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TÍTULO DO TRABALHO A indústria em Caxias do Sul e as transformações socioespaciais. TÓPICO TEMÁTICO Número Descrição 4 Industrialização, transformações socioespaciais e gestão do território AUTOR PRINCIPAL INSTITUIÇÃO Gloria Silvina Lia Fernández Molina UNISC CO-AUTORES INSTITUIÇÃO 1 Milton Roberto Keller UNISC 2 3 RESUMO DO TRABALHO Este trabalho procura entender as mudanças socioespaciais acontecidas no período de 1950 até 2000 no município de Caxias do Sul que coincide com o período de expansão da sua indústria. Este trabalho tem como finalidade sistematizar a dinâmica do processo de industrialização de Caxias do Sul e determinar quais foram os principais problemas ambientais e sociais enfrentados em virtude da expansão da população. Procura-se investigar se a indústria trouxe como conseqüência uma desordem no planejamento urbano e visa-se entender a gestão territorial no município. PALAVRAS- CHAVE Industrialização, Caxias do Sul, planejamento urbano, mudanças socioespaciais. ABSTRACT This work aims to understand the social and spatial changing happened in the period from 1950 to 2000 in the city of Caxias do Sul which coincides with the period of expansion of its industry. This work pretends to systematize the dynamics of the process of industrialization in Caxias do Sul and determine which environmental and social problems ocurred because of the expanding population. The objective of this paper is to investigate if the industry has brought a disorder in urban planning and aims to understand the territorial management in the territory. KEYWORDS Industrialization, Caxias do Sul,urban planning, , social and spatial changing.

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Page 1: A indústria em Caxias do Sul e as transformações socioespaciais. · Rio Grande do Sul. Pequenos agricultores, procedentes, em sua maioria, do Tirol, do Vêneto e da Lombardia,

TÍTULO DO TRABALHO

A indústria em Caxias do Sul e as transformações socioespaciais.

TÓPICO TEMÁTICONúmero Descrição4 Industrialização, transformações socioespaciais e gestão do território

AUTOR PRINCIPAL INSTITUIÇÃO

Gloria Silvina Lia Fernández Molina UNISC

CO-AUTORES INSTITUIÇÃO

1 Milton Roberto Keller UNISC

23

RESUMO DO TRABALHO

Este trabalho procura entender as mudanças socioespaciais acontecidas no períodode 1950 até 2000 no município de Caxias do Sul que coincide com o período deexpansão da sua indústria. Este trabalho tem como finalidade sistematizar a dinâmicado processo de industrialização de Caxias do Sul e determinar quais foram osprincipais problemas ambientais e sociais enfrentados em virtude da expansão dapopulação. Procura-se investigar se a indústria trouxe como conseqüência umadesordem no planejamento urbano e visa-se entender a gestão territorial nomunicípio.

PALAVRAS- CHAVE

Industrialização, Caxias do Sul, planejamento urbano, mudanças

socioespaciais.

ABSTRACT

This work aims to understand the social and spatial changing happened in the periodfrom 1950 to 2000 in the city of Caxias do Sul which coincides with the period ofexpansion of its industry. This work pretends to systematize the dynamics of theprocess of industrialization in Caxias do Sul and determine which environmental andsocial problems ocurred because of the expanding population. The objective of thispaper is to investigate if the industry has brought a disorder in urban planning andaims to understand the territorial management in the territory.

KEYWORDS

Industrialization, Caxias do Sul,urban planning, , social and spatial changing.

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Introdução.

Durante o século XX, Caxias experimentou diversas transformações na sua

economia que provocou um reflexo na composição da sua população, que cresceu,

para ter uma idéia 250% entre 1960 e o ano 2000. O processo de industrialização teve

um papel decisivo no aumento da demografia do município e trouxe problemas sociais

e ambientais como conseqüência do crescimento da sua população e da urbanização

desenfreada. Como resultado da industrialização acelerada, principalmente a partir do

ano de 1955, Caxias também vai mudar o processo produtivo já que ao lado da

produção de bens de consumo para trabalhadores, vai surgir a produção de bens

duráveis em grande escala. Com a ampliação das rodovias, o setor metal-mecânico e

o de material de transportes conseguem liderar o valor de produção do município e

também a partir dos anos setenta começam a se aprofundar as fusões e

incorporações das empresas e Caxias deixa o perfil tradicional onde predominava a

pequena e media empresa de cunho familiar para se transformar num pólo industrial

caracterizado pela presença de várias firmas com diferente tipo de organização onde

se observa também a existência de grandes grupos de origem internacional.

Para poder analisar as transformações no município de Caxias do Sul, num

primeiro momento pretende-se analisar a história de Caxias com a chegada dos

imigrantes e a descrição da sua economia nos primórdios da colonização.

Num segundo momento pretende-se fazer uma reflexão sobre o processo de

industrialização a partir do inicio do século XX até o ano de 2000. Faz-se uma análise

dos principais momentos da indústria e quais foram suas características mais

importantes.

Posteriormente, levantam-se as questões relacionadas com as mudanças

ocorridas no seu território em virtude da industrialização. Com a nova lógica

competitiva que impera atualmente, os processos de produção precisam abrir novos

mercados, ampliar sua base de produção e incorporar novas tecnologias. Grandes

grupos de empresas são atraídos pelas condições que apresenta o lugar e graças ao

desempenho da sua economia, principalmente no que se refere a sua indústria, atrai a

migração de municípios vizinhos e diferentes lugares do Estado. Isto tem reflexo no

seu território já que o município apresenta problemas ambientais e sociais fruto da

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vinda de milhares de trabalhadores que chegam a Caxias diariamente em busca de

novas oportunidades. A partir deste fato, sinalizamos as principais desordens

provocadas pelo processo de urbanização acelerada e como a gestão municipal

resolve as questões do planejamento urbano.

HISTORIA DE CAXIAS DO SUL

Desde 1870, o governo imperial incentivou a vinda de colonos italianos para o

Rio Grande do Sul. Pequenos agricultores, procedentes, em sua maioria, do Tirol, do

Vêneto e da Lombardia, estabeleceram uma série de colônias, das quais a de Caxias

foi a mais importante.

A colônia de Caxias, fundada em 1875, sob o nome de Fundos de Nova

Palmira, estava situada entre os Campos de Cima da Serra, ao norte, e as colônias de

Nova Petrópolis, Nova Palmira e Picada Feliz, ao sul. No dia 12 de abril de 1884,

Caxias foi emancipada do regime colonial, tornando-se o 5º distrito de Paz do

município de São Sebastião de Caí.

Conforme Giron (1977, p.30), “A entrada dos imigrantes na colônia Caxias

corresponde ao segundo período da imigração brasileira, situado entre 1850 e 1930.

Os imigrantes chegam a Caxias no período que vai de 1872 a 1913”.

No dia 20 de junho de 1890, Caxias foi elevada à categoria de município. Sua

população e seu progresso não pararam de crescer. Uma questão que se deve

ressaltar é o constante aumento da população nas colônias italianas. Manfroi (1975)

destaca que a crescente população se deve à chegada de novos imigrantes e ao

crescimento da taxa de natalidade das famílias já instaladas. À continuação, Manfroi

nos oferece uma idéia do número de habitantes no fim do século XIX e início do

século XX:

Em novembro de 1879, a população da colônia de Caxias era

calculada em 6.398 habitantes dos quais 5.238 eram italianos. No dia

12 de abril de 1884, Caxias foi emancipada do regime colonial,

tornando-se o 5º distrito da Paz do município de São Sebastião de

Caí. A população foi estimada em 10.591 habitantes. A 31 de

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dezembro de 1885, Caxias tinha 13.818 habitantes. (Manfroi, 1975,

p.73)

Em relação aos problemas enfrentados pelos colonos italianos, observa-se que

o transporte, a distância dos centros consumidores, o desconhecimento do clima e

das lavouras assim como a concorrência com as outras colônias foram os principais

empecilhos para desenvolver a sua economia.

A colonização italiana iria, assim, lutar, de início, com um sem númerode condições desfavoráveis. Entre eles os das terras menos aptas, dadistância e da falta de vias de comunicação, do desconhecimento doclima e das lavouras tradicionais no meio, e principalmente, com aimpossibilidade de situar-se razoavelmente em face dos concorrentesdas baixadas, ocupantes de terras às portas do principal mercadoconsumidor e exportador da Província.( Pellanda, 1956,p. 143.)

A partir da produção agrícola, que tinha, como unidade produtiva, a pequena

propriedade, acumulou-se capital. Os colonos da região de Caxias do Sul destinaram

seus excedentes para o comércio e participaram em empreendimentos na zona

urbana, ou constituíram pequenas fábricas que atendiam a sua zona de produção.

A inauguração, em 1910, da linha férrea que ligava Caxias a Porto Alegre

marcou o fim de sua dependência econômica com S.Sebastião do Caí e foi o ponto de

partida de seu grande desenvolvimento comercial e industrial (Manfroi, 1975, p. 74).

Houve um deslocamento da corrente tradicional de comércio. As casas de

comércio do Caí mudaram-se para Porto Alegre, estabelecendo filiais em Caxias, ao

mesmo tempo que as empresas industriais caxienses estabeleciam agências e

depósitos na capital, tratando de processar por si mesmas as vendas a outros

mercados.

Nasceu daí a prosperidade industrial que faria de Caxias, em poucos decênios,

um dos maiores centros fabris do Rio Grande do Sul, não obstante a situação,

distante, ao mesmo tempo, dos mercados de matérias-primas (exceto quanto ao

vinho) e dos mercados consumidores (Pellanda, 1956, p. 145).

Entretanto, a pesar das dificuldades enfrentadas para o desenvolvimento da

indústria, vemos, hoje, uma situação bem diferente, Caxias do Sul possui uma

economia industrial diversificada, com indústrias metalúrgicas, metal-mecânicas, de

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transporte, de móveis, de construção, de bebidas. Essas indústrias são de capital

local, organizadas nos moldes da pequena e média empresa, cujos donos são

pessoas ou famílias do lugar que convivem com grandes empresas controladas por

grupos econômicos de capital nacional e internacional.

Industrialização de Caxias do Sul

Para poder fazer uma evolução da indústria de Caxias, e poder analisar quem

foram os primeiros artesãos e comerciantes que possibilitaram um crescimento da

economia do município, devemos lembrar certos detalhes da sua história. O imigrante

agricultor, ao chegar às áreas destinadas a colonização, passou a dispor das

condições materiais necessárias, embora mínimas, para iniciar a produção de bens

necessários à sua subsistência e da família. Recebeu alguns instrumentos básicos de

trabalhos: sementes, ajuda monetária no primeiro ano e, o mais importante: um lote

de terra para ser pago em até cinco anos. Uma das características desse sistema de

subsistência era que o agricultor era obrigado a produzir os bens para seu próprio uso

e para as atividades desenvolvidas na área rural e urbana. Assim nasceram as

oficinas artesanais da antiga Colônia de Caxias. Como exemplo de oficinas artesanais

apresentamos o exemplo das ferrarias. Nesse sentido, Stormowski (2005) acrescenta

que as ferrarias, existentes no inicio do século XX, produziam quase tudo do que se

necessitava o agricultor e o comerciante dessa época. Dentre os objetos de maior

importância, a autora coloca como exemplo: utensílios domésticos, ferraduras, argolas

para correntes de ferro, ferramentas agrícolas e até carretas.

“Embora as ferrarias estivessem relativamente distribuídas,verifica-se que a maior parte delas situava-se nas léguas cortadaspelas principais vias de comunicação de Caxias, e apenas umnúmero diminuto se localizava nas léguas que não eram cortadas poressas estradas.” (Stormowski, 2005,p. 315).

Nesse caso, as ferrarias medem a importância do transporte na época porque

o traslado das mercadorias se realizava mediante animais, e, ferrar animais era uma

das principais funções desses estabelecimentos. Já Jean Roche (1969) se refere ao

transporte nas colônias alemãs e italianas indicando que com a ausência de estradas,

as picadas só podiam ser atingidas por animais de carga, motivando a remessa dos

produtos para São Leopoldo, onde eram embarcados para Porto Alegre.

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(Roche,1969,p.57). Os colonos utilizavam esse sistema até a abertura da linha

estrada de ferro Montenegro - Caixas, em 1911.

Nos relatos encontrados no arquivo municipal de Caxias, permite-se observar

que, para 1899, existiam mais animais fazendo o transporte do que carretas. Essa

situação muda posteriormente e a quantidade de carretas passa de 44 carretas em

1894 para 237 em 1909. Também os proprietários dos meios de transporte eram, em

muitos casos, os donos dos estabelecimentos comerciais, que em grande número

estavam situados na zona urbana coincidindo com a expansão de Caxias do Sul.

Conforme Favaro (2001) o que caracteriza a atividade econômica da primeira

fase da colonização em Caxias do Sul é a presença da mão de obra familiar em

pequenas empresas de capital também doméstico. A família era, ao mesmo tempo, o

patrão e o empregado trabalhando pelo mesmo objetivo: a sobrevivência.

As primeiras oficinas e fábricas, segundo Frizzo (1997), caracterizavam-se por

serem tecnologicamente diversificadas, combinando vários graus de desenvolvimento

e diferentes estágios históricos da industrialização.

No mesmo sentido, Giron (1977) examinou os dados de livro de impostos para

o ano de 1899, que pelo fato de ser uma fonte direta muito bem conservada no

arquivo de Caxias do Sul serviu de base para outros estudos. Nessa análise, a autora

concluiu que a economia regional estava baseada nas indústrias de bens de consumo

para trabalhadores destacando-se principalmente: a indústria vinícola, a tritícola e a

madeireira. Deve-se indicar que a produção do vinho nas colônias italianas era

artesanal. “Em sua pequena propriedade rural, o agricultor desenvolvia a policultura e

cuidava de seu parreiral, transformando a uva em vinho num pequeno espaço de sua

moradia, que ainda não poderia ser chamada de cantina.” (Nor e Baldiserrotto 1997,

p.62).

As próximas informações que possuímos são referentes ao exercício de 1910

onde figuram os nomes dos proprietários e o importe arrecadado do imposto.

Devemos ressaltar que muitos gêneros da indústria não eram gravados com esse

tributo, mas, essa informação proporciona indícios do processo de industrialização no

local. A análise dos livros de impostos e leis orçamentárias municipais permite

observar o aumento dos investimentos e de concentração de capital em certos

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gêneros das indústrias de Caxias do Sul. Nos relatos obtidos pelos jornais e

bibliografia da época se fala constantemente do problema do transporte. A

precariedade de meios de transportes resolveu-se com um fato importante na história

do município: a chegada da ferrovia. A chegada da estrada de ferro, inaugurada em

1º de junho de 1910, foi recebida com muito entusiasmo pela classe dominante na

época.

Conforme Nor e Pellizari (1982), a estrada de ferro beneficiava principalmente

os comerciantes, nas mãos de quem se realizava a acumulação de capital na região.

Foi um fator de crescimento na região Nordeste do Rio Grande do Sul: provocou

alterações substanciais na vida da comunidade caxiense, e prestou serviços públicos

relevantes (como o transporte de água numa época de intensa seca), serviu de

transporte não apenas a passageiros e mercadorias, mas também das tropas durante

as revoluções. Cumpriu-se o papel em determinado período histórico. Mas

principalmente serviu aos produtores e fabricantes dos mais diversos gêneros no

sentido de melhorar o transporte das mercadorias. Na opinião de Nor e Pellizari

(1982): “a construção da estrada de ferro, se efetiva em 1910 e vai proporcionar,

juntamente com a instalação da energia elétrica, em 1913, a abertura para a

expansão do capitalismo na região”. Uma das conseqüências positivas da instalação

das ferrovias foi a oportunidade de transportar materiais, antes inexistentes, tais como

a areia e, um outro beneficio foi a possibilidade de importar, posteriormente, para a

década de 1920, maquinaria pesada necessária para a indústria metalúrgica

nascente.

Conforme Adami (1971), para o ano de 1910, destacavam-se os

estabelecimentos vitivinícolas das firmas: Bisol & Cia, Antonio Pieruccini e Domingos

Tronca; a fábrica de tecidos de lã, de Ercules Galo, um moinho a vapor, da firma

Lermen, e outro hidráulico, iluminado à luz elétrica, de propriedade de Aristides

Germani.

Coincidindo com as palavras de Adami, pela pesquisa nas fontes primárias

realizada neste trabalho, dos dados obtidos na leitura dos livros de impostos para

1910, podemos inferir que as principais atividades desenvolvidas na colônia de Caxias

eram os depósitos de vinhos, os alambiques, os moinhos e as funilarias. “Com o

incremento da vitivinicultura, abriram-se perspectivas para uma indústria de

sustentação, fornecedora de instrumentos e máquinas para o cultivo e elaboração

deste produto.” (FROZI e MIORANZA, 1975, P.76). Na opinião desses autores, fica

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expressa a idéia que com o vinho se deram as condições para o aparecimento de

outro tipo de indústrias que diretamente ou indiretamente trabalhavam a partir do

produto principal da economia da colônia de Caxias. Para poder afirmar essa

hipótese, vamos trabalhar com a indústria em cada período e analisar as suas

características. A seguir vamos apresentar as principais indústrias do município para

1910 e desvendar quem eram os proprietários desses estabelecimentos conforme os

registros contábeis do município.

TABELA 1 Lançamento dos Contribuintes de Indústria e Profissões da

Intendência Municipal de Caxias no exercício de 1910.

Indústrias eProfissões

Nome dosproprietários oudos profissionais

I m p o r t earrecadado emcontos de reis

Total dei m p o s t oarrecadadopor setor

Percentualde impostoarrecadadopor setor.

Alambique BianchiDalle GraveBincardiMoratelliRossatoCasaraAdamiDemartineRizottoSebennBordin

25.00025.00025.00025.00025.00025.00010.00010.00040.00022.00010.000

242.000 18%

Alfaiateria Belém e filhos 30.000 30.000 2,25%Carpintaria Piagio Spinato 15.000 15.000 1,12Carretas Mascarello

BernardiniArnaldiTibola

10.00031.00030.00030.000

101.000 7,59

Curtume MascarelloFontana

40.00030.000

70.000 5,26

Fábrica de barro Giacomo Matiada 12.000 12.000 0,90Fábrica deGasosa

Leonardelli 30.000 30.000 2,25

Fábrica decadeiras

Vime 20.000 20.000 1,50

Fábrica deCerveja

Leonardelli 60.000 60.000 4,51

Fábrica de Moertorrar café

Piccoli 25.000 25.000 1,88

Fábrica deSalames

Gauna 25.000 25.000 1,88

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Ferraria Ambrosio StellaBruno BascoBenettiPaulettiVarrianiDionísio FabianiMascarelloFundição JoséTavaro

15.00015.00030.00030.00015.00015.00015.00010.000

145.000 10,90

Fundição Abramo EberleRossiW e b b e rFioravanteG i o c o n d oAntoniazzi

40.00050.00040.00040.000

170.000 12,78

Funilaria Abramo EberleRossiFernando Federle

30.00030.00015.000

75.000 5,63

Moinho GasperinRossattoBracagioliAnselmoFalavingaSalvadorMarcante

25.00025.00025.00015.00025.00025.00010.000

150.000 11,28

Ourivaria RossiAmbrosio Stella

30.00030.000

60.000 4,51

Ourivaria c/a r t i g o sestrangeiros

Abramo Eberle 45.000 45.000 3,38

Selaria RossiFontana

20.00010.000

30.000 2,25

Serraria Bernardini 25.000 25.000 1,88

1.330.000FONTE: Livro de contribuintes de Indústrias e Profissões no exercício de 1910.Arquivo Municipal DE Caxias do Sul.

Pelo visto anteriormente, os gêneros que mais arrecadam são os produzidos

nas metalurgias, nos moinhos e principalmente nos alambiques. Começam a surgir

nomes como Eberle e Rossi que marcaram história na indústria de Caxias. O vinho

continua sendo o propulsor das outras atividades e, a pesar da baixa quantia

arrecadada no imposto das indústrias e profissões, representa o setor mais dinâmico

na indústria nesse momento. Quando se fala em fábrica de salame, fábrica de

cadeiras e fábrica de moer café, pela quantidade arrecadada do imposto percebe-se

que não se trata de grandes empreendimentos, senão de pequenas manufaturas.

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Pelas informações de exportações do município, para este período, o produto saliente

continua sendo o vinho que alavanca as demais atividades.

Conforme aos impostos arrecadados para 1920, as metalurgias e os depósitos

de máquinas lideram a arrecadação com 26,17% e 6,28% respectivamente que

somados representam 32,45% do total e, os depósitos de vinho, que indicam as

vinícolas que processam o produto base de exportação, com um percentual de 18%.

As fábricas de bebidas também representam um percentual significativo porque se

somamos as fábricas de cervejas e as de licores arrecadam aproximadamente 10%

do total. Também devemos mencionar as fábricas de produtos alimentícios dando

destaque às fábricas de salames e aos moinhos, que produziam a farinha, outro

produto base da economia do lugar, com um percentual significativo de 9,25% e

5,23% respectivamente.

Segundo Pezzi Eberle (1985), a década de vinte caracteriza-se por profundas

transformações ocorridas na viticultura da região, a qual é estimulada e alcança o

apogeu na época subseqüente. Nesse período, a Estação experimental importa de

França amostras de uvas, fato significativo para a produção de melhores safras de

vinhos.

Como foi mencionado anteriormente: a falta de transportes e a falta de energia

foram dois empecilhos para o desenvolvimento da região no inicio do século XX. A

estrada de ferro melhorou notavelmente as comunicações, mas, já existiam novas

demandas, no sentido de melhorar o transporte, no período do governo de Vargas,

por melhorias na construção de rodovias.

A estrada BR 2, atualmente denominada 116, deveria passar por Nova

Petrópolis, pelos campos de São Francisco de Paula, até chegar a São Joaquim e

Lajes em Santa Catarina. Esse roteiro excluía a Caxias do Sul do roteiro original. O

intendente de Caxias, Dante Marcucci, então prefeito de Caxias e presidente da

Associação dos Comerciantes do município, comprovou, através de dados

econômicos, o poder que Caxias representava para a economia do Estado, fazendo

com que Getulio Vargas prometesse que a rodovia passaria por Caxias como

realmente aconteceu. A Associação Comercial, mediante sua articulação com as

autoridades municipais teve uma influencia importante na alteração de traçados de

estradas para beneficiar a região.

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No período do governo de Flores de Cunha, no período de 1930-1937, houve

um particular interesse em beneficiar as indústrias que explorassem a matéria prima

local. Foram feitas isenções de impostos destinadas a incentivar o processo de

industrialização no Rio Grande do Sul.

A segunda Guerra mundial iniciou em 1º de setembro de 1939. Conforme as

atas da Associação dos Comerciantes de Caxias, o município esteve ligado à guerra

diretamente através de algumas de suas maiores empresas solicitadas para trabalhar

com toda a sua capacidade de produção para as forças armadas brasileiras. A

segunda Guerra trouxe para Caxias um aumento substancial na produtividade

empresarial, mas também no comércio em geral, porque houve um crescimento real

nos salários e na procura de bens em geral.

Com a ligação de Caxias ao centro do país através da BR116, completaram-se

as condições necessárias para intensificar o comércio e ao mesmo tempo reduzir o

tempo de entrega das mercadorias melhorando as condições de competitividade

locais. Devemos destacar que com o fim da guerra e o fim do racionamento,

completado com a inauguração da Estrada Federal BR 116, os transportes rodoviários

foram tomando impulso e a ferrovia foi posta de lado pelos caxienses. (Nor e

Pellizzari,1982)

Devemos lembrar um período importante para o processo de industrialização

no país a partir de 1955 com a implementação do Plano de Metas. Muitas empresas

se instalam em Caxias, e começa a produção em série do setor metal-mecânico,

elétrico e o de material de transporte. Tudo isso, podemos afirmar que foi possível

graças ao paulatino desenvolvimento da indústria metalúrgica. Devemos lembrar que

as metalúrgicas instalaram-se desde o inicio da chegada dos primeiros imigrantes à

Caxias, sob a forma de funilarias organizadas como pequenas oficinas e, em virtude

das necessidades do produto base de exportação, ou seja o vinho, as pequenas

oficinas transformaram-se em grandes empresas, que para o ano de 1955 tinham

diversificado sua produção e fabricavam motores elétricos de grande rendimento. Isso

vai dar inicio ao surgimento de outras indústrias que posteriormente vão representar a

indústria mais bem sucedida de Caxias do Sul, ou seja, o setor representado pelo

material de transporte, o sector metal-mecânico e o setor elétrico.

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Os anos sessenta representam a internacionalização do capital o que provocou

a expansão dos investimentos e a acumulação do capital. No caso de Caxias, as

grandes firmas, que, atualmente, formam parte de grandes grupos, seja nacionais ou

internacionais, originaram-se a partir de empresas de donos do lugar e organizadas

nos moldes da pequena e média empresa.

O período compreendido desde 1950 até 2000, caracteriza-se por mudanças

profundas na dinâmica do processo de industrialização. Das pequenas funilarias que

fabricavam implementos agrícolas e se desenvolveram a partir da vitivinicultura, houve

uma transformação substancial, e as pequenas oficinas despontaram como grandes

empresas, passando a produzir, atualmente, ônibus, carrocerias e chassis para ônibus

que ganharam reconhecimento nacional, e algumas já competem a nível mundial.

Para poder fazer uma análise detalhada da sua indústria a partir da década de

90, sistematizamos diversas informações, as quais detalham os principais grupos que

lideram a indústria de Caxias para o período de 1995-1996. Conforme ao Quadro 1,

verificamos que as empresas que lideram o processo produtivo em Caxias são

grandes conglomerados de empresas fruto de fusões e incorporações.Também

observamos que os principais gêneros da indústria correspondem a metalurgia,

fabricação de máquinas e implementos agrícolas, material de transporte, indústria de

eletrodomésticos, autopeças. Essas empresas são as que diferenciam a indústria em

Caxias, porque graças à invenção dos seus produtos e ao emprego de novas

tecnologias, ganharam reconhecimento internacional e são lideres em vendas.

QUADRO 1. Principais grupos que lideram a indústria de Caxias para o período de

1995-1996.

HOLDING FIRMAS INTEGRANTES SETORES DE ATUAÇÃO

Marcos Polosa Marcopolo Componentes

Ltda.

Marcopolo Trading S.A.

Comercio exterior

Distribuição de veículos e

peças

Material de transporte.

Dramd Participações e

Administração Limitada

Randon Implemento

Randon Sistemas Mutuo

Implementos para

transportes rodoviários

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Randon Argentina

Randon Ibérica

Randon Vehículos

Randon Participações

Freios Master

Camer Transicold

Josto de Brasil

Itapura Transportes

Fras-le S.A.

Rasp.Randon

Participale Administração

e Participações

Agrale

Lavrale

Frutale Agricultura

Fazenda Tres Rios Ltda

Maquinas e Implementos

Agrícolas

Material de Transporte

Autopeças

Fruticultura e agricultura

Grupo Triches Enxuta S.A.

Posto S.A.

Importadora de Ferragens

Trides S.A.

Triches, Ferro e Aço S.A.

Lojas Triches (vendidas

em 1998)

Indústria de

E l e t r o d o m é s t i c o s

publicidade e propaganda

e comércio

Grupo Zini Eberle Ind e Tecnologia e

Ltda Metalúrgica e

mecânica incorporada em

1986

Zivis S.A. Cutelaria Porto

Alegre e Gravataí R.S.

Hercules S.A. Fabrica de

talheres de Porto Alegre

Metalúrgica e Mecanica

Grupo Gazola Gazola S.A.

Industria Metalúrgica

Elmo Ind. Metalúrgica

Ltda(1975) Vacaria R.S.

Metalurgica

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Informação obtida a partir de Frizzo (1997) a partir de pesquisa direta e

entrevistas e questionários.

Desde o inicio da industrialização pesada, muitas das empresas que iniciaram

com um pequeno capital investido transformaram-se em grandes empresas de capital

aberto que operam na bolsa de valores e, para poder atuar em outros países, essas

mesmas empresas formam parte de grupos consolidados ou atuam sob a forma de

joint ventures para poder trabalhar em parceria com outras firmas em determinados

empreendimentos.

Mudanças no território provocadas pela Industrialização.

A busca pela competitividade, e por maiores lucros provocaram mudanças nas

cadeias produtivas globais. Caxias do Sul não ficou fora dessa lógica própria do

mundo globalizado. Nos primórdios da chegada dos primeiros imigrantes e com a

instalação das primeiras indústrias no município, o produto base de exportação foi o

vinho e teve papel fundamental na economia de Caxias até os anos setenta. Pelas

características da cadeia produtiva vitivinícola, o vinho permitiu o surgimento de outras

indústrias que sustentavam o processo produtivo. Desta forma, outros gêneros tais

como: a indústria metalúrgica, madeireira, e alimentícia, cresceram em virtude das

necessidades e demandas da indústria original. Da mesma forma, a indústria

metalúrgica deu sustentação para outro tipo de setores tais como a indústria de

autopeças e construção de chassis e ônibus. Foi outro tipo de encadeamento com

uma lógica diferente já que este tipo de empresas precisavam operar em larga escala

de produção e trabalhavam com uma tecnologia mais sofisticada. Dupas

(2001,p.435)) indica que:” Em todas as áreas da economia, assiste-se a um violento

processo de fusões e incorporações motivado pela nova lógica competitiva, que

pressupõe saltos tecnológicos e a busca de mercados cada vez mais globais.” Nessa

lógica globalizada, da qual a indústria de Caxias não escapa, acontecem movimentos

migratórios atraídos pela promessa de uma vida melhor devido ao sucesso da

indústria. Mas ali começam a se intensificar vários problemas sociais e ambientais

porque o município não consegue atender as demandas de emprego, de habitação,

de saúde e de saneamento.

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Para poder comparar a evolução da população, vamos apresentar um quadro

comparativo dos diferentes períodos a partir de 1920 até 2000.

TABELA 2. Evolução da população do município de Caxias do Sul e de Santa Cruz do

Sul do ano de 1920 até o de 2.000.

Rural

Anos Urbanal Rural Total

1900 -------- --------- 24.997

1920 4.500 28.500 33.000

1940 20.123 19.554 39.677

1950 35.803 22.791 58.594

1960 69.269 33.433 102.702

1970 114.008 30.863 144.871

1980 200.354 20.212 220.566

1990 264.775 26.150 290.925

2000 333.391 27.028 360.419

Fonte: F.E.E. De Província de São Pedro a Estado do Rio Grande do Sul: censos deRS- 1803-1950: p.109-175. Censos de RS: 1960-1980: p. 19-95.

Da TABELA 2 podemos extrair informações bem interessantes. Em primeiro

lugar, a população até o ano de 1920 era predominante rural, o qual tem uma

explicação consistente. A pesar da existência de uma incipiente indústria, a atividade

econômica predominante para a década de 20 era a agricultura. Já em 1940, a

população urbana era superior á rural e a causa principal dessa mudança era o

aumento de números de estabelecimentos indústrias no município e o deslocamento

para a zona urbana da população rural em busca de novas oportunidades. Na década

de 1960, a população urbana de Caxias do Sul quase duplica, passando de 69 mil

para 114 mil pessoas. A partir de 1970 até o ano de 2000, o número de pessoas que

conformam a população urbana do município triplica. No período compreendido entre

os anos de 1960 e 2000, Caxias tem sua população total ampliada em 250%, situação

que se deve principalmente ao desenvolvimento do polo metal-mecânico no município

e a implementação da cadeia automotiva que promovem a atração de migrantes de

outras cidades. Segundo Castells (2001) o processo de urbanização tende a se

concentrar em um novo tipo de região metropolitana, formada por diversas áreas

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metropolitanas disseminadas ao longo de uma enorme extensão territorial que seria

no caso apresentado: o eixo Porto Alegre-Caxias.

O processo de urbanização provoca desordens ambientais e sociais. Caxias

possui uma taxa de urbanização de 93,4% para o ano de 2003 e sua densidade

demográfica é de 231,8 habitantes/ km. Para conferir o aspecto social verificamos o

Índice de Desenvolvimento Socioeconômico elaborado pela F.E. E para o ano de

2004. Conforme a estatística elaborada por esse organismo, Caxias permanece por

quinto ano consecutivo com o mais alto Idese do Estado de Rio Grande do Sul. Em

2000, possuía um índice igual a 0,832 sofrendo uma pequena queda em 2001 (0,830)

recuperando-se em 2002 (0,831). No ano de 2004 atingiu 0,838. Se bem no índice de

desempenho social, Caxias aparentemente possui menos problemas sociais que

outros municípios, as vezes os índices não conseguem mostrar o que realmente

acontece na realidade. Conforme a um trabalho sobre exclusão social elaborado por

Dos Reis e Herpich (2003), o município conta com um número expressivo de

indigentes de 6,89 % sobre o total da população. Isto confirma a idéia que a pesar do

expressivo crescimento econômico verificado em Caxias do Sul, o desenvolvimento

Social não acompanha da mesma forma. E a pesar do Índice de Desenvolvimento

Socioeconômico mostrar que Caxias do Sul representa um caso bem sucedido de um

município que sabe resolver seus problemas sociais, deve-se chamar a atenção para

o fato que este índice está alavancado principalmente pela Renda que compõe o total

deste índice. Numa sessão da Câmara de Vereadores realizada o dia 13 de fevereiro

de 2007, debateu-se o problema habitacional. Nessa sessão deixou se transparecer

que Caxias sofre com problemas de invasões e uma das causas principais se deve ás

migrações constantes que se produzem em Caxias do Sul. Existem projetos para a

construção de casas populares mas ainda está em andamento na data deste trabalho.

Conforme ao expressado durante esta sessão na Câmera de Vereadores, o poder

público tem que intervir porque não existe capacidade do município de receber tantas

pessoas sem construir um sistema de moradias que solucionem o problema da

vivenda.

Segundo De Bem (2008), a infra-estrutura na área de saneamento básico não

acompanhou o ritmo de urbanização do município. Desta forma, o serviço de

saneamento básico está organizado pelo Serviço Autônomo Municipal de Água e

Esgoto e, conforme as palavras desta autora, o serviço de abastecimento de água tem

sido priorizado ao invés do esgotamento sanitário, investindo, principalmente, no

tratamento de água potável. Esta situação melhorou as condições de saúde da

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população porque tem se evitado a propagação de doenças contagiosas. Segundo o

trabalho efetuado por De Bens, a melhora no tratamento da água elevou a Caxias ao

primeiro lugar no IDESE. Mas o que mais preocupa é o sistema de esgoto existente

no município já que existe um déficit principalmente para o atendimento dos setores

mais pobres da população. Conforme o estudo mencionado, Caxias do Sul apenas

atende a um 5% da população no tratamento do esgoto e existe um lançamento direto

dos esgotos na rede pluvial com a conseguinte contaminação dos efluentes, o qual

significa um problema grave para o meio ambiente. Se bem existem preocupações do

setor público em melhorar cada vez mais o tratamento de esgoto, com o aumento do

números de habitantes de Caxias do Sul e o déficit de habitação, se faz necessário

um investimento urgente para atender as demandas de todos os setores a fim de

evitar a propagação de doenças e o ataque ao meio ambiente. Do ponto de vista do

poder público, existem reclamos das autoridades pela falta de fundos para completar

as obras em andamento e pela falta de verbas federais para poder ampliar cada vez

mais o abastecimento de água potável e a extensão da rede de esgotos.

Na sessão da Câmara de Vereadores de 21 de fevereiro de 2006, a vereadora

Ana Corso faz uma alerta á secretária de Obras quanto aos problemas acarretados

pela chuva no município. Diferentes bairros de Caxias do Sul sofrem com constantes

alagamentos, na sua maioria, bairros habitados por pessoas de baixos recursos, pela

inadequada drenagem do solo. Com o asfaltamento das ruas a água não tem como

escoar provocando inundações e afetando a vida de milhares de pessoas que perdem

todos seus bens pela falta de infra-estrutura. Isto mostra o quanto a cidade cresceu,

não conseguindo atender as demandas de toda a população.

Planejamento Urbano: Um novo plano diretor no município de Caxias do Sul.

Para melhorar certos aspectos negativos que surgem a causa da urbanização

crescente, existe uma novidade importante na gestão do território de Caxias é a

implementação do novo plano diretor no dia 2 de outubro de 2007. O novo plano

diretor parte de uma leitura da cidade envolvendo temas e questões relativos aos

aspectos de planejamento urbano e gestão do território.

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Conforme as diretivas estabelecidas no novo Plano de gestão municipal, o

objetivo deste plano não é resolver os problemas da cidade, mas sim ter um

instrumento para a definição de uma estratégia de intervenção imediata, e a longo

prazo, serve também para a gestão pactuada da cidade.

Entre as principais inovações, impostas pelo novo plano diretor de Caxias do

Sul, figura o ênfase para incentivos, como a redução de tributos na Zona das Águas,

visando promover ocupações de baixa densidade e redução de áreas edificadas,

buscando o cumprimento da função social da propriedade na respectiva zona.

Um a outra questão é levantada na implementação do plano diretor: é a

adequação do solo e zoneamento, evitando a proximidade de edificações, com usos

incompatíveis com a nova caracterização das novas zonas urbanas e zonas rurais.

Uma preocupação da gestão municipal de Caxias do Sul é a realização de

estudos para instalação de novos mananciais para a captação de água para garantir o

abastecimento de novas reservas no município.

Também existe uma proposta de implantação de Zona de Interesse ambiental,

visando preservar a flora e a fauna dos limites do Município nas margens do Rio das

Antas. Como assim também existe a proposta da criação de zona especial do

aeroporto com usos adequados visando a proteção ambiental da área.

Deve-se ressaltar que existe em Caxias do Sul o Plano Diretor de Esgotamento

Sanitário de Caxias do Sul que foi concebido de forma integrada com o Plano Diretor

de Drenagem, a fim de que ambos fossem implementados em conjunto. O Plano

prevê o aproveitamento do sistema de drenagem misto (pluvial mais cloacal)

implantado em 85% da área urbana. O plano prevê a canalização desta rede para

coletores tronco e interceptores que encaminharão o esgoto para a Estações de

Tratamento. No plano Diretor, figuram as estações de retenção, previstas no Plano de

Drenagem Urbana, com vistas a resolver os problemas de alagamento, bem como

estão identificadas as estações de tratamento de esgoto, conforme ao previsto pelo

Plano Diretor de Esgotos.

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No novo Plano Diretor de Caxias, existe a preocupação de incentivar a

descentralização urbana, e a melhora das edificações para permear a luz solar nas

novas construções.

O Plano Diretor da Cidade, em consonância com o Plano de Esgoto e de

Drenagem, permite o planejamento atual e futuro do município fazendo com que os

investimentos públicos sejam utilizados de forma ordenada e eficaz, uma vez que

define as diretrizes dos projetos a curto, médio e longo prazo que envolvam a

organização do território. Desta forma, o plano diretor se apresenta como um

instrumento de desenvolvimento, ao combater o crescimento desordenado provocado pela

urbanização, planejar melhorias habitacionais e viárias, instalação de empresas, áreas de lazer

e desenvolvimento sustentável, sempre respeitando a natureza e em consonância com o meio

ambiente.

Considerações Finais.

O desenvolvimento econômico tem seus aspectos positivos, contudo, Caxias

do Sul vem pagando certo preço por concentrar algumas das maiores empresas do

Sul de Brasil. Migrantes chegam em massa em busca de emprego todos os dias e

isso ficou demonstrado na evolução da população durante o século XX. Infelizmente,

despreparados em sua grande maioria, os trabalhadores que chegam em busca de

novas oportunidades produzem núcleos de miséria que nada têm a ver com pujança

de algumas empresas. São elas, no entanto, que contribuem de forma involuntária

para a criação da imagem de bem-estar do município que se espalha até os distantes

pontos do território do Estado.

Por outra parte, o crescimento econômico e a explosão populacional geram

desequilíbrios na estrutura física das cidades com os quais o poder público não

consegue medir forças ao menos durante certo período de tempo. Observa-se então

de maneira paradoxal a deterioração da convivência urbana em meio ao aumento da

riqueza. Será preciso, para melhorar a qualidade vida caxiense, reduzir o impacto dos

aspectos negativos do desenvolvimento econômico sobre a rotina da cidade.

Uma das formas com que o poder público conseguiu resolver as

conseqüências da urbanização crescente e desmedida foi a implementação do Plano

Diretor Municipal. As indústrias, cada vez mais, irão se instalando no seu território e

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ganhando mais espaço no seio do município. Para que a cidade não sinta os efeitos

perversos da industrialização devem ser providenciadas medidas que aumentem cada

vez mais a proteção dos cidadãos com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos

habitantes do município. A gestão pública deve participar em forma relevante do

manejo do território para que não se converta num espaço descartável com

conseqüências negativas para as futuras gerações.

ANEXO

Lista de quadros.

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QUADRO 1. Principais grupos que lideram a indústria de Caxias para o período de

1995-1996....................................................................................................Pág. 12

Lista de Tabelas.

Tabela 1.Lançamento dos Contribuintes de Indústria e Profissões da Intendência

Municipal de Caxias no exercício de 1910.........................................................Pág.8

Tabela 2. Evolução da população do município de Caxias do Sul e de Santa Cruz do

Sul do ano de 1920 até o de 2.000...................................................................Pág. 15

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