metodos logicos e dialecticos i

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    M T O D O S L G I C O S

    ED I A L C T I C O S

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    MRIO FERREIRA DOS SANTOS

    MTODOS LGICOSE

    DIALCTICOS

    I VOLUME

    8. edio

    l l l = -

    LIVRARIA E EDITORA LOGOS LTDA.

    Rua 15 de Novembro, 137 8" and ar Telefone: 35-6080S A O P A U L O

    m

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    l.a edio, outubro de 19592.a edio, maio de 19623.* edio, novembro de 1962

    ADVERTNCIA AO LEITOR

    Sem dvida, para a Filosofia, o vocabulrio demxima importncia e, sobretudo, o elemento etimolgico da composio dos termos. Como, na ortograf iaatual, so dispensadas certas consoantes ./mudas, entretanto, na linguagem de hoje), ns as conservamosapenas quando contribuem para apontar timos quefacilitem a melhor compreenso da formao histrica do termo empregado, e apenas quando julgamosconveniente chamar a ateno do leitor para eles.Fazemos esta observao somente para evitar a estranheza que possa causar a conservao de tal grafia.

    MRIO FERREIRA DOS SANTOS

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

    Este livro foi composto e impresso para a Livraria e Editora LOGOSLtda., na Grfica e Editora MINOX Ltda., av. Conceio, 645

    SAO PAULO

    > o1'^ > .-

    tfEnciclopdia de Cincias Filosficas e Sociais

    de Mrio Ferreira dos Santos

    VOLUMES PUBLICADOS:

    1) Filosofia e Cosmoviso2) Lgica e Dialctica3) Psicologia4) Teoria do Conhecimento6) Ontologia e Cosmologia6) Tratado de Simblica7) Filosofia da Crise (Temtica)8) O Homem perant e o Infinito (Teologia)9) Noologia Geral

    10) Filosofia Concreta I vol.11) Filosofia Concreta II vol.32) Filosofia Concreta m vol.13) Filosofia Concreta dos Valores14) Sociologia Fundamental e tica Fundamental15) Pitg oras e o Tema do Nmero (Temti ca)161 Aristteles e as Mutaes (Temti ca)17) O Um e o Mltiplo em Plato (Temti ca)18) Mtodos Lgicos e Dialcticos I vol.19) Mtodos Lgicos e Dialcticos II vol.20) Mtodos Lgicos e Dialcticos IH vol.21) Filosofias da Afirmao e da Negao (Temtica Dialctica)22) Tratado de Economia I vol.23) Tratado de Economia II vol24) Filosofia e Histria da Cultura I vol.25) Filosofia e Histria da Cultura II vol.

    26) Filosofia e Histria da Cultura III vol.27) Analise de Temas Sociais I vol.28) Anlise de Temas Sociais II vol.29) Anlise de Temas Sociais n i vol.30) O Problema Social

    NO PRELO:

    31) Tratado de Esquematologia32) As Trs Criticas de Kant33) Problemtica da Filosofia Concreta

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    A SAIR:34) Temtica e Problemtica da Cosmologia EIspeculativa35) Teoria Geral das Tenses I vol.36) Teoria Geral das Tenses n vol.37) Temtica e Problemtica da Criteriologia38) Dicionrio de Filosofia e Cincias Cultur ais I vol.39) Dicionri o de Filosofia e Cincias Cultur ais n vol.40) Dicionrio de Filosofia e Cincias Culturais m vol.41) Dicionrio de Filosofia e Cincias Culturai s IV vol.

    42) Dicionri o de Filosofia e Cincias Cultur ais V vol.Os volumes subsequentes sero oportunamente anunciados.

    OUTRAS OBRAS DO MESMO AUTOR:

    O Homem que Foi u m Campo de Batal ha> Prlogo de * Vontade de Potncia, de Nietzsche, ed. Globo Esgotada

    Curso de Oratria e Retrica 8 ed. O Homem que Nasceu Pstumo (Temas nietzscheanos) Assim Falava Z aratu stra Texto de Nietzsche, com anlise

    simblica 3 ed. Tcnica do Discurso Moderno 5.= ed. Se a esfinge falasse... Com o pseudnimo de Dan Andersen

    Esgotada Reali dade do Homem Com o pseudni mo de Dan Andersen

    Esgotada Anlise Dialctica do Marxismo Esgotada

    Curso de Integrao Pessoal (Estudos caracterolgicos) 5.a ed. Prticas de Oratria 2 ed. Assim Deus falou aos Homens 2* ed. Vida no Argumento A Casa das Paredes Geladas Esc utai e m Silncio A Verdade e o Smbolo A Art e e a Vida - A Luta dos Contrrios 2 ed. Certas Subtilezas Humanas 2 ed. Convite Esttica Convite Psicologia Prtica Convite Filosofia Pginas Vrias

    A PUBIJCAR:

    Hegel e a Dialctica Dicionrio de Smbolos e Sinais- Discursos e Confernci as Obras Completas de Plato comentadas 12 vols. Obras Completas de Aristteles comentadas 10 vols. Origem dos Grandes Erros Filosficos

    TRADUES: Vontade de Potncia, de Nietzsche Alm do Bem e do Mal, de Nietzsche Aurora, de Nietzsche Dirio Intimo, de Amiel Saudao ao Mundo, de Walt Whitman

    N D I C E

    Prefcio 13

    A Lgic a e a Dialct ica 19

    A Primei ra Operao do Esprito 29

    Do Conceito 40

    Do Term o 47

    Dos Unive rsais 51

    Dos Categori as (A Substncia) 57

    Da Qualidade Predicamen tal 62

    A Segunda Operao do Espirito Das Proposies 69

    Exame Dialctico das Relaes Entre o Sujeito e o Predicado . . 81

    Da Suplnci a 105

    Exa me Dialctic o dos Conceitos Univ ersai s 124

    Dial ctica do Conceito 135

    Da Terceira Operao do Esprito do Raciocnio 163

    Do Silogismo Exa me Sint tico 166

    Exam e Analtico do Silogismo 173

    l.a Figu ra 1772.a Fi gur a 183

    3.a Fig ura 185

    i.a Fig ura 187

    .a Fi gur a 189

    Reduco Primei ra Figu ra 191

    Mtodos Pr tic os do Silogismo 193

    Comentrios Finais 200

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    12 MRIO FERREIRA DOS SANTOS

    Algun s Silogismos Defeituosos Quant o For ma 204

    Da Eqiiipolncia 208

    Das Converses das Proposies (Juzos ) 211

    Reduco Indi rect a ao Impossve l 217

    Dos Juz os Modais 221

    Dos Silogismos Hipottico s 226

    Os Chamados Silogismos Disjunti vos 235Do Dile ma 238

    Do Mtodo 241

    Exemplo do Mtodo Heur stico 243

    Classificao do Mtodo 251

    P R E F C I O

    Esta obra nasceu da convico de uma necessidade peculiar noss a poca. Ningum pode negar, ao examina r oespetculo moderno, que a inteligncia humana afunda-senas bruma s da confuso que invade todos os sectores. Nunca se pensou de modo to heterogneo e to vrio, nunca asideias mais opostas estiveram to vivas em face umas deoutras, e tambm nunca opinies to descabeladas conseguiram impor-se a vastos crculos intelectuais, como se ve

    rifica em nossos dias.Na verdade, se observarmos com cuidado s causas de

    factos que tanto entristecem os que desejam uma humanidade mais s, temos que debitar tal estado de coisas fracamaneira de pensar do homem moderno, que facilmente seenleia nas teias de aranha de abstrusas ou de falsas ideias,e acaba por perder o norte, e desviar-se por caminhos que.cada vez mais o afastam do que desejar ia alcanar . Esseestado de crise intelectual, que delineamos em "Filosofia daCrise", a causa, sem dvida, do desespero que dominamuitas conscincias.

    O surgimento desta obra tem, entre muitos, o intuito decontribuir, dentro das nossas foras, para sanear o pensamento e os modos de pensar, a fim de permitir que cadaum possa guiar a si mesmo na busca do que h de maiselevado, e que tanto lhe oprime o corao e desafia a inteligncia.

    Esta obra, que simultaneamente de Lgica e de Dialctica, de Lgica porque examina o que h de positivo na ve-

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    I-J MAllIO KKUItlCMlA DO S SANTOS

    lha lgica clssica, e de Dialctica, porque traz as mais s-lidus contribuies que o raciocinar de nossos dias construiu, tem a finalidade, tambm, de permitir a construcode um raciocinar concreto, mas fundado na solidez do quede maior a humanid ade j conquistou. Tratam os, nela, dosconceitos, dos juzos, do raciocinar discursivo, das oposies, to importantes na Lgica, das relaes que se formam

    entre os mtodos lgico-formais e os dialcticos-ontolgicos,sempre com o intuito de fornecer ao leitor os meios j condensados, seleccionados para um uso mais fcil, dentro, naturalmente, dos limites que o raciocinar humano permite.

    Demoramo-nos, sobretudo, no estudo das distines, quetanto celebrizaram os escolsticos, e o fizemos por razesponderveis.

    sem dvida o uso das distines uma das grandes conquistas da lgica escolstica e pertence ao cabedal das grandes realizaes filosficas do ocidente . No h a menor

    duvida de que o emprego das distines exige urna acuidadecapaz das mais profu ndas e raras subtile zas. A verdad e que todo saber, como toda cincia, um hbito que se adquire, e o exerccio continuado permite que a acuidade sejaconstantemente despertada e desenvolvida, favorecendo acapacidade de distino. Aqueles que so dotados de mente filosfica tm naturalmente maior facilidade para ver distintamen te onde outros vem confuso. Contudo, essa capacidade, que parece inata, pode ser alcanada tambm atravs do esforo pessoal.

    A pouca familiaridade do homem moderno, pretenciosa-mente culto, com a escolstica, a causa, sem dvida alguma, do pensar ser to deficiente, e de alguns se julgaremoutros colombos, quando, na verdade, so apenas descobridores de velhas formas, j valorizadas pela ancianidade.

    As chamadas contribuies modernas Lgica no tmo valor exagerado que lhes emp rest am seus auto res. E encontramos maior segurana, maior mbito e maior firmeza

    MTODOS LGICOS E DIALCTICOS 15

    no emprego do velho modo de pensar, que em muitos mtodos modernos, que no podem sequer prescindir deles.Contudo, no queremos negar certa contribuio moderna.Inegavelmente, a Dialctica, como entendida hoje, tem oferecido meios para evitar o raciocinar abstractista, e permitir um mais slido raciocinar concreto. Mas, tais contri

    buies vm envolvidas com muitos erros, com muitas falsas proposies, e mtodos deficitrios e insuficientes, queforam superados, com antecedncia, por mtodos que otempo guarda em seu passado, e que a ignorncia de muitosno permite deles tomar conhecimento, nem sequer saberus-los.

    Este livro surgiu com a finalidade de oferecer ao estudioso moderno o que havia de mais slido e aproveitvelpara o recto pensar. Sabemos que o homem de hoje, anteo frentico de sua vida, no dispe do tempo de que dispunham os antigos para dedicar-se a um estudo mais demora

    do dos mto dos de racioc inar, de reflectir. Est a a razo porque julgamos que seria de bom alvitre reunir, numa obramanusevel, o mximo das regras teis, procurando, sempreque possvel, a demonstrao imediata, a fim de favorecera realizao de um desejo que anima vivamente a todos.

    Por outro lado, no de admirar a ignorncia que exibem muitos sobre as grandes contribuies do passado.Basta que se examine a Frana, que um pas tido comoimensamente culto, e por alguns at como o mais culto domun do. Pois bem, a, cerca de 90% dos professor es das escolas superiores so ateus declarados. Como tais, afastam-

    -se sistematicamente do estudo da obra dos medievalistas,com um gesto despecti vo e de s uma auto-suficincia. Amaior parte, ante a impossibilidade de conseguir qualquerfundamento para as suas afirmaes, falhos de um examemais slido do que constitui o campo do saber, tornam-seagnsticos, ou cpticos, e insuflam na juventude um cepticismo que j est dando seus frutos. Essa juvent ude semfirmeza em suas ideias presa fcil de qualquer barbarismo

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    cultural (perdoem a aparente contradio), e sem f, nemconfiana em si mesma, entrega-se ao imediatismo maistorpe e, o que mais deplorvel, torna-se inapta a realizarobra s supe riore s. No , pois, de admi rar que mais de duzentos anos de pregao cptica e agnstica tenham de alcanar o estado a que assistimos: um deserto que cresce ca

    da vez mais, dentro dos homens e sua volta, uma ausnciaquase completa das obras de valor que enobreceram o passado. Nunca houve tantas universidades, tantas escolas;nunca se publicaram tantos livros, tambm nunca uma literatura foi to frgil, to sem expresso como a de nossosdias. Desapareceram do cenrio da filosofia os gigantes queponteavam os caminhos do passado. Alguns, deficitrios,atiam-se numa luta sem quartel contra a Filosofia, negan-do-lhe valor, porque no lhes d ela o conhecimento daverdad e integ ral, expre sso que anda em tan tos lbios. Antes de falarem na verdade integral, deviam eles perguntar a

    si mesmos que entendem por verdade. E o mais espantoso,em tudo isso, que se tal pergunta lhes feita, logo respondem que no sabem o que , e alguns, para revelar maiortalento, aproveitam a passagem do Novo Testamento, quando Pilatos pergunt ou a Cristo o que era verdade. Cristo n orespondeu, nem poderia responder. A pergunta de Pilatosdenunciava-o. Quem faz tal pergu nta, revela, desde logo,ignornc ia. A melho r respost a s poder ia ser o silncio e ovolver do rost o. Foi o que Cristo fz.

    O que temos de fazer hoje const ruir. Na realidade, o

    esprito destructivo, o demonaco, vence em quase todos ossectores deste perodo histrico que vivemos e, sobretudo,neste sculo, que talvez sea cognominado pelos vindouros"sculo da tcnica e da ignorncia", porque se h neleum aspecto positivo, que o progresso da tcnica, que chegaat s raias da destruio, a ignorncia aumenta desespera-doramente, alcanando limites que a imaginao humananem de leve pode ria prever. Mas, o que mais a ssomb roso a auto-suficincia do ignorante, o pedantismo da falsa cul-

    MTODOS LGICOS E DIALCTICOS 17

    tura, a erudio sem profundidade, a valorizao da memria mecnica, do saber de requintes superficiais, a improvisao das solues j refutadas, a revivescncia de velhoserros rebatidos e apresentados com novas roupagens. Tudo isso de espantar.

    Por essa razo estamos certos de que nossa obra cumpre um papel: a de oferecer meios aos bem-intencionadospara que possam seguir, pelos caminhos mais seguros, embusca de conhecimentos mais srios, e para que possammais facilmente encontrar melhores solues para os problema s intelec tuais que os afligem. E esses meios constituem, constructivament, o que chamamos de dialctica concreta. (1).

    Mrio Ferreira dos Santos

    (1) Procura mos nesta obra reunir passagens de autores diversos,de reconhecido valor e critrio, com o intuito de oferecer ao leitor amaio r soma possvel de conheci mentos dis tint os e no confusos, quelhe permitam manejar com segurana o pensamento, e evitar cair nosvelhos, nos cedios erros que tantos males j produziram e bastante infelicitaram a humanidade.

    Fimdamo-nos nas obras de conspcuos autores, despreocupados emapontar a autoria dos argumentos e distines, porque eles j formampatrimnio do acervo cultural da humanida de. Ademais, seria difcil,se no impossvel, estabelecer com segurana a paternidade das objeces e das solues, pois repetem-se elas em obras diversas, de tendncias as mais variadas.

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    A LGICA E A DIALCTICA

    No sentido aristotlico-tomstico, a Lgica a arte dedirigir o prprio acto da razo, no que se refere ao homem,de modo a orden-lo a facilmente procede r sem erro s. Existe, assim, uma lgica natural, a qual decorre do poder natural do intelecto humano, em sua actividade raciocinadora,; uma lgica artificial (ou artif iciosa), que constitu da pelos hbitos adquiridos pelo intelecto j por estes classificados, divididos, ordenados para a consecuo dos bons raciocnios.

    Para atingir uma cincia em estado perfeito, imprescindvel a Lgica. Sem ela, o homem alcana apen as um acincia em estado imperfeito.

    O conceito de cincia implica um conhecimento certoe evidente. Pelo simples acto de raciocinar, essa cincia nonos est garantida . Para que alcancemos a cincia em estado perfeito porque no basta apenas a plena notcia doobjecto pertencente ao conhecimento, mas a capacidade dediscorrer sobre le sem receio de erros impe-se o estudoda arte de pensa r. A cincia em estad o imperfeito po de

    levar a concluses falsas, embora partindo de princpios deper si evidentes e certos . Todos esses percal os, que sofreo homem no seu peregrinar atravs das ideias, levou-o apreocupar-se com os meios mais hbeis que lhe permitamo exame seguro do pensamento, e palmilhar o caminho dobom raciocnio, sem o perigo dos erros que possam afast-lo da verdade. Para os escolsticos, a Lgica necessri apara alcanar a cincia em estado perfeito. Alguns afirmam

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    que pode o homem alcanar a verdade sem a Lgica, como,por exemplo, os conimbrenses; mas os tomistas afirmam que,sem ela, impossvel um conhecimento em estado perfeito.

    Ora, desde logo, surge-nos uma pergunta, cuja respostapermitir concluir com segurana quanto aos postulados que

    acima descrevemos.A pergunta a seguinte: existe realmente a Lgica?

    E se existe, realmente necessria, ou no?

    Como este livro uma obra de metodologia dialctica,e pretende dar a quem o consulte os meios hbeis para examinar os pensamentos, analisar os raciocnios e os meiosde conhecimento neste mbito, poucas sero as vezes eraque seremos forados a penetrar no sector terico, a fimde demonstrar a validez de nossas afirmativas, pois, do contrrio, transformaramos este livro numa Filosofia da Lgica

    e da Dialctica, e nos afastaramos do fim almejado. Contudo, inegvel que, no proceder raciocinativo do homem,surgem inmeras ocasies em que o pensamento no svacila como claudica, a ponto de erros parecerem aos menosavisados como verdades definitivas. O aspecto subjectivoda evidncia, que se funda numa convico, na adeso firme do nosso esprito sem vacilaes e sem temor de errar,e que muitos confundem com a f, termina, em face do suceder dos factos ou do prprio raciocnio, por revelar quea verdade que vivramos ocultava um grave erro. Tudoisso justifica e valoriza o imenso trabalho atravs da rondados sculos, que empreenderam os grandes filsofos na busca afanosa de encontrar regras e normas seguras que permitissem um raciocnio isento, tanto quanto possvel, de erros.A Lgica justifica-se pela prpria deficincia humana. E seria ingenuidade afirmar que esse conjunto de conquistasno constitusse j um corpus logicum to til ao homemque se dedica perscrutao do que a natureza, e le mesmo, lhe ocultam aos olhos e at inteligncia. No , assim,a Lgica um mero hbito, mas a reunio coordenada das

    MfcTOlJOt LOCICOS K DIAL CTI COS 21

    rugias e normas alcanadas, justificadas pela experincia.-: um hbito operativo, regulado por normas certas e determinadas, e tendente a um fim: o raciocnio sem erros . inegvel, como se v na teoria do silogismo, que, obedecidasas regras fundamentais, impossvel o erro, o que demonstra haver um conhecimento certo e evidente na Lgica, que

    o que lhe d as caracters ticas de cincia. ela uma arte, e tambm uma cincia. Aristteles a considerava a artede inquirir, a qual, fundando as demonstraes, tornava-se,afinal, uma cincia demonstrativa.

    Como cincia, a Lgica tende a estabelecer normas universais de raciocnio. Classicamente, o seu objecto o entedii razo. Este objecto formal existe objectivamente no intelecto, mas fundamentado nas coisas.

    Os escolsticos consideravam como ente de razo aquele que apenas existe objectivamente no intelecto, assim comoo conceito de espcie, de gnero. Mas, tais conceitos tm

    um fundamento in re, porque se so carentes de uma entidade prpria, se no existem de per si, no se lhes pode negar positividade, pois referem-se ao que h em comum nanatureza.

    H, ainda, outros conceitos de razo, com fundamentoin re, que se caracterizam pela privao de ser, como, porexemplo, os conceitos treva, sombra, nada, os quais notm nenhuma existncia, seno na razo, mas possuem positividade por referncia, com fundamento in re, consistenteaquela na carncia, na privao de alguma coisa que . Ocontedo concreto de tais conceitos da razo foram por nsdevidamente examinados em Filosofia Concreta, e esta maneira de visualiz-los de magna importncia para o examedialctico, como veremos.

    A Lgica Formal ordena os conceitos de modo meramente formal, abstraindo-os da matria, enquanto a LgicaMaterial ordena-os, repondo-os na matria.

    A Lgica uma cincia prtica e especulativa para muitos, e apenas especulativa par a outros. Diz-se que pr-

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    tico o que tende para a obteno de um fim eficiente; porsua vez, o especulativo tende apenas para uma cognio.Enq uan to o prt ico faz, o especulativ o tende ao sabe r. Nesse sentid o, a Lgica seria especulativa. inegvel que ela uma arte prtica, mas eminentemente especulativa.

    O objecto da Lgica o ente de razo lgico. Ora, oente de razo o que existe apena s no intele cto. Mas se talente no tem um correspondente fundamento in re, lepassvel de dvida qua nto sua validez. Est a a razopor que a Lgica Formal exige providncias analticas posteriore s, sob pena de perder-se num logicismo perigos o. Essefundamento surge na lgica clssica com o nome de segundas intenes. Essa s segund as intenes do ente so propriamente, o lgico, o objecto formal da Lgica, que se funda na relao de razo . Ent re essas segund as intenes, podemos distinguir: os conceitos, que surgem da primeira operao do esprito; o juzo, que constitui a segunda operao;

    o raciocnio e a argumentao, que so a terceira operao.Podemos agora comparar a Lgica com a Dialctica no

    sentido que a usamos, pois a demonstrao da sua validez j foi por ns realizada em "Lgica e Dialctica". A segunda no exclui a primeira, como o demonstramos na obra citad a. Contud o, tem ela um outro papel, que consiste emprocurar outras vias para o raciocnio, sem deixar de aplicar as nor mas da Lgica Forma l. A Dialctica realiza, assim, uma operao atravs de diversas vias pensamentais, ebusca dar uma solidez concreta Lgica, evitando os perigos do logicismo. Prop riam ente tem ela essa finalidade, por

    que o logicismo, devido acentuao do abstractismo, podelevar o homem a tomar como ente real, e existente de per si,o ente pura ment e de razo . A aplicao da Dialctica assim completiv a e emine nteme nte concreta. o que demonstraremos a seguir, depois de analisar o conceito para a Lgica Formal.

    um dos preconceitos mais arraigados na modernidadeo de julgar-se que os trabalhos lgicos, realizados pelos me-

    MfiTODOS LGICOS E DIALCTICOS 23

    dievalistas, foram superados pelas contribuies que lgicosmode rnos ofereceram. Essa ingnua (se que h ingenuidade) confuso deve-se, em grande parte, maior ou menorignorncia sobre os trabalhos do passado.

    um grave erro confund ir o process o filosfico media-valista como sendo apenas um processo da filosofia catlica.Realmente, se os filsofos desse perodo devotavam-se preferentemente justificao filosfica dos dogmas da Igreja, preciso, no entanto, no esquecer que a Filosofia, como tal,prosseguia, e realizava a mais completa anlise que o homem

    jamais fz em qualquer tempo.

    Se o filosofar se deu, nesse perodo, dentro do mbitoda Igreja Catlica, preciso no esquecer, sobretudo aquelesque dela se afastam ou que a combatem, que a filosofia continuava, e no sofreu nenhuma soluo de continuidade. SeToms de Aquino, como catlico, pode causar arrepios ao

    moderno descrente e adversrio da Igreja, no pode este, sehonestamente se preocupar com os temas de filosofia, deixar de reconhecer o grande valor como filsofo daquele quefoi, sem dvida, um dos maiores que a humanidade conheceu. Nota-se, em obra s de aut ores moder nos , como enciclopdias filosficas, dicionrios, etc, um tratamento simplesmente absurdo quando se referem s seguras figuras do passado, em paralelo s duvidosas mentalidades modernas. Espanta a quem se dedica ao estudo da Filosofia, e no apenasde um perodo desse processar, que figurem em dicionriosum Bergson ou um Gabriel Mareei ou um Schop enhau er

    com propores mais avantajadas que um Toms de Aquino,ou um Duns Scot, ou um Suarez, ou um So Boaventura.O desconhecimento quase total da obra de tais autores aculpa da confuso e da ingnua afirmativa de alguns modernos, que apresentam como novas contribuies velhas verdades j sabida s desde os gregos, ou, ent o, afirmam, comonovos problemas, velhos erros j refutados com a antecedncia de sculos.

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    Ao examinar as contribuies modernas feitas Lgica,por autores como Stuart Mill, Hamilton, Goblot, Husserl,para citar apenas alguns, espanta-nos a nova messe de errose confuses, pois essas contribuies, quando novas, so falsas e, quando verdadeiras, so apenas velhas verdades j estabelecidas. Basta observar-se a obra de um autor moder

    no, cuja notoriedade inegavelmente grande, e que revelacompleta ignorncia das contribuies medievais. Trata-sede Husserl, cuja obra "Investigaes Lgicas" teve tanta repercusso, e sobre a qual queremos nos referir (1).

    Husserl proclama sua ignorncia quanto aos trabalhoslgicos dos medievalistas, cujo conhecimento s teve atravs,quanto muito, de Wolf, ou de duvidosos autores, que sobreos mesmos trataram, e que no estavam sempre altura deentend-los.

    Diz, por exemplo, que "no haviam os antigos alcanado

    a uma lgica pura, e isto se devia por no terem compreendido nem definido retamente seus contedos e sua extenso".Desconhece, sem dvida, os trabalhos que tomistas e escotis-tas realizaram na busca de uma lgica especulativa, assimcomo Alberto Magno, os conimbrenses, Suarez e Vasquez de-dicaram-se a construo de uma lgica prtica (utens).

    (1) A tolice de muit os, que se dedicam ao estudo da filosofia, ca -racteriza-se pela convico infantil de que os medievalistas foram totalmente superados. Citar Tom s de Aquino, ou vim Santo Agostinho, ouum So Boaventura, ou um Duns Scot, ou ura Suarez, parece-Ihe retrocesso. Julg am que quem assim fizer decai, volve s origens i nfantisda Filosofia, reverte ao primari smo. essa uma notvel contribuiodo esprito burgus, que julga sempre, em seu sentido equvoco de progresso, que o hoje supera o ontem, e que ser, por sua vez, superadopelo amanh . O modismo, que domina na sociedade burguesa, i mpregnade tal modo o esprito de tais estudiosos, que eles julgam perda de tempo volver os olhos para os autor es do passado. E no de admirar queem algumas escolas de filosofia se passe de Plato e Aristteles paraDescartes, dando-se um salto na Histria, como um acrobata de circo.

    Veriam tais senhores, se acaso pudessem ler a obra dos medievalistas (a qual convenhamos, difcil em seus aspectos gerais), que muitasdas suas descobertas so velhos erros refutados com antecedncia, bemcomo veriam que h muita coisa que lhes falta saber e que nem de levesuspeitam que ignoram.

    MTODOS LGICOS E DIALCTICOS 25

    Quando procura afirmar que a Lgica uma cincia, como setal afirmativa fosse nova, alega que os antigos haviam-naconstrudo apenas como uma arte, e chega a concluir quea definio mais justa que se pode dar a de Schleiermach:"a arte do conhecimento cientfico". Desconhece que h sculos atrs, j se dizia que a lgica: "est scientia speculativa

    et ars liberalis ordinativa conceptum ad veritatem attingen-dam." E encontramos em Toms de Aquino in Boeth, deTrin. q.5 a.l ad 2, e nos comentrios Metafsica de Aristteles lect. 4 n 476 sq. e nos comentrios aos Tpicos I 18 eVIII 14, clarssimas declaraes sobre o carcter cientficoda Lgica, e no apenas como um "Organon", como um instrumento do conhecimento.

    Por outro lado, um erro afirmar que os escolsticoscingiam-se apenas lgica aristotlica, e que julgassem queela no fosse sujeita a ampliaes e contribuies, pois muitas foram as inovaes que aqueles fizeram.

    No queremos com isso negar qualquer valor ao trabalho de Husserl, mas apenas queremos situ-lo dentro dombito dos estudos lgicos, no como uma obra de superao, mas sim como a contribuio de quem ignorava o que

    j havia sido feito, e que, em sua candura, acreditava estartrazendo novas contribuies, que, na verdade, no que tmde legtimas, j haviam sido incorporadas ao campo dos estudos lgicos medievalistas.

    Assim quando diz: "Ignoravam, pois, os lgicos formalistas a diferena entre as leis teorticas, os princpios lgi

    cos puros, que s regulam o conhecimento por virtude daquela converso em normas, qual esto predestinadas, eas leis normativas, que j tm por si mesmas, e essencialmente, o carcter de preceitos", sem dvida quer referir-seaos formalistas que le conhecia, que no eram os medievais.

    No de admirar que, com ingnuo espanto, pergunteem certa ocasio: "Mas se perguntar como foi possvel que

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    a Lgica, seguindo caminhos extraviados, tenha chegado aser uma das disciplinas filosficas mais desenvolvidas, seguras e perfeitas", nem que na mesma obra faa uma afirmao como esta: "em sentido geral, aceitamos a distinoentre lgica pura e lgica aplicada, j feita por Kant", comose essa disti no no fosse muit o mais antiga. Desconhece,

    pois, Husserl que h uma lgica proemialis, que inclui a lgica materialis (utens), a predicamentalis e a demonstrativa.

    No queremos, com isso, afirmar que no se deva ler aobr a de Huss erl. Ela oferece certa utilida de, mas impe-setomar as devidas precaues para que no se faa um juzofalso das realizaes do passado.

    * * *

    Frequentemente, considera-se como origem da palavradialctica a palavra grega dialektik, formada do prefixo die de logos, de onde dialog, discusso, e o verbo dialegeyn,que significa terar palavras ou razes, conversar, discutir,como tambm o adjectivo dialektiks, o que concernente discusso por meio do dilogo.

    O prefixo di, se indica reciprocidade, troca, tambmindica atravs de, alis o mais usado, como vemos em palavra s como difano, dim etro , diagonal, distes e, etc. Tambm empregado como passagem atravs de...

    Deste modo, podemos distinguir vrias acepes do ter

    mo dialctica:

    Sentidos pejorativos Sentidos eminentes

    arte de enganar;arte de discutir apenas com pa

    lavras;arte de persuadir apenas;arte do raciocinar absurdo.

    arte de esclarecer;arte de descobrir a verdade atra

    vs das ideias;arte da discusso;e tambm lgica concreta (lgi

    ca total).

    MTODOS LGICOS E DIALCTICOS 27

    Tomamo-la em seu sentido eminente, como arte de esclarecer e descobrir a verdade atravs das ideias, e comolgica concre ta (lgica to ta l). E dizemos esclarecer, porque a altheia, a verdade dos gregos, que no deve ser confundida com o nosso conceito fustico de verdade, nem como aristotlico de adequao, significava a iluminao, o cla-

    reamento, o iluminar do que est em trevas (1). Revelar averdade era v-la, era penetrar por entre as sombras, e verplenamente, com os olhos do esprito, a beleza real das coisas. Tal era a verda de par a os gregos. E como o esprito(nous) tem a razo (logos), era atravs desta (di), que aluz poderia surgir, dissipando trevas, e revelar a altheia,que todas as coisas guardam em seu mago.

    A Dialctica, portanto, trabalhando entre trevas e luz, entre opinies boas e ms, sopesando valores, opinies, nopodia ter melhor concretizao que na discusso, no discorrer, no correr daqui para ali, destas ideias para aquelas, portanto no dilogo, em que as partes colocadas em posiesdiferentes, em pontos opostos, enfrentariam as opinies diversas para, atravs delas (di), esclarecer.

    E da oposio, do pr-se em face do outro (e posioem grego thesis, e oposio antithesis), no seria difcilque surgisse muitas vezes um esclarecimento composto deambas as posies opostas (e syn-thesis composio).

    j*

    Compreendendo assim, no nos ser difcil penetrar nosseus grandes temas, desde que aceitemos:

    a) Dialctica a art e de esclarecer por meio de ideias;

    b) todo mto do dialctico o de pr e opor opin iespara observar os resultados do choque das ideias opostas,contrrias, contraditrias ou distintas;

    (1) Altheia palavr a formada do alfa privativo, e de lethes, esquecimento. Litera lmente o desesquecido, o que foi relembrado.

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    2\\ MAJtlO KUltitlCULA IK)S K A N T O M

    c) pode a Dialctica ser aplicada no campo das ideias,e tamb m no campo da natur eza, bem como constit uir umacosmoviso, no que consistiria em considerar o ser finito como devir (num constante vir-a-ser), o que revelaria uma razo interna de oposio de ordens, etc, como ns o realizamos em nosso "Teoria Geral das Tenses".

    A PRIMEIRA OPERAO DO ESPRITO

    O CONCEITO

    A simples apreenso, que a primeira operao do esprito, o acto pelo qual le capta noticamente alguma coisa. E o que a ment e capta (d e capio, cept um, da cum-cep*tum) o contedo do conceito, que construdo pela mentee expresso na mente.

    Assim, quando mentamos casa, pedra, sapiente, realiza-zarnos actos de simples apreenso.

    A cognio tema de Psicologia. Consiste, genericamente, no acto imanente, consciente e intencional, da notciade alguma coisa, que se jecta ante (ob-jecta), adquirida porsimilitude ou representao do objecto.

    Na cognio h, pois:

    a) um acto, uma actua o, que consiste numa modificao de algurWa capacidade subjectiva (intelectual), acoimanente, que permanece (permanere) no prprio sujeito;

    b) consciente, porque nota do pelo sujeito, como algo que notado;

    c) intenci onal, porq ue o acto cognitivo tende in, parao objecto, porque tende, apontando o objecto;

    d) por similitude, por semelhana, por uma representao do objecto; ou seja, por uma orientao esquemticaque se assemelhe ao objecto, permanecendo sujeito, masapontando o objecto, no fisicamente, mas intencionalmente,

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    noticamente, uma expresso viva do objecto, uma imitaoesquemtica do mesmo, uma representao, uma nova apresentao, uma semelhana, uma imagem (imago).

    Da a definio de Toms de Aquino: "Omnis cognitiofit secundum similitudinem cogniti in cognoscente", toda

    cognio se realiza segundo uma semelhana do conhecidono cognoscente;

    e) o conhecido (cogn itu m) const rudo pela mente eexpresso na mente, porque uma imagem do objecto, construda com elementos mentais, mas permanecendo na mente.

    No a cognio uma incorporao fsica do objecto,mas uma representao, uma imago, que imita, por meiosmentais, o que o objecto apresenta, por meio de uma asse-melhao dos esquemas, que a mente dispe em face do queo objecto apresenta.

    H, assim, uma cognio sensitiva e uma cognio intelectual.

    A prim eira comum aos homens e aos animais. Asegunda prpria do ser inteligente e do homem como serinteligente.

    A cognio sensitiva se realiza atravs dos rgos dossentidos, segundo as diversas reaces fisiolgico-psicolgi-cas, que cabem Psicologia descrever e estudar.

    A cognio intelectual, tambm chamada simplesmenteinteleco, distingue-se da primeira pela ausncia de um r

    go e por caractersticas que so totalmente prprias. Rea-liza-se atrav s de uma op erao , que consiste em extrair dacoisa o que ela aponta de eidtico atravs das notas que expressa, semelhantes s notas esquemticas que a mente acomoda aos objec tos. O object o apresen ta em bru to um srie de semelha nas aos esque mas acomodad os. Dos objectos, so extradas, intencionalmente, notas semelhantes aosesquemas e ordenadas segundo ordens, que tivemos oportunidade de estudar no "Tratado de Esquematologia". O que

    MttTODOS LGICOS E DIALCTICOS 31

    permanece na capacidade sensitiva o phantasma, o sensvel dado em bruto aos sentidos, mas j diferenciado porestes, segundo a gama sensvel, a capacidade sensvel dosmesmos. Desse phantasma, extrai (abstra i) as notas, segundo a capacidade intelectual; ou seja, adequadas aos esquemas noticos. A apreenso, a noo j esquematizada

    (species) repetida na mente, segundo o modo de ser, damente, e nesta expressa, o verbum mentis, o verbo mental,que os antigos tambm chamavam terminus mentalis, intentio. (Species, que vem do antigo specio, que significacontemplar, ver, tem o mesmo radical de speculum, espelho.Specula, em latim, significa atalaia, lugar de observao . Aspecies o que observado na coisa pela mente na mente,mas j esquema tizada , orde nada . Specto olhar , observar, ver. Tamb m ideyn, em grego ver, da idea, ideia etambm eidos, no plural eide, sinnimo de species).

    A ideia a similitude do objecto expressa na mente

    cognoscente, sem ulterior afirmao ou negao.No he deve confundi-la com o phantasma, que o con

    junt o da intui o sensvel, capta da pelos sentid os. A ideiano algo material, retirado da coisa e incorporado na mente. imater ial. a apree nso, noo, espcie expressa,verbum mentis, terminus mentalis, intentio. Contudo, todosesses termos tm significados prprios.

    A apreenso o acto pelo qual captamos intencionalmente o objecto; noo (notio) o que notado da coisa; aespcie expressa a similitude expressa ou formal-actualda coisa na mente percipiente; verbum mentis a expresso,manifestao, a locuo interna, que a mente prope a simesma do objecto; terminus mentalis o no qual ou o emque termina a operao do esprito (termo); intentio o quedo objecto para o qual tende a mente; a forma inteligvel, asimilitude que representa o objecto; razo (ratio) o que princpio inteligvel da coisa.

    Todos esses vocbulos tm significados prprios e erammuito usados pelos antigos escolsticos. No perderam

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    nem perdero nunca o seu valor, pois auxiliam a mais ntidacompreenso do conceito, do qual passaremos a tratar em

    breve.O objecto da ideia o que se jecta ante a mente (o que

    se objectiva na mente). Esse objecto pode ser material ou

    formal. Material o que pertence a coisa com todas assuas notas, que so os atributos, as propriedades, etc, queso cognoscveis e podem manifestar-se.

    Formal o complexo das notas que esto representadasMc et mine (agora e aqui) na mente.

    A compreenso da ideia o objecto formal da mesma,o conjunto das notas que so representadas ou podem serrepresentadas; extenso da ideia so todos os objectos aosquais pode convir a compreenso e que podem ser representados na compreenso.

    H uma relao inversa relativa entre a compreensoe a extenso. Em geral, quanto maior a compreenso, menor a extenso, e quanto maior a extenso, menor acompreenso. Assim a ideia de ente a de maior apreenso, pois inclui tudo quanto ao qual no se pode dizer que nada, mas a de mnima compreenso, porque s se podedizer o que se disse acima.

    O acto apreensivo da ideia implica:ateno, que o acto pelo qual a mente dirigida para

    uma coisa; abstraco, acto pelo qual a mente, de entre muitos objectos cognoscveis, capta um, representando-o men

    talmente sem outros. V-se que a abstraco no em siuma falsa cognio, embora seja uma cognio imperfeita,se considerada a coisa na sua totalidade como sendo apenasa maneira abstrada. A abstraco uma tomada da. coisaseparadamente, mas apenas mental. Graas a capacidadeabstractiva, pode-se compreender a imaginao criadora, pela qual se forma a sntese entre objectos cognoscveis, constituindo com eles uma nova estruetura esquemtica, notica,como a montanha de ouro, o centauro. A aco abstractiva,

    WATODOS LGICOS E DIALCTICAS 33

    (|uc revela a actividade precisiva (que realiza precises) danossa mente, tem um papel analisador, ser a qual no sepoderia compreender a sntese da imaginao criadora. Se,por outro lado, considerarmos os sentidos em seu funcionar,verificamos que, na intuio sensvel, nos possvel, pelaateno, precisar crescentemente nossa capacidade intuitiva,

    dando maior intensidade a um aspecto de uma coisa que aoutro. Assim, podemos pres tar mais ateno e precisar sensivelmente mais uma qualidade, ou o figurativo de uma coi-su. A capacidade abstractiva intelectual da nossa mente temum fundamento na capacidade abstractiva sensvel. O quedistingue uma de outra o aspecto reflexivo (a reflexo). Areflexo o acto pelo qual a mente atenta para o prprioobjecto mentado j (re-flectere, re-flexum). um spectareo prprio acto. Psicologicamente, o prprio acto da menteconsiderado como uma afeco e modificao qualquer dosujeito. Mas, quando a reflexo considera esse acto prpr ioda mente, enquanto representao do objecto, como o conceito objectivamente spectatum, temos a reflexo ontolgica.

    No termina a a aco da mente na apreenso. Hmais: h o acto pelo qual a mente atende (ad tensio, dirigesua tenso para) as diversas ideias, para inquirir suas relaes, p-las de par em par, para captar semelhanas e diferenas. a chamada apreenso da comparao, que ou no actualizada pela conscincia.

    Temos aqui os meios para evitar a confuso entre ideiasubjectiva e ideia objectiva, que to comum encontrar-seentre os autores modernos. A ideia subjectiva a afecodo sujeito, o conceito spectatur subjectivamente. A ideiaobjectiva, enquanto representao, com seu contedo, oconceito objectivamente spectatur.

    Impe-se aqui uma srie de comentrios importantes.

    O papel abstractista dos nossos sentidos consiste numaintensificao da ateno intuitiva sobre um aspecto da realidade exterior. Podemos actualizar mais um aspecto que

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    outro, considerar mais intensistamente o br an co deste papel.Mas, pensar sobre a sua brancura, tomada separadamentepela mente, o que caracteriza a aco ab st ra ct or a mental.A mente, na abstraco mental, realiza uma sejparao mental do que no separado na realidade. Essa. funo abstractora metafsica, d-se alm da fsica. O -vcio abstrac-

    tista consiste, portanto, no tomar tais operaes mentaissem o cuidado de considerar que devem sem pre ser tomadascomo tais, como pertencentes a uma co nc re o. O papelconcrecionador de nossa mente consiste na ateno que sedeve devotar a esse aspecto de nosso es p ri to . O racionalismo foi vicioso, porque, abstractista como , permaneceuapenas na considerao das ideias metafisicamente consideradas. Desse defeito no se podem acusar os gr ande s escolsticos. Contudo, esse defeito fundamental a causa damaioria dos grandes erros filosficos do pensamento moderno, que celebrizaram tantos filsofos de renome, como Des

    cartes, Leibnitz, Spinoza, Kant, que mais contrx"bur am paraaumentar os erros filosficos e provocar uma ^problemticaque surge apenas de deficincias do que propriamente resolverem magnos problemas da Filosofia, *qu e estavam colocados desde os gregos e que permaneceram a desafiar aargcia dos escolsticos. o que mostrarem, o s em nossaobra "Origem dos Grandes Erros Filosficos'*.

    Considerada a aco abstractora da nosse*. mente, res-ponde-se de uma vez por todas aos preconceitos e juzos malfundados dos anti-intelectualistas modernos, ca_ue, por noterem uma ntida viso da apreenso mental, cgtue caracteri

    zaram, ou por ignorncia ou por m-f, puseram-se a atacarmoinhos de vento e a negar qualquer validez ^ cincia humana, como se todo o nosso saber, cujos frutos esto a atentar o seu poder, no refutassem de modo categd> rico tais preconceitos.

    A funo separadora (abstractora) da no s :s a mente dis-tingue-se claramente da mera abstractio sen sil ri li s, que mais uma acentuao sobre os dados intu iti vo; ^. A abstrac-

    MTODOS LGICOS E DIALCTICOS 35

    tio menta lis realiza uma separao, mas mental, a qual consiste em considerar separadamente pela mente, entre muitosaspectos do objecto, um ou alguns, tomados sem os outros,como vimos. Essa capacidade tem similar na captao intuitiva. Tem, assim, um fundamento experimental importante, o que d validez Metafsica bem fundada, a que nunca

    esquece a concreo. Foi o que no compreendeu Kant. Equando este ps-se a atacar a Metafsica foi outro magro Quixote, de menor estatura, a atacar moinhos de Vento que tomou como gigantes. Era fcil a Kant destruir a metafsicados racionalistas, mas a sua aco no roou nem de levea metafsica bem fundada dos escolsticos, salvo para aqueles que a desconhecem e julgam que a mesma construdapelos racionalistas.

    Quanto origem das ideias, conforme as examinamos,no se pode, portanto, afirmar que h ideias inatas como alguns filsofos modernos proclamaram, fundando-se no pensamento platnico. Considerando-se a operao que realizaa mente para alcanar a ideia, no seria possvel admitirque houvesse em ns ideias inatas, como as que acabamosde descrever. Mas, h alguma positividade no pensamentoplatnico que merece ser salientada. O cognoscente no penetra vazio no acto cognitivo. Leva j consigo uma organizao psquica, que constituda de uma esquemtica que seacomoda aos factos sensveis. A construco de ideias pelo nosso esprito, pela nossa mente, fundamenta-se nos dados empricos da intuio sensvel. A actividade de nossamente trabalha sobre materiais empricos para deles extrair,por captao, estructuras eidticas, que constituem as ideias.Como se poderia realizar uma captao desproporcionada aoagente? Como pode este construir estructuras eidticas seno tem j, potencialmente, algo semelhante ao que est nacoisa, para poder realizar-se a assimilao, que necessriaa toda cognio? H estructuras prvias sem as quais seria impossvel a cognio. a ausncia de tais estructurasque muito bem nos podem explicar por que seres puramen-

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    te mate riai s no so capazes de conhecer. Ademais, demonstramos na Filosofia Concreta que todo ser finito, em seuactuar, depende diretamente de sua emergncia e indireta-ment e de sua predisp onnci a. O que Plat o afirmou, ou pelomenos o que consentneo com o seu pensamento, que noh de modo algum a tabula rasa dos moderno s. A mente

    humana j revela uma aptido a construir as estructuras ci-dticas, que so coordenadas pelo homem como um desperta rdo que estava adormeci do, como um reco rdar. No h, psiquicamente, acquisies de elementos totalmente novos, masapen as novas ordena es dos elemento s preexi stente s. Deste modo, a nova ordena o era uma possibi lidade fundadaem elementos virtuais. As estruc turas notico-eidticas do;ser humano no so inatas, em sua ordenao estructural,mas so possibilidades estructurais, fundadas no que h depreexistente no ser humano.

    Diz-se que uma ideia primitiva, quando ela apenas

    intuitiva , experim ental. Pode ser ela direct a ou reflexa. Directa, quando dada pelo objecto externo, e reflexa, quandoo objecto interno, como os que constituem os factos ntimos do sujeito cognoscente.

    Diz-se que uma ideia factcia, quando a mente humanaa constri com as ideias primitivas, que podem ser: arbitrrias, as que dependem em sua formao do nosso arbtrio,por meio de novas abstraces ou de snteses de ideias jdada s, como o conceito de ter, na Cincia; e discursivas (oudeduetivas), quando surgem de operaes judicatrias, como a ideia de Deus; e fictcias as meramente ficcionais, as

    produzidas pela imaginao criadora do homem, como mon*tanha-de-ouro, centauro.

    Assim temos:

    Ideia(segundo a

    origem).

    primitiva (intuitiva, experimental)

    factcia

    directa

    reflexaarbitrriadiscursivafictcia

    MfllODOS LGICOS E DIALCTICOS 37

    Quanto sua perfeio, uma ideia pode ser obscura,quando em sua compreenso as notas no so suficientespara separ-la de outras;

    clara quando as notas so capazes de discerni-la deoutras; estas podem ser distintas quando, alm de claras,permitem, no mesmo objecto, discernir duas notas, como na

    ideia de vivente a de animal racional, quanto ao homem, epodem ainda ser confusas, quando no oferecem, apesar declaras, o discernimento de duas notas, como o conceito deente, que, embora sendo uma ideia clara, ainda confusa,porque, nela, esto fundidos todos os entes, apesar de suasdistines . Note-se, por m, que o termo con fuso, na filosofia, no tem a mesma acepo da linguagem comum, quotidiana.

    Uma ideia distinta pode ser ainda: completa, quandotodas as notas do objecto so distinguid as; incompleta,quando nem todas o so.

    Assim temos o esquema:

    obscura

    claraIdeia distinta

    confusa

    incompleta

    completa

    Quant o comp reens o, uma ideia pode ser simples,quando constituda apenas de uma nica no ta; composta,quando de vrias; concreta, a ideia que representa um su

    jeito qualquer com a sua forma ou perfeio, como a ideia

    de sbio, que indica algum que possui a sapincia. Est apod e ser dividida em metafsica, fsica e lgica. Metafsica,quando a forma no se distingue realmente do sujeito, como homem; fsica, quando se distingue realmente, como co-gitante; e lgica, quando extrnseca ao sujeito, como amado.

    A ideia concreta pode ser substancial e adjectiva, segundo a distino entre o sujeito e a forma mais ou menosacentuada.

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    A ideia concreta pode ser ainda abstracta, quando se refere a uma forma, que totalmente separada do sujeito, como humanidade. Pode parecer a alguns haver aqui contradio em termos . A concreo de uma ideia decorre dapresena da forma no sujeito, mas essa forma pode ser real--realmente distinta dele ou no. Quando no o , temos a

    ideia concreta metafsica; quando o , temos a ideia concretafsica. Mas, a humanidade est totalmente separada real--realmente do sujeito. ela uma ideia abstracta, mas quetem uma concreo no facto de o sujeito participar formalmente dela. Assim Joo homem e tem humanidade (porparticipao).

    A ideia concreta pode ser ainda positiva, quando representa alguma realidade ou propriedade real, como homem.E negativa, quando representa apenas a negao da realidade, como no-ser (em sentido relativo), no-homem, queindica indeterminadamente tudo quanto no homem. H,contudo, ideias que so apenas etimologicamente negativas,ou aparentemente negativas, como a ideia de infinito, que,contudo, apontam aspectos positivos.

    Temos, assim, o esquema:

    simples

    composta

    Ideia(segundo a

    compreenso)

    concreta

    * # *

    Quanto extenso as ideias podem ser: singulares, particulares e universais.

    metafsicafsicalgica

    substancialadjectivaabstractapositiva

    I negativa

    MTODOS LGICOS E DIALC TICOS 39

    Singular a ideia que representa determinado individuo,cujas notas, tomadas simultaneamente, convm a um s indivduo, como Napoleo Bonaparte.

    Particular a ideia universal contrada apenas a umaparte determinada de sua extenso, como alguns homenssbios.

    Universal, a que representa uma totalidade tomada in-divisamente: homem.

    A ideia universal pode ainda ser directa ou reflexa. Directa a que sugere o objecto tomado directamente, sem regresso, enquanto a reflexa a que surge de uma reflexoda mente sobre os dados do conhecimento, produto, assim,de uma regresso do intelecto sobre o prprio objecto doconhecimento, como o so os predicveis, como veremos.

    O esquema que cabe o seguinte:

    Ideia(seg. a extenso)

    singularuniversal

    L. , , directaparticular \

    reflexa# * *

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    DO CONCEITO

    Propriamente, o exame que fizemos da ideia corresponde, por sua vez, ao conceito, pois tais termos so tomados,na Lgica, como sinnimos. Desse modo, tudo quanto propusemos ideia corresponde ao que se pode dizer quantoao conceito. As classificaes que oferecemos n o so asnicas que propem os lgicos. H outras, sobre as quaispassaremos a tratar.

    A origem psicolgica do conceito matria que pertence

    Psicologia e Noologia, e no merecer de ns, nesta obra,exames correspondentes.

    Nas relaes entre si, os conceitos apresentam as seguintes divises: so eles diversos ou idntic os. So idnticos, quando significam a mesma coisa; do contrrio, sodivers os. Mas, a identida de pode referir-se compreen soou extenso . Quando idnticos compr eens o chamam-secstrictamente idnticos, embora diversos na compreenso;quando apenas extenso, chamam-se equipolentes.

    Assim 2 na segunda potncia estrictamente idntico a

    4, enquanto animal racional equipolente a animal bpede,implume.

    Dizem-se ainda impertinentes e pertinentes, os primeirosquando no se inferem nem se excluem, como verde e sbio,e pertinentes os que se inferem, como homem e animal, poishomem pertence a animal, ou se excluem, como homem easno, que, embora pertinentes a animal, ambos se excluem.So opostos, quando h repugnncia entre eles. So iguais,

    MTODOS LGICOS K DIALCTICOS 41

    quando permitem convertibilidade entre eles, como racionale risvel, e desiguais, quando no convertveis, que mutuamente no se inferem, como homem e animal, embora homem infira animal, e no o inverso.

    Quanto oposio dos conceitos, podemos ainda sali

    ent ar uma nova classificao. Diz-se que so opostos o sconceitos que, na mesma coisa e sob o mesmo respeito, nopodem simult aneame nte ser e no ser. A oposio pode serprpria e imprpria (ou disparatada).

    A oposio prpria a que se d entre conceitos opostos, contudo correspondentes, que oferecem repugnncia umao outro, como virtude e vcio. Impr pria ou disparatada,quando no h essa correspondncia, como entre virtude emetal.

    A posio pr pri a pode ser contradi tria , como a que se

    se d entre a coisa e a sua negao, a qual no admite meiotermo, como homem e no-homem; privativa, a que se d entr e a coisa e a sua priva o. A priva o se d pela carnciade uma perfeio num sujeito apto a t-la, como a oposioentr e vidente e cego. H lugar para um te rmo mdio, como no-vidente. Assim uma ped ra nem vidente neru no--vidente (cega ). Tal defeito, na pedra, no uma priv ao,porque no uma carncia devida natureza da pedra, poisno esta apta a ver.

    Contrria d-se entre conceitos que, sob o mesmo gne

    ro remoto ou prximo, distanciam-se maximamente e que,no mesmo sujeito, repugnam, como os extremos das cores,como a entre ver tebrados e invertebrados. Admitem, porm, termo mdio, como o amarelo entre o vermelho e oazul, as cores intermedirias. Quando a oposio contrr iase d desse modo, chama-se mediata; do contrrio, chama-seimediata, ou seja, quando no h termo mdio, como entrehonestidade e desonestidade.

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    Relativa diz-se da oposio entre conceitos que dizemrespeito um ao outro, como pai e filho, escravo e senhor,pois o pai pai do filho, e o filho, filho do pai. Chamam-setambm correlativos.

    Segundo essa oposio, os conceitos so classificados emsuas relaes entre si, como opostos contraditrios, privati

    vos, contrrios e relativos.

    * # *

    Uma ideia um ente de razo (ens rationis) quando spode existir na mente, a qual pode ser ainda por privaoou negao, como cegueira, nada ou meramente lgicas comoa afirmao, ou meramente matemticas como o nmero irracional.

    O contrrio do ser de razo o ser real, o qual pode serpossvel ou actual. O ser real aquel e que pode existi r

    real-realme nte. possvel, qua ndo sua existncia possvel, existe real-realmente, como casa, chapu.

    * * *

    H ideias simples e indivisveis em si mesmas, como a dehomem, vermelho, animal racional, que formam uma essncia, da qual nada podemos extrair, sob pena de lhes tirarmos a essncia, transformando-as e m out ras coisas. Taisideias ou conceitos chamam-se incomplexos, ou indivisveis.

    Outros, porm, chamados complexos ou divisveis, soos possuidores de vrias essncias ou contedos notico-eid-ticos, tais como "a casa amarela da serra".

    Os antigos observavam, contudo, que os conceitos complexos e os incomplexos podem-no ser quanto aos termosque os constituem, ou quanto ao contedo ao qual se referem. Assim, pod eria m ser complexos ou incomplex os in re(quanto ao contedo) ou in voc (de vox, voz, nos termos).

    MTODOS LGICOS E DIALCTICOS 43

    Poder-se-iam, pois dar quatro combinaes:

    1) incompl exos in re et voc, incomple xos em si mesmos e segundo o modo de conceber, como homem, que seapresenta como uma nica essncia ao esprito e numa nica apreenso inteligvel.

    2) Incompl exos re non voc, incompl exos em si mesmos e complexos segundo o modo de conceber, como animalracional, que , como essncia, uma s, mas apresentada mente em duas apreenses inteligveis.

    3) Complexos re non voc, complexos em si mesmo s eincomplexos segundo o modo de conceber, como psiclogo,o que estuda a psique, embora com uma nica apreenso inteligvel.

    4) Complexos re et voc, em si mesm os e segundo omodo de conceber, como tcnico em engenharia mecnica,onde so apresentadas vrias essncias, expressas por vriasapreenses inteligveis.

    Essas classificaes so pouco usadas modernamente,o que de lamentar, pois, como se ver oportunamente, inmeros erros de raciocnio surgem da no ntida distinoentre a complexidade ou no em si ou em termos de umconceito, a que evitar ia facilmente ta is erro s. Note-se, apenas, que um conceito como animal racional, que expressoem dois termos em nossa lngua, constitui, porm, umanica essncia e uma nica apreenso, segundo o modo deconceber. Animal racional no uma total idade de composio, ou seja duas essncias actuais formando um novoser, mas um ser com uma nica essncia, que correspondea homem.

    * * *

    Na Lgica, observam-se duas tendncias: a dos que procuram reduzi-la apenas extensidade, os extensistas, e a dosque procuram reduzi-la intensidade, os compreensistas.

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    44 MR IO FER R EIR A DOS SANTOS

    Fartindo-se do exame do conceito, notamos que a sua.compreenso consiste nas notas essenciais ou qiiiditativasdo mesmo, enquanto a sua extenso entendida como oconjunto dos indivduos aos quais se pode predicar o conceito. Assim, homem , compree nsivame nte, animal racional; extensivamente, todos os indivduos humanos.

    Para uma posio nominalista, a nica realidade est nosindivduos aos quais se pode predicar o conceito; ou seja,est apenas na extenso. Todos os lgicos, eivados de nominalismo, so, quando consequentes, extensistas.

    Mas, na verdade, o conceito apresenta-se mente comouma essncia, uma natureza, uma qiididade, que representaalguma coisa real. Alguns lgicos mod erno s afirmam quepertencem compreenso do conceito todas as notas quelhe so proporcionadas ou meramente atribuveis, o que um erro . Deste modo , poder-se-ia dizer que o conceito ho

    mem compreende o estar sentado, o estar andando, o estarem p, que so merament e accidentes (per accidens). Naverdade, deve-se compreender, no conceito, apenas o que da essncia, o que necessr io ao conceito. Deste modo, aspropriedades, se so essenciais, pertencem virtualmente aoconceito, no, porm, actualmente, como o ser gramtico uma propriedade da essncia do homem, mas virtual aela, no actual. Evit ar tais confuses, que pert urb am a Lgica e a firmeza dos raciocnios uma necessidade, em faceda finalidade que deve ter essa disciplina, qual seja a de favorecer a melhor aplicao da inteligncia ao exame das

    ideias. Ademais, mist er distinguir as nota s que consti tuemum conceito quan to a ns e quan to a si mesm o. Se certosobjectos no os podemos apreender seno segundo certasnotas, estas no devem ser consideradas como constituintesde sua legtima compreenso, a qual deve conter apenas asnot as essenciais. Essa deficincia deco rre do estado de nosso conhec imento. o que obser vamos, para exemplificarcom a Zoologia, onde nossos conceitos dos animais so for-

    MTODOS LGICOS E DIALCTICOS 45

    mados de notas, segundo o que observamos nos mesmos,sem podermos alcanar-lhes a essncia.

    Deste modo, quando o lgico ingls Keynes, seguido naFrana por Goblot, distingue, na compreenso de um conceito, a conotao (conjunto das notas) e a compreenso em

    sentido restricto (strictu sensu), considerando a primeira oconjunto das notas com as quais ns definimos o objecto doconceito, e compreenso apenas as propriedades que podemos reconhecer nesse objecto, essa diviso genuinamentenominalista.

    Ela afirma que nossos conceitos no alcanam a essncia das coisas, ricas de in mera s prop ried ades . Como salienta Maritain, "esta distino errnea, pois ope as propriedades no essncia, ou aos caracteres que definem emsi o objecto de conceito, mas aos caracteres que o definem'

    para ns, que nos servem para defini-lo e que, no caso dasdefinies descritivas, no so os elementos constitutivos daessncia, mas exatamente as propriedades."

    O termo conotao seria empregado apenas para indicar o que pensamos, actual e explicitamente, de algumas notas ou caracteres que empregamos para definir um conceito.

    Goblot vai alm, afirmando que na compreenso se incluem todos os conceitos contidos, quer como espcies ousub-espcies, bem como tod as as prop ried ades . Desse modo , inclui a compreenso na extenso, aumentando aquela

    na proporo que aumenta esta. Mas, esquece Goblot queessas propriedades no esto contidas em acto no conceito,mas apenas potencialmente (em potnci a). No se deve in-clu-ias na compreenso do conceito, porque, nesta, deve estar apenas o que lhe convm necessariamente (per se) e noper accid ens. Deste modo, o que diz de um conceito, o quedele se predica, deve ser examinado se accidental ou necess rio (essen cial) . Na extenso, devem ser compreendi -

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    4(J MRIO FER REI RA DOS SANTOS

    dos apenas os indivduos que cabem no mbito do conceito;ou seja, aqueles em nmero indeterminado aos quais se lhepode predicar o conceito.

    Oportunamente, trataremos deste tema, de tanta importncia no exame do silogismo e, na Dialctica, ao tratar da

    plena aplicao das regras Lgica Concreta, que propriamente esta quando totalmente aplicada totalidade. DO TERMO

    Manifesta o homem os seus conceitos atravs de sinaisvocais (vocabulrios), que constituem a sua linguagem oral.Expressa o que pensa e o que sente por sinais significativosorais, que constituem os termos orais, e por sinais escritos,que se chamam termos escritos.

    Diz-se sinal do que, pelo qual, algo se torna conhecidode outro . O sinal indica, apon ta a algo que se torna conhecido por le, sem ser le. Desse modo , est em lugar de

    outro, ao qual apont a, indica. O sinal, port anto , reque r: a)algum acoisa significante; b) a coisa significada; c) o nexoentre le e a coisa significada; d) o sujeito cognoscente, aptoa compreender o que aponta o sinal.

    Deste modo, o sinal une por meio de algo uma coisasignificada ao cognoscente.

    O termo oral um sinal constitudo de uma voz significativa (vocbulo) para comunicar uma ideia, uma emoo,alguma coisa.

    A diviso dos sinais em naturais e arbitrrios deve ser

    considerada. Natural o sinal que se d na natureza, comoa fumaa, que sinal do fogo. Arbitrrio ou convencional o estabelecido pela vontade de um ser inteligente. Estepode ser especulativo e prtico, segundo a sua intencionalidade.

    O termo oral , pois, uma voz (um som), ou no, articulado, que significa alguma coisa. O termo oral expresso na linguagem escrita pelos termos escritos.

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    DIVISES DOS TERMOS

    Chamavam os antigos lgicos de termos categoremticosos que tinham em si mesmos plena significao, que significam de per si, como homem, casa, rvore; sincatcgorem-ticos, aqueles que no possuem de per si significao, mas

    modificam algum termo significante, como todo, algum, com,pois, e, da etc, chamados pelos modernos funcionais.

    Esta classificao tem grande importncia, sobretudose considerarmos que uma ideia pode ser tomada categorem-ticamente ou no. Categoremticamente, quando tem um contedo positivo de per si, e poder-se-ia dizer que o Ser Supremo infinito, sendo a infinitud e a sua natu reza. Tomad osincategoremticamente, a infinitude seria funcional, ummod o de ser. Nas discusses filosficas, esta distin o importante.

    Os termos podem ser unvocos, anlogos e equvocos.Unvoco o que significa um conceito simplesmente (simpli-cite r) um e uma razo simplici ter uma, como homem. Anlogo o que significa um conceito relativ amente (secu ndumquid) ou proporcionalmente um e com uma razo objectivarelativamente uma, ou, em outras palavras, o que se predicade muitos, segundo uma significao em parte a mesma eem parte diversa (analogia intrnseca), ou significa muitasrazes entre si coerentes (analogia extrnseca).. .O termo ente anlogo do primeiro modo, porque significa intrinsecamente, enquanto o termo so se diz da medicina ou do ali

    mento extrinsecamente, como ridente, que se pode dizer deum rosto e de um pra do . Termo equvoco o term o ambguo, de dplice significao, que significa simplesmente muitas coisas, como o termo co, que pode significar o animal,uma pea de arma, uma constelao, etc.

    Note-se, porm, que se os termos podem ser equvocos,no o podem ser os conceitos, que so apenas unvocos ouanlogos, porque um conceito equvoco seria outro conceito.

    MffiTODOS LGICOS E DIALCTICOS 49

    Assim o termo co, que , como termo oral e escrito, o mesmo , quanto ao seu contedo conceituai vrio, e cada conceito out ro conceito, e no o mesmo . Os ter mos significam os conceitos, mas estes significam a si mesm os. Noconfundir o termo com o conceito fundamental na Lgica,e poder-se- ver, mais adiante., quantos sofismas surgem dos

    termos equvocos, no propriamente dos conceitos.

    Segundo a compreenso da ideia significada, segundo oconceito, os termos podem ser positivos ou negativos, quando significam alguma coisa positiva, ou a privao de umaperfei o. Assim home m e nao-homem, sbio e igno rant e.H, contudo, termos que so aparentemente negativos, massignificam alguma coisa positiva, como No-eu e to mo. Otermo negativo chamado tambm indefinido, quando suasignificao indeterminada, como no-homem, que significa indeterminadamente tudo quanto no homem.

    Termo concreto o que significa o sujeito com a forma,como homem, sbio.

    Termo abstracto o que significa apenas a forma comohumanidade sapincia.

    Termo simples o que composto de um s vocbulo;complexo, o que consta de muitos. No primeiro caso, temoscasa; no segundo, engenheiro mecnico.

    O termo explicativo, quando convm ao conceito emtoda a sua extenso, como homem mortal; e restrictivo, ao

    contrrio, como homem sbio.

    Segundo a extenso das ideias (dos conceitos), o termo prprio, quando significa apenas uma coisa singular, comoScrates. comum, quando significa vrios, segundo amesma significao, como o conceito universal, como mesa,rvore; colectivo, quando no se refere a indivduos singulares mas tomados simultaneamente numa coleo, comobatalho.

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    DO NOME E DO VERBO

    Define-se nome como a voz significativa para a comunicao falada, sem tempo (intemporal), da qual nenhumaparte tem significao separada, finita, recta.

    Por ser sem tempo, distingue-se do verbo, que comtempo, exclui a orao e termos complexos; finita, porqifeexclui os termos infinitos e indefinidos; recta porque excluios casos oblquos, que so sincategoremticos.

    Verbo , pois, a voz significativa com tempo, possuindoas outras mesmas caractersticas do nome.

    O verbo, na orao, exerce o papel de mdium que une,a expressa a existncia actualmente exercida ou possvel nos

    juzos afirmativos; ou o contrrio, nos negativos.

    O verbo ser chamado frequentemente cpula, quando

    realiza uma funo copulativa entre o sujeito e o predicado;do contrrio, meramente um verbo substantivo, que afirma o acto de ser actual ou possvel do sujeito.

    \

    1

    DOS UNIVERSAIS

    Etimologicamente, o termo universal (universalis, uni-versum, uni-versum) indica um que versa sobre muitos, umque diz respeito a muitos . Consequentemente, tudo quanto um na qiiididade, que versa sobre muitos, toma o nome deuniversal. E como h variados modos de versar um sobremuitos, podemos assinalar o universal significante (in significando), que o termo universal, e universal representante(in repraesentando), que o conceito universal; universal

    causante (in causando), como Deus, e universal em ser (inessendo), que uma natureza que se refere a muitos, existente neles, e que pode ser predicado deles, tambm chamado deuniversal predicante (in praedicand o). Chamam-se inferiores os que so predicados pelo universal In praedicando, como os indivduos humanos so inferiores em relao ao universal homem.

    O universal em ser um, uma natureza, que comunicada a muitos, que se d em muitos (inest in multis), e quecom le se identifica e com eles se multiplica.

    A natureza do universal abstracta em relao aos inferiores, como homem o em relao aos indivduos humanos.Essa natureza se multiplica nos diversos indivduos, mas uma unidade, enquanto tal, de abstraco, que se comunica(de comum) com eles.

    freqiiente a confuso ent re unive rsal e comu m. Mas,h uma distino importante: comum diz-se do que de certomodo convm a muitos, mas universal o que convm a mui-

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    tos tambm, mas que se identifica com estes, e nestes semultiplica.

    A justificao filosfica do universal foi por ns realizada, em outros trabalhos.

    Universal em ser (in essendo) definido como um (uma

    natureza) em muitos e de muitos (in multis et de multis);ou seja, uma natureza que est em muitos por identidadecom eles, e que predicada de muitos.

    A definio implica os seguintes elementos constitutivosdo universal: 1) o sujeito, ao qual dirigida a inteno natural (intentio-natura); 2) o fundamento prximo dessa in-tcno-uma; 3) a prpria inteno de universalidade, ou seja,a relao aos inferiores; 4) a prpria passionem universal,ou seja a predicabilidade de muitos.

    O universal em ser pode ser distinguido: a) universalmaterial, que, como natureza, denominado universal; b)universal fundamental, que o fundamento prximo da relao de universalidade, que a unidade precisa, com aptido ou no-repugnncia a ser nos inferiores; c) universalformal, que a prpria forma relativa, cuja natureza abstracta d-se em acto nos inferiores.

    Da podem-se distinguir: universal metafsico, o universal que usa toda cincia, tomado abstractamente dos singulares, que um universal fundamental neles; universal lgico,que se refere inteno ou forma, que chamada universal,que uma segunda inten o, e relao de rela o. Est a

    fundada na primeira.DOS PREDICVEIS

    Os conceitos universais, tomados formalmente, em suainteno de predicabilidade e de universalidade, podem serdivididos em cinco classes.

    O conceito universal formalmente considerado o queos escolsticos chamavam de universale reflexum, que j exa-

    MTODOS LGICOS E DIALCTICOS 53

    mina mos. As cinco classes, que toma m o nome de predicveis (em latim predicabilia, e que correspondem ao gregocate gorem a) so o gnero, a espcie, a diferena especfica,o pr prio e o aecidente. Ora, todo conceito, como se podefacilmente ver, em sua referncia intencional, aponta umadessas classes universais, ou seja, considerado em sua universalidade, o conceito aponta uma dessas cinco classes.

    Essa classificao no arbitrria e, ademais, de suma importncia para a anlise lgica, pois favorece a melhorcompreenso do habitas (do haver) entre o conceito-sujeitoe o conceito-predica do. So, pois, esses predicveis cincomodos de universalidade do conceito tomado formalmente.

    Mas o conceito no tomado apenas formalmente, mastamb m materialmente. E materialmente se diz do universal directum que est na coisa, em sua natureza, como vimos. Esse universal e direc tum perm ite out ra classificao,

    que so as categorias, que eram dez para Aristteles.Dizia Toms de Aquino que o predicado univocamente

    de muitos o gnero, ou a espcie, ou a diferena, ou o prprio ou o aecidente.

    So, pois, os predicveis os modos de universalidadeou de predicao. Tantos so os modos de predicao quantos so os modos de conexo dos extremos (sujeito e predicado). Portanto, a predicao consiste formalmente naconjun o ou conexo dos extremos. E a predi cao essencial, total ou parcial, accidental intrnseca ou necess

    ria, ou, ent o, extrnsec a ou conting ente. O predi cado, quando significa a essncia do sujeito ou a significa parcialmenteapenas quanto sua parte material (potencial), temos, ento,o gnero; ou significa a essncia totalmente, temos a espcie;ou significa apen as a formal ( actu al), temos a diferena. Sesignifica algo adveniente essncia, pode ser ela necessria, e ento o prprio; ou contingente, e temos o aecidente, tomado aqui o termo em sensu stricto.

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    No se inclui o indivduo entre os predicveis por noser le um universal.

    O universal lgico como o metafsico dividem-se tambm nesses cinco predicveis. Foram eles estudado s porPorfrio em sua famosa Isagoge eis ts kategorias, Introduo ao estudo das categorias, de Aristteles, obra clssica no

    assunto.

    DO GNERO

    Definia Aristtele s o g nero como o que predi cadode muitas espcies diferentes no que se refere sua quidi-dade. O que se predi ca de muit os no a sua nature za,mas a sua unive rsalida de. O gnero predica "in quid", porque enuncia a quididade a muitos especificamente diferentes.Assim animal predica-se de mui tas espcies diferentes . Ognero contm, formalm ente, sua s espcies. O gnero um

    todo potencial, porque inclui, indeterminadamente, todas assuas espcies.

    DA ESPCIE

    Correlativo ao gnero a espcie. Quando dois term osuniversais esto contidos em extenso um no outro, o menor chama do espcie e o maio r de gnero. Assim home m uma espcie do gnero animal; o tringulo uma espciedo gnero polgono.

    DA DIFERENA

    Diz-se diferena especfica o carcter pelo qual uma espcie se distingue de outras pertencentes ao mesmo gnero.Assim racional uma diferena especfica de homem, que,por este modo, se distingue das outras espcies que pertencem ao gnero animal.

    MTODOS LGICOS E DIALCTICOS 55

    A diferena pod e ser essencial ou accidental. A acci-denta l pode ser inseparv el ou separvel. A diferena essencial a princ ipal , como racional em homem. Se accidental, mas inseparvel, temos o prprio (pro priu m).

    DO PRPRIO

    o accidente inseparvel de uma espcie, como a risi-bilidade (a capacidade de rir) no homem. Mas, o prpriopode emana r tamb m do gnero. Se emana da espcie um prprio especfico; se do gnero, um prprio genrico.No primeiro caso, temos o exemplo dado da risibilidade; nosegundo, a mortalidade, que prprio do gnero animal,portanto, tambm, no homem.

    DO ACCIDENTE

    o que sobrevm, o que no nem constante nem essencial ao sujeito. "Ped ro est sentado ", o estar s entad o apenas um accidente que acontece com Pedro.

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    D A S C A T E G O R I A S

    A SUBSTNCIA

    Pode-se tomar a substncia em sentido lato, e como talsignifica a essncia, e em sentido lestricto como o fundamento que sustenta em si mesmo, como portadora de acci-tentes, como fundamen to do s accident es, o que sub cst.

    Uma subst ncia pode ser completa ou incomp leta. Aprimeira a simples, a segunda a composta.

    Divide-se, ainda, a substncia em primeira e segunda.A primeira a que est no sujeito; a segunda, a que se diz.do sujeito. Assim, na diviso aristotlic a, a mat ria asubstncia primeira (ousia prote, substantia prima), e aforma, a substncia segunda (ousia deutera, substantia secun da) . A prim eira individual izante, a segunda univer-salizante.

    substancia convm pois ser por si ou subsistir, eMIbesta r aos accident es. Ser por si significa indepe ndnciano ser (in essen do), embo ra no absol uta. Significa, poi s,

    independncia do sujeito da ineso e independncia do co-princp io intrnse co substancial. A subst ncia, que sujeito , chama-se na Lgica, substncia predicamental.

    A substncia transcendental pode ser finita (criada ouinfinita (mcriada), e segundo a razo da completao, podeser completa ou incomp leta. A complet a pode ser simple sou composta, simples como homem; composta, como filosofo. A subst ncia incomple ta ora o em razo da esp cie

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    apenas (como a alma humana), ou em razo da espcie eda substancialidade, como a matria prima e a forma substancial recebida na matria.

    Accidentalmente, a substncia predicamental divide-seem razo do modo de ser (universalidade e singularidade),e substncia primeira e segunda. A substncia primeira

    o indivduo, e a segunda substncia universal.Em sua essncia, divide-se em composta (composta de

    partes essenciais), e simples (no composta de partes essenciais).

    Prop ried ades da sub stnc ia. Anota Aristteles as se-seguintes propriedade:

    1) no est num subjectum, no inere em outro. Estapropriedade convm tanto substncia primeira como segunda . A subst nci a primei ra o subj ectum lgico da segunda, e esta se predica da primeira, que no suleitofsico ou ineso.

    2) Significar ou ser um algo qualq uer, quer dizer algopor si subsistente e substantivamente expresso, diferentedos accident es, que apen as significam a djectiv mente.

    3) No ser sujeito a mais e meno s; quer dizer que aessncia substancial no pode tornar-se mais intensa ou menos intensa, como po r exemplo o calor. Contu do, uma substncia pode ser mais nobre do que outra.

    4) No ter contrrios. Dizem-se contrrios aquelesque, no mesmo sujeito, se repelem, como a substncia noest no sujeito no pode expelir alguma coisa do sujei to.

    A razo das qualidades contrrias no impede que as substncias lutem entre si.

    5) Ser susceptvel de contrri os. Como a substncia sujeita de ineso dos accidentes, pode permitir accidentescontrrios.

    6) A subst ncia segunda pode ser predi cada univocamente da primeira, porque aquela est contida nesta.

    MfiTODOS LGICOS E DIALCT ICOS 59

    ACCIDENTE PREDICAMENTAL

    O accidente predicamental define-se como aquele cujaquididade consiste em ser no em si, mas em outro, que sujeito de ineso.

    O que caracteriza, portanto, o accidente ser inerenteem outro ou seja inesse (em out ro). No inesse temos: atri-bui-se formalmente algum ser secundrio, que supe um serprimeiro consubstancial, e dependncia em ser de um sujeito.

    Da quantidade predicamental se define a ordem daspar tes no todo . Sendo que o ter mo ordem significa posio das partes extra partes, o que quer dizer, que a quantidade o accidente atribudo ao sujeito por ter partes extrapartes quanto a si. A ordem o fundamento da relao, naqual consist e a essncia da qualid ade, e no relao da

    orde m. Desta manei ra, a ord em funda mental o fundamento da relao, segundo prioridade e posterioridad e. Aquantidade, portanto, contm multido de partes, e destamultido, ordem, segundo a posio em que as partes socolocadas extra partes, segundo prioridade e posterioridade.A quantidade transcendental aquela que abstrai esta ordem, e apenas a multi do dos entes toma dos conjuntamente como nmero transcendental, ou, ento, tomado indivi-samente, como a plenitude de uma potncia, quando se dizquantida de de virtude. A quantidade predicamen tal tambm a extenso chamada quantidade dimensvel, que accidente das coisas materiais, e medida da matria.

    A quantidade predicamental se divide em contnua e discreta. contnua, quando suas part es continuam entre si,e descontnua, ao contrrio.

    A quantidade contnua chama-se linha quando tem umanica dimenso; superfcie, quando tem duas; corpo, quandotem trs. Chamam-se unidades predicamentais as ltimas

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    60 MRIO FERREIRA DOS SANTOS

    partes de um nmero de uma quantidade. O nmero pre-dicamental o que decorre da quantidade discreta, que surge da diviso da quantidade contnua, que multido departes entre si discretas, em que cada uma uma quantidade contnua, extensa. O nmero predic amental a verdadeira e prpria espcie da quantidade, porque ela mesmaordena as partes discretas, as unidades, extra partes.. .Deste modo, no le apenas a coleco de muitos, mas a suaordem quantitativa, ordem segundo prioridade e posterioridade . Da unid ade resulta o nme ro; ou seja, a ordemda posio discreta, que o novo accidente realmente distinto da substncia tomada singularmente, como tambm dasua quantidade contnua. O nmero um per se, unidadeda ordem, que um accidente. O nm ero , port anto , umaordem de posio das partes discretas, e ordena muitos sobre uma or dem. No se pode dizer que um o que no temum sujeito. Tomad o nas coisas da natur eza, o nme ro, considerad o meramen te numric o, um. O nm ero diversifi

    ca segundo a diversidade essencial.

    O nmero terminado e determinado pela ltima unidade. A linha, a superfcie e o corpo mate mtic o so verdadeiras espcies da quantidade.

    O lugar, o movimento e o tempo no so espcies daquantidade , mas so quanta, por accidente. Assim, o lugar a superfcie ambiente, que contm o locado, o que no significa especial razo de extenso, mas sim algo que forado conceito de quan tida de, e que nele acontec e. O um, tomado em si, no nmero, porque o nmero implica mul

    tido. O um transcendental nada de real acrescenta ao ente, mas significa o prprio ser enquanto concebido comonum indiviso, enquanto que o um predicamental acrescentaalgo ao ente, pois no significa apenas o ente, mas o entecomo um quantum.

    Propriedades das quantidades Assim, na Fsica soconhecidas as propriedades como a extenso local, a impe-

    MTODOS LGICOS E DIALCT ICOS 61

    netrabili dade, a mensurabilidade, a divisibilidade. Comopropriedades lgicas, temos: 1) no ter contrrios, de contrariedade pro priamen te dita. A razo simples: os contrrios, que esto no mesmo sujeito, repelem-se mutuamente . Mas, a quantid ade no repele a quantidade. Pois umaquantidade no produz outra quantidade, mas a quantida

    de retirada extrada da quantidade . Grande e pequeno,muito e pouco so opostos no contrrios, apenas relativamente, pois se diz que uma coisa grande em relao a umameno r, e se diz que meno r em relao maior. Assimduzentos grande em relao a trs, e pequeno em relao a dois mil.

    2) No estar sujeita a mais e meno s. Um nmeropode ser maior que outro; contudo, no mais nmero (enquanto nmero).

    3) A quan tida de funda-se na relao de igualdade e

    desigualdade, porque torna o sujeito mensurvel, e o queconvm nalguma medida chamado igual, e o que no convm, desigual.

    m

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    DA GlifLIDADE PREDICAMENTAL

    .gSaidade tomada: 1) como diferena essencial, que chamad a a qualida de do gnero; 2) como um ac cidentequalquer; 3) estrictamente como algo especial de algumaccidente, que responde pergunta qualis?, endereada substncia, e que convm absolutamente substncia distinguida e deter minad a esta. Separa-se da quant idad e, quetambm convm absolutamente substncia, que, contudo,no a distingue-nem a determina.

    So Toms define como o accidente modificativo oudeterminativo da substncia em si-mesma, e que se distingue dos outros accidentes, porque estes no determi namabsolutamente em si mesmo a substncia, mas em ordem aoutro termo, como a relao, ou em ordem de adjacentesextrnsecos, como se v em outros predicamentos. Tomadaestritamente, a qualidade, enquanto gnero supremo, divi-de-se em quatro espcies, que so: hbito e disposio, potncia e impotncia, paixo e qualidade de sofrer, forma efigura.

    A qualidade determina a substncia em seu ser ou comoquanta.

    Como quanta, determina a posio das partes da substncia, forma e figura. Se dete rmina a substn cia no seuprprio ser, determina em si mesma, pelo qual ela constituda como hbito e exposio, ou em ordem sua actividade e passividade, pelo qual constituda em potncia eimpotncia, etc.

    MTODOS LGICOS E DIALCTICOS 63

    DO HBITO

    O termo habitus predica-se da coisa no enquanto estatem algo, porque isso o que constitui propriamente o predicamento hbito, mas enquanto a coisa se h (habet) em

    si-mesma, ou seja como ela se h em si mesma.A disposio definida como o accidente facilmente

    mvel, que dispe o sujeito a bem ou mal haver-se em simesmo. Hbi to e disposi o diferem intrnsec a e especificamente, porque uma pode ser fcil e outra difcil, assimcomo a opinio, por sua natureza, fcil, enquanto a cincia difcil, e, no obstinado , a opini o p ode ser dificilmenteremovvel, enqu anto a cincia, ao contrrio . O hbit o podeser entita tivo e ope rativo . Ambos dete rmin am a substncia, mas o operativo determina por ordem actividade ohbito meramente entitativo. O hbito operativo pode ser

    toma do estri ctamen te ou no. O prime iro consiste, por modo de inclinao, a indeterminao da potncia, que impedeoper ar no bem ou no mal. A segunda consiste n a aco cognoscitiva e operativa.

    A potncia definida como o accidente que dispe osujeito a oper ar ou a resistir. A resistncia, contud o, tambm uma ope ra o. Divide-se a potncia em activa e passiva. Activa a que realiza uma aco tran seun te, quetran sit a fora da potnci a do sujeito para algo. E passiv a,a que perman ece imanen tement e. Assim se diz que a potncia activa transeunte ou transitiva, e a passiva ima

    nente.

    DA PAIXO (PASSIO)

    A capacidade de sofrer alteraes de uma qualidade auma outra oposta, por exemplo de uma cr a outra cr, diz--se paixo, que a capacidade de alterao, de ser alterado.Chamam-se qualidades passivas aquelas que esto sujeitas

  • 8/9/2019 Metodos Logicos e Dialecticos I

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    DA QUALIDADE PREDICAMENTAL

    A qualidade tomada: 1) como diferena essencial, quek chamada a qualid ade do gnero; 2) como um acci dente^alquer; 3) estrictamente como algo especial de algum

    ccidente, que responde pergunta qualis?, endereada ^bstncia, e que convm absolutamente substncia distingida e determi nada esta.* Separa-se da quant idad e, qu eJpjnbm convm absolutamente substncia, que, contudo,Ao a distingue nem a determina.

    So Toms define como o accidente modificativo ou^terminativo da substncia em si-mesma ( e que se distinge dos outros accidentes, porque estes no determinam.psolutamente em si mesmo a substncia, mas em ordem apiitro ter mo, como a rela o, ou em orde m de adjace ntes^trnsecos, como se v em outros predicamentos. Tomada^trtamente, a qualidade, enquanto gnero supremo, divi- jje-se em quatro espcies, que so: hbito e disposio, potncia e impotncia, paixo e qualidade de sofrer, forma efigura.

    A qualidade determina a substncia em seu ser ou como(juanta.

    Como quanta, determina a posio das partes da substncia, forma e figura. Se dete rmin a a subs tnci a no seuprprio ser, determina em si mesma, pelo qual ela constituda como hbito e exposio, ou em ordem sua actividade e passividade, pelo qual constituda em potncia e

    jmpotncia, etc.

    MTODOS LGICOS E DIALCTICOS 63

    DO HBITO

    O termo habitus predica-se da coisa no enquanto estatem algo, porque isso o que constitui propriamente o predicamento hbito, mas enquanto a coisa se h (habet) emsi-mesma, ou seja como ela se h em si mesma.

    A disposio definida como o accidente facilmentemvel, que dispe o sujeito a bem ou mal haver-se em simesm o. Hbit o e disposi o diferem intr nseca e especificamente, porque uma pode ser fcil e outra difcil, assimcomo a opinio, por sua natureza, fcil, enquanto a cincia difcil, e, no obsti nado , a opini o pode ser dificilmenteremovvel, enqu anto a cincia, ao con trr io. O hbi to podeser entitativo e operativo. Ambos determin am a substncia, mas o operativo determina por ordem actividade ohbito meramente entitativo. O hbito operativo pode ser

    tomado estrictamen te ou no. O primeiro consiste, por modo de inclinao, a indeterminao da potncia, que impedeoper ar no bem ou no mal. A segunda con siste na aco cognoscitiva e operativa.

    A potncia definid a como o accident e que dispe osujeito a ope rar ou a resist ir. A resistnc ia, contudo, tambm uma ope rao . Divide-se a potncia em activa e passiva. Activa a que realiza uma aco tran seun te, quetransi ta fora da potncia do sujeito para algo. E passiva,a que perma nece ima nent ement e. Assim se diz que a potncia activa transeunte ou transitiva, e a passiva ima

    nente.

    DA PAIXO (PASSIO)

    A capacidade de sofrer alteraes de uma qualidade auma outra oposta, por exemplo de uma cr a outra cr, diz--se paixo, que a capacidade de alterao, de ser alterado.Chamam-se qualidades passivas aquelas que esto sujeitas

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    64 MRIO FERREIRA DOS SANTOS

    a mudanas de graus de intensidade, como as cores, os sons,o odor, o sabor, etc. Estas so imediatament e por si sensi-biles, sensveis.

    As cores, como o vermelho, o azul, so distintas por diferenas prprias, j o branco e o negro so diferenas de

    intensidade na luz, uma o grau mximo de intensidade e aoutra o mnimo de intensidade. As qualidades qumicas noso sensveis imediatamente per se, como por exemplo, aafinidade qum