metodologias de intervenção no património

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    2 Seminrio- A Interveno no Patrimnio. Prticas de Conservao e Reabilitao 117

    METODOLOGIAS DE INTERVENO NO PATRIMNIOEDIFICADO

    A.G. COSTAProfessor Associado

    com AgregaoFEUP

    ANTNIO ARDEProfessor Auxiliar

    FEUP

    JOO GUEDESProfessor Auxiliar

    FEUP

    E. PAUPRIOEngenheira Civil

    IC-FEUP

    RESUMO

    O principal objectivo desta comunicao apresentar uma metodologia para a

    verificao da segurana e reforo do patrimnio edificado, seguindo os princpiosestabelecidos nas Recomendaes para a Anlise, Conservao e RestauroEstrutural do Patrimnio Arquitectnico [1], que tem sido usada no Ncleo deConservao e Reabilitao de Edifcios e Patrimnio (NCREP) da FEUP (verhttp://ncrep.fe.up.pt).

    Uma outra finalidade do trabalho procurar contribuir para a discusso dosprocedimentos usados de modo a ser possvel, no futuro, o estabelecimento demetodologias comuns, nas diversas instituies, devidamente aferidas e calibradas,para o estabelecimento de normas e princpios que possam servir de baseregulamentar.

    Palavras-chave: Verificao da Segurana, Modelao Estrutural, Ensaios

    Experimentais, Reforo Estrutural.

    1. INTRODUO

    A metodologia que tem sido usada pelo Ncleo de Conservao e Reabilitao deEdifcios e Patrimnio (NCREP) da FEUP para a verificao da segurana e reforo dopatrimnio edificado, segue os princpios estabelecidos nas Recomendaes para aAnlise, Conservao e Restauro Estrutural do Patrimnio Arquitectnico [1],nomeadamente que a especificidade das estruturas do patrimnio, com a sua histriacomplexa, requer a organizao de estruturas e propostas em fases semelhantes s queso utilizadas em medicina. Anamnese, diagnstico, terapia e controlo correspondem,respectivamente anlise da informao histrica, identificao das causas dos danos edegradaes, seleco das aces de consolidao e controlo da eficcia dasintervenes.

    A compreenso completa do comportamento estrutural e das caractersticas dosmateriais necessria a qualquer projecto de conservao e restauro. essencial

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    recolher informao sobre a estrutura no seu estado original, sobre as tcnicas emtodos utilizados na sua construo, sobre as alteraes posteriores e os fenmenosque ocorreram e, finalmente, sobre o seu estado presente.

    O diagnstico baseado em informaes histricas e em abordagens qualitativas e

    quantitativas. A abordagem qualitativa no apenas baseada na observao directa dosdanos estruturais e degradaes dos materiais, como tambm na investigao histrica earqueologia, enquanto que a abordagem quantitativa requer ensaios das estruturas e dosmateriais, monitorizao e anlise estrutural.

    Antes de se tomar uma deciso sobre a interveno estrutural, indispensveldeterminar anteriormente as causas dos danos e degradaes, e em seguida, avaliar onvel de segurana actual da estrutura.

    A avaliao da segurana, que constitui a etapa seguinte ao diagnstico, a fase em quea deciso sobre a possvel interveno definida, sendo necessrio conciliar a anlisequalitativa com a anlise quantitativa.

    Toda a informao adquirida, o diagnstico (incluindo a avaliao da segurana) emqualquer deciso sobre a interveno, deve ser discutida em detalhe no Relatrio deAvaliao.

    Este relatrio deve conter uma anlise crtica e cuidada da segurana da estrutura, deforma a justificar as medidas de interveno e facilitar o juzo sobre as decises atomar.

    Essas medidas devero ser dirigidas raiz das causas que provocaram os danos enenhuma aco dever ser empreendida sem se demonstrar que indispensvel. Todo equalquer projecto de interveno dever ser baseado numa compreenso clara dostipos de aces que foram a causa dos danos ou degradaes e das aces que iro

    actuar no futuro [1].

    2. METODOLOGIA DE INTERVENO

    A metodologia de interveno que tem sido usada no NCREP procura respeitar osprincpios referidos anteriormente, comeando na generalidade dos casos por uma ouvrias inspeces construo que, frequentemente, ultrapassam bastante o foroestritamente estrutural. De facto, a fim de respeitar a histria que confere um carcterpor vezes nico edificao em apreo, as inspeces devem ser acompanhadas de umlevantamento histrico que permita datar a estrutura, analisar a sua trajectria, asalteraes e outras intervenes sofridas no tempo, de modo a melhor compreender oseu estado actual [2]. Esse levantamento inclui visitas ao local, conversas com os

    proprietrios e/ou pessoas ligadas edificao, recolha de elementos histricos escritosou fotogrficos e consultas de especialistas [3].

    Naturalmente, dependendo do maior ou menor grau de actuao, quer de anlise paraavaliao de segurana, quer de efectiva interveno de reabilitao e/ou reforoestrutural, a inspeco e diagnstico devero cobrir uma maior ou menor gama de

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    aspectos. Independentemente de serem (ou no) todos considerados num dado casoespecfico apresentam-se os procedimentos que tm sido adoptados nos diversostrabalhos realizados ao longo dos ltimos anos pelo NCREP:

    1. Recolha e anlise histrica

    2. Danos observados3. Caracterizao geomtrica da construo existente4. Caracterizao mecnica5. Identificao e estabelecimento de modelos estruturais adequados6. Calibrao do modelo numrico7. Anlise e interpretao dos resultados8. Avaliao da Segurana9. Tcnicas de reforo a aplicar

    Os aspectos mencionados, no sendo exaustivos da prtica de inspeco e diagnstico,configuram um conjunto de etapas importantes a ter em conta e que, em larga medida,constituem a metodologia adoptada nos diversos casos prticos que o NCREP temtratado ao longo dos ltimos anos. De realar que um aspecto fundamental a ter emconta neste tipo de trabalhos o que se refere monitorizao das construes, quedever ser sempre implementado, se possvel logo no incio do estudo, para que osresultados dessa monitorizao possam ajudar na deciso a tomar e possam no futuroavaliar a qualidade da interveno realizada.

    A execuo da obra dever ser sempre realizada por pessoal qualificado. Este tipo deinterveno exige empresas vocacionadas para este tipo de trabalhos, que estejamhabituados a usar tecnologias apropriadas e que possam interactuar com a equipaprojectista, j que no decorrer da obra surgem normalmente situaes que obrigam amedidas especiais ou a alteraes importantes que devem ser explicadas e apreendidasde uma forma clere e eficiente pela pessoas responsveis pela obra.

    Iremos procurar clarificar e discutir cada um dos procedimentos referidos associando-osa casos prticos e procurando mostrar que em qualquer um desses casos o respeito e apreocupao pelas Recomendaes do ICOMOS tem estado sempre presentes notrabalho desenvolvido no NCREP.

    2.1 Recolha e anlise histrica

    O conhecimento dos critrios de projecto inicial (quando disponveis) e de eventuaissucessivas fases de construo ou intervenes estruturais, assim como das tcnicas deconstruo e caractersticas dos materiais usados, pode ser de grande utilidade para ainterpretao do comportamento estrutural e para a definio de pesquisas adicionais demaior especificidade [4]. Nas Figuras 1 e 2 apresentam-se alguns exemplos de

    elementos recolhidos na pesquisa histrica. No caso da Figura 1 apresentam-sefotografias relativas ao estudo desenvolvido para a Igreja do Mosteiro da Serra do Pilar[5], e na Figura 2 a) uma fotografia alusiva construo da Ponte Luiz I e obtida nombito de um estudo que teve como principal objectivo avaliar as consequncias dapassagem do metro na referida ponte e ao mesmo tempo efectuar um levantamento dasanomalias que a obra apresentava, j que as ltimas intervenes de manuteno tinham

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    decorrido nos anos 80 [6]. Na Figura 2 b) apresentam-se pormenores de armaduras dosistema Hennebique, recolhidas no trabalho de avaliao da segurana estrutural doedifcio Palladium, sito no gaveto das ruas de St Catarina e de Passos Manuel no Portoe onde foi possvel verificar que na perspectiva da Engenharia Civil o edifcio tevemuitos motivos de interesse, uma vez que se tratava de um dos primeiros, se no mesmo

    o primeiro edifcio construdo na cidade do Porto inteiramente em beto armado, [7].

    Ao tempo esta tecnologia, ento nascente, era exclusiva de certos "engenheiros-construtores" detentores de patente como o caso de Coignet, Hennebique e outros.

    A consulta de tratados da poca (C. Berger e V. Guillerme - La Construction en CimentArm - 1909; M.-A. Morel - Le Ciment Arm et ses Applications - 1913; M. G.Espitallier - Bton Arm - 1913) que descrevem os vrios sistemas ento utilizados,permitem uma provvel atribuio da construo a Hennebique cuja pormenorizao dearmaduras muito idntica quela que se encontrou na pesquisa bibliogrficaefectuada.

    Destes pormenores referem-se como mais caractersticos, a utilizao de estribos emchapa de ferro, abraando cada um apenas um varo inferior ao seu correspondente naface superior, quando existe, e a utilizao de vares de momentos negativos que, muitoprximo ainda dos apoios, so baixados em direco aos teros de vo, transpondo parao interior do beto o esquema de "viga armada", ou seja com tirante exterior, Figura 2b).

    Figura 1: Recolha de informao histrica.

    a) Pormenor da construo da PonteLuz I

    b) Pormenores de armaduras do sistemaHennebique

    Figura 2: Recolha de informao histrica.

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    2.2 Danos observados

    A identificao de todas as patologias (estruturais em particular) e a elaborao de umregisto fotogrfico detalhado e adequadamente localizado nas peas desenhadas daconstruo um dos aspectos essenciais no desenvolvimento deste tipo de trabalhos.

    Em particular, o levantamento das fendas observveis na estrutura, a sua distribuio eabertura so elementos importantes para uma avaliao qualitativa primria doequilbrio e da segurana estrutural, bem assim como o reconhecimento de possveiscausas de instabilidade [8]. Especial ateno deve ser devotada eventual presena degua no interior das construes, frequentemente resultante de problemas de infiltraesou de deficiente drenagem das guas pluviais e que esto na origem de muitas avariasestruturais. Em regra, uma inspeco visual pode j fornecer informaes preciosassobre o estado de conservao e sobre as medidas a adoptar na fase de reabilitao. Nocaso da ocorrncia de uma catstrofe natural, por exemplo um sismo, situao mais oumenos frequente nos Aores, os danos podem ser significativos e distribudos pelasdiversas construes histricas das ilhas, afectando de um modo muito significativo opatrimnio portugus. Nas Figuras 3 a) e 3 b) apresentam-se dois aspectos da destruiocausada pelo sismo de 9 de Julho de 1998 numa Igreja da Ilha do Pico, Figura 3 a) enuma moradia da Ilha do Faial, Figura 3 b), (para mais informao ver [9] e [10]). NaFigura 3 c) apresenta-se um aspecto dos danos verificados na Igreja de St. Antnio deViana do Castelo [11], atribuveis a um assentamento na base das colunas tendo-serecomendado um plano de monitorizao, que foi efectuado e que ir permitircompreender o tipo de movimentos que as colunas esto a sofrer e a partir da anlisedesses resultados a interveno a efectuar.

    (a) Igreja da Ilha do Pico (b) Moradia na Ilha do Faial (c) Igreja deSt. Antnio

    Figura 3: Danos Observados.

    2.3 Caracterizao geomtrica da construo existente

    A definio geomtrica da construo existente, recorrendo a elementos j existentes oubaseada (ou complementada) em levantamentos com meios topogrficos tradicionais ou

    com tcnicas fotogramtricas fundamental num trabalho desta natureza. Um estudogeomtrico rigoroso permite desde logo detectar eventuais irregularidades, tais comodesvios verticais e horizontais relacionados com as avarias estruturais [8]. No caso daIgreja de Vimioso, Figura 4 a) [12] esse levantamento permitiu detectar irregularidadesao nvel da nave da cobertura, em contrafortes e no arco do altar. No caso da Ponte LuizI, Figura 4 b), teve-se acesso ao projecto original, cuja memria descritiva era assinada

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    por Gustave Eiffel e foi possvel verificar que o projecto no correspondia ao que tinhasido efectivamente construdo. Os desenhos disponveis do projecto original, Figura 5,permitiram quase na totalidade definir a geometria geral da obra, a menos de algumasquestes levantadas quando se depararam com desenhos que continham correcesfeitas posteriori. Houve assim necessidade de analisar a obra real de modo a despistar

    as dvidas que surgiram no levantamento da geometria.

    A confrontao da informao disponvel com a obra real, permitiu concluir que a zonacentral compreendida entre os dois maiores pilares metlicos a nica que se encontraem conformidade com o projecto original.

    Tramo 1 Tramo 2 Tramo 3 Tramo 4 Tramo 5Tramo 6 Tramo 7 Tramo 8 Tramo 9 Tramo 10 Tramo 11 Tramo 12 Tramo 13

    GAIA PORTO

    Pilar 1Pilar 2 Pilar 3

    a) Levantamento topogrfico da Igreja

    de Vimioso

    b) Caracterizao geomtrica da Ponte Luiz

    Figura 4: Caracterizao Geomtrica.

    Os restantes tramos do tabuleiro superior, quer do lado de Gaia quer do lado do Porto,apresentam comprimentos diferentes. Verificou-se ainda que as vigas do 1 tramo dolado de Gaia se encontram divididas em 8 aspas, em vez das 9 de projecto, e as vigas do2 tramo constitudas por 10 aspas em vez das 11 de projecto. Aspa a poro de vigaentre dois montantes consecutivos [6].

    Figura 5: Alado de montante, reproduo do projecto original.

    2.4 Caracterizao mecnica

    No desenvolvimento do trabalho fundamental a definio de eventuais ensaios arealizar para caracterizao dos materiais e da estrutura, incluindo os elementos das

    fundaes. Os ensaios sobre materiais de diversas partes da estrutura e das fundaes,atravs da recolha de amostras para anlise em laboratrio ou mediante ensaios no-destrutivos (ou at ligeiramente destrutivos) realizados in-situ, destinam-seessencialmente sua caracterizao fsica e mecnica e, eventualmente identificao ecalibrao de relaes constitutivas a usar nos modelos estruturais [13]. Por seu turno,os ensaios estticos ou dinmicos envolvendo a construo no seu todo ou em partes,

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    so destinados a validar o seu comportamento estrutural quer em termos das suasprestaes em servio (ex.: ensaios de carga) quer em termos de resultadoscomparativos para calibrao do modelo estrutural [6].

    No caso de estruturas de alvenaria de pedra, podem-se extrair carotes de pedra, e de

    pedra e junta de modo a ser possvel realizar uma srie de ensaios, por exemplo, decompresso e traco da pedra, ensaios de carga normal e de deslizamento em juntas,etc. Por outro lado devem ser efectuados outros ensaios in situ, por exemplo de medioda velocidade de ultra-sons, tomografias, etc. Na Figura 6 apresenta-se os ensaiosrealizados na Igreja do Mosteiro da Serra do Pilar, situada em Vila Nova de Gaia, numestudo desenvolvido no mbito de uma tese de mestrado [5].

    A extraco das amostras a ensaiar, que foi realizada em duas paredes da fachada daigreja, com recurso a uma mquina de corte rotativo com coroa diamantada, permitiu teruma ideia da disposio das pedras ao longo do interior das paredes, bem como dosvazios das mesmas.

    (a) extraco de carotes (b) amostra de material (c) interior dos orifciosFigura 6: Extraco de carotes na Igreja do Mosteiro da Serra do Pilar.

    A partir das carotes extradas no local possvel realizar uma srie de ensaios, de que seapresentam alguns na Figura 7, que permitem obter a resistncia compresso, traco, ao corte e o mdulo de elasticidade.

    (a) compresso (b) traco (c) corteFigura 7: Ensaios sobre carotes de pedra.

    As construes histricas so normalmente realizadas em paredes de alvenaria com

    juntas secas ou com junta com argamassa, sendo importante quantificar a resistncia acargas normais e ao deslizamento dessas juntas. Na Figura 8 apresentam-se algunsensaios realizados.

    A partir dos ensaios de carga normal e de deslizamento [5] pode-se estimar a rigideznormal e tangencial das juntas, permitindo definir a sua lei de comportamento.

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    (a) provete de junta (b) fase inicial do ensaio (c) provete aps ensaio de corteFigura 8: Ensaios de caracterizao das junta.

    Alm de ensaios a provetes extrados nas construes, possvel avaliar ascaractersticas de elementos estruturais, recorrendo a outro tipo de ensaios.

    No estudo j referido [5] determinou-se o mdulo de elasticidade das paredes da Igreja(referido zona ensaiada) com recurso utilizao de um dilatmetro, que atravs daaplicao de uma presso do tipo hidrosttica exercida pelo dilatmetro (nomeadamentena zona da membrana do aparelho) sobre as paredes de furos realizados na estrutura,

    Figura 9, e com recurso medio dos deslocamentos resultantes da presso aplicada,permite determinar o mdulo de elasticidade da zona em anlise [5].

    (a) equipamento (b) colocao do dilatmetro (c) ensaioFigura 9: Ensaio de dilatmetro.

    Tambm frequente recorrer-se a ensaios experimentais, no local ou em laboratriopara caracterizar mecanicamente elementos estruturais. Na Figura 10 apresenta-se doisexemplos de ensaios que permitiram avaliar a capacidade resistente das paredes acodos sismos mas tambm obter o mdulo de elasticidade das paredes [14] e [15].

    a) Ensaios no Faial em paredes dealvenaria de moradias

    b) Ensaio em laboratrio numa parede dealvenaria proveniente dos Aores

    Figura 10: Ensaios em elementos estruturais.

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    2.5 Identificao e estabelecimento de modelos estruturais adequados

    A identificao e estabelecimento de modelos estruturais adequados, baseados empremissas coerentes com a observao da estrutura e com os resultados dos ensaiosexperimentais (caso existam) um ponto essencial na avaliao da segurana das

    construes existentes. Esta avaliao da segurana uma tarefa difcil, uma vez que osmtodos de anlise estrutural utilizados para construes novas podem no ser precisosnem fiveis para as estruturas histricas, podendo resultar em decises inadequadas.Isto deve-se a diversos factores, tais como a dificuldade em entender correctamente acomplexidade de uma construo antiga ou monumento, as incertezas relativas scaractersticas dos materiais, a representao imperfeita do comportamento estrutural,associada s simplificaes adoptadas. A essncia do problema identificar modelosnumricos que descrevam adequadamente a estrutura e os fenmenos associados comtoda a sua complexidade, tornando possvel a aplicao das teorias disponveis.

    A anlise estrutural uma ferramenta indispensvel mas a compreenso dos aspectos -chave e a fixao correcta dos limites para o uso das tcnicas matemticas depende dautilizao que o especialista faz do seu conhecimento cientfico. Qualquer modelodever ter em conta trs aspectos fundamentais na avaliao da segurana: o esquemaestrutural, as caractersticas dos materiais e as aces a que a estrutura est submetida.Na definio dos modelos estruturais convm ainda ter em conta o objectivo damodelao, j que tal poder influenciar a configurao dos modelos. Estes podem serconcebidos com o objectivo de reproduzir e interpretar as avarias estruturaisencontradas, ou de prever a resposta estrutural sob condies ainda no experimentadasou ainda de simular os efeitos resultantes de intervenes de reabilitao e/ou reforo[4].

    Nos trabalhos desenvolvidos pelo NCREP tem sido usado o programa, NLDYNA, quefoi desenvolvido na FEUP [16] e permite utilizar elementos slidos tridimensionais eelementos de barra, entre outros, tendo sido adoptado para realizar as modelaes e

    anlises de construes em alvenaria. Com os elementos slidos tridimensionaismodelam-se as paredes de alvenaria, escadas, pilares, vigas, etc. Os elementos de barraserviram para modelar os barrotes de madeira que constituem o pavimento e o tecto.

    Outro programa bastante usado o CASTEM2000, [17] que uma ferramenta maisgeral de modelao e anlise estrutural e est disponvel na FEUP desde 1997 atravsde um protocolo de utilizao e desenvolvimento estabelecido com a sua instituio deorigem, o CEA (Centro de Energia Atmica francs) em Paris. Em estreito contactocom o Laboratrio ELSA (European Laboratory for Safety Assessment) da ComissoEuropeia em Ispra, Itlia, que uma instituio com forte experincia na utilizao deCASTEM2000 e onde o segundo e o terceiro autores desenvolveram trabalhos deinvestigao, este programa tem vindo a ser usado de forma intensiva na FEUP (e soborientao dos autores) no mbito do estudo de estruturas antigas de alvenaria de

    grandes dimenses [5], [18]. Na Figura 11 apresentam-se os modelos numricos daIgreja do Mosteiro da Serra do Pilar sita em Vila Nova de Gaia e o da Igreja dasBandeiras da Ilha do Pico, Aores, modeladas com recurso ao CASTEM2000, naFigura 12 a) o modelo estrutural de uma moradia da Ilha do Faial, Aores modeladacom recurso ao NLDYNA e na Figura 12 b) o modelo da Ponte Luiz I que foi modelada

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    com recurso ao programa FEMIX [19] desenvolvido na FEUP e que foi usado emalguns casos.

    a) Igreja do mosteiro da Serra do Pilar b) Igreja dos Aores

    Figura 11: Modelos numricos.

    a) Moradia dos Aores b) Ponte Luz IFigura 12:Modelos numricos.

    2.6 Calibrao do modelo estrutural

    A calibrao dos modelos numricos e o ajuste criterioso dos parmetros decomportamento (eventualmente sustentado por anlises de sensibilidade), de forma areproduzir o melhor possvel a resposta estrutural obtida dos ensaios experimentais,assumem particular importncia na avaliao da segurana de uma construo existente.

    Esta calibrao normalmente efectuada com recurso comparao das frequnciasnumricas com as experimentais. Assim, numa primeira fase so calculadas asfrequncias prprias das estruturas das construes, usando-se para as propriedades dosmateriais os valores obtidos nos ensaios realizados in situ [14]. Numa segunda fase, esempre que possvel, so medidas experimentalmente as frequncias nos locais,procedendo-se em seguida comparao com os valores obtidos no clculo, permitindo

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    assim realizar uma calibrao mais sustentada dos valores adoptados para essaspropriedades dos materiais (basicamente, o mdulo de elasticidade da alvenaria). Amedio experimental das frequncias tem sido realizada de uma forma sistemtica emquase todas as construes onde o NCREP tem intervido, para calibrar as propriedadesdos materiais, muitas vezes procurando obter s a primeira frequncia [14], [15], [20] e

    noutras procurando-se fazer uma identificao modal de modo a ser possvel a obtenodas primeiras frequncias e dos respectivos modos de vibrao, [18], [21], [22]. NaFigura 13 apresenta-se os registos obtidos na campanha experimental realizada naIgreja do Mosteiro da Serra do Pilar e na Figura 14 os modos de vibrao obtidosnumericamente.

    a) Instalao de sensores b) Registos e clculo de correlaesFigura 13: Calibrao de modelos numricos.

    a) 1 modo de vibrao b) 2 modo de vibraoFigura 14: Modos, numricos, de vibrao da Igreja da Serra do Pilar.

    2.7 Anlise e interpretao dos resultados

    A anlise estrutural uma ferramenta indispensvel. Mesmo quando os resultados doclculo e a anlise no so exactos, possvel obter distribuies das tenses eisostticas de traco e compresso que permitem identificar possveis zonas crticas,Figura 15 [10]. Os modelos numricos, devidamente calibrados, como se referiu noponto anterior, permitem a comparao dos danos tericos produzidos pelos diferentestipos de aces com os danos efectivamente observados, ver Figura 16 relativa aoestudo efectuado para o reforo da Igreja das Bandeiras, na Ilha do Pico, [9]. evidenteque a compreenso do comportamento estrutural da construo e a anlise einterpretao dos resultados, bem como a correcta definio dos limites de validaodos modelos numricos, dependem da utilizao que o especialista faz do seuconhecimento cientfico e da sua experincia prtica. Um programa apropriado de

    -4,0

    -3,0

    -2,0

    -1,0

    0,0

    1,0

    2,0

    3,0

    4,0

    4 4,5 5 5,5 6

    Time (seg.)

    Acceleration(mg)

    Explosion

    Ambientvibration

    -4,0

    -3,0

    -2,0

    -1,0

    0,0

    1,0

    2,0

    3,0

    4,0

    4 4,5 5 5,5 6

    Time (seg.)

    Acceleration(mg)

    Explosion

    Ambientvibration

    0.6

    3Hz

    4.4

    4Hz

    3.5

    2Hz

    3.0

    8Hz

    6.7

    9Hz

    9.5

    2Hz

    8.6

    4Hz

    9.9

    6Hz

    1.E-04

    1.E-03

    1.E-02

    1.E-01

    1.E+00

    1.E+01

    1.E+02

    0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0 11.0 12.0

    frequncia(Hz)

    S((cm/s

    2)2/Hz)

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    investigao, com vrios tcnicos envolvidos, a experincia de vrios casosacompanhados ao longo do tempo e, sempre que possvel, monitorizados, podemaumentar a fiabilidade da anlise e da interpretao dos resultados, sendo este um dosaspectos que o NCREP mais tem pugnado ao longo dos tempos.

    (a) Esforos normais (b) Momentos flectoresFigura 15: Tenses mximas na fachada principal.

    (a) Fachada Principal e Torres (b) Torre direita e alado lateral direitoFigura 16: Isostticas de traco e compresso e fendas verificadas no local.

    2.8 Avaliao da segurana

    A avaliao da segurana efectuada com base na anlise dos resultados obtidos namodelao estrutural e da sua comparao com a capacidade resistente dos elementosestruturais que compem o edifcio. Com base em princpios e regras pr-definidas, soidentificados os diversos elementos a reforar.

    A avaliao da segurana um passo essencial na anlise e interpretao dos danosobservados e na concluso do diagnstico, dado que permitir tomar decises sobre anecessidade e extenso das medidas de interveno. No entanto, esta tarefa extremamente difcil uma vez que a dificuldade em entender correctamente acomplexidade de uma construo antiga ou monumento, as incertezas relativas s

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    caractersticas dos materiais (apesar da calibrao dos modelos j referida) e oconhecimento deficiente da histria correcta da construo, levantam dificuldades, que,por vezes, s a realizao de ensaios de carga ajuda a ultrapassar [23] e a monitorizaoe a experincia da equipa permitem contornar.

    A anlise combinada de toda a informao obtida em cada um dos pontos descritosanteriormente e o estabelecimento de determinados princpios [7], podem conduzir melhor deciso sobre as medidas a tomar. Por exemplo, no trabalho j referido sobre aPonte Luz I, elaborou-se um programa que gerava o desenho da ponte, colorindo asbarras de acordo com a tenso nelas instalada. Para os intervalos de tensocorrespondentes a cada cor, idnticos para traco e compresso, foi adoptado oseguinte esquema:

    0.5 instalado

    rd

    (preto)

    (azul escuro)

    (amarelo)

    instalado

    rd

    1.25>(vermelho)

    0.5 0.875instaladord

    <

    1.125 1.25instalado

    rd

    <

    1.1251.0rd

    instalado