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  • 7/21/2019 Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento - Quintela, Flavio

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    FLAVIO QUINTELABENE BARBOSA

    MENTIRAMPARA MIM SOBRE O

    DESARMAMENTO

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    Sumrio

    Capa

    Folha de Rosto

    Sobre os autores

    Agradecimentos

    Prefcio

    Introduo

    Captulo I - Mentira: o governo quer desarmar as pessoas porque se preocupa coelas

    Captulo II - Mentira: as armas matam

    Captulo III - Mentira: pases desarmados so mais segurosCaptulo IV - Mentira: as armas dos criminosos vm das mos dos cidados de bem

    Captulo V - Mentira: as armas so produzidas apenas para matar

    Captulo VI - Mentira: armas causam muitos acidentes caseiros e matam crianas

    Captulo VII - Mentira: as armas precisam ser controladas para facilitar a soluo decrimes

    Captulo VIII - Mentira: o desarmamento tem diminudo a criminalidade no Brasil

    Captulo IX - Mentira: qualquer cidado de bem pode comprar e possuir armas noBrasil

    Captulo X - Resumindo as verdades

    Apndice 1 - PNDH: um plano ditatorial travestido de justia

    Apndice 2 - Estatuto do Desarmamento versus Referendo de 2005

    Bibliografia bsica

    NotasCrditos

    Sobre a Obra

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    Sobre os autores

    Mentiram para mim sobre o desarmamento uma obra de dois autores. Por se tratarde um assunto com tantos detalhes tcnicos, era necessrio um especialista para darsolidez e preciso ao livro papel de Bene Barbosa nesta obra. Mas dados e

    informaes no so nada se no forem bem transmitidos s pessoas, atravs de umtexto claro e fcil de se compreender papel de Flavio Quintela. Os dois, trabalhandoem conjunto, produziram esta obra mpar na literatura brasileira. Conhea um pouco decada um deles:

    Flavio Quintela o autor deMentiram (e muito) para mim, livro que deu origem aesta srie. Alm de escritor, trabalha como tradutor de obras de filosofia, poltica efico. Formado em Engenharia Eltrica, comeou sua carreira trabalhando em

    multinacionais como Motorola, HP e Caterpillar. Foi tambm empresrio na rea deensino e consultor de gesto por grandes empresas de consultoria do mundo, como ogrupo PricewaterhouseCoopers e a A.T. Kearney. Comeou a escrever como blogueiro

    seu blog Maldade Destilada j passou de um milho de visualizaes , e depois tevea idia que o lanou no mercado editorial, o livroMentiram (e muito) para mim.Contribui como articulista em dois grandes jornais brasileiros, o Correio Popular, deCampinas, e a Gazeta do Povo, de Londrina, e mora com sua esposa, dois gatos, doiscachorros e um beb ainda em gestao, na cidade de Ocoee, estado da Flrida, nos

    Estados Unidos. praticante de tiro e membro da NRA National Rifle Association.

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    Bene Barbosa bacharel em Direito, especialista em segurana pblica, armas,munies e suas utilizaes. Ainda na dcada de 90, ao surgirem os primeiros indciosde que a populao brasileira seria privada de sua liberdade de possuir armas, fundou owebsite In-Correto, que atualizava durante a madrugada, tempo que lhe sobrava entreseus dois empregos e famlia. Em 2000 foi diagnosticado com cncer e teve o

    prognstico nada otimista de apenas mais cinco anos de vida. O que poderia parecer ofim acabou se transformando em um recomeo. Afastado de suas atividades laborais,

    pde se aprofundar em seus estudos, e em 2004 percebeu que havia a necessidade deprofissionalizar a luta contra o desarmamento civil: fundou ento o Movimento VivaBrasil, que se tornou referncia nacional e internacional. Em 2005 foi convidado paraintegrar a Frente Parlamentar pelo Direito Legtima Defesa e tornou-se um dos maisimportantes coordenadores da campanha vitoriosa do No, no referendo de 2005.Hoje, j curado, autor de mais de uma centena de artigos publicados nos maisimportantes veculos de comunicao, participou de mais de duzentos debates, j

    proferiu dezenas de palestras, e atuou como consultor em diversos projetos de lei. recorrentemente convidado para Audincias Pblicas no Congresso Nacional e j foifonte em incontveis reportagens.

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    Agradecimentos

    Agradeo ao meu companheiro de autoria nesta obra, Bene Barbosa, pelasinformaes preciosas que embasaram o texto e pelo trabalho fantstico que vemfazendo em prol do direito dos brasileiros ao armamento. Agradeo ao meu editor,

    Csar Kyn dvila, pelo apoio e incentivo a mais uma obra. Agradeo minha esposa,Alessandra, inspirao constante e companheira em todos os momentos. Por ltimo,agradeo a Deus por tudo o que me tem possibilitado, e por meu filho que em breve virao mundo. ao meu beb que dedico esta obra. Ele certamente crescer mais seguronuma casa com armas.

    Flavio Quintela

    A Deus pela minha vida. Ao Flavio Quintela, a quem retribuo o agradecimento poraceitar de imediato ter-me como co-autor nesta importantssima e indita obra.Agradeo tambm ao nosso editor, Csar Kyn dvila, que tem demostrado apoio mparna publicao de obras que visam esclarecer e trazer verdades sobre o assunto emquesto. Agradeo a todos aqueles que durante duas dcadas me apoiaram, em especialem meu trabalho frente do Movimento Viva Brasil, nesta luta contra o desarmamentocivil e a restrio s liberdades individuais. O mais especial e profundo agradecimentovai para minha esposa, Karen Caldin, que por mais de vinte anos tem sido a grande

    responsvel pela minha fora em lutar, em me reerguer nas vezes em que ca, e emcontinuar vendo o corao que existe neste caminho muitas vezes pouco confortvel etortuoso que escolhi seguir.

    Bene Barbosa

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    Prefcio

    CEL Jairo PAES DE LIRA

    Ex-Comandante do Policiamento Metropolitano de So Paulo

    Ex-Deputado Federal (53 Legislatura)

    Porta-Voz do Movimento Pela Legtima Defesa

    OBRA DEMOLIDORA DE MENTIRAS SOBREO DESARMAMENTO CIVIL

    Como todos os homens, por natureza, desejam sabera verdade, tambm neles natural o desejo de fugir

    dos erros e de refut-los quando tm essa faculdade.

    TOMS DEAQUINO

    Apesar de todas as frentes de luta mantidas, com denodo e intensidade combativa,pela Coalizo Brasileira Pela Legtima Defesa desde 1996, o fato que o pblico leitorno conta, em nosso pas, com um cabedal significativo de obras literrias, de cunhocientfico, a defender a posio dos que rejeitam as tentativas de desarmamento das

    pessoas de bem e, conseqentemente, de extino, neste sofrido Brasil, do direito legtima defesa por meio de armas de fogo.

    De fato, desde quando tal frente comeou a constituir-se informalmente, sob a pressodas iniciativas desarmamentistas do Governo Federal (o que resultou na lei n9.437/1997), saram do prelo e foram s livrarias, em nmero considervel, obrasassinadas por desarmamentistas, financiadas a peso de euros e dlares por organizaesdesarmamentistas e largamente propaladas pela grande mdia, quase toda engajada no

    processo de satanizao das armas de fogo de defesa. Mas poucas a defender a posiodo direito.

    auspicioso, portanto, tomar contato com a excelente obraMentiram sobre odesarmamento para mim, que em boa hora vem para servir ao leitor brasileiro,apresentando-lhe, de forma palatvel e didtica, profunda anlise do medonho processode manipulao sociolgica que, desde a mencionada poca, vem sendo conduzido

    pelos que esto no poder, mormente nos gabinetes de Braslia, para extinguir um direitofundamental do povo.

    Os autores, Flavio Quintela e Bene Barbosa, so combatentes de primeira hora emprol da preservao desse direito. Conhecem profundamente as artimanhas do poder

    opressivo que lidera o processo de desarmamento das pessoas comuns e sabem muitobem das verdadeiras razes por trs de tais iniciativas. O conhecimento da matria porparte de Flavio Quintela atesta-se pelo fato de que a presente obra, estruturalmente,

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    origina-se do seu livroMentiram (e muito) para mim, publicado pela Vide Editorial:leitura altamente recomendada. Quanto ao co-autor, tive a honra, em especial, deconviver com Bene Barbosa h dez anos, quando juntos estivemos nas trincheiras doDireito, a repelir, na poca do Referendo de 2005, o ataque das poderosas foras quesustentavam a tentativa governamental de proibir completamente o comrcio de armas

    de fogo e de respectiva munio no Brasil. Ele presidia (e ainda preside) o MovimentoViva Brasil (MVB). Eu divulgava ao pas a posio do movimento Pela Legtima Defesa(PLD). Estavam essas duas entidades entre as mais atuantes da Coalizo Brasileira PelaLegtima Defesa. Estivemos juntos em numerosos debates e entrevistas. E mesmo nasocasies em que atuamos separadamente, sempre acompanhei, com vivo interesse, aargumentao slida, fundamentada e incisiva desse notvel combatente. Bene Barbosa,a par de ser um debatedor de escol, terror dos desarmamentistas que ousaram enfrent-lo em debates ao vivo, exibia invariavelmente amplo domnio dos dados cientficosdisponveis a respeito da questo do desarmamento civil e de seus malignos efeitos emtodo o planeta. Com tal cabedal de conhecimento concentrado no intelecto dos autores,no surpreende queMentiram sobre o desarmamento para mimseja uma obra digna deestudo e um livro plenamente recomendvel a todos os brasileiros que desejam munir-sede um arsenal bsico para a luta contra o desarmamento civil e pela preservao dodireito legtima defesa armada. A meu ver, o modo como se estrutura o texto um dosmaiores acertos dos autores. Pois, inspirados na tendncia ntima que todo homem de

    bem tem, como ensinou Santo Toms de Aquino, de tomar cincia da verdade e refutaros erros portanto, as mentiras, encontraram um modo preciso, conciso e didtico defaz-lo: apresentar uma a uma as falsidades da propaganda desarmamentista, dissec-las, exp-las e apresentar a realidade cientfica a respeito de cada uma delas. Os dadosque fundamentam a demolio de cada inverdade no so atirados ao acaso e no

    padecem de achismo. So apresentados com suas fontes, sempre disponveispublicamente para consulta. E so objeto de anlise racional, seja pela tica estatstica

    ou sociolgica, com iseno de emoo, de maneira que o conjunto da obra tem lastrometodolgico mais do que suficiente para torn-la uma confivel fonte de conhecimentocientfico. Tudo sem comprometer outra qualidade do livro, que a leveza do texto,importante para manter o interesse do leitor, em particular aquele que se inicia noestudo de um tema primeira vista rido e intrincado como o do desarmamento civil.

    No fcil desmontar as mentiras abundantemente propaladas pelas hostesdesarmamentistas, atravs de sua bem azeitada mquina de empulhar. Isso porque elas

    sempre so sutilmente apresentadas a conter meias-verdades. Filosoficamenteconsiderada, a meia-verdade no passa de inteira mentira, mas, habilmente esgrimidapor quem a urde, pode passar por verdade ntegra. Tome-se o caso da afirmativa semprepropalada pelos desarmamentistas: as armas de fogo so as ferramentas da

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    criminalidade. De fato: mas as ilegais, usadas por criminosos, no as possudas porgente de bem. A evidencia-se o solerte emprego da tcnica de manipulao sociolgicada meia-verdade. Bandido no compra arma em loja, no registra arma, muito menosentrega arma alguma ao governo. A falaciosa mquina de propaganda goebbeliana doGoverno Federal, desde 1996, procura convencer, a modo de lavagem cerebral, que os

    homicdios dolosos so praticados por pessoas comuns que conhecem e convivem comas vtimas. Outra meia-verdade. Em geral, autor e vtima conhecem-se, mas no, excetoraramente, por relao conjugal, familiar ou de vizinhana. Criminosos matamcriminosos em disputa por pontos de trfico e zonas de influncia; traficantes deentorpecentes matam devedores; assassinos a soldo do crime organizado matam

    policiais; assaltantes matam vtimas indefesas; policiais, no cumprimento do dever,tambm matam. Ocorrem, sim, homicdios por desavenas banais entre pessoas semantecedentes criminais. Mas so estatisticamente residuais. Pouco antes do Referendo,uma suspeita estatstica do Ministrio da Sade afirmou a suposta reduo, em 2004, dequase 9% (3.226 casos) nos homicdios perpetrados com armas de fogo, atribuda aoefeito do desarmamento. Mas a Folha-UOLinformou que, em 2003, no foramcomputados, nos bancos de dados federais, 3.261 homicdios dolosos: muitoconveniente. Outra coisa: procurem-se, naquele acurado estudo do Ministrio daSade, os homicdios praticados sem arma de fogo. No esto l, porque nointeressavam aos propsitos polticos do Governo.

    O chamado Estatuto do Desarmamento (lei n 10.826/2003) foi imposto populaobrasileira em dezembro daquele ano, graas frouxido e submisso do Legislativoao Executivo. E foi vendido pela propaganda oficial como panacia para acabar como crime violento. Logo depois, ao perceber que essa idia-fora no funcionava, pois,exceto em So Paulo, os ndices continuaram a subir, tendo como caso mais extremo oda cidade do Rio de Janeiro, o Governo Federal mudou de ttica: passou a afirmar quea lei no viera para desarmar os criminosos, trabalho que competia Polcia, mas para

    desarmar mesmo as pessoas de bem, a fim de evitar os tais crimes de relacionamento.Esse tratamento da questo, constatvel nas entrevistas de autoridades na poca, maisdo que suficiente para evidenciar que, como diziam os nossos avs, o povo comprougato por lebre ao receber de seus legisladores o tal Estatuto. Se vingasse a proibio decomrcio, objeto do Referendo de 2005, s se produziria resultado contra o cidado de

    bem, aquele homem ou aquela mulher que, atendendo aos requisitos restritivos da lei(ausncia de antecedente criminal, habilitao tcnica e adequado perfil psicolgico),

    sinta-se com disposio de possuir uma arma de fogo para defender, nos casos extremosem que a Fora Pblica no possa socorr-lo, a prpria vida e a vida de pessoas de suafamlia. Os criminosos, compete Polcia desarm-los, claro, mas, em s conscincia,

    pela responsabilidade social e tica que me conferem os meus 35 anos de combate ao

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    crime, devo dizer que impossvel Fora Policial garantir a vida, a incolumidadefsica e a propriedade de todas as pessoas de bem, em todas as partes e por todo otempo. Sempre haver ocasio em que algum cidado, na iminncia de sofrer crime, noconte com o socorro do Estado. E em tais momentos crticos que a todos advogo,ombro a ombro com Quintela e Barbosa, o inalienvel direito de autodefesa, nos limites

    da lei. Os estudos de Lott e Mustard, da Universidade de Chicago, demostraram que ocrime violento diminui nas comunidades armadas, porque o bandido avalia os riscos eopta por procurar vtimas sem capacidade de autodefesa, ou busca o crime patrimonialno-violento, mais tolervel sob o ponto de vista social. E os estudos de Wright e Rossi,da Universidade de Massachusetts, demonstraram que os criminosos, no importa onvel de controle exercido pelo Estado, sempre conseguem as armas de fogo com queagridem a sociedade. J ao cidado honesto, o que restar? Se o Estado em armas lhefalhar, o que acabar por acontecer, ser um cordeiro entre feras: lobos que a esto,garanto-lhes, a afiar os dentes.

    No eticamente aceitvel, ademais, deixar de levantar a questo mais crucial: oEstado no tem direito de tutelar a disposio humana para o enfrentamento do perigo;no pode arrogar-se o monoplio da coragem. Esse ponto muito bem tratado pelosautores. Qualquer pessoa de bem que atenda aos restritivos requisitos da lei podeexercer o direito natural legtima defesa. Ainda que isso caro lhe custe. O que seria deuma nao cujos cidados fossem todos educados para a repulsa s armas? Quem iria s

    fileiras da Fora Pblica? Como mobiliz-los em defesa da Ptria ou das Instituies seno restarem seno pessoas que tm medo de armas e que aceitam a paz a qualquercusto, mesmo que seja a escravido, a dominao estrangeira, a sufocao da liberdade,a tranqilidade prpria dos mausolus? a isso a emasculao nacional quecondenaremos o nosso pas, em curto prazo, se as pessoas dispostas a defender-se

    passarem s pginas da histria.

    A violncia, em todas as suas facetas, um mal social. Tambm ns, que defendemos

    o direito legtima defesa, compartilhamos do sonho de extirp-lo totalmente. Adiferena entre ns e os autoproclamados pacifistas que sabemos que a cultura da pazest muito distante no tempo: coisa para daqui a alguns sculos. No momento, e nasdcadas em que vivero nossos filhos e netos, a paz e a liberdade s podero serasseguradas por gente de bem, armada at os dentes.

    Atribui-se cultura romana a seguinte mxima: o favor coleciona amigos; a verdadegranjeia dio. Sem dvida, os ilustres autores deste til livro recebero em cheio tal

    dio, por atrever-se a colocar em relevo a verdade sobre a tentativa de desarmamentodas pessoas de bem, cumpridoras da lei. Eles bem sabem que, trazida a lume esta

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    importante obra, sero atacados, aos uivos, pelos lobos que querem reduzir a impotentescarneiros os defensores do direito posse mansa e pacfica de armas de fogo de defesa.

    As vidas desses combatentes de maneira nenhuma ficaro mais tranqilas aps olanamento deMentiram sobre o desarmamento para mim. Sero mais do que j oso! injuriados, apontados como fetichistas por armas, inimigos da cultura da paz e

    ustificadores da violncia. E as foras que os atacaro so poderosas, globalmenteestruturadas e dotadas de farto dinheiro, em dlares e euros, alm de dinheiro pblicodos pagadores de impostos brasileiros, para lanar e manter campanhas de descrdito.Mais uma razo para reconhecer-lhes o mrito e a coragem e para prestigi-los,oferecendo-lhes o suporte moral necessrio ao enfrentamento do terrorismo

    propagandstico que os atingir.

    A luta pelo direito impe tais sacrifcios a homens de coragem como Flavio Quintela e

    Bene Barbosa. Mas exige tambm que o conhecimento que disseminam seja apropriadopor todos os que com eles formam a trincheira do bem. Exorto os leitores a estudar aobra e a utilizar esse arsenal intelectual no renhido combate em que todos temos o deverde engajar-nos por nossa causa comum, que a de uma Ptria livre dos grilhes dacovardia, onde cada brasileiro seja dotado de disposio e de meios materiais paraexercer a autodefesa, direito natural de todas as gentes.

    So Paulo, 20 de fevereiro de 2015.

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    Um povo livre precisa estar armado.

    GEORGEWASHINGTON

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    Introduo

    realidade inconteste que o desarmamentismo sustenta-se na mentira, cresce nas meias verdades,floresce no simplismo ealimenta-se dos incautos. No h como coexistir com a verdade, mesmo queseja apenas e to somente com uma s gota dela, pois dissolveria como um caramujo em contato como sal, ou como um vampiro exposto luz.

    Poucos assuntos suscitam opinies to infundadas e quase que totalmente baseadas nasemoes quanto o armamento civil. Ainda que a maioria das pessoas saiba menos sobreesse assunto do que sobre mecnica quntica, eletromagnetismo ou astrofsica, ocomportamento mais comum adotado o de assumir uma opinio aparentemente slida,geralmente contrria ao armamento, e com pouco ou nenhum desejo de se instruir sobreo assunto, ou seja, de buscar as verdades fticas que so escondidas pela mdia e pelo

    governo. Este ltimo, alis, um dos menos interessados em divulgar informaes reaissobre os benefcios que as armas trazem sociedade, por motivos que veremos frente.

    Portanto, se voc est lendo este texto, neste exato momento, porque, de algumaforma, conseguiu vencer as barreiras de preconceito to ligadas ao assunto. Espero queo restante do livro possa ajud-lo a compreender alguns conceitos e verdades que estofora dos jornais de grande circulao, das reportagens televisivas, das comisses deestudo dos parlamentos, dos planos de governo de candidatos ao executivo, das escolas,

    das universidades fora do senso comum.Assim como na obra que deu origem a esta srie Mentiram (e muito) para mimcada captulo deste livro traz em seu ttulo uma mentira bem difundida, refutada aolongo do texto. Veremos, em dez captulos e dois apndices, que quase tudo o que divulgado pela mdia e pelo governo no possui suporte em dados e estatsticas. Quandose procuram os dados, as pesquisas srias, as histrias no publicadas, as estatsticas

    policiais e muitas outras fontes confiveis de informao, a concluso sempre amesma: alm de no recebermos as informaes corretas sobre a questo das armas defogo, recebemos informaes falsas, que tm o intuito claro de manipular a opinio

    pblica e a sociedade.

    Existe uma fala de Jesus Cristo que resume muito bem o intuito desta obra, e que seaplica a este assunto to bem como a qualquer outro: E conhecereis a verdade, e averdade vos libertar.[ 1 ]

    parte o significado transcendente desta sentena, que se refere verdade divina, elase aplica a todo o conhecimento humano de forma muito simples: a verdade sempre

    liberta, e por isso que os tiranos procuram escond-la de todas as maneiras. Umexame rpido da histria recente, particularmente dos regimes totalitrios que seinstalaram no mundo durante o sculo XX, especialmente pouco antes e aps a Segunda

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    Guerra Mundial, revelar prticas comuns como a queima de livros, o cerco imprensalivre, a censura opinio e, mais recentemente, as restries ao acesso Internet e agrandes contedos eletrnicos de informao. Ocultar a verdade, substituindo-a commentiras, , hoje, o que h de mais eficiente para subjugar um povo. A histria humanaest repleta de casos em que homens cuja liberdade fsica lhes foi tirada conseguiram

    mover multides apenas com suas idias, muitas vezes desenvolvidas em crceres eprises. Mas basta que, em vez do crcere fsico, se imponha o crcere mental, para queuma ou mais geraes sejam condenadas ao papel bovino de seguir um lder ou governosem nenhum questionamento. A grande massa de ignorantes a terra frtil onde osdspotas cultivam seu poder.

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    Todo o poder poltico vem do cano de uma arma.O partido comunista precisa comandar todas as armas;

    desta maneira, nenhuma arma jamais poderser usada para comandar o partido.

    MAOTSTUNG

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    CAPTULO I

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    Mentira: o governo quer desarmar aspessoas porque se preocupa com elas

    Todos ns nascemos de um pai e de uma me. Conforme crescemos, nos acostumamoscom uma idia simples e fcil de acreditar: nossos pais querem o melhor para ns e,

    mesmo quando fazem algo de que discordamos, porque se preocupam conosco esabem, por experincia de vida, quais caminhos terminam bem e quais terminam mal.Somente quando nos tornamos adultos, mais ainda quando temos nossos prprios filhos, que conseguimos compreender plenamente algumas coisas que uma criana ou umadolescente simplesmente no tem como entender.

    Sabe qual um dos maiores problemas das sociedades modernas? Resposta fcil:muitas pessoas acreditam que o Estado como seus pais, e agem como crianas. por

    causa desse comportamento que vemos a ascenso de tantos lderes messinicos, queassumem a posio de pai ou me do povo, e dali fazem valer sua vontadeindividual sobre milhes de pessoas. Infelizmente, esses falsos pais no tm a menorinteno de proteger suas crianas dos males e dos perigos seu nico propsito manter e ampliar seu poder, custe o que custar. A palavra mais apropriada para

    descrever os propsitos de governantes despticos dominao.E para que um homempossa dominar outros homens, uma nica coisa necessria: vantagem de fora. Foi

    assim em toda a histria da civilizao, e continua sendo assim hoje.Desta forma, para que um governo possa ter certeza de que no haver levantes e nem

    insurreies da populao, uma medida imprescindvel: tirar as armas dessapopulao, tirar dela todo o poder blico que poderia ser usado contra o governo,deixando-a completamente impotente e sem chances de se defender. Quando todas asarmas estiverem sob o comando do governo, ele poder fazer qualquer coisa com seu

    povo, sem nenhuma resistncia, sem nenhum risco de ser deposto ou combatido. Ou

    seja, o desarmamento da populao tem um nico objetivo: controle social.[ 2 ]Parecealgo difcil de acreditar? Parece exagero, uma teoria conspiratria? Bem, um pouco dehistria pode ajudar a esclarecer a questo.

    O Brasil foi descoberto pelos portugueses em 1500. Trinta anos depois iniciou-se opovoamento do pas, que passou a ser colnia de Portugal, condio que seria mantidaat o ano de 1815. Nesse perodo h registros da primeira poltica de desarmamento denossa histria: qualquer um que fabricasse armas de fogo no territrio brasileiro

    poderia ser condenado pena de morte. Estaria a Coroa Portuguesa preocupada com obem-estar dos brasileiros, com a criminalidade, com os assassinatos, e por isso estavaproibindo a fabricao de armas? claro que no. Como veremos adiante, a restrios armas de fogo no significa o fim da violncia. Ademais, o Brasil colonial no era

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    um pas violento, e os ndices de criminalidade estavam longe do que so hoje. Nestecaso, o objetivo era claro: restringir a produo de armas para dificultar a formao demilcias coloniais que pudessem ameaar o poder de Portugal.

    A restrio fabricao de armas continuou por todo o perodo colonial, sem nenhumamudana, fortalecida pelo surgimento de movimentos de independncia em outras

    colnias americanas, no final do sculo XVIII. Em 1815, com a chegada da famlia realportuguesa ao Brasil, a antiga colnia elevada ao estado de Reino Unido de Portugal,Brasil e Algarves, situao que duraria apenas at 1822, quando Dom Pedro I proclamaa independncia, dando incio ao perodo imperial. Poucos anos depois, em 1831, DomPedro I abdica do trono brasileiro para retornar a Portugal, e deixa em seu lugar o filhoDom Pedro II, na poca com 5 de idade. Como a Constituio no permitisse que omenino governasse at atingir a maioridade, o pas entrou no chamado Perodo

    Regencial.Diogo Antnio Feij, conhecido como Regente Feij, assume a regncia do Imprioem 1835, e comea a trabalhar pela dissoluo das milcias de cidados e pelaformao de uma guarda nacional. As milcias eram grupos autnomos que haviam seformado pouco antes da independncia, e que deram suporte a este movimento,

    principalmente nas zonas costeiras, buscando neutralizar possveis incurses armadasde Portugal para retomar a colnia. Ciente de que as milcias representavam o poder

    blico nas mos da populao, Feij buscou transferir esse poder ao Estado, tentandomonopolizar o uso organizado da fora letal pela Guarda Nacional. Esse movimento exatamente oposto ao que acontecia nos Estados Unidos, onde a segunda emenda Constituio garantia aos cidados americanos o direito autodefesa, atravs da

    propriedade e do porte de armas de fogo, e o direito a constituir milcias para protegero pas contra inimigos externos e internos, garantindo a soberania do povo sobre osgovernantes, j que como inimigo interno pode-se classificar qualquer governo queresolva agir de forma desptica e que coloque em risco as liberdades individuais.

    Thomas Jefferson, um dos maiores estadistas dos Estados Unidos, disse poca queNenhum homem livre deve ser impedido de usar armas.

    Vale ressaltar que, ainda que as milcias tivessem sido proibidas, a propriedade dearmas era um direito de todo cidado brasileiro livre, na poca do Imprio. Esse direitoera vetado aos negros, na grande maioria escravos, e aos ndios, com exceo doscapites do mato. Fica claro que negar armas a um grupo de pessoas sempre foi uma

    premissa bsica para manter um estado de dominao sobre tal grupo, e no foi

    diferente com a escravatura brasileira. Estas regras e leis foram mantidas, algumas naforma original e outras adaptadas s novas realidades sociais, durante todo o perodorestante do Imprio; e tambm por toda a Repblica Velha, que iniciou-se em 1889 e foi

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    at a Revoluo de 1930, quando Getlio Vargas tomou o poder e ocupou a presidnciapor quinze anos. com ele que se tem notcia da primeira campanha oficial dedesarmamento de um governo brasileiro, nos mesmos moldes das campanhas atuais. O

    pano de fundo que justificou o estabelecimento dessa campanha foi a presena de doismovimentos no nordeste do pas, o coronelismo e o cangao, ambos antagnicos ao

    poder centralizador de Vargas.Para entender o coronelismo, devemos voltar ao perodo da Regncia. Depois que as

    milcias foram banidas, a Guarda Nacional foi formada por batalhes regionais, e ocomando desses batalhes era dado ao fazendeiro mais importante da regio, querecebia a patente de Coronel. A Guarda teve grande importncia na Revoluo Liberalde 1842, na Guerra contra Oribe e Rosas e na Guerra do Paraguai, e os fazendeiros-coronis tornaram-se bastante influentes por conta disso. Aps a Guerra do Paraguai, a

    Guarda Nacional foi se dissolvendo, at sua extino oficial em 1918, mas os antigoscoronis continuaram com seus grupos armados, e com sua influncia regional. Essesgrupos eram muitas vezes equipados com armamento importado e de qualidade superiorao das foras policiais oficiais.

    J o cangao foi um movimento tipicamente bandido, surgido no nordeste do pas, emmeados do sculo XIX. Os cangaceiros atacavam em bandos, saqueando, roubando eestuprando mulheres, espalhando o terror por praticamente todos os estados nordestinos.Mas havia tambm as interaes entre os coronis e os cangaceiros, com estes muitasvezes atuando como mercenrios a servio daqueles. Dentre os muitos cangaceiros que

    passaram pela histria, o mais famoso de todos, Lampio, atuou nas dcadas de 1920 e1930.

    Getlio Vargas inicia seu governo ditatorial com um objetivo muito claro: acabar comas ameaas armadas ao seu governo, e isso significava dar fim aos cangaceiros e minaro poder dos coronis. O discurso para lidar com os cangaceiros era muito palatvel

    populao, j que o carter criminoso do movimento dava ampla justificativa captura

    ou morte de seus lderes. Mas como minar o poder dos coronis? Vargas sabia queenquanto eles tivessem um poder blico comparvel ao do Estado, jamais conseguiriasubjug-los. Desarm-los fora tambm no era uma opo vivel, pois resultaria numconflito certo, e de resultados imprevisveis. A estratgia escolhida foi justamente a deculpar os cangaceiros, afirmando que as armas que eles usavam em seus crimes vinhamdos estoques dos fazendeiros-coronis, e a partir da construir um programa dedesarmamento baseado numa premissa nobre. notvel a semelhana com o discurso

    atual do governo, que afirma que as armas dos cidados de bem acabam nas mos doscriminosos.

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    O discurso capturou alguns coronis incautos, e comeou a surtir efeito vrios delesentregaram suas armas s foras policiais locais, voluntariamente, e acabaram com suasmilcias enfraquecidas. Como comum em todo perodo que sucede uma ao dedesarmamento, os bandidos experimentaram uma facilidade incomum para perpetrarseus crimes, a ponto de o prprio Lampio expressar sua gratido para com o major

    Juarez Tvora, comandante das foras nordestinas que apoiaram Getlio Vargas em1930, apelidado de Vice-Rei do Norte. Vale destacar um trecho do livroAs Tticasde Guerra dos Cangaceiros, de Maria Christina Matta Machado, sobre um episdio dapoca: Em Umbuzeiro ele se encontrou com o Sr. Jos Batista, e notando nelesemelhana com o ento major Juarez Tvora, cercou-o de gentilezas. (...) Lampioestava muito grato a uma atitude tomada pelo major Tvora, que determinara odesarmamento geral dos sertanejos, vendo a talvez uma soluo para o fim do cangao.Lampio agradeceu a bondosa colaborao que lhe foi prestada, porque poderia agirmais vontade no serto.[ 3 ]

    Lampio desfrutou do mesmo benefcio que os criminosos de hoje desfrutam: escolheras vtimas sem a preocupao de ser baleado ou morto durante o revide. Tudo graas lgica invertida do desarmamento: entregue suas armas e voc estar mais seguro. A

    primeira questo estava resolvida, e restava lidar com os cangaceiros. Pouco tempodepois, o governo Vargas os classificou como extremistas, autorizando a morte dequalquer um deles que no se rendesse. As foras nacionais apertaram o cerco a

    diversos grupos que compunham o cangao, atravs de aes de perseguio, captura eassassinato. No dia 28 de julho de 1938, Lampio e sua mulher, Maria Bonita, forammortos com mais nove cangaceiros numa emboscada, no estado de Sergipe. Depoisdesse episdio o movimento desapareceu rapidamente.

    importante incluir neste ponto uma meno derrota de Lampio em Mossor, nodia 13 de junho de 1927.[ 4 ]O prefeito da cidade, Rodolfo Fernandes, sabendo que no

    poderia contar com a proteo de polcia ou do exrcito para defender os cidados dos

    cangaceiros, tomou uma atitude corajosa e inteligente: certo de que Lampio viria comseu bando para atacar e saquear a rica Mossor, mandou que idosos, crianas emulheres fossem retirados da cidade, e armou cerca de 300 voluntrios que sedispuseram a lutar, distribuindo-os em pontos estratgicos, como torres de igrejas etelhados. Quando os cangaceiros chegaram, confiando que teriam mais um alvo fcil

    pela frente, foram recebidos por uma chuva de balas, e pouco tempo depois recuaram efugiram, para no mais voltar.

    O episdio muito esclarecedor, no sentido em que mostra a eficincia do armamento,e quo equivocada foi a deciso de desarmar os coronis, do ponto de vista dasegurana da populao. Quantas mortes no teriam sido evitadas nos onze anos

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    seguintes derrota de Mossor, se Lampio tivesse encontrado esse tipo de resistncia em vez de cidados amedrontados e desarmados pela frente?

    Pode ter demorado oito anos para que Lampio fosse morto e o governo Vargaspudesse finalmente anunciar o fim do cangao, mas o efeito devastador dodesarmamento pde ser sentido quase que imediatamente. Uma histria real exemplifica

    e ilustra o modo de operao do governo em relao aos coronis, provando cabalmenteque ningum deve confiar em algum que lhe queira tirar os meios de defesa prpria.

    Horcio Queirs de Matos foi um coronel do serto baiano do incio do sculo XX.[ 5]Teve a seu servio um verdadeiro exrcito de jagunos, como eram chamados ossertanejos nordestinos que faziam parte das milcias coronelistas. Horcio colecionoudiversas vitrias com sua milcia, assim como conquistas na carreira poltica, tornando-se um dos mais influentes coronis do Brasil. Quando Vargas tomou o poder, em 1930,

    ele era prefeito da cidade de Lenis, na Bahia. Logo que soube das intenesgovernistas, empreendeu uma ao intensa de coleta de armas, pois h tempos nutria aidia de um serto livre de armamentos. Em seguida, recebeu calorosamente a Comissode Desarmamento, liderada pelo general Jurandir Toscano de Brito, e lhe rendeu aimpressionante quantidade de quarenta mil armas, posteriormente enviadas de trem aSalvador.

    Logo depois da chegada das armas o governo mandou prender diversos coronis daregio, incluindo o prprio Horcio de Matos ele foi levado para Salvador, em 30 dedezembro de 1930. Diante de uma presso popular imensa pedindo sua soltura atravsde telegramas, abaixo-assinados e cartas a Getlio Vargas, ele foi libertado com acondio de que permanecesse na cidade. Ficaria ali por pouco tempo foi assassinadoem 15 de maio de 1931, quando saa para passear com sua filha de 6 anos de idade, cotrs tiros nas costas, disparados pelo policial Vicente Dias dos Santos. O assassino foiabsolvido, sem jamais ter revelado o mandante do crime, e morreu misteriosamentealgum tempo depois. Parece bastante provvel que estivesse agindo a mando do prprio

    governo federal.Getlio Vargas ainda enfrentaria mais uma situao de confronto blico, na revoluo

    de 1932. Mas desta vez seria contra o estado mais rico da federao, So Paulo, quecontava com uma fora policial equipada com fuzis Mauser, metralhadoras Madsen,carros de combate, canhes e at mesmo alguns avies de guerra. Alm da ForaPblica do Estado de So Paulo,[ 6 ]os paulistas contavam com todas as organizaesmilitares do exrcito brasileiro sediadas em seu estado, e com a ajuda de milhares de

    voluntrios, que levaram suas prprias armas para o campo de batalha. Depois de 87dias de duros combates, o governo de Vargas conseguiu vencer a guerra paulista,encerrando assim o ltimo conflito armado ocorrido em territrio brasileiro. Mas a

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    mensagem que ficou muito clara: os paulistas no teriam sequer ousado levantar-secontra a ditadura de Vargas sem o armamento que tinham. Pouco tempo depois, em 6 deulho de 1934, o governo baixou o Decreto 24.602, criando as restries de calibres e

    de armamentos, tanto para os cidados civis como para as polcias. por conseqnciadesse decreto que as polcias estaduais necessitam hoje da permisso do exrcito para

    comprar fuzis e armas de maior calibre, e freqentemente combatem os criminosos comequipamento inferior em poder de fogo. No Brasil de hoje os criminosos no tm medoda populao que no possui armas e no tm medo da polcia que possui armasinferiores. Tal legislao, atualizada e ampliada, encontra-se at hoje em vigor e conhecida por atiradores esportivos e colecionares de armas por R-105. Deve-sedizer que, dentre os pases democrticos, o Brasil provavelmente o nico onde afiscalizao e regulamentao do Tiro Esportivo e do Colecionismo de Armas so feitas

    pelo Exrcito.

    As aes de controle social no terminaram no governo de Getlio Vargas. Osgovernos de esquerda, que chegaram ao poder depois do perodo militar, trouxeramconsigo um nimo redobrado para continuar com as polticas de restrio s armas. Estahistria recente, a partir do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, serobjeto de anlise em outras partes deste livro. O que deve ficar deste primeiro captuloso justamente os exemplos histricos, que vm de sculos, de como o governo seesfora em controlar o povo atravs das restries ao armamento.

    Como reflexo final deste captulo, considere-se a seguinte afirmao: todo povo ounao que perde uma guerra obrigado a entregar as armas ao vencedor, sem excees.O que isso nos sugere no Brasil de hoje? Voc consegue enxergar que h um lado

    perdendo sempre, e que a maioria de ns est desse lado? Consegue ver que cadacidado de bem que entrega sua nica forma de defesa est perdendo a guerra contra oEstado? No h perdedores do lado dos governantes, pois eles contam com um aparatode segurana muito superior e exclusivo. Os perdedores so todos os que abrem mo de

    seus direitos individuais ao confiar sua segurana e sua independncia exclusivamenteao poder policial, que na maioria das vezes chega na cena do crime depois que no hmais a se fazer.

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    Se as armas matam, as minhas esto com defeito.

    TEDNUGENT

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    CAPTULO II

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    Mentira: as armas matam

    O primeiro assassinato documentado da histria foi o de Abel, morto pelo irmoCaim. A humanidade tinha ento quatro pessoas, e uma delas j resolveu tirar a vida deoutra. Narrativas bblicas parte, desde que o homem comeou a registrar sua histria,

    esses apontamentos incluem aquilo que chamamos hoje de homicdio: o ato de dar fim vida de uma outra pessoa. As leis modernas diferenciam o homicdio intencional, muitasvezes chamado de doloso, do no intencional, conhecido como culposo. Mas uma coisa certa em qualquer lei, de qualquer pas: para que se configure um homicdio, necessrio que haja uma ou mais pessoas agindo nesse sentido.

    No Brasil de hoje, pelo menos sob a tica da mdia, isso no mais verdade. Aqui jvirou lugar comum dizer que as armas matam, como se no houvesse uma pessoa por

    trs de cada uma das pistolas, revlveres, espingardas e fuzis que so usados paracausar parte das 60 mil mortes criminosas que o Brasil produz todos os anos. Uma outra

    parte considervel dessas mortes so decorrentes do uso de facas, bastes, pedras,carros e substncias qumicas, que nas mos de algum com a devida inteno tornam-seto letais quanto a mais poderosa das armas de fogo. Alis, quando se trata de crimes deoportunidade, ou seja, aqueles que acontecem no calor da discusso, as armas maisusadas para matar no so as de fogo, e sim as que estiverem disposio facas,

    tesouras, ferramentas, bastes e outros objetos. De qualquer forma, a verdadeincontestvel que nenhuma arma, de nenhum tipo, mata por si s. Infelizmente,vivemos numa poca em que as responsabilidades individuais esto cada vez maissendo transferidas para entes desprovidos da capacidade de agir. Coisas como essasso muito comuns de se ouvir ou ler: Ele est com cncer nos pulmes? A culpa do

    fabricante de cigarros.

    Ela teve um ataque cardaco por excesso de colesterol no sangue? A culpa das

    redes de lanchonetes.Fulano bateu em algum por causa de uma discusso de trnsito? A culpa dainfncia difcil que teve.

    Sicrano est endividado, com o cheque especial e o carto de crdito estourados? Aculpa do banco, que ofereceu crdito fcil.

    Beltrano atirou e matou algum? A culpa da arma.

    A escolha de fumar, de comer gordura, de agredir, de gastar mais do que se ganha oude puxar o gatilho individual e de responsabilidade intransfervel. Quando tentamosnos livrar de nossas responsabilidades, agimos como crianas, e voltamos ao ciclo

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    vicioso de nos colocarmos sob a tutela do Estado-pai, aquele mesmo que no tem omenor interesse em nosso bem-estar, mas sim em nos controlar. Cidados que fazemacontecer, que deixam uma marca positiva ao seu redor, so aqueles que assumem asconseqncias de seus atos e a responsabilidade por suas escolhas. H uma frase muitofamosa, usada com freqncia pelo pessoal da NRA,[ 7 ]que no poderia ser mais

    verdadeira: armas no matam pessoas; pessoas matam pessoas.Mas no assim que a mdia v. As notcias atingem tal ponto de irracionalidade que

    chegam a ser cmicas. Veja algumas manchetes de portais de notcias brasileiros: Garotos teriam achado na rua arma que matou menino[ 8 ]

    Dois jovens so mortos por arma de fogo em Teresina[ 9 ]

    Noite de sbado com dois mortos e um ferido por arma de fogo[ 10 ]

    Homem morre e outro fica ferido aps carro passar atirando em Bento Ribeiro,zona norte do Rio[ 11 ]

    Carro passa atirando em bairro e um homem ferido[ 12 ]

    Armas que matam sozinhas e carros que passam atirando esse o nvel da coberturaornalstica que temos hoje no Brasil. O destaque sempre dado arma de fogo, como

    se a criminalidade no tivesse mais nenhuma outra causa. Como veremos, existemmuitos exemplos de pases onde grande parte da populao possui e carrega armas de

    fogo, e que tm ndices de criminalidade muito baixos. O Estado e a mdia prestariamum servio minimamente til se apontassem os verdadeiros responsveis pela situaocalamitosa em que se encontra a segurana pblica brasileira: leis frouxas, fora

    policial enfraquecida, sistema judicirio cheio de brechas, presdios abarrotados epouco seguros, e lenincia na aplicao das leis. Um misto de fatores que na boca daspessoas ganha uma definio de uma s palavra, um sentimento bem comum entre osbrasileiros: impunidade.

    No bastasse toda a histeria com que a mdia e as organizaes no governamentais seposicionam contra as armas, h ainda o fato de que todos os programasdesarmamentistas j implementados no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundoutilizam o mesmo modo de operao e a mesma lgica (ou melhor dizendo, falta delgica): desarmar os cidados de bem para evitar que sejam cometidos crimes comarmas de fogo. Ora, se j chegamos concluso de que so as pessoas que matam soelas que decidem quando e contra quem vo usar suas armas no h nada mais idiotado que privar justamente as pessoas de bem deste recurso to valioso preservao davida. Afinal de contas, ao pedir que as pessoas entreguem suas armas, o governocertamente no receber a adeso dos bandidos e criminosos, dos assaltantes ehomicidas, dos membros de gangues e grupos de extermnio, dos integrantes do PCCe do

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    Comando Vermelho, dos seqestradores e estupradores, ou seja, de nenhum daquelesque so os principais responsveis pelas mortes violentas nas cidades brasileiras.

    Os nicos que costumam responder a esses apelos irresponsveis so justamente oscidados ordeiros, que possuem uma arma em casa para sua prpria defesa, e quedepois de entreg-la ao governo passaro a fazer parte do grande grupo de brasileiros

    que no tm nada a fazer no caso de serem atacados por um criminoso, a no ser pedirpara Deus que os livre do pior e aguardar pacientemente a chegada, sempre atrasada, dapolcia.

    Um outro ponto importante para desmascarar a mentira de que as armas matam ustamente a prova da afirmao contrria: as armas, quando usadas por pessoas de

    bem, so instrumentos para salvar vidas, muitas vezes sem a necessidade de um disparosequer. Veja o caso da famlia Oliveira, da zona leste de So Paulo: Lauraci vivia com o

    marido, a filha e a me, numa casa simples da periferia de So Paulo. O marido sempreteve duas armas em casa, principalmente por ter que ficar longos perodos fora atrabalho, deixando as duas mulheres e a criana sozinhas. Numa certa tarde um homem

    pulou o porto da casa e dirigiu-se entrada da sala. Ao perceber um barulho, Lauracicorreu para a porta para verificar se estava trancada, chegando no momento em que ohomem comeava a abri-la. Nesse momento ela tentou fech-lo para fora, mas ele jhavia colocado um p entre a porta e o batente. Ela ento gritou: Me, pegue orevlver do Z, a no armrio da cozinha! Ao ouvir essas palavras o invasor saiucorrendo, desistindo do ataque.[ 13 ]

    Casos como esse so comuns, ou pelo menos eram muito mais comuns at a dcada de1990, quando os brasileiros ainda tinham a liberdade de possuir armas em casa paradefender suas famlias. Criminosos buscam sempre os alvos mais fceis, e muitas vezes

    preferem ser pegos pela polcia a enfrentar uma vtima armada, por um simples motivo:a possibilidade de sair vivo com a polcia maior. claro que a simples ameaa de

    pegar uma arma nem sempre suficiente para dissuadir um bandido de cometer um

    crime. Nesses casos, um simples treinamento e alguma prtica no uso da arma pode sera diferena entre uma tragdia familiar e um susto. Quando um criminoso resolveinvadir a propriedade de algum, ele quem se coloca na posio mais vulnervel surpresa, pois nunca sabe que tipo de resistncia ir encontrar ali dentro. O que oEstatuto do Desarmamento conseguiu fazer foi justamente eliminar esse elemento desurpresa da atividade dos criminosos: hoje eles podem entrar em qualquer residncia oucomrcio com a certeza quase absoluta de que no haver armas no local, e de que a

    chance de se darem mal nessa ao ser mnima.Mas se o uso defensivo das armas pode salvar vidas, por que no vemos quase

    nenhuma meno desses episdios na mdia, e nas poucas vezes em que uma histria

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    dessas publicada, o desfecho geralmente fatal? A explicao consiste em trs

    fenmenos diferentes e concomitantes. So eles: 1. Ideologia da mdia como j foibem explicado no livroMentiram (e muito) para mim,[ 14 ]a mdia brasileira majoritariamente de esquerda. A esquerda, ideologicamente falando, defensora de

    polticas de restrio ao armamento e de controle exclusivo da fora letal pelo Estado.

    Uma vez que os espaos nos grandes jornais, revistas, emissoras de televiso e portaisde Internet esto ocupados, em sua maioria, por jornalistas que apoiam o desarmamento,seria ingenuidade imaginar que eles daro destaque a qualquer notcia ou fato que sejaem favor do uso defensivo das armas e que contradiga as mentiras h tanto tempodifundidas e que tm enganado as pessoas, levando-as a entregar seus meios de defesaao governo. Vale ainda observar que esse domnio ideolgico existente na mdia tambm presente no sistema educacional brasileiro. O resultado um pblico educadodesde cedo com as mesmas mentiras que depois sero propagadas pela mdia, numefeito cumulativo de afastamento da realidade.

    2. Noticiabilidade tomaremos emprestado esse termo do excelente livro Opreconceito contra as armas, de John Lott.[ 15 ]O significado do termo simples:certos fatos tm muito mais chances de chamar a ateno das pessoas do que outros;quanto mais ateno, mais audincia; quanto mais audincia, mais lucro. Como todoempreendimento privado, as empresas da mdia precisam lucrar, mas ao mesmo

    tempo tm de preservar sua tica jornalstica, sob pena de perderem toda acredibilidade perante o pblico. Portanto, mesmo numa mdia hipoteticamente isentade ideologia, notcias de menor destaque seriam preteridas em favor das de maiorapelo junto ao pblico. Assim como no se d a notcia de que um nibus chegou

    bem ao seu destino, mas se d a de que um nibus sofreu um acidente gravssimo noqual morreram quase todos os passageiros, no se do as notcias sobre o usodefensivo das armas, mas sim as notcias sobre seu uso criminoso e letal. Colocandode uma forma bem popular, notcia ruim vende mais.

    3. Escassez de relatos crimes perpetrados geram vtimas, vtimas sointerrogadas por policiais, policiais geram relatrios e estatsticas, e essesrelatrios so usados pelos rgos de mdia, juntamente com depoimentos detestemunhas, filmagens e gravaes de udio, para compor as reportagens que seroexibidas nos jornais impressos, televisivos e eletrnicos. Mas e quando uma vtima

    potencial consegue evitar o crime? E quando acontece exatamente como o ocorrido

    com a famlia Oliveira? Ningum foi polcia, nenhum reprter estava por perto,ningum se preocupou em registrar o que aconteceu, e a experincia terminou semnenhum ferimento ou morte em ambos os lados. O fato de que esses casos noestejam nos noticirios no faz com que eles sejam menos verdadeiros, ou menos

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    numerosos. No podemos tomar a freqncia de um determinado tipo de notciacomo parmetro para avaliar quantitativamente o mundo real, porque as notcias soapenas um recorte da realidade, feito com a tesoura da mente do jornalista. Fazerisso seria como pegar um pedao recortado de uma toalha, contendo um buraco nomeio, sem olhar para o restante intacto dela, e imaginar que a toalha inteira est

    esburacada. Os casos de uso defensivo de armas existem, so numerosos, envolvema preservao de vidas, mas muitas vezes ficam apenas na memria de seus

    protagonistas, infelizmente.

    Fica fcil, depois dessa anlise, compreender o porqu de tamanha escassez deinformaes sobre o uso defensivo das armas, e o porqu da difuso generalizada damentira que d nome a este captulo. As pessoas ainda acreditam que as armas matam,simplesmente porque nunca lhes foi mostrado que as armas salvam vidas.

    Para terminar este captulo, vem a calhar uma comparao metafrica, para deixarbem claro o papel das armas na sociedade. Pense nos medicamentos que voc tomaquando est doente. Se voc j leu a bula de algum remdio, por mais simples que seja,deve ter se deparado com uma lista enorme de efeitos colaterais, que podem acontecerdurante o tratamento. Muitas vezes os efeitos colaterais so piores do que a doena quemotivou o uso daquele remdio. O que faz com que as pessoas ignorem aqueles efeitosterrveis e faam uso do medicamento de qualquer maneira? Ora, claro que a relao

    entre o benefcio do medicamento e as chances de efeitos colaterais. Se a bula dissesseque a pessoa tem 50% de chances de sofrer um efeito colateral terrvel, elasimplesmente desistiria de usar aquela substncia. Mas como a chance de que omedicamento resolva seu problema muito maior do que de causar um problema novo ediferente, a pessoa aceita o risco e toma o remdio.

    Pois com as armas acontece o mesmo, s que a nica coisa que alardeada so osefeitos colaterais. A impresso das pessoas que as armas s fazem mal, quando naverdade o mal que elas causam sempre um efeito colateral de atitudes criminosasdaqueles que as usam com os intuitos errados. Este livro justamente uma tentativa demostrar o outro lado dessa bula, para que voc possa formar uma opinio prpria

    baseada na realidade, e no nos recortes que lhe esto sendo mostrados.

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    Sendo necessria segurana de umEstado livre a existncia de uma milcia bem

    organizada, o direito do povo de possuir eusar armas no poder ser infringido.

    2 EMENDA CONSTITUIO DOSEUA

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    CAPTULO III

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    Mentira: pases desarmadosso mais seguros

    Se a mdia fizesse seu papel com um mnimo de correo e apresentasse os fatos semdistorc-los ao extremo, como costuma fazer, livros como este no precisariam ser

    escritos. Uma das maiores distores acontece justamente quando o assunto pasesseguros so os que probem o armamento civil. E o exemplo mais difundido, e quaseuniversal, de todos os que seguem essa linha mentirosa o da Inglaterra. Para osdefensores do desarmamento, o exemplo ingls o mais utilizado, o mais reverenciadoe o mais respeitado, como se os ingleses vivessem num paraso de segurana etranqilidade. Mas a verdade bastante diferente e, novamente, faremos uma breveviagem pela histria, para que o achismo e as impresses dem lugar a um raciocnio

    bem fundamentado.A Inglaterra um dos beros da democracia moderna, tanto no tocante aos direitos

    individuais como no modelo de representatividade de duas cmaras legislativas. AInglaterra tambm o incio da histria dos Estados Unidos e, embora sejam hoje pasescom tamanhos e populaes muito distintas, essa diferena mesma ser muito til pararetratar os efeitos perniciosos da mentalidade desarmamentista.

    Vamos voltar bastante no tempo, para o sculo XII, onde esto as origens do sistema

    urdico ingls. A Inglaterra utiliza a chamada common law, cuja traduo livre serialei comum, como base de seu sistema judicirio, e que consiste em leis que foramdesenvolvidas nos tribunais, ao longo do tempo, e no pelas mos de legisladoreseleitos. Nesse sentido, a Inglaterra nunca teve uma constituinte como as muitas quetivemos no Brasil, pois seu sistema legal foi construdo lentamente, em cortes diversas,

    por juzes diversos, empregando um raciocnio baseado na tradio, nos precedentes enos costumes locais. Foi no sculo XII que o rei Henrique II resolveu unificar os

    diversos cdigos legais vigentes nos condados ingleses, formando um sistema nicopara todo o reino, a common law,que sempre garantiu aos sditos do reino o direito depossuir armas para defesa prpria.No sculo seguinte, em 1215, foi estabelecido oParlamento Ingls, que passou ento a ser responsvel pela manuteno, criao ereforma das leis inglesas.

    Depois de quatro sculos, em 1689, o Parlamento Ingls assinou um dos documentosmais importantes j produzidos, a Declarao de Direitos, que influenciariatremendamente a democracia americana, como veremos adiante. Este documento foifeito logo aps a deposio do monarca Jaime II, que descrito no segundo pargrafoda declarao como Rei Jaime Segundo, que com ajuda de seus conselheiros, juzes eministros malignos, esforou-se para subverter e extirpar a religio protestante e as leis

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    e liberdades deste reino. Jaime II no foi descrito assim toa; suas inclinaes a favorda Frana e do catolicismo, suas brigas constantes com o Parlamento e suas tentativasde desarmar os protestantes e eliminar as liberdades individuais foram um aviso claro eurgente aos ingleses. A Declarao de Direitos foi uma resposta imediata a qualqueroutro monarca que cogitasse fazer o mesmo que ele.

    O contedo da declarao, tambm chamada de Carta de Direitos, inclui diversoslimites para o poder do rei, impedindo-o, por exemplo, de suspender leis e de manterum exrcito prprio sem autorizao do Parlamento. Alm disso, a carta diz claramente:Que os sditos que so protestantes podem ter armas para sua defesa, adequadas suacondio, conforme permitido pela lei.

    Depois da Declarao, a tradio jurdica inglesa cresceu, e grandes juristas surgiramno cenrio nacional. Um deles, Sir William Blackstone, no pode deixar de ser

    mencionado, pois teve grande influncia na democracia americana e na defesa do direitocivil ao armamento. Blackstone, que viveu no sculo XVIII, escreveu um tratado dequatro volumes intitulado Comentrios Sobre as Leis da Inglaterra, disponvel at hoje

    para compra, inclusive em formato eletrnico.[ 16 ]Os quatro volumes so: 1. OsDireitos das Pessoas 2. Os Direitos das Coisas 3. Os Erros Privados 4. Os ErrosPblicos Para ele, o direito de possuir uma arma era considerado um direito auxiliar, nosentido em que apoiava os direitos naturais de defesa prpria e resistncia opresso.Blackstone tinha bem claro para si que um homem no pode exercer seus direitos mais

    bsicos se no puder se defender sem a ajuda de nenhuma fora externa, e isso s possvel com o uso de armas. As armas, nesse raciocnio, so acima de tudoinstrumentos de liberdade e garantias de direito. Esse pensamento a base da segundaemenda constituio americana, texto que abre este captulo, e que diz: Sendonecessria segurana de um Estado livre a existncia de uma milcia bem organizada,o direito do povo de possuir e usar armas no poder ser infringido.

    Para Blackstone e para os fundadores da democracia americana, as armas vo alm daproteo de um direito individual elas so a nica garantia de que, diante de umgoverno desptico, o povo ter como reagir e lutar pela liberdade.

    Mas a histria dos dois pases tomaria rumos muito distintos no tocante s armas. Oslegisladores ingleses mantiveram o direito ao armamento intocado por mais doissculos e meio, mas aps a Segunda Guerra Mundial as coisas mudaram bastante. Olivro Violncia e armas,[ 17 ]da professora Joyce Lee Malcolm, descreve com muitosdetalhes o longo processo de desarmamento que ocorreu nos ltimos setenta anos na

    Inglaterra, e que culminou com a situao de completo antagonismo entre dois pasesque um dia compartilharam um dos aspectos mais essenciais das leis. A populaoinglesa foi completamente desarmada e as leis foram reformuladas para que qualquer

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    uso defensivo de armas, mesmo as improvisadas, como pedaos de pau, bastes, tijolosou panelas, fosse considerado criminoso. H casos absurdos, que lembram muito o quevemos hoje no Brasil, de cidados ingleses que, ao serem atacados por criminosos,revidaram, feriram seus agressores, evitaram o crime e foram condenados por isso.Vtimas presas e criminosos soltos, tudo em nome de um raciocnio completamente

    invertido, de que ningum pode se utilizar de violncia, mesmo para se defender contrao mais violento dos criminosos.

    Desta forma, a Inglaterra, que no final do sculo XIX era um dos lugares maistranqilos e seguros para se viver, chegou ao sculo XXI com ndices de criminalidademuito mais altos, superando os ndices americanos em diversos tipos de crimesviolentos, mesmo sendo um pas com um sexto do nmero de habitantes dos EUA e comum territrio setenta e cinco vezes menor. Segundo dados de 2013, a taxa de crimes

    violentos da Inglaterra 80% maior do que a americana, numa comparao per capita.[18 ]

    Onde est a Inglaterra que as revistas e jornais brasileiros pintam como exemplobem-sucedido de campanhas de desarmamento?[ 19 ]Deve estar junto com a Austrlia,que seguiu o modelo ingls de desarmamento radical, chegando a banir at as espadascerimoniais, e que tambm enfrentou um aumento de criminalidade aps odesarmamento da populao civil.[ 20 ]Ou ento com a Jamaica e com a Irlanda, pasesque baniram as armas de fogo h mais de quarenta anos, e nunca experimentaram uma

    reduo em seus ndices de homicdio.[ 21 ]Mas o mais provvel mesmo que estejacom o Brasil, o exemplo mais mal sucedido de desarmamento do planeta aqui, depoisque o Estatuto do Desarmamento foi implementado, no final de 2003, o nmero dehomicdios subiu de 27 para cada 100 mil habitantes em 2004, para 29 por 100 milhabitantes em 2012. O drama desse aumento melhor compreendido se olharmos paraos nmeros absolutos: de 48.374 para 56.337 mortos por ano.[ 22 ]

    A anlise dos nmeros de criminalidade de pases que instituram polticas altamente

    restritivas de desarmamento, mostrando a completa ineficincia dessas polticas, jbastaria para acabar com a mentira que abre esse captulo. Mas possvel fazer aindamelhor. Em vez de apenas constatarmos que os pases desarmados no so mais seguros,vamos tambm observar alguns pases que mantiveram a populao armada, e que tmvivenciado uma queda consistente na criminalidade. Usaremos os casos dos EstadosUnidos, da Sua e da Repblica Checa, por serem os pases com menos restries paraa compra e porte de armas, embora dentro dos EUA haja uma grande variao de estado

    para estado.A Repblica Checa possui leis bastante livres para a posse e o porte de armas. um

    dos pouqussimos pases europeus que permitem o porte oculto de armas curtas de

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    forma no-discricionria,[ 23 ]ou seja, qualquer cidado que se qualificar perante a leino pode ter seu pedido de licena de porte negado pelo governo. Desde a queda docomunismo e da separao da Tchecoslovquia, em 1993, em Repblica Checa eEslovquia, o nmero de armas registradas vem crescendo anualmente, chegando hoje amais de 700.000 armas para uma populao de aproximadamente 10 milhes de

    habitantes, ou seja, uma mdia de 0,07 armas por habitante.[ 24 ]Em relao criminalidade, a tendncia vem sendo de queda em todos os ndices de

    crimes violentos, a ponto de o Escritrio de Segurana Diplomtica dos Estados Unidoster classificado a Repblica Checa, em seu relatrio de crime e segurana de 2011,como um pas seguro para turistas americanos.[ 25 ]Embora o relatrio reconhea aincidncia de crimes menores como pequenos roubos e furtos de objetos deixados emautomveis, os crimes violentos assalto mo armada, assassinato, estupro e

    latrocnio esto em queda constante nos ltimos vinte anos.A lei checa tambm protege o cidado comum que precise utilizar sua arma para sedefender. Exemplo claro e recente foi o caso de um homem de 63 anos de idade que sedefendeu do ataque faca de dois jovens irmos. O homem atirou nos dois agressorescom sua pistola legalizada, matou um deles e feriu o outro, que depois de curado foicondenado e preso. A ao do homem foi classificada como direito legtimo de defesa.[26 ]

    E o que dizer sobre a Sua? A informao mais difundida popularmente que o pasno possui exrcito, pois cada cidado possui uma arma em casa, o que apenas

    parcialmente verdadeiro. O exrcito suo existe, e formado por 95% de conscritos ouvoluntrios, que so organizados em milcias, e por 5% de soldados profissionais, o quecorresponde a 147.000 soldados.[ 27 ]Aos 19 anos de idade os garotos tm de sealistar para o servio militar obrigatrio, mantendo-se at os 34 anos de idade comoconscritos (para oficiais subalternos) e at os 52 anos de idade no caso de oficiaissuperiores. Os conscritos devem manter suas armas em casa, estando disponveis para

    qualquer situao onde seja necessrio defender o pas. As mulheres podem se alistar,mas no h carter de obrigatoriedade para elas. A conscrio e a responsabilidadeindividual dos suos para com sua prpria defesa, e para com a defesa de seu pas, soconceitos muito difundidos na sociedade sua, tanto que num referendo de 2013 sobre aextino da conscrio, apenas 12% do total de eleitores compareceram para votar afavor.[ 28 ]

    A compra de armas na Sua est sujeita a regras mais permissivas que as da

    Repblica Checa. Alguns tipos de armas no exigem nenhuma espcie de registro, comoas espingardas e fuzis, enquanto outros tipos exigem uma licena facilmente adquirvel

    por qualquer cidado cumpridor da lei e livre de antecedentes criminais. O porte de

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    armas curtas no permitido a todos os cidados, mas somente aos que trabalham emocupaes relacionadas segurana, sendo nesse ponto mais restritivo do que no casodos checos. O nmero total de armas nas mos da populao sua estimado em quase3 milhes, o que significa 0,35 arma por habitante, ou cinco vezes mais que naRepblica Checa.

    As taxas de criminalidade na Sua so das menores do mundo, e ainda assim temcado suavemente com o tempo para os crimes violentos.[ 29 ] mais um caso que vaide encontro s afirmaes de todas as organizaes que pregam o controle ou a aboliodo armamento, as mesmas que dizem que mais armas significam mais crimes e maisviolncia.

    E finalmente chegamos ao exemplo da nao mais armada do mundo. Com umaestimativa de 300 milhes de armas nas mos de sua populao,[ 30 ]ou seja, uma

    mdia de 1 arma por habitante, os Estados Unidos no so o pas mais seguro do mundo,mas tambm esto longe de ser um dos mais violentos. Como j vimos anteriormente, aprpria Inglaterra supera os Estados Unidos em quantidade de vrios tipos de crime, eas taxas de crimes violentos nos EUA vm decrescendo cada vez mais, num movimentoinversamente proporcional ao nmero de armas nas mos da populao. Nos ltimostrinta anos, todos os estados americanos aprovaram algum tipo de permisso para porteoculto de armas curtas, sendo que 80% deles possuem regras no-discricionrias, e10% dos estados no possuem nenhuma restrio a qualquer tipo de posse ou porte dearmas pela populao.

    Estima-se que a cada ano 10 milhes de novas armas chegam s mos dos americanosobedientes lei, e esse nmero vem se mantendo assim desde 2001. Se as teorias dosdefensores do desarmamento estivessem corretas, os ndices americanos decriminalidade deveriam estar em alta, piorando a cada ano. A realidade, no entanto, exatamente o oposto disso: todos os crimes violentos e contra a propriedade tmapresentado uma queda constante e acentuada no pas como um todo.[ 31 ]Mais do que

    isso, quando comparamos os estados americanos, que possuem legislaes diferentes eindependentes, em termos de nvel de restrio s armas, veremos que os estados maisrestritivos so os que apresentaram as piores taxas de criminalidade, e que os estadosmenos restritivos so os mais seguros.[ 32 ]Novamente, est claro que no h nenhumarelao entre o aumento da quantidade de armas em circulao nas mos de cidados tampouco da facilidade em obt-las e o aumento da criminalidade. Se h algumarelao, justamente a oposta: mais armas significam menos crimes. Essa concluso

    no vem de reportagens superficiais de jornais ou revistas semanais, mas de estudossrios e estatisticamente significativos de pesquisadores como David Mustard, Joyce L.Malcolm, John R. Lott Jr. e William M. Landes.

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    A prpria ONU, organismo visceralmente favorvel ao desarmamento civil, publicouentre 2011 e 2014 aprofundados relatrios globais sobre os homicdios. Houve, no semotivos, um quase total silncio sobre suas concluses, por causa do bvio: pela

    primeira vez na histria ela no s colocou em dvida a causalidade existente entre aposse de armas e a criminalidade violenta[ 33 ]como afirmou que adicionalmente, sob

    uma perspectiva global, a enorme diferena entre as estimativas de proprietrios dearmas de fogo (centenas de milhes, de acordo com estimativas da Small Arms Survey,2007) e o nmero anual de homicdios (centenas de milhares) indica que a maioria dasarmas dos cidados no desviada e possuda para propsitos legtimos.[ 34 ]

    Depois de analisar tanto pases que baniram ou dificultaram muito a propriedade eposse de armas pela populao, como outros que fizeram justamente o contrrio, eentender as conseqncias dessas polticas para a segurana das pessoas, no resta

    dvida de que um pas desarmado no , de forma alguma, um pas mais seguro. Maisuma mentira devidamente desmascarada.

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    Eu tenho uma poltica bem rigorosa de controle das armas: se houver uma arma por perto, eu quero ter o controledela.

    CLINTEASTWOOD

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    CAPTULO IV

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    Mentira: as armas dos criminosos vm das mos doscidados de bem

    Tem horas em que o cidado chamado sutilmente de idiota pelo governo e pelamdia, e tem horas em que o xingamento bem mais explcito. Esta mentira um caso

    desse ltimo tipo, pois as evidncias so to flagrantemente contrrias, que algum queouse falar uma besteira dessas s o pode fazer se for mau carter e ao mesmo tempoconsiderar seu interlocutor um completo imbecil. Infelizmente, esse o tratamento quetemos recebido de nossos governantes e da maioria dos jornais, revistas, redes deteleviso e portais de notcias brasileiros. A mentira sempre a mesma, mas em

    palavras diferentes:

    As estatsticas mostram que a maioria dos cidados acaba assassinada com suas prprias armas,

    roubadas pelos agressores.[ 35 ]

    A maioria dos revlveres e pistolas usados pelos bandidos roubada de cidados comuns.[ 36 ]

    A posse e o uso privado de armamentos, alm de no diminuir [sic] a violncia, muitas vezes, abastecemos bandidos com novas armas roubadas nesses enfrentamentos.[ 37 ]

    Ser que h realmente alguma evidncia de que a maioria das armas utilizadas peloscriminosos saem das mos dos cidados de bem, que as possuem na forma permitida

    pela lei? Para responder a essa pergunta precisaremos dividir a anlise no tempo,

    utilizando como referncia a data de incio de vigncia do estatuto do desarmamento, oulei 10.826, em vigor desde 23 de dezembro de 2003. Como a lei foi regulamentada pelodecreto 5.123 de 1 de julho de 2004, vamos considerar 2005 como o primeiro anocompleto em que a lei regulamentada permaneceu em vigor, e qualquer tempo anterior a2005 como pr-estatuto.

    A primeira questo que precisa ser abordada : no tempo pr-estatuto, verdade queos criminosos obtinham suas armas principalmente pelo roubo de armas legalizadas de

    cidados de bem? De acordo com uma pesquisa extensa, realizada com o apoio deorganizaes desarmamentistas como a Viva Rio, apenas 25,6% das armas apreendidascom criminosos, entre 1951 e 2003, eram armas legalmente registradas que foramroubadas pelos mesmos.[ 38 ]Ou seja, de cada quatro armas utilizadas em crimes,apenas uma foi comprada e registrada por um cidado de bem. Assim, se o governo

    proibisse todos os cidados brasileiros de adquirir armas legalmente, e se num passe demgica conseguisse fazer desaparecer todas as armas que j esto nas casas desses

    cidados, na melhor das hipteses reduziria o total de armas nas mos dos criminososem um quarto. Se voc pensa que isso bom, porque um quarto melhor do que nada,pense no outro lado: para diminuir em um quarto o armamento dos bandidos, seria

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    necessrio diminuir em quatro quartos, ou em 100%, o armamento das pessoas ordeiras.Este um custo alto demais, que no paga seu benefcio.

    Partindo da definio matemtica de maioria, que significa metade mais um, jpodemos desmentir todas as afirmaes de que a maioria das armas usadas porcriminosos vem das mos dos cidados de bem, pelo menos para o perodo pr-estatuto.

    Vinte e cinco por cento no maioria, e nem chega perto de ser metade metade dametade. Lembrando que estamos usando os dados de pessoas que tm como nicointeresse fomentar o desarmamento, para que ningum possa nos acusar de parcialidade.Outros trabalhos feitos por rgos estaduais de polcia resultam em nmerosligeiramente menores, da ordem de 22%, e que apenas corroboram nossa anlise.[ 39 ]Devemos notar ainda que esses nmeros, mesmo os mais baixos, j so exagerados emvirtude de erros de metodologia, como demostra o pesquisador Fabrcio Rebelo em seu

    artigo Rastreamento de armas no Brasil a grande falcia:[ 40 ]O problema que o dito levantamento capcioso, verdadeiramente maquiado, abrigando uma concluso a quejamais se poderia chegar caso nele fossem empregados critrios estatsticos srios.

    No perodo em que as 10 mil armas rastreadas foram apreendidas, o total de apreenses somou,aproximadamente, 105 mil. At a, sob o ponto de vista estatstico, no haveria maiores comprometimentos aolevantamento aqui comentado, eis que a amostra pesquisada corresponderia a quase 10% do total de apreenses.Ocorre que essa amostra estatstica no aleatria, como impem os levantamentos tcnicos dessa natureza, mas,ao contrrio, previamente selecionada, visando aumentar, e muito, a tendncia de resultado desejada. Issoporque, das cerca de 105 mil armas apreendidas nos dez anos abrangidos pela pesquisa, somente foi investigada aorigem daquelas rastreveis, ou seja, daquelas cuja origem poderia ser determinada em bancos de dados oficiais.

    Todas as demais as com numerao de srie adulterada, as j sem essa numerao, as de fabricao caseira, asoriundas de pases que no adotam identificao, dentre outras simplesmente foram desprezadas. Assim, apesquisa apresenta um dado que se caracteriza como de dupla seleo (ou filtro), ou seja, primeiro se reduz aamostragem para um universo especfico, no mais aleatrio (o das armas rastreveis) e, ento, somente nele serealiza o levantamento. Seria como algum pesquisar os carros de origem brasileira circulando na Bolvia apenaspelas placas, considerando unicamente os que mantiveram as daqui.

    Passemos agora questo do estatuto em si, de seus objetivos. Se um projeto de lei foicriado, votado e sancionado, porque os legisladores enxergaram a necessidade de

    criar algum mecanismo para diminuir uma situao de perigo para a populao. Existeuma outra possibilidade: de que o estatuto faa parte da agenda desarmamentista dogoverno que, como j mencionamos no primeiro captulo, quer tirar das pessoas osmeios de defesa e exercer o controle social. Mas, para os propsitos deste captulo,assumiremos que o estatuto foi feito como resposta a uma realidade de violnciacrescente no Brasil como um todo. De fato, em 2003, o ndice de homicdios no pas j

    passava de 25 para cada 100 mil habitantes para a ONU, qualquer ndice abaixo de 10 considerado normal, ndices entre 10 e 20 so preocupantes, e ndices acima de 20

    so considerados casos graves. Esta resposta veio sob a forma de uma das leis decontrole de armas mais severas entre todas as naes democrticas, praticamenteextinguindo o porte de armas para civis, aumentando a idade mnima para se comprar

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    uma arma, aumentando as taxas monetrias, diminuindo a quantidade de muniomxima por pessoa e instituindo um carter discricionrio[ 41 ]para a concesso dalicena de propriedade, deixando o cidado merc da deciso da Polcia Federalsobre poder ou no comprar uma arma legalmente.

    O estatuto tambm criou penas adicionais para contrabando e trfico de armas, mas,

    como veremos em outros captulos, as nicas apreenses de armamentos que secostumam noticiar so as de fazendeiros com suas carabinas antigas, tratados comocriminosos, e nunca de contrabandistas profissionais que fornecem fuzis de uso restrito

    para os traficantes de drogas das grandes metrpoles. Enfim, como j dissemos, a lei10.826 uma das leis mais restritivas do mundo no tocante ao controle das armas.Sendo assim, e tendo sido feita para combater a violncia crescente no pas, temos queassumir que ela tenha gerado, no mnimo, um resultado positivo; caso contrrio, seria

    melhor que fosse revogada. Pelo carter extremamente restritivo da lei, um resultadominimamente positivo seria uma diminuio do nmero de armas em circulao no pas,tanto das compradas e registradas legalmente, como das contrabandeadas e traficadasilegalmente. E, se as armas realmente so uma causa do aumento da criminalidade, essadiminuio no nmero de armas deveria levar a uma diminuio nos ndices de crimesviolentos, especialmente dos homicdios.

    Mas o que aconteceu nos anos seguintes ao estatuto do desarmamento? A quantidadede autorizaes dadas pela Polcia Federal para pessoas fsicas despencou da faixa de20.000 para uma mdia de menos de 4.000 armas por ano.[ 42 ]Os nmeros, a partir de2004, so consistentemente menores do que os do perodo pr-estatuto, e se mantm

    baixos at o incio da dcada atual. Parece que um dos objetivos do estatuto foicumprido: ao se dificultar o acesso s armas, as pessoas deixaram de compr-las. claro que esta foi a parte fcil para o governo, pois as pessoas de bem, as mesmas quequerem uma arma em casa para sua defesa, tm uma tendncia natural a obedecer sleis. E quanto aos criminosos? A parte da lei que lhes diz respeito foi cumprida? Houve

    apreenses de cargas de contrabando? Os traficantes de drogas deixaram de conseguirseus fuzis? O nmero total de armas diminuiu no Brasil ps-estatuto? A resposta paratodas essas perguntas a mesma: no. A lei penalizou apenas os cidados cumpridoresda lei, e no tirou as armas das mos dos criminosos. Tanto que o nmero dehomicdios com armas de fogo no parou de crescer desde ento, e o Brasil tem seaproximado de bater mais um recorde negativo; a continuar a tendncia de alta, em

    breve romperemos o ndice de 30 homicdios por 100 mil habitantes. A prpria Polcia

    Federal estima que, para cada arma apreendida no pas, outras trinta entram ilegalmente.[ 43 ]

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    Outro dado relevante que mais de 90% das lojas especializadas na venda de armas emunies simplesmente fecharam aps o Estatuto do Desarmamento. Eram 2,4 milestabelecimentos em 2002, e, em 2008, restavam apenas 280; hoje deve haver poucomais de 200 em exerccio.[ 44 ]E o que aconteceu com o comrcio ilegal? Algum jouviu falar que um traficante, um assaltante de banco, ou qualquer outro criminoso teve

    alguma dificuldade em adquirir armamento? Claro que no.A falta de resultados a maior prova de insucesso de qualquer empreendimento

    humano, e podemos incluir as leis nisso. O fracasso absoluto do Estatuto doDesarmamento a prova cabal de que as armas utilizadas pelos criminosos no so, emsua maioria, provenientes do roubo de armas legalizadas. E a populao brasileira j

    percebeu isso, pois desde 2012 a procura por armas de fogo tem aumentadoconsideravelmente, ainda que apenas uma pequena parcela dos que tentam uma licena

    para compra consiga obt-la; diante da falncia do Estado em proteger o cidado, anica alternativa que lhe resta buscar sua prpria defesa, mesmo que isso signifiqueaborrecimentos burocrticos, taxas monetrias altssimas e muito tempo gasto em cadauma das etapas para a obteno de uma licena.

    Um outro ponto importante para que no reste dvida sobre a falsidade dosargumentos desarmamentistas est no comparativo do custo de obteno de uma arma

    para um cidado de bem e para um criminoso. Para um cidado comum qualquer, ogasto para se conseguir apenas a permisso de compra ultrapassa facilmente os milreais. So custos impostos pelo estatuto, que incluem as idas Polcia Federal, aemisso de certides em cartrios, as cpias autenticadas de documentos, os exames

    psicolgico e prtico, e o curso de tiro. S depois que o cidado arca com esses gastos,e sem a garantia de que receber uma resposta positiva, que ele pode comprar a arma,que tambm tem um custo muito maior do que em outros pases. E por ltimo, h asrestries compra de munio, que tambm acabam elevando bastante seu preo. Est

    bem claro que o governo, quando estabeleceu esse nvel de dificuldade e custo para a

    obteno de uma arma legalizada, penalizou, como sempre, as classes sociais maispobres, que tambm so as mais atingidas pela violncia.

    E os criminosos? Para eles o custo to alto assim? A questo outra nesse caso.Embora o criminoso no tenha que passar pela burocracia e no tenha que arcar comtodos os custos relacionados ao registro legal de uma arma, ele acaba comprando-a defontes ilegais, o que geralmente significa um custo bem mais alto do que numa compralegalizada. No entanto, o objetivo da compra faz toda a diferena: enquanto o cidado

    comum tem de tirar o dinheiro do seu oramento para ter uma arma em casa, que eleespera nunca ter de utilizar, o criminoso faz sua compra muito mais como uminvestimento, como um instrumento de uso dirio. Quanto mais til alguma coisa, mais

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    vale a pena pagar por ela, e nada mais til do que uma arma para um ladro, para umseqestrador ou para um traficante de drogas. O dinheiro que compra essas armas j dinheiro ilcito, e muitas vezes os chefes do trfico distribuem armas aos bandidos demenor hierarquia, que so os que cometem os crimes nas ruas. bvio que, se todas asarmas do pas tivessem que passar pelos controles impostos pelo estatuto do

    desarmamento, o nmero de armas nas mos dos criminosos diminuiria. S quecriminosos so assim chamados por um motivo muito simples: eles nunca respeitam alei. Da conclumos que qualquer lei que tente limitar o acesso dos criminosos s armas, por si mesma, intil e incoerente, pois vai contra a prpria definio de crime, eacaba limitando somente o acesso daqueles que jamais usariam a arma para cometer umdelito.

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    O mundo est cheio com a violncia. J que os criminosos carregam armas, ns, cidados obedientes lei, tambmdevemos ter armas. Caso contrrio eles vencero, e as pessoas decentes perdero.

    JAMESEARLJONES

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    CAPTULO V

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    Mentira: as armas soproduzidas apenas para matar

    A arma de fogo s existe para matar.[ 45 ]

    Se voc no militar, no policial, e obviamente est longe de ser bandido, noprecisa de armas, cuja finalidade ltima matar o semelhante.[ 46 ]

    Armas so instrumentos de morte.[ 47 ]

    O erro conceitual mais grave e mais comum a respeito das armas que elas s servempara matar. As frases acima exemplificam bem o tipo de mentalidade que est presentena mdia brasileira e em todos os defensores do desarmamento, sem exceo. Porincrvel que parea, as pessoas que lutam pelo controle e banimento das armassimplesmente ignoram o fato de que qualquer arma pode ser usada de duas maneiras, eno apenas de uma: existem os usos ofensivos, e existem os usos defensivos. Dizer quearmas s servem para matar equivale a dizer que carros s servem para atropelar, quefsforos s servem para incendiar, que facas s servem para esfaquear, que machadoss servem para esquartejar, e assim por diante. Sei que parece exagero comparar umaarma a um automvel, por exemplo, mas essa aparncia s existe justamente porquenenhum rgo de mdia, a no ser pequenos jornais de cidades do interior, publica

    histrias verdadeiras sobre os usos defensivos das armas. Ao dar espao apenas shistrias escabrosas, s chacinas, aos assassinatos e a tantos outros exemplos fatais douso das armas, e nenhum espao aos seus usos benficos, os agentes da mdia eliminamo equilbrio do debate pblico, e criam um preconceito que acaba se arraigando nasociedade ao longo do tempo.

    Reparem, em especial nos jornais televisivos, como freqentemente utilizada aimagem de uma arma de fogo quando se retrata qualquer ato violento, seja um assalto,

    um homicdio ou um latrocnio, chegando-se ao absurdo de fazer isso at mesmo quandoo crime foi cometido com uma arma completamente distinta, como uma faca.

    Mas voltemos aos dois tipos de uso que uma arma pode ter. O primeiro deles, e onico que difundido nas histrias jornalsticas, o uso ofensivo, que podemos tambmchamar de uso criminoso, pois tanto as pessoas de bem como a polcia nunca atiram emalgum para matar, a no ser que tenham sido ameaados antes.[ 48 ]Mesmo no usoofensivo, no so todas as vezes em que uma arma disparada tanto que se considera

    como uso ofensivo o brandir de uma arma de brinquedo, pois a vtima, no sabendo se aarma verdadeira ou no, sente sua vida ameaada e se rende vontade do criminoso.

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  • 7/21/2019 Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento - Quintela, Flavio

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    Como j notamos acima, todos os usos ofensivos das armas so criminosos, e todos osusos criminosos de armas so ofensivos, com exceo dos usos militares. E, pelo quevemos nos jornais, revistas, portais de notcias e programas jornalsticos de televiso,esses parecem ser os nicos usos para uma arma. O preconceito contra as armas togrande na atualidade brasileira que at mesmo o uso de armas por policiais em trabalho,

    defendendo suas vidas e as dos cidados sua volta, tachado como violento,desnecessrio e mortal, a ponto de se aprovar leis como a 13.060 de 2014, que probe ouso de armas letais por policiais em diversas situaes, deixando-os apenas com as

    balas de borracha, cassetetes e outros meios bem pouco eficazes de se deter umcriminoso.[ 49 ]

    O segundo tipo possvel de uso para as armas, raramente noticiado, o uso defensivo,que justamente a razo de qualquer cidado querer ter um armamento letal em sua

    casa. E, ao contrrio do que poderamos pensar quando acompanhamos as notcias namdia, e como j vimos no segundo captulo deste livro, eles existem. Infelizmente, porcausa de uma legislao leniente com o criminoso e que probe o cidado de sedefender com uma arma, as pessoas que o fazem geralmente procuram o mnimo de

    publicidade possvel, com medo de serem indiciadas e condenadas pela justia. Vejaeste exemplo, onde a vtima, depois de reagir com uma arma de fogo, desaparece sem

    prestar queixa contra os ladres: Um motociclista vtima de uma tentativa de rouboreagiu e atirou contra dois assaltantes, na noite desta segunda-feira (6), na cidade de

    Vrzea Grande, regio metropolitana de Cuiab. (...) De acordo com a PM, os doissuspeitos estavam em uma motocicleta e se aproximaram da vtima, tambm em umamoto. No foi informado se o motociclista tomou a arma dos suspeitos ou se estavaarmado, atirando logo em seguida contra os assaltantes. (...) At a manh desta tera-feira (7) os policiais militares no tinham informaes de quem seria a vtima quereagiu ao assalto.

    Portal CBN Foz do Iguau, 7 de outubro de 2014.[ 50 ]

    Menos sorte teve esse dentista, que resolveu chamar a polcia e acabou preso: Umdentista de 49 anos foi preso por porte ilegal de arma aps quase ter o stio assaltadoem Ribeiro Corrente (SP) na noite de segunda-feira (23). Segundo a Polcia Militar, ohomem estava na casa da propriedade quando ouviu um barulho e saiu para checar. Eleavistou ento trs homens encapuzados, tentou correr e foi balea