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M INISTÉRIO P ÚBLICO do Estado do Paraná 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE CAMPO MOURÃO-PR O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por intermédio de seu agente, que esta subscreve, com fundamento nos artigos 37, caput e parágrafo 4º, 127 e 129, inciso III, da Constituição Federal; no artigo 1º, inciso IV da Lei Federal nº 7.347/85; no artigo 25, inciso IV, alínea “a” e “b da Lei nº 8.625/93; e na Lei nº 8.429/92, além de outros dispositivos legais aplicáveis à espécie, e com fundamento nos autos de inquérito civil MPPR-0024.13.000064-9, vem perante este r. Juízo, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE PELA PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de MOISES CLAUDIO NASCIMENTO, portador do RG. 4988217 SSP-PR, CPF 007.690.929-85 residente e domiciliado na Av. Guilherme de Paula Xavier, nº 2859, no Município de Campo Mourão; BGQ PAPELARIA LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 7.299.558/0001-69, com sede à Rua Santos Dumont, nº 1406 sala 1, Centro, CEP 87300-480, representada por Flávio Pereira Garaluz, na cidade de Campo Mourão – PR

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Page 1: MI N I S T É R I O PÚ B L I C O€¦ · MI N I S T É R I O PÚ B L I C O do Estado do Paraná 2 PAPEL COM. LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 6991915/0001-92,

M I N I S T É R I O P Ú B L I C O do Estado do Paraná

1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE CAMPO MOURÃO-PR

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por

intermédio de seu agente, que esta subscreve, com fundamento nos artigos 37, caput e parágrafo 4º, 127 e 129, inciso III, da Constituição Federal; no artigo 1º, inciso IV da Lei Federal nº 7.347/85; no artigo 25, inciso IV, alínea “a” e “b da Lei nº 8.625/93; e na Lei nº 8.429/92, além de outros dispositivos legais aplicáveis à espécie, e com fundamento nos autos de inquérito civil MPPR-0024.13.000064-9, vem perante este r. Juízo, propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE PELA

PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de MOISES CLAUDIO NASCIMENTO, portador do RG.

4988217 SSP-PR, CPF 007.690.929-85 residente e domiciliado na Av. Guilherme de Paula Xavier, nº 2859, no Município de Campo Mourão;

BGQ PAPELARIA LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 7.299.558/0001-69, com sede à Rua Santos Dumont, nº 1406 sala 1, Centro, CEP 87300-480, representada por Flávio Pereira Garaluz, na cidade de Campo Mourão – PR

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PAPEL COM. LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 6991915/0001-92, com sede à Rua Deoclescio Manoel Teixeira, nº 497, Sala A, Centro, CEP 87.260-000, representada por Renato da Silva, em Araruna – PR;

S. DO LAGO EQUIPAMENTOS PARA ESCRITÓRIO –

ME, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 3.269.422/0001-55 com sede à Avenida Manoel Mendes Camargo, nº 1071, Centro, CEP 87302-080, representada por Cezar Diniz S. de Freitas, na cidade de Campo Mourão – PR;

I. SILVA EQUIPAMENTOS PARA ESCRITÓRIO – ME,

pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 9.230.568/0001-73, com sede à Rua Devete de Paula Xavier, nº 1348, Centro, CEP 87302-190, representada por Cezar Diniz S. de Freitas, na cidade de Campo Mourão – PR;

RAYBLU INFORMATICA LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 10.216.047/0001-40 com sede à Avenida Capitão Índio Bandeira, nº 630, Centro, representada por Wilson Caetano de Castro Filho, na cidade de Campo Mourão – PR;

L. C. DE ALMEIDA INFORMÁTICA – ME, pessoa

jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 10.384.544/0001-58, com sede à Rua dos Expedicionários, n 1117, Bairro Jardim Copacabana, CEP 87302-350, representada por Luis Cunha de Almeida, na cidade de Campo Mourão – PR;

L. C. F. SANTOS – ME, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 3.381.901/0001-69, com sede à Avenida Capitão Índio Bandeira 620, Centro, CEP: 87301-000, representada por Michel Gaubler Santos, localizada na cidade de Campo Mourão – PR;

M2W COMERCIO IMPORTACAO E EXPORTACAO

LTDA - ME1, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 5.060.654/0001-24 com sede à Avenida Capitão Índio Bandeira 620-B, Centro, CEP: 87301-000, na cidade de Campo Mourão – PR.

1 Nome atual da empresa W. Santos – ME.

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I – A Causa de Pedir 1. Introdução

A administração pública é regida por um sistema jurídico diferenciado, o qual se encontra fundado e estruturado por princípios constitucionais e infraconstitucionais que lhe inferem um caráter peculiar.

Destacam-se, dentre outros, os princípios da

moralidade, da legalidade, da impessoalidade, da publicidade e da eficiência, que devem ser primados e obedecidos, obrigatoriamente, pelos agentes que se encontram às rédeas da Administração Pública.

Não só os princípios constitucionais estabelecem as

regras de conduta dos agentes públicos. Consoante com estes, diversas são as regras e leis que estabelecem o procedere do administrador público no exercício deste poder delegado pelo povo.

O desrespeito e a infringência dos princípios que

norteiam a Administração, quando verificados, implicam na ocorrência da improbidade administrativa, ou seja, a execução de ato contrário às regras de probidade sujeitas aos princípios próprios da administração pública, bem como das regras destas derivadas.

Estabeleceu o legislador constituinte, no art. 37, § 4º, da

Constituição da República, que "os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, da perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível" (Grifos de agora).

Entretanto, como o citado preceito constitucional é norma de eficácia limitada, só passou a produzir efeitos, ter aplicabilidade plena, com o surgimento da Lei nº 8.429/92, que definiu os atos de improbidade.

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A mencionada lei nº 8.429/92 classifica os atos de improbidade em três espécies - atos que importam enriquecimento ilícito (art. 9º), atos que causam prejuízo ao erário público (art. 10) e atos que atentam contra os Princípios da Administração Pública (art. 11) - e estabeleceu sanções, previstas no artigo 12, incisos I, II, III, correspondentes, respectivamente àquelas três espécies.

Quando observado o desrespeito aos princípios e à

legislação atinente aos atos da Administração, cabe ao Ministério Público, nos termos do artigo 127 da Constituição Federal, “a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.” Assevera ainda a Magna Carta:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...] III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.

A forma que o Ministério Público deve promover a

defesa dos interesses sociais, portanto, é através do inquérito civil e da ação civil pública. Nestes termos, já discursou Alexandre de Moraes:

A ação civil pública é o instrumento processual adequado conferido ao Ministério Público para o exercício do controle popular sobre os atos dos poderes públicos, exigindo tanto a reparação do dano causado ao patrimônio por ato de improbidade quanto à aplicação das sanções do art. 37, § 4º, da Constituição Federal, previstas ao agente público, em decorrência de sua conduta irregular.

Isso posto, vem o Ministério Público, devidamente

legitimado, por meio da via processual adequada, pedir a condenação dos requeridos, pela prática dos atos de improbidade administrativa, em função dos fatos e fundamentos jurídicos que se passa a narrar.

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2. Dos Fatos

2.1 Da constatação das Irregularidades Licitatórias

Na data de 08 de julho de 2010, o Observatório Social de Campo Mourão, abrigado no SER – Sociedade Eticamente Responsável de Campo Mourão, encaminhou a esta 3ª Promotoria de Justiça de Campo Mourão, requerimento de abertura de procedimento investigativo com o fito de apurar irregularidades em procedimentos licitatórios realizados pela Prefeitura Municipal (fls. 03-08 do Inquérito Civil).

O Observatório Social acompanhou o procedimento dos

Pregões Presenciais nº 171/2010, que tinha por objeto a aquisição de equipamentos de processamento de dados e materiais de expediente para a Secretaria da Mulher – recursos próprios; e o Pregão 173/2010, e aquisição de mobiliário, aparelhos e utensílios domésticos e equipamentos de áudio visual para a SEMU – Secretaria da Mulher – recursos próprios.

Nestas duas oportunidades verificou-se a presença de

irregularidades. Uma delas foi a insuficiência na descrição e especificação dos itens descritos no edital, imprecisão esta que facilita a aquisição de materiais de baixa qualidade com o preço de produtos de qualidade superior.

Além disso, constatou-se que muitos itens previstos no

edital foram orçados com preços muito superiores aos de mercado. Posteriormente, na data de 03 de agosto de 2010, o

Observatório Social de Campo Mourão encaminhou outro requerimento de abertura de procedimento investigativo a esta promotoria (fls. 09-12).

Conforme consta da petição (f. 10), o Observatório

Social acompanhou as licitações realizadas perante a Prefeitura de Campo Mourão, em especial, os certames em que participaram as seguintes empresas: S. do Lago Equipamentos para Escritório – ME, representada por Cezar Diniz S. Freitas; I. Silva – Equipamentos para Escritórios – ME (Maq-

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Sol); também representada por César Diniz S. Freitas L. C. F. Santos – ME (Informaq), representada por Michel Gaubler Santos; BGQ Papelaria (Papiro’s Papelaria), representada por Flavio Pereira Garaluz; Rayblu Informática Ltda. (Print Color), representada por Wilson Caetano de Castro Filho; L. C. de Almeida (Ex@Byte), representada por Luiz Cunha de Almeida.

O grupo de empresas supracitado teria atuado em

conluio, de modo que a cotação prévia dos processos licitatórios seria combinada por elas a um preço superior ao de mercado.

Nos Pregões Presenciais que o grupo das seis empresas

citadas participou, conforme verificado nas atas dos Pregões nº 16/2010, nº 64/2010, nº 130/2010, nº 157/2010, nº 206/2010, nº 230/2010, nº 237/2010, nº 291/2010, nº 261/2010, nº 306/2010, nº 316/2010, nº 320/2010, nº 328/2010, nº 329/2010, nº 337/2010 e nº 334/2010, os preços são mantidos sempre em valores próximos ao valor iniciado pelo certame.

Supõe-se que estabelecimentos da cidade deixam de

participar dos pregões por saberem que os preços são combinados. Isso porque pessoas do Observatório Social teriam sido testemunhas das supostas combinações de preços e do caso de um empresário da cidade ser supostamente ameaçado ao participar dos pregões por abaixar o preço das mercadorias.

2.2 Termos de Declarações

Constam no Inquérito Civil dois termos de declarações

(fls. 13-16). Ambos tratam de situações vivenciadas por empresários que participaram de Pregões em competição com as empresas citadas no item 2.1.

A primeira declaração, de 29 de julho de 2010, consta a

declaração de Bruno José da Costa, vendedor da empresa Maxi Informática. Ele relata que veio de Apucarana para participar de uma licitação para aquisição de produtos de informática e materiais para escritório (fls. 13-14).

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Segundo ele, ao chegar à Prefeitura Municipal, lhe foi oferecido R$ 1.000,00 (Mil reais) para que deixasse de participar da licitação, pois já havia acordo entre as outras empresas licitantes, inclusive com o pregoeiro2.

A proposta foi recusada e mesmo assim insistiu em participar do certame. Entretanto, segundo ele, na abertura dos envelopes ele foi imediatamente desclassificado, por não apresentar alvará de funcionamento da empresa.

O segundo termo de declaração, registrado em 03 de

agosto de 2010, consta a declaração de Alejandro Marcos Andrade Samudio, funcionário do Observatório Social de Campo Mourão, que relata conversas e insinuações ameaçadoras proferidas pelos representantes de duas empresas participantes, o que indica haver conluio entre eles3 (fls. 15-16).

2 ‘’[...] que quando chegou na entrada do prédio, foi abordado pelo Sr. César S. de Freitas, e ele perguntou se

iria participar da licitação, o declarante disse que sim, e Cezar disse que tinha feito acordo com as pessoas das outras empresas que iriam participar da licitação [...] o declarante disse que essas pessoas participaram da licitação, os nomes delas são Michel Gaubler, Flávio Garaluz, Wilson Caetano de Castro Filho e Luiz Cunha de Almeida; que César disse que tinha acertado com essas pessoas [...] que Cezar disse que inclusive já havia combinado com o pregoeiro de nome Moisés; e disse que já havia oferecido quatro mil reais para Moisés [...]’’. 3 ‘’[...] o declarante [...] há um tempo escutou dentro do Observatório que Débora, funcionária da livraria

Roma estava assustada, se sentido pressionada para não participar de licitações [...] no dia 21 de julho de 2010, o declarante foi acompanhar a licitação; e antes de começar a abertura das propostas, sentou entre o Cézar da empresa S. do Lago Equipamentos e Débora Lona, representante da empresa Romapel Ltda [...] que neste momento César começou a puxar assunto com o declarante a respeito do seu sobrenome por ser Samudio, e estava em voga o assunto relacionado ao desaparecimento de Elisa Samudio e o goleiro Bruno [...] na conversa entrou Anderson representante do Lojão-extra, e passou a relatar uma historia de que quando era moleque era metido a valente, mas um dia acabou apanhando de uns caras do colégio; que César disse que se mexesse com filho dele a história seria diferente, que um dia uns moleques queriam pegar o seu filho, e então pegou celular e ligou para um cara, e pediu para esse cara dar um susto nos moleques, e depois disso os moleques vieram pedir desculpas para o filho dele; após narrar isso se virou para Anderson colocou a mão no celular e disse quer ver eu dar uma ligadinha; que Anderson disse a César que ele era parecido então como mafioso italiano, que ele disse que era mesmo, em tom de brincadeira entre eles [...] que Débora estava escutando esta conversa com a mão na boca com expressão de desconforto [...] que o declarante percebe ao acompanhar as licitações que os representantes das empresa S. do Lago, BGQ e LC de Almeida parecem combinar preços pois na maioria das vezes orçam os seus produtos com preços iguais e no teto do edital. Nada mais’’.

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2.3 Da Instauração de Inquérito e Auditoria

Com o objetivo de apurar a veracidade das informações

ora mencionadas, instaurou-se o Inquérito Civil nº MPPR-0024.10.000015-7, na data de 30 de setembro de 2010.

De início, foi encaminhado ao Município de Campo

Mourão o ofício nº 067/2010-3ª, requisitando o envio de cópia dos procedimentos de licitação, bem como contratos, empenhos e comprovantes de pagamentos referentes aos Pregões, já mencionados (fls. 209).

Em resposta ao ofício o Município encaminhou cópia

dos procedimentos relativos aos pregões nº 171/2010 (fls. 210-394) e nº 173/2010 (fls. 395-569).

Em 25 de janeiro de 2011 foi requerida a realização de

auditora a fim de verificar se os preços das empresas vencedoras dos pregões de nº nº 16/2010, nº 64/2010, nº 130/2010, nº 157/2010, nº 206/2010, nº 230/2010, nº 237/2010, nº 291/2010, nº 261/2010, nº 306/2010, nº 316/2010, nº 320/2010, nº 328/2010, nº 329/2010, nº 337/2010 e nº 334/2010 estavam superfaturados e, em caso positivo, qual seria a porcentagem da diferença entre os preços lançados pelas empresas vencedoras e o normal de mercado (fls. 570).

Destarte foi encaminhado a esta promotoria pelo

Núcleo de Auditoria e Perícia do Ministério Público do Estado do Paraná 10ª Unidade Regional – Maringá o Relatório de Auditoria nº 122/2013, em sete volumes. Com base neste exame vasto e minucioso, constatou-se que, de fato, os preços estavam superfaturados em várias situações.

Além disso, verificou-se dentre elas diversas

irregularidades em todos os procedimentos analisados. Houve ausência de formalidade e desobediência às normas que regulam os procedimentos licitatórios, especialmente aquelas previstas na Lei 10.520/2010.

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Na análise dos procedimentos realizados o pregoeiro responsável em todas as ocasiões era Moisés Claudio Nascimento4.

3. Do Mérito 3.1 Das Irregularidades apuradas pela Auditoria

Conforme fls. 10 e 11 do Relatório de Auditoria anexo, cumpre transcrever as irregularidades apontadas no exame, por estarem em dissonância com Lei de Licitações nº 8.666/1993, o Decreto nº 3.555/2000 e a Lei do Pregão nº 10.520/2010:

a) inexistência, nos autos dos processos de pregão presencial nº

171/2010, 173/2010, 157/2010, 206/2010 e 344/2010, de documentação comprobatória de pesquisa preliminar de preços que serviria de referência para a estimativa do custo do objeto e o julgamento das propostas dos licitantes;

b) ausência de três orçamentos realizados em empresas do ramo,

utilizados para a feitura do preço de referência, indicado nas requisições de compra, que serviu de base à elaboração do Anexo I do Edital dos Pregões 16/2010, 64/2010, 130/2010, 230/2010, 237/2010, 261/2010, 291/2010, 316/2010, 320/2010, 328/2010, 329/2010, 331/2010, 332/2010, 337/2010 e 370/2010;

c) ausência de parecer Jurídico devidamente fundamentado, vez que,

em sua redação “O edital e anexos estão em acordo” não demonstra que os documentos foram examinados e aprovados pela assessoria jurídica de forma a contemplar todos os aspectos básicos, essenciais e prévios à realização do certame. Tal situação foi constatada nos certames analisados, com exceção do

4 Conforme se depreende dos Anexos IV – VII do Relatório de Auditoria – Pregão nº 16/2010 às fl. 595;

Pregão nº 64/2010 às fl. 705; Pregão nº 130/2010 às fl. 785; Pregão nº 157/2010 às fl. 934; Pregão nº 171/2010 às fl. 1033; Pregão nº 173/2010 às fl. 1075; Pregão nº 206/2010 às fl. 1236; Pregão nº 230/2010 às fl. 1341; Pregão nº 237/2010 às fl. 1373; Pregão nº 261/2010 às fl. 1423; Pregão nº 282/2010 às fl. 1465; Pregão nº 291/2010 às fl. 1506, Pregão nº 306/2010 às fl. 1558; Pregão nº 316/2010 às fl. 1591; Pregão nº 320/2010 às fl. 1648; Pregão nº 328/2010 às fl. 1765; Pregão nº 329/2010 às fl. 1765; Pregão nº 331/2010 e 332/2010 às fl. 1765; Pregão nº 337/2010 ás fl. 1972.

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Pregão nº 337/2010 e 344/2010 onde não constam nos autos do processo, parecer jurídico aprovando a minuta dos editais.

d) ausência do ato de designação do pregoeiro e equipe de apoio

(pregão nº 230/2010 e 237/2010); e) ausência de solicitação formal de itens (Pregão nº 237/2010); f) descrição não precisa e suficiente do objeto licitado (pregão nº

171/2010, 173/2010 e 344/2010); g) autuação e numeração do Procedimento licitatório com folha em

branco (pregão nº 331/2010), folhas numeradas em duplicidade (pregão nº 173/2010) e folhas com numeração rasurada (pregão nº 206/2010);

h) ausência de assinatura de representante das licitantes na Ata e

relatório de lances do pregão nº 370/2010 e do pregoeiro no pregão nº 173/2010. Bem como o edital do Pregão nº 16/2010 não contem assinatura do pregoeiro;

i) ausência da rubrica da equipe de apoio nos documentos e ata dos

pregões analisados; j) disponibilização do edital do certame após a sua realização (pregão

nº 64/2010); k) proposta de preço datada após a realização do certame (pregão nº

282/2010); l) habilitação de licitante que apresentou documento atestando sua

regularidade fiscal após a realização do certame (pregão nº 171/2010), que apresentou documentos em nome de terceiros (pregão nº 344/2010) e apresentaram certidões com prazos de validade vencidos (pregão nº 157/2010, 206/2010, 329/2010 e 337/2010);

m) produtos similares licitados pelo maior valor indicado na requisição

de compra ou licitados com valores diferentes dos orçados (pregão nº 16/2010 e 130/2010);

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n) indícios de sobrepreço dos valores fixados no Edital dos certames nº 64/2010, 261/2010, 282/2010, 306/2010, 316/2010, 329/2010 e 370/2010, devido à escolha do maior valor orçado pela Administração para composição dos preços de referência.

3.2 Dano ao erário

A lei de Improbidade Administrativa nº 8.429/92, em seu artigo 10, dispõe acerca dos atos de improbidade administrativa que causam lesão ao erário:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: [...] V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior ao de mercado;

Conforme o expresso no artigo 10 da Lei 8.429/1993, a improbidade administrativa lesiva ao erário é correspondente a qualquer conduta ilegal que ofenda a integridade do tesouro público.

O inciso V do artigo 10 está ligado com o tema do

superfaturamento em discussão, pela hipótese de permissão da aquisição de bem por preço superior ao de mercado.

Nesse sentido, a Moisés Claudio Nascimento, que atuou

como pregoeiro em todos os procedimentos analisados, deve ser imputado as penas previstas na lei de improbidade por, além de violar diversos princípios da administração, permitir e facilitou a aquisição de produtos superfaturados, causando dano ao erário.

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Ademais, conforme aponta o relatório de auditoria, as empresas BCQ Papelaria Ltda. – ME, I. Silva - Equipamentos para Escritório – ME, S. do Lago Equipamentos para Escritório ME, L. C. F. Santos – ME, W. Santos – ME, L. C. de Almeida - Informática – ME e Rayblu Informática Ltda. se ajustavam para que os preços fossem mais elevados, devendo ser igualmente sancionadas por causar dano ao erário.

Pela Lei n.º 8.429/92, artigo 17, § 6º, a ação de

improbidade será instruída com documentos que contenham indícios suficientes da existência do ato de improbidade. Trata-se de provas robustas No presente caso, os documentos que compõem o Relatório de Auditoria anexo sustentam a verossimilhança das alegações com a demonstração precisa de superfaturamento.

Nesse raciocínio, em razão do evidente direcionamento e

combinação prévia dos preços nas propostas, as empresas, mesmo que privadas, respondem pelos danos que causarem nessas situações.

Assim, pelo que se depreende do artigo 3º da Lei nº

8.429/1993 a lei é aplicável àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

Nesse sentido, compõem o pólo passivo da ação as

empresas que atuavam em conjunto elevação dos preços dos produtos e o pregoeiro Moisés Claudio Nascimento que permitiu e facilitou a aquisição de bens a preço superior ao de mercado.

Pela ponderação da auditoria, observou-se que o cotejo

entre os participantes das licitações realizadas no ano de 2010 pelo Município de Campo Mourão para aquisição de materiais de expediente, equipamentos e suprimentos de informática, móveis e eletrodomésticos em geral, contava sempre com a participação das mesmas empresas, quais sejam: BCQ Papelaria Ltda. – ME, I. Silva - Equipamentos para Escritório – ME, S. do Lago Equipamentos para Escritório ME, L. C. F. Santos, W. Santos, L. C. de Almeida - Informática – ME e Rayblu Informática Ltda. (fls. 109-110/160).

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Vale lembrar que o referido grupo de empresas já havia sido mencionado antes mesmo da instauração do Inquérito Civil (vide item 2.1 dos presentes autos).

Conforme item 4.8 do Relatório de Auditoria, ao comparar

os preços das mercadorias fornecidos pelas referidas empresas, eles eram sempre muito próximos aos que a prefeitura pretendia pagar. Ademais, é fácil notar que os valores das propostas não eram muito diferentes, possuindo uma diferença mínima de poucos reais. Com isso, o elemento da competitividade era praticamente inexistente (fls. 101-105).

Nas poucas oportunidades que empresas fora do grupo

tentaram participar, observa-se uma considerável diferença nos valores das propostas (Vide Quadro 45 do Relatório de Auditoria às fls. 101-103).

Nos termos do relatório, no caso dos licitantes não

apresentarem propostas de valores iguais, apenas uma ou outra apresentava valor um pouco mais baixo, de modo que todas concorreriam na fase seguinte, pois, existindo propostas empatadas, todas seriam selecionadas para participar da etapa subsequente (fl. 100).

Então, passando para a fase de lances, bastava fazer um

lance inferior ao menor já apresentado para se sagrarem vencedoras, ou seja, apresentavam lances com dimensão de poucos centavos ou reais a menos do que o anterior apenas para vencer, mas sem considerar a sem obtenção de maiores vantagens para a Administração, haja vista, que alguns valores fixados no edital do pregão já estavam superfaturados (fl. 100).

Com efeito, sendo todas as licitantes admitidas a

participar da segunda etapa, não haveria o interesse em reduzir os seus preços e os interessados ofertariam valores próximos ao edital e aguardariam pelo desenlace da segunda etapa (fls. 100).

Nesse sentido, os Pregões nº 331/2010 e 332/2010

contaram com a participação da empresa Romapel, que ofereceu propostas de preço com valores melhores, haja vista, que as demais empresas, orçavam seus valores muito próximos ao valor máximo fixado no edital do pregão. Nessas situações, a disputa nos preços licitados favoreceu uma redução

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significativa nos valores ofertados, chegando a até 93,92% de desconto em relação ao preço unitário fixado no edital (fls. 100-105).

Nos casos em que os valores foram diminuídos por um

dos participantes, as referidas empresas que costumavam participar dos pregões, igualmente, reduziram consideravelmente os preços das propostas, a ponto de serem vencedoras. Isso para eliminar a concorrência de empresas não pertencentes ao grupo, mantendo os preços sempre em uma margem superestimada.

Considerando uma eventual atuação em conjunto, formando uma espécie de cartel, geralmente os forasteiros são isolados até serem eliminados, desestimulando sua participação nas licitações futuras.

Observa-se ainda, que as empresas LCF Santos e W.

Santos e as empresas I. Silva - Equipamentos para Escritório – ME e S. do Lago Equipamentos para Escritório possuem vínculo entre seus sócios, seja por pertencerem ao mesmo grupo familiar ou por terem em comum o mesmo representante5 (fl. 109).

Neste tópico, importa transcrever tabela elaborada pela

auditoria contendo resumo e os nomes das licitantes vencedoras, mais os valores pagos e respectivos percentuais sobre o total contratado pelo Município, através dos seguintes Pregões Presenciais: 16/2010; 64/2010; 130/2010; 157/2010; 171/2010, 173/2010, 206/2010; 230/2010; 237/2010; 261/2010, 282/2010; 291/2010; 306/2010; 316/2010; 320/2010; 328/2010; 329/2010; 331/2010, 332/2010, 337/2010, 344/2010 e 370/2010 (fls. 109-110):

5 A empresa W.Santos – CNPJ 5.060.654/0001-24 - possui como sócios: Wilson dos Santos, Michel Glauber

Santos e Welthon Mark Santos, sendo os dois últimos filhos de Leila de Castro Formicoli Santos que é sócia da empresa LCF Santos – CNPJ: 3.381.901/0001-69. Dados extraídos através de consulta a Rede Infoseg em 21/10/2013, conforme cópia no anexo XI, conforme mencionado na nota de rodapé de fls. 109 do Relatório de Auditoria.

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Destarte, pela análise dos percentuais homologados das

licitantes vencedoras, verifica-se que aproximadamente 70% dos valores foram concentrados em três grupos econômicos, quais sejam: Rayblu (30%), W. Santos/ LCF Santos (20%) e S. do Lago/ I. Silva (20%). Seguidos pelas empresas BCQ e L. C. Almeida com aproximadamente 12% cada uma (fl. 109).

3.2.1 Discriminação dos valores superfaturados

De antemão, cumpre informar que o levantamento dos

dados comparativos dos preços foi feito a partir de consultas a várias empresas do ramo, localizadas em Campo Mourão, Maringá e Paranavaí, conforme menção nos itens 5 e 5.1 do relatório (fls. 110-112). Insta destacar as licitações analisadas nesta auditoria, que possuíam os seguintes objetos:

a) Aquisição de materiais de expediente para utilização nas Secretarias, referente aos certames nº 16/2010; nº 230/2010; nº237/2010; nº 306/2010; nº 320/2010; nº 331/2010 e nº 370/2010 (fls. 12-42).

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b) Aquisição de material de processamento de dados para uso das Secretarias, referente aos certames nº 64/2010; nº 261/2010; nº 282/2010 e nº 332/2010 (fls. 42-55).

c) Aquisição de equipamento de processamento de dados para uso das Secretarias, referente aos certames nº 130/2010; nº 157/2010; nº 171/2010; nº 328/2010 e nº 344/2010 (fls. 55-78).

d) Aquisição de mobiliários e eletrodomésticos, referente aos certames nº 173/2010, nº 206/2010, nº 291/2010, 316/2010, nº 329/2010 e nº 337/2010 (fls. 78/98).

Ressalta-se que os apontamentos iniciais dos indícios de

sobrepreço estão localizados nas seguintes páginas do Relatório de Auditoria nº 122/2013 anexo: Certame nº 64/2010 (fls. 46-47), nº 261/2010 (fls.49-51), nº 282/2010 (fl. 53), nº 306/2010 (fls. 30-33), nº 316/2010 (fl. 91), nº 329/2010 (fl. 94-95) e nº 370/2010 (fls. 39-42), devido à escolha do maior valor orçado pela Administração para composição dos preços de referência.

No item 5.3.1, sobre Apuração de Superfaturamento constante no Relatório de Auditoria em anexo (fls. 142-155), podemos observar uma análise comparativa e pormenorizada dos valores licitados, discriminando a quantia superfaturada em cada situação.

O auditor utilizou como parâmetros para aferição de

superfaturamento: o menor valor apresentado nas propostas de preços dos certames de mesmo objeto, realizados em Campo Mourão; menor valor encontrado nas pesquisas/comparações de preços para os produtos que apresentaram no mínimo dois valores inferiores ao preço pago pela municipalidade (fls. 114-115).

Nesses termos, foram considerados superfaturados

quando a diferença for superior a 20% entre o valor pago pelo município de Campo Mourão e o menor preço apurado (fls. 115).

Transcreve-se a seguir a tabela da fl. 155, contendo os

nomes das empresas, seus respectivos números de CNPJ, o valor contratado e o valor pago a maior.

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A tabela contém dados suficientes para demonstração da existência de superfaturamento, tendo-se em vista que nela há a somatória de todos os valores excedentes, ora antes apontados nas tabelas anteriores de fls. 116-153.

Pelo que se depreende do conteúdo da referida tabela,

o valor superfaturado foi de R$ 61.781,30 (Sessenta e um mil setecentos e oitenta e um reais e trinta centavos).

Transcreve-se a seguir quadro apresentado pela

auditoria em relação aos valores pagos a maior pelo Município de Campo Mourão, em virtude do superfaturamento dos preços dos produtos e os valores corrigidos pela média aritmética entre o INPV do IBGE e o IGP-DI da FGV, conforme dispõe o Decreto nº 1.544/95 da data de pagamento da nota fiscal até 31/10/2013 (fls. 156-157).

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Nesse sentido, conforme o teor do relatório, os preços pagos pelo Município em relação a “Material de Expediente” (quadro 48) (fls. 116-131), foram sistematicamente mais caros do que os praticados pelas fontes analisadas.

A variação de preços foi diferente para cada item e dos 184 (cento e oitenta e quatro) itens comparados, 101 (cento e um) foram adquiridos pela Prefeitura Municipal de Campo Mourão a preços maiores, em percentuais que variaram de 21,38% até 1275,00% (fls. 156).

Em relação aos “Suprimentos de Informática” (quadro

50) (fls. 133-134), notou-se a existência de variação entre os preços pagos pelo município e os praticados nas fontes analisadas.

Dos 23 itens comparados, 13 (treze) foram adquiridos

pela Prefeitura Municipal de Campo Mourão a preços maiores, em percentuais que variaram de 29,25% até 204,35%. Para os “Equipamentos de Informática” (quadro 52), notou-se igualmente a existência de variação entre os preços pagos pelo município e o normal de mercado (fls. 157).

Dos 44 (quarenta e quatro) itens comparados, 25 (vinte

e cinco) foram adquiridos pela Prefeitura Municipal de Campo Mourão a preços maiores, em percentuais que variaram de 24,86% até 307,57%. No tocante aos “Mobiliários” (quadro 54) (fls. 141-146), denotando-se variação entre os preços pagos pelo município e os praticados nas fontes analisadas.

Sendo que dos 68 (sessenta e oito) itens comparados,

27 (vinte e sete) foram adquiridos pela Prefeitura Municipal de Campo Mourão a preços maiores, em percentuais que variaram de 23,28% até 340,30% (fls. 157).

Por fim, observou-se no relatório que os preços pagos

pelo Município atinentes a aquisição de “Eletrônicos e Eletrodomésticos” (quadro 56) (fls. 148-153) possuíam um preço mais elevado em comparação às fontes analisadas. Dos 42 (quarenta e dois) itens comparados, 17 (dezessete) foram adquiridos pela Prefeitura Municipal de Campo Mourão a preços maiores, em percentuais que variaram de 20,65% até 112,00% (fls. 157).

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Portanto, a investigação demonstrou com suficiência os elementos de configuração do elemento subjetivo de ação dolosa. Ficou claro que os preços das propostas foram propositalmente superestimados pelo grupo de empresas: BCQ Papelaria Ltda. – ME, I. Silva - Equipamentos para Escritório – ME, S. do Lago Equipamentos para Escritório ME, L. C. F. Santos, W. Santos, L. C. de Almeida - Informática – ME e Rayblu Informática Ltda, com a finalidade de auferir lucros muito superiores, ocorrendo detrimento ao erário público.

No caso da empresa Papel Com. Ltda., não há indícios

de seu envolvimento na combinação dos preços. Porém, esta foi incluída no pólo passivo da ação por se beneficiar dos preços superfaturados, conforme se depreende dos cálculos do relatório de auditoria.

Assim, importa ressaltar que há fortes indícios de uma

combinação prévia de preços acima do normal pelas empresas supracitadas. Trata-se de uma investigação que levou aproximadamente 3 (três) anos para ser terminada e, ao fim concluiu que houve conluio das empresas, configurando o dolo na prática do ato de improbidade administrativa lesivo ao erário.

Isso significa que mesmo que, na remota hipótese de não se reconhecer o dolo e a má-fé das referidas empresas, a conduta que comporta improbidade administrativa lesiva ao erário pode ser qualquer ação ou omissão dolosa, bem como qualquer ação ou omissão culposa.

E no caso em tela está evidente, no mínimo, a

verificação de culpa da empresas. Por fim, o superfaturamento em si expõe presença do

elemento subjetivo necessário para caracterizar improbidade, pois ninguém eleva substancialmente os preços, extrapolando a margem de mercado, sem um propósito.

Tanto que nas poucas oportunidades que empresas

fora do grupo participaram das licitações, estas apresentaram propostas muito mais baratas e vantajosas para a administração, de modo que as empresas do grupo ora requerido foram forçadas a abaixar o valor elevado das suas propostas para vencer os certames.

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A ilegalidade está estampada no fato de se permitir ou

facilitar a aquisição de bem ou serviço por preço superior ao de mercado. Evidentemente, pela análise comparativa dos preços feita pela auditora, a Administração Pública poderia ter adquirido os produtos de maneira mais econômica e vantajosa.

3.3 Violações aos princípios da Administração Pública

Em suma, a obrigatoriedade de licitar possui previsão no

artigo 37, inciso XXI da Constituição Federal. Os entes da Administração Pública direta, indireta e fundacional se subordinam a essa regra, ressalvados os casos específicos previstos em lei.

Destarte o contrato administrativo com particulares que

envolva obras, serviços, compras e alienações, publicidade, permissões e locações, em regra, deve ser precedido de procedimento licitatório, ao passo que a administração pública deverá selecionar a proposta mais vantajosa para melhor atender o interesse público.

A seleção da proposta mais vantajosa engloba diversos

critérios, dentre eles, por exemplo, o de menor preço e melhor técnica. O pregoeiro Moisés Claudio Nascimento deixou de

observar os princípios da administração pública, permitindo a aquisição de bens, que deveriam seguir critério de menor preço, por critério de preços superfaturados, sem qualquer questionamento.

Atendendo as premissas norteadoras do procedimento

licitatório, além de seus princípios específicos, como o da isonomia e publicidade, aplicam-se os princípios gerais da administração previstos no artigo 37 da Constituição Federal, igualmente expressos no artigo 4º da Lei 8.429/1992: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

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Em específico ao procedimento licitatório, o artigo 3º da Lei 8.666/1993 dispõe o seguinte:

Art. 3o - A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.

A licitação pública está ligada principalmente aos princípios da supremacia do interesse público e da indisponibilidade. Os princípios constitucionais, legalidade, moralidade e impessoalidade, dentre outros, devem ser igualmente obedecidos pelos agentes da administração pública, sob pena de grave violação ao equilíbrio que separa a finalidade pública da finalidade particular.

Em razão disso, é dever da Administração Pública se

atentar a todas as regras procedimentos licitatórios. Caso contrário, a falta de zelo abre espaço para a prática de mais atos ilegais, atos estes que podem ensejar danos ao patrimônio público.

Em conexão com a lei de improbidade, temos que o ato

ímprobo deriva de uma imoralidade administrativa, ou seja, ligada aos princípios da administração pública. Portanto, o dever de probidade decorre de uma ética profissional própria do setor público.

No mais, a situação é preocupante quando a prática de

irregularidades e falta de formalismo se dá de forma corriqueira. Em síntese, o princípio da legalidade preceitua que toda

e qualquer atividade administrativa deve ser autorizada por lei, caso contrário será considerada ilícita. No caso em pauta há claras situações de violação do princípio basilar da legalidade.

Nesse mesmo raciocínio a doutrina leciona acerca do

princípio do formalismo procedimental, pelo qual se entende que as regras

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de procedimento licitatório devem seguir os parâmetros estabelecidos na lei, não sendo lícito aos administradores subvertê-los ao seu juízo.

Nos termos do artigo 82 da Lei de Licitações 8.666/1993,

os agentes administrativos que praticarem atos em desacordo com os preceitos desta Lei ou visando a frustrar os objetivos da licitação sujeitam-se às sanções previstas nesta Lei e nos regulamentos próprios, sem prejuízo das responsabilidades civil e criminal que seu ato ensejar.

Acerca dos atos que atentam contra os princípios da

administração, pelo teor do artigo 11 da Lei de Improbidade Administrativa nº 8.429/1992, em especial:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência;

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

[...]

IV - negar publicidade aos atos oficiais.

Reitere-se que o Relatório de Auditoria anexo constatou

diversas irregularidades nos procedimentos licitatórios analisados, sem contar os casos de superfaturamento já mencionados.

Como se verá a seguir, os atos praticados irregularmente

constituem atos de improbidade administrativa, se encaixando nos incisos do artigo 11 supracitado.

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3.3.1 Violações aos princípios da legalidade e moralidade

Em várias situações a auditoria verificou a falta de zelo nos procedimentos licitatórios. O pregoeiro Moisés Claudio Nascimento, permitiu, nas oportunidades a seguir apontadas, total falta de comprometimento com a lisura das licitações.

Destarte, verificou-se:

a) A disponibilidade do Edital após a realização do certame no caso do

Pregão 64/2010 (item 4.3.1.1.1) (fls. 44-45); b) Proposta de preço datada após a realização do certame, no Pregão

282/2010 (item 4.3.3.1.1) (fls. 52-53); c) Apresentação de documento de habilitação exigido no edital após a

realização da sessão pública no Pregão 171/2010 (item 4.4.3.1.2) (fls. 68-69);

d) Apresentação de certidões e de documentos com validade vencida (itens 4.4.2.1.2, 4.5.2.1.1, 4.5.5.1.1 e 4.5.6.1.1);

e) Documentos de habilitação apresentados em nome de outra empresa da família (item 4.4.5.1.2) (fls. 76-77);

f) Ausência de assinaturas dos membros da equipe de apoio na ata de

julgamento e demais documentos que compõem os processos (item 4.6) (fls. 98-100);

g) Ausência de assinatura do pregoeiro na Ata e Relatório de Lances do

Pregão 173/2010 (item 4.5.1.1 – 3ª constatação) (fls. 80)

h) Ausência de assinatura do pregoeiro no edital do certame do Pregão 16/2010 (item 4.2.1.1- 2ª constatação) (fls. 13-14).

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A disponibilidade do edital antes da realização do certame não possui qualquer amparo legal. Obviamente, a publicação do edital é o ato que antecede todo o procedimento licitatório. Sua publicação posterior prejudica totalmente sua publicidade e competitividade.

Ademais, se o certame já foi realizado, não existe lógica

em publicar o edital posteriormente. Além disso, se questiona como as empresas participantes tomaram conhecimento dessas licitações. O mesmo se diz da proposta de preço apresentada após a realização do certame.

A hipótese de apresentação de documentos após a fase

de habilitação não está prevista em lei. A apresentação de certidões com validade vencida e a entrega de documentos em nome de outra empresa atestam, em um primeiro momento, a falta de competência da comissão de licitação na análise dos documentos.

Em relação aos casos de ausência de assinaturas, como

bem colocado no relatório de auditoria, verificou-se que em nenhuma das atas de julgamento e relatório de lances consta assinatura de seus membros. Até mesmo quem lavrou as Atas de julgamento dos certames, Sra. Dayane Pereira França, não era membro da equipe de apoio designada pelo executivo municipal (fls. 99-100).

A auditora verificou a prática de aproveitamento de atas

anteriores, vez que, que sua estrutura era sempre a mesma. Foi tomado como exemplo o fato de que em todas as Atas se cita a Portaria nº 108/2008 como referência para a nomeação do pregoeiro e equipe de apoio, até mesmo, após ter sido revogada pela Portaria nº 231/2010, como no caso dos pregões nº 282, 291, 306, 316, 320, 326, 331, 332, 334, 329, 337, 344 e 370/2010 (fls. 99-100).

Assim, pela conclusão da auditoria, ficou demonstrado

que a feitura das atas seguia sempre o mesmo padrão, não se observando as alterações necessárias, o que demonstra o trato descurado para com os procedimentos licitatórios, além de pôr em dúvida quem realmente conduziu e auxiliou a realização dos certames (fls. 100).

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Em outro evento, verificou-se a inexistência, nos autos dos processos de Pregão Presencial nº 171/2010, 173/2010, 157/2010, 206/2010 e 344/2010, de documentação comprobatória de pesquisa preliminar de preços que serviria de referência para a estimativa do custo do objeto e o julgamento das propostas dos licitantes.

Conforme a Lei do Pregão nº 10.520/02, na divulgação

do orçamento estimado pela Administração é obrigatória, por força do inciso III, do art. 3º, que trata da fase preparatória do pregão, vejamos:

Art. 3º A fase preparatória do pregão observará o seguinte: [...] III - dos autos do procedimento constarão a justificativa das definições referidas no inciso I deste artigo e os indispensáveis elementos técnicos sobre os quais estiverem apoiados, bem como o orçamento, elaborado pelo órgão ou entidade promotora da licitação, dos bens ou serviços a serem licitados.

Todavia, a auditora constatou que os orçamentos que

nortearam os preços indicados nas requisições de compra não foram autuados nos procedimentos licitatórios ora analisados. Nas diligências realizadas na Prefeitura Municipal foram solicitadas cópias de tais orçamentos, que compõem o volume VIII dos autos às fls.2309/2381 (fls. 106).

Entretanto, ressalta-se que não foram encontrados nos arquivos do município, os orçamentos referentes a todas as requisições de compra analisadas, bem como não foram realizadas cotações de preços junto a pelo menos 03 (três) empresas do ramo.

Ademais, verificou-se que várias cotações foram

realizadas nas próprias empresas que participaram das licitações, e algumas ainda foram declaradas vencedoras (fls. 106).

Assim, além de violar do princípio da legalidade, sabe-se

que a Administração deve atuar com impessoalidade no momento que voltar-se exclusivamente para o interesse público, e não para o privado,

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impedindo que sejam favorecidos alguns indivíduos em detrimento de outros ou prejudicados alguns para o favorecimento de outros.

3.3.2 Violações aos princípios da publicidade e isonomia

Conforme se depreende do item 4.10 a divulgação dos certames através do Órgão Oficial do Município, disponibilizado em escolas e secretarias municipais e no paço da prefeitura ficou limitada as empresas da cidade de Campo Mourão (fls. 106-110).

Deste modo, pode-se verificar que houve violação ao

princípio da publicidade. Esse princípio aduz que as licitações devem ser amplamente divulgadas de modo a possibilitar sua ciência a um maior número possível de pessoas, para que assim haja maior competitividade e mais eficiente poderá ser a forma de seleção, permitindo a proposta mais vantajosa seja a vencedora.

A falta de publicidade funciona como uma restrição, a

ponto de violar o caráter competitivo, este inerente do procedimento licitatório, de modo a prejudicar a isonomia por aparentemente estabelecer preferências em razão do domicílio dos licitantes.

No caso, é evidente que apenas um grupo de empresas

dominava as referidas licitações, fato que poderia, nessa situação, ser fruto de carência na publicidade. Tal situação também está ligada à violação do princípio da isonomia.

Outra situação foi o caso da empresa Maziero e Beje

Ltda., sediada na cidade de Apucarana e representada por Bruno José da Costa foi inabilitada durante o credenciamento no Pregão nº 344/2010, por não apresentar o alvará de licença.

Pelas declarações de Bruno José da Costa (fls. 13-14

Inquérito Civil) e a exigência motivou sua inabilitação sumária, mesmo possuindo oferta mais vantajosa que a vencedora (Recurso Administrativo, fl.

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175) evidentemente a exigência do alvará de licença naquela situação foi ilegal.

Tal fato desvirtua o procedimento do Pregão previsto na Lei 10.520/2010, porque uma das suas peculiaridades é a inversão das fases de habilitação e do julgamento das propostas.

Isso significa que os documentos de habitação só serão

exigidos e analisados se a proposta do licitante for classificada, diferente das modalidades elencadas na Lei 8.666/1993, onde a habilitação é feita antes da abertura dos envelopes com as propostas.

Portanto, a exigência do documento nos moldes como

foi requerido resultou na restrição ao caráter competitivo do certame, de modo que obstou injustamente a participação do licitante. Ademais, tal ato é tipificado como crime nos termos do artigo 98 da Lei 8.666/1993.

Ainda que a ausência de documento exigido no edital

conduza à inabilitação do interessado, no caso do Pregão, o exame dos requisitos da habilitação deveria ocorrer posteriormente à escolha do vencedor e não no início da sessão. (fls. 161).

Por fim, verificou-se que a descrição dos itens

relacionados do edital do Pregão nº 173/2010 (fls. 1073/1074, volume V), não identificam claramente o objeto a ser licitado, contrariando o inciso II do art. 3º, da Lei 10.520/02 que estabelece a definição do objeto deverá ser precisa, suficiente e clara (fl. 80).

As descrições consistiam simplesmente em: Cortina tipo

persiana na cor bege; cortina persiana em alumínio; caixa de som multimídia e geladeira com uma porta, conforme indicado à tabela de fls. 80. Essa imprecisão prejudica o princípio da publicidade. O conhecimento preciso do objeto é imprescindível para viabilizar uma competição igualitária.

3.3.3 Responsabilidade do Pregoeiro

De acordo com o artigo 6º, inciso XVI da Lei 8.666/1993 as comissões de licitação podem ser permanentes ou especiais, e serão

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criadas pela Administração Pública com a finalidade de receber, examinar e julgar todos os documentos e procedimentos relativos às licitações e ao cadastramento de licitantes.

Do mesmo modo, no caso do pregão, deveria o

pregoeiro Moisés Claudio Nascimento e sua respectiva equipe de apoio realizar uma análise da aceitabilidade e classificação do certame.

A verificação de aceitabilidade engloba a observância da

lei e dos princípios da administração, tanto na sua fase externa como na fase interna.

A fase externa comporta os atos necessários para a

escolha da proposta mais vantajosa à administração, efetivados após a publicação do edital, que são: habilitação, apresentação das propostas, classificação e julgamento, homologação e adjudicação.

Assim, preceitua o artigo 3º da Lei 10.520/2002:

Art. 3º A fase preparatória do pregão observará o seguinte: [...] IV - a autoridade competente designará, dentre os servidores do órgão ou entidade promotora da licitação, o pregoeiro e respectiva equipe de apoio, cuja atribuição inclui, dentre outras, o recebimento das propostas e lances, a análise de sua aceitabilidade e sua classificação, bem como a habilitação e a adjudicação do objeto do certame ao licitante vencedor.

Trata-se assim de uma tarefa complexa, de modo que os

encarregados das comissões, bem como o pregoeiro e sua equipe de apoio, devem ser pessoas competentes e honestas, que buscam resguardar o interesse público.

Com a Resolução CEGP-10, de 19-11-2002 foi aprovado

o regulamento para a modalidade de licitação do pregão. Seu objetivo consiste na aquisição de bens e prestação de serviços comuns pela administração direta e autárquica do Estado

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Nos termos da referida resolução, seu artigo 7º explicita que somente poderá atuar como pregoeiro o servidor ou empregado do órgão ou entidade promotora da licitação, que tenha realizado capacitação específica para exercer essa atribuição.

Destarte, exige-se maior qualificação na escolha daquele

que atuará como pregoeiro, devendo este atuar com diligência e executar suas tarefas de acordo com suas atribuições, com observância especial aos princípios do artigo 37 da Constituição Federal.

Sobre as atribuições do pregoeiro, transcreve-se o artigo

9º da Resolução CEGP-10 de 19-11-2002:

Artigo 9º- As atribuições do Pregoeiro incluem: I - a coordenação dos trabalhos da equipe de apoio e a condução do procedimento licitatório; II - o credenciamento dos interessados, mediante a verificação dos documentos que comprovem a existência de poderes para formulação de propostas, e os demais atos inerentes ao certame; III - o recebimento da declaração dos licitantes do pleno atendimento aos requisitos de habilitação, bem como dos envelopes-proposta de preços e dos envelopes-documentos de habilitação; IV - a abertura dos envelopes-proposta, a análise e desclassificação das propostas cujo objeto não atenda às especificações, prazos e condições fixados no edital; V - a seleção e a ordenação das propostas não desclassificadas, observado o disposto nos incs. VIII e IX do art. 4º da LF 10.520-2002; VI - a classificação das ofertas, conjugadas as propostas e os lances, e a decisão motivada a respeito da aceitabilidade do menor preço; VII - a negociação do preço com vistas à sua redução;

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VIII - a análise dos documentos de habilitação do autor da oferta de melhor preço; IX - a adjudicação do objeto ao licitante vencedor, se não tiver havido manifestação de recorrer por parte de algum licitante, nos termos do inc. XVII do art. 12 deste regulamento; X - a elaboração da ata da sessão pública, que conterá, sem prejuízo de outros elementos, o registro: a) do credenciamento dos representantes dos proponentes presentes na sessão; b) das propostas apresentadas, das desclassificadas e das selecionadas para a etapa de lances; c) 1. dos lances e da classificação das ofertas; d) da decisão a respeito da aceitabilidade do menor preço; e) da negociação de preço; f) da análise dos documentos de habilitação; g) da síntese das razões do licitante interessado em recorrer, se houver; XI - o encaminhamento do processo devidamente instruído, após a adjudicação, à autoridade competente, visando à homologação do certame e à contratação; XII - propor a revogação ou anulação do processo licitatório à autoridade competente.

Ao desatender às obrigações confiadas, submeter-se-á o pregoeiro às responsabilidades nas esferas administrativa, cível e criminal. Com a finalidade de se evitar preços superestimados, se deve realizar pesquisa de preços de mercado, ato qual que não exige nenhum conhecimento técnico.

Pela lei 8.666/1993, aplicada subsidiariamente para a

modalidade de pregão:

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Art. 43. A licitação será processada e julgada com observância dos seguintes procedimentos: [...] IV - verificação da conformidade de cada proposta com os requisitos do edital e, conforme o caso, com os preços correntes no mercado ou fixados por órgão oficial competente, ou ainda com os constantes do sistema de registro de preços, os quais deverão ser devidamente registrados na ata de julgamento, promovendo-se a desclassificação das propostas desconformes ou incompatíveis.

Conforme se depreende do diploma legal supracitado, é

dever da comissão verificar cada proposta e sua conformidade com os preços correntes de mercado. Assim, se os preços forem superiores, a comissão deveria desclassificar as propostas, mesmo que a licitação seja fracassada. Caso contrário, notadamente causará prejuízo ao erário.

Insta lembrar que se verificou que várias cotações de

preços foram realizadas nas próprias empresas que participaram das licitações, e algumas ainda foram declaradas vencedoras (fls. 106).

No entanto, prevalece o dever da comissão atentar-se

de forma a evitar eventual conluio entre licitantes para majorar os preços ofertados.

Além do superfaturamento, considerando as demais ocorrências encontradas pela auditoria, não se pode admitir que tantas irregularidades tenham passadas despercebidas pelas comissões julgadoras dos certames.

Constam nos autos dos procedimentos licitatórios em análise cópia de Portarias nomeando o Pregoeiro e sua equipe de apoio responsável pelos procedimentos licitatórios realizados em 2010, em especial as Portarias nº 231/2010 – GAPRE de 24/05/2010, publicado no Órgão Oficial do Município de nº 1370/2010 em 24/05/2008 e Portaria nº 108/2008 – GAPRE de 05/03/2008, publicado no Órgão Oficial do Município de nº 1163/2008 em 07/03/2008, que, em ambos os casos, nomeou como

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um dos pregoeiros Moises Cláudio do Nascimento (fl. 98 do Relatório de Auditoria).

Nesse ponto insta resgatar o conteúdo dos depoimentos

pessoais ora anexados aos autos de Inquérito Civil. Destarte, conforme o termo de declarações de fls. 13-14, importa trazer à tona o depoimento de Bruno José da Costa, vendedor da empresa Maxi Informática, que se dirigiu de Apucarana – PR até Campo Mourão – PR somente para participar de uma licitação (Pregão Presencial nº 173/2010, conforme cópia de fls. 66-93 do Inquérito Civil).

Reitere-se que ele declarou que ao chegar ao paço da

Prefeitura de Campo Mourão foi surpreendido por César S. de Freitas, representante das empresas S. do Lago Equipamentos para Escritório – ME, e I. Silva Equipamentos para Escritório – ME, que questionou se ele iria participar da licitação.

Em reação à resposta afirmativa de Bruno, Cezar lhe

informou, desde logo, que teria feito acordo com as pessoas das outras empresas participantes. Inclusive, disse que já havia combinado com o pregoeiro Moisés Cláudio do Nascimento responsável pelo certame, oferecendo-lhe R$ 4.000,00 (Quatro mil reais).

O conluio entre as empresas licitantes era claramente

perceptível, de modo que só poderia ter se concretizado com a colaboração de, ao menos, do pregoeiro Moisés Claudio Nascimento. O superfaturamento dos produtos poderia ser notado com simples pesquisa aos preços de mercado.

Ademais, insta lembrar outra situação vivenciada pelo

vendedor da empresa Maxi Informática (Maziero e Beje Ltda.), já comentada no item 3.3.2., que o impediu que participasse do Pregão nº. 173/2010.

Pelas suas declarações, lhe foi exigido um documento

de alvará de licença antes mesmo dele apresentar suas propostas, o que motivou sua inabilitação sumária, mesmo possuindo oferta mais vantajosa que a vencedora.

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Tenha em mente que tal fato desvirtua o procedimento do Pregão previsto na Lei 10.520/2010, porque uma das suas peculiaridades é a inversão das fases de habilitação e do julgamento das propostas.

O pregoeiro Moisés Claudio do Nascimento inabilitou

uma empresa de fora de cidade e do grupo imediatamente. Isso indica que, de fato, houve algum tipo de acordo entre o pregoeiro e as empresas participantes.

Conforme o que foi apurado pela auditoria, o elemento

da competição nos certames era praticamente inexistente, pois havia uma diferença ínfima nas propostas. Uma empresa de fora da cidade certamente traria propostas melhores, fato que iria abalar a zona de conforto do grupo. Assim, seria melhor, e mais fácil com a colaboração do próprio pregoeiro, fulminar sua chance de participar do certame de forma totalmente ilegal.

4. Conclusão

Conforme argumentado, Moisés Claudio Nascimento e as empresas BCQ Papelaria Ltda. – ME, I. Silva - Equipamentos para Escritório – ME, S. do Lago Equipamentos para Escritório ME, L. C. F. Santos, W. Santos, L. C. de Almeida - Informática – ME e Rayblu Informática Ltda., e Papel Com. Ltda. causaram dano ao erário, nos termos do artigo 10, inciso V da Lei de Improbidade. Assim, os valores dilapidados deverão ser ressarcidos aos cofres públicos os danos causados à coletividade.

Sobre esses valores, nominais da época (ou seja, sem a

devida atualização), deverão incidir os juros e a correção monetária até o cabal e efetivo ressarcimento. Os juros, aliás, devem ser contados desde a data do evento danoso, nos termos do artigo 398 do atual Código Civil.

Inclusive, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça já

sumulou a matéria, conforme o enunciado da Súmula 54, verbis: “Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.”

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Sobre a violação aos princípios da administração pública, temos o pregoeiro Moisés Claudio do Nascimento e as empresas requeridas BCQ Papelaria Ltda. – ME, I. Silva - Equipamentos para Escritório – ME, S. do Lago Equipamentos para Escritório ME, L. C. F. Santos, W. Santos, L. C. de Almeida - Informática – ME e Rayblu Informática Ltda. praticaram atos atentatórios à probidade administrativa e aos princípios da administração descritos no artigo 11 caput, incisos I, II e IV da Lei 8.429/92.

5. Pedidos Face os fundamentos acima mencionados, requer o

Ministério Público do Estado do Paraná:

1) Sejam os requeridos notificados para, querendo, ofertarem defesa preliminar, nos termos do que dispõe o parágrafo 7º, do artigo 17, da Lei 8.429/92 (acrescido pela Medida Provisória n. 2.225, de 04.09.01).

2) Após a suplantação dessa fase, com ou sem defesa preliminar, seja recebida a inicial, determinando-se a citação dos requeridos para que, querendo, contestem a presente, sob pena de revelia.

3) A procedência do pedido para o fim de que sejam todos os requeridos condenados pede penas estipuladas no artigo 12, II, da Lei n º 8.429/92, em razão da prática de atos de improbidade administrativa que causaram lesão ao erário, nos termos do artigo 10 caput e inciso V, todos da lei 8.429/92, inclusive à condenação ao ressarcimento integral do dano;

4) Em não se conhecendo o pedido anterior, pede-se a condenação dos requeridos nas penas estipuladas no artigo 12, III, da Lei n º 8.429/92, em razão da prática de atos de improbidade administrativa que violaram os princípios da administração pública, capitulados no artigo 11, caput, e incisos I, II e IV, inclusive à condenação ao ressarcimento do patrimônio público lesado.

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5) Protesto pela produção de provas consistentes, principalmente no depoimento pessoal do requerido, na oitiva de testemunhas, cujo rol será oportunamente apresentado e na juntada de documentos que se fizerem necessários, além daqueles que embasam a presente ação;

6) Observada, quanto às despesas processuais, a norma do art. 18 da Lei nº 7347/85, dá-se a causa o valor de R$ 61.781,30 (Sessenta e um mil setecentos e oitenta e um reais e trinta centavos).

Termos em que pede deferimento. Campo Mourão 14 de fevereiro de 2014. MARCOS JOSÉ PORTO SOARES PROMOTOR DE JUSTIÇA