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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS90ª Promotoria de Justiça de Goiânia
Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaEXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA_____
VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por
intermédio da Promotora de Justiça que a esta subscreve, titular da 90ª Promotoria de Justiça
do Estado de Goiás, no uso de suas atribuições constitucionais, e com fulcro nos artigos 129,
inciso III, da Constituição Federal, artigo 5º, inciso I e artigo 3º, ambos da Lei Federal
7.347/85, artigo 25, inciso IV, alínea “a” da Lei Federal 8.625/93, no artigo 46, inciso VI,
alínea “a”, da Lei Complementar Estadual n. 25/98 e Lei 8.429/92, vem perante Vossa
Excelência propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
observado o rito ordinário e disposições especiais previstas na Lei 8.429/92, contra
PAULO MARTINS DA SILVA, brasileiro, casado, nascido aos
01/11/1960, G nº 1074790 SSP/GO, RG nº 778990012, CREA/GO 3078, CPF nº
327.419.011-04, filho de Nivaldo Guimarães da Silva e Igraci Martins da Silva, residente na
Rua 20, Qd. 15, Lt. 09,/Parque dos Buritis II, CEP 75.901-971, Rio Verde/GO;
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaENÉAS VIEIRA PINTO, brasileiro, casado, servidor público
estadual, RG nº 610185 – SSP/MG, CPF n.º 064.915.706-06, filho de Jomero Vieira Pinto e
Almira Mantone Vieira, residente na Rua T-33, Qd. G-93, Lt. 07, Setor Bueno Goiânia/GO;
HALEY DIAS DE CARVALHO, brasileiro, casado, servidor
público estadual, natural de Araguari/MG, RG nº 1.991.180 SSP/GO, CPF nº 136.279.961-00,
nascido aos 02/09/1951, filho de Heitor Dias de Carvalho e Adelaide Simões Carvalho,
residente na Rua C-234, nº 1169, apto. 1.502, Setor Nova Suíça, Goiânia/GO;
SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E
AGRICULTURA, sociedade civil sem fins lucrativos, inscrita no CNPJ com nº
01.409.622/0001-30, com sede na Rua 250, nº 231, Parque Agropecuário Dr. Pedro Ludovico
Teixeira, Goiânia/GO, CEP 74.653-200, representada por seu Presidente Ricardo Yano;
VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA, nome fantasia RED
EVENTOS, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ com nº 01.593.779/0001-69,
e na Junta Comercial com NIRE nº 35.214.193.640, estabelecida na Avenida Antártica, nº
1.530, Bairro Santa Úrsula, Jaguariúna/SP, CEP 13.820-000, representada por seus sócios-
proprietários VALDOMIRO POLISELLI JÚNIOR, RG nº 13.744.058-3 SSP/SP, CPF nº
042.850.388-89, residente e domiciliado na Estrada da Servidão, s/nº, Bairro Santa Úrsula,
Jaguariúna/SP e NELMA MASCARENHAS MARQUES POLISELLI, RG nº 4.993.927-0
SSP/SP, CPF nº 033.213.248-06, residente e domiciliado na Estrada da Servidão, s/nº, Bairro
Santa Úrsula, Jaguariúna/SP,
pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.
1. DOS FATOS:
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaNo dia 07/07/2008, o réu PAULO MARTINS DA SILVA,
então Secretário de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás –
SEAGRO -, bem como o réu ENÉAS VIEIRA PINTO, então Superintendente de
Administração e Finanças da Secretaria da SEAGRO, deflagraram processo de registro nº
200800008001142/2008, para a “contratação de área junto a SGPA – SOCIEDADE
GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA -, visando à realização da segunda edição da
2ª edição do Goiânia Rodeo Festival, no período de 13 a 17 de agosto de 2008, evento este
incluído no Calendário de Eventos Oficiais do Estado de Goiás, conforme a Lei 16.211/2008,
no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). (anexo II)
Segundo a justificativa apresentada para a contratação,
Exposições, feiras, mostras e rodeios consolidaram-se como instrumentos de difusão de tecnologias, produtos, serviços, inovações, comercialização e intercâmbio cultural de todos os segmentos da cadeia produtiva agropecuária.O agronegócio, como sustentáculo do Estado de Goiás, contribui com margens representativas na constituição de sua economia, alcançando cifras da ordem de 67% de seu PIB e 84% do total das exportações.O rodeio constitui-se em parte integrante do agronegócio, retratando o dia-a-dia do homem do campo na lida com animais.A primeira edição do Goiânia Rodeo Festival, realizada no ano de 2007, trouxe à capital uma etapa da “Professional Bull Riders” (PRB)” a maior entidade de rodeios do mundo, difundindo o Estado e a capital em todo mundo, através de suas transmissões.A segunda edição do Goiânia Rodeo Festival, em Goiânia, está incluída no Calendário de Eventos Oficiais do Estado de Goiás, conforme a Lei nº 16.211, de 17 de março de 2008, em parceria com entidades, públicas e privadas, a se realizar no período de 13 a 17 de agosto de 2008.Embasados nas supramencionadas premissas, infere-se a importância da participação da SECRETARIA DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO – SEAGRO – em parceria com a SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA – SGPA – nesta modalidade de evento, pois sua missão de “propor, coordenar e viabilizar políticas públicas,
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativavisando fortalecer o agronegócio e promover o desenvolvimento sustentável do espaço rural com redução das desigualdades regionais”, por si mesma, justifica tal desiderato. (anexo II)
Com a solicitação, acompanharam: a) ofício encaminhado ao
então Governador do Estado – Alcides Rodrigues – solicitando autorização para a
participação da SEAGRO na 2ª edição do Goiânia Rodeo Festival, com o patrocínio de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais) para a cobertura de despesas com montagem de bretes,
arena, currais, embarcadouros e arquibancadas, autorizado, na forma da lei; b) atestado de
exclusividade emitido pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás – FAEG -,
declarando a exclusividade da SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E
AGRICULTURA - para a locação e gestão de área do Parque Agropecuário de Goiânia “Dr.
Pedro Ludovico Teixeira” para a realização da 2ª edição do Goiânia Rodeo Festival, no
período de 13 a 17 de agosto de 2008; c) atestado de exclusividade emitido pela SGPA –
SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA -, declarando que a empresa
VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. detinha exclusividade para a instalação e
montagem de estrutura de rodeio, arquibancada, camarote, arena, bretes, palco, iluminação,
tendas e banheiros químicos no Circuito Mundial de Rodeio – Edição 2008 - que seria
realizado no Parque Agropecuário “Dr. Pedro Ludovico Teixeira”, no período de 13 a 17 de
agosto de 2008 (anexo II).
A Comissão Permanente de Licitação, por intermédio de seu
Presidente, o réu HALEY DIAS DE CARVALHO e por meio do despacho 097/2008
entendeu que, em razão da impossibilidade de competição, pela exclusividade da SGPA –
SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA – para a locação da área e da
VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. ter exclusividade para a instalação e montagem de
estrutura de rodeio, arquibancada, camarote, arena, bretes, palco, iluminação, tendas e
banheiros químicos no Circuito Mundial de Rodeio – Edição 2008 -, que seria realizado no
Parque Agropecuário “Dr. Pedro Ludovico Teixeira”, a contratação deveria se dar de forma
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativadireta, por inexigibilidade de licitação. (anexo II)
No mesmo sentido, foi a manifestação da Assessoria Jurídica da
SEAGRO, a qual, por intermédio da Gestora Jurídica Lídia Gusmão Martins, no parecer
289/2008, pronunciou-se pela regularidade da contratação direta pretendida, por
inexigibilidade de licitação (anexo II), em razão da inviabilidade de competição pela
exclusividade da empresa VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. declarada pela SGPA –
SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA.
O Superintendente de Controle Interno da Secretaria da Fazenda
Sinomil Soares da Rocha aprovou o parecer da Gerência de Ação Preventiva da
Superintendência de Controle Interno da Secretaria da Fazenda, entendendo, assim, regular a
contratação direta, por inexigibilidade de licitação (anexo II). Na mesma oportunidade,
pronunciou-se pela a apresentação de justificativa do preço, haja vista a existência nos autos
de notas de empenho relativas aos mesmos serviços prestados por outras empresas em valor
inferior, bem como a juntada aos autos de orçamento detalhado em planilha de quantitativos
de preços unitários (anexo VI).
Há notícia nos autos de que a planilha de custos foi juntada aos
autos do processo de contratação, haja vista que se encontra mencionada no Relatório de
Inspeção TCE nº 001/2009, donde se extrai que no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil
reais) propostos pela VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. estavam englobados custos
de locação da área da SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E
AGRICULTURA – bem como custos de instalação e montagem de estrutura de rodeio,
arquibancada, camarote, arena, bretes, palco, iluminação, tendas e banheiros químicos na 2ª
edição do Goiânia Rodeo Festival. É dizer: no valor empenhado em favor da VPJ
EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., estava incluído o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil
reais) pela locação do espaço pertencente à SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE
PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (anexo II e III).
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa
O réu ENÉAS VIEIRA PINTO, em despacho lançado nos
autos, não numerado e não datado, declarou a inexigibilidade da licitação para a
contratação da ré VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA, detentora de exclusividade para a
instalação e montagem de estrutura de rodeio (arquibancada, camarote, arena, bretes, palco,
iluminação, tendas e banheiros químicos) no Circuito Mundial de Rodeio – Edição 2008 - que
seria realizado no Parque Agropecuário de Goiânia “Dr. Pedro Ludovico Teixeira”, no
período de 13 a 17 de agosto de 2008, no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), em
razão da inviabilidade de competição (anexo II).
O réu PAULO MARTINS DA SILVA, por meio de despacho
também não numerado e datado, ratificou a decisão de inexibilidade de licitação (anexo II).
No dia 11/08/2008, a Secretaria de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento do Estado de Goiás – SEAGRO – por seu Secretário, o réu PAULO
MARTINS DA SILVA, publicou no Diário Oficial do Estado de nº 20.429 aviso de
inexigibilidade de licitação para a “instalação e montagem de estrutura de rodeio
(arquibancada, camarote, arena, bretes, palco, iluminação, tendas e banheiros químicos) no
“Circuito Mundial de Rodeio – Edição 2008”. (anexo III).
Como se vê, a solicitação de contratação que, inicialmente,
referia-se à contratação de área pertencente à SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE
PECUÁRIA E AGRICULTURA, transmudou-se em contratação para a instalação e
montagem de estrutura de rodeio, arquibancada, camarote, arena, bretes, palco, iluminação,
tendas e banheiros químicos no Circuito Mundial de Rodeio – Edição 2008 -, por
inexigibilidade de licitação, em razão da exclusividade declarada pela SGPA – SOCIEDADE
GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA – em favor da empresa VPJ EVENTOS E
COMÉRCIO LTDA.
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaA despesa foi realizada como despesa ordinária do Estado, com
obras e instalações, conforme se extrai da declaração de ordenação de despesa nº 226/2008,
firmada pelo réu ENÉAS VIEIRA PINTO, Superintendente de Administração e Finanças da
SEAGRO e PAULO MARTINS DA SILVA, Secretário da SEAGRO (anexo II).
O valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) foi empenhado
e pago em favor da empresa VPJ Eventos e Comércio Ltda. (anexo IV).
Consta dos autos que a 2ª edição do Goiânia Rodeio Festival foi
realizado, com cobrança de ingressos para o acesso do público (anexo V).
.
Foram juntadas aos autos, também, notas de empenho que
demonstram que o Estado de Goiás, no ano de 2008, adquiriu serviços de instalação e
montagem de estrutura de rodeio, arquibancada, camarote, arena, bretes, palco, iluminação,
tendas e banheiros químicos, para eventos outros, por menos da metade do preço pago à VPJ
EVENTOS E COMÉRCIO LTDA.
O réu PAULO MARTINS DA SILVA foi exonerado do cargo
de Secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás aos 23 de março
de 2009. Já o réu ENÉAS VIEIRA PINTO foi exonerado do cargo de Superintendente de
Administração e Finanças da SEAGRO aos 03 de maio de 2010 (anexo VII). Por sua vez o
réu HALEY DIAS DE CARVALHO ocupa cargo efetivo de Analista de Gestão
Administrativa, conforme declarações prestadas na 90ª Promotoria de Justiça (anexo VIII).
2. DO DIREITO
2.1. DA TEMPESTIVIDADE DO EXERCÍCIO DO PODER DE AÇÃO
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa
A Lei 8.429/92 regulamenta, em seu artigo 23, os prazos para o
exercício da ação civil pública por ato de improbidade administrativa.
Eis o que dispõe o artigo 23 da lei 8.429/92:
Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem ser propostas: I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança;II – dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.
Pelo dispositivo legal, o exercício do poder de ação para a
responsabilização do agente público ocupante de cargo de provimento em comissão, deve
dar-se no prazo de 05 (cinco) anos, contados da data em que foi afastado do cargo.
Pelos documentos acostados, constata-se que o réu PAULO
MARTINS DA SILVA foi exonerado do cargo de Secretário de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento no dia 23 de março de 2009 (anexo VIII). Já o réu ENÉAS VIEIRA PINTO
foi exonerado do cargo de Superintendente de Administração e Finanças da SEAGRO no dia
03 de maio de 2010. Portanto, tempestiva é a ação ora exercitada.
Quanto ao réu HALEY DIAS DE CARVALHO, sendo ele
ocupante de cargo efetivo de Analista de Gestão Administrativa, deve incidir a regra prevista
no artigo 23, inciso II, da Lei 8.429/92, muito embora tenha praticado os atos no exercício de
cargo de provimento em comissão.
Esse é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
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PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO, IMPROBIDADE. PRESCRIÇÃO. LEI N. 8.429/92, ART. 23, I E II. CARGO EFETIVO. CARGO EM COMISSÃO OU FUNÇÃO COMISSIONADA. EXERCÍCIO CONCOMITANTE OU NÃO. PREVALÊNCIA DO VÍNCULO EFETIVO, EM DETRIMENTO DO TEMPORÁRIO, PARA CONTAGEM DO PRAZO PRESCRICIONAL. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Duas situações são bem definidas no tocante à contagem do prazo prescricional para ajuizamento da ação de improbidade administrativa: se o ato ímprobo for imputado a agente público no exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança, o prazo prescricional é de cinco anos, com termo a quo no primeiro dia após a cessação do vínculo; em outro passo, sendo o agente público detentor de cargo efetivo ou emprego, havendo previsão para falta disciplinar punível com demissão, o prazo prescricional é o determinado na lei específica. Inteligência do art. 23 da Lei 8.429/92. 2. Não cuida a Lei de Improbidade, no entanto, da hipótese de o mesmo agente praticar ato ímprobo no exercício cumulativo de cargo efetivo e de cargo comissionado. 3. Por meio de interpretação teleológica da norma, verifica-se que a individualização do lapso prescricional é associada à natureza do vínculo jurídico mantido pelo agente público com o sujeito passivo em potencial. Doutrina. 4. Partindo dessa premissa, o art. 23, I, associa ao início da contagem do prazo prescricional ao término de vínculo temporário. Ao mesmo tempo, o art. 23, II, no vaso de vínculo definitivo – como o exercício de cargo de provimento efetivo ou emprego -, não considera, para fins de aferição do prazo prescricional, o exercício de funções intermédias – como as comissionadas – desempenhadas pelo agente, sendo determinante apenas exercício de cargo efetivo. 5. Portanto, exercendo cumulativamente cargo efetivo e cargo comissionado, ao tempo do ato reputado ímprobo, há de prevalecer o primeiro, para fins de contagem prescricional, pelo simples fato de o vínculo entre agente e Administração Pública não cessar com a exoneração do cargo em comissão, por ser temporário. 6. Recurso especial provido, para reformar o acórdão do Tribunal de origem em que se julgaram os embargos infringentes e restabelecer o acórdão que decidiu as apelações. (STJ, Resp nº 1.160.529/MG (2008/0112461-8), Rel. Min. Mauro Campbell Marques)
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaA Lei 10.460/88 (Estatuto dos Servidores Públicos do Estado de
Goiás), assim estabelece:
Art. 322. Prescreve a ação disciplinar, no prazo de:
I - 6 (seis) anos, quanto às infrações puníveis com demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e respectivas multas;
[…].
Desde a prática do fato, entre o mês de julho e agosto de 2008,
não decorreram 06 (seis) anos, razão por que tempestivo é o exercício do poder de ação.
Aos terceiros, aplicam-se as regras de prescrição relativas aos
agentes públicos envolvidos. Havendo o envolvimento de dois agentes públicos com regime
prescricional diferenciado, há de aplicar-se o prazo prescricional mais amplo, já que os
terceiros compactuaram com o ilícito praticado por todos (GARCIA, Emerson; ALVES,
Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. 5. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010).
2.2. DA LEGITIMAÇÃO ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
A legitimação do Ministério Público para promover a defesa do
patrimônio público por meio da Ação Civil Pública advém tanto da Constituição Federal
quanto da legislação infraconstitucional.
Ao tratar das funções institucionais do Ministério Público,
assim estabeleceu a Constituição Federal:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
[...]
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III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
A Constituição do Estado de Goiás, de seu turno, determina:
Art. 117. São funções institucionais do Ministério Público:[…]
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
[…].
A Lei n.º 7.347 de 24 de julho de 1985, que disciplina a ação
civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a
bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, em seu artigo 5º,
inciso I, com redação dada pela Lei n.º 11.448, de 15 de janeiro de 2007, estabelece:
Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:[…];
VI – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;
[…].
Art. 3º. A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei n.º 11.448, de 2007)
[...]
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaJá a Lei n.º 8.429 de 02 de junho de 1992, que dispõe sobre as
sanções aplicáveis aos agentes públicos pela prática de ato de improbidade administrativa
dispõe:
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.
[...]
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade.
A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público – Lei 8.625 de
12 de fevereiro de 1993 – estabelece:
Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:[...]
IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:
a) para a proteção, prevenção e reparação de danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;
[…].
Por fim, prevê a Lei Complementar nº 25/98 – Lei Orgânica do
Ministério Público do Estado de Goiás:
Art. 46. Além das funções previstas na constituição Federal, na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, na Constituição Estadual e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa
[…]
VI – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei, para:
a) proteção, prevenção e reparação de danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;
[…].
Os atos normativos ora mencionados, especialmente a
Constituição Federal, evidenciam a atribuição do Ministério Público para o exercício da ação
civil pública e assentam a adequação dessa via para a defesa do patrimônio público e social e
o combate de atos de improbidade administrativa.
2.3. DA ILEGALIDADE DA CONTRATAÇÃO DIRETA – DA VIOLAÇÃO À LEI DE
RESPONSABILIDADE FISCAL E À LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS
A realização de eventos, feiras, exposições agropecuárias não se
inserem no âmbito das atividades próprias do Estado. Quando o Estado participa dessas
atividades, não está adquirindo um bem ou serviço para atender uma demanda específica sua.
Está, em verdade, fomentando uma atividade privada, que pode ser de interesse público.
Assim sendo, não tem o Estado interesse em contratar serviços
para a realização de rodeios ou exposições agropecuárias, porque tais atividades não se
inserem no âmbito das atividades próprias do Estado. Mas diante dos benefícios sociais e
econômicos que tal atividade pode proporcionar, pode o Estado fomentá-la, por meio de
pactos de cooperação mútua, para o atendimento de interesses comuns.
As transferências de recursos públicos para o setor privado
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativaestão disciplinadas na LC 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal – em seu artigo 26, nos
seguintes termos:
Art. 26. A destinação de recursos para, direta ou indiretamente, cobrir necessidades de pessoas físicas ou déficits de pessoas jurídicas deverá ser autorizada por lei específica, atender às condições estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias e estar prevista no orçamento ou em seus créditos adicionais.§ 1º. O disposto no caput aplica-se a toda a administração indireta, inclusive fundações públicas e empresas estatais, exceto, no exercício de suas atribuições precípuas, as instituições financeiras e o Banco Central do Brasil.§ 2º. Compreende-se incluída a concessão de empréstimos, financiamentos e refinanciamentos, inclusive as respectivas prorrogações e composição de dívidas, a concessão de subvenções e a participação em constituição ou aumento de capital.
Como se vê, para a transferência de recursos públicos para o
setor privado, necessária a existência de lei específica autorizadora, do ente da federação que
fará a transferência dos recursos, bem como o atendimento de requisitos outros estabelecidos
na Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO -, além de previsão orçamentária.
A Lei de Diretrizes Orçamentárias do Estado de Goiás para o
ano de 2008 – Lei 16.107/2007 – assim estabelecia:
Art. 33. É vedada a inclusão, na lei orçamentária e em seus créditos adicionais, de dotações a título de subvenções sociais e auxílios, ressalvadas aquelas destinadas a entidades públicas e privadas sem fins lucrativos, sendo exigido para as últimas o título de utilidade pública no âmbito estadual, cujas atividades sejam de natureza continuada e que atuem nas áreas de assistência social, filantrópica e comunitária), saúde, educação, cultura, esporte amador ou turismo. Fica vedada também a destinação de recursos para pessoas físicas, ressalvada aquela que tenha critério de generalidade e que não identifique nominalmente o beneficiário.
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§1º. Os projetos de lei relativos aos repasses de subvenções sociais e auxílios, exceto os efetuados mediante convênios e para as entidades públicas, deverão ser instruídos com declaração de funcionamento regular nos últimos cinco anos da entidade beneficiária, emitida no exercício de 2008 por três autoridades locais e comprovante de regularidade do mandato de sua diretoria, além de estar com suas obrigações regularizadas junto às Fazendas Públicas Federal, Estadual e Municipal, e à Previdência Social, inclusive o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e às empresas estatais goianas.
§2º. A destinação de recursos de que trata o caput deste artigo fica condicionada à autorização legislativa específica exigida pelo art. 26 da Lei Complementar nº 101/2000, indicando-se o nome da entidade beneficiária e o valor do repasse, inclusive nos casos em que os repasses sejam efetuados mediante convênios, devidamente demonstrada a contrapartida da entidade beneficiária.
§ 3º. Para os efeitos do cumprimento do disposto no caput desse artigo consideram-se subvenções sociais as transferências destinadas a cobrir despesas de custeio das entidades beneficiadas e auxílios às transferências de capital para investimentos ou inversões financeiras, independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços, nos termos dos §§ 3º e 6º do art. 12 da Lei Federal nº 4.320, de 17 de março de 1964, respectivamente. (grifou-se)
Nos termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO –
relativa ao ano de 2008 – Lei 16.107/2007, para a inclusão, na lei orçamentária, de
subvenções e auxílios a entidades de direito privado, necessário:
1) que a entidade privada não tivesse fins lucrativos e
possuísse título de utilidade pública;
2) que exercesse atividade de natureza continuada, na
área de assistência social, filantrópica e comunitária,
saúde, educação, cultura, esporte amador ou turismo;
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3) edição de lei específica com indicação do valor do
repasse, mesmo que efetuados mediante convênios, e
demonstração da contrapartida da entidade beneficiária.
Estabelecia, ainda, a LDO que os projetos de lei relativos a tais
repasses observassem requisitos específicos, condicionantes da sua aprovação, conforme
expresso no § 1º, do artigo 33.
No caso dos autos, ressoa evidente que a contratação direta, por
inexigibilidade de licitação da empresa VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. objetivou
burlar a Lei de Responsabilidade Fiscal, travestindo uma transferência de recursos públicos
para o setor privado, sem a observância dos requisitos legais, em forma de contratação direta
de empresa para a prestação de serviços para o ente estatal.
Com efeito, conforme já dito anteriormente, a realização de
feiras, eventos, exposições agropecuárias e rodeios não se insere nas atividades próprias do
Estado a justificar a contratação de tais serviços pelo Estado para o atendimento de sua
demanda. O que faz o Estado, quando participa de tal atividade, é cooperar com o ente
privado, para o atingimento de interesses comuns.
Nessa linha de intelecção, indiscutível que a transferência de
recursos para a VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. – que realizaria o Goiânia Rodeo
Festival – 2ª edição – após demonstrado o interesse público na cooperação estatal, deveria ter
observado todos os requisitos previstos no artigo 26 da LRF e no artigo 33 da Lei
16.107/2007 – Lei de Diretrizes Orçamentárias para o exercício de 2008 -, o que não ocorreu,
já que a transferência dos recursos não foi autorizada em lei específica que estabelecesse o
valor a ser repassado e a contrapartida do ente privado.
Em vez disso, o réu PAULO MARTINS DA SILVA, ENÉAS
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaVIEIRA PINTO e HALEY DIAS DE CARVALHO optaram por “repassar” o valor de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais) para a VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., entidade
executora do evento, sob a forma de contratação direta para a prestação de serviços de
instalação e montagem de estrutura de rodeio, arquibancada, camarote, arena, bretes, palco,
iluminação, tendas e banheiros químicos, de forma totalmente ilegal.
Além disso, ao transferir os recursos para a iniciativa privada
sob a forma de contratação direta, sem observância dos requisitos previstos no artigo 26 da
LRF e artigo 33 da LDO – Lei 16.107/2007 - os réus PAULO MARTINS DA SILVA,
ENÉAS VIEIRA PINTO e HALEY DIAS DE CARVALHO realizaram despesa não
autorizada em lei e desviaram recursos públicos destinados, pela lei orçamentária, às despesas
ordinárias do Estado, conforme bem pontuado pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás
(anexo III), em proveito da VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., que se beneficiou
diretamente dos vultosos recursos recebidos e, inclusive, obteve benefícios financeiros com a
cobrança de ingressos do evento (anexo V). Importante relembrar que consta dos autos notas
de empenho relativas a serviços semelhantes prestados por outras empresas ao Estado de
Goiás, no ano de 2008, pelo valor aproximado de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). (anexo
VI).
Também se beneficiou da ilegalidade a SGPA – SOCIEDADE
GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA – que recebeu parte dos valores repassados
à VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., porquanto nos custos dos serviços prestados pela
VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. estava a despesa com a locação da área da SGPA –
SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA – valor esse que foi
efetivamente repassado à SGPA, conforme declarações de Gilberto Sant”Anna Filho, seu
Presidente à época, em razão de contrato de locação firmado (anexo VIII e IX).
A contratação se deu sem nenhuma justificativa do preço.
Ademais, no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) empenhados em favor da VPJ
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaEVENTOS E COMÉRCIO LTDA. incluíam-se R$ 30.000,00 (trinta mil reais) relativos à
locação da área da SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA.
Todos os elementos constantes dos autos evidenciam que, em
verdade, o que fez o Estado de Goiás foi uma “doação” à VPJ EVENTOS E COMÉRCIO
LTDA., no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), para a realização da 2ª edição do
Goiânia Rodeo Festival, camuflada por uma ilegal contratação direta para a prestação de
serviços que em nada atendiam à demanda do Estado e mais, sem nenhuma contrapartida, já
que esta não foi estabelecida em lei e em convênio, ou outro instrumento análogo.
Assim agindo, os réus causaram um dano ao erário no montante
de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).
Importante ressaltar, ainda, que a justificativa dos réus agentes
públicos para a contratação direta, por inexigibilidade de licitação, foi a “inviabilidade de
competição” diante da existência de um atestado de exclusividade emitido pela FAEG,
relativo à exclusividade da SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E
AGRICULTURA – para a locação do “Parque Agropecuário Pedro Ludovico Teixeira”, onde
seria realizado o evento, bem como em razão da exclusividade da VPJ EVENTOS E
COMÉRCIO LTDA., atestada pela SGPA, para prestar os serviços de instalação e
montagem de estrutura de rodeio, arquibancada, camarote, arena, bretes, palco, iluminação,
tendas e banheiros químicos no Circuito Mundial de Rodeio – Edição 2008.
Embora desnecessário fosse ingressar na discussão da ausência
dos requisitos previstos no artigo 25 da Lei de Licitações – Lei 8.666/93 – para a
inexigibilidade da licitação no caso concreto, far-se-á essa incursão para demonstrar o
erro grosseiro em que incidiram os réus e, em consequência, o dolo, ou, no mínimo, a
culpa grave dos réus.
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaEstabelece o artigo 25 da Lei 8.666/93 – Lei de Licitações:
Art. 25. é inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial:
I – para aquisição de materiais, equipamentos ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo, vedada a preferência de marca, devendo a comprovação de exclusividade ser feita através de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes;
II – para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;
III – para a contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.
[…]
§ 2º. Na hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de dispensa, se comprovado superfaturamento, respondem solidariamente pelo dano causado à Fazenda Pública o fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público responsável, sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis.
A inexigibilidade da licitação funda-se, assim, na inviabilidade
de competição. O artigo 25 apresenta um rol não taxativo de hipóteses de inviabilidade de
competição, os quais, embora não exclua outras hipóteses, servem de delineamento para a
caracterização da inviabilidade de competição nos casos concretos.
Com efeito, embora o artigo 25, inciso I, não se refira à
prestação de serviços, tal dispositivo em conjunto com a disposição do inciso II, servem de
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativanorte para a identificação de uma situação de exclusividade na prestação de serviços, a
excluir a possibilidade de competição.
A inviabilidade de competição, em razão de exclusividade do
fornecedor para o fornecimento do produto ou serviço, não se funda em uma exclusividade
acordada entre o fornecedor e o adquirente, mas em uma exclusividade real, material. É
dizer: para que resultasse justificado o afastamento do processo licitatório, necessário que o
serviço prestado fosse de tal forma singular que excluísse a possibilidade de algum outro
fornecedor atender à demanda da Administração.
No caso dos autos flagrante é a ausência dos requisitos legais
para a inexigibilidade de licitação.
Primeiro, porque a instalação e montagem de bretes, camarotes,
arenas, arquibancadas e embarcadouros não era, nem é, uma atividade exclusiva da VPJ
EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., tanto que o Estado de Goiás, no mesmo ano, já havia
adquirido esse tipo de serviço de outros fornecedores, conforme notas de empenhos acostadas
(anexo VI).
Segundo, porque a exclusividade acordada entre particulares
não se apresenta hábil a condicionar a Administração Pública nas suas contratações . No
caso dos autos, não havia uma exclusividade real da empresa VPJ EVENTOS E
COMÉRCIO LTDA. para o fornecimento dos serviços adquiridos, mas uma exclusividade
acordada entre particulares, em razão de conveniências próprias, inaptas a condicionarem a
atividade administrativa.
Não obstante, os réus agentes públicos PAULO MARTINS
DA SILVA, ENÉAS VIEIRA PINTO e HALEY DIAS DE CARVALHO, baseando-se em
uma exclusividade acordada entre particulares e de forma absolutamente ilegal, efetivaram a
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativacontratação direta da VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. por inexigibilidade de
licitação, em total afronta ao artigo 25 da Lei 8.666/93 – Lei de Licitações – camuflando,
assim, uma verdadeira “doação” à referida empresa, no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos
mil reais).
Como já dito, a incursão nesse flagrante aspecto da ilegalidade,
apenas se faz para evidenciar o dolo ou, no mínimo, a culpa grave dos réus, já que o
cerne da questão ora em discussão reside não na inadequação da forma de contratação (direta
ou não) da VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., mas na transferência de recursos
públicos ao setor privado sem a observância dos requisitos estampados na Lei de
Responsabilidade Fiscal e na Lei de Diretrizes Orçamentárias do Estado de Goiás para o
exercício de 2008, camuflada sob a forma de contratação direta, conforme já anteriormente
demonstrado.
2.4. DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Conforme amplamente demonstrado nos autos, o réu PAULO
MARTINS DA SILVA, ENÉAS VIEIRA PINTO e HALEY DIAS DE CARVALHO, a
pretexto de contratar a empresa VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., para a prestação
de serviços de instalação e montagem de estrutura de rodeio, arquibancada, camarote, arena,
bretes, palco, iluminação, tendas e banheiros químicos, de forma direta, por inexigibilidade
de licitação, efetivaram uma verdadeira “doação” à referida empresa para a realização do
Goiânia Rodeo Festival – 2ª edição – no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), sem
observância dos requisitos da LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal – e da Lei de Diretrizes
Orçamentárias para o exercício de 2008 – Lei 16.107/2007.
Ao transferir os recursos para a iniciativa privada sob a forma
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativade contratação direta, sem observância dos requisitos previstos no artigo 26 da LRF e artigo
33 da LDO – Lei 16.107/2007 - os réus PAULO MARTINS DA SILVA, ENÉAS VIEIRA
PINTO e HALEY DIAS DE CARVALHO realizaram despesa não autorizada em lei e
desviaram recursos públicos que deveriam ser destinados às despesas ordinárias do Estado,
conforme bem pontuado pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás (anexo III), em
proveito da VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. que se beneficiou diretamente dos
vultosos recursos recebidos, bem acima do valor de mercado para a prestação dos serviços
“em tese” contratados, e obteve, inclusive, benefícios financeiros com a cobrança de
ingressos do evento.
Também se beneficiou da ilegalidade a SGPA – SOCIEDADE
GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA -, porquanto recebeu parte do valor de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais) pagos à VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., ou seja
R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a título de locação da área do Parque Agropecuário Pedro
Ludovico Teixeira, valor esse que foi embutido no custo dos serviços “em tese” contratados
da VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., em verdade “doados” à referida empresa.
Em razão disso, o erário estadual sofreu um dano no valor de
R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais)
Dessa forma, o réu PAULO MARTINS DA SILVA, então
Secretário de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás –
SEAGRO: ao deflagrar o processo de registro nº 200800008001142/2008, para a “contratação
de área junto a SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA -,
visando à realização da 2ª edição do Goiânia Rodeo Festival, no período de 13 a 17 de agosto
de 2008, pelo valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais)”, que culminou a contratação da
empresa VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA.; ratificar, nesses autos, a declaração de de
inexigibilidade de licitação firmada pelo réu ENÉAS VIEIRA PINTO para a contratação da
empresa VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. para a instalação e montagem de estrutura
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativade rodeio para a 2ª edição do Goiânia Rodeo Festival, bem como ordenar a despesa ilegal,
porquanto violadora do artigo 26 da LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal -, do artigo 33 da
LDO nº 16.107/2007 – Lei de Diretrizes Orçamentárias para o exercício de 2008 – e artigo 25
da Lei de Licitações – Lei 8.666/93, praticou atos de improbidade administrativa previstos no
artigo 10, inciso I, III, IX, XI e XII, bem como no artigo 11, caput, ambos da Lei 8.429/92.
Já o réu ENÉAS VIEIRA PINTO, então Superintendente de
Administração e Finanças da SEAGRO praticou atos de improbidade administrativa previstos
no artigo 10, inciso I, II, IX, XI e XII e artigo 11, caput, ambos da Lei 8.429/92, quando,
conjuntamente com o o réu PAULO MARTINS DA SILVA, deflagrou o processo para a
contratação da empresa VPJ Eventos e Comércio Ltda., de forma totalmente ilegal, declarou a
inexigibilidade da licitação, também de forma ilegal e concorreu para a ordenação da despesa
ilegal.
O réu HALEY DIAS DE CARVALHO, então Presidente da
Comissão de Licitação da SEAGRO, ao processar a solicitação para a contratação da VPJ
EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. na modalidade direta, por inexigibilidade de licitação,
em razão do “atestado de exclusividade” emitido pela SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE
PECUÁRIA E AGRICULTURA – em favor da VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA.,
possibilitando, assim, a contratação direta da referida empresa de forma totalmente ilegal,
praticou os atos de improbidade administrativa previstos no artigo 10, inciso I e XII, bem
como no artigo 11, caput, ambos da Lei 8.429/92, bem como contribuiu para os atos de
improbidade administrativa previstos no artigo 10, inciso III, IX e XI, c/c artigo 3º, da Lei
8.429/92.
A ré SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E
AGRICULTURA - e a ré VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., cientes das
ilegalidades, contribuíram para a prática dos atos de improbidade praticados pelos réus
agentes públicos e deles foram beneficiárias diretas, razão por que devem por eles responder,
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativana forma do artigo 3º da Lei 8.429/92.
Eis o que estabelece o artigo 3º da Lei 8.429/92:
Art. 3º. As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
Embora o então Presidente da SGPA – SOCIEDADE
GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA - negue ter sido a SGPA executora da 2ª
edição do Goiânia Rodeo Festival, há nos autos um “projeto” relativo ao evento (anexo X)
que aponta expressamente a SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E
ABASTECIMENTO – como executora do evento. Há, também, nos autos, cópia do contrato
de locação da área do Parque Pedro Ludovico Teixeira, onde se realizou o evento, firmado
entre a VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. e a SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE
PECUÁRIA E AGRICULTURA – no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).
Para proporcionar o apoio estatal no valor de R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais) para o evento que de alguma forma participaria, a SGPA –
SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA - emitiu um atestado de
exclusividade estabelecida entre particulares, sem ter competência para tanto e de forma
aleatória, em favor da VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., a fim de viabilizar a
contratação direta desta, pelo valor pretendido, qual seja, R$ 500.000,00 (quinhentos mil
reais), para a montagem de toda a estrutura de rodeio necessária para a realização do evento,
valor esse que, segundo documentos acostados aos autos, consubstanciados em notas de
empenho relativas aos mesmos serviços prestados por outras empresas em outros eventos,
estava acima do valor de mercado.
Ressalte-se uma vez mais que, conforme demonstrado nos
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativaautos, no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) pagos à VPJ EVENTOS E
COMÉRCIO LTDA. para a instalação e montagem da estrutura de rodeio para a realização
do Goiânia Rodeo Festival, estava incluído o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) relativo
ao pagamento da locação do espaço da SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E
AGRICULTURA, no Parque de Exposições Agropecuárias Pedro Ludovico Teixeira.
Indiscutível, portanto, que a SGPA – SOCIEDADE GOIANA
DE PECUÁRIA E AGRICULTURA – e a VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA.,
cientes das ilegalidades, delas se beneficiaram diretamente, razão por que devem responder,
também, pelos atos de improbidade administrativa praticados e previstos no artigo 10, I, III,
IX, XI e XII e artigo 11, caput, ambos c/c artigo 3º, todos da Lei 8.429/92.
Eis o que dispõe o artigo 10 da Lei nº 8.429/92:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente; [...]
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
[…]
III – doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistenciais, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no artigo 1º desta lei, sem observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
[…]
IX – ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento;
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa[…]
XI – liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;
[…].
Impõe-se ressaltar que o inciso I do supratranscrito artigo 10,
descreve que a incorporação ao patrimônio particular pode se dar por qualquer forma, o que
induz à conclusão de que qualquer facilitação ou concurso nesse sentido é reprovável.
Por outro lado, a violação, consciente e voluntária, aos
princípios regentes da Administração Pública configura ato de improbidade administrativa,
nos termos da Lei n.º 8.429/92:
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:
[…].
A atividade administrativa deve ser, necessariamente, norteada
pelos princípios esculpidos no artigo 37 da Constituição Federal, dentre eles, o princípio da
moralidade, da legalidade, da impessoalidade e da eficiência.
De outro lado, a gestão financeira vincula-se ao conjunto de
instrumentos que norteia o planejamento governamental previstos, de forma impositiva para
todos os entes da federação, na LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal, quais sejam: o plano
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativaplurianual, a lei de diretrizes orçamentárias e a lei orçamentária anual. De sorte que os gastos
públicos devem ser processados de modo transparente, em obediência aos parâmetros
estabelecidos pela legislação que cuida da matéria.
No caso em tela, os réus desprezaram tais disposições cogentes
e agiram com total menosprezo ao interesse público, ao efetuarem despesa pública, no
montante de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), em desacordo com as disposições da LRF
e da LDO para o exercício de 2008 – Lei 16.107/2007 – bem como da Lei de Licitações – Lei
8.666/93, conforme já amplamente demonstrado nos autos.
Como agentes públicos, os réus PAULO MARTINS DA
SILVA, ENÉAS VIEIRA PINTO e HALEY DIAS DE CARVALHO deveriam zelar pela
obediência aos princípios que regem a atividade administrativa, explicitados no artigo 37,
caput, da Constituição Federal:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte; [...]
Segundo Garcia1, “concebidos os princípios como espécies das
normas jurídicas, a análise da deontologia dos agentes públicos pressupõe, necessariamente,
que todos os seus atos sejam valorados em conformidade com as regras e os princípios que os
informam”.
Nesse sentido, a Lei 8.429/92 – Lei de Improbidade
Administrativa – dando concretude ao artigo 37, § 4º, da Constituição Federal, considerou ato
de improbidade administrativa a mera violação aos princípios regentes da atividade estatal e,
assim, conferiu novos contornos à compreensão da probidade, considerada, até então,
1 GARCIA, Emerson. ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. 5. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativaespecificação do princípio da moralidade administrativa.
Assim, segundo a disciplina constitucional, probidade não mais
se encontra relacionada exclusivamente à moralidade administrativa, mas à juridicidade,
assim entendida o conjunto de princípios e regras regentes da atividade estatal.
A moral administrativa, segundo Garcia, é extraída do próprio
ambiente institucional e condiciona a utilização dos meios previstos em lei para o
cumprimento das funções estatais e a realização do bem comum. A moral administrativa
pauta a conduta dos agentes públicos, no âmbito institucional, a partir da ideia de boa
administração, conforme os princípios regentes da atividade estatal.
Indiscutivelmente, vulnera a moralidade administrativa a
realização de “doação” no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) para ente privado,
camuflada na forma de contrato de prestação de serviços, celebrado com inexigibilidade de
licitação, em desacordo com os preceitos estatuídos na LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal
– e na LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias, para a realização de evento lucrativo ao ente
privado, sem a respectiva contrapartida.
Acentuando o dever do agente público de agir com respeito à
moralidade administrativa e, ainda, corroborando a lesividade da conduta dos réus aos
princípios do Estado Democrático de Direito, discorre Garcia2:
A moralidade limita e direciona a atividade administrativa, tornando imperativo que os atos dos agentes públicos não subjuguem os valores que defluam dos direitos fundamentais dos administrados, o que permitirá a valorização e o respeito à dignidade da pessoa humana. Além de restringir o arbítrio, preservando a manutenção dos valores essenciais a uma sociedade justa e solidária, a moralidade confere aos administrados o direito
2 op. cit.
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativasubjetivo de exigir do Estado uma eficiência máxima dos atos administrativos, fazendo que a atividade estatal seja impreterivelmente direcionada ao bem comum, buscando sempre a melhor solução para o caso.A correção dessas conclusões, no entanto, pressupõe que um caminho mais árduo e tortuoso seja percorrido: a necessária conscientização de todos os setores da sociedade de que devem zelar pela observância do princípio da moralidade. O controle sobre os atos dos agentes públicos deve ser rígido e intenso, o que permitirá um paulatino aperfeiçoamento da atividade estatal e, o que é mais importante, a necessária adequação dos agentes públicos aos valores próprios de um Estado Democrático de Direito, no qual o bem comum representa o pilar fundamental.
Além de macular a moralidade administrativa, a conduta dos
réus também transgrediu o princípio da legalidade e da impessoalidade.
O princípio da legalidade foi violado na medida em que os réus
PAULO MARTINS DA SILVA, ENÉAS VIEIRA PINTO e HALEY DIAS DE
CARVALHO desrespeitaram as disposições cogentes da LRF – Lei de Responsabilidade
Fiscal – LDO para o exercício de 2008 – Lei 16.107/2007 e Lei de Licitações – Lei 8.666/93
e realizaram despesa pública sem autorização legal, ao transferir para a iniciativa privada a
expressiva quantia de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) sem observância às disposições
legais regentes da matéria, de forma camuflada, por meio de contrato de prestação de
serviços, celebrado com inexigibilidade de licitação.
Sobre a legalidade, dispõe Garcia3 em sua obra:
[...] constata-se que os atos dissonantes do princípio da legalidade, regra geral, sempre importarão em violação à moralidade administrativa, concebida como o regramento extraído da disciplina interna da administração; […]
3 Op. cit.
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaPor sua vez, o princípio da impessoalidade foi violado no
momento em que os réus PAULO MARTINS DA SILVA, ENÉAS VIEIRA PINTO e
HALEY DIAS DE CARVALHO transferiram os recursos para a VPJ EVENTOS E
COMÉRCIO LTDA., de forma arbitrária, sem observar as disposições legais balizadoras
dos gastos públicos e sem que houvesse alguma contrapartida em prol do interesse público,
possibilitando, assim, à referida empresa beneficiar-se de recursos públicos e auferir
benefícios econômicos com a realização do evento.
Sobre a violação aos princípios administrativos, dispõe
Bonavides:
As regras vigem, os princípios valem; o valor que neles se insere se exprime em graus distintos. Os princípios, enquanto valores fundamentais, governam a Constituição, o regímen, a ordem jurídica. Não são apenas a lei, mas o Direito em toda a sua extensão, substancialidade, plenitude e abrangência.(BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 260.)
Para Melo,
Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou de inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isso porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura nelas esforçada.(MELO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 1994, p. 451.)
O tratamento a ser dispensado aos atos de improbidade
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativaadministrativa está previsto na Constituição Federal, que o delineou nos seguintes termos:
Art. 37. [...]
§ 4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
Ante o exposto, devem ser aplicadas aos réus PAULO
MARTINS DA SILVA, ENÉAS VIEIRA PINTO e HALEY DIAS DE CARVALHO,
pelos atos de improbidade administrativa acima narrados, com adequação no artigo 10,
incisos I, III, IX, XI e XII e artigo 11, caput, ambos da Lei 8.429/92, as sanções previstas no
artigo 12, inciso II e III, também da Lei 8.429/92 e às rés SGPA – SOCIEDADE GOIANA
DE PECUÁRIA E AGRICULTURA e VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. pelos
atos de improbidade administrativa narrados, com adequação no artigo 10, incisos I, III, IX,
XI e XII e artigo 11, caput, c/c artigo 3º, todos da Lei 8.429/92, as sanções previstas no artigo
12, incisos II e III, também da Lei nº 8.429/92, que assim estabelece:
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações:
[…];
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativapercebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
2.5. DO ELEMENTO SUBJETIVO/NORMATIVO – DO DOLO E DA CULPA
Como ficou demonstrado nos autos, todo o processo que
culminou com a transferência do valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) para a
empresa VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA, foi, desde o seu nascedouro, viciado. De
todas as graves e flagrantes ilegalidades tiveram os réus PAULO MARTINS DA SILVA –
então Secretário da SEAGRO, ENÉAS VIEIRA PINTO – então Superintendente de
Administração e Finanças da SEAGRO, e HALEY DIAS DE CARVALHO - então
Presidente da Comissão de Licitações da SEAGRO – pleno e total conhecimento.
Isso porque o processo que culminou com a transferência dos
recursos para a VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., no valor de R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais) foi deflagrado pelos réus PAULO MARTINS DA SILVA e ENÉAS
VIEIRA PINTO, após a autorização, “na forma da lei”, pelo então Governador do Estado –
Alcides Rodrigues -, para o fim de “contratar área da SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE
PECUÁRIA E AGRICULTURA – para a realização da 2ª edição do Goiânia Rodeo
Festival”.
Não obstante, no ofício endereçado ao Governador do Estado, o
réu PAULO MARTINS DA SILVA já havia externado a sua intenção de proporcionar apoio
ao evento, por meio da contratação da empresa VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA.
para a instalação e montagem de estrutura de rodeio para a realização da 2ª edição do Goiânia
Rodeo Festival.
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Apesar disso, repita-se, foi o processo deflagrado para a
contratação da área da SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E
AGRICULTURA – pelo valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).
O processo foi deflagrado pelos réus PAULO MARTINS DA
SILVA e ENÉAS VIEIRA PINTO já instruído com um “atestado de exclusividade” emitido
pela FAEG relativo à exclusividade da SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E
AGRICULTURA – para a locação do espaço onde seria realizado o Goiânia Rodeo Festival
– 2ª edição – bem como com um “atestado de exclusividade”, emitido pela SGPA –
SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA – relativo à “exclusividade”
da ré VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. para a instalação e montagem de estrutura de
rodeio, arquibancada, camarote, arena, bretes, palco, iluminação, tendas e banheiros químicos
na 2ª edição do Goiânia Rodeo Festival.
A deflagração do processo, com o objetivo inicial declarado de
contratação da área da SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E
AGRICULTURA – instruído com uma declaração de “exclusividade” não só desta para a
locação da área, como da ré VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. para a instalação e
montagem de estrutura de rodeio, arquibancada, camarote, arena, bretes, palco, iluminação,
tendas e banheiros químicos na 2ª edição do Goiânia Rodeo Festival já indicava a intenção
dos réus de efetivar a contratação de forma direta, por inexigibilidade de licitação, o que se
confirmou pela decisão do Presidente da Comissão de Licitações da SEAGRO, o réu
HALEY DIAS DE CARVALHO, de efetivar a contratação de forma direta, por
inexigibilidade de licitação (anexo II).
A escolha da forma para a efetivação da transferência dos
recursos pelo Estado de Goiás para a iniciativa privada – contratação direta de empresa para a
prestação de serviços que não são próprios do Estado, por inexigibilidade de licitação, em
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativarazão de exclusividade acordada entre particulares – portanto, com total violação aos
dispositivos da LRF, da LDO para o exercício de 2008 – Lei 16.107/2007 e da Lei de
Licitações – Lei 8.666/93, está a evidenciar o dolo dos réus PAULO MARTINS DA SILVA,
ENÉAS VIEIRA PINTO e HALEY DIAS DE CARVALHO que, com consciência e
vontade, praticaram os atos ilegais, cientes das ilegalidades perpetradas.
Ademais, o processo foi deflagrado para a contratação da área
da SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA – para a
realização do evento. Culminou com a contratação da VPJ EVENTOS E COMÉRCIO
LTDA. para a instalação e montagem de estrutura de rodeio, arquibancada, camarote, arena,
bretes, palco, iluminação, tendas e banheiros químicos, pelo absurdo valor de R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais). Na planilha de custos dos serviços a serem contratados, estava o valor
de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) relativo à locação do espaço de propriedade da SGPA –
SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA – valor esse foi efetivamente
transferido a esta pela VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA., em razão do contrato de
locação entre elas firmado, conforme declarações de seu então Presidente Gilberto Sant'Anna
Filho (anexo VIII e IX).
Acresça-se, ainda, que para a contratação pretendida não foi
apresentada justificativa de preços, embora essa questão tivesse sido apontada pelo Controle
Interno da SEAGRO (anexo II). E mesmo diante da comprovação nos autos de que serviços
semelhantes foram adquiridos no mesmo ano pelo Estado de Goiás por menos da metade do
preço (anexo VI), não foi apresentada justificativa para a contratação no valor de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais) e efetivada foi a contratação da VPJ EVENTOS E
COMÉRCIO LTDA. pelo valor mencionado.
Todas essas circunstâncias estão a evidenciar que os réus
PAULO MARTINS DA SILVA, ENÉAS VIEIRA PINTO e HALEY DIAS DE
CARVALHO tinham pleno conhecimento das ilegalidades e, com consciência e vontade,
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativapraticaram-nas.
Por outro lado, devidamente comprovado resultou, também, que
as rés SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA e VPJ
EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. também possuíam conhecimento das ilegalidades e
destas se beneficiaram.
Isso porque a ré SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE
PECUÁRIA E AGRICULTURA “atestou” uma exclusividade que não tinha competência
para atestar, de forma aleatória e sem razão jurídica plausível, e que contribuiu para a
consumação da contratação ilegal da VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA.
Necessário rememorar que a SGPA – SOCIEDADE GOIANA
DE PECUÁRIA E AGRICULTURA – beneficiou-se da contratação ilegal, porquanto,
embora tenha celebrado contrato de locação com a VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA.
da área do Parque Pedro Ludovico Teixeira, onde seria realizado o Goiânia Rodeo Festival, os
recursos para o pagamento da locação foram incluídos nos custos dos serviços prestados pela
VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. e efetivamente repassados a SGPA –
SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA, conforme declaração de seu
Presidente à época – Gilberto de Sant'Anna Filho (anexo VIII e IX).
Ademais, provas há nos autos de que os valores cobrados pela
VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. eram superfaturados para a prestação de serviços
de instalação e montagem de estrutura de rodeio, o que está a indicar que a VPJ EVENTOS
E COMÉRCIO LTDA. tinha plena consciência de que tais recursos não se
consubstanciavam em contraprestação de um serviço, mas verdadeira “doação” para a
realização do evento.
Ademais, impõe-se registrar, uma vez mais, que embora a ré
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaSGPA – SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA – por meio de seu
então Presidente Gilberto Sant'Anna Filho tenha negado a sua participação como executora
do evento, há nos autos um “projeto” relativo à 2ª edição do Goiânia Rodeo Festival, que foi
acostado no processo de contratação, que apresenta a SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE
PECUÁRIA E AGRICULTURA – como executora do evento, em parceria com a VPJ
EVENTOS E COMÉRCIO LTDA.
Todas essas circunstâncias evidenciam o dolo das rés SGPA –
SOCIEDADE GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA e VPJ EVENTOS E
COMÉRCIO LTDA.
Embora esteja plenamente evidenciado o dolo dos réus, vale
lembrar que os atos de improbidade que causam dano ao erário, definidos no artigo 10 da Lei
8.429/92, podem ser punidos ainda que praticados culposamente.
Assim, ainda que Vossa Excelência entenda não comprovado o
dolo dos réus, o que desde já se refuta, indiscutivelmente as circunstâncias do fato, já
amplamente discutidas ao longo desta petição inicial, estão a evidenciar, no mínimo, o erro
grosseiro em que incidiram os réus, a impor a punição prevista no artigo 12, inciso II, da Lei
8.429/92.
Por fim, impõe-se registrar que para a configuração do ato de
improbidade administrativa nos moldes do artigo 11 da Lei n.° 8.429/92, basta a
demonstração do dolo genérico, é dizer, a consciência e vontade do agente de violar princípio
regente da Administração Pública.
Outro não é o entendimento dos tribunais pátrios, em especial
do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás:
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaAPELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. LEGALIDADE. DOLO GENÉRICO. DESNECESSIDADE DE DANO AO ERÁRIO. TERCEIROS BENEFICIADOS COM O ATO ÍMPROBO. ART. 3º DA LEI DE IMPROBIDADE. SANÇÕES DO ARTIGO 12 DA LEI 8.429/1992. PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. REDUÇÃO DA PENA DE MULTA CIVIL DE OFÍCIO. 1. É ímproba a conduta do requerido que, como Coordenador do Autódromo Internacional de Goiânia, deixa de observar as normas legais (decretos, portarias e contratos), promovendo arrecadações de taxas sem depositar os valores junto ao Fundo Estadual de Esporte, subsumindo-se ao artigo 11 da Lei 8.429/1992. 2. De acordo com o artigo 3º da referida lei, “As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.” Assim, tendo os requeridos Eudes e Ivair se beneficiado diretamente do ato ímprobo praticado por Carlos Roberto, respondem, também, por este. 3. A jurisprudência do STJ e desta Corte dispensa o dolo específico para a configuração de improbidade por atentado aos princípios administrativos (Art. 11 da Lei n. 8.429/ 1992), considerando bastante o dolo genérico. Tal conduta independe, ainda, de ocorrência ou comprovação de dano ao erário. 4. Não sendo necessariamente cumulativas as sanções do art. 12 da Lei n. 8.429/1992 e não tendo o magistrado observado os princípios da proporcionalidade e razoabilidade quando da sua dosimetria, pode o tribunal proceder a sua redução, de ofício. Apelações conhecidas, mas improvidas. redução, de ofício, da pena de multa civil.(TJGO, Apelacão Cível 116420-41.2002.8.09.0051, Rel. DES. MARIA DAS GRACAS CARNEIRO REQUI, 1A CAMARA CIVEL, julgado em 30/04/2013, DJe 1300 de 10/05/2013)
Assim, pelos atos de improbidade administrativa praticados,
estão os réus sujeitos às penalidades do art. 12, inciso II e III, da Lei 8.429/92.
2.6. DA PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA
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Dentre as sanções previstas no artigo 12, inciso II e III, da Lei
8.429/92, está a perda da função pública.
A previsão da perda do cargo ou função pública exercidos pelo
agente público que pratica ato de improbidade administrativa deflui como consequência
lógica da constatação da incompatibilidade da personalidade do agente com a gestão pública.
Por essa razão, deve a sanção alcançar todos os vínculos que o
agente tenha com a Administração Pública por ocasião da sentença condenatória.
Sobre o tema, assim lecionam Garcia e Alves:
Em razão da mencionada incompatibilidade entre a personalidade do agente e a gestão da coisa pública, o que se tornou claro com a prática do ato de improbidade, deve a sanção de perda da função, quando aplicada, extinguir todos os vínculos laborais existentes junto ao Poder Público. O art. 12, em seus três incisos, fala genericamente em perda da função, que não pode ser restringida àquela exercida por ocasião da prática do ato de improbidade. Isso sob pena de se permitir a prática de tantos atos ilícitos quantos sejam os vínculos existentes, em flagrante detrimento da coletividade e dos fins da lei. Ainda que o agente exerça duas ou mais atribuições, de origem eletiva ou contratual, ou uma função distinta daquela que exercia por ocasião do ilícito, o provimento jurisdicional haverá de alcançar todas, determinando a completa extinção das relações existentes entre o agente e o Poder Público.
Assim, é irrelevante que o ilícito, verbi gratia, tenha sido praticado em detrimento de um ente municipal e o agente, por ocasião da aplicação da sanção, mantenha uma relação funcional com a administração estadual, pois a dissolução haverá de abranger todos os vínculos mantidos com o Poder Público, designativo que abrange os sujeitos passivos do ato de improbidade.
[…]
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaAdemais, prevalecendo entendimento diverso e sendo aplicada a sanção de suspensão dos direitos políticos ao agente, ter-se-ia a inusitada situação de o mesmo, embora privado de sua cidadania, continuar a exercer outra atividade de interesse coletivo que exige aptidões e virtudes que já demonstrara não possuir. (GARCIA, Emerson. ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. 26 ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010)
Na mesma esteira, Pazzaglini Filho pontifica:
Registre-se que essa sanção fulmina a função pública exercida pelo agente público condenado à época em que praticou o ato de improbidade administrativa reconhecido na sentença judicial. E incide sobre a função pública diversa que ele esteja exercendo ao tempo da condenação irrecorrível, quando for privado de seus direitos políticos. Nessa hipótese, somente poderá voltar a exercer outra função pública após o decurso do prazo da suspensão de seus direitos políticos. (PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de improbidade administrativa comentada. Aspectos constitucionais, administrativos, civis, criminais, processuais e de responsabilidade fiscal. 4. ed. São paulo: Atlas, 2009)
Outro não é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça que,
no Resp nº 924.439 - RJ (2007/0020069-2), Rel. Min. Eliana Calmon assim se pronunciou:
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADEADMINITRATIVA – ART. 12 DA LEI 8.429/1992 – PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA – ABRANGÊNCIA DA SANÇÃO – PARÂMETROS: EXTENSÃO DOS DANOS CAUSADOS E PROVEITO OBTIDO – SÚMULA 7/STJ – RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM.1. Hipótese em que o Tribunal de origem deixou de condenar o agente na perda da função pública, sob o fundamento de que o mesmo não mais se encontrava no exercício do cargo, no qual cometeu os atos de improbidade administrativa.2. A Lei 8.429/1992 objetiva coibir, punir e afastar da atividade pública todos os agentes que demonstraram pouco apreço pelo princípio da juridicidade, denotando
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativauma degeneração de caráter incompatível com a natureza da atividade desenvolvida.3. A sanção de perda da função pública visa a extirpar da Administração Pública aquele que exibiu inidoneidade (ou inabilitação) moral e desvio ético para o exercício da função pública, abrangendo qualquer atividade que o agente esteja exercendo ao tempo da condenação irrecorrível.4. A simples configuração do ato de improbidade administrativa não implica condenação automática da perda da função pública, pois a fixação das penas previstas no art. 12 da Lei 8.429/1992 deve considerar a extensão do dano e o proveito obtido pelo agente, conforme os parâmetros disciplinados no parágrafo único desse dispositivo legal. Precedente do STJ.5. É indispensável que se faça uma valoração da extensão dos danos causados, bem como do proveito obtido pelo agente, ao aplicar a sanção de perda da função pública. Análise obstaculizada, em recurso especial, em razão da Súmula 7/STJ.1. Recurso especial provido, para determinar o retorno dos autos à origem, para que se verifique a possibilidade de condenação do recorrido na perda da função pública. (STJ, REsp nº 924.439 - RJ (2007/0020069-2), Rel Min. Eliana Calmon)
Dessa forma, a sanção de perda da função pública deverá ser
aplicada a todos os réus que, na data da sentença, exerçam cargo ou função pública em
qualquer nível da Administração Pública (municipal federal e municipal) e deverá alcançar
todos os vínculos existentes com o Poder Público.
3. DAS MEDIDAS ACAUTELATÓRIAS - DA INDISPONIBILIDADE DOS BENS
Todos os elementos trazidos à discussão na presente petição
inicial demonstram, sem nenhuma dúvida, que os réus PAULO MARTINS DA SILVA,
ENÉAS VIEIRA PINTO, HALEY DIAS DE CARVALHO, SGPA – SOCIEDADE
GOIANA DE PECUÁRIA E AGRICULTURA e VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA.
praticaram atos de improbidade administrativa que violaram os princípios constitucionais
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativaregentes da atividade administrativa e causaram prejuízo ao erário estadual no montante de
R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).
Uma das sanções previstas pelo artigo 12, inciso II e III da Lei
8.429/92 é a reparação do dano causado. No entanto, caso o valor de R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais) não seja imediatamente retirado da posse dos réus, há grave e
concreto risco de que, ao final do processo, não disponham eles de tal montante,
impossibilitando, assim, a efetiva reparação do dano causado.
Como medida cautelar, para a concessão da indisponibilidade
dos bens basta a presença do fumus boni juris e do periculum in mora. Ambos requisitos estão
fartamente consubstanciados nos autos da presente demanda.
O fumus boni juris está presente em razão da verossimilhança
dos fatos imputados aos réus. Não se faz necessário, por óbvio, que o ato ímprobo esteja
cabalmente provado, o que só ocorrerá por ocasião da sentença. Outro não é o entendimento
de Bedaque:
[…] No caso específico dos processos versando improbidade administrativa, tendo em vista a natureza da relação jurídica material e o bem da vida tutelado, o legislador previu tutela provisória da evidência, mediante providência cautelar conservativa consistente na indisponibilidade de bens do réu. Para obtê-la basta a demonstração da verossimilhança do direito […] (BEDAQUE, José Roberto dos Santos et al., Improbidade Administrativa, questões polêmicas e atuais. Ed. Malheiros, p. 260, 263/264)
A narração dos fatos contida na exordial, amparada pelos
elementos de convicção amealhados ao longo da investigação realizada nos autos do ICP de
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativaregistro atena nº 201100004562, são mais do que suficientes para demonstrar a
verossimilhança das alegações apresentadas.
Quanto ao periculum in mora, a mais abalizada doutrina
especializada sobre o tema entende que é requisito implícito, isto é, está subentendido no
artigo 37, § 4º, da Constituição da República, que estabelece:
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
Nesse sentido:
Com efeito, a lei presume esses requisitos ao autorizar a indisponibilidade, porquanto a medida acautelatória tende à garantia da execução da sentença, tendo como requisitos específicos evidências de enriquecimento ilícito ou lesão ao erário, sendo indiferente que haja fundado receio de fraude ou insolvência, porque o perigo é ínsito aos próprios efeitos do ato hostilizado. Exsurge, assim, a indisponibilidade como medida de segurança obrigatória nessas hipóteses. Precioso acórdão estampa que a indisponibilidade de bens exige os pressupostos gerais das medidas de cautela (fumus boni juris e periculum in mora), considerando que o periculum in mora é presumido por que o “§ 4º do artigo 37 da Constituição Federal, ao determinar de modo expresso que 'os atos de improbidade administrativa importarão ... a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário...' (sublinhou-se), e sendo a primeira figura nitidamente acautelatória – diversamente da segunda -, evidentemente manda presumir, em relação a ela, o requisito do 'periculum in mora'. O dispositivo constitucional demonstra claramente a imprescindibilidade da providência quando o ato de improbidade administrativa causar lesão ao patrimônio público. Daí a razão do artigo 7º da Lei 8.429/92 não esclarecer quais os requisitos exigíveis para a sua concessão, diferentemente de outras medidas acautelatórias.” (MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva.
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaProbidade administrativa. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 454-455)
Quanto ao periculum in mora, parte da doutrina se inclina no sentido de sua implicitude, de sua presunção pelo art. 7º da Lei de Improbidade, o que dispensaria o autor de demonstrar a intenção de o agente dilapidar ou desviar o seu patrimônio com vistas a afastar a reparação do dano. [...] De fato, exigir a prova, mesmo que indiciária, da intenção do agente de furtar-se à efetividade da condenação representaria, do ponto de vista prático, o irremediável esvaziamento da indisponibilidade perseguida em nível constitucional e legal. Como muito bem percebido por José Roberto dos Santos Bedaque, a indisponibilidade prevista na Lei de Improbidade é uma daquelas hipóteses nas quais o próprio legislador dispensa a demonstração do perigo de dano. Deste modo, em vista da redação imperativa adotada pela Constituição Federal (art. 37, § 4º) e pela própria Lei de Improbidade (art. 7º), cremos acertada tal orientação, que se vê confirmada pela melhor jurisprudência. (GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 3ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 764)
[…] não se mostra crível aguardar que o agente público comece a dilapidar seu patrimônio para, só então, promover o ajuizamento de medida cautelar autônoma de sequestro dos bens. Tal exigência traduziria concreta perspectiva de impunidade e de esvaziamento do sentido rigoroso da legislação. O periculum in mora emerge, via de regra, dos próprios termos da inicial, da gravidade dos fatos, do montante, em tese, dos prejuízos causados ao erário. A indisponibilidade patrimonial é medida obrigatória, pois traduz consequência jurídica do processamento da ação, forte no art. 37, parágrafo 4º, da Constituição Federal. Esperar a dilapidação patrimonial, quando se trata de improbidade administrativa, com todo respeito às posições contrárias, é equivalente a autorizar tal ato, na medida em que o ajuizamento de ação de sequestro assumiria dimensão de 'justiça tardia', o que poderia se equiparar a denegação de justiça.[...]Prepondera, aqui, a análise do requisito da fumaça do bom direito. Se a pretensão do autor da actio se mostra plausível, calcada em elementos sólidos, com perspectiva concreta de procedência e imposição das sanções do art. 37, parágrafo 4º, da Carta Constitucional, a consequência jurídica adequada, desde logo, é a indisponibilidade patrimonial e posterior
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativasequestro dos bens. (OSÓRIO, Fábio Medina. Improbidade administrativa, 2a. ed., Porto Alegre: Síntese, 1998, p. 239 e ss.)
O entendimento doutrinário é corroborado pela jurisprudência:
Ação Civil Pública – Cautelar – Indisponibilidade de bens do servidor a quem se imputa prática de ato de improbidade – Perigo – Tratando-se de ação civil pública cautelar cujo escopo é garantir a indenização por danos oriundos de imputado ato de improbidade a administrador público, não é necessária a existência ou demonstração de perigo na demora a ensejar a concessão da medida judicial de indisponibilidade dos bens – Constatada a plausibilidade da imputação da prática de ato de improbidade, os bens do agente público, que respondem pelos atos por ele praticados não mais podem ser alienados, desnecessária a demonstração de existência de perigo ou intenção de alienação – Recurso provido para decretar-se a indisponibilidade dos bens dos agravados, que permanecerão com a administração dos mesmos até final julgamento da ação – Recurso provido para tal fim. (Agravo de instrumento n.º 052.503-5 – São Paulo – 2ª Câmara de Direito Público. - Relator: Lineu Peinado – 12.05.98)
No Agravo de Instrumento n.º 24069014520, o Desembargador
Maurílio Almeida de Abreu, da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, em
decisão publicada aos 15 de agosto de 2007, afirmou:
[…] Quanto ao “periculum in mora”, boa parte da doutrina se inclina no sentido de sua implicitude, de sua presunção pelo artigo 7º da Lei nº 8.429⁄92, o que dispensaria o autor de demonstrar a intenção do agente dilapidar ou desviar o seu patrimônio com vistas a afastar a reparação do dano. Nesse sentido, argumenta Fábio Osório Medina que “o periculum in mora emerge, via de regra, dos próprios termos da inicial, da gravidade dos fatos, do montante, em tese, dos prejuízos causados ao erário”, sustentado, outrossim, que “a indisponibilidade patrimonial é medida obrigatória, pois traduz consequência jurídica do processamento da ação,
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativaforte no art. 37, §4º, da Constituição Federal”. Nas palavras de Wallace Paiva Martins Júnior, “a providência não exige prova cabal, mas razoáveis elementos configuradores da lesão, como acentua Marcelo Figueiredo, sob o argumento de que “exige, s.m.j., não uma prova definitiva da lesão (já que estamos no terreno preparatório), mas, ao contrário, razoáveis provas para que o pedido de indisponibilidade tenha trânsito e seja deferido”. Razoável o argumento que exonera a presença do fumus boni juris e periculum in mora para a concessão da indisponibilidade de bens, apesar de opiniões contrárias. Com efeito, a lei presume esses requisitos ao autorizar a indisponibilidade, porquanto a medida acautelatória tende à garantia da execução da sentença, tendo como requisitos específicos evidências de enriquecimento ilícito ou lesão ao erário, sendo indiferente que haja fundado receio de fraude ou insolvência, porque o perigo é insito aos próprios efeitos do ato hostilizado. (MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Probidade Administrativa. 2002. p.395⁄396). Ao meu sentir, evocando as palavras de Rogério Pacheco Alves, “de fato, exigir a prova, mesmo que indiciária, da intenção do agente furtar-se à efetividade da condenação representaria, do ponto de vista prático, o irremediável esvaziamento da indisponibilidade perseguida em nível constitucional e legal”. (PACHECO ALVES, Rogério. Improbidade Administrativa. 2006. p 764). Como muito bem percebido pelo Eminente Desembargador José Roberto dos Santos Bedaque, a indisponibilidade prevista na Lei de Improbidade Administrativa é uma daquelas hipóteses nas quais o próprio legislador dispensa a demonstração do perigo de dano. (Tutela Jurisdicional Cautelar e Atos de Improbidade Administrativa¿. p. 266⁄270). Assim sendo, em vista da dicção imperativa adotada pela Constituição da República de 1988 (art. 37, §4º) e pela própria Lei de Improbidade Administrativa (art. 7º), cremos acertada tal orientação, que se vê confirmada pela melhor jurisprudência. Nesse sentido o Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso decidiu que, “exsurgindo dos autos da ação civil pública provas convincentes da improbidade administrativa, pode o juiz determinar, a requerimento do autor, a indisponibilidade dos bens dos envolvidos, à vista do periculum in mora ínsito no artigo 7º da Lei 8.529⁄92...”. (1ª Cam. AgI 8.234, Paratinga, Rel. Des. Orlando de Almeida Perri, 20.04.1998). Sobre o tema, confira-se precedente emanado do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, in verbis: “Ação Civil Pública - Cautelar -
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaIndisponibilidade de bens do servidor a quem se imputa prática de ato de improbidade - Perigo - Tratando-se de ação civil pública cautelar cujo escopo é garantir a indenização por danos oriundos de imputado ato de improbidade a administrador público, não é necessária a existência ou demonstração do perigo na demora a ensejar a concessão da medida judicial de indisponibilidade de bens. (...) (Agravo de Instrumento nº 052.503-5 - São Paulo - 2ª Câmara de Direito Público - Relator Des. Lineu Peinado - 12.05.1998)”.
O mesmo entendimento foi exarado em agosto de 2009 pelo
Superior Tribunal de Justiça que, ao julgar o REsp 1.098.824/SC, por sua Segunda Turma, à
unanimidade, consagrou que “o requisito cautelar do periculum in mora está implícito no
próprio comando legal, que prevê a medida de bloqueio de bens, uma vez que visa a
assegurar o integral ressarcimento do dano”. Confira-se o teor da ementa:
ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – INDISPONIBILIDADE DE BENS – ART. 7º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 8.429/1992 – REQUISITOS PARA CONCESSÃO – LIMITES – SÚMULA 7/STJ. 1. O provimento cautelar para indisponibilidade de bens, de que trata o art. 7º, parágrafo único da Lei 8.429/1992, exige fortes indícios de responsabilidade do agente na consecução do ato ímprobo, em especial nas condutas que causem dano material ao Erário. 2. O requisito cautelar do periculum in mora está implícito no próprio comando legal, que prevê a medida de bloqueio de bens, uma vez que visa a 'assegurar o integral ressarcimento do dano'. 3. A demonstração, em tese, do dano ao Erário e/ou do enriquecimento ilícito do agente, caracteriza o fumus boni iuris. 4. Hipótese em que a instância ordinária concluiu ser possível quantificar as vantagens econômicas percebidas pelo réu, ora recorrente, para fins de limitação da indisponibilidade dos seus bens. Rever esse entendimento demandaria a análise das provas. Incidência da Súmula 7/STJ. 4. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido. (REsp 1098824/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/06/2009, DJe 04/08/2009)
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa
Nessa esteira, seguiu o Superior Tribunal de Justiça ao reiterar,
recentemente, o posicionamento esposado no REsp 1.098.824/SC acerca do bloqueio de bens
em ações de improbidade administrativa, quando asseverou que “tal medida não está
condicionada à comprovação de que os réus estejam dilapidando seu patrimônio, ou na
iminência de fazê-lo, tendo em vista que o periculum in mora está implícito no comando
legal”. Confiram-se os seguintes arestos:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DOS BENS. DECRETAÇÃO. REQUISITOS. ART. 7º DA LEI 8.429/1992. 1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal no Estado do Maranhão contra a ora recorrida e outros, em virtude de suposta improbidade administrativa em operações envolvendo recursos do Fundef e do Pnae. 2. A indisponibilidade dos bens é medida de cautela que visa a assegurar a indenização aos cofres públicos, sendo necessária, para respaldá-la, a existência de fortes indícios de responsabilidade na prática de ato de improbidade que cause dano ao Erário (fumus boni iuris). 3. Tal medida não está condicionada à comprovação de que os réus estejam dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, tendo em vista que o periculum in mora está implícito no comando legal. Precedente do STJ. 4. Recurso Especial provido. (STJ, REsp 1115452/MA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, 2ª Turma, julgado em 06/04/2010, DJe 20/04/2010).
RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DOS BENS. DECRETAÇÃO. REQUISITOS. ART. 7º DA LEI 8.429/1992. REVISÃO. FATOS. NÃO-CABIMENTO. SÚMULA 07/STJ. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem-se alinhado no sentido da desnecessidade de prova de periculum in mora concreto,ou seja, de que o réu estaria dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de fumus boni iuris, consistente em fundados indícios da prática de atos de improbidade. Precedentes: REsp 1.203.133/MT, Rel. Ministro Castro Meira, REsp 967.841/PA, Rel. Ministro Mauro
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaCampbell Marques, Dje 08.10.2010, REsp 1.135.548/PR, Rel. Ministra Eliana Calmon, DJE 22.06.2010; REsp 1.115.452/MA, Rel. Ministro Herman Benjamin, Dje 20.04.2010. [...] (STJ, 2ª Turma, Recurso Especial nº 2010/0075404-6, Ministro Castro Meira, DJe 10/02/2011)
Por fim, imperioso frisar que a indisponibilidade de bens não se
apresenta como antecipação de aplicação de sanção aos réus, mas tão-somente meio de
assegurar o resultado útil do processo, instaurado em defesa do patrimônio público.
Bem por isso, afigura-se imprescindível a concessão de medida
liminar inaudita altera pars, com a decretação do bloqueio de bens dos réus para o integral
ressarcimento ao erário.
A indisponibilidade, frise-se, deverá recair sobre bens
suficientes para garantir a integral reparação do dano causado ao Estado de Goiás, no valor de
R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), e deverá ser efetivada em contas bancárias e/ou
aplicações financeiras dos réus, constrição a ser realizada por meio do sistema BacenJud 2.0.
Caso o bloqueio dos valores acima referidos não alcance a cifra
de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), requer seja decretada a indisponibilidade de bens
imóveis e veículos dos réus, com expedição de ofícios aos cartórios de registro de imóveis de
Goiânia/GO, para averbação na matrícula dos imóveis cuja propriedade lhes pertença, bem
como o bloqueio de veículos registrados em nome dos réus por meio do sistema RENAJUD.
4. DOS REQUERIMENTOS FINAIS E DO PEDIDO
Por tudo o que foi exposto, requer o Ministério Público do
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaEstado de Goiás:
1) a concessão liminar da indisponibilidade dos bens dos réus,
em montante suficiente para garantir a integral reparação do dano causado ao Estado de
Goiás, no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), a qual deverá ser efetivada em
contas bancárias e/ou aplicações financeiras dos réus, constrição a ser realizada por meio do
sistema BacenJud 2.0. Caso o bloqueio dos valores acima referidos não alcance a cifra de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais), requer seja decretada a indisponibilidade de bens
imóveis e veículos dos réus, com expedição de ofícios aos cartórios de registro de imóveis de
Goiânia/GO, para averbação na matrícula dos imóveis cuja propriedade lhes pertença, bem
como o bloqueio de veículos registrados em nome dos réus por meio do sistema RENAJUD.
2) a notificação dos réus para oferecer, caso queiram,
manifestação preliminar, no prazo de 15 (quinze) dias, conforme estabelece o artigo 17, § 7º,
da Lei n.º 8.429/92;
3) apresentada ou não a defesa, o recebimento da petição inicial;
4) a citação dos réus para contestar o pedido, sob pena de
confissão e revelia;
5) a produção de toda a prova em direito admitida e, em
especial, a documental, pericial e testemunhal, cujo rol será ofertado oportunamente.
6) a comunicação processual do ESTADO DE GOIÁS, na
forma e para os fins preconizados no artigo 17, § 3º, da Lei 8.429/92.
Postula, ao fim, a PROCEDÊNCIA DO PEDIDO, a fim de
que os réus PAULO MARTINS DA SILVA, ENÉAS VIEIRA PINTO e HALEY DIAS DE
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Defesa do Patrimônio Público e da Probidade AdministrativaCARVALHO sejam condenados pela prática de atos de improbidade administrativa previstos
no artigo 10, inciso I, III, IX, XI e artigo 11, caput, todos da Lei 8.429/92, nas penas do artigo
12, incisos II e III, da Lei 8.429/1992 e as rés SGPA – SOCIEDADE GOIANA DE
PECUÁRIA E AGRICULTURA e VPJ EVENTOS E COMÉRCIO LTDA. sejam
condenados pela prática de atos de improbidade administrativa previstos no artigo 10, inciso
I, III, IX, XI e artigo 11, caput, c/c artigo 3º, todos da Lei 8.429/92, nas penas do artigo 12,
incisos II e III, da Lei 8.429/1992, dentre essas a reparação do dano, no valor de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais), corrigido monetariamente e acrescido dos juros
legais.
Dá à causa o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).
Instruem a inicial documentos extraídos dos autos de ICP
registrado com nº 201100004562, que tramitou nesta Promotoria de Justiça, em 13 (treze)
anexos.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Goiânia, 20 de março de 2014.
FABIANA LEMES ZAMALLOA DO PRADO PROMOTORA DE JUSTIÇA
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