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GEOWANNA APARECIDA HIGINO SILVA SANTOS Metodologias Ativas como sustentação de um projeto democrático: os desafios enfrentados por um curso de graduação em enfermagem Centro Universitário Salesiano de São Paulo UNISAL Americana/SP - 2011

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Page 1: Metodologias Ativas como sustentação de um projeto ...§ão... · projeto democrático. Nesse âmbito, a aprendizagem deve ser interpretada como um caminho que possibilita ao sujeito

GEOWANNA APARECIDA HIGINO SILVA SANTOS

Metodologias Ativas como sustentação de um projeto democrático: os desafios enfrentados por um curso de graduação em enfermagem

Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL

Americana/SP - 2011

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GEOWANNA APARECIDA HIGINO SILVA SANTOS

Metodologias Ativas como sustentação de um projeto democrático: os desafios enfrentados por um curso de graduação em enfermagem

Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL

Americana/SP – 2011

Dissertação apresentada como exigência

parcial para obtenção do grau de Mestre em

Educação à comissão Julgadora do Centro

Universitário Salesiano de São Paulo, sob a

orientação do Prof. Dr. Luis Antonio Groppo

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Santos, Geowanna Aparecida Higino Silva

S235m Metodologias ativas como sustentação de um projeto democrático: os desafios enfrentados por um curso de graduação em enfermagem / Geowanna Aparecida Higino Silva Santos. – Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2011.

101 f. Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL – SP. Orientador: Prof.Dr. Luis Antonio Groppo. Inclui bibliografia. 1. Educação em Enfermagem. 2. Metodologias

ativas. 3. Problematização – Brasil. I. Título.

CDD – 610.7

Catalogação elaborada por Terezinha A. Galassi Antonio - CRB-8/2606 Bibliotecária do UNISAL – Unidade Americana

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BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Autor: GEOWANNA APARECIDA HIGINO SILVA SANTOS

Orientador: Prof. Dr. LUÍS ANTONIO GROPPO

Membros: __________________________________________ Prof. Dr. Luis Antonio Groppo / UNISAL __________________________________________ Prof. Dr. José Carlos de Oliveira / PUC-Campinas _________________________________________ Prof. Dr. Severino Antônio Moreira Barbosa / UNISAL Data: 26 de agosto de 2011

Americana / SP - 2011

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v

Com carinho, dedico este estudo ...

Ao nosso Deus, que me possibilitou realizar este trabalho;

Ao amado Lenivaldo, pelo apoio sempre;

A Rebeca e Luiza, filhas amadas, pelo AMOR SEMPRE, e Palma pela presença

colaboradora;

Aos meus pais, Minelvino (in memorian) e Maria de Lourdes, por ter acreditado

nessa possibilidade e apoio à minha vida profissional.

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Meus sinceros agradecimentos ...

Ao Prof. Luis Antonio Groppo, pelo apoio, e colaboração com este trabalho;

Aos professores e alunos do curso de graduação que aceitaram participar deste

estudo;

Aos Parceiros constantes, Mirza, Grazi, Calú, Ligia, Maria, Adriana, Silvia, Eliete e

Mauro pela contribuição valiosa, me socorrendo sempre em cima da hora;

Aos meus irmãos, Geowanne, Wanne, Gino, Leur, Noeme;

Aos amigos que tanto torceram por mim;

Aos meus alunos aqui representados por Luzia Santos Silva, que incentivam meu

crescimento na busca de vínculo e acolhimento, enquanto “professora”.

Obrigada ...

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“ É próprio do pensar certo a disponibilidade ao risco, a

aceitação do novo que não pode ser negado ou acolhido só

porque é novo, assim como o critério de recusa ao velho

não é apenas o cronológico,.O velho que preserva sua

validade ou que encarna uma tradição ou marca uma

presença no tempo continua novo.”

Paulo Freire

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RESUMO

Em uma abordagem qualitativa, o presente estudo visa compreender os desafios

enfrentados por uma instituição pública de Ensino Superior do Estado de São Paulo

na aplicabilidade das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de graduação em

Enfermagem, conforme o Parecer CNE/CES 1.133/2001, do Conselho Nacional de

Educação/Conselho Estadual de Saúde, de 7 de agosto de 2001, com atenção

sobre a utilização das Metodologias Pedagógicas Ativas como sustentação de um

projeto democrático. Nesse âmbito, a aprendizagem deve ser interpretada como um

caminho que possibilita ao sujeito social transformar-se e transformar seu contexto.

Ela deve ser orientada pelo princípio metodológico geral, que pode ser traduzido

pela ação-reflexão-ação e aponta a resolução de situações-problema como uma das

estratégias didáticas. Este estudo teve como objetivo: (1) identificar as bases teórico-

conceituais das metodologias ativas; (2) caracterizar o enfoque problematizador e as

metodologias ativas como caminho para a formação do enfermeiro como profissional

capaz de atuar nos serviços e na comunidade, com base nos princípios do Sistema

Único de Saúde - SUS; (3) identificar as representações sociais de docentes e

discentes sobre a utilização das metodologias ativas. Para coleta de dados,

utilizamos entrevistas semi-estruturados, questionário e a análise do Projeto Político

Pedagógico da instituição. Os resultados demonstrados nos discursos dos

entrevistados e nas análises dos questionários evidenciaram que há um

reconhecimento da importância dessa cooperação para o ensino em Saúde e para o

fortalecimento do SUS, embora a situação vivida por esta instituição não se

diferencie profundamente das demais instituições brasileiras, conforme dados do

relatório de aderências das Diretrizes Curriculares em Enfermagem - DCN/ENF

(concluído em 2006). Existe ainda uma distância entre o que é pretendido, em

termos de aprendizagem, e o que o professor tem conhecimento para oferecer.

Com este estudo, esperamos chamar a atenção para as propostas alternativas e

inspiradoras de um Ensino Superior inovador na Saúde e, particularmente, na

Enfermagem.

PALAVRAS CHAVE: Educação em Enfermagem; Metodologias Ativas;

Problematização.

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ABSTRACT

In a qualitative approach, this study aims to understand the challenges faced by a

public institution of higher education in the State of São Paulo in the applicability of

the National Curriculum Guidelines for undergraduate nursing courses, according to

the Opinion CNE / CES 1.133/2001, National Council on Education / State Board of

Health, of August 7, 2001, focusing on the use of active teaching methodologies to

support a democratic project. In this scope, learning must be interpreted as a path

that enables the transformation of both the social subject and the context. It should

be guided by the general methodological principle, which can be translated by the

action-reflection-action and points the resolution of problem situations as one of the

teaching strategies. This study aimed to: (1) identify the theoretical and conceptual

bases of active methodologies, (2) characterize the problem-solving approach and

active methods as a way for nursing education to form a professional able to work in

services and community, based on the principles of the Health System - SUS, (3)

identify the representations of teachers and students on the use of active

methodologies. For data collection, we used interviews, questionnaires and analysis

of the Pedagogical Political Project of the institution. The results shown in the

interviews and analysis of the questionnaires showed that there is a recognition of

the importance of cooperation in health and education to strengthen the SUS,

although the situation experienced by this institution is no much different from other

Brazilian institutions, according to the report data of adhesions in Nursing Curriculum

Guidelines - DCN / ENF (completed in 2006). There is also a gap between what is

desired in terms of learning, and the effective knowledge that the teacher can offer.

With this study, we hope to draw the attention to the alternative proposals for an

inspiring and innovative learning in Higher Education related to Health, particularly in

nursing.

KEY WORDS: Nursing Education; Active Methodologies; Problematization.

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LISATA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CNE/CES - Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior

DCN/ENF - Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em

Enfermagem

FNEPAS - Fórum Nacional de Educação das Profissões na Área de Saúde

Inep - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa

LDBN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC - Ministério da Educação

MS - Ministério da Saúde

PBL - Aprendizagem Baseada em Problemas (Pproblem Based Learning )

PET-SAÚDE - Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde

PNH - Política Nacional de Humanização

PROMED - Programa de Incentivo às Mudanças Curriculares das Escolas Médicas

PRÓ-Saúde - Programa Nacional de Reorientação Profissional em Saúde

PSF - Programa de Saúde da Família

SAS - Secretaria de Atenção à Saúde

SENAD - Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD)

SESU - Secretária de Educação Superior

SGTES - Secretária de Gestão e do Trabalho e da Educação na Saúde

SUS - Sistema Único de Saúde

SVS - Secretaria de Vigilância em Saúde

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................ viii

INTRODUÇÃO ................................................................................... 12

1 NA ESFERA DAS PROPOSIÇÕES ............................................... 14

1.1 Os propósitos da lei ...................................................................... 14

1.2 Trajetórias de implementação ...................................................... 16

1.3 Desafios na esfera pedagógica .................................................... 19

1.3.1 Características da Metodologia Problematizadora .................... 20

1.3.2 Características da Metodologia ABP......................................... 23

1.3.3 Diferenciação entre Metodologia Problematizadora e ABP...... 25

1.4 Humanização uma escolha pela vida ........................................ 30

2 NA ESFERA DAS PRÁTICAS ....................................................... 38

2.1 Proposição à pesquisa .............................................................. 38

2.1.1 O tema da pesquisa .................................................................. 38

2.1.2 Objetivos .................................................................................... 38

2.1.3 Justificativas .............................................................................. 38

2.1.4 Metodologia ............................................................................... 39

2.1.5 O cenário da instituição estudada ............................................. 40

2.1.6 O cenário do local de estudo ..................................................... 42

2.1.7 População de estudo ................................................................. 43

2.1.8 Coleta de dados e operacionalização ....................................... 44

2.1.9 A entrevista ................................................................................ 45

2.1.9.1 Percepção dos entrevistados ................................................. 45

2.1.10 Análise dos dados ................................................................. 51

2.1.11 Aspectos éticos ...................................................................... 52

2.1.12 Os resultados encontrados...................................................... 53

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................... 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. 83

APÊNDICES ....................................................................................... 89

ANEXO ............................................................................................... 100

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INTRODUÇÃO

Na atualidade, o campo da saúde vem sofrendo profundas transformações,

em particular, no segmento de ensino. Os processos de construção de cidadania

ainda em curso no Brasil alcançam significações particulares quando a questão é a

saúde e esta situação vem remodelando a perspectiva de ensinar, cuidar, humanizar

os ambientes e relações, as trajetórias e perspectivas de vida e de trabalho desta

área.

A formação de profissionais para a Saúde é um desafio permanente para

governantes comprometidos com a qualidade da assistência prestada à população

no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS); mas, mais do que isso, a formação

de profissionais para a Saúde é um desafio permanente para uma sociedade em

processo de democratização social.

A formação em enfermagem, de forma especial, ocupa papel estratégico na

construção do SUS - e nos caminhos de democratização social - por responder por

grande parcela da força de trabalho no campo da Saúde. Discutir seus caminhos

formativos permite-nos averiguar os processos de transformação e conquista, ao

mesmo tempo perceber os descompassos, contradições e fragilidades de processos

muito além do campo da saúde.

Este trabalho tem como intenção identificar as bases teóricos-conceituais das

metodologias ativas; analisar os discursos do enfoque problematizador e as

metodologias ativas como caminho para a formação do enfermeiro como profissional

humanizado capaz de refletir sobre as perspectivas formativas que no curso da

implantação do SUS ganharam lugar na formação, proposições pedagógicas que

nasceram afinadas aos preceitos e desafios de formar um profissional tão

competente quanto comprometido com a construção de uma sociedade mais justa;

identificar as representações sociais de docentes e discentes sobre a utilização de

metodologias ativas. Interessa-nos aqui averiguar até que ponto as perspectivas e

proposições apontadas (e consolidadas em lei) no final da década de 1980

alcançaram implementação, ou pelo contrário, deixaram-se restringir e circunscrever,

em uma série de aspectos e dinâmicas, à esfera dos discursos.

Para realização desta tarefa buscamos compreender na esfera das

proposições os propósitos da lei de criação do SUS como conquista da reforma

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sanitária junto à Constituição Federal de 1988, as trajetórias desta implementação;

os desafios na esfera pedagógica como: características das metodologias ativas

problematizadoras e aprendizagem baseadas em problemas bem como suas

diferenças e a humanização.

Na esfera das práticas a vivência da pesquisadora foi importante nesta

caminhada metodológica para concretizar o processo da pesquisa.

Em nosso entender, a questão da implementação das metodologias ativas no

cotidiano acadêmico de saúde consiste, em si mesma, numa medida de apreensão e

medição dos resultados alcançados nas últimas décadas pela estruturação do SUS.

A resistência à implementação de metodologias tão caras aos fundamentos

norteadores do sistema pode indicar problemas e dificuldades, ou ainda,

complexidades e desafios pouco perceptíveis, mas que necessitam ser mais bem

compreendidos para que se possa alcançar novos patamares nos caminhos de

transformação e democratização social.

Na esfera das proposições atentaremos para os propósitos da lei de criação

do SUS como conquista da reforma sanitária junto à Constituição Federal de 1988;

os desafios na esfera pedagógica e as características das metodologias

problematizadoras, bem como o que as diferenciam. A humanização é tratada como

uma escola pela vida, impulsionando o aprendizado ativo.

.

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1. NA ESFERA DAS PROPOSIÇÕES

1.1 OS PROPÓSITOS DA LEI:

“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, torná-lo sério, com

adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho,

inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela

tampouco a sociedade muda (FREIRE, 2000, p. 85)”.

O SUS é uma conquista da reforma sanitária junto a Constituição Federal

Brasileira de 19881.

A criação do Sistema Único de Sáúde pela Lei nº 8.080 conferiu legitimidade

aos princípios de: a) universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os

níveis de assistência; b) integralidade da assistência (compreendida como um

conjunto articulado e continuo das ações e serviços preventivos e curativos,

individuais e coletivos, exigida para cada caso em todos os níveis de complexidade

do Sistema); c) equidade na disponibilização de recursos e serviços (de acordo

com as necessidades de cada um, canalizando maior atenção aos que mais

precisam); d) participação social como direito e dever (a sociedade é chamada a

participar das gestões públicas em geral e da saúde pública em particular, cabendo

ao poder público garantir condições para a participação); e) descentralização

(processo de transferência de responsabilidades de gestão para os municípios em

atendimento às determinações constitucionais e legais, estabelecendo-se

atribuições comuns e competências especificas para a União, os estados, o Distrito

Federal e os municípios); f) divulgação de informação (quanto ao potencial dos

serviços de saúde e sua utilização pelo usuário); g) igualdade da assistência à

saúde (sem preconceito ou privilégio de qualquer espécie); h) participação da

população (regulamentada pela Lei n° 8.142 do SUS. BRASIL, 2009b, 2009c

[online]).

No processo de implantação desta ampla e democrática reforma sanitária,

coube à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDBN (2001) orientar os

cursos de graduação das profissões de saúde no Brasil (em especial Enfermagem,

Medicina e Nutrição) para uma formação discente voltada a contribuir para a

1 O SUS se acha presente no Título VIII da Ordem Social, Capítulo II da Seguridade Social e seção II

da Saúde, que compreende os artigos de número 196 a 200 (BRASIL, 2009a [online]).

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melhoria da assistência prestada aos usuários do Sistema Único de Saúde – SUS2.

O projeto pedagógico deveria ser coletivo, centrado no aluno como sujeito da

aprendizagem e apoiado no professor como um facilitador e mediador do processo

ensino-aprendizagem. (BRASIL, 2001).

Na área da enfermagem, mais especificamente, a LDBN estabeleceu como

propósito dos projetos pedagógicos a busca pela formação integral; formação que

deveria contar com a articulação entre ensino, pesquisa e extensão/assistência3 e

ainda conferir a investigação o lugar de eixo integrador entre a formação acadêmica

e da prática profissional. (BRASIL, 2001a). A aprendizagem em saúde (e mais

especificamente, em enfermagem) a partir de 2001 passava a ser pensada em

sintonia com um processo de construção e transformação do sujeito social,

orientando a adoção de uma dinâmica de ação-reflexão-ação enquanto fundamento

metodológico, bem como a vivência da resolução de situações-problema entre as

principais estratégias didáticas (Ibid.).

À luz da Reforma Sanitária Brasileira e com base na nova Lei de Diretrizes e

Bases Nacional, o desafio que se lançava à formação na área de saúde (na forma

de diretrizes curriculares e projetos pedagógicos) era o de levar o aluno a aprender a

aprender (aprender a ser, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a

conhecer), condição para que ele adquisse/desenvolvesse a autonomia e o

discernimento necessários para assegurar a integralidade da atenção, qualidade e

humanização do atendimento prestado aos indivíduos, famílias e comunidades

(Ibid.)4

A construção/adequação dos novos currículos deveria responder aos desafios

do novo século, desenvolver uma visão do todo (atenta a interdependência, à

transdisciplinaridade) e promover redes de mudanças sociais (com base numa

ampliação da consciência individual e coletiva) por meio de métodos inovadores

(capazes de compreender o homem como um ser histórico) e do cumprimento de

uma prática pedagógica ética, crítica, reflexiva e transformadora (MITRE et al, 2008).

2 Parecer CNE/CES n.1133, de 7 agosto de 2001, traz orientações sobre a organização dos cursos na

interface entre Educação Superior e Saúde. 3 Resolução CNE/CES N° 03 DE 7/11/2001, define as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso

de Graduação em Enfermagem DCN/ENF. 4 Neste sentido, seriam estabelecidos objetos e objetivo para as Diretrizes Curriculares, cabendo ao

objeto permitir ao currículo proposto a construção de um perfil acadêmico e profissional com competências, habilidades e conteúdos afinados com as perspectivas e abordagens contemporâneas de formação, ou ainda, pertinentes e compatíveis com referências nacionais e internacionais.

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1.2 TRAJETÓRIAS DE IMPLEMENTAÇÃO

A lógica da educação permanente é descentralizadora, ascendente e

transdisciplinar. Essa abordagem pode propiciar: a democratização

institucional; o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, da

capacidade de docência e de enfrentamento criativo das situações da

saúde; de trabalhar em equipes matriciais e de melhora permanente da

qualidade do cuidado à Saúde, bem como construir práticas técnicas

criticas, éticas e humanísticas. (CECCIM; FEUERWERKER, 2004, pg. 50)

Ao longo de vinte anos de construção do SUS, o sistema de saúde enfrentou

um amplo processo de transformação, em vários aspectos associado às mudanças

vividas pela população.

Fenômenos como a fragmentação dos processos de trabalho e das relações

entre os diferentes profissionais; a fragmentação da rede assistencial (com novas

dificuldades para a complementariedade entre a rede básica e o sistema de

referência); o despreparo dos profissionais para lidar com a dimensão subjetiva nas

práticas de atenção; a presença de um sistema público de Saúde burocratizado e

verticalizado; o baixo investimento na qualificação dos trabalhadores (em especial,

em relação ao trabalho em equipe e gestão participativa); o pouco fomento à

cogestão e à valorização dos trabalhadores e usuários no processo de produção de

saúde; a formação dos trabalhadores de saúde distante do debate e da formulação

das políticas públicas de saúde; a fragilidade do controle social nos processos de

gestão e atenção do SUS (BRASIL, 2004) ampliou ainda mais as dificuldades de

oferecer e garantir o acesso aos serviços de saúde, a integralidade da assistência, o

estímulo/valorização à participação.

No curso do tempo, diversos programas e políticas destinadas a avançar na

implementação dos fundamentos do sistema ganharam forma e lugar, parecendo-

nos importante destacar alguns aspectos desta intensa trajetória.

Em 1994, numa estratégia de reorganização dos serviços, reorientação das

práticas profissionais para a promoção da saúde, prevenção de agravos, tratamento

e reabilitação nas modalidades de alocação de recursos e remuneração das ações

básicas de saúde foi criado o Programa de Saúde da Família/PSF5. (MOROSINI,

CORBO, 2007)

5 Pela Portaria GM/MS n°648, de 28/03/2006 ficou estabelecido que a Saúde da Família fosse um

modelo prioritário do Ministério da Saúde para organizar a Atenção Básica, sendo considerado como

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Com o objetivo de atender aos desafios impostos pela realidade da

democratização das demandas do SUS, necessitou-se de profissionais que

pudessem fazer uma análise crítica da realidade e participasse ativamente dessa

construção. Para tanto, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDBN

(2001) aproximou os cursos de graduação na área de saúde no Brasil (em especial

enfermagem, medicina e nutrição) das perspectivas de assistência prestada aos

usuários do SUS (BRASIL, 2001).

Em 2003 foi a vez do Ministério da Saúde instituir a Política Nacional de

Humanização (PNH) 6 com base na defesa da vida e da pactuação (fortalecimento)

democrática e coletiva do SUS. Essa política foi formulada a partir de experiências

bem sucedidas de humanização nas ações de atenção e estão desenvolvidas por

Estados, Municípios e serviços de saúde (BRASIL, 2004).

Em julho de 2004, o Fórum Nacional de Educação das Profissões na Área

de Saúde (FNEPAS) foi criado para congregar entidades envolvidas na educação e

desenvolvimento profissional na área de Saúde, impulsionar a adoção da

integralidade como eixo norteador da mudança na graduação e fortalecer a

educação permanente em saúde (FNEPAS, s.d.). As entidades do FNEPAS7,

contando com a cooperação técnica do Ministério da Saúde, iniciaram debates (por

meio de oficinas regionais e projetos de pesquisas) sobre a implementação e

avaliação das Diretrizes Curriculares das profissões da Saúde8 e, em conjunto com o

movimento estudantil, gestores municipais de saúde, movimentos sociais e diversas

a porta de entrada dos usuários para o serviço de saúde, dando conta de aproximadamente 85% da demanda exigida pela clientela 6 A Política Nacional de Humanização teve como objetivo colaborar na efetivação dos princípios do

SUS através do enfrentamento de desafios importantes como o acolhimento, a valorização do trabalho em saúde e a integração das ações no processo de atenção. O PNH propôs-se a traduzir os princípios do SUS em modos de operar dos diferentes equipamentos e sujeitos da rede de saúde; a construir trocas solidárias e comprometidas com a dupla tarefa de produzir saúde e sujeitos; a oferecer um eixo articulador das práticas em saúde destacando um aspecto subjetivo nelas presente, no intuito de contagiar por atitudes e ações humanizadoras a rede do SUS, incluindo gestores, trabalhadores e usuários. 7 Entre as entidades: Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM), Associação Brasileira de

Enfermagem (ABEn), Associação Brasileira de Ensino Odontológico- (ABENO), Associação Brasileira de Ensino de Fisioterapia (ABENFISIO), Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP), Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), Rede UNIDA, Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), Rede Nacional de Ensino de Terapia Ocupacional (RENETO), Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino (ABRAHUE), Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) e Associação Brasileira de Ensino Farmacêutico (ABENFAR) 8 A FNEPAS, em parceria com o Ministério da Saúde, Ministério da Educação e entidades de classe,

deram início em 2005 (com financiamento a partir de 2006) a oficinas regionais, pesquisas, produção de artigos e publicações especializadas

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instituições, instituiram o Curso de Especialização “Ativação de Processos de

Mudança na Formação Superior de Profissionais de Saúde”9.

Em 2005, numa parceria entre os Ministérios da Saúde e da Educação, seria

a vez do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em

Saúde/Pró Saúde, centrado na definição de políticas de formação na área de saúde

capazes de garantir atenção integral e de qualidade à saúde da população (Pró

Saúde, s.d)10.

Numa perspectiva complementar, foi efetuada entre os anos de 2002 a 2006

uma pesquisa envolvendo o Ministério da Educação (por meio do Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisa/Inep e da Secretaria de Educação Superior/SESU) e o

Ministério da Saúde (por meio da Secretaria de Gestão e do Trabalho e da

Educação na Saúde/SGTES) com o objetivo de analisar a aderência dos cursos de

graduação em Enfermagem, Medicina e odontologia às Diretrizes Curriculares

Nacionais, e desta forma contribuir para o desenvolvimento de políticas de formação

e inserção profissional no campo da saúde (BRASIL, 2006). Na ocasião, já

mostrava-se evidente a necessidade de construir modelos político-pedagógicos

condizentes com a realidade do locus regional (em lugar de abstratos e dissociados

do cotidiano dos processos de trabalho) e, principalmente, indicar modos de fazer a

formação (princípios e métodos) fundados num ethos de integralidade e

indissociabilidade entre o cuidar, gerir e formar (HECKERT; NEVES, 2010).

Em 2010 seria a vez do Programa de Educação pelo Trabalho para a

Saúde/PET-SAÚDE, programa fundado na educação pelo trabalho – a partir da

integração ensino-serviço-comunidade - e na disponibilização de bolsas para tutores,

preceptores (profissionais dos serviços) e estudantes de graduação da área da

saúde11.

9 Outras atividades se somaram ao Programa de Incentivo às Mudanças Curriculares das Escolas

Médicas (PROMED) e ao Programa Nacional de Reorientação Profissional em Saúde (PRÓ-SAÚDE), constando entre elas a oficina “Metodologias Ativas como Estratégias de Formação para a Integralidade do Cuidado”, realizada em todo o território nacional com a participação de docentes, discentes, trabalhadores, gestores de controle social (Ibid.). 10

Portaria interministerial nº 2.101 de 03 de novembro de 2005 prevê a cooperação técnica, operacional, financeira e de gestão articulada aos serviços do SUS e a população, em pról da articulação pedagógica, de conhecimentos, de equipes multiprofissionais e de atividades práticas ao longo dos cursos em todos os tipos de unidades de saúde. 11

Este programa foi regulamentado pela Portaria Interministerial nº 421, de 03 de março de 2010, achando-se associado ao Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde, o PRÓ-SAÚDE (em implementação no país desde 2005). O PET-Saúde contaria também com parcerias com a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde/SGTES, Secretaria de Atenção à Saúde/SAS e Secretaria de Vigilância em Saúde/SVS, Ministério da Saúde, Secretaria de

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Em duas décadas de ações e parcerias podemos perceber um processo em

curso e diante dele considerar que a implantação (plena) do Sistema Único de

Saúde pressupõe um amplo processo de democratização social. Numa perspectiva

semelhante, entre os campos da educação e da saúde, percebemos a presença de

relações profundas e singulares, entre as quais a urgência do atendimento das reais

necessidades da população, situação que impôs desafios e perspectivas de reforma

educacional específicas.

A trajetória pedagógica assumida pelo campo da saúde na sua ânsia de

responder ao atendimento das necessidades da população vem se mostrando muito

rica e dinâmica, e mesmo que por vezes ela se revele parcial e falha, seu caminho é

inovador.

1.3 DESAFIOS NA ESFERA PEDAGÓGICA

Para atender as necessidades de adequação no campo das políticas

pedagógicas e atingir os resultados esperados passou-se a fomentar o uso de

metodologias ativas como estratégias e/ou recursos de ensino-aprendizagem. Estas

metodologias, fundadas numa dinâmica de problematização, visavam/visam

“alcançar” e motivar o discente a, diante de um problema, se deter, examinar, refletir,

relacionar a sua história e ressignificar suas descobertas (MITRE et al., 2008).

Passados mais de dez anos de efetivação, essas práticas encontram-se

disseminadas e identificadas por diferentes nomenclaturas: “técnica de ensino”,

“método de ensino”, “metodologia”, “pedagogia”, “modelo dialógico de educação em

saúde”, “proposta pedagógica”, “proposta curricular”, “estratégia de ensino PBL”,

“procedimento metodológico”, “metodologia problematizadora”, entre outras.

Nesta pesquisa atentaremos para as estratégias que vêm sendo utilizadas

nos currículos de Graduação em Enfermagem com o propósito de refletir e avaliar

Educação Superior/SESu, Ministério da Educação e Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD/GSI/PR). Cada grupo PET-Saúde/Saúde da Família seria formado por 1 (um) tutor acadêmico, 30 estudantes (sendo 12 estudantes monitores, que efetivamente recebem bolsas e 6 preceptores). Em 2011 foram selecionados 484 grupos PET-Saúde/Saúde da Família, o que representa, considerando a formação completa desses grupos, 9.196 bolsas/mês, além da participação de 8.712 estudantes não bolsistas, totalizando 17.908 participantes/mês. (PET-SAÚDE, s.d). No PET-Saúde/Vigilância em Saúde cada grupo seria formado por 1 (um) tutor acadêmico, 8 (oito) estudantes monitores e 2 (dois) preceptores. Para o desenvolvimento de atividades em 2010/2011 foram selecionados 122 grupos, que representam 1.342 bolsas/mês. Em 2011 também foram iniciadas ações do PET-Saúde/Saúde Mental/Crack, com mais 80 grupos selecionados - proporção de 1 (um) tutor : 3 (três) preceptores : 12 estudantes - o que totaliza mais 1.280 bolsas/mês, considerando a formação completa dos grupos. (Site acessado em 30 de maio de 20110)

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até que ponto estas metodologias têm colaborado para a inovação e qualidade do

projeto pedagógico em curso, valendo ressaltar que o(s) mesmo(s) projeto(s)

pedagógico(s) responde(m) às diretrizes curriculares estabelecidas para a

Graduação em Enfermagem, e que são destas mesmas diretrizes que procedem as

orientações de perfil acadêmico e profissional do egresso (BRASIL, 2001).

As metodologias ativas, por sua vez, carregam em seu interior dois caminhos

teórico-metolodógicos: a “metodologia da problematização” e a “metodologia da

aprendizagem baseada em problemas”. Para que possamos estudar sua

aplicabilidade, interessa-nos compreender melhor suas semelhanças e diferenças.

1.3.1 CARACTERÍSTICAS DA METODOLOGIA PROBLEMATIZADORA

Educar para um outro mundo possível é visibilizar o que foi escondido para

oprimir, dar voz aos que não são escutados ; é educar para conscientizar,

para desalienar, para desfetichizar, para desmercantilizar a vida; é educar

para a emergência do que ainda não é, o ainda não, a utopia; é também

educar para a ruptura, para a rebeldia, para a recusa e fazer da educação

tanto formal, quanto não formal, um espaço de formação crítica e cidadã, e

não apenas de formação de mão-de-obra para o mercado. (GADOTTI,

2008, p.99)

Esta perspectiva de trabalho, que entende o aprender e o ensinar como fruto

da convivência com os problemas e as situações reais, tem registrado

desdobramentos importantes, tanto positivos, quanto negativos. No entender de

Berbel (1998), constam entre os aspectos positivos a adesão dos docentes a novas

maneiras de ensinar e aprender e, entre os aspectos negativos, além da resistência

natural às mudanças, os descompassos entre um discurso de aprovação e uma

prática que, apesar de permeado de pequenas adaptações, ainda se mantém

tradicional.

A Metodologia Problematizadora surgiu nos anos 1980 como fruto das

formulações de Paulo Freire; concebida como uma estratégia de ensino, ela foi

pensada como meio de conferir sentido crítico à realidade e, a partir daí se retirar os

componentes capazes de conferir significado e direção às aprendizagens. Esta

metodologia, nascida da percepção de Paulo Freire de que, para transformar o

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mundo tornava-se necessário mudar a forma como a educação vinha se realizando,

redundou na proposta de que para se trabalhar realmente em favor das classes

populares seria necessário interagir com elas, discutir seus sonhos, seus desejos,

suas frustrações, seus medos e suas alegrias. Freire buscava, na verdade, uma

forma de educação que valorizasse o potencial criador dos educandos, delineando

uma metodologia que tornasse perceptível aos alunos se descobrir como seres

criativos, portadores de saberes e de cultura. Seu pensamento pedagógico, neste

sentido, se revelaria articulado a um projeto social e político, entendendo o educar

como o pensar sobre um outro mundo possível. Nas palavras de Paulo Freire:

É neste sentido que, para mulheres e homens, estar no mundo

necessariamente significa estar com o mundo e com os outros. Estar no

mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem

“tratar” a sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem

musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos,

sem esculpir, sem filosofar, sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer

ciência, ou tecnologia, sem assombro em face do mistério, sem aprender,

sem ensinar, sem idéias de formação, sem politizar não é possível”

(FREIRE, 1996, p. 57-58).

A Metodologia Problematizadora, focada na tarefa de se obter consciência do

mundo para poder transformá-lo, é regida por uma orientação geral e por etapas

específicas, articuladas e sempre fundamentadas num problema detectado na

realidade, sendo que a depender da natureza do problema em estudo e das

condições gerais dos participantes, devem ser feitas escolhas de técnicas,

procedimentos e atividades mais adequadas (BERBEL, 1998). Esta metodologia

conta também, na atualidade com uma representação citada por Juan Dias

Bordenave e identificada como Arco de Charles Maguerez (BERBEL, 1998;

SCHAURICH et al. 2005).

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Gráfico 1. Arco de Charles Maguerez. Fonte: FARAH, PIERANTONI, 2009, p.12 [online]

Na verdade, a Metodologia da Problematização nem sempre é a opção mais

adequada para determinados temas de um programa de ensino. No entanto, quando

conveniente, essa metodologia pode ser aplicada respeitando-se as seguintes

etapas: a) a partir de um tema ou unidade de estudo, propor aos alunos a

observação da realidade social concreta; esta observação permitirá identificar

dificuldades e carências que, em seguida, deverão a ser tratadas como problemas

(deverão ser problematizadas); b) em seguida, propor uma reflexão sobre as

possíveis causas da existência do problema (em estudo) e seus pontos essenciais

(pontos-chaves) de forma a se aprofundar na compreensão e encontrar formas de

interferir na realidade para solucioná-la ou para desencadear passos necessários

nesta direção; c) propor uma investigação aos alunos que, de forma organizada,

deverão buscar informações (por meio de revistas especializadas, bibliotecas,

observação de fenômenos, aplicação de questionários, aulas e palestras); d) auxiliá-

los a propor hipóteses como fruto de uma compreensão mais profunda do problema

investigado em todos os ângulos possíveis; e) auxiliá-los a aplicar a resposta de

seus estudos na realidade na perspectiva de transformá-la (BERBEL, 1998;

SCHAURICH, et al. , 2005)

Todo esse processo “tem como objetivo a mobilização do potencial social,

político e ético dos alunos, que estudam cientificamente para agir politicamente

como cidadãos e profissionais em formação, como agentes sociais que participam

da construção da história de seu tempo, e mesmo que em pequena dimensão”

(BERBEL, 1998, p.145). Em síntese, Berbel (1998, p. 144) afirma que: “O propósito

maior é preparar o estudante/ser humano para tomar consciência de seu mundo e

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atuar intencionalmente para transformá-lo, sempre para melhor, para um mundo e

uma sociedade que permitam uma vida mais digna para o próprio homem”.

1.3.2 CARACTERÍSTICAS DA METODOLOGIA ABP O LUGAR DE JOHN DEWEY

Numa perspectiva um pouco diferente, mas também centrada na valorização

do empenho crítico como condição para a transformação das relações sociais, a

chamada “escola progressista” trouxe proposições de renovação dos meios

educacionais. Em especial, as formulações de John Dewey cumpriram papel central

ao afirmar que só a inteligência daria ao homem a capacidade de modificar o

ambiente ao seu redor (CUNHA, 1994; PITOMBO, 1974).

Influenciado pelo pragmatismo, Dewey criou uma escola-laboratório na qual

buscou estreitar as relações entre teoria e prática chegando à conclusão de que a

experiência constituía-se no princípio fundamental da pedagogia. Segundo Dewey, o

processo educativo envolvia, por um lado, a criança (representando o ser não

desenvolvido) e por outro, o adulto (ser experiente, com idéias, valores acumulados

e amadurecidos), encontrando-se no processo de adequação entre os saberes do

adulto e a experiência da criança, a formação deste novo ser social. Com base,

então, na liberdade – entendida como autonomia do pensar, do estabelecer relações

entre as coisas e do tomar decisões – desdobrava-se o verdadeiro processo de

conhecimento, surgindo daí as bases de crescimento físico, emocional e intelectual

da criança, fruto da experiência desenvolvida em meio a coletividade. Ao educador

caberia escolher os meios mais adequados para promover o aprendizado,

preconizando-se a importância (e urgência) de se estabelecer um planejamento

cooperativo e democrático da produção, de modo a colocar a ciência e a tecnologia

a serviço das necessidades vitais do homem. (Ibid)

O LUGAR DE ANÍSIO TEIXEIRA

Anísio Teixeira, assim como John Dewey (sua fonte de inspiração) costruíram

suas formulações num momento histórico marcado pelo forte desenvolvimento

industrial e urbano; no caso do Brasil, uma nova identidade de país carecia de um

novo desenvolvimento também na esfera da educação. (TEIXEIRA, 1968 e 1994)

As idéias do pragmatismo associadas à psicologia infantil levaram Anísio

Teixeira a entender a escola como responsável pela educação, pela formação de

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homens livres, pela preparação de um futuro (ainda que incerto) e pelo ensinar a

viver. Seguindo o curso de remodelação do país, Anísio Teixeira, juntamente com

outros vanguardistas como Fernando Azevedo, criaram na década de 1920 o

movimento chamado Escola Nova que visava a proposição de um modelo estatal de

ensino livre e aberto como meio de combate às desigualdades sociais. Em 1932,

com a divulgação do Manifesto da Escola Nova (que pregava a universalização da

escola pública, laica e gratuita, além de articulada à universidade), o movimento

ganha força e assim como Dewey, Anísio Teixeira assume a defesa da liberdade

(dos alunos, dos docentes) e da democracia como pilares centrais da educação; a

presença de atividades práticas (como ferramenta do conhecimento) e as disciplinas

como elementos de formação da personalidade quando associadas ao ambiente em

que se vive. (Ibid)

A Problem Based Learning (PBL), ou a Aprendizagem baseada em

problemas, encontraria suas bases na proposta educativa de Dewey. Segundo

Cyrino e Pereira (2004):

...a aprendizagem parte de problemas ou situações que intencionam gerar

dúvidas, desequilíbrios ou perturbações intelectuais. O método “dos

problemas” valoriza experiências concretas e problematizadoras, com forte

motivação prática e estímulo cognitivo para solicitar escolhas e soluções

criativas. Essa visão construtivista do conhecimento, apoiada na teoria

piagetiana da equilibração e desequilibração cognitiva ganhou visibilidade

no espaço escolar pelos estudos de Ferreiro no âmbito da alfabetização.

Contrapondo-se à prática corrente do ensino tradicional, a prática

construtivista situa o professor no papel de provocar o raciocínio do aluno,

procurando gerar desequilíbrios cognitivos (conflitos, problemas) em relação

ao objeto de conhecimento a fim de possibilitar interações ativas com o

conhecimento que levem o aluno a uma aprendizagem significativa. Neste

caso, o aluno utiliza diferentes processos mentais (capacidade de levantar

hipóteses, comparar, analisar, interpretar, avaliar), desenvolvendo

capacidade de assumir responsabilidade por sua formação. (CYRINO,

PEREIRA-TORALLES, 2004, p. 782)

Esta metodologia - a ABP – centraria seu método de aprendizado no aluno e,

por meio dele, no estudo de problemas, privilegiando-se o aprendizado de

conteúdos cognitivos e a integração das disciplinas (BATISTA et al., 2005). Como

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metodologia formativa, ela visaria estimular uma atitude ativa do aluno de buscar o

conhecimento (SAKAI; LIMA, 1996 apud BERBEL, 1998) numa perspectiva

transformadora a partir do seu esforço de configurar os temas como problemas (com

base na discussão em pequenos grupos, com orientação de um tutor), de sua

capacidade de buscar o conhecimento por si mesmo (após se deparar com situação

problema); de seu estímulo em discutir problemas a fim de formular questões de

aprendizado; de sua capacidade de refletir sobre as discussões e daí rediscutir os

problemas à luz dos novos conhecimentos adquiridos. Segundo Berbel (1998, p.147)

e Silva e Delizoicov (2008, p. 18) o desenvolvimento do método se dá em sete

etapas: (1) leitura do problema, identificação e esclarecimento de termos

desconhecidos; (2) identificação dos problemas propostos pelo enunciado; (3)

formulação de hipóteses explicativas, em que os alunos se utilizam dos

conhecimentos que dispõem sobre o assunto; (4) resumo das hipóteses; (5)

formulação dos objetivos de aprendizado, (trata-se da identificação do que o aluno

deverá estudar para aprofundar os conhecimentos incompletos formulados nas

hipóteses explicativas); (6) estudo individual dos assuntos levantados nos objetivos

de aprendizado; (7) retorno ao grupo tutorial para rediscussão do problema frente

aos novos conhecimentos adquiridos na fase estudada anterior. Para cada etapa

deve ser prevista uma carga horária. O grupo se organiza dento desse tempo, em

geral quatro manhãs e tardes, e faz apresentação das sete fases. São várias as

opções para avaliação do currículo (PBL): avaliação por módulos, avaliação

progressista dos conhecimentos adquiridos, avaliação das habilidades esperadas e

avaliação informal. Para gestão desta proposta é necessária a formação de várias

comissões, tais como: comissão de currículo, comissão de avaliação, comissões

diretoras e de proposição de problemas.

1.3.3 DIFERENCIAÇÃO ENTRE METODOLOGIA PROBLEMATIZADORA E ABP

A Metodologia Problematizadora e a Metodologia da Aprendizagem baseada

em Problemas constituem-se, na verdade, dois caminhos distintos de ensino e

formação profissional (CYRINO, PEREIRA-TORALLES, 2004). Ambas tratam,

intencionalmente, do problema como foco do processo de ensinar e aprender

apoiando-se na aprendizagem por descoberta e significação.

A Aprendizagem baseada em problemas (PBL) volta-se à transformação

social, à conscientização de direitos e deveres do cidadão mediante uma educação

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libertadora e emancipatória; já a Aprendizagem Problematizadora se dá focada na

transformação das relações sociais pela prática conscientizadora e crítica (BERBEL,

1998). As características comuns, assim como os elementos que as diferenciam

podem ser acompanhadas pelo quadro a seguir.

Características

Metodologia da Problematização

Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL)

São duas propostas

metodológicas diferentes:

Metodologia usada para ensino de

determinados temas de uma

disciplina, podendo não ser

apropriada para todos os

conteúdos.

Metodologia que orienta toda uma

organização curricular.

Gestão Do professor. De todo um corpo docente,

administrativo e acadêmico.

Conteúdos Os conteúdos podem satisfazer ou

não o professor em termos do que

gostaria de ver aprendido pelos

alunos, como podem surpreender

os professores e o próprio grupo

quando descobrem aspectos e

relações não previstas.

Tratados de modo integrado, com

definição dos: modos de agir para

ensinar, aprender, administrar,

apoiar e organizar matérias.

Biblioteca O espaço social. Deve ser equipada, espaçosa e

com horários para laboratórios.

Espaço físico A opção Problematizadora não

requer grandes alterações

referentes ao material ou espaço

físico na escola.

Requer alterações de espaço físico

para comportar a divisão de grupos.

Professor Alterações da sua postura. Trabalho integrado.

Alunos Tratamento reflexivo crítico e

flexibilização do local de estudo e

aprendizagem. Inclusão de

hipóteses a serem formuladas

analisando as possíveis causas e

possíveis determinantes a serem

estudados. Existe um momento

crítico de captar relações sociais,

políticas, econômico. Partem de

conhecimentos prévios que podem

ser comprovados ou formulados

Hipóteses são elaboradas pelos

alunos sobre as possíveis

explicações do problema antes do

estudo, para estimulá-los a partir

dos conhecimentos de que já

dispõem de experiências

anteriores.

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pela teorização. As hipóteses são

formuladas após o estudo, quando

já conta com informações

científicas, técnicas, legais,

históricas, empíricas ou outras que

foram extraídas da realidade.

Realidade social Ponto de partida e de chegada. A academia, que são os livros, as

hipóteses científicas e os conceitos

que prepararão os alunos para a

prática.

Problemas São identificados pelos alunos,

mediante observação da realidade

em que tais problemas ocorrem.

Esses problemas são extraídos da

realidade social dinâmica e

complexa. Ao término de um

problema podem surgir outros. Os

conhecimentos científicos também

são buscados na fase de

teorização ao mesmo tempo em

que são considerados

representações das pessoas que

vivem e convivem com a

realidade, e detém informações de

outras fontes. O conhecimento é

construído dos diferentes saberes,

envolvendo a relação técnica,

científica e a social, política e

ética. Não há controle total dos

resultados em relação ao

conhecimento adquirido,

respondem a um problema efetivo

e que ultrapassam os aspectos

técnicos científicos. Os resultados

não são de todo previstos, a não

ser a vivência dos alunos em

todas as etapas do processo.

São elaborados por uma comissão

designada para este fim. Os

problemas constituem os temas

que os alunos precisam estudar e,

para cumprir o currículo, seguem

uma seqüência de assuntos a

serem estudados, sem os quais

não estão aptos a exercer a

profissão. O conhecimento é

avaliado no final de cada módulo.

Os objetivos cognitivos são todos

previamente estabelecidos e os

construídos pelos alunos devem

coincidir com as dos especialistas

do currículo, em caso contrário os

problemas serão substituídos por

outros mais efetivos.

Trabalho em grupo O grupo trabalha junto todo o

tempo com supervisão de um

professor, podendo distribuir

O grupo inicia junto o conhecimento

e a discussão do problema, e

retorna depois para discussão no

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tarefas e retornar sempre para o

grupo, construindo o

conhecimento por meio das

etapas do arco.

grupo tutorial, após a realização

dos estudos individuais.

Professores especialistas podem

ser consultados durante o estudo.

Estudos Ocorrem na etapa da teorização,

quando se busca informações

sobre pontos chaves, onde quer

que elas se encontrem. Contam

com o uso de técnicas e

instrumentos de coleta de dados

usuais na pesquisa científica, mas

podem ser usados métodos não

convencionais, como depoimentos

escritos e orais, tornam-se um

desafio para a construção de

novos conhecimentos, pela

aproximação da realidade em que

o tema é vivenciado por diferentes

atores sociais.

O estudo se dá essencialmente na

biblioteca, quando os alunos

buscam alcançar os objetivos

cognitivos que elaboram a partir

dos problemas. Lança mão do

conhecimento já elaborado para

aprender a pensar e raciocinar

sobre ele, bem como formula

soluções para os problemas do

estudo.

Resultados dos estudos Os resultados se voltam para

intervenções na realidade em que

foi discutido o problema,

imediatamente, dentro do nível de

atuação permitido pelas condições

gerais de aprendizagem, de

envolvimento e compromisso

social do grupo.

Os conhecimentos são utilizados

para resolver os problemas como

exercício intelectual e nas práticas

de laboratório e ou com pacientes.

Aplicação à realidade Prática e transformadora, o grau

de intervenção depende de vários

fatores, mas, a intervenção é

realizada se não, não poderia ser

chamada de metodologia

problematizadora, com os passos

do Arco de Charles Maguerez.

Tem como inspiração os princípios

da escola ativa, método científico,

de um ensino integrado e

integrador dos conteúdos, dos

círculos de estudos e das diferentes

áreas envolvidas em que os alunos

aprendem a aprender e se

preparam para resolver problemas

relativos à sua profissão.

Conseqüências Dois termos e dois caminhos

diferentes de formação

profissional com diferentes

conseqüências.

Dois termos e dois caminhos

diferentes de formação profissional

com diferentes conseqüências.

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Na verdade, a percepção mais clara das características centrais destas duas

propostas, ambas alternativas e inspiradoras de um ensino superior inovador (por

possibilitar ao educando se perceber como ser inserido no mundo, constantemente

desafiado a responder aos novos desafios) nos auxiliam a romper de maneira mais

profunda com uma insistente abordagem tradicional (CYRINO; PEREIRA-

TORALLES, 2004).

A construção de uma perspectiva democrática que se diz progressista, assim

como de uma prática educativa democrática, deve se basear na busca pelo

aprofundando do significado dos objetos de conhecimento; na participação efetiva

dos educandos nas lutas e conflitos inerentes ao mundo real12; na afirmação de

posturas tolerantes com os diferentes, pois, a intolerância é sectária, acrítica,

castradora e “dona da verdade”13. Freire (1996b) reforça a idéia de que a prática

educativa é uma prática social; ele diz ser um fenômeno típico da existência e,

portanto, exclusivamente humano e histórico que nasce da linguagem (não existente

sem o pensamento, apesar de esse existir sem a linguagem) produzida, criada e

recriada pelo ser humano a partir do herdado, como um ser que para ser, tem que

estar sendo. Entre os componentes fundamentais da prática educativa estão o

sujeito (educador e educando), o objeto de conhecimento (os conteúdos) e os

objetivos (mediatos e imediatos que se destinam ou orientam esta prática educativa).

Ainda, como elementos integrantes do projeto pedagógico, os métodos, processos,

técnicas de ensino e materiais didáticos também expressam posicionamentos e

necessitam estar em coerência com os objetivos, com a opção política, com a

utopia, com o sonho ao qual fazem parte. Neste sentido, é preciso afirmar que o

autoritarismo não contribui com a democracia, mas pelo contrário, ele provoca a

completa desconfiança nas possibilidades dos outros, cabendo-nos a máxima

atenção com o que esta prática mais teme: o exercício da liberdade, a inquietude, a

incerteza, a dúvida, o sonho, ao mesmo tempo em que ela opta pelo imobilismo,

12Não existe neutralidade na prática educativa democrática; o educador precisa se posicionar e respeitar o direito que os educandos têm de optar e aprender a optar para que o exercício da democracia possa ser realizado com coerência. Ensinar e aprender são processos de conhecimento que incluem a busca e uma viva curiosidade, mas também os equívocos, os acertos, os erros, a serenidade, o rigor, o sofrimento, a tenacidade, ou ainda, a satisfação, o prazer e a alegria (FREIRE, 1996b) 13

Também integra estes componentes a diretividade da educação, questão que não permite a

neutralidade da prática educativa e que exige que o educando assuma de forma ética, o seu sonho que é político. Cabe ao educador o imperativo de decidir, de romper e de optar por um sujeito participante, em lugar de um objeto manipulado.

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existindo muito de “necrófilo” no autoritarismo, bem como a muito de “biofílico” no

progressista democrático (FREIRE,1996b).

1.4 HUMANIZAÇÃO UMA ESCOLHA PELA VIDA

“Agora escolhe a vida, para que vivas, tu e teus filhos.” Deuteronômio 30:19b.

No ano de 2003, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de

Humanização (PNH), política comprometida com a defesa da vida e com o

fortalecimento da pactuação democrática e coletiva do Sistema Único de Saúde

(SUS).

Centrada nas tarefas de colaborar com a efetivação dos princípios do SUS e

de superar desafios importantes (entre eles, o acolhimento, a valorização do trabalho

em saúde, a integração das ações no processo de atenção), a PNH surgiu como

fruto de diversas experiências bem sucedidas de humanização (em ações de

atenção e gestão) implementadas por Estados, Municípios e Serviços de Saúde e,

num novo contexto, deixou-se estruturar com base nos princípios, diretrizes e

dispositivos definidos pelo método da humanização (BRASIL, 2004, 2010). Neste

caso, a Política Nacional de Humanização propôs-se a traduzir os princípios do

SUS em modos de operar dos diferentes equipamentos e sujeitos da rede de saúde,

comprometendo-se com a construção/implementação de trocas solidárias (centradas

em produzir saúde e sujeitos), e de um eixo articulador das práticas em saúde (com

atenção sob um aspecto subjetivo voltado a contagiar por atitudes e ações

humanizadoras a rede do SUS, incluindo gestores, trabalhadores e usuários)

(BRASIL, 2004).

A “defesa da vida” - à luz do conceito de “Paideia” – adquiria agora um lugar

central nas políticas de saúde firmando-se como objetivo permanente, meta central

(a ser buscada por qualquer política ou projeto de saúde) e critério de avaliação das

políticas públicas (CAMPOS, 2005), num claro entendimento de saúde como busca

incessante por combinar a defesa de uma vida mais longa e a construção de novos

padrões de qualidade da vida.

A criação da PNH em 2003, traria também novas perspectivas de formação e

profissionalização no campo de saúde, a começar pela incorporação da temática de

humanização no eixo da educação permanente (nas diretrizes pedagógicas da

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graduação, pós- graduação e extensão em Saúde) (BRASIL, 2006)14. Mais do que

isso o PNH incorporaria na esfera do ensino, quatro princípios muito caros ao

trabalho em saúde: (1) o de que a formação é intervenção e intervenção é formação;

(2) o da inseparabilidade entre gestão e atenção, entre clínica e política; (3) o de

trabalho em equipe e (4) o de atenção primária como eixo organizativo do sistema

de saúde (BRASIL, 2010).

O entendimento de que a formação é um exercício inseparável da

experimentação, do convívio, da troca de conhecimentos entre sujeitos no dia a dia

dos serviços. É a qualidade e intensidade dessa troca que garantem o processo de

formação na construção de compromissos e no contrato entre os sujeitos e coletivos.

Esse processo tem como espaço a rede de serviço do SUS. O princípio de que a

formação deve estar permanentemente influenciada pelas formas de gestão, que

não devem restringir-se ao campo das práticas de cuidado (formação de bons

técnicos). Assim, as universidades devem formar, intervir e mudar a fim de criar

cidadãos trabalhadores capazes de interferir nos múltiplos campos que definem seus

processos de trabalho (tanto como capacidade técnica como política para construir

novas realidades institucionais e práticas mais eficientes). O princípio de que deve-

se incentivar a articulação entre saberes e a incessante troca entre os distintos

trabalhadores da saúde, sendo que esta interação é capaz de produzir as respostas

para casos singulares. Possivelmente, essa seja uma das contribuições mais

importantes da universidade para o SUS, considerando que iniciativas como o Pró-

Saúde são motivações importantes para a construção de novas possibilidades de

trabalho. O princípio de que o SUS é o espaço da formação tanto no eixo primário

como secundário e terciário. Assim, compreende-se que a atenção primária é o eixo

organizativo do sistema de saúde e, nesta medida, eixo substantivo para a

formação, bem como as áreas de referência.

De forma concomitante, a PNH apostaria também em outros elementos

formativos15 e no desenvolvimento de atividades centradas no “modo de caminhar”

14O método da humanização para aprendizagem é compreendido como um “modo de caminhar” que inclui o repensar o processo de trabalho e os diferentes sujeitos que nele atuam (trabalhadores, gestores e usuários), a PNH tem buscado construir o modelo metodológico baseado em seus preceitos éticos-politicos, de inclusão como prática social ampliadora dos vínculos de solidariedade e co-responsabilidades. Dando-se nos espaços de gestão, do cuidado e da formação, de sujeitos e de coletivos. (PASCHE, PASSOS, 2008, p. 7.) 15

Estratégias de produção de sujeitos mais livre, autônomos, criativos e co-responsáveis; Espaços substantivos de formação de compromissos e de solidariedade entre as pessoas, entre os povos;

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dos serviços e dos sujeitos participantes. A primeira experiência em formação

sistematizada se deu em 2006 através do „Curso de Formação de Apoiadores da

Política Nacional de Humanização‟, realizado em parceria com a Fiocruz e a

Universidade Federal Fluminense (UFF), e que contou com a participação de 14

regiões do país. Em 2007, mais duas Universidades federais e uma regional,

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), UFF e Universidade Regional

do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI) foram convidadas a

desenvolver/promover o primeiro curso de pós-graduação latu sensu: “Humanização

da Atenção e Gestão do SUS”. No Rio Grande do Sul, essa parceria foi ampliada,

pois o curso foi oferecido para a Secretaria Estadual de Saúde, aumentando, assim,

o número de vagas e de municípios atingidos. No Estado de São Paulo, também em

2008, foram formados mais de 180 apoiadores, e no ano seguinte, em 2009, foram

iniciados os cursos em mais de 11 Estados. A PNH criou a Câmara Técnica de

Humanização – Formação (CTH-F), com a finalidade de manter os processos, bem

como os princípios fundamentais na formação em PNH. A meta principal dessas

formações em PNH são problematizações contínua do processo de trabalho

(PAVAN et al, 2010).

Fazendo parte desse modo de caminhar, cinco diretrizes ético-políticas

seriam incorporadas à tarefa de produzir saúde e reafirmar o caráter coletivo e

transformador dos profissionais da saúde: as diretrizes do acolhimento, da gestão

democrática, da clínica ampliada, da valorização do trabalho e da garantia dos

direitos dos usuários (PACHES, 2010, p.66,67); diretrizes que também teriam o

propósito de privilegiar a participação dos coletivos e de promover a reflexão

contínua sobre o exercício profissional (com a finalidade de nortear o processo de

formação e promover a compreensão do método de produzir saúde).

Orientação ética que toma como base o contrato entre os sujeitos que cuidam

e os que são cuidado e que a partir dele estabelece um campo comum: o do cuidado

compartilhado, co-responsabilização. Acolher é, pois, o que inaugura e sustenta

processos de cuidar. Acolher, todavia, não significa apenas interagir a partir do

aceitar aquilo que o outro traz, mas a partir disto, produzir desvios, produzir

movimentos que permitam reposicionamentos, produção de novas atitudes, de

novas éticas. (idem)

Espaços de trocas afetivas e simbólicas, sem as quais a eficácia das práticas fica comprometida; Espaço de produção de excelência ética é técnica, as quais são inseparáveis (PASCHE, 2010, p.70).

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Gestão democrática das organizações de saúde, dos processos de trabalho e

de formação, da clínica e da saúde coletiva. Democracia implica necessariamente

compartilhamento de poder, portanto das decisões, orientadas por princípios éticos e

políticos. Gestão democrática é princípio, é orientação, mas se sustenta sobre

práticas, então democráticas. Horizontalizar o poder, ampliar a inclusão de sujeitos

na gestão e na clínica, construir co-responsabilização, não são atos do acaso, mas

construídos segundo dispositivos e arranjos para tal fim. Colegiados gestores,

trabalho em equipe, rodas de discussão, inclusão da rede sócio-familiar dos

usuários, Grupo de Trabalho em Humanização (GTH), entre outros são exemplos de

medidas concretas para uma gestão democrática e compartilhada. (idem)

Ampliação de suas bases conceituais, avançando para além da alopatia, da

racionalidade clínica da biomedicina; ampliar incluindo práticas complementares;

ampliar para além do biológico, incluindo as dimensões social e subjetiva (afinal, a

produção de saúde se dá para além e aquém da experiência material do corpo);

ampliar para ação interdisciplinar, com aposta no trabalho em equipe. Construir uma

relação clínica que seja uma experiência de troca entre sujeitos, não de alguém que

sabe e alguém que não sabe; uma clínica que não seja encontro episódico, mas a

construção de vínculo e confiança no tempo, permitindo a contração de

responsabilidades na rede de saúde; enfim, ampliar a clínica significa reconstruir

relações de poder na equipe e com os usuários e sua rede sócio-familiar, ampliando

processos de troca e de responsabilização mútua. (idem)

Valorização do trabalho dos trabalhadores da saúde, sem a qual não se fará

de forma sustentada a reforma sanitária de nosso país, capaz de enfrentar

iniqüidades e de ampliar nossa experiência civilizatória. Valorizar o trabalhador é

permitir e garantir sua inclusão na gestão, na construção das organizações de

saúde; valorizar é assegurar condições de trabalho, de exercício das profissões de

forma digna, com ambientes e remuneração adequados; valorizar o trabalhador é

assegurar que as organizações de saúde não se transformem em cabides de

emprego, nem em lugares em que práticas e atitudes inaceitáveis se reproduzam e

se naturalizem como o descaso com o sofrimento das pessoas, com as histórias de

vida; valorizar o trabalhador é produzir modos de gestão das organizações que

coloquem o interesse público acima de tudo e não do partido ou do grupo que está

no governo; valorizar o trabalhador e o trabalho é, portanto, tarefa decorrente da

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ampliação de nossa capacidade de produzir processos civilizatórios e democráticos

mais extensos, plurais e regidos pelo interesse público. (idem)

Garantir os direitos dos Usuários na direção da produção de co-

responsabilização. Com isto não se quer afirmar direitos desconhecendo deveres. A

produção de saúde se faz na justa medida da produção co-responsabilizada do

cuidado, que significa produção ativa de saúde entre os sujeitos, trabalhadores e

equipes – usuários e sua rede sócio-familiar. Usuários têm direitos à informação, a

inclusão nas práticas/ações de saúde (consultas, exames, internações, etc.), se esta

for sua opção, de pessoas de sua confiança; direitos de ter respeitadas suas opções

sexuais, religiosas e políticas, que não podem ser discriminadas; direito a uma

equipe/profissional de referência que lhe cuide, que agencie os processos de

relação com demais trabalhadores e serviços de saúde. (idem)

Por tudo isso, a PNH acabaria por reunir no curso dos anos um forte acúmulo

nos campos de formulação e aprendizagem, ao mesmo tempo em que reiterava o

compromisso de tornar mais livres e mais autônomos, criativos e co-responsáveis os

sujeitos envolvidos (trabalhadores, usuários, gestores e comunidades), numa clara

escolha pela Vida. Escolha, enfim, em meio a qual as Universidades cumpririam um

gigantesco desafio: o de formar atores sociais capazes de conduzir a Política Pública

de Saúde de uma forma ampliada em relação aos seus próprios princípios e

métodos.

Colaborando com todos esses movimentos na saúde compreendemos como

necessário e importante que as Metodologias Ativas, bem como o conteúdo da PNH,

promovam o encontro dos discentes, docentes e comunidade dos vários cursos da

área de Saúde, ajudando-os a aprender a “Caminhar juntos” e que esse encontro

faça parte da vida acadêmica desses alunos de graduação em saúde. Em sua

juventude, é o momento de partilhar ideais, inclusive de uma sociedade mais justa e

solidária, embora, o que percebemos é que na maioria das Universidades esse

encontro não é possível, pois, uma vez que cada curso trabalha com sua lógica,

esse encontro de fato só se dá no mundo do trabalho, tendo perdida uma

oportunidade de viverem e conviver juntos. Mas é preciso que este encontro

aconteça antes, pois, só assim o mundo do trabalho deixará de ser o espaço de

disputas e no futuro se transformará em mais um espaço de vivência e troca de

saberes.

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Saindo do campo exclusivo do trabalho e da educação em saúde, podemos

apontar alguns sinais positivos para colaborar com essa mudança, segundo

(RIBEIRO JUNIOR, 2008, p. 229): “É que o primeiro e mais fundamental passo para

mudança é alterar as percepções. Só quando se percebe algo como definitivamente

insatisfatório é que se chega ao nível das atitudes”, ou seja, sinais positivos que

apontam mudanças em curso, tais como: (1) O destaque na autodeterminação dos

individuos e das minorias; na emancipação da mulher; na autonomia cultural dos

povos e de grupos éticos e outros. (2) O fim do colonialismo político e o

questionamento do colonialismo econômico e cultural, processo que se torna outra

força motriz da contemporaneidade. (3) De modo geral, a opção pelos excluídos e

oprimidos que não tiverram voz perante a história é legitimada e responde a um

anseio de pessoas, grupos e povos. (4) O destaque na qualidade de vida,

decorrente de fatores tais como: relacionamentos mais autênticos, da crítica à super

valorização do status socioeconômico, da pressão pela responsabilidade social das

empresas, bem como da sociedade de consumo e da constante corrupção e

improbilidade moral dos governantes. (5) Questionamentos quanto às premissas dos

países ricos e seus modelos desenvolvimentistas, bem como a consideração de que

o desenvolvimento humano e social é decorrente do desenvolvimento econômico.

(6) Destaque no controle social da tecnologia e procura de um modelo ecológico de

sustentabilidade e de preservação dos recursos comuns da humanidade, que devem

ser de acesso a todos os países. (7) A importância de conciliar a liberdade individual

com o controle social legitimimado pela sociedade.

Esses sinais já começam a aparecer, ainda que não constituam uma

consciência universal. Mas, à medida que esses sinais forem tomando forma,

estaremos caminhando para um novo estilo de vida capaz de substituir a imagem do

homem econômico e racional, que é fruto da revolução industrial-cientifica-

ténológica, por uma nova imagem mais humana, mais integrada e por esses motivos

mais coerentes com as exigências da sociedade do futuro e, finalmente, estaremos

realizando a revolução humanística e cultural, numa nova dimensão da Vida.

Algumas questões são importantes para que esse homem tenha padrões mínimos

de dignidade. Como seguem:

1. Deverá que haver a reconciliação entre uma situação global de escassez (limites) e uma

cultura de frugalidade, tudo dentro de uma economia saudável e mais humanizada;

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2. Deverá que haver condições mais justas e equitativas para distribuição dos recursos da terra,

permitindo-se a todos os povos um mínimo decente de vida;

3. Deverá que haver suficientes e reais oportunidades para uma participação completa, livre e

valorizada de todos os elementos da sociedade. Daí a necessidade urgente de mudar os

modelos pedagógicos, para que realmente o aluno, sujeito pensante ativo, torne-se

organizador e sujeito contínuo da experiência e autor da ação; em suma, torne-se um senhor

de si mesmo, deixando de ser simplesmente objeto da educação;

4. Deverá que haver a descoberta de novas formas de realização humana a baixo custo

ecológico e sem prejuízo da ordem social. Assim, deverá caber à educação formal e não

formal a responsabilidade de educar na vida e para a vida, com o objetivo de formar o sujeito

para a sociedade realmente democrática, plural, participativa, solidária e integradora;

5. Deverá a educação deixar de se basear em uma cultura feita de retalhos de conhecimentos,

para se recompor em seu verdadeiro significado holístico, embasado em seus quatro pilares

fundamentais: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser. Ou

seja, a educação deverá transmitir de forma efetiva e eficaz saberes e o saber-fazer

evolutivos, a fim de que os alunos aprendam a aproveitar e explorar, do começo ao fim da

vida, toda e qualquer ocasião para aprofundar, atualizar e enriquecer os primeiros

conhecimentos por eles adquiridos, adaptando-se, assim, a um mundo em constantes

transformações (RIBEIRO JUNIOR, 2008 p. 231).

Quanto ao ensino superior em saúde, a orientação é que haja inserção da

PNH de modo transversal, nos métodos de ensino e conteúdos programáticos. O

que ainda é uma proposta sinalizada que costa no Projeto Político Pedagógico no

item perfil do egresso, tornando-se urgente transformar todos esses conceitos em

convívio.

Nessas formulações, encontramos em Freire a possibilidade de ampliação do

diálogo, que favorece e fortalece atitudes coerentes com a proposta de visão de

mundo. O autor nos propõe pensar sobre a questão da participação (em seu sentido

geral e particular) como “exercício da voz”; acerca do ato de assumir e decidir em

determinados níveis de poder; de exercer direitos de cidadania numa relação direta

e necessária com a prática educativa progressista. Os educadores que a realizam

são coerentes com seu discurso, cabendo-nos atenção com os parâmetros falsos de

participação. De fato, a participação exige o ouvir à voz do outro, sob pena de perder

seu sentido maior: o de confrontar as diferenças, incluindo-se aí as que se

fundamentam no “silenciar das vozes”; para Freire, é preciso ouvir a voz do aluno,

dos professores, dos pais e mães e dos colaboradores da escola (grifo nosso) e

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mais na área de saúde ouvir a voz do docente, discente, trabalhador, do usuário e

da comunidade (FREIRE, 1996).

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2 NA ESFERA DAS PRÁTICAS 2.1 PROPOSIÇÃO À PESQUISA 2.1.1 TEMA DE PESQUISA

Estudo dos desafios enfrentados por uma Instituição Pública de ensino

superior do Estado São Paulo na aplicabilidade das Diretrizes Curriculares Nacionais

dos Cursos de graduação em Enfermagem16 com atenção sobre utilização das

metodologias pedagógicas ativas como sustentação de um projeto democrático: os

desafios enfrentados por um curso de graduação em enfermagem, na perspectiva

do chefe de departamento, coordenador de graduação, docentes e discentes do

curso de enfermagem.

2.1.2 OBJETIVOS:

1. Identificar as bases teórico-conceituais das metodologias ativas;

2. Analisar os discursos do enfoque problematizador e as metodologias ativas

como caminho para a formação do enfermeiro como profissional humanizado

capaz de atuar nos serviços e na comunidade a partir dos princípios do SUS;

3. Identificar as representações sociais de docentes e discentes sobre a

utilização de metodologias ativas na graduação em enfermagem.e.

2.1.3 JUSTIFICATIVAS:

O interesse em estudar a implantação das metodologias ativas no curso de

graduação em enfermagem surgiu como desdobramento de uma vida profissional e

militante na área de saúde. Como pesquisadora, sanitarista, especialista em

planejamento de saúde e docente interessava-me aprofundar o entendimento das

práticas (em curso) à luz dos fundamentos e leis que nas últimas décadas passaram

a transformar o universo da saúde nos mais variados aspectos: na compreensão do

sujeito (do aluno, do paciente, do docente, do administrador público etc..), do objeto

(razão da própria aplicação das metodologias ativas) e das práticas. Em particular no

16

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Parecer CNE/CES 1.133/2001, de 7 de

agosto de 2001: Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de graduação em Enfermagem, Medicina e Nutrição

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campo da enfermagem, são muitos os acúmulos, iniciativas e resultados concebidos

e implementados na construção desta nova perspectiva17

2.1.4 METODOLOGIA:

Trata-se de um estudo classificado como qualitativo e descritivo.

Num primeiro momento foram entrevistados docentes do curso de Graduação

em Enfermagem numa escola pública do Estado de São Paulo (apêndice I); num

segundo momento, aplicamos na mesma instituição um questionário (apêndice II)

junto aos alunos do quarto ano do curso de graduação.

Para abordar o objeto investigado, que pertence a uma realidade ligada ao

mundo dos significados e das crenças pessoais, utilizou-se de uma proposta

metodológica qualitativa. Segundo (MINAYO, 2004), a pesquisa qualitativa responde

a questões muito particulares; ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível

de realidade que não pode ser quantificada, ou seja, ela trabalha com um universo

de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que correspondem

a relações, processos e fenômenos, incapazes de ser reduzidos à operacionalização

de variáveis.

Assim, entendemos que para a compreensão e estudo das possibilidades e

desafios da utilização da metodologia problematizadora entre as metodologias

pedagógicas ativas na graduação de enfermagem, assim como das práticas de

educação em saúde, a melhor opção seria realizar uma pesquisa de abordagem

qualitativa. Esta perspectiva vem se sobressaindo nas últimas décadas frente à

saturação de determinadas perspectivas fundadas apenas na ótica da quantidade,

em vários aspectos empobrecedores dos resultados por adotar técnicas de

mensuração fundadas em generalizações da realidade, sem avançar na

compreensão de significados e contextos específicos do fenômeno estudado

(MINAYO, 2004).

Nas formulações de (GADOTTI, 2000) acerca do conceito de dialética, o autor

nos introduz nos princípios de totalidade, considerando que a natureza se apresenta

como um todo coerente e que os objetos e fenômenos se acham ligados entre si,

numa relação de condicionamento recíproco. O método dialético busca entender a

17

Neste aspecto, o SENADEN (Seminário Nacional de Diretrizes para Educação em Enfermagem)

que já se encontra em sua 12ª edição, tem se constituído num espaço privilegiado de apropriação destas formas inovadoras de ensinar e aprender

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totalidade examinando os objetos e fenômenos em meio a uma relação de

reciprocidade, e deste movimento apreendemos que na lógica da dialética nada é

eterno, fixo e absoluto. Portanto, toda construção social está muito longe de ser

estática e acabada, mas pelo contrário, ela está em constante transformação e a

causa para isto está na luta interna entre o que está estabelecido, o que está

instituído/tese, e o que se acha em contradição frente ao instituído, surgindo daí

conflitos/síntese num processo no qual “do velho nasce o novo”.

Esse princípio, que também é conhecido como “lei da negação da negação”,

se acha ancorado na existência de diferentes dinâmicas: na de evolução (relativo a

mudanças do objeto na essência, na estrutura, nas propriedades e características),

na de revolução (momento em que as mudanças afetam traços essenciais da

formação social) e na de contradição (baseado na idéia de que a transformação das

coisas só é possível porque no seu interior coexistem forças opostas tendendo

simultaneamente à unidade e à oposição, contradição que é universal e essencial na

dialética).

A partir destes princípios acreditamos poder analisar/interpretar o material

empírico da pesquisa adotando os seguintes procedimentos: apreender o contexto

da educação praticada numa dada instituição de ensino, verificando a relação do

ensinado com o aprendido (do geral para o particular); estabelecer aproximações

com a totalidade do tema estudado, analisando as contradições internas ao objeto;

tratar da realidade do estudo em sua relação com as entrevistas, procurando com

isso dar um retorno ao grupo estudado.

2.1.5 O CENÁRIO DA INSTITUIÇÃO ESTUDADA

A pesquisa foi realizada numa Universidade Pública do Estado de São Paulo,

criada em 1963. A escolha desta instituição se deu por sua excelência nos cursos de

graduação, pesquisa, extensão e cooperação técnico-cientifico-cultural; pelo seu

comprometimento com o desenvolvimento sustentável da sociedade e ainda, pela

sua projeção como instituição pública de referência nacional e internacional em

todas as áreas de conhecimento, razão de se fazer conhecida como uma das

melhores universidades contemporâneas.

Com referenciais de excelência em todos os campos do saber, esta instituição

tem como missão “criar e disseminar o conhecimento na ciência e tecnologia, na

cultura e nas artes por meio do ensino, da pesquisa e da extensão”, por meio de um

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ambiente de respeito à diversidade; propício à convivência e ao livre debate de

idéias, além de comprometido com o desenvolvimento sustentável da sociedade.

No campo propriamente do ensino, esta instituição carrega como objetivo:

expandir as atividades de ensino (médio, técnico, graduação e pós graduação) com

base na indissociabilidade entre a pesquisa e a extensão; assegurar a excelência

acadêmica e o respeito à diversidade das áreas do saber; instituir formas dinâmicas

de atuação voltadas a dar espaço à interdisciplinaridade, a contemplar mudanças de

paradigmas e a atender às demandas da sociedade. Propósitos, enfim, capazes de

formar profissionais em constante aprendizado, preparados para atuar com base nos

princípios éticos e com vistas ao exercício pleno da cidadania.

Aos princípios de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão

financeira e patrimonial, soma-se conduta ética em todos os setores (com estrita

observância aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade;

gratuidade do ensino público); a busca de inserção e responsabilidade social; o

respeito à dignidade da pessoa e aos seus direitos fundamentais (proscrevendo o

tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa e por

preconceito de classe e raça); a liberdade intelectual, a dignidade e os direitos

fundamentais; ao respeito ao pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, ou

ainda, a diversidade das diferentes áreas do conhecimento. A instituição estudada

tem como foco manter a excelência em todas as suas atividades, com base na

indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, ou ainda, na valorização

do ser humano.

Na esfera dos valores, esta instituição proclama: o acolhimento da

diversidade cultural; a atuação com agilidade, clareza, visibilidade, competência,

flexibilidade e adaptação diante das especificidades e mudanças; o cultivo dos

valores humanísticos, das capacidades críticas, reflexivas e de liderança; o estimulo

à preservação ambiental; o exercício da criatividade e da capacidade de inovação; o

incentivo a interdisciplinaridade; ao comprometimento institucional, à credibilidade,

ao compromisso para com a sociedade e sua qualidade de vida e por fiam, a

otimização do uso dos recursos.

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2.1.6 O CENÁRIO DO LOCAL DO ESTUDO

A instituição escolhida, hoje com 47 anos, teve sua primeira graduação na

área de medicina e desde a origem assumiu o desafio de trabalhar com dois dos

mais relevantes problemas sociais do país: com a saúde e a educação. Fazem parte

da Faculdade de Ciências Médicas os departamentos de Anatomia Patológica,

Anestesiologia, Clínica Médica, Cirurgia, Enfermagem, Farmacologia, Genética

Médica, Medicina Preventiva e Social, Neurologia, Oftalmo-Otorrino, Ortopedia,

Patologia Clinica, Pediatria, Psicologia Médica e Psiquiatria, Radiologia e

tocoginecologia.

O curso de graduação em enfermagem, objeto de nosso estudo, foi instituído

como departamento da Faculdade de Ciências Médicas em 1966, por meio da

resolução ( n° 44) do Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo),

mas as modalidades de bacharelado e licenciatura plena em Enfermagem só tiveram

início em 1978, permanecendo este departamento no interior da Faculdade de

Ciências Médicas até os dias de hoje.

Como único departamento da Faculdade de Ciência Médicas composto por

docentes não médicos, os primeiros alunos que iniciaram sua formação em 1978

respondiam ao desafio de atender o Hospital de Clinicas e a rede básica de saúde,

em processo de construção. Em 1997, o departamento de enfermagem seria

transferido para prédio próprio; em 1999, ele iniciaria o Programa de Pós-Graduação

em Enfermagem alcançando repercussões positivas na esfera da produção

científica.

De forma concomitante, em meio às metas quantitativas de produção

estabelecidas (por instâncias oficiais de avaliação dos programas), a graduação

passou a enfrentar limitações: se no ano de 2000, o número de vagas anual passou

de trinta para quarenta alunos, contando então com 32 docentes, na atualidade o

departamento mantém o mesmo número de alunos apenas com 22 docentes.

Em 2006, foi elaborada uma nova versão do Projeto Político Pedagógico, que

teve sua aprovação em setembro de 2007 para mais cinco anos. Ainda em 2006, foi

assinada a primeira carta acordo do Programa de Reorientação da Formação

Profissional em Saúde (Pró-Saúde), o que possibilitou a liberação de R$ 1,2 milhão,

para financiar a aquisição de equipamentos e o desenvolvimento de estratégias para

melhoria do ensino e aproximação com a rede básica do município.

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Em 2007, em atendimento à Lei de Diretrizes e Bases, foi implantado o

estágio curricular supervisionado na modalidade bacharelado, com

acompanhamento dos alunos por enfermeiros dos serviços com orientação docente;

foi criado o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC); instituíram-se reuniões

interdisciplinares (com participação dos professores e estudantes) e reuniões do

Projeto Político Pedagógico (PPP) com a presença de todos os docentes. O PPP

contemplou, a partir de então - por força do Conselho Nacional de Educação até

2010 - a carga horária do curso de enfermagem de no mínimo 4.000 mil horas,

adequando-o para 9 semestres (em vigor a partir de 2011). O curso de Enfermagem

também passou a integrar o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde

(PET-SAÚDE, com PET-Saúde/Saúde da Família e PET – Saúde/Vigilância em

saúde e, na atualidade, se faz reconhecida pela qualidade da formação de seus

alunos da graduação e pós-graduação. (mestrado e doutorado, com nota máxima).

2.1.7 POPULAÇÃO DE ESTUDO:

OS SUJEITOS DE ESTUDO

Foram sujeitos desta pesquisa doze professores do curso de graduação em

enfermagem e vinte e quatro alunos do quarto ano da graduação, sendo:

Chefe do Departamento do Curso de Graduação em Enfermagem e

professora;

Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem e professora;

Professores representantes de grandes áreas de conhecimento na

enfermagem como: Enfermagem Saúde da Mulher e do Recém-Nascido;

Administração Aplicada á Enfermagem; Enfermagem em Saúde Pública e

Saúde Mental; Enfermagem Médico-cirúrgico; Enfermagem Fundamental;

Enfermagem Fundamental e da Saúde da Criança e do Adolescente;

Enfermagem saúde da Criança e do Adolescente;

Vinte e quatro alunos de Graduação em Enfermagem do quarto ano, por

serem alunos ingressantes em 2007, após a implantação do Projeto Político

Pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem em novembro de 2006,

que atende à LDBN para os cursos da área da saúde, incluindo enfermagem.

A escolha do chefe de departamento se deu por sua atribuição legal no

comando do departamento de enfermagem em que, entre outras atribuições, consta

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a de coordenação das atividades de pessoal docente, técnico e administrativo, ou

ainda, a de zelo pelo cumprimento das obrigações de seu pessoal e dos programas

de ensino e pesquisa. (Apêndice I);

A escolha da coordenadora da graduação respondeu aos mesmos propósitos:

suas atribuições no campo do planejamento e supervisão das atividades

acadêmicas, da implantação e qualidade do projeto pedagógico. (Apêndice I);

A escolha de professores se deu com base na identificação das lideranças

docentes das grandes áreas do conhecimento em enfermagem, buscando com isso

perceber as estratégias de ensino utilizadas no cotidiano acadêmico (formas de

orientação, capacitação e apoio pedagógico, divergências frente ao modelo de

metodologias ativas) (Apêndice I)

A escolha dos alunos do último ano da graduação procurou identificar o grau

de envolvimento estabelecido entre o corpo discente e as estratégias de ensino

estabelecidas pelas Diretrizes e Bases da Educação. (Apêndice II)

2.1.8 COLETA DE DADOS E OPERACIONALIZAÇÃO

A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora após o cumprimento das

formalidades e aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Ciência Médicas - FCM da Universidade Estadual de Campinas –

Unicamp (Anexo).

No primeiro momento, entramos em contato com a docente indicada pelo

Departamento de Enfermagem para acompanhamento e apoio à pesquisa. O

contato foi feito por e-mail com os professores selecionados; nele explicamos o

motivo da pesquisa, a importância de sua contribuição e os procedimentos éticos

envolvidos, solicitando uma entrevista em horário disponível. Os e-mails foram

encaminhados paulatinamente (de três em três) e receberam da maior parte dos

professores uma adesão imediata, com exceção de dois docentes (um que se

absteve e um segundo docente que solicitou maiores esclarecimentos).

A reunião com os alunos foi marcada no horário da disciplina de Administração

(momento de junção de todo o grupo) para explicação da pesquisa; por decisão dos

alunos e consentimento dos docentes, o questionário foi aplicado na mesma ocasião

(Apêndice II).

Antes das entrevistas, a pesquisadora tomou conhecimento do Projeto

Pedagógico para averiguação das adequações as exigências da LDBN.

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2.1.9 A ENTREVISTA

Nossa opção foi por entrevista com questões norteadoras por considerá-la

como um dos principais meios de coleta de dados em pesquisa qualitativa,

proporcionando condições para que os professores, chefe de departamento e

coordenador de graduação tivesse a liberdade e a espontaneidade necessárias para

completarem as informações além das contidas como orientação (TRIVIÑOS, 1987;

MINAYO, 2004).

O local da entrevista foi na sala dos professores ou local indicado por eles,

garantido o espaço reservado. A assinatura do termo de consentimento livre e

informado com os objetivos da pesquisa bem como a leitura das duas questões

norteadoras da pesquisa se dava antes do início das entrevistas que foram

gravadas.

2.1.9.1 PERCEPÇÃO DOS ENTREVISTADOS:

Caracterizei cada entrevistado por um nome do bioma da Mata Atlântica. “A

Mata Atlântica é um bioma presente na maior parte no território brasileiro

abrangendo ainda parte do território do Paraguai e da Argentina. As florestas

atlânticas são ecossistemas que apresentam árvores com folhas largas e perenes.

Abriga árvores que atingem de 20 a 30 metros de altura. Há grande diversidade de

epífitas, como bromélias e Orquídeas“ (Site acessado em 20 de abril de 2011)

A escolha da Mata Atlântica para representar os professores entrevistados se

deu por compreender que cada um faz parte da história e da construção do curso e

por se ter uma trajetória ligada ao modelo histórico constituído, mas sempre em

busca de alternativas por sustentabilidade. Sem esquecer o legado construído, cada

um tem uma trajetória de especialização e de busca individual pelo crescimento em

seu próprio campo. O olhar para a floresta na intenção de caracterizá-los é o de

buscar compreende-los em sua diversidade, ou ainda, suas singularidades, ao

mesmo tempo em que se busca percebê-los como parte de mesmo conjunto, de um

coletivo ativo e diversificado em meio ao qual a diversidade e as singularidades os

fazem ser tão exuberantes.

A entrevista pode se dá por duas formas: pela obtenção de dados como:

estatísticas, censos, registros, óbitos e documentos, e por meio de entrevistados

com dados que se referem às atitudes, valores e opiniões. (MINAYO, 2004).

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46

Foram realizadas 12 entrevistas com duração de 30 a 60 minutos18.

O primeiro entrevistado será chamado de Ipê Amarelo. Mestre, 50 anos,

formada desde 1981, dez anos de docência. Bastante disponível, colocou-se a

disposição para colaborar com a pesquisa e fazer interlocuções que fossem

necessárias. Escolhida para ser a primeira por ser um professor que tenho maior

contato. Eu estava muito preocupada por se tratar de professores pesquisadores e

orientadores, que tenho admiração profissional. Tive a oportunidade e permissão

para fazer este teste inicial, por isso a caracterizo como Ipê Amarelo. Em meio à

floresta posso ver sua generosidade ao longe.

O segundo entrevistado será chamado de Jacarandá. Doutor em

Psicologia da Educação, 60 anos, formado desde 1974, com trinta e três anos de

docência, disponível para colaborar com a pesquisa; já participou de outras

Universidades tanto pública como privada, além de desenvolver participação ativa

nos Sindicatos de Professores e Associação Brasileira de Enfermagem. Relata que a

Instituição, por seu caráter público e por sua organização com professores de

quarenta horas e um número de fixo de alunos (entrando uma vez ao ano), tem

obrigação em formar um aluno crítico e reflexivo, mas questiona o reconhecimento

do professor por meio de sua atuação na pós- graduação e pesquisa e o não

reconhecimento por quem faz opção pela graduação.

O terceiro será chamado de Ipê Roxo. Doutor, tem 50 anos, formado desde

1983. Há doze anos na docência, ciente da importância do papel da pesquisa no

desenvolvimento da universidade e do curso de graduação, por se uma

pesquisadora é bem colaborativa e preocupada com as respostas e posicionamento

frente ao tema.

O quarto será chamado de Bromélia. Tem 59 anos, formado desde 1976,

Doutor, há trinta e um anos na docência, foi aluna de orientação de mestrado de

Paulo Freire, mas, por mudança de cidade não se sentiu confortável para dar

continuidade ao tema que exigia vínculo com a comunidade. Alegre, descontraída,

acolhedora, acredita no vínculo e na problematização para o crescimento do aluno.

O quinto será chamado de Carvalho. Tem 48 anos, Doutor, há quinze anos

na docência com atenção sobre metodologia de pesquisa, tem procurado há cinco

18

As entrevistas totalizam o montante de 8 horas de gravação em áudio e 70 páginas de material transcrito

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anos implementar a metodologia problematizadora baseada nos princípios de Paulo

Freire, usando o Arco de Maquerez.

O sexto será chamado de Cerejeira. Têm 51 anos, Doutor, vinte e cinco

anos de docência, delicado no trato, receptivo e diz adorar dar aulas e acompanhar

estágios; não tem preocupação com a metodologia, acredita que o método que tem

usado surte efeito, espera o dia em que todos os alunos possam estudar em uma

Universidade Pública e acredita na formação de cidadãos que vão lidar com os

usuários do SUS de forma a respeitá-los em suas necessidades de saúde (tanto

para prevenção como curativo). Reprova a valorização do professor que tem que

publicar, publicar e publicar, “quero dar aula na graduação”.

O sétimo será chamado de Pau-Brasil. Doutor, têm 53 anos, há trinta e dois

anos na docência, firme, rápido, colaborativo e de respostas curtas, acredita que a

Universidade trabalha na consolidação do SUS, e que os alunos são partícipes

dessa construção.

O oitavo será chamado de Canela. Doutor, 37 anos, há doze anos na

docência, meigo, graduação e mestrado feitos nesta mesma Universidade, é o mais

novo professor do departamento. Embora tenha Doutorado, está se especializando

em obstetrícia e adquirindo conhecimento junto a colegas. Afirma ter experiência em

discussão do projeto político pedagógico.

O nono será chamado de Gameleira. Doutor, tem 51 anos, há vinte e quatro

na docência e fruto desta Universidade. Atencioso, teve preocupação em explicar

com detalhes como se chegava até a Universidade. Acredita que não é fácil

trabalhar com metodologias ativas e que as pessoas não se sentem esclarecidas.

Os alunos têm passado por um momento de afastamento das discussões dos

problemas da Universidade, não por desinteresse, mas, talvez por terem outras

prioridades. Acredita na discussão interdisciplinar como norte para retomada destas

discussão.

O décimo será chamado de Orquídea. Professor livre docente, 50 anos, há

vinte e quatro anos na docência. A entrevista fluiu numa conversa de grande

conhecimento acerca da Universidade e do Departamento de Enfermagem.

Completamente engajada no fortalecimento da enfermagem por meio da Associação

Brasileira de Enfermagem, participante ativa da consolidação do Sistema Único de

Saúde. É o único professor, no momento, de saúde coletiva no departamento.

Espera o fim do vestibular e consecutivamente o fim dos cursinhos. Acredita que a

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48

Universidade tem avançado em suas políticas de inclusão e como exemplo cita a

abertura de vagas para o aluno de ensino médio na escola pública. Quanto à curso

de enfermagem, informa que ele tem se constituindo num importante centro de

ensino – frente ao trabalho assistencial e na formação de docentes para o nível

médio.

O décimo primeiro será chamado de Pau-Ferro. Professor Associado Livre

Docente, Tem 62 anos, com quarenta e um anos na docência, fez parte de duas

universidades em período anterior a atual instituição em que já se encontra há 13

anos. Trabalhou em uma Universidade no Sul do País que implantou o PBL e fez

parte de um treinamento em outro país, além de participar de capacitação interna

com profissionais de outras universidades. Sua maior preocupação é transformar o

departamento de Enfermagem em Faculdade, como é em outras Faculdades, para

que possam ter autonomia.

O décimo segundo será chamado de Jequitibá. Professor Doutor, tem 38

anos, com nove anos na docência; acredita não poder colaborar muito, pois não

trabalha com metodologias ativas. Aponta dificuldades para a contratação de

professores para atender as proposições dos modelos pedagógicos.

O grupo de Alunos será chamado de Cacau, com a designação Cacau 1,

2, 3, etc. A reunião com os alunos foi marcada no horário da disciplina de

Administração (momento de junção de todo o grupo) para explicação da pesquisa.

O pesquisador colocou o motivo da pesquisa e propôs retornar outro dia para que

fosse aplicado o questionário. Por decisão dos alunos e consentimento dos

docentes, o questionário foi aplicado na mesma ocasião, seguindo-se a assinatura

do termo de consentimento livre e informado, o preenchimento do questionário

(apêndice II) e a entrega num tempo médio de 10 a 15 minutos. Os alunos

permaneceram sentados em circulo (para apresentação de seminário) e

demonstraram forte entrosamento com os professores, mostrando-se haver um

convívio bem próximo.

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49

CARACTERÍSTICAS DO GRUPO DE ALUNOS:

Gráfico I. Números de alunos

3

24

AUSENTES RESPONDENTES

Fonte: Número de alunos matriculados no último ano de graduação Número de alunos matriculados: vinte e sete, Número de alunos que responderam o questionário: vinte e quatro Gráfico II. Idade dos alunos

20 21 22 23 24 25 26

0

2

4

6

8

Fonte: questionário apêndice II Os alunos que responderam ao questionário são representados por um número de alunos jovens que varia de 20 anos a 26 anos.

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Gráfico III. Sexo A maioria absoluta do sexo feminino.

22

2

FEMININO MASCULINO

Fonte: questionário apêndice II A maioria absoluta do sexo feminino. Gráfico IV. Ano de conclusão do ensino médio:

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

0

2

4

6

8

10

Fonte: questionário apêndice II Todos os alunos que responderam ao questionário terminaram o ensino médio a partir de dois mil e dois, com maior número de término entre os aos de dois mil e cinco e dois mil e sete. Dos oito alunos que cursaram o ensino técnico, todos fizeram o técnico em enfermagem.

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51

2.1.10 ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados socios demográficos foi feita por estatística simples,

apresentada em tabela.

A análise dos dados empíricos coletados junto aos docentes e alunos foi

realizada tendo como referencial as representações sociais que emergiram dos

discursos coletados por meio das entrevistas.

As análises devem considerar as perspectivas teóricas com fundamentação

dialética, segundo abordagem de (GADOTTI, 2000); a começar pela necessidade

de, para compreender o objeto em estudo, conhecer o processo histórico da

comunidade estudada.

Para (SILVA, 1998) a representação é elaborada no social, no cotidiano do

indivíduo, no seu trabalho, na sua família, enfim, entre os inúmeros espaços,

contextos e grupos que formam a sociedade.

Para (MOSCOVICI, 1978) a representação social é um tipo de saber

construído a partir das relações individuais e sociais, influenciadas pelas práticas

cotidianas inseridas no coletivo. Assim, utilizaremos a técnica de análise temática e

da análise de discurso para investigar os significados ideológicos, históricos e

lingüísticos do material empírico coletado, seguindo as etapas de pré-análise,

classificação, tratamento e interpretação.

O material gravado das entrevistas foi transcrito, “lido e relido” como indica

(LUDKE e ANDRÉ, 1986) até a “impregnação “do conteúdo para que as mensagens

implícitas, contraditórias pudessem ser desveladas. Esta etapa é chamada por

(BARDAN, 1988) de pré-análise, pois, ao entrar em contato com a comunicação feita

pelos entrevistados, o pesquisador “vai se invadindo por impressões que vão dando

clareza e consciência” do delineamento do estudo. Já para (TRIVIÑOS 1987, p.161)

esta é uma etapa necessária para a organização do material coletado. Também os

dados obtidos através dos questionários e documentos foram cuidadosamente lidos

e assimilados.

Seguimos a análise de discurso que, para (ROCHA e DEUSDARÁ, 2005,

p.317), “é a descrição das vozes que ressoam, atravessam e abalam a ilusão de

unidade que apresenta nos enunciados, denunciando as falácias de uma ótica que

priorize o ideal cartesiano de um sujeito da razão”.

O objetivo básico da análise de discurso é fazer uma reflexão geral sobre as

condições de produção e apreensão de significados, tanto de documentos e textos,

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quanto do funcionamento dos princípios de uma organização e formas de produção

social do sentido. (MINAYO, 2004).

Temos clareza de que nem todo material coletado foi levado em conta para as

discussões, pois como recomenda (TURATO, 2003), um pesquisador deve pôr em

relevo só o que vai dar conta de discutir a fundo, aquilo mais que se acha

precisamente ligado aos seus pressupostos iniciais e eventualmente, um outro ponto

novo que se desenhou durante o percurso da pesquisa.

Com esta organização teremos do material empírico “bruto” um material

trabalhado que possibilitará a análise e interpretações estabelecendo as

contradições e as aproximações entre o objeto pesquisado e o referencial teórico

estudado confirmando ou não os pressupostos iniciais podendo até mesmo construir

outros num movimento de idas e vindas apoiando-se em três aspectos

fundamentais: nos resultados alcançados (do material coletados), no referencial

teórico e na experiência pessoal do pesquisador (TRIVIÑOS, 1987).

2.1.11 ASPECTOS ÉTICOS

Adotamos as diretrizes e normas regulamentares da Resolução 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde por ocasião do convite à participação do estudo, os 12

professores e os 24 alunos receberam explicações verbais a respeito dos objetivos e

da contribuição para o uso das metodologias pedagógicas ativas no ensino superior

em enfermagem, bem como cópia do projeto com a autorização da Comissão de

Ética em Pesquisa (CEP) com parecer n° 079/2011.

Entendemos por ética não apenas as informações, antes as normas de

conduta desde as primeiras interações do pesquisador com os sujeitos da pesquisa.

Considerando estar adentrando no universo particular , podem ocorrer situações não

previstas e reveladoras de alguma questão particular à instituição, será garantido

sigilo absoluto sobre as questões respondidas, sendo resguardado o nome dos

participantes. A divulgação do trabalho terá finalidade acadêmica, esperando

contribuir para um maior conhecimento do tema estudado.

Após ter concordado em participar da pesquisa, foi solicitado a assinatura do

termo de consentimento livre e informado (Apêndice III).

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53

2.1.12 RESULTADOS ENCONTRADOS

Análise da primeira questão do questionário dos professores

Nesta unidade, verificaremos o discurso dos professores do curso de graduação

em enfermagem referente à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que

direciona os cursos de graduação das profissões de saúde para uma formação

discente voltada a contribuir para a melhoria da assistência prestada aos usuários do

Sistema Único de Saúde. Conforme explicitado anteriormente, a LDBN em (2001),

estabelece a necessidade de construção de um projeto pedagógico coletivo,

centrado no aluno como sujeito da aprendizagem, e apoiado no professor como

facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem.

A primeira questão do questionário dos professores. Como você percebe a

implementação destas diretrizes no ensino?. E a terceira questão do questionário

dos alunos

Foram dadas as seguintes respostas:

Orquídea. "Eu percebo esse movimento em várias direções; a Universidade

como um todo, ela tem feito alguns movimentos desde a própria mudança dos

currículos das disciplinas. Então, foi justamente a partir de 1997 que o

departamento de enfermagem passou a implementar a sua primeira mudança

curricular mais efetiva, mais ampla e começou, então, a trabalhar desde o

primeiro ano de graduação, com os alunos nas disciplinas de saúde coletiva e

priorizando uma articulação teoria e prática vinculada a atenção primária de

saúde nas Unidades Básicas de Saúde. Logo em seguida, esse currículo

começou em 97, mas, com as Diretrizes e Bases para área da Saúde em

2001, a gente ainda, apesar de já ter uma vivência muito forte na rede desde

o primeiro anos do curso, não cumpria aquela determinação de 20% do

estágio curricular supervisionado, e aí precisamos fazer uma nova

adaptação, que começou em dois mil, com a turma que começou em 2004 e

em 2007, eles começaram a ter o estágio curricular supervisionado na rede,

e com atuação mais efetiva no campo junto com o enfermeiro do campo.

Então a gente está na prática, desde o primeiro ano, desde 97, e desde 2007

com estágio curricular supervisionado”.

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Jacarandá “Olha, a Universidade, ela segue assim... se baixar uma

determinação que tem que passar para quatro mil horas, ela vai atrás de

passar para quatro mil horas se falar que tem que ser preventiva, ela vai atrás

de fala que é preventiva então, ela fala aquilo que a lei manda .”

Cacau, nº 2. “Não tenho conhecimento a respeito desta metodologia.

Carvalho. “Olha, eu vou falar um pouco da minha experiência. Eu percebo

que não é muito discutido a questão da utilização da metodologia ativa, ela

não é suficientemente discutida e eu até acho que ela é até um pouco, acho

que as pessoas até tem um pouco de medo quando fala metodologia ativa,

parece que o pessoal tá vendo um filme de terror parece que as pessoas

vêem aquilo como uma coisa, é assim: “Muito bom, muito legal, mas eu acho

que não é comigo.” Entendeu? “Vai ser bom pra você, para o outro, mas para

mim não.”

Cacau nº 22. Participação do aluno na sua formação. Não é somente do

aluno o ato de trazer a informação e problematizar, mas sim deve haver apoio

do professor. Creio que só metodologia ativa não basta na formação; deve

haver um mesclado daquele com a tradicional (passiva).

Gameleira. “Já houve conversas a respeito, mas não avançou as pessoas

não se sentiram esclarecidas ainda”

Ipê Roxo„” Eu vejo que tem alguma iniciativa que a comissão de graduação

tem se preocupado com isto é uma das atividades que tem sido desenvolvido

é com relação à reunião interdisciplinar. É na reunião interdisciplinar onde é

retomada a questão.”

Cerejeira. “Eu não percebo nenhuma diferenciação aqui hoje fizemos um

planejamento de como queremos chegar em 2012, e de que forma mas,

mesmo assim eu trabalhei no grupo de avaliação do Planejamento

Estratégico (PANES). Motivar o professor para ele estar legal com os alunos,

levar conteúdos diferenciados, questionar esse aluno, fazer o aluno sair

encantado com a disciplina, para ele evoluir de uma maneira tranquila, para

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que ocorra esse aprendizado da forma que a gente deseja, que esse

conteúdo seja fixado.”

Cacau, nº 21. “Desconheço”.

Jequitibá. “Eu acho que esse papel tem que ser mediado por várias

transformações. Nós não fomos educados nessa lógica e a gente tende a

reproduzir aquilo que a gente vivencia. Então, eu acho que hoje como

coordenadora eu vejo dificuldades.

Cacau, nº 22. “Participação do aluno na sua formação. Não é somente do

aluno o ato de trazer a informação e problematizar, mas sim deve haver apoio

do professor. Creio que só metodologia ativa não basta na formação; deve

haver um mesclado daquele com a tradicional (passiva).”

Bromélia. “Posso falar a verdade? vou falar do contexto, a Lei de Diretrizes e

Bases, infelizmente a discussão por mais que a ABEn (Associação Brasileira

de Enfermagem) tenha tentado, tenha lançado seminários de discussão tão,

infelizmente isso não chega na área da enfermagem então começa daí. Acho

assim, nem os enfermeiros e muitos docentes mesmo nem perceberam essa

discussão, então agente vive numa fase somente onde a indiferença para

as questões educacionais e políticas são muito grandes, então já começa

daí tá pouca percepção do que é que essa Lei de Diretrizes e Bases está

falando. como a lei quer que você trabalhe, é o que ela está falando?, não

que não tenha havido movimentos nesse sentido, mas, eu acredito que não

chegou aqui, não chega muito...”

Cacau nº 24. Metodologia ativa pode ser entendida como processo de ensino-

aprendizagem que envolva autor ou autores ( professor/estudante) na mais

ativa/ pró-ativa de conhecimento. É o rompimento com o modelo de o

professor “sabe” e os estudantes “ aprendem”.

Pau-Ferro. “O departamento de enfermagem tem feito várias coisas que

começou com o Pró-Saúde, o PET-Saúde, o curso de especialização, ainda

não é uma coisa... vamos dizer... ainda do grupo todo, institucionalizado no

curso de enfermagem. Mas são várias iniciativas que estão usando, porque o

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projeto pedagógico do curso de graduação da enfermagem desta

Universidade tem que ser revisto”.

Segundo o projeto político pedagógico da Instituição estudada, mesmo antes

da atual legislação, o curso já assumia compromissos com a formação semelhantes

às propostas. Nesta primeira discussão, por sua vez, fica claro o conhecimento de

alguns professores quanto ao que diz a legislação; a mudança do projeto político

pedagógico em novembro de 2006, vem comprovar esse alinhamento, da mesma

forma que as referências de reuniões interdisciplinares. De forma concomitante,

alguns professores apontam dificuldades para avançar nestas discussões por

decorrência da própria formação, considerando natural a reprodução do

conhecimento nos mecanismos tradicionais. Eles registram também a existência de

conversas - pouco esclarecedoras e não institucionalizadas – sobre o tema,

chegando-se a sugerir mudanças no projeto político pedagógico recém implantado.

Por outro lado, fica claro que tanto o Pró-Saúde quanto o PET- Saúde se constitui

em importantes portarias e complementações de auxílio à aderência da lei. Na fala

dos entrevistamos podemos perceber que há um reconhecimento da importância

desta cooperação para o ensino em saúde e o fortalecimento do SUS.

Na fala dos alunos a percepção e de que conhecem ou não, mas de uma

prática não vivenciada.

A situação que passa esta instituição não se diferencia profundamente das

demais instituições brasileiras, conforme dados do relatório de aderências da

DCN/ENF (concluído em 2006). No entanto, cabe-nos refletir que, para

promovermos o aprimoramento da qualidade do ensino de graduação nos cursos da

saúde faz-se necessário tornar clara as referências e proposições que pretendem

instituir o novo paradigma de formação, e que neste processo, os docentes cumprem

um papel central como primordiais da mudança. (LOPES et al. , 2007).

A segunda questão do questionário dos professore. Que estratégias pedagógicas

foram incorporadas ao processo ensino-aprendizagem como meio de caminhar para

as orientações da LDB?

A seguir algumas respostas:

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Ipê Amarelo. “É na verdade essa disciplina nos moldes como ela está é, esse

é o quarto ano de oferecimento dela. Ela já teve três anos e esse é o quarto

ano que ela foi totalmente reformulada nesses aspectos, e assim, o que está

por detrás disso é a teoria da problematização e a teoria de fazer sentido,

para o aluno, realmente o sentido pra aquilo...”

Cacau, nº 3. O aluno participa do processo de ensino, ou por exemplo a

problematização.

Ipê Roxo – “As ações propriamente ditas, eu acho que elas não são

homogêneas entre os docentes... então, acaba sendo iniciativas mais

isoladas mesmo porque a gente sabe que não é tão simples trabalhar com

essa metodologia..”

Cacau, nº 8. Não sei o que é.

Carvalho – “Bom... Vamos separar... cada um pega sua turma e trabalha na

sua metodologia mas, isso foi numa boa não teve briga chegamos numa

conclusão de que eram muito diferentes as linhas de trabalho, de

pensamento, os referenciais teóricos e metodológicos....”

Ipê Amarelo “... É, eu vejo assim a preocupação constante de trazer o aluno

desde o primeiro ano, desde o primeiro semestre em contato, primeiro, com o

que é o fazer da enfermagem e, segundo, da comunidade e das realidades...”

Cacau, nº 23. Metodologia que transforma o ambiente de ensino mais

atrativos e interativos, de forma a tornar o ensinado envolvido e atuante junto

à quem ensina. São metodologias para aprimorar o ensino aprendizagem.

Orquídea. “...Umas das coisas que a gente tem buscado bastante é

justamente a idéia do aluno reconhecer o SUS. ( Sistema Único de Saúde).

Ele é um processo histórico e social, ele é um processo que demanda a

produção de sujeitos, tanto trabalhadores quanto cidadãos usuários que os

defendam. É uma Política Púbica e justamente por ser pública depende da

participação da sociedade e não só dos governos e que, portanto, está

sempre correndo riscos. Então, a gente precisa de militar pelo SUS, a gente

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precisa reconhecer que isso é um processo histórico e social e para mim, do

meu ponto de vista, isto é tão relevante quanto o aluno se sentir produtor de

novos conhecimentos.”

Cacau nº 19. Entendo como um processo de aprendizado de forma que o

aluno tenha participação mais ativa em sua educação onde ele pode

determinar como “ irá aprender”. Não fica restrito em sala de aula

professor/aluno.

Gameleira. “..Eu sempre fui muito cobrado por eles, principalmente quando fui

coordenador, e eu sei o quanto isso ajuda a gente a se mover, e alguns deles

procuravam cursos de metodologias ativas e faziam esses cursos... Quando

tinha discussão, eles tinha muita contribuição para dar.”

Cacau, nº 17. “É uma forma de ensinar que está sempre em ação, sendo

construída”.

Canela. “..No quarto ano, que é o último ano, existe uma integração entre os

alunos de administração, saúde publica e saúde mental. Em cada seminário

tem alunos que estão na rede básica, no hospital e saúde mental. Eles têm

uma visão ampla e que vai abordar toda importância da formação do

enfermeiro, as responsabilidades, as competências, não só na área

hospitalar, mas também na rede básica e saúde mental”

Carvalho. “...Quando a gente fala no aluno, é claro, como eu já disse para

você, uns têm mais dificuldade outros têm menos, mas, eu acho que a própria

metodologia, não só a da problematização, mas a estratégia que usamos do

relacionamento interpessoal, tem base humanista. Então, essas questões de

aproximação, empatia, isso a gente trabalha muito...”

Bromélia. “Sim, todinho problematizado... eu faço o reverso do reverso

(risos...) é professora..., eu faço outra coisa, na minha idade...a essas alturas

eu posso falar, e se alguém vier falar, eu mando passear, eu falo assim

gente.. Essa é umas das últimas disciplina clínicas dos alunos; depois do

estágio supervisionado, já se formam.. Daí eu me vejo na missão de

desconstruir um monte de coisas, entendeu? Desconstruir, porque realmente

é assim.. a gente tem uma capacidade de formatar o aluno que é um negócio

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de louco... por mais que esteja escrito que são alunos críticos, eles têm medo

da crítica, eles não criticam... eles, eu não sei como a gente consegue fazer o

que a gente faz com eles...”

Canela. “...Eu não sei se é o mercado, o capitalismo imperante que a gente

tem a cada dia mais... Ele dificulta, ele sempre dificultou, na minha análise,

esse desenvolvimento de métodos críticos e de reflexões, porque tudo você

tem que resolver para hoje, ontem e às vezes, não se dá muito tempo para

fazer um pensamento... um julgamento crítico, daquele processo, então sua

tomada de decisão fica prejudicada... se você tivesse um pouco mais de

tempo para pensar, você não faria daquele forma...”

Cerejeira. “...Quando ele entra em contato com a família, ele tem uma certa

dificuldade.. eu não sei o que está acontecendo com os adolescentes... Os

alunos atualmente têm dificuldade em conversar e se relacionar. Então, a

gente orienta no primeiro momento, fala quem você é, se apresenta, fala que

você é aluno do terceiro ano.. lá da graduação em enfermagem, da

Universidade.., explica que vai fazer a puericultura do seu filho.”

Os professores, na forma em que estão acostumados a trabalhar sua

metodologia, colocam o aluno como centro dessa aprendizagem; no entanto, eles

enfrentam dificuldades para aproximar os mesmos alunos da comunidade e

concomitantemente ministrar um grande número de conteúdos, decorrendo daí,

entre outros aspectos, à dificuldade de estabelecer um diálogo mais reflexivo das

situações. Os professores também acreditam que o aumento de horas para o

estágio supervisionado e o contato com a comunidade desde o início do curso são

mudanças que contemplam a Lei, embora outros apontem dificuldades.

Existe ainda uma distância entre o que é pretendido e o que o professor tem

conhecimento para fazer. As proposições de mudança no ensino da enfermagem,

expressas no uso das metodologias ativas, parecem escapar ao entendimento da

maioria dos professores entrevistados, predominando uma sensação de

“estranhamento” diante de uma dimensão prática que já se acha apontada no

projeto pedagógico. Numa mesma disciplina foi possível constatar o uso de práticas

de ensino muito diferentes. Sendo assim, seria necessário uma capacitação

pedagógica para adequação da aprendizagem baseada em metodologias ativas.

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Para o aluno essa metodologia continua sendo citada como possibilidade ou é

desconhecida.

A construção/adequação dos novos currículos deveria responder aos desafios

do novo século, desenvolver uma visão do todo (atenta a interdependência, à

transdisciplinaridade) e promover redes de mudanças sociais (com base numa

ampliação da consciência individual e coletiva) por meio de métodos inovadores

(capazes de compreender o homem como um ser histórico) e do cumprimento de

uma prática pedagógica ética, crítica, reflexiva e transformadora (MITRE et al, 2008).

Neste mesmo contexto, pudemos identificar um docente (Carvalho) que

trabalha com Metodologias Ativas e usa a problematização como estratégia de

ensino baseado no arco de Maguerez. Esta entrevista ocupa um lugar estratégico

em nosso trabalho, em função de ter-nos dado a oportunidade de conhecer a

experiência, as contradições, os avanços e os recuos necessários a um processo de

ensino aprendizagem democrático tão caro ao nosso sistema de saúde. Por isso

mesmo, interessa-nos deter com maior atenção nas formulações deste entrevistado,

utilizando-nos para tanto das discussões apresentadas por (BERBEL, 1998;

SCHAURICH et al. 2005).

Carvalho: “....Estou entrando no sexto ano em que estou desenvolvendo uma

disciplina com um grupo.. não é com a classe toda.. é um grupo, que fica

comigo numa disciplina e trabalha com problematização. Só que eu adaptei,

não é uma problematização pura, aquela que você vai pra prática, no primeiro

dia. Então a gente faz esse contrato, apresento a disciplina como vai ter que

correr, que é a primeira terça feira e depois já vai direto para prática. Mas, foi

assim... pá... agora eles vão problematizar e tão. Quando surgiu essa

oportunidade eu falei: não, agora eu vou fazer do jeito que eu quero fazer..

mas eu fui assim, meio na louca.... Porque eu tinha a experiência... Vou fazer

PBL? Pensei... Não sei se PBL, nesse momento, com esse conteúdo... qual

seria a melhor forma? Então, vamos tentar a problematização...os alunos vão

para a prática mesmo, então, vamos tentar inverter. Ai eu peguei o livro do

Bodernave, peguei o Arco de Maguerez e fiz um... nossa... escrevi, do jeito

que eu queria, tudo lindo e maravilhoso e vamos para a prática, vamos(...)

Cheguei lá na prática, no primeiro dia os alunos ficam lá olhando com medo.

Aluno quando entra, e essa disciplina ela é a terceira disciplina de saúde

mental e a segunda disciplina prática e... só que essa disciplina prática é com

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paciente agudo que é um paciente em surto psicótico... que está em surto...

A gente brinca que eles andam iguais a arroz de república, “unidos

venceremos”; eles não se soltam por nada, aquele medo, quando você chega

e fala “oi” o cara já assusta... Então tinha todo essa questão...”

A primeira questão identificada pelo docente foi a que chamamos de “situação

problema” e que se refere à identificação, propriamente, do problema a partir de um

estímulo educacional, permitindo-se que cada participante explicite suas idéias,

percepções, sentimentos e valores prévios, ou ainda, que traga à tona os fenômenos

e evidências que já conhece e que podem ser utilizadas para melhor explicar uma

determinada situação.

Carvalho “...Então, os conteúdos... o que eu percebi, a gente conseguia

problematizar.. eles tinham o momento de problematizar, momento da prática.

Inclusive essa disciplina está correndo ao longo desse semestre, Então, as

terças feiras à tarde têm o bloco teórico e as sextas à tarde o bloco prático.

Então, é muito legal porque a gente trabalhava na sexta a prática e o primeiro

dia era tipo um contrato.. vou usar essa metodologia, era um contrato “não de

cartório”, mas de cavalheiros, de relação aluno-professor. Para vocês terem

um aprendizado legal, vocês vão ter que se empenhar e vai ser um pouco

diferentes dos outros (...) E realmente, eles tinham um dificuldade para

formular pergunta problema. E quando chegava na hora de teorizar.. a gente

tem um momento também nas terças feiras que é a biblioteca. A gente vai

juntos, eu fico lá, eles vão procurar os problemas, teorizar, eu oriento. As

vezes eles perguntam: não sei bem se essa pergunta deve ser feita dessa

forma, “pense bem” fazemos uma tutoria. Ah! procura tal livro que lá tem,

não. Você vai e procura o livro e vai escarafunchar e trazer para mim para

perguntar o que eu acho, mas, eu não vou falar usa esse livro... Vou te

orientar, mas, não vou indicar nem livro nem nada .

As explicações iniciais e a formulação de hipóteses permitem explorar as

fronteiras de aprendizagem em relação a um dado problema, possibilitando

identificar as capacidades presentes e as necessidades de aprendizagem. O

exercício de suposições, conjecturas e proposições favorece a expansão das

fronteiras de aprendizagem. O professor vai fazendo uma trajetória de diálogos com

os alunos até chegar na observação da realidade e é também explicitado que o

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professor acompanha os alunos tanto na aula prática quanto na teórica, o que facilita

o uso do método, pois nem sempre o professor que dá a aula teórica é o mesmo da

aula prática, situação que exigiria o diálogo e acordo entre professores.

Carvalho” Só que aí eu trabalhava desde a concepção... e o meu programa

era, meu conteúdo teórico era desde “exame de estado mental” - que é toda a

psicopatologia - até “relacionamento terapêutico”, passando por “patologias

psiquiatras, e de “procedimentos de enfermagem”, como abuso do uso de

substâncias psicoativas no caso da enfermagem, e tratamentos

medicamentosos e farmacológicos e tal, e ai chegava na hora do primeiro dia

que eu ia fazer o compartilhamento, surgia dúvidas desde “Piaget até Pino

Che”. Por que o paciente que bater no outro?” Por que a enfermeira ao invés

de vir atender o paciente fica lá tomando café lá na sala?; Por que os

pacientes agitam e os auxiliares de enfermagem dão gravatas no paciente?.

(...) Ai eu pensei.... acho que vai, mas, confundir os alunos... esse negócio do

que não sei o que, como eu vou amarrar esse mundaréu de coisa aqui?

Então, foi assim no final... essa disciplina foi o “caos”, Quase eu peguei,

rasguei o programa e falei vou mudar tudo de novo, vou dar aula lá na frente..

bem “bonitinho”.. Ai eu falei: Calma, é um processo dinâmico (...) Chega... na

saúde é um choque...um choque... Mas o que era legal é que essa relação e

aquilo que o Paulo Freire escreveu.... Mesmo que eu não tivesse lido o Paulo

Freire, essa percepção ficou muito latente para mim: Você aprende junto com

o aluno, da mesma forma que o aluno está aprendendo estudar, você também

está aprendendo a ensinar, dentro desta perspectiva que também é... como

se tutoria você aprende lendo... Não aprende lendo! Você aprende lá no dia a

dia. Quando o aluno traz uma dificuldade, você não sabe o que falar para ele,

é uma situação que te coloca em um beco sem saída, ou quando você não

sabe o que dizer ou sabe e não pode dizer para ele naquele momento.

Porque você não pode estragar o encanto do aprendizado, porque tem isso

também.... Então é muito legal. Eu fiquei meio assim que costurando as

coisas. Uma coisa que eu fiz que foi muito bacana, que eu faço até hoje, faço

em todos esses 5 anos, é meio camaleão, fui mudando de acordo com o

aprendizado que a gente vai tendo com eles..”

A segunda dinâmica diz respeito à elaboração das questões de

aprendizagem. Nesse caso, as questões formuladas devem representar as

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necessidades de aprendizagem e orientar a busca de novas informações. No caso

de um paciente de saúde mental em surto psicótico, questão que não se constitui

numa situação comum de nossa realidade cotidiana, a elaboração das questões de

aprendizagem também se constitui num momento de grande apreensão, tanto para

os alunos como para o professor. As questões que desafiam os participantes a

realizarem análises, sínteses ou avaliações invariavelmente implicam o estudo

concomitante dos aspectos conceituais, mas vão além do reconhecimento de fatos e

mecanismos, requerendo interpretação e posicionamento.

Carvalho. “Da mesma forma que eles estão aprendendo a buscar

informações, a levantar qual é a dúvida, conseguir construir uma pergunta

problema que para a gente parece que é fácil, e é mais difícil que você fazer a

teorização, mesmo que eles não saibam, por que eles têm que construir uma

coisa que tenha nexo, que você vai conseguir fazer a liga daquilo com o que

você vai pesquisar para você responder sua pergunta e mais ainda, vai ter

que dar um fio condutor para você poder aplicar aquilo lá (...) Ele quer um

resultado para ontem, ele quer a coisa pronta... E pronta não existe. Ele já

vem dessa formação de tudo na mão, de aula lá na frente... O professor fala

porque ele sabe, então eles ficam igual a uma “esponja, vamos absorver”.

Eles vêm dessa formação, o ensino é construído dessa forma tradicional”.

A seleção e pactuação, no coletivo, das questões consideradas mais potentes

e significativas para o atendimento dessas necessidades e ampliação das

capacidades de enfrentamento do problema identificado trazem objetividade e foco

para o estudo individual dos participantes. As questões que desafiam os

participantes a realizarem análises, sínteses ou avaliações invariavelmente implicam

o estudo concomitante dos aspectos conceituais, mas vão além do reconhecimento

de fatos e mecanismos, requerendo interpretação e posicionamento.

Carvalho. “Então eu não posso deixar o aluno ir para a prática sem ter noção de

alguma coisa da disciplina, eu preciso dar aula também, essa foi a minha visão, não

dar aula assim: todo dia eu sento lá e vou dar aula, mas, eu vou fazer em bloco, foi o

que eu fiz, dividi em bloco, peguei todos os meus conteúdos, coloquei em uma

sequência lógica, começando lá por exame do estado mental. Então dava uma aula

inicial do bloco, essa aula eu dava os conceitos básicos. Dou uma aula mesmo,

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claro, tem essa discussão, essa...Hoje nós estamos em quatro ou cinco blocos.

Então todo inicio de bloco eu dou aula teórica, tem o diálogo, mas, não é no sentido

de sentar em roda, tem o Power point, geralmente tem o diálogo, a troca, eles

podem perguntar (...) Porque quando eles vão para a prática já tem uma noção do

que eles vão problematizar nesse bloco. Para não ficar aquela coisa, um paga do

fim, o outro do começo. Na verdade estou tentando fazer uma coisa didática para

não ficar totalmente disperso e saber o que buscar... Isso ajudou bastante, eu senti

que isso já melhorou bastante (...) Então o problema era a tal da assembléia que eles

reclamavam que vem aqui e fala e fala mas, faltava alguma coisa, a discussão fica

meio dispersa não tem uma organização. Então eu falei, bom falta um fio condutor

alguma coisa está perdida ai. Isso já “na terceira vez” que eu fui fazer, vou olhar para

isso com mais carinho para ver o que eu posso fazer”.

É importante salientar esse momento do docente que sente raiva quando algo

não sai do jeito que imagina, que sofre com a crítica. Pensar na importância do

compartilhamento das angustias dos medos. Interessante compreender que mesmo

que a metodologia problematizadora possibilite ser uma estratégia do professor,

podemos compreender a dificuldade que é implementar algo diferente, que

necessita de estrutura e que muitas vezes não conta com ela.

Carvalho. “A gente tem um momento que eu chamo de assembléia que é o

momento do compartilhamento. Faz a prática inicial, a teorização do

levantamento do problema, voltam para a prática. Para aplicação e fazia o

momento de compartilhamento, todos os alunos para a gente compartilhar e

tal.. e era uma coisa assim solta, era tipo tempestade de idéias. Ai surgiu à

idéia de trabalhar com casos clínicos. No final, é entregue um caso clínico, o

trabalho final com o paciente que eles mais seguiram durante a prática (...) Eu

pensei, pensei... E propus, vamos trabalhar com mini estudos de casos.

Minimizar o roteiro que é muito inflado, então vamos trabalhar com etapas:

Exame do estado menta, história sintética do paciente, as medicações que

estão fazendo uso e pega as duas principais para discorrer (...) Todos vão

contribuir na discussão com o que seu paciente está apresentando. Isso

trouxe uma participação maior, tem uma dispersão, mas, bem menor, não fica

cada um falando um coisa, dar para você amarrar. Mesmo que está falando

de outro paciente, eles vêm os pacientes no pátio, as vezes conversam e até

fazem observações contribuindo com o colega. Então virou um momento de

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compartilhamento que é o que o pessoal faz nas equipes de referência que

nós não podemos participar, que é na sexta feira. Mas o que é legal e que

todos os alunos que passa vamos ampliando, eu introduzir filmes, filmes de

saúde mental, como “Um estranho no ninho” O “Bicho de Sete Cabeças”

“Garota Interrompida”, e vamos discutir, os vários indivíduos, as formas de

doenças.

A terceira dinâmica refere-se à construção de novos significados (síntese e

plenária), processo que se constitui fruto do confronto entre os saberes prévios e os

novos conteúdos e, por isso mesmo, é um movimento sempre presente no processo

ensino-aprendizagem. Este processo se dá não somente quando ocorre o

compartilhamento de novas informações, mas a todo o momento no qual uma

interação produza uma descoberta ou um novo sentido. Todos os conteúdos

compartilhados deverão receber um tratamento de analise e crítica, quer em relação

às fontes quer à própria informação em questão, devendo-se considerar as

evidências apresentadas. Para Freire, 1996, p. 47:

Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a

sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo

estar sendo um ser aberto a indagações; à curiosidade, às perguntas dos alunos , a

suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de

ensinar e não transferir conhecimento.

Carvalho. “Eu fiz uma avaliação no final da disciplina que não precisa ser uma

coisa super aprofundada, não precisa, uma coisa simples. É só falar olha, o

que, que eu aprendi? O que, eu poderia ter aprendido mais? O que, me

dificultou o aprendizado? O que, essa disciplina está colaborando para mim,

aprender ou não? Quais os pontos positivos e os pontos negativos? Tem dois

momentos de avaliação, pois, antes eu fazia um.... Essa é a avaliação da

disciplina (...) têm a avaliação do aluno que a gente faz também, a gente faz

no andamento da disciplina (...) Mas ele fala, por exemplo, na assembléia,

gente, a gente fica disperso, é um monte de assuntos, que a gente não

entende, ficam falando superficialmente, a gente não se aprofunda, a gente

não entende a “ assembléia” Aí eu falei “Aí meu Deus”, fiquei com raiva na

hora, mas os alunos devem ter razão, aí eu vou lá, tem que passar a raiva e

eu falo “Não, espera aí. Eles devem ter razão, alguma coisa está errada.” E

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eu já comecei a modificar pra outro setor, para próxima, já comecei a

mudar... por exemplo, “não dá pra trabalhar assim”, ai eu comecei a ver “o

que está errado? o que eu fiz de errado? onde eu falhei nessa disciplina? (...)

O aluno tem dificuldade, porque o que acontece, o que eu peço para eles... ,

eles fazem quatro produções de texto para mim, Todas as produções dos

textos estão ligadas a apresentar a pergunta problema que eles fazem na

prática, quando ele vai teorizar ele vai entregar a pergunta problema e a

teorização que ele fez para responder aquela pergunta, e os cuidados de

enfermagem que poderiam ser aplicado naquela situação e esses cuidados

de enfermagem é que eles vão aplicar na prática. Mas tem dificuldade,

porque eu acredito que a dificuldade já começa na relação com o outro, com o

paciente, alguns conseguem desenvolver muito bem, eu fico pasmo como a

pessoa chegou a um grau em que cuida mais do paciente que o terapeuta

dela, mas tem aqueles que tem aquela dificuldade...tem uma aluna por

exemplo que ela não consegue.

Um outro movimento permanente desse processo é a avaliação. A avaliação

formativa é realizada verbalmente ao final de cada atividade e assume um papel

fundamental na melhoria ao longo do curso. Todos devem fazer a auto-avaliação

focalizando seu processo individual de aprendizagem, a construção coletiva do

conhecimento e a atuação dos participantes.

A parte teórica do Arco de Maguerez parece de fácil de aplicação, no entanto,

a dinâmica que se faz necessária para isso exige um processo de aprendizado que,

antes de tudo, é do professor - que ao mesmo tempo em que ensina, aprende em

conjunto com o aluno, e esta situação requer paciência, disponibilidade e humildade.

De forma concomitante, na esfera da universidade - na qual o fortalecimento das

políticas públicas consiste em trabalhar com educação e saúde – torna-se essencial

que a gestão desta instituição assuma o papel de orientação e condução das

mudanças necessária, afinal, conforme nos fala Paulo Freire:

É exatamente neste sentido que ensinar não se esgota no “tratamento” do

objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção

das condições em que aprender criticamente é possível. E essa condições

implicam ou exigem a presença de educadores e de educandos criadores,

instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes.

(FREIRE, 1996 p. 26)

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A terceira questão do questionário dos alunos. O que você entende por

metodologia ativa?.

Das respostas podemos perceber que 70% dos alunos fizeram referências às

metodologias ativas, 30% disseram não ter conhecimento a respeito,

desconhecem ou não sabem do que se trata. 70% que responderam fizeram

referências a metodologias ativas como nos exemplos abaixo:

Cacau nº4. “Entendo que metodologia ativa integra os estudantes no

processo de ensino, no sentido de torná-los mais participativos e críticos.”

Cacau nº11. “Metodologia ativa é aquela em que os alunos também

participam como seres ativos e não só como ouvintes. É uma construção

conjunta entre alunos e educadores”

Cacau nº 12.” Uma metodologia na qual o aluno participa com opiniões e

ações com o professor. Havendo assim, uma troca de

informações/aprendizado, e não, apenas, sua transferência.”

Cacau nº 24. “Metodologia ativa pode ser entendida como processo de

ensino-aprendizagem que envolva autor ou autores (professor/estudante) na

mais ativa/ pró-ativa de conhecimento. É o rompimento com o modelo de o

professor “sabe” e os estudantes “ aprendem”.”

“Integração”, “participação”, “ crítica”, “seres ativos”, “não só ouvintes”,

“construção conjunta entre alunos e educadores”, “envolve autor ou autores

(professor/estudante)”, “processo”, “ rompimento” “interativos” “problematização” As

palavras usadas pelos alunos permite-nós fazer uma leitura de uma processo

potencial em mudança para o alcance de um processo democrático no ensino,

pois, (PEREIRA, 2008 p.176), fazendo referências às “ palavras acessas” de Paulo

Freire, relata que “ dizer a palavra é sempre uma possibilidade de transformar o

mundo, pois as palavras carregam sentidos, desejos, concepções, ideologias,

sonhos”.

Alguns alunos, que fizeram referências à problematização:

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Cacau nº 1. “Modelo de metodologia de trabalho baseado na problematização

e na construção conjunta de uma atividade, estudo, disciplina, programa, etc.”

Cacau nº 3. “O aluno participa do processo de ensino, ou por exemplo a

problematização.”

Cacau nº 22. Participação do aluno na sua formação. Não é somente do

aluno o ato de trazer a informação e problematizar, mas sim deve haver apoio

do professor. Creio que só metodologia ativa não basta na formação; deve

haver um mesclado daquele com a tradicional (passiva).

Cacau nº 23. Metodologia que transforma o ambiente de ensino mais atrativos

e interativos, de forma a tornar o ensinado envolvido e atuante junto à quem

ensina. São metodologias para aprimorar o ensino aprendizagem.

A potencialidade da palavra “acesas” se mantém: “construção conjunta”,

“participa”, “apoio”, “transforma”, “atrativo”, “interativo” “ensinado envolvido” “atuante”

“aprimorar o ensino”. A aluna traz a questão de mesclar o ativo com o tradicional

(passivo). O que nos traz a seguinte reflexão “... É pensando criticamente a prática

de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. (FREIRE, 1996, p.

39).

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Gráfico V. Percentual de alunos que fizeram referências a participação

ativa, baseada em problemas e ou não sabem/desconhecem.

12; 49%3; 13%

9; 38%

participação ativa

baseado em problematização

não sabe/desconhece

Fonte: Apêndice II

Representações Sociais.

Identificar as representações sociais de docentes e discentes sobre a

utilização de metodologias ativas na formação em saúde. Para (SILVA, 1998) a

representação é elaborada no social, no cotidiano do indivíduo, no seu trabalho, na

sua família enfim com as inúmeras variedades de seguimentos que formam a

sociedade podendo colaborar na produção de novas realidades na busca de

soluções de problemas.

Primeira questão: A sobrecarga de trabalho da pós-graduação.

Os professores colocam que as exigência da pós graduação trazem uma

demanda de trabalho que sobrecarrega a atuação do docente (que concomitante,

deve responder pelas exigências da graduação), até por conta das avaliações que

condicionam as promoções internas (carreira docente) e as publicações nacionais e

internacionais, embora parte dos docentes compreendam estas atividades como

integradas ao aprimoramento e cooperação da graduação. Também trazem a

questão da produção da melhor prática. O olhar para o trabalho docente como

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facilitador do processo ensino aprendizagem para o perfil do egresso proposto na

legislação, requer do docente o exercício permanente do trabalho reflexivo, da

disponibilidade para o acompanhamento. Da pesquisa e do cuidado, que pressupõe

a emergência de situações imprevistas e desconhecidas” (MITRE, S.M, 2006 apud

MITRE, et al. 2008, p.2137). Diante desta questão, o olhar para o trabalho docente

se faz necessário; a sobrecarga sinalizada e a significativa diminuição dos doentes

nos últimos anos, em conseqüência de questões da gestão da universidade na

reposição do seu quadro docente, é uma questão a ser revista. Acreditamos no

esforço que este departamento tem feito para manter a qualidade do ensino,

pesquisa e extensão.

Jacarandá. “A pós-graduação... ela consome um tempo muito grande dos docentes

(porque ela consome um tempo em relação a... ), tem que publicar para se manter

na própria pós, é obrigatório publicar um número de artigos indexados em revistas

internacionais por ano, pelo menos um por ano. Isso parece uma coisa simples, mas

exige desse professor uma certa dedicação, então ele vai ter que lecionar matérias

do mestrado, lecionar matérias do doutorado. Isso no meu entender diminuiu um

pouco a relação com a graduação.

Pau – ferro “ Nós temos que dar conta das tarefas do dia-a-dia. Cada dia tem mais

exigências. Publicar nos moldes internacionais. As pesquisas de excelência.”

Ipê Roxo. “A gente tem nosso tema de pesquisa, nossa linha de pesquisa, então os

temas a serem desenvolvidos são temas que agente orienta no mestrado, orienta no

doutorado, mas, são temas que também são possíveis de orientações na iniciação

cientifica ou no trabalho de conclusão de curso, então ai a gente vai se nortear para

isso.”

Jacarandá “A pós-graduação tem um monte de exigências, por outro lado, se ele fica

só na graduação, a universidade pela suas várias características não valoriza muito

esse professor que fica só na graduação. Ir para a pós-graduação até porque ele

seguir na carreira universitária, se ele entra como professor doutor e ele quer ser

professor associado ou professor titular. Se ele ficar só na graduação ele jamais vai

conseguir isso. Porque a pós-graduação é que vai-lhe possibilitar isso. Que ele vai

orientar mestres, ele vai orientar doutores, ele vai publicar, ele vai receber a

promoção acadêmica no curso de pós e não no curso de graduação.

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Cerejeira “Olha eu acho isso uma judiação, é o que eu acho, que todos deveriam

respeitar e que é difícil você ser respeitado dentro da Universidade, você é cobrado

pela tríade: Ensino, pesquisa e extensão. Na pesquisa não é você pesquisar com

prazer você precisa publicar, tem que publicar e publicar... Cada professor tem um

prazer, de fazer uma coisa... eu me modifico, eu me transformo em sala de aula,

parece que eu fico possuída, tenho prazer em dar aula, em estar em sala de aula.

Agora... eu sou cobrada a publicar... Eu não tenho o mesmo prazer na publicação...

eu faço. Mas esse negócio de colocar na receita de bolo como a revista quer que

você coloque, isso me incomoda. Essa forma quadrada... No momento você só é

valorizado se você publica... Você tem que publicar e publicar.”

Orquídea “Numa universidade como a nossa, por exemplo, que valoriza muito a

questão da pesquisa, eu pessoalmente acho, que eu fazer a reflexão teórico prática

de que o serviço está em produção e ter conhecimentos que subsidiem e embasem

essa prática é tão relevante quanto reconhecer que o conhecimento está em

produção, mas, que as práticas também estão. Então nós precisamos ter propostas

de implementar a melhor prática e o melhor conhecimento que somos capazes

porque nós somos uma das universidades mais importantes desse pais. Nós temos

um compromisso muito grande com o SUS (desta cidade) e nós temos um

compromisso com a ciência brasileira e da enfermagem inclusive.

Carvalho “... Eu atendo dentro das possibilidades meu horário é muito ruim... eu

tenho disciplina de pós-graduação, é muita coisa e, realmente a gente não consegue

dar conta como gostaria”.

Integração entre os cursos da saúde na mesma universidade. Participação dos

alunos em atividades que promova essa integração. Os objetivos da DCN/CEN N°

133 de 2001, consistem em levar os alunos dos cursos de graduação em saúde a

aprender a aprender – o que engloba aprender a ser, aprender a fazer, aprender a

viver juntos e aprender a conhecer - na busca de garantir a capacitação de

profissionais com autonomia e discernimento para assegurar a integralidade da

atenção e a qualidade e humanização do atendimento prestado aos indivíduos,

famílias e comunidades.

Para que possamos aprender a viver juntos, a viver com os outros, temos em

(DELORS, 1998) o conceito de que é por meio da compreensão e da percepção da

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interdependência do outro, que se consegue realizar projetos juntos, gerir os

conflitos existentes e respeitar os diferentes valores, assim como desenvolver uma

compreensão mútua beneficiando–se das oportunidades oferecidas ao longo da

vida.

Pau-Brasil “Eu sinto que cada um cuida do seu espaço. Por enquanto ainda não teve

um seminário com uma abordagem maior de todas as áreas em conjunto dentro da

universidade. Nas outras escolas eu desconheço, só posso falar daqui

Pau-Ferro - Estão convivemos todos juntos, têm mais de 100 pessoas que se

reúnem praticamente uma vez por semana e tão aqui, estão em convivência através

do PET-Saúde e do PET-Vigilância, alguns programas que começou com o Pró-

Saúde.

Jacarandá - Aqui ao lado a gente... Com a medicina quase nunca, com a farmácia

que é um curso novo, eu nunca vi nenhum tipo de ligação, eu acho que isso não

existe. Eu acho que isso existe no nível do discurso, mas eu acho que não existe no

nível da prática ou pelo menos não entendi que exista.

Bromélia - Mas aqui então, na nossa disciplina, eu sou metida, a nossa disciplina é

ótima. A gente tem uma mesa redonda onde a gente convida um psicólogo, um

enfermeiro e um assistente social do serviço para vir discutir, assunto, mais

especificamente o assunto de perdas. Então, óbito fetal, crianças mal formadas, eles

vem pra cá, eles participam com a gente também. Como temos também uma

psicóloga que também vem discutir a questão da morte. Então a gente na disciplina

também traz.

Canela - Então eu percebo aqui um esboço realmente dessa discussão, embora, não

seja uma coisa fácil é uma coisa complicada, estamos mexendo nas relações

humanas não? No papel a coisa fica muito clara, mas, na hora da execução as

relações humanas elas interferem muito.

Orquídea – “ Então foi muito legal porque tem um movimento de apoiar e de valorar

essa integração com os serviços, essa integração real com as escolas de ensino

médio... uma abertura inclusive para pensar a formação de professores não só no

sentido estritamente escolar, mas com experiências mais ampliadas de educação e

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de formação. Então tem alunos nossos que atuam em espaços formativos variados

não só em escolas, tem gente que faz coisas muito interessantes no âmbito da

formação e na enfermagem especificamente, temos parceria com os cursos de

medicina e de fono em particular, que também têm projetos de Pró-Saúde do

Ministério da Saúde. A integração para dentro do curso das disciplinas da saúde

coletiva com as outras disciplinas da enfermagem da área básica e biológica é que

eu acho ainda mais tímida, ainda tem muita coisa para conversar. Mas, na

Universidade como um todo tem muita coisa boa, isso anima a gente.

Jequitibá - Nós temos alguns ensaios dessa integração de alunos de outros cursos,

mas assim, o que mais... Essa ultima experiência é agora no PET-Saúde. Porque era

uma obrigatoriedade para enviar o projeto, que o projeto fosse multidisciplinar. Então

já foi criada dessa forma, medicina, enfermagem e fonoaudióloga. (Estão

conversando por conta desse programa) Sim, os grupos formados assim, por

exemplo, os professores da enfermagem que participam, não têm alunos só da

enfermagem, tem da medicina e da fono, e assim, todos os outros grupos de

professores. Então aí que a integração começou a acontecer de fato. Fora isso eram

experiências isoladas em algumas unidades ou os docentes já se conheciam e

faziam essa relação, mas assim de fato em uma escala maior, porque são muitos

alunos participando desse programa, é só agora entende?

Os programas como o Pró-Saúde e o PET-Saúde tem como fio condutor a

integração ensino-serviço-comunidade; esses programas tem contribuído para esse

aprender a viver juntos, embora muito tímido e de desconhecimento de muitos

professores.

Questionário aos alunos: Identifique dentre as opções abaixo aquelas de que você

tem conhecimento da existência em sua instituição de ensino: grupo de estudo,

monitoria, programa de ensino tutorial, oficinas de trabalho/estudo, estágio

extracurricular, disciplinas integrativas/transversais/interdisciplina, atividade

interdisciplinar, atividade multiprofissional.

Nesta questão, pretendemos verificar o conhecimento do aluno quanto às atividades

que incentivam esse olhar para a sociedade em que vive, bem como sua

participação durante sua graduação.

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“O propósito maior é preparar o estudante/ser humano para tomar consciência de

seu mundo e atuar intencionalmente para transformá-lo, sempre para melhor, para

um mundo e uma sociedade que permitam uma vida mais digna para o próprio

homem”. (BERBEL, 1998, p. 144).

Segundo as DCN/ENF, parecendo-nos importante considerar que:

“As DCN/ENF, mais que um documento instituído pelo Conselho Nacional

de Educação, norteiam as IES na formação cidadã e profissional da(o)

enfermeira(o), na definição dos componentes curriculares essenciais para o

curso de graduação em enfermagem, na implementação de estágios

curriculares supervisionados, na incorporação de atividades

complementares e na organização do curso, tendo por base a flexibilização

curricular. Além disso, destaca a importância da diversidade de cenários de

aprendizagem, com ênfase no SUS e na realidade locorregional, para

proporcionar a integralidade das ações de qualidade e humanas de

enfermagem, devendo, estes elementos, estarem relacionados ao processo

de construção do conhecimento sobre o processo saúde-doença, nas

diferentes fases do ciclo vital humano”.

Seguem as respostas dos alunos:

Grupo de estudo: quinze anos referem conhecer os grupos de estudo mais

só cinco referem participar destes grupos;

Monitoria: 92% dos alunos que responderam ao questionário afirmam

reconhecer o programa de monitória, mas, só 46%, participam;

Programa de ensino tutorial: o PET/Saúde, estratégia criada em 03 de

março de 2010, disponibilizando bolsas para tutores, preceptores (profissionais dos

serviços) e estudantes de graduação da área da saúde. Como uma das ações

intersetoriais direcionadas para o fortalecimento de áreas estratégicas para o SUS,

sendo uma das estratégias do Programa Nacional de Reorientação da Formação

Profissional em Saúde, o Pró-Saúde, em implementação no país desde 2005. O

PET-Saúde tem como fio condutor a integração ensino-serviço-comunidade. Chama

atenção que só um aluno reconheceu o programa e só um aluno participa.

Oficinas de trabalho/estudo: quatro alunos referem conhecerem e somente

dois participarem desta modalidade de trabalhos na graduação;

Estágio extracurricular: 75% reconhecem e 46% participam; espaço

importante colaborando com a vivência com o mundo do trabalho e a comunidade.

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Disciplinas integrativas/transversais/interdisciplinar: Formação é

intervenção e intervenção é formação – ou seja, formação é um exercício

inseparável da experimentação do convívio, da troca de conhecimentos entre

sujeitos no dia a dia dos serviços. É a qualidade e intensidade dessa troca que

garantem o processo de formação na construção de compromissos e no contrato

entre os sujeitos e coletivos. (FERREIRA, 2004). 79% dos alunos não reconhecem

essa prática e somente 12%, já participaram de alguma destas disciplinas.

Esses discursos vêm reforçar a necessidade de comunicação e articulação

entre os cursos da saúde na mesma universidade. A lógica que prevalece ainda é a

de saberes separados.

Atividade interdisciplinar: seis alunos reconhecem e quatro já participaram.

Atividade multiprofissional: sete alunos reconhecem e quatro já

participaram. Existe uma distância entre o preconizado e a vivência da vida

acadêmica.

Gráfico VI. Número de alunos que reconhecem as atividades em sua

instituição de ensino.

15

22

14

18

5

6

7

grupo estudo monitoria PET

oficinas trabalho/estudo estágio extracurricular disc integrativas

atividade interdisciplinar atividade multiprofissional

Fonte: Apêndice II

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Gráfico VII. Atividades que os alunos têm inserção na instituição de ensino:

5

12

1211

3

4

4

grupo estudo monitoria PET

oficinas trabalho/estudo estágio extracurricular disc integrativas

atividade interdisciplinar atividade multiprofissional

Fonte: Apêndice II

Os alunos reconhecem: grupo de estudo, monitoria, programa de ensino

tutorial, oficinas de trabalho/estudo, estágio extracurricular, disciplinas

integrativas/transversais/interdisciplina, atividade interdisciplinar, atividade

multiprofissional. , embora em todos os itens a participação seja bem inferior ao

reconhecimento das atividades. Talvez estejamos diante de uma questão que

precisamos estar atentos: a de encontrar alternativas para que esse aluno consiga

participar das atividades em seu período de vida acadêmica. Considerando os

cenários da prática, esta universidade faz uma integração ensino serviço, bem como

tem hospitais de especialidades, hospitais gerais, convênios com ONGs, creches,

escola de ensino técnico em enfermagem entre outros.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS As inquietações, indagações...

As propostas alternativas e inspiradoras de um ensino superior inovador no

campo da saúde (particularmente, da Enfermagem), objeto deste trabalho, cumprem

uma finalidade específica, presente em forma de lei: a formação discente para a

melhoria da assistência prestada aos usuários do Sistema Único de Saúde, e a

formação docente como facilitadora e mediadora desse processo de ensino e

aprendizagem. Em outros termos, as perspectivas e inter-relações pensadas para os

cursos de graduação em Saúde, mais especificamente de Enfermagem, na esfera

da produção do conhecimento e de sua aplicabilidade, têm uma razão de existência,

para consolidação do processo democrático do SUS.

Os indicativos produzidos pelos programas19 nos parecem importantes de

serem considerados: O PSF comemora, este ano, sua maioridade, consolidando

conquistas e apontando desafios a serem superados, principalmente na formação

para vencer esses mesmos obstáculos. A PNH, que se propõe à defesa da vida e do

fortalecimento democrática e coletiva do SUS, deve, como lei, fazer valer a sua

inserção no ensino, ainda tão incipiente nesse contexto. O FNEPAS, que tem como

finalidade impulsionar a adoção da integralidade como eixo norteador da mudança

na graduação e fortalecimento da educação permanente em Saúde, necessita

chegar a todos os autores envolvidos nessa mudança, que se propõe a ser

inovadora. A pesquisa referente à Aderência dos Cursos de Graduação em

Enfermagem do MS e MEC, publicada em 2006, pode consolidar um dos propósitos

da pesquisa, que é o de intervir na realidade, mas com um olhar atento às condições

de trabalho do docente e, em especial, à sua qualificação permanente, tornando-o

condutor e facilitador desse processo no que se refere à aplicabilidade de

metodologias ativas. Outro indicador é o PET-Saúde, que mantém a proposição

Educação para o Trabalho – a partir da integração ensino-serviço-comunidade, ao

mesmo tempo em que mantém a interdisciplinaridade, tanto dos tutores como dos

preceptores e monitores, no mesmo programa.

19

Programa de Saúde da Família (PSF), Pró- Saúde, Programa Nacional de Humanização (PNH), FINEPAS,

PET – Saúde, Pesquisa de avaliação “ A aderência dos cursos de graduação em Enfermagem, Medicina e

odontologia às DCNS, entre outros.

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Na verdade, a existência de propostas alternativas e inspiradoras de um

Ensino Superior inovador não garante a sua aplicabilidade, ainda que os esforços de

compreensão das mesmas propostas mostrem-se significativos.

Com resultados semelhantes ao estudo da pesquisa de aderência dos cursos

de graduação às DCN/ENF, no que se refere aos aspectos de adequação da

metodologia de ensino à concepção do curso nas Faculdades Federais, que foram

considerados de qualidade regular, os dados que obtivemos também sugerem uma

realidade acadêmica distante. Para que o professor seja o facilitador e mediador do

processo de ensino e de aprendizagem, é importante que a mesma capacitação,

critica e reflexiva, que estamos propondo que os docentes promovam aos alunos,

se faça também com os próprios docentes. Essas teorias que, em vários aspectos,

já se integram às leis, não se acham efetivamente presentes no cotidiano das

instituições.

A idéia de que a percepção mais clara do papel inovador dessas teorias

poderia nos levar a romper de maneira mais profunda com uma insistente

abordagem tradicional, não se confirma. A permanência das práticas tradicionais é

real e forte. Mas o que isso pode significar frente ao desafio de implantar as

metodologias ativas? Os resultados e as consequências parecem ser mais

complexas e preocupantes do que à primeira vista poderíamos supor. O SUS

depende de uma perspectiva formativa com risco de um processo democrático que,

ao propor inovar a educação, apresenta mais dificuldades do que as já apontadas.

A experiência do professor carvalho indica o esforço, mas a instabilidade do

seu lugar, ele busca cumprir o papel que lhe é pedido: o de professor mediador e

para tanto, ele enfrenta um desconforto que se acentua quando este professor é

colocado numa condição próxima de igualdade com o aluno, embora, nesse

processo, os docentes cumprem um papel central como autores primordiais da

mudança.

Na atualidade, certas iniciativas que começam a ganhar visibilidade

cumprem um papel estratégico para reforçar dinâmicas de conhecimento previstas

em lei, mas encontram limitações no mundo acadêmico. Os professores, na forma

em que estão acostumados a trabalhar sua metodologia, colocam o aluno como

centro dessa aprendizagem; no entanto, eles enfrentam dificuldades para ministrar

um grande número de conteúdos, decorrendo daí, entre outros aspectos, a

dificuldade de estabelecer um diálogo mais reflexivo das situações.

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Os professores também acreditam que o aumento de horas para o estágio

supervisionado e o contato com a comunidade desde o início do curso são

mudanças que contemplam a Lei, embora outros apontem dificuldades. Deve-se

ressaltar que em uma mesma disciplina foi possível constatar o uso de práticas de

ensino muito diferentes. Como seria possível incorporar numa dinâmica acadêmica

conceitos e metodologias tão flexíveis e críticas, se os professores que são os

mediadores do conhecimento não se afinam com elas? E diante disto temos o

discente fazendo um convite a essa integração.

A relação dos alunos com o tema é de conhecimento de 70% dos

entrevistados e se traduz no desejo de mudança por meio das palavras usadas, o

que permite-nos fazer uma leitura de uma processo com sinais de mudança para

o alcance de um ensino que se propõe a uma envolvimento professor/aluno tal

como: “Integração”, “participação”, “ crítica”, “seres ativos”, “não só ouvintes”,

“construção conjunta entre alunos e educadores”, “envolve autor ou autores

(professor/estudante)”,“processo”, “rompimento” “interativos” “problematização”

“construção conjunta”, “participa”, “apoio”, “transforma”, “atrativo”, “interativo”

“ensinado/envolvido”, “atuante” “aprimorar o ensino”.

A parte teórica do Arco de Maguerez parece de fácil de aplicação, no entanto,

a dinâmica necessária para isso exige um processo de aprendizado que, antes de

tudo, é do professor, o qual, ao mesmo tempo em que ensina, aprende em conjunto

com o aluno. Essa situação requer paciência, disponibilidade e humildade. De forma

concomitante, na esfera da universidade - na qual o fortalecimento das políticas

públicas consiste em trabalhar com Educação e Saúde – torna-se essencial que a

gestão dessa instituição assuma o papel de orientação e condução das mudanças

necessária.

Nas representações sociais que podem colaborar na produção de novas

realidades e na busca de soluções de problemas, foi possível perceber tanto a

importância como a sobrecarga de trabalho da pós-graduação. As exigências da

pós-graduação trazem uma demanda de trabalho que sobrecarrega a atuação do

docente (que, simultaneamente, deve responder pelas exigências da graduação),

até por conta das avaliações que condicionam as promoções internas (carreira

docente), como as publicações nacionais e internacionais.

Outra questão relativa às representações sociais é a Integração entre os

cursos da Saúde na mesma universidade, podendo-se perceber que ainda é uma

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iniciativa bem tímida. O PET- Saúde, na visão dos professores, vem traduzindo essa

integração embora, na visão do aluno, continue distante desse objetivo. Quanto ao

conhecimento e à participação dos alunos em grupos de estudos, monitoria,

programa de ensino tutorial, oficinas de trabalho e de estudo, estágio extracurricular,

disciplinas integrativas/transversais/interdisciplinar, atividade interdisciplinar e

atividade multiprofissional, os alunos reconhecem que existem estas práticas,

embora, em todos os itens participação seja bem inferior ao conhecimento das

atividades. Talvez estejamos diante de uma questão para a qual precisamos estar

atentos: a de encontrar alternativas para que esse aluno consiga participar das

atividades em seu período de vida acadêmica.

A vigência da lei, por si só, não garante a presença de uma prática educativa

e democrática. A questão é processual. Na esfera da lei e das teorias pedagógicas

mais profundamente comprometidas com um ideal democrático e progressista, a

questão do conhecimento e da formação profissional são pensados numa cadeia de

inter-relações, de interdisciplinaridades, de críticas (de questionamentos dos objetos

de conhecimento), de envolvimentos em lutas reais, de exercícios de tolerância

(frente às diferenças), de liberdade e de humildade (diante das incertezas, dúvidas,

inquietudes...). Precisamos repensar esta mesma cadeia de inter-relações, a

começar pelo lugar que o docente e a estrutura de gestão da universidade ocupam.

E os desafios enfrentados por este curso de graduação em enfermagem:

como o curso pode dar conta das metodologias ativas como sustentação de um

projeto democrático?

Parece-nos difícil pensar quais são estes desafios em meio a tantos projetos

bem sucedidos desta instituição e de tamanha colaboração com o desenvolvimento

da enfermagem, bem como a colaboração com o ensino para o SUS. Houve um

respeito para com o pesquisador, no sentido de disponibilizar o como é feito neste

momento da escola, tanto do ponto de vista das prática como das preposições

denotando a sintonia e preocupação com a aprendizagem.

Pensando no ensino em enfermagem e o que é solicitado do ponto de vista

da organização curricular, existe uma consonância com as necessidades e

exigências do que é proposto para o perfil do egresso e desta forma, no papel ou no

projeto político pedagógico, são claramente atendidas às necessidades. Mas qual o

desafio? O desafio é pensar no currículo integrado que trate disciplinas e atividades,

não como uma possibilidade de reuniões mensal de demanda espontânea tanto de

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docentes como discentes, mas, de participação efetiva para que possam

proporcionar um conhecimento integrado, aberto, flexível, interdisciplinar que integre

cada vez mais teoria e prática, como já é no estágio supervisionado.

No quesito capacitação docente todos são altamente capacitados do ponto de

vista profissional, com mestrado, doutorado e são também pesquisadores em sua

área de conhecimento o que facilita o processo de educação permanente em

relação à competência pedagógica; mas, afinal qual é o desafio?

Um corpo docente que compreenda a necessidade de trabalho em conjunto,

que a especificidade de seu conhecimento seja partilhada com colegas tanto da

mesma disciplina como de outra em todo o ciclo do curso da área básica à

profissionalizante, pois a colaboração é o diferencial na aprendizagem com ação-

reflexão-ação; a participação do aluno deixe de ser algo de conhecimento literário e

passe a ser de vivência; o diálogo com os outros cursos da área da saúde e outros

existente na mesma universidade, para que possamos desenvolver habilidades

humanas e profissionais tão esperadas nos princípios do SUS e também para

trabalhar os princípios da PNH, como: trabalhar em equipe; realização de projetos

em conjunto, busca de novas informações, e por fim formar um profissional

compromissado com a sociedade em que vive e em especial os usuários do SUS,

que deixam de ser objeto destes, para serem sujeitos da mesma aprendizagem.

E afinal a metodologia? Quem são os sujeitos, que vão dar conta deste

processo ativo? Pensando neste processo o docente é o grande interlocutor, por

ocupar um papel de destaque como mediador das diferentes atividades e das ações

que permeiam esse processo. Para tanto o mesmo necessita de uma estrutura que o

ajude a preparar-se, pois, estamos diante de um gigantesco desafio, o de pensar a

metodologia como integradora desse processo que está escrito no projeto político

pedagógico e sua viabilidade, que se dá por meio do processo de trabalho do

professor.

Desta forma a instituição de ensino que se propõe a trabalhar com educação

e saúde deve pensar estratégias políticas, pedagógicas, éticas e técnicas para

sustentar a proposta estabelecida, com metas, mudanças estruturais e quantitativas

do seu copo funcional. O docente pode ser o grande mediador, mas, via ações

solitárias, a mudança estrutural, que é esperada há dez anos, pode demorar ainda

mais.

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Dentre as duas propostas metodológicas ativas que nós investigamos o uso,

colocou-se a questão sobre qual era o desafio desta instituição para implantar e

implementar a metodologia problematizadora ou a PBL.

A Problematizadora é conhecida como uma estratégia do professor, mas

acredito que, para que ela aconteça de forma integrada, deva haver um

comprometimento de toda a direção, coordenação, corpo docente e discente, para

que se alcancem resultados integrados e não fragmentados. Desta forma é

importante trabalhar o processo da aprendizagem, não só colocada como

possibilidade de um profissional (o docente), mas de todo um corpo funcional

comprometido com o projeto político pedagógico proposto.

A Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL), para funcionar depende de

todo um corpo docente, administrativo e acadêmico. Acreditamos que para isto

acontecer, a instituição precisará de um tempo maior, sendo importante pensar em

seu processo administrativo de forma que as instâncias superiores possam se

comprometer nas reformas estruturais necessárias como uma maior autonomia do

curso de graduação em resolver problemas, bem como o curso ser compreendido

não só como um departamento, mas como um curso de graduação em sua real

dimensão.

As inquietações e indagações permanecem como se fossem uma linha que

trilha um caminho na procura de alternativas, que possam considerar os rumos até

aqui traçados e sigam adiante rumo à democratização do ensino para o SUS.

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APÊNDICES APÊNDICE I Entrevista

Dados Sociodemográficos

Idade __________Sexo ________ Ano de Formação _____________

Titulação________________ Tempo de Docência_________________

Disciplinas Ministradas ____________________________________________

Questões Norteadoras

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional direciona os cursos de

graduação das profissões de saúde para uma formação discente que contribua para

melhoria da assistência prestada aos usuários do Sistema Único de Saúde por meio

da construção de um projeto pedagógico, construído coletivamente, centrado no

aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e

mediador do processo ensino-aprendizagem.

1.Como você percebe a implementação destas diretrizes no ensino?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________Que estratégias pedagógicas

foram incorporadas ao processo de ensino- aprendizagem como meio de caminhar

para as orientações da LDB?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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APÊNDICE II

Questionário

Dados Sociodemográficos

Idade ________ sexo_________ Ano de Conclusão do Nível Médio___________

Técnico: ( ) não ( ) sim Qual?________________________________________

1.Identifique dentre as opções abaixo aquelas que você tem conhecimento da

existência em sua instituição de ensino:

( ) grupo de estudo

( ) monitoria

( ) programa de ensino tutorial

( ) oficinas de trabalho/estudo

( ) estágio extracurricular

( ) disciplinas integrativas/transversais/interdisciplina

( ) atividade interdisciplinar

( ) atividade multiprofissional

2.Identifique dentre as opções abaixo aquelas que você tem inserção em sua

instituição de ensino:

( ) grupo de estudo

( ) monitoria

( ) programa de ensino tutorial

( ) oficinas de trabalho/estudo

( ) estágio extracurricular

( ) disciplinas integrativas/transversais/interdisciplina

( ) atividade interdisciplinar

( ) atividade multiprofissional

3.O que você entende por metodologia ativa?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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APÊNDICE III

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMADO

PESQUISA: METODOLOGIAS PEDAGÓGICAS ATIVAS: O IMPACTO NO ENSINO

SUPERIOR EM SAÚDE.

Esta pesquisa tem como objetivo: Identificar as bases teórico-conceituais das

metodologias ativas; Caracterizar o enfoque problematizador e as metodologias

ativas como caminho para a formação do Enfermeiro como profissional capaz de

atuar nos serviços e na comunidade a partir dos princípios do SUS; Verificar as

necessidades estruturais e de gestão para suportar o modelo das metodologias

ativas; Identificar as representações sociais de docentes e discentes sobre a

utilização de metodologias ativas na formação em saúde. Para isto, precisamos de

sua colaboração fornecendo informações por meio de uma entrevista sendo

estruturada e questionário relativo ao tema. A entrevista será gravada para posterior

auxiliar na coleta de dados, garantindo o sigilo da identificação pessoal e da

instituição.

Eu,__________________________________________________________, declaro

que estou ciente do propósito do estudo e que os dados poderão ser divulgados em

eventos científicos, mais que terei garantido o sigilo de minha identificação pessoal,

profissional e da instituição.

Campinas, _______ de _________________2011.

Nome do Participante:

Assinatura:

Nome do Pesquisador: Geowanna Aparecida Higino Silva Santos

Telefone para contato: (19) 33243161, (19) 97437307

Assinatura:

Orientador: Prof. Dr. Luís Antonio Groppo

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da UNISAL

Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da FCM – UNICAMP: N° 079/2011

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APÊNDICE IV

MEMORIAL

Lembranças de minha atuação na escola

Cadê a mata que lhes dei?

“Como a Mata está

Eu pergunto a você?

Estou querendo saber.

De tudo que nela há

Dei para conservar

Pros animais ter moradia

E os pássaros na sinfonia

Fazer a orquestração

Pra vocês da região

Viver em plena harmonia”.

(Airam Ribeiro)

As lembranças que tenho de minha infância são dos momentos particulares

de minha história familiar, passados no Nordeste do Brasil, Sudoeste da Bahia, em

Jequié, Distrito Florestal. O diferencial é que essa região pertence à parte da zona

da Mata Atlântica, aproximadamente, a cem quilômetros do litoral Sul da Bahia,

região do cacau, com rios e riachos, pássaros de várias espécies, tais como sabiá,

beija-flor, curió e papa-capim entre outros. Ainda, no verão, a cigarra que não parava

de cantar, as lindas borboletas de várias cores que enfeitavam o jardim, sol quente;

chuva e as lindas noites iluminadas pelas estrelas.

Diante de toda essa exuberância, o êxodo rural era constante para os

senhores que não conseguiam sustento para suas famílias; para eles, São Paulo era

o local de possibilidade para esse sustento. Assim, partiam, buscando novos

desafios.

Escrever este memorial é reviver momentos a cada instante: momentos de

sonhos, de alegrias, de tristeza, de sorrisos, de choro e tem sido muito choro, pois

choro ainda pelos momentos descritos acima, quando me vem à mente a citação.

“Neste sentido escrever é tão re-fazer o que esteve sendo pensado nos diferentes

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momentos de nossa prática, de nossa relação com, é tão re-criar, tão re-dizer o

antes dizendo-se no tempo de nossa ação”. (FREIRE, 1992, p. 54).

Em 1973, com sete anos de idade, fui para a escola. Éramos chamados

“moradores da roça”. A escola da qual fiz parte era a única opção possível. O

método utilizado era o tradicional: cópia, repetição de palavras e memorização da

tabuada.

Dessa fase, lembro-me de um envelope de provas entregue na época da

Páscoa, enfeitado com um coelho e seus ovos todos coloridos, imagem que nunca

saiu da minha memória, assim como as festas do Dia das Mães, nas quais fazíamos

declamações. No entanto, no início, eu chorava muito e queixava-me de dor de

dente para não ir à escola. Depois, fascinava-me o rio, o quintal e as brincadeiras,

que eram muito atrativas. Por tudo isso, deixo aqui minha gratidão àqueles (as)

professores (as) que tinham orgulho de poder ensinar ao seu povo o que tinham

aprendido no mesmo espaço em que ministravam suas aulas, sem o preparo

adequado para essa função.

Em 1976, fui morar na cidade de Jequié, para estudar no Colégio Batista

Brasileiro, escola estruturada com biblioteca, diretora e professores “formados”.

Assim, distante da família, perdia a convivência com os pais, irmãos, amigos e com

a beleza daquele lugar, que era o Distrito Florestal.

Meu ganho era ficar junto à minha irmã que tinha cinco anos a mais que eu e

já morava lá; além da certeza de um futuro que a nossa “roça” não poderia dar.

Nessa escola, tive a oportunidade de aprender muito e de ter professores que me

ensinaram a estudar, a ler livros e a conhecer contos de fadas. Assim,

adequadamente preparada, consegui ser aprovada no teste de admissão da melhor

escola estadual da cidade, o Colégio Polivalente de Jequié-Ba, o que fez com que

eu adquirisse segurança no prosseguimento dos estudos. Essa transição confirma a

teoria de Gadotti de que

É na escola que passamos os melhores anos de nossas vidas, quando

crianças e jovens. A escola é um lugar bonito e cheio de vida, seja uma

escola com todas as condições de trabalho, seja ela uma escola em que

falta tudo. Mesmo com faltando tudo, nela existe o essencial: gente.

Professores, alunos, funcionários e diretores. Todos tentando fazer o que

lhes parece melhor [...].” (GADOTTI, 2008, p. 92).

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O Poli, como era chamado carinhosamente por todos nós alunos, foi um

ambiente muito gostoso de convivência, lugar bonito e equipado, com professores e

diretora que cuidavam dos alunos e dos espaços como um lugar privilegiado de

aprendizagem. Lá, aprendi a possibilidade de serem expressas opiniões

politicamente divergentes e com espírito crítico, como apontar os males do Fundo

Monetário Internacional - FMI e questionar o posicionamento da Revista VEJA,

quanto a sua inclinação para as classes dominantes.

A diretora chamava todos nós, alunos, pelo nome - um dia fui pedir a ela para

eu assinar meu boletim - o motivo é que eu era responsável por meus estudos e

morava com minha irmã e primas, mas eu é quem sabia a responsabilidade de

estudar - e fiquei surpresa porque ela permitiu que eu o fizesse. Uma lição de

autonomia que aumentou minha responsabilidade, consolidando minha certeza de

que não podia ter notas vermelhas. Como diz Freire:

”Umas das tarefas mais importantes da prática educativa-crítica é propiciar

as condições em que os educando em suas relações uns com os outros e

todos com o professor ou professora ensaiam a experiência profunda de

assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico como ser pensante,

comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter

raiva porque é capaz de amar “(FREIRE, 1996, p. 41).

Assumir-me como esse ser social e realizador de sonhos fez com que eu

argumentasse com meu pai que não pretendia fazer o segundo grau na escola

pública. Havia somente uma na cidade e o descaso do poder público a tinha

transformado em um espaço de poucas possibilidades para quem não queria parar e

sim dar continuidade aos estudos. Enfim, eu queria cursar o Científico, que era pago,

e ele não entendia direito o que era um vestibular. Minha irmã fora morar nos

Estados Unidos e estava na Universidade. Ela ganhara uma bolsa de estudos de

uma família de lá, mas o meu pai e a minha mãe - que também foi uma das

professoras de minha primeira escola antes que eu a frequentasse - não

compreendiam, pois eu era a primeira pessoa da família interessada em cursar a

Universidade.

O meu pai aceitou o argumento e fui estudar no Centro Educacional Ministro

Espínola – CEMS, instituição que oferecia excelente crescimento educacional,

professores com visão política e crítica da sociedade que preparavam bem os

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alunos. A semana cientifica, as gincanas, os simulados, as viagens e os colegas são

inesquecíveis. A maioria das pessoas era “Carlista” 20, mas eu, que defendia a

existência de uma sociedade mais justa e igualitária, dialogava com o meu

namorado que era do PCdoB e com meu pai, que era do antigo MDB, defendendo a

importância de uma mudança de liderança na Bahia. Época das “diretas já” e

“coração de estudante”. Todos nós éramos muito diferentes, mas, muito alegres e

festivos. No terceiro ano do colegial, mensalmente, havia uma festa na casa de

alguém e após os simulados, aos sábados, dávamos uma paradinha para comer

pizza. Faz vinte e cinco anos que nós nos separamos, que saudades!

Coração de estudante

Há que se cuidar da vida

Há que se cuidar do mundo

Tomar conta da amizade

Alegria e muito sonho

Espalhados no caminho

Verdes, planta e sentimento

Folhas, coração,

Juventude e fé.

(Milton Nascimento)

Finalmente o vestibular, o casamento e a gravidez. Casei-me no dia 20 de

dezembro, assim que terminei o Ensino Médio. Prestei vestibular para Enfermagem,

na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), campus de Jequié. Na

época era um curso novo, muito bom, de período integral. Antes de receber o

resultado do vestibular já sabia que estava grávida, pois engravidei na lua-de-mel e,

em 28/09/1987, minha linda “Rebequinha” veio ao mundo!

Fui aprovada no vestibular, as rádios FM e AM noticiavam a lista dos

aprovados, e recebi uma colega em casa dizendo: “ligue o rádio, você passou!” Que

felicidade! Alegria e curiosidade eram os sentimentos para o novo espaço que se

abria.

20

O “carlismo” era a maior força política da Bahia no final do século XX e início do século XXI, cuja

denominação deriva do nome do líder político baiano Antonio Carlos Magalhães, falecido em 2007.

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Universidade

Nos estudos, dois momentos a serem desvendados, a universidade e o curso

de Enfermagem. Na Universidade fiz parte de todos os espaços possíveis: diretório

acadêmico, representante discente do departamento de saúde, comissões,

congressos nacionais, regionais e estaduais, apoio a greves de professores,

paralisação na universidade por melhores professores, reunião com Reitor para

reivindicar contratação de professores e o cumprimento do prazo de conclusão de

nosso curso e, finalmente, participei como representante discente de uma reunião

com professores que estavam em greve com o então governador da Bahia Waldir

Pires (finalmente ACM perdera uma eleição). Foi um momento inesquecível, o

respeito com que todos foram tratados, a lição de democracia e as explicações que

foram dadas quanto ao momento histórico que a Bahia estava passando. A

impressão que tive foi que todos os professores saíram com a certeza de que seus

direitos seriam assegurados, o que reforçou a nossa admiração por esse homem

púbico.

O curso de Enfermagem apresentava-me a cada dia uma nova descoberta.

Afinal, o que era enfermagem? Quais os espaços que deveriam ser ocupados? Ao

longo dos quatro anos do curso fomos respondendo a essas perguntas. Ao mesmo

tempo, éramos conscientizados de que a Saúde é considerada um direito universal e

fundamental do ser humano, firmada na Declaração Universal dos Direitos Humanos

e Assegurada pala Constituição Federal de 1988, que mostrava desafios que eram

apontados por nossos professores. Eles afirmavam que esses direitos só seriam

possíveis por meio de políticas públicas sociais e econômicas e que nossa

contribuição seria imprescindível para o fortalecimento de tais políticas, bem como o

fortalecimento da democracia em nosso país.

Também na Universidade, por meio da Prof.ª Josélia (in memória), tive meu

primeiro contato com o nome de Paulo Freire. Essa professora ministrava a

disciplina Saúde Pública, no último ano de faculdade. Logo no primeiro dia de aula,

ela nos informou de que suas aulas seriam ministradas de forma dialógica e que

sentaríamos em roda. Esse método dialógico e problematizador foi proposto por um

educador brasileiro pernambucano, Paulo Freire; ela também era pernambucana. As

aulas dessa professora faziam-nos refletir acerca da real situação da saúde no

Brasil. Ela propôs um seminário sobre a fome para o meu grupo. Nós o planejamos,

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fizemos a pesquisa e organizamos o seminário, que deveria ser apresentado à

classe. Após a apresentação, ao nos avaliar, a professora disse que o nosso modo

de ver a fome era um olhar viciado e acrítico da realidade; uma visão ingênua do

significado da fome no mundo. Ela recomendou que refizéssemos o seminário, o

qual representou um crescimento para todo o nosso grupo, que teve a oportunidade

de refletir criticamente sobre a questão da fome no mundo. Eu aproveitei muito e

gostei de todas as reflexões e diálogos feitos.

Felizmente, tive a oportunidade de usufruir de ensinamentos de excelentes

professores, tal como o perfil descrito por esse admirável educador

Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não ser

neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição.

Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo. Não posso

ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê.

Não posso ser professor simplesmente a favor do Homem ou da

Humanidade, frase de uma vaguidade demasiado contraste com a

concretude da prática educativa. Sou professor a favor da docência contra o

despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra

a licenciosidade, da democracia contra a ditadura direita ou de esquerda.

Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de

discriminação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou das

classes sociais. Sou professor contra a ordem capitalista vigente que

inventou essa aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da

esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor a favor da boniteza

de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber

que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições

materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de

se amofinar e de já não ser testemunho que deve ser de lutador pertinaz,

que cansa, mas não desiste. Boniteza que se esvai de minha prática se,

cheio de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos, não canso de

me admirar (FREIRE, 1996, p. 102).

Os estágios no Hospital e Centro de Saúde eram as práticas que deveríamos

executar. No entanto, os exemplos de cuidados que presenciávamos eram feitos por

auxiliares e atendentes; o cargo de técnico, praticamente, não existia lá. O

enfermeiro ocupava cargo de chefia ou supervisão dos espaços em que essas

práticas ocorriam. Em qualquer lugar onde nossa turma passava, no Hospital ou no

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Centro de Saúde, deixava sua marca do cuidado com os pacientes. Mantínhamos

uma excelente relação com as equipes de enfermagem e médica.

Quanto à minha vida pessoal, em minha região, a cada ano a situação se

complicava do ponto de vista econômico; a vassoura-de-bruxa21 ia devastando o

cacau. Por fim, meu marido estava estudando no Rio de Janeiro e eu decidi que viria

morar em São Paulo após a minha formatura, por ser uma cidade que me oferecia

melhores oportunidades, tanto de trabalho como de estudo. Nessa ocasião, a

professora Meire Lúcia Galvão, que estava fazendo mestrado na UNIFESP

(Universidade Federal de São Paulo) veio à Bahia fazer o lançamento de um livro e

falar sobre aleitamento materno, ocasião em que os professores lhe deram

referências positivas a meu respeito, sugerindo que ela me indicasse para trabalhar,

em um hospital de São Paulo. Assim, antes de participar de minha colação de grau

realizada no dia 14 de setembro, a Prof.ª Meire telefonou-me, apresentando uma

proposta de emprego. Eu teria que chegar a São Paulo até o dia 18 de setembro.

Tratei de cumprir esse prazo e, no dia 21 de setembro, comecei a trabalhar na

Maternidade do Hospital Matarazzo.

Dois meses depois, foram abertas as inscrições para o Curso de

Especialização em Enfermagem Obstétrica na UNIFESP. Era um curso que eu tinha

muita vontade de fazer pois quando estudante, já havia feito estágios com um

médico obstetra, Dr. Evandro. Eu já estava nessa área, e sabia fazer parto normal

sozinha. Além disso, duas colegas de Jequié viriam a São Paulo só para fazer essa

especialização. Justamente nesse ano, esse curso passou a ser cobrado. Fiz as

contas e conclui que me era impossível pagá-lo. Naquele momento, foi-se o sonho

da Obstetrícia. Pouco depois, ainda nesse ano, a Universidade de São Paulo (USP)

abriu inscrição para Especialização em Saúde Pública para profissionais graduados

na área da Saúde. Participei do processo seletivo e fui aprovada no décimo oitavo

lugar; eram quarenta e cinco vagas. Mais um motivo de orgulho para os meus

primos que moravam em São Paulo há mais de 15 anos. Era o momento de grandes

discussões sobre a municipalização da saúde e do processo de operacionalização

do SUS. Tive a oportunidade de me relacionar com colegas enfermeiros, dentistas,

médicos e psicólogos.

21

Doença destrutiva que pode provocar danos em mais de 80% da produção do cacau; recebeu esse nome porque

deixa os ramos do cacaueiro secos, como uma vassoura velha.

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Nessa mesma Universidade, em 1994, fiz Especialização em Planejamento

de Saúde. Nessa ocasião, eu já trabalhava em gestão, com a equipe de

Enfermagem no Hospital e Unidade Básica de Saúde. Simultaneamente, por oito

anos, atuei nessas duas áreas, atividades que desenvolveram minhas habilidades.

Entretanto, eu não encontrava meios para dedicar-me ao mestrado.

Em 1997, com o nascimento de minha segunda filha, a linda Luiza parei de

trabalhar na Saúde Coletiva e passei a dar aulas no Centro Universitário São

Camilo, para o curso Técnico em Enfermagem. A inquietação como professora era

fazer com que os alunos participassem ativamente das aulas e que todas elas

tivessem estratégias diferentes. Para favorecer o vínculo e a discussão, os alunos

sentavam-se em círculo.

Em 2001, mudei-me para Campinas, para atuar como Diretora de

Enfermagem do Hospital da Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC-

Campinas e continuei dando aula para o curso Técnico em Enfermagem na Escola

Shalom. Esses fatos fizeram com que eu sentisse a necessidade de fazer o

mestrado. Para aprimorar meus estudos, matriculei-me como aluna especial na

Unicamp no curso de enfermagem e fui aprender inglês, cujo conhecimento era

relevante para meus estudos.

Em 2006, fui convidada para participar do corpo docente da PUC-Campinas

na Graduação e Especialização em Gestão de Enfermagem. A cada dia a pressão

aumentava e eu tinha muita necessidade de iniciar o mestrado, embora tivesse

dificuldade em parar as tarefas e dar uma atenção especial a essa capacitação que

eu desejava muito, pois, eu havia realizado vários projetos nas instituições em que

trabalhara, mas não tinha o reconhecimento da sua autoria

Em 2008, fiz Pós-Graduação – “Lato Sensu” Formação Pedagógica em

Educação Profissional em Enfermagem na Fundação Hermínio Ometto –

UNIARARAS. No ano seguinte, uma amiga indicou-me uma instituição que atenderia

aos objetivos de meus estudos, o Centro Universitário Salesiano de São Paulo –

UNISAL - onde estou hoje concluindo o mestrado em Educação, com foco em

educação problematizadora.

Page 100: Metodologias Ativas como sustentação de um projeto ...§ão... · projeto democrático. Nesse âmbito, a aprendizagem deve ser interpretada como um caminho que possibilita ao sujeito

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ANEXO

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