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Metcalfi ella pertusa em cacauais na Região Sul da Bahia: um exemplo de

“explosão de praga secundária”Oton Meira Marques*

Albino Morimasa Sakakibara**

A família Membracidae da classe In-secta e ordem Hemiptera é formada por, aproximadamente, 3.100 espécies des-critas, distribuídas em nove subfamílias e mais de 40 tribos (DEITZ; DIETRICH, 1993; McKAMEY, 1998; WALLACE; DEITZ, 2004; CRYAN et al., 2004).

Poucas espécies desta família causam danos em plantas cultivadas e o nível de especialização destes insetos, quanto ao vegetal utilizado como fonte alimentar, varia desde a monofagia até a polifagia; por exemplo, Metcalfi ella monogramma (Germar), espécie que ocorre no México

e América Central, alimenta-se exclusiva-mente em abacateiro (Persea sp.) (COTO; SAUNDERS, 2004) enquanto Metcalfi ella pertusa (Germar) (Figura 1), registrada em grande parte da Região Neotropical, suga a seiva de diversos vegetais pertencentes a diferentes famílias como: álamo (Populus nigra L.), cacaueiro (Theobroma cacao L.), cafeeiro (Coff ea sp.), laranjeira, limoeiro, tangerineira (Citrus spp.), guandeiro (Ca-janus cajan (L.)), macieira (Malus domesti-ca Borkh) e salgueiro (Salix spp.) (SILVA et al., 1968; McKAMEY; DEITZ, 1991a).

M. pertusa é também referida na

bibliografi a especializada menos recen-te pelos sinônimos: Hoplophora pertu-sa Germar, Hoplophora porosa Walker e Hoplophorion pertusum Germar (SILVA et

*Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia, Bolsista de Produtividade de Pesquisa da FAPESB, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas-BA; e-mail: oton@ufba.br**Graduado em Historia Natural, Doutor em Ciências Biológicas (Entomologia), Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR; e-mail: amsakakibara@pesquisador.cnpq.br- Os autores agradecem ao Dr. Hélcio R. Gil-Santana (Departamento de Entomologia, Instituto Oswaldo Cruz - Rio de Janeiro-RJ) pela identifi cação de Apiomerus apicalis e ao Almirante Centro de Estudos de Cacau pelo suporte fi nanceiro.

Figura 1 - Vista lateral do adulto de Metcalfi ella pertusa sobre ramo de cacaueiro.

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al., 1968; McKAMEY; DEITZ, 1991b, 1996).

Vulgarmente conhecida como “ci-garrinha-dos-ramos”, M. pertusa tem sido constatada atacando cacaueiros no Esta-do da Bahia desde 1939 (BONDAR, 1939; SILVA, 1939); mas, durante muitos anos passados, não causava danos econô-micos, sendo consideranda uma praga secundária neste cultivo (O. M. Marques, Observação pessoal). Entretanto, nos meses de maio a dezembro de 2004 e janeiro de 2005, uma elevada densidade populacional formada por milhares de in-divíduos de M. pertusa, foi verifi cada em cacauais nos municípios de Barro Preto, Ilhéus e Itabuna, situados na Região Sul do Estado da Bahia, indicando a ocorrên-cia do processo, bastante mencionado e raras vezes documentado, denominado na literatura como “explosão de praga secundária”. Este processo é atribuído ao uso inadequado e/ou excessivo de inse-ticidas químicos para o controle de uma ou mais pragas primárias, resultando na destruição de agentes naturais de con-trole e, consequentemente, favorecendo o aumento populacional de espécies antes não causadoras de danos signifi -cativos (SAMWAYS, 1989; CARRERO, 1996; GALLO et al., 2002).

A oviposição de M. pertusa é endofíti-ca e as incisões feitas para esta fi nalidade e, também, para a alimentação das ninfas (Figura 2), podem propiciar a entrada de agentes patogênicos (ENTWISTLE, 1972; ABREU et al., 1989; GALLO et al., 2002); contudo, os danos mais severos são cau-sados principalmente pelo grande nú-mero de indivíduos (ninfas e adultos), for-mando aglomerados (Figuras 3 e 4), nas partes mais novas dos ramos, sugando continuamente a seiva resultando, não raras vezes, no secamento dos galhos (Figuras 5 e 6) e podendo até matar plan-tas novas. Os indivíduos, mesmo quando adultos, não se perturbam facilmente com a aproximação de uma pessoa, fi -cando imóveis e raramente voam, mes-mo que os galhos onde se encontram aglomerados sejam tocados ou agitados; as pernas anteriores e médias alongadas permitem que se agarrem fi rmemente ao substrato.

Figura 2 - Incisões feitas por Metcalfi ella pertusa em ramo de cacaueiro.

Figura 3 - Agregação de ninfas de Metcalfi ella pertusa sobre ramo de cacaueiro.

Figura 4 - Agregação de adultos de Metcalfi ella pertusa sobre ramo de cacaueiro.

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Os raros inimigos naturais conheci-dos de espécies do gênero Metcalfi ella incluem insetos das famílias Myrmari-dae, Coccinelidae e Syrphidae e aranhas (McKAMEY; DEITZ, 1996). Nos meses e locais mencionados, foram encontrados adultos de M. pertusa infectados com Beauveria bassiana (Bals.) Vuill. (Figura 7), sendo este o primeiro registro da ocor-rência natural de um fungo sobre M. pertusa.

Outro inimigo natural constatado alimentando-se de M. pertusa no decor-rer deste estudo foi o percevejo predador Apiomerus apicalis Burmeister (Hemiptera: Reduviidae). O único inimigo natural de M. pertusa registrado anteriormente na literatura é Abbelloides marquesi Brèthes, 1924 (Hymenoptera: Trichogrammati-dae), um parasitóide de ovos (FONSECA, 1934).

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Figura 7 - Adulto de Metcalfi ella pertusa atacado pelo fungo Beauveria bassiana.

Figura 5 - Aspecto de ramos de cacaueiro após ataque de Metcalfi ella pertusa. Figura 6 - Detalhe de ramos de cacaueiro após ataque de Metcalfi ella pertusa.

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