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Revista-laboratório do Curso de Jornalismo do Centro de Educação Superior Norte-RS, da Universidade Federal de Santa Maria (CESNORS/UFSM). Campus em Frederico Westphalen, RS, Brasil.

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Page 1: Meio Mundo 2009-08-06a-Web

O somda arte

Irineu Francisco Frozzatransforma madeirabruta em arte

Revista Laboratório do Curso de Jornal ismo do Cesnors/UFSM. Julho de 2009. Ano 1, No 1

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Meio Mundo.As mãos de Irineu Francisco Frozza moldam a madeira bruta em

formas especiais para produzir música. Com Imbuia faz o corpo, o braçode Mogno e as escalas de Guajuvira. Destas três espécies de árvores,ele esculpe suas violas e violões na periferia de Frederico Westphalen,na Região Noroeste do Rio Grande do Sul. Seu ambiente de trabalho éum pequeno galpão com muita serragem pelo chão. Al i ele aprendeupor conta própria a fazer seu ofício. E sua arte espalha pelo mundoinstrumentos que vão reger a vida de sabe lá quantas pessoas. Demeio mundo de gente.

A história de Seu Irineu, levantada pelo estudante de jornal ismoDaniel Spina e fotografada por André Piovezan, i lustra bem o espíritojornalístico desta revista. Batizada de Meio Mundo, este projeto doCurso de Jornal ismo do Cesnors/UFSM, executado pelos alunos do sextosemestre, busca apresentar reportagens centradas em pessoas e suarelação com o ambiente onde vivem. Esta foi a proposta e o desafio.E, com satisfação, sei que o leitor vai poder verificar, após a leitura,que a meta foi alcançada.

São 36 páginas de reportagens executadas de forma integradaentre repórteres, fotógrafos e diagramadores. Todas atividades típicasda profissão de jornal ista. Em menos de dois meses, a revista MeioMundo foi elaborada com o máximo de proximidade das exigências daprofissão. A redação era a sala 12, o Laboratório de InformaçãoConvergida (LIC, para os íntimos) . Neste espaço, foram discutidos oprojeto gráfico, projeto editorial , pautas, apurações, imagens,infográficos, diagramações, textos e capa. As atividades também

aconteciam on l ine por meio do ambiente Moodle aulas.pro.br(http://aulas.pro.br/cursos/) , que deu suporte para a discipl ina.

Hoje, o resultado está aí para Meio Mundo ver, sentir, apreciar. Aprimeira edição da revista apresenta uma série de boas histórias,muitos personagens interessantes, acontecimentos inusitados, enfim,tudo que o bom jornal ismo tem como característica única einsubstituível. Contando boas histórias, descrevendo ambientes,mostrando como o homem se relaciona com o mundo à sua volta, osalunos do Curso de Jornal ismo oferecem para os leitores a possibi l idadede viajar para locais desconhecidos. Este olhar diferenciado sobre osfatos da vida, mescla de teoria e prática, é um dos maioreslegados que um Curso de Jornal ismo pode oferecer. Não sãoas máquinas nem os prédios que farão um bom profissional.É o ambiente de troca de idéias, de debate, de disseminação doconhecimento que prepara o estudante para um contato diferenciadocom o social , com as pessoas, com as histórias que serão o seumeio de trabalho.

Jornal ista trabalha com e para gente. Não com e para máquinas.O conceito de produção de conteúdo, muito em moda nas grandesredações como uma grande novidade de gestão de uma empresajornalística, ignora a essência mais básica do fazer jornalístico: o contarboas histórias. E para serem bem aceitas, obrigatoriamente necessitamde boas fotos e uma bela disposição dos elementos em uma página.Ai estão algumas delas. Quem sabe disso? Meio mundo.

Boa leitura!Carlos Dominguez, jornalista

Editorial

ExpedienteMeio Mundo - Revista Laboratório do Curso de Jornal ismo

do Cesnors/UFSM - campus em Frederico Westphalen, RS, Brasi l .Ano 1 – Número 1 - Julho de 2009Publicação produzida pelos alunos do 6o semestre na discipl ina de

Laboratório de Jornal ismo Impresso II – 1o semestre de 2009.Professores responsáveis, edição: prof. MS. Carlos Dominguez

e prof. MS. José Antonio Meira da Rocha.Textos: Al ine Schuster, Bruna Wandscheer, Daniela Pol la, Deyse Calegari,

Diego dos Santos, Eledinéia Luza, Gianini da Si lva, Gustavo Menegusso,Hel iose Santi, Josiane Canterle, Jul iana Pedroso, Morgana Fischer,Prisci la Devens, Roscél i Kochhann, Daniel Spiña, Duane Löblein, Evel ine

Poncio, Janini Schmitz, Juarez Braga Zanberlan, Karen Kohn, LetíciaCunha da Costa, Ni lson Rosa Lopes, Roselaine Caratti, Thais Garcia.

Fotos: Ângelo Lorini, André Piovezan, El iane de Souza, Gustavo Farezin,Diagramação: André Rosa Lopes, Phel ipe Portela Pires Fel ipe Zibbel,

Franciele Vital i .Capa: Foto de André Piovezan com design de Fel ipe Zibel l .Impressão: Imprensa Universitária.Tiragem: 500 exemplares.Versão On Line em http://www.cesnors.ufsm.br/dahora .

Ministério da Educação do BrasilUniversidade Federal de Santa MariaCentro de Educação Superior Norte-RS

Departamento de Ciências da ComunicaçãoCurso de Jornal ismo

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3Julho de 2009

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Construção sustentável

Será que chove, compadre?

Um luxo de l ixo

O que era l ixo vira diversão

Preservar não dói

Qual é a do eucal ipto?

O adeus das florestas

A porta que nunca fecha

A arte de talhar o som

Como é que eu vou?

Vou morar sozinho!

E numa folha qualquer...

Cidadão de três pátrias

O punk não morreu

Água tratada escorre pelo ralo

Boa caminhada

A sombra da Hora do planeta

Yoga

Proteja seus olhos

Foto

Ânge

loLorin

i

Índice

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Construção sustentávelCom algumas medidas simples podemos diminuir significativamente o impacto daconstrução civi l ao meio ambienteCamila Tomazonicami latomazoni@gmai l .com

Apartir da década de 1970, com a pri-meira crise do petróleo, a construçãosustentável começou a ser pensada.Os países perceberam a necessidade

de buscar outras fontes de energia devido aosaltos preços que o petróleo alcançou nessaépoca. A construção civi l também agride dire-tamente o meio ambiente. Com algumas mu-danças, que podem ser implantadas mesmodurante a obra, o impacto pode ser diminuído.

O meio ambiente é muito danificado pelaconstrução civi l , pois ela altera as áreas urba-nas e rurais, consome recursos naturais e ge-ra muitos resíduos. Para que esse impacto se-ja amenizado pratica-se a construção earquitetura sustentável. Segundo o arquitetoDiego Rocha, arquitetura sustentável resume-se em uma forma de planejar e construir usan-

do técnicas simples e complexas, de maneiraambientalmente amigável.

O maior problema ambiental que podemosidentificar é o que se relaciona com a água.Nos meses de abri l e maio, principalmente aregião norte do Rio Grande do Sul, foi atingi-da por uma forte estiagem, característica douso irresponsável da água. Um dos grandesdesperdícios é a quantidade de água das des-cargas dos vasos sanitários. As descargas an-tigas podem chegar a uti l izar 12 litros deágua. Modelos mais novos, com sistema de du-plo fluxo de 3 e 6 litros, já estão sendo co-mercial izados, mas, a maioria das residênciaspossui o modelo antigo.

Outro grave problema, nos lembra o Enge-nheiro Valdenir Cadore, é a diminuição das áre-as de escoamento da água que, juntamentecom o acúmulo de l ixo, gera enchentes.

Soluções simples podem ser adotadas pa-ra diminuir o problema da água. Como a queencontramos em um posto de combustível nacidade de Três Passos. Para a lavagem dos car-ros, foram reuti l izados tanques de combustí-veis antigos que armazenam a água da chuva.Durante o período de estiagem, algumas lava-

gens de automóveis tiveram que parar de fun-cionar, mas, não a do Posto do Nego, pois uti-l iza a água da chuva para a atividade. Segundoa proprietária do posto, Maria El izabete Mal l-mann, foi registrada economia de R$400 reaisnas contas de água e luz, pois a maior parteda água era bombeada de uma vertente, fa-zendo uso da energia elétrica. Estima-se que,em dois anos, o custo da implantação seja res-sarcido pela economia.

A professora de educação física CleomaraGonzatto implantou um sistema de aquecimen-to solar da água da piscina em que ministraaulas de hidroginástica. Desde 2004 o siste-ma funciona e, segundo a professora, mesmono inverno a incidência de sol torna desneces-sário o aquecimento a gás. Segundo ela, a eco-nomia anual chega a 40%.

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Aquecimentocom garrafas PET

Uma solução caseira é a placa de ASBC(Aquecimento solar de baixo custo) acima,que está implantada no Colégio Agrícola deFrederico Westphalen. Tem fabricação sim-ples: garrafas PET, canos PVC, um suporte ecaixa d'água. A água sai da caixa e passa pe-los canos aquecidos pela exposição ao sol.Após percorrer o circuito, a água vai parauma torneira para ser usada. As garrafas PETfuncionam como uma espécie de estufa, poisa luz solar penetra e não é liberada. A corpreta do suporte e da caixa d'água tambémauxiliam no aquecimento, pois o preto absor-ve mais calor que as outras cores. Ela nãoestá sendo usada atualmente, pois, para seufuncionamento eficaz, deveria ser maior.Mas, é uma experiência que comprova quepodemos economizar energia gastando pou-co. Para mais informações, veja www.socie-dadedosol.org.br.

Os Teletubbies e sua casa cobertade grama: o programa infantil játrabalhava de uma forma lúdica eeducativa a questão da preservaçãodo ambiente.

4 Julho de 2009

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Desenho da casa ecológicaAlgumas soluções simples podem ser adaptadas à construção para que oimpacto ambiental seja menor. Aparentemente, podem parecer caras, mas osprofissionais garantem que o retorno é satisfatório

1 Captação de águaEste estudo (como é chamado este desenho na arqu itetura) é de uma casa que será construída

na cidade de Frederico Westphalen. A água é captada por calhas que são instaladas no telhado.Das calhas, a água passa por um cano que a leva para uma cisterna, um reservatório de água quegeralmente fica enterrado. Para a água ser uti l izada, pode-se usar uma caixa d 'água que a distribua.Neste caso, há uma bomba que impulsiona a água para a caixa especialmente instalada. Essa águapode usar usada para a l impeza de calçadas ou áreas comuns, nas torneirasexternas e, principalmente, nas descargas dos vasos sanitários. Com estesistema de captação de água, contribuímos para a solução de doisproblemas: evitamos o desperdício, reaproveitando a água e evitamos queela se acumule no concreto, criando uma “válvu la de escape”. 3 Eco telhado

A casa possui um eco telhado. O espaçodo telhado é aproveitado para plantação degrama. Neste caso, a opção se deu pelo fatode a casa ter pouca área verde. Assim, umespaço que seria perd ido vira jard im e auxi l ia

na captação da água pelo sistema queequipa a casa. O eco telhado possui a

função de diminu ir a reflexão dosraios UV. Quando expostos aoconcreto, esses raios refletem evoltam para o ambiente. Mas, nostelhados que possuem grama, isso édiminuído.

2 Aquecimento solarAs placas de aquecimento solar captam a

energia do sol e a transformam em energiaelétrica. Esta energia, que é chamadaenergia l impa, é transferida para umabateria para então ser uti l izada. Há umoutro tipo de aquecimento direto deágua, como nos mostra a foto da páginaao lado. A água é bombeada através decanos e passa por todos os pequenoscanos espalhados pela placa e voltaaquecida.

ARTE

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I LUSTRAÇÃO: ARQUIT

ETO DIEGO ROCHA

5Julho de 2009

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6 Julho de 2009

Juarez Braga Zamberlanzamberlan.braga@gmai l .com

Aliando tecnologias modernas e anti-gas, a implantação de sistemas decaptação de água da chuva e energiasolar vem crescendo na região do

Médio Alto Uruguai, no Rio Grande do Sul. An-tes do surgimento das empresas de captação,tratamento e distribuição de água, as pesso-as se preocupavam em construir suas residên-cias em lugares com água abundante, detec-tada por alguém com poderes especiais e umaforquilha de pessegueiro. Poço com rolo de cor-da e balde (bomba era luxo) , cisterna para ar-mazenagem da água da chuva faziam parte doplanejamento na hora de construir ou refor-mar. Os tempos mudaram, mas cada vez maishá quem defenda a volta de práticas abando-nadas.

A região do semi-árido nordestino sempresofreu com a seca. No momento é a enchenteque assusta a todos. O Governo Federal , atra-vés do Ministério do Desenvolvimento Social –MDS, programa Fome Zero, recebeu recente-mente um prêmio da ONU pela ação de cons-trução de cisternas para armazenamento deágua. O Governo planeja estender o programapara a região sul.

Por sua vez, aumenta a conscientizaçãodeque chuva não depende de São Pedro. An-tecipando-se à medidas governamentais, aconstrução ou instalação de cisternas vem sen-do uti l izada pelos mais conscientes. Em TrêsPassos, o empresário Adelar Franke (18 em-pregados) , possui capacidade de armazena-mento para 30 mil l itros de água da chuva,distribuída nos prédios residencial e industri-al .

Fi lho de agricultores, Adelar ainda cultivafrutas e verduras nos terrenos da casa e em-presa. Na fábrica de equipamentos para res-friamento e conservação de leite, a água quecai nos telhados é aproveitada também paratestes dos produtos e lavagem de peças. Cri-ativo, ele mesmo desenvolveu o sistema decaptação uti l izado em suas atividades. Para

filtrar a água é uti l izado o bedin, também usa-do em refrigeração. A economia gira em tornode RS$ 200,00 por mês.

Sobre a expansão destas experiências pa-ra os produtores rurais, Adelar Franke afirmaque seria necessário um vigoroso programa deestímulo por parte dos governos.

Se depender do investimento dos agricul-tores, isso infel izmente não acontece, pelaatual descapital ização e falta de consciênciacom o ambiente, conclui o industrial .

O projeto da casa da famíl ia de AlexandreGrol l i , formada por quatro pessoas, prevê cap-tação de água de chuva e energia solar. Seráum gasto adicional de R$ 6 mil , recuperáveisgradativamente com a economia em água eenergia adquiridas das concessionárias. A idéiaé apoiada pela fi lha Carol ina, de 14 anos.

Na indústria, o tanque vertical de dez mil litros abastece outro reservatório de cinco mil

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Será quechove,compadre?Seca no sul . Enchenteno nordeste. Nem todosficam esperando açõesgovernamentais

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7Julho de 2009

Energia SolarOutra decisão que colabora na pre-

servação ambiental é a uti l ização deenergia do sol em residências, hotéis,hospitais e em empreendimentos agro-pecuários. É necessária a instalação deplacas coletoras da energia solar e umreservatório térmico, também chama-do boiler. A quantidade de placas e acapacidade do reservatório variam donúmero de pessoas a serem benefici-adas ou do uso da água aquecida nosistema. Hotéis e hospitais modernosuti l izam essa tecnologia na lavanderia,cozinha e banheiros.

PiscinasUltimamente cresce o número de

residências que aquecem a água dapiscina com energia solar. Existe nomercado um tipo de placa mais econô-mico para este tipo de demanda.

Engenheiros e arquitetos preocupa-dos com a questão ambiental recomen-dam aos cl ientes a implantação deprojetos com previsão ou imediataapl icação de tecnologias de captaçãode energia solar e reuso da água daschuvas. A decisão final é sempre docl iente, uma vez que o custo da obraaumenta, afirma o arquiteto Cássio Lo-rensini.

Esgoto domésticoEmpresa da região de Três Passos de-

senvolve tecnologia e equipamentos paratratamento de esgoto cloacal em residên-cias. Consiste na colocação de dois fi ltros— um com água e outro com pedra brita— nos quais são diluídos e filtrados osdejetos humanos, destinando ao sumidou-ro. Esgoto praticamente ecológico, semprejudicar a natureza e sem a necessida-de de l impeza futura.

LegislaçãoTanto a captação de água da chuva,

quanto à uti l ização de energia solar outratamento doméstico do esgoto cloacaltêm sido, na maioria das vezes, iniciativados proprietários dos imóveis, aconselha-dos ou não por responsáveis técnicos. Sãoraras as cidades brasi leiras que possuemleis que obriguem ou incentivem tais prá-ticas. São Paulo, Rio de Janeiro, Brasíl ia eCuritiba se destacam.

Em Três Passos, a Câmara de Vereado-res aprovou indicação da vereadora Marl iFranke, sugerindo ao Poder Executivo aconcessão de beneficio fiscal – redução doIPTU – aos proprietários que instalarem,nas construções ou reformas, sistema deaproveitamento da água da chuva ou ener-gia solar. A sugestão encontra-se em es-tudos pelo Poder Executivo.

Projeto do deputado Miguel Martini , doPHS-MG, tramitando na Câmara Federal pre-vê a obrigação de retenção de águas daschuvas nas edificações e estacionamentosem municípios com mais de 100 mil habi-tantes.

No programa habitacional “Minha Casa,Minha Vida”, lançado recentemente peloGoverno Federal , será induzida a uti l iza-ção de Sistema de Aquecimento Solar-Tér-mico, possibi l itando a redução do consu-mo de energia elétrica e da emissão dedióxido de carbono (CO2) .

E m Pinheirinho do Vale, na l inha Quilômetro10, o agricultor Erno de Souza, 56 anos,sempre se preocupou com o abaste-cimento de água da propriedade, para uso

doméstico e para os animais. Vivendo em terrenoalto e seco, a solução foi instalar uma cisterna,de fibra de vidro, com capacidade para armazenar5.000 litros. O processo é bastante simples:

calha nos telhados da casa e canos que dire-cionam a água da chuva para a cisterna fixa nosolo. Uma bomba abastece outro reservatóriomenor, que distribui o precioso l iquido, uma vezque não existe rede pública de água na co-munidade em que vive.

Sal ientando a importância do armazenamentode água das chuvas, Souza pretende instalar umacisterna maior, com capacidade para dez mill itros, porque a atual enche rapidamente e muitaágua acaba sendo desperdiçada.

Notícia parainglês ver

N otícia divulgada em 18 de junhode 2006, no site do Governo doRio Grande do Sul (http://www-.estado.rs.gov.br) , divulgava o

Programa Estadual de Captação e Manejode Água da Chuva – PECMAC, lançado ofi-cialmente pelo governador Germano Ri-gotto, em dezembro de 2005. Tinha o ob-jetivo de buscar alternativas usando aágua da chuva em diversos projetos decaptação e armazenamento, com a parti-cipação de entidades como Defesa Civi l doEstado, Crea, Farsul, Fiergs, Famurs, Fe-pam, Fetag, Irga, Secretarias de Estado(da Agricultura, de Obras, do Meio Ambi-ente) , além de pequenos agricultores, en-tre outros.

Orientava os agricultores a se dirigi-rem ao escritório da Emater local paraelaboração de projetos para construçãode cisternas, a serem financiadas peloBanrisul . A funcionária do escritório daEmater de Três Passos não soube infor-mar se alguma cisterna foi construídacom base nesse programa.

O agricultor Erno de Souzaconstruiu uma cisternacom recursos próprios

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Gente que não espera, faz

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8 Julho de 2009

Um luxode lixoQuando o l ixo vira arte

Eveline Poncio e Bruna Wandscheereveponcio@gmai l .combrujornal ismo@hotmai l .com

P ara muitas pessoas, aquilo que não temmais uti l idade se resume a “LIXO”. Eponto final . Toda dia, milhares de to-neladas de l ixo são postos fora sem a

menor culpa ou peso na consciência.No Brasi l , cada habitante produz, em mé-

dia, 500 gramas de l ixo por dia, um númeroque já é bastante elevado para um país com180 milhões de pessoas. Agora imagine comoé a situação em países como os Estados Uni-dos, onde a produção de l ixo diário por habi-tante chega a 1,8 quilogramas!

Em Frederico Westphalen, Ida e Alfredo Pit-ton, 78 e 81 anos, fazem desse l ixo sem ser-ventia uma arte l inda de se ver.

O casal morou boa parte de suas vidas nointerior do município e há quinze anos decidiutrocar a vida dura da granja pela comodidadeda cidade. Seu Alfredo, agricultor aposentado,estava ficando velho demais para a l ida no cam-po. Dona Ida tinha a preocupação de que algoruim acontecesse à saúde do marido, já que aprincipal produção da famíl ia no campo era ofumo, e assim o casal optou por passar a mo-rar na cidade.

Com a mudança, a maior preocupação docasal era como se ocupar na cidade, já que es-tavam acostumados com uma vida movimen-tada e de muito trabalho. A saída encontrada

por dona Ida e seu Alfredo foi fazer artesana-to com materiais simples e recicláveis que elestinham em casa. Assim surgiu a paixão peloartesanato. A primeira peça, feita há mais dequinze anos, permanece intacta na casa do ca-sal : cortinas feitas com anéis de plástico degarrafas PET.

Depois de alguns cursos para se especial i-zar, hoje eles trabalham com todo material queencontram: garrafas PET,tampinhas, papéis, latasde tinta, tudo vira artena mão do casal. Asidéias e os trabalhosdel icados como final iza-ções em costura, tricô ecrochê vêm de dona Ida,enquanto seu Alfredo seencarrega da parte pe-sada da confecção, comocorte dos l itros e tudoque envolva força física.

Como a idade não osdeixa sair pelas ruasprocurando materiaispara trabalharem, dona Ida conta que eles cha-mam as crianças de rua e trocam balas e do-ces por l itros descartáveis. “Eles vêm aqui enos trazem os litros que acham pela rua. Emtroca, a gente dá a eles doces e balas. Eles fi-cam bem felizes com isso e a gente junta ma-téria prima, porque para fazer, por exemplo,

uma bolsa de garrafa PET, precisa-se de 18garrafas. Vai bastante material”.

Na casa de dona Ida e seu Alfredo, nada seperde, tudo se transforma. As peças que o ca-sal produz, sempre que possível, são comerci-al izadas, principalmente em épocas de Natal ena Páscoa, onde a procura por arranjos, guir-landas e pinheirinhos cresce. Tudo produzido,é claro, com materiais recicláveis. O valor das

peças varia entre R$ 10,para pequenos arranjos,até R$ 60, para vasosde flores artificiais fei-tas com papel EVA, latade tinta usada e acaba-mento em crochê. “Àsvezes, tem peças quedemoram até dois diaspara ficar prontas. Ébastante trabalho. Temmeses que a gente ven-de mais e tem mesesque vende menos, sem-pre depende da época,mas a procura é grande,

as pessoas vêm aqui em casa conhecer nossotrabalho”, diz o agricultor aposentado.

O casal, que trabalha unido, sabe muitobem da importância de reciclar. Eles lembramque os l itros PET, em vez de estar entupindobueiros e sujando os rios, se tornam artigosde decoração e ocupação para eles.

O que vira o quê?

Folhas –

sementes

cipós

Decoração paravasos de flores

Fibra d

ebananeira

Imitação de rendapara decoração

Garra

fasPET

Puff quadradoárvore de natalbolsas de praia

Pneus velh

os

Sofá tipo puffredondo

O lixo vira bolsas, cortinas, vasos de flor e pinheirinhos nas mãos de Dona Ida

Catapapelão

Latinha, su jeira ,cata l ixo, emoção.

A vida que escapa damão,

A vida é um pedaçono chão.

Catador de lixo e rapperGuerreiro Silva

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9Julho de 2009

UmincentivadorAltemir Antônio Bisol in é decorador edono de uma empresa de decoração deeventos. Ele oferece as oficinas na ONGEsquina da Sol idariedade e em outrosprojetos sociais. O grande incentivo aparticipar de projetos como este é oaprendizado. Segundo Altemir, eleaprende com as pessoas mais do queensina, e se sente gratificado porcumprir seu compromisso comocidadão. O artista não apenas ensina aarte de transformar produtosrecicláveis, como também os uti l iza emseu trabalho. O decorador diz: “vocêcolabora com o meio ambiente etambém util iza coisas que não teriamvalor, transformando-as em beleza”. Eleainda sustenta que oartesanato feito destaforma gera umaadmiraçãoespecial pelacriatividadedo artista.

“Posso dizer que o artesanato mudou minhavida. Se estou sem fazer nada, estou pensandono que poderia fazer de diferente e criar novaspeças”, diz Dona Ida, que espalha na cama, comorgulho, suas últimas peças produzidas.

Mas, não são apenas de ações isoladas quevive o mundo da arte feita com matérias reci-cláveis em Frederico Westphalen. A ONG “É pre-ciso repartir meu saber com todos”, mais co-nhecida como Esquina da Sol idariedade,promove a oficina de artesanato “Luxo de Li-xo”, onde mulheres de comunidades carentesaprendem a fazer artigos de artesanato commateriais reciclados e materiais encontradosna natureza, como fibra de bananeira, semen-tes, cipós e folhas secas que caem das árvores.

Segundo a coordenadora do projeto, Idol iCrespan, 59 anos, a idéia principal da ONG équal ificar a mão de obra dessas mulheres epassar a elas conhecimentos para que possamdepois, sozinhas, se incluir no mercado e sesustentar a partir do artesanato. As peças sãovendidas e os lucros são remetidos às comu-nidades e pessoas envolvidas, em forma de in-vestimentos e produtos.

Todo o trabalho real izado no projeto é vo-luntário. São pessoas que oferecem um poucodo seu tempo para transformar a vida de ou-tras. Idol i Crespan diz que cerca de 200 famí-l ias estão envolvidas na ONG, entre beneficia-dos e colaboradores. Uma destas pessoas é o

decorador Altemir Bisol in, que uti l iza a artecomo possibi l idade para materiais recicláveis.

Na sede da ONG, é possível encontrar vári-as peças produzidas na oficina de artesanato,mas também encontramos histórias de pesso-as que tiveram sua vida transformada peloprojeto. Como Venilda Anselmo, 41 anos, quehá 6 anos começou a participar das oficinas.Quando chegou até a ONG, estava com depres-são. Mas, ela conta que depois mudou tudo emsua vida. Al i naquela esquina, ela conseguiusuperar a doença. “Gostei e não consigo ficarum dia sem estar aqui”. Venilda trabalha vo-luntariamente na sede do projeto cinco diaspor semana. Já participou de tudo o que é ofe-recido al i , desde oficinas de al imentação atédo próprio artesanato. Sua renda mensal vemda venda de sabão que ela aprendeu a confec-cionar al i mesmo no projeto.

Iniciativas como esta da ONG Esquina daSolidariedade e do casal Pitton reciclam muitomais do que materiais sem util idade. Reciclamtambém histórias de vida, transmitindo idéiascomo cidadania e cuidado com o meio por on-de passam. O benefício não é apenas paraquem aprende, mas também para quem ensi-na e quem adquire peças produzidas com ma-teriais recicláveis. Leva-se para casa ensina-mentos básicos como solidariedade, cidadaniae consciência ambiental juntamente com umartigo de l ixo luxuoso.

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Vasos,porta revistas

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A artesã mostra com orgulho o lixo que transforma em arte. Outro exemplo pode ser visto na ONG "Esquina da Solidariedade" (acima)

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Page 10: Meio Mundo 2009-08-06a-Web

10 Julho de 2009

O que era lixo vira diversãoEscolas de Frederico Westphalen inserem a educação ambiental na d idática escolar

Janini Letícia Schmitzj [email protected]

D iariamente, três milhões de toneladasde l ixo são geradas no mundo. Só noBrasi l , são cerca de 120 mil toneladasde l ixo domici l iar. No Rio Grande do

Sul, cerca de 7 mil toneladas por dia. Em mé-dia, cada pessoa produz um quilo de l ixo pordia, no mundo. Este número pode variar deacordo com a classe social e a região em quecada pessoa habita.

Esta quantidade assusta a qualquer pes-soa que esteja preocupada com o futuro domundo. E o que estamos fazendo para nos pro-teger e proteger o mundo?

A educação ambiental é uma das soluçõespara combater o desperdício de produtos e evi-tar problemas maiores. Tem como objetivo en-sinar que o homem é parte da natureza e nãodono dela. A saída para os problemas do mun-do não estão somente nas crianças, mas prin-cipalmente nelas.

Desde 1999, a educação ambiental viroulei, afirmando que ela é componente essenci-al da educação nacional e deve estar presen-te em todos os níveis e modal idades do pro-

cesso educativo. Algumas escolas de FredericoWestphalen implantaram a educação ambien-tal e a cada ano surgem novas ideias para me-lhorar e aperfeiçoar os projetos.

A Escola Estadual Afonso Pena é adepta aeducação ambiental . Ela trabalha com os alu-nos a questão da reciclagem, a separação dol ixo e o uso dos recursos naturais com cons-ciência. A professora e coordenadora da esco-la Lurdes Caval i é responsável pelas ativida-des dos alunos. “A gente tem um projeto juntocom os pais para recolher garrafas PET. Os alu-nos trazem para escola, daí a gente lava e en-saca as garrafas para vender”, explica a coor-denadora.

As garrafas são vendidas aos produtoresde vinho da região. Com o dinheiro arrecada-do, a escola adquire novos l ivros para a bibl i-oteca. A escola uniu o úti l ao agradável. As-sim, as crianças levam as garrafas para aescola e consequentemente adquirem novoslivros que serão usados por elas. Existe outroprojeto na escola onde os alunos fazem brin-quedos com materiais que antes iriam para ol ixo. Latas de leite em pó, caixinha de remé-dio, embalagem de amaciante. Materiais des-

se tipo são usados na confecção dos brinque-dos que as crianças fabricam e depois sedivertem. Essas atividade são levadas a sériopelas crianças e professores. Todo ano são fei-tos novos brinquedos, e o recolhimento dasgarrafas PET só termina quando termina o anoletivo.

Já a Escola Estadual de Educação Básica Se-pé Tiaraju, de Frederico Westphalen, uti l izaoutra abordagem para combater o desperdí-cio e ensinar as crianças que reciclar é neces-sário. No colégio, eles participam da campa-nha “Preserve a natureza e ganhe prêmios”.Segundo a coordenadora Claudia Maria Bizel-lo, os alunos levam para a escola garrafas PETe jornal . Toda quarta-feira e no final do ano,a turma que tiver juntado mais material ga-nha um prêmio.

A campanha começou em abri l e terminaem novembro. “Essas campanhas são muitoboas, pois os alunos aprendem a cuidar domeio ambiente”, explica a coordenadora.

Não são só os professores que gostamdessas campanhas. Os alunos também gostam,pois, segundo eles, é uma competição saudá-vel para eles e para o mundo. “Eu acho muito

Na escola Sepé Tiaraju, os estudantes recolhem e armazenam os jornais e garrafas PET

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importante porque a gente ajuda a reciclar etambém pode ganhar prêmios. Eu explico o queaprendi na aula em casa. Assim, aprendo a cui-dar do meio ambiente na escola e em casa”,conta Lucas Resarim Vanzim, de 10 anos, alu-no da 4a série.

Mesmo as escolas ensinando e incentivandoos alunos sobre a educação ambiental, é neces-sário mudar o comportamento das pessoas emrelação a natureza. É preciso que se promova ummodelo de vida sustentável, que se concilie aspráticas econômicas e ambientais para que pos-samos ter reflexos positivos na qualidade de vi-

da de todos. Para que as futuras gerações pos-sam usar esses recursos naturais com a mesmaconsciência que nós.

A educação ambiental é uma das melhoressoluções para esse problema, a conscientiza-ção das crianças por meio da escola atinge to-da a comunidade, pois as crianças aprendemem aula e ensinam em casa para suas famíl i-as. Cada atitude tomada por qualquer pessoaé um incentivo para as outras começarem atomar atitudes também. A palavra certa paratentarmos mudar esse cenário de devastação,com certeza é conscientização.

7 mil toneladasno Rio Grande

do Sul.

Cada pessoa produzdiariamente

um kgde lixo

no mundo.

Quanto lixo!

Fabricação de brinquedos dentro de sala de aula na Escola Afonso Pena

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As crianças desenvolvem habilidades com a fabricação dos brinquedos

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120 miltoneladas delixo no Brasil.

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Preservar não dói!É hora de colocar emprática a velha l ição deque devemos cuidar domeio ambiente

Letícia Costalecdacosta@gmai l .com

P reserve o ambiente! Já fazum bom tempo que essa fra-se circula pelas nossas cabeças.A questão é: como preservar?

O primeiro passo para mudar hábitos é sa-ber o que o excesso de l ixo pode causar aomeio ambiente, ou seja, saber a parte ruim dahistória. O exemplo do uso exacerbado de sa-colas plásticas i lustra bem o problema. Nomundo todo são consumidos cerca de um mi-lhão de sacolas plásticas por minuto, resultan-do em mais de 500 bilhões por ano! Só no Bra-si l , são 12 bilhões anualmente. Além de seacumularem nos aterros sanitários, as sacolassão feitas de um material que emite gases po-luentes. Cada famíl ia brasi leira descarta emmédia 40 quilos de plástico por ano. Por es-sas e outras, surgiram as ecobags, as sacolasecológicas. Elas são feitas de materiais durá-veis – como tecido – trazem um ar de moder-nidade e agradam aos mais variados esti los.

Nas grandes cidades, surgem novas formasde ajudar o ambiente. Atualmente, estão sen-do inaugurados supermercados com uma idéiatotalmente ecológica, desde a sua construçãoaté o seu atendimento. Um exemplo disso sãoos depósitos para embalagens de produtos co-mo caixas de pasta de dentes, cereais e ou-tros produtos. Na construção, mudanças co-mo o uso de lâmpadas funcionais e econômicas,o aproveitamento da luz natural , a reuti l iza-ção de água da chuva e a implementação dedescarga a vácuo nos banheiros resultam emum consumo 25% menor de energia e 40%menor de água.

Nossa reportagem procurou conhecer pes-soas que colocaram na sua rotina atitudes eco-lógicas, independente da cidade em que mo-ra. É o caso de Liane Weber, engenheira

florestal e professora universitária.– Em casa, eu procuro separar o l ixo seco,

do restante. Sei que aqui na minha cidade, San-ta Maria, não existe coleta seletiva de l ixo,mas independente disto, eu faço a minha par-te. Sempre que posso, levo materiais tipo plás-tico e papel, até um lugar de recebimento del ixo reciclável – contaLiane.

Em cidades comoFlorianópolis, em SantaCatarina, existe a cole-ta seletiva. A profes-sora Andressa Farias,além de seguir a regrabásica de nunca jogarl ixo no chão, acostu-mou a separar os l i-xos.

– No cotidiano, emvias públicas, sempre

cuido para que todo l ixo produzidopor mim seja depositado em lixei-ras. Senão, eu guardo o l ixo paradepositar numa lixeira posterior-mente. Além disso, no meu prédiohá coleta seletiva do l ixo seco e or-gânico então no dia-a-dia eu separo

o l ixo.Manter o ambiente i luminado com luz

natural e cuidar para não deixar as luzesacessas sem estar nos ambientes é uma ati-

tude simples de ser tomada. Além de você es-tar preservando o meio ambiente, estará eco-nomizando na conta de luz!

Existe l ixo de todos os tipos. Alguns al-guns trazem riscos à saúde.

“Tomo cuidado para descartar o l ixo da for-ma mais correta possível, faço a separação equanto as pilhas e baterias levo aos pontosde coleta”, ressalta a estudante de jornal ismoEl iana de Souza.

Para se ter uma noção do perigo, as pilhase baterias possuem componentes tóxicos quesão cancerígenos, podem provocar anemia, de-bi l idade, mutações genéticas e outros danosno seu corpo e para o planeta. Aqui vai a di-ca: separe, guarde e devolva aos pontos de co-

leta e de preferênciause as pilhas recarre-gáveis que podem du-rar até cinco anos,enquanto a alcal inadura por 90 dias.

Alguns hábitossão difíceis de mudar.Liane, Andressa e El i-ana confessam quepecam ao demorar nobanho. Liane traz umaconsideração impor-tantecom relação aos

Jogar lixo no lixo,é a regra básicada preservação

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Omomento

mais fáci l de esquecer ocompromisso de preservaré quando a gente age de

forma ind ividua l ista

Liane Weber

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desl izes cometidos por todos. “Omomento mais fáci l de esquecero compromisso de preservar équando a gente age de forma in-dividual ista, como se ninguémfosse saber o que se está fa-zendo. Vivemos em grupo so-cial , a atitude de um interfe-re sempre na de outra pessoa,mas muitas vezes esquece-

mos disto, é triste, mas é in-trínseco do ser humano”, refletiu Liane.

Falando em coletividade, outra dica rele-vante é deixar o carro em casa. Você esta-rá deixando de emitir 700 quilos de polu-entes por ano! Para substituir ou diminuiro uso do carro, as alternativas são: darou pegar carona com alguém, ir cami-nhando ou usar o transporte público.

Temos que lembrar que nossas atitu-des são reflexos de nossa criação. Para

Andressa Farias, mãe de Gisel la, o papel dospais como exemplo é de extrema importância.

“Há atitudes simples do dia-a-dia que, creio,a Gisel la, que tem 6 anos, já está incorporan-do. Como jogar o l ixo no l ixo, desl igar a tor-neira na hora que escova os dentes, apagar asluzes das peças da casa que não está ocupan-do. Isso ela já vem fazendo quase que auto-maticamente por influência minha”, conta An-dressa.

Assim como os pais, os professores tam-bém deixam marcas no comportamento dosseus alunos. Liane e Andressa, ambas pro-fessoras, inserem o tema preservação am-biental nos conteúdos das aulas e cum-prem o papel de bom exemplo. “Oprofessor é um referencial para a forma-ção do futuro profissional! Parece conver-sa de senso comum, mas é exatamenteassim que costumo agir dentro da sala deaula. Não posso cobrar de meus alunos,

atitudes que não tenho. Então, sempre queposso, coloco a questão de como é importan-te pensar e questionar as atitudes, dentro dotema da aula, mas de uma forma que valha pa-ra a vida como um todo”, disse Liane. “Enquan-to professora, geralmente estas questões am-bientais são abordadas em sala de aula noformato de seminário. A participação semprefoi excelente, resta saber se de fato possuematitudes ecologicamente corretas”, explica An-dressa.

Você pode começar com pequenas mu-danças. Se for usar sacolas plásticas, tentereuti l izá-las ao máximo. Use nos cestos del ixo, dentro dos automóveis, para guardarroupas e utensíl ios pouco usados, embalan-do sapatos, roupas sujas, molha-das e ao transportar líquidos.São pequenas atitudes quequando somadas fazem adiferença!

Plásticos comogarrafas PET,

sacos plásticos,cds e disquetes,tubos e canos eembalagens deprodutos delimpeza.

Vidros comofrascos em geral,

garrafas debebidas, copos,pratos, jarras e

potes de produtosalimentícios.

Metais como latasde produtos

alimentícios, latasde alumínio,embalagens

metálicas, tampasde garrafas.

Papéis como papelcartão,

embalagens depresente, caixas

de papelão,jornais e revistas,

cadernos,cartolinas, livros.

SANEAMEN

TOWEB.CO

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E254.HTM

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Recicle certoLembre-se das cores de separação e conheça símbolos de reciclagem

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Qual é a do eucalipto?Em Frederico Westphalen, a árvore divide opiniões: herói ou vilão

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Juliana Pedrosojuddy_pedroso@hotmai l .com

U m assunto bastante inusitado em re-lação ao eucal ipto discute-se em Fre-derico Westphalen. A discussão atin-ge os extremos pois, por um lado, a

árvore é considerada vilã; por outro, heroína.Na região, planta-se muitos eucal iptos, prin-cipalmente em frigorífiros e abatedouros. Aárvore está presente cotidianamente na vidadas pessoas, seja como um adereço nas resi-dências, seja como necessidade.

Um dos mais importantes pesquisadoresda espécie eucalyptus do Brasi l é o engenhei-ro Agrônomo Edmundo Navarro de Andrade.Ele real izou grandes plantações no estado doRio de Janeiro, frisando, além da importânciado eucal ipto para ferrovias, sua uti l idade pa-ra postes de eletricidade e celulose.

Grande parte da discussão em torno doplantio de eucal iptos se deve ao fato de asterras uti l izadas para o cultivo de monocul-turas em larga escala não atingirem um gran-de contingente de mão-de-obra humana, já quegrande parte destas propriedades são alta-mente mecanizadas. Outro fator, é o caso des-sas culturas serem capazes de absorver enor-mes quantidades de água, podendo até mesmo

secar rios e outras fontes hídricas existentesno entorno dessas grandes plantações.

Vale lembrar que várias são os produtosoriundas do eucal ipto e ele tem suas vanta-gens. O professor e Engenheiro Florestal Edi-son Cantarel l i , do Cesnors/Universidade Fede-ral de Santa Maria, anal isa não como umavantagem, mas sim uma necessidade, pois des-de os primórdios, os seres humanos uti l izama madeira para a sobrevivência.

“Todo mundo pensa se falta o arroz em ca-sa, mas e se faltar o papel, o jornal? A vanta-gem estaria em cultivar uma planta de cresci-mento rápido, como Eucalyptus, Pinus,Acácia-negra, plantas que vem substituindo oconsumo de plantas nativas”, aponta Edison.

O eucal ipto figura cotidianamente na vidadas pessoas, uma vez que se uti l iza o papel,por exemplo, que vem da planta. Além disso,também está presente muitas vezes nas resi-dências, em fogões à lenha, o que é lembradomuito no inverno. Pessoas que moram na ci-dade, mas principalmente as que residem nointerior, uti l izam-se bastante de fogões à le-nha. No inverno, a fim de manter a casa aque-cida, ou então por necessidade, economia. Coma agricultora Judite Botezini Piovezan, 43 anos,não é diferente.

Dona Judite mora com o marido e os filhosem uma casinha cercada por um pequeno lagoe alguns animais no interior de FredericoWestphalen. Ela uti l iza fogão à lenha desdepequena. Segundo ela, “a maior vantagem énão precisar ficar cuidando direto a comida,como o fogão à gás”. Ela aponta a necessida-de pelo o uso do fogão à lenha, uma vez quenem sempre se tem condições de comprar gás.Dona Judite possui uma pequena plantação deeucal ipto nos fundos de sua casa, que almejavender futuramente.

Na região de Frederico Westphalen, o tipode eucal ipto mais cultivado é o eucalyptusgrandis, devido ao fato de ter um valor comolenha para o consumo em geral, que é o quefrigoríferos e abatedouros necessitam para asfornalhas. Esta é a espécie que teria maior ro-bustez. Por outro lado, ambiental istas acusamo eucal ipto de “vilão” ecológico, pelo fato daplanta retirar muita água do ambiente, tornan-do o balanço hídrico negativo, além de causaro empobrecimento de solo e desertificação deáreas, promovendo a extinção da fauna.

Segundo o engenheiro l icenciador ambien-tal Alcides Fel ipe Canol la, um dos problemasprovocados pelo plantio do eucal ipto é o fatode que vai ser plantado por grandes empre-

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sas, à medida que se usa muito herbicida naplanta. No Rio Grande do Sul, ele sal ienta queo cultivo de eucal ipto causará a exploração dobioma do Pampa, uma vez que é trazida umaespécie exótica num bioma diferente de ou-tros aonde é criada a cultura do eucal ipto eprincipalmente por estar integrada à culturado arroz, muito produzida na metade sul doestado. Esta já tem o consumo de água muitogrande comparada a outras espécies.

“Acho que tudo em exagero faz mal”, aler-ta o estudante do terceiro semestre de Agro-nomia do Cesnors, Roger Uebel, “O eucal iptopossui o mito de secar os mananciais devidoao rápido crescimento. Com quinze anos de vi-da a árvore já é adulta, isso dá a impressãode que ela absorve bastante água”.

Especial ista da área florestal , o professorEdison diz que a planta em si não traz gran-des impactos ambientais, que possam torná-lo assim um vilão, mas o modo como ele é plan-tado é que pode trazer danos e vir a degradaro meio ambiente.

De acordo com o professor, na maioria doscasos é feito o plantio sem uma orientaçãotécnica em áreas que não são permitidas. “Secriou uma cultura no Brasi l que área que nãopresta pra agricultura vai se plantar eucal ip-to”, sal ienta.

Áreas já degradadas recebem um impactomaior, além de ocorrerem plantios em áreasde preservação permanente – APP, que são asmargens dos rios e banhados, onde a legisla-ção não permite nenhum cultivo. São áreas vul-neráveis à degradação ambiental .

“Ninguém usa a melhor área de sua proprie-

dade pra plantar eucalipto, nem nós recomenda-mos isso, mas também tem que entender que jáexiste uma degradação que uma cultura agríco-la causou, uma erosão, uma vossoroca, algumacoisa nesse sentido. A melhor forma de minimi-zar esse impacto da agricultura é fazer com umasilvicultura correta, o plantio da forma correta,com espécie adequada e respeitando a legislaçãodo código florestal, preservando a APP”, finalizaEdison.

Questionamentos à parte, quanto aos be-nefícios e prejuízos que o cultivo da planta po-de trazer, o fato é que tanto a natureza comoas pessoas necessitam do eucal ipto para usoresidencial ou comercial . É uma planta de cres-cimento rápido comparada a outras espécies,o que, para o meio ambiente, é positivo. As-sim como é importante para as pessoas queprecisam da uti l ização da lenha, por necessi-dade.

Impactos positivos• Preservação de espécies nativas;• Recuperação de áreas degradadas;• Uso de agrotóxicos em menor

quantidade;• É uma planta de crescimento rápido;

adquirindo mais biomassa em menostempo em relação às espécies nativas;

• Fáci l adaptação a diferentes cl imas;• Benefícios ambientais, econômicos e

social , se plantados de forma adequada;

Impactos negativos• Modificação do microcl ima regional e

exploração de nutrientes do solo;• Perda da biodiversidade;• Redução da diversidade animal;• Especial ização da atividade produtiva:

quando o cultivo de grandes áreas sãodedicadas somente à monocultura doeucal ipto, usando trabalho altamenteespecial izado, gerando desemprego;algumas regiões, chegam a perder suascaracterísticas culturais.

Algumas vantagens e implicações no cultivo do eucalipto

“No inverno, o eucalipto é muito útil para aquecer a casa”, lembra Dona Judite

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O adeus das florestasMatas inteiras são consumidas pela ação do homem em nome do desenvolvimentoKaren [email protected]

Contodo Vigário

A reportagem da Revista Meio Mundo rece-beu a denúncia de derrubada ilegal de matanativa na em novembro de 2008.

O local fica às margens da RS-150, que l i-ga Frederico Westphalen a Caiçara. Ao chegar-mos no local , constatamos que muitas árvo-res tinham sido derrubadas com motosserra eoutras estavam parcialmente cortadas, pron-tas para cair.

Fizemos a denúncia ao Grupo de Policiamen-to Ambiental de Frederico Westphalen. Na mes-ma semana, guardas ambientais visitaram apropriedade e constataram a infração. O donofoi intimado a comparecer à delegacia para ex-pl icar o fato. Segundo ele, as árvores foram“roubadas” da propriedade por moradores deuma vila vizinha ao local . Ele foi l iberado semnenhum problema.

Entrevistamos alguns vizinhos e descobri-mos que eles já haviam denunciado o mesmoproprietário por três outras vezes. Segundo osvizinhos, o agricultor derruba as árvores à noi-te, as corta e leva a lenha para o porão da sua

casa, depois volta para o campo enterrar ostocos com a ajuda do trator. Um verdadeiroserial ki l ler da natureza.

Final da história: o crime aconteceu, nadafoi feito e o meio ambiente foi o mais preju-dicado nessa história.

Florestas: oadeus das matas

Nos últimos meses de 2008, mais de 60mil metros quadrados de mata nativa foramderrubadas em Frederico Westphalen e região,segundo dados repassados pelo Comandantedo Grupo de Policiamento Ambiental de Frede-rico Westphalen, João Carlos de Mello. Núme-ros que contribuem para agravar os problemasambientais do planeta.

Segundo o relatório real izado pelo BancoMundial (Bird) , o Brasi l é o país com o maioríndice de desmatamento no mundo. As flores-tas estão dando lugar a pastagens, lagos dehidrelétricas e principalmente, para as terrasagrícolas.

Os cientistas consideram que o desmata-mento tem efeito real e significativo sobre asalterações cl imáticas do planeta e sobre oaquecimento global.

Desastres naturais, como o ocorrido emSanta Catarina, em novembro do ano passado,são exemplos de como o cl ima revida sua fú-ria contra o homem. O estado de Santa Cata-rina ocupa o segundo lugar no ranking de des-matamento, segundo o Instituto Nacional dePesquisas Espaciais (Inpe) , perdendo apenaspara Minas Gerais. O Rio Grande do Sul apare-ce em quinto lugar.

As usinas hidrelétricas causam um extremo impacto sob a fauna e flora locais. O ciclo biológico é alterado e pode agravar fenômenos naturais

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Qualquer corte de árvores sem autorizaçãoé considerado crime ambiental

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17Julho de 2009

A florestavirou lago

No Brasi l , as grandes hidrelétricas já des-locaram mais de 1 milhão de pessoas de suasterras e inundaram mais de 34 mil km quadra-dos de florestas e campos, destruindo paisa-gens únicas, culturas e biodiversidade.

A bacia do Rio Uruguai é um território marca-do por diversos conflitos sócio-ambientais ondeo interesse meramente econômico fala mais altoque o respeito à natureza. Paisagens inteiras jáforam engolidas pelas barragens ao longo do cur-so do Rio Uruguai e seus afluentes. Cenários be-los e únicos como o Estreito, a cidade de Itá emuitas outras belezas estão hoje submersas noslagos das hidrelétricas.

Hoje, as companhias hidrelétricas são “asdonas” dos rios. Interessadas em vender ener-gia elétrica para que todos possam tomar ba-nho e assistir à novela no horário de pico, asusinas vão tomando conta da natureza e o im-pacto disso pode vir ser um verdadeiro apoca-l ipse em poucas décadas.

Códigoanti-ambiental

Ambiental istas e rural istas travaram umduro embate pela proposta de reforma do Có-d igo Florestal Brasi leiro, em abri l deste ano.

Os rural istas pretendem mudar o códigopara reduzir a faixa de preservação obriga-tória. Já os ambiental istas resistem a qual-quer mudança e não querem perdão paraquem destrói a floresta.

Em Santa Catarina, em 2009, um novo có-d igo passou a vigorar, d iminuindo de 30 pa-ra 5 metros a largura de preservação de ma-ta ci l iar. Para o Comandante do GrupoAmbiental de Frederico Westphalen, João Car-los de Mel lo, uma lei estadual não pode pas-sar por cima de uma Lei Federal . “A medidaé inconstitucional , contra a coletividade e nãotem fundamento. A redução de APPs, princi-palmente das matas ci l iares, influenciou nosdesmoronamentos e contribu iu para o fenô-meno que assombrou o Estado”, afirma o co-mandante.

Leis AmbientaisNo Brasil as leis ambientais estãodescritas na Constituição Federal,no Código Florestal Brasileiro e naLei de Crimes Ambientais.

*A Constituição Brasi leira defineresponsabil idades, direitos e deveresde cada cidadão perante o ambiente.Assim, todos têm o direito deusufruir dos recursos naturais, bemcomo têm o dever protegê-los dequalquer ação danosa.

*O Código Florestal considera asflorestas um bem público. Destaforma, todos têm o direito dedenunciar desmatamentos, queimadasou uso ilegal de áreas florestais.

*As florestas estão protegidas peloCódigo Florestal em duas categorias:as Áreas de Preservação Permanente(APP) e as Áreas de Reserva Legal. Asáreas de Reserva Legal podem serexploradas somente com autorizaçãoe respeitando a manutenção de 20%de mata nativa. Nas Áreas dePreservação Permanente não épermitido o corte ou exploração dafloresta ou da vegetação. Essas áreasabrangem as matas e vegetações aoredor dos rios e lagos, nos topos dasmontanhas e morros e em locais commais de 45 graus de decl ividade.

*A Lei dos Crimes Ambientais estipulapunições contra danos ao meioambiente. As penas podem vir a sermultas dependendo da área afetada edo número de árvores derrubadas,detenção de 3 meses a 5 anos, ereposição da área desmatada.

Frederico Westphalen: mais de 60 mil m2 de mata nativa foram derrubados ao final de 2008

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Floresta submersa em nome do desenvolvimento urbano

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Diego Oliveirainnsol ito@gmai l .com

Avida em um plantão médico não é na-da fáci l , mesmo. Foi o que pude com-provar na prática, ficando uma noiteno plantão do hospital Divina Provi-

dência (HDP) , em Frederico Westphalen.Crianças, adolescentes, pessoas de meia ida-

de, idosos. Não há idade nem horário para se terproblemas de saúde ou para se precisar da emer-gência de um hospital. Na noite do dia 4 de ju-nho, acompanhei a rotina de médicos, de enfer-meiros, de pacientes e do plantonista do HDP deFrederico Westphalen. O hospital conta atual-mente com 65 leitos e atende a, aproximadamen-te, 150 mil pessoas da região. Mas, não é consi-derado um hospital regional e sim um ponto de

referência na região. O plantão do hospital contacom um quadro de nove funcionários: um médi-co, uma enfermeira, seis técnicos de enfermageme um plantonista.

O primeiro personagem dessa história é Gil-berto Ferreiro, o popular “Giba”, plantonista dohospital Divina Providência há 16 anos. Se dizum apaixonado pela sua profissão. Giba, em suaentrevista, nos relatou casos de alegrias e tris-tezas que já enfrentou nesses anos de profis-são, mas, também se diz acostumado com es-se ambiente hospitalar. Outra ponto importanteque lembra é o reconhecimento de seu trabalhopor antigos pacientes, pois diz que, semprequando lhe encontram, vem cumprimentar econversar um pouco. Para ele, isso glorifica eengrandece seu trabalho e seu esforço pelo hos-pital.

Elza Rodrigues, enfermeira, há dois anostrabalha no HDP. Falou um pouco sobre osprincipais casos que ocorrem no plantão: “Ago-

A porta queTodos as noite, dezenas de pessoas

à procura de ajuda. Conheça

. . .no verãoos casos

mais frequentes são deacidentes

automobi l ísticos. . . tudo porcausa de uma cervej inha amais gera lmente (risos) .

Elza RodriguesEnfermeira

Enfermeiras atendendo a criança com convulsão. Trabalho rápido e cuidadoso da equipe médica

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ra no inverno os principais casos que che-gam até nós são principalmente de idosos ecrianças com problemas respiratórios. Já noverão, os casos mais frequentes são de aci-dentes automobilísticos ou acidentes co-muns, como queda nas piscinas dos clubes.Tudo por causa de uma cervej inha a mais,geralmente (risos)”.

A conversa corre boa, o ambiente estavatranquilo, mas como todo plantão é uma in-cógnita, não se sabe o que pode acontecer.E acontece: chega o carro da Brigada Mil itartrazendo uma criança de nove meses carre-gada pelo seu pai. A criança estava com prin-cípios de convulsão. O trabalho foi rápido e,

mais uma vez, bem sucedido, graças à equi-pe médica do hospital . Logo em seguida, acriança foi encaminhada para a pediatria, on-de ficou sobre os cuidados e observação dosmédicos.

Só não tive muito sucesso na tentativade falar com o médico plantonista do dia. Poralguma razão, ele não quis dar entrevista.

As horas foram passando e mais umanoite se foi sem maiores problemas, comoóbito ou acidentes mais graves. Na bagagemficou uma experiência de vida, e o gosto desaber que Frederico Westphalen está bemservida por sua equipe médica do HospitalDivina Providência.

nunca fechachegam ao Hospital Divina Providênciacomo é essa dura rotina

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Gilberto Ferreiro, o “Giba”, plantonista há 16 anos

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20 Julho de 2009

A arte de talhar o somA madeira trabalhada torna-se obra de arte nas mãos de um mestreDaniel Espiñadanield iscipu lo@hotmai l .com

U m galpão de madeira nos fundos deuma casa de esquina, longe do centroda cidade. Serragem pelo chão, ferra-mentas de marcenaria sobre uma me-

sa de serra. O ambiente de um artesão.A luz do sol invade a sala por entre as fres-

tas das madeiras do galpão. Com o avançar datarde, o sol vai perdendo sua força e lenta-mente o ambiente vai perdendo a luminosida-de com o crepúsculo.

Mas a luz ainda revela obras raras, não pro-duzidas em série, manufaturadas com carinhoe cuidados muitos especiais por mãos marca-das pelo tempo. Tempo que não é visto comobarreira, mas como qual idade e aperfeiçoamen-to da técnica.

O sorriso e a alegria são passadas ao tra-balho que lhe rendeu excelentes obras de ar-te. Algumas destas obras, de tão especiais,não estão à venda: foram talhadas com umahistória, com precisão e com uma pitada deacaso do destino.

A luthieria é uma manifestação artística ar-tesanal que envolve a construção e restaura-ção de instrumentos de corda com caixa deressonância, tais como o viol ino, a viola, o vi-oloncelo, o contrabaixo e o violão (ver box napágina ao lado) .

A profissão não morreu. Persevera até ho-je, mesmo com as dificuldades de encontrarmadeira, da industrial ização e robotização dosprocessos de produção. Ela está firme e vivanas mãos de Erineu Franscisco Frozza, 60 anos,natural de Encantado, Rio Grande do Sul. “SeuFrozza”, como é popularmente conhecido. Luthi-er.

Seu Frozza começou trabalhando numa mar-cenaria, onde surgiu a oportunidade de apren-der a profissão. Um cliente tinha um violãoquebrado na lateral até a parte inferior. Que-rendo consertá-lo, levou à marcenaria onde seuFrozza trabalhava: “deixe aqui o violão se euconseguir consertar, nunca fiz isto antes, tume paga o valor do conserto. Se eu não con-seguir, então, tu pode levar embora”, disse omarceneiro.

Espantou-se com o resultado. “Eu arrumeio violão a ponto do dono não reconhecê-lo”.Então pensou: “Se posso arrumar esta parte,que é difíci l por ter curvas e tudo o mais,porque não posso fazer um violão?” Foi a par-tir deste momento que começou na profis-são, conta o luthier, que é artesão de cartei-

rinha desde 1990.Um violão normalmente leva de 15 a 20 di-

as para ficar pronto. O processo é artesanal,mas os moldes para um tipo de instrumentodevem ser os mesmos. Cada parte é selecio-nada e colada uma após outra. A cola leva de18 a 20 horas para secar.

Mas o seu primeiro violão levou seis mesespara ficar pronto. Instrumento que Seu Froz-za mostra com muito orgulho. Todo em mog-no com o tampo de araucária. Aprendeu peloque padeceu. Autodidata, depois de cortar mui-

Erineu Frozza cria arte com as próprias mãos

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ta madeira errada, conseguiu ótimos resultados.Além de fabricar, Seu Frozza conserta instru-

mentos. Mas adianta que não é fáci l , pelo fatode haver pouca madeira para este tipo de tra-balho. Quando cortada, ela não pode ficar torta,tem que ter seu formato em linhas retas. Eleconsegue matéria prima nas madeireiras da ci-dade e as lâminas, por encomenda de outrosestados.

Os cl ientes vão ao atel iê e escolhem peças jáfabricadas, mas ele também produz instrumentospersonal izados conforme encomenda do cl iente.O primeiro nome — EFIM, Erineu Frozza Ins-trumentos Musicais — foi substituído por“Violas & Violões Frozza”, que aindanão é marca registrada. O luthier jácriou uma viola “custom”, única, comformas e design que pretende pa-tentear.

Ele revela o segredo na escolhada madeira: tem produzido os vio-lões com imbuia (é uma árvore dafamíl ia da Lauraceae, que ocorre ti-picamente nas florestas da regiãodos Campos Gerais do Paraná) , obraço de mogno (ou mogno-brasi leiro,uma árvore nativa da Amazônia, mais co-

mum no sul do Pará) , a tampa do instru-mento de marfim imperial (ou figueira

do norte) e a escala de guajuvira (éuma árvore encontrada nos estadosbrasi leiros de Minas Gerais, MatoGrosso do Sul , Paraná, Rio Grande doSul , Santa Catarina e São Paulo.Também é conhecida por guajura,guaiabi , pau d’arco, apé branco, guaiu-vira, guajubira, entre outros nomes) .O preço dos violões varia de R$ 180à R$ 380 Violas, de R$ 320 àR$600.

Além do talento em produzirinstrumentos, Seu Frozza mos-tra habilidades no instrumen-to e no canto. Integrantedo grupo de violeiros Cha-péu de Palha, já gravouum CD, de produção inde-pendente. O grupo écomposto pelos integran-tes Edson Marcos Frozza

(filho de Seu Frozza) , Jack-son, João da Silva (Dandão),

Aloízio Mazzoneto, Edvino, An-tonio Cardoso e Sergio Monilari.

ComposiçãoFrozza ensina, passo a passo, como fazer um violão

1. Para a lateral: duas lâminas de madeiracom lascas paralelas.

2. Com a cola seca, então, o mesmo moldeé utilizado para fazer o outro lado queformarão o corpo do violão.

3. São acrescentados o braço e os trastes(segmentos no braço do violão, feitos detiras de metal branco).

4. O tampo é feito com um compensado demarfim imperial onde são fixados ocavalete e o rastilho.

5. Tarrachas – fornecidas por lojas especi-alizadas – são montadas na “mão” do vio-lão. Servem para afinar o instrumento.

6. Finalmente, chega a hora doacabamento: o luthier lixa o instrumento,enverniza e põe as cordas.

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LuthierSegundo Antonio Houaiss, o termo chegouà lingua portuguesa por meio da palavra

francesa luthier (fabricante de instrumentosde corda) .

A melhor referência que se pode dar de“liutaio” é Antonio Giacomo Stradivari

(Cremona, 1648-1737), ou Stradivarius,como era conhecido. Foi um célebreluthier italiano. Ainda muito jovem foi

discípulo de Niccolò Amati, com quem aprendeue desenvolveu a arte de fazer instrumentos.

Muitas das técnicas utilizadas por ele ainda não foramcompletamente desvendadas.

Nicolò Amati (Cremona, 1596 - 12 de abril de 1684) foi umluthier da família italiana dos Amati, que se tornou conhecida pelaalta qualidade dos intrumentos musicais que fabricava. Ele levou atécnica da familia à perfeição em torno de 1645, sendo o maisprocurado fabricante de sua geração. Nicolò teve um filho,

Girolamo (1649–1740), que também obteve reconhecimentopor sua habilidade no ofício, sendo o último

da linhagem Amati de grandes luthiers.(http://pt.wikipedia.org/).

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22 Julho de 2009

Aline Schuster e Daniela Pollaal ine.schuster@hotmai .com/dani .pol la@hotmai l .com

Aprimeira coisa a ser pensada quandose resolve ir de um lugar para outroé: que meio de transporte será uti l i-zado? Essa preocupação tem propor-

ções maiores quando se trata de cidadespequenas, nas quais as opções de meios delocomoção são muito restritas.

Imagine como é morar a 20 minutos do cen-tro e ter que percorrer este trajeto todos osdias para trabalhar ou sempre que precisar ira farmácia? Pense ainda que, em alguns bair-ros, existem problemas de iluminação, o quedeixa algumas ruas completamente escuras ànoite. Há uma bicicleta na garagem, compradapara faci l itar este deslocamento. No entanto,a cidade não tem ciclovia e muito menos apoi-os para deixá-las. Em último caso, tem-se dis-ponível o serviço de táxi. Para tanto, basta l i-gar para o único ponto de táxi da cidade esol icitar uma corrida. Porém, o gasto não bai-xará dos R$ 10. Esta é a real idade dos frede-riquenses.

Frederico Westphalen, município do interi-or do Estado, tem quase trinta mil habitantes.Abriga quatro instituições de ensino superior,tem 4,57 Km2 de área urbana e não possuinem sequer transporte coletivo. O que acon-

tece então? Acontece que quem não possuicondições financeiras para manter um veículode transporte próprio é obrigado a andar a pé,mesmo aqueles que moram nos bairros afas-tados do centro da cidade.

Não é à toa que Frederico possui um índi-ce de motorização considerável. Segundo da-dos do Detran, de 1997 até 2007, a frota deveículos em circulação cresceu 47,16% no RioGrande do Sul. Frederico Westphalen, ocupavaem 2007 a 123a posição no ranking do índice

de motorização do estado, com uma média de2,5 habitantes por veículo. Este índice de veí-culo/pessoa revela a necessidade que os fre-deriquenses têm de possuírem um veículo pró-prio, devido à dificuldade e a falta de opçõesde transporte.

O secretário da administração, Vilnei LuizGiacomini, diz que a implantação de um trans-porte público e coletivo requer estudos apro-fundados e uma infra-estrutura bem funda-mentada para oferecer condições ideais. Porém,para ele, “hoje, anal isando a situação de Fre-derico Westphalen não temos definidos itine-rários nem infra-estrutura, como paradas eabrigos. Mesmo assim, sabemos da necessida-de de implantarmos o transporte coletivo”.

Para além disso, Giacomini revela: “estudosestão sendo real izados e iniciativas serão to-madas para que o transporte coletivo seja umareal idade e possa satisfazer os interesses doscidadãos frederiquenses moradores dos bair-ros mais afastados do centro da cidade e quemuitas vezes enfrentam dificuldades de se lo-comover”.

Quem mora nesses bairros mais afastadossabe bem como são essas dificuldades loco-moção às quais o secretário da administraçãode Frederico se refere. Quem precisa andarcerca de 20 minutos para chegar ao centro dacidade sente na pele a falta que um transpor-

Como é que eu vou?Deslocar-se é sempre uma preocupação, principalmente nas cidades pequenas,onde os meios de transporte são restritos, de difíci l acesso e, muitas vezes, caros

“Pego carona porquealém de agil izar a minhavolta pra casa, diminui

paradas em rodoviárias etal , ainda me gera algumaeconomia”. (Mauro Rohr)

Estudantes de Frederico Westphalen contam com poucas opções de transporte coletivo

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te coletivo faz no município.É o caso da estudante Heloíse Santi , que

mora no bairro Itapagé e reclama: “Nos bair-ros não tem farmácia, não tem mercado. Pa-ra tudo é preciso ir até o centro. Eu acho queem uma cidade do tamanho de Frederico otransporte públ ico é quase imprescindível .Ainda mais com esses morros aí. Como a gen-te trabalha à noite, temos que andar sozi-nhas nas ruas e isso é perigoso. Nesse sen-tido o transporte coletivo poderia auxi l iar”,desabafou a estudante.

Outro problema das cidades pequenas emédias é a d ificu ldade no deslocamento in-termunicipal . Isto porque os horários de ôni-bus são poucos, não há l inhas d iretas paravárias cidades e as passagens são caras.

Isso acontece com quem precisa deslocar-se de Frederico Westphalen à Chapada. A dis-tância entre as cidades é de cerca de 100km e não há l inha d ireta. É preciso pegar umônibus de Frederico para Palmeira das Mis-sões, esperar uma hora e meia na rodoviáriade Palmeira e pegar o ônibus para Chapada.O custo das duas passagens fica em R$18,50. Além disso, vale lembrar que este per-curso só pode ser feito quatro vezes por se-mana. Só há ônibus para Chapada nas segun-

das, quartas, sextas e sábados.Devido à falta de ônibus direto e ao cus-

to das passagens, a alternativa encontradapelo chapadense Mauro Rohr, 21, estudantede Agronomia, que reside em Frederico paraestudar e precisa ir à Chapada visitar a fa-míl ia, foi pegar carona.

“Pego carona porque além de agi l izar a mi-nha volta pra casa, d iminu i paradas em ro-doviárias e tal , a inda me gera alguma econo-mia”, comenta Mauro.

Já para a estudante de Jornal ismo Gabri-el la Bel lé, não há alternativa. Para visitar afamíl ia em Âmpere, no Paraná, a única opçãoé o transporte coletivo. Existe apenas umaempresa de ônibus que faz a l inha Frederi-co/Âmpere e o custo da passagem é de R$50,00. Dessa forma, a estudante se obriga afazer um caminho alternativo: ir até SantoAntônio do Sudoeste e de lá seguir de carroaté sua cidade destino.

“Eu acho caro R$ 50, tanto que eu prefi-ro parar em outra cidade e meu pai ir me bus-car, porque é como se 30 qui lômetros cus-tassem R$ 25, enquanto os 220 qui lômetrosque eu fiz de Frederico até Santo Antônio doSudoeste também custaram R$ 25. Além dis-so, assim, eu chego lá às 6 da tarde e com

o ônibus que vai d ireto, eu chego em casa às2 da manhã. Por isso tudo, eu acabo indopouco para casa”, completa Gabriel la.

Diante de histórias como estas, é indiscu-tível que um transporte coletivo de qual idadee acessível pode faci l itar o deslocamento e avida de muitos cidadãos frederiquenses. Cabeentão, às autoridades dispor este serviço pa-ra a sua população, e assim promover e pos-sibi l itar a todos o direito de ir e vir.

EnqueteVocê acha que deveria haver

transporte coletivo em Frederico?Por quê?

Eu acho que deveria ter.Porque é uma necessidade muito

grande dos estudantes.Principalmente pro Cesnors, porqueeu também já estudei lá no ColégioAgrícola, sei que é uma dificuldademuito grande. Também para os da

cidade. O transporteé um incentivo ao estudo.Luiz Henrique Menlak – 19.

Penso que seria bom.Porque a cidade já está grande,está se expandindo bastante. Etem bairros que são bastante

distantes, eu acho que já estariana hora de ter transporte coletivo.

Luiz Tressi – 46

Eu acho que sim. A cidadejá comporta. Pelo tamanho, pelosbairros que ficam longe do centro.

É necessário que já existisse.Tânia Ribeiro – 36

Penso que sim, que deveria existir.Temos uma questão de ruas,

talvez não comporte, pela questãodo transito. Mas eu acho que seriabom para a sociedade num todo.

Marisa Komers – 30

Dever, deveria. Mas nãoia ter movimento aqui.É pouca população parao transporte coletivo. E opessoal não iria pagar!Greice Jacomini - 19

Quem não possui carro utiliza meios de transporte alternativos para se locomover

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Heloise Santi e Josiane [email protected]@yahoo.com.br

D ois estudantes que se multiplicam nosrostos de muitos brasileiros e brasilei-ras que sonham com dias melhores. Umúnico objetivo: mudar o mundo!

Com dezessete anos, Charles Roberto Bel-monte Mafra e Mairo Trentin Piovesan chegarama Frederico Westphalen. O primeiro, vindo de Pi-rapó (RS), veio cursar Engenharia Florestal. Osegundo, de Jaboticaba (RS), estudar Agrono-mia. Além de terem a mesma idade, ambos es-tudam no Cesnors/UFSM, vêm de famílias humil-des e buscam, na universidade pública, arealização de um sonho.

Já cantava, sabiamente, Dinho Ouro Preto:“Dezessete anos e fu-giu de casa/ Levou nabolsa umas mentiraspra contar/ Deixou pratrás os pais e namora-do/ Um outro dia, umoutro lugar”. Talveznão tenham deixadopara trás “o namora-do”, mas trazem nopeito a vontade de re-volucionar suas vidaspara transformar a vidados seus.

— Foi na confirma-ção de vaga. Eu estava tentando me enturmare acabei encontrando o pessoal.

Foi assim que Charles encontrou seus pri-meiros companheiros de apartamento, de estu-dos e, porque não dizer, amigos: Alexandre, Fer-nando e Mauricio.

Diferentemente de Mairo, que foi morar comparentes.

— Primeiro eu morava com os meu tio e afamília dele, depois ele acabou falecendo. Fiquei

morando com a tia umtempo, antes de vir parao apartamento morar comos guris.

Sair de casa significanovos relacionamentos, no-vas descobertas e muitassaudades. Ah! Quanta sau-dade do “cheiro de casa”,da convivência com a famí-lia, da comida pronta, daroupa lavada, do descom-prometimento, do dinheiromais fácil vindo dos pais.São tantas mudanças...

— O que mais sinto falta é minha família. Ami-zades são importantes, mas com o tempo tu aca-bas perdendo aquele vinculo. Eu acho que as ami-zades que você faz aqui dentro da faculdade sãoamizades um pouco mais adultas e de repentemais duradouras também - argumenta Charles.

E morar sozinho lá tem vantagem? Olha oque dizem os meninos: “as principais vantagensde morar sozinho são: liberdade. Tu conheces amentalidade das outras pessoas. Tu vês quenão é o único. Tu aprendes a lidar com todomundo, aprende a aceitar outras opiniões,aprende a escutar mais”. Esse é o Charles. Ago-ra é a vez do Mairo: “Vantagem é a liberdade denão ter a regra seguida do pai e da mãe, mastu tem um outro tipo de regra – que seria adesvantagem – que é a questão de que estouestudando, estou morando aqui, mas eu tenhoos estudos que me regem, regulam. A vanta-gem é a liberdade, poder sair, voltar a hora quequiser, isso as pessoas que moram comigo nãotem como controlar. Cada um é dono do seu es-paço. Isso lá na casa de meus pais não tinha”.

Pode ser que para muitos, sair de casa, mo-rar sozinho(a) seja mais uma vontade incontro-lável de descobrir o mundo e suas possibilida-des. Contudo, deixar o conforto da casa dafamília traz muitas consequências.

— Além da minha idade acho que o que maismudou em mim foi ter crescido como pessoa metornei um pouco mais adulto. Acho que hoje

Vou morarPrimeira etapa: chegar a uma universidade. E não

Feito o vestibular, confirmada a vaga, bate aquele frio

Mairo Trentin Piovesan, 20 anos, estudante do sexto semestre de agronomia, é natural de Jaboticaba, RS

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Vanta-gem é a

l iberdade de não ter aregra segu ida do pai e da

mãe, mas tu tem umoutro tipo de regra, queseria a desvantagem.

Mairo Piovesan

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meus pensamentos são mais centrados visua-lizam um único ponto - garante Charles.Para Mairo, a mudança foi maior: “o que mudouem mim? Tudo! O conhecimento muda as pes-soas, muda mesmo. Se aprende a saber o queestá fazendo e se perguntar por que está fa-zendo aquilo, e apesar da liberdade que se temé preciso saber usar. Eu poderia tá indo lá napraça fumar maconha se eu quisesse, que o painem ia ficar sabendo”.

Mas a mudança de casa não despertou só ointelecto adormecido:

— Aprendi a fazer comida sozinho, comprarela. Na cidade tem essa diferença. Na casa dopai, grande parte a gente produzia, aqui tem decomprar. Hoje quem tem de comprar as roupassou eu, antes não, a mãe comprava. Hoje, se eusujar, eu vou lavar. Me tornei um cumpridor dehorários e administrador do meu dinheiro - con-ta Mairo.

Nenhum aprendizado acontece sem dificul-dades. Quando Charles chegou em Frederico, lo-go foi à procura de emprego, pois a família nãotem como sustentá-lo sozinha. “Aqui, primeiroeu trabalhei de garçom. Trabalhei um bom tem-

po. Estava precisando, passava por dificuldadesfinanceiras. Eu gostava, além de ser um com-plemento na minha co-mida, pois sempre so-brava alguma coisa dasfestas”.

A realidade financeirada família de Mairo não émuito diferente. Sobrevi-vendo da pequena pro-priedade rural e comuma família numerosa, oestudante chegou a pen-sar em desistir:

— Teve semestre aíque os colegas me ban-caram, no tempo quenão tinha o auxílio ali-mentação. Eu pensei em desistir mesmo, e olha,“andei ali”. As dificuldades pareciam aumentar,o conteúdo do curso ia dificultando e as dificul-dades financeiras aumentando. Já pensei emdesistir sim, e graças a Deus, aos meus colegase a minha família que não me deixaram fazerisso, se não eu tinha ido embora.

Mais segurança teve Charles, apesar de difi-culdades econômicas e incompreensão de algu-mas pessoas:

— Nunca pensei em desistir, apesar das di-ficuldades financeiras, a vontade de seguir emfrente e alcançar os meus objetivos é mais for-te que os percalços do caminho.

Hoje, os dois acadêmicos se mantêm combolsas de estudo do CNPq.

— Se não fossem elas, não estaria aqui. Comcerteza. Até porque não tenho mais tempo, oshorários para o trabalho não batem com os deestudos. Provavelmente, se eu começar a tra-balhar, vou ter um déficit nos estudos, no ren-dimento na faculdade – diz Charles.

— Graças à minhabolsa, tô me mantendo.Sem ela, não estaria fa-zendo faculdade. Elatraz, além das vanta-gens financeiras, o co-nhecimento - afirmaMairo.

Com quase 3 anosfora de casa, o mundode cada um já é bem di-ferente. Hoje, eles mo-ram sozinhos.

— Hoje me sinto umapessoa não totalmenterealizada, mas estou se-

guindo o caminho, na busca do que eu queria eainda quero - argumenta Charles - na parte ma-terial, hoje eu tenho um armário e uma cama (ri-sos). É engraçado, mas sei que estou correndoatrás, ainda muito longe de alcançar aquilo queeu quero. Um pequeno caminho acho que e játrilhei. Acredito que estou no caminho certo.

sozinho!é qualquer uma, tem que ser federal .na barriga... Manhê! Vou morar sozinho!

Charles Rodrigo Belmonte Mafra , 20 anos, estudante do sexto semestre de engenharia florestal, é natural de Pirapó, RS

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Hojeme

sinto uma pessoa nãotota lmente rea l izada,mas estou segu indo ocaminho, na busca doque eu queria e a inda

quero.Charles Mafra

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E numa folha qualquer eudesenho um sol amarelo...Crianças aprendem técnicas de pintura em tela

Gustavo Menegusso e Roscéli [email protected] i .ko@gmai l .com

E xistem várias maneiras de adquirir oconhecimento. Em casa, na escola, notrabalho e até mesmo num bar lendoum jornal aprendemos muitas coisas

sobre educação, ciência, política, economia,entre tantos outros assuntos. No entanto, éno espaço escolar que o ser humano encontrao suporte para aprimorar as suas habil idadesde saber ler, escrever, se expressar, desenhar,pintar. Enfim, de se relacionar com as pessoase o mundo ao seu redor. Com o propósito dedesenvolver essas habil idades por meio daarte, o Colégio Nossa Senhora Auxil iadora, deFrederico Westphalen, há 20 anos oferece aosseus alunos um projeto de pintura em tela.

Mais que oferecer um espaço para a arte,que muitas vezes é esquecida ou banal izadapela nossa sociedade capital ista, o projeto“Pintura em Tela” é um complemento para aformação integral do aluno.

- A função social da escola é educar a partirda real idade para que o aluno possa se inserirno meio em que vive. A arte, assim como acultura e a dança fazem parte dessa formação- declara a coordenadora pedagógica da escolaI loni Marangon Dourado.

Todas às quintas-feiras à tarde, 4adolescentes, de 11 anos de idade cada uma,

se reúnem na escola Auxil iadora com umobjetivo em comum: aprender a pintar, masnão uma pintura de desenho que a professorada primeirinha dá para os seus aluninhos,estamos falando de pintura de gente grande,ou seja, obras de arte. Num ambiente todocolorido como um arco-íris, decorado de anjose flores, com prateleiras enormes e cheias de

l ivros, tintas, pincéis, quadros e tudo o queuma sala de pintura tiver direito, essasmeninas dão asas a imaginação e se esforçampara fazer o melhor trabalho possível.

Sob o olhar atento da professora de ArtesPlásticas Fi lomena Sroczynski, a Irmã Filó, asaulas são intercaladas entre a teoria e aprática. Primeiro é preciso saber como pintarpara depois sim abusar do pincel.

- No começo é um pouco difíci l , pois a arteexige tempo e dedicação. Toda arte tem umabase assim como um edifício, a matemática esó se aprende, praticando - coloca aprofessora.

Um pingo de tinta aqui, uma pincelada lá.Na hora do batente não dá pra se distrair.Concentradas em suas pinturas, as alunas nemolham para os lados. Parece que a arte as fazviajar pelo mundo da imaginação e faz mesmo,as suas obras são reveladoras disso. Aospoucos, o que era apenas um quadro brancodá lugar a uma paisagem deslumbrante de umanatureza belíssima cujo apreço foi esquecidopelo homem, ou, a um mundo abstrato,existente somente no pensamento férti l decada criança.

A estudante Amanda Bertoletti , de 11anos, participa do projeto há dois anos e adorafazer pinturas abstratas. Para ela a arte écomo um hobby: “Não vou ser pintora, masgosto de pintar para relaxar, me divertir”.

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Alegria depois do trabalho pronto

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Artistas e obrasIntegrantes do projeto mostram suas telas

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Poliana Tais Silveira11 anosAmanda Bertoletti

11 anos Eduarda OlenchakCastelli

11 anosFernanda de Marco11 anos

A arte exerce em nós umfascínio que não sabemos

explicar, a não ser pelaforma, cor e coração.

Fi lomena Sroczynski

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O que é o Pintura em Tela?É um projeto de Artes da Escola Nossa Senhora

Auxil iadora que oferece oficinas de pintura em tela.

Onde ele acontece?As oficinas são real izadas na Sala de Artes do Colégio.

Quando?Todas as quintas-feiras das 14hs30min às 16hs30min.

Quem pode participar?Estudantes do Ensino Fundamental e Médio que estão

matriculados na escola e também alunos de outros colégiosque estiverem interessados.

Qual o valor?Cada participante contribui com uma taxa de R$5,00

por semana para ajudar na manutenção dos materiaisescolares.

Concentração para cuidar dos detalhes

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28 Julho de 2009

Cidadão de três pátriasItál ia, Brasi l e Argentina: a trajetória de Roberto Fortini , um eterno guerri lheiro

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LOPES

SOBRE

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ELIAN

A DESOUZ

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29Julho de 2009

Nilson Luiz Rosa Lopesni [email protected]

R oberto Fortini era apenas uma criançaquando veio com os pais, em 1949, pa-ra o Brasi l . Mas lembra claramente, ain-da que com o filtro dos treze anos, os

horrores que a pacata comuna de Sarcedo, noremoto interior da região de Vêneto, na Itál ia,enfrentou com a destruição provocada pela se-gunda guerra mundial . Mais do que isso, guar-da com precioso cuidado os efeitos negativosdo fascismo e do nazismo na vida, na culturae, principalmente, na alma do povo. Vem daí asua inabalável fé na democracia e nos princí-pios social istas da esquerda. Por isso, era ape-nas natural a sua adesão aos movimentos so-ciais que combateram a ditadura durante osanos de chumbo, que começaram no Brasi l em1964.

Com o advento do AI-5, em 1968, aindaem Passo Fundo, Rio Grande do Sul, aderiu àVanguarda Popular Revolucionária (VPR) , gru-po guerri lheiro de extrema esquerda l ideradopor Carlos Lamarca, e caiu na clandestinida-de. E aí, passou a enfrentar os sacrifícios exi-gidos para pavimentar a busca do sonho.Não havia outro jeito. A eterna busca por umfuturo melhor, afinal , teria mesmo que pas-sar pela luta armada. Ele nunca vaci lou. Nemquando teve que esconder da companheirarecém seduzida na pequena cidade de Coro-nel Bicaco, no noroeste gaúcho, a verdadeiraoperação por trás da aparentemente inocen-te loja de pescados na vizinha Três Passos.Com a desculpa de abastecer a cl ientela, elespassavam os dias em atividades de treina-mento mil itar junto aosrios e reservas da re-gião. Nadia, a bela e in-gênua companheira, se-mi-alfabetizada, entãocom tenros dezesseteanos, nem queria imagi-nar o que mais poderiahaver por trás daquelamágica real idade.

De origem humilde,ela havia passado poruma infância extrema-mente difíci l . E agora,repentinamente, sua vida parecia ter tomadoum rumo de conto de fadas. Afinal , um ital ia-no alto, olhos azuis, dinâmico e sedutor, lheoferecia uma ampla casa mobil iada, se mos-trava apaixonado e ainda lhe oferecia umaprofissão: afinal , era ela quem tinha que to-mar conta da empresa de pescados. E a lojaia bem: entre a crescente cl ientela fulgura-vam algumas estrelas do firmamento mil itardo quartel local . Para estes, sempre havia al-guns exemplares de brinde, seguindo a carti-lha habitual do comercio que paparicava as

onipotentes autoridades mil itares da época.E assim a vida seguia para o recém forma-

do casal: enquanto Nadia se esforçava paraencantar a distinta cl ientela frente ao balcãoda loja, Roberto se esfalfava nas florestas erios da região, sempre em contato com os com-panheiros e seguindo uma rígida agenda queos preparava e orientava sobre a iminente re-volução que certamente adviria. Tudo ia bematé que, um dia, a casa caiu. Primeiro na ca-beça da Nadia, é claro. Numa modorrenta tar-de de sol claro, sem nuvens, no verão de 1970,Nadia se surpreendeu com a inesperada che-gada de um comboio de viaturas mil itares, l i-derada por um de seus maiores cl ientes, dabrigada mil itar local .

E assim então, semqualquer tipo de avisoprévio, ela mergulhounum universo que jamaisimaginara existir. Comose tivesse caído na tocade Alice, ela se viu imer-sa numa real idade queparecia não fazer senti-do. Confinada no quartellocal da Brigada Mil itar,ela foi, lentamente e, éclaro, sem suti lezas, vi-olentamente informada

das verdadeiras atividades do companheiro. Aessas alturas, Roberto já estava também des-frutando da indesejável hospital idade dos bri-gadianos. Nadia lembra, ainda hoje com arre-pios, o inferno de gritos, urros e terrorabsoluto em que submergiu naquela noite.

A partir de então, o casal se separou. Masapenas fisicamente. Roberto foi levado à llha doPresídio em Porto Alegre. Assim que soube deseu paradeiro, Nadia “largou tudo e foi atrás”.Em boa hora. Roberto já partia para outras pa-ragens. Integrante do grupo de 70 guerrilhei-

ros negociado pelo embaixador suíço seqües-trado em setembro de 1970, ele seguiu paraSantiago do Chile. Ela, já util izando o codinomeSonia, alguns meses depois, seguiu para Roma,Itália, onde acabaram se encontrando.

Depois, disso, se sucederam, para o casal,estadias em Paris, Argel, Roma, Buenos Aires,e inúmeras outras grandes e pequenas cida-des mundo afora. E é exatamente aí que aflo-ra o grande ensinamento do velho guerri lhei-ro. Morando há mais de trinta anos em 38belíssimos hectares, no interior da pequenaAristobolo Del Val le, na província de Misiones,Argentina, o casal demonstra ter aprendido al ição que não se cansa de repetir: o melhor davida está em viver com a medida exata da suanecessidade. Nem mais, nem menos. Apenas osuficiente. A casa simples, sem luxos, i lustrao conselho. Os olhos claros de Roberto fulgu-ram com vigor quando é convidado a deixaruma mensagem às novas gerações. O tom devoz se altera e o carregado sotaque cosmopo-l ita passeia incerto em uma mistura harmoni-osa de português, ital iano e espanhol.

O entusiasmo do eterno guerri lheiro estáde volta. Segundo ele, a luta não acabou. Ho-je, apenas mudaram as armas, mas os objeti-vos permanecem: viver com liberdade, comqual idade e, principalmente, tendo consciên-cia de nosso papel no mundo. Sem consumis-mo. Sem exageros. A vida integrada ao meio.Como prova, ele apresenta um fato: do espa-ço disponível na propriedade em que mora,apenas cinco por cento é ocupado para a pro-dução. O resto é pura mata nativa. O verde semultipl ica em tonal idades infinitas e nele seencontra a mais profunda das muitas l içõesvividas, apreendidas e cuidadosamente re-transmitidas por Roberto: a natureza nos en-sina que só se pode viver em equilíbrio. Semganância, sem abusos e, principalmente, semos excessos do capital ismo desenfreado.

A natu-reza nos

ensina que só se podeviver em equ i l íbrio. Semganância , sem abusos e

sem excessos.Roberto Fortini

Roberto & Nadia na hora do mate. Uma história de amor e lealdade marcada pela guerrilha

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30 Julho de 2009

Caminhe pela cultura punk da Osvaldo Aranha, na Porto Alegre dos anos 80

Priscila Devens e Morgana Fischerpridevens@gmai l .commorgana.fischer@hotmai l .com

E nquanto meus coturnos fazem baru-lho nas calçadas da Avenida OsvaldoAranha, no bairro portoalegrense doBom Fim, vou caminhando e perce-

bendo detalhes dos anos 80, conhecidoscomo a década perdida devido às criseseconômicas vividas na decadência da dita-dura. Estou na esquina de uma rua cercadapor bares de diversos públicos e me encon-tro também no início da década de 80, pe-ríodo marcado pelo fim da repressão e prin-cípio de vários movimentos de rebeldia,entre eles a cultura punk.

Meu cabelo moicano, roupa rasgada re-pleta de correntes e joaninhas, para muitosrepresentam meu lado mau. Mas a diferen-ça é que não somos maus, apenas quere-mos que os outros nos vejam como maus.Algumas quadras adiante, encontro adoles-centes na frente do bar Ocidente bebendoleite com suco de l imão. O objetivo é pro-vocar o vômito. Outra coisa que adoramosfazer é queimar jornais e ficar olhando ofogo crepitar em uma mancha cuspida devermelho vivo. Assim vive um punk.

Este nosso esti lo de vida nasceu de trêsvertentes, vindas de três países diferentes.Surgiu por meados de 1975 como uma ma-nifestação cultural juvenil . Nos EUA, o punké caracterizado pelo nii l ismo, sem envolvi-mento ideológico e partidário, com muitosaspectos da própria cultura americana. NaAlemanha, o punk é de extrema direita e,na Inglaterra, marcado pelo anarquismo es-querdista. Mas existem todos os tipos depunks misturados em todos os lugares.

Ao longe, ouço um som de poucos acor-des, rasgando as esquinas, que vem da RuaTomaz Flores. Esse som vem diretamenteda “fortaleza” dos Replicantes, ou simples-mente “bunker”, como José Antônio Meira da Rocha prefere chamar.Meira, que diz ter um esti lo diferente dos demais punks, usando rou-pas do tipo mil itar, no futuro será professor do curso de Jornal ismodo Cesnors, e vive e convive com essa cultura punk. “Minha irmã co-meçou a andar com uns punks e eu comecei também”, disse. Bunkeré o prédio onde Os Replicantes, conhecida banda punk de Porto Ale-gre, ensaiam, moram e tem a produtora de vídeo Vortex. Misturadoao som dos Replicantes, ouço também um som Krishna, que vem em-balando meus pensamentos, me levando pra longe daqui.

Ao lado do bunker existe um templo de Hare Krishna e pelas ruas

essas duas melodias vão valsando aos ouvidos dos mais atentos.Segundo Meira, Os Replicantes injetaram um pouco de profissiona-

l ismo no pessoal dessa época. Pois o comum do punk rock são pesso-as que não sabem tocar nenhum instrumento, mas os compram mes-mo assim, formando a banda. Meira conta uma história, segundo eleantológica, de quando Eron Heinz comprou seu baixo, ele nem sabiaque tinha quatro cordas. Meira conhece muito de perto toda essa ga-lera. A irmã dele chegou a namorar o Cláudio Heinz, guitarra. “O Eron,baixo, foi o primeiro que me ensinou informática; a primeira vez quecomprei um computador tive l ições com ele”, falará muitos anos depois.

Volante de um histórico show no Bom Fim, reduto punk na Porto Alegre dos anos 1980

ARTE

DEAN

APA

ULA

MEIRA

DARO

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31Julho de 2009

Alguns passos, e me esbarro em outro punk. Fones de ouvidos, novelho walkman toca um De Fal la. Lembro-me da capa do LP deles pro-duzida por Meira. “Uma capa tridimensional. Até hoje tem gente ves-ga tentando enxergar a capa em 3 dimensões” (risos) , relembrou.

Enquanto pessoas jogam-se das janelas do Ocidente por diversão,decido seguir meu caminho e chego à metade dos anos 80, mais pre-cisamente em 1985. Fico sabendo de um festival de rock que irá acon-tecer no Colégio La Sal le Santo Antônio. Rock Tonho é o nome. O orga-nizador do evento: Luciano Miranda, 15 anos. Garoto muito envolvidona cultura punk, relacionado mais com o lado político e ideológico domovimento. “O rock é só um resultado da cultura, talvez um dos re-sultados mais secundários, porque existe um aspecto muito maior”,comentou Miranda. Luciano Miranda será professor de Jornal ismo doCesnors e nos anos 80 uti l izava os meios de comunicação para exporas suas opiniões a respeito do sistema.

Em uma esquina da Osvaldo Aranha, avisto páginas de um jornalque o vento acertou em cheio num vôo rasante. “O Sombra” é o nome.Jornal produzido por Miranda como forma de manifestar a negação aossistemas tradicionais de representação. Enquanto o Brasi l vive um pe-ríodo de redemocratização, para a juventude da época o sistema nãorepresentava alternativa alguma para uma transição democrática. Issocaracterizou o punk da metade dos anos 80, jovens politizados e anar-quistas.

Ao longe, ouço um som estranho, vários pares de sa-patos fazendo tambori lar o chão em uma marchacompassada. Com um susto avisto duas massas depessoas, uma em direção à outra. De um ladopunks anarquistas, de outro, metaleiros de di-reita. A batalha campal estava começando. So-cos, facas, gritos. “Quando aconteciam essasbatalhas, existia sim a simples aversão degrupo, mas tinha a coisa ideológica também”,lembrou Miranda.

Miranda gosta muito da música punk rock,mas da boa música, como fala ele. “O que meseduz nas músicas é a ati-tude política, anarquista,que se percebe nas letras”,comentou. Mas a moda, overniz do punk, segundoMiranda são característi-cas de fachada. Ele contaa história da mulher deMalcom McLaren, produtorda banda precursora dopunk rock no mundo,Sex Pistols, que aoperce-ber

uma grande forma de ganhar dinheiro com a cultura eloqüente que sur-gia, criou a fashion punk. Um visual punk a ser explorado. “Tem quever o que é genuinamente punk e o que é criado”, criticou.

Os bares vão fechando, eu sigo andando mais uns passos e os anos80 estão acabando. As gerações vão crescendo, os anos 90 batendo aporta, novas bandas surgindo, como a The Mullets, com Luis FernandoRabel lo Borges na guitarra base. Luís veio de Canoas para estudar, etambém passou a freqüentar a Osvaldo Aranha. Ele também seguiráum rumo no futuro: será professor de Jornal ismo do Cesnors.

A rua em que caminho já não é mais a mesma. Os bares onde ospunks se encontravam, na maioria, não existem mais. Não se lê maisO Sombra e nem se vê punk bebendo leite com limão. Mas às vezes, sefecho meus olhos bem apertados, consigo ouvir Wander Wildner ento-ando “Sábado todo, eu chorei de mágoa; Minha garota foi pra Manágua“.

Na Osvaldo Aranha de Luis, ainda existem shows de bandas punks.“Bandas amadoras, que não chegaram a lançar disco. Banda de gara-gem, mais pra fazer barulho no fim de semana”, lembrou.

Luis partiu para a área acadêmica, porque segundo ele, a vida iacomplicada, pelas arruaças e brigas. “Comecei a estudar para me dis-trair dessa anarquia, me civi l izar”, falou.

A palavra l iberdade na época não era faci lmente entendida pelospunks. Se vivia uma rebeldia adolescente. A cultura punk fez sucessoporque veio ao encontro do jovem reprimido, que se vestia de preto.

“Hoje em dia o cara deprimido vira ‘emo’”(risos) , comen-tou Meira.

Atualmente a rebeldia já não é tão comum. Ho-je os jovens, quando querem se mobil izar usama Internet, um canal de comunicação mais bara-to e de maior repercussão. “Agora, se pode usaras ferramentas do sistema para fazer o seupróprio sistema”, argumentou Meira. Mas olhopara trás e vejo que a Osvaldo Aranha conti-nua lá, porém não com a mesma essência. Éapenas mais uma rua comum. Mas o punk, es-se sim, continua vivo nas lembranças de três

professores de Jornal ismodo Cesnors, que passarampor “Osvaldo Aranhas” di-ferentes, mas que viveramo movimento punk com amesma intensidade.

Meira, autor da capa doprimeiro LP do DeFalla,mostra como ver a arte

em três dimensões

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32 Julho de 2009

Água tratada escorre pelo ralo40% da água tratada se perde antes de chegar ao consumidor

Roselaine Carattil a [email protected]

Atualmente, há uma grande preocupa-ção com o abastecimento de água pa-ra a população em geral. Em funçãodo crescimento demográfico signifi-

cativo e consequentemente de uma demandamaior de água potável, surge a preocupaçãocom as perdas do líquido, que geralmente acon-tecem nos sistemas de abastecimento por meiode vazamentos, nas estações de tratamento,nos reservatórios e redes de distribuição, emligações domici l iares, nas instalações hidráu-l icas dos imóveis. Essas perdas, juntamentecom a não-uti l ização de maneira racional, re-presentam um volume significativo de águaque é desperdiçada diariamente. Resultado:um enorme percentual de água tratada queacaba se perdendo, sem atingir o seu objeti-vo, que é o consumo humano.

Esta também é uma preocupação da COR-SAN, mais especificamente de uma de suasunidades, situada em Palmitinho - RS, e queabastece também os municípios de Taquaruçudo Sul, Vista Alegre e Pinheirinho do Vale. Opercentual de água tratada que é desperdiça-da todos os dias por vazamentos, infi ltraçõese até mesmo redes clandestinas, (desvios fei-tos na rede de água) é preocupante. Segundodados não oficiais, obtidos durante a reporta-gem por fontes que não querem ser identifi-cadas, cerca de 55% da água tratada estavase perdendo antes de chegar na casa dos con-sumidores. Esse número já chegou a atingir amarca de 60% em 2008.

Trabalhos recentemente real izados pela em-presa mostram que esse percentual foi redu-zido a uma margem de 40% de perda, o queé considerado relativamente normal.

O consumo diário dos quatro municípiosabastecidos pela CORSAN, que antes era de1.800.000 m3 de água, diminuiu para1.400.000 m3, depois de encontrados algunsdos vazamentos.

O comerciante Rodrigo Albarel lo, residenteno Bairro Santa Terezinha, município de Palmi-tinho, diz que várias vezes já entrou em con-tato com os serviços da empresa, por motivosde falta de água, devido a vazamentos ou ca-nos entupidos. Acredito que, em decorrênciada estiagem que a região enfrentou, ficou maisfáci l detectar os vazamentos. Quando eram en-contrados vestígios de água – umidade eoutros indícios de que poderia haver vazamen-

tos – os funcionários da CORSAN eram avisa-dos. Ele afirma também que, assim que acio-nada, a equipe iniciava os trabalhos a fim dedetectar o problema. Algumas vezes, não eraresolvido na hora, por falta de disponibi l iza-ção de máquinas pela prefeitura, diz o comer-ciante.

O operador de máquinas Lucenir Negrine,funcionário da prefeitura, relata que, às vezesem que os pedidos não são imediatamenteatendidos, é por falta de estrutura, maquiná-rios estragados ou real izando trabalhos em lo-cais distantes, tendo em vista que a prefeitu-ra local conta com somente duas máquinaspara real izar esses tipos de trabalhos.

A água que vem do Rio Guarita até a esta-ção de tratamento da CORSAN, na Linha Piaia,passa por um processo de l impeza e descon-

taminação através de produtos químicos, ten-do como base o sulfato de alumino, cloro e oflúor. Cerca de 40 coletas por mês são feitasnos municípios atendidos pela CORSAN, ondesão retiradas amostras de água na casa dosconsumidores e levados para o laboratório pa-ra fazer anal ise e verificar a qual idade daágua.

Para ajudar no controle do consumo e dis-tribu ição da água, foram instalados cerca deseis hidrômetros colocados em pontos estra-tégicos da cidade, onde todos os dias é fei-ta a leitura dos relógios, e se percentual deágua aumentar em uma quantia significante,de um dia para o outro, fica mais fáci l encon-trar os vazamentos, pois cada hidrômetrocorresponde a uma determinada l inha deabastecimento.

Rodrigo Albarello fala sobre a importância de economizar águaFO

TORO

SELA

INECA

RATT

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33Julho de 2009

Boa caminhadaFrederico Westphalen quer proporcionar um lugar de lazer e tranquil idade

Thais Garciathais_garcia@hotmai l .com

C alçadas desniveladas, ruas esburacadas,trânsito, falta de iluminação e seguran-ça são algumas das dificuldades quefrederiquenses encontram, hoje, na ho-

ra de praticar exercícios físicos ao ar l ivre. Lon-ge das academias, muitas pessoas procuramencontrar as melhores “rotas” para praticar asatividades. É uma legião de caminhantes que,nos fins das tardes, ganham as ruas da cida-de fazendo perigosos malabarismos entre oscarros, as pessoas, os postes e as calçadasesburacadas.

Carlos e Cleuza Trombeta saem todos os di-as com sua cadel inha Keiti para se exercita-rem. Eles caminham durante uma hora ou mais,escolhendo percursos mais planos para a ca-del inha. “É ruim por causa das calçadas, e tam-bém as árvores baixas e mal podadas” expli-ca Carlos.

Porém, parece que até o final deste ano es-ta situação já terá outra “cara”. A prefeituramunicipal de Frederico Westphalen estaria im-plantando, na Avenida Maurício Cardoso, umlocal específico para exercícios físicos. A ave-nida, que cruza por quase toda a cidade, ga-nharia um trecho estruturado para proporcio-nar a prática da caminhada e corrida para aspessoas que buscam uma vida mais saudávele um corpo em forma.

“Adorei essa idéia!”, diz Cleuza. “É bom por-que seria menos perigoso, e as calçadas seri-

am mais planas. O quanto antes isso sair, me-lhor! A cidade está precisando”. Carlos aindaacrescenta: “Daria mais segurança e tranqüi-l idade pra gente andar, e estimularia as pes-soas a fazerem exercícios”.

O “caminhódromo” ganharia uma extensãode mais de dois mil metros. Ele iniciaria no cru-zamento entre as ruas Maurício Cardoso e 15de Novembro, seguindo até a BR 386.

Segundo o Vice-Prefeito Luiz Carlos de Oli-veira, a Maurício Cardoso já precisava de obrasde pavimentação asfáltica para faci l itar a en-trada dos veículos na cidade, diminuindo o trá-fego pela entrada principal . Aproveitando es-sas obras, foi ideal izado algo maior, como o“caminhódromo”. “Frederico não é mais cidade

pequena, temos que pensar grande, como Fre-derico merece”, argumenta o Vice-Prefeito.

Ni lva Albarelo caminha durante uma hora,diariamente. Acredita que atividade física éprimordial à saúde, mas reclama dos buracose desníveis das calçadas e ruas. Diz que sem-pre procura os melhores lugares para a suacaminhada e gostaria de um local com mais in-fra-estrutura e segurança para andar tranqui-la.

O mesmo problema enfrenta o casal Dirceue Maria Liduina de Medeiros. Eles saem todosos dias de sua casa, em frente ao supermer-cado Barri l , e seguem o trajeto para a univer-sidade da URI descendo para a Avenida Mau-rício Cardoso e voltando pelo Centro até suacasa. “As calçadas estão em péssimas condi-ções, e cheias de buracos e sujeiras” reclamao casal. “Com o ‘caminhódromo’ melhoraria aqual idade de vida do pessoal e seria um localcom mais segurança e lazer, a idéia é ótima”.

As pessoas como Carlos, Cleuza, Ni lva, Dir-ceu e Maria Liduina, que praticavam exercíci-os físicos pelos “sobe e desce” das ruas dacidade, agora contarão com boas condiçõespara essas práticas. A avenida terá boa ilumi-nação, academias ao ar l ivre e pavimentaçãoestruturada para garantir a boa circulação dospedestres. “Pretende-se um local bonito eagradável para as pessoas transitarem. Nãose tem onde caminhar em Frederico e será umponto de lazer para a população”, acrescentao Vice-Prefeito.

Carlos e Cleuza Trombeta saem todos os diascom sua cadelinha Keiti para se exercitarem

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Máquinas trabalhando nas obras da Mauricio Cardoso

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34 Julho de 2009

A sombra da Hora do PlanetaO movimento que vem tomando força pela terceira vez fez o mundo protestardurante 60 minutos contra a degradação ambiental .

Duane Löbleinduaneloblein@hotmai l .com

O Brasil participou do movimento pelaprimeira vez em 2009 e festejou a es-curidão à moda brasi leira. Em Brasíl ia,as luzes do Palácio do Planalto e da

Esplanada dos Ministérios foram desl igadas aosom de uma orquestra. Em Manaus, aconteceuuma apresentação do Boi Bumbá e até o Cris-to Redentor deixou de iluminar o Rio de Janei-ro para conscientizar a população dos proble-mas ambientais. Foi assim, do jeitinhobrasi leiro, que 113 cidades, além 1500 orga-nizações e empresas dos quatro cantos do paísfizeram da escuridão um espetáculo.

O Movimento Hora do Planeta aconteceupela primeira vez em 2007, em Sidney, pormeio de uma iniciativa da World Wild l ifeFound (WWF) - Áustrál ia. No ano seguinte,371 cidades de 35 países aderiram ao movi-mento e apagaram seus interruptores poruma hora, total izando mais de 50 mi lhões depessoas às escuras pela natureza. A EarthHour superou as expectativas e, no dia 28de março, cidades de 88 países uniram-sepela causa e desl igaram suas luzes por 60minutos. Para a organização responsável pe-la real iazação do evento, a WWF, apagar asluzes é uma maneira simból ica e emblemáti-ca de manifestar a preocupação com o aque-cimento do planeta.

Desl igar as lâmpadas pode parecer simplesdemais, mas é o início de uma mobil ização pa-ra preservar o que ainda resta da nossa bio-diversidade. Segundo a organização do movi-mento, no Brasi l o ato de apagar as luzes nãotem relação com economia de energia, que temcomo principal fonte a produção provenientede usinas hidrelétricas, diferentemente de ou-tros países participantes da Hora do Planeta,que produzem energia elétrica a partir de com-bustíveis fósseis como carvão, gás e diesel.Aqui, a intenção é demonstrar o quanto a po-pulação valoriza nossas florestas em pé, a suapreservação e uso sustentável e o combate aoaquecimento global.

Em todo o mundo as manifestações foram‘visíveis’. Cada país apagou alguns de seus prin-cipais monumentos num apelo a suas l ideran-ças para que proponham ações decisivas deenfrentamento às mudanças cl imáticas no âm-bito mundial .

Em Tenente Portela, o estudante Mauricio

Castro fez a sua parte e desl igou as luzes dasua residência por uma hora. E sentiu a dife-rença de uma vida às escuras: “foi como seestivesse sem luz na minha casa, fiquei meio

perdido como sempre, quando termina a luz.”O ato simbólico obteve sucesso e mais uma

vez superou as expectativas - a WWF espera-va que cerca de 1000 cidades aderissem à Ho-ra do Planeta. Mas o verdadeiro resultado dogrito de alerta não são números e sim pensa-mentos, reflexões.

A Hora do Planeta se propaga e a popula-ção começa a repensar suas atitudes. “Me fezrefletir sobre os problemas que temos supor-tado nestes últimos anos, como o aquecimen-to global, seus reflexos na minha região, co-mo a seca, ou ainda as enchentes trágicasocorridas em outros lugares, e a responsabi-l idade do ser humano como um todo,” diz An-dré Damo, morador de Frederico Westphalenque aderiu ao Movimento. Para ele, A Hora doPlaneta é importante porque mostra que o de-ver de cuidar do nosso planeta é um dever detodos, e não apenas de alguns.

E você, já pensou em apagar suas luzes eacender velas pelas matas e rios devastados?

DicasTome banhos rápidos - um banhode ducha de 15 minutos gasta

135 litros de água.Ao lavar a louça, primeiro l impeos restos de comida. Só aí abra

a torneira para molhá-los.Economize, porque, para beber

um copo de água, são necessáriospelo menos outros dois coposde água potável para lavá-lo.Adote a boa e velha vassoura

para l impar a calçadae o pátio da sua casa.

Apagar a luz durante uma hora pode ser insignificante em uma casa, mas não para o mundo

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35Julho de 2009

Deyse Calegarideyse.jornal ismo@gmai l .com

N as sociedades do mundo global izado,as rotinas produtivas se desenvolvemcom muita rapidez, exigindo de seustrabalhadores velocidade, qual ificação

e visão empreendedora, o que gera uma pres-são para real izar muitas coisas aos mesmotempo. Ufa!

O cotidiano das pessoas fica sobrecarrega-do com muitos afazeres, o que leva muitaspessoas a sofrerem de estresse e depressão.Hoje, o caos não é problema só das grandescidades. Cidades pequenas também são afeta-das com o trânsito caótico, barulho excessi-vo, trabalho exaustivo, pouco tempo para dor-mir e comer. O caos. Assim, as pessoas perdemem qualidade de vida e, eventualmente, ficamdoentes com maior frequência.

Para muitas pessoas que não podem au-sentar-se do meio urbano, a opção para re-laxar é procurar atividades diferenciadas, co-mo praticar yoga. Para Catia Giacomini ,coordenadora administrativa, a yoga foi a es-colhida. “Pratico yoga a um ano, noto dife-rença de concentração e no meu corpo, sin-to falta quando não venho as aulas, e perceboque fico mais estressada durante a semana.Principalmente venci meus l imites, e percebi

que o que você quer, você consegue”, afirmaGiacomini .

A yoga é uma filosofia de vida, que buscaequil ibrar o corpo e a mente. É através da me-ditação, exercícios respiratórios e movimen-tos corporais que as energias são l iberadas.Segundo Janete Marcon, instrutora de yoga,“a yoga trabalha a consciência, é a busca doautoconhecimento, e quando você conhece os

métodos começa a desl igar-se do mundo ex-terno”. Assim “você central iza-se, e a energiaflui”, conclui Marcon.

Além dos benefícios de relaxamento e con-centração, a yoga ajuda a manter o corpo to-nificado. É um método muito procurado pelaspessoas que não gostam de passar horas naacademia, de forma leve você pode exercitaro corpo e a mente.

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Yoga: uma filosofia de vida para equilibrar corpo e mente

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Saia do turbilhão do cotidiano através de exercícios meditativos

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36 Julho de 2009

Proteja seus olhosEles são fundamentais para enchergar o seu futuro

Eledinéa Luza e Franciele Vitaliled i luza@hotmai l .comfrancielevital i@hotmai l .com

O s óculos de sol são acessórios de usocontínuo pela maioria das pessoas.Além de personal izar os looks, ajudamna proteção contra os raios

ultravioleta (UVA e UVB) que prejudicam asaúde dos olhos.

Segundo o oftalmologista Dr. MauriNiederauer, “os óculos de sol são essenciaispara a proteção dos olhos, mas precisam sercomprados em lugares adequados para ter atotal garantia da qual idade das lente”. Não éindicado usar óculos que não possuem fatorde proteção ultra violeta, pois acabamprejudicando ainda mais a íris do olho,completa o médico.

Óculos de sol fazem com que a pupila di latee entrem mais raios solares na íris. UVA e UVBsão raios nocivos ao cristal ino e a própriacórnea do olho. Por esse motivo toda vez quevocê usar óculos de sol tem que ter proteçãoUVA e UVB. Segundo Dr. Mauri, se você usaróculos sem essa proteção é pior do que estarsem. Hoje em dia, quase que 99% das lentesde grau, que são transparentes, tem proteção

UVA e UVB, a proteção não se dá pela cor daslentes e sim pelo tratamento. A tecnologiaestá tão avançada que até existem lentesfotocromáticas, que mudam adequadamentequando entram em contato com a luz, usadaspara diminuir a fotofobia.

O estudante Diego de Oliveira, 24 anos,considera que o uso de óculos de sol éessencial para o seu dia-dia: “já se tornou umhábito, não só pela estética, masprincipalmente pela proteção dos olhos contraos raios ultravioleta”.

A grande maioria da população compra emlojas não-especial izadas devido ao baixo preço,já que, geralmente, óculos de sol comqualidade custam caro.

El iu Pereto, autônomo, 26anos, diz quecostuma usar os óculos o dia todo e compratanto em camelôs quanto em ópticas, levandoem conta, além de modelos que o agradem, aqual idade que é essencial para ele. “É precisoter o fator de proteção UVB e UVA, pois o queé prejudicial dos óculos de camelô é quando alente é de plástico. Porém, é possível encontraróculos bons que não prejudicam a visão semserem em ópticas e com valores maisacessíveis.

O tamanho dos óculosinfluencia

Se você pegar um óculospequeno demais ele vai deixarpenetrar alguns raios, prejudicandoa sua visão. É importante que vocêtenha boa proteção, com umtamanho que se encaixe no seurosto.

Como identificar lentesde boa qualidade

Sempre comprar óculos emóticas de confiança. A marca UVA eUVB nas lentes, não é confiável,pois qualquer um pode escrever.

Existe um aparelho chamadofotóforo, que faz a medição daproteção de raios ultravioletas,geralmente uti l izados emconsultórios oftalmológicos.

Diego diz que óculos de sol são essenciais ao seu dia-a-dia

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ANGE

LOLO

RINI

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A arte quevem do lixo

Ida Pittontransforma

lixo emartesanato

Revista Laboratório do Curso de Jornal ismo do Cesnors/UFSM. Julho de 2009. Ano 1, No 1