Sul fo-ram parao Norte da Índia como missionários. Eleserammuitoconsagrados ao Senhor e sinceramentemotivados para exercer otrabalho missionário. Tinham tido quatro anos de treinamentona Escola Bíblica em umadas melhores instituições educacionaisda Índia. Esses homens sabiam queas necessidades espirituaisno Norte da Índia eramimensas. Eles queriam irparaa área ondefosse maisdifícil plantar igrejas. Oraram individualmente eemconjunto peloNorte da Índia nos quatro anos em quecursaram aEscola Bíblica.

Dois meses depois de formados, eles se achavam num vale doHimalaia, enviados por uma das melhores missões nativas da

Índia. Não sabiam o caminho certo para o lugardo seu chamado.

20 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Isto não significa,porém, que não chegariam ao seu destino, pois

chegariam. Mas,por um caminho maiscomprido!Eles não conheciam as condiçõesclimáticas do lugar. Chega-

ram no apogeudo verão no Norte da Índia. Mas,para seu horror,descobriram quesem aquecer o quarto nãopoderiam dormir.Não tinham levado muita roupa quente. Não sabiam como vivernum lugar frio. Não sabiam igualmentecomo fariam para apren-der o idioma e acultura locais. Inventaramseu próprio método eo resultado mostrou queo método deles era inadequado! Não éde admirar que falematéhoje a língua com umpesado sotaquedosul da Índia! Eles não sabiam muita coisa sobre como combater

as forças das trevasque dominavam a região há séculos,sem se-

rem desafiadas por ninguém. No prazo de seis meses,um deles

estava em dúvida se Jesus era Deus encarnado ou um homem

transformadoem deus pelos seus seguidores!Eles não sabiam como tratar coma solidão. Um deles não sa-

bia quais as qualidades que devia procurar em sua futuraespo-

sa. Achava que se a moça fosse dedicada ao Senhor e estivesse

dispostaa ser mulher de um missionário pobre, isso era suficien-

te. Casou-se sem preparaçãopara a vida a dois. Quando os filhos

chegaram (depressa demais e com demasiada freqüência) ne-

nhum dospais sabia como cuidar deles num clima frio e numa

cultura diferente.A esposa em breve passou a ter problemas emocionais graves,

que oslevaram a suspeitar da falta de consagração e espirituali-dade um do outro. Eles não sabiam como e onde educar os filhos.

Achavam que não era espiritual falar sobre os seus problemascomoutros, especialmente comos da sua missão.

Depois de cinco anos um dos missionários abandonou ocampo comumasensação de fracasso eculpa. Ele chegoucomavisão de plantar igrejas em um dos lugares mais difíceis; cinco

anos mais tardepartiu com a consciência pesada. Consagração

ao Senhor e grande motivação para o serviçomissionário são es-senciais, mas não bastam para produzir um missionário

transcultural eficiente. Lembre-se, eles haviam tido quatro anos

A NECESSIDADE DE TREINAMENTO 21

de treinamento no seminário antes de seguirem para o campo

missionário.11

O Treinamento Especializado É Necessário?Alguns duvidam da necessidade do treinamento missionárioespecializado. Eles afirmam que tudo que é necessário paraum serviço missionário eficaz é confiança no Espírito Santo efidelidade às Escrituras. Algumas organizações missionárias

só exigem que seus candidatos completem um ano de estudos

bíblicos, ou aceitam um diploma teológico como preparo sufi-ciente para o serviço missionário transcultural.

J. Herbert Kane, que teve uma experiência de muitos anostrabalhando como missionário eensinando missões, colocou oproblema em termos claros. Ele declarou ser um ato de remata-da insensatez seguir para o campo missionário sem treina-mento profissional e teológico. Ele estava convencido de quepara um bom fundamento teológico os missionários necessita-vamde treinamento em comunicação transcultural, antropo-logia missionária, história e teologia de missões, religiões domundo eassuntos contemporâneos. Acreditava também quechegara o momento de interromper o procedimento insatisfa-tório de enviar missionários sem que estivessem adequada-mente preparados. Kane afirmou, “Devemos fazer o nosso

melhor para enviar missionários plenamente qualificados.Qualquer outra coisa éinjusta para com as igrejas nacionais edesonra para o Senhor”.12

Quando me candidatei a uma sociedade missionária eu játinha um diploma em línguas clássicas e teologia. Completeitambém três anos de pós-graduação em educação eteologiacomo parte dos preparativos para a ordenação, e servi duran-te mais três anos como ministro-auxiliar numa igreja de Lon-dres. Após receber o meu pedido de admissão, a sociedademissionária me pediu que fizesseum cursode um ano de trei-namento transcultural ou missionário. Fiquei inicialmente sur-preso. Pensava que, como ministro ordenado, comvários anos

22 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

de estudos teológicos e experiência ministerial, eu não precisa-va voltar à sala de aula para me tornar missionário. Não po-dia estar mais errado e compreendi o meu erro tão logo inicieio curso. Percebi em breve quesabia muito pouco sobrea mis-são transcultural efiquei agradecido aos líderes da missão porme darem a oportunidade de preparar-me adequadamentepara o meu futuro ministério.

Se os missionários forem enviados sem preparativos ade-quados, as conseqüências podem ser desastrosas tanto paraeles mesmos, como para suas famílias e seus ministérios. O altograu de atrito entre missionários é uma prova disso. Muitossão enviados sem serem advertidos de antemão sobre as difi-culdades que talvez possam encontrar. Não sabem falar o idi-oma local. Têm pouco conhecimento da cultura e de comoagir. Experimentam as pressões do isolamento e da hostilida-de. Vêem pouca reação positiva ao seu ministério. Acham di-fícil adaptar-se ao clima. Sucumbem às moléstias locais. Adoença, afadiga eo desânimo tomam conta deles eeventual-mente voltam paracasa desalentados edesiludidos. Nos casospiores, passam o resto da vida como mutilados espirituais,condenados pelo seu próprio sentimento de fracasso.

As famílias dos missionários podem também sofrer desne-cessariamente durante o tempo em que passam no exterior,caso não recebam treinamento e orientação suficientes comantecipação. As mulheres não têm idéia de como édirigir umacasa ecriar uma família num país estrangeiro. Em muitos ca-sos, elas nunca saíram do seu país ou atéde sua própria cida-de. Quando chegam ao campo de serviço, tudo lhes pareceestranho e poucofamiliar. Não compreendem o que as pessoasestão dizendo. Não conseguem ler as placas de aviso nas estra-das ou as etiquetas nas lojas. Não ousam dirigir o carro commedo do estado das ruas ou do comportamento dos motoristaslocais. As mulheres que têm filhos pequenos nãoacham tempopara estudar o idioma. Antes de chegarem podem não ter tidocerteza de que queriam ser missionárias. Agora estão certasde que não querem!

A NECESSIDADE DEU~ IKLIINAMLIN tU 2.5

Um programa completo de treinamento transcultural nãoirá remover todos esses problemas, masajudará osmissionári-os esuas esposas a se prepararem e preverem o que virá emseguida. Em determinados casos, um período de treinamentopode resultar para alguns casais na desistência da idéia de se-rem missionários. Esta pode ser uma decisão muito importan-te se tiver ficado óbvio queos dois nãocompartilham o mesmosentimento de chamado, ou queum deles não está preparadopara suportar os estresses da vida missionária.

Os filhos dos candidatos amissionários são igualmente im-portantes. Atémesmo crianças pequenas podem serajudadasa prever a sua nova vida e preparar-se para a aventura à suafrente. Com as crianças maisvelhas é essencial que os seus sen-timentos e opiniões sejam considerados, no caso dos pais esta-rem pensando em se tornar missionários. A ida para outro paíse outra cultura significará mudanças enormes para esses jo-vens. Eles também precisam de orientação adequada.

Um grande número de famílias já sofreu por causa do pre-paro insuficiente para o serviço missionário; inúmeros casa-mentos terminaram em divórcio; muitas esposas tiveram umcolapso nervoso ou depressão; muitas crianças carregam ascicatrizes da amargura porque ninguém se importou com osseus sentimentos. O fardo da responsabilidade de prover pre-paro adequado cabe às igrejas eagências missionárias queosenviam.

As igrejas que os recebem também sofrem se osmissionári-os não forem adequadamente treinados para o ministériotranscultural. O líder de uma igreja africana me disse: “Essesmissionários não entendem a nossa cultura. Não estão interes-sados no que pensamos nemna maneira como fazemos as coi-sas. O que desejam ésimplesmente agir como era seu costumeem seu país”. Outro cristão africano disse quedesistira de fa-zer os missionários ouvirem as suas sugestões. “Eles têm assuas próprias idéias e nada do quefizermos ou dissermos iráfazê-los mudar de opinião”. A seguir passou a comentar as

24 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

inúmeras estratégias evangelísticas que estão invadindo aÁfrica, vindas do Ocidente. Eles descreveu-as como lixo evan-gélico tóxico (!) eafirmou: “Esses cristãos nãose interessam porcompreender a nossa cultura, mas vêm para nos ensinar aevangelizar o nosso povo!”

Tanto os missionários ocidentais como os não-ocidentaisprecisam desenvolver sensibilidade em relação às outras cultu-ras. Quando deixam de fazer isso, estão demonstrando a mes-ma atitude colonial que caracterizou alguns empreendimentosmissionários no passado. Quando impõem sobre outras pesso-as os seuspadrões de evangelismo e ordem da igreja são culpa-dos de imperialismo eclesiástico. Não são só os missionáriosque sofrem se não tiverem preparo adequado para o serviçotranscultural, mas também o povo a quem são enviados.

Notas1. Patrick Johnstone, Opera tion World (Grand Rapids, MI:

Zondervan, 1993), 25.

2. L. Keyes, The Last Age of Missions: A Study of Third WorldMissionary Societies (Pasadena, CA: William CareyLibrary, 1983) e Larry Pate. A Handbook of Two-ThirdsWorld Missions with Directory/Histories/Analysis (Mon-rovia, CA: MARC, 1989).

3. Sang Cheol Moon, “Who Are the Korean Missionaries?(1994)”, em The Pabalma (Seu!, Coréia: Korean ResearchInstitute for Missions, 1994), 1-8.

4. David Tai-Woong Lee, “A Missionary TrainingProgramme for University Students in South Korea”

(D.Miss. diss., Trinity Evangelical Divinity School, 1983).

5. “The Directory of the Nigeria Evangelical MissionsAssociation” (Ibadan, Nigéria, 1993).

A NECESSIDADE DE TREINAMENTO 25

6. Larry Pate, “The Changing Balance in Global Mission”,International Bulletin ofMissionary Research 15 no. 2: 56-61.

7. James Wong, Missions from the Third World (Cingapura:Church Growth Study Centre, 1973), 73.

8. Citado em Roger E. Hedlund, “Missionary Training in theIndian Context”, em Indigenous Missions in India, ed. R.E.Hedlund e F. Hrangkhuma (Madras, Índia: ChurchGrowth Research Center, 1980), 59-78.

9. Paul B. Long, “Discipling the Nations: Training Braziliansfor Intercultural Mission” (Ph.D. diss., Fuller TheologicalSeminary, School of World Mission, 1981).

10. Panya Baba, “Frontier Mission Personnel”, em Seeds ofPromise, ed. A. Starling (Pasadena, CA: William CareyLibrary, 1981), 119.

11. P.S. Thomas, “The Need for Missionary Trainingand Ge-neral Concerns” (documento apresentado no NationalConsultation for Missionary Training, Madras, Índia, 21-23 de setembro de 1992). Reproduzido com permissão.

12. J. Herbert Kane,A Concise History of the Christian WorldMission (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1983), 176.

2EXEMPLOS DO TERCEIRO MUNDO

Em resposta à crescente demanda de treinamento missionárioadequado, foram estabelecidos inúmeros programas comessafinalidade em todo o mundo. A edição revisada da WorldDirectory ofMissionary Training Centres (Lista Mundial dos

Centros de Treinamento Missionário) (1995) inclui 200 dessescentros, muitos dos quais começaram a funcionar nos últimos20 anos.1

Minhaesposa eeu visitamos e ensinamos em alguns dessescentros de treinamento na Ásia, África e América Latina. Fiztambém um estudo mais detalhado de seis desses centroscomo parte da minha tese de doutorado.2 O instrumento depesquisa usado por mim nesse trabalho se encontra no Apên-dice 1.

Neste capítulo vamos examinar como alguns desses centrosforam estabelecidos. Vamos estudar certos problemas que en-

frentaram e enfocar alguns dos elementos distintos dos seusprogramas.

28 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Calvary Ministries School of Missions, Nigeria (CalvaryMinistérios e Escola de Missões) (CMSM)O primeiro centro de treinamento missionário na África Oci-dental foi fundado em 1981 por ‘Bayo Famonure. O centrorecebeu o nome de Calvary Ministries School of Missions e ficasituado perto de Jos, na Nigéria.

‘Bayo Famonure serviu como secretário itinerante para aFellowship of Eva ngelical Students (Associação de Estudantes

Evangélicos) da Nigéria. Ele sempre se manteve ativamente

envolvido em evangelismo. Em certa ocasião foi apedrejadopor cantar músicas cristãs do lado de fora do palácio de umemir, no centro de uma cidade fortemente islâmica no norte daNigéria. Sua desculpa foi queera Natal eele estava celebrandoo nascimento do Salvador!

Em 1976 ele fundou os Calvary Ministries (CAPRO) pararecrutar, treinar eenviar missionários a vários grupos tribais.No ano seguinte fundou uma Escola de Treinamento deDiscipulado e cincoanos mais tarde ele esua mulher, Naomi,começaram a Escola de Missões comcinco alunos.

O objetivo do programa de treinamento é equipar homensemulheres para servir eficazmente na missão transcultural,com forteênfase no discipulado ena batalha espiritual. Os es-tudantes são preparados para fazer sacrifícios e até para mor-rer, na sua tentativa de levaro evangelho àquelesque nunca oouviram.3

O curso inicial teve uma duração de quatro meses, mas os

alunos se queixaram que era condensado demais e eles nãoconseguiam absorver tudo que aprendiam. O curso foi entãoprolongado para seis mesese depois para nove, sendo inteira-mente gratuito. Os estudantes faziam seus próprios tijolos,

construíam os prédios necessários, cultivavam sua própriahorta eoravam paraque Deus suprisse todo o dinheiro neces-sário.

Em 1985, ‘Bayo sentiu que devia mudar-se para o Estadodo Planalto, no centro do país, onde poderia provavelmente

EXEMPLOS DO TERCEIRO MUNDO 29

combinar, no mesmo local, a Escola de Treina mento deDiscipulado e a Escola de Missões. Animado com a promessade usar sete casas sem pagar aluguel, ele carregou um veículo

alugado com todos os pertences da escola e seguiu para a ci-

dade de Jos. Ao chegar, recebeu a notícia de que as casas nãoestavam mais disponíveis.

Algumas semanas mais tarde, ‘Bayo descobriu um velho

campo de mineração, abandonado pelos proprietários. Ele

procurou o GerenteGeral e perguntou se podia usar o terrenopara uma escola de treinamento de missionários. Explicou quenão podia pagar aluguel, mas seriam bons inquilinos, cuidan-do perfeitamente da propriedade! Surpreendentemente, o Ge-rente Geral concordou, sob a condição de que sairiam comtrêsmeses de aviso prévio quando necessário. Esse aviso nunca

chegou e a Escola de Missões continua ali há nove anos sempagar qualquer aluguel. Durante esse período de tempo, 200

nigerianos, homens e mulheres, foram treinados e enviados

como missionários.

‘Bayo éagora secretário executivo da Comissão de Evange-lismo e Missões da Associação Evangélica da África e, juntocom a esposa, está envolvido num programa de treinamentode líderes de muitos países africanos para estabelecerem pro-gramas de treinamento de missionários.

Nigeria Evangelical Missionary Institute (InstitutoMissionário Evangélico da Nigéria) (NEMI)O NEMI foi estabelecido como resultado da visão de BillO’ Donovan, missionário da SIM, que viu a necessidade detreinamento especializado para os missionários nigerianos.Enquanto ensinava numa escola bíblica, ele recebia convitesfreqüentes para falar aos grupos de alunos cristãos, especial-mente sobre o tema de missões. Conheceu então muitos cris-tãos nigerianos bem qualificados, com um forte sentimento deterem sido chamados por Deus como missionários. Eles nãosabiam onde fazer treinamento transcultural, a não ser na In-

30 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

glaterra ou nos Estados Unidos. O’Donovan entrou em conta-to com uma escola nigeriana denominacional que ofereciaesse tipo de treinamento, mas descobriu que a mesma não es-tava aceitando matrículas de estudantes de outras denomina-ções para os três anos seguintes. No final dos anos 70, váriasdenominações nigerianas e ministérios independentes já havi-am tomado consciência da necessidade de treina mento ade-quado para os seus próprios missionários. Em 1982, nove mis-sõesformaram aNigeria Evangelical Missions Alliance (NEMA).Doisanos depois, por sugestão de O’ Donovan, eles decidiramorganizar uma escola de treinamento para missionáriosnigerianos como uma joint venture. Uma força-tarefa foi for-mada para preparar os planos. Convidaram O’ Donovan paracoordenar essa força-tarefa e quando a faculdade veio a serfundada, ele teve seu nome indicado como primeiro diretor.

Os fundadores da NEMI tinham a firme intenção de ofere-cer treinamento missionário prático:

Opropósitoda NEMI éoferecer treinamento prático em habi-lidades de ministério transcultural às pessoas (especialmente

africanos) chamadas por Deus e dedicadas ao trabalho missio-

nário transcultural. O tremamento da NEMI nãotem comofinali-dadedar um diploma aos alunos, mas torná-los missionários decampo eficientes.4

Aescola abriu em 1986 e durante os três primeiros anos elaofereceu um curso de dois meses em facilidades alugadas deoutras instituições. Esperava-se queos alunos freqüentassemváriosdesses cursos,a fim de completarem o programa de trei-namento. Em 1989, a NEMI pôde oferecer um estudo de tempointegral com uma duração de 11 meses.

A NEMI atraiu inicialmente uma ampla variedade de can-didatos amissionários de toda aNigéria. Mais tarde, àmedidaque oslíderes das diversas agências missionárias e denomina-ções perceberam o valor do treinamento oferecido pela NEMI,

EXEMPLOS DO TERCEIRO MUNDO 31

eles estabeleceram seus próprios programas. Como resultado,

aNEMI mudou sua ênfase a fim de tornar-se mais um centrode recursos, produzindo livros didáticos e outros materiaisquepodem serusados por outras escolas africanas de treina-mento missionário.5

Africa Inland Church Missionary College, (FaculdadeMissionária da Igreja Local), Quênia (AICMC)Ao contrário da NEMI, esta faculdade missionária foi funda-da por uma denominação, a Africa Inland Church. A funda-ção da faculdade tornou-se possível pela generosa doação deum terreno de 28 acres, feita por um africano que foi fortemen-te influenciado pelo Reavivamento do Leste Africano. Mais dametade dos custos iniciais da construção (cerca de 250 mil dó-lares) foi pago por cristãos do Quênia. Tratava-se de um proje-

to em que a iniciativa, planejamento e sustento financeiro ini-cial vieram de cristãos da África. A Faculdade MissionáriaAIC foi construída por cristãos do Quênia que desejavam ver

seus missionários bem preparados para levar as Boas-novasaos que nunca tinham sido antes alcançados.6

O principal objetivo da faculdade, como afirmado em seu

prospecto, é:

...oferecertreinamento transcultural relevante e práticopara

homens e mulheres quesintam terem sido chamadospor Deuspara ira outras tribos enações, a fimde proclamar as Boas-novasda salvaçãoem Jesus Cristo ede modoa estabelecer igrejas cres-centes, nativas, semelhantes a Cristo, entreosgrupos de povosnão-alcançados. Os candidatos não devem aprenderapenas so-bre missões,mas também pôr em prática o ministériomissioná-rio.7

A Faculdade Missionária não é uma faculdade teológica.

Supõe-se que os alunos tenham completado estudos teológi-

cos, bíblicose pastorais antes de fazerem seu treinamento mis-

32 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

sionário em Eldoret. A faculdade não pretende oferecer estu-do teológico autorizado, mas sim treinamento vocacionalparaos missionários.

A segunda característica do treinamento oferecido nesta

faculdade é o fato de ser integral. O curso tem como objetivo

preparar acadêmica, prática e espiritualmente os alunos para

seu futuro ministério. Os estudantes não são apenas treinados

em evangelismo transcultural eimplantação de igrejas, comotambém aprendem umagrande variedade de habilidades bá-sicas e práticas, a fim de que possam enfrentar a vida numacultura diferente e/ou num ambiente remoto.

Uma terceira característica deste programa é oferecer trei-namento missionário baseado na família. O comitê dirigentedecidiu desde o início que cada candidato deveria fazer-se

acompanhar pela esposa efilhos. Não foram construídos dor-mitórios no campus. Os alojamentos oferecidos são exclusiva-

mente para famílias.8 Uma escola pré-maternal foi inaugura-

da bem perto do alojamento dos alunos. Enquanto os pais es-tudam, professores e assistentes qualificados cuidam e ensi-nam as crianças até sete anos.

A AICMC tem um conjunto grande e bonito com prédios e

locais de apoio bem construídos — casas para funcionários e

para os alunos, salas de aula, capela, berçário, salas de jogos,centro de conferências, etc. Ela possui umabiblioteca pequenamas bem servida de livros apropriados, periódicos, cassetes e

vIdeos. Trata-se de um centro de recursos valiosos para o trei-

namento de missões na África. É também custoso manter umcentro desse tipo e adiretoria da faculdade está incentivandoa igreja local a assumir maior responsabilidade financeira pelaescola, a fim de que não dependa tanto das doações estrangei-

ras.

Outreach Training Institute, Índia (OTI)O Outreach Training Institute é mais antigo do que qualquer

dos três centros africanos já descritos. Ele foi fundado em 1976

EXEMPLOS DO TERCEIRO MUNDO 33

pela Indian Evangelical Mission (Missão EvangélicaIndiana) empropriedade alugada em Nasik, Índia Central. Ela havia sidofundada onze meses antes como uma das missões indígenasde uma nova safra na Índia. O instituto cresceu rapidamentee, em 1994, já tinha mais de 400 missionários servindo em áre-as diferentes da Índia e em alguns outros países asiáticos.

Onúmero dos quedesejavam servir como missionários comasociedade continuou a aumentar. Tornou-se evidente que oscandidatos das faculdades eseminários bíblicos também preci-savam de treinamento missionário, caso desejassem tornar-seplantadores de igrejas eficientes em situações transculturais. Foitomada então a decisão de abrir um centro de treinamento mis-sionário como nome de The IndianMissionary Training Institute(Instituto de Treinamento Missionário Indiano).

Em 1981, o instituto mudou-se para uma região tribal emChikaldara. O local remoto deuaos alunos uma idéia de comoseria a vida missionária e ofereceuoportunidade para o traba-lho prático no campo. Em 1983, ele mudou de nome, passandoa chamar-se Outreach Training Institute.

Comoo número de candidatos a missionários continuou acrescer, os líderes da missão compreenderam que as facilida-des de treinamento existentes eram inadequadas. Chikaldaraficava também muito longe da sede da missão, dificultandodesse modo as visitas aos líderes das igrejas e vice-versa. Co-meçou então a procura de um local maior e mais apropriado.Em maio de 1990 o primeiro curso teve início numa proprie-dade nova, de 10 acres, numa aldeia em Tamil Nadu. O novocampus do OTI, que está quase pronto, destina-se ao treina-mento de até 60 candidatos a missionário. As facilidades sãoboas, mas simples. Têm o propósito de durar, mas não de dartanto conforto aos alunos a ponto de eles não quererem maissair! O centro fica situado numa área rural, onde osfuncioná-rios eos estudantes podem praticar o evangelismo entre a po-pulação hindu local. Ele fica a apenas 150 km de Bangalore,onde a missão tem sua sede.

34 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Os objetivos ea filosofia do OIT se assemelham bastante aosda NEMI e AICMC. OOutreach Training Institute não éum se-minário teológico regular nem uma escola bíblica. O treina-mento oferecido é um combinado de excelência acadêmica,crescimento espiritual eministério prático. A ênfase do treina-mento épreparar as pessoas para o ministério transcultural.9

A filosofia do OTI se reflete na escolha do seu pessoal enasexpectativas feitas em relação aos mesmos como treinadores.Os queensinam temas missiológicos devem ter tido pelo me-nos dois anos de experiência no ministério transcultural. Elesdevem continuar envolvidos no ministério evangelístico,a fimde darem um exemplovisível do que estão ensinando. Espera-se que demonstrem em sua vida pessoal e familiar um padrãode comportamento cristão que osalunos possam imitar. É tam-bém exigido que vivam no conjunto do OTI, que tomem algu-mas das suas refeições comos alunos eque se envolvam ativa-mente na vida da comunidade.

O alimento servido nas refeições comunitárias é simples,barato e quase sempre vegetariano. Só é servido frango umavez por semana. Carne nunca é servida para evitar ofender osvizinhos hindus e o cozinheiro. Os estudantes originários deambientes urbanos prósperos acham difícil aceitar a monoto-nia da alimentação. Não obstante, este é um preparo essencialpara o seu futuro ministério de evangelismo rural. Eles terão dedepender de um salário bem reduzido e talvez tenham de tra-balhar numa comunidade bastante pobre. Para amaioria des-ses candidatos é difícil aprender a viver com tamanha simpli-cidade, mas é um sacrifício que estão dispostos a fazer paralevar o evangelho aos que nunca o ouviram.

Outra característica distinta do treinamento oferecido peloOTI éque maridos e mulheres recebem o mesmo treinamento.É reconhecido que estarão envolvidos juntos no trabalho mis-sionário, que enfrentarão as mesmas questões ecrises, que te-rão de lutar com as mesmas dificuldades de comunicaçãotranscultural, e que vão estar envolvidos na mesma batalha

EXEMPLOS DO TERCEIRO MUNDO 35

espiritual. Em conseqüência, é considerado vital queambosestejam perfeitamente preparados para o que possa vir.

Yavatmal College for Leadership Training, (Faculdade deTreinamento para Liderança Yavatmal), Índia (YCLT)O OTI foi fundado por uma sociedade missionária, emboraaceite candidatos de outras sociedades. A YCLT, em contras-te, foi fundada por um grupo de denominações indianas eagências missionárias.Ela também resultou do reavivamentoquevarreu as igrejas indianas nos anos 60 eda explosão de ati-vidades missionárias que se seguiu.

Emjulho de 1983, várias denominações e líderes de missõesse reuniram em Yavatmal para considerar a possibilidade deformaruma faculdade de treinamento missionário que prepa-raria obreiros para o ministério transcultural etribal. Nos dozemeses que se seguiram, este grupo reuniu-se quatro vezes paratrabalhar nos detalhes da propriedade, currículo e formaçãode uma diretoria. Em julho de 1984, a YCLTpassou a existir.Ela deveria serchamada originalmente de Yavatmal College forMissionary Training, mas a palavra “Missionário” foi mudadapara “Liderança”, por ser considerada mais apropriada esen-sível ao contexto indiano.

A faculdade recém-formada pôde então mudar-se, e even-tualmente comprar o grande terreno deixado pelo UnionBiblical Seminary quando este transferiu-se para Pune. Já haviaum grande conjunto de prédios atraentes e bem construídosque eram suficientes para as necessidades imediatas da escolade treinamento e da escola para filhos de missionários abertana mesma época.

A YCLTéa maior faculdade de treinamento missionário naÍndia, com mais de 90 alunos que estão se preparando paratornar-se missionários. Ela possui várias características distin-tas. Primeiro, é uma faculdade interdenominacional. Novedenominações eagências diferentes estão representadas nasua diretoria. Vinte sociedades missionárias enviam seuscandidatos para serem treinados ali.

36 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Segundo, a escola oferece treinamentos missionários para-lelos em hindi einglês. A adoração é também bilíngüe. A bibli-oteca de seis mil livros possui volumes em inglês, hindi,gujarathi emarathi.

Terceiro, aYCLT éuma das primeiras faculdades de treina-mento a oferecer um diploma de bacharel em Missões. O dire-tor,Dr. Andrew Swamidos, está convencido de que “umbomtreinamento missionário deveser 100% acadêmico, 100% prá-tico e 100% preocupado como progresso da vida pessoal ees-piritual dos candidatos”. Ele está também convencido de queosmissionários devem ser o mais qualificado possível, tantoem vista do seu futuro ministério como da sua aceitação geralpelas igrejas indianas.

Asian Cross-CulturalTraining Institute (Instituto deTreinamento Transcultural Asiático), Cingapura (ACTI)O Asian Missionary TrainingInstitute, como originalmente cha-mado, foi fundado em 1985 pela Overseas MissionaryFellowship, em resposta às exigências das igrejas da Ásia paraaimplantação de um programa de treinamento transcultural.Cingapura foi escolhida como o local adequado ao instituto porcausa da localização estratégica, mistura multicultural e esta-bilidade política. Três anos mais tarde a OMFconvidou maisoito agências para se juntarem a um Quadro Diretor reconsti-tuído. Ao mesmo tempo, a palavra “Missionário” foi substitu-ída por “Transcultural” no nome do instituto, por ser reconhe-cido que o título original poderia causar dificuldades para osprofissionais cristãos que trabalhavam em países onde missio-nários não são aceitos.

O conceito de missão é relativamente novo no pensamentodas igrejas asiáticas. Só durante os últimos 20 anos é queumnúmero significativo de cristãos na Ásia reconheceu a sua res-ponsabilidade de cruzar os limites culturais e lingüísticos e le-var o evangelho aos que nunca haviam ouvido falar de JesusCristo e de plantar igrejas entre eles. O propósito expresso da

EXEMPLOS DO TERCEIRO MUNDO 37

ACTIé oferecer treinamento missionário para os cristãos asiá-ticos (e outros) num contextoasiático, e desenvolver perspec-tivas asiáticas criativas sobre missão.10

Titus Loong, ex-reitor do ACTI, afirma queos missionáriosasiáticos são em alguns aspectos muito diferentes de suacontraparte ocidental. Em primeiro lugar, eles podem ser cris-tãos da primeira geração, enquanto muitos missionários doOcidente procedem de lares cristãos ou, pelo menos, de paísescom tradições cristãs muito antigas.

Os missionários asiáticos podem ser muito bem apoiadoscom dinheiro e oração, mas não recebem o mesmo grau decuidado pastoral de suas igrejas que alguns missionários oci-dentais têm. Uma outra diferença éque uma alta porcenta-gem de missionários ocidentais tem o inglês como língua nati-va, enquanto os asiáticos precisam aprender inglês antes deentrarem para uma missão internacional ou se tornarem partede uma comunidade missionária mais ampla. Deste modo, osasiáticos são obrigados a enfrentar uma dose dupla de orienta-ção cultural. Nas palavras de Loong:

Os missionários asiáticosenfrentam hojeuma dificuldadeímpar. Temos de adaptar-nos adois idiomas eduas novas cultu-ras. Temos de estudara linguagem-alvo assim como o inglês eaprender aajustar-nos tanto àcultura localcomo também à “cul-tura missionária” queéem grandeparteocidental.11

Sendo uma comunidade internacional de cerca de 80% asi-áticos e20% ocidentais (os últimos sendo definidos como osque procedem de um ambiente cultural ocidental, e.g., norte-americanos, europeus ocidentais, australianos), a ACTI incen-tiva os candidatos a aprender das diferentes culturas de seuscolegas estudantes. O tamanho da comunidade é mantido pe-queno para simular a interação um-a-um e de grupo pequenoque é geralmente encontrada nas equipes missionárias. Os asi-áticos têm aoportunidade de habituar-se a tomar chá à tarde

38 MISSÕFS: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

ou comer bolo como garfo! Os do Ocidente desenvolvem suashabilidades para usar palitinhos eaprender as distinções sutisentre as diferentes cozinhas asiáticas.

Há na Índia uma grande diversidade de culturas. Uma li-cão importante que os candidatos asiáticos precisam aprenderé apenas como seus amigos asiáticos são diferentes! Maneirasde cumprimentar, de cozinhar, epadrões de oração são coisasque, embora triviais em si mesmas, podemlevaramal-entendi-dos eatritos. Embora osalunos estejam sendoainda treinados,eles desenvolvem a habilidade de apreciar culturas diferentese resolver os mal-entendidos.

É cada vez mais provável que osmissionários do futuro aca-bem trabalhando como membros de uma equipe internacio-nal. É lamentável que até mesmo quando os parceiros da mis-são são da mesma nacionalidade, eles acham difícil conviver,chegando às vezes ao ponto de não se falarem mais! Quandoos parceiros da missão são de vários ambientes culturais, au-mentam os problemas de convivência.

Os cristãos de um país asiático podem achar tão difícil tra-balhar com os de outro país asiático, como acham dificuldadeem trabalhar comos ocidentais. Eles podem até achar que seupaís émuito diferente de outros países da Ásia que têm poucoem comum comeles. Uma estudante japonesa confessou queprecisou valer-se do seu treinamento na ACTI para ajudá-la aentender que o Japão faz parte da Ásia! Portanto, uma dasprioridades deste programa édesenvolver a habilidade doscandidatos para apreciar e trabalhar com aqueles que vêm deambientes diferentes.

Global Ministry Training Centre (Centro Global deTreinamento Ministerial), Coréia (GMTC)O Centro Global de Treinamento Ministério da Coréia foi fun-dado em 1986 com o propósito de treinar missionáriostransculturais coreanos e desenvolver a pesquisa na missãotranscultural. Juntamente com várias outras instituições seme-

EXEMPLOS DO TERCEIRO MUNDO 39

lhantes fundadas na Coréia durante as duas últimas décadas,ele reflete a maturidade e vitalidade espiritual da igrejacoreana e o desejo dos cristãos coreanos de desempenharemum papel mais destacado na missão mundial.

Candidatos a missionários que treinam no GMTC são bemqualificados profissional eacademicamente. É necessário quetenham obtido pelo menosum determinado nível de educaçãoformal, enquanto os que vão serenvolvidos em evangelismo,plantação de igrejas ou ensino bíblico devem ter um diplomade B.Th (Bachelor of Theology), M.A (Master of Arts), ouM.Th. (Master of Theology). Segundo David Tai-Woong Lee,Diretor do GMTC, a maioria dos missionários coreanos vaiservir como pioneiros independentes ou como parceiros numaagência missionária internacional. Em ambos os casos, argu-menta ele, o treinamento abrangente é recomendável.’2

O GMTC busca oferecer treinamento para as duas catego-rias de missionários no contexto de uma comunidade homo-gênea, onde cada membro compartilha um alto nível de com-promisso coma missão mundial. Os alvos do treinamento ofe-recido são descritos abaixo:

Construir uma perspectiva sadia com respeito às missõestransculturais... aperfeiçoar as habilidades de sobrevivência,penetrar eministrar num ambientetranscultural... desenvolver adisciplina pessoal... aprimorar as habilidades ministeriais.’3

A Coréia tem uma tradição cultural antiga e rica, que sedesenvolveu através dos séculos, isolada de grande parte doresto do mundo. Isto torna difícil para oscristãos de outros pa-íses compreenderem seus irmãos e irmãs coreanos. Estaé umadas razões que dificultam o treinamento satisfatório dos can-didatos coreanos a missionários no Ocidente. A maioria dosprofessores ocidentais só possui uma noção limitada dacosmovisão e cultura coreanas e, por terem pouco ou nenhumconhecimento do idioma coreano, eles não têm as condições

40 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

necessárias para ajudar os estudantes coreanos quando estespassam por problemas emocionais ou espirituais maisgraves.

Ao mesmo tempo, a força e a diferença da cultura coreanatambém apresentam um problema para os missionárioscoreanos quando estes procuram ministrar em outras partesdo mundo. É algumas vezes complicado para eles reconheceros pontos positivos das outras culturas ese conscientizarem deque há outras maneiras de fazer as coisas além do estilocoreano tradicional. O missionário coreano enfrenta, portan-to, exatamente amesma tentação de impor asua cultura sobreoutros, como vem acontecendo com osmissionários ocidentaishá mais de 200 anos.

O problema se complica ainda mais com as enormes mu-danças ocorridas na cultura coreana durante este século. Asmudanças foram tão profundas, diz o Dr. Lee, que o coreanocomum não tem mais certeza de qual é realmente a culturacoreana.14 O candidato coreano a missionário tem um lequede opções. Ele pode rejeitar asua cultura tradicional eadotaroutra — a cultura dos missionários ocidentais ou a do povo aoqual serve. Isto talvez venha a minimizar a tensão entre ele eseus colegas ou os cristãos locais, mas resultará também numaperda significativa de sua identidade.

Pode também aferrar-se à sua cultura coreana a todo custo,criando uma barreira entre ele e outros e correndo o risco dotipo de imperialismo citado acima. Uma terceira opção é queocandidato a missionário coreano se torne bicultural, ou atétricultural. Na frase de Ted Ward, ele pode aprender a tornar-se “etno-radiante”, aceitando eapreciando a sua própria cul-tura e, ao mesmo tempo, compreendendo eapreciando a cul-tura de outros. Não é preciso querejeite a sua identidade cultu-ral.

De fato, há certos aspectos da identidade cultural, tal comoa cor do cabelo, que são difíceis de ocultar! Em vez disso, eleconsidera a cultura de outros com uma atitude de respeito e

EXEMPLOS DO TERCEIRO MUNDO 41

abertura para serenriquecido por ela. Ward descreve a etno-radiância nestes termos:

Este conceito reconhece realisticamente queo indivíduo seutiliza inevitavelmente da sua experiência como umaestrutu-ra inicial de referência para tudo; em última análise, a percep-cão é sempre produto das nossas experiências anteriores. Masnão é preciso permanecermos como o centro do universo. Defato, a beleza da libertação do etnocentrismo não está na rejei-ção da nossa realidade evalidade, mas na liberdade para reco-nhecer a realidade e validade de outros.15

Todos os missionários transculturais realmente enfrentamo desafio de aprender a apreciar e adaptar-se a outras cultu-ras: mas, devido à natureza fortemente monocultural da suasociedade, este problema parece serespecialmente agudo paraos coreanos. Um dos principais objetivos do GMTC é ajudarseus alunos adesenvolverem uma atitude de etno-radiância.

Outro aspecto surpreendente do programa de treinamentodo GMTC é a extensão em que aequipe se envolvena vidadacomunidade e vive perto dos estudantes. Eles adotam um esti-lo de vida simples eganham seu próprio sustento. Em vistados alunos e treinadores viverem juntos durante o curso detreinamento, há bastante oportunidade para os professoresdemonstrarem o que ensinam por meio da sua própria vida epersonalidade. Há também tempo para tratar em profundida-de de problemas que possam surgir no contexto de uma comu-nidade muito unida.

Quase todo o trabalho de manutenção é feito por aquelesqueestão sendo treinados, ou por voluntários que oferecemserviço sacrificial para sustentar o trabalho do centro. Acadamês édada a uma família de estudantes a responsabilidade deliderar a casa em que mora. Isto oferece a oportunidade dedesenvolver seus dons de liderança eaprender a tratar dosproblemas e conflitos que possam surgir.

O GMTC depende inteiramente das contribuições recebi-das dos cristãos coreanos. Somente 5% dos custos de operação

42 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

da faculdade são pagos pelos alunos. Para o restante das ne-cessidades financeiras, inclusive o salário da equipe, o GMTCsegue osprincípios de fé da missão. Aequipe e os estudantespedem em conjunto ao Senhor que supra todas as suas neces-sidades.

The Antioch Mission Training Course (Curso deTreinamento de Missão Antioquia), Brasil (AMTC)O número de missionários latino-americanos e agênciasmissionárias cresceu incrivelmente nos últimos 20 anos. Em1972, segundo Larry Pate, havia 61 sociedades missionáriasnacionais na América Latina, mas em 1988 o número chegoua superar 150. Durante este mesmo período, o número de mis-sionários aumentou cerca de 400%. Dois terços deles eram bra-sileiros.’6 Esses números indicam o rápido progresso do movi-mento missionário latino-americano e o importante papel de-sempenhado pela igreja brasileira nesse desenvolvimento.

Uma das primeiras agências missionárias a ser estabelecidafoi a Missão Antioquia. Ela foi fundada em 1975, quando doispastores tiveram uma visão da missão mundial enquanto ora-vam por um missionário brasileiro preso em Moçambique. AMissão Antioquia acha-se num campus de 18 acres, nãomuitodistante de uma das maiores cidadesdo mundo, São Paulo. Ocampus, chamado “Vale da Bênção”, consiste de um seminá-rio, um centro de treinamento missionário, um centro de con-ferências e os escritórios administrativos da missão. Sessentaalunos freqüentam o seminário, que oferece um diploma debacharel em Teologia (B.T.). Os que completaram o treinamen-to teológico no Valeda Bênção, ou em alguma outra faculda-de bíblica, podem participar do programa de treinamento mis-sionário, com a duração de 11 meses, inclusive trabalho nocampo. Há sempre 15 a 20 estudantes neste programa emqualquer época.

Ao contrário da maioria dos nigerianos ou indianos, queestão sendo treinados parao trabalho missionário em seu pró-

EXEMPLOS DO TERCEIRO MUNDU 43

prio país ou países adjacentes, osestudantes da Missão Antio-quia se preparam também para trabalhar em outros continen-tes. Muitos foram servir como missionários nas regiões de lín-gua portuguesa da África, alguns na Europa eoutros em dife-rentes partes da Ásia.

Uma das características do movimento missionário latino-americano em expansão é a sua visão global. Os líderes domovimento estão enviando missionários para os confins daterra. Eles compreendem que o manto da liderança naevangelização mundial, há tanto tempo carregado sobre osombros do Atlântico Norte, está caindo agora sobre os deles.Todavia, embora desejem alcançar o mundo inteiro, compre-endem que a maioria dos seus candidatos a missionário nãotem grande conhecimento de outras culturas. Assim sendo,umadas principais preocupações do Curso de Treinamento daMissão Antioquia é ajudar osjovens brasileiros a vencerem asua ingenuidade cultural.

Uma parte essencial do treinamento recebido é umaperma-nência de seis meses na Bolívia, ganhando experiência de vidae trabalho transcultural. Esteperíodo de tempo serve de testepara o aprimoramento de habilidades do ministério edá opor-tunidade para acentuar a sensibilidade cultural. Além disso,cada estudante participa de uma campanha evangelística deuma semana, para ganhar experiência na implantação de igre-jas.

A Missão Antioquia dá muita ênfase ao preparo espiritualde seus candidatos. Uma parte do Vale da Bênção éseparadapara oração e um sinal lembra os transeuntes queessa parte dovale é para “orar e não para namorar!” No centro do valeexiste uma Casa de Oração, com uma sala maior para a ora-ção em grupo e vários cubículos para aoração individual.

A missão sofreu ainfluência dos pietistas morávios eos alu-nos são encorajados a seguir o seu exemplode intercessão pelomundo. Uma corrente constante de oração é mantida durante24 horaspor dia e vigílias noite a dentro são um aspecto regu-

44 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

lar do programa de treinamento. Todos osmeses há um meiodia de oração e jejum e a cada dois meses é realizada umamanhã de oração em todo o campus às cinco horas.

O treinamento inclui cursos sobre batalha espiritual, exor-cismo e como evangelizar e discipular os que se envolveramno espiritismo. Muitos brasileiros são provenientes de um am-bienteespírita. Eles crêem na existênciade espíritos malignos emuitos viveram sempre em estado de medo ou opressão. Osqueensinam no Vale da Bênção estão familiarizados com asrealidades do encontro espiritual dinâmico,ebem qualificadospara preparar seusalunos a ministrarem nesta área.

É possível que seja necessário ensinar aos estudantes não sóas lições rudimentares da batalha espiritual, como tambémlivrá-los dos efeitos de envolvimentos anteriores em práticasespíritas. Outros podem exigir oração para a cura interior,enquanto refletem sobre as mágoas ou ira que trouxeram dopassado e queameaçam prejudicar seu testemunho e a eficá-cia do seu ministério. Alguns candidatos chegam a demons-trar estresse por causa das grandes expectativas que outrostêm a respeito deles. Os obreiros cristãos no Brasil têm de ser“bem-sucedidos” e a igreja continua crescendo a passos rápi-dos. Os que estão treinando para ser missionários precisamser incentivados a manter expectativas realistas a respeitode simesmos e a compreender queplantar igrejas pode não seras-sim tão fácil em outras partes do mundo.

Por viverem perto de São Paulo, uma das áreas urbanasmais densamente habitadas do mundo, os líderes da missãoconhecem osenormes problemas socioeconômico queconfron-tam osmoradores da cidade, ou das favelas que a cercam. Elesestão convencidos das implicações sociais do evangelho e deque a igreja é chamada para cuidar dos pobres, além de pre-gar o evangelho. Isto se reflete nas várias atividades em que aigreja está envolvida tanto em São Paulo como no Vale da Bên-ção. A missão possui um programa de lares de adoção eumministério para os idosos.

EXEMPLOS DO TERCEIRO MUNDO 45

ResumoExaminamos neste capítulo as circunstâncias que levaram àfundação de vários centros de treinamento em diferentes par-tes do mundo. Observamos como eles foram estabelecidos parasatisfazer a crescente demanda de treinamento missionárioem seu próprio país. Vimos também alguns dos desafios queconfrontaram os que estabeleceram cada um desses centros.

Nos capítulos seguintes veremos quais as liçõesque podemser extraídas da experiência desses centros, ecomo elas podemser aplicadas ao desenvolvimento de programas de treinamen-to no futuro.

Notas1. Raymond Windsor, ed., World Directory of Missionary

Training Centres, 2a. ed. (Pasadena, CA: William CareyLibrary, 1995).

2. C. David Harley, “A Comparative Study of IMTF-RelatedMissionary Training Centres in the Two-Thirds World”(D.Min.diss., Columbia International University, 1992).

3. ‘Bayo Famonure, Training to Die:A Manual on Discipleship(Jos, Nigéria: Capro Media Services, 1989).

4. “Nigeria Evangelical Missionary Institute” (folheto de pro-paganda) (Jos, Nigéria: Nigeria Evangelical MissionsAssociation, 1990).

5. Alguns dos livros publicados pelo NEMI são: AnIntroduction to Missions (1988); Cross-CulturalChristianity: A Textbook in Cross-Cultural Communication(1989); eA Daily Guidefor Language and Culture Learning(1990).

6. “Africa Inland Church Missionary College Prospectus”(Eldoret, Kenya: AIC Press), 1991.

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7. Ibid.,9.

8. Mulheres solteiras já estão sendo aceitas no programa.

9. “The Philosophy and Ethos of OTI Training” (Bangalore,India: Indian Evangelical Mission, n.d.), 2.

10. Titus Loong. “Training Missionaries in Asia: The AsianCross-Cultural Training Institute”, em InternationalisingMissionary Training: A Global Perspective, ed. William D.Taylor (Exeter, UK: Paternoster Press, 1991), 44.

11. Ibid.

12. David Tai Woong Lee, “Towards a Korean TrainingModel”, em Internationalising Missionary Training: A GlobalPerspective, ed. William D. Taylor (Exeter, UK: PaternosterPress, 1991), 70.

13. “Global Ministries StudyCentre” (publicity leaflet) (Seoul,Korea: Global Ministry Training Centre, 1991).

14. David Tai-Woong Lee, “Toward a Korean TrainingModel”, in Internationalising Missionary Training:A GlobalPerspective, ed. William D. Taylor (Exeter, UK: PaternosterPress, 1991). 72.

15. Ted W. Ward, Living Overseas: A Book of Preparations (NewYork, NY: Free Press, 1984), 257.

16. Larry Pate, “The Changing Balance in Global Mission”,International Bulletin of Missionary Research 15,no. 2:31.

3A NATUREZA DO TREINAMENTO

Ao iniciarmos um programa de treinamento missionário, de-terminados pontos-chave precisam ser levados em considera-ção. Quem deve ser treinado? Que tipo de treinamento seráoferecido? Onde será realizado o programa? Será ele um pro-grama residencial? Qual a sua duração? Ele será patrocinadopor umaúnica agência ou em colaboração com outras? Quemvai pô-lo em prática? Como será custeado? Estas perguntasserão consideradas nos dois capítulos seguintes.

Quem Deve Ser Treinado?É necessário definir primeiro o termo “missionário” porque adefinição causará impacto direto no programa de treinamen-to. Alguns diriam que todos os cristãos são missionários eestaé uma verdade bíblica. A palavra missionário significa “al-guém enviado” e todos os cristãos são enviados ao mundopara dar testemunho de Jesus Cristo. Mas, desde o século 160termo tem sido empregado mais especificamente aos que dei-xam seu país para transmitir transculturalmente o evangelho.

48 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Neste livro, vamos dar especial consideração ao treinamentode missionários transculturais.

O termo “missionário” é hoje mais comumente usado emrelação aos que trabalham vários anos com uma sociedademissionária. Eles esperam desempenhar o trabalho missioná-rio durante a maior parteda sua vida ativa. Pretendem passarmuitos anos no país ao qual são enviados, aprendendo alín-gua, esforçando-se ao máximo para compreender a cultura eidentificar-se com o povo.

O termo éàs vezes usado para aqueles que viajam para umoutro país como profissionais cristãos e trabalham ali comofuncionários do governo ou de uma firma ou instituição, emvista de suas habilidades equalificações profissionais. Essaspessoas não são pagas por uma sociedade missionária, masseu objetivo específico é trabalhar coma igreja local e dedicar-se ao evangelismo em suas horas livres. Eles muitas vezes ob-têm visto paraentrar em países fechados para os missionáriosde tempo integral, e podem fazer contato com segmentos dacomunidade que outros obreiros cristãos talvez nunca possamalcançar. No decorrer dos séculos esses profissionais cristãos,ou fazedores de tendas, como são por vezes chamados, contri-buíram grandemente para o crescimento da Igreja.

Milhares de profissionais cristãos de várias nacionalidadestêm hojea oportunidade de trabalhar em países estrangeiros.Eles têm oportunidades evangelísticas únicas epodem ser umverdadeiro incentivo para os cristãos locais. Necessitam, noentanto, de orientação e treinamento apropriados para empre-gar todo o seu potencial.

O termo “missionário” pode ser igualmente aplicado paraos envolvidos em trabalho transcultural durante um curtoperíodo de tempo — qualquer espaço de tempo que vá de duassemanas a dois anos. Tem havido um aumento enorme demissionários a curto prazo nos últimos anos. Organizaçõescomo a Operation Mobilization (Operação Mobilização) eYouthWith a Mission (Jovens com uma Missão) têm aberto novas

A NATUREZA DO TREINAMENTO 49

oportunidades de serviço cristão para jovens em todo o mun-do. Sociedades missionárias tradicionais prepararam seuspró-prios programas de trabalho a curto prazo, e muitas igrejasincentivam seus membros mais jovens apassar algum tempono serviço cristão em outro país. O serviço acurto prazo resul-ta em grandes benefícios. Ele capacita osenvolvidos a verem aIgreja em outra parte do mundo. Alarga os seus horizontes edesafia asua fé. Pode dar a eles mais confiança no testemunhocristão e levá-los a oferecer-se para serviçode tempo integral.Todavia, sem o treinamento e preparo adequados, esse traba-lho pode resultar em frustração edesilusão.

Nem todos os missionários são obrigados a ir para outropaís. Alguns permanecem na sua própria terra, mas traba-lham entrepessoas cujo idioma e cultura são diferentes dosseus. AÍndia, por exemplo, tem uma multiplicidade de cultu-rase grupos étnicos. Pesquisas antropológicas recentes reve-lam nada menos de 4.635 grupos étnicos no subcontinente.Muitos indianos, especialmente do sul edo nordeste da Índia,foram enviados para levaro evangelho a váriosgrupos hindusetribais da Índia central edo norte. Eles estão servindo comomissionários transculturais em seu próprio país.

É necessário que cada centro de treinamento decida quemestá tentando treinar — missionários de carreira, profissionaiscristãos ou obreiros a curto prazo. A All Nations ChristianCollege foi fundada especificamente para treinar profissionaiscristãos que tenham condições de afastar-se um ou dois anosda sua profissão. Nas férias, cursos de duas semanas são tam-bémarranjados comorganizações queestão enviando obreirosa curto prazo.

Que Tipo de Treinamento?Um segundo ponto que precisa ser decidido é a natureza dotreinamento que vai ser feito. Será útil lembrar aqui os regula-mentos de alguns centros de treinamento que consideramosno capítulo anterior.

50 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Nosso propósito é fornecertreinamento prático em habilida-des transculturais de ministério para pessoaschamadas porDeus e dedicadas ao trabalho missionário transcultural. Nossotreinamento não édirecionado no sentidode conferirdiplomasaosestudantes, massim para torná-los eficientes como missio-nários de campo.1

O principal objetivo da nossa escola éoferecer treinamentotranscultural relevante e prático parahomens emulheres quesintam terem sido chamadospor Deuspara ira outras trÍbos enações, a fim de proclamar as Boas-novas da salvação em JesusCristo ede modo aestabelecer igrejas crescentes,nativas,seme-lhantes a Cristo, entreos gruposde povos não-alcançados.Oscandidatos nãodevem aprender apenassobremissões,mas tam-bémpôrem práticao ministériomissionário.2

O Outreach Training Institute nãoéum Seminário Teológicoregular nem umaEscola da Bíblia. O treinamento dado éumaintegraçãode excelência acadêmica, crescimento espiritual eministério prático. Aênfase do tremamento épreparar as pessoaspara o ministério transcultural.3

Esses centros estão oferecendo treinamento prático em ha-bilidades transculturais de ministério. Não se tratade faculda-des bíblicas ou seminários teológicos, nem o seu propósito écompetir com tais instituições. Muitos supõem que osestudan-tes completam seus estudos teológicos ebíblicos antes de pro-curarem o treinamento missionário. Esses centros não estãobuscando fornecer estudo teológicoacadêmico oficial; seu in-tento é o treinamento vocacional para missões. O treinamentonão tem como finalidade fornecer um diploma reconhecido;mas, sim, preparar missionários de campo eficientes.4 Osformandos não devem apenas aprender sobre missões, elesdevem poder levaras pessoas a Jesus Cristo e plantar igrejas.

Isto não significa que os que oferecem esses programas detreinamento nãose interessam pelos padrões acadêmicos. OOTI fala de “integração de excelência acadêmica, crescimento

A NATUREZA DO TREINAMENTO 51

espiritual e ministério prático”. Esses centros se preocupamcom padrões acadêmicos elevados e muitos de seus professorestêm boas qualificações. Todavia, eles não se preocupam ape-nas com o conhecimento acadêmico, mas se interessam tam-bém pelo crescimento espiritual de seusalunos epela aquisiçãode habilidades ministeriais.

Segundo, esses centros estão buscando oferecer treinamen-to relevante para os alunos e para o futuro ministério deles.Tudo que éincluído no programa deve ter relação direta coma tarefa da comunicação transcultural do evangelho. É possí-vel preencher um programa de treinamento com todo tipo deassuntos interessantes ensinados em outro lugar e supor queserão relevantes. O problema éque talvez não sejam. Um cur-so sobre racionalismo eexistencialismo ajudará os cristãos oci-dentais a entenderem a sua própria cultura, mas não é tão re-levante assim para os cristãos nigerianos que estejam traba-lhando entre grupos tribais iletrados numa região remota daÁfrica Ocidental.

Os centros podem adaptar o conteúdo do currículo ao seucontexto cultural de várias formas: primeiro, preparando ocurso localmente; segundo, envolvendo representantes daigreja nacional elíderes de missões no planejamento do currí-culo; terceiro, permitindo quea agenda para o currículo sejapreparada de acordo com o contexto; quarto, pedindo conse-ihos apessoas que estejam presentemente envolvidas em mis-sões; e quinto, usando manuais escritos localmente ou escre-vendo-os, quando não houver literatura disponível.

Terceiro, esses centros têm como finalidade oferecer treina-mento integral. Eles nãoquerem treinar missiólogos de escritó-rio, masevangelistas e obreiros transculturais da igreja. Assimsendo, cada um desses centros dá grande ênfase ao treina-mento do indivíduo total. Eles estão preocupados com o apri-moramento do caráter e da vida espiritual do aluno. Ficamtão atentos às habilidades interpessoais de relacionamento dosalunos quanto às suas realizações acadêmicas.

52 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Cada centro de treinamento deve decidir o equilíbrio e aênfase do seu programa. Quanto tempo deve serconcedido àaquisição de conhecimento bíblico? Quanto tempo será dadoao treinamento prático e àaquisição de habilidades de minis-tério? Que prioridade deve ser dada ao crescimento espirituale ao desenvolvimento pessoal?

Qual a Duração do Curso?De que tamanho éum pedaço de barbante? É insensato reco-mendar um tamanho padrão para um curso de treinamento,por existirem inúmeras variáveis. A duração dependerá doaspecto financeiro, da disponibibidade de facilidades e pessoal,do conhecimento e experiência anteriores dos estudantes, dacapacidade e maturidade dos alunos, da natureza do seu fu-turo ministério e do tempo em que pretendem prestar serviço.

Um curso de duas semanas épreferível a nenhum treina-mento. Muitas agênciasmissionárias começaram fazendocur-sos de orientação rápidos, de poucas semanas, e gradualmen-te os estenderam. Em alguns casosuma sériede cursos foi ofe-recida em períodos de férias consecutivos e esperava-se que oscandidatos participassem de váriosdeles para completar o seutreinamento. Esteprocesso significava que seriam necessáriosvários anos antes que alguns missionários estivessem prepara-dos para iniciar seu trabalho.

Alguns centros de treinamento começaram oferecendo cur-sos que duravam de três a quatro meses, mas mesmo isto foiconsiderado insuficiente. A Calvary Ministries School ofMissions verificou que alguns meses nãobastavam. O curso foiestendido primeiro para seis meses e depois para nove. Ummodelo de desenvolvimento similar pode servisto em muitosoutros programas de treinamento. Alguns chegaram aesten-der seu curso para dois anos, ou até um programa graduadode três anos. Nos centros de treinamento que visitei, há umconsenso geral de que o curso de treinamento mínimo paraummissionário de carreira deve serde seis a dez meses.

A NATUREZA DO TREINAMENTO 53

O curso básico na All Nations tem aduração de dois anos.Ele inclui estudos bíblicos e teológicos,assim como treinamen-to missiológico e prático. Não se supõe que osalunos tenhamtido qualquer educação teológica formal. Os que já tiverampodem optar por um curso intensivo de um ano. Alunos nãosão geralmente aceitos por menos de um ano. O candidato amissionário precisa aprender muito mais do que a maioria daspessoas pensa!

David Tai-Woong Lee oferece umaperspectiva interessantesobre o treinamento missionário na Ásia. Ele sugere que osmissionários asiáticos que vão trabalhar sozinhos noevangelismo pioneiro precisam de menos treinamento do queos que vão juntar-se a uma missão internacional. Ele argu-menta que estes últimos precisam de mais treinamento emcompreensão cultural para que possam conviver com seuscompanheiros missionários (geralmente ocidentais)!

Deve Ser Residencial?Há vantagens e desvantagens no treinamento residencial evamos considerar isso antes de examinarmos modelos alter-nativos de treinamento.

Uma das principais vantagens do treinamento residencial équeele dá ao candidato a missionário a oportunidade de umperíodo intensivo de preparo longe das preocupações e distra-ções da vida diária. Do mesmo modo queMoisés durante assuas peregrinações ou Paulo no deserto da Síria, oscandidatostêm tempo para refletir epreparar-se para o seu futuro traba-lho. Num centro residencial há recursos tais como livros, revis-tas, fitase vIdeos relativos à missão, que podem não estar dis-poníveis numa igreja local. A equipe de treinadores ofereceuma grande variedade de modelos para os alunosem seu estilode vida e de ensino e podem transmitir seu conhecimento ehabilidades nos contextos formais einformais.

Haverá também o estímulo de outros alunos cujo ambientefamiliar, cultura ou cosmovisão forem diferentes do seu. Os

54 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

estudantes aprenderão que outros têm um modo diferente defazer as coisas. Eles podem descobrir, como aconteceu comalguns estudantes indianos, queas pessoas de outras partesda Índia cozinham o arroz de forma diferente e que algunsindianos preferem chapattis a arroz ou não comem arroz demodo algum. A suposição deles de que só existe um meio defazer as coisas irá desmoronar; seus preconceitos serão desafi-ados! É possível que surjam conflitos por causa da sua inge-nuidade cultural, mas isso pode representar lições valiosaspara o futuro.

Um programa de treinamento residencial pode simular atécerto ponto as pressões da vida missionária ea disciplina queessa vida exigirá. Sermissionário envolve sacrifício e oscandi-datos precisam preparar-se mental e espiritualmente para oqueos espera. Se não puderem suportar o estilo de vida queserá requerido deles, é melhor que descubram isso enquantoestão ainda treinando, em vez de fazê-lo um ano mais tardedepois quetiverem viajado milhares de quilômetros aum custoconsiderável para si mesmos e seus patrocinadores. O treina-mento residencial fornece aos prováveis missionários aopor-tunidade de auto-avaliação e de decidirem se a vidamissionária é para eles.

No contexto de umacomunidade cristã amorosa, osfuturosmissionários podem trabalhar os problemas pessoais queacha-ram penoso enfrentar antes. Eles podem ter tido experiênciasno passado queprejudicaram o seu crescimento espiritual oua sua capacidade de relacionar-se com outros. Antes de en-frentarem as consideráveis pressões do serviço missionário,um período de preparação em um curso residencial pode pro-ver a oportunidade que precisam para falar sobre essas expe-riências ebuscar a cura e a força divina para o futuro.

Na escola All Nations vimosmuitos estudantes melhorarema sua autopercepção e se tornarem mais aptos como pessoas.Eles enfrentaram coisas que tinham medo de enfrentar antes.Resolveram relacionamentos que haviam ficado parados du-

A NATUREZA DO TREINAMENTO 55

rante anos. [ornaram-se mais sensíveis às fraquezas de seucarátere isso, por sua vez, ostornou maishumildes e maiscon-fiantes em Deus.

O treinamento residencial oferece à equipe uma oportuni-dade para avaliar se o candidato a missionário é adequado ounão paraservir. Os membros da equipe podem verificar comoosalunos vivem em relação aoutros e a julgar apossibilidadedeles trabalharem em conjunto. Elespodem observar se os alu-nos são perseverantes nas situações difíceis, se têm senso dehumor e como reagem ao terem de fazeras tarefas domésticasquefazem parteda vida comunitária. Podem notar sua atitudecom respeito à autoridade ecomo resolvem um conflito deopiniões. Há mais a seravaliado nos candidatos amissionáriodo quese eles sabem pregar um sermão eloqüente.

O programa de treinamento residencial tem vantagens dis-tintas. Muitos líderes e treinadores experimentados de mis-sões, em todo o mundo, afirmariam que um período significa-tivo passado numa residência comunitária é o meio mais efi-caz de preparar os futuros missionários. Todavia, há tambémalgumas desvantagens no treinamento residencial.

Uma das mais óbvias é o custo. É bastante dispendiosoconstruir emanter um centro residencial. Muitas denomina-ções, ou agências missionárias, podem não ter capital para in-vestir em tal projeto. Inúmeros estudantes talvez não possam

pagar as mensalidades durante os muitos meses ou anos detreinamento residencial. É bem provável que os tesoureiros daigreja se queixem de que o programa é caro demais e sua igre-ja não conseguirá pagar a conta.

Oprograma residencial também tira os alunos do ambienteem que estão trabalhando e testemunhando. Eles podem co-meçar a perder contato com sua igreja e com os amigos queiriam orar esustentá-los quando saíssem para o trabalho mis-sionário. Eles podem igualmente ficar isolados do mundo realese afastarem dos não-cristãos. Podem aprender muitas teori-

56 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

as novas, mas pode faltar-lhes oportunidade para pô-las emprática.

Terão acessoa mais livros, massua fé talvez venha a tornar-se intelectual esua vida espiritual comecea secar. Alguns des-cobrem que seu zelo evangelístico diminuiu durante o treina-mento, embora estejam sendo treinados em evangelismo!

Uma comunidade residencial pode serum contexto mara-vilhoso para o preparo missionário se for caracterizada porum espírito de amor cristão, mas esse tipo de atmosfera nãoacontece automaticamente. Ele tem de ser incentivado eculti-vado. Se a seleção de candidatos não for cuidadosamente feitae alguns alunos inconvenientes ou pouco dedicados foremaceitos, isso pode pôr a perder todo o ambiente da comunida-de.

Um centro residencial só pode aceitar um determinadonúmero de alunos de cada vez. Muitos dos novos centros detreinamento ao redor do mundo só podemcuidar de 15 ou 20alunos por vez. Este é um limite grave em países como aCoréia, onde centenasse oferecem para servir eficam esperan-do para ser treinados.

Como é evidente, nem todospodem ser treinados num pro-grama residencial e, para os que vão trabalhar como fazedoresde tendas ou profissionais cristãos, pode não ser possível afas-tar-se um anodo seu trabalho. Programas alternativos de trei-namento foram preparados para oferecer uma variedade deopções para o treinamento missionário. Estas opções incluemcursos noturnos, cursos de extensão e seminários residenciaisde curta duração.

O Global Professionals Training Institute na Coréia desenvol-veu um modelo de educação missionária por extensão. Os pro-fessores estão especialmente interessados em preparar osquetêm trabalhos seculares a usar suas qualificações profissionaise habilidades ocupacionais como fazedores de tendas paracriar áreas de acesso. Elesoferecem um programa intensivo deum ano, na forma de cursos de fim de semana, enfocando os

A NATUREZA DO TREINAMENTO 57

diferentes aspectos do ministério transcultural comofazedores de tendas. O programa inclui palestras, tarefas,aconselhamento e relatórios semanais. Os estudantes passampor um período de treinamento no campo, que permite queponham em prática a teoria aprendida. Espera-se que com-pletem vários cursos de correspondência através da FaculdadeBíblica de Seul, a fim de ajudá-los a compreender einterpretarcorretamente as Escrituras. Em último lugar, um período cur-to de vida comunitária é oferecido como propósito de desen-volver habilidades de relacionamento ecrescimento pessoal.5

Algumas igrejas estabeleceram seu próprio programa detreinamento missionário e, num capítulo posterior, vamoscon-siderar o papel que todas as igrejas devem desempenhar notreinamento de missionários. As igrejas que possuem umaequipe de liderança grande ebem qualificada podem fornecerum fundamento bíblico e teológicosólido para os candidatos amissionário. Conforme asua localização, elas podem oferecertambém ensejo para o desenvolvimento de habilidades de mi-nistério e para o testemunho transcultural.

Outra possibilidade é oferecer um tipo de comunhão em queos membros tenham conhecimento dos pontos fortes e fracosuns dos outros eonde as falhas pessoais sejam apontadas comamor. Podem ter igualmente a qualidade de cuidado pastoralonde as mágoas do passado venham a ser curadas e osindiví-duospreparados para os desafios espirituais que os aguardam.Todavia, poucas igrejas podem proporcionar o nível de com-preensão ou experiência na missão transcultural encontradona equipe de um centro residencial.

Em meio às ocupações do trabalho secular eà agitação davida normal da igreja, é também difícil encontrar tempo parareflexão e auto-avaliação, coisas essas de enorme importânciapara os que estão prestes a iniciar um novo estilo de vida. Osque preparam programas de treinamento na igreja terão decompensar essas falhas, pedindo ajuda a missionários experi-mentados etreinadores de missões, e oferecendo períodos de

58 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

retiro espiritual para os que se preparam para o serviço mis-sionário.

Outro modelo de treinamento éoferecido por grupos comoo Operation Mobilization e Youth With a Mission, onde um pe-queno espaço de tempo na sala de aula écompensado por umlongo ministério prático. Este padrão de treinamento pode serdescrito como baseado no campo em vez de baseado na sala deaula. Os alunos da OM da Índia passam dois mesesna sala deaula e dez meses no campo, a fim de adquirir experiência prá-tica.

A diretoria da OM reconhece o valor do aprendizado naclasse, mas quer que seus alunos aprendam fazendo em vezde ouvindo. Por exemplo, espera-se que os estudantes nãoaprendam sobre o islamismo mediante uma sériede preleções,mas durante uma série de encontros com muçulmanos. Elesdevem descobrir por si mesmos em que os muçulmanos acre-ditam, o queacham difícil aceitar na fé cristãe quais osmelho-res meios de explicar o evangelho a eles.Os estudantes devemdepois analisar e registrar suas descobertas.

Do mesmo modo, os participantes da OM aprendem sobreos desafios do trabalho entre os desprivilegiados urbanosme-diante visitas a cortiços e favelas, e ganhando experiênciaatravés meio do trabalho entre eles e não através de uma sériede palestras ou vIdeos. Elescomeçam a entender assim os pro-blemas do centro da cidade e os métodos de ajuda possíveis.Os alunos aprendem fazendo. A ênfase do seu treinamento éna experiência e não na teoria.

O treinamento da OM éacentuado por uma liderança bemestruturada. Cada líder éresponsável por uma pequena equi-pe. Ele ou ela trabalha ao lado dos alunos, estabelece um exem-plo aser seguido por eles, monitora o seu progresso, facilita oseu aprendizado eincentiva seu crescimento espiritual. Istopode ser comparado, de muitas formas, ao discipulado dosDoze por Jesus.

A NATUREZA DO TREINAMENTO 59

Todo sistema de treinamento tem seus defeitos. No modeloda OM, os estudantes têm relativamente pouco tempo paraestudo ou reflexão em particular, por estarem geralmente can-sados no fim do dia. Eles não têm fácil acesso a recursos taiscomo bibliotecas durante osdez meses de ministério. Podemter apenas um líder como modelo, pastor e figura de autorida-de. Além disso, sua imersão súbita numa área rural remota oufavela da cidade pode levá-los a situações para as quais não seacham ainda adequadamente preparados. Todavia, é certodizerque centenas de homens emulheres que estão atualmen-te servindo como evangelistas, missionários e pastores na Ín-dia, receberam seu primeiro treinamento em evangelismo comaOM.

Notas1. “Nigeria EvangelicalMissionary Institute” (folhetopubli-

citário) (Jos, Nigéria: Nigeria Evangelical MissionsAssociation, 1990), 3.

2. “Africa Inland Church Missionary College Prospectus”(Eldoret, Kenya: AIC Press, 1991), 9.

3. “The Philosophy and Ethos of OTI Training” (Bangalore,India: Indian Evangelical Mission, n.d.), 2.

4. Algumas escolasde treinamento estão procurando combi-nar o treinamento prático com o oferecimento de um di-ploma reconhecido. Veja em “Yavatmal College forLeadership Training” no Capítulo 2.

5. “Global Professionals Training Institute”, Training 94, no.2:4.

4O COMEÇO

A sala de aula não passava de uma velha garagem. Os dormi-tórios, duas cabanas diminutas de barro. A biblioteca era umaposento pequeno com alguns livros. O refeitóriocomunitárioea cozinha tinham de ser partilhados com afamília do diretorda missão. Quando comparei este centro de treinamento ruralcom os importantes seminários que visitei no Ocidente, tiveuma impressão de pobreza erusticidade. Os prédios teriamsido condenados como impróprios esubstituidos se estivessemem algum campus europeu ou norte-americano enão no cen-tro da Nigéria.

A seguir, observei as pessoas que trabalhavam ali esua de-dicação a Cristo. Pensei nos estudantes que estavam sendopreparados para o serviço missionário e no alto padrão detreinamento que recebiam. Lembrei-me de líderes cristãos quevieram de outras regiões da África paraserem treinados, afimde poderem voltar para casa e treinar seu próprio povo paraservir em missões transculturais. Só então compreendi queaquele centro de treinamento rudimentar estava contribuindo

62 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

significativamente para aevangelização de todo o continenteafricano.

Escolha do Lugar CertoO custo do estabelecimento de um programa de treinamentomissionário não precisa serexorbitante. Alguns, como este naNigéria, começaram quase do nada. Outros tiveram início emsalões da igreja ou numa casa vazia, emprestada por um ami-go. Outros ainda alugaram prédios de escolas ou faculdadesfechados durante as férias. E ainda outros, como o AICMC noQuênia, puderam construir um conjunto de prédios com essepropósito.

Em muitos casos não há possibilidade de escolha quanto àlocalização do programa de treinamento. Pode haver apenasum local considerado conveniente. Pode haver um só prédioou terreno disponível. Todavia, se a diretoria ou autoridadeoficial nãoescolheu ainda alocalização, existem vários fatorespara guiar a sua decisão.

Os que estão sendo preparados para o evangelismo ruralpioneiro, acharão preferível um ambiente rural. Os estudantesaprenderão a se adaptar a um estilo de vida mais simples, vi-vendo sem as muitas amenidades disponíveis numa cidade.Eles poderão visitar as aldeias próximas, familiarizar-se comavida rural, observar os problemas das comunidades rurais epraticar seus dons de evangelismo eensino.

As vantagens naturais de um cenário ruralpodem ser tam-bém vistas como desvantagens. As facilidades são em menornúmero e menos confiáveis e leva mais tempo para fazer ascoisas. Talvez nãohaja eletricidade ou elaseja intermitente, oua energia não é suficientemente forte para fazer funcionaruma fotocopiadora. Será também necessário mais tempo paralevar suprimentos até um lugar remoto ou para obter cuida-dos médicos. Os alunos não terão fácil acesso a determinadosrecursos, tais como uma biblioteca. Os preletores convidadospodem ficar hesitantes ou não ter condições de viajar durante

O COMEÇO 63

muitas horas em estradas esburacadas para ensinar num lu-gar assim tão distante.

A localização urbana tem vantagens distintas para os quevão trabalhar nas cidades. Os estudantes têm ocasião de ob-servar os enormes problemas sociais da urbanização rápida econhecer osdiferentes ministérios evangelísticos e sociais dasvárias denominações e agências.

No caso da AICM no Quênia, a doação de um terreno emEldoret possibilitou aos estudantes fácil acesso a recursos dequalidade ea diversos ministérios. Eldoret se desenvolveucomo um centro educacional-chave comum instituto técnico,uma escola politécnica euma universidade. Isto proporcionaacesso a uma boa biblioteca e a uma ampla variedade depreletores visitantes nos arredores da faculdade. A cidadepossui também comunidades muçulmanas, hindus esikhs debom tamanho, de modo que os alunos têm aoportunidade deenvolver-se no ministério urbano e evangelismo entre os queprofessam outras crenças. Além disso, há vários grupos não-alcançados nas áreas rurais a cerca de 10 km de distância dacidade, onde os estudantes podem ganhar experiência emevangelismo pioneiro na zona rural.

Há também desvantagens na localização de um centro detreinamento missionário numa cidade ou metrópole. Os alu-nos descobrirão aexistência de muitas coisas para distraí-losdo seu treinamento, algumas legítimas e outras menos desejá-veis! Pode ser maisdifícil manter um forte senso de comunida-de no programa de treinamento, especialmente se alguns dosestudantes e membros da equipe casados forem obrigados amorar longe do campus. Além do mais, o preço do aluguel oude compra de uma propriedade pode ser inacessível. Esta foi aexperiência do ACTI em Cingapura. Eles tiveram de mudar-sevárias vezes em poucos anos na tentativa de encontrar a pro-priedade certa com um aluguel adequado.

Se é esperado que alunos de uma área ampla e de diferen-tes países se matriculem para ser treinados, ou se o uso cons-

64 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

tante de preletores visitantes for previsto, a facilidade de aces-so se torna um fator importante. Pode ser desejável localizar ocentro de treinamento perto de uma estação de trens ou deum aeroporto importante.

A escolha do lugar certo para um programa de treinamen-to missionário é da máxima importância. Os que estão estabe-lecendo um centro precisam evitar a tentação de aceitar o pri-meiro prédio ou terreno que lhes foroferecido. Eles precisampesar cuidadosamente as questões de custo inicial, manuten-ção,acesso a recursos e facilidades para viajar. Acima de tudo,devem perguntar qual o ambiente mais adequado para prepa-rar seus candidatos a missionário para o seu futuro ministériotranscultural.

Colaborar ou Ser IndependenteUma decisão importante é determinar se o programa de trei-namento será realizado em colaboração ou será uma emprei-tada independente. Elevai ser financiado e dirigido por umaúnica denominação ou missão, ou por um grupo de igrejas eagências?

As grandes denominações são capazes de executar seuspróprios programas de treinamento e geralmente preferemfazê-lo, controlando assim os regulamentos e decisões orça-mentárias. Elas podem preparar o curso de acordo com assuas necessidades eassegurar que seus alunos aprendam sobreahistória, práticas edoutrina da denominação antes de seremenviados como missionários. As igrejas estão no geral maisdispostas a financiar a sua própria faculdade esustentar osmissionários treinados por ela, os quais são enviados com asociedade denominacional.

A Faculdade Missionária de Eldoret no Quênia foiestabelecida pela Africa Inland Church para treinar seus pró-prios candidatos a missionário. A declaração doutrinária dafaculdade reflete naturalmente a posição da Africa InlandChurch. Alunos de outras denominações são bem aceitos.

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Vários pastores da Igreja da Província do Quênia (anglicana)estudaram ali. Eles apreciaram as facilidades da faculdade e otreinamento recebido, embora estivessem apar das diferençasdoutrinárias.

Algumas missões interdenominacionais estabeleceram seuspróprios programas de treinamento. Os Ministérios Calvaryna Nigéria ea Missão Antioquia no Brasil iniciaram progra-mas independentes. A preferência é dada aos seus próprioscandidatos, mas os de outras missões não têm sido barrados.Isso significa novamente que o controle e financiamento doprograma são responsabilidade de um único grupo.

Quando um programa pertence a uma denominação ousociedade, eletem umaidentidade distinta. Irá gozar do apoiodos membros da denominação ou patrocinadores da socieda-de missionária. Os fundos podem ser angariados mais facil-mente eas decisões tomadas com maior rapidez.

Por outro lado, épossível apresentar argumentos em defe-sa de projetos conjuntos compartilhados por várias igrejas ouagências missionárias. Muitas denominações e sociedades nãotêm os recursos para iniciar um programa de treinamento iso-lado. Falta a elas dinheiro, conhecimento e pessoal. Segundo,a colaboração pode evitar duplicação desnecessária. Muitoslíderes de igreja ede missões reconhecem que sótêm capacida-de para montar um programa pequeno e inferior.

Fazsentido reunir seus recursos limitados em vez de multi-plicar programas idênticos e competitivos. Terceiro, um pro-grama de treinamento em conjunto e administrado por váriasdenominações eorganizações cristãs demonstra queos cris-tãos têm condições de trabalhar lado a lado. Isto dá aos alunosum modelo para o seu futuro ministério. Os treinados numainstituição interdenominacional acharão mais fácil trabalharem colaboração com diferentes denominações mais tarde, emseu ministério.

O GMTCna Coréia foi estabelecido como um projeto con-junto por várias agências missionárias. O OTI na Índia come-

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çou como umajoint venture entre a Indian Evangelical Mission ea Interserve. O ACT!de Cingapura foi fundado pela OMF, masno espaço de alguns anos outras sociedades se uniram a ele eformaram um grupo dirigente.

AYCLT na Índia resultou de uma visão compartilhada porum grupo de líderes de missão eda igreja. Eles haviam toma-do conhecimento da necessidade urgente de oferecer treina-mento para o número cada vez maior de candidatos indianosamissionários. Reuniram-se então em conselho em Yavatmal,no ano de 1983, e um ano mais tarde nasceu a YCLT. Adire-toria inclui representantes de várias denominações e socieda-des missionárias. ONEMI, por outro lado, começou como umempreendimento cooperativo de nove missões. A maior era aEvangelical Missionary Society, fundada em 1948 como o ramomissionário da Evangelical Church of West Africa (ECWA), sen-do seis vezes maior do que as outras agências reunidas e pode-ria ter iniciado um programa de treinamento missionário inde-pendente. A decisão da liderança da EMS de trabalhar emcolaboração com as outras missões é digna de louvor.

A tradição de colaboração entre as denominações evangé-licas ou organizações paralelas àigreja na Nigéria não é abso-lutamente longa. Dificuldades foram encontradas por falta decomunicação e dos compromissos e necessidades conflitantesdas missões-membro.

À medida que mais programas de treinamento foram inici-ados na Nigéria, o instituto entrou numa espécie de crise deidentidade. Muitos dos candidatos a missionário que poderi-am ter entrado como estudantes estão sendo agora treinados.em outros locais em seus centros de treinamento denomina-cional. Em conseqüência, o papel do NEMI mudou. Em vez deser simplesmente um instituto de treinamento, ele está setransformando em centro de recursos para todo o país.

Apesar das dificuldades enfrentadas, o NEMI provou serum exemplolouvável de colaboração evangélica num contex-to africano. O fato do espírito de colaboração ter sido conser-

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vado éum tributo à graça epaciência de Bill O’Donovan e daliderança subseqüente do NEM!.

Sob os auspícios da Association of Evangelicals of Africa (As-sociação de Evangélicos da África), ‘Bayo eNaomi Famonureestão incentivando os cristãos de diferentes denominações atrabalharem juntos para estabelecer programas de treinamen-to missionário em diferentes regiões da África de língua ingle-sa e língua francesa.

A ANCC, como muitas instituições na Europa e Américado Norte, éum exemplo de faculdade interdenominacional.Os alunos são provenientes de cerca de 30 denominações, de-fendendo diferentes pontos de vista sobre o milênio, batismo,governo da igreja e obra do Espírito Santo.A faculdade pro-move o debate aberto sobre questões doutrinárias e incentivadiferentes expressões de adoração, para que os estudantesaprendam a compreender eapreciar os cristãos diferentes de-les.

Os que estão estabelecendo um novo programa missionárioprecisam examinar cuidadosamente a questão de colaboraçãocom outros grupos ou denominações. Projetos comuns nestecampo devem ser certamente encorajados, mas os que fazematentativa precisam tomar conhecimento das dificuldades quepodem encontrar durante o processo.

Pagamento da ContaUma questão crucial é como o centro de treinamento será fi-nanciado. Alguns que pretendem começar um programa detreinamento avançam pela fé, confiando em que as suas neces-sidades serão providas. Outros querem determinar o preço deum novo projeto ecomo ele será financiado antes de começar.

Algumas denominações ou missões estão dispostas a cobrirtodas as despesas de um programa de treinamento. Estão con-victas da importância do treinamento e aceitam aresponsabi-lidade de pagar por ele. Elasalugam ou compram os prédiosnecessários, empregam a equipe e oferecem treinamento

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gratuito para os seus candidatos. Esta é uma grande ajudapara osalunos quenãotêm meios para pagar as mensalidadese não poderiam receber treinamento a não ser dessa forma.

Alguns centros de treinamento acham que os estudantesdevem pagar pelo seu treinamento, embora sua contribuiçãonão cubra os custos com o funcionamento do centro. A direto-ria não quer que os alunos considerem o seu treinamentocomo garantido. Eles afirmam também que se Deus chamoualguém para ser missionário, ele vai providenciar para que asnecessidades da pessoa sejam satisfeitas.

Outros centros insistem em que os alunos paguem todo otreinamento recebido, inclusive alimentação, acomodações eensino. Suas taxas são inevitavelmente altas e a maioria dosalunos se esforça para pagá-las. Alguns chegam a poupardurante anos antes de poderem começar o treinamento. Ou-tros vendem o carro ou atéa casa para pagar as taxas. Outrosaindasó completam o curso com aajuda de amigos ou da igre-ja quefreqüentavam na sua cidade.

Nem todo estudante consegue pagar os encargos do cursomesmo quando eles são mínimos. Vários programas de trei-namento mantêm um fundo para bolsas de estudo que sãoconcedidas aos alunos mais carentes. A demanda de ajuda fi-nanceira geralmente ultrapassa o montante do fundo, demodo que cada pedido precisa ser cuidadosamente avaliadoantes da aprovação das bolsas. Contribuições paraesse tipo defundo podem ser recebidas de ex-alunos, patrocinadores indi-viduais, igrejas e fundações.

Uma das maiores despesas do programa de treinamento écomo salário dos funcionários. Alguns centrosbem estabeleci-dos pagam um ordenado ao seu pessoal. Aescala de saláriodepende do contexto do centro. Na Índia, a recomendação épagar aos preletores em faculdades bíblicas ou missionáriasaproximadamente 65% do que receberiam num emprego se-cular comparável)

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Outros centros talvez não possam oferecer um salário ouum subsídio para o seu pessoal e pedem então a eles que vivampela fé. No GMTC, por exemplo, o pessoal angaria seu própriosustento por não ter um ordenado garantido. Isto oferece ummodelo encorajador aos alunos que estão procurando levantarfundos para o seu futuro ministério.

A inauguração de um novo programa pode exigir conside-rável capital para aquisição de prédios, equipamento, veículos,livros, etc. Num estágio posterior do desenvolvimento, maisfundos podem ser necessários para projetos importantes.Muitos dos centrosdescritos receberam doações significativasde organizações cristãs fora do seu país. Ao mesmo tempo,eles são cautelosos na questão de se tornarem dependentes.Embora recebam com agrado doações para projetos capitais,muitos não desejam receber subsídios regulares para o saláriode seus treinadores de missionários.

Ao ser inaugurado um centro de treinamento, éimportantesaber quem éresponsável pelo dinheiro. Como em toda orga-nização cristã, é necessário haver umaprestação de contas cui-dadosa e absoluto controle sobre o orçamento. Devem sermantidos registrosdo dinheiro recebido e do propósito a quesedestina. Os balancetes anuais devem mostrar as importânciasgastas elevada a efeito uma auditoria dessas contas.

Na maioria dos programas, um grupo dirigente, chamadode conselho ou diretoria, fica responsável pelas finanças ede-cide o orçamento anual. Quando osmembros da diretoria nãotêm tempo ou conhecimento necessário paraestudar as contasem detalhe, eles podem nomear um comitêde finanças que osmantenha informados sobre o assunto.

Informações práticas sobreo gerenciamento financeiro deuma organização missionária podem ser encontradas na pu-blicação The Management of Indian Missions (O Gerenciamentode Missões na Índia), nos capítulos escritos por Raja Singh. Eleé perito-contador em Bombaim e encabeça a Professionals andExecutives Fellowship (Associação de Profissionais e Executi-vos).2

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Tomada de DecisõesAs estruturas de gerenciamento variam muito de instituiçãopara instituição e de cultura para cultura. A Management ofIndianMissions, editada por Ebenezer Sunder Raj, inclui tam-bémvários capítulos sobre a organização de grupos ligados àigreja (parachurch groups), que são úteis para os queestiveremestabelecendo um programa de treinamento.3

Os centros de treinamento recém-iniciados nãoprecisam deuma estrutura complexade gerenciamento. Nos anos 50, a AllNations era uma pequena faculdade com menos de 20 alunose um quadro de pessoal também reduzido. A estrutura degerenciamento era bem simples emuitas decisões tomadas emcima de uma xícara de café!

Uma estrutura rudimentar de gerenciamento envolve trêsgrupos de pessoas: o conselho,o diretor eaequipe. Oconselhoou grupo dirigente geralmente fica com toda a responsabilida-de legal e financeira do centro de treinamento. Ele toma asprincipais decisões políticas sobreo programa de treinamentoe serve como principal vigia da doutrina e da ética. É elequedecide a política financeira eaprova o orçamento anual.

Representantes das denominações ou missões que funda-ram o centro irão servir no conselho. É útil ter membrosespecializados em áreas como educação, leis, finanças econs-trução. Os pastores locais eex-missionários podem fazer tam-bém valiosa contribuição.

É importante que o conselho não interfira demais no funci-onamento diário do centro. Os membros do conselho precisamconfiar em queo diretor faça o trabalho para o qual foi nome-ado. Elespodem convidar também outros membros do pessoalpara comparecer às reuniões, embora em alguns países elestalvez não tenham direito de voto por razões legais.

O diretor é nomeado pelo conselho para servir indefinida-mente ou por um determinado número de anos. Eleé respon-sável pelo funcionamento do programa, gerenciamento do or-