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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 1 EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE XXXXXXXXX O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, através da Promotora de Justiça da Infância e da Juventude que esta subscreve, no uso de suas atribuições legais, vem, com fundamento nos artigos 88, I, 90, 92, 93, 94, 201, V, 208, VI, do Estatuto da Criança e do Adolescente, ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA, DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR, em face do MUNICÍPIO XXXXX, inscrito no CNPJ-MF sob o nº XXXXX, pessoa jurídica de direito público interno, com sede neste Município e Comarca, na pessoa de seu representante legal, XXXXX, Prefeito Municipal de XXXXX , (art. 12, II, CPC), requerendo a citação pessoal do Prefeito, do Procurador Geral do Município, XXXXX, no endereço XXXXX, e do Secretário Municipal Adjunto de Assistência Social, XXXXX e do Gerente da Central de Regulação de Vagas, XXXXX ;

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

1

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA

CÍVEL DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE XXXXXXXXX

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, através

da Promotora de Justiça da Infância e da Juventude que esta subscreve, no uso de suas

atribuições legais, vem, com fundamento nos artigos 88, I, 90, 92, 93, 94, 201, V, 208,

VI, do Estatuto da Criança e do Adolescente, ajuizar

AÇÃO CIVIL PÚBLICA, DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO

DE CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR, em face do

MUNICÍPIO XXXXX, inscrito no CNPJ-MF sob o nº XXXXX, pessoa

jurídica de direito público interno, com sede neste Município e Comarca, na pessoa de

seu representante legal, XXXXX, Prefeito Municipal de XXXXX, (art. 12, II, CPC),

requerendo a citação pessoal do Prefeito, do Procurador Geral do Município,

XXXXX, no endereço XXXXX, e do Secretário Municipal Adjunto de Assistência

Social, XXXXX e do Gerente da Central de Regulação de Vagas, XXXXX;

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

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Em razão da situação fática e jurídica adiante descrita e fundamentada, ficando

esclarecido, desde logo, que qualquer referência a número de folhas, refere-se à

numeração lançada no Procedimento Preparatório nº MPMG-0024.11.001843-9, que

instrui a presente.

I – D0S FATOS:

1– DA FUNÇÃO DA CENTRAL DE VAGAS:

A municipalização do atendimento é uma das diretrizes da política de proteção

à infância e juventude, conforme previsto no art. 88, I do Estatuto da Criança e do

Adolescente, sendo que as disposições relativas às entidades de atendimento estão

normatizadas nos art. 90 e seguintes do mesmo diploma.

Assim, exercendo sua competência administrativa, o Município XXXXX, por

meio do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente, editou a

Resolução nº 75/2010, datada de 21/06/2010 e publicada no Diário Oficial do

Município XXXXX em 07/07/2010 (FLS. 65 A 66) afirmando a responsabilidade do

órgão gestor da assistência social do município para acolher e processar as

demandas dos Conselhos Tutelares e Vara da Infância e Juventude referentes à

aplicação da medida protetiva de acolhimento institucional ou familiar (art. 2º, §

2º).

A citada resolução dispõe sobre as diretrizes para a regulação das vagas junto

às entidades de acolhimento familiar e institucional em XXXXX, tendo em vista a

necessidade de centralizar todas as demandas de acolhimento em um único órgão,

fato que tem por finalidade otimizar e organizar a distribuição das crianças e

adolescentes pelas entidades que desenvolvem a referida medida protetiva.

Dessa forma, pode-se concluir que a Central de Vagas é o órgão

administrativo municipal que regula o início da execução da medida protetiva de

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acolhimento familiar ou institucional estabelecida no art. 101, VII e VIII do Estatuto da

Criança e do Adolescente, encaminhando as crianças e adolescentes para as entidades

de acolhimento institucional (abrigos) centros de passagem, de acordo com o perfil,

sexo e faixa etária desses seres em desenvolvimento.

2 – DOS PROBLEMAS OCASIONADOS PELO MAU FUNCIONAMENTO DA

CENTRAL DE VAGAS

Esclarecida a função administrativa da Central de Regulação de Vagas,

cumpre informar que os Conselhos Tutelares e o Juízo da Infância e Juventude, quando

se deparam com crianças/adolescentes com necessidade de aplicação da medida

protetiva de acolhimento, reportam-se à Central de Vagas para que esta indique a

entidade para a qual as crianças/adolescentes deverão ser encaminhadas.

Ocorre que o órgão administrativo municipal não está cumprindo com sua

função, ou seja, não indica a entidade a que as crianças/adolescentes deverão ser

encaminhadas, gerando uma grave, indevida, desnecessária e cruel violação aos direitos

e interesses da população infanto-juvenil, que passam a permanecer em situação de

risco por omissão estatal.

Cabe registrar que é “de responsavilidade do órgão gestor da assistência

social do município acolher e processar as demandas dos Conselhos Tutelares e

Vara da Infância e Juventude referentes à aplicação da medida protetiva de

acolhimento institucional ou familiar” (art. 1º, § 2º, da Resolução nº 75/2010).

Não obstante, crianças e adolescentes estão permanecendo em situação de

risco, malgrado a aplicação da medida protetiva de acolhimento pelo juizado e pelo

Conselho Tutelar, uma vez que a Central de Vagas não providencia o devido e célere

encaminhamento desses seres em desenvolvimento para unidade de acolhimento.

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2.1 – DAS CRIANÇAS E RECÉM NASCIDOS QUE AGUARDAM INDICAÇÃO DE

VAGA

Atualmente, existem no Município XXXXX, inúmeras crianças e recém-

nascidos que aguardaram a indicação de vagas pela Central de Regulação de Vagas,

conforme se verifica dos documentos acostados às fls. 49 a 64; 76 a 105; 160 a 164;

182; 206 a 208; 243 e 244; 247 a 249; 263 a 269; 336 a 338; 341 a 344; 345 a 346.

A título de exemplo, deve-se enumerar a situação atual das seguintes crianças:

1) O RECÉM NASCIDO DE XXXXX, nascido em 29/03/2014 (proc. nº 0024 14

090618-1) está no Hospital XXXXX, com alta hospitalar, mas aguardando a indicação

de vaga pela Central, desde o dia 11/04/2014, ou seja, está no nosocômio,

desnecessariamente, há mais de 20 dias esperando a manifestação da Central de Vagas;

2) O RECÉM NASCIDO DE XXXXX, nascido em 06/04/2014 (proc. nº 0024 14

090772-6), está no Hospital XXXXX, com alta hospitalar, mas aguardando a indicação

de vaga pela Central, desde o dia 14/04/2014, ou seja, está no nosocômio,

desnecessariamente, há mais de 17 dias esperando a manifestação da Central de Vagas;

3) XXXXX, nascida em 21/01/2014 (proc. nº 0024 14 122611-8), está no Hospital

XXXXX, com alta hospitalar, mas aguardando a indicação de vaga pela Central, desde

o dia 24/04/2014, ou seja, está no nosocômio, desnecessariamente, há mais de 06 dias

esperando a manifestação da Central de Vagas;

4) O RECÉM NASCIDO DE XXXXX, nascido em 21/04/2014 (proc. nº 0024 14

122612-5), está no Hospital XXXXX, com alta hospitalar, mas aguardando a indicação

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de vaga pela Central, desde o dia 24/04/2014, ou seja, está no nosocômio,

desnecessariamente, há mais de 06 dias esperando a manifestação da Central de Vagas;

5) O RECÉM NASCIDO DE XXXXX, nascido em 19/04/2014 (proc. nº 0024 14

122733-0), está no Hospital XXXXX, com alta hospitalar, mas aguardando a indicação

de vaga pela Central, desde o dia 28/04/2014, ou seja, está no nosocômio,

desnecessariamente, há mais de 02 dias esperando a manifestação da Central de Vagas;

6) O RECÉM NASCIDO DE XXXXX, nascido em 19/04/2014 (proc. nº 0024 14

090772-6), está no Hospital XXXXX, com alta hospitalar, mas aguardando a indicação

de vaga pela Central, desde o dia 29/04/2014, ou seja, está no nosocômio,

desnecessariamente, há mais de 01 dia esperando a manifestação da Central de Vagas;

7) As crianças XXXXX (07 anos) e sua irmã XXXXX (02 anos), infantes em grave

situação de risco (proc. nº 0024 10 253454-2), aguardam, há mais 27 dias, o

cumprimento de MANDADO DE BUSCA, APREENSÃO E ACOLHIMENTO

expedido em seu favor, com a finalidade de retirar-lhes da situação de risco, ou seja, as

crianças estão vivendo em um ambiente pernicioso, de maus tratos, negligência,

violência física e psicológica, sendo violadas em seus direitos, em razão da inércia do

órgão regulador das vagas, que não indica a entidade para a qual deverão ser

encaminhadas;

8) A criança XXXXX (07 anos) e sua irmã XXXXX (07 anos), infantes em grave

situação de risco (proc. nº 0024 08 224897-2), aguardam, há mais de 26 dias, o

cumprimento de MANDADO DE BUSCA, APREENSÃO E ACOLHIMENTO

expedido em seu favor, com a finalidade de retirar-lhes da situação de risco, ou seja, as

crianças estão vivendo em um ambiente pernicioso, de maus tratos, negligência,

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violência física e psicológica, sendo violadas em seus direitos, em razão da inércia do

órgão regulador das vagas, que não indica a entidade para a qual deverão ser

encaminhadas;

9) A criança XXXXX (07 anos), infante em grave situação de risco (proc. nº 0024 14

089665-5), aguarda, há mais de 16 dias, o cumprimento de MANDADO DE BUSCA,

APREENSÃO E ACOLHIMENTO expedido em seu favor, com a finalidade de retirar-

lhe da situação de risco, ou seja, a criança está vivendo em um ambiente pernicioso, de

maus tratos, negligência, violência física e psicológica, sendo violada em seus direitos,

em razão da inércia do órgão regulador das vagas, que não indica a entidade para a qual

deve ser encaminhada;

10) A criança XXXXX (02 meses), infante em grave situação de risco (proc. nº 0024 14

099807-1), aguarda, há mais de 08 dias, o cumprimento de MANDADO DE BUSCA,

APREENSÃO E ACOLHIMENTO expedido em seu favor, com a finalidade de retirar-

lhe da situação de risco, ou seja, a criança está vivendo em um ambiente pernicioso, de

maus tratos, negligência, violência física e psicológica, sendo violada em seus direitos,

em razão da inércia do órgão regulador das vagas, que não indica a entidade para a qual

deve ser encaminhada.

Conforme já ressaltado, as crianças em tela estão em grave situação de risco e já

houve decisão determinando o acolhimento institucional ou familiar, cabendo o seu

cumprimento imediato, com o devido encaminhamento dos infantes para as entidades

de acolhimento.

Algumas crianças estão ocupando desnecessariamente leitos nos hospitais da

cidade, enquanto outras são obrigadas a permanecer no ambiente de violações em razão

da inércia do Município XXXXX.

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Assim, em face da não indicação de vaga para acolhimento institucional pela

Central de Vagas, as crianças em tela se tornaram vítimas da omissão do Poder Público

Municipal (art. 98, I do Estatuto da Criança e do Adolescente), que não disponibiliza

vagas em entidades de acolhimento, para fins de cumprimento de mandados de busca e

apreensão expedidos pelo Juízo da Infância e Juventude, nos respectivos procedimentos

de providência.

Esse é o retrato da situação das crianças que aguardam indicação de vagas na

data do ajuizamento da presente ação (30/04/2014), no entanto, a crise instalada pelo

mau funcionamento da Central de Regulação de Vagas já se arrasta por vários anos.

2.2 – ALGUNS EXEMPLOS DAS INÚMERAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

QUE FICARAM AGUARDANDO A INDICAÇÃO DE VAGAS NOS ANOS DE

2010/2011/2012/2013.

A situação de todas as crianças/adolescentes a seguir elencadas estão

comprovadas documentalmente conforme relatórios, informes e ofícios acostados aos

autos do Procedimento Preparatório em anexo, tratando-se de uma pequena amostra

da realidade, vivenciada em todos os procedimentos de providência em curso no

Juizado Cível da Infância e Juventude.

1. XXXXX, de apenas 10 meses de vida, em 1º de Março de 2014, internado no Hospital

XXXXX em razão de ingestão de cocaína, estava com alta hospitalar aguardando

indicação de vaga pela Central de Vagas, quando, em razão da demora, foi

SUBTRAÍDO do nosocômio pelo genitor (fls. 332/334);

2. XXXXX, em 10 de Junho de 2011, aguardava há mais de 24 dias a indicação de

vaga pela Central de Regulação de Vagas (fl. 206);

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3. XXXXX, XXXXX e XXXXX, em 09 de Fevereiro de 2011, aguardaram por mais de

48 dias pela indicação de vaga (fl. 50);

4. XXXXX, em 13 de Dezembro de 2010, não conseguiu vaga na rede municipal de

acolhimento institucional, conforme registrado em 08/02/2011 no informe de fl. 52;

5. XXXXX e XXXXX, em 25 de Agosto de 2011, aguardaram mais de 10 horas, sem

alimentação, sem banho e sem cama, pela indicação de vaga, conforme relatório do

Conselho Tutelar XXXXX acostado às fls.53/55;

6. XXXXX, em 18 de Janeiro de 2011, aguardava há mais de 30 dias pela indicação

de vaga, conforme informe de fl. 61;

7. RECÉM NASCIDO DE XXXXX, em 05 de Novembro de 2010, aguardou mais de 05

dias pela indicação de vaga, conforme informe de fl. 63;

8. XXXXX, à época com 04 anos, em 23 de Novembro de 2010, foi encontrado pela

polícia militar na região central da XXXXX, na rua, em situação de negligência e maus

tratos, sendo encaminhado ao Conselho Tutelar XXXXX, todavia, por falta de indicação

de vagas, foi institucionalizado no Centro Geral de Pediatria, em caráter de urgência

pela Conselheira Tutelar XXXXX, apesar de ter recebido alta, continuou internado

correndo risco de pegar uma infecção hospitalar (representação do Conselho juntada às

fls. 76/78);

9. XXXXX, DN 01/01/2007, e XXXXX, DN 14/08/2009; em 23/02/2011, as crianças

foram encaminhadas ao Plantão Centralizado do Conselho Tutelar pela Polícia Militar,

em situação de maus-tratos, todavia, não houve a indicação de vagas pela Central de

Vagas, no horário noturno, que alegou falta de vagas, para essa faixa etária, conforme

relatório do Conselho Tutelar Regional XXXXX, às fls. 83/85;

10. XXXXX, em 14 de Julho de 2011, não indicou vaga para acolhimento

institucional da adolescente ao Conselheiro Tutelar da Regional XXXXX, a qual

pernoitou na sede do Conselho, deitada no corredor com dois cobertores cedidos pelo

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seu irmão que foi encaminhado ao CP Consolador, conforme declarações prestadas à fl.

91;

11. XXXXX, em 12/07/2011, acionada pelo Conselho Tutelar da Regional XXXXX, a

Central de Vagas não indicou vaga para acolhimento da adolescente, que permaneceu

no Conselho sem alimentação, sonolenta, necessitando de medicação com horário

marcado e sofrendo constrangimento por parte da gerente XXXXX (fls. 94/97);

12. XXXXX, em 08/06/11, acionada pelo Conselho Tutelar XXXXX, a Central de

Vagas indicou vaga para acolhimento da adolescente no Centro de Passagem XXXXX,

completamente fora do perfil da adolescente acolhida, expondo-a a novas situações de

risco, conforme relatório de fls. 99/100;

13. XXXXX, XXXXX, XXXXX, XXXXX e XXXXX, em 22 de Março de 2011,

acionada pelo Conselho Tutelar XXXXX a Central de Vagas indicou vagas

indisponíveis para acolhimento dos menores, conforme relatório de fls. 160/161;

14. XXXXX, XXXXX, XXXXX, XXXXX e XXXXX, em 08 de Novembro de 2011,

foram buscados, apreendidos e entregues diretamente à Central de Vagas, ante não

indicação da entidade a que deveriam ser encaminhados, conforme de fl. 182;

15. XXXXX, em 17 de Outubro de 2011, aguardava por 32 dias a indicação de vaga,

conforme informe de fl. 208;

16. XXXXX, em 07 de Março de 2012, acionada pelo Conselho Tutelar Plantão

Centralizado, a Central de Vagas não indicou vaga para acolhimento da criança, que

chegou no Conselho conduzida pela PM, conforme relatório de fl. 243;

17. XXXXX, em 10 de Maio de 2012, essa criança, com apenas 10 anos de idade, teve

que pernoitar no Plantão do Conselho Tutelar, sem alimentação, sem banho e sem cama,

em razão da omissão da Central de Vagas, conforme relatório de fls. 247/249;

18. XXXXX, em 17 de Fevereiro de 2014, em razão nova medida de acolhimento

institucional, aguardava 32 dias pela indicação de vaga, conforme informe de fl. 337;

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19. XXXXX, XXXXX e XXXXX, na data de 24 de Fevereiro de 2014, aguardavam por

10 dias a indicação de vaga, conforme informe de fl. 336;

20. XXXXX (DN 03/06/2008), XXXXX (DN 24/07/2009), XXXXX (DN 18/01/2010)

e XXXXX (DN 08/09/2012), em 12 de Março de 2014, aguardavam há 22 dias a

indicação de vaga pelo órgão municipal, conforme informe de fl. 338;

21. XXXXX, XXXXX, XXXXX e XXXXX, em 10 de Março de 2014, aguardavam por

38 dias a indicação de vaga, conforme informe de fl. 339;

22. XXXXX (DN 09/02/2001); XXXXX (DN 20/05/2002) e XXXXX (DN

04/06/2013), em 12 de Março de 2014, aguardavam há 29 dias pela indicação de vaga

pela Central de Regulação de Vagas, conforme informe de fl. 344;

Todas as crianças e adolescentes enumerados tiveram seus direitos

profundamente violados em razão da omissão do Município XXXXX, que pouco se

importa com a política de atendimento à criança e ao adolescente em situação de risco

social.

Tal omissão não pode perdurar, é necessária a implementação efetiva da Central

de Regulação de Vagas que funciona de modo precário, com modesto orçamento e

pouca importância política.

3 – DAS MEDIDAS ADMINISTRATIVAS TOMADAS PARA TENTAR

RESOLVER O PROBLEMA DA CENTRAL DE VAGAS

Diante do cenário caótico do sistema de acolhimento institucional no Município

XXXXX, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais expediu a Recomendação nº

01/2011 (fls. 14 a 20), com vistas a buscar a resolução administrativa do problema, no

entanto, o requerido mantém-se inadimplente com suas obrigações legais.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

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Na citada recomendação, busca-se a implementação de estrutura física adequada,

com recursos humanos e materiais necessários ao pleno funcionamento da Central de

Vagas, tais como acomodações, com alimentação e mobiliário apto a receberem as

crianças, quando impossibilitado o imediato encaminhamento para a entidade de

acolhimento institucional, recomendando o seguinte.

1 – providenciar estrutura física adequada, recursos humanos e

matérias necessários para o pleno funcionamento da Central de

Vagas, no prazo de 60 dias;

2 – criar junto às instalações da Central de Vagas, no prazo

máximo de 60 dias, espaço físico adequado para receber, em

caráter de urgência, as crianças e adolescentes com medida de

acolhimento institucional aplicada pelos Conselhos Tutelares ou

Vara da Infância e Juventude, quando impossibilitando o

encaminhamento imediato para entidade de acolhimento

institucional do Município XXXXX, podendo para tanto utilizar

o recurso previsto no art. 9º, § 1º, da Resolução nº 80/2010 do

Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

de XXXXX, cujo saldo atual é de R$ 873.004,46 (oitocentos e

setenta e três mil, quatro reais e quarenta e seis centavos),

conforme documento da Gerência Administrativo-Financeira

(anexo)”.

A XX Promotoria de Justiça expediu, ainda, a Recomendação nº 08/2011 (fls.

183/187) com o objetivo de implementação da jornada integral da Central de Regulação

de Vagas, com funcionamento 24 horas por dia, inclusive finais de semana, feriados e

período noturno.

Os Conselhos Tutelares do Município XXXXX relatam a dificuldade que

possuem com relação à Central de Vagas (fls. 101/103; 236/237; 239/241; 242;

243/244; 246/249; 263/264; 283/292), uma vez que ao verificarem que crianças e

adolescentes estão em situação de risco (abuso sexual, maus tratos, violência doméstica,

etc.) ficam impedidos de aplicar a medida protetiva de acolhimento institucional

(art. 136, I do ECA), por falta de indicação de vaga, permanecendo esses seres em

desenvolvimento na mesma situação de risco por omissão estatal.

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Assim, em razão da ineficácia das medidas administrativas, o socorro ao Poder

Judiciário é a última alternativa cabível na busca pelo respeito aos direitos das crianças

e adolescentes que precisam de acolhimento institucional.

Importante ressaltar que a própria central de vagas reconhece sua incapacidade

de atendimento, conforme de depreende dos e-mails enviados pela servidora pública

municipal XXXXX (email XXXXX), informando que não consegue indicar vagas (fls.

56 e 59).

II - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:

Os programas de acolhimento institucional compõem, conforme a Política

Nacional de Assistência Social e Norma Operacional Básica (2005), a Rede de Proteção

Social Especial de Alta Complexidade, visto que irão acolher crianças e adolescentes

vitimizados, cuja vivência da violação acarretou prejuízos à auto-estima, à auto-imagem

e às suas relações sociais.

Logo, as crianças e adolescentes que passaram por tais eventos necessitam

encontrar ambiente acolhedor, respeitoso e digno, para que possam superar as violações

de direito sofridas, que favoreça seu processo de desenvolvimento.

A Constituição Federal assegura, em seu artigo 227, caput, às crianças e

adolescentes, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, ao lazer,

à profissionalização, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e

comunitária, colocando-os a salvo de toda forma de negligência, discriminação,

exploração, violência, crueldade e opressão.

O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê, em seu artigo 7°, que:

“Art. 7ª. A criança e o Adolescente têm direito da proteção à

vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais

públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio

e harmonioso, em condições dignas de existência”.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

13

A partir do momento em que o Estado, através do Poder Judiciário, identifica

que uma criança ou adolescente não possui condições de desenvolver-se sadia e

harmoniosamente no seio de sua família e que necessita de proteção especial através de

medida de acolhimento institucional ou familiar, compete ao Poder Executivo dar

condições para que estes infantes e adolescentes recebam tratamento prioritário em

perfeita sintonia com as normas contidas na legislação pátria.

Estabelece o artigo 204 da Constituição Federal que as ações governamentais na

área da assistência social serão realizadas e organizadas de forma descentralizada,

cabendo à União a coordenação e a emissão de normas gerais e ao Estado membro e ao

Município a coordenação e a execução de programas.

O artigo 87 do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece:

Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:

I - políticas sociais básicas;

II - políticas e programas de assistência social, em caráter

supletivo, para aqueles que deles necessitem;

III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e

psicossocial às vítimas de negligência, maus tratos, exploração,

abuso, crueldade e opressão;

IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável,

crianças e adolescentes desaparecidos;

V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos

da criança e do adolescente.

Por sua vez estabelece o artigo 88 do mesmo diploma legal:

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:

I - municipalização do atendimento;

II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos

direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e

controladores das ações em todos os níveis, assegurada a

participação popular paritária por meio de organizações

representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;

III - criação e manutenção de programas específicos, observada

a descentralização político-administrativa;

IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais

vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e

do adolescente.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

14

Verifica-se que a política relativa ao atendimento dos programas de assistência,

sobretudo os programas de acolhimento institucional, encontram-se expressamente

previstos pelo ECA, como instrumento de política social a ser implementado pela

Municipalidade.

É dever do Município proceder à implantação preferencial de políticas sociais e

a estruturação do sistema de assistência às crianças e adolescentes conforme expressa

previsão legal:

“Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em

geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade,

a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à

profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à

liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer

circunstâncias;

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de

relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas

sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas

relacionadas com a proteção à infância e à juventude.”

Contudo, embora esteja o Estatuto da Criança e do Adolescente em vigor desde

13/07/90, o Município réu não se organizou, até a presente data, para acolhimento das

crianças e adolescentes em situação de risco nas hipóteses do art. 98 do Estatuto da

Criança e do Adolescente, prejudicando todo o sistema protetivo previsto pelo

microssistema da Infância e Juventude, em violação direta ao disposto no artigo 208 do

ECA:

“Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de

responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e

ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta

irregular:

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

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VI- de serviço de assistência social visando à proteção à família,

à maternidade, à infância e à adolescência, bem como o amparo

às crianças e adolescentes que dele necessitem;

...

Parágrafo Único - As hipóteses previstas neste artigo não

excluem da proteção judicial outros interesses individuais,

difusos ou coletivos, próprios da infância e da adolescência,

protegidos pela Constituição Federal e pela Lei.”.

No âmbito Municipal, a Lei nº 8.502, DE 6 DE MARÇO DE 2003, estabelece

como meios de efetivação da política municipal de atendimento aos direitos da criança e

do adolescente, o seguinte:

Art. 1º - A política municipal de atendimento dos direitos da

criança e do adolescente é regida pela Lei Federal nº 8.069, de

13 de julho de 1990, e por esta Lei.

Art. 2º - São meios de efetivação da política municipal de

atendimento dos direitos da criança e do adolescente:

I - programas e serviços sociais básicos de educação, saúde,

recreação, esporte, cultura, lazer, profissionalização e outros que

assegurem o desenvolvimento físico, mental, espiritual e social

da criança e do adolescente, em condições de liberdade e

dignidade;

II - programas de assistência social suplementares aos previstos

no inciso I, para aqueles que deles necessitarem;

III - serviços especiais.

§ 1º - Os programas de assistência social de que trata o

inciso II do caput deste artigo classificam-se como de

proteção ou socioeducativos e compreendem:

I - orientação e apoio sociofamiliar;

II - apoio socioeducativo em meio aberto;

III - colocação familiar;

IV - abrigo;

V - liberdade assistida;

VI - semiliberdade;

VII - internação.

§ 2º - Omissis

Art. 3º - Compete ao Executivo criar e manter os programas

de assistência social e os serviços especiais de que tratam os

§§ 1º e 2º do art. 2º, em conformidade com as normas

expedidas pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança

e do Adolescente - CMDCA.

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16

Por fim, a Resolução nº 75/2010, datada de 21/06/2010 e publicada no Diário

Oficial do Município XXXXX em 07/07/2010, editada pela Secretaria Municipal de

Políticas Sociais, estabelece:

RESOLUÇÃO Nº 75/2010

Dispõe sobre as diretrizes para a Regulação de Vagas junto às

entidades de acolhimento familiar e institucional no município e

dá outras providências.

O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do

Adolescente de XXXXX – CMDCA/XXXXX, no exercício de

suas atribuições legais, previstas no inciso VI, do parágrafo 3º,

do artigo 227 da Constituição da República Federativa do Brasil

– Constituição da República, de 05 de outubro de 1988, na Lei

Federal nº 8.069 – Estatuto da Criança e do Adolescente, de 13

de julho de 1990 e na Lei Municipal nº 8.502, de 06 de março

de 2003, e considerando a necessidade de estabelecer

parâmetros claros e objetivos, condizentes com a atual realidade

das entidades não-governamentais e do poder público, sobre o

fluxo de acolhimento institucional e familiar, RESOLVE:

CAPÍTULO I

DO OBJETIVO

Art. 1º - A Regulação de Vagas nos programas de

acolhimento institucional e familiar visa controlar e monitorar o

acesso de crianças e adolescentes na rede de atendimento do

Município.

Art. 2º - O acesso de crianças e adolescentes às vagas,

em entidades que executam programa de acolhimento familiar e

institucional, será operacionalizado pelo órgão gestor da

política de assistência social do município.

§ 1º - A Regulação de Vagas deverá registrar, controlar

e sistematizar informações, estabelecendo contatos e

articulações com a rede de acolhimento familiar e institucional,

para o levantamento e a qualificação do número de vagas

disponíveis no município.

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17

§ 2º - É de responsabilidade do órgão gestor da

assistência social do município acolher e processar as demandas

dos Conselhos Tutelares e Vara da Infância e Juventude

referentes à aplicação da medida protetiva de acolhimento

institucional ou familiar.

CAPÍTULO II

DA COMPETÊNCIA

Art. 3º - A Regulação de Vagas ficará sob a

responsabilidade do órgão gestor da assistência social do

município, que indicará a vaga mais adequada nas entidades

que executam programa de acolhimento familiar e institucional,

observando o que dispõe os incisos VI, do artigo 87 e I, III e

VI, do artigo 88 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Parágrafo único - Compete ao órgão gestor da

assistência social do município criar instrumento informacional

para o registro e sistematização de dados no que tange à rede de

acolhimento familiar e institucional.

Art. 4º - Constarão como serviços operados pela

Regulação de Vagas, dentre outros:

I - registrar e atualizar todas as vagas na rede de acolhimento

familiar e institucional do município;

II - disponibilizar a relação de vagas para acolhimento familiar

e institucional aos órgãos competentes;

III - indicar a vaga mais adequada disponível, buscando atender

o perfil do acolhido, em cumprimento ao disposto no parágrafo

7º, do artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente;

IV - acompanhar e controlar a ocupação da vaga na rede de

acolhimento familiar e institucional;

V - sistematizar os desligamentos ocorridos na rede de

acolhimento familiar e institucional, com a conseqüente oferta

de vaga.

CAPÍTULO III

DA OPERACIONALIZAÇÃO

Seção I

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18

Dos Critérios de Funcionamento

Art. 5º - O órgão gestor da assistência social do

município se responsabilizará pela logística de estrutura,

equipamentos e recursos humanos para a operacionalização da

Regulação de Vagas, que fará parte permanente da política de

atendimento à criança e ao adolescente no município.

Art. 6º - O órgão gestor da assistência social do

município organizará a Regulação de Vagas, viabilizando

inclusive o funcionamento desse serviço nos finais de semana,

feriados e períodos noturnos.

Art. 7º - Constará da Lei Orçamentária Municipal

previsão dos recursos necessários ao funcionamento de

Regulação de Vagas, observando o que dispõe os parágrafos2º,

do artigo 90 e 5°, do artigo 260 do Estatuto da Criança e do

Adolescente.

Seção II

Dos Critérios de Qualidade

Art. 8º - A Regulação de Vagas acompanhará, por meio

de sua equipe, toda a rede de acolhimento familiar e

institucional do município, compartilhando e mediando com

esta instrumentos e metodologias que visem o fortalecimento

do sistema de garantia de direitos no município.

Parágrafo único - Os instrumentos e metodologias de

cada entidade que executa programa de acolhimento familiar e

institucional deverão ser considerados para o que alude o caput

deste artigo.

Art. 9º - Para cumprimento do artigo 4º desta resolução,

a Regulação de Vagas deverá observar os critérios para o

acolhimento, fixados na resolução específica do

CMDCA/XXXXX e demais legislações correlatas.

CAPÍTULO IV

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 10 - Todas as entidades de acolhimento familiar e

institucional, governamentais e não-governamentais deverão

cumprir as deliberações da presente resolução.

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19

Art. 11 - Esta resolução entra em vigor na data de sua

publicação.

Art. 12 - Revogam-se as disposições em contrário.

XXXXX, 21 de junho de 2010

XXXXX

Presidente

Pode-se concluir que a Resolução 75/2010 deixa claro os objetivos, as funções e

as competências exercidas pela Central de Vagas.

III – DO ORÇAMENTO:

Observa-se do demonstrativo do Orçamento Criança e Adolescente de

XXXXX – OCA (fls. 347 e 348), para o ano de 2014, Programa 20 – Proteção social

Especial – Ação 2403 – Serviço de Proteção social Especial de Alta Complexidade –

Subação 11 – Central de Vagas – Unidade Orçamentária 1011- Fundo Municipal de

Assistência Social, que há um crédito orçamentário para a Central de Vagas no valor de

R$ 202.541,00 (duzentos e dois mil, quinhentos e quarenta e um reais).

Atualmente, a Central de Vagas funciona apenas por telefone e e-mail,

indicando as vagas, quando solicitadas pelos Conselhos Tutelares e pelo Juizado, se

disponível no “sistema”. Todavia, essa indicação não é imediata, inviabilizando o

pronto cumprimento dos mandados de busca e apreensão expedidos, permanecendo as

crianças e adolescentes em situação de risco por longos períodos, diante da omissão

estatal conforme já ressaltado e comprovado (dos fatos).

Portanto, mister que o Município assuma a implantação imediata da Central de

Vagas, e, imóvel adaptado para recebimento da criança e do adolescente encaminhados

pelo Conselho Tutelar e pelo Juizado para execução da medida protetiva de acolhimento

institucional aplicada, de forma que esses seres em desenvolvimento sejam retirados da

situação de risco e colocados em ambiente seguro, sendo inaceitável que criança ou

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20

adolescente permaneçam aguardando no Juizado ou no Conselho Tutelar o

encaminhamento para Unidade de Acolhimento.

A espera por vaga provoca mais dano à criança e ao adolescente, já que estes

ficam em situação de abandono, doravante, pela omissão do Poder Público, dormindo

em locais inapropriados ou aguardando em locais impróprios, sem alimentação, sem

cuidados e atenção especiais, até que sejam efetivamente encaminhados para Unidade

de Acolhimento.

As crianças e adolescentes deveriam aguardar o encaminhamento na sede da

Central de Vagas, que se encarregaria, através de técnicos, psicólogos e assistentes

sociais de ouvi-los e encaminhá-los para unidade adequada à sua faixa etária e perfil,

devendo para tanto dispor de veículo próprio e adequado para transporte das crianças e

adolescentes para as respectivas Unidades de Acolhimento.

Mister, ainda, que a Sede da Central de Vagas disponha de equipe de

segurança para impedir eventual tentativa de invasão e agressão por parte de genitores

e/ou responsáveis pelas crianças e adolescentes, que estiverem insatisfeitos com a

medida protetiva aplicada pela autoridade competente.

Além disso, deve dispor de alimentação e produtos de higiene para as crianças

(fraldas, lenços umedecidos) e adolescentes que aguardam no prédio da Central seu

encaminhamento para Unidade de Acolhimento específica.

Importante registrar que se torna urgente e necessária a efetiva implementação

da Central de Vagas, neste ano de 2014, conforme já recomendado pelo Ministério

Público e também objeto de pedido da presente ação, motivo pelo qual apresenta como

proposta a publicação de Decreto pelo Prefeito Municipal de XXXXX para a

suplementação do credito orçamentário para a Central de Vagas, utilizando-se de

recursos do Superávit financeiro do Fundo Municipal dos direitos da Criança e do

Adolescente de XXXXX – FMDCA, sem comprometimento do Orçamento de 2014.

Registre-se que o saldo financeiro do FMDCA em 31/03/2014, conforme a

Prestação de Contas do 1º trimestre de 2014 (fls.349/350), apresentada na Reunião

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21

Plenária do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de XXXXX

– CMDCA-XXXXX, na data de 05/05/2014, é de R$ 12.394.764,57 (doze milhões

trezentos e noventa e quatro mil setecentos e sessenta e quatro reais e cinquenta e sete

centavos).

Existe também a opção para a suplementação do crédito orçamentário para a

Central de Vagas a utilização de recursos dos 15% (quinze por cento) estabelecido no

artigo 4º da Lei nº 10.691, de 27 de dezembro de 2013, que estima a receita e fixa a

despesa do Município para o exercício financeiro de 2014, que estabelece1.

“Art. 4º Para ajustes na programação orçamentária, fica o

Executivo autorizado a abrir créditos suplementares até o limite

de 15% (quinze por cento) do valor total do Orçamento nos

termos do art. 43 da Lei Federal nº 4.320, de 17 de março de

1964.

Parágrafo único – Não oneram o limite estabelecido no caput

deste artigo:

I – as suplementações para pessoal e encargos sociais, limitadas

ao percentual estabelecido no caput deste artigo sobre o total do

crédito aprovado no grupo de despesa Pessoal e Encargos

Sociais, código 01, do orçamento vigente, a fim de preservar a

apropriação do gasto nos centros de custos das unidades

administrativas;

II – as suplementações ao Fundo Municipal de Saúde, limitadas

ao percentual estabelecido no presente artigo sobre o crédito

orçamentário aprovado para o referido fundo, objetivando das

ações programadas da área de Saúde;

III- as suplementações para o Serviço da Dívida, código 15,

limitadas a R$ 305.000.000,00 (trezentos e cinco

milhões de reais), a fim de adequar o processamento do crédito

orçamentário aprovado à reestruturação da dívida do Município

com o governo federal, nos termos da Lei nº 10.363, de 29 de

dezembro de 2011.

1 - Cópia da lei referida juntada às fls. 351 a 373 do Procedimento Preparatório.

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22

Assim, considerando que a receita estimada do orçamento para o ano de 2014

é de R$ 11.468..686.229,00 (onze milhões quatrocentos sessenta e oito milhões

seiscentos e oitenta e seis mil duzentos e vinte e nove reais), vale ressaltar que 15%

desse valor corresponde a R$ 1.720.302.934,35 (um bilhão setecentos e vinte milhões,

trezentos e dois mil, novecentos e trinta e quatro reais e trinta e cinco centavos).

Logo, não há que se falar em falta de recursos para a efetiva implantação da

Central de Vagas.

V - DO PEDIDO LIMINAR:

Verifica-se, in casu, a presença dos requisitos necessários à concessão da tutela

antecipada, estando provada a verossimilhança da alegação, consubstanciada na

documentação acostada, que comprova a existência de crianças e adolescentes

aguardando a indicação de vagas pela Central de Regulação de Vagas ou pernoitando

nas sedes dos Conselhos Tutelares ou ali permanecendo longo períodos sem

alimentação e cuidados necessários até seu encaminhamento para Unidades de

Acolhimento.

Quanto ao fundado receio de dano irreparável, este decorre dos inúmeros

prejuízos que sofrem as crianças e adolescentes com medidas protetivas já aplicadas

pelo juizado e pelos Conselhos Tutelares, as quais permanecem submetidas à situação

de risco, em razão da inércia estatal, que não indica a vaga ou permitem que as crianças

e adolescentes permaneçam, indevidamente, em sedes do Conselho Tutelar aguardando

vagas, expostas as novas situações de risco e constrangimento conforme já relatado.

Quanto as medidas protetivas de acolhimento institucional aplicadas pelo

Juizado Cível da Infância e Juventude, cumpre ressaltar que as crianças e adolescentes

permanecem em situação de risco malgrado a aplicação da medida protetiva, por falta

de indicação de vaga pela Central de Vagas, situações essas comprovadas à saciedade

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23

com os documentos juntados ao Procedimento Preparatório em apenso, fatos esses que

geram imensuráveis prejuízos morais, físicos, psicológicos e à saúde desses seres.

Ante o exposto, requer o Ministério Público, LIMINARMENTE:

1) que seja DETERMINADO ao Município XXXXX, que encaminhe todas as

crianças com medidas protetivas de acolhimento institucional aplicadas pelo

Juizado que se encontram aguardando vagas em hospitais e maternidades

públicas, COM ALTA HOSPITALAR, para Unidades de Acolhimento Institucional

(abrigos), compatíveis com sua faixa etária e perfil, podendo citar, na presente data, as

seguintes crianças com alta hospitalar, dentre outras:

1.1) RECÉM NASCIDO DE XXXXX, DN 29/03/14, no Hospital

XXXXX;

1.2) RECÉM NASCIDO DE XXXXX, DN 06/04/14, no Hospital

XXXXX;

1.3) XXXXX, DN 21/01/14, no Hospital XXXXX;

1.4) RECÉM NASCIDO DE XXXXX, DN 21/04/14, no Hospital

XXXXX;

1.5) RECÉM NASCIDO DE XXXXX, DN 19/04/14, no Hospital

XXXXX;

1.6) RECÉM NASCIDO DE XXXXX, DN 19/04/14, no Hospital

XXXXX;

2) a fixação de prazo de 24 horas, para transferência dessas crianças para

Unidades de Acolhimento Institucional, de acordo com a faixa etária e perfil, sob pena

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de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a ser imposta ao Município, por cada

criança que permanecer indevidamente internada;

3) seja DETERMINADO ao Município XXXXX, que se abstenha de manter

internada após alta hospitalar, qualquer criança/adolescente à qual tenha sido aplicada

medida protetiva de acolhimento institucional ou familiar, sob pena de multa diária, por

criança/adolescente indevidamente mantido no Hospital, no valor de R$ 5.000,00 (cinco

mil reais);

4) que sejam cumpridos, no prazo de 24 horas, os MANDADOS DE BUSCA

E APREENSÃO das crianças XXXXX (07 anos) e sua irmã XXXXX (02 anos);

XXXXX (07 anos) e sua irmã XXXXX (07 anos); XXXXX (07 anos); XXXXX (02

meses), com a entrega direta das crianças na Central de Regulação de Vagas, para o

devido encaminhamento à entidade de acolhimento institucional ou familiar de acordo

com o perfil e faixa etária das crianças;

5) o encaminhamento de todas as crianças e adolescentes com medidas

protetivas de acolhimento institucional aplicadas pelo Juizado, diretamente à

Central de Vagas, caso não indicada a vaga no prazo máximo de 24 horas;

VI – DO PEDIDO:

Diante do exposto, o Ministério Público requer:

1) o deferimento dos pedidos formulados no item V, números 1 a 5 desta

inicial;

2) a condenação do Município XXXXX em obrigação de fazer consistente na

estruturação da Central de Regulação de Vagas, com funcionamento 24 horas, inclusive

fins de semana, feriado e horário noturno com espaço físico adequado, com

fornecimento de alimentação e com equipe de recursos humanos preparada para receber,

ouvir e encaminhar as crianças e adolescentes para Unidades de Acolhimento

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Institucional (abrigos) mais apropriado para sua faixa etária e perfil, em caráter de

urgência, quando impossibilitado o encaminhamento imediato pelo órgão que aplicar a

medida protetiva;

3) a fixação de prazo de 90 dias para funcionamento da Central de Vagas,

conforme requerido no item segundo, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco

mil reais), a ser imposta ao Município, por cada criança ou adolescente encaminhada

para a Central de Vagas;

4) a condenação do Município a receber, através da Central de Vagas ou órgão

equivalente, todas as crianças e adolescentes com medidas protetivas de acolhimento

institucional aplicadas pelos Conselheiros Tutelares de XXXXX, proibindo-se que esses

menores aguardam na Sede de Conselho Tutelar o encaminhamento para Unidade de

Acolhimento, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por criança ou

adolescente que ficar esperando indevidamente;

5) a condenação do requerido no ônus da sucumbência.

VII – DOS REQUERIMENTOS:

a) o recebimento e autuação desta ação civil pública, juntamente com o

Procedimento Preparatório nº MPMG 0024.11.001.843-9;

b) a citação do requerido para contestar, querendo, a presente ação, no prazo

que lhes faculta a lei, cientificando-lhe de que a ausência de defesa implicará revelia e

reputar-se-ão como verdadeiros os fatos articulados nesta inicial;

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

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c) a intimação, por mandado, do Prefeito Municipal, do Procurador Geral do

Município, do Secretário Municipal Adjunto de Assistência Social e da Gerente de

Regulação de Vagas, conforme requerido no preâmbulo, para ciência do deferimento;

d) a produção de todos os meios de provas necessários para comprovação dos

fatos alegados, a juntada do procedimento administrativo anexo, bem como a oitiva de

testemunhas a serem arroladas no momento oportuno, bem como a realização de

vistorias ou perícia;

e) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, desde

logo, à vista do disposto no artigo 141 § 2º da Lei 8069/90;

f) a intimação da Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e da

Juventude em sua sede no endereço XXXXX.

Dá-se à causa, para fins meramente fiscais, o valor de R$510,00.

XXXXX, 07 de maio de 2014.

XXXXX XXXXX

Promotora de Justiça Promotora de Justiça