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1 Microcrédito: os dois lados da moeda Autoria: Maísa Oliveira Melo Ferraz, Almiralva Ferraz Gomes, Weslei Gusmão Piau Santana Resumo Este artigo objetiva analisar se as políticas de microcrédito, em nível federal e municipal, contribuem para a mudança da realidade socioeconômica de tomadores de empréstimo. Para alcançar tal objetivo foi realizada uma pesquisa de natureza teórico-empírica e do tipo descritivo-exploratória no Banco do Povo e no Crediamigo do Banco do Nordeste do Brasil, localizados no município de Vitória da Conquista. Constatou-se que o microcrédito, isoladamente, não contribui para a mudança da realidade socioeconômica de pequenos empreendedores conquistenses e parcela significativa dos microempreendedores formais e informais está excluída do sistema financeiro nacional. 1. Introdução Desde a experiência do Grameen Bank, de Bangladesh, como Instituição de Microfinanças (IMFs), o microcrédito vem se tornando um dos principais paradigmas de programa com forte impacto social. Em outras palavras, um modelo reproduzível de combate à pobreza, não-assistencial e sustentável, nos mais diversos contextos nacionais. Além da pobreza, ao se estudar microcrédito, várias “nuances” estão entrelaçadas, dentre elas a questão do desenvolvimento. O desenvolvimento, em qualquer concepção, deve resultar do crescimento econômico acompanhado de melhoria na qualidade de vida. Ou seja, como referenciado por Vasconcellos e Garcia (1998, p. 205), “as alterações da composição do produto e a alocação de recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde...”. Diante disso, observa-se que o desenvolvimento econômico promove a melhoria dos padrões de vida, mas não resolve todos os problemas de uma sociedade. Por isso, como diz Bresser-Pereira (2006), ele é apenas um dos cinco grandes objetivos políticos a que se propõem as sociedades nacionais modernas, ao lado da segurança, da liberdade, da justiça social e da proteção do ambiente. Dentre as esferas do desenvolvimento, o local é, antes de tudo, um ato de vontade coletiva, do desejo do Governo e de todas as forças sociais, empenhadas em construir “um outro País”. Discutir então microcrédito torna-se necessário, pois se destaca como um instrumento, entre outros, de fomento ao desenvolvimento socioeconômico, desde que esteja associado a outras políticas públicas. Dentre os benefícios do microcrédito estão: a democratização do crédito, desenvolvimento com qualidade de vida, fortalecimento da economia interna, fortalecimento da economia popular, fortalecimento das iniciativas solidárias e, claro, dentre os principais destaques, a geração de trabalho, emprego e oportunidades de negócios solidários. Enfim, maior capacidade de inclusão socioeconômica. Observa-se então, por um lado, que o microcrédito, através da análise socioeconômica realizada pelos agentes de crédito, desponta como uma política diferenciada do sistema financeiro tradicional e que requer garantias reais. Por outro lado, o microcrédito enfrenta dificuldades muito além do que se pode “imaginar”, pois questões intrínsecas e extrínsecas estão envolvidas, tais como: falta de estrutura familiar, falta de gerenciamento, ou melhor, distinção, entre o negócio e os recursos familiares, baixo nível de escolaridade, enfim, “nuances” que vão além do que o microcrédito propriamente dito. Diante do exposto, propôs-se o seguinte objetivo: analisar se as políticas de microcrédito, em nível federal e municipal, contribuem para a mudança da realidade

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Microcrédito: os dois lados da moeda

Autoria: Maísa Oliveira Melo Ferraz, Almiralva Ferraz Gomes, Weslei Gusmão Piau Santana

Resumo

Este artigo objetiva analisar se as políticas de microcrédito, em nível federal e municipal, contribuem para a mudança da realidade socioeconômica de tomadores de empréstimo. Para alcançar tal objetivo foi realizada uma pesquisa de natureza teórico-empírica e do tipo descritivo-exploratória no Banco do Povo e no Crediamigo do Banco do Nordeste do Brasil, localizados no município de Vitória da Conquista. Constatou-se que o microcrédito, isoladamente, não contribui para a mudança da realidade socioeconômica de pequenos empreendedores conquistenses e parcela significativa dos microempreendedores formais e informais está excluída do sistema financeiro nacional.

1. Introdução

Desde a experiência do Grameen Bank, de Bangladesh, como Instituição de Microfinanças (IMFs), o microcrédito vem se tornando um dos principais paradigmas de programa com forte impacto social. Em outras palavras, um modelo reproduzível de combate à pobreza, não-assistencial e sustentável, nos mais diversos contextos nacionais.

Além da pobreza, ao se estudar microcrédito, várias “nuances” estão entrelaçadas, dentre elas a questão do desenvolvimento. O desenvolvimento, em qualquer concepção, deve resultar do crescimento econômico acompanhado de melhoria na qualidade de vida. Ou seja, como referenciado por Vasconcellos e Garcia (1998, p. 205), “as alterações da composição do produto e a alocação de recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde...”.

Diante disso, observa-se que o desenvolvimento econômico promove a melhoria dos padrões de vida, mas não resolve todos os problemas de uma sociedade. Por isso, como diz Bresser-Pereira (2006), ele é apenas um dos cinco grandes objetivos políticos a que se propõem as sociedades nacionais modernas, ao lado da segurança, da liberdade, da justiça social e da proteção do ambiente. Dentre as esferas do desenvolvimento, o local é, antes de tudo, um ato de vontade coletiva, do desejo do Governo e de todas as forças sociais, empenhadas em construir “um outro País”.

Discutir então microcrédito torna-se necessário, pois se destaca como um instrumento, entre outros, de fomento ao desenvolvimento socioeconômico, desde que esteja associado a outras políticas públicas. Dentre os benefícios do microcrédito estão: a democratização do crédito, desenvolvimento com qualidade de vida, fortalecimento da economia interna, fortalecimento da economia popular, fortalecimento das iniciativas solidárias e, claro, dentre os principais destaques, a geração de trabalho, emprego e oportunidades de negócios solidários. Enfim, maior capacidade de inclusão socioeconômica.

Observa-se então, por um lado, que o microcrédito, através da análise socioeconômica realizada pelos agentes de crédito, desponta como uma política diferenciada do sistema financeiro tradicional e que requer garantias reais. Por outro lado, o microcrédito enfrenta dificuldades muito além do que se pode “imaginar”, pois questões intrínsecas e extrínsecas estão envolvidas, tais como: falta de estrutura familiar, falta de gerenciamento, ou melhor, distinção, entre o negócio e os recursos familiares, baixo nível de escolaridade, enfim, “nuances” que vão além do que o microcrédito propriamente dito.

Diante do exposto, propôs-se o seguinte objetivo: analisar se as políticas de microcrédito, em nível federal e municipal, contribuem para a mudança da realidade

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socioeconômica de tomadores de empréstimo. Para alcançar tal objetivo, inicialmente, será realizada uma breve discussão a respeito de microcrédito, abordando as suas definições e características, e sobre Política Pública e Desenvolvimento. Após apresentação dos procedimentos metodológicos da pesquisa, os dados coletados em campo serão analisados à luz do referencial teórico para posterior considerações finais a respeito do estudo.

2. Microcrédito: definições e características A palavra crédito é originária do latim creditu e significa, em sentido lato, segurança

de que alguma coisa é verdadeira, confiança/crença, boa fama/reputação (FERREIRA, 1995). Em um sentido econômico restrito, crédito consiste na entrega de valor (mercadoria, serviço ou importância em dinheiro) para pagamento futuro mediante promessa estabelecida (SILVA, 1998). Esta definição então estabelece uma relação entre duas ou mais partes numa determinada operação e define um instrumento de política de negócios a ser utilizado por uma empresa comercial ou industrial na venda de seus produtos ou por banco comercial, por exemplo, na concessão de empréstimos, financiamentos ou fianças (SILVA, 1998).

O crédito, deste modo, carrega um significado profundo, que emerge da confiança, por parte de quem concede, no potencial daquele que o recebe de multiplicar esse valor e assim possibilitar a solvabilidade do montante emprestado. Conceder crédito a uma pessoa é, em essência, acreditar nela (VENTURA, 2000).

Entendido como fenômeno econômico, pode-se considerar o crédito como resultado da poupança feita por alguns, que transferem a outros, permitindo-lhes alcançar poder de compra atual e satisfazer suas necessidades de consumo. Caracterizando o sacrifício de alguém em não consumir no presente para que outros o façam. Torna-se então evidente que os recursos disponibilizados, nessas condições, podem ser considerados por algum tempo. Por conseguinte, terão um custo representado pelos juros requeridos (SECURATO, 2002).

De acordo com Gomes et al. (2007), a palavra microcrédito deriva da junção de duas outras palavras: Crédito significa crer, acreditar, confiar. Na linguagem coloquial atual, tem seu significado mais associado a algum tipo de empréstimo. O prefixo grego Micro significa pequeno. O termo microcrédito encontra diferentes definições. Para Gulli (1998) apud Gomes et al. (2007), microcrédito consiste em serviços financeiros de pequena escala, que envolvam valores baixos. Já para Schreiner (2001) apud Gomes et al. (2007), o termo refere-se a crédito concedido a pessoas de baixa renda.

De acordo com Yunus (2000), o acesso ao crédito é uma estratégia, uma maneira de se alcançar o desenvolvimento local. Segundo o autor, é necessário construir e criar instituições para ajudar os empreendedores, porque são eles, segundo Yunus (2000), aqueles que fazem as coisas acontecerem, ou seja, o desenvolvimento regional se deve aos empreendedores locais. Neste sentido, muito bem abordado por Franco (2000), o desenvolvimento local está relacionado com a possibilidade do surgimento de comunidades mais sustentáveis, capazes de suprir suas necessidades imediatas, descobrir vocações locais e despertar suas potencialidades específicas e fomentar o intercâmbio externo aproveitando-se de suas vantagens locais.

Sucintamente, microcrédito pode ser definido como crédito para pobres, dado sem garantias reais e de forma sustentável para geração de autoemprego. Nesta definição, cabe destacar os seguintes pontos: sustentabilidade, focalização nos pobres e alcance. Carvalho et al. (2009) afirmam que o debate em torno dos temas sustentabilidade versus alcance/foco nos mais pobres é polêmico e, em seu cerne, reside um questionamento fundamental: se e em que medida as pessoas muito pobres podem de fato se beneficiar dos programas de microcrédito e em quanto o microcrédito concretiza sua promessa e seus objetivos. Tal debate, de acordo

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com Dichter (2006) apud Carvalho et al. (2009), deve ser entendido e situado no âmbito do questionamento do microcrédito como promotor do empoderamento econômico e social das classes populares, ou seja, como um instrumento de emancipação de tais classes. Nesse sentido, Yunus (2002) considera o crédito como um direito humano, assim como os demais direitos constitucionais, que propicia a igualdade ao possibilitar que pessoas menos favorecidas de recursos também participem da economia. Assim, a questão que deve ser analisada e avaliada é se o microcrédito pode contribuir para remover as restrições que limitam as liberdades individuais e a igualdade, e assim promover o desenvolvimento e emancipação econômica e social do público ao qual se destina.

De acordo com Moraes e Souza Junior (2011), o mercado de micro finanças no Brasil possui suas próprias características. Apesar de todo o histórico desde 1973, o mercado de mi-cro finanças do Brasil não atingiu o grau de crescimento como em alguns países latinos ame-ricanos, conforme Brusky e Fortuna (2002). Apesar das instituições de microcrédito apresen-tarem-se como um possível instrumento eficaz de redução da pobreza, como abordado por Mazzutti (2005), o Brasil ainda não atingiu a essência do microcrédito proposto por Yunus (2000). Pode-se confirmar essa percepção, ao se pesquisar Berger (2006 apud YOKOMIZO, DINIZ e CHRISTOPOULOS, 2009, p. 2), que afirma que “o cenário ainda está longe do ide-al. Identificar quais são as reais dificuldades enfrentadas para ao acesso dessa população a serviços financeiros é uma questão a ser respondida”. Para caracterizar o contexto brasileiro, Sela et al. (2009) apud Moraes e Souza Junior (2011, p. 5) explicam que “no Brasil, a impor-tância do financiamento (...) justifica-se pela (...) quantidade de estabelecimentos de pequeno porte; crescimento do setor informal da economia; crescimento do desemprego e dificuldade de acesso ao crédito”. Nesse contexto, Carvalho e Abramovay (2004) e Pereira (2007), apud Freitas et al. (2009), ressaltam que:

[...] o acesso dos empreendedores informais ao sistema bancário é bastante difícil. A precariedade de seus negócios e a situação de pobreza na qual estão inseridos os distancia de atender aos requisitos impostos pelo sistema financeiro tradicional para acessar fontes de financiamento. Para os empreendedores do setor informal muitas vezes ativos familiares e do negócio se confundem sendo difícil precisar a dimensão da atividade empreendedora, que é explorada com o objetivo principal de dar sustentação ao núcleo familiar. (FREITAS et al., 2009, p. 6).

As considerações de Freitas (2009) explicitam o fato de o sistema financeiro

tradicional requerer garantias reais que no microcrédito não se exige, e sim a análise socioeconômica realizada pelos agentes de créditos. Também, destaca-se que o microcrédito enfrenta dificuldades muito além do que se pode “imaginar”, pois questões intrínsecas estão envolvidas, tais como: falta de estrutura familiar, falta de gerenciamento, ou melhor, distinção, entre o negócio e os recursos familiares, enfim, “nuances” que vão além do que o microcrédito pode oferecer. Segundo Yokomizo, Diniz e Christopoulos (2009), identificar tais questões e solucioná-las é o desafio do microcrédito.

3. Política Pública e Desenvolvimento Ao se fazer um estudo sobre políticas públicas de microcrédito, primeiramente,

necessita-se entender o conceito de política pública e desenvolvimento. Políticas Públicas são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São então políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas, em documentos (leis, programas, linhas de financiamento), que orientam ações que, normalmente, envolvem

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aplicações de recursos públicos. Enfim, pode-se dizer que Políticas Públicas correspondem a um conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando-se em um compromisso público que visa dar conta de determinada demanda em diversas áreas (GUARESCHI et al., 2004).

Elaborar uma Política Pública significa definir “quem” decide “o que”, “quando”, com que “consequências” e “para quem”. Nesse sentido, vale ressaltar que há distinção entre Políticas Públicas e Políticas Governamentais. Nem sempre “políticas governamentais” são públicas, embora sejam estatais. Para serem “públicas”, é preciso considerar a quem se destinam os resultados ou benefícios e se seu processo de elaboração é submetido ao debate público. Daí a importância do debate político, da transparência, da sua elaboração em espaços públicos e não nos gabinetes governamentais.

As políticas públicas visam responder às demandas, principalmente dos setores marginalizados da sociedade, considerados vulneráveis. Além disso, buscam ampliar e efetivar direitos de cidadania, regular conflitos entre diversos atores sociais que, mesmo hegemônicos, têm contradições de interesse que não se resolvem por si mesmas ou pelo mercado e necessitam de mediação. Outras políticas objetivam promover o desenvolvimento, criando alternativas de geração de emprego e renda.

Para Sachs (1993), são quatro as dimensões da sustentabilidade: social, econômica, ecológica e cultural. A primeira diz respeito à equidade da distribuição de renda e bens. A segunda pressupõe a alocação e o gerenciamento eficiente dos recursos públicos e privados, numa visão macrossocial, e não meramente econômica e financeira. A terceira refere-se às ações para evitar danos ao meio ambiente, causados pelos processos de desenvolvimento. Por fim, a sustentabilidade cultural refere-se ao respeito que deve ser dado às diferentes culturas e às suas contribuições para a construção de modelos de desenvolvimento apropriados às especificidades de cada cultura e cada local.

Uma política de desenvolvimento sustentável local requer a participação do Estado, dos agentes privados, empresas, consumidores e entidades da sociedade civil organizada. Como afirma Offe (1998, p.11), “a diminuição do Estado pela diminuição do Estado é um dogma assim como a defesa cega do estatismo”. Para Offe (1998), a nova ordem social será formada pelo Estado, pelo mercado e pelas Organizações Não Governamentais – ONG’s.

O desenvolvimento local não pode ser analisado sem que se coloque o problema da necessidade da geração de emprego e renda. Assim, para Dowbor (1996), a atuação do governo local em promover o desenvolvimento envolve a intervenção sobre as condições do ambiente social ou econômico, articulando medidas que propiciem o desenvolvimento do município. Segundo Dowbor (1996), nem sempre o controle é diretamente da prefeitura, mas em várias ocasiões é possível produzir soluções que contornem um determinado fator.

É importante destacar que a prefeitura deve funcionar como articuladora das ações de desenvolvimento, sendo mais do que um agente realizador do desenvolvimento. De acordo com Dowbor (1996), essas ações não podem ocorrer como monopólio do poder público. Sua eficácia será maior justamente quando “o poder público for apenas um dos agentes envolvidos no projeto de desenvolvimento local incorporado pela sociedade” (DOWBOR, 1996, p. 35). Gerar emprego e renda permanentes e dignos em coerência com um projeto de desenvolvimento local baseado na consolidação da cidadania exige compromisso social com a geração de trabalho e renda.

4. Procedimentos Metodológicos

Tendo em vista que o objetivo central desta pesquisa é analisar se as políticas de

microcrédito, em nível federal (o Crediamigo, do Banco do Nordeste do Brasil – BNB) e municipal (a Instituição Comunitária de Crédito Conquista Solidária – popularmente

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conhecida como Banco do Povo), de Vitória da Conquista, contribuem para a mudança da realidade socioeconômica dos tomadores de empréstimo, este tópico irá demonstrar os procedimentos metodológicos adotados para a realização da presente pesquisa.

Quanto aos objetivos, a presente pesquisa caracteriza-se por ser descritivo-exploratória. Para Gil (1991), a pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliofigura, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão. Já a pesquisa descritiva visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática.

Para Demo (1994 e 2000), é possível se identificar, pelo menos, quatro gêneros de pesquisa: teórica, metodológica, empírica e prática. Contudo, nenhuma delas é autossuficiente, pois “na prática, mesclamos todos acentuando mais este ou aquele tipo de pesquisa” (2000, p. 22). Neste sentido, pode-se caracterizar a presente pesquisa como teórico-empírico, pois dois casos empíricos foram analisados à luz de um referencial teórico que trata do assunto em questão.

Em função da necessidade de conhecer as peculiaridades do microcrédito disponibilizado pelo Crediamigo/BNB e pelo Banco do Povo, adotou-se o método do estudo de caso. O estudo de caso “se fundamenta na ideia de que a análise de uma unidade de determinado universo possibilita a compreensão da generalidade do mesmo ou, pelo menos, o estabelecimento de bases para uma investigação posterior, mais sistemática e precisa” (GIL, 1994, p. 79). Com o objetivo de complementar a análise, documentos das instituições pesquisadas foram consultados e analisados.

Ainda quanto aos procedimentos técnicos, a pesquisa envolveu, também, levantamento junto a clientes que contraíram pelo menos 25 ciclos de empréstimos no Banco do Povo. No Banco do Nordeste, por não existir um sistema que filtrasse os clientes com esse critério de ciclos de empréstimos, foi realizado, pelo próprio banco, um levantamento aleatório de clientes. Após a configuração dos critérios de análise da seleção dos clientes, obteve-se um total de 27 (vinte e sete) clientes do Banco do Povo, sendo que 1 (um) aparecia no sistema como ativo, porém, já se encontrava inativo, totalizando, dessa forma, 26 clientes para análise. Destes clientes, 6 (seis) não se encontravam em Vitória da Conquista, 1 (um) não quis participar e 1(um) não foi localizado. Dessa forma, foi realizada a pesquisa com 18 (dezoito) clientes do Banco do Povo. Com relação ao Crediamigo/BNB, o banco selecionou aleatoriamente 27 (vinte e sete) clientes para análise. Destes clientes, 2 (dois) não quiseram participar, 9 (nove) não foram localizados e 4 (quatro) não se encontravam na cidade. Diante disso, foi realizada a pesquisa com 12 (doze) clientes do Crediamigo/BNB. Com isso, 30 (trinta) tomadores de microcrédito foram investigados.

Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, uma pesquisa pode ser: (1) quantitativa, ao considerar que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Neste caso, requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas; (2) qualitativa, ao considerar que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem. Com base nisso, o presente artigo dará tratamento quantitativa e qualitativo aos dados coletados, portanto, pode-se classificá-lo como de natureza quanti-

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qualitativa. Para a realização da pesquisa, foram aplicados questionários estruturados junto aos

clientes de forma diferenciada, por se tratar de 2 (duas) instituições particularmente distintas. Os clientes do BNB foram selecionados aleatoriamente pelo próprio banco. Quanto ao Banco do Povo, foram selecionados os clientes com acima de 25 (vinte e cinco) ciclos, ou seja, número de empréstimos realizados. Os dados coletados através da aplicação dos questionários receberam tratamento quantitativo. Também foram realizadas entrevistas com os responsáveis das duas instituições dos programas de microcrédito. Estes dados, por sua vez, receberam tratamento qualitativo.

5. Breve caracterização dos Programas O Programa Crediamigo é o programa de microcrédito do BNB (Banco do Nordeste

do Brasil), em funcionamento desde 1998, estando presente em 2 (dois) mil municípios em sua área de atuação, que contempla todos os Estados do Nordeste, e os nortes de Minas Gerais e do Espírito Santo, além de estar presente no Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte. O BNB é responsável pelo maior programa de microcrédito da América do Sul e o segundo da América Latina, o CrediAmigo, por meio do qual o Banco já emprestou mais de R$ 3,5 bilhões a microempreendedores, sendo que em 2011 teve um acumulado até novembro de R$ 10.743.700,00. O Crediamigo é o programa de microcrédito produtivo orientado do Banco do Nordeste voltado a empreendedores urbanos, em sua maioria informais, que desenvolvem atividades relacionadas à produção, à comercialização de bens e à prestação de serviços. A característica básica do Programa Crediamigo é a garantia de aval solidário para empréstimos com valores variando de R$100,00 a R$ 15.000,00, de acordo com o negócio (BNB, 2012). O BNB conta, atualmente, com 1.007.209 clientes ativos no Programa do Crediamigo, sendo que, em Vitória da Conquista, corresponde a 4.090 clientes, com uma carteira ativa de R$ 4.450.000,00 (quatro milhões, quatrocentos e cinquenta mil reais).

Com relação ao Banco do Povo, constituído em 1999, trata-se da primeira Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) de microcrédito produtivo do interior da Bahia. O Banco do Povo, com sede em Vitória da Conquista, atua, também, nos municípios de Poções, Barra do Choça e Cândido Sales. Em breve, estará atuando em Anagé, Itambé, Itapetinga e Planalto (cidades circunvizinhas a Vitória da Conquista e que estão inseridas na Região Sudoeste da Bahia). Atualmente, possui 1.541 clientes ativos, correspondendo a uma carteira ativa de R$ 2.148.193,21 (dois milhões, cento e quarenta e oito mil, cento e noventa e três reais e vinte e um centavos). No ano de 2011, emprestou um total de R$ 5.502.360,00. O microcrédito produtivo orientado oferecido pelo Banco do Povo de Vitória da Conquista é destinado aos empreendedores de baixa renda.

6. Papel das Políticas Públicas de Microcrédito

A pesquisa de campo revelou que, muito embora cada uma das instituições tivesse suas especificidades, ambas possuem os agentes de crédito. Os agentes de crédito, como abordado por Rhyne (1994), apud Gomes et al. (2007), são uma das principais características dos programas bem sucedidos de microcrédito, pois o contato direto, realizado pelos agentes de crédito, proporciona ao banco o diagnóstico da realidade e do ambiente do empreendedor, em um sistema pouco dependente de agências físicas, mas com muitos agentes representativos. Segundo o Diretor Executivo do Banco do Povo, uma das vantagens do microcrédito, com relação a outras políticas públicas, é o atendimento personalizado. Além

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disso, como salientado pelo Coordenador de Microcrédito do BNB, outra vantagem do microcrédito está na facilidade. Segundo este Coordenador:

O Crediamigo ele não é de assistencialismo por que ele cobre os juros pelo produto, mas por se tratar de ser um produto acessível e ter uma taxa de juros, também, muito reduzida, ele faz com que o produto vá para a pessoa certa e que através do acompanhamento, esse investimento tenha retorno, não só para o cliente mas também para o governo federal.

Quando os gestores foram questionados, tanto no BNB quanto no Banco do Povo, sobre a capacidade de o microcrédito ser considerado um instrumento de inclusão social, ambos destacaram que o microcrédito é uma ferramenta poderosa de inclusão social. O diretor executivo do Banco do Povo salientou, inclusive, que “não é um instrumento assistencialista (...) permite que as pessoas, mesmo os mais pobres dentre os pobres, antes alijados do sistema financeiro tradicional, tenham oportunidade e o direito de realizar os seus sonhos”. O Coordenador do Crediamigo destacou também que pesquisas são realizadas, a exemplo das realizadas pela Faculdade Getúlio Vargas – FGV – para avaliar o Programa e revelam que a clientela sai da linha de pobreza. O Coordenador destacou que “isso faz com que a gente perceba que é sim uma oportunidade de incluir socialmente os clientes, e também mostrar a eles que através do trabalho podem gerar um meio de vida sustentável, sem necessidade de programas sociais que são de subsistência”.

Diante das informações coletadas pela pesquisa, observam-se que, apesar de os responsáveis pelas políticas de microcrédito, de ambas as Instituições, salientarem que o microcrédito é uma política de inclusão social, os dados coletados junto aos tomadores de crédito não confirmam as considerações feitas pelos gestores das Instituições, pois não se constatou uma mudança de realidade significativa desses sujeitos. Esta constatação nos remete as considerações de Lopes (2007) quando afirma que “essa forma de concessão de crédito à população das camadas populares (desprovidas de garantias exigidas pelo sistema de crédito tradicional) só poderá funcionar com coerência quando for associado às demais políticas de emprego (LOPES, 2007, p. 20).

Para Santos e Nitsch (2001), o microcrédito é um instrumento de fomento ao desenvolvimento econômico e social. Assim, o microcrédito pode ser visto como uma política de inserção bancária e monetária, pois, potencialmente, pode retirar as pessoas de situações de situação de extrema pobreza. De acordo com o Coordenador do Crediamigo,

A gente tem uma preocupação muito grande de oferecer as pessoas de baixa renda um crédito condizente com a capacidade de pagar, até por que muito dinheiro na mão de quem não pode pagar, que as vezes se parece com uma coisa positiva, pode se tornar negativa, você pode aí negativar o nome, você pode fazer com que a pessoa perca as oportunidades. Então, eu vejo que o crédito ele serve sim para essas pessoas, a gente trabalha dessa forma, também, agente tem créditos que variam de R$ 100,00 a R$ 15.000,00, então você pode oferecer crédito de R$ 100,00, R$ 200,00, que para muitos é pouco, mas para as pessoas que estão ali na extrema pobreza, esse valor já pode ser uma grande ferramenta de investimento.

No que diz respeito à informalidade, o diretor executivo do Banco do Povo considera

que “de forma alguma e muito pelo contrário” o microcrédito incentiva a informalidade. O microcrédito, segundo ele, permite que os pequenos empreendedores tenham condições de desenvolverem os seus empreendimentos a tal ponto que, de alguma forma, torna urgente e necessária à formalização. Da mesma forma, o Coordenador de Microcrédito do BNB também destaca que o microcrédito não incentiva a informalidade. Para este Coordenador,

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A ideia do microcrédito é exatamente o contrário, é você fazer que o informal se formalize, quando você dar oportunidade para que ele cresça, ele mesmo sente a necessidade de se formalizar até para ter novas oportunidades de vendas, os clientes que exigem muitas vezes nota fiscal, vão exigir dele isso também, e ele vai necessariamente precisar de se formalizar.

Através do microcrédito, segundo o Coordenador de Microcrédito do BNB, consegue-se resolver problemas tal como o endividamento do cliente. Devido à impossibilidade da compra a vista, a maioria dos clientes informais ou dos pequenos empreendedores não detém capital de giro ou dinheiro para investimento. Isso faz com que ele busque alternativas que, muitas vezes, são inviáveis – crédito com taxa de juros elevadas, créditos pessoais, cartão de crédito (que tem uma taxa elevada quando se atrasa), cheque especial (que também tem uma taxa elevada). Esses problemas fazem com que muitos comerciantes, que tem um sonho até muito promissor, acabem, depois de certo tempo, tendo que fechar portas e, algumas vezes, com dívidas contraídas, pois o dinheiro necessário para investir, capital de giro com taxa reduzida, não foi encontrado e o empresário perdeu a oportunidade de transformar uma boa ideia em algo lucrativo. Neste sentido, parece haver uma contradição entre as informações coletadas com Coordenador do Microcrédito do BNB e os clientes investigados, pois, metade das despesas familiares, segundo os tomadores entrevistados, em ambas as Instituições, são para pagar o empréstimo do Banco.

7. Análise Socioeconômica advinda dos recursos oriundos do microcrédito: a Experiência do Banco do Povo e do Crediamigo/BNB

Por meio da pesquisa de campo, realizada nas duas unidades de análise, Instituição

Comunitária Conquista Solidária, popularmente conhecida como Banco do Povo, e Crediamigo do Banco do Nordeste do Brasil, da cidade de Vitória da Conquista, foram coletados dados que permitiram uma breve análise da realidade das condições de vida dos clientes. Esta seção se propõe então a apresentar os resultados desta fase da pesquisa.

O nível de escolaridade dos clientes, tanto do Banco do Povo quanto do Crediamigo, de acordo com os dados obtidos na pesquisa, apresenta-se da seguinte forma: Banco do Povo – 38,89% possuem tanto o nível de escolaridade fundamental incompleto quanto o fundamental completo, 16,67% o nível médio e 5,56% são apenas alfabetizados (Figura 1); Crediamigo – 50% possuem o nível médio completo, 33,33% o fundamental incompleto e 8,33% possuem tanto o nível médio incompleto quanto a alfabetização (Figura 2). A pesquisa revelou que o nível de escolaridade dos entrevistados não se alterou depois que ingressaram no Programa de microcrédito. Todos os entrevistados, em ambas as Instituições, informaram ter estudado em escola pública.

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Figura 1. Escolaridade dos Participantes Fonte: Pesquisa Direta no Banco do Povo. Vitória da Conquista, Fevereiro/2012

Figura 2. Escolaridade dos Participantes Fonte: Pesquisa Direta no Crediamigo. Vitória da Conquista, Fevereiro/2012

Com relação ao acesso a outras modalidades de curso ou especificamente a algum

curso profissionalizante, 100% dos entrevistados, tanto do Banco do Povo quanto do Crediamigo, não estão realizando nenhum curso profissionalizante atualmente. Antes de ingressarem no Programa, alguns entrevistados realizaram algum curso, dentre eles: no Banco do Povo, 27,78% realizaram o curso de corte e costura, 5,56% os cursos de culinária, torneiro mecânico e datilografia. No Crediamigo, apenas 8,33% havia realizado o curso de empreendedorismo. A análise dos dados demonstra que faltam políticas de incentivo a educação e a qualificação profissional voltadas para esses sujeitos ou mesmo interesse dos tomadores em participar de cursos de qualificação. Como abordado por Dowbor (2010), o país continua a ostentar uma desigualdade dramática sendo necessário políticas de apoio radicalmente mais amplas.

Quanto ao controle administrativo do negócio, tanto os clientes do Banco do Povo quanto do Crediamigo, não realizavam nenhum tipo de controle do negócio. Contudo, 16,67% dos clientes do Crediamigo passaram a efetuar um controle administrativo, simples e manual, depois que ingressaram no Programa de Microcrédito.

De acordo com a pesquisa, a principal fonte de recursos atual das atividades laborais corresponde a recursos do Banco do Povo e/ou do Crediamigo, equivalendo a 88,89% e 80%, respectivamente. Foi constatado por meio da pesquisa que alguns entrevistados, tanto do Banco do Povo quanto do Crediamigo/BNB, são clientes de ambas as Instituições. Também foi constatado que a maioria dos entrevistados, tanto do Banco do Povo quanto do Crediamigo, 66,67% e 84,62%, respectivamente, tinha como principal fonte de recursos, antes de contraírem empréstimos nessas Instituições, os recursos próprios. Além disso, observa-se que, anteriormente, em ambas as Instituições, os entrevistados não buscavam outros bancos para financiar as suas atividades (conforme Tabelas 1 e 2). Isso nos remete a Alves e Soares (2004) que salientam que a população de baixa renda está tradicionalmente excluída do sistema financeiro tradicional, pois este exige garantias reais, ao contrário do microcrédito.

Tabela 1:

0

0,055555556

0,388888889

0,388888889

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0,166666667

Atualmente Antes

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0,083333333

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Atualmente Antes

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Principal Fonte de Recursos

Fonte

Entrevistados

Atualmente Antes

Frequência % Frequência % Banco do Povo 16 88,89 0 0,00

Crediamigo 2 11,11 5 27,78 Recursos Próprios 0 0,00 12 66,67

Agiota 0 0,00 1 5,56 Outros Bancos 0 0,00 0 0,00

Nota. Fonte: Pesquisa Direta no Banco do Povo. Vitória da Conquista, Fevereiro/2012.

Tabela 2: Principal Fonte de Recursos

Fonte

Entrevistados

Atualmente Antes

Frequência % Frequência % Banco do Povo 1 6,67 1 7,69

Crediamigo 12 80,00 0 0,00 Recursos Próprios 2 13,33 11 84,62

Agiota 0 0,00 1 7,69 Outros Bancos 0 0,00 0 0,00

Nota. Fonte: Pesquisa Direta no Crediamigo. Vitória da Conquista, Fevereiro/2012.

Em relação à situação no mercado de trabalho, no Banco do Povo, 94,44% dos entrevistados são autônomos, desenvolvendo suas atividades por conta própria ou em pequenos estabelecimentos não legalizados (55,55%), confirmando, dessa forma, dados de pesquisas anteriores já realizadas pela Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista (PMVC, 2011), que constataram que parte dos empréstimos é constituída por mulheres e empreendedores do setor informal. Com relação a presente pesquisa, ao ingressarem no Banco do Povo, esse índice, como pode ser verificado na Figura 3, correspondia a 88,89%, tendo uma informalidade de 77,77%. No Crediamigo, atualmente, 100% dos entrevistados são autônomos, desenvolvendo suas atividades, na maioria das vezes, em estabelecimentos legalizados (58,33%). Ao ingressarem no programa, conforme pode ser observado na Figura 4, esse índice correspondia a 83,33% e havia uma informalidade em 66,66% dos casos.

Figura 3. Entrevistados distribuídos por Situação no Mercado de Trabalho. Fonte: Pesquisa Direta no Banco do Povo. Vitória da Conquista, Fevereiro/2012

Frequência % Frequência %

Atualmente Antes

Entrevistados

Assalariado 1 5,56% 2 11,11%

Autônomo 17 94,44% 16 88,89%

Nenhum 0 0,00% 0 0,00%

0

2

4

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Figura 4. Entrevistados distribuídos pro Situação no Mercado de Trabalho. Fonte: Pesquisa Direta no Crediamigo. Vitória da Conquista, Fevereiro/2012.

Em relação ao local atual onde as atividades são desenvolvidas, 44,44% dos

entrevistados do Banco do Povo realizam suas atividades em barraca (Tabela 3), enquanto no Crediamigo 66,67% dos entrevistados desenvolvem suas atividades em ponto comercial (Tabela 4). Essa realidade permanece praticamente a mesma desde o ingresso nos Programas (33,33% no Banco do Povo e 58,33% no Crediamigo).

Tabela 3: Local de Trabalho

Local

Entrevistados

Atualmente Antes

Frequência % Frequência % Barraca/ Banca 8 44,44 6 33,33 Unidade Móvel 1 5,56 2 11,11 Ponto Comercial 3 16,67 1 5,56 Serviço em Domicílio 2 11,11 2 11,11 Atividade na própria casa 4 22,22 4 22,22

Outro 0 0,00 3 16,67

Total 18 100,0 18 100,00Nota. Fonte: Pesquisa Direta no Banco do Povo. Vitória da Conquista, Fevereiro/2012

Tabela 4: Local de Trabalho

Local

Entrevistados

Atualmente Antes

Frequência % Frequência % Barraca/ Banca 4 33,33 4 33,33 Unidade Móvel 0 0,00 0 0,00 Ponto Comercial 8 66,67 7 58,33 Serviço em Domicílio 0 0,00 0 0,00 Atividade na própria casa 0 0,00 0 0,00

Outro 0 0,00 1 8,33

Total 12 100,00 12 100,00Nota. Fonte: Pesquisa Direta no Crediamigo. Vitória da Conquista, Fevereiro/2012.

Com relação à renda líquida mensal, no Banco do Povo, 77,77% ganham até 4

salários, sendo que desses 11,11% ganham menos de 1 salário, 22,22% ganham entre 1 e 2 salários, 44,44% ganham de 3 a 4 salários. Os demais entrevistados do Banco do Povo,

Frequência % Frequência %

Atualmente Antes

Entrevistados

Assalariado 0 0,00% 2 16,67%

Autônomo 12 100,00% 10 83,33%

Nenhum 0 0,00% 0 0,00%

0

2

4

6

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14Q

uant

idad

e

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ganham de 5 a 7 salários (16,67%) e de 8 a 9 salários (5,56%), conforme pode ser observado na Figura 5. Anteriormente, a maior renda que recebiam era de até 7 salários (11,11%) e menos de 1 salário havia 5,56% dos respondentes. Tais dados revelam que após o empréstimo houve um aumento de renda dos tomadores.

Figura 5. Renda Líquida (em salários mínimos) Fonte: Pesquisa Direta no Banco do Povo. Vitória da Conquista, Fevereiro/2012

Figura 6. Renda Líquida (em salários mínimos) Fonte: Pesquisa Direta no Crediamigo. Vitória da Conquista, Fevereiro/2012

No Crediamigo, 83,33% dos entrevistados ganham até 4 salários e 16,67% até 9

salários. Anteriormente, a maior renda declarada pelos entrevistados era acima de 10 salários (16,67%) e 50% com renda de até 4 salários (Figura 6).

Foram coletados também dados sobre a posse de bens de consumo duráveis e imobilizados. Verificou-se os entrevistados já possuíam alguns bens desde o ingresso no Programa, tais como: Banco do Povo – carro (16,67%), ferro de passar (94,44%), fogão a gás (100%), aparelho de som (55,56%) e TV (100%); Crediamigo – máquina de costura

Atualmente

Último Trabalho

Penúltimo Trabalho

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Penúltimo Trabalho

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(16,67%), ferro de passar (100%), fogão a gás (100%), micro-ondas (66,67%), batedeira (91,67%), liquidificador (100%), geladeira (100%), aparelho de som (75%), rádio (100%) e TV (100%). Alguns bens se destacam pela desproporção da média de antes com relação a atual, exemplo: Banco do Povo – máquina de lavar (de 16,67% passou para 72,22%), micro-ondas (de 5,56% passou para 66,67%), DVD (de 38,89% passou para 83,33%) e celular (de 22,22% passou para 94,44%); Crediamigo – moto (de 8,33% passou para 33,33%), computador (de 33,33% passou para 66,67%). Deve-se ressaltar que muitos destes bens sofreram uma queda em seus preços de venda nos últimos anos em função, principalmente, do avanço tecnológico e redução do custo de fabricação.

Ainda pode-se constatar que alguns entrevistados não possuíam determinados bens antes de ingressarem no Programa e, atualmente, possuem, tais como: Banco do Povo – moto (5,56%), notebook (11,11%) e computador (83,33%); Crediamigo – notebook (8,33%). Tais dados apontam, portanto, para um aumento da aquisição de bens de consumo duráveis e imobilizado, após o ingresso nos Programas.

8. Considerações Finais

Ao se analisar os dados obtidos pela pesquisa, constatou-se que, não obstante o aumento da renda líquida em alguns casos e do crescimento da aquisição de bens de consumo duráveis, o microcrédito não contribui de fato para a mudança da realidade socioeconômica dos pequenos empreendedores conquistenses que atuam na indústria, no comércio e no setor de serviço de ambas as Instituições investigadas assim como que parcela significativa dos microempreendedores formais e informais está excluída do sistema financeiro nacional. Pode-se assim considerar, de certa forma, que os empréstimos do Banco do Povo e do Banco do Nordeste, em particular o Crediamigo, apresentaram impacto na renda dos clientes, favorecendo a ampliação de limites de crédito disponíveis bem como ampliação de suas atividades e geração de renda. No entanto, não se evidenciaram maiores alterações nas condições de vida desses clientes à exceção da aquisição de bens de consumo doméstico. No mínimo, essas condições mantiveram-se estáveis, podendo-se dizer que, para esses beneficiários, os impactos na renda não necessariamente resultaram em impactos de mudança socioeconômica dos tomadores de empréstimo.

O Estado desempenha papel fundamental como indutor do desenvolvimento. Diante disso, sinalizamos para a necessidade de integração do Crediamigo e do Banco do Povo, que trabalham com o microcrédito, com outros programas, a fim de identificar novas formas de atuação nas áreas de geração de renda e trabalho, infraestrutura, moradia, educação, lazer, cultura e saúde. Consideramos ainda que o microcrédito não pode ser considerado como a “mola propulsora” ou a base fundamental de transformação do desenvolvimento. Ele deve ser uma ferramenta auxiliar para a promoção do desenvolvimento dos tomadores. O microcrédito, ao lado de outras políticas públicas, tais como, promoção de programas de alfabetização e capacitação profissional, apoio à cultura empreendedora e ao primeiro negócio, identificação das necessidades de geração do emprego local e em consonância com a participação efetiva da comunidade e dos governos locais, potencialmente, possui mais condições de mudar a realidade dos cidadãos.

Alguns estudiosos consideram que os programas de microcrédito necessitam desenvolver outras ações complementares ao crédito. Segundo Barbosa (2007), trata-se de ampliar o universo de práticas econômicas e possibilitar ações de reconstrução de relações e laços sociais: “[...] mas não basta facilitar o crédito, é preciso desenvolver ações que fortaleçam a manutenção dos empreendimentos financiados, consolidem parcerias e cadeias produtivas que coloquem em relação produtores e consumidores” (BARBOSA, 2007, p. 102).

Além disso, a política de microcrédito não pode ser visualizada sem se ter uma visão

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sistêmica de todo o processo, pois tudo está interligado. O microcrédito, por si só, é um instrumento ineficiente e inadequado, porém, ao lado de outros aparatos e ações necessárias para o bom desenvolvimento de uma sociedade, pode ser um instrumento de fomento ao desenvolvimento econômico e social, como bem referenciado por Santos e Nitsch (2001).

Embora o objetivo da presente pesquisa tenha sido alcançado, ela teve como limitações algumas questões que influenciam direta e indiretamente nos resultados, tais como, dificuldade dos clientes identificarem e separarem, por exemplo, as despesas pessoais/familiares e as do negócio. Esta confusão, por parte dos entrevistados, pode, de certa forma, comprometer o resultado, não obstante revelar suas deficiências para gerirem o empreendimento. Por não ter havido um contato prévio do BNB com os clientes que seriam entrevistados, houve uma relutância e/ou até recusa de alguns clientes em responder ao questionário.

Por meio desta pesquisa, nota-se a relevância de se aprofundar o estudo sobre o microcrédito, pois ficam questões em aberto sobre o microcrédito que tem relação com a falta de estrutura familiar, falta de conhecimento e/ou competências necessárias para o gerenciamento efetivo, enfim, “nuances” que vão além do que o microcrédito pode oferecer. Para finalizar, como bem salientaram Yokomizo, Diniz e Christopoulos (2009), identificar tais questões e solucioná-las é o desafio do microcrédito. Cabe aos acadêmicos e estudiosos debruçarem-se sobre esse assunto para que as políticas de microcrédito tenham o real alcance, foco e efeitos necessários para o desenvolvimento econômico e social.

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