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MINISTÉRIO PÚBLICOPROMOTORIA DE JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE GOIÂNIA
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE GOIÂNIA
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
GOIÁS, pelos promotores de justiça que esta subscrevem, no uso de
suas atribuições legais, estribado nas peças de informações em
anexo, bem como no artigo 129, III, da Constituição Federal(CF/88),
artigos 2º, 7º, II, e 18, I e X, da Lei nº 8.080/90, artigo 84do Código
de Defesa do Consumidor(CDC), artigo 5º da Lei nº 7.347/85(LACP),
e artigos 201 e 213 do Estatuto da Criança e do Adolescente(ECA),
além dos demais dispositivos pertinentes à espécie, vem,
respeitosamente propor a presente
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INTERNAÇÃO
COMPULSÓRIA COM PEDIDO DE LIMINAR
em desfavor MUNICÍPIO DE GOIÂNIA,
representado pelo Prefeito Municipal Sr. XXXXXXXXX, com
endereço funcional sito no XXXXXXXXXXXX, nesta Capital, para
defesa dos interesses do adolescente XXXXXXXXXXXX visando a
condenação em obrigação de fazer, para cessar danos que vem
sendo causados aos seus direitos fundamentais, em razão dos fatos e
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fundamentos que passa a expor:
I) DOS FATOS
O adolescente em questão é filho de
XXXXXXXXXX, e de XXXXXXXXX, com cópia da carteira de
identidade às fls. 04.
Conforme declarações da genitora do adolescente,
o jovem encontra-se seriamente comprometido com uso de
psicotrópicos, apresentando um comportamento agressivo e
desinteresse pelo estudo e vida social.
Além disso, a forma que encontrou para financiar
seu vício a prática de pequenos atos infracionais e a própria revenda
de substâncias entorpecentes, especificamente Crack e Maconha.
Não aceita e nem tem eficácia sobre si os
tratamentos psicológicos ou ambulatorial, que lhe são oferecidos pelo
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA.
A família não reúne condições de zelar pelos seus
direitos fundamentais, uma vez que não possuem meios para arcar
com os custos da internação ou outro tratamento de reabilitação.
O MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, por sua vez, não
vêm oferecendo os serviços públicos eficientes e tão necessários para
facultar ao adolescente seu desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social em condições de liberdade e dignidade e em seu
núcleo familiar.
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Assim, (criança) tem seus direitos fundamentais
violados, nos termos do art. 98, incs. I, II e III, do Estatuto da Criança
e do Adolescente. Para reverter esse quadro violador, precisa da
tutela jurisdicional do Estado, a fim de que seja oferecido o
atendimento adequado às suas necessidades, como o tratamento
especializado para a drogadição, acompanhamento psicoterápico,
orientação e acompanhamento temporário, matrícula em ensino
fundamental, inserção sua e de sua família nos programas
necessários, dentre os previstos nos artigos 101 e 129 do Estatuto da
Criança e do Adolescente.
II) DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO
O Ministério Público, nos termos do artigo 201, V,
do ECA, possui legitimidade ativa, na qualidade de substituto
processual ou legitimado extraordinário, para promover as medidas
judiciais cabíveis à integral proteção dos interesses individuais
indisponíveis das crianças e adolescentes ameaçados ou violados por
ação ou omissão por quem quer que seja.
“Art. 201. Compete ao Ministério Público: (...)V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal” (grifos nossos).
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Esta tese é reforçada pelo artigo 129, inciso III, da
Constituição da República que confere ao Ministério Público a função
de promover ação civil pública para a proteção de interesses difusos
e coletivos, como um dos instrumentos ensejadores da consecução
das finalidades institucionais, isto é, a defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis (artigo 127, CF/88).
Pelos preceitos da Carta Magna, o Ministério
Público não apenas está legitimado à defesa das crianças e
adolescentes como, essencialmente, é seu dever agir assim.
A Lei 7.347/85, em seu artigo 1º, inciso IV, prevê a
possibilidade de propositura de ação civil pública para tutela de todo
e qualquer interesse difuso ou coletivo, bem como a legitimidade do
Ministério Público para seu ajuizamento no artigo 5º.
Por sua vez, a Lei Orgânica do Ministério Público
(Lei 8625/93),atribui ao parquet a função de promover a ação civil
pública destinada à proteção, prevenção e reparação dos danos
causados a interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e
homogêneos.
Fica demonstrado, pois, a legitimidade do
Ministério Público para a propositura da ação civil pública em
exame.
III) DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
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1. Dos interesses individuais indisponíveis violados
A Constituição Federal, nos artigos 6o e 196,
secundada pelo artigo 2º da Lei nº 8.080/90, estabelece a saúde
como direito fundamental do ser humano, incumbindo ao Estado,
em sentido genérico, “prover as condições indispensáveis ao seu
pleno exercício”.
Nesse diapasão, o artigo 7º, por exemplo, da
chamada Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/90), determina
peremptoriamente que as ações e serviços públicos de saúde e os
serviços privados contratados ou conveniados que integram o
Sistema Único de Saúde deverão obedecer ao seguinte princípio,
dentre outros:
“II - integralidade de assistência, entendida como um conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema” (grifos nossos).
De forma específica, em relação às crianças e aos
adolescentes, a Constituição Federal, no artigo 227, § 3o ,VII,
determina a obrigatoriedade da proteção especial aos dependentes
químicos.
Aliás, no que diz respeito ao resguardo da saúde
de criança e adolescentes, merece destaque especial o artigo 7º do
Estatuto da Criança e do Adolescente:
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“Art. 7º. A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência” (grifos nossos).
Ora, a Constituição Federal garante e, ao mesmo
tempo, determina que o Estado garanta a saúde das crianças e
adolescentes. Não há, evidentemente, que se argumentar com a
discricionariedade administrativa, uma vez que as normas e
princípios fundamentais e sociais são cogentes e devem ser
cumpridas, integralmente, pelo Estado.
É pertinente demonstrar que a palavra Estado,
exposta na Magna Carta, é utilizada em sentido genérico com o
objetivo de contrapor os direitos fundamentais ao dever do Estado. É
evidente que não quer significar Estado de Goiás. Significa, sim, o
Município, por força do artigo 88, I, do ECA, o qual, de forma clara e
objetiva, determinou a municipalização dos serviços públicos
municipais na área da saúde.
De mais a mais, o artigo 30, inciso VII, da
Constituição Federal, estatui competir aos Municípios prestar os
serviços de atendimento à saúde da população, assegurando-se-lhe a
cooperação técnica e financeira da União e do Estado. A cooperação
financeira, via de regra, efetiva-se através da transferência de
recursos do Fundo Nacional de Saúde (art. 2º, IV, da Lei nº 8.142/90).
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Além disso, o próprio artigo 18, nos incisos I e X,
da Lei nº 8.080/90, a título de ilustração, comete à direção municipal
do Sistema Único de Saúde tal atribuição.
No presente caso, o direito fundamental à saúde
foi violado.
A dependência química está comprometendo a saúde
física e mental do adolescente, urge assim, lhe seja assegurado nos
termos da Carta Política Brasileira acompanhada da Constituição do
Estado de Goiás e da Lei Orgânica do Município de Goiânia, o
tratamento adequado, com a urgência que o caso requer, antes que
se agrave a situação do jovem.
2. Do princípio constitucional da prioridade absoluta
O artigo 227 ordena que se dê absoluta prioridade
ao segmento infanto juvenil, nos seguintes termos:
“Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar, além de colocá – los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão ” (grifo nosso).
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O Estatuto da Criança e do Adolescente surgiu
para fortalecer os princípio da Prioridade Absoluta determinados na
Carta Magna, tutelando direitos de indivíduos que estão em
desenvolvimento e que necessitam ser respeitados, em especial, por
aqueles encarregados da nobre missão de educá-los.
A Lei 8.069/89 regulamentou a garantia da
absoluta prioridade ao estabelecer:
“Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude” (grifo nosso).
A preferência estabelecida em favor da criança e
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do adolescente tem como fundamento “sua menor resistência em
relação aos adultos e suas reduzidas possibilidades numa
competição para o recebimento de serviços” 1
É por isso que a Lei nº 8.069/90 permeia, a
concepção de que as crianças e adolescentes devem ter
resguardados a preferência na formulação e execução de
políticas sociais e, por fim, o privilégio da destinação de
recursos públicos para a proteção infanto-juvenil.
Sendo a prioridade absoluta à criança e ao
adolescente mandamento constitucional não há, portanto, por
parte do administrador público, a opção de privilegiar outra área - a
começar pelo orçamento público – além da infanto-juvenil.
Qualquer decisão que não respeitar essa exigência
nos cuidados com a infância e juventude poderá ser impugnada e os
atos administrativos anulados, ante a inobservância da prioridade
exigida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela
Constituição Federal.
3. O dever prestacional na ordem constitucional:
A Constituição de 1988 editou normas de caráter
cogente e imperativo, o que KONRAD HESSE chamou de “força
normativa da Constituição”2 em especial quanto ao SUS, onde fixou
balizas, criando-o e, definindo-o em força e alcance e, elegendo as
1 Dalmo de Abreu Dallari in,Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, 7ª edição, Editora Malheiros, São Paulo, 2005, pág. 43.2 HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional na república federativa da Alemanha. Porto Alegre:Editora Sérgio Fabis, 1998, p. 73 e seguintes.
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ações de saúde, como de “relevância pública”, nos termos do art.
197, caput da texto Constitucional.
Assim é que, a supremacia das normas constitucionais
e, a vinculação que dela decorre, dirigida a todo o ordenamento
jurídico infra, bem como, aos seus executores, são condições
indiscutíveis do Texto Maior. Nesse sentido, asseverou CANOTILHO:
“A premência da Constituição insere o elemento hierárquico, pactuando que a Constituição é o apogeu de todo o ordenamento jurídico, dando azo à subordinação de todas as demais normas, ilação oriunda da presunção proveniente do princípio da unidade da Constituição, e da interpretação conforme a Constituição.”3
Fixamos, portanto, que a Constituição impõe
deveres prestacionais à Administração Pública, fazendo-o por meio
de normas programáticas, na melhor lição do prefalado doutrinador:
“Direitos de Prestação são normas programáticas
que criam políticas públicas e impõe o dever positivo de prestação
dos meios necessários a efetivar tais políticas(...)”4
Estes deveres prestacionais transmitem ao
administrador público, um dever de agir que lhe restringe a
discricionariedade administrativa com que, por vezes, pode se
pautar.
3 CANOTILHO, JJ Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 2a.ed., Coimbra: Editora Almedina, 1998, p. 1120/4.4CANOTILHO, JJ Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador. 2a.ed., Coimbra: Editora Coimbra, 2001, p 1121.
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Desta maneira, sendo o SUS o fruto de uma norma
programática, fixada nos artigos 196 e seguintes, contém objetivos,
princípios e diretrizes, retratando típico conteúdo de dever
prestacional por parte da Administração Pública.
Portanto, o dever de executar ações protetivas
na área da saúde está claramente evidenciado nos artigos 196, mas
se reveste de especial relevância e prioridade, por conta da própria
determinação constitucional, quando se dirige à criança e ao
adolescente.
Esta específica condição de essencialidade do
direito, vem emoldurada especialmente no art. 227, que define que
a proteção integral só pode ocorrer quando ao indivíduo em
formação o estado garante com prioridade absoluta, o direito à
saúde e o pleno exercício deste abrange, como visto acima, a
implementação de políticas e programas destinados à prevenção e
ao atendimento especializado de crianças e adolescentes usuários
de substâncias psicoativas (cf. art.227, §3º, inciso VII, da Lei Maior).
Como se percebe, por força constitucional, o
Poder Público tem o dever de prestar a saúde a todos e, suas ações
são de relevância pública, ou seja, são prioritárias a todas as demais
ações do poder público, mas quando este dever prestacional se
dirige à criança ou ao adolescente, além de sua relevância pública,
é absolutamente prioritário, quer dizer, prefere a todas as demais
ações.
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4. A obrigação de prestação do serviço pela Secretaria de
Saúde do Município de Goiânia
4.1. Prólogo:
A guisa de introdução, é conveniente lembrarmos que a
municipalização do atendimento é a diretriz primeira traçada pela
Lei e pela Constituição Federal para o atendimento à população
infanto-juvenil, e que o Município está obrigado a agir para efetivar
preceito de natureza sanitária de estofo constitucional, trata-se, no
caso, do dever legal de disponibilizar serviços protetivos da saúde da
população, dentre os quais, o serviço de tratamento em nível de
internação extra-hospitalar de adolescentes drogaditos, em
instituição hospitalar ou terapêutica com proposta adequada e, a
omissão desta prestação, gera à sociedade, o direito de exigir a
satisfação das medidas protetivas não adotadas.
Daí a afirmação de que a Secretaria de Saúde do
Município de Goiânia tem o dever imposto pelo Sistema Único de
Saúde e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de adotar
mecanismos destinados à proteção e tratamento de drogaditos.
4.2. Fundamentos constitucional, infraconstitucional e jurisprudencial do dever do município:
A saúde é um bem que está afeta ao Estado. Neste
sentido, o artigo 196, da Constituição Federal verbera:
Art. 196. “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante po-líticas sociais e econômicas que visem à
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redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso “universal igualitá-rio às ações e serviços para a sua pro-moção, proteção e recuperação.” (grifo nosso)
Ainda, no artigo 198, desta Carta-Mor, diz: “As
ações e serviços de saúde integram uma rede regionalizada e hierar-
quizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com
as seguintes diretrizes: “I- descentralização, com direção única em
cada esfera de governo”.
Estabelece também, a Constituição Federal, em
seu artigo 6º, “verbis”:
“Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição(gn)”.
No mesmo sentido assim prescreve a Lei 8069, de
13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e Adolescente, “verbis”:
Art. 11º. É assegurado atendimento médico à criança e ao adolescente, através do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.
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§ 1º A criança e o adolescente portadores de deficiência receberão atendimento especializado.§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os medicamentos, próteses e outros re-cursos relativos ao tratamento, habili-tação ou reabilitação. (g.n)
Por sua vez, a Constituição do Estado de Goiás co-manda:
Artigo 153 – Ao sistema unificado e des-centralizado de saúde , compete, além de outras atribuições:“IX – prestar assistência integral nas áreas médica, odontológica, fonoaudioló-gica, farmacêutica, de enfermagem e psi-cológica aos usuários do sistema, garan-tindo que sejam realizadas por profis-sionais habilitados.” (grifamos).
Cabe, portanto, à Secretaria Municipal de Saúde
disponibilizar e prestar à população local, o serviço de saúde para
quimiodependentes, com o fim de promover a recuperação da saúde
neuropsíquica.
A jurisprudência é pacífica quanto à obrigatorieda-
de do Município assegurar atendimento integral à saúde de crianças
e adolescentes, o que compreende o tratamento para drogadição,
ainda que entidade particular, conforme podemos ver nos seguintes
arestos:
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TJRS - APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SAÚDE. INTERNAÇÃO POR DROGADIÇÃO. ECA. PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO, CARÊNCIA DE AÇÃO E DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, AFASTADAS. TEORIA DA RESERVA DO POSSÍVEL. PREVALÊNCIA DOS DIREITOS CONSTITUCIONAIS À VIDA E À SAÚDE.O Ministério Público é parte legítima para figurar no pólo ativo de ações civis públicas que busquem a proteção do direito individual da criança e do adolescente à vida e à saúde. Aplicação dos art. 127, da CF/88; art. 201, V, 208, VII, e 212 do ECA. Em se tratando de pedido de internação compulsória de adolescente para tratamento de drogadição severa, existe solidariedade passiva entre a União, os Estados e os Municípios, cabendo ao necessitado escolher quem deverá lhe fornecer o tratamento pleiteado.O fornecimento de tratamento médico ao menor, cuja família não dispõe de recursos econômicos, independe de previsão orçamentária, tendo em vista que a Constituição Federal, ao assentar, de forma cogente, que os direitos das crianças e adolescentes devem ser tratados com prioridade, afasta a alegação de carência de recursos financeiros como justificativa para a omissão do Poder Público. (...) (TJRS. 8ª C. Cív. Ap. Cív. nº 70026109132. Rel. Des. Claudir Fidelis Faccenda. J. em 25/09/2008)
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TJMG - APELAÇÃO CÍVEL - PEDIDO DE PROVI-DÊNCIA EM FAVOR DE MENOR FORMULADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO - INTERNAÇÃO EM CLÍ-NICA DE RECUPERAÇÃO QUÍMICA - LEGITIMI-DADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO - ARTI-GOS 98, INCISO II, 101 E 201, INCISO VIII, TODOS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ARTIGO 129, INCISO IX, DA CF/88 - COMPETÊNCIA CONCORRENTE DOS EN-TES FEDERADOS - FORMAÇÃO DE LITISCONSÓR-CIO PRESCINDÍVEL - PRELIMINARES REJEITA-DAS - MÉRITO - INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 196 E 227, CAPUT, DA CF/88 E ARTIGOS 4º, 7º, 11 e 88, INCISO III DO ECA - NECES-SIDADE DO TRATAMENTO COMPROVADA - AUSÊN-CIA DE OPOSIÇÃO ESPECÍFICA QUANTO À ME-DIDA PLEITEADA - ALEGAÇÕES GENÉRICAS QUANTO AOS LIMITES ORÇAMENTÁRIOS - COMI-NAÇÃO DE MULTA - POSSIBILIDADE. - Nos termos do artigo 201, inciso VIII, do Estatuto da Criança e do Adolescente, compete ao Ministério Público zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garan-tias legais assegurados às crianças e aos adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis. - O sistema de compartilhamento de competên-cias, tal como estabelecido no art. 23, II, da CRFB/88, reserva competência con-corrente ao município para avaliar as ações e a forma de execução dos serviços públicos relativos à saúde, a ele compe-tindo fornecer os meios para realização de internação de adolescente carente, portador de dependência química, ainda
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que sua atividade deva obediência às re-gras gerais previamente estabelecidas pelo Ministério da Saúde. - Comprovada a necessidade de o adolescente, hipossufi-ciente financeiramente, ser submetido a tratamento toxicológico adequado, deve-se confirmar a condenação do Município de Ubá a interná-lo em clínica de recu-peração química, cumprindo-se, assim, o disposto no artigo 196 da Constituição da República e nos artigos 7º, 11, e 88, III do Estatuto da Criança e do Adoles-cente, que asseguram a o direito social à saúde digna. (TJMG – AC 1.0699.07.069734-6/001, 01/09/2009, Rel. Des. Armando Freire.) (grifo nosso)
STJ - “Para o acesso à proteção jurisdicional, não é impositivo o exaurimento da instância administrativa ou outra, eis que o direito à saúde e à vida são fundamentais e prioritários para a tutela pública. Assim, compete ao ente municipal assegurar tratamento a adolescente usuário de drogas (…). O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – é claro quanto à municipalização do atendimento, cumprindo à Comuna, em primeira mão, dar cumprimento a medidas de proteção aplicadas a crianças e adolescentes.O art. 7°, c/c os arts. 98, 1, e 101, IV, do ECA, dão plena eficácia ao direito consagrado na Constituição Federal (arts. 196 e 227), à inibir a omissão do ente público (União, aos
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Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios) em garantir o efetivo tratamento médico a menor necessitado, inclusive com o fornecimento, se necessário, de medicamentos de forma gratuita para o tratamento,cuja medida verificada no caso dos autos se impõe de maneira imediata, em vista da urgência e consequências que possam acarretar sua não realização. Pela peculiaridade do caso e em face da sua urgência, há que se afastar delimitações na efetivação da medida sócio-protetiva pleiteada, não padecendo de qualquer ilegalidade a decisão que ordena à Administração Pública a realização/continuidade de tratamento do menor.Se acaso a medida for outorgada somente ao final do julgamento dos autos, poderá não mais ter sentido a sua outorga, haja vista a possibilidade de danos irreparáveis e irreversíveis ao menor amparado pelo provimento.O conflito dá-se entre a oneração financeira do Município e o pronto atendimento do adolescente, em que há de resolver-se, evidentemente, em favor do menor, até mesmo pela forma prioritária como a Carta Magna caracteriza as prestações em favor da infância e da juventude (art. 227, caput).” (STJ. Medida Cautelar 6515/RS. Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, julgado 16/09/2003)
Assim, é direito inconteste deste adolescente,
posto que o Poder Público, na figura da Secretaria de Saúde do
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Município de Goiânia, tem o dever de promover, proteger e re-
cuperar a saúde da pessoa, custeando o tratamento necessário,
por meio da terapêutica eficiente em todas as modalidades,
seja ela ambulatorial ou em internação.
A dependência química está comprometendo a
saúde física e mental do adolescente, urge assim, lhe seja assegurado
nos termos da Carta Política Brasileira acompanhada da Constituição
do Estado de Goiás e da Lei Orgânica do Município de Goiânia, o
tratamento adequado, com a urgência que o caso requer, antes que
se agrave a situação do jovem.
5. Da necessidade de internação compulsória
Conforme relatado em linhas volvidas, o
adolescente XXXXXXXXXX é dependente químico em estágio
avançado, e já tem sua capacidade de discernimento comprometida.
Ele não aceita submeter-se a de forma espontânea a tratamento para
desintoxicação, e, sem consciência de que coloca sua vida em risco
permanente, prefere dedicar-se ao uso das drogas.
A dependência do adolescente está
interferindo de forma significativa na sua saúde física e mental, no
seu desenvolvimento psicológico, nas suas relações familiares,
no seu desempenho escolar e em sua vida social.
Por não ter a família do adolescente condição
financeira de arcar com os custos do tratamento de desintoxicação, o
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA é parte legítima para figurar no pólo
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passivo da presente ação, vez que a ele cabem as providências
necessárias para disponibilização de tal tratamento.
TJRS - AGRAVO DE INSTRUMENTO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA. TRATAMENTO PARA DROGADIÇÃO. CUSTEIO DA INTERNAÇÃO EM ENTIDADE PRIVADA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES PÚBLICOS. DIREITO À SAÚDE ASSEGURADO CONSTITUCIONALMENTE. DESNECESSIDADE DE PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA DOS PODERES. 1) O custeio de tratamento em entidade privada para menor dependente químico constitui-se em dever e, por tanto, responsabilidade do Estado in abstrato (CF, art. 23, II), considerando-se a importância dos interesses protegidos, quais sejam, a vida e a saúde (art. 196, CF). Desta forma, tem-se a competência comum dos entes federativos, seja o Estado ou o Município, para assegurar tal direito. 2) Comprovada, cabalmente, a necessidade de recebimento de assistência médico-hospitalar a portador de dependência química, e que seus responsáveis não apresentam condições financeiras de custeio, é devido o fornecimento pelo Município de Novo Hamburgo, visto que a assistência à saúde é responsabilidade decorrente do art. 196 da Constituição Federal. 3) Não há falar em violação ao princípio da separação dos poderes, porquanto ao Judiciário compete fazer cumprir as leis. 4) Tratando-se, a saúde,
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de um direito social que figura entre os direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal, impende cumpri-la independentemente de previsão orçamentária específica. RECURSO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70021804620, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Ataídes Siqueira Trindade, Julgado em 29/11/2007) (grifo nosso).
Assim, visando a consagração do direito
magno à saúde, é razoável a intervenção do Poder Judiciário a fim de
determinar, de um lado, a internação compulsória do adolescente
XXXXXXXXXXXX e sua submissão ao tratamento de desintoxicação
e recuperação, e, de outro, que o MUNICÍPIO DE GOIÂNIA tome
as providências que se fizerem necessárias para disponibilização de
um tratamento adequado e eficaz.
IV) DA LIMINAR
O artigo 213 do ECA consagra a tutela específica
para cumprimento da obrigação de fazer, além de estabelecer as
demais medidas capazes de implementar o total cumprimento das
obrigações do Poder Público municipal:
Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
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§ 1º. Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citando o réu.
§ 2º. O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
Os interesses individuais indisponíveis das
crianças possuem os mecanismos processuais hábeis à efetiva
implantação, através da tutela jurisdicional, na Lei da Ação Civil
Pública, no Código de Defesa do Consumidor e no próprio Estatuto
da Criança e do Adolescente.
A ação mandamental - prevista no art. 213 do ECA
- permite que o Juiz determine e, por força de decisão judicial, o
Município cumpra sua obrigação legal e constitucional de oferecer
vida e saúde ao adolescente aqui nomeado.
O direito do adolescente de receber tratamento
digno e adequado à sua peculiar condição não pode ser postergado
ao sabor das conveniências político-administrativas municipais.
A irregular prestação do serviço público de
tratamento a adolescentes dependentes de substâncias químicas,
com toda certeza, pode resultar em consequências drásticas fato que,
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por si só, está a consubstanciar o periculum in mora decorrente da
situação em testilha.
Se a medida liminar não for concedida,
infelizmente, o adolescente continuará sofrendo os males causados
pelas drogas, com destaque para a prática de novos e mais graves
atos infracionais.
Infelizmente, as autoridades municipais não se
comoveram com a história da mãe do adolescente, a qual foi
retratada nos ofícios do Ministério Público e nos termos de
declarações prestadas.
O adolescente, em sua condição de pessoa em
peculiar desenvolvimento, não consegue externar seu sofrimento.
Aliás, nem sabe de seu direito à saúde.
A situação enunciada acima demonstra a FUMAÇA
DO BOM DIREITO e o PERIGO DA DEMORA NA PRESTAÇÃO DA
TUTELA JURISDICIONAL.
O direito do adolescente é comprovado de plano, a
partir da análise da Constituição Federal, do ECA, da Lei Orgânica da
Saúde e da prova produzida.
Finalmente, é de rigor a concessão da medida
liminar pleiteada para que seja estancado o grave e contínuo
processo de deteriorização da saúde do adolescente.
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V) DOS PEDIDOS
Na defesa da ordem jurídica justa, com estribo na
fundamentação fática e jurídica supra colacionada, o Ministério
Público do Estado de Goiás vem perante este ilustrado juízo requerer
a prestação de uma tutela jurisdicional efetivamente protetiva e, para
tanto, apresenta os seguintes requerimentos:
1) seja o Ente Público Municipal condenado
providenciar, às suas expensas, a internação
compulsória do adolescente XXXXXXXXXX
em clínica especializada em tratamento
adequado de desintoxicação e recuperação de
toxicômanos, seja na rede pública de saúde,
seja em clínica particular, sob pena de
bloqueio do valor necessário ao custeio de
dito tratamento, mantendo-se o adolescente
em tratamento de internação ou ambulatorial
pelo período que for necessário à sua
desintoxicação e recuperação;
2) a antecipação dos efeitos da tutela
jurisdicional de mérito a fim de que seja
determinada a internação compulsória
adolescente XXXXXXXX em clínica
especializada no tratamento de dependentes
químicos, clínica essa a ser disponibilizada
pelo Município de Goiânia-GO em
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estabelecimento da rede pública de saúde, ou
em clínica particular, sob pena de multa diária
no valor de R$1.500,00 (mil e quinhentos
reais);
3) a citação do MUNICÍPIO DE
GOIÂNIA, na figura de seu prefeito, para, se
quiser, responder no prazo legal a presente
ação, sob pena de revelia, com aplicação do
art. 172, § 2º do CPC;
4) A imposição de multa diária ao
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA , no valor de R$
1.500,00 (mil e quinhentos reais), caso
proceda ao descumprimento da obrigação de
fazer determinada em condenação final, nos
moldes do art. 11, da Lei 7347/85 (astreintes),
a ser depositada no Fundo Municipal da
Criança e do Adolescente;
5) seja de deferida a produção de todas as
provas em direito admitidas, notadamente a
testemunhal, depoimento pessoal da mãe e do
próprio adolescente e, em sendo necessário, a
juntada de novos documentos e tudo mais que
se fizer indispensável à completa elucidação e
cabal demonstração dos fatos ora articulados.
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Atribui-se à causa o valor de R$ 510,00
(quinhentos e dez reais), para efeitos legais.
Nestes termos,
Pede Deferimento.
Goiânia, 27 de setembro de 2010.
PUBLIUS LENTULUS ALVES DA ROCHA
Promotor de Justiça integrante do Núcleo de Apoio Técnico– NAT –
em auxílio (Portaria n 1758/2010)◦
EVERALDO SEBASTIÃO DE SOUSA
Promotor de Justiça/Coordenador do CAOINFÂNCIA
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