mercado do porto do sal mercado do porto do sal · de “praça da independência”, que foi palco...

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Mercado de Carne Mercado de São Braz Mercado do Porto do Sal Mercado do Porto do Sal Celma de Nazaré Chaves Pont Vidal – Universidade Federal do Pará([email protected]) Fabiano Homobono Paes de Andrade – Universidade Federal do Pará ([email protected]) Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão – Universidade Federal do Pará ([email protected]) Ana Paula Claudino Gonçalves – Universidade Federal do Pará ([email protected]) O mercado público em cidades contemporâneas: um estudo em BelémPará. O mercado publico na cidade contemporanea: um estudo em Belém – Pará - Brasil O mercado público nas cidades contemporâneas apresenta-se como interessante objeto de pesquisa, não somente por seu significado como expressão arquitetônica e por seu impacto urbanístico, mas também como um importante observatório de variadas manifestações socioculturais que em seus espaços se desenvolvem, estas que funcionam como concorrentes temporais para transformações no seu entorno. Nas cidades de colonização hispânica e portuguesa, a implantação dos mercados seguiu, normalmente, os mesmos padrões das cidades européias. Inicialmente um espaço aberto, onde múltiplas atividades se desenvolviam, quando desde meados do século XIX e as primeiras décadas do século XX, os mercados cobertos sucedem as praças de mercados ao ar livre – as feiras – para finalmente serem substituídos, na época contemporânea, pelos espaços abertos de muitas cidades européias, as ruas comerciais de pedestres ou aos centros comerciais fechados (GUARDIA e OYON, 2010). No Brasil a origem dos mercados está nos espaços abertos das cidades coloniais, no mesmo padrão das cidades portuguesas. Nas freguesias, as atividades se desenvolviam a partir da igreja, que dominava o espaço urbano e determinava as atividades cotidianas da população, fossem estas sociais, econômicas ou religiosas. Neste sentido, em torno do edifício religioso, se desenvolviam as atividades econômicas, as trocas e as feiras, barracas alinhadas a céu aberto, geralmente atividades destinadas aos negros. Embora não se possa determinar o surgimento do núcleo de povoamento como definido pelos espaços de mercado, mas da construção religiosa (MARX, 1991). A história da construção do primeiro mercado teve início com o conselheiro Jerônimo Francisco Coelho, que ao assumir o cargo de presidente da Província do Pará em 08 de maio de 1848, encontrou uma cidade ainda sem um mercado coberto, nos moldes dos já existentes em várias cidades européias. No discurso da abertura solene da Assembleia Legislativa da Província cinco meses depois, o presidente colocou o mercado na lista de prioridades de obras que faltavam à Belém, e que foi construído no seu Governo (CRUZ, 1945. 205 e 206). A historiografia reporta o ano de 1852, como aprovação e início da construção do primeiro Mercado Público na cidade de Belém (BAENA, 1969. 181), hoje conhecido como Mercado de Carne. O segundo Mercado Municipal de Belém, o mercado do Ver-o-Peso, também conhecido como Mercado de Ferro é um edifício composto por uma estrutura importada metálica pré-fabricada. Em planta, tem a forma retangular, cujos ângulos são tomados por quatro torres com cobertura em escamas de zinco, e as aberturas para iluminação natural sobre todas as portas de acessos das lojas, inclusive os portões principais, que dão acesso ao grande salão dos “Talhos” são encimados por arcos plenos, lembrando os pavilhões com arcos das “Praças dos Mercados” existentes pelo Brasil. Inaugurado em 1901, ganhou localização privilegiada junto à praia e a Doca do Ver-o-Peso, no inicio da Rua Nova do Imperador. Com isso, teve destaque especial para quem chegava de embarcação pela Baia do Guajará, e também possuía as condições necessárias para a venda e especialidade em peixes. Por um lado, o mercado do Ver-o-Peso e seu entorno com a feira e o porto, tornaram-se lugar de tradição e da cultura local onde se vende quase tudo, de ervas medicinais a uniformes de times de futebol. É um espaço das diversidades que sustenta seu funcionamento econômico, bem como, na acepção de Hobsbawn (1997), legitima as “tradições inventadas” como símbolo de coesão social, como legitimador das instituições e coletividades que ali trabalham e constroem seus modos de vida. Por outro lado, a obsolescência dos mercados face às outras formas de abastecimento é evidente não apenas em Belém, mas em outras cidades brasileiras. As tecnologias empregadas no sistema de higienização dos espaços e de acondicionamento de alimentos, não foram acompanhadas nos mercados, tornando-os poucos atraentes para o consumidor. Este é o caso do mercado de São Brás, cuja função foi historicamente perdida, principalmente com o surgimento dos supermercados em seu entorno, passando a abrigar atividades variadas nos últimos trintas anos, sem consolidar-se em nenhuma delas. Perderam-se também nas sucessivas reformas, as características arquitetônicas originais, apagando de forma indelével, muitas marcas de sua historicidade. Entretanto, o Mercado de Peixe do Ver-o-Peso é um caso emblemático de valorização histórico-cultural e ambiental. Mesmo com o esvaziamento das áreas do Centro Histórico de Belém, ele reflete tanto permanências quanto transformações no seu entorno, sem ter passado pela situação de degeneração. Assim, o Mercado de Peixe do Ver-o-Peso, diferente do que aconteceu em algumas cidades européias, é a expressão da manutenção daquilo que GUÀRDIA et al. (2007. 10) defende que seja preservado como as “ecologías urbanas que os produzem e os habitam”. Outro mercado coberto foi erguido no centro histórico de Belém, o mercado do Porto do Sal, embora sua construção tenha sido em 1943, e seja de reduzidas dimensões, soma-se à área de abrangência da feira, e pode ter contribuído também para o ordenamento e adensamento desta parte da cidade. As permanências caracterizam-se especialmente pela proximidade do rio, que participa mais como via de acesso e não como limite, na interpretação dos elementos de Lynch (1960). Além da constante vitalidade, mesmo com o esvaziamento do Centro Histórico de Belém, caracteriza-se como um ponto positivo para a população de Belém (INSTITUTO PÓLIS, 2009). As transformações, por sua vez, coincidem com todo contexto de crescimento acelerado das cidades, com implicações diretas da malha urbana e do sistema viário. Este mercado, pela sua importância arquitetônica e urbanística bem como patrimônio cultural, foi objeto de intervenção pelo poder público nas décadas de 80 e 90 do Sec. XX através de projetos de revitalização elaborados para concorrer em concurso nacional. A localização do Mercado Municipal de São Brás foi claramente influenciada pela proximidade, que o terreno escolhido tinha com a Estação Ferroviária, pertencente à EFB - Estrada de Ferro de Bragança, existente desde 1883. Assimilada como ponto de abastecimento de gêneros alimentícios desde a sua criação, a Estação se manteve em atividades até o ano de 1965. Quando inaugurado, o grande espaço em frente à Estação era denominado de “Praça da Independência”, que foi palco durante muitos anos das comemorações referentes aquele importante acontecimento para o Brasil, em especial os do próprio dia 07 de Setembro de 1822, data da Proclamação da Independência. Nas décadas finais do Século XIX, já havia trocado a denominação para a de “Largo de São Brás”, nome pelo qual é conhecido até os dias atuais, apesar da nova denominação de Praça Floriano Peixoto (CRUZ, 1973). A arquitetura dos mercados abordados neste artigo caracteriza-se por variações tipológicas em seu conjunto, configurando grupos de edificações que estão intrinsecamente relacionados a contextos distintos da história urbana de Belém. Nos mercados centrais, mais antigos, expressam-se as inovações técnicas, de materiais e de programa arquitetônico, congruentes com a abundância material que a economia da borracha permitia e com as ações e concessões de “apreciáveis benefícios” (Derenji, s/d, pag. 4) de parte do intendente Antonio Lemos ao engenheiro e construtor da obra, o italiano Filinto Santoro, no caso do mercado de São Brás. Este que foi o terceiro e último mercado de grande porte a ser construído na cidade, demarca os contornos claros entre a cidade finisecular e a aquela que herdaria a desestruturação desta mesma economia, e só poderia erguer mercados de programas modestos e arquitetura de elementos simplificados, mais de três décadas depois. Na Belém contemporânea, os mercados como lugares de abastecimento de variados gêneros, se defrontam com vários problemas comuns aos de outras capitais, como as novas exigências dos consumidores, novas formas de organização do espaço, novas demandas por salubridade, organização e logística, e as novas dinâmicas urbanas em desenvolvimento. A pesquisa ora em desenvolvimento, busca reconhecer e recuperar o mercado público em Belém como “equipamento urbano” (GUÀRDIA & OYON, 2010, p: 279) em seu sentido mais amplo, tal é a importância que tiveram e têm no desenvolvimento histórico da cidade. *Pesquisa financiada com recursos do CNPQ Bibliografia Instituto Pólis. Moradia é central: inclusão, acesso e direito à cidade. São Paulo, 2009. BAENA, A. L. Compêndio das Eras do Pará. Belém, Coleção Amazônica, Série José Veríssimo/UFPA, 1969. CRUZ, E. Belém. Aspectos geo-sociais do município. Rio de Janeiro, José Olímpio, vol. 1, 1945. FILGUEIRAS, B. S. C. Do mercado popular ao espaço de vitalidade: o Mercado Central de Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006. GUÀRDIA, M.; OYÓN, J. L. Introducción. Em: Hacer ciudad a través de los mercados: Europa, siglos XIX y XX. Barcelona, MUHBA - Institut de Cultura, 2010. GUÀRDIA, M.; OYÓN, J. L. Los mercados públicos en la ciudad contemporánea. El caso de Barcelona. Biblio 3W, Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales , Universidad de Barcelona, Vol. XII, 744, 25 de agosto de 2007. <http://www.ub.es/geocrit/b3w-744.htm>. [ISSN 1138-9796]. HOBSBAWN, E. Introdução. Em: HOBSBAWN, E. & RANGER, T. A invenção das tradições. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984, p. 9-22. LEITÃO, W. M. Ver-o-Peso: estudos antropológicos no mercado de Belém. 2010. Belém, NAEA/UFPA. p.103-131. LEITAO, W. M.; RODRIGUES, C. I. Mercado do Ver-o-Peso, Belém. In: XI Congresso Luso-afro-brasileiro de Ciências Sociais, CONLAB. Salvador, UFBA, 2011. LEMOS, A. J. de L. Relatório apresentado ao Conselho Municipal de Belém. Belém, 1905 a 1908. LYNCH, K. A imagem da cidade. São Paulo, Martins Fontes, 2011. MARX, Murillo. Cidade no Brasil: terra de quem? São Paulo, EDUSP, 1991. MURILHA, D.; SALGADO, I. A arquitetura dos mercados públicos. Tipos, modelos e referências projetuais. Arquitextos, São Paulo, 12.138, Vitruvius, nov 2011, <http://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.138/4113>. PEVSNER, N. Historia de las tipologias arquitectónicas. Barcelona: Ed. Gustavo Gili, 1980. PINTAUDI, S. M. Os mercados públicos: metamorfoses de um espaço na história urbana. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelon: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2006, vol. X, núm. 218 (81). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-218-81.htm> SARGES, M. de N. Belém: Riquezas produzindo a Belle Epoque (1870-1912). Belém: Ed. Paka-Tatu, 2000. WAISMAN, Marina. La estructura histórica del entorno. Ed. Nueva Visión: Buenos Aires, 1972. CRUZ, E. História de Belém. Belém, Coleção Amazônica, Série José Veríssimo/UFPA, 1973. DERENJI, J. O Mercado de São Brás. Disponível em http://ebookbrowse.com/mesa-2-2-jussara-derenji-pdf- d64735966 s/d. Mercado Municipal de Carne. Foto: Claudino,2012. Mercado de São Brás. Foto: Claudino, 2012. Mercado do Sal. Foto: Chaves, 2011. Mercado de Peixe. Foto:http://uruatapera.blogspot. com.br/2010/10/linda-belem-do-para.html

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Mercado de Carne Mercado de São Braz

Mercado do Porto do Sal Mercado do Porto do Sal

Celma de Nazaré Chaves Pont Vidal – Universidade Federal do Pará([email protected])Fabiano Homobono Paes de Andrade – Universidade Federal do Pará ([email protected]) Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão – Universidade Federal do Pará ([email protected])Ana Paula Claudino Gonçalves – Universidade Federal do Pará ([email protected])

O mercado público em cidades contemporâneas: um estudo em Belém‐Pará.

O mercado publico na cidade contemporanea: um estudo em Belém –Pará - Brasil

O mercado público nas cidades contemporâneas apresenta-se comointeressante objeto de pesquisa, não somente por seu significado comoexpressão arquitetônica e por seu impacto urbanístico, mas também como umimportante observatório de variadas manifestações socioculturais que em seusespaços se desenvolvem, estas que funcionam como concorrentes temporaispara transformações no seu entorno.

Nas cidades de colonização hispânica e portuguesa, a implantação dosmercados seguiu, normalmente, os mesmos padrões das cidades européias.Inicialmente um espaço aberto, onde múltiplas atividades se desenvolviam,quando desde meados do século XIX e as primeiras décadas do século XX, osmercados cobertos sucedem as praças de mercados ao ar livre – as feiras –para finalmente serem substituídos, na época contemporânea, pelos espaçosabertos de muitas cidades européias, as ruas comerciais de pedestres ou aoscentros comerciais fechados (GUARDIA e OYON, 2010).

No Brasil a origem dos mercados está nos espaços abertos das cidadescoloniais, no mesmo padrão das cidades portuguesas. Nas freguesias, asatividades se desenvolviam a partir da igreja, que dominava o espaço urbano edeterminava as atividades cotidianas da população, fossem estas sociais,econômicas ou religiosas. Neste sentido, em torno do edifício religioso, sedesenvolviam as atividades econômicas, as trocas e as feiras, barracasalinhadas a céu aberto, geralmente atividades destinadas aos negros. Emboranão se possa determinar o surgimento do núcleo de povoamento como definidopelos espaços de mercado, mas da construção religiosa (MARX, 1991).

A história da construção do primeiro mercado teve início com o conselheiroJerônimo Francisco Coelho, que ao assumir o cargo de presidente da Provínciado Pará em 08 de maio de 1848, encontrou uma cidade ainda sem um mercadocoberto, nos moldes dos já existentes em várias cidades européias. No discursoda abertura solene da Assembleia Legislativa da Província cinco meses depois,o presidente colocou o mercado na lista de prioridades de obras que faltavam àBelém, e que foi construído no seu Governo (CRUZ, 1945. 205 e 206). Ahistoriografia reporta o ano de 1852, como aprovação e início da construção doprimeiro Mercado Público na cidade de Belém (BAENA, 1969. 181), hojeconhecido como Mercado de Carne.

O segundo Mercado Municipal de Belém, o mercado do Ver-o-Peso, tambémconhecido como Mercado de Ferro é um edifício composto por uma estruturaimportada metálica pré-fabricada. Em planta, tem a forma retangular, cujosângulos são tomados por quatro torres com cobertura em escamas de zinco, eas aberturas para iluminação natural sobre todas as portas de acessos daslojas, inclusive os portões principais, que dão acesso ao grande salão dos“Talhos” são encimados por arcos plenos, lembrando os pavilhões com arcosdas “Praças dos Mercados” existentes pelo Brasil. Inaugurado em 1901, ganhoulocalização privilegiada junto à praia e a Doca do Ver-o-Peso, no inicio da RuaNova do Imperador. Com isso, teve destaque especial para quem chegava deembarcação pela Baia do Guajará, e também possuía as condições necessáriaspara a venda e especialidade em peixes.

Por um lado, o mercado do Ver-o-Peso e seu entorno com a feira e oporto, tornaram-se lugar de tradição e da cultura local onde se vendequase tudo, de ervas medicinais a uniformes de times de futebol. Éum espaço das diversidades que sustenta seu funcionamentoeconômico, bem como, na acepção de Hobsbawn (1997), legitima as“tradições inventadas” como símbolo de coesão social, comolegitimador das instituições e coletividades que ali trabalham econstroem seus modos de vida.

Por outro lado, a obsolescência dos mercados face às outras formas deabastecimento é evidente não apenas em Belém, mas em outrascidades brasileiras. As tecnologias empregadas no sistema dehigienização dos espaços e de acondicionamento de alimentos, nãoforam acompanhadas nos mercados, tornando-os poucos atraentespara o consumidor. Este é o caso do mercado de São Brás, cujafunção foi historicamente perdida, principalmente com o surgimentodos supermercados em seu entorno, passando a abrigar atividadesvariadas nos últimos trintas anos, sem consolidar-se em nenhumadelas. Perderam-se também nas sucessivas reformas, ascaracterísticas arquitetônicas originais, apagando de forma indelével,muitas marcas de sua historicidade.

Entretanto, o Mercado de Peixe do Ver-o-Peso é um caso emblemáticode valorização histórico-cultural e ambiental. Mesmo com oesvaziamento das áreas do Centro Histórico de Belém, ele refletetanto permanências quanto transformações no seu entorno, sem terpassado pela situação de degeneração. Assim, o Mercado de Peixe doVer-o-Peso, diferente do que aconteceu em algumas cidadeseuropéias, é a expressão da manutenção daquilo que GUÀRDIA et al.(2007. 10) defende que seja preservado como as “ecologías urbanasque os produzem e os habitam”. Outro mercado coberto foi erguido nocentro histórico de Belém, o mercado do Porto do Sal, embora suaconstrução tenha sido em 1943, e seja de reduzidas dimensões,soma-se à área de abrangência da feira, e pode ter contribuídotambém para o ordenamento e adensamento desta parte da cidade.

As permanências caracterizam-se especialmente pela proximidade dorio, que participa mais como via de acesso e não como limite, nainterpretação dos elementos de Lynch (1960). Além da constantevitalidade, mesmo com o esvaziamento do Centro Histórico de Belém,caracteriza-se como um ponto positivo para a população de Belém(INSTITUTO PÓLIS, 2009). As transformações, por sua vez, coincidemcom todo contexto de crescimento acelerado das cidades, comimplicações diretas da malha urbana e do sistema viário. Estemercado, pela sua importância arquitetônica e urbanística bem comopatrimônio cultural, foi objeto de intervenção pelo poder público nasdécadas de 80 e 90 do Sec. XX através de projetos de revitalizaçãoelaborados para concorrer em concurso nacional.

A localização do Mercado Municipal de São Brás foi claramente influenciadapela proximidade, que o terreno escolhido tinha com a Estação Ferroviária,pertencente à EFB - Estrada de Ferro de Bragança, existente desde 1883.Assimilada como ponto de abastecimento de gêneros alimentícios desde asua criação, a Estação se manteve em atividades até o ano de 1965.Quando inaugurado, o grande espaço em frente à Estação era denominadode “Praça da Independência”, que foi palco durante muitos anos dascomemorações referentes aquele importante acontecimento para o Brasil,em especial os do próprio dia 07 de Setembro de 1822, data daProclamação da Independência. Nas décadas finais do Século XIX, já haviatrocado a denominação para a de “Largo de São Brás”, nome pelo qual éconhecido até os dias atuais, apesar da nova denominação de Praça FlorianoPeixoto (CRUZ, 1973).

A arquitetura dos mercados abordados neste artigo caracteriza-se porvariações tipológicas em seu conjunto, configurando grupos de edificaçõesque estão intrinsecamente relacionados a contextos distintos da históriaurbana de Belém. Nos mercados centrais, mais antigos, expressam-se asinovações técnicas, de materiais e de programa arquitetônico, congruentescom a abundância material que a economia da borracha permitia e com asações e concessões de “apreciáveis benefícios” (Derenji, s/d, pag. 4) departe do intendente Antonio Lemos ao engenheiro e construtor da obra, oitaliano Filinto Santoro, no caso do mercado de São Brás. Este que foi oterceiro e último mercado de grande porte a ser construído na cidade,demarca os contornos claros entre a cidade finisecular e a aquela queherdaria a desestruturação desta mesma economia, e só poderia erguermercados de programas modestos e arquitetura de elementos simplificados,mais de três décadas depois.

Na Belém contemporânea, os mercados como lugares de abastecimento devariados gêneros, se defrontam com vários problemas comuns aos deoutras capitais, como as novas exigências dos consumidores, novas formasde organização do espaço, novas demandas por salubridade, organização elogística, e as novas dinâmicas urbanas em desenvolvimento. A pesquisaora em desenvolvimento, busca reconhecer e recuperar o mercado públicoem Belém como “equipamento urbano” (GUÀRDIA & OYON, 2010, p: 279)em seu sentido mais amplo, tal é a importância que tiveram e têm nodesenvolvimento histórico da cidade.

*Pesquisa financiada com recursos do CNPQ

Bibliografia

Instituto Pólis. Moradia é central: inclusão, acesso e direito à cidade. SãoPaulo, 2009.BAENA, A. L. Compêndio das Eras do Pará. Belém, Coleção Amazônica,Série José Veríssimo/UFPA, 1969.CRUZ, E. Belém. Aspectos geo-sociais do município. Rio de Janeiro, JoséOlímpio, vol. 1, 1945.

FILGUEIRAS, B. S. C. Do mercado popular ao espaço de vitalidade:o Mercado Central de Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado emPlanejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio deJaneiro, 2006.GUÀRDIA, M.; OYÓN, J. L. Introducción. Em: Hacer ciudad a travésde los mercados: Europa, siglos XIX y XX. Barcelona, MUHBA -Institut de Cultura, 2010.GUÀRDIA, M.; OYÓN, J. L. Los mercados públicos en la ciudadcontemporánea. El caso de Barcelona. Biblio 3W, RevistaBibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales , Universidad deBarcelona, Vol. XII, nº 744, 25 de agosto de 2007.<http://www.ub.es/geocrit/b3w-744.htm>. [ISSN 1138-9796].

HOBSBAWN, E. Introdução. Em: HOBSBAWN, E. & RANGER, T. Ainvenção das tradições. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984, p. 9-22.

LEITÃO, W. M. Ver-o-Peso: estudos antropológicos no mercado deBelém. 2010. Belém, NAEA/UFPA. p.103-131.LEITAO, W. M.; RODRIGUES, C. I. Mercado do Ver-o-Peso, Belém.In: XI Congresso Luso-afro-brasileiro de Ciências Sociais, CONLAB.Salvador, UFBA, 2011.

LEMOS, A. J. de L. Relatório apresentado ao Conselho Municipal deBelém. Belém, 1905 a 1908.LYNCH, K. A imagem da cidade. São Paulo, Martins Fontes, 2011.MARX, Murillo. Cidade no Brasil: terra de quem? São Paulo, EDUSP,1991.MURILHA, D.; SALGADO, I. A arquitetura dos mercados públicos.Tipos, modelos e referências projetuais. Arquitextos, São Paulo,12.138, Vitruvius, nov 2011,<http://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.138/4113>.PEVSNER, N. Historia de las tipologias arquitectónicas. Barcelona:Ed. Gustavo Gili, 1980.PINTAUDI, S. M. Os mercados públicos: metamorfoses de umespaço na história urbana. Scripta Nova. Revista electrónica degeografía y ciencias sociales. Barcelon: Universidad de Barcelona, 1de agosto de 2006, vol. X, núm. 218 (81).<http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-218-81.htm>SARGES, M. de N. Belém: Riquezas produzindo a Belle Epoque(1870-1912). Belém: Ed. Paka-Tatu, 2000.WAISMAN, Marina. La estructura histórica del entorno. Ed. NuevaVisión: Buenos Aires, 1972.

CRUZ, E. História de Belém. Belém, Coleção Amazônica, SérieJosé Veríssimo/UFPA, 1973.DERENJI, J. O Mercado de São Brás. Disponível emhttp://ebookbrowse.com/mesa-2-2-jussara-derenji-pdf-d64735966 s/d.

Mercado Municipal de Carne. Foto: Claudino,2012. Mercado de São Brás. Foto: Claudino, 2012.  Mercado do Sal. Foto: Chaves, 2011. Mercado de Peixe. Foto:http://uruatapera.blogspot.com.br/2010/10/linda-belem-do-para.html