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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO DA COMARCA DE NATAL Avenida Marechal Floriano Peixoto, 550, Tirol – Natal – CEP 59020-500 – fone/fax: (84)3232-7178 Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito de uma das Varas da Fazenda Pública da Comarca de Natal-RN, a quem couber por distribuição: O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público de Natal (RN), no uso de suas atribuições, com arrimo no que prescreve o art. 129, inc. III, da Constituição Federal; art. 84, inc. III, da Constituição Estadual; art. 25, inc. IV, alínea “b”, da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); e art. 1º, inc. IV da Lei nº 7.347/85; vem perante Vossa Excelência, com base nos elementos contidos nos inclusos anexos do Inquérito Civil nº 069/08, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, pelos fundamentos fáticos e jurídicos adiante expostos, em desfavor de KRISTINE MAY SHELMAN DE SOUZA ROSADO AMARAL, brasi- leiro(a), servidor(a) público(a), com endereço profissional na Assem- bléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte, na Praça Sete de Setembro, s/n, Cidade Alta, Natal (RN); ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, pessoa jurídica de direito público interno, representado pela Procuradoria Geral do Estado, 1

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTEMINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTEPROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO DA COMARCA DE NATAL

Avenida Marechal Floriano Peixoto, 550, Tirol – Natal – CEP 59020-500 – fone/fax: (84)3232-7178

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito de uma das Varas da Fazenda Pública daComarca de Natal-RN, a quem couber por distribuição:

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por meio da Promotoria deJustiça de Defesa do Patrimônio Público de Natal (RN), no uso de suas atribuições,com arrimo no que prescreve o art. 129, inc. III, da Constituição Federal; art. 84, inc.III, da Constituição Estadual; art. 25, inc. IV, alínea “b”, da Lei nº 8.625/93 (LeiOrgânica Nacional do Ministério Público); e art. 1º, inc. IV da Lei nº 7.347/85; vemperante Vossa Excelência, com base nos elementos contidos nos inclusos anexos doInquérito Civil nº 069/08, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido deANTECIPAÇÃO DE TUTELA, pelos fundamentos fáticos e jurídicos adianteexpostos, em desfavor de

KRISTINE MAY SHELMAN DE SOUZA ROSADO AMARAL, brasi-leiro(a), servidor(a) público(a), com endereço profissional na Assem-bléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte, na Praça Sete deSetembro, s/n, Cidade Alta, Natal (RN);

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, pessoa jurídica de direitopúblico interno, representado pela Procuradoria Geral do Estado,

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localizada na av. Afonso Pena, n. 115, bairro Tirol, Natal-RN, CEP59.020-100,

I. DOS FATOS

A) DO INQUÉRITO CIVIL N. 069/08 DA PROMOTORIA DE DEFESA DO

PATRIMÔNIO PÚBLICO DE NATAL E DA IDENTIFICAÇÃO DA NULIDADE DA

INVESTIDURA DOS SERVIDORES DEMANDADA EM CARGOS DE

PROVIMENTO EFETIVO DO QUADRO DE PESSOAL DA ASSEMBLÉIA

LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE.

1. O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por intermédio daPromotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público da Comarca de Natal,instaurou, em novembro de 2002, o Procedimento Administrativo nº 160/02,posteriormente convertido em inquérito civil, para apurar a regularidade do acessoaos cargos de provimento efetivo do quadro de pessoal da Assembléia Legislativa doEstado do Rio Grande do Norte, sendo que o Inquérito Civil n. 069/08 foi instauradoem decorrência de suspeição afirmada pelo 25º Promotor de Justiça da Comarca deNatal para conhecimento e providências acerca da situação funcional daDemandada.

2. Ressalte-se, desde logo, ser fato público e notório que a AssembléiaLegislativa do Rio Grande do Norte jamais realizou um concurso público paraprovimento dos seus cargos, não obstante possuir um número elevado de ocupantesde cargos de provimento efetivo. O que não se sabia era que a investidura nestescargos seguia o absurdo ritual de inconstitucionalidades que adiante será exposto!

3. Passados mais de cinco anos desde a instauração do aludidoprocedimento, ao longo dos quais foram formuladas diversas requisições buscando aobtenção das informações imprescindíveis a sua instrução, finalmente, em 31.03.2008,foi fornecida a documentação comprobatória do enquadramento, absorção,transferência, relotação, transposição e etc, de diversos servidores, dentre os quais aDemandada, em cargos de provimento efetivo do quadro de pessoal permanente daAssembléia Legislativa, sem a indispensável aprovação dos mesmos em prévioconcurso público, tal como exige a Constituição Federal em seu art. 37, II.

4. Após a análise das informações e dos documentos enviados pelaAssembléia Legislativa, restou constatado que, no período de 1990 a 2002, ainvestidura de servidores no quadro permanente de pessoal daquele órgãocompreendeu pessoas que, possuindo qualquer tipo de vínculo funcional com algumórgão da administração pública estadual, direta e indireta, ou de prefeituras, foramcolocadas à disposição da Assembléia Legislativa e depois enquadrados, sem

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qualquer pudor, em diversos cargos de provimento efetivo. Além disso, foramidentificados casos em que pessoas, mesmo sem qualquer vinculo funcional anteriorcomprovado e sem ter prestado concurso público, bem como pessoas que ocupavamexclusivamente cargos comissionados da estrutura da Assembléia, foramdiretamente enquadradas/absorvidas em cargos efetivos do quadro de pessoal daAssembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte, cuja investidura exigeprévio concurso público.

5. Convém esclarecer que, consoante informado no Ofício n. 075/08 – 1ªSecretaria, de 11.06.2008, originário da 1ª Secretaria da Mesa da AssembléiaLegislativa, ou extraído das respectivas fichas funcionais, os históricos das pessoasenquadradas são variados, tendo sido identificadas as seguintes situações:

1. Pessoas oriundas do Banco do Estado do Rio Grande do Norte - BANDERN:

1. ALDO MIRANDA (Auxiliar de Escriturário do BANDERN)2. ARIANA M. DE AZEVEDO (Auxiliar de Escriturário do BANDERN)3. EDMILSON DE OLIVEIRA BEZERRA (Auxiliar de Escriturário do

BANDERN)4. ELIENE MARIA DE ARAÚJO CHACOM (Auxiliar de Escriturário do

BANDERN)5. ESTER EMERENCIANO MAIA (Auxiliar de Escriturário do BAN-

DERN)6. EZEQUIEL GONZAGA DE SOUZA (Auxiliar de Escriturário do BAN-

DERN)7. FÁBIO GOMES DE ARAÚJO (Auxiliar de Contínuo do BANDERN)8. IVANILDO FERNANDES DE OLIVEIRA (Auxiliar de Escriturário do

BANDERN)9. JOÃO NUNES JÚNIOR (Auxiliar de Escriturário do BANDERN)10. LETÍCIA COSTA QUEIROZ FREIRE (Escriturária do BANDERN)11. LOURIVAL ANDRÉ NUNES (Auxiliar de Escriturário do BANDERN)12. LUIZ ANTÔNIO TORRES PORPINO (Função de origem no BAN-

DERN não identificada)13. MARIA CRISTINA HUETE (Recepcionista do BANDERN)14. MARIA DE FÁTIMA DANTAS MACEDO (Função de origem no

BANDERN não identificada)15. MARIA GORETE BARBOSA BRAGA (Auxiliar de Escriturário do

BANDERN)16. OLGA CHAVES FERNANDES DE QUEIROZ FIGUEIREDO (Auxili-

ar de Escriturário do BANDERN) 17. RAIMUNDO ALVES MAIA JÚNIOR (Auxiliar de Escriturário do

BANDERN) – DEPUTADO ESTADUAL

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18. RAIMUNDO QUIRINO DA COSTA JÚNIOR (Auxiliar de Escriturá-rio do BANDERN)

19. RICARDO JOSÉ MEIRELLES DA MOTTA (Auxiliar de Escrituráriodo BANDERN)

20. SUZAN BEZERRA DANTAS (Auxiliar de Escriturário do BANDERN)21. WELLINGTON DOS SANTOS SILVA (Técnico Bancário “F” do BAN-

DERN)

2. Pessoas oriundas do Bando de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte -BDRN:

1. ANA LYDIA FARIAS MONTEIRO P. GOMES (Escriturária nível “A”do BDRN)

2. GERALDO GALVÃO GONDIM FILHO (Contínuo do BDRN)3. JOSÉ EDUARDO DO MONTE FASSANARO (Escriturário do BDRN)4. KADYDJA ROSELY VARELA DA FONSECA (Auxiliar Administrati-

vo do BDRN)5. VALDIR MEDEIROS DA NÓBREGA (Contínuo do BDRN)

3. Pessoas oriundas de diversos órgãos da administração direta do Estado doRio Grande do Norte:

1. ÁLVARO COSTA DIAS (Técnico de Nível Superior da Secretaria Esta-dual de Saúde) – DEPUTADO ESTADUAL

2. ANA MARIA PINHEIRO E ALVES – (Professor 2 – D da Secretaria deEstado de Educação e Cultura)

3. ÂNGELA MIRANDA LIMA PINHEIRO (Dentista da Secretaria Esta-dual de Saúde)

4. ANTÔNIO OZIK PEREIRA SOBRINHO (Técnico Especializado “D”,da Secretaria Estadual de Educação e Cultura do Estado)

5. ANTÔNIO PETRONILO DANTAS NETO (Auxiliar de Serviços Ge-rais da Secretaria Estadual de Educação)

6. BERNADETE BATISTA DE OLIVEIRA (Técnico Especializado “B”,da Secretaria de Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte)

7. CARLOS EDUARDO MEDEIROS DA FONSECA (Técnico Especiali-zado “D’, da Secretaria de Indústria Comércio Ciência e Tecnologia doEstado do Rio Grande do Norte)

8. CÉLIA MARIA MARINHO CARNEIRO (Técnico Especializado “D”,da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Nor-te)

9. CLÁUDIA ALZIRA DIÓGENES NUNES MARCELINO (Técnico Es-pecializado “D”, da Secretaria Estadual de Educação e Cultura do Esta-do)

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10. EMANOEL MILHOMES DE CARVALHO (Auxiliar de Serviços Ge-rais da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande doNorte)

11. FERNANDO ANTONIO AMÂNCIO DA SILVA (Auxiliar de ServiçosGerais da Secretaria da Educação e Cultura do Estado do Rio Grandedo Norte)

12. HELIANA MARIA COHEN COSTA QUEIROZ (Médica da SecretariaEstadual de Saúde)

13. JACI CABRAL DE MEDEIROS (Técnico Especializado “D”, da Secre-taria Estadual de Saúde do Estado)

14. JAIRO JOSÉ TEIXEIRA DE BARROS (Auxiliar de Serviços Gerais daSecretaria Estadual de Saúde)

15. JOSÉ AUGUSTO DE FREITAS REGO (Técnico Especializado “B”, daSecretaria Estadual de Transportes e Obras Públicas do Estado)

16. JOSÉ OSMAN FERNANDES (Professor P-9-C, da Secretaria de Educa-ção e Cultura do Rio Grande do Norte)

17. JOSÉ PASSO COELHO (Técnico Especializado “D”, da Secretaria Esta-dual de Saúde Púbica)

18. KRISTINE MAY SHELMAN SOUZA (Técnico Especializado “D”, daSecretaria Estadual de Saúde)

19. LEILA MEDEIROS BRANDÃO FLORÊNCIO (Enfermeira da Secreta-ria Estadual de Saúde do Estado)

20. LUCI DANTAS DE LIMA (ASG da Secretaria de Saúde Pública)21. MANOEL GUTEMBERG FERNANDES (Auxiliar Técnico da Secreta-

ria de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte)22. MÁRCIA ISABEL LANVERLY DE MEDEIROS (Técnico Especializa-

do “D”, do Gabinete Civil do Estado)23. MÁRCIO MENDES DA SILVA (Auxiliar de Serviços Gerais da Secre-

taria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Norte)24. MARCOS ANTÔNIO TASSINO DE ARAÚJO (Técnico Especializado

“C”, da Secretaria Estadual de Saúde do Estado)25. MARIA AUXILIADORA NUNES RÊGO (Assistente Social do Quadro

de Pessoal da Secretaria de Estado da Saúde Pública)26. MARIA DO CÉO COSTA (Professor de Ensino de 1º grau da Secretaria

de Estado de Educação e Cultura)27. MARIA DA CONCEIÇÃO DE ASSIS VIDAL (Técnico Especializado

“D” da Secretaria Estadual de Saúde) 28. MARIA GEILZA DE MEDEIROS (Técnico Especializado “D” da Se-

cretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Norte)29. MARIA RODRIGUES DE MOURA NUNES (Técnico Especializado

“C” da Secretaria de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Norte)30. MARIA DO SOCORRO M. FARIAS DE FIGUEIREDO (Nutricionista,

da Secretaria de Saúde Pública)

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31. MARIA DO SOCORRO NUNES REGO (Assistente Social, da Secreta-ria Estadual de Saúde do Estado)

32. MAURÍCIO GURGEL PRAXEDES (Dentista da Secretaria de Saúdedo Estado do Rio Grande do Norte)

33. MORVANILDO FIRMINO DE LUCENA (Técnico Especializado “C”,da Secretaria de Transporte e Obras Públicas)

34. NILDA NUNES DE ARAÚJO REGO (Professor – 6 – Estatutário, daSecretaria Estadual de Educação e Cultura do Estado)

35. PACÍFICO JOSÉ DANTAS FERNANDES (Odontólogo da SecretariaEstadual de Saúde)

36. PAULO DE TARSO VERÍSSIMO (Técnico Especializado “D”, da Se-cretaria Estadual de Saúde do Estado)

37. REGIA MARIA RODRIGUES DE MOURA NUNES (Técnico Especia-lizado “C”, publicado no DOE de 12.07.85 da Secretaria de Saúde Pú-blica do Estado do Rio Grande do Norte)

38. REGINA MARIA DE ARAÚJO (Técnico Especializado “C” da Secreta-ria Estadual de Saúde Pública)

39. RIZZA MARIA MONTENEGRO SOARES (Professor P-8-C, da Secre-taria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Norte)

40. ROSANE TEIXEIRA DE CARVALHO (Médica, da Secretaria Estadualde Saúde do Estado)

41. ROSIMEIRE DE SOUZA CARVALHO (Auxiliar de Serviços Gerais daSecretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Norte)

42. ROSSINI FERNANDES DE OLIVEIRA (ASG da Secretaria Estadualde Educação)

43. SANDRA DIAS DE CARVALHO NEGÓCIO (Técnico Especializado“D”, da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande doNorte)

44. SÉRGIO RICARDO BEZERRA (Técnico Especializado “D” da Secreta-ria Estadual de Educação)

45. SILVANA MEDEIROS GURGEL DIAS (Odontóloga, da Secretaria Es-tadual de Saúde Pública)

46. VALTER MIRANDA DE PAULO (Professor da Secretaria Estadual deEducação)

47. WILSON CABRAL GOMES (Secretaria Estadual de Educação)

4. Pessoas oriundas de diversos órgãos da administração indireta do Estado doRio Grande do Norte (autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades deeconomia mista):

1. AMARO DE SOUZA MARINHO NETO (Originário do DETRAN/RN)2. ANA IZABEL DA COSTA FERREIRA (Recepcionista da Fundação

Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel)

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3. ANGELINA ÂNGELA DE OLIVEIRA SALES (Engenheira Civil daDATANORTE)

4. ANSELMO COSTA DIAS (Técnico Especializado D do Instituto dePrevidência do Estado – IPE)

5. ANTONIO JONAS DA COSTA (Assistente Técnico da CEASA)6. CARLOS JOSÉ PEREIRA MENDES (FUNDAC)7. CELINA MARIA MARINHO RAMOS (Auxiliar Técnico da Fundação

Estadual do Trabalho e Ação Comunitária – FETAC)8. CLEDIONOR FRANCISCO DE MENDONÇA (Economista A-1 da

Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais do Rio Grandedo Norte – CDM)

9. DÉBORA KÁTIA MEDEIROS DE MORAIS – (Telefonista da Compa-nhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais do Rio Grande do Nor-te – CDM)

10. ELIONE FERNANDES DE OLIVEIRA (Quadro de pessoal da FUN-DAC)

11. ELISAMA GOMES DA SILVA (Auxiliar Administrativo da Compa-nhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais do Rio Grande do Nor-te –CDM)

12. FRANCISCO EMERSON VARELA (Assistente Administrativo II, daFundação do Trabalho e Ação Comunitária – FETAC)

13. FRANCISCO GILSON DE MOURA (Auxiliar de Serviços, da Compa-nhia de Habitação Popular do Rio Grande do Norte – COHAB) – DE-PUTADO ESTADUAL

14. HERMANO JOSÉ FERREIRA DE SOUZA (Técnico de Nível Superiorda FEBEM)

15. JOAQUIM EVARISTO GUIMARÃES NETO (Auxiliar Administrativoda Fundação Estadual do Trabalho e Ação Comunitária – FETAC)

16. JARBAS LULA QUEIROZ SANTOS (Técnico Administrativo da Fun-dação Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel)

17. JARIANE CÂMARA COSTA TEODORO (Vice Coordenadora de Cre-che da FEBEM)

18. JORGE CÉLIO DA COSTA LIMA (Auxiliar Administrativo da CDMdo Estado do Rio Grande do Norte)

19. JOSÉ DIAS DE FRANÇA (Auxiliar de Serviços Gerais da Companhiade Desenvolvimento Industrial do Rio Grande do Norte – CDI)

20. JOSÉ GERALDO DE ARAÚJO (Motorista da Fundação Estadual doTrabalho e Ação Comunitária – FETAC)

21. KELLY CRISTINA VERAS DIAS (Técnico Especializado D do Institu-to de Previdência do Estado – IPE)

22. LÁZARO NUNES TORQUATO (Auxiliar Administrativo da Compa-nhia de Habitação Popular do Rio Grande do Norte – COHAB)

23. LEISIA MARIA GALVÃO DE ARAÚJO (Técnico especializado daFundação Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel)

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24. LÚCIA DE FÁTIMA SEREJO GOMES (Técnico Administrativo daEMPROTURN)

25. LÚCIO DE MEDEIROS DANTAS JÚNIOR (Desenhista I-A – Nível 10da CAERN)

26. LUIZ GONZAGA FREIRE (Técnico em Agropecuária da EMATER)27. MARIA DE FÁTIMA BENEDETTO FERNANDES (Engenheira Quí-

mica da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais do RioGrande do Norte – CDM)

28. MARIA DAS GRAÇAS ALBUQUERQUE CAVALCANTE (Chefe dePosto da Fundação Estadual do Trabalho e Ação Comunitária – FETAC)

29. NAIDE DE SÁ DANTAS TAVARES DA SILVA (Auxiliar Técnico daFundação Estadual do Trabalho e Ação Comunitária – FETAC)

30. NELSON HERMÓGENES DE MEDEIROS FREIRE (Assistente Técni-co da Companhia de Energética do Rio Grande do Norte – COSERN) –EX-DEPUTADO ESTADUAL

31. NADJA CRISTINA DIÓGENES (Auxiliar Administrativo – Nível III -A da extinta Fundação Estadual de Planejamento Agrícola do Rio Gran-de do Norte – CEPA)

32. NEWTON COELHO DE MEDEIROS (Técnico de Nível Superior daCompanhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais do Rio Grandedo Norte – CDM)

33. NIA CRISTINA DIÓGENES TORQUATO (Dentista do Instituto dePrevidência do Estado do Rio Grande do Norte)

34. NOYA MARIA DIAS FLORÊNCIO LEITE (Técnico Especializado Ddo Instituto de Previdência do Estado – IPE)

35. RAIMUNDO MARCOS RUFINO (Motorista, da Fundação HospitalarMonsenhor Walfredo Gurgel)

36. REJANE FERREIRA OLIVEIRA (Fundação Hospitalar MonsenhorWalfredo Gurgel)

37. ROBERTINA PINHEIRO DE MACEDO (Auxiliar Administrativo daFundação Estadual da Criança e do Adolescente)

38. SEBASTIÃO BATALHA FILHO (Técnico de Nível Médio da FundaçãoEstadual do Trabalho e Ação Comunitária – FETAC)

39. SILVIO DE FREITAS DINIZ NETO (Auxiliar de Serviços Gerais daCompanhia de Desenvolvimento Industrial do Rio Grande do Norte –CDI)

40. SILVANA FERNANDES LACERDA (Técnico Especializado D do Ins-tituto de Previdência do Estado – IPE)

41. TÂNIA MARIA PINTO MARTINS (Relações Públicas da EMPRO-TURN)

42. VIRGILIO OTÁVIO PACHECO DANTAS NETO (Assessor Executivoda Companhia de Implantação de Projetos Agrários do Rio Grande doNorte – CIMPARN)

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5. Pessoas oriundas do Tribunal de Contas do Estado:

1. ALDECI TORRES DE MEDEIROS (Auxiliar de Serviços do Tribunalde Contas do Estado do Rio Grande do Norte)

2. ANTOMAR MARZO LEITE DANTAS (Técnico Especializado “D” doTribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte)

3. CARMEM LÚCIA BEZERRA TORRES (Técnico Especializado “D” doTribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte)

4. CLARISSA DE ARAÚJO BEZERRA (Técnico Especializado “D” doTribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte)

5. GEORGE QUEIROZ DA CUNHA (Técnico Especializado “D” do Tri-bunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte)

6. HUMBERTO COSTA DIAS (Técnico Especializado “D” do Tribunalde Contas do Estado do Rio Grande do Norte)

7. ISRAEL DE MEDEIROS BEZERRA (Técnico Especializado “D” do Tri-bunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte)

8. MARCO TÚLIO DA COSTA ROCHA (Técnico Especializado “D” doTribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte)

9. TERESA CRISTINA CORREIA MOREIRA (Técnico Especializado“D” do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte)

6. Pessoas oriundas de diversos órgãos, da administração direta e indireta,enquadradas com base no artigo 15 do ADCT da Constituição do Estado do RioGrande do Norte:

1. ÂNGELA MARIA LOPES DOS SANTOS (Técnico de Nível “D” daFundação José Augusto)

2. CLÁUDIO HENRIQUE B MESQUITA (Escriturário da Fundação JoséAugusto)

3. FRANCISCO EDSON DE CARVALHO (Professor P8-C da Secretariade Estado da Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Norte)

4. GUTEMBERG DO AMARAL GURGEL (Professor P8-C da Secretariade Estado da Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Norte)

5. JOÃO BATISTA S WANDERLEY (Desenhista Técnico – Grupo II daSecretaria da Agricultura)

6. JOÃO MARIA DE C. SOARES (Escriturário da Fundação José Augus-to)

7. JOSÉ ALDEMIR RODRIGUES (Originário da URRN)8. JÚLIO CÉSAR LONGO DA SILVA TORRES (Assistente Administra-

tivo “I” da Fundação José Augusto do Estado do Rio Grande do Norte)9. MARIA EDNA MARTINS DE PAIVA (Técnico Especializado “A” da

Secretaria de Estado da Educação e Cultura do Estado do Rio Grandedo Norte)

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10. MARIA ELENI FURTADO (Técnico em Contabilidade da Secretaria deAgricultura do Estado do Rio Grande do Norte)

11. MARIA DE FÁTIMA GAZZANEO CABRAL (Técnico Especializado“B” da Secretaria de Estado da Agricultura do Estado do Rio Grande doNorte)

12. MARIA DO SOCORRO MEDEIROS FURTADO (Técnico Especializa-do “D” da Secretaria de Estado da Fazenda do Estado do Rio Grandedo Norte)

13. NICE DANTAS MONTENEGRO (Professor P2-C da Secretaria de Es-tado da Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Norte)

14. REJANE MARIA M. FERNANDES (Professor “2” da Secretaria de Es-tado da Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Norte)

15. SÔNIA MARIA BEZERRA (Auxiliar Administrativo da FundaçãoHospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel)

16. TEREZA CRISTINA DE ARAÚJO LIMA (Técnico Especializado “B”do Gabinete Civil do Estado do Rio Grande do Norte)

17. VILANILDO JORGE GADELHA FERNANDES (Técnico de Nível Su-perior da FETAC)

7. Pessoas oriundas da administração direta e indireta de Municípios:

1. ALEXANDRE CHAVES DANTAS BARRETO (Auxiliar Administrati-vo, na Prefeitura Municipal de Natal- STU)

2. MARCELO ESCÓSSIA DE MELO (Prefeitura Municipal de Nísia Flo-resta - cargo de PAD II)

3. MÁRCIO CÉSAR SILVA PINHEIRO (cargo de Nível Superior, na Pre-feitura Municipal de Natal)

4. SATURNINO PEDRO DA SILVA (Técnico de Nível Médio -Compa-nhia de Serviços Urbanos de Natal – URBANA)

8. Pessoas que exerciam apenas cargos comissionados na AssembléiaLegislativa, ou não tinham qualquer vínculo com a administração pública, e foram“absorvidas” em cargos de provimento efetivo:

1. ANA FABÍOLA DO RÊGO TORQUATO (Função gratificada de As-sessor Auxiliar de Plenário)

2. ANGELINA SÁTIRO GOMES (vínculo desconhecido)3. FRANCISCO ELIAS DA SILVA (Cargo comissionado de Motorista de

Gabinete Parlamentar)4. FRANCISCO NOBERTO DA SILVA (Cargo comissionado de Motoris-

ta de Gabinete Parlamentar)5. GEISA LULA DE QUEIROZ TORRES (Cargo comissionado de Técni-

co de Processamento de Dados)

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6. HELGA TORQUATO DE ALMEIDA (Cargo comissionado de Assis-tente de Plenário)

7. MÁRIO FREIRE EMERENCIANO (Cargo comissionado de SecretárioAdjunto Administrativo)

8. MARIA GIZELDA DE MEDEIROS (Cargo comissionado de Secretáriode Gabinete Parlamentar)

9. NELSON QUEIROZ FILHO (Cargo comissionado de Técnico de Pro-cessamento de Dados)

10. PAULO SÉRGIO ROSADO DE HOLANDA (Cargo comissionado deAssistente Político)

11. PEDRO FERREIRA MELO FILHO (vínculo desconhecido) - EX-DEPU-TADO ESTADUAL

12. SORAYA MORAIS DE SOUZA (Cargo comissionado de AssistentePolítico)

6. Em face da peculiaridade da situação de cada um dos servidoresagraciados com os referidos enquadramentos, o Inquérito Civil n. 069/08 foidesmembrado, mediante a formação de um anexo para cada servidor contendo asprincipais peças do procedimento, bem como as respectivas fichas funcionais.

7. A presente ação abordará exclusivamente o enquadramento quecontemplou a Demandada, originária do Banco do Estado do Rio Grande do Norte -BANDERN.

B) DA INCONSTITUCIONALIDADE DO ENQUADRAMENTO DA

DEMANDADA EM CARGOS DE PROVIMENTO EFETIVO DO QUADRO DE

PESSOAL DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO

NORTE EM FACE DA AUSÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO.

8. Conforme esclarece o Ofício n. 075/08 – 1ª Secretaria, de 11.06.2008,originário da 1ª Secretaria da Mesa da Assembléia Legislativa, ou as respectivasfichas funcionais, constantes nos inclusos anexos do Inquérito Civil nº 069/08, ohistórico da Demandada é o seguinte:

KRISTINE MAY SHELMAN DE SOUZA ROSADO AMARAL - Ad-mitida através de contrato de trabalho em 04/10/1989 para a função deAuxiliar Administrativo do Banco do Estado do Rio Grande do Norte;Incorporada ao quadro da Assembléia Legislativa de acordo com a De-cisão da Mesa nº 024/97 publicado no BO nº 1799 de 08/04/97 atualmen-te no cargo de Assistente Parlamentar de Nível Superior.

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9. Como se vê, a Demandada, que inicialmente possuía vínculoempregatício, sem concurso público, com o Banco do Estado do Rio Grande do Norte- BANDERN, foi incorporada ao quadro de pessoal permanente da AssembléiaLegislativa, também sem prestar o prévio e imprescindível concurso público, queconstitui um pressuposto fundamental, desde a entrada em vigor da nova ordemconstitucional em outubro de 1988, para a investidura em cargos públicos deprovimento efetivo.

10. É preciso que se diga que no ano de 1990 foi decretada pelo BancoCentral do Brasil a liquidação do BANDERN, o que resultou edição da Lei n. 6.045,de 04.10.1990, incorporando ao quadro de pessoal do Estado do Rio Grande doNorte, por absorção, os empregados do Sistema Financeiro BANDERN.

11. Na verdade, pela análise das diversas situações funcionais acimamencionadas, percebe-se claramente o uso indevido e despudorado dos cargos deprovimento efetivo da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Nortepara a acomodação de parentes, amigos e apadrinhados políticos, criando-se umacasta de privilegiados, em menoscabo a deveres de honestidade, probidade, boa-fé eimpessoalidade que deveriam guiar a vida pública, mas que estão longe de permearo imaginário daqueles que são responsáveis pela gestão estatal, os quais continuamfazendo uso dos bens públicos para fins privados, em prática secular que evidencia amesquinha e tacanha cultura patrimonialista do alto escalão político.

12. A relutância (por quase seis anos) da Assembléia Legislativa emfornecer a documentação relativa ao histórico funcional da Demandada é reveladorado ambiente de favorecimento que norteou os enquadramentos, demonstrandoclaramente que o único propósito desta atitude foi impedir o conhecimento destainconcebível situação pelo Ministério Público, e da sociedade como um todo, paraobstar que fosse feito o que finalmente agora está sendo feito, que é a busca judicialda invalidação dos absurdamente inconstitucionais enquadramentos da Demandadaem cargos efetivos.

13. Certamente este foi o mesmo propósito almejado quando a AssembléiaLegislativa absteve-se de publicar os atos de enquadramento da Demandada noDiário Oficial do Estado, optando por fazer a “publicação” num boletim interno,editado com periodicidade incerta, que não tem circulação para conhecimento dopúblico em geral, de modo que, na verdade, estes atos eram simplesmente secretos,caracterizando-se como atos inexistentes.

14. A propósito, como seria possível extrair boa-fé no ato de quem,integrante do quadro de empregados de um banco em processo de liquidação,simplesmente é transferido para o quadro permanente de pessoal do PoderLegislativo e enquadrado em cargo de provimento efetivo, em plena vigência doartigo 37, inciso II, da Constituição Federal?

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15. Não resta qualquer dúvida de que a má-fé sempre permeou os atos deenquadramentos funcionais promovidos pela Assembléia Legislativa, sendo dointeiro conhecimento da Demandada que foi agraciada com benefícios frontalmentecontrários ao comando da Constituição Federal. Não obstante, aceitou a situação,inclusive o caráter secreto destes atos, e dela usufruíu durante todos estes anos,percebendo remunerações por cargo a que foi alçada irregularmente, semcompetição, em detrimento da via do concurso público.

16. A relação de conivência entre Demandada e Assembléia Legislativatambém pode ser verificada na circunstância de que esta Promotoria de Justiça,conforme despacho editado em 11.03.2008 (cópia nos anexos do Inquérito Civil n.069/08), expediu notificação para os servidores investigados, facultando-lhes oesclarecimento das circunstâncias da investidura nos respectivos cargos deprovimento efetivo da Assembléia Legislativa. Mais uma vez, no lugar dasmanifestações individuais, com a apresentação de documentos pessoais quepudessem demonstrar a regularidade das suas situações, foi a AssembléiaLegislativa, através da 1ª Secretaria da Mesa, “posto haver sido a Secretaria daAssembléia solicitada neste sentido por diversos dos seus servidores”, quem apresentou asinformações, nos termos do Ofício nº 075/2008-1ªSecretaria, de 11.06.2008.

17. É importante destacar que dentre as pessoas que foram beneficiadascom esses enquadramentos ilegais, não se encontra o cidadão comum, que pode serobservado no cotidiano da cena urbana; aquele que está diuturnamente enfrentandoos bancos escolares de cursinhos preparatórios e sendo submetido aos rigorososconcursos de acesso ao serviço público. É que estas pessoas não tiveram a mesma“sorte” da Demandada, pois não descenderam de certas famílias, ou não fizeram asamizades mais “apropriadas”, ou então não se dedicaram a viver na sombra deapadrinhamentos políticos.

18. Não se tem notícia de que estes enquadramentos tenham sidoprecedidos do chamamento geral dos servidores públicos estaduais para tentaremuma “vaga” na Assembléia Legislativa. É claro que não! Estes regalos nunca sãodistribuídos aleatoriamente, tendo destinatários bem definidos desde a suaconcepção. É o inveterado jogo de privilégios que tão maleficamente apodrece apolítica brasileira e fragiliza nossa incipiente democracia, colocando o Brasil na“lanterna” do mundo civilizado.

19. A estrutura de poder montada para fabricar privilégios tem contornosinimagináveis, chegando ao ponto de, mesmo diante da eloqüência do artigo 37,inciso II, da Constituição Federal, lograr viabilizar a criação de normas paracontemplar os interesses exclusivos de uma restritíssima casta de servidores.

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20. É que o enquadramento da Demandada foi embasado nos artigos 1º eseguintes da Lei n. 6.045, de 04.10.1990; artigos 1º e seguintes do DecretoGovernamental nº 11.407, de 05.08.1992; e artigo 1º da Resolução n. 007/93, de22.01.1993, editada pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte, deseguintes conteúdos:

Lei 6.045/90: “Art. 1º. Fica o Poder Executivo autorizado a promover aabsorção, no Quadro Geral de Pessoal do Estado, Parte II, Tabela II, dos atuaisservidores do Sistema Financeiro BANDERN, respeitados os valores dos níveissalariais vigentes” (Os demais dispositivos desta lei, conforme cópiaacostada aos anexos do Inquérito Civil nº 069/08, disciplinam a formade implementação desta absorção)

Decreto nº 11.407: “Art. 1º. Ficam absorvidos, no Quadro Geral de Pessoaldo Estado, Parte II, Tabela II, os servidores do Banco do Estado do Rio Grandedo Norte – BANDERN, que manifestaram opção pela integração àAdministração Pública, nos termos do artigo 1º da Lei 6.045, de 04 de outubrode 1990, constantes da relação nominal anexa ao presente Decreto” (Osdemais dispositivos deste decreto, conforme cópia acostada aos anexosdo Inquérito Civil nº 069/08, disciplinam a forma de implementaçãodesta absorção)

Resolução n. 007/93: “Art. 1º. A fim de tornar efetiva, no âmbito daAssembléia Legislativa, a absorção de que tratam a Lei n. 6.045, de 04 deoutubro de 1990, e o Decreto n. 11.407, de 05 de agosto de 1992,complementado pela Resolução Interadministrativa nº 560, de 26 de outubrode 1992, fica criado e incorporado ao Quadro de Pessoal da AssembléiaLegislativa, anexo à Lei n. 5.744, de 04 de janeiro de 1988, um QuadroSuplementar, constituído pelos empregos cuja denominação e quantificaçãoconstam do Anexo”

21. Ora, ao estabelecerem formas de provimento derivado de cargos, estasnormas são nitidamente inconstitucionais, sendo absolutamente nulos os atospraticados sob os seus preceitos.

22. Mesmo diante da evidente inconstitucionalidade dessa legislação, aDemandada, desafiando o pacífico entendimento do Supremo Tribunal Federal sobrea vedação de qualquer forma de provimento derivado de cargo público, permaneceudeliberadamente, de má-fé, usufruindo indevidamente os benefícios proporcionadospela ocupação irregular de cargo de provimento efetivo, em detrimento da ordemconstitucional vigente, assumindo assim, conscientemente, todos os riscos dos efeitosdecorrentes do desfazimento destes atos administrativos.

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23. É importante destacar que, na mesma situação da Demandada, existiammilhares de outros servidores públicos que, por não terem algum apadrinhamentopolítico, não foram lotados na Assembléia Legislativa e, portanto, não tiveram aoportunidade de obter qualquer enquadramento, ficando, apropriadamente, noexercício dos cargos para os quais tiveram acesso pelo instrumento republicano doconcurso público.

24. Convém relembrar, por oportuno, que a Assembléia Legislativa doEstado do Rio Grande do Norte jamais realizou concurso público para o provimentode qualquer cargo, mesmo após o advento da Constituição Federal de 1988, namedida em que, na intenção de eternizar o sistema de privilégios, encontrou na viada inconstitucionalidade a melhor forma para preenchimento do seu quadro depessoal.

C) DA INCONSTITUCIONALIDADE DO ENQUADRAMENTO/ABSORÇÃO DA

DEMANDADA EM CARGOS DE PROVIMENTO EFETIVO DO QUADRO

PERMANENTE DE PESSOAL DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA EM FACE DA

VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE.

25. Além de inconstitucionais por violação do primado do concursopúblico para acessibilidade aos cargos públicos, o enquadramento da Demandadaem cargo de provimento efetivo da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grandedo Norte, também foi realizado com séria violação ao princípio constitucional dapublicidade dos atos administrativos (art. 37, caput, da CF).

26. Isso porque esses atos administrativos de enquadramentos, ou seja, deprovimento de cargos públicos, não foram publicados no Diário Oficial do Estado,veículo institucional onde devem ser publicados os atos da Administração Pública,especialmente aqueles relativos ao provimento de cargos públicos. De fato, todosesses atos de enquadramento somente foram publicados no Boletim Oficial daAssembléia Legislativa.

27. O art. 6º, da Lei Complementar Estadual nº 122/94, estabelece que oprovimento de cargo público no âmbito da Administração Estadual “realiza-semediante ato da autoridade competente de cada Poder ou órgão equivalente e sóproduz efeitos a partir de sua publicação no jornal oficial”.

28. Como se vê, os atos de investidura da Demandada, pela via doprovimento por enquadramento, em cargos de provimento efetivo da estrutura depessoal da Assembléia Legislativa, além de inconstitucionais em face da ausência doconcurso público, são inconstitucionais também, e não produziram efeitos, em razãoda violação do princípio da publicidade dos atos administrativos. Realmente, tais

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atos são quase clandestinos, na medida em que o alcance da publicação no aludidoBoletim Oficial é muito restrito, e nem de longe atende ao princípio da publicidadedos atos administrativos encartado no art. 37, caput, da Constituição Federal, por setratar de um documento interno da Assembléia Legislativa.

II – DA IMPOSSIBILIDADE, APÓS A CONSTITUIÇÃO FEDERALDE 1988, DE INVESTIDURA EM CARGO PÚBLICO DEPROVIMENTO EFETIVO SEM PRÉVIA APROVAÇÃO EMCONCURSO PÚBLICO DE PROVAS OU DE PROVAS E TÍTULOSESPECÍFICO PARA O CARGO PRETENDIDO.

29. Dispõe a Constituição Federal de 1988, em comando claríssimo, que:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta, de qualquer dos Poderes daUnião, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aosprincípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, e eficiência e,também, ao seguinte:(...)II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia emconcurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e acomplexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas asnomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação eexoneração;”

30. Comentando tal dispositivo, aduz o professor de Direito Constitucionalda PUC/SP UADI LAMMÊGO BULOS (Curso de Direito Constitucional, São Paulo:Saraiva, 2007, p. 802):

“Os destinatários do princípio constitucional da exigibilidade de concursopúblico são os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, da União, dosEstados, do Distrito Federal e dos Municípios. As autarquias, empresaspúblicas, sociedades de economia mista, inclusive as que se destinam a exploraratividade econômica (CF, art. 173, §1o), também se enquadram naobrigatoriedade de certames públicos. Apenas nas funções de confiança abre-semão do princípio, nos termos da lei, e, mesmo assim, nada obsta que se realizemconcursos para avaliar o mérito e o preparo dos ocupantes da atividade pública.Evidente que será inconstitucional o provimento de cargos diversos daquelepara os quais o servidor prestou concurso público, pouco importando se houvertransformação de postos ou transferência de servidores” (grifado)

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31. Ratificando o mesmo pensar, veja-se a lição do também professorKILDARE GONÇALVES CARVALHO (Direito Constitucional, 11a ed., BeloHorizonte: Del Rey, 2005, 585):

“a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia emconcurso público de provas ou provas e títulos, de acordo com a natureza e acomplexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas asnomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação eexoneração. Acrescente-se a essa norma constitucional o inciso IX do art. 37,que prescreve: ‘a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinadopara atender a necessidade temporária de excepcional interesse público’. Assim,a primeira exceção à regra do concurso reclama que a lei determineexpressamente quais os cargos de confiança que podem ser providos por pessoasestranhas ao funcionalismo e sem o concurso público, e a segunda exceçãodepende da ocorrência desses requisitos: a) excepcional interesse público; b)temporariedade da contratação; c) hipóteses expressamente previstas em lei,que poderá ser federal, estadual, distrital ou municipal, segundo a entidadecontratadora. Acentue-se finalmente que a exigência do concurso público seimpõe não só para a primeira investidura, mas ainda para as hipóteses detransformação de cargos e transferência de servidores para outros cargos oucategorias funcionais diversas das iniciais” (grifado)

32. A partir dos ensinamentos consignados, bem como da leitura do textodo art. 37, II, acima citado, no âmbito do contexto do sistema principiológicoconstitucional, em que evidentemente são supervalorizados os vetores daimpessoalidade, da moralidade, da isonomia e da finalidade pública no trato dasquestões administrativas (art. 37, caput, da Carta Magna), tudo em decorrência dofato de que o Brasil se constitui em “Estado Democrático de Direito” (art. 1o da CF),orientado para a concretização dos direitos fundamentais das mais diversasdimensões e para a otimização da igualdade material em benefício de sua população,percebe-se que a exigência do concurso público para a prévia investidura em cargospúblicos de provimento efetivo, homenageia o princípio do mérito no acesso aoscargos e empregos públicos, que intenta trazer para os quadros de pessoal dasdiversas administrações estatais os profissionais que se demonstrarem mais aptosdurante um processo seletivo formalmente regrado por lei, barrando, por outro lado,qualquer prática que objetive a apropriação dos cargos e empregos públicos porquem não demonstrar previamente, em igualdade de condições com outroscandidatos, possuir tal merecimento de investidura.

33. Ressalte-se que o vício de inconstitucionalidade não atinge apenas oprovimento originário em cargo de provimento efetivo, compreendendo tambémqualquer tipo de provimento derivado, seja decorrente de enquadramento, absorção,transferência, relotação, transposição ou qualquer outra forma que importe nainvestidura em cargo de provimento efetivo diverso daquele para o qual o servidor

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foi originariamente admitido no serviço público, ressalvadas as promoções naprópria carreira.

34. Neste aspecto, veja-se que a situação da Demandada importou emdupla vulneração da regra constitucional, na medida em que logrou ser transferidade outro órgão para o quadro de pessoal da Assembléia Legislativa do Estado do RioGrande do Norte, quando então foi enquadrada na titularidade de cargo diversodaquele que originariamente exerciam.

35. Já no longínquo ano de 1994, o Supremo Tribunal Federal, pelo seuórgão plenário, na ADI n. 248/RJ, relator Ministro Celso de Mello (DJ de 08/04/1994),consignou expressamente a plena impossibilidade de provimento de cargos ouempregos públicos, com exceção dos cargos de provimento em comissão e dascontratações temporárias por excepcional interesse público, sem o prévio concursopúblico, seja para a investidura originária, seja para o provimento derivado atravésde transferências, absorções, ascensões, enquadramentos e quejandos, sendoinconstitucionais quais normas que autorizassem tal burla à Carta Maior. Eis aementa do referido julgado:

“EMENTA: ADIN - CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DEJANEIRO (ADCT, ARTS. 69 E 74) - PROVIMENTO DERIVADO DECARGOS PUBLICOS (TRANSFERENCIA E TRANSFORMAÇÃO DECARGOS) - OFENSA AO POSTULADO DO CONCURSO PÚBLICO -USURPAÇÃO DO PODER DE INICIATIVACONSTITUCIONALMENTE RESERVADO AO CHEFE DOEXECUTIVO - PROCEDENCIA DA AÇÃO. - Os Estados-membrosencontram-se vinculados, em face de explicita previsão constitucional (art. 37,caput), aos princípios que regem a Administração Pública, dentre os quaisressalta, como vetor condicionante da atividade estatal, a exigência deobservância do postulado do concurso público (art. 37, II). A partir daConstituição de 1988, a imprescindibilidade do certame público não mais selimita a hipótese singular da primeira investidura em cargos, funções ouempregos públicos, impondo-se as pessoas estatais como regra geral deobservância compulsória. - A transformação de cargos e a transferência deservidores para outros cargos ou para categorias funcionais diversas traduzem,quando desacompanhadas da previa realização do concurso público de provasou de provas e títulos, formas inconstitucionais de provimento no ServiçoPúblico, pois implicam o ingresso do servidor em cargos diversos daqueles nosquais foi ele legitimamente admitido. Insuficiência, para esse efeito, da meraprova de títulos e da realização de concurso interno. Ofensa ao princípio daisonomia. - A iniciativa reservada das leis que versem o regime jurídico dosservidores públicos revela-se, enquanto prerrogativa conferida pela CartaPolítica ao Chefe do Poder Executivo, projeção especifica do princípio daseparação de poderes. Incide em inconstitucionalidade formal a norma inscrita

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em Constituição do Estado que, subtraindo a disciplina da matéria ao domínionormativo da lei, dispõe sobre provimento de cargos que integram a estruturajurídico-administrativa do Poder Executivo local. - A supremacia jurídica dasnormas inscritas na Carta Federal não permite, ressalvadas as eventuaisexceções proclamadas no próprio texto constitucional, que contra elas sejainvocado o direito adquirido. Doutrina e jurisprudência”.

36. Tal orientação do Supremo Tribunal Federal, por sua vez, foi mantidapelas diversas formações da Egrégia Corte, sendo repetida diuturnamente nosjulgados do colegiado até nos dias atuais, conforme se verifica pelo seguinteprecedente do Plenário do STF (ADI n. 3442/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ07/12/2007, unanimidade):

“EMENTA: Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Arts. 68, 69 e 70 daLei nº 8.269/2004, do Estado de Mato Grosso, que permitem o provimento decargos efetivos por meio de reenquadramento. 3. Violação ao artigo 37, II, daConstituição da República, que dispõe sobre a exigência de concurso públicopara a investidura em cargo ou emprego público. 4. Ação Direta deInconstitucionalidade julgada procedente”.

37. Em seu voto, acolhido por todos os ministros do Plenário do SupremoTribunal Federal, o Min. Gilmar Mendes assim resumiu o entendimento da CorteSuperior sobre a matéria:

“A Constituição de 1988, ao exigir a prévia aprovação em concurso públicocomo a única forma de investidura em cargo ou emprego público, e não maisapenas para a primeira investidura, como previsto pela ordem constitucionalanterior, baniu do ordenamento jurídico as formas de provimento derivado,como a ascensão funcional e a transferência, que tornam possível a investidurade servidores em outros cargos para os quais são prestaram o específicoconcurso público. A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é pacífica quanto ao tema daindispensabilidade do concurso público para provimento de cargos e empregospúblicos, conforme se depreende do enunciado da Súmula/STF n. 685: ‘Éinconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidorinvestir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seuprovimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormenteinvestido’. A fim de corroborar tal entendimento, mencionem-se alguns julgados maisrecentes: ADI 3.190. Pleno, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 24.11.2006;ADI 3.061, Pleno, unânime, Rel. Min. Carlos Britto, DJ 9.6.2006; ADI 3.332,Pleno, unânime, Rel. Min. Eros Grau, DJ 14.10.2005; ADI 3.519, Pleno,unânime, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ 30.09.2005.”

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38. Além dos precedentes transcritos, cabe ainda referência aos seguintesjulgados do Supremo Tribunal Federal:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.ASCENSÃO OU ACESSO, TRANSFERÊNCIA E APROVEITAMENTONO TOCANTE A CARGOS E EMPREGOS PÚBLICOS.- O CRITÉRIO DO MÉRITO AFERÍVEL POR CONCURSO PÚBLICO DEPROVAS OU DE PROVAS E TÍTULOS É, NO ATUAL SISTEMACONSTITUCIONAL, RESSALVADOS OS CARGOS EM COMISSÃODECLARADOS EM LEI DE LIVRE NOMEAÇÃO E EXONERAÇÃO,INDISPENSÁVEL PARA CARGO OU EMPREGO PÚBLICO ISOLADOOU EM CARREIRA. PARA O ISOLADO, EM QUALQUER HIPÓTESE;PARA O EM CARREIRA, PARA O INGRESSO NELA, QUE SÓ SEFARÁ NA CLASSE INICIAL E PELO CONCURSO PÚBLICO DEPROVAS OU DE PROVAS E TÍTULOS, NÃO O SENDO, PORÉM,PARA OS CARGOS SUBSEQÜENTES QUE NELA SE ESCALONAMATÉ O FINAL PROVIMENTO QUE É A “PROMOÇÃO”.- ESTÃO, POIS, BANIDAS DAS FORMAS DE INVESTIDURAADMITIDAS PELA CONSTITUIÇÃO A ASCENSÃO E ATRANSFERÊNCIA, QUE SÃO FORMAS DE INGRESSO EM CARREIRADIVERSA DAQUELA PARA A QUAL O SERVIDOR PÚBLICOINGRESSOU POR CONCURSO, E QUE NÃO SÃO, POR ISSO MESMO,ÍNSITAS AO SISTEMA DE PROVIMENTO EM CARREIRA, AOCONTRÁRIO DO QUE SUCEDE COM A PROMOÇÃO, SEM A QUALOBVIAMENTE NÃO HAVERÁ CARREIRA, MAS, SIM, UMASUCESSÃO ASCENDENTE DE CARGOS ISOLADOS.- O INCISO II DO ARTIGO 37 DA CONSTITUIÇÃO FEDERALTAMBÉM NÃO PERMITE O “APROVEITAMENTO”, UMA VEZ QUE,NESSE CASO, HÁ IGUALMENTE O INGRESSO EM OUTRACARREIRA SEM O CONCURSO EXIGIDO PELO MENCIONADODISPOSITIVO.- AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE QUE SE JULGAPROCEDENTE PARA DECLARAR INCONSTITUCIONAIS OSARTIGOS 77 E 80 DO ATO DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS DOESTADO DO RIO DE JANEIRO.” (ADIn 231-RJ, rel. Min. MoreiraAlves, j. 05.08.92, publicada no DJ de 13.11.92, pág. 20848, Pleno, pormaioria de votos).

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PRELIMINAR.EXIGÊNCIA DE DEFESA DO ATO OU TEXTO IMPUGNADO PELOADVOGADO GERAL DA UNIÃO. PROVIMENTO DE CARGOS DECARREIRA DE PROCURADOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA SEMCONCURSO PÚBLICO, ART.68 DO A.D.C.T. DA CONSTITUIÇÃO DOESTADO DO RIO DE JANEIRO.

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Preliminar: A Constituição exige que o Advogado Geral da União, ou quemdesempenha tais funções, faça a defesa do ato impugnado em ação direta deinconstitucionalidade. Inadmissibilidade de ataque à norma por quem está noexercício das funções previstas no § 3.1. O art. 68 do A.D.C.T. fluminense, reportando-se ao § 1º do art. 121 dasdisposições permanentes e ao art. 11 da Lei nº 1.279/88, o qual alterou o art. 18da lei 804/84, determina, de forma enigmática, o “aproveitamento” deocupantes de cargo de Assistente Jurídico na carreira de Procurador daAssembléia Legislativa. O § 1º do art. 97 da carta de 1969 exigia concursopúblico para a “primeira investidura” no serviço público, e não para o cargoinicial da carreira, além de ressalvar outros casos indicados em lei; permitia,pois, o provimento derivado de cargos públicos pelo acesso, transferência,aproveitamento e progressão funcional. Precedente: Repr. nº1.163-PI. O art.37, II, da Constituição exige concurso público para investidura em qualquercargo público, salvo para os cargos em comissão declarados em lei de livrenomeação e exoneração e para os cargos subseqüentes da carreira, cujainvestidura se faz pela forma de provimento denominada “promoção”. Nãopermite, pois, o provimento por ascensão ou acesso, transferência eaproveitamento de servidor em cargos ou empregos públicos de outra carreira,diversa daquela para a qual prestou concurso público. Precedente: ADIN nº231-RJ.2. Ação direta julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade e aconseqüente ineficácia do artigo 68 do A.D.C.T., desde a promulgação daConstituição Fluminense.” (ADIn 242/RJ, Pleno, rel. Min. PauloBrossard; j. 20/10/94).

“DESVIO DE FUNÇÃO – ENQUADRAMENTO. O fato de ocorrer desviode função não autoriza o enquadramento do servidor público em cargo diversodaquele em que foi inicialmente investido, mormente quando não estãocompreendidos em uma mesma carreira. O deferimento do pedido formulado,passado a ser o servidor de Motorista Diarista a Detetive de Terceira Classesem o concurso público, vulnera o inciso II do artigo 37 da ConstituiçãoFederal de 1988.”(RE 165128/RJ, Segunda Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 12/12/96,publicado no DJ em 15/03/96; p. 07209).

"I- Concurso público: exigência incontornável para que o servidor sejainvestido em carreira diversa.À vista da Constituição de 1988, consolidou-se definitivamente no STF que-ressalvado exclusivamente o provimento derivado mediante promoção- quepressupõe a integração de ambos os cargos na mesma carreira-, sãoinadmissíveis quaisquer outras formas de provimento do servidor público,independentemente de concurso público, em cargo diverso daquele para do qualseja titular a qualquer título, precedido ou não a nova investidura de processo

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de seleção interno ou habilitação: precedentes." (STF - RE n. 143.807, RelatorMin. Sepúlveda Pertence, publicado no Informativo do STF nº 185, de27 de abril de 2000)

39. Como visto, tão pacífico é o entendimento da Suprema Corte, que foieditado verbete de sua súmula de jurisprudência, sob o nº 685, com o seguinte texto:“É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidorinvestir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seuprovimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido”.

40. Ora, tudo o que foi dito até o momento é pertinente ao caso ora tratado,uma vez que a Demandada foi “enquadrada” em cargo de provimento efetivo, semter sido previamente aprovada em concurso público destinado ao provimento destecargo.

41. Pela análise da situação da Demandada, percebe-se que ela possuíavínculo funcional anterior com o Banco do Estado do Rio Grande do Norte –BANDERN e foi distribuída à Assembléia Legislativa, para depois ser incorporada aoseu quadro de pessoal em cargo de provimento efetivo, com evidente burla à regraconstitucional do concurso público.

42. Essa situação configura FLAGRANTE e ABSURDA violação ao art. 37,II, da Constituição Federal, bem como ao enunciado nº 685 da súmula dejurisprudência do Supremo Tribunal Federal, por parte do Estado do Rio Grande doNorte, através da sua Assembléia Legislativa.

43. Destarte, seja qual for o fundamento legal utilizado para realizar oenquadramento da Demandada, notadamente os artigos 1º e seguintes da Lei n. 6.045,de 04.10.1990; artigos 1º e seguintes do Decreto Governamental nº 11.407, de 05.08.1992; eartigo 1º da Resolução n. 007/93, de 22.01.1993, editada pela Assembléia Legislativa do RioGrande do Norte, tais fundamentos devem ser afastados por inconstitucionalidadeevidente, para em conseqüência ser reconhecida a nulidade da investidura daDemandada em cargo de provimento efetivo do quadro de pessoal da AssembléiaLegislativa, bem como de todos os atos administrativos posteriores relacionados àsua carreira, inclusive eventual aposentadoria, iniciada pela transferência/relotação eenquadramento inconstitucional da mesma no cargo acima citado, tudo na forma do§ 2o do art. 37 da Constituição Federal, quando estabelece peremptoriamente que “anão observância do disposto nos incisos II e III, implicará a nulidade do ato” (art.37, § 2º).

III - DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA.

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44. Nos exatos termos do artigo 273 do Código de Processo Civil, in verbis:

“Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ouparcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que,existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação;”

45. Tal previsão normativa objetivou quebrar o paradigma do“procedimento ordinário” até então vigente, em virtude do qual o autor,independentemente da situação de direito material posta nos autos, deveria esperartodo o desenrolar do procedimento ordinário, até o trânsito em julgado da sentençaou do acórdão de mérito, para ter direito a uma resposta jurisdicional ao seu pedido,resposta essa que se limitava às sentenças declaratória, constitutiva ou condenatória,muitas vezes inaptas para tutelar com efetividade o direito alegado na petição inicial.

46. A partir da situação mencionada, percebeu-se que o tempo do processoera um ônus criado pelo próprio Estado em virtude da proibição, por ele estabelecida(art. 345 do Código Penal), da vingança privada por parte do cidadão como forma deproteção e realização de seu direito. E já que o próprio Estado exigia que o autorsempre fizesse prova do seu direito antes de obter alguma resposta jurisdicional,impondo ao mesmo que aguardasse todo o desenrolar processual, que poderiachegar a décadas, não se demorou muito a concluir que, em determinados casos,quando o direito do autor fosse evidente ou em casos em que a questão de direitomaterial exigisse pronta resposta, sob pena de grave dano, constituiria extremainjustiça submeter aquele que tivesse um direito com boa probabilidade de acolhidaa aguardar todo o processo para ser protegido, beneficiando-se, assim, o réu que nãotinha qualquer razão.

47. Daí a motivação do legislador ao instituir a técnica processual daantecipação dos efeitos da tutela final pretendida. Tal técnica deve, portanto, serentendida não sob os olhos das garantias clássicas do procedimento ordinário epatrimonialista, em que todos os direitos poderiam ser convertidos em pecúnia, e,portanto, poderiam esperar até o trânsito em julgado do feito para serem protegidos,mas sim segundo as lentes do direito fundamental ao acesso à tutela jurisdicionalefetiva, garantido no art. 5o, XXXV, da Constituição Federal, que objetiva, entreoutras coisas, dar a cada situação de direito material uma tutela específica tão rápidaquanto mais evidente ele for e quanto maior o dano causado pela demora na suasatisfação.

48. Neste sentido, preciosa a lição de LUIZ GUILHERME MARINONI (Aantecipação da tutela, 7a ed., São Paulo: Malheiros, 2002, p. 29):

“A tutela antecipatória, agora expressamente prevista no Código de ProcessoCivil (art. 273), é fruto da visão da doutrina processual moderníssima, que foi

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capaz de enxergar o equívoco de um procedimento destituído de uma técnica dedistribuição do ônus do tempo do processo. A tutela antecipatória constituiinstrumento da mais alta importância para a efetividade do processo, não sóporque abre oportunidade para a realização urgente dos direitos em casos defundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação mas também porquepermite a antecipação da realização dos direitos no caso de abuso de direito dedefesa ou manifesto propósito protelatório do réu. Desta forma concretiza-se oprincípio de que a demora do processo não pode prejudicar o autor que temrazão e, mais do que isso, restaura-se a idéia – que foi apagada pelocientificismo de uma teoria distante do direito material – de que o tempo doprocesso não pode ser um ônus suportado unicamente pelo autor”.

45 No caso em exame, é preciso ter em mente que se objetiva, por meio doinstrumental da ação civil pública, a proteção de direito difuso (o concurso público, alegalidade, a impessoalidade e a moralidade administrativa no acesso aos cargospúblicos), de interesse de todos os membros da sociedade potiguar, sociedade essaque, como a brasileira de um modo geral, está cansada dos diversos casos deutilização privada de bens e serviços públicos por parte de um punhado deprivilegiados, com acesso político aos altos escalões dos poderes constituídos.

49. Por isso, a demora na proteção desse direito deve ser vista sob areferida ótica, como a postergação do enriquecimento ilícito, às custas do erárioestadual, de um pequeno grupo que, violando o princípio da isonomia e do méritono acesso aos cargos públicos, foi “enquadrado” em cargo de provimento efetivo daAssembléia Legislativa, sem se submeter antes a concurso público específico que lhegarantisse a investidura ora questionada.

50. Compreendendo, portanto, a natureza do problema ora atacado, bemcomo a finalidade do instituto da antecipação da tutela, percebe-se que estãopresentes todos os pressupostos para a antecipação de alguns dos efeitos da tutelajurisdicional ao final postulada.

51. De fato, o direito do autor, tal como já demonstrado, é mais do queverossimilhante, é quase impossível de não ser acatado ao final do feito, tendo emvista o fato de que a Demandada foram enquadrados em cargos de provimentoefetivo sem o prévio concurso público específico para os cargos ocupados, tudo emafronta a tranqüilo e sumulado entendimento do Supremo Tribunal Federal arespeito do tema. Tal enquadramento, por seu turno, está devidamente demonstradopelos documentos que instruem a presente petição, encerrados nos inclusos anexosdo Inquérito Civil nº 069/08, da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público deNatal.

52. Por outro lado, o risco de dano irreparável ou de difícil reparaçãodecorre da situação de que, em se tratando de proteção ao erário e à moralidade

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administrativa, a cada dia em que a absurda situação da Demandada é mantida, maisela se locupleta indevidamente por ter sido beneficiada claramente por um sistemade privilégios, invertendo a própria ordem do jogo democrático, quebrando oprincípio da isonomia e se louvando de prática secular que impede, justamente, opleno desenvolvimento das potencialidades econômicas e sociais do país, relegandoa maioria – por eles injustamente ultrapassada – ao atraso, enquanto o Estado gastaseus recursos com quem conscientemente violou frontalmente a ConstituiçãoFederal.

53. Ressalte-se que a manutenção da Demandada em cargo de provimentoefetivo impede que a Assembléia Legislativa possa abrir um concurso público, e,seguindo o princípio constitucional da acessibilidade dos cargos públicos, promovera oxigenação da instituição com pessoas admitidas exclusivamente pelos própriosméritos e não por meros e abjetos apadrinhamentos políticos, que são a base dosvícios do serviço público.

54. Não resta dúvida de que há periculum in mora apto a justificar aprestação jurisdicional célere quando um princípio basilar do Estado Democrático deDireito foi (e está sendo) ferido gravemente, por meio de privilégios políticos aapadrinhados. De fato, como já assinalado anteriormente, os beneficiários desseapadrinhamento não são pessoas comuns do povo e não foram beneficiados de boa-fé, tendo sido contemplados com permissivo de legislação estadual de evidenteinconstitucionalidade. Além disso, a manutenção dessa situação causa indignação erevolta nos demais servidores públicos que tiveram que se submeter ao concursopúblico para ingresso no serviço público, bem como repugna a sociedade em geralque se vê impedida de ter acesso, via concurso público, aos cargos da AssembléiaLegislativa.

55. O julgador, segundo as lições contemporâneas sobre a hermenêuticajurídica, não pode mais pensar em abstrato, metafisicamente, como se os conceitosjurídicos fossem feitos para outro planeta e não para a vida tal como ela é1. E aparcela da vida posta nos autos traz mais um exemplo de utilização do erário e daestrutura administrativa em benefício de protegidos, que, fugindo de comandosconstitucionais concretizadores de princípios basilares do Estado Democrático deDireito (isonomia, mérito, impessoalidade, moralidade, prevalência do regimejurídico – rule of law – sobre a lei do mais forte), passaram a integrar uma carreirapública para a qual não se mostraram aptos previamente por meio de concursopúblico.

56. Caso se fechem os olhos para o tipo de “dano irreparável ou de difícilreparação” de que se trata em concreto, e se entenda que, por possuir o Estadorobusta capacidade financeira, deva suportar ainda mais a sangria provocada pelo

1 Ver Lênio Luiz Streck, Hermenêutica Jurídica e(m) Crise – uma exploração hermenêutica daconstrução do direito, 7a ed., Porto Alegre: 2007.

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inconstitucional “enquadramento” da Demandada em cargo de provimento efetivoda Assembléia Legislativa, então o processo civil não estará dando a tutela efetiva aobem jurídico difuso violado, malferindo, assim, o direito ao acesso à justiça, previstono art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal, por obrigar um direito evidente –direito da sociedade à proteção contra acesso indevido de protegidos politicamenteaos cargos públicos sem prestação de concurso público – a esperar mais do que onecessário para ser tutelado, em prejuízo do erário e da efetividade dos princípios doEstado Democrático do Direito em nossa sociedade.

57. Concluindo, o próprio existir da situação da Demandada, percebendodurante anos a remuneração atribuída ao cargo efetivo em que foi investida semprévio concurso público, por si só, já representa dano irreparável para o erárioestadual, para a democracia e para a ordem jurídica brasileira. E a cada dia quepassa, e tal situação é mantida, solapando as bases constitucionais da administraçãopública para fins de enriquecimento ilícito de protegidos políticos, mais perde nossasociedade, mantida em atraso por esses mesmos grupos políticos que se utilizam dopoder concedido pelo povo para seu próprio bem-estar e para o bem-estar de seuspróximos.

58. É importante destacar que, em situação semelhante à tratada nestapetição, o Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas, no julgamento do Agravo deInstrumento – Processo nº 2008.00527-9, manteve o afastamento de todos osservidores da Assembléia Legislativa daquele Estado que foram nomeados semconcurso público após a Constituição Federal de 1988.

59. Diante, portanto, da prova, por via documental (anexo do InquéritoCivil n. 069/08), da verossimilhança do fundamento da presente demanda –nulidade, por violação do art. 37, II da Constituição Federal e do verbete n. 685 dasúmula do Supremo Tribunal Federal, do enquadramento da Demandada por partedo Estado (Assembléia Legislativa) em cargo de provimento efetivo sem prévioconcurso público – e presente o dano irreparável ou de difícil reparação namanutenção prática da situação criada com a referida absorção, pretende oMinistério Público que sejam antecipados os efeitos da tutela final adiante postulada,para que seja determinado ao Estado do Rio Grande do Norte, por meio daAssembléia Legislativa, o afastamento da Demandada do quadro permanente depessoal da Assembléia Legislativa; ou de qualquer outro cargo no âmbito daadministração pública estadual para o qual não tenha sido investida através deconcurso público; e a suspensão de qualquer pagamento à mesmos a título decontraprestação pelo exercício de cargo de provimento efetivo na AssembléiaLegislativa, tudo sob pena de multa a ser fixada por esse Juízo ou da adoção deoutras técnicas processuais de cumprimento previstas nos arts. 273 e 461 e seusparágrafos do Código de Processo Civil.

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IV – DOS PEDIDOS FINAIS.

60. Por todo o exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL aVossa Excelência:

a) a intimação do ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, antes daapreciação do pedido liminar, para fins do disposto no artigo 2º daLei nº 8.437/92;

b) a concessão da tutela antecipada, sem a oitiva da servidoraDemandada, para que, declarando-se incidentalmente, como causade pedir, a inconstitucionalidade dos artigos 1º e seguintes da Lei n.6.045, de 04.10.1990; artigos 1º e seguintes do Decreto Governamentalnº 11.407, de 05.08.1992; e artigo 1º da Resolução n. 007/93, de22.01.1993, editada pela Assembléia Legislativa do Rio Grande doNorte, ou de qualquer outra norma infraconstitucional que tenhaautorizado o enquadramento da Demandada em cargo deprovimento efetivo da Assembléia Legislativa, seja determinado aoESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, por meio da AssembléiaLegislativa, que promova o afastamento funcional da servidoraDemandada, do Quadro de Pessoal da Assembléia Legislativa, ou dequalquer outro cargo efetivo no âmbito da administração públicaestadual para o qual não tenha sido investida através de concursopúblico; e a consequente suspensão do pagamento à Demandada atítulo de contraprestação pelo exercício de cargo de provimentoefetivo da Assembléia Legislativa, tudo sob pena de multa a serfixada por esse Juízo ou da adoção de outras técnicas processuais decumprimento previstas nos arts. 273 e 461 e seus parágrafos doCódigo de Processo Civil;

c) a citação dos Demandados, para, querendo, oferecer contestação àpresente demanda, sob pena de revelia, podendo, contudo, oESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, ao invés de apresentardefesa, integrar a lide na condição de litisconsorte ativo, uma vez quese trata de ação coletiva, aplicando-se o disposto no artigo 5º, § 2º, daLei nº 7.347/85;

d) o julgamento antecipado da lide, na forma do artigo 330, I, doCódigo de Processo Civil, em razão da demanda em exame nãoexigir a produção de prova em audiência;

e) a procedência final da ação, confirmando-se a medida liminardeferida, para:

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1. declarar incidentalmente, como causa de pedir, ainconstitucionalidade dos artigos 1º e seguintes da Lei n. 6.045, de04.10.1990; artigos 1º e seguintes do Decreto Governamental nº11.407, de 05.08.1992; e artigo 1º da Resolução n. 007/93, de22.01.1993, editada pela Assembléia Legislativa do Rio Grande doNorte, bem como de qualquer outra norma infraconstitucional quetenha autorizado o enquadramento da Demandada em cargo deprovimento efetivo da Assembléia Legislativa;

2. declarar a nulidade dos atos de relotação, transferência eenquadramento da Demandada, na forma do art. 37, § 2o, daConstituição Federal, em cargo de provimento efetivo do quadrode pessoal da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande doNorte, bem como de todos os atos administrativos posterioresrelacionados à sua carreira, inclusive eventual aposentadorial;

3. determinar a exclusão da Demandada do quadro permanente depessoal da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande doNorte; ou de qualquer outro cargo efetivo no âmbito daadministração pública estadual para o qual não tenha sidoinvestida através de concurso público;

4. condenar a Demandada à devolução aos cofres públicos dosvalores indevidamente percebidos;

5. condenar a Demandada nas custas processuais.

61. Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Natal (RN), 16 de setembro de 2008.

Afonso de Ligório Bezerra JúniorPromotor de Justiça

Oscar Hugo de Souza RamosPromotor de Justiça

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