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MÉMORIAS E TRADIÇÕES: a oralidade histórica no processo migratório dos camponeses de uma aldeia de Portugal com destino ao Brasil NOÊMIA DE CARVALHO GARRIDO 1 Introdução Neste texto pretendo apresentar um pouco da memória e da tradição de uma comunidade na aldeia de Sanhoane localizada no norte de Portugal, ponto de referência da origem familiar. Apesar de alguns pontos de afinidade com a história local, é também um inicio de trabalho acadêmico voltado ao estudo da Ciência da Cultura, no curso de doutorado em Portugal. A Memória e tradição são elementos presentes no imaginário coletivo de uma comunidade e fortalece a formação da identidade e a cultura de um povo. Pretendo buscar contribuição na história oral, estudos sobre migração, visto que a migração está centrada na experiência pessoal nas mudanças entre lugares, indicando na natureza dos relatos, um elemento importante no desvelamento dos problemas sociais, culturais e econômicos. A história oral, nos últimos anos tem ampliado consideravelmente o seu campo de trabalho. As pesquisas demonstram um grande número de depoimentos editados trazendo histórias em que o material coletado por meio de entrevistas orais, é utilizado como fonte, e dedicados a uma reflexão sobre os problemas sociais. Contudo, no Brasil, ainda há um grande esforço em avançar na história oral para composição historiográfica. Raimundo Nonato P. Moreira (2009), fala sobre a História Oral como uma possibilidade de trazer vida para dentro da própria história. E que em conformidade com a história oral, a memória é a presença do passado, através de um conjunto de valores acentua- se a formação da identidade de um grupo/comunidade. Alistair Thomson, (2002), diz que embora possamos fazer uma distinção entre os processos de migração inicial das experiências 1 Doutoranda em Ciências da Cultura – Universidade Trás –os– Montes e Alto Douro – PORTUGAL – Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Social e Ação Comunitária – GEPESAC. Membro/Tesoureira da Associação Brasileira de Pedagogia Social – ABRAPSocial. Professora de Educação de Jovens e Adultos na FUMEC – Campinas – SP

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MÉMORIAS E TRADIÇÕES: a oralidade histórica no processo migratório dos camponeses de uma aldeia de Portugal com destino ao Brasil

NOÊMIA DE CARVALHO GARRIDO1

Introdução

Neste texto pretendo apresentar um pouco da memória e da tradição de uma

comunidade na aldeia de Sanhoane localizada no norte de Portugal, ponto de referência da

origem familiar. Apesar de alguns pontos de afinidade com a história local, é também um

inicio de trabalho acadêmico voltado ao estudo da Ciência da Cultura, no curso de doutorado

em Portugal.

A Memória e tradição são elementos presentes no imaginário coletivo de uma

comunidade e fortalece a formação da identidade e a cultura de um povo. Pretendo buscar

contribuição na história oral, estudos sobre migração, visto que a migração está centrada na

experiência pessoal nas mudanças entre lugares, indicando na natureza dos relatos, um

elemento importante no desvelamento dos problemas sociais, culturais e econômicos.

A história oral, nos últimos anos tem ampliado consideravelmente o seu campo de

trabalho. As pesquisas demonstram um grande número de depoimentos editados trazendo

histórias em que o material coletado por meio de entrevistas orais, é utilizado como fonte, e

dedicados a uma reflexão sobre os problemas sociais. Contudo, no Brasil, ainda há um

grande esforço em avançar na história oral para composição historiográfica.

Raimundo Nonato P. Moreira (2009), fala sobre a História Oral como uma

possibilidade de trazer vida para dentro da própria história. E que em conformidade com a

história oral, a memória é a presença do passado, através de um conjunto de valores acentua-

se a formação da identidade de um grupo/comunidade. Alistair Thomson, (2002), diz que

embora possamos fazer uma distinção entre os processos de migração inicial das experiências

1 Doutoranda em Ciências da Cultura – Universidade Trás –os– Montes e Alto Douro – PORTUGAL – Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Social e Ação Comunitária – GEPESAC. Membro/Tesoureira da Associação Brasileira de Pedagogia Social – ABRAPSocial. Professora de Educação de Jovens e Adultos na FUMEC – Campinas – SP

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dos migrantes individuais, e das comunidades migrantes, parte da história oral da migração

reconhece as complexas interconexões da comunidade migrantes e das identidades étnicas.

A memória viva as experiências da migração e das comunidades étnicas são igualmente

parte importante da história. Vitor Pereira, (2009) pesquisou sobre a emigração portuguesa

dos anos 1957 a 1974, apontando a principal causa ocorrida nos 60 e 70. Em seu

entendimento e de muitos autores estava, na emergência de se consolidar a democracia em

Portugal. A migração, enquanto um fenômeno social e importante objeto de estudos por parte

das instituições de cunho acadêmicas, a pesquisa se revela contribuindo na compreensão das

políticas, sociais, econômicas e culturais, sobretudo atrelados aos fatos históricos advindos de

sua natureza. Na complexidade do aspecto da estrutura social há de se levar em conta todo o

processo concorrido para a formação da identidade de um povo. A vida cotidiana, entre

memórias e tradições remetem à entender determinada sociedade.

A aldeia de Sanhoane

Localizada no norte Transmontano em Portugal, possui uma paisagem plana, porém

com uma elevação que pode se destacar como o ponto mais elevado da aldeia. Deste ponto

pode se visualizar um vasto horizonte e aproximação da Espanha. Possui um clima marcado

por duas estações bem acentuadas: com um inverno intensamente frio, muita chuva e neve, e

um verão muito quente e sufocante. Sanhoane pertence ao Concelho de Mogadouro (cidade)

onde, no século XII, edificou dois castelos, o Castelo de Mogadouro e o Castelo de Penas

Róis, como defesa as terras do nordeste português para controlar os povos inimigos que

avançavam pela estrada principal que ligava as essas terras.

A aldeia se valoriza culturalmente pelo pequeno patrimônio situado na praça de

convivência: a Igreja Matriz de Sanhoane, preservada tradicionalmente pelos seus

camponeses com lendas e mitos envolvendo o contexto de sua história, “Capela de Santo

Amaro”,

Santo Amaro é o padroeiro da aldeia, e está exposto na Capela de Santo Amaro

construída através de uma lenda relacionada ao santo milagroso e um membro dos Távoras,

um fidalgo que possuía uma Quinta de Nogueira próximo a Mogadouro. A lenda trás o

milagre do Santo e o dito fidalgo, que tentou raptá-lo e levar para a capela em sua quinta, mas

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na hora do ato, seu cavalo quebrou a perna. Impossibilitado de prosseguir viagem apelou para

o santo, prometendo que se curasse a perna do cavalo colocaria o novamente no altar e

mandaria erguer um novo templo ampliado, no lugar. Diz a lenda (oralmente transmitida

pelos camponeses) que o cavalo sarou e esta é a razão do novo templo receber no terceiro

domingo de julho, todos os anos, devotos na festa de Santo Amaro. Porém, entre os narrados

da lenda, pode se colher um relato divergente com relação ao fato real da promessa do fidalgo

e o seu cavalo.

Na outra versão o relato está ligado a figura de Marques de Pombal, personagem da

nossa história em educação no Brasil. Diz que: o fidalgo que vinha fugindo dos soldados de

Marques de Pombal, que queria matá-lo para conseguir devolver as terras em que um dia a

família Távoras havia recebido por favores prestado a coroa portuguesa. Marques de Pombal

viu a possibilidade de anexar novamente, as terras do Norte Transmontano a coroa

portuguesa. Na perseguição dos soldados, já na aldeia de Sanhoane, aconteceu o acidente

com o cavalo do fidalgo que tentava chegar até a Espanha e se ver livre de Pombal, foi então

que fez a promessa ao santo.

No dia do santo milagroso a aldeia é enfeitada para a grande procissão e festejo em

homenagem ao seu padroeiro. Os camponeses preparam banquetes para receber parentes e

amigos das aldeias vizinhas ou pessoas que deixaram a aldeia em épocas difíceis. Inicia-se a

manhã com uma missa e procissão, fogos, a banda municipal. Em seguida os visitantes

convidados são recebidos pelos camponeses em suas casas para o almoço e após, retornam a

praça para apreciar as apresentações culturais. As meninas do Fole e os Pauliteiros são as

atrações do evento.

Os Pauliteiros

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Fotos: Registro de Garrido – autora do texto – julho de 2012

Percebe-se que as comunidades das aldeias de Portugal procuram preservar a tradição

adquirida ao longo de sua história, interagindo com os costumes repassados de geração em

geração procurando dar continuidade e prevalecer a memória dos antepassados.

Foi desta região que entre os anos 50 e 60 algumas família partiram com destino ao

Brasil.

A migração dos camponeses da aldeia com destino ao Brasil Para se compreender o sentido da migração de uma região, país ou continente é

necessário procurar entender o contexto social e os fatos que contribuíram para a

determinação da mudança ou troca do local residente.

Está bem presente na relação entre Portugal e Brasil, desde o inicio da formação do

povo brasileiro a questão da migração. Porém, em determinados períodos de nossa história

alguns fatores impulsionaram o processo migratório, contudo podemos verificar que

sobressai o sentido econômico na maioria dos processos. Temos como exemplo: no século

XVIII, o desenvolvimento da mineração na economia colonial, posteriormente as crises

econômicas desencadeando o desemprego fizeram com que pessoas se descolassem de um

país para o outro em busca de melhores condições de vida.

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O processo migratório é algo que já acontece há muito tempo atrás, desde o começo da

história da humanidade. A constituição garante o direito ir e vir, e a mobilização de pessoas

de um lugar para o outro. Todavia, é uma questão que envolve muita polêmica, por várias

condições se: de maneira espontânea, obrigatório, interesses políticos, econômico, seja qual

for, demanda sempre uma bagagem histórica que cada um carrega junto ao destino escolhido.

Algumas famílias deixaram Portugal e escolheram viver no Brasil entre os anos 50 e

60, especialmente das aldeias da região Transmontano. Embora considerando que Portugal na

década de 60 passava por um crescimento econômico significativo, em investimento na

abertura econômica externa, sobretudo com relação ao turismo evoluindo positivamente,

ocorrendo um equilíbrio na balança comercial atribuída a remessas dos emigrantes. Todavia a

situação dos camponeses nas aldeias não era nada boa, viviam em condições praticamente de

miséria causada pela insuficiência de renda obtida pelo trabalho na agricultura e sem

condições de sobrevivências. Também pela desigualdade entre o campo e as grandes cidades

como Lisboa considerada o local da cultura e da riqueza. Mas os pontos que levaram os

portugueses a migrarem da aldeia para as grandes cidades, outros países e especialmente para

o Brasil, além da oferta de trabalho, outros fatos concorrem para a partida, dentre eles:

. Intenso crescimento demográfico não acompanhado pelo rápido crescimento

econômico devido a problemas de distribuição de terras e incapacidade de modernizar

rapidamente a agricultura, especialmente no Norte de Portugal, região densamente povoada

predominando o minifúndio;

. O vinho do Porto, principal produto de exportação de Portugal tinha como base uma

indústria de crescimento restrito não acompanhando o crescimento da agricultura em geral. O

setor industrial se desenvolvia lentamente não compensando as deficiências da agricultura;

. Alta taxa de natalidade e diminuição de mortalidade acarretando um crescimento

rápido da população, ultrapassando a capacidade da economia para sustentar a população

suscitando pressões com relação ao nível de recursos materiais para a agricultura

ocasionando uma crise e o incentivo da migração dos camponeses a outras instâncias.

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Segundo Herbert S. Klein:

Esta pressão da emigração não foi uniforme ao longo do tempo, nem em termos geográficos, tendo-se concentrado principalmente nos distritos do litoral e do interior norte, onde as densidades populacionais eram elevadas e as terras estavam divididas em minifúndios, bem como no Nordeste transmontano, onde a qualidade dos recursos era insuficiente para manter sequer a esparsa população que aí existia. As ilhas da Madeira e dos Açores, tal como as regiões do Norte do continente, também foram afectadas por pressões populacionais e pela subdivisão excessiva das terras, o que levou a uma emigração constante durante os séculos XIX e XX. A pressão da emigração apenas não se fez sentir nos distritos do Sul, escassamente povoados, onde predominavam os latifúndios. A maioria dos emigrantes portugueses eram provenientes dos distritos mais densamente povoados do continente. (Klein,1993).

Esses fatores são relevantes considerando melhores condições de vida, sobretudo pela

sobrevivência. Mas a tristeza acompanha quem parte e para quem fica o espaço como, a terra,

as casas, o lugar de convivência fica vazio e os patrimônios transformados em ruínas pelo

abandonado. Hoje em muitas das aldeias há um esvaziamento da população, encontra-se o

abandono das moradias e os castelos em decadências, como mostra as das fotos abaixo:

Moradia abandonada

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Fotos: Registro de Garrido – autora do texto – julho de 2012

Os portugueses das aldeias escolheram fugir de Portugal para o estrangeiro, à procura

de melhores condições de vida, trabalho, e de uma vida melhor. Essa saída conduziu à

redução e ao envelhecimento da população, sobretudo nas regiões do interior, provocou uma

diminuição da mão de obra e operou uma mudança cultural e material no país.

O impacto cultural o sonho e a tendência de retorno A cultura portuguesa no Brasil desde os tempos da chegada dos descobridores a procura

de novas terras, foi entendida como uma questão imigratória, Os emigrantes contribuíram em

aspectos: cultural e material na formação do povo brasileiro, que merece ser levado em

consideração. Apesar de já encontrarem em solo brasileiro povos indígenas, a fusão das

culturas propiciou uma característica e identidade própria. Ao longo dos tempos cada vez

mais foi se identificando um jeito de ser na cultura brasileira, com alguns traços herdados dos

portugueses e de outros povos que vieram para colonização. Embora levando em conta as

heranças tradicionais, como os rituais religiosos, festas folclóricas e a língua falada, mesmo

assim, sempre ocorre um impacto cultural na chegada de novos imigrantes portugueses.

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Na verdade ocorre um impacto que aos poucos se encontram, nas histórias que se

misturam e no espaço da oralidade que se materializam como importante instrumento dos

fatos transportados na bagagem para entender o processo de migração entre os países.

Os camponeses da aldeia de Sanhoane de uma maneira geral deixaram sua comunidade

a procura de um sonho, ou seja, buscar em outros locais um maneira de melhorar as

condições de vida. Podemos perceber que a maioria das famílias que deixaram o país de

origem como os das aldeias de Portugal dos anos 60 pensavam em retornar, porém esse

projeto acabou não concretizando, criaram raizes no país de destino e assumiram uma

identidade no território escolhido. Alistair Thomson, na tradução de Magda França Lopes

(2002), diz que, a história da migração se interessa nos processos dos migrantes individuais e

coletivos nas regiões de destino, e também como se estabelecem as relações das redes de

trabalhos, como são recriadas, o estilo de vida a partir do local de origem e de chegada.

Evidentemente, a experiência de um grupo étnico particular no local de destino é um elemento necessário à história da migração. De fato, como discuto mais adiante, mudanças no interior de comunidades étnicas estabelecidas e relações de contestação à cultura dominante são freqüentemente motivações para o registro e a promulgação de histórias da origem e da chegada de migrantes. Por outro lado, há o risco de se enxergar essas comunidades somente em termos de suas origens migrantes, especialmente onde elas podem ter raízes históricas profundas provindas de uma continuidade de residência e podem sustentar elementos de diferença cultural muitas gerações depois do período inicial de migração. (FRANÇA, em THOMSON, 2002).

Atualmente a crise nos países da Europa é assunto dos noticiários internacional, mais

uma vez se observa o fenômeno de migração ocorrendo nos países afetados, agora de

brasileiros que deixaram o país e retornam para o Brasil. Há um anuncio nos meios de

comunicações que Portugal pretende trazer de volta os jovens que deixaram o país ou o

campo para retornarem através de incentivo de modernização do campo e de valorização do

camponês. Dessa forma poderá se constatar que há uma tendência do retorno e dos sonhos da

volta ao lugar de origem.

Considerações finais

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Considerando como objeto de estudo a Aldeia de Sanhoane em Portugal, torna-se muito

rico como um local de referência para o trabalho acadêmico para metodologia do curso de

doutorado. Em se tratar de um tema relacionado a história oral e migração a relevância do

trabalho com relação as narrativas dimensiona uma cultura local, mas também dialoga com

diferentes espaços sociais na compreensão dos conflitos, sonhos, buscas, frustrações e

compreensões dos problemas.

No Brasil, a metodologia foi introduzida na década de 1970, quando foi criado o

Programa de História Oral do CPDOC2

A história oral é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas

gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas,

instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. Começou a ser

utilizada nos anos 1950, após a invenção do gravador, nos Estados Unidos, na Europa e no

México, e desde então difundiu-se bastante. Ganhou também cada vez mais adeptos,

ampliando-se o intercâmbio entre os que a praticam: historiadores, antropólogos, cientistas

políticos, sociólogos, pedagogos, teóricos da literatura, psicólogos e outros.

A partir dos anos 1990, o movimento em torno da história oral cresceu muito. Em

1994, foi criada a Associação Brasileira de História Oral, que congrega membros de todas as

regiões do país, reúne-se periodicamente em encontros regionais e nacionais, e edita uma

revista e um boletim. Dois anos depois, em 1996, foi criada a Associação Internacional de

História Oral, que realiza congressos bianuais e também edita uma revista e um boletim. No

mundo inteiro é intensa a publicação de livros, revistas especializadas e artigos sobre história

oral. Há inúmeros programas e pesquisas que utilizam os relatos pessoais sobre o passado

para o estudo dos mais variados temas.

2 http://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral data: 04/01/2013

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As entrevistas de história oral são tomadas como fontes para a compreensão do passado, ao

lado de documentos escritos, imagens e outros tipos de registro. Caracterizam-se por serem

produzidas a partir de um estímulo, pois o pesquisador procura o entrevistado e lhe faz

perguntas, geralmente depois de consumado o fato ou a conjuntura que se quer investigar.

Além disso, faz parte de todo um conjunto de documentos de tipo biográfico, ao lado

de memórias e autobiografias, que permitem compreender como indivíduos experimentaram

e interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de um grupo ou da sociedade em

geral. Isso torna o estudo da história mais concreto e próximo, facilitando a apreensão do

passado pelas gerações futuras e a compreensão das experiências vividas por outros.

O trabalho com a metodologia de história oral compreende todo um conjunto de atividades

anteriores e posteriores à gravação dos depoimentos. Exige, antes, a pesquisa e o

levantamento de dados para a preparação dos roteiros das entrevistas.

A realização dos Congressos sobre Historia Oral, sem dúvida são espaços importantes

para o debate e da participação de pesquisadores para a construção do conhecimento

relacionado ao tema.

REFERÊNCIAS ALGE, Barbara. A popularidade dos Pauliteiros de Miranda. In: Revista Brigantia, jul/Dez 2004. Disponível em: http://www.bragancanet.pt/pauliteiros/popular2. htm. GARRIDO, Noêmia de Carvalho (et al). Animação Sociocultural: um propósito da Educação Social. Animação Cultural entre mitos e memórias na aldeia de Sanhoane em Portugal. São Paulo: Expressão & Arte Editora, 2012

GOMES, Alexandra Manuela; BAPTISTA, Susana. Imigração, Desenvolvimento Regional e Mercado de Trabalho – O caso Português. Acesso em 18/07/2013. Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=10&ved=0CGUQFjAJ&url=http%3A%2F%2Fwww.apdr.pt%2Fsiterper%2Fnumeros%2FRPER01%2FART05.PDF&ei=jIDpUYqbEIO48wT17oH4Cg&usg=AFQjCNFu9wcKzFZ8fpl5bsN7IpI3BmYCEA

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KLEIN, Herbert. A integração social e económica dos imigrantes portugueses no Brasil nos finais do século XIX e no século XX. In: Análise Social, vol. XXVIII (121), 1993, 235-265. MOREIRA, Raimundo Nonato Pereira. História e memórias: algumas observações. Disponível em: C:\Users\Administrador\AppData\Local\Microsoft\Windows\Temporary Internet Files\Content.IE5\2FMCAH6V\Hist%c3%b3ria+..[1].pdf. Acesso em 18/07/2013. ______. Terra Ignota: Sertão, memória e oralidade na obra de Euclides da Cunha. In: X Encontro Nacional de História Oral – Testemunhos: História e Política. Recife, 26 a 30 de abril de 2010. Universidade Federal de Pernambuco. PEREIRA, Victor. Emigração e desenvolvimento da previdência social em Portugal. In: Análise social, vol. XLIV (192), 2009, 471-510. THOMSON, Alistair. História (co) movedoras: História oral e estudos de migração. Tradução: Magda França Lopes. In: Revista Bresileira de História. São Paulo: v. 22, nº 44, pp 341-364. 2002. http://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral data: 04/01/2013