memórias de minha infância curvas 15

17

Upload: editora-barauna-se-ltda

Post on 24-Jul-2016

214 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Qual a sua primeira lembrança? Quantos anos você tinha? Você gostaria de compartilhar os momentos marcantes da sua vida? A nossa vida é assim, dividida em episódios singulares, com histórias incríveis que jamais esqueceremos. Em Memórias de Minha Infância, você viajar no fantástico mundo de um menino que foi morar na floresta e viveu experiências inesquecíveis. Boa leitura!

TRANSCRIPT

Page 1: Memórias de minha infância curvas 15
Page 2: Memórias de minha infância curvas 15
Page 3: Memórias de minha infância curvas 15
Page 4: Memórias de minha infância curvas 15
Page 5: Memórias de minha infância curvas 15

São Paulo - 2015

Page 6: Memórias de minha infância curvas 15

Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda.

Projeto Gráfico Felippe Scagion

Revisão Patrícia de Almeida Murari

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________

C962m

Cruz, Leo Memórias de minha infância / Leo Cruz. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0488-3

1. Cruz, Leo -- Narrativas pessoais. 2. Autobiografia. 3. Literatura infantojuvenil. I. Título.

15-26383 CDD: 028.5 CDU: 087.5

________________________________________________________________14/09/2015 15/09/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

Page 7: Memórias de minha infância curvas 15

À minha família, que faz parte de toda a minha história;Ao professor Agnaldo, meu inesquecível mestre;Aos meus alunos, que me incentivaram na reali-

zação desta obra;À minha filha Larissa, minha eterna princesa!

Page 8: Memórias de minha infância curvas 15
Page 9: Memórias de minha infância curvas 15

Nunca imaginei que um dia minhas vivências de infância fossem se tornar um livro. Tudo começou quan-do, nas minhas aulas de produção de textos narrativos, contava minhas histórias aos alunos. Fazia narrativas orais daquelas que mais me marcaram. Eu notava que os alunos gostavam de ouvi-las, interagiam comigo e motivavam-se a fazer o mesmo em seus textos escritos. Todos os anos, falava da minha infância durante as aulas de produção textual, minhas histórias sobre a cachorra louca, o encontro com a onça, a fila do castigo, relatos sobre os meus irmãos e histórias com cachorros, galinhas e até lobisomem.

“Por que o senhor não escreve um livro, profes-sor?” – sugeriu certa vez um aluno. Desde então, aque-la pergunta não saía da minha cabeça. Nunca havia

Page 10: Memórias de minha infância curvas 15

pensado em escrever um livro, muito menos autobio-gráfico. Considerava a ideia muito pretensiosa, então me contentava como um contador de histórias nas mi-nhas aulas de português.

Uma vez, no primeiro dia de aula, levei para sala um texto de minha autoria, intitulado “A primeira lembrança a gente nunca esquece”. Tinha escrito com o objetivo de estimulá-los a escrever sobre suas lembranças e avaliar a escrita de cada um. Entreguei o texto sem citar o autor, propositadamente. Assim que alguns leram, iniciaram-se as indagações sobre quem escreveu aquele texto. Queriam saber o nome do livro e se haveria possibilidade de lê-lo. Então eu disse a eles que aquela história não era uma fic-ção, que a personagem e os relatos eram reais, que eu era aquele menino cuja primeira lembrança foi tão marcante.

A aprovação dos meus alunos pelo texto que se tornou o primeiro capítulo foi o que me motivou a escrever este livro. A você, leitor, desejo que as histó-rias da minha infância sejam tão prazerosas quanto a minha própria meninice. Vivi tempos que não voltam jamais e registrá-los através desta obra representa para mim um valor imensurável.

Boa Leitura!Leo Cruz

Page 11: Memórias de minha infância curvas 15
Page 12: Memórias de minha infância curvas 15
Page 13: Memórias de minha infância curvas 15

11

enho que confessar uma coisa. Se eu pudesse apagaria da minha memória algumas lem-branças. Aquelas lembranças que não gosta-

ria que ocupassem espaço em minha mente e provavel-mente você já entendeu o porquê. Eu acho a memória da gente incrível. Nossa, como somos capazes de guardar as coisas! Nosso cérebro parece um computador, que ar-quiva os acontecimentos que marcam a nossa vida, sejam bons ou ruins. A diferença é que o computador deleta os arquivos selecionados, mas o cérebro não. Ainda que a gente queira e até se esforce, as lembranças são impos-síveis de serem apagadas. Eu procuro ver o lado positivo disso: aprender com os erros e superar os momentos difí-

Page 14: Memórias de minha infância curvas 15

12

ceis. E mais, as lembranças ruins podem ser usadas como avisos do tipo “Cuidado com o que você está fazendo, já aconteceu isto!” ou “Você não vai querer passar por isso novamente, vai?”. Por outro lado, as boas lembranças nos mostram o que podemos fazer para estar sempre de bem com a vida, concorda?

Qual é a sua primeira lembrança? Quantos anos você tinha? Se eu estiver correto, você tinha menos de cinco anos, acertei? Digo isto porque especialistas reve-lam que a primeira lembrança acontece a partir dos três anos. Não sei se eles acertaram com você, mas acertaram comigo. E me sinto um privilegiado! Não costumo con-versar com as pessoas sobre isso, mas acho incrível ter lembrança de alguma coisa aos três anos de idade. E a memória da gente é tão impressionante que a recordação está lá, intacta e acessível, ocupando um espaço que é só seu e de mais ninguém. E sabe por que a lembrança é acessível? Porque podemos revivê-la, voltar àquela cena que marcou ou ficar apenas recordando, como se tivésse-mos aberto o arquivo da nossa memória e ficássemos de frente à lembrança que um dia vivemos, nos colocando de volta ao passado que faz parte da nossa história.

Meu pai foi um aventureiro. Gostava de arriscar, mas sempre em busca de algo melhor. Percorreu vários lugares e para aonde ia levava a família. Quando eu ti-nha três anos, ele tomou uma decisão que mudou radi-calmente a minha vida. Nunca conheci meus avós. Os pais da minha mãe faleceram quando ela tinha sete anos e foi cuidada pelos meus tios. Meu pai evitava falar sobre seus pais. Dizia que tinha saído de casa aos doze anos e

Page 15: Memórias de minha infância curvas 15

13

nunca mais voltou. Nunca conheci nenhum parente de meu pai e qualquer coisa sobre isso era um mistério. Foi o preço que pagou por suas aventuras. Preço que também paguei, porque cresci sem esse laço familiar, sem poder chamar alguém de tio, sem brincar com meus primos e sem aqueles momentos em que os parentes se reúnem num grande almoço no final de semana, no aniversário de alguém, num casamento. São tantos os motivos para encontros entre os parentes. Em toda a minha infância, nunca participei de um.

Ainda tinha por perto os meus tios e primos, pa-rentes da minha mãe. E tinha também meus padrinhos de batizado. Mas só tinha três anos, ainda não enten-dia nada sobre laços familiares. E antes que começasse a entender, meu pai toma a decisão de ir embora com a família para bem longe. Longe de tudo, longe de todos. Já não tinha por perto os parentes de meu pai e fui afas-tado definitivamente dos familiares da minha mãe. E não ficou a lembrança de um rosto sequer.

A viagem foi longa, durou vários dias, mas não me lembro dela. O novo endereço da família era no meio do mato, para onde se olhava só se via o verde das ma-tas, podia-se ouvir o canto dos pássaros e sons ainda des-conhecidos. E aqui revelo a minha primeira lembrança. Final da longa viagem, mas não tínhamos chegado onde iríamos morar. Era preciso caminhar a pé mais quatro quilômetros dentro da extensa mata. Apenas uma trilha por onde carro não passava nos indicava o caminho para não se perder na floresta. Recordo-me com precisão deste momento. Estávamos à beira de uma estrada e a trilha

Page 16: Memórias de minha infância curvas 15

14

começava com uma ladeira íngreme. No pé da ladeira, a única casinha que se via. Meu pai não perdia tempo, fez logo amizade com o morador, que lhe ofereceu café. Para mim, ver gente além da minha família por ali era um alívio. Sentia-me um estranho em terra alheia, terra onde não éramos donos. Meu pai, além de aventureiro, era um explorador de um mundo desconhecido. Eu, po-rém, sentia-me um invasor. Os sons da floresta eram nada amigáveis. Mantinha-me próximo a minha família e por nada me afastaria, tinha medo daquele lugar, daquela la-deira. Não acreditava que alguém pudesse descer por ela e quem se arriscasse poderia cair e rolar ladeira abaixo. Tinha apenas três anos. Se fosse o irmão mais velho talvez tivesse perguntado ao meu pai por que raios fomos parar ali, sob o risco de levar uma bronca ou uns tabefes.

Esta é a minha primeira lembrança. A ladeira, a ca-sinha, o morador, tudo tão longe, tão estranho. Jamais poderia imaginar que aquele seria o meu mundo. A mi-nha entrada nele marcou tanto que está viva na memória até hoje, passado que faz parte do presente e deu novos rumos ao meu futuro, cheio de histórias, aventuras e ex-periências inesquecíveis.

Page 17: Memórias de minha infância curvas 15

15

ão me recordo quanto tempo se passou, de-via ter cinco anos. Alguns meses depois que minha família chegou, máquinas abriram

uma estrada no meio da floresta e pouco a pouco outras famílias também vieram, povoando o lugar. Minha famí-lia morava numa casa muito simples, construída de ma-deira, telhado de tabuinha e alguns cômodos. Na frente ficava a estrada, que conduzia aos poucos vizinhos que tinha, mal conhecia eles. Por ela, andava a pé para ir à igreja e, aos seis anos, à escola. Tudo muito longe. Meu pai colocou uma placa na entrada do terreno: Sítio Bem--estar – proprietário: Cláudio Manoel da Cruz. Atrás da casa tinha a mata, a floresta quase impenetrável. A mata me assustava. Às vezes, acordava à noite com o ronco do macaco bugio, longo e repetitivo. Acordava também com