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MILLER
GUIA PARA,.",
A DISSECÇAO~r ,.",
DOCAOTERCEIRA EDiÇÃO
EVANS & de LAHUNTA
-INfRODUÇAO
A anatomia é o estudo da estrutura e a fisiologia é o estudo dafunção. Estrutura e função são inseparáveis como a base da ciência e aarte da medicina. A anatomia deve conhecer primeiro determinadaspartes do corpo, para que a fisiologia possa apreciar como essas funcionam. A anatomia macroscópica é o estudo das estruturas que podemser dissecadas e observadas a olho nu, ou com o auxílio de lupas, e constitui o tema principal deste livro.
A anatomia de uma região com relação a outras regiões do corpoé designada como anatomia topográfica. A aplicação prática do conhecimento em anatomia no diagnóstico e no tratamento de condiçõespatológicas denomina-se anatomia aplicada. O estudo de estruturasextremamente pequenas, que para serem vistas requerem o emprego demicroscópio, refere-se à anatomia microscópica. A observação detalhada de estruturas só é possível por meio do microscópio eletrônico econstitui a anatomia ultra-estruturaI. Quando um animal adoece oualguns de seus órgãos funcionam de modo impróprio, a alteração doestado normal é estudada pela anatomia patológica. O estudo do desenvolvimento do indivíduo desde o oócito fertilizado até o nascimento
é realizado pela embriologia, e aquele do zigoto até a fase adulta, pelaanatomia do desenvolvimento. A teratologia representa o estudo dodesenvolvimento anormal.
ETIMOLOGIA MÉDICA ENOMENCIATURAANATÔMICA
O estudante de anatomia confronta-se com uma variedade des
conhecida de tern10S e nomes de estruturas anatômicas. Logo, uma interpretação melhor da linguagem empregada em anatomia faz com queo estudo seja mais compreensível e interessante. Para a publicação detrabalhos científicos e a comunicação entre profissionais, o conhecimentoda terminologia anatômica é uma necessidade. Com o intuito de assegurar o entendimento dos termos anatômicos básicos, um dicionáriomédico deve estar acessível e ser consultado freqÜentemente. É muitoimportante aprender a grafia, a pronúncia e o significado de todos ostermos novos encontrados. As estruturas dos vertebrados são numero
sas e, muitas vezes, os nomes usuais não são viáveis, podem ser vagos ousem sentido. Uma vez que se entenda o porquê, é aconselhável ter umglossário de termos internacionais que possa ser compreendido por cientistas em todos os países. O aprendizado do vocabulário médico pode serauxiliado pela habilidade no emprego das raízes e afixos gregos e latinos.
Nosso vocabulário médico atual tem uma história de mais de 2.000
anos e reflete as influências de vários idiomas. Os primeiros escritos deanatomia e medicina foram quase que totalmente redigidos em latim e,como conseqÜência, a maioria das raízes dos termos anatômicos derivadessa língua clássica. Os termos latinos são comumente traduzidos parao vernáculo do profissional que os emprega. ConseqÜentemente, o latim hepar torna-se tiver em inglês,foie em francês, higado em espanhole leber em alemão."
Embora a terminologia anatômica procure ser o mais uniformepossível, uma disparidade nos termos tem-se originado entre os diveros campos da pesquisa e entre os diferentes países. Em 1895, um grupo
composto principalmente de anatomistas germânicos sugeriu uma nova
. do T.: Fígad(, em português.
relação de termos, dos quais muitos estão em uso pelo mundo. Tal relação, conhecida como Basle Nomina Anatomica (BNA), não foi aceitainternacionalmente, porém determinou a base para a presente NominaAnatomica (NA), que foi aprovada pelo Congresso Internacional de Anatomistas em Paris, em 1955. Dos 5.640 termos padronizados, mais de 80%foram mantidos da BNA. A revisão mais recente da Nomina Anatomica
é a quinta edição, publicada pela Editora Williams & Wilkins em 1983.Os preceitos de nomenclatura a serem seguidos, expressos na
Nomina Anatomica, são para não se fazerem alterações por motivospuramente pedantes ou etimológicos; manter termos curtos e simples;dar nomes similares a estruturas intimamente relacionadas; evitar o usode epônimos; empregar termos com algum·valor informativo ou descritivo; utilizar adjetivos diferenciais e opostos (por exemplo: superficiale profundo); adotar termos simples como regra geral e permitir alternativas somente como exceções; resistir a nominar estruturas insignificantes, mesmo que descobertas ou descritas, e usar o latim para todos ostermos. Os anatomistas, reunidos em comissões, têm dedicado tempo ereflexão consideráveis, objetivando o aperfeiçoamento da terminologiaanatômica. O Comitê Internacional sobre a Nomenclatura Anatômica
Veterinária, indicado pela Associação Mundial de Anatomistas Veterinários, publicou a Nomina Anatomica Veterinaria dos animais domésticos em 1968. Essa Nomina foi revisada em sua terceira edição, de 1983,e serve como base para a nomenclatura utilizada neste livro.
TERMOS DE DIREÇÃO
A compreensão dos planos, posições e direções relativas ao corpo do animal ou de suas regiões é necessária, a fim de atender aos procedimentos das dissecções (Fig. I).
PLANO:é uma superfície, real ou imaginária, ao longo da qual doipontos quaisquer podem ser conectados por uma linha reta.
Plano mediano: divide longitudinalmente a cabeça, o corpo ouos membros em metades iguais, direita e esquerda.
Plano sagital: passa através da cabeça, do corpo ou dos membroJ.paralelamente ao plano mediano.
Plano transversal: corta transversalmente a cabeça, o corpo ou omembros em um ângulo reto ao longo do seu eixo maior, ou transversalmente, através do eixo maior de um órgão ou de uma região anatônuca.
Plano dorsal: passa em ângulos retos aos planos mediano e transversal e, conseqÜentemente, divide o corpo, ou a cabeça, em porçõe"dorsal e ventral.
DORSAL:na direção ou relativamente próximo ao dorso e àsperfícies correspondentes da cabeça, do pescoço e da cauda; quantomembros, esse termo está indicado para a face superior do carpo. mer ••
carpo, tarso, metatarso e dedos (lado oposto ao dos coxins).VENTRAL:na direção de ou relati vamente próximo ao ventre
dome) e às superfícies correspondentes da cabeça, do pescoço. do tóra'te da cauda. Esse termo nunca deve ser empregado para os membros_
MEDlAL:na direção do ou relativamente próximo ao plano m...."<';~.no.
LATERAL:estrutura distante ou relativamente afastada do ,ç
mediano.
CRANIAL:na direção da ou relativamente próximo à cabe'-.membros, usa-se esse termo como proximal para o cafTV' eQuando se refere à cabeça. o termo é substituído Dor ro·
Plano mediano
2
Plano dorsal
INTRODUÇÃO
ca!Jdal -:>
Plano transversal ----.J
Fig. 1 Termos de direção.
ROSTRAL:na direção do ou relativamente próximo ao nariz; usado somente para a cabeça.
CAUDAL:na direção da ou relativamente próximo à cauda; nosmembros, aplica-se distal para o carpo e o tarso. O mesmo termo também é usado com relação à cabeça ..
Os adjetivos para os termos de direção podem ser modificados eutilizados como advérbios de modo, substituindo-se a terminação -alpela terminação -mente-, como em dorsalmente ..
Certos termos, cujos significados são mais restritos, são empregados para a descrição de órgãos ou dos apêndices locomotores.
INTERNo:intimamente relacionado com, ou na direção do centrode um órgão, da cavidade corpórea ou de uma estrutura anatômica.
EXTERNO:afastado do centro de um órgão ou de uma estrutura.SUPERHOAL:relativamente próximo à superfície do corpo ou à
superfície de um órgão maciço (parenquirnatoso).PROFUNDO:relativamente próximo ao centro do corpo ou ao cen
tro de um órgão maciço.PROXIMAL:relativamente próximo à raiz ou origem principal; uti
lizado para a extremidade fixa dos membros e cauda unidos ao corpo.DISTAL:afastado da raiz ou origem principal; nos membros e cau
da, usa-se para a extremidade livre.RADIAL:sobre o lado do antebraço em que o rádio está localiza
do, logo medialmente nesta região.ULNAR:sobre o lado do antebraço em que a ulna está localizada,
logo lateralmente nesta região.TIBIALEFIBULAR:correspondendo aos lados da perna, o lado tibial
sendo medial e o fibular, lateral.No cão e nas espécies similares, a pata é a região dos membros,
torácico ou pélvico, distal ao rádio e à ulna ou à tíbia e à fi.bula, respectivamente. A mão e o pé no homem são homólogos às extremidadesdistais dos membros torácico e pélvico do cão, respectivamente.
PALMAR:face da mão em que os coxins estão localizados - a faceque entra em contato com o solo quando o animal encontra-se com osquatro membros em estação.
PLANTAR:a face do pé em que os coxins estão localizados, ou seja,face que entra em contato com o solo quando o animal encontra-se comos quatro membros em estação. A face oposta para mãos e pés é conhecida como. face dorsal.
EDm: a linha central do corpo ou de qualquer de suas .regiões.Ax!AL,ABAXIAL:do eixo, pertencente ou relativo ao eixo. Quando
se referir aos dedos, o eixo funcional dos membros deve passar entre oterceiro e o quarto dedos. A face axial de cada dedo volta-se para o eixo,enquanto a face abaxial afasta-se dele.
Os termos a seguir são aplicados a vários movimentos básicosexecutados por partes do corpo.
FLEXÃo:o movimento,de tim osso com relação a outro, de tal modoque o ângulo formado por sua articulação é reduzido. O membro estáretraído ou dobrado, e o dorso e os dedos encontram-se curvados dorsalmente.
EXTENSÃO:o movimento de um osso sobre outro, de maneira queo ângulo formado por sua articulação aumenta. O membro se alonga ouestende, e os dedos e o dorso estão alongados. A extensão além de 1800
é denominada hiperextensão.ABDUÇÃO:o movimenfo de uma porção do corpo afastando-se do
plano mediano.ADuçÃo: o movimento em direção ao plano mediano.C1RcuNDuçÃo:o movimento de uma porção do corpo ao descre
ver a superfície de um cone (por exemplo: o braço estendido desenhando um círculo).
ROTAÇÃO:o movimento de uma porção ao redor do seu eixo longitudinal (por exemplo: a ação do rádio no antebraço humano ao se usaruma chave de fenda). A direção de rotação de um membro ou do segmento de um membro sobre seu eixo longitudinal é designada pela direção do movimento de sua face cranial ou dorsal (por exemplo: na rotação medial do braço, a crista do tubérculo maior do úmero gira medialmente).
SUPINAÇÃO:rotação lateral de um apêndice, de maneira que asfaces palmar ou plantar das mãos e pés voltam-se em sentido medial oudorsal.
INTRODUÇÃO
Fig. 2 Esqueleto do cão adulto.
PRONAÇÃO: rotação medial de um apêndice da posição supina, demodo que as faces palmar ou plantar fiquem voltadas ventralmente.
Nas radiografias, a incidência é descrita com relação à direçãode penetração pelos raios X: desde o ponto de entrada até o ponto desaída de uma parte do corpo. Incidências oblíquas são descritas com umacombinação de termos (exemplo: uma incidência do carpo com o tubode raios X perpendicular à face dorsal e o filme na face palmar será umaincidência dorsopalmar. Se o tubo de raios X for posicionado na direção da face dorsomedial do carpo e o filme, na face palmolateral, a incidência será oblíqua dorsomediopalmolateral).
DISSECÇÃO
O cão, quando indicado como uma espécie para dissecção, deveser preparado de modo humanitário. É anestesiado com pentobarbitalpor punção da veia cefálica, seguindo-se a exsangüinação por meio decânula introduzida na artéria carótida comum. Tal método permite a ação
de bombeamento do coração, com a finalidade de esvaziamento dosvasos sanguíneos, antes da injeção com o líquido conservador, consistindo em 8% de formalina e 2% de fenol em solução aquosa. O líquié então injetado sob cinco libras de pressão, por um período de aproximadamente 30 minutos. Após esse procedimento, as artérias são injerzdas utilizando-se uma seringa de 50 ml com látex vermelho, també~pela artéria carótida comum. O animal preparado representa um in\'e;;timento considerável de material e trabalho e, por isso, deve ser man::seado com cuidado, pois facilitará a dissecção e o estudo durante todoperíodo letivo. Uma gaze com 2% de fenoxietanol, 1% de fenol outro agente antifúngico e um envoltório plástico são indicados para umedecer e envolver as extremidades distais dos membros e a cabeça, e cob;:_todo o cadáver entre os períodos de dissecção. A refrigeração é de gra.;;.de auxílio para o armazenamento, porém não é essencial.
Há certas condutas e procedimentos que geralmente são reconhecidos como favoráveis ao aprendizado da anatomia. O propósito da cEssecção é o entendimento bem definido das estruturas normais do cof?Ce uma apreciação da variação individual.