memórias, esquecimento e estoques de informação

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  • 8/6/2019 Memrias, esquecimento e estoques de informao

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    Os Agregados de informao - Memrias, esquecimento e estoques de informao *

    por Aldo de Albuquerque Barreto

    Resumo: Conceituamos como estoques de contedos de informao toda reunio de estruturas de informao. Estoques deinformao representam, assim, um conjunto de itens de informao organizados (ou no), segundo critrio tcnico, dosinstrumentos de gesto da informao e com contedo que seja de interesse de uma comunidade de receptores. Quanto mais o

    estoque de informao estiver codificado em uma metalinguagem mais estar ocultando a informao completa em linguagemnatural. Um estoque de itens codificados servir, principalmente, para direcionar o receptor para a informao til, mas estabelecea necessidade de haver um duplo fluxo de comunicao, um modelo de linguagem que se sobrepe natural. Como decorrnciadas condies tcnicas e econmicas, produzidas pela peculiar ambincia de convvio da oferta e demanda em unidades deestoques de informao, existe um reflexo ocasionando circunstncias polticas que afetam a distribuio da informao e apotencial gerao do conhecimento no indivduo e na sociedade. No contexto poltico esta distribuio afetada pois o produtorde informao tender a transferir produtos que minimizem uma condio de ineficincia operacional do seu estoque, emdetrimento de uma situao que maximize a expectativa de qualidade de informao da demanda dos seus usurios. Aqueles quedetm o poder sobre os estoques institucionais de informao tambm detm o poder sobre a sua administrao e distribuio econsequentemente sobre o conhecimento gerado na sociedade e o seu potencial de desenvolvimento. O produtor de informao,proprietrio dos estoques, decide sobre quais os itens de informao devem ser armazenados e quais as estratgias para a suadistribuio sociedade. Decide, ainda, sobre o empacotamento tecnolgico para a sua distribuio, considerando que alguns doscanais de distribuio so to intensivos na utilizao de tecnologia, que podem direcionar a prpria estratgia na transferncia da

    informao. A gesto dos estoques de informao pode ser to autoritria quanto as polticas que a orientam. Ser tanto maisautoritria quanto maior for o poder de oferta sobre a demanda colocada pelos receptores.Palavras Chave: Agregados de Informao; Estoques de Informao; Memria; Esquecimento; Distribuio da Informao

    Conceituamos como estoques de informao toda a reunio de estruturas de informao. Estoques de

    informao representam, assim, um conjunto de itens de informao organizados (ou no), segundo umcritrio tcnico, dos instrumentos de gesto da informao e com contedo que seja de interesse de umacomunidade de receptores. As estruturas de informao que se agregam nos estoques podem estar emdiferentes nveis de completeza em relao a uma mesma pea de informao: ter o formato s da refernciabibliogrfica, ou do ttulo, do resumo, indicadores por palavra-chave, ou o texto completo.

    Uma mesma estrutura de informao pode reunir um ou mais dos elementos indicados. Pode estarconfigurada em linguagem natural ou em uma metalinguagem para controle e localizao, representada porum conjunto ou um subcdigo do cdigo lingustico comum comunidade de usurios com a qual o estoquese relaciona.

    Quanto mais o estoque de informao estiver codificado em uma metalinguagem mais estar ocultando ainformao completa em linguagem natural. Um estoque de itens codificados servir, principalmente, paradirecionar o receptor para a informao til, mas estabelece a necessidade de haver um duplo fluxo decomunicao.

    Assim, dentro de um determinado contexto de tecnologia dos sistemas de informao, buscou-se umasoluo simplista onde havia um problema bem determinado de volume de informao. O problemaconsistia em controlar e administrar o volume da produo da informao, em um mundo de muitosdocumentos e com uma comunicao com o receptor em desordem; a soluo seria a busca da ordem atravsde uma metodologia que se utilizava de fatores de reduo do cdigo de comunicao, atravs da(re)formatao da linguagem na informao primria, a fim de atender aos requisitos tcnicos e de

    produtividade (espao, tempo) de um sistema de recuperao da informao.

    A soluo tcnica operacional trouxe porm uma economia de informao indesejvel, baseada em trs

    tipos de seleo, por excluso, na formao dos estoques de informao:

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    A primeira seleo a de itens de informao que vo entrar para o formar o estoque de informao, osacervos; os critrios e a poltica de incluso so determinados por mediadores que atuam em nome dosreceptores; todo ato de selecionar uma parte de um todo representa um favorecimento daquela parte e umocultamento do todo no favorecido na escolha.

    A segunda seleo transforma o contedo dos documentos pois apenas partes do documento original soutilizadas, para representar o documento todo; estas partes representativas do documento so os descritores,as palavras-chaves; o mtodo modifica a integridade da estrutura da informao. Esta seleo esconde ainformao.

    A terceira seleo consiste em traduzir as partes selecionadas anteriormente, para uma nova linguagemcontrolada, no natural; assim, em nome da ordem, preciso promover a compatibilidade da linguagem deentrada e da linguagem de sada do documento no sistema. Esta seleo representa uma violncia simblicano universo de significao do receptor e de sua comunidade informacional.

    O sistema de armazenamento da informao obedece a um rgido formalismo tcnico e reducionista, que

    serve aos propsitos de gerenciamento e controle da informao em uma determinada situao.Vale notar que separamos a noo de ocultamento da informao proveniente de sucessivos processos deseleo e reformatao de contedos, de um sistema de localizao e controle da informao utilizandometadados. Sistemas de metadados, enquanto, facilitadores no processo de localizao e recuperao dainformao so vlidos, mas devem operar, mesmo se includos como uma ferramenta no estoque decontedos , de maneira invisvel para o receptor da informao. No se deve confundir um sistema demetadados com um esquema de indexao ou de classificao da informao. Sistemas de metadados nopodem interferir com o sistema de significao da informao, com o universo semntico dos receptores.A partir dos anos 80 novos modelos tecnolgicos e conceituais veem provocando uma modificao noposicionamento dos agentes que operam as prticas de seleo redutora, principalmente devido a:

    1. Uma nova viso conceitual de que a informao se relaciona com o conhecimento e com o

    desenvolvimento humano; afetar sua integridade pode afetar ao processo de conhecimento como um todo.

    2. Queda considervel no custo e na operao dos arquivos magnticos;

    3. Desenvolvimento acelerado da microeletrnica e suas tecnologias paralelas e do acesso ao computador

    pessoal e as redes de informao;

    4. Desenvolvimento acelerado da telecomunicao e suas tecnologias subordinadas.

    Os fatores tcnicos possibilitaram o desenvolvimento e a preferncia por estoques de informao em textocompleto e linguagem natural em base digital. A nova viso conceitual entende que os estoques deinformao representam um importante recurso no processo de gerao do conhecimento, mas que por si s

    no o operam. A gerao do conhecimento uma condio complexa na qual os estoques estticos deinformao representam apenas uma etapa inicial. A figura abaixo mostra a condio complexa dosmecanismos que interferem com a gerao do conhecimento:

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    O Crescimento dos estoques de informao:Grandes estoques crescentes de informao, que se acumulam em um tempo sem limites, degeneram avivncia cotidiana em que o conhecimento se realiza no indivduo. A sintonia do sujeito consciente sedispersa em um mundo de informaes irrelevantes, imprecisas e ultrapassadas e com uma distribuioinadequada.

    O conhecimento, potencialmente armazenado em estoques de informao, acumula-se exponencialmente emestruturas que lhe servem de repositrio. Mesmo colocando-se filtro de entrada para limitar qualitativamenteo crescimento destes estoques, a coisa toda tender a ruir em pedaos, devido ao seu prprio peso, a menosque se modifique as propores relativas da estrutura em relao ao seu contedo fsico (Thompson,1961).

    H mais de 350 anos, Galileu formulou, seu princpio da similitude o qual nos fala que nenhum organismobiolgico ou instituio humana, que sofra uma mudana de tamanho e uma consequente mudana deescala, passa por isso sem modificar sua forma ou conformao. Galileu seguia um princpio matemticodefinido como a Lei do Quadrado e do cubo; isto , seu volume (de Informao) cresce em uma razoquadrada, a superfcie (espao) que o contm (estrutura dos estoques) deve ser reformatado em uma razocbica. Existe uma relao entre o volume e a forma que o contm. Esta seria a razo de mas nascerem emrvores altas e de galhos longos e o melo nascer no cho. De a girafa ter longas pernas considerando seucorpo e o rinoceronte ter pernas pequenas e grossas.

    Contudo a macieira no pode seguir crescendo para aumentar o volume de produo de seus frutos, haverum momento em que por sua prpria estrutura, vergar sob seu peso e quebrar.

    H um processo de diferenciao estrutural, mediante o qual uma organizao diferencia-se em duas, quediferem uma da outra em estrutura e funo, mas que juntas so funcionalmente equivalentes organizaomenos diferenciada.

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    A analogia destes conceitos ao crescimento dos estoques de informao leva a crer que estas estruturas dearmazenagem, que por compromissos de qualidade com seus receptores tendem a crescer em volumeperidica e cumulativamente, tero em um determinado momento que enfrentar um problema de forma ecrescimento. A menos que sejam pensadas estratgias de adaptao destes estoques eles tendero aquebrar por seu prprio peso, i.e., transformar-se em agregados inteis de informao ou por conterem umexagerado percentual de excedente no relevante e prioritrio ou por terem custos operacionais de trabalhoinviveis com sua manuteno. (veja mais adiante o labirinto em Rede de estrutura sempre mutvel)

    Esta condio dos estoques de informao nos traz a imaginao as questes de memria e do esquecimento.Certamente no podemos treinar o esquecimento como treinamos para aumentar ou aprimorar nossamemria. O esquecimento uma qualidade da memria, que a preserva e a mantm saudvel. Nossamemria funciona, e s funciona porque nos dada a capacidade do esquecimento.

    De um dia para o outro retemos em nossa memria as informaes relevantes e prioritrias e esquecemos oresto. Contudo, as instituies de memria, de estoques, podem operacionalizar o esquecimento e atravs demecanismos de administrao tentar diminuir os estoques excedentes, reformatar ou fragmentar a estruturada memria.

    Este equilbrio entre a memria e o esquecimento belamente apresentada por Jorge Lus Borges em seuconto "Funes o Memorioso".(Borges,1989)

    Irineo Funes o protagonista da histria, por razes de uma doena, passou a ter uma memria sem limites:

    eu tenho mais memrias em mim mesmo que todos os homens tenham tido desde que o mundo mundo"conta ao narrador. Funes, no recordava somente cada folha de cada rvore de cada monte, como tambmcada uma das vezes que a tinha percebido ou imaginado. Era incapaz de ideias gerais. No podia armazenarsomente o smbolo genrico "co". Este smbolo, como todos os demais, abrangia diferentes indivduosespecficos, o co das 10 horas, o co da tarde, o visto de perfil ou o visto de frente. Ao relembrar de algoem um outro contexto esta informao era adicionada a informao j existente, aumentando sua memria.

    Irineo Funes no podia esquecer, por uma condio da sua prpria natureza. Sua memria infinita nolegitimava a informao ou facilitava a comunicao com seus semelhantes. Imobilizado em sua casa,decidiu pela opacidade. "Minha memria, senhor (dizia ele ao narrador), minha memria um imensodepsito de lixo." (Borges,1989).

    Acreditamos que as estruturas das memrias esto preenchidas com informao de contedo inverso snecessidades de uma demanda global. A hierarquia das necessidades humanas, que determina ocomportamento dos indivduos, foi mapeada por A. Maslow (Maslow, 1970) para indicar os fatoresdeterminantes da motivao, desempenho e satisfao no trabalho. No seu estudo emprico, Maslow,apresenta uma pirmide das necessidades humanas e o comportamento associado a cada nvel desta

    pirmide. Adaptamos este esquema para, em uma tentativa intuitiva, relacionarmos o que seriapossivelmente a demanda e a oferta de informao, em sua estrutura bsica.

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    A figura indica a tendncia histrica de composio dos estoques de informao. Grande parte da seleo deinformao e toda a ideologia redutora de significados da informao est orientada para as duas partessuperiores da pirmide das necessidades globais de informao. A grande massa de indivduos na base dapirmide demanda uma informao inexistente.

    Os critrios de seleo de que falamos anteriormente so excludentes, nesta condio prtica. Como agrande massa de informao dirigida para uma elite informacional, so formados excedentes que,cumulativamente aumentam o volume da oferta de informao, criando uma crescente disparidade com a

    demanda total e potencial dos estoques de informao se pensados como um todo. Ou seja os estoquesaumentam sempre para uma populao que no vai consumi-los proporcionalmente.

    A Figura abaixo procura mostrar esta relao excedente e excludos de informao.

    Vale notar, neste ponto, que as figuras apresentadas representam modelos da realidade, para uma melhorcompreenso do texto. No existe portanto um determinismo radical nas figuras; as ilustraes devem ser

    vista com flexibilidade e tolerncia. A oferta e demanda de informao devem ser analisadas por diferentespontos de vista: o tcnico, o econmico e o poltico.

    Sob o ponto de vista tcnico a oferta de informao resultante de um processo de produo, outransformao, com eventos bem definidos. A oferta no sentido tcnico no est condicionada sempre com a

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    possibilidade de criar valor ou uso. Assim se uma mercadoria se torna sem valor ou uso devido a um estadodo mercado, o processo que a produziu e a oferta que se constituiu continua valida no sentido tcnico dapalavra.

    Sendo as duas as funes bsicas do mercado de informao: a funo de produo de estoques deinformao, e a funo de transferncia da informao, estas esto conectadas, respectivamente, scondies de oferta e demanda da informao em um determinado contexto. Umes estoque de informaoproduzido, representa a oferta de informao, institucionalizada, em um determinado contextoinformacional. Por outro lado, para uma realidade especfica, que necessita informao, a funo detransferncia, efetiva a distribuio da informao estocada, com a inteno de atender a est demandapotencial.

    Em um mercado tradicional oferta e demanda se ajustam considerando s condies prprias deste mercado.Se no considerarmos os radicalismos do mercado, a demanda tem um papel primordial no ajuste. Se ademanda por determinado produto aumenta ou diminui a oferta tende a se ajustar a estas variaes.

    O mercado de informao tem caractersticas que lhe so peculiares. Estudos j realizados permitem indicarque na ambincia de informao a oferta que determina a demanda por informao.

    Esta afirmao aparece nos estudos doDr.Urqhart, (Urqhart 1976) idealizador daBritish Lending Lybraryem Boston Spa, na Inglaterra, indicava que:

    Estas propostas vm de uma fonte que acredita implicitamente no homem econmico e no conceito de que

    demanda cria oferta. A ausncia de qualquer resultado til nas tentativas anteriores de pesquisa econmica

    da transferncia da informao, sugere que os testes bsicos dos economistas, no se aplicam a este campo

    (cincia da informao). A posio parece indicar que o homem da informao substancialmente

    diferente do homem econmico. Sem dvida ele vive em um mundo onde oferta pode criar demanda.

    A elaborao da base tcnica conceitual para explicara afirmao de que a oferta que orienta a demanda

    bastante simples, conforme apresentamos a seguir.

    No mercado de geladeiras, por exemplo, se ocorre um aumento de demanda pelo produto, a oferta tender ase ajustar a esta demanda oferecendo um volume maior do produto. Inversamente, se a demanda porgeladeiras diminuir, a oferta ira se ajustar com uma menor produo.

    Gestores de unidades de informao precisam a aumentar as suas condies de produo (oferta)de maneiraperidica e cumulativa, mesmo que no ocorra um acrscimo na demanda por informao. Assim umabiblioteca aumenta a sua coleo, anualmente, por exemplo, mesmo que os seus usurios permanecem nomesmo patamar de solicitaes por informao ou mesmo que o nmero de usurios permanea o mesmo eo volume de sua demanda tambm. O mesmo ocorre com uma base de dados, ou com o acervo de um

    arquivo ou de um museu. Haver sempre nestas unidades de informao, um acrscimo peridico, contnuoe cumulativo de itens de informao, no estoque de informaes armazenadas, ainda que, a demanda porinformao nestas mesmas unidades, permanea constante, no caso limite. A limitao da demanda e suasrazes esto explicitadas na conceituao que acompanham as figuras j apresentadas.

    Vale lembrar que estamos diferenciando em nosso raciocnio o conceito de estoque e fluxo de informao. Ovolume do estoque, esttico, aumenta pelo fluxo contnuo e dinmico de itens que so adicionados. Oestoque de informao representa um custo fixo, independente da escala de produo; este custo que j foiincurso no pode mais ser decidido, "bygones are bygones forever".

    Ainda que, a demanda tenha um acrscimo, no mantida qualquer proporcionalidade entre os acrscimosda oferta, aqui indicados pelos acrscimos no estoque de informao, e os acrscimos da demanda porprodutos e servios de informao.

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    Esta uma condio operacional bsica, ela tcnica, no econmica nem poltica. valida paraqualquer unidade de informao, pois esta necessita estar apta a atender os requisitos de qualidade como:confiabilidade, cobertura, novidade e abrangncia na sua oferta de produtos e servios de informao paraatender aos requisitos impostos pela demanda. uma condio operacional da oferta que se relaciona prpria existncia da unidade de informao. Seu gerente no pode assumir a atitude econmica racional des aumentar a oferta (acrscimo do acervo), caso ocorra um acrscimo da demanda, pois a longo prazo istolevaria a extino daquela unidade de informao. O homem de informao, neste sentido no pode serracional; ele tecnicamente operacional, ele estratgico.

    Consequentemente, esta condio de oferta/demanda de informao vai ocasionar implicaes tcnicaseconmicas e polticas. As implicaes tcnicas localizam, particularmente, na eficcia dos estoques deinformao, na capacidade de produo e na distribuio da informao.

    O aumento constante e cumulativo no volume dos estoques de informao armazenada afetar diretamente aprodutividade destes estoques, no que se refere a recuperao de itens de informao para distribuio.

    O crescimento constante no volume dos estoques de informao ira afetar, ainda, a capacidade de produodas unidades de informao. O crescimento contnuo, da oferta, sem que ocorra um igual acrscimo da

    demanda por produtos de informao, implicar em um rendimento decrescente de escala de produo, isto, unidades de informao tendem a operam sempre com capacidade ociosa ou no que chamamos deineficincia operacional desejvel, pois esta ineficincia necessria para atender aos requisitos dequalidade que so colocadas por seus usurios.

    As condies econmicas se refletem nas condies tcnicas expostas acima. Todas a estrutura de custosdeve ser repensada, pois devido ao efeito da acumulao de estoques de informao, que dissociada dademanda, o que ocasiona a existncia de rendimentos decrescentes de escala e da ineficincia operacionaldesejvel, as unidades de informao, estaro operando sempre, em uma condio normal, com custoscrescentes.

    Como decorrncia das condies tcnicas e econmicas, ocasionadas pela peculiar ambincia de convvio daoferta e demanda em unidades de estoques de informao, existe um reflexo nas condies polticasafetando a distribuio da informao e a potencial gerao do conhecimento no indivduo e na sociedade.No contexto poltico a distribuio afetada, pois o produtor de informao tender a transferir produtos queminimizem a ineficincia operacional desejvel do seu estoque, mais do que os que maximizem aexpectativa de qualidade da demanda dos seus usurios.

    Aqueles que detm o poder sobre os estoques institucionais de informao, tambm, detm o poder sobre asua administrao e distribuio e consequentemente sobre o conhecimento gerado na sociedade e o seupotencial de desenvolvimento. O produtor de informao, detentor dos estoques, decide sobre quais os itensde informao devem ser armazenados e quais as estratgias para a sua distribuio sociedade. Decide,

    ainda, sobre o empacotamento tecnolgico para a sua distribuio, sendo que, alguns dos canais dedistribuio so to intensivos na utilizao de tecnologia, que podem direcionar a prpria estratgia natransferncia da informao.

    O detentor do poder sobre estes estoques (oferta) possui condies polticas de manipular a disponibilidade eo acesso informao. Ao decidir as suas estratgias de distribuio, o produtor de informao procuramaximizar o uso das informaes que teve de estocar, para minimizar o excedente do estoque no produtivo.Como a demanda se localiza em uma realidade fragmentada, de mltiplos espaos sociais diferenciados, adistribuio da informao correr sempre o risco de ser feita de acordo com uma estratgia de repasse domenor conhecimento comum, ou seja, o maior volume possvel do estoque deve ser transferido para ummaior pblico comum em suas competncias para assimilar a informao repassada; sem que sejaconsiderada a qualidade da informao ou o interesse do indivduo ou da sociedade, por aquela informaoque est sendo distribuda.

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    A gesto dos estoques de informao pode ser to autoritria quanto as polticas que a orientam. Ser tomais autoritria quanto for maior o poder de oferta sobre a demanda colocada pelos receptores.

    Custo, Valor e Preo da InformaoComo foi visto no item anterior, o custo de produo no mercado de informao esta relacionada a umacondio tcnica que denominamos de ineficincia operacional desejvel. A oferta estar sujeita a estacondio, operando assim, em nveis crescentes de custo de acordo com cada caso especfico de umaunidade de informao particular. Desta forma o custo da oferta no ter uma relao estreita com umpossvel preo de mercado da informao ou o seu valor de mercado. As escalas de desejo que determinam autilidade da mercadoria informao sero o valor de uso e o valor semitico.

    O valor de uso determina a utilidade da informao para determinado receptor, que estar disposto a pagarpor esta informao muito mais do que a sua relao real com custo ou preo; quanto mais alta estiverposicionada esta utilidade da informao na escala de preferncias do consumidor maior ser o valor queeste lhe atribuir.

    O valor semitico entendido aqui como a medida da competncia individual do receptor em decodificar aestrutura de signos para realizar o entendimento necessrio ao consumo da informao. Assim o valor

    semitico precede aos demais valores da informao: valor de uso e valor de mercado.A avaliao dos estoques de informao e os labirintos do conhecimentoOperando com custos crescentes e em uma situao desejvel de ineficincia operacional, o sistema derecuperao da informao procurou sempre medidas de avaliao de sua capacidade de ser til ao receptorda informao.

    As mais famosas destas medidas formam desenvolvidas e testadas por Cyril Cleverdon no CranfieldInstitute of Tecnhology. As medidas de Cleverdon procuram um indicador para a capacidade do sistema deestoques de informao recuperar informao relevante. Estas medidas chamadas de recuperao e preciso,apesar de tecnicamente envelhecidas so utilizadas conceitualmente at hoje.

    Contudo, independentes de qualquer avaliao de desempenho, estoques de informao sero sempreestoques de informao em sua condio de movimento: so recursos estticos na ao do conhecimento.Representam um ambiente quieto com crescimento programado. Sua condio de esttica espera ficarevelada em nosso prprio falar contemporneo: - Vou entrar em um arquivo; a ideia de viagem em direoao local da informao e de ingresso mostram a circunstncia de serena espera para possibilitar uma aomaior. Entrar em um arquivo, porm, revela a condio de labirinto de nossa memria. O viajante de umarquivo no pode nunca colocar seu olhar de cima para baixo para visualizar os caminhos certos. H que sepercorrer todas as alamedas para conhecer o labirinto.

    Assim como Teseu, na passagem da informao para o conhecimento, h que se percorrer infindveis

    labirintos de informao estocada, labirintos fsicos, labirintos digitais, labirintos da nossa memria.

    Nesses caminhos nos deparamos com trs tipos de labirintos: o clssico o labirinto de Cnosso, assim quese entra a nica coisa que se tem a fazer chegar ao centro. Se o labirinto de Cnosso fosse desenrolado,teramos entre as mos um nico fio. O fio de Ariadne que o mito nos apresenta como o nico meio, para,depois de entrar, sair do labirinto. O fio de Ariadne muito nos lembra os instrumentos de organizao econtrole providos pela cincia da informao. Incidentalmente podemos encontrar no caminho o Minotauroe devemos lutar com ele; so os metadados que deveriam estar transparentes em nosso percurso; escondidosdevem servir unicamente para possibilitar controles internos; fora de controle o Minotauro se transforma emuma metalinguagem que esconde a linguagem natural.

    O segundo tipo de caminho o labirinto deIrweg. OIrweg prope escolhas alternativas, pois todos oscaminhos levam a um ponto morto, exceto um que leva a sada. Se desenrolado pelo fio de Ariadne o Irwegtoma a forma de uma rvore, com diversos becos sem sada, mas ao percorre-los chegamos mais perto de

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    nosso intuito. como o nosso pensamento divergente, apontando para diversos caminhos antes de encontraraquele que nos direciona para a elaborao final da informao transformando-a em conhecimento.

    O terceiro tipo de labirinto e do tipo de uma Rede, na qual cada ponto pode ter conexo com qualquer outroponto. No possvel desenrol-lo; os labirintos dos dois ltimos tipos explanados tem um interior com seuprprio emaranhado e um exterior, se entra e se sai do labirinto. O labirinto de terceira ordem no teminterior ou exterior. Pode ser finito ou infinito e, em ambos os casos, considerando que cada um dos pontosde sua formao pode ser ligado a qualquer outro, o seu prprio processo de conexo um contnuoprocesso de correo das conexes. sempre ilimitado pois a sua estrutura sempre diferente da estruturaque era um momento antes e cada vez se pode percorr-lo segundo linhas diferentes. o labirinto dosestoques virtuais de informao, das estruturas de informao em hipertexto onde o conhecimento opera porassociaes convergentes ou divergentes de informaes acessadas. ( Eco 1989) .

    A ideia de estoques de informao como labirintos do conhecimento apresentada j, por D'Alembert naintroduo de sua Enciclopdia:

    "...o sistema geral das cincias e das artes uma espcie de labirinto de caminho tortuoso que o esprito

    enfrenta sem bem conhecer a estrada a seguir..."

    Armazm dos discursos de informao aos estoques cabe a funo de guarda do saber acumulado; a ao deconhecimento se realiza em outro local: os espaos de vivncia e convivncia dos receptores da informao.Onde o cristal se faz chama.

    Notas:

    1. Estrutura: forma de organizao dos elementos, que adquirem sentido apenas enquantofazendo parte de um conjunto.

    2. Conhecimento: organizado em estruturas mentais por meio das quais o sujeito assimila omeio (informao). Conhecer um ato de interpretao, uma assimilao do objeto(informao) pelas estruturas mentais do sujeito. Estruturas mentais no so pr-formadas nosentido de serem programadas nos genes. As estruturas mentais so construdas pelo sujeitosensvel, que percebe o meio. Produo ou gerao de conhecimento uma reconstruo dasestruturas mentais do indivduo atravs de sua competncia cognitiva, ou seja, umamodificao em seu estoque mental de saber acumulado, resultante de uma interao comuma informao. Esta modificao pode alterar o estado de conhecimento do indivduo, ou

    porque aumenta seu estoque de saber acumulado, ou porque sedimenta saber j estocado , ouporque reformula saber anteriormente estocado.

    3. Assimilaomisto de sensibilidade e percepo a assimilao aceita a informaomodificando o contexto cognitivo por acrscimo, por modificao ou sedimentao de saberestocado.

    4. Relevante: tudo aquilo que possui a condio de utilidade, que a qualidade das coisasmateriais e imateriais em satisfazer nossas necessidades.

    5. Prioridade: qualidade do que est em primeiro lugar; o que antecede aos outros em tempo,lugar, serie ou classe quando da prtica de alguma coisa.

    6. Unidades de informaounidades que conjugam as funes de agregar estoques deinformao e comunicar estrategicamente a informao com a inteno de produzirconhecimento no indivduo e no seu mundo

    7. Estoques de informao - conjunto de itens de informao agregados segundo critrios deinteresse de uma comunidade de usurios.

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    8. Conceitos - definido como sendo a menor e menos complexa entidade mental , que mantmpropriedades de representao simblica.

    Referncias:

    [1] BORGES, J.L. .Fices. Editora Globo, 5 edio. Rio de Janeiro, 1989

    [2] ECO, Umberto. Sobre os espelhos e outros ensaios. Nova Fronteira, Trio de Janeiro, 1989. ( Grande parte das indicaes sobrelabirintos foi retirado do ensaio, a rvore de Porfrio)

    [3] MASLOW, A.H. Motivation and Personality. New York, Harper, 1970. Ver tambmhttp://www.wynja.com/cgi-wynja/bookstore.cgi?maslow.html

    [4] THOMPSON, D'Arcy. On Growth and Form. Abridged Edition. Cambrige University Press, Inglaterra, 1961. (Captulo II -On Magnitude)

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    [6] JAENEKE, P., To what end Knowledge Organization, Knowledge Organization (1994) n 1, pp 3-10

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    * Publicado na Revista Datagramazero em Junho de 2000

    Sobre o autor / About the Author:Aldo de Albuquerque [email protected]

    Pesquisador Snior do CNPqhttp://bit.ly/kHeVzR

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