metodologia camponês a camponês

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República de Moçambique PROMOÇÃO ECONÓMICA DE CAMPONESES - SOFALA - Financiado pela DPA SOFALA Metodologia Camponês-a-Camponês MANUAL para TÉCNICOS 1 Beira, Janeiro 2007

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Page 1: Metodologia camponês a camponês

República de Moçambique PROMOÇÃO ECONÓMICA DE

CAMPONESES - SOFALA -

Financiado pela

DPA SOFALA

Metodologia Camponês-a-Camponês

MANUAL para TÉCNICOS

1Beira, Janeiro 2007

Page 2: Metodologia camponês a camponês

CONCEITOS BASICOS ................................................................................... 3 O que é a metodologia Camponês-a-Camponês? Como surgiu a metodologia Camponês-a-Camponês? Quais são as principais características da metodologia CaC? Quais são as vantagens da metodologia Camponês-a-Camponês? Comparação entre a metodologia CaC e a extensão “tradicional/convencional” Como funciona a metodologia Camponês-a-Camponês? O CAMPONÊS PROMOTOR / A CAMPONESA PROMOTORA ...................... 8 Quem é o promotor / a promotora? Como é seleccionado o promotor / a promotora? Como deve ser um promotor / uma promotora? O que é que faz um promotor / uma promotora? O processo de selecção de promotore(a)s Selecção da área de trabalho e grupo de assistidos O papel das mulheres promotoras RELAÇÃO PROMOTOR(A) – CAMPONESES ................................................ 15 Qual é o papel do promotor / da promotora do grupo? Como é a relação entre promotore(a)s e os camponeses assistidos? RELAÇÃO PROMOTOR(A) – EXTENSIONISTA ................................................. 19 Como é a relação entre o(a) promotor(a) e o técnico extensionista? CAPACITAÇÃO ............................................................................................ 21 Aprendizagem participativo Como é capacitado o promotor? Como são capacitados os camponeses assistidos pelo promotor? A importância de encontros regulares TROCAS DE EXPERIÊNCIA ............................................................................ 23 O que é uma troca de experiência? Para que fazemos trocas de experiência? Quem pode participar numa troca de experiência? Quem pode organizar uma troca de experiência? MONITORIA E AVALIAÇÃO DO TRABALHO DO(A) PROMOTOR(A) .............. 25 Como é feita a monitoria do trabalho do(a) promotor(a)? A importância da recolha de dados e de registos Como é feita a avaliação do trabalho do(a) promotor(a)? Quais são os incentivos para o promotor / a promotora? ASPECTOS CRÍTICOS NA IMPLEMENTAÇÃO DA METODOLOGIA ..................... 30

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Page 3: Metodologia camponês a camponês

CONCEITOS BASICOS

O que é a metodologia Camponês-a-Camponês? • é uma metodologia de extensão participativa baseada na

comunidade • implica a assistência directa aos camponeses por outros camponeses • os camponeses aprendem uns com os outros e trocam

conhecimentos sobre técnicas e praticas de produção e organização entre eles

• usa a estrutura de camponeses promotores ou promotoras • possibilita encontrar soluções para problemas locais comuns • facilita inovações locais: técnicas e tecnologias que são

adaptadas à realidade e às necessidades da comunidade

A metodologia CaC é considerada como uma metodologia de extensão • de baixo custo, • abrangente, que possibilita um aumento no numero de famílias

camponesas assistidas, • participativa, com envolvimento das comunidades, e • comunicativa, tanto verticalmente (camponeses-promotor e

promotores-extensionista) como horizontalmente (camponês-camponês, promotor-promotor e extensionista-extensionista), o que promove o trabalho em equipa.

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Page 4: Metodologia camponês a camponês

Como surgiu a metodologia Camponês-a-Camponês?

A metodologia se originou em áreas onde os serviços de extensão públicos ou do Governo são fracos por causas como difícil acesso, falta de técnicos, falta de meios e dinheiro. Então os camponeses se auto-organizaram e escolheram aqueles camponeses com muita experiência e conhecimento para ensinar aos outros camponeses aquilo que eles sabem. Assim as famílias camponesas dessa zona continuaram a trabalhar sozinhas e conseguiram aumentar e melhorar a sua produção. Pouco a pouco este método de trabalho se espalhou por muitas outras zonas.

As primeiras aplicações da metodologia são dos anos 1920 na China. Nas ultimas três décadas, a metodologia foi aplicada sobretudo na América Central e do Sul, com o movimento mais forte de “campesino a campesino” na América Central.

Quais são as principais características da metodologia CaC?

A metodologia Camponês-a-Camponês tem três elementos ou características principais:

• Promotores: são camponeses que capacitam outros camponeses nas suas comunidades; ele/ela experimenta e aplica novas técnicas ou tecnologias na sua machamba; ele/ela tem uma machamba modelo e é um camponês exemplar

• Capacitação participativa: são realizados encontros em grupo para planificar, aprender, capacitar e treinar, trocar experiências, debater problemas e soluções; os camponeses aprendem uns dos outros

• Trocas de experiência: são feitas visitas entre camponeses para conhecer outras condições e meios/situações de trabalho para trocar ideias e experiências; os camponeses se organizam e trocam conhecimento entre si

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Page 5: Metodologia camponês a camponês

Quais são as vantagens da metodologia Camponês-a-Camponês?

• facilita a assistência de um maior numero de famílias camponesas

• os camponeses duma zona podem ser assistidos mesmo com pouca presença do técnico extensionista

• implica a participação de grupos/associações de camponeses e/ou da comunidade

• o promotor / a promotora é camponês / camponesa membro da comunidade ou dum grupo ou duma associação de camponeses e vive na mesma zona que os camponeses assistidos, é conhecido por todos e conhece os problemas da comunidade ou do grupo.

Comparação entre a metodologia CaC e a extensão “tradicional/convencional”

A seguir, são ressaltados alguns aspectos numa comparação entre metodologias de extensão tradicionais ou convencionais e a metodologia Camponês-a-Camponês: • Linguagem: a comunicação e compreensão são mais fáceis, já

que promotores e camponeses falam a “mesma língua” (literalmente e culturalmente)

• Relevância: os promotores compreendem melhor os constrangimentos e as dificuldades, potenciais e aspirações de outros camponeses porque eles vem do mesmo “meio”

• Disponibilidade: os promotores muitas vezes podem estar disponíveis em tempos e a horas mais convenientes para os camponeses que assistem em comparação com técnicos extensionistas (isto é especialmente válido se os extensionistas não moram na zona onde trabalham)

• Prestação de contas: os promotores que trabalham na sua própria comunidade são mais directamente responsáveis frente aos camponeses que assistem em comparação com técnicos extensionistas (isto é especialmente válido se a comunidade ou o grupo assistido contribui aos custos de trabalho do promotor)

• Credibilidade: os promotores tem os mesmo background (origem / bagagem de conhecimento) e são camponeses nas mesmas condições que outros camponeses da sua comunidade; as demonstrações deles em relação a novas tecnologias e praticas

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Page 6: Metodologia camponês a camponês

podem, portanto, ser mais convincentes que aquelas feitas por extensionistas profissionais

• Sustentabilidade: os promotores ficam nas comunidades e se calhar continuarão a perseguir iniciativas ligadas à agricultura ou ao desenvolvimento rural em geral por muito tempo

Como funciona a metodologia Camponês-a-Camponês?

A figura abaixo explica o funcionamento da metodologia Camponês-a-Camponês:

Técnico(a)

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No centro do sistema está o camponês promotor e a camponesa promotora. Este permite que o extensionista consegue assistir mais camponeses do que em sistemas de extensão de assistência directa.

O promotor / A promotora é um(a) camponês(a) modelo que • recebe informações do técnico extensionista e • expande a informação e os seus conhecimentos para outros

camponeses; • recebe informações dos camponeses que assiste e • comunica a informação ao técnico extensionista.

Promotor(a) (1-n)

Camponeses assistidos pelo promotor

Vizinhos que adoptam tecnologias (assistidos indirectamente)

capacitação, reflexão sobre as melhores prácticas, troca de informações, conhecimentos e experiência

transmissão de conhecimentos e informação, trocas de experiência

processo de aprendizagem (transmissão e troca de informações e conhecimentos) de cima para baixo e de baixo para cima

C1 C2 C3 C4 C5 Cn

V1 V2 V3 V1 V2

Page 7: Metodologia camponês a camponês

Cada extensionista atende vário(a)s promotore(a)s: é difícil recomendar um numero mínimo ou máximo, mas tendo em conta as distancias que seriam necessárias de ser percorridas e as condições de trabalho nas DDAs, uma média de 5 promotore(a)s por extensionista parece ser um numero adequado/realista para garantir um acompanhamento regular e intensivo dos mesmos. Cada promotor assiste vários camponeses ou agregados familiares. Aqui também é difícil estabelecer um mínimo ou um máximo recomendado, já que dependerá sempre da dispersão das casas ou machambas dos camponeses assistidos, dos meios disponíveis para a deslocação do promotor e de que tão activo é o promotor. Num inquérito feito entre promotore(a)s de 5 distritos da Província de Sofala, a média de camponeses assistidos directamente pelo(a)s promotore(a)s era de 22 camponeses. De forma geral, o promotor deveria trabalhar próximo da sua área residencial, num raio não muito superior a 10 km pois assim iria permitir que assistisse os camponeses pertencentes ao seu grupo e também poderia realizar trabalhos na sua própria machamba. Num segundo nível, são assistidos indirectamente aqueles vizinhos de camponeses assistidos directamente pelo promotor que imitam as experiências e praticas deles. É importante ressaltar que a metodologia Camponês-a-Camponês é participativa e implica um processo de aprendizagem, que inclui transmissão de conhecimentos e troca de informações e experiências, de cima para baixo e de baixo para cima. Trata-se de uma metodologia de extensão que implica muita comunicação, tanto verticalmente (camponeses-promotor, promotores-extensionista) como horizontalmente (camponês-camponês, promotor-promotor, extensionista-extensionista) e promove o trabalho em equipa.

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Page 8: Metodologia camponês a camponês

O CAMPONÊS PROMOTOR / A CAMPONESA PROMOTORA

Quem é o promotor / a promotora?

Os camponeses activos na metodologia Camponês-a-Camponês são atribuídos diversos nomes: promotores, activistas, camponeses extensionistas, camponeses animadores, promotores rurais, facilitadores locais, etc. O camponês promotor / A camponesa promotora • é um(a) voluntário(a) disposto(a) a apoiar sua comunidade ou

grupo e seleccionado(a) por essa comunidade ou grupo • é um(a) camponês(a) com muita experiência e conhecimento de

agricultura e/ou pecuária • é um(a) camponês(a) que gosta de ensinar outros camponeses do

grupo, da associação ou da comunidade para todos crescerem juntos

• é um(a) camponês(a) com alguma ou pouca formação escolar que a partir de formação baseada em experiências e praticas de campo aumentou o seu conhecimento e pode transmiti-lo aos outros camponeses

• é um(a) camponês(a) modelo ou exemplar, com a melhor machamba em relação à machamba de outros camponeses na zona

• basicamente desempenha o papel de “técnico do grupo” O papel do promotor nas comunidades é de servir como elemento dinamizador de processos de mudanças na sua comunidade, promovendo processos de desenvolvimento rural, quer dizer: tem de ser capaz de • resolver os problemas relacionados com questões agro-pecuárias e

organizacionais junto com os camponeses da sua zona, • acelerar ou mudar o desenvolvimento rural com base nos recursos

locais sem ou com apoio externo.

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Page 9: Metodologia camponês a camponês

Como é seleccionado o promotor / a promotora? • normalmente o grupo ou a associação e/ou a comunidade

escolhe o(a) promotor(a) (mas existem outras abordagens, descritas abaixo na parte “o processo de selecção de promotore(a)s”)

• o técnico extensionista assiste e acompanha o processo • é importante explicar e discutir as características e as tarefas do(a)

promotor(a) com o grupo/associação e/ou a comunidade antes de fazer a escolha

• os critérios de selecção estão ligados às características dum(a) promotor(a) que estão descritas abaixo, mas também à questão de si o promotor devia ser um especialista ou generalista. Ter promotores especializados numa área só (por exemplo pecuária ou pulverização) pode implicar custos muito elevados já que um numero muito grande de camponeses tem de ser treinado. Generalistas ou promotores polivalentes sabem “um pouco de tudo” e são capazes de responder a uma grande variedade de problemas, vão poder ganhar credibilidade e confiança da comunidade, encaram os problemas com uma visão mais abrangente, mas podem falhar em dar respostas mais detalhadas à problemas e dificuldades pontuais resultando numa perca de credibilidade se não sabem a que fontes de informação recorrer para solucionar o problema específico.

Como deve ser um promotor / uma promotora? • deve ser camponês(a) • deve viver na zona onde trabalha – ele(a) tem de conhecer os

problemas dos camponeses da zona ou do grupo para poder ajudar a solucionar estes problemas

• deve ser activo(a) – deve ter iniciativa criativa • deve ser exemplar – deve demonstrar na sua machamba o que

ele(a) ensina • deve ter vontade de trabalhar e servir à comunidade e/ou ao grupo • deve divulgar/difundir/partilhar informação e conhecimentos com

os camponeses que assiste e com o técnico extensionista da zona • deve visitar os trabalhos dos camponeses que assiste • deve permitir que os camponeses da zona visitem a sua machamba

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Page 10: Metodologia camponês a camponês

• deve ser honesto(a) e serio(a) • deve ser voluntário(a) • deve ser paciente • deve saber ensinar/comunicar • deve ser aceite e respeitado pelos camponeses do grupo e/ou da

comunidade O que é que faz um promotor / uma promotora?

O promotor / A promotora • ensina aos outros camponeses - transmite conhecimentos aos

outros camponeses sobre técnicas, praticas e tecnologias • informa aos outros camponeses – transmite mensagens aos

camponeses • visita aos outros camponeses e acompanha os trabalhos deles • é exemplar: aplica e demostra tecnologias na sua machamba • convida aos outros camponeses a verem a sua machamba modelo • identifica problemas e soluções junto aos grupos e/ou à comunidade • identifica necessidades de formação do grupo e/ou da comunidade • regista informações e transmite aos técnicos extensionistas • promove e organiza trocas de experiência ao nível local entre

camponeses • participa em reuniões na comunidade • elabora planos de actividades ou de negócios junto com os grupos

e a comunidade

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Page 11: Metodologia camponês a camponês

O promotor faz um trabalho em regime voluntariado, quer dizer não remunerado.

Camponeses que trabalham como voluntários podem fazer o trabalho pelo desejo de servir a sua família, os seus amigos e/ou a sua comunidade, por querer desempenhar um papel mais importante na comunidade e ganhar maior respeito e reconhecimento, ou por motivos religiosos.

Mas estos camponeses geralmente não estão em condições de ficar muito tempo fora da sua machamba sem receber alguma remuneração. Conflitos podem surgir quando os promotores começam a sentir-se discriminados em comparação aos técnicos extensionistas pagos, cujo trabalho não é muito diferente.

Ao trabalhar com promotores é sempre importante tomar em conta que os camponeses precisam de tempo suficiente para atender as suas próprias machambas (que são machambas modelo!), experimentar e implementar o que eles ensinam, já que de outra maneira perdem credibilidade. Se a demanda para os serviços do promotor aumenta e ele começa a negligenciar as suas próprias responsabilidades, o tema da remuneração ou de um subsidio pode ser levantado.

De forma geral e para resumir: é muito importante que os promotores se identifiquem ainda com a comunidade e que fiquem sempre mais dependentes do suporte e da aceitação pelo meio local que de um possível apoio externo.

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Page 12: Metodologia camponês a camponês

O processo de selecção de promotore(a)s

O processo de selecção é um aspecto muito delicado da metodologia Camponês-a-Camponês. Existem diferentes abordagens ou procedimentos, com as suas respectivas vantagens e desvantagens. (1) Selecção pela comunidade

O promotor / A promotora é escolhido(a) pela comunidade onde mora e onde vai trabalhar. Num primeiro passo, são organizados encontros de esclarecimentos sobre a metodologia Camponês-a-Camponês nas comunidades (mobilização/sensibilização), começando ao nível dos lideres locais e tradicionais; num segundo passo, são discutidos os “termos de referência” do(a) promotor(a), os deveres e as responsabilidades dele(a), junto com as comunidades; num terceiro passo são seleccionados candidatos a promotore(a)s na comunidade; num quarto e ultimo passo é feita a selecção definitiva do(a)s promotore(a)s na comunidade (decisão). Vantagens são: participação e envolvimento da comunidade em todo o processo; os camponeses identificam-se com a metodologia; a comunidade pode seleccionar pessoas que apoia e em quem confia; lideres locais e tradicionais são respeitados na sua função. Desvantagens são: possivelmente sempre as mesmas pessoas são seleccionadas ou camponeses são seleccionados na base do seu status socio-económico ou dos contactos ou influência que tem, em vez das capacidades que tem; possivelmente o promotor é escolhido por um grupo dentro da comunidade e não representa a comunidade inteira, não podendo responder adequadamente às necessidades da comunidade inteira. (2) Selecção por grupos ou associações

Organizações de camponeses (grupos, associações, clubes de negócios, cooperativas) tem a possibilidade de oferecer treinamento e capacitação de camponeses a camponeses. Estas organizações também tem a costume de se reunir regularmente e geralmente possuem um lugar de reunião. No melhor dos casos, as organizações demandam os serviços que precisam, tem membros que são capacitados, tem membros com capacidade para treinar outros e

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Page 13: Metodologia camponês a camponês

tem potencial de recolher fundos como para poder pagar os seus técnicos extensionistas “privados”. Uma desvantagem, em termos de abrangência da metodologia Camponês-a-Camponês usando este tipo de selecção, é que os promotores ligados a grupos ou associações na maioria dos casos só vão fornecer os seus serviços a membros dos mesmos. (3) Selecção por extensionistas e/ou ONGs/projectos

Existem casos em que extensionistas1 e/ou ONGs/projectos escolhem pessoas dentro das comunidades pelas seguintes razões: o processo é mais rápido e conveniente, existe a possibilidade de “quebrar” elites locais, oferece a oportunidade de igualar desigualdades de género.

Desvantagens são: não é um processo participativo; os promotores seleccionados podem ser vistos como funcionários do Estado ou da organização e podem não ser aceites pelas comunidades, o que dissocia os promotores da base.

(4) Selecção “natural”

Implica trabalhar com aqueles camponeses que demonstraram maior interesse e vontade de serem promotores. Vantagens são: o promotor demonstrou o seu interesse e a sua vontade ao longo de um período determinado; o promotor demonstrou a sua efectividade no trabalho de campo e foi avaliado positivamente pela comunidade ou pelos grupos/associações; muito sustentável. Desvantagens são: o processo é muito longo e envolve o treinamento de um numero muito grande de promotores potenciais para chegar à selecção “natural” ao final.

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1 Veja figura de “camponês de contacto“ que surge no âmbito da metodologia de Treino e Visita.

Page 14: Metodologia camponês a camponês

Selecção da área de trabalho e grupo de assistidos

• o promotor / a promotora não devia trabalhar num raio superior a 10 km para assegurar a assistência regular aos camponeses

• o promotor / a promotora deve trabalhar com camponeses que moram próximos da sua residência, preferentemente membros dum grupo ou uma associação

O papel das mulheres promotoras

Geralmente mulheres são conhecidas por terem mais paciência, sentido de responsabilidade e uma visão mais global da situação que homens.

Mas o trabalho das mulheres enfrenta muitos desafios: elas tem menos tempo disponível porque trabalham nas suas machambas, em casa e cuidam das crianças. Há casos em que elas não são igualmente respeitadas pelas comunidades que promotores masculinos. Muitas vezes as mulheres subestimam o seu trabalho e são muito mais susceptíveis à e desmoralizadas por criticas. Os maridos delas podem não estar de acordo com o trabalho delas como promotoras, especialmente se isto implica trabalhar com outros homens.

Incluir mulheres no trabalho de extensão da a oportunidade a elas de ganhar em auto-estima e auto-valorização, de falar mais abertamente sobre as necessidades delas e promove uma maior aceitação e reconhecimento das suas necessidades e dos seus direitos, contribuindo para uma maior igualdade em termos de género.

As promotoras sempre devem receber um apoio especial. Na implementação da metodologia Camponês-a-Camponês sempre devem ser procurados instrumentos e maneiras de trabalho que facilitam a participação activa das mulheres.

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Page 15: Metodologia camponês a camponês

RELAÇÃO PROMOTOR(A) – CAMPONESES Qual é o papel do promotor / da promotora do grupo?

O promotor / A promotora do grupo é um agente importante no desenvolvimento da sua comunidade. A sua tarefa é ajudar aos

camponeses a se capacitar para organizar e gerir as suas actividades. Essencialmente, o trabalho do(a) promotor(a) consiste em facilitar as coisas, executando três papeis principais:

● Conselheiro do grupo

Deverá fortalecer o espírito de iniciativa, as capacidades de organização e planificação dos grupos nas comunidades rurais.

● Formador participativo

Deverá ensinar aos membros do grupo a adquirir capacidades básicas, conhecimento de técnicas e solução de problemas.

● Elo de ligação

Deverá facilitar a comunicação entre o grupo e varias instituições, sejam do Governo, de ONGs e projectos, compradores de produtos agrícolas, vendedores de insumos, entre outros.

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Page 16: Metodologia camponês a camponês

Como é a relação entre promotore(a)s e os camponeses assistidos? • os camponeses recebem informações e mensagens do promotor /

da promotora • o(a) promotor(a) responde às necessidades de assistência dos

grupos e/ou da comunidade • os camponeses recebem assistência do promotor / da promotora

o na machamba do(a) promotor(a) – os camponeses visitam a machamba do(a) promotor(a) (machamba modelo ou machamba escola) onde vêm as técnicas ou tecnologias aplicadas pelo promotor / pela promotora e podem discutir sobre as vantagens e receber informação sobre como fazer o mesmo trabalho. Este método é o mais encorajado, uma vez que ele permite aos outros camponeses de conhecerem a parcela do promotor vendo que tecnologia poderão adoptar e que eles tem oportunidade igual. Este tipo de assistência é mais efectivo na disseminação de informações e promove a comunicação e troca de experiências, já que as dúvidas ou conhecimentos são partilhados em benefício mútuo.

o na machamba do camponês – o(a) promotor(a) visita as machambas dos camponeses a pedido deles e dá orientações ou recomendações sobre como fazer ou melhorar o trabalho. A assistência individual é um método que tem a desvantagem de não permitir maior intercâmbio com outros camponeses mas pode ser eficiente se a visita resultar na solução do problema do camponês ou da família assistida e pode implicar a adaptação de uma tecnologia à uma situação muito especifica. Este método de assistência implica um maior investimento do tempo do promotor, tempo que faltará para trabalhar na sua própria machamba, e poderá promover individualismo e ciúmes entre camponeses que não podem ser atingidos individualmente. Em muitas zonas esta forma de assistência enfrenta o problema de feitiço.

o através de visitas acompanhadas – o promotor / a promotora, junto com camponeses e/ou técnicos visitam a machamba de um camponês assistido pelo promotor e podem trocar ideias e conhecimentos. As vantagens são as mesmas que no caso da assistência na parcela demonstrativa. Alem destas vantagens implica uma rotação, o que significa que os camponeses sempre vem de perto machambas e experiências novas, promovendo ainda mais a troca de experiências e conhecimento. Também neste caso podem ser enfrentadas dificuldades na pratica por crenças em feitiço.

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Page 17: Metodologia camponês a camponês

• o(a) promotor(a) acompanha as actividades dos camponeses assistidos por ele(a)

• o(a) promotor(a) aplica técnicas ou tecnologias na sua machamba modelo e permite que os outros camponeses visitem a sua machamba

• o(a) promotor(a) recebe informações ou mensagens dos camponeses da sua zona

• o(a) promotor(a) ajuda a tornar forte os grupos ou as associações na comunidade

• o(a) promotor(a) ajuda aos grupos e/ou à comunidade a identificar seus problemas e a encontrar soluções

• o(a) promotor(a) ajuda aos grupos e/ou à comunidade a definir visões e metas e planificar actividades

• o(a) promotor(a) organiza trocas de experiência entre camponeses ao nível local para aprenderem uns dos outros

• o grupo e/ou a comunidade recompensa ao promotor / à promotora pelo trabalho feito

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Page 18: Metodologia camponês a camponês

O promotor tem sobretudo duas funções importantes: (1) Conhecer a realidade e experimentar, o que significa:

• conhecer particularmente a realidade da comunidade local dele • fazer pequenos campos para testar a nova tecnologia • facilitar ver ou observar o que acontece e os seus resultados • permitir fazer comparação e medição dos resultados • fazer registro colectivo de informações do campo • transmitir os seus conhecimentos e as suas experiências a outros

camponeses, aumentando o conhecimento local • continuar a desenvolver a nova tecnologia com os outros

camponeses

(2) Organizar, o que significa: • tornar forte as organizações, grupos, associações ou clubes de

camponeses assistidos na comunidade • permitir que os camponeses entre eles, especialmente as

mulheres e os homens, combinem como fazer o trabalho • encontrar formas de organizar grupos de camponeses para

resolver seus problemas nas suas machambas • apoiar os camponeses da comunidade a serem donos do que

ocorre na sua zona.

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Page 19: Metodologia camponês a camponês

RELAÇÃO PROMOTOR(A) – EXTENSIONISTA

Como é a relação entre o promotor / a promotora e o técnico extensionista?

• o técnico recebe informações do promotor / da promotora sobre os problemas e as necessidades dos camponeses

• o técnico prepara e passa informações aos promotores

• o técnico acompanha o trabalho e as actividades do promotor e dá orientações técnicas

• o técnico visita a machamba modelo do promotor e as machambas dos camponeses assistidos pelo promotor

• o técnico é um facilitador

• são organizadas reuniões e encontros regulares entre técnicos e promotore(a)s para

o trocar ideias e experiências o discutir problemas e soluções o receber formações ou capacitações o organizar e planificar as actividades dos promotores e das

promotoras

• o técnico assiste o promotor / a promotora em montar ensaios de diferentes tecnologias e em por em pratica novas experiências

• o promotor pode recorrer ao técnico para receber assistência especifica em caso de problemas que não consegue solucionar sozinho junto aos camponeses

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Page 20: Metodologia camponês a camponês

Na metodologia Camponês-a-Camponês, é aplicado o processo de capacitação por acompanhamento. O acompanhamento é um procedimento de capacitação que o camponês e o técnico realizam na pratica. Não se pretende que o técnico extensionista seja quem realiza as actividades para demonstração ao camponês, nem tampouco que o camponês faça as actividades baixo direcção do técnico – espera-se que técnicos e camponeses realizem conjuntamente as actividades. Para isto os técnicos tem de assumir um novo papel de simples acompanhantes, respeitosos pelas actividades de interesse das comunidades e/ou grupos e realizando ume verdadeira planificação e capacitação participativa. Pretende-se extrair a capacitação do meio habitual abstracto e escolarizado para converter a ela num processo eminentemente pratico e adequado aos modos de aprendizagem tradicionais e localmente usados. A capacitação “on-farm” (na machamba) é um método que permite uma capacitação regular dos promotores em diversas matérias, sejam da área agrícola ou de outras áreas afins. Providencia-se uma capacitação prática que permite uma maior assimilação dos assuntos ou práticas introduzidas por meio de exercícios práticos. Idealmente, esta capacitação é organizada pelo extensionista para um grupo de promotores. Se não for possível organizar formações em machambas escolas/modelo, UTVs ou CDRs por falta de meios da parte do técnico, é importante encontrar alternativas que possam garantir uma formação pratica dos promotores. O técnico é apenas o facilitador do processo, não é o actor principal nem um fiscal do processo. O camponês é o principal realizador – ele possui o conhecimento. Na implementação da metodologia Camponês-a-Camponês é importante o acompanhamento regular e constante do promotor por parte do técnico. O promotor deve sentir de perto a presença do técnico: desta maneira, todas dificuldades, erros e problemas podem ser prontamente resolvidos e só assim pode-se estabelecer uma relação de parceria entre o técnico e o promotor.

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Page 21: Metodologia camponês a camponês

CAPACITAÇÃO

Aprendizagem participativa

• é um método criativo para a solução de problemas onde cada membro do grupo participa activamente

• começa pelas necessidades e os problemas do grupo

• utiliza e aproveita as capacidades, os conhecimentos e a experiência de cada um dos membros do grupo

• permite aos participantes de aprender fazendo

• acontece num lugar onde os participantes se sentem a vontade

• da um espaço às mulheres: é importante incluir sempre a mulher de forma activa em todos os trabalhos

Como é capacitado o promotor?

• através do acompanhamento regular do técnico extensionista da zona

• através de formações e treinamentos práticos em machambas modelo ou machambas escola

• através de encontros regulares, intercâmbio de ideias e trocas de experiência com outros promotores e técnicos

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Page 22: Metodologia camponês a camponês

Como são capacitados os camponeses assistidos pelo promotor? • através do acompanhamento das suas actividades pelo promotor

e pelo técnico da zona, durante visitas à sua machamba • através de visitas à machamba do promotor e de outros

camponeses assistidos pelo promotor • através de encontros regulares, intercâmbio de ideias e trocas de

experiência com outros camponeses, promotores e técnicos

A importância de encontros regulares

Encontros regulares entre técnicos extensionistas e promotores, alem das reuniões que servem para a capacitação, são importantes elementos da metodologia Camponês-a-Camponês.

Estas reuniões são programadas pelos promotores e facilitadas pelos técnicos, mas a agenda da reunião deve ser definida pelos promotores de cada localidade. As reuniões tem por finalidade fazer a avaliação colectiva do trabalho realizado, os avanços conseguidos, os problemas encontrados e planificar actividades e acções correctivas relevantes para o mês seguinte (no caso de encontros mensais). Portanto, estes encontros servem para fazer um plano, quer dizer: • organizar as actividades dos promotores em conjunto com os

mesmos e a quem assistem • definir metas, acções e metodologias/instrumentos • combinar com outros camponeses para realizar o trabalho. Os técnicos aproveitam estes encontros para lançar novos desafios para os promotores, programar as formações e definir datas para as visitas de troca de experiência à diferentes zonas. Normalmente, neste tipo de reuniões não só se dá enfoque à agricultura mas também se podem incluir assuntos gerais vividos pela comunidade.

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Page 23: Metodologia camponês a camponês

TROCAS DE EXPERIÊNCIA

O que é uma troca de experiência? Para que fazemos trocas de experiência?

• significa aprender uns dos outros

• significa apresentar a outros o que temos feito, o que sabemos fazer e como fazemos

• servem para adquirir conhecimentos

• significa realizar visitas a outros camponeses e/ou promotore(a)s para captar diferentes maneiras de trabalhar, diferentes e novas experiências e depois transmiti-las aos outros no grupo e/ou na comunidade

• significa participar activamente e discutir problemas e soluções, partilhar conhecimentos e informações

• significa ver experiências novas, conhecer avanços conseguidos por outros promotore(a)s, camponeses ou técnicos, aprender delas, adaptar elas às necessidades e possibilidades da própria machamba ou comunidade e aplicar os conhecimentos

• estimula aos participantes a melhorarem a sua maneira de praticar a agricultura, vendo como outros camponeses das outras zonas praticam a agricultura e resolvem os seus próprios problemas

• pode ser ao nível local, dentro da mesma comunidade, dentro do distrito ou fora do distrito

• pode acontecer a todos os níveis (ao nível dos técnicos extensionistas, dos promotores e dos camponeses assistidos), tanto verticalmente (camponeses-promotor, promotores-extensionista) como horizontalmente (camponês-camponês, promotor-promotor, extensionista-extensionista)

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Page 24: Metodologia camponês a camponês

Quem pode participar numa troca de experiência? • camponeses • promotore(a)s • técnicos extensionistas • outros membros da comunidade

Quem pode organizar uma troca de experiência? • camponeses entre eles • o promotor / a promotora da zona • o técnico extensionista da zona

A ter em conta • devem-se definir objectivos antes de realizar a troca de experiência • a troca de experiência deve resultar num beneficio ou numa

mudança para os participantes • deve-se fazer um seguimento após a realização duma troca de

experiência para assegurar que os conhecimentos adquiridos sejam aplicados

• trocas de experiência sempre implicam visitas a outros camponeses, mas é importante aclarar que também podem e devem ser organizadas ao nível local. Muitas vezes não acontecem trocas de experiências entre promotores de uma mesma zona. Portanto: não sempre tem de implicar deslocações a localidades muito distantes, dentro e fora do distrito e da Província, mas podem muito bem ser organizadas e devem ser encorajadas ao nível local.

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Page 25: Metodologia camponês a camponês

MONITORIA E AVALIAÇÃO DO TRABALHO

DO(A) PROMOTOR(A) Como é feita a monitoria do trabalho do(a) promotor(a)?

• o extensionista deve realizar visitas de monitoria e supervisão regulares ao promotor / à promotora e aos camponeses assistidos por ele(a)

• o extensionista deve estar sempre ao corrente do trabalho realizado pelo(a) promotor(a)

• em reuniões regulares entre promotores e técnicos o os promotores entregam os seus relatórios o discutem-se dificuldades ou problemas encontrados pelos

promotores o faz-se uma programação de acções a seguir

A importância da recolha de dados e de registos

É importante para os membros do grupo/associação, da comunidade e para o técnico extensionista conhecer quê actividades foram feitas pelo(a) promotor(a). Também é importante comunicar informações sobre a campanha agrícola e problemas ou dificuldades encontradas na comunidade ou no grupo/associação. Portanto, manter um registo de actividades e informação é uma das tarefas do(a) promotor(a).

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Page 26: Metodologia camponês a camponês

Quê significa manter um registro? Fazer um registro é manter a informação sobre as actividades desempenhadas pelo(a) promotor(a) para referencias futuras (por exemplo, informação sobre as culturas produzidas, pragas e doenças, rendimentos e outros). O promotor / A promotora deve manter registros simples, de modo que todos os membros do grupo/associação e técnicos ou outros interessados compreendam. Porquê é importante ter registros? • ajuda ao promotor / à promotora a recordar o que fez • ajuda ao promotor / à promotora a recordar o que aconteceu na

sua machamba e nas machambas dos camponeses assistidos • dá informações e números para o seguimento das actividades • ajuda ao promotor / à promotora e ao extensionista a tomar

melhores decisões • dá informações e números para a avaliação do trabalho do(a)

promotor(a) Quando, onde e como manter registos? Os registros devem ser feitos de forma regular (por exemplo, diariamente, semanalmente o mensalmente), assim como em reuniões e sempre que se realizam actividades. A informação deve ser registada em cadernos, de preferencia não em folhas soltas. Os registos devem ser guardados em pastas para evitar a perda de informação. Encorajar o uso de fichas ou mapas simples para registar a informação. Encorajar a escrever tudo que achar que é importante para assegurar uma melhor produção e assistência dos camponeses. O técnico extensionista deve fornecer mapas de acompanhamento, controle, monitoria ou outros. Encorajar contacto entre promotore(a)s para ver como ele(a)s fazem os seus registos.

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Page 27: Metodologia camponês a camponês

Como é feita a avaliação do trabalho do(a) promotor(a)?

A avaliação do trabalho do(a) promotor(a) acontece a vários níveis: • auto-avaliação: o promotor / a promotora faz-se um conjunto de

perguntas e avalia se o seu trabalho contribuiu em alguma coisa na vida da comunidade ou do grupo/associação. Possíveis perguntas são: O seu trabalho ajuda a resolver as necessidades sentidas pela povoação da sua zona? / Como promotor, é possível criar uma boa comunicação entre camponeses? / O seu trabalho não traz problemas ou conflitos dentro da comunidade? / Ė fácil de fazer? / Os camponeses assistidos adoptam e aplicam as técnicas e conhecimentos transmitidos? / Quais são as vantagens ou benefícios que obtém como resultado do trabalho?

• avaliação por parte dos camponeses individuais directamente assistidos pelo promotor. O técnico devia visitar regularmente machambas de camponeses assistidos directamente pelo(a) promotor(a), seleccionadas aleatoriamente. Nestas visitas terá a possibilidade de conversar com eles sobre a qualidade dos serviços prestados pelo(a) promotor(a) e verá os resultados da assistência.

• avaliação por parte da comunidade ou do grupo que beneficia dos serviços do promotor, através de encontros regulares ou palestras organizadas para este fim

• avaliação por parte dos outros promotores da zona, durante as reuniões e os encontros regulares com o técnico ou durante as trocas de experiência realizadas

• avaliação por parte do técnico de ligação, mediante as visitas de assistência regulares à machamba do(a) promotor(a) e durante as reuniões e os encontros regulares com o(a)s promotore(a)s.

A realização de concursos por zonas de assistência pode ser um instrumento para encorajar a competição (salutar) entre promotores em cada localidade, assim como entre comunidades de um distrito para identificar e premiar os que melhor manejam os recursos naturais. Mesmo sendo a capacitação a meta e o verdadeiro beneficio dos participantes, estes concursos incentivam a participação e reconhecem o esforço mediante a entrega de prémios (sementes, alfaias, etc.). A modalidade de avaliação (A que nível é feita? De quanto em quanto tempo? Só oralmente o também por escrito? Quais são as consequências de um desempenho fraco de um promotor?) deve ser

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Page 28: Metodologia camponês a camponês

acordada com a comunidade ou o grupo que beneficia dos serviços do promotor (de preferencia ao introduzir a metodologia na zona) e vai depender sempre do nível de acompanhamento que o técnico de ligação pode garantir. Quais são os incentivos para o promotor / a promotora?

O promotor é um voluntário que presta serviços à comunidade ou grupo/associação. A motivação do(a) promotor(a) vem de ver mudanças nas vidas dos camponeses assistidos por ele(a) e ser um indivíduo respeitado no grupo/associação e na comunidade.

Os camponeses assistidos pelo(a) promotor(a), são os clientes dele(a). Eles vão estar dispostos a apoiar o promotor / a promotora se acharem que os serviços prestados pelo(a) promotor(a) são valiosos para eles e ajudam a melhorar a sua situação.

Tendo em conta que o promotor irá trabalhar em regime voluntariado, é importante distinguir entre meios de trabalho e incentivos. Ambos deverão ser definidos caso a caso e deverão ser acordados com a comunidade ou o grupo em que vai trabalhar o promotor.

Meios de trabalho são aqueles instrumentos que o promotor precisa para o seu trabalho quotidiano. Podem ser: material de papelaria (cadernos ou papel, esferográficas, pastas, etc.), material didáctico (folhetos, manuais, panfletos, etc.), botas, capa de chuva, corda, bicicleta (em caso que o raio que o promotor tem de cobrir para assistir os camponeses na sua zona seja muito grande), etc. Especialmente no caso dos meios de trabalho mais caros (como no caso de uma bicicleta, por exemplo), é importante que sejam entregues em publico e não directamente ao promotor por separado, mas à comunidade ou ao grupo que o promotor vai assistir (mas não para eles usarem, claro) que serão responsáveis de assegurar o uso “correcto” do meio de trabalho por parte do promotor e que terão o direito de tirar o mesmo do promotor em caso que o desempenho dele não seja satisfatório ou em caso que ele usa o meio inadequadamente. No caso ideal os meios de trabalho são fornecidos de forma regular de acordo com as necessidades do promotor pela comunidade ou pelo grupo que se beneficia dos serviços prestados pelo promotor, o que garante a sustentabilidade do sistema.

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Incentivos servem para a motivação do promotor e podem implicar um acompanhamento regular por parte do técnico de ligação, participação em formações e trocas de experiência, possibilidades de promoção, assim como a entrega de bens materiais como forma de reconhecimento pelo bom trabalho feito. Bens que são entregues podem ser: sementes, plantas melhoradas, animais de raça melhorada, bicicleta, alfaias, etc. Também no caso dos incentivos é válido: a sustentabilidade é maior se os incentivos são fornecidos pela comunidade e/ou o grupo assistido.

Nem os meios de trabalho nem os incentivos entregues aos promotores deviam fazer o promotor dependente dum projecto ou programa (seja do Estado ou de parceiros de cooperação): estes nunca deviam ser a motivação dos camponeses para participar na implementação da metodologia Camponês-a-Camponês e trabalhar como promotor e não deviam separar o promotor significativamente da comunidade – isto promove paternalismo e dependência externa. Pelo contrario, os meios de trabalho e os incentivos entregues deviam ser sempre definidos para promoverem a capacidade de auto-sustento do promotor, sustentabilidade do sistema e o uso de recursos localmente disponíveis para a comunidade ou para o grupo. O ideal seria a comparticipação da comunidade ou do grupo assistido pelo promotor. No caso de promotores que estão ligados à associações ou grupos de camponeses, é possível de ter o total dos meios de trabalho e dos incentivos financiados pelo grupo, através de cotas e jóias pagas, ficando o promotor praticamente contratado desse grupo. Meios de trabalho e incentivos serão sempre entregues na base do resultado e duma avaliação positiva do trabalho do(a) promotor(a).

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ASPECTOS CRÍTICOS NA IMPLEMENTAÇÃO DA METODOLOGIA Por ser uma metodologia participativa e uma metodologia suportada pelos próprios camponeses, vai ser difícil o quase impossível ter uma aplicação uniforme da metodologia na Província ou no pais inteiro. Portanto, a aplicação de forma particular e própria de cada zona, a procura de soluções locais e a organização diferente do trabalho devem ser encorajadas e aceites como versões diferentes da metodologia Camponês-a-Camponês. Apenas alguns aspectos chaves para uma aplicação bem sucedida da metodologia Camponês-a-Camponês são os seguintes: • identificar camponeses que estão motivados, tem vontade de

trabalhar, tem capacidade e são aceites pela comunidade e/ou pelo grupo como promotores

• encorajar a participação de mulheres em todos os trabalhos • encorajar mulheres a trabalharem como promotoras, mas sempre

tendo em conta que elas carregam com o peso triple do trabalho na casa, na machamba e como promotoras

• garantir o acompanhamento regular dos promotores pelos técnicos extensionistas das zonas respectivas

• encorajar a avaliação regular do trabalho do(a) promotor(a), por parte dos camponeses, das comunidades e/ou grupos assistidos e por parte do técnico de ligação

• organizar reciclagens e formações regulares de promotore(a)s e técnicos extensionistas

• para a implementação bem sucedida da metodologia Camponês-a-Camponês com promotores como provedores de serviços de extensão, não é suficiente simplesmente estabelecer as estruturas institucionais; a metodologia está baseada na vontade dos camponeses de mudar a sua situação; eles tem de estar conscientes dos seus direitos e capacidades; auto-estima dos camponeses que confiam nas suas capacidades e nos seus colegas é essencial para eles poderem demandar os serviços que eles precisam e serem capacitados por e também capacitar a outros camponeses

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Page 31: Metodologia camponês a camponês

• quanto à sustentabilidade da metodologia, experiências diversas mostram que promotores só oferecem os seus serviços ao longo prazo se são compensados de alguma maneira para o seu trabalho – a pergunta é: quem vai cobrir os custos? No caso dos próprios camponeses assistidos, provavelmente deixará de fora aqueles camponeses mais pobres; no caso de associações, grupos ou clubes de camponeses, só cobrirá os gastos para a assistência dos membros dos mesmos; no caso dos serviços públicos de extensão rural, significaria assumir um compromisso com os promotores que fazem o trabalho de extensionistas auxiliares, mas é de duvidar se teriam os meios financeiros necessários disponíveis; no caso de ONGs ou projectos/programas, a sustentabilidade é nula porque uma vez que o financiamento para, o promotor com muita certeza também vai parar de trabalhar

• montar um sistema de incentivos que promove o auto-sustento do(a) promotor(a), a sustentabilidade e o uso de recursos localmente disponíveis na comunidade, encorajando a comparticipação por parte da comunidade ou dos camponeses assistidos pelo(a) promotor(a)

• promover a reciclagem ou rotação dentro da equipa do(a)s promotore(a)s, no sentido de que um(a) promotor(a) não devia ficar como promotor(a) para sempre, uma vez eleito(a), especialmente não se o trabalho dele(a) não for satisfatório

• outros ...

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Page 32: Metodologia camponês a camponês

As ideias chaves a reter sobre a metodologia CaC:

• o camponês é o principal realizador e actor, ele possui o conhecimento

• o técnico extensionista é só um facilitador do processo

• o camponês aceita fazer ensaios na sua machamba

• o camponês ensina a outros camponeses com exemplos práticos

• começar sempre devagar e não forçar ninguém

• fazer poucos ensaios mas bem feitos

• incluir sempre a mulher em todos os trabalhos

• aprender fazendo com os outros

• apresentar o que temos feito e o que sabemos fazer

• todos sabemos algo ... ninguém sabe tudo

• transmitir informações e conhecimento

• a palavra convence ... o exemplo arrasta

• é melhor uma ideia em 100 pessoas do que 100 ideias em 1 pessoa

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Page 33: Metodologia camponês a camponês

REFERENCIAS

FAO (2000): The group promoter´s resource book, Roma.

GTZ (2005): Reader – Extension Approaches, Eschborn.

Medinaceli, Carlos / Peigné, Alain (1999): Pachamaman Urupa – Guía metodológica para la capacitación de campesino a campesino, Ruralter, Perú.

Mussoi, Eros (2004): Relatório da Consultoria “Metodologias de Extensão” na Província de Sofala, Viena.

PACDIB (2002): Manual de orientação técnica – Metodologia Camponês-a-Camponês, Búzi.

PROMEC (2006): Levantamento sobre a metodologia Camponês-a-Camponês nos distritos de Búzi, Chibabava, Dondo, Machanga e Nhamatanda, Beira.

PROMEC (2006): Encontro sobre o sistema de extensão “Camponês-a-Camponês” no dia 22 de Abril de 2006, Beira.

Weinand, Julia (2002): Farmer-to-Farmer Extension – Opportunities and constraints of reaching poor farmers in Southern Malawi, Universität Hohenheim.

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Page 34: Metodologia camponês a camponês

ANEXOS Abordagem do PROMEC em relação à metodologia CaC Guião sobre o processo de selecção de promotore(a)s Instrumentos de trabalho da metodologia CaC Guião sobre como realizar encontros com promotore(a)s Modelo de ficha de acompanhamento dos camponeses Modelo de ficha de avaliação do desempenho de promotore(a)s

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Page 35: Metodologia camponês a camponês

Abordagem do PROMEC em relação à metodologia CaC Apostamos na metodologia CaC porque é uma metodologia de extensão: de baixo custo, abrangente, que possibilita um aumento no numero de famílias

camponesas assistidas, participativa, com envolvimento das comunidades, e comunicativa, tanto verticalmente (camponeses-promotor e

promotores-extensionista) como horizontalmente (camponês-camponês, promotor-promotor e extensionista-extensionista).

A intervenção do PROMEC nesta área vai complementar a primeira área de intervenção do projecto: fortalecimento de grupos para efectuarem negócios rurais. A meta é de ter no mínimo um promotor por cada grupo/associação/clube de produtores que é membro do grupo e presta serviços aos membros do grupo ou clube de negócios. O promotor será um promotor polivalente que sabe “um pouco de tudo” e poderá garantir uma assistência básica aos membros do grupo nas seguintes 4 áreas: técnicas básicas de produção, CaC, associativismo e agro-negócios. As vantagens de ligar os promotores aos grupos são as seguintes: • vai contribuir ao fortalecimento dos grupos, já que terão assistência

básica garantida • um grupo/associação/clube é um grupo coeso onde os membros

se conhecem, que tem a costume de se reunir regularmente, o que facilita a troca de informações e experiências de camponeses a camponeses, assim como o trabalho do promotor em termos de assistência/formação

• um grupo/associação/clube tem potencial de recolher fundos para fornecer os meios de trabalho ou incentivos para o promotor deles

• a sustentabilidade é maior porque o grupo é fortalecido, os membros são capacitados para demandar os serviços que eles precisam e o trabalho dos promotores pode ser remunerado pelo grupo/associação/clube.

Num primeiro passo vai ser feito um levantamento do potencial e da capacidade dos grupos para determinar, conjuntamente com a DDA, quais vão ser os grupos que doravante vão cooperar com o projecto.

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Page 36: Metodologia camponês a camponês

A ideia é assistir intensivamente um numero menor de grupos, mas ter uma abordagem mais sistemática e abrangente.

Num segundo passo é feita a selecção de um promotor dentro do grupo: se já existe um promotor, pode ser confirmado; se ainda não existe, vai ser eleito um membro do grupo com vontade de exercer o trabalho do promotor.

Num terceiro passo é feita uma planificação ao nível dos grupos e dos promotores que vai servir para: • definir objectivos, visão e estratégias do grupo • definir as tarefas/responsabilidades do promotor (necessidades de

assistência por parte dos membros do grupo) e as tarefas/responsabilidades do grupo

• determinar as necessidades de formação dos membros e lideres do grupo

• determinar as necessidades de formação dos promotores • elaborar um plano de uso e aproveitamento da machamba do

promotor que vai servir como base para a assistência ao promotor, mas também como capacitação do promotor e dos membros do grupo para realizarem planificações similares ao nível das machambas deles com apoio do promotor

• definir como será feita a avaliação do desempenho do promotor • definir como será feito o monitoramento das actividades e do

desenvolvimento do grupo. Observações: • a planificação ao nível dos grupos pode implicar que a

implementação da metodologia CaC será diferente de um grupo para outro

• os promotores ligados a grupos deverão prestar serviços aos membros do grupo em primeiro lugar, mas poderão também assistir a outros membros da comunidade

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Page 37: Metodologia camponês a camponês

Guião sobre o processo de selecção de promotore(a)s (1) Reuniões com lideres tradicionais, comunidades, lideres de

grupos/associações para introduzir o conceito da metodologia CaC

Agenda dos encontros:

a) Propósito do encontro b) Introdução do conceito da Metodologia CaC c) Explicação dos procedimentos para a selecção do promotor

(a) Propósito do encontro

Fazer um historial do trabalho de extensão rural na zona, fazendo alusão ao numero reduzido de camponeses ou famílias assistidas. Dizer por exemplo, quantas pessoas o técnico assiste agora e com este novo método a DDA espera assistir muitos camponeses.

Explicar a necessidade de alargar a cobertura na assistência as famílias camponeses

Explicar as dificuldades da DDA em recursos humanos para garantir uma cobertura efectiva aos camponeses

(b) Introdução do conceito da metodologia CaC

Explicar que a DDA encontrou uma forma mais eficaz de aumentar o número de famílias assistidas mas que para isso conta também com a colaboração de todos lideres tradicionais e a comunidades pois este método de trabalho vai ser feito por pessoas voluntárias que irão trabalhar em benefício da comunidade

Explicar como este método de trabalho funciona na comunidade e como elas se vão beneficiar com este trabalho: conceito da metodologia CaC, vantagens, tarefas do promotor, etc.

(c) Explicação dos procedimentos para a selecção do promotor (2) Selecção do promotor – passos

Reunir a comunidade ou o grupo/associação Explicar como método de trabalho funciona e quais são as

vantagens para a comunidade ou o grupo/associação Explicar quais são as características dum(a) promotor(a) e quais

são as suas tarefas – é preciso explicar que a escolha deve ter em consideração o aspecto de conhecimento, experiência e

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Page 38: Metodologia camponês a camponês

capacidade de transmitir aos outros aquilo que o promotor sabe e é ensinado pelo técnico

Pedir que se apresentem voluntário(a)s que estão interessados a desempenhar o papel de promotor(a)

Proceder à escolha do(a) promotor(a) – em caso de que houverem muitos candidatos e o processo de escolha estiver a ser difícil então optar por votação secreta

Selecção do(a)s promotore(a)s - Deve-se fazer apresentação pública (todos promotores de

pé) e questionar se realmente estes são os promotores que eles escolheram ou não ?

- Insistir e perguntar se todos concordam ou não

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Page 39: Metodologia camponês a camponês

Instrumentos de trabalho da metodologia CaC Possíveis instrumentos de trabalho a serem aplicados na implementação da metodologia Camponês-a-Camponês são os seguintes:

• machamba modelo/escola que demonstra a aplicação bem sucedida de tecnologias e praticas

• ensaios e demonstrações sobre diferentes tecnologias e culturas ou variedades

• realização de encontros locais regulares entre promotores como forma de troca de experiência e conhecimento

• realização de visitas de troca de experiência dentro e fora do distrito e da Província

• organização de dias de campo

• participação em feiras agrícolas

• promoção de encontros/reuniões com os promotores e as populações

• programas de radio que podem incluir entrevistas a camponeses exemplares, camponeses assistidos por promotores, técnicos extensionistas, debates e informação geral sobre as tecnologias e praticas

• produção e distribuição de panfletos, manuais, folhetos e fotos

• documentação de boas experiências e praticas para divulgação a outras zonas

• realização de concursos entre promotores duma zona ou dum distrito ao redor dum tema comum como instrumento de avaliação do trabalho do(a)s promotore(a)s

• e outros ...

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Page 40: Metodologia camponês a camponês

Guião sobre como realizar encontros com promotore(a)s

Reunião quinzenal dos promotores – passos Preparar uma agenda dos pontos a serem discutidos Reunião organizada pelos promotores da zona técnico extensionista é convidado dos promotores

Reunião mensal dos promotores – passos

Preparar uma agenda dos pontos a serem discutidos Reunião organizada pelo técnico extensionista da zona Promotores devem entregar relatório das actividades do

mês anterior Pode servir também para treinar os promotores, discutir

problemas e dificuldades encontradas pelos promotores Deve servir para programação de acções e formação para

mês seguinte De forma geral, o papel do técnico pode ser resumido da seguinte maneira: ● preparar listas de participantes ● organizar o local da reunião de maneira tal que as pessoas se

sintam a vontade e se possam ver uns aos outros ● guiar as discussões (abertura da sessão, conduzir a discussão,

moderar, resumir os argumentos de forma regular) ● formular as perguntas, sondar as opiniões e ouvir dos participantes ● admitir pontos de vista e opiniões de todos os participantes; pedir

aos outros de prestar atenção e ouvir a todos ● estimular ideias criativas ● animara cada um dos participantes a fazer a sua contribuição,

especialmente às mulheres ● procurar métodos práticos para promover e encorajar a

participação das pessoas ● estar atento a como reagem os participantes uns frente a outros ● fazer uma avaliação conjunta do encontro ao final ● fazer um relatório sobre o encontro realizado resumindo os

resultados

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Page 41: Metodologia camponês a camponês

Modelo de ficha de acompanhamento dos camponeses

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Page 42: Metodologia camponês a camponês

Modelo de ficha de avaliação do desempenho de promotore(a)s

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