consumo colaborativo na era da internet - a manifestação do mercado colaborativo em porto alegre...
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA
LOUISE CARPENEDO
CONSUMO COLABORATIVO NA ERA DA INTERNET:
A MANIFESTAÇÃO DO MERCADO COLABORATIVO EM PORTO ALEGRE (RS)
Porto Alegre
2014
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LOUISE CARPENEDO
CONSUMO COLABORATIVO NA ERA DA INTERNET:
A MANIFESTAÇÃO DO MERCADO COLABORATIVO EM PORTO ALEGRE (RS)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel
em Comunicação Social - Habilitação em Publicidade e
Propaganda pela Faculdade de Comunicação Social da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Orientadora: Profª. Drª. Cristiane Mafacioli Carvalho
Porto Alegre
2014
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LOUISE CARPENEDO
CONSUMO COLABORATIVO NA ERA DA INTERNET:
A MANIFESTAÇÃO DO MERCADO COLABORATIVO EM PORTO ALEGRE (RS)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel
em Comunicação Social - Habilitação em Publicidade e
Propaganda pela Faculdade de Comunicação Social da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Aprovada em: __ de ____________ de 2014
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________
Profª. Drª. Cristiane Mafacioli Carvalho
___________________________________
Prof. Dr. Roberto Tietzmann
___________________________________
Profª. Me. SuzanaGib Azevedo
Porto Alegre
2014
3
AGRADECIMENTOS
À minha família, pelo suporte em todos os momentos da minha vida.
Aos meus amigos, por estarem sempre ao meu lado.
Aos meus colegas, pelo aprendizado compartilhado.
Aos entrevistados, pela colaboração para que este estudo pudesse ser realizado.
À minha orientadora, pela dedicação e por acreditar neste trabalho.
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RESUMO
Este trabalho tem como tema a manifestação do consumo colaborativo em Porto
Alegre. Através de pesquisa teórico-aplicada de caráter exploratório, os objetivos desta
pesquisa são identificar as principais formas de consumo colaborativo presentes no cenário
porto-alegrense, descobrir de que modo as pessoas e empresas colaborativas se inserem no
mercado de consumo e identificar os principais fatores que impedem e impulsionam o
desenvolvimento da cultura colaborativa em Porto Alegre. Este trabalho tem como foco três
sistemas definidos por Bostman e Rogers (2010): sistemas de serviço de produtos, mercados
de redistribuição e estilos de vida colaborativos. Para isso, tem-se como base três objetos de
estudo que representam cada um destes sistemas na cidade: BikePoa, briques do Facebook
e Casa Liberdade, respectivamente. Apresenta-se, na primeira parte deste trabalho, como o
consumo colaborativo se estabeleceu na sociedade,e o surgimento de uma nova cultura
baseada no compartilhamento, impulsionada pela Internet e colocada em prática por uma
geração que cresceu em meio a um ambiente digital e uma crise econômica. Após, busca-se
compreender como este novo modelo de consumo está presente na sociedade atual, no
Brasil e no mundo. Por fim, aborda-se o cenário de consumo colaborativo em Porto Alegre e
como este vem se manifestando na cidade, com base em entrevistas em profundidade
semiabertas com consumidores e idealizadores de consumo colaborativo. Após a análise do
material coletado, é possível verificar que a cultura colaborativa cresceu significativamente
em Porto Alegre no último ano, embora ainda enfrente desafios como falta de estrutura na
cidade e dificuldade de confiança entre estranhos. Além disso, fica claro que os
consumidores envolvidos nos estilos de vida colaborativos têm maior engajamento com o
tema, e percebe-se um grande potencial de crescimento deste sistema em Porto Alegre.
Palavras-chave: Consumo Colaborativo. Geração Digital. Compartilhamento.
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ABSTRACT
This dissertation aims to understand the state of collaborative consumption in Porto
Alegre. Through applied theoretical research, the dissertation's objectives are to identify the
main types of collaborative consumption in the city, to find out the role that individuals and
collaborative businesses play in the consumer market, and to identify the main factors that
prevent and stimulate the development of a collaborative culture in Porto Alegre. The
research is based on three systems defined by Botsman and Rogers (2010): service product
systems, redistribution markets and collaborative lifestyles. It focuses on three subjects of
study that represent each of these systems in the city: BikePoa, Facebook peer to
peermarket groups and Casa Liberdade, respectively. The first part of the dissertation
presents how collaborative consumption was established in society, along with the rise of a
new culture based on sharing values, driven by the Internet and put into practice by a
generation growing up in the context of a digital environment and the economic crisis of
2008. The dissertation then aims to establish how this new model of consumption operates
in today's society, both in Brazil and globally. Finally, it discusses the collaborative
consumption market in Porto Alegre, and how it expresses itself in the city through in-depth
interviews with consumers and creators of collaborative consumption. By analyzing the
collected material, it is possible to ascertain that the collaborative culture has grown
significantly in Porto Alegre throughout the past year, though there are still challenges to be
faced such as the lack of infrastructure in the city and trust issues between strangers.
Furthermore, it is clear that consumers involved with collaborative lifestyles have a deeper
engagement with the subject, and a great potential for this system's growth can be seen in
Porto Alegre.
Key words: Collaborative Consumption, Digital Generation, Sharing.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 8
1 DO CONSUMO AO CONSUMO COLABORATIVO ......................................................................... 12
1.1 A SOCIEDADE DE CONSUMO ....................................................................................................... 12
1.1.1 A Sociedade Urbana e o Individualismo ............................................................................... 15
1.1.2 O Consumo Descartável e os Problemas Socioambientais .................................................. 16
1.2 A SOCIEDADE COLABORATIVA .................................................................................................... 19
1.2.1 A Internet e o Compartilhamento ........................................................................................ 19
1.2.2 A Geração Colaborativa ........................................................................................................ 24
1.2.3 Uma Nova Forma de Consumir ............................................................................................ 28
2 ENTENDENDO O CONSUMO COLABORATIVO ............................................................................ 31
2.1 OS PRINCÍPIOS BÁSICOS FUNDAMENTAIS .................................................................................. 31
2.2 OS TRÊS SISTEMAS ...................................................................................................................... 34
2.2.1 Sistemas De Serviços De Produtos (SSP) .............................................................................. 34
2.2.2 Mercados de Redistribuição ................................................................................................. 37
2.2.3 Estilos de Vida Colaborativos ............................................................................................... 40
2.3 A NOVA MOEDA DA ECONOMIA É A REPUTAÇÃO ...................................................................... 44
2.4 AS EMPRESAS E OS VALORES COLABORATIVOS .......................................................................... 46
2.5 O FUTURO DA COLABORAÇÃO .................................................................................................... 49
2.6 CONSUMO COLABORATIVO NO BRASIL ...................................................................................... 52
2.6.1 Porto Alegre ......................................................................................................................... 54
3 O MERCADO DE CONSUMO COLABORATIVO EM PORTO ALEGRE .............................................. 56
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................................... 56
3.2 O CENÁRIO COLABORATIVO PORTO-ALEGRENSE ....................................................................... 59
3.2.1 Sistemas de Serviços de Produtos ........................................................................................ 61
3.2.2 Mercados de Redistribuição ................................................................................................. 62
3.2.3 Estilos de Vida Colaborativos ............................................................................................... 64
3.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS ......................................................................................................... 70
3.3.1 Sistemas de Serviços de Produtos ........................................................................................ 71
3.3.2 Mercados de Redistribuição ................................................................................................. 76
3.3.3 Estilos de Vida Colaborativos ............................................................................................... 80
3.3.4 Idealizando Projetos Colaborativos ...................................................................................... 86
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 92
7
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 96
APÊNDICE A: ROTEIRO DAS ENTREVISTAS – BIKEPOA ................................................................. 103
APÊNDICE B: ROTEIRO DAS ENTREVISTAS – BRIQUES DO FACEBOOK .......................................... 104
APÊNDICE C: ROTEIRO DAS ENTREVISTAS – CASA LIBERDADE ..................................................... 105
APÊNDICE D: ROTEIRO DA ENTREVISTA – OUISHARE FESTIVAL ................................................... 106
APÊNDICE E: ROTEIRO DA ENTREVISTA - SHAREFEST .................................................................. 107
8
INTRODUÇÃO
Embora o ato de consumir esteja presente na sociedade há muito tempo, foi a partir
do século XX, junto a um novo contexto socioconômico, que surge o termo "sociedade de
consumo". Nesta sociedade, segundo Barbosa (2010), os objetos e mercadorias são
utilizados como signos culturais, alimentando os desejos insaciáveis dos consumidores. Além
de gerar uma grande quantidade de desperdício e problemas ambientais, o consumismo deu
lugar a espaços urbanos tomados por uma cultura individualista, onde os laços sociais se
tornaram cada vez mais frágeis, e os valores de comunidade se perderam (BAUMAN, 2001).
No entanto, ao mesmo tempo em que a sociedade de consumo crescia, novas
tecnologias e redes de comunicação estavam sendo desenvolvidas, dando origem,
posteriormente, à Internet e à cibercultura (LEMOS, 2009). Leadbeater (2011) afirma que,
enquanto a modernidade colaborou para o desenvolvimento do individualismo e da
alienação da sociedade, as novas tecnologias instituem uma relação de proximidade e
comunidade entre os usuários, principalmente através das redes sociais. A inteligência
coletiva é capaz de criar novas maneiras de produzir uma sociedade mais democrática,
criativa e inovadora.
Essa troca mútua de ideias dá lugar a uma nova visão sobre o futuro, na qual o que se
compartilha é tão importante quanto o que se possui, e o que se cultiva é tão importante
quanto as conquistas individuais. Um dos princípios que define a Internet é o de que
estamos construindo juntos uma rede que permite "[...] compartilhar, socializar, colaborar e,
acima de tudo, criar no âmbito de comunidades livremente conectadas" (TAPSCOTT;
WILLIAMS, 2007, p. 62). Leadbeater (2009) afirma que a interação entre várias pessoas com
diferentes pontos de vista e habilidades possibilita colaboração e criatividade social, capazes
de alterar aspectos fundamentais da vida econômica, como o trabalho, o consumo, a
inovação, a liderança e a produção.
A Internet deu origem a novas formas de relacionamento e consumo, e os jovens que
cresceram em meio a este mundo digital foram capazes de organizar comunidades virtuais
responsáveis pelo renascimento de novos modelos de colaboração. Estes jovens, definidos
por Tapscott (2010) como Geração Digital, estão sendo responsáveis pela transformação da
Internet de um lugar no qual se encontra informações em um lugar no qual se compartilha
informações, se colabora em projetos de interesse mútuo e se cria novas maneiras de
9
resolver problemas culturais, econômicos, políticos e de consumo. Isso deu origem a uma
nova economia, baseada no "que é meu é seu".
Dentro deste novo cenário, as pessoas estão passando de consumidores passivos
para criadores e colaboradores altamente capacitados. A Internet está removendo o
intermediário entre empresas e indivíduos, possibilitando também que os próprios
indivíduos comercializem entre si. Nasce, assim, o consumo colaborativo, que tem como
base o "compartilhamento tradicional, escambo, empréstimo, negociação, locação, doação e
troca redefinido por meio da tecnologia e de comunidades de indivíduos em uma escala e
de formas jamais antes possíveis" (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. xv).
O consumo colaborativo teve início nos Estados Unidos e na Europa, e foi
impulsionado pela crise econômica de 2008, que fez com que os consumidores destes países
buscassem alternativas para economizar dinheiro e reaproveitar produtos que já possuiam.
Embora os hábitos colaborativos já existissem antes da crise, a necessidade econômica
tornou as pessoas mais abertas a novas formas de ter acesso ao que elas precisavam.
(BOTSMAN; ROGERS, 2010).
O consumo colaborativo, além de aparecer como solução para muitos dos problemas
que as pessoas enfrentaram no cenário econômico em crise, também foi impulsionado por
uma mudança de valores. Botsman e Rogers (2010) explicam que as discussões sobre
sustentabilidade estão cada vez mais presentes, e os consumidores estão se tornando mais
conscientes sobre os danos do hiperconsumismo na natureza e na sociedade, ao mesmo
tempo em que as pessoas estão revendo seus relacionamentos com amigos, vizinhos e
familiares, trazendo de volta a crença na importância da comunidade, na transparência dos
produtos e em um relacionamento mais próximo entre quem compra e quem vende.
As pessoas estão experienciando os benefícios da desmaterizalização, e grandes
empresas globais estão reinventando o que oferecem e deixando de serem vendedoras de
produtos para se tornarem provedoras de serviços. O sentimento de propriedade está cada
vez menos atrelado ao que se possui e cada vez mais associado à experiência de autonomia
e controle. Além disso, o consumo colaborativo possibilita uma relação mais próxima dos
consumidores com outras pessoas ao invés de marcas.
Botsman e Rogers (2010) categorizam os diferentes tipos de consumo colaborativo
em três sistemas: sistemas de serviço de produtos (SSP), baseado no aluguel de produtos ao
invés da compra; mercados de redistribuição, onde itens usados são revendidos ou trocados
10
por outros itens; e estilos de vida colaborativos, que têm base no compartilhamento de
dinheiro, habilidades, tempo e espaço.
Embora o movimento tenha iniciado e ainda prevaleça muito mais significativo em
países europeus e norte-americanos, países "em desenvolvimento" como o Brasil já estão se
tornando parte desta nova tendência. Embora o consumo colaborativo no país ainda seja um
movimento de nome pouco conhecido, cada vez mais pessoas estão compartilhando e se
tornando parte de uma comunidade. Serviços de aluguel de carros e bicicletas, mercados de
redistribuição, espaços de coworking e sites de financiamento coletivo talvez sejam os
mercados colaborativos mais conhecidos no país.
O consumo colaborativo apareceu primeiramente em grandes cidades como São
Paulo e Rio de Janeiro, mas já está se espalhando para todos os cantos do país, adquirindo
notabilidade principalmente na região sul. Porto Alegre, embora não tenha investimento
econômico semelhante aos grandes polos brasileiros, está se mostrando cada vez mais
presente culturalmente e socialmente no país. Já é possível ver o surgimento de ações e
comunidades colaborativas dos mais diversos tipos na cidade — serviço de aluguel de
bicicletas, briques de troca e venda de produtos usados em redes sociais, espaços
compartilhados de trabalho e lazer, inúmeras ações de financiamento coletivo, entre outros.
Isso mostra que Porto Alegre, embora ainda esteja em processo inicial no sentido da
colaboração, está se tornando parte deste grande movimento global.
Como este novo cenário colaborativo vem se manifestando em Porto Alegre? Para
responder a essa questão, este estudo tem como objetivo investigar o crescimento do
mercado de consumo colaborativo na cidade de Porto Alegre (RS), com base nos três
sistemas definidos por Botsman e Rogers (2010). Especificamente, a pesquisa visa identificar
as principais formas de consumo colaborativo presentes no cenário porto-alegrense,
descobrir de que modo as pessoas e empresas colaborativas de Porto Alegre se inserem no
mercado de consumo e identificar os principais fatores que impedem e impulsionam o
desenvolvimento da cultura colaborativa na cidade.
Para que esses objetivos fossem alcançados, foi realizada pesquisa teórico-aplicada
de caráter exploratório. Além da técnica de pesquisa bibliográfica, foram utilizados como
dados complementares informações retiradas de sites, blogs e redes sociais, devido ao
consumo colaborativo ser um assunto recente que tem ganhado espaço principalmente nos
últimos cinco anos. Desenvolveu-se, então, um levantamento de dados secundários com o
11
objetivo de identificar, explicar e exemplificar as principais formas de consumo colaborativo
presentes no cenário porto-alegrense. A partir daí, foram selecionados objetos de estudo
relevantes para a pesquisa, e empregada a técnica de entrevista em profundidade para a
coleta de dados primários, tanto com usuários e consumidores colaborativos quanto com
idealizadores de projetos.
O desenvolvimento desta monografia está estruturado em três seções. A primeira
tem como objetivo mostrar como o consumo colaborativo se estabeleceu na sociedade e os
seus principais efeitos, e o surgimento de uma nova cultura baseada no compartilhamento,
impulsionada pela Internet e colocada em prática por uma geração que cresceu em meio a
um ambiente digital e uma crise econômica. A segunda seção busca compreender como esta
nova forma de consumo está presente na sociedade atual, passando pelos princípios básicos
fundamentais, os principais sistemas que formam a economia colaborativa, a confiança e a
reputação na Internet, a influência que a colaboração pode ter nas empresas e negócios, o
possível futuro do compartilhamento e, por fim, um breve panorama do consumo
colaborativo no Brasil. A terceira seção aborda os procedimentos metodológicos de
pesquisa, o cenário de consumo colaborativo em Porto Alegre e a análise do material
coletado, para que os principais objetivos deste estudo sejam atendidos.
12
1 DO CONSUMO AO CONSUMO COLABORATIVO
Para entender o conceito de consumo colaborativo, primeiramente é necessário
compreender como a palavra "consumo" se relaciona com "colaboração". Nesta seção
busca-se, com base em pesquisa bibliográfica, mostrar como o consumo se estabeleceu na
sociedade e os seus principais efeitos, e o surgimento de uma nova cultura baseada no
compartilhamento, impulsionada pela Internet e colocada em prática por uma geração que
cresceu em meio a um ambiente digital e uma crise econômica. Para isso, são centrais as
ideias dos autores Bauman (2001, 2008), Barbosa (2010), Korten (1996), Leadbeater (2011),
Tapscott e Williams (2007), Tapscott (2010) e Botsman e Rogers (2010).
1.1 A SOCIEDADE DE CONSUMO
O consumo, atualmente, está tão presente na sociedade que fica difícil imaginar a
vida sem consumir. A maioria das pessoas, que cresceu em meio a uma sociedade
consumista, aceita o consumo como algo natural.
Se reduzido à forma arquetípica do ciclo metabólico de ingestão, digestão e excreção, o consumo é uma condição, e um aspecto, permanente e irremovível, sem limites temporais ou históricos; um elemento inseparável da sobrevivência biológica que nós humanos compartilhamos com todos os outros organismos vivos (BAUMAN, 2008, p. 37).
No entanto, a partir do século XX, surge um novo contexto socioeconômico que dá
origem ao que hoje conhecemos por "sociedade de consumo". Em decorrência do ambiente
de terror gerado pela Primeira Guerra Mundial, o homem passa a ter uma nova percepção
do tempo e da vida, onde passa a viver em função do presente e a valorizar o individualismo.
Na questão industrial, há um aumento da produção e do mercado para os mais diversos
produtos, e a velocidade de desenvolvimento científico e tecnológico provoca mudanças em
todos os outros aspectos da sociedade (GONÇALVES, 2008).
Após a Segunda Guerra Mundial, os países europeus se encontravam em ruínas, e o
mundo se dividiu em duas superpotências: os Estados Unidos (EUA), e a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) que, durante quase meio século, travaram uma
disputa pela hegemonia do mundo, no conflito ideológico-político conhecido como Guerra
Fria. Durante este tempo, as grandes empresas estadunidenses investiram em
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desenvolvimento tecnológico e tornaram globais os meios de comunicação (GONÇALVES,
2008).
Os novos avanços tecnológicos possibilitaram um crescente desenvolvimento
industrial, tornando os preços cada vez menores e a renda cada vez maior, aumentando a
demanda de produtos e serviços (HAWKEN, 2007). Esse crescimento teve como base o
aumento da produtividade do trabalho e, consequentemente, do salário-hora per capita em
diversos países industrializados, aumentanto o poder de compra dos assalariados. "Por
conseguinte, eleva-se o nível de consumo; modifica-se a estrutura de consumo; generaliza-
se a compra de novos bens duráveis, símbolos da 'sociedade de consumo'" (BEAUD, 2004, p.
318).
Ou seja, ao lado das peculiaridades sócio-culturais de cada povo, de cada nação ou nacionalidade, desenvolvem-se, segundo Ianni (1999a, p.218), tecnologias e mentalidades com base nos princípios da produtividade e da competitividade da lógica de mercado. Desenvolvem-se e mundializam-se, também, padrões, instituições e valores sócio-culturais, formas de agir, pensar e perceber o mundo de acordo com as necessidades da produtividade, do lucro e da competitividade, imprescindíveis à indústria. Desse modo, ultrapassando as fronteiras do comportamento e de pensamento dos indivíduos, o consumismo se generaliza e se intensifica (GONÇALVES, 2008, p. 26).
Para Bauman (2008), o consumo é uma característica e ocupação dos seres humanos
como indivíduos, enquanto o consumismo é um atributo da sociedade, que transforma as
vontades, desejos e anseios humanos rotineiros na principal força que coordena a
reprodução sistêmica, a integração e a estratificação sociais, além da formação da
identidade individual e de grupo.
Se até então o consumo era analisado de forma moral, a partir da década de 1980,
ele passou a ser discutido com base em uma visão sociológica. Barbosa (2010) afirma que a
cultura material e o consumo são aspectos fundamentais de qualquer sociedade, e as
atividades cotidianas são responsáveis pela formação de identidades, relações e intuições
sociais. No entanto, apenas a sociedade atual foi caracterizada como sociedade de consumo,
ou seja, o consumo passa a ter um significado muito maior do que apenas satisfazer as
necessidades materiais e sociais.
A cultura do consumidor é uma cultura de consumo de uma sociedade de mercado. No mundo moderno o consumo se tornou o foco central da vida social. Práticas sociais, valores culturais, ideias, aspirações e identidades são definidas e orientadas em relação ao consumo ao invés e para outras dimensões sociais como trabalho, cidadania e religião entre outros (SLATER apud BARBOSA, 2010, p. 31).
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Nesse ambiente de consumo, "os objetos e as mercadorias são utilizados como
signos culturais de forma livre pelas pessoas para produzirem efeitos expressivos em um
determinado contexto" (BARBOSA, 2010, p. 23). Partindo da análise de Mike Featherstone,
no livro "Cultura de consumo e pós-modernismo", Barbosa (2010) define consumo como a
simbolização e o uso dos bens materiais como comunicadores e não apenas utilidades.
Na mesma linha, Baudrillard (1981) entende que não consumimos o objeto em si, no
seu valor de uso, mas sim os signos que estes objetos representam e distinguem o indivíduo,
alimentando os desejos de consumo. Já Bauman (2008) entende que a sociedade de
consumo tem como base a promessa de satisfazer os desejos humanos de forma que
nenhuma outra sociedade passada pode fazer, mas essa promessa só permanece sedutora
enquanto o desejo continuar insatisfeito.
Para que os consumidores mantenham-se sempre interessados em adquirir produtos
novos, é preciso que haja sempre uma grande variedade de produtos disponíveis nas
prateleiras. Segundo Sennet (2006), a fabricação industrial capitalista se baseia na
"construção em plataforma" dos mais variados bens de consumo. A plataforma é um
objetivo básico, onde são aplicadas pequenas mudanças superficiais, para transformar o
produto numa marca específica. Desta forma, aumenta-se a variedade dos produtos e a
opção de escolha dos consumidores, aumentando consequentemente o consumo.
O capitalismo não entregou os bens às pessoas; as pessoas foram crescentemente entregues aos bens; o que quer dizer que o próprio caráter e sensibilidade das pessoas foi reelaborado, reformulado, de tal forma que elas se agrupam aproximadamente ... com as mercadorias, experiências e sensações ... cuja venda é o que dá forma e significado a suas vidas (SEABROOK apud BAUMAN, 2001, p. 100).
Para Bauman (2008), o consumismo engana o consumidor, indo contra a razão e
estimulando emoções consumistas. O consumo tem um caráter ilimitado, no qual a
produtividade é gigantesca e a capacidade de consumo ainda maior, e as necessidades
jamais podem ser satisfeitas, pois "[...] é no consumo do excedente e do supérfulo que,
tanto o indivíduo como a sociedade, se sentem não só existir, mas viver" (BAUDRILLARD,
1981, p. 41).
15
1.1.1 A Sociedade Urbana e o Individualismo
Para Lefevbre (1999), a sociedade pós-industrial pode ser denominada "sociedade
urbana", o que não tira o valor de outro termo muito utilizado para designar a realidade
contemporânea: "sociedade burocrática de consumo dirigido". O crescimento econômico e a
industrialização tiveram um enorme impacto na formação dos territórios. As pessoas que
antes viviam no campo acompanharam os meios de produção, e se integraram à indústria e
ao consumo de produtos dessa indústria. Dá-se início, então, ao processo de urbanização, e
surge o que hoje denominamos as grandes cidades. As ruas que formam estas cidades são
lugares de passagem, que permitem apenas encontros superficiais entre as pessoas. "A rua
não permite a constituição de um grupo, de um 'sujeito', mas se povoa de um amontado de
seres em busca. De quê? O mundo da mercadoria desenvolve-se na rua" (LEVEVBRE, 1999,
p. 30).
Bauman (2001), por sua vez, afirma que os espaços públicos das cidades
contemporâneas se afastam do modelo ideal do espaço civil. Muitos deles carecem de
hospitalidade, atuando apenas como objeto de admiração e não de interação, e outros são
projetados com o principal objetivo de compartilhar o consumo, ou seja, o espaço é
compartilhado por diversas pessoas que realizam a mesma atividade e participam da mesma
ação, porém sem nenhuma interação social entre si. "Por mais cheios que possam estar, os
lugares de consumo coletivo não têm nada de 'coletivo'" (BAUMAN, 2001, p. 114).
Estes espaços públicos, mas não civis, permitem às pessoas que elas compartilhem
um mesmo espaço com estranhos sem ter a necessidade de interagir; desta forma os laços
sociais se tornam cada vez mais frágeis, e as pessoas desenvolvem "medo" do diferente, do
estranho, do estrangeiro, criando barreiras e cercas de proteção e segmentação.
A comunidade definida por suas fronteiras vigiadas de perto e não mais por seu conteúdo; a "defesa da comunidade" traduzida como o emprego de guardiões armados para controlar a entrada; assaltante e vagabundo promovidos à posição de inimigo número um; compartimentação das áreas públicas em enclaves "defensáveis" com acesso seletivo; separação no lugar da vida em comum - essas são as principais dimensões da evolução corrente da vida urbana (BAUMAN, 2001, p. 111).
Bauman (2001) afirma, ainda, que a individualização vai contra os princípios da
cidadania. Enquanto o cidadão tende a buscar o seu bem-estar através do bem-estar da
cidade, o indivíduo tem como foco gozar da sua liberdade de escolha e satisfazer apenas
16
seus desejos. "A individualização traz para um número sempre crescente de pessoas uma
liberdade sem precedentes de experimentar—mas [...] traz junto a tarefa também sem
precedentes de enfrentar as consequências" (BAUMAN, 2001, p. 47).
Embora vista de forma positiva por alguns, levando à liberdade individual e ao
igualitarismo, a cultura do consumo é vista por outros como a responsável pelo afastamento
das pessoas de valores e relações sociais mais verdadeiros. Segundo Barbosa (2010), o
consumo é uma atividade solitária, baseada no desempenho individual, mesmo que
realizado na companhia de alguém, pois não consegue estabelecer vínculos duradouros.
Bauman (2008) também afirma que o mercado de consumo gera uma vida
autocentrada, autorreferencial e egoísta, e acaba com a responsabilidade pelo outro, pela
comunidade. A busca pela autoidentificaçã oatravés do consumo é capaz de desestruturar
uma sociedade; ao compartilhar uma mesma tarefa — consumir — em condições
inteiramente diferentes, as pessoas são induzidas à competição, e acabam não
desenvolvendo a condição humana de cooperar (BAUMAN, 2001).
Korten (1996) critica o desenvolvimento das cidades, que foram inventadas como
lugares dedicados à interação humana e, antigamente, consistiam principalmente de espaço
de troca para as pessoas, com o propósito de "facilitar o intercâmbio de informações, de
amizade, cultura, conhecimento, percepções [e] habilidades" (ENGWICHT apud KORTEN,
1996, p. 323). Este individualismo característico da vida urbana baseado no consumismo
teve um impacto direto na vida das pessoas e no meio-ambiente, levando a sérias
consequências socioambientais. Para que isto seja revertido, é necessário reorganizar as
sociedades de forma sustentável e equilibrada; valorizando as escolhas coletivas ao invés
das individuais.
1.1.2 O Consumo Descartável e os Problemas Socioambientais
A síndrome consumista, que valoriza a novidade acima da permanência, tem como
principais objetos do desejo humano o ato da apropriação e, em seguida, da remoção de
lixo. Ela envolve velocidade, excesso e desperdício. Bauman (2008) afirma que, em uma
sociedade consumista, a felicidade não está atrelada à satisfação de necessidades, mas sim a
um volume e uma intensidade de desejos sempre crescentes, que exigem o uso imediato e a
rápida substituição de objetos para satisfazê-los. Se desfazer de um objeto ou produto traz
17
uma sensação de prazer às pessoas. Assim, cria-se uma "obsolescência embutida" dos bens
oferecidos no mercado e um significativo aumento na indústria da remoção do lixo.
Sennet (2006) apresenta, como exemplo contrário ao consumismo atual, um olhar
aos objetos presentes na casa de um funcionário parisiense do antigo regime. No quarto,
haveria poucas roupas e sapatos, passados de mão em mão através de gerações. Na cozinha,
algumas louças, tudo feito à mão. Entretanto, na metade do século XX, a economia tornou
possível que, ao invés de serem consertados ou reutilizados, esses objetos fossem
descartados e substituídos por novos.
Em 1955, a revista americana Life publicou um artigo entitulado Throwaway Living.
Acompanhado de uma imagem de uma família alegre jogando para o alto todos os tipos de
utensílios descartáveis, o artigo tinha como objetivo propagar a nova cultura de consumo
nascida com o pós-guerra, celebrando o descarte dos objetos. Dizia o texto que
acompanhava a foto: "Os objetos voando pelo ar demorariam 40 horas para serem limpos,
mas nenhuma dona de casa precisa se preocupar. Todos eles podem ser jogados fora após o
uso" (LIFE, c2014, tradução nossa).
Segundo Baudrillard (1981), a sociedade de consumo sente a necessidade de
adquirir objetos e, em seguida, os destruir. O objeto de consumo não é mais produzido em
função do seu valor de uso ou duração, mas sim em função da sua morte, tornando-o, desta
forma, frágil, obsoleto e efêmero. Para que este sistema permaneça em funcionamento, a
publicidade tem como objetivo principal tirar o valor de uso dos objetos, diminuindo seu
tempo de vida e os sujeitando à renovação acelerada.
Devido a isso, grande parte das mercadorias chega ao depósito de lixo antes de
encontrar alguém interessado em adquirí-las. Muitas vezes, os consumidores se desfazem de
um produto ainda em boas condições de uso apenas pelo desejo de usufruir um produto
novo e aperfeiçoado. É importante notar que "[...] para atender a todas essas novas
necessidades, impulsos, compulsões e vícios, assim como oferecer novos mecanismos de
motivação, orientação e monitoramento da conduta humana, a economia consumista tem
de se basear no excesso e no desperdício" (BAUMAN, 2008, p. 54).
A economia consumista, que se baseia no movimento de mercadorias, tem como
principal interesse o crescimento do PIB. Bauman (2008) afirma que, para que isso ocorra, as
campanhas de marketing devem ter como foco apresentar aos consumidores uma felicidade
18
não mais baseada no armazenamento de produtos, mas sim no descarte e na substituição de
produtos antigos por novos, mesmo que estejam em boas condições de uso.
Korten (1996) complementa essa visão ao caracterizar o produto nacional bruto, uma
medida de fluxo do dinheiro na economia, como uma medida da velocidade em que estamos
transformando os recursos em lixo. As ações que mais contribuem para o crescimento do
PIB são as que mais prejudicam o meio-ambiente, como dirigir um carro ao invés de andar
de bicicleta, ligar o ar-condicionado ao invés de abrir uma janela, e consumir alimentos
processados ao invés de naturais.
De acordo com as definições econômicas atuais, a maior parte do desperdício industrial, ambiental e social é computada como produto interno bruto, ou seja, exatamente como os televisores, as bananas, os carros e as bonecas Barbie. A definição de crescimento econômico abarca todas as despesas, sem levar em conta se a sociedade se beneficou ou saiu perdendo (HAWKEN, 2007, p. 56).
Segundo Baudrillard (1981), a produtividade é vista sempre como positiva pelos
economistas, sendo ela proveninente de serviços públicos ou privados. Os aspectos
deficitários, a degradação e a obsolência não aparecem na mensuração do produto nacional
bruto, e se surgem, são vistas como aumento de produção e riqueza social.
O sistema econômico globalizado valoriza, acima de tudo, o lucro das grandes
corporações, que exploram os trabalhadores, desmatam as florestas, despejam lixo tóxico
no meio-ambiente e implementam políticas que promovem os interesses corporativos acima
dos interesses humanos. Este sistema voltado para o consumo em massa, que teve início nos
Estados Unidos, é responsável por toda a devastação econômica, social e ambiental do
mundo, e favorece a competitividade, a exploração de recursos e o curto prazo (KORTEN,
1996).
Uma matéria na revista Super Interessante trouxe um dado relevante: se todas as
pessoas consumissem como nos Estados Unidos, seriam necessários 4,5 planetas Terra para
que o mundo não entrasse em colapso. Os estadounidenses jogam fora ou fazem com que
se joguem fora quase 500 toneladas de material por pessoa por ano (SCHNEIDER, 2009).
"Parte do fluxo pode ser vista nas latas de lixo, nos shopping centers, nos postos de gasolina,
nos restaurantes à beira da estrada ou nos contêiners empilhados no cais do porto"
(HAWKEN, 2007, p. 45).
Para Hawken (2007), a industrialização causou três grandes crises no século XXI que
têm como causa em comum o desperdício: a deterioração do ambiente natural, a dissolução
19
das sociedades civis na ilegalidade, no desespero e na apatia, e a falta de vontade pública
necessária para mitigar o sofrimento humano e promover o bem-estar. Korten (1996) afirma
que, para que o mundo não entre em colapso, é necessário voltar o foco para a comunidade
e o cooperativo, criando zonas de confiança e responsabilidade local onde as pessoas têm o
poder de adminstrar suas próprias economias.
1.2 A SOCIEDADE COLABORATIVA
No século XXI, em meio à sociedade consumista, nasce uma nova cultura de consumo
com base na colaboração, possibilitada a partir do surgimento da Internet e colocada em
prática por uma geração que cresceu junto a um ambiente digital. Esta subseção tem como
objetivo explicar como o compartilhamento de informações e as redes sociais deram origem
à colaboração em massa online, abordar a influência destes jovens conectados nas
diferentes esferas socioeconômicas, e dar enfoque ao surgimento de uma nova forma de
consumir, impulsionada pela crise econômica de 2008 nos Estados Unidos.
1.2.1 A Internet e o Compartilhamento
Os primeiros computadores surgiram em 1945, nos Estados Unidos e na Inglaterra,
com o objetivo de reproduzir cálculos científicos para os militares. Até os anos 1960, a
informática servia, principalmente, ao Estado e às grandes empresas (LÉVY, 1999).
Em 1968, em São Francisco (EUA), Doug Engelbart apresentou o que viria a ser,
décadas depois, o que conhecemos hoje como a Internet. Ele mostrou, em uma tela gigante,
em um computador do tamanho de uma sala, como editar textos utilizando um teclado e um
mouse, inserir links em um documento, misturar texto com imagens gráficas e vídeos e
conectar um computador a outro há milhas de distância, utilizando uma linha telefônica.
Tudo isso com o objetivo de mostrar que, no futuro, as pessoas poderiam trabalhar nos
mesmos documentos, mesmo estando em continentes diferentes. Segundo Leadbeater
(2009), antes disso, o computador era visto como uma ferramenta desumana do controle
burocrático e corporativo.
20
Pela primeira vez eles puderam ver um sistema de computadores altamente individualizado e altamente interativo, construído não em volta de números complexos, mas sim da circulação de informação e da construção de uma comunidade local de trabalho (TURNER apud LEADBEATER, 2009, p. 38).
O desenvolvimento de novas tecnologias e redes de comunicação deram origem ao
que chamamos de cibercultura, que se tornou popular a partir da década de 1970, com o
surgimento do microcomputador, e se estabeleceu completamente nos anos 1980, com a
informática de massa, e na década de 1990, com as redes telemáticas e, principalmente,
com o boom da Internet (LEMOS, 2004).
Lemos (2004) define o ciberespaço como um conjunto de redes de computadores,
interligadas ou não, em todo planeta, à Internet. Este espaço é composto de dois grandes
sistemas interdependentes — o macro-sistema tecnológico, formado pelas máquinas
interligadas, e o micro-sistema social, formado pelos usuários — responsáveis pela
disseminação de informação, pelo fluxo de dados e pelas relações sociais. A Internet "age
como potencial descentralizadora do poder tecno-industrial-mediático abrindo 'uma rede
verdadeiramente aberta e acessível (...) um ambiente de expressões onde nenhum governo
pode controlar'" (LEMOS, 2004, p. 117).
Leadbeater (2009) informa que essa descentralização tem raízes no surgimento da
Internet, que não foi criada com fins comerciais ou em um laboratório de pesquisa, e sim por
pessoas — acadêmicos, visionários, hackers, hippies, designers de computadores — que,
muitas vezes, trabalhavam em comunidades não voltadas ao mercado, e acreditavam no
conceito de comunidade. Enquanto a modernidade colaborou para o desenvolvimento do
individualismo e da alienação da sociedade, as novas tecnologias instituem uma relação de
proximidade e comunidadeentre os usuários. Segundo Lemos (2004, p. 138), "mais do que
um fenômeno técnico, o ciberespaço é um fenômeno social".
A Internet possibilitou às pessoas a expressão e sociabilização através de ferramentas
de comunicação mediadas pelo computador, que se dão, na maioria das vezes, através das
redes sociais. Recuero (2009) explica que estas redes constituem-se de dois elementos
principais: os atores (pessoas, instituições ou grupos) e as suas conexões (interações ou laços
sociais). "Estabelece-se, dessa forma, um processo não-linear de concepção e de utilização
(interatividade) dos conteúdos, onde a realização da obra [...] é impossível sem o usuário"
(LEMOS, 2004, p. 122).
21
Os sites de redes sociais como Facebook, Flickr, Linkedin, Instagram, Twitter, Youtube
entre outros, são espaços utilizados para a expressão das redes sociais na Internet. Recuero
(2009) aponta que estes sites aumentaram a conectividade dos grupos sociais, pois são
capazes de facilitar a emergência de tipos de capital social não facilmente acessíveis aos
atores sociais no mundo real, devido à maior facilidade de criar conexões com pessoas de
todos os lugares do mundo. Além disso, os sites de redes sociais permitem um maior
controle das impressões deixadas pelos atores, sendo extremamente efetivos na construção
de reputação e confiança online, colaborando, assim, para formação de comunidades
virtuais.
Para Lévy (1999), um dos maiores pensadores sobre a cultura virtual contemporânea,
o crescimento do ciberespaço é fundamentado em três princípios: a interconexão, a criação
de comunidades virtuais e a inteligência coletiva. A interconexão se baseia na conexão
universal entre indivíduos, possibilitando um fluxo de informações sem fronteiras e uma
comunicação interativa entre os usuários. Essa conexão dá origem às comunidades virtuais,
que são construídas com base nos interesses e conhecimentos em comum, projetos mútuos
e em um processo de cooperação e troca, responsáveis pelas relações humanas
desterritorializadas e livres, e atuando como complemento às relações sociais físicas e reais.
O principal objetivo na construção dessas comunidades está em construir o ideal da
inteligência coletiva, mais imaginativo, mais rápido e mais capaz de aprender e inventar. "A
interconexão condiciona a comunidade virtual, que é uma inteligência coletiva em potencial"
(LÉVY, 1999, p. 133).
Leadbeater (2009) explica que, através da inteligência coletiva, é possível criar novas
maneiras de trabalhar em equipe para produzir uma sociedade mais democrática, criativa e
inovadora. A participação dos indivíduos na Internet apenas fará diferença no mundo se
estes forem capazes de compartilhar e combinar suas ideias. Desta forma, a Internet é capaz
de remodelar culturas ao redor do mundo e mudar como as pessoas pensam e se
relacionam uns com os outros.
Na maioria das áreas - ciência, cultura, negócios, academia - a criatividade surge quando pessoas com diferentes pontos de vista, habilidades e conhecimentos combinam suas ideias a fim de produzir algo novo. A web fornece a plataforma para que possamos ser criativos juntos em uma escala antes jamais imaginável. Está mudando como compartilhamos ideias e, desta forma, como pensamos (LEADBEATER, 2009, p. 19, tradução nossa).
22
Essa troca mútua de ideias dá lugar a uma nova visão sobre o futuro, na qual o que se
compartilha é tão importante quanto o que se possui, eo que se cultivaem comum é tão
importante quanto as conquistas individuais. A Internet deu vida a uma nova economia,
baseada não mais em bens materiais, e sim em ideias, onde os indivíduos são identificados
pelas redes às quais se vinculam,com quem se intercomunicam e por quais ideias, imagens,
vídeos, links ou comentários compartilham (LEADBEATER, 2009).
A cultura do compartilhamento, a descentralização e a democracia online tornam a
Internet a plataforma ideal para grupos se auto-organizarem, combinando suas ideias e
criando jogos, enciclopédias, softwares, redes sociais, sites de compartilhamento de vídeos e
imagens ou universos paralelos completos (LEADBEATER, 2009). Um dos princípios que
define a Internet é o de que estamos construindo juntos uma rede que permite "[...]
compartilhar, socializar, colaborar e, acima de tudo, criar no âmbito de comunidades
livremente conectadas" (TAPSCOTT; WILLIAMS, 2007, p. 62).
Esta colaboração em massa que surgiu com a Internet está reinventando a economia,
através de um novo modelo alternativo de produção que explora a capacidade e a
inteligência humana coletiva. Este modelo, conhecido como peering, é "uma maneira de
produzir bens e serviços que depende totalmente de comunidades auto-organizadas e
igualitárias de indivíduos que se unem voluntariamente para produzir um resultado
compartilhado" (TAPSCOTT; WILLIAMS, 2007, p. 89).
O maior exemplo de peering atualmente é a Wikipedia, criada pelo norte-americano
Jimmy Wales. Atualmente a maior enciclopédiado mundo, ela foi construída gratuitamente
através da colaboração de voluntários em uma plataforma onlinea berta que permite que
qualquer pessoa seja editora. Composta de mais de quatro milhões de artigos em mais de
duzentos idiomas, é um dos sites mais visitados na web, e tem como objetivo disponibilizar
todo o conhecimento humano através do acesso livre para todos. A colaboração entre os
usuários permite que o conteúdo seja sempre aprimorado, e publicações com erros ou
informações falsas geralmente conseguem ser corrigidas em, em média, 1,7 minuto. Dos um
milhão de usuários registrados, cerca de 100 mil contribuíram e cerca de 5 mil atuam como
responsáveis pelas tarefas administrativas que mantêm o site funcionando (TAPSCOTT;
WILLIAMS, 2007).
Outro exemplo bem sucedido de peering teve início em 1991, quando Linus Torvalds,
um estudante finlandês de ciência da computação, postou na Internet sua primeira versão
23
de um programa de computador que ele mesmo havia criado: o Linux. Ele disponibilizou o
código de fonte do programa, deixando-o em aberto para que outras pessoas opinassem,
colaborassem e sugerissem melhoras. Nasceu assim, o maior software de código aberto do
mundo, criado — e aperfeiçoado durante 15 anos — por uma das maiores comunidades de
colaboração em massa online que já existiu. Em 2007, havia 655 grupos de usuários do Linux
em 91 países, compartilhando ideias através de sites, fóruns online e pessoalmente. O Linux
apenas teve sucesso porque uma comunidade se organizou sistematicamente para criar,
compartilhar, testar, rejeitar e desenvolver ideias além dos meios convencionais
(LEADBEATER, 2009).
Para Botsman e Rogers (2010), o poder coletivo de indivíduos conectados
virtualmente se fortaleceu ao longo da década de 2000, através do conceito de
crowdsourcing, que significa, segundo o próprio Wikipedia, a obtenção de serviços, ideias ou
conteúdos, solicitando contribuições de um grupo de pessoas a partir de uma comunidade
online. O crowdsourcing tem se mostrado um sistema bem sucedido, e faz com que as
pessoas abandonem comportamentos de consumo hiperindividualistas.
Leadbeater (2009) chama essas comunidades online de compartilhamento de
informações de We Think. Para ele, a interação entre várias pessoas com diferentes pontos
de vista e habilidades possibilita colaboração e criatividade social, capazes de alterar
aspectos fundamentais da vida econômica, como o trabalho, o consumo, a inovação, a
liderança e a produção.
E os impactos do compartilhamento e da colaboração online não estão restritos ao mundo virtual. Eles estão vazando para o mundo offline, criando mudança dentro dos nossos mundos culturais, econômicos, políticos e de consumo (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 50).
Uma prova de que o compartilhamento na Internet está trazendo de volta os valores
de comunidade pode ser vista em 2006, quando a revista Time elegeu todas as pessoas do
mundo como "a pessoa do ano". A manchete da matéria lia "Você —Sim, Você —é a Pessoa
do Ano da Time", seguida da legenda "Em 2006, a World Wide Web se tornou a ferramenta
capaz de unir as pequenas contribuições de milhões de pessoas e fazer com que elas tenham
importância" (GROSSMAN, 2006, tradução nossa). A revista falava que a Internet possibilitou
o surgimento da colaboração e de comunidades em uma escala jamais antes vista, que irá
mudar o mundo. "Esta é uma oportunidade para construir um novo tipo de entendimento
24
internacional, não de político para político, de homem importante para homem importante,
mas de cidadão para cidadão, pessoa para pessoa" (GROSSMAN, 2006, tradução nossa).
No passado, a colaboração acontecia, na maioria das vezes, em pequena escala,
entre famílias, amigos, comunidades e locais de trabalho. As pessoas tinham papéis
limitados na sociedade, como consumidores passivos ou trabalhadores em organizações
tradicionais, tornando rara a participação direta da população na economia. Hoje, no
entanto, o acesso crescente à tecnologia possibilita que as pessoas tenham acesso a
ferramentas necessárias para colaborar, criar valor e competir. Essas novas colaborações
servem tanto para interesses comerciais quanto para ajudar as pessoas a executar tarefas
que podem ajudar o mundo, como "como curar doenças genéticas, prever mudanças
climáticas globais e encontrar novos planetas e astros" (TAPSCOTT; WILLIAMS, 2007, p. 22).
Na mesma linha, Leadbeater (2009) afirma que, no século passado, quase todas as
pessoas eram trabalhadores e consumidores de uma economia de produção em massa; já
nas próximas décadas, devido ao acesso crescente a ferramentas que possibilitam a
criatividade em diferentes formas, as pessoas começarão a ter diferentes papéis na
sociedade, sendo participantes, contribuidores e inovadores.
1.2.2 A Geração Colaborativa
O século XXI deu início a uma nova era — a Era das Conexões — impulsionada pelo
crescimento da Internet e da telefonia. Neste novo milênio, o principal valor da sociedade
está associado aos relacionamentos, tendo como principal base a conexão online entre as
pessoas (OLIVEIRA, 2010).Tapscott (2010) afirma que o conhecimento está fluindo com mais
liberdade do que nunca graças à Internet, mas que o verdadeiro potencial desta só foi
atingido de verdade quando os jovens começaram a usar computadores. Principalmente
através das redes sociais, estes jovens foram capazes de organizar comunidades virtuais
responsáveis pelo renascimento de novos modelos de colaboração, e estão causando
impacto na vida cívica e política.
Oliveira (2010) explica que é na faixa etária dos 20 anos de idade, ao chegar à vida
adulta e entrar no mercado de trabalho, que os jovens começam a interferir de forma mais
significativa na sociedade, sendo fundamental compreender aqueles nascidos nos anos 1980
e 1990. Estes jovens são conhecidos como Geração Y, nome que surgiu devido à forte
25
influência que a antiga União Soviética tinha sobre os países comunistas, a ponto de definir a
primeira letra dos nomes que deveriam ser dados aos bebês; nas duas décadas em questão,
a principal letra era o Y e, embora isso não tenha tido muita influência no mundo ocidental,
o termo foi adotado por estudiosos.
Tapscott (2010), no entanto, considera o termo Y muito parecido com o nome da
geração anterior — Geração X — diminuindo, assim, sua importância. Essa geração também
é conhecida como Millenials, ou Geração do Milênio, mas o ano 2000 não alterou de fato a
experiência dos jovens daquela época. O autor, então, decidiu nomear esta comunidade de
jovens de Geração Digital, ou Geração Internet, definindo assim todos os jovens que
cresceram durante o rápido desenvolvimento das tecnologias digitais.
O fato de ter crescido em um ambiente digital causou um impacto profundo no modo
de pensar dos jovens da Geração Internet, a ponto de mudar a maneira como o seu cérebro
está programado. Muitas pessoas das gerações passadas — que nasceram e cresceram após
a Segunda Guerra Mundial, em um ambiente de conflito ideológico,ao mesmo tempo em
que o consumismo começava a tomar forma, e as televisões se tornavam o principal meio de
entretenimento e informação — aderem a estes jovens características negativas que vieram
com o uso constante das tecnologias: ansiedade, impaciência, superficialidade,
transitoriedade, indecisão e egoísmo (OLIVEIRA, 2010).
Embora a quantidade imensa de informações às quais estão diariamente expostos,
essa imersão digital teve, no geral, um impacto positivo nos jovens, tornando-os, na
verdade, mais tolerantes, espertos e rápidos do que as gerações anteriores. "Esses jovens
estão remodelando todas as instituições da vida moderna, do local de trabalho ao mercado,
da política à educação, até chegarem à estrutura básica representada pela família"
(TAPSCOTT, 2010, p. 20).
Os jovens da Geração Internet estão colaborando uns com os outros e mudando a
forma de ver o mundo. No trabalho e na educação, estão derrubando a hierarquia rígida e
valorizando, acima de tudo, uma abordagem colaborativa. No mercado, estão alterando o
conceito de marca através da coinovação de produtos e serviços com os seus fabricantes. Na
questão familiar, estão mudando o relacionamento entre pais e filhos. Como cidadãos, estão
dando vida à ação política e, na sociedade como um todo, respaldados pelo alcance global
da Internet, sua atividade cívica está se tornando um novo e mais poderoso tipo de ativismo
social (TAPSCOTT, 2010).
26
Tapscott (2010) apresenta oito características da Geração Internet: (1) os jovens
querem liberdade em tudo que fazem, desde liberdade de escolha à liberdade de expressão;
(2) eles têm um grande interesse em personalizar, utilizando a Internet também para
produzir seus próprios conteúdos; (3) eles usam seu poder de mercado para exigir mais das
empresas e dos empregadores; (4) eles procuram integridade e abertura empresarial,
certificando de que valores das empresas estão alinhados aos seus; (5) tendo crescido em
meio a um ambiente interativo, eles querem diversão no trabalho, na educação e na vida
social; (6) eles são a geração da colaboração e do relacionamento, criando redes de
influências online; (7) eles querem velocidade de informação e comunicação; e, por fim, (8)
eles são inovadores, buscando sempre novas formas de colaborar, se divertir, aprender e
trabalhar.
Nitidamente, os jovens da Geração Y estão mudando muitas verdades que aprendemos em nossa juventude. Eles valorizam muito mais os relacionamentos, a conexão e a integração com as pessoas. Querem respostas diretas e claras, sem coisas subentendidas e obscuras. Exigem transparência de seus pais e de seus líderes e estão dispostos a lutar por seus sonhos (OLIVEIRA, 2010, p. 103).
Além de valorizar a interação com as pessoas, a geração dos jovens que cresceram
com a Internet tem uma enorme capacidade criativa, apresentando ideias capazes de
modificar as circustâncias do mundo à sua volta. Por passarem muito tempo em atividades
virtuais, estes jovens desenvolveram uma capacidade de pensar de forma abstrata maior
que a das gerações passadas, realizando pensamentos imaginativos com mais facilidade
(OLIVEIRA, 2010). Tapscott (2010) complementa que esta geração está sendo responsável
pela transformação da Internet de um lugar no qual se encontra informações em um lugar
no qual se compartilha informações, se colabora em projetos de interesse mútuo e se cria
novas maneiras de resolver alguns dos problemas mais urgentes do mundo.
Os integrantes da Geração Internet são colaboradores em todas as esferas da vida. Como ativistas civis, eles estão utilizando com desenvoltura essa característica colaborativa. A Geração Internet quer ajudar. Eles vão auxiliar as empresas a criar produtos e serviços melhores. Estão participando de ações de voluntariado em números recordes, em parte porque a Internet oferece muitas maneiras, grandes e pequenas, de ajudar (TAPSCOTT, 2010, p. 112).
Os jovens da Geração Digital estão engajados em comunidades como seus pais nunca
tiveram, mostrando que a ideia de que esta geração é formada de jovens mimados,
preguiçosos e egocêntricos não é verdadeira (TAPSCOTT, 2010). Em 2009, o site
Trendwatching publicou uma matéria entitulada "Geração G: G de generosidade, não de
27
ganância” (TRENDWATCHING, 2009, tradução nossa), com o objetivo de mostrar que a
geração que cresceu com a Internet não é nada egoísta.
Geração G: a crescente importância da 'generosidade' como uma forma de pensar relacionada à sociedade e aos negócios. Como os consumidores estão enojados com a ganância e as terríveis consequências atuais na economia [...] a necessidade de mais generosidade coincide, de forma positiva, com a emergência contínua [...] de uma cultura online de indivíduos que compartilham, doam, se engajam, criam e colaboram em grande número. Na verdade, para muitos, compartilhar uma paixão e ser reconhecido substituiram o "adquirir" como novo símbolo de status. Os negócios deveriam seguir esta mudança social e de comportamento, mesmo que muito disto oponha suas devoções egocêntricas construídas há décadas (TRENDWATCHING, 2009, tradução nossa).
As características relacionadas à generosidade desta geração puderam ser percebidas
de forma clara especialmente após a crise econômica que eclodiu em 2008 nos Estados
Unidos, e fez com que os consumidores ficassem ainda mais críticos com relação às grandes
corporações. Muitas delas esqueceram que estão vivendo em um mundo onde seus
consumidores são bem informados e críticos, e desejam um bom relacionamento com os
empregados, os clientes e o meio ambiente (TRENDWATCHING, 2009). Os jovens da geração
digital têm consciência social como indivíduos, consumidores e trabalhadores. Cerca de 61%
dos jovens entre 13 e 25 anos se sentem pessoalmente responsáveis por fazer a diferença no
mundo, e 83% irão confiar mais em uma empresa se esta for socialmente e ambientalmente
responsável (JAYSON, 2006).
A Geração G é formada de indivíduos que desejam, cada vez mais, dar, compartilhar
e colaborar, ser mais "generososos" de diversos modos, buscando — e encontrando —
gratificação em atividades que não envolvem consumir mais e melhor. E tudo isso graças à
cultura da Internet (TRENDWATCHING, 2009).
[...] enquanto a mídia industrial de estilo ímpar consignou-nos a meramente assistir e ler, a Internetextende vastamente o alcance de pessoas que podem fazer parte de debates públicos e expande o alcance de ideias que elas podem propor. Como consumimos informação, quais notícias e visualizações recebemos, é fundamental para a forma como vemos o mundo e tomamos decisões. As atividades culturais das quais participamos e os interesses que buscamos têm uma importância enorme em quem pensamos que somos, o que importa para nós, o ponto de vista do qual vemos o mundo (LEADBEATER, 2009, p. 211).
Segundo Tapscott (2010), os jovens da Geração Internet estão percebendo que, para
manterem o mundo um lugar saudável para seus filhos, eles devem usar todos os meios
disponíveis e acessíveis, pela primeira vez a uma sociedade, para colaborar e se organizar em
torno de uma mudança verdadeira.
28
1.2.3 Uma Nova Forma de Consumir
Uma dinâmica extremamente poderosa, com enormes implicações comerciais e
culturais, está em andamento. O rápido desenvolvimento das tecnologias, como vimos
anteriormente, possibilitou a confiança entre estranhos. Vive-se agora uma era na qual o
relacionamento entre pessoas, através das redes sociais, está transformando o mundo em
uma enorme vila global, reinventando atividades antigas — permutar, trocar, barganhar,
compartilhar — de forma dinâmica e atraente. "E os impactos do compartilhamento e da
colaboração online não estão restritos ao mundo virtual. Eles estão vazando para o mundo
offline, criando mudança dentro dos nossos mundos culturais, econômicos, políticos e de
consumo" (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 50). Isso deu origem a uma nova economia,
baseada no "que é meu é seu".
Gansky (2011) chama este novo modelo econômico, onde os consumidores têm mais
escolhas, mais ferramentas, mais informações e mais poder para guiar suas escolhas de
Mesh, que descreve um tipo de rede que permite a ligação de nós entre os sistemas,
movendo-se em conjunto. Ou seja, formam-se conexões entre empresas e empresas,
clientes e clientes ou empresas e clientes, através de redes sociais.Os negócios Mesh
compartilham quatro características fundamentais: (1) o compartilhamento dentro de uma
comunidade, mercado ou cadeia de valor;(2) o uso avançado da web e redes móveis de
informação; (3) um foco em mercadorias físicas e materiais compartilháveis; e (4) o
comprometimento com os clientes, através das redes sociais.
Dentro deste novo cenário, Botsman(2010) afirma que as pessoas estão passando de
consumidores passivos para criadores e colaboradores altamente capacitados. A Internet
está removendo o intermediário entre empresas e indivíduos, possibilitando também que os
próprios indivíduos comercializem entre si. Gansky (2011) complementa que a Internet
permite tanto a empresas quanto a indivíduos terem bons lucros e, ao mesmo tempo,
racionalizar o acesso a bens físicos e serviços. Esses negócios são geralmente fáceis de
iniciar, partindo da troca e do compartilhamento entre indivíduos, como o aluguel de
bicicletas, troca de roupas e objetos, escritórios compartilhados, entre outros.
Essa mudança deve-se, principalmente, aos jovens que cresceram na Era Digital,
como visto anteriormente. O compartilhamento é natural para esta geração, que está
transformando a cultura do "eu", estabelecida atravésdo sistema de consumo exarcebado,
29
em uma "cultura do nós". Nasce, assim, o consumo colaborativo, que tem como base o
"compartilhamento tradicional, escambo, empréstimo, negociação, locação, doação e troca
— redefinido por meio da tecnologia e de comunidades de indivíduos em uma escala e de
formas jamais antes possíveis" (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. xv).
Uma economia completa está emergindo em torno da troca de bens e serviços entre indivíduos ao invés de empresa para consumidor. Isto está redefinindo os relacionamentos de mercado entre os compradores e vendedores tradicionais, expandindo modelos de transação e consumo, e impactando modelos de negócios e ecossistemas (ALTIMETER, 2013, p.4).
Segundo Botsman e Rogers (2010), o consumo colaborativo teve início nos Estados
Unidos e na Europa, e foi impulsionado pela crise econômica de 2008, que fez com que os
consumidores destes países buscassem alternativas para economizar dinheiro e reaproveitar
produtos que já possuiam. Embora os hábitos colaborativos já existissem antes da crise, a
necessidade econômica tornou as pessoas mais abertas a novas formas de ter acesso ao que
elas precisavam. O colapso financeiro de 2008 teve impacto profundo em todos os cantos do
mundo, e milhões de pessoas foram prejudicadas, perdendo suas moradias, seus empregos
e seu poder aquisitivo. Logo, percebeu-se sinais de uma nova e crescente consciência do
consumidor. "2008 foi quando batemos contra a parede — quando tanto a Mãe Natureza
quanto o mercado disseram: não dá mais" (FRIEDMAN apud BOTSMAN; ROGERS, 2010, p.
xvii).
Gansky (2011) também aponta o cenário da crise de 2008 como importante fator
para o desenvolvimento de uma economia de compartilhamento. A crise gerou desconfiança
sobre empresas antigas e encorajou pessoas a repensar o que é realmente importante nas
suas vidas. As mudanças climáticas causadas pelos problemas ambientais aumentaram o
custo de fazer negócios, incluindo a fabricação e venda de produtos descartáveis. As redes
de informação de todos os tipos se tornaram capazes de prover serviços personalizados
melhores e maiores exatamente quando necessários e, por fim, o crescimento da população
e a maior urbanização criaram densidades que favorecem o compartilhamento.
As cidades sãoo ambiente perfeito para o surgimento de negócios de
compartilhamento. O crescimento da população urbana nas últimas décadas fez com que as
pessoas migrassem, cada vez mais, para dentro das áreas urbanas, em busca de melhores
empregos, expandido as cidades verticalmente e aumentando a densidade da população.
Embora a sociedade de consumo tenha tornado as cidades lugares individualistas e
30
dificultado a interação entre as pessoas, a Internet possibilitou o surgimento de um novo
cenário urbano. A maior quantidade de pessoas em um mesmo lugar amplia as chances de
um negócio ou atividade colaborativa crescer e se desenvolver, pois é mais fácil encontrar
pessoas para acessar e compartilhar carros, roupas ou bicicletas (GANSKY, 2011).
O consumo colaborativo, além de aparecer como solução para muitos dos problemas
que as pessoas enfretaram no cenário econômico em crise, também foi impulsionado por
uma mudança de valores. Botsman e Rogers (2010) explicam que as discussões sobre
sustentabilidade estão cada vez mais presentes, e os consumidores estão se tornando mais
conscientes sobre os danos do hiperconsumismo na natureza e na sociedade, ao mesmo
tempo em que as pessoas estão revendo seus relacionamentos com amigos, vizinhos e
familiares, trazendo de volta a crença na importância da comunidade, na transparência dos
produtos e em um relacionamento mais próximo entre quem compra e quem vende. Está
surgindo um desejo de reviver valores que remetem à comunidade, e de unir o interesse
próprio com o bem coletivo.
[...] no século XX do hiperconsumismo éramos definidos por crédito, propaganda e pelas coisas que possuíamos. No século XXI do consumo colaborativo, seremos definidos pela reputação, pela comunidade e por aquilo que podemos acessar, pelo modo como compartilhamos e pelo que doamos (LEADBEATER apud BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. xviii).
Em 2011, a revista Time elegeu o consumo colaborativo como uma das dez
dimensões que irão mudar o mundo (WALSH, 2011). Uma pesquisa realizada pela empresa
britânica de inteligência de mercado Euromonitor International (KASRIEL-ALEXANDRE, 2013)
apontou o compartilhamento de bens e serviços como uma das dez maiores tendências de
consumo para o ano de 2014.
Segundo Botsman e Rogers (2010), independentemente do motivo que leva as
pessoas a compartilhar, o importante é que essa nova forma de consumo ganhe espaço na
sociedade, e traga mais satisfação do que o consumismo presente atualmente. Seja para
economizar ou ganhar tempo e dinheiro, para conhecer pessoas e fazer novos amigos ou por
uma simples questão de praticidade e conveniência, por se sentir parte de uma comunidade
ou praticar a sustentabilidade, cada vez mais pessoas estão aderindo a essa nova forma de
consumo.
31
2 ENTENDENDO O CONSUMO COLABORATIVO
Nesta sessão busca-se, com base em pesquisa bibliográfica e em dados levantados
em artigos e documentos da Internet, compreender como o consumo colaborativo está
presente na sociedade atual, passando pelos princípios básicos fundamentais, os principais
sistemas que formam a economia colaborativa, a confiança e a reputação na Internet, a
influência que a colaboração pode ter nas empresas e negócios, o possível futuro do
compartilhamento e, por fim, um breve panorama do consumo colaborativo no Brasil.
Devido à indisponibilidade de bibliografia sobre o tema, por este ser ainda muito recente,
serão centrais as ideias dos autores Botsman e Rogers (2010), complementadas com as de
Gansky (2011), e dados atualizados obtidos juntos às informações disponíveis na Internet.
2.1 OS PRINCÍPIOS BÁSICOS FUNDAMENTAIS
Botsman e Rogers (2010) apontam quatro princípios básicos fundamentais para que
o consumo colaborativo possa se estabelecer em uma comunidade. Todos os princípios são
igualmente importantes, embora alguns sejam mais essenciais do que outros para fazer
determinado sistema funcionar. São eles: massa crítica, capacidade ociosa, bem comum e
confiança entre desconhecidos.
A massa crítica "é um termo sociológico utilizado para descrever a existência de um
impulso suficiente em um sistema para torná-lo autossustentável" (BOTSMAN; ROGERS,
2010, p. 64). Este princípio explica o surgimento de novas tendências de consumo na
sociedade, e porque alguns produtos e serviços se tornam extremamente populares entre os
consumidores, enquanto outros ficam abandonados nas prateleiras das lojas.
A massa crítica é vital para o consumo colaborativo por dois motivos. O primeiro tem
a ver com a escolha. O processo de compra está diretamente associado a escolher qual
produto comprar. Ou seja, o consumidor espera ter um grande número de opções de
escolha para poder se satisfazer. Para o consumo colaborativo competir com as compras
convencionais, é necessário que este seja conveniente e que os consumidores tenham
opções de escolha suficientes.
Um exemplo de massa crítica é a troca de roupas usadas entre indivíduos: se não
houver opções — tamanhos, cores, modelos — suficientes para que todas as pessoas
32
envolvidas nas trocas saiam satisfeitas, é bastante provável que elas deem preferência a
comprar em lojas convencionais. Outro exemplo é o aluguel de bicicletas: para que as
pessoas escolham se deslocar pela cidade em bicicletas ao invés de carros ou outras formas
de transporte, é preciso que esta opção seja vantajosa e prática para os cidadãos, tendo
estações de estacionamento e retirada das bicicletas bem distribuídas pela cidade, um
número suficiente de bicicletas disponíveis a qualquer hora, e uma boa estrutura de
ciclovias.
[...] o sistema será bem-sucedido se os usuários estiverem satisfeitos com a escolha e com a conveniência à sua disposição. Caso contrário, provavelmenteo sistema será mal utilizado e sobreviverá por pouco tempo (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 68).
O segundo motivo pelo qual a massa crítica é importante para o consumo
colaborativo é a prova social. Ou seja, para que um novo sistema funcione, é importante que
haja um grupo de usuários fiéis e frequentes que irão mostrar a outros indivíduos que vale a
pena experimentar. "Isso permite que as pessoas, não apenas os primeiros adeptos, cruzem
a barreira psicológica que muitas vezes existe em torno de novos comportamentos"
(BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 69). A prova social trata-se de um instinto primitivo e de um
atalho cognitivo que permite às pessoas tomar decisões com base em copiar ações e
comportamentos de outras pessoas. Para que velhos hábitos sejam combatidos em
detrimento de novos — no caso, o consumo colaborativo — é importante que a maioria das
pessoas veja ou experimente uma massa crítica de consumidores participarem deste novo
sistema. Assim, elas se sentirão mais confortáveis e confiantes a também participarem.
Já a capacidade ociosa refere-se ao potencial ocioso destes bens quando não estão
sendo usados. Segundo Botsman e Rogers (2010), muitos dos bens físicos que as pessoas
possuem são utilizados apenas em determinadas ocasiões e, na maior parte do tempo, ficam
parados, sem uso. Um exemplo disso são as furadeiras. A maioria das pessoas tem uma
furadeira em casa, porém apenas a utilizam por alguns minutos durante toda a sua vida útil.
Outro exemplo são os carros, que ficam ociosos em média 22 horas por dia. Nos Estados
Unidos, 80% dos itens que as pessoas possuem são usados menos de uma vez por mês.
O consumo colaborativo tem como objetivo, através do compartilhamento de bens
entre as pessoas, aproveitar esta capacidade ociosa e redistribuí-la em outros lugares.
Assim, é possível evitar o desperdício e maximizar o potencial de uso dos produtos. As
tecnologias modernas — Internet, redes sociais, GPS — podem ser utilizadas como as
33
principais ferramentas para que as pessoas entrem em contato umas com as outras, e
encontrem produtos e serviços que necessitam de forma rápida, confiável e a baixo custo.
Sobre o conceito de bem comum, ele se refere a todos os bens públicos
compartilhados entre uma população. Embora o interesse próprio tenha prevalecido sobre
o bem coletivo nas últimas décadas, sendo necessária sempre a supervisão, Botsman e
Rogers (2010) mostram que isto já está mudando. A Internet, o maior bem comum da
história, é o melhor exemplo de como as pessoas são capazes de se auto-organizar em prol
do interesse coletivo.
Através de experiências online, as pessoas estão percebendo que, ao fornecer valor
para a comunidade, permitem que seu próprio valor social se expanda em troca. Ou seja, ao
compartilhar conhecimento no Wikipedia ou fotografias no Flickr, as pessoas percebem que
precisam "dar para receber" nestas comunidades. O consumo colaborativo age com os
mesmos princípios, indo além da mídia e do conteúdo, ao buscar uma solução ou um
movimento de pessoas com interesses semelhantes. Da mesma forma que um telefone
precisa de uma rede de telefones para que seja útil, quanto mais pessoas participarem do
compartilhamento de bicicletas, por exemplo, melhor o sistema fucionará para todos.
"Todos que aderem ou usam o consumo colaborativo criam valor para outras pessoas,
mesmo que a intenção não tivesse sido essa" (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 76).
E, por fim, a confiança entre desconhecidos diz respeito aos seguintes aspectos: ao
contrário dos modelos tradicionais de negócios, realizados de uma empresa para indivíduos,
com base em uma hierarquia de controle em que, na maioria das vezes, não há contato
direto entre quem vende e quem compra — sendo realizado por intermediários — a
Internet possibilita uma nova estrutura de mercado. Nesta nova forma de negócio, é
possível formar comunidades online entre os consumidores onde o contato direto entre eles
é essencial, e contribui para uma forma descentralizada e transparente de comércio, sendo
fundamental que se desenvolva uma confiança entre estranhos.
Novos mercados online e offline estão se formando, em que as pessoas podem voltar a se 'encontrar' em uma vila global e desenvolver uma confiança que não seja local. [...] quando as relações pessoais e o capital social voltam para o centro das trocas, a confiança entre pares é facilmente criada e administrada, e, na maioria das vezes, ela é reforçada, não quebrada" (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 80).
Essa confiança gerada no mundo virtual traz, tanto para o relacionamento entre
usuários quanto entre empresas e usuários, um maior conhecimento do desconhecido,
34
eliminando o anonimato das transações e, desta forma, contribuindo para uma relação mais
verdadeira entre as duas partes.
2.2 OS TRÊS SISTEMAS
Em meio às inúmeras formas de consumo colaborativo com as quais se depararam,
Bostman e Rogers (2010) as classificaram em três grandes sistemas principais: os sistemas de
serviços de produtos, os mercados de redistribuição e os estilos de vida colaborativos.
2.2.1 Sistemas De Serviços De Produtos (SSP)
Botsman e Rogers (2010) chamam de Sistemas de Serviços de Produtos (SSP) a
categoria de consumo colaborativo baseada no acesso ao invés da propriedade, realizado
através do aluguel e empréstimo de bens físicos, tanto de empresa para indivíduo quanto
entre indivíduos. Desta forma, os produtos (tangíveis) se transformam em serviços
(intangíveis) e o sentimento de posse dá lugar à colaboração. Este sistema faz com que as
pessoas não tenham a necessidade de comprar um produto de uso ocasional, podendo ter
acesso a ele apenas quando necessário.
Uma quantidade cada vez maior de pessoas de diferentes origens e de todas as faixas etárias está mudando para uma "mentalidade de uso", na qual elas pagam pelo benefício de um produto — o que ele faz por elas — sem ter que possuir o produto definitivamente. Esta é a base dos sistemas de serviços de produtos (SSP), que estão afetando setores tradicionais baseados em modelos de propriedade privada individual (BOSTMAN e ROGERS, 2010, p. 61).
Gansky (2011) explica que foi a partir da segunda metade do século XX que as
pessoas passaram a ter um grande desejo pela propriedade de bens físicos. Essa tendência
foi encorajada pela combinação de políticas governamentais, através dos subsídios à
gasolina e aos empréstimos baratos para compras de casas, e do desejo das pessoas por
autonomia e conveniência, que se transformou em indicador de status. No entanto,
atualmente a cultura da posse está em momento de transição, pois a moda que concede o
valor de status está tendendo profundamente ao compartilhamento. Botsman e Rogers
(2010) complementam que, para os Millenials, a primeira geração que cresceu no mundo
digital, o relacionamento com a propriedade está se quebrando. A identidade destes jovens
35
está mais atrelada ao conteúdo que compartilham online do que à propriedade de bens
materiais, o que torna favorável o desenvolvimento de sistemas de serviços de produtos.
Embora o sistema de aluguel de produtos já exista há muito tempo, a Internet
"possibilitou compartilhar uma grande variedade de produtos de maneira conveniente e
eficaz em termos econômicos a fim de acessar itens sob demanda" (BOTSMAN; ROGERS,
2010, p. 84). Assim, é possível criar uma nova relevância para sistemas de
compartilhamento, de forma bem diferente dos aluguéis tradicionais.
Ao alugar um produto apenas quando necessário ao invés de fazer a compra do
mesmo, as pessoas têm que lidar com a perda do sentimento de posse. Para Botsman e
Rogers (2010), o sucesso de um sistema de serviço de produto está na sua capacidade de
satisfazer as necessidades de posse dos indivíduos enquanto os produtos estiverem sob seu
uso. Para que isso aconteça, as empresas devem criar serviços que valorizem a sensação de
autonomia e controle, e não a propriedade do produto em si. Além disso, para que os
consumidores deem preferência ao acesso ao invés da posse, o compartilhamento deve ser
conveniente, seguro e mais eficaz em termos de custos do que a propriedade.
Uma das vantagens que a perda da posse proporciona às pessoas é o acesso
indeterminado a uma grande quantidade de opções. A sociedade de consumo nos dá uma
enorme variedade de produtos de diferentes cores, marcas, tamanhos, qualidade, sabores,
perfumes etc. Na hora da compra, na maioria das vezes, temos que fazer uma escolha, que
nem sempre é fácil. Os sistemas de serviços de produtos, ao mesmo tempo em que
trabalham com a reutilização e o compartilhamento de produtos, proporcionam às pessoas
o acesso a todas estas opções, indefinidamente, sem causar o descarte para o lixo. "Quando
mudamos para uma economia baseada na maximização de unidades de uso em vez de na
qualidade de unidades vendidas, a eficiência ambiental e a de negócios se alinham"
(BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 96).
Botsman e Rogers (2010) classificam os SSPs em dois modelos principais. Em um SSP
de "uso", um indivíduo ou uma empresa tem propriedade de um produto e diversos usuários
compartilham seus benefícios por meio de um serviço. Este tipo de SSP funciona bem em
cenários específicos de mercado: produtos que possuem uma elevada capacidade ociosa,
como automóveis, bicicletas e ferramentas domésticas; produtos que têm uso limitado
devido à moda — como bolsas — ou quando atendem a uma necessidade temporária —
como equipamentos para bebês e roupas para gestantes; produtos que tem sua atração e
36
seu valor reduzidos após o uso, como filmes e livros; e produtos cujo custo inicial ou de
compra são elevados, como painéis solares.
O segundo modelo é chamado de SSP de "longa vida", no qual serviços de pós-venda
como manutenção, consertos ou atualizações se tornam parte do ciclo de vida do produto,
reduzindo assim a necessidade de substituição ou descarte. Esse tipo de modelo funciona
bem com produtos caros, como tapetes e eletrodomésticos, produtos que exigem um
conhecimento especializado para conserto, como produtos eletrônicos, e com produtos que
necessitam de atualizações e manutenção frequentes para preservar sua atratividade, como
móveis.
No modelo de consumo atual, após a realizaçãoda compra de um produto, este passa
a ser de total responsabilidade do consumidor e do ponto de venda. Ou seja, se o produto
estraga, muitas vezes ele é substituído por um novo, gerando lixo. No modelo colaborativo
dos sistemas de serviços de produtos, a empresa responsável pela fabricação do produto
também é responsável pelo produto após a sua venda, gerando um ciclo de vida fechado e
evitando o desperdício (BOTSMAN; ROGERS, 2010).
Provavelmente o exemplo mais comum de sistemas de serviços de produtos está
relacionado aos meios de transporte, como o aluguel de carros e bicicletas. Segundo
Botsman e Rogers (2010), o conceito de transporte público para aluguel já existia em grande
parte da Europa dois séculos antes da invenção do automóvel, e tinha como base o aluguel
de carruagens puxadas a cavalo e cocheiros. No entanto, o conceito contemporâneo de
compartilhamento urbano de carros existe há pouco mais de 60 anos, tendo se popularizado
como um estilo de vida sustentável nos últimos cinco ou seis anos. Atualmente existem mais
de mil cidades no mundo onde as pessoas podem compartilhar carros.
O melhor exemplo de compartilhamento de carros que existe atualmente teve início
e ganhou espaço nos Estados Unidos, Canadá e Europa. A Zipcar, considerada uma das
empresas com as taxas mais rápidas de crescimento da década, é um exemplo de
compartilhamento de sucesso. A empresa trabalha com o aluguel de automóveis de uma
forma diferente, na qual os carros podem ser facilmente localizados e distribuídos por toda a
cidade através da Internet, tornando o serviço extremamente prático e sustentável. Para
criar um vínculo mais forte entre os clientes e a empresa, é dado um nome para cada carro -
como "Betsy", o primeiro deles. Além disso, os clientes recebem um Zipcard e são
apelidados de Zipsters, construindo uma identidade de comunidade entre os usuários, e
37
diferenciando a Zipcar das antigas empresas de compartilhamento de carros (GANSKY,
2011). Botsman e Rogers (2010) destacam que o Zipcar está alterando o valor de
propriedade de carro para as pessoas, utilizando a mesma mentalidade psicológica e
sociológica de marcas que as levou a comprar e possuir, para fazê-las compartilhar.
Outra forma de transporte altamente favorecida nas grandes cidades é o
compartilhamento de bicicletas. Além de ter preços baixos de mensalidade e manutenção, o
sistema de aluguel de bicicletas está se tornando cada vez mais comum em todos os lugares
do mundo. O uso público das bicicletas teve início em 1968, em Amsterdam, Holanda, com
as White Bikes. O projeto, no entanto, não deu certo, e morreu logo em seguida. Em 1995,
foi lançado um projeto parecido em Copenhagen, Dinamarca, baseado num depósito de
moedas em estações específicas na cidade. No entanto, foi devido às tecnologias modernas
que os sistemas de compartilhamento de bicicletas se popularizaram (DEMAIO, 2013). Em
2013, o compartilhamento de bicicletas cresceu 60% em todo o mundo. Estima-se que cerca
de 700 cidades ofereçam atualmente o serviço. De acordo com consultores do The Bike-
Sharing Blog, existem 700 mil bicicletas em 33 mil estações em todo o mundo. A África e a
Antártica são os únicos continentes onde o sistema ainda não existe (MEDDIN, 2013). Esta
tendência só tende a crescer.
2.2.2 Mercados de Redistribuição
Segundo Botsman e Rogers (2010), os mercados de redistribuição têm como base a
troca, compra e venda de produtos usados, que podem ser "redistribuídos" para outras
pessoas que os necessitem. Com o objetivo de tornar mais longa a vida de determinado
produto, a redistribuição entra como o quinto "R" em um sistema sustentável de comércio:
reduzir, reciclar, reutilizar, reformar e redistribuir.
A redistribuição de produtos possui duas consequências não intencionais positivas.
Ao compartilhar mercadorias ao invés de comprar novos produtos, são evidentes os
benefícios ambientais. Além de maximizar o uso de produtos e ampliar a longevidade de
itens individuais, a redistribuição diminui a necessidade de recursos para a produção de um
novo produto, e reduz as emissões de carbono. Assim, é possível evitar o desperdício e
"quebrar" o sistema de hiperconsumismo.
38
A agência de proteção ambiental dos EUA estimou que 98% de todo o lixo seja industrial (e que uma grande porcentagem seja produzida ao fabricar novos produtos) e apenas 2% seja doméstico. Por mais que reciclemos nosso papel, nossas garrafas e nossos plásticos, a melhor maneira de ajudar a evitar o desperdício é comprar menos coisas novas e reutilizar e redistribuir mais do que já temos (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 106).
O segundo benefício dos mercados de redistribuição é a construção da comunidade.
Antes do surgimento da Internet, era extremamente difícil manter grupos de pessoas com
desejos e necessidades semelhantes alinhados. Para que uma pessoa que tivesse algo para
dar e outra que quisesse aquele item se encontrassem era uma tarefa complicada, tornando
o compartilhamento de produtos um tanto inconveniente. A Internet e as redes sociais
tornaram este processo muito mais rápido e eficiente, ao combinar oferta e demanda por
meio de uma sincronização em massa quase instantânea de desejos ou necessidades em que
as duas partes sempre ganham. Como consequência não intencional, os mercados de
redistribuição acabam por gerar interações entre pessoas e um sentimento de comunidade.
Nas redes sociais, uma pessoa ajuda a outra sem necessariamente exigir um retorno
desta mesma pessoa. Isto se chama reciprocidade indireta, propagada pela dinâmica
cooperativa. Botsman e Rogers (2010) explicam que essa cultura costuma ser chamada de
"economia do presente", na qual as pessoas dão mercadorias e serviços sem um acordo
explícito de alguma recompensa imediata ou futura. Desta forma, a reutilização cria
confiança entre desconhecidos. Normalmente as redes de redistribuição online têm um
enorme alcance e usuários de todos os lugares do mundo. Mesmo assim, os casos de fraude
e mau comportamento são apenas uma pequena porcentagem. As comunidades geralmente
são descentralizadas e auto-organizadas.
Assim como acontece com tantas outras formas de consumo colaborativo, empurrando o poder de volta para os seus usuários, estes mercados de redistribuição motivam as pessoas a administrar suas próprias ações e as ações de toda a comunidade. Por sua vez, isso cria um grau elevado de confiança e reciprocidade para fazer com que coisas excedentes passem de maneira eficiente da falta de utilização para a reutilização (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 113)
O site de redistribuição de produtos mais conhecido mundialmente, que aplicou pela
primeira vez a auto-organização entre seus usários, é o e-Bay. Criado em 1996, ele se tornou
um modelo bem-sucedido de consumo colaborativo, devido à sua abordagem de baixo para
cima, chamada de "ambiente do povo, pelo povo e para o povo" pelo seu fundador, o norte-
americano Pierre Omidyar. Além disso, foi através do e-Bay que surgiu o sistema de
reputação mais conhecido na Internet, onde os usuários podem avaliar os outros membros
39
publicamente através de feedback e mensagens. O site teve início como uma ferramente de
leilões de produtos usados, e em pouco tempo teve um crescimento vertiginoso. Em 2010, o
e-Bay contava com mais de 221 milhões de membros que negociavam mais de US$ 52
bilhões em mercadorias por ano, o que representa mais do que o Produto Interno Bruto de
125 países do mundo. Ao contrário do seu propósito inicial, o site atualmente é conhecido
como uma gigantesca loja online, com um percentual significativo de trocas envolvendo
produtos novos, mas fornece uma infraestrutura global para a troca de mercadorias
secundárias (BOTSMAN; ROGERS, 2010).
Outro site que é conhecido mundialmente entre os mercados de redistribuição é o
craigslist. Criado em 1995, por Craig Newmark, o site funciona como uma seção de
classificados online, que tem como objetivo atender uma variedade de necessidades
cotidianas das pessoas. Os membros podem anunciar ofertas de trabalho e serviços, achados
e perdidos, realizar fóruns de discussão, negociar a troca e venda de produtos usados, entre
inúmeras outras opções. O craigslist se tornou o site mais popular do mundo para anúncios
classificados, e recebe cerca de 20 bilhões de acessos por mês, o que faz dele o sétimo site
mais visto na Internet (BOSTMAN; ROGERS, 2010).
Tanto o e-Bay como o craigslit podem atuar como ferramenta de troca de produtos
usados, porém ambos os sites trabalham também com a venda de produtos e serviços. No
entanto, em 2003, surgiu um novo site de redistribuição, baseado somente em trocas não
monetárias entre os usuários, o Freecycle. Seu criador, o norte-americano Deron Beal, era
diretor de uma pequena organização sem fins lucrativos que recolhia e reciclava
suprimentos de escritório para empresas locais. Ele percebeu que havia uma grande
quantidade de objetos ainda em boas condições que iam para o lixo, e teve a ideia de criar
uma forma de se desfazer dos objetos que não queria mais, ao mesmo tempo em que
ajudava alguém que poderia reaproveitá-los. Atualmente, o Freecycle é um dos movimentos
voluntários que mais cresce no mundo, com mais de 7 milhões de membros em mais de 95
países (BOTSMAN; ROGERS, 2010).
Outro mercado de redistribuição que tem ganhando espaço na Internet é o Swap
Tree. Lançado em 2007 pelos amigos e experts da matemática Boesel e Hexamer, o site atua
de uma forma um pouco diferente dos vistos acima. Os usuários que desejam trocar um
produto por outro devem digitar o código de barras do seu produto e a condição em que ele
se encontra —de gasto a nunca utilizado —e, em menos de 60 milésimos, é possível ter uma
40
lista completa de todos os produtos que podem ser trocados na mesma faixa de valor e
condição. Assim, é possível que os usuários tenham uma experiência de escolha e satisfação
instantânea similar a da compra de produtos novos (BOTSMAN; ROGERS, 2010).
Segundo Botsman e Rogers (2010), os mercados de redistribuição funcionam melhor
para produtos que tem como objetivo atender uma necessidade de curto prazo ou produtos
que ficam menos atraentes após um tempo, como livros, jogos e roupas. O rápido
crescimento da troca e venda de produtos usados mostra que, no futuro, o conceito de
"propriedade temporária" será tão comum quanto comprar algo novo.
2.2.3 Estilos de Vida Colaborativos
O compartilhamento de espaço, tempo, dinheiro e habilidades não surgiu com a
Internet, e sim remete a atividades exercidas antigamente que, com o desenvolvimento da
sociedade de consumo, muitas vezes acabaram esquecidas ou desinteressantes. Botsman e
Rogers (2010) afirmam que, no entanto, a tecnologia foi a ferramenta que faltava para que
este tipo de atividade voltasse à tona, trazendo novos valores a estas soluções, como
abertura, comunidade, acessibilidade, sustentabilidade e, claro, colaboração.
Sistemas de serviços de produtos e mercados de redistribuição nos levam a repensar as razões e a maneira como consumimos produtos e serviços. Mas o que dizer sobre os ativos menos tangíveis e mais pessoais que compõem nossas vidas quotidianas? E o que dizer de coisas como o conhecimento, tempo, espaços de trabalho, criatividade, dinheiro, casas, jardins e outros espaços sociais? Não são apenas bens de consumo que podem ser trocados, emprestados, presenteados ou permutados. Você pode compartilhar um sofá, um jardim, um escritório, uma carona, um espaço de trabalho, uma refeição, uma tarefa, uma habilidade, ou vegetais orgânicos. Estes intercâmbios estão prosperando em um sistema que chamamos de estilos de vida colaborativos (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 129).
Uma das formas mais inovadoras de estilos de vida colaborativos tem base no
escambo, a atividade mais antiga de negociação econômica. Botsman e Rogers (2010)
explicam que, através de plataformas online, os mercados de escambo, como são chamados,
não carregam quaisquer produtos ou serviços, mas funcionam como a corretora ou
facilitadora das transações. Ou seja, empresas e indivíduos doam mercadorias e serviços
para ganhar dólares ou libras de escambo que se tornam um crédito dentro de uma conta.
Este crédito pode ter utilizado para adquirir outras mercadorias ou produtos, não
necessariamente do usuário ou empresa que utilizou os seus serviços ou mercadorias.
41
Muitos destes sistemas utilizam moedas imaginárias, chamadas também de moedas entre
pares.
Este sistema supera o problema da "coincidência dupla de desejos" —quando os dois
indivíduos envolvidos na troca devem querer as mercadorias e serviços um do outro — já
que as trocas não precisam ser recíprocas. Ou seja, uma pessoa dona de um hotel pode
disponibilizar sem custo um quarto para um viajante e ganhar um crédito online na sua
conta, que pode gastar utilizando serviços que outras pessoas disponibilizam na mesma
rede, desde um tratamento odontológico a um corte de cabelo, entre outras inúmeras
opções. Entre os mercados de escambo que existem atualmente estão o ITEX, Superfluid
Barterbrokers, Tradebank, Nubarter e o Bartercard, que atuam principalmente nos países
norte-americanos e europeus.
Outro exemplo de estilo de vida colaborativo está crescendo no mundo financeiro,
conhecido como empréstimo social. Empresas como o Zopa, na Europa, e o Prosper e o
Lending Club, nos Estados Unidos, têm como base o empréstimo de dinheiro entre pessoas,
eliminando a função de intermediário do grande banco. Para Botsman e Rogers (2010), este
sistema retoma a premissa básica do empréstimo social, quando pessoas emprestavam
dinheiro para família e amigos, sendo necessário, para que um empréstimo acontecesse, um
credor, um tomador de empréstimo e uma testemunha. Com o desenvolvimento do
comércio e da economia, estas negociações passaram a depender de um canal central de
confiança, e surgiram os intermediários financeiros, que removiam a fidelidade da
comunidade.
Neste novo sistema, os credores conseguem taxas de lucros maiores do que nos
investimentos em poupanças e no mercado de ações, e os tomadores de empréstimos
conseguem juros mais acessíveis que os dos bancos. Os mercados de empréstimo social,
como o Zopa, cobram taxas muito mais baixas que os cartões de créditos, e a transparência
cria mais confiança entre os usuários. "Os tomadores de empréstimos costumam dizer que
preferem pagar juros para os credores do Zopa a pagarem para um banco. Eles se sentem
valorizados em vez de explorados" (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 138).
Outra forma de compartilhar dinheiro, conhecida mundialmente, é o crowdfunding,
ou financiamento coletivo. Através de uma plataforma online é possível arrecadar fundos
para os mais diversos tipos de projetos sociais, culturais e pessoais. Gansky (2011) estuda o
caso do Kickstarter, maior site de financiamento coletivo do mundo, que nasceu em 2009 e
42
trouxe uma nova maneira de financiar ideias e projetos criativos na Internet. Começar um
projeto no site é gratuito, e deve-se estabelecer uma meta financeira a ser atingida em um
prazo determinado. Para incentivar as pessoas a ajudarem, além da divulgação e
identificação com o projeto, é necessário disponibilizar recompensas para os financiadores,
que variam conforme o valor doado, flexível. O Kickstarter aplica uma taxa de 5% ao valor
apurado, e se o objetivo não é atingido no prazo, todos os compromissos são cancelados.
Segundo pesquisa divulgada pelo site Globo (2013), o interesse sobre crowdfunding cresceu
depois que o presidente norte-americano Barack Obama assinou uma legislação para
legalizar o sistema, que está sendo regulamentado. Desde então, os volumes de
financiamento coletivo alcançaram US$ 2,66 bilhões em 2012, segundo pesquisa da
Massolution, empresa de consultoria especializada no setor (GLOBO, 2013).
Botsman e Rogers (2010) apontam que, atualmente, estão surgindo, em todo o
mundo, estilos de vida colaborativos baseados em ecovilas, habitações coletivas,
cooperativas e outras formas de comunidades intencionais, que remetem ao conceito de
"comunas", comunidades em que os recursos são compartilhados. Estas comunidades
permitem que as pessoas colaborem, formem novos vínculos sociais e fragmentem as
barreiras emocionais e estigmas associados com o ato de compartilhar ou pedir ajuda. Um
dos mais famosos tipos de comunidades que surgiram nos últimos anos são os espaços
compartilhados de trabalho, oucoworking.
O conceito de coworking foi criado por Brad Neuberg, em 2005. Ele trabalhava como
freelancer e gostava de trabalhar em casa, porém estava cansado de não ter pessoas com
quem conversar nos intervalos. Ele já havia tentado trabalhar em cafés, mas achou
barulhento e sentiu falta de interações significativas. Na busca de um local de trabalho que
pudesse unir a liberdade e independência de ser um freelancer e o sentimento de
comunidade, ele e mais três amigos alugaram um espaço para reuniões e, posteriormente,
promoveram um encontro de coworking. Diversos profissionais se interessaram e o conceito
de escritório compartilhado foi ganhando espaço mundialmente (BOTSMAN; ROGERS, 2010).
Botsman e Rogers (2010) apontam que os escritórios de coworking são vistos por
muitos dos seus usuários como centros de interações, e combinam os melhores elementos
de um café (social enérgico, criativo) com os melhores elementos de um espaço de trabalho
(produtivo, funcional). Segundo pesquisa realizada pela DeskMag, os espaços de coworking
no mundo inteiro estão crescendo e se diversificando. Dois terços dos espaços já existentes
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têm planos de se expandir, e os coworkings já grandes pretendem abrir espaços em novos
locais. Cerca de 51% dos espaços de coworking que existem atualmente surgiram em 2012, e
61% dos membros que trabalham nestes espaços começaram no mesmo ano. Ou seja, o
compartilhamento de espaços de trabalho é uma tendência mundial que tende a crescer
cada vez mais (FOERTSCH, 2013).
Estas comunidades não se formam somente em espaços físicos, mas também podem
surgir na forma de comunidades virtuais, que tem como objetivo criar comunidades no
mundo real. Segundo Botsman e Rogers (2010), o melhor exemplo disto é o CouchSurfing,
site que tem como objetivo formar uma rede entre viajantes e comunidades locais que eles
visitam. Assim como as outras categorias de estilos de vida colaborativos, o CouchSurfing é
uma ideia nova com características antigas remodelado pela tecnologia. Através da
plataforma, viajantes de todos os lugares do mundo podem entrar em contato uns com os
outros e fornecer um espaço que está sobrando nas suas casas pra outros viajantes
passarem algumas noites, sem custo nenhum.
O site promove a criação de laços significativos entre culturas ao incentivar a
hospedagem gratuita de viajantes na casa de pessoas locais ao invés de hotéis e outros
lugares impessoais. Desta forma, os viajantes podem conhecer a verdadeira cultura do local,
além da visão turística, e os moradores podem ter contato com pessoas de todos os lugares
do mundo, gerando uma troca de experiências e aprendizagem entre diferentes culturas.
Assim como as outras plataformas colaborativas online, o CouchSurfing também trabalha
com um sistema de reputação e avaliação dos usuários, tornando o serviço confiável
(BOTSMAN; ROGERS, 2010).
Em 2012, existiam mais de 5,5 milhões de couchsurfers — como são conhecidos os
membros da rede — em mais de 97.000 cidades em 207 países do mundo inteiro
(COUCHSURFING; MILKWHALE, 2012). "[...] ele é atualmente o serviço de hospitalidade mais
visitado na Internet, com média de mais de 35 milhões de acessos por dia em novembro de
2009" (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 147). O site atingiu a massa crítica ao acumular uma
quantidade suficiente de anfitriões dispostos a apoiar os "surfistas", e também por ser
grande o suficiente para divulgar sua mensagem de construção de ligações significativas
entre culturas. O cofundador do site, Daniel Hoffer, afirma que “quanto mais atuarmos em
rede e quanto mais nos entedermos, mais chances teremos de este mundo ser um lugar
melhor" (HOFFER, apud BOTSMAN e ROGERS, 2010, p. 147).
44
Similar ao Couchsurfing, mas com troca monetária, o Airbnb é um dos sites que mais
cresceram nos últimos anos. Fundado em 2008, nos Estados Unidos, o Airbnb é um site
comunitário onde as pessoas podem anunciar, descobrir e reservar acomodações únicas ao
redor do mundo, diretamente de outros usuários. É possível alugar desde um quarto em um
apartamento até um castelo; as opções são inúmeras. O objetivo do site é conectar as
pessoas a experiências de viagens únicas com preços variados, além de possibilitar que as
pessoas lucrem com o espaço extra que possuem. Atualmente o site já alcançou mais de 17
milhões de hóspedes em mais de 34 mil cidades em 190 países do mundo (AIRBNB, [2014]).
Os estilos de vida colaborativos podem surgir nas mais diferentes formas, desde o
compartilhamento de dinheiro e espaços de moradia e trabalho, como vistos acima, até
vagas de estacionamento, jardins comunitários, habilidades, tarefas, caronas, entre outros.
O capital social é criado em todas as formas de consumo colaborativo, porém ele se torna
maior quando compartilhamos necessidades que não sejam produtos, construindo e
fortalecendo relacionamentos com vizinhos, amigos, colegas e desconhecidos. Abrindo mão
do hiperindividualismo, é possível criar laços mais fortes de comunidade e recuperar algo
que falta às pessoas (BOTSMAN; ROGERS, 2010).
2.3 A NOVA MOEDA DA ECONOMIA É A REPUTAÇÃO
A preocupação com as impressões das outras pessoas sobre nós mesmos sempre foi
uma característica da vida social. No entanto, foi somente após o surgimento da Internet
que a reputação se tornou um dos principais valores construídos nas redes sociais, a ponto
de interferir de forma direta no mercado de consumo e no relacionamento entre usuários
online. Recuero (2009) explica que a reputação se relaciona diretamente com as informações
recebidas pelos usuários sobre o comportamento dos demais e com a forma com que estas
informações influenciam o comportamento destes usuários. A reputação é tanto
influenciada pelas ações dos usuários quanto pelas construções dos outros sobre essas
ações. Ela se baseia no julgamento das qualidades e nas impressões que os usuários têm uns
dos outros na Internet.
Para Botsman e Rogers (2010), estas impressões influenciam diretamente na
construção das comunidades online, sendo necessário que os usuários sigam regras,
colaborem uns com os outros e divulguem suas realizações, para que possam, desta forma,
45
criar uma reputação positiva sobre si mesmos. A reputação se torna uma moeda para
construir confiança entre estranhos e ajuda a gerenciar a crença no bem comum. Uma das
caracterítiscas mais significativas do consumo colaborativo é o compartilhamento de bens
materiais, serviços e espaços diretamente entre indivíduos, sem o intermediário de
empresas. Essa relação chama-se peer-to-peer (par-a-par) e, na era da Internet, apenas
funciona de forma bem-sucedida quando o princípio da confiança entre estranhos está ativo.
Atualmente, existem diversas comunidades bem-sucedidas baseadas na reputação
dos seus usuários, como os sites Couchsuring e Airbnb. Para hospedar um desconhecido na
sua casa, muitas vezes de uma cultura completamente diferente da sua, é necessário saber o
quão confiável esta pessoa é. O mesmo vale se é você que está procurando um anfitrião. O
sucesso destas comunidades somente foi possível devido à cultura da Internet. Segundo um
estudo no Pew Center, um usuário ativo do Facebook tem três vezes mais chance do que um
não usuário de confiar nas pessoas. A confiança online está transformando o modo com que
as pessoas confiam no mundo real. Há poucos anos atrás, deixar estranhos se hospedarem
na sua residência parecia loucura. Um exemplo claro disto é que, enquanto em 2008 havia
pouquíssimas pessoas abertas a este tipo de serviço, em 2012 já era possível ver um
anfitrião do Airbnb em quase todas as ruas principais de Paris (BOTSMAN, 2012).
O que aconteceu foi que, além de terem percebido que seus bens, espaços e
habilidades antes inutilizados poderiam gerar dinheiro, as pessoas se deram conta que a
colaboração e o compartilhamento através da Internet eram capazes de criar confiança e
relacionamentos com laços realmente significativos entre pessoas de vários lugares do
mundo. Para os mercados colaborativos existirem, a confiança é um ingrediente crítico.
Botsman (2012) explica que, nos últimos 20 anos, as pessoas evoluíram a ponto de acreditar
em outras na Internet, compartilhar informações e até entregar os dados do cartão de
crédito; agora, inicia-se a terceira onda de confiança, que conecta estranhos de todos os
lugares para criar mercados de toda espécie movidos por pessoas.
Para que estes mercados funcionem, é necessário um instrumento que garanta a
confiança nos usuários, e este instrumento é a reputação, que serve para medir quanto uma
comunidade confia em uma pessoa. E embora este sistema não seja exatamente novo — já
existem desde a criação do eBay — atualmente, a cada transação que fazemos, cada
comentário que escrevemos, cada pessoa que assinalamos, deixamos uma trilha de
reputação de quanto se pode ou não confiar em nós.
46
E não se trata apenas da dimensão, mas do volume de dados de reputação mundo afora, que é assombroso. Pensem nisso: cinco milhões de pernoites foram reservadas na Airbnb só nos últimos seis meses. 30 milhões de caronas foram compartilhadas no Carpooling.com. Esse ano, o valor de dois bilhões de dólares em empréstimos vai circular em plataformas de empréstimo par-a-par. Isso totaliza milhões de unidades de dados sobre a reputação do quanto nós nos comportamos bem ou mal (BOTSMAN, 2012).
A sociedade atual está vivendo um momento em que existe a oportunidade de
reiventar parte de como o sistema socioeconômico funciona. A reputação é capaz de
subsituir o crédito tradicional do sistema de consumo atual, e criar novas redes de confiança
que irão reinventar a forma com as que as pessoas pensam sobre "riqueza, mercados, poder
e identidade pessoal, de maneiras que ainda nem conseguimos imaginar" (BOTSMAN, 2012).
2.4 AS EMPRESAS E OS VALORES COLABORATIVOS
O mercado colaborativo tem influência direta no modo como as empresas atuais e
futuras devem atuar com relação a seus negócios. A mudança na mentalidade das pessoas e
a valorização tanto de atividades mais colaborativas quanto sustentáveis trazem à sociedade
de consumo uma nova forma de se relacionar com o público e com o meio-
ambiente.Botsman e Rogers (2010) afirmam que o consumo colaborativo não veio para criar
um novo sistema de consumo, e sim para aperfeiçoar o já existente. As pessoas continuarão
comprando e as empresas continuarão vendendo, porém isto poderá ser realizado com
muito menos impacto ambiental e de forma muito mais humana, através da colaboração
entre empresas e da mudança de pilares fundamentais do consumismo, como o design, a
marca e a mentalidade de consumo.
O design é, muitas vezes, visto apenas como ferramenta para "embelezar" produtos e
torná-los mais atraentes para os consumidores. Embora o incentivo à desmaterialização,
redução e reutilização de produtos no consumo colaborativo dê a impressão de que o design
se torna algo supérfulo, o que acontece é exatamente o oposto. Em mercados colaborativos,
o design é fundamental na hora de criar produtos e serviços que se adaptem a essa nova
forma de consumo, que supram as necessidades e desejos das pessoas e, ao mesmo tempo,
sejam ambientalmente sustentáveis e eficientes. Isso é conhecido como design thinking
(BOTSMAN; ROGERS, 2010).
O design thinking será fundamental para tirar o mundo do consumo colaborativo do reino das possibilidades e levá-lo para soluções viáveis verdadeiras, soluções que satisfaçam nossos caprichos de consumidores, nossos desejos e necessidades
47
não-articuladas, de uma forma que não seja dependente de mais coisas (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 164).
Para que estas soluções sejam possíveis, é necessário criar produtos e serviços ideais
para o modelo de consumo colaborativo. Para Gansky (2011), os produtos favorecidos pela
colaboração devem ser criados com base em quatro aspectos: durabilidade (produtos que
são usados por muitas pessoas têm de ser seguros, bem construídos e de longa duração),
flexibilidade (produtos adaptáveis a diferentes usuários, mas personalizáveis), passibilidade
de conserto (produtos que possam ser consertados, reparados e reutilizados) e
sustentabilidade (produtos com design que reduz a destruição e o desperdício de recursos
naturais). Segundo Botsman e Rogers (2010), para que mercados de redistribuição e
sistemas de serviços de produtos funcionem de forma eficaz, os designers devem criar
produtos capazes de serem reciclados, redistribuidos e reinventados. Desta forma, são
incentivados o contato contínuo e a colaboração entre empresa e consumidores.
Devido a esse contato mais próximo e duradouro com o seu público, as marcas
poderão desenvolver uma nova forma de relacionamento com os clientes diferente do
modelo tradicional, no qual as empresas são responsáveis por criar um produto e os
consumidores por consumí-lo. Ao redefinirem seus princípios fundamentais de mercado, as
empresas tornam-se mais confiáveis e desenvolvem uma comunidade onde as pessoas
deixam de atuar apenas como consumidores passivos para se tornarem participantes ativos,
contribuindo para novas interações e, consequentemente, novas oportunidades de serviços
a serem oferecidos (BOTSMAN e ROGERS, 2010).
Gansky (2011) apresenta como exemplo desta situação o serviço de
compartilhamento de bicicletas que, ao contrário de uma loja de bicicletas — onde existe
apenas um curto período para interagir com o consumidor até a compra — permite que o
cliente esteja continuamente em contato com a empresa, aumentando a interação entre as
duas partes e, consequentemente, ampliando a oferta. Outro exemplo de sucesso obtido
através da interação com os consumidores é o caso da thredUp, empresa norte-americana
que iniciou como uma plataforma online para troca de camisas masculinas e, após diversas
interações com os seus clientes, percebeu que havia uma oportunidade de mercado muito
maior em roupas infantis, afinal as crianças crescem muito rápido e precisam de roupas
novas frequentemente. Assim, a empresa reformou sua página principal para se
concentrarem inteiramente no vestuário infantil.
48
Um conhecimento profundo de quem são os clientes e o que eles realmente desejam
torna possível eliminar uma série de desperdícios na fabricação de um produto ou na criação
de um serviço. O compartilhamento de informações com os consumidores constrói apoio e
confiança e promove a definição interativa e o refinamento da oferta inicial. "As empresas
bem-sucedidas participarão cada vez mais diretamente com clientes e prospectivos para
projetar e refinar seus produtos e serviços feitos sob medida para o indivíduo, onde e
quando a pessoa deseja recebê-los" (GANSKY, 2011, p. 43).
Botsman e Rogers (2010) explicam que as marcas colaborativas, desde o início,
valorizaram a conversa mútua com os consumidores e, para muitas organizações, o
atendimento ao cliente está mais relacionado à criação de comunidades do que a uma
abordagem de cima para baixo, entrelaçando a reputação do usuário e da organização. As
empresas estão percebendo que precisam oferecer experiências, e não apenas produtos ou
serviços. As marcas continuam tendo um papel importante no consumo colaborativo, porém
a maneira como são construídas, gerenciadas e divulgadas é diferente, baseando-se não
mais em campanhas publicitárias e sim em comunidades, e utilizando, na maioria das vezes,
a Internet como plataforma para dar voz aos consumidores (BOTSMAN e ROGERS, 2010).
Da mesma maneira que as marcas têm nos manipulado para querermos cada vez mais coisas ao vincularem campanhas publicitárias a necessidades humanas fundamentais profundas e a motivações, as marcas podem fazer com que queiramos mais dos valores sustentáveis e dos benefícios vinculados ao consumo colaborativo. Esses valores incluem relacionamentos, respeito, apoio, habilidades, felicidade, novos hábitos, espaço e, até mesmo, tempo (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 165).
As empresas irão quebrar o modelo de "empurrar" produtos para os clientes,
disponibilizando bens e negócios no local, hora e forma como eles querem. A Internet ajuda
os usuários a localizar um produto para compartilhar, ou pessoas com quem compartilhar.
Através da tecnologia móvel, o cliente pode encontrar um produto ou serviço de forma
rápida e prática, conforme a sua necessidade ou desejo (GANSKY, 2011).
Enfim, entre as questões mais urgentes que podem ser beneficiadas pelo consumo
colaborativo estão os problemas ambientais. Segundo Gansky (2011), durante muito tempo
as dívidas ambientais das práticas de negócios ineficazes têm sido disfarçadas pelos
subsídios governamentais, o que tem causado problemas de saúde pública, custos sociais da
mineração, desmatamento, poluição do ar e mudanças climáticas. Estas dívidas geralmente
estão escondidas na medição pobre do Produto Interno Bruto como parâmetro de
49
progresso, e os negócios já estão experimentando consequências financeiras negativas por
causa da criação de resíduos e poluição, bem como danos às suas marcas.
Ao mesmo tempo, as pessoas estão cada vez mais conscientes disto e estão
buscando um estilo de vida mais sustentável, mudança que já está acontecendo desde a
última década. Uma indicação desta nova atitude é o crescimento fenomenal dos fatores
verdes de decisões de compra. "Em um estudo recente pelo Boston Consulting Group, um
total de 73% dos consumidores relataram sentir que é importante ou muito importante que
as empresas tenham um bom histórico ambiental" (GANSKY, 2011, p. 73). Botsman e Rogers
(2010), no entanto, afirmam que a sustentabilidade é apenas uma consequência não
intencional do consumo colaborativo:
Ao longo dos sistemas de serviços e produtos, dos mercados de redistribuição e dos estilos de vida colaborativos, a motivação poderá variar da economia de dinheiro ao ato de ganhar dinheiro, da conveniência a conhecer amigos, de economizar espaço a economizar tempo, de se sentir parte de uma comunidade a "fazer a coisa certa". A sustentabilidade, em geral, é uma consequência não intencional do consumo colaborativo. Não intencional no sentido de que a motivação inicial ou impulsora para uma empresa ou para o consumidor pode não se tratar de "ser verde".
Para Botsman e Rogers (2010), um progresso signiticativo na sustentabilidade
somente será alcançado quando ambos os consumidores e as empresas estiverem
motivados a mudar seu comportamento. O consumo colaborativo contribui para este
propósito por fazer parte do interesse pessoal do usuário, não enfatizando a culpa nem o
sacrifício pessoal. As mudanças de hábitos devem ser fáceis e convenientes para as pessoas
e, ao mesmo tempo, devem criar valor tanto para a empresa quanto para a sociedade.
2.5 O FUTURO DA COLABORAÇÃO
Desde o seu surgimento até os dias atuais, o consumo colaborativo provou ser uma
eficiente alternativa capaz de solucionar alguns dos problemas ambientais e econômicos
mais graves no mundo e, ao mesmo tempo, recriar o senso de comunidade perdido desde a
ascenção da sociedade de consumo. Embora ainda incerto, o futuro do consumo
colaborativo tem se mostrado altamente favorável. Para isso, é importante compreender
como os consumidores se relacionam com esta nova forma de consumir, e como eles vêm a
inserindo nas suas vidas.
50
O consumo colaborativo surgiu como uma proposição de consumo simples, que
satisfaz todas as mesmas necessidades de consumo do modelo antigo de consumo de
massa, ao mesmo tempo em que reduz efetivamente a quantidade de novos produtos e
matérias-primas consumidos e dá lugar a uma nova mentalidade de consumo. Segundo
Botsman e Rogers (2010), logo que as pessoas experimentam uma forma de consumo
colaborativo, seja dentro dos sistemas de produtos de serviços, mercados de redistribuição
ou estilos de vida colaborativos, elas se tornam mais receptivas a outros tipos de soluções
coletivas. Estas experiências são capazes de causar uma profunda mudança na mentalidade
do consumidor.
O consumo não é mais uma atividade assimétrica de aquisição interminável, mas sim uma sequência dinâmica de "empurra e puxa" de doação e colaboração, a fim de obter o que você deseja. Ao longo do caminho, os atos de colaboração tornam-se um fim em si mesmos. O consumo colaborativo mostra aos consumidores que seus desejos e suas necessidades materiais não precisam estar em conflito com as responsabilidades de um cidadão conectado. A ideia da felicidade resumida pelo cliente solitário cercado por coisas torna-se absurda, e a felicidade torna-se um processo muito mais amplo e mais repetitivo (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 179).
Os benefícios da colaboração têm o potencial de alcançar um número cada vez maior
de pessoas. Alguns consumidores colaborativos pensam no futuro e em aspectos sociais,
enquanto outros são motivados por uma urgência prática a fim de encontrar uma forma
melhor de realizar ações cotidianas. Essa urgência pode ser economizar dinheiro ou tempo,
ter acesso a serviços melhores, ou permitir relacionamentos mais estreitos com pessoas ao
invés de marcas. A sociedade está passando por um processo de constante reflexividade e
adaptação. Já é possível nomear essa colaboração e ter a noção de que um movimento
maior está surgindo. Esta consciência permite que novas economias e inovações se
desenvolvam, e que o consumo colaborativo cresça cada vez mais rápido (BOTSMAN;
ROGERS, 2010).
Gansky (2011) acredita que as empresas estão começando a abrir caminho para a
elaboração de sistemas capazes de criar valor a partir de produtos que têm seu prazo de uso
expirado, e que uma nova infraestrutura será desenvolvida para a atualização, suporte,
manutenção e reparo dos produtos. As empresas ajudarão a preservar e restaurar os
ecossistemas naturais. A desconfiança das pessoas sobre as empresas do modelo tradicional
faz com que elas considerem modelos alternativos de negócios, marcas e estilos de vida, e se
tornem mais dispostas a experimentar formas colaborativas de consumo, como bancos
comunitários e serviços de compartilhamento de carros.
51
Botsman e Rogers (2010) afirmam que, ao deixar o consumo colaborativo fazer parte
de suas vidas, as pessoas começam a perceber que o consumo não é algo interminável,
baseado no desejo de sempre adquirir um novo produto, e sim um ciclo de doação e
colaboração, onde é possível obter o que se deseja e, ao mesmo tempo, fazer parte de uma
comunidade. Gansky (2011) complementa esta visão ao explicar que a experiência de
compartilhamento não somente fará as pessoas se sentirem mais ricas através da economia
de dinheiro pela redução de custos associados à posse das coisas, mas principalmente pelo
sentimento de comunidade.
Este sentimento de comunidade já pode ser visto de diversas formas em todo o
mundo. A Ouishare é uma organização sem fins lucrativos e uma comunidade global que
tem como objetivo dar poder aos cidadãos, instituições públicas e companias para construir
uma sociedade na qual todas as pessoas têm acesso aos recursos e oportunidades
necessários para prosperar. A organização acredita que uma economia baseada nos
princípios comunitários como compartilhamento, colaboração e abertura pode resolver
muitos dos mais complexos problemas do mundo. Fundada em 2012, em Paris, a Ouishare
cresceu rapidamente e alcançou 25 países na Europa, América Latina e Oriente Médio. A
organização é líder mundial no campo das comunidades e da economia colaborativa, e se
mantém ativa devido a uma rede de 50 conectores (membros ativos) com uma vasta
experiência na construção de comunidade, conhecimento e projetos (OUISHARE, [2014]).
Outro exemplo de como o mundo está se unindo em prol da colaboração é a
comunidade online The People Who Share, um movimento global que teve início em Londres
e tem como objetivo mostrar e divulgar a economia colaborativa como algo divertido,
acessível, fácil, móvel e social. A comunidade quer remodelar o mundo através do
compartilhamento, e criar estilos de vida mais felizes, saudáveis e sustentáveis. Através de
grandes campanhas como o Global Sharing Day, o movimento alcançou, somente este ano,
mais de 100 milhões de pessoas em todos os continentes, com 50 eventos registrados (THE
PEOPLE WHO SHARE, [2014]).
Embora o consumo colaborativo tenha iniciado e ainda prevaleça muito mais
significativo em países europeus e norte-americanos, países "em desenvolvimento", como
Brasil, Chile, Argentina e México, estão cada vez mais aderindo a formas colaborativas de
consumo, segundo Cañigueral (2012), fundador do blog Consumo Colaborativo, em artigo
52
para a revista online Ouishare, que relata o crescente número de projetos de
compartilhamento na Espanha e na América Latina.
A Semana da Economia Colaborativa é um ótimo exemplo disso. Em maio deste ano,
mais de 20 cidades latino-americanas celebraram, em oito dias, a prática e a cultura do
compartilhamento. Em países da América Latina, cada vez mais práticas colaborativas estão
surgindo, porém as pessoas não têm consciência de que essa tendência faz parte de um
movimento maior. O evento tem como objetivo expandir a ideia de uma mudança
transversal que horizontaliza as relações de poder e os meios de produção, através de
atividades descentralizadas e auto-organizadas, como mercados de intercâmbio, jornadas de
produção digital, coworking abertos, discussões colaborativas sobre finanças, oficinas sobre
economia colaborativa, reuniões de consultoria colaborativa, projetos conjuntos, viagens
compartilhadas e festas de crowdfunding (BASCH, 2014).
Botsman e Rogers (2010) acreditam que, no futuro, a época atual será vista como um
importante passo para a recriação de um sistema sustentável construído para atender às
necessidades humanas básicas — de comunidade, identidade individual, reconhecimento e
trabalho — com significados baseados nos antigos princípios de mercado e comportamentos
colaborativos.
2.6 CONSUMO COLABORATIVO NO BRASIL
O consumo colaborativo no Brasil ainda é um movimento de nome pouco conhecido
e, apesar do surgimento tardio, cada vez mais pessoas estão compartilhando e se tornando
parte de uma comunidade. Serviços de aluguel de carros e bicicletas, mercados de
redistribuição, espaços de coworking e sites de financiamento coletivo talvez sejam os
mercados colaborativos mais conhecidos no país.
Os espaços de coworking são a forma de consumo colaborativo que mais cresce no
Brasil. Segundo pesquisa nacional realizada pelo siteMovebla e a revista Deskmag, o
coworking existe no Brasil há cerca de cinco anos, e atualmente, há mais de 100 espaços do
tipo no país. Mais da metade dos entrevistados que trabalhavam em home-offices e mudou
para os escritórios compartilhados nos últimos anos (ORLANDI, 2013).
O financiamento coletivo também está ganhando espaço no país. O site Catarse,
criado em 2011, foi a primeira comunidade de crowdfunding brasileira e, em apenas dois
53
anos, viabilizou mais de 400 projetos financiados por mais de 52 mil apoiadores, se tornando
a maior do país (AQUISTAPACE, 2013). Segundo pesquisa realizada pela Chorus em parceria
com o Catarse (2013), o financiamento coletivo é mais comum nas regiões sul e sudeste e
mostrou que 68% dos empreendedores entrevistados enxergam potencial de financiamento
coletivo em seus negócios. Atualmente, existem diversas outras plataformas com o mesmo
objetivo, entre elas a Bicharia (c2014), com foco em arrecadação de fundos para animais
carentes, a Vakinha (c2014), especializada em vaquinhas online, a Benfeitoria (c2014),
plataforma que não cobra comissão para inscrever projetos, a Social Beers (c2014), primeira
plataforma de crowdfunding 100% focada no mercado cervejeiro artesanal, a IdeaMe (2013),
projeto latino-americano que funciona também no Brasil, entre outros.
Outra forma de compartilhamento que tem se desenvolvido no país são os mercados
de redistribuição. Através de diversos sites é possível realizar a troca e venda de produtos
entre pessoas de todos os lugares do país. Entre os sites mais conhecidos estão o Descola Aí
(c2012) que, além de produtos, também promove a troca e venda de serviços; o OLX
(c2014), site de classificados online com o mesmo objetivo; o Enjoei (c2014), com foco na
venda de peças de vestuário usadas; o Compro de Quem Faz ([2014]), movimento que
incentiva o consumo sustentável e local; e os briques do Facebook, comunidades que
surgiram através de diversos grupos da rede com o objetivo de trocar e vender produtos
usados.
O consumo colaborativo com base nos meios de transporte também vem crescendo.
O compartilhamento de bicicletas já existe em diversas capitais brasileiras. O sistema de
aluguel de bicicletas Bike da empresa Serttel, financiado pela Financiadora de Estudos e
Projetos (Finep) e patrocinado pelo Banco Itaú, está espalhando pelas cidades bicicletas
laranjas e adquirindo cada vez mais adeptos.Atualmente, o serviço Bike atende oito cidades
brasileiras, entre elas São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Goiânia e Porto Alegre (FINEP, 2014).
O aluguel de carros, embora bem menos comum, existe no país desde 2010. A Zazcar
(c2014), primeira empresa de compartilhamento de carros na América Latina e a única no
Brasil, têm carros espalhados por mais de 45 locais na cidade de São Paulo, que podem ser
acessados 24 horas por dia com o cartão Zazcard.
Serviços globais como o Aibnb e o Couchsurfing provam que até mesmo plataformas
com ênfase mundial já alcançaram os brasileiros. O site de aluguel de acomodações únicas
para viagens Airbnb já abriu escritórios no Brasil, primeiro país latino-americano a receber a
54
empresa. A demanda por hospedagens disponíveis na rede no país cresceu 1200% no ano de
2011, e o site está disponível em português desde 2008 (DEMETRIO, 2012). Segundo dados
do Couchsurfing (c2014), site que promove o compartilhamento de hospedagens gratuitas
entre viajantes, o Brasil está entre os dez países com maior número de membros inscritos no
site.
Entre os principais indicadores de que a economia colaborativa está entrando
definitivamente para a vida dos brasileiros estão as iniciativas de grupos envolvidos no
assunto com o propósito de conscientizar as pessoas sobre o tema. Em São Paulo, aconteceu
em setembro deste ano, o CoCidade ([2014]), festival de economia colaborativa com o
objetivo de expor amplamente projetos colaborativos, entender o financiamento coletivo e
mapear e construir redes. A Semana de Economia Colaborativa ([2014]), que aconteceu em
diversas cidades latino-americanas em maio deste ano, trouxe a 12 cidades brasileiras, entre
elas Curitiba, Manaus, Brasília, Maceió e São Paulo, palestras e oficinas sobre o tema. Além
disso, o site brasileiro Consumo Colaborativo (c2014) é uma das plataformas mais completas
sobre o assunto no país, divulgando e incentivando o movimento, mostrando ideias,
projetos e cases brasileiros e internacionais que já fazem o uso desta economia.
2.6.1 Porto Alegre
O consumo colaborativo apareceu primeiramente em grandes cidades como São
Paulo e Rio de Janeiro, mas já está se espalhando para todos os cantos do país, adquirindo
notabilidade principalmente na região sul. Com pouco mais de 1,4 milhão de habitantes
(IBGE, 2014), a cidade de Porto Alegre (RS) ainda está longe de ter investimento econômico
semelhante aos grandes polos brasileiros, porém a capital gaúcha tem se mostrado cada vez
mais presente culturalmente e socialmente no país.
Em 2014, foi uma das cidades-sede da Copa do Mundo, trazendo cerca de 350 mil
turistas para o estado do Rio Grande do Sul, de acordo com a Secretaria do Turismo
(CARNEIRO, 2014). Em 2013, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre lançou, com intermédio
do Gabinete de Inovação e Tecnologia (Inovapoa), o Grupo de Trabalho "Porto Alegre
Criativa", com o objetivo de implantar um Programa Municipal de Economia Criativa e
promover o desenvolvimento econômico, social e cultural da cidade, através da inovação
social, processos de inteligência colaborativa e empreendedorismo (INOVAPOA, [2014]).
55
Ao mesmo tempo em que Porto Alegre enfrenta uma série de desafios econômicos,
sociais e ambientais que limitam o desenvolvimento de uma cultura de inovação e
colaboração, já é possível ver o surgimento de ações e comunidades colaborativas dos mais
diversos tipos na cidade — serviço de aluguel de bicicletas, briques de troca e venda de
produtos usados em redes sociais, espaços compartilhados de trabalho e lazer, inúmeras
ações de financiamento coletivo, entre outros. Isso mostra que Porto Alegre, embora ainda
esteja em um processo muito inicial no sentido da colaboração, está se tornando parte deste
grande movimento global. A próxima seção tem como objetivo aprofundar e analisar os
aspectos do consumo colaborativo em Porto Alegre, para compreender como esta nova
forma de mercado vem se manifestando na cidade.
56
3 O MERCADO DE CONSUMO COLABORATIVO EM PORTO ALEGRE
Esta seção abordará o mercado de consumo colaborativo em Porto Alegre e como ele
vem se manifestando na cidade, a fim de identificar as principais formas de consumo
colaborativo presentes no cenário porto-alegrense, descobrir de que maneira as pessoas e
empresas colaborativas se inserem neste tipo de mercado e identificar os principais fatores
que impedem e que impulsionam o desenvolvimento da cultura colaborativa na cidade.
Para melhor organização e compreensão, esta seção se divide em três subseções. A
primeira tem como objetivo esclarecer todos os procedimentos metodológicos de pesquisa
realizados neste trabalho, para um melhor entendimento da forma como se procedeu à
coleta e análise dos dados referentes à pesquisa. Na segunda subseção, será abordado o
cenário de consumo colaborativo em Porto Alegre, a fim de compreender como o
compartilhamento se dá na cidade, através dos três sistemas expostos por Botsman e Rogers
(2010). E por fim, a última subseção é responsável pela análise do material coletado, para
que os principais objetivos deste estudo sejam atendidos.
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Aqui serão abordados os procedimentos metodológicos que serão utilizados para
alcançar os objetivos deste estudo. Através de pesquisa teórico-aplicada de caráter
exploratório, espera-se compreender como o consumo colaborativo tem se manifestado em
Porto Alegre (RS).
A cidade de Porto Alegre foi escolhida como foco de estudo devido à localidade
próxima à autora, e por ser uma capital de médio porte no sul do país, longe dos principais
polos econômicos — São Paulo e Rio de Janeiro — mas que está evoluindo socialmente e
culturalmente. Ao mesmo tempo em que a cidade enfrenta uma série de problemas, está,
aos poucos, introduzindo o consumo colaborativo na vida das pessoas. Através deste estudo,
busca-se compreender de que forma essa economia colaborativa se constrói na cidade.
Primeiramente, para obter embasamento teórico sobre o assunto estudado, foi
utilizada a técnica de pesquisa bibliográfica. Esta técnica, segundo Duarte e Barros (2006), é
necessária e constante em qualquer trabalho acadêmico e de pesquisa, e tem como objetivo
obter e selecionar dados que reforcem, justifiquem ou ilustrem as ideias e os
57
posicionamentos pertinentes ao tema do estudo proposto. A partir das informações e
conceitos colhidos através da pesquisa bibliográfica, foram definidos os conceitos envolvidos
no consumo colaborativo, bem como informações históricas, econômicas e sociais
relacionadas à sociedade de consumo e à era da Internet.
Também foram utilizados como dados complementares informações retiradas de
sites, blogs e redes sociais, devido ao consumo colaborativo ser um assunto recente que tem
ganhado espaço principalmente nos últimos cinco anos. Além disso, é uma forma de
consumo que foi impulsionada pela Internet e se dá, na maioria das vezes, através da
interação entre indivíduos online.
O processo de fundamentação teórica deste trabalho teve como centrais as ideias de
Bauman (2001, 2008), Barbosa (2010), Korten (1996), Leadbeater (2011), Tapscott e Williams
(2007), Tapscott (2010), Gansky (2011) e Botsman e Rogers (2010). As informações
adquiridas durante este processo foram analisadas e utilizadas para dar suporte à etapa de
pesquisa aplicada.
Antes de dar início à análise, desenvolveu-se um levantamento de dados secundários
com o objetivo de identificar, explicar e exemplificar as principais formas de consumo
colaborativo presentes no cenário porto-alegrense. A partir destas informações, realizou-se
um recorte dos pontos mais relevantes do mercado colaborativo na cidade para se tornarem
os objetos de estudo desta pesquisa.
Na sequência, foi empregada a técnica de entrevista em profundidade para a coleta
de dados primários. Duarte e Barros (2006) explicam que esta técnica tem ênfase qualitativa
com o propósito de explorar um assunto a partir da busca de informações, percepções e
experiências de informantes para analisá-las e representá-las de forma estruturada. Uma das
principais vantagens deste método é a flexibilidade, pois permite ao entrevistado responder
as perguntas de acordo com o seu conhecimento e vivência. Além disso, permite que o
entrevistador defina o rumo da entrevista, aprofundando ou explorando o assunto
livremente. Este tipo de entrevista busca intensidade nas respostas e a não-quantificação
dos dados, dimensão relevante para um estudo que busca conhecer e compreender os
modos e processos de consumo colaborativo e não quantificá-lo.
Além disso, a entrevista em profundidade é uma técnica dinâmica e flexível, que
permite compreender uma realidade tanto para tratar de questões pessoais do entrevistado
quanto para a descrição de processos complexos nos quais esteve ou está envolvido.
58
(DUARTE; BARROS, 2006). A partir disso, esta técnica foi selecionada com o objetivo de
compreender como o consumo colaborativo se manifesta na cidade de Porto Alegre (RS),
através das experiências e conhecimentos de pessoas diretamente envolvidas com o tema.
Para isso, foram realizadas entrevistas em profundidade individuais fundamentadas
em roteiros semiestruturados. Este modelo de entrevista semiaberta parte de uma lista de
questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa, ao
mesmo tempo em que permite que o entrevistador conduza as perguntas de forma livre,
aprofundando-as conforme as respostas do entrevistado (DUARTE; BARROS, 2006). Assim, é
possível introduzir as questões centrais sobre consumo colaborativo levantadas na pesquisa
bibliográfica e explorar intensamente as experiências e opiniões dos entrevistados com
relação ao tema.
Segundo Duarte e Barros (2006), ao contrário da pesquisa quantitativa que tem como
base a amostra, a entrevista em profundidade está ligada à significação e à capacidade que
as fontes têm de dar informações confiáveis e relevantes sobre o tema de pesquisa. A
validade de uma pesquisa está associada à seleção dos entrevistados, e para isso é relevante
ouvir pessoas em papéis sociais diferentes com perspectivas úteis sobre o tema. Além disso,
a seleção dos entrevistados em estudos qualitativos depende do julgamento do pesquisador,
sendo não probabilística, ou seja, não garante igual chance para todos. Neste estudo, foi
utilizada amostra não probabilística intencional, definida por Duarte e Barros (2006) como
uma seleção na qual o entrevistador escolhe ao seu juízo pessoas que tem conhecimento
sobre o tema ou que são relevantes para o estudo.
Desta forma, para descobrir de que forma as pessoas e empresas colaborativas de
Porto Alegre (RS) se inserem no mercado de consumo, bem como identificar os principais
fatores que impedem e que impulsionam o desenvolvimento de uma cultura colaborativa na
cidade, foram entrevistados tanto idealizadores de projetos colaborativos quanto usuários e
consumidores, que serão apresentados adiante, no item 3.3. Assim, acredita-se ser possível
compreender o que pessoas envolvidas diretamente com a colaboração em ambos os lados
pensam e atuam dentro deste novo mercado.
Esta pesquisa tem como objetivo fundamental alcançar um maior conhecimento
sobre o mercado de consumo colaborativo na cidade de Porto Alegre (RS) baseados nos três
sistemas definidos por Botsman e Rogers (2010) — sistema de serviços de produtos,
mercados de redistribuição e estilos de vida colaborativos — e obter respostas capazes de
59
facilitar a compreensão de como a colaboração está se desenvolvendo e se manifestando na
cidade.
3.2 O CENÁRIO COLABORATIVO PORTO-ALEGRENSE
Para que seja possível compreender como o consumo colaborativo vem se
manifestando em Porto Alegre (RS), primeiramente é necessário traçar um panorama de
como a colaboração está presente no cenário porto-alegrense. Para desenhar tal panorama,
realizou-se uma busca de dados disponíveis online, em que foiposssível ter acesso a uma
vasta quantidade de informações atualizadas sobre o tema. A seguir, serão explanadas as
principais dimensões levantadas.
Porto Alegre ainda é uma cidade nova no mundo do consumo colaborativo, porém
vem ganhando destaque internacionalmente através de pessoas interessadas em trazer a
colaboração para a cidade. A organização global sem fins lucrativos de economia
colaborativa Ouishare ([2014]) possui comunidades em diversos países, porém em apenas
três na América Latina. Porto Alegre é a única cidade brasileira a fazer parte desta rede.
Conforme dados da própria organização, a comunidade teve início na cidade quando mais de
80 pessoas se uniram para aprender sobre projetos colaborativos durante o OuishareFest,
evento que aconteceu em 2013. Através do grupo Ouishare Porto Alegre no Facebook
([2014]), com 298 membros, os interessados em consumo colaborativo podem discutir sobre
o assunto, divulgar eventos e projetos e manter a comunidade colaborativa da cidade unida.
Além de fazer parte da comunidade Ouishare, Porto Alegre também faz parte da
SharingCities Network ([2014]), rede de cidades colaborativas incentivada e estruturada pela
Shareable([2014]), organização sem fins lucrativos que visa conectar pessoas e informações,
projetos e ações, coletivos e ativistas, e empresas que trabalham na lógica da colaboração
por um mundo melhor. Para marcar a entrada da cidade na rede, foi realizado em julho de
2014, o Sharefest ([2014]), festival de economia colaborativa e educação sem fins lucrativos.
O festival teve como objetivo criar um ambiente de transformação com a troca de
experiências entre as pessoas, destacar projetos e ações existentes, debater desafios e criar
oficinas dinâmicas para ampliar o entendimento do que é, como funciona e que impacto o
consumo colaborativo tem na sociedade. O Sharefest aconteceu durante um dia inteiro, na
60
Casa de Cultura Mário Quintana, e foi planejado, produzido e organizado por um grupo de
pessoas ligadas às mais diversas áreas de interesse.
As inscrições foram realizadas através da plataforma de aprendizagem colaborativa
NósLab, e foram gratuitas, com a opção de colaboração financeira voluntária. Além disso,
todos os participantes foram convidados a levar alimentos não perecíveis e roupas para
doação. Na página do Facebook "Sharefest Porto Alegre", com 1.382 curtidas, era possível
acompanhar a organização do evento, a programação e os colaboradores. O festival contou
com 47 empresas colaboradoras, que tiveram suas marcas divulgadas na página. Para
promover o festival, foi criado um evento no Facebook, no qual 383 membros confirmaram
presença. A programação contava com diversas atividades, oficinas e workshops sobre
conexões artísticas, gastronomia consciente, sustentabilidade, mobilidade urbana,
empreendedorismo social e inovação.
Não somente na forma de festivais, Porto Alegre utiliza da inteligência compartilhada
e colaborativa para transformar a cidade em um lugar melhor. O projeto PortoAlegre.cc
([2014]), criado dentro da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e idealizado pela
agência Lung, traz à cidade uma plataforma digital em forma de mapa que permite aos
usuários postarem, de forma democrática, os pontos da cidade que necessitam de atenção e
podem ser melhorados. Lançado em março de 2011, conta com o apoio da Prefeitura
Municipal de Porto Alegre, da ONG Parceiros Voluntários e da Unisinos. A plataforma é o
primeiro projeto que utiliza o conceito de Wikicidade1 no Brasil, onde as pessoas podem
navegar pelo mapa e publicar conteúdos diretamente em sites de redes sociais, gerando
discussões necessárias à cidade. O projeto foi apresentado em todo o país e na Europa, e
recebeu importantes prêmios e destaques em veículos de mídia locais e nacionais.
Embora ainda restrita a pequenos grupos, a formação de comunidades com o
objetivo de conversar, debater, ensinar e aprender sobre o consumo colaborativo
demonstra a participação de Porto Alegre nesta nova economia. A partir disso, faz-se
necessário mapear e compreender as principais manifestações colaborativas presentes na
cidade, classificadas conforme os sistemas abordados por Botsman e Rogers (2010).
1Plataforma digital que encoraja a participação e a colaboração dos cidadãos e cria um ambiente aberto para a
troca de ideias, sugestões e reivindiações. A wikicidade está baseada em um conceito chamado Inteligência Social, que envolve a construção de ações colaborativas e também uma forte conexão com as principais redes sociais (Lung, [2014]).
61
3.2.1 Sistemas de Serviços de Produtos
Os Sistemas de Serviços de Produtos ainda são pouco disseminados em Porto Alegre.
O exemplo mais conhecido de acesso a bens ao invés da posse é o compartilhamento de
bicicletas. O BikePoa ([2014]), projeto de sustentabilidade da Prefeitura de Porto Alegre, foi
executado através do Termo de Concessão de Uso da Serttel em parceria com o banco Itaú e
o Sistema de Bicicletas SAMBA. O projeto tem como objetivo introduzir a bicicleta como
meio de transporte público saudável e não poluente, combater o sedentarismo da
população, reduzir os engarrafamentos e promover a humanização do ambiente urbano e a
responsabilidade social das pessoas.
De acordo com informações presentes no site do projeto, o sistema de aluguel de
bicicletas foi instalado na cidade em 2012, e atualmente conta com 40 estações distribuídas
entre a região central da cidade. O BikePoa funciona através da compra de passes que
podem ser mensais, no valor de R$ 10,00, com cadastro no site, ou diárias, no valor de R$
5,00. Para retirar a bicicleta da estação, existem duas opções: utilizar o aplicativo BikePoa ou
telefonar para o número 4003-6052, informar o número da estação que se deseja retirar a
bicicleta, digitar o número da posição da bicicleta escolhida, confirmar a operação e puxar a
bicicleta quando a luz verde estiver acesa. O número de viagens é ilimitado, e as estações
funcionam todos os dias, das 6h às 22h. Viagens que duram mais de 1h pagam valor
excedente de R$ 5,00 a hora. A devolução da bicicleta pode ser realizada em qualquer
estação disponível.
Através do site e do aplicativo BikePoa (c2014), é possível ter acesso a um mapa de
Porto Alegre com a localização das estações, o número de bicicletas disponíveis no
momento, as vagas ocupadas e as estações em implantação ou manutenção. Além disso,
pode-se acompanhar na página inicial do site, a contagem de crédito de carbono reduzido
por causa das bicicletas.
Embora o sistema de aluguel de bicicletas já exista em Porto Alegre, a cidade ainda
enfrenta uma série de problemas de trânsito e infraestrutura. Segundo dados de pesquisa
feita pelo Sindincato Nacional de Arquitetura e Engenharia, a capital gaúcha apresenta uma
das taxas mais altas de motorização do Brasil, com um automóvel por 2,79 habitantes (G1
RS, 2013). Além disso, possui uma das malhas cicloviárias mais reduzidas do país. Segundo o
Plano Diretor Cicloviário Integrado, a cidade tem capacidade para 495 quilômetros de
62
ciclovias, mas em abril de 2014, havia 14,92 quilômetros em obras, 62,93 quilômetros em
projetos e apenas 27,93 quilômetros de possíveis conexões (ELY, c2014).
Os problemas, no entanto, alcançam também o próprio sistema de
compartilhamento de bicicletas. Segundo o site G1 RS (2012), em menos de dois meses após
a instalação do sitema em Porto Alegre, já havia 9,8 mil inscritos no BikePoa, e 100 bicicletas
disponíveis em 10 estações. Após dois anos de funcionamento, mais de 500 mil viagens já
foram realizadas pelo sistema. No entanto, mais de 80% das estações pelo menos uma
bicicleta com problemas atualmente. Além de pneus furados, correias soltas e freios em más
condições, os usuários ainda enfrentam problemas nas ligações telefônicas, que muitas
vezes não conseguem ser completadas (VARGAS, 2014).
Com relação à manifestação online do compartilhamento de bicicletas em Porto
Alegre, não foi encontrado nenhuma uma página oficial de divulgação do BikePoa no
Facebook, nem um grupo com o objetivo de reunir os usuários online. Existe, apenas, uma
Fan Page ([2014]) moderada por usuários do BikePoa, com 2.090 curtidores, onde são
postadas notícias sobre ciclismo. A interação dos usuários com a página, no entanto, é baixa.
3.2.2 Mercados de Redistribuição
Uma das primeiras manifestações de comunidades colaborativas em Porto Alegre
surgiu através de grupos no Facebook, com o objetivo de praticar a troca, compra e venda
de produtos usados entre os usuários. Os briques, como são conhecidos popularmente,
tiveram início com as trocas de peças de vestuário e livros que, segundo Botsman e Rogers
(2010), são produtos que têm como objetivo atender uma necessidade de curto prazo, e
funcionam melhor em mercados de redistribuição.
Os briques foram crescendo e se tornando bastante populares principalmente a
partir dos últimos três anos, e têm um grande reconhecimento no estado do Rio Grande do
Sul, onde várias cidades e regiões possuem seus próprios grupos de trocas na rede social.
Atualmente, existem dezenas de briques só em Porto Alegre, segmentados em diferentes
categorias de produtos: vestuário feminino, masculino ou infantil, aparelhos eletrônicos,
móveis e objetos de decoração, peças para carros, bicicletas, livros, ou até mesmo briques
que aceitam a troca e venda de qualquer tipo de produto. Qualquer membro do Facebook
63
pode criar um grupo e transformá-lo em um brique, existindo, assim, grupos com um
número pequeno de pessoas até grupos com mais de 100 mil membros.
Um dos exemplos mais conhecidos e uma das primeiras comunidades do tipo que
surgiram em Porto Alegre é o Brique das Meninas ([2014]). Atualmente com 27.320
membros e postagens diárias de roupas, sapatos e acessórios para venda ou troca, o brique
funciona devido a uma lista de regras que devem ser seguidas para melhor organização da
página: os membros não podem criar álbuns de foto próprios; reclamações e denúncias
devem ser realizadas por mensagem privada para não sobrecarregar o Facebook; meninas
que não cumprem as regras ou não são confiáveis são banidas do grupo; lojas não são
permitidas de venderem seus produtos, valorizando assim o comércio descentralizado; os
produtos vendidos devem ser apagados; e os produtos anunciados devem conter preço e
tamanho.
Um dos briques mais populares e com grande número de membros participantes
atualmente é o Brique da Gurizada ([2014]), que atende Porto Alegre e região e conta com
68.782 membros. O brique, que também baseia seu bom funcionamento em uma série de
regras similares, aceita qualquer tipo de compra, venda ou troca, e pede que seus membros
não coloquem preços altos nos seus produtos. Na página do grupo é possível ver a
divulgação de telefones celulares, caixas de som, computadores, utensílios e aparelhos
domésticos, peças e acessórios para carros e bicicletas, óculos de sol, jogos para video
games e até uma mesa de sinuca.
Baseados no mercado entre pares (peer-to-peer), os briques têm como objetivo
promover a redistribuição e a reutilização de produtos usados em bom estado a um preço
mais em conta do que oferecido em lojas. Ao anunciar um produto em um brique, as
pessoas geralmente postam uma foto do produto original juntamente com uma legenda
com o valor e outras informações que considerarem relevantes, como tamanho, tipo,
qualidade, tempo de uso e local disponível para entrega. Em seguida, esperam os outros
membros do grupo entrarem em contato através de comentários na própria foto ou
mensagem privada, na maioria das vezes buscando por mais informações sobre o produto
ou tentando negociar uma troca. Além disso, os membros também podem postar no grupo
um anúncio sobre quais produtos estão à procura, e receber propostas diretamente de
pessoas que têm este produto para negociar.
64
A maioria das trocas e vendas são realizadas pessoalmente, onde as duas partes
interessadas combinam um local e horário de encontro na cidade. Para que os briques
funcionem de forma bem sucedida, os membros envolvidos devem cumprir com o
combinado, senão correm o risco de serem banidos do grupo. Segundo Botsman e Rogers
(2010), para que estes mercados colaborativos existam, a confiança é um ingrediente crítico.
Quando os membros dos briques quebram esta confiança, além de serem expulsos do
grupo, eles prejudicam a sua reputação online, e são automaticamente excluídos da
comunidade.
Botsman e Rogers (2010) apontam como benefício dos mercados de redistribuição a
interação entre os usuários e a construção de comunidades. No Brique das Meninas, os
membros combinavam encontros pessoalmente entre um grupo de meninas para a venda,
troca e compra de roupas e acessórios usados. Alguns dos encontros eram na casa dos
próprios membros, em parques ou no centro de Porto Alegre, na Praça Otávio Rocha,
geralmente nos sábados à tarde. Isso mostra que as comunidades virtuais são capazes de se
tornarem comunidades também no mundo real.
3.2.3 Estilos de Vida Colaborativos
Os estilos de vida colaborativos têm surgido nas suas mais diferentes formas em
Porto Alegre. Os espaços compartilhados de trabalho e o financiamento coletivo estão cada
vez mais presentes do cenário da cidade, e as comunidades globais de hospedagem para
viajantes, ainda que um tanto tímidas, já têm os seus representantes porto-alegrenses. A
seguir, serão apresentadas algumas das formas de compartilhamento identificadas em Porto
Alegre, a saber: (a) Coworking e compartilhamento de espaços; (b) Crowdfunding; (c) Ensina
Aí; (d) Caronas; e (e) Turismo colaborativo.
a) Coworking e compartilhamento de espaços
O primeiro coworking em Porto Alegre surgiu dentro do grupo Cuento ([2014]) que,
além do espaço compartilhado de trabalho, também possui uma agência de comunicação e
uma escola de criatividade. Localizada no bairro Moinhos de Vento, a empresa se auto-
define como "um ambiente de coexistência e intensa troca de oportunidades,
65
conhecimentos e relacionamentos". O plano mensal para uso em período integral do espaço
custa R$ 699,00, e pode ser locado para eventos e workshops.
Um dos espaços de coworking mais conhecidos na cidade é o Nós Coworking
([2014]), que tem seu escritório localizado em um prédio histórico no Shopping Total. O local
é equipado com Internet, ar climatizado, salas de reunião, auditório e espaço para eventos
multiculturais. O espaço funciona através de um cartão magnético onde é possível carregar
créditos que podem ser gastos por hora de uso do ambiente ou em cursos, ingressos e
eventos. Os créditos têm validade de 90 dias e variam de R$ 7,50 a hora com compra mínima
de 20 horas a planos mensais, de R$ 704,00 por mês. O site promove a simplificação do uso
do espaço de trabalho, sem burocracia, taxas ou fiador.
Além do espaço de trabalho compartilhado, o Nós Coworking oferece uma série de
cursos, palestras e workshops, divulgados a partir do NósLab (c2014), plataforma onde é
possível se inscrever nas atividades e propor eventos. A agenda do mês de setembro, por
exemplo, conta com atividades todos os dias. O espaço também possui um blog onde
divulga conteúdo relacionado à cultura, inovação e empreendedorismo. Além disso, está
com um projeto no qual serão selecionados 20 empreendedores com alto potencial de
impacto para formar um time para a cocriação de ideias de negócios.
A Fábrica de Ideias ([2014]), espaço coletivo localizado no Centro de Porto Alegre,
que dá apoio a start ups, criou um espaço de coworking onde é possível realizar palestras,
oficinas e eventos, fazer networking com empreendedores, profissionais, investidores e
trabalhar em um ambiente colaborativo. O Catalise Coworking([2014]) é um espaço que
surgiu no bairro Menino Deus, não somente com o objetivo de fornecer um ambiente de
trabalho, mas também para colaborar e sustentar sonhos coletivos, ensinando técnicas de
organização, gerenciamento de projetos e incentivando o empreendedorismo. O espaço
também realiza cursos e eventos gratuitos.
O Coletivo 202 ([2014]), localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, ao lado da
Casa de Cultura Mario Quintana, é um espaço de coworking sem fins lucrativos, ou seja,
todas as mensalidades servem apenas para cobrir os custos de manutenção do projeto,
sustentando um valor mais baixo do que outros espaços. O plano mensal custa R$ 390,00, e
o lugar tem vaga para 15 pessoas. A mensalidade compreende toda a estrutura do espaço, e
pode ser cancelada a qualquer momento, sem nenhum tipo de multa. Além disso, todos os
integrantes têm acesso à contabilidade da empresa, sabendo exatamente onde o dinheiro
66
foi investido. O espaço existe de forma descentralizada, sem uma pessoa ou grupo
responsável pela manutenção do projeto, exigindo, desta forma, que todos os envolvidos
colaborem de maneira igual.
Na mesma linha sem fins lucrativos e de auto-organização, surgiu em Porto Alegre a
Casa Liberdade([2014]). O espaço se localiza em uma casa na Rua Liberdade, no Bairro Rio
Branco, e tem como objetivo disponibilizar a todos os interessados um lugar de colaboração,
trabalho e convívio. As atividades devem ser temporárias e de caráter transitório, não
ocupando as áreas de forma definitiva. Os usuários ficam responsáveis pela organização,
manutenção e limpeza da casa, e a contribuição financeira é espontânea, ou seja, as pessoas
contribuem com a quantia que podem e o espaço é utilizado por todos igualmente.
A Casa Liberdade existe na Internet através de um grupo no Facebook([2014]) com
2.247 membros, usuários e não-usuários da casa. No grupo, as pessoas podem divulgar
livremente projetos pessoais e eventos que irão acontecer na casa. Além disso, na imagem
de capa do grupo é possível ver a situação financeira das contas da casa mensalmente, com
a quantia que já foi arrecadada, a quantia restante e o prazo final de pagamento. Embora a
Casa Liberdade atue como um espaço descentralizado, é possível perceber, através de
postagens no grupo, figuras mais presentes na manutenção e divulgação do espaço. Existem
três formas de contribuir financeiramente: dinheiro, entregue diretamente para um dos
membros ativos da casa ou deixado em uma caixinha; depósito em conta e cartão de
crédito.
A Casa Liberdade é uma prova de que os espaços compartilhados com foco além do
trabalho estão nascendo no Brasil, e Porto Alegre já tem o seu lugar garantido nessa nova
tendência. Ao tornar a casa um local de colaborações voluntárias, o verdadeiro espírito de
comunidade entra em jogo, e as pessoas percebem que existe uma série de alternativas
antes desconhecidas.
Outro espaço que surgiu recentemente em Porto Alegre é o Acervo Independente
(c2013), uma comunidade colaborativa de arte contemporânea e criatividade localizada no
Centro de Porto Alegre. Além de proporcionar um espaço para trabalhar e criar, o local
funciona como marco de divulgação, produção cultural e encontros significativos. Através de
espaços coletivos para artistas e profissionais criativos, o Acervo tem como base encontrar
no coworking e na economia compartilhada uma nova forma de produzir e trocar, saindo do
paradigma competitivo e entrando no colaborativo.
67
b) Crowdfunding
O projeto do Acervo Independente foi financiado através do site Catarse (2014), o
maior site de financiamento coletivo do Brasil. Com um vídeo e um texto explicando a ideia
do projeto, juntamente com imagens do local e dos idealizadores, bem como uma tabela
mostrando de que forma seriam investidos o dinheiro arrecadado e as recompensas para os
apoiadores, o Acervo Independente lançou sua campanha(2013) no dia 28 de outubro de
2013, buscando R$ 15.087,00. 45 dias depois, o projeto foi capaz de arrecadar R$ 21.560,00
através de 332 apoiadores. Isso mostra que, além dos espaços compartilhados, Porto Alegre
também tem se mostrado presente através do financiamento coletivo.
Ao buscar na página do Catarse por "Porto Alegre" (2014), é possível ver diversos
projetos que estão sendo financiados através da plataforma. Enquanto alguns atingem bem
acima da meta esperada, muitos ainda não conseguem chegar no valor necessário. Os
projetos que atingem a meta previamente estabelecida, ganham uma faixa verde escrito
"bem-sucedido". Um dos projetos financiados através dosite que se tornou bem conhecido
na cidadefoi a arrecadação de fundos para a banda porto-alegrense Apanhador Só (2012). A
campanhateve duração de dois meses e atingiu R$ 59.188,00 da meta de R$ 44.748,00,
através de 764 apoiadores. Entre as recompensas estavam ingressos para os shows da banda
por um ano com acompanhante, uma serenata e show em casa.
Um projeto que ficou mundialmente conhecido é o "Que Ônibus Passa Aqui?",
idealizado pelo coletivo criativo Shoot The Shit com o objetivo de transformar Porto Alegre
em um lugar melhor. Diante da falta de informação e sinalização nas paradas de ônibus da
cidade, o coletivo teve a ideia de criar adesivos para serem impressos e colados nas paradas
onde a própria população da cidade poderia preencher com as linhas de ônibus que passam
no local. O projeto colaborativo ficou no ar no site Catarse (2012) por 60 dias e arrecadou R$
1.752,00. Uma das estratégias utilizadas pelo coletivo foi de colocar o valor de R$ 500,00
como meta para que fosse facilmente atingido e não houvesse risco de ser cancelado,
embora o valor necessário para cobrir todas as paradas de ônibus fosse de R$ 6.000,00. Em
2014, foi lançada uma nova edição do projeto (2014), que arrecadou R$ 2.165,00, e tinha
como objetivo fazer com que as pessoas "adotassem uma parada de ônibus". O projeto se
tornou bastante popular no país e se espalhou para cerca de 35 cidades brasileiras, além de
ter sido notícia em sites internacionais como o CityLab e o The Guardian.
68
Através do financiamento coletivo, é possível dar vida a projetos com a ajuda e
colaboração de uma comunidade, aproximando as pessoas e trazendo novas ideias criativas
à tona. A Múrmura(2014), plataforma colaborativa que nasceu em Porto Alegre, tem como
objetivo fazer acontecer projetos que melhorem ambientes urbanos. Para isso, utiliza o
crowdfunding como forma de arrecadar dinheiro para os projetos, através da ajuda
financeira de patronos, pessoas que contribuem com qualquer quantia mensalmente e
decidem quais ideias recebem o dinheiro para serem executadas. Além disso, realizam
eventos de cocriação e reuniões criativas. Desta forma, a colaboração é capaz de criar novas
formas de interação entre os cidadãos e as cidades. O balanço financeiro do valor doado
pelos patronos fica disponível para o público, valorizando a transparência e contribuindo
para a confiança na empresa.
A Múrmura realiza desafios onde as pessoas enviam ideias de como melhorar a
cidade. Um dos desafios era encontrar maneiras de dar vida aos espaços ociosos das
cidades. Foram enviadas 18 ideias que vieram de 13 cidades diferentes. O projeto vencedor
foi o "+ Cor Pvr" (2014), e que tem como propósito revitalizar espaços ociosos abandonados
através das habilidades de diretores de arte e designers locais, utilizando materiais simples e
possíveis de encontrar em qualquer lugar, como fitas adesivas, tintas, sprays, stencil e,
principalmente, a criatividade. O vencedor está recebendo mentoria do grupo para colocar a
ideia em prática. É possível acompanhar como o projeto está sendo realizado através da
plataforma online Trello ([2014]), de forma aberta e transparente com o público. O desafio
do mês de setembro é "Como você usaria R$ 3.000,00 para ter ruas mais limpas em sua
cidade?". Já foram enviadas nove ideias, abertas ao público, que serão votadas pelos
patronos e pela comunidade.
c) Ensina Aí
Surgiu em Porto Alegre, em 2013, um grupo no Facebook chamado Ensina Aí
([2014]). Segundo seu criador, o grupo tem como objetivo compartilhar conhecimentos
entre as pessoas. O grupo cresceu e se espalhou para outras cidades do país, contando
atualmente com 2.080 membros. Para participar, basta criar um post oferecendo todas as
habilidades que se está disposto a ensinar à outra pessoa e quais há interesse em aprender.
Os membros interessados entram em contato através de comentários no próprio post ou
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mensagem privada. As trocas de conhecimento não envolvem dinheiro. Entre as habilidades
mais procuradas e oferecidas estão línguas como Inglês e Espanhol. Atualmente o grupo vem
sendo utilizado para divulgar cursos e eventos relacionados à cultura e conhecimento,
porém ainda cumpre o seu propósito inicial.
d) Caronas
Um estilo de vida colaborativo baseado no compartilhamento de espaço que vem
surgindo através de grupos no Facebook é o compartilhamento de caronas. Se, antes da
Internet, pegar caronas significava entrar no carro de um conhecido ou arriscar pedir carona
na rua para um estranho, com as redes sociais, é possível ver o perfil e a reputação das
pessoas interessadas em compartilhar, favorecendo, desta forma, a confiança entre os
usuários e aumentando o alcance das caronas para um número muito maior de pessoas.
Em Porto Alegre, existem diversos grupos que promovem a divulgação e a busca por
caronas. A maioria deles tem como objetivo juntar um grupo de pessoas para viajar para
fora da cidade, diminuindo assim os custos e promovendo a sustentabilidade e a interação
entre as pessoas. O grupo "Caronas Porto Alegre" ([2014]) conta atualmente com 21.615
membros. Mesmo que grande parte das postagens procurando caronas não sejam
respondidas, algumas são bem-sucedidas.
e) Turismo colaborativo
O Couchsurfing (c2014), site que tem como objetivo criar uma rede entre viajantes e
comunidades locais através da hospedagem gratuita, mostra que Porto Alegre já faz parte de
uma rede mundial de colaboração. Através do site, são realizados encontros semanais entre
os participantes, que acontecem todas as quintas-feiras, a partir das 19h, em um bar no
bairro Cidade Baixa. Os eventos são abertos ao público e recebem, em média de 10 a 40
pessoas, e são oganizados pelos CS Ambassadors, membros que participam de forma ativa
há bastante tempo. Existem atualmente 9.822 membros de Porto Alegre e região no site,
número significativo se comparado com os 55 mil usuários de São Paulo, levando em conta
que a capital gaúcha tem um número de habitantes quase 10 vezes menor.
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O Airbnb ([2014]), site que possibilta hospedar viajantes por um determinado valor
em um espaço inutilizado da residência, também conta com usuários porto-alegrenses. Ao
procurar por hospedagens disponíveis na cidade através do sistema de buscas do site,
aparecem 944 anúncios, sendo 392 para aluguel de um quarto inteiro, 39 para aluguel de
quarto compartilhado e 563 para aluguel da residência inteira. As diárias variam de R$ 25,00
a até mais de R$ 2.500,00.
3.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Com base no levantamendo de dados sobre o cenário de consumo colaborativo em
Porto Alegre, foram selecionados objetos de estudo considerados relevantes para alcançar
os objetivos desta pesquisa, categorizados nos três sistemas vistos anteriormente,
referentes à classificação de Botsman e Rogers (2010): sistemas de serviços de produtos,
onde o sistema de compartilhamento de bicicletas BikePoa será analisado; mercados de
redistribuição, nos quais os briques do Facebookatuarão como objeto de estudo; estilos de
vida colaborativos, que terão como objeto central de estudo o espaço compartilhado Casa
Liberdade.
Para estes três blocos foram entrevistados três usuários de cada um dos objetos de
estudo. Para finalizar a pesquisa, foram entrevistados três idealizadores de projetos
colaborativos na cidade, que têm um conhecimento profissional e completo sobre o assunto.
Todos os entrevistados disponibilizaram sua identidade para esta pesquisa, sem restrições.
Portanto, serão apresentados pelo nome completo e a entidade/projeto ao qual estão
ligados.
No primeiro bloco, foram entrevistados três usuários do serviço de
compartilhamento de bicicletas BikePoa: Alana Pereira, Cristian Cardozo e Mariana Fonte.
No segundo bloco foram entrevistados três consumidores dos briques do Facebook: Sérgio
Luis Pestana, Brenda Costa e Matheus Kapitansky. No terceiro bloco foram entrevistados
três frequentadores da Casa Liberdade: Fernanda Boni, Ryana Gonçalves e Felipe Benites
Cabral. No quarto e último bloco, foram entrevistados três idealizadores de festivais
relacionados à economia colaborativa em Porto Alegre: Victor Hugo Reinman, Alessandra
Guglieri e Philipe Martins.
71
As entrevistas tiveram como base roteiros segmentados conforme os diferentes
objetos de estudo, tendo como principais questões centrais o relacionamento dos
entrevistados os respectivos objetos de estudo, a cultura colaborativa no mundo e em Porto
Alegre, bem como as vantagens e desafios da mesma, o público envolvido neste tipo de
mercado o futuro da economia colaborativa na cidade. Os roteiros encontram-se disponíveis
nos Apêndices A, B, C, D e E.
3.3.1 Sistemas de Serviços de Produtos
Para compreender como os sistemas de serviços de produtos vêm se manifestando
em Porto Alegre, foram entrevistados três usuários do BikePoa, a fim de coletar informações
e opiniões sobre o sistema de compartilhamento de bicicletas na cidade. Os usuários
selecionados fazem ou já fizeram o uso recorrente do sistema e têm conhecimento total do
funcionamento e compreensão do desenvolvimento do compartilhamento de bicicletas na
cidade.
Botsman e Rogers (2010) afirmam que os sistemas de serviços de produtos dão às
pessoas a possibilidade de ter acesso a um produto apenas quando necessário, valorizando a
sustentabilidade e o compartilhamento. Através do BikePoa, é possível perceber que esta
nova mentalidade já existe em Porto Alegre. Embora ainda restrita a um pequeno grupo de
pessoas, o BikePoa cresceu consideravelmente desde o seu surgimento, há dois anos atrás.
Alana Pereira, 30 anos, usuária do sistema desde outubro de 2013, começou a utilizar
o BikePoa quando sentiu a necessidade de um meio de transporte que não dependesse do
trânsito. Enquanto esperava um ônibus que estava demorando para chegar, decidiu
experimentar o sistema, e começou a utilizar o passe mensal de R$ 10,00. Passou a utilizar as
bicicletas, então, para a mobilidade urbana. Cristian Cardozo, 20 anos, ficou sabendo que
Porto Alegre ganharia um sistema de compartilhamento de bicicletas através de uma notícia
no jornal Zero Hora. Morador do Centro da cidade, onde as primeiras estações foram
instaladas, começou a utilizar no Gasômetro para passeio, posteriormente aderindo às
bicicletas para se locomover ao trabalho. Mariana Fonte, 29 anos, começou a utilizar o
sistema em março de 2013. Com vontade de andar de bicicleta nas ruas de Porto Alegre,
porém com receio de comprar uma bicicleta e não se adaptar ao trânsito da cidade, ela
72
decidiu experimentar o BikePoa. Começou a utilizar para ir à faculdade, de um lugar a outro,
fazer exercícios e passear.
O BikePoa se encaixa no modelo denominado, por Botsman e Rogers (2010), sistemas
de serviços de produtos de "uso". As bicicletas têm uma elevada capacidade ociosa,
permanecendo a maior parte do tempo sem uso. Seja como forma de mobilidade urbana,
apenas para o lazer ou até como esporte, a frequência de uso do sistema entre os
entrevistados varia de duas a cinco vezes por semana. Se tivessem suas próprias bicicletas,
elas passariam muito tempo guardadas. Através do compartilhamento, diversas pessoas
utilizam o mesmo produto, maximizando assim o seu potencial de uso e evitando o
desperdício.
Os três entrevistados, embora não conheçam pessoalmente um grande número de
pessoas que também utilizem o sistema com frequência, afirmam que, principalmente nas
estações em pontos estratégicos da cidade, em bairros como Bom Fim, Moinhos de Vento,
Cidade Baixa, e também na Usina do Gasômetro, existe dificuldade em encontrar bicicletas
disponíveis. Cristian conta que, logo que o BikePoa surgiu na cidade, a novidade fez com que
muitas pessoas experimentassem o sistema, mesmo que apenas para passeio no final de
semana. Alana menciona que, em dias úteis, há maior uso das bicicletas durante a manhã e
o final da tarde, os horários de "pico" de mobilidade urbana. Além disso, comenta que vê
pessoas de diferentes estilos andando nas bicicletas, desde jovens universitários a famílias e
pessoas de "terno e gravata". Isso mostra que, embora o BikePoa ainda seja um sistema
novo na cidade, existe uma grande demanda e um crescente interesse por parte da
população.
Para Botsman e Rogers (2010), o sucesso de um sistema de serviço de produto está
na sua capacidade de satisfazer as necessidades de posse dos indivíduos enquanto os
produtos estiverem sob seu uso, além de ser conveniente, seguro e mais eficaz em termos
de custos do que a propriedade.Entre uma das principais vantagens apontadas pelos três
entrevistados está a praticidade do sistema, que permite a mobilidade através de bicicletas
sem a preocupação de encontrar um local seguro para o estacionamento e de manutenção.
Além disso, o baixo custo do sistema permite que as pessoas tenham acesso às
bicicletas sem o custo inicial da compra. Um ponto em comum apontado pelos entrevistados
foi a falta de estrutura nos prédios da cidade para guardar bicicletas que, na maioria das
vezes, não oferecem espaço e até mesmo proibem que os moradores deixem suas bicicletas
73
na garagem. Com o BikePoa, essa preocupação não existe. Além disso, Cristian apontou que
muitos residentes de Porto Alegre conhecem apenas uma parte da cidade, seja por falta de
praticidade ou até mesmo por preconceito, e o BikePoa pode contribuir para que as pessoas
explorem novos espaços. Mesmo se tivessem uma bicicleta própria, os três entrevistados
afirmaram que continuariam a utilizar o BikePoa, pelo baixo custo, pela facilidade e pela
convenência do sistema.
As tecnologias modernas permitem que as pessoas encontrem produtos e serviços
que necessitam com custo baixo, de forma rápida e confiável (BOTSMAN; ROGERS, 2010). O
BikePoa, que pode ser acessado através de uma ligação ou aplicativo no celular, dá acesso a
um mapa com GPS que mostra todas as estações da cidade e o número de bicicletas
disponíveis. O sistema também permite a compra de um passe único ou mensal online
através de cartão de crédito. Alana, no entanto, aponta que isso pode excluir uma parcela da
população do acesso ao sistema. Quem não possui um smartphone, por exemplo, não tem
acesso ao mapa em tempo real, dificultando a localização, e ainda há muitas pessoas que
não utilizam cartão de crédito. Estes dois pontos podem atuar como fatores que limitam o
uso das bicicletas.
Além disso, para um sistema de compartilhamento ser bem-sucedido, é necessário
que este alcance um dos princípios do consumo colaborativo, definidos por Botsman e
Rogers (2010) como massa crítica. Os consumidores precisam estar satisfeitos com a
conveniência à sua disposição. No caso do BikePoa, para que um grande número de pessoas
opte por se deslocar através de bicicletas ao invés de outros meios de transporte, é
necessário que esta opção seja prática e vantajosa, tendo estações de estacionamento e
retirada de bicicletas bem distribuídas pela cidade, um número suficiente de bicicletas
disponíveis a qualquer hora, e uma boa estrutura de ciclovias. Além disso, Gansky (2011)
explica que, para que soluções compartilhadas como o BikePoa sejam possíveis, é preciso
criar produtos e serviços ideais para este modelo colaborativo. Eles produtos devem ser
criados com base em quatro aspectos principais: durabilidade, flexibilidade, passibilidade de
conserto e sustentabilidade.
Embora Mariana afirme que o BikePoa funcione melhor do que esperava, tanto a
cidade quanto o sistema ainda enfrentam problemas que implicam em um maior e melhor
uso do compartilhamento de bicicletas. Os três entrevistados já passaram por uma situação
que dizem ser um tanto comum: embora no sistema online as bicicletas sejam liberadas para
74
uso, na hora de retirá-las da estação, elas não são liberadas. Além disso, as bicicletas podem
apresentar problemas de manutenção, como pneu murcho e correia solta. Para isso, é
importante verificar antes de retirar a bicicleta da estação. Estes problemas, embora
passíveis de conserto, vão contra o princípio da durabilidade. Alana ainda comenta que,
mesmo que adaptáveis a diferentes usuários, já teve dificuldades com relação à regulagem
da altura dos bancos das bicicletas, construídos para serem de fácil ajuste. Um problema em
comum apontado pelos três entrevistados é o horário de funcionamento do BikePoa, que
permanece disponível apenas até às 22 horas, e poderia ser estendido até a meia-noite. O
tempo de uso permitido das bicicletas — uma hora — também apareceu como incômodo, já
que muitos trajetos têm duração maior.
Outro problema que vai conta o princípio da massa crítica é a disitribuição das
estações na cidade. Para Cristian, as estações se localizam em pontos estratégicos, cobrindo
a maior parte dos pontos turísticos — Mercado Público, Teatro São Pedro, Gasômetro,
Redenção e Iberê Camargo — e a região central tem um número de estações suficiente. No
entanto, ele sente falta de uma estação na PUCRS, onde estuda. Para Alana, o sistema ainda
não atinge grande parte da cidade, e faltam estações principalmente nas zonas norte e sul.
Mariana complementa que gostaria de utilizar as bicicletas na região do Shopping Iguatemi,
mas entende que em algumas regiões da cidade, como na região central, a cultura da
bicicleta ainda é maior. Os três entrevistados concordam que o número de pessoas que
utiliza o sistema é propocional ao número de estações e de bicicletas. "Se não há um
público, cria-se um público. Se teve demanda na região central, existe demanda em outras
regiões da cidade", afirma Cristian.
Um ponto em comum entre os três entrevistados é o fato de que todos tinham o
costume de andar de bicicleta em ambientes mais propícios: em parques durante a infância,
na praia, em cidades pequenas. O trânsito de Porto Alegre e a falta de estrutura da cidade,
principalmente com relação a ciclovias, é um fator que impede muitas pessoas de aderirem
à bicicleta como meio de transporte urbano. Mariana e Alana disseram que criar coragem de
encarar as avenidas movimentadas foi o primeiro passo para começar a pedalar. Já Cristian
afirma que, antes de começar a utilizar o BikePoa, não entendia a importância das ciclovias,
que ainda são poucas em Porto Alegre. Ele ainda aponta que, embora a cultura da bicicleta
esteja ganhando força, as pessoas vão aderindo aos poucos, e o aumento do número de
ciclistas é diretamente proporcional ao aumento de ciclovias na cidade.
75
Fica claro, desta forma, que Porto Alegre ainda tem um longo caminho pela frente
para que o princípio da massa crítica seja alcançado e ativo na cidade. "Ao contrário de
países desenvolvidos, o Brasil ainda têm problemas de infraestrutura, como carência de ruas
asfaltadas e falta de investimento em ciclovias", afirma Cristian. Alana conta que, em cidades
europeias, como Paris, Amsterdam e Berlim, as pessoas utilizam o sistema de
compartilhamento de bicicletas com muita frequência no dia-a-dia, e turistas utilizam para
conhecer a cidade. Mariana estava em Paris quando o bikesharing foi instalado na cidade
pela primeira vez, em 2007 e, embora não tenha feito uso do sistema, disse que funcionava
muito bem e que muitas pessoas utilizavam.
No entanto, os três entrevistados concordam que, no Brasil, ainda há forte
predominância de uma cultura carrocêntrica. Para que o BikePoa cresça ainda mais na
cidade, é necessário não somente investir em infraestrutura, como também mudar a
mentalidade das pessoas. Mariana afirma que, se a cidade tivesse mais ciclovias, o
compartilhamento de bicicletas teria potencial para se tornar um estilo de vida de muitas
pessoas. Para Cristian, ainda existe uma resistência em Porto Alegre, mas uma vez que as
pessoas experimentam um meio de transporte alternativo, elas acabam introduzindo-os às
suas vidas. Isso vai ao encontro das ideias de Botsman e Rogers (2010) que declaram que, ao
experimentar uma forma de consumo colaborativo, as pessoas se tornam mais receptivas a
soluções coletivas, pois estas experiências são capazes de causar uma profunda mudança na
mentalidade do consumidor. Alana afirma que:
Porto Alegre é muito careta, mas principalmente nos últimos dois anos, a cidade está se tornando mais aberta a novas experiências culturais. A bicicleta é o que tem mais penetração. No início quem utilizava mais eram os jovens, universitários, publicitários, mas agora já é possível ver famílias e trabalhadores utilizando o sistema.
Bostman e Rogers (2010) acreditam que os benefícios da colaboração têm o
potencial de alcançar um número cada vez maior de pessoas, independentemente do
motivo que as levam a compartilhar. Alguns consumidores colaborativos pensam no futuro e
em aspectos sociais, enquanto outros são motivados por uma urgência prática a fim de
encontrar uma forma melhor de realizar ações cotidianas. Para Alana, o BikePoa pode
funcionar como uma solução imediata para alguns, mas pode se tornar um estilo de vida
para outros: um estilo de vida para o dia-a-dia (mobilidade urbana) ou um estilo de vida de
final de semana (lazer e esporte).
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Não somente as pessoas podem se beneficiar do bikesharing, mas também as
empresas especializadas em venda de bicicletas. Os três entrevistados acreditam que não
exista concorrência direta entre os dois sistemas. Muitas pessoas deixam de comprar uma
bicicleta por medo de investirem em um produto que não têm a certeza de que vão utilizar
com frequência. Ao invés de gerar um mercado competitivo, o BikePoa dá a estas pessoas a
possibilidade de experimentar a bicicleta no ambiente urbano e, ao adaptarem-se ao
ciclismo urbano, podem sentir a necessidade de adquirir a sua própria bicicleta com maior
convicção.
Gansky (2011) acredita que as pessoas estão cada vez mais considerando modelos
alternativos de estilos de vida, e se tornando mais dipostas a experimentar formas
colaborativas de consumo. Para Cristian, Porto Alegre irá, aos poucos, desenvolver uma
cultura ciclista mais significativa. Para isso, é necessário que o governo invista em estrutura
para ciclovias e em um maior alcance das estações do BikePoa, que resultará no aumento do
número de usuários. Quanto mais pessoas utilizam, mais pessoas têm vontade de utilizar.
Isso se aplica ao princípio da prova social da massa crítica, definido por Botsman e Rogers
(2010). Mariana acredita na cultura colaborativa como filosofia de vida e, para Alana, o
compartilhamento de bicicletas já não é uma tendência, e sim uma realidade, que só tende a
crescer.
3.3.2 Mercados de Redistribuição
Para entender como os mercados de redistribuição se formaram e se desenvolveram
em Porto Alegre, foram entrevistados três usuários dos briques do Facebook. Os
entrevistados são usuários ativos dos briques desde que estes começaram a se popularizar
em Porto Alegre, há cerca de dois a três anos atrás, e acompanharam todo o crescimento
desta forma de mercado na cidade.
Segundo Botsman e Rogers (2010), os mercados de redistribuição têm como base a
troca, compra e venda de produtos usados, que podem ser "redistribuídos" para outras
pessoas que os necessitem. Brenda Costa, 20 anos, usuária ativa dos grupos femininos,
começou a utilizar os briques para se desfazer de peças de vestuário que não estavam mais
sendo aproveitadas, e adquirir outras por preços menores do que nas lojas. Matheus
Kapitansky, 24 anos, também acredita que vender o que não se usa e comprar com menor
77
custo são os principais motivos que levam às pessoas a utilizar os briques, e que o fato de
poder buscar por produtos na Internet, sem o compromisso de ir até uma loja, é uma das
principais vantagens. No entanto, o principal motivo que levou ele a vender seus objetos
usados foi economizar para um intercâmbio. "É uma forma de trocar algum produto que não
se aproveita ou reverter isso em dinheiro", afirma Brenda. Já Sérgio Luis Pestana, 20 anos,
usuário do Brique da Gurizada e de briques de troca e venda de livros, decidiu fazer parte
dos briques por estes tratarem de consumo de uma forma um pouco diferente e,
principalmente, pelos preços acessíveis.
Os briques no Facebook surgiram com o objetivo de, através de grupos na rede
social, facilitar a transação destes produtos, através da segmentação em modalidade de
produtos, da rápida e prática interação entre os membros e do maior alcance da divulgação
dos produtos. Botsman e Rogers (2010) afirmam que, antes da Internet, era difícil manter
grupos de pessoas com desejos e necessidades semelhantes alinhados. Para que uma pessoa
que tivesse algo para dar e outra que quisesse aquele item se encontrassem era uma tarefa
complicada, tornando a troca de produtos um tanto inconveniente. Isso se aplica ao
princípio básico fundamental do consumo colaborativo, a massa crítica. Para que as pessoas
deem preferência aos mercados de redistribuição ao invés de lojas, é necessário que haja
opções de tamanhos, cores e modelos suficientes para que todas as pessoas envolvidas nas
trocas saiam satisfeitas.
No entanto, embora as redes sociais tenham facilitado esse encontro, os três
entrevistados acreditam que realizar trocas ainda é uma tarefa desafiadora, devido à
incompatibilidade de gostos, tamanhos e valores percebidos entre os usuários. Em razão
disso, tanto Brenda quanto Matheus nunca realizaram a troca de produtos. Sérgio, no
entanto, é adepto da troca de livros através dos briques, porém ressaltou que nunca
encontrou exatamente o que estava procurando para trocar. Os três entrevistados dão
preferência para a compra e venda de produtos usados e, às vezes, até novos.
Segundo Bauman (2008), muitas vezes os consumidores se desfazem de um produto
ainda em boas condições de uso apenas pelo desejo de usufruiu algo novo e aperfeiçoado,
gerando desperdício. Os briques surgem como forma de redistribuir estes produtos, e a
variedade de bens comercializados é enorme. Para Botsman e Rogers (2010), os mercados
de redistribuição funcionam melhor para produtos que têm como objetivo atender a uma
necessidade de curto prazo ou produtos que ficam menos atraentes após um tempo, como
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livros, jogos e roupas. Apesar de já ter vendido um celular e um skate, Matheus prefere
comprar objetos que não necessitam de um alto investimento. Brenda também dá
preferência para comprar roupas, acessórios e calçados. Da mesma forma, Sérgio já vendeu
celulares, mas opta por comprar jogos para video games e livros. Segundo ele, comprar
produtos de valor mais elevado, como eletrônicos, deixa as pessoas mais inseguras.
A negociação dos produtos e do local de encontro ocorre, na maioria das vezes,
através de mensagem privada. Para isso, o interessado na compra deve adicionar como
amigo no Facebook o vendedor do produto. Desta forma, é possível analisar o perfil e a
reputação dos envolvidos. Para Botsman e Rogers (2010), a reputação se torna uma moeda
para construir confiança entre estranhos e, principalmente em relações entre pares, sem o
intermédio de uma empresa, é o ponto chave para que um negócio seja bem sucedido. Um
estudo do Pew Center comprovou que um usuário ativo do Facebook tem três vezes mais
chances do que um não usuário de confiar nas pessoas (Botsman, 2010). Sérgio afirma que a
confiança em alguém desconhecido é necessária para uma boa negociação: "Eu comprei um
celular usado e, na hora, faltava R$ 50,00. Pedi para depositar o dinheiro na conta do
vendedor. Ele hesitou, mas aceitou, e no final deu tudo certo".
Os três entrevistados afirmaram que, antes de irem ao local de encontro combinado,
pedem para visualizar fotos claras dos produtos e procuram se têm amigos em comum na
rede social. "Eu sempre tomo cuidado na hora de vender um produto, analiso o perfil da
pessoa, pois existe gente que mente, e até mesmo rouba", conta Matheus. Embora Botsman
e Rogers (2010) afirmem que os casos de fraude e mau comportamento sejam apenas uma
pequena porcentagem dentro das comunidades online, os três entrevistados contaram que,
recentemente, os briques têm recebido diversas denúncias de experiências negativas.
Brenda explica que, quando alguma menina passa por uma situação ruim, posta no
grupo como forma de aviso aos outros membros e pede à moderadora que "infratora" seja
banida. Muita gente vende produtos estragados, ou peças usadas como se fossem novas, ou
mostram interesse no produto e desaparecem. "Já aconteceu comigo de eu ir até o local
combinado e a menina não aparecer. É um prejuízo de tempo e dinheiro", relata. Matheus
conta que existe muitas pessoas que vendem celulares roubados. Embora nunca tenha tido
uma experiência negativa, conhece casos de pessoas que já tiveram, e acredita que os
golpistas não devem ser denunciados apenas nos grupos do Facebook, mas também na vida
real. Sérgio já passou por duas situações indesejáveis: durante uma troca de livros, percebeu
79
que o produto que recebeu estava rasgado e amassado; ao comprar um celular novo através
de um brique para um amigo, percebeu que foi enganado quando recebeu um celular usado
e sem as especificações técnicas que deveria ter. Ele afirma que, embora corra esses riscos,
sabe que é uma troca, e que não há garantia.
Apesar da chance de experiências negativas, os três entrevistados afirmam que Porto
Alegre tem se adaptado bem à cultura dos briques online. Sérgio, usuário também de
briques nacionais, ressalta que o fato da capital gaúcha não ser uma cidade tão grande como
São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, favorece a aproximação e o encontro das pessoas.
Para Botsman e Rogers (2010), os mercados de redistribuição geram, através das interações
nas redes sociais, um sentimento de comunidade na vida real. No entanto, Sérgio argumenta
que, embora Porto Alegre tenha essa vantagem em relação a outros centros brasileiros, os
briques não foram capazes de formar uma comunidade na cidade.
Outro importante benefício que Botsman e Rogers (2010) apontam sobre os
mercados de redistribuição é sua capacidade de maximizar o uso de produtos, evitando
assim o desperdício e quebrando o sistema de hiperconsumismo. Para Brenda, os briques
apenas funcionam como uma comunidade ou como um sistema sustentável quando
valorizam primeiramente a troca, com os únicos objetivos de passar adiante o que não se
usa mais e reaproveitar produtos. Os usuários destes grupos de escambo fazem dos
mercados de redistribuição uma filosofia de vida, enquanto os briques do Facebook mais
populares são voltados para a compra e venda de produtos e têm foco comercial. "Os
briques que eu participo valorizam muito a marca da roupa e visam o lucro", confirma
Brenda. Sérgio complementa ao afirmar que os briques apenas atuam com estes valores
sustentáveis e de comunidade quando a finalidade é o desapego, seja através da troca ou da
venda por valores baixos. Matheus reconhece que, embora possa se tornar um estilo de vida
para algumas pessoas, a maioria dos usuários dos briques tem interesse em economizar ou
ganhar dinheiro.
No entanto, logo que os briques começaram a se tornar populares na cidade, os
usuários atuavam de forma bem diferente de hoje. Brenda conta que, no início, as pessoas
participavam com o objetivo de vender, comprar e trocar as peças por valores mais baixos
que nas lojas, e uma grande quantidade de meninas participava. "Hoje, isso mudou muito,
virou um comércio de verdade, com muita loja vendendo roupas novas e caras. Agora
ninguém mais se preocupa com o próximo", conta. Matheus concorda que, há dois anos
80
atrás, a maioria dos produtos vendidos eram usados, enquanto hoje se vê muitos produtos
novos à venda, ou produtos usados com valores altos. "Agora utilizo os briques bem menos
do que antes. Li sobre muitos acontecimentos de assaltos, produtos quebrados, estragados,
e isso me desanimou", explica.
Devido a estes problemas que vêm ocorrendo, o futuro dos briques do Facebook em
Porto Alegre não parece muito favorável para os entrevistados. Embora Sérgio acredite que
este tipo de mercado tenha tendência a crescer cada vez mais e trazer para o meio
onlinebriques que atualmente atuam em espaços físicos, como o Brique da Redenção, para
Matheus, os briques foram apenas uma moda passageira e, por terem perdido seu propósito
inicial, tendem a desaparecer em poucos anos. Brenda acredita que, no futuro, os briques
virarão grandes lojas online, principalmente revendedoras de produtos comprados na China,
pois já se vê isso acontecendo regularmente. É possível perceber, então, que os mercados de
redistribuição porto-alegrenses ainda estão longe de terem o futuro esperado por Botsman
e Rogers (2010), no qual o conceito de "propriedade temporária" se torna tão comum
quanto comprar algo novo.
3.3.3 Estilos de Vida Colaborativos
Para compreender como o sistema de estilos de vida colaborativo se manifesta em
Porto Alegre, foram selecionadas três pessoas que frequentam a Casa Liberdade, espaço
compartilhado de forma totalmente aberta ao público. A casa passou por vários estágios até
a sua abertura, e os três entrevistados se tornaram usuários do espaço em diferentes fases,
trazendo uma visão completa de como a casa evoluiu ao longo da sua trajetória.
Botsman e Rogers (2010) explicam que o compartilhamento de espaço, tempo,
dinheiro e habilidades não surgiu com a Internet, e sim remete a atividades exercidas
antigamente que, com o desenvolvimento da sociedade de consumo, muitas vezes
acabaram esquecidas ou desinteressantes. No entanto, a tecnologia foi a ferramenta que
faltava para que este tipo de atividade voltasse à tona, trazendo novos valores a estas
soluções, como abertura, comunidade, acessibilidade, sustentabilidade e colaboração. Estes
valores são facilmente identificáveis na Casa Liberdade.
Ryana Gonçalves, 18 anos, é membro da casa desde maio deste ano. Conheceu o
espaço através de pessoas que já frequentavam, e começou a frequentar com o objetivo de
81
fazer novas amizades, participar de eventos e encontros, e ter acesso a um espaço de
convivência, estudo e trabalho. Segundo ela, para cada pessoa a casa tem um propósito
diferente. Atualmente participa ativamente organizando eventos e sendo responsável pela
parte financeira do espaço. Fernanda Boni, 24 anos, frequenta a casa desde agosto de 2013,
antes do modelo atual ser instituído, em janeiro deste ano. Quando deixou seu emprego,
decidiu empreender. Trabalhando home office, percebeu que precisava de contatos e trocas
com outras pessoas. A influência do namorado, que já frenquentava a casa há alguns meses
foi o fator que a impulsionou a também fazer parte, buscando conhecer pessoas, ajudar
quem precisa e trocar ideias. Felipe Benites Cabral, 32 anos, é usuário da Casa Liberdade
desde que esta era um espaço compartilhado de trabalho entre três empresas. Hoje utiliza a
casa como espaço físico para a realização do Estaleiro Liberdade, um projeto de educação
baseado no auto-conhecimento, para que as pessoas tenham autonomia e possam entender
o que realmente querem fazer de suas vidas.
Como já mencionado, a Casa Liberdade nem sempre foi aberta ao público de forma
livre. Felipe conta que o imóvel foi locado em junho de 2011, pela empresa de software
Engage, onde trabalhava na época, que tem foco em projetos colaborativos e desenvolveu a
plataforma online do site de financiamento coletivo Catarse. Como a casa é enorme e
sempre teve muitos espaços ociosos, pessoas próximas com ideais semelhantes foram
convidadas para compartilhar o espaço também. Assim, mais duas empresas — a Mais Você
e a Semente Negócios — passaram a dividir os custos e o espaço. Em 2013, o projeto do
Estaleiro Liberdade nasceu, e muitas pessoas que participavam começaram a utilizar a casa
como espaço para desenvolver suas ideias e projetos. Os custos da casa eram divididos entre
as pessoas que frequentavam de forma igualitária. Depois de diversas conversas sobre o
futuro da casa, foi decidido pelos seus atuais usuários, que ela se tornaria um espaço com
total abertura para o público, baseado em contribuições financeiras voluntárias.
Fernanda explica que o fluxo maior de pessoas na casa fez com que o interesse em
participar de um espaço compartilhado crescesse, porém nem todos tinham condições
financeiras de contribuir mensalmente com um custo fixo. Grande parte do público que
frequenta a casa está começando sua vida profissional, criando projetos, e ainda não tem
uma base financeira sólida. Além disso, através de uma reunião em São Paulo, na antiga
Casa Madalena 80, que tem os mesmos princípios da Casa Liberdade, foi decidido que o
melhor caminho a seguir seria o da abundância: de ideias, de projetos e de pessoas. Assim,
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todos que têm interesse podem participar e contribuir da forma que puderem, seja
financeiramente, com eventos, ideias ou manutenção.
Os principais benefícios da Casa Liberdade estão alinhados diretamente com os
valores de abertura, comunidade, acessibilidade, sustentabilidade e colaboração. Segundo
Felipe, existe uma vantagem ideológica em saber que existe um espaço acessível a todos em
Porto Alegre, a qualquer dia e horário, basta ter uma cópia da chave. Além disso, o fato de
ser um espaço compartilhado e aberto traz de volta os valores de comunidade e de
cooperação, além de facilitar o encontro de novas pessoas e o desenvolvimento de qualquer
projeto ou atividade.
A Casa Liberdade atua diretamente sob o princípio básico baseado no conceito de
bem comum, definido por Botsman e Rogers (2010), que refere-se aos bens públicos
compartilhados entre uma população. A Internet, maior exemplo de bem comum da
história, mostra como as pessoas são capazes de se auto-organizar em prol do interesse
coletivo. A organização da casa se dá por um grupo no Facebook, onde as pessoas podem
agendar eventos no espaço, compartilhar informações e interagir entre si. Fernanda conta
que, para criar um evento na casa, basta ver se a data está disponível em uma agenda
online. Os raros conflitos que aconteceram foram por acaso, e facilmente resolvidos.
Futuramente, a casa terá um agendamento online através do site, que está em
desenvolvimento.
As finanças da casa também têm base no bem comum, e são expostas de forma
transparente e aberta no grupo do Facebook, onde ficam visíveis a todos os usuários que
desejam contribuir. Muitas vezes, há curiosidade com relação à viabilidade do modelo de
funcionamento da casa, que já arrecadou, em dez meses, cerca de R$ 80 mil reais
voluntariamente. Ryana, atualmente responsável pelo cuidado das finanças da casa, explica
que a meta mensal que precisam atingir é de R$ 8 mil reais, gastos que incluem o valor do
aluguel, Internet, água, energia elétrica, limpeza, compras de supermercado e custos extras.
Tudo é listado em uma planilha disponível para qualquer pessoa interessada. As doações
podem ser feitas através de depósito ou transferência bancária, pagamento online realizado
com cartão de débito ou crédito, doações recorrentes mensais através da plataforma
onlineUnlock, ou pessoalmente em dinheiro, em uma caixinha na casa.
Segundo Ryana, o valor necessário tem sido arrecadado mensalmente desde a
abertura da casa, porém nos últimos dois meses houve dificuldades. Algumas pessoas
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envolvidas de forma ativa com a casa têm buscado compreender a razão pela qual isto está
acontecendo, e uma forma de tornar as contribuições financeiras mais eficientes, bem como
as relações dentro do espaço. "Queremos novas pessoas circulando aqui dentro, e que as
pessoas que já frequentam continuem frequentando a casa. Não é só pagar as contas no
final do mês, tem que haver um sentido para a casa existir", afirma Ryana. Felipe
complementa ao dizer que existem inúmeras maneiras de sustentar a casa, mas a principal
estratégia, que ainda não foi materializada, é utilizar o espaço para realizar projetos que
deem retorno financeiro ou gerem algum tipo de riqueza, tanto para os realizadores quanto
para a casa. Como afirmaram Botsman e Rogers (2010), ao buscar uma solução ou um
movimento de pessoas com interesses semelhantes, o consumo colaborativo cria valor para
todos os envolvidos.
Existem, no entanto, outros desafios que a Casa Liberdade enfrenta como espaço
compartilhado, além da arrecadação do dinheiro. Para Fernanda, ainda há falta de
informação sobre como o espaço funciona, como é possível participar e contribuir e como
deve ser mantido. Além disso, as noções de cuidados da casa podem ser diferentes de uma
pessoa para outra, principalmente na questão de limpeza e manutenação, o que é normal
acontecer em um ambiente novo. Para isso, ela considera importante trazer o foco para as
relações entre as pessoas que frequentam a casa. Felipe complementa ao declarar que
existe a teoria dos comuns, na qual as pessoas tentarão individualizar o ganho de qualquer
bem comum e acabar exaurindo os recursos deste para outras pessoas. "Então é uma
questão de padrão de pensamento", afirma. Segundo ele, o maior desafio organizacional é
não reclamar e fazer algo em prol do que se está causando insatisfação. Para Ryana, a maior
dificuldade está relacionada, também, aos cuidados da casa. No entanto, nenhum dos três
entrevistados souberam de conflitos signficantes.
Os benefícios e as dificuldades da Casa Liberdade estão diretamente relacionados à
confiança entre as pessoas que frequentam o espaço. Segundo Botsman e Rogers (2010), a
sociedade atual está vivendo um momento em que existe a oportunidade de reinventar
parte de como o sistema socioeconômico funciona, através da reputação e de novas redes
de confiança. O princípio básico da confiança entre desconhecidos tem base na formação de
comunidades online nas quais o contato direto entre os usuários é essencial e contribui para
uma forma descentralizada e transparente de comércio. É possível perceber que este
princípio está extremamente ativo na Casa Liberdade, já que qualquer pessoa tem acesso ao
84
espaço e pode fazer uma cópia da chave da casa. "É livre, é só pegar a chave e ter a
consciência de que está utilizando um espaço público, com limites; um espaço maravilhoso,
um espaço aberto e, para que ele possa existir, é necessário fazer coisas que estão de acordo
com os princípios da casa", explica Fernanda.
O número de pessoas que frequenta a casa mensalmente é estimado em cerca de
100 a 200 pessoas, segundo os três entrevistados. Felipe acredita que cerca de 40 pessoas
ajudam a manter a casa financeiramente, enquanto mais de 200 passam por mês pelo
espaço, principalmente através de eventos que acontecem lá. A maioria destas pessoas são
jovens. Segundo Tapscott (2010), os jovens de hoje — a Geração Internet — estão
colaborando uns com os outros e mudando a forma de ver o mundo no trabalho, na
educação, no mercado, na família e como cidadãos. Isso explica o fato da Casa Liberdade ter
surgido em meio a jovens e ter se mantido majoritamente através deste público.
Fernanda conta que, no entanto, pessoas mais velhas e menores de idade estão cada
vez mais frequentando a casa. Ryana explica que alguns projetos que acontecem lá, como o
ShareQuest, que trabalha com orientação vocacional para estudantes do Ensino Médio, é
um dos fatores que trazem esse público para a casa. O espaço também está se tornando
mais comum para pessoas com mais de 40 anos, que têm curiosidade, se interessam e
decidem ajudar. Além disso, muitos estrangeiros e pesssoas de outras cidades brasileiras já
frequentaram a casa, principalmente durante a Copa do Mundo.
Com um público crescente, espaços compartilhados têm se tornado cada vez mais
comuns em Porto Alegre. Segundo Botsman e Rogers (2010), estão surgindo em todo o
mundo estilos de vida colaborativos que remetem ao conceito de "comunas", comunidades
em que os recursos são compartilhados, e que permitem que pessoas colaborem, formem
novos vínculos sociais e fragmentem as barreiras emocionais e estigmas associados com o
ato de compartilhar ou pedir ajuda.
Fernanda conta que, em Porto Alegre, foi criada recentemente no Quarto Distrito, a
Casa de Pandora, voltada para pessoas envolvidas com arte, moda e gastronomia. Embora o
propósito seja diferente da Casa Liberdade, o espaço também é compartilhado e
colaborativo. Ryana explica que existe, em várias cidades brasileiras, e também na capital
gaúcha, a Casa Fora do Eixo, que faz parte da rede Fora do Eixo. A casa tem como base a
moradia compartilhada e um estilo de vida diferente do tradicional, onde os moradores
trabalham com eventos culturais alternativos e dividem espaço, dinheiro, roupas e comida
85
de forma igualitária. Felipe lembra da Casa Duplan 146 e do Ateliê Livre, que embora ainda
utilizem o sistema de dividir os custos igualmente entre os usuários, são espaços com
objetivos semelhantes à Casa Liberdade. Fernanda ainda cita que no Brasil existe a Laboriosa
89, em São Paulo, e o Catete 9, no Rio de Janeiro, casas que funcionam de forma totalmente
aberta também.
Embora estes espaços estejam crescendo na cidade, ainda existem alguns desafios.
Segundo Fernanda, a questão burocrática e financeira é um problema significativo. Para
Ryana, a confiança é o maior obstáculo, pois as pessoas sentem dificuldade em acreditar no
funcionamento de um modelo totalmente aberto de compartilhamento. Felipe concorda ao
afirmar que isso acontece principalmente por ainda ser uma novidade no país e na cidade, e
que o maior impeditivo não é externo, e sim interno e cultural. Mesmo com dificuldades, os
espaços compartilhados, segundo os três entrevistados, têm potencial para se tornar um
estilo de vida. Para Fernanda, uma vez que se entra em contato com o universo da Casa
Liberdade, as pessoas se sentem confortáveis, principalmente pelas relações que se
constróem no espaço:
É um outro estilo de vida, e acho cada vez mais legal isso acontecer, porque não há concorrência, não há perdedor ou vencedor, há uma comunidade. Não é um ganha-perde, é um ganha-ganha. Acho que existe uma consciência de que todos somos melhores e todos somos melhores juntos.
Botsman e Rogers (2010) afirmam que o capital social é criado em todas as formas de
consumo colaborativo, porém ele se torna maior quando as necessidades compartilhadas
não têm a forma de produtos, construindo e fortalecendo relacionamentos com pessoas.
Abrindo mão do individualismo, é possível criar laços mais fortes de comunidade e recuperar
algo que falta às pessoas. Felipe acredita que Porto Alegre ainda tem muito a conquistar,
principalmente devido à questão do individualismo financeiro e comercial ser muito forte na
América Latina. Embora o fator que mais impede este desenvolvimento seja cultural, ele
afirma que a cidade está muito avançada no âmbito do consumo colaborativo
mundialmente, se comparada a outras cidades. Ele conta que:
Já veio um lobista dos Estados Unidos aqui, gente da Suécia, um pessoal do Cidades Inteligentes veio trabalhar aqui com a prefeitura. Todos eles citaram que a casa era um centro de inovação em Porto Alegre, um lugar incrível e incomum. Também comentaram que nunca conheceram pessoas tão gentis. Então, possivelmente, Porto Alegre, por reconhecimento externo, está se desenvolvendo neste ponto.
Ryana acredita que a colaboração tem possibilidade muito grande de crescer em
Porto Alegre, porque as pessoas estão se tornando cada vez mais abertas a isso. Percebe-se,
86
desta forma, que Porto Alegre está, aos poucos, enfrentando as dificuldades e trazendo a
um número cada vez maior de pessoas, os valores e os benefícios do compartilhamento e da
comunidade.
3.3.4 Idealizando Projetos Colaborativos
Para compreender como o consumo colaborativo vem se manifestando em Porto
Alegre desde o seu "surgimento" até os dias atuais, foram entrevistados idealizadores de
dois festivais relacionados à economia colaborativa, a fim de acompanhar o
desenvolvimento desta cultura e ter uma visão holística do compartilhamento e da
colaboração na cidade.
Victor Hugo Reinman, 25 anos, entrou em contato com o mundo colaborativo
quando começou a trabalhar na empresa Engage, que tem como foco o desenvolvimento de
projetos de software com o objetivo de devolver o poder às pessoas e desenvolver a
autonomia. A partir daí, realizou, junto com um amigo, o Ouishare Fest, primeiro festival de
economia colaborativa de Porto Alegre, em 2013, através da comunidade online Ouishare,
que estava promovendo eventos colaborativos em Paris e queria disseminá-los para outros
lugares. Através de parcerias e colaboradores como o espaço Nós Coworking, o site de
financiamento coletivo Catarse, e o coletivo Shoot the Shit, entre outros, o festival teve 80
participantes e um projeto bem-sucedido que nasceu ali dentro: o B.O. Coletivo, ação criada
por um grupo em uma das atividades promovidas, na qual as pessoas poderiam colar um
cartaz padronizado em diversas partes da cidade sinalizando os lugares que foram
assaltadas, furtadas, entre outros crimes. Depois, o B.O. Coletivo saiu do papel e se tornou
um aplicativo para o celular.
Alessandra Guglieri, 28 anos, e Philipe Martins, 31 anos, começaram a se interessar
pelo compartilhamento quando trabalhavam no Campus Party, espaço onde existe uma
efervescência de empreendedorismo de maneira colaborativa, e durante uma estadia em
Berlim, cidade onde a colaboração está presente de forma significativa. O interesse pelo
tema fez com que buscassem uma forma de trazer a colaboração para Porto Alegre. O
Sharefest, segundo e maior festival de economia colaborativa na cidade, aconteceu em julho
deste ano, e foi incentivado e disseminado mudialmente pela comunidade online Shareable.
87
Através da colaboração e parceria com 80 instituições e doações de pessoas, o festival teve
duração de um dia, 450 participantes e 50 horas de conteúdo gratuitas.
Leadbeater (2009) explica que, através da inteligência coletiva, é possível criar novas
maneiras de trabalhar em equipe para produzir uma sociedade mais democrática, criativa e
inovadora. A participação dos indivíduos na Internet apenas fará diferença no mundo se
estes forem capazes de compartilhar e combinar suas ideias. E foi através deste
compartilhamento online — nas comunidades Ouishare e Shareable — que surgiram os dois
projetos mencionados acima, dando início e incentivo à cultura colaborativa em Porto
Alegre.
Alessandra acredita que existe uma tendência mundial desde o iníco do século XXI,
na qual as pessoas têm buscado oportunidades de conhecer outras pessoas, compartilhar
conhecimento e expandir recursos palpáveis, o que deu origem a uma nova forma de
consumir. Ela aponta que a Internet atua como meio democratizador que dá acesso a essas
experiências. Philipe complementa que a tecnologia é um fator vital para que o consumo
colaborativo se desenvolva. Leadbeater (2009) ainda menciona que as interações entre
várias pessoas com diferentes pontos de vista e habilidades gerada pelas comunidades
online, através da colaboração e da criatividade social, são capazes de alterar aspectos
fundamentais da vida econômica, como o trabalho, o consumo, a inovação, a liderança e a
produção.
Alessandra afirma que a sociedade está saindo de um ciclo em que as pessoas
buscavam satisfação pessoal através do consumo, baseado em uma cultura individualista,
onde não havia espaço para evolução nem estímulo para que a formação de uma
comunidade, e começando a perceber que existem alternativas, voltadas à colaboração e o
compartilhamento. No entanto, ela acredita que, em Porto Alegre, este processo é lento, e
que irá demorar até conquistar outras tribos que não façam parte deste universo.
O público jovem e conectado ainda é quem predomina no meio colaborativo, mas
está abrindo espaço para pessoas de todas as idades. No Sharefest, por exemplo, a maior
parte dos participantes tinha entre 20 e 30 anos. Para Philipe, isso ocorre devido à relação
destes jovens com os meios que propiciam a colaboração, que são bastante tecnológicos.
Embora crianças e idosos também tenham estado presentes no festival, Alessandra acredita
que a forma com que o projeto foi divulgado — através de comunicação orgânica, com foco
em redes sociais e pouca exposição em outras mídias — interferiu diretamente na
88
predominância do público jovem. Para ela, romper estas barreiras e atingir cada vez mais
pessoas de diferentes idades e contextos é uma das maiores dificuldades do consumo
colaborativo. Victor concorda ao afirmar que faz mais sentido para estes jovens que estão
entrando no mercado de consumo se apropriarem desta nova cultura colaborativa do que
pessoas mais velhas mudarem o paradigma a que estão habituados.
Para Alessandra, a colaboração e o compartilhamento irão acompanhar a geração
atual e maior parcela já estará envolvida com a lógica do trabalho em rede, somando forças
com a comunidade e criando uma cultura de abundância ao invés de escassez. Oliveira
(2010) complementa ao afirmar que a geração dos jovens que cresceram com a Internet tem
uma enorme capacidade criativa capaz modificar as circustâncias do mundo à sua volta, e
Tapscott (2010) concorda que estes jovens estão criando novas maneiras de resolver alguns
dos problemas mais urgentes do mundo.
Alessandra vê um potencial imenso na economia colaborativa, e acredita que Porto
Alegre está cada vez mais presente neste universo. As pessoas estão buscando o
compartilhamento e o mercado está se tornando mais favorável para a colaboração. Mais
pesquisas têm surgido na área, contribuindo muito para o desenvolvimento desta cultura.
Ela tem percebido que todas as atividades voltadas ao universo colaborativo e sustentável
têm tido um público cada vez mais crescente, ou seja, existe interesse por parte da
população. No entanto, há falta de incentivo do governo e da iniciativa privada para abrir e
estruturar espaços de realização e circulação para que estes projetos e trocas possam se
desenvolver. "Na verdade, isso só vai se desenvolver quando os três pilares andarem juntos:
o governo, a iniciativa privada e a população", afirma.
Segundo Victor, Porto Alegre é conhecida mundialmente por ter um alto
engajamento social. Em maio deste ano, ele viajou para Paris para vivenciar o OuishareFest
da cidade, e conheceu diversas pessoas que conheciam a cidade por causa do Fórum Social
Mundial, que compartilha vários princípios e valores em comum com a economia
colaborativa. Entretanto, também concorda que existem fatores que desaceleram o
desenvolvimento de uma cultura colaborativa na cidade. O preconceito é um deles: "Eu criei
um projeto chamado Mútuo, que propõe às pessoas compartilharem objetos, mas existem
tanto os problemas logísticos disso quanto a questão do preconceito, de mostrar que pode
comprar seu próprio produto", conta. Victor explica que existe uma barreira cultural em
Porto Alegre, além de um certo bairrismo. A cidade possui diversos núcleos colaborativos,
89
mas as pessoas que frequentam estes lugares não conversam entre si. Na Europa e nos
Estados Unidos, as pessoas são mais abertas com relação a isso, e as cidades estão mais
preparadas para o incentivo a novos empreendimentos. No Brasil, a chance de novos
projetos surgirem são menores, e isso impede o desenvolvimento do consumo colaborativo
para uma esfera maior.
Philipe comenta que outro fator que impede a colaboração em Porto Alegre é o fato
de muitas pessoas se sentirem mais à vontade em fazer negócios diretamente com
empresas ao invés de outras pessoas. A cultura colaborativa cria autonomia e independência
entre grupos articulados de pessoas que não precisam de um atravessador para chegar no
produto ou serviço final. No entanto, é possível trazer a colabração para dentro das
empresas. Segundo Botsman e Rogers (2010), o consumo colaborativo é capaz de
aperfeiçoar o sistema de consumo já existente. As pessoas continuarão comprando e as
empresas continuarão vendendo, porém isto poderá ser realizado com muito menos
impacto ambiental e de forma muito mais humana.
Philipe acredita que a colaboração pode ser aplicada em qualquer tipo de processo
dentro de empresas, implementando uma metodologia que permita que as soluções sejam
buscadas em grupo, e não individualmente. Para Alessandra, a construção coletiva ao invés
da competição beneficia a cultura organizacional e fortalece as empresas no mercado. "O
próprio mercado pode se desenvolver muito melhor se as empresas trabalharem juntas,
buscarem regularização para seus serviços e melhores condições de contexto para o
desenvolvimento", explica.
Outra forma de trazer a colaboração às empresas se dá através da inovação aberta,
ou seja, a busca de soluções para problemas internos fora da empresa, abrindo diálogo com
os consumidores e outros públicos interessados em compartilhar. Segundo Gansky (2011), o
conhecimento profundo de quem são os clientes e o compartilhamento de informações com
os consumidores constrói apoio e confiança e promove a definição interativa e o
refinamento da oferta inicial. Philipe explica que empresas que têm departamentos de
pesquisa e desenvolvimento abertos têm maior possibilidade de encontrar respostas mais
rápidas através da inteligência coletiva. Alessandra concorda ao mencionar que as empresas
devem focar nos consumidores como pessoas e não como entidades ou usuários. A cultura
colaborativa frea a produção em série de satisfação temporária e gera produtos e serviços
capazes de beneficiar todas as partes envolvidas.
90
Victor afirma que a colaboração já está alcançando um número significativo de
empresas, mas acredita que as maiores oportunidades e inovações não virão de
organizações tradicionais, e sim de novas empresas e pessoas com novos projetos. Sobre
isso, Alessandra diz que muitos projetos e empresas privadas estão recém começando a ter
contato com esse tipo de conteúdo. O processo para que uma mudança ocorra será lento e
depende de outros pilares, como o governo e as iniciativas privadas, para darem estrutura
para que isso aconteça. Apesar disso, Philipe explica que em Porto Alegre existe uma grande
vontade por parte das pessoas de que a colaboração caminhe, com iniciativas como espaços
compartilhados, projetos que visam empoderar as pessoas, ações com impacto social,
guerrilhas urbanas e ativismo. A colaboração vai catalisar alguns destes processos, e a cidade
estará sempre se reinventando conforme as pessoas vão descobrindo novas formas de gerar
valor entre elas.
Victor acha importante que exista cada vez mais um número de projetos
colaborativos bem-sucedidos, para que iniciativas possam ser vistas e reconhecidas por
outras pessoas, aumentando assim o interesse e o alcance da colaboração. Philipe
complementa ao afirmar que ainda falta uma rede colaborativa forte e conectada em Porto
Alegre, que faça com que todos os projetos se impulsionem juntos. Para Victor, o fato de o
Brasil não ter sentido a crise econômica de 2008 de forma intensa contribuiu para que o
consumo colaborativo se desenvolvesse menos no país, e ao mesmo tempo, serviu como
porta de entrada para que pessoas conhecessem e se interessarem pelo tema. Gansky
(2011) explica que a experiência de compartilhamento faz as pessoas se sentirem mais ricas
pelo sentimento de comunidade, e Victor concorda que, ao experimentar alguma forma de
consumo colaborativo, as pessoas acabam percebendo todos os valores — sociais,
ambientais e de comunidade — envolvidos na colaboração, e isso contribui positivamente
para o desenvolvimento da cultura colaborativa na cidade.
***
Através da análise do material coletado, é possível perceber que a cultura
colaborativa está crescendo em Porto Alegre, tendo aparecido de forma mais expressiva nos
últimos dois anos. Os três sistemas definidos por Botsman e Rogers (2010) já estão
representados de forma sólida na cidade, e o assunto já interessa uma pequena, mas
91
significativa parcela de pessoas, na sua maioria pertencentes à Geração Digital, nomeada por
Tapscott (2010). Em comparação com os grandes polos brasileiros, Porto Alegre, embora
uma capital de menor porte e menos influente economicamente no país, tem se mostrado
bastante avançada no consumo colaborativo.
No entanto, a cidade ainda enfrenta uma série de obstáculos que impedem um
desenvolvimento mais acelerado e abrangente da colaboração. Há falta de estrutura na
cidade — como ciclovias — para que o compartilhamento de bicicletas, como o BikePoa, se
expanda e alcance uma maior parcela da população, bem como falhas internas que
prejudicam o bom aproveitamento do sistema. Já com relação aos mercados de
redistribuição, a atuação de compras, vendas e trocas de produtos usados online predomina
nos briques do Facebook, mas tem se mostrado cada vez mais distante dos reais propósitos
do "compartilhamento" de bens materiais e se tornado altamente comercial. Espaços
compartilhados como a Casa Liberdade, ao contrário, se mantiveram fiéis aos valores
colaborativos e têm obtido a simpatia de diversos públicos. Por não terem como objetivo o
lucro nem dependerem de iniciativas governamentais, os próprios usuários têm um controle
direto sobre estes espaços, tendo que enfrentar os desafios de conviver com pessoas
diferentes e, ao mesmo tempo, manter o local em ordem.
Além disso, a realização de festivais relacionados à economia colaborativa comprova
o interesse de diversas empresas e pessoas na colaboração como parte do mercado de
consumo. É importante ressaltar, porém, que o consumo colaborativo surgiu como,e
continua sendo, um movimento alternativo ao qual um número ainda restrito de pessoas
tem acesso, mas já se pode afirmar com mais convicção que ele tem potencial de alcançar
um público cada vez maior em Porto Alegre.
92
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O surgimento e a consolidação da Internet como um dos principais meios de
comunicação foram capazes de ultrapassar barreiras geográficas, possibilitando o contato
entre pessoas de diferentes partes do mundo através das redes sociais. Essa constante
interação contribuiu para que uma nova geração de jovens, engajados tecnologicamente e
com novas visões sobre o futuro, formassem comunidades online, dando vida a práticas
sociais e econômicas inovadoras. Estes jovens utilizaram a Internet como ferramenta central
para dar voz a novas ideias, baseadas em valores sustentáveis e de comunidade, indo de
encontro aos princípios consumistas e individualistas que se solidificaram nas últimas
décadas. O compartilhamento de informações, interesses e ideologias deu origem a uma
nova forma de consumir, baseada na colaboração, que tem conquistado espaço em quase
todas as regiões do mundo.
Este novo modelo de consumo está trazendo uma alternativa positiva que visa um
melhor aproveitamento de bens e serviços pela sociedade. Embora ainda predominante em
países europeus e norte-americanos, o consumo colaborativo tem crescido
consideravelmente em países latino-americanos, principalmente no Brasil. Devido à
importância deste tema para o desenvolvimento social e econômico, este estudo teve como
objetivo compreender como o mercado colaborativo vem se manifestando na cidade de
Porto Alegre. Para isso, foi necessário identificar as principais formas de consumo
colaborativo presentes no cenário porto-alegrense, descobrir de que forma as pessoas e
empresas colaborativas se inserem no mercado de consumo e identificar os principais
fatores que impedem e impulsionam o desenvolvimento da cultura colaborativa na cidade.
Através de pesquisa bibliográfica e informações retiradas de sites, blogs e redes
sociais, buscou-se compreender o contexto socioconômico que levou ao surgimento desta
nova forma de consumo, bem como explicar e exemplificar os conceitos envolvidos na
economia colaborativa, sua relação com pessoas e empresas e a presença da colaboração no
mundo e no Brasil. Para isso, foram centrais as ideias de Bauman (2001, 2008), Barbosa
(2010), Korten (1996), Leadbeater (2011), Tapscott e Williams (2007), Tapscott (2010),
Gansky (2011) e Bostman e Rogers (2010). Devido à falta de bibliografia disponível
diretamente sobre o tema, principalmente por este ainda ser novo, a maior parte deste
93
estudo teve como base os conceitos de Botsman e Rogers (2010), criadores do termo
"consumo colaborativo".
Para entender como Porto Alegre está inserida dentro desta "tendência", foram
realizadas entrevistas em profundidade com consumidores colaborativos e idealizadores de
projetos na cidade. Além da dificuldade em encontrar bibliografias sobre o tema, este
trabalho teve como desafio organizar as diferentes formas de consumo colaborativo de
forma clara e, ao mesmo tempo, completa. Devido a isso, a análise foi estruturada em
quatro blocos, baseados nos três sistemas colaborativos de consumo definidos por Botsman
e Rogers (2010), e em um objeto de estudo representante de cada sistema conforme sua
relevância na cidade: sistemas de serviços de produtos e o compartilhamento de bicicletas
através do BikePoa, mercados de redistribuição e os briques do Facebook, e estilos de vida
colaborativos presentes no espaço compartilhado da Casa Liberdade. O último bloco serviu
para ter uma visão holística do consumo colaborativo na cidade, através da visão e do
conhecimento de idealizadores de festivais — OuishareFest e Sharefest — com foco na
economia colaborativa.
Embora no projeto inicial estivesse planejada a participação de mais um entrevistado,
representando a categoria dos idealizadores, pela indisponibilidade no período da realização
desta pesquisa, foi necessário descartar seu relato. Em razão disso, o último bloco ficou
restrito à análise dos festivais de economia colaborativa, porém manteve-se centrado no
assunto principal, o que não afetou os resultados esperados. Além destes aspectos,
percebeu-se que os usuários e consumidores dos três sistemas foram fáceis de alcançar, e
todos mostraram-se interessados em colaborar, o que certamente já representa o espírito
colaborativo deste grupo de pessoas.
Partindo da pergunta de pesquisa — que se propunha a saber como o cenário
colaborativo vem se manifestando em Porto Alegre — e dos dados levantados e analisados,
foi possível compreender como os três sistemas acontecem e se relacionam na cidade. O
público consumidor de cada sistema, embora seja predominantemente jovem, percebe a
colaboração de maneiras distintas. Os usuários do BikePoatêm um maior conhecimento e
interesse em questões de mobilidade urbana, e percebem a cidade e a sua estrutura como
principal ferramenta limitadora e incentivadora de projetos colaborativos. Os consumidores
dos briques do Facebook têm pouco conhecimento sobre outras práticas colaborativas, e
são guiados, na maioria das vezes, pelo desejo de ganharem ou economizarem dinheiro. Já
94
os frequentadores da Casa Liberdade são pessoas altamente envolvidas na economia
colaborativa, com fortes opiniões e maior conhecimento sobre o assunto.
Os sistemas de serviço de produtos, embora exijam uma mudança na mentalidade da
população para que ela se torne mais aberta a soluções alternativas e sustentáveis de
mobilidade urbana, são altamente dependentes de iniciativas governamentais ou privadas
para o desenvolvimento de melhor estrutura na cidade, para que, assim, a prática se
desenvolva com mais abrangência e rapidez. Os mercados de redistribuição se mostraram
muito presentes em Porto Alegre através dos briques do Facebook, porém seus usuários
admitem que os briques se tornaram populares e perderam o seu propósito inicial de
comunidade e sustentabilidade, se tornando fortemente comerciais. Os estilos de vida
colaborativos, no entanto, se mostraram com elevado potencial de desenvolvimento na
cidade. Principalmente no que diz respeito a espaços compartilhados, percebe-se que estes
representam uma cultura capaz de desenvolver, como diz o nome, um forte estilo de vida e
de unir um grande número de pessoas com ideais semelhantes. Muitas empresas e projetos
colaborativos nasceram dentro de ambientes compartilhados.
Através das entrevistas com os idealizadores de festivais de economia colaborativa
na cidade, pode-se afirmar que o mercado de consumo colaborativo cresceu muito em
apenas um ano. Se antes essa cultura era desconhecida, hoje muitas pessoas já ouviram
falar, conhecem ou desejam se tornar parte deste novo mundo. Este crescimento fica claro
ao comparar o primeiro festival colaborativo de Porto Alegre, que aconteceu em 2013 —
OuishareFest — e seus 80 participantes, com o Sharefest, que aconteceu em 2014, e teve
cerca de 400 participantes e quase 50 empresas colaboradoras.
O consumo colaborativo, embora ainda pertença a um público segmentado, é um
movimento jovem que deve ser explorado. Uma questão importante a levar em
consideração é a confiança que se cria online. Estudos nesta área já existem desde o
surgimento das redes sociais, mas agora podem tomar uma dimensão ainda maior, já que os
mercados colaborativos implicam no relacionamento direto entre pares (peer to peer), e a
confiança entre desconhecidos é vital para que o consumo colaborativo aconteça de forma
adequada.
A colaboração tem estado cada vez mais presente tanto em novos negócios como
empresas tradicionais na cidade, através do compartilhamento de informações e dos valores
de comunidade e sustentabilidade, e surge como uma solução não utópica de resolver
95
alguns dos problemas mais sérios do mundo — mudança climática, trânsito nas grandes
cidades, desperdício, entre outros — ao mesmo tempo em que incentiva a criatividade e o
contato entre pessoas e culturas. Além disso, novas formas de pensar como o design
thinking levam em consideração a colaboração, a humanização e a sustentabilidade na hora
de criar novas estratégias para marcas e empresas, trazendo alternativas ao modelo de
negócios atual. Acredita-se que o presente estudo poderá ser ampliado futuramentepor
meio das análises destes valores colaborativos dentro das empresas e do seu
relacionamento com os consumidores.
E ainda, como dizem Botsman e Rogers (2010), é importante compreender que o
consumo colaborativo não veio para criar um novo sistema de consumo, e sim para
aperfeiçoar o já existente. É relevante, portanto, estudar mais detalhadamente como cada
sistema colaborativo e seus inúmeros possíveis objetos de estudo se manifestam em Porto
Alegre, e como os valores culturais influenciam no envolvimento de diferentes públicos na
economia colaborativa na cidade. Por ser um tema muito novo e ainda restrito, é
interessante que seja analisado através de todas as suas esferas e possibilidades, a fim de
obter uma compreensão ao mesmo tempo ampla e aprofundada sobre o assunto. O
consumo colaborativo está diretamente relacionado com inovação econômica, cultural,
social e criativa, e é um importante passo ao qual se deve dar atenção para que haja
desenvolvimento e resultados positivos no futuro.
96
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103
APÊNDICE A: ROTEIRO DAS ENTREVISTAS – BIKEPOA
1. Você possui bicicleta?
2. Como conheceu o BikePoa? Quando começou a utilizar?’
3. Com que frequencia andava de bicicleta antes do BikePoa e com que frequencia anda
agora?
4. Quais os motivos que levaram você a utilizar o BikePoa?
5. Quais os principais benefícios do serviço?
6. Quais os pontos negativos do BikePoa? Como poderia ser melhorado?
7. Você prefere ter sua própria bicicleta ou ter acesso a uma bicicleta compartIlhada
apenas quando precisa?
8. Você já utilizou o compartilhamento de bicicletas em outras cidades ou países?
9. Como você percebe que a cidade de Porto Alegre está se adaptando a este tipo de
serviço colaborativo?
10. Quais os principais problemas que a cidade enfrenta com relação ao serviço de
compartilhamento de bicicletas?
11. De que forma você entende que as empresas devem lidar com estes novos serviços
comunitários?
12. Você considera este tipo de serviço uma solução imediata ou um estilo de vida?
13. Qual você imagina que será o futuro do compartilhamento das bicicletas?
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APÊNDICE B: ROTEIRO DAS ENTREVISTAS – BRIQUES DO FACEBOOK
1. Quando você começou a participar de grupos de troca e venda de objetos usados no
Facebook?
2. Quais grupos você participa/ já participou?
3. Quais produtos já comercializou?
4. Como funciona a negociação e a entrega do produto?
5. Como você acha que a confiança e a reputação influenciam os briques?
6. Quais os principais motivos que levaram você a participar destes grupos?
7. Quais as principais vantagens e desafios deste tipo de mercado?
8. Como você acha que a cidade de Porto Alegre está se adaptando a este tipo de
mercado?
9. De que forma você acha que as empresas devem lidar com estes novos mercados?
10. Você considera esta forma de mercado uma solução imediata ou um estilo de vida?
11. Qual você acha que será o futuro dos mercados de redistribuição?
105
APÊNDICE C: ROTEIRO DAS ENTREVISTAS – CASA LIBERDADE
1. Há quanto tempo você é usuário da Casa Liberdade?
2. Como a casa começou a ser divulgada para as pessoas?
3. Quais os motivos que levaram você a se tornar um membro da casa?
4. Quais os benefícios que a casa traz para seus usuários?
5. Quais as principais dificuldades que a casa enfrenta como espaço compartilhado?
6. De que forma são divididos os custos da casa?
7. Você conhece outros espaços em Porto Alegre com o mesmo objetivo? Quais?
8. Quais as principais dificuldades que você percebe que a cidade de Porto Alegre
enfrenta com relação a este tipo de espaço?
9. Quais foram os principais motivos que levaram você a buscar a colaboração?
10. O que você entende por "consumo colaborativo"?
11. De que forma as empresas podem se beneficar da colaboração?
12. Você conhece alguma forma de colaboração que dá certo em outras cidades ou
países e poderia dar certo aqui?
13. Você acredita que o consumo colaborativo tem potencial para se tornar um estilo de
vida?
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APÊNDICE D: ROTEIRO DA ENTREVISTA – OUISHARE FESTIVAL
1. Como você define essa nova cultura colaborativa que está surgindo?
2. Quais foram os principais motivos que levaram você a buscar a colaboração? Quando
surgiu o interesse?
3. Quais são os principais fatores que influenciam o surgimento de um mercado de
consumo colaborativo?
4. Como você percebe que Porto Alegre está inserida dentro desse mercado
colaborativo?
5. Quando a cidade começou a ter espaço para mercados deste tipo?
6. Como Porto Alegre se tornou parte do Ouishare? Como você se tornou um conector?
7. Quais são as principais dificuldades do desenvolvimento de uma cultura de consumo
colaborativa em Porto Alegre?
8. De que forma as empresas podem se beneficar da colaboração?
9. Você entende que o compartilhamento de bens e serviços é uma característica da
geração atual ou irá alcançar também os mais velhos?
10. Você acredita que o consumo colaborativo tem potencial para se tornar um estilo de
vida?
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APÊNDICE E: ROTEIRO DA ENTREVISTA - SHAREFEST
1. Como você define essa nova cultura colaborativa que está surgindo?
2. Quais foram os principais motivos que levaram você a buscar a colaboração? Quando
surgiu o interesse?
3. Quais são os principais fatores que influenciam o surgimento de um mercado de
consumo colaborativo?
4. Quão importante são os valores de comunidade e sustentabilidade na hora de criar
ou optar por um mercado colaborativo?
5. Como você percebe que Porto Alegre está inserida dentro desse mercado
colaborativo?
6. Quando a cidade começou a ter espaço para mercados deste tipo?
7. Conte um pouco sobre o Sharefest (como começou, como foi feita a organização,
atividades, parceiros, pessoas que contribuiram financeiramente, pessoas que
compareceram, etc).
8. Quais são as principais dificuldades do desenvolvimento de uma cultura de consumo
colaborativa em Porto Alegre?
9. De que forma as empresas podem se beneficar da colaboração?
10. Você entende que o compartilhamento de bens e serviços é uma característica da
geração atual ou irá alcançar também os mais velhos?
11. Você acredita que o consumo colaborativo tem potencial para se tornar um estilo de
vida?