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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA
CÍVEL DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE XXXXXXXXX
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, através
da Promotora de Justiça da Infância e da Juventude que esta subscreve, no uso de suas
atribuições legais, vem, com fundamento nos artigos 88, I, 90, 92, 93, 94, 201, V, 208,
VI, do Estatuto da Criança e do Adolescente, ajuizar
AÇÃO CIVIL PÚBLICA, DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO
DE CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR, em face do
MUNICÍPIO XXXXX, inscrito no CNPJ-MF sob o nº XXXXX, pessoa
jurídica de direito público interno, com sede neste Município e Comarca, na pessoa de
seu representante legal, XXXXX, Prefeito Municipal de XXXXX, (art. 12, II, CPC),
requerendo a citação pessoal do Prefeito, do Procurador Geral do Município,
XXXXX, no endereço XXXXX, e do Secretário Municipal Adjunto de Assistência
Social, XXXXX e do Gerente da Central de Regulação de Vagas, XXXXX;
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Em razão da situação fática e jurídica adiante descrita e fundamentada, ficando
esclarecido, desde logo, que qualquer referência a número de folhas, refere-se à
numeração lançada no Procedimento Preparatório nº MPMG-0024.11.001843-9, que
instrui a presente.
I – D0S FATOS:
1– DA FUNÇÃO DA CENTRAL DE VAGAS:
A municipalização do atendimento é uma das diretrizes da política de proteção
à infância e juventude, conforme previsto no art. 88, I do Estatuto da Criança e do
Adolescente, sendo que as disposições relativas às entidades de atendimento estão
normatizadas nos art. 90 e seguintes do mesmo diploma.
Assim, exercendo sua competência administrativa, o Município XXXXX, por
meio do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente, editou a
Resolução nº 75/2010, datada de 21/06/2010 e publicada no Diário Oficial do
Município XXXXX em 07/07/2010 (FLS. 65 A 66) afirmando a responsabilidade do
órgão gestor da assistência social do município para acolher e processar as
demandas dos Conselhos Tutelares e Vara da Infância e Juventude referentes à
aplicação da medida protetiva de acolhimento institucional ou familiar (art. 2º, §
2º).
A citada resolução dispõe sobre as diretrizes para a regulação das vagas junto
às entidades de acolhimento familiar e institucional em XXXXX, tendo em vista a
necessidade de centralizar todas as demandas de acolhimento em um único órgão,
fato que tem por finalidade otimizar e organizar a distribuição das crianças e
adolescentes pelas entidades que desenvolvem a referida medida protetiva.
Dessa forma, pode-se concluir que a Central de Vagas é o órgão
administrativo municipal que regula o início da execução da medida protetiva de
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acolhimento familiar ou institucional estabelecida no art. 101, VII e VIII do Estatuto da
Criança e do Adolescente, encaminhando as crianças e adolescentes para as entidades
de acolhimento institucional (abrigos) centros de passagem, de acordo com o perfil,
sexo e faixa etária desses seres em desenvolvimento.
2 – DOS PROBLEMAS OCASIONADOS PELO MAU FUNCIONAMENTO DA
CENTRAL DE VAGAS
Esclarecida a função administrativa da Central de Regulação de Vagas,
cumpre informar que os Conselhos Tutelares e o Juízo da Infância e Juventude, quando
se deparam com crianças/adolescentes com necessidade de aplicação da medida
protetiva de acolhimento, reportam-se à Central de Vagas para que esta indique a
entidade para a qual as crianças/adolescentes deverão ser encaminhadas.
Ocorre que o órgão administrativo municipal não está cumprindo com sua
função, ou seja, não indica a entidade a que as crianças/adolescentes deverão ser
encaminhadas, gerando uma grave, indevida, desnecessária e cruel violação aos direitos
e interesses da população infanto-juvenil, que passam a permanecer em situação de
risco por omissão estatal.
Cabe registrar que é “de responsavilidade do órgão gestor da assistência
social do município acolher e processar as demandas dos Conselhos Tutelares e
Vara da Infância e Juventude referentes à aplicação da medida protetiva de
acolhimento institucional ou familiar” (art. 1º, § 2º, da Resolução nº 75/2010).
Não obstante, crianças e adolescentes estão permanecendo em situação de
risco, malgrado a aplicação da medida protetiva de acolhimento pelo juizado e pelo
Conselho Tutelar, uma vez que a Central de Vagas não providencia o devido e célere
encaminhamento desses seres em desenvolvimento para unidade de acolhimento.
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2.1 – DAS CRIANÇAS E RECÉM NASCIDOS QUE AGUARDAM INDICAÇÃO DE
VAGA
Atualmente, existem no Município XXXXX, inúmeras crianças e recém-
nascidos que aguardaram a indicação de vagas pela Central de Regulação de Vagas,
conforme se verifica dos documentos acostados às fls. 49 a 64; 76 a 105; 160 a 164;
182; 206 a 208; 243 e 244; 247 a 249; 263 a 269; 336 a 338; 341 a 344; 345 a 346.
A título de exemplo, deve-se enumerar a situação atual das seguintes crianças:
1) O RECÉM NASCIDO DE XXXXX, nascido em 29/03/2014 (proc. nº 0024 14
090618-1) está no Hospital XXXXX, com alta hospitalar, mas aguardando a indicação
de vaga pela Central, desde o dia 11/04/2014, ou seja, está no nosocômio,
desnecessariamente, há mais de 20 dias esperando a manifestação da Central de Vagas;
2) O RECÉM NASCIDO DE XXXXX, nascido em 06/04/2014 (proc. nº 0024 14
090772-6), está no Hospital XXXXX, com alta hospitalar, mas aguardando a indicação
de vaga pela Central, desde o dia 14/04/2014, ou seja, está no nosocômio,
desnecessariamente, há mais de 17 dias esperando a manifestação da Central de Vagas;
3) XXXXX, nascida em 21/01/2014 (proc. nº 0024 14 122611-8), está no Hospital
XXXXX, com alta hospitalar, mas aguardando a indicação de vaga pela Central, desde
o dia 24/04/2014, ou seja, está no nosocômio, desnecessariamente, há mais de 06 dias
esperando a manifestação da Central de Vagas;
4) O RECÉM NASCIDO DE XXXXX, nascido em 21/04/2014 (proc. nº 0024 14
122612-5), está no Hospital XXXXX, com alta hospitalar, mas aguardando a indicação
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de vaga pela Central, desde o dia 24/04/2014, ou seja, está no nosocômio,
desnecessariamente, há mais de 06 dias esperando a manifestação da Central de Vagas;
5) O RECÉM NASCIDO DE XXXXX, nascido em 19/04/2014 (proc. nº 0024 14
122733-0), está no Hospital XXXXX, com alta hospitalar, mas aguardando a indicação
de vaga pela Central, desde o dia 28/04/2014, ou seja, está no nosocômio,
desnecessariamente, há mais de 02 dias esperando a manifestação da Central de Vagas;
6) O RECÉM NASCIDO DE XXXXX, nascido em 19/04/2014 (proc. nº 0024 14
090772-6), está no Hospital XXXXX, com alta hospitalar, mas aguardando a indicação
de vaga pela Central, desde o dia 29/04/2014, ou seja, está no nosocômio,
desnecessariamente, há mais de 01 dia esperando a manifestação da Central de Vagas;
7) As crianças XXXXX (07 anos) e sua irmã XXXXX (02 anos), infantes em grave
situação de risco (proc. nº 0024 10 253454-2), aguardam, há mais 27 dias, o
cumprimento de MANDADO DE BUSCA, APREENSÃO E ACOLHIMENTO
expedido em seu favor, com a finalidade de retirar-lhes da situação de risco, ou seja, as
crianças estão vivendo em um ambiente pernicioso, de maus tratos, negligência,
violência física e psicológica, sendo violadas em seus direitos, em razão da inércia do
órgão regulador das vagas, que não indica a entidade para a qual deverão ser
encaminhadas;
8) A criança XXXXX (07 anos) e sua irmã XXXXX (07 anos), infantes em grave
situação de risco (proc. nº 0024 08 224897-2), aguardam, há mais de 26 dias, o
cumprimento de MANDADO DE BUSCA, APREENSÃO E ACOLHIMENTO
expedido em seu favor, com a finalidade de retirar-lhes da situação de risco, ou seja, as
crianças estão vivendo em um ambiente pernicioso, de maus tratos, negligência,
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violência física e psicológica, sendo violadas em seus direitos, em razão da inércia do
órgão regulador das vagas, que não indica a entidade para a qual deverão ser
encaminhadas;
9) A criança XXXXX (07 anos), infante em grave situação de risco (proc. nº 0024 14
089665-5), aguarda, há mais de 16 dias, o cumprimento de MANDADO DE BUSCA,
APREENSÃO E ACOLHIMENTO expedido em seu favor, com a finalidade de retirar-
lhe da situação de risco, ou seja, a criança está vivendo em um ambiente pernicioso, de
maus tratos, negligência, violência física e psicológica, sendo violada em seus direitos,
em razão da inércia do órgão regulador das vagas, que não indica a entidade para a qual
deve ser encaminhada;
10) A criança XXXXX (02 meses), infante em grave situação de risco (proc. nº 0024 14
099807-1), aguarda, há mais de 08 dias, o cumprimento de MANDADO DE BUSCA,
APREENSÃO E ACOLHIMENTO expedido em seu favor, com a finalidade de retirar-
lhe da situação de risco, ou seja, a criança está vivendo em um ambiente pernicioso, de
maus tratos, negligência, violência física e psicológica, sendo violada em seus direitos,
em razão da inércia do órgão regulador das vagas, que não indica a entidade para a qual
deve ser encaminhada.
Conforme já ressaltado, as crianças em tela estão em grave situação de risco e já
houve decisão determinando o acolhimento institucional ou familiar, cabendo o seu
cumprimento imediato, com o devido encaminhamento dos infantes para as entidades
de acolhimento.
Algumas crianças estão ocupando desnecessariamente leitos nos hospitais da
cidade, enquanto outras são obrigadas a permanecer no ambiente de violações em razão
da inércia do Município XXXXX.
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Assim, em face da não indicação de vaga para acolhimento institucional pela
Central de Vagas, as crianças em tela se tornaram vítimas da omissão do Poder Público
Municipal (art. 98, I do Estatuto da Criança e do Adolescente), que não disponibiliza
vagas em entidades de acolhimento, para fins de cumprimento de mandados de busca e
apreensão expedidos pelo Juízo da Infância e Juventude, nos respectivos procedimentos
de providência.
Esse é o retrato da situação das crianças que aguardam indicação de vagas na
data do ajuizamento da presente ação (30/04/2014), no entanto, a crise instalada pelo
mau funcionamento da Central de Regulação de Vagas já se arrasta por vários anos.
2.2 – ALGUNS EXEMPLOS DAS INÚMERAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES
QUE FICARAM AGUARDANDO A INDICAÇÃO DE VAGAS NOS ANOS DE
2010/2011/2012/2013.
A situação de todas as crianças/adolescentes a seguir elencadas estão
comprovadas documentalmente conforme relatórios, informes e ofícios acostados aos
autos do Procedimento Preparatório em anexo, tratando-se de uma pequena amostra
da realidade, vivenciada em todos os procedimentos de providência em curso no
Juizado Cível da Infância e Juventude.
1. XXXXX, de apenas 10 meses de vida, em 1º de Março de 2014, internado no Hospital
XXXXX em razão de ingestão de cocaína, estava com alta hospitalar aguardando
indicação de vaga pela Central de Vagas, quando, em razão da demora, foi
SUBTRAÍDO do nosocômio pelo genitor (fls. 332/334);
2. XXXXX, em 10 de Junho de 2011, aguardava há mais de 24 dias a indicação de
vaga pela Central de Regulação de Vagas (fl. 206);
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3. XXXXX, XXXXX e XXXXX, em 09 de Fevereiro de 2011, aguardaram por mais de
48 dias pela indicação de vaga (fl. 50);
4. XXXXX, em 13 de Dezembro de 2010, não conseguiu vaga na rede municipal de
acolhimento institucional, conforme registrado em 08/02/2011 no informe de fl. 52;
5. XXXXX e XXXXX, em 25 de Agosto de 2011, aguardaram mais de 10 horas, sem
alimentação, sem banho e sem cama, pela indicação de vaga, conforme relatório do
Conselho Tutelar XXXXX acostado às fls.53/55;
6. XXXXX, em 18 de Janeiro de 2011, aguardava há mais de 30 dias pela indicação
de vaga, conforme informe de fl. 61;
7. RECÉM NASCIDO DE XXXXX, em 05 de Novembro de 2010, aguardou mais de 05
dias pela indicação de vaga, conforme informe de fl. 63;
8. XXXXX, à época com 04 anos, em 23 de Novembro de 2010, foi encontrado pela
polícia militar na região central da XXXXX, na rua, em situação de negligência e maus
tratos, sendo encaminhado ao Conselho Tutelar XXXXX, todavia, por falta de indicação
de vagas, foi institucionalizado no Centro Geral de Pediatria, em caráter de urgência
pela Conselheira Tutelar XXXXX, apesar de ter recebido alta, continuou internado
correndo risco de pegar uma infecção hospitalar (representação do Conselho juntada às
fls. 76/78);
9. XXXXX, DN 01/01/2007, e XXXXX, DN 14/08/2009; em 23/02/2011, as crianças
foram encaminhadas ao Plantão Centralizado do Conselho Tutelar pela Polícia Militar,
em situação de maus-tratos, todavia, não houve a indicação de vagas pela Central de
Vagas, no horário noturno, que alegou falta de vagas, para essa faixa etária, conforme
relatório do Conselho Tutelar Regional XXXXX, às fls. 83/85;
10. XXXXX, em 14 de Julho de 2011, não indicou vaga para acolhimento
institucional da adolescente ao Conselheiro Tutelar da Regional XXXXX, a qual
pernoitou na sede do Conselho, deitada no corredor com dois cobertores cedidos pelo
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seu irmão que foi encaminhado ao CP Consolador, conforme declarações prestadas à fl.
91;
11. XXXXX, em 12/07/2011, acionada pelo Conselho Tutelar da Regional XXXXX, a
Central de Vagas não indicou vaga para acolhimento da adolescente, que permaneceu
no Conselho sem alimentação, sonolenta, necessitando de medicação com horário
marcado e sofrendo constrangimento por parte da gerente XXXXX (fls. 94/97);
12. XXXXX, em 08/06/11, acionada pelo Conselho Tutelar XXXXX, a Central de
Vagas indicou vaga para acolhimento da adolescente no Centro de Passagem XXXXX,
completamente fora do perfil da adolescente acolhida, expondo-a a novas situações de
risco, conforme relatório de fls. 99/100;
13. XXXXX, XXXXX, XXXXX, XXXXX e XXXXX, em 22 de Março de 2011,
acionada pelo Conselho Tutelar XXXXX a Central de Vagas indicou vagas
indisponíveis para acolhimento dos menores, conforme relatório de fls. 160/161;
14. XXXXX, XXXXX, XXXXX, XXXXX e XXXXX, em 08 de Novembro de 2011,
foram buscados, apreendidos e entregues diretamente à Central de Vagas, ante não
indicação da entidade a que deveriam ser encaminhados, conforme de fl. 182;
15. XXXXX, em 17 de Outubro de 2011, aguardava por 32 dias a indicação de vaga,
conforme informe de fl. 208;
16. XXXXX, em 07 de Março de 2012, acionada pelo Conselho Tutelar Plantão
Centralizado, a Central de Vagas não indicou vaga para acolhimento da criança, que
chegou no Conselho conduzida pela PM, conforme relatório de fl. 243;
17. XXXXX, em 10 de Maio de 2012, essa criança, com apenas 10 anos de idade, teve
que pernoitar no Plantão do Conselho Tutelar, sem alimentação, sem banho e sem cama,
em razão da omissão da Central de Vagas, conforme relatório de fls. 247/249;
18. XXXXX, em 17 de Fevereiro de 2014, em razão nova medida de acolhimento
institucional, aguardava 32 dias pela indicação de vaga, conforme informe de fl. 337;
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19. XXXXX, XXXXX e XXXXX, na data de 24 de Fevereiro de 2014, aguardavam por
10 dias a indicação de vaga, conforme informe de fl. 336;
20. XXXXX (DN 03/06/2008), XXXXX (DN 24/07/2009), XXXXX (DN 18/01/2010)
e XXXXX (DN 08/09/2012), em 12 de Março de 2014, aguardavam há 22 dias a
indicação de vaga pelo órgão municipal, conforme informe de fl. 338;
21. XXXXX, XXXXX, XXXXX e XXXXX, em 10 de Março de 2014, aguardavam por
38 dias a indicação de vaga, conforme informe de fl. 339;
22. XXXXX (DN 09/02/2001); XXXXX (DN 20/05/2002) e XXXXX (DN
04/06/2013), em 12 de Março de 2014, aguardavam há 29 dias pela indicação de vaga
pela Central de Regulação de Vagas, conforme informe de fl. 344;
Todas as crianças e adolescentes enumerados tiveram seus direitos
profundamente violados em razão da omissão do Município XXXXX, que pouco se
importa com a política de atendimento à criança e ao adolescente em situação de risco
social.
Tal omissão não pode perdurar, é necessária a implementação efetiva da Central
de Regulação de Vagas que funciona de modo precário, com modesto orçamento e
pouca importância política.
3 – DAS MEDIDAS ADMINISTRATIVAS TOMADAS PARA TENTAR
RESOLVER O PROBLEMA DA CENTRAL DE VAGAS
Diante do cenário caótico do sistema de acolhimento institucional no Município
XXXXX, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais expediu a Recomendação nº
01/2011 (fls. 14 a 20), com vistas a buscar a resolução administrativa do problema, no
entanto, o requerido mantém-se inadimplente com suas obrigações legais.
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Na citada recomendação, busca-se a implementação de estrutura física adequada,
com recursos humanos e materiais necessários ao pleno funcionamento da Central de
Vagas, tais como acomodações, com alimentação e mobiliário apto a receberem as
crianças, quando impossibilitado o imediato encaminhamento para a entidade de
acolhimento institucional, recomendando o seguinte.
1 – providenciar estrutura física adequada, recursos humanos e
matérias necessários para o pleno funcionamento da Central de
Vagas, no prazo de 60 dias;
2 – criar junto às instalações da Central de Vagas, no prazo
máximo de 60 dias, espaço físico adequado para receber, em
caráter de urgência, as crianças e adolescentes com medida de
acolhimento institucional aplicada pelos Conselhos Tutelares ou
Vara da Infância e Juventude, quando impossibilitando o
encaminhamento imediato para entidade de acolhimento
institucional do Município XXXXX, podendo para tanto utilizar
o recurso previsto no art. 9º, § 1º, da Resolução nº 80/2010 do
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
de XXXXX, cujo saldo atual é de R$ 873.004,46 (oitocentos e
setenta e três mil, quatro reais e quarenta e seis centavos),
conforme documento da Gerência Administrativo-Financeira
(anexo)”.
A XX Promotoria de Justiça expediu, ainda, a Recomendação nº 08/2011 (fls.
183/187) com o objetivo de implementação da jornada integral da Central de Regulação
de Vagas, com funcionamento 24 horas por dia, inclusive finais de semana, feriados e
período noturno.
Os Conselhos Tutelares do Município XXXXX relatam a dificuldade que
possuem com relação à Central de Vagas (fls. 101/103; 236/237; 239/241; 242;
243/244; 246/249; 263/264; 283/292), uma vez que ao verificarem que crianças e
adolescentes estão em situação de risco (abuso sexual, maus tratos, violência doméstica,
etc.) ficam impedidos de aplicar a medida protetiva de acolhimento institucional
(art. 136, I do ECA), por falta de indicação de vaga, permanecendo esses seres em
desenvolvimento na mesma situação de risco por omissão estatal.
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Assim, em razão da ineficácia das medidas administrativas, o socorro ao Poder
Judiciário é a última alternativa cabível na busca pelo respeito aos direitos das crianças
e adolescentes que precisam de acolhimento institucional.
Importante ressaltar que a própria central de vagas reconhece sua incapacidade
de atendimento, conforme de depreende dos e-mails enviados pela servidora pública
municipal XXXXX (email XXXXX), informando que não consegue indicar vagas (fls.
56 e 59).
II - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:
Os programas de acolhimento institucional compõem, conforme a Política
Nacional de Assistência Social e Norma Operacional Básica (2005), a Rede de Proteção
Social Especial de Alta Complexidade, visto que irão acolher crianças e adolescentes
vitimizados, cuja vivência da violação acarretou prejuízos à auto-estima, à auto-imagem
e às suas relações sociais.
Logo, as crianças e adolescentes que passaram por tais eventos necessitam
encontrar ambiente acolhedor, respeitoso e digno, para que possam superar as violações
de direito sofridas, que favoreça seu processo de desenvolvimento.
A Constituição Federal assegura, em seu artigo 227, caput, às crianças e
adolescentes, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, ao lazer,
à profissionalização, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, colocando-os a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê, em seu artigo 7°, que:
“Art. 7ª. A criança e o Adolescente têm direito da proteção à
vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio
e harmonioso, em condições dignas de existência”.
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A partir do momento em que o Estado, através do Poder Judiciário, identifica
que uma criança ou adolescente não possui condições de desenvolver-se sadia e
harmoniosamente no seio de sua família e que necessita de proteção especial através de
medida de acolhimento institucional ou familiar, compete ao Poder Executivo dar
condições para que estes infantes e adolescentes recebam tratamento prioritário em
perfeita sintonia com as normas contidas na legislação pátria.
Estabelece o artigo 204 da Constituição Federal que as ações governamentais na
área da assistência social serão realizadas e organizadas de forma descentralizada,
cabendo à União a coordenação e a emissão de normas gerais e ao Estado membro e ao
Município a coordenação e a execução de programas.
O artigo 87 do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece:
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
I - políticas sociais básicas;
II - políticas e programas de assistência social, em caráter
supletivo, para aqueles que deles necessitem;
III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e
psicossocial às vítimas de negligência, maus tratos, exploração,
abuso, crueldade e opressão;
IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável,
crianças e adolescentes desaparecidos;
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos
da criança e do adolescente.
Por sua vez estabelece o artigo 88 do mesmo diploma legal:
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
I - municipalização do atendimento;
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos
direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e
controladores das ações em todos os níveis, assegurada a
participação popular paritária por meio de organizações
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;
III - criação e manutenção de programas específicos, observada
a descentralização político-administrativa;
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais
vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e
do adolescente.
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Verifica-se que a política relativa ao atendimento dos programas de assistência,
sobretudo os programas de acolhimento institucional, encontram-se expressamente
previstos pelo ECA, como instrumento de política social a ser implementado pela
Municipalidade.
É dever do Município proceder à implantação preferencial de políticas sociais e
a estruturação do sistema de assistência às crianças e adolescentes conforme expressa
previsão legal:
“Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em
geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade,
a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de
relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas
sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
relacionadas com a proteção à infância e à juventude.”
Contudo, embora esteja o Estatuto da Criança e do Adolescente em vigor desde
13/07/90, o Município réu não se organizou, até a presente data, para acolhimento das
crianças e adolescentes em situação de risco nas hipóteses do art. 98 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, prejudicando todo o sistema protetivo previsto pelo
microssistema da Infância e Juventude, em violação direta ao disposto no artigo 208 do
ECA:
“Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de
responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e
ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta
irregular:
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VI- de serviço de assistência social visando à proteção à família,
à maternidade, à infância e à adolescência, bem como o amparo
às crianças e adolescentes que dele necessitem;
...
Parágrafo Único - As hipóteses previstas neste artigo não
excluem da proteção judicial outros interesses individuais,
difusos ou coletivos, próprios da infância e da adolescência,
protegidos pela Constituição Federal e pela Lei.”.
No âmbito Municipal, a Lei nº 8.502, DE 6 DE MARÇO DE 2003, estabelece
como meios de efetivação da política municipal de atendimento aos direitos da criança e
do adolescente, o seguinte:
Art. 1º - A política municipal de atendimento dos direitos da
criança e do adolescente é regida pela Lei Federal nº 8.069, de
13 de julho de 1990, e por esta Lei.
Art. 2º - São meios de efetivação da política municipal de
atendimento dos direitos da criança e do adolescente:
I - programas e serviços sociais básicos de educação, saúde,
recreação, esporte, cultura, lazer, profissionalização e outros que
assegurem o desenvolvimento físico, mental, espiritual e social
da criança e do adolescente, em condições de liberdade e
dignidade;
II - programas de assistência social suplementares aos previstos
no inciso I, para aqueles que deles necessitarem;
III - serviços especiais.
§ 1º - Os programas de assistência social de que trata o
inciso II do caput deste artigo classificam-se como de
proteção ou socioeducativos e compreendem:
I - orientação e apoio sociofamiliar;
II - apoio socioeducativo em meio aberto;
III - colocação familiar;
IV - abrigo;
V - liberdade assistida;
VI - semiliberdade;
VII - internação.
§ 2º - Omissis
Art. 3º - Compete ao Executivo criar e manter os programas
de assistência social e os serviços especiais de que tratam os
§§ 1º e 2º do art. 2º, em conformidade com as normas
expedidas pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente - CMDCA.
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Por fim, a Resolução nº 75/2010, datada de 21/06/2010 e publicada no Diário
Oficial do Município XXXXX em 07/07/2010, editada pela Secretaria Municipal de
Políticas Sociais, estabelece:
RESOLUÇÃO Nº 75/2010
Dispõe sobre as diretrizes para a Regulação de Vagas junto às
entidades de acolhimento familiar e institucional no município e
dá outras providências.
O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente de XXXXX – CMDCA/XXXXX, no exercício de
suas atribuições legais, previstas no inciso VI, do parágrafo 3º,
do artigo 227 da Constituição da República Federativa do Brasil
– Constituição da República, de 05 de outubro de 1988, na Lei
Federal nº 8.069 – Estatuto da Criança e do Adolescente, de 13
de julho de 1990 e na Lei Municipal nº 8.502, de 06 de março
de 2003, e considerando a necessidade de estabelecer
parâmetros claros e objetivos, condizentes com a atual realidade
das entidades não-governamentais e do poder público, sobre o
fluxo de acolhimento institucional e familiar, RESOLVE:
CAPÍTULO I
DO OBJETIVO
Art. 1º - A Regulação de Vagas nos programas de
acolhimento institucional e familiar visa controlar e monitorar o
acesso de crianças e adolescentes na rede de atendimento do
Município.
Art. 2º - O acesso de crianças e adolescentes às vagas,
em entidades que executam programa de acolhimento familiar e
institucional, será operacionalizado pelo órgão gestor da
política de assistência social do município.
§ 1º - A Regulação de Vagas deverá registrar, controlar
e sistematizar informações, estabelecendo contatos e
articulações com a rede de acolhimento familiar e institucional,
para o levantamento e a qualificação do número de vagas
disponíveis no município.
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§ 2º - É de responsabilidade do órgão gestor da
assistência social do município acolher e processar as demandas
dos Conselhos Tutelares e Vara da Infância e Juventude
referentes à aplicação da medida protetiva de acolhimento
institucional ou familiar.
CAPÍTULO II
DA COMPETÊNCIA
Art. 3º - A Regulação de Vagas ficará sob a
responsabilidade do órgão gestor da assistência social do
município, que indicará a vaga mais adequada nas entidades
que executam programa de acolhimento familiar e institucional,
observando o que dispõe os incisos VI, do artigo 87 e I, III e
VI, do artigo 88 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Parágrafo único - Compete ao órgão gestor da
assistência social do município criar instrumento informacional
para o registro e sistematização de dados no que tange à rede de
acolhimento familiar e institucional.
Art. 4º - Constarão como serviços operados pela
Regulação de Vagas, dentre outros:
I - registrar e atualizar todas as vagas na rede de acolhimento
familiar e institucional do município;
II - disponibilizar a relação de vagas para acolhimento familiar
e institucional aos órgãos competentes;
III - indicar a vaga mais adequada disponível, buscando atender
o perfil do acolhido, em cumprimento ao disposto no parágrafo
7º, do artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente;
IV - acompanhar e controlar a ocupação da vaga na rede de
acolhimento familiar e institucional;
V - sistematizar os desligamentos ocorridos na rede de
acolhimento familiar e institucional, com a conseqüente oferta
de vaga.
CAPÍTULO III
DA OPERACIONALIZAÇÃO
Seção I
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Dos Critérios de Funcionamento
Art. 5º - O órgão gestor da assistência social do
município se responsabilizará pela logística de estrutura,
equipamentos e recursos humanos para a operacionalização da
Regulação de Vagas, que fará parte permanente da política de
atendimento à criança e ao adolescente no município.
Art. 6º - O órgão gestor da assistência social do
município organizará a Regulação de Vagas, viabilizando
inclusive o funcionamento desse serviço nos finais de semana,
feriados e períodos noturnos.
Art. 7º - Constará da Lei Orçamentária Municipal
previsão dos recursos necessários ao funcionamento de
Regulação de Vagas, observando o que dispõe os parágrafos2º,
do artigo 90 e 5°, do artigo 260 do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Seção II
Dos Critérios de Qualidade
Art. 8º - A Regulação de Vagas acompanhará, por meio
de sua equipe, toda a rede de acolhimento familiar e
institucional do município, compartilhando e mediando com
esta instrumentos e metodologias que visem o fortalecimento
do sistema de garantia de direitos no município.
Parágrafo único - Os instrumentos e metodologias de
cada entidade que executa programa de acolhimento familiar e
institucional deverão ser considerados para o que alude o caput
deste artigo.
Art. 9º - Para cumprimento do artigo 4º desta resolução,
a Regulação de Vagas deverá observar os critérios para o
acolhimento, fixados na resolução específica do
CMDCA/XXXXX e demais legislações correlatas.
CAPÍTULO IV
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 10 - Todas as entidades de acolhimento familiar e
institucional, governamentais e não-governamentais deverão
cumprir as deliberações da presente resolução.
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Art. 11 - Esta resolução entra em vigor na data de sua
publicação.
Art. 12 - Revogam-se as disposições em contrário.
XXXXX, 21 de junho de 2010
XXXXX
Presidente
Pode-se concluir que a Resolução 75/2010 deixa claro os objetivos, as funções e
as competências exercidas pela Central de Vagas.
III – DO ORÇAMENTO:
Observa-se do demonstrativo do Orçamento Criança e Adolescente de
XXXXX – OCA (fls. 347 e 348), para o ano de 2014, Programa 20 – Proteção social
Especial – Ação 2403 – Serviço de Proteção social Especial de Alta Complexidade –
Subação 11 – Central de Vagas – Unidade Orçamentária 1011- Fundo Municipal de
Assistência Social, que há um crédito orçamentário para a Central de Vagas no valor de
R$ 202.541,00 (duzentos e dois mil, quinhentos e quarenta e um reais).
Atualmente, a Central de Vagas funciona apenas por telefone e e-mail,
indicando as vagas, quando solicitadas pelos Conselhos Tutelares e pelo Juizado, se
disponível no “sistema”. Todavia, essa indicação não é imediata, inviabilizando o
pronto cumprimento dos mandados de busca e apreensão expedidos, permanecendo as
crianças e adolescentes em situação de risco por longos períodos, diante da omissão
estatal conforme já ressaltado e comprovado (dos fatos).
Portanto, mister que o Município assuma a implantação imediata da Central de
Vagas, e, imóvel adaptado para recebimento da criança e do adolescente encaminhados
pelo Conselho Tutelar e pelo Juizado para execução da medida protetiva de acolhimento
institucional aplicada, de forma que esses seres em desenvolvimento sejam retirados da
situação de risco e colocados em ambiente seguro, sendo inaceitável que criança ou
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adolescente permaneçam aguardando no Juizado ou no Conselho Tutelar o
encaminhamento para Unidade de Acolhimento.
A espera por vaga provoca mais dano à criança e ao adolescente, já que estes
ficam em situação de abandono, doravante, pela omissão do Poder Público, dormindo
em locais inapropriados ou aguardando em locais impróprios, sem alimentação, sem
cuidados e atenção especiais, até que sejam efetivamente encaminhados para Unidade
de Acolhimento.
As crianças e adolescentes deveriam aguardar o encaminhamento na sede da
Central de Vagas, que se encarregaria, através de técnicos, psicólogos e assistentes
sociais de ouvi-los e encaminhá-los para unidade adequada à sua faixa etária e perfil,
devendo para tanto dispor de veículo próprio e adequado para transporte das crianças e
adolescentes para as respectivas Unidades de Acolhimento.
Mister, ainda, que a Sede da Central de Vagas disponha de equipe de
segurança para impedir eventual tentativa de invasão e agressão por parte de genitores
e/ou responsáveis pelas crianças e adolescentes, que estiverem insatisfeitos com a
medida protetiva aplicada pela autoridade competente.
Além disso, deve dispor de alimentação e produtos de higiene para as crianças
(fraldas, lenços umedecidos) e adolescentes que aguardam no prédio da Central seu
encaminhamento para Unidade de Acolhimento específica.
Importante registrar que se torna urgente e necessária a efetiva implementação
da Central de Vagas, neste ano de 2014, conforme já recomendado pelo Ministério
Público e também objeto de pedido da presente ação, motivo pelo qual apresenta como
proposta a publicação de Decreto pelo Prefeito Municipal de XXXXX para a
suplementação do credito orçamentário para a Central de Vagas, utilizando-se de
recursos do Superávit financeiro do Fundo Municipal dos direitos da Criança e do
Adolescente de XXXXX – FMDCA, sem comprometimento do Orçamento de 2014.
Registre-se que o saldo financeiro do FMDCA em 31/03/2014, conforme a
Prestação de Contas do 1º trimestre de 2014 (fls.349/350), apresentada na Reunião
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Plenária do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de XXXXX
– CMDCA-XXXXX, na data de 05/05/2014, é de R$ 12.394.764,57 (doze milhões
trezentos e noventa e quatro mil setecentos e sessenta e quatro reais e cinquenta e sete
centavos).
Existe também a opção para a suplementação do crédito orçamentário para a
Central de Vagas a utilização de recursos dos 15% (quinze por cento) estabelecido no
artigo 4º da Lei nº 10.691, de 27 de dezembro de 2013, que estima a receita e fixa a
despesa do Município para o exercício financeiro de 2014, que estabelece1.
“Art. 4º Para ajustes na programação orçamentária, fica o
Executivo autorizado a abrir créditos suplementares até o limite
de 15% (quinze por cento) do valor total do Orçamento nos
termos do art. 43 da Lei Federal nº 4.320, de 17 de março de
1964.
Parágrafo único – Não oneram o limite estabelecido no caput
deste artigo:
I – as suplementações para pessoal e encargos sociais, limitadas
ao percentual estabelecido no caput deste artigo sobre o total do
crédito aprovado no grupo de despesa Pessoal e Encargos
Sociais, código 01, do orçamento vigente, a fim de preservar a
apropriação do gasto nos centros de custos das unidades
administrativas;
II – as suplementações ao Fundo Municipal de Saúde, limitadas
ao percentual estabelecido no presente artigo sobre o crédito
orçamentário aprovado para o referido fundo, objetivando das
ações programadas da área de Saúde;
III- as suplementações para o Serviço da Dívida, código 15,
limitadas a R$ 305.000.000,00 (trezentos e cinco
milhões de reais), a fim de adequar o processamento do crédito
orçamentário aprovado à reestruturação da dívida do Município
com o governo federal, nos termos da Lei nº 10.363, de 29 de
dezembro de 2011.
1 - Cópia da lei referida juntada às fls. 351 a 373 do Procedimento Preparatório.
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Assim, considerando que a receita estimada do orçamento para o ano de 2014
é de R$ 11.468..686.229,00 (onze milhões quatrocentos sessenta e oito milhões
seiscentos e oitenta e seis mil duzentos e vinte e nove reais), vale ressaltar que 15%
desse valor corresponde a R$ 1.720.302.934,35 (um bilhão setecentos e vinte milhões,
trezentos e dois mil, novecentos e trinta e quatro reais e trinta e cinco centavos).
Logo, não há que se falar em falta de recursos para a efetiva implantação da
Central de Vagas.
V - DO PEDIDO LIMINAR:
Verifica-se, in casu, a presença dos requisitos necessários à concessão da tutela
antecipada, estando provada a verossimilhança da alegação, consubstanciada na
documentação acostada, que comprova a existência de crianças e adolescentes
aguardando a indicação de vagas pela Central de Regulação de Vagas ou pernoitando
nas sedes dos Conselhos Tutelares ou ali permanecendo longo períodos sem
alimentação e cuidados necessários até seu encaminhamento para Unidades de
Acolhimento.
Quanto ao fundado receio de dano irreparável, este decorre dos inúmeros
prejuízos que sofrem as crianças e adolescentes com medidas protetivas já aplicadas
pelo juizado e pelos Conselhos Tutelares, as quais permanecem submetidas à situação
de risco, em razão da inércia estatal, que não indica a vaga ou permitem que as crianças
e adolescentes permaneçam, indevidamente, em sedes do Conselho Tutelar aguardando
vagas, expostas as novas situações de risco e constrangimento conforme já relatado.
Quanto as medidas protetivas de acolhimento institucional aplicadas pelo
Juizado Cível da Infância e Juventude, cumpre ressaltar que as crianças e adolescentes
permanecem em situação de risco malgrado a aplicação da medida protetiva, por falta
de indicação de vaga pela Central de Vagas, situações essas comprovadas à saciedade
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com os documentos juntados ao Procedimento Preparatório em apenso, fatos esses que
geram imensuráveis prejuízos morais, físicos, psicológicos e à saúde desses seres.
Ante o exposto, requer o Ministério Público, LIMINARMENTE:
1) que seja DETERMINADO ao Município XXXXX, que encaminhe todas as
crianças com medidas protetivas de acolhimento institucional aplicadas pelo
Juizado que se encontram aguardando vagas em hospitais e maternidades
públicas, COM ALTA HOSPITALAR, para Unidades de Acolhimento Institucional
(abrigos), compatíveis com sua faixa etária e perfil, podendo citar, na presente data, as
seguintes crianças com alta hospitalar, dentre outras:
1.1) RECÉM NASCIDO DE XXXXX, DN 29/03/14, no Hospital
XXXXX;
1.2) RECÉM NASCIDO DE XXXXX, DN 06/04/14, no Hospital
XXXXX;
1.3) XXXXX, DN 21/01/14, no Hospital XXXXX;
1.4) RECÉM NASCIDO DE XXXXX, DN 21/04/14, no Hospital
XXXXX;
1.5) RECÉM NASCIDO DE XXXXX, DN 19/04/14, no Hospital
XXXXX;
1.6) RECÉM NASCIDO DE XXXXX, DN 19/04/14, no Hospital
XXXXX;
2) a fixação de prazo de 24 horas, para transferência dessas crianças para
Unidades de Acolhimento Institucional, de acordo com a faixa etária e perfil, sob pena
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de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a ser imposta ao Município, por cada
criança que permanecer indevidamente internada;
3) seja DETERMINADO ao Município XXXXX, que se abstenha de manter
internada após alta hospitalar, qualquer criança/adolescente à qual tenha sido aplicada
medida protetiva de acolhimento institucional ou familiar, sob pena de multa diária, por
criança/adolescente indevidamente mantido no Hospital, no valor de R$ 5.000,00 (cinco
mil reais);
4) que sejam cumpridos, no prazo de 24 horas, os MANDADOS DE BUSCA
E APREENSÃO das crianças XXXXX (07 anos) e sua irmã XXXXX (02 anos);
XXXXX (07 anos) e sua irmã XXXXX (07 anos); XXXXX (07 anos); XXXXX (02
meses), com a entrega direta das crianças na Central de Regulação de Vagas, para o
devido encaminhamento à entidade de acolhimento institucional ou familiar de acordo
com o perfil e faixa etária das crianças;
5) o encaminhamento de todas as crianças e adolescentes com medidas
protetivas de acolhimento institucional aplicadas pelo Juizado, diretamente à
Central de Vagas, caso não indicada a vaga no prazo máximo de 24 horas;
VI – DO PEDIDO:
Diante do exposto, o Ministério Público requer:
1) o deferimento dos pedidos formulados no item V, números 1 a 5 desta
inicial;
2) a condenação do Município XXXXX em obrigação de fazer consistente na
estruturação da Central de Regulação de Vagas, com funcionamento 24 horas, inclusive
fins de semana, feriado e horário noturno com espaço físico adequado, com
fornecimento de alimentação e com equipe de recursos humanos preparada para receber,
ouvir e encaminhar as crianças e adolescentes para Unidades de Acolhimento
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Institucional (abrigos) mais apropriado para sua faixa etária e perfil, em caráter de
urgência, quando impossibilitado o encaminhamento imediato pelo órgão que aplicar a
medida protetiva;
3) a fixação de prazo de 90 dias para funcionamento da Central de Vagas,
conforme requerido no item segundo, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco
mil reais), a ser imposta ao Município, por cada criança ou adolescente encaminhada
para a Central de Vagas;
4) a condenação do Município a receber, através da Central de Vagas ou órgão
equivalente, todas as crianças e adolescentes com medidas protetivas de acolhimento
institucional aplicadas pelos Conselheiros Tutelares de XXXXX, proibindo-se que esses
menores aguardam na Sede de Conselho Tutelar o encaminhamento para Unidade de
Acolhimento, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por criança ou
adolescente que ficar esperando indevidamente;
5) a condenação do requerido no ônus da sucumbência.
VII – DOS REQUERIMENTOS:
a) o recebimento e autuação desta ação civil pública, juntamente com o
Procedimento Preparatório nº MPMG 0024.11.001.843-9;
b) a citação do requerido para contestar, querendo, a presente ação, no prazo
que lhes faculta a lei, cientificando-lhe de que a ausência de defesa implicará revelia e
reputar-se-ão como verdadeiros os fatos articulados nesta inicial;
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c) a intimação, por mandado, do Prefeito Municipal, do Procurador Geral do
Município, do Secretário Municipal Adjunto de Assistência Social e da Gerente de
Regulação de Vagas, conforme requerido no preâmbulo, para ciência do deferimento;
d) a produção de todos os meios de provas necessários para comprovação dos
fatos alegados, a juntada do procedimento administrativo anexo, bem como a oitiva de
testemunhas a serem arroladas no momento oportuno, bem como a realização de
vistorias ou perícia;
e) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, desde
logo, à vista do disposto no artigo 141 § 2º da Lei 8069/90;
f) a intimação da Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e da
Juventude em sua sede no endereço XXXXX.
Dá-se à causa, para fins meramente fiscais, o valor de R$510,00.
XXXXX, 07 de maio de 2014.
XXXXX XXXXX
Promotora de Justiça Promotora de Justiça