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Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia Centro Universitário Estadual da Zona Oeste – UEZO MELHORIAS NA MANTENABILIDADE DE SISTEMAS DE UMA BALSA DE LANÇAMENTO: UMA ABORDAGEM PRÁTICA Vitor Eduardo Isaias da Silva Rio de Janeiro 2012

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Governo do Estado do Rio de Janeiro

Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia

Centro Universitário Estadual da Zona Oeste – UEZO

MELHORIAS NA MANTENABILIDADE DE SISTEMAS DE

UMA BALSA DE LANÇAMENTO: UMA ABORDAGEM

PRÁTICA

Vitor Eduardo Isaias da Silva

Rio de Janeiro

2012

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S586 Silva, Vitor Eduardo da. Melhorias na mantenabilidade de sistemas de uma balsa de lançamento: Uma abordagem prática / Vitor Eduardo da Silva. — 2012. 70 f.; 30 cm.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia de Produção)— Centro Universitário Estadual da Zona oeste, Rio de Janeiro, 2012. Bibliografia: f. 66- 67.

1. mantenabilidade. 2. sistemas. 3. disponibilidade. 4. manutenção. 5. I. Título.

CDD 620.004 5

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VITOR EDUARDO ISAIAS DA SILVA

Aluno do Curso de Engenharia de Produção

Matrícula 0823800137

MELHORIAS NA MANTENABILIDADE DE SISTEMAS DE

UMA BALSA DE LANÇAMENTO: UMA ABORDAGEM

PRÁTICA

Trabalho de Conclusão de Curso, TCC, apresentado ao Curso

de Graduação em Engenharia de Produção, da UEZO como

parte dos requisitos para a obtenção do grau de Engenheiro

de Produção, sob a orientação do Professor Paulo Emilio

Paes Rodrigues.

Rio de Janeiro

Dezembro de 2012

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Dedicatória

Aos meus pais Ana Catarina e Jurandir (In Memoriam), meu

irmão Daniel Cesar e a minha esposa Tânia Cristina.

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Agradecimentos

Aos meus pais, por todo amor que tenho recebido ao longo da

vida, pela referência e formação;

Ao meu irmão, pela admiração recíproca;

A minha esposa pelo amor, companheirismo e incentivo;

Aos meus sogros pelo carinho e pela confiança;

Aos os amigos por todo o apoio e incentivo, em especial ao

Leonardo Paschoal, amigo de longa data e de todas as horas;

À equipe da BGL-1, pelo acolhimento, pela boa convivência

e por todo aprendizado que tenho adquirido com vocês;

Ao meu orientador, Prof. Paulo Emilio que acreditou e

forneceu, além das orientações, a tranquilidade necessária

para o desenvolvimento deste trabalho;

A todos os Professores e demais Profissionais da UEZO, que

foram imprescindíveis e que têm uma imensa

responsabilidade em uma Universidade ainda em formação;

A todos os amigos e colegas de faculdade pela caminhada

solidária.

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v

Resumo

A manutenção é uma atividade que vem sendo cada vez mais valorizada nas

empresas devido ao caráter estratégico que esta vem adquirindo. Decorre disso o crescente

processo de especialização pelo qual tem passado. Novas ramificações, técnicas e formas

de tratamento surgem a cada dia para otimizar os resultados. Como em uma corrida de

velocidade, onde cada detalhe faz a diferença, as empresas têm procurado investir na

melhoria da eficiência para se atingir a mesma eficácia, ou seja, têm procurado diminuir os

gastos para se atingir os mesmos objetivos. E todas as áreas têm sido envolvidas neste

processo. Com base nisso, este trabalho discute a facilidade de execução da manutenção de

equipamentos em sistemas de instalações industriais. A metodologia adotada foi um estudo

de caso realizado a bordo de uma embarcação marítima, abordando o assunto de forma

prática e apresentando soluções já adotadas e sugerindo soluções para eventos verificados

no decorrer da pesquisa. O desenvolvimento do tema tem como base a mantenabilidade,

como ela é aplicável e de que maneira isso pode auxiliar na melhoria dos processos,

mostrando ainda que a utilização de seus conceitos contribui para a melhoria da

manutenção. O trabalho foi dividido em introdução, revisão da literatura, metodologia,

análise e interpretação dos resultados, considerações e perspectivas. Neste último capítulo

são sugeridos temas complementares a este, visto a amplitude do tema e da Manutenção

em si, que é uma área bastante ampla e que possui várias técnicas e conceitos.

Palavras-chave: mantenabilidade, sistemas, disponibilidade, manutenção, balsa.

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vi

Abstract

Maintenance is an activity that is being increasingly valued in the companies due

to the strategic nature that it is acquiring. Derive from this a growing specialization process

by which has passed. New ramifications, techniques and forms of treatment appear every

day to optimize the results. As in motor racing, where each little detail makes a big

difference, companies have sought to invest in improving efficiency to achieve the same

effectiveness, or have sought to reduce spending to achieve the same targets. And all areas

have been involved in this process. Based on this, this paper discusses the ease of

maintenance execution of equipment systems in industrial plants. The methodology

adopted was a study of case, did aboard a marine vessel, approaching the subject in a real

life and presenting solutions already adopted and suggesting solutions for events observed

during the research. The development of theme is based on the maintainability, as it applies

and how this can assist in improving processes, showing that the use of the concepts

contributes to the improvement of maintenance. The sections of this paper are introduction,

literature review, methodology, analysis and interpretation of results, considerations and

prospect. In the last chapter are suggested complementary themes to this, given the breadth

of the subject and the maintenance itself, which is a fairly wide area and has various

techniques and concepts.

Keywords: maintainability, systems, availability, maintenance, craft.

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“A produtividade é aumentada pela melhoria da qualidade.

Este fato é bem conhecido por uma seleta minoria”.

William Edwards Deming (1900 – 1993)

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SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................................. v

ABSTRACT ............................................................................................................................ vi

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... ix

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... x

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ................................................................................... xi

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 12

1.1 O AMBIENTE DA PESQUISA E A APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA .......... 13 1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO .................................................................................. 16 1.3 A ESCOLHA DO TEMA E OS OBJETIVOS DO ESTUDO .................................. 16

2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................... 18

2.1 HISTÓRICO DA MANUTENÇÃO .......................................................................... 18 2.2 CONCEITOS BÁSICOS DE MANUTENÇÃO ....................................................... 21 2.3 CONFIABILIDADE, MANTENABILIDADE E DISPONIBILIDADE ................. 30

3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 41

3.1 O CONTEXTO DA PESQUISA ............................................................................... 42 3.2 O CRITÉRIO DE SELEÇÃO.................................................................................... 44

4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ............................................................ 46

4.1 SISTEMA DE LASTRO E DESLASTRO ................................................................ 46 4.2 SISTEMA DE ÁGUA SALGADA DE RESFRIAMENTO ..................................... 49 4.3 SISTEMA DE ESGOTO (EMERGÊNCIA E OLEOSO) ......................................... 52 4.4 SISTEMA DE ÓLEO DIESEL ................................................................................. 56 4.5 FILTROS DAS CAIXAS DE MAR .......................................................................... 58 4.6 BALANÇO DOS RESULTADOS ............................................................................ 61

5 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................................. 63

6 PERPECTIVAS ................................................................................................................... 64

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 66

GLOSSÁRIO ......................................................................................................................... 68

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: BGL-1 Antes da última docagem ........................................................................ 14 Figura 2: BGL-1 após a última docagem na saída do estaleiro ........................................... 14 Figura 3: BGL-1 em operação de montagem de plataforma ............................................... 15 Figura 4: Evolução da Manutenção ..................................................................................... 20 Figura 5: Interação entre os tipos de manutenção ............................................................... 28 Figura 6: Curva característica de Vida de Equipamentos (Curva da Banheira) .................. 34 Figura 7: Identificação de Conveses da BGL-1................................................................... 42 Figura 8: Leiaute do 3º Convés ........................................................................................... 43 Figura 9: (a) Válvula sem espaço para lubrificação da caixa redutora. (b) Em detalhe ...... 47 Figura 10: (a) Uma caixa de redução aberta. (b) O piano de válvulas de lastro .................. 48 Figura 11: (a) Um dos conjuntos filtro-bomba. (b) O dreno do filtro em destaque ............ 49 Figura 12: (a) As bombas com os olhais no teto. (b) Os olhais em detalhe ........................ 50 Figura 13: (a) Vista à montante das bombas. (b) Vista à jusante das bombas com as válvulas sobre o estrado ....................................................................................................... 51 Figura 14: (a) A vista Proa-Popa mostra o recalque das bombas. (b) A vista Popa-Proa mostra os filtros à montante................................................................................................. 52 Figura 15: (a) SAO fechado, antes da limpeza. (b) SAO aberto e com um conjunto de placas ainda no interior ........................................................................................................ 54 Figura 16: (a) Óleo caindo no porão após a abertura. (b) Jateamento de um conjunto de placas com Diesel e a formação da névoa ........................................................................... 55 Figura 17: (a) O enxague de um conjunto de placas. (b) A lavagem interna do SAO ........ 55 Figura 18: (a) Remontagem dos conjuntos de placas. (b) SÃO fechado e o porão após a limpeza ................................................................................................................................ 55 Figura 19: (a) Tanque de Diesel com transmissor instalado. (b) Instalação de um transmissor em detalhe ........................................................................................................ 57 Figura 20: (a) O purificador de Diesel. (b) uma das possibilidades para uma possível instalação da cuba ................................................................................................................ 58 Figura 21: (a)Um anodo deteriorado X anodo novo. (b) Atividade sendo realizada com a utilização do turco ............................................................................................................... 59 Figura 22: (a) Drenagem sendo realizada. (b) A retirada das cracas do filtro ..................... 60 Figura 23: (a) O fechamento do dreno após a limpeza. (b) O dreno fechado ..................... 60 Figura 24: Lavagem manual de um dos cestos dos filtros do sistema de lastro .................. 61 Figura 25: Unidade de refrigeração de compressor elétrico com melhoria na confiabilidade ............................................................................................................................................. 65

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Evolução da Manutenção..................................................................................... 21 Tabela 2: Identificação das praças de máquinas do 3º Convés ........................................... 43 Tabela 3: Resumo e organização das melhorias .................................................................. 62

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

BGL-1 Balsa Guindaste e Lançamento N° 1

DPS Dynamic Positioning System (Sistema de Posicionamento Dinâmico)

ETM Engenharia, Tecnologia e Materiais

HPU Hydraulic Power Unit (Unidade de Energia Hidráulica)

ISO International Organization for Standardization

MBC Manutenção Baseada na Condição (Condition Based Maintenance – CBM)

MCC Manutenção Centrada na Confiabilidade

OS Ordem de Serviço

PLEM Pipeline End Manifold

RCM Reliability Centered Maintenance

REVAMP Reforma Geral e Modernização de Equipamentos e Instalações

SAO Separador de Água e Óleo

SIMA Serviço de Instalações Marítimas

SMM Sala de Monitoração de Máquinas

SMS Segurança, Meio Ambiente e Saúde

TPM Manutenção Produtiva Total (Total Productive Maintenance)

UTE Unidade de Tratamento de Efluentes Sanitários

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1 INTRODUÇÃO

No mundo moderno é preciso estar sempre atento às mudanças para manter-se

atualizado e competitivo. As organizações, sejam elas públicas ou privadas de qualquer

ramo de atuação, são levadas a se reorganizarem continuamente para tentar assegurar sua

sobrevivência. A busca por inovação, a disputa por clientes, os recursos cada vez mais

limitados, dentre outros fatores, fazem com que constantemente sejam desenvolvidas

técnicas para aperfeiçoamento de processos em todas as áreas, o que inclui a manutenção.

E esta, por sua vez, adquire cada vez mais importância para o desenvolvimento das

empresas que exercem de alguma forma essa atividade, seja como ferramenta de uso

próprio, seja como produto na prestação de serviços a terceiros. Sendo assim, os recursos

utilizados em manutenção passaram a ser vistos não mais como despesa e sim

investimento, que cada vez mais se traduz em técnicas e dispositivos para o aumento de

sua eficiência antes, durante e depois de sua realização. Kardec e Nascif (2009) relatam

que nos últimos trinta anos a atividade de manutenção tem mudado mais que qualquer

outra atividade, como consequência do aumento acelerado do número e diversidade de

itens físicos que necessitam ser mantidos, bem como de projetos cada vez mais complexos

e de um novo enfoque da gestão relativa à manutenção, entre outros. E neste cenário, a

manutenção deixa de ser uma mera ferramenta de suporte operacional e passa a ser

produtora de disponibilidade de equipamentos e instalações, agregando valor ao processo e

garantindo assim um papel importante na estratégia das empresas e passando então a ser

considerada desde o início de novos projetos. Ou seja, cai em desuso a visão clássica de

que a manutenção significa apenas a necessidade de reparar itens quebrados e passa a ter

cada vez mais força aquela que afirma que o seu principal objetivo é manter o item em

funcionamento de acordo com as condições de projeto, ou repará-lo para aquelas

condições, observando-se as prerrogativas físicas necessárias para o pleno

desenvolvimento da produção (ABRAMAN, 2008).

Com base nessa evolução do papel da manutenção, será abordado de forma

prática um de seus aspectos; a mantenabilidade ou manutenibilidade. De maneira sucinta,

Kardec e Nascif (2009) a conceituam como sendo a característica de um equipamento

permitir um maior ou menor grau de facilidade na execução da manutenção.

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1.1 O AMBIENTE DA PESQUISA E A APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

O ambiente escolhido para a pesquisa foi a Balsa Guindaste e Lançamento Nº 1 da

Petrobras (BGL-1). Esta embarcação é destinada à construção de dutos submarinos,

instalação de plataformas fixas e içamento de estruturas de grande porte, operando há trinta

e cinco anos. Periodicamente passa por modificações para melhoria dos serviços prestados.

Construída em 1976 no Japão, começou a operar no ano seguinte e em 1983 teve a

capacidade de carga do seu guindaste principal ampliada de 600 toneladas para 1000

toneladas. Em 1987 sofreu a primeira grande Reforma Geral e Modernização de

Equipamentos e Instalações (REVAMP) na qual foram instalados, entre outros

equipamentos, novos guinchos de âncora e houve significativo aumento da capacidade de

tripulantes. Ao longo da década de 90 sofreu outras várias modificações até que no final de

2007 docou para a realização da REVAMP mais recente que durou até o início de 2011.

Nesta última foi construída uma superestrutura com ampliação das acomodações,

instalação de uma nova ponte de comando para operação do Sistema de Posicionamento

Dinâmico (DPS – Dynamic Positioning System) e instalação do respectivo DPS; instalação

de um heliponto maior, nova rampa de lançamento de dutos, instalação de sistema

supervisório para monitoração simultânea de várias atividades, entre outros equipamentos

e melhorias. Tais modificações tiveram como objetivo o aumento do escopo de suas

atividades e maior flexibilidade na realização das mesmas, melhorando a sua

competitividade frente a outras embarcações da mesma classe que prestam serviço para a

empresa, porém com um diferencial: ela é um ativo próprio, o que reduz drasticamente os

trâmites de contratação e os custos para a realização dos serviços.

Segundo Azevedo (2011), entre o início de suas operações, em 1977, e a recente

docagem, a unidade realizou a instalação de 9 plataformas e lançou 147 dutos submarinos,

interligando plataformas, equipamentos submarinos para interligação de campos

produtores de óleo & gás e escoamento da produção (PLEMs – Pipeline End Manifold) e

dutos terrestres, totalizando 1.258 km até o momento, em diversos estados brasileiros, e até

mesmo no exterior (Angola). Além de outros serviços de menor porte, tais como a

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instalação e retirada de equipamentos e acessórios de plataformas. As Figuras 1 e 2

mostram a BGL-1 antes e depois da última REVAMP, respectivamente.

Figura 2: BGL-1 após a última docagem na saída do estaleiro Fonte: O autor

Após o reinício das operações em agosto de 2011, já foram realizados diversos

serviços, sendo o de maior complexidade a instalação de uma plataforma na costa do

Espírito Santo, com duração de quatro meses. A figura 3 mostra a BGL-1 em operação

após o seu retorno.

Figura 1: BGL-1 antes da última docagem Fonte: Arquivo da BGL-1

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Figura 3: BGL-1 em operação de montagem de plataforma Fonte: O autor

A BGL-1, conforme informado anteriormente, é um ativo da Petrobras (Petróleo

Brasileiro S.A.) diretamente ligada ao Serviço de Instalações Marítimas (SIMA), que é

uma Gerência subordinada a ENGENHARIA – órgão subordinado a Diretoria de

Engenharia, Tecnologia e Materiais (ETM) da empresa – e responsável por transportar e

instalar estruturas marítimas do tipo plataformas de produção e outras similares, lançar e

instalar dutos submarinos, bem como para dar apoio técnico e logístico a operações desse

tipo executadas por terceiros, a serviço da Petrobras.

Apesar do histórico positivo da embarcação ao longo de sua existência e da

grande modernização da última reforma, existem pontos que podem ser melhorados sob o

aspecto da mantenabilidade, afinal, segundo Kardec e Nascif (2009), sempre é possível

melhorar a mantenabilidade. Como a reforma é recente, ainda não houve necessidade de

uma manutenção de maior grau de complexidade e também ainda não existe histórico

suficiente para a formação de um amplo plano de manutenção. Todavia, estrategicamente é

importante que sejam evidenciadas todas as situações que poderão vir a se tornarem

críticas em futuras manutenções, sejam estas de qualquer natureza que vierem a ser.

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1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Portanto, se problemas de mantenabilidade que poderiam ter sido antecipados

forem pensados apenas quando na real necessidade de intervenção, talvez os recursos

necessários para fazê-lo não estejam disponíveis, ou se disponíveis, não sejam suficientes,

ou se suficientes talvez não haja tempo hábil para a execução. Outro fator é que um

equipamento com maior facilidade de manutenção provavelmente irá requerer menos mão

de obra disponível para a realização de determinado serviço.

Vale citar ainda os aspectos relacionados à SMS (Segurança, Meio Ambiente e

Saúde), visto que muitas atividades tornam-se menos arriscadas se recursos tais como

acesso, manobrabilidade e simplicidade forem levados em consideração e estiverem

disponíveis. Cabe salientar ainda o fato de que no dia-a-dia de operação, é possível

observar oportunidades de melhorias de baixo custo e aplicabilidade imediata que, mesmo

sendo de pequeno porte, podem ter impactos significativos, pois podem ocorrer durante

uma manutenção preventiva de determinado equipamento e alocadas como parte do

trabalho.

É importante ressaltar que o ambiente de trabalho offshore possui intrínsecas

dificuldades logísticas e de ampla abrangência: administrativa, operacional, de

manutenção, dentre outras e que iniciativas como as propostas no presente trabalho, podem

significar uma redução consistente no custo da manutenção.

1.3 A ESCOLHA DO TEMA E OS OBJETIVOS DO ESTUDO

Segundo Tachizawa e Mendes (2005), a escolha de um tema depende de alguns

critérios de seleção. Esses critérios, quando aplicados, resultam em um tema que:

• Corresponda ao gosto e interesse do aluno-pesquisador;

• Propicie experiências duráveis e de grande valor para o pesquisador;

• Possua importância teórica e, principalmente, prática;

• Corresponda às possibilidades de tempo do pesquisador;

• Seja viável em termos de levantamento de dados e informações.

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Para Pessoa (2005), o pesquisador também deve ter um interesse pessoal no tema

escolhido, seja pelo interesse em aprofundar-se, seja por sentir-se capaz de contribuir

através do tema, seja por conhecimento prévio, dentre outros. Neste cenário, surgiu a

oportunidade de abordagem do tema, ou seja, a convivência profissional aliada ao interesse

em desenvolvimento no tema. Os objetivos serão apresentados nos itens subsequentes.

1.3.1 Objetivos Gerais

O objetivo deste trabalho é mostrar que a atividade de manutenção vai muito além

do simples reparo de equipamentos: é uma atividade complexa que abrange uma série de

aspectos a serem considerados para que seu desempenho seja satisfatório. Passou de

atividade meio a atividade fim, com um único objetivo, que é o de fornecer maior

disponibilidade ao menor custo, sendo por isto avaliada como ferramenta fundamental para

melhoria do desempenho da produção. Neste cenário, onde ela torna-se mais relevante na

estratégia das empresas e o detalhamento de suas atividades ganha importância, será

abordado de forma prática o aspecto da mantenabilidade e de que forma ela pode afetar de

maneira direta a disponibilidade dos equipamentos e dos sistemas a que estes pertencem.

Concluindo, se a mantenabilidade é uma característica intrínseca a facilidade de

manutenção e o produto desta última é a disponibilidade, podemos dizer que a maior

facilidade no reparo significa equipamento menos tempo indisponível, o que pode

significar também maior produtividade.

1.3.2 Objetivos Específicos

• Levantar a discussão sobre a mantenabilidade dos equipamentos e instalações;

• Analisar a instalação de equipamentos;

• Apresentar oportunidades de melhorias;

• Apresentar melhorias em andamento;

• Apresentar melhorias já realizadas.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

A Manutenção é uma área bastante ampla com uma série de conceitos, definições

e siglas. E para uma correta abordagem e entendimento do tema proposto faz-se necessário

apresentarmos alguns desses pontos. Para iniciarmos será apresentado um breve histórico

da Manutenção, para que se entenda o seu contexto atual e porque ela adquiriu esta

relevância.

2.1 HISTÓRICO DA MANUTENÇÃO

As fontes recentes da literatura técnica dividem a manutenção historicamente em

três gerações distintas, utilizando como marco inicial para essa cronologia o período da

Segunda Guerra Mundial. Cada uma dessas gerações é caracterizada por um estágio

diferente na evolução tecnológica dos meios de produção, pela introdução de novos

conceitos e novos paradigmas. São elas:

• Primeira Geração (Mecanização);

• Segunda Geração (Industrialização);

• Terceira Geração (Automatização).

Para Siqueira (2005), a Primeira Geração estende-se aproximadamente entre1940

e 1950. Para Kardec e Nascif (2009), esta fase tem início antes da Segunda Guerra

Mundial. No entanto, há concordância em relação às condições da época, onde a

mecanização era incipiente e muito simples e em decorrência disso não era exigido um alto

grau de desempenho, pois a produtividade não era prioritária. Os equipamentos eram

restaurados apenas quando apresentavam defeito, ou seja, a manutenção era

fundamentalmente corretiva, não planejada. As competências requeridas eram basicamente

realizar os reparos quando necessários, além de limpeza e da lubrificação de máquinas.

Conforme Siqueira (2005), a Segunda Geração surgiu como resultado da

industrialização pós-guerra e perdurou entre 1950 e meados dos anos de 1970. Durante este

período houve a disseminação das linhas de produção contínuas e em função da

automatização que ocorreu durante este processo, houve a primeira onda de escassez de

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mão-de-obra especializada. O que levou a um esforço científico de pesquisa e

desenvolvimento de técnicas de manutenção preventivas orientadas para a minimização

dos impactos de falhas nos processos, bem como meios de produção para tentar atenuar os

efeitos da falta de mão-de-obra. Segundo Branco Filho (2008), é nesta época que surge a

Engenharia de Manutenção. Deste trabalho resultou o surgimento de técnicas de

manutenção preditivas e a cultura da manutenção periódica. As técnicas desenvolvidas

nesta fase foram somadas as outras já utilizadas na Geração anterior e em meados da

década de 1970 teve início a Manutenção Produtiva Total (TPM – Total Productive

Maintenance).

A consequência do processo anterior e do avanço desenvolvimentista japonês

(inclui-se aí o just-in-time ou JIT1) foi a Terceira Geração, que de acordo com Siqueira

(2005) evoluiu da incapacidade das técnicas disponíveis até então frente às exigências da

automação ocorrida na indústria a partir de meados dos anos de 1970. A partir deste

momento, além dos requisitos de maior disponibilidade, confiabilidade, e vida útil, passou-

se a exigir também melhor qualidade e desempenho de produtos e equipamentos. Na

mesma época houve um aumento da consciência da importância da preservação do meio

ambiente e da garantia de segurança para usuários de processos e produtos industriais,

gerando as condições que motivaram o surgimento da metodologia da Manutenção

Centrada na Confiabilidade (MCC). A figura 4 ilustra a evolução temporal das gerações

citadas até então.

1 Sistema de produção desenvolvido na Toyota Motor Company, no Japão, pelo Sr. Taiichi Ono. É um sistema de produção “puxada”, sem grandes estoques, cuja filosofia foi desenvolvida para combater o desperdício, seja de tempo, de armazenamento, retrabalho, e toda forma de ocorrência que gere custo e não agregue valor ao produto.

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Figura 4

No entanto, Kardec e Nascif (2009) afirmam que atualmente já avançamos e

entramos na Quarta Geração da Manutenção. Nesta, a Engenharia de Manutenção despont

dentro da estrutura da Manuten

manutenção moderna: disponibilidade, confiabilidade e manutenibilidade.

Manutenção passa a ser a minimização de falhas prematuras (mortalidade infantil). Out

fator importante é a prática de análise de falhas

melhoria do desempenho de equipamento

manutenção (confiabilidade, disponibilidade, mantenabilidade, Custo do Ciclo de Vida da

instalação, entre outros) desde

resultado da interação entre as áreas de Engenharia, Manutenção e Operação

consequência um produto confiável e com a qualidade desejada

técnicas de manutenção preditiva e monitoramento, o qu

manutenção preventiva ou programada,

corretiva não planejada, que

característica deste período é o aprimoramento da terceirização de contratos,

existir uma relação de parceria,

resultados. A tabela 1 mostra a evolução

relacionando as mudanças de conceito ocorridas em cada período.

4: Evolução da Manutenção Fonte: Siqueira (2005)

No entanto, Kardec e Nascif (2009) afirmam que atualmente já avançamos e

entramos na Quarta Geração da Manutenção. Nesta, a Engenharia de Manutenção despont

dentro da estrutura da Manutenção com o dever de garantir os três aspectos

manutenção moderna: disponibilidade, confiabilidade e manutenibilidade.

Manutenção passa a ser a minimização de falhas prematuras (mortalidade infantil). Out

a prática de análise de falhas, que vem comprovando ser eficaz na

melhoria do desempenho de equipamentos. Além disso, a aplicação d

(confiabilidade, disponibilidade, mantenabilidade, Custo do Ciclo de Vida da

desde a fase de projeto de novas plantas

resultado da interação entre as áreas de Engenharia, Manutenção e Operação

consequência um produto confiável e com a qualidade desejada. Intensifica

técnicas de manutenção preditiva e monitoramento, o que acarreta

manutenção preventiva ou programada, e o mesmo ocorre em relação à manutenção

corretiva não planejada, que passa a ser um indicador de ineficácia da Manutenção. O

ica deste período é o aprimoramento da terceirização de contratos,

existir uma relação de parceria, nos quais as empresas não mais contratam serviços, e sim

mostra a evolução da manutenção da Primeira até a Quarta Geraçã

relacionando as mudanças de conceito ocorridas em cada período.

20

No entanto, Kardec e Nascif (2009) afirmam que atualmente já avançamos e

entramos na Quarta Geração da Manutenção. Nesta, a Engenharia de Manutenção desponta

ção com o dever de garantir os três aspectos-chave da

manutenção moderna: disponibilidade, confiabilidade e manutenibilidade. O desafio da

Manutenção passa a ser a minimização de falhas prematuras (mortalidade infantil). Outro

vem comprovando ser eficaz na

a aplicação de conceitos da

(confiabilidade, disponibilidade, mantenabilidade, Custo do Ciclo de Vida da

e equipamentos –

resultado da interação entre as áreas de Engenharia, Manutenção e Operação – tem como

. Intensifica-se o uso de

e acarreta a redução da

o mesmo ocorre em relação à manutenção

or de ineficácia da Manutenção. Outra

ica deste período é o aprimoramento da terceirização de contratos, onde passa a

mais contratam serviços, e sim

até a Quarta Geração

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21

Tabela 1: Evolução da Manutenção

Fonte: Adaptado de Kardec e Nascif (2009)

2.2 CONCEITOS BÁSICOS DE MANUTENÇÃO

Azevedo (2011), afirma que conforme a Manutenção vem sendo estudada e

desenvolvida ao longo do tempo, sua definição torna-se cada vez mais abrangente, tendo

atualmente inúmeras definições. Mas que de alguma forma todas acabam se interligando e

complementando, convergindo para expressar um conceito comum. E conforme o próprio

radical da palavra, manter, significa manter algo dentro de certas condições e

especificações.

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22

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define manutenção como

sendo a “Combinação de todas as ações técnicas e administrativas, incluindo as de

supervisão, destinadas a manter ou recolocar um item em um estado no qual possa

desempenhar uma função requerida” (ABNT NBR ISO 14224, 2011).

Para Kardec e Lafraia (2002), há pouco tempo atrás a “Missão da Manutenção era

a de restabelecer as condições originais dos equipamentos/sistemas”. Mas com a evolução,

o conceito passou a ser “garantir a disponibilidade da função dos equipamentos e

instalações de modo a atender um processo de produção ou de serviço, com confiabilidade,

segurança, preservação do meio ambiente e custos adequados”.

Segundo Tavares (2000 apud AZEVEDO, 2011), Manutenção são todas as ações

necessárias para que um item (equipamento, obra ou instalação) seja conservado ou

restaurado, de modo a poder permanecer de acordo com uma condição especificada.

Segundo Smith (1991 apud SIQUEIRA, 2005), “a manutenção tem como objetivo

‘preservar as capacidades funcionais de equipamentos e sistemas em operação’”.

Complementando o raciocínio, Moubray (1997 apud SIQUEIRA, 2005), “diz que o

objetivo da manutenção ‘é assegurar que itens físicos continuem a fazer o que seus

usuários desejam que eles façam’”.

Para PETROBRAS (2002) a missão da Manutenção é garantir a disponibilidade

da função dos equipamentos e instalações de modo a atender a um processo de produção e

a preservação do meio ambiente, com confiabilidade, segurança e custos adequados.

Conforme pode ser observado, todas as premissas anteriores conduzem a

conclusão de que, independentemente dos meios, a função da Manutenção é garantir que

os recursos necessários para a operação estejam sempre disponíveis no momento que

forem solicitados. Completando o raciocínio:

Assim, juntamente com a necessidade de se manter em bom funcionamento todo e qualquer equipamento, ferramenta ou dispositivos empregados no trabalho, surge a necessidade de se compreender e aplicar as diversas técnicas de manutenção. (AZEVEDO, 2011, p. 20)

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23

Comprovada a importância da manutenção para os sistemas produtivos a partir

das definições, surge a necessidade de apresentar as especificidades de cada tipo de

manutenção, suas aplicações, algumas técnicas e alguns de seus desdobramentos.

2.2.1 Tipos de Manutenção

Apesar das definições de alguma maneira impor limites entre os tipos de

manutenção, na prática essa divisão acaba desaparecendo, pois em muitas vezes um tipo de

manutenção acaba por provocar outro tipo, ou por vezes a proximidade entre os tipos é tão

grande que acaba gerando dúvidas se a manutenção aplicada é de um tipo ou de outro. No

entanto, para Kardec e Nassif (2009), é importante uma caracterização mais objetiva dos

diversos tipos de manutenção, desde que, independentemente das denominações, todos

sejam enquadrados em um dos tipos apresentados na sequência. Ao final será apresentado

na figura 5 um esquema onde é possível observar a interação entre os diversos tipos de

manutenção que serão apresentados a seguir.

2.2.1.1 Manutenção Corretiva

É a Manutenção realizada após o reconhecimento de um estado de falha,

destinada a recolocar um item em condições de executar uma função requerida (NBR ISO

14224, 2011). Para Kardec e Nascif (2009), é aquela que é realizada para a correção da

falha ou do desempenho menor do que o esperado.

Kardec e Nascif (2009) destacam que a manutenção corretiva não é

necessariamente uma manutenção de emergência e que existem duas condições específicas

que acarretam a realização desta modalidade de manutenção. A primeira é o desempenho

deficiente apontado pelo acompanhamento das variáveis operacionais, e a segunda a

ocorrência da falha. Portanto, a ação principal na manutenção corretiva é corrigir ou

restaurar as condições de funcionamento do equipamento ou sistema.

Esta modalidade de manutenção pode ser dividida em planejada e não planejada.

Existem pequenas divergências quanto a nomenclatura para esses dois casos, mas como

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não exercem influência direta sobre o conceito, optamos por não entrar no mérito e

seguiremos com a denominação adotada por Kardec e Nascif (2009), que diz:

• Manutenção Corretiva Não Planejada: é a correção da falha de maneira aleatória.

Esta também é conhecida como Manutenção Corretiva não Programada ou

Emergencial. É caracterizada pela atuação da manutenção em fato já ocorrido.

Branco Filho (2008) define como aquela que não pode ser adiada e, de forma

objetiva, exemplifica: “aconteceu agora e tenho que fazer agora”.

• Manutenção Corretiva Planejada: é a correção do desempenho menor do que o

esperado ou correção da falha por decisão gerencial, que normalmente é respaldada

pela modificação dos parâmetros de condição observados pela manutenção

preditiva, que será explicada mais adiante.

Segundo Azevedo (2011), em geral a opção de ter a manutenção corretiva como

política de manutenção pode custar caro, entretanto, conforme Branco Filho (2008), em

situações extremas um equipamento pode ser mantido em serviço apesar de não mais

satisfazer a plenitude de suas funções. Voltando a Azevedo (2011), este argumenta que de

uma forma geral, trocar uma peça apenas quando houver quebra pode acarretar uma série

de prejuízos, como causar danos a outros itens e assim aumentar o tempo de

indisponibilidade do equipamento, o que consequentemente terá impacto direto no custo da

manutenção.

2.2.1.2 Manutenção Preventiva

Manutenção realizada a intervalos predeterminados ou de acordo com critérios

prescritos, e destinada a reduzir a probabilidade de falha ou a degradação do

funcionamento de um item (NBR ISO 14224, 2011). Segundo Kardec e Nascif (2009), é a

manutenção realizada de forma a reduzir ou evitar a falha ou queda no desempenho,

obedecendo a um plano previamente elaborado, baseado em intervalos definidos de tempo.

Esses intervalos de tempo são normalmente definidos em função do tempo calendário ou

de horas de operação do equipamento.

Branco Filho (2008) define a Manutenção Preventiva como sendo a realizada em

máquinas que estejam em condições operacionais, ainda que com algum defeito. E

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25

continuando, assim como a Corretiva, esta também pode ser dividida em duas outras, as

quais são:

• Manutenção Preventiva Baseada na Condição ou Preventiva por Estado: é todo

trabalho de manutenção realizado em máquinas que estejam em condições

operacionais, devido à detecção de degradação de parâmetros do equipamento. É

feita na proximidade da falha ou no momento mais adequado, considerando outros

requisitos operacionais e financeiros.

• Manutenção Preventiva Sistemática: é todo trabalho de manutenção realizado em

máquinas que estejam em condições operacionais, de modo sistemático, seja por

tempo transcorrido, seja por quilômetros rodados ou qualquer outra variável.

Segundo Azevedo (2011), não existe uma uniformização dos programas de

manutenção preventiva. Alguns são extremamente limitados, consistindo apenas em

lubrificação e ajustes menores. Outros são mais abrangentes e consistem em reparos,

lubrificação, ajustes, recondicionamentos, entre outras atividades, de acordo com a

criticidade dos equipamentos. Mas todos possuem um ponto em comum, pois assumem

que, as máquinas degradarão com um quadro de tempo típico de sua classificação em

particular, baseado, por exemplo, no índice TMEF (Tempo Médio Entre Falhas), evitando

que o mesmo seja atingido sem que tenha sido realizada uma intervenção programada.

2.2.1.3 Manutenção Preditiva

Conhecida também como Manutenção Controlada, é aquela que permite garantir

uma qualidade de serviço desejada, com base na aplicação sistemática de técnicas de

análise, utilizando-se de meios de supervisão centralizados ou de amostragem, para reduzir

ao mínimo a manutenção preventiva e diminuir a manutenção corretiva (NBR 5462, 1994).

Kardec e Nascif (2009) a descrevem afirmando que esta também é conhecida por

Manutenção sob Condição ou Manutenção com Base no Estado do equipamento, e que

pode ser definida como sendo a atuação realizada com base na modificação de parâmetros

de condição ou desempenho, cujo acompanhamento obedece a uma sistemática. E

completam afirmando que através de técnicas preditivas é feito o monitoramento da

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condição a ação de correção, quando necessária, é realizada através de uma manutenção

corretiva planejada. Ela foi a primeira grande quebra de paradigma na Manutenção, e

quanto mais avança o conhecimento tecnológico, mais são desenvolvidos equipamentos

para aumentar a confiabilidade das avaliações. Sua principal finalidade é a prevenção de

falhas por meio de parâmetros diversos permitindo a operação contínua do equipamento

pelo maior tempo possível

Para Osada (1993 apud AZEVEDO, 2011), a manutenção preditiva é uma

filosofia que evita a tendência à “supermanutenção” (manutenção e reparos excessivos) a

que estão propensos os enfoques convencionais de manutenção preventiva. E ele definiu

oito metas para a manutenção preditiva, conforme veremos a seguir:

1) Determinar o melhor período para manutenção;

2) Reduzir o volume do trabalho de manutenção preventiva;

3) Evitar avarias abruptas e reduzir o trabalho de manutenção não planejado;

4) Aumentar a vida útil das máquinas, peças e componentes;

5) Melhorar a taxa de operação eficaz do equipamento;

6) Reduzir os custos de manutenção;

7) Melhorar a qualidade do produto;

8) Melhorar o nível de precisão da manutenção do equipamento.

Para a ABRAMAN (2008), quando a intervenção é consequência direta do

acompanhamento preditivo, a mesma passa a se caracterizar como uma manutenção

preventiva planejada, também conhecida como Manutenção Baseada na Condição

(Condition Based Maintenance – CBM), já descrita anteriormente. Vários métodos podem

ser utilizados para assegurar-se da condição do equipamento, sendo os mais utilizados

atualmente:

• Ultra-som;

• Análise de vibrações;

• Análise de temperaturas;

• Análise de pressões;

• Termografia;

• Outros ensaios não destrutivos;

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27

• Monitoramento das condições elétricas;

• Análise de óleos lubrificantes.

Segundo Azevedo (2011), cada técnica tem um conjunto único de dados que

assistirá o gerente de manutenção na determinação da necessidade real de manutenção. As

técnicas específicas dependerão do tipo de equipamento, do seu impacto sobre a produção

e outros parâmetros chaves da operação da planta industrial e, também dos objetivos que se

deseja que o programa de manutenção preditiva atinja, obviamente considerando a relação

custo-benefício.

2.2.1.4 Manutenção Detectiva

Segundo Kardec e Nascif (2009), a Manutenção Detectiva começou a ser

mencionada na literatura a partir dos anos de 1990, e como o próprio nome diz, sua

denominação está ligada a palavra Detectar – em inglês Detective Maintenance. E pode ser

definida como a manutenção efetuada em sistemas de proteção, comando e controle,

buscando detectar falhas ocultas ou não perceptíveis às equipes de operação e manutenção.

Portanto, tarefas executadas para verificar se um sistema de proteção está funcionando

fazem parte da Manutenção Detectiva. Um exemplo simples é o botão de teste de lâmpadas

de sinalização e alarme em painéis.

Ainda segundo Kardec e Nascif (2009), a identificação desse tipo de falha é

primordial para garantir a confiabilidade, principalmente nos dias de hoje onde é cada vez

maior a utilização de computadores digitais em instrumentação e controle de processo nos

mais diversos tipos de plantas industriais.

2.2.1.5 Engenharia de Manutenção

Segundo Kardec e Nascif (2009), é a segunda quebra de paradigma na

Manutenção. Praticar a Engenharia de Manutenção significa uma mudança cultural

profunda, ela é o suporte técnico da manutenção que está dedicado a consolidar as rotinas e

implantar as melhorias. Dentre suas principais atribuições podemos destacar:

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28

• Aumentar a confiabilidade e a disponibilidade;

• Melhorar a manutenibilidade;

• Elaborar planos de manutenção e de inspeção e realizar a análise crítica;

• Manter-se atualizada em relação a novas técnicas;

• Aumentar a segurança;

• Eliminar problemas crônicos e solucionar problemas tecnológicos;

• Melhorar a capacitação do pessoal;

• Fazer análise de falhas e estudos;

• Gerir materiais e sobressalentes;

• Zelar pela documentação técnica, entre outros.

Figura 5: Interação entre os tipos de manutenção Fonte: Kardec e Nascif (2009)

2.2.1.6 Ferramentas Especiais para Manutenção

Segundo Kardec e Nascif (2009) existem várias ferramentas disponíveis e

adotadas hoje em dia e que possuem em seus nomes a palavra manutenção. Entretanto, é

importante observar que esses não são novos tipos de manutenção e sim ferramentas,

modelos de gestão que permitem a aplicação dos principais tipos de manutenção, que são

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os que foram abordados entre os itens 2.2.1.1 e 2.2.1.5. Dentre essas ferramentas merecem

destaque:

• Manutenção Produtiva Total (Total Productive Maintenance – TPM): de acordo

com Branco Filho (2008), é uma filosofia japonesa de manutenção para aumentar a

disponibilidade total da instalação, a qualidade do produto e a utilização de

recursos. É baseada no fato de que as causas das falhas e a má qualidade são

interdependentes.

• Manutenção Centrada na Confiabilidade (Reliability Centered Maintenance –

RCM): segundo Pallerosi (2007), tem como princípios a preservação do sistema, a

identificação dos modos de falha dominantes, a priorização das funções definidas

pelas falhas e a seleção do tipo de manutenção mais apropriado. Além desses

quatro conceitos básicos, para seu aprofundamento é necessária a abordagem de

outros conceitos, os quais não serão tratados aqui por ser um assunto específico e

bastante extenso. De forma sintética, consiste na adoção de medidas que garantam a

maior confiabilidade possível ao sistema.

• Manutenção Baseada em Risco (Risk Based Maintenance – RBM): para Brear et al

(2002 apud LIMA, SANTOS e SAMPAIO, 2010), a análise de riscos está

associada a identificação dos perigos, da probabilidade de ocorrência e das suas

consequências. Perigo refere-se a um evento ou situação, real ou hipotético, que

pode levar a uma perda, quer seja à vida, ao meio-ambiente, aos equipamentos ou

ao negócio. As consequências correspondem aos efeitos que poderiam se originar

caso os eventos de risco ocorressem. A chance de isto ocorrer corresponde a

probabilidade da ocorrência. O processo de Avaliação de Riscos considera a

interação entre a probabilidade e a consequência das falhas. Existem modelos

qualitativos e quantitativos para a avaliação consistente destes parâmetros.

Sinteticamente, visa minimizar os perigos causados por falhas não previsíveis dos

equipamentos, de uma maneira economicamente viável. Assim como a RCM,

também não será dada maior ênfase a este tópico.

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30

2.3 CONFIABILIDADE, MANTENABILIDADE E DISPONIBILIDADE

Após a abordagem das principais técnicas de manutenção e outros conceitos

associados, vamos apresentar os conceitos diretamente relacionados com o tema central do

trabalho. Entretanto, apresentaremos apenas os conceitos pertinentes ao enfoque da

abordagem, dadas a complexidade do tema e a grande quantidade de desdobramentos que

podem advir do assunto como um todo.

Conforme Kardec e Nascif (2009), Confiabilidade, Mantenabilidade e

Disponibilidade são palavras que fazem parte do cotidiano da manutenção. E observando a

Missão da Manutenção proposta por estes autores, já apresentada na conceituação de

manutenção, é possível observar duas delas: “Garantir a Disponibilidade da função dos

equipamentos e instalações de modo a atender a um processo de produção ou de serviço

com Confiabilidade, segurança, preservação do meio ambiente e custo adequado”.

2.3.1 Definições para intervalos de tempo

Para facilitar o entendimento de outros conceitos é necessária a apresentação de

alguns conceitos gerais. O conhecimento dos intervalos de tempo tem uma importância

fundamental, seja como indicadores diretos ou indiretos, e são utilizados nos três

conceitos. Santos (2010) reuniu os termos relativos aos intervalos de tempo em uma lista,

da qual foram retirados os de interesse, e cujas siglas referem-se aos termos na língua

inglesa. Não foram retiradas as equações já que não é escopo do trabalho a realização de

cálculos. Os termos aqui definidos não constam na Lista de Siglas e Abreviaturas.

• Tempo médio entre falhas (MTBF): É definido como o período de tempo entre duas

falhas consecutivas de um componente reparável.

• Tempo médio entre manutenções (MTBM): É definido como o tempo de vida útil

do sistema dividido pelo número total de eventos de manutenção programada e não

programada relacionado com um determinado item.

• Tempo médio para reparo (MTTR): É definido como a soma dos tempos de

manutenção corretiva dividido pelo número total de falhas de um item, durante um

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determinado intervalo de tempo sobre determinadas condições, ou ainda, o período

de tempo para recolocar um componente reparável em funcionamento.

• Tempo Médio entre Substituições (MTBR): É definido como o tempo de vida útil

do sistema dividido pelo número total de itens removidos durante um determinado

período de tempo.

• Tempo Médio para a Falha (MTTF): É uma medida básica da confiabilidade de

itens não reparáveis.

• Tempo atuação: Tempo de prontidão mais o tempo de operação.

• Tempo de prontidão: Tempo durante o qual o sistema está em condição de realizar

as funções exigidas.

• Tempo de paralisação para manutenção (MDT): É definido como a soma total dos

tempos necessários para reparar e restabelecer o sistema em um nível de operação.

É função dos tempos médios de manutenção preventiva e corretiva, do tempo de

atraso logístico e do tempo de atraso administrativo.

• Tempo médio de manutenção ativa (M� ): É o tempo médio necessário para realizar

as tarefas de manutenção preventiva e corretiva. É função da frequência relativa de

ocorrência dessas tarefas.

• Tempo de atraso administrativo (ADT): É o tempo de paralisação resultante de

algumas prioridades administrativas, tais como: Contratação de pessoal,

procedimentos do departamento pessoal ou greves.

• Tempo médio de manutenção corretiva (M�CT): É o tempo gasto realizando uma

tarefa de manutenção corretiva, devido a interrupção da operação do sistema ou

devido a uma falha não esperada.

• Tempo ativo máximo de manutenção corretiva (Mmax): Representa o limite

superior do percentual de tarefas que excedem a duração do tempo de reparo.

• Tempo médio de manutenção preventiva (M� pt): São atividades de manutenção

programadas com a finalidade de manter um sistema em condições de operação e

inclui atividades tais como: Inspeções, calibração, revisões. Não inclui os tempos

de atraso logístico e administrativo.

• Homens-Hora de manutenção por horas de operação do sistema (MMH/OH): É

definido como sendo o número de técnicos de manutenção multiplicado pelo

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32

número de horas trabalhadas para realizar uma ação de manutenção por horas de

operação do sistema.

2.3.2 Confiabilidade

Conforme definido em norma, Confiabilidade é a capacidade de um item de

desempenhar uma função requerida sob condições especificadas durante um determinado

intervalo de tempo (NBR 5462, 1994). Segundo Lafraia (2001), ela está diretamente

relacionada com a confiança que temos em um produto, equipamento ou sistema, ou seja,

que estes não apresentem falhas. E desta forma, uma das finalidades da confiabilidade seria

a de definir a margem de segurança a ser utilizada, uma vez que no projeto tradicional o

coeficiente de segurança acaba sendo escolhido arbitrariamente por não conhecermos todas

as variáveis do projeto.

Segundo Kardec e Nascif (2009), outra definição utilizada em confiabilidade

possui caráter estatístico. Desta forma, a Confiabilidade é definida como sendo a

probabilidade de um item desempenhar uma função requerida sob condições definidas de

uso durante um intervalo de tempo estabelecido. Para a determinação da Confiabilidade é

utilizada a equação 1 apresentada na sequência.

���� = ��

Equação 1: Cálculo da Confiabilidade

Onde:

R(t) – Confiabilidade a qualquer tempo t.

e – base de logaritmos neperianos (e = 2,303).

λ – taxa de falhas (número total de falhas por período de operação).

t – tempo previsto de operação

Esta última definição traz consigo quatro fatores básicos, que são:

1) A quantificação de confiabilidade em termos de uma probabilidade, que é um

conceito estatístico e que pode ser definido como a relação entre o número de casos

favoráveis e o número de casos possíveis, para um intervalo de tempo. E por ser

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uma probabilidade estatística, tem-se que a confiabilidade é uma medida numérica

que varia entre 0 e 1 (ou 0 e 100%);

2) Função Requerida: é o limite de admissibilidade abaixo do qual a função não é mais

satisfatória. Lafraia (2001), completa alertando para o fato de que a precisão

exigida do sistema também poderá alterar a confiabilidade, pois quanto mais restrita

esta for, mais facilmente pode-se retirar o sistema da faixa;

3) Condições Definidas de Uso: são as condições as quais o equipamento está

submetido. O mesmo equipamento submetido a duas condições diferentes

apresentará confiabilidade diferente;

4) Intervalo de Tempo: o período de tempo definido e medido é fundamental, pois a

confiabilidade varia com o tempo. Segundo Lafraia (2001), significa que se o

tempo em que o equipamento fica em carga é maior do que o previsto, maior é a

possibilidade de falha.

2.3.2.1 Desempenho e Falha

Segundo Kardec e Nascif (2009), todo equipamento é projetado segundo uma

especificação para desempenhar uma função básica. Esse desempenho pode ser

classificado como Inerente (desempenho que o equipamento é capaz de fornecer) ou

Requerido (desempenho que queremos obter do equipamento). Já a Falha pode ser definida

como a cessação da função de um item ou a incapacidade de satisfazer a um padrão

previsto. Ela pode representar:

• Interrupção da produção;

• Operação em regime instável;

• Queda na quantidade produzida;

• Deterioração ou perda da qualidade do produto;

• Perda da função de comando ou da função proteção.

2.3.2.2 Taxa de Falhas (λ)

De acordo com Kardec e Nascif (2009), é definida para um período de tempo

estabelecido da vida de um item. É a relação do número total de falhas para o período de

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tempo acumulado observado. A figura 6 apresenta a curva típica da vida de um item e a

equação 2 é utilizada para o cálculo.

Equação 2: Taxa de Falhas

n ⇒ número de falhas

T⇒ período considerado

Dando sequência, curva acima também é conhecida como curva da banheira e

possui três fases distintas, descritas a seguir.

• Mortalidade Infantil: grande incidência de falhas causadas por componentes com

defeito de fabricação ou deficiências de projeto. Tais falhas podem ainda ser

oriundas de problemas de instalação. A maioria das intervenções que ocorrem são

do tipo corretiva;

• Vida Útil: nesta fase a taxa de falhas é sensivelmente menor e relativamente

constante. Fatores menos controláveis como fadiga e corrosão são os mais comuns.

A maioria das intervenções é do tipo preditiva;

• Envelhecimento ou Degradação: nesta fase há um aumento na taxa de falhas

decorrentes do desgaste natura e que tende a ser crescente com o passar do tempo.

Nesta fase a maior parte das intervenções ocorridas é do tipo preventiva.

λ =n / T

Figura 6: Curva característica de Vida de Equipamentos (Curva da Banheira) Fonte: Internet

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35

2.3.2.3 Outras definições relativas à Confiabilidade

Lafraia (2001) define de maneira sucinta outros termos relativos a Confiabilidade.

Segue abaixo uma pequena listagem complementar:

• Item: termo geral que designa qualquer parte, subsistema, sistema ou equipamento

que possa ser considerado individualmente e ensaiado separadamente.

• Item Não Reparável: dedutivamente, é aquele que não pode ser recuperado nem

reposto após a ocorrência de uma falha, durante processo de avaliação de

confiabilidade.

• Componente: diz-se daquele item que pode falhar somente uma vez. Um sistema

reparável pode ser recuperado pela substituição dos componentes falhos.

• Função: toda e qualquer atividade que o item desempenha, sob o ponto de vista

operacional.

• Vida útil: intervalo de tempo durante o qual um item desempenha sua função com a

taxa de falha especificada, ou até a ocorrência de uma falha não reparável.

• Redundância: denominação atribuída a dois ou mais órgãos realizando funções

semelhantes, tais que a falha de um deles é suprida integralmente pelo outro e não

provoca um conjunto de falhas de desempenho.

• Falha de Modo Comum: os sistemas que possuem redundâncias são projetados para

poder tolerar certos tipos de falhas internas independentes. Entretanto, não

conseguem manter a função quando são atingidos por falhas provenientes de

origem comum.

2.3.3 Mantenabilidade

Conforme definido em norma, Mantenabilidade (ou Manutenibilidade) é a

capacidade de um item ser mantido ou recolocado em condições de executar suas funções

requeridas, sob condições de uso especificadas, quando a manutenção é executada sob

condições determinadas e mediante procedimentos e meios prescritos (NBR 5462, 1994).

Lafraia (2001) apresenta então uma série de conceitos, mas parte de um princípio simples,

onde afirma que a facilidade com que se efetuam reparos e outras atividades de

manutenção determina a Mantenabilidade de um sistema. Um deles, originado nas normas

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36

do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, define Mantenabilidade como sendo a

qualidade das feições e características combinadas do projeto de equipamentos que permite

ou realça a realização de manutenção por pessoal de média especialização sob condições

naturais e ambientais em que irá operar.

Monchy (1989 apud KARDEC e NASCIF, 2009) apresenta a seguinte definição

probabilística, “É a probabilidade de restabelecer a um sistema suas condições de

funcionamento específicas, em limites de tempo desejados, quando a manutenção é

conseguida nas condições e com meios prescritos”. E então eles simplificam afirmando

que é a probabilidade de que um equipamento com falha seja reparado dentro de um tempo

t. E então, de modo análogo à Confiabilidade, a Mantenabilidade pode ser definida por

meio da equação 3, apresentada a seguir.

��� = � − ��

Equação 3: Cálculo da Mantenabilidade

Onde:

M(t) – a função mantenabilidade, que representa a probabilidade de que o reparo comece

no tempo t=0 e esteja concluído, satisfatoriamente no tempo t (probabilidade da duração do

reparo).

e – base dos logaritmos neperianos (e = 2,718).

µ – taxa de reparos ou número de reparos efetuados em relação ao total de horas de reparo

do equipamento.

t – tempo previsto de reparo

2.3.3.1 Alguns princípios da Mantenabilidade

A mantenabilidade sempre pode ser melhorada e isso deve ser uma meta

permanente. Segundo Kardec e Nascif (2009), muitos problemas relativos a este tema

ocorrem devido a não observância e previsão já no projeto, fabricação e montagem de uma

instalação. No entanto, a partir das dificuldades encontradas, podem surgir soluções para

aquele e para problemas futuros. De maneira geral, antes ou depois do projeto, os autores

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afirmam que algumas características são consideradas fundamentais para a melhoria da

mantenabilidade. E que ela deve estar sempre associada a quatro conceitos: qualidade,

segurança, custos e tempo. Dos quatro citados, este último é o que mais evidencia a

qualidade da mantenabilidade.

Ainda segundo Kardec e Nascif (2009), uma das áreas que pode ter grande

participação na redução dos tempos gastos na manutenção, é o setor de suprimentos. Na

medida que houver maior intercambiabilidade dos equipamentos, a padronização dos

sobressalentes e dos equipamentos na planta. Menor variedade de itens pode ser traduzido

em um controle facilitado. Por outro lado, se a quantidade de equipamentos especiais for

pequena, significa que há mais itens de prateleiras e consequentemente a logística para a

aquisição tenderá a ser mais rápida.

Em relação às técnicas de manutenção em si, quanto mais difundidas forem as

técnicas e equipamentos utilizados, ou seja, técnicas de domínio geral e que não requeiram

habilidades especiais da equipe. Todavia, Kardec e Nascif (2009) reiteram a importância

da utilização de técnicas detectivas e de monitoração dos sistemas, pois embora este não

seja um fator decisivo para a mantenabilidade, acaba tendo reflexo, pois a prevenção

influencia no planejamento, que por sua vez reflete na atuação orientada das equipes para a

tomada de ação. Outro fator é que as informações relativas à manutenção devem ser claras,

concisas e de fácil compreensão, com a existência de uma política de manutenção

difundida e padrões simples, consolidados e disponíveis.

Em relação ao conceito de tempo citado no início, e com impacto direto sobre a

mantenabilidade, Kardec e Nascif (2009) afirmam que os equipamentos devem apresentar

facilidade de montagem e desmontagem, e cita alguns pontos cruciais:

• Utilização de ferramentas universais;

• Facilidade de acesso: escadas, passarelas, bocas de visita, portas de inspeção,

espaços suficientes para a realização das atividades (fazer regulagens, passagem de

ferramentas, etc.). O autor ressalta que este é o item menos observado nos projetos

e que é o que mais causa problemas à manutenção;

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• Facilidade para retirada e colocação de subconjuntos, instrumentos ou acessórios

que exijam manutenção, calibração ou inspeção com frequência elevada;

• Paus de carga, turcos, macaquinhos e dispositivos que permitam movimentação de

peças ou componentes de maior peso, principalmente em locais onde o acesso de

máquinas de elevação de carga é prejudicado;

• Simplicidade de projeto, evitando regulagens e verificações complexas após a

desmontagem; alternativas para que a atuação das equipes ocorra em local seguro e

longe de exposição a ambiente agressivo.

2.3.3.3 O Escopo da Mantenabilidade

Segundo Lafraia (2001), o escopo das atividades da mantenabilidade inclui a

determinação do MTBM, MTBR, TDM, MM/OH e o Custo de manutenção/Horas de

operação. Seus objetivos incluem a otimização dos tempos e custos de manutenção já no

projeto, estimativa dos tempos para manutenção em função da disponibilidade requerida, a

estimativa de disponibilidade e dos recursos requeridos para a execução da manutenção.

Por último, Lafraia (2001) afirma que a Mantenabilidade afeta diretamente a

Disponibilidade. Ou seja, o tempo gasto para reparar falhas e executar tarefas rotineiras de

manutenção retira o sistema do estado disponível. Portanto fica evidente que há uma

relação direta entre Mantenabilidade e Confiabilidade. Ou seja, uma afeta a outra e ambas

afetam a Disponibilidade.

2.3.4 Disponibilidade

De acordo com a definição normalizada, Disponibilidade é a capacidade de um

item estar em condições de executar uma certa função em um dado instante ou durante um

intervalo de tempo determinado, levando-se em conta os aspectos combinados de sua

confiabilidade, mantenabilidade e suporte de manutenção, supondo que os recursos

externos requeridos estejam assegurados (NBR 5462, 1994). De forma complementar,

outra norma da ABNT procura esclarecer a diferença conceitual que existe entre

disponibilidade e confiabilidade, levando em conta que podem ocorrer julgamentos

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equivocados. O texto informa que “A ‘disponibilidade’ caracteriza uma função que pode

ser interrompida sem nenhum problema, ao passo que a ‘confiabilidade’ diz respeito a uma

função que não pode ser interrompida durante um período de tempo completo” (NBR ISO

14224, 2011).

Para Lafraia (2001), a Disponibilidade possui um caráter estatístico e ele a define

como sendo a probabilidade de que um sistema esteja em condição operacional no instante

t. Sendo esta definição utilizada para expressar o conceito de “disponibilidade

instantânea”, devido a sua dependência temporal implícita.

Kardec e Nascif (2009) classificam a Disponibilidade de três formas, conforme

apresentado a seguir.

Disponibilidade Inerente: Considera-se como paralisação apenas o tempo ativo de

reparo, excluindo do MTTR todos os demais tempos (logístico, de espera de

sobressalentes, deslocamentos, etc.). Tem como objetivo evidenciar o percentual de tempo

que seria disponível se não ocorressem perdas e/ou atrasos. É calculada utilizando-se a

equação 4.

MTTRMTBF

MTBFDISPi +

=

Equação 4: Cálculo da Disponibilidade Inerente

Disponibilidade Técnica: Também conhecida por Disponibilidade Obtida ou

Encontrada, assim como na anterior, o MTTR também não considera tempos adicionais de

logística, esperas, etc., mas inclui as manutenções corretivas e preventivas. É calculada

através da equação 5.

MTTRMTBM

MTBMDISP

ae +

=

Equação 5: Cálculo da Disponibilidade Técnica

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Disponibilidade Operacional: Considera-se apenas o tempo em que o

equipamento, sistema ou instalação esteve em operação, é aquela que de fato interessa à

empresa. É calculada através da equação 6.

MDTMTBM

MTBMDISPo +

=

Equação 6: Cálculo da Disponibilidade Operacional

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3 METODOLOGIA

O trabalho, baseado em um estudo de caso, foi desenvolvido tendo como base a

realização de uma pesquisa exploratória no Terceiro Convés da BGL-1, objeto do estudo,

buscando a obtenção de ocorrências que pudessem ser enquadradas no estudo,

procedimento que perdurou por um período de quatro meses intercalando-se quatorze dias

a bordo com vinte e um dias em terra, de acordo com o regime de trabalho da embarcação.

Paralelamente foi realizado um levantamento bibliográfico preliminar voltado para a área

de manutenção, envolvendo conceitos, técnicas, gestão, dentre outros para um

embasamento teórico. Atrelado a isso foi realizado o levantamento da documentação

técnica específica da Balsa, no Arquivo Técnico e nos sistemas de consulta digitais

disponíveis, tendo acesso a manuais, procedimentos, desenhos, dentre outros. O ambiente

da pesquisa já era conhecido, motivo este que influenciou diretamente na escolha do local.

Outra motivação foi a possibilidade de transformar os conhecimentos acadêmicos

adquiridos ao longo do curso em prática aplicável no dia-a-dia de atividade profissional. A

forma de abordagem foi quantitativa, avaliando em campo as situações que poderiam ser

utilizadas na composição do trabalho. Os dados foram obtidos a partir de:

• Observação direta das instalações;

• Consulta de documentação técnica;

• Acompanhamento de atividades de manutenção;

• Sugestões dos profissionais envolvidos nas atividades;

• Verificação de melhorias já realizadas e em fase de implementação.

Em seguida, todos os dados e informações coletados foram correlacionados para

consolidação do trabalho através da confrontação dos conceitos teóricos com as situações

verificadas a bordo, procurando identificar pontos de melhoria de forma objetiva. É

importante resaltar que o tema mantenabilidade permite vários desdobramentos, porém o

foco desta abordagem está relacionado ao aspecto prático baseado na melhoria contínua

das condições de trabalho. A pesquisa apresenta sugestões, mas também mostra exemplos

em vias de implantação e outros já realizados e que apresentaram resultados positivos logo

após a sua implementação.

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3.1 O CONTEXTO DA PESQUISA

Para contextualizar a pesquisa e delimitar o foco, faz-se necessária uma breve

apresentação do ambiente para conhecer a localização do convés, bem como entender a

divisão de áreas, equipamentos e responsabilidades. A embarcação possui vários conveses,

sendo dois deles, abaixo do Convés Principal – convés de referência – e os demais acima

dele. O Terceiro Convés, objeto do estudo, fica dois conveses abaixo do Principal e

concentra os principais equipamentos que fornecem as utilidades para a embarcação. É

dividido em duas grandes áreas: uma mais a vante com o paiol das acomodações e espaços

de convivência para a tripulação; e a outra é a área operacional com várias praças, onde

cada uma recebe o nome do equipamento ou do grupo de equipamentos principais nelas

instaladas. A figura 7 ilustra o posicionamento dos diversos conveses da BGL-1. O

Terceiro Convés fica localizado entre o Segundo Convés e a Linha de Base.

Figura 7: Identificação de Conveses da BGL-1 Fonte: Adaptado do desenho de Arranjo Geral da BGL-1

A tabela 2 relaciona cada praça a uma cor e na figura 8, na sequência, é possível

visualizar a distribuição física de cada uma delas. Estes locais são de responsabilidade da

Operação de Utilidades, equipe ligada ao setor de Manutenção e responsável por prover

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todas as facilidades operacionais e de habitabilidade para a embarcação, e que o faz tendo

como ponto base a Sala de Monitoração de Máquinas (SMM), local que é o centro destas

operações.

Tabela 2: Identificação das praças de máquinas do 3º Convés

Denominação da praça Cor

Praça de Geradores de Bombordo (BB) Amarelo

SMM Laranja

Praça de Bombas Verde

Praça de dos Equipamentos de Ar Condicionado Azul

Praça das Bombas de Incêndio Vermelho

Corredor Central Rosa

Praça de Geradores de Boreste (BE) Cinza

Sala de Painéis Roxo

Praça da Unidade de Tratamento de Efluentes Sanitários (UTE) Marrom

Caixas de Mar (três, sendo duas a BB e uma a BE) Vermelho c/ círculo vermelho

Fonte: O autor

Figura 8: Leiaute do 3º Convés Fonte: Adaptado do desenho de Arranjo Geral da BGL-1

Na figura 8, a vante da embarcação está à direita da página e a ré está à esquerda.

A linha com as setas de indicação de corte indica o limite entre as áreas: a vante está

localizada a área de convivência, e a ré a área operacional. A partir da SMM é feito o

acompanhamento remoto das operações e, com exceção da Sala de Painéis, todas as

demais praças possuem outras finalidades além de suas respectivas denominações.

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3.2 O CRITÉRIO DE SELEÇÃO

Para Tachizawa e Mendes (2005), após escolhido o assunto, a próxima tarefa é

demarcar seus limites2 . Ou seja, demarcar o assunto significa fixar sua extensão,

delineando uma melhor compreensão do tema. Baseado neste princípio foram definidos

alguns sistemas, conforme apresentado na sequência.

Ao longo das praças existe uma imensa quantidade de equipamentos instalados

para desempenhar todas as atividades requeridas da Operação de Utilidades, mas tal

detalhamento não é o escopo principal do trabalho, portanto, serão abordados apenas os

equipamentos necessários para o desenvolvimento do tema. Todavia, é válido destacar que

na visão atual de processos, o conjunto é mais importante que os equipamentos

isoladamente. Ou seja, tal como as pessoas nas organizações, os equipamentos são

enquadrados e avaliados pelo todo. E esse “todo”, que vai muito além de uma mera

separação por tipo e localização física, é denominado de sistema3. Essa metodologia de

agrupamento é interessante pela visão global que atribui aos equipamentos, pois estes

passam a ser importantes não apenas pela função que desempenham individualmente e sim

pela importância do sistema como um todo.

Segundo o Dicionário Aurélio4 , o termo sistema designa o “conjunto de elementos materiais ou ideais, entre os quais se possa encontrar ou definir alguma relação”. Nos sistemas industriais, esta relação é estabelecida com o objetivo de se atender a uma ou mais funções características do sistema. As funções se confundem, então, com a própria finalidade da existência dos sistemas (SIQUEIRA, 2005, p. 27).

Em relação aos sistemas da balsa, o Manual de Operação da BGL-1 (em fase de

elaboração)5 registra e detalha mais de cinco dezenas deles, dentre os quais listamos alguns

pertinentes ao presente estudo:

− Sistema de geração de energia principal;

− Sistema de ar condicionado;

− Sistema de lastro e deslastro; 2 Grifo dos autores. 3 Os sistemas podem ainda ser separados em subsistemas, no entanto não abordaremos tal divisão por não considerá-la relevante para o estudo. 4 Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Segunda Edição. Editora Nova Fronteira. 5 Manual de Operação – BGL-1 – Volume único, em elaboração pelo SIMA, Petrobras.

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− Sistema de esgoto (emergência e oleoso);

− Sistema de esgoto sanitário;

− Sistema de água salgada de resfriamento;

− Sistema de água doce (resfriamento/potável), água quente e esterilizador de água;

− Sistema de ar comprimido (serviço e controle);

− Sistema de óleo Diesel;

− Sistema de controle e automação (sistemas integrados de automação, monitoração e

controle);

É importante ressaltar que a separação funcional por sistemas, expõe a verdadeira

dimensão da relação de dependência existente. O que implica inúmeras vezes em uma

relação cíclica do tipo fornecedor-cliente-fornecedor, onde a parada de um único

equipamento de um determinado sistema pode provocar um efeito dominó em larga escala,

isto porque em muitas ocasiões um sistema subsequente é fornecedor de um sistema

precedente. No caso da listagem anterior, por exemplo, se em determinadas condições um

único motor do sistema de geração de energia principal falhar, pode imediatamente

comprometer todos os outros sistemas que aparecem seguidos a ele na listagem.

O critério de seleção dos itens pesquisados foi baseado na argumentação

apresentada, ou seja, a separação dos equipamentos por sistemas. Além disso, conforme

exposto anteriormente, dada a grande quantidade de equipamentos, seria uma análise muito

simplista escolher aleatoriamente alguns equipamentos de alguns sistemas. E mesmo para a

escolha dos sistemas que foram analisados foi estabelecido um critério, conforme as

prioridades listadas abaixo:

• A abrangência do sistema, ou seja, se é crítico6 ou não;

• Os equipamentos que compõem o sistema e a rotina de manutenção;

• A quantidade de oportunidade de melhorias identificadas;

• Os benefícios que a realização ou não da melhoria podem ter na mantenabilidade

do sistema;

• Avaliar até que ponto vale a pena antecipar ou postergar a intervenção de algum ponto observado.

6 Quanto maior for o impacto negativo do sistema no caso de falhas, mais crítico ele é considerado.

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4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Com base no exposto no item anterior foi definida a amostra para o trabalho,

sendo escolhidos os sistemas abaixo, cujo detalhamento será apresentado mais adiante

juntamente com os pontos observados durante a pesquisa. As propostas de melhorias e

outros comentários pertinentes são apresentados na sequência de forma a unificar o

raciocínio. Eis os sistemas:

− Sistema de lastro e deslastro;

− Sistema de água salgada de resfriamento;

− Sistema de esgoto (emergência e oleoso);

− Sistema de óleo Diesel;

− Filtros das caixas de mar.

4.1 SISTEMA DE LASTRO E DESLASTRO

De acordo com Fonseca (2005), fazer lastro significa colocar um conjunto de

pesos ou líquido no fundo do casco de uma embarcação, ou nos seus tanques, para

aumentar-lhe a estabilidade ou trazê-la à posição de flutuação direita. No caso da BGL-1, o

meio de referência para adição de lastro é a colocação de água nos tanques correspondentes

utilizando-se das bombas para tal finalidade. O deslastro consiste na operação inversa.

Conforme a definição, o sistema é importante, pois dele depende a estabilidade da

embarcação, o que tem impacto na navegabilidade, no conforto e na realização das

operações com o guindaste – principal e o de convés – e de lançamento de linhas. Seu bom

funcionamento tem reflexo na segurança de muitas outras atividades e da própria

embarcação. O sistema é basicamente constituído de dois filtros de água salgada, duas

bombas de grande capacidade, dezenove tanques, algumas dezenas de válvulas e centenas

de metros de tubulação. Duas caixas de mar fornecem a água necessária para a realização

das operações de lastro. Para o deslastro é utilizada uma saída de água acima da linha

d’água localizada a bombordo da embarcação.

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A primeira oportunidade de melhoria está nas válvulas do sistema. Exceto pelas

válvulas de purgação dos filtros das bombas, uma de retenção e a de saída do costado,

todas as demais são do tipo borboleta e são acionadas manualmente por meio de uma caixa

de redução. Embora não seja frequente, de acordo com a demanda da equipe de operação, é

realizada a manutenção, que geralmente consiste de uma lubrificação. Todavia, para

realizá-la faz-se necessário abrir a caixa de redução e lubrificar manualmente os internos.

Porém, se o corpo dessas caixas fosse dotado de um pino graxeiro, uma bomba manual

com pistola para aplicação de graxa bastaria para a realização do serviço. Como resultado,

teríamos maior agilidade na execução da tarefa, pois seria necessária a abertura das caixas

apenas em casos específicos, uma vez que a maioria das intervenções até então tem sido

para lubrificação dos internos.

Tal medida tem sua aplicabilidade ainda mais evidente nos casos em que a

dificuldade para desmontagem e remontagem vem acompanhada da impossibilidade da

retirada da tampa de acesso às engrenagens de redução conforme figura 9(a), à esquerda.

Ao lado, na figura 9(b), é possível observar em detalhe o espaço existente entre a tampa da

caixa de redução e a tubulação próxima. Estas observações foram realizadas em conjunto

com um Técnico que realizava uma Ordem de Serviço (OS) no sistema e que, questionado

sobre possíveis dificuldades, trouxe à tona esta questão. E ainda no caso da figura 9, esta

válvula é importante por fazer a interligação entre os tanques de lastro da vante com a ré, o

que em caso de falha durante solicitação pode, pelo menos, retardar alguma operação de

lastro em andamento. A maioria das adaptações nas válvulas pode ser realizada durante a

atividade de lubrificação, já para casos tais como o apresentado, somente em período de

docagem / atracação, quando o sistema de lastro não venha a ser solicitado.

Figura 9: (a) Válvula sem espaço para lubrificação da caixa redutora. (b) Em detalhe Fonte: O autor

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Dando sequência, a figura 10(a) mostra uma caixa de redução aberta onde, na

tampa ou no corpo, é viável que seja feito um furo para adaptação de um pino graxeiro. Já

a figura 10(b), à direita, apresenta o piano de válvulas com o qual são realizadas as

manobras de lastro da embarcação.

Figura 10: (a) Uma caixa de redução aberta. (b) O piano de válvulas de lastro Fonte: O autor

Outra melhoria a ser considerada é a colocação de válvulas na saída de dreno na

base dos filtros de água salgada, localizados à montante das bombas, pois durante a

retirada dos elementos filtrantes (cestos) para a limpeza, que ocorre pelo menos uma vez

por semana, é necessário que o executante fique sob o estrado para retirar o bujão na base

do filtro para o escoamento da água de seu interior. Isto se faz necessário para facilitar a

retirada do cesto – que possui um orifício para encaixe no filtro e para que os materiais

sólidos que entram na tubulação junto com a água sejam aprisionados em seu interior – e

para a remoção de cracas das paredes do filtro e do fundo, o que muitas vezes impede o

reassentamento do cesto. Uma válvula tipo esfera com haste para acionamento e diâmetro

compatível com o da saída de drenagem é suficiente para eliminar a necessidade de descida

sob o estrado, podendo ser manipulada com uma chave específica, já existente, para

abertura e fechamento de válvulas.

O resultado é que, além de trazer agilidade, esta medida reduz também os riscos

de acidentes, já que não mais será necessária a descida até o porão para a abertura do

dreno, evitando que o executante se choque contra algum objeto ou parte da estrutura física

do local. Há ainda o fator ergonômico, uma vez que não mais será necessário que este

permaneça em posição desconfortável para a execução da tarefa. Na figura 11(a), à

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esquerda, é possível visualizar uma bomba e seu respectivo filtro. Já a figura 11(b), mostra

o detalhe da saída para drenagem da água no interior do filtro.

Figura 11: (a) Um dos conjuntos filtro-bomba. (b) O dreno do filtro em destaque Fonte: O autor

4.2 SISTEMA DE ÁGUA SALGADA DE RESFRIAMENTO

Conhecido também como sistema de circulação de água salgada, segundo

descrição no Manual de Operação da BGL-1 (em elaboração), é responsável por prover a

todos os dispositivos trocadores de calor que utilizam água salgada como fluido de troca

térmica, a quantidade necessária deste insumo para que eles desempenhem corretamente

suas operações. É um sistema bastante extenso e com muitas interfaces, é constituído

basicamente por sete bombas centrífugas com filtros à montante, dezenas de válvulas de

vários tipos e centenas de metros de tubulação.

Embora sua quantidade direta de equipamentos seja pequena, alimenta uma

grande quantidade de trocadores de dois tipos diferentes: casco e tubo; e de placas. Tais

equipamentos pertencem aos sistemas de refrigeração: dos freios dos guinchos de âncora

de vante, dos freios dos guinchos de âncora de ré, das Unidades de Energia Hidráulica

(HPU’s) do sistema de tração, dos compressores elétricos de ar, das unidades de ar

condicionado e das unidades das câmaras frigoríficas de alimentos. O sistema recebe água

salgada a partir das três caixas de mar existentes na embarcação, que também fornecem

água salgada para as bombas dos geradores de energia elétrica, que não são refrigerados

por este sistema.

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Conforme exposto no primeiro parágrafo do item 1.2, não raramente a

identificação da necessidade de recursos para facilitar a atuação da equipe de manutenção

ocorre somente no momento da intervenção. O que pode ser um fator complicador em

ocasiões onde a indisponibilidade do equipamento seja iminentemente danosa (em relação

à segurança de pessoas, a interrupção do processo / produção ou a qualidade do produto).

A melhoria apresentada a seguir ilustra bem esta situação, uma das bombas centrífugas

deste sistema apresentou um defeito – perda de rendimento – e houve então a necessidade

de parada do equipamento para avaliação.

Ocorreu que, durante o planejamento da manutenção corretiva foi verificado que

não havia olhais para realizar o içamento do motor e posterior retirada da bomba. Como o

equipamento possui redundância e não haveria perda para o processo, houve tempo para

programar e executar a montagem de olhais para ambas – mesmo com a demanda de

serviço sendo somente para uma delas – e na sequência o serviço pôde ser realizado. Na

figura 12(a), à esquerda, é possível observar as bombas abaixo e no teto os olhais, então

recém-colocados. Já a figura 12(b), mostra os olhais em detalhe.

O resultado, consequência natural, foi que a partir deste evento, foram verificadas

todas as bombas passiveis da mesma condição e foi programada a colocação de olhais para

elas. A vantagem desses olhais fixos é que, como são presos a estrutura da embarcação,

eles eliminaram a necessidade de montagem de paus-de-carga provisórios, o que levaria

mais tempo – pois neste caso seriam montados com tubos de andaimes – e apresentaria um

maior risco. Ou seja, a solução adotada foi eficiente e de baixo custo.

Figura 12: (a) As bombas com os olhais no teto. (b) Os olhais em detalhe Fonte: O autor

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A segunda oportunidade de melhoria neste sistema também é em relação às

bombas apresentadas anteriormente. Trata-se do reposicionamento das válvulas a jusante

destas, fazendo com que seus eixos de rotação trabalhem na posição horizontal e com isso

fiquem localizados abaixo do estrado. Aliado a isto, a substituição dos acionadores – que

são do tipo alavanca com posicionador – por caixa de redução com volantes.

O resultado dessas alterações não terá influência tão significativa em relação à

diminuição do tempo para abertura e fechamento das válvulas. No entanto, deve-se atentar

para a diminuição do esforço a ser realizado durante a manobra, proporcionado pela

adoção das caixas de redução com volantes de acionamento. O impacto mais notável desta

modificação será no quesito de SMS, primeiro porque atualmente existe o risco de colisão

(e provável queda) de algum colaborador com os acionadores que, embora tenham sido

pintados para facilitar a visualização, estão localizados acima do estrado. Segundo porque

o acesso para manusear o acionador é bastante limitado (o espaço é restrito, insuficiente

para a acomodação da mão que irá executar a manobra de abertura ou fechamento da

válvula), dificultando a manobra e oferecendo risco de ficar com a mão presa entre o

acionador e o estrado. A figura 13(a), à esquerda, mostra a configuração à montante das

bombas com o acionamento das válvulas já substituído por caixas de redução. Já a figura

13(b) apresenta a vista à jusante das bombas com os acionadores acima do estrado. Pelo

menos uma vez por semana é realizada a limpeza dos filtros localizados na entrada das

bombas.

Figura 13: (a) Vista à montante das bombas. (b) Vista à jusante das bombas com as válvulas sobre o estrado

Fonte: O autor

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52

Outra oportunidade de melhoria para este sistema exige um planejamento maior e

provavelmente vai demandar outros recursos, tais com suporte de engenharia específica.

Logo, neste caso, o que se pretende é levantar a discussão sobre este ponto em particular,

que diz respeito a outras duas bombas centrífugas. Estas tiveram a instalação muito

próxima uma da outra, e uma delas muito junto a uma antepara. Ou seja, caso a dificuldade

para esta última fosse somente essa, já seria complicado realizar uma intervenção de maior

monta. Mas, além disso, acima e muito próximo das tampas dos ventiladores dos motores

elétricos de ambas passam tubulações de outros sistemas. O que significa que em caso de

necessidade de desmontagem de uma dessas bombas, haverá obrigatoriamente necessidade

de intervir nas tubulações desses outros sistemas e, no caso da desmontagem ser da bomba

mais próxima a antepara, provavelmente será necessário desmontar as duas devido a

dificuldade de acesso. As figuras 14(a), à esquerda, e 14(b), à direita, ilustram a instalação

dessas bombas, onde é possível verificar a proximidade destas com a antepara e com as

tubulações que passam acima de ambas, além da proximidade dos motores com a linha que

alimenta um dos tanques de água doce.

Figura 14: (a) A vista Proa-Popa mostra o recalque das bombas. (b) A vista Popa-Proa mostra os filtros à

montante Fonte: O autor

4.3 SISTEMA DE ESGOTO (EMERGÊNCIA E OLEOSO)

Conforme definição no Manual de Operação da BGL-1 (2011), o sistema de

esgoto oleoso tem como finalidade, recolher os resíduos líquidos dos compartimentos de

máquinas e dos tanques de dreno oleoso, separando o óleo da água e descartando a água

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53

livre do óleo para o mar. Outra finalidade é o transbordo do óleo separado e de outras

sobras oleosas para terra ou para outras embarcações por meio de tanques ou tubulação. De

grande abrangência, possui interface com vários sistemas, o que reforça a importância do

mesmo. É composto por uma grande quantidade de equipamentos, dentre os quais duas

bombas centrífugas principais, duas bombas helicoidais com filtros, uma unidade

separadora de água e óleo (SAO), oito tanques diversos para armazenamento de resíduos

oleosos, dezenas de pocetos para drenagem de água de porão, dezenas de válvulas e outros

acessórios, além de centenas de metros de tubulação. As bombas centrífugas, que servem

principalmente para a retirada de água não oleosa de porão, recebem água de duas das três

caixas de mar da embarcação.

Conforme informado, a principal função deste sistema é o recolhimento de sobras

oleosas e água de porão. As sobras de óleo são acondicionadas em tanques específicos e a

água oleosa é tratada no SAO e descartada para o mar atendendo rigorosamente o que

determina a legislação. Periodicamente é realizada a limpeza do separador, pois suas placas

separadoras vão ficando saturadas de óleo com o passar do tempo, o que vai diminuindo

sua eficiência. Ocorre que durante a abertura do equipamento, o resíduo oleoso, bastante

denso e com formação de borra, que fica retido no seu interior, cai para o porão da Praça

onde ele fica instalado, o que é um contrassenso já que o sistema é justamente para a coleta

de resíduos oleosos, além do retrabalho gerado, pois os executantes têm que efetuar a

limpeza da área contaminada manualmente depois de finalizada a limpeza no equipamento.

Decorre disto a primeira possibilidade de melhoria para este sistema, que é a instalação de

uma bandeja sob o SAO, na qual, assim que for realizada a abertura do equipamento os

resíduos cairão dentro do seu interior por gravidade e nesse mesmo local, tanto a tampa do

equipamento, quanto as placas separadoras, poderão ser lavadas utilizando-se para isso

uma lavadora de alta pressão para uso industrial. Esta lavadora, se for implementada a

melhoria proposta, poderá ser utilizada em outras atividades tais como a limpeza de

elementos filtrantes – assunto já abordado no sistema de lastro e que será mencionado com

mais detalhes no item 4.5.

Os resultados esperados são a diminuição da geração de resíduos com a instalação

da referida bandeja e com a utilização de uma lavadora de alta pressão. Esta última, além

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do benefício da praticidade, trará a melhoria geral das condições de trabalho. Pois

atualmente para que se obtenha um melhor resultado na limpeza das placas separadoras, é

utilizada uma pistola a ar comprimido para pulverização de óleo Diesel sobre elas, o que

gera uma forte névoa no ambiente, que é fechado, fazendo com que a atividade seja

interrompida sistematicamente até que ocorra a dissipação para que a atividade possa ser

retomada. A finalização da limpeza das placas é realizada com a aplicação contínua de um

jato de água doce para a retirada do óleo Diesel que foi utilizado, o que gera um

considerável consumo e consequente acréscimo na quantidade de água oleosa produzida ao

final da limpeza.

Observa-se que um jato de água quente sob pressão é capaz de efetuar a limpeza

em uma única etapa e sem oferecer o risco químico decorrente do processo de limpeza com

o óleo Diesel. Observa-se também que quando utilizados em conjunto, a bandeja para

coleta do óleo e a lavadora de alta pressão, podem impactar sensivelmente na diminuição

de resíduos gerados, contribuindo assim para a redução do tempo utilizado no

procedimento. As figuras15, 16,17, e 18 (a) e (b) apresentam um panorama do processo de

limpeza do separador de água e óleo.

Figura 15: (a) SAO fechado, antes da limpeza. (b) SAO aberto e com um conjunto de placas ainda no interior

Fonte: O autor

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Figura 16: (a) Óleo caindo no porão após a abertura. (b) Jateamento de um conjunto de placas com Diesel e a

formação da névoa Fonte: O autor

Figura 17: (a) O enxague de um conjunto de placas. (b) A lavagem interna do SAO Fonte: O autor

Figura 18: (a) Remontagem dos conjuntos de placas. (b) SÃO fechado e o porão após a limpeza Fonte: O

autor

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4.4 SISTEMA DE ÓLEO DIESEL

É o sistema através do qual são realizadas todas as manobras de óleo Diesel,

desde o recebimento deste insumo na embarcação, até a entrega nos pontos de consumo.

Sua importância é vital, já que várias atividades e manobras na embarcação são realizadas

por equipamentos a explosão alimentados com óleo Diesel, desde a geração de energia até

a movimentação dos guindastes. O sistema é basicamente composto por quatro bombas de

engrenagens, doze tanques de armazenamento, um purificador de óleo Diesel, dois filtros

duplos, dezenas de válvulas e centenas de metros de tubulação.

Neste sistema temos uma oportunidade de melhoria já identificada e mapeada pela

Manutenção, para ser implementada em quase todos os tanques assim que for possível, que

é a instalação de uma válvula de bloqueio que permita a retirada do instrumento

transmissor indicador de nível com o tanque contendo óleo combustível. A identificação

desta demanda surgiu da necessidade de calibração de um dos instrumentos, quando então

foi verificado que não seria possível prosseguir com a atividade devido a impossibilidade

de impedir a saída do Diesel após a retirada do instrumento, visto que, em geral estes

sensores ficam localizados na base dos tanques, ou seja, para que tais intervenções sejam

realizadas é necessário um esvaziamento prévio dos tanques, o que somente será possível

em caso de docagem / atracação onde se esteja operando com o mínimo possível de

equipamentos consumidores, ou que seja possível realizar a transferência do óleo para

outros tanques.

Ou seja, o resultado após a implementação dessa melhoria, é que será possível

realizar a substituição e/ou calibração/inspeção na bancada desses instrumentos a qualquer

tempo, sem que isso interfira na parte operacional dos tanques e sem oferecer nenhum tipo

de risco. Na figura 19(a), à esquerda, é apresentado um tanque de óleo Diesel onde se vê na

parte inferior direita o seu indicador transmissor de nível. Ao lado, na figura 19(b),

observa-se em detalhe um transmissor fixado diretamente ao costado de outro tanque.

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Figura 19: (a) Tanque de Diesel com transmissor instalado. (b) Instalação de um transmissor em detalhe

Fonte: O autor

Outra sugestão de melhoria que surgiu da troca de informações com os Técnicos,

foi a instalação de uma cuba permanente para realizar a limpeza das peças internas do

purificador de óleo, que é realizada com o próprio Diesel ou similar. Pelo menos uma vez

por semana este procedimento tem que ser realizado para a garantia da qualidade do óleo

Diesel que é fornecido aos motogeradores e demais equipamentos a explosão. O princípio

de funcionamento para a separação das impurezas é centrífugo e, em seu interior, o

equipamento possui diversos pratos que ao girar fazem com que as partículas indesejáveis

sejam impelidas para o fundo, onde fica a água de selagem que facilita o processo. Com o

passar do tempo cria-se uma borra que deve ser retirada conforme prevê o procedimento de

limpeza.

Como resultado, o grande benefício que pode advir da implantação dessa melhoria

é a certeza de que esse recurso primário, ou seja, o local para a realização da limpeza das

peças estará sempre disponível, não existindo mais incerteza em relação a conseguir um

recipiente vazio e apropriado para a realização da tarefa. E como o purificador fica

próximo da bomba auxiliar de transferência de Diesel e sob esta há uma bandeja para

recolhimento das sobras deste insumo, pode-se colocar um dreno saindo dessa futura cuba

e despejando direto nessa mesma bandeja. A cuba ainda terá utilidade para a limpeza de

outras peças que também utilizem óleo Diesel, atendendo esta demanda de forma

generalizada. A figura 20(a), à esquerda, mostra o purificador, já a figura 20(b) apresenta

um possível local para instalação deste recipiente, o que iria requerer a modificação de

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uma das tubulações de saída de Diesel para mais próximo ao piso e a realocação de um

conjunto de cabos para uma posição um pouco mais próxima ao purificador. Ainda na

figura 20(b), é possível visualizar o motor da bomba auxiliar (verde) na parte inferior; ela

fica localizada sobre uma bandeja de recolhimento de sobras de óleo Diesel, para onde

pode ser direcionado o dreno da cuba. Outra possibilidade seria no vão existente entre as

bombas de transferência principal e auxiliar de óleo Diesel , não visível na figura. Neste

caso, o dreno da cuba seria direcionado para a bandeja que fica sob a bomba de

transferência principal.

Figura 20: (a) O purificador de Diesel. (b) uma das possibilidades para uma possível instalação da cuba

Fonte: O autor

4.5 FILTROS DAS CAIXAS DE MAR

Apesar de não estarem vinculadas a nenhum sistema específico, essas aberturas

que admitem água salgada para o funcionamento da embarcação são extremamente

importantes, pois toda a água salgada utilizada vem a bordo por meio delas. A BGL-1

conta com três, uma localizada a boreste e duas a bombordo da embarcação, sendo que

destas duas últimas, uma fica a vante e outra a ré, conforme anteriormente indicado na

figura 5.

Elas são consideradas equipamentos, apesar de não possuírem um número de

identificação, e após elas, já no interior da embarcação, existem filtros para reter corpos

estranhos que possam danificar o interior de equipamentos. Esses filtros são dotados de

válvulas a montante e a jusante, para que eles possam ser isolados para manutenção.

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Fixados em suas tampas existem anodos do sistema anti-incrustante, que possuem dupla

função: a primeira é evitar a formação de vida marinha no interior da tubulação e a

segunda é formar uma camada anti-corrosiva no interior das redes de água salgada.

As tubulações das caixas de mar são as de maior diâmetro da embarcação. Afinal,

é delas a função de prover toda a água salgada utilizada a bordo, e conforme informado no

parágrafo anterior, em cada tampa de filtro existe um anodo duplo composto por uma barra

bimetálica de cobre (Cu) e alumínio (Al). Semanalmente os filtros são abertos para

limpeza, de fato esse é um procedimento realizado em todos os grandes filtros dos sistemas

que circulam água salgada, mas se fôssemos estipular um critério de relevância, certamente

os das caixas de seriam os mais importantes. São seis no total, sendo dois por caixa de mar.

Esses filtros tiveram uma das primeiras melhorias pró mantenabilidade no

Terceiro Convés, que foi a colocação de turcos para abertura e fechamento das tampas. O

resultado é que logo no início eram necessários até quatro Técnicos apenas para abrir e

fechar cada tampa (condição dos anodos sem desgaste dos dois filtros maiores), atualmente

dois Técnicos são capazes de executar toda a tarefa com total segurança. A figura 21(a), à

esquerda, mostra dois anodos: um desgastado no lado esquerdo e um novo no lado direito.

Já a figura 21(b) mostra a retirada da tampa com a utilização do turco.

Figura 21: (a)Um anodo deteriorado X anodo novo. (b) Atividade sendo realizada com a utilização do turco

Fonte: O autor

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Por último, uma melhoria que é aplicável a todos os grandes filtros de água

salgada – dez no total, incluindo os de lastro – e que já foi abordada no sistema de lastro, é

a adoção de uma válvula na base do filtro. Os comentários principais foram realizados no

item 3.2.1, ficando neste a ilustração da dificuldade através das figuras 22 e 23 (a) e (b)

como exemplo prático para dirimir quaisquer dúvidas relativas à aplicabilidade da ação e

também a figura 24 que ilustra a lavagem manual dos cestos, onde a lavadora de alta

pressão também pode ser utilizada para a realização do serviço, conforme abordado no

item 4.3.

Figura 22: (a) Drenagem sendo realizada. (b) A retirada das cracas do filtro Fonte: O autor

Figura 23: (a) O fechamento do dreno após a limpeza. (b) O dreno fechado Fonte: O autor

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Figura 24: Lavagem manual de um dos cestos dos filtros do sistema de lastro Fonte: O autor

4.6 BALANÇO DOS RESULTADOS

Conforme descrito ao longo do texto, as observações em campo que serviram de

base para o desenvolvimento do tema são fruto de trabalho coletivo, pautado na observação

e na troca de ideias, tendo participação direta ou indireta de todo o corpo técnico. Durante

a realização da pesquisa não foi feita nenhuma intervenção objetiva no sentido de alterar de

forma significativa a rotina de trabalho.

Observando-se os pontos analisados, é possível afirmar que a pesquisa apresenta

resultados positivos, pois os pontos apresentados para melhorias têm relação com as

atividades realizadas no dia-a-dia e, conforme previsto, as soluções propostas para as

observações são relativamente simples, o que torna grande a possibilidade de adoção

destas ou de medidas equivalentes. Alinhado aos objetivos específicos, algumas das

melhorias apresentadas já foram realizadas, enquanto outras estão em andamento e outras

ainda são proposições. Estas últimas, originadas especificamente nas análises de campo,

serão apresentadas aos responsáveis futuramente, buscando-se a sua implementação,

embora para uma delas já tenha sido gerada uma Ordem de Serviço específica. Já a grande

maioria depende do envolvimento de outros agentes, fato este que atinge o principal

objetivo do trabalho, que é de suscitar a discussão acerca da mantenabilidade dos sistemas

e como isso pode afetar de forma positiva o processo produtivo. A tabela 3 apresenta um

resumo das melhorias e relaciona cada uma delas.

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Tabela 3: Resumo e organização das melhorias

Origem Sistema Melhoria Status

Colaborador Lastro Instalação de pino graxeiro para lubrificação de válvulas

Proposta

Pesquisador Lastro / Caixas

de mar Instalação de válvula para drenagem dos filtros de lastro e caixa de mar

Em andamento (OS solicitada)

Manutenção Água salgada de

resfriamento Instalação de olhais para içamento de bombas

Realizada

Pesquisador Água salgada de

resfriamento Reposicionamento de válvulas com substituição dos acionadores

Proposta

Pesquisador Água salgada de

resfriamento Reposição de tubulações e/ou bombas

Proposta

Pesquisador Esgoto Instalação de bandeja para recolhimento de óleo do SAO

Proposta

Pesquisador Esgoto / outros

diversos

Aquisição de lavadora de alta pressão de água aquecida para usos diversos, inclusive no SAO

Proposta

Manutenção Óleo Diesel Instalação de válvula de bloqueio junto aos medidores de nível dos tanques

Em andamento

Colaborador Óleo Diesel /

outros diversos

Instalação de cuba para limpeza dos internos do purificador de óleo Diesel e outras peças

Proposta

Manutenção Caixa de mar Instalação de turco para retirada das tampas dos filtros das caixas de mar

Realizada

Fonte: O autor

Foram observadas dez ocorrências nos sistemas selecionados, apresentadas na

tabela anterior. Nela é possível verificar as várias fontes que participaram da pesquisa e o

status das melhorias analisadas. Três das melhorias são aplicáveis a mais de um sistema e o

objetivo primário em todas elas é a redução do tempo de execução das atividades. Na

maioria é possível ressaltar ainda o impacto positivo nas condições de SMS, seja em

relação à ergonomia, seja em relação à exposição a riscos diversos. Os benefícios sempre

são obtidos por meio de algum ponto facilitador da manutenção. Ou seja, melhorando a

manutenibilidade dos equipamentos e contribuindo para uma maior disponibilidade dos

sistemas aos quais estes pertencem.

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5 CONSIDERAÇÕES

O conhecimento acerca de um assunto sempre contribui para o aprimoramento.

Essa foi a principal motivação para o desenvolvimento do tema, a percepção de que o

conhecimento adquirido academicamente associado à vivência profissional, aplicados na

prática podem melhorar as condições para a realização de atividades cotidianas e que isso

não necessariamente deve comprometer grandes somas de recursos financeiros, já que

pequenos investimentos e modificações podem trazer resultados bastante positivos aos

processos mesmo que estes não possam ser imediatamente quantificados. E conforme já

comentado, as empresas devem estar preparadas para enfrentar os desafios aos quais são

expostas dia-a-dia e a Manutenção, devido ao seu novo papel, deve sempre buscar agregar

ferramentas e soluções, simples ou combinadas para, dentro deste novo cenário, continuar

a ganhar espaço na estratégia das empresas.

O tema abordado tem importante relevância dentro da manutenção e, no geral,

caso as premissas pertinentes à mantenabilidade sejam observadas desde a fase de projeto

de um item qualquer – que pode ser apenas um equipamento, um sistema, ou até mesmo

uma instalação inteira – pode-se evitar percalços durante a execução de tarefas ligadas a

manutenção. E isso abrange as inúmeras variantes que esta possui e as novas que surgem a

cada dia.

É importante frisar que vários fatores são afetados pela mantenabilidade, seja

positiva ou negativamente, e que é muito importante conseguir identificar as oportunidades

de melhoria, torná-las viáveis e aplicá-las o quanto antes. A BGL-1, renovada conforme

apresentação, está passando por isso de forma bastante intensa, visto que muitos itens

ainda estão sendo operacionalizados após a última grande docagem. A seu favor existe um

grande histórico acumulado ao longo de mais de trinta e cinco anos de existência e a

equipe de profissionais diretos e indiretos que possuem esse know-how específico e estão

atentos a este cenário, conforme mostrado no capítulo anterior. Além disso, a Petrobras

como um todo já possui essa cultura, até mesmo em função das atividades que realiza, e

tudo isso somado pode fazer com que esse processo de renovação seja o mais proveitoso e

menos doloroso possível.

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6 PERPECTIVAS

Conforme exposto ao longo do trabalho, a BGL-1 é composta por dezenas de

sistemas das mais variadas especialidades e todos passíveis de melhorias nos moldes do

que foi realizado neste trabalho. Portanto, existe a possibilidade da abordagem de outros

sistemas com o mesmo foco prático da mantenabilidade, ou mesmo a abordagem dos

mesmos, porém em relação a outro ponto de vista da própria mantenabilidade, visto que

esta é um amplo campo e permite outras abordagens. Pallerosi (2007), por exemplo,

desenvolveu um guia prático onde são utilizadas técnicas estatísticas tendo como

plataforma um software específico, o autor afirma na apresentação do trabalho:

[...] Muitos conceitos novos e metodologias forma incorporadas, em particular as aplicações do programa computacional BlockSim7 [C03] para os procedimentos básicos de cálculo, sem os quais a complexidade das equações relativas a Sistemas (arranjos físicos) e a grande quantidade de dados de Falas, Suspensões e Intervalos, geralmente provenientes de Bancos de Dados tornariam a metodologia de difícil aplicação, como ocorre na maioria das empresas e instituições de pesquisa (Pallerosi, 2007, p. ii).

Esta abordagem denota outras tantas possibilidades e o quanto estas podem ser

complexas. No entanto, além das possibilidades propostas anteriormente, outros pontos

fundamentais da manutenção, tais como a confiabilidade, a disponibilidade, o

planejamento integrado da manutenção, podem ser abordados, nos sistemas já explorados

neste trabalho e em vários outros, ou mesmo em equipamentos específicos. Outro aspecto

importante e que pode ser explorado é o que envolve o treinamento e a qualificação de

pessoal e até mesmo o seu grau de envolvimento com as atividades, a forma de execução

das atividades – se os procedimentos estão sendo seguidos ou a aplicabilidade destes. É

possível ainda pensar em maneiras de se implantar e implementar um sistema da qualidade

voltado para a manutenção, onde seja possível medir a sua eficiência e procurar melhorá-

la.

Vale registrar um exemplo de melhoria de confiabilidade já implementado no

circuito de refrigeração dos compressores elétricos, onde as tubulações e conexões de PVC

do circuito da bomba de circulação de água doce da refrigeração dos elementos de

7 Grifo do autor.

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compressão, que constantemente apresentavam vazamento e chegaram inclusive a

comprometer mais de uma vez o funcionamento dos motores elétricos em decorrência

disso, foram substituídas por mangueiras de borracha flexíveis específicas para alta pressão

com porca louca e um trecho de tubulação de aço carbono com conexões no mesmo

material. Após isso o sistema não falhou mais, ou seja, ainda não é possível mensurar sua

confiabilidade, mas o circuito dos dois compressores está disponível de forma integral.

Conforme pode ser observado na figura 25 a seguir.

Figura 25: Unidade de refrigeração de compressor elétrico com melhoria na confiabilidade Fonte: O autor

Sugere-se ainda a verificação dos sistemas abordados em relação ao mesmo ponto

de vista, girando o ciclo do PDCA, afinal, “sempre é possível melhorar a

manutenibilidade” (KARDEC e NASCIF, 2009).

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GLOSSÁRIO Ambiente offshore: Ambiente marítimo, onde normalmente se trabalha em regime de embarque. Anteparas: Separações verticais que subdividem em compartimentos o espaço interno do casco, em cada pavimento. As anteparas concorrem também para manter a forma e aumentar a resistência do casco. Atracação: Operação de fixação do navio ao cais. Ato ou efeito de um navio atracar num porto ou terminal privativo, a fim de realizar a operação de carregamento e descarregamento de mercadoria. Bombordo: Bordo (lado) esquerdo de uma embarcação, considerando-se a sua Proa como a frente. Boreste: Bordo (lado) direito de uma embarcação, considerando-se a sua Proa como a frente. Caixa de Mar: Abertura feita no casco abaixo da Linha de Flutuação, destinada a suprir água do mar para os condensadores, bombas, etc., e para descarregar água dos vários sistemas do navio. Calado (Draft, Draugth): Distância vertical entre a Linha da base, ou o ponto inferior de qualquer seção transversal do casco e o plano de flutuação considerado. Convés (ou deck): Estruturas que dividem horizontalmente o espaço do casco e superestrutura. Costado: Invólucro do casco acima da linha d’água. Em arquitetura naval, durante a construção do navio, quando ainda não está traçada a linha d’água, costado é o revestimento do casco acima do bojo. Craca: Nome genérico de todo tipo de crustáceos que se fixam e proliferam em superfícies duras, como boias, píeres, embarcações, etc. Docagem: colocação da embarcação em doca-seca. Doca-seca: Baía artificial que, quando fechada e drenada da água do seu interior, coloca o navio em seco, tendo em vista levar a cabo ações de manutenção ou reparação na embarcação. Estrado: Assoalho do porão da praça de máquinas, de uma plataforma de máquina ou de caldeiras, etc.; pode ser liso ou vazado, fixo ou desmontável, sendo neste caso constituído por quartéis. Eficácia: Medida do grau com que o material se aproxima de sua capacidade nominal e alcança facilidade de manutenção e operação. É a obtenção de um resultado desejado.

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Eficiência: Grau de perfeição obtido na produção de um resultado, avaliado depois de executada a ação. Homem-hora (Hh): Unidade de medida de trabalho humano utilizada em empresas para vários fins. É o produto do número de pessoas pelo número de horas dedicadas a realização de determinada tarefa. Linha d’água de projeto (Designed waterline): Linha de flutuação para a qual a embarcação foi projetada. No presente trabalho, considerada simplesmente linha d’água (LD), cuja definição específica é Linha de interseção da superfície do casco da embarcação com qualquer plano paralelo ao plano de base. Linha da base moldada, linha de construção ou linha base (LB) – É a interseção do plano da base moldada por qualquer dos outros dois planos de referência (planos vertical e transversal). Olhal: Anel metálico, fixo em qualquer parte da embarcação, cais, etc., para nele se engatar um aparelho ou amarrar um cabo. Paiol: Compartimento destinado à guarda ou armazenamento de material de qualquer espécie. Seu nome é em função da utilização. Ex. Paiol da Amarra, Paiol do Mestre, etc. Piano de válvulas: Conjunto dos volantes de comando de diversas válvulas semelhantes, reunidos em um mesmo bloco, para facilidade de instalação e de manobra das válvulas. Pocetos: Pequenos poços no piso da embarcação de onde são coletados os líquidos que ali se acumulam. Porão: Denominação atribuída ao espaço entre o convés mais baixo e o teto do fundo do navio. Em navios mercantes, porão é também o compartimento estanque onde se acondiciona a carga; Praça: Compartimento ou espaço destinado ao alojamento de certo equipamento ou a dado serviço. Ré (a ré): Metade traseira da embarcação, retaguarda, considerando-se como sentido de referência o que aponta para a Proa da embarcação. Sistema de Posicionamento Dinâmico: Sistema de posicionamento comandado por computador, que faz com que a embarcação possua o controle automático de sua posição. Superestrutura: Construção feita sobre o Convés Principal, estendendo-se ou não de um Bordo a outro da embarcação e cuja cobertura é, normalmente, também um Convés. Turco: Coluna de ferro em cuja parte superior, recurvada, se instala um aparelho de içar, e que é montada a bordo para içar e arriar embarcações miúdas ou outros objetos pesados.

Page 72: MELHORIAS NA MANTENABILIDADE DE SISTEMAS DE UMA … · Palavras-chave: mantenabilidade, sistemas, disponibilidade, manutenção, balsa. vi Abstract Maintenance is an activity that

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Utilidades: São processos auxiliares destinados a fornecer insumos tais como: vapor, água, energia elétrica, ar comprimido, distribuição de gás e óleo combustível e tratamento de efluentes. Vante (a vante): Metade dianteira da embarcação, pela frente, considerando-se como sentido de referência o que apontar para a Proa (extremidade anterior) da embarcação.