metedos de trabalho

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UNIVERSIDADE DO PORTO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS DE ABEL SALAZAR MÉTODO E PERCEPÇÃO DE CUIDAR EM ENFERMAGEM JOSÉ DOS SANTOS COSTA Mestrado em Ciências de Enfermagem PORTO, 1999

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Page 1: Metedos de Trabalho

UNIVERSIDADE DO PORTO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS DE ABEL SALAZAR

MÉTODO E PERCEPÇÃO DE CUIDAR EM ENFERMAGEM

JOSÉ DOS SANTOS COSTA

Mestrado em Ciências de Enfermagem

PORTO, 1999

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UNIVERSIDADE DO PORTO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS DE ABEL SALAZAR

MÉTODO E PERCEPÇÃO DE CUIDAR EM ENFERMAGEM

JOSE DOS SANTOS COSTA

Dissertação apresentada para obtenção do Grau de Mestre em Ciências de Enfermagem, sob orientação da Prof. Doutora Marta Lima Basto

PORTO, 1999

Page 3: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

RESUMO

As nossas vivências, no seio da prática e da formação em

enfermagem, relacionadas com a metodologia de trabalho dos enfermeiros

e o cuidar em enfermagem, sempre nos preocuparam. Deste modo, propõe-

se compreender de que forma o método de prestação de cuidados se

relaciona com a percepção do cuidar em enfermagem.

Este trabalho diz respeito a uma investigação, realizada ao longo do

ano de 1999, num hospital do distrito de Viseu, em dois serviços de

internamento em medicina. Pretendeu-se compreender até que ponto o

método de prestação de cuidados corresponde à percepção de cuidar, em

enfermagem. Tomou-se, por um lado, a estrutura do processo de cuidar de

Swanson e a perspectiva de vários modelos teóricos sobre a

conceptualização de enfermagem como disciplina, por outro, os pressupostos

ligados à organização sistemática dos cuidados de Munson e Clinton.

A opção metodológica tem por base pressupostos qualitativos,

tratando-se de um estudo essencialmente descritivo, de carácter

exploratório. Discutem-se os métodos de prestação de cuidados e as

concepções dominantes à prática dos cuidados de enfermagem.

Foram utilizadas como técnicas de recolha de informação a

observação e entrevistas a seis enfermeiros, observação participante,

incidentes críticos e análise documental.

A análise de conteúdo das transcrições das entrevistas e dos

registos da observação participante permitiram identificar os elementos

predominantes da qualidade do método de prestação de cuidados

2

Page 4: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

(totalidade, imputabilidade, coordenação e continuidade) assim como os

factores de influência ligados aos métodos de prestação de cuidados. Os

resultados sugerem que os contextos diferenciados, em termos de

organização sistemática do trabalho, respeitam de forma diferente os

elementos da qualidade ligados ao método de prestação de cuidados, em

parte devido aos factores de influência negativa que os enfermeiros

identificam como o apoio organizacional, recursos de enfermagem, número

de doentes, rotinas e excesso de trabalho.

A percepção do cuidar em enfermagem foi classificada de acordo com

os processos de cuidar de Swanson. Os dados evidenciam que nos serviços

há dois métodos de trabalho e formas de percepcionar o cuidar em

enfermagem distintos.

Conclui-se que existe uma relação entre o método de prestação de

cuidados e a percepção do cuidar em enfermagem, nos contextos

estudados, o que implica a continuação do estudo.

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Page 5: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

ABSTRACT

Our experience, in the fields of nursing practice and education,

related to work distribution caring in nursing have always concerned us. In

this perspective, we propose to understand in what way the method of

taking care is related to the perceptio of nursing care.

This report concerns an investigation done during the year of 1999,

in a district hospital in Viseu, in two medical units. I t aimed at

understanding the possible connection between the method of giving care

and the perception of caring is nursing. On one hand, we considered

Swanson's processes of care and the perspective of several theoretical

models, concerning the nursing conceptualisation, as a discipline. On the

other, the assumptions related to the systematic organisation of care

(Munson and Clinton).

Our methodological option was based on qualitative assumptions. This

is a descriptive study of an explanatory character. The methods of care

taking and the major conceptions of nursing care practice are discussed.

Data collection was done by observing and interviewing six nurses, by

participant observation, critical incident technique and document analylisis.

Content analysis of interview and participant observation field notes

transcripts allowed to identify the predominant quality elements of work

distribution (totality, imputabilty, coordination and continuity) as well as

the influential factors related to nursing care distribution.

4

Page 6: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

The results suggest that the different contexts, in terms of work

systematic organisation, respect, in a different way, the quality elements

related to the taking care method, in part, due to the negative influence

factors that the nurses identify as organisational support, nursing

resources, number of patients, routines and over work. After all this, the

nurses of the internship units give more importance to the percepcion

categories of different caring perspectives.

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Page 7: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

A Isabel, à Patrícia e ao

António José pela ajuda que sempre me deram

6

Page 8: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

AGRADECIMENTO

• Dificilmente o presente trabalho teria sido concretizado sem a solidariedade e o estímulo intelectual que, de diferentes formas, nos foi proporcionado por colegas, professores, amigos e familiares.

• A todos o mais sincero agradecimento.

• Não poderemos deixar de particularizar este reconhecimento aos que mais implicados estiveram neste percurso.

• À Professora Doutora Marta Lima Basto pela sua orientação intelectualmente empenhada e, não menos decisiva, pelo animo transmitido nos momento mais difíceis.

• Ao Professor Doutor Manuel Rodrigues pelo seu apoio na análise dos dados, disponibilidade e ensinamentos.

• Aos enfermeiros dos serviços em que decorreu o trabalho de campo e à administração hospitalar, pela sua colaboração e disponibilidade para viabilizarem a componente empírica deste projecto.

• A todos os professores do I I I Curso de Mestrado em Ciências de Enfermagem, pelo contributo dado à nossa formação

• Aos colegas do I I I Curso de Mestrado em Ciências de Enfermagem, pela forma de cuidar a Família do ICBAS.

• Ao Pedro Engenheiro pela disponibilidade.

7

Page 9: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

SIGLAS

A.V.C. Acidente Vascular Cerebral

b.P.C.O. Doença Pulmonar Crónica Obstrutiva

E.S.E. Escola Superior de Enfermagem

E.U.A. Estados Unidos da América

U.C. Unidades de Cuidados

U.C.I. Unidade de Cuidados Intensivos

N.H.B. Necessidades humanas Básicas

8

Page 10: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

ÍNDICE DE FIGURAS Póg.

Figura- 1 Cronologia das concepções da disciplina de enfermagem

segundo o agrupamento em escolas 54

Figura - 2 Estrutura do cuidar 67

Figura - 3 Esquema das categorias: "métodos de prestação de

cuidados" e "percepção de cuidar", no Serviço M 127

Figura- 4 Esquema das categorias: "métodos de prestação de

cuidados" e "percepção de cuidar", no Serviço J 129

9

Page 11: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

ÍNDICE DE FIGURAS Póg.

Quadro 1 As mudanças nos métodos de prestação de cuidados 21

Quadro 2 Conjunto de factores ligados ao método de prestação de

cuidados 32

Quadro 3 Influência dos métodos de prestação de trabalho

segundo os critérios de Munson e Clinton 33

Quadro 4 Resumo das principais concepções da disciplina de

enfermagem 56

Quadro 5 Processo de cuidar em enfermagem 66

Quadro 6 Distribuição das dimensões, categorias e sub-categorias

emergentes da observação participante e entrevistas 106

Quadro 7 Distribuição das unidades de registo relativas aos

elementos predominantes da qualidade 108

Quadro 8 Distribuição das unidades de registo relativas aos

factores de influência ligados ao método de prestação de

cuidados 116

Quadro 9 Distribuição das unidades de registo relativas à

percepção de cuidar 120

10

Page 12: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

ÍNDICE DE FIGURAS Póg.

Gráfico 1 Elementos da qualidade ligados ao método de prestação

de cuidados 108

Gráfico 2 Factores de influência ligados ao método de prestação

de cuidados 118

Gráfico 3 Categorias da percepção de cuidar em enfermagem 121

li

Page 13: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

ÍNDICE DE FIGURAS Póg.

0- INTRODUÇÃO 14

1- MÉTODOS DE PRESTAÇÃO DE CUIDADOS 20

1.1- Cuidados de enfermagem funcionais 22

1.2-Cuidados de enfermagem individuais 25

1.3-Cuidados de enfermagem por equipa 25

1.4-Cuidados de enfermagem por enfermeiro responsável 28

1.5-Consequências, resultados, efeitos dos cuidados de

enfermagem 29

2- CENTROS DE INTERESSE DOMINANTES DA DISCIPLINA

DE ENFERMAGEM 42

2.1-Centro de interesse dominante para o tratar: um modelo

biomédico 44

2.1-Centro de interesse dominante para o cuidar: um modelo

holístico 50

2.1-0 cuidar como essência da enfermagem 60

3- METODOLOGIA 86

3.1-Caracterização do estudo 86

3.2-Entrada no campo de investigação 88

3.3-Contextos e actores 89

3.4-Procedimentos de recolha de informação 96

3.5-Procedimentos de análise dos dados 100

4- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 105

12

Page 14: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

5- CONCLUSÕES 1 3 6

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 144

5- ANEXOS 1 6 1

5- Anexo 1-Explicitações em relação à observação participante 162

5- Anexo 2-Guia de observação participante durante o processo

de cuidar *°5

5- Anexo 3-Guia da entrevista focalizada 170

13

Page 15: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

0-INTRODUÇAO

A complexidade organizacional das instituições de saúde, decorrente

da especificidade do objecto de intervenção e do elevado número de

actores que participam na consecução dos seus objectivos, exige uma

metodologia de trabalho dos enfermeiros que, tal como refere a alínea f, no

artigo 8o, do Decreto-Lei n° 437/91 de 11 de Novembro, favoreça a

melhoria do nível de desempenho do pessoal de enfermagem e a sua

responsabilização pela garantia da qualidade dos cuidados prestados .

No entanto, verificamos pela nossa própria experiência na orientação

e acompanhamento dos alunos, do Curso de Bacharelato em Enfermagem, em

unidades de cuidados, que este facto não tem merecido a atenção que as

implicações da metodologia de trabalho adoptado, quer na qualidade do

cuidar, quer na qualidade do desempenho profissional dos enfermeiros,

justificaria.

A profissão de enfermagem centrada cada vez mais no cliente,

defensora de uma visão holística, continua a utilizar métodos de

distribuição de trabalho (leia-se método de prestação de cuidados) que

rotinizam as tarefas e fragmentam os cuidados, não permitindo a criação

das condições básicas para o "cuidar" como centro de interesse dominante

da disciplina de enfermagem.

É frequente, ouvirmos, por parte dos enfermeiros, durante a

prestação de cuidados, opiniões e comentários como as que se seguem:

" exigem-nos qualidade sem nos darem condições de trabalho, nem

tempo nem enfermeiros, para que tal aconteça,"

14

Page 16: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

' chegamos ao final do turno e mal conhecemos os doentes"

" nem tempo temos para falar com os doentes, é sempre a despachar"

" fala-se tanto em cuidar, com quê ?"

" foi trabalhar sem parar, parecíamos umas máquinas"

" a prestação de cuidados não corresponde à filosofia da metodologia

de trabalho, não se consegue mudar nada"

Por outro lado, e por parte dos doentes, em relação aos enfermeiros, ouve-

se dizer:

" andam sempre a correr de um lado para o outro"

" nem o conheço, o enfermeiro que aí anda"

"coitados fartam-se de trabalhar"

"os enfermeiros não podem fazer mais, são tão poucos para tantos

doentes e pesados".

Ou seja, é notório, na prática quotidiana, um desfasamento entre o

que é exigido aos enfermeiros e o que lhes é viabilizado, entre o que se

preconiza como desejável e o que se pode atingir.

A conquista da autonomia e a procura de níveis cada vez mais

elevados da qualidade do desempenho profissional e dos cuidados prestados,

aliados aos problemas quotidianos decorrentes da escassez de recursos

humanos e financeiros, têm motivado os enfermeiros para novas concepções

de cuidados de enfermagem assim como novos modelos de prestação de

cuidados.

Assim, a preocupação do enfermeiro em adoptar, ao longo dos anos,

uma intervenção centrada nas necessidades do cliente, deu origem a uma

evolução contínua, a partir da segunda metade do séc. XIX, no método de

prestação de cuidados. Nos anos oitenta foram feitos grandes esforços no

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Page 17: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

sentido de mudar o método de distribuição de trabalho e centrar os

cuidados nos doentes.

Apesar da mencionada evolução, a prática de enfermagem, as

condições específicas de trabalho e a percepção que as pessoas têm do seu

trabalho, variam muito entre unidades de internamento.

No contexto hospitalar, podem considerar-se três tipos de situações,

quanto à forma como os enfermeiros encaram o seu trabalho (Basto,1991):

• Enfermeiras para quem os cuidados de enfermagem são uma série

de tarefas, determinadas pela prescrição e trabalho médico.

• Enfermeiras que se sentem descontentes com os cuidados que

prestam e se esforçam por introduzir mudanças. A sua referência

é o modelo biomédico, mas desejam encontrar formas de mostrar

a importância do papel da enfermeiro.

• Enfermeiras que distinguem claramente as suas actividades

profissionais independentes e as consideram criativas e

científicas. Focam os cuidados no indivíduo e reconhecem os

resultados da interacção enfermeira/doente e do processo de

decisão.

Então, porque é que a melhoria nas condições gerais de trabalho e a

formação não estão aparentemente a produzir melhorias equivalentes na

prática dos cuidados de enfermagem? Podemos abrir a porta a várias

questões. Os conhecimentos e as capacidades adquiridas durante a

formação inicial e permanente estarão a ser utilizados pelos enfermeiros?

A melhoria das condições gerais de trabalho estarão a ser aproveitadas

pelas enfermeiras para melhorar a qualidade dos cuidados? Estará a

organização sistemática do trabalho dos enfermeiros a afectar a qualidade

dos cuidados prestados? Quais os factores que dificultam a melhoria do

desempenho profissional?. É premente a necessidade de estudos que ajudem

16

Page 18: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

a compreender a influência dos factores pessoais, situacionais,

organizacionais e sociais na melhoria do desempenho profissional das

enfermeiros portuguesas.

O estudo que efectuámos pretende ser um contributo para uma

melhor compreensão da relação entre o método de prestação de cuidados

e a percepção dos enfermeiros acerca do que é cuidar em enfermagem.

Para poder decidir que tipo de investigação interessava realizar, foi feita

uma análise de estudos, por agora reduzidos, sobre investigação empírica

dos métodos de organização do trabalho e a sua relação com o cuidar,

evidenciando-se os reflexos desta relação na satisfação dos clientes, na

satisfação no trabalho, na eficácia e custos dos cuidados, bem como, na

falta de autonomia dos enfermeiros (Boekholdt, 1979).

A minha opção por estudar o método de trabalho e a percepção do

enfermeiro no que é o cuidar em enfermagem, em duas unidades de

internamento hospitalar, centrada a nível intrapessoal e interpessoal,

afigura-se oportuno sublinhar, foi concebida e desenvolvida tendo presente

várias razões:

- os estudos que relacionam os métodos de trabalho e a influência

no cuidar têm sido estudados isoladamente não em contextos de

trabalho;

- os estudos que mostram influência dos métodos de trabalho no

cuidar não têm sido suficientes para compreender porque é que

são tão lentas as mudanças de comportamento profissionais e

organizacionais.

- um estudo que parta da realidade poderia trazer algo de novo

sobre os factores intrapessoais, interpessoais e organizacionais,

ao nível do grupo, tendo em atenção que os cuidados não são

prestados isoladamente por cada enfermeiro, mas por equipas;

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Page 19: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

- utilizar os resultados obtidos na formação dos alunos e

profissionais de enfermagem;

- dar subsídios à instituição, onde se desenvolverá o estudo.

Assim, propomo-nos com este trabalho:

- compreender até que ponto a método de organizar o trabalho nas

unidades de internamento corresponde à percepção dos

enfermeiros do que é cuidar em enfermagem;

Concretamente, descrever:

- método de organizar o trabalho

- a percepção dos enfermeiros acerca do cuidar em enfermagem.

- factores que impedem os enfermeiros de prestar os cuidados de

acordo com o que pensam.

A exposição seguinte apresenta-se organizada em duas partes. Na

primeira, fazemos a contextualização da literatura técnica da nossa

problemática para estimular a sensibilidade teórica, como fonte secundária

de dados, para estimular perguntas, dirigir o desenho qualitativo e como

validação suplementar dos dados (Strauss e Corbin, 1990), conscientes de

que um estudo não se deve limitar à obtenção de um conjunto de dados

sobre determinada situação, mas conter concepções e pressupostos teórico

-práticos que constituam uma base de apoio para o trabalho empírico. Assim,

num primeiro ponto abordamos os aspectos inerentes aos métodos de

distribuição de trabalho e as suas consequências, resultados e efeitos dos

cuidados de enfermagem, e num segundo, os centros de interesse

dominantes na disciplina de enfermagem, modelo biomédico e modelo

holístico, bem como a essência da disciplina de enfermagem. Na segunda

18

Page 20: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

parte, é apresentada a informação empírica e desenvolvida a sua

interpretação a partir de procedimentos teórico-analíticos adoptados,

encontrando-se dividida na caracterização do estudo, contextos e actores,

procedimentos de recolha de informação, apresentação, tratamento, análise

dos dados e discussão dos resultados obtidos.

Finalmente apresentamos as conclusões, as quais não tendo a

pretensão de serem definitivas nem generalizáveis, poderão servir de guia

e motivação para novos estudos. Desejável seria que este estudo pudesse

contribuir para a melhoria da qualidade dos cuidados prestados aos doentes.

19

Page 21: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

1-MÉTODOS DE PRESTAÇÃO DE CUIDADOS

A prestação de cuidados insere-se no seio de uma constelação de

fenómenos e acontecimentos. As características da maioria das instituições

de saúde, as estruturas de organização, as múltiplas fontes de poder, os

valores quantitativos centrados na produtividade tornaram-se, com a

marcha do tempo, inadaptados ao crescimento e ao desenvolvimento da

organização dos cuidados de saúde. Numerosos sinais se fizeram sentir. Os

recursos financeiros insuficientes, o pessoal desmotivado e insatisfeito, as

taxas de absentismo e de mobilidade crescentes e o esgotamento do

pessoal que cuida caracterizaram os nossos serviços de saúde custosos, mas

desumanizados, centrados na técnica e na doença. Esqueceu-se a pessoa, o

cliente, a família e o enfermeiro que cuida.

Então, quais são os ambientes que podem promover o respeito e a

dignidade das pessoas, assim como o compromisso e a presença dos

enfermeiros ao lado das pessoas que vivem experiências de saúde? Quais

são os cuidados que favorecem os processos interactivos e terapêuticos

dirigidos a manter, recuperar e promover a saúde? Quais são os métodos

de prestação de cuidados que, ao mesmo tempo, podem assegurar a melhoria

da qualidade do cuidado e a vitalidade da organização?

A conquista da autonomia e a procura de níveis cada vez mais

elevados da qualidade do desempenho profissional e dos cuidados prestados,

aliados aos problemas quotidianos decorrentes da escassez de recursos

humanos e financeiros, afectam os enfermeiros de todo o mundo e têm-nas

motivado para a exploração de vias alternativas, onde surgem novas

20

Page 22: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

concepções de cuidados de enfermagem e de novos modelos de organização

da prestação dos mesmos cuidados. Esta preocupação tem-se manifestado

ao longo dos anos, dando origem a uma evolução contínua, a partir da

segunda metade do séc. XIX, como se pode verificar resumidamente no

quadro seguinte (Quadro 1). Os modelos tradicionais de organização de

cuidados de enfermagem foram-se enriquecendo com novas concepções

orientadas para a pessoa.

Quadro 1 - As mudanças nos métodos de prestação de cuidados

1860 => cuidados = trabalho

( sem formação )

=> cuidados funcionais

1865/1930 => cuidado = ofício => cuidados individualizados

1930/1960 => cuidados = ofício reconhecido

(formação obrigatória )

=> cuidados centrados sobre o doente

( sistema de quartos )

1960/1990 => cuidados = profissão

(desenvolvimento da profissão )

=> cuidados em equipe

( sistema misto )

1990/2000 => cuidados = Profissão autónoma

(nova concepção dos cuidados )

=> cuidados com enfermeiro de referência

( responsabilidade completa )

Fonte: Muggier, Elisabeth. " Primary Nursing ". Soins Inf irmiers, Krankenplege 2 / 92,11.

E que, a boa prestação de cuidados implica uma componente de

humanização - não é a pura satisfação de um direito formal; à competência

técnica deve assoàar-se o cuidado humano (componente moral) e o cuidado

social (Jorge e Simões,1995). Estaremos, assim, segundo os mesmos

autores, a enveredar, objectivamente, por uma qualidade global " conjunto

de actividades em prática, para favorecer e manter um elevado nível de

excelência, resultante da interacção entre humanização (qualidade humana

21

Page 23: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

no relacionamento e atendimento) e excelência técnica (qualidade e

segurança na prestação de cuidados)"(p.291). Os parâmetros quantitativos

conhecidos como carga de trabalho, a determinação dos efectivos, o rácio

custo - eficácia tornaram-se insuficientes para conseguir estes objectivos,

em alguns modelos de prestação de cuidados de enfermagem. Destes, como

sejam, o método funcional, individual, em equipa e por enfermeiro

responsável, caracterizá-los-emos seguidamente.

1 . 1 - Cuidados de enfermagem funcionais

Consistem num modo de organização em que o processo global de

trabalho é parcelarizado em tarefas, e em que cada trabalhador é

responsabilizado pela concretização de parte dessas tarefas, que estão

previamente definidas e padronizadas quanto à sua sequência e execução

(Lopes, 1995). É uma estrutura de tarefas que requer a execução repetida

de actividades simples com vários clientes e um desempenho rápido e

eficiente de acções de enfermagem (puras técnicas) (Boekholdt, 1979). O

princípio taylorista da parcelização das diferentes actividades

comportadas pelo trabalho de enfermagem é, assim, o valor central de

estruturação deste modelo. As "missões" são divididas entre os membros da

equipa de acordo com a descrição da tarefa e quantidade de trabalho a

realizar durante o turno (Kron e Gray, 1989). Logo, a divisão do trabalho

origina que cada membro da equipa esteja mais afecto a tarefas do que a

doentes o que torna vulgar a fragmentação dos cuidados (Pinheiro, 1994). O

ênfase é "fazer com que seja feito", levando a enfermagem funcional a ser

descrita como método de atendimento tipo "linha de montagem" (Kron e

Gray, 1989) no qual, o enfermeiro não é directamente responsável pela

concretização de um processo de trabalho, mas tão somente pela

22

Page 24: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

concretização de tarefas atomizadas, que lhe requerem, no essencial,

competências de natureza executiva (Lopes,1995). Esta atomização é visível

na própria gíria profissional utilizada pelos enfermeiros quando descrevem

os seus acios de trabalho: «fazer as higienes», «preparar a medicação»,

«fazer a mudança dos soros», «fazer as mudanças de terapêutica», «fazer

os pensos», etc. Tem como consequência reduzir e ocultar os espaços de

indeterminação do trabalho de enfermagem. E que, apesar desses espaços

estarem presentes, isto é, apesar do trabalho dos enfermeiros requerer,

níveis de interpretação e decisão dos enfermeiros que vão além da

execução das tarefas que lhe foram distribuídas, essa dimensão não é

objectivamente valorizada como trabalho (Lopes, 1995).

O enfermeiro "prestador de cuidados" somente presta informação

sobre a particularidade de um tratamento, isto é, a complexidade do

trabalho restringe-se, neste método, às competências gestuais de

execução, de maior ou menor tecnicalidade. A tecnicalidade é muito mais

importante do que a interacção com o cliente (Boekholdt, 1979). Não é

potenciado, portanto, o trabalho de natureza analítica e interpretativa. E

neste sentido, que este modelo de organização de trabalho não é gerador de

condições que tornem pertinentes novas competências.

A distribuição da tarefa pode não envolver a situação clínica do

cliente nem a experiência ou a capacidade do enfermeiro que realiza o

atendimento, indo de encontro ao que Chauvenet (1972) designa de

"confusão de tarefas", já que a sua forma de parcelização não corresponde

a nenhuma especialização. Tornando-se, portanto, impossível a atribuição de

responsabilidades (como, por exemplo, erros e omissão de cuidados), uma

vez que o nível de imputabilidade é extremamente baixo (Munson e Clinton,

1979 ).

23

Page 25: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Trata-se de um modelo no qual a concretização das tarefas assume a

finalidade primordial do trabalho de cada enfermeiro. Parte-se das tarefas

para padronizar as necessidades dos doentes e não dos doentes para a

definição das tarefas. O doente, esse, torna-se tão somente o «lugar» em

que são realizadas as tarefas (Lopes,1995). Desloca-se o doente do centro,

da atenção, para a periferia. O doente é evocado como o centro do seu

trabalho, pelos enfermeiros, mas objectivamente, cada enfermeiro no final

do turno não tem a percepção de ter cuidado um dado número de doentes,

mas sim de ter feito, «várias picadas», «várias alterações de medicação»,

etc..

As prescrições médicas e os procedimentos necessários à execução

dessas prescrições, juntamente com a administração de cuidados físicos de

rotina, recebem a prioridade (Kron e Gray, 1989). Por isso, os clientes

sentem muitas vezes uma diminuição de interesse humano durante a sua

estada no hospital (Boekholdt, 1979).

Os cuidados resultam económicos e podem ser aplicados em unidades

de cuidados muito diferentes, tanto em contexto, como quanto às

características dos clientes e gravidade da sua situação. Tem sido, no

entanto, um método muitas vezes rejeitado por provocar a fragmentação

dos cuidados (Pinheiro, 1994).

E o enfermeiro chefe que detém a autoridade, é ele que "puxa

todos os cordelinhos" (Boekholdt, 1979). Assim, este modelo está associado

a um tipo específico de autoridade, que se insere na categoria designada por

Coser (1991) como "estrutura fechada", e que se caracteriza pela

centralidade conferida à chefia de enfermagem na coordenação do

trabalho e na tomada de decisões.

24

Page 26: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

1.2 - Cuidados de enfermagem individuais

Baseiam-se no conceito de cuidado global e implicam afectação de um

enfermeiro a um único cliente ou mais do que um, se a "carga de trabalho" o

permitir (Pinheiro, 1994).0 atendimento não é fragmentado durante o

tempo em que o enfermeiro está de serviço. A totalidade dos cuidados é

prestada pela enfermeira afecta ao doente, embora não possa ser

coordenado de um turno para o outro, ou de um dia para o outro, por

ocorrerem alterações nas designações das tarefas e porque o número de

doentes atendidos por um enfermeiro pode variar (Kron e Gray, 1989). A

organização global dos cuidados em face das necessidades de um doente

depende da propensão do enfermeiro em privilegiar o doente ou a tarefa e

a avaliação dos resultados assenta principalmente nos objectivos visados e

no tempo disponível (Pinheiro, 1994). A responsabilidade de todos os

cuidados é de um enfermeiro em particular, que avalia e coordena os

cuidados (Kron e Gray, 1989), embora haja quem precise que a

responsabilidade última é do enfermeiro responsável pela unidade (Marriner

e Tomey, 1988). Segundo Pinheiro (1994), o enfermeiro chefe é responsável,

principalmente, pela supervisão e avaliação dos cuidados, e mantém um certo

poder decisório em todas as etapas do processo.

1.3 - Cuidados de enfermagem em equipa

Foi criada com o objectivo de reunir pequenas parcelas de

conhecimentos e informações num todo (Kron e Gray, 1989), onde a

assistência é minuciosamente guiada e supervisionada por um enfermeiro

que é líder (Humphris, 1988). Payne (1982) afirmou que se conseguirmos

pessoas para trabalharem juntas, elas criarão mais do que alguma vez

25

Page 27: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

conseguiriam se trabalhassem sós. Como escreveu Dingwall (1980), a equipa

pode ser definida como um meio para a acção concertada. Ou seja, refere

Koerner, Cohen e Armstrong (1986), trabalhar em colaboração é o respeito

mútuo pelas dificuldades e um sentido de responsabilidade compartilhado

para completar o trabalho que os juntou; desenvolver um caminho de

cooperação que dê aos enfermeiros uma tarefa mais completa, com mais

responsabilidades no seu trabalho; é torná-los mais aptos para interagir com

os clientes.

A assistência é centrada no cliente e implementada por reuniões

diárias de equipa, nas quais todos discutem as necessidades de cada cliente

e imaginam maneiras de atendê-las (Kron e Gray, 1989). Os cuidados

passam, sem cessar, da fragmentação à continuidade. Assenta nos

pressupostos de que todo o cliente tem o direito de receber o melhor

atendimento possível com a equipa; é fundamental o planeamento de

cuidados; todo o pessoal de enfermagem tem o direito de receber ajuda

para fazer o seu trabalho; um grupo de responsáveis pelos cuidados, sob a

liderança de um enfermeiro, pode proporcionar o melhor atendimento aos

clientes do que trabalhando individualmente (Kron e Gray, 1989).

O líder de equipa, responsável interno, normalmente é designado de

entre os enfermeiros com maior categoria, maior antiguidade no serviço, e

que embora não corresponda a nenhuma categoria oficialmente

estabelecida, é uma distinção internamente reconhecida e valorizada, que se

traduz num relativo acréscimo de autoridade técnica e social na gestão das

situações de trabalho (Lopes, 1994). Cabe-lhe, por exemplo, planificar a

distribuição dos cuidados, afectando os clientes aos diversos membros da

equipa, segundo as suas competências, sendo os cuidados concebidos para

optimizar as competências do pessoal em todos os níveis hierárquicos e

assegurar a sua rentabilidade (Pinheiro, 1994); tomar decisões face a

26

Page 28: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

discordâncias de ordem técnica ou organizacional que ocorram entre os

enfermeiros da sua equipa perante uma situação concreta; ou fazer face à

coordenação do trabalho de enfermagem nas situações de emergência.

O líder da equipa tem a responsabilidade dos cuidados, assumindo

primordial importância o desenvolvimento das suas capacidades de

liderança, controlo e técnicas de supervisão, por forma a ajudar a equipa a

conhecer as suas obrigações e a executá-las com o melhor da sua

capacidade. Para isso, deve manter-se o plano de cuidados actualizado,

proporcionando um meio de comunicação necessário à continuidade da

assistência bem como fornecer elementos ao líder da equipa, que lhe

permitam supervisionar e seleccionar os conteúdos a ensinar aos membros

da equipa (Kron e Gray, 1989).Os enfermeiros que são confrontados com

os problemas dos clientes podem trazê-los para os outros membros da

equipa, para serem discutidos e solucionados (Boekholdt, 1979).

O enfermeiro chefe delega funções, de modo criterioso, mantendo

alguma sob a sua responsabilidade e que afectam muito o funcionamento da

enfermagem, tais como: determinar os padrões de desempenho esperados

no pessoal de enfermagem; ajudar os membros da equipa a concretizar os

objectivos da unidade de cuidados; dar ao líder da equipa oportunidade e

auxílio para o desenvolvimento da sua capacidade de liderança / controlo;

integrar novos enfermeiros no funcionamento da enfermagem em equipa;

motivar os enfermeiros para a melhoria dos cuidados; manter abertos os

canais de comunicação com todos os membros da equipa (Kron e Gray,

1989).

O poder decisório está descentralizado. Revela-se sob este modelo

uma estrutura de autoridade correspondente à classificação utilizada por

Coser (1991) de "autoridade flexível". De facto, não obstante manter-se

uma hierarquia de autoridade, esta é sucessivamente delegada a escalões

27

Page 29: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

intermédios e de base, descentralizando-a sua concentração da figura da

chefia de enfermagem, o que configura uma relativa autonomia de cada

enfermeiro.

1.4 - Cuidados de enfermagem por enfermeiro responsável

Designados na forma original por "Primary Nursing" (Manthey, 1968

citado por Castledine) respeitam o conceito de cuidados individualizados.

Cada cliente está associado com um enfermeiro primário que possui

responsabilidade e é responsável pelos cuidados totais, vinte e quatro

horas por dia, durante todo o internamento. Assim, a enfermagem primária

garante por si própria a avaliação da performance individual, a mensuração

do desempenho, a avaliação individual dos efeitos dos cuidados e a

responsabilidade que é fixa (Pearson, 1988).

O principal objectivo é a humanização dos cuidados e a principal

característica distintiva face a todas as outras, é a descentralização das

tomadas de decisão, o que implica o reconhecimento, por parte da

administração, do direito das enfermeiras que prestam cuidados, de

tomarem as decisões necessárias para assegurarem a qualidade (Dionne;

Moussette; Serralheiro; Struelens-Galant, 1987). A "nova enfermagem"

(Salvage, 1990) demonstra o valor, essencialmente da prática de

enfermagem, em termos dos seus efeitos nos resultados dos clientes.

A decisão está descentralizada, mas a responsabilidade só pode ser

assumida pelo enfermeiro verdadeiramente preparado para a tomada de

decisão (Pinheiro, 1994), devendo o enfermeiro chefe desenvolver um

padrão de cuidados que permita aos enfermeiros assumir uma

responsabilidade mais personalizada, cuidando menos clientes, dispensando-

Ihes cuidados mais coordenados (Castledine, 1988).

28

Page 30: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

O foco de enfermagem é o cliente pretendendo-se que receba

cuidados individualizados de alta qualidade, nos quais participem tão

activamente, quanto possível (Pinheiro, 1994). Para isso, fica a cargo de um

único enfermeiro qualificado e sob a sua responsabilidade permanente,

idealmente desde a admissão até à alta, vinte e quatro horas por dia e sete

dias por semana. Mas como este enfermeiro, designado por «enfermeiro de

referência», não pode evidentemente estar sempre de serviço, trabalha em

associação com outros que o substituem nas suas ausências, «os

enfermeiros associados», que deverão ser os mesmos de cada vez.

Normalmente, a cada enfermeiro de referência são entregues três ou

quatro clientes, cabendo-lhes a responsabilidade de efectuar a colheita de

dados, o diagnóstico e a planificação dos cuidados; assegurar a sua

continuidade através da elaboração de planos escritos; planear a alta

(ensino ao cliente e à família e encaminhamento apropriado) desde o

momento de admissão; prestar cuidados durante o seu turno de trabalho;

transmitir aos seus enfermeiros associados toda a informação pertinente,

pela leitura nas «notas de enfermagem» respeitantes a cada cliente, no final

do turno, e avaliar todas as intervenções de enfermagem realizadas. Para

além de coordenar o trabalho dos seus associados, deve coordenar também

as diversas actividades de outros intervenientes da equipa de saúde, não só

para evitar duplicações e excessiva solicitação do cliente, mas também para

assegurar a continuidade do plano global de cuidados de saúde.

1.5 - Consequências, resultados, efeitos dos cuidados de

enfermagem

Os modelos de prestação de cuidados de enfermagem individuais,

funcionais, em equipe e por enfermeiro responsável (de referência,

29

Page 31: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

enfermagem primária) - foram analisados por alguns autores (Sandu,

Duquette, Kerouac, 1991), a partir duma exploração manual e informatizada

de documentos teóricos e empíricos publicados, na sua maioria, durante a

década de oitenta, a partir do quadro conceptual de Munson e Clinton

(1979), o qual assenta em dois pressupostos:

- um conjunto específico de condições tais como: os tipos de doentes,

os recursos em enfermagem e as modalidades de apoio

organizacional, tem consequências sobre o método de prestação de

cuidados, numa dada unidade;

- um dado método de prestação de cuidados influencia a maneira de

prestar os cuidados no que respeita à qualidade, o que afectará

consideravelmente os resultados.

Estes autores analisaram não só os factores de influência ligados aos

métodos de prestação de cuidados próprios de cada método (as

características dos doentes, recursos em pessoal de enfermagem e apoio

organizacional) mas também os quatro elementos predominantes da

qualidade ligados à organização sistemática dos cuidados- totalidade,

imputabilidade, continuidade e coordenação - definidos por Munson <&

Clinton (1979) e esquematizados no Quadro 2.

A "totalidade" implica que seja incluída tanto a apreciação das

necessidades do cliente, como a planificação, execução e controle dos

cuidados. A "continuidade" pressupõe a prestação de cuidados de maneira

ininterrupta. A "imputabilidade" significa que os cuidados prestados são da

responsabilidade de um enfermeiro em particular. A "coordenação" é a

actividade que permite, em colaboração com outros profissionais de saúde,

integrar os cuidados de enfermagem prestados, no conjunto do plano global

de cuidados de saúde. Podemos constatar, então, que existe uma diferença

30

Page 32: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar cm Enfermagem

fortemente visível, expressa em qualidade, nos diferentes métodos de

prestação de cuidados(Quadro 3).

Como é evidente esta qualidade dos cuidados tem reflexos na

satisfação dos clientes , na satisfação do trabalho, na eficácia e custos dos

cuidados sendo, muitas das vezes, o reflexo da falta de autonomia dos

enfermeiros bem como do seu afastamento das estruturas organizativas.

A satisfação dos clientes, em função do método de prestação de

cuidados, é indiscutivelmente o resultado calculado mais frequentemente,

em particular na literatura dos E.U.A. Daefller (1975) concluiu que os

clientes tratados segundo o método de enfermagem primária mostravam

uma maior satisfação com o tratamento e notavam menos falhas no mesmo.

Marram et ai (1976) encontrou mais aspectos positivos expressos por

doentes tratados em enfermarias de enfermagem primária. Num outro

estudo feito por Amendoeira (1994) com docentes de uma escola superior

de enfermagem, estes atribuem claramente ao método de prestação de

cuidados por enfermeiro responsável, o que reúne as características que

lhes permite fazer do ensino clínico um local onde os alunos aprendem

enfermagem, por excelência. Isto por permitir a continuidade de cuidados

ao cliente, tanto na presença de alunos, como na sua ausência, e o processo

de cuidar ter como centro o cliente. Contudo, a maioria dos estudos não

encontrou diferenças significativas na satisfação entre os clientes tratados

em enfermarias de enfermagem primária e aqueles tratados segundo

diferentes regimes organizacionais, normalmente em enfermagem em equipa

(Blair et ai 1982; Chavigny e Lewis, 1984; Jones, 1975; Roberts, 1980;

Shukla e Turner, 1984; Ventura et al, 1982; Fairbanks, 1981).

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Page 33: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

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Page 35: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Relativamente à literatura do Reino Unido, foram feitos três estudos

que utilizaram a satisfação dos clientes como uma medida de decisão para

avaliação da enfermagem primária. Em primeiro lugar, Pearson et ai. (1988)

mediram a satisfação dos clientes utilizando uma " lista de verificação de

serviço aos clientes". As dimensões conceptuais, não foram apresentadas.

Contudo, utilizando este instrumento Pearson e outros, descobriram uma

menor variação entre os resultados dos clientes tratados segundo a

modalidade de enfermagem primária, bem como um significativo aumento do

resultado médio para a enfermagem primária. A satisfação dos clientes, sob

um sistema de enfermagem primária, comparada com a dos clientes de uma

enfermaria que pretende pôr em prática uma enfermagem de equipa, foi

observado num estudo feito por Bond e outros (1990). Os resultados

mostraram uma preferência pelas enfermarias de enfermagem primária,

com os clientes mais dispostos a expressar aspectos positivos sobre os seus

cuidados e sobre os enfermeiros e menos dispostos do que os clientes

tratados por enfermagem de equipa a expressarem sentimentos negativos.

Shukla e Turner (1984) não encontraram diferenças significativas entre as

unidades de enfermagem primária e as enfermarias com a metodologia de

enfermagem em equipa tendo em conta as negligências no cuidado,

observadas pelos clientes. Isto está em contraste com o resultado de

Daeff 1er (1995) que expressa maiores falhas no tratamento dos clientes

através da enfermagem em equipa.

Numa unidade de tratamento Wilson e Dawson (1989) utilizaram

instrumentos para medir o bem-estar, numa comparação entre a

enfermagem primária e a de equipa. Não foram encontradas diferenças

significativas na vitalidade (Reid e Zeigler, 1980 ) ou no controlo pessoal

(Reid e Zeigler, 1979), mas foi encontrada uma redução da agitação como

mostra a Escala de Tranquilidade-Agitação (Morris e Sherwood, 1975) no

34

Page 36: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

seguimento da introdução de enfermagem primária numa unidade. Hegedus

(1987), usando as escalas de pontuação de stress do Hospital de Volicer

(Volicer, 1973), encontrou uma diferença significativa nos resultados de

stress médio entre clientes de grupos de enfermagem primária e grupos de

comparação, e também nos resultados do primeiro grupo de clientes

tratados na enfermaria, antes e depois da implementação da enfermagem

primária. Blair e outros (1982), por outro lado, utilizaram a ansiedade dos

clientes como uma medida de resultado, quando investigaram o efeito da

enfermagem primária nos clientes de acidentes e de emergência usando o

Inventário da Ansiedade Estado- Característica (Spielberger e Diag-

Guerrero, 1976). Verificou-se uma descida significativa do nível de

ansiedade no grupo de enfermagem primária.

A duração da estadia foi utilizada, também, como medida de

resultados. Numa amostra de clientes de transplantes renais, Jones ( 1975)

descobriu que os clientes tratados segundo o método de enfermagem

primária, tiveram uma estadia mais pequena quando comparada com a dos

clientes tratados de acordo com o método de enfermagem funcional.

Semelhantemente, McCausIaud e outros (1988) constataram uma descida

significativa na duração da estadia de clientes da psiquiatria, no seguimento

da implementação da enfermagem primária. No entanto, segundo Pearson et

ai, (1988), o tempo total de estadia dos clientes no hospital não é

significativamente diferente entre os diversos métodos de prestação de

cuidados, embora o número de mortes fosse menor nas enfermarias com

enfermagem primária.

Alguns estudos utilizaram o número de complicações dos clientes

como uma forma de medição da efectividade da enfermagem primária.

Chavigny e Lewis (1984) não encontraram diferenças no número quer de

infecções nosocomiais quer de episódios nocivos (ex. acidentes ou queixas)

35

Page 37: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

em clientes tratados segundo um sistema de enfermagem primária, em

oposição aos tratados pela enfermagem em equipa. Contudo, Jones (1975),

descobriu que a cirurgia de transplantes beneficiava com a enfermagem

primária, em detrimento da enfermagem em equipa.

Tendo em conta a dependência, Pearson et ai (1988) concluíram que

os clientes do grupo da enfermagem primária estavam mais aptos a

desempenhar as actividades do dia a dia, do que os clientes na enfermagem

funcional e de equipa que tiveram alta, mas as taxas de satisfação de vida

não apresentavam diferenças nos vários métodos de trabalho.

O resultado utilizado mais frequentemente para avaliar o efeito dos

vários métodos de prestação de cuidados no pessoal é a satisfação no

trabalho. Giovannetti (1980 ) e Betz(1981) verificaram que a satisfação no

trabalho era maior na enfermagem em equipa do que na enfermagem

primária. Contrariamente, Blair et ai (1982), Blenkarn et ai (1988), Sellick

et ai (1983) e Roberts (1980) concluíram que a satisfação no trabalho era

maior nas enfermarias de enfermagem primária. Já Brock e O'Sullivan

(1988) descobriram que a satisfação dos enfermeiros era maior nas

enfermarias de enfermagem primária e em equipa, e era menor nas

unidades de enfermagem funcional, contrastando com Chavigny e Lewis

(1984), Wilson e Dawson (1989) e Alexander et ai (1981) que não

descobriram diferenças significativas na satisfação de trabalho dos

enfermeiros nos diversos métodos de prestação de cuidados. Parasuraman

et ai ( 1982) não encontraram diferenças significativas na satisfação no

trabalho ou outras atitudes de trabalho, com a excepção do sentir stress,

que era maior nas unidades de enfermagem primária. Manley ( 1989) utilizou

o questionário de satisfação no trabalho ( Munford, 1986) para comparar a

satisfação de um grupo numa enfermaria com enfermagem individual e

outra com enfermagem primária. Não foram encontradas diferenças

36

Page 38: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

significativas, com excepção na "iniciativa" que era maior na enfermagem

primária. Manley defende que a falta de conclusões significativas e

substanciais, pode dever-se à semelhança entre o cuidado da enfermagem

individual e a enfermagem primária.

Alexander et ai (1981) concluíram, com o seu estudo, que a satisfação

do trabalhador é determinada por uma variedade de características

individuais assim como organizacionais e de trabalho. Carvalho (1996) no

seu estudo sobre "A Enfermagem e o Humanismo" aponta vários factores

que condicionam o grau de satisfação dos enfermeiros na prestação de

cuidados de saúde, como sejam, factores humanos, institucionais e

materiais. O método de organização de cuidados de enfermagem,

aparentemente, segundo o mesmo autor, não é suficiente para ter uma

influência directa na sua satisfação.

Mancini (1990) encontrou mais satisfação no trabalho em enfermeiros

que desempenham a sua profissão em hospitais com um sistema governativo

partilhado do que, num lugar, em que o sistema de governação partilhado não

existe, recomendando Kanter (1993), o alargamento da autoridade formal

através de mecanismos como a governação partilhada, a descentralização e

unidades de trabalho autónomas, uma vez que, a concessão de poderes e um

controlo sobre a prática em conjunto contribuem tanto para a satisfação no

trabalho como para a eficácia. Segundo Bond et ai (1990) os enfermeiros

das unidades de enfermagem primária conseguem uma maior satisfação no

seu trabalho do que os seus colegas da enfermagem em equipa, e atribuiu

isto, por exemplo, a uma maior delegação de responsabilidade, uma maior

autonomia, uma definição mais clara e consistente da sua função e

relacionamentos mais próximos com os clientes e suas famílias. Kanter

(1993) defende que as pessoas só alcançam os objectivos organizacionais se

os ambientes de trabalho estiverem estruturados de forma a

37

Page 39: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

providenciarem acesso à concessão do poder, à informação, ao suporte

(auxílio) e aos recursos (meios) necessários para realizar um trabalho,

assim como o acesso à oportunidade para crescer e aprender. No entanto,

foram descobertas, posteriormente, na literatura dos E.U.A., outras

medidas de resultados para o pessoal de enfermagem. Em primeiro lugar

Babington (1986) utilizou o conceito de complicação do trabalho, definido

como o grau que as pessoas identificam psicologicamente com os seus

empregos e com a importância do desempenho no trabalho para a auto-

estima da pessoa, para comparar o pessoal de enfermagem em unidades de

enfermagem primária e de equipa. Não foram encontradas diferenças

significativas. Wilson <& Dawson (1989) também não encontraram

diferenças nos pedidos de transferência de pessoal, de acordo com o

método organizacional que estava em funcionamento, enquanto que Betz

(1981) descobriu maiores taxas de mudança na enfermagem primária.

Alexander et ai (1981) descobriram que as taxas de demissão eram mais

baixas na enfermagem primária do que nas unidades de equipa ou funcionais.

O terceiro resultado inclui o absentismo e a doença, e é utilizado por

Wilson e Dawson ( 1989); Chavigny e Lewis (1984); Alexander étal (1981).

Segundo este autor, as taxas de absentismo eram mais baixas na

enfermagem primária, em comparação com as unidades de equipa ou

funcionais. Wilson e Dawson (1989), não encontraram diferença em termos

de absentismo. Todavia, Chavigny e Lewis (1984), descobriram uma subida

significativa da doença no grupo dos enfermeiros da enfermagem primária.

O mesmo não aconteceu com Boekholdt (1979) que encontrou menos doença

e absentismo na enfermagem em equipa do que na enfermagem funcional.

No mesmo estudo realizado por Boekholdt (1979) em que foi implantada a

enfermagem em equipa em detrimento da enfermagem funcional, os

enfermeiros estavam mais satisfeitos com o seu ambiente de trabalho

38

Page 40: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

porque sentiam que tinham mais responsabilidade e que eram mais

importantes, tinham mais delegação de competências e autonomia, uma

divisão de influências mais uniforme, um maior contacto com os colegas e os

doentes estavam mais satisfeitos com o contacto proporcionado pelos

enfermeiros. Tal como refere Colgrove (1992), a autonomia no trabalho tem

um efeito directo na forma como os clientes experienciam os cuidados que

lhes são prestados pelo pessoal de enfermagem. Os enfermeiros sentem que

a concessão de poderes decisórios no trabalho lhes confere mais hipótese

de efectuar um cuidado mais eficiente e eficaz (Laschinger e Havens,

1996). Não sendo de estranhar que as co-relações fortes entre a concessão

de poderes no trabalho e o controle sobre a prática de enfermagem

sugiram que, ao contrário do que muitos autores pensam, a autonomia no

trabalho é um factor importante no trabalho de enfermagem. A falta de

autonomia é identificada frequentemente como uma razão proeminente

porque os enfermeiros abandonam a profissão (Laschinger e Havens, 1996).

Por isso, a concessão de poderes no trabalho foi distinguida fortemente,

estando relacionada de uma forma positiva às percepções de controle sobre

a prática de enfermagem o mesmo acontecendo sobre a satisfação e a

eficácia no trabalho (Laschinger e Havens, 1996). White (1995) encontrou

uma relação forte e positiva entre a concessão de poderes (autonomia)

distinguidos no trabalho e a satisfação no mesmo. A falta de autoridade

para actuar sobre um julgamento e conhecimento próprio é oferecido

frequentemente como uma explicação para relatar a insatisfação no seio dos

enfermeiros (Bond e Thomas, 1991)

O custo foi também estudado como medida de resultado. Wilson e

Dawson (1989) e Chavigny e Lewis (1984), não encontraram diferenças nos

custos das horas de enfermagem entre as unidades de enfermagem primária

e de equipa. Isto não é de estranhar dado que os custos de pessoal, que

39

Page 41: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

explicam a maioria de despesas, são muitas vezes fixos e limitados no

dinheiro, independentemente dos pedidos dos clientes ou dos modos de

organização (Bond eThomas, 1991). Mais do que os custos, o consumo de

recursos baseado nos clientes foi utilizado como medida de resultados. Para

Jones (1975) o custo diário por cliente é mais baixo, na enfermagem

primária, em virtude de um menor tempo de internamento. Marram et ai

(1976), do mesmo modo, descobriram que as unidades de enfermagem

primária funcionavam com um custo mais baixo por cama do que a unidade de

enfermagem em equipa, quando eram combinados os custos da "operação" e

dos salários. O mesmo conclui Wolf et ai ( 1986), quando agruparam os

clientes de acordo com o grupo relacionado de diagnóstico.

A reflexão sobre os diferentes métodos de prestação de cuidados

permite-nos concluir que:

• quanto à qualidade, a prestação de cuidados de enfermagem totais,

contínuos, coordenados e imputáveis, depende do método de

prestação escolhido. Passa-se o mesmo com a centralização ou

descentralização do poder de decisão, que é ainda influenciado pela

filosofia da organização, pelos recursos disponíveis e pelo estilo de

liderança dos gestores de enfermagem;

• quanto à organização propriamente dita, qualquer dos métodos tem

vantagens e inconvenientes, facto que nos deve levar a reflectir

sobre os efeitos da utilização dos diversos métodos, a fim de se

equacionar a qualidade dos cuidados, os custos, a satisfação do

clientes, a satisfação no trabalho e as vantagens de ordem

interaccional e social, que daí derivam.

Importa, essencialmente, não tomar como adquirido que um modo

particular de cuidar ou de organizar a prestação dos cuidados de

40

Page 42: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

enfermagem, tem uma relação inevitável com a qualidade dos mesmos ou com

o nível de desempenho profissional.

Page 43: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

2- CENTROS DE INTERESSE DOMINANTES DA DISCIPLINA

DE ENFERMAGEM

As disciplinas que estão mais relacionadas com a disciplina de

enfermagem são as da saúde ( medicina, farmácia, biologia, etc. ...) e as que

oferecem um serviço no contexto da saúde, como o serviço social e a

psicologia. Mas, ao pensar em saúde e doença, vem-nos à memória, sempre,

duas profissões diversas: enfermagem e medicina. Por este facto, no

momento de compartilhar responsabilidades, os seus profissionais podem

apresentar divergências. Enfermeiro e médico estão de acordo nos

objectivos comuns, saúde e doença, mas podem não entender- se no sentido

que atribuem aos conceitos "saúde e doença". Estas divergências podem

traduzir-se nos meios a utilizar para conseguir os objectivos, porque as suas

ordens de prioridades diferem e, ao mesmo tempo, os métodos e distintos

hábitos de trabalho podem originar-se em visões diferentes para uns e para

outros. Segundo Pridham e Hansen (1985), enfermeiro e médico tendo em

conta as suas responsabilidades profissionais respectivas, podem, em alguns

momentos, interpretar e explicar a realidade de modo diferente. Sillon

(1986) menciona que os objectivos morais do enfermeiro e do médico são os

mesmos, mas observados de ângulos diferentes. Kérouac (1996) refere que,

para o enfermeiro, a sua orientação está dirigida para a pessoa e

integridade da sua vida, enquanto que para o médico a sua orientação é mais

técnica, relacionada com o impacto e amplitude da intervenção no

diagnóstico e tratamento da doença. Apesar de tudo, são complementares e,

por vezes, interdependentes (Ribeiro, 1995). No entanto, orientam-se por

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Page 44: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

abordagens distintas, chamando-se à primeira cuidar e à segunda tratar.

Tradicionalmente, o cuidar tem sido do domínio da enfermagem e o

tratar do domínio médico (Linn citado por Ribeiro, 1995), não significando

isto que os enfermeiros não colaborem no diagnóstico e tratamento da

doença (aspectos instrumentais e técnicos), e que os médicos não dirijam a

sua actividade para a pessoa (actividades de suporte). Contudo, o cuidar, é

um aspecto básico em todas as profissões de ajuda (Colliére, 1989; Tanner,

1990 a). Pela mesma razão o cuidar é a essência da prática de enfermagem

(Benner e Wrubel, 1989; Watson, 1988; Gaut e Leininger, 1991; Lynaught e

Fagin, 1988). Assim, o cliente é considerado uma pessoa com um passado, um

presente e um futuro, que tanto pode estar doente como saudável, e é

alguém que possui recursos intrínsecos, propiciados pela sua própria

existência, que deverá utilizar para enfrentar ou ultrapassar dificuldades.

Esta orientação da actuação do enfermeiro para a pessoa caracteriza-se

por um reconhecimento de uma disciplina de enfermagem distinta da

disciplina médica. E que a prática de enfermagem é muito mais do que um

mero cumprimento de tarefas. Requer uma agudeza intelectual considerável

que, vista do exterior, parece indicar uma intuição, já que se trata de

escolher uma acção pensada e reflectida que responda às necessidades

particulares das pessoas (Diers, 1986). No entanto, diversos

condicionalismos históricos, sociais, económicos e tecnológicos terão levado,

ao longo dos anos, a uma contaminação da orientação dos enfermeiros por

formas de actuação mais características da actividade médica (Hall, 1980;

Linn, 1974). Assim, não é difícil de encontrar centros de interesse

diferentes na prática dos enfermeiros: um privilegiando o cliente na sua

globalidade, cujo cuidado se centra na pessoa (indivíduo, família, grupo,

comunidade) que, em continua interacção com o meio ambiente vive,

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Page 45: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

experiências de saúde, e outro cujo centro de interesse dominante é a cura

do cliente (Kérouac, 1996).

2.1. Centro de interesse dominante para o tratar: um modelo

biomédico

Ao longo dos tempos houve diversas formas de "cuidar" sendo

enfatizadas numa ou outra época aspectos relacionados com o contexto

social, político, religioso, cultural, pessoal (valores) etc.. Encontramos

referências ao cuidar nas mensagens deixadas pelos nossos ancestrais onde,

provavelmente, os primeiros cuidados que um Homo Sapiens prestou a outro

Homo Sapiens estavam no domínio dos cuidados orgânicos, do corpo (Mariz,

1995).

Com a evolução das sociedades, nomeadamente no ocidente, o direito

à saúde adquiriu estatuto de direito constitucional. Ao mesmo tempo, o

avanço científico tecnológico, férteis descobertas e ideias novas, sobretudo

a partir do século XvTII, o período da consolidação da medicina, tem

influenciado a prestação de cuidados de saúde, em especial atras/és da acção

médica (Nogueira, 1990).

O objectivo da medicina é, em geral, a cura ou o controlo da doença, a

recuperação e, quando não é possível, o alívio dos sintomas e retardamento

da morte (Pearson e Vaughan, 1992). E estudar a causa da doença, formular

um diagnóstico preciso e propor um tratamento específico para o

diagnóstico estabelecido, baseado na associação de sintomas observados a

partir de dados biológicos (Allan e Hall, 1988). A doença reduz-se a uma

única causa (Kérouac, 1996) e o factor causal orienta o tratamento,

deixando-se de lado os demais factores pessoais e ambientais. As doenças

físicas são consideradas como uma realidade independente do ambiente, da

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Page 46: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

sociedade e da cultura. Os cuidados estão orientados para os problemas, os

defícites ou incapacidades dos clientes e estes são cor\s\derados em

função da doença que têm, sendo essa a base para a tomada de decisão.

A pessoa pode definir-se como um todo formado pela soma das

partes, cada parte é reconhecida como independente. Começa e termina num

ponto fixo, sem contacto com nenhuma outra parte (Kérouac, 1996). Assim,

podemos separar a dimensão biológica da dimensão psicológica, estudar o

sistema respiratório independente do sistema endócrino e estabelecer

objectivos de cuidados relacionados com a função respiratória

separadamente dos objectivos da função endócrina (Vaughan e Pearson,

1992). Para isso, "a tecnologia de precisão, de que a medicina tem vindo a

dispor de forma crescente; tem facilitado esta abordagem analítica que

parceliza as regiões do corpo, separa o doente da doença, reforça a

importância desta última como objecto de intervenção e esquece cada vez

mais o seu portador " (Ribeiro, 1995:24). Dentro desta perspectiva, os

seres humanos, são máquinas e alavancas, em que tudo se efectua por

movimento (Nogueira, 1990), cujo funcionamento equilibrado se traduz numa

homeostase biológica considerada, então, um estado de saúde (Ribeiro,

1995). Bastam as leis físicas e biológicas para tudo explicar o que dificulta a

compreensão global da situação, isto é, do cliente e da doença que tem.

Quais serão, então, os motivos que levam os enfermeiros a prestar

cuidados com base no modelo bio-médico?.

A formação dos enfermeiros efectuada por médicos O' Brien(1987),

centra-se no conhecimento memorizado de sinais e sintomas das doenças e

aplicação de técnicas médicas delegadas, recebendo uma formação técnica e

ensinamento para a obediência a ordens (Reverby, 1987). Assim, como os

cuidados de enfermagem estão estritamente ligados à prática médica,

estes orientam-se, igualmente, para o controle da doença, bá-se relevo ao

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Page 47: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

diagnóstico correcto da doença sendo o papel do enfermeiro a execução

exacta da prescrição médica. É que, a multiplicidade de cuidados médicos

delegados aos enfermeiros transformam a sua prática diária não em actos

de cuidar mas em actos de curar. nOs cuidados transformam-se em tratar

(...) perdendo o essencial da sua razão de ser"(Colliére, 1989: 349). Assim, o

cuidar em enfermagem proposto por Nithingale (1959), pôr o doente nas

melhores condições para que a natureza faça nele a sua obra, tendo em

conta o ambiente, psicológico e social do indivíduo, foi substituído por um

outro, onde há uma grande preocupação em fazer cumprir uma ordem

prescrita pelo médico e em dominar a tecnologia cada vez mais complexa.

Nestas condições, o enfermeiro distancia-se, tenta resolver os problemas

de forma racional, valoriza os aspectos objectivos da situação e desvaloriza

a subjectividade e o sentimento do cliente sobre a sua experiência de

doente e efeito dos tratamentos (Ferreira, 1995). A sua intervenção

consiste em eliminar os problemas, cobrir os déficites e ajudar os

incapacitados (Kérouac, 1996). É que, apesar da aceitação actual das

perturbações psicológicas e sociais, a preocupação com os conhecimentos e

técnicas centram-se no ser físico, como ideia predominante.(Pearson e

Vaughan, 1992). Intervir significa fazer pelas pessoas. A pessoa está

dependente dos seus cuidados e de outros profissionais de saúde. Pode

dizer-se que não se convida a pessoa a participar nos seus próprios

cuidados, nem tão pouco a tomar decisões relativamente aos mesmos. Há,

assim, vários indícios de que o modelo teórico que está por detrás da acção

de grande número de enfermeiros é o modelo biomédico (Pearson e Vaughan,

1992).

Esta orientação surge, também, em grande parte, de exigências

decorrentes dos conhecimentos médicos, cujas especialidades são cada vez

mais numerosas bem como, a tecnologia bio-médica mais complexa. Por outro

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Page 48: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

lado, para os enfermeiros, o atractivo de realizar com êxito tarefas ligadas

à tecnologia é real (Steel, 1986). Para muitos, este aspecto do trabalho

representa o centro dos cuidados. Facilmente, os enfermeiros, canalizam

90% do tempo neste âmbito (Prescot et ai, 1987). As actividades de

natureza técnica têm mais status que as de natureza de competência

relacional. Estas, como são consideradas pouco importantes e não são

visíveis, são feitas se houver tempo. A ênfase está na preocupação de ter o

trabalho feito, isto é, completar as tarefas visíveis associadas aos cuidados

físicos e ás rotinas de cada turno. Assim, os enfermeiros tendem a

subestimar o que é da sua incumbência e competência, procurando prestígio

profissional através da aquisição de habilidades técnicas orientadas e

determinadas pela doença (Colliére, 1988). Os interesses técnicos

sobrepõem-se aos interesses humanos (Habermas, 1987). Valorizando, como

diz Pearson e Vaughan (1992 ), os aspectos visíveis do cuidar em detrimento

da habilidade de confortar pessoas que sofrem, ou partilhar informação com

os que têm dificuldade em compreender a situação em que se encontram.

A ênfase na cura como objectivo geral da enfermagem tem, ainda

hoje, reflexo nas dificuldades que existem em encontrar enfermeiros para

as unidades de cuidados com pessoas cronicamente dependentes. Este

facto, obserwa-se, nos hospitais, onde ha intensa competição por vagas, nos

hospitais, associadas a cuidados com técnica complexa e orientados para a

cura (unidades de medicina intensiva, emergência). A atracção dos

enfermeiros recém formadas por UCI e serviços de urgência que usam

tecnologias sofisticadas (Saiote, 1988), pode estar relacionada com a

desvalorização do cuidar. Um estudo feito em Lisboa revelou que as

instituições onde existiam UCI, ou unidades de características similares,

eram escolhidas como primeira opção de trabalho no início de carreira por

64,42 % dos sujeitos (Saiote, 1988). A isto não será alheio o fascínio pela

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Page 49: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

electromedicina, a complexidade de actuação exigida, a diferenciação de

cuidados, e a obtenção de resultados imediatos bem como, a influência dos

conhecimentos e técnicas ministradas aos enfermeiras na sua formação

profissional (anatomia, fisiologia, patologia e de outras ciências físicas),

incluindo reduzidos conteúdos específicos sobre os componentes psíquicos,

social e ambiental dos seres humanos (Vaughan e Pearson, 1992).

Entre nós, constatamos este facto nos curricula actuais dos Cursos

Superiores de Enfermagem. Também os Cursos de Especialização em

Enfermagem, traduzem uma inspiração nas tradicionais especialidades

médicas (Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, Obstétrica,

Pediátrica).

Quais as manifestações práticas perante tais factos?. Que atitudes

têm os enfermeiros para com os clientes? Como os encaram?.

A prática do enfermeiro consiste numa atenção ao órgão doente e no

cumprimento das prescrições médicas, cujo resultado final, desta

abordagem, são as rotinas estandardizadas de cuidados aos doentes, quer

no tempo quer em relação ao diagnóstico de que é portador. O doente é

considerado como alguém que se deve submeter a determinado esquema e

seguir a rotina estabelecida pelas normas. Estas rotinas orientam-se em

primeiro lugar pelo rótulo do diagnóstico. Despersonalizam os doentes e

desencorajam qualquer envolvimento mais profundo entre doentes e

enfermeiros, pois os doentes são identificados como possuidores de um

processo de doença e não como indivíduos. Do doente nada se espera.

Apenas a passividade de aceitar os cuidados a que é sujeito. Com isto, os

cuidados de enfermagem não permitem, aos utilizadores, desenvolver a sua

capacidade de viver ou tentar compensar o prejuízo das funções limitadas

pela doença, procurando suprir a disfunção física, afectiva ou social que

acarreta (Colliére, 1989). Assim, a substituição do cliente nas tarefas que

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Page 50: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

não necessitava ser substituído é um facto, contrariando, por vezes, a sua

vontade e, ao mesmo tempo, é acompanhada por uma rotinização e obsessão

de cuidados físicos (Vaughan e Pearson, 1992). Pouca atenção é prestada em

ir ao encontro das "pessoas como pessoas".

E que, apesar da profissão de enfermagem ter os seus valores

próprios, a subordinação ao modelo médico em que a cura é a qualidade

máxima tem norteado não só a formação dos enfermeiros como a

organização e a prestação de cuidados (Lopes e Gândara, 1993).

Num estudo feito com alunos do I o e 3o ano do Curso Superior de

Enfermagem, está patente a convicção de que "o curso não é eficaz no que

respeita ao desenvolvimento de uma concepção clara de enfermagem e do

papel da enfermeira" (Ribeiro, 1995 :101). Is to porque, "o impacto do curso

a nível sócio- moral das estudantes evidenciou a quase ausência total de

influência, apesar da ética fazer parte do plano curricular; os dados, das

entrevistas, sobre níveis de distinção em relação ás concepções de tratar e

de cuidar mostram que as questões conceptuais não são muito atendidas no

Curso Superior de Enfermagem" (Ribeiro, 1995: 102). No mesmo sentido, o

estudo de Ferreira (1995) refere que a valorização atribuída pelos

enfermeiros docentes, aos comportamentos que traduzem atitudes de

cuidar durante a formação, não conduz à valorização desses

comportamentos por parte dos alunos, o que parece aconselhar uma

intervenção curricular nesse sentido.

A aspiração, legítima, dos enfermeiros na procura de uma identidade

própria cujos actos são diferentes e complementares dos médicos, levou-os

a repensar a prática, bem como a subordinação e predomínio do acto médico.

Apesar de já Florence Nithingale, ter reclamado para a enfermagem um

conhecimento distinto do médico, é somente na década de cinquenta, que os

enfermeiros agudizam os seus debates, para a clarificação de um domínio

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Page 51: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

específico dos cuidados que prestam. Assim, os modelos teóricos e as

teorias de enfermagem que surgem a partir da década de 60, são o reflexo

de uma procura, de uma necessidade premente de encarar a profissão de

enfermagem, não nos moldes tradicionais mas com a arte de cuidar sendo

este um fim em si próprio e não um meio (Lopes e Gândara, 1993). Aparecem

então, os modelos de enfermagem, que em oposição ao modelo bio-médico

focalizam a sua atenção no cuidar, em cuja orientação dominante é a visão

do homem numa perspectiva holística (Fawcett, 1989). É que o progressivo

avanço tecnológico e científico permitirá, por certo, descobrir novas formas

de encarar a saúde e a doença, mas não dispensa, de forma alguma e, até

pelo contrário, exige, cada vez mais, uma maior atenção e disponibilidade em

relação ao outro, à sua pessoa, a esse ser único, pertencente a um contexto

familiar, sócio-económico e cultural (Ferreira, 1995). Isto, porque por um

lado, o cuidar é um imperativo imposto pela falência do tratar e, por outro,

deve estar presente ao longo do tratamento (Ribeiro, 1995).

2.2. Cuidar como centro de interesse da disciplina de

enfermagem: um modelo holístico

A complexidade inerente a um mundo em transformação acelerou

consideravelmente a evolução da disciplina de enfermagem durante os

últimos decénios. O centro de interesse, os princípios e as propostas têm

posto em relevo o cuidar como a essência, o fenómeno central, o conceito

principal dos cuidados de enfermagem (Leininger, 1989). Isto como reflexo

do contínuo evoluir da própria disciplina que procura firmar a sua posição no

leque de profissões, em particular das profissões de saúde, através da

aquisição de um saber e competências específicas. Porque, cuidar é

diferente de aplicar uma terapêutica. Como nos diz Watson" o cuidar

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Page 52: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

constitui o eixo central da prática de enfermagem. E mais do que uma

conduta orientada para a realização de tarefas e compreende aspectos de

saúde, tão ambíguos como a relação interpessoal entre a enfermeira e o

utente" (Porter e Sloan, 1989: 140)

As epidemias modernas, as doenças crónicas e o aumento da

esperança de vida constituem-se, assim, como um enorme desafio para as

enfermeiras. Desafio esse que não é novo. Nightingale (1859-1969) foi a

primeira a apresentar uma concepção da disciplina de enfermagem que

conduziu a prática, a formação e a gestação de cuidados de enfermagem

durante várias gerações. Já a autora afirmava que o que a enfermagem faz

é colocar o cliente nas melhores condições para que a natureza actue sobre

ele. Também, Virgínia Henderson dizia que, ser enfermeira é atender a

pessoa que, durante um período de tempo, não pode realizar por sim mesma

certas actividades relacionadas com a sua saúde e ajudá-la a recuperar o

mais rápido possível a sua independência com vista à satisfação das suas

necessidades ou realização do seu auto-cuidado e em certas situações

proporcionar uma morte serena (Adam, 1991). Estas afirmações apelam para

o conceito de cuidar, como algo essencial à vida. Isto, tanto no que respeita

aos cuidados quotidianos ligados às funções de continuidade e manutenção

de vida, tais como alimentação, hidratação, respiração, eliminação, entre

outros (Colliére, 1989), bem como no que respeita à relação interpessoal na

prestação de cuidados (Griffin, 1980).

O cuidar é, assim, uma expressão da humanidade no quotidiano, na

família, no trabalho, algo de universal, sendo primordial para o nosso

desenvolvimento e realização como seres humanos. E muito mais que um

cumprimento de múltiplas tarefas. Havendo, por isso, a necessidade de

repensar a prática e a subordinação aos actos médicos. Os enfermeiros não

podem reduzir as realidades existenciais das pessoas que vivem

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Page 53: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

experiências de saúde somente aos diagnósticos médicos (Bevis, 1991). E

que a disciplina de enfermagem só afirmará a sua identidade se considerar

os actos de cuidar como diferentes e complementares dos cuidados

médicos.

Influenciados pelas grandes correntes do pensamento e por um

mundo em transformação, os cuidados de enfermagem, aparentemente

simples, converteram-se em complexos e diversificados. Além de

requererem competências interpessoais, os cuidados de enfermagem

requerem conhecimentos científicos e a utilização de métodos sistemáticos

de trabalho. O enfermeiro assegura uma presença contínua ao lado dos

diversos clientes e deve dar prova, em todo o tempo, de disponibilidade, de

saber acompanhar as pessoas quer em situações felizes ou dolorosas, na

angústia, na incapacidade e, por vezes, na morte.

Pesem embora as dificuldades de a enfermagem se afirmar, a

necessidade de os enfermeiros clarificarem a sua especificidade motivou as

teóricas de enfermagem, maioritariamente americanas, nos princípios da

década de cinquenta, a elaborar modelos conceptuais (a figura 1 ilustra a

cronologia destas concepções segundo escolas) para a sua profissão. Estes

modelos conceptuais servem de guia para a prática, investigação, formação

em enfermagem e gestão dos cuidados de enfermagem, enquanto disciplina

autónoma (Fawcett, 1989; Marriner, 1989). Orientam a prática do

enfermeiro proporcionando-lhe uma descrição, por exemplo, da meta que ele

persegue, do seu papel e das suas actividades de cuidados. Percursores

para a elaboração de teorias em ciências de enfermagem (Fawcett, 1989),

estes modelos conceptuais oferecem uma perspectiva única a partir da qual

os enfermeiros podem desenvolver os conhecimentos que lhe servirão para a

prática. E que os modelos conceptuais e as teorias existem para lançar

desafios à prática e criar novos focos de atenção (Chinn <& Kramer, 1991).

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Page 54: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

Estes modelos, denominados modelos de enfermagem, apoiam-se em teorias

sobretudo oriundas das ciências humanas e sociais, consideradas mais

congruentes com a especificidade de enfermagem (Ribeiro, 1995). Como

afirma Doering (1992), outras visões filosóficas não cessam de influenciar

os investigadores da ciência de enfermagem. Entre estas destacamos a

Filosofia, Antropologia, Psicologia e Sociologia. Por diferentes que sejam

esses modelos conceptuais de enfermagem, todos têm em comum a

centralidade no utente como objecto de cuidados numa perspectiva

holística, a acção do enfermeiro e ainda a relação enfermeira - cliente

(Vaughan e Pearson, 1992), o que os distingue do modelo biomédico. Com a

finalidade de identificar o que caracteriza a disciplina de enfermagem,

Fawcett (1984) extraiu dos documentos de vários enfermeiros teóricos os

conceitos "cuidado", "pessoa", "ambiente" e "saúde". Sem serem

específicos da disciplina de enfermagem, estes conceitos formam, antes de

tudo, uma estrutura de base a partir da qual o conhecimento de

enfermagem pode evoluir (Chick e Meleis, 1986). O recurso e a adaptação

de teorias, tais como a do desenvolvimento (Peplau, 1952; Erikson, 1963),

dos sistemas (von Bertalanffy, 1968; King, 1971; Neuman, 1972), da

motivação (Maslow, 1954) e das necessidades humanas básicas (Roy, 1970),

têm dado origem a teorias de menor alcance mas, apesar de tudo,

importantes para a explicação de modelos de enfermagem como modelos de

cuidar (Ribeiro, 1996). Esta proliferação de teorias e modelos de

enfermagem são bem o sintoma de uma fase pré-paradigmática em que se

evidencia a vontade de cnar escolas de pensamento no âmbito da disciplina.

As principais concepções da disciplina de enfermagem encontradas foram

agrupadas em seis escolas: escola das necessidades, escola da interacção,

escola dos efeitos desejáveis, escola da promoção da saúde, escola do ser

humano unitário e escola do caring (Kérouac, 1996).

53

Page 55: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Figura 1 - Cronologia das concepções da disciplina de enfermagem segundo o agrupamento em escolas

F. Nightingale

H-.Pepleu

I. King

1951

1958 D. Johnson

1962

1963

1968

1978

L. Hall

C. Roy

M.Allen

M. Rogers

M. Leininger

M. Newman J. Watson

Interacção Efeitos desejáveis Promoção da saúde Ser humano unitário Caring

Fonte - Kérouac S. et ai (1996)- El pensamiento enfermero, I a ed.Barcelona,Masson, pag. 25

54

Page 56: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

O Quadro 4 apresenta uma apreciação geral das numerosas

concepções actuais da disciplina de enfermagem.

Os conceitos centrais da disciplina de enfermagem - o cuidado, a pessoa, a

saúde e o ambiente- servem de estrutura para o resumo apresentado no

quadro. A coluna "elementos chave" destaca o vocabulário particular de cada

uma das concepções. Esta apresentação, muito esquemática, não tem a

pretensão de ser exaustiva. Não se pretende, portanto, descrever cada

escola em profundidade, mas apenas dar uma ideia daquilo que se pode

considerar a base ou ponto de partida para a acção do enfermeiro. Em

resumo, a descrição das diversas concepções da disciplina de enfermagem

segundo as escolas reflecte a riqueza e a evolução do pensamento da

enfermagem. As diferentes escolas põem ênfase em diversos elementos,

segundo as épocas em que as concepções foram elaboradas, que são guias

para a prática, a formação, a investigação e a gestão da ciência de

enfermagem. Apontam para as intervenções individualizadas do enfermeiro,

isto é, intervenções centradas no cliente e nas suas necessidades. O utente

é visto como sujeito de cuidados e a relação com o enfermeiro assume

primordial importância. Estes modelos de enfermagem são, por estas

razões, modelos de cuidar.

Vários autores afirmam que o cuidado é a essência da prática de

enfermagem (Benner, 1989; Watson, 1988; Saut y Leininger, 1991;)

Sobressaindo a necessidade de dar prioridade ao cuidado, que às vezes é

uma maneira de estar no mundo e outras vezes um ideal moral (Kérouac,

1996). As abordagens antropológica (Leininger, 1970; Collière, 1989) e

fenomenológica (Griffin, 1983; Watson, 1989) têm definido o cuidar como

um conceito fundamental para a compreensão do ser humano, como um

conjunto de actividades que mantêm a vida e como um processo complexo

de relação que envolve factores cognitivos, morais e emocionais.

55

Page 57: Metedos de Trabalho

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Page 60: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

Mesmo quando o utente necessita de tratamentos, intervenções

determinadas pela doença, diagnóstico e prescrições médicas, a acção do

enfermeiro deve ser orientada pelos princípios do cuidar (Ribeiro, 1995). O

cuidar compreende aspectos afectivos ou humanistas relativos à atitude e

compromisso e aspectos instrumentais ou técnicos, sendo importante não

separar nenhum deles( Morse, Solberg, Neander, Bottorff, e Johnson,

1990; Pepin, 1992). Estudos feitos com enfermeiros (Benner, 1984; Benner

e Wrubel, 1989), e os membros da família que prestam cuidados às pessoas

( Bowers, 1987), realçam um terceiro aspecto: o objectivo que os cuidados

perseguem. Para além das tarefas realizadas e da maneira de realizá-las,

reside o significado do cuidado, a intenção, a meta. Assim, o cuidar significa

actuar de forma a que a pessoa seja considerada um fim em si mesmo, não

apenas um meio para fins científicos, médicos, de enfermagem ou do

hospital (Watson, 1988). A actuação implica, da parte do enfermeiro, para

conseguir um cuidado centrado na pessoa, que recorra aos valores, aos

conhecimentos, ao empenhamento nas acções e suas consequências e ao

saber específico, para além do dever e da obrigação moral, numa

perspectiva ética (Silva, 1983; Watson, 1990). O enfermeiro pode marcar a

diferença na vida das pessoas, permitindo -lhes tornar reais as

possibilidades que provêm do interior, dando-lhes sentido às suas

experiências de saúde e à sua vida. Possibilidades essas que se expressam

em forma de estima, auto-respeito, de reconhecimento e desenvolvimento

do seu potencial e máxima utilização das forças criativas. As vezes é

menos visível contribuir para a saúde de uma pessoa através de uma

intervenção centrada em recursos interiores do que por uma intervenção

que utiliza os recursos exteriores. Algumas vezes, o cuidado é invisível

(Collière, 1986). Porque, cuidar ou preocupar-se com alguém, crer em

alguém, reforçar a sua capacidade, permitir-lhe recuperar a esperança,

59

Page 61: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

acompanhá-la no seu caminho são acções invisíveis (Kérouac, 1996). Sem

dúvida, o cuidar necessita de tempo para se ir mais além do que a simples

realização de tarefas. Ninguém duvidará que, na relação

enfermeiro/cliente, tempo para escutar e conversar com utentes é

fundamental para uma comunicação eficaz (Bebb, 1987). De facto, só os

enfermeiros permanecem de serviço junto dos utentes vinte e quatro horas

por dia e sete dias por semana (Bottorff A D'Cruz, 1984). Como refere

Mayeroff (1971), cuidar é uma forma de relacionar-se com alguém que só

pode emergir com o tempo através da confiança mútua, aprofundamento e

transformação quantitativa da relação e envolve desenvolvimento . Ou seja,

uma pessoa que cuida ou é cuidada sabe que um cuidado que marca a

diferença favorece o desenvolvimento e o crescimento. No entanto, para

cuidar, o mesmo que dizer, para conhecer a pessoa e o seu ambiente e apoiá-

la a atingir os seus objectivos, a enfermeira necessita de algo muito

importante e que é escasso, o tempo ( Masson, 1985; Stelling, 1991 ). Este

intensifica as possibilidades de conhecimento, acompanhamento e partilha

de valores e necessidade de ajuda ( Ribeiro, 1995 ). Uma enfermeira que

conhece bem a pessoa e os seus contextos de vida pode facilitar as

interacções e decisões conjuntas. Por esta razão importa ter em conta o

potencial prometedor das novas concepções da disciplina de enfermagem

que abrem a via a uma filosofia orientada para o cuidar, como essência da

mesma. Os trabalhos de investigação permitem, cada vez mais, precisar o

essencial da disciplina. No capítulo seguinte assim o evidenciaremos.

2.3. O cuidar como essência da enfermagem

Durante os últimos quinze ou vinte anos, o cuidar tem sido o centro de

vários documentos escritos na disciplina de enfermagem. No entanto, a

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Page 62: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

definição universal ou conceptual ização do cuidar não existe. Morse (1990)

diz que, apesar dos esforços desenvolvidos, o cuidar permanece ainda um

conceito evasivo, e tal como refere Swanson (1991), o significado de cuidar

bem como os seus componentes essenciais mantêm-se pouco claros.

Leininger e Watson (teóricas da escola do caring) colocam, de forma

clara, o cuidar como o âmago da enfermagem, conceptualizando-a como uma

ciência humana, com o cuidar como seu domínio central e unificador (Roach,

1993). Crêem, estas autoras, que a qualidade dos cuidados prestados pelas

enfermeiras, podem melhorar se tiverem presentes os conhecimentos

vinculados às dimensões da espiritualidade (Watson, 1985, 1988) e cultura

(Leininger, 1988).

Leininger (1988) afirma que o cuidar é a essência da humanidade,

sendo essencial para o desenvolvimento e sobrevivência humana. Esta,

desenvolveu uma conceptualização da sua filosofia humanista e existencial

do cuidar, que propõe como "domínio central e unificador para o corpo de

conhecimentos e práticas de enfermagem" (Leininger, 1991:35).

As suas numerosas investigações, acerca de diversas culturas, nas

quais utilizou o método etnológico, levaram-na a compreender o cuidar,

essencialmente, como acções de assistência, apoio e facilitação à pessoa que

tem necessidade de recuperar a sua saúde ou melhorar as suas condições de

vida (Kérouac, 1996). Por isso, os cuidados de enfermagem, centrados na

pessoa, baseiam-se nos conhecimentos transculturais aprendidos pela

observação da estrutura social, da visão do mundo, dos wa\ores, do idioma e

dos contextos do ambiente de diversos grupos culturais. De facto, Leininger

defende uma enfermagem transcultural que fala a favor do cuidar, e apela

para a valorização das crenças dos utentes que influenciam a forma como

manifestam as suas necessidades de cuidados (Ribeiro, 1995). Como refere

Cohen(1991), o cuidar deve ser colocado num contexto cultural, pois os seus

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Page 63: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

padrões podem diferir transculturalmente. Desta forma, os enfermeiros

favorecem a conservação da saúde e a sua recuperação uma vez que estão

de acordo com os padrões culturais (Kérouac, 1996).

Watson (1985) recorreu ao método fenomenologia) com grupos de

clientes de culturas diferentes dando, também, grande importância aos seus

valores e crenças, com especial relevo aos aspectos emocionais e

sentimentos. Segundo a autora, o cuidar humano envolve valores como a

força de vontade, compromisso para com o cuidar, conhecimentos, atitudes

cuidativas e resultados. Baseou a sua teoria num sistema de influências e

valores que enfatizam "um grande respeito pela vida humana e sua dimensão

espiritual, uma capacidade para crescer e mudar, liberdade de escolha e a

importância da relação interpessoal e intersubjectiva entre

cliente/enfermeiro" (Cohen, 1991: 904).

Watson considera a enfermagem como uma ciência humana e uma arte

(Kérouac, 1996). Para ela, uma forma de entender a enfermagem é atrawés

da identificação, descrição e investigação dos factores científico-

humanistas principais e essenciais para efectuar uma mudança positiva na

saúde (Waldow, Lopes e Meyer, 1995 ). A sua reflexão conduziu à definição

de um conjunto de factores de cuidar a que chamou «carative», neologismo

criado pela autora, que traduzem o que entende por cuidar. Esta forma

apela, nomeadamente, a um sistema humanista/altruísta de valores; a

sentimentos de fé/esperança e à relação de cuidados de ajuda/confiança.

Também pressupõe a expressão de sentimentos positivos e negativos, uso

sistemático do método de resolução de problemas e o processo de tomada

de decisões; a promoção do ensino aprendizagem interpessoal; a cnação de

um ambiente de suporte mental, físico, sócio- cultural e espiritual de ajuda,

protecção ou correcção: assistência na satisfação das necessidades

humanas; o reconhecimento das forças existenciais,

62

Page 64: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

fenomenológicas/espirituais (Watson, 1988). Estes factores servem de guia

estrutural para compreender o fenómeno cuidar num processo de relação

interpessoal (Watson, 1998) caracterizada por uma relação humana

particular em que as pessoas, envolvidas num processo, se respeitam e se

permitem evoluir para uma melhor auto - compreensão e uma grande

harmonia. O enfermeiro promove na pessoa a compreensão de si mesma e

de suas zonas de sofrimento ou de agitação; favorece o controlo e

autodeterminação, e preserva a dignidade humana (Kérouac, 1996).

O termo "carative", argumenta a autora, foi-lhe sugerido pelo

contraste entre cuidar (caring) e curar (curing). Acrescentando que, "os

factores curativos têm como finalidade curar o cliente da doença, enquanto

que os factores «carative» se dirigem ao processo de cuidar, que ajuda a

pessoa a atingir ou a manter a saúde ou, ainda, a morrer serenamente"

(Watson, 1985: 7).

Nos seus estudos, com base no que utentes esperavam dos

enfermeiros e naquilo que consideravam cuidar, encontrou muitas

referências a formas de intervenção identificadas com os factores de

cuidar. Estes dirigem-se para o cuidar primário de saúde (Meyer, 1995),

como prefere denominar Watson (1988), «cuidado holístico». Dizem

respeito à forma mais do que ao conteúdo do cuidar (Ribeiro, 1995) e

tornam-se reais durante o processo de cuidado humano que se dá momento

a momento, quando o enfermeiro entra no campo da outra pessoa e percebe

e sente o vivido por ela, com o permitir da exteriorização de sentimentos ou

pensamentos que sempre desejou exteriorizar (Meyer, 1988). Ou seja,

ajudando a pessoa a conseguir o mais alto nível de harmonia entre a sua

alma, o seu corpo e o seu espírito (Kérouac, 1995). Esta ideia, refere

Watson (1988), como ocasião real de cuidar, consiste na transacção de

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Page 65: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

cuidados humanos entre duas pessoas (enfermeira e a outra pessoa) juntas

com as suas histórias de vida e seus campos fenomenológicos.

Para além da escola do caring, também Colliére (1988) diz que cuidar

é e será sempre indispensável, não apenas à vida dos indivíduos mas à

perenidade de todo o grupo social. Cuidar é, em primeiro lugar, um caso de

vida, mas cuidar é igualmente, um caso de reciprocidade que somos levados a

prestar à pessoa que, temporária ou definitivamente, tem necessidades de

ajuda para satisfazer as suas necessidades vitais (Colliére, 1988). Nesta

perspectiva, a autora defende que os cuidados quotidianos e habituais ou

cuidados de sustento e manutenção da vida (care) são todos os cuidados que

asseguram a continuidade da vida, reabastecendo-a em energia, seja de

natureza alimentar, afectiva ou psicossocial, interferindo-se mutuamente.

Em cercas circunstâncias há necessidade de utilizar, para além

destes, cuidados de reparação, quer dizer, todos os que têm como fim

limitar a doença, lutar contra ela e atacar as suas causas. Estes,

acrescentam-se aos cuidados correntes. De facto, não fazem sentido se não

houver manutenção de tudo o que contribui para a continuidade e

desenvolvimento da vida (Colliére, 1989). Porque, segundo a mesma autora,

quando existe prevalência do «cure» sobre o «care», isto é, dos cuidados de

reparação, negligenciando os cuidados quotidianos e habituais, há aniquilação

progressiva de todas as forças vivas da pessoa, de tudo o que a faz ser e

desejar reagir, cuja consequência é o esgotamento das fontes de energia

vital, sejam elas de que natureza (física, afectiva, social, etc.).

Para Swanson a história e prática dos enfermeiros tem demonstrado

que o cuidar é central em enfermagem, mas que os componentes essenciais

do cuidar e o seu significado continuam um pouco obscuros. Faz referência

aos esforços desenvolvidos por vários investigadores, nomeadamente,

Noddings, Benner e Wrubel, Leininger, Watson e Larson, ao mesmo tempo

64

Page 66: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

que coloca algumas questões como, por exemplo: "será que o cuidar está

dependente do contexto? É, sobretudo, um comportamento intencional do

enfermeiro? Ou é uma percepção só identificável pelo cliente? Pode ser

ensinado? É um ideal moral? Ou é uma maneira de estar no

mundo?"(Swanson, 1991; p.161).

Na tentativa de obter respostas para as questões formuladas, a

autora desenvolveu três estudos recorrendo ao método fenomenologia), em

que utilizou a observação participante e entrevistas, sendo a amostra

constituída por vários sujeitos (clientes, pais e mães de crianças internadas,

enfermeiros e outros técnicos da equipa de saúde).

Identificou cinco categorias ou processos de cuidar (Quadro 5):

conhecer; estar com (acompanhar); fazer por (substituir); possibilitar

(ajudar) e manter a crença (confiança no outro). Dada a sua importância ir-

nos-emos debruçar mais detalhadamente sobre elas. Do ponto de vista

organizativo as categorias serão apresentadas separadamente, mas a autora

refere que elas não se excluem mutuamente e a forma como se articulam

entre si pode ser visualizada na figura 2.

Assim'.

Conhecer - é o esforço de compreender um acontecimento tal como

ele é entendido na vida do outro. O enfermeiro opera na base do

conhecimento, centra-se na pessoa que é cuidada e faz uma apreciação

meticulosa da experiência de quem é cuidado. Quando ocorre o

conhecimento, ambos os intervenientes ficam envolvidos no mesmo processo;

Estar com - é estar emocionalmente com o outro. Estar lá, conduzindo

a uma eficácia progressiva, partilhando sentimentos bons e maus. A

presença e a partilha são orientados para uma conduta responsável e por

isso aquele que cuida não oprime ou sobrecarrega aquele que é cuidado. A

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Page 67: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

presença emocional é um caminho de participação nos significados,

sentimentos e experiências de vida de cada um a quem são

prestados cuidados. Estar com, é caminhar cautelosamente através do

conhecimento.

Quadro 5 - Processo de Cuidar em Enfermagem

CONHECER

Tentar compreender um acontecimento que tem

sentido na vida do outro

evitar ideias pré-concebidas

centrar-se no cliente

fazer uma apreciação cuidadosa

procurar " sinais"

envolver ambos

ESTAR COM

Abrir-se emocionalmente à realidade do outro

estar lá

mostrar disponibilidade

compartilhar sentimentos

não sobrecarregar o outro

FAZER POR

Tal como outro faria a si próprio se fosse possível

Confortar

Antecipar

executar com competência

proteger as necessidades do outro

preservar a dignidade

POSSIBILITAR

Facilitar a passagem do outro pelas transições da vida

e acontecimentos desconhecidos

informar/expl icar

apoiar / permitir

focar nas preocupações do outro

gerar alternativas / ref lect ir

validar os sentimentos do outro

MANTER A CRENÇA

Manter a fé na capacidade do outro para ultrapassar

um acontecimento ou transição e encarar o futuro com

significado

acreditar / ter estima pelo outro

manter uma atitude de esperança

oferecer optimismo realista

"ir até ao f im" com outra pessoa

Fonte: SWANSON, Kristen. Empirical development of a midle range theory of caring. Nursing

Research, 40 (3), May/June, p. 161-166.

Tradução de Marta Lima Basto - 1995

66

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Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

Fazer por - é fazer pelo outro aquilo que ele ou ela fariam se fosse de

todo possível. Tem como pressuposto fundamental a preservação da

dignidade do outro, para todas as acções do enfermeiro, mesmo que estas

colidam com os seus próprios interesses e/ou com os da instituição.

Possibilitar - é facilitar os outros a passar através das transições da

vida e eventos desconhecidos. E usar da melhor forma o conhecimento,

facilitando a capacidade do outro para crescer. E assistir o outro,

compreendendo-o e avaliando os seus sentimentos.

Manter a crença - é acreditar na capacidade de ultrapassar um

acontecimento e fazer face ao futuro com significado. O enfermeiro que

cuida do outro ajuda-o a acreditar que consegue ultrapassar os momentos

difíceis alcançando os seus objectivos, mantém-lhe a esperança levando-o a

acreditar que consegue ultrapassar as dificuldades do momento.

Figura 2 - Estrutura do cuidar

Atitudes filosóficas das pessoas em geral

e do cliente especificamente

Compreensão informada da condição clínica (no geral) e da

situação do cliente (no p-Snp.ríf irnï

Mensagem transmitida ao cliente

Acções Terapêuticas

Resultado Esperado

Fonte: Swanson, Kristen th.-Nursing as Informed Caring for the Well-Being of Others-

"Image". 25 (4), Maio 1993, pág.335

67

Page 69: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Na perspectiva de Roach (1988) o cuidar é o fenómeno básico

constitutivo da essência humana na qual o homem se constitui homem.

Afirma Roach (1987:15) que, "quando nós não cuidamos, esquecemos o nosso

ser e o cuidado é o caminho para voltar a ser. O cuidado é primordial, é a

origem da acção e não é redutível a acções específicas".

Apesar de dizer que o cuidar é o modo humano de estar, ela

questiona-se quanto convincente é o ponto de vista de que o cuidar é a

expressão natural daquilo que é autenticamente humano, quando há tanta

evidência da falta de cuidar, quer nas nossas experiências pessoais quer na

sociedade que nos rodeia. Chamando a atenção, para o facto, de que a

necessidade de cuidar nos dias de hoje, é maior do que nunca (Roach, 1991).

Para a autora, o cuidar é uma forma de ser visto sob uma perspectiva

ontológica. Assim sendo, não é apenas um privilégio ou característica da

enfermagem. Contudo, a enfermagem possui vários requisitos e atributos

que a distinguem, e a caracterizam por ser uma profissão de ajuda na qual o

conceito de cuidado é genuíno e abrange todos os atributos que a tornam

uma disciplina humana e de ajuda. A enfermagem não é nem mais nem menos

do que a profissionalização da capacidade humana de cuidar, através da

aquisição e aplicação de conhecimentos, atitudes e habilidades apropriadas

aos papéis prescritos à enfermagem (Roach, 1991; 1993).

Na sua experiência com estudantes de enfermagem, usando métodos

simples, Roach (1993) averiguou quais as razões que os levaram a

seleccionar a enfermagem como carreira. As respostas indicam, com raras

excepções, que os estudantes escolhem a enfermagem porque desejam

ajudar as pessoas, cuidar delas e tornar a sua vida melhor. Essas respostas,

não diferem das colhidas por Meyer (1995) com estudantes do primeiro

semestre, do curso de enfermagem, em sua actividade didáctica. No

entanto, a motivação na escolha pela enfermagem pode ser simplesmente

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Page 70: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

uma expressão de idealismo comum na juventude, ou no caso específico da

enfermagem—cuja maioria são mulheres—estar condicionado a aspectos

culturais que prescrevem as actividades de cuidar como responsabilidade

feminina, interiorizadas desde cedo na vida (Meyer, 1995).

Independente das razoes que movem as pessoas para cuidar, a

argumentação de Roach (1993) é de que basicamente os indivíduos cuidam

porque são seres humanos. A capacidade de cuidar está enraizada na

natureza humana. Contudo afirma, ainda, que apesar de a habilidade de

exercitar e expressar aquela capacidade ser influenciada por vários

factores, a educação exerce um papel determinante na qualidade do cuidar

que será manifestada, profissionalmente, no futuro.

A capacidade para cuidar pode ser desenvolvida, despertada ou

inibida através da experiência educacional, e principalmente, pela presença

ou ausência de modelos de cuidar. Cuidar é responsivo, ou seja, o poder de

cuidar é evocado em resposta a alguém ou a alguma coisa a quem ou à qual se

atribui alguma importância e que representa um valor. Sendo expresso em

determinados momentos, assim como particularizado, através de

comportamentos concretos.

Roach (1993) categorizou cuidar em cinco "cês": "compaixão",

"competência", "confiança", "consciência" e "comprometimento". "Compaixão"

compreende uma relação vivida em solidariedade com a condição humana,

compartilhando alegrias, tristezas, dores e realizações. Envolve uma simples

e despretensiosa forma de estar presente, uma forma de estar uns com os

outros. Acrescenta a necessidade de enfatizar o ingrediente humanizador,

que é a compaixão, num mundo cada vez mais frio e impessoal da ciência e da

tecnologia. Por "competência" define o estado de ter conhecimento,

julgamento, habilidades, energia, experiência e motivação necessárias para

responder adequadamente às demandas das responsabilidades profissionais.

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Page 71: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Chama a atenção para a importância da competência associada à compaixão,

pois enquanto a competência sem compaixão pode ser brutal e desumana, a

compaixão sem competência pode ser nada mais do que uma intrusão

inexpressiva, se não prejudicial, no mundo da pessoa que necessita ajuda.

"Confiança" refere-se à qualidade que promove relações onde as pessoas se

sentem seguras. Este estado de sentir segurança, de sentir confiança na

relação, envolve um outro ingrediente, que é o respeito. "Consciência" é

definida como o estado de conhecimento moral. Para entender esta

categoria, é necessário lembrar a ideia de que cuidar envolve uma resposta

a um valor importante per si. Envolve, de acordo com Roach, o poder

espiritual de afectividade. Não deve ser equiparado à emotividade ou

sentimentos casuais; significa uma resposta intencional, deliberada,

significativa e racional. "Comprometimento" foi definido por Roach como

uma resposta afectiva complexa, caracterizada pela convergência entre

desejos e obrigações e por uma escolha deliberada para agir em

concordância com ambos. Na visão da autora cuidar é o nosso modo de ser.

Ao deixar de sentir, agir e pensar em termos de cuidar, deixa-se de ser

humana.

O conceito de cuidar é, então, fundamental para a compreensão da

natureza humana. Denota "a forma humana de ser", ou as relações com os

outros e com nós mesmos (Morse et ai, 1990). Esta perspectiva é sobretudo

evidente no estudo levado a cabo por Morse et ai. (1990), subordinado ao

título «Concepts of caring and caring as a concept». Ao fazerem uma análise

comparativa de vários conceitos, as autoras concluíram que o cuidar se

caracteriza por cinco categorias, entendidas não como independentes, nem

podendo ser encaradas com rigidez e inflexibilidade, pois elas completam-se

e interpenetram-se: uma "característica humana", isto é, um traço humana

inato, comum e inerente a todas as pessoas, e como tal, varia de pessoa

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Page 72: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

para pessoa, que segundo(Gândara e Lopes, 1993), se deve às diferentes

experiências de vida, ao ambiente cultural e aos cuidados que cada um

recebeu: cuidar como um "afecto", cuja ênfase é colocada no envolvimento

emocional ou no desenvolvimento da capacidade de empatia, em relação ás

experiências do cliente; cuidar como uma "interacção interpessoal", significa

que é pela interacção com o utente que o enfermeiro expressa o seu cuidar.

Esta relação engloba comportamentos e sentimentos; cuidar como

"intervenção terapêutica", inclui todas as acções de enfermagem que

permitem assistir o cliente (ouvir, ensinar, tocar o cliente); cuidar como

"imperativo moral ou ideal", isto é, uma adesão, um empenhamento em

manter a dignidade e integridade moral (Morse et ai, 1990).

Halldórsdóttir (1991) descreve cinco modos de ser com o outro e que

incluem comportamentos de cuidar e não cuidar. Então, quais são os modos

básicos de estar com os outros?. O autor, através da análise de dois

estudos acerca das percepções dos clientes (doentes e estudantes), numa

perspectiva fenomenológica, sobre os momentos de cuidar e de não cuidar,

e com base nos relatos da literatura, determinou cinco modos de estar com

os outros: "Destruir a vida (biocídio)" - modo onde um despersonaliza o

outro, destrói alegria de viver, e aumenta a vulnerabilidade; "restringir a

vida (bioestático)" - modo de ser indiferente ou insensível em relação ao

outro, provoca desencorajamento, desliga-se do verdadeiro centro do outro;

"neutralidade em relação à vida (biopassivo)" - estar com o outro não afecta

a vida do outro; "suportar a vida (bioactivo)"- modo de reconhecer a

personalidade do outro, suportar, encorajar e tranquilizar o outro, fornecer

segurança e conforto; "dar a vida (biogénico)"- modo de um afirmar a

personalidade do outro, estabelecendo verdadeiras ligações com o centro do

outro, num processo de dar a vida; aliviando a vulnerabilidade do outro,

torna-o mais forte e realça o crescimento. O modo biogénico de ser com

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Page 73: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

outra pessoa, promove sentimento de confiança nos clientes o que, por sua

vez, conduz ao desenvolvimento de uma relação de proximidade entre

cliente - enfermeiro. Para a autora, este último é o verdadeiro modo humano

de ser. A presença deste tipo de cuidar oferece ao outro uma interconexão

e permite a expressão de consciência, desenvolvendo a liberdade espiritual.

Ao relatar a sua experiência, um informante disse que este tipo de

relacionamento era a de comunhão espiritual, ou seja, como se tivesse

havido um encontro espiritual e a sensação era de que alguém no hospital

estava com ele ao invés de trabalhar nele(Halldórsdóttir, 1991). E que, a

recuperação dos clientes parece ser mais rápida e a experiência no hospital

é considerada mais agradável quando o relacionamento enfermeiro - cliente

é percebido como terapêutico ou restaurador. E interessante observar as

formas como ocorrem as relações de cuidado: o cuidado em que o cuidador

assume aquilo que a pessoa que é cuidada é capaz de realizar por si própria,

e o cuidado em que o cuidador ajuda a outra pessoa a cuidar de si própria

favorecendo a sua potencialidade existencial de vir a ser. Nesta última

forma consiste o "cuidado autêntico" (Halldórsdóttir, 1991). Portanto, o

cuidar é um modo de ser, uma actividade humana mútua de ajuda que

promove crescimento e auto-realização e uma dimensão ética e moral

(Noddings, 1984).

Munhall(1982) defende, também, que o desenvolvimento moral

deverá ser um pré-requisito ao desempenho dos diferentes papéis da

enfermeira e à prática humanista, o que aponta para uma intervenção típica

do cuidar. Neste sentido, a proposta de Esther Condon(1986), de aplicar a

teoria de desenvolvimento de moral e cognitivo de Kohlberg a uma possível

teoria de desenvolvimento do cuidar, revela-se de grande interesse. Esta

autora defende que a perspectiva de cuidar pode situar-se num nível de

"pré-cuidar" - no qual o enfermeiro encara os clientes não como únicos e a

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Page 74: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

orientação para o cuidar está ausente; num nível de "transcuidar"- em que

se espera que os clientes se comportem como "bons clientes", o enfermeiro

se encare como agente da instituição versus advogado do cliente e actue de

forma estereotipada e, ainda, na qual o enfermeiro e cliente são vistos

como sujeitos a normas e regras burocráticas; ou num nível de "cuidar

centrado na pessoa" - na qual o enfermeiro encara o cliente como outro ser

humano, identif icando-se com a sua humanidade.

Para Mayeroff (1990) cuidar de outra pessoa, no sentido mais

significativo, é ajudá-lo a crescer e a realizar-se. E um processo, uma forma

de relacionar-se com alguém que envolve desenvolvimento, da mesma forma

que a amizade só pode emergir com o tempo através de uma confiança

mútua, aprofundamento e transformação qualitativa da relação. No cuidar

como sinónimo de ajudar o outro a crescer, vivência - se o que se cuida como

uma extensão de si e ao mesmo tempo como algo separado de si que se

respeita no seu próprio direito. Qualquer direcção dada ao outro é

orientada pelo respeito pela sua própria integridade. Ajudar outra pessoa a

crescer envolve encorajamento e assisti-lo para que encontre e crie áreas

próprias nas quais é capaz de se cuidar. Para isso, dedicação é essencial no

cuidar. Quando se quebra a dedicação quebra-se o cuidar.

Mayeroff (1990) considera oito ingredientes principais do cuidar:

conhecimento ( explícito ou implícito), ritmos alternados, paciente (dar

tempo para que o outro se encontre no seu próprio tempo; a pessoa que

cuida é paciente porque acredita no crescimento do outro), honestidade

(ser autêntico ao cuidar o outro, congruência entre a forma como actuo e o

que sinto, realmente entre o que digo e o que sinto), confiança (deixar ir o

outro), humildade (uma atitude de não ter mais nada a aprender é

incompatível com o cuidar; aprendemos mais sobre e ela própria, a pessoa

que cuida é autenticamente humilde), esperança ( o outro vai crescer devido

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Page 75: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

ao meu cuidar) e coragem (caminhar para o desconhecido). O cuidar,

segundo Mayeroff (1990) possibilita a auto realização e é através dele que

os seres humanos vivem o significado da sua própria vida.

Embora as pressões no dia a dia da enfermagem, tal como está

estruturada, dificultem a abordagem de cuidar, isto não é impossível.

Leininger (1991) e Roach (1993), acreditam que se o cuidar for cultivado,

integrando os curricula de enfermagem e foco nas diversas disciplinas,

passará a constituir um comportamento habitual de enfermagem. Leininger

(1988) adverte para a necessidade, essencial, de criar um ambiente de

cuidar, onde os modelos de cuidar sejam visíveis, no sentido de alimentar a

capacidade para o cuidar. A mesma autora previne que sem oportunidade de

ensino e prática do cuidar nas escolas, estas não poderão assegurar que os

futuros enfermeiros o praticarão mais tarde. Num currículo de cuidar base,

este precisa de ser reconhecido, estar sempre presente e os enfermeiros

estarem atentos à necessidade de descobrir muitas das características da

prática do cuidar. Igualmente, Boykin (1993) acentua que se se pretende

fomentar nos estudantes a capacidade para cuidar, o primeiro passo é

rodeá-los de um ambiente de cuidar, isto é, para alimentar essa capacidade

os estudantes precisam de ter o sentido de terem sido cuidados. O cuidar

aprende-se através da interacção com os outros. Como referem Boykin e

Schoenhofer (1993), o cuidar expresso na enfermagem não é um fenómeno

abstracto, mas sim pessoal e que envolve conhecimento. O cuidar que

caracteriza a enfermagem deve ser uma experiência vivida, comunicada

intencionalmente numa presença autêntica através de uma inter-relação

pessoa com pessoa. Significando, isso, que o enfermeiro e o cliente vivem a

relação no momento, tornando-se difícil e inadequado o cuidar quando

ocorre em situações que se caracterizam apenas pelo desempenho de uma

tarefa.

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Page 76: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

Linn (1974) A Bullough e Sparks (1975) referem-se a duas formas dos

enfermeiros conceberem a sua acção, a que chamaram: orientação para o

tratar e orientação para o cuidar. A primeira é mais instrumental,

relacionada com procedimentos terapêuticos e técnicos, centrada,

sobretudo, na doença e visando a cura, enquanto que a orientação para o

cuidar é mais holística, isto é, para além de atender a cura (quando ela é

possível) atende o cliente na sua globalidade, incluindo os aspectos sociais e

emocionais. Em suma, visa, sobretudo, o bem-estar do cliente.

Linn (1974) construiu uma esca\a para medir a dicotomia cuidar /

curar. Encontrou diferenças significativas entre os dois grupos, pois

verificou uma maior valorização do cuidar por parte dos alunos de

enfermagem e do programa de bacharelato em enfermagem, enquanto que

os alunos de medicina e os membros da faculdade se orientavam mais para o

curar. Por sua vez Bullough e Sparks (1975) realizaram um estudo idêntico

só com alunos de enfermagem em que estes eram confrontados com opções

de tarefas de enfermagem que traduziam as duas orientações. Os

resultados apontaram para uma maior predominância de orientação para o

cuidar (60%), do que para o tratar (40%). No entanto, a orientação para

cuidar foi mais elevada nos alunos de bacharelato (767o), do que nos dos

cursos que já possuíam experiência de trabalho (447o). Em ambos os

estudos, as asserções identificadas como de cuidar referiam-se a

actividades de bem-estar, conforto, informação, apoio e substituição: como

de tratar referiam-se, entre outras, a actividades e tarefas mais técnicas,

como pensos, injecções e tratamentos vários relacionados com a doença e

utilização de aparelhos.

O relacionamento enfermeira - cliente, na perspectiva do cuidar, tem

merecido atenção, também, por parte de outros pesquisadoras (Brown,

1986; Riemen, 1986; Halldórsdóttir, 1991; Sherwood, 1991; Valentine, 1991)

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Page 77: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

que têm identificado acções, atitudes e comportamentos de cuidar como de

não cuidar. Segundo Valentine (1991), pode-se cuidar sem tratar, mas não se

deve tratar sem cuidar. Para explicar as diferentes dimensões do cuidar,

bem como a sua importância e complexidade, a autora elaborou um modelo

conceptual a partir de dados recolhidos sobre a percepção de enfermeiros e

clientes acerca das suas experiências de cuidar e ser cuidado e da opinião

de teóricas e gestoras de enfermagem. O modelo comportava quatro grupos

de elementos: psicológicos, filosóficos, estruturais e interactivos. Do

primeiro grupo faziam parte as categorias afectivas e cognitivas; do

segundo, as espirituais e éticas; do terceiro, as sociais/organizacionais e

técnicas e do quarto, as sociais e físicas. Este estudo permitiu concluir que

o cuidar comporta acções muito diversificadas e complexas, tanto do ponto

de vista dos clientes como dos enfermeiros. De salientar a importância que

é atribuída aos elementos afectivos (ser compassivo e afável), éticos

(inspirar confiança, manter confidencialidade) e sociais (acompanhar de

forma contínua e providenciar um ambiente seguro). Para além destes, são

referidos os elementos técnicos e físicos, mas em muito menor número

(Valentine, 1989).

Também Clarke e Wheeler (1992), a partir de um estudo

fenomenológico efectuado com enfermeiros em Inglaterra, agruparam em

quatro categorias o que consideravam ser essencial na estrutura do cuidar.

As suas conclusões são bastante consistentes com as posições de Leininger

e Watson. Por exemplo, a categoria ser suporte / ajuda, com ênfase nas

experiências humanísticas, inclui referência ao interesse afectuoso,

valorização da pessoa, respeito e confiança. Os enfermeiros reconhecem

que os clientes são indivíduos que necessitam de privacidade pessoal e que

tomam decisões que podem parecer incongruentes para os próprios

enfermeiros. A categoria comunicação abrange o falar, dar informação,

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Page 78: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

ouvir, tocar e estar próximo. O toque e o abraço ao cliente são entendidos

como expressão do cuidar quando considerados apropriados pelo

enfermeiro, dentro do respeito e atendendo às necessidades do cliente. As

outras duas categorias abrangem a compreensão e a capacidade ou talento

para cuidar.

No estudo realizado por Estabrooks e Morse (1992) o toque foi

também reconhecido como um elemento do cuidar e um canal de

comunicação muito forte. 0 toque como parte do cuidar em enfermagem tem

sido usado, segundo Snyder (1985), para transmitir conforto e aliviar o

sofrimento. No entanto, Tobiason considera que o facto de,

frequentemente, não haver uma tomada de consciência dos efeitos do

"toque" no cliente faz com que, raramente, os enfermeiros o considerem

com valor terapêutico(Snyder, 1985).

Também em Portugal se tem procurado clarificar alguns aspectos da

acção dos enfermeiros. Num estudo realizado por Anjos (1998: 172) sobre o

que está, pois, subjacente ao verdadeiro cuidar, a autora realizou uma

sondagem junto de 55 enfermeiros, com longas experiências profissionais e

variadas, no dia em que terminavam os seus cursos de especialização em

enfermagem. As respostas a esta questão, submetidas a análise de

conteúdo, revelaram:

"...o amor parecia estar subjacente à maioria das justificações dadas,

movendo-se entre dois pólos: o amor a si mesmo e o amor ao outro por

vezes tão imbricadamente que não era possível discernir os contornos que

separavam um polo do outro." . nas justificações aparentemente mais próximas de um "estar de

amor" centrado no Outro mostravam-se compatíveis, em simultâneo, com os

comportamentos que se desejam para o enfermeiro no modelo humanista

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Page 79: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

(Bevis e Watson, 1989) e com os modos de estar considerados como

adequados ao "cuidar autêntico" (Halldosdottir\1991).

Também a valorização do cuidar está expressa num outro estudo

sobre a importância que os enfermeiros atribuem ao acolhimento do utente

no hospital. "Num total de 50 sujeitos, 887° consideram-no de grande

importância e 12% de importante" cuja importância é atribuída a "atitudes

de atendimento personalizado e de atenção individualizada por 76% dos

sujeitos; a conhecer o diagnostico por 16%; e a registar dados pessoais e

familiares 8%"(Sagorro, 1992: 68-71).

Num estudo realizado por Melo (1998), em instituições pertencentes

ao Ministério da Solidariedade Social, sobre a competência do enfermeiro

no cuidar do idoso ( opinião dos idosos e enfermeiros) a população de idosos

e enfermeiros, independente da instituição onde se encontra, deu maior

importância aos aspectos relacionais. Pensa-se, portanto, haver um certo

consenso sobre o que as enfermeiras referem como sendo o essencial em

enfermagem - cuidar- e aquilo que o caracteriza.

Magão (1992), procurando identificar a estrutura essencial do

fenómeno -cuidar- desenvolveu uma pesquisa de orientação fenomenológica,

inspirada em Leininger e Watson, recorrendo a entrevistas e utilizando

para amostra um grupo de enfermeiras docentes de uma escola superior de

enfermagem de Lisboa. Da análise de conteúdo das entrevistas, conclui-se

da importância atribuída por estas professoras à concepção e ensino do

cuidar, tendo identificado asserções relacionadas com os factores de cuidar

de Watson. São exemplos disso expressões como:

«...(para cuidar) ... é necessário individualizar, perceber que cada ser

humano é único»;

«(...) preocupação com o outro como pessoa»;

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Page 80: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

«... cuidar realmente é perceber o que se passa com as pessoas...

compreender o que se passa com as pessoas no seu contexto»;

«(...) cuidar é ser capaz de entrar em relação com a pessoa, grupo de

pessoas (...) penso que é nesta área (de relação) que nós enfermeiros

precisamos muito de investir».(Magão, 1992: 85-91).

Os diversos estudos parecem evidenciar um consenso entre os

enfermeiros sobre o cuidar, o que, segundo Larson (1984), não se verifica

quando comparamos as percepções dos enfermeiros com as dos clientes.

Segundo a autora, ocorrem discrepâncias entre as percepções de um e

outro, relativamente a comportamentos mais ou menos importantes no

âmbito dos cuidados de enfermagem.

Larson, acredita que todo o cliente tem o direito de se sentir cuidado.

A autora construiu um "instrumento de acesso ao cuidar" partindo da

premissa básica de que os comportamentos de cuidar do enfermeiro

produzem nos clientes a sensação de se "sentirem cuidados". Ao construir o

instrumento teve como propósito específico identificar os comportamentos

do cuidar do enfermeiro que são considerados importantes na manutenção

do bem-estar do cliente.

O instrumento desenvolveu-se em duas fases. Na primeira fase foram

realizados dois estudos preliminares centrados nos comportamentos dos

enfermeiros mais significativos do cuidar, um feito com enfermeiros e outro

com clientes. Do resultado destes dois estudos, da revisão da literatura e

da experiência da autora, foram identificados sessenta e nove

comportamentos de enfermagem como sendo representativos dos conceitos

de cuidar em enfermagem. Estes itens constituíram o ponto de partida para

o subsequente desenvolvimento do instrumento. Posteriormente, estes

comportamentos foram submetidos à apreciação de peritos de enfermagem

(estudantes de doutoramento e professores) e de um perito em

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Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

psicometria, bem como de outras formas (teste e reteste), para se

proceder à validação interna. Os itens que não reuniram o consenso ou que

apresentaram ambiguidades foram eliminados.

O instrumento final consistia em cinquenta (50) comportamentos

agrupados em seis sub-escalas de cuidar. Estas sub-escalas incluíam:

acessibilidade (seis itens); explicação e facilitação (seis itens); conforto

(nove itens), antecipação (cinco itens); relação de confiança (seis itens) e

eficiência (oito itens) (Larson, 1984).

Posteriormente, utilizou este instrumento de pesquisa no estudo

levado a cabo com cinquenta e sete clientes com cancro. Os resultados

obtidos indicaram que os clientes elegem os comportamentos associados à

eficiência e aos cuidados físicos como os que mais claramente lhes

transmitem a sensação de se sentirem cuidados (Larson, 1984). Resultados

semelhantes foram encontrados por Cronin e Harrison que estudaram a

percepção de vinte e dois clientes em fase de recuperação de enfarte de

miocárdio (McKenn, 1993).

Num outro estudo com cinquenta e sete enfermeiros, concluiu que

estes consideravam muito importante a relação de confiança, enquanto que

os clientes, em estudos anteriores, lhe atribuíram menor importância. Por

outro lado, o acompanhamento directo e a acessibilidade foram assinalados

como muito importantes para os clientes e muito desvalorizados pelos

enfermeiros (Larson, 1984).

Komorita, Doehling e Hirchert (1991) utilizaram o instrumento de

Larson, mas só com enfermeiros, confirmando as discrepâncias

anteriormente encontradas. Enquanto os enfermeiros apontaram os

comportamentos expressivos como, por exemplo, o escutar o cliente, mais

importantes que os instrumentais, no estudo de Larson os clientes

subvalorizaram-nos. Por sua vez os comportamentos considerados

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Page 82: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

importantes pelos clientes, como saber dar injecções, tratamentos, prestar

bons cuidados físicos, dar os medicamentos a horas, nenhum deles foi

apontado pelos enfermeiros como o mais importante.

Também Essen e Sjoden (1991) fizeram uma réplica do estudo de

Larson com oitenta e seis clientes e setenta e três enfermeiros, tendo

chegado às mesmas conclusões que as autoras já referidas anteriormente.

Assim, os clientes valorizaram mais a competência clínica, nomeadamente,

transmitir ao médico a informação, administrar terapêutica, vigilância

sistemática, saber quando chamar o médico, saber manipular o equipamento

e ser claro e honesto com o cliente acerca da situação clínica, enquanto que

os enfermeiros consideraram mais importantes os comportamentos

expressivos e afectivos que fazem com que o cliente se sinta cuidado, por

exemplo, conforto, escuta, colocar o cliente em primeiro lugar, seja o que

for que aconteça, estar próximo e tocar o cliente quando necessita de

conforto. Como excepção a este padrão, os enfermeiros no estudo de

McDermott et ai. compreenderam como mais importantes as competências

clínicas (Essen e Sjoden, 1991).

Larson (1984) e, também, Komorita, Doehring e Hirchert(1991),

afirmam ser plausível que as competências afectivas só sejam valorizadas se

a actuação técnica for competente. Isto poderá, ainda, significar que as

intervenções dos enfermeiros dirigidas à satisfação das necessidades dos

clientes e à solução dos seus problemas sejam, por estes, percebidos como

cuidar.

Benner e Wrubel(1989) alertam para que, através do discurso dos

prestadores de cuidados, percebe-se, frequentemente, que cuidar é algo da

esfera do sentimento, de boas intenções, olhares ternos, no entanto, os

estudos realizados demonstram que o cuidar, na perspectiva dos clientes, é

sempre compreendido num contexto. Assim, quando a situação apela à

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Page 83: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

eficiência técnica é esta competência, a rapidez, a não hesitação, que é

experienciada como cuidar. Quando, pelo contrário, a situação não exige

acções de competência técnica, o ser reconhecido como ser único, ser

tratado com delicadeza, compreensão e carinho, é identificado pelo cliente

como tendo sido cuidado (Veiga, 1994). Parece-nos, com relevo, importante

chamar a atenção de que não podemos considerar estanques as duas

competências: afectiva e técnica pois, tal como refere Savatofski, todo o

gesto, por mais técnico que seja, deve procurar, antes de mais, não provocar

dor e dar confiança, ajudando a pessoa a acalmar-se (Veiga, 1994). Tudo

está na forma de fazer, no explicar, no pedir a colaboração, na forma como

estamos e como comunicamos. Segundo a autora, é no decurso do próprio

cuidado, no contacto directo, que demonstramos que é gente, que tem valor,

que é significativa para nós, por isso estamos ali, por ela e com ela.

Estudos realizados com utentes têm sido levados a cabo em Portugal,

para além das pesquisas com enfermeiros. Rebelo (1982) entrevistou um

grupo de 14 utentes, internados num serviço de medicina de um hospital de

Lisboa, acerca das suas expectativas em relação aos enfermeiros. Foi

verificado que essas expectativas se dividiam entre actividades

relacionadas com o cuidar, como sejam: companhia no momento do

sofrimento, ser informado; ajuda moral, tolerância e também aspectos

técnicos ligados ao tratar, tais como habilidade manual, cuidados de higiene,

administrar os tratamentos e os medicamentos a horas. Ao mesmo tempo,

todos os utentes esperavam dos enfermeiros uma atitude de indiferença

perante os seus valores e os sentimentos e não esperavam estabelecer

qualquer ligação significativa com alguém.

Nas relações enfermeiro/cliente o respeito está subjacente e a

anteceder todos os cuidados. Embora seja considerado um pré-requisito, no

estudo realizado por Veiga, os clientes manifestaram que são,

82

Page 84: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

frequentemente, desrespeitados. Consideraram-se como tal, quando os

cuidados foram prestados à pressa, sem atenção e em que esperaram muito

tempo para serem atendidos. Outras situações, tais como, o sentirem-se

ridicularizados, tratados como coisas e, ainda, verificarem que o enfermeiro

não estava disponível, fez com que se sentissem revoltados e abandonados.

Referiram, ainda, que os períodos nocturnos foram aqueles em que viveram

estes sentimentos mais intensamente ( Veiga, 1994).

Noutra pesquisa efectuada por Gândara (1998) sobre a forma como o

enfermeiro exerce o seu poder quando interage com utentes, emergiram

três categorias respeitantes ao poder como dominação: poder de redução

do utente a um corpo - objecto; poder de decidir de modo soberano; poder

de submeter e coagir. Na realidade hospitalar em que os encontros

enfermeiro/utente decorreram sobressaiem, assim, o predomínio de uma

relação de tipo comando - obediência, característica do poder como

dominação. No conjunto de 124 declarações significativas respeitantes ao

fenómeno em estudo 86 (69,47o) inserem-se nesta categoria. A forma de

poder dominação parece experienciar um distanciamento e indiferença do

enfermeiro aos problemas físicos e afectivos dos utentes, bem como um

desrespeito pela sua condição de utente. "O relato dos utentes evidencia

uma dificuldade ou mesmo incapacidade dos enfermeiros estabelecerem uma

relação centrada na pessoa, valorizando por isso mesmo, a vertente

tecnológica dos cuidados em detrimento da vertente relacional,

transformando assim os cuidados num conjunto de tarefas executadas

segundo uma rotina num tempo pré - determinado" (Gândara, 1998: 169).

Outras pesquisas foram realizadas com alunos de enfermagem, para

além das realizadas com enfermeiros e utentes. Num estudo sobre

identificação dos níveis de distinção entre tratar e cuidar, realizado por

Ribeiro (1995: 98), com estudantes de enfermagem do Io e 3o ano, estes

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Page 85: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

"parecem revelar dificuldades quanto à clarificação do conceito de

cuidar...". O facto de quatro estudantes não distinguirem cuidar e tratar, ou

de o fazerem de uma forma pouco clara, e o facto de três estudantes

utilizarem respostas esteriotipadas deixam antever que a distinção não é

muito elaborada nas disciplinas do curso de enfermagem. "No entanto as

respostas dos estudantes com um índice de desenvolvimento sócio-moral

mais elevado são predominantemente orientadas para o cuidar, enquanto as

dos sujeitos com índice de desenvolvimento sócio-moral mais baixo se

orientam, sobretudo, para o tratar" (Ribeiro, 1995: 102).

Num outro estudo sobre a interacção no cuidar em enfermagem,

realizado com alunos do 2o ano, I o semestre e todos os docentes da Escola

Superior de Enfermagem de Ponta Delgada, no intuito de identificar a

forma como os alunos comunicavam com os utentes, conclui-se que "a não

valorização expressa pelos docentes às técnicas de comunicação

terapêutica, transmite-se aos alunos de uma forma mais ou menos velada e

como consequência registámos por parte destes últimos atitudes como -

"esquecemos que as técnicas de comunicação existem"(Raposo, 1996:123).

Por f im, podemos afirmar que os autores consultados enfatizam a

relação enfermeiro/cliente como forma de resposta aos grandes problemas

do indivíduo, da família e da comunidade, no campo da saúde/doença.

Também a opção por uma filosofia humanista, marcada por valores

éticos/morais, será determinante do ser e do agir do enfermeiro e,

consequentemente, significativa na eficácia do cuidar.

Perante o exposto, verifica-se a necessidade crescente de formar

enfermeiros capazes de responder às necessidades sociais, com maior

sucesso na humanização dos cuidados, mais aptos a cuidar, com maior

discernimento sobre as questões morais e éticas, mais criativos, mais

84

Page 86: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

capazes de pensamento critico e de advogar posições éticas em favor dos

clientes.

85

Page 87: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

3-METO&OL06IA

3.1 - Caracterização do estudo

A profissão de enfermagem centrada cada vez mais no cliente,

defensora de uma visão holística, continua a utilizar métodos de

distribuição de trabalho (leia-se método de prestação de cuidados) que

rotinizam as tarefas e fragmentam os cuidados, não permitindo a criação

das condições básicas para uma enfermagem de elevado nível qualitativo.

A preocupação com esta temática levou-nos a desenvolver um estudo

que parta da realidade, por forma a permitir-nos compreender até que

ponto a forma / método de organizar o trabalho corresponde à percepção

dos enfermeiros do que é cuidar em enfermagem.

Assim, neste estudo utilizou-se um desenho qualitativo, que deriva de

procedimentos não matemáticos mas sim interpretativos, para permitir a

compreensão dos fenómenos e os acontecimentos sob o ponto de vista dos

actores (Bogdan, 1994). Pretendendo-se, essencialmente, compreender as

realidades, estudar a rede extensa de implicações, nunca completa, e não

medir ou relacionar causas com efeitos, através da experimentação (Yin,

1994).

Apoiamos a decisão em Grawitz (1990: 413) quando refere," numa

investigação em que não existe intenção quantitativa, mas sim simplesmente

compreender (...) ao observador co\ocam-se em primeiro lugar, questões

acerca do que vê e imagina em termos de relação, de classificação, que

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Page 88: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

depois facilitam a análise". Isto porque os desenhos qualitativos são

flexíveis para que os conceitos emerjam e não se imponham aos dados e

ideias predeterminadas. Logo, o estudo qualitativo iniciou-se sem quaisquer

hipótese para comprovar nem resultados para generalizar ou fenómenos

para explicar (Field e Morse, 1985). Partimos, então, de um paradigma

distinto dos estudos quantitativos procurando compreender o fenómeno de

forma contextualizada. Como critério de facilitação metodológica partimos

de uma grelha de observação construída "à priori" fundamentada em

contributos teóricos de relevo de forma a poder tornar mais eficaz o

trabalho de análise qualitativa. Assim, o desenho qualitativo faz-se, neste

estudo, com base nos conceitos e categorias que vão emergindo nos

resultados de análise, que se vão integrando no guião previamente

estruturado (Glaser e Strauss, 1967). E que, a análise qualitativa é indutiva

e aberta; o seu objectivo é gerar conceitos ou categorias (Bryman, 1994).

As suas operações fundamentais são o descobrir e relacionar as classes e

propriedades de eventos, coisas ou pessoas (Schatzman, 1973).

Pelas razões apontadas e porque se trata de uma primeira

aproximação no que concerne à compreensão da relação das duas dimensões

em estudo - método de prestação de cuidados e percepção de cuidar em

enfermagem - foi nossa intenção produzir um estudo exploratório, passo

inicial de um processo de pesquisa e que tem por objectivo a familiarização

do investigador com o fenómeno a investigar ou obter uma nova percepção

do mesmo e descobrir novas ideias (Cervo e Bervian, 1983). No entanto,

apesar de corresponder ao nível mais simples de investigação descritiva,

exige, contudo, uma análise da realidade, pois descrever não serwe de nada

se não dermos um sentido aos dados recolhidos (Formarier, 1994).

87

Page 89: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

3.2-Entrada no campo de investigação

A entrada no campo de investigação constitui sempre uma etapa

particularmente delicada, sobretudo quando é visado o desenvolvimento de

um trabalho que passa pela permanência do investigador nos espaços

quotidianos das práticas e relações sociais dos agentes em análise.

No caso da presente investigação, a entrada no campo passou pela

prévia obtenção de autorização, tendo implicado um processo de contactos

formais e informais que se prolongou por cerca de dois meses.

Na estratégia negocial adoptada durante este processo revelou-se

facilitadora dos primeiros contactos a nossa presença assídua no

acompanhamento de alunos do Curso de Bacharelato em Enfermagem, na

instituição, particularmente pelo seu efeito atenuador da estranheza inicial

quanto ao objecto empírico de investigação.

Ao longo dos sucessivos contactos reiterámos os objectivos

académicos da investigação.

Optou-se, também, por anteceder a formalização do pedido de

autorização à administração do hospital, com um primeiro contacto informal

com as chefias de enfermagem de cada um dos serviços, no sentido de se

conhecer a sua disponibilidade para acolher um projecto deste tipo. Em

todos os contactos foi sendo obtido o seu acordo, depois da sucinta

apresentação dos objectivos, e depois de desfeitas algumas apreensões

latentes. No entanto, todas as chefias deixaram expresso que o seu acordo

ficaria condicionado à obtenção pelo investigador de autorização junto da

administração do hospital.

Também a formalização deste pedido se fez chegar à respectiva

administração hospitalar através do enfermeiro director, reiterando-se,

88

Page 90: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar cm Enfermagem

assim, a opção de privilegiar o contacto com os profissionais visados pela

investigação.

Naturalmente que a estratégia negocial poderia ter sido inversa, isto

é, ter-se privilegiado em primeiro lugar o contacto directo com as instâncias

decisoras. Porém, considerou-se que a modalidade adoptada seria uma forma

de aproximação ao grupo.

Quando, finalmente, ficaram asseguradas todas as autorizações de

acesso aos serviços, a entrada no campo passou a uma nova etapa, esta de

natureza mais complexa. No entanto, o conhecimento prévio dos actores e

contextos, facilitou a nossa efectiva aceitação pelos observados, para a

inusitada presença durante o seu trabalho e nos seus espaços mais

privados, de um profissional de saúde a exercer funções num contexto

diferente, o que naturalmente nunca é assegurado apenas pelas

autorizações e apresentações formais que "legalizam" esta presença.

3.3- Contexto e actores

O campo das análises empíricas são circunscritas num espaço

geográfico, social e temporal (Quivy, 1988), que condiciona o investigador

ao estudo de uma população ou de uma amostra dessa população.

Constituindo os objectivos da investigação o critério central para a

selecção do campo empírico de análise, decorreram destes as diversas

razões que determinaram a opção pelo contexto hospitalar.

Figuram nessas razões, por um lado, o carácter do espaço

institucional privilegiado que o hospital tem representado na gestação e

consolidação da dinâmica profissional dos enfermeiros, e que lhe advém de

diversos factores: a sua centralidade na gestão de prestação de cuidados

de saúde, a particular valorização social de que é objecto o trabalho aí

89

Page 91: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

produzido, a acentuada interdependência funcional que é inerente à

natureza desse trabalho. A especificidade deste contexto, constitui-o em

espaço central de contínua estruturação e reestruturação.

A opção por este contexto, por outro lado, considerada como a mais

adequada, deve-se à génese hospitalar da enfermagem enquanto grupo

profissional e à sua particular dependência sociocultural desta instituição.

Acrescendo, a isto, nesta ordem de razões, o facto de a maioria dos

enfermeiros, designadamente em Portugal, exercer a sua actividade em

instituições hospitalares.

Assim, e concomitante à opção pelo contexto hospitalar, foi excluída

a probabilidade de fazer abranger no campo empírico da investigação outros

contextos de produção de cuidados de saúde, como, por exemplo, os

relativos aos cuidados de saúde primários.

Sublinhe-se, contudo, não estar subjacente a esta exclusão julgarem-

se os contextos de cuidados de saúde primários subestimáveis para o

estudo dos métodos de prestação de cuidados. Considerou-se, isso sim, que

as particularidades técnicas e sociais, e as particulares configurações a que

dão lugar ao nível das relações e práticas profissionais, no campo da

enfermagem, tornavam metodologicamente incompatível a inclusão dos dois

tipos de contextos num mesmo campo de análise.

Entende-se, pelo contrário, que a crescente ênfase que vem sendo

socialmente conferida à promoção de saúde e prevenção da doença, estarão

a potenciar novas possibilidades para estes profissionais. Porém, entende-

se, igualmente, que as especificidades contextuais implicam torná-los

campos de investigação analiticamente diferenciados.

Decidida a delimitação do campo empírico de análise, seleccionaram-

se para o estudo dois serviços de medicina de um hospital distrital, público,

do distrito de Viseu, sendo uma instituição hospitalar moderna.

90

Page 92: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

O hospital de criação recente está dirigido para a assistência em

fases agudas da doença, e para a máxima rotatividade dos doentes, sendo

esta assegurada, nomeadamente, através de acordos estabelecidos com

outras instituições, para onde são transferidos os doentes que, continuando

a carecer de cuidados diferenciados, tenham já ultrapassado a fase aguda

da sua situação clínica. A área geográfica abrangida pelo hospital,

caracteriza-se pelo predomínio de zonas residenciais rurais e urbanas, onde

o poder económico é baixo, em virtude de existirem muitas pessoas,

profissionalmente, ligadas ao sector primário, pouco produtivo, nessa região.

Os critérios que determinaram a escolha de dois serviços de

internamento em medicina, resultaram da conjugação de três objectivos.

Por um lado, permitir abranger contextos marcados, aparentemente, por

métodos de prestação de cuidados diferentes, possibilitando, assim,

controlar o seu eventual efeito diferenciador. Por outro lado, seleccionar

duas unidades de observação com o máximo de características semelhantes

(número de enfermeiros, idade dos enfermeiros, número de médicos,

número de auxiliares, tipo de patologias, tipo de liderança, espaço físico,

tecnologia,...etc.) excepto na metodologia de trabalho de enfermagem, facto

este que configura, por si só, segundo a nossa expectativa, diferentes

possibilidades qualitativas na prestação de cuidados. E, por fim, as equipas

de enfermagem estarem dispostas a participar no estudo, depois de serem

informadas que este incluiria a observação do trabalho dos enfermeiros,

bem como entrevistas.

Participaram no estudo três enfermeiros de cada serviço de medicina

(os únicos que reuniam os critérios para selecção), sendo observados e

entrevistados, de forma voluntária, tendo-lhes sido explicado a finalidade e

os objectivos do estudo e, ao mesmo tempo, garantido o anonimato e a

confidencialidade da informação.

91

Page 93: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Com a selecção das unidades de observação, ficou concluída a

delimitação do campo social concreto em que a investigação veio a decorrer.

Sociografia dos contextos e actores

A sociografia dos actores foi elaborada a partir de um conjunto de

indicadores de caracterização recolhidos por questionário, e com o qual se

define a situação pessoal e profissional através das variáveis sexo, idade,

categoria profissional, formação especializada, tempo de experiência

profissional, na instituição e no serviço.

Para a sociografia dos contextos é feita a caracterização de cada um

dos serviços, não só quanto à sua "configuração espacial e funcional",

visando-se identificar as simbologias sociais que nesta se revelam, mas

também, quanto à "natureza do trabalho" que predomina em cada um dos

serviços e ainda quanto ao "modelo de organização do trabalho de

enfermagem" que lhes está associado. Com esta caracterização pretende-se

salientar as clivagens e/ou convergências que, a nível de cada uma das

categorias consideradas, se verificam entre os dois serviços, ficando, deste

modo, definidas as particulares configurações contextuais que estruturam

e diferenciam o seu modo/forma de cuidar no quotidiano profissional.

Caracterização dos actores

Tendo-se constituído em objecto de análise alguns dos profissionais

de enfermagem dos dois serviços seleccionados como unidades de

observação, ficaram abrangidos pelo estudo um total de seis enfermeiros

(três por serviço), para além dos enfermeiros chefes das respectivas

unidades e da enfermeiro supervisor.

Para a análise da sua composição social, dos enfermeiros abrangidos

pelo estudo, desenvolvem-se seguidamente os respectivos indicadores:

92

Page 94: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

Em termos etários distribuem-se entre os 23 e 50 anos,

predominando as idades inferiores ou iguais a 30 anos (66,67o). E, portanto,

uma população maioritariamente jovem, o que não será dissociável da

preferência que a generalidade dos enfermeiros continua a atribuir ao

hospital para iniciar a carreira profissional.

Quanto à composição por sexo figura como dominante o sexo feminino

(83.3%), o que reitera a dominância feminina que historicamente tem

assinalado a enfermagem.

Em relação à formação profissional pós-básica nenhum dos

enfermeiros prestadores de cuidados directos concluiu um Curso em

Enfermagem Especializada.

Relativamente aos anos de profissão, verificamos uma variação entre

os 18 meses e 23 anos, tendo a maioria dos enfermeiros (66,6%) entre 5 e

8 anos.

No que diz respeito ao tempo de exercício profissional na instituição

varia entre os 18 meses e os 23 anos, predominando o intervalo entre os 2,5

e 7anos (66.6%), o que nos leva a concluir que a maioria dos enfermeiros não

exerceu sempre a sua actividade profissional na instituição em estudo, uma

vez que os anos totais de actividade são superiores.

Por último, o tempo de exercício profissional no serviço varia entre 1

e 10 anos, com predomínio no intervalo 2,5 a 5 anos (66.6%). A esta

diminuição no limite superior do intervalo, não será alheio a "penosidade" do

trabalho nos serviços de medicina, bem como a ausência dos fascínios da

nova tecnologia usada em saúde.

Caracterização dos contextos

Serviços de Medicina

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Page 95: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Espaço físico

Os serviços, semelhantes entre si, tem 26 camas para doentes de

ambos os sexos, funciona com uma equipa de enfermagem de 16 elementos

(um enfermeiro chefe, um enfermeiro especialista e 14 enfermeiros de nível

1), repartidos pelos diferentes turnos ( três de manhã, dois de tarde, dois

de noite), uma equipa de 7 auxiliares de acção médica, igualmente

repartidos por turnos(dois de manhã, um à tarde, um à noite), além da

respectiva equipa médica cuja presença física ocorre durante o período da

manhã. Nesta repartição por turnos há sempre maior número de

enfermeiros durante a manhã, menos durante a tarde e noite, no que se

revela a acentuada variação temporal dos ritmos de trabalho neste tipo de

serviços.

Os doentes estão distribuídos por enfermarias de quatro camas e

dois quartos individuais, tendo cada qual uma casa de banho e um chuveiro, o

que não só proporciona mais comodidade aos doentes, como facilita

consideravelmente o trabalho de enfermagem, em particular para a

realização das higienes. A fluída circulação dos profissionais, nos espaços, é

uma característica do espaço interior.

O seu bom estado de conservação e apresentação não deixa de

constituir um motivo de regozijo para os profissionais, pois aquelas

características são facilitadoras, à partida, do bom acolhimento e, ao

mesmo tempo, da melhoria da qualidade dos cuidados a prestar. As cores

fortes e os acabamentos em madeira, manifestam a promoção de uma nova

imagem hospitalar em ruptura com a tradicional imagem de frias paredes

que, duradouramente, caracterizam estes lugares. Ao contrário, as

demarcações sociais dos espaços são visíveis, entre o sector médico e de

enfermagem. Assim, os gabinetes médicos, situados fora da enfermaria,

94

Page 96: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar cm Enfermagem

constituem um espaço privilegiado do respectivo grupo profissional, sendo

raro os enfermeiros frequentarem-no.

Ao longo do corredor, à esquerda, situam-se compartimentos de apoio

às actividades dos profissionais. No início do mesmo, antes do gabinete do

enfermeiro chefe e sala de trabalho dos enfermeiros e secretário de

unidade, situa-se o compartimento de sujos, material de apoio limpo,

desinfecção das camas e banho assistido. Após os quartos individuais,

contíguos à sala de trabalho, situam-se a casa de banho do pessoal do

serviço, a sala de pensos, sala onde são feitas as pausas( normalmente dos

enfermeiros e auxiliares de acção médica ) e armários para o stock. A sala

de trabalho comum a todos os profissionais, mais utilizada pelos

enfermeiros, tem anexo um espaço no qual se encontram os processos dos

doentes, um quadro com informações relativas aos mesmos e o local de

trabalho do secretário de unidade. É neste espaço que os enfermeiros

passam o turno e por ^ezes fazem pequenas reuniões ocasionais. A frente

do mesmo encontra-se o balcão onde, normalmente, as visitas se dirigem

para solicitar qualquer informação.

Predominam os internamentos em fase aguda da doença, constituindo

em geral permanências hospitalares em média de 8,9 dias, no ano de 1998, e

portanto, com grande rotatividade de doentes, mas não de patologias. As

mais frequentes são o Acidente Vascular Cerebral(AVC), Doença Pulmonar

Crónica Obstrutiva (DPCO) e Pneumonias. A faixa etária que prevalece é a

dos 65 a 75 anos .

É, então, constatável que nos dois serviços de medicina, nas

dimensões consideradas, como sejam a cultura hospitalar, a origem social

dos enfermeiros e dos doentes, não têm diferenças sociologicamente

95

Page 97: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

relevantes que traduzam diferentes constrangimentos e possibilidades

contextuais para a enfermagem.

3.4- Procedimentos de recolha de informação

Relativamente ao método de recolha de informação empírica

adoptámos o recurso a diferentes técnicas, utilizadas complementarmente:

observação participante, incidentes críticos, entrevistas semi-estruturadas

e análise documental.

O papel do investigador foi essencialmente o de "observador

participante", caracterizado por ser conhecido da equipa de enfermeiras

desde o início e por ser publicamente apoiado por pessoas na situação em

estudo. A vasta literatura sociológica que sobre esta técnica tem sido

produzida, é consensual em evidenciá-la como a opção metodológica mais

adequada à análise dos processos informais, na medida em que torna

acessível ao investigador as complexas mediações que se estabelecem entre

os discursos e as práticas, entre as regras formais e as situações

concretas (Lopes, 1994). Procurando-se colher dados na vida quotidiana das

unidades de internamento, por meio de notas mentais, esquemáticas e de

campo (Lofland e Lofland, 1984), observando as pessoas nas diversas

situações e como se comportam, conversando com elas e descobrindo as

interpretações que elas atribuem aos acontecimentos observados (Taylor e

Bogdan, 1992).

Este papel foi facilitado pelo facto de ser conhecido dos enfermeiros

e eles estarem habituadas à presença do observador e, aparentemente,

aceitarem como genuíno o interesse em compreender de que modo as

formas organizativas do trabalho dos enfermeiros se relacionam com o

cuidar em enfermagem.

96

Page 98: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

Informámos os enfermeiros da existência de um período de presença

mais assídua na unidade, correspondendo a uma fase de observação

centrada nos informantes privilegiados e concretizada com a presença em

três turnos, completos e separados. Durante os três dias acompanhámos

um enfermeiro(a), ao longo do turno, na prestação de cuidados globais aos

doentes que tinha a seu cargo, cuja selecção obedeceu aos seguintes

critérios:

• Desempenho de funções na instituição há pelo menos um ano e seis

meses na unidade;

• Não tenha sido sujeito a acompanhamento no turno anterior

• Se disponibilize para o referido acompanhamento, assim como para

a entrevista no final do turno, por forma a clarificar aspectos que

na observação não tenham ficado claros;

Com a finalidade de explicitar aos enfermeiros, previamente

seleccionados, o como e o porquê desta estratégia, falámos com eles, numa

ocasião informal, em data e hora combinada.

O período de observação foi realizado durante o mês de Janeiro de

1999. Efectuaram-se três períodos de oito horas de observação, em dois

turnos das 8 às 16 horas e um turno das 16 às 24 horas, em cada contexto.

Esteve presente, portanto, a preocupação de diversificar os períodos do dia

em cada serviço, de modo a assegurar um conhecimento da warlação

temporal dos ritmos e natureza do trabalho, da divisão informal desse

trabalho e das respectivas modalidades de negociação que, explicita ou

implicitamente eram accionadas. Dirigimos a nossa atenção às situações

sociais, como se realizam os encontros e seus usos; às ocasiões sociais se

são naturais ou forçadas; às relações socials: e por último, às atitudes,

significados, linguagem e símbolos de um grupo de pessoas (Denzin, 1978).

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Page 99: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Procurámos considerar quatro aspectos, de acordo com Schatzman e

Strauss (1973), durante a observação participante:

• Estando de fora, ver coisas que se perderam para as pessoas que

participam na situação.

• Manter uma atitude de novo que nos permitia apreciar todos os

acontecimentos.

• Estar sensível à própria experiência, convertendo-nos numa fonte

de dados.

• Capitalizar a sensibilidade do passado por forma a fazer

comparações.

Com os incidentes críticos pretendemos documentar ocorrências que,

por não terem sido planeadas, podiam levar à compreensão de situações.

Porque, qualquer investigador que no terreno deve ser "informal" , "vê, ouve

ou experimenta" Woods, (1987:58) várias coisas que são importantes de

registar para compreender o fenómeno e para se preparar para a fase

seguinte da sua pesquisa. Assim, segundo Costa (1986:112) o pesquisador

"observa locais, objectos e símbolos; observa as pessoas, actividades,

comportamentos e interacções; observa maneiras de fazer, estar e dizer;

observa as situações, ritmos e acontecimentos; participa de alguma maneira

no quotidiano; conversa; arranja informantes privilegiados".

As entrevistas enquanto ferramenta específica de investigação "é um

diálogo iniciado pelo entrevistador com o propósito de obter informação

relevante para a investigação e focalizado por ele sobre um conteúdo

especificado pelos objectivos de investigação" (Cohen e Manion, 1990:378).

Como refere Estrela (1990:354)" a entrevista tem várias facetas, assim

como finalidades variadas, sendo uma dessas finalidades a recolha de dados

98

Page 100: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

de opinião que permitam não só fornecer pistas para a caracterização do

processo em estudo, como também conhecer, sob alguns aspectos, os

intervenientes do processo. Isto é, se por um lado se procura uma

informação sobre o real, por outro pretende-se conhecer algo dos quadros

conceptuais dos informantes, enquanto elementos constituintes desse

processo". Assim, se ao optarmos por esta modalidade, pretendíamos obter

as opiniões dos entrevistados relativamente à sua percepção sobre de que

modo/ forma a organização dos cuidados se relaciona com o cuidar, é a

entrevista que consiste no "desenvolvimento de precisão, focalização,

fidedignidade e validade de um certo acto social comum à conversação"

(Goode,1979:237), baseando a sua observação em informações suscitadas,

que só podem ser adquiridas se interrogarmos as pessoas. As entrevistas

foram feitas aos seis enfermeiros observados, aos enfermeiros chefes das

unidades e, ainda, o supervisor dos serviços de enfermagem. Para os

diferentes enfermeiros foi adoptada a modalidade de entrevista semi-

estruturada que não é inteiramente aberta, nem comporta um conjunto

rígido de questões, existem algumas perguntas que guiam a conversa (Quivy,

1988), tendo sido elaborado um guião, que possibilitasse através da

interacção do entrevistado/ entrevistador, o emergir de novas questões e

novos dados não considerados previamente, e que contribuindo para a

desocultação das estruturas mais profundas dos discursos dos

entrevistados, contribuíssem igualmente para o enriquecimento da

informação a recolher.

Quanto ao registo das entrevistas, foi obtido o acordo dos

entrevistados para o recurso à gravação, sendo, desde logo, garantido o

anonimato tanto dos entrevistados como dos respectivos serViços e

instituição.

99

Page 101: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

As entrevistas dos enfermeiros observados realizaram-se no final do

turno em que foram observados e as entrevistas aos restantes enfermeiros

realizaram-se no momento mais oportuno de validação das características

dos respectivos contextos, após o término do trabalho de campo.

No âmbito da pesquisa documental, privilegiou-se a consulta do

processo clínico do doente, estudos elaborados por enfermeiros e de obras

de divulgação, que se encontram, em anexo, na bibliografia. Esta pesquisa

foi sempre orientada para a identificação das configurações ideológicas

dominantes ou emergentes neste grupo profissional.

3.5-Procedimentos de análise dos dados

O volume de informação recolhido originou a organização de um banco

de dados, do qual fazem parte designadamente:

• Seis cassetes áudio, com entrevistas realizadas a seis

enfermeiros, com duração média de tr inta a quarenta minutos;

• Um arquivo de seis entrevistas transcritas e algumas notas de

campo, dactilografadas e corrigidas ( cerca de cem folhas A4).

Reunido este material iniciámos os procedimentos para descrever e

interpretar o seu conteúdo. Confrontados com um corpus constituído pelo

discurso de um certo número de pessoas, todas inquiridas segundo a mesma

técnica, rapidamente se colocaram algumas questões:

• Como colocar cada discurso sob uma forma mais fácil de abordar,

de maneira a nele conservar o que é pertinente e nada mais do que

isso?

• O que disse cada um a propósito de um ponto particular?

• Que diferenças e semelhanças existem entre os discursos das

pessoas interrogadas?

100

Page 102: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

Procurámos obter um texto que mais facilmente nos permitisse

comparar os diferentes discursos. Assim, a leitura que fizemos do texto

teve sempre subjacente o atingir dos objectivos definidos, cujas decisões

foram tomadas em função de pressupostos muito fortes.

Para Ghiglione e Matalon (1993), a metodologia geral da análise de

conteúdo responde essencialmente a dois tipos de questões: como

codificar? Como assegurar a fiabilidade do procedimento?. Também a nós se

colocaram estas dúvidas pelo que seguimos as orientações dadas por esses

autores.

A codificação é uma questão básica e central no decurso da análise de

conteúdo, em primeiro lugar por razões teóricas, "o acto de codificar

constitui uma operação sobre o sentido, efectuado pelo codificador"

(Bardin, 1970:29). Não existindo uma teoria que permita fundamentar este

tipo de atitude, isto é, "que possa dar conta do conjunto semantico-

situacional", a única posição a tomar para estes autores é " se queremos

continuar a fazer análise de conteúdo, é satisfazermo-nos com uma

metodologia de codificação que, não ignorando os problemas teóricos e

explicitando claramente os seus postulados, aceite o risco do empirismo.

Quer dizer o risco de uma validação empírica e extrínseca ao campo de

análise" (Ghiglione, 1993:206).

Com isto, a análise de conteúdo de natureza qualitativa parece-nos

ser a técnica que melhor se adapta à finalidade exploratória deste estudo.

Pois, segundo Vala (1987: 104) "trata-se da desmontagem de um discurso e

da produção de um novo discurso, através do processo de localização-

atribuição de traços de significação, resultado de uma dinâmica entre as

condições e produção do discurso a analisar e as condições de produção de

análise".

101

Page 103: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

A análise de dados " consiste em examinar, categorizar, tabular ou,

doutra forma, recombinar as evidências para relacionar com as proposições

do estudo" (Yin, 1994:102) e comporta um conjunto de técnicas que se

podem usar para dar sentido aos dados, dados esses que são qualitativos, ou

seja, existem sob a forma de "palavras", sedutoras pelo seu "não sei de quê

de concreto, evocador ou significativo" (Huberman e Miles, 1991:21)

Perante dados de ordem quantitativa, sabemos da existência de

regras bem definidas para a sua análise, o mesmo não ocorre para os dados

qualitativos. Os métodos de análise têm que ser escolhidos de acordo com

os dados, os objectivos, a metodologia,... enfim, não há uma forma única. No

entanto, é fundamental que exista um certo grau de formalização do

processo analítico, que deve ser "explícito e rigoroso" (Huberman e Miles,

1991:33).

A análise dos dados, como vemos, implicou certas etapas

diferenciadas. A primeira, uma fase de descoberta progressiva: identificar

temas e desenvolver conceitos e proposições. A segunda fase, que

tipicamente se produz com os dados colhidos, inclui a codificação dos dados

e o refinamento da compreensão do tema em estudo. Na fase final, o

investigador tratou de relativizar as suas descobertas (Deutscher, 1973), o

mesmo que dizer, de compreender os dados e o contexto em que foram

colhidos. Gradualmente fomos dando sentido ao que estudávamos

combinando a perspicácia e a intuição e uma familiaridade íntima com os

dados. Não foi um processo fácil. Houve algumas dificuldades em

reconhecer o que emergia dos dados, em virtude de termos uma menor

experiência em metodologia qualitativa. Como não há nenhuma forma simples

para identificar temas e desenvolver conceitos, houve que aprender a

procurar temas examinando os dados de todas as maneiras possíveis.

102

Page 104: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar cm Enfermagem

A fiabilidade foi obtida repetindo observações dos mesmos

acontecimentos para procurar ocorrências similares e perguntando aos

informantes questões idênticas sobre o mesmo conteúdo, obtendo dados

estáveis ao longo do tempo e fazendo diferentes tipos de perguntas para

estabelecer a equivalência dos dados encontrados, independentemente da

forma de colocar a questão (Hutchinson,1986; Morse, 1989; Clark e

Wheeler, 1992). São exemplos disso:

- Observação - o atendimento aos clientes é feito de uma forma

rápida não permitindo prestar a globalidade dos cuidados.

"(...) por muita vontade que nós tenhamos é muito difícil podermos

prestar os cuidados em pleno aos nossos doentes...por falta de tempo e

pessoal(...)"E6.

- Observação- a disponibilidade dos enfermeiros para os doentes é

diminuto, tudo é feito a correr.

"(...) estamos um pouco com os doentes às vezes lá estamos um pouco

mais"(...)E6.

- Observação - os médicos não se dirigem ao enfermeiro que presta

os cuidados para obterem informação acerca dos clientes.

"(...) são poucos(os médicos) que perguntam pelos doentes...não lêem as

notas de enfermagem...os médicos não falam connosco não criam

ambiente...são antipáticos ...falam mais com o enfermeiro chefe(...)"E3.

-Observação- Auxiliar de acção médica para o enfermeiro "é preciso

desalgaliar o doente da cama sete que vai para casa tem alta"

"(...) a alta não é planeada por falta de informação médica"E2.

A validade foi obtida pela natureza longitudinal do estudo, pela

reunião com colegas, pelo conhecimento que os actores têm do conteúdo a

ser divulgado, assegurando a confiança no investigador através da

veracidade do relato e pelas técnicas de triangulação. Estas, foram

103

Page 105: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

utilizadas para contrariar as ameaças à validação de cada técnica de

colheita de dados e para obter uma confirmação mútua do fenómeno em

estudo ( Basto, 1998).

104

Page 106: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

4 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Após termos feito a análise de conteúdo, da observação participante

e entrevistas, aos seis enfermeiros que constituem os nossos informantes

privilegiados, são esses dados que se apresentam no capítulo que se segue.

Como já foi referido o objectivo do estudo era compreender até que ponto

o método de organizar o trabalho nas unidades de internamento corresponde à

percepção dos enfermeiros do que é cuidar em enfermagem.

O quadro 6 apresenta duma forma global o conjunto de categorias e

subcategorias, por dimensão. As sete categorias inventariadas, das quais fazem

parte nove sub-categorias, inseridas nas duas dimensões em estudo, possibilitam-

nos uma visão mais precisa dos dados recolhidos.

Assim, as duas primeiras categorias, "elementos predominantes da

qualidade" e os "factores de influência ligados ao método de prestação de

cuidados", integradas na dimensão "método de prestação de cuidados",

permitem-nos traçar o quadro referencial relativamente à organização

sistemática dos cuidados prestados, em cada serviço de internamento.

- Elementos predominantes da qualidade na organização sistemática da

prestação de cuidados : totalidade, imputabilidade, coordenação e

continuidade.

A "totalidade" implica que seja incluída tanto a apreciação das necessidades

do cliente, como a planificação, execução e controlo dos cuidados. A

"continuidade" pressupõe a prestação dos cuidados de maneira ininterrupta. A

"imputabilidade" significa que os cuidados prestados são da responsabilidade de

uma enfermeira em particular. A "coordenação " é a actividade que permite, em

colaboração com os outros profissionais de saúde integrar os cuidados de

enfermagem prestados, no conjunto do plano global de cuidados de saúde.

105

Page 107: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

- Factores de influência ligados ao método de prestação de

cuidados.

Trata-se de um conjunto específico de condições que têm influência

negativa sobre o método de prestação de cuidados: recursos em

enfermagem, apoio organizacional, excesso de trabalho, número elevado de

doentes e rotinas

Quadro 6 - Distribuição das dimensões, categorias e sub-categorias emergentes da observação participante e entrevistas

Totais

Dimensão Categoria Sub-categoria Unidade M Un. Registo

n=6 F %

Unidade J Un.registo

n=6 F %

Método de prestação de cuidados

1. Elementos predominantes da qualidade

2. Factores de influência ligados ao método de prestação de cuidados

1.1 1.2 1.3 1.4

2.1

2.2 2.3 2.4 2.5

Totalidade Imputabilidade Coordenação Continuidade

Recursos em enfermagem Apoio organizacional Excesso de trabalho Número de doentes Rotinas

91 24 10 14

5 5 5

1

67,4 17,8 7,4 7,4

31,3 31,3 31,3

6,1

32 16 10 8

6 7 4 1 7

48,5 24,2 15,2 12,1

24,0 28,0 16,0 4,0

28,0

Percepção de cuidar

1. Conhecer 2. Estar com 3. Fazer por 4. Possibilitar 5. Manter a crença

9 9 6 17 9

18,0 18,0 12,0 34,0 18,0

19 11 17 5 4

33,9 19,5 30,6 8,9 7,1

Relativamente à dimensão "percepção de cuidar em enfermagem",

traça-se o perfil dos enfermeiros no que concerne ao processo de cuidar.

Após a análise das unidades de significação optámos por englobá-las nas

cinco categorias identificadas por Swanson (1991): "conhecer" (tentar

compreender um acontecimento que tem sentido na vida do outro), "estar

com" (abrir-se emocionalmente à realidade do outro), "fazer por" (tal como

o outro faria a si próprio se fosse possível), "possibilitar" (facilitar a

passagem do outro pelas transições da vida e acontecimentos

106

Page 108: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

desconhecidos) e "manter a crença " (manter a fé na capacidade do outro

para ultrapassar um acontecimento ou transição e encarar o futuro com

significado).

Na apresentação dos dados utilizamos alguns símbolos /códigos, cujo

significado explicitamos: (...)-excerto da transcrição original não relevante, no momento, para a

análise

- ... significam pausas no discurso.

- (palavra)- palavra/frase de ligação que confere significado à

declaração.

Método de prestação de cuidados

- Elementos predominantes da qualidade na metodologia de

trabalho

Pela análise do quadro 7 e gráfico 1 constatamos que os "elementos

predominantes da qualidade" na prestação de cuidados apresentam valores

de "unidades de registo" bastante diferenciados entre serviços. A

"totalidade" lidera com 95 (67,4%) no Serviço M e 32 (48,5%) no Serviço

J. Salienta-se, também, os valores mais elevados, no Serviço M, no que diz

respeito à "imputabilidade" (24) assim como na "continuidade" (14). Na

coordenação assumem valores iguais (10) sendo a "continuidade" o valor mais

baixo no Serviço J (8) e o menos representativo do global. Não sendo,

então, de estranhar o valor total de 135 unidades de registo no Serviço M

e 68 no Serviço J.

107

Page 109: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Quadro 7 - Distribuição das unidades de registo relativas aos elementos predominantes da qualidade, por serviço.

Totais Dimensão Categoria 5ub-categoria Unidade M

Un. Registo n=6

F %

Unidade J Un.registo

n=6 F %

Método de prestação de cuidados

1-Elementos predom inantes da qualidade

1.1 1.2 1.3 1.4

Totalidade Imputobilidade Coordenação Continuidade

91 24 10 14

674 17,8 7,4 7,4

32 16 10 8

48,5 24,2 15,2 12,1

Caracterização do Serviço M

No que respeita à natureza do trabalho dominante neste serviço, a

sua especificidade é marcada pela elevada média de doentes idosos, em vir­

tude da prevalência das patologias crónicas.

Gráfico 1- Elementos da qualidade ligados ao método de prestação de cuidados

Totalidade Imputabilidade Coordenação Continuidade Sub-categorias

" (...) os doentes são na maioria idosos sendo por vezes difícil (...)"

(E6).

108

Page 110: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar cm Enfermagem

" (...) são muitos os idosos é sempre um quebra cabeças (...) é uma

ambiente novo que não é deles, têm dificuldade em adaptar-se (...)"

E6.

" (...) a maior parte dos doentes são idosos acamados com A.V.C.,

pneumonias, escaras(...)" E4.

O modelo de organização de trabalho de enfermagem, caracteriza-se

por uma certa ambiguidade e ecletismo nos critérios de orientação que lhe

são subjacentes não sendo expressamente adoptado o princípio taylorista

de máxima parcelização, também não assenta numa global reunificação das

diferentes actividades (totalidade), e consequente atribuição de

responsabilidade (imputabilidade) e autonomia individual no seu desempenho.

"(...) apesar dos doentes estarem distribuídos o trabalho baseia-se

muito na tarefa (...)" E6.

"(...) por muita vontade e empenho que nós tenhamos é muito difícil

podermos prestar os cuidados em pleno aos nossos doentes (...)" E6.

"(-.) põe tu os termómetros que eu preparo a terapêutica(...)" E6.

"(...) o atendimento não permite a globalidade dos cuidados (...)"E6

ou seja,

"(...) é muito difícil conseguirmos chegar ao final do turno e achar que

fizeste tudo a um doente ... a todos não consegues ... ou fazes o mínimo

indispensável a todos porque se vais cuidar um na totalidade não cuidas nada

dos outros"(...) E4.

Para além disso,

"(...) se eu tivesse só os meus doentes não delegava, prestava os

cuidados dava tudo mas como temos que olhar a enfermaria é mais

importante que todos se alimentem do que eu saber o que é que aquele

comeu (...)" E5.

109

Page 111: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Cada enfermeiro é formalmente responsável (imputabilidade) por um

número definido de doentes, relativamente aos quais lhe compete a

respectiva vigilância, o recebimento e prestação de informações durante o

turno, a elaboração das correspondentes notas de enfermagem e o

controlo das revisões terapêuticas.

"(...) o enfermeiro chefe distribui os doentes individualmente, pelos

enfermeiros antes da passagem de turno (...)" E6.

"(...) o médico já sabe que há determinado enfermeiro que tem

aqueles doentes...vai à agenda ou pergunta quem tem determinado

doente...assim é mais fáciL.caso contrário perde-se muita informação(...)

E4.

"(...) o processo de cuidados do doente engloba a Escala de Norton, o

sistema de classificação de doentes, as notas de enfermagem que cada um

tem que fazer aos seus doentes (...)" E6.

Porém, para a realização da higiene e pensos agrupam-se

normalmente em equipa de dois enfermeiros ou enfermeiro e auxiliar de

acção médica, ocupando-se cada equipa do conjunto dos doentes

correspondentes aos dois elementos, às vezes delegam funções quando o

trabalho é em excesso e para a preparação e administração terapêutica

constituem, à medida que cada um vai estando disponível, uma equipa de

vários elementos que se ocupa desta tarefa em todas as enfermarias.

"(...) o trabalho é muito temos que nos ajudar mutuamente (...)" E6.

"(...) às vezes estamos ocupados ...a fazer algum exame o outro colega

faz por nós (...)" E5.

"(...) não posso limitar-me a cuidar dos meus doentes tenho que ajudar

os outros às vezes ...ultrapassar os meus limites ...tenho que se calhar fazer

os cuidados de higiene mais rápidos... ajudar os meus colegas (...)"E4

no

Page 112: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

"(...) (aos auxiliares) delegamos competências como a higiene,

alimentação, medição de diurese (...) E5

Portanto, embora cada enfermeiro esteja individualmente

responsável por um número estipulado de doentes e por um conjunto de

prestações que gere com relativa autonomia, no entanto, para as actividades

mais rotinizadas preside o critério de "segmentação".

O que leva,

"(...) a dificultar o conhecimento do próprio doente" (...) E5

"(...) a não atender melhor os doentes porque temos que fazer outras

tarefas e perdemos o contacto com os nossos doentes (...)" E6

"(...) impede-nos de contactar alguns momentos com os nossos

doentes , importantes para a observação (...)" E6.

A estrutura de autoridade subjacente a este modelo mantém a

autoridade formal de orientação de todas as actividades, contudo, não só

cada enfermeiro faz uma gestão relativamente autónoma do seu trabalho

em função do número de doentes de que é responsável, como também há

uma descentralização no intercâmbio de informações entre médicos e

enfermeiros, dado que geralmente essa informação é directamente

transmitida aos respectivos responsáveis por cada doente.

"(...) o médico informa o enfermeiro quando há alteração de

terapêutica ou é feita alguma alteração no processo (...)" E4.

Por outro lado, no que diz respeito à coordenação, quer o enfermeiro

chefe chefia, quer o enfermeiro especialista, têm neste serviço uma função

essencialmente supervisora dos cuidados de enfermagem.

"(...) o enfermeiro chefe participa na passagem de turno assegurando-

se de todo o processo de cuidados do doente (...)" E6.

" (...) o enfermeiro chefe coordena a passagem de turno (...)" E6.

m

Page 113: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Não deixando, portanto, de constituir um modelo de autoridade de

"estrutura fechada", Coser (1991),incorpora já características de uma

estrutura flexível nas relativas autonomias que assegura, e que não são

alheias à específica natureza do trabalho predominante neste serviço.

Serviço J

No que respeita à natureza do trabalho dominante neste serviço, a

sua especificidade é marcada, tal como no anterior serviço, pela elevada

média de doentes idosos, em virtude da prevalência das patologias

categorizadas como crónicas.

"(...) nem que a gente queira despachar-se não dá são muitos idosos e

não colaboram muito(...) acabam por ficar muito tempo...e não têm para onde

ir" (...)E1.

"(...) do princípio ao fim da enfermaria está tudo cheio é só doentes

idosos todos acamados (...) só A.V.C. (...)" E2.

Este carácter custodiai de permanência prolongada e estabilidade

clínica, tornando-se passível de procedimentos relativamente padronizados,

propiciam uma elevada rotinização das actividades quotidianas (Chauvenet,

1972).

O modelo de organização do trabalho de enfermagem traduz-se numa

acentuada divisão e segmentação interprofissional, sendo o princípio

taylorista da parcelização das diferentes actividades comportadas pelo

trabalho de enfermagem, manifestamente, o vector central de

estruturação desse modelo, que nas suas diversas formas de concretização

se revela, com maior visibilidade, na distribuição diária dos enfermeiros por

diferentes actividades. No entanto, esta distribuição /parcelização do

112

Page 114: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

trabalho vai de encontro com o que Chauvenet (1972) designa de confusão

de tarefas, já que a sua forma de parcelização não corresponde a nenhuma

especialização, o que alias se constata na intermutabilidade de enfermeiros

e tarefas que assinala a organização do seu trabalho.

"(...) não concordo com o método de organização por tarefas, está

ultrapassado(...)" El.

"(...) a organização por tarefas não dá para conhecer os doentes (...)"

E3.

"(...) trabalha-se muito à tarefa não se sabe muitas vezes o que foi

feito (...)" E3.

Como diz Lopes (1994) ao enfermeiro apenas se requer, no essencial,

competências de carácter executivo e não a responsabilidade de um

processo de trabalho. Puras técnicas (Boekholdt, 1979)

Logo, a continuidade na prestação de cuidados é prejudicada, quase

não existe, uma vez que a parcelização das tarefas retira a possibilidade de

tal acontecer (Pinheiro, 1994)

"(...) Os cuidados são do predomínio físico quase só damos atenção às

higienes, terapêutica, posicionamento, colheita de sangue e pensos ... não

seguimos o doente do princípio ao fim (...)" E3.

"(...) às vezes perguntam-nos qualquer coisa a gente não sabe

responder porque só prestámos os cuidados de higiene o resto foi feito por

outros(...)" E3.

"(...) a visita médica decorre sem a presença do enfermeiro(no

entanto) nós é que sabemos como ele passou (...)"E2.

"(...) os médicos não lêem as notas de enfermagem(...)" E3.

Com efeito, é comum neste serviço que, por exemplo, durante o turno

um enfermeiro se ocupe exclusivamente da preparação de todas as

medicações, enquanto os restantes tratam das higienes dos doentes.

113

Page 115: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

"(...) olha a terapêutica dás tu, a volta faço eu (...)" El.

"(...) um enfermeiro faz uma coisa outro outra , muitas vezes nem

sabemos o que se fez ao doente...temos que andar sempre a perguntar se já

foi feito aquilo e aquilo(...)" E3.

Assim, o nível de imputabilidade é baixo, tornando-se impossível a

atribuição de responsabilidades (Munson e Clinton, 1979).

"(...) na distribuição por tarefas ninguém é responsável por nada e é

por tudo(...)" E3.

"(...)a alteração de terapêutica é feita por quem calha ... é o caos (...) "

E3.

"(...) algumas vezes vamos dar medicamentos e eles já estão

suspensos(...)os médicos prescrevem os medicamentos e deixam o processo

no balcão(...)" E2.

Por outro lado, este modelo está associado a um tipo específico de

autoridade, que se insere na categoria designada por "estrutura fechada",

Coser (1991) e que se caracteriza pela centralidade conferida à chefia de

enfermagem na coordenação do trabalho e na tomada de decisão.

"(...) o chefe devia distribuir funções pelos enfermeiros para não

haver falhas de material, estar tudo organizado(...)" E3

"(...) há coisas que o enfermeiro devia fazer e não faz... que distribua

pelos enfermeiros que eles vão cumprir(...)" E2.

"(...) os médicos só contactam com o enfermeiro chefe e o

enfermeiro especialista tudo passa por eles(...)" E2.

É também a esta que geralmente os médicos se dirigem, para pedir

informações acerca dos doentes, ou pontualmente requererem a

disponibilidade de algum enfermeiro para a realização de um tratamento, ou

outra actividade com carácter imediato, sendo raro que os médicos

resolvam directamente com os outros enfermeiros este tipo de questões.

114

Page 116: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

"(...) há mais comunicação da parte médica com o enfermeiro chefe e

não com o enfermeiro que presta cuidados (...)" E2.

No entanto, é também frequente que as chefias se desloquem pelas

enfermarias interpelando os enfermeiros sobre a "quantidade" de trabalho

que já fizeram, ou que lhes falta fazer e, eventualmente, mobilize algum

deles para qualquer outra actividade, o que, sendo geralmente do desagrado

destes, que consideram esta atitude sem benefício para a eficiência e

qualidade dos cuidados, não deixa, contudo, de traduzir o efectivo

despojamento destes enfermeiros de recursos de autoridade para gerirem

o seu próprio trabalho.

É, então, constatável da caracterização de cada um destes serviços

de medicina, que não obstante pertencerem ambos à mesma instituição,

apresentam algumas diferenças, que traduzem diferentes constrangimentos

e possibilidades contextuais para a enfermagem, no processo de cuidar.

Factores de influência ligados à organização sistemática dos

trabalho identificados pelos enfermeiros

Os factores de influência ligados à organização sistemática dos

cuidados com influência na metodologia de trabalho identificados pelos

enfermeiros, seleccionados por serem informantes privilegiados e

expressos em entrevistas, foram confirmados pela observação e

classificados em cinco sub-categorias (Quadro 8 e gráfico 2).

Verifica-se que os factores significativos são "os recursos em

enfermagem", "o apoio organizacional" e o "excesso de trabalho", nos dois

serviços, bem como a "rotinas" no Serviço J .

115

Page 117: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Quadro 8 - Distribuição das unidades de registo relativas aos "factores de influência ligados ao método de prestação de cuidados" por serviço.

Dimensão Categoria Sub-categoria Totais 1

Unidade M Unidade J Un. Registo Un.registo

n=6 n-b F % F %

Método de prestação de cuidados

1. Factores de influência ligados ao método de prestação de cuidados

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5

Recursos em enfermagem Apoio organizacional Excesso de trabalho Número de doents Rotinas

5 5 5

1

31,3 31,3 31,3

6,1

7 7 4 1 7

24,0 28,0 16,0 4,0

28,0

Os constrangimentos a um relacionamento mais próximo com os

doentes pela falta de pessoal de enfermagem, Smith (1986) bem como os

recursos em enfermagem e o apoio organizacional, Logeay et ai. (1981).;

Wandlet et ai. (1981), são mencionados com frequência como factores de

influência negativa na organização do trabalho. Nesta pesquisa encontramos

as seguintes unidades de significação:

Serviço J

'(...) a falta de pessoal (de enfermagem) dificulta muito a

organização(...)" E2.

"(...) a falta de pessoal de enfermagem não nos deixa fazer como

gostaríamos...é banhos e mais banhos, terapêutica e registos não temos

tempo para falar como os doentes(...)"E2.

"(...) se tivesse mais colegas (enfermeiros) havia mais qualidade(...)"

El.

"(...) a maior parte das vezes o pessoal (de enfermagem) é impossível

dar-se mais(...)"E2

"(...) trabalha-se muito à tarefa não se pode conhecer os doentes(...)"

E3. "(...) há muita falta de material(...)" E3.

116

Page 118: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

"(...) não há interacção na prestação de cuidados devido à falta de

pessoal de enfermagem(...)"E2.

"(...) se estivesse distribuído menos serviço este era feito com mais

qualidade bem completo(...) E3.

Serviço M

"(...) precisamos mais enfermeiros e auxiliares para melhorar o

planeamento(...)"E6.

"(...) os auxiliares não deviam fazer limpeza...devia haver uma brigada

para isso... eles deviam auxiliar só os enfermeiros na higiene, alimentação

(...)"E4.

"(...) deviam aumentar o número de enfermeiros principalmente na

manhã e tarde(...)" E6.

"(...)(para nos apoiar) os auxiliares precisam de uma

reciclagem...cursos de formação em serviço(...)" E6.

"(...) (a falta de enfermeiros) leva à delegação de competências e isto

impede-nos de conhecer melhor os doentes(...)"

O "excesso de trabalho" era entendido como um factor negativo que

impedia fortemente a prestação qualitativa de cuidados uma vez que não

permitia disponibilidade para fazer o que achavam correcto. Como referem

Masson, (1985) e Stelling (1991), para cuidar é necessário algo muito

importante e que é escasso, o tempo.

"(...) devido ao excesso de trabalho presta-se os cuidados com

rapidez" (...)E5.

"(...) os cuidados são prestados (devido ao excesso de trabalho)

fazendo o mínimo indispensável(...)"E4.

"(...) os enfermeiros andam sempre a correr(por excesso de trabalho)

(...)"E5

117

Page 119: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

"(...) o trabalho é muito e nós falhamos um bocado por falta de

tempo(...)"E3.

"(...) nem que a gente queira estar mais com o doente não podemos

temos trabalho pela frente... são todos acamados" (...)E2.

O "número de doentes" como factor de influência constata-se nas

seguintes expressões1.

"(...) os doentes são muitos e as coisas têm que ser feitas(...)"E2.

"(...) por vezes entram durante a tarde quatro ou cinco doentes e os

registos ficam para trás(...)"E6.

"(...) com tantos doentes alguma coisa tem que ficar para trás...não

falamos com os doentes(...)" "(...) os familiares são muitos todos querem informação ao mesmo

tempo(...)"El.

Gráfico 2- Factores de influência ligados ao método de prestação de cuidados, por serviço

a Rotinas

□ Número de doentes

D Excesso de trabalho

□ apoio organizacional

El Recursos em enfermagem

Serviços de Internamento

As "rotinas" estavam bem presentes na organização diária do

trabalho dos enfermeiros, essencialmente relacionadas, tal como refere

118

Page 120: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar cm Enfermagem

Basto, (1998), com a sobrevivência e tratamento do doente. Tudo estava

bem estabelecido.

Serviço J

"(...) a rotina ainda prevalece em muita organização do trabalho(...)"

E5.

"(...) há rotinas estabelecidas e nada se altera (...)"E3.

Mas a razão subjacente é que,

"(...) as rotinas são muitas devido ao excesso de trabalho(...)" E2.

Serviço M

"(...) não se altera a rotina porque há falta de pessoal(...)"E5.

E com isto,

"(...) os registos são feitos atendendo às necessidades físicas como a

alimentação, higiene, posicionamento, exames e alterações de

terapêutica"(...) E6.

Percepção de cuidar

Como se referiu no capítulo da metodologia, no final de cada turno, no

qual o enfermeiro foi observado, algumas questões que se articulam com o

objectivo da nossa pesquisa, foram colocadas. O que é para si cuidar em

enfermagem? O que é que não considera cuidar em enfermagem?.

Existem alguns estudos sobre o assunto "cuidar", como sejam os de

Mayeroff(1990), Leininger (1988), Roach(1993), Watson(1985),

Swanson(1991), entre muitos outros.

Os autores falam da necessidade de determinar o que significa o

cuidar em si mesmo, como o cuidar se manifesta na prática de enfermagem

e como (ou se) o cuidar é a essência de enfermagem. Embora estes autores

tenham explorado de forma variada o cuidar, foi nossa intenção numa das

119

Page 121: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

questões de partida, nesta pesquisa, identificar a percepção dos

enfermeiros acerca de cuidar em enfermagem, procurando, ao mesmo

tempo, validar a observação efectuada.

Pela análise destas respostas, após descrição exaustiva, foi

formulada a estrutura da percepção de cuidar em cinco categorias que se

correspondem à definição dos processos de cuidar de Swanson: conhecer;

estar com, fazer por, possibilitar e manter a crença.

O quadro 9 e gráfico 3 apresenta a distribuição das unidades de

registo, dos seis entrevistados, pelas diferentes categorias em função dos

serviços de internamento. A sua análise revela um total de 50 asserções na

Unidade M e 56 na Unidade J , distribuídas de forma bem distinta pelas

diferentes categorias. Podemos então concluir que, em relação à percepção

de cuidar, o maior número (17) de unidades de registo na Unidade M se

Quadro 9 - Distribuição das unidades de registo relativas à percepção de cuidar.

.... ..... Totais j

Dimensão Categoria Unidade M

Un. Registo n=6

F %

Unidade J

Un.registo

n=6

F %

Percepção de cuidar 1. Conhecer

2. Estar com

3. Fazer por

4. Possibilitar

5. Manter a

crença

9

9

6

17

9

18,0

18,0

12,0

34,0

18,0

19

11

17

5

4

33,9

19,5 j

30,6

8,9

7,1

enquadra na categoria "possibilitar" enquanto que no Serviço J se enquadra

na categoria "conhecer" (19). Salientamos, ainda, o número significativo,

nas categorias "estar com"(ll) e "fazer por"(17), no serviço J , assim como

120

Page 122: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

"manter a crença", "conhecer" e "estar com", no serviço M, com nove

unidades de registo.

Gráfico 3- Categorias da percepção de cuidar em enfermagem, por serviço

Conhecer Estar com Fazer por Possibilitar Manter a crença

Sub-categorias

Iniciando a análise pela categoria " possibilitar" iremos fazê-la com

base nas declarações que consideramos como mais significativas.

Consideramos nesta categoria, o atendimento compreensivo, avaliação das

necessidades subjectivas, o conhecimento favorecedor de desenvolvimento

e a ajuda nos momentos ocasionais e transitórios. Como diz Kérouac(1996) ,

é permitir ao cliente reconhecer o significado da sua experiência presente

e encontrar opções possíveis de mudança á luz das suas aspirações e dos

seus valores. "É ajudar as pessoas a mobilizar recursos que lhe permitam

lidar com os problemas da vida...de forma adaptativa e também no seu

crescimento e desenvolvimento"(Ribeiro,1995'.36)

No que respeita ao Serviço M seleccionámos as seguintes

declarações.

121

Page 123: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

"(...) cuidar é apoiar o doente(...)" E6.

"(...) cuidar é saber ouvir(...)"E6.

"(...) cuidar trata os aspectos que aparentemente à primeira vista a

gente não consegue identificar...só após uma conversação(...)"E6.

"(...) cuidar é darmos-lhe (ao doente) alento para se motivar(...)E4.

"(...) utilizar uma linguagem compreensiva e motivadora(...)" E5.

"(...) cuidar é dar ao doente o que está ao nosso alcance(...)E6.

"(...) não houve oportunidade para escutar o doente da cama 9(...)"E6.

"(...) por vezes não temos tempo mas conversar pode contribuir

bastante no tratamento e sua recuperação... representar grande

melhoria(...)"E6.

No que concerne ao Serviço J , considerámos como mais significativo.

"(...)se nos descuidarmos a falar e dar apoio que o doente merece

nem pensar os outros estão à espera não nos podemos descuidar(...)"E3.

"(...) utilizar uma linguagem compreensiva(...)"E3.

"(...) nós ás yezes queremos conversar com o doente mas nem tempo

temos(...)"E3

"(...) eu acho que eles querem mesmo falar mas...espere aí que está

uma campainha a tocar(...)"El.

Como nos diz Bebb(1987), na relação enfermeiro/cliente, tempo para

escutar e conversar é fundamental. O que implica segundo Watson (1988)

valorizar as percepções do outro, os sentimentos, as preocupações e

compreender o outro, E que os momentos reais do cuidar dão-se momento a

momento e só com o permitir de exteriorizar sentimentos ou pensamentos

se percebe e sente o vivido por ele (Meyer, 1991).

Na categoria " manter a crença " consideramos os momentos que

visam a motivação para o futuro, contributos de esperança para o

restabelecimento e reforços na sua capacidade e auto-estima.

122

Page 124: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

Watson(1988), também, fomenta esta ideia quando afirma que o enfermeiro

deve reforçar a fé , esperança e potencial em si próprio e na pessoa que

cuida, inclusivamente em situações de doentes em estado terminal.

Destacamos no Serviço M as seguintes expressões.

"(...) mantemos-lhe optimismo na recuperação e restabelecimento

pleno, incutimos confiança na equipa de saúde através de palavras amigas,

de boa disposição, através de um ambiente agradável na enfermaria"(...)E4.

(...)"o Sr. vai ficar bom tem que ir fazendo qualquer coisa para

melhorar e ir embora mais depressa"(...)E5.

(...)"incutir esperança no dia-a-dia nos resultados"(...)E5

(...)"cuidar é fazê-lo sentir que nós gostamos dele(...)E6

No que respeita ao Serviço J registámos a seguinte afirmação mais

significativa.

(...)"0 Sr. vai ficar melhor tem que ter esperança(...)"

Diz Kérouac(1996), cuidar é acreditar em alguém, reforçar a sua

capacidade, permitir-lhe recuperar a esperança. Manter a crença é base do

cuidar, pois translata o idealismo de manter a crença no realismo da

condição humana (Swanson, 1991). Com efeito, é encorajar, tranquilizar,

fornecer segurança e conforto (Halldórsdóttir, 1991).

Na categoria "Conhecer" considerámos os momentos nos quais se

aprofunda o conhecimento acerca do cliente, se faz uma observação

pormenorizada, se envolve com o cliente. Como diz Mayeroff(1990) "para

cuidar é preciso conhecer o outro e conhecer-se a si próprio".

Registámos as seguintes expressões no Serviço M

"(...) (cuidar) é fazer uma apreciação detalhada da pessoa, indivíduo

enquanto estamos a prestar os cuidados(...)"E5.

"(...) cuidar engloba várias vertentes... temos que lidar com o doente

como um ser biopsicossocial, a técnica para melhoria dos aspectos

123

Page 125: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

biológicos, preocupar com o aspecto emocional as implicações... sei lá... dos

familiares"(...)"E5

"(...) (cuidar é)compreender o doente nas diferentes vertentes(...)"E5

"(...) gostamos de conversar com o doente para ver o que o preocupa,

quais os receios, medos(...)"E4.

Em relação ao Serviço J retirámos as seguintes unidades de

significação.

"(...) a enfermeira deve estar ao alcance de cuidados mais ao

pormenor(...)"E2.

"(...) devemos acompanhar o doente do princípio ao f im(...)"El.

"(...) às vezes não nos aprofundamos tanto ao pormenor em cuidados

que devíamos fazer(...)"E2.

"(...) cuidar é saber o que se passa na totalidade com o doente,

conhecermos melhor o doente(...)"El.

"(...) a gente nem que se queira debruçar sobre um doente não

consegue são muitos os doentes(...)"E3.

"(...) não nos envolvemos porque não há tempo não dá"(...)"E3

"(...) só conhecemos os doentes que estão muito tempo internados

estes dá para conhecer bem(...)"E3.

A categoria "fazer por" compreende a realização de actividades pelo

outro, assisti-lo quando não existe capacidade, preservar a dignidade do

outro. Como refere Virgínia Henderson(1961), assistir o cliente doente ou

são na satisfação das necessidades quando este não as pode satisfazer, com

a finalidade de as conservar ou restabelecer.

Eis as afirmações a destacar.

No Serviço M

"(...) cuidar é tudo o que seja ajudar no fundo ajudá-lo a resolver

estes momentos difíceis (...)"E6.

124

Page 126: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

"(...) ajudar o doente nas suas necessidades(...)"E4.

"(...) ajudá-lo naquilo que não consiga fazer(...)"E5.

"(...) é que ele sinta que nós estamos ali para o ajudar a ultrapassar os

momentos difíceis(...)"E5.

Em relação ao Serviço J

"(...) vocês merecem o céu sujeitam-se a cada coisa nem a família faz

isso(...)"El.

"(...) a gente está cá para o ajudar(...)"E3.

"(...) há rotinas da noite que deviam ser de dia como colher

sangue(...)"El.

"(...) a noite é para prestar os cuidados mínimos(...)"El.

"(...) o doente está como o deixei desde a noite que eu fiz nem a roupa

tiraram e depois não querem que a família tenha razão(...)"E2.

Afirma Watson(1988), entre os princípios que norteiam a relação de

cuidados humanos, os enfermeiros têm uma maior preocupação pela

dignidade humana e preservação da humanidade.

A categoria "estar com" compreende o estar emocionalmente com o

outro, a presença física e psicológica, participar com a pessoa nos

sentimentos, disponibilidade.

Em relação ao Serviço M é referido como significativo.

"(...) manter uma boa relação empática(...)"E5.

"(...) a disponibilidade com o doente é mínima(...)"E6.

"(...) cuidar é dar atenção ao doente(...)"E4.

"(...) eu penso que faz parte do cuidar este tempo que nós

disponibilizamos para conversar com o doente e saber como ele está(...)"E5.

Quanto ao serviço J realçamos

"(...) cuidar é tudo que se relaciona com o doente(...)"E3

"(...) com os doentes há amizade(...)"E3.

125

Page 127: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

"(...) (cuidar é) dar carinho e atenção(...)"E3.

"(...) a relação empática que nós conseguimos criar(...)"El

"(...) o tempo que nós disponibilizamos para com o doente(...)"El.

Estar com, como sustenta Mayeroff (1990), é participar com a pessoa,

doando-se na relação.

Discussão dos resultados

Após apresentação dos resultados, com a descrição dos métodos de

prestação de cuidados, percepção dos enfermeiros acerca de cuidar em

enfermagem e factores de influência ligados aos métodos de prestação de

cuidados, torna-se necessário dar resposta ao objectivo do nosso estudo"

compreender até que ponto o método de organizar o trabalho nas unidades

de internamento corresponde à percepção dos enfermeiros do que é cuidar

em enfermagem".

Os dados evidenciam dois métodos de trabalho e formas de

percepcionar o cuidar em enfermagem, com parâmetros distintos. Será que

os dois serviços sofrem interferência dos mesmos factores? Ou o método

de trabalho interfere com a percepção de cuidar? E a percepção de cuidar,

relaciona-se com o método de prestação de cuidados? Há ou não qualquer

relação entre eles?

A figura 3 e 4 mostram, em esquema, face a face, as categorias

correspondentes ao método de prestação de cuidados e percepção de

cuidar, por serviço.

De acordo com Munson e Clinton(1979) a "totalidade" dos cuidados

pressupõe a apreciação das necessidades do cliente, como a planificação,

execução e controlo dos cuidados.

126

Page 128: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

Os dados assim o demonstram, o Serviço M valoriza fortemente esta

categoria obtendo um registo de unidades três vezes superior ao Serviço J.

Quais os motivos? Será que são mais marcantes os factores de influência

negativa na organização sistemática de trabalho? Ou o método de trabalho

evidenciado, nos resultados, dita as suas consequências? Em relação aos

factores de influência (Quadro 8) os resultados expressos não evidenciam

significativa diferença. Agora, é evidente, o cuidado global (total) implica a

afectação de um enfermeiro ao cliente (Pinheiro, 1994), o que nos parece

ser um for te contributo para tais evidências.

Figura 3 - Esquema das categorias: "Métodos de prestação de cuidados" e "Percepção de cuidar", no serviço M.

Métodos de prestação de cuidados

Fazer por ífamter a crença

r; ■'<:?.■? : . . V Q '■?:?&>'■>

conhecer 9

Estar Goítv 9

Posstbi)tar 'iifU/'-ï.-

-Percepção de cuidar

É que no Serviço M apesar de uma certa ambiguidade e ecletismo cada

enfermeiro é formalmente responsável por um número definido de doentes,

o que prevê que o enfermeiro afectado lhe preste todos os cuidados

durante o seu turno de trabalho.

"(...) com o método individual consigo saber mais acerca do meu

doente(...) temos o plano de cuidados(...)"E5.

177

Page 129: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

"(...) com o método individual consigo saber mais acerca do meu

doente(...) temos o plano de cuidados(...)"E5.

"(...) o método individual é bom(...)"E5.

"(...) o chefe distribui-nos aqueles doentes(...) prestamos-lhes os

cuidados todos...às vezes não temos tempo(...)"E4.

Enquanto no Serviço J o modelo de trabalho de enfermagem traduz-se numa

acentuada divisão e segmentação interprofissional. Como refere

Pinheiro(1994), este método não inclui a totalidade, uma vez que é vulgar a

fragmentação dos cuidados, e a divisão do trabalho originar que cada

membro esteja mais afectado às tarefas do que aos doentes.

"(...) não concordo com o método de organização por tarefas(...)"El.

"(...) na distribuição por tarefas a gente não presta os cuidados na

globalidade... não sabe o que se passa com o doente na totalidade(...)"El.

"(...) este tipo de organização de trabalho não dá para conhecer os

doentes principalmente os que estão pouco tempo internados(...)"

No que diz respeito à "imputabilidade" também os dados apresentam

significativas diferenças. O serviço M tem níveis de imputabilidade mais

elevados, possivelmente, pelas próprias características da organização do

trabalho, no qual o enfermeiro é formalmente responsável por determinado

número de doentes. Enquanto que, no Serviço J se privilegia a tarefa. Como

diz Lopes(1995), o enfermeiro não está directamente responsável pela

concretização de um processo de trabalho, mas tão somente pela

concretização de tarefas atomizadas, que lhe requerem, no essencial,

competências de natureza executiva. Então, talvez, a responsabilidade,

fique a cargo do enfermeiro chefe.

Mas...

"(...) há coisas que o enfermeiro chefe devia fazer e não faz...ao

menos que distribua pelos enfermeiros(...)"E3.

128

Page 130: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

Como é evidente o nível de imputabilidade repercute-se r\a

"continuidade". Não havendo enfermeiros directamente responsáveis pelos

cuidados a um determinado número de doentes daqui resulta também o

Figura 4 - Esquema das categorias: "Métodos de prestação de cuidados" e "Percepção de cuidar", no Serviço J.

- Elementos da qualidade

S

fazer por 17

Conhecer 19

S

. Estar com n

fazer por 17

Conhecer 19

Manter a crshça S

. Estar com n

fazer por 17

Conhecer 19

- Percepção de cuidar

prejuízo da continuidade. Não sendo por isso de estranhar resultados mais

positivos no Serviço M. As expressões destes enfermeiros falam por si.

"(...) Os doentes são distribuídos( pelo chefe) aos enfermeiros que os

vêm seguindo(...)"E6.

"(...) é elaborado o plano de cuidados quando entra o doente para dar

continuidade(...)"E5.

11(^

Page 131: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

"(...) aquando da alta sempre que possível ou sempre que o doente vai

para outra instituição mandamos sempre a carta de enfermagem quando há

cuidados especiais com algélias, sondas, medicamentos(...)"E4.

"(...) o médico informa o enfermeiro quando há alteração de

terapêutica ou é feita alguma alteração no processo(...)"E5.

No serviço J são significativas as seguintes expressões:

"(...) trabalha-se muito à tarefa não se sabe o que foi feito(...)"E3.

"(...) a alta não é planeada"(...)E2.

"(...) os médicos não lêem as notas(de enfermagem) (...)"E3.

"(...) não existe plano de cuidados(...)"

Ao nível da coordenação os valores são mais significativos no serviço

J . Caracterizada, a coordenação, como sendo a actividade que permite, em

colaboração com outros profissionais de saúde, integrar os cuidados de

enfermagem prestados, no conjunto do plano global de cuidados, será pelo

facto de haver uma grande centralização de poder no enfermeiro chefe

deste serviço, que a categoria assume tais valores bem patentes nas

unidades de significação. E que, como sustenta Boekholdt(1979), o

enfermeiro chefe "puxa todos os cordelinhos".

"(...) há mais comunicação da parte médica com o enfermeiro chefe

(...)" E2.

"(...) o enfermeiro chefe devia distribuir funções pelos enfermeiros

delegar mais(...)"E3.

"(...) há coisas que o chefe podia fazer e não faz(...)"E3.

"(...) os médicos falam mais com o enfermeiro chefe e a nós nos

chamam muito (...)"E1.

No que diz respeito à coordenação no serviço M, a chefia tem uma

função essencialmente supervisora dos cuidados de enfermagem, uma vez

que o enfermeiro afecto ao doente avalia e coordena os cuidados. Talvez,

130

Page 132: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar cm Enfermagem

por este motivo, o número mais baixo de unidades de significação, das quais

realçamos.

"(...) o enfermeiro chefe delega competências em nós(...)" E4

"(...) o enfermeiro gosta de ver os pensos antes de se fazerem(...)"E6

"(...) o enfermeiro chefe participa na passagem de turno e conhece

bem os doentes"(...)E6.

Podemos então concluir que, no serviço M o modo de organizar o

trabalho respeita a "totalidade". A responsabilidade é de um enfermeiro em

particular, prevê que o enfermeiro fique afecto aos doentes e lhe preste os

cuidados durante o turno. No entanto, a organização global dos cuidados

depende da possibilidade do enfermeiro em privilegiar o doente ou a tarefa.

Quanto á continuidade ela é posta em causa devido a alguns factores de

influência ligados ao método de prestação de cuidados, como sejam: os

recursos em enfermagem, o apoio organizacional, o excesso de trabalho e

as rotinas. A coordenação incorpora já características de uma estrutura

flexível nas relativas autonomias que assegura.

No serviço J o modo de trabalhar inclui discretamente a

"totalidade", uma vez que é vulgar a fragmentação dos cuidados, e a divisão

do trabalho originar que cada membro da equipa esteja mais afecto a

tarefas do que a doentes. Daqui resulta o prejuízo na continuidade. O nível

de responsabilidade é relativamente baixo e o centro de responsabilidades

é imputado primordialmente ao enfermeiro chefe. Alguns factores de

influência negativa ligados ao método de organizar o trabalho contribuem

para o descuidado cuidado, são eles os o reduzido número de enfermeiros, o

apoio organizacional, o excesso de trabalho, o número de doentes e as

rotinas.

As categorias da percepção de cuidar assumem, também, wa\ores

distintos, nos dois serviços.

131

Page 133: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Analisando a figura 3 e 4 facilmente constatamos que a

representatividade de cada categoria, no global da estrutura de cuidar, se

inscreve com um "peso" diferente.

Tendo presente a metodologia de trabalho praticada nos dois

serviços, pensamos nós que alguma relação existe entre os valores

encontrados nas duas dimensões, se não vejamos: Porquê o "possibilitar"

com o valor máximo (17) no serviço M e o "conhecer" (19) no serviço J ?.

Como sabemos no Serviço M pratica-se o método de prestação de cuidados

individuais, enquanto no Serviço J o método de enfermagem por tarefa.

Como refere Bebb (1987 ), para cuidar é necessário tempo. Sem tempo não

se pode conhecer. Porque, diz-nos Swanson (1991), o conhecer é

compreender o outro, centrar-se na pessoa.

Privilegiando-se no Serviço J o método de prestação de cuidados por

tarefa, o tempo que se passa com o doente é mínimo, o que não permite o

conhecimento através do envolvimento, nem a prestação da totalidade dos

cuidados. Torna-se lógico concluir que pelo facto da categoria "conhecer",

no Serviço J , apresentar o valor máximo, sabendo nós da importância da

mesma, não é mais do que o sentir das dificuldades que os enfermeiros têm

no desenvolvimento deste método de prestação de cuidados. Ou seja, a

tarefa é sinónimo de afastamento do conhecimento, menor totalidade de

cuidados o que faz sentir aos enfermeiros uma maior necessidade de

"conhecer" para poder "possibilitar", que segundo Swanson (1991) consiste

em usar da melhor forma o conhecimento. Daí o baixo valor assumido pela

categoria "possibilitar" no Serviço J . O que se torna bem elucidativo no

conteúdo seguinte.

"(...) gosto mais de trabalhar com um método responsável presta-se a

globalidade dos cuidados(...) o método de tarefas está ultrapassado(...)não

há conhecimento dos doentes (...) só se atende aos aspectos físicos (...) não

132

Page 134: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar cm Enfermagem

há tempo para falar com os doentes, não só os doentes como os familiares

(...)"E1

Ao contrário, o serviço M apresenta os valores mais significativos nas

categorias "possibilitar" e "totalidade". E porquê? Será que existe alguma

relação? Como refere Swanson (1991), "possibilitar" é assistir o outro,

compreendendo-o e avaliando os seus sentimentos. Só assim se consegue,

realmente, detectar as suas reais necessidades. A "totalidade" pressupõe a

apreciação das necessidades do cliente por forma a prestar-lhe os cuidados

na globalidade (Pinheiro, 1994). Podemos afirmar que o "possibilitar" e a

"totalidade" seguem lado a lado, não como linhas paralelas mas, de mãos

dadas, ao método de prestação de cuidados com bom índice de

imputabilidade. Com isto queremos dizer que a "imputabilidade" permite o

"possibilitar" da "totalidade".

Como significativo, registamos a conjugação de tais pressupostos nas

seguintes unidades de significação.

"(...) o método individual dá-nos mais possibilidades de conhecer o

doente...às vezes nem todas as necessidades (do doente) porque são muitos

doentes (...)"E5.

"(...) os doentes distribuídos criam-nos maiores responsabilidades

porque temos que fazer tudo sei lá (...) conhecemos melhor (...) fazemos

melhor as coisas(...)"E4

"(...) quando a gente está disponível prestamos realmente os cuidados

aos nossos doentes que efectivamente estão distribuídos e

acompanhamos(...)"E4

Coloquemos então as questões. Estamos a respeitar a vontade do

doente, que se entregou nas nossas mãos, quando não nos permitimos a

conhecê-lo? Será que ele não veio, ao nosso encontro, numa tentativa de

satisfação das suas necessidades? Como diz Watson(1988) cuidar significa

133

Page 135: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

actuar de forma a que a pessoa seja considerada um fim em si mesmo, não

apenas um meio para fins médicos ou de enfermagem ou do hospital. Temos

que centrar os cuidados na pessoa, no conhecimento da mesma, para além

do dever e obrigação moral (Silva, 1983; Watson,1990). É que um

enfermeiro que conhece bem a pessoa e os seus contextos de vida pode

facilitar as interacções e as acções conjuntas. Promovendo na pessoa a

compreensão de si mesma (...) preservando a dignidade humana (Kérouac,

1996).

E como se consegue tudo isto?. É com métodos de trabalho que

fragmentam os cuidados? Ou com métodos de prestação de cuidados que

individualizam o cuidado ? A realidade da percepção de cuidar no serviço

que fragmenta os cuidados é, como constatamos na figura 3 e 4, distinta do

serviço com um método de prestação de cuidados individual que se

privilegia.

Como se pode manter a crença sem continuidade? A crença, diz

Swanson, (1991) é ir até ao fim com a pessoa, continuar com ela. Onde está

a continuidade quando se fragmentam os cuidados. Como se vai até ao fim

se o caminho é interrompido? Parece evidente que o facto das duas

categorias "manter a crença" e "continuidade" assumirem o menor número

de unidades de registo, no serviço J, é significativo do descuido pelo

cuidar.

Como se pode "estar com" ele(o doente), partilhar sentimentos,

quando a preocupação principal é fazer com que seja feito, o mais rápido

possível. É que estar lá junto dele é estar presente fisicamente e

psicologicamente em interacção (Osterman et ai, 1997). Como pode isso

ocorrer no método de trabalho por tarefa?. Não é a prestar cuidados tipo

"(...) máquina expresso(...)"E4. Não, isso não. Dificilmente se consegue

compartilhar os sentimentos dos outros. Consegue-se, isso sim, mas com

134

Page 136: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

tempo, com disponibilidade. Para isso é necessário individualizar o cuidado,

possibilitar a continuidade para conseguir a totalidade.

Em suma, o método de prestação de cuidados implementado nos dois

serviços parece ter criado possibilidades, contextuais, significativamente

diferentes em relação às oportunidades de cuidar o que, possivelmente,

interferiu nas respostas, dos diversos actores intervenientes, à percepção

de cuidar. A percepção de cuidar é manifestamente diferente nos dois

serviços, o que pode ter favorecido a manutenção de um método de

prestação de cuidados também diferente .

135

Page 137: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

5-CONCLUSÕES

O estudo foi iniciado a partir da preocupação com a aparente relação

entre o método de prestação de cuidados e a percepção de cuidar em

enfermagem.

Terminado o estudo, parece-nos que a pergunta de partida se

justificou, pois a percepção de cuidar em enfermagem parece estar

directamente relacionada com a metodologia de trabalho. O estudo

permitiu, testar o efeito do método de prestação de cuidados, com base no

quadro conceptual de Munson e Clinton e confirmar a sua relação com a

percepção de cuidar em enfermagem. Permitiu também, confirmar a

pertinência de algumas questões colocadas desde o início do estudo, como

por exemplo: estará a organização sistemática dos cuidados dos

enfermeiros a afectar a qualidade dos cuidados prestados?. Porque é que a

melhoria nas condições gerais de trabalho e a formação não estão

aparentemente a produzir melhorias equivalentes na prática dos cuidados de

enfermagem? Quais os factores que dificultam a melhoria do desempenho

profissional? Embora o estudo tenha fornecido alguma evidência dos

factores de influência, na organização sistemática dos cuidados,

constrangedores da melhoria qualitativa dos cuidados e desempenho

profissional, são necessários outros estudos para o confirmar .

A finalidade do estudo era conseguir compreender de que modo o

método de prestação de cuidados se relaciona com a percepção de cuidar

em enfermagem. Esta finalidade do estudo foi atingida, pois aumentou a sua

compreensão, especialmente ao nível dos factores organizacionais.

136

Page 138: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

Concretamente, o método de prestação de cuidados, ou dito de outra forma,

a organização sistemática do trabalho parece estar relacionada com a

percepção de cuidar em enfermagem. Os enfermeiros valorizam mais o

cuidar com o método de prestação de cuidados individuais, isto, apesar de

haver no Serviço M uma certa ambiguidade e eclitismo nos critérios de

orientação que lhe estão subjacentes. O que vai de encontro ao estudo

exploratório de Abranches (1995) no qual pretendia compreender as

concepções / representações de enfermagem, de um grupo de docentes e

alguns enfermeiros chefes, de Lisboa, tendo concluído que a maioria relativa

dos indivíduos tinham uma concepção de enfermagem que se enquadrava num

paradigma de transição entre o biomédico e o do cuidar.

E que outras conclusões/ilações podemos t i rar dos resultados

obtidos. Quais os factos que as fundamentam?. Há ou não outros estudos

que as sustentem?. As principais conclusões sobre o método de prestação

de cuidados e a sua relação com a percepção de cuidar, apresentadas a

seguir, serão complementados com uma discussão das implicações dos

resultados.

Método de prestação de cuidados

Nesta dimensão emergiram dois domínios: elementos predominantes

da qualidade (totalidade, imputabilidade, coordenação e continuidade) e os

factores de influência ligados à organização sistemática dos cuidados

(recursos em enfermagem, apoio organizacional, excesso de trabalho,

número de doentes e rotinas). Globalmente o número de unidades de registo

dos elementos da qualidade, com um predomínio da "totalidade", foi superior

no serviço em que estava implantado o método de prestação de cuidados

137

Page 139: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

individuais, em detrimento do método de prestação de cuidados por tarefa.

O que mostra que o método individual privilegia mais a qualidade dos

cuidados (Pinheiro, 1994) e possibilita o envolvimento dos enfermeiros das

unidades com os clientes a quem prestam cuidados. O que também está

patente nos resultados da "percepção de cuidar", expressos pelos

enfermeiros daquele serviço, cujo valor máximo se encontra na categoria

"possibilitar", entendida por Swanson (1991) como assistir o outro,

compreendendo-o e avaliando os seus sentimentos. Não é com o baixo

envolvimento dos enfermeiros com os utentes, assim como, com uma visão

inespecífica de cada um deles, facilitado pelo método de trabalho por

tarefa, que se consegue prestar os "verdadeiros cuidados". Por esse

motivo, possivelmente, neste serviço, um menor número de registos na

"totalidade", assim como, na categoria "possibilitar", esta como "expoente

máximo" do culminar de todo um processo de cuidar. Neste contexto,

também Elhart(1983) coloca a tónica no aspecto de a atenção do enfermeiro

dever incidir sobre cada cliente individualmente e sobre o processo pelo

qual as necessidades individuais do doente possam ser satisfeitas. Daffler

(1975) conclui que os clientes cuidados segundo o método de enfermagem

individual mostravam uma maior satisfação com o tratamento e notavam

menos falhas. E que, na prestação de cuidados individuais existe uma

responsabilização directa pelo que é feito, o que se torna um contributo

decisivo. Dando razão a Dechanoz (1982) quando argumenta que o

enfermeiro tem de deixar de ser arrastado pela loucura da "máquina de

prestar cuidados", tem de procurar, reencontrar e redescobrir o caminho

da responsabilidade. Também Amendoeira (1994), no seu estudo sobre o

processo de cuidar na orientação de alunos em ensino clínico, salienta como

resultado significativo a importância da utilização, no processo de cuidar,

de uma metodologia centrada no cliente, enquanto ser global e envolvido no

138

Page 140: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar cm Enfermagem

processo. Apesar deste resultado ter sido obtido num serviço em que estava

implantado um método de trabalho por enfermeiro responsável, Manley

(1989) defende que o cuidado da enfermagem individual é semelhante ao da

enfermagem primária (responsável), não encontrando diferenças

significativas e substanciais.

Assim, proponho que para melhorar a qualidade dos cuidados, se

"rompa" com o método de prestação de trabalho por tarefa, porque dificulta

a relação enfermeiro /cliente, não favorece a avaliação dos cuidados

prestados, descura a imputabilidade e não permite a continuidade na

prestação de cuidados. Nesse sentido, devem ser desenvolvidas estratégias

que permitam a adopção de metodologias de trabalho que favoreçam o

cuidado holístico. Ou será que os enfermeiros se sentem satisfeitos e não

pretendem a mudança? Como refere um dos entrevistados- (...) eu gosto

mais de trabalhar com o método por enfermeiro responsável(...) conhece-se

melhor o doente presta-se os cuidados na totalidade(...) o método por

tarefa está ultrapassado (...)E1. Como refere Boekholdt (1979), os doentes

estão menos satisfeitos com o contacto proporcionado pelos enfermeiros

que trabalham com base num método de trabalho por tarefa.

Uma das implicações desta conclusão é a necessidade de questionar a

adequação do método de trabalho por tarefa, no quotidiano das

enfermarias, no sentido de mudar a organização sistemática do trabalho,

onde este método prevalece.

Questionemos então! Será que a aparente diferença na qualidade dos

cuidados e percepção de cuidar se relaciona somente com a metodologia de

trabalho ou haverá outros factores a repercutir-se? Como diz Chiavenato

(1985), o elemento básico - as pessoas- é afectado pelos elementos de

trabalho que determinam a qualidade das interacções e a tornam eficaz ou

139

Page 141: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

ineficaz. Demonstram os resultados que, alguns factores ligados à

organização sistemática dos cuidados têm uma influência negativa, nos dois

serviços, mais notoriamente no serviço J. Neste destaca-se as "rotinas" e,

em paralelo com o Serviço M, o apoio organizacional, os recursos em

enfermagem e o excesso de trabalho. Salienta-se, então, como factor

diferenciador negativo, as "rotinas", uma manifestação do próprio método

de trabalho e ao mesmo tempo, por hipótese, um factor condicionante da

qualidade. Kanter (1993) defende que as pessoas só alcançam os objectivos

organizacionais se os ambientes de trabalho estiverem estruturados de

forma a providenciarem auxílio assim como oportunidade para crescer e

aprender. O mesmo dizer que, os factores de influência negativa podem

condicionar a qualidade dos cuidados, mas um serviço "rotineiro" dificulta

ainda mais o cuidar com base numa relação enfermeiro/doente/família.

Basto (1998) no estudo que realizou encontrou, também, um construeto de

cuidados de enfermagem a partir de duas categorias "rotinas" e

"interacção com doentes". Para a equipa de enfermagem estudada, cuidados

de enfermagem, significava acções com a finalidade principal de fazer

"rotinas", o que era considerado prioritário. O que não está de acordo com o

conceito de cuidados de enfermagem de Roper et ai., utilizado como quadro

conceptual para o estudo, nem com nenhum outro modelo teórico de

enfermagem, dado que "o bem estar da pessoa, isto é , independência, auto-

cuidado, adaptação, assim como o julgamento e tomada de decisão da

enfermeira, não eram centrais no seu trabalho" (Basto, 1998: 86). No nosso

estudo o mesmo aconteceu, ou seja, o predomínio da tarefa e da rotina, no

Serviço J, concebiam o conceito de enfermagem de acordo com o modelo

médico. Os cuidados eram caracterizados como essencialmente curativos/

centrados na doença, executando o que foi prescrito ou delegado pelo

médico. Factos estes que os enfermeiros conseguem ultrapassar, com um

140

Page 142: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

relacionamento mais próximo e consistente com os clientes e suas famílias,

nas unidades com cuidados de enfermagem individuais(Bond,1990).

Tendo presente as repercussões que os factores de influência

negativa têm na organização sistemática do trabalho, com o intuito de

favorecer a melhoria qualitativa dos cuidados prestados, sugiro que os

mesmos sejam minimizados ou debelados.

E por isso necessário continuar a investigar para confirmar o papel

dos mesmos e até que ponto a sua erradicação ou ausência tem reflexos

substancialmente diferentes.

Percepção de cuidar

Os enfermeiros, sujeitos deste estudo, valorizam a percepção de

cuidar, de forma diferente, consoante o serviço. Os enfermeiros do Serviço

M, pondo em prática o método de prestação de cuidados individuais,

percepcionam o cuidar mais como um atendimento compreensivo, como uma

avaliação das necessidades subjectivas, um conhecimento favorecedor de

desenvolvimento e ajuda nos momentos ocasionais e transitários -

categoria "possibilitar". Enquanto que, os enfermeiros inseridos no serviço

que privilegia o método de trabalho por tarefa valorizam mais o

conhecimento acerca do cliente - categoria "conhecer".

Relacionando os elementos da qualidade com a percepção de cuidar, é

de realçar o elevado número de unidades de registo na "totalidade" e

"possibilitar" no Serviço M, e um elevado número de registos de "conhecer"

e reduzido número de "possibilitar". Perante isto, ganha sentido o

paralelismo por nós estabelecido na discussão dos resultados. Parece poder

141

Page 143: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

afirmar-se que os enfermeiros inseridos numa organização sistemática de

trabalho que privilegia o método individual de cuidados de enfermagem, têm

mais tendência a serem desenvolvidos na percepção do cuidar.

De tudo o que tem vindo a dizer-se poder-se-á concluir que mudando

o método de trabalho muda a percepção de cuidar? E mudando a percepção

de cuidar muda-se o método de prestação de cuidados? E a formação

contínua terá alguns reflexos nesta mudança? Ou será o tipo de liderança?.

Apesar do contributo deste estudo, que adianta mais ao

conhecimento, estas são algumas das dúvidas que esta pesquisa deixa sem

resposta, dando lugar a preocupações próximas de Munson e Clinton(1979),

Shukla e Turner(1984), Amendoeira (1994), Pinheiro(1994). Estes

investigadores autores advogam uma metodologia de trabalho que facilite a

relação entre a "pessoa cliente" que é cuidada e a "pessoa enfermeiro" que

cuida e que cuidando se desenvolve e realiza, tanto pessoal como

profissionalmente.

Assim parece pertinente, ao finalizar este trabalho, deixar algumas

sugestões:

- Aprofundar o estudo dos diferentes métodos de prestação de

cuidados e as concepções teóricas que lhe estão subjacentes. Essa

pode ser uma forma de clarificar e distinguir quais os métodos que

privilegiam o cuidado holístico e os que privilegiam o cuidado médico.

- Promover a reflexão nas organizações de prestação de cuidados

sobre a importância da função dos enfermeiros na satisfação das

necessidades dos utentes, e sobre o necessário investimento na

formação dos mesmos para o cabal cumprimento dessa função.

- Contribuir para que os enfermeiros promovam discussões no sentido

de determinarem quais são as condições organizacionais que não lhe

142

Page 144: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar cm Enfermagem

permitem prestar cuidados como idealizam, e quais as condições que

lhe permitiriam prestar esses cuidados.

- Propor ao conselho científico da Escola Superior de Enfermagem de

Viseu a estruturação do curso superior de enfermagem com base

numa orientação para o cuidar.

- Promover discussões sobre situações de prestação de cuidados, entre

enfermeiros docentes e enfermeiros da prática, no sentido de

determinar quais as suas reais necessidades de formação por forma

a ir de encontro às pessoas.

- Promover Workshops que visem o cuidar em enfermagem.

- Promover a qualidade dos cuidados prestados nas unidades de

internamento continuando a desenvolver estudos que acompanhem

as inovações curriculares sugeridas, no sentido de se obterem

resultados que orientem essas mesmas inovações.

143

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Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

ANEXOS

161

Page 163: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

4NEXO I - Explicitações cm relação à observação participante

Page 164: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar cm Enfermagem

EXPLICITAÇÕES EM RELAÇÃO À OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

OBJECTIVOS

♦ Envolver directamente o investigador na unidade social de análise em

observação

♦ Descrever, caracterizar e descodificar a unidade social de análise

♦ Conhecer a dinâmica da unidade social em observação

PASSAGEM DE TURNO DAS 8 HORAS

♦ Colher dados em relação à distribuição do trabalho dos enfermeiros

♦ Colher dados em relação aos doentes que estão sob a responsabilidade

do enfermeiro que é acompanhado

♦ Atitude passiva do observador

PRESTAÇÃO DE CUIDADOS

♦ Acompanhamento do enfermeiro em todas as situações detectáveis , de

encontro, com os doentes.

♦ Colaboração sempre que solicitado, pelo enfermeiro ou pelos doentes, na

prestação de cuidados pouco específicos. ( Ex. ajuda na mobilização,

higiene, alimentação ).

♦ Sempre que as duas últimas situações ocorram, a observação é

interrompida, para ser retomada logo que a intervenção de ajuda termine

163

Page 165: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

♦ Validação da observação com o enfermeiro sempre que esta não seja

clara ao observador.

♦ Os registos da observação, são feitos na ausência do enfermeiro

acompanhado e, de preferência, em local onde este não se aperceba que

os mesmos estão a ser realizados.

♦ A fim de fazer estes registos, o observador sairá do campo de

interacção com o enfermeiro, sem lhe explicar a razão.

♦ O observador selecciona um doente no início do turno, após o primeiro

encontro, sobre quem centra a sua observação no que respeita aos

cuidados prestados e ás necessidades em cuidados de enfermagem.

INTERACÇÃO COM OUTROS MEMBROS DA EQUIPA

♦ Registar sobretudo diálogos, atitudes, por parte dos intervenientes, que

respeitem à prestação de cuidados e/ou à distribuição de trabalho dos

enfermeiros.

REGISTOS

A consulta ao processo do doente seleccionado, durante o turno da manhã, deve ser realizada, a meio da manhã, após o almoço e após a passagem de turno das 16 horas. No turno da tarde, a consulta deve ser realizada, a meio da tarde, após o jantar e após a passagem de turno das 24 horas.

164

Page 166: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

ANEXO II - Guia de observação participante durante o processo

de cuidados

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Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

GUIA DE OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE DURANTE O PROCESSO DE CUIDADOS

1. PASSAGEM DE TURNO

■* Local ♦ sala de trabalho

.de pé

.sentado ♦ junto do doente

■* Conhecimento prévio dos doentes distribuídos ♦ de que forma? ♦ com base em que critérios

■> Atitude em relação à forma como recebe a informação relativa aos doentes a quem vai prestar cuidados

♦ Regista o que lhe é dito ♦ Escuta passivamente ♦ Questiona a informação dada:

.com pertinência

.quanto ao conteúdo

.quanto à forma ♦ Consulta o processo de cuidados

Plano de cuidados Notas de enfermagem Manuais Protocolos Outros, quais

♦ Linguagem utilizada .conceitos .termos .palavras

♦ Percepção do tempo gasto na passagem de turno .dirigido aos doentes .problemas decorrentes do processo de cuidados

♦ Condições do ambiente .temperatura .ventilação .comodidade .interrupções

♦ Papel do enfermeiro chefe .participa

166

Page 168: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

.coordena

.conhece os doentes

2. PRESTAÇÃO DE CUIDADOS - TENDO EM CONTA AS NHB

-^Encontro com o(s) doente(s), baseado: ♦ Na informação anterior ♦ Em prescrições médicas ♦ No diagnostico médico ♦ Atendimento das necessidades físicas (arrumação / limpeza) ♦ Utilização de instrumentos básicos

.planeamento de cuidados ♦ Prescrições de enfermagem ♦ Atendimento de necessidades psicológicas, sociais e emocionais

. Oferece optimismo

. Mantém a esperança

.Compartilha sentimentos

.Evita ideias pré-concebidas ♦ Atendimento integral(global)

.centra-se no doente

.faz apreciação cuidadosa

.procura sinais ♦ Nas necessidades referidas pelo doente/família/significantes

.Preocupa-se com o doente ♦ Em problemas referidos/identificados pelo doente ( alteração dos

hábitos) .envolve ambos

♦ Na divisão do trabalho ♦ Nas tarefas ♦ Na rotina ♦ No desempenho de técnicas, com passos previamente

estabelecidos ♦ Na comunicação:

.enfr° / enfr°, enfr° /família, enf r°/doente/família

.explica

.informa ♦ Visita diária - procura familiares

.E procurado fora da hora de visita

.Informação para a alta

.Educação/ensino

.Alta

.Validação do processo de cuidados

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Page 169: Metedos de Trabalho

Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

.Linguagem utilizada: compreensiva, agressiva, motivadora, indiferente .Utiliza termos sem os especificar Permite ou não o doente exprimir-se .Escuta o doente .Corta a palavra ao doente

♦ Na substituição do doente na satisfação das NHB .Protege as necessidades do outro

♦ Na ajuda do doente na satisfação das NHB .Não sobrecarrega o outro .Conforta

♦ Na supervisão do doente na satisfação das NHB .Apoia

♦ Na responsabilidade ♦ Na displicência ♦ Execução com competência ♦ Na disponibilidade ♦ Na pressa ♦ Na rapidez ♦ Na continuidade ♦ Na ignorância pelo doente ♦ Estima pelo doente ♦ Preservação da dignidade do doente

3. INTERACÇÃO COM OUTROS ELEMENTOS DA EQUIPA

-^Outros enfermeiros ♦ Passagem de turno ♦ Sala de trabalho ♦ Preparação de terapêutica ♦ Preparação de material ♦ Outros ♦ Momentos de lazer ♦ Interacção na prestação de cuidados, discussão de situações ♦ Rituais existentes

.Hora do banho

.Hora do pequeno almoço

.Hora do café antes ou depois de terminar um conjunto de tarefas ."volta aos doentes"

■* Auxiliares de acção médica ♦ delegação de tarefas

Page 170: Metedos de Trabalho

Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar cm Enfermagem

♦ tipo de delegação ♦ tipo de tarefas delegadas

■̂ Médicos e outros técnicos ♦ visita médica ( individual ou colectiva) ♦ esclarecimento de dúvidas em relação à situação dos doentes ♦ exames complementares de diagnóstico ♦ prescrições terapêuticas ♦ alta

4. REGISTOS

■* Momentos em que são realizados .Após execução de acções .Antes do período de almoço .Após o período de almoço .Na hora das visitas .Outros

-^Instrumentos / Impressos utilizados .Colheita de dados Plano de cuidados .Notas de evolução .Outros

■* Local onde os registos são feitos .Sala de enfermagem .Sala de trabalho .Balcão de atendimento .Junto do doente .Outros

■*• Actividades realizadas e registadas(quantidade) .Actividades/tarefas dependentes de prescrições médicas .Com base nas prescrições de enfermagem .Apreciação da situação do doente .Ensinos efectuados .Avaliação da intervenção .Utilização de conceitos, termos .Tempo gasto nos registos

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Universidade do Porto - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

ANEXO III - Guia da entrevista focalizada

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Dissertação de Mestrado- Método e percepção de cuidar em Enfermagem

GUIA DA ENTREVISTA FOCALIZADA

Objectivos da entrevista:

Recolher material discursivo fiável na unidade social em análise, em

áreas consideradas pertinentes para o estudo.

Validar alguns factos observados.

Não é novidade para si o tipo de estudo que eu estou a fazer.

Nesta conversa informal, cujo diálogo é absolutamente sigiloso,

pretendo, essencialmente, que refl icta comigo, durante uma conversa

amigável, a sua experiência na vida quotidiana da unidade.

Sinto, no dia a dia, a existência de um desfasamento entre o que é

exigido aos enfermeiros e o que lhes é viabilizado, entre o que se preconiza

como desejável e o que se pode atingir.

Assim, a preocupação com esta temática levou-me a desenvolver um

estudo que parta da realidade, por forma a compreender de que modo as

formas organizativas do trabalho dos enfermeiros, se relacionam com o

cuidar em enfermagem.

Ao longo do turno que o(a) acompanhei, o que é que fez que considere

"cuidar em enfermagem" ? O que é que acha que não é " cuidar em

enfermagem" ? O que é que na forma de organizar o trabalho poderia ser

feito para que todos os enfermeiros pudessem cuidar, utilizando todas as

suas capacidades? O que é que mudaria na sua forma de organizar o

trabalho, se pudesse? E porquê ? Essas alterações dependem de quem?

171