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R e n c o n t ros e - DA IDADE MÉDIA AO RENASCIMENTO - Memórias Musicais no Palácio de Sintra SALA DOS CISNES | 21:30 JULHO 2018 4ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA PSML | Luís Duarte 13/07 L’ARPEGGIATA “Mediterraneo” – Música de Espanha, Itália, Grécia, Turquia e Macedónia Queremos saber a sua opinião

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Re ncontrose- DA IDADE MÉDIA AO RENASCIMENTO -

Memórias Musicais no Palácio de Sintra

SALA DOS CISNES | 21:30

JULHO 2018

4ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRAPS

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13/07 L’ARPEGGIATA

“Mediterraneo” – Música de Espanha, Itália, Grécia, Turquia e Macedónia

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Queremos saber a sua opinião

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13/07 | 21:30Sala dos Cisnes

L’ARPEGGIATA

“Mediterraneo” – Música de Espanha, Itália, Grécia, Turquia e Macedónia

Christina Pluharteorba e direção musical

Céline Scheen soprano

Vincenzo Capezzuto alto

Doron Sherwin corneto

Josep Maria Martí Duran guitarra barroca e teorba

Sergey Saprychevpercussões

Boris Schmidtcontrabaixo

Francesco Turrisicravo e percussão

Page 3: Memórias Musicais no Palácio de Sintra · Sala dos Cisnes L’ARPEGGIATA “Mediterraneo” – Música de Espanha, Itália, Grécia, Turquia e Macedónia ... Foram os teus suspiros,

PROGRAMA

• “Are mou Rindineddha”canto tradicional greco-salentino (Salento, Itália)

• CiacconaMaurizio Cazzati (1616-1678)

• “Pizzica di San Vito”canto tradicional (Salento, Itália)

• “Tarantella Napoletana”improvisação (Itália)

• “La Dia Spagnola”improvisação (Grécia)

• “La Carpinese”canto tradicional (Carpino, Itália)

• “De Santanyí vaig partir”canto tradicional (Maiorca, Espanha)

• “Canario”improvisação (Ilhas Canárias, Espanha)

• “Amor”Claudio Monteverdi (1567-1643), in “Lamento della ninfa”, SV 163

• Toccata “L’Arpeggiata”Girolamo Kapsberger (1580-1651)

• “So maki sum se rodila”canto tradicional (Macedónia)

• “Oriamu Pisulina”canto tradicional greco-salentino (Salento, Itália)

• “La dama d’Aragó”canto tradicional (Catalunha, Espanha)

• “Pizzicarella mia”canto tradicional (Puglia, Itália)

• “Hasapiko”improvisação (Grécia)

• Solo de percussãoimprovisação

• “Sileneziu d’amuri”Alfio Antico (n. 1956, Itália)

• “La passariellu”canto tradicional (Itália)

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Are mou RindineddhaQuem sabe, pequena andorinha

Quem sabe, pequena andorinha,

de onde vieste a voar

e que mares atravessaste,

para com o bom tempo chegar.

Tens o peito cor de neve,

E as asas de azeviche,

o dorso azul como o mar,

a cauda longa e bifurcada

Caminho ao longo da costa

Observo-te a voar

sobes, desces, rodopias

até nas ondas tocar.

Mas não me diriges palavra,

por muito que te interpele

sobes, desces, rodopias

até nas ondas tocar.

Pizzica di San VitoDança de São Vito

Não era p’ra ter vindo, não era

p’ra ter vindo,

não era p’ra ter vindo, mas

acabei por vir.

Foram os teus suspiros, foram

os teus suspiros

foram os teus suspiros, que me

fizeram vir.

Ah uellì, ora o vejo a vir,

ora o vejo a ir-se embora,

pega-me na mão e já está a ir.

Ah uellì, ora o vejo a vir,

ora o vejo a ir-se embora,

pega-me na mão e já está a ir.

És mais bela, és mais bela,

és mais bela que a cereja.

Bendito o teu amor, bendito

o teu amor,

bendito o teu amor, quando

te beija.

Ah uellì uellì uellà,

quando chamo a minha bela

quando a chamo tem de vir.

Ah uellì uellì uellà,

quando chamo a minha bela

quando a chamo tem de vir.

Dos teus cabelos, dos teus

cabelos

dos teus cabelos estou

enamorado.

Vejo-os a voar, vejo-os a voar

vejo-os a voar ao vento.

Olho por olho,

que perca os olhos quem nos

maldisser

e que o seu coração se quebre.

Olho por olho,

que perca os olhos quem nos

maldisser

e que o seu coração se quebre.

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TEXTOS DAS OBRAS CANTADAS

Page 5: Memórias Musicais no Palácio de Sintra · Sala dos Cisnes L’ARPEGGIATA “Mediterraneo” – Música de Espanha, Itália, Grécia, Turquia e Macedónia ... Foram os teus suspiros,

Volto a dizer-te, volto a dizer,

volto a dizer uma e outra vez,

vai para a festa, vai a São Vito,

vai para a festa esta noite.

Ah uellì uellì uellà,

põe-te boa outra vez,

mas não te esqueças de mim.

Ah uellì uellì uellà,

põe-te boa outra vez,

mas não te esqueças de mim.

La CarpineseA Carpinese

Pega na pá, reaviva o fogo,

E vai a casa do teu amado,

E passa duas horas a jogar,

E se tua a mãe não gostar,

Diz-lhe que foi o fogo que te fez

corar,

Ou o que bem te aprouver,

Que a mulher faz o que quer!

Brilha o Sol quando faz bom

tempo,

Brilha o teu peito, dama galante,

No peito trazes dois punhais de

prata

E quem lhes toca, ó bela, torna-

se santo

E eu toco-lhes, que sou o

amante.

E ao paraíso iremos certamente,

Ou aonde bem te aprouver,

Que a mulher faz o que quer!

De Santanyí vaig partirParti de Santanyí

Parti de Santanyí

com uma escuridão cerrada

e pelo caminho disseram-me:

Andreu, a Roseta está morta.

Não sei se o faziam de propósito

ou para dar-me mais tristeza.

Uns diziam-me que estava morta,

outros que estava melhor.

No mercado me encontrava

quando tal nova me deram,

que aquela que mais estimava

estava prestes a expirar.

Com a minha guitarra fui até lá,

a pensar que a divertia.

Roseta dá-me alegria,

tu já não fazes caso de mim.

O mais pequeno que lá estava

não se podia consolar.

Foi até à sepultura

e começou a suspirar.

Despertai, alma minha,

que Deus te dê repouso.

Pudesse eu agora entrar

na sepultura convosco.

Amor

Amor — disse, parando

e olhando o céu,

onde, onde está a fidelidade

que o traidor jurou?

(Desgraçada!)

Traz-me de volta o meu amor

tal como ele era,

ou então mata-me,

para que cessem os meus

tormentos.

(Desgraçada! Não pode mais,

não aguenta tanta frieza!)

Não quero que suspire mais

a não ser longe de mim.

Não, não, os seus martírios

Não mais me farão sofrer.

(Desgraçada! Não pode mais,

não!)

Como anseio por ele,

todo orgulhoso está,

mas se dele fugir

manterá as suas súplicas?

(Desgraçada! Não pode mais,

não aguenta tanta frieza!)

Se os seus olhos são mais

serenos,

mais serenos do que os meus,

Já não acolhe no seu seio

o Amor, tão bela fé.

(Desgraçada! Não pode mais,

não aguenta tanta frieza!)

E não mais receberás

daquela boca os beijos doces,

nem tão suaves — Ah, cala-te!

Cala-te, pois sabes demais.

(Desgraçada!)

So maki sum se rodilaNasci com agonias

Nasci com agonias,

morrerei com aflições.

Escreve as minhas agonias

na minha pedra tumular.

Escalarei uma montanha

Descerei às cavernas escuras,

Extingue-se o meu olhar,

de não mais ver o Sol.

Descerei até ao jardim,

às flores cobertas de orvalho

até à rosa escarlate,

aos rebentos brancos

do manjericão.

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Oriamu PisulinaMinha doce Pisulina

Doce e bela Pisulina,

Estás sempre a fazer troça

e sempre a rir-te de mim.

Estás sempre a fazer troça

e sempre a rir-te de mim.

És como o girassol, Pisulina,

um passarinho primaveril.

Voas para longe,

como um pássaro primaveril,

voas para longe.

Observei-te durante dez anos,

e conheço-te já lá vão onze,

e tu sempre a rir-te de mim.

Observei-te durante dez anos,

e tu sempre a rir-te de mim.

La dama d’AragóA dama de Aragão

Em Aragão há uma dama que

é bonita como um sol.

Tem o cabelo loiro, chega-lhe

aos calcanhares.

Ai, amorosa Anna Maria, ladra

do amor...

Ai, do amor...

Sua mãe penteava-a com um

pentezinho d’oiro,

Sua tia desembaraçava-lhe os

cabelos, de dois em dois.

Ai, amorosa Anna Maria, ladra

do amor...

Ai, do amor...

Cada cabelo uma pérola, cada

pérola um anel d’oiro.

Cada anel d’oiro uma cinta

que contorna todo o seu

corpo

Ai, amorosa Anna Maria, ladra

do amor...

Ai, do amor...

A sua irmã mais pequena

baixava-lhe a fita;

a fita que lhe baixa é uma

franja de muitas cores.

Ai, amorosa Anna Maria, ladra

do amor...

Ai, do amor...

O seu irmão mirava-a com

olhar todo amoroso.

Não fôssemos irmãos, Maria,

casar-nos-íamos os dois.

Ai, amorosa Anna Maria, ladra

do amor...

Ai, do amor...

Pizzicarella miaDiabrete

Diabrete, meu diabrete,

quando caminhas, la li li la,

quando caminhas parece que

danças.

Nunca páras quieta! Onde foi

que te picaram?

Debaixo das abas, la li li la,

debaixo das abas do seu saiote.

Ah! Quanto te amou o meu

coração!

Mas não te ama mais, la li li la,

mas não te ama mais, pois está

fechado.

Admirei-te desde a hora em que

te vi,

e deixei uma marca, la li li la,

e deixei uma marca nos teus

olhos.

Foi uma marca especial,

para que não os fechasses,

la li li la,

para que não os fechasses

ao amor.

Amor, amor, o que me fizeste

fazer!

Durante quinze anos, la li li la,

durante quinze anos fizeste-me

enlouquecer.

Diabrete, meu diabrete,

o teu modo de caminhar, la li li la,

quando caminhas parece que

danças.

Silenziu d’amuriSilêncio d’amor

Amei-te desde que estavas

no berço,

Dei-te o meu afeto, pedaço por

pedaço,

O silêncio do amor que me corre

nas veias.

Não consigo separar-me de ti.

Não chorem, não, ó oliveiras,

O amor e o bem vêm de longe.

amada, inspiração da minha

alma,

Dá-me o coração, pois eu dou-te

a vida.

Vazio e sem cor está o meu

espírito.

Só quando uma mãe esquecesse

os filhos,

Poderia eu esquecer o meu amor

por ti.

Voai, andorinhas, para junto

da amada,

Cantai para ela na vida e na

morte.

Estes campos são como

o mundo inteiro,

Tu és a rainha e eu o rei de

Espanha.

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Lu passarielluO passarinho

Ui! Ui! O passarinho foi à aveia,

E se ninguém o parar,

Toda a aveia comerá.

Oh, diabo! Esta noite

A minha mulher caiu da cama;

Oh, diabo! Esta noite

A gata comeu os confeitos.

E se antes éramos três a dançar a tarantela

Ficámos apenas dois,

E a minha mulher é a mais bela.

São Miguel, salva os cristãos,

monjas, monges e artesãos.

Ui! Ui! O passarinho foi à aveia,

E se ninguém o parar,

Toda a aveia comerá.

Tradução dos textos originais:

Kennistranslations (Ana Yokochi, Bernardo Ferro, Hélder Telo)

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A “Fronteira das Oliveiras” e a nossa viagem musical

É vulgarmente aceite que as fronteiras da região mediterrânica

delimitam a área em que as oliveiras crescem, provindo daí

a referência por vezes feita à «Fronteira das Oliveiras». Apenas

uma pequena parte da França, da Turquia e dos países

do Norte de África fazem parte desta região, sendo que Portugal

e a Jordânia também lhe pertencem, por motivos culturais e

climáticos, apesar de as suas costas não serem banhadas pelo

Mediterrâneo.

O ponto de partida para este programa foram os canti

greci-salentini, canções e tarantelas cujas raízes musicais podem

ser encontradas na Itália, mas que têm vindo a ser cantadas em

grego e pela população grega residente em Salento há muitos

séculos. Esta amálgama fascinante das culturas meridionais grega

e italiana impulsionou-nos a empreender uma viagem musical

de descoberta na região mediterrânica. O nosso itinerário

leva-nos do sul da Itália para leste, na direção da Grécia

e da Turquia, e para ocidente, em direção a Espanha (Maiorca

e Catalunha).

Canto greco-salentino

Os gregos começaram a fixar-se no sul de Itália no século VIII

a. C. Através deste processo de colonização, a cultura grega foi

exportada para Itália e misturou-se com as culturas autóctones.

Os romanos chamaram à área que compreendia a Sicília,

a Calábria e a Apúlia Magna Graecia, por ser tão densamente

povoada por gregos. Muitas das cidades gregas recém-fundadas

depressa se tornaram ricas e poderosas, como Nápoles, Siracusa,

Taranto, Bari e outras.

Entre os séculos VIII e XI d. C., o sul de Itália foi de novo

fortemente helenizado, com o estabelecimento de uma

comunidade etnolinguística que existe ainda hoje. No ano 727,

o imperador bizantino Leão III decretou a destruição dos

símbolos e imagens sagradas em todas as províncias do Império

O mar não separa as culturas: une-as.

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Romano do Oriente. Não tardaram a eclodir, por toda a parte,

distúrbios violentos, liderados por monges que recusavam

obedecer ao édito imperial. Seguiu-se-lhes a primeira crise

iconoclasta, que durou várias décadas e degenerou rapidamente

numa sangrenta guerra civil. Para escapar a este massacre,

milhares de monges abandonaram as províncias orientais

do império e mudaram-se para as regiões do sul de Itália,

a Calábria e a Sicília, onde fundaram numerosos mosteiros.

Em pouco tempo, estas regiões recém-colonizadas tornaram-se

centros florescentes não apenas de cultura grega, mas também

de prosperidade social e económica, visto que, para além das

orações e do ascetismo, os monges se dedicavam também

ao cultivo dos campos e à produção de vinho e azeite.

Este fluxo inicial de imigração foi seguido por um outro, mais

prolongado. Em 867, o imperador Basílio I subiu ao trono

de Constantinopla. Tinha definido como objetivo pessoal a luta

contra os invasores árabes nos impérios do ocidente e do oriente.

Extensas regiões do sul de Itália tinham caído nas mãos dos

árabes, cujos ataques haviam devastado as cidades e o campo,

e os monges foram forçados a abandonar a Sicília e a Calábria

e a procurar refúgio em Salento. As novas comunidades

instalavam-se muitas vezes no interior de grutas, em busca

de proteção.

No início do século XI, assistiu-se aos primeiros ataques de novos

invasores vindos do norte da Europa: no espaço de algumas

décadas, os Normandos puseram fim ao domínio bizantino do

sul de Itália, criando na região um estado unitário e introduzindo

o feudalismo. Os novos soberanos professavam o catolicismo

romano, e não o ortodoxo, mas ainda assim deixaram

a população grega em paz. No entanto, embora não tenha

havido conflitos religiosos com os gregos ortodoxos no sul

de Itália, o monasticismo ortodoxo acabou por desaparecer por

completo no início do século XV, substituído por fundações

franciscanas e dominicanas. Após o Concílio de Trento, em 1563,

o clero grego ortodoxo foi igualmente suplantado pelo clero

católico, obrigando a comunidade ortodoxa a celebrar a missa

e a entoar as orações e as liturgias em latim, uma língua que

os membros não falavam. Como resultado, a proporção

de falantes de grego diminuiu gradualmente, especialmente

nas aldeias do Mar Jónico.

Em 1945, a Grécia Salentina — região situada no sul da Apúlia,

no extremo sudeste da península itálica — mantinha ainda cerca

de 40.000 residentes que falavam fluentemente griko. Existe

também uma região na Calábria onde se fala griko, que se

resume a um conjunto de aldeias na região montanhosa

e inacessível da Bovésia e a quatro distritos na cidade de Reggio

Calabria.

A seguir à segunda guerra mundial, um conjunto complexo

de fatores socioeconómicos, como a influência da rádio e da

televisão, das escolas e dos jornais, reduziu ainda mais o número

de falantes de griko. Nos últimos anos, porém, os habitantes da

região ganharam uma nova consciência das suas origens, história,

tradições e língua, que se mantém viva sobretudo através da

música e das velhas canções tradicionais transmitidas ao longo

das gerações.

O termo griko não designa apenas os falantes de grego que

vivem em Salento e na Calábria, mas também a sua língua.

Os dialetos gregos hoje falados variam de aldeia para aldeia

e integram palavras dos dialetos salentino e calabrês, o que lhes

confere uma musicalidade especial.

A tradição da música griko revela essencialmente as

características estilísticas, melódicas e harmónicas da música

popular do sul de Itália, mas inclui também algumas influências

turcas e árabes. É possível distinguir, em termos gerais,

as seguintes formas musicais: a ninna nanna (canção de embalar

para uma criança recém-nascida, como o menino Jesus),

a matinata e a serenata (canções matutina e vespertina para

jovens enamorados), o stornello (para rixas violentas entre

camponeses), a moroloja (um lamento para acompanhar cortejos

fúnebres), a tarantella e a pizzica.

O fenómeno da tarantela — uma forma de terapia musical

destinada a curar mordeduras de aranha — perdurou na Grécia

Salentina até aos dias de hoje. Existem três formas diferentes

de tarantela:

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1. A Pizzica tarantella1

Transmitida através de fontes escritas, da Idade Média em

diante, trata-se de uma dança curativa, individual ou coletiva,

que era vista como o único remédio contra as mordeduras de

tarântula. No dia 29 de junho — durante a festa de São Paulo —,

os pobres seguiam em peregrinação até à capela da aldeia

grega de Galatina para dançar a tarantella no largo da igreja

e no seu interior, combinando assim costumes arcaicos

e cristãos.

2. A Pizzica de core (della gioia)2

É dançada sobretudo em festivais públicos, casamentos,

batizados e celebrações familiares de todos os tipos. Era

originalmente uma dança rápida, para um só par, mas hoje

é dançada também em filas de dois ou em quadrille. É suposto

exprimir alegria, amor, galanteria e paixão.

3. A Pizzica scherma (danza dei coltelli)3

Tem lugar na noite de 15 para 16 de Agosto, durante as

celebrações da festa de São Roque, na aldeia de Torrepaduli,

na província de Lecce. É dançada por dois homens, que

em tempos seguravam facas. A dança requeria os melhores

tocadores de tamburello, visto que durava horas, ou até mesmo

a noite toda. Hoje, as facas são substituídas pelos dedos, com

o indicador e o dedo médio a simular uma arma ameaçadora.

Os movimentos, gestos e expressões faciais, bem como

as posturas de ataque e defesa, respeitam um determinado

código de honra. Esta dança era usada para resolver disputas

e problemas de hierarquia entre ciganos ou comerciantes

de cavalos.

1Dança dos que foram mordidos pela aranha.2Pizzica do coração (da alegria).3Pizzica da esgrima (dança das facas).

CHRISTINA PLUHAR

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L’ARPEGGIATA

Fundado em 2000, L’Arpeggiata é um agrupamento

musical dirigido por Christina Pluhar.

Tem como base a improvisação instrumental,

uma abordagem diferente ao canto, centrada no

desenvolvimento da interpretação vocal influenciada

pela música tradicional, e a criação e encenação

de espetáculos apelativos.

Desde a sua fundação, L’Arpeggiata tem suscitado

uma excelente resposta por parte do público e da

crítica. Os seus álbuns foram considerados “Evento

do Mês”, pela Repertoire des Disques, em setembro

2001; “10 de Repertoire”; “Diapason Découverte”; “CD

da Semana”, pela BBC; e “CD do Mês”, pela Amadeus

(Itália). O grupo recebeu também o Prix Exellentia,

da Pizzicato (Luxemburgo); o “Timbre de platine”,

da Opéra International; e o prémio da Academia

Charles-Cros. O seu álbum Mediterraneo (2013) contou

com a participação da fadista Mísia. O grupo foi

galardoado, ainda, em 2009, 2010 e 2011, com o Echo

Klassik Preis (Alemanha); em 2009 com o Prémio

Edison (Holanda); e em 2008 com o VSCD Musiekprijs.

As suas gravações valeram-lhe também outros

prémios, como os Cannes Classical Awards; o Prémio

Platinum, da International Opera Magazine; e o título

de “CD do Mês”, na BBC Magazine, entre muitos outros.

L’Arpeggiata atuou com grande sucesso em festivais

e salas de concerto em todo o mundo, como

o Lufthansa Festival, em Londres, o Oude Muziek

Utrecht, o Brugge Musica Antica, o Musikverein

de Graz, o Ludwigsburger Schlossfestspiele,

o Concertgebouw de Amsterdão, o Festival de Artes

de Hong Kong, Sydney e o Carnegie Hall, em Nova

Iorque, entre muitos outros.

CHRISTINA PLUHAR

Após desenvolver uma carreira de sucesso como

instrumentalista multifacetada, dedicada ao repertório

da música antiga e barroca, Christina Pluhar veio

a destacar-se, no séc. XXI, como a fundadora

e diretora musical do agrupamento vocal/instrumental

L’Arpeggiata. Como seria de esperar, Pluhar trabalha

com este grupo um repertório semelhante, mas com

ênfase na tradição italiana e a introdução de elementos

jazz e folk. Pluhar domina vários instrumentos diferentes,

embora próximos uns dos outros — a guitarra barroca,

o alaúde renascentista, o arquialaúde, a teorba

e a harpa barroca — e já os tocou em público em

diversas ocasiões, como solista e como intérprete

de baixo contínuo, na Europa, Reino Unido e Austrália.

Gravou vários discos a solo e com o agrupamento

L’Arpeggiata para editoras como a Alpha Productions,

EMI e Naïve. Em 2000, escolheu para membros do

seu novo agrupamento alguns dos melhores músicos

europeus, incluindo o intérprete de guitarra barroca

Marcello Vitale e o cornetista Doron David Sherwin.

Com o seu primeiro disco, La Villanella (uma coleção

de obras vocais de Giovanni Kapsberger), lançado no

ano que o grupo foi fundado, e aclamado pela crítica,

Pluhar conduziu L’Arpeggiata a um sucesso quase

instantâneo. Entre os discos mais celebrados da artista

contam-se os álbuns La Tarantella, All’Improvviso (com

Gianluigi Trovesi), Los Impossibles (com os The King’s

Singers), Teatro d’amore (com Phillipe Jaroussky e Nuria

Rial, na coleção Virgin Classics CDs), Via Crucis (com

Barbara Furtuna), o Vespro della Beata Vergine,

de Monteverdi, Los Pájaros perdidos (um projeto

de música sul-americana) ou Mediterraneo (com

a fadista Mísia). Em 2012, L’Arpeggiata foi o primeiro

agrupamento barroco a ser escolhido para uma

residência artística no Carnegie Hall.

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VINCENZO CAPEZZUTO

Foi bailarino principal na Ópera San Carlo, em Nápoles,

no English National Ballet, no Ballet Argentino

de Julio Bocca, na MMcompany de Michele Merola

e no Aterballetto, tendo dançado, por todo o mundo,

coreografias de Mauro Bigonzetti, William Forsythe,

Ohad Naharin, etc. Recebeu vários prémios, incluindo

o Prémio Toyp para a disseminação da arte no mundo,

o Prémio Leonide Massine, o Prémio Roscigno Danza,

em 2005, para o melhor bailarino, e o Prémio Giuliana

Penzi, em 2012, para a versatilidade e disseminação

da dança e música italianas no mundo. Como

cantor, colabora regularmente com o agrupamento

L’Arpeggiata, dirigido por Christina Pluhar, e participou

nos seus últimos álbuns, editados pela EMI/Virgin

Classics: Via Crucis (2010), Los Pájaros Perdidos (2012)

e Mediterraneo (2013). Capezzuto atuou em vários

festivais de música internacionais, incluindo o Festival

de Hong Kong, o Carnegie Hall, em Nova Iorque,

os BBC Proms, em Londres, e o Teatro Châtelet,

em Paris. Participou como cantor convidado no álbum

In Gondola, com o agrupamento Pomo d’oro, dirigido

por Riccardo Minasi, dedicado à beleza da música

barroca veneziana do séc. XVIII. Participou também

no célebre álbum Ti amo anche se non so chi sei,

ao lado dos mais prestigiados cantores italianos,

incluindo Fiorella Mannoia, Gianni Morandi, Lucio Dalla,

Franco Battiato e Ron. Em 2011, Vincenzo criou, em

conjunto com Claudio Borgianni, o Soqquadro Italiano.

CÉLINE SCHEEN

Céline Scheen completou a sua formação na Guildhall

School of Music and Drama, em Londres, com Vera

Rosza, graças ao apoio da Fundação Nancy Philippart.

Atuou nos principais festivais e salas de concerto, sob a

direção de Reinhard Goebel, Louis Langrée, Ivor Bolton,

René Jacobs, Christophe Rousset, Andrea Marcon,

Jordi Savall, Philippe Pierlot, Philippe Herreweghe,

Skip Sempé, Jean Tubéry e Leonardo García Alarcón.

Na ópera, foi Zerlina, no Don Giovanni (G. Corbiau),

Coryphée, no Alceste de Christoph Gluck (La Monnaie,

I. Bolton/B. Wilson), Atilia, no Heliogábalo de Francesco

Cavalli (La Monnaie, Festival de Innsbruck, R. Jacobs/

Boussart), Papagena, na Flauta Mágica de Mozart

(La Monnaie, Caen, Lille, Nova Iorque, R. Jacobs/W.

Kentridge) e Toulouse (C.P. Flor/N. Joël), Amor e Clarine,

na Platée de Rameau (Opéra du Rhin, C.Rousset/M.

Clément), a Música e Eurídice, no Orfeu de Monteverdi

(Cremona, A. Marcon).

Gravou ainda a música do filme Le Roi Danse (DG)

com o grupo Musica Antiqua Köln e Reinhard

Goebel; trabalhou com Paolo Pandolfo num álbum

de improvisações (Diapason d’or); no Orgelbüchlein

de J. S. Bach, com o grupo Mare Nostrum (M.A.);

numa produção de Barbara Strozzi, com La Cappella

Mediterranea e Leonardo García Alarcón (Ambronay);

de Amarante (Flora), com Philippe Pierlot e Eduardo

Eguez; do Belerofonte de Lully, com Les Talens

Lyriques e Christophe Rousset; das cantatas seculares

italianas de J. S. Bach, com Leonardo García Alarcón;

e das Vésperas de Monteverdi, com o Ricercar

Consort e Philippe Pierlot. Durante as temporadas

de 2014/2015/2016, Céline atuou com os seus

parceiros habituais, mas juntou-se também ao grupo

Caravansérail, o novo conjunto de Bertrand Cuiller,

e colaborou pela primeira vez com a Akademie für Alte

Musik Berlin.

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