hugo ludovico martins análise da detecção de c4d, linfócitos

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HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos B e plasmócitos no processo de rejeição ao aloenxerto renal Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências Área de concentração: Nefrologia Orientadora: Profa. Dra. Irene de Lourdes Noronha São Paulo 2010

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Page 1: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

HUGO LUDOVICO MARTINS

Análise da detecção de C4d,

linfócitos B e plasmócitos

no processo de rejeição ao aloenxerto renal

Tese apresentada à Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo para obtenção do título

de Doutor em Ciências

Área de concentração: Nefrologia

Orientadora: Profa. Dra. Irene de Lourdes Noronha

São Paulo 2010

Page 2: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Preparada pela Biblioteca da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

reprodução autorizada pelo autor

Ludovico-Martins, Hugo

Análise da detecção de C4d, linfócitos B e plasmócitos no processo de rejeição ao

aloenxerto renal / Hugo Ludovico-Martins. -- São Paulo, 2010.

Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Departamento de Clínica Médica.

Área de concentração: Nefrologia.

Orientadora: Irene de Lourdes Noronha.

Descritores: 1.Transplante de rim 2.Rejeição de enxerto 3.Linfócitos B

4.Plasmócitos 5.Via clássica do complemento 6.Imunoistoquímica

7.Imunofluorescência

USP/FM/SBD-062/10

Page 3: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

"A ciência humana de maneira nenhuma nega a existência de Deus. Quando

considero quantas e quão maravilhosas coisas o homem compreende,

pesquisa e consegue realizar, então reconheço claramente que o espírito

humano é obra de Deus, e a mais notável."

Galileo Galilei

A Deus, nosso Senhor, por colocar no meu caminho pessoas

fundamentais para o meu desenvolvimento profissional e pessoal,

por ter me dado força para superar os obstáculos e a graça de

concluir esta difícil tarefa, me abençoando com mais uma

conquista importante na minha vida.

Page 4: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

“Se um dia, já feito homem realizado, sentires que a terra cede a teus pés,

que tuas obras desmoronam, que não há ninguém a tua volta para te

estender a mão, esquece a tua maturidade, passa pela tua mocidade, volta a

tua infância e balbucia entre lágrimas e esperanças, as últimas palavras que

sempre te restarão na alma: minha mãe, meu pai!"

Rui Barbosa

Aos meus queridos e amados pais, Dr. Sebastião Ludovico Martins e Wanda Brill

Ludovico, os quais me conceberam; com muita sabedoria me transmitiram os preceitos

fundamentais da ética, da justiça, da moral e, principalmente, da humildade e

religiosidade; apoiaram-me nos momentos mais difíceis (no momento em que imaginei

não haver mais trilha a seguir, quando me deparei com a desilusão de viver por ver meus

sonhos impossibilitados, iluminaram com maestria a trilha a qual havia perdido,

mostraram-me que a vida consistia na fantástica arte de driblar os obstáculos por mais

impossíveis que pareciam ser e que, principalmente, havia toda uma vida a me esperar,

com todos os sonhos que eu sonhara a serem conquistados); que por muitas vezes

abriram mão de seus sonhos para que eu pudesse conquistar os meus... Dizer um “muito

obrigado” a vocês que depositaram todas as suas confianças na minha luta e

acreditaram no meu potencial é muito pouco... Logo, gostaria de dedicar cada letra desta

tese a vocês que, apesar da distância geográfica, sempre se fizeram presente em minha

vida... Portanto, meus amados pais, esta vitória é de vocês! Muito obrigado pela vida e

por tornar possível a realização de mais um sonho! Amo vocês!

Page 5: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

"O amor é a poesia dos sentidos. Ou é sublime, ou não existe. Quando

existe, existe para sempre e vai crescendo dia a dia."

Honoré de Balzac

À minha querida e amada esposa Aline Cavalcante Ludovico,

companheira que Deus colocou no meu caminho, pela sua paciência,

compreensão e, principalmente, pelo seu amor incondicional que

impulsiona o meu viver. Contigo aprendi que amar não é subtrair e,

tampouco, dividir... Mas sim, somar e multiplicar... A sua sogra costuma

dizer: “atrás de todo grande homem, existe uma grande mulher cansada”...

Não sei se sou um grande homem, mas com certeza você é uma grande

mulher, provavelmente cansada pela minha ausência, pela minha falta de

tempo e pelo meu stress... A sua força, o seu amor e a sua dedicação

foram instrumentos poderosos que me auxiliaram nesta jornada... Portanto,

você também é responsável por esta conquista e, por isto, não apenas

dedico esta tese, como também a minha vida, à minha amada e eterna

princesa! Te amo! Obrigado por tudo!

Page 6: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

“É tão estranho, os bons morrem jovens. Assim parece ser, quando me

lembro de você que acabou indo embora cedo demais... Eu continuo aqui,

meu trabalho e meus amigos e me lembro de você em dias assim... Dia de

chuva, dia de sol e o que sinto não sei dizer... Vai com os anjos! Vai em

paz... E cedo demais, eu aprendi a ter tudo o que sempre quis, só não

aprendi a perder... Não é sempre, mas eu sei que você está bem agora... Só

que neste mundo, o verão acabou, cedo demais...”

Renato Russo

À minha eterna “tiaô”, Aparecida Maria Luis da Mata (“in memoriam”), que

dedicou a sua breve vida a educar e cuidar de mim e meus irmãos como se

fôssemos seus legítimos filhos. Embora tenha nos deixado há alguns anos,

muito do que hoje sou é fruto da dedicação e dos conselhos desta

guerreira. Sempre humilde em suas atitudes, mas generosa em seus

sentimentos... Sofreu as minhas derrotas, torceu e comemorou as minhas

vitórias e, fundamentalmente, me amou acima de qualquer coisa, como

uma mãe ama seu filho... “Tiaô”, cada vitória minha tem um “dedinho” seu

e, por isto, onde quer que eu vá e onde quer que você esteja sempre estará

em meu coração e nas minhas melhores recordações... Serei eternamente

grato por Deus ter colocado, mesmo que de forma breve, você em meu

caminho... Que Deus sempre esteja contigo! Obrigado! A vitória também é

sua!

Page 7: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

AGRADECIMENTOS

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade

com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas

inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”

Fernando Sabino

Inicialmente, gostaria de agradecer à minha orientadora Profa. Dra.

Irene de Lourdes Noronha, exemplo de mulher, professora e médica, pelos

seus ensinamentos que transcendeu em muito o campo da ciência. Ainda

recém-formado e imaturo na medicina, tive a oportunidade de conhecê-la

como minha professora na especialização em Nefrologia e, nesta época,

além dos conhecimentos desta área, recebi toda a base que posteriormente

viria a aplicar na minha prática médica. Após, como “colega” (que

atrevimento meu, hein!) de equipe, aprendi com o seu amor e a sua

dedicação intensa e quase que exclusiva aos pacientes que, o objetivo final

de qualquer ato médico é o bem estar do paciente e que, qualquer boa

prática médica inicia-se pelo respeito irrestrito ao paciente. Por fim, tive a

oportunidade única de conhecê-la como pesquisadora, sempre empenhada

e perseverante na busca por respostas, me ensinou tudo que sei dentro de

um laboratório. Ao longo desta trajetória, também tive a felicidade ímpar de

conhecer a amiga que existe por detrás desta profissional versátil e, com as

inúmeras e sinceras conversas que mantivemos ao decorrer desta trajetória,

recebi apoios e conselhos imprescindíveis para o meu sucesso profissional e

pessoal. Portanto, Dra. Irene, devo à senhora o meu desenvolvimento como

médico, pesquisador e, sobretudo, como homem. Respeito, ética, disciplina

e dedicação são alguns dos legados que herdei da senhora e haverei de

levá-los comigo por onde quer que eu vá... O futuro a Deus pertence, mas

espero sempre poder continuar a conviver e a aprender com esta pessoa

Page 8: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

maravilhosa que é a senhora! O meu muito obrigado, do fundo do meu

coração, por tudo o que a senhora representou, representa e, se Deus

quiser, representará na minha vida!

À Dra. Walcy Rosolia Teodoro, mais que uma professora, uma doce

e grande amiga... Sempre atenciosa, me ensinou tudo o que sei de

imunofluorescência e abriu as portas do seu laboratório para que eu

pudesse realizar os experimentos de imunofluorescência. A senhora é parte

importante nesta minha trajetória... Portanto, Dra. Walcy, o meu mais sincero

obrigado!

Ao Prof. Dr. Roberto Zatz, uma pessoa amiga e acessível, pela

dedicação a qual coordena o curso de Nefrologia, tornando este curso um

destaque na USP. Também gostaria de agradecê-lo pela oportunidade de

fazer parte desta “família” Nefrologia da USP que, com certeza, é motivo de

muito orgulho para mim.

Ao Dr. Rui Toledo Barros, pelo o amor e a dedicação o qual o

senhor coordena o curso de Pós-Graduação da Nefrologia, sempre nos

incentivando como pesquisadores. Também gostaria de agradecê-lo pela

oportunidade de poder fazer parte deste privilegiado grupo de pós-

graduando da Nefrologia.

Ao Prof. Dr. Hugo Abensur, além de um exímio profissional, um

grande amigo, fez parte da minha formação profissional e sugeriu a inclusão

do estudo dos plasmócitos na minha pesquisa durante a qualificação,

sugestão esta que veio a enriquecer a minha tese. O meu muito obrigado

pela dedicação com a qual o senhor conduziu o meu estágio em Nefrologia

(com as aulas todas as sextas-feiras e com as visitas em grupo aos leitos

dos pacientes) e, principalmente, pelos conselhos que o senhor me deu ao

longo dos nossos encontros. Por onde eu for, levarei comigo a imagem e os

conselhos deste profissional ético e dedicado.

Page 9: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Ao Prof. Dr. Dino Martini Filho, um grande patologista e uma pessoa

admirável. Simples, acessível e muito inteligente, me ensinou o que sei de

histopatologia renal. Participou das minhas duas qualificações, sempre com

observações pertinentes que vieram a somar em minha tese. Os meus

sinceros agradecimentos por sempre me receber de portas abertas em seus

laboratórios (nos Hospitais Beneficência Portuguesa e Santa Casa),

disponibilizando os casos incluídos neste trabalho e, principalmente, sempre

se prontificando a me ensinar e sanar as minhas dúvidas quando solicitado.

À Dra. Vanda Jorgetti, sempre carismática e receptiva. O meu muito

obrigado pelas oportunidades em que tive de sentar ao lado da senhora e

ouvir os seus conselhos e dicas.

Ao Prof. Dr. Luiz Fernando Onuchic, exímio pesquisador que tive a

oportunidade de conhecer e conviver nos últimos anos da pós-graduação.

À Dra. Denise Maria Avancini Costa Malheiros, pelas

oportunidades que tive de sentar ao lado dessa pessoa maravilhosa e

discutir alguns casos, além das lâminas do meu trabalho que, às vezes,

pegava para analisar. Muito acessível e simpática. Obrigado!

Ao Wagner Vasques Dominguez, para os íntimos “Wagnãããooo!”.

Agradeço a Deus pela oportunidade de ter conhecido esta pessoa de

coração tão generoso! Amigo de todas as horas me ensinou tudo o que sei

de estatística e foi um grande companheiro nos inúmeros happy hours! O

que posso afirmar deste amigo tão querido é que, pela sua dedicação aos

amigos e pela sua sinceridade, faz parte de um seleto grupo de amizade

“estatisticamente significativo”...

À Cleonice Silva, uma profissional maravilhosa, uma mãe

dedicada e uma amiga admirável! Com muita paciência e sapiência, foi

Page 10: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

driblando a minha ansiedade e o meu stress quase que cotidiano,

ensinando-me que a calma é uma das grandes virtudes dos vencedores. Por

quantas vezes você me disse: “calma! Respire fundo... Agora repita...”

Bastava isto para que, em uma fração de segundo, eu encontrasse as

respostas para as minhas dúvidas. Me ensinou muito sobre as técnicas de

laboratório, sobre cálculos e sobre as unidades de concentração (Molar,

milimolar e etc) que pareciam “monstros de sete cabeças” para mim.

Também teve uma participação importante na escrita da minha tese, pois

por inúmeras vezes leu e releu o que escrevia, sempre fazendo correções

pertinentes... Por tudo isto, posso dizer que tive a sorte de conhecer esta

amiga admirável! Ah! Já ia me esquecendo... Também gostaria de pedir

desculpas pelas inúmeras “desculpas” que pedi ao longo destes anos

(hehe)... O meu muito obrigado por tudo, Clééééooooo!!!! Ah! Desculpa por

pedir “desculpa”, hein!

À Rita de Cássia Cavaglieri, uma amiga ímpar! No meu primeiro dia

no laboratório, me recebeu com todo o seu carisma e bom humor e, desde

então, nasceu uma grande amizade... Fomos contemporâneos na pós-

graduação, passamos por obstáculos semelhantes, por decepções e

conquistas semelhantes e, tudo isto, serviu para enriquecer muito a nossa

amizade. Ritinha, por quantas vezes choramos e sorrimos juntos, hein?!

Sempre disposta a me escutar, encontrei em seus abraços, nos seus

conselhos e na sua religiosidade, as respostas para as minhas angústias...

Posso afirmar que, sem a sua amizade, com certeza este caminho seria

mais árduo! Hoje, estamos aqui sorridentes e orgulhosos, pois chegamos ao

final da nossa luta... Mas, espero que seja apenas o final desta etapa, pois

amizade assim é para, no mínimo, uma vida inteira! Por onde eu for, levarei

comigo os momentos deliciosos que compartilhamos na pós-graduação e,

para sempre, será a amiga que jamais esquecerei! Conte sempre comigo,

hein! Parabéns pelo sucesso e muito obrigado por esta maravilhosa

amizade!

Page 11: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

À Andréia Fabiana do Vale Franco, uma amiga muito especial. Pude

experimentar na prática a lei da física que diz “os opostos se atraem”!

Hehe... Entre “tapas” e elogios, foi crescendo uma amizade muito sincera.

Companheira de todas as horas (aqui vale ressaltar que é a única amiga que

também gosta de música sertaneja, só aí já ganhou minha admiração!), me

conquistou com a sua dedicação, determinação e perseverança! Continue a

ser esta pessoa especial que, com certeza, Deus te reservará um futuro

brilhante e cheio de conquistas! Obrigado por tudo!

Ao Dr. Humberto Dellê, um grande amigo e companheiro! Obrigado

pelo apoio constante e pelas dicas que sempre vieram a engrandecer o meu

trabalho. A sua dedicação à pesquisa e aos amigos muito me admira! O seu

futuro será brilhante. Obrigado por tudo!

Ao Dimitri Bordon Espinhel Marinotto, um grande amigo e divertido

companheiro! A sua inteligência atrelada à sua humildade te faz uma pessoa

nobre, muito especial nesta minha trajetória! Muito obrigado por tudo!

Ao Dr. Antônio Carlos Cordeiro Silva Junior, um grande amigo e

companheiro de todas as horas! Surgiu na minha vida num momento muito

importante e, desde então, me acolheu como um irmão. Muito obrigado

pelos conselhos, pela atenção e pela companhia ímpar!

Ao Dr. Luis Eduardo Becker, um grande amigo, companheiro de

laboratório e de equipe, após breve período de convivência foi estudar em

Heidelberg (Alemanha) e por lá ficou. Entretanto, a nossa amizade

continuou... Um grande abraço e sucesso!

Às colegas e amigas Dra. Adriana Nazaré Castro da Silva e Dra.

Carina Nilsen Moreno, pela amizade sincera de longa data. Vocês sempre

estiveram presentes em minha trajetória.

Page 12: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Aos novos amigos Dr. Rodrigo José Ramalho e Dra. Pércia

Rosistelly Bezerra de Medeiros. Rodrigo, amigo sincero e divertido,

responsável por boas gargalhadas que me ajudaram a descontrair nesta

etapa final, e Pércia, amiga carismática e extrovertida. Desejo a vocês

sucesso, pois vocês merecem!

Aos alunos de iniciação científica Alexandre Chagas de Santana,

Rosana Domingues, Filipe Miranda de Oliveira Silva e William Pereira

Felix. Alunos dedicados a aprender tudo sobre pesquisa e sempre dispostos

a nos ajudar. Continuem sempre assim, pois vocês representam o futuro da

pesquisa. Obrigado por tudo!

Às inúmeras amigas que tive a oportunidade de conquistar no

laboratório da Dra. Irene, tais como: Arianni di Petta, Tatiana Tavares,

Camile Alba Pereira, Camila Fazzani, Laila dos Santos Silva Casado,

Tatiana Marques Ferreira da Rocha, Carla Cristina Gomes Pinheiro,

Virgínia Zalotti e Ivone Braga de Oliveira. Tive uma breve convivência

com vocês, mas de uma forma ou de outra, cada uma de vocês me marcou

positivamente. Muito obrigado pelas amizades as quais guardarei com todo

o carinho em meu coração.

À Rozidete Aparecida Bezerra Coelho, pelo carinho que tem por

mim, sempre dispondo-se do seu tempo para vir cortar as biópsias. Você me

ajudou muito! Obrigado!

Aos demais amigos que tive a oportunidade de conhecer ao decorrer

da pós-graduação: Ana Paula, Ane, Andressa, Fernanda, Eliene, Zenaide,

John, Michelle e Bruno (LIM 29); Luciene, Fabiana, Dra. Rosa, Rita e Dr.

Rodrigo (Laboratório da Dra. Vanda Jorgetti); Luzia e Karen (Laboratório do

Dr. Joel Heimann); Luciana (laboratório do Dr. Roberto Zatz); Dra. Verônica

e Dra. Flávia (laboratório do Dr. Luis Yu). Um muito obrigado, a cada um de

vocês, pela maravilhosa convivência.

Page 13: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Às meninas da secretaria, Neide e Denise, além da Janice. Muito

obrigado pela prontidão em me ajudar sempre que necessitei.

Aos meus amados avós: Dr. Hugo Brill (“in memoriam”) e Maria

Cândida de Lima (“in memoriam”) (avós maternos); Sebastião Ludovico

de Almeida (“in memoriam”) e Maria Luiza Martins Ludovico (avós

paternos). Representam o princípio de tudo! Não há presente e, tampouco

futuro, sem que antes tenha havido um passado... Portanto, conhecer o

nosso passado é o primeiro passo para o sucesso... Muito obrigado pela

família maravilhosa que vocês me deram!

Aos meus irmãos Dr. Bráulio Ludovico Martins e Dr. Bruno

Ludovico Martins. Agradeço pela amizade incondicional de cada um de

vocês, sempre presentes na minha vida nos momentos mais difíceis,

auxiliando-me e me orientando nas minhas decisões. Vocês, juntamente

com os meus pais, são o exemplo de como uma família unida prospera

mesmo perante as dificuldades. Muito obrigado, do fundo do meu coração,

pelo apoio e confiança depositados em mim ao longo da minha vida! Vocês

são pessoas fundamentais na minha vida!

À Eunice Alves de Carvalho, uma pessoa humilde em seus gestos,

porém extravagante no seu amor e dedicação por mim... Por quantas vezes

te peguei chorando perante as minhas quedas e festejando os meus

sucessos ao longo da minha vida! Conforto-me ao saber que, na minha

ausência, a minha mãe está em excelente companhia. Muito obrigado, do

fundo do meu coração, por tudo aquilo que você representa em minha vida!

Por fim, gostaria de agradecer a Deus pela oportunidade de conhecer

tantas pessoas e, com isto, construir amizades maravilhosas que haverei de

levar comigo por onde o destino me guiar... Também gostaria de agradecer

aos meus amados e queridos pais que compartilharam dos meus ideais e os

Page 14: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

alimentaram, incentivando-me a prosseguir nesta jornada, fossem quais

fossem os obstáculos. Meu pai, um exemplo de profissional a ser seguido,

com certeza você é a minha fonte de inspiração inesgotável para cada passo

que dou. Minha mãe, um brilho de entusiasmo e religiosidade que ilumina a

minha estrada... Lembro como se fosse hoje que, desde pequeno, escutava

a senhora a me dizer: “Hugo, você é menininho da USP, acredite!”... Pois é,

minha amada mãe aqui estou e, como sempre, a senhora estava certa!

Vocês são os melhores pais do mundo e, com certeza, fazem parte desse

caminho que hoje sigo em paz... À minha esposa e sua família, que também

fazem parte da minha vida, pela paciência e por sempre acreditarem em

mim... A todos os meus familiares que, de uma forma ou de outra, fazem

parte da minha história e contribuíram para eu chegar aqui e, finalmente, aos

meus amigos (todos aqui listados e os que, porventura eu tenha esquecido

de listar... Neste caso, as minhas sinceras desculpas pela falha da minha

fraca memória) que são pérolas que conquistei ao longo da minha jornada e

que farei questão de cuidar bem delas como quem cuida de suas jóias, pois

os vejo justamente assim, verdadeiras jóias em minha vida!

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SUMÁRIO

Lista de abreviaturas

Lista de figuras

Lista de tabelas

Resumo

Summary

I. INTRODUÇÃO ........................................................................ 1

I.1. Rejeição mediada por anticorpos – Definição diagnóstica ... 3

I.1.1) Rejeição mediada por anticorpos aguda (RMA aguda) ...... 4

I.1.2) Rejeição mediada por anticorpos crônica (RMA crônica) ... 6

I.2. Fragmento C4d ..................................................................... .8

I.2.1) Origem da fração C4d no sistema complemento ................ 8

I.2.2) C4d em transplante renal ................................................. 11

I.3. Linfócitos B - Plasmócitos ................................................... 14

I.3.1) Maturação, ativação e diferenciação dos linfócitos B ....... 14

I.3.2) Funções imunológicas dos linfócitos B .......................... ...17

I.4. Rejeição mediada por anticorpos e linfócitos B .................. 18

II. OBJETIVOS ......................................................................... 20

III. CASUÍSTICA E MÉTODOS ................................................ 21

Page 16: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

III.1. Casuística .......................................................................... 21

III.1.1) Casuística geral .............................................................. 21

III.1.2) Casuística para análise do fragmento C4d ..................... 23

III.1.3) Casuística para análise dos linfócitos B ......................... 24

III.1.4) Casuística para análise dos plasmócitos ........................ 25

III.2. Biópsias de enxerto renal .................................................. 25

III.3. Processamento das biópsias ............................................ 27

III.3.1) Fixação e parafinização .................................................. 28

III.3.2) Tecido congelado ........................................................... 28

III.4. Preparo das lâminas para os experimentos ...................... 29

III.4.1) Desparafinização e recuperação antigênica ................... 29

III.4.2) Fragmentos congelados ................................................. 30

III.5. Detecção do fragmento C4d ............................................. 30

III.5.1) Técnica de imunofluorescência ...................................... 30

III.5.2) Técnica de imuno-histoquímica ...................................... 31

III.6. Detecção de linfócitos B (CD20+) ...................................... 32

III.7. Detecção de plasmócitos (CD138+) .................................. 34

III.8. Análise dos resultados ...................................................... 35

III.8.1) Fragmento C4d ............................................................... 35

III.8.2) Linfócitos B e plasmócitos .............................................. 36

III.9. Dados clínicos avaliados ................................................... 36

III.10. Análise estatística............................................................ 37

IV. RESULTADOS ................................................................... 38

IV.1. Detecção de C4d: análise das técnicas e do tipo de tecido................................................................ 38

Page 17: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

IV.2. Análise da positividade de C4d peritubular de acordo com o diagnóstico histológico ........................................... 41

IV.3. Correlação entre a positividade para C4d e a evolução clínica do transplante ............................................................... 42

IV.4. Análise da expressão dos linfócitos B .............................. 44

IV.4.1) Infiltrado de linfócitos B .................................................. 44

IV.4.2) Expressão dos linfócitos B de acordo com o diagnóstico histológico ................................................... 45

IV.5. Correlação entre a expressão de linfócitos B e a evolução clínica do transplante ........................................ 49

IV.6. Análise do infiltrado plasmocitário de acordo com o diagnóstico histológico ............................................ 54

IV.7. Correlação entre a expressão de plasmócitos e a evolução clínica do transplante ........................................ 56

IV.8. Correlação entre plasmócitos e o infiltrado de células CD20+ ................................................................... 58

IV.9. Correlação entre a positividade de C4d peritubular e a expressão de linfócitos B (CD20+) e plasmócitos (CD138+) ....................................................... 60

IV.9.1) Correlação: C4d peritubular e infiltrado de linfócitos B (CD20+) ........................................................ 60

IV.9.2) Correlação: C4d peritubular e infiltrado de plasmócitos (CD138+) .................................................... 62

V. DISCUSSÃO ........................................................................ 64

VI. CONCLUSÕES ................................................................... 76

VII. ANEXOS ............................................................................ 77

Page 18: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

VII.1. Anexo A: classificação de BANFF-2007 .......................... 77

VII.2. Anexo B: carta de aprovaçãodo estudo pelo comitê de ética em pesquisa do Hospital das Clínicas/FMUSP .. 78

VII.3.Anexo C: tabela com dados clínicos, scores da Marcação do C4d utilizando as 4 diferentes técnicas de marcação do fragmento C4d e follow-up dos 41 casos inclusos no estudo ............................................ 79

VIII. REFERÊNCIAS ................................................................ 81

Page 19: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

% Porcentagem

°C Graus centígrados

µl Microlitro

µm Micrômetro

APC Antigen presenting cells (Células apresentadoras de antígenos)

ATG Globulina anti-timócito

Bx Biópsia

CAPPesq Comissão de Ética para Análise de Projeto de Pesquisa

CD Cluster determinant

cél/mm2 Células por milímetro quadrado

DAB Diaminobenzidina

DF Doador falecido

DRP Doença renal policística

DVNR Doador vivo não-relacionado

DVR Doador vivo relacionado

EP Erro padrão

FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FITC Isotiocianato de fluoresceína

g Grama

GNC Glomerulonefrite crônica

HCl Cloreto de hidrogênio

HLA Human leukocyte antigen (Antígeno leucocitário humano)

H2O2 Peróxido de hidrogênio

IF Imunofluorescência

IgIV Imunoglobulina intravenosa

IH Imuno-histoquímica

IL-2 Interleucina-2

Page 20: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

IL-4 Interleucina-4

IL-5 Interleucina-5

IL-6 Interleucina-6

IL-10 Interleucina-10

IL-13 Interleucina-13

INF- Interferon-

LPS Lipopolissacarídeos

M Molar

MAC Membrane attack complex (Complexo de ataque à membrana)

MCP Membrane co-factor protein (Proteína co-fator de membrana)

mg Miligrama

mg/dL Miligrama por decilitro

ml Mililitro

mM Milimolar

mm2 Milímetro quadrado

NaCl Cloreto de sódio

NCE Nefropatia crônica do enxerto

Nefrotox iCN Nefrotoxicidade por inibidores da calcineurina

PBS Solução salina fosfato-tamponada

pH Potencial hidrogênico

RA Rejeição aguda

RCB Receptor de antígeno em célula B

RMA Rejeição mediada por anticorpos

TM Trademark (Marca registrada)

TBS Solução salina tris-tamponada

TNF- Tumor necrosis factor- alfa (Fator de necrose tumoral – alfa)

vs Versus

Page 21: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Cascata do sistema complemento (via clássica) e a formação do fragmento C4d. ..................................................................................... 10

Figura 2. Linfopoiese da célula B (seqüência da diferenciação dos linfócitos B) ........................................................................................... 15

Figura 3. REJEIÇÃO AGUDA. Detecção do fragmento C4d em criostato ........... 39

Figura 4. REJEIÇÃO AGUDA. Detecção do fragmento C4d em parafina ............ 39

Figura 5. Nível da creatinina nos grupos C4d negativo e C4d positivo no momento da biópsia do enxerto renal ................................................... 42

Figura 6. Creatinina sérica nos grupos C4d negativo e C4d positivo. ................. 43

Figura 7. Sobrevida do enxerto renal nos grupos C4d negativo e C4d positivo. ........................................................................................ 44

Figura 8. REJEIÇÃO AGUDA. Infiltrado de linfócitos B ...................................... 45

Figura 9. Expressão de linfócitos B nas rejeições agudas Banff I e II ................. 47

Figura 10. Expressão de linfócitos B nos diferentes grupos de nefropatia crônica do enxerto. ............................................................. 48

Figura 11. Nível da creatinina de acordo com a presença e o padrão do infiltrado de linfócitos B no momento da biópsia ................................. 50

Figura 12. Creatinina sérica nos grupos CD20 negativo e CD20 positivo ............ 50

Figura 13. Creatinina sérica nos grupos CD20 negativo e padrão nodular .......... 51

Figura 14. Creatinina sérica nos grupos padrão de células isoladas e padrão nodular .................................................................................... 51

Figura 15. Sobrevida do enxerto renal nos grupos CD20 negativo e CD20 positivo ...................................................................................... 52

Figura 16. Sobrevida do enxerto renal nos grupos CD20 negativo e padrão nodular .................................................................................... 53

Page 22: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Figura 17. Sobrevida do enxerto renal nos grupos padrão isolado e padrão nodular .................................................................................... 53

Figura 18. REJEIÇÃO AGUDA. Plasmócitos presentes no infiltrado intersticial ............................................................................................ 54

Figura 19. Expressão de plasmócitos nas rejeições agudas Banff I e II .............. 55

Figura 20. Nível da creatinina de acordo com a presença do infiltrado de plasmócitos no momento da biópsia ................................................... 56

Figura 21. Creatinina sérica nos grupos CD138 negativo e CD138 positivo ........ 57

Figura 22. Sobrevida do enxerto renal nos grupos CD138 negativo e CD138 positivo .................................................................................... 58

Figura 23. Expressão de plasmócitos nos grupos CD20 negativo e CD20 positivo ...................................................................................... 59

Figura 24. Expressão de plasmócitos nos grupos CD20+ padrão de células isoladas e CD20+ padrão nodular ....................................................... 59

Figura 25. Porcentagem dos casos CD20 positivos nos grupos C4d negativo e C4d positivo ............................................................... 60

Figura 26. Número de células CD20+ nos grupos C4d negativo e C4d positivo ........................................................................................ 61

Figura 27. Porcentagem dos casos CD138 positivos nos grupos C4d negativo e C4d positivo ............................................................... 62

Figura 28. Número de células CD138+ nos grupos C4d negativo e C4d positivo ........................................................................................ 63

Page 23: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Resumo dos principais estudos sobre a detecção do fragmento C4d em biópsias de enxerto renal .................................. 12

Tabela 2. Análise das biópsias incluídas no estudo, de acordo com o diagnóstico histológico ..................................................................... 22

Tabela 3. Análise das biópsias incluídas no estudo do fragmento C4d, de acordo com o diagnóstico histológico ......................................... 24

Tabela 4. Análise das biópsias incluídas no estudo dos linfócitos B, de acordo com o diagnóstico histológico ......................................... 25

Tabela 5. Concordância entre a técnica de imunofluorescência em criostato e as demais técnicas para a detecção do C4d .................. 40

Tabela 6. Correlação entre a técnica de imunofluorescência em criostato e as demais técnicas para a detecção do C4d ................................ 40

Tabela 7. Positividade para o fragmento C4d em biópsias de enxerto renal (imunofluorescência em criostato) .......................................... 41

Tabela 8. Expressão dos linfócitos B em biópsias de aloenxerto renal ........... 46

Tabela 9. Expressão dos plasmócitos em biópsias de aloenxerto renal e a relação entre plasmócitos e linfócitos B (CD20+) .......................... 55

Tabela 10. Análise da expressão do fragmento C4d em relação ao padrão de infiltrado de linfócitos B ............................................... 62

Tabela 11. Correlação entre linfócitos B (CD20+ e CD138+) e fragmento C4d (teste de Spearman) ....................................................................... 63

Page 24: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

RESUMO

Ludovico-Martins, H. Análise da detecção de C4d, linfócitos B e

plasmócitos no processo de rejeição ao aloenxerto renal [tese]. São

Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2010.

A rejeição ao aloenxerto mediada por mecanismos celulares ou humorais

representa uma importante complicação no pós-transplante renal. Estudos

anteriores demonstraram que o depósito de C4d peritubular é um marcador

de rejeição mediada por anticorpos. A técnica padrão ouro para a pesquisa

de C4d é a imunofluorescência em criostato. No entanto, o manuseio do

material congelado implica em algumas limitações custo-operacionais,

particularmente em nosso meio. Nos casos de rejeição mediada por

anticorpos é de relevância patogenética a análise da participação de

linfócitos B e plasmócitos, pois são as células responsáveis pela produção

de anticorpos. Considerando que até o momento o envolvimento de linfócitos

B e plasmócitos no processo de rejeição foi pouco investigado, no presente

estudo também será analisada a expressão de CD20 e CD138 em biópsias

renais, para caracterização destes componentes celulares. Portanto, o

objetivo do presente estudo foi analisar a detecção do fragmento C4d por

meio de 4 diferentes técnicas, além de analisar o infiltrado de linfócitos B e

plasmócitos em biópsias de enxerto renal, correlacionando estes achados

com o C4d peritubular. Foram analisadas 107 biópsias de 82 pacientes

submetidos a transplante renal. A pesquisa do C4d foi realizada utilizando-se

as técnicas de imunofluorescência [IF] (em cortes de criostato e de parafina)

e imuno-histoquímica [IH] (em cortes de criostato e de parafina), enquanto

que as pesquisas dos linfócitos B e plasmócitos foram realizadas pela

técnica de IH em cortes de parafina utilizando-se os anticorpos anti-CD20 e

anti-CD138, específicos para linfócitos B e plasmócitos, respectivamente.

Com relação à detecção de C4d, as técnicas com maior índice de

concordância com a IF-criostato, considerada padrão-ouro, foram IH-

Page 25: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

criostato (75,6% dos casos apresentaram resultados coincidentes, r=0,72;

p<0,0001) e IF-parafina (73%, r=0,59; p=0,0001), enquanto a taxa de

concordância na técnica de IH-parafina foi de apenas 51,4% (r=0,35;

p=0,03). Analisando a evolução clínica, a sobrevida do enxerto renal em 3

anos pós-biópsia foi menor no grupo C4d positivo comparado ao grupo C4d

negativo (67% vs 96%, respectivamente, p=0,01). A prevalência de linfócitos

B (CD20+) foi de 54% das biópsias de enxerto renal. A análise histológica do

infiltrado de linfócitos B revelou 2 padrões distintos de infiltrado: padrão de

células isoladas (74%) e padrão nodular (26%). O padrão nodular esteve

associado a uma menor sobrevida do enxerto renal em 3 anos pós-biópsia

(61% vs 89% no grupo CD20 negativo; p=0,03; e 61% vs 87% no grupo

padrão de células isoladas; p=0,03). A prevalência de plasmócitos (CD138+)

em biópsias de enxerto renal foi de 59%. O infiltrado plasmocitário não

esteve associado a uma pior evolução clínica do transplante. A análise da

correlação entre C4d peritubular, linfócitos B e plasmócitos demonstrou que

o número de células CD20+ e CD138+ foi significativamente maior nos casos

C4d positivos comparados aos casos C4d negativos (CD20+: 155±53 vs

26±7 cels/mm2, respectivamente; p=0,001; CD138+: 46±22 vs 4±1 cels/mm2,

respectivamente; p=0,002). O presente estudo concluiu que o depósito

peritubular de C4d e o infiltrado de linfócitos B, em especial o padrão

nodular, estão associados a uma evolução clínica desfavorável do

transplante renal. Outra conclusão importante é que há uma associação

positiva entre os infiltrados de linfócitos B e de plasmócitos com o C4d

peritubular, sugerindo um possível papel destas células responsáveis pela

produção de anticorpos na ativação do sistema complemento in situ.

Finalmente, as técnicas de IH-criostato e IF-parafina podem ser

consideradas técnicas alternativas à técnica de IF-criostato para a detecção

do C4d.

Descritores

1. Transplante de rim; 2. Rejeição de enxerto; 3. Linfócitos B; 4. Plasmócitos;

5. Via clássica do complemento; 6. Imuno-histoquímica; 7. Imunofluorescência.

Page 26: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

SUMMARY

Ludovico-Martins, H. Analysis of C4d, B lymphocytes and plasma cells

detection in the renal allograft rejection [thesis]. São Paulo: Faculdade

de Medicina, Universidade de São Paulo; 2010.

Allograft rejection mediated by cellular or humoral mechanisms represents an

important complication after kidney transplantation. Capillary C4d deposition

was recognized as a specific and independent prognostic marker of antibody

mediated rejection. The gold standard technique for C4d detection is the

immunofluorescence in cryostat sections. However, this technique involves

some operating and costs limitations, particularly in Brazil. In antibody

mediated rejection, the analysis of B lymphocytes and plasma cells is of

pathogenetic relevance since these cells are responsible for antibody

production. Considering that the involvement of B lymphocytes and plasma

cells in the rejection process is not clear, in this study the CD20 and CD138

expression in kidney biopsies will be also analyzed. Therefore, the aim of the

present study was to analyze the C4d detection by 4 different techniques and

the infiltration of B lymphocytes and plasma cells in renal allograft biopsies,

correlating these findings with the capillary C4d deposition. One hundred and

seven biopsies of 82 renal transplant patients were analyzed. C4d was

evaluated by immunofluorescence (IF) and immunohistochemistry (IHC)

techniques in frozen and paraffin sections (obtained from the same patients),

whereas B-lymphocytes and plasma cells were evaluated by

immunohistochemistry in paraffin sections using specific antibodies anti-B

Lymphocytes (CD20) and anti-plasma cells (CD138). Regarding the C4d

detection, the techniques with higher concordance rate with frozen-IF,

considered the gold standard, were the frozen-IHC technique (85.4% of

cases showed coincident results, r=0.72; p<0.0001) and the paraffin-IF

Page 27: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

technique (73%, r=0.59; p=0.0001), whereas the concordance rate in the

paraffin-IHC technique was only 51.4% (r=0.35; p=0.03). The clinical follow

up analysis demonstrate that C4d positive group was associated with a poor

graft survival at 3 years post-diagnosis (67% vs 96% in C4d negative group;

p=0.01). The histological analysis of mature B cells (CD20+) infiltrate showed

2 distinct patterns: scattered cells and clusters. The cluster pattern was

associated with poor graft survival at 3 years (61% vs 89% in the CD20

negative group; p=0.03; and 61% vs 87% in the CD20+ scattered pattern

group; p=0.03). The plasma cells infiltrate was not associated with a worse

clinical transplant outcome. The analysis of the capillary C4d and B

lymphocytes correlation demonstrate that the number of CD20+ and CD138+

cells was significantly higher in C4d positive cases (CD20+: 155±53 vs 26±7

cells/mm2, respectively; p=0.001; CD138+: 46±22 vs 4±1 cells/mm2,

respectively; p=0.002). This study concluded that C4d capillary and mature B

cells (clusters pattern) are associated with worse graft survival. Another

important conclusion is a positive association between B lymphocytes

(mature B cells and plasma cells) and capillary C4d, suggesting a possible

role of these cells, responsible for antibodies production, in the in situ

complement system activation. Finally, the frozen-IHC and paraffin-IF

techniques may be considered alternative to frozen-IF technique for C4d

detection.

Descriptors

1. Kidney transplantation; 2. Graft rejection; 3. B-lymphocytes; 4. Plasma

cells; 5. Complement pathway, classical; 6. Immunohistochemistry; 7.

Fluorescent antibody technique

Page 28: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

1

I. INTRODUÇÃO

O transplante renal é considerado a melhor opção terapêutica para

pacientes com doença renal crônica, possibilitando recuperar a homeostase

volêmica e metabólica, refletindo em melhor qualidade de vida (KAPLAN et

al., 2004; SAYEGH et al., 2004).

Apesar dos avanços técnico/cirúrgico do transplante e do advento de

novas e potentes drogas imunossupressoras a perda do enxerto por rejeição

ainda representa uma importante barreira a ser vencida para se alcançar o

sucesso total desta modalidade terapêutica. A ocorrência de algumas formas

graves de rejeição, a despeito dos potentes agentes imunossupressores

disponíveis, despertaram interesse no estudo de novos mediadores

imunológicos envolvidos na rejeição ao aloenxerto renal.

Em 1990, observando a evolução desfavorável de alguns casos de

rejeição aguda, Halloran e colaboradores constataram a existência de um

tipo grave de rejeição aguda, que evoluia com rápida deterioração da função

do enxerto renal e era acompanhada do desenvolvimento de anticorpos

contra antígenos HLA classe I do doador (HALLORAN et al., 1990). Em 1991

Feucht e colaboradores estudaram de forma pioneira a expressão da fração

C4d em biópsias de enxerto renal (FEUCHT et al., 1991). Estes autores, em

1993, demonstraram que a presença do fragmento C4d em capilares

peritubulares refletia um fenômeno de aloreatividade humoral com forma

grave de rejeição (FEUCHT et al.,1993). Desde então, diversos estudos

foram realizados para caracterizar esta nova modalidade de rejeição

humoral.

Page 29: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

2

Em 1995, Lobo e colaboradores demonstraram haver uma menor

sobrevida do enxerto renal em casos de rejeição aguda mediada por

anticorpos anti-doador desenvolvidos no pós-transplante (LOBO et al.,

1995). Porém, foi o grupo de Feucht que, buscando correlacionar esta forma

grave de rejeição com pior prognóstico do enxerto e o depósito de C4d em

capilares peritubulares, concluiu que a presença do fragmento C4d em

capilares peritubulares é o preditor mais importante para a perda do enxerto

renal (LEDERER et al., 2001).

Um passo importante nos estudos do depósito do fragmento C4d em

biópsias renais foi a publicação, em 2002, de dois trabalhos que

compararam a presença do C4d em capilares peritubulares e a presença de

anticorpo anti-doador no soro do receptor (colhido no momento da biópsia)

(BÖHMIG et al., 2002; MAUIYYEDI et al., 2002b). Estes estudos foram

fundamentais para confirmar a especificidade do fragmento C4d em

capilares peritubulares como marcador de rejeição mediada por anticorpos

(RMA). Com isto, foi possível definir esta forma grave de rejeição,

inicialmente denominada de rejeição humoral aguda e que posteriormente

convencionou-se denominá-la de rejeição mediada por anticorpos aguda

(RMA aguda), caracterizada por depósito de C4d em capilares peritubulares,

presença de anticorpos circulantes específicos anti-doador e prova cruzada

positiva pós-transplante.

Os conhecimentos gerados a partir destes estudos foram de grande

importância e tiveram como impacto a alteração da classificação de BANFF,

proposta na reunião de junho/2003 (RACUSEN et al., 2003).

Page 30: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

3

Os critérios de BANFF-97 tradicionalmente classificavam as biópsias

renais como: I) Normal; II) Rejeição humoral (hiperaguda/aguda acelerada);

III) Alterações borderline; IV) Rejeição aguda (celular e vascular); V)

Nefropatia crônica do enxerto; VI) Outros (RACUSEN, et al., 1999). Com o

advento da detecção do fragmento C4d em capilar peritubular como

marcador de rejeição mediada por anticorpos, foi criada uma nova

classificação: I) Normal; II) Rejeição mediada por anticorpos (aguda e

crônica); III) Alterações Borderline; IV) Rejeição mediada por linfócitos T

(aguda e crônica); V) Fibrose intersticial e atrofia tubular (sem etiologia

específica); VI) Outros (SOLEZ et al., 2008) (Anexo A).

I.1. Rejeição mediada por anticorpos – Definição diagnóstica

Embora a rejeição mediada por linfócitos T seja a forma mais comum

de rejeição, RMA acomete uma fração substancial de pacientes com enxerto

renal, 21 a 51% (FEUCHT, 2003; MENGEL et al. 2005), e constitui uma das

principais causas de perda aguda do enxerto (TRUONG et al,

2007;VATHSALA, 2005).

A detecção do fragmento C4d em biópsia de enxerto renal é

considerada um marcador específico da RMA, apresentando uma

especificidade de 96% e uma sensibilidade de 95% (MAUIYYEDI et al.,

2002b). Com a utilização deste marcador, foi possível demonstrar que a

RMA não é exclusiva do período pós-transplante imediato (rejeição

hiperaguda), mas ocorre também, nos primeiros meses pós-transplante

(RMA aguda) e no seguimento tardio dos pacientes (RMA crônica).

Page 31: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

4

I.1.1) Rejeição mediada por anticorpos aguda (RMA aguda)

Ao contrário da rejeição hiperaguda, que ocorre devido à existência

de anticorpos pré-formados (resultado de um estado imunológico de

sensibilização prévia), a rejeição RMA aguda pode ocorrer em pacientes não

sensibilizados previamente, pois é mediada tanto por anticorpos pré-

formados (mais frequente) quanto por anticorpos anti-doador “de novo”

(BÖHMIG et al., 2002; FEUCHT, 2003; MENGEL et al. 2005; COLVIN,

2007). Estes anticorpos são possivelmente anti-HLA e/ou anti-endotélio, que

ativam a via clássica do sistema complemento. Nestes casos, anticorpos

circulantes anti-doador são freqüentemente detectados e a prova cruzada

pós-transplante é positiva (prova cruzada positiva “de novo”) (COLLINS et

al., 1999; BÖHMIG et al., 2002).

A prevalência de RMA aguda varia de 2,5 a 10% dos transplantes

renais (WATSCHINGER et al., 2002; MENGEL et al., 2005; TRUONG et al.,

2007; MATL et al., 2008; SLATINSKA et al., 2009), sendo que em 20 a 30%

das rejeições agudas existe um componente humoral isolado ou em

associação ao componente celular (linfócito T) (WATSCHINGER et al., 2002;

FEUCHT, 2003; TRUONG et al., 2007; MATL et al., 2008).

Clinicamente, a RMA aguda pode apresentar-se com deterioração

brusca da função renal, retardo da função do enxerto ou na forma de

síndrome hemolítica-urêmica e, em geral, apresenta baixa taxa de resposta

ao tratamento convencional anti-rejeição (CRESPO et al., 2001; MAUIYYEDI

et al., 2002a; MOLL et al., 2005; LUDOVICO-MARTINS et al., 2006).

Page 32: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

5

Os achados histológicos da RMA aguda incluem algumas

características de rejeição celular aguda, como a presença de infiltrado

intersticial composto por linfócitos e macrófagos e tubulite, presentes em

mais de 50% dos casos. A presença de lesão vascular caracterizada por

endarterite é menos freqüente (ocorre em torno de 25% dos casos)

(MAUIYYEDI et al., 2002b; MAUIYYEDI et al., 2002a). Os achados

histológicos característicos de RMA aguda, conforme atualização da

classificação de Banff 97, incluem: neutrófilos em capilares peritubulares,

necrose fibrinóide de arteríolas e lesão tubular aguda (RACUSEN et al.,

2003). Muitas vezes, o aspecto histológico é o de necrose tubular aguda e,

nestes casos, o diagnóstico se baseia na demonstração da atividade

humoral contra os antígenos do doador. Isto pode ser evidenciado pela

positividade da prova cruzada pós-transplante conseqüente ao aparecimento

de anticorpos anti-HLA do doador e pela detecção do fragmento C4d no

capilar peritubular consequente à ativação do sistema complemento pelo

imunocomplexo antígeno-anticorpo.

Em resumo, os critérios para o diagnóstico de RMA aguda incluem:

a) Evidência imunopatológica da reação humoral

através da detecção de depósitos de C4d em capilares peritubulares

b) Evidência morfológica de lesão tecidual

Presença de pelo menos 1 das seguintes alterações:

- neutrófilos em capilares peritubulares

- necrose fibrinóide em artérias

- lesão tubular aguda

c) Evidência sorológica de anticorpos circulantes específicos anti-doador

anticorpos anti-HLA ou contra outros antígenos do endotélio.

Page 33: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

6

Dentre os objetivos dos esquemas terapêuticos propostos para a

rejeição mediada por anticorpos aguda destacam-se a supressão da

resposta dos linfócitos T (com a utilização da globulina antitimócito [ATG]), a

eliminação dos anticorpos circulantes (com o emprego de sessões de

plasmaferese), a inibição dos anticorpos residuais (com a administração de

imunoglobulina intravenosa IgIV) e, mais recentemente, a supressão ou

depleção de linfócitos B (com a administração de rituximab) (ROCHA et al.,

2003; FEUCHT, 2003; LEHRICH et al., 2005; TRUONG et al., 2007; SINGH

et al., 2009).

I.1.2) Rejeição mediada por anticorpos crônica (RMA crônica)

Os estudos recentes, analisando a expressão de C4d em biópsias de

enxerto renal e sua relação com a RMA, têm observado que algumas

rejeições crônicas, em especial aquelas que evoluem mais rapidamente para

a perda do enxerto renal, estão associadas com um componente humoral

ativo.

Assim como na RMA aguda, a RMA crônica pode ser mediada tanto

por anticorpos pré-formados, quanto por anticorpos anti-doador “de novo”.

Porém, a RMA crônica é mais frequentemente mediada por anticorpos anti-

doador “de novo” (FEUCHT, 2003; COLVIN, 2007; SOLEZ et al., 2007). Isto

se deve provavelmente pelo fato de, ao longo de vários anos pós-

transplante, ocorrer uma sensibilização lenta e progressiva do receptor ao

enxerto (FEUCHT, 2003).

Page 34: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

7

Na nefropatia crônica do enxerto, a prevalência de RMA crônica está

em torno de 34%, mas pode chegar até 62% (REGELE et al., 2002; DAVID-

NETO et al., 2007). Analisando apenas casos de rejeição crônica, esta

prevalência sobe para 60% (FEUCHT, 2003; MAUIYYEDI et al., 2001).

Os achados histológicos mais freqüentes de RMA crônica incluem a

glomerulopatia crônica do transplante com a duplicação da membrana basal

dos capilares peritubulares, presentes em mais de 50% dos casos

(MAUIYYEDI et al., 2001; REGELE et al., 2002), além de atrofia tubular e

neutrófilos em capilares peritubulares (REGELE et al., 2002; FEUCHT, 2003;

COLVIN, 2007; SOLEZ et al., 2007). Outros achados histológicos que

podem acompanhar a RMA crônica são: depósitos de células inflamatórias

mononucleares em capilares peritubulares, glomerulite e infiltrado intersticial

de plasmócitos (SOLEZ et al., 2007).

Em resumo, os critérios para o diagnóstico de RMA crônica incluem:

a) Evidência imunopatológica da reação humoral

através da detecção de C4d em capilares peritubulares

b) Evidência morfológica de lesão tecidual

Presença de pelo menos 1 das seguintes alterações:

- glomerulopatia do transplante

- duplicação da membrana basal dos capilares peritubulares

- fibrose intersticial / atrofia tubular

- fibrose intimal das artérias sem duplicação da camada elástica

c) Evidência sorológica de anticorpos circulantes específicos anti-doador

anticorpos anti-HLA ou contra outros antígenos do endotélio.

Page 35: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

8

Apesar de estudos recentes sugerirem um componente humoral ativo

em alguns casos de rejeição crônica, ainda não há uma conduta terapêutica

proposta para estes casos. Recentemente, Ferreira e colaboradores

demonstraram que enxertos renais com disfunção crônica e depósito de

fragmento C4d se beneficiaram da substituição do inibidor de calcineurina

(tacrolimo ou ciclosporina) pelo sirolimo, com aumento da sobrevida do

enxerto renal em 2 anos de seguimento (FERREIRA et al., 2009).

I.2. Fragmento C4d

I.2.1) Origem da fração C4d no sistema complemento

O sistema complemento é um componente termolábil constituído por

proteínas inativas presentes em grandes quantidades no plasma e em

superfícies celulares, que auxilia na reposta imune. Existem duas formas

principais de ativação do complemento: a via clássica, ativada por

complexos imunes e a via alternativa, ativada diretamente quando o sistema

complemento (via fração C3) entra em contato com uma superfície não-

própria (como por exemplo, membrana celular bacteriana) (WALPORT,

2002).

O resultado da ativação da cascata do complemento é a formação de

um complexo de ataque à membrana (MAC – membrane attack complex). A

unidade funcional do MAC é um poro que se insere na camada lipídica da

membrana que altera sua permeabilidade seletiva, permitindo a entrada de

água, íons e pequenas moléculas para o citosol da célula-alvo, levando à

sua ruptura (lise) (WALPORT, 2002).

Page 36: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

9

O fragmento C4d é originado a partir da via clássica do sistema

complemento. Como apresentado de forma esquemática na figura 1A, a

ativação da via clássica inicia-se pela interação do imunocomplexo com a

fração C1q, promovendo uma modificação conformacional no complexo

C1qrs, que resulta na ativação do C1s. O C1s ativado cliva o componente

C4, gerando dois fragmentos, o C4a e o C4b. O fragmento C4b liga-se à

superfície celular e associa-se ao C2, originando C4b2a, também chamado

C3-convertase, que posteriormente cliva o C3, gerando C3a e C3b. O C3b

liga-se ao C4b2a formando a C5-convertase que culmina, após

subseqüentes etapas de ativação, no C5b-9 também chamado de MAC

(WALPORT, 2002).

Um dos mecanismos de regulação deste processo de ativação do

complemento ocorre através da ação do fator I presente no plasma que,

juntamente com a proteína co-fator da membrana (MCP – Membrane Co-

factor Protein), cliva C4b formando C4c e C4d (Figura 1B). Estes dois

fragmentos são inativos e não apresentam efeitos patológicos (PLATT,

2002). No entanto, o fragmento C4d, capaz de se ligar de forma covalente às

estruturas da membrana celular, permanece fixado no tecido por vários dias

ou mesmo semanas após a ativação do sistema complemento, tornando sua

detecção possível em fases mais tardias, quando outros componentes do

complemento já não são mais detectados (MOLL et al., 2005).

Page 37: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

10

Adaptado de Mark Walport - Imunologia, 4a Ed, 2002 Figura 1. A: Cascata de eventos do sistema complemento (via clássica). B: Formação do fragmento C4d, a partir da clivagem do C4b pelo fator I e pela proteína co-fator da membrana (MCP)

Assim, a detecção do fragmento C4d em biópsias de enxerto renal

possibilita a caracterização do envolvimento da via clássica do sistema

complemento no processo de rejeição aguda ao aloenxerto.

MEMBRANA

Complexo imune

Ag-AC

C4

C3

C1q

C1r C1r

C1s C1s

C4b2a3b

C5 convertaseC3 convertase

C4a

C4b

C4b C4b2

C2b

C4b2a C3b

C3a

C3b

A

C2

MEMBRANA

Complexo imune

Ag-AC

C4

C3

C1q

C1r C1r

C1s C1s

C4b2a3b

C5 convertaseC3 convertase

C4a

C4b

C4b C4b2

C2bC2b

C4b2aC4b2a C3b

C3a

C3b

A

C2

C4

C3

C1r C1r

C1s C1s

C4b2a3b

C5 convertaseC3 convertase

C4a

C4b

C4b

C2b

C4b2a C3b

C3a

C3b

B

C2

C4dMCP

Fator IC4b2

MEMBRANA

C1q

Complexo imune

Ag-AC

C4

C3

C1r C1r

C1s C1s

C4b2a3b

C5 convertaseC3 convertase

C4a

C4b

C4b

C2bC2b

C4b2aC4b2a C3b

C3a

C3b

B

C2

C4dMCP

Fator IC4d

MCP

Fator IC4b2

MEMBRANA

C1q

Complexo imune

Ag-AC

Page 38: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

11

I.2.2) C4d em transplante renal

Um resumo dos principais trabalhos sobre a detecção do fragmento

C4d em transplante renal é apresentado na tabela 1.

Com os conhecimentos acumulados acerca do fragmento C4d, sabe-

se que, em rim normal, não há depósito de C4d em capilares peritubulares.

Eventualmente, C4d pode ser detectado nos glomérulos, em região

mesangial (como resultado da ativação fisiológica do sistema complemento)

ou em alça capilar (em casos de toxicidade por inibidores da calcineurina,

síndrome hemolítica-urêmica ou recorrência da glomerulonefrite) (COLLINS

et al., 1999; FEUCHT et al., 2005; SEEMAYER et al., 2007). Porém, nos

casos considerados C4d positivos, o depósito deste fragmento é detectado

em capilares peritubulares, indicando a ativação da via clássica do

complemento, sendo considerado marcador de rejeição mediada por

anticorpos. Estudos com dupla marcação evidenciaram que os depósitos de

C4d localizam-se na membrana basal (no colágeno tipo IV) e no endotélio

(FEUCHT et al., 2005; SEEMAYER et al., 2007).

Page 39: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

12

Tabela 1. Resumo dos principais estudos sobre a detecção do fragmento C4d em

biópsias de enxerto renal

Estudo Comentários

Zwirner, Feucht et al., 1989

Primeiro estudo detectando C4d em tecido renal

Feucht et al., 1991

Primeiro trabalho a analisar a expressão de C4d em transplante renal

Presença de C4d em capilares peritubulares em casos de alto risco imunológico (painel de reatividade alto, retransplante)

Feucht et al., 1993

A presença de depósitos de C4d em capilares peritubulares correlaciona-se com rejeições agudas graves e perda precoce do enxerto

Collins, Colvin, et al., 1999

Crespo, Colvin et al., 2001 Mauiyyedi, Colvin et al., 2002b Bohmig, Regele et al 2002

Confirma que C4d é crucial para o diagnóstico de RMA aguda, associado com a presença de anticorpos circulantes específicos anti-doador

Lederer, Feucht et al., 2001

A deposição de C4d em capilares peritubulares é um fator independente de pior sobrevida do enxerto renal

Takeuchi et al., 2000

Primeiro trabalho a identificar C4d em rejeições crônicas

Mauyyedi et al., 2001

Introdução do conceito de “RMA crônica”

Regele et al., 2002

O fragmento C4d na RMA crônica está associado principalmente ao achado morfológico de glomerulopatia crônica do transplante

Racusen et al., 2003 Foi proposta a alteração da classificação de BANFF-97, incluindo a RMA (aguda e crônica)

Seemayer et al., 2007 A técnica de IF-criostato é mais sensível do que a técnica de IH-parafina

Colvin, 2007 Foi introduzido o conceito de “acomodação” (presença do anticorpo anti-doador no soro e do fragmento C4d em capilares peritubulares, porém sem alterações histológicas de RMA e sem disfunção do enxerto renal)

Singh et al., 2009 Foi proposta uma abordagem terapêutica racional para as rejeições mediadas por anticorpos.

Page 40: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

13

Mais recentemente, foi proposta uma teoria para tentar explicar os

mecanismos envolvidos na RMA. De acordo com esta teoria, o primeiro

evento (estágio I) é a produção de anticorpos circulantes anti-doador. No

estágio II, os anticorpos circulantes interagem com os aloantígenos,

resultando na deposição do fragmento C4d em capilares peritubulares. Em

consequência à interação antígeno-anticorpo, surgem as alterações

histológicas da rejeição humoral (estágio III) e, por fim, ocorre a

manifestação clínica da RMA, ou seja, a disfunção do enxerto (estágio IV).

No estágio IV, em alguns casos, os anticorpos circulantes e, eventualmente,

o fragmento C4d já não estão presentes (COLVIN, 2007). Esta teoria

também introduz o conceito “acomodação”, o qual é definido pela presença

do anticorpo anti-doador no soro e do fragmento C4d em capilares

peritubulares, porém sem alterações histológicas características de RMA e

sem disfunção do enxerto (estágios I e II) (COLVIN, 2007).

Segundo Colvin, a “acomodação” talvez ocorra por uma “resistência”

desenvolvida pelo enxerto. Estudos in vitro demonstraram alterações na

natureza dos anticorpos anti-doador e uma redução no número de antígenos

alvos, redução esta mediada por múltiplos mecanismos (internalização,

downregulation, inativação e inibição). Porém, estes achados não foram

confirmados em casos de transplantes ABO-incompatíveis que

apresentaram o evento de acomodação (COLVIN, 2007).

Page 41: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

14

I.3. Linfócitos B - Plasmócitos

Até recentemente, pouca atenção foi dada à participação dos

linfócitos B e plasmócitos no mecanismo de rejeição em transplantes de

órgãos sólidos (TSAI et al., 2006). Embora esteja bem estabelecido o papel

dos linfócitos B e plasmócitos como células responsáveis pela produção de

anticorpos, a associação destas células com o C4d não está clara. Portanto,

torna-se necessário uma melhor avaliação no que diz respeito à relação

entre linfócitos B e plasmócitos e a rejeição mediada por anticorpos no

aloenxerto renal.

I.3.1) Maturação, ativação e diferenciação dos linfócitos B

Os linfócitos B passam por três processos básicos durante seu

desenvolvimento: maturação, ativação e diferenciação. O processo de

maturação ocorre na medula óssea e é independente da presença de

antígenos. Os demais ocorrem nos órgãos linfóides secundários (periféricos)

e são dependentes da presença de antígenos (ABBAS et al., 2000;

LYDYARD et al., 2000; CARTER, 2006).

A maturação dos linfócitos B segue etapas sequenciais (Figura 2).

Resumidamente, na medula óssea, a célula tronco hematopoiética

diferencia-se em célula pró-B (célula precursora de linfócitos B), que por sua

vez se diferencia em célula pré-B, que se diferencia em célula B imatura e

que, finalmente se diferencia em célula B madura. As células B maduras são

lançadas na corrente sanguínea e migram para os órgãos linfóides

secundários (periféricos), onde permanecem nos centros germinativos e,

Page 42: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

15

quando estimuladas, dão origem aos dois processos subseqüentes, a

ativação e a diferenciação (LYDYARD et al., 2000; CARTER, 2006).

A maioria dos linfócitos B maduros expressa dois isotipos de

imunoglobulina em sua superfície, IgM e IgD. Estas imunoglobulinas estão

ligadas de forma não-covalente (por pontes dissulfeto) à Igα e Igβ, formando

o “complexo receptor de antígeno em célula B” (RCB) (ABBAS et al., 2000;

LYDYARD et al., 2000).

Adaptado de Ludovico-Martins H e Noronha IL – Atualidades em Nefrologia 10, 2008.

Figura 2. Linfopoiese da célula B (seqüência da diferenciação dos linfócitos B)

Vaso sanguíneo

Medula Óssea (fase antígeno-independente)

Célula tronco Célula pró-B Célula pré-B Célula B imatura Célula B madura

Plasmócito

Linfonodo – Centro Germinativo (fase antígeno-dependente)

Zona escura

Zona basal clara

Zona apical clara

Centroblasto

Centrócito

Célula B de

memória

Blastos de Células B

Vaso sanguíneo

Medula Óssea (fase antígeno-independente)

Célula tronco Célula pró-B Célula pré-B Célula B imatura Célula B madura

Plasmócito

Linfonodo – Centro Germinativo (fase antígeno-dependente)

Zona escura

Zona basal clara

Zona apical clara

Centroblasto

Centrócito

Célula B de

memória

Blastos de Células B

Page 43: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

16

A ativação dos linfócitos B inicia-se com a interação do antígeno ao

RCB. Esta interação gera uma cascata de eventos na membrana celular

que, por meio da ativação dos segundos mensageiros, inositol trifosfato

(Ca++ dependente) e diacilglicerol (via proteína quinase-C), resultará na

proliferação e diferenciação dos linfócitos B (ABBAS et al., 2000; LYDYARD

et al., 2000).

Uma vez ativados, os linfócitos B sofrem o processo de diferenciação

que dará origem às células produtoras de anticorpos e às células de

memória.

Os linfócitos B ativos expressam um maior número de moléculas de

classe II do complexo principal de histocompatibilidade, de moléculas co-

estimulatórias (B7) e de receptores de membrana para citocinas derivadas

de linfócitos T auxiliares. Tais alterações permitem que linfócitos B ativados

interajam e respondam aos mediadores secretados pelos linfócitos T

auxiliares. É esta a interação fundamental para que ocorra a formação de

linfócitos B de memória (ABBAS et al., 2000).

Vale ressaltar que, dependendo do antígeno, o linfócito B responde de

maneira mais ou menos elaborada. Quando se trata de um antígeno não-

protéico (lipopolissacarídeos-LPS, glicolípides e ácidos nucléicos), há uma

ativação direta do linfócito B, levando à proliferação policlonal das células B

produtoras de anticorpos (plasmócitos) sem que haja, no entanto, a

formação de memória. Em contrapartida, se o antígeno é protéico, a

resposta é mais elaborada, levando à interação entre linfócitos B e linfócitos

T. Esta interação resulta na produção de anticorpo e na formação de

Page 44: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

17

linfócitos B de memória. Portanto, a diferenciação dos linfócitos B em células

de memória é um processo T-dependente (ABBAS et al., 2000).

I.3.2) Funções imunológicas dos linfócitos B

Os linfócitos B têm um papel chave na resposta imune. Além da

produção de anticorpos, eles também atuam como células apresentadoras

de antígenos e possuem a capacidade de memória.

Produção de anticorpos. Os linfócitos B produzem anticorpos de 5

classes principais: IgG, IgM, IgA, IgE, IgD. Cada plasmócito em estágio final

de diferenciação produz anticorpos de uma única classe ou subclasse.

O processo de produção de anticorpos inicia-se com o reconhecimento

do antígeno pelo linfócito B, através da interação dos epítopos antigênicos

ao RCB. Esta interação, conforme descrito acima, promove uma cascata de

eventos que, além de resultar na ativação dos linfócitos B, leva à seleção de

imunoglobulinas com afinidade para o antígeno em questão. Os epítopos

ligados ao RCB formam um complexo que é fagocitado pelo linfócito B e,

uma vez no interior da célula, este complexo ativa genes de endonucleases

específicas que inibem a produção das imunoglobulinas inespecíficas,

deixando ativados apenas aqueles responsáveis pela síntese de um isotipo

específico de imunoglobulina (por exemplo, IgG). Este isotipo de

imunoglobulina é, portanto, específico contra o antígeno em questão, e é

então liberada na circulação (MOTTA Jr, 2002).

Linfócitos B como células apresentadoras de antígenos (APC). A

interação entre um antígeno protéico com o RCB resulta na sua

Page 45: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

18

internalização por um processo de endocitose, seguido por sua digestão nos

lisosomos e pela formação de vários peptídeos. Estes peptídeos interagem

com as moléculas de classe II do complexo principal de

histocompatibilidade, e o complexo peptídeo/MHC II é transportado para a

superfície da célula para ser apresentado às células T auxiliares (ABBAS et

al., 2000; BATISTA et al., 2001; RODRIGUEZ-PINTO et al., 2005; CARTER,

2006).

Com a apresentação do antígeno, ocorre o contato intercelular entre o

linfócito B e linfócito T mediado pelas moléculas CD40 e gp39. A interação

intercelular estimula a secreção de citocinas por parte do linfócito T (IL-2, IL-

4, IL-5, IL-10, IL-13 e IFN-γ). Tanto o contato intercelular, como as citocinas

são estímulos que levam à intensa proliferação dos linfócitos B.

As células B também produzem citocinas, principalmente IL-4, IL-6, IL-

10 e TNF-α, que têm efeitos regulatórios sobre as células dendríticas

apresentadoras de antígeno, e mantêm a sobrevida de outras células

mononucleares (CARTER, 2006).

I.4. Rejeição mediada por anticorpos e linfócitos B

O significado clínico do infiltrado de linfócitos B na rejeição ao

aloenxerto renal continua ainda pouco elucidado, o que justifica o seu

estudo. Além disso, levantamos a hipótese do possível papel dos linfócitos B

e plasmócitos no processo in situ da rejeição mediada por anticorpos.

Entendemos que o estudo dos linfócitos B, plasmócitos e da deposição de

Page 46: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Introdução

19

C4d em casos de rejeição celular e rejeição mediada por anticorpos poderá

trazer novas informações sobre este tema.

Page 47: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Objetivos

20

II. OBJETIVOS

O objetivo do presente estudo foi analisar o depósito do fragmento

C4d e a expressão de linfócitos B e plasmócitos em biópsias de enxerto

renal.

Mais especificamente, os objetivos foram:

1) Comparar as técnicas de detecção do C4d em biópsias de enxerto

renal (imunofluorescência e imuno-histoquímica) em criostato e

parafina, para verificar a possibilidade da aplicação destas técnicas

para a detecção do fragmento C4d e, assim, facilitar a implantação

da pesquisa do fragmento C4d na rotina do transplante;

2) Analisar o depósito do fragmento C4d em biópsias de enxerto renal

para identificar um possível componente humoral nestes casos;

3) Correlacionar a presença do fragmento C4d com a evolução clínica

do transplante renal;

4) Analisar a expressão celular de CD20+ e CD138+, como marcador

de linfócitos B e plasmócitos, em biópsias de enxerto renal,

correlacionando a sua expressão com a evolução clínica do

transplante;

5) Correlacionar a presença de depósitos do fragmento de C4d com a

presença de células CD20+ e CD138+, em biópsias de enxerto

renal, para investigar uma possível participação dos linfócitos B e

plasmócitos na rejeição C4d +.

Page 48: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

21

III. CASUÍSTICA E MÉTODOS

III.1. Casuística

III.1.1) Casuística geral

Trata-se de um estudo retrospectivo realizado a partir da análise de

biópsias de pacientes submetidos a transplante renal na Clínica de

Nefrologia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Foram incluídas 107 biópsias de 82 pacientes submetidos a

transplante renal no período de maio de 1996 a maio de 2007. As biópsias

foram selecionadas de acordo com critérios clínicos (sem rejeição, suspeita

de rejeição aguda e, suspeita de rejeição crônica) e de acordo com critérios

histológicos (baseado na classificação de BANFF-97: “rim histologicamente

normal”, “rejeição aguda” e “nefropatia crônica do enxerto”) e foram divididas

em quatro grupos: biópsias de rim normal adiquiridas no momento da

nefrectomia do doador (grupo Normal; n=10), biópsias que não

apresentaram alterações histológicas compatíveis com rejeição (grupo Sem

Rejeição; n=6), grupo rejeição aguda (RA; n=43) e grupo nefropatia crônica

do enxerto (NCE; n=48). Os dois primeiros grupos foram utilizados como

controle (Tabela 2).

Page 49: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

22

Tabela 2. Análise das biópsias incluídas no estudo, de acordo com o diagnóstico histológico

RA: rejeição aguda; NCE: nefropatia crônica do enxerto; DVR: doador vivo relacionado; DVNR: doador vivo não-relacionado; DF: doador falecido.

Dos 82 pacientes transplantados, 63 eram homens e 19 mulheres. A

idade média dos pacientes foi de 39 ± 14 anos, variando de 13 anos a 70

anos. As causas que levaram ao quadro de doença renal crônica classe V,

em ordem de prevalência, foram: glomerulonefrite crônica (GNC) (n=30;

36,6%), causa indeterminada (n=19; 23,2%), nefropatia diabética (n=13;

15,9%), pielonefrite crônica (n=7; 8,5%), nefroesclerose (n=6; 7,3%), doença

renal policística (DRP) (n=6; 7,3%) e acidente por peçonha (n=1; 1,2%).

Quanto ao tipo de doador utilizado, 32 (39,0%) transplantes foram de doador

vivo relacionado, 16 (19,5%) de doador vivo não-relacionado (cônjuges) e 34

(41,5%) de doador falecido. Das 107 biópsias analisadas, apenas 22 foram

biópsias de segundo transplante (retransplante) enquanto que as demais

(79,5%) constituiram biópsias de primeiro transplante.

Todos os pacientes receberam terapia com três drogas

imunossupressoras, incluindo um inibidor de calcineurina (ciclosporina

Rim Normal

Sem Rejeição

RA NCE

Número de biópsias 10 6 43 48

Tipo de doador 0 DVR

0 DVNR

10 DF

4 DVR

1 DVNR

1 DF

16 DVR

11 DVNR

16 DF

25 DVR

8 DVNR

15 DF

Retransplantes ---- 0 11 (25,6 %) 5 (10,4 %)

Tempo da biópsia (dias do pós-transplante)

---- 379 ± 262 139 ± 71 1068 ± 133

Page 50: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

23

microemulsão, Sandimmun Neoral®, Novartis, Brasil ou tacrolimo, Prograf®,

Janssen Cilag, Brasil), micofenolato mofetil (Cellcept®, Roche, Basiléia,

Suíça) e corticóide. A terapia de indução, com anticorpo policlonal anti-CD3

(Thymoglobuline®, Genzyme, Cambridge, EUA) ou anticorpo monoclonal

anti-CD3 (Orthoclone OKT3®, Ortho Biotech, Bridgewater, EUA), foi usada

em transplantes realizados com doador falecido que evoluíram com oligúria

no pós-transplante imediato e nos casos de retransplante.

Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa –

CAPPesq-HC, nº 577/06 em agosto/2006, do Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Anexo B).

III.1.2) Casuística para análise do fragmento C4d

Devido às dificuldades que limitam o manuseio de fragmentos

congelados, dificuldades estas que vão desde a obtenção do material

(necessidade de um segundo fragmento de biópsia) ao armazenamento

(necessidade de nitrogênio líquido e de freezer -70°C) e à realização do

trabalho propriamente dito (dificuldade em procurar as biópsias no freezer -

70°C), das 107 biópsias conservadas em parafinas e incluídas neste estudo,

apenas 41 biópsias de três grupos (Sem Rejeição, n = 4; RA, n = 12; e

NCE, n = 25) também tiveram seu material congelado disponibilizado e,

portanto, foram incluídos na pesquisa do fragmento C4d (Tabela 3).

Page 51: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

24

Tabela 3. Análise das biópsias incluídas no estudo do fragmento C4d, de acordo com o diagnóstico histológico

RA: rejeição aguda; NCE: nefropatia crônica do enxerto; DVR: doador vivo relacionado; DVNR: doador vivo não-relacionado; DF: doador falecido

III.1.3) Casuística para análise dos linfócitos B

Todas as 107 biópsias incluídas no estudo foram submetidas à

pesquisa para linfócitos B. Para tal, as biópsias foram divididas em 4 grupos,

conforme descrito anteriormente: Normal (n=10), Sem Rejeição (n=6), RA

(n=43) e NCE (n=48). Este último foi subdividido em: NCE com evidências

de nefrotoxicidade pelos inibidores de calcineurina (Nefrotox iCN; n=20) e

outras causas de NCE (NCE outros; n=28) (Tabela 4).

Sem Rejeição

RA NCE

Número de biópsias 4 12 25

Tipo de doador 3 DVR

0 DVNR

1 DF

3 DVR

6 DVNR

3 DF

13 DVR

4 DVNR

8 DF

Retransplantes 0 3 (25 %) 3 (12 %)

Tempo da biópsia (dias do pós-transplante)

89 ± 40 26 ± 5 1024 ± 160

Page 52: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

25

Tabela 4. Análise das biópsias incluídas no estudo dos linfócitos B, de acordo com o diagnóstico histológico

RA: rejeição aguda; NCE: nefropatia crônica do enxerto; Nefrotox iCN: nefrotoxicidade por inibidores de calcineurina; NCE outros: outras causas de NCE; DVR: doador vivo relacionado; DVNR: doador vivo não-relacionado; DF: doador falecido

III.1.4) Casuística para análise dos plasmócitos

Como o principal objetivo do estudo dos plasmócitos foi investigar

uma possível associação entre o infiltrado plasmocitário e o depósito do

fragmento C4d em capilares peritubulares, a pesquisa de plasmócitos foi

realizada nos mesmos 41 casos analisados no estudo do fragmento C4d

(tabela 3).

III.2. Biópsias de enxerto renal

As biópsias foram realizadas na presença de disfunção do enxerto

(biópsias diagnósticas) e, em alguns casos, no momento da nefrectomia do

doador, para a obtenção de fragmentos de rim normal (biópsias de controle).

Normal Sem Rejeição

RA NCE

Total Nefrotox iCN

NCE outros

Número de biópsias 10 6 43 48 20 28

Tipo de doador 0 DVR 0 DVNR 10 DF

4 DVR 1 DVNR

1 DF

16 DVR 11 DVNR

16 DF

25 DVR 8 DVNR 15 DF

10 DVR 3 DVNR

7 DF

15 DVR 5 DVNR

8 DF

Retransplantes ---- 0 11 (25,6 %) 5 (10,4 %) 0 5 (17,9%)

Tempo da biópsia (dias do pós-transplante)

---- 379 ± 262 139 ± 71 1068 ± 133 1200 ± 232 974 ± 159

Page 53: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

26

Os fragmentos de rim foram obtidos por biópsia renal percutânea, sob

orientação de ultra-som.

Os resultados das biópsias foram descritos de acordo com a

classificação de Banff para Patologia Renal (Banff-97) (RACUSEN et al.,

1999). Resumidamente, Banff tipo I (rejeição túbulo-interstitial sem arterite)

foi classificado como IA (tubulite moderada) ou IB (tubulite grave); Banff tipo

II (rejeição vascular, caracterizada por arterite intimal) foi classificado como

IIA (leve a moderada) ou IIB (grave); Banff tipo III (rejeição grave, com

arterite transmural). A nefropatia crônica do enxerto foi classificada em grau I

(leve), grau II (moderada) e grau III (grave), adicionalmente, foram

classificadas quanto a presença ou não de evidências de nefrotoxicidade

crônica pelos inibidores da calcineurina (fibrose em faixa, atrofia tubular,

dilatação tubular, esclerose focal e segmentar e arteriolopatia).

De acordo com o diagnóstico clínico e histológico, as biópsias foram

divididas em cinco grupos: grupo rejeição aguda (RA; n=43) e grupo

nefropatia crônica do enxerto (NCE; n=48), onde foram incluídas biópsias

com evidências de nefrotoxicidade pelos inibidores de calcineurina (n=20) e

biópsias com outras causas de NCE (n=28). Como controle, foram incluídas

biópsias de enxerto renal que não apresentaram alterações histológicas

compatíveis com rejeição (grupo Sem Rejeição; n=6), mas que foram

realizadas por indicação clínica (disfunção do enxerto), além de biópsias de

rim normal (grupo Rim Normal; n=10), obtidas no momento da nefrectomia

do doador.

Page 54: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

27

O diagnóstico de RA foi feito baseando-se em parâmetros clínicos

(aumento de creatinina sérica, diminuição de diurese, ganho de peso) e

confirmado por biópsia. Todos os eventos de rejeição celular aguda foram

tratados com pulsos de metilprednisolona (1 g/dia EV, durante 3 dias).

Rejeições Banff tipos II e III e/ou córtico-resistentes foram tratadas com

anticorpo monoclonal anti-CD3 (OKT3) durante 10 dias.

O diagnóstico de NCE foi feito baseando-se em parâmetros

histológicos (fibrose intersticial, atrofia tubular, esclerose focal e segmentar e

hialinização vascular) utilizando biópsias de enxerto renal com disfunção

crônica e progressiva, com ou sem proteinúria.

III.3. Processamento das biópsias

Durante a realização das biópsias, um fragmento foi retirado de cada

paciente para avaliação histológica, sendo posteriormente aproveitado para

procedimento de imuno-histoquímica e imunofluorescência. Em alguns

pacientes foi retirado um segundo fragmento, o qual foi congelado para

futuras análises.

Os fragmentos foram fixados com Dubosq-Brazil, processados e

incluídos em parafina ou embebidos em Tissue Tek (Reichert-Jung Leica

Products, Alemanha) e congelados em nitrogênio líquido para,

posteriormente, serem estocadas em freezer -70°C até a data de sua

utilização.

Page 55: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

28

III.3.1) Fixação e Parafinização

Os fragmentos de rim incluídos em parafina foram processados pelo

serviço de patologia do Hospital Beneficência Portuguesa e, portanto, foram

disponibilizados já emblocados em parafina.

Os blocos de parafina foram cortados em micrótomo (Reichert Yung

Supercut 2065 Leica, Nussloch, Alemanha) com navalhas descartáveis. Os

fragmentos, com espessura de 3 a 4 µm, foram aderidos em lâminas

previamente revestidas por silano 2% (Sigma Chemical Co., St. Louis, EUA).

As lâminas com os cortes permaneceram em estufa (Fabbe-Primar, São

Paulo, Brasil) a 60ºC por 2 horas e em seguida foram armazenadas a 4ºC.

III.3.2) Tecido congelado

Os fragmentos que foram previamente embebidos em TissueTek

(Reichert-Jung Leica Products), congelados em nitrogênio líquido e

armazenados à -70ºC, foram levados para cortes em criostato (Reichert-

Jung CM3000, Leica Products, Alemanha), com a realização de cortes de 5

m de espessura. Após os cortes, as lâminas secaram à temperatura

ambiente por 2 horas e foram então fixadas em acetona (Merck, Darmstadt,

Alemanha), à 4OC por 7 minutos. Em seguida, as lâminas secaram à

temperatura ambiente por, no mínimo, 10 minutos e foram armazenadas em

freezer -70ºC até o momento do uso.

Page 56: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

29

III.4. Preparo das lâminas para os experimentos

III.4.1) Desparafinização e recuperação antigênica

Para a desparafinização, os fragmentos submetidos à imuno-

histoquímica foram aquecidos em estufa à 60°C, seguido de banhos de xilol

por 9 minutos (3 vezes), álcool absoluto por 5 minutos (2 vezes) e álcool

96% por 3 minutos (2 vezes).

Para a realização dos experimentos de imunofluorescência, os tecidos

conservados em parafina precisaram passar por um processo de

desparafinização mais rigoroso. Este processo diferenciou daquele utilizado

para imno-histoquímica apenas pelo método de aquecimento dos

fragmentos, onde os tecidos foram mergulhados em xilol quente (60°C), por

60 minutos.

Durante o processo de parafinização pode ocorrer o “mascaramento”

de antígenos no tecido, dificultando assim sua detecção e, portanto, foi

realizado a recuperação antigênica utilizando a técnica do microondas. Para

tanto, após o processo de desparafinização, os tecidos foram imersos em

tampão citrato 10 mM (pH 6,0) e levados ao forno microondas (Sanyo, São

Paulo, Brasil) com potência de 2400 watts durante 15 minutos. As lâminas

permaneceram no tampão até atingir a temperatura ambiente. Os

fragmentos foram então hidratados em solução TBS (salina- tris tamponada,

contendo NaCl 0,015 M e Tris 0,05 M, pH 7,6). A partir deste momento, os

tecidos estavam preparados para serem submetidos aos experimentos.

Page 57: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

30

III.4.2) Fragmentos congelados

Os fragmentos congelados à -70oC foram retirados do freezer e

mantidos em temperatura ambiente por 5 minutos para descongelar. Em

seguida foram hidratados em solução TBS. A partir deste momento, os

tecidos estavam prontos para os experimentos.

III.5. Detecção do fragmento C4d

Para a identificação do fragmento C4d, foram empregadas as técnicas

de imunofluorescência e imuno-histoquímica, tanto em tecidos conservados

em parafina, quanto em tecidos congelados.

III.5.1) Técnica de imunofluorescência

Os tecidos foram, inicialmente, submetidos ao bloqueio dos antígenos

inespecíficos por 5 minutos, utilizando para isto o reagente “protein block” do

kit NovoLink. Os tecidos conservados em parafina foram incubados com

anticorpo primário policlonal anti-C4d (BIOMEDICA, Oxford, Reino Unido),

diluído 1:50, em Tris 0,5 M, pH 7,6, contendo albumina sérica bovina a 1%

(p/v) durante a noite, à 4 C, em câmara úmida. Já os tecidos congelados

foram incubados com anticorpo primário monoclonal anti-C4d (QUIDEL, San

Diego, EUA), diluído 1:1.000 em Tris 0,5 M, pH 7,6, contendo BSA a 1%

(p/v), durante 40 minutos, na estufa à 37°C, em câmara úmida. Até então,

todas as etapas foram intercaladas por duas lavagens (5 minutos, cada)

utilizando solução Tris HCl a 0,5M pH=7,6. Controles negativos, omitindo-se

a incubação com o anticorpo primário, foram realizados.

Page 58: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

31

Os tecidos conservados em parafina foram incubados com anticorpo

secundário policlonal anti-imunoglobulina de coelho conjugado com FITC

(SIGMA, St. Louis, EUA), diluído 1:150 em PBS (salina fosfato-tamponada

NaH2PO4 0,025 M, Na2HPO4 0,007 M e NaCl pH 7,4) contendo Azul de

Evans 6% (p/v) por 90 minutos, à 37°C, em câmara úmida. Os tecidos

congelados foram incubados com anticorpo secundário policlonal anti-

imunoglobulina de camundongo conjugado com FITC (JACKSON

IMMUNORESEARCH Inc., West Grove, EUA), diluído 1:250 em PBS

contendo Azul de Evans 6% (p/v) por 40 minutos à 37°C, em câmara úmida.

Após, os fragmentos foram submetidos à três lavagens de 5 minutos

utilizando solução de Tris HCl a 0,5M pH 7,6. As lamínulas foram colocadas

com solução de glicerina 50% e as lâminas montadas foram armazenadas

protegidas da luz a -20oC até a leitura.

III.5.2) Técnica de imuno-histoquímica

Os tecidos foram, inicialmente, submetidos ao bloqueio da peroxidase

endógena, incubando-os por 5 minutos com a Peroxidase blocking solution

do kit NovoLink. Em seguida os possíveis antígenos inespecíficos presentes

no tecido foram bloqueados através da incubação durante 5 minutos com a

Protein Blocking Solution fornecida no kit. Os tecidos conservados em

parafina foram incubados com anticorpo primário policlonal anti-C4d

(BIOMEDICA, Oxford, Reino Unido), diluídos 1:100 em TBS contendo 1%

BSA (p/v) durante a noite, à 4 C, em câmara úmida. Já os tecidos

congelados foram incubados com anticorpo primário monoclonal anti-C4d

Page 59: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

32

(QUIDEL, San Diego, EUA), diluídos 1:32.000, em TBS contendo 1% BSA

(p/v) por 30 minutos, em temperatura ambiente, em câmara úmida. Após a

incubação com o anticorpo primário, o tecido foi incubado por 30 minutos

com a solução “Post Primary Block”, seguido do complexo “NovoLink

Polymer” por 30 minutos. Todas as etapas foram intercaladas por duas

lavagens (5 minutos, cada) em TBS. Controles negativos, nos quais omitiu-

se a incubação com o anticorpo primário, foram realizados em todos os

casos.

Para a revelação os fragmentos foram incubados com o cromógeno

3,3’-diaminobenzidina (DAB), diluído em tampão substrato apropriado à

peroxidase. A revelação foi realizada sob aumento microscópico de 100

vezes e durou aproximadamente 10 minutos para o tecido conservado em

parafina e 5 minutos para os tecidos congelados. Em seguida as lâminas

foram contra-coradas com hemalumbre de Mayer (MERCK, Darmstadt,

Alemanha) por dois minutos e lavados por cinco vezes em água destilada.

As lamínulas foram colocadas com Glicergel (DAKO, Copenhagen,

Dinamarca) previamente aquecido.

III.6. Detecção de linfócitos B (CD20+)

Para a pesquisa de linfócitos B, foram utilizados apenas tecidos

conservados em parafina.

A identificação de linfócitos B foi realizada através de anticorpos

monoclonais de camundongo anti-CD20 (DAKO, Glostrup, Dinamarca), um

Page 60: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

33

anticorpo específico anti-linfócito B, pelo método estreptavidina-fosfatase

alcalina.

Após a desparafinização e recuperação de antígenos, conforme

descrito anteriormente, a biotina endógena do tecido foi bloqueada através

da incubação com solução de avidina D (Vector, Burlingame, EUA), seguida

pela incubação com uma solução de biotina (Vector, Burlingame, EUA). As

lâminas foram incubadas durante 15 minutos com cada uma das soluções, e

lavadas com TBS durante 5 minutos após cada uma. As lâminas foram

então incubadas com soro não imune de cavalo (Vector, Burlingame, EUA),

diluído 70 vezes em TBS, durante 30 minutos e, após a retirada do excesso

do soro, foram incubadas com imunoglobulina anti-CD20 diluída 1:50 em

TBS, durante a noite a 4ºC. No dia seguinte, as lâminas foram lavadas em

TBS por 5 minutos e incubadas durante 45 minutos com anticorpo de cavalo

anti-camundongo biotinilado (Vector, Burlingame, EUA), diluído 200 vezes

em TBS. Após lavagem de 5 minutos com TBS, as lâminas foram incubadas

com o complexo estreptavidina-fosfatase alcalina (Dako, Carpinteria, EUA)

por 30 minutos, lavadas novamente com TBS e submetidas à revelação.

Controles negativos, omitindo-se a incubação com o anticorpo primário,

foram realizados em todos os casos.

Para a revelação, as lâminas foram incubadas com uma solução

contendo substrato para a enzima fosfatase alcalina e o corante fast-red

(Sigma Chemical Co, St. Louis, EUA), preparada da seguinte maneira: 1 mg

de fosfato de naftol AS-MX (Sigma Chemical Co, St Louis, EUA) foi diluído

em 100 l de dimetilformamida (Merck, Darmstadt, Alemanha), e em

Page 61: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

34

seguida, esta solução foi diluída em 4,9 mL de tampão Tris 0,1 M (pH = 8,2)

e 10 L de levamisol 1 M (Sigma Chemical CO, St Louis, EUA) foram

acrescentados. Após, à esta solução foi acrescido por 0,005 g do corante

fast-red.

A revelação foi realizada sob microscopia em aumento de 100X e as

células positivas apresentaram coloração avermelhada. O tempo de

revelação foi de aproximadamente 10 minutos. As lâminas foram contra-

coradas com hemalunbre de Mayer (Merck, Darmstadt, Alemanha) durante 2

minutos e lavadas por cinco vezes em água destilada, e então montadas

com glicergel (Merck, Darmstadt, Alemanha).

III.7. Detecção de plasmócitos (CD138+)

Para a pesquisa de plasmócitos, foram utilizados apenas tecidos

conservados em parafina.

A identificação de plasmócitos foi realizada por imunohistoquímica

utilizando anticorpos monoclonais de camundongo anti-CD138 (DAKO,

Glostrup, Dinamarca), um marcador de superfície de plasmócitos (anticorpo

específico anti-plasmócito), utilizando-se o sistema de detecção “NovoLink

Compact PolymerTM” (NovocastraTM Reagents, Newcastle, Reino Unido).

Após a desparafinização e recuperação de antígenos, conforme

descrito anteriormente, os tecidos foram submetidos ao bloqueio da

peroxidase endógena, incubando-os por 5 minutos com a Peroxidase

blocking solution do kit. Em seguida os possíveis antígenos inespecíficos

presentes no tecido foram bloqueados através da incubação durante 5

Page 62: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

35

minutos com a Protein Blocking Solution fornecida no kit. Os tecidos foram

então incubados com imunoglobulina anti-CD138 diluída 1:100 em TBS

contendo 1% BSA (p/v), durante a noite a 4ºC. No dia seguinte, os tecidos

foram incubados por 30 minutos com a solução “Post Primary Block”,

seguido do complexo “NovoLink Polymer” por 30 minutos. Todas as etapas

foram intercaladas por duas lavagens (5 minutos, cada) em TBS. Controles

negativos, nos quais omitiu-se a incubação com o anticorpo primário, foram

realizados em todos os casos.

Para a revelação, as lâminas foram incubadas com solução de 3-

amino-9-etil-carbazol a 0,01% diluído em tampão acetato 200mM contendo

H2O2 a 0,015%.

A revelação foi realizada sob microscopia em aumento de 100 X e as

células positivas apresentaram coloração acastanhada. O tempo de

revelação foi de aproximadamente 20 minutos. As lâminas foram contra-

coradas com hemalunbre de Mayer (Merck, Darmstadt, Alemanha) durante 2

minutos e lavadas por cinco vezes em água destilada, e então montadas

com glicergel (Merck, Darmstadt, Alemanha).

III.8. Análise dos resultados

III.8.1) Fragmento C4d

Os experimentos de imunofluorescência foram analisados utilizando

microscopia óptica com campo escuro (Olympus-BX51, Tóquio, Japão) sob

aumento de 400x. Para a análise dos experimentos de imuno-histoquímica,

Page 63: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

36

foi utilizada microscopia óptica simples (Alphaphote-YS2 Nikon, Tóquio,

Japão) sob aumento de 400x. .

A expressão do fragmento C4d foi avaliada pelo método

semiquantitativo, analisando o número de túbulos que tiveram os capilares

peritubulares acometidos (que aparecem corados em marrom na imuno-

histoquímica e verde-fluorescente na imunofluorescência). Portanto, a

positividade do C4d é classificada como + (<10% dos túbulos

comprometidos), ++ (10-50%) ou +++ (>50%).

III.8.2) Linfócitos B e plasmócitos

A análise foi realizada com microscopia óptica sob aumento de 400x

em toda a extensão da biópsia. A avaliação da marcação dos linfócitos B e

plasmócitos foi realizada pelo método quantitativo, ou seja, foi realizada a

contagem do número de células positivas (que aparecem coradas em

vermelho). O total de células positivas foi expresso em relação à área total

da biópsia. Para o cálculo do número de células positivas/mm2 foi utilizado o

fator de correção de 5,096, previamente estabelecido.

III.9. Dados clínicos avaliados

Os resultados das análises histológicas para o fragmento C4d, linfócitos

B e plasmócitos foram correlacionados com a gravidade da rejeição e a

evolução clínica do enxerto renal.

Para a análise da gravidade da rejeição, foi avaliado o nível sérico de

creatinina no momento da biópsia. Para a análise da evolução clínica do

Page 64: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Casuística e Métodos

37

transplante, foram avaliados dois parâmetros clínicos: a evolução da

creatinina nos três anos pós-biópsia e a sobrevida do enxerto renal em três

anos pós-biópsia.

III.10. Análise estatística

Os dados estão expostos em média erro padrão (Média ± EP).

Os resultados obtidos neste estudo foram submetidos à análise de

normalidade (Kolmogorov-Smirnov) para a aplicação dos testes adequados.

Para as variáveis que apresentaram distribuição normal, foi aplicado o teste t

de Student não-pareado (com correção de Welch, se necessário) para

comparação dos grupos 2 a 2. Utilizou-se o teste de Mann-Whitney para as

variáveis que não apresentaram distribuição normal.

Para a comparação das técnicas de detecção do fragmento C4d foi

aplicado o teste de correlação de Spearman.

Foi aplicado o método de Kaplan-Meier para o cálculo da sobrevida

do enxerto em relação à presença do fragmento C4d, de linfócitos B e de

plasmócitos.

Para as análises adotou-se como estatisticamente significante um

nível descritivo inferior a 0,05.

Foi utilizado o programa estatístico GraphPad Prism V.4.03 para

realização dos testes.

Rec 60

Page 65: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

38

IV. RESULTADOS

IV.1. Detecção de C4d: análise das técnicas e do tipo de tecido

A técnica considerada padrão ouro para a detecção do fragmento C4d

é a imunofluorescência em criostato. Com o objetivo de verificar a

possibilidade de se aplicar outras técnicas para a detecção do fragmento

C4d, foram realizadas e comparadas com a imunofluorescência em criostato

(n=41), as técnicas de imuno-histoquímica em criostato (n=41),

imunofluorescência em parafina (n=37) e imuno-histoquímica em parafina

(n=37) (Anexo C).

Numa primeira análise, foi observado que, em criostato,

independentemente da técnica aplicada (imunofluorescência ou imuno-

histoquímica), o fragmento C4d é detectado em capilares glomerulares

(Figuras 3A e 3B). No entanto, quando utilizado cortes de parafina, em

nenhum caso houve marcação de C4d em glomérulos (Figuras 4A e 4B).

Apesar desta diferença de detecção observada em tecido de criostato versus

parafina, deve ser ressaltado que apenas a marcação em capilares

peritubulares foi considerada como positiva para o estudo. Neste ponto,

tanto em cortes de parafina como criostato, utilizando imunofluorescência ou

imuno-histoquímica, foi detectado fragmento C4d em capilares pericapilares.

Em criostato, a marcação foi mais intensa e mais nítida do que em parafina,

facilitando a interpretação do resultado.

Page 66: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

39

CRIOSTATO

Figura 3. REJEIÇÃO AGUDA. Detecção do fragmento C4d em criostato A. Imunofluorescência (padrão difuso, +++) (200x) B. Imuno-histoquímica (padrão difuso, +++) (200x)

PARAFINA

Figura 4. REJEIÇÃO AGUDA. Detecção do fragmento C4d em parafina A. Imunofluorescência (padrão difuso, +++) (200x) B. Imuno-histoquímica (padrão difuso, +++) (200x)

A técnica com maior índice de concordância com a

imunofluorescência em criostato (considerada padrão ouro) foi a imuno-

histoquímica em criostato, onde 31/41 (75,6%) casos apresentaram

3A 3B

4A 4B

Page 67: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

40

resultados coincidentes (Tabela 5). A técnica de imunofluorescência em

parafina também apresentou uma boa taxa de concordância (27/37 casos,

73%). Em contraste, na técnica de imuno-histoquímica em parafina, apenas

19/37 (51,4%) casos apresentaram concordância com a técnica de

imunofluorescência em criostato. O teste de correlação de Spearman

confirmou estes resultados (Tabela 6).

Tabela 5. Concordância entre a técnica de imunofluorescência em criostato e as demais técnicas (IF: imunofluorescência; IH: imuno-histoquímica)

IF - Criostato %

IH - Criostato 31/41 75,6%

IF - Parafina 27/37 73,0%

IH - Parafina 19/37 51,4% Tabela 6. Correlação entre a técnica de imunofluorescência em criostato e as

demais técnicas (teste de Spearman)

Correlação com IF-criostato p

IH-criostato r = 0,72 < 0,0001

IF-parafina r = 0,59 0,0001

IH-parafina r = 0,35 0,03

r: -1 (relação inversa) à +1 (prefeita relação/relação direta) IF: imunofluorescência; IH: imuno-histoquímica

Page 68: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

41

IV.2. Análise da positividade de C4d peritubular de acordo

com o diagnóstico histológico

Para as análises sobre a detecção do fragmento C4d, apenas os

resultados da técnica de imunofluorescência em criostato (padrão ouro)

foram considerados.

Numa primeira análise, as biópsias foram classificadas quanto à

expressão ou não do fragmento C4d e quanto ao score de positividade,

estabelecendo assim uma análise qualitativa (Tabela 7).

Das 41 biópsias submetidas à análise do fragmento C4d, 14 (34%)

foram positivas. O fragmento C4d foi detectado em 67% dos casos de

rejeição aguda e em 24% dos casos de nefropatia crônica do enxerto. Não

foi detectado fragmento C4d em biópsias do grupo Sem Rejeição.

No grupo RA, 2/8 (25%) casos positivos apresentaram score +++

(>50% dos capilares peritubulares), 5/8 (62,5%) casos apresentaram score

++ (10-50% dos capilares peritubulares) e 1/8 (12,5%) caso apresentou

score + (<10% dos capilares peritubulares). No grupo NCE, 1/6 (17%) caso

positivo foi classificado como +++, 1/6 (17%) como ++ e 4/6 (66%) como +.

Tabela 7. Positividade para o fragmento C4d em biópsias de enxerto renal (imunofluorescência em criostato)

Sem Rejeição RA NCE

n 4 12 25

C4d negativo 4 (100%) 4 (33%) 19 (76%)

C4d positivo

---

8 (67%)

+ = 1 (12,5%)

6 (24%)

+ = 4 (66%)

--- ++ =5 (62,5%) ++ = 1 (17%)

--- +++ = 2 (25%) +++ = 1 (17%)

Page 69: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

42

IV.3. Correlação entre a positividade para C4d e a evolução

clínica do transplante

Com o objetivo de investigar a correlação entre a expressão do

fragmento C4d e a evolução clínica do transplante, os casos estudados

foram divididos em C4d negativos (n = 27) e C4d positivos (n = 14) e foram

comparados quanto à intensidade da disfunção do enxerto no momento da

biópsia, as respostas ao tratamento, a evolução da função do enxerto renal e

a sobrevida do enxerto renal.

No momento da biópsia, a disfunção do enxerto renal, medida pelo

nível da creatinina, foi significantemente mais pronunciada no grupo C4d

positivo (5,5 ± 1,9 mg/dL vs 2,7 ± 0,5 mg/dL no grupo C4d negativo, p =

0,008) (Figura 5).

Figura 5. Nível da creatinina nos grupos C4d negativo e C4d positivo no momento

da biópsia do enxerto renal

C4d Negativo C4d Positivo

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

* p= 0,008

*

Cre

ati

nin

a s

éri

ca

(mg

/dL

)

Page 70: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

43

Na análise da resposta ao tratamento anti-rejeição empregado, cinco

casos de rejeição aguda com depósito de fragmento C4d (1 caso score + e 4

casos score ++) foram resistentes à corticoterapia e só responderam ao

tratamento com droga anti-linfocitária (OKT3). Os outros três casos C4d

positivos (1 caso score ++ e 2 casos score +++) apresentaram resistência ao

tratamento com droga anti-linfocitária (OKT3), evoluindo para a perda do

enxerto.

A evolução da função do enxerto renal foi avaliada pelos níveis

séricos de creatinina, ao longo de 3 anos pós-biópsia. Os níveis de

creatinina mantiveram-se constantemente mais elevados no grupo C4d

positivo em relação ao grupo C4d negativo e, após 3 anos, esta diferença foi

estatisticamente significante (p = 0,04) (Figura 6).

Figura 6. Creatinina sérica nos grupos C4d negativo e C4d positivo

-6 0 6 12 18 24 30 360

1

2

3

4

5

6

7

Negativo

Positivo

p=0,04

Tempo pós-biópsia(meses)

Cre

ati

nin

a s

éri

ca

(mg

/dL

)

Bx

Page 71: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

44

Para a análise da sobrevida do enxerto renal, foi avaliada a

porcentagem de enxertos funcionantes, em cada grupo, no período de 3

anos pós-biópsia, excluindo-se os óbitos com o enxerto funcionante. A

sobrevida do enxerto no grupo C4d positivo foi significantemente menor

quando comparado ao grupo C4d negativo (67% vs 96%, respectivamente;

p=0,01) (Figura 7).

Figura 7. Sobrevida do enxerto renal nos grupos C4d negativo e C4d positivo

IV.4. Análise da expressão dos linfócitos B

IV.4.1) Infiltrado de linfócitos B

A expressão de CD20+ foi detectada no citoplasma das células

positivas. A distribuição das células CD20+ ocorreu em dois padrões

distintos: padrão de células isoladas, caracterizado por células infiltrando o

interstício e os túbulos ou, padrão nodular caracterizado por infiltrado

0 6 12 18 24 30 360

20

40

60

80

100C4d negativo

C4d positivo

p=0,01

Tempo pós-biópsia(meses)

% E

nx

ert

o f

un

cio

na

nte

Bx

Page 72: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

45

celular focal e intenso no interstício renal, mais frequentemente na região

periglomerular, formando nódulos densos (Figura 8).

Figura 8. REJEIÇÃO AGUDA. Infiltrado de linfócitos B

A. Padrão de células isoladas (400x) B. Padrão nodular (400x)

IV.4.2) Expressão dos linfócitos B de acordo com o diagnóstico histológico

Das 107 biópsias analisadas, 58 (54%) apresentaram infiltrado de

linfócitos B. Dos casos CD20 positivos, 43/58 (74%) apresentaram células

CD20+ isoladas infiltrando o interstício renal, enquanto 15/58 (26%)

apresentaram padrão nodular. Nos grupos Normal e Sem Rejeição

nenhuma célula CD20+ foi detectada. Nos demais grupos foram detectadas

células CD20+ em número variável (Tabela 8).

A B

Page 73: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

46

Tabela 8. Expressão dos linfócitos B em biópsias de aloenxerto renal

Normal Sem Rejeição RA NCE

Casos CD20+ 0/10 (0%) 0/6 (0%) 30/43 (70%) 28/48 (58%)

CD20+ (cels/mm2) 0 0 70,2±19,8* 36,4±13,1#

Padrão nodular 0 0 9/30 (30%) 6/28 (21%)

*p< 0,01 vs Normal e Sem Rejeição #p< 0,05 vs Normal e Sem Rejeição

O número de células CD20+ nos casos de rejeição aguda (70,2 19,8

cels/mm2) e nos casos de nefropatia crônica do enxerto (36,4 ± 13,1

cels/mm2) foi significantemente maior comparado aos casos sem rejeição e

rim normal (p< 0,01 [RA] e p< 0,05 [NCE]). Nos casos de rejeição aguda, o

número de células CD20+ foi maior quando comparado aos casos de

nefropatia crônica do enxerto (70,2 19,8 vs 36,4 ± 13,1 cels/mm2,

respectivamente; ns).

No grupo RA, tanto o número de casos CD20 positivos, quanto o

número de células CD20+ foi maior nos casos de rejeição vascular

comparados aos casos de rejeição celular aguda (12/15 [80%] casos e 95,8

± 44,3 cels/mm2 vs 18/28 [62%] casos e 56,6 ± 19,2 cels/mm2,

respectivamente; ns) (Figura 9).

Page 74: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

47

Figura 9. Expressão de linfócitos B nas rejeições agudas Banff I e II

No grupo NCE, os casos com outras causas de NCE apresentaram

maior número de células CD20+ quando comparados aos casos com

evidências de nefrotoxicidade aos inibidores de calcineurina (43,8 ± 21,4 vs

26,1 ± 9,7 cels/mm2, respectivamente; ns). Excluindo-se os casos de

nefrotoxicidade por inibidores de calcineurina, o número de células CD20+

variou proporcionalmente à gravidade da NCE, sendo numericamente maior

nos casos com nefropatia crônica do enxerto grave (NCE discreta: 19,7 ±

12,1 cels/mm2, NCE moderada: 35,6 ± 17,0 cels/mm2, NCE grave: 66,5 ±

48,6 cels/mm2; ns) (Figura 10).

Banff I Banff II0

25

50

75

100

125

150

Lin

fóc

ito

s B

( ce

ls/m

m2)

Page 75: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

48

Figura 10. Expressão de linfócitos B nos diferentes grupos de nefropatia crônica

do enxerto

Analisando-se o período pós-transplante em que foi detectado o

padrão nodular nos casos de rejeição aguda, não houve diferença quando

comparado ao padrão de células isoladas (40 ± 11 vs 32 ± 9 dias,

respectivamente; ns). Na NCE, apesar do padrão nodular ocorrer mais

tardiamente do que o padrão de células isoladas, esta diferença não foi

estatisticamente significativa (1225 ± 392 vs 904 ± 211 dias,

respectivamente; ns)

Nef

roto

x iC

N

NCE d

iscr

eta

NCE m

oderad

a

NCE g

rave

0

25

50

75

100

125

150

Lin

fóc

ito

s B

(ce

ls/m

m2)

Page 76: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

49

IV.5. Correlação entre a expressão de linfócitos B e a

evolução clínica do transplante

Com o objetivo de investigar a correlação entre a expressão dos

linfócitos B e a evolução clínica do transplante, os casos estudados foram

divididos em CD20 negativos (n = 49) e CD20 positivos (n = 58), e estes em

padrão de células isoladas (n = 43) e padrão nodular (n = 15). Estes grupos

foram comparados quanto à intensidade da disfunção do enxerto no

momento da biópsia, a evolução da função do enxerto renal e a sobrevida do

enxerto renal.

No momento da biópsia, a disfunção do enxerto renal, medida pelo

nível da creatinina, foi semelhante entre os grupos CD20 positivo e CD20

negativo (3,98 ± 0,61 mg/dL vs 3,70 ± 0,67 mg/dL, respectivamente; ns) e,

entre os grupos padrão de células isoladas e CD20 negativo (3,43 ± 0,47

mg/dL vs 3,70 ± 0,67 mg/dL, respectivamente; ns). Apesar da disfunção do

enxerto ter sido numericamente mais pronunciada no grupo padrão nodular

comparado ao grupo CD20 negativo, esta diferença não foi estatisticamente

significativa (5,34 ± 1,75 mg/dL vs 3,70 ± 0,67 mg/dL, respectivamente; ns)

(Figura 11).

Page 77: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

50

Figura 11. Nível da creatinina de acordo com a presença e o padrão do infiltrado de

linfócitos B no momento da biópsia

A evolução da função do enxerto renal foi avaliada pelos níveis

séricos de creatinina, ao longo de 3 anos pós-biópsia. Os níveis de

creatinina mantiveram-se semelhantes nos grupos CD20 negativo e CD20

positivo, ao longo dos 3 anos (Figura 12).

Figura 12. Creatinina sérica nos grupos CD20 negativo e CD20 positivo

-6 0 6 12 18 24 30 360

1

2

3

4

5

6

7

CD20 Negativo

CD20 Positivo

Tempo pós-biópsia(meses)

Cre

ati

nin

a s

éri

ca

(mg

/dL

)

Bx

Negativo Positivo Isolado Nodular0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Cre

ati

nin

a s

éri

ca

(mg

/dL

)

Page 78: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

51

Apesar dos níveis de creatinina manterem-se constantemente mais

elevados no grupo padrão nodular em relação ao grupo CD20 negativo, esta

diferença não foi estatisticamente significante (p = 0,10) (Figura 13).

Figura 13. Creatinina sérica nos grupos CD20 negativo e padrão nodular

A evolução dos níveis de creatinina no grupo padrão nodular foi

significativamente maior comparado ao grupo padrão de células isoladas (p=

0,01) (Figura 14).

Figura 14. Creatinina sérica nos grupos padrão de células isoladas e padrão nodular

-6 0 6 12 18 24 30 360

1

2

3

4

5

6

7

CD20 Negativo

Padrão Nodular

p= 0,10

Tempo pós-biópsia(meses)

Cre

ati

nin

a s

éri

ca

(mg

/dL

)

Bx

-6 0 6 12 18 24 30 360

1

2

3

4

5

6

7Padrão Isolado

Padrão Nodular

p= 0,01

Tempo pós-biópsia(meses)

Cre

ati

nin

a s

éri

ca

(mg

/dL

)

Bx

Page 79: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

52

Para a análise da sobrevida do enxerto renal, foi avaliada a

porcentagem de enxertos funcionantes, em cada grupo, no período de 3

anos pós-biópsia, excluindo-se os óbitos com o enxerto funcionante. Não

houve diferença na sobrevida do enxerto renal entre os grupos CD20

positivo e CD20 negativo (76% vs 89%, respectivamente; ns) (Figura 15).

Porém, a sobrevida do enxerto renal foi significantemente menor no grupo

padrão nodular, quando comparado aos grupos CD20 negativo (61% vs

89%, respectivamente; p= 0,03) e padrão de células isoladas (61% vs 87%,

respectivamente; p= 0,03) (Figuras 16 e 17).

Figura 15. Sobrevida do enxerto renal nos grupos CD20 negativo e CD20 positivo

0 6 12 18 24 30 360

20

40

60

80

100

CD20 negativo

CD20 positivo

Tempo pós-biópsia(meses)

% E

nx

ert

o f

un

cio

na

nte

Bx

Page 80: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

53

Figura 16. Sobrevida do enxerto renal nos grupos CD20 negativo e padrão nodular

Figura 17. Sobrevida do enxerto renal nos grupos padrão isolado e padrão nodular

0 6 12 18 24 30 360

20

40

60

80

100

CD20 negativo

Padrão nodular

p= 0,03

Tempo pós-biópsia(meses)

% E

nx

ert

o f

un

cio

na

nte

Bx

0 6 12 18 24 30 360

20

40

60

80

100

Padrão nodular

Padrão isolado

p= 0,03

Tempo pós-biópsia(meses)

% E

nx

ert

o f

un

cio

na

nte

Bx

Page 81: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

54

IV.6. Análise do infiltrado plasmocitário de acordo com o

diagnóstico histológico

Na pesquisa de plasmócitos, foi observada com certa frequência uma

marcação no epitélio tubular, porém esta marcação foi considerada

inespecífica. A positividade para os plasmócitos foi detectada na membrana

citoplasmática (Figura 18).

Figura 18 (A e B): REJEIÇÃO AGUDA. Plasmócitos presentes no infiltrado intersticial (400x)

Das 41 biópsias analisadas, 24 (59%) apresentaram infiltrado de

plasmócitos. No grupo Sem Rejeição em apenas um caso células CD138+

foram detectadas. Nos demais grupos foram detectadas células CD138+ em

número variável (Tabela 9).

B A

Page 82: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

55

Tabela 9. Expressão dos plasmócitos em biópsias de aloenxerto renal e a relação entre plasmócitos e linfócitos B (CD20+)

Sem Rejeição RA NCE

Casos CD138+ 1/4 (25%) 10/12 (83%) 13/25 (52%)

CD138+ (cels/mm2) 12±7 22±12 18±12

CD138+/CD20+ (%) --- 17% 27%

O número de células CD138+ foi maior nos casos de rejeição aguda

quando comparado aos casos de nefropatia crônica do enxerto (22 12 vs

18 ± 12 cels/mm2, respectivamente; ns).

No grupo RA, o número de células CD138+ foi maior nos casos de

rejeição vascular comparados aos casos de rejeição celular aguda (49,1 ±

17,4 vs 3,5 ± 1,3 cels/mm2, respectivamente; ns) (Figura 19).

Figura 19. Expressão de plasmócitos nas rejeições agudas Banff I e II

Banff I Banff II0

10

20

30

40

50

Pla

sm

óc

ito

s(c

els

/mm

2)

Page 83: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

56

IV.7. Correlação entre a expressão de plasmócitos e a

evolução clínica do transplante

Com o objetivo de investigar a correlação entre a expressão dos

plasmócitos e a evolução clínica do transplante, os casos estudados foram

divididos em CD138 negativos (n = 17) e CD138 positivos (n = 24). Estes

grupos foram comparados quanto à intensidade da disfunção do enxerto no

momento da biópsia, a evolução da função do enxerto renal e a sobrevida do

enxerto renal.

No momento da biópsia, a disfunção do enxerto renal, medida pelo

nível da creatinina, foi semelhante nos grupos CD138 positivo e CD138

negativo (3,93 ± 1,07 mg/dL vs 3,19 ± 0,95 mg/dL, respectivamente; ns)

(Figura 20).

Figura 20. Nível da creatinina de acordo com a presença do infiltrado de plasmócitos

no momento da biópsia

Negativo Positivo

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Cre

ati

nin

a s

éri

ca

(mg

/dL

)

Page 84: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

57

A evolução da função do enxerto renal foi avaliada pelos níveis

séricos de creatinina, ao longo de 3 anos pós-biópsia. Apesar dos níveis de

creatinina manterem-se constantemente mais elevados no grupo CD138

positivo em relação ao grupo CD138 negativo, esta diferença foi significativa

do ponto de vista estatístico apenas um ano pós-biópsia (3,28 ± 0,64 mg/dL

vs 2,23 ± 0,85 mg/dL no grupo CD138 negativo; p=0,01) (Figura 21).

Figura 21. Creatinina sérica nos grupos CD138 negativo e CD138 positivo

Para a análise da sobrevida do enxerto renal, foi avaliada a

porcentagem de enxertos funcionantes no período de 3 anos pós-biópsia,

excluindo-se os óbitos com o enxerto funcionante. Não houve diferença na

sobrevida do enxerto renal entre os grupos CD138 positivo e CD138

negativo (85% vs 93%, respectivamente; ns) (Figura 22).

-6 0 6 12 18 24 30 360

1

2

3

4

5

6

7

Negativo

Positivo

Tempo pós-biópsia(meses)

Cre

ati

nin

a s

éric

a(m

g/d

L)

* p= 0,01 (1 ano pós-biópsia)

Bx

Page 85: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

58

Figura 22. Sobrevida do enxerto renal nos grupos CD138 negativo e CD138 positivo

IV.8. Correlação entre plasmócitos e o infiltrado de

células CD20+

Com o objetivo de analisar o infiltrado de linfócitos B (de acordo com o

seu estágio final de diferenciação) foi estudada a correlação entre o infiltrado

plasmocitário (CD138+) e a expressão de linfócitos B (CD20+). Para isto, os

casos estudados foram divididos em CD20 negativos (n = 11) e CD20

positivos (n = 30), e estes, em padrão de células isoladas (n = 22) e padrão

nodular (n = 8).

O número de plasmócitos (CD138+) infiltrando o interstício renal foi

significantivamente maior no grupo CD20 positivo comparado ao grupo

CD20 negativo (23,2 ± 11,0 cels/mm2 vs 3,9 ± 3,2 cels/mm2,

respectivamente; p= 0,01) e no grupo CD20+ padrão nodular comparado ao

0 6 12 18 24 30 360

20

40

60

80

100CD138 negativo

CD138 positivo

Tempo pós-biópsia(meses)

% E

nx

ert

o f

un

cio

na

nte

Bx

Page 86: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

59

grupo CD20+ padrão de células isoladas (70,6 ± 37,6 cels/mm2 vs 5,9 ± 2,2

cels/mm2, respectivamente; p= 0,03) (Figuras 23 e 24).

Figura 23. Expressão de plasmócitos nos grupos CD20+ negativo e CD20+ positivo

Figura 24. Expressão de plasmócitos nos grupos CD20+ padrão de células isoladas e

CD20+ padrão nodular

CD20 Negativo CD20 Positivo0

25

50

75

100

125

150

* p= 0,01

*Pla

sm

óc

ito

s(c

els

/mm

2)

CD20+ Isolado CD20

+ Nodular

0

25

50

75

100

125

150 * p= 0,03

*

Pla

sm

óc

ito

s(c

éls

/mm

2)

Page 87: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

60

IV.9. Correlação entre a positividade de C4d peritubular e a

expressão de linfócitos B (CD20+) e plasmócitos (CD138+)

Com o objetivo de analisar uma possível participação dos linfócitos B

e plasmócitos na rejeição humoral, foi estudada a correlação entre a

presença do fragmento C4d em capilares peritubulares e a expressão de

linfócitos B (CD20+) e plasmócitos (CD138+). Para isto, foram analisados os

41 casos submetidos à técnica de imunofluorescência em criostato para a

detecção do fragmento C4d, dos quais 14 (34%) foram C4d positivos e 27

(66%) foram C4d negativos.

IV.9.1) Correlação: C4d peritubular e infiltrado de linfócitos B (CD20+)

Dos 41 casos analisados, 30 (73%) foram CD20 positivos e 11 (27%)

CD20 negativos. Analisando a expressão de células CD20+ nos grupos C4d

positivo e C4d negativo, linfócitos B foram detectados em 14/14 (100%)

casos C4d positivos e em 16/27 (59%) casos C4d negativos (Figura 25).

Figura 25. Porcentagem dos casos CD20 positivos nos grupos C4d negativo e C4d positivo

0%

20%

40%

60%

80%

100%

CD20+

CD20+

CD20-

CD20-

100%

C4d Positivo C4d Negativo

Page 88: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

61

O número de células CD20+ foi significantemente maior no grupo C4d

positivo comparado ao grupo C4d negativo (155,0 ± 52,9 cels/mm2 vs 26,4 ±

6,8 cels/mm2, respectivamente; p= 0,001) (Figura 26).

Figura 26. Número de células CD20+ nos grupos C4d negativo e C4d positivo

Comparando o padrão de infiltrado de linfócitos B com o depósito

pericapilar de fragmento C4d, em 22/30 (73%) casos CD20 positivos

apresentaram o padrão de células isoladas e 8/30 (27%) casos CD20

positivos apresentaram o padrão nodular. Em 7/22 (32%) casos com

infiltrado de linfócitos B em padrão de células isoladas foram C4d positivos,

enquanto 7/8 (87%) casos com infiltrado nodular de linfócitos B foram C4d

positivos (Tabela 10).

C4d Negativo C4d Positivo0

50

100

150

200

250

300*p= 0,001

lula

s C

D2

0+

(ce

ls/m

m2)

Page 89: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

62

Tabela 10. Análise da expressão do fragmento C4d em relação ao padrão do infiltrado de linfócitos B

C4d

Negativo Positivo

CD20+ isolado (n=22) 15/22 (68%) 7/22 (32%)

CD20+ nodular (n=8) 1/8 (13%) 7/8 (87%)

IV.9.2) Correlação: C4d peritubular e infiltrado de plasmócitos (CD138+)

Dos 41 casos analisados, 24 (59%) foram CD138 positivos e 17 (41%)

CD138 negativos. Analisando a expressão de células CD138+ nos grupos

C4d positivo e C4d negativo, plasmócitos foram detectados em 12/14 (86%)

casos C4d positivos e em 12/27 (44%) casos C4d negativos (Figura 27).

O número de células CD138+ foi significativamente maior no grupo

C4d positivo comparado ao grupo C4d negativo (45,7 ± 22,5 cels/mm2 vs 3,6

± 1,4 cels/mm2, respectivamente; p= 0,002) (Figura 28).

Figura 27. Porcentagem dos casos CD138 positivos nos grupos C4d negativo e C4d positivo

0%

20%

40%

60%

80%

100% CD138

+

CD138-

CD138+

CD138-

86%

C4d Positivo C4d Negativo

Page 90: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Resultados

63

Figura 28. Número de células CD138+ nos grupos C4d negativo e C4d positivo

Finalmente, o teste estatístico de correlação (teste de Spearman)

confirmou uma correlação positiva entre a presença do fragmento C4d em

capilares peritubulares e a expressão de linfócitos B (CD20+) e plasmócitos

(CD138+) (Tabela 11).

Tabela 11. Correlação entre linfócitos B (CD20+ e CD138+) e fragmento C4d (teste de Spearman)

Correlação com C4d (Teste de Spearman)

p

CD20+ r = 0,57 <0,0001

CD138+ r = 0,51 0,0006

C4d Negativo C4d Positivo0

20

40

60

80

100

*p= 0,002

lula

s C

D1

38

+

(cle

s/m

m2)

Page 91: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Discussão

64

V. DISCUSSÃO

No transplante de órgãos, a perda do enxerto por rejeição ainda

representa uma importante barreira para se alcançar o sucesso total desta

modalidade terapêutica. O manejo imunológico pós-transplante, desde o seu

primórdio, foi tradicionalmente centrado nos mecanismos de rejeição ao

enxerto mediados por linfócitos T (PESCOVITZ et al., 2005).

Apesar da sobrevida do enxerto renal em 1 ano ter melhorado de modo

significativo com a introdução de novas drogas imunossupressoras, estes

agentes não foram capazes de bloquear algumas formas graves de rejeição

aguda, sugerindo que outros mecanismos efetores possam estar envolvidos

na rejeição ao aloenxerto renal (PESCOVITZ et al., 2005). Por esta razão,

nos últimos anos, uma maior atenção tem sido dada a novos marcadores,

em especial o fragmento C4d e os linfócitos B.

Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo principal analisar

a detecção do fragmento C4d e de linfócitos B no processo de rejeição ao

aloenxerto renal. Mais especificamente, analisar a detecção do fragmento

C4d por meio de quatro diferentes técnicas e o infiltrado de linfócitos B e

plasmócitos em biópsias de enxerto renal, correlacionando estes achados

com o depósito peritubular de C4d.

Vários experimentos foram realizados com o objetivo de padronizar o

uso de apenas um tipo de anticorpo para a pesquisa de C4d por meio das

técnicas de imunofluorescência e imuno-histoquímica, tanto em material

conservado em parafina como em material congelado. Entretanto, o

Page 92: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Discussão

65

anticorpo monoclonal anti-C4d (Quidel) reconhece o antígeno apenas em

fragmentos congelados (podendo ser usado por imunofluorescência ou

imuno-histoquímica), enquanto o anticorpo policlonal anti-C4d (Biomédica)

reage apenas com epítopos de fragmentos conservados em parafina

(também podendo ser usado tanto em imunofluorescência como em imuno-

histoquímica). Desta forma, a utilização destes dois anticorpos foi inevitável

na comparação das quatro técnicas, mesmo sabendo-se que a utilização de

dois diferentes anticorpos pode implicar na dificuldade de determinar se uma

maior sensibilidade de um grupo comparado ao outro deve-se à técnica

propriamente dita ou ao anticorpo utilizado. Esta mesma dificuldade em

empregar um único tipo de anticorpo também foi observada nos trabalhos de

Troxell e Seemayer, os quais utilizaram os mesmos dois anticorpos aqui

empregados para comparar as técnicas de imunofluorescência em criostato

e imuno-histoquímica em parafina (TROXELL et al., 2006; SEEMAYER et

al., 2007).

Os resultados obtidos com as diferentes técnicas de detecção do

fragmento C4d foram comparados quanto ao tipo de conservação do tecido

e quanto à concordância com a técnica de imunofluorescência em criostato,

considerada padrão-ouro para a detecção do fragmento C4d.

Analisando a marcação do C4d segundo o critério de conservação do

tecido, os fragmentos congelados mostraram uma marcação mais intensa e

nítida comparado aos fragmentos conservados em parafina, independente

da técnica e do anticorpo empregados. Tais resultados podem ser

decorrentes do processo de “mascaramento” dos epítopos durante a fixação

Page 93: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Discussão

66

do tecido em formol, enquanto que nos tecidos congelados os antígenos

mantém as características estruturais mais próximas do tecido “in vivo”

(BOENISCH et al., 2006; BOENISCH et al., 1999). Apesar do processo de

fixação em formol ajudar a conservar a histologia do tecido, este processo

altera a estrutura tridimensional das proteínas (BOENISCH et al., 1999).

Estas alterações podem resultar na modificação dos epítopos dos antígenos

e/ou em suas cargas eletrostáticas. A perda dos epítopos bem como a

redução das cargas elétricas pode impedir ou reduzir a afinidade da reação

imunológica, prejudicando assim o estudo (marcação) dos antígenos em

questão (BOENISCH et al., 1999). Isto também pode explicar o motivo pelo

qual apenas em tecido congelado, com certa freqüência, houve a marcação

do C4d em glomérulos. A presença desta marcação glomerular já foi descrita

anteriormente na literatura, sempre em tecidos congelados (FEUCHT et al.,

2005; SEEMAYER et al., 2007). Quando presente na região mesangial está

relacionada à ativação fisiológica do sistema complemento e nas alças

capilares está relacionada à toxicidade por inibidores de calcineurina,

síndrome hemolítica-urêmica ou à recorrência da glomerulonefrite (COLLINS

et al., 1999; FEUCHT et al., 2005; SEEMAYER et al., 2007).

Analisando a marcação do C4d segundo as técnicas empregadas, a

imuno-histoquímica em criostato e a imunofluorescência em parafina

mostraram uma boa taxa de concordância com a técnica de

imunofluorescência em criostato, enquanto a concordância da técnica de

imuno-histoquímica em parafina foi muito baixa (LUDOVICO-MARTINS et

al., 2009). A comparação destas quatro técnicas de detecção do fragmento

Page 94: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Discussão

67

C4d é inédita, e os poucos trabalhos que analisaram técnicas de detecção

do C4d compararam apenas as técnicas de imunofluorescência em criostato

e imuno-histoquímica em parafina (TROXELL et al., 2006; SEEMAYER et

al., 2007). Nestes casos, demonstraram que a técnica de imuno-

histoquímica em parafina é menos sensível do que a imunofluorescência em

criostato (TROXELL et al., 2006; SEEMAYER et al., 2007; SOLEZ et al.,

2008).

Os resultados demonstraram que as técnicas de imuno-histoquímica

em criostato e a imunofluorescência em parafina são boas alternativas à

técnica “gold standard” imunofluorescência em criostato para a pesquisa do

fragmento C4d. Neste contexto, deve ser considerado que a grande maioria

dos centros de transplante do Brasil tem disponíveis biópsias em parafina e

muito raramente biópsias de criostato. Além das limitações custo-

operacionais para o manuseio e conservação da biópsia de criostato (gel

para congelamento, nitrogênio líquido e freezer -70°C), o transporte deste

material para eventual realização da pesquisa de C4d em outro serviço é

extremamente complicado, pois depende de nitrogênio líquido ou gelo seco,

com grande risco de descongelamento e perda do material. Assim, investir

na imunofluorescência em parafina parece ser a alternativa mais apropriada

para a pesquisa do fragmento C4d, na ausência da disponibilidade da

análise “gold standard”.

Na segunda etapa do estudo foi feita a análise do fragmento C4d nas

biópsias de enxerto renal, de acordo com o seu diagnóstico histológico, e

sua correlação com a evolução clínica do transplante. Nesta etapa, foi

Page 95: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Discussão

68

utilizada apenas a técnica de imunofluorescência em criostato por ser

considerada padrão-ouro.

Analisando a detecção do fragmento C4d nas biópsias de enxerto

renal, não foi detectado C4d em capilar peritubular em nenhum dos casos-

controles (grupo Sem Rejeição). A prevalência do C4d nos casos de

rejeição aguda foi de 67%, semelhante à prevalência previamente descrita,

que varia de 21 a 75% (MAUIYYEDI et al., 2002b; FEUCHT et al., 2003;

MENGEL et al. 2005). Por outro lado, a prevalência de C4d na nefropatia

crônica do enxerto foi de apenas 24%, abaixo do encontrado na literatura

que varia de 34 a 62% (REGELE et al., 2002; DAVID-NETO et al., 2007). A

menor prevalência de C4d na nefropatia crônica do enxerto encontrada

neste trabalho, comparada à literatura, pode ser explicada pelo fato de que

50% dos casos de nefropatia crônica do enxerto incluídos neste estudo

estão relacionados à nefrotoxicidade crônica por inibidores da calcineurina e,

portanto, apenas um pequeno número destes casos possivelmente está

relacionado à rejeição crônica.

Vale ressaltar que, por se tratar de um estudo retrospectivo, os

fragmentos incluídos neste estudo foram obtidos num período em que não

fazia parte da rotina do transplante a pesquisa de anticorpos anti-doador no

soro do paciente no segmento pós-transplante e, portanto, o soro destes

pacientes e a referida pesquisa de anticorpos não estavam disponíveis para

a conclusão do diagnóstico de RMA. Sendo assim, as rejeições com

depósito peritubular de C4d foram aqui denominadas de rejeição C4d

positiva.

Page 96: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Discussão

69

Na análise clínica pós-transplante, a presença do fragmento C4d

peritubular se associou a formas mais graves de rejeição, com níveis de

creatinina mais elevados, assim como a uma menor sobrevida do enxerto

renal em 3 anos.

Em parte, esta evolução tão desfavorável dos casos C4d positivos

pode ser explicada pelo fato de se tratar de um estudo retrospectivo e, na

época em que as biópsias foram realizadas, a pesquisa de C4d não fazia

parte da rotina do serviço e consequentemente não se empregava o

tratamento específico para a rejeição C4d positivo. Esta evolução

desfavorável dos casos C4d positivos também foi demonstrada pelo trabalho

de Lederer e colaboradores, quando verificou-se que o fragmento C4d em

capilares peritubulares é um fator independente de pior sobrevida do enxerto

renal (LEDERER et al., 2001).

Estes resultados são importantes, pois reafirmam a necessidade da

pesquisa de C4d em biópsias de enxerto renal, contribuindo para o

diagnóstico de rejeição mediada por anticorpos. A falta da pesquisa do C4d

em casos de rejeição ao enxerto pode retardar ou até mesmo impedir o

diagnóstico deste tipo grave de rejeição, impedindo o emprego de um

tratamento mais agressivo e específico, implicando em última análise numa

pior evolução clínica do transplante com uma menor sobrevida do enxerto.

Sabendo que o fragmento C4d é marcador de rejeição mediada por

anticorpos e que os linfócitos B e plasmócitos são células envolvidas na

produção de anticorpos, o próximo passo do estudo foi analisar o infiltrado

de linfócitos B e plasmócitos em biópsias de enxerto renal.

Page 97: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Discussão

70

Para a pesquisa dos linfócitos B foi empregado o anticorpo anti-CD20,

um anticorpo específico para linfócitos B nos estágios de diferenciação

células pré-B, células B imaturas, células B maduras e células B de

memória. Levando-se em consideração que os dois primeiros estágios

(células pré-B e células B imaturas) ocorrem ao nível da medula óssea,

podemos dizer que em biópsias de enxerto renal, assim como em qualquer

outra região fora da medula óssea, este anticorpo é específico para linfócitos

B maduros e linfócitos B de memória.

A distribuição de linfócitos B nas biópsias renais ocorreu em dois

padrões distintos: padrão de células isoladas, caracterizado por células

esparsas infiltrando o interstício e padrão nodular caracterizado por

infiltrado celular focal e intenso no interstício renal, mais frequentemente na

região periglomerular, formando nódulos densos (LUDOVICO-MARTINS et

al., 2007).

A prevalência total de linfócitos B em biópsias de enxerto renal foi de

54% e, destes, 74% apresentaram infiltrado com padrão de células isoladas

e 26% padrão nodular. Em nenhum caso-controle (grupos Normal e Sem

Rejeição) foi detectado linfócitos B infiltrando o interstício renal. A

prevalência de linfócitos B na rejeição aguda foi de 70% e na nefropatia

crônica foi de 58%. Apesar de numericamente maior, não houve diferença

estatística no número de linfócitos B infiltrando o interstício renal no grupo

Rejeção Aguda comparado ao grupo Nefropatia Crônica do Enxerto.

Houve uma tendência na rejeição aguda, do número de linfócitos B ser maior

nos casos de rejeição Banff II comparado aos casos de rejeição Banff I,

Page 98: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Discussão

71

porém esta diferença não foi estatisticamente significativa. O mesmo ocorreu

na nefropatia crônica do enxerto, com um maior número de linfócitos B nos

casos graves, comparado aos casos moderados e, estes, comparados aos

casos discretos. Não há trabalhos na literatura que analisaram a prevalência

do infiltrado de linfócitos B em biópsias de enxerto renal, bem como a sua

presença de acordo com o diagnóstico histológico, entretanto é de se

esperar que, à exemplo dos linfócitos T, os linfócitos B estejam presentes

tanto na rejeição aguda, quanto na rejeição crônica e que o número de

células infiltrando o interstício esteja diretamente relacionado com a

gravidade do evento.

Do ponto de vista da evolução clínica do transplante, a presença dos

linfócitos B por si só não representou uma pior evolução do transplante

renal. Entretanto, analisando apenas os casos com o infiltrado nodular de

linfócitos B, a sobrevida do enxerto renal em três anos foi significantemente

menor comparado aos casos CD20 negativo e aos casos com o infiltrado de

células CD20+ em padrão de células isoladas.

A associação entre o infiltrado de linfócitos B e a evolução clínica

desfavorável do enxerto renal é controversa na literatura. Hippen e

colaboradores, analisando casos de rejeição celular aguda C4d negativo,

constataram que os casos com infiltrado de linfócitos B apresentaram pior

prognóstico, demonstrado por uma maior incidência de resistência à

corticoterapia e uma maior taxa de perda imunológica do enxerto (HIPPEN

et al., 2005). Estes achados foram confirmados posteriormente por Tsai e

colaboradores que, adicionalmente, observaram uma incidência maior de

Page 99: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Discussão

72

resistência não só aos corticóides, mas também ao tratamento com

timoglobulina, imunoglobulina hiperimune e plasmaferese (TSAI et al., 2006).

No entanto, outros grupos não encontraram uma associação entre a

presença de linfócitos B e pior prognóstico do enxerto renal, apesar destes

mesmos autores demonstrarem a presença dos linfócitos B na rejeição, não

descartando a possibilidade de uma possível contribuição dos linfócitos B no

mecanismo de rejeição (DORIA et al., 2006; BAGNASCO et al., 2007;

SCHEEPSTRA et al., 2008).

Levando-se em consideração os resultados deste trabalho, há uma

concordância com os resultados dos trabalhos de Hippen e Tsai, uma vez

que estes demonstraram que apenas o infiltrado de linfócitos B em padrão

nodular está associado à uma pior evolução clínica do transplante renal.

Mediante os resultados interessantes relacionados às células CD20+ no

transplante renal, partimos para a análise dos plasmócitos nas biópsias de

enxerto renal sem evidências de doença linfoproliferativa pós-transplante.

Os anticorpos anti-CD38, anti-CD138 e PCA-1 são marcadores de

plasmócitos. Entretanto, o PCA-1 não é específico de plasmócitos,

marcando também monócitos e granulócitos. A opção da utilização do

anticorpo anti-CD138 frente ao anticorpo anti-CD38 foi orientada pelo fato de

que, apesar de ambos serem específicos para plasmócitos, o CD38 possuir

menor expressão na superfície plasmocitária quando comparado ao CD138.

A prevalência total de plasmócitos em biópsias de enxerto renal foi de

59%. Em apenas um caso “sem rejeição” foi detectado plasmócitos. Em

contrapartida, 83% dos casos de rejeição aguda e 52% dos casos de

Page 100: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Discussão

73

nefropatia crônica do enxerto apresentaram infiltrado de plasmócitos. Assim

como nos linfócitos B, houve uma tendência na rejeição aguda do número de

plasmócitos ser maior nos casos de rejeição Banff II comparado aos casos

de rejeição Banff I, porém esta diferença não foi estatisticamente

significativa.

Na análise clínica pós-transplante, diferente do observado com relação

aos linfócitos B, não houve diferença estatisticamente significativa no nível

de creatinina no momento da biópsia. Em relação a evolução dos níveis de

creatinina ao longo de três anos, apesar dos níveis de creatinina

constantemente mais elevados nos casos com infiltrado plasmocitário

comparado aos casos negativos, esta diferença foi significativa do ponto de

vista estatístico apenas um ano pós-biópsia. Do ponto de vista da sobrevida

do enxerto renal, apesar de menor nos casos com infiltrado plasmocitário

comparado aos casos negativos, esta diferença também não foi significante

do ponto de vista estatístico. Estes resultados estão em concordância com o

trabalho de Gärtner, o qual demonstrou que, apesar dos plasmócitos

possivelmente participarem de alguma forma nos mecanismos de rejeição

ao enxerto renal demonstrado pela presença do infiltrado plasmocitário

nestes casos, a presença de plasmócitos no infiltrado não é marcador de

pior prognóstico (GÄRTNER et al., 2006).

Na linfopoiese, sob estímulos específicos, os linfócitos B se diferenciam

em plasmócitos. De fato, a análise destes componentes celulares no

infiltrado das biópsias renais demonstrou que o número de linfócitos B foi

significantemente mais elevado do que o número de plasmócitos, atingindo

Page 101: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Discussão

74

índices de CD138+/CD20+ de 17% (na rejeição aguda) à 27% (na nefropatia

crônica do enxerto).

A quarta etapa do estudo foi analisar uma possível participação dos

linfócitos B e plasmócitos na rejeição C4d positivo, uma vez que o fragmento

C4d é marcador de rejeição mediada por anticorpos e os linfócitos B e

plasmócitos são células relacionadas à produção de anticorpos. Para isto,

estudou-se a correlação dos infiltrados de linfócitos B e plasmócitos com o

depósito do fragmento C4d em capilares peritubulares.

Na análise dos linfócitos B, contatou-se que em todos os casos com

depósito peritubular de C4d houve infiltrado de linfócitos B, enquanto que

apenas na metade dos casos C4d negativo houve infiltrado de linfócitos B e

que o número de linfócitos B infiltrando o interstício renal foi

significantemente maior no grupo C4d positivo comparado ao grupo C4d

negativo. Outro achado interessante foi que 7 dos 8 casos (87%) com

infiltrado nodular de linfócitos B foram C4d positivo. Estes resultados são

inéditos na literatura e demonstram uma estreita relação entre o infiltrado de

linfócitos B com o depósito peritubular de C4d.

Resultados semelhantes foram encontrados na análise da associação

entre o infiltrado plasmocitário e o depósito em capilares peritubulares do

fragmento C4d. Em 86% dos casos C4d positivos houve infiltrado

plasmocitário, enquanto que em apenas 44% dos casos C4d negativos

foram detectados plasmócitos. O número de plasmócitos infiltrando o

interstício renal foi significantemente maior no grupo C4d positivo comparado

ao grupo C4d negativo. Estes resultados corroboram o estudo de Xu e

Page 102: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Discussão

75

colaboradores que demonstraram uma correlação entre o infiltrado

plasmocitário e o depósito peritubular de C4d (XU et al., 2008) e, mais

recentemente, o estudo de Martin e colaboradores que demonstraram uma

associação entre o infiltrado plasmocitário, o depósito peritubular de C4d e a

presença de anticorpos anti-doador circulantes em 10 pacientes com

disfunção crônica do enxerto renal (MARTIN et al., 2009).

Por fim, o teste estatístico de correlação (teste de Spearman)

confirmou uma correlação positiva entre a presença do fragmento C4d em

capilares peritubulares e a expressão de linfócitos B e plasmócitos em

biópsias de enxerto renal.

A partir destes resultados podemos especular que a rejeição C4d

positiva envolva além do mecanismo já conhecido de produção sistêmica de

anticorpos anti-doador, a possibilidade de produção de anticorpos in situ. A

maior produção local de anticorpos provavelmente estaria relacionada com a

presença de linfócitos B e plasmócitos no infiltrado renal. Esta possível

oferta adicional de anticorpos levaria à ativação local da via clássica do

sistema complemento com a consequente deposição do fragmento C4d no

capilar peritubular. Esta seria uma possível explicação para algumas formas

de rejeição C4d positiva nas quais não se detecta a presença de anticorpos

circulantes anti-doador, formas estas que evoluem desfavoravelmente e

provavelmente estão associadas à presença de linfócitos B e plasmócitos.

Page 103: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Conclusões

76

VI. CONCLUSÕES

1. A pesquisa do fragmento C4d em biópsias de enxerto renal pode ser

realizada em material de criostato ou parafina, tanto pela técnica de

imunofluorescência quanto pela técnica de imuno-histoquímica. As

técnicas de imuno-histoquímica em criostato e a imunofluorescência

em parafina são as melhores alternativas à técnica “gold standard”

imunofluorescência em criostato.

2. A prevalência total de C4d foi de 34% dos casos. Em 67% dos casos

de rejeição aguda e em 24% dos casos de nefropatia crônica do

enxerto houve depósito peritubular de C4d. A presença do C4d

peritubular associou-se a uma pior evolução clínica do transplante.

3. A prevalência total dos linfócitos B foi de 54% dos casos. Em 70% dos

casos de rejeição aguda e em 58% dos casos de nefropatia crônica

do enxerto houve infiltrado de linfócitos B. A presença de linfócitos B

esteve associada a uma pior evolução clínica do transplante.

4. A presença do fragmento C4d peritubular correlacionou-se com a

presença de linfócitos B e plasmócitos em biópsias renais, sugerindo

que estas células responsáveis pela produção de anticorpos possam

desempenhar um papel na ativação in situ do sistema complemento.

Page 104: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Anexos 77

VII. ANEXOS

VII.1. Anexo A

Última atualização da classificação de Banff para Patologia Renal (classificação de Banff’07).

(Solez et al., 2008)

Page 105: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Anexos 78

VII.2. Anexo B

Carta de aprovação do estudo pela Comissão de Ética em Pesquisa – CAPPesq-HC, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Page 106: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Anexos 79

VII.3. Anexo C

Dados clínicos, scores da marcação do C4d utilizando as 4 diferentes técnicas de marcação do fragmento C4d e follow-up dos 41 casos inclusos no estudo.

RA: rejeição aguda; NCE: nefropatia crônica do enxerto; M: masculino; F: feminino; B: branco; P: pardo; N: negro; Tx: transplante; DVR: doador vivo relacionado; DVNR: doador vivo não-relacionado; Bx: biópsia; POD: pós-operatório (dia); CrS: creatinina sérica; neg: negativo.

Criostato Parafina

Caso (No)

Diagnóstico Idade (anos)

Gênero Raça Re-Tx Doador Tempo Bx (POD)

CrS (na Bx)

IF IHC IF IHC Evolução do Enxerto

1 Sem Rejeição 57 F B não DVR 168 1,9 neg neg neg +

2 Sem Rejeição 33 M B não DVR 58 2,0 neg neg neg neg

3 Sem Rejeição 47 M B não Falecido 141 1,6 neg neg neg neg

4 Sem Rejeição 28 M N não DVR 40 8,4 neg neg neg +

5 RA 42 M P não DVNR 5 12,8 neg +++ neg neg

6 RA 48 M B não Falecido 22 3,1 ++ ++ ++ ++

7 RA 39 M N não DVR 14 2,2 neg neg neg ++ óbito

8 RA 25 M B não DVR 60 2,1 + + neg neg

9 RA 55 M B sim Falecido 37 4,6 +++ +++ +++ ++ perdeu enxerto

10 RA 30 M B não DVR 2868 22,9 +++ +++ +++ +++ perdeu enxerto

11 RA 44 M P não DVNR 28 2,7 neg neg neg neg

12 RA 51 M B não DVNR 7 2,9 neg neg ++ +

13 RA 45 M P não DVNR 30 2,4 ++ + ++ neg

14 RA 55 M B sim falecido 50 3,6 ++ ++ neg neg perdeu enxerto

15 RA 70 M B sim DVNR 23 3,3 ++ ++ ++ ++ óbito

16 RA 45 M P não DVNR 30 1,9 ++ + ++ ++

17 NCE 57 F B não falecido 217 1,5 neg neg neg +

18 NCE 51 M B não DVR 1188 1,5 neg neg neg neg

19 NCE 50 M B não falecido 734 1,9 neg neg neg neg

20 NCE 23 M N não DVR 146 2,0 neg neg neg neg

21 NCE 28 M P não DVR 260 2,1 ++ neg ++ neg

22 NCE 52 M P não DVR 695 2,0 neg neg neg neg

23 NCE 19 F B não DVR 630 1,6 + neg neg +

24 NCE 43 F B não DVNR 1703 1,4 neg neg neg ++

Page 107: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

Anexos 80

VII.3. Anexo C

Dados clínicos, scores da marcação do C4d utilizando as 4 diferentes técnicas de marcação do fragmento C4d e follow-up dos 41 casos inclusos no estudo (continuação).

RA: rejeição aguda; NCE: nefropatia crônica do enxerto; M: masculino; F: feminino; B: branco; P: pardo; N: negro; Tx: transplante; DVR: doador vivo relacionado; DVNR: doador vivo não-relacionado; Bx: biópsia; POD: pós-operatório (dia); CrS: creatinina sérica; neg: negativo.

Criostato Parafina

Caso (No)

Diagnóstico Idade (anos)

Gênero Raça Re-Tx Doador Tempo Bx (POD)

CrS (na Bx)

IF IHC IF IHC Evolução do Enxerto

25 NCE 48 M B não DVR 1395 3,0 + ++ neg +

26 NCE 28 F B não falecido 1233 4,1 + ++ neg neg

27 NCE 17 M B não DVR 2285 14,5 +++ +++ +++ ++ perdeu enxerto

28 NCE 45 M B não DVNR 2088 2,3 neg neg neg neg

29 NCE 55 M B não DVR 133 1,7 neg + + +

30 NCE 51 M B não DVNR 840 2,1 neg neg neg neg

31 NCE 49 F B não DVR 1184 1,4 neg neg neg neg

32 NCE 31 F B não DVR 2112 1,4 neg neg - -

33 NCE 44 M B não falecido 678 1,3 neg neg - -

34 NCE 51 M B não DVNR 534 2,1 neg neg neg neg

35 NCE 21 M B sim falecido 264 2,1 neg neg neg + perdeu enxerto 36 NCE 53 M P não falecido 2394 2,7 + neg - - perdeu enxerto 37 NCE 19 M B sim DVR 1153 2,3 neg + + neg

38 NCE 48 M B sim falecido 2800 2,1 neg neg ++ ++ perdeu enxerto

39 NCE 33 M B não DVR 224 2,6 neg neg neg +

40 NCE 36 M B não DVR 441 2,0 neg neg - -

41 NCE 50 F B não falecido 272 2,0 neg neg ++ +

Page 108: HUGO LUDOVICO MARTINS Análise da detecção de C4d, linfócitos

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