métodos
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MétodosMétodos
Top-down & Botton-upTop-down & Botton-up
Texto dissertativo é um tipo de texto que permite interpretar, analisar, relacionar fatos, informações e conceitos gerais, a fim de construir argumentos sócio-culturais historicamente constituídos, cujos objetivos comunicativos estão vinculados a situações interpretativas de uso.Todo texto dissertativo tem suas especificidades. Uma delas é o modo como as idéias e os argumentos aparecem no corpo do texto.
Top-down
Você apresenta sua idéia central (tese) na introdução e, no desenvolvimento, você arrola argumentos que comprovem essa tese. Desse modo, sua conclusão não poderia deixar de ser a ratificação da afirmação contida na introdução.
Introdução teseDesenvolvimento argumentos e/ ou exemplos que demonstram a veracidade da tese introdutória.Conclusão retomada da tese, reforçando-a.
Botton-up
Você demonstra uma verdade final, isto é, esses fatos e exemplos vão-se repetindo e se somando para convencer, finalmente, o leitor de que sua conclusão é verídica. O desenvolvimento de seu texto deve, então, ser construído a partir de um raciocínio de enumeração (de argumentos, fatos, exemplos ou dados estatísticos).
Introdução rápida “pincelada” sobre o assunto, a partir de elementos correlatos ao principal.Desenvolvimento argumentos e/ ou exemplos que demonstram a afirmação da conclusão.Conclusão explicitação clara da sua posição.
A conclusão de um texto no estilo botton-up é importantíssima: ela ‘fecha’ as suas idéias e as liga ao tema. A conclusão, neste estilo, é o “fio da navalha” que separa sua redação da fuga ao tema.
Glamour e miséria no país onde tudo podeRoberto Pompeu de Toledo
"Moralista! Eis ofensa pior do que xingar a mãe. Desde 1968, ser
classificado de moralista, em especial em assuntos sexuais, é ser
atingido pela ignomínia. O sexo virou tabu - não porque não se possa
falar nele, nem porque não se possa praticá-lo nas modalidades que
fogem às mais ortodoxas, mas, ao contrário, porque é imprescindível falar
nele, alardeá-lo o mais possível, escancará-lo no cinema, nas letras de
música, nas revistas e na TV, e incentivar a sua prática seja em que
modalidade for, homo ou hetero, por cima ou por baixo, sozinho ou
acompanhado - é tudo normal, normalíssimo, reza a cartilha do nosso
tempo. Sexo virou tabu ao contrário. É proibido proibir. Tentar conter seus
sagrados impulsos é coisa de velho, atrasado, ‘careta’. É repressão.
Censura.
ASPAS
É bem possível que tal atitude, presente mais ou menos no
mundo todo, mas talvez em parte alguma como no Brasil, terra
inzoneira, de sol tropical e Carnaval, onde à ardência da carne
corresponde uma festiva filosofia do deixa estar, deixa fazer,
tenha relação com certos atributos muito típicos do presente
panorama brasileiro. Somos um dos campeões mundiais de
prostituição infantil. Transformamo-nos numa das mecas do
turismo sexual. Somos um dos maiores, talvez o maior,
exportadores mundiais de travestis. Ocupamos lugar de
destaque nas estatísticas de incidência da Aids. Enfim,
apresentamos números de embasbacar em matéria de gravidez
na adolescência. Setecentas mil meninas entre 10 e 19 anos
deram à luz no ano passado em hospitais do SUS, segundo o
Ministério da Saúde. Dessas, 32.mil tinham entre 10 e 14 anos.
Não entram nesses totais as que recorreram a hospitais
particulares ou clínicas clandestinas.
A gravidez na adolescência é o tema de uma campanha de
prevenção lançada na semana passada pelo Ministério da Saúde.
Na ocasião, o ministro José Serra causou rebuliço ao sugerir que
o exemplo da apresentadora Xuxa, orgulhosa protagonista de
uma ‘produção independente’, como se diz - a opção de criar
filhos sozinha, sem marido -, pode ter exercido influência nociva
sobre as meninas. Xuxa respondeu que ninguém tem nada com
sua vida, que não lhe faltam recursos para criar a filha, que mau
exemplo dão os políticos etc., mas a referência à apresentadora,
tenha-a feito o ministro de caso pensado ou não, foi
providencial. Tudo tem de passar pelo show no Brasil. Sem a
polêmica com a famosa loura da TV, a campanha contra a
gravidez precoce teria passado despercebida.
A referência a Xuxa, além de providencial, é pertinente. Ela é
pioneira nesse fenômeno tão característico do Brasil de hoje que
é a erotização das crianças. Faz anos que, consciente ou
inconscientemente, lhes dá aulas de sedução. Outras a seguiram
na TV, entre louras que a imitam e reboladoras profissionais,
mas Xuxa detém a palma do pioneirismo. Merece ser
considerada um símbolo da permissividade da televisão
brasileira. Junte-se a essa qualidade a da sacerdotisa do
consumo que sempre foi, com a especialidade de dirigir sua
pregação às crianças, e chega-se à conclusão de que as
campanhas contra os efeitos perniciosos da TV, ao centrar fogo
contra Ratinho, como têm feito ultimamente, talvez estejam
incorrendo numa injustiça. Afinal, Ratinho não se dirige ao
público infantil.
Ressalve-se em favor de Xuxa que ela só existe em função de um contexto. O contexto é uma televisão sem freios, só comércio e busca de audiência, mais voltada para a formação de consumidores que de seres humanos. Ressalve-se igualmente que a TV - e a mídia em geral - não é a causa profunda de tragédias brasileiras como a prostituição infantil e a gravidez precoce. A causa profunda é a pobreza e a ignorância. O que a mídia faz - e não é pouco - é ampliá-las, ao propagar comportamentos e valores para os quais crianças e jovens não estão amadurecidos e tratá-los não só como naturais mas mitificá-los como próprios de uma vida solta, prazerosa e ‘moderna’.
É aí que entram a gravidez e a maternidade de Xuxa. Grávida e, depois, jovem mãe, ela virou a grávida e a jovem mãe mais celebrada do país, por efeito do conluio de interesses entre uma mídia tão sequiosa dela quanto ela da mídia. Quando Xuxa diz que ninguém tem nada a ver com suas opções pessoais tem razão. Ninguém tem nada a ver com uma produção independente quando a produtora é pessoa adulta e capaz de sustentar o produto. O problema é expor essa opção na vitrina e revesti-la de glamour.
O contraste entre a vitrina e a vida real, neste país onde não se
vê nada de mais em ensinar às crianças a dança da garrafa, é
imenso. Com Xuxa, assim como nas novelas, outra área da
televisão onde o sexo é livre como o vento, natural como o ar
que se respira, tudo é bonito e acaba bem. Na vida real as mães
adolescentes têm a saúde debilitada, abandonam a escola,
geram bebês malformados, trazem um encargo a mais à família
- quando há família - e agravam a própria pobreza. O contraste
entre a vitrina e a vida real torna o Brasil ainda mais miserável."
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