megalitismo, vida e morte na fachada atlântica peninsular

584

Upload: others

Post on 14-Apr-2022

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular

Megalitismo Vida e Morte na Fachada Atlacircntica Peninsular

de Gibraltar aos Pireneacuteus

4 |

DE GIBRALTAR AOS PIRENEacuteUS Megalitismo Vida e Morte na Fachada Atlacircntica Peninsular

Editores CientiacuteficosJoatildeo Carlos de Senna-Martinez (UniarqFLUL)Mariana Diniz (UniarqFLUL)Antoacutenio Faustino de Carvalho (CEAACPU Algarve)

EdiccedilatildeoFundaccedilatildeo Lapa do Lobo

Design Graacutefico Maria Tavares de AlmeidaImpressatildeo graacutefica GrafinelasTiragem 120 exemplaresDepoacutesito Legal 44724218ISBN 978-989-98163-5-0Ano 2018

| 5

| 2018

iacutendice

Prefaacutecio11

Apresentaccedilatildeo15

Comissotildees19

Ana Cristina Martins21Megalitismo e discursos identitaacuterios textos contextos e pretextos

Pedro Sobral de Carvalho e Antoacutenio Faustino Carvalho37 Para uma recuperaccedilatildeo do megalitismo de Lafotildees O concelho de Vouzela (Distrito de Viseu) enquanto case-study

Joseacute Manuel Quintatilde Ventura51 Nuacutecleo Megaliacutetico dos Fiais-Azenha (Carregal dos Sal) um balanccedilo

Rita Peyroteo Stjerna Ana Cristina Arauacutejo e Mariana Diniz65The dead at Escoural Cave (Montemor-o-Novo Portugal) early farmerrsquos interactions in south-western Iberian Peninsula

Ramoacuten Faacutebregas Valcarce Carlos Rodriacuteguez-Rellaacuten Juliaacuten Bustelo Abuiacuten e Viacutector Barbeito Pose85Building up the land a new appraisal to the megalithic phenomenon in the Barbanza peninsula (Galicia NW Spain)

Juan Carlos Castro Carrera 99 Actuaciones de excavacioacuten y rehabilitacioacuten en los conjuntos de tuacutemulos funerarios de Chan de Castintildeeiras y Chan de Armada peniacutensula del Morrazo Galicia

Faacutebio Soares 123A invulgar localizaccedilatildeo de uma estrutura em negativo na Mamoa de Eireira (Afife Viana do Castelo)

6 |

Pablo Arias Cabal e Miriam Cubas 133Muerte y ritual en el Neoliacutetico del noroeste El megalitismo y otras manifestaciones del comportamiento funerario de las sociedades de los milenios V y IV aC en el cuadrante noroccidental de la peniacutensula ibeacuterica

Elsa Luiacutes e Telma Ribeiro155As comunidades neocalcoliacuteticas de Traacutes-os-Montes pensar a sua tradiccedilatildeo ceracircmica numa perspectiva de perenidade

Joatildeo Carlos Senna-Martinez167 A shrine in the Neolithic Orca da Lapa do Lobo Nelas (c5000-3000 BC)

Joatildeo Carlos Senna-Martinez e Margarida M Carvalho183 Ideotechnical representations in the Megalithism of Mondegoacutes Platform The stelae of Orca da Lapa do Lobo

Antoacutenio Faustino Carvalho 201Anta da Lapa da Meruje (Vouzela Viseu) resultados preliminares dos trabalhos em curso

Antoacutenio Faustino Carvalho Telmo Pereira Juan Francisco Gibaja217 Proveniecircncias e utilizaccedilatildeo do siacutelex no Megalitismo de Lafotildees (Viseu Portugal) Primeira abordagem a partir dos conjuntos dos doacutelmenes da Lapa da Meruje e de Antelas

Nelson J Almeida Luiz Oosterbeek Chris Scarre Cristiana Ferreira Joatildeo Belo e Luiacutes Costa233Dawn of the dead funerary behavior in the Middle Tagus Neolithic

Telmo Pereira Sandra Assis Patriacutecia Monteiro Eduardo Paixatildeo Sofia Baacuterbara David Nora Vacircnia Carvalho e Trenton Holliday247Abrigo da Buraca da Moira contributos para o conhecimento da ocupaccedilatildeo humana do Neoliacutetico finalCalcoliacutetico na regiatildeo de Leiria Portugal

Leonor Rocha Gertrudes Branco Antoacutenio Monteiro e Fernando Silva263 Estudo do espoacutelio arqueoloacutegico da Anta da Casa da Moura (Soure Portugal)

Joatildeo Carlos de Senna-Martinez277Parasitic frequentation or cultural continuity The re-use of megalithic monuments in the AncientMiddle Bronze Age of the Mondegorsquos Platform

| 7

| 2018

Mariana Dniz303The origins of Megalitism in Western Iberia resilient signs of a symbolic revolution

Ceacutesar Neves e Mariana Diniz321Agrave procura da Terra dos Vivos os lugares de povoamento das primeiras fases do Megalitismo funeraacuterio no Centro e Sul de Portugal

Leonor Rocha e Pedro Alvim 341O menir do Cabeccedilo da Areia (Brotas Mora)

Marco Antoacutenio Andrade Rui Mataloto e Andreacute Pereira353Territoacuterios de fronteira o Megalitismo nas abas da Serra drsquoOssa (Estremoz-Redondo Alto Alentejo Portugal)

Filipa Rodrigues393Muitas antas e muita gente As relaccedilotildees entre os recintos de fossos e os monumentos megaliacuteticos no Alentejo Central

Maria Joatildeo Neves e Ana Maria Silva411Uma anaacutelise arqueotanatoloacutegica em trecircs hipogeus os contributos dos siacutetios de Monte Canelas I (Portimatildeo) e do Monte do Carrascal 2 (Ferreira do Alentejo) para a compreensatildeo das praacuteticas funeraacuterias nos 4ordm e 3ordm mileacutenio aC no Sul de Portugal

Pedro Sobral de Carvalho e Lara Bacelar Alves431A Necroacutepole da Lobagueira Viseu expressotildees de arte e arquitetura do megalitismo da Beira Alta Centro de Portugal

Seacutergio Monteiro Rodrigues e Ceacutesar Oliveira453A Anta dos Currais do Galhordas (Castelo de Vide Alto Alentejo Portugal) anaacutelise quiacutemica de resiacuteduos orgacircnicos identificados em recipientes ceracircmicos

Yolanda Costela Muntildeoz Vicente Castantildeeda Ivaacuten Garciacutea e Fernando Prado 481La necroacutepolis de cuevas artificiales de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) Un ejemplo de la permanencia temporal de las construcciones megaliacuteticas

Mariacutea Lazarich Antonio Ramos-Gil Mercedes Versaci Mariacutea Narvaacuteez Cabeza de Vaca501La necroacutepolis megaliacutetica del Tajo de las Figuras (Benalup-Casas Viejas Caacutediz)

8 |

Joseacute Antonio Linares Catela519Megalitismos del aacuterea de Huelva Investigacioacuten y puesta en valor

Estefaniacutea Carrillo Vaacutezquez 539Bases para el estudio de los rituales de comensalidad en las sepulturas megaliacuteticas de la Peniacutensula Ibeacuterica

Antoacutenio Ramos Gil549iquestYarda megaliacutetica o vara megaliacutetica

Mariacutea Narvaacuteez Cabeza de Vaca Perintildean565Aportacioacuten al estudio de los cilindros decorados de la Prehistoria Reciente de la Peniacutensula Ibeacuterica Los hallazgos en megalitos

| 9

| 2018

10 |

| 11

| 2018

Prefaacutecio

A Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo eacute uma entidade privada sem fins lucrativos com objetivos culturais e educativos A aacuterea de abrangecircncia geograacutefica da sua atuaccedilatildeo eacute fundamentalmente os concelhos de Nelas e Carregal do Sal envolvendo-se pontualmente em alguns projetos de acircmbito mais alargadoNasce da vontade de uma famiacutelia com fortes ligaccedilotildees agrave aldeia da Lapa do Lobo que decidiu numa determinada fase da sua vida e com os seus proacuteprios recursos desenvolver um projeto local de serviccedilo agrave comunidade que pudesse ajudar a desenvolver o pensamento cultural das pessoasCriada em 2007 inicia a sua accedilatildeo na preservaccedilatildeo do patrimoacutenio arquitetoacutenico civil da aldeia e nos apoios a estudantes dos dois conce- lhos A reaccedilatildeo da comunidade e dos agentes locais aos projetos e ati- vidades que vai desenvolvendo progressivamente origina uma dinacircmica crescente que leva agrave inauguraccedilatildeo da sua sede em 9 de outubro de 2010 e passados 5 anos agrave ampliaccedilatildeo das suas instalaccedilotildees A 3 de abril de 2017 recebe a visita do Senhor Presidente da Repuacuteblica de Portugal que a definiu como ldquoum bom exemplo da forma como os cidadatildeos tambeacutem podem ter um papel importantiacutessimo no desenvolvimento do nosso paiacutesrdquo Cultura e educaccedilatildeo em sentido lacto satildeo sem duacutevida os grandes pilares da atuaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo A Biblioteca o Serviccedilo Educativo os Cursos e Ateliers de artes e ofiacutecios as Exposiccedilotildees e a Programaccedilatildeo Cultural variada (cinema teatro muacutesica debates conferecircncias etc) satildeo os instrumentos de trabalho que privilegiamos Como natildeo poderia deixar de ser a Fundaccedilatildeo tem vindo a acompanhar e a apoiar desde o primeiro momento em conjunto com a Cacircmara Municipal de Nelas Associaccedilatildeo Humanitaacuteria dos Bombeiros Voluntaacuterios de Canas de Senhorim e Juntas de Freguesia de Canas de Senhorim e de Lapa do Lobo as campanhas de escavaccedilotildees no siacutetio arqueoloacutegico da Orca da Lapa do Lobo (Concelho de Nelas Distrito de Viseu) Intervenccedilatildeo esta realizada no acircmbito do Projeto NeoMega dirigido pelo Prof Doutor Joatildeo Carlos de Senna-Martinez (Uniarq) tambeacutem director da escavaccedilatildeo com colaboraccedilatildeo da Mestre Telma Ribeiro e da Drordf Margarida Carvalho

12 |

e com a participaccedilatildeo de alunos de Mestrado em Arqueologia das Uni-versidades de Lisboa e Coimbra e da Licenciatura em Arqueologia das Universidades de Lisboa e EacutevoraA divulgaccedilatildeo dos resultados obtidos nas quatro campanhas jaacute efetuadas (2015-2018) no siacutetio da Orca da Lapa do Lobo agrave comunidade cientiacutefica na proacutepria aldeia da Lapa do Lobo cenaacuterio real dessa ldquoHistoacuteriardquo eacute um motivo de enorme orgulho para a Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo que abre as-sim as suas portas para a realizaccedilatildeo do Congresso ldquoDe Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo Vida e Morte na Fachada Atlacircntica Peninsularrdquo nestes dias 2 3 e 4 de Novembro de 2018Aquilo que somos hoje deve-se sempre em parte agravequilo que fomos on-tem Soacute conhecendo a fundo de onde vimos poderemos perceber o que somos e decidir para onde vamosA todos os que participam neste Congresso bem como a todos os que em conjunto connosco tornaram possiacutevel a sua realizaccedilatildeo na Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo um grande bem-haja

Maria do Carmo BatalhaVice-presidente da Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo

| 13

| 2018

14 |

| 15

| 2018

APRESENTACcedilAtildeO

O livro que agora se apresenta De Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo Vida e Morte na Fachada Atlacircntica Peninsular eacute o resultado de um Con-gresso que decorreu em Nelas e Carregal do Sal realizado em parceria com a Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo nos dias 2 3 e 4 de Novembro de 2018 Era objectivo nuclear deste Congresso discutir no espaccedilo da fachada atlacircn- tica da Peniacutensula Ibeacuterica de Gibraltar aos Pireneacuteus o Megalitismo como fenoacutemeno amplo do espaccedilo europeu que encontra neste territoacuterio da Beira Alta um dos seus nuacutecleos mais pujantes e com uma mais longa histoacuteria de investigaccedilatildeo Entender o Megalitismo significa para aleacutem da atenccedilatildeo ao regional e ao local cruzar territoacuterios analisar num tempo lon-go e num espaccedilo amplo as arquitecturas os rituais as paisagens onde se cruzam vivos e mortos e onde se materializam as cosmogonias das antigas sociedades agro-pastoris A reconstituiccedilatildeo de redes de circulaccedilatildeo de mateacuterias-primas e de artefactos mas tambeacutem de pessoas e de siacutem-bolos de curta mas tambeacutem de meacutedia e longa distacircncia eacute nos quadros da presente investigaccedilatildeo fundamental para explicar um fenoacutemeno que combina elementos de grande dispersatildeo com materialidades especiacuteficas de um Tempo e de um Espaccedilo Agrave chamada numa demonstraccedilatildeo clara das presentes dinacircmicas da in-vestigaccedilatildeo arqueoloacutegica responderam investigadores de toda a fachada atlacircntica da Peniacutensula Ibeacuterica da Universidade de Caacutediz agrave Universidade da Cantaacutebria passando pela Universidade de Huelva do Algarve de Eacutevo-ra de Lisboa de Coimbra do Porto do Minho e de Santiago de Compos-tela e Valladollid investigadores provenientes do sector empresarial da administraccedilatildeo puacuteblica e de museusOs capiacutetulos deste livro reflectem a diversidade de toacutepicos de debate e de metodologias de anaacutelise que hoje definem os trabalhos sobre Mega- litismo O estudo de monumentos especiacuteficos o Megalitismo de aacutereas re-gionais a Arqueotanatologia e as praacuteticas funeraacuterias o significados dos siacutembolos e a construccedilatildeo das paisagens significativas a historiografia as siacutenteses e os modelos explicativos e ainda aspectos de gestatildeo e valori-zaccedilatildeo do patrimoacutenio arqueoloacutegico satildeo algumas das temaacuteticas fundamen

16 |

tais desta obra discutidas naqueles dias de Novembro Esta apresentaccedilatildeo breve natildeo estaria concluiacuteda sem um agradecimento agraves Cacircmaras Municipais de Nelas e Carregal do Sal pelo apoio concedido a esta iniciativa e agrave Fundaccedilatildeo da Lapa do Lobo inexcediacutevel anfitriatilde destes trabalhos Um agradecimento particular eacute devido agrave Engordf Maria do Carmo Batalha cuja inesgotaacutevel energia foi fundamental ao longo de toda a or-ganizaccedilatildeo deste Congresso e das publicaccedilotildees que lhe estatildeo associadas e agrave Designer Maria Tavares de Almeida que as levou a bom termo

Joatildeo Carlos de Senna-MartinezMariana Diniz

Antoacutenio Faustino de Carvalho

| 17

| 2018

18 |

| 19

| 2018

ORGANIZACcedilAtildeO

Fundaccedilatildeo Lapa do LoboCentro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (Uniarq)Centro de Estudos de Arqueologia Arte e Ciecircncias do Patrimoacutenio da Universidade do Algarve

Comissatildeo de Honra

Presidente da Cacircmara Municipal de NelasPresidente da Cacircmara Municipal de Carregal do SalPresidente da Fundaccedilatildeo Lapa do LoboPresidente da Associaccedilatildeo Humanitaacuteria dos Bombeiros Voluntaacuterios de Canas de Senhorim

Comissatildeo Organizadoraexecutiva

Prof Doutor Joatildeo Carlos Senna-Martinez (UniarqFLUL)Profordf Doutora Mariana Diniz (UniarqFLUL)Prof Doutor Antoacutenio Faustino de Carvalho (CEAACPUAlg)Engordf Maria do Carmo Batalha (Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo)Soacutenia Simatildeo (Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo)Aires Manuel Antunes dos Santos (Cacircmara Municipal de Nelas)Dr Seacutergio Espiacuterito Santo (Cacircmara Municipal de Nelas)Dr Joseacute Sousa Baptista (Cacircmara Municipal de Carregal do Sal)

Comissatildeo Cientiacutefica

Prof Doutor Joatildeo Carlos Senna-Martinez (UniarqFLUL)Profordf Doutora Mariana Diniz (UniarqFLUL)Prof Doutor Antoacutenio Faustino de Carvalho (CEAACPUAlg)Prof Doutor Pablo Arias Cabal (U Cantaacutebria)Doutora Gertrudes Branco (DGPC-DRCC)Doutora Ana Cristina Martins (IHC-CEHFCI-UIE-FCSH-UNIUniarqFLUL)

20 |

| 21

| 2018

Megalithism and identity dialogues texts contexts and pretexts

Megalitismo e discursos identitaacuterios textos contextos e pretextos

laquoOs megaacutelitos satildeo sem duacutevida os mais comuns e ao mesmo tempoos mais impressionantes monumentos preacute-histoacutericos da Europaraquo

(Arnaud 1977)

ABSTRACTSince at least the medieval time that the megalithic structures have aroused curiosity and pretexted various theories around its construction and functio- nality With the beginning of the formative process of the lsquonation-statesrsquo they became particularly interesting in visually marking the territory and referring to a certain pre-Roman ancestry A preterit that was reinforced already in the 19th century in reaction to the Napoleonic political project that legitimized subsequent national and regional identity affirmationsPortugal was no exception not so much for the political assertion as for the need felt by the pioneers of archaeology in the country to fit into the lsquostate of the artrsquo of European research regarding prehistoric archaeology From then on this theme no longer went beyond its horizons but rather strengthened according to the prevalence of personal (rather than institutional) agendasWe will therefore proceed to a very brief analysis of some of the contexts that in Portugal have pretexted the production of texts on megalithic structures from the end of the 19th century to the 3rd Archaeological Conference of the Association of Portuguese Archaeologists (1977)KEY WORDS History of Archeology Megalithism Portugal

RESUMODesde pelo menos os tempos medievos que as estruturas megaliacuteticas susci-taram curiosidade e pretextaram diversas teorias em torno da sua construccedilatildeo e funcionalidade Com o iniacutecio do processo formativo dos Estados-naccedilatildeo elas tornaram-se particularmente interessantes ao marcarem visualmente o ter-

Ana Cristina Martins (FCT IHC-CEHFCI-UEacute-FCSH-NOVA Uniarq-UL)

22 |

ritoacuterio e remeterem para uma determinada ancestralidade preacute-romana Um preteacuterito que foi reforccedilado jaacute no seacuteculo 19 em reacccedilatildeo ao projecto poliacutetico napoleoacutenico que legitimou subsequentes afirmaccedilotildees identitaacuterias de acircmbito nacional e regionalPortugal natildeo foi excepccedilatildeo natildeo tanto pela asserccedilatildeo poliacutetica quanto pela necessidade sentida pelos pioneiros da arqueologia no paiacutes de se enquadrarem no lsquoestado da artersquo da investigaccedilatildeo europeia em mateacuteria de arqueologia preacute-histoacuterica De entatildeo em diante esta temaacutetica natildeo mais saiu dos seus horizontes antes fortalecendo de acordo com a prevalecircncia de agendas pessoais (mais do que institucionais)Procederemos por conseguinte a uma breviacutessima anaacutelise de alguns dos contextos que em Portugal pretextaram a produccedilatildeo de textos sobre o mega- litismo desde finais de Oitocentos ateacute agraves III Jornadas Arqueoloacutegicas da Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses (1977)PALAVRAS -CHAVEHistoacuteria da Arqueologia Megalitismo Portugal

1 GENERAL CONTEXTS AND PRETEXTSAs far as we know it was especially during medieval times that megaliths motivated several and contradictory feelings among European people The reasons were certainly various but their usual mega dimension was cer-tainly central together with the lack of knowledge regarding its meaning and purpose And the continuous questioning about their use signified that there were no written sources or even oral traditions which could help deciphering this kind of enigma And this meant that no one knew who their builders and users were simply because they belonged to very old times from which there was no intellectual clue And the absence of knowledge in first place and of clues in second opened a Pandorarsquos box to most fascinating theoriesUnsurprisingly common people dealt with their presence very easily and somehow comfortably They have stood there ever since in the middle of nowhere useful in rainy and stormy days in protecting shepherds during their transhumance paths Moreover they served as unofficial landmarks extremely important for several reasons one of them being the need of people to belong to a place a territory a geography to an identity however restricted it could be Additionally deprived of their original meaning some of them were totally or partially reused accordingly to circumstantial needsBut this was letrsquos say the practical side of the megaliths as there was anoth-er one the mystery they carried on in consequence of the ignorance about their origins But one thing was for sure they were built by giants or even clever dwarfs More than that they could simply be the result of some telluric

| 23

| 2018

phenomenon It could not be otherwise If not how were they built them especially dolmens And how to explain the fact that in most cases their raw material was carried from far regions Yes their builders should be giants giants that no longer existedIn the meanwhile the increasing presence and prevalence of Christianity in the country ended with some ndash then already seen as pagan - periodical festivities always linked to the agriculture cycles or ndash more wisely - incorpora- ted them into new religious practices Gradually some megaliths were trans-formed in chapels others in shelters of witches and therefore abandoned and untouched until the forests covered them totally and were forgotten for centu-ries But other megaliths continued to be used accordingly ancient practices far from the church control Mainly by women unmarried and unchilded wo- men who expected to be touched by the strength of an ancient mystery stron-gly embodied of magic a magic condemned by the Church with fire And this condemn began to frighten common people and to keep them away from those bizarre abnormal structures It was another way of controlling minds and social practicesBut this apparent fear fascination ndash two very close feelings - had a positive effect the megaliths were preserved in most of the cases and some of the unintelligible (for those times) artefacts discovered inside and or around them were included in the social prestigious and private lsquocabinet of curiosi-tiesrsquo At least until the 18th century when a new entourage political economic social and cultural justified the multiplication of academies libraries hortus zoological gardens laboratories collections etc together with the publication of monographs and scientific journal It was the ante camera of the Illuminated Era And it was precisely with the advent of this intellectual movement that some researchers began to link the Celts to the megaliths which lead to the recognition of a pre-Gaul period mostly known through the Julius Cesarrsquos descriptions which interpreted the megaliths as altars of human sacrifices An idea which survived all over a significant part of the 19th century But the most important thing here was that they began to be analysed as resulting from human action More than that they were assumed as endogenous structures built by the hands of the Gaulrsquos eager-ly accepted by academicians as direct ancestors of the French It was then time to search for their primeval roots as the origin ndash somehow ndash of the 19th century Liberalism Predictably Napoleon I financed the lsquoAcadeacutemie Celtiquersquo (lsquoCeltic Academyrsquo) (1804) and in 1858 it was founded the lsquoCommission de Topographie des Gaulesrsquo (Commission for the Topography of the Gaulsrsquo) which members studied the French geography history and archaeology previously to

24 |

the Carolingian EmpirePortugal also had its kind of ante-chamber of the Enlightenment when one of the officious Maecenas of catholic Rome King Joatildeo V (1689-1750) foun- ded the Royal Academy of History (RAH) (1720) followed one year later by the decree obliging everyone who found ancient artefacts during their agricultu- ral activities to notify the regional governors who in return should send them to Lisbon to be analysed studied and divulged by the academicians in confe- rences and papers published in the RAHrsquo annals And the interesting thing is that due to this decree there were identified more than 300 megalithic struc-tures in the country not knowing their prehistorical origin as it would be neces-sary to wait for more than a century to classify them as soUnfortunately the earthquake of 1755 which affected tremendously Lisbon and had serious impacts in other Portuguese and even Spanish locals and regions obliged politicians to left aside most of the previously established cul-ture issues There was simply no time and no room for them The priority was to bury the death bodies and to take care of the livings whilst the new prime minister Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo (1699-1782) future Marquis of Pombal mason projected a new capital based on the prevailing French ra-tionalistic principles rebuilding the historical centre with orthogonal streets situated between its two main squares one of which opened to the river-sea welcoming the outlanders Of course he was attentive to the heritage situation He simply could not ignore totally the decree 1721 (see above) but there were other priorities Even so he asked for instance Lisbon priests to list every his-torical building situated in each parish to have a better notion of the damages and to save them from future hazards An aim expanded by Queen Maria I (1734-1816) in creating the Royal Academy of Sciences (1779) to which were transferred some projects took on by the RAH shut down after the earthquakeBut what about megaliths during Neoclassicism following the rediscovery of such ancient cities as Pompeii Herculaneum and Stabia Who cared about megalithic structures when the elites the intellectuals of the western world were amazed and delighted with the very few news coming from the excava-tions financed nearby Naples by the future Spanish King Carlos III (1816-1888) before they could read about them in rare illustrated albums of big dimension or even in some examples of voyage literature and in the writings of Johann Joachim Winckelmannrsquos (1717-1768)Who could be really interested in this archaic architecture when the recen- tly available private collections of Carlos III brought together the splendour of roman times exhumed directly from some of its primary sources and what was more important unveiling the colourful of their everyday lifersquos What

| 25

| 2018

could be better than to collect artefacts from these and other classical pla- ces obtained through a growing illicit market of antiquities Antiquities which became a source of social prestige not so for nobles as for the bourgeoisie even if nobles including princes and kings made use of collections museums academies laboratories etc as an invigorating way of competing ideologically and politically with each other mainly in the context of the making of the lsquoNa-tion-statesrsquo which urged for a new iconography It was the beginning of neoclassical times which influenced greatly the western aesthetics the way of thinking and of living inspiring artists architects decorators writers and some manufactures and industries such as furniture ceramics jewellery and clothing Altogether it became the metaphorical vestibule of the 19th century revivals being the 18th century Neoclassicism the inspirational oneSo which context allowed reviving the interest towards other preterits beyond the classics which were also much appreciated in Portugal considering the works of priest Manuel do Cenaacuteculo (1724-1814) and the personal investment of Queen Maria I in the study of the roman ruins of Troacuteia (Setuacutebal Portugal)We argue that regardless of dominant neoclassical aesthetics and ornament grammar a tiny - but significant - number of intellectuals valued other antiquities as they symbolized the uniqueness of their regions and countries far beyond classical times especially the roman ones and more specifical-ly the ones that could testify its imperial period ie their dominance over local people In truth a long path had been already crossed in this direction if we remind the consequences of Reform and Counter-Reform in historical studies as it was the commencement of lsquonational antiquitiesrsquo in counterpoint to the lsquoclassicalrsquo ones So there was already a basis where to build new projects concerning megaliths Megaliths or other pre and post-roman structures as was the case for iron age hill-forts and elements from primeval Christianity But the world was bigger than that and the need to expand horizons of knowledge led 18th century naturalists and adventurers to other continents in search for the diversity of Godrsquos work and information relevant to the new western indus-tries and markets whilst Napoleon I (1769-1821) was organizing the first truly holistic Expedition to Egypt (1798) giving way to the lsquoEgyptomaniarsquo which would overwhelm every angles of western elites day lifeOf course there were always local elites curious about megalithic structures for all the mystery which surrounded them and because they represented the long ancestry of some places and regions Nonetheless one political episode established their systematic inventory and study and linked them to national feelings and needs I fact the lsquoContinental Blockadersquo (1789-1915) imposed

26 |

to Great-Britain by Napoleon I had some unpredictable consequences one of them being cultural and more specifically archaeological in its - yet - anti-quarian version Why With difficulties in accomplishing the Grand Tour during those years young nobles gentries and representatives from high bourgeoisie whose close male relatives were mostly members of such respected socie- ties as the Dilettanti (1734) and the Antiquaries of London (1751) were forced to travel around their own country in search for its natural and cultural distinctiveness Suddenly they discovered a territory full of different geogra-phies physical cultural and psychological which should be described be-fore being destroyed distorted or forgotten by the strength of the locomotive symbol of the accelerated industrial process started in the Highlands And these travellers found draw and wrote about many ancient buildings includ-ing hundreds of megaliths mostly of them dolmens A precious work since for different reasons some of these specimens do not exist anymore or were reused in a such way that one hardly can recognize themAnd we must not Forget that this episode went together with the quarrel between lsquoAncient and Modernsrsquo leading for example to minucious excava-tions of ancient monuments whilst there were some efforts to connect the Bible genealogy to the cultural specificity of each country to legitimate and honour each of them (Mintielle 1972) Partially due to the Celtic revival connected to the megaliths emerged a certain urgency in demonstrate that these ancient structures existed long before any material evidence of the ex-orient lux theory holding that together with Egyptians and Chinese the Celts was one of the oldest people in the World Besides they were at the basis of Monotheism to withdraw the idea about dolmens as places for the pagan barbarian practice of human sacrifices (Daniel 1963 p 24-42) Even if not officially and unconsciously this was an attempt to contradict the generally accepted idea regarding the Germanic supremacy ndash the Kulturvolker ndash and migration (more than diffusion) of new modus vivendi e faciendi arriving from the Near EastA revival to be introduced also in Portugal at least by the hands of Augusto Filipe Simotildees (1835-1884) referring to dolmens as culturally belonging to the Celts and to some artefacts discovered inside them as being originally used by druids being however one of the first ones to sustain the endogenous evolution of the megaliths in the country The same was affirmed by Joaquim Possidoacutenio Narciso da Silva (1806-1896) namely during the seminars he coordinated in 1872 on history of art and archaeology (AHAAP Actas do Conselho Facul-tativo n ordm 99 1521872) at the lsquoRoyal Association of Portuguese Archaeolo-gistsrsquo and still by the end of the 80s when described some dolmens from the

| 27

| 2018

lsquoBeira interiorrsquo as Celtic tombs of higher priests and chief leaders disproving hence their assumed use as altar for human sacrifices Subsequent authors ndash like Manuel Heleno (1894-1970) the second director of the nowadays Nation-al Museum of Archaeology (1893) - sustained the endogenous phenomenon of megalithism in what Portugal is nowadays by saying that ldquomaybe we should invert the itinerary to contradict the idea of a megalithic civilization resulting from external influences spread by sea throughout European shoresrdquo (Severo 1905-1908 p 7015 Our translation)But the importance of all these exercises was more than a dilettanti way of live The typologies repeatedly found in these sketchbooks and memoires ndash megaliths and churches (mainly Anglican built in a gothic or neogothic style) ndash indicated a silent but vibrant opposition to the roman imperial period ichno-graphically adopted by Napoleon I as he visual grammar of his political agen-da Predictably megaliths become for opponents of napoleon era a central topic of many paintings watercolours and drawings intertwined with elements of druidism considered distinctive of the British culture Thoughts feelings ideologies and political needs which went side by side with an increasing romantic scenario expanded by intellectuals such as Johann Wolfgang von Goumlethe (1749-1832) in a time when the nostalgia for a non-imperial classical preterit lived together with the necessity to underline medieval and pre-clas-sical predicates of each region and country required by the French Empire An Empire that unexpectedly also rooted its programme in megalithic times even if in an anachronic way by linking it to the hero Vercingetorix (82-46 aC) But this was a bit latter episodeIt was the past serving as nuclear argument to oppose territorial pretensions It was the beginning of a systematic use of the ancestors to reaffirm borders both geographical ethnical cultural and or psychological In short it was the implementation of a geo-political strategy based on memories renamed as heri- tage transformed in national because presumably unique (as symbols)

2 MEGALITHS IN PORTUGAL AND ITS STUDY DURING THE 19TH CENTURY (a brief glimpse)Differently of what happened in such countries like Great-Britain or France the nonexistence of regional pro-autonomy actions in the Portugal may explain the absence of similar iconographic registers observed beyond our boundaries where images of antiquarians portrayed next to megalithic monuments were getting usualNevertheless Portugal could not ignore he amount and diversity of studies published abroad on this theme That is also why amongst activities undertook

28 |

by the lsquoComissatildeo Geoloacutegica do Reinorsquo (lsquoGeological Commission of the King-domrsquo) (1857) the most studied megalithic typology - dolmens - was included in the general category of prehistoric monuments thought anachronically under-stood as Celtic graves A conclusion certainly resulting from the weak links their leaders still maintained with the most recent European research networks on this subject Notwithstanding their authors tried to understand the emergence and geo-graphical distribution of the identified dolmens (lsquoantasrsquo in Portuguese) by analysing its architectural characteristics having in mind that ldquomore civilised nations do not stop from the performance of their archaeological researches because they may be thought of as sublimerdquo (Silva 1888 p 26 Our transla-tion) Additionally it was stated that ldquothe different objects discovered during excavations conducted under those monuments are now attributed to the first Prehistoric migrations whose period and duration are unknown (Id 1881 p 69-71 Our translation) So there was a strong believe that megaliths were built in what is now Portugal as a result of a migration process to be examined fol-lowing the work of the French prehistorian Eacutemille Cartailhac (1845-1921) lsquoLes Acircges Preacutehistoriques drsquoEspagne et du Portugalrsquo (1886) where their architectural types were connected to associated assemblages as probable clues to under-stand the occupational evolution in a given region In relation to this one of our researchers V do M Gabriel Pereira (1847-1911) stated that

Eacutevora dolmens [Southeast Portugal] are undoubtedly unique and their study important to the establishment of the civilisation and relations between primitive people living here if attention is given to differences observed between them and those from other areas [] not so much in their construction but in their position [in relation to] objects found in the surrounding area (IANTT 1876 VIIIa 8ordf 1260 Our translation and original underscore)

Because some Portuguese researchers were much interested in this mega-lithic research ldquoagendardquo and since some of them had been already totally or partially destroyed by landowners to reuse their stone elements in different ways the Board of the lsquoReal Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses (lsquoRoyal Association of Portuguese Archaeologistsrsquo) (1863) requested (1874) its mem-bers to survey the megaliths eventually standing in their regions and to draw them (Id 1885 XVI 8ordf 3320) enlarging the geographic spectrum of the pre-vious one focused on Eacutevora and undertook in 1871 by the lsquoDirecccedilatildeo Geral dos Trabalhos Geoloacutegicosrsquo (lsquoGeneral Board of Geologic Worksrsquo) probably aiming to obtain something similar to the Archeacuteologie Nationale of the French archaeol-ogist pioneer of the Gaul and Gaul-roman archaeology founder and first direc-

| 29

| 2018

tor of the Museacutee des Antiquiteacutes Nationales (Saint-Germain-en-Laye) Alexandre Louis Joseph Bertrand (1820-1902) Additionally these maps should become eventually included in a more ambitious project of recording archaeological heritage ldquoavant que le vandalisme nrsquoait deacutetruir un plus gran nombre de ces anciennes constructionsrdquo (ldquoDiscussionrdquo 1873 p 726 Our underscore)

3 THE ldquoPORTUGUESErdquo MEGALITHS ABROAD (another brief vision)Based on the information sent by regional memberships an advised by Eacute Cartailhac regarding the method of classification to be adopted for standing stones the president of the lsquoRoyal Associationrsquo the architect and archaeolo-gist J Possidoacutenio N da Silva (1806-1896) compared published and presen- ted them in 1879 to the lsquoCongregraves International drsquoanthropologie et drsquoarcheacuteolo-gie Preacutehistoriquersquo and the lsquoCongregraves de lrsquoAssociation Franccedilaise pour lrsquoAvance-ment des Sciencesrsquo The result of this was the travel of the Swedish archaeo- logist Oscar Montellius (1843-1921) to Lisbon to study artefacts exhibited at the lsquoMuseu Arqueoloacutegico do Carmorsquo (lsquoCarmo Archaeological Museumrsquo) (1864) Afterwards he stated that Portuguese archaeological studies were ldquobeaucoup plus avanceacutes qursquoen Espagne [et] peut nous donner la solution de bien des questions importants relatives aux peuples des dolmensrdquo (IANTT 1879 XI 8ordf 1767 Original underscore) lsquoDolmen peoplerdquo which he considered as ex-clusively prehistoric and generating in the North of Europe whereas in 1868 the Portuguese writer and historian Inaacutecio de Vilhena Barbosa (1811-1890) published a paper in the journal lsquoArchivo Pittorescorsquo arguing their belonging to Neolithic till Bronze Age In the meanwhile other national authors searched for the ethnogenesis of this lsquonomad peoplersquo in the Near East believing in its Semitic origins hence reinforcing the theory on cultural precedency of South Europe by claiming a direct inheritance from pre-classical civilizations emerged in that region Comparing the dolmens existing in Portugal and Spain and based on a linear evolutionist approach some Portuguese scholars concluded that the first would be older as the stones used in the latter ones ldquoare more regular and the vertical remain in a position closer to the vertical conceptrdquo (Mello 1886 p 121 Our translation) whilst Possidoacutenio da Silva was persuaded that ldquoles Celtes sont venus dans la peacuteninsule Ibeacuterique para la rive droite de la Guadi-anardquo (Silva 1881 p 620 Our underscore) Moreover ldquoCette circonstance doit servir beaucoup pour aider agrave faire les recherches pour trouver la marche que les Celtes auront prise pour entrer dans lrsquoEuroperdquo (ldquoDiscussionrdquo 1873 p 726 Our underscore) Besides during a presentation at the lsquoAssociation Franccedilaise pour lrsquoAvancement des Sciencesrsquo (Montpellier 1879) he referred that the Celts

30 |

gave preference to what was nowadays Portugal ldquoaux cours de riviegraveres [as] ils ont en suite laisseacute ces monuments sur leur chemin pour marquer leur passage dans la contreacutee aux tribus qui les auraient suivis dans leur immigration pour les indiquer aussi ougrave eacutetaient enselevis leurs chefsrdquo (Silva 1879 p 1)This meant that he thought megaliths began by being built in Iberia more spe-cifically in what is now Portugal and concretely in South Alentejo A conclusion mostly interesting since Portugal had no need to emphasize the legitimacy of its political frontiers as it was one of the oldest European countries to have them established and had no internal movements towards autonomy which could put in danger its unity Quite the opposite as shown during the Napo-leonic invasions and the presence of the British troops in the first half of the centuryBut this was the decade ndash 70s ndash of some Iberian union revival supported by many politicians and intellectuals Fiercely opponent to this purpose Possidoacute-nio da Silva tried to demonstrate through archaeology the logics of our nation-al frontiers unique and cohesive More than this and even unconsciously he considered megaliths as a lsquofossil-directorrsquo of the Celtic presence Even though he was aware that much more Portuguese regions should have dolmens in its domains the reason why he asked for an intensive and extensive geographic survey of the toponym anta the word by which dolmens were widely known in Portugal (Silva 1881b p 620) In addition some Portuguese authors like A Filippe Simotildees and Possidonio da Silva believed that some associated mate-rials like engraved stone plaques which seemed to abound in what was now-adays Portugal could be specific of this Iberian region which in their minds seemed to indorse the logics of our national frontier an interpretation suppor- ted by 20th century Portuguese archaeologists like the priest and prehistorian Eugeacutenio Jalhay (1891-1950) for instance Moreover they intended to esta- blish a dolmenrsquos chronology by analysing the shape and contents of those same engrave plaques

4 PROTECTING MEGALITHS IN PORTUGAL TO KEEP HISTORY ALIVE (one more brief insight)Mapping the different megalithic typologies known in Portugal linked to its asso-ciated artefacts and obeying to a specific methodology like the one discussed during the lsquoInternational Congress for Anthropology and Prehistorical Archaeolo-gyrsquo (Budapest 1878) (Silva 1879 p 4) Possidoacutenio da Silva intended to call the attention of politicians towards the importance of their study and the urgency of their protection and aware provincial scholars of their relevance for local history though believed that Central Government should be responsible for

| 31

| 2018

their good preservation not only to avoid their destruction and loss capital that they repre-sent but also that they may be converted into productive capital for the Country in general and a true and active element of prosperity for the lands that have them since everywhere they form a powerful stimulus to the curiosity of travellers (Silva 1888 p 7 Our translation and underscore)

In brief they could contribute to the establishment and development of the most recent western industry tourism especially cultural tourism This could be achieved by creating community museums holding archaeological collec-tions also to reinforce local and regional feelings essential to sustain heritage safeguard and the inherent common historical memories Consequently they could become an important source of national and regional and local revenue considering that

If some of these antiquities have escaped constant destruction continued to the present it is because the dust and the earth lifted by storms and dragged by torrential rains during centuries have gathered over those precious relics of an extinct greatness until hiding them entirely for the coveting gaze of destroyers as implacable as they are ignorant (Ibidem Our translation)

But stoping their destruction required their classification as ldquonational mo- numentsrdquo (AHAAP Actas da Assembleia Geral 132 741889 Id Idem 137 22121889) which demanded an exhaustive inventory not only of the building itself but of all the artefacts and other realities identified inside and on them simply because these data could differentiate chronologies and cultu- ral belongings as remembered the archaeologist art historian and Professor Vergiacutelio Correia Pinto da Fonseca (1888-1944) when referring to rock paint-ings wrote in an almost kossinian statement on the hypothetical symbiosis between territory ethnos and material culture and interpreting megaliths as a Neolithic phenomenon that

The stylised and schematic character of those figures shows that they are Neolithic like those discovered throughout the neighbouring country especially in the mountains of the South betraying the occupation of the Peninsula by a single population in race and culture (Correia 1922 p 147 Our translation and underscore)

Independently to these questions the efforts of Portuguese scholars many acting in the context of activities developed in connection with the lsquoRoyal Asso-ciation of Portuguese Archaeologistsrsquo resulted in the creation of the lsquoComissatildeo

32 |

dos Monumentos Nacionaisrsquo (lsquoCommission for National Monumentsrsquo) (1881) after the elaboration of a first list of ancient structures which should deserve such a classification including dolmens and standing stones This effort would be crowned in 1910 year of the publication of the first list of classified monu-ments as ldquonational monumentsrdquo including the relation of megaliths A list little different from that proposed some years earlier although resulting from suc-cessive explorations conducted in the field by the mentor and Director of the lsquoMuseu Etnograacutefico Portuguecircs (lsquoPortuguese Ethnographic Museum) (1893) the archaeologist ethnographer and Professor Joseacute Leite de Vasconcellos (1858-1941) who manifested always a particular interest by this archaeolo- gical typology whose effective preservation was much complicated by the fact that the monuments were located in private lands

5 SOME FINAL REMARKSContinuing to call the attention of several scholars amateurs and common people thanks to their ancestry diverse typology abundance high visibility unique and almost indecipherable associated artefacts ample geographical distribution the awareness of their link to the Neolithic phenomenon and their reuse by several generations megaliths played and stil play a central role in many archaeological projects as they have much to ldquotellrdquo to all those who em-brace them as their scientific programIt could be almost enough to read the works of our main archaeologists from the first half of the 20th century to be sure of this above all about the quarrels established between those like M Heleno who argued about multiple focus of emergency and development of megalithism in our country and its spread from here to French and British shores (Moita 1956 p 135-136) and the ones who claimed almost the opposite as was the case for A Mendes Correia (1888-1960) from the University of Porto ldquothe Northwest Iberia [hellip] [was] the focus from where irradiated a certain megalithic culturerdquo (Correia 1944 p 32 Our translation) diffused to the North of Europe as ldquopresumptuous example of and old Atlantic thalassocracy of a true anonymous western empire with more than 4 000 yearsrdquo (Ibidem Our translations and underscores)This was perhaps one of the attempts of using archaeological artefacts in a pre-sumable scientific narrative to reaffirm individual agendas and or to sensitize politicians towards the relevance of financing archaeological research in this case by connecting ancestral realities to the Portuguese overseas mission A link underlined when Spain related the idea of its own empire to the hypothetical endogenous Tartessian Empire (Wulff Alonso and Martiacute-Aguilar 2003 p 124- -133) before Portugal began the feel the international pressure over its Empire

| 33

| 2018

However the 1st National Congress of Archaeology (Lisbon 1958) demons- trated how this subject continued to be central in national studies and was up-dated amongst national and international archaeologists From the 84 papers published in two volumes (1959 and 1970) only seven included the words lsquomegalithrsquo and lsquomegalithismrsquo in their titles But this did not mean a disinterest over the them It only meant that other papers dealt with it from other points of view and that many other scholars began to work on different thematics from Palaeolithic to museum studies The same can be observed reading the proceedings from the Archaeological Colloquiums of Oporto (1961-1966) or even the ones from the 1st Archaeological Journeys organized by the Asso-ciation of Portuguese Archaeologists (1969) where among 36 papers only two expressed indirectly the analysis of this issue by using the word lsquoNeolithicrsquo clearly more adequate to the new theoretical demands of the time Theories and new methods like thermoluminescence and the C14 which would be de-tailed analysed by one member of the new generation of archaeologists acting in Portugal after the Revolution April 1974th Joseacute Morais Arnaud writing from Cambridge University where thanks to a scholarship conceded by the State Office of Culture he was getting a specialization And with these last editions a new chapter was open to the Neolithic and almost inherently to the megalithic studies in PortugalNevertheless this does not mean that there is no currently revival of the megalithic imagetics due to some political and social groups acting all around Europe An issue to be scrutinized very seriously considering their eventual consequences

Lisbon October 2018

AcknowlegmentTo the Congress organizers for all the solidarity and for accepting this paper sent long beyond all deadlines

ReferencesArchivesAHAAP (1889) - Actas da Assembleia Geral Lisboa 132 74AHAAP (1889) - Actas da Assembleia Geral Lisboa 137 2212IANTT (1876a) - Correspondecircncia artistica e scientifica mantida com J Pos-sidoacutenio da Silva Lisboa VIIIa 8ordf 1260IANTT (1876b) - Correspondecircncia artistica e scientifica mantida com J Pos-sidoacutenio da Silva Lisboa VIIIa 8ordf 1353IANTT (1879) - Correspondecircncia artistica e scientifica mantida com J Pos-

34 |

sidoacutenio da Silva Lisboa XI 8ordf 1767IANTT (1885) - Correspondecircncia artistica e scientifica mantida com J Pos-sidoacutenio da Silva Lisboa XVI 8ordf 3320

BIBLIOGRAPHY(1873) ndash Discussion Compte Rendu de la 1egraveme session de lrsquoAssociation Franccedilaise pour lrsquoAvancemente des Sciences Paris Secreacutetariat de lrsquoAssociation p 726ARNAUD J M (1978) ndash ldquoO megalitismo em Portugal problemas e perspectivasrdquo Actas das III Jornadas Arqueoloacutegicas 1977 Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesCARTAILHAC Eacute (1886) ndash Les ages preacutehistoriques de lrsquoEspagne et du Portugal Paris Reinwald LibraireCORREIA V (1922) - Arte rupestre em Portugal A Pala Pinta Aditamento Terra Portuguesa 32-34 p 147DANIEL G (1963) ndash The megalith builders of Western Europe London Penguin BooksDIacuteAZ-ANDREU M (1997) - ldquoNacioacuten e internacionalizacioacuten La Arqueologiacutea en Espantildea en las tres primeras deacutecadas del siglo XXrdquo La Cristalizacioacuten del Pasado Geacutenesis y Desarrollo del Marco Institucional de la Arqueologiacutea en Espantildea MORA G e DIacuteAZ-ANDREU M eds lits ndash Maacutelaga Servicio de Publicaciones de la Universidad de MaacutelagaFABIAtildeO C (1999) - ldquoUm seacuteculo de Arquelogia em Portugal - Irdquo Al-madan S 2 8 Almada Centro de Arqueologia de AlmadaHELENO M (1956b) - ldquoUm quarto de seacuteculo de investigaccedilatildeo arqueoloacutegicardquo O Arqueoacutelogo Portuguecircs N s 3 Lisboa MNAELVJALHAY E (1936) - ldquoAs Novas Directrizes no Estudo da Preacute-Histoacuteriardquo Trabalhos da Associaccedilatildeo dos Ar-queoacutelogos Portugueses 2 Lisboa AAPJAMES S (1999) ndash The atlantic celts Ancient people or modern invention London British Museum PressJORGE V O (2002) - ldquoMegalitismo Europeu e Portuguecircs breves consideraccedilotildees histoacutericas em jeito de balanccedilordquo Arqueologia e Histoacuteria 54 Lisboa AAP p 79-85MARTINS A C (2003) - Possidoacutenio da Silva (1806-1896) e o elogio da Memoacuteria Um percurso na Arque-ologia de oitocentos Lisboa AAPMARTINS A C (2005) ndash A Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses na senda da salvaguarda patrimo-nial Cem anos de (trans)formaccedilatildeo 1863-1963 Texto policopiado Tese de doutoramento em Histoacuteria apresentada agrave Universidade de LisboaMARTINS A C (1999a) ndash Possidoacutenio da Silva a RAACAP e os Estudos Preacute-Histoacutericos no Portugal Oitocen-tista Arqueologia Porto 24MARTINS A C (1999b) ndash Possidoacutenio da Silva a RAACAP e a Arqueologia no Portugal de Oitocentos A Conservaccedilatildeo dos Monumentos Arqueoloacutegicos Actas do 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Vila RealMARTINS A C (2001a) - Estudos Preacute-histoacutericos e Nacionalismo uma Perspectiva Possidoniana Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 4 1MARTINS A C (2001b) - O 1ordm Curso Elementar de Archeologia (Lisboa 1885) Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 55MARTINS A C (2003) - Possidoacutenio da Silva (1806-1896) e o Elogio da Memoacuteria Um Percurso na Arque-ologia de Oitocentos Lisboa AAPMELLO A J de (1886) - Primeiro Curso de Archeologia Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa S 2 5 9 p 121

| 35

| 2018

MINTIELLE P (1972) ndash Sur les chemins de la Preacutehistoire Paris DecoeumllROCHA L M P (2005) - Origens do megalitismo funeraacuterio no Alentejo central a contribuiccedilatildeo de Manuel Heleno Texto policopiado Tese de Doutoramento em Preacute-histoacuteria Faculdade de Letras da Universidade de LisboaSEVERO R (dir) ndash Portugalia materiaes para o estudo do povo portuguez T 2 fasc 1 a 4 (1905-1908) Porto Imprensa PortuguezaSILVA J P N da (1881a) - Archeologia Prehistorica Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa S 2 3 5 p 69-71SILVA J P N da (1881b) - Fouilles faites dans les dolmens en Portugal en 1881 Compte Rendu de la 11egraveme session de lrsquoAssociation Franccedilaise pour lrsquoAvancemente des Sciences Paris Secreacutetariat de lrsquoAs-sociation p 620SILVA J P N da (1888a) - Monumentos Celticos Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa S 2 6 2 p 26SILVA J P N da (1888b) - Monumentos Celticos Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa S 2 6 9 p 7SILVA J P N da (1897) Notice sur les Monuments Meacutegalithiques du Portugal Association Franccedilaise pour lrsquoAvancement des Sciences Paris Secreacutetariat de lrsquoAssociationVVAA (1970) ndash Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas 2 vols Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portu-guesesWULFF ALONSO F and MARTIacute-AGUILAR Aacute (eds) (2003) ndash Antiguumledad y Franquismo (1936-1975) Maacutelaga Diputacioacuten Provincial de MaacutelagaCORREIA A A E M (1944) ndash Geacutermen e cultura Porto Imprensa Portuguesa SPAE

36 |

| 37

| 2018

PARA UMA RECUPERACcedilAtildeO DO MEGALITISMO DE LAFOtildeES (VISEU PORTUGAL) O CONCELHO DE VOUZELA ENQUANTO CASE-STUDY

PIECING TOGETHER THE LAFOtildeES MEGALITHISM (VISEU PORTUGAL) THE MUNICIPALITY OF VOUZELA AS CASE-STUDY

RESUMOO fenoacutemeno tumular da regiatildeo de Lafotildees revelado pelos trabalhos pioneiros de Amorim Giratildeo de haacute cem anos integra o contexto e tradiccedilatildeo megaliacuteticas da Beira Alta A prospeccedilatildeo arqueoloacutegica realizada em 2017-2018 no concelho de Vouze-la beneficiou de condiccedilotildees de visibilidade do solo muito favoraacuteveis propiciadas pelo incecircndio de Outubro de 2017 e permitiu aumentar o nuacutemero de siacutetios de 40 para 114 que poderatildeo assim constituir-se como um case-study muito rele-vante na regiatildeo Foi possiacutevel (re)identificar vaacuterias dezenas de monumentos funeraacuterios de diver-sas tipologias e cronologias distribuiacutedos maioritariamente pela Serra do Cara-mulo os quais indicam uma variedade arquitetoacutenica modos de implantaccedilatildeo e dimensotildees que parecem revelar padrotildees recorrentes Os megaacutelitos neoliacuteticos satildeo de grandes dimensotildees e surgem isolados ou agrupados em pequenas necroacutepoles Na Idade do Bronze observa-se a construccedilatildeo de pequenos tumu-li nalguns casos satelizando monumentos neoliacuteticos preexistentes formando grandes necroacutepoles compostas por cinco a duas dezenas de mamoasIdentificou-se tambeacutem um novo tipo de monumento associado a necroacutepoles neoliacuteticas difiacutecil de reconhecer no terreno ldquoafloramentos monumentalizadosrdquo isto eacute estruturas monticulares construiacutedas em torno de afloramentos naturais Tratar-se-atildeo de monumentos simboacutelicosrituais relacionados com as praacuteticas funeraacuterias levadas a cabo naqueles doacutelmenes

Pedro Sobral de CarvalhoEON - Induacutestrias Criativas Lda Rua D Duarte 55-57 3500-120 Viseu PortugalE-mail pedrosobraldecarvalhoeonicpt

Antoacutenio Faustino CarvalhoCEAACP - Centro de Estudos de Arqueologia Artes e Ciecircncias do Patrimoacutenio Universidade do Algarve FCHS Campus de Gambelas 8000-117 Faro PortugalE-mail afcarvaualgpt [autor para correspondecircncia]

38 |

Este mundo funeraacuterio lafonense em curso de redescoberta eacute extremamente diversificado nas suas manifestaccedilotildees materiais e eacute testemunho de um passado dinacircmico pelo que exige projetos de investigaccedilatildeo que privilegiem os estudos sistemaacuteticos das necroacutepoles como um todo PALAVRAS-CHAVE Lafotildees Megalitismo Neoliacutetico Calcoliacutetico Idade do Bronze

ABSTRACTRevealed by the pioneer work of Amorim Giratildeo one hundred years ago the nu-merous mound structures of the Lafotildees region integrates the broader megalithic context and tradition of the Beira Alta province of central-northern Portugal The systematic survey carried out in 2017-2018 at the municipality of Vouzela benefi- ted from very favourable visibility conditions permitted by the October 2017 for-est fires The outcome of this work was an increase in the number of sites from 40 to 114 a number that may constitute itself as a relevant case-study within the region It was possible to (re)identify several dozens of funerary monuments of diversi-fied typologies and chronologies mainly distributed in the Caramulo mountain range which seem to reveal variable architectonic location and size patterns The Neolithic megaliths are large-sized and can be found isolated or clustered in small necropolises In the Bronze Age the building of small mounds can be observed sometimes bordering older Neolithic monuments These form vast necropolises with five to more than twenty moundsAlthough of difficult recognition in fieldwork a new type of monument associa- ted to Neolithic necropolises was also identified ldquomonumentalized outcropsrdquo ie stone mounds built around natural outcrops These may be symbolicritual monuments related to the funerary practices that were carried out in the near dolmensThis funerary world at Lafotildees presently under re-discovery is extremely di-versified in its material manifestations This is testimony of a dynamic past thus demanding research projects aiming at the systematic study of complete necropolises KEY WORDS Lafotildees Megalithism Neolithic Chalcolithic Bronze Age

INTRODUCcedilAtildeO O MEGALITISMO NA REGIAtildeO HISTOacuteRICA DE LAFOtildeES O setor mais setentrional da proviacutencia portuguesa da Beira Alta eacute marcado por dois importantes domiacutenios geomorfoloacutegicos Por um lado os planaltos centrais e a Plataforma do Mondego que se constituem como o coraccedilatildeo desta ampla regiatildeo e por outro uma importante cadeia de montanhas de orientaccedilatildeo Norte-Sul mdash Serra do Montemuro Maciccedilo da Gralheira e Serra do Caramulo mdash que separa aquelas terras altas das planiacutecies litorais do centro-norte de Portugal Eacute entre a Gralheira e o Caramulo mdash portanto no meacutedio curso do Rio Vouga mdash que

| 39

| 2018

se encontra a regiatildeo histoacuterica de Lafotildees (Fig 1 A) cuja origem remonta agrave Idade Meacutedia a qual foi municiacutepio ateacute agrave reforma territorial definida pelo Decreto de 6 de Novembro de 1836 Com a reorganizaccedilatildeo administrativa saiacuteda desta lei o con-celho de Lafotildees foi extinto e o seu territoacuterio deu lugar aos atuais municiacutepios de S Pedro do Sul Oliveira de Frades e Vouzela com algumas das suas freguesias a serem incorporadas tambeacutem nos concelhos vizinhos de Sever do Vouga Castro Daire e Viseu Aleacutem dessa longevidade histoacuterica Lafotildees apresenta tambeacutem algumas carac-teriacutesticas biogeograacuteficas particulares que lhe advecircm da sua posiccedilatildeo de charnei-ra entre o interior beiratildeo e o litoral atlacircntico agraves quais se devem adicionar alguns traccedilos de personalidade cultural que a distinguem dos territoacuterios envolventes Natildeo cabe aqui desenvolver a questatildeo da individualidade histoacuterico-geograacutefica de Lafotildees mas deve ser salientado que esse quadro particular poderaacute recuar a periacuteodos proto-histoacutericosE com efeito a proacutepria histoacuteria dos estudos megaliacuteticos em Lafotildees tem mereci-do natildeo sem interrupccedilotildees a atenccedilatildeo de diversos investigadores O iniacutecio destes estudos em termos sistemaacuteticos tem lugar com o trabalho pioneiro de prospeccedilatildeo e escavaccedilatildeo levado a cabo por A de Amorim Giratildeo (1921) haacute um seacuteculo Depois dele seraacute sob a direccedilatildeo de L Albuquerque e Castro que se identificaratildeo e es-

Figura 1 A - Localizaccedilatildeo da da regiatildeo histoacuterica de Lafotildees na Peniacutensula Ibeacuterica B - Mapa do concelho de Vouzela com indicaccedilatildeo dos monumentos tumulares conhecidos (ciacuterculos) e da aacuterea representada na Figura 3 (retacircngulo) Mapa elaborado pelos serviccedilos da Cacircmara Mu-nicipal de Vouzela

40 |

tudaratildeo novos monumentos do meacutedio Vouga (Castro et al 1956) entre os quais o notaacutevel doacutelmen pintado de Antelas (Castro et al 1957) Os dados resultantes de ambas as investigaccedilotildees satildeo depois incorporados em siacutenteses regionais prin-cipalmente por I Moita (1966) e V Leisner (1998) ou mesmo de escala penin-sular mdash relembremo-nos da tese ldquoocidentalistardquo de Bosch-Gimpera (1966) que colocava a origem do megalitismo ibeacuterico no quadrante noroeste da peniacutensula incluindo portanto a Beira Alta Mais recentemente outras siacutenteses circunscritas ao municiacutepio de Vouzela retomaratildeo novamente aquelas contribuiccedilotildees (Cardoso 1999 Marques 1999) As uacuteltimas intervenccedilotildees em megaacutelitos de Vouzela em concreto na Malhada do Cambarinho (Carvalho et al 1993) tiveram lugar haacute exatamente um quarto de seacuteculoFoi este o historial que determinou os objetivos e a estruturaccedilatildeo do projeto de investigaccedilatildeo ldquoEstudo do patrimoacutenio histoacuterico-cultural de Vouzelardquo (Real et al 2017) estabelecendo-se entatildeo que a prospeccedilatildeo de monumentos tumulares preacute e proto-histoacutericos se direcionaria preferencialmente para os locais onde havia jaacute conhecimento preacutevio da sua existecircncia O objetivo desta opccedilatildeo era duplo por um lado avaliar e documentar o estado de conservaccedilatildeo das ocorrecircncias jaacute conhe-cidas e por outro identificar novas mamoas eventualmente associadas a essas necroacutepoles Com efeito a densa cobertura florestal da regiatildeo impedia a obser-vaccedilatildeo do solo na larga maioria da sua extensatildeo e soacute nalguns setores se poderia ambicionar a descoberta de siacutetios ineacuteditos No entanto o traacutegico incecircndio de 15 de outubro de 2017 implicou uma alteraccedilatildeo completa dessa estrateacutegia A partir daquela data desenhou-se uma abordagem extensiva agraves aacutereas ardidas agora desprovidas de vegetaccedilatildeo tendo em vista a avaliaccedilatildeo do impacte do sinistro sobre este patrimoacutenio e aproveitar as condiccedilotildees favoraacuteveis de observaccedilatildeo do ter-reno para a busca de novos monumentos Tendo o incecircndio consumido mais de 90 do coberto florestal do territoacuterio vouzelense nunca ateacute agora teratildeo havido semelhantes condiccedilotildees para tal empreendimento

2 EXPRESSOtildeES TUMULARES E CULTUAIS NA PREacute E PROTO-HISTOacuteRIA DO MUNICIacutePIO DE VOUZELA21 O territoacuterioO municiacutepio de Vouzela (Fig 1 B) ocupa o setor norte e noroeste da Serra do Caramulo e os vales encaixados adjacentes correspondentes ao Vouga e seus tributaacuterios da margem esquerda Poreacutem uma vez que a larga maioria dos mo- numentos identificados se distribui pela serra (ver adiante) a morfologia deste acidente orograacutefico confere alguma inteligibilidade agraves estrateacutegias de ocupaccedilatildeo deste espaccedilo que conveacutem portanto esboccedilar Um dos aspetos que melhor caracteriza a metade norte daquela serra (Ferrei-

| 41

| 2018

ra 1978) eacute a dissimetria das suas vertentes Enquanto o lado ocidental desce progressivamente dos 1050-1000 m ateacute dominar a plataforma litoral a vertente oposta eacute formada por uma escarpa Poreacutem esta natildeo se compotildee de um soacute lanccedilo eacute possiacutevel observarem-se patamares a altitudes intermeacutedias com aacutereas reduz-idas mas muitas vezes aproveitadas para a construccedilatildeo de tumuli Nos pontos mais altos da serra em torno do veacutertice de Janus (1043 m) podem-se observar aplanamentos talhados nos chamados ldquogranitos de Lafotildeesrdquo onde se encon-tram as mais emblemaacuteticas necroacutepoles megaliacuteticas do municiacutepio (Vale drsquoAnta e Malhada do Cambarinho) A sudoeste de Janus aqueles aplanamentos agora de granitos porfiroides e xistos tornam-se mais estreitos e formam cumeadas alongadas Neste setor localiza-se por exemplo a importante necroacutepole de S Barnabeacute A norte de Destriz desenvolve-se um amplo niacutevel agrave cota dos 500-450 m designado por ldquoniacutevel de Campiardquo que se delimita a sudoeste e a noroeste por vertentes altas e iacutengremes Os principais cursos de aacutegua do ldquoniacutevel de Campiardquo o Rio Alfusqueiro e o seu subsidiaacuterio o Alcofra deveratildeo ter assumido um papel central na implantaccedilatildeo das necroacutepoles dos finais da Idade do Bronze dada a densidade de tumuli desta eacutepoca aqui existentes22 As realidades tumulares identificadasA cartografia e tipologia dos monumentos sob tumuli do concelho de Vouzela assim como o seu elevado nuacutemero vieram colocar a descoberto a fragilidade dos atuais estereoacutetipos sobre as arquiteturas dos monumentos e as opccedilotildees subjacentes agrave sua implantaccedilatildeo no territoacuterio Por outro lado estes novos dados demonstram tambeacutem a necessidade de alargar este tipo de trabalhos sistemaacuteti-cos a aacutereas geograacuteficas contiacuteguas Com efeito tudo aponta para que as reali-dades agora identificadas no setor setentrional da Serra do Caramulo se esten-dam pelas aacutereas adjacentes e possam mesmo conformar-se como um traccedilo cultural comum a todo o territoacuterio de LafotildeesComo eacute oacutebvio as observaccedilotildees que se apresentam de seguida constituem-se apenas como primeiros apontamentos resultantes da inspeccedilatildeo superficial de monumentos que com exceccedilatildeo da anta da Lapa da Meruje (Carvalho 2018) natildeo estatildeo a ser objeto de qualquer intervenccedilatildeo arqueoloacutegica intrusiva Este texto reveste-se portanto de um caraacuteter preliminar No entanto eacute hoje possiacutevel con-tabilizar 114 monumentos (sete dos quais destruiacutedos no uacuteltimo meio seacuteculo) distribuiacutedos entre o Neoliacutetico Meacutedio (iniacutecios do IV mileacutenio aC) e o final da Idade do Bronze (seacuteculos XII-VIII aC) Daquele total 75 satildeo completamente ineacuteditos o que corresponde a um aumento de quase 200 face ao inventaacuterio disponiacutevel antes do arranque do projeto Apesar de natildeo escavados esta densidade de monumentos na paisagem vouzelense confere alguma solidez ao seu tratamen-to integrado e permite mesmo a utilizaccedilatildeo do modelo resultante deste exerciacutecio

42 |

como um case-study para outros setores da Beira AltaDe uma forma geral os monumentos podem ser ordenados tendo como base dois indicadores principais a sua arquitetura e a respetiva localizaccedilatildeodis-tribuiccedilatildeo geograacutefica Eacute seguro afirmar que existem monumentos muito diferentes nas suas com-posiccedilotildees arquitetoacutenicas diferenccedilas que deveratildeo corresponder a soluccedilotildees funeraacuterias diferenciadas (Quadro 1) Os paralelos existentes na Beira Alta per-mitem distinguir sepulcros de inumaccedilatildeo coletivos e individuais e sepulcros de incineraccedilatildeo Os monumentos de inumaccedilatildeo coletiva corresponderatildeo aos grandes monumentos do Neoliacutetico e os de inumaccedilatildeo individual (em cista) faratildeo parte de um novo paradigma da Morte que se teraacute generalizado na Idade do Bronze mas cujo iniacutecio poderaacute remontar ao periacuteodo calcoliacutetico anterior Por uacuteltimo os mo- numentos de incineraccedilatildeo deveratildeo datar dos finais da Idade do Bronze e satildeo de pequena dimensatildeo apresentando-se pouco expressivos no terreno

Quadro 1 - Siacutentese das manifestaccedilotildees tumulares preacute e proto-histoacutericas do concelho de Vouzela

| 43

| 2018

Figura 2 A - Mamoa 1 do Rebordinho (Necroacutepole de Campia) vista de poente no centro da imagem (cortada pelo caminho) B - afloramento monumentalizado de Vale drsquoAnta (Fornelo do Monte) no centro da imagem em frente das infraestruturas do parque eoacutelico local notando-se a cintura monticular em torno do afloramento C e D - Mamoa 2 de Valampra Urgueira vista de oeste e pormenor do topo dos esteios da cista E - vista geral das Mamoas 19 e 20 de Albitelhe que se salientam pela pre-senccedila de blocos de quartzo branco F - Monumento 1 de Morroloba notando-se em primeiro plano o anel liacutetico que delimita a mamoa e no horizonte a Serra da Estrela

44 |

221 NeoliacuteticoOs monumentos neoliacuteticos caracterizam-se em termos arquitetoacutenicos pe-los grandes tumuli ou mamoas algumas com diacircmetros superiores a 20 m e aneacuteis peacutetreos exteriores que incorporam doacutelmens simples ou de corredor Estas grandes mamoas satildeo constituiacutedas por camadas de terra e pedra que lhes con-ferem uma elevada robustez mdash como se pode verificar no corte da Mamoa 1 de Rebordinho (Fig 2 A) mdash a que acresce o facto de poderem conter contrafortes como jaacute documentado na Lapa da Meruje (Carvalho 2018) e terem sido reves-tidas por carapaccedilas ou couraccedilas peacutetreas A observaccedilatildeo das estruturas internas de alguns monumentos permite conside- rar a existecircncia de pelo menos dois subtipos de doacutelmenes simples as cacircmaras poligonais com nove esteios (p ex Mamoa 1 de Vale drsquoAnta) algo comuns no megalitismo beiratildeo e as cacircmaras simples de planta sub-retangular (p ex Ma-moa 1 do Salgueiral) bastante mais raras e muito mal estudadas Deste uacuteltimo caso eacute exemplo a Pedra da Moura 5 em Sever do Vouga (Carvalho 2013) Por seu lado os doacutelmens complexos satildeo compostos por cacircmaras poligonais corre-dores de acesso e toda a complexidade de estruturas adjacentes a estes uacuteltimos (aacutetrios corredores intratumulares) Deve referir-se que existe um conjunto consideraacutevel de tumuli de menor tama- nho de difiacutecil caracterizaccedilatildeo cronoloacutegica mas que poderatildeo ser neoliacuteticos com diacircmetros em torno dos 10 m e alturas que natildeo atingem 1 m Estes tumuli que tanto se encontram englobados em necroacutepoles megaliacuteticas (p ex Mamoa 2 da Malhada do Cambarinho) como em necroacutepoles de pequenas mamoas (p ex Levides) podem encerrar por vezes pequenos doacutelmens de corredor (eacute o caso da Mamoa 2 do Marco da Mata e da Mamoa 2 da Malhada de Cambarinho) Um dos dados mais importantes deste trabalho foi o reconhecimento de um novo tipo de siacutetio que natildeo se integra na categoria dos monumentos funeraacuterios megaliacuteticos Agrave falta de melhor denominaccedilatildeo sugere-se a designaccedilatildeo de ldquoaflo-ramento monumentalizadordquo (Fig 2 B) Efetivamente associados agraves necroacutepoles da Malhada do Cambarinho e do Vale drsquoAnta foram identificados afloramentos rochosos bem destacados envoltos numa estrutura de tipo tumulus em tudo semelhante agrave dos monumentos funeraacuterios Estas cinturas monticulares satildeo mais baixas que os afloramentos centrais natildeo parecendo ter sido edificadas por forma a cobri-los parecendo antes terem visado a criaccedilatildeo de um ambiente ce-nograacutefico muito proacuteprio O primeiro siacutetio apresenta tambeacutem um anel liacutetico exteri-or Natildeo foram ainda intervencionados mas a sua localizaccedilatildeo junto a necroacutepoles megaliacuteticas permite colocar a hipoacutetese de uma correlaccedilatildeo cronoloacutegica e logo funcional entre ambas as realidades No caso do afloramento monumentalizado da Malhada do Cambarinho existe um conjunto de fossetes distribuiacutedas pela

| 45

| 2018

estrutura central e pelos blocos do anel liacutetico exterior no exemplar do Vale drsquoAnta haacute tambeacutem trecircs fossetes no afloramento central Todos estes dados sugerem a presenccedila de um tipo de monumento provavelmente votivo associado a rituais estruturados e relacionados com os monumentos funeraacuterios vizinhos O parale-lo mais proacuteximo formalmente parece ser o siacutetio da Pedra Encavalada (Abrantes) onde num primeiro momento (V mileacutenio aC) se aproveitou um grande aflo-ramento em gnaisse para a construccedilatildeo de uma cacircmara simples de inumaccedilatildeo individual e de um recinto com 10 m de diacircmetro tendo sido depois (V-IV mileacutenio aC) construiacuteda uma mamoa peacutetrea que cobria nove fossas de enterramento individual dispostas em torno daquele afloramento (Cruz 2016)Em termos de implantaccedilatildeo um aspeto arquitetoacutenico recorrente nos monumen-tos neoliacuteticos eacute a inserccedilatildeo ou aproveitamento de afloramentos rochosos nas mamoas Se de facto este pode ateacute nem ser um fator ineacutedito no megalitismo regional ele natildeo eacute no entanto muito comum Contudo assume em Vouzela uma expressatildeo significativa ao ponto de se tornar quase uma norma em algu-mas necroacutepoles como eacute o caso do Vale drsquoAnta Estas necroacutepoles satildeo por regra formadas por pequenos nuacutecleos de dois ou trecircs monumentos mdash eacute o caso das necroacutepoles da Malhada do Cambarinho Marco da Mata e Vale drsquoAnta mdash ou sur-gem isoladamente mdash doacutelmenes de Adside Mamoa do Cabo das Moutas e Lapa da Meruje mdash em planaltos rechatildes ou pequenos vales de montanha Um aspeto interessante eacute o facto de algumas se encontrarem junto a nascentes ou aacutereas alagadiccedilas como acontece respetivamente com a necroacutepole da Malhada do Cambarinho (junto ao Rio Alfusqueiro) ou com a Lapa da Meruje222 Calcoliacutetico e Idade do BronzeUm tipo particular de monumento com apenas um exemplar identificado mdash a Mamoa 2 de Valampra Urgueira (Fig 2 C-D) mdash caracteriza-se por apresentar uma uacutenica estrutura cistoide na aacuterea central do tumulus Trata-se de uma soluccedilatildeo tumular rara para inumaccedilatildeo individual O paralelo mais evidente e geograficamente proacuteximo pode ser encontrado na Sepultura do Rei em Se- ver do Vouga (Carvalho 2013 Marques e Marques 2013) mas haacute registos similares noutros setores da Beira Alta mdash por exemplo nas cistas de Vale da Casa em Vila Nova de Foz Cocirca (Cruz 1998) ou dos Lenteiros em Vila Nova de Paiva (Cruz 2001) mdash que foram datadas do Calcoliacutetico e da Idade do Bronze respetivamente Soacute a escavaccedilatildeo de algumas destas mamoas vouzelenses poderaacute esclarecer a cronologia deste tipo de monumentos na regiatildeoNa fase final na Idade do Bronze proliferaratildeo os pequenos tumuli com diacircme- tros que variam nos 4-10 m de diacircmetro e com uma altura de 02-05 m portanto muito pouco visiacuteveis na paisagem Na construccedilatildeo de alguns recor-

46 |

reu-se agrave utilizaccedilatildeo de elementos em quartzo nas mamoas certamente para os evidenciar Este eacute o caso por exemplo dos monumentos da necroacutepole de Albitelhe cujas mamoas 19 e 20 incluem tambeacutem pequenas lajes em xisto cinzento luzente certamente para as tornar ainda mais visiacuteveis e brilhantes (Fig 2 E) Um grande nuacutemero destes tumuli apresenta aneacuteis peacutetreos de con-tenccedilatildeodelimitaccedilatildeo perifeacuterica mas o aspeto construtivo mais comum seraacute o envolvimento de afloramentos rochosos nas suas estruturas monticulares Alguns apresentam tambeacutem estruturas anexas agraves mamoas Eacute o exemplo das Mamoas 2 e 5 de Levides onde encostadas ao rebordo Este dos tumuli se encontram pequenos montiacuteculos com diacircmetros em torno dos 2 m cuja fun-cionalidade soacute poderaacute ser esclarecida atraveacutes da sua escavaccedilatildeo O achado de um fragmento ceracircmico de tipo BaiotildeesSanta Luzia na super-fiacutecie do que restava da Mamoa 12 das Almas do Capitatildeo eacute um elemento importante para a atribuiccedilatildeo destes tuacutemulos ao final da Idade do Bronze Estes monumentos vouzelenses deveratildeo ser assim interpretados agrave luz do que tem sido proposto para siacutetios similares da Beira Alta onde se admite que estes cairns ldquoteratildeo sido utilizados para guardar resiacuteduos eventualmente de incineraccedilotildees ocorridas em pira crematoacuteria das imediaccedilotildees estes seriam de-positados nos recetaacuteculos centrais neste caso definidos por singelas lajes e blocosrdquo (Cruz e Vilaccedila 1999 p 155)No acircmbito destes monumentos deve assinalar-se um interessantiacutessimo caso na vertente Este do Caramulo sobranceiro ao planalto beiratildeo (sobre o qual tem aliaacutes uma visibilidade iacutempar) e com a Serra da Estrela no horizonte trata-se do Monumento 1 da Morroloba (Fig 2 F) primeiramente identifica-do por Caninas et al (2004) O montiacuteculo tem cerca de 9 m de diacircmetro e exibe um anel liacutetico com cerca de 6 m de diacircmetro definido por pequenas lajes de granito fincadas verticalmente O enchimento eacute constituiacutedo por blo-cos de granito e de quartzo leitoso estes de menores dimensotildees Embora se encontre parcialmente violado natildeo restam duacutevidas de que se insere no mesmo contexto cronoloacutegico-cultural da Lameira da Travessa dos Lobos em Castro Daire (Vilaccedila 2017 Vilaccedila et al 2017) As semelhanccedilas arquitetoacuteni-cas entre ambos satildeo impressionantes natildeo tendo apenas sido possiacutevel de-terminar se as lajes do monumento vouzelense por estarem quase totalmente enterradas se encontraratildeo tambeacutem gravadas com temas abstratos Os numerosos monumentos da Idade do Bronze parecem obedecer a dois ti-pos de implantaccedilatildeo Se por um lado satildeo construiacutedos nas imediaccedilotildees das necroacutepoles neoliacuteticas satelitizando as grandes mamoas mdash havendo hoje da-dos que apontam tambeacutem para a ocasional realizaccedilatildeo de tumulaccedilotildees no interior dos doacutelmenes como no caso da Lapa da Meruje (Carvalho 2018) mdash

| 47

| 2018

por outro tendem tambeacutem a agrupar-se em amplas necroacutepoles localizadas em pequenas cumeadas e esplanadas de vertentes sobranceiras a vales feacuterteis e bem irrigados em particular nas que se encontram voltadas para os rios Alfusqueiro (p ex Almas do Capitatildeo Vale de Espinho Levides) e Alcofra (p ex Albitelhe Lousa e Tapadinho) A distribuiccedilatildeo das mamoas do Tapadi- nho ao longo da vertente eacute um excelente exemplo de tipo de implantaccedilatildeo des-tas necroacutepoles (Fig 3) Esta dicotomia significa que em algum momento houve um movimento de necropolizaccedilatildeo de novos espaccedilos na paisagem Aquela proli- feraccedilatildeo de pequenos monumentos ao longo dos referidos rios em nuacutemero de 61 tumuli eacute sem duacutevida o exemplo mais flagrante de uma realidade que urge estu-dar uma vez que esta se constitui como uma das maiores concentraccedilotildees deste tipo de estruturas funeraacuteriasrituais da Idade do Bronze de toda a Beira Alta

3 CONCLUSAtildeO LINHAS DE INVESTIGACcedilAtildeO FUTURAComo referido no iniacutecio o objetivo deste texto eacute uma primeira apresentaccedilatildeo dos dados receacutem-obtidos na prospeccedilatildeo extensiva realizada no municiacutepio de Vouze-la em 2017-2018 isto eacute apoacutes os incecircndios florestais de outubro de 2017 Neste momento os dados de terreno estatildeo ainda a ser objeto de tratamen-to Porque apenas a Lapa da Meruje foi escavada (Carvalho 2018) as con-

Figura 3 Localizaccedilatildeo das mamoas 1 a 6 da Necroacutepole do Tapadinho (Campia) e do castro do Cabeccedilo do Couccedilo (Bronze Final e Idade do Ferro) sobre extrato da Carta Mi- litar de Portugal nordm 187 Atente-se na localizaccedilatildeo de todo este complexo arqueoloacutegi-co sobranceiro ao Rio Alcofra

48 |

clusotildees que se podem retirar destas inspeccedilotildees de terreno mdash ou seja sem qualquer trabalho intrusivo mdash seratildeo certamente alteradas agrave medida que se possam vir a escavar alguns monumentos sob tumuli agora identificadosDe todo o modo os dados satildeo jaacute suficientemente robustos para abordar a tipologia destes monumentos propor cronologias relativas com base em paralelos regionais e abordar as distintas espacialidades que este exerciacutecio permite inferirPerante o desconhecimento de contextos habitacionais neoliacuteticos mdash ateacute ao momento apenas na Casa da Moura do Vale da Redonda (Tente e Carvalho 2017) e sob a mamoa da Lapa da Meruje (Carvalho 2018) foram identifica-dos com as devidas reservas contextos que poderatildeo ser deste tipo mdash os potenciais fatores subjacentes agrave localizaccedilatildeo das necroacutepoles deste periacuteodo satildeo presentemente inuacutemeros Soacute uma anaacutelise mais fina dos padrotildees loca-tivos destes megaacutelitos e o contexto socioeconoacutemico e ideoloacutegico dos seus construtores poderaacute revelar as hipoacuteteses interpretativas mais verosiacutemeisAo Calcoliacutetico parecem neste momento da investigaccedilatildeo ser de atribuir mui-to poucos monumentos Eacute provaacutevel que a maior parte das tumulaccedilotildees ocor-ridas nesta eacutepoca tenham tido lugar em doacutelmenes neoliacuteticos preexistentes agrave imagem aliaacutes do que parece ser o padratildeo na restantes regiatildeo beiratilde (p ex Cruz 2001 Senna-Martinez e Ventura 2008) A grande mudanccedila nos paradigmas da gestatildeo da Morte e consequente-mente nas suas manifestaccedilotildees materiais parece ter lugar apenas na Idade do Bronze e em particular na sua fase final Para a Beira Alta dispotildee-se de importantes paralelos formais (ver acima) que ilustram natildeo apenas as soluccedilotildees arquitetoacutenicas agora recorrentes (Quadro 1) como tambeacutem as praacuteticas e rituais que lhes estariam associadas No caso concreto de Lafotildees deve notar-se que estes monumentos deveratildeo ter sido construiacutedos pelas co-munidades que habitariam nos vaacuterios povoados fortificados por vezes exis-tentes nas suas proximidades cujo tratamento ultrapassa os objetivos deste texto No entanto esta correlaccedilatildeo espacial pode ser observada a tiacutetulo de exemplo entre a necroacutepole do Tapadinho e o castro do Cabeccedilo do Couto (Fig 3) onde as sondagens realizadas em 1997 revelaram ocupaccedilotildees do Bronze Final e da Idade do Ferro (Marques 1999)Com a conclusatildeo do projeto no quadro do qual estes trabalhos de prospeccedilatildeo tiveram lugar (Real et al 2017) ir-se-aacute avanccedilar com um modelo interpreta-tivo destas realidades sob tumuli do municiacutepio de Vouzela por forma a pro- videnciar um corpo estruturado de dados de terreno que se constitua como um soacutelido case-study que possa assim orientar a proacutepria investigaccedilatildeo na regiatildeo de Lafotildees e de um modo geral em toda a Beira Alta

| 49

| 2018

NOTA FINAL E AGRADECIMENTOSDeve ser aqui feita menccedilatildeo ao facto de todo o trabalho de campo de que resul-tou este trabalho ter sido suportado pela Cacircmara Municipal de Vouzela o que se deve ao dinamismo e entusiasmo com que o seu Presidente o Sr Engordm Rui Ladeira tem promovido o estudo e a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio histoacuterico-cultural do seu concelho Agradecemos tambeacutem a Daniel de Melo Branco e Luiacutes Andreacute Pereira toda a colaboraccedilatildeo prestada durante estes trabalhos

BIBLIOGRAFIABOSCH-GIMPERA P (1966) - Cultura megaliacutetica portuguesa y culturas espantildeolas Revista de Guimaratildees 76 3-4 p 249-306CANINAS JC HENRIQUES F SABROSA A CANHA A CHAMBINO M (2004) - Estudo de in-cidecircncias ambientais do Parque Eoacutelico da Bezerreira - Serra do Caramulo e interligaccedilatildeo eleacutec-trica ao Parque Eoacutelico de Fornelo do Monte (Oliveira de Frades Vouzela e Tondela Relatoacuterio de prospeccedilatildeo policopiadoCARDOSO JL (1999) - Monumentos megaliacuteticos do concelho de Vouzela Vouzela estudos histoacutericos Lisboa Academia Portuguesa da Histoacuteria p 169-208CARVALHO AF (2018) - Anta da Lapa da Meruje (Vouzela Portugal) Resultados preliminares dos trabalhos em curso In SENNA-MARTIacuteNEZ JC DINIZ M CARVALHO AF eds - De Gibral-tar aos Pireneacuteus Megalitismo vida e morte na fachada atlacircntica peninsular Nelas Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo neste volumeCARVALHO PMS (2013) - Preacute-Histoacuteria os senhores das montanhas Genius loci O espiacuterito do lugar Sever do Vouga Cacircmara Municipal de Sever do Vouga p 42-65CARVALHO PMS GOMES LFC COIMBRA AMM (1993) - Casa da Orca da Malhada de Cambarinho (Vouzela distrito de Viseu) Estudos Preacute-Histoacutericos 1 p 97-103CASTRO LA FERREIRA OV VIANA A (1956) - Acerca dos monumentos megaliacuteticos da Bacia do Vouga XXIII Congresso Luso-Espanhol 7ordf Secccedilatildeo Ciecircncias Histoacutericas e Filoloacutegicas VIII Coimbra Associaccedilatildeo Portuguesa para o Progresso das Ciecircncias p 471-481CASTRO LA FERREIRA OV VIANA A (1957) - O doacutelmen pintado de Antelas (Oliveira de Frades) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal XXXVIII II p 325-348CRUZ AR (2016) - Pedra Encavalada (Abrantes Portugal) um monumento que justapocircs a singularidade e a mudanccedila Almadan On-Line II Seacuterie 211 p 34-44CRUZ DJ (1998) - Expressotildees funeraacuterias e cultuais no Norte da Beira Alta (V-II mileacutenios aC) A Preacute-Histoacuteria na Beira Interior Viseu Centro de Estudos Preacute-Histoacutericos da Beira Alta (Estudos Preacute-Histoacutericos 6) p 149-166CRUZ DJ (2001) - O Alto Paiva Megalitismo diversidade tumular e praacuteticas rituais durante a Preacute-Histoacuteria recente Coimbra Universidade de Coimbra (Dissertaccedilatildeo de Doutoramento policopiada)CRUZ DJ VILACcedilA R (1999) - O grupo de tumuli da Senhora da Ouvida (Monteiras Castro Daire Viseu) Resultado dos trabalhos arqueoloacutegicos Estudos Preacute-Histoacutericos VII p 129-161FERREIRA AB (1978) - Planaltos e montanhas do Norte da Beira Estudo de Geomorfologia Lisboa Centro de Estudos Geograacuteficos (Memoacuterias 4)GIRAtildeO AA (1921) - Antiguidades preacute-histoacutericas de Lafotildees Contribuiccedilatildeo para o estudo da

50 |

arqueologia portuguesa Coimbra Imprensa da UniversidadeLEISNER V (1998) - Die megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Die Westen Berlin Walter de GruyterMARQUES FT MARQUES M F P (2013) - Museu do Passado Ecomusealizaccedilatildeo da pais-agem A Sepultura do Rei Relatoacuterio policopiadoMARQUES JAM (1999) - Carta arqueoloacutegica do concelho de Vouzela Vouzela Cacircmara Mu-nicipal de VouzelaMOITA IN (1966) - Caracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Alta Ethnos V p 189-297REAL ML CARVALHO AF TENTE C (2017) - Projeto de estudo do patrimoacutenio histoacuterico- -arqueoloacutegico de Vouzela (Viseu) objetivos e primeiros resultados II Congresso da Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses Arqueologia em Portugal 2017 - Estado da questatildeo Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 113-123SENNA-MARTINEZ JC VENTURA JMQ (2008) - Neolitizaccedilatildeo e Megalitismo na plataforma do Mondego algumas reflexotildees sobre a transiccedilatildeo Neoliacutetico Antigo Neoliacutetico Meacutedio IV Con-greso del Neoliacutetico Peninsular II Alicante Museo Arqueoloacutegico de Alicante p 77-84TENTE C CARVALHO AF (2018) - Casa dos Mouros de Vale do Redondo (Vasconha Quei- ratilde concelho de Vouzela) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo policopiadoVILACcedilA R (2017) - Da morte e seus rituais em finais da Idade do Bronze no Centro de Portu-gal 20 anos de investigaccedilatildeo Atas da Mesa-Redonda ldquoA Preacute-Histoacuteria e a Proto-Histoacuteria no cen-tro de Portugal avaliaccedilatildeo e perspectivas de futurordquo Viseu Centro de Estudos Preacute-histoacutericos da Beira Alta (Estudos Preacute-Histoacutericos XVII) p 101-133VILACcedilA R CRUZ DJ (1999) - Praacuteticas funeraacuterias e cultuais dos finais da Idade do Bronze na Beira Alta Arqueologia 24 p 73-99VILACcedilA R CRUZ DJ SANTOS AT MARQUES JN (2017) - Encenar a morte ritualizar o espaccedilo o monumento da Travessa da Lameira de Lobos (Castro Daire Viseu Portugal) In ADROIT S GRAELLS R eds - Arquitecturas funerarias y memoria La gestioacuten de las necroacutepolis en Europa occidental (ss X-III aC) Osanna Edizioni (Archeologia Nuova Serie 4) p 129-141

| 51

| 2018

Nuacutecleo Megaliacutetico dos Fiais-Azenha (Carregal do Sal Portugal) um balanccedilo

The Megalithic Cluster of Fiais-Azenha (Carregal do Sal Portugal) State of the question

RESUMOApresenta-se aqui um balanccedilo de 33 anos de investigaccedilatildeo arqueoloacutegica na plataforma do Mondego em especial no concelho de Carregal do SalUm dos aspetos mais marcantes foi sem duacutevida o reconhecimento da existecircncia de uma ocupaccedilatildeo do Neoliacutetico antigo bem como a relaccedilatildeo entre estas primei-ras comunidades a sua evoluccedilatildeo e posteriormente o arranque do fenoacutemeno megaliacutetico na regiatildeoJulgamos que estas comunidades desenvolveram formas de subsistecircncia e de apropriaccedilatildeo do territoacuterio que foram cristalizadas no planeamento construccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos sepulcros megaliacuteticos da plataformaEsta inter-relaccedilatildeo iraacute manter-se bem ateacute momentos mais tardios jaacute integraacuteveis na Idade do Bronze regionalPALAVRAS-CHAVE Neoliacutetico antigo Neoliacutetico meacutedio Neoliacutetico final Megalitis-mo Beira Alta

ABSTRACTWe present here a balance of 33 years of archaeological research on the Mondego platform especially in the municipality of Carregal do SalOne of the most striking aspects was undoubtedly the recogni-tion of the existence of an occupation from the ancient Neolithic period as well as the relation between these early communities their evolution and later the megalithic phenomenon in the regionWe believe that these communities developed forms of subsistence and appropriation of the territory which were crystallized in the planning construction and orientation of the megalithic tombs of the platformThis interrelationship will continue until later times in communities of the regional Bronze AgeKEY WORDS Early Neolithic Middle Neolithic Late Neolithic Mega-lithism Beira Alta

Joseacute Manuel Quintatilde Ventura1

1Licenciado em Histoacuteria e em Histoacuteria variante de Arqueologia pela FLUL Mestrado em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia FLUL Investigador do NeoMega e colaborador da UNIARQ FLUL Av Dr Joseacute Pontes n45 8ordmEsq Venteira 2720-205 Amadora PORTUGAL

52 |

Passado o periacuteodo pioneiro de Joseacute Leite de Vasconcelos nesta regiatildeo muito por accedilatildeo do seu empregado Maximiano Apolinaacuterio seraacute soacute nos anos sessen-ta do seacuteculo passado com Irisalva Moita (MOITA 1966) que os monumentos megaliacuteticos da plataforma do Mondego seratildeo revisitados mas mais uma vez numa situaccedilatildeo episoacutedicaA partir de 1985 primeiro com um reconhecimento mas seguido em 1986 por um conjunto de trabalhos arqueoloacutegicos teve iniacutecio uma dinacircmica de investi-gaccedilatildeo que persiste ateacute agrave atualidadeSe num primeiro momento o estudo se concentrou nos monumentos megaliacuteti-cos entatildeo existentes eou redescobertos pelos trabalhos de 1985 correspon-dendo a um grande monumento (Lapa da Moura ou Orca dos Fiais da Telha) jaacute identificado e outro redescoberto depressa a dinacircmica da investigaccedilatildeo ar-queoloacutegica foi permitindo a identificaccedilatildeo de outros arqueossiacutetios envolvendo abrigos habitats e gravuras rupestresNa realidade um dos aspetos mais marcantes desta investigaccedilatildeo foi o reconhe-cimento da existecircncia de um Nuacutecleo Megaliacutetico numa aacuterea associada ao Mon-dego bem como a existecircncia de um Neoliacutetico Antigo regional (SENNA-MARTINEZ amp VENTURA 2000b)

O TERRITOacuteRIOA nossa zona preferencial de estudo eacute a plataforma do Mondego aacuterea aplana-da rasgada pelo vale do Mondego e limitada a norte pelo vale encaixado do rio Datildeo e caracterizada a niacutevel geomorfoloacutegico maioritariamente por granitos ainda que esporadicamente estes sejam atravessados por filotildees quartzosos O granito surge nas suas variedades de monozoniacutetico de duas micas e biotiacutetico de gratildeo meacutedio a fino Os depoacutesitos quaternaacuterios de cobertura satildeo formados por argilas e arcoses diversas (TEIXEIRA 19618-9) de fraca potecircncia reduzidos a escassas manchas na envolvecircncia imediata do siacutetio arqueoloacutegico em questatildeo A zona em questatildeo abrange grosso modo os atuais concelhos de Carregal do Sal e Nelas ainda que as mesmas caracteriacutesticas se possam aplicar aos conce- lhos vizinhos a norte do Datildeo bem como a sul do Mondego DOS PEQUENOS MONUMENTOS AOS GRANDES COM UMA PASSAGEM PELOS PRIMEIROS POVOADORESPor volta dos iniacutecios do V mileacutenio cal aC o som dos primeiros rebanhos a subi- rem as vertentes da plataforma do meacutedio e alto Mondego constitui o primeiro indicador das profundas alteraccedilotildees que iratildeo ocorrer nos mileacutenios seguintes transformando a paisagem de uma aacuterea de onde ateacute entatildeo a presenccedila hu-mana estava mais ou menos arredada ndash apesar de ter sido possiacutevel a incursatildeo

| 53

| 2018

de grupos do Paleoliacutetico superior por zonas das Beiras ao longo das bacias hidrograacuteficas mais importantes como os dados de Foz Coa e do Prazo (MON-TEIRO-RODRIGUES 2010) podem comprovarO reconhecimento da existecircncia de um Neoliacutetico antigo no interior da Peniacutensula inicia-se nos finais dos anos 80 do seacuteculo passado nomeadamente na Meseta mas tambeacutem no nordeste portuguecircs onde foram surgindo arqueossiacutetios inte-graacuteveis neste momento cronoloacutegico e datados dos iniacutecios do V mileacutenio cal aC no caso do niacutevel 4 do abrigo do Buraco da Pala (SANCHES 1997) Na Beira Alta nomeadamente na Plataforma do Mondego a primeira identifi-caccedilatildeo de um siacutetio arqueoloacutegico integraacutevel naquela etapa crono-cultural ocorre em 1991 com a descoberta do siacutetio das Carriceiras (SENNA-MARTINEZ amp ESTE-VINHA 1994) Nos anos seguintes vatildeo surgindo materiais atribuiacuteveis ao Neoliacutetico antigo remo-bilizados em duas mamoas do Nuacutecleo Megaliacutetico do Ameal-Azenha bem como a identificaccedilatildeo de cabanas sob a Orca do Folhadal (SENNA-MARTINEZ amp VENTU-RA 1999b) consubstanciando os dados anteriores Mas estas descobertas satildeo seguidas de outras que neste momento ascendem a cerca de uma dezena de siacutetios conhecidos ateacute agora na Plataforma do Mon-dego quatro siacutetios de habitat abertos (Folhadal Outeiro dos Castelos de Beijoacutes Quinta da Assentada e Quinta das Rosas) duas oficinas de talhe (Carriceiras e Quinta do Soito) duas ocupaccedilotildees em abrigo (Penedo da Penha 1 e Buraco da Moura de S Romatildeo) trecircs situaccedilotildees estratigraacuteficas de palimpsesto com materi-ais remobilizados em terras de mamoas pertencentes a monumentos megaliacuteti-cos de primeira fase (Orca 2 do Ameal Orca 2 de Oliveira do Conde e Orca do Folhadal)No estado atual dos nossos conhecimentos o povoamento associado ao Neoliacuteti-co antigo parece escolher locais abertos sem condiccedilotildees especiais de controlo da paisagem e muito menos defensivas localizados preferencialmente em ver-tentes suaves ou rechatildes com boa exposiccedilatildeo a nascente ou ainda em abrigos sob penedos graniacuteticos que no caso do Complexo 1 do Penedo da Penha tam-beacutem abre a nascente A detecccedilatildeo de remobilizaccedilotildees de materiais atribuiacuteveis ao Neoliacutetico antigo em ter-ras das mamoas de monumentos megaliacuteticos (casos da Orca 2 do Ameal Orca 2 de Oliveira do Conde e Folhadal mas agraves quais se podem associar monumen-tos como a Orca de Travanca) simultaneamente com a identificaccedilatildeo do Habitat do Folhadal indiciam localizaccedilotildees coincidentes de habitats na proximidade de locais onde futuramente se desenvolveraacute a implantaccedilatildeo de necroacutepoles megaliacuteti-cas Julgamos que natildeo se trata de uma singular coincidecircncia mas antes que a implantaccedilatildeo dos primeiros monumentos megaliacuteticos na regiatildeo ndash reconheccedila-se

54 |

a singularidade desta situaccedilatildeo que ateacute ao momento natildeo foi reconhecida em nenhuma outra regiatildeo ndash vem legitimar tanto pela dupla presenccedila proacutexima dos antepassados como pela construccedilatildeo de espaccedilos formais de deposiccedilatildeo dos mortos a hipoacutetese da reocupaccedilatildeo sazonal dos territoacuterios de invernia situados nas terras ldquobaixasrdquo da Plataforma do Mondego por parte de comunidades que cada vez mais julgamos ocuparem as terras altas da Serra da Estrela durante a primavera e o veratildeoComo resultanotdo do estudo palinoloacutegico de uma seacuterie de sondagens efetuadas nas deacutecadas de oitenta e noventa nas turfeiras da Serra da Estrela (cf KNAAP amp LEEUWEN 1994) eacute hoje possiacutevel ler a evoluccedilatildeo holoceacutenica do respetivo cober-to vegetal como a sucessatildeo de uma seacuterie de episoacutedios de degradaccedilatildeo cuja cau-sa mais plausiacutevel parece ter sido a intervenccedilatildeo antroacutepica provavelmente atra- veacutes do pastoreio (revelada nomeadamente por indiacutecios de desflorestaccedilotildees por incecircndio sem consequente regeneraccedilatildeo integral da floresta Idem)Pelos dados cronomeacutetricos pode-se atribuir uma cronologia de segunda meta-de do V mileacutenio cal AC2 para um primeiro episoacutedio de desflorestaccedilatildeo (KNAAP amp JANSSEN 1991) que podem consubstanciar uma do Neoliacutetico antigo regio- nal no que satildeo coevas com as cronometrias radio-carboacutenicas disponiacuteveis para etapas similares da Serra da Freita (CORDEIRO 1992) Galiza (RAMIL REGO SOBRINO amp GOacuteMEZ-ORELLANA 2001) as ocupaccedilotildees do Buraco da Pala da Fraga drsquoAia e do Prazo (SANCHES 1997 RODRIGUES 2000) e com os conjun-tos de datas da Estremadura (SIMOtildeES 1999) Sul de Portugal (SIMOtildeES 1999 e DINIZ 2001) e Meseta Norte (ESTREMERA PORTELA 2003 ROJO GUERRA amp ESTREMERA PORTELA 2000)As formas de subsistecircncia destas comunidades neoliacuteticas na plataforma do Mondego tecircm levantado vaacuterias questotildees nomeadamente pela falta de elemen-tos diretos que nos permitam recriar a ldquopaisagem neoliacuteticardquo em especial se em comparaccedilatildeo com outras aacutereas mais a sul natildeo parece ter-se verificado uma ocupaccedilatildeo agriacutecola do espaccedilo dadas as caracteriacutesticas dos solos e o quadro hoje disponiacutevel para realidades posteriores a partir do Neoliacutetico Final (SENNA-MARTI-NEZ 19951996 SENNA-MARTINEZ amp VENTURA 2000a amp 2000b)Poreacutem se analisarmos os dados das turfeiras da Serra da Estrela na longa du-raccedilatildeo tudo parece indiciar uma relativa manutenccedilatildeo da floresta densa de Quer-cus sp3 sem grande evidecircncia de desbaste (cf KNAAP amp LEEUWEN 1994) numa dinacircmica algo diferente do que parece ocorrer em outras aacutereas onde o ritmo de degradaccedilatildeo da cobertura original de Quercus parece ser superior (FERNAacuteNDEZ RODRIacuteGUEZ amp RAMIL REGO 1994) Para o caso da Galiza temos um marcador para estes acontecimentos entre 5400 a 3000 BP onde ocorre uma laquoregressatildeo paulatina do bosque de Quercusraquo 2 Esta cronologia resulta da calibragem das datas obtidas por aqueles investigadores como termini post quem para os pri-meiros episoacutedios como tal interpretados nos perfis da Candeeira (C10D1 - 5730 100 BP = 4802-4354 cal AC) e da Lagoa das Salgadeiras (45 - 5700 60 BP = 4713-4369 cal AC) cf KNAAP amp JANSSEN 1991

| 55

| 2018

(cf GUITIAN RAMIL-REGO GOacuteMEZ-ORELLANA E SOBRINO 1996 RAMIL REGO SOBRINO amp GOacuteMEZ-ORELLANA 2001) Se a esta regressatildeo satildeo normalmente associados fenoacutemenos de erosatildeo e accedilatildeo antroacutepica mas sendo a regressatildeo con-tiacutenua ao longo do processo com os niacuteveis poliacutenicos de Quercus a regredirem de valores proacuteximos dos 80 para menos de 50 no final do espaccedilo temporal referido situaccedilatildeo que parece natildeo ser paralelizaacutevel com a situaccedilatildeo das turfeiras da Serra da EstrelaPor outro lado a relativa ausecircncia de elementos de moagem nos siacutetios conhe-cidos ndash quando comparados com arqueossiacutetios localizados mais a sul ndash bem como a fraca representaccedilatildeo (contrastando com momentos subsequentes) de instrumentos cortantes em pedra polida satildeo elementos a favor da fraca compo-nente agriacutecola nas economias regionais deste periacuteodoEm textos anteriores foi jaacute possiacutevel defender para esta aacuterea um modelo para a economia dos construtores e utilizadores dos sepulcros megaliacuteticos valorizan-do como elementos fundamentais praacuteticas de recoleccedilatildeo e torrefaccedilatildeo (bolota e outros ldquofrutos de invernordquo) caccedila e pastoriacutecia num processo de transumacircncia (SENNA-MARTINEZ 1994a 19951996 e 1996 SENNA-MARTINEZ LOacutePEZ PLAZA amp HOSKIN 1997) A manutenccedilatildeo e a pouca degradaccedilatildeo da cobertura vegetal original entre 6400-3400 cal BP (CONNOR ARAUacuteJO KNAAP amp LEEU-WEN 2012) parecem indicar que ao contraacuterio de outras aacutereas onde a floresta original eacute sistematicamente desbastada e o espaccedilo ocupado por variedades de gramiacuteneas na Beira Alta a cobertura de Quercus seria lato senso mantida e preservada pelas comunidades neoliacuteticasEste bosque de Quercus vai manter-se na longa duraccedilatildeo (6400-3400 cal BP) onde os valores de presenccedila variam entre os 65 e os 55 ao longo deste periacuteodo com pouca flutuaccedilatildeo A maior flutuaccedilatildeo ocorre nos poacutelenes de elemen-tos vegetais de menor porte estando estas flutuaccedilotildees associadas ao surgimen-to de poacutelenes e cinzas de cereais a partir de 6000 cal BP (CONNOR ARAUacuteJO KNAAP amp LEEUWEN 2012117 Fig2) mas numa percentagem iacutenfimaAteacute um certo ponto as comunidades humanas neolitizadoras da Plataforma do Mondego poderatildeo assim corresponder a sociedades de pastores caccediladores-re-colectores ndash para o que temos jaacute o estudo das pontas de projeacutetil (VENTURA amp SENNA-MARTINEZ 2003) ndash e com uma agricultura incipiente esta uacuteltima em pequenas veigas e zonas de lameiras Estas comunidades parecem desenvol- ver um padratildeo de subsisnottecircncia caracterizado pela enorme mobilidade por isso mesmo baseada em recursos tambeacutem eles moacuteveis e natildeo fixos a um espaccedilo especifico o que implica a exploraccedilatildeo de diversos tipos de territoacuterios de forma sazonalmente diferenciadaCom um valor nutricional de 509 calorias4 por cada 100 gramas a bolota sob 3Em especial as espeacutecies autoacutectones com a Q coccifera Q ilex subsp Ballota Q suber Q roacutebur Q pyrenaica Q faginea subsp faginea4Cf httpswwwyaziocomptalimentosbolota-secahtml

56 |

a forma de fruto seco ou torrado apresenta-se como um elemento de grande valor energeacutetico bem mais elevado que o trigo que apresenta valores caloacutericos de 337 por 100 gramas quando moiacutedo5Em texto recente (CARVALHO PEREIRA DUARTE amp TENTE 2017) desenvolve-se um modelo explicativo onde se apresentam diversas razotildees restritivas em como seria difiacutecil a subsistecircncia destas comunidades neoliacuteticas transumantes nas aacutereas mais altas da Serra da Estrela se os cereais como o trigo fossem um dos elementos fundamentais uma vez que a produccedilatildeo deste se encontra limitada a um maacuteximo de 800 m de altitude E de facto tendo em conta estas variaacuteveis os autores tecircm razatildeo mas apenas se o trigo for aqui o elemento primordial A mancha de Quercus na altura poderia ir ateacute aos 1200 metros de altitude e o processo de floraccedilatildeo corresponderia exatamente ao momento de ida das co-munidades para a serra (SENNA-MARTINEZ 19951996 SENNA-MARTINEZ LOacutePEZ PLAZA amp HOSKIN 1997) coincidindo o regresso com a conclusatildeo da formaccedilatildeo da bolota Na nossa perspetiva durante o V mileacutenio cal aC a pressatildeo humana sobre os espaccedilos da Beira Alta cresceu progressivamente Assim proacuteximo da charnei-ra quintoquarto mileacutenios aC as linhas de cumeada e os interfluacutevios entre os cursos de aacutegua vatildeo comeccedilar a povoar-se dos primeiros monumentos de um es-paccedilo crescentemente humanizado Vatildeo assim nascer as primeiras necroacutepoles megaliacuteticasEntendemos aqui o conceito de monumentos como o reflexo de padrotildees de identidade social que extravasam de longe o simples significado de grandeza (Mega) mas como um elemento uacutenico distinto ocupando uma posiccedilatildeo proe- minente na paisagem ou que reforccedila essa mesma paisagem Aqui os monu-mentos megaliacuteticos na nossa opiniatildeo tecircm por funccedilatildeo cristalizar um conjunto de padrotildees sociais e de os relembrar ou reconstruir para a manutenccedilatildeo da repro-duccedilatildeo social e cultural do grupo a que pertencem Assim ultrapassam a simples funccedilatildeo de aacutereas de deposiccedilatildeo formal dos mor-tos e de marcadores de um espaccedilo sacralizado sendo tambeacutem estruturas de referecircncia coletivas quase sempre localizadas em zonas onde tenham uma elevada visibilidade ainda que o monumento seja ele proacuteprio muitas vezes in-visiacutevel de uma certa distacircncia como ocorre no nuacutecleo em apreccedilo onde tudo parece indicar que os monumentos natildeo satildeo soacute locais de laquorecolharaquo e comuni-caccedilatildeotransmissatildeo de significados ndash sobre o grupo valores conceitos e os an-tepassados ndash mas tambeacutem agentes indispensaacuteveis de criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo da sociedade ndash ou seja a reproduccedilatildeo socialJaacute anteriormente tiacutenhamos descrito a nossa conceccedilatildeo dos espaccedilos frontais que comeccedilam a estar associados a monumentos megaliacuteticos mais evoluiacutedos 5 Cf httpswwwyaziocomptalimentostrigo-moidohtml

| 57

| 2018

e a sua funccedilatildeo (VENTURA 1998a) numa sociedade que se encontra em plena expansatildeo demograacutefica e territorial onde os rituais artefactos ideoteacutecnicos e os proacuteprios monumentos permitem a manutenccedilatildeo e reproduccedilatildeo desta realidadeAssim nesta perspetiva os monumentos natildeo soacute satildeo laquomeios de comunicaccedilatildeoraquo mas tambeacutem laquotutoresraquo a estabelecer e relembrar o que eacute social cultural e con-ceptualmente correto numa funccedilatildeo normativa que engloba a laquomemoacuteria coleti-varaquo e construccedilatildeo de uma paisagem culturalEsta forma de memoacuteria coletiva dos monumentos megaliacuteticos ultrapassa o conceito mais associado a mitos e conceccedilotildees fantasistas de um passado e res-petivos rituais (druiacutedicos ou natildeo) plasmando uma memoacuteria social dos constru-tores ou reutilizadores destes monumentos jaacute que cada vez mais se comeccedila entender o ciclo de vida de um monumento para aleacutem da sua primeira fase de construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo mas tambeacutem com reutilizaccedilotildees laquodesconstruccedilotildeesraquo e laquore-construccedilotildeesraquo que vatildeo muito para aleacutem da simples laquoparasitagemraquoEsta forma de prolongar o tempo de vida das memoacuterias ou tradiccedilotildees orais faz destes monumentos formas de transmissatildeo de conhecimento institucionalizado (BRADLEY 2002)Monumentalidade poderaacute ser assim uma praacutetica de estabilizar um territoacuterio de forma visual natildeo soacute para os ancestrais mas tambeacutem para as geraccedilotildees futuras como forma de laquomemoacuteria socialraquoDesta forma os monumentos megaliacuteticos correlacionam-se normalmente des-de a sua geacutenese com estrateacutegias de utilizaccedilatildeo do espaccedilo com fixaccedilatildeo sazon-al ou permanente Deste modo os mais antigos monumentos megaliacuteticos da Plataforma do Mondego quase sempre de dimensotildees modestas constituem a um tempo uma primeira monumentalizaccedilatildeo arquitetural funeraacuteria e verdadei-ras acircncoras na paisagem para populaccedilotildees que por outro lado parecem manter uma grande mobilidade sazonal (Senna-Martinez e Ventura 2008b 324)Julgamos como foi jaacute afirmado ser tambeacutem marcante a sobreposiccedilatildeo destes monumentos a espaccedilos de habitat anteriores6 numa situaccedilatildeo que julgamos agora natildeo ser coincidecircncia processo este de continuidade de um determinado grupo humano bem como de uma certa laquomanipulaccedilatildeoraquo ou laquodomesticaccedilatildeoraquo do espaccediloDesta forma ocorreraacute o que consideramos ser regionalmente uma das trans-formaccedilotildees fundamentais do Neoliacutetico meacutedio a passagem dos ldquoterritoacuterios de utilizaccedilatildeordquo a ldquoterritoacuterios de ocupaccedilatildeordquo (SENNA-MARTINEZ amp VENTURA 1999b 2000a 2000b e 2008a)Do ponto de vista arquitetural e associados a esta primeira fase do megali- tismo regional conhecemos monumentos de cacircmara poligonal sem corredor (Orcas 1 e 2 do Ameal por exemplo) monumentos de corredor curto (Orca 6Nos casos dos monumentos 2 do Ameal e 2 de Oliveira do Conde detetou-se remobilizaccedilatildeo de materiais nas terras da ma-moa materiais esses muito provavelmente provenientes das terras existentes antes da construccedilatildeo dos monumentos

58 |

1 dos Troviscos) e em alguns casos quase simboacutelico (como o caso proacuteximo da Orca de Pramelas e Orca de Santo Tisco) aos quais se pode integrar um monumento de cacircmara eventualmente megaliacutetica mas com um corredor in-tra-tumular (Orca 2 de Oliveira do Conde)Quanto agraves mamoas (nos casos em que as mesmas foram alvo de escavaccedilatildeo) estas revelam uma grande homogeneidade nas soluccedilotildees encontradas para a sua edificaccedilatildeo aos esteios normalmente cravados em fossas abertas na rocha da base e calccedilados com pedras de meacutedias dimensotildees surge adossado pelo exterior um contraforte em pedra vatilde no qual em alguns casos eacute possiacutevel distinguir diferentes etapas construtivas um enchimento (ou anel) de terras envolve o contraforte e eacute sustido por um anel exterior de pedra Deste anel exterior parte uma carapaccedila de pedras que recobria a mamoa A interrupccedilatildeo da mamoa na aacuterea frontal do monumento pode dar origem como vimos a um corredor intratumular e a um espaccedilo de aacutetrio empedradoDeste modo tambeacutem para a Beira Alta e agrave semelhanccedila do que acontece noutras aacutereas regionais peninsulares as soluccedilotildees construtivas apresentam desde cedo um marcado polimorfismo nas arquiteturasO caacutelculo das ldquomassas tumulares meacutediasrdquo efetuado para seis monumentos da Plataforma do Mondego (VENTURA 1999b Quadro 1) aponta para um valor meacutedio de 71plusmn108 m3 o que equivale a uma meacutedia de 2235plusmn44 horas de trabalho Por outro lado o mesmo caacutelculo efetuado para o peso da laje de maiores dimensotildees da estrutura megaliacutetica (normalmente a tampa da cacircmara) forneceu um valor meacutedio de 135plusmn025 t implicando a utilizaccedilatildeo de um nuacutemero meacutedio miacutenimo de 8plusmn15 indiviacuteduos para o seu arrastamento com roletes (Idem Quadro 2) Estes valores indicam que a respetiva construccedilatildeo estaria ao alcance de uma comunidade familiar alargada ou de uma pequena aldeiaO nuacutemero relativamente reduzido dos elementos de espoacutelio encontrados nos monumentos do Neoliacutetico meacutedio sobretudo se tivermos em consideraccedilatildeo o que sucede na etapa seguinte no Neoliacutetico final pode querer dizer que nem todos os elementos da comunidade aiacute encontraram a uacuteltima morada Outras das realidades identificadas na plataforma do Mondego foi o reconhe-cimento de que nesta plataforma estes monumentos tecircm como laquohorizonte organizadorraquo a Serra da Estrela acidente geograacutefico que ao longo da histoacuteria regional desempenha um papel organizador da paisagem e da vida das gen-tes do Mondego interior A partir do Neoliacutetico meacutedio esta apresentar-se-ia entatildeo como uma aacuterea im-portante do espaccedilo ocupado por estas comunidades a um tempo fonte de recursos e local de deslocaccedilatildeo sazonal obrigatoacuteria (fundamental pelos pas-

| 59

| 2018

tos de primaveraveratildeo que oferecia) e ldquohorizonte geograacutefico de referecircnciardquo dominando do alto as terras da plataforma do Mondego sobre o qual as dife- rentes posiccedilotildees ocupadas pelo sol nascente ao longo do ano serviriam even-tualmente de referecircncia agrave organizaccedilatildeo do calendaacuterio sazonal de atividadesNum momento de transiccedilatildeo para o Neoliacutetico final comeccedilam a surgir monu-mentos onde estatildeo patentes teacutecnicas construtivas complexas natildeo obstante manterem uma certa continuidade A um tempo surgem grandes monumen-tos de corredor desenvolvido e diferenciado em altura em relaccedilatildeo agrave cacircmara agora de estrutura poligonal de nove esteios como o caso da Orca dos Fiais da Telha ou entatildeo raramente de sete esteios e com estruturas complexas na aacuterea frontal com abandonocondenaccedilatildeo de vaacuterios monumentos de menores dimensotildees e construccedilatildeo menos complexa da fase antecedente (por exemplo a Orca do Folhadal cf SENNA-MARTINEZ amp VENTURA 1999a)Mas um dos elementos mais importantes desta evoluccedilatildeo seraacute a laquonova vidaraquo que alguns destes monumentos teratildeo jaacute no III mileacutenio aC que em alguns casos parece estar associado a um processo de laquodesconstruccedilatildeo e recons- truccedilatildeoraquo de alguns monumentosNo caso da Orca 1 de Troviscos no limite norte do nuacutecleo em apreccedilo a um monumento eventualmente do Neoliacutetico meacutedio ou mesmo das primeiras fases do Neoliacutetico final no qual mais uma vez se sobrepotildeem as estruturas de habi- tat anteriores eacute apresentada uma cacircmara megaliacutetica claacutessica de 7 esteios ndash ateacute mais ver ndash e um corredor baixo quase simboacutelico de cerca de 2 metros associado a um curto corredor intratumular e a um fecho do mesmo na zona frontalEm momento ainda natildeo determinado o monumento eacute encerrado por uma estrutura de condenaccedilatildeo que parece associar-se a uma ampliaccedilatildeo em di-mensatildeo da estrutura tumular e assiste-se a uma remoccedilatildeo e recolocaccedilatildeo de alguns elementos peacutetreos ndash esteios e tampas de corredor ndash sendo-lhe tambeacutem adicionadas estruturas complexas tipo laquoaacutetrioraquo na zona frontal onde ocorrem deposiccedilotildees de materiais de momentos coevos do III mileacutenio aC regionalA mesma situaccedilatildeo parece tambeacutem ocorrer mais a norte noutro nuacutecleo no concelho de Nelas na Orca do Pinhal dos Amiais onde numa estrutura de fecho que se expande em forma de laquoaacutetrio empedradoraquo na zona frontal foram sistematicamente identificadas deposiccedilotildees de materiais maioritariamente ceracircmicos de um periacuteodo que podemos situar tambeacutem no III mileacutenio aC momento esse que julgamos estar associado agrave reativaccedilatildeo do monumen-to megaliacutetico para algumas deposiccedilotildees funeraacuterias mas principalmente na sua manutenccedilatildeo como elemento monumental da renovaccedilatildeo da reproduccedilatildeo

60 |

social de um determinado grupo social

Carregal do Sal 22 de julho de 2018

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICASBRADLEY Richard (2002) - The Past in Prehistoric Societies LondonCARRIOacuteN JOSEacute (coord) (2015) Cinco millones de antildeos de cambio floriacutestico y vegetal en la Peniacutensula Ibeacuterica e Islas Baleares Universidade de Muacutercia y Fundacioacuten Seacuteneca MuacuterciaCARVALHO A F (1999) - 0s siacutetios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz Coa) e o Neoliacutetico antigo do Baixo Coa in Revista Portuguesa de Arqueologia 2(1) pp39-70CARVALHO A F PEREIRA V DUARTE C amp TENTE C (2017) - Neolithic archaeology at the Penedo dos Mouros rock-shelter (Gouveia Portugal) and the issue of primitive transhumance practices in the Estrela Mountain range in ZEPHYRVS Vol LXXIX pp19-38CONNOR SE ARAUacuteJO J KNAAP W amp LEEUWEN J (2012) - A long-term perspective on biomass burning in the Serra da Estrela Portugal in Quaternary Science Reviews 55 (2012) pp 114-124CORDEIRO AMR (1992) - ldquoO Homem e o Meio no Holoceacutenico Portuguecircs Paleo-ambientes e erosatildeordquo in Mediterracircneo 1 pp89-109DINIZ M (2001) - ldquoUma dataccedilatildeo absoluta para o siacutetio do Neoliacutetico Antigo da Valada do Mato Eacutevorardquo in Revista Portuguesa de Arqueologia 4(2) pp111-113ESTREMERA PORTELA M S (2003) - Primeros agricultores y ganaderos en la Meseta Norte El Neoliacutetico de la Cueva de la Vaquera (Torreiglesias Sogovia) Zamora Junta de Castilla y Leoacuten Memorias Arqueologiacutea en Castilla y Leoacuten 11FERNAacuteNDEZ RODRIacuteGUEZ C amp RAMIL REGO P (1994) - ldquoFechas de C14 en yacimientos arqueoloacutegicos depoacutesitos orgaacutenicos y suelos de Galiciardquo in Gallaecia 13 pp151-176FERREIRA AB (1978) - Planaltos e Montanhas do Norte da Beira Memoacuterias do Centro de Estudos Geograacuteficos 4 Lisboa FURHOLT M and MUumlLLER J (2011) - The earliest monuments in Europe ndasharchitecture and social structures (5000-3000 cal BC) in Megaliths and Identities Dr Rudolf Habelt GmbH Bonn pp 15-32HOSKIN M et alii (1998) - ldquoStudies in Iberian Archaeoastronomy (5) Orientations of Megalith-ic Tombs of Northern and Western Iberiardquo in Archaeoastronomy 23 (JHA xxix) pp S39-S87HOSKIN M (2001) Tombs Temples and their Orientations A new perspective on Mediterra-nean Prehistory Bognor Regis OcarinaKNAAP W O V amp JANSSEN C R (1991) - Utrecht on the Rocks - Serra da Estrela (Portugal) XV Peat Excurnotsion of the Syst-Geobo Institute University of Bern Part II Laboratory of Paleo-botany and Palynonotlogy State University of UtrechtThe NetherlandsKNAAP W O V amp VAN LEEUWEN J F N (1994) - ldquoHolocene vegetation human impact and climatic change in the Serra da Esnottrela Portugalrdquo in A F LOTTER amp B AMMANN Eds Fest-schrift Gerhard Lang laquoDissertationes Botanicaeraquo 234 pp497-535MOITA I (1966) - ldquoCaracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Altardquo in Eth-nos V pp189-297RAMIL-REGO P SOBRINO C M GOacuteMEZ-ORELLANA L (2001) ndash Histoacuteria Ecoloacutegica de Galiza Modificaciones del paisaje a lo largo del Cenozoico in SEMATA vol13 pp67-103 RODRIGUES S (2000) - ldquoA estaccedilatildeo neoliacutetica do Prazo (Freixo de Numatildeo ndash Norte de Portu-

| 61

| 2018

gal) no contexto do Neoliacutetico Antigo do Noroeste Peninsular Algumas consideraccedilotildees prelimi- naresrdquo149-168ROJO GUERRRA M amp ESTREMERA PORTELA S (2000) - ldquoEl valle de Ambrona y la Cueva de la Vaquera testimonios de la primera ocupacioacuten neoliacutetica en la cuenca del Duerordquo in Actas do 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular III ndash Neolitizaccedilatildeo e Megalitismo da Peniacutensula Ibeacuterica pp91-95SANCHES M J (1995) - O Abrigo do Buraco da Pala (Mirandela) no contexto da Preacute-Histoacuteria recente de Traacutes-os-Montes e Alto Douro Tese de Doutoramento em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Porto FLUP 2 Vol policopiadoSANCHES M J (1997) - Preacute-Histoacuteria Recente de Traacutes-os-Montes e Alto Douro O Abrigo do Buraco da Pala (Mirandela) no contexto regional 2 vols Porto Sociedade Portuguesa de Antropologia e EtnologiaSENNA-MARTINEZ J C (1994) - ldquoMegalitismo habitat e sociedades a Bacia do Meacutenotdio e Alto Mondego no conjunto da Beira Alta (c5200-3000 BP)rdquo in Actas do Seminaacuterio ldquoO Megalitis-mo no Centro de Portunotgalrdquo laquoEstudos Preacute-Histoacutericosraquo 2 pp15-29SENNA-MARTINEZ J C (19951996) - ldquoPastores recolectores e construtores de megaacutelitos na Plataforma do Mondego no IV e III mileacutenios AC (1) O siacutetio de Habitat do Ameal-VIrdquo in Tra-balhos de Arqueologia da EAM 34 Lisboa Colibri pp85-126SENNA-MARTINEZ J C (1996) - ldquoDo espaccedilo domeacutestico ao espaccedilo funeraacuterio ideologia e cul-tura material na Preacute-Histoacuteria Renotcente do Centro de Portugalrdquo in OPHIUSSA 0 Revista do Instituto de Arqueologia da FLUL Lisboa Colibri pp65-76SENNA-MARTINEZ J C LOacutePEZ PLAZA M S amp HOSKIN M (1997) ldquoTerritorio ideologiacutea y cultura material en el megalitismo de la plataforma del Mondego (Centro de Portugal)rdquo in O Neoliacutetico Atlaacutentico e as Orixes do Megalitismo Actas del Coloquio Internacional (Santiago de Compostela 1-6 de Abril de 1996) Santiago de Compostela laquoCursos e Congresos da Univer-sidade de Santiago de Compostelaraquo 101 pp657-676SENNA-MARTINEZ J C amp ESTEVINHA I (1994) - O siacutetio de habitat das Carriceiras (Carregal do Sal) Notiacutecia preliminar Actas do Seminaacuterio laquoO Meganotlinottismo no Centro de Portugalraquo (Man-gualde Nov 1992) Viseu CEPBA p55-61SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA J M Q (1994a) - ldquoA Orca dos Fiais da Telha a Cam-panha 2(987)rdquo in Inform Arqueoloacutegica 9 pp86-87 e 95-96SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA JMQ (1999a) - ldquoEvoluccedilatildeo das Paisagens Culturais na Preacute-Histoacuteria Recente na Plataforma do Mondego - O Projecto PAISAGENSrdquo in Trabalhos de Arqueologia da EAM 5 pp9-20SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA JMQ (1999b) - ldquo Espaccedilo Funeraacuterio e ldquoEspaccedilo Ceacutenicordquo a Orca do Folhadal (Nelas)rdquo in Trabalhos de Arqueologia da EAM 5 pp21-34SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA JMQ (2000a) - ldquo Espaccedilo Funeraacuterio e ldquoEspaccedilo Ceacuteni-cordquo a Orca do Folhadal (Nelas)rdquo in Actas do II Congresso de Arqueologia Peninsular Vol III pp379-397SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA JMQ (2000b) - ldquoOs Primeiros Construtores de Megaacuteli-tosrdquo in J C SENNA-MARTINEZ amp I PEDRO Eds Por Terras de Viriato Arqueologia da Regiatildeo de Viseu Viseu Governo Civil do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia pp35-38SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA JMQ (2000c) - ldquoPastores recolectores e construtores de megaacutelitos O Neoliacutetico Finalrdquo in J C SENNA-MARTINEZ amp I PEDRO Eds Por Terras de Viriato Arqueologia da Regiatildeo de Viseu Viseu Governo Civil do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia pp53-62

62 |

SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA JMQ (2008a) ldquoNeolitizaccedilatildeo e Megalitismo na Plata-forma do Mondego Algumas reflexotildees sobre Transiccedilatildeo Neoliacutetico AntigoNeoliacutetico Meacutediordquo in Actas do IV Congreso del Neoliacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica Alicante II pp 77-84SENNA-MARTINEZ J C e VENTURA JMQ (2008b) ndash Do mundo das sombras ao mundo dos vivos Octaacutevio da Veiga Ferreira e o megalitismo da Beira Alta meio seacuteculo depois Homena-gem a Octaacutevio da Veiga Ferreira Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p317-350SIMOtildeES T (1999) - O Siacutetio Neoliacutetico de Satildeo Pedro de Canaferrim Sintra Contribuiccedilotildees para o estudo da neolitizaccedilatildeo da peniacutensula de Lisboa laquoTrabalhos de Arqueologiaraquo 12 Lisboa IPASILVA Fabio (2012) - Landscape and Astronomy in Megalithic Portugal the Carregal do Sal Nucleus and Star Mountain Range Papers from the Institute of Archaeology 22 pp 99-114SILVA Fabio (2013) - Astronomia e Paisagem no Megalitismo do Norte do Paiacutes problemas e perspectivas In Arqueologia em Portugal ndash 150 anos pp 427-433SILVA Fabio (2014) - A Tomb with a View New Methods for Bridging the Gap Between Land and Sky in Megalithic Archaeology Advances in Archaeological Practice 2 pp 24-37SILVA Fabio (2015a) - The View from Within a lsquoTime-Space-Actionrsquo Approach to Megalithism in Central Portugal In SILVA Fabio CAMPION Nicholas - Skyscapes the role and importance of the sky in archaeology Oxford Oxbow Books pp 120-139SILVA Fabio (2015b) - lsquoOnce Upon a Timersquo When Prehistoric Archaeology and Folklore Con-verge Journal for the Academic Study of Religion 282 pp158-175TEIXEIRA CARVALHO BARROS MARTINS HAAS PILAR amp ROCHA (1961) - Notiacutecia explicativa da folha 17-C Santa Comba Datildeo Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de Por-tugalVENTURA J M Q (1993) - ldquoNovos monumentos megaliacuteticos no Concelho de Carregal do Sal Viseu notiacutecia prenotliminarrdquo in Trabalhos de Arqueologia da EAM 1 Lisboa Colinotbri pp9-21VENTURA J M Q (1994) - ldquoOrca 1 do Ameal (Carregal do Sal)rdquo in Actas do Seminaacuterio ldquoO Megalitismo no Centro de Portugalrdquo laquoEstudos Preacute-Histoacutericosraquo 2 pp31-42VENTURA J M Q (1994b) - ldquoA Orca 2 do Ameal Carregal do Sal resultados preliminaresrdquo in Trab Antrop e Etnotnol XXXV (1) Porto SPAE pp47-57VENTURA J M Q (1994c) - ldquoO Nuacutecleo Megaliacutetico de FiaisAmeal problemas e perspectivasrdquo in Trabalhos de Arqueolonotgia da EAM 2 Lisboa Colibri pp1-8VENTURA J M Q (1994d) - ldquoA Orca 2 do Ameal (Carregal do Sal) a campanha 2(993)rdquo in Trabalhos de Arqueolonotgia da EAM 2 Lisboa Colibri pp241-243VENTURA J M Q (1995) - ldquoOrca 2 do Ameal Carregal do Sal Viseu resultados preliminaresrdquo in Trabalhos de Antropol Etnol XXXV (1) pp47-62VENTURA J M Q (1998a) - A Necroacutepole Megaliacutetica do Ameal no contexto do Megalitismo da Plataforma do Mondego Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia apresenta-da agrave Faculdade de Letras da Universidade de LisboaVENTURA J M Q (1998b) - ldquoO nuacutecleo megaliacutetico dos FiaisAmeal um novo balanccedilordquo in Actas do Seminaacuterio ldquoA Preacute-Histoacuteria na Beira Interiorrdquo laquoEstudos Preacute-Histoacutericosraquo 6 pp11-31VENTURA J M Q (19951996)) - ldquoA Orca 2 do Ameal (Oliveira do Conde Carregal do Sal) a campanha 3(994)rdquo in Trabalhos de Arqueolonotgia da EAM 34 Lisboa Colibri pp271-276VENTURA J M Q (19951996) ldquoA Orca 2 de Oliveira do Conde (Carregal do Sal) a cam-panha 1(994)rdquo in Trabalhos de Arqueolonotgia da EAM 34 Lisboa Colibri pp277-280VENTURA J M Q (1999a) - ldquoOs Materiais da Mamoa da Orca 2 do Ameal (Carregal do Sal Viseu) Anaacutelise Tipoloacutegica e Enquadramento Cronoloacutegicordquo in Estudos Preacute-Histoacutericos 7 pp65-84

| 63

| 2018

VENTURA J M Q (1999b) - ldquoMonumentalidade e visibilidade nos monumentos megaliacuteticos da Plataforma do Mondegordquo in Trabalhos de Arqueologia da EAM 5 pp35-49VENTURA J M Q (2000e) - ldquoOrca 2 de Oliveira do Conde Carregal do Sal Viseurdquo in Tra-balhos de Arqueologia da EAM 6 pp1-24VENTURA J M Q amp SENNA-MARTINEZ J M (2003) - ldquoDo conflito agrave guerra Aspectos do desenvolvimento e institucionalizaccedilatildeo da violecircncia na Preacute-Histoacuteria Recente Peninsularrdquo in Turres Veteras V Torres Vedras Cacircmara Municipal de Torres Vedras pp9-19

64 |

| 65

| 2018

The dead at Escoural Cave (Montemor-o-Novo Portugal) early farmerrsquos interactions in south-western Iberian Peninsula

Os mortos na Gruta do Escoural (Montemor-o-Novo Portugal) interaccedilotildees nas primeiras sociedades camponesas do sudoeste da Peniacutensula Ibeacuterica

ABSTRACTThe arrival of farmers to the south-western Iberian Peninsula was followed by a period of complex human interaction after 5500 BCE This marked the arrival of new technologies and subsistence practices such as pottery husbandry and do-mestication of plants but also the co-existence of diverse social structures and world-views in a territory populated by hunter-gatherersBiological and sociocultural interactions between local and migrant groups at the onset and establishment of the Neolithic in Atlantic Europe are poorly un-derstood The Neolithic funerary context in the Escoural cave Montemor-o-Novo Portugal offers a research opportunity to examine these processes because it is uniquely well preserved and its use intersects key periods to understand multi-layered human interaction In this paper we present a synthesis of what is known about the Neolithic use of the cave complemented by new observations in the scope of a multidisciplinary project centred on the Escoural Cave started in 2018 KEY WORDS Escoural Cave Neolithic Archaeology of Death Archaeolo- gical Science

Rita Peyroteo-StjernaritapeyroteostjernaebcuuseHuman Evolution Department of Organismal Biology Uppsala University SwedenUNIARQ Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Portugal

Ana Cristina ArauacutejoacaraujodgpcptLARC Laboratoacuterio de Arqueociecircncias da DGPCCIBIOInBIO Centro de Investigaccedilatildeo em Biodiversidade e Recursos GeneacuteticosUNIARQ Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Portugal

Mariana DinizmdinizflulptUNIARQ Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Portugal

66 |

RESUMOA entrada dos primeiros agricultores no SO da Peniacutesula Ibeacuterica c 5500 BCE foi acompanhada pela introduccedilatildeo de novas tecnologias e formas de subsistecircncia As interacccedilotildees que se estabeleceram entre grupos locais e mi-grantes nesta etapa do processo histoacuterico que marca o advento e a con-solidaccedilatildeo do Neoliacutetico na Europa Atlacircntica satildeo mal conhecidas O con-texto funeraacuterio da Gruta do Escoural (Montemor-o-Novo) constitui uma oportunidade para investigar estes processos natildeo soacute devido ao seu grau de preservaccedilatildeo mas porque a sua utilizaccedilatildeo intercepta periacuteodos-chave para a compreensatildeo de muacuteltiplos aspectos dessa interacccedilatildeo humana Os materiais arqueoloacutegicos escavados na deacutecada de 1960 incluem restos humanos arte-factos em pedra e osso ceracircmicas e adornos Apesar de a cultura material sugerir uma afiliaccedilatildeo ao Neoliacutetico Meacutedio (c 4500-3500 BCE) a dataccedilatildeo de restos humanos sugere um intervalo de tempo mais tardio (c 3500- -3000 BCE) marcado pela construccedilatildeo de monumentos megaliacuteticos na regiatildeo O cruzamento de culturas de cronologia neoliacutetica no Es-coural eacute igualmente apoiado por ceracircmicas cardiais e impressas su-gerindo uma utilizaccedilatildeo da cavidade no Neoliacutetico Antigo (c 5500- -4700 BCE)Neste artigo apresentamos uma siacutentese dos dados conhecidos sobre a ocupaccedilatildeo Neoliacutetica da Gruta do Escoural a par de novas observa- ccedilotildees realizadas no acircmbito de um projeto iniciado em 2018 e centrado nesta cavidade O objectivo deste projecto eacute implementar uma perspec- tiva interdisciplinar ao estudo da Arqueologia da Morte investigan-do paralelamente as interacccedilotildees humanas criadas com a introduccedilatildeo e consolidaccedilatildeo de novas formas de vida na regiatildeo (c 5400-3000 BCE)PALAVRAS-CHAVE Gruta do Escoural Neoliacutetico Arqueologia da Morte Arqueociecircncias

1 INTRODUCTION The arrival of farmers to the south-western Iberian Peninsula was fol-lowed by a period of complex human interaction after 5500 BCE This marked the arrival of new technologies and subsistence practices such as pottery husbandry and domestic plants but also the co-existence of diverse social structures and world-views in a territory previously popu-lated by hunter-gatherers Also recent studies suggest greater diversity among first farmers (DINIZ et al 2016) adding layers of complexity to processes of sociocultural and biological interaction during the Neolithic in south-western Europe c 5500 ndash 3000 BCE

| 67

| 2018

Interactions between early farmers as well as between first farmers and the last hunter-gatherers during the establishment of new ways of living and world-views are poorly understood In this paper we argue that the Neolithic funerary context in the Escoural Cave offers a research oppor-tunity to examine these processes in south-western Europe because this archaeological site is uniquely well preserved and its use intersects key periods to understand multilayered human interactionThe Escoural Cave is located in southern Portugal in Montemor-o-Novo in the Alentejo region (Fig 1) The site is unique in the landscape because 1) it is the only karst system known in the interior of Alentejo 2) it is lo-cated on the interface of two key regions for human settlement in west Iberia ie the Tagus and the Sado palaeoestuaries in the north and west (the most important regions of Mesolithic settlement in Iberia) and the Eacutevora plains in the south-east (one of the main landscapes of Iberian megalithism) 3) it is naturally protected and strategically located at the edge of the Monfurado mountain range with a privileged view over the surrounding plains 4) it offers easy access to water making it a favour-able place for early populationsEscoural is the most south-western cave in Europe with Palaeolithic rock art and was classified as National Monument since its discovery in 1963 Despite its unique features the site was not continuously used by hunter-gatherers After the end of its long use during the Palaeolithic the cave was abandoned regaining its symbolic importance only several thousand years later with the placement of the dead in its underground space by Neolithic farmers being largely ignored by Mesolithic hunt-er-gatherers The use of natural caves in south-western Iberia by Mesolithic hun- ter-gatherers is well attested in other regions (ARAUacuteJO 2016) but open-air sites were preferred for the placement of the dead during this phase (PEYROTEO STJERNA 2016) In contrast the oldest evidence of Neo-lithic funerary practices in south-western Iberia was identified in caves (eg BOAVENTURA 2009 ZILHAtildeO 1992) Neolithic human remains are relatively abundant in the karst landscapes of Portuguese Estremadura and coastal Alentejo In Estremadura one of the most remarkable sites is Algar do Bom Santo Cave (CARVALHO 2014) and like Escoural it was sealed until its discovery preventing the disturbance of original contexts

68 |

by post-Neolithic occupations In this context the Escoural Cave stands out as exceptional because of 1) the preservation of articulated human remains in association with material culture such as complete vessels offers a unique opportunity to investigate Neolithic funerary practices

Figure 1 Location of the Escoural Cave Montemor-o-Novo Portugal in the context of Iberia (A) and Portugal (B)

| 69

| 2018

2) the outstanding bone preservation (human remains bone artefacts) provided by the karst environment is in contrast with the surrounding re-gion where acidic soils inhibit organic preservation 3) it is one of the few interior locations in south-western Iberia with cardial pottery (eg DINIZ 2007 ZILHAtildeO 1992) ndash an exogenous ware introduced in Iberia by early farmers of Mediterranean origin c 5400 BCE (ZILHAtildeO 2001) 4) current radiocarbon data show intensive funerary use of the cave c 3500 ndash 3000 BCE (ARAUacuteJO amp LEJEUNE 1995) while megalithic tombs were built in the region for the same function (BOAVENTURA 2009) 5) despite the late chronology of the dated human remains the material culture parallels for the most part with Middle Neolithic contexts such as Algar do Bom Santo c 3800 ndash 3400 BCE (CARVALHO 2014) The cave was surveyed and excavated in 1963ndash1968 and 1989ndash1992 while a project dedicated to the study of the rock art took off in 1977 (ARAUacuteJO 1995a SANTOS et al 1980) Most of the archaeological mate-rial was excavated in the 1960s but the results were sparsely published and focused on selected artefacts (SANTOS 1967a b) In 1989ndash1992 A C Arauacutejo and colleagues inventoried and examined for the first time the material excavated in the 1960s The resulting monograph (ARAUacuteJO amp LEJEUNE 1995) presented an overview of the main finds and is the only comprehensive work about the Neolithic use of the cave and was fol-lowed by the first attempt to address issues related with the funerary ritu-al practices (CAUWE 1996) Thus more than 50 years after its discovery Escouralrsquos Neolithic population remains unknown Standard analyses of the human skeletons remain to be done such as estimate of the number of individuals biological profile or reconstruction of funerary practices Moreover the Neolithic activity in the cave intersecting key periods in the process of establishing the farming lifeway can be further explored such as the penetration of pioneer farmers from the coast to the interior as suggested by the cardial pottery in the cave or the development of farmer groups in south-western Iberia using multiple architectures for the dead (eg caves megalithic tombs of various types) suggesting a complex Neo-lithic ideologyThe aim of this paper is to present a synthesis of what is known about the Neolithic use of the cave complemented by new observations in the scope of the ongoing project for the Escoural Cave started in 2018

70 |

2 WHATrsquoS IN THE CAVE The Escoural Cave was identified in April-17 1963 during stone mining work (SANTOS 1964) as described in several documents in the archives of the National Museum of Archaeology (MNA Museu Nacional de Arque-ologia APMHArquivo Pessoal Manuel Heleno) Human crania and complete ceramic vessels were exposed on the floor of the cave attracting the attention not only of the local population but also of the national newspapers who reported the discovery as extraor-dinary (MNAAPMH6141) Original documentation in the museumrsquos archives (MNAAPMH2311) indicate that excavations started shortly after its discovery in April-28 by a small group of experienced field work-ers from the museum (Jaime Pereira Roldatildeo Dario de Sousa) later ac-companied by the archaeologist Manuel Farinha dos Santos Initial work was focused on documenting what was perceived as distinct concentra-tions of human remains and artefacts lying on the surface (photography drawings) as well as securing the entrance of the cave and recovering artefacts removed from the cave by locals The exterior of the cave was also occupied during prehistoric times sug-gesting an understanding of the ancestry of the place as demonstrated by the chrono-cultural succession of archaeological remains A Chalcolith-ic fortified settlement was built on top of the hill above the cave (GOMES RV et al 1983 GOMES et al 2012ndash2013) as well as a megalithic tomb for the collective placement of the dead tholos (SANTOS 1967a SANTOS amp FERREIRA 1969) ndash a type of monument generally dated to c 3000 ndash 25002750 BCE Late NeolithicChalcolithic (BOAVENTURA et al 2014) An engraved outcrop was found under the structures of the settlement possibly dated to the Late Neolithic due to its stratigraphic po-sition (GOMES M V et al 1983 1994) Additionally one human burial was excavated in the exterior of the cave at the south-eastern entrance but its chronology remains unclear (ARAUacuteJO 1995a p 16 22 SANTOS 1971) Lithic material and abundant Pleistocene fauna dated to the Mid-dle Palaeolithic were excavated in the cave in 1989ndash1992 (OTTE amp SILVA 1996) However spatial distribution analyses demonstrated that this ma-terial was originally accumulated in the exterior of the cave and was trans-ported to the interior by post-depositional events The secondary position of artefacts found in the interior of the cave was observed in other areas

| 71

| 2018

such as in the archaeological context with impressed ceramics and other artefacts of Early Neolithic chronology found in the exterior and interior of the cave which due to taphonomic processes became part of the filling of the cave (ARAUacuteJO 1995a p 22 1995b p 53) Despite the large number of well-preserved Neolithic human remains and artefacts found in the cave the research has been traditionally focused on the Palaeolithic rock art (LEJEUNE 1995 GLORY et al 1966 GOMES et al 1990 OTTE amp SILVA 1996 SANTOS 1964 1967b SANTOS et al 1980 SILVA et al 2017) 21 Archaeological material in Neolithic contextThe cave is made up of a network of several galleries in three distinct levels The most important archaeological sector consists of a large room located immediately after the current entrance (room 1 sala 1) and con-nected galleries The archaeological material associated with the funer-ary use of the cave during the Neolithic was mostly found on the floor of the cave concentrated in room 1 and distributed along the galleries (6 7 and 11) (Fig 2) Most material was completely or partially covered with calcite and in extreme cases the funerary deposits containing human remains and artefacts became sealed under this layer (Fig 3) Archaeological material consists of human remains bone and stone ar-tefacts pottery personal adornments and other remains (ARAUacuteJO amp LE-JEUNE 1995) (Fig 4) The material is curated by MNA although selected assemblages are on display in local exhibitions at Centro Interpretativo da Gruta do Escoural and Museu dos Amigos de Montemor-o-NovoThe human remains excavated in the cave consist of complete and as-sociated skeletons (Fig 3) as well as disarticulated bones commingled and scattered elements at different levels of preservation A number of skeletons retained their anatomical topography and are in association with artefacts such as ceramic vessels (ARAUacuteJO 1995a CAUWE 1996) These are clear examples of deposits in primary position where the bod-ies were placed on the floor of the cave after death while still retaining their anatomical integrity Often the bones were found scattered in sec-ondary position While in some instances scattering could be explained by taphonomic processes in other cases it suggests post-depositional manipulation of the cadavers such as in the case of the crania found in niches (ARAUacuteJO 1995a CAUWE 1996) Secondary manipulation of

72 |

human remains could also be explained by the practice of reduction en-tailing the removal of the remains of a previous deposit to give place to new individuals At present the human osteological collection is considered to be of Neo-lithic chronology and there are no contextual or typological elements sug-gesting otherwise The collection remains to be studied although some specimens were analysed from an osteometric perspective (ISIDORO 1981) Preliminary estimates of the minimum number of individuals (MNI) suggest that more than 50 individuals were placed in the cave after death (Cidaacutelia Duarte pers comm)The bone industry consists of a small assemblage of bone points (n=18)

Figure 2 Plan of the Escoural Cave main and upper floors Shade highlights the archaeological areas with (A) Palaeolithic rock art Early and Late Neolithic remains (B) Middle Palaeolithic Early Neolithic remains G gallery Numbers 1ndash77 indicate locations with rock art Adapted from ARAUacuteJO amp LEJEUNE 1995

| 73

| 2018

Figure 3 Human remains in association with material culture covered with calcite Ex-cavated in 1963 in the Escoural Cave and curated at the National Museum of Archae-ology Lisbon Reproduced with permission Copyright copy Joseacute Pessoa ADF Arquivo de Documentaccedilatildeo Fotograacutefica DGPC

Figure 4 Example of archaeological material excavated in the 1960s in the Escoural Cave Reproduced with permission Copyright copy Joseacute Pessoa ADF Arquivo de Docu-mentaccedilatildeo Fotograacutefica DGPC

74 |

mostly made from long bones of ovicaprid species At least one point was carved from a red deer bone (Cervus elaphus) and was engraved with incisions The study of this material is limited to preliminary description which includes location of the artefacts in the cave and individual draw-ings (ARAUacuteJO et al 1995) Lithic industry consists of knapped and polished stone tools Prelimi-nary description drawings and the location of the finds in the cave has been published (ARAUacuteJO et al 1995) Stone tools were knapped from non-local flint and consist of a relatively homogeneous groups of blades (n=34) knapped by indirect percussion and pressure in some cases and microliths made from elongated blanks (geometric trapezes n=12) The assemblage contains three cores one prismatic for blades (flint) one bipolar for bladelets (hyaline quartz) and one interpreted as a possible scrapper (hyaline quartz) The assemblage of polished stone tools is com-posed by axes (n=6) adzes (n=10) and chisels (n=3) Macroscopic ob-servation of the material suggests that most of these artefacts were not used (ARAUacuteJO et al 1995) Other stone artefacts include polishers (n=3) and a sharpener (n=1) covered with red ochre Preliminary analysis indi-cates a non-local provenance of the raw material Pottery in Escoural is composed by several complete or almost complete vessels However most of the assemblage consists of a large number of plain fragments For this reason it has been difficult to estimate the number of vessels (ARAUacuteJO et al 1995) First analyses of the assem-blage (ARAUacuteJO et al 1995) indicate that clay matrices were homoge-nous and surfaces were smoothed out and often polished Vessel shape types include globular (19ndash23 cm in diameter) small globular (10ndash12 cm in diameter) oval mouth (9ndash16 cm in diameter) bowls and a few carenated bowls Some vessels have elements of suspension such as handles mamelon and plastic cordons The few decorated fragments found in the cave were decorated with impressed techniques Among these are the fragments with impressed cardial (n=9) which were found scattered in room 1 and seem to belong to one globular vessel (ARAUacuteJO 1995b) Other impressed ware was found in the exterior of the cave at the south-eastern entrance as well as in the interior but in secondary position (see above) One group of impressed fragments (n=8) seem to belong to one large globular vessel with narrow opening The second

| 75

| 2018

group of impressed ware (n=2) consists of one handle of a globular vessel and were found in the exterior of the cave Personal adornments were made of bone stone and shell (ARAUacuteJO et al 1995) The assemblage consists of bone (n=5) and stone (n=10) beads one hair pin made of bone (SANTOS et al 1991) a bracelet made from shell of dog cockle (Glycymeris sp) and coin shaped objects (n=3) made from common cockle shell (Cerastoderma edule) Other objects found in the cave include one fragment of a ceramic spoon and a fragment of what could be the base of a polished lime-stone object Two perforated sandstone plaques (SANTOS 1971) are among the archaeological collection but the context of their excavation is unclear (ARAUacuteJO et al 1995 p 72) Other remains found in the cave in association with archaeological ma-terial include a few large scallop shells (Pecten sp) mussels (Mytilus edulis) and oysters (Ostrea sp) as well as pebbles of various sizes foreign to the cave environment Red ochre charcoal and burnt sedi-ments were also largely documented and collected during the 1960s excavations 22 Radiocarbon datesRadiocarbon (14C) measurements on archaeological material found inside the cave were carried out in 1989ndash1995 (ARAUacuteJO amp LEJEUNE 1995) Samples consisted of human bone collected in 1989 (n=4) and in 1964 (n=1) (Table 1) One sample revealed poor quality during laboratory anal-ysis and the measurements were rejected (human tibia 1963 gallery 7 group 18 OxAndash4444 5560 plusmn 160 BP) (MONGE SOARES 1995 p 111) The oldest dates on human bone collagen from the Escoural Cave are represented by two individuals in room 1 and gallery 4 (G43) with a pos-terior density estimate for the time of burial of 3618 ndash 3102 cal BCE (95 probability) and 3506 ndash 3107 cal BCE (95 probability) respectively The other three 14C dates obtained from burials found in galleries 4 and 12 cluster in the time span c 3300 ndash3000 cal BCE (95 probability) The abundant human remains in galleries 6 7 11 have not been successfully datedCurrent 14C data predicts the start of the use of the cave for the depo-sition of the dead to have been 3841 ndash 3124 cal BCE (95 probabili-ty start of funerary activity) and its end to have been in 3344 ndash 2708

76 |

cal BCE (95 probability end of funerary activity) (Fig 5) The activity is estimated to have continued for between 0 and 506 years (95 prob-ability site use for funerary activity) It is important to emphasize that these boundaries are date estimates which have not been dated directly by 14C measurements and were calculated by OxCal (BRONK RAMSEY 2009) from the dated human remains of the series Model boundaries do not depend on any particular 14C date but on the whole assemblage of considered dates (see BRONK RAMSEY 2000 2001) As discussed below the current dataset has low resolution and new measurements will certainly refine current estimates At present Start and End boundaries were predicted based on five dates with relatively large uncertainties and should not be used to define the use of the Escoural Cave for funerary practices However while these boundaries must be used with caution as they do not represent direct dates they can be used as guidelines to

Table 1 Human bone collagen (5) samples from the Escoural Cave (ARAUacuteJO amp LE-JEUNE 1995)

| 77

| 2018

inform further research and to test hypotheses allowing refinement of further and more robust chronologies

3 DISCUSSIONDespite the number of published papers a monograph and its status as a National Monument the use of the Escoural Cave by Neolithic popula-tions and how its use intersects key periods of the neolithisation of the territory are not well understood The chronology of the funerary activity in the cave remains an open ques-tion and multilayered intersections of this occupation with key periods in the process of establishing farming lifeway should be investigated The Early Neolithic (c 5500 ndash 4700 BCE) presence in the cave is attest-ed by impressed pottery but the nature of this occupation and its abso-lute chronology are unknown Fragments of impressed cardial ware were

Figure 5 Chronological model for the funerary activity at Escoural Cave based on 14C dates on human bone collagen Agreement index for each dated event is high (Age75) and in good convergence (Cge98) The model shows satisfactory overall agreement (Aoverall=85) indicating that the 14C dates are in accordance with the prior informa-tion incorporated in the model which does not assume phases and does not impose any relative order to the dated events Calibrated with OxCal 43 (BRONK RAMSEY 2009) using atmospheric curve IntCal13 (REIMER et al 2013)

78 |

identified in room 1 where most human remains were found however its exact provenance and association with funerary deposits is unclear Whether this ceramic tradition was associated with funerary practices or with other uses of the cave during the Early Neolithic can only be tested by a systematic 14C dating programme of the human remains in the vari-ous sections of room 1 and galleries Testing the hypothesis of the use of the cave by early farmers as a place for the dead is particularly relevant because while Early Neolithic settlements are well known in the region (eg Valada do Mato c 10 km NE from the cave DINIZ 2007) the places for the dead remain unidentified Current radiometric chronology is based on human bone remains found in room 1 (n=1) and in galleries 4 (n=2) and 12 (n=2) While these results are coherent with the funerary use of the cave during one main phase further dates may refine this chronology in terms of additional phases masked by the limited number of dates The material culture ie plain globular pottery axes adzes and chisels small blades and trapezes and personal adornments such as the Pecten bracelet suggest that the main phase of funerary activity in the cave was during the Middle Neolithic (c 4500 ndash 3500 BCE NEVES amp DINIZ 2014) However the oldest dated human remains are more recent (ICEN-861 Lv-1923) ranging from c 3600 to 3100 cal BCE (95 confidence) sug-gesting either that the Middle Neolithic human remains have not been directly dated yet andor that the artefactual tradition associated with the Middle Neolithic persisted for a longer period of time at least in fu-nerary contexts indicating conservatism and continuity in the Escoural Cave The other available dates (Lv-1925 Lv-1924 Lv-1922) collected from individuals placed in different areas of the cave cluster in the time span between 3300 and 3000 cal BCE This Late Neolithic chronology is at odds with the bulk of the material culture which parallels with Middle Neolithic contexts elsewhere Although current estimates of the start and end of the funerary activity in the cave must be interpreted with caution these highlight issues requiring further investigation At present there are no burials dated after c 3300 ndash 3000 cal BCE However the extend-ed end boundary predicted by the model (c 3300 ndash 2700 cal BCE) may be plausible as it accommodates the typically later temporal framework attributed to a few artefacts also found in the cave such as the carena-

| 79

| 2018

ted vessels perforated sandstone plaques (n=2) and a fragment of po-lished limestone object (ldquoidolrdquo) In the context of the whole assemblage these elements are low in number and the context of excavation of these artefacts is not clear however the hypothesis of a later use of the cave must be investigated and further 14C dating should provide direct data to confirm or reject this hypothesis Understanding the use of the cave during the Neolithic may become more complex but better defined as more 14C measurements become available securely dating human activity over time To investigate these intricacies we need a dataset with greater resolu-tion This includes new dates with smaller uncertainties representative of the s-patial distribution of the funerary depositions in the cave allowing to effectively investigate when the funerary activity started and when it ended as well as to estimate the frequency of mortuary depositions in the caveAnalysis of the archaeological assemblage in the Escoural Cave raises se- veral important issues for the research on Neolithic population interaction and funerary practices Firstly the material culture associated with Middle Neolithic funerary practices in natural caves seems to suggest at least two cultural traditions i) a phase andor tradition defined by the presence of flaked and polished stone tools such as blades trapezes axes and adzes personal adornments on shells such as Glycymeris bracelets and few pot-tery vessels ndash largely based on recent research in Algar do Bom Santo Cave c 3800 ndash 3400 cal BCE (CARVALHO 2014) ii) a phase andor tradition char-acterized by the same votive package outlined above but with an import-ant ceramic component such as plain globular vessels in association with the dead as observed in the Escoural Cave which chronology remains to be refined Whether these traditions are the result of different chronological phases or co-existing practices remains an open question Secondly the Escoural Cave was used as a funerary space while several megalithic architectures of funerary and non-funerary nature (eg dolmens menhirs stone circles) emerged in the area (c 36003500 ndash 3000 cal BCE BOVENTURA 2009) raising interesting questions about socio-cultural diver-sity and interaction during the Neolithic After death while some individuals were placed in the Escoural Cave others were placed in dolmens or other megalithic structures Escoural is the only cave in the interior of Alentejo and even though its use for funerary practices may seem odd in a landscape po-

80 |

pulated by megalithic architectures this was common practice since the Ear-ly Neolithic in the cave rich limestone areas of Estremadura Natural caves such as Escoural were possibly prioritized by Neolithic populations for the placement the dead (BOAVENTURA 2009) Thus to understand this parti- cular place it is important to establish the origins of Escouralrsquos population as well as to investigate contemporary funerary practices in relation with choice of containers (eg cave megalithic structures) The main question that remains to be answered is who were the people placed in the Escoural Cave after death Were these people from a local population using the cave as a funerary space or from non-local groups deliberately choosing the single nat-ural cave in the area to reproduce a foreign funerary tradition Or were the dead at Escoural Cave an admixture of local and non-local groups performing and re-interpreting funerary traditions

4 FURTHER WORKThe funerary context in the Escoural Cave offers a unique research opportunity for in-depth analysis of how early farmers treated the dead to establish more accurate chronotypologies for the Neolithic for high- -resolution physical and biochemical analyses of Neolithic remains (hu-man bone artefacts) to examine sociocultural and biological interaction within early farmer groups as well as with past hunter-gatherer popula-tionsThe key questions which need to be addressed are 1) Who was placed in the Escoural cave after death 2) Can we distinguish between farmer groups at biological and sociocultural levels 3) Was the cave used by pioneer farmers for funerary practices If so how did these first farmers adapt to a new landscape and interact with local hunter-gatherersTraditional archaeological methods alone have not been able to resolve these questions The aim of the current projected focused on the Escour-al Cave is to implement an integrated interdisciplinary high-resolution ap-proach to understand human interaction at the onset and establishment of new lifeways in south-western Iberia (c 5400 ndash 3000 BCE) through the explicit application of archaeological science to archaeology of deathThe dead at Escoural must be examined in terms of time population and practice by integrating several scales of analysis osteoarchaeology genomics palaeodiet and subsistence mobility funerary practices ma-

| 81

| 2018

terial culture and chronological framework With this approach we aim to provide new knowledge from the exceptional archaeological assemblage already excavated in the Escoural Cave contributing with new value to the museum collections of this National Monument

ACKNOWLEDGMENTSThe Markus Borgstroumlm Grant Uppsala University for funding this re-search the National Museum of Archaeology (MNA) for providing access and facilities to study the Escoural collection and the National Archive of Photographic Documentation (Arquivo de Documentaccedilatildeo Fotograacutefica da DGPC) for permission to reproduce photographic material

REFERENCES ARAUacuteJO Ana Cristina (1995a) ndash O Siacutetio In ARAUacuteJO Ana Cristina LEJEUNE Marylise eds ndash Gruta do Escoural necroacutepole neoliacutetica e arte rupestre paleoliacutetica Lisboa IP-PAA pp 12ndash34 (Trabalhos de Arqueologia 8)ARAUacuteJO Ana Cristina (1995b) ndash O Neoliacutetico Antigo In ARAUacuteJO Ana Cristina LE-JEUNE Marylise eds ndash Gruta do Escoural necroacutepole neoliacutetica e arte rupestre pa-leoliacutetica Lisboa IPPAA pp 51ndash56 (Trabalhos de Arqueologia 8)ARAUacuteJO Ana Cristina (2016) ndash Une histoire des premiegraveres communauteacutes meacuteso-lithiques au Portugal Oxford BAR International Series 2782ARAUacuteJO Ana Cristina LEJEUNE Marylise (1995) ndash Gruta do Escoural necroacutepole neoliacutetica e arte rupestre paleoliacutetica Lisboa IPPAA (Trabalhos de Arqueologia 8)ARAUacuteJO Ana Cristina CAUWE Nicolas SANTOS Ana Isabel (1995) ndash A Necroacutepole Neoliacutetica (Estudo das Colecccedilotildees das Antigas Escavaccedilotildees) In ARAUacuteJO Ana Cristina LEJEUNE Marylise eds ndash Gruta do Escoural necroacutepole neoliacutetica e arte rupestre pa-leoliacutetica Lisboa IPPAA pp 57ndash109 (Trabalhos de Arqueologia 8)BOAVENTURA Rui (2009) ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa Lisboa Universidade Unpublished PhD dissertationBOAVENTURA Rui FERREIRA Maria Teresa NEVES Maria Joatildeo SILVA Ana Maria (2014) ndash Funerary practices and Anthropology during Middle-Late Neolithic (4th and 3rd millennia BCE) in Portugal old bones new insights Anthropologie LII2 pp 183ndash205BRONK RAMSEY Christopher (2000) ndash Comment on the use of Bayesian statistics for 14C dates of chronologically ordered samples a critical analysis Radiocarbon 42 (2) pp199ndash202BRONK RAMSEY Christopher (2001) ndash Development of the radiocarbon dating pro-gram Radiocarbon 43 (2A) pp 355ndash363BRONK RAMSEY Christopher (2009) ndash Bayesian analysis of radiocarbon dates Ra-diocarbon 51 (1) pp 337ndash360CARVALHO Antoacutenio Faustino (2014) ndash Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neo-lithic societies of Southern Portugal Faro Universidade do Algarve (Promontoria

82 |

Monograacutefica 17)CAUWE Nicolas (1996) ndash La neacutecropole de la grotte drsquoEscoural (prov drsquoEvora Por-tugal) essai drsquointerpreacutetation des rites funeacuteraires In OTTE Marcel SILVA Antoacutenio Carlos eds ndash Recherches preacutehistoriques agrave la grotte drsquoEscoural Portugal Liegravege Uni-versiteacute de Liegravege Service de Preacutehistoire pp 287ndash311 (ERAUL 65) DINIZ Mariana (2007) ndash O siacutetio da Valada do Mato (Eacutevora) aspectos da neolitizaccedilatildeo no interiorSul de Portugal Lisboa IPA (Trabalhos de Arqueologia 48)DINIZ Mariana NEVES Ceacutesar MARTINS Andreia (2016) ndash Sociedades neoliacuteticas e comunidades cientiacuteficas questotildees aos trajectos da Histoacuteria In DINIZ Mariana NEVES Ceacutesar MARTINS Andreia eds ndash O Neoliacutetico em Portugal antes do Horizonte 2020 perspectivas em debate Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses pp131ndash153 (Monografias da AAP 2)GLORY Andreacute VAULTIER Maxime SANTOS Manuel Farinha dos (1966) ndash La grotte orneacutee drsquoEscoural (Portugal) Bulletin de la Socieacuteteacute preacutehistorique franccedilaise Paris 62 (1) pp 110ndash17 GOMES Maacuterio Varela CARDOSO Joatildeo Luiacutes SANTOS Manuel Farinha dos (1990) ndash Artefactos do Paleoliacutetico superior da Gruta do Escoural (Montemor-o-Novo Eacutevora) Almansor Montemor-o-Novo 8 pp 15ndash36GOMES Maacuterio Varela GOMES Rosa Varela SANTOS Manuel Farinha dos (1983) ndash O Santuaacuterio exterior do Escoural Sector NE (Montemor-o-Novo Eacutevora) Zephyrvs 36 pp 287ndash307GOMES Maacuterio Varela GOMES Rosa Varela SANTOS Manuel Farinha dos (1994) ndash O Santuaacuterio exterior do Escoural Sector SE (Montemor-o-Novo Eacutevora) In Actas das V Jornadas Arqueoloacutegicas Lisboa AAP pp 93ndash108GOMES Maacuterio Varela NINITAS Joatildeo Borralho Rita (2012ndash2013) ndash Artefactos liacuteticos do povoado calcoliacutetico do Escoural (Montemor-o-Novo) Almansor Montemor-o-Novo 10 pp 5ndash60 GOMES Rosa Varela GOMES Maacuterio Varela SANTOS Manuel Farinha dos (1983) ndash Santuaacuterio exterior e povoado calcoliacutetico do Escoural Clio Arqueologia Lisboa 1 pp 77ndash78ISIDORO Agostinho Farinha (1981) ndash Espoacutelio oacutesseo humano da Gruta Neoliacutetica do Escoural Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto XXIV (1) pp 5ndash46LEJEUNE Marylise (1995) ndash LrsquoArt Parietal de La Grotte Drsquo Escoural In ARAUacuteJO Ana Cristina LEJEUNE Marylise eds ndash Gruta do Escoural necroacutepole neoliacutetica e arte rup-estre paleoliacutetica Lisboa IPPAA pp 123ndash233 (Trabalhos de Arqueologia 8)MONGE SOARES Antoacutenio (1995) ndash Dataccedilatildeo absoluta da necroacutepole ldquoneoliacuteticardquo da Gruta do Escoural In ARAUacuteJO Ana Cristina LEJEUNE Marylise eds ndash Gruta do Es-coural necroacutepole neoliacutetica e arte rupestre paleoliacutetica Lisboa IPPAA pp 111ndash119 (Trabalhos de Arqueologia 8)NEVES Ceacutesar DINIZ Mariana (2014) ndash Acerca dos cenaacuterios da acccedilatildeo estrateacutegias de implantaccedilatildeo e exploraccedilatildeo do espaccedilo nos finais do 5ordm e na primeira metade do 4ordm mileacutenio AC no sul de Portugal Estudos do Quaternaacuterio Braga APEQ 11 pp 45ndash58OTTE Marcel SILVA Antoacutenio Carlos (1996) ndash Recherches preacutehistoriques agrave la grotte drsquoEscoural Portugal Liegravege Universiteacute de Liegravege Service de Preacutehistoire (ERAUL 65) PEYROTEO STJERNA Rita (2016) ndash Roots of death origins of human burial and the re-search on Early Holocene mortuary practices in the Iberian Peninsula In GRUumlNBERG

| 83

| 2018

Judith GRAMSCH Bernhard LARSSON Lars ORSCHIEDT Joumlrg MELLER Harald eds ndash Mesolithic burials ndash Rites symbols and social organisation of early postglacial communities Halle (Saale) Tagungen des Landesmuseums fuumlr Vorgeschichte Halle pp 629ndash643 (Band 13II)REIMER Paula J BARD Edouard BAYLISS Alex BECK J Warren BLACKWELL Paul G RAMSEY C Bronk BUCK Caitlin E CHENG Hai EDWARDS R Lawrence FRIED-RICH Michael GROOTES Pieter M GUILDERSON Thomas P HAFLIDASON Haflidi HAJDAS Irka HATTEacute Christine HEATON Timothy J HOFFMANN Dirk L HOGG Alan G HUGHEN Konrad A KAISER K Felix KROMER Bernd MANNING Sturt W NIU Mu REIMER Ron W RICHARDS David A SCOTT E Marian SOUTHON John R STAFF Richard A TURNEY Christian S M VAN DER PLICHT Johannes (2013) ndash In-tCal13 and Marine13 Radiocarbon Age Calibration Curves 0ndash50000 Years cal BP Radiocarbon 55(4) pp 1869ndash1887SANTOS Manuel Farinha dos (1964) ndash Vestiacutegios de pinturas rupestres descobertos na Gruta do Escoural O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 2(5) pp 5ndash47SANTOS Manuel Farinha dos (1967a) ndash A necroacutepole de tipo ldquotholosrdquo de Santiago do Escoural O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3(1) pp 107ndash13SANTOS Manuel Farinha dos (1967b) ndash Novas gravuras rupestres descobertas na Gruta do Escoural Revista de Guimaratildees Guimaratildees 72 pp 18ndash34SANTOS Manuel Farinha dos (1971) ndash Manifestaccedilotildees votivas da necroacutepole da Gruta do Escoural In Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia Coimbra Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Nacional vol I pp 95ndash97SANTOS Manuel Farinha dos FERREIRA Octaacutevio da Veiga (1969) ndash O monumento eneoliacutetico de Santiago do Escoural O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3(3) pp 37ndash62SANTOS Manuel Farinha dos GOMES Maacuterio Varela CARDOSO Joatildeo Luiacutes (1991) ndash Dois artefactos de osso poacutes-paleoliacuteticos da Gruta da Escoural (Montemor-o-Novo Eacutevora) Almansor Montemor-o-Novo 9 pp 75ndash94SANTOS Manuel Farinha dos GOMES Maacuterio Varela MONTEIRO Jorge Pinho (1980) ndash Descobertas de arte rupestre na Gruta do Escoural In Altamira Symposium Ma-drid Ministerio de Cultura Subdireccioacuten General de Arqueologiacutea pp 205ndash242SILVA Antoacutenio Carlos MAURAN Guilherme ROSADO Tacircnia MIRAtildeO Joseacute CANDE-IAS Joseacute CARPETUDO Carlos CALDEIRA Ana Teresa (2017) ndash A arte rupestre da Gruta do Escoural novos dados analiacuteticos sobre a pintura paleoliacutetica In Arqueologia em Portugal 2017 estado aa questatildeo Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portu-gueses pp 1003ndash1019 ZILHAtildeO Joatildeo (1992) ndash Gruta do Caldeiratildeo O Neoliacutetico Antigo Lisboa IPPAA (Tra-balhos de Arqueologia 6) ZILHAtildeO Joatildeo (2001) ndash Radiocarbon evidence for maritime pioneer colonization in the Iberian Peninsula Proceedings of the National Academy of Sciences 98(24) pp14

84 |

| 85

| 2018

Building up the land a new appraisal to the megalithic phenomenon in the Barbanza peninsula (Galicia NW Spain)

Construindo o territoacuterio uma nova abordagem do fenoacutemeno megaliacutetico na Peniacutensula do Barbanza (Galiza NO de Espanha)

ABSTRACTFunerary mounds whether megalithic or not feature prominently among the Galician archaeology and their sheer number and monumentality have attracted the attention of scholars ever since the end of the 19th century The Barbanza peninsula (western coast of Galicia) stands out for its numer-ous barrows with a noticeable cluster of those on the high plateau where spatial analyses were undertaken by researchers in the early 80rsquoIn the last decade there has been a renewed effort at surveying the Barbanza peninsula leading to the discovery of scores of new mounds thus significan- tly modifying the distribution of these monuments and breaking some-what the paramount role of the high sierra Moreover by employing new methodologies such as Geographical Information Systems and spatial statistics we can observe that mounds are indeed associa- ted with transit routes and at a local scale with conspicuous areas more often than for instance rock art sitesTherefore an image surges forward where megalithic architecture does not act exclusively as a static milestone but rather as a dynamic agent linked to a cognitive geography developed by communities in the Late Prehistory that undertake the exploitation of different landscapes and resources from the very coast to the uplands In the framework of this process however a marked variability can be observed regarding the conspicuity that these monuments might have had in the prehistoric lands- cape This may suggest a multiplicity of roles or audiences ranging from those intended to be real landmarks to others apparently designed to go unnoticed KEY WORDS Prehistoric mounds prehistoric mobility perceptibility GIS spa-tial statistics

Ramoacuten Faacutebregas Valcarce1 Carlos Rodriacuteguez-Rellaacuten1 Juliaacuten Bustelo Abuiacuten1 Viacutector Barbeito Pose2

1GEPN-AAT Facultade de Xeografiacutea e Historia Universidade de Santiago de Compostela Praza da Universidade 1 15703 Santiago de Compostela A Coruntildea Spain ramonfabregasusces2Centro Arqueoloacutexico do Barbanza 15991 Cespoacuten Boiro A Coruntildea Spain

86 |

RESUMOOs tuacutemulos funeraacuterios sejam megaliacuteticos ou natildeo destacam-se dentro da ar-queologia galega e o seu nuacutemero e monumentalidade tecircm atraiacutedo a atenccedilatildeo dos estudiosos desde o final do seacuteculo XIX A peniacutensula de Barbanza (costa ocidental da Galiza) destaca-se pelos seus numerosos tumulos com um no-taacutevel agrupamento daqueles no planalto onde as anaacutelises espaciais foram rea- lizadas por investigadores no iniacutecio dos anos 80Na ultima deacutecada houve um esforccedilo renovado de examiner peniacutensula de Barbanza levando agrave descoberta de dezenas de novos tumulos modifi-cando significativamente a distribuiccedilatildeo desses monumentos e quebrando um pouco o papel primordial da alta serra em relaccedilatildeo a esse fenoacutemeno fune- raacuterio Aleacutem disso ao empregar novos meacutetodos como Sistemas de Informaccedilatildeo Geograacutefica e estatiacutesticas espaciais podemos observar que os tumulos estatildeo de facto associados a rotas de tracircnsito e em escala local com aacutereas conspiacutecuas mais frequentemente do que por exemplo siacutetios de arte rupestrePortanto surge uma imagem onde a arquitectura megaliacutetica natildeo atua como um marco estaacutetico mas sim como um agente dinacircmico ligado a uma geografia cognitiva desenvolvida por comunidades na preacute-histoacuteria tardia que empreendem a exploraccedilatildeo de diferentes paisagens e recursos desde a costa agraves terras altas No acircmbito deste processo no entanto uma variabilidade acentuada pode ser observada em relaccedilatildeo agrave conspicuidade que esses monumentos poderiam ter na paisagem preacutehistoacuteri-ca Isso pode sugerir uma multiplicidade de papeacuteis ou audiecircncias variando daqueles destinados a ser marcos reais para outros aparentemente destinados a passar despercebidoPALAVRAS-CHAVE Tumulos preacute-histoacutericos mobilidade preacute-histoacuterica perceptibilidade GIS estatiacutesticas espaciais

1 FOREWORDThe relationship between megaliths and movement has been tirelessly explored in the last three decades in almost every area of the Iberian Peninsula where these monuments are present Galicia has not been an exception the impact that ldquoLandscape Archaeologyrdquo had in the area during the 90s leading to the pub-lication of numerous studies exploring the correlation between the mound loca-tion and paths across the landscape (Criado amp Vaquero 1993 Criado amp Faacutebre-gas 1994) Thus Galician mounds have been systematically linked to what has been called the ldquogeography of movementrdquo (Infante amp alii 1992) with their loca-tion analysed in terms of proximity to paths and key points for the transit across the prehistoric landscapes In such a theoretical framework monuments were

| 87

| 2018

understood as agents humanising and structuring the space shaping it accor- ding to the perceptions and beliefs of the groups responsible for the cons- truction of the monuments (Criado amp Villoch 2000)The Barbanza peninsula (Figure 1) has been the paradigmatic sce-nario of several of the most influential approaches of this kind (Criado amp Villoch 1998 2000 Villoch 1995) and the research in the area continues to the present with work carried out after the genera- lization of the GIS (Llobera 2015 Rodriacuteguez-Rellaacuten amp Faacutebregas IP) Still several of these attempts share limitations from a metho- dological and archaeological point of view A thorough review of the inventory of monuments -leading to the discovery of 29 new mounds- combined with the use of GIS and statistics can help us to take a step forward towards the unders- tanding of the role that megaliths played within the landscape and the mobility patterns of the prehistoric human groups in the Barbanza peninsula

2 MOUNDS IN THE BARBANZA PENINSULAThe most up-to-date inventory for the Barbanza Peninsula comprises a total of 209 mounds including 29 new monuments and discarding 6 sites mista- kenly catalogued as such but being ndashin factndashaccumulations of earth of natural origin or recent chronology This inventory shows that while the highlands of the Barbanza peninsula follow the general distribution patterns of the funerary

Figure 1 Top Location of mounds with-in the Barbanza Peninsula Bottom Al-titudinal distribution of mounds (line) compared to that of the terrain in the study area (bars)

88 |

tumuli in north-west Iberia which tends to show a noticeable concentration of these along medium-height plateaus and the flattened top of mountain ranges (Figure 1) barely 46 (22 ) of the reported 209 mounds are located above 400 meters high while 138 (66 ) are found on the coastal platform (0-200 masl) (Bustelo amp alii IP) If we consider the relative presence of monuments against the weight of the different altitudinal ranges within the study area (Figure 1 bottom) the per-centage of mounds in the highlands is higher than the terrain in that specific altitudinal range but ndashagainndash so it is in the coastal platform Moreover the lat-ter is densely populated and the landscape there has been much more altered It is quite possible ndashthereforendash that the initial number of mounds in the coastal platform were even greater with a good proportion of monuments destroyed over the last two centuries due to agricultural and building activities Signifi-cantly the 3 mounds that have been recently destroyed in the study area were located in the coastal areaRegarding the density of monuments in the highlands the highest values identi-fied (185 mounds per km2) are not superior to the lower areasrsquos (239 mounds per km2) Finally no significant statistical differences have been found between the mounds located at the top of the sierra and those in other areas of the Bar-banza peninsula in terms of size (diameter height or volume) or structural cha- racteristics (Bustelo amp alii IP)

3 PREVIOUS APPROACHES Despite recent analyses suggesting the absence of an altitudinal zonation of the megalithic phenomenon of the Barbanza Peninsula many of the studies in the area have focused on the monuments located at the top of the Sierra (Criado amp Villoch 1998 Llobera 2015) These approaches have remarked the existence of an alleged link between mounds and highlands (Criado amp Faacutebre-gas 1994 Criado amp alii 1991) opposing the distribution of these monuments to that of other archaeological sites such as petroglyphs and settlements (Faacutebregas amp Rodriacuteguez 2012) These proposals have contributed to promote a ndashsomehowndash dualistic vision of the landscape in which the highlands would have been a territory with a high symbolic content and partially devoid of po- pulation (Criado 2005) The reason why these works have focused almost exclusively on the highland tumuli is difficult to determine but it seems to be more aesthetic than strictly archaeological The landscape on the top of the Serra do Barbanza has been significantly less transformed by the pass of time apparently retaining a more ldquoprehistoricrdquo appearance The absence of buildings trees etchellip makes the

| 89

| 2018

mounds more easily perceptible and its monumentality seems to be some-what increased therefore providing a good framework for testing hypotheses about the role of these monuments in the creation and organization of terri-tories However the results of these approaches are in our view dangerouly skewed given the reduced size and low variability of the sample used during the analysis Although the results achieved by some of the traditional studies in the area are undoubtedly useful (eg Criado amp Villoch 1998 Villoch 1995) they tend to show some of the limitations typical of these pioneering approaches such as the ldquogratuityrdquo of many of the statements made regarding complex processes such as movement and perception (Llobera 2001) Thus in most cases the paths and routes through which the movement would have been implemented were defined in an ad hoc manner based on field observations conducted only in the proximity of the sites subjected to analysis (Bradley amp alii 1994 Criado amp Villoch 1998) As it happens the resulting path networks do not actually connect different places in the landscape but rather different clusters of monuments (Cri-ado amp Villoch 2000) and ndashas suchndash they have little in common with the tradition-al road network (Figure 2) This kind of approaches increase the risk of artificially overestimating the spatial relationship between mounds or other sites (such as petroglyphs) and transit routes The surge of the GIS technology has drastically changed the analysis of move-

Figure 2 A Paths as proposed by Criado amp Villoch (1998) B Historic paths across the Barbanza (orange The Way of Saint-James according to Naacuterdiz amp alii 1999 red roads in D Fontaacutenrsquos map) C Least-Cost-Paths net-work and density kernel derived from it

90 |

ment and perceptibility allowing the calculation ndash in a quick and relatively simple manner ndash of potential routes across the landscape based on the economy of effort and the energy consumption of the virtual walkers Thus least cost path (LCP) analyses have become routine in the archaeological studies Among the numerous works applying this kind of simulations some have included innova-tive solutions trying to solve the limitations of the LCP analysis such as those derived from the impact of the election of different points of origin and destina-tion on the final outcome (Faacutebrega-Aacutelvarez 2006 White amp Barber 2012 among many others)The Barbanza peninsula has been also the subject to attention by other research-ers using GIS (Rodriacuteguez 2012 Rodriacuteguez amp Faacutebregas 2015) Among them we must highlight the recent work by Llobera (2015) which shows the existence of a link between the mounds located ndashagainndash in the highlands of the Barbanza and the transit corridors connecting different parts of the peninsula

4 ONE MORE APPROACH FROM THE GISIn this paper we have taken into account variables such as altitude slope distance to the nearest LCP density of LCPs topographic prominence (Llobera 2001) cumulative viewsheds horizon height (Hofierka amp alii 2007) and sky-view factor (Zakšek amp alii 2011) registering their values in the locations of the 209 mounds known in the Barbanza In order to determine whether they are different from those of any other place within the study area the same variables have been analysed in the location of 209 (the same number as the mounds) points randomly distributed across the Barbanza peninsula These calculations have been conducted over a 5-metre resolution DEM and using GRASS GIS (version 74) Aiming to detect the existence of significant differenc-es regarding the aforementioned variables the mounds and random points have been analysed together using a generalised linear model (GLM) Such statistical analyses have been conducted on R version 350 (R Core Team 2018)In order to contextualise the monuments within the general movement net-work across the study area we have used a simple approach based on the calculation of a dense net of LCPs connecting those points in the study area where prehistoric settlements have been documented (Faacutebregas amp Rodriacuteguez 2012) that may be coetaneous with the construction and use of the megaliths and thus may have belonged to the same communities those areas that may have played a significant role in getting in and out of the Barbanza peninsula and ndashfinallyndash random points located in both the Northern and Southern shores of the Barbanza

| 91

| 2018

The selection of these areas as points of origin and destiny of our LCP has allowed us to calculate the movement network independently from the mounds contextualising these monuments in the general transit network across the study area which connected the settled zones with both shorelines and with the paths in and out of the Barbanza peninsula This network probably reflects some of the everyday movement patterns of the local groups during the prehis-tory in a reasonably realistic wayThus 5800 LCPs have been calculated across the Barbanza peninsula The sum of all the routes ndash despite being sensibly lower in number than those cal-culated by Llobera (2015) ndash allowed us to estimate the potential transit intensi-ty for the study area identifying those places with a higher probability of having acted as nodes or key points in the transit network (Figure 2C) The results identify several areas that would have higher probabilities of being walked some of which closely match some of the historical routes in the Barbanza such as the local branches of the Way of St James (Naacuterdiz amp alii 1999) (Figure 2A) or the roads featuring in the map by Domingo Fontaacuten (1817-1834) (Figure 2B) thus suggesting that this method might be useful for approaching the tra-ditional movement strategies across the landscapeThe interaction between mounds petroglyphs and the prehistoric landscape was probably not only determined by the remoteness or proximity to important transit routes but also by their capacity of being noticed from the surroundings However while remoteness is relatively easy to approach from a GIS perspec-tive the simulations of the level of perceptibility of a given spotmonument have not yet been implemented in a satisfactory manner Regarding the Gali-cian prehistoric monuments their perceptibility has only been addressed spo-radically (Bradley 2009) usually being confused with the ldquovisibilityrdquo exerted from the monuments (Faacutebregas amp Rodriacuteguez-Rellaacuten 2015)The specific location size or the presence of a cairn made of quartz cobbles or other shining stones would have acted as important elements for modulating the perceptibility of a given mound (Bradley amp alii 2000) However it is impor- tant to remember that the capacity to be noticed is not entirely (or even mainly) based on physical factors the social or ritual significance of a specific mound might have multiplied its perceptibility regardless of its remoteness or size However this kind of socially-based factors can hardly be managed by either Archaeology or ndashmore specificallyndash spatial and GIS studies (Gaffney amp Leusen 1995) Nonetheless very interesting approaches have been carried out trying to determine the possible significance of specific places within the landscape (Rennell 2012 Wheatley 2000) Most of them are based on similar concepts those areas more noticeable from the surroundings are more likely to have

92 |

acted as landmarks and thus might have played a significant role within the cognitive and symbolic geography of the human groups living nearby A recurrent setting of archaeological sites in those prominent or conspicuous areas might imply that these were purposely built in those places where they would have had a higher chance of being noticed and they also shared the im-portance andor symbolism of the place One of the approaches to analyse the potential significance of a given area within the local landscape is the ldquotopo-graphic prominencerdquo described as the percentage of locations that lie below a specific location within a certain radius (Llobera 2001) Another important characteristic for ensuring the perceptibility of a given mo- nument is whether it is located in an open space where it could be easily seen from the surroundings In his work analysing the mounds of the Sierra del Bar-banza Llobera (2015) remarked upon the tendency of mounds to be located in places that would have acted as local horizons as a circumstance that he relates with the will of modulating the perceptibility of these monuments either making them patent or restricting their view to certain areas (Ibid)We have also approached this variable albeit in a much simpler way For this purpose we have calculated the horizon height (Hofierka amp alii 2007) in the areas where mounds petroglyphs and random points are located A type of calculation with outcomes similar to these is the sky-view factor a value deter-mining the portion of the visible sky from each area as limited by the surround-ing relief (Zakšek amp alii 2011) The higher this factor the higher the openness of the area where the monument is located thus increasing its possibilities of being noticed The next step in attempting to measure the perceptibility of mounds and petro-glyphs of the Barbanza peninsula was to calculate the level of conspicuity of their specific locations The calculation of such a variable can be very difficult to implement although several approaches such as the ldquovisual affordancesrdquo or ldquovisualscapesrdquo have proven quite useful (Llobera amp alii 2010) These simu-lations are based on calculating either a cumulative viewshed for a significant number of points unevenly distributed across the area of interest or a total viewshed in which a viewshed analysis is conducted for each of the cells in the study area In our case we have created a cumulative viewshed from points generated every 500 metres along the 5800 routes crossing the study area 5400 points randomly generated and 2193 points forming a grid separated by 500 metres

5 RESULTSThe distribution of the 209 mounds known in the Barbanza peninsula suggests

| 93

| 2018

that mounds are not specially linked to higher altitudes As we have already no- ted only 22 of these are located above 400 meters high while the 66 are found in the coastal platform While the GLM suggests that the altitude may have had some statistical significance in explaining the location of mounds (Table 1) the Estimate points to a decrease in the probability of finding mounds as the al-titude increases clearly indicating that the traditional link between mounds and highlands in the study area should be qualified In fact the results of the GLM show that -rather than altitude- slope gradient is much more powerful as explanatory variable (Table 1) suggesting that the mounds were preferentially located in places with no or gentle slopes rather than in areas with a specific altitude This circumstance may explain also the altitu-dinal distribution of megaliths in the Barbanza Peniacutensula since mounds tend to cluster in the ranges between 0 and 200 masl and ndashagainndash between 500 and 650 meters Meanwhile monuments are very scarce in those intermediate altitudes which ndashin the Barbanza peninsulandash are characterized by the presence of strong slopes The analysis of the monuments in our inventory suggests the existence of a strong relationship between mounds and LCPs especially in the case of the

Table 1 Generalized Linear Model showing the comparison between mounds and random points (Significant at 01 level Significant at 0001 level)

Figure 3 Detail of the den-sity of Least-Cost-Paths and accumulative viewsheds in the mounds at the top of Ser-ra do Barbanza

94 |

cluster located at the top of the Sierra del Barbanza (Figures 2 and 3) ndashwhere all the megaliths located on or immediately adjacent to those areas have a higher probability of being walked as Llobera (2015) has already reported- and also in several areas of the coastal platform The results of the GLM specifically comparing mounds and random points show that the variable LCP density is significantly different and thus the proximity to areas that are more likely to have played an important role in the movement across the Barbanza peninsu-la would be a useful predictor for the position of barrows (Table 1) This is not the case for the variable ldquodistance to LCPrdquo which ndashunlike in former analyses (Rodriacuteguez-Rellaacuten amp Faacutebregas IP)ndash does not seem to be statistically relevantThe distribution of mounds regarding the other variables considered in this paper shows how mounds tend to be mainly located in those places with a low horizon height and a high sky-view factor that is in open spaces with no ma-jor topographic obstacles hampering their conspicuousness (Figure 3) Being

Figure 4 Classification of mounds according to the sum of accumulative viewsheds of their locations

| 95

| 2018

built in these areas mounds may have been able to act as local horizons and thus become significant landmarks Likewise the analysis of the relationship between mounds and topographic dominance points towards a trend of these monuments to being located in places with a higher prominence than the im-mediate surroundings (Rodriacuteguez-Rellaacuten amp Faacutebregas IP) However the GLM shows that the difference between mounds and random locations is significant in the case of the topographic prominence (Table 1) but not for the variables horizon and sky-view and viewshed suggesting that the latter have a low predictive power regarding the location of mounds within the study area Such a circumstance does not exclude the possibility of mounds sometimes being preferentially located at open places where they could have acted as local horizons and therefore being widely seen as it seems to happen in the clusters analysed in detail in this paper or previous ones (Llobera 2015) although our analyses suggest that this is not a characteristic widely shared by the barrows in our areaAs a result the analysis of mounds in the Barbanza peninsula seems to sug-gest an important variability regarding the location of these monuments with monuments located near major routes or easily perceptible from the surroun- dings while others seem to have been conceived to go almost unnoticed (Figure 4) resembling the relationship with the landscape shown by the rock art (Rodriacuteguez-Rellaacuten amp Faacutebregas IP)

6 CONCLUSIONSA case has been made for mounds in NW Iberia acting not as simple land-marks but rather as reference points in a social landscape presided by a no-ticeable degree of mobility This seems to be fit among communities whose life was not altogether settled until well into the Copper Age and groups or individu-als moved about relatively ample distances and exploited different sections of the landscape which included both high- and lowland or coastal areas Assu- ming this circumstance we have tried to ascertain and objectify the relation-ship between mounds and mobility across the landscape choosing an area ndash the Barbanza peninsula ndash that has been well studied in recent decadesThe results of the calculations made using the GIS and statistical tools suggest that the mounds of the Barbanza peninsula tend to be located near those ar-eas that might have played a significant role as keypoints or nodes in the mo-bility across the study area Such a circumstance seems to endorse the results of both the traditional approaches and previous GIS analyses implemented in this area and it reinforces the notion of the Galician megaliths as monuments linked to the movement between different sectors of the landscape

96 |

However at the same time our results convey the idea that the levels of percep-tibility or conspicuity of the monumentsrsquo settings are highly variable with mounds placed in areas that may have acted as local landmarks and others situated in spots that ndash at least apparently ndash would have made them less noticeable from the surroundings Such diversity calls for a qualification of the automatic consideration of these monuments as landmarks intended to be seen Although such a wish is indubitable for some barrows in the study area there would be other monuments that may be intended to pass as unnoticed as possible This variability is only un-derstandable for a cultural phenomenon that ndash in NW Iberia ndash comprises several thousand tumuli and lasted for more than 2500 years

7 REFERENCESBRADLEY Richard (2009) ndash Image and Audience Rethinking prehistoric art Oxford Oxford University PressBRADLEY Richard CRIADO BOADO Felipe FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten (1994) ndash Rock art research as landscape archaeology a pilot study in Galicia North-West Spain World Archaeology 253 pp 374ndash390BRADLEY Richard PHILLIPS Tim RICHARDS Colin WEBB Matilda (2000) ndash Decorating the Houses of the Dead Incised and Pecked Motifs in Orkney Chambered Tombs Cam-bridge Archaeological Journal 111 pp 45ndash67BUSTELO ABUIacuteN Juliaacuten RODRIacuteGUEZ-RELLAacuteN Carlos FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten BAR-BEITO POSE Viacutector (In Press) ndash Aleacuten da Serra O fenoacutemeno tumular na Peniacutensula do Bar-banza a traveacutes dos SIX e a estatiacutestica espacial GallaeciaCRIADO BOADO F (ed) (1991) ndash Arqueologiacutea del Paisaje El aacuterea Bocelo-Furelos entre los tiempos paleoliacuteticos y medievales ArqueoloxiacuteaInvestigacioacuten 6 Santiago de Compostela Xunta de GaliciaCRIADO BOADO Felipe (2005) ndash Megalitismo da Barbanza In AYAacuteN VILA X M ed ndash Os Castros de Neixoacuten Boiro A Coruntildea Noia Toxosoutos pp 13ndash35CRIADO BOADO Felipe FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten VAQUERO LASTRES Jacobo (1994) ndash Regional Pattering among the Megaliths of Galicia Oxford Journal of Archaeology 131 pp 33ndash47CRIADO BOADO Felipe VAQUERO LASTRES Jacobo (1993) ndash Monumentos nudos en el pantildeuelo Megalitos nudos en el espacio Anaacutelisis del emplazamiento de los monumentos tumulares gallegos Espacio Tiempo y Forma 6 pp 205ndash248CRIADO BOADO Felipe VILLOCH VAacuteZQUEZ Victoria (1998) ndash La monumentalizacioacuten del paisaje percepcioacuten actual y sentido original en el Megalitismo de la Sierra de Barbanza (Galicia) Trabajos de Prehistoria 551 pp 63ndash80CRIADO BOADO Felipe VILLOCH VAacuteZQUEZ Victoria (2000) ndash Monumentalizing landscape from present perception to the past meaning of Galician megalithism (North-West Iberian Peninsula) European Journal of Archaeology 32 pp 188ndash216LLOBERA Marcos FAacuteBREGA-AacuteLVAREZ P PARCERO-OUBINtildeA C (2011) ndash Order in move-ment a GIS approach to accessibility Journal of Archaeological Science 384 pp 843ndash851FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten RODRIacuteGUEZ RELLAacuteN Carlos (2012) ndash A Prehistoria Recen-

| 97

| 2018

te do Barbanza In FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten amp RODRIacuteGUEZ RELLAacuteN Carlos eds ndash A arte rupestre no Norte do Barbanza Santiago de Compostela Andavira Editora pp 61ndash84FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten RODRIacuteGUEZ-RELLAacuteN Carlos (2015) ndash Walking on the stones of years Some remarks on the north-west Iberian rock art In SKOGLUND Peter LING Johan amp BERTILSSON Ulf eds ndash Picturing the Bronze Age Oxford Oxbow Books pp 47ndash63GAFFNEY V LEUSEN V (1995) ndash PostscriptmdashGIS environmental determinism and archae-ology a parallel text In LOCK G R amp STANCIC Z eds ndash Archaeology and geographic in-formation systems a European perspective New York Taylor and Francis pp 367ndash382HOFIERKA J HULD T CEBECAUER T SURI M (2007) ndash Open Source Solar Radiation Tools for Environmental and Renewable Energy Applications ndash International Symposium on Environmental Software Systems PragueINFANTE ROURA Faustino VAQUERO LASTRES Jacobo CRIADO BOADO Felipe (1992) ndash Vacas caballos abrigos y tuacutemulos definicioacuten de una geografiacutea del movimiento para el es-tudio arqueoloacutegico Cuadernos de Estudios Gallegos 40105 pp 21ndash39LLOBERA Marcos (2001) ndash Building Past Landscape Perception With GIS Understanding Topographic Prominence Journal of Archaeological Science 289 pp 1005ndash1014LLOBERA Marcos (2015) ndash Working the digital some thoughts from landscape archaeolo-gy In CHAPMAN R amp WYLIE Alison eds ndash Material Evidence Learning from archaeologi-cal practice Abingdon Routledge pp 173ndash188LLOBERA Marcos WHEATLEY David STEELE James COX Simon PARCHMENT Oz (2010) ndash Calculating the inherent visual structure of a landscape (inherent viewshed) using high-throughput computing Tomlin 1990NAacuteRDIZ ORTIZ Carlos CREUS ANDRADE Juan VARELA GARCIacuteA Alberto (1999) ndash Car-tografiacutea histoacuterica de los Caminos de Santiago en la provincia de A Clruntildea A Coruntildea Diputacioacuten Provincial de A CoruntildeaR_CORE_TEAM (2018) ndash R A Language and Environment for Statistical ComputingR_Core_Team 2016 Vienna (Austria 2018) httpwwwR-projectorgRENNELL Rebecca (2012) ndash Landscape Experience and GIS Exploring the Potential for Methodological Dialogue Journal of Archaeological Method and Theory 194 pp 510ndash525RODRIacuteGUEZ AacuteLVAREZ Emilio (2012) ndash Os petroacuteglifos do Barbanza dende unha perspectiva espacial In FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten amp RODRIacuteGUEZ RELLAacuteN Carlos eds ndash A arte rupestre no Norte do Barbanza Santiago de Compostela Andavira Editora pp 119ndash134RODRIacuteGUEZ RELLAacuteN Carlos FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten (2015) ndash Arte rupestre galai-ca unha achega dende a estatiacutestica espacial e os SIX Semata Ciencias Sociais e Humani-dades 27 pp 9ndash34RODRIacuteGUEZ-RELLAacuteN Carlos FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten (In Press) ndash Monuments on the move Assessing megalithsrsquo interaction with the NW Iberian Landscapes In HINZ Mar-tin ed ndash Megaliths Societies and Landscapes Early Monumentality and Social Differenti-ation in Neolithic Europe Kiel Universitaumlt zu Kiel VILLOCH VAacuteZQUEZ Victoria (1995) ndash Monumentos y petroglifos la construccioacuten del espacio en las sociedades constructoras de tuacutemulos del Noroeste peninsular Trabajos de Prehisto-ria 521 pp 39ndash55VILLOCH VAacuteZQUEZ Victoria (1998) ndash Un nuevo menhir en Cristal Gallaecia 17 pp 107ndash120

98 |

WHEATLEY D (2000) ndash Spatial Technology and archaeologial theory revisited In LOCK-YEAR K SLY J T amp MIHAILESCU-BIRLIBA V eds ndash CAA rsquo96mdashcomputer applications and quantitative methods in archaeology Oxford Archaeopress pp 123ndash132WHITE Devin A BARBER Sarah B (2012) ndash Geospatial modeling of pedestrian transporta-tion networks a case study from precolumbian Oaxaca Mexico Journal of Archaeological Science 398 pp 2684ndash2696ZAKŠEK Klemen OŠTIR Kristof KOKALJ Žiga (2011) ndash Sky-view factor as a relief visualiza-tion technique Remote Sensing 32 pp 398ndash415

| 99

| 2018

ldquoActuaciones de excavacioacuten y rehabilitacioacuten en los conjuntos de tuacutemulos funerarios de Chan de Castintildeeiras y Outeiro de Ombra peniacutensula del Morrazo Galiciardquo

ldquoExcavation and restoration interventions in the burial mounds of Chan de Castintildeeiras and Outeiro de Ombra peniacutensula of Morrazo Galiciardquo

Juan C Castro Carrera arqueoacutelogo Anta de Moura SLjuancastroantademouracom

RESUMENEn relacioacuten con su puesta en valor se llevan a cabo una serie de actua-ciones de conservacioacuten y rehabilitacioacuten de los conjuntos megaliacuteticos de Chan de Castintildeeiras Outeiro de Ombra y Chan de Armada en los ayun-tamientos de Vilaboa y Mariacuten en la peniacutensula del Morrazo suroeste de Galicia Se actuacutea en un total de doce tuacutemulos de un aacutembito total que in-tegra a veinte si bien con distinto grado de intensidad En tres de ellos se llevan a cabo intervenciones de excavacioacuten con el objeto de rehabilitar sus caacutemaras funerarias En este texto nos centraremos en la descripcioacuten de las intervenciones y resultados para los dos primeros conjuntos cita-dos que han permitido mejorar las condiciones de conservacioacuten y legibi-lidad de los monumentos funerarios al tiempo que un registro preciso de su morfologiacutea y nuevos datos sobre sistemas constructivos que permiten un mejor conocimiento de la arquitectura megaliacutetica del NW peninsularPALABRAS CLAVE Maacutemoa rehabilitacioacuten arquitectura

ABSTRACTIn relation to its enhancement a series of conservation and restoration actions are carried out on the megalithic groups of Chan de Castintildeeiras Outeiro de Ombra and Chan de Armada in the municipalities of Vilaboa and Mariacuten on the Morrazo peninsula southwest of Galicia The actions were carried out on a total of twelve mounds of an area that integrates twenty although with different degrees of intensity In three of them exca-vation interventions are carried out in order to rehabilitate their burial chambers In this text we will focus on the description of the interventions and results for the first two sets which have allowed for the improvement of the conditions of conservation and readability of the funeral monu-

100 |

ments while providing an accurate record of their morphology and new data on construction systems that allow for a better knowledge of the megalithic architecture of the NW peninsulaKEY WORDS Maacutemoa restoration architecture

INTRODUCCIOacuteNLos trabajos de campo de las actuaciones arqueoloacutegicas y de rehabilitacioacuten objeto de este texto tuvieron lugar en varios tuacutemulos funerarios de los ayun-tamientos de Vilaboa Mariacuten y Moantildea situados en la Peniacutensula del Morrazo entre las riacuteas de Vigo y Pontevedra provincia de Pontevedra en el suroeste de Galicia

Las intervenciones se encuadraron en un proyecto de puesta en valor de un conjunto de monumentos megaliacuteticos Estas maacutemoas1 estaacuten situadas entre los lugares de Chan de Castintildeeiras y Chan de Arquintildea y se define una ruta de poco maacutes de 7 kiloacutemetros que permite visitar un total de 20 tuacutemu-los Promovidos por la Direccioacuten Xeral de Patrimonio Cultural de la Xunta de Galicia (en adelante DXPC) se redactan en 2005 de forma coordinada dos proyectos el de acondicionamiento fiacutesico y ambiental de una senda y el de actuaciones arqueoloacutegicas y de conservacioacuten a llevar a cabo en todo el aacutem-bito (redactado este por quien suscribe)No seraacute hasta 2008 cuando las actuaciones se ejecuten siendo las arqueo- loacutegicas financiadas por los ayuntamientos de Vilaboa (las que centran este texto) Mariacuten la DXPC y la Comunidad de Montes de Domaio (Moantildea) El objetivo principal de las intervenciones era rehabilitar las estructuras intra-tumulares de algunas de las maacutemoas y hacer reconocibles los tuacutemulos en todas ellas toda vez que algunos de ellos teniacutean una capa de humus sobre su superficie que modificaba considerablemente su fisonomiacutea En el caso de las estructuraras megaliacuteticas la rehabilitacioacuten estaba condicionada por los resultados de la excavacioacuten arqueoloacutegica previa Tiene esto que ver con las 1 Topoacutenimo maacutes extendido en Galicia para hacer referencia a un tuacutemulo funerario prehistoacuterico

Fig 1 Localizacioacuten del aacutembito de estudio en el NW peninsular

| 101

| 2018

conocidas alteraciones generalizadas de los tuacutemulos funerarios de Galicia debido a acciones furtivas en busca de los tesoros que la tradicioacuten oral deciacutea que se escondiacutean bajo tierra o el aprovechamiento de las propias losas que conformaban el megalito En uacuteltima instancia se trataba de facilitar a los visi- tantes la legibilidad de cada tuacutemulo en el marco de la puesta en valor de los yacimientos Es por lo anterior que desde el proyecto inicial se establecieron distintos grados de intervencioacuten desde limpiezas de cubierta vegetal hasta excavaciones en aacutereaLas excavaciones aportaron mucha informacioacuten relativa al proceso con-structivo de los megalitos a las cimentaciones de los ortostatos y en general sobre la arquitectura de estos monumentos Esta informacioacuten fue poste-riormente incorporada a las rehabilitaciones que en general siguieron los procesos teacutecnicas y materiales documentados aunque no los medios em-pleados Esto uacuteltimo hubiera sido de enorme intereacutes para avanzar auacuten maacutes en el conocimiento de la arquitectura megaliacutetica pero como es obvio habriacutea requerido de mayor disponibilidad econoacutemica y de tiempo y desde el prin-cipio no se contemplaba esta opcioacutenEl precedente de este proyecto fue la rehabilitacioacuten de la ldquoMaacutemoa do Reirdquo (Chan de Castintildeeiras 1) ejecutada entre los antildeos 2001-03 (Castro y Vaacutezquez 2006 p 205-211) Aquella actuacioacuten tuvo como objetivo principal mejorar las condiciones de conservacioacuten del monumento megaliacutetico de cara a su futura puesta en valor y la intensa rehabilitacioacuten se concibioacute como un proyecto experimental y privilegiando los aspectos didaacutecticos Quince antildeos despueacutes de concluido con la perspectiva del uso de este espacio por el puacute-blico en general y el conocimiento de sus reacciones consideramos que la actuacioacuten fue acertada y funciona plenamente desde los puntos de vista de conservacioacuten y didaacutectico el visitante tiene en este monumento la opcioacuten de entrar en una tumba de comprender en toda su complejidad la arquitectura megaliacutetica y asiacute luego visitar el resto de los tuacutemulos con una idea maacutes pre-cisa de los elementos presentes y ausentes y la variabilidad que caracteriza a estos monumentosCentraremos este artiacuteculo en las intervenciones realizadas en el tramo norte de la ruta con 13 tuacutemulos a lo largo de 2 kiloacutemetros de senda en las necroacutepolis de Chan de Castintildeeiras y Outeiro de Ombra Comentaremos tambieacuten la intervencioacuten puntual en la maacutemoa situada en el extremo sur de la ruta (Chan de Arquintildea) y citaremos la realizada en una de las de mayor entidad del conjunto Chan de Armada 1 que debido a su complejidad resulta imposible abordar aquiacute El objetivo es aportar una visioacuten general de las actuaciones realizadas centraacutendonos maacutes en los aspectos

102 |

vinculados a la rehabilitacioacuten que en los estrictamente arqueoloacutegicosEn su conjunto la actuacioacuten fue un trabajo interdisciplinar como no podiacutea ser de otro modo en el que ademaacutes de arqueoacutelogos participaron especialis-tas en diversas disciplinas bajo la direccioacuten de quien suscribe2Contexto arqueoloacutegico La peniacutensula del Morrazo es un espacio geograacute- fico de gran riqueza arqueoloacutegica con una notable concentracioacuten de yacimientos catalogados y como han puesto en evidencia las numerosas intervenciones arqueoloacutegicas realizadas y sus resultados Existe en el Mor-razo un buen nuacutemero de ldquomaacutemoasrdquo pero destaca el grupo que se localiza en la parte alta de su eje central en el extremo norte por el gran nuacutemero de caacutemaras megaliacuteticas conservadas algunas de corredor incluso con presen-cia de arte parietal (Carrera 2011 pp 385-404)En el extremo norte del aacutembito de actuacioacuten se localiza el conjunto fune- rario maacutes numeroso el de ldquoChan de Castintildeeirasrdquo Este grupo estaacute emplaza-do entre las cotas de 405-425 m en los teacuterminos municipales de Vilaboa y Mariacuten y estaacute compuesto por 8 tuacutemulos Todos ellos tienen vestigios visibles de caacutemara funeraria con distinto grado de conservacioacuten pero en general afectados por expolios y en varios casos con excavaciones arqueoloacutegicas de los antildeos 50 del pasado siglo Nos referimos a los trabajos de Ramoacuten Sobrino Lorenzo-Ruza si bien su prematura muerte nos dejoacute sin gran parte

2 Al margen del equipo de arqueoacutelogos auxiliares y topoacutegrafos formaron parte del equipo en la fase de rehabilitacioacuten Rosa Benavides Garciacutea e Iria Loacutepez Baltar (restauradoras) Joseacute Luis Basanta (arquitecto) A Otero y Miguel Aacute Fandintildeo Gondar (canteros) y Mariacutea Formoso Beloso (ingeniera forestal y de montes) Contamos ademaacutes con el asesoramiento y participacioacuten

Fig 2 Localizacioacuten de las maacutemoas del aacutembito de actuacioacuten Con nuacutemero rojo aquellas en las que se intervino

F

| 103

| 2018

de los datos que aportaron sus investigaciones (Sobrino 1956a) Intervino en las maacutemoas de Chan de Castintildeeiras 1 2 3 y 4 Pedralonga en Chan de Armada 1 y 2 y en Chan de Arquintildea (Sobrino 1956b) y existen dudas sobre algunos de los otros tuacutemulos En general estos tuacutemulos tienen diaacutemetros de entre 11-15 m alturas entre 050-110 m con presencia de coraza en la mayoriacutea Del conjunto sobresale la ldquoMaacutemoa do Reirdquo que haciendo honor a su topoacutenimo tiene un diaacutemetro de 26 m y una altura de 2 m con caacutemara poligonal con corredor de acceso y con gravados y restos de pintura en uno de sus ortostatos Tambieacuten tiene gravados en su caacutemara la maacutemoa de Pe-dralongaEl otro conjunto del que daremos cuenta es el de Outeiro de Ombra situado aproximadamente a 1 kiloacutemetro al SW del anterior y compuesto por 5 tuacutemu-los Cuatro de ellos estaacuten muy cercanos entre siacute a una cota en torno a 410 m y fue en ellos en los que se intervino Son tuacutemulos con diaacutemetros de entre 13-18 m y alturas entre 080-145 m con presencia en todos ellos de vestigios de caacutemara funeraria y coraza peacutetrea El quinto tuacutemulo del grupo tiene dimensiones algo inferiores y tambieacuten se aprecian restos de caacutemara funeraria estaacute situado a unos 250 m al SW de los anteriores a una cota maacutes bajaRelacionamos en la tabla que sigue los monumentos que forman parte de la ruta en su mitad norte que fue donde se actuoacute con el antildeadido de Chan de Arquintildea situada en el extremo sur Estaacuten numerados de norte a sur (1ordf columna que es el nuacutemero con el que se identifican en el plano de la Figura

puntual del Dr Fernando Carrera Ramiacuterez arqueoacutelogo y restaurador especialista en arte parietal megaliacutetico(Escuela Superior de Restauracioacuten y Conservacioacuten de Bienes Culturales de Galicia) y del Dr Antonio Martiacutenez Cortizas edafoacutelogo (Departa-mento de Edafologiacutea y Quiacutemica Agriacutecola Universidad de Santiago de Compostela) a quienes agradecemos su desinteresada colaboracioacuten

104 |

2) con fondo en gris en aquellos en los que se intervino en las actuaciones de las que damos cuenta En la segunda columna relacionamos la clave con la que figuran en el Inventario de la DXPCLos 4 tuacutemulos restantes son los dos de Chan de Fonteseca y los otros dos de Lagocheiras en S Tomeacute de Pintildeeiro (Mariacuten) situados a escasa distancia al SW del conjunto de Chan de Armada En todos los casos la propiedad es privada comunal En total se intervino en 12 tuacutemulos que se suman a la actuacioacuten previa en la ldquoMaacutemoa do Reirdquo (Chan de Castintildeeiras 1) si bien soacutelo en tres de ellos se rehabilitoacute la caacutemara funeraria

CRITERIOS DE INTERVENCIOacuteN- Garantizar la reversibilidad de la intervencioacuten permitiendo asiacute la posibilidad de una eventual correccioacuten y mejora futura- Identificacioacuten de los nuevos elementos que se incorporen a fin de que sea posible diferenciar original de antildeadido- La restitucioacuten volumeacutetrica del tuacutemulo deberaacute disponer de una base arqueo- loacutegica solvente para evitar una reconstruccioacuten artificiosa non deseable- La exposicioacuten nunca pondraacute en riesgo la conservacioacuten del monumento siendo un objetivo la compatibilizacioacuten de ambos fines- En la rehabilitacioacuten de las caacutemaras se respetan las teacutecnicas constructivas ori- ginales empleando teacutecnicas actuales tan solo cuando es imprescindible garan-tizar la estabilidad de la estructura peacutetrea cuestioacuten que se considera prioritaria La consecucioacuten de este fin no debe suponer una alteracioacuten de las caracteriacutesticas arquitectoacutenicas del monumento- La excavacioacuten arqueoloacutegica deberaacute aportar todos los datos necesarios para permitir llevar en su caso los ortostatos desplazados a su posicioacuten original Asiacute mismo aportaraacute los datos que se utilizaraacuten en la eleccioacuten del sistema que garan-tice la estabilidad de la estructura- La rehabilitacioacuten de la estructura intratumular tendraacute como prioridad garan-tizar su solidez evitando asiacute posibles problemas en el futuro Este objetivo deberaacute alcanzarse en coherencia con la esteacutetica y arquitectura original del monumento- Seraacute necesario reconstruir el suelo original para volver a abrir las fosas de cimentacioacuten de las losas caiacutedas Para esto ese suelo reconstruido deberaacute tener la compactacioacuten necesaria para garantizar la estabilidad de la pieza- Si a los efectos de garantizar la estabilidad y durabilidad de la estructura intra-tumular o de facilitar la comprensioacuten del monumento por el puacuteblico fuese preci-so reponer alguna pieza esta se obtendraacute mediante las teacutecnicas constructivas originales y su condicioacuten seraacute reconocible en el monumento original y en la totalidad de la documentacioacuten que se elabore

| 105

| 2018

- En la restitucioacuten volumeacutetrica de la masa tumular el volumen a restituir seraacute cubierto con geotextil que actuaraacute como un elemento diferenciador separando las partes intervenidas del tuacutemulo de aquellas no intervenidas- En los trabajos de cubierta vegetal no se emplearaacute ninguacuten tipo de herbicida a fin de evitar cualquier contaminacioacuten de las muestras que eventualmente se pudieran recoger La revegetacioacuten no podraacute afectar a la conservacioacuten del monu-mento ni alterar el paisaje en el que se inserta

ACTUACIONES REALIZADAS EN CADA MAacuteMOADescribimos ahora la actuacioacuten realizada en cada uno de los tuacutemulos en los que se intervino volviendo despueacutes con maacutes detalle sobre aquellos en los que se realizoacute una rehabilitacioacuten del dolmen La descripcioacuten de los trabajos realizados es necesariamente somera para adaptarnos al espacio del que disponemosComentamos a continuacioacuten brevemente algunos aspectos comunes a todas las actuacionesElemento diferenciador en tumulacioacuten Se utilizoacute siempre geotextil para cubrir las superficies del tuacutemulo donde se detuvo la excavacioacuten tanto planta como perfiles antes de comenzar su restituacioacuten volumeacutetricaCubierta vegetal Sobre el tuacutemulo y contorno inmediato se sembroacute una foacutermula cespitosa similar a la existente de forma natural si bien privilegiando especies de crecimiento maacutes lento y de mayor resistencia a fin de facilitar el manten-imiento En los tuacutemulos en los que la coraza quedariacutea a la vista (los de Outeiro de Ombra) se utilizoacute otra especie la festuca ovina Fue la elegida por ser tapizante (crece muy poco) cubriendo con tierra los huecos entre las piedras de la coraza de manera que evita la erosioacuten Tiene un sistema radicular potente pero no tanto como para mover las piedras de las corazas Ya la habiacuteamos empleado unos antildeos antes en la coraza de la ldquoMaacutemoa do Reirdquo de Chan de Castintildeeiras y los resultados en los antildeos posteriores a su implantacioacuten fueron excelentesEn todos los casos se llevaron a cabo las siguientes intervenciones que relacio-namos ahora y ya no lo citaremos en cada una de las actuacionessectDocumentacioacuten topograacutefica fotograacutefica y planimeacutetricasectLimpieza en detalle de la cubierta vegetal sobre el tuacutemulo y su contorno inme-diatosectRevegetacioacuten del tuacutemuloEstas intervenciones baacutesicas fueron las uacutenicas realizadas en las actuaciones llevadas a cabo en Chan de Castintildeeiras 5 Chan de Castintildeeiras 8 y Chan de Castintildeeiras 7 En las demaacutes maacutemoas se realizaron otras intervenciones a mayores de las baacutesicas que pasamos a describir

106 |

Chan de Castintildeeiras 4 sectDefinicioacuten de la morfologiacutea del tuacutemulo (mediante sondeos y posterior retirada de rellenos de eacutepoca contemporaacutenea identificados)sectExcavacioacuten arqueoloacutegica en aacuterea centrada en la caacutemarasectRehabilitacioacuten de la caacutemarasectRestitucioacuten volumeacutetrica de la masa tumular Se llevoacute a cabo en los siguientes sectores- Los excavados con metodologiacutea arqueoloacutegica en esta intervencioacuten- Los excavados en intervenciones antiguas- Los excavados por furtivos yo animales- Huecos dejados por tocones de aacuterboles

Chan de Castintildeeiras 3sectLimpieza y documentacioacuten de los perfiles de la excavacioacuten de los antildeos 50sectReconstruccioacuten del craacuteter de expolio central como medio de devolver la fi-sonomiacutea del tuacutemulo a una situacioacuten anterior a su excavacioacuten arqueoloacutegica en los antildeos 50 del pasado siglo al tiempo que constituiacutea la mejor manera de ldquosujetarrdquo el uacutenico ortostado conservado y proteger la masa tumular visible en los perfiles que dejoacute la excavacioacuten de los antildeos 50

Fig 3 Chan de Castintildeeiras 8 a la finalizacioacuten de la intervencioacuten desde S

| 107

| 2018

Fig 4 Outeiro de Ombra limpieza cubierta vegetal desde SE

Chan de Castintildeeiras 2 sectDefinicioacuten de la morfologiacutea del tuacutemulo (mediante sondeos y posterior retirada de los rellenos de eacutepoca contemporaacutenea identificados)sectExcavacioacuten arqueoloacutegica en aacuterea centrada en la caacutemarasectRehabilitacioacuten de la caacutemarasectRestitucioacuten volumeacutetrica de la masa tumular Se llevoacute a cabo en los siguientes sectores Los excavados con metodologiacutea arqueoloacutegica en esta intervencioacuten Los excavados en intervenciones antiguas Los excavados por furtivos yo animales Huecos dejados por tocones de aacuterboles

Outeiro de Ombra 1 2 3 y 4sectAcondicionamiento espacio entre piedras de las corazas a fin de facilitar el crecimiento de la cubierta herbaacutecea y de este modo asegurar la coraza al ti-empo que se deja visiblesectRevegetacioacuten de la masa tumular y coraza

108 | 3 Esta intervencioacuten complementaria fue financiada por la DXPC siendo la inicial por el Ayuntamiento de Mariacuten

Fig 5 Outeiro de Ombra al finalizar la intervencioacuten desde SE En primer teacutermino la 10 detraacutes la 11 y al fondo la 12 (seguacuten numeracioacuten de Fig 2)

Chan de Armada 1Como dijimos y debido a su gran complejidad no podremos tratar en este texto la actuacioacuten realizada en este megalito pero siacute queremos apuntar las liacuteneas baacutesicas que la caracterizaron La excavacioacuten dio a conocer un mo- numento complejo en el que se advierten reformas y distintas estructu- ras ademaacutes de la intratumular previamente conocida (caacutemara poligonal con corredor) sin duda el principal hallazgo es una caacutemara peacutetrea anterior al monumento conocido y auacuten otra estructura anterior insuficientemente caracterizada La rehabilitacioacuten fue muy compleja y delicada condicionada por la ausencia de un suelo interior y por las patologiacuteas de los ortostatos La actuacioacuten realizada consistioacute ensectDefinicioacuten de la morfologiacutea del tuacutemulo mediante sondeos y posterior retira-da de los rellenos de eacutepoca contemporaacutenea identificadossectExcavacioacuten arqueoloacutegica Se centroacute en la estructura intratumular pero se realizaron sondeos complementarios3 en distintos puntos del tuacutemulo debido a los hallazgos que se dieron en los sondeos previos de definicioacutensectRehabilitacioacuten de la caacutemarasectRestitucioacuten volumeacutetrica de la masa tumular

| 109

| 2018

Fig 6 Chan de Arquintildea al finalizar la intervencioacuten desde S

Chan de Arquintildea (Castro 2008) sectAporte de tierra vegetal entre las piedras de coraza descubiertas por la erosioacutensectRevegetacioacuten de la masa tumular y coraza

La excavacioacuten y rehabilitacioacuten de Chan de Castintildeeiras 4De todas las intervenciones de este proyecto esta fue sin duda la maacutes com-pleja en lo que a la caacutemara megaliacutetica se refiere no asiacute en cuanto al tuacutemulo que fue la de Chan de Armada 1Antes del inicio de la intervencioacuten en la parte central del tuacutemulo se apre-ciaban cinco ortostatos y restos pertenecientes a otros dos ademaacutes de una losa de funcioacuten indeterminada Los ortostatos estaban caiacutedos en casi todos los casos como probable consecuencia de su apeo con maderas en la excavacioacuten de los antildeos 50 (que finalmente acabaron pudriendo) y por la accioacuten furtiva posterior dando un aspecto de caos al conjunto

110 |

Fig 8 Chan de Castintildeeiras 4 previo retirada ortostatos desde W

Se planteoacute la excavacioacuten de una superficie rectangular de 650 x 400 m que la incluiacutea completamente la caacutemara Dentro de esta superficie se optoacute por excavar soacutelo el nivel superficial en una franja de 350 x 100 m a fin de proteger y garantizar la estabilidad de los 2 ortostatos que conservaban su posicioacuten original

Fig 7 Chan de Castintildeeiras 4 estado inicial

| 111

| 2018

Fig 9 Chan de Castintildeeiras 4 tras retirada ortostatos y antes de completar la excavacioacuten de las fosas de cimentacioacuten desde W

Al finalizar la excavacioacuten se retiraron las piezas caiacutedas y las desplazadas para poder asiacute definir el sistema de cimentacioacuten compuesto por fosas in-dividuales para cada ortostato calzos y una preparacioacuten del terreo previo a la excavacioacuten de las fosas Soacutelo dos de las piezas permanecieron in situ al encontrarse en la ubicacioacuten original aunque con los calzos del interior a la vista Esto tambieacuten nos permitioacute estudiar su morfologiacutea y disposicioacuten No entraremos en los detalles de los resultados de esta excavacioacuten soacutelo apun-tamos que aportoacute una caracterizacioacuten muy completa de la planta del mo- numento que permitioacute asiacute proceder a la rehabilitacioacuten Todos los ortostatos fueron inspeccionadas con luz natural y artificial a fin de verificar la eventual existencia de grabados o restos de pinturaAl disponer de todos los datos necesarios que permitiacutean la restitucioacuten de los ortostatos a su posicioacuten original se pudo realizar una rehabilitacioacuten cientiacutefi-camente rigurosa de otra manera no se hubiera hecho La excavacioacuten nos aportoacute la planta de la caacutemara de forma que la fase de rehabilitacioacuten comenzoacute en gabinete con la elaboracioacuten de un modelo digital Se trabajoacute en base a las dimensiones de las piezas originales los giros de las dos piezas que todo el tiempo permanecieron in situ y la geometriacutea y las distintas op-ciones de aacutengulos de giro de cada pieza retirada que obviamente debiacutean ser

112 |

Fig 10 Chan de Castintildeeiras 4 caacutemara restituida desde E En el ortostato de la izquierda se aprecia un grabado pero es de hace unas deacutecadas

coherentes con las improntas de cimentacioacuten documentadas y compatibles con las piezas conservadas in situ Una vez concluido el trabajo de gabinete se replanteo en campo y se comenzoacute la restitucioacutenLas piezas previamente retiradas fueron restituidas a su posicioacuten original a la fosa previamente definida en la excavacioacuten arqueoloacutegica Con respecto a la cubierta la ausencia de restos de las losas que suponemos tuvo la caacutemara imposibilitaba que la rehabilitacioacuten abordara este aspecto Para la uacutenica pieza que planteaba dudas finalmente la interpretamos como ortosta-to de cierre de la caacutemara por el este como luego comentaremosUna vez restituidas ortostato de cabecera y los dos que apoyan en aquel se procedioacute a asegurarlos en su base por dentro y por fuera con el material elegido como sustituto del suelo original la zahorra Tras compactar conve-nientemente continuamos con la colocacioacuten de piezas hasta completar la caacutemara a excepcioacuten de la pieza que faltaba

| 113

| 2018

Fig 11 Chan de Castintildeeiras 4 aspecto final soacutelo a falta de la revegetacioacuten del tuacutemulo

Luego se comenzoacute la tumulacioacuten utilizando el mismo sedimento previamente extraiacutedo en la fase de excavacioacutenAntes de concluir la restitucioacuten volumeacutetrica del tuacutemulo se colocoacute un ortostato nuevo por la ausencia del original en el lateral sur de la caacutemara Una vez co-locado se continuoacute y finalizoacute la tumulacioacuten para despueacutes concluir la rehabi- litacioacuten con la revegetacioacuten del tuacutemulo Tambieacuten se restituyeron a su posicioacuten original varias piezas de coraza peacutetrea que habiacutean sido retiradas al inicio de la excavacioacuten no sin antes registrar su posicioacuten tridimensional para que la poste-rior restitucioacuten fuera precisaPor su ubicacioacuten y morfologiacutea interpretamos una de las piezas como la ldquopuer-tardquo de la caacutemara que cerrariacutea su acceso por el este Antes de tumular compro-bamos que esta pieza es faacutecil de mover giraacutendola sobre si misma para permitir el acceso a la caacutemara y para ello fueron suficientes dos personasEl ortostato nuevo se elaboroacute siguiendo la morfologiacutea de los originales ya que no teniacuteamos siquiera un fragmento del ausente Su introduccioacuten estaba justifi-cada por la necesidad de dar solidez a la estructura y evitar su futuro deterioro y tambieacuten para evitar confusioacuten en la lectura del visitante para que el hueco existente no pareciera el acceso que no eraLa caacutemara rehabilitada es poligonal y la conforman 8 ortostatos todos originales excepto el antes citado

114 |

La planta tiene unas dimensiones de 240 x 170 m (en cota de uso) y los ortostatos tienen dimensiones de entre 160-190 x 080-100 m con un espe-sor en su parte media de en torno a 30 cmHay que sentildealar tambieacuten que se actuoacute sobre el tuacutemulo para mejorar su apre-ciacioacuten retirando tierras acumuladas puntualmente En este sentido fue relevante la identificacioacuten (mediante un sondeo) y posterior retirada de una escombrera de tierra sobre el tuacutemulo que interpretamos se generoacute en la excavacioacuten de los antildeos 50

La excavacioacuten y rehabilitacioacuten de Chan de Castintildeeiras 2Esta maacutemoa fue excavada en los antildeos 50 del pasado siglo y en 1982 se llevoacute a cabo una intervencioacuten limpieza y registro planimeacutetrico por parte del Museo de Pontevedra (bajo la direccioacuten de A de la Pentildea Santos) El aspecto que nos encontramos era el que ya teniacutea en esta uacuteltima intervencioacuten con las dos losas del lateral sur caiacutedas contra las dos del lateral norte que permaneciacutean en su ubicacioacuten original

Fig 12 Chan de Castintildeeiras 2 estado inicial desde NW

| 115

| 2018

Fig 13 Chan de Castintildeeiras 2 estado al final de la excavacioacuten desde NW

Pese a esto destacaba la fuerte deformacioacuten del tuacutemulo por estar cortado por el norte por una carretera y por el depoacutesito sobre eacutel y su contorno inmediato de tierras procedentes del acondicionamiento de la cuneta de esa carretera y de un cortafuegos cercanoLa definicioacuten del tuacutemulo resultoacute muy laboriosa con sondeos previos que nos ayudaron a diferenciar el original de los aportes recientes y con la posterior retirada de todos ellos Con todo se trata de un tuacutemulo de pequentildeas dimen-siones poca altura y muy poco resaltado en el terreno No se identificoacute ni cora-za ni anillo liacutetico perimetralEn cuanto a la caacutemara se planteoacute la excavacioacuten de una superficie rectangular de 550 x 250 m que la incluiacutea completamente y una serie de sondeos com-plementarios que en conjunto permitieron caracterizar convenientemente su sistemas de cimentacioacuten y constructivo Una vez excavada pudimos compro-bar que la construccioacuten de la caacutemara no se realizoacute por fosas individuales de cimentacioacuten para cada ortostato sino que se excavoacute en el terreno una uacutenica fosa para luego instalar en su interior las losas y rellenarla construyendo asiacute un nuevo suelo La definicioacuten de este sistema de cimentacioacuten encontroacute poco

116 |

despueacutes un paralelo en la misma provincia de Pontevedra en el tuacutemulo de Chousa Nova 1 (Boacuteveda y Vilaseco 2015) con una caacutemara ademaacutes muy pare-cida a la que nos ocupa Sin duda el tamantildeo relativamente pequentildeo de los ortostatos y su verticalidad unido al trabajo estructural de las losas de cubier-ta (desparecidas) le daba al conjunto estabilidad suficiente Ademaacutes de estas losas de cubierta que suponemos existieron ya que no quedaba ninguacuten vesti-gio tambieacuten faltaba el ortostato de cabecera La excavacioacuten permitioacute definir la estructura de cierre del acceso a la caacutemara orientada al sureste constituida por una suerte de ldquotapoacutenrdquo conformado por varias piedras de formas irregu-lares apiladas y con tierra entre mediasLa rehabilitacioacuten centroacute los trabajos en- Restitucioacuten a su posicioacuten original de las dos losas caiacutedas- Elaboracioacuten de una nueva losa de cabecera Esta pieza resultaba impres- cindible no tanto para la comprensioacuten de la caacutemara como por su estabilidad ya que las dos siguientes que conforman los laterales ya apoyan en ella y las siguientes en las anteriores Si bien las cargas y empujes no son las mis-mas que en una estructura megaliacutetica al uso con unos giros maacutes acusados la funcioacuten de este ortostato de cabecera es la misma en el funcionamiento como estructura de la caacutemara- Restauracioacuten de una de las losas laterales a la que fue preciso unirle un fragmento roto empleando para ellos varilla de fibra de vidrio y resinas Tam-bieacuten se siguioacute la misma metodologiacutea para unir los dos fragmentos en los que estaba rota una de las piezas del cierre del acceso- Reconstruccioacuten del suelo interior de la caacutemara con aporte de zahorra y pos-terior compactacioacuten- Tumulacioacuten y compactacioacuten de la masa tumular restituida- Revegetacioacuten del tuacutemuloLa estructura intratumular tiene planta rectangular con aspecto de cista con-formada por 4 losas en los laterales (2 en cada uno) y una losa en la cabecera En el extremo SE se encuentran dispuestas varias piedras de tamantildeo pequentildeo y mediano a modo de cierre del acceso Una vez rehabilitada presenta una longitud maacutexima de unos 255 m en su eje longitudinal (excluido el cierre) y ancho maacuteximo de unos 143 m miacutenimo de unos 052 m (extremo SE) y 120 m (extremo NW) Las dimensiones interiores son de 210 m x 085 m si bien a penas 050 m en el extremo SE Las losas laterales tienen una longitud de entre 140-170 m altura entre 100-130 m y espesor en torno a 10 cm si bien una de ellas es maacutes gruesa y llega a superar los 20 cm Todas las piezas fueron inspeccionadas con luz artificial y natural a fin de verificar la eventual existencia de grabados o restos de pintura

| 117

| 2018

VALORACIONESDesde una perspectiva arqueoloacutegica hay que sentildealar en primer lugar que las intervenciones realizadas permitieron disponer de unos datos precisos de las dimensiones de tuacutemulos estructuras intratumulares y otros aspectos de estas construcciones gracias a la limpieza en detalle de la cubierta vegetal de los tuacutemulos Fue un trabajo maacutes laborioso de lo previsto por el espesor del manto vegetal que en general cubriacutea cada tuacutemulo pero al tiempo el resul-tado superoacute los objetivos Se mejoroacute considerablemente la percepcioacuten de los tuacutemulos en el paisaje cuestioacuten especialmente destacable ya que en general son tuacutemulos de poca altura y se registraron caracteriacutesticas significativas de la morfologiacutea general que no habiacutean sido registradas con anterioridad (existencia de estructura intratumular coraza anillo liacutetico perimetral dimensiones de or-tostatos etc) Sirvan de ejemplo los casos de Chan de Castintildeeiras 7 y 8 que soacutelo despueacutes la retirada de una muy espesa capa de humus (con abundantes restos vegetales consecuencia del aprovechamiento forestal de la zona du-rante deacutecadas) dejaron ver los vestigios de caacutemara y coraza Tambieacuten en el caso de los 4 tuacutemulos intervenidos en Outeiro de Ombra en los que sin duda llama la atencioacuten las imponentes corazas peacutetreas que quedaron a la vista en particular en Outeiro de Ombra 2 y 3 que recubren toda la superficie tumular

Fig 14 Chan de Castintildeeiras 2 estado final con su nueva cubierta vegetal creciendo desde NW

118 |

Aunque no tratamos la cultura material en este texto siacute haremos un breve apunte soacutelo relativo a las dos excavaciones en aacuterea A pesar de que estas se centraban en las caacutemaras ya excavadas en los antildeos 50 y objeto ademaacutes de expolio fue auacuten posible el registro de materiales ceraacutemicos (muy escaso el prehistoacuterico) y liacuteticos Tanto en Chan de Castintildeeiras 2 como 4 la mayor parte de los registros son de liacuteticos con predominio de las lascas de cuarzo Tambieacuten se documentaron en ambas maacutemoas manos de molino y un cierto nuacutemero de prismas de cuarzo mayoritariamente semicristalinoDesde la perspectiva de conocimiento de la arquitectura megaliacutetica las rehabilitaciones han aportado una gran cantidad de datos acerca del com-portamiento de las caacutemaras como estructuras la loacutegica de su geometriacutea los sistemas de cimentacioacuten la preparacioacuten del terreo previo al inicio de la erec-cioacuten de los ortostatos o la configuracioacuten de los tuacutemulos en este uacuteltima caso tanto desde una perspectiva constructiva como simboacutelica La metodologiacutea de rehabilitacioacuten de estructuras intratumulares empleada implica un impres- cindible proceso continuo de investigacioacuten sobre arquitectura megaliacutetica a nivel general y en lo particular sobre aspectos relativos al sistema con-structivo los giros de las piezas y su grado de empotramiento en el suelo funcionamiento de los calzos aprovisionamiento y acondicionamiento de ortostatos construccioacuten de contrafuerte de la caacutemara coraza etc El re- gistro fue minucioso con el dibujo de todos los ortostatos de las caacutemaras rehabilitadas dimensiones aacutengulos de giro o fracturas de preparacioacutenResultan muy interesantes los datos que aportoacute Chan de Castintildeeiras 2 en relacioacuten a la cimentacioacuten de las losas A diferencia de lo que es habitual no se excavoacute una zanja continua o fosas de cimentacioacuten para cada orto-stato sino que se excavoacute una gran fosa y se metieron dentro las losas en posicioacuten vertical para luego sujetarlas mediante un relleno que convenien-temente compactado sirvioacute para dar estabilidad a la estructura conjunta-mente con las losas de cubierta que suponemos tuvo Tambieacuten el periacuteme- tro exterior de la caacutemara tuvo un relleno con una composicioacuten que facilita-ba su compactacioacuten y contribuiacutea a su solidezDesde la perspectiva de la conservacioacuten lo primero que hay apuntar es que las intervenciones de rehabilitacioacuten en las caacutemaras permitieron fre-nar su deterioro solucionar patologiacuteas existentes y facilitar su legibilidad al visitante cuestioacuten importante en el marco de un proyecto de puesta en valor del conjunto Los datos arqueoloacutegicos que proporcionaron las excavaciones previas permitieron restituir con rigurosidad las piezas a su posicioacuten original devolviendo a la estructura la solidez que tuvo gracias esa restitucioacuten y la introduccioacuten de una pieza ausente (una en cada caso

| 119

| 2018

en Chan de Castintildeeiras 2 y 4) o extremadamente deteriorada (en Chan de Armada 1) Tambieacuten mediante la reconstruccioacuten de un suelo original que habiacutea desaparecido por las excavaciones de los antildeos 50 La utilizacioacuten de zahorra como material para dicha reconstruccioacuten ya se habiacutea contrastado anteriormente en rehabilitaciones que habiacuteamos acometido como la de Maacutemoa do Rei de Vilaboa siendo los antildeos transcurridos sin ninguacuten tipo de problema el mejor aval para su eleccioacutenEsa misma perspectiva temporal avala la metodologiacutea empleada y la bue-na ejecucioacuten de los trabajos realizados ya que no se han producido de-splazamientos o caiacutedas de ortostatos ni asentamientoshundimientos de la masa tumular restituida En cambio si debemos decir que hubo prob-lemas con la revegetacioacuten de la cubierta vegetal en el caso de las maacutemoas de Outeiro de Ombra (en parte por el traacutensito de motos y bicicletas sobre ellas una vez vandalizada la valla de proteccioacuten que se habiacutea instalado) que requieren de una nueva actuacioacuten que garantice la visualizacioacuten de las corazas sin comprometer su conservacioacuten cuestioacuten esta factible como demuestra el caso de la ldquoMaacutemoa do Reirdquo de Chan de Castintildeeiras Otro caso de revegetacioacuten de cubierta vegetal que no funcionoacute fue el de Chan de Arquintildea La actuacioacuten tratoacute soacutelo de reforzar esa cubierta vegetal de pradera natural a fin de que ldquosujetarardquo la masa tumular y la coraza con la que cuenta el monumento en particular en los sectores erosionados La intervencioacuten no resultoacute efectiva porque el denso arbolado a penas dejaba pasar el sol impidiendo asiacute que la hierba se recuperase en las zonas maacutes pisadas por los visitantesComo es habitual en actuaciones de puesta en valor el principal proble-ma una vez concluidas es el mantenimiento en general no fue distinto en este caso Los trabajos sobre la cubierta vegetal fueron esporaacutedicos sin la necesaria regularidad que ademaacutes permite que el terreno empradice Tampoco hubo esa regularidad en el mantenimiento de las estructuras in-tratumulares si bien estas aguantaron bastante bien Por fin en 2016 en Chan de Castintildeeiras se realizoacute un desbroce general del aacuterea entre Chan de Castintildeeiras 5 y 2 por iniciativa de la Comunidad de Montes propietaria4 y se intervino en ldquoMaacutemoa do Reirdquo que desde su rehabilitacioacuten no habiacutea tenido una intervencioacuten de mantenimiento sobre su coraza y estructura in-tratumular en este caso promovida por la DXPC (Castro 2016) Confiemos en que estas actuaciones tengan continuidad y se extiendan a todo el aacutem-bito ya que su regularidad es la mejor garantiacutea de conservacioacuten y correcta exposicioacuten del conjunto arqueoloacutegico ademaacutes de que a la larga conllevaraacute un menor coste de mantenimiento 4 Se realizoacute una supervisioacuten de estos trabajos por quien subscribe y se instaloacute un panel interpretativo

120 |

BIBLIOGRAFIacuteA BOacuteVEDA FERNANDEZ Mordf J y VILASECO VAacuteZQUEZ X I (2015) - La caacutemara megaliacuteti-ca de Chousa Nova 1 (Silleda Pontevedra) iquestRotura intencional o colapso en Actas del 5ordm Congresso do Neoliacutetico Peninsular (7-9 abril 2011) ed Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa pp 564-570 CARRERA RAMIacuteREZ F (2011) - El arte parietal en monumentos megaliacuteticos del No-roeste Ibeacuterico Valoracioacuten diagnoacutestico conservacioacuten Oxford Archaeopress (BAR In-ternational Series 2190) pp 385-404 CASTRO CARRERA J C (2005) - Proyecto de ldquoAcondicionamento arqueoloacutexico e am-biental dun sendeiro das maacutemoas do Morrazo entre o Lago Castintildeeiras e Monte Faro Vilaboa-Mariacuten-Moantildea (Pontevedra)rdquo Anta de Moura SL proyecto teacutecnico in-eacutedito depositado en la DXPC CASTRO CARRERA J C y VAacuteZQUEZ COLLAZO S (2007) - La `Maacutemoa do Reiacute re-habilitacioacuten de un yacimiento tumular en el marco de su puesta en valor (Chan de Castintildeeiras - Vilaboa - Pontevedra) en Actas del IV Congreso internacional sobre musealizacioacuten de xacementos arqueoloacutexicos onservacioacuten e presentacioacuten de xace-mentos arqueoloacutexicos no medio rural Impacto social no territorio ed Conselleriacutea de Cultura e Deporte de la Xunta de Galicia 2007 pp 205-2011 CASTRO CARRERA J C (2008) - Memoria Teacutecnica de ldquoIntervencioacuten arqueoloacutexica no monumento megaliacutetico de Chan de Arquintildea no contexto dos traballos de acondicio-

Fig 15 Maacutemoa do Rei al finalizar la intervencioacuten de acondicionamiento de 2016 desde E

| 121

| 2018

namento arqueoloacutexico e ambiental dun sendeiro das maacutemoas do Morrazordquo Anta de Moura SL informe teacutecnico ineacutedito depositado en la DXPC CASTRO CARRERA J C (2016) - Memoria Teacutecnica del ldquoAcondicionamento da Maacutemoa do Rei San Martintildeo de Vilaboa Vilaboardquo Anta de Moura SL informe teacutecnico ineacutedito depositado en la DXPC SOBRINO LORENZO-RUZA R (1956a) - Prospecciones arqueoloacutegicas en Morrazo El Museo de Pontevedra Pontevedra 10 pp 17-22 SOBRINO LORENZO-RUZA R (1956b) - Excavacioacuten de una sepultura megaliacutetica en Moantildea Peniacutensula de Morrazo (Pontevedra) Noticiario Arqueoloacutegico Hispaacutenico Ma-drid III y IV Cuadernos 1-3 1954-55 pp 27-36

122 |

| 123

| 2018

A INVULGAR LOCALIZACcedilAtildeO DE UMA ESTRUTURA EM NEGATIVO NA MAMOA DE EIREIRA (AFIFE VIANA DO CASTELO)

ldquoThe unusual location of a negative structure of Eireirarsquos Mound (Afife Viana do Castelordquo

Faacutebio Soares Arqueoacutelogo Universidade do Minhofabiosoaresarqgmailcom

RESUMOO presente trabalho tem como objetivo dar a conhecer a localizaccedilatildeo invulgar de uma estrutura em negativo aberta no substrato rochoso na aacuterea do corredor detetada no decurso das duas uacuteltimas campanhas de escavaccedilatildeo levadas a cabo na Mamoa de Eireira (Afife Viana do Castelo) por Eduardo Jorge Lopes da Silva na segunda metade da deacutecada de 80 do seacuteculo passado Tendo em conta que a mesma em mo-mento algum foi referida quer nas parcas publicaccedilotildees sobre o imoacutevel em causa quer nos relatoacuterios entregues agrave tutela e que da sua esca- vaccedilatildeo resultou espoacutelio significativo de acordo com as gentis infor-maccedilotildees facultadas por Horaacutecio Faria que na eacutepoca teve a oportuni-dade de participar voluntariamente nos trabalhos arqueoloacutegicos eacute nosso objetivo analisaacute-la de forma mais detalhada Neste sentido em julho de 2013 de modo a cumprir o objetivo atraacutes descrito pro-cedemos em primeiro lugar agrave limpeza desta estrutura dado que se encontrava repleta de vegetaccedilatildeo herbaacutecea e de escassos sedimen-tos e de seguida efetuamos o seu registo graacutefico e fotograacutefico com vista agrave sua possiacutevel interpretaccedilatildeo PALAVRAS-CHAVE Neoliacutetico Contextos e praacuteticas funeraacuterias NW de Portugal Mamoa de Eireira

ABSTRACTThe present paper presents and discusses the unusual location of an open negative structure on the rocky substrate in the cor- ridor area detected during the last two excavation campaigns car-ried out at Mamoa de Eireira (Afife Viana do Castelo) by Eduardo Jorge Lopes da Silva in the second half of the eighties of last centu-

124 |

ry In view of the fact that it has not been mentioned at all in the few publications on the monument in question or in the reports submitted to the DGPC and that from its excavation come several artefacts according to the kind information provided by Horacio Faria who at the time had the opportunity to participate voluntarily in the archaeologi-cal digg it is our goal to analyse it in more detail In this sense in July 2013 in order to fulfill the objective described above we first cleaned this structure since it was full of herbaceous vegetation and scarce sediment and then we recorded it graphically and photographically with a view to its possible interpretationKEY WORDS Neolithic Contexts and funerary practices NW of Portu-gal Mamoa de Eireira

1 INTRODUCcedilAtildeOA Mamoa de Eireira foi alvo de quatro campanhas de escavaccedilatildeo entre 1986 e 1989 por Eduardo Jorge Lopes da Silva no acircmbito do projeto de investi-gaccedilatildeo ldquoO Estudo do Megalitismo Minhoto e a sua Correlaccedilatildeo com o Douro Litoral e Beirasrdquo No entanto a publicaccedilatildeo monograacutefica dos resultados natildeo foi levada a cabo tendo o monumento sido apenas referido parcialmente em alguns artigos (SILVA 1988 1991 1992 1997) e em capiacutetulos de atas de congresso (Idem 1994 2003) Desconhecem-se assim as carateriacutesti-cas construtivas deste imoacutevel a mateacuteria com que foi erigido e a sua contex-tualizaccedilatildeo no espaccedilo em que se insere Trabalhos de limpeza efetuados em julho de 2013 no acircmbito do projeto ENARDAS permitiram detetar novos motivos de arte megaliacutetica gravada e pintada precisar a sua localizaccedilatildeo identificar esteios com tons alaranjadosavermelhados de origem natural (SOARES 2013) assim como detetar uma estrutura em negativo de loca- lizaccedilatildeo invulgar no interior da estrutura dolmeacutenica a qual foi escavada mas em momento algum referenciada por Eduardo Jorge Lopes da Silva e que aqui pretendemos dar a conhecer

2 LOCALIZACcedilAtildeO E CONTEXTO FIacuteSICO E AMBIENTALA Mamoa de Eireira localiza-se no distrito e concelho de Viana do Castelo freguesia de Afife no lugar da Eireira ou Madorro O monumento encon-tra-se a uma altitude de cerca de 30 m numa plataforma da vertente no-roeste da Serra de Santa Luzia a cerca de 400 m para nascente da linha de costa e nas imediaccedilotildees de um vale bem irrigado que lhe fica a sul As co- ordenadas geograacuteficas em graus decimais no sistema WGS 84 satildeo La- titude 41 792883ordm N e Longitude -8 867022ordm W (Fig 1) O substrato

| 125

| 2018

Fig 1 Localizaccedilatildeo da Mamoa de Eireira na Carta Militar de Portugal 27 na escala 125000

Fig 2 Vista geral da Mamoa de Eireira a partir de W com o esteio de cabeceira deslocado

126 |

geoloacutegico eacute composto por granitos de duas micas de gratildeo meacutedio a fino por vezes com turmalina e raras granadas que afloram em alguns locais (TEI- XEIRA et al 1972) Tambeacutem ocorre mas com menor expressatildeo um grani-to de duas micas porfiroide de gratildeo meacutedio a fino (Idem 1972)

3 DESCRICcedilAtildeO DO MONUMENTOA Mamoa de Eireira apresenta um tumulus de contorno ovalar com 2450 m no sentido E-W e 1990 m no sentido N-S A estrutura dolmeacutenica orientada no sentido W-E tem uma cacircmara e um corredor duplamente indiferenciados ndash em planta e alccedilado ndash (SILVA 1988b129) preservando ainda 16 esteios in situ embora o esteio de cabeceira esteja deslocado Todos os esteios que configuram a estrutura dolmeacutenica apresentam a mesma altimetria e estatildeo acentuadamente inclinados para o interior embora alguns tambeacutem estejam ligeiramente deslocados (Idem 1988129-130) Natildeo se encontrou qualquer laje de cobertura (Fig 2) Junto agrave cabeceira foi encontrado um pilar derruba-do que por conter pinturas bem preservadas encontra-se depositado no Museu de Artes Decorativas de Viana do Castelo

Fig 3 Fotografia da cacircmara e corredor da Mamoa de Eireira podendo observar-se ao fundo do corredor uma estrutura em negativo (SILVA 1992)

| 127

| 2018

Fig 4 Plano da estrutura em negativo na aacuterea do corredor Registo graacutefico elaborado agrave escala 120

Fig 5 Perfil sul da estrutura em negativo na aacuterea do corredor Registo graacutefico elaborado agrave escala 120

128 |

Fig 6 Perfil oeste da estrutura em negativo na aacuterea do corredor Registo graacutefico elaborado agrave escala 120

Fig 7 Secccedilatildeo AB da estrutura em negativo na aacuterea do corredor Registo graacutefico elaborado agrave escala 120

| 129

| 2018

4 A ESTRUTURA EM NEGATIVONa aacuterea do corredor entre os esteios nos 7 6 e 5 ndash do alccedilado norte ndash e os esteios nos 10 11 e 12 ndash do alccedilado sul respetivamente foi detetada e escavada em profundidade uma estrutura em negativo nas uacuteltimas duas campanhas de escavaccedilatildeo levadas a cabo na Mamoa de Eireira Em momen-to algum Eduardo Jorge Lopes da Silva faz referecircncia agrave mesma quer nos relatoacuterios entregues agrave tutela os quais tivemos a oportunidade de consultar quer nas publicaccedilotildees onde refere este monumento Sabemos que foi en-contrada aquando das escavaccedilotildees porque aparece na fotografia final dos trabalhos que se publicou num desdobraacutevel de divulgaccedilatildeo (Fig 3) (Idem 1992) como nos foi referida pelo Engenheiro Horaacutecio Faria funcionaacuterio da Cacircmara Municipal de Viana do Castelo e membro do NAIAA que com cerca de 20 anos participou na escavaccedilatildeo deste monumento e na escavaccedilatildeo da referida estrutura Segundo este erudito de arqueologia teraacute sido desta aacuterea que resultou o material mais significativo tal como ldquopontas de seta de siacutelex e xistordquo ldquolouccedila grosseirardquo e ldquoum fragmento osteoloacutegico que talvez perten-cesse a um maxilar inferiorrdquo Neste sentido em julho de 2013 procede- mos agrave limpeza desta estrutura registo graacutefico e fotograacutefico com vista agrave sua possiacutevel interpretaccedilatildeo Esta apresenta um contorno grosseiramente ovalar tendo cerca de 250 m de comprimento por 1 m de largura maacutexima com um estrangulamento no meio num dos lados como se tivesse resultado de duas fossas (Figs 4 5 e 6) A sua profundidade maacutexima aproxima-se dos

Fig 8 Secccedilatildeo CD da estrutura em negativo na aacuterea do corredor Registo graacutefico elaborado agrave escala 120

130 |

Fig 9 Estrutura em negativo na aacuterea do corredor vista a partir de W

| 131

| 2018

040 m Atualmente haacute uma acumulaccedilatildeo de calhaus e de blocos de granito e de quartzo e de um seixo rolado no interior W desta estrutura que natildeo sabemos se era original motivo pela qual natildeo os retiramos A secccedilatildeo longi-tudinal desta estrutura que se orienta no sentido W-E (Fig 7) mostra que a sua base era aplanada mas com diferentes profundidades Jaacute a secccedilatildeo N-S mostra uma maior irregularidade (Figs 8)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAISTendo em conta as afirmaccedilotildees de Horaacutecio Faria assim como as dimensotildees que a referida estrutura apresenta apenas podemos colocar a hipoacutetese desta ter servido originalmente para um enterramento individual na qual o cadaacutever estaria numa posiccedilatildeo de decuacutebito lateral com o cracircnio voltado para leste acompanhado claro de oferendas simboacutelicas que poderiam ou natildeo refletir as suas atividades em vida No entanto a localizaccedilatildeo desta no seio da estrutura dolmeacutenica em pleno corredor natildeo eacute algo usual Tambeacutem natildeo podemos descartar um outro dado incontornaacutevel isto eacute grosso modo os monumentos funeraacuterios megaliacuteticos foram alvo de violaccedilotildees e atos de vandalismo durante o periacuteodo romano e em eacutepocas posteriores na acircnsia de encontrar ldquotesourosrdquo Contudo e para dececcedilatildeo destas comunidades muitas vezes os ldquotesourosrdquo eram ingloacuterios e natildeo valiam sequer o esforccediloempenho nos atos deliberados de saque e vandalismo Ainda assim estes atos afetaram indubitavelmente os monumentos funeraacuterios megaliacuteticos A Mamoa de Eireira natildeo foi exceccedilatildeo Assim e tendo em conta que da estru-tura em negativo resultou ldquolouccedila grosseirardquo houve necessariamente um revolvimento das terras que ateacute entatildeo cobriam o espaccedilo sepulcral o que por conseguinte fez com que muitos artefactos se deslocassem das suas posiccedilotildees originais Neste sentido e de acordo com o que atraacutes foi descri-to colocamos muitas aspas em qualquer tentativa de categorizaccedilatildeo desta estrutura

AGRADECIMENTOSEste trabalho foi desenvolvido no acircmbito do projeto de dissertaccedilatildeo de mes- trado do signataacuterio intitulado ldquoContextos e praacuteticas funeraacuterias do Neoliacuteti-co na fachada costeira entre o Acircncora e o Lima (Norte de Portugal) a partir da Mamoa de Eireirardquo que por sua vez se inseria na tarefa 2 do projeto Espaccedilos Naturais Arquiteturas Arte rupestre e Deposiccedilotildees na Preacute-histoacuteria recente da Fachada Ocidental do Centro e Norte Portuguecircs das Accedilotildees aos Significados ndash ENARDAS (PTDCHIS-ARQ112983) finan-

132 |

ciado pelo COMPETE e pelo FEDER Agradecemos ao Eng Horaacutecio Faria as informaccedilotildees prestadas relativas agrave estrutura em negativo objeto de anaacutelise neste trabalho e a Filipe Pereira pela cartografia usada neste trabalho REFEREcircNCIASSILVA E J L (1988) ndash A Mamoa de Afife breve siacutentese de 3 campanhas de escavaccedilatildeo Trabalhos de Antropologia e Etnologia ISSN 2183-0266 Porto Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia Vol 281-2 p 127-132SILVA E J L (1991) ndash Descobertas recentes de arte megaliacutetica no Norte de Portugal Cadernos Vianenses ISSN 0871-4282 Viana do Castelo Cacircmara Municipal Nordm 15 p 31-45SILVA E J L (1992) ndash Estaccedilotildees arqueoloacutegicas de Viana ndash Mamoa de Afife Viana do Castelo Cacircmara Municipal [Desdobraacutevel]SILVA E J L (1994) ndash Megalitismo do Norte de Portugal o litoral minhoto In Actas do Seminaacuterio ldquoO Megalitismo no Centro de Portugal novos dados problemaacutetica e relaccedilotildees com outras aacutereas peninsularesrdquo Viseu Centro de Estudos Preacute-histoacutericos da Beira Alta p 157-169 SILVA E J L (1997) ndash Arte megaliacutetica da costa norte de Portugal Brigantium ISSN 0211-318X Galiza Museu Arqueoloacutexico e Histoacuterico de Coruntildea Vol 10 p 179-189 SILVA E J L (2003) ndash Novos dados sobre o Megalitismo do Norte de Portugal In Tra-balhos de Arqueologia ndash Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo ISBN 972-8662-09-2 Lisboa Ministeacuterio da Cultura e Instituto Portuguecircs de Arqueologia Nordm 25 p 269-279 SOARES F (2013) ndash New data from the megalithic art of the Eireira Mound (Viana do Castelo) and some reflections on death conceptions in the Neolithic 2nd Colloquium Enardas Recorded places experienced places Matter space time liminarity and mem-ory in the holocene rock art of the Iberia atlantic margin Braga Associaccedilatildeo Portuguesa para o Estudo do Quaternaacuterio ndash APEQ Departamento de Histoacuteria da Universidade do Minho Centro de Investigaccedilatildeo Transdisciplinar Cultura Espaccedilo e Memoacuteria ndash CITCEMUM Disponiacutevel na wwwltURL URLhttpswwwacademiaedu5170513New_data_from_the_megalithic_art_of_the_Eireira_Mound_Viana_do_Castelo_and_some_reflec-tions_on_death_conceptions_in_the_NeolithicgtTEIXEIRA C MEDEIROS A C e COELHO A P (1972) ndash Carta Geoloacutegica de Portugal na escala 150000 Notiacutecia explicativa da folha 5-A (Viana do Castelo) Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal

| 133

| 2018

Muerte y ritual en el Neoliacutetico del noroeste ibeacuterico El megalitismo y otras manifestaciones del comportamiento funerario de las sociedades de los milenios V y IV aC en la regioacuten cantaacutebrica y Galicia

Death and ritual in the Neolithic of the Iberian North West Megaliths and other pieces of evidence of the funerary behaviour of the 5th and 4th millennia cal BC in Cantabrian Spain and Galicia

RESUMENEl noroeste de la peniacutensula ibeacuterica es un aacutembito geograacutefico particularmente interesante para estudiar la evolucioacuten del comportamiento funerario durante el Neoliacutetico Desde el mismo proceso de neolitizacioacuten se observan transfor-maciones muy relevantes en el registro sepulcral Los cazadores-recolecto-res del VI milenio cal BC realizaban inhumaciones individuales en cuevas en ocasiones agrupadas Sin embargo en la primera mitad del V milenio en un contexto de continuidad con el Mesoliacutetico final se observa un brusco abandono de estas praacutecticas Los testimonios del comportamiento funerario en esta fase se limitan a algunos restos humanos aislados en cuevaEn el segundo tercio del V milenio se inicia en toda la regioacuten la construccioacuten de monumentos megaliacuteticos Estos no obstante muestran una gran variabilidad regional y en algunos casos ciertas evidencias de conti- nuidad con la tradicioacuten mesoliacutetica sugiriendo que la adopcioacuten del mega- litismo se debe considerar como una serie variada y heterogeacutenea de inter-pretaciones del nuevo universo funerario por parte de comunidades neoliacuteti-cas diversas En torno a 4000 cal BC se produce en el NO peninsular una verdade-ra explosioacuten del fenoacutemeno megaliacutetico La regioacuten se cubre de millares de

Pablo Arias Instituto Internacional de Investigaciones Prehistoacutericas de Cantabria UNIVERSIDAD DE CANTABRIApabloariasunicanes

Miriam Cubas Departamento de HistoriaSociedad de Ciencias Aranzadimcubasmoreragmailcom

134 |

monumentos configurando un auteacutentico paisaje simboacutelico El registro funerario del IV milenio cal BC presenta una enorme complejidad Des- taquemos entre sus rasgos maacutes sobresalientes el desarrollo de construc-ciones megaliacuteticas maacutes convencionales como caacutemaras ortostaacuteticas o se- pulcros de corredor la destacada presencia de expresioacuten graacutefica en el interior de las caacutemaras o los indicios de relaciones a larga distancia de los que son un ejemplo particularmente notorio la presencia en los ajuares de hachas pulimentadas en rocas exoacuteticas No obstante los doacutelmenes no eran la uacutenica opcioacuten para disponer de los cuerpos de los difuntos pues hay evidencia de otras praacutecticas como la utilizacioacuten de cuevas sepulcrales PALABRAS CLAVE Simbolismo Neolitizacioacuten Arqueologiacutea de la Muerte Peniacutensula Ibeacuterica

ABSTRACTThe Northwest of the Iberian Peninsula can be considered a particularly interes- ting area for the study of the evolution of the funerary behaviour during the Neolithic Since the very process of transition from the Mesolithic outstanding changes in the sepulchral record can be observed The 6th millennium cal BC hunter- -gatherers produced individual occasionally clustered burials in caves Yet during the first half of the 5th millennium in a cultural context of continuity with the late Mesolithic a sharp abandonment of those practices can be observed The evidence of funerary behaviour in this stage is limited to some loose human remains in caves Building of megalithic monuments starts along the region during the second third of the 5th millennium However they display a large regional variability and in some cases indices of continuity with the Mesolithic tradition sugges- ting that the adoption of megalithism should be considered to be the result of va- ried and heterogeneous interpretations of the new funerary realm by diverse Neolithic communitiesAround 4000 cal BC a real explosion of the megalithic phenomenon occurred in Northwestern Iberia The region was covered by thousands of monuments shaping a real symbolic landscape The funerary record of the 4th millen-nium cal BC is particularly complex Let us highlight the development of more conventional megalithic buildings such as polygonal dolmens or pas-sage graves the outstanding presence of pieces of graphic expression in the inside of the chambers or the evidence of long distance contacts of which a particularly noticeable example are the presence among the grave goods of polished axes made in exotic rocks However dolmens were not the only option to dispose of the deceasedrsquos bodies as evidence of other practices such as the use of burial caves existsKEY WORDS Symbolism Neolithisation Archaeology of Death Iberian Peninsula

| 135

| 2018

INTRODUCCIOacuteNEn el presente trabajo expondremos y discutiremos la documentacioacuten ar-queoloacutegica disponible para el Neoliacutetico del norte y el noroeste de la peniacutensu-la ibeacuterica durante los milenios V y IV intervalo cronoloacutegico que corresponde aproximadamente al Neoliacutetico regional entendiendo como tal el periacuteodo comprendido entre la adopcioacuten de la agricultura y la ganaderiacutea y la aparicioacuten de los primeros testimonios de la metalurgia que en esta aacuterea es aproxi-madamente simultaacutenea de cambios en los sistemas sociales que parecen relacionados con una mayor complejidad social (Arias 1991 Alonso Mathias y Bello 1997 Ontantildeoacuten 2003 Cubas et al 2016) La zona de estudio inclu-iraacute Galicia y la regioacuten cantaacutebrica comprendiendo eacutesta Asturias Cantabria Vizcaya Guipuacutezcoa y la parte atlaacutentica de Navarra aunque se tendraacute en cuenta la documentacioacuten de las zonas vecinas (norte de Portugal y vertiente meridional de la cordillera cantaacutebrica) Previamente presentaremos de for-ma sucinta los precedentes inmediatos la informacioacuten disponible para el Mesoliacutetico avanzado

LOS PRECEDENTES EL COMPORTAMIENTO FUNERARIO DE LOS UacuteLTIMOS CAZADORESEl norte de Espantildea es una de las regiones maacutes ricas en testimonios arque-oloacutegicos del ritual funerario mesoliacutetico en la peniacutensula ibeacuterica (Arias et al 2009 Arias 2012a 2012b 2014) La mayor parte se situacutean en la parte oriental de Asturias (destaquemos Los Canes El Molino de Gaspariacuten o Tito Bustillo) aunque tambieacuten se conocen algunos en Cantabria (El Truchiro) el Paiacutes Vasco (J3 Linatzeta) y las montantildeas de Leoacuten (La Brantildea-Arintero) En Galicia hasta el presente no se dispone de informacioacuten de este tipo pues los restos humanos de Chan do Lindeiro (Lugo) no parecen corresponder a un depoacutesito funerario sino a una muerte accidental (Vidal et al 2017) Todos los contextos funerarios del Mesoliacutetico cantaacutebrico conocidos hasta el presente se localizan en cuevas y abrigos que por lo general presentan indicios de asentamiento del periacuteodo No obstante en muchos casos parece que el uso sepulcral no fue simultaacuteneo del habitacional o al menos existioacute una separacioacuten espacial entre las aacutereas domeacutesticas y las funerariasEn lo que se refiere al tipo de estructura sepulcral se observa un claro pre-dominio de la inhumacioacuten individual en fosas A diferencia de otras aacutereas del Mesoliacutetico europeo no se conocen enterramientos muacuteltiples o dobles pues aunque existen algunos casos en los que se han encontrado restos de maacutes de un individuo en la misma estructura parecen corresponder a la remocioacuten de tumbas anteriores para practicar nuevas sepulturas individuales o a su

136 |

reutilizacioacuten tal como sucede en la compleja tumba II de Los Canes No obstante el predominio de la inhumacioacuten individual se constata una cierta variabilidad en la morfologiacutea sepulcral Si bien lo maacutes frecuente es la existencia de fosas rellenas de sedimento conocemos al menos un caso de un sepulcro hueco a modo de sarcoacutefago (de nuevo Los Canes II) y otros en los que el cadaacutever fue depositado en el suelo de una galeriacutea interior de la caverna sin enterrar como sucede en La Brantildea-Arintero y en Tito Bustillo Una interesante informacioacuten adicional se ha obtenido en El Truchiro donde se constatoacute que el cadaacutever estaba colocado sobre una estructura de corteza de roble Desde otro punto de vista se observa una considerable regulari-dad en la posicioacuten de los cuerpos que suelen estar tumbados de espalda con las piernas fuertemente flexionadas Al igual que en otras zonas de Europa en buena parte de las sepulturas no aparece nada maacutes que el esqueleto de la persona inhumada No obstante hay varios casos de asociacioacuten con objetos que parecen corresponder a una ofrenda funeraria En su mayor parte consisten en objetos de uso cotidiano en ocasiones aparentemente no usados como sucede con los picos astu- rienses de El Molino de Gaspariacuten (Arias 1991) y restos de fauna probable-mente relacionados con piezas de carne depositadas junto al esqueleto o con restos de banquetes rituales Tambieacuten se encuentran frecuentemente elementos de adorno en su mayor parte conchas perforadas que parecen corresponder a la vestimenta y los ornamentos personales del difunto En al-gunos casos se documentan ajuares de considerable complejidad tal como sucede con la tumba II de Los Canes (fig 1) uno de los casos maacutes notables del sur de Europa con diversos objetos interpretables como objetos de pres-tigio (un bastoacuten perforado un gran punzoacuten de hueso un canto rodado con restos de pintura una posible figurilla antropomorfa) decenas de conchas perforadas y uno de los pocos casos en la peniacutensula ibeacuterica de depoacutesito fu-nerario de testuces de animales un comportamiento bien representado en el Mesoliacutetico de la Francia atlaacutentica y el norte de Europa (Arias 2016)La presencia de indicios de sepulturas infantiles en contextos del VII y VI milenios cal BC (Los Canes Linatzeta) sugiere que al igual que sucede en otras zonas de la peniacutensula ibeacuterica el tratamiento funerario de los nintildeos era anaacutelogo al de los adultos (Arias y Aacutelvarez Fernaacutendez 2004) Se constata tambieacuten otra tendencia general del Mesoliacutetico peninsular y en general del continente europeo (Arias y Aacutelvarez Fernaacutendez 2004 Gruumlnberg 2000) el in-cremento de los testimonios funerarios durante el Mesoliacutetico final algo que probablemente se relacione con la tendencia al comportamiento territorial y con el conocido fenoacutemeno de los cementerios

| 137

| 2018

Fig1 - Sepultura II de la cueva de Los Canes (Cabrales Asturias)

Conviene indicar tambieacuten que en el Mesoliacutetico cantaacutebrico se han documen-tado bastantes casos de huesos humanos aislados (Poza lrsquoEgua Balmori Mazaculos Cuartamentero Arangas) Es este un fenoacutemeno de difiacutecil inter-pretacioacuten pues podriacutea explicarse por el desmantelamiento de tumbas du-rante el propio periacuteodo mesoliacutetico pero tambieacuten como testimonio de otras praacutecticas funerarias (descarnado de los esqueletos descomposicioacuten al aire libre conservacioacuten de reliquias de los ancestroshellip) De hecho la aparicioacuten de huesos humanos sueltos (etiquetados frecuentemente con las siglas in-glesas LHB) es relativamente frecuente en el Paleoliacutetico final y el Mesoliacutetico europeo (Meiklejohn et al 2009 Osterholtz et al 2014 Hellewell y Milner 2016)

UNA EacutePOCA OSCURA LA PRIMERA MITAD DEL V MILENIO A pesar de la intensa actividad investigadora centrada en los inicios del Neoliacutetico regional desde la deacutecada de 1980 la introduccioacuten de la economiacutea de produccioacuten uacutenicamente se puede explorar a partir de un reducido nuacuteme-ro de yacimientos arqueoloacutegicos diseminados a lo largo del territorio (Cubas et al 2016) Frente al relativamente abundante registro funerario mesoliacutetico los restos humanos datados en el V milenio cal BC son muy escasos y vaga-

138 |

mente permiten una reconstruccioacuten del comportamiento funerario ligado a la introduccioacuten de las praacutecticas agriacutecolas y ganaderas La evidencia funeraria maacutes occidental procede de la ya mencionada cueva de Los Canes El inicio del V milenio cal BC estaacute representado por la unidad estratigraacutefica 7 en la que se han documentado restos de varios individuos Las dataciones radiocarboacutenicas reflejan que algunos de ellos proceden de estructuras mesoliacuteticas del VI milenio desmanteladas sin embargo uno se ha datado directamente en la primera mitad del V milenio cal BC (TO-11219 5980 plusmn 65 BP) A esta misma eacutepoca se puede adscribir un peroneacute humano procedente de Lumentxa (Lequeitio Vizcaya) datado directamente en el segundo cuarto del V milenio cal BC (OxA-18236 6122 plusmn 38 BP) aunque su adscripcioacuten es-tratigraacutefica es problemaacutetica Las intervenciones arqueoloacutegicas en la cavidad fueron dirigidas por Telesforo de Aranzadi y Jose Miguel de Barandiaraacuten en-tre 1926 y 1929 (Aranzadi y Barandiaraacuten 1935) quienes documentaron un nivel neoliacutetico por encima de la secuencia pleistocena La datacioacuten radiocar-boacutenica permitiriacutea situar este resto humano en el Neoliacutetico inicial sin embargo la ausencia de un contexto arqueoloacutegico claro impide precisar con seguridad su atribucioacuten cultural La informacioacuten proporcionada por el anaacutelisis isotoacutepico (δ13C δ15N) evidencia una elevada contribucioacuten de proteiacutenas de origen ma-rino que tradicionalmente se han relacionado con una alimentacioacuten carac-teriacutestica de grupos de cazadores-recolectores Sin embargo la informacioacuten isotoacutepica disponible en la peniacutensula ibeacuterica entre el ca 8000 y el 3000 cal BC refleja la gran heterogeneidad de la base de subsistencia de las pobla-ciones mesoliacuteticas que presentan una mayor contribucioacuten de proteiacutenas de origen marino frente a las posteriores comunidades neoliacuteticas aunque eacutesta no estaacute completamente ausente (Cubas et al en prensa) Tambieacuten estaacute datado en este momento un hueso humano de El Portillo del Arenal (Pieacutelagos Cantabria) (AA-20043 5743plusmn111 BP) Procede de una prospeccioacuten superficial en una cueva en la que se han recuperado restos de al menos dieciseacuteis individuos junto con indicios arqueoloacutegicos de di-versas cronologiacuteas desde la Prehistoria reciente a la Edad Media (Muntildeoz y Morlote 2000) La datacioacuten por termoluminiscencia de una ceraacutemica (MAD-667 5193 plusmn 405 BP) sugiere que parte de los materiales se podriacutean asociar al posible enterramiento Las dataciones absolutas permiten reconocer una cierta actividad sepulcral de la cavidad durante la primera mitad del V mile- nio cal BCComo acabamos de exponer el registro funerario adscrito a la primera mitad del V milenio cal BC en la regioacuten estaacute compuesto por restos humanos

| 139

| 2018

aislados cuyo contexto arqueoloacutegico no permite realizar inferencias sobre el comportamiento funerario asociado ya que o bien los conjuntos son muy escasos o bien se trata de hallazgos superficiales Hasta el momento no se ha identificado ninguna estructura sepulcral como las que se conocen en el valle del Ebro y la Meseta (Rojo et al 2016) fosas con enterramientos primarios en cuevas (Chaves) o al aire libre (El Prado Paternanbidea Los Cascajos) (Garciacutea Gazoacutelaz 2007 Garciacutea Gazoacutelaz y Sesma 2007 Rojo et al 2016 Alonso Fernaacutendez 2017)

MONUMENTOS FUNERARIOS EN EL PAISAJE EL MEGALITISMO Los monumentos megaliacuteticos constituyen la parte fundamental del registro funerario del Neoliacutetico del NO peninsular (Teira 1994 de Blas 1997b Faacutebre-gas y Vilaseco 2004 2006 2016 Arias et al 2005 2006) La regioacuten es particularmente rica en este tipo de sepulcros Aunque no existe un cataacutelogo fiable y contamos con numerosos testimonios de destrucciones en oca- siones masivas (Martinoacuten-Torres 2001 2002 Suaacuterez 2001) en eacutepoca histoacuterica se puede estimar miacutenimo de 4000 monumentos para Galicia y unos 1400 para la regioacuten cantaacutebrica Por su abundancia y por su tendencia a localizarse en sitios muy destacados del territorio (lugares elevados re- ferencias topograacuteficas viacuteas de comunicacioacutenhellip) (Criado y Vaquero 1993 Teira 1994) constituyen hitos fundamentales que han articulado el paisaje de la regioacuten desde el Neoliacutetico Como sucede en otras zonas de la fachada atlaacutentica europea no es faacutecil establecer la cronologiacutea de su inicio pues la datacioacuten de los monumentos megaliacuteticos es un problema muy arduo debido a la complejidad del uso de estas construcciones y a la deficiente conservacioacuten de la mayor parte de ellas No obstante tanto en Galicia como en el Cantaacutebrico (y en zonas vecinas como el norte de Portugal o el alto Ebro) la evidencia disponible per-mite constatar la existencia de megalitos en torno al 4300 cal BC (Scarre et al 2003) e incluso existen indicios aunque problemaacuteticos que permitiriacutean adelantar la cronologiacutea a alguacuten momento del segundo tercio del VI milenio Se observa no obstante un importante incremento en el nuacutemero de data-ciones situadas en el traacutensito del V al IV milenios Todo apunta a que en torno a 4000 aC se produjo una verdadera explosioacuten en la construccioacuten de monumentos megaliacuteticos que en poco tiempo debieron de cubrir toda la regioacuten desde la costa hasta las maacutes altas montantildeas (hay monumentos en el sector central del Cantaacutebrico a maacutes de 1800 msnm) proporcionando la pri-mera evidencia clara de colonizacioacuten humana en el conjunto la regioacuten Esta fiebre constructiva parece haberse prolongado a lo largo de la primera mitad

140 |

del IV milenio A partir de ahiacute la situacioacuten es maacutes confusa Ciertamente en los uacuteltimos siglos del IV milenio y durante el III e incluso ocasionalmente en la primera mitad del II existen indicios de la construccioacuten de monumentos megaliacuteticos pero las referencias cronoloacutegicas disponibles en muchos casos apuntan en mayor medida a la utilizacioacuten y en ocasiones la transformacioacuten de monumentos erigidos anteriormente que a la construccioacuten ex novo El caso mejor estudiado es el del famoso monumento de Dombate en Cabana (La Coruntildea) donde se ha documentado una larga secuencia que se inicia verosiacutemilmente en el V milenio cal BC con la construccioacuten de una pequentildea caacutemara poligonal que es derruida y sustituida por un gran sepulcro de corre-dor en torno a 3700 cal BC el cual se mantuvo en uso hasta su clausura ritual en torno a 28002700 cal BC (Bello 199293 Alonso Mathias y Bello 1997) en total en torno a milenio y medio de actividad funeraria y ritual Las investigaciones de los uacuteltimos antildeos han puesto de relieve que la reali-dad arqueoloacutegica del megalitismo del NO peninsular es mucho maacutes comple-ja que lo que suponiacutea la visioacuten monoliacutetica que predominaba hasta no hace mucho tiempo En realidad bajo el teacutermino ldquomegalitismordquo cubrimos una enorme variedad de soluciones constructivas y de actividades funerarias y rituales dotadas de relativa unidad ademaacutes de por la aparente uniformi-dad exterior proporcionada por las masas tumulares en forma de casquete esfeacuterico por la nocioacuten de la monumentalidad aplicada al comportamiento funerario Sin embargo si profundizamos en la realidad arqueoloacutegica con-creta constatamos una gran variabilidad Esto es particularmente notorio en la propia fase de constitucioacuten del fenoacutemeno megaliacutetico regional en la que junto a construcciones que podriacuteamos calificar de convencionales como las pequentildeas caacutemaras ortostaacuteticas poligonales sin corredor que pare-cen caracterizar esta etapa en Galicia y que tambieacuten encontramos en el Cantaacutebrico tambieacuten se documentan otras soluciones como espacios defini-dos por losas de pequentildeo tamantildeo empedrados estructuras de madera simples agujeros excavados en el suelo natural postes o estelas peacutetreas hincadas Podemos citar ejemplos como Cotogrande 1 (Abad 1992-93) o Illade 0 (Vaquero 1995) en Galicia los monumentos V y XII de Monte Areo (de Blas 1999) y el tuacutemulo 24 de Sierra Plana de la Borbolla (Arias y Peacuterez 1990) en Asturias Hayas I en Cantabria (Serna 1997) o Trikuaizti I en el Paiacutes Vasco (Mujika y Armendariz 1991)Este fenoacutemeno no es exclusivo de la parte atlaacutentica del NO peninsular pues si dirigimos la mirada al Alto Ebro nos encontramos un panorama similar con algunas estructuras datadas en el V milenio como Valdemuriel o Fuen-tepecina II (Delibes et al 1993) bien distintas de los grandes sepulcros de

| 141

| 2018

Fig2 - Sierra Plana de la Borbolla Tuacutemulo SV 24 Estructura megaliacutetica no dolmeacutenica datada en el V milenio cal BC

corredor que seraacuten caracteriacutesticos de la zona maacutes tarde Esto apunta a que la extensioacuten del megalitismo por la fachada atlaacutentica se explica de forma maacutes satisfactoria por la difusioacuten entre comunidades neoliacuteticas diversas de una serie de ideas y nociones simboacutelicas rituales (la monumentalidad en las construcciones funerarias la inhumacioacuten colectiva) que por otro tipo de explicaciones que se han propuesto como la expansioacuten deacutemica de determi-nados grupos (Gonzaacutelez Morales 1992) o el proselitismo religioso En relacioacuten con lo anterior cabe preguntarse si en algunos casos las comu-nidades que levantaron estos monumentos podriacutean considerarse herederos de algunos aspectos de la tradicioacuten funeraria de los cazadores-recolectores regionales A ello parece apuntar la compleja documentacioacuten de la Sierra Plana de la Borbolla (Llanes Asturias) donde ademaacutes de algunas construc-ciones ldquoatiacutepicasrdquo como la del monumento SV24 donde se levantoacute una gran estela hincada frente a un arco de pequentildeas lajas con un hoyo entre ellas (fig 2) (Arias y Peacuterez 1990) o las enigmaacuteticas estructuras descritas por J F Meneacutendez en los antildeos 1920 (Meneacutendez 1927) cabe destacar la aparicioacuten en los megalitos de picos asturienses la misma ofrenda funeraria obser-vada en la vecina sepultura mesoliacutetica de el Molino de Gaspariacuten (Carbal-lo 1926) La inusual circunstancia de que los picos de ambos yacimientos

142 |

carezcan del caracteriacutestico desgaste en la punta (Arias 1991) refuerza la hipoacutetesis de que se trate de una ofrenda deliberada que estableceriacutea un puente simboacutelico a traveacutes del proceso de neolitizacioacuten Tambieacuten cabe pre-guntarse si la antiquiacutesima datacioacuten de Monte Areo VI situada en torno a 4700 cal BC (de Blas 1999) se debe considerar necesariamente un outlier o por el contrario nos proporciona un indicio de ensayos muy tempranos de monumentalizacioacuten en pleno proceso de transicioacuten al Neoliacutetico bien do- cumentado en la comarca del cabo Pentildeas a traveacutes de los estudios paleo-ambientales (Loacutepez Merino et al 2010) A este respecto conviene resentildear que en el NO peninsular tambieacuten se ha encontrado alguacuten indicio de que las construcciones megaliacuteticas se erigieron sobre ocupaciones anteriores tal como sugieren los datos de Illade 0 y tal vez la presencia repetida en varios doacutelmenes gallegos de polen de cereal en los paleosuelos datados en el VI milenio que eacutestos cubren (Barbanza As Rozas Parxubeira As Pereiras) (veacuteanse comentarios al respecto en Arias 2007)Es interesante resentildear que la variabilidad arquitectoacutenica no es exclusiva de las fases tempranas En la eacutepoca de apogeo del fenoacutemeno megaliacutetico en la primera mitad del IV milenio cal BC se constata tambieacuten una marcada regionalizacioacuten Ciertamente en toda la regioacuten parece asistirse a una ten-dencia a una mayor monumentalizacioacuten a la construccioacuten de estructuras maacutes grandes en ocasiones realmente enormes como la propia segunda fase de Dombate los tuacutemulos gallegos de A Mota Grande (Chao 2000) y A Madorra da Granxa (Chao y Aacutelvarez Merayo 2000) o el caacutentabro del Cotero de la Mina (Armendariz y Teira 2000) No obstante es notable la existencia de soluciones distintas en unas zonas y otras Asiacute como en Galicia la opcioacuten preferida parece haber sido la ereccioacuten de grandes sepulcros de corredor en el Cantaacutebrico este tipo arquitectoacutenico estaacute totalmente ausente sustitui-do en cualquier caso por grandes caacutemaras poligonales que en ocasiones tienen una especie de poacutertico marcado - caso del dolmen de la capilla de Santa Cruz (fig 3) (Vega del Sella 1919 de Blas 1979) o de Monte Areo XV (de Blas 1999) y quizaacute del Cotero de la Mina - aunque lo maacutes frecuente son caacutemaras de planta rectangular o trapezoidal de pequentildeo tamantildeo (Tei-ra 1994 Arias et al 2005 2006) Al sur de la cordillera Cantaacutebrica en la vecina regioacuten del Alto Ebro y en la submeseta septentrional volvemos a en-contrarnos desde al menos la constitucioacuten en torno a 4000 cal BC de la lla-mada ldquofacies funeraria Miradero-San Martiacutenrdquo (Delibes et al 1987) grandes construcciones que ciertamente son definibles como sepulcros de corredor pero que en realidad son bastante distintas de las gallegas con caacutemaras de tendencia circular con una cubricioacuten indeterminada (posiblemente de

| 143

| 2018

Fig3 - Planta y repre-sentaciones graacuteficas del dolmen de la capilla de Santa Cruz (Cangas de Oniacutes Asturias) (A partir de Blas 1979)

madera) Parece por tanto que las comunidades neoliacuteticas del NO penin-sular continuacutean interpretando de maneras muy diversas la nocioacuten de monu-mentalidad y las tendencias evolutivas generales extendidas por la fachada atlaacutentica europea del comportamiento funerarioEscasa es la informacioacuten que tenemos sobre la disposicioacuten de los cadaacute-veres pues el predominio en el aacuterea de estudio de suelos aacutecidos hace que raramente se conserven los restos oacuteseos No obstante en los pocos casos (sobre todo en la parte oriental del territorio) en que se han conservado parece que se confirma la asociacioacuten de los monumentos megaliacuteticos a la inhumacioacuten colectiva tal como se constata en Larrarte (12 individuos a pesar del reducido tamantildeo de la caacutemara) en Jentillari (27 individuos) o en Igaratza Sur (30 individuos) asiacute como la presencia de personas de am-bos sexos y de todas las edades Por otra parte en el mencionado dolmen de Larrarte se ha constatado una praacutectica que debioacute ser frecuente y ha sido

144 |

certificada tambieacuten en cuevas sepulcrales de la regioacuten consistente en el reacondicionamiento del sepulcro para dejar espacio a nuevas inhuma-ciones (Mujika y Armendariz 1991)Un aspecto particularmente notable del megalitismo de la regioacuten es el gran desarrollo de la expresioacuten graacutefica De hecho el NO de la peniacutensula ibeacuteri-ca es uno de los grandes nuacutecleos del arte megaliacutetico europeo (Shee-Two-hig 1981) En los uacuteltimos antildeos se ha constatado que este fenoacutemeno estaacute mucho maacutes extendido en la peniacutensula ibeacuterica de lo que se presumiacutea (Bueno y Balbiacuten 2006 2009 2012 Bueno et al 2013) Esto no obsta para corrobo-rar que el NO peninsular y muy en particular Galicia es una de las aacutereas de mayor densidad de manifestaciones graacuteficas megaliacuteticas con la particulari-dad ademaacutes del uso sistemaacutetico de la teacutecnica pictoacuterica muy rara aunque no totalmente ausente en otras zonas de Europa (Bueno et al 2016) El nuacutecleo galaico se extiende hacia el Cantaacutebrico (de Blas 1997a) donde las manifestaciones en esta regioacuten son mucho maacutes escasas si bien incluyen un importante nuacutecleo en el valle del Sella con dos monumentos muy rele-vantes los doacutelmenes de Santa Cruz (fig 3) y Abamia (de Blas 1979 1997a) Aunque existe alguna problemaacutetica datacioacuten maacutes antigua (Anta do Serramo Coto dos Mouros Monte dos Marxos) la cronologiacutea de las manifestaciones parietales parece situarse en un segmento temporal relativamente restrin-gido ca 3900-3600 cal BC (Carrera y Faacutebregas 2006) Parecen coetaacuteneas por tanto de la fase de apogeo caracterizada por la construccioacuten de grandes sepulcros de corredor y de hecho se asocian por lo general a este tipo de sepulturas (Bello y Carrera 1997) Es evidente que las pinturas y grabados parietales de los doacutelmenes tienen una relacioacuten directa con el universo fune- rario Maacutes complejo es acercarse a su papel en el simbolismo y el ritual De hecho la iconografiacutea no es faacutecil de interpretar Los motivos representados describibles como formas geomeacutetricas son de difiacutecil lectura y se han pro-puesto diversas alternativas de problemaacutetica contrastacioacuten (casas mortuo-rias ofidioshellip) No obstante en los uacuteltimos antildeos parece abrirse camino una hipoacutetesis que a nuestro juicio abre perspectivas muy interesantes la inter-pretacioacuten de algunos ortostatos como representaciones antropomorfas en las que los motivos geomeacutetricos pintados y grabados tratariacutean de sugerir la vestimenta de forma anaacuteloga a la de objetos mobiliares como las placas decoradas Un caso claro seriacutea el de Santa Cruz (fig 3) en el que a la forma vagamente antropomorfa de la gran laja de cabecera se le uniriacutean motivos en zigzag y triaacutengulos que encontramos en representaciones interpretables como personas vestidas (Bueno 2010) La importancia simboacutelica de la figura humana se confirma por la existen-

| 145

| 2018

Fig4 - Representaciones antropomorfas esquemaacuteti-cas del megalitismo galle-go (seguacuten Faacutebregas y Vila-seca 2004 parcialmente basadas en Rodriacuteguez Casal 1988)

cia en numerosos monumentos megaliacuteticos particularmente gallegos pero tambieacuten algunos cantaacutebricos de representaciones de bulto redondo va- gamente antropomorfas como cantos con escotaduras (Faacutebregas 1993 Faacutebregas y Vilaseco 2006) o estelas (fig 4) Se ha constatado su presencia en los corredores tal como sucede en Dombate donde estaban colocadas en hilera en el umbral de la sepultura (Bello 1994) Otro caso notable es el del dolmen coruntildeeacutes de A Mina de Parxubeira en el que se encontraron alineados en una zona exterior denominada ldquoaacuterea santuariordquo cuatro es-telas antropomorfas y dos betilos (Rodriacuteguez Casal 1988) En el caso del Cantaacutebrico cabe mencionar la estela recuperada en la caacutemara de Larrarte (Guipuacutezcoa) (Mujika y Armendariz 1991) o en un contexto maacutes tardiacuteo ya Calcoliacutetico la estela hincada ante el dolmen de Collaacute Cimera en Asturias (de Blas 1992) Posiblemente quepa incluir tambieacuten aquiacute algunos objetos muebles vinculados al megalitismo asturiano como los cantos con liacuteneas

146 |

pintadas o grabadas de El Baradal y Las Paniciegas comparables a los ejemplares gallegos mencionados maacutes arribaFinalmente quedan por considerar los ajuares que acompantildeaban habitual-mente a los individuos inhumados Aparecen compuestos por elementos de iacutendole muy diversa como corresponde a las presumiblemente variadas tradiciones culturales en un aacuterea tan extensa y al largo intervalo cronoloacutegi-co en que se desarrolla el fenoacutemeno megaliacutetico A pesar de ello se obser-van algunas pautas comunes Una parte importante se compone de ciertos utensilios liacuteticos estandarizados y en ocasiones elaborados con el uacutenico fin de su depoacutesito en las sepulturas Se trata de microlitos geomeacutetricos que a partir de fines del IV milenio son sustituidos por puntas de retoque plano y hojas que se elaboran en siacutelex de excelente calidad Junto a ello son tam-bieacuten frecuentes las hachas de piedra pulimentada La presencia de objetos de evidente valor simboacutelico como las armas y las hachas muy vinculados con los nuevos modos de vida neoliacuteticos parece evidente (Bradley 1990) Por su parte las ceraacutemicas de los megalitos neoliacuteticos son por general muy simples formas globulares sin decoracioacuten o con decoracioacuten muy sumaria lo que contrasta visiblemente con la aparicioacuten en los ajuares del III milenio de producciones ricamente decoradas sobre todo en Galicia donde apare-cen vasijas con esquemas inciso-metopados y ceraacutemicas campaniformes (Faacutebregas y Vilaseco 2004) relativamente frecuentes estas en esta regioacuten y en el Paiacutes Vasco Mencioacuten aparte merece la aparicioacuten de materiales exoacuteticos como las hachas pulimentadas realizadas en materiales exoacuteticos entre los que desta-can unos pocos casos de jadeiacuteta alpina (Faacutebregas et al 2017) la magniacutefica hacha de silimanita del dolmen de la capilla de Santa Cruz (elaborada en una roca aunque probablemente ibeacuterica de origen lejano) el azabache de Dombate (Bello 1995) o la mayoriacutea del siacutelex de buena calidad que aparece en los doacutelmenes gallegos y buena parte de los asturianos

OTRAS PRAacuteCTICAS FUNERARIASLa introduccioacuten y apogeo del megalitismo en la regioacuten no supone el fin de los enterramientos en cueva que se mantienen a lo largo del IV milenio cal BC A esta cronologiacutea se adscriben evidencias funerarias de distinta entidad En la mayor parte de los casos la ausencia de publicaciones completas o el caraacutecter del depoacutesito funerario provoca una imagen claramente fragmenta- ria En cualquier caso la documentacioacuten de estos restos aislados en cueva denota una perduracioacuten de esta praacutectica funeraria Posiblemente el caso maacutes conocido en la bibliografiacutea sea el enterramiento

| 147

| 2018

Fig5 - Esquema de la sepultura neoliacutetica en cueva de Marizulo (Guipuacutezcoa) (seguacuten Laborde et al 1967)

de Marizulo (Urnieta Guipuacutezcoa) datado en torno a 4000 cal BC Se trata de un individuo adulto masculino en posicioacuten flexionada y cuyo espacio fu-nerario estaba configurado por tres grandes rocas de caliza abierto hacia el este y aparentemente asociado a los restos de un perro y una oveja (fig 5) (Laborde et al 1967) La inhumacioacuten aparecioacute en la base del nivel I en cuya parte superior se documentaron numerosos restos adscritos al Calcoliacutetico y la Edad del Bronce (Alday y Mujika 1999)A esta misma cronologiacutea corresponden los restos humanos recientemente documentados en la cueva de Linatzeta (Deba Guipuacutezcoa) auacuten no publica-dos en detalle (Tapia et al 2008) y una mandiacutebula humana hallada en la cueva de Ekain (Deba Guipuacutezcoa) (Altuna 2009) En este uacuteltimo caso se trata de un fragmento de mandiacutebula infantil asociada a algunos fragmentos ceraacutemicos con decoracioacuten impresa a base de ungulaciones y digitaciones La datacioacuten directa del fragmento mandibular permite adscribirlo al IV milen-io cal BC (Ua-36855 4960plusmn60BP) Un hueso humano procedente del Portillo del Arenal (Pieacutela-gos Cantabria) (Muntildeoz y Morlote 2000) estaacute datado directa-mente a finales del IV o inicios del III milenio cal BC (AA-20044 4443plusmn104BP) El nuacutemero de huesos humanos adscritos a estas cronologiacuteas ha aumentado exponencialmente gracias a la excavacioacuten de nuevos yacimientos arqueoloacutegicos como El Carabioacuten (Voto Cantabria) o El Toral III (Llanes Asturias) o a la revisioacuten y datacioacuten de otros tradicio- nalmente conocidos como por ejemplo Los Avellanos (La Busta Canta-bria) (Vega y Gonzaacutelez Morales 2016) o Las Caacutescaras (Ruiloba Cantabria) En el primero de los yacimientos se documentaron seis fragmentos de craacuteneo de un individuo juvenil en el nivel I cuya datacioacuten (Poz-30592 5440plusmn40BP) permite adscribirlo a esta cronologiacutea La UE 3 del yacimiento de El Toral III tambieacuten ha registrado un fragmento humano datado a finales

148 |

del Neoliacutetico (Noval 2013) Como se puede observar la evidencia funeraria neoliacutetica en cuevas de la regioacuten cantaacutebrica es muy pobre y aun lo es maacutes en Galicia donde la uacutenica datacioacuten de un enterramiento de esta cronologiacutea procede de Pala do Rebolal (Vidal et al 2017) Sin embargo la presencia de estas evidencias funerar-ias aisladas nos permiten sostener una cierta continuidad en las praacutecticas rituales de las poblaciones asentadas en la regioacuten cantaacutebrica que no se ven interrumpidas con la introduccioacuten y apogeo del megalitismo La documentacioacuten de restos humanos en cuevas y monumentos megaliacuteti-cos reflejan una dualidad en las tradiciones funerarias difiacutecil de valorar adecuadamente ante la falta de informacioacuten detallada sobre el ritual fune- rario (Ontantildeoacuten y Armendariz 20052006)

REFLEXIOacuteN FINALComo acabamos de ver el noroeste de la peniacutensula ibeacuterica es una de las aacutereas maacutes relevantes para el estudio del comportamiento funerario de las comunidades neoliacuteticas de la peniacutensula ibeacuterica La regioacuten posee una ele- vadiacutesima densidad de sitios (probablemente cerca de 5000 en su mayor parte monumentos megaliacuteticos) y un registro funerario bastante completo Se constata la brusca extincioacuten del ritual funerario caracteriacutestico del Me-soliacutetico final y su sustitucioacuten a mediados del V milenio cal BC tras una etapa mal documentada en la fase de neolitizacioacuten por la inhumacioacuten colectiva en monumentos megaliacuteticos Estos muestran una gran variabilidad regional y en algunos casos ciertas evidencias de continuidad con la tradicioacuten mesoliacuteti-ca sugiriendo que la adopcioacuten del megalitismo se debe considerar como una serie variada y heterogeacutenea de interpretaciones del nuevo universo fu-nerario por parte de comunidades neoliacuteticas diversas En la primera mitad del IV milenio cal BC la regioacuten se cubre de millares de monumentos configurando un auteacutentico paisaje simboacutelico El registro funer-ario de este periacuteodo presenta una enorme complejidad Destaquemos entre sus rasgos maacutes sobresalientes el desarrollo de construcciones megaliacuteticas maacutes convencionales como caacutemaras ortostaacuteticas simples o sepulcros de corredor la destacada presencia de expresioacuten graacutefica en el interior de las caacutemaras o los indicios de relaciones a larga distancia de los que son un ejemplo particularmente notorio la presencia en los ajuares de hachas pu-limentadas en rocas exoacuteticas No obstante los doacutelmenes no eran la uacutenica opcioacuten para disponer de los cuerpos de los difuntos pues hay evidencia de otras praacutecticas como la utilizacioacuten de cuevas sepulcrales

| 149

| 2018

AGRADECIMIENTOS Este trabajo se ha realizado en el marco del proyecto de investigacioacuten ldquoSiacutem-bolos subterraacuteneos Una aproximacioacuten al pensamiento de los cazadores-re-colectores del Tardiglacial y el Holoceno usando tecnologiacuteas informaacuteticasrdquo (SimTIC) del Plan Estatal de Investigacioacuten Cientiacutefica y Teacutecnica y de Inno-vacioacuten 2013-2016 (HAR2017-82557-P)

REFERENCIAS BIBLIOGRAacuteFICASABAD XC 1992-93 Balance de las actuaciones arqueoloacutegicas llevadas a cabo en la necroacutepolis megaliacutetica de Cotogrande (Cabral) (Canmpantildeas de 1989-1992 Castrelos 5-6 pp 7-28ALDAY A y MUJIKA JA 1999 Nuevos datos de cronologiacutea absoluta concerniente al Holoceno medio en el aacuterea vasca XXIV Congreso Nacional de Arqueologiacutea Cartagena 1997 Murcia Instituto de Patrimonio Histoacuterico Comunidad Autoacutenoma de la Regioacuten de Murcia pp 95-106ALONSO FERNAacuteNDEZ C 2017 Vida y muerte en el asentamiento del Neoliacutetico Antiguo de El Prado (Pancorbo Burgos) Construyendo el Neoliacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica Ar-chaeoress (BAR International Series 2876) Oxford Oxford ArchaeopressALONSO MATHIAS F y BELLO JM 1997 Cronologiacutea y periodizacioacuten del henoacutemeno megaliacutetico en Galicia a la luz de las dataciones por C14 In AA RODRIacuteGUEZ CASAL ed O Neoliacutetico Atlaacutentico e as orixes do megalitismo Actas do Coloquio Internacional Santiago de Compostela 1-6 de abril de 1996 Santiago de Compostela Servicio de Publicacioacutens e Intercambio Cientiacutefico da Universidade de Santiago de Compostela pp 507-520ALTUNA J 2009 Cueva de Ekain 2ordf fase I Campantildea Arkeoikuska 2008 Arkeologi Iker-ketaInvestigacioacuten Arqueoloacutegica Vitoria Servicio Central de Publicaciones del Gobierno Vasco pp 358-365ARANZADI T y BARANDIARAacuteN JM 1935 Exploraciones en la caverna de Santimamintildee (Basondo Corteacutezubi) 3ordf memoria-Yacimientos azilienses y paleoliacuteticos Exploraciones en la caverna de Lumentxa (Lequeitio) Bilbao Excma Diputacioacuten de VizcayaARIAS P 1991 De cazadores a campesinos La transicioacuten al neoliacutetico en la regioacuten cantaacutebrica Santander Servicio de Publicaciones de la Universidad de Cantabria-Asam-blea Regional de CantabriaARIAS P 2007 Neighbours but diverse social change in north-west Iberia during the transition from the Mesolithic to the Neolithic (5500-4000 cal BC) In A WHITTLE y V CUMMINGS eds Going OverThe Mesolithic-Neolithic Transition in North-West Europe Oxford Oxford University Press pp 53-71ARIAS P 2012a Despueacutes de Los Azules Las praacutecticas funerarias en las sociedades mesoliacuteticas de la regioacuten cantaacutebrica In JR MUNtildeIZ ed Ad Orientem Del final del Paleo-litico en el norte de Espantildea a las primeras civilizaciones del Oriente Proacuteximo Estudios en homenaje al profesor Juan Fernaacutendez-Tresguerres Velasco Oviedo Universidad de Oviedo-Meacutensula Ediciones pp 253-273ARIAS P 2012b Funerary practices in Cantabrian Spain (9000-3000 cal BC) In JF GIBAJA AF CARVALHO y P CHAMBON eds Funerary Practices in the Iberian Peninsula

150 |

from the Mesolithic to the Chalcolithic Oxford Archaeopress pp 7-20ARIAS P 2014 La muerte entre los cazadores-recolectores El comportamiento funer-ario en la Peniacutensula Ibeacuterica durante el Paleoliacutetico Superior y el Mesoliacutetico In E GUERRA y J FERNAacuteNDEZ MANZANO eds La muerte en la Prehistoria ibeacuterica Casos de estudio Valladolid Universidad de Valladolid pp 49-75ARIAS P 2016 Grave goods in the Mesolithic of Southern Europe an overview In JM GRUumlNBERG B GRAMSCH L LARSSON J ORSCHIEDT y H MELLER eds Mesolithic Burials ndash Rites symbols and social organisation of early postglacial communities = Me-solithische Bestattungen ndash Riten Symbole und soziale Organisation fruumlher postglazialer Gemeinschaften Halle Landesamt fuumlr Denkmalpflege und Archaumlologie Sachsen-Anhalt pp 693-704ARIAS P y AacuteLVAREZ FERNAacuteNDEZ E 2004 Les chasseurs-cueilleurs de la Peacuteninsule Ibeacuterique face agrave la mort Une reacutevision des donneacutees sur les contextes funeacuteraires du Paleacuteo-lithique supeacuterieur et du Meacutesolithique In M OTTE ed La Spiritualiteacute Actes du Colloque international de Liegravege (10-12 deacutecembre 2003) Liegravege Universiteacute de Liegravege pp 221-236ARIAS P ARMENDARIZ Aacute BALBIacuteN RD FANO MAacute FERNAacuteNDEZ-TRESGUERRES JA GONZAacuteLEZ MORALES MR IRIARTE MJ ONTANtildeOacuteN R ALCOLEA JJ AacuteLVAREZ FERNAacuteNDEZ E ETXEBERRIA F GARRALDA MD JACKES M y ARRIZABALAGA Aacute 2009 Burials in the cave new evidence on mortuary practices during the Mesolithic of Cantabrian Spain In SB MCCARTAN RJ SCHULTING G WARREN y P WOODMAN eds Mesolithic Horizons Papers presented at the Seventh International Conference on the Mesolithic in Europe Belfast 2005 Oxford Oxbow pp 650-656ARIAS P ARMENDARIZ Aacute y TEIRA LC 2005 El fenoacutemeno megaliacutetico en la regioacuten Cantaacutebrica Estado de la cuestioacuten In P ARIAS R ONTANtildeOacuteN y C GARCIacuteA-MONCOacute eds Actas del III Congreso del Neoliacutetico en la Peninsula Ibeacuterica Santander 5 a 8 de octubre de 2003 Santander Servicio de Publicaciones de la Universidad de Cantabria pp 751-759ARIAS P ARMENDARIZ Aacute y TEIRA LC 2006 The megalithic complex in Cantabrian Spain In AA RODRIacuteGUEZ CASAL ed Le Meacutegalithisme AtlantiqueThe Atlantic Mega-liths Acts of the XIVth UISPP Congress University of Liegravege Belgium 2-8 September 2001 Symposium 94 Oxford Archaeopress pp 11-29ARIAS P y PEacuteREZ C 1990 Investigaciones prehistoacutericas en la Sierra Plana de La Bor-bolla (1979-1986) Excavaciones arqueoloacutegicas en Asturias 1983-86 Oviedo Servicio de Publicaciones del Principado de Asturias pp 143-151ARMENDARIZ Aacute y TEIRA LC 2000 El megalitismo en la Marina occidental de Canta-bria Excavacioacuten arqueoloacutegica del dolmen Cotero de la Mina (San Vicente de la Barquera) In R ONTANtildeOacuteN ed Actuaciones arqueoloacutegicas en Cantabria 1984-1999 Santander Consejeriacutea de Cultura y Deporte del Gobierno de Cantabria pp 283-284BELLO JM 199293 El monumento de Dombate en el marco del megalitismo del no-roeste peninsular Aspectos arquitectoacutenicos Portugaacutelia Nova seacuterie 13-14 pp 139-148BELLO JM 1994 Grabados pinturas e iacutedolos en Dombate (Cabana La Coruntildea) iquestGru-po de Viseu o grupo noroccidental Aspectos taxonoacutemicos y cronoloacutegicos O megalitismo no centro de Portugal-novos dados problemaacutetica e relaccedilotildees com outras aacutereas peninsu-lares Viseu CEPBA pp 287-304BELLO JM 1995 Autoctonismo vs relaciones en el megalitismo noroccidental El caso de los monumentos de Dombate Actas del XXII Congreso Nacional de Arqueologiacutea Vigo

| 151

| 2018

1993 Vigo pp 25-32BELLO JM y CARRERA F 1997 Las pinturas del monumento megaliacutetico de Dombate estilo teacutecnica y composicioacuten In AA RODRIacuteGUEZ CASAL ed O Neoliacutetico Atlaacutentico e as orixes do megalitismo Actas do Coloquio Internacional Santiago de Compostela 1-6 de abril de 1996 Santiago de Compostela Servicio de Publicacioacutens e Intercambio Cientiacutefico da Universidade de Santiago de Compostela pp 819-828BLAS MAacute 1979 La decoracioacuten parietal del dolmen de la Santa Cruz (Cangas de Oniacutes Asturias) Boletiacuten del Instituto de Estudios Asturianos 33(98) pp 717-757BLAS MAacute 1992 Trabajos finales en el dolmen de la Collaacute Cimera y en la necroacutepolis de La Cobertoria (divisoria Lena-Quiroacutes) Excavaciones arqueoloacutegicas en Asturias 1987-90 Oviedo Servicio de Publicaciones del Principado de Asturias pp 53-57BLAS MAacute 1997a El arte megaliacutetico en el territorio cantaacutebrico un fenoacutemeno entre la nitidez y la ambiguumledad III Coloquio Internacional de Arte Megaliacutetico La Coruntildea Museo de La Coruntildea pp 69-89BLAS MAacute 1997b Megalitos en la Regioacuten Cantaacutebrica una visioacuten de conjunto In AA RODRIacuteGUEZ CASAL ed O Neoliacutetico Atlaacutentico e as orixes do megalitismo Actas do Colo-quio Internacional Santiago de Compostela 1-6 de abril de 1996 Santiago de Compos-tela Servicio de Publicacioacutens e Intercambio Cientiacutefico da Universidade de Santiago de Compostela pp 311-334BLAS MAacute 1999 El Monte Areo en Carrentildeo (Asturias) un territorio funerario de los milenios V a III a de JC Candaacutes Ayuntamiento de CarrentildeoBRADLEY R 1990 The passage of arms An Archaeological analysis of Prehistoric hoards and votive deposits Cambridge Cambridge University PressBUENO P 2010 Ancestros e imaacutegenes antropomorfas muebles en el aacutembito del megal-itismo occidental las placas decoradas In C CACHO R MAICAS E GALAacuteN and JA MARTOS eds Ojos que nunca se cierran iumldeolos en las primeras sociedades campesi-nas Madrid Ministerio de Cultura pp 39-77BUENO P y BALBIacuteN R 2006 Arte parietal megaliacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica In F CARRERA y R FAacuteBREGAS eds Arte arietal megaliacutetico en el noroeste peniacutensular cono-cimiento y conservacioacuten Santiago de Compostela Toacuterculo pp 61-151BUENO P y BALBIacuteN R 2009 Marcadores graacuteficos y territorios tradicionales en la Pre-historia de la peniacutensula ibeacuterica Cuadernos de Prehistoria y Arqueologiacutea de la Universidad de Granada 19 pp 65-100BUENO P y BALBIacuteN R 2012 Holocene rock art of the Iberian Peninsula 2005-2009 In PG BAHN N FRANKLIN y M STRECKER eds Rock Art Studies News of the World IV Oxford Oxbow pp 45-59BUENO P BALBIacuteN R BARROSO R CARRERA F y AYORA C 2013 Secuencia de arquitecturas y siacutemblos en el dolmen de Viera (Antequera Maacutelaga Espantildea) Menga 04 pp 251-266BUENO P BALBIacuteN R LAPORTE L BARROSO R GOUEacuteZIN P COUSSEAU F HER-NANZ A y IRIARTE M 2016 Decorative techiniques in Breton megalithic tombs (France) the role of paintings In L LAPORTE y C SCARRE eds The megalithic architec-tures of Europe Oxford Oxbow pp 197-205CARBALLO J 1926 El esqueleto humano maacutes antiguo de Espantildea Santander edicioacuten del autorCARRERA F y FAacuteBREGAS R 2006 Datacioacuten directa de pinturas megaliacuteticas de Galicia

152 |

In F CARRERA y R FAacuteBREGAS eds Arte arietal megaliacutetico en el noroeste peniacutensular conocimiento y conservacioacuten Santiago de Compostela Toacuterculo pp 37-60CHAO FJ 2000 Intervencioacuten arqueoloacutegica en A Mota Grande aproximacioacuten a su arqui-tectura Brigantium pp 23-40CHAO FJ y AacuteLVAREZ MERAYO IA 2000 A Madorra da Granxa iquestO tuacutemulas maacutesi grande de Galicia Brigantium 12 pp 41-63CRIADO F y VAQUERO J 1993 Monumentos nudos en el pantildeuelo Megalitos nudos en el espacio Anaacutelisis del emplazamiento de los monumentos tumulares gallegos Espacio Tiempo y Forma-Prehistoria y Arqueologiacutea 6 pp 205-248CUBAS M ALTUNA J AacuteLVAREZ FERNAacuteNDEZ E ARMENDARIZ Aacute FANO MAacute LOacutePEZ-DOacuteRIGA I MARIEZKURRENA K TAPIA J TEIRA LC y ARIAS P 2016 Re-evaluating the Neolithic the impact and consolidation of farming practices in the Can-tabrian region (northern Spain) Journal of World Prehistory 29 pp 79-116CUBAS M STJERNA RP FONTANALS MF LLORENTE L LUCQUIN A CRAIG OE y COLONESE AC in press Long-term dietary change in Atlantic and Mediterranean Iberia with the introduction of agriculture a stable isotope perspective Archaeological and Anthropological SciencesDELIBES G ALONSO M y ROJO MAacute 1987 Los sepulcros colectivos del Duero medio y Las Loras y su conexioacuten con el foco dolmeacutenico riojano El megalitismo en la Peniacutensula Ibeacuterica Madrid Ministerio de Cultura pp 181-197DELIBES G ROJO MAacute y REPRESA JI 1993 Doacutelmenes de La Lora Burgos Valladolid Junta de Castilla y LeoacutenFAacuteBREGAS R 1993 Representaciones de bulto redondo en el megalitismo del No-roeste Trabajos de Prehistoria 50 pp 87-101FAacuteBREGAS R RODRIacuteGUEZ RELLAacuteN C y LOMBERA AD 2017 Des Alpes agrave la peacuteninsule Ibeacuterique une longue route sinueuse In P PEacuteTREQUIN E GAUTHIER y A PEacuteTREQUIN eds Jade Objets-signes et interpreacutetations sociales des jades alpins dans lrsquoEiurope neacuteo-lithique Tome 3 Besanccedilon Presses Universitaires de Franche-Comteacute-Centre de Recher-che Archeacuteologique de la Valleacutee de lrsquoAin pp 419-429FAacuteBREGAS R y VILASECO XI 2004 El megalitismo gallego a inicios del xiglo XXI Main-ake XXVI pp 63-87FAacuteBREGAS R y VILASECO XI 2006 En torno al megalitismo gallego In F CARRERA y R FAacuteBREGAS eds Arte arietal megaliacutetico en el noroeste peniacutensular conocimiento y conservacioacuten Santiago de Compostela Toacuterculo pp 11-36FAacuteBREGAS R y VILASECO XI 2016 Building forever or just for the time being A view from north-western Iberia In L LAPORTE y C SCARRE eds The megalithic architectures of Europe Oxford Oxbow pp 101-110GARCIacuteA GAZOacuteLAZ J 2007 Los enterramientos neoliacuteticos del yacimiento de Paternan-bidea (Ibero) La tierra te sea leve Arqueologiacutea de la muerte en Navarra Pamplona Go-bierno de Navarra pp 59-65GARCIacuteA GAZOacuteLAZ J y SESMA J 2007 Enterramientos en el poblado neoliacutetico de Los Cascajos (Los Arcos) La tierra te sea leve Arqueologiacutea de la muerte en Navarra Pamplo-na Gobierno de Navarra pp 52-58GONZAacuteLEZ MORALES MR 1992 Mesoliacuteticos y megaliacuteticos la evidencia arqueoloacutegica de los cambios en las formas productivas en el paso al megalitismo en la costa cantaacutebri-ca In A MOURE ed Elefantes ciervos y ovicaprinos economiacutea y aprovechamiento del

| 153

| 2018

medio en la Prehistoria de Espantildea y Portugal Santander Servicio de Publicaciones de la Universidad de Cantabria pp 185-202GRUumlNBERG JM 2000 Mesolithische Bestattungen in Europa Ein Beitrag zur vergle-ichenden Graumlberkunde RahdenWestfalen LeidorfHELLEWELL E and MILNER N 2016 Analyses of the placement of disarticulated hu-man remins in the Stone Age shell middens in Europe In JM GRUumlNBERG B GRAMSCH L LARSSON J ORSCHIEDT and H MELLER eds Mesolithic Burials ndash Rites symbols and social organisation of early postglacial communities = Mesolithische Bestattungen ndash Riten Symbole und soziale Organisation fruumlher postglazialer Gemeinschaften Halle Landesamt fuumlr Denkmalpflege und Archaumlologie Sachsen-Anhalt pp 545-554LABORDE M BARANDIARAacuteN JM ATAURI JM and ALTUNA J 1967 Excavaciones en Marizulo (Urnieta) (Campantildeas de 1965 y 1967) Munibe XIX pp 261-270LOacutePEZ MERINO L MARTIacuteNEZ CORTIZAS A and LOacutePEZ JA 2010 Early agriculture and paleoenvironmental history in the North of the Iberian Peninsula a multi-proxy analysis of the Monte Areo mire (Asturias Spain) Journal of Archaeological Science 37 pp 1978-1988MARTINOacuteN-TORRES M 2001 Os monumentos megaliacuteticos depois do megalitismo Ar-queoloxiacutea e Historia dos megalitos galegos a traveacutes das fontes escritas (s VI-XIX) Valga Concello de ValgaMARTINOacuteN-TORRES M 2002 Defying God and the King a 17th century gold rush for megalithic treasure Public Archaeology 2(4) pp 220-235MEIKLEJOHN C BRINCH PETERSEN E and BABB J 2009 From single graves to cem-eteries An initial look at chronology in Mesolithic burial practice In SB MCCARTAN RJ SCHULTING G WARREN and P WOODMAN eds Mesolithic Horizons Papers presented at the Seventh International Conference on the Mesolithic in Europe Belfast 2005 Ox-ford Oxbow pp 639-645MENEacuteNDEZ JF 1927 La necroacutepolis dolmeacutenica de la Sierra Plana en Vidiago Primera estacioacuten neoliacutetica descubierta en Asturias Ibeacuterica XXVII(678) pp 312-317MUJIKA JA and ARMENDARIZ Aacute 1991 Excavaciones en la estacioacuten megaliacutetica de Murumendi (Beasain Gipuzkoa) Munibe (Antropologia-Arkeologia) 43 pp 105-165MUNtildeOZ E and MORLOTE JM 2000 Documentacioacuten arqueoloacutegica de la cueva del Calero II y la sima del Portillo del Arenal en Pieacutelagos In R ONTANtildeOacuteN ed Actuaciones arqueoloacutegicas en Cantabria 1984-1999 Santander Consejeriacutea de Cultura y Deporte del Gobierno de Cantabria pp 263-266NOVAL MA 2013 Excavacioacuten arqueoloacutegica en la cueva de El Toral III (Andriacuten Llanes) Excavaciones arqueoloacutegicas en Asturias 2007-2012 En el centenario del descubrimien-to de la caverna de La Pentildea de Candamo Oviedo Consejeriacutea de Educacioacuten Cultura y Deporte del Principado de Asturias pp 381-384ONTANtildeOacuteN R 2003 Caminos hacia la complejidad el Calcoliacutetico en la regioacuten cantaacutebrica Santander Servicio de Publicaciones de la Universidad de CantabriaONTANtildeOacuteN R and ARMENDARIZ Aacute 20052006 Cuevas y megalitos los contextos sep-ulcrales colectivos en la Prehistoria reciente cantaacutebrica Homenaje a Jesuacutes Altuna Tomo II Arqueologiacutea San Sebastiaacuten Sociedad de Ciencias Aranzadi pp 275-286OSTERHOLTZ AJ BAUSTIAN KL and MARTIN DL eds 2014 Commingled and disar-ticulated human remains Working toward improved theory method and data New Yorl Springer

154 |

RODRIacuteGUEZ CASAL AA 1988 La necroacutepolis megaliacutetica de Parxubeira A Coruntildea Mu-seu Arqueoloacutexico ProvincialROJO MAacute GARCIacuteA MARTIacuteNEZ DE LAGRAacuteN IacuteNtildeIGO GARRIDO R TEJEDOR C SUBIREacute ME GARCIacuteA GAZOacuteLAZ J SESMA J GIBAJA JF UNZU M PALOMINO L JIMEacuteNEZ I ARROYO E y ARCUSA H 2016 Enterramientos del Neoliacutetico antiguo en el interior peninsular nuevos datos para una actualizacioacuten de la evidencia empiacuterica Del neoliacutetic a lrsquoedat del bronze en el Mediterrani occidental Estudis en homenatge a Bernat Martiacute Oliver Valencia SIP pp 181-210SCARRE C ARIAS P BURENHULT G FANO MAacute OOSTERBEEK L SCHULTING RJ SHERIDAN A y WHITTLE A 2003 Megalithic chronologies In G BURENHULT ed Stones and bones Formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the Mesoli thic-Neolithic interface 6000-3000 BC Archaeological Conference in Honour of the Late Professor Michael J OrsquoKelly Proceedings of the Stones and Bones Conference in Sligo Ireland May 1-5 2002 Oxford Archaeopress pp 65-111SERNA MR 1997 Neolitizacioacuten y megalitismo en la Cornisa Cantaacutebrica el yacimiento de Guriezo-Hayas In R BALBIacuteN y P BUENO eds II Congreso de Arqueologiacutea Peninsu-larTomo II-Neoliacutetico Calcoliacutetico y Bronce Zamora Fundacioacuten Rei Afonso Henriques pp 199-206SHEE-TWOHIG E 1981 The megalithic art of Western Europe Oxford Clarendon PressSUAacuteREZ J 2001 Tesoros ayalgas y chalgueiros la fiebre del oro en Asturias Gijoacuten Museo del Pueblo de AsturiasTAPIA J AacuteLVAREZ FERNAacuteNDEZ E CUBAS M CUETO M ETXEBERRIA F GUTIEacuteRREZ ZUGASTI I HERRASTI L y RUIZ M 2008 La cueva de Linatzeta (Lastur Deba Gipuz-koa) Un nuevo contexto para el estudio del Mesoliacutetico en Gipuzkoa Munibe (Antropolo-gia-Arkeologia) 59 pp 119-131TEIRA LC 1994 El megalitismo en Cantabria Aproximacioacuten a una realidad arqueoloacutegi-ca olvidada Santander Servicio de Publicaciones de la Universidad de CantabriaVAQUERO J 1995 Tuacutemulos del NW peninsular Escenas Actas del XXII Congreso Nacio-nal de Arqueologiacutea Vigo 1993 Vigo pp 39-45VEGA DEL SELLA CONDE DE LA 1919 El dolmen de la capilla de Santa Cruz (Asturias) Madrid Museo Nacional de Ciencias NaturalesVEGA C y GONZAacuteLEZ MORALES MR 2016 Estratigrafiacutea y cronologiacutea para la ceraacutemica inciso-impresa en el traacutensito del III al II milenio cal aC en Cantabria In G SANZ ed Actuaciones Arqueoloacutegicas en Cantabria 2004-2011 Santander Gobierno de Canta-bria Consejeriacutea de Educacioacuten Cultura y Deporte pp 154-160VIDAL ROMANIacute JR GRANDAL DrsquoANGLADE A y VAQUEIRO RODRIacuteGUEZ M 2017 El mundo de una mujer llamada Elba hace 9300 antildeos Cadernos do Laboratorio Xeoloacutexico de Laxe 39 pp 11-22

| 155

| 2018

AS COMUNIDADES NEOCALCOLIacuteTICAS DE TRAacuteS-OS-MONTES PENSAR A SUA TRADICcedilAtildeO CERAcircMICA NUMA PERSPECTIVA DE PERENIDADE

The Neolithic and Calcolithic communities of Traacutes-os-Montes thinking their pottery tradition in a perspective of perennity

RESUMOAs comunidades neocalcoliacuteticas de Traacutes-os-Montes Oriental deixaram-nos evi-decircncias de uma longa continuidade da sua cultura material na qual a repro-duccedilatildeo repetida de motivos decorativos nos recipientes ceracircmicos ao longo do IV e III mileacutenios aC nos leva a equacionar os mecanismos mentais que condi- cionam a sua produccedilatildeo artesanal Mais que uma simples manifestaccedilatildeo artiacutestica ou preocupaccedilatildeo esteacutetica estas decoraccedilotildees fazem parte de um estilo proacuteprio cons- truiacutedo atraveacutes de uma repeticcedilatildeo de gestos condicionada que entre outras pos-sibilidades poderaacute traduzir um posicionamento destas comunidades perante o passar do tempo distinguindo-se o longo do curto cada um com investimentos diferentes e pautado por continuidades ou mudanccedilasProcuramos assim perceber se esta sua cultura material eacute portanto um mar-cador de dinacircmicas de perenidade e continuidade tal como estaacute inerente ao proacuteprio conceito de megalitismo como construccedilotildees que satildeo feitas para durar por muito tempo na paisagemPALAVRAS-CHAVE Neocalcoliacutetico Cultura Material Decoraccedilatildeo Ceracircmica Traacutes- -os-Montes

ABSTRACTThe Neolithic and Calcolithic communities of Eastern Traacutes-os-Montes region have left us evidence of a long continuity of their material culture in which the repeated reproduction of decorative motifs in the ceramic vessels throughout the IV and III millennia BC leads us to equate the mental mechanisms that condition said production More than a mere artistic manifestation or aesthetic concern these decorations are part of a style of their own built through the repetition of conditioned gestures which among other possibilities can infer a positioning of these communities towards the passage of time distinguishing between long and short conceptions of time each with different investments and based on conti- nuities or changes

Elsa Luiacutes e Telma Susana O Ribeiro

156 |

We aim thus to question if this material culture is therefore a marker of peren- nial dynamics and continuity akin to the very concept of megalithism as constructions that are made to last perpetually in the landscape KEY WORDS Neolithic Chalcolithic Material Culture Pottery Decoration Traacutes-os-Montes

1 INTRODUCcedilAtildeOTomando como pretexto a aparente homogeneidade e padronizaccedilatildeo dos reci- pientes ceracircmicos das comunidades neoliacuteticascalcoliacuteticas de Traacutes-os-Montes Oriental equacionamos um problema aparentemente simples na sua cons- truccedilatildeo mas que enuncia uma enorme complexidade que dificilmente conse-guiremos explorar na sua plenitude as concepccedilotildees que estaratildeo subjacentes a esta padronizaccedilatildeo da cultura material Assumimos que determinado comporta-mento material das sociedades camponesas neocalcoliacuteticas eacute recorrente na cro-nologia e que essa proacutepria recorrecircncia eacute significante quanto agraves estruturas sociais e mentais que lhes subjazem Cumpre-nos assim discutir problematizar ainda que de forma superficial as possiacuteveis razotildees subjacentes a esse comportamen-to repetido

2 A PRODUCcedilAtildeO CERAcircMICA DAS SOCIEDADES NEOCALCOLIacuteTICAS DE TRAacuteS-OS-MONTES ORIENTALTraacutes-os-Montes Oriental eacute considerada uma regiatildeo geograacutefica com limites claros situada entre a cadeia montanhosa das serras da Brunheira Padrela Falperra a Oeste (Lemos 1993 p 98) a fronteira com Espanha a Norte e Este e o rio Douro a Sul correspondendo genericamente ao distrito de Braganccedila e agrave parte Leste do distrito de Vila Real No que respeita agraves suas sociedades camponesas do IV e III mileacutenios aC o estado actual dos conhecimentos ainda se encontra longe do desejaacutevel e do que jaacute estaacute disponiacutevel para outras aacutereas regionais faltando nes-ta regiatildeo uma concentraccedilatildeo da investigaccedilatildeo na recolha de dados sobretudo atraveacutes da escavaccedilatildeo arqueoloacutegica de siacutetios jaacute identificados e o desenvolvimen-to de projectos de investigaccedilatildeo Seria igualmente fundamental conduzir novas escavaccedilotildees que permitissem obter uma estratigrafia mais fina e consequen-temente uma melhor caracterizaccedilatildeo da evoluccedilatildeo diacroacutenica dos materiais e estruturas idealmente pautadas com uma bateria de dataccedilotildees radiomeacutetricas Satildeo vaacuterios os siacutetios identificados com ocupaccedilotildees desta cronologia relativa-mente faacuteceis de identificar em contexto de prospecccedilatildeo pela homogeneidade da sua produccedilatildeo ceracircmica ainda que quanto a estruturas sejam muito pouco visiacuteveis na paisagem

| 157

| 2018

Figura 1 ndash Mapa de localizaccedilatildeo dos siacutetios arqueoloacutegicos 1 Xaires 2 Alto da Mador-ra 3Cunho 4 Barrocal Alto 5 Quinta do Rio 16 6 Monte da Poia [base cartograacutefica de Rui Boaventura adaptado]

Figura 2 ndash Tabela de formas neocalcoliacuteticas (segundo Luiacutes 2016)

158 |

Os conjuntos ceracircmicos aqui considerados provecircm na totalidade de siacutetios in-terpretados como sendo de habitaccedilatildeo concentrando-se nos actuais concelhos de Mogadouro Torre de Moncorvo e Macedo de Cavaleiros coincidindo com os territoacuterios que foram alvo de mais intervenccedilotildees e projectos de investigaccedilatildeo Muitos dos siacutetios sofreram intervenccedilatildeo sob a forma de sondagem ou vaacuterias sondagens dificultando o cruzamento de informaccedilatildeo dentro do mesmo siacutetio ou a compreensatildeo da estrutura interna dos povoados Consideramos aqui os conjuntos ceracircmicos provenientes de Xaires em Talhas Macedo de Cavaleiros (Carvalho Ventura e Pinheiro 2009 2010 2011 Luiacutes 2016) Alto da Madorra em Vale Benfeito Macedo de Cavaleiros (Carvalho et alli 1997 Luiacutes 2016) Cu- nho (Sanches e Marcos 1985 Sanches 1992 Luiacutes 2016) e Barrocal Alto (San- ches 1992 Luiacutes 2016) ambos em Peredo da Bemposta Mogadouro Quinta do Rio 16 (Gaspar et al 2014 Luiacutes 2016) e Monte da Poia (Martins 2009 Luiacutes 2016) ambos em Cardanha Torre de Moncorvo Na generalidade trata-se de siacutetios com posiccedilatildeo de destaque na paisagem com domiacutenio visual e controlo territorial das aacutereas envolventes nomeadamente siacutetios

Figura 3 ndash Tabela de organizaccedilotildees decorativas (segundo Luiacutes 2016)

| 159

| 2018

em topos de cabeccedilo e aproveitando em muitos casos os afloramentos rocho-sos para apoio de estruturas ou protecccedilatildeo do povoado relativamente a ventos Em nenhum dos siacutetios intervencionados e aqui considerados se identificaram vestiacutegios de estruturas de caraacutecter defensivo As estruturas habitacionais iden-tificadas satildeo sempre arquitecturalmente simples recorrendo a uma maioria de materiais pereciacuteveis e o recurso agrave pedra faz-se apenas para estruturas de pequena dimensatildeo como lareiras buracos de poste alinhamentos e empedra-dos por vezes recorrendo ao complemento de fragmentos ceracircmicos e argila para os preenchimentos Em vaacuterios siacutetios detectou-se a presenccedila em quanti-dades diferentes de barro de revestimento indicando que as paredes das estru-turas habitacionais seriam revestidas a argila Natildeo parece existir um grande in-vestimento construtivo para estabilidade e durabilidade sendo necessaacuteria uma renovaccedilatildeo perioacutedica das estruturas A anaacutelise particular e comparativa dos conjuntos ceracircmicos destes siacutetios arqueo- loacutegicos permitiu verificar que existe uma tendecircncia para a homogeneidade da produccedilatildeo dos aspectos formais e das estrateacutegias decorativas dos recipientes ceracircmicos com variaccedilotildees de menor significado estatiacutestico (Luiacutes 2016) Enten-demos assim que estamos perante uma produccedilatildeo ceracircmica organizada com a reproduccedilatildeo de traccedilos e elementos estruturantes que se repetem nos vaacuterios contextos considerados Apesar das dificuldades de reconstituiccedilatildeo das formas e das organizaccedilotildees decorativas devido ao quase sempre elevado grau de frag-mentaccedilatildeo dos recipientes verifica-se que se trata na esmagadora maioria dos casos de recipientes de bases convexas raramente englobando elementos de preensatildeo com bordos quase sempre direitos ou exvertidos cujas formas predominantes satildeo por ordem de importacircncia as taccedilas os globulares e os esfeacutericos As decoraccedilotildees encontram-se bem representadas nos conjuntos (aproximada-mente 20 das formas reconstituiacuteveis) situando-se na esmagadora maioria dos casos no lado exterior do recipiente e quando eacute possiacutevel aferir na sua parte superior onde seria mais visiacutevel Dentro das teacutecnicas decorativas sobressai a impressatildeo simples seguida da incisatildeo simples depois a combinaccedilatildeo da im-pressatildeo com incisatildeo o boquique e a incisatildeo penteada Nos motivos decorativos em quase todos os contextos domina a organizaccedilatildeo decorativa III as sequecircn-cias horizontais de impressotildees com excepccedilatildeo do sector B do Alto da Madorra e o Monte da Poia em que predomina a organizaccedilatildeo V A segunda organizaccedilatildeo melhor representada eacute a II os triacircngulos preenchidos na generalidade dos siacute-tios Nos contextos onde os motivos a incisatildeo penteada (organizaccedilatildeo V) estatildeo identificados esta tende a ser a segunda opccedilatildeo atraacutes da organizaccedilatildeo III em detrimento da II Por outro lado as organizaccedilotildees menos representadas satildeo as

160 |

restantes dentro das quais a I (organizaccedilatildeo metopada) a VII (linhas incisas ho rizontais paralelas) a X (banda em ziguezague) a XII (linhas incisas largas em ziguezague) e a XL (banda de impressotildees circulares associada a espiga incisa)A ocupaccedilatildeo destes siacutetios teraacute ocorrido de uma forma geral entre os finais do IV e meadosfinais do III mileacutenio aC podendo em alguns contextos particu-lares ter-se estendido aos finais do III mileacutenio aC ou iniacutecios do II mileacutenio aC subsistindo a dificuldade de uma cronologia mais fina e de situar as diversas ocupaccedilotildees numa diacronia As dataccedilotildees disponiacuteveis satildeo muito escassas e mes-mo a comparaccedilatildeo dos conjuntos com outros provenientes de siacutetios arqueoloacutegi-cos de outras aacutereas regionais com maior quantidade de dados natildeo permitiram avanccedilar substancialmente num esboccedilo de comportamento diacroacutenico da pro-duccedilatildeo ceracircmica Algumas inferecircncias importantes foram feitas para os contex-tos com predomiacutenio da organizaccedilatildeo decorativa V associada agrave teacutecnica da incisatildeo penteada verificando-se que seraacute a partir de meados do III mileacutenio aC que se tornaraacute progressivamente na organizaccedilatildeo decorativa predominante (Luiacutes 2016 p 202-203) ou seja estamos perante uma modificaccedilatildeo na decoraccedilatildeo dos recipientes introduzida jaacute numa eacutepoca mais avanccedilada de uma tradiccedilatildeo oleira genericamente designada de neocalcoliacutetica Ora esta dificuldade de definiccedilatildeo diacroacutenica decorre essencialmente de um

Figura 4 ndash Graacutefico de representatividade das formas por contexto (segundo Luiacutes 2016)

| 161

| 2018

problema de amostra arqueoloacutegica mas deveraacute tambeacutem relacionar-se com uma grande perduraccedilatildeo no tempo dos mesmos modelos de produccedilatildeo ceracircmica com a repeticcedilatildeo constante das mesmas formas e das mesmas organizaccedilotildees decorativas ainda que com pequenas variaccedilotildees estatiacutesticas

3 INFEREcircNCIAS SOCIAIS A PARTIR DE UMA MODA OLEIRAA produccedilatildeo ceracircmica das sociedades transmontanas do IV-III mileacutenios aC apesar do muito que nos falta ainda conhecer e compreender aparenta demons- trar uma manutenccedilatildeo no tempo e no espaccedilo de formas concretas de saber faz-er e uma reproduccedilatildeo constante de elementos considerados estruturantes (pelo menos por noacutes) Natildeo parece neste sentido existir uma liberdade criativa ainda que este seja um conceito provavelmente demasiado contemporacircneo para a produccedilatildeo artesanal concretamente neste acircmbito para a produccedilatildeo oleira E a questatildeo que se impotildee vem exactamente nesta sequecircncia quais satildeo as razotildees que subjazem a esta reproduccedilatildeo artesanal (e cultural) controlada que aparen-temente natildeo deixa espaccedilo e liberdade para a criaccedilatildeo particular ou individual A produccedilatildeo artesanal nestas sociedades preacute-histoacutericas como vimos nos casos acima referidos e como eacute jaacute substancialmente conhecido (Lemonnier 2002 Shanks e Tilley 1987 Lima 2011 Sanches 1997 Plog 1980 Dietler e Her-bich 1998) estaacute embutida de formas de fazer especiacuteficas de escolhas que as comunidades tomaram nos modos de produccedilatildeo que consideram eficazes e que assumem como suas e como expressatildeo de si mesmas e das suas estrutu-ras mentais e culturais ou seja tecircm um estilo proacuteprio que eacute ensinado e repetido ao longo de um tempo variaacutevel A estandardizaccedilatildeo da cultura material ou o seu estilo ldquoprovides a coherence consistency to the fabric of everyday existence that promotes social livingrdquo (Sackett 1977 p 372) e eacute tambeacutem parte activa de uma identidade de grupo e porque presente e observaacutevel garante o sentimento de pertenccedila (ou por oposiccedilatildeo de diferenccedila) a um grupo e a um conjunto de nor-mas e prerrogativas sociais que enquadram a vida do indiviacuteduo e igualmente a sobrevivecircncia identitaacuteria do grupo Portanto a cultura material ldquois in no sense to be regarded as a product of unmediated individual intentionality but as a produc-tion of the intersubjective social construction of reality Individuals are structured in terms of the social and concomitantly material culture is socially rather than individually structuredrdquo (Shanks e Tilley 1987 p 97-98)Neste mesmo sentido a cultura material assume estrutura de comunicaccedilatildeo dentro das comunidades como vaacuterios autores tecircm apontado (Jones 2007 Shanks e Tilley 1987 Karacan 2016 Rowlands 1993 Ames 1980) sendo assim os recipientes ceracircmicos similarmente recipientes de mensagens e de coacutedigos com significado social Dificilmente conseguiremos lsquotraduzirrsquo essas

162 |

mensagens na sua plenitude contextual no que realmente cada organizaccedilatildeo decorativa ou cada fusatildeo entre formadecoraccedilatildeo e ateacute funccedilatildeocontexto de uti-lizaccedilatildeo representa mas podemos discutir concepccedilotildees mais abstractas subja-centes a estes coacutedigos sociais Um sentido mais imediato eacute o de que a cultura material constitui parte de um sistema geral de depoacutesito de memoacuteria colectiva pelo menos a dois niacuteveis Um deles eacute a transmissatildeo do saber fazer antigo e instituiacutedo que funciona tecnicamente a mais faacutecil transmissatildeo de ferramentas do dia a dia porque implica pouco tempo de conceptualizaccedilatildeo e experimentaccedilatildeo teacutecnica agilizando o quotidiano e criando poucas tensotildees sociais em eventuais alturas de premecircncia dos proacuteprios objectos Este niacutevel entraraacute no campo do en-raizamento de praacuteticas sociais pouco pensadas muitas vezes ateacute inconscientes da sua origem ou justificaccedilatildeo praacutetica mas que por habitus (segundo P Bordieu apud Garciacutea Borja Molina Balague e Bernabeu Aubaacuten 2005) satildeo ensinadas e reproduzidas ldquoporque sempre se fez assimrdquo ou numa melhor descriccedilatildeo porque ldquoa central part of social memory and the transmission of cultural knowledge is associated with repeated habitual actions such as learning to hunt learning to make poterry etcrdquo (Lucas 2005 p 77)Um segundo niacutevel em que a cultura material pode ser considerada de repositoacuterio da memoacuteria colectiva eacute talvez mais difiacutecil de conceptualizar que seraacute o de en-carar a cultura material como forma activa de transmissatildeo cultural e de conhe-cimento social (Jones 2007) especialmente utilizado em sociedades orais ou natildeo literatas como ldquoa symbolic medium for orientating people in their natural

Figura 5 ndash Graacutefico das organizaccedilotildees decorativas por contexto (segundo Luiacutes 2016)

| 163

| 2018

and social environment because of the relative permanence of material culture vis a vis speech actsrdquo (Shanks e Tilley 1987 p 96-97) Sendo uma forma de linguagem utilizamo-la para ldquoorganize transfer and understand ideas notions and values of group members which makes it a precondition for a collectively constructed pastrdquo (Karacan 2016 p 34) tendo ainda a ldquocapacity to evoke and to establish with past experience [hellip] because as a material symbol rather than verbalized meaning they provide a special form of access to both individual and group unconscious processesrdquo (Rowlands 1993 p 144) Neste particular os objectos a cultura material servem como uma mnemoacutenica como um elemento activador da memoacuteria colectiva e provavelmente remetem para um sentido de passado comum conferindo estabilidade ao colectivo e agrave identidade individual e do grupo No entanto da mesma forma que a presenccedila da cultura material e a sua re-produccedilatildeo controlada remetem para um passado colectivo quer enquanto elemento agregador quer enquanto transmissor de valores e praacuteticas sociais podem tambeacutem traduzir uma forma particular de estar no mundo de enca- rar o seu proacuteprio devir social e cultural Referimo-nos concretamente agrave forma destas sociedades encararem o passar do tempo ldquohow a society views the world is inextricably linked to their material relations with the world that material culture encapsulates the conceptual symbolic or cognitive structure of a society as much as its technology or economyrdquo (Lucas 2005 p67) Desta forma po-demos admitir que a produccedilatildeo material tem sempre em si impliacutecita a noccedilatildeo de ldquotempordquo e as estrateacutegias temporais da sociedade em que se insere Como Lucas (2005 p68) afirma ldquoIndeed not only will certain activities be structured in a temporal manner (eg harvesting the crop at a certain time burying the dead on a certain day) the temporal perceptions associated with the activity form an inte-gral part of the nature of that activityrdquo Atraveacutes da repeticcedilatildeo de gestos e praacuteticas e de histoacuterias e objectos estas comunidades poderiam querer evocar ateacute de forma inconsciente um sentido de continuidade com o passado conferindo es-tabilidade na vida quotidiana que em uacuteltima anaacutelise poderaacute ser encarada como eventual mecanismo de resposta a inseguranccedilas e ser uma forma de lidar com as preocupaccedilotildees do futuro Inerentemente presumimos um sentido de previsi-bilidade no quotidiano justificado pela repeticcedilatildeo de ensinamentos antigos que confinaraacute uma maior confianccedila ao futuro e agraves novas geraccedilotildees E neste sentido a cultura material pode ser encarada tambeacutem como uma ponte de ligaccedilatildeo entre o passado as origens a tradiccedilatildeo a estabilidade do grupo e o proacuteprio futuro na transmissatildeo desses mesmos valores e sobretudo da passagem de um testemu-nho uma heranccedila cultural antiga mas actual conferindo continuidade e esta-bilidade A forma de olhar para o tempo eacute de certa forma um acto continuado

164 |

entre o passado e o futuroDa mesma forma que a cultura material moacutevel como os recipientes ceracircmicos que aqui destacaacutemos os proacuteprios monumentos megaliacuteticos realidade pre-sente em Traacutes-os-Montes Oriental (Sanches 1992 Sanches e Nunes 2005) serviratildeo ldquocomo repositoacuterios mais visiacuteveis das memoacuterias identitaacuteriasrdquo (Sanches e Nunes 2005 p 60) que dentro dos seus muacuteltiplos significados e funciona-lidades enunciam uma marca na paisagem construiacuteda para a longa duraccedilatildeo novamente remetendo para dinacircmicas de continuidade e perpetuaccedilatildeo de es-truturas sociais Poderemos entatildeo equacionar como Shanks e Tilley (1987 p103-104) diferentes escalas e meios de transmissatildeo renovaccedilatildeo e garante de continuidade cultural sendo o megalitismo o meio de maior escala fiacutesica de maior visibilidade e ateacute o testemunho de uma preocupaccedilatildeo pela passagem de um longo tempo por outro lado a ceracircmica e a sua decoraccedilatildeo podem aqui ser entendidos como meios de menor escala fiacutesica e temporal mas que vecircm ain-da assim reforccedilar a ideia de perenidade pois ldquo(hellip)os artefactos ou construccedilotildees satildeo mais ou menos duraacuteveis ou renovaacuteveis de acordo natildeo somente com as suas propriedades fiacutesicas mas essencialmente em funccedilatildeo do valor cultural de que satildeo imbuiacutedos Eacute esse valor ou carga simboacutelica que determina a sua atem-poralidade (ou longevidade) [hellip] Sendo renovaacuteveis conduzem em princiacutepio agrave repeticcedilatildeo ou fabrico segundo ldquoum certo estilordquo conforme ao anterior pois deste modo asseguraratildeo a continuidade entregeracional desejadardquo (Sanches 1997 p158)

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAISNeste breve ensaio pretendemos aflorar a problemaacutetica dos significados da ma-nutenccedilatildeo da cultura material tomando como ponto de partida as sociedades neoliacuteticas e calcoliacuteticas de Traacutes-os-Montes Oriental De facto apesar da carecircncia de dados e investigaccedilatildeo eacute possiacutevel identificar-se nestes contextos uma repro-duccedilatildeo recorrente de um estilo ceracircmico com poucas variaccedilotildees de significado estatiacutestico que nos sugere uma intencionalidade e um controlo social da pro-duccedilatildeo artesanal Pensamos que esta homogeneidade da cultura material estaraacute relacionada com a funccedilatildeo social desses mesmos objectos o de constituiacuterem expressatildeo activa destas comunidades como forma de linguagem de materializaccedilatildeo de elemen-tos socialmente importantes e como repositoacuterio de memoacuteria social portanto e como tal passiacuteveis de enorme controlo social da sua reproduccedilatildeo A cultura ma-terial incluindo as formas de a saber fazer e o proacuteprio objecto terminado satildeo ele-mentos de memoacuteria de registo identitaacuterio que eacute preciso manter e colocar como legado histoacuterico e ancestral para as proacuteximas geraccedilotildees A forma como essa

| 165

| 2018

mensagem eacute transmitida poderaacute ter diferentes meios e escalas de repeticcedilatildeo dentro de uma esfera de continuidade como parece acontecer com a produccedilatildeo ceracircmica e sua decoraccedilatildeo e claramente com a construccedilatildeo de monumentos megaliacuteticos Por outro lado a proacutepria reproduccedilatildeo cultural parece ter inerente um sentido de tempo de longa duraccedilatildeo que aproxima atraveacutes da repeticcedilatildeo continuada de ges-tos e materialidades o passado e as origens do futuro conferindo estabilidade e seguranccedila ao todo social As especificidades e contingecircncias de cada grupo especialmente destas socie-dades transmontanas seratildeo muito mais complexas do que esta aproximaccedilatildeo necessariamente abstracta e superficial poreacutem pelo menos procuraacutemos criar linhas de pensamento e de anaacutelise que possam encaminhar-nos no progressivo conhecimento das dinacircmicas sociais e culturais destes seres humanos que tatildeo distantes no tempo continuam a manter vivas tenuemente a sua histoacuteria e as suas mensagens

BIBLIOGRAFIAAMES KL (1980) ndash Material Culture as NonVerbal Communication A Historical Case Study Journal of American Culture 3(4) p619-641CARVALHO H A VENTURA JMQ PINHEIRO P (2011) ndash Xaires (Macedo de Cavaleiros) Um siacutetio de habitat calcoliacutetico em Traacutes-os-Montes Oriental A campanha 3 (2010) Cadernos Terras Quentes 8 p 25-32CARVALHO H A VENTURA J M Q PINHEIRO P A (2010) ndash Um Habitat Calcoliacutetico em Traacutes-os-Montes Oriental O Arqueosiacutetio de Xaires (Macedo de Cavaleiros) Cadernos Terras Quentes 7 p 7-13CARVALHO H A VENTURA JMQ PINHEIRO P (2009) ndash Xaires (Macedo de Cavaleiros) Um siacutetio de Habitat da Preacute-Histoacuteria Recente em Traacutes-os-Montes Oriental A Sondagem (2008) Cadernos Terras Quentes 6 p 91-96CARVALHO P S GOMES LF FRANCISCO J P BOTELHO I T (1997) ndash Os habitats preacute-histoacutericos do Alto da Madorra e Urreta de Moacutes (Macedo de CavaleirosBraganccedila) Em Busca do Passado 19941997 Lisboa Junta Autoacutenoma das Estradas p 92-108DIETLER M HERBICH I (1998) ndash Habitus techniques style an integrated approach to the social understanding of material culture and boundaries In STARK M (ed) The Archaeology of Social Boundaries Smithsonian Institution Press p 232-263GARCIacuteA BORJA P MOLINA BALAGUE L BERNABEU AUBAacuteN J (2005) ndash Primeros resultados en el estudio estiliacutestico ceraacutemico neoliacutetico Las cuevas de Sarsa y Nerja In Arias P Ontantildeoacuten R Garciacutea-Moncoacute C (eds) III Congreso del Neoliacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica Universidad de Cantabria p 316-326GASPAR R DONOSO G MAY A VAZ F (2014c) ndash Relatoacuterio Final das sondagens de diag-noacutestico Quinta do Rio 16 EP627 Plano de Salvaguarda do Patrimoacutenio da Empreitada Geral de Construccedilatildeo do Aproveitamento Hidroeleacutectrico do Baixo Sabor Relatoacuterio policopiadoJONES A (2007) ndash Memory and material culture Cambridge Cambridge University PressKARACAN E (2016) ndash Remembering the 1980 Turkish Military Coup drsquoEacutetat Memory Vio-

166 |

lence and Trauma Springer VSLEMONNIER P (ed) ndash Technological choices Transformation in material cultures since the Neolithic RoutledgeLEMOS F S (1993) ndash O Povoamento Romano de Traacutes-os-Montes Oriental Dissertaccedilatildeo de Doutoramento na especialidade de Preacute-histoacuteria e Histoacuteria da Antiguidade apresentada agrave Uni-versidade do Minho Braga policopiadoLIMA T A (2011) ndash Cultura Material a dimensatildeo concreta das relaccedilotildees sociais Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 6 (1) p 11-23LUCAS G (2005) ndash The Archaeology of Time Abingdon amp New York RoutledgeLUIacuteS E (2016) ndash Mudanccedila e transformaccedilatildeo Calcoliacutetico Bronze Inicial e Bronze Meacutedio em Traacutes-os-Montes Oriental reflexotildees a partir dos recipientes ceracircmicos Tese de Doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa PolicopiadoMARTINS C (2010) ndash Relatoacuterio final ndash sondagens diagnoacutestico do Monte da Poia EP337 Plano de Salvaguarda do Patrimoacutenio da Empreitada Geral de Construccedilatildeo do Aproveitamento Hidroeleacutectrico do Baixo Sabor Relatoacuterio policopiadoPLOG S (1980) ndash Stylistic Variation in Prehistoric Ceramics Cambridge University Press Cam-bridgeROWLANDS M (1993) ndash The role of memory in the transmission of culture World Archaeolo-gy Conceptions of Time and Ancient Society 25(2) p 141-151SACKETT JR (1977) ndash The meaning of style in Archaeology a general model American An-tiquity 42(3) p 369-380SANCHES M J (1997) ndash Preacute-Histoacuteria Recente de Traacutes-os-Montes e Alto Douro O Abrigo do Buraco da Pala (Mirandela) no contexto regional Porto Sociedade Portuguesa de Antropolo-gia e Etnologia 2 volumesSANCHES M J (1992) ndash Preacute-Histoacuteria Recente no Planalto Mirandecircs (Leste de Traacutes-os-Mon-tes) Monografias Arqueoloacutegicas 3 Porto Grupo de Estudos Arqueoloacutegicos do PortoSANCHES M J MARCOS D (1985) ndash O povoado preacute-histoacuterico do Cunho ndash Mogadouro (resul-tados preliminares da escavaccedilatildeo de 1983) Arqueologia 12 p 141-154SANCHES M J MARCOS D (1984) ndash Relatoacuterio da estaccedilatildeo do Cunho 2ordf campanha de escavaccedilatildeo Relatoacuterio policopiadoSANCHES M J NUNES S (2005) ndash Monumentos em pedra numa regiatildeo de Traacutes-os-Mon-tes ndash Nordeste de Portugal Sua expressatildeo na paisagem habitada durante o 4ordm e 3ordm mil BC Revista da Faculdade de Letras Ciecircncias e Teacutecnicas do Patrimoacutenio I Seacuterie vol IV p 53-82SHANKS M TILLEY C (1987) ndash Social theory and archaeology University of New Mexico Press

| 167

| 2018

A Shrine in the Neolithic Orca da Lapa do Lobo Nelas (c 5000-3000 BC)

Um Santuaacuterio no Neoliacutetico A Orca da Lapa do Lobo Nelas (c 5000-3000 a C)

ABSTRACTThe Orca of Lapa do Lobo is already mentioned in a medieval document (1303) as defining one of the limits of the then ldquoCanas de Senhorimrdquo county In 1905 Leite de Vasconcelos mentions it as a megalithic monument in the place of Lapa of Lobo near the geodesic landmark of ldquoOrcardquo and that would have been de-stroyed by the construction of the current EN-234 (Vasconcelos 1905 p313) As early as 1966 Irisalva Moita again refers to it as being lost Similarly we could not find it during the regional surveys we conducted in the summer of 1985It was necessary to wait until October 2013 so that a cut of vegetation on the site would reveal what appeared to be the remains of a tumulus buried under scrub and very close to the place where in previous editions of the CMP sheet 211 we can read the place name ldquoOrcardquoDuring a vegetation clean-up action on April 23 2014 on the initiative of the Countyrsquos Council and with the presence of the regional representative of the DGPC it was possible to confirm that it looked like a tumulus which led to its study during four excavation campaigns in 2015 2016 2017 and 2018In this paper we present and discuss the surprising results of these campaigns namely the existence of a stratigraphically underlying Early Neolithic habitat and the fact that more than a grave site it looks like a ldquoSanctuaryrdquo Finally we address the regional implications of these findings to our understanding of the regional Neolithic ways of lifeKEY WORDS Megalithism Mondego Platform Neolithic Symbolic Practices

RESUMOMencionada jaacute num documento de 1303 como definindo um dos limites dos ldquocoutos de Canas de Senhorimrdquo a Orca da Lapa do Lobo volta ser referida em 1905 por Leite de Vasconcelos como tratando-se de um monumento megaliacutetico sito no lugar da Lapa do Lobo proacuteximo do marco geodeacutesico da ldquoOrcardquo e que te-ria sido destruiacutedo pela construccedilatildeo da actual EN-234 (Vasconcelos 1905 p313)

Joatildeo Carlos de Senna-Martinez1

1 Centre for Archaeology (Uniarq) University of Lisbon 1600-2014 Lisbon smartinezflulpt

168 |

Jaacute em 1966 Irisalva Moita volta a referir-se-lhe como perdido Do mesmo modo natildeo a conseguimos encontrar durante prospecccedilotildees efectuadas no veratildeo de 1985Foi preciso esperar por Outubro de 2013 para que um corte de matos no local viesse revelar o que pareciam ser os restos de uma mamoa sepultada sob mata-gal e muito proacuteximo do local onde em anteriores ediccedilotildees da folha 211 da CMP se pode ainda ler o topoacutenimo ldquoOrcardquoAlvo de uma acccedilatildeo de limpeza da vegetaccedilatildeo em 23 de Abril de 2014 de iniciativa da Autarquia e com a presenccedila da representante regional da DGPC foi possiacutevel confirmar que se tratava de uma mamoa o que conduziu ao seu estudo de que se efectuaram jaacute quatro campanhas de escavaccedilotildees em 2015 2016 2017 e 2018Satildeo os surpreendentes resultados dessas campanhas nomeadamente a existecircn-cia de um habitat do Neoliacutetico Antigo subjacente ao monumento e o facto de este se configurar mais como um ldquoSantuaacuteriordquo do que uma sepultura que aqui se discutem nas suas implicaccedilotildees regionais PALAVRAS-CHAVE Megalitismo Plataforma do Mondego Neoliacutetico Praacuteti-cas Simboacutelicas

Fig 1 ndash Orca da Lapa do Lobo location in Sheet 211 of the Carta Militar de Portugal scale 125000

| 169

| 2018

1 GEOGRAPHICAL SETTING AND SITE BACKGROUNDThe Orca da Lapa do Lobo (ORLL ndash CNS34620) is located in the homonymous village in Central Portugal on a flat terrain occupied by olive trees bordering the 9th July Avenue part of the EN234 that connects the Counties of Nelas and Carregal do Sal (Latitude 40470802 Longitude -7922419 - Sheet 211 of CMP 125000 1992 edition ndash Fig1)The Orca of Lapa do Lobo is already mentioned in a medieval document (1303) as defining one of the limits of the then ldquoCanas de Senhorimrdquo county Leite de Vasconcelos refers the existence of a megalithic monument in the place of Lapa do Lobo near the geodetic vertex Orca concluding that it would have been destroyed by the construction of EN-234 (Vasconcelos 1905 p313)In turn in 1966 Irisalva Moita describes it as ldquo Completely destroyed rdquo (Moi-ta 1966)When in the summer of 1985 we carried out a survey in the region for the preparation of our PhD thesis and in the framework of the ldquoArchaeological Study Program for the Middle and Upper Mondego Basin (PEABMAM)rdquo in vain searching for traces of this monument we came to wonder if there would be any confusion with the Orca do Outeiro do Rato relatively close (Senna-Marti-nez 1989 p70)It was necessary to wait for October 2013 when a local co-worker Horaacutecio

Fig 2 ndash Location of the toponim Orca in 1866 Carta Corografica

170 |

Fig 3 ndash Orca da Lapa do Lobo elevated view from SE at the end of 2014 clean-up in griseacute the remains of the surface carapace [3] emplacement of pit SU[2] [27] emplacement of pit SU[28] ORLL-1460 emplacement of the stela-menhir ORLL-1460

Fig 4 ndash Orca da Lapa do Lobo upper interface of the earth level [SU9] under the dolmen tumulus cut by the post-holes of four huts (CABANA 1 2 3 and 4) and the base of a fire-pit of Cabana 1 belonging to the Early Neolithic habitat

| 171

| 2018

Peixoto relocated it buried under shrubs and near the place where in old edi-tions of the Portu-guese 125000 Military Map (Fig1) as well as in the Choro-graphic Chart 1100000 of 1886 (Fig2) one can still read the toponym ldquoOrcardquo referring to the respective geodetic vertex but lying 700m further east and in the northern side of the roadIn 2014 our colleague Gertrudes Branco (DGPC-DRC) after a vegetation clean-up was then able to confirm that it was a seemingly ruined tumulus cor-responding to the lost monumentAt the Nelas County invitation we began the first of our four excavation seasons in the monument (20015-2018) in July 2015

2 RESULTS OF THE 2015-2018 CAMPAIGNS THE FIELD DATAThe archaeological site of ORLL has revealed a long and complex stratigraphic story After the 2014 clean-up (Fig3) we could see that the south-western quarter of the tumulus as well as its central areas were well preserved while most of the northern parts were partially destroyed by previous earth removing which in some places reached the inner stone buttress [SU26] In the south-western quarter of the tumulus even the cover-ing carapace of quartz pebbles [SU4] was partially preserved The remaining preserved tumulus surface showed a uniform brown-yellowish earth level [SU1] that was cut by two pits [SUs2 and 28] seemingly filled by stones On the south-eastern corner of the tumulus we found a stela-menhir lying down on its decorated face (ORLL-1460)So we started by a clean-up of the previously destroyed parts of the tumulusThe Early Neolithic Habitat ndash After cleaning the destruction areas of the south-western quarter of the tumulus we discovered partially underneath it traces of the first human occupation of the site represented by evidence (a few post-holes) of a habitat stratigraphically underlying its constructionAs we did previously at Orca do Folhadal (ORFOL ndash Senna-Martinez and Ventu-ra 1999) we decided to extend the clean-up of the area where we found evi-dence of a first hut that encompasses the area outside of the full south-eastern quarter of the tumulus (Fig4) This was we were able to recover the complete layout of an ellipsoidal hut (Cabana 1) of about 46m x 3m with 19 peripheral post-holes and 3 interior ones probably to support a thatched roof In its north-eastern half we found the scorched bottom of a fire pit [SU22]As can be seen in Fig4 we were also able to expose the partial floor plan of another three huts (cabanas 2 3 and 4) and of a smaller pentagonal structure made with three posts probably to sustain an elevated siloSince the depth of the recovered post-holes averaged only 8cm we interpreted

172 |

Fig 5 ndash Orca da Lapa do Lobo stone artefacts from the Early Neolithic habitat remobilized into the earth [SU1] of de dolmen tumulus 1718- prox-imal end of a silex bladelet 1803- quartz cortical bladelet 1795- scraper 2774- geomet-ric microlith (triangle) in quartz shown both sides

Fig 6 ndash Orca da Lapa do Lobo The stela-menhir ORLL-1460 after it was redressed

Fig 7 ndash Orca da Lapa do Lobo ldquoidol-likerdquo quartz pebbles from the tumulus cara-pace 881 1233 and 3598 pentagonal type 1087 1120 and 1337 anthropomor-phic type

| 173

| 2018

this habitat as we did with the Folhadal one as being composed of pole and daub ellipsoidal huts (we actually found some pieces of daub-like burnt clay in the excavation) from witch only remained the lower part of the post-holes and the basis of one of the inner fireplaces The upper two-thirds of the huts floor were surely removed and we found evidence of the removed earth being reused in the building of the dolmen tumulus together with some Early Neo-lithic stone artefacts like it happened at ORFOL (Fig5 ndash Senna-Martinez and Ventura 1999 24) and other nearby megalithic tombs excavated by our teamAs no further evidence of this habitat was recovered in the rest of the exposed tumulus periphery we suppose it extended south-westwards to the area now occupied by olive trees which prevented further excavation to expose itSo with the ORLL habitat we have the second confirmed finding of an Early Neolithic habitat site having a Middle Neolithic dolmen built over its remains ever found in this regionThe ldquoStelae Sanctuaryrdquo ndash After discovering the stela-menhir ORLL-1460 (Fig6) we were already aware that something different from a regional stan-dard Middle Neolithic dolmen was awaiting us So after exposing the huts of the Early Neolithic habitat we registered and removed what was left of the mon-ument carapace [SU4] paying close attention to what stones were laying there That is how we noticed that six of the revetment pebbles we recovered (Fig7) had shapes that reminded us of the Stelae previously found in several mega-lithic monuments in Iberia ndash as in the dolmen of Lagunita III (Bueno Ramiacuterez Barroso Bermejo and Balbiacuten Behrmann 2012 fig14) and systematised by Marta Diacuteaz-Guardamino (2010) ndash we consider them to be idoliforme pebbles specially chosen by their anthropomorphic shape like in other known cases The laying place o the stela-menhir also could be significant perhaps marking the front of the monument It has the shoulders cut to enhance the head and in the front two crude arms can be found in relief (Fig6) giving it an unmis- takable human shapeAs no other disturbances could be found at the monuments surface we exca-vated next the two pits that cut it beginning by [SUs2] After cleaning up the surface earth filling the pit it become apparent a situation where two granite Stelae were lying as they were left within two small to medium stones circles thus enabling us to redress them upright to be photographed in what we sup-pose to be their original position (Fig8) After registering and securing these first two stelae as we excavated further down the infillings of pit [SUs2] we found successive stelae lying down one upon another complete but some-times broken into two fragments either in pairs or alone (33 in total) till the bottom of the pit as well as three idoliforme pebbles

174 |

Fig 8 ndash Orca da Lapa do Lobo Stelae 271 and 353 in their supposed original places after being redressed

| 175

| 2018

Fig 9 ndash Orca da Lapa do Lobo The second phase interface of the ldquostelae-shrinerdquo exposed after removal of [SU1] [26] the inner buttress spreading like an U and opening to South-East around the shrine area [141 154156] second phase pits with stelae and ldquoidol-likerdquo quartz pebbles [163] support structure for stele-monolith 4387 in the inner buttress 3627 stele-monolith fixed into [UE140]

Fig 10 ndash Orca da Lapa do Lobo Vertical drone photo of the whole site at the end of 2018 fieldwork showing the reconstructed tumulus and the musealization of part of the Early Neolithic habitat on the lower left corner

176 |

Fig 12 ndash Orca da Lapa do Lobo Geometric Microliths trapezes

Fig 11 ndash Orca da Lapa do Lobo Vertical drone photo of the central area at the end of 2018 campaign [157] the third phase interface of the ldquostelae-shrinerdquo exposed after removal of infillings of [SU141] and [SU158] E1 E2 E3 E4 four stone uprights probably from the chamber of the original dolmen

| 177

| 2018

From the other pit [SU28] a very shallow one only one stele was found (2199)In order to further understand what the central layout of the monument was we then started to excavate the upper level of the tumulus [SU1] which we proceeded to remove in a square area of 8m X 6mThus we exposed what we interpreted as the upper interface [SU140] of the ldquostelae-shrinerdquo building middle phase featuring (Fig9)- Three new pits [SUs141 154 156] filled with stones making support struc-tures for stelae and ldquoidol-likerdquo quartz pebbles (49 stelae and 11 ldquoidol-likerdquo quartz pebbles in total)- The upper part of the inner buttress [SU26] with a supporting structure [163] for the stele-monolith 3627 and another stele-monolith in the top northwest of the excavated area (3627)- Another stele (3982) was found laying in the surface of [SU140]So we excavated the infillings of the new three pits starting by [SU141] We were thus able to recover- From pit [SU141] infillings [SUs139 142 144 146 148 150] 42 stelae and 11ldquoidol-likerdquo quartz pebbles- From [SUs 153 155] six other stelaeThe bottom of pit [SU141] is constituted by the superior interface of a new earth level [SU157] into which a smaller pit was cut [SU159] filled with brown-ish-dark earth [SU158] containing five stelae and five ldquoidol-likerdquo quartz peb-bles At the lower inter-face of [SU158] we found a layer of small to medium quartz pebbles and granite stones and protruding from it the upper part of four stones upright probably from the previous megalithic chamber but rearranged to be one in front of another from what would have been the back of the cham-ber (Figs10 11)The Middle Neolithic Dolmen ndash Accordingly to the situation at the end of campaign 4(2018) it seems that probably in the Middle Neolithic a megalithic monument (the Orca) is constructed that seems to have had a small polygonal chamber without corridor To the use of this funerary space may correspond to two geometrics made on flint blade fragments and recovered this year in [SU158] in a probably remobilized situation (Fig12)

3 THE STRATIGRAPHIC STORY OF THE SITE OF ORCA DA LAPA DO LOBO AS WE UNDERSTAND IT AT THE END OF CAMPAIGN 4(2018)In this archaeological site we are facing a complex story that we are trying to reconstruct from the recovered stratigraphic sequence- In a first moment an Early Neolithic habitat occupied the site in a situation simi-lar to what we found at Orca do Folhadal Orca 2 do Ameal and Orca 2 de

178 |

Oliveira do Conde (Ventura this volume)- Then somewhere in the Middle Neolithic a megalithic monument was built over it with probably a small polygonal orthostatic chamber To it would belong the four orthostats we found remobilized at the end 2018 campaign and the two geometric microliths made on flint blade fragments- In a third moment what initially would have been a burial monument was transformed into an ldquoancestorrsquos sanctuaryrdquo The chamber was dismantled and the four orthostats were rearranged one packed against the other in where the headstone of the chamber would have been Then the tumulus was raised three times with successive earth levels accumulation each corresponding to the structuring of a pit in the middle of the monument with ldquostone nestsrdquo built to support granite stelae andor ldquoidol-likerdquo quartz pebbles (Senna-Martinez and Carvalho this volume) In the middle tumulus rising the central pit was complemented with two smaller ones with equal function and in the upper phase with one more with identical functionAs seen in Figs 9 and 11 the rearrangement of the chamber orthostats the central pit and the two complementary ones belonging to the middle tumulus rising are in alignment NW-SE as the axis of a regional megalithic monument would be The modern place name of the local ldquoCruz Altardquo hints at a Christianization of a previous sacred place of an ancient ldquomemory placerdquo So what do we have in this siteOur proposed interpretation is as follows (1) the Middle Neolithic dolmen was built in a chosen high place in order to be central to the settlements and other contemporary monuments dispersed around it (2) at the end of the Middle Neolithic or the beginnings of the Late Neolithic the chamber of the dolmen was rearranged in order to transform a previous ldquoplace of memoryrdquo (for the first lineage ancestors) into an ldquoancestors sanctuaryrdquo where further rituals would be practiced by laying new ancestors representations (the granite stelae and the ldquoidol-likerdquo quartz pebbles) in successive moments In this way the place would function as an axis mundi for the surrounding populations to con-gre-gate This could have happened in a simpler but not so different way from the South-western Portugalrsquos enclosures (Valera 2016)

4 CONCLUDINGSo once again we face a situation that can validate our previous assumption that ldquo the megalithic monuments would take on a multifunctional and orga-nizer character of the life of these communities that would absolutely surpass the role of a simple formal area of deposition of the deadrdquo (Senna-Martinez

| 179

| 2018

1996 72 Senna-Martinez Loacutepez Plaza e Hoskin 1997 671)This assumption is both right for the first megalithic monuments of the Mon-degorsquos Platform almost always of modest dimensions and the later Late Neo-lithic big dolmens with large chambers and corridors differentiated in height In both cases we think dolmens constitute at the same time first funerary architectural monuments and true anchors in the landscape for populations that on the other hand maintain a great seasonal mobilityOur hypothesis that the food-economy with acorn-intensive recollection and roasting proved regionally by archaeologically recovered data from the Late Neolithic to the Late Bronze Age (Senna-Martinez and Ventura 2000b Sen-na-Martinez and Pedro 2000) can be associated with the whole old peasant societies (from the Early Neolithic to the Late Bronze Age) of our work region ndash recently discussed and reinforced by Ventura (this volume) ndash can probably help to explain the behavior behind their symbolic practicesWe think that the Neolithic saw a change both of territorial behavior and terri-torial awareness for which the implantation of the megalithic necropolis would provide the legitimatizing of increasing territorial appropriation of space Acorn recollection probably being one of the critical economic resources behind it This practice can thus justify the frequent founding of manual grinding stone quern parts incorporated into megalithic structures (as in the present case of ORLL) or even as in the case of Orca de Pramelas (Senna-Martinez and Valera 1989) deposited as an offeringFall acorn and other winter fruits gathering and processing seems to go to-gether in sev-eral Iberian regional areas with the period (fall and winter) when building of megalithic tombs took place either we agree with the solar hypoth-esis for their orientations (Hoskin et al 1998 Hoskin 2001) or take into con-sideration other proposed astronomical orientations (Silva 2012)As we argued before in more general terms (Senna-Martinez 2014) most of the sym-bolic components associated with life and death in the Mondegoacutes Platform Neolithic can be viewed as part of the symbolic of the agricultural cycle as metaphor for life and death (Williams 2003) as well as closely con-nected to the lineage system responsible for these communities biological and cultural reproduction These symbolic expressions probably reflect a long trend world view we can call Neolithic and that we think characterize this first stage of the Prehistory of Peasant SocietiesBesides seeing the the seasonal cycle of activities being stabilized the Late Neolithic also saw some changes in the interrelation of the living with the dead (Senna-Martinez and Ventura 2008) The perception of the ancestorsdead as ldquoprotective entitiesrdquo seems to be reinforced in the Late Neolithic to take into

180 |

account the increased effort in the construction of the great monumentsThe Late Neolithic dolmens all endowed with complex entrances and atrium would welcome (as in other regional areas) an increased number of bodies materialized in the clear increase of the artefactual assemblages deposited with them The parallel growth of complexity between the socio-economic and symbolic aspects of society could then perhaps find a particular regional ex-pression in the case of Orca da Lapa do Lobo with the transformation of an early dolmen into a ldquosanctuaryrdquo for the local lineages ancestors

Canas de Senhorim Calberlah-Allerbuumlttel and Moumlrfelden-Walldorf August 2018

REFERENCESBUENO RAMIacuteREZ P BALBIacuteN BEHRMANN R and BARROSO BERMEJO R (2016) ndash Mega-lithic art in the Iberian Peninsula Thinking about graphic discourses in the European Mega-liths Guillaume Robin et al Eds Fonctions utilisations et repreacutesentations de lrsquoespace dans les seacutepultures monumentales du Neacuteolithique europeacuteen Paris Presses Universitaires de France p185-203BUENO RAMIacuteREZ P BARROSO BERMEJO R and BALBIacuteN BEHRMANN R (2012) ndash Meacutega-lithes Statues Gravures et Peintures dans le Bassin Inteacuterieur du Tage Espagne Maiumlteacute-na Sohn et Jean Vaquer Eds Seacutepultures collectives et mobiliers funeacuteraires de la fin du Neacuteolithique en Europe occidentale Paris Eacutecole des Hautes Eacutetudes en Sciences Sociales p333-358DIacuteAZ-GUARDAMINO M (2010) ndash Las estelas decoradas en la Prehistoria de la Peniacutensula Ibeacuterica Madrid Universidad Complutense de Madrid PhD ThesisHOSKIN M et al (1998) ndash Studies in Iberian Archaeoastronomy (5) Orientations of mega-lithic Tombs of Northern and Western Iberia Archaeoastronomy 23 (JHA xxix) p S59-S62HOSKIN M (2001) ndash Tombs Temples and their Orientations Bognor Regis Ocarina BooksMOITA I (1966) ndash Caracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Alta Eth-nos V p189-297SENNA-MARTINEZ JC (1989) ndash Preacute-Histoacuteria Recente da Bacia do Meacutedio e Alto Mondego algumas contribuiccedilotildees para um modelo sociocultural Lisboa Faculdade de Letras da Uni-versidade de Lisboa Tese de Doutoramento em Preacute-Histoacuteria e Arqueolo-gia 3 VolsSENNA-MARTINEZ J C (1996) ndash Do Espaccedilo Domeacutestico ao Espaccedilo Funeraacuterio Ideologia e Cultura Material na Preacute-Histoacuteria Recente do Centro de Portugal Lisboa Uniarq OPHIUSSA 0 p65-76SENNA-MARTINEZ JC and CARVALHO Margarida M (this volume) ndash Ideotechnical Repre-sentations in the Megalithism of Mondegoacutes Platform The case of Orca da Lapa do Lobo J C Senna-Martinez Mariana Diniz e A Faustino de Carvalho Eds De Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo Vida e Morte no Ocidente Peninsular Fundaccedilatildeo Lapa do LoboSENNA-MARTINEZ JC LOacutePEZ PLAZA S amp HOSKIN M (1997) ndash Territorio ideologiacutea y cultura material en el megalitismo de la plataforma del Mondego (Centro de Portugal) O Neoliacutetico Atlaacutentico e as Orixes do Megalitismo Actas del Coloquio Internacional (Santiago de Compostela 1-6 de Abril de 1996) Santiago de Compostela Cursos e Congresos da Universidade de Santiago de Compostela 101 p 657-676

| 181

| 2018

SENNA-MARTINEZ JC amp PEDRO I (2000) ndash O Grupo BaiotildeesSanta Luzia no Quadro do Bronze Final do Centro de Portugal J C SENNA-MARTINEZ e I PEDRO Eds Por Terras de Viriato Arqueologia da Regiatildeo de Viseu Viseu Governo Civil do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia p 119-131SENNA-MARTINEZ J C amp VALERA A C (1989) ndash A Orca de Pramelas Canas de Senhorim Actas do I Coloacutequio Arqueoloacutegico de Viseu Viseu p 37-50SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA J M (1999) ndash Espaccedilo Funeraacuterio e laquoEspaccedilo Ceacutenicoraquo a Orca do Folhadal (Nelas) Trabalhos de Arqueologia da EAM Lisboa 5 p21-34SENNA-MARTINEZ JC and VENTURA JMQ (2000) ndash Pastores recolectores e constru-tores de megaacutelitos O Neoliacutetico Final J C SENNA-MARTINEZ e I PEDRO Eds Por Terras de Viriato Arqueologia da Regiatildeo de Viseu Viseu Governo Civil do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia p 53-62SENNA-MARTINEZ JC and VENTURA JMQ (2008) ndash Do mundo das sombras ao mundo dos vivos Octaacutevio da Veiga Ferreira e o megalitismo da Beira Alta meio seacuteculo depois Homenagem a Octaacutevio da Veiga Ferreira Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p317-350SILVA F (2012) ndash Landscape and Astronomy in Megalithic Portugal the Carregal do Sal Nucleus and Star Mountain Range Papers from the Institute of Archaeology (PIA) 22 p99-114 DOI httpdxdoiorg105334pia405VALERA AC (2016) ndash Ditched enclosures and the ideologies of death in the Late Neolithic and Chalcolithic South Portugal V Ard and L Pillot Eds Giants in the land-scape Monu-mentaly and Territories in the European Neolithic Oxford Archaeopress p69-84VASCONCELOS JL (1905) ndash Antiguidades prehistoricas da Beira IV- Notiacutecia de duas Orcas O Archeoacutelogo Portuguecircs 10 P313VENTURA JMQ (this volume) ndash O Nuacutecleo Megaliacutetico dos Fiais-Azenha (Carregal do Sal Portugal) um balanccedilo J C Senna-Martinez Mariana Diniz e A Faustino de Carvalho Eds De Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo Vida e Morte no Ocidente Peninsular Fundaccedilatildeo Lapa do LoboWILLIAMS M (2003) ndash Growing metaphors The agricultural cycle as metaphor in the later prehistoric period of Britain and North-Western Europe Journal of Social Ar-chaeology 3 p223-255

182 |

| 183

| 2018

IDEOTECHNICAL REPRESENTATIONS IN THE MEGALITHISM OF MONDEGOacuteS PLATFORM THE CASE OF ORCA DA LAPA DO LOBO NELAS

Representaccedilotildees Ideoteacutecnicas no Megalitismo da Plataforma do Mondego O caso da Orca da Lapa do Lobo Nelas

Joatildeo Carlos de Senna-Martinez Centre for Archaeology (Uniarq) University of Lisbon 1600-214 Lisbon Portugal smartinezflulpt

Margarida M Carvalho MA in Archaeology Centre for Archaeology (Uniarq) University of Lisbon 1600-214 Lisbon Portugalmaggiecarvalhosapopt

ABSTRACTThe four excavation campaigns (2015-2018) carried out in the ldquo Orca da Lapa do Lobordquo (County of Nelas District of Viseu) revealed a situation unique in the regional context in which it operates of a tumular structure functioning in fact as an ldquoancestors sanctuaryrdquoThe symbolic practices associated with the various regional groups of Ibe-rian Peninsula Megalithism have been receiving increasing attention in particular in what regards the ideotechnical representations associated with it both structurally and within the scope of the mobile elements that make up the respective list of offeringsIn the second case we have the elements identified as ldquostelaerdquo or ldquoidolsrdquo usually of anthropomorphic interpretation From the site un-der study the set of one hundred thirty four mobile ideotechnical representations and a ldquofixedrdquo one the study of which is presented here ndash 98 stelae 4 stele-monoliths 31 ldquoidol-like pebblesrdquo and one ceramic representation in the first group and a stela-menhir in the se- cond - constitutes the largest group of ideotechnique artefacts so far re-covered in Iberia from a single megalithic monumentWe also discuss the possible significance of these items within the frame-work of the symbolic practices known and associated with the Neolithic of the Mondego PlatformKEY WORDS Megalithism Mondego Platform Ideotechnical Represen-tations

184 |

RESUMOAs quatro campanhas de escavaccedilotildees (2015-2018) efectuadas na ldquoOrca da Lapa do Lobordquo (Concelho de Nelas Distrito de Viseu) revela- ram uma situaccedilatildeo unica no acircmbito regional em que se insere de uma estrutura tumular funcionando de facto como um ldquosantuaacuterio de ante- passadosrdquo As praacuteticas simboacutelicas associadas aos diversos grupos regionais do megalitismo da Peniacutensula Ibeacuterica tecircm vindo a merecer crescen-te atenccedilatildeo em particular no que toca agraves representaccedilotildees de cariz ideoteacutecnico a ele associadas quer estruturalmente quer no acircmbito dos elementos moacuteveis que integram o respectivo espoacutelio associadoNo segundo caso se inserem elementos identificados como ldquoestelasrdquo ou ldquoiacutedolosrdquo normalmente de interpretaccedilatildeo antropomoacuterfica No caso em estudo o conjunto de cento e trinta e quatro representaccedilotildees ideo- teacutecnicas moacuteveis e uma ldquofixardquo cujo estudo aqui se apresenta ndash 98 es-telas 4 estelas-monoacutelitos 31 ldquoseixos idoliformesrdquo e uma figuraccedilatildeo ceracircmica no primeiro grupo e uma estela-menhir no segundo ndash cons- titui no acircmbito peninsular o maior conjunto de artefactos ideoteacutecni-cos provenientes de um uacutenico monumento megaliacutetico ateacute agora conhecidoDiscute-se ainda a respectiva integraccedilatildeo no acircmbito das praacuteticas simboacuteli-cas conhecidas e associadas ao Neoliacutetico da Plataforma do MondegoPALAVRAS-CHAVE Megalitismo Plataforma do Mondego Represen-taccedilotildees Ideoteacutecnicas

The symbolic practices associated with the various regional groups of Iberian Peninsula Megalithism have been receiving increasing attention in particu-lar in what regards the ideotechnical representations associated with it both structurally and within the scope of the mobile elements that make up the respective list of offerings (Bueno Ramiacuterez Balbiacuten Behrmann and Barroso Bermejo 2016)In the second case we have the elements identified as ldquostelaerdquo or ldquoidolsrdquo usually of an-thropomorphic interpretation From the site under study the set of one hundred thirty four mobile ideotechnical representations and a ldquofixedrdquo one a first attempt to the study of which is presented here ndash 98 stelae 4 stele-monoliths 31 ldquoidoliform pebblesrdquo and one ceramic represen-tation in the first group and a stela-menhir in the second ndash constitutes the largest group of ideotechnique artefacts so far recovered in Iberia from a single megalithic monument

| 185

| 2018

1 ORCA DA LAPA DO LOBO GEOGRAPHICAL SETTING SITE DISCO- VERY AND EXCAVATION BACK-GROUNDThe region surrounding the archaeological site is covered by the geological sheet no 17C (Santa Comba Datildeo) of the Portuguese Geological Map at the scale 150 000 edited by Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal in 1961 It cor-responds to a flat area that rises slightly to the west reaching altitudes over 400 meters in the region of Canas de Senhorim This flat area between the Serras do Caramulo and Estrela is strongly incised by the deep and narrow valleys of the Mondego and Datildeo river basins which inland from their conflu-ence at Santa Comba Datildeo are closely parallel to each other with a NE-SW orientation Considering the paleogeographic divisions of the Iberia Peninsula the area of study belongs to the Central Iberian Zone which is according to Azevedo and Aguado (2013 p 377) the segment of the European variscan orogeny where granitic rocks outcrop ex-tensively and with great typological variabilityIn the surroundings of the archaeological site it is possible to find three diffe- rent varie-ties of two mica monzonite granite described in the geological map

Fig 1 ndash Geological map of the region south of Viseu with the location of the archaeo-logical site (adapted from the Geological Map of Portugal scale 1500000 1992 ed acquired by WMS from LNEG at httpwwwigeoptWMSGeologiaCGP500K) (Oliveira Pereira Antunes et al 1992)

186 |

(Fig1) The archaeological site is located on an outcrop of porfiroid grani- te with very coarse grain to medium grain however nearby there are also porfiroid granite with minerals of metamor-phism (cordierite silimanite and andalusite) porfiroid granite with medium to fine grain and lastly two mica granite with medium to fine grain (Teixeira Brito de Carvalho Barros et al 1961 p 16ndash20) Partially covering the granites it is possible to find arkose-clay deposits which include three different levels ndash (from top to bottom) quartz and quart-zite cobbles thick arkosic-sandstone and green compact colored clay (Tei- xeira Brito de Carvalho Barros et al 1961 p 9ndash10) Since the geological map of Santa Comba Datildeo (1962) is much older than the map of the region of Viseu (sheet no17-A of 2009 ) which is more detailed and uses different nomenclature it was deemed important to co-relate the granitic rocks des- cribed in both maps The granites found in the region of Viseu are mainly divided according to the third variscan deformation phase (D3) and the ones described to the SE of the Viseu geologi-cal map and therefore closest to the area of study are latepost-tectonic granites These are not as deformed as the

Fig 2 ndash Google aerial photo (2015) of the Orca da Lapa do Lobo and surroundings (1) Av 9 de Julho 109 (2) The frontier marker between Nelas and Carregal do Sal counties

1 1303 Agosto 3 Viseu ndash Sentenccedila sobre a devaccedilatildeo do couto de Canas dada por juiacutezes de Viseu em que anulam e revogam a sentenccedila dada por Lourenccedilo Pirez de Oliveira do Conde contra os herdamentos do Cabido no couto de Canas de Senhorim Arquivo Distrital de Viseu Pergaminhos m29 doc24 170x410 mm goacutetica semi-curs

| 187

| 2018

sin-tectonic variety and include calcic plagioclase two mica (mostly biotite) and have a porfiroid texture (Godinho Neves Pereira et al 2010 p 15) which in general matches the granites described in the geological map of Santa Comba DatildeoThe Orca da Lapa do Lobo (ORLL ndash CNS34620) is located in the homony-mous village in Central Portugal on a slightly elevated terrain occupied by olive trees bordering the 9th July Avenue part of the EN234 that connects the Counties of Nelas and Carregal do Sal (Latitude 40470802 Longitude -7922419 - Sheet 211 of CMP 125000 1992 edi-tion ndash Fig2)The monument has a long story beginning with a mention in a medieval document (1303) when it is referred to as defining one of the limits of the then ldquoCanas de Senhorimrdquo county1All trace of the site location was then lost during the XIXth and XXth centu-ries Succes-sively sought for by Leite de Vasconcelos (Vasconcelos 1905 p313) Irisalva Moita (Moita 1966) and one of us (Senna-Martinez 1989 p70) only in 2013 it was redis-covered by Horaacutecio Peixoto (Senna-Marti-nez this volume)

Fig 3 ndash Orca da Lapa do Lobo The stela-menhir ORLL-1460 after it was redressed

2 Our field work was supported by Nelas County Lapa do Lobo Foundation The Fireman Humanitarian Association of Canas de Senhorim and the parishes of Canas de Senhorim and Lapa do Lobo

188 |

In 2014 our colleague Gertrudes Branco (DGPC-DRC) after a vegetation clean-up was then able to confirm that it was a seemingly ruined tumulus corresponding to the lost monumentAt the Nelas County invitation we began the first of our four excavation sea-sons in the monument (20015-2018)2 in July 2015

2 GRANITE STELA-MENHIR STELAE AND STELAE-MONOLITHS AND ldquoIDOL-LIKErdquo QUARTZ PEBBLES STRATIGRAPHIC CONTEXT TYPOLOGY AND CLASSIFICATIONWe have discussed elsewhere the complex stratigraphic situation presen- ted by the site of Orca da Lapa do Lobo (Senna-Martinez this volume) so

Fig 4 ndash Orca da Lapa do Lobo ldquoidol-likerdquo quartz pebbles from the tumulus carapace 881 1233 and 3598 pentagonal type 1087 1120 and 1337 anthropomorphic type

3 The artefacts from this site are identified by the sitersquos acronym ORLL followed by a serial number (so the stele-menhir is ORLL-1460) in this paper and for the sake of simplicity we retain only the number as we assume the referred to items all belong to ORLL

| 189

| 2018

wersquoll only discuss here briefly those aspects pertaining to the discovery of the ideotechnic elements The first to be found was the stele-menhir 14603

This granite upright was found laying in the tumulus surface and its laying place could be significant perhaps marking the front of the monument The stele-menhir was made of a stone slab 80cm long by 68cm wide and with a medium thickness of 14cm it has the shoulders cut to enhance the head and in the front two crude arms can be found in relief (Fig3) giving it an unmistakable human shapeAfter discovering the stela-menhir we became aware that something diffe- rent from a regional standard Middle Neolithic dolmen was awaiting us So we proceeded to re-move with extra care what was left of the monument carapace We found it to be made mostly of unprocessed quartz pebbles six of which had shapes that reminded us of the Stelae previously found in several megalithic monuments in Iberiandash as in the dolmen of Lagunita III (Bue-no Ramiacuterez Barroso Bermejo and Balbiacuten Behrman n 2012 fig14) ndash we consi- der them to be idoliforme pebbles specially chosen by their anthropomorphic shape like in other known cases (Fig4)The remaining elements come from a completely different stratigraphic layout that left no doubt of its deliberate nature Wersquoll summarize here our interpretation of the site stratigraphic layout

1- In a first moment an Early Neolithic habitat occupied the site in a situation similar to what we found at Orca do Folhadal Orca 2 do Ameal and Orca 2 de Oliveira do Conde (Ventura this volume)2- Then somewhere in the Middle Neolithic a megalithic monument was built over it with probably a small polygonal orthostatic chamber3- In a third moment what initially would have been a burial monu-ment was transformed into an ldquoancestorrsquos sanctuaryrdquo The chamber was dismantled and the four orthostats were rearranged one packed against the other in where the head-stone of the chamber would have been The deliberate nature of this situation is substantiated by the fact that the tumulus was raised three times with successive earth levels accumulation each corresponding to the structuring of a pit in the middle of the monument with ldquostone nestsrdquo built to support granite stelae andor ldquoidol-likerdquo quartz pebbles In the middle phase of tumulus rising the central pit was complemented with two smaller ones with equal function and in the upper phase with one more with identical function (Senna-Martinez this volume)

Table-I summarizes the stratigraphic distribution of the ideotechnique items found

190 |

Fig 5 ndash Orca da Lapa do Lobo A- granite Stelae (5421751 664 3758 3760 4433) and ldquoIdol-likerdquo quartz pebbles (4576 4939) of Type-1 (Pentagonal) B- granite Stelae (662 549 353689 1125 2016 570) and ldquoIdol-likerdquo quartz pebbles (2939 282 989 576) of Type-2 (Anthropomorphic) C- granite Stelae (4153 4092 3768 1988 2199 2016) and ldquoIdol-likerdquo quartz pebbles (2108 4564 2353 3091) of Type-3 (Lozengic) D- granite Stelae (1088 671 663 4135 3660 2560 570 3616) and ldquoIdol-likerdquo quartz pebbles (4294 2552 2632) of Type-4 (Necked) E- granite Stelae (3955 3033 4329 1713 41303793 4291 927) of Type-5 (Sub-parallelepiped) F- Stelae-monoliths (4329 3627 4387)

| 191

| 2018

The recent attempt by Diaacutez Guardamino (2010) to systematize the ideo-graphic stele-like elements present in the Iberian Prehistory of Peasant Societies addressed mainly the larger ones stelae-menhir and other upright stones and left much of the mobile ones out So next we will address the question of typologyAfter considering shape and relative dimensions of the items under study we propose the following types to classify themType 1 ndash Pentagonal ndash Its one of the most obvious ones and with some variation it can be considered as expressing a clear enough anthropo-morphic resemblance (Fig5-A) as registered by Bueno Ramiacuterez Balbiacuten Behrmann and Barroso Bermejo (2016 fig5B)Type 2 ndash Anthropomorphic ndash As the first exemplar to be found (353) they have shapes hinting to a human one with variations (Fig5-B)

192 |

Type 3 ndash Lozengeful ndash With the approximate shape of a lozenge but closely anthropo-morphic (Fig5-C)Type 4 ndash Necked ndash With a well marked neck (Fig5-D)Type 5 ndash Sub-parallelepiped ndash With a sub-rectangular shape in front view (Fig5-E)Type 6 ndash Irregular ndash All other shapes vaguely anthropomorphicStelae-monoliths ndash Another category of ideotechnic items less mobile then Stelae and ldquoidol-likerdquo pebbles is the Stelae-monoliths They are cha- racteristically very elongated their widthlength ratio being always inferior to 38 (Fig5-F) We found four of them one in the upper shrine phase two in the middle shrine phase and one in the buttress The one in the upper phase and another of the middle phase were found in their original positions (Fig6)Pottery idol or idols ndash One of the only two non-lithic items in our collection is ORLL-4037 an idol-like pentagonal figure (Type-1) made of pottery (Fig7) Its fabric is very coarse crudely finished and at first sight we took it to be another idol-like pebble This finding makes us sure the shape is no coincidence It be-longs to the upper phase of the ldquoancestorrsquos sanctuaryrdquo buildingThe other non-lithic item that can be addressed as a possible ideotechnique artefact is an octagonal short prism in pottery (ORLL-4617 ndash Fig8) that was found at the bottom of the lower shrine phase and for which we donrsquot have any direct parallel The closest artefacts we find regionally with any simila-

rities are much later and slightly different We are thinking of the Buraco da Moura de S Romatildeo Early Bronze Age small pottery reel (Senna-Martinez 1993) Nevertheless we could be in presence of an early prototypeWe compare in Table-II the stelae and idol-like pebbles according to type re- presenta-tivenessThe results show quite different situations for the considered classes of

| 193

| 2018

ideotechnique artefacts While for stelae types 1 4 and 5 (anthropomor-phic necked and sub-parallelepiped) account for about one fourth of the whole sample each for the pebbles types 1 with 45 and 2 with 39 together represent more than 80 If in the stelae case we can suppose other anthropic reasons behind form-choosing in the pebbles case the choosing would be regulated by geological constraints determining what natural forms would be availableIn what regards the geological nature of the stelae and ldquoidol-likerdquo pebbles found at Orca da Lapa do Lobo there are two main groups ndash quartz pebbles and graniteThe 31 ldquoidoliformrdquo pebbles are made out of quartz and are generally white with an av-erage size of 738 cm of length 585 cm of width and 319 cm of thick-ness These rocks were most likely recovered from the previously mentioned Coja Nave de Haver and Longroiva Arkose formation that outcrop at about 1km NW of the site

Fig 6 ndash Orca da Lapa do Lobo Stele-monolith 4387 viewed from SE-NW after it was redressed

194 |

Fig 7 ndash Orca da Lapa do Lobo Pottery idol-like pentagonal figure (Type-1)

Fig 8 ndash Orca da Lapa do Lobo Octagonal pottery prism (4617) from the lower phase of the shrine

| 195

| 2018

Regarding the stelae these are made out of granite and consist of two main groups in terms of texture 75 are phaneritic equi- or inequigranular while 25 are porfiroid with feldspar minerals generally over 1cm of length In terms of mineralogy these rocks are mostly composed of quartz feldspar phyllosili-cate minerals and mafic minerals (amphibole andor pyroxene) the difference usually concerns the presence of either more muscovite or more biotite This type of granite including differences in texture occurs in the location of the ar-chaeological site or near it as was previously mentioned in the geological set-ting In terms of measurements these stelae have an average length of 2074 cm width of 1324 cm and thickness of 606 cm For both the ldquoidoliformrdquo peb-bles and the stelae the width and thickness rise proportionally to the length and more dramatically so for the four stele-monoliths (Fig9)

Fig 9 ndash Orca da Lapa do Lobo Graphic representation of Length vs Thickness and Length vs Width for the 101 Stelae and Stele-monoliths (the 4 outliers) and 31 ldquoIdol-Likerdquo pebbles recovered

196 |

3 CONCLUDINGhellip ldquoANCESTORS SHRINErdquo AND REGIONAL CULTURAL SETTINGThe emergence of early peasant societies brings in what we can consider an increased awareness of the natural seasonal cycle for plants and animals and its parallels with the agricultural cycle One of the consequences of this state of affairs will be that these cy-cles become a metaphor for the symbolic explanation and regulation of life and deathAnother consequence will be that almost everywhere the earliest peasant societies will develop more or less schematic ideotechnique representations of women which consti-tute according Gimbutas a part of a ldquomatrifocal and probably matrilineal agricultural and sedentary egalitarian and peacefulrdquo society (Gimbutas 1996 p9)The transition to a peasantrsquos way of life occurred at a different pace and in multiple forms in the different regions of Iberia combined or not with hunter-gatherer practices This way itrsquos by no means a sure thing that ag-riculture was everywhere in Iberia a pre-condition to the emergence of the construction of megalithic funerary monumentsIn several areas it can be argued that animal husbandry predominates (namely of ovi-caprids) together with different degrees of what we can call horticulture hunting and gathering Such is the case we have been arguing for Beira-Alta (Senna-Martinez 1989 Senna-Martinez and Ventura 2008b Ventura this volume) In our case study we have been stressing the impor-tance of acorn gathering Specialized gathering such as acorns as in Central Portugal have in common with the different regional scales of agriculture and animal husbandry the adoption of a proprietarily attitude toward land (Fairbairn 2000) leading to what we have called the passage from ldquouse- -territoriesrdquo to ldquooccupation territoriesrdquo (Senna-Martinez and Ventura 1999a 2008a) which we think to be behind the beginnings of the megalithism (Senna-Martinez and Ventura 2008b)The Neolithic saw a change both of territorial behavior and territorial aware-ness that we think would be legitimatized by the implantation of the mega-lithic necropolis Thus local ancestorsrsquo presence account for an increasing territorial appropriation of spaceThe surge in complexity brought about in the Late Neolithic megalithic mo- numents both in their architecture and the funerary offerings found with-in (Senna-Martinez and Ventura 2000 2008a) represents a positive rein-forcement of the legitimizing relation-ship between the livings with the dead The perception of the ancestorsdead as ldquoprotec-tive entitiesrdquo seems thus to be reinforced in the Late Neolithic to take into account the increased effort

| 197

| 2018

in the construction of the great monumentsThe Late Neolithic dolmens would welcome (as in other regional areas) an in-creased number of bodies materialized in the clear increase of the artefac-tual assemblages de-posited within them while their complex intra-tumular corridors and atriums would accommodate a growing number of participants in the rituals taking place (Senna-Martinez and Ventura 1999b)We think that the case of the Orca da Lapa do Lobo ldquoancestors shrinerdquo can thus be seen in the light of these transformations So the story of the site could probably be told like this

Fig 10 ndash Habitat sites and megalithic monuments of the Orca da Lapa do Lobo surroundings(1) Early Neolithic habitat sites near or under Middle Neolithic dolmens 6 - Orca 2 do Ameal 8 - Orca 2 de Oliveira do Conde 11 ndash Orca da Lapa do Lobo (2) Other Middle Neolithic dolmens 5 - Orca 1 do Ameal (3) Late Neolithic habitat sites large dolmens and the stelae ldquoancestors shrinerdquo of Orca da Lapa do Lobo 1- Habitat do Ameal-VI 2 - Habitat do Mimosal 3 - Habitat do Campo de Tiro 4 - Orca dos Fiais da Telha 7 - Orca 1 de Oliveira do Conde 9 - Orca do Santo 10 - Orca do Outeiro do Rato 11 ndash Orca da Lapa do Lobo

4 Fall acorn and other winter fruits gathering and processing seems to go together in several Iberian re-gional areas namely in Beira--Alta with the period (fall and winter) when building of megalithic tombs took place either we agree with the solar hypothesis for their orientations (Hoskin et al 1998 Hoskin 2001) or take into consideration other proposed astronomical orientations (Silva 2012)

198 |

1- Somewhere during the Early Neolithic the highest place in the area would see the establishment of a small village already living through a seasonal cycle wintering in the lowlands and using springsummer highland pastures in Serra da Estrela42- With the reinforcement of a more territorial attitude in the Middle Neo-lithic the building of a small dolmen begun the process of legitimizing the nearby settlement of people Would it be the tomb of the local first lineage ancestors3- The more complex situation developing with the beginning of the Late Neolithic led to the establishing of a necropolis of several large dolmens with several habitat sites in between them (Fig10) The site of Orca da Lapa do Lobo would then be transformed into a kind of an ldquoancestorsrsquo shrinerdquo like an axis mundi organizing the symbolic life of the surrounding communities4- The site being abandoned at the end of the Neolithic somewhere in the Middle Age the local place name was changed to ldquoCruz Altardquo reclaiming to the Christian orbit an ancient ldquomemory placerdquo

Canas de Senhorim Bruxelas Lisboa August 2018

REFERENCESAZEVEDO M and AGUADO B (2013) ndash Origem e instalaccedilatildeo de Granitoacuteides Varis-cos na Zona Centro-Ibeacuterica Geologia de Portugal Lisboa Escolar Editora Vol I ndash Geologia Preacute-Mesozoacuteica de Portugal p377ndash401BUENO RAMIacuteREZ P BALBIacuteN BEHRMANN R and BARROSO BERMEJO R (2016) ndash Megalithic art in the Iberian Peninsula Thinking about graphic discourses in the Europe-an Megaliths Guillaume Robin Andreacute DrsquoAnna Aurore Schmitt and Maxence Bailly Eds Fonctions utilisations et repreacutesentations de lrsquoespace dans les seacutepultures monumentales du Neacuteolithique europeacuteen Aix-en-Provence Presses Universitaires de Provence p185-203DIacuteAZ-GUARDAMINO M (2010) ndash Las estelas decoradas en la Prehistoria de la Peniacutensunot-la Ibeacuterica Madrid Universidad Complutense de Madrid PhD ThesisFAIRBAIRN AS (2000) ndash On the spread of crops across Neolithic Britain with spe-cial reference to the southern England AS FAIRBAIRN ed Plants in Neolithic Brit-ain and beyond Oxford Oxbow Books p107-121GIMBUTAS M (1996) ndash The Goddesses and Gods of Old Europe London Thames and HudsonGODINHO M M NEVES L PEREIRA A SEQUEIRA A CASTRO P and BENTO DOS SANTOS T (2010) ndash Notiacutecia Explicativa da Folha 17-A (Viseu) (N Ferreira Ed) Lisboa Unidade de Geologia e Cartografia Geoloacutegica (Laboratoacuterio Nacional de Energia e Geolo-gia)HOSKIN M et al (1998) ndash Studies in Iberian Archaeoastronomy (5) Orientations of

| 199

| 2018

megalithic Tombs of Northern and Western Iberia Archaeoastronomy 23 (JHA xxix) p S59-S62HOSKIN M (2001) ndash Tombs Temples and their Orientations Bognor Regis Ocarina BooksMOITA I (1966) ndash Caracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Alta Eth-nos V p189-297OLIVEIRA J T PEREIRA E ANTUNES M T and MONTEIRO J H (1992) ndash Carta Geoloacutegi-ca de Portugal Escala 1500000 Serviccedilos Geoloacutegicos de PortugalSENNA-MARTINEZ JC (1989) ndash Preacute-Histoacuteria Recente da Bacia do Meacutedio e Alto Monde-go algumas contribuiccedilotildees para um modenotlo sociocultural Lisboa Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Tese de Doutoramento em Preacute-Histoacuteria e Arqueolo-gia 3 VolsSENNA-MARTINEZ JC (1993) ndash A ocupaccedilatildeo do Bronze Pleno da lsquoSala 20rsquo do Bura-co da Moura de Satildeo Romatildeo Tranotbanotlhos de Arqueologia da EAM 1 p55-76SENNA-MARTINEZ JC (this volume) ndash A Shrine in the Neolithic Orca da Lapa do Lobo Nelas (c 5000-3000 BC) J C Senna-Martinez Mariana Diniz e A Faustino de Carval-ho Eds De Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo Vida e Morte no Ocidente Peninsular Fundaccedilatildeo Lapa do LoboSENNA-MARTINEZ JC amp VENTURA JMQ (1999a) ndash Evoluccedilatildeo das Paisagens Culturais na Plataforma do Mondego na Preacute-Histoacuteria Recente (c5000-550 cal AC) Trabalhos de Arqueologia da EAM Lisbon Colibri 5 p 9-20SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA J M (1999b) ndash Espaccedilo Funeraacuterio e laquoEspa-ccedilo Ceacuteni-coraquo a Orca do Folhadal (Nelas) Trabalhos de Arqueologia da EAM Lisboa 5 p21-34SENNA-MARTINEZ JC and VENTURA JMQ (2000) ndash Pastores recolectores e constru-tores de megaacutelitos O Neoliacutetico Final J C SENNA-MARTINEZ e I PEDRO Eds Por Terras de Viriato Arqueologia da Regiatildeo de Viseu Viseu Governo Civil do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia p 53-62SENNA-MARTINEZ JC e VENTURA JMQ (2008a) ndash Do mundo das sombras ao mun-do dos vivos Octaacutevio da Veiga Ferreira e o megalitismo da Beira Alta meio seacuteculo de-pois Homenagem a Octaacutevio da Veiga Ferreira Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p317-350SENNA-MARTINEZ JC e VENTURA JMQ (2008b) ndash Neolitizaccedilatildeo e Megalitismo na Plataforma do Mondego Algumas Reflexotildees sobre a Transiccedilatildeo Neoliacutetico Anti-goNeoliacuteti-co Meacutedio Actas del IV Congreso del Neoliacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica Ali-cante 2 p 77-84SILVA F (2012) ndash Landscape and Astronomy in Megalithic Portugal the Carregal do Sal Nucleus and Star Mountain Range Papers from the Institute of Archaeology (PIA) 22 p99-114 DOI httpdxdoiorg105334pia405TEIXEIRA C BRITO DE CARVALHO L H BARROS R F AacuteVILA MARTINS J and HAAS W E L (1961) ndash Notiacutecia Explicativa da Folha 17-C (Santa Comba Datildeo) Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de PortugalVASCONCELOS JL (1905) ndash Antiguidades prehistoricas da Beira IV- Notiacutecia de duas Orcas O Archeoacutelogo Portuguecircs 10 p313WILLIAMS M (2003) ndash Growing metaphors The agricultural cycle as metaphor in the later prehistoric period of Britain and North-Western Europe Journal of Social Archaeol-ogy 3 p223-255

200 |

| 201

| 2018

ANTA DA LAPA DA MERUJE (VOUZELA PORTUGAL) RESULTADOS PRELIMINARES DOS TRABALHOS EM CURSO

DOLMEN OF LAPA DA MERUJE (VOUZELA PORTUGAL) PRELIMINARY RESULTS OF ONGOING RESEARCH

Antoacutenio Faustino Carvalho CEAACP - Centro de Estudos de Arqueologia Artes e Ciecircncias do Patrimoacutenio Universidade do Algarve FCHS Campus de Gambelas 8000-117 Faro Portugalafcarvaualgpt

RESUMO A anta da Lapa da Meruje foi descoberta e primeiramente sondada por A de Amorim Giratildeo em 1917 tendo sido dada a conhecer na sua obra de 1921 ldquoAntiguidades preacute-histoacutericas de Lafotildeesrdquo e desde aiacute citada por outros investigadores que se dedica- ram ao estudo do megalitismo beiratildeo A sus escavaccedilatildeo foi retomada em 2016 tendo por fim uma caracterizaccedilatildeo arqueoloacutegica mais aprofundada e a sua futura valori-zaccedilatildeo in situ para usufruto puacuteblicoTrata-se de um doacutelmen de grandes dimensotildees com cacircmara e corredor diferenciaacuteveis em planta e alccedilado A cacircmara de sete esteios tem 3x3 metros e o corredor atinge 9 metros de comprimento Dispotildee ainda de um aacutetrio que teraacute sido deliberadamente colmado aquando do encerramento do doacutelmen A mamoa com um diacircmetro de 32 metros e uma espessura maacutexima de 2 metros conserva uma carapaccedila peacutetrea na maior parte da sua extensatildeo O topo do chapeacuteu apresenta gravuras modernas (covinhas e um ldquojogo do alquerquerdquo) e a face interna dos esteios da cacircmara e do corredor tecircm gravuras preacute-histoacutericas esquemaacuteticas para aleacutem de uma custoacutedia feita em eacutepoca muito recente (seacuteculo XX) Na linha da escassez de espoacutelio que caracteriza o megalitismo lafonense a primei-ra utilizaccedilatildeo da anta estaacute representada principalmente por geomeacutetricos em siacutelex Alguma ceracircmica pedra polida e grandes lacircminas de siacutelex pertencem a ocupaccedilotildees mais tardias Estes dois conjuntos artefactuais sugerem que a construccedilatildeo do doacutelmen ocorreu no IV mileacutenio AC (Neoliacutetico Meacutedio) e que o seu encerramento teraacute tido lugar entre finais do IV iniacutecios do III mileacutenio AC (Neoliacutetico Final Calcoliacutetico) Sob a ma-moa identificou-se um niacutevel formado por talhe da pedra ceracircmica lisa e abundantes carvotildees cujo estatuto (ritual preacutevio agrave construccedilatildeo niacutevel de ocupaccedilatildeo anterior) estaacute por definir cabalmente Outros achados indicam reutilizaccedilotildees proto-histoacutericas medie- vais e contemporacircneasPALAVRAS-CHAVE Megalitismo Lafotildees Neoliacutetico

202 |

ABSTRACTThe dolmen of Lapa da Meruje was discovered and first tested by A de Amorim Giratildeo in 1917 having been made known in his work of 1921 ldquoAntiguidades Preacute-histoacutericas de Lafotildeesrdquo (ldquoPrehistoric Anti- quities of Lafotildeesrdquo) and since then cited by other researchers working in the region Its excavation was resumed in 2016 aiming at a comprehensive archae-ological characterization of the site for future restoration and in situ opening to the publicThis is a large dolmen with chamber and passage which are differentiated in both plan and profile The chamber with seven orthostats has an area of 3X3 metres and the passage is around nine metres long There is also a vestibule that was deliberately infilled when the dolmen was closed The mound is 35 metres in diameter and has a preserved height of two metres A stone cairn is still very well preserved in most of the moundrsquos area On top of the capstone there is a set of modern engravings (cupmarks and a traditional game known as ldquoalquerquerdquo) in the orthostats of the chamber and passage there are also schematic prehistoric engravings besides a very recent (20th century) depiction of a Christian cross In line with the scarcity of grave goods that characterises the Lafotildees mega-lithism the first funerary occupation recorded at Lapa da Meruje is mainly represented by flint geometrics A few potsherds polished stone tools and large flint blades belong to later occupations Together both assemblages suggest the beginning of the fourth millennium BC (Middle Neolithic) as the dolmenrsquos cons- truction date and its closure in the late 4th early 3rd millennium BC (Late Neo-lithic Chalcolithic) An archaeological level formed by knapped stone plain pottery and abundant charcoal was found below the mound its status (a ritual related to the building of the monument an older occupation) is still be fully understood Other finds indicate Protohistoric Medieval and contemporary re-uses of the dolmenKEY WORDSMegalithism Lafotildees Neolithic

1 INTRODUCcedilAtildeOPor solicitaccedilatildeo da Cacircmara Municipal de Vouzela teve iniacutecio em 2016 um projeto de estudo intitulado ldquoEstudo do patrimoacutenio histoacuterico-cultural de Vouzelardquo Com conclusatildeo prevista para 2019 o seu acircmbito e principais ob-jetivos foram jaacute entretanto tornados puacuteblicos Como explicitamente afirma-do ldquo[o] conjunto de dados assim reunidos constituiraacute a base sobre a qual se procederaacute com a conclusatildeo do presente projeto agrave elaboraccedilatildeo de um programa que vise atraveacutes de diversas valecircncias e accedilotildees a definir nesse momento a valorizaccedilatildeo deste patrimoacutenio e a definiccedilatildeo de estrateacutegias para o seu usufruto puacuteblicordquo (Real et al 2017 p 116) Assim o projeto encon-

| 203

| 2018

Figura 1 Localizaccedilatildeo da anta da Lapa da Meruje no territoacuterio portuguecircs

204 |

tra-se estruturado em quatro eixos de investigaccedilatildeo principais levantamen-to documental prospeccedilatildeo arqueoloacutegica estudo de espoacutelios de escavaccedilotildees antigas e escavaccedilatildeo de siacutetios selecionados mdash isto eacute escavaccedilotildees dirigidas a locais de potencial museoloacutegico tendo em vista a sua futura valorizaccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo ao puacuteblico Eacute neste quadro que tecircm tido lugar os trabalhos de escavaccedilatildeo na anta da Lapa da Meruje localizada neste municiacutepio (Fig 1) os quais se iniciaram logo no primeiro ano de funcionamento do projeto A seleccedilatildeo deste siacutetio como exemplo dos vaacuterios monumentos megaliacuteticos ex-istentes no municiacutepio natildeo foi casual Com efeito a sua localizaccedilatildeo a 925 m de altitude no ambiente paisagiacutestico beliacutessimo proporcionado por uma depressatildeo situada na vertente noroeste da Serra do Caramulo adjacente a uma lagoa artificial onde se dispotildee jaacute de diversas infraestruturas de apoio construiacutedas pela autarquia na deacutecada de 1990 (acessos para automoacuteveis aacuterea de estacionamento delimitaccedilatildeo fiacutesica do siacutetio e um passadiccedilo de ma-deira em torno da mamoa) foram criteacuterios que pesaram bastante nessa es-colha (Fig 2A) Para aleacutem disso e num criteacuterio mais estritamente cientiacutefico o bom estado de conservaccedilatildeo da arquitetura do monumento fazia tambeacutem antever um potencial arqueoloacutegico significativo por forma a providenciar natildeo soacute conteuacutedos concretos para a sua integraccedilatildeo num roteiro patrimonial megaliacutetico concelhio (com data de inauguraccedilatildeo prevista para 2018) como tambeacutem contribuir para uma recuperaccedilatildeo do megalitismo lafonense e sua integraccedilatildeo no contexto regional mais alargado da Beira Alta (Carvalho e Car-valho 2018)O objetivo do presente texto eacute assim a apresentaccedilatildeo sumaacuteria dos objeti-vos que presidiram agraves campanhas de escavaccedilatildeo de 2016-2018 na Lapa da Meruje e dos principais resultados que se obtiveram O ano de 2019 reserva-se para a completaccedilatildeo pontual dos trabalhos de campo (p ex de-calque de gravuras) Os estudos finais compreenderatildeo a interpretaccedilatildeo da sua localizaccedilatildeo geograacutefica e estruturas arquitetoacutenicas das suas diversas componentes artefactuais e elementos paleoambientais e respetiva inte-graccedilatildeo regional Estes toacutepicos de estudo de caraacuteter interdisciplinar encon-tram-se neste momento em curso

2 A ANTA DA LAPA DA MERUJE21 Descoberta e primeiros trabalhosA anta da Lapa da Meruje foi noticiada pela primeira vez nas ldquoAntiguidades preacute-histoacutericas de Lafotildeesrdquo por A de Amorim Giratildeo [1895ndash1960] onde este autor a descreve do seguinte modo ldquoSubindo ao alto da serra em direcccedilatildeo a Vermilhas (Vouzela) encontraremos uma

| 205

| 2018

nova anta no siacutetio denominado Meruje Esta anta vulgarmente conhecida pela de- signaccedilatildeo de Lapa da Meruje eacute um soberbo exemplar sobretudo pelas dimensotildees da tampa que mede 320 m de comprimento por 280 m de largura sendo susten- tada por seis esteios monoliacuteticos de cecircrca de 3 m de altura tendo a mamoa 10 m de raio aproximadamente [] A situaccedilatildeo decircste monumento mesmo no centro duma bacia de fundo pouco deprimido onde a mamoa coberta de mato sobres-sai rodeada por uma grinalda de pequenas elevaccedilotildees em que o granito assume por vezes formas muito caprichosas eacute das mais interessantes que conhecemos A anta encontra-se ainda bem conservada apesar de terem sido desviadas vaacuterias

Figura 2 A - Vista aeacuterea da escavaccedilatildeo a partir de Sul durante a campanha 2016 B - Vista da cacircmara e corredor a partir de Nascente segundo A de Amorim Giratildeo (1921) C - Fo-tografia publicada por C Moreira de Figueiredo (1953)

206 |

pedras da galeria e de apresentar evidentes sinais de violaccedilatildeo no recinto da cacircmara sepulcral Uma ligeira escavaccedilatildeo que fizemos nesta uacuteltima parte do megaacutelito nada produziu digno de menccedilatildeordquo (Giratildeo 1921 p 47)Conquanto natildeo se encontre explicitado deduz-se do proacutelogo daquela obra que os trabalhos de escavaccedilatildeo (ldquouma ligeira pesquisardquo como referido na p VII) teratildeo tido lugar a 29 de marccedilo de 1917 Esta sondagem teraacute sido precedida de uma ldquoexploraccedilatildeordquo que se deduz ter sido apenas de reconhe- cimento em data incerta mas no decorrer do ano de 1916 Amorim Giratildeo refere tambeacutem que o doacutelmen havia sido anteriormente ldquo[] visitado pelo saacutebio botacircnico Sr Dr Juacutelio Henriquesrdquo (p VI) mas natildeo refere no entanto onde ou como obteve esta informaccedilatildeo O facto de nesta obra haver outras referecircncias a este investigador e mesmo fotografias da sua autoria suge-re uma proximidade entre estes professores conimbricenses que explicaraacute algum tipo de colaboraccedilatildeo entre ambos Eacute tambeacutem aqui que se publica a primeira fotografia conhecida desta anta (Fig 2B)A partir deste trabalho pioneiro a Lapa da Meruje constaraacute depois em di-versas outras siacutenteses sobre o megalitismo regional (Moita 1966 Leisner 1998) sobre o patrimoacutenio de Vouzela (Marques 1999 2014) ou mesmo a propoacutesito de outras temaacuteticas Eacute o caso do ensaio de Moreira de Figueiredo (1953) sobre as vias romanas da regiatildeo que a ilustra com a segunda fo-tografia mais antiga que se lhe conhece (Fig 2C) Note-se a este propoacutesito que o inventaacuterio descritivo de ldquoDie megalithgraumlber der Iberischen Halbinselrdquo (Leisner 1998 p 68 e taf 59) refere erradamente esta anta como perten-cente ao concelho de Tondela um lapso que teraacute induzido em erro autores posteriores mdash p ex natildeo figura na siacutentese de Cardoso (1999) sobre o mega- litismo vouzelense mdash mas que se explica pela sua localizaccedilatildeo a menos de um quiloacutemetro das extremas de ambos os municiacutepios o que teraacute propiciado esta confusatildeo22 Os trabalhos de 2016-2018Enquadrados pelos objetivos-base do projeto de investigaccedilatildeo mdash que re-corde-se se constitui como etapa de estudo preacutevia agrave valorizaccedilatildeo e museal-izaccedilatildeo do patrimoacutenio histoacuterico vouzelense mdash os trabalhos mais recentes na Lapa da Meruje obedeceram a uma estrateacutegia de intervenccedilatildeo delibera-damente subordinada a opccedilotildees de preservaccedilatildeo in situ de elementos ar-quitetoacutenicos com potencial de valorizaccedilatildeo no futuro Tratou-se assim de uma intervenccedilatildeo minimalista com objetivos muito especiacuteficos direcionados para os diversos espaccedilos do monumento a saber1 Escavaccedilatildeo da cacircmara do doacutelmen atraveacutes da realizaccedilatildeo de um corte para a relocalizaccedilatildeo da sondagem de 1917 avaliar o impacto de violaccedilotildees que

| 207

| 2018

possam ter ocorrido no passado e identificar a eventual presenccedila de grafis-mos preacute-histoacutericos nos esteios2 Escavaccedilatildeo do corredor conectando-se assim a aacuterea da cacircmara ao ex-terior do monumento de modo a documentar este setor do monumento e permitir depois o acesso dos visitantes agraves proacuteprias aacutereas de circulaccedilatildeo originais (leia-se neoliacuteticas) do mesmo3 Escavaccedilatildeo do aacutetrio tendo em vista a documentaccedilatildeo desta realidade ar-quitetoacutenica (cuja existecircncia se presumia desde o iniacutecio dos trabalhos dada a depressatildeo na topografia da mamoa que se observava neste sector) e a criaccedilatildeo futura de um espaccedilo de acesso ao interior do monumento4 Abertura de uma sanja de orientaccedilatildeo Norte-Sul na metade Sul da ma-moa para registo das respetivas sequecircncias estratigraacuteficas e construtivas e averiguaccedilatildeo da existecircncia de ocupaccedilotildees anteriores agrave sua construccedilatildeo A natildeo intervenccedilatildeo noutros quadrantes da mamoa deveu-se agraves referidas con-tingecircncias autoimpostas para a conservaccedilatildeo de elementos arquitetoacutenicos originais do monumentoApoacutes os trabalhos de escavaccedilatildeo realizados pode-se hoje descrever com maior rigor as caracteriacutesticas arquitetoacutenicas deste monumento A Lapa da Meruje eacute pois um doacutelmen de grandes dimensotildees cuja cacircmara e corredor se distinguem tanto em planta como em alccedilado (Fig 2A) A cacircmara eacute forma-da por sete esteios e mede cerca de 3times3 m de aacuterea enquanto o corredor irregular e ligeiramente desviado para nordeste tem 8-9 m de comprimento Apenas na cacircmara se preserva ainda uma laje de cobertura de contorno trapezoidal com cerca de 6times6 m e uma espessura variando entre 30 e 50 cm Haacute a registar a existecircncia de gravuras nos esteios da cacircmara e corre-dor de tipologia claramente preacute-histoacuterica ou que se encontravam totalmente cobertas por sedimentos ateacute agrave sua escavaccedilatildeo mdash baacuteculo luacutenula covinhas e signos de tendecircncia pectiforme mdash que estatildeo presentemente em curso de le-vantamento e estudo Junto a esta arte megaliacutetica haacute ainda a representaccedilatildeo de uma custoacutedia na cacircmara que de acordo com informaccedilotildees orais teraacute ter sido realizada na segunda metade do seacuteculo XX enquanto que no topo do chapeacuteu se encontra um numeroso conjunto de grafismos de eacutepoca histoacuteri-ca que inclui covinhas cruzes e um tabuleiro de ldquojogo do alquerquerdquo natildeo referenciados ateacute ao momento em qualquer publicaccedilatildeo acerca deste siacutetio 221 CacircmaraAs escavaccedilotildees realizadas em 2016-2017 na cacircmara que atingiram a sua base permitiram identificar uma depressatildeo oval preenchida com sedimen-tos muito finos e pulverulentos soltos com ocasionais blocos de granito e quase sem materiais arqueoloacutegicos que deveraacute corresponder agrave sondagem

208 |

aberta por Amorim Giratildeo em 1917 Abaixo desta unidade desenvolvem-se niacuteveis de remeximentos mais antigos que incorporam diversos fragmentos de ceracircmica medieval (atribuiacutevel ao seacuteculo XII) o que permitiu concluir que a cacircmara teraacute sido esvaziada do seu conteuacutedo preacute-histoacuterico original muito provavelmente durante a Idade Meacutedia Por seu lado a escavaccedilatildeo junto agrave face interna de um dos esteios natildeo revelou quaisquer pinturas Este facto aliado agraves observaccedilotildees anteriores quanto reutilizaccedilatildeo do doacutelmen em eacutepocas poacutes-neoliacuteticas sugere que a terem existido pinturas estas natildeo teratildeo sobre-vivido aos episoacutedios de reutilizaccedilatildeo deste espaccedilo apenas as gravuras se conservaram ateacute hojePara aleacutem da ceracircmica medieval foi possiacutevel recolher tambeacutem geomeacutetricos em siacutelex (trapeacutezios e crescentes sobre lacircmina) nos sedimentos remexidos da cacircmara os quais se constituem como testemunhos da fase de construccedilatildeo e primeira utilizaccedilatildeo do monumento Com a mesma proveniecircncia haacute ainda ceracircmica decorada de cronologia calcoliacutetica (triacircngulos preenchidos a pon-tilhado) e um elemento de xorca de ldquotipo sanguessugardquo em bronze dataacutevel do final da Idade do Bronze Este conjunto de achados mdash a que se devem adicionar as gravuras modernas e as tradiccedilotildees orais que estatildeo associadas agrave anta mdash evidencia o papel que este monumento nunca deixou de desem-penhar na paisagem para as sucessivas comunidades que a percorreram ou exploraramNote-se que por razotildees que se prendem com a estabilidade da cacircmara e a seguranccedila da equipa natildeo foi escavado o depoacutesito sedimentar que se en-contra sob o pesado chapeacuteu que muito singularmente caracteriza a Lapa da Meruje (Fig 2A) mdash e de onde lhe adviraacute certamente o nome A futura esca- vaccedilatildeo deste depoacutesito poderaacute vir a proporcionar observaccedilotildees que consubs- tanciem de forma mais robusta as ideias jaacute adquiridas acerca dos processos de formaccedilatildeo deste sector do monumento222 CorredorO corredor da Lapa da Meruje eacute formado por nove esteios na sua parte norte e dez na sua parte sul perfazendo um comprimento total aproximado de nove metros (Fig 3A) Em planta pode observar-se que os esteios que fazem a ligaccedilatildeo com a cacircmara estatildeo dispostos de modo a conformar um estrangulamento depois afunila ligeiramente na direccedilatildeo da entrada (de 18 m para 12 m) onde os esteios aiacute existentes definem um outro estrangula-mento (de cerca de 08 m de largura ao longo de um troccedilo de 15 m) A escavaccedilatildeo do corredor que teve lugar em 2018 revelou que o seu sector mais proacuteximo da cacircmara se encontrava igualmente violado pela ocupaccedilatildeo medieval do monumento A separaccedilatildeo entre a parte reocupada na Idade

| 209

| 2018

Meacutedia e a parte conservada do corredor estava claramente definida por uma acumulaccedilatildeo caoacutetica de blocos graniacuteticos Na parte conservada o topo do depoacutesito apresentava-se quase esteacuteril em termos arqueoloacutegicos o que ates-ta o estado intocado da sua parte inferior E aqui com efeito encontrou-se um pequeno mas significativo conjunto artefactual formado por ceracircmica (pelo menos um vaso liso quase inteiro) e uma enxoacute em pedra polida ao niacutevel da base Esta uacuteltima peccedila em particular estava colocada num inters- tiacutecio entre dois esteios do lado norte do corredor e junto agrave entrada suger-indo tratar-se de uma deposiccedilatildeo intencional A proximidade espacial entre os diversos fragmentos de ceracircmica alguns dos quais ainda em conexatildeo sugere o mesmo comportamento no que respeita a esta classe artefactualO pequeno nuacutemero de artefactos recuperados no corredor natildeo permite uma atribuiccedilatildeo cronoloacutegico-cultural fina mas a presenccedila de ceracircmica indica que se trataratildeo de deposiccedilotildees posteriores ao momento de construccedilatildeo e primeiro uso do monumento223 AacutetrioA escavaccedilatildeo da aacuterea em frente da entrada do corredor que se desenrolou em 2017-2018 veio comprovar que de facto a depressatildeo que se obser-vava na mamoa correspondia a um sector que estaria originalmente ao ar livre De facto foi possiacutevel documentar aqui a existecircncia de um aacutetrio orig-inalmente lajeado com grandes blocos graniacuteticos que conformaria um es-paccedilo exterior adjacente agrave entrada do monumento A entrada do corredor

Figura 3 A - Vista geral do aacutetrio e corredor apoacutes a sua escavaccedilatildeo em 2018 B - Vista geral do aacutetrio e da entrada onde se pode observar em primeiro plano parte do lajeado original do aacutetrio e do lado esquerdo um esteio que formaria a fachada deste espaccedilo (o esteio do lado oposto teraacute sido arrancado em data indeterminada)

210 |

estaria assim ladeada do seu lado exterior por esteios dispostos de forma perpendicular ao mesmo resultando numa autecircntica fachada que delimita-va o aacutetrio pelo menos na sua parte poente (Fig 3A e B) Poreacutem todo este espaccedilo exterior seria colmatado em data posterior A sua escavaccedilatildeo permitiu verificar que parte do lajeado foi levantada principal-mente na sua periferia e que o aacutetrio foi depois preenchido com uma cama-da de terra e blocos de meacutedias dimensotildees sobre a qual se colocou uma car-apaccedila peacutetrea rematada com um niacutevel de clastos de pequenas dimensotildees bem acamados e imbrincados Trata-se portanto da selagem intencional do monumento ou em suma da construccedilatildeo de uma ldquoestrutura de conde-naccedilatildeordquo equiparaacutevel a outras jaacute identificadas em monumentos megaliacuteticos da Beira Alta Estaacute por esclarecer a cronologia (coevo do lajeado ou da ldquoes-trutura de condenaccedilatildeordquo) e funcionalidade de um murete circular que de-limita o aacutetrio pelo exteriorAs componentes artefactuais associadas a esta ldquoestrutura de condenaccedilatildeordquo poreacutem satildeo muito escassas o que limita inferecircncias acerca da cronologia

Figura 4 Vista do corte nascente da sanja nos trabalhos de 2016 Note-se a acumulaccedilatildeo de blocos correspondente ao preenchimento do contraforte delimitado por dois grandes blocos (na parte mais profunda da sanja) e o niacutevel superior de blocos que cobre toda a estrutura e se prolonga ateacute ao limite inferior da mamoa

| 211

| 2018

deste evento de encerramento definitivo do doacutelmen A presenccedila de restos de ceracircmica e de lacircminas robustas de siacutelex sugere que esta colmataccedilatildeo teraacute ocorrido no Neoliacutetico Final ou o mais tardar jaacute em eacutepoca calcoliacutetica224 MamoaNo contacto entre a base da mamoa e o paleossolo foi identificado um delgado (lt10 cm) niacutevel arqueoloacutegico formado por ceracircmica lisa associada a uma induacutestria de lascas (sobretudo em quartzo) de boa fatura A ine- xistecircncia de outros elementos impede a determinaccedilatildeo de uma cronolo-gia fina (que seraacute no entanto neoliacutetica) e a interpretaccedilatildeo das atividades que lhe teratildeo dado origem (contexto habitacional praacuteticas rituais preacutevias agrave construccedilatildeo do monumento) A identificaccedilatildeo de troccedilos muito bem con-servados da couraccedila peacutetrea em quadrados adjacentes agrave sanja inicial (ver abaixo) impediu por razotildees de conservaccedilatildeo a sua escavaccedilatildeo ateacute agrave base e deste modo a documentaccedilatildeo de uma aacuterea maior deste niacutevel preacute-megaliacuteti-co O interior do setor escavado da mamoa por seu lado revelou duas importantes componentes da arquitetura da mamoasect Um contraforte com uma largura de cerca de 65 m composto por uma densa acumulaccedilatildeo de blocos de dimensotildees meacutedias (40-50 cm) em-balados em sedimentos arenoargilosos de coloraccedilotildees negras (Fig 4) e contidos no seu limite externo pela colocaccedilatildeo de grandes blocos (gt1 m) de formato lajiforme que formam um anel liacutetico de contenccedilatildeo do contraforte (Figs 4 e 5) sect Uma couraccedila peacutetrea com 30-40 cm de espessura mas que se vai adelgaccedilando agrave medida que se aproxima do exterior da mamoa (Figs 4 e 5) Tratar-se-aacute da base conservada e compactada da couraccedila original uma vez que o topo desta estrutura se encontra hoje pelo menos meio metro abaixo da cota de topo do chapeacuteu da cacircmara Eacute formada por blocos graniacuteti-cos de dimensotildees pequenas a meacutedias (10-50 cm) e sedimentos iguais aos do contraforte Junto ao seu rebordo exterior haacute um alinhamento de lajes colocados na vertical (Fig 5) que a delimitava provavelmente em todo o periacutemetro Uma vez que os objetivos da escavaccedilatildeo estavam determina-dos pela sua valorizaccedilatildeo posterior optou-se por natildeo sacrificar atraveacutes de escavaccedilatildeo este elemento arquitetoacutenico ilustrativo das teacutecnicas e opccedilotildees construtivas do monumento em eacutepoca neoliacutetica A localizaccedilatildeo da sanja para escavaccedilatildeo da mamoa visou averiguar uma de-pressatildeo existente na sua superfiacutecie A escavaccedilatildeo revelou com efeito que a couraccedila se encontrava parcialmente destruiacuteda na sua metade superior pela extraccedilatildeo de pedra em eacutepoca moderna para construccedilatildeo dos muros de divisatildeo de propriedade que se encontram em torno do monumento

212 |

3 CONCLUSOtildeES A LAPA DA MERUJE E O MEGALITISMO DE LAFOtildeESUma das uacuteltimas siacutenteses sobre o megalitismo vouzelense destacava uma tendecircncia de acordo com a qual os doacutelmenes deste municiacutepio se localizaratildeo por norma em plataformas ou rechatildes ldquo[] implantando-se frequentemente em pequenos cocircmoros deles destacados Torna-se deste modo evidente que os monumentos natildeo se distribuem no terreno de forma aleatoacuteria [] Quanto agrave micro-distribuiccedilatildeo dos monumentos eacute frequente observarem-se nuacutecleos de dois ou trecircs monumentos a curta distacircncia entre si sendo mutuamente intervisiacuteveis configurando a situaccedilatildeo de verdadeiras necroacutepoles megaliacuteticas []rdquo (Cardoso 1999 p 192) Nos seus traccedilos essenciais esta observaccedilatildeo foi corroborada pelos resultados das prospeccedilotildees de 2017-2018 (Carvalho e Carvalho 2018) em particular no que respeita agrave dupla circunstacircncia de se acharem doacutelmenes isolados ou agrupados em pequenas necroacutepoles de dois a trecircs tumuli A Lapa da Meruje eacute assim um testemunho da primeira destas realidades e encontra paralelo noutros doacutelmenes vouzelenses tais como Adside (Campia) ou Cabo das Moutas (Alcofra) No estado atual dos estudos megaliacuteticos da regiatildeo de Lafotildees eacute ainda difiacutecil propor cenaacuterios explicativos soacutelidos para a referida dicotomia ou mesmo para os padrotildees gerais de implantaccedilatildeo destes monumentos Tal como se tecircm vindo a reconhecer no caso de Vouzela (Carvalho e Carvalho 2018) estes monumentos localizam-se sempre em ambiente de montanha mdash seja em planaltos rechatildes ou pequenos vales elevados mdash e muitas vezes junto a nascentes ou aacutereas alagadiccedilas Ou seja neste caso a Serra do Caramulo e as terras altas adjacentes reuacutenem a quase totalidade dos doacutelmenes jaacute registados O desconhecimento dos respetivos contextos habitacionais que poderatildeo talvez estar soterrados nos depoacutesitos sedimentares dos fundos dos vales eacute uma limitaccedilatildeo severa no conhecimento dos modelos gerais de ocu-paccedilatildeo do territoacuterio Portanto o papel desempenhado pela Lapa da Meruje nos momentos iniciais da ocupaccedilatildeo megaliacutetica daquela serra mdash isto eacute nos primeiros seacuteculos do IV mileacutenio aC correspondentes ao Neoliacutetico Meacutedio mdash eacute ainda difiacutecil de avaliar Eacute certo que de um modo geral a topografia e as condiccedilotildees edaacuteficas deste maciccedilo natildeo satildeo de molde a favorecer uma pre-senccedila neoliacutetica de caraacuteter permanente nos seus setores mais elevados A informaccedilatildeo disponiacutevel para a Serra da Estrela onde a investigaccedilatildeo tem sido mais sistemaacutetica pode constituir-se como analogia para o caso do Caramulo Ali a compartimentaccedilatildeo altitudinal das culturas tradicionais es-tabelece os 800 m anm como o limite superior do cultivo do trigo (Ribeiro e Santos 1951) e talvez os 1500 m para a cevada (sujeito a confirmaccedilatildeo) Isto significaraacute que em eacutepoca neoliacutetica apenas o pastoreio teria sido viaacutevel

| 213

| 2018

Figura 5 Vista da escavaccedilatildeo da sanja em 2017 No lado esquerdo sobre o substrato graniacuteti-co veem-se os dois blocos que fazem parte do anel liacutetico do contraforte no lado direito vecirc-se a couraccedila peacutetrea conservada na parte inferior da qual existe um alinhamento de lajes originalmente colocadas na vertical (para sustentaccedilatildeo da couraccedila)

214 |

nas aacutereas planaacutelticas superiores Poreacutem foi recentemente avanccedilado um modelo segundo o qual o pastoreio se teria entatildeo confinado agraves terras baixas (lt 600 m) em torno do sopeacute da serra (Carvalho et al 2017) Este pastoreio seria levado a cabo no quadro geral de uma mobilidade humana de tipo residencial associado agrave agricultura nos territoacuterios abaixo dos 600 m pontu-ado por monumentos dolmeacutenicos Portanto ao inveacutes do defendido por ou- tros autores este modelo de pastoriacutecia natildeo defende a existecircncia de praacuteticas transumantesEste sistema de povoamento pode ser provisoriamente extrapolado para a Serra do Caramulo embora este exerciacutecio deva futuramente atender tam-beacutem aos particularismos bioclimaacuteticos deste territoacuterio no Holoceno Meacutedio Deste quadro comparativo parecem poder resultar dois modelos alternati-vos para a ocupaccedilatildeo das suas rechatildes e planaltos da faixa dos 800-1050 m onde se localizam diversas necroacutepoles dolmeacutenicas (a proacutepria Lapa da Meruje estaacute a 925 m de altitude) um em que a atividade econoacutemica as-sentaria em exclusividade no pastoreio outro em que a esta praacutetica se as-sociaria uma agricultura especializada na cevada Claramente a segunda possibilidade parece menos verosiacutemil uma vez que as praacuteticas agriacutecolas jaacute documentadas para o Neoliacutetico Antigo e Meacutedio do atual territoacuterio portu-guecircs parecem assentar numa agricultura mista com trigos e cevadas e uma importante componente de leguminosas (para uma siacutentese atualizada ver Carvalho 2018) Assim a natildeo ser que se equacione a possibilidade alter-nativa de estarmos unicamente perante uma ldquopaisagem ritualrdquo os setores mais elevados do Caramulo seriam natildeo propriamente ocupados mas sim frequentados no quadro de um regime de pastoreio itinerante de pequena ou meacutedia escalaNo sentido desta hipoacutetese de trabalho os diversos doacutelmenes assim como os ldquoafloramentos monumentalizadosrdquo do Vale drsquoAnta e da Malhada do Cam-barinho (Carvalho e Carvalho 2018) poderatildeo estar a marcar simultanea-mente uma apropriaccedilatildeo simboacutelica (funeraacuteria e ritual) deste territoacuterio e os caminhos percorridos pelos pastores neoliacuteticos e seus rebanhos Este papel duplo dos monumentos megaliacuteticos do Caramulo e por extensatildeo tambeacutem de toda a regiatildeo de Lafotildees teraacute de ser avaliado no prosseguimento da in-vestigaccedilatildeo Para jaacute o ambiente natural em que se insere a Lapa da Meru-je junto a um acesso natural aos planaltos mais elevados da serra e as caracteriacutesticas da sua arquitetura designadamente a existecircncia de um aacutetrio exterior consignado a rituais hoje impossiacuteveis de recuperar totalmente satildeo elementos que parecem ilustrar bem aquele duplo caraacuteter de que se teraacute revestido o megalitismo deste antigo territoacuterio

| 215

| 2018

AGRADECIMENTOSA imagem aeacuterea com drone da Figura 2A foi obtida por Juacutelio Rocha e a vis-ta geral do corredor e aacutetrio reproduzida na Figura 3A eacute da autoria de Joatildeo Rocha Agradece-se agrave Cacircmara Municipal de Vouzela a disponibilizaccedilatildeo do apoio logiacutestico necessaacuterio para os trabalhos na Lapa da Meruje e em parti- cular a prestimosa colaboraccedilatildeo de Luiacutes Andreacute Pereira e Daniel Melo Branco

BIBLIOGRAFIACARDOSO JL (1999) - Monumentos megaliacuteticos do concelho de Vouzela Vouzela Estu-dos Histoacutericos Lisboa Academia Portuguesa da Histoacuteria p 169-208CARVALHO AF (2018) - When the Mediterranean met the Atlantic A socio-economic view on Early Neolithic communities in central-southern Portugal Quaternary Interna-tional 470 p 472-484 DOI httpsdoiorg101016jquaint201612045CARVALHO AF PEREIRA V DUARTE C TENTE C (2017) - Neolithic archaeology at the Penedo dos Mouros Rock-shelter (Gouveia Portugal) and the issue of primitive transhu-mance practices in the Estrela mountain range Zephyrus LXXIX p 19-38 DOI httpsdoiorg1014201zephyrus2017791938CARVALHO PS CARVALHO AF (2018) - Para uma recuperaccedilatildeo do megalitismo de Lafotildees (Viseu Portugal) O concelho de Vouzela enquanto case-study In SEN-NA-MARTIacuteNEZ JC DINIZ M CARVALHO AF eds - De Gibraltar aos Pireneacuteus Megal-itismo vida e morte na fachada atlacircntica peninsular Nelas Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo neste volumeFIGUEIREDO CJM (1953) - Subsiacutedios para o estudo da viaccedilatildeo romanas das Beiras Beira Alta 122-3 p 153-208GIRAtildeO AA (1921) - Antiguidades preacute-histoacutericas de Lafotildees Contribuiccedilatildeo para o estudo da arqueologia portuguesa Coimbra Imprensa da UniversidadeLEISNER V (1998) - Die megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Die Westen Berlin Walter de GruyterMARQUES JAM (1999) - Carta Arqueoloacutegica do Concelho de Vouzela Vouzela Cacircmara Municipal de VouzelaMARQUES JAM (2014) - Lafotildees Histoacuteria e Patrimoacutenio Viseu Ediccedilotildees EsgotadasMOITA IN (1966) - Caracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Alta Ethnos V p 189-297REAL ML CARVALHO AF TENTE C (2017) - Projeto de estudo do patrimoacutenio histoacuteri-co-arqueoloacutegico de Vouzela (Viseu) objetivos e primeiros resultados II Congresso da Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses Arqueologia em Portugal 2017 - Estado da questatildeo Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 113-123RIBEIRO O SANTOS MAP (1951) - Montanhas pastoris de Portugal Tentativa de rep-resentaccedilatildeo cartograacutefica Compte Rendu du XVIe Congregraves International de Geacuteographie Travaux de la Section IV vol III Lisboa Union Geacuteographique International p 59-69

216 |

| 217

| 2018

PROVENIEcircNCIAS E UTILIZACcedilAtildeO DO SIacuteLEX NO MEGALITISMO DE LAFOtildeES (VISEU PORTUGAL) PRIMEIRA ABORDAGEM A PARTIR DOS CONJUNTOS DOS DOacuteLMENES DE LAPA DA MERUJE E DE ANTELAS

FLINT PROVENANCE AND USE IN THE LAFOtildeES MEGALITHISM (VISEU PORTUGAL) FIRST APPROACH BASED ON THE ASSEMBLAGES FROM THE DOLMENS OF LAPA DA MERUJE AND ANTELAS

Antoacutenio Faustino Carvalho CEAACP - Centro de Estudos de Arqueologia Artes e Ciecircncias do Patrimoacutenio Universidade do Algarve FCHS Campus de Gambelas 8000-117 Faro Portugalafcarvaualgpt [autor para correspondecircncia]

Telmo Pereira ICArEHB - Interdisciplinary Center for Archaeology and Evolution of Human Behaviour Universidade do Algarve FCHS Campus de Gambelas 8000-117 Faro Portugaltelmojrpereiragmailcom Juan Francisco Gibaja Institucioacuten Milaacute i Fontanals (IMF CSIC) - Grupo de Arqueologiacutea de las Dinaacutemicas Sociales C Egipciacuteaques Barcelona 08001 Espanhajfgibajaimfcsices

RESUMO Os artefactos em siacutelex dos doacutelmenes da Lapa da Meruje (Vouzela) e de Antelas (Oliveira de Frades) cuja construccedilatildeo se atribui aos iniacute- cios do IV mileacutenio aC foram analisados por forma a providenciar uma primeira imagem abrangente das estrateacutegias de exploraccedilatildeo circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do siacutelex no megalitismo da regiatildeo de Lafotildees uma das subaacutereas do importante nuacutecleo megaliacutetico da Beira Alta Os conjun-tos satildeo formados sobretudo por geomeacutetricos trapezoidais surgindo os segmentos em segundo plano A origem do siacutelex pocircde determinar-se para o primeiro caso (aacuterea de Rio Maior) sendo que em Antelas se observaram cinco possiacuteveis aacutereas de aprovisionamento (por identifi-car) A anaacutelise traceoloacutegica revelou que a larga maioria das peccedilas de Antelas natildeo foi utilizada antes da sua deposiccedilatildeo naqueles doacutelmenes inversamente os geomeacutetricos da Lapa da Meruje foram obtidos a partir lacircminas previamente utilizadas e depois efetivamente usados como pon-tas de projeacutetil Nota-se nestes casos que as pontas foram encabadas

218 |

transversalmente uma teacutecnica que jaacute havia sido reconhecida na famosa pintura de arqueiro do doacutelmen de Juncais (Vila Nova de Paiva) No seu conjunto estes primeiros resultados revelam uma elevada complexidade dos circuitos de abastecimento de siacutelex no megalitismo beiratildeo As dife- rentes intensidades observadas no seu uso significaraacute tambeacutem dife- rentes capacidades de aquisiccedilatildeo de mateacuterias-primas exoacutegenas A expli-caccedilatildeo para tais contrastes deveraacute radicar no quadro socioeconoacutemico e na organizaccedilatildeo social destas comunidadesPALAVRAS-CHAVE Megalitismo anaacutelise liacutetica proveniecircncia intercacircmbio traceologia

ABSTRACTThe flint artefacts from the dolmens of Lapa da Meruje (Vouze-la) and Antelas (Oliveira de Frades) which were built at the begin-ning of the fourth millennium BC were analysed in order to provide a first comprehensive portrayal of its exploration circulation and use in the megalithic region of Lafotildees one of the subareas of the impor- tant megalithic clusters of Beira Alta These assemblages are formed main-ly by trapezoidal geometrics followed by segments The origin of the flint could be determined for the first case (Rio Maior area) with five possible supply areas (to be identified) being observed among the Antelas material The analysis showed that the vast majority of the Antelas artefacts were not used before their deposition conversely the geometrics from Lapa of Meruje were obtained from previously used blades and later effectively used as projectile points It should be noted in these latter cases that they were transversely hafted a technique that had already been recognized in the famous painting of an archer at the dolmen of Juncais (Vila Nova de Paiva) Taken together these preliminary results reveal a high complexi-ty of the flint supply circuits in the Beira Alta megalithism The different intensities observed in the use of flint artefacts will also mean different capacities for the acquisition of exogenous raw materials An explanation for such contrasts should lie in the socioeconomic and social organization framework of these communitiesKEY WORDS Megalithism lithic analysis provenance exchange use- -wear

1 INTRODUCcedilAtildeOEacute comumente aceite que na regiatildeo portuguesa da Beira Alta se encontra um dos grupos mais pujantes do megalitismo da Peniacutensula Ibeacuterica Natildeo cabe aqui fazer o historial da investigaccedilatildeo mas deve assinalar-se que os

| 219

| 2018

primeiros trabalhos cientiacuteficos entatildeo sobretudo de inventariaccedilatildeo e cartogra-fia tiveram o seu iniacutecio ainda em meados do seacuteculo XIX O prosseguimento desta investigaccedilatildeo viria a revelar uma realidade muito singular com mon-umentos tumulares de diversas tipologias dispersos por uma vasta aacuterea e ostentando frequentemente manifestaccedilotildees pictoacutericas pintadas e grava-das Nos iniacutecios do seacuteculo seguinte reconhecer-se-ia que estas realidades neoliacuteticas se estendiam igualmente para a regiatildeo histoacuterica de Lafotildees (Giratildeo 1921) A partir do uacuteltimo quartel do seacuteculo XX os estudos megaliacuteticos na Beira Alta superam aquela perspetiva sobretudo descritiva mdash ou quanto muito de raiz histoacuterico-culturalista mdash e direcionam-se para outros toacutepicos de investigaccedilatildeo Entre estes emergem as questotildees relacionadas com a proveniecircncia e cir-culaccedilatildeo de mateacuterias-primas Houve desde cedo a perceccedilatildeo de que os por vezes abundantes conjuntos em siacutelex encontrados no megalitismo beiratildeo teratildeo sido importados a partir da Estremadura Portuguesa regiatildeo onde se localizaratildeo as fontes de aprovisionamento mais proacuteximas e que a sua cir-culaccedilatildeo se faria no acircmbito de diversos circuitos de trocas de escala inter-re-gional Como referido haacute jaacute um quarto de seacuteculo por Senna-Martinez (1994 p 17) ldquo[u]ma origem estremenha para o megalitismo da Beira Alta pode aliaacutes explicar a origem do siacutelex (inexistente na Beira Alta) que [] domina desde o iniacutecio as produccedilotildees artefactuais em pedra talhada do megalitismo regional e como veremos ateacute momentos bem avanccedilados Como contra-par-tida para a lsquoimportaccedilatildeorsquo do siacutelex poderiacuteamos ter as rochas anfiboacutelicas uti-lizadas para a produccedilatildeo de artefactos polidos e inexistentes na Estremad-ura [] O mesmo pode ter sucedido com as lsquovariscitesrsquo e outras lsquorochas verdesrsquo utilizadas para a produccedilatildeo de adornos e potencialmente existentes nos afloramentos siluacutericos da Beira Alta []rdquo Hoje sabe-se que elementos de adorno em variscite de doacutelmenes beirotildees seratildeo importaccedilotildees das minas de Palazuelo de las Cuevas (Zamora) embora a exploraccedilatildeo de pequenas jazidas de minerais verdes locais natildeo possa por enquanto ser totalmente descartada (Carvalho sd) Que estas redes de circulaccedilatildeo poderiam atingir escalas suprarregionais eacute um facto testemunhado pelo achado de um longo machado em xisto no doacutelmen I do Carapito (Aguiar da Beira) uma imitaccedilatildeo local de protoacutetipos fabricados em jade alpino que entatildeo circulariam pela Eu-ropa ocidental (Faacutebregas et al 2012 2018) Esta peccedila particular encontra-va-se associada a um pequeno machado em fibrolite trecircs geomeacutetricos em siacutelex 320 contas discoides em xisto seis em variscite e uma conta esfeacuteri-ca em grauvaque (Leisner e Ribeiro 1968) constituindo-se portanto como uma associaccedilatildeo artefactual mdash datada de c 3650 cal BC (GrN-5110 4850 plusmn

220 |

Figura 1 Localizaccedilatildeo dos doacutelmenes mencionados em texto 1 - Lapa da Meruje (Vouzela) 2 - Antelas (Oliveira de Frades) 3 - Juncais (Vila Nova de Paiva) 4 - Carapito (Aguiar da Beira) A seta indica a proveniecircncia do siacutelex de Rio Maior identificado no primeiro siacutetio

| 221

| 2018

40 BP) a partir de carvotildees da lareira em torno da qual se estruturava mdash que ilustra muito bem a diversidade de proveniecircncias materiais e de influecircncias estiliacutesticas de que se revestiram as fases iniciais do megalitismo beiratildeo isto eacute durante o Neoliacutetico MeacutedioAssim o objetivo do presente trabalho eacute um primeiro estudo integrado dos artefactos em siacutelex provenientes dos doacutelmenes da Lapa da Meruje (Vouzela) e de Antelas (Oliveira de Frades) localizados na regiatildeo de Lafotildees mdash portanto no setor mais ocidental da Beira Alta (Fig 1) mdash por forma a produzir uma pri-meira caracterizaccedilatildeo das origens circulaccedilatildeo e uso desta mateacuteria-prima na regiatildeo em contexto megaliacutetico Este estudo envolve a realizaccedilatildeo de anaacutelis-es geoquiacutemicas para caracterizaccedilatildeo do siacutelex e determinaccedilatildeo das respetivas proveniecircncias anaacutelise de tecnologia e tipologia e microscopia liacutetica para classificaccedilatildeo funcional

2 MATERIAL E MEacuteTODOS21 Os doacutelmenes da Lapa da Meruje e de AntelasA anta da Lapa da Meruje foi primeiramente referenciada por Amorim Giratildeo (1921) pioneiro da arqueologia preacute-histoacuterica da regiatildeo de Lafotildees que a descreve A ldquoligeira escavaccedilatildeordquo que realizou em 1917 na cacircmara natildeo teraacute produzido qualquer resultado ldquodigno de menccedilatildeordquo pelo que muito pouco se conhece destes trabalhos No entanto esta anta entraraacute depois em im-portantes siacutenteses sobre o megalitismo da Beira Alta ateacute agrave retoma do seu estudo em 2016 (Carvalho 2018) Trata-se de um doacutelmen de grandes di-mensotildees que apresenta cacircmara e corredor diferenciaacuteveis em planta e alccedila-do A cacircmara de sete esteios tem 3x3 m e o corredor atinge cerca de 10 m de comprimento A mamoa com um diacircmetro de 32 m e uma altura de 2 m conserva ainda parte substancial da sua carapaccedila peacutetrea O topo do chapeacuteu da cacircmara apresenta gravuras modernas e os esteios tecircm diversas repre-sentaccedilotildees preacute-histoacutericas gravadas para aleacutem da representaccedilatildeo recente de uma custoacutedia junto ao esteio de cabeceira da cacircmara Na linha da escas-sez de espoacutelio que caracteriza o megalitismo lafonense a fase de utilizaccedilatildeo neoliacutetica da anta estaacute representada quase exclusivamente por um pequeno conjunto de geomeacutetricos em siacutelex o que de acordo com o esquema evolu-tivo do megalitismo regional e a cronologia absoluta disponiacutevel (Cruz 2001 Senna-Martinez e Ventura 2008) indica que este monumento dataraacute dos primeiros seacuteculos do IV mileacutenio aCPor seu lado o doacutelmen de Antelas conquanto identificado tambeacutem pelo mesmo investigador (Giratildeo 1921) soacute eacute escavado em 1956-1957 (Castro et al 1957) e depois em 1993 para trabalhos de restauro (Cruz 1995)

222 |

Este monumento eacute formado por uma cacircmara de oito esteios com 25times3 m de aacuterea e um corredor de 35 m de comprimento que tal como no caso da Lapa da Meruje se diferencia em planta e alccedilado A mamoa apresentava 20 m de diacircmetro e 25 m de altura ao momento da escavaccedilatildeo Poreacutem a componente mais notaacutevel de Antelas satildeo as impressionantes pinturas a negro e vermelho que graccedilas agrave sensata opccedilatildeo tomada por Castro et al (1957) de imediato soterramento do doacutelmen apoacutes a escavaccedilatildeo podem ainda hoje ser vistas apesar da raacutepida degradaccedilatildeo que as tem atingido desde os uacuteltimos trabalhos A dataccedilatildeo direta das pinturas atraveacutes de uma amostra de pigmento preto resultou em cerca de 3450 cal BC (OxA-5433 4655 plusmn 60 BP) poreacutem as cinco dataccedilotildees sobre corticcedila carbonizada encontrada sob as lajes do corredor intratumular (Cruz 2001) sugerem que a sua construccedilatildeo remontaraacute provavel-mente a 3900-3700 cal BCNo seu total a amostra analisada no presente estudo eacute composta por 22 peccedilas em siacutelex quatro geomeacutetricos da Lapa da Meruje (Fig 2) e uma lacircmina e 14 geomeacutetricos de Antelas (Fig 3) Para efeitos comparativos utilizam-se

Figura 2 Geomeacutetricos da Lapa da Meruje 1 e 3 - trapeacutezios (N22 e N2321 respetiva-mente) 2 e 4 - segmentos (N2315 e N235 respetivamente) Desenhos por Y Costela

| 223

| 2018

tambeacutem trecircs peccedilas em siacutelex (uma lacircmina uma lasca natildeo cortical e um noacutedulo parcialmente cortical) da Casa dos Mouros do Vale da Redonda uma pequena gruta-abrigo no concelho de Vouzela que teraacute sido um acampamento tem-poraacuterio em fase indeterminada do Neoliacutetico (Tente e Carvalho 2017)22 Anaacutelise de fluorescecircncia de Raios-X com equipamento portaacutetilA anaacutelise geoquiacutemica dos artefactos liacuteticos em siacutelex foi efetuada atraveacutes de Fluorescecircncia de Raios-X com equipamento portaacutetil (doravante FRXp) e recorrendo a um protocolo que permite a deteccedilatildeo de elementos pesados e leves desde o Magneacutesio (12Mg) ateacute ao Uracircnio (92U) A opccedilatildeo pelo equipa-mento portaacutetil deveu-se agrave necessidade de aceder a materiais de museu neste caso a coleccedilatildeo do doacutelmen de Antelas que se encontra depositada no Museu Geoloacutegico (Lisboa) O equipamento utilizado foi um Brukertrade S1 Titanreg equipado com um tubo de raios-X em Roacutedio um detetor FASTreg SDD e um colimador de 5 mm um filtro S1RemoteCtrl e o software S1Syncreg Foi utilizada a configuraccedilatildeo de calibraccedilatildeo de faacutebrica recomendada para ro-chas usando a aplicaccedilatildeo GeoChem e o meacutetodo DualMining A fiabilidade e

Figura 3 Geomeacutetricos e lacircmina de Antelas (segundo Castro et al 1957 fig 2)

224 |

calibraccedilatildeo foi assegurada pelo representante da Bruker em Portugal Dias de Sousa SA As leituras foram feitas em zonas homogeacuteneas dos artefac-tos seguindo o protocolo utilizado em trabalhos anteriores com o mesmo propoacutesito (Pereira et al 2016 Carvalho e Pereira 2017) isto eacute 120 segun-dos para os elementos pesados e 120 segundos para os elementos leves Os resultados obtidos (ver adiante) seratildeo complementados futuramente e descritos atraveacutes dos respetivos valores numeacutericos absolutos apoacutes confron-taccedilatildeo sistemaacutetica com os dados geoquiacutemicos da LusoLit a litoteca da Uni-versidade do Algarve23 Anaacutelise traceoloacutegicaA observaccedilatildeo das peccedilas foi realizada conjugando uma lupa binocular Leica MZ16A que abarca 10-90 aumentos e um microscoacutepio metalograacutefico Olym-pus BH2 cujos aumentos vatildeo desde 50times a 400times aumentos dotado de uma cacircmara fotograacutefica Canon 450D Para aleacutem disto empregou-se um software fotograacutefico (Helicon Focus v462) para obter imagens totalmente focadas Antes do iniacutecio da limpeza e posterior anaacutelise do material foi efetuada uma primeira observaccedilatildeo com lupa binocular com o objetivo de detetar e registar todos os possiacuteveis registos orgacircnicos e inorgacircnicos que pudessem ainda estar aderidos agrave superfiacutecie das peccedilas Posteriormente efetuou-se uma lim-peza com aacutegua e sabatildeo Natildeo foi necessaacuterio utilizar soluccedilotildees aacutecidas para eliminar concreccedilotildees calcaacuterias pois estas natildeo existiam O material dos trecircs siacutetios estava muito alterado tendo-se observado lustres arredondamentos e por vezes alteraccedilotildees teacutermicas Estas afetaccedilotildees limitaram o diagnoacutestico funcional de algumas peccedilas

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeOA induacutestria em siacutelex analisada da anta da Lapa da Meruje reporta-se apenas ao material recolhido nas campanhas de escavaccedilatildeo de 2016 e 2017 estan-do por analisar as peccedilas de 2018 Assim o conjunto eacute formado apenas por dois trapeacutezios e dois segmentos produzidos com recurso a retoque abrupto direto e tratamento teacutermico a partir de suportes com secccedilotildees triangulares e trapezoidais No caso do doacutelmen de Antelas o conjunto eacute formado origi-nalmente por uma uacutenica lacircmina e 15 geomeacutetricos poreacutem destes uacuteltimos apenas 14 estavam disponiacuteveis para estudo no Museu Geoloacutegico Estes satildeo compostos principalmente por trapeacutezios (n=10) estando os segmentos em segundo plano (n=4) configurados por norma atraveacutes de retoque abrupto direto com tratamento teacutermico aplicado a cerca de metade dos efetivos e foram obtidos sobretudo a partir de suportes laminares de secccedilatildeo triangular (9 em 14 exemplares)

| 225

| 2018

As anaacutelises de FRXp dos quatro geomeacutetricos da Lapa da Meruje que rece-beram os nuacutemeros 452 e 551amp552 a 555amp556 correspondem a uma uacuteni-ca leitura (no caso da peccedila 452) ou a duas leituras em aacutereas homogeacuteneas e separadas (nos restantes trecircs casos 551amp552 553amp554 e 555amp556) A sua classificaccedilatildeo litoloacutegica de base macroscoacutepica indicou um siacutelex de gratildeo fino homogeacuteneo de coloraccedilatildeo bege-acinzentada E com efeito as anaacutelises revelaram composiccedilotildees quiacutemicas bastante semelhantes em que como era expectaacutevel o elemento dominante eacute a siacutelica e depois o alumiacutenio seguido do foacutesforo potaacutessio caacutelcio e ferro Ainda assim observa-se alguma variabili-dade geoquiacutemica neste conjunto Tal situaccedilatildeo eacute sobretudo notoacuteria no que diz respeito ao alumiacutenio onde a peccedila 551amp552 apresenta valores significativa-mente baixos (15076 plusmn 01846) ao passo que a peccedila 553amp554 apresen-ta valores mais elevados (44558 plusmn 02253) Tambeacutem em linha com esta observaccedilatildeo estaacute a peccedila 553amp554 que apresenta maiores frequecircncias de foacutesforo (03552 plusmn 002105) e de potaacutessio (01852 plusmn 000625) valores proacutex-imos dos registados na peccedila 555amp556 (foacutesforo = 02533 plusmn 001825 potaacutes-

Figura 4 Anaacutelise de correspondecircncia dos siacutelices do conjunto de Antelas Siacutelex 1 468 Siacutelex 2 459 461 Siacutelex 3 460 463 465 462 Siacutelex 4 466 467 470 471 Siacutelex 5 464 Siacutelex 6 457 Siacutelex 7 458 469

226 |

Figura 5 Anaacutelise funcional 1 e 2 - geomeacutetricos da Lapa da Meruje empregues como pro-jeacuteteis (N22 e N2315 respetivamente) cujos suportes originais foram utilizados para ras-par pele seca (as fotografias macroscoacutepicas mostram as fraturas de impacto resultantes do seu uso como projeacutetil e as microscoacutepicas as modificaccedilotildees no gume como resultado da raspagem de pele seca) 3 - lacircmina da Casa dos Mouros do Vale do Redondo empregue em ambos os gumes no corte de plantas natildeo lenhosas Fotos micro a 100times

| 227

| 2018

sio = 01765 plusmn 00061) No seu conjunto estes resultados indicam que as quatro peccedilas provecircm se natildeo de uma mesma fonte muito provavelmente de uma aacuterea delimitada De acordo com a composiccedilatildeo quiacutemica observada a possiacutevel fonte de aprovisionamento localizar-se-aacute na extremidade sul do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho a Oeste de Vale Comprido (Rio Maior) Esta jazida de siacutelex onde abundam noacutedulos de excelente qualidade agrave superfiacutecie por erosatildeo total do afloramento original dista da Lapa da Meruje cerca de 170 km em linha retaOs artefactos de Antelas receberam os nuacutemeros 455 a 471 As anaacutelises 455 e 456 referem-se agrave uacutenica lacircmina existente e as anaacutelises 457 a 471 incidi-ram sobre os geomeacutetricos O siliacutecio regista valores sempre acima dos 95 a uacutenica exceccedilatildeo sendo a leitura 468 onde estes valores satildeo relativamente baixos (895065 plusmn 05190) O conjunto de Antelas pode no entanto ser dividido em dois subgrupos um onde o siacutelex eacute mais puro com o siliacutecio a ron-dar valores na ordem dos 100 (plusmn Ma 77352) e outro onde o siliacutecio ronda os 96-98 A seguir ao siliacutecio os elementos que mais se destacam satildeo o alumiacutenio potaacutessio cloro enxofre caacutelcio titacircnio vanaacutedio cromo magneacutesio e ferro com valores variaacuteveis mas que permitem identificar agrupamentos que sugerem a reduccedilatildeo a sete tipos de siacutelex com caracteriacutesticas distintas (Fig 4) Siacutelex 1 468 Siacutelex 2 459 461 Siacutelex 3 460 463 465 462 Siacutelex 4 466 467 470 471 Siacutelex 5 464 Siacutelex 6 457 Siacutelex 7 458 469 Dada a proximidade de resultados obtidos para o Siacutelex 2 3 e 4 poderemos es-tar perante a reduccedilatildeo do mesmo bloco em cada um dos casos ao passo que no caso do Siacutelex 7 poderemos estar perante mateacuteria-prima proveniente de uma mesma aacuterea ou fonte Por seu turno os resultados obtidos para o Siacutelex 1 5 e 6 sugerem que se tratam de casos em que a mateacuteria-prima seraacute proveniente de contextos geoloacutegicos eou tafonoacutemicos distintos entre si e dos demais espeacutecimes analisados Natildeo foi possiacutevel ainda atribuir estas peccedilas a jazidas concretas soacute a continuaccedilatildeo dos estudos permitiraacute aferir a semelhanccedila destes siacutelices com amostras geoloacutegicas recolhidas em territoacuterio portuguecircs reunidas na LusoLit a litoteca da Universidade do Algarve a fim de aferir o seu local de proveniecircnciaNo que respeita agrave anaacutelise funcional os quatro geomeacutetricos da Lapa da Meruje revelaram ldquobiografiasrdquo bastante complexas que podem ser descri-tas do seguinte modo

N22 e N2315 mdash Na zona apical do extremo dos gumes destes geomeacutetri-cos identificam-se fraturas aburiladas associada a importantes marcas de uso Estas modificaccedilotildees indicam-nos que estaremos provavelmente perante projeacuteteis empregues como ldquotranchantsrdquo ou seja encabadas

228 |

transversalmente Mas para aleacutem disso o estudo microscoacutepico dos gumes maiores permitiu-nos documentar que antes da sua configu-raccedilatildeo como geomeacutetricos os respetivos suportes laminares tinham sido empregues na raspagem de pele seca (Fig 5 nordm 1 e 2 respetivamente) Este modelo de reutilizaccedilatildeo natildeo eacute habitual noutros contextos neoliacuteti-cos peninsulares designadamente do atual territoacuterio portuguecircs eacute pos-siacutevel que esteja relacionado com um aproveitamento maximizado dos suportes laminaresN235 mdash Num dos extremos deste segmento observa-se uma fratura de tipo ldquohingerdquo Eacute difiacutecil fazer um diagnoacutestico a partir desta fratura mas eacute possiacutevel conceber que a peccedila tivesse sido utilizada como ponta de pro-jeacutetilN2321 mdash Este trapeacutezio apresenta pequenas fraturas em ambos os ex-tremos de morfologia de tipo ldquosnaprdquo e ldquofeatherrdquo No entanto as suas caracteriacutesticas formais e tamanho natildeo permitem determinar se a peccedila foi ou natildeo usada Estas fraturas podem ter sido produzidas devido ao seu uso como projeacuteteis ou como resultado de alguma alteraccedilatildeo mecacircnica

De Antelas analisaram-se 14 geomeacutetricos e uma lacircmina Em relaccedilatildeo aos primeiros 12 deles natildeo apresentam quaisquer fraturas de impacto A maior parte estaacute intacta ou mostra algumas pequenas marcas de uso ou roturas natildeo diagnosticaacuteveis de tipo ldquosnaprdquo Somente em dois casos se observam possiacuteveis fraturas aburiladas que talvez natildeo tenham origem funcional mas sim em alteraccedilotildees mecacircnicas inclusivamente modernas Em suma podem-os afirmar que 12 geomeacutetricos de Antelas natildeo se apresentam usados e que em dois casos natildeo foi possiacutevel reunir criteacuterios suficientes para afirmar ou negar a sua utilizaccedilatildeo Quanto agrave lacircmina a superfiacutecie estava muito alterada apresentava um lustre de solo consideraacutevel e diversas estrias em direccedilotildees aleatoacuterias pelo que se considera esta peccedila natildeo analisaacutevel A escassez de traccedilos de uso convida-nos a pensar que teraacute sido depositada sem qualquer utilizaccedilatildeo preacutevia poreacutem tratar-se-ia de uma proposta arriscada uma vez que esses sinais de uso poderatildeo ter sido produzidos por alteraccedilatildeo ou mes-mo por utilizaccedilatildeo sobre mateacuteria branda

4 CONCLUSOtildeESPara complementar as inferecircncias que os doacutelmenes da Lapa da Meruje e de Antelas permitem produzir acerca dos sistemas de circulaccedilatildeo de siacutelex no megalitismo de Lafotildees os respetivos resultados foram comparados com os da gruta-abrigo neoliacutetico da Casa dos Mouros do Vale da Redonda Deste siacutetio foram analisados por FRXp um noacutedulo cortical (445 na zona sem

| 229

| 2018

coacutertex e 446 na zona com coacutertex) uma lasca natildeo cortical (447) e uma lacircmi-na (448) Esta anaacutelise revelou que o noacutedulo eacute substancialmente diferente dos restantes siacutelices talhados por apresentar valores muito baixos de siliacutecio na ordem dos 76 e valores elevados de alumiacutenio (77) e de magneacutesio (13) Estes resultados de certa forma surpreendentes parecem sugerir agrave primeira vista a existecircncia de fontes de obtenccedilatildeo e corredores de transporte distintos para noacutedulos brutos e utensiacutelios finais estivessem estes retocados ou natildeo Os doacutelmenes estudados integrar-se-atildeo na segunda situaccedilatildeo Poreacutem haacute que salientar que estamos a trabalhar com uma amostra bastante reduz-ida e num territoacuterio onde o conhecimento acerca das origens e circulaccedilatildeo desta mateacuteria-prima eacute ainda muito incipiente pelo que uma compreensatildeo mais soacutelida destes comportamentos econoacutemicos soacute seraacute possiacutevel atraveacutes de trabalho detalhado e do avolumar de dados empiacutericos De todo o modo a Lapa da Meruje e Antelas distinguem-se claramente quanto agrave proveniecircncia dos siacutelices talhados Enquanto no primeiro caso se definiu uma uacutenica origem para as quatro peccedilas (na aacuterea de Rio Maior) no segundo foi possiacutevel verifi-car uma multiplicidade de proveniecircncias para as 15 peccedilas estudadas que parece apontar para a exploraccedilatildeo de cinco jazidas de siacutelex diferentes (cuja identificaccedilatildeo estaacute por realizar)Quanto agrave anaacutelise funcional a lacircmina da Cova dos Mouros do Vale da Re-donda eacute uma peccedila fragmentada e com sinais de utilizaccedilatildeo em ambos os gumes onde se observa um polimento muito extenso relacionado com o corte de plantas natildeo lenhosas (Fig 5 nordm 3) As caracteriacutesticas do polimento fazem-nos pensar que se teraacute destinado ao corte de cereais verdes ou de algum tipo de planta silvestre O desenvolvimento diferenciado do polimento demonstra que o lado esquerdo esteve muito mais sujeito a utilizaccedilatildeo que o oposto ou seja que quem a utilizou preferiu mudar de gume quando o primeiro perdeu efetividade ao inveacutes de o reavivar Em todo o caso trata-se de um instrumento que natildeo estaacute esgotado e que poderia ter continuado a ser utilizado Este caraacuteter natildeo exaustivo do uso do siacutelex observado nesta gruta-abrigo integra-se no padratildeo tambeacutem verificado em Antelas onde a larga maioria das peccedilas natildeo teraacute sido utilizada previamente agrave sua incorpo-raccedilatildeo no ambiente funeraacuterio Aqui a norma foi a produccedilatildeo intencional de oferendas natildeo o reaproveitamento de artefactos que estivessem ateacute esse momento em utilizaccedilatildeo O contraste com o conjunto da Lapa da Meruje natildeo podia ser mais niacutetido Os quatro geomeacutetricos haviam sido utilizados e dois deles passaram por uma complexa sequecircncia que implicou o talhe e uso das lacircminas originais a sua segmentaccedilatildeo em pontas de projeacutetil de formas geomeacutetricas as quais foram efetivamente utilizadas enquanto tais antes da

230 |

sua deposiccedilatildeo em contexto funeraacuterioA propoacutesito do modo de encabamento dos geomeacutetricos da Lapa da Meruje em posiccedilatildeo transversal assinale-se que apesar da sua singularidade jaacute se conhecia para a regiatildeo da Beira Alta um elemento que providenciava uma imagem muito clara de uma opccedilatildeo funcional por agora aparentemente confinada a esta regiatildeo (Fig 1) trata-se da famosa pintura de um caccedilador de veados acompanhado dos seus catildees executada num dos esteios do doacutelmen dos Juncais (Vila Nova de Paiva) em cujo arco se pode observar claramente o tipo de encabamento agora identificado pela traceologia nos geomeacutetricos da Lapa da Meruje (Leisner 1934 taf 13)Em conclusatildeo os dados obtidos neste estudo mostram uma realidade mais complexa do que inicialmente suposto no que diz respeito agrave circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do siacutelex em ambiente megaliacutetico Embora haja necessidade de aumentar as amostras analisadas na Lapa da Meruje a sua comparaccedilatildeo com Antelas revelou natildeo soacute diferentes estrateacutegias de abastecimento ao niacutevel da proveniecircncia e rotas de circulaccedilatildeo do siacutelex (cujos reais contornos soacute se poderatildeo definir apoacutes a determinaccedilatildeo das jazidas de origem do siacutelex do segundo siacutetio exerciacutecio atualmente em curso) como sobretudo permitiu observar estrateacutegias tecnoeconoacutemicas muito contrastantes com conjun-tos fabricados exclusivamente para incorporaccedilatildeo em contexto funeraacuterio e outros previamente utilizados de forma intensiva Este duplo padratildeo parece revelar a existecircncia de grupos humanos com diferentes graus de acesso a mateacuterias-primas exoacutegenas o que abre todo um novo campo de investigaccedilatildeo acerca das condiccedilotildees socioeconoacutemicas e modelos de organizaccedilatildeo social das comunidades do Neoliacutetico Meacutedio da Beira Alta insuspeitos ateacute ao mo-mento e que urge aprofundar mas que talvez estejam na base dos padrotildees de distribuiccedilatildeo desses bens de exceccedilatildeo que agora se comeccedilam a observar

AGRADECIMENTOSAgradecemos ao Museu Geoloacutegico (Laboratoacuterio Nacional de Energia e Geo-logia) a pronta autorizaccedilatildeo e cedecircncia de espaccedilo para a anaacutelise do conjun-to liacutetico do doacutelmen de Antelas e a Yolanda Costela Muntildeoz o desenho das peccedilas em siacutelex da Lapa da Meruje

BIBLIOGRAFIACARVALHO AF (2018) - Anta da Lapa da Meruje (Vouzela Portugal) Resultados prelim-inares dos trabalhos em curso In SENNA-MARTIacuteNEZ JC DINIZ M CARVALHO AF eds - De Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo vida e morte na fachada atlacircntica peninsular Nelas Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo neste volumeCARVALHO AF (sd) - Patterns of variscite acquisition and circulation in Neolithic and

| 231

| 2018

Chalcolithic Portugal In QUERREacute G CASSEN S VIGIER E eds - Roches amp Socieacuteteacutes La parure en callaiumls du Neacuteolithique europeacuteen nature exploitation circulation et utilisation Rennes Presses Universitaires de Rennes (Collection Archeacuteologie et Culture) no preloCARVALHO AF PEREIRA T (2017) - Flint variability in a Cardial context A preliminary evaluation by portable X-ray fluorescence of artefacts from Cerradinho do Ginete (Portu-guese Estremadura) In PEREIRA T TERRADAS X BICHO NF eds - The exploitation of raw materials in Prehistory sourcing processing and distribution Cambridge Cambridge Scholars Publishing p 265-283CASTRO LA FERREIRA OV VIANA A (1957) - O doacutelmen pintado de Antelas (Oliveira de Frades) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal XXXVIII II p 325-348CRUZ DJ (1995) - Doacutelmen de Antelas (Pinheiro de Lafotildees Oliveira de Frades Viseu) Um sepulcro-templo do Neoliacutetico Final Estudos Preacute-Histoacutericos 3 p 263-264CRUZ DJ (2001) - O Alto Paiva Megalitismo diversidade tumular e praacuteticas rituais du-rante a Preacute-Histoacuteria recente Coimbra Universidade de Coimbra (Dissertaccedilatildeo de Douto-ramento policopiada)FAacuteBREGAS R LOMBERA A RODRIacuteGUEZ-RELLAacuteN C (2012) - Spain and Portugal long chisels and perforated axes Their context and distribution In PEacuteTREQUIN P CASSEN S ERRERA M KLASSEN L SHERIDAN A eds - Jade Grandes haches alpines du Neacuteolithique europeacuteen Ve et IVe milleacutenaires av J-C vol 2 Besanccedilon Presses Universi-taires de Franche-Comteacute p 1108-1135 FAacuteBREGAS R LOMBERA A RODRIacuteGUEZ-RELLAacuteN C PEacuteTREQUIN P (2018) - Green andor far away the case of the Alpine axes in Iberia In CRUZ AR GIBAJA JF eds - In-terchange in Pre- and Protohistory Case studies in Iberia Romania Turkey and Israel Ox-ford Archaeopress (British Archaeological Reports - International Series 2891) p 61-67GIRAtildeO AA (1921) - Antiguidades preacute-histoacutericas de Lafotildees Contribuiccedilatildeo para o estudo da arqueologia portuguesa Coimbra Imprensa da UniversidadeLEISNER G (1934) - Die malereien des dolmen Pedra Coberta Jahrbuch fuumlr Praumlhis-torische und Ethnographische Kunst 9 p 23-44LEISNER V RIBEIRO L (1968) - Die dolmen von Carapito Madrider Mitteilugen 9 p 11-62 PEREIRA T ANDRADE C COSTA M FARIAS A MIRAtildeO J CARVALHO AF (2016) - Lithic economy and territory of Epipaleolithic hunter-gatherers in the Middle Tagus The case of Pena drsquoAacutegua (Portugal) Quaternary International 412 p 135-144 DOI httpsdoiorg101016jquaint201508081 SENNA-MARTINEZ JC (1994) - Megalitismo habitat e sociedades a bacia do Meacutedio e Alto Mondego no conjunto da Beira Alta (c 5200-3000 BP) Seminaacuterio ldquoO Megalitismo no Centro de Portugalrdquo Viseu Centro de Estudos Preacute-Histoacutericos da Beira Alta (Estudos Preacute-Histoacutericos 2) p 15-30TENTE C CARVALHO AF (2018) - Casa dos Mouros de Vale do Redondo (Vasconha Queiratilde concelho de Vouzela) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo policopiado

232 |

| 233

| 2018

Dawn of the dead funerary behaviour in the Middle Tagus Neolithic

O Amanhecer dos Mortos comportamento funeraacuterio no Neoliacutetico do Meacutedio Tejo

ABSTRACTThe Middle Tagus region in central Portugal is a region with significant geolo- gical and geomorphological variability where the funerary behaviour of the first farming societies relates broadly to the type of substrate the areas of the Limestone Massif have cave burials whe-reas in the Hesperic Massif and Tagus Basin dominated by schist granite and detritic deposits megalithic tombs are abundant There are exceptions to this pattern such as the megalithic complex of Rego da Murta in Alvaiaacutezere within the limestone zone but in gene- ral the distinction between the geological zones holds firmWe present a regional synthesis of evidence for land use material culture and chronology alongside the typology of burials and funerary structures Our aim is to contextualize the megalithic fune-rary phenomena within the regional dynamics of funerary behaviour during the Neolithic especially by comparing megalithic burials with cave burialsThe nature and distribution of the evidence currently available raise a number of questions how do the chronologies and material culture(s) of burial caves and megaliths compare and how are the two related in diachronicsynchro- nic terms did burial in megalithic tombs reflect continuity or discontinuity with previous behaviour were megaliths closely connected with a predom-inantly pastoralist way of life how do funerary sites relate to settlements in the region These questions will be discussed in the context of regional and macro-regional perspectivesKEY WORDS Middle Tagus Neolithic funerary behaviour megalithic tombs burial caves

RESUMOA regiatildeo do Meacutedio Tejo em Portugal Central apresenta uma variabi- lidade geoloacutegica e geomorfoloacutegica significante na qual o comportamento funeraacuterio das primeiras sociedades produtoras se relaciona com o tipo de

Nelson J Almeida12 Luiz Oosterbeek123 Chris Scarre4 Cristiana Ferreira23 Joatildeo Belo5 Luis Costa1

1 Polytechnic Institute of Tomar Portugal 2Geosciences Centre University of Coimbra Portugal 3Earth and Memory Institute Portugal 4Department of Archaeology Durham University England 5FlyGIS ndash UAV Surveys Portugal Instituto Terra e Memoacuteria Largo Infante D Henrique 6120-750 Maccedilatildeo Portugal nelsonjalmeidagmailcom

234 |

substrato as aacutereas do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho apresentam enterramentos em gruta enquanto no Maciccedilo Hespeacuterico e Bacia do Tejo dominados por xis-tos granitos e depoacutesitos detriacuteticos o megalitismo funeraacuterio eacute abundante Exis- tem contudo excepccedilotildees a este padratildeo como o complexo megaliacutetico de Rego da Murta em Alvaiaacutezere na zona calcaacuteria mas grosso modo a distinccedilatildeo entre as zonas geoloacutegicas manteacutem-se Apresentamos uma siacutentese regional de uso do solo cultura material e crono- logia assim como tipologia de enterramentos e estruturas funeraacuterias O intuito eacute o de contextualizar o fenoacutemeno megaliacutetico funeraacuterio nas dinacircmicas regionais de comportamento funeraacuterio durante o Neoliacutetico em especial atraveacutes da compara-ccedilatildeo de contextos megaliacuteticos e em grutaA natureza e distribuiccedilatildeo das evidecircncias levantam vaacuterias questotildees como as cronologias e cultura material dos enterramentos em gruta e megaacutelitos se compara e como ambas se relacionam em termos diacroacutenicossincroacuteni- cos os enterramentos em megaacutelitos funeraacuterios reflectem continuidade ou de-scontinuidade com comportamentos anteriores os megaacutelitos estatildeo conecta- dos com um modo de vida predominantemente pastoril como se rela- cionam os siacutetios funeraacuterios com as ocupaccedilotildees de caraacutecter domeacutesti-co na regiatildeo Estas questotildees seratildeo discutidas no contexto de pers- pectivas regionais e macro-regionaisPALAVRAS-CHAVE Meacutedio Tejo Neoliacutetico comportamento funeraacuterio megalitis- mo funeraacuterio grutas necroacutepole

ldquoLife is and death is not at allrdquoFyodor DostoyevskyDemons

1 INTRODUCTIONThe study of Neolithic funerary behaviour has been a major focus of research on the later prehistory of Western Iberia Several of the earliest sites associated with food-producing economies in Central Portugal are funerary contexts a pattern that persists until the late Neolithic since even with the growing number of do-mestic occupations (eg Neves 2018) cave-necropolises and megalithic tombs are still far greater in number (Leisner amp Leisner 1959 Leisner 1967 1998 Kalb 1987 Cruz 1997 Oosterbeek 1997 Zilhatildeo 1992 Boaventura 2009)A relationship may be established between funerary practices and their evolu-tion during the Neolithic period the earlier stages identified in the limestone areas have individualized funerary contexts including on occasions a se-quence of individual burials in spaces that were regularly re-used accompa-

| 235

| 2018

nied essentially by Early Neolithic material culture whereas the collectivization of death seems to start during the Middle Neolithic and become dominant from the mid 4th millennium cal BCEIn this paper we seek to determine how megalithic tombs relate to cave burials in the Portuguese Middle Tagus and discuss the regional dynamics by compar-ing this information with other contexts in the Lower Tagus Basin

2 THE STARTING POINT BURYING AND DWELLINGThe Middle Tagus is a region where three major geomorphological units con-verge the Estremadura Limestone Massif with an abundance of Neolithic cave-necropolises some ephemeral rock-shelter and open-air occupations of a domestic character and more rarely megalithic tombs the Tagus detritic Basin where both open-air occupations and funerary contexts are known and the Hesperic Massif dominated by schist granite and gneiss where a number of megalithic tombs punctuate the landscape The hydrography of this region is dominated by the Tagus River and its main tributaries (Almonda Alviela Nabatildeo and Zecirczere)It is a region with a significant amount of research on the Neolithic transition process and several models have been proposed in the past (eg Zilhatildeo 1992 Cruz 1997 2011 Oosterbeek 1997 Carvalho 2008) Funerary be-haviour assumes an important role in this perspective not only because it is one of the better-known domains of activity of the first food-producing eco- nomies especially in comparison to domestic contexts but also because the organic preservation in some of these deposits allows the acquisition of fine-grained absolute dates and also more recently palaeodietary palaeomobility and palaeogenetic analysesBy contrast funerary megaliths present problems of organic preservation as well as the lack of absolute chronologies (but see Burbidge amp alii 2014) and the re-use and modification of contexts and structures Several authors have discussed how megalithic tombs fit into Neolithic population dynamics (eg Oosterbeek 2003 Boaventura 2009 2011 Boaventura amp Mataloto 2013 Mataloto amp Boaventura 2009)One objective of a current FCT funded project (MTAS ndash PTDCEPH-HIS43562014) comprising field surveys excavations and laboratory ana- lyses is the excavation of relevant funerary contexts both in cave (Gruta do Cadaval Tomar) and megalithic tombs (Anta 1 de Vale da Laje Tomar) along with related settlement contexts (Salvador Abrantes) The main focus is to un-derstand the evolution of settlement patterns and their relationship to the dis-tribution of funerary contexts

236 |

For this paper a number of sites located in the Middle Tagus and beyond have been selected due to the kinds of evidence they offer for discussion of the abovementioned aspects (eg absolute chronologies material culture and other published data) (Figure 1)

3 A BRIEF REGIONAL SYNTHESISThe Neolithic of the region has evidence for two successive funerary cycles The first of these is dated to around 5500 ndash 3800 cal BCE comprising what is traditionally referred as Early Cardial Early Evolved and Initial Middle Neolithic In the Estremadura Limestone Massif this first cycle is represented by sites such as Galeria da Cisterna (Almonda karstic system Torres Novas ndash Zilhatildeo 2001 2008 Zilhatildeo amp Carvalho 2011) Gruta do Caldeiratildeo (Tomar ndash Zilhatildeo 1992) and Gruta de Nossa Senhora das Lapas (Tomar ndash Oosterbeek 1993a)

Figure 1 Digital Terrain Model (DTM) with indication of the limits of the Middle Tagus region and location of selected archaeological sites 1 Algar do Bom Santo 2 Lugar do Canto 3 Carrascos 4 Algar do Barratildeo 5 Galinha 6 Galeria da Cisterna (Almonda) 7 Anta 1 de Vale da Laje 8 Pedra da Encavalada 9 Anta da Foz do Rio Frio 10 Gruta do Caldeiratildeo 11 Gruta do Morgado superior 12 Gruta dos Ossos 13 Nossa Senhora das Lapas 14 Gruta do Cadaval 15 Megalithic Complex of Rego da Murta 16 Cabeccedilo dos Pendentes 17 Anta da Lajinha

| 237

| 2018

These earlier funerary contexts with individualized interments span all of the Early Neolithic and may continue even into the Initial Middle Neolithic as sug-gested by Carvalho amp Cardoso with reference to the layer D of Gruta do Cadaval (Tomar ndash Oosterbeek 1997) and the ldquofounderrdquo phase of Lugar do Canto (Al-canede ndash Carvalho amp Cardoso 2015)In these earlier contexts human remains were normally not found in anatom-ical connection but scattered throughout the stratigraphy due to post-depo-sitional processes (eg Tomeacute amp alii 2017) The re-use of burial spaces is a particular problem and palimpsests are the norm rather than the exception hindering the understanding of the funerary behaviour(s) involved as well as challenging the undisputed relationship between absolute dates and artefacts (Oosterbeek 2000) These factors have occasionally led to the interpretation of some of these contexts as collective burials or even as ossuaries Yet where it is possible to ascertain these earlier contexts correspond to individual inhu-mations mainly of a primary character accompanied by decorated ceramics personal ornaments (beads and pendants of shell animal teeth and bones) blades and bladelets and some polished stone elements The later part of this first cycle overlaps with the earliest megalithic burials whereas its earlier part may be contemporary with the dawn of megaliths represented by the earliest menhirs (eg Vilarinha 3 in southern Portugal ndash Gomes 2008 pp 63-64) Later around 3800 cal BCE (Figure 2) the dynamics of funerary behaviour shift towards collective burials These constitute the second cycle and collec-tive burials predominate up to the Final Neolithic and beyond (eg Tomeacute 2011 Carvalho amp Cardoso 2015 Carvalho 2014a) Among the first collectivized buri-als are those from Lugar do Canto (Alcanede ndash Leitatildeo amp alii 1997 Cardoso amp Carvalho 2008) Algar do Bom Santo (Carvalho 2014a) layer C at the Gruta do Cadaval (Oosterbeek 1997 Cruz 1997) and later Gruta dos Ossos (Tomar) (Oosterbeek 1993b 1997 Cruz 1997)The almost complete lack of absolute dates for funerary megaliths in the region is still a problem and the possible existence of a proto-megalithic phase (Silva amp Soares 2000) comprising simple burials accompanied by a limited number of artefacts should be considered Here the site of Jogada 5 Pedra da Enca- valada (Abrantes ndash Cruz 2011) should be mentioned because it consists of an atypical megalithic monument which incorporates a gneiss bedrock outcrop in a mid-slope position associated with nine deposits in pits that seem to correspond to individual burials (Cruz 2011) TL dates on ceramics gave results that place these contexts at the end of the 5th and beginning of the 4th millennium BCENormally found in clusters of monuments Middle Tagus funerary megaliths are not considered as impressive as that of other regions of Iberia but still

238 |

Figure 2 Absolute dates for collective funerary contexts in the Estremadura region (after Carvalho amp alii 2003 Carvalho and Cardoso 20102011 2015 Carvalho and Petchey 2013 Cruz 1997 Gonccedilalves 2008 Lubell amp alli 1994 Oosterbeek 1997 Tomeacute 2006) Dates calibrated using OxCal 424 (Bronk Ramsey 2009 Bronk Ramsey and Lee 2013) with atmospheric curve IntCal13 (Reimer amp alii 2013)

| 239

| 2018

falls part of that wider phenomenon (eg Bueno Ramirez amp alii 2006 Santos 2000 Oliveira 2000 Cardoso 2008) Scarre amp Oosterbeek (2010) referring specifically to the megalithic tombs of the Northern Maccedilatildeo area suggested that they could be a part of the Proenccedila-a-Nova megalithic cluster representing an inland phenomenon without immediate links to the Tagus valley Nonethe-less the Proenccedila-a-Nova megalithic tombs are part of the larger cluster that includes sites in Vila Velha de Roacutedatildeo which are close to the Tagus Among the main megalithic tombs in the region are Anta 1 de Vale da Laje (Tomar ndash Drewett amp alii 1992 Oosterbeek amp alii 1992) Anta da Lajinha Anta do Pereiro (Maccedilatildeo ndash Silva Louro 1939 Horta Pereira 1970 Scarre amp Ooster-beek 2010) and the megalithic complex of Rego da Murta (Alvaiaacutezere ndash Figuei- redo 2006 2010)

4 THE DEAD AND THE LIVINGAs already observed absolute chronologies are an issue in understanding Neolithic funerary dynamics The individual burials at Pedra da Encavalada (Abrantes ndash Cruz 2011) would fit well within the first cycle of funerary be-haviour ie Early and Initial Middle Neolithic if we accept 3800 cal BCE as marking the beginning of the collectivization of death The absolute dates for collective cave-necropolises in the limestone areas would ideally be compared with similar information from megalithic tombs but the latter is lacking Excep-tions could be Anta da Lajinha (Maccedilatildeo) that has several TL results indicating a chronology of between 4300 and 3800 BCE with tumulus construction pro- bably around 3800 BCE (Burbidge amp alii 2014) and the chronologically more recent contexts of Rego da Murta in the limestone areas of Alvaiaacutezere (Figuei- redo 2006 2010)Available data for Early and Middle Neolithic settlement sites is scarce espe-cially in the inner Tagus regions (Oosterbeek 1994 Cruz 1997 2011 Carva- lho 2008 Neves 2018) Several factors might be hindering the identification of these types of contexts but the use of cave-necropolises for non-funerary activities has already been suggested for the Early Neolithic of Gruta do Cal-deiratildeo (Rowley-Conwy 1992) and the Middle Neolithic of Gruta do Cadaval (Almeida 2017) both in the Nabatildeo area north of Tomar With the exception of a few domestic sites that have evidence of a more per-manent occupation in inland Tagus (Cruz 1997 2011 Oosterbeek 1997) current interpretations indicate the importance of sporadically used sites of a more ephemeral or specialized nature (eg Rowley-Conwy 1992 Carvalho 2008 Correia amp alii 2015) This is not only inferred from the type of occupa-tions and settlement patterns but also from the material culture the lack of

240 |

large pottery vessels being an example These types of contexts are also diffi-cult to identify and easily destroyed or disturbed by agricultural activities (see Carvalho et al 2013)Evidence of material culture and its dispersion along with the direct skeletal analysis of the human groups involved in the earlier development of food-producing economies suggest the very diversified nature of the process itself Looking specifically at data for the Middle (and Final) Neo-lithic published information (Fernaacutendez Domiacutenguez amp Arroyo-Pardo 2014) suggests an interesting scenario of groups composed of individuals from diffe- rent regions with a diversified pattern of provenance and mobility (Price 2014 Waterman amp alii 2013) or palaeodiet (Carvalho 2013 Carvalho amp Petchey 2013 Carvalho amp Rocha 2016 Guiry amp alii 2016)Palaeobotanical studies conducted in the Middle Tagus (synthesis in Ferreira 2017) show that pastoral and agricultural practices co-existed from the appea- ran-ce of the first food-producing economies even if oscillations in their respec-tive importance might have occurred throughout these initial phases In fact di-rect indicators of plant cultivation are generally lacking (but see Carvalho amp alii 2013 Loacutepez-Doacuteriga amp Simotildees 2015) while animal domesticates exist but their relative importance is still far from understood (synthesis in Valente amp Carval-ho 2014 Almeida 2017) and the impact of these activities on the landscape seems to have been negligible until the Final Neolithic Chalcolithic (Almeida amp alii 2014 Ferreira 2017) Besides that the mountainous hinterland areas such as the northern part of Maccedilatildeo region are not easily associated with cereal agriculture due to poor soils and rugged terrain being more suitable for a mobile economy based on pasto-ralism than settled arable farming (Scarre amp Oosterbeek 2010 Scarre amp alii 2011) The only relevant evidence comes from the Middle Neolithic faunal data but it is relatively scarce throughout all of the Lower Tagus basin and limited to sites located at higher altitudes Gruta do Cadaval (Almeida 2017) Costa do Pereiro (Carvalho 2008) and Abrigo da Pena drsquoAacutegua (Valente 1998 Correia amp alii 2015) all in the Limestone Massif It is interesting to note the predominance of Cervus elaphus or OvisCapra at these sites a faunal profile that matches the dominant zoomorphic representations in Tagus basin rock artUnfortunately the chronological geographical or even cultural applicability of this information to the inner areas where funerary megaliths punctuate the landscape is problematic at least and there are no preserved boneshellip

ACKNOWLEDGEMENTSThis research was undertaken in the context of the strategic project UID

| 241

| 2018

Multi000732013 of the Polytechnic Institute of Tomar Instituto Terra e Memoacuteria Geosciences Centre of the University of Coimbra funded by the Por-tuguese Foundation for Science and Technology (FCT) in Portugal under which Luiacutes Costa has a research scholarship It also benefitted from the relevant per-mits of the Portuguese Ministry of Culture for heritage implications Nelson J Almeida is a Postdoctoral research fellow of the Polytechnic Institute of Tomar within the Geosciences Centre of the University of Coimbra in the scope of the MTAS project (PTDCEPH-ARQ43562014) funded by FCT Portugal

BIBLIOGRAPHYALMEIDA NJ (2017) ndash Zooarqueologia e Tafonomia da Transiccedilatildeo para a Agro-Pastoriacutecia no Baixo e Meacutedio Vale do Tejo PhD Thesis Vila Real UTADALMEIDA NJ FERREIRA C ALLUEacute E BURJACHS F CRUZ AR OOSTERBEEK L ROSI-NA P SALADIEacute P (2014) ndash Acerca do impacte climaacutetico e antropozoogeacutenico nos iniacutecios da economia produtora o registo do Alto Ribatejo (Portugal Central Oeste Ibeacuterico) In ZOCCHE J CAMPOS JB ALMEIDA NJ RICKEN C orgs ndash Arqueofauna e Paisagem Erixim Ha-bilis Editora pp 63ndash86BOAVENTURA R (2009) ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa PhD thesis Lis-bon ULBOAVENTURA R (2011) ndash Chronology of megalithism in south-central Portugal In WHEAT-LEY DW SCARRE C GARCIacuteA SANJUAacuteN L eds - Exploring Time and Matter in Prehistoric Monuments Absolute Chronology and Rare Rocks in European Megaliths Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 1 pp159-190BOAVENTURA R MATALOTO R (2013) ndash Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da crono-logia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 16 pp 81-101BRONK RAMSEY C (2009) ndashBayesian analysis of radiocarbon dates Radiocarbon 51 1 pp 337-360BRONK RAMSEY C LEE S (2013) ndash Recent and planned developments of the program OxCal Radiocarbon 55 2-3 pp 720-730BUENO-RAMIacuteREZ P BARROSO BERMEJO R DE BALBIacuteN BEHRMANN R CARRERA RAMIacuteREZ F (2006) ndash Megalitos y Marcadores graacuteficos en el Tajo Internacional Santiago de Alcaacutentara (Caacuteceres) Santiago de Alcaacutentara Ayuntiamento Santiago de AlcaacutentaraBURBIDGE CI TRINDADE MJ CARDOSO GJO DIAS MI OOSTERBEEK L SCARRE C ROSINA P CRUZ A CURA S CURA P CARON L PRUDEcircNCIO MI GOUVEIA A FRANCO D MARQUES R GOMES H (2014) ndash Luminescence dating and associated analyses in transition landscapes of the Alto Ribatejo Central Portugal Quaternary Geo-chronology 20 pp 65-77 CARDOSO JL (2008) ndash The megalithic tombs of southern Beira interior Portugal recent contributions In BUENO RAMIacuteREZ P BARROSO BERMEJO R DE BALBIacuteN BEHRMANN R eds - Graphical Markers and Megalith Builders in the International Tagus Iberian Penin-sula Oxford Archaeopress pp 103-15CARDOSO JL CARVALHO AF (2008) ndash A Gruta do Lugar do Canto (Alcanede) e sua importacircncia no faseamento do Neoliacutetico no territoacuterio portuguecircs In CARDOSO JL ed ndash

242 |

Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao Homem ao Arqueoacutelogo e ao Professor Oeiras Cacircmara Municipal de Oeiras pp 269-300CARVALHO AF (2018) ndash A Neolitizaccedilatildeo do Portugal Meridional Os exemplos do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho e do Algarve occidental Promontoria Monograacutefica 12 Faro Univer-sidade do AlgarveCARVALHO AF (2013) ndash Anaacutelise de isoacutetopos estaacuteveis de quatro indiviacuteduos do Sepulcro 1 da necroacutepole de hipogeus da Sobreira de Cima (Vidigueira Beja) primeiros resultados pal-eodieteacuteticos para o Neoliacutetico do interior alentejano In VALERA AC ed ndash Sobreira de Cima Necroacutepole de hipogeus do Neoliacutetico (Vidigueira Beja) Era Monograacutefic 1 Lisboa Era-Arque-ologia SA pp 109-112CARVALHO AF (2014) ndash Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Promontoria Monograacutefica 17 Faro Universidade do AlgarveCARVALHO AF ANTUNES-FERREIRA N VALENTE M J (2003) ndashA gruta-necroacutepole neoliacuteti-ca do Algar do Barratildeo (Monsanto Alcanena) Revista Portuguesa de Arqueologia 6 1 pp 101ndash119CARVALHO AF GIBAJA JF CARDOSO JL (2013) ndash Insights into the earliest agriculture of Central Portugal sickle implements from the Early Neolithic site of Corticcediloacuteis (Santareacutem) Comptes Rendus Palevol 12 pp 31-43CARVALHO AF PETCHEY F (2013) ndashStable Isotope Evidence of Neolithic Palaeodiets in the Coastal Regions of Southern Portugal The Journal of Island and Coastal Archaeology 8 3 pp 361-383CARVALHO AF CARDOSO JL (201011) ndashA cronologia absoluta das ocupaccedilotildees fu-neraacuterias da gruta da Casa da Moura (Oacutebidos) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras 18 pp 393ndash405CARVALHO AF CARDOSO JL (2015) ndash Insights of the changing dynamics of cemetery use in the Neolithic and Chalcolithic of Southern Portugal Radiocarbon dating of Lugar do Canto Cave (Santareacutem) Spal 24 pp 35-53CARVALHO AF ROCHA L (2016) ndash Dataccedilatildeo directa e anaacutelise de paleodietas dos indiviacutedu-os da Anta de Cabeceira 3ordf (Mora Eacutevora) digitAR Revista Digital de Arqueologia Arquitec-tura e Artes 3CORREIA FR LUIacuteS S FERNANDES PV VALENTE MJ CARVALHO AF (2015) ndash Hunt-er-herders in the limestone massif of Estremadura Middle Neolithic fauna from Pena drsquoAacutegua rock-shelter (Torres Novas Portugal) Estudos do Quaternaacuterio 13 pp 23-31CRUZ AR (1997) ndash Vale do Nabatildeo do Neoliacutetico agrave Idade do Bronze Arkeos 3 Tomar CEI-PHARCRUZ AR (2011) ndash A Preacute-Histoacuteria Recente do Vale do Baixo Zecirczere Arkeos 30 Tomar CEIPHARDREWETT P OOSTERBEEK L CRUZ AR FELIX P (1992) ndash The excavation of a passage grave at Tomar Portugal Bulletin of the Institute of Archaeology 28 pp 133-147FERNAacuteNDEZ E ARROYO-PARDO E (2014) ndash Palaeogenetic study of the human remains in Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal In CAR-VALHO AF ed ndash Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Promontoria Monograacutefica 17 Faro Universidade do Algarve pp 133-142FERREIRA C (2017) ndash Dinacircmicas Ambientais e Humanas durante o Holoceacutenico no Vale do Tejo PhD thesis Vila Real UTADFIGUEIREDO A (2006) ndash Complexo Megaliacutetico de Rego da Murta Preacute-Histoacuteria recente do

| 243

| 2018

Alto Ribatejo (IV-IIordm mileacutenio aC) problemaacuteticas e interrogaccedilotildees PhD thesis Porto UPFIGUEIREDO A (2010) ndash Rituals and death cults in recent prehistory in Central Portugal (Alto Ribatejo) Documenta Praehistorica XXXVII pp 85-94GOMES MV (2008) O alinhamento da Vilarinha (Satildeo Bartolomeu de Messines Silves) Arquitetura e Arte Megaliacutetica Xelb vol 8 pp51-74GONCcedilALVES V S (2008) ndash A utilizaccedilatildeo preacute-histoacuterica da gruta de Porto Covo (Cascais) Tem-pos Antigos 1 Cascais Cacircmara Municipal de CascaisGUIRY E HILLIER M BOAVENTURA R SILVA AM OOSTERBEEK L TOME T VALERA A CARDOSO JL HEPBURN JC RICHARDS MP (2016) ndash The transition to agriculture in south-western Europe new isotopic insights from Portugalrsquos Atlantic coast Antiquity 90 351 pp 604-616HORTA PEREIRA MA (1970) ndash Monumentos Histoacutericos do Concelho de Maccedilatildeo Maccedilatildeo Cacircmara Municipal de MaccedilatildeoKALB P (1987) ndash Monumentos megaliacuteticos entre Tejo e Douro Inn CASTRO GD ed- El megalitismo en la peniacutensula ibeacuterica Madrid Ministerio de Cultura pp 95ndash109LEISNER V (1967) ndash Die verschiedenen phasen des neolithikums in Portugal Palaeohis-toria 12 pp 363-372LEISNER V (1998) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbin- sel Der Westen 4 Lieferung Berlin amp New York Walter de GruyterLEISNER G LEISNER V (1959) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der West-en Berlin Walter de Gruyter amp CoLEITAtildeO M NORTH CT NORTON J FERREIRA OV ZBYSZEWSKI G (1987) ndash A gruta preacute-histoacuterica do Lugar do Canto Valderde (Alcanede) O Arqueoacutelogo Portuguecircs Seacuterie IV 5 pp 37-66LOacutePEZ-DOacuteRIGA I SIMOtildeES T (2015) ndash Los cultivos del Neoliacutetico Antiguo de Sintra Lapiaacutes das Lameiras e Satildeo Pedro de Canaferrim resultados preliminares In GONCcedilALVES VS DINIZ M SOUSA AC eds ndash 5ordm Congresso do Neoliacutetico Peninsular Actas Estudos amp Memoacuterias 8 Lisboa UNIARQ pp 96-105LUBELL D JACKES M SCHWARCZ H KNYF M MEIKLEJOHN C (1994) ndash The Mesolith-ic-Neolithic transition in Portugal isotopic and dental evidence of diet Journal of Archaeo-logical Science 21 pp 201ndash216MATALOTO R BOAVENTURA R (2009) ndash Entre vivos e mortos nos IV e III mileacutenios ane do Sul de Portugal um balanccedilo relativo do povoamento com base em dataccedilotildees pelo radiocar-bono Revista Portuguesa de Arqueologia 12 2 pp 31-77NEVES C (2018) ndash O Neoliacutetico meacutedio no Ocidente Peninsular o siacutetio da Moita do Ourives (Benavente) no quadro do povoamento do 5ordm e 4ordm mileacutenio AC PhD thesis Lisbon ULOLIVEIRA J de (2000) ndash O megalitismo de xisto da Bacia do Sever (Montalvatildeo ndash Cedillo) In GONCcedilALVES V ed ndash Muitas Antas Pouca Gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisbon IPA pp 135-158OOSTERBEEK L (1993a) ndash Nossa Senhora das Lapas ndash excavation of Prehistoric cave burials in Central Portugal Papers of the Institute of Archaeology 4 pp 49-62OOSTERBEEK L (1993b) ndash Gruta dos Ossos ndash Tomar um ossuaacuterio do Neoliacutetico final Bole-tim Cultural 18 pp 10-28OOSTERBEEK L (1997) ndash Echoes from the East late Prehistory of the North Ribatejo Arke-os 2 Tomar CEIPHAROOSTERBEEK L (2000) ndash Continuidade e descontinuidade na preacute-histoacuteria - estatuto epis-

244 |

temoloacutegico da Arqueologia e da Preacute-Histoacuteria Trabalhos de Antropologia e Etnologia 40 pp 51-74OOSTERBEEK L (2003) ndash Megaliths in Portugal the western network revisited In Buren-hult G ed ndash Stones and Bones Formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the Mesolithic-Neolithic interface 6000-3000 BC BAR-International Series 1201 Oxford Archaeopress pp 27-37OOSTERBEEK L CRUZ AR FEacuteLIX P (1992) ndashAnta 1 de Val da Laje notiacutecia de 3 anos de escavaccedilatildeo 1989-91 Boletim Cultural 16 pp 31-49PRICE T D (2014) ndash Isotope proveniencing In CARVALHO AF ed ndashBom Santo Cave (Lis-bon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Promontoria Monograacutefica 17 Faro Universidade do Algarve pp 151-157REIMER PJ BARD R BAYLISS A BECK JW BLACKWELL PG BRONK RAMSEY C GROOTES PM GUILDERSON TP HAFLIDASON H HAJDAS I HATTEacute C HEATON TJ HOFFMANN DL HOGG AG HUGHEN K KAISER KF KROMER B MANNING SW NIU M REIMER RW RICHARDS DA SCOTT EM SOUTHON JR STAFF RA TURNEY CSM VAN DER PLICHT J (2013) ndash InCal13 and Marine 13 Radiocarbon Age Calibration Curves 0-50000 Years cal BP Radiocarbon 55 4 pp 1869-1887ROWLEY-CONWY P (1992) ndash The Early Neolithic bones from Gruta do Caldeiratildeo In ZILHAtildeO J ed- Gruta do Caldeiratildeo O Neoliacutetico antigo Lisboa Instituto Portuguecircs do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico pp 231-257SANTOS TA (2000) ndash O megalitismo da aacuterea da Barragem Marechal Carmona (concelho de Idanha-a-Nova) una anaacutelise especial In OLIVEIRA JORGE V ed ndash Neolitizaccedilatildeo e Megal-itismo da Peniacutensula Ibeacuterica Porto ADECAP pp 413-427SCARRE C OOSTERBEEK L (2010) ndash The megalithic tombs of the middle Tagus basin and agro-pastoral origins in Western Iberia In ARMBRUESTER T HEGEWISCH M ed ndash On Pre- and Earlier History of Iberia and Central Europe Studies in honour of Philine Kalb Studien Zur Archaologie Europas 11 Verlag Bonn pp 97-110SCARRE C OOSTERBEEK L FRENCH C (2011) ndash Tombs Landscapes and Settlement in the Tagus Hill-Country In BUENO RAMIREZ P CERRILLO CUENCA E GONZALEZ CORDE-RO A eds ndash From the Origins the Prehistory of the Inner Tagus Region BAR International Series 2219 Oxford Archaeopress pp 83-91SILVA CT SOARES J (2000) ndash Protomegalitismo no Sul de Portugal inauguraccedilatildeo das paisagens megaliacuteticas In GONCcedilALVES V ed ndash Muitas Antas Pouca Gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Trabalhos de Arqueologia 16 Lisboa IPA pp 117-134SILVA LOURO H de (1939) ndash Monografia de Cardigos Cucujatildeis Escola Tipica das MissotildeesTOMEacute T (2006) ndash Reflexos da Vida na Morte Paleobiologia das populaccedilotildees do Neoliacutetico FinalCalcoliacutetico do Vale do Nabatildeo ndash Gruta dos Ossos MsC thesis Vila Real UTAD TOMEacute T (2011) ndash Ateacute que a morte nos reuacutena transiccedilatildeo para o agro-pastoralismo na Bacia do Tejo e Sudoeste Peninsular PhD thesis Vila Real UTADTOMEacute T CUNHA C SILVA AM OOSTERBEEK L CRUZ A (2017) ndash Assessing spatial dispersion of human remains in collective burials A GIS approach to the burial-caves of the Nabatildeo Valley (North Ribatejo Portugal) In TOMEacute T DIacuteAZ-ZORITA BONILLA M SILVA AM CUNHA C BOAVENTURA R eds ndash Current approaches to collective burials in the Late European Prehistory Oxford Archaeopress pp 119-127VALENTE MJ (1998) ndash Anaacutelise preliminar da fauna mamaloacutegica do Abrigo da Pena drsquoAacutegua

| 245

| 2018

(Torres Novas) Campanhas de 1992-1994 Revista Portuguesa de Arqueologia 1 2 pp 85-96VALENTE MJ CARVALHO AF (2014) ndash Zooarchaeology in the Neolithic and Chalcolithic of Southern Portugal Environmental Archaeology 19 3 pp 226-240WATERMAN AJ FIGUEIREDO A THOMAS JT PEATE DW (2013) ndash Identifying migrants in the Late Neolithic burials of the Antas of Rego da Murta (Alvaiaacutezere Portugal) using Strontium Isotopes Antrope 0 pp 189-196ZILHAtildeO J (1992) Gruta do Caldeiratildeo O Neoliacutetico Antigo Trabalhos de Arqueologia 6 Lis-bon IPPAAZILHAtildeO J (2001) ndash Radiocarbon evidence for maritime pioneer colonization at the origins of farming in west Mediterranean Europe Proceedings of the National Academy of Scienc-es of the USA 98 pp 14180-14185ZILHAtildeO J (2008) ndash The Early Neolithic artifact assemblage from the Galeria da Cisterna (Al-monda karstic system Torres Novas Portugal) In De Meacutediterraneacutee et drsquoailleurs Meacutelanges offerts agrave Jean Guilaine Toulouse Archives drsquoEacutecologie Preacutehistorique pp 821-835ZILHAO J CARVALHO AF (2011) ndash Galeria da Cisterna (Rede Caacuterstica da Nascente do Almonda) In BERNABEU AUBAacuteN J ROJO GUERRA MA BALAGUER LM eds ndashLas Pri-meras Producciones Ceraacutemicas El VI Milenio cal AC en la Peniacutensula Ibeacuterica Sagvntvm Papeles del Laboratorio de Arqueologiacutea de Valencia Extra 12 pp 251-254

246 |

| 247

| 2018

Abrigo da Buraca da Moira contributos para o conhecimento da ocupaccedilatildeo humana do Neoliacutetico finalCalcoliacutetico na regiatildeo de Leiria Portugal

Abrigo da Buraca da Moira contribution for the understanding of the human occupation during the Final NeolithicChalcolithic in Leiria region Portugal

RESUMOA localizaccedilatildeo geograacutefica e o enquadramento ambiental iacutempares da regiatildeo de Leiria teratildeo desde tempos imemoriais contribuiacute-do para a fixaccedilatildeo de grupos humanos De facto vaacuterias satildeo as evi- decircncias arqueoloacutegicas que atestam a presenccedila humana na regiatildeo desde o Paleoliacutetico Inferior Contudo e para o Neoliacutetico Final e Calcoliacutetico poucos

Telmo Pereira ICArHEB - Interdisciplinary Centre for Archaeology and Evolution of Human Behaviour Universidade do Algarve Portugal telmojrpereiragmailcom

Sandra Assis CRIA - Centro em Rede de Investigaccedilatildeo em Antropologia Universidade Nova de Lisboa Portugal CIAS ndash Centro de Investigaccedilatildeo em Antropologia e Sauacutede Universidade de Coimbra Portugal sandraassis78gmailcom

Patriacutecia Monteiro ICArHEB - Interdisciplinary Centre for Archaeology and Evolution of Human Behaviour Universidade do Algarve Portugal patriciaadmonteirogmailcom

Eduardo Paixatildeo TraCEr - Laboratory for Traceology and Controlled Experiments MON-REPOS ndash Archaeological Research Centre and Museum for Human Behavioural Evolution RGZM GERMANY ICArHEB - Interdisciplinary Centre for Archaeology and Evolution of Human Behaviour Universidade do Algarve Portugal paixaorgzmde

Sofia Baacuterbara Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Departamento de Ciecircncias da Vida Universidade de Coimbra Portugal sofiabarbara_95outlookpt

David Nora ICArHEB - Interdisciplinary Centre for Archaeology and Evolution of Human Behaviour Universidade do Algarve Portugal davidacnoragmailcom

Vacircnia Carvalho Museu de Leiria Cacircmara Municipal de Leiria Portugal vcarvalhocm-leiriapt

Trenton Holliday Tulane University New Orleans Estados Unidos da Ameacuterica thollidtulaneedu

248 |

satildeo os dados disponiacuteveis para a bacia hidrograacutefica do Rio Lis A presente comunicaccedilatildeo visa apresentar dados referentes agrave intervenccedilatildeo arqueo- loacutegica realizada entre os anos de 2015 e 2017 no complexo caacutersico do Abrigo da Buraca da Moira localizado no vale dos Murtoacuterios (Boa Vis-ta Leiria) A escavaccedilatildeo arqueoloacutegica decorreu no acircmbito do projeto de investigaccedilatildeo EcoPLis ndash Ocupaccedilatildeo Humana Plistoceacutenica nos Ecoacutetonos do Rio Lis e permitiu identificar numerosos vestiacutegios esqueleacuteticos hu-manos desarticulados designadamente dentes fragmentos de maxila e mandiacutebula e ossos das extremidades (pe falanges) perfazendo ateacute ao momento um total de 990 fragmentos oacutesseos eou peccedilas dentaacuterias pertencentes a cerca de oito indiviacuteduos adultos e natildeo-adultos A recupe- raccedilatildeo de artefactos em quartzo e siacutelex de uma placa de xisto e de adornos em osso e concha associados a estes vestiacutegios esqueleacuteticos humanos sugerem uma ocupaccedilatildeo do Holoceacutenico Meacutedio Pretende-se com esta comunicaccedilatildeo apresentar os dados preliminares referentes ao estudo do espoacutelio osteoloacutegico humano e do acervo material recolhido assim como discutir a funcionalidade e significado da cavidade caacutersica que parece apontar para um espaccedilo funeraacuterio consentacircneo com outros contextos funeraacuterios do NeoliacuteticoCalcoliacutetico da Peniacutensula IbeacutericaPALAVRA-CHAVE Contextos funeraacuterios Grutas Preacute-histoacuteria Recente Leiria Portugal

ABSTRACTThe unique geographic location and environmental setting of the Leiria re-gion have contributed since time immemorial to the establishment of human groups In fact there is a plethora of archaeological evidence that attests to a human presence in the region since the Lower Paleolithic However for the Late Neolithic and Chalcolithic few archaeological data are available for the River Lis basin The current paper presents data concerning the archaeolo- gical excavation carried out between 2015 and 2017 in the Abrigo da Bu-raca da Moira karst complex a cave located in Vale dos Murtoacuterios (Boa Vista Leiria) The archaeological excavation was carried out as part of the research pro-ject called EcoPLis - Pleistocene Human Occupation in the Ecotones of the River Lis and allowed the identification of numerous disjointed skele- tal human remains namely teeth fragments of maxilla and mandible and bones of the extremities (eg phalanges) To date a total of 990 bone frag-ments and or dental pieces belonging to about twelve adult and nona- dult individuals has been recovered The recovery of quartzite quartz and flint artifacts a schist plaque and bone and shell adornments suggests a

| 249

| 2018

Middle Holocene occupation In this communication we present the preliminary data regarding the study of the human osteological spe- cimens and the collected material collection as well as discuss the functionality and meaning of the karst cave which seems to point to a fu-nerary space in line with other funerary contexts of the Neolithic Calco-lithic of the Iberian PeninsulaKEY WORDS Funerary contexts Caves Early Prehistory Leiria Portugal

1 INTRODUCcedilAtildeO11 Localizaccedilatildeo e historialO Abrigo da Buraca da Moira (Leiria) eacute de facto uma gruta localizada a 26 km da atual costa ocidental de Portugal continental na margem esquerda da Ribeira dos Murtoacuterios (Figura 1) uma ribeira que se desenvolve sobre calcaacuterios cretaacuteci-cos do Turoniano formando margens estreitas com paredes rochosas abruptas e um curso bem encaixadoA identificaccedilatildeo do siacutetio tem contornos sinuosos Desde logo e estranhamente natildeo surge referido nem cartografado na Carta Geoloacutegica de Portugal publica-da em 1968 (Teixeira et al 1968) apesar de o ser uma outra gruta esta sem vestiacutegios arqueoloacutegicos localizada a cerca de 200 m Assim a sua primeira referecircncia surge no Plano Nacional de Trabalhos Arqueoloacutegicos (PNTA) A Preacute-histoacuteria do Maciccedilo Calcaacuterio das Serras de Aire e Candeeiros e Bacias de Drena-gem Adjacentes (Cunha-Ribeiro 2003) onde eacute identificado como gruta sem que aiacute se tenham desenvolvido quaisquer trabalhos Mais tarde em 2005 e no acircmbito dos trabalhos de acompanhamento da remodelaccedilatildeo do saneamento in-

Figura 1 Localizaccedilatildeo do Abrigo da Buraca da Moira

250 |

termunicipal o siacutetio foi relocalizado mas referido como abrigo (Carvalho et al 2005 Carvalho amp Pajuelo 2005a Carvalho amp Carvalho 2007 Carvalho 2011) Em ambos os casos natildeo se reportaram vestiacutegios Em 2012 no acircmbito do PNTA FirstHumanEco - Ecodinacircmicas das primeiras ocupaccedilotildees no Oeste Peninsular o local eacute apresentado a Telmo Pereira pela equipa do Gabinete de Arqueologia da Cacircmara Municipal de Leiria a fim de ser reavaliado tendo em vista uma potencial intervenccedilatildeo Esses trabalhos acabam por ocorrer trecircs anos mais tarde jaacute no acircmbito do projeto EcoPLis ndash Ocupaccedilatildeo Humana Plistoceacutenica nos Ecoacutetonos do Rio Lis estando atualmente em plena fase de escavaccedilatildeoEm 2015 o afloramento rochoso onde o siacutetio se localiza encontrava-se de tal forma coberto por silvas que era praticamente impossiacutevel penetrar ou observar a entrada Foi exactamente esse manto de vegetaccedilatildeo (associado aos constran- gimentos que determinavam o estrito seguimento do troccedilo de afectaccedilatildeo da obra) que impediu uma detalhada observaccedilatildeo do local durante os trabalhos de 200512 Caracteriacutesticas gerais do siacutetioApoacutes a limpeza de vegetaccedilatildeo que obstruiacutea o acesso ao afloramento foi pos-siacutevel visualizar com uma parede calcaacuteria parcialmente cortada por uma pe-dreira de idade desconhecida onde no extremo norte se desenvolve uma pequena entrada de gruta abobadada com 4 m de largura por 15 m de altu-ra Do contorno exterior Norte da base desta aboacuteboda arranca um teto baixo entre 30 e 50 cm do chatildeo que se desenvolve ao longo de cerca de 30 m e que lhe daacute entatildeo aspeto de abrigoAgrave superfiacutecie os pacotes sedimentares nestas duas aacutereas eram tambeacutem con-sideravelmente distintos Assim se por um lado na zona exterior onde o tecto quase tocava no chatildeo o sedimento siltoso beije se encontra extremamente carbonatado com abundante cascalho resultante da erosatildeo do tecto e sem vestiacutegios visiacuteveis agrave superfiacutecie na zona mais interior da sala o sedimento era mais acinzentado solto visivelmente perturbado por tocas com vestiacutegios ar-queoloacutegicos e osteoloacutegicos humanos dispersosNa prospeccedilatildeo realizada nas imediaccedilotildees foi possiacutevel detetar outros abrigos com vestiacutegios arqueoloacutegicos e antropoloacutegicos bem como um conjunto de ga-lerias sobrejacentes agrave gruta e que deveratildeo ter ligaccedilatildeo entre si Outras galerias imediatamente a Norte poderatildeo ter ligaccedilatildeo ou natildeo

2 MEacuteTODOS E MATERIAISA fim de caracterizar o depoacutesito foram abertas duas aacutereas Uma na zona ex-terior com 2m2 na aacuterea que tinha dado o aspeto de abrigo e outra na zona interior com 6m2 jaacute dentro da cavidade A metodologia de escavaccedilatildeo jaacute de- talhadamente descrita em Nora et al (2017) pelo que nos abstemos de a

| 251

| 2018

repetir mas no geral a escavaccedilatildeo obedeceu agraves Unidades Estratigraacuteficas definidas por qualquer variaccedilatildeo no sedimento com coordenaccedilatildeo tridimen-sional de todos os achados visiacuteveis crivagem de sedimentos a aacutegua nos de-poacutesitos perturbados e recolha da totalidade do sedimento para flutuaccedilatildeo nos depoacutesitos preservados

3 RESULTADOS31 Caracteriacutesticas gerais dos depoacutesitosNa aacuterea exterior foi registado um pacote sedimentar com uma espessura en-tre 1 e 14 m siltoso fortemente carbonatado e muito perturbado por raiacutezes e tocas (Figura 2A e 2B) O facto de esta aacuterea ter sido um covil de texugos re-sultou na recuperaccedilatildeo de milhares de restos osteoloacutegicos de microfauna e de lagomorfos bem como de um cracircnio de texugo desarticulado do restante es-queleto Foi tambeacutem identificado um esqueleto de catildeo em conexatildeo anatoacutemi-ca e muito mais bem preservado que a restante fauna sugerindo um enterra-mento recente Poreacutem a forte perturbaccedilatildeo associada agrave intensa precipitaccedilatildeo

Figura 2 Aspecto geral da estratigrafia A e B sondagem I-J20 aberta no exterior e esca- vada ateacute ao afloramento rochoso C e D sondagem P-Q24-26 aberta no interior e actual-mente em escavaccedilatildeo onde eacute possiacutevel ver a grande afectaccedilatildeo por tocas sobre o sedimento arqueoloacutegico original

252 |

calcaacuteria obliterou as marcas do contorno da bolsa aberta para o enterramento deste catildeo Na aacuterea interior foi registado ateacute ao momento um pacote sedimentar com uma espessura de 1 m o qual se divide em dois grandes blocos um de topo castanho-acinzentado muito orgacircnico siltoso carbonatado e muito per-turbado por tocas e raiacutezes sendo que muitas tocas se intersectam umas agraves outras atestando a utilizaccedilatildeo deste espaccedilo tambeacutem como covil de texugo mas tambeacutem de outros animais natildeo carniacutevoros jaacute que algumas delas continham acumulaccedilotildees de bolotas e de outros restos vegetais nalguns casos ainda fres-cos Subjacente encontra-se um pacote sedimentar bege tambeacutem ele silto-so carbonatado e perturbado por tocas mas com muito menor componente orgacircnica mais homogeacuteneo compacto e cujo topo estaacute manchado por cinza e pontilhado por pequenos carvotildees (Figura 2C e 2D) No topo e nos centiacutemetros superiores deste pacote bege verificam-se fragmentos do manto estalagmiacuteti-co que se encontra ainda parcialmente presente na gruta Infelizmente esta camada encontra-se profusamente atravessada por tocas mas poderaacute corres-

Figura 3 a) Placa de xisto natildeo decorada b e c) Littorina obtusata perfuradas d) Crassostrea angulata perfurada e) Conta em osso f) Fragmento de peccedila em osso decorada g) Conta em pedra h) Pendente em pedra i) Ponta de seta j) Truncatura obliacutequa sobre lacircmina k) Fragmento de lacircmina

| 253

| 2018

ponder jaacute ao depoacutesito original da Preacute-histoacuteria RecentePara aleacutem da perturbaccedilatildeo natural a zona interior apresenta tambeacutem uma forte perturbaccedilatildeo antroacutepica desde logo pela presenccedila de fragmentos de vasos resineiros tijolos pregos arames uma bota e um casaco tendo alguns destes elementos sido recuperados a meio metro de profundidade 32 O espoacutelio arqueoloacutegicoDe um modo geral e descartando os vestiacutegios de eacutepoca recente as duas aacutereas satildeo dominadas por espoacutelio atribuiacutevel a um contexto de necroacutepole do Neoliacutetico Final ou Calcoliacutetico da Estremadura portuguesa (Figura 3) Existe poreacutem um conjunto de vestiacutegios tiacutepicos do Paleoliacutetico Superior (com destaque para uma Ponta crenada e uma Ponta de Vale Comprido) que se registaram na zona interior juntamente com outro liacuteticos que embora natildeo sendo diagnoacutesticos do Paleoliacutetico Superior tambeacutem natildeo constituem materiais tiacutepicos de oferenda em contexto de necroacutepole Estatildeo entre estes lascas natildeo corticais e parcialmente corticais em quartzito quartzo e siacutelex peccedilas de adelgaccedilamento bifacial e outro material de manutenccedilatildeo fragmentos de talhe e lamelas irregulares Algumas peccedilas desta natureza foram tambeacutem registadas embora em menor quanti-dade na sondagem aberta no exteriorParece assim ser razoaacutevel afirmar que da perturbaccedilatildeo causada principal-mente pelas tocas resultou numa dupla mistura de materiais uma vertical que teraacute trazido aos deciacutemetros superiores materiais plistoceacutenicos pro- venientes de estratos subjacentes e outra horizontal em que essas mes-mas tocas teratildeo dispersado e revolvido os vestiacutegios holoceacutenicos se natildeo em toda a aacuterea da gruta pelo menos em grande parte destaAssim sendo o pacote de vestiacutegios que para jaacute se considera como cons- tituinte e caracterizador do contexto funeraacuterio assenta em dois pilares os restos osteoloacutegicos humanos e um conjunto de artefactos seriados por ana-logia com outros contextos coevos da regiatildeo Ou seja no que concerne agrave atribuiccedilatildeo do espoacutelio cultural os nossos resultados preliminares padecem de pensamento circular aceitando-se os tiacutepicos e rejeitando-se os atiacutepi-cos tais como as lascas e lamelas irregulares e fragmentos de talhe Um melhor esclarecimento desta situaccedilatildeo poderaacute eventualmente vir a ser pos-siacutevel quando a escavaccedilatildeo se encontrar mais avanccedilada e os conjuntos es-tudados em detalhe No entanto haacute que ter em conta que o elevado grau de perturbaccedilatildeo do contexto poderaacute inviabilizar em grande medida esse es-clarecimentoDito isto o conjunto artefactual que parece compor o contexto funeraacuterio eacute- Uma quantidade muito reduzida de ceracircmica preacute-histoacuterica sendo apenas dois fragmentos identificaacuteveis e com dimensotildees consideraacuteveis um fragmen-

254 |

Figura 4 Fragmento direito de uma mandiacutebula sem conexatildeo anatoacutemica (adulto) in situ Sa liente-se a presenccedila de uma raiz que se desenvolveu entre os dentes molares B e C Detalhe do fragmento direito de mandiacutebula com os trecircs dentes molares in situ D Pormenor do des-gaste dentaacuterio observado nos molares (superfiacutecie oclusal) mais evidente no 1ordm e 2ordm molar

Figura 5 Exemplo do tipo de vestiacutegios esqueleacuteticos humanos recolhidos no ABM A Fragmentos de reduzidas dimensotildees de natureza indeterminada B Fragmento de mandiacutebula com trecircs dentes in situ (canino e preacute-molares direitos adulto) C Fragmento de mandiacutebula com o canino esquerdo in situ natildeo erupcionado (natildeo-adulto) D Fragmento de cracircnio (indeterminado) E 2ordm molar defi- nitivo inferior esquerdo F Fragmento de corpo de omoplata esquerda (natildeo-adulto) G Fragmento de veacutertebra lombar (arco neural adulto) H Fragmento de costela direita (adulto) I 4ordm metacar-po direito (adulto) J Falange proximal da matildeo (adulto) K Falange intermeacutedia da matildeo (adulto) L Talus ou astraacutegalo direito (adulto) M Fragmento de osso longo (membro inferior adulto) N 1ordm metatarso direito (adulto) O 2ordm metatarso direito (adulto) P Falange proximal do peacute (adulto)

| 255

| 2018

to de bordo de vaso liso e com parede relativamente fina e um fragmento de bordo de taccedila carenada ambos recolhidos na sala- Pequenos fragmentos dispersos de placa de xisto natildeo decorados recolhi-dos na escavaccedilatildeo da sala- Uma placa de xisto natildeo decorada quebrada in situ recolhida na base da sondagem aberta no exterior- Fragmentos de lacircmina com arestas e nervuras simeacutetricas e regulares reco- lhidos nas duas aacutereas- Uma ponta de seta triangular duas truncaturas obliacutequas sobre lacircmina com arestas e nervuras simeacutetricas e regulares - Duas contas em rocha e uma conta em osso tambeacutem recolhidas na esca- vaccedilatildeo dentro da gruta - Trecircs fragmentos de osso decorado por traccedilos retiliacuteneos sub-paralelos

Material que poderaacute compor tambeacutem o conjunto funeraacuterio- Uma valva de Crassostrea angulata perfurada- Trecircs Littorina obtusata perfuradas

No entanto estes casos principalmente os casos das Littorina obtusata per-furadas devem ser tidos com grandes reservas dado que tais vestiacutegios satildeo tambeacutem abundantes no Paleoliacutetico Superior nomeadamente na sepultura gravetense do Abrigo do Lagar Velho)33 O espoacutelio osteoloacutegico humanoEmbora ainda por datar e carecendo de anaacutelises de isoacutetopos ou de ADN o espoacutelio osteoloacutegico humano recuperado no Abrigo da Buraca da Moira parece natildeo oferecer duacutevidas relativamente agrave sua cronologia da Preacute-histoacuteria Recente Os dados que se seguem satildeo uma suacutemula preliminar de trecircs anos de intervenccedilatildeo cujos detalhes podem ser consultados nos relatoacuterios de pro-gresso de Assis (2016 2017 2018)A intervenccedilatildeo arqueoloacutegica revelou a presenccedila de vestiacutegios esqueleacuteticos humanos desarticulados e fragmentados (Figura 4) Uma inventariaccedilatildeo preliminar do espoacutelio recuperado permitiu a identificaccedilatildeo de cerca de 990 fragmentos oacutesseos eou peccedilas dentaacuterias (Figura 5) Do conjunto referido (n=990) 346 pertencem a indiviacuteduos adultos (35) e 45 a indiviacuteduos natildeo-adultos (4) Esta subdivisatildeo (adulto versus natildeo-adulto) considerou os timings de desenvolvimento dentaacuterio e oacutesseo (por exemplo calcificaccedilatildeo e erupccedilatildeo dentaacuterias e fusatildeo epifiseal) de acordo com as recomendaccedilotildees de Buikstra e Ubelaker (1994) e Schaefer et al (2009) Para os restantes ele-mentos do esqueleto (n=599 61) natildeo foi possiacutevel aferir se pertenciam a

256 |

Figura 6 Distribuiccedilatildeo dos vestiacutegios esqueleacuteticos humanos recuperados (adultos versus natildeo-adultos e indeterminados)

Figura 7 1ordm Metacarpo de um indiviacuteduo adulto exibindo uma excelente preservaccedilatildeo B Pars basilares de um indiviacuteduo natildeo-adulto (neonato) razoavelmente preservado C Iacutesquio esquerdo de um natildeo-adulto (feto) razoavelmente preservado

| 257

| 2018

indiviacuteduos adultos ou a indiviacuteduos natildeo-adultos (Figura 6 e 7) Este subcon-junto eacute essencialmente composto por elementos oacutesseosdentaacuterios de redu- zidas dimensotildees e inclui fragmentos indeterminados de osso longotubu-lar (432) fragmentos de ossos cranianos (127) do esqueleto axial e da cintura peacutelvica (6) das extremidades - matildeo e peacute (17) e fragmentos oacutesseos indistintos (364) Para o subconjunto formado pelos fragmentos esqueleacuteticos de indiviacuteduos adultos e natildeo-adultos (n=391) verificou-se uma maior frequecircncia de dentes definitivos soltos (263 103391) sendo este valor secundado por falanges da matildeo (133 52391) Quando conside- rado o subconjunto dos indiviacuteduos adultos sobressaiu a elevada frequecircn-cia de dentes definitivos recuperados (n=96) logo seguido por falanges da matildeo (n=48) Para o subconjunto dos natildeo-adultos foi identificado uma maior frequecircncia de dentes deciduais (n=11) De um modo geral os ossos do cracirc-nio do esqueleto axial (costelas e veacutertebras) da cintura escapular e peacutelvica assim como os ossos longos dos membros superiores (MS) e inferiores (MI) foram os menos representados (Tabela 1)A anaacutelise da lateralidade apenas foi possiacutevel para 160 fragmentos oacutesseos peccedilas dentaacuterias de adulto (n=85 lado direito n=75 lado esquerdo) Dos fragmentos oacutesseos de natildeo-adulto recuperados apenas 22 permitiram a anaacutelise da lateralidade (n=10 lado direito n=12 lado esquerdo) Em termos de preservaccedilatildeo os fragmentos oacutesseos de adulto oscilaram entre o excelente (861 n=161) e o escassamente (919 n=113) preservado

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo dos fragmentos oacutesseos recuperados por graus de preservaccedilatildeo (adultos versus natildeo-adultos)

258 |

Igual constataccedilatildeo foi aferida para os elementos oacutesseosdentaacuterios perten-centes a indiviacuteduos natildeo-adultos (Figura 8) Em termos gerais os elementos do esqueleto que exibiram uma melhor preservaccedilatildeo foram os dentes e as falanges Por exemplo 88 dentes definitivos e 44 falanges de indiviacuteduos adultos exibiram uma preservaccedilatildeo elevada (grau 1 gt75 preservaccedilatildeo) No domiacutenio das alteraccedilotildees tafonoacutemicas de textura refira-se a presenccedila de erosatildeo e escamaccedilatildeo de superfiacutecie assim como a presenccedila de alteraccedilotildees se-cundaacuterias ao contacto com raiacutezes (erosatildeo dendriacutetica de superfiacutecie Figura 9)A estimativa do nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos (NMI) baseou-se na contabi-lizaccedilatildeo dos elementos oacutesseos mais representados por lateralidade e na anaacutelise do grau de desenvolvimento das peccedilas oacutesseas eou dentaacuterias se-guindo as recomendaccedilotildees de Herrmann et al (1990) Tendo por base este pressuposto verificou-se que os fragmentos oacutesseos recolhidos poderatildeo per-tencer a pelo menos 12 indiviacuteduos seis adultos (estimativa feita a partir de alguns dentes isolados) e seis natildeo-adultos estes uacuteltimos incluem um feto quatro infantesjuvenis (3-12 anos de idade-agrave-morte) e um possiacutevel adoles-cente (gt 12 anos de idade-agrave-morte) No subconjunto de fragmentos oacutesseos de adulto natildeo foi observado nenhum indicador passiacutevel de estimar a idade-agrave-morte Jaacute a recuperaccedilatildeo de trecircs astraacutegalos (ou talus) esquerdos com um comprimento maacuteximo que oscilou entre os 56mm e os 59mm sugere a pos-siacutevel presenccedila de pelo menos trecircs indiviacuteduos do sexo masculino Contudo

Figura 9 Fragmentos de osso occipital (adulto) Saliente-se a presenccedila de erosatildeo na superfiacutecie provavelmente causada por contacto com raiacutezes

| 259

| 2018

a natildeo recuperaccedilatildeo dos restantes elementos do esqueleto designadamente do cracircnio e do coxal ndash mais discriminantes (Mays e Cox 2000 Chamberlain 2006) impede uma diagnose sexual mais fiaacutevel A anaacutelise meacutetrica supra-mencionada considerou a proposta metodoloacutegica de Wasterlain (2000) Em termos das alteraccedilotildees de cariz paleopatoloacutegico apenas a salientar a presenccedila de desgaste dentaacuterio mais conspiacutecuo na denticcedilatildeo posterior mas igualmente presente em dentes definitivos e deciduais (ver Figura 4) o que poderaacute estar associado por exemplo a uma dieta rica em alimentos fibrosos e mais rijos (Roberts amp Manchester 2005) Refira-se ainda a presenccedila de uma lesatildeo compatiacutevel com uma fratura no processo coronoacuteide de uma ulna direita (Assis et al 2016 e 2018) Exceptuando o caso da lesatildeo traumaacutetica que foi analisado com mais detalhe todos os dados aqui apresentados satildeo preliminares requerendo uma anaacutelise mais aprofundada e minuciosa

4 INTERPRETACcedilAtildeO (com base nos dados de 2015 a 2017)O microtopoacutenimo ldquoMoirardquo que se regista num pequeno troccedilo de escassos 500 metros da Ribeira dos Murtoacuterios onde o siacutetio se encontra deveraacute decorrer da identificaccedilatildeo dos restos humanos preacute-histoacutericos durante a extraccedilatildeo de pedra que expocircs a gruta No entanto e curiosamente natildeo eacute esta cavidade que apa-rece cartografada na carta geoloacutegica mas outra sob a designaccedilatildeo ldquoBuraca da Moirardquo localizada a cerca de 200 metros mas na qual natildeo existem quais-quer vestiacutegios arqueoloacutegicos Parece ser assim possiacutevel afirmar que natildeo foi a memoacuteria da ldquocousa antigardquo que se perdeu com o tempo mas antes a sua localizaccedilatildeo exata o que permite extrapolar a hipoacutetese de existir um espaccedilo de tempo significativo entre a identificaccedilatildeo da necroacutepole durante os trabalhos da pedreira e a visita da equipa dos Serviccedilos Geoloacutegicos no acircmbito da elaboraccedilatildeo da Carta Geoloacutegica de PortugalNo que diz respeito ao depoacutesito sedimentar este encontra-se truncado faltan-do-lhe o primeiro metro de espessura de topo Esta afirmaccedilatildeo eacute segura e en-contra-se sustentada na presenccedila de um manto estalagmiacutetico com cerca de 15 cm de espessura actualmente suspenso cuja base ondulada denuncia a morfologia original do depoacutesito sedimentar que selou apoacutes esta por motivos desconhecidos e provavelmente nunca alcanccedilaacuteveis se fechou Fenoacutemenos anaacutelogos na Estremadura portuguesa com idades coevas do Uacuteltimo Maacuteximo Glaciar e selando sequecircncias estratigraacuteficas moustierenses satildeo conhecidos por exemplo na Gruta da Oliveira (Hoffman et al 2013) e na Gruta Nova da Columbeira (Carvalho et al submetido) tambeacutem na Gruta da Furninha (embo-ra aqui com cronologia desconhecida) mas neste caso a selar os niacuteveis de Pa-leoliacutetico Superior e Paleoliacutetico Meacutedio (Delgado 1884) A profusatildeo de fragmen-

260 |

tos deste manto na base do depoacutesito rico em restos osteoloacutegicos humanos sugere que o mesmo teraacute sido rompido pelas populaccedilotildees da Preacute-histoacuteria Re-cente que decidiram utilizar a cavidade como contexto funeraacuterio Assim por exerciacutecio loacutegico se deduz que teratildeo sido essas pessoas durante esse mesmo processo que teratildeo esvaziado parte do sedimento a fim de ganhar espaccedilo para colocarem os seus mortos Assim sendo natildeo eacute para jaacute claro se os ma-teriais do Paleoliacutetico Superior identificados provecircm de niacuteveis subjacentes ou se se tratam de restos que sobejaram do processo de esvaziamento do siacutetio A clarificaccedilatildeo desta questatildeo fica pendente da continuaccedilatildeo dos trabalhos a desenvolver durante a campanha de 2018 e seguintes Jaacute no que concerne agrave interpretaccedilatildeo do contexto parece tambeacutem ser cada vez mais claro que a totalidade do depoacutesito interior e do depoacutesito hoje exterior (que tambeacutem deveria ser interior antes dos trabalhos da pedreira) correspondem a um contexto funeraacuterio da Preacute-histoacuteria Recente o qual a avaliar pela cultura material deveraacute corresponder muito provavelmente ao Neoliacutetico Final eou ao Calcoliacutetico As caracteriacutesticas do espoacutelio osteoloacutegico humano parecem sugerir que se tratou de um espaccedilo de inumaccedilatildeo primaacuteria para esqueletizaccedilatildeo tendo os elementos de maiores dimensotildees sido depois transferidos para outro local ficando para traacutes os dentes e outros elementos oacutesseos fragmentados eou de reduzidas dimensotildees pertencentes por exemplo agraves articulaccedilotildees laacutebeis bem como elementos de decoraccedilatildeo pessoal incompletos e pouco numero-sos anaacutelogos de outros contextos estremenhos e ibeacutericos (eg Zilhatildeo 1992 Gibaja et al 2012 Carvalho 2014 Andrade 2015) A presenccedila de cinza e de um consistente pontilhado de pequenos carvotildees na base do depoacutesito rico em restos osteoloacutegicos humanos sugerem a possibilidade de ter havido uma acccedilatildeo de higienizaccedilatildeo (ritual ou natildeo) antes da gruta ter sido utilizada como espaccedilo fuacutenebre podendo representar assim o interface com niacuteveis selados pelo manto estalagmiacutetico mais antigos possivelmente plistoceacutenicos

BIBLIOGRAFIAANDRADE Marco (2015) ndash Contributo para a definiccedilatildeo das praacuteticas funeraacuterias neoliacuteticas e calcoliacuteticas no Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho 2 As placas votivas da ldquonecroacutepole megaliacuteticardquo das Lapas (Torres Novas) e o hipogeiacutesmo na Alta Estremadura Nova Augusta 27 294-322ASSIS Sandra (2016) - Relatoacuterio Antropoloacutegico de campo Projeto EcoPLis Ocupaccedilatildeo Hu-mana Plistoceacutenica nos Ecoacutetonos do Rio Lis Abrigo e Galerias da Buraca da Moira Abril de 2016 ASSIS Sandra (2017) - Relatoacuterio Antropoloacutegico de campo (2ordf Campanha ndash Ano 2016) Abri-go da Buraca da Moira Projeto EcoPLis Ocupaccedilatildeo Humana Plistoceacutenica nos Ecoacutetonos do Rio Lis Fevereiro de 2017 ASSIS Sandra (2018) - Relatoacuterio Antropoloacutegico de campo (3ordf Campanha ndash Ano 2017) Abri-

| 261

| 2018

go da Buraca da Moira Projeto EcoPLis Ocupaccedilatildeo Humana Plistoceacutenica nos Ecoacutetonos do Rio Lis Maio de 2018ASSIS Sandra BRANCO Rute CARVALHO Vacircnia DIAS Rita DUARTE Carlos EacuteVORA Ma-rina FARIAS Anne HOLLIDAY Trenton MARREIROS Joatildeo MATIAS Roxane MONTEIRO Patriacutecia NORA David PAIXAtildeO Eduardo PEREIRA Telmo (2016) ndash Uma Possiacutevel Fratura de Avulsatildeo num Fragmento de Ulna Recuperado no Complexo Caacutersico com Ocupaccedilatildeo Preacute-Histoacuterica do Siacutetio da Buraca da Moira (Boa Vista Leiria) V Jornadas Portuguesas de Paleopatologia Coimbra Portugal 25-26 Novembro ASSIS Sandra BRANCO Rute CARVALHO Vacircnia DIAS Rita DUARTE Carlos EacuteVORA Ma-rina FARIAS Anne HOLLIDAY Trenton MARREIROS Joatildeo MATIAS Roxane MONTEIRO Patriacutecia NORA David PAIXAtildeO Eduardo PEREIRA Telmo (2018) An unusual coronoid fracture in a fragment of ulna recovered from the Prehistoric site of Buraca da Moira Rock Shelter (Boa Vista Leiria) Antropologia Portuguesa BUIKSTRA Jane UBELAKER Douglas (1994) - Standards for data collection from human skeletal remains Proceedings of a Seminar at the Field Museum of Natural History Fayette-ville Arkansas Archaeological Survey Research Series 44CARVALHO Antoacutenio Faustino (2007) ndash Algar do Bom Santo a research project on the Neo-lithic populations of Portuguese Estremadura (6th-4th millennia BC) Promontoria 5 185-198CARVALHO Antoacutenio Faustino (2014) ndash Bom Santo cave (Lisbon) And The Middle Neolithic So-cieties Of Southern Portugal Promontoacuteria Monograacutefica 17 Faculdade de Ciecircncias Humanas e Sociais da Universidade do Algarve Faro 256 p CARVALHO Susana CARVALHO Vacircnia (2007) ndash Relatoacuterio de progresso da Carta Arque-oloacutegica de Leiria (2004-2007) Cacircmara Municipal de Leiria Leiria CARVALHO Vacircnia (2011) ndash O Abrigo do Lagar Velho e o Paleoliacutetico Superior em Leiria Portu-gal anaacutelise dos dados arqueoloacutegicos no actual contexto da evoluccedilatildeo humana Tese de disser-taccedilatildeo de Mestrado Universidade De Coimbra CARVALHO Vacircnia GOMES Rosa PAJUELO Ana (2005) ndash Acompanhamento arqueoloacutegico dos trabalhos de escavaccedilatildeo das empreitadas de execuccedilatildeo das infra-estruturas da 2ordf fase do Sistema Multimunicipal de saneamento do Lis Relatoacuterio Final de Trabalhos Arqueoloacutegi-cos OcrimiraCARVALHO Vacircnia PAJUELO Ana (2005a) ndash Novas realidades no campo da investigaccedilatildeo arqueoloacutegica ndash minimizaccedilatildeo de impactos e arqueologia preventiva projecto Simlis 2002 a 2005 In Carvalho Susana (coord) Habitantes e Habitats - Preacute e Proto-Histoacuteria na Bacia do Lis Cacircmara Municipal de Leiria Leiria 135-156CHAMBERLAIN Andrew (2006) - Demography in Archaeology Cambridge Cambridge Uni-versity Press CUNHA-RIBEIRO Joatildeo Pedro (2003) ndash Vale do Lis ndash prospecccedilotildees realizadas em 2001 e 2002 ndash projeto Maciccedilo Relatoacuterio do PNTA98 ndash A Preacute-Histoacuteria do Maciccedilo Calcaacuterio das Ser-ras d`Aire e Candeeiros e bacias de drenagem adjacentes Processo do IPA nordm 981 (744) [Natildeo publicado]DELGADO Joaquim Filipe Nery (1884) ndash La Grotte de Furninha a Peniche In Congregraves In-ternational drsquoAnthropologie et drsquoArcheacuteologie Preacutehistoriques Compte-rendu de La Neuviegraveme Session agrave Lisbonne (1880) 207ndash279 Lisbonne Acadeacutemie Royale des SciencesGIBAJA Juan CARVALHO Antoacutenio Faustino CHAMBON Philippe (2012) ndash Funerary prac-tices in the Iberian Peninsula from the Mesolithic to the Chalcolithic British Archaeological

262 |

Reports Vol 2417 pp 123HERRMANN Bernd GRUPE Gisela HUMMEL Susanne PIEPENBRINK Hermann SCHUT-KOWSKI Holger (1990) - Praehistorische Anthropologie Berlin Springer Verlag HOFFMANN Dirk L ALISTAIR WG Pike KARINE Wainer JOAtildeO Zilhatildeo (2013) New U-Series Results for the Speleogenesis and the Palaeolithic Archaeology of the Almonda Karstic Sys-tem (Torres Novas Portugal) Quaternary International 294 168ndash82MARTINS Alfredo (1949) ndash Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho Contribuiccedilatildeo para um estudo e Geografia fiacutesica Coimbra Universidade de CoimbraMAYS Simon Cox Margaret (2000) - Sex determination in skeletal remains In Cox Mar-garet Mays Simon (eds) Human Osteology In Archaeology and Forensic Science London Greewich Medical Media Ltd 117ndash130ROBERTS Charlotte MANCHESTER Keith (2005) - The archaeology of disease Gloucester-shire Sutton PublishingSCHAEFER Maureen BLACK Sue SCHEUER Louise (2009) - Juvenile osteology a labora-tory and field manual Amsterdam ElsevierTEIXEIRA Carlos ZBYSZEWSKI George ASSUNCcedilAtildeO C T MANUPPELLA G (1968) ndash Carta Geoloacutegica de Portugal na escala 150000 Notiacutecia explicativa da folha 23-C Leiria Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de PortugalTELES Virgiacutenia (1992) ndash Erosatildeo fluvial em aacutereas caacutersicas Os vales do Lapedo da Que-brada e da Fonte Nova (Bordadura setentrional do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho) Tese de Mestrado Universidade de CoimbraWASTERLAIN Rosa Sofia (2000) - Morpheacute anaacutelise das proporccedilotildees entre os membros dimorfismo sexual e estatura de uma amostra da colecccedilatildeo de esqueletos identificados do Museu de Antropologia da Universidade de Coimbra Dissertaccedilatildeo de mestrado em Evoluccedilatildeo Humana Departamento de Antropologia Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade de CoimbraZILHAtildeO Joatildeo (1992) ndash Gruta do Caldeiratildeo O Neoliacutetico Antigo Trabalhos de Arqueologia nordm6 (J Zilhatildeo Ed) (p 326) Lisboa IPPARZILHAtildeO Joatildeo (1997) ndash O Paleoliacutetico Superior da Estremadura portuguesa (2 volumes) Ediccedilotildees Colibri Lisboa

| 263

| 2018

ESTUDO DO ESPOacuteLIO ARQUEOLOacuteGICO DA ANTA DA CASA DA MOURA (SOURE PORTUGAL)

STUDY OF THE ARCHAEOLOGICAL COLLECTION OF ANTA CASADA MOURA (SOURE PORTUGAL)

Leonor Rocha Universidade EacutevoraECS CEAACPlrochauevorapt

Gertrudes BrancoCHAIAUEacute gertrudesbrancogmailcom

Antoacutenio Monteiroajoaomonteirogmailcom

Fernando Silva

RESUMOA Anta da Casa da Moura identificada no iniacutecio dos anos 90 do seacute-culo passado eacute um dos escassos monumentos megaliacuteticos reg-istados no concelho de Soure No decurso da 1ordf deacutecada do seacutec XXI foram realizadas trecircs curtas campanhas de escavaccedilatildeo arqueoloacutegica Estas apesar de natildeo terem permitido concluir a escavaccedilatildeo da totalidade do monumento possibilitaram a recolha de um signifi- cativo e importante espoacutelio arqueoloacutegico e antropoloacutegico que contribui de forma significativa para o conhecimento das praacuteticas funeraacuterias desta regiatildeoApresenta-se neste Poster os resultados dos estudos realizados sobre o conjunto artefactual recolhidoPALAVRAS-CHAVE Casa da Moura Espoacutelios Megalitismo funeraacuterio Soure

ABSTRACT The Anta da Casa da Moura identified in the early 90rsquos of last century is one of the few megalithic monuments registered in the region of Soure Three short campaigns of archaeological excavation were carried out during the 1st decade of the 21st century Although they were not able to coplete the excavation of the whole monument they enabled the recovery of a significant and important archaeological and anthropological collection that contributed significantly to the knowledge of the funerary practices of this region

264 |

This poster presents the results of the studies carried out on the archaeological materials KEY WORDS Casa da Moura Megalithism Soure archaeological materials

1 A ANTA DA CASA DA MOURA ESPACcedilO GEOGRAacuteFICO E ARQUEOLOacuteGICO11 Espaccedilo fisiograacuteficoO Maciccedilo do Sicoacute destaca-se na paisagem envolvente pelo seu relevo que correspondem a calcaacuterios do Juraacutessico meacutedio Trata-se de uma aacuterea que apresenta alguma diversidade geoloacutegica encontrando-se este maciccedilo ldquobor-dejado a Norte e a Este pelos arenitos (Greacutes de Silves) do Triaacutesico que es-tabelecem a transiccedilatildeo para os contrafortes do Maciccedilo Antigo a Oestepelos greacutes e argilas do Cretaacutecico e do Cenozoico e a Sul por um complexo materi-ais que de Este para Oeste corre toda a sequecircncia mesozoacuteica dos Greacutes de Silves aos greacutes Cretaacutecicos e Terciaacuteriosrdquo (Silva 2011 27) Esta diversidade reflete-se naturalmente em diferentes capacidades de retenccedilatildeo de aacutegua no tipo de vegetaccedilatildeo (desde as mais antigas e nativas como os carvalhos azinheiras sobreiros os maquis ou matos bravos as orquiacutedeas mediter-racircneas as ervas aromaacuteticas) na capacidade dos solos na riqueza da sua fauna selvagem (javali veado coelho) e na atratividade para a fixaccedilatildeo de povoamento desde os periacuteodos mais remotos (Silva 2011)No Dicionaacuterio Geograacutefico de Portugal para as antigas freguesias de Degra-

Figura 1 Localizaccedilatildeo da Anta da Casa da Moura na bacia do rio Mondego

| 265

| 2018

cias e de Pombalinho refere-se somente que os frutos da terra satildeo ldquoparcosrdquo sendo apenas o trigo o milho a cevada e a fava Eacute neste ambiente de fronteiras e assimetrias fiacutesicas e paisagiacutesticas entre um vale feacutertil e as serras aacuteridas na bacia hidrograacutefica do rio Mondego que se localiza a Anta da Casa da Moura Como se percebe pela anaacutelise da fi- gura 1 o monumento encontra-se estranhamente isolado quer em termos de povoamento neocalcoliacutetico quer pela ausecircncia de outros monumentos funeraacuterios Este aparente vazio deve resultar apenas de uma escassez de investigaccedilatildeo sobre este periacuteodo no concelho de Soure12 Histoacuteria do siacutetioO estudo que agora se apresenta resulta de trabalhos realizados entre 2001 e 2003 (Figura 2) coordenados por Fernando Silva e Antoacutenio Monteiro O prematuro falecimento do primeiro investigador acabou por conduzir a duas situaccedilotildees natildeo previstas i) a natildeo continuidade dos trabalhos neste monu-mento ii) a ausecircncia de um estudo e publicaccedilatildeo dos resultados obtidosPassados 15 anos e atendendo agrave riqueza do espoacutelio recuperado que inte- gra um conjunto significativo de restos osteoloacutegicos - jaacute estudados e apre-sentados noutro congresso da especialidade (Calado et al no prelo) ndash con-siderou-se importante publicar os dados existentes apesar de existirem

Figura 2 Quadrados intervencionados na Anta da Casa da Moura

266 |

Graacutefico 1 Espoacutelio preacute-histoacuterico recolhido entre 2001-2003

Graacutefico 2 Mateacuterias-primas presentes na Anta da Casa da Moura

| 267

| 2018

Graacutefico 3 Percentagem de ceracircmica por modo de produccedilatildeo

algumas limitaccedilotildees relacionadas com as plantas e os cadernos de campo que acabaram por se perder (Silva et al 2017)Com o estudo dos espoacutelios recolhidos terminamos a investigaccedilatildeo sobre os trabalhos realizados nestas primeiras campanhas esperando que num fu-turo natildeo muito longiacutenquo se possa vir a concluir a escavaccedilatildeo deste monu-mento atendendo agrave sua importacircncia para o conhecimento do megalitismo regional e nacional

2 CULTURA MATERIALApesar de se cingirem a uma aacuterea relativamente restrita (14m2 natildeo inte-gralmente escavados) o conjunto artefactual recolhido nas trecircs campanhas realizadas na anta da Casa da Moura (Graacutefico 1) evidenciam uma grande variedade e riqueza nos depoacutesitos votivos realizados sobretudo a niacutevel da pedra lascada e dos objetos de adorno Em termos cronoloacutegicos este con-junto corresponde a diferentes usos reusos eou violaccedilotildees do monumento ateacute pelo menos agrave Idade ModernaAo observamos o conjunto de mateacuterias-primas recolhidos nestas trecircs campanhas (Graacutefico 2) destacam-se dois grupos o das ceracircmicas e o das rochas siliciosas Na realidade como veremos no ponto 21 o grande grupo das ceracircmicas eacute o que evidencia e testemunha as vaacuterias fases de uso e reutilizaccedilotildees que este monumento vivenciou Os restan-

268 |

tes tipos satildeo importantes para na ausecircncia de dataccedilotildees de C14 se poder estabelecer alguma proximidade cronoloacutegica e sobretudo per-ceber algumas dinacircmicas de trocas deste grupo que poderatildeo estar evi- denciadas em algumas das mateacuterias-primas presentes como a pedra verde o xisto e o anfibolito21 CeracircmicaO conjunto artefactual constituiacutedo pelas ceracircmicas pode ser um bom in-dicador cronoloacutegico nos casos em que se encontra bem representado e em bom estado de conservaccedilatildeo o que infelizmente natildeo eacute o caso da Anta da Casa da MouraForam recolhidos neste monumento um total de 252 fragmentos sendo que apenas 91 exemplares satildeo claramente de fabrico manual preacute-histoacuteri-co Para aleacutem destes estatildeo representados fragmentos de ceracircmica de diferentes tipologias e funcionalidades que em termos cronoloacutegicos nos parecem englobar um amplo quadro cronoloacutegico que vai do periacuteodo ro-mano ateacute pelo menos a eacutepoca moderna De realccedilar a significativa pre-senccedila de materiais de clara filiaccedilatildeo romana com pastas finas alaranja-das mas tambeacutem pastas cinzentas correspondem a cerca de 285 do conjunto ceracircmico recolhidoDada a escassez da amostra e estado de conservaccedilatildeofragmentaccedilatildeo desta coleccedilatildeo optou-se por se realizar uma classificaccedilatildeo geneacuterica mas que de um modo geral seguisse criteacuterios anteriormente estabelecidos por outros investigadores (Gonccedilalves 1989) de modo a facilitar futuros estudos comparativos com outros conjuntos artefactuaisO conjunto de ceracircmicas preacute-histoacutericas eacute constituiacutedo maioritariamente por fragmentos de bojo de pequenas dimensotildees sem qualquer tipo de decoraccedilatildeo Dos 19 bordos existentes 10 satildeo preacute-histoacutericosA compreensatildeo e reparticcedilatildeo dos exemplares recolhidos dos diferentes periacuteodos cronoloacutegicos por Quadrado e Unidade Estratigraacutefica natildeo for-nece dados especiacuteficos uma vez que as ceracircmicas de roda estatildeo pre-sentes em todos os quadrados e unidades estratigraacuteficas em que se identificaram ceracircmicas manuaisEm relaccedilatildeo agraves pastas natildeo nos foi ainda possiacutevel realizar uma anaacutelise petrograacutefica mas a observaccedilatildeo superficial realizada com lupa binocular permitiu-nos concluir que em termos de homogeneidade as pastas satildeo compactas apesar de por vezes se poderem apresentar uma superfiacutecie porosa Os elementos natildeo plaacutesticos variam entre o gratildeo fino a meacutedio e satildeo maioritariamente constituiacutedos por quartzos feldspatos e micasAs argilas utilizadas satildeo todas bastante similares o que sugere a uti-

| 269

| 2018

Graacutefico 4 Percentagem de ceracircmica por tipo

lizaccedilatildeo de um mesmo barreiro eventualmente numa aacuterea relativamente proacutexima uma vez que natildeo apresentam diferenccedilas significativas com a terra da aacuterea envolvente As superfiacutecies apresentam-se regularizadas provavelmente atraveacutes da teacutecnica de alisamento tanto a niacutevel externo como interno em termos gerais o processo de cozedura mais utilizado foi o redutor (46) seguido do oxidante (24) e do redutor com arrefecimento oxidante (20)Em relaccedilatildeo agraves tipologias dos recipientes existentes como se referiu ante-riormente o nuacutemero de bordos conjugado com a sua (por vezes) reduzi-da dimensatildeo natildeo nos permite por ora realizar uma reconstituiccedilatildeo deste conjunto No entanto algumas leituras satildeo possiacuteveis como a inexistecircncia de bordos espessados e natildeo existirem indiacutecios de grandes recipientes22 Pedra LascadaEm termos de mateacuterias-primas encontramos presentes as rochas sili-ciosas (de diferentes tonalidades) quartzos quartzo hialino xisto pedra verde e calcaacuterios representando as rochas siliciosas 73 do conjunto (Graacutefico 6) De acordo com T Aubry existem no Maciccedilo calcaacuterio de Sicoacute-Al-viaacutezere e na Formaccedilatildeo de Degracias ldquohorizontes mais ou menos densos de noacutedulos de siacutelexrdquo (Aubry et al 2014174) encontrando-se a sua ex-ploraccedilatildeo e utilizaccedilatildeo documentada desde o Paleoliacutetico meacutedio

270 |

Graacutefico 6 Percentagem de ceracircmica por tipo

Graacutefico 7 Tipos de artefactos de pedra lascada recolhidos

| 271

| 2018

Do total de 87 registos de pedra lascada (Graacutefico 7) 47 correspon-dem a restos e subprodutos de talhe assim como lascas indicadores da existecircncia de preparaccedilatildeo (talhe) no local Acresce ainda a existecircncia ain-da que residual de nuacutecleos (2)No conjunto de instrumentos de pedra lascada recolhido temos a pre-senccedila em maior nuacutemero de lamelas (13) lacircminas (12) pontas de seta (10) e o grupo dos geomeacutetricos que no total atingem tambeacutem uma deze-na (Est I II e IV) Valores tatildeo similares em conjuntos que poderatildeo ter dife- rentes valecircncias cronoloacutegicas deixa mais interrogaccedilotildees que certezas so-bre este monumentoOs produtos siliciosos foram utilizados na produccedilatildeo de pontas de seta produtos alongados (lacircminas) alguns dos quais foram posteriormente transformados noutro tipo de utensiacutelios nomeadamente geomeacutetricosA escassez de coacutertex na pedra lascada natildeo eacute compatiacutevel com a leitura ante- rior ou seja a debitagem ter sido realizada no localA niacutevel da secccedilatildeo em termos gerais predominam as secccedilotildees triangulares nas lamelas e as trapezoidais nos geomeacutetricos e nas lacircminas23 Pedra PolidaNo que concerne agrave pedra polida os exemplares recolhidos foram bastan-te escassos apenas dois Com base nos criteacuterios descritivos (funcionais)

Est I Est II

272 |

Est III

| 273

| 2018

utilizados para este tipo de materiais (Cooney e Mandal 1998 Le Roux 1999) trata-se apenas de machados apesar de apresentarem secccedilotildees completamente distintas (Est III) O mais robusto de rocha anfiboacutelica apresenta uma fratura longitudinal e o gume completamente desgastado pelo uso tal como o talatildeo que apre-senta evidentes sinais de percussatildeo O corpo encontra-se integralmente polido Tem um comprimento total de 95mm largura de 34mm e espes-sura de 52 mm secccedilatildeo quadrangularO segundo exemplar de rocha meta-sedimentar apresenta-se integral-mente polido (apenas com algumas irregularidades da proacutepria rocha) com gume simeacutetrico intacto Tem um comprimento total de 106mm lar-gura de 41mm e espessura de 23 mm secccedilatildeo ovalada alongada24 AdornoNo capiacutetulo do adorno consideraram-se as contas de colar (16) lago-morfo (1) e alfinete da cabeccedila (1) (Est III) Em termos de mateacuterias-pri-mas estes elementos foram realizados em calcaacuterio (3 contas de colar) pedra verde (2 contas de colar e 1 lagomorfo) xisto (10 contas de colar e 1 alfinete de cabeccedila) e pasta viacutetrea (a conta de colar)Excetuando a conta de colar em pasta viacutetrea que nos remete para con-textos da Idade do Ferro ou romanos os restantes elementos de adorno podem ser todos resultado de uma mesma utilizaccedilatildeo funeraacuteria dentro da preacute-histoacuteria recente25 MetaisO conjunto de objetos em metal recolhido nesta intervenccedilatildeo eacute escasso (7 peccedilas) e quase todo incaracteriacutestico Para aleacutem de uma pequena meda- lha em cobre com uma imagem de um lado e letras no anverso os restan-tes elementos satildeo em ferro e apenas dois nos parecem corresponder a restos de um espigatildeo e de uma lacircmina de objeto cortante Dos restantes 3 satildeo escoacuterias e o outro corresponde a ferro muito corrosionadoIndependentemente do seu estado todos os elementos desta catego-ria correspondem (e atestam) momentos de reutilizaccedilatildeo eou violaccedilotildees deste monumento em eacutepocas posteriores agrave da sua utilizaccedilatildeo original26 Outras categoriasDentro desta categoria considerou-se um conjunto de elementos que pela sua tipologia tamanho estado de conservaccedilatildeo natildeo nos foi possiacutevel colocar numa das anteriores Eacute o caso de um pequeno seixo esferoidal um fragmento de concha um fragmento de uma peccedila que nos parece corresponder eventualmente a uma cabeccedila de um iacutedolo em pedra cal-caacuteria Trata-se assim de um conjunto diversificado de elementos que em

274 |

termos cronoloacutegicos poderatildeo corresponder a diferentes momentos de utilizaccedilatildeo deste espaccedilo

3 ANTA DA CASA DA MOURA PROPOSTA DE DATACcedilAtildeO(OtildeES)Apesar dos condicionalismos inerentes a esta escavaccedilatildeo a sua principal relevacircncia consiste na sequecircncia de dados e informaccedilotildees que este siacutetio nos fornece sobre as praacuteticas funeraacuterias eventuais redes de trocas e principalmente a possibilidade de virmos a obter dataccedilotildees absolutasQuando analisamos a distribuiccedilatildeo dos materiais recolhidos por tipoquadrado verificamos que natildeo existe nestas primeiras campanhas ne- nhum dado que sobressaiaO conjunto de artefactos de adorno em pedra verde satildeo sem duacutevida mui-to interessantes pois permitem-nos perceber a singularidade deste siacutetio no contexto dos monumentos funeraacuterios neo-calcoliacuteticos existentes em Portu-gal (apesar de existirem milhares resumem-se a umas escassas dezenas os que tecircm este tipo de objetos) e das redes de trocas existentes a niacutevel peninsular De facto a variscite que te vindo a ser estudada nos uacuteltimos anos por um conjunto de investigadores eacute rara e apesar da sua presenccedila em afloramentos estar documentada em cinco locais na P Ibeacuterica apenas

Figura 3 Tipo de espoacutelio recolhido por quadrado

| 275

| 2018

PRANCHA IV

em dois deles (Can Tintorer e Pico Centeno em Espanha) existem evidecircncias da sua exploraccedilatildeo na Preacute-histoacuteria (Odriozola et al 2013)Em termos gerais o espoacutelio recolhido indica-nos a existecircncia de pelo menos 3 periacuteodos de utilizaccedilatildeo deste espaccedilo1) Neo-calcoliacutetico representada pela induacutestria de pedra lascada pedra po- lida objetos de adorno (excetuando a conta em pasta viacutetrea) e a ceracircmica manual

276 |

2) Periacuteodo romano representado pela ceracircmica fina e de pastas claras a con-ta de pasta viacutetrea e provavelmente os objetos em ferro3) Periacuteodo indeterminado (modernocontemporacircneo) representado por al-gumas ceracircmicas mais grosseiras fragmentos de telha e medalha de cobreComo se depreende pela leitura do enunciado anteriormente na ausecircncia de dataccedilotildees de C14 ficamos com duacutevidas sobre o conjunto osteoloacutegico recu-perado podendo corresponder a apenas ao primeiro momento de ocupaccedilatildeo do monumento ou aos dois (neo-calcoliacutetico e romano) A anaacutelise dos dentes que normalmente podem fornecer mais dados por sofrerem diretamente des-gastes ou accedilotildees corrosivas provocadas pela alimentaccedilatildeo parecem remeter este conjunto para o seu periacuteodo de ocupaccedilatildeo original Mas como se referiu apenas a realizaccedilatildeo de dataccedilotildees de C14 poderaacute vir a esclarecer esta prob-lemaacutetica de forma cabal

BIBLIOGRAFIADicionaacuterio Geograacutefico de Portugal 17221832 (1758) ndash Degracias Rabaccedilal Vol 13 PTTTMPRQ29210 [em linha httpdigitarqarquivosptdetailsid=4239869 ] Dicionaacuterio Geograacutefico de Portugal 17221832 (1758) ndash Pombalinho Coimbra Vol 29 PTTTMPRQ29210 [em linha httpdigitarqarquivosptdetailsid=4241258] AUBRY T LLACH J M MATIAS H (2014) ndash Mateacuterias - primas das ferramentas em pedra lascada da Preacute-histoacuteria do Centro e Nordeste de Portugal PA Dinis A Gomes S Mon-teiro-Rodrigues (Eds) Proveniecircncias de Materiais Geoloacutegicos Associaccedilatildeo Portuguesa para o Estudo do Quaternaacuterio 165-192CALADO T ANSELMO D ROCHA L LOacutePEZ COSTAS O SILVA F MONTEIRO A BRANCO G (no prelo) - O conjunto osteoloacutegico da Anta da Casa da Moura (Soure Portugal) XIV Con-greso Nacional e Internacional de Paleopatologia Alicante (Espanha)COONEY G amp MANDAL S (1998) - The irish stone axe project Monograph 1 Wicklow Wordwell Ltd 229ppGONCcedilALVES V S (1989) ndash Megalitismo e Metalurgia no Alto Algarve Oriental uma aproxi-maccedilatildeo integrada Lisboa INICUNIARQ (2 volumes)LE ROUX C-T (1999) - Lrsquooutillage de pierre polie enmeacuteta-doleacuterite du type A Les ateliers de Plussulien (CocirctesdrsquoArmor) Production et diffusion au Neacuteolithique dans la France de lrsquoouest et au-delagrave Travaux du Laboratoire ldquoAnthropologie Preacutehistoire et Quaternaire Armoricains 43 UMR 6566 Universiteacute de Rennes IODRIOZOLA C SOUSA AC BOAVENTURA R VILLALOBOS R (2013) - Componen-tes de adornos de pedra verde de Vila Nova de Satildeo Pedro (Azambuja) estudo de proveniecircncias e redes de troca no 3ordm mileacutenio ane no actual territoacuterio portuguecircs Arqueologia em Portugal 150 anos Lisboa AAP p 457-462SILVA C (2011) ndash SICOacute a dimensatildeo cultural das paisagens Um estudo de Turismo nas suas vertentes Cultural e Natureza Coimbra Universidade de Coimbra Tese de doutoramento policopiadaSILVA F MONTEIRO A BRANCO G ROCHA L (2017) - Anta da Casa da Moura um monumento megaliacutetico no Maciccedilo calcaacuterio de Sicoacute Arqueologia em Portugal 2017 ndash Estado da Questatildeo Lisboa AAP p 521-530

| 277

| 2018

Parasitic frequentation or cultural continuity The re-use of megalithic monuments in the Ancient Middle Bronze Age of the Mondegorsquos Platform

Parasitagem ou continuidade cultural A reutilizaccedilatildeo de monumentos megaliacuteticos no Bronze Antigo Meacutedio da Plataforma do Mondego

ABSTRACTReuse of the big dolmens with long and well developed corridors during the First Bronze Age (Early Middle Bronze Age ndash EBAMBA) has been for some time a well known situation in different areas of Por-tugal namely in the Mondegorsquos Platform Regionally this type of mo- numents were usually built in the Late Neolithic and their first use seems to terminate with that periodrsquos end exceptionally reaching the regio- nal Chalcolithic in a few known cases the corridorrsquos entrance was then ritually closedIf the fact of the reuse of big dolmens in the EBAMBA is well known and generally accepted the reasons behind this fact remain otherwise very much open to discussion Is the phenomenon a simple reuse of a fune- rary space whose functional memory has been preserved or are there behind it other reasons associated with the transformations and socio-cultural changes of the transition tothe Bronze AgeThese and other questions that are raised by such re-uses are then discussed taking into account recent progresses in our knowledge of the transitional processes between the Chalcolithic and the EBA in IberiaKEY WORDS EarlyMiddle Bronze Age Mondegorsquos Platform Megalithism Mentalities

RESUMOA reutilizaccedilatildeo dos grandes dolmens com corredores longos e bem desenvolvi-dos durante a Primeira Idade do Bronze (Bronze AntigoMeacutedio ndash EBA MBA) eacute desde algum tempo uma situaccedilatildeo bem conhecida em diferentes aacutereas de Portugal nomeadamente na Plataforma do Mondego Regionalmente esse

Joatildeo Carlos de Senna-Martinez 1

1 Centre for Archaeology (Uniarq) University of Lisbon 1600-214 Lisboa smartinezflulpt

278 |

tipo de monumentos era habitualmente construiacutedo no Neoliacutetico Final e seu primeiro uso parece acabar com o teacutermino desse periacuteodo chegando excepcio-nalmente ao Calcoliacutetico regional em alguns casos conhecidos a entrada do corredor era entatildeo ritualmente fechadaSe o facto da reutilizaccedilatildeo de grandes dolmens na EBA MBA eacute bem conhecido e geralmente aceite as razotildees por traacutes desse facto perma- necem abertas agrave discussatildeo Consiste o fenoacutemeno numa simples reutilizaccedilatildeo de um espaccedilo funeraacuterio cuja memoacuteria funcional foi preservada ou haacute por detraacutes outras razotildees associadas agraves transformaccedilotildees e mudanccedilas soacutecio-culturais da transiccedilatildeo para a Idade do BronzeEssas e outras questotildees que satildeo levantadas por tais reutilizaccedilotildees satildeo entatildeo dis-cutidas levando-se em conta os recentes avanccedilos do nosso conhecimento dos processos de transiccedilatildeo entre o Calcoliacutetico e a Idade do Bronze na Peniacutensula IbeacutericaPALAVRAS-CHAVE Bronze AntigoMeacutedio Plataforma do Mondego Megali^- tismo Mentalidades

INTRODUCTIONBetween c 24002300 and 1250 BC the development of the first Bronze Age (EarlyMiddle Bronze Age ndash EBAMBA) will bring to Western Iberia along with important continuities some archeographical ruptures which seem to indicate the growing of some social complexities (Senna-Marti-nez and Luis 2016)Particularly in Beira Alta food economies ndash with a developed and stable transhumant pasture component (with in order of importance sheepgoat and cattle ndash cf Cardoso Senna-Martinez and Valera 1995 1998)also incorporating plant gathering components (acorns) and agriculture seeming to have a minor rule ndash really represent the permanence of mark-edly seasonal rhythms of activity with few productivity gains regarding previous historical moments (Senna-Martinez 2000)In the realm of the dead and in addition to the systematic reuse of the great megalithic monuments built in the Final Neolithic ndash reuse which is by itself indicative of some cultural conservatism ndash the first individual funeral constructions arise with burial in cist or pit under tumulus (Cruz 2001)In the funerary offerings the first metallic objects to emerge regionally and some particular forms of pottery - from which bell-beakers are a first expression - hint at some differentiation in social statutes (Senna-Marti-nez and Luis 2016)Coming back to the reuse (or what V Oliveira Jorge called ldquoparasitic fre-quentation2rdquo - JORGE et al 1997) of almost all of the large megalithic

| 279

| 2018

monuments with developed corridor of Beira Alta in the EBAMBA let us explore how this notion accompanying the regional EBAMBA definition and characterization comes into being(1) Vera Leisner first mentioned the idea in an article in which a propos of a pottery vessel found in a Traacutes-os-Montes Dolmen (Leisner 1958) she develops a series of considerations on the related artefacts found in similar situations in the Portuguese Beiras and Northwest Later in the publication of the megalithic necropolis of Carapito (Leisner and Ribeiro 1968) she establishes from the excavation of monument 3 the strati-graphic and temporal differentiation of a set of equivalent materials in relation to a lower level corresponding to a first (Middle Neolithic) use of the monument(2) Already in the seventies of the twentieth century Konrad Spindler and O da Veiga Ferreira formalized the designation Carapito Keramik (Spind- ler and Ferreira 1974 56 and Abb 9) giving it an equivalent meaning to the concept of the Southwest Bronze created by Schubart (1975)(3) In 1984 we produced a first synthesis of all the materials that in the megalithic monuments of Beira Alta we thought meant an EBAMBA re-use of them (Senna-Martinez 1984)(4) Our subsequent excavations of the megalithic monuments of Outeiro do Rato and Fiais da Telha produced contexts that pointed to the reuse of the respective frontal areas with a similar chronology (Senna-Martinez 1989)(5) However it was the excavation (between 1987 and 1989) of ldquoCham-ber 20rdquo of Buraco da Moura de Satildeo Romatildeo (BMSR-203ndash Senna-Martinez 1993b Valera Senna-Martinez and Estevinha 1989) that allowed the first identification in Beira-Alta of an EBAMBA habitat soil attributable to this cultural stage Such identification was all the more important since the soil was clearly stratified between units attributable to the Chalcoli- thic bellow and the Late Bronze Age (LBA) above(6) Finally the study by Antonio Valera of the sites of Linhares (Santa Comba Datildeo ndash Valera 1994a 1994b) Malhada (MALHADA) and Fraga da Pena (FPENA ndash in Fornos de Algodres ndash VALERA 1995 1997 1999) complemented this panorama with new habitat contexts that seem to cover the transition III II millennia cal AC (c2300-1900 cal AC) and date in FPENA case and thus began to prove the long held idea about an EBA dating of most of Central Portugal Bell-beakers (Senna-Martinez 1982 1994 Senna-Martinez and Amaro 1987)Nowadays the Bell-beaker complex earlier disputable beginnings not-2 A concept we personally tend to dislike as it implies an a priori negative view of such reuse that over-simplifies this cultural phenomenon 3After a first mention of a site like this wersquoll be using the acronym

280 |

withstanding (Cardoso 2014 Jeunesse 2015) is currently accepted as representing a package of ldquoStatus Symbolsrdquo appropriated by a few indi-viduals and that in the Iberian area appears between the second half of the third millennium BC and the first quarter of the second (Guerra Doce and Lettow-Vorbeck 2016 Guerra Doce and Lettow-Vorbeck Eds 2016) thus encompassing the Late Chalcolithic and the EBA So we think that in its later phase ndash comprising the PalmelaGeomet-ric and Late Ciempozuelos Groups (Silva and Soares 197677) ndash the bell-beaker phenomenon is an integral part of the process of the genesis of the peninsular cultural groups of the EBA In some cases and at least in the initial stages it constitutes an important part of their respective material culture (Like in the Spanish Meseta Norte) while in others it will function as an intrusive element (even when copied and adapted region-ally) continuing to represent as in the initial moments of the phenome-non for other areas the addition of ritualprestige elements to areas of material culture particularly poor in this elements like Beira Alta (Sen-na-Martinez 2002)

THE UPPER AND MIDDLE MONDEGO BASIN IN THE CONTEXT OF BEI-RA ALTA THE GEOGRAPHICAL AND GEOLOGICAL SETTINGThe Mondego River basin upstream from the Penacova gorges (Fig1) constitutes a transition zone in several and different ways It has been both culturally and geographically ldquothe place where the Atlantic Portugal gives way to Mediterranean Portugalrdquo (Ribeiro 1986152) Its southern limits are the Portuguese central highlands the Serras of Lousatilde Accedilor and Estrela The Serra da Estrela has very good spring and summer pas-tures whose use seems to extend as far back as the Neolithic (Knaap and Van Leeuwen 1994) The western and northwestern boundary the Maciccedilo Marginal separates the middle Mondego basin from the coastal lowlands By going around the Serra do Caramulo the middle Mondego basin opens up to the Vouga and Paiva riversrsquo upper basins whose val-leys constitute two natural passages The first one of these is controlled by the Castro da Senhora da Guia a Late Bronze Age fortified settlement Looking east and north of the Celorico basin the northern Meseta step divides the Mondego basin from north-central Iberia Nevertheless there exist several natural paths as shown by medieval castles defending both sides of the border zone with Castile In the North of our study area the high basins of the Paiva and the Taacutevora rivers link it to the Douro basin which might explain some of the cultural contacts detected

| 281

| 2018

The central part of the upper and middle Mondego basin is a large platform tilted to the Southwest (Ferreira 1978141) Depressed between the Serras of Caramulo and Estrela it is drained mainly by the Monde-go Hercynic granites constitute the bedrock which accounts for its rigid and well-preserved profile Strongly affected by tectonics (Ferreira 197823-8) two NNE-SSW tardi-hercynic fault systems are responsible for the separation of the Beira-Alta central plateaux and the Mondegorsquos platform in relation to the Meseta to the east and to the Maciccedilo Margin-al Gralheira and Montemuro highlands in the West (Ribeiro Lautensach and Daveau 1987245) Other diversely oriented faults determine the formation of the Lousatilde Arganil and Mortaacutegua sedimentary basins near the limits of the Central and Montemuro highlands (Daveau Birot and Ribeiro 1985 1986 Ferreira 1978 174-97)The ldquoschist-grauwacke complexrdquo forms a landscape that differs from the Mondegorsquos platform granites It comprises part of the Central Highlands most of the Alvarsquos basin and some patches in the Northeast of the area

Fig 1 ndash The Middle and Upper Mondego Basin (Gris Oval) The coastline represents the maximum of the flandrian transgression

282 |

studiedThe Serra da Estrela is the arearsquos main hydric reservoir with an annual precipitation of over 1400 mm (Ribeiro Lautensach and Daveau 1988 398 Fig 67) The remaining part of the area considered also has an av-erage annual precipitation between 1400-1200 mm with fresh and cold winters and warm to mild summers (Ibid 434 440 and figs 89 94) Water availability and areas of A class soils form patches of great fertility en-circled by others of class C and F soils (cf Atlas do Ambiente - Carta de Capacidade de Uso do Solo) Nevertheless the post-Medieval transformation of the landscape with marked forest degradation soil alluviation and bottom valley deposition makes it difficult to use modern data for reference and reconstruction of prehistoric soil availability All the modern vegetation cover with the possible exception of the Margaraccedila Reserve and a few other areas is the product of human action The principal vegetation cover for the peri-od under consideration seems to have been a deciduous temperate oak forest (Quercus pyrenaica at altitudes over 600-800m and Quercus robur at lower altitudes - cf Janssen 1985 Janssen and Woldringh 1981 Van Den Brink and Janssen 1985 and Knaap and Van Leeuwen 1994)Palynological analyses of peat cores at Lagoa Comprida and other sites allow Janssen Knaap and Van Leeuwen (Janssen 1985 Knaap and Van Leeuwen 1994) to develop a model of several episodes of degradation of this forest which they attribute to human impact They are marked by deforestation and bush fires at middle and high altitudes of Serra da Estrela and according to the authors quoted could be due to pastoralismA main episode about 3500 BC can well be correlated with the principal phase of development of the megalithic necropoli studied here (Middle Neolithic ndash MN)A second deforestation episode dated from about 1600-1500 BC (MBA) is associated with the first appearance of rye (Secale cereale) The process of deforestation intensifies again from 1000-900 BC onwards (Janssen 1985) All this as we demonstrated (Senna-Martinez 1989 1995 Sen-na-Martinez and Ventura 2008) is consistent with the archaeological data on cultural evolution at the lower altitudesOld paths some of them subsequently followed by the Roman roads (Alarcatildeo 1988 102-5 and fig 20) surely criss-crossed the country How-ever the principal access to our study area from the lower Mondego and littoral plains must have been the river until very recent times (Martins 1940164-6 Oliveira 19721-5) According to Dias (1987) following a

| 283

| 2018

quick transgression in Early Holocene times (c10000-8000 BP Dias 1987330) the sea level stabilised near its present situation invading deeply the lower river valleys (Daveau 198024) between 5000-3000 BP (Dias 1987 334) Even if we cannot be very precise about its limits the Mondegoacutes flandrian estuary can be reconstructed in broad lines for the period under study clearly establishing its importance as a waterway to access the more inland areas Thus the location of lower Mondego late prehistoric sites becomes significant in terms of their possible relations with the ones in our study area

CONTEXTUALIZING AND DISCUSSING THE DATAThe basic data on the known sixteen Megalithic Tombs of Mondegorsquos Platform Group (70) and seven from Alto VougaAlto Paiva Group (30) reused in the First Bronze Age (EBAMBA ndash Senna-Martinez 1989 Sen-na-Martinez Garcia and Rosa 1984) as well as seven other non-funer-ary sites can be found in Table-I It includes their location by County main diagnostic materials present and main references availableAs we argued before pottery types and metal artefacts are between the most distinctive items that can be used to characterize an EBAMBA reuse of archaeological sites in Western Iberia and namely in Beira-Alta (Senna-Martinez 1989 1993a 1994 2000 2009 2013 Senna-Marti-nez Garcia and Rosa 1984 Senna-Martinez and Luis 2016)In the Iberian Atlantic facade more elaborate and sometimes finer wares preferentially dedicated to funerary use are the rule during Early and Middle Bronze Ages in contrast to what happens previously during the Late Neolithic and most of the Chalcolithic when all domestic ceram-ic types found their way into funerary use (Senna-Martinez 2009 p468)During the EBA ldquo2nd generationrdquo beakers can be preferentially used in some regional areas while different and new pottery types predominate in others (Senna-Martinez and Luis 2016)In North-Western Iberia and Beira Alta we can document new technical improvements in general use vessels during the Early and Middle Bronze Ages (Luis 2013 2010 Senna-Martinez 1994 1993a 1993b) Namely better clay and temper preparation flat bottoms generalization roll han-dles and composite profiles appearAll alongside Atlantic faccedilade of Iberia the transition for the EBA will see that all the diverse and complicated ritual collective arrangements (funer-ary or other ndash Senna-Martinez 2014) collapse at the end of the Chalco-lithic and are replaced by simpler set-tlement systems and an individual

284 |

treatment of the dead that concentrate some wealth and status display in very few masculine individuals (Senna-Martinez and Luis 2016)The elaborate female representations linked to Chalcolithic ritual and the agricultural cycle as a metaphor for the perception of life and death (Wil-liams 2003) will also dis-appear with the beginning of the EBA and a new and very restricted status iconography will appear which is based on the male gender and on metallic weapons and jewellery (Senna-Martinez 2014)To put it simple the higher communitarian investment in ritual and so-cial regulation which is in its maximum complexity in Middle Chalcolithic Western Iberia settlement systems will collapse in the Late Chalcolithic and will be replaced by simpler individualized systemsIt seems that what is in question in the beginning of the Bronze Age is ultimately the replacement of systems requiring a great collective effort in the construction and maintenance of various architectural types used for burial and ritual by more economic ones That way and in the new EBA systems the larger collective investment of the Chalcolithic is replaced by a smaller one now individualized and related to the first masculine power figures (Senna-Martinez and Luis 2016)Until 1992 the only habitat context known on the Mondego platform and attributable to the EBA was the intermediate occupation of BMSR-20 (Senna-Martinez 1993b) When the ldquomonumentalizedrdquo site of the FPENA was discovered studied (Valera 1994b 1997 2007) and complemented with the data of the habitat sites of MALHADA (Valera 1994b 1995) and Linhares (LINH ndash Valera 1994a 1999) the situation changedThe analysis of funerary contexts in the reused megalithic monuments led to the charac-terization of a whole new series of types of pottery (Fig2) which differed significantly from previously known regional neo-chalco-lithic productions (Senna-Martinez 1984 and 1993a 72-74 Senna-Mar-tinez Garcia and Rosa 1984) Among these several of the newly iden-tified pottery forms allowed inter-regional parallels with Southern Iberia the Atlantic Estremadura and the Portuguese Northwest cultural areas (Senna-Martinez 1993a) allowing the possibility of a study of interre-gional interactions As the study of BMSR-20 EBAMBA occupation showed and was con-firmed at Fraga da Pena this pottery types with preferential funerary use were also present in these domestic contexts being associated there with a whole set of pottery forms belonging to what we have been designating since 1989 as a ldquoneo-chalcolithic common pottery fundrdquo

| 285

| 2018

Fig 2 ndash Beira Alta EBAMBA pottery types (according to Senna-Martinez Garcia and Rosa 1984)

286 |

(Senna-Martinez 1989) But while EBAMBA pottery types represented only 11 of the ones found at BMSR-20 (and similarly at FPENA ndash Valera 2007) those of the ldquocommon fundrdquo reached 89 while the situation reversed completely in the megalithic monuments studied (Senna-Marti-nez 1993b 55-65) Instead of what happened in the regional Final Neo-lithic only a few elements of the ceramic equipment then in use were thought to be adequate for preferential funerary deposition with the out-come of the EBABecause of its location contexts and structures we think that BMSR-20 occupational levels represent a human presence with eminently season-al or even temporary contours The EBAMBA occupation complex habitat soil that was excavated in Room 20 may have resulted from frequent vis-its with such character (Senna-Martinez 2000) The same interpretation can be proposed about the habitat site of Linhares (Valera 2007) and probably also to the still unpublished collection of materials from S Tomeacute (STOME ndash Travanca de S Tomeacute Carregal do Sal) So we think that only FPENA and MALHADA can thus correspond to more permanent types of habitat sites (Valera 2007) The nature of the reuse of megalithic monuments during the EBAMBA in Beira Alta is the next question we want to address We first thought (Senna-Martinez Garcia and Rosa 1983 Senna-Martinez 1989) that a funerary utilization was the probable explanation here as in other West-ern Iberian Peninsula areas (Jorge et al 1997 Oliveira 1995) This is surely a probable explanation when excavated contexts show the finds to be dispersed in the interior of the chamber and corridor of the monu-ments as for example in the cases of Orca de Seixas (ORSEI ndash cf the late Bell-beaker set in the top of the corridor sediments ndash Leisner 1998 Abb1 Senna-Martinez 1994) Orca das Castenairas (ORCAST ndash Leisner 1998 Abb3) Orca do Outeiro do Rato (OROR ndash Senna-Martinez 1989 1994 Senna-Martinez and Amaro 1987) and Dolmen 3 do Carapito (CARP3 ndash cf the upper level of depositions ndash Leisner and Ribeiro 1968) The two human bone C14 dates obtained for Arquinha da Moura (ARQM ndash which have a sum of probabilities of 2197-1978 cal BC for a 2 σ prob-ability (Cruz 2001 265) clearly situate the associated pottery vessels (Fig3) in the EBAOtherwise in other cases some or all of the EBAMBA materials are deposited at the entrance of the megalithic monuments in what can be called an atrium for example in the cases of OROR (Senna-Martinez 1989 1994 Senna-Martinez and Amaro 1987) Orca dos Fiais da Telha

| 287

| 2018

(ORFI ndash Senna-Martinez 1989 Ventura 1998) and Orca do Pinhal dos Amiais (ORAMI ndash Pinheiro 2012) In the case of ORCAST the dating of charcoal patches in the atrium (fireplaces) provided two C14 dates (OxA-7436 and GrA-9314) with a sum of probabilities of 1740-1438 cal BC for a 2 σ probability (Senna-Martinez and Ventura 2008) that fits well within the MBA reuse of the monu-ment We think that this last type of reuse of the monuments demonstrates that the role of the atrium as a ldquoscenic or representational spacerdquo which made this type of monuments to function like ldquotemplesrdquo in the full sense of the term with closed spaces and reserved access (chamber and corri-dor) and open spaces (atriums) for a wide audience (Senna-Martinez and Ventura 1999) maintained its function with the advent of the EBA even in the cases of a previous condemnation of the corridors entrance (in the Late Neolithic) as in the cases of ORCAST and ORFI for exampleThe pottery type that is the most represented in the EBAMBA reuse of

Fig 3 ndash Arquinha da Moura EBA pottery (drawings courtesy JA Dias montage JC Senna-Martinez)

288 |

the monuments under study is our type 26 (Figs2 and 4) the so called vasos tronco-coacutenicos invertidos (inverted tronco-conical vessels) This vessel type which are now generally considered to mostly belong to the EBAMBA and in the EBA may occur in parallel or associated with late bell-beakers for instance in the Iberian North-West (Prieto Martiacutenez 2011)The demonstration that they were sometimes used in the consumption of beer (Id Ibid) may be part of the explanation why they seem to have had a preferential use as a grave good ndash eventually in a ritual role of commen-sality followed by the offering of the vessel ndash namely in the northern half of the Portuguese territory (Senna-Martinez and Luiacutes 2016 117)We have proposed that the inverted tronco-conical vessels represent an early standardised system for volume measurement that arose in EBA (Senna-Martinez 1984 1993a) Up to now no contradiction of the sta-tistical basis of our model was advanced despite some week criticism of the archaeological implications of our hypothesis proposed by Vilaccedila (1995) and Valera (2007)Recently our attention was called to an important paper by A Valera re-garding neo-chalcolithic salt production (Valera 2017) in Western Iberia In it the author reviews the available evidence for salt production in the lower Tagus and Sado rivers estuaries We are here particularly interest-ed in the site of Monte da Quinta 2 (Benavente) for which the complete process of production could be reconstructed (Valera 2017 106-111) The moulds used for salt crystallisation are specially produced for the effect locally in a standardized mode resulting in inverted tronco-conical vessels (Fig5 ndash cf Valera 2017fig4c-d)The average capacity of Monte da Quinta 2 salt moulds is of 320 cm3 (Valera 2017 111 Table 2) which falls within the statistical interval we found for our EBAMBA inverted tronco-conical vessels ldquocluster 2rdquo 289 plusmn 37 cm3 (Senna-Martinez 1993a 86) So it could be that an empirical system of volume measurement linked to salt circulation appeared in the lower Tagus basin area during the Final Neolithic and Chalcolithic With the advent of the EBA the system could have been adopted northwards and extended to be used with other products The production of a more robust long-lasting and as we mentioned above multifunc-tional type of container must be seen in the context of the transition for the EBAWe recently acknowledged a deficit of information about EBA and MBA set-tlement systems in western Iberia (Senna-Martinez and Luis 2016 124)

| 289

| 2018

Fig 4 ndash Funerary contexts and habitat sites mentioned in the paper in use during the EBAMBA in Central Portugal with inverted tronco-conical vessels ( Caves ndash

Megalithic Monuments ndash Habitats) The coastline represents the maximum of the flandrian transgression 1- Redondas 2- Carvalhal de Turquel 3- Casal da Torre 4- Praganccedila 5- Buraco da Moura de S Romatildeo 6- Complexo 1 do Penedo da Penha 7- Dolmen of Bobadela 8- Dolmen of Seixo of Beira 9- Dolmen of Sobreda 10- Fraga da Pena 11- Malhada 12- Orca dos Fiais da Telha 13- Orca do Outeiro do rato 14- Orca do Pinhal Dos Amiais 15- Orca de Rio Torto 16- Orca do Carvalhal da Louccedila 17- Orca dos Braccedilais 18- Orca dos Padrotildees 19- Casa da Orca da Cunha Baixa 20- Orca 3 do Carapito 21-Grupo do Alto VougaAlto Paiva (Orca de Antas Orca das Castenairas Orca de Seixas Orca do Tanque Orca dos Juncais Orca de Forles)

290 |

Fig 5 ndash Moulds for salt production from Monte da Quinta 2 From Valera 2017 fig4C-D with permission

Fig 6 ndash The Stelae Route in the EBAMBA and the stelae that signal it through the Portuguese Beiras till East-ern Traacutes-os-Montes

| 291

| 2018

This situation was already recognized by Susana Oliveira Jorge (Jorge 19961997) who blamed the proliferation of smaller more disperse and consequently less archaeographically visible set-tlements after the ldquoChal-colithic collapserdquo but left open the question of why it happenedIn Western Iberia and in the areas where we actually have some infor-mation there is no evidence of special ldquochiefrsquos housesrdquo much less of a hierarchical settlement system in between them There is also no evi-dence for the existence of central food storage facilities thus implying the lack of evidence for any kind of centralized accumulation In particular for Beira-Alta all the available evidence points to very conservative EBAMBA communities namely in the funerary practices and we only know two indi-vidual burial mounds for all the area under consideration whose dating fall within the EBAMBA (Serra da Muna 1 and 3 ndash Cruz 2001 267 Quadro XLVIII) There are however various others known which were not yet excavated or object of C14 dating (Cruz 2001) The concentration of the later in the eastern periphery of Beira Alta must be considered together with other dataEastern Beira Alta (or Beira Transmontana) is crossed from South to North by the Cocirca river basin which constitutes part of an old natural way (nowadays mostly followed by the IP2) linking Northeast Alentejo to Traacutes-os-Montes and which we have been calling the stelae route (Senna-Mar-tinez 2013a 2013b) The importance of this passageway can be followed from Late Palaeo-lithic (when it probably functioned as a seasonal transhumance route for herbivores emphasised by the Lower Cocirca open air ldquosanctuaryrdquo of Palae-olithic Art ndash cf Zilhatildeo Ed 1997) through the Neolithic (as a circulation route for the variscites from the Zamora area) with a clear increase in im-portance from the Late Chalcolithic through the Bronze Age (Senna-Mar-tinez 2013a 2013b) During the EBAMBA this route through the Portuguese Beiras is signalled by the first ldquopower figuresrdquo (Fig6) materialized in the menhir-statues with weapons placed alongside it from Beira Baixa to Southern Galicia The presence of the stelae of Longroiva (EBA) Corgas (MBA) Nave (MBA) and Atauacutedes (MBA) with the respective representations of metal weap-ons constitutes the materialization of one of the important social chang-es that the EBA introduced regarding the Neo-Chalcolithic the emergence of a new symbolic system revealed by the fading of feminine iconogra- phic representation the development of a masculine iconography and the role of metal weapons and jewellery as social markers of prestige and

292 |

Table-IM

egalithic Tombs and H

abitat Sites of Mondegorsquos Platform

and Alto VougaA

lto Paiva Groups used or reused in the EarlyM

iddle Bronze

Age

| 293

| 2018

power (Senna-Martinez 2007 p120)We think there is no coincidence that the northeastern concentration of non-megalithic tombs of the MBALBA studied by Domingos Cruz (Cruz 2001) borders the stelae route This route was instrumental for the NorthSouth circulation of products ideas and by necessity people When the Beaker Complex disperses throughout Iberia where modern genetic analysis shows that the majority of Beaker-complex-associated individuals was genetically most similar to preceding Iberian populations and lacked steppe affinities that are present all through Central Europe to the British Isles (Olalde et al 2018) the reasons behind this expansion are probably more socio-cultural then demicThe thirteen metal artefacts from Beira Alta attributed to the EBAMBA are summarized in Table-II with their chemical composition when known The table also includes the only foundry testimony we have from the EBA a crucible fragment from the Malhada habitat (Fornos de Algocircdres ndash cf Valera 2007)All the items of Table-II belong to the EBA with the exception of the axe of Barcelos type from Canas de Sabugosa (Tondela) which can be attributed to the MBA

Fig 7 ndash Frontal Skeuomophs from Eastern Beira Alta and Beira Baixa North Portugal and Western North-ern Meseta 1- Atauacutedes 2- Bouccedila 3- Longroiva 4- Nave 1 5- Nave 2 6- Soalar 7- Tremedal de Tormes 8- S Martinho 3

294 |

If ldquometals do not make the world go aroundrdquo in Bronze Age Iberia as we argued (Senna-Martinez and Luis 2016) they nevertheless are surely archaeographic markers of social development namely when the scale of metallurgical operations is very small and simple producing metal mainly through use of open-vessel reduction of copper oxides andor carbonate ores (Rovira and Ambert 2002) As we proposed ldquohellipthe EBA will see the generalization of copper artefacts production in Iberia (mainly arsenical copper) as well as the first golden pieces of jewellery (and rarely of silver) In several Iberian regional areas the first weapons in arsenical cooper (halberds tongue-daggers Palmela points first swords) and simple jewellery of beaten gold (spiral rings ear-rings diadems and ldquoarcher brassardsrdquo) will go together with what we usu-ally call ldquosecond generationrdquo bell-beakershelliprdquo (Senna-Martinez 2013a 11-12)This is the type of situation when only a few ldquoselectrdquo individuals will have access to metal artefacts and these will constitute status symbols (Sen-na-Martinez and Luis 2016 118)As Table-II shows for Beira Alta we clearly have a situation where the scarcity of the items produced in arsenical copper ndash not to mention the absolute rarity of items in gold ndash and their main association as funerary offerings of select few burials (even when they reuse previously built large dolmens) points towards a non-technomical character for the regional

Table-IIEarlyMiddle Bronze Age Metal Artefacts from the Mondegorsquos Platform

EDxRF elementary analysis

| 295

| 2018

Fig 8 ndash Dorsal Skeuomophs from Eastern Beira Alta North Portugal and Western Northern Meseta 1- Cha-ves 2- Muintildeo de San Pedro 3- Tameiroacuten 4- Satildeo Joatildeo de Ver (Redrawn from Diacuteaz-Guardamino (2009)

EBA metallurgy The situation could be compounded by the fact that the absence of known metal working areas ndash with the sole crucible fragment from Malhada being the possible indicator of an exception ndash could imply that we are in presence of artefacts produced either locally or elsewhere

CONCLUDINGhellip THE NEED FOR POWER LEGITIMATION IN EBA BEI-RA ALTAWe have characterized the development of Beira Alta societies during the EBAMBA as conservative (Senna-Martinez 2000) The reuse of older megalithic monuments for a new era of symbolism surely fits this descrip-tion but we think the reason behind this fact lies with the need of the new male protagonists to reclaim the old Neolithic matrilineages as ancestors and a legitimization source of the new powers to be We can add to the conservatism the reuse in the new ldquopower figuresrdquo iconography of an old Neolithic symbol the ldquoskeuomorphrdquo This symbol depicting a skinned hide and occupying either the front or the back of the male power fi- gure (Figs7-8) is present in the Longroiva stela and many others (Fig9) where it represents a probable late maintenance of the Neolithic sym-bol present in the ldquomegalithic artrdquo of the northern half of Western Iberia (Twohig 1981 23) These symbols distribution in Iberia follows mostly the ldquostelae routerdquo of Eastern Beira Alta (cf Diacuteaz-Guardamino 2009 143)We argued that various tensions and balances pass through the neo-chal-

296 |

colithic system of beliefs that underlies the megalithic art in Beira Alta For us the symbolic oppositions complementarities present in its ico-nography reflect the characteristics of the regional Neolithic a world where hunting and pastoralism are associated with winter-fruits collect-ing (mainly acorns) in societies not yet fully agricultural and in which andriarchal values and representations remain structural (Senna-Marti-nez and Ventura 2008 328-332) In the new EBA system male power legitimation can thus be seen in continuity with earlier Neolithic social beliefs adding and transforming what was needed to fulfil the new power agenda and legitimate the new power actors

Lisbon ndash July 2018

Fig 9 ndash The distribution of the EBAMBA Stelae and Menhir-Statues in Iberia Based in Diacuteaz-Guardamino (2009 143 fig92) redrawn

| 297

| 2018

REFERENCESALARCAtildeO AM 1988 O Domiacutenio Romano em Portugal Europa-Ameacuterica Mem-Mar-tinsALMAGRO M (1966) ndash Las Estelas Decoradas del Suroeste Peninsular Madrid Con-sejo Superior de Investigaciones Cientiacuteficas (Bibliotheca Praehistorica His-pana Vol VIII)ALVES L REIS M (2011) ndash Memoriais de pedra siacutembolos de Identidade Duas novas peccedilas escultoacutericas de Cervos (Montalegre Vila Real) Actas das IV Jornadas Raianas ldquoEstelas e estaacutetuas-menires da Preacute agrave Proto-histoacuteria Sabugal p187-216BANHA C VEIGA AM e FERRO S (2009) ndash A Estaacutetua-Menir de Corgas (Donas Fundatildeo) Contributo para o Estudo da Idade do Bronze Na Beira Interior Asso-ciaccedilatildeo de Estudos do Alto Tejo ACcedilAFA On Line nordm 2 (httpwwwaltotejoorgacafadocsN2A_estatua-menir_de_Corgaspdf)CARDOSO J L (2014) ndash Absolute chronology of the Beaker phenomenon north of the Tagus estuary demographic and social implications Trabajos de Prehistoria 71 p56ndash75CARDOSO JL SENNA-MARTINEZ JC and VALERA AC (1995) ndash Um indicador econoacutemico para o Bronze Pleno da Beira Alta A fauna de grandes mamiacuteferos da Unidade Estratigraacutefica 4 da lsquoSala 20rsquo do Buraco da Moura de S Romatildeo (Concelho de Seia) Actas do III Encontro do Quaternaacuterio Ibeacuterico Coimbra pp 457-460CARDOSO JL SENNA-MARTINEZ JC and VALERA AC (1998) ndash Aspectos da Economia Alimentar do Bronze Pleno da Beira Alta A fauna de grandes mamiacuteferos das laquoSalas 2 e 20raquo do Buraco da Moura de S Romatildeo (Seia) Trabalhos de Arqueologia da EAM 34 p253-261CASTRO MARTIacuteNEZ P V CHAPMAN RW SURINtildeACH SG LULL V MICOacute PEREZ R RIHUETE HERRADA C RISCH R and SANAHUJA YLL ME (1993-94) ndash Tiempos sociales de los contextos funerarios argaacutericos Murcia Anales de la Universidad de Murcia 9-10 p 77-105COMENDADOR REY B RODRIacuteGUEZ MUNtildeIZ V e MANTEIGA BREA A (2011) ndash A estatua menhir do Tameiroacuten no contexto dos resultados do proxecto de intervencioacuten arqueoloacutexica no Monte Urdintildeeira e o seu contorno (A Gudintildea-Rioacutes Ourense) Actas das IV Jornadas Raianas ldquoEstelas e estaacutetuas-menires da Preacute agrave Proto-histoacuteria Sabu-gal p217-244CRUZ D (2001) ndash O Alto Paiva megalitismo diversidade tumular e praacuteticas rituais durante a Preacute-histoacuteria Recente PhD Thesis University of Coimbra PolicopiedCRUZ D e SANTOS AT (2011) ndash As estaacutetuas-menires da serra da Nave (Moimenta da Beira Viseu) no contexto da ocupaccedilatildeo preacute-histoacuterica do Alto Paiva e da Beira Alta Actas das IV Jornadas Raianas ldquoEstelas e estaacutetuas-menires da Preacute agrave Proto-histoacuteria Sabugal p117-242CUNHA AM (1995) ndash Anta da Arquinha da Moura (Tondela) Trabalhos de Antro-po-logia e Etnologia 35(3) p133-151CUNHA AM (1993) ndash Pinturas rupestres na anta da Arquinha da Moura (Concelho de Tondela Viseu) notiacutecia preliminar Estudos Preacute-Histoacutericos 1 p83-95DAVEAU S (1980) ndash Espaccedilo e tempo Evoluccedilatildeo do ambiente geograacutefico de Portugal ao longo dos tempos preacute-histoacutericos Clio 2 pp13-37DAVEAU S BIROT P and RIBEIRO O (1985) ndash Les Bassins de Lousatilde et drsquoArga-nil

298 |

VolI - Le Bassin Seacutedimentaire Lisboa Centro de Estudos Geograacuteficos da Universi-dade de LisboaDAVEAU S BIROT P and RIBEIRO O (1986) ndash Les Bassins de Lousatilde et drsquoArga-nil VolII - LrsquoEacutevolution du Relief Lisboa Centro de Estudos Geograacuteficos da Uni-versidade de LisboaDIAS JMA (1987) ndash Dinacircmica sedimentar e evoluccedilatildeo recente da plataforma con-ti-nental portuguesa setentrional PhD Thesis in Geography University of LisbonDIacuteAZ-GUARDAMINO MM (2009) ndash Las Estelas Decoradas en la Prehistoria de la Peniacutensula Ibeacuterica PhD thesis Madrid Facultad de Geografiacutea e Histo-riaUniversidad Complutense de Madrid 2 VolsESTEVINHA IMA SENNA-MARTINEZ JC and VALERA AC (1989) ndash O Complexo 1 do Penedo da Penha Vale de Madeiros (Canas de Senhorim) alguns resultados pre-liminares da campanha 1(987) Actas do I Coloacutequio Arqueoloacutegico de Viseu Governo Civil de Viseu p125-142FERREIRA AB (1978) ndash Planaltos e Montanhas do Norte da Beira Lisboa Memoacute-rias do Centro de Estudos Geograacuteficos 4GOMES L F (1996) ndash A necroacutepole megaliacutetica da Lameira de Cima (Penedono - Vi-seu) Viseu laquoEstudos Preacute-Histoacutericosraquo 4GOMES LF and CARVALHO PS (1993) ndash Novos elementos sobre o vaso campa-ni-forme na Beira Alta Estudos Preacute-Histoacutericos 1 p29-49GUERRA DOCE E and LETTOW-VORBECK CL (2016) ndash Introduction E Guerra Doce and C Liesau Von Lettow-Vorbeck Eds Analysis of the Economic Foundations Sup-porting the Social Supremacy of the Beaker Groups Oxford Archaeopress pv-viGUERRA DOCE E and LETTOW-VORBECK CL Eds (2016) ndash Analysis of the Eco-nomic Foundations Supporting the Social Supremacy of the Beaker Groups Oxford ArchaeopressJANSSEN CR (1985) ndash Histoacuteria da vegetaccedilatildeo S Daveau Ed Livro-Guia da Preacute-Re-uniatildeo Glaciaccedilatildeo da Serra da Estrecircla - Aspectos do Quaternaacuterio da Orla Atlacircn-tica Lisboa GTPEQ-GETQ p66-72JANSSEN CR and WOLDRINGH RE (1981) ndash A preliminary radiocarbon dated pollen sequence from the Serra da Estrela Portugal Finisterra XVI (32) p299-309JEUNESSE C (2015) ndash The dogma of the Iberian origin of the Bell Beaker attempting its deconstruction Journal of Neolithic Archaeology 16 p158ndash166JORGE S O (19961997) ndash Diversidade regional na Idade do Bronze da Peniacutensu-la Ibeacuterica Visibilidade e opacidade do registo arqueoloacutegico Portugalia (NS) 17-18 p77-96JORGE V BAPTISTA AM SILVA EJL and JORGE SO (1997) ndash As mamoas do Alto da Portela do Pau (Castro Laboreiro Melgaccedilo) Trabalhos de 1992 a 1994 Porto SPAEJORGE V O e JORGE S O (1990) ndash Statues-Menhirs et Stegraveles du Nord du Portugal Revista da Faculdade de Letras (Porto) II Seacuterie VII p299-324KNAAP W O V amp VAN LEEUWEN J F N (1994) ndash Holocene vegetation human im-pact and climatic change in the Serra da estrela Portugal A F Lotter amp B Am-Mann Eds Festschrift Gerhard Lang laquoDissertationes Botanicaeraquo 234 p497-535LEISNER V (1998) Die Megalithgraber der Iberischen Halbinsel Der Westen 4 Lie-ferung Berlin Walter de Gruyter amp CO

| 299

| 2018

LEISNER V (1958) ndash Nota sobre um vaso transmontano Arqueologia e Histoacuteria 8ordf Seacuterie VIII p145-53LEISNER V and RIBEIRO L (1968) ndash Die Dolmen von Carapito Madrider Mitteilun-gen 9 p11-62LUIacuteS E (2013) ndash Fraga dos Corvos habitat site (Macedo de Cavaleiros) - the ceramic industry in the context of northern Portugalrsquos Bronze Age J C Sastre Blanco R Catalaacuten Ramos and P Fuentes Melgar Eds Arqueologiacutea en el Valle del Duero Del Neoliacutetico a la Antiguumledad Tardiacutea Nuevas perspectivas Madrid Ediciones de la Er-gastula p67-75LUIacuteS E (2010) ndash A Primeira Idade do Bronze no Noroeste O conjunto ceracircmico da Sondagem 2 do Siacutetio da Fraga dos Corvos (Macedo de Cavaleiros) MA thesis in Ar-chaeology University of LisbonMARTINS AF (1940) ndash O Esforccedilo do Homem na Bacia do Mondego CoimbraRIBEIRO O (1986) ndash Portugal o Mediterracircneo e o Atlacircntico Lisboa Saacute da Costa 4ordf EdOLALDE I et al (2018) ndash The Beaker phenomenon and the genomic transformation of northwest Europe Nature 555 p190-196OLIVEIRA A (1971) ndash A Vida Econoacutemica e Social de Coimbra de 1537 a 1640 VolI Coimbra Imprensa da UniversidadeOLIVEIRA A (1972) ndash A Vida Econoacutemica e Social de Coimbra de 1537 a 1640 VolII Coimbra Imprensa da UniversidadeOLIVEIRA J (1995) ndash Introduccedilatildeo ao estudo das sepulturas megaliacuteticas da margem esquerda do rio Sever PhD Thesis in Prehistory and Archaeology University of Eacutevora 3 VolsPINHEIRO P (2012) ndash A Orca do Pinhal dos Amiais no contexto do Megalitismo na Plataforma do Mondego MA Thesis in Archaeology University of LisbonPRIETO MARTIacuteNEZ Maria del Pilar (2011) ndash Vasos troncocoacutenicos y cerveza en con-textos campaniformes de Galicia la cista de A Forxa como ejemplo Maria del Pi-lar Prieto Martiacutenez y Laure Salanova Eds Las Comunidades Campaniformes en Galicia Cambios sociales en el III y II milenios BC en el NW de la Peniacutensula Ibeacute-rica Pontevedra Diputacioacuten de Pontevedra p 119-125RIBEIRO O LAUTENSACH H and DAVEAU S (1987) ndash Geografia de Portugal I A Posiccedilatildeo Geograacutefica e o Territoacuterio Lisboa Saacute da CostaRIBEIRO O LAUTENSACH H and DAVEAU S (1988) ndash Geografia de Portugal II O Ritmo Climaacutetico e a Paisagem Lisboa Saacute da CostaSANTONJA GOacuteMEZ M e SANTONJA ALONSO M (1978) ndash La estatua-menhir de Val-defuentes de Sangusiacuten (Salamanca) Boletiacuten Informativo de la Asociacioacuten Es-pantildeola de Amigos de la Arqueologia 10 p19-24SCHUBART H (1975) ndash Die Kultur der Bronzezeit im Sudwesten der Iberischen Hal-binsel Walter de Gruynotter Berlin 2 VolsSENNA-MARTINEZ JC (2014) ndash Death as ldquolifersquos mirrorrdquo Funerary practices and tra-jectories of complexity in the prehistory of peasant societies of Iberia A CRUZ et al Eds Rendering Death Ideological and Archaeological Narratives from Recent Prehis-tory (Iberia) Oxford Archaeopress BAR International Series 2648 p35-44SENNA-MARTINEZ JC (2013a) ndash Metals Technique and Society The Iberian Pen-in-sula between the first Peasant Societies with Metallurgy and the ldquoUrban Revolu-tionrdquo

300 |

MF GUERRA and I TISSOT Eds A Ourivesaria Preacute-Histoacuterica do Ocidente Peninsular Atlacircntico Compreender para Preservar Lisbon Projecto AuCORRE p11-20SENNA-MARTINEZ JC (2013b) ndash Um rio na(s) rota(s) do estanho O Tejo entre a Idade do Bronze e a Idade do Ferro Vila Franca de Xira Cacircmara Municipal de V Franca de Xira CIRA Arqueologia 2 p7-18SENNA-MARTINEZ J C (2009) ndash Armas lugares e homens Aspectos das praacuteticas simboacutelicas na Primeira Idade do Bronze Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 17 p 467-488SENNA-MARTINEZ J C (2007) ndash Aspectos e Problemas das Origens e Desenvolvi-mento da Metalurgia do Bronze na Fachada Atlacircntica Peninsular Estudos Arqueoloacutegi-cos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 15 p 119-134SENNA-MARTINEZ J C (2002) ndash Aspectos e Problemas da Investigaccedilatildeo da Idade do Bronze em Portugal na segunda metade do seacuteculo XX Arqueologia 2000 Balanccedilo de um seacuteculo de investigaccedilatildeo arqueoloacutegica em Portugal Lisboa Associaccedilatildeo dos Ar-queoacutelogos Portugueses p103-124SENNA-MARTINEZ JC (2000) ndash O Bronze Pleno Uma Transformaccedilatildeo na Con-tinui-dade J C Senna-Martinez and I Pedro Eds Por Terras de Viriato Arqueologia da Regiatildeo de Viseu Viseu Governo Civil do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia p105-114SENNA-MARTINEZ JC (1995) ndash The Late Prehistory of Central Portugal a first dia-chronic view KT Lillios Ed The Origins of Complex Societies in Late Pre-historic Ibe-ria Ann Harbor Michigan International Monographs in Prehistory laquoArchaeological Seriesraquo 8 p64-94SENNA-MARTINEZ JC (1994) ndash Notas para o estudo da geacutenese da Idade do Bronze na Beira Alta o fenoacutemeno campaniforme Trabalhos de Arqueologia da EAM 2 p163-190SENNA-MARTINEZ JC (1993a) ndash Duas contribuiccedilotildees arqueomeacutetricas para o estudo do Bronze AntigoMeacutedio do Centro e Noroeste de Portugal Trabalhos de Arqueologia da EAM 1 p77-91SENNA-MARTINEZ JC (1993b) ndash A ocupaccedilatildeo do Bronze Pleno da lsquoSala 20rsquo do Bura-co da Moura de Satildeo Romatildeo Trabalhos de Arqueologia da EAM 1 p55-76SENNA-MARTINEZ JC (1989) ndash Preacute-Histoacuteria Recente da Bacia do Meacutedio e Alto Mon-dego algumas contribuiccedilotildees para um modelo sociocultural PhD Thesis in Prehistory and Archaeology University of Lisbon 3 VSENNA-MARTINEZ JC (1984) ndash Contribuiccedilotildees arqueomeacutetricas para um modelo so-ciocultural padrotildees volumeacutetricos na Idade do Bronze do Centro e NW de Portugal ClioArqueologia 1 p169-188SENNA-MARTINEZ JC (1982) ndash Materiais campaniformes do Concelho de Oliveira do Hospital (Distrito de Coimnotbra) Clio 4 p19-34SENNA-MARTINEZ JC and AMARO R (1987) ndash Campaniforme tardio e iniacutecios da Idade do Bronze na Orca do Outeiro do Rato Lapa do Lobo nota preliminar Da Preacute-Histoacuteria agrave Histoacuteria Homenagem a Octaacutevio da Veiga Ferreira Lisboa Delta p265-271SENNA-MARTINEZ J C e LUIacuteS E (2016) ndash Technique and Social Complexity Deve- lopment Trajectories of Peasant Societies with Metallurgy during the Bronze Age of Western Iberia J Soares Ed Social complexity in a long term perspective Proceed-

| 301

| 2018

ings of Session B15 of UISPP 17th Congress Setuacutebal Arqueoloacutegica 16 p115-130SENNA-MARTINEZ J C LUIacuteS E REPREZAS J LOPES F FIGUEIREDO E ARAUacuteJO MF and SILVA RJC (2013) ndash Os Machados BujotildeesBarcelos e as Origens da Me- talurgia do Bronze na Fachada Atlacircntica Peninsular JM Arnaud A Martins and C Neves Eds Arqueologia em Portugal ndash 150 Anos Lisbon Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelo-gos Portugueses p591-600SENNA-MARTINEZ JC GARCIA MF and ROSA MJ (1984) ndash Contribuiccedilotildees para uma tipologia da olaria do megalitismo das Beiras olaria da Idade do Bronze (I) ClioArqueologia 1 pp105-38SENNA-MARTINEZ J C e VENTURA JMQ (2008) ndash Do mundo das sombras ao mun-do dos vivos Octaacutevio da Veiga Ferreira e o megalitismo da Beira Alta meio seacuteculo depois Homenagem a Octaacutevio da Veiga Ferreira Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p317-350SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA J M (1999) ndash Espaccedilo Funeraacuterio e laquoEspaccedilo Ceacuteni-coraquo a Orca do Folhadal (Nelas) Trabalhos de Arqueologia da EAM Lisboa 5 p21-34SILVA C T and SOARES J (197677) ndash Contribuiccedilatildeo para o conhecimento dos povo-ados calcoliacuteticos do Baixo-Alentejo e Algarve Setuacutebal Arqueoloacutegica 2-3 p179-272SPINDLER K and FERREIRA O V (1974) ndash Das Vorgeschichtliche Fundmaterial aus der Gruta do CarvalhalPortugal Madrider Mitteilungen 15 p28-76TWOHIG E S (1981) ndash The Megalithic Art of Western Europe Oxford Oxford Uni-ver-sity PressVALERA AC (2017) ndash Salt in the 4th and 3rd Millennia BC in Portugal specialization distribution and consumption Cuaternario y Geomorfologiacutea 31 (1-2) p105-122VALERA AC (2007) ndash Dinacircmicas locais de identidade estruturaccedilatildeo de um espaccedilo de tradiccedilatildeo no 3ordm mileacutenio AC (Fornos de Algodres Guarda) Fornos de Algodres Mu-niciacutepio de Fornos de Algodres Terras de Algodres ndash Associaccedilatildeo de Promoccedilatildeo do Patrimoacutenio de Fornos de AlgodresVALERA AC (1999) ndash O habitat preacute-histoacuterico de Linhares (Santa Comba Datildeo - Viseu) Trabalhos de Arqueologia da EAM 5 Lisboa Colibri p51-62VALERA AC (1997) ndash Fraga da Pena (Sobral Pichorro Fornos de Algodres) uma pri-meira caracterizaccedilatildeo no contexto da rede local de povoamento Estudos Preacute-Histoacuteri-cos 5 p55-84VALERA AC (199596) ndash A geacutenese da Idade do Bronze no Mondego interior anaacutelise de alguns aspectos das suas construccedilotildees arqueograacuteficas e historiograacuteficas Tra-balhos de Arqueologia da EAM 3 p215-251VALERA AC (1995) ndash O habitat da Malhada (Fornos de Algodres - Guarda) uma anaacutelise preliminar no contexto do povoamento local durante o III mileacutenio AC Estudos Preacute-histoacutericos 3 p121-139VALERA AC (1994a) ndash Notiacutecia das sondagens de emergecircncia no siacutetio de Linhares (Santa Comba Datildeo) ndash 1994 Trabalhos de Arqueologia da EAM 2 p 249-251VALERA AC (1994b) ndash Preacute-Histoacuteria Recente do concelho de Fornos de Algodres (Guarda) resultados das escavaccedilotildees e prospecccedilotildees de 199293 Trabalhos de Ar-queologia da EAM 2 p145-172VALERA A C SENNA-MARTINEZ J C and ESTEVINHA I M (1989) ndash O Buraco da Moura de S Romatildeo (Seia) alguns resultados preliminares da Campanha 1(987) Actas do I Coloacutequio Arqueoloacutegico de Viseu Viseu Governo Civil de Viseu p149-174

302 |

VAN DEN BRINK LM and JANSSEN CR (1985) ndash The effect of human activities during cultural phases on the development of montane vegetation in the Serra da Estrela Portugal Review of Palaeobotany and Palinotnology 44 p193-205VENTURA JMQ (1993) ndash Novos Monumentos Megaliacuteticos do Concelho de Carregal do Sal Trabalhos de Arqueologia da EAM 1 p9-21VENTURA JMQ (1998) ndash A Necroacutepole Megaliacutetica do Ameal no contexto do Megal-itismo da Plataforma do Mondego MA Thesis in Archaeology University of LisbonVILACcedilA R (1995) - Aspectos do povoamento da Beira Interior (Centro e Sul) nos finais da Idade do Bronze laquoTrabalhos de Arqueologiaraquo 9 Lisbon IPPARVILACcedilA R CRUZ D J SANTOS A T MARQUES J N (2001) ndash A estaacutetua-menir de ldquoAtauacutedesrdquo (Figueira de Castelo Rodrigo Guarda) no seu contexto regional Estudos Preacute-histoacutericos Viseu 9 p69-82WILLIAMS M (2003) ndash Growing metaphors The agricultural cycle as metaphor in the later prehistoric period of Britain and North-Western Europe Journal of Social Archaeology 3 p223-255ZILHAtildeO J Ed (1997) ndash Arte Rupestre e Preacute-Histoacuteria do Vale do Cocirca Trabalhos de 1995-1996 Lisbon Ministeacuterio da Cultura

| 303

| 2018

The Origins of Megalithism in Western Iberia resilient signs of a symbolic revolution

As origens do Megalitismo no Ocidente peninsular sinais resilientes de uma revoluccedilatildeo simboacutelica

ABSTRACTThe long-term debate on the rise of Megalithism have been mainly con-cern with chronological and geographic issues In archaeological litera-ture when and where were major questions relying the causes for such a complex symbolic phenomenon as a secondary item After Oriental mis-sionaries and Segmentary societies explanations fall out Environmental changes have recently been pointed out as a trigger for Megalithism This vast array of explanations reflect how difficulty is to identify the historical reasons laying beyond such a wide phenomenon were global and local features are combine in a multitude of ways Creation mimic transfers and adaptations are social mechanisms that underlie Megalithism and for each one of this scenarios different reasons could be invoke to explain its origins In this text the origins of Megalithism in western Iberia ndash particu-larly in southern Portugal ndash will be discuss testing the traditional materia- list perspectives ndash either Marxist or Processual that considered innovative ideological manifestations as the output of changes in a particular eco-nomic infrastructure or subsystem ndash against Middle Neolithic data Under those traditional paradigms signs of economic variations that can explain the emergence of Megalithism as significant changes in faunalbotanic assemblages and settlement patterns were search forConsidering the archaeographic absence for an economic turnover the origins of Megalithism seems ndash in Western Iberia - the result of a sym-bolic revolution entailed by Middle Neolithic groups and for the moment devoid of a visible economic ingredient In southern Portugal the origins of Megalithism ndash dated c 3600 BC ndash are not connected neither to the Neolithisation process ndash c two millennia earlierndash neither to the Secondary Products Revolution ndash c 300400 hundred years after By the middle of the 4th millennium BC in a scenario of an apparent economic continuity

Mariana Diniz UNIARQ ndash Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Portugal Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses mdinizflulpt

304 |

this symbolic disruption described as Megalithism will emerge The origins of this innovative symbolic landscapes will be here discussKEY WORDS Megalithism Origins Western Iberia Middle Neolithic Sym-bolic revolution

RESUMONa literatura arqueoloacutegica o longo debate sobre as origens dos monumentos megaliacuteticos tem focado principalmente as questotildees cronoloacutegicas e geograacutefi-cas Quando e onde surgem estas arquitecturas satildeo os toacutepicos dominantes e as causas profundas de um fenoacutemeno simboacutelico tatildeo complexo parecem se-cundaacuterias sobretudo depois do abandono de quadros explicativos como os que assentavam na entrada de missionaacuterios orientais no espaccedilo europeu ou na evoluccedilatildeo autoacutectone e universal das sociedades segmentaacuterias Recentemente as mudanccedilas ambientais foram apontadas como um catalizador do Megali- tismo demonstrando a complexidade efectiva de um fenoacutemeno que combina em simultacircneo elementos trans-regionais e regionais em distintas versotildees Criaccedilatildeo mimetizaccedilatildeo transferecircncia e adaptaccedilatildeo satildeo diferentes mecanismos sociais que subjazem aos Megalitismos e que possuem distintas causalidades histoacutericasNeste texto as origens do Megalitismo no Ocidente peninsular - particular-mente no Sul de Portugal - seratildeo discutidas confrontando as perspectivas ma-terialistas tradicionais (marxistas ou processuais) que consideram as rupturas simboacutelicas como causa uacuteltima da alteraccedilatildeo da infra-estrutura ou do subsistema econoacutemico com o registo arqueoloacutegico do Neoliacutetico meacutedio Vatildeo ser por isso procurados elementos do registo como dados fauniacutesticos botacircnicos e padrotildees de povoamento que possam reflectir alteraccedilotildees econoacutemicas que ndash de acordo com os paradigmas materialistas - podem explicar as origens deste fenoacutemenoNo Neoliacutetico meacutedio a mais significativa ruptura que se detecta no registo arqueograacutefico eacute o aparecimento de estruturas megaliacuteticas que nesta regiatildeo particular materializa uma revoluccedilatildeo simboacutelica que neste momento parece desprovida de componente econoacutemica visiacutevelNo sul de Portugal as origens do Megalitismo ndash datadas de cerca de 3600 AC - natildeo estatildeo conectadas com o processo de Neolitizaccedilatildeo ndash que as antecede em dois mileacutenios - nem estatildeo relacionadas com a Revoluccedilatildeo dos Produtos Secundaacuterios que viraacute a acontecer c 300400 anos mais tarde Por isso em meados do 4ordm mileacutenio AC num cenaacuterio de aparente continuidade econoacutemica esta imensa mudanccedila descrita como Megalitismo pode ser designada como uma revoluccedilatildeo simboacutelica cujas origens devem ser discutidasPALAVRAS-CHAVE Megalitismo Origens Ocidente peninsular Neoliacutetico Meacutedio Revoluccedilatildeo simboacutelica

| 305

| 2018

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash MAKING A LONG STORY SHORTldquoOriginsrdquo is a theme that ranks among the most discussed and passio- nate topics in historical sciences The origins of Megalithism in Prehisto- ric Europe have been one of the Big Issues addressed by archaeologists since the 19th century An almost endless list of references about the Iberian Peninsula could be gathered describing the peninsula alone as one of Megalithic Europersquos core areas (eg Daniel 1963 p 72 Savory 1971 p 87) Like other phenomena regarding Prehistoric Europe in the first half of the 20th century debates on Megalithism were strongly influenced by geohis-torical determinism and by the Ex Oriente Lux paradigmAfter a long historiographic period during which Megalithic origins were considered the most important (and sometimes the only) issue deser- ving attention the Radiocarbon Revolution (as C Renfrew put it in 1973) changed the status quo of the interpretation according to which Mega-lithism was an endogenous invention of Western EuropeSince then the issue of the ldquoOriginsrdquo became less important in archaeo-logical literature Sometimes it was even absent from it the focus turned to other economic and territorial topics instead From then on Mega-lithism was seen mainly in the light of strategies developed by compe- ting agropastoral societies to organize Neolithic territories and 14C dating was expected to solve the chronological issues related with Megalithism In the last decades of the 20th century archaeologists from different regions of Megalithic Europe used the most abundant archaeological organic material ndash charcoal ndash to date megalithic monuments Charcoal samples collected in different locations within the monuments ndash from paleo-soils from before the monumental building pits dug for setting the monoliths funerary chambers corridors and even tumulus ndash were used to establish a (non-critical) 14C chronology for Megalithism in Atlantic and Mediterranean EuropeBrittany was then considered the pioneering area and Southern Portugal ndash though not yet dated by 14C method ndash was also considered one of the first megalithic regions in Europe with a supposed chronology ranging from 5000-4500 cal BCE (Muller 1998 in Paulsson 2017 p6) in view of local architectures and grave goods New megalithic 14C time ranges recently established based mainly on human bones using the AMS technique combined with Bayesian analy-sis triggered a revision of these previously accepted chronologiesFollowing these methodological innovations which determined the Third

306 |

Radiocarbon Revolution (Taylor 1996 Bayliss 2009) Southern Portugal lost its role as a focus of megalithic architectures In view of the newly available radiometric dates the origins of Megalithism in Southern Portu-gal are not older than 3600-3400 BCE (Boaventura 2009 Rocha 2005 Mataloto et al 2017) ndash almost one thousand years later than expected In other regions where Megalithism had been considered a very early phenomenon 14C dates established by means of human bones point at the first half of the 5th millennium ndash eg Brittany at Les ChironsBougons (Paulsson 2017 p71) Such early chronology could not be confirmed in other territories traditionally classified also as pioneers In the Cantabria region 14C dates based only on human bones with a standard deviation of less than 100 years also point at the second quarter of the 4th millen-nium BCE ndash eg at LarrarteGipuzkoa (Mujika and Edeso 2011)In view of this reappraised chronology the issue of the Origins can also be readdressed using this new data to discuss different scenarios potentially related to Megalithism in southern PortugalConsidering the multiple aspects of Megalithism we should stress that only funerary Megalithism involving acts of buildingdigging an archi-tectural feature for the dead will be discussed here Burials in natural caves that also evidence a ldquomegalithic phaserdquo already pointed out by V Gonccedilalves (1978) none the less represent a previous and earlier tradi-tion that existed since the Early Neolithic and was in use until the final Chalcolithic

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash NEW TYPES OF EXPLANATIONSFollowing a long period of Orientalist influence discarded by the 14C Re- volution after the 1970s the origins of Megalithism were debated under two major theoretical paradigms defended by Processual and Historical Materialist archaeologyReflecting a perhaps not random coincidence ndash due to the seminal role played by Lewis Morgan as a common ancestor of Processual and Marxist archaeology ndash both schools considered Economy to be the major subsysteminfrastructure in History Symbolic subsystem or ideological superstructure are understood as by-products of the material dimensions of life As subsidiary elements ndash not driving forces of human dynamics ndash ideological and symbolic aspects should reflect the way in which eco-nomic forces act in a given environmental context Ideological and symbo- lic aspects should legitimise strengthen and pacify social relations that emerge from an economic status quo

| 307

| 2018

Changes affecting the economic subsystem or infrastructure caused either by environmental change demographic growth or class conflicts ndash just to mention the most popular variables evoked by Processual and Marxist archaeology should be reflected in changes of the ideological and symbolic apparatus of any society According to some authors his-torical movements are expected to end not to begin in those peripheral almost useless symbolic domains ndash for some hyper materialistic pers- pectives According to this theoretical background societies at some point of their development predictably start to build huge buildings for the dead to shape social topography Considering Megalithic monuments as an almost imperative phase of social development it was accepted that they could have emerged from multiple foci as different Neolithic groups in different geographies could have simultaneously reached the same maturity level according to Renfrew (1976) Studies on Megalithism began to develop a more regionalist approach (eg in Portugal Jorge 1982 Gonccedilalves 1992 Senna-Martinez 1989) and prehis-toric societies were considered in their territorial background in which social systems and social tensions predictably were the major historical forces ndash with minimum external contributions (or even none)Megalithism was mostly described as a territorial issue virtually emptied of its funerary and symbolic dimensions In many cases social investment in mo- nument building was considered a transgenerational program that could be ex-plained by the frontier role played by Megaliths in the landscape defined by seg-mentary societies (eg Renfrew Chapman 1981 1991) In line with such perspectives and therefore considering Megalithism main-ly a multi-foci indigenous creation thus rendering chronology indeed a secon- dary matter the economic subsystems of Middle Neolithic groups must pre- sent clear signs of maturation that should be detected in the archaeological record

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash ECONOMIC DATA ON A NEW PHASEIn view of the radiometric sequence available for southern Portugal the emer-gence of Megalithism seems well defined Around 3600 BCE (Fig1) Neolithic groups resorted to a new set of practices involving dead bodies and for the first time they massive used stone to builddig monuments for the dead (Table 1 and Fig1) In line with materialistic perspectives such moment of disruption ndash a label to be discussed later ndash should have been entailed by a disruptive change in the economic and social organization We shall briefly consider data on the economy and settlement of the Late Middle Neolithic to analyse such change

308 |

Table 1 Chronology for Megalithism Origins in Souther Portugal (using only human bones as samples)

Fig1- Graphical representation of the calibration of 14 C results for human bones from southern Portugal earliest dolmens and hipogea (using Reiner et al 2013 calibration curve)

| 309

| 2018

Table 2 Early and Middle Neolithic Faunal Remains in Southern Portugal

Despite a quantitative dimension introduced by the number of + Southern Portugal faunal assemblages are very poor due to taphonomic reasons and thus do not allow a statistical analysis of the data Adapted from Valente amp Carvalho 2014 Table 1

Table 3 Early and Middle Neolithic Domesticated Plant Remains Pollensin Southern Portugal

In Southern Portugal the extreme scarcity of botanical remains is due to taphonomic reasons but also to the still unusual use of the paleo-botanic protocol to retrieve botanical remains

310 |

Table 4 Early and Middle Neolithic Settlement patterns in Southern Portugal

According to Neves and Diniz 2014 Neves 2018)

In what concerns the economic patterns the absence of quantitative data can indeed masquerade an effective change in human behaviour from Early to Middle Neolithic However different aspects of the archaeological record ndash particularly those related to settlement patterns ndash during the Middle Neolithic show no trace of any economic intensification related to agropastoral strategies On the contrary some evidence may suggest that group mobility became increasing fundamental to Middle Neolithic groups (Valente and Carvalho 2014 Carvalho and Valente 2017) Be-side Senhora da Alegria (Pereiro 2013 Valera 2013) open air habitats do not suggest any significant investment nor long stays There seems to be a trend of continuity between Early Neolithic and Middle Neolithic in terms of settlement and economic patterns The global picture shows a very irregular scenario with habitats reflecting diverse economic stra- tegies closely related to local environments Frequently the agriculturepastoralisthunter-gatherer role assigned to each group relies more on

| 311

| 2018

interpretative scenarios than in ecofacts According to Lameiras (Lopeacutez--Doriga and Simotildees 2015) the fully agropastoral character of the Early Neolithic economy is proven but besides that there are no other bota- nical remains prior to the Late Neolithic Any possible crisis of the Middle Neolithic as reported elsewhere (eg Shennan et al 2013) can-not be considered due to the scarcity of currently available data There could a risk of wrongly interpreting archaeographic problems ndash already highlighted (Neves 2018) as archaeological facts Even so and despite economic stability the Middle Neolithic period was characterised by a ground-breaking set of changes described as Megalithism Once again and against theoretical expectations it was performed at symbolic areas considered by traditional models not as a driven force but mainly as an output of progress

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash A NEW WAY OF BEING DEADIn economic terms stability prevailed At the funerary level the archaeo- logical record shows continuity rather than change According to some authors (Carvalho 2016 p 121) the key features and burial practices of Megalithism already existed at the beginning of the 4th millennium BCE in natural limestone caves of Estremadura such as Algar do Bom Santo In Southern Portugal burials in natural caves and megalithic ar-chitectures share common features such as the complex treatment of the corpses hand-made arrangements of the funerary area and grave goodsBesides continuity in funerary behaviours other traits traditionally re-la-ted with the origins of Megalithism could be described as minor fea-tures considering the non-megalithic dimensions of the earliest megalith-ic monumentsIn Southern Portugal funerary Megalithism dated by human remains emerged not only in the form of ldquosmall monumentsrdquo ndash as predicted by some linear evolutionist thought but also as medium-size structures that could be quickly built by very few people (see a detailed synthesis in Boaventura 2009 Rocha 2005 Mataloto et al 2017)Those monuments like the first hypogea required a very small amount of labour especially if we consider the number of working hours needed to build the large megalithic monuments of the apogee phaseDespite such common traits ie shared behaviours with burials in natural caves and minor efforts required to builddig the earliest monuments Megalithism should be considered a disruptive moment since megalithic funerary architectures evidence a new kind of relationship with Death

312 |

and the landscapeAround 3600-3500 BCE at least in inland Southern Portugal some groups changed their traditional funerary practices in an impressive way According to 14C chronology Early Neolithic groups settled in the area in the late 6th millennium BCE as shown at the settlement of Valada do Mato in Eacutevora (Diniz 2007) No information is however available for funerary practices during the 5th and the first centuries of the 4th millen-nium BCE The presence of Cardial sherds among other Early Neolithic pottery is not enough to classify the cave of Escoural (Montemor-o-Novo) as a necropolis during that period though the on-going project at this cave can shed some light on the matter (Peyroteo-Sterjna et al 2018) Given the archaeographic invisibility of the Early Neolithic dead in the area regardless of the treatment given to the dead bodies it suffered a serious and very briefly viral change around 3600-3500 BCEBuildingdigging a funerary monument heralds a new kind of decisions and gestures a new type of movements and relationships with the lands- cape and within the group New choices had to be made and the selection of a precise area where to builddig the monument meant a sharp con-trast with the a priori location of natural caves Selecting the people and tools to builddig identifying the availability of raw material transporting the stone slabs and gathering earth and stone to create the tumulus were some of the actions (even though simple ones) that inaugurated these new symbolic landscapes (Fig2)

Fig2 - Southern Portugal ear- liest Megalithic monuments ndash after 3600 BC (dolmens and hipogea)

| 313

| 2018

This group performance empowered the Dead ndash at least those few who were chosen to rest inside the monuments ndash but also the living in an unprecedented way After a long period in which funerary practices left no trace Death and the Dead (at least some of them) now performed in a privileged symbolic and social scenario But the emergence of Mega-lithism in Southern Portugal as a historical process meant that at a given moment groups changed their funerary practices starting to be-haved like other communities settled along the Atlantic shores and the Mediterranean basin replicatingadapting positive and negative archi-tectures whose prototypes are well documented in those areas These megalithic architectures enlarged the funerary landscape which had so far been detected only in limestone areas ndash limited to the use of natural caves and pits as in Castelo Belinho (Gomes 2008) Different monu-ment morphology (ie small dolmens smallmedium size dolmens with passage and hypogea) built in different geological formations reflect the new ways of being Dead and a significant change in Neolithic symbolic structuresThe available 14C dates clearly indicate that Megalithism does not match disproving the previous historiographic tradition (eg Jorge 1990) the beginning of a new era called Middle Neolithic On the contrary mega-lithic monuments did not appear before the final phase of the Middle Neolithic period As no archaeographic signs of economic change can be ascribed to this very significant innovation in the symbolic and social sphere explanations for its emergence must be found elsewhere

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash SYMBOLS IN ACTIONThe symbolic dimension of the origins of Megalithism ndash considered either at the global or regional level ndash has been underestimated in the last decades Authors tended to focus on more-or-less detailed archi- tectures and grave goods sequences to organize a very complex archa- eological record Even so the role of symbolic issues in triggering changes in social dyna- mics was highlighted for major phenomenon like Near Eastern or Euro-pean Neolithisation (Cauvin 1994 Hodder 1990) at the end of the 20th century However his type of discourse was never developed for the ori-gins of MegalithismSymbolic issues can act for Megalithism origins ndash as for Neolithisation ndash within primary but also in reception areas as Southern Portugal In this re-gion Death and the Dead appear as significant beings in the landscape

314 |

without evident signs of an economic maturation of the system claiming the intervention of the AncestorsConsidering the available data the most powerful and economic expla-nation for the origins of Megalithism in Southern Portugal is imitation or mimetic behaviour ndash a fundamental trait of cognition in humans and other species (eg Chavalarias 2005) Such fundamental mimetic be-haviours ndash eg adapting dolmens from the Atlantic faccedilade or hypogea from the Mediterranean basin do not exclude Neolithic agency as clearly evidenced by the diversity of Megalithic architecturesIgnoring local geology more suitable to digging than to building the uncommon use of limestone slabs at the dolmens of Carrascal and Pe-dras Grandes (Boaventura 2009 pp 68 and 120) reflects a cultural choice emerging from group identity ndash albeit a pioneering attempt with no continuity These dolmens - Carrascal and Pedras Grandes ndash repre-sent a rather different solution from the hypogeum of Satildeo Pedro do Estoril located only 15 km awayIn reception areas like Southern Portugal this type of transfers could trig-ger a Symbolic Revolution with consequences that impacted on the entire social system inducing competition emulation and economic intensifica-tion by way of group festivities and rituals In fact Megalithic monuments preceded the technological take-off of Final Neolithic but the construction of larger monuments with more complex grave goods could also have re- presented an important stimulus to groups economic enlargementThe fact that mimetic behaviours can explain the origins of Megalithism in reception areas does not mean that local groups could not produce original symbolic phenomena Mimicking allows rebuilding mechanisms and changes to the archetype there are reflected in regional and chrono-logical differences If in this case we consider the chronology of Brittany and the Mediterranean it seems that mimesis was the actual historical occurrence that triggered Megalithism as a consequence of endlessness travelled over Neolithic landscapes

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash GAMES WITHOUT FRONTIERSIn the last decades long distance mobility was the subject of renewed interest Theoretical debates around diffusionism and indigenism were overcome Movement could again be researched since the late 1990s with no risk of one being described as a historical-culturalist archaeolo-gist Archaeographic analysis mainly within petrographic studies iden-tified raw-material displacements potentially reaching several hundred

| 315

| 2018

kilometres by land and sea Central Mediterranean obsidian (eg Lugliegrave 2012) Alpine jade (eg Dominguez-Bella et al 2015) and Iberian va- riscite (eg Odriozola et al 2016) ranked among the durable materials that travelled long distances during the Neolithic period Ancient DNA analysis ndash despite all problems raised by this type of data ndash recently con-firmed as expected that human displacements were standard behaviour during Prehistory ndash not only among hunter-gatherers but also in agropas-toral societies (Fregel 2018)Middle Neolithic networks have been described mainly at a regional le- vel for Southern Portugal Tooth enamel analysis revealed medi-um-distance human movements (Carvalho 2016) already document-ed since Early Neolithic period by flint and amphibole circulation be-tween different geologic areas in CentralSouthern Portugal Some marine shells used as raw-material or adornments also travelled but exotic items like amber and ivory are not documented during this phase ndash rendering their long-distance mobility and networks al-most invisible From an archaeographic point of view Middle Neolithic groups seem to have used only local and regional productsalthough the mere presence of Megalithic monuments denies that proposi-tion During the Middle Neolithic influences from the Atlantic and Me- diterranean areas reached Western Iberia The chronology and typology of hypogea such as Monte do Marquecircs Sobreira de Cima and Satildeo Pedro do Estoril and the chronology and typology of the (not so small) dolmens of Pedra Branca Carrascal Pedras Grandes Cabeccedilo da Areia Cabeceira 4 and Sobreira 1 can hardly be interpreted as a cultural independent phenomenon considering the pre-existing Atlantic and Mediterranean megalithic landscapesAlso reflecting the intensity of displacementsnetworks in Southern West-ernmost Iberia no gradual chronological differences are found between coastal and inland (following the definition of Arias et al 2009) areas Human bones from the Satildeo Pedro do Estoril hypogeum (Cascais) are da- ted from the same period of Monte do Marquecircs 5 (Beja) and Sobreira de Cima 3 (Vidigueira) ndash approximately 150km apart The same applies to the chronology of the dolmens of Pedras Grandes (Odivelas) and Car-rascal da Agualva (Sintra) that are contemporary to Sobreira 1 (Elvas) ndash roughly 180 km awayConcerning the rise of Megalithism the construction and digging ges-tures both in littoral and interior areas appear simultaneously ndash to the extent that 14C dates can reflect Time

316 |

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash PRELUDE TO AN ENDIn recent decades Megalithism research has been mainly focused on the regional level trying to establish architectural sequences and distri-bution areas of grave goods The 14C chronology using AMS technique combined with a critical reappraisal of samples selection served as foun-dations for a new chronology in which certain areas traditionally consi- dered pioneers such as Southern Portugal lost their status and ren-frewrsquos Segmentary Societies Model stands as the last Grand Narrative concerning Megalithism origins The role played by symbolic issues in the cultural status quo is generally underestimated and explanations tend to assume that economic aspects as a response to environmental change demographic grow or social competition acted as the driving force legiti-mised by ideologyThe Megalithic Origins in Southern Portugal seem to be well dated The building of megalithic monuments began between 3600-3300 BCE al-though those new gestures that inaugurated a new symbolic landscape do not seem to correspond to a turning point in the economy In Southern Portugal Megalithism appears to be the consequence of a mimetic be-haviour an adoption of funerary solutions created elsewhere Why exactly did it appear at that precise moment No evidence of maturation of the Neolithic economy were found so far but the mechanisms ruling social mimesis can offer a solid explanation Mimetic behaviour does not re-quire Childersquos missionaries but inter-group communication networks are indeed mandatoryAccording to radiocarbon dating the rise of Megalithism in Southern Portugal was marked by the simultaneous construction of monuments inspired by both Atlantic dolmens and Mediterranean hypogea Why were local communities ready to choose different funerary behaviours at that time Part of the answer is certainly found in long-distance displace-ments and different architectural solutions as some of the votive items clearly demonstrate the integration into a common religious system that travelled far and surpassed natural and cultural frontiersAs occurred before with the Neolithisation process communities trans-ported and adapted a common set of exogenous items to other cultu- ral and geographic backgrounds In Southern Portugal according to 14C dates synchronicity between coastal and inland areas revealed the vital-ity of local Neolithic networksIn Southern Portugal Middle Neolithic Megalithism involves a Symbol-ic revolution that could have been induced by mimetic behaviours vis-agrave-

| 317

| 2018

-vis earlier Atlantic and Mediterranean funerary architectures If so dis-tinct aspects of social systems appear to have travelled independently thus making a historical process like Megalithism the result of endless movement across the landscape from which transfers of ideologies arose

ACKNOWLEDGMENTSTo Ceacutesar Neves who draw the map and calibrated the 14C resultsTo Miriam Cubas for Cantabriarsquos data and 14C dates

REFERENCESARIAS P CERRILLO-CUENCAE AacuteLVAREZ FERNAacuteNDEZ E GOacuteMEZ PELLOacuteN E GONZAacuteLEZ CORDERO A (2009) - A view from the edges the Mesolithic settlement of the interior areas of the Iberian Peninsula reconsidered In Sineacutead McCartan Rick Schulting Graeme Warren and Peter Woodman Eds Mesolithic Horizons Papers pre-sented at the Seventh International Conference on the Mesolithic in Europe Belfast 2005 Oxford Oxbow books p303-311 BAPTISTA L OLIVEIRA L SOARES A M GOMES S (2013) ndash Contributos para a discussatildeo da construccedilatildeo da paisagem nas bacias das Ribeiras do Aacutelamo e do Pisatildeo (Beringel e Trigaches Beja) entre o IV e Iordm mileacutenios aC In JIMEacuteNEZ AacuteVILA J BUSTA-MANTE AacuteLVAREZ M amp GARCIacuteA CABEZAS M (eds) ndash VI Encuentro de Arqueologiacutea del Suroeste Peninsular p 791-827 Ediccedilatildeo electroacutenicaBAYLISS A (2009) Rolling out Revolution using Radiocarbon dating in Archeology Radiocarbon 51(1) p 23-147BOAVENTURA R (2009) - As antas e o megalitismo da regiatildeo de Lisboa Tese de doutoramento apresentada agrave Universidade de Lisboa (policopiado)BOAVENTURA R FERREIRA M T SILVA A M (2013) ndash Perscrutando espoacutelios antigos a anta de Sobreira 1 (Elvas) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 16 p63-79CARVALHO A F amp ROCHA L (2016) ndash Dataccedilatildeo directa e anaacutelise de paleodietas dos indiviacuteduos da anta de Cabeceira 4ordf (Mora Portugal) digitAR nordm 3 Imprensa da Universidade de Coimbra p 53-61CARVALHO A F ed (2014a) ndash Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Faro Universidade do Algarve (Promontoria Mono-graacutefica 17)CARVALHO A F PETCHEY F (2013) ndash Stable Isotope Evidence of Neolithic Pala-eodiets in the Coastal Regions of Southern Portugal Journal of Island and Coastal Archaeology 8 p 361-383CARVALHO A F VALENTE M J (2017) ndash Emergence of itinerant pastoralism and changes in grazing systems in Neolithic and Chalcolithic Portugal 6th-3rd millennia BC A first comprehensive overview Poacutester apresentado ao Iberian Zooarchaeology Meeting Faro 26-29 de Abril de 2017CARVALHO AF (2013b) - Anaacutelise de isoacutetopos estaacuteveis de quatro indiviacuteduos do Sepulcro 1 da necroacutepole de hipogeus da Sobreira de Cima (Vidigueira Beja) pri-

318 |

meiros resultados paleodieteacuteticos para o Neoliacutetico do interior alentejano In VALERA AC (coord) Sobreira de Cima Necroacutepole de hipogeus do Neoliacutetico (Vidigueira Beja) Lisboa Era-Arqueologia SA (Era Monograacutefica 1) p 109ndash112CARVALHO AF (2016) - On mounds and mountains ldquoMegalithic behavioursrdquo in Bom Santo Cave Montejunto mountain range (Lisbon Portugal) Megalithic Monuments and Cult Practices Proceedings of the Second International Symposium Publisher Neofit Rilski University Press p114-123CHAPMAN R (1995) Ten Years AftermdashMegaliths Mortuary Practices and the Ter- ritorial Model In LA BECK (ed) Regional Approaches to Mortuary Analysis Interdis-ciplinary Contributions to Archaeology Springer Boston MA doiorg101007978-1-4899-1310-4_2CHAVALARIAS D (2005) - Metamimetic Games Modeling Metadynamics Social Cog-nition p 1-32 httpsarxivorgftpnlinpapers05080508006pdfDANIEL G (1963) - The Megalithic Builders of Western Europe Baltimore PenguinDEMBECK R KUNST M THIEMEYER H ARIE K VAN LEEUWAARDEN W HERR-MANN N (2015) - Onde eacute que habitaram Novos dados sobre a Neolitizaccedilatildeo retira-dos do exemplo do Vale do rio Sizandro (Torres Vedras Portugal) In Gonccedilalves VS Diniz M Sousa AC (Eds) 5deg Congresso do Neoliacutetico Peninsular UNIARQ Lisboa pp 385ndash396 httphdlhandlenet1045128060DINIZ M (2000) ndash Neolitizaccedilatildeo e megalitismo arquitecturas do tempo no espaccedilo In GONCcedilALVES V (ed) ―Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional de Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 105-116DINIZ M (2007) ndash O Siacutetio da Valada do Mato (Eacutevora) aspectos da neolitizaccedilatildeo no InteriorSul de Portugal Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 48)DINIZ M (2009) ndash Ainda antes do 4ordm mileacutenio aC As praacuteticas simboacutelicas das comu-nidades neoliacuteticas no ocidente peninsular Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras 17 p157-17DOMIacuteNGUEZ-BELLA S CASSEN S PEacuteTREQUIN P PŘICHYSTAL A MARTIacuteNEZ J RAMOS J MEDINA N (2016) - Aroche ( (Huelva Andaluciacutea) A new Neolithic axehead of Alpine jade in the southwest of the Iberian Peninsula Archaeological and Anthropological Sciences p205-222 DOI 101007s12520-015-0232-9FREGEL R L MENDEZYOUSSEF BOKBOT F DIMAS MARTIN-SOCAS MD CAMA-LICH-MASSIEU J S MORALES J AVILA-ARCOS MC UNDERHILL P SHAPIRO B WOJCIK G RASMUSSEN M SOARES A KAPP J SOCKELL A RODRIGUEZ-SAN-TOS F MIKDAD A TRUJILLO-MEDEROS A BUSTAMANTE C (2018) - Ancient ge-nomes from North Africa evidence prehistoric migrations to the Maghreb from both the Levant and EuropePNAS June 26 2018 115 (26) 6774-6779 doi httpsdoiorg101101191569 GOMES M V (2008) ndash Castelo Belinho (Algarve Portugal) and the first Southwest Iberian Villages DINIZ M (ed) The Early Neolithic in the Iberian Peninsula Regional and Transregional Components Oxford British Archaeological Reports p 71-78GONCcedilALVES V S (1978) ndash Para um programa de estudo do Neoliacutetico em Portugal Zephyrus Salamanca 28-29 p 147-162GONCcedilALVES V S (1992) ndash Revendo as antas de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARQ

| 319

| 2018

GONCcedilALVES VS (2009) - Construir para os mortos Grutas artificiais e antas na Peniacutensula de Lisboa algumas leituras preacutevias Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras 17 Oeiras Cacircmara Municipal p 237-260HODDER I (1982) ndash Symbols in action Ethnoarchaeological studies of material cul-ture Cambridge CUPJORGE S O (1990) - A consolidaccedilatildeo do sistema agro-pastoril J SERRAtildeO e AH OLIVEIRA MARQUES (dir) Nova Histoacuteria de Portugal Portugal das origens agrave roma- nizaccedilatildeo Ed Presenccedila Lisboa p102-162LUGLIEgrave C (2012) - From the perspective of the source Neolithic production and exchange of Monte Arci obsidians (central-western sardinia) In Xarxes al Neoliacutetic ndash Neolithic Networks Congreacutes Internacional Rubricatum Revista del Museu de Gavagrave 5 p 173-180MATALOTO R ANDRADE M PEREIRA A (2016-2017) - O Megalitismo das pequenas antas novos dados para um velho problema Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras 23 A Rui Boaventura Homenagem agrave sua Memoacuteria Oeiras Cacircmara Municipal p 33-156MUJIKA JA EDESO JM (2011) - Los primeros agricultores y ganaderos en Gipuz-koa del Neoliacutetico a la Edad del Hierro Diputacioacuten Foral de Gipuzkoa San SebastianNEVES Ceacutesar (2018) - O Neoliacutetico meacutedio no Ocidente Peninsular o siacutetio da Moita do Ourives (Benavente) no quadro do povoamento do 5ordm e 4ordm mileacutenio AC Tese de Doutora-mento apresentada agrave Universidade de Lisboa httphdlhandlenet1045133908NEVES C amp DINIZ M (2014) - Acerca dos cenaacuterios da acccedilatildeo estrateacutegias de implan-taccedilatildeo e exploraccedilatildeo do espaccedilo nos finais do 5ordm e na primeira metade do 4ordm mileacutenio AC no Sul de Portugal Estudos do Quaternaacuterio 11 APEQ Braga p45-58ODRIOZOLA C GARCIacuteA R BURBIDGE C BOAVENTURA R SOUSA A RODRI-GUEZ-ARIZA O Parrilla-Giraldez R Prudecircncio MI DIAS M (2016) Distribution and chronological framework for Iberian variscite mining and consumption at Pico Centeno Encinasola Spain Quaternary Research 85(1) 159-176 doi101016jyqres201511010PAULSSON B (2017) - Time and Stone The Emergence and Development of Mega-liths and Megalithic Societies in Europe London Archaeopress PublishingPEREIRO T (2013) Senhora da Alegria (Coimbra) os contextos do Neoliacutetico Antigo ao Neoliacutetico Final (Oral presentation) REIMER PJ BARD E BAYLISS A BECK JW BLACKWELL PG RAMSEY CB BUCK CE CHENG H EDWARDS RL FRIEDRICH M GROOTES PM GUILDER-SON TP HAFLIDASON H HAJDAS I HATTEacute C HEATON TJ HOFFMANN DL HOGG AG HUGHEN KA KAISER KF KROMER B MANNING SW NIU M REIMER RW RICHARDS DA SCOTT EM SOUTHON JR STAFF RA TURNEY CSM y VAN DER PLICHT J (2013) - IntCal13 and Marine13 Radiocarbon Age Cal-ibration Curves 0ndash50000 Years cal BP Radiocarbon 55(4) DOI 102458azu_js_rc5516947PEYROTEO-STERJNA R ARAUacuteJO AC DINIZ M (2018) - Os mortos na Gruta do Escoural (Montemor-o--Novo Portugal) interaccedilotildees nas primeiras sociedades cam-ponesas do sudoeste da Peniacutensula Ibeacuterica In JC Senna-Martinez M Diniz e A F Carvalho (eds) - Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo Vida e Morte na Fachada Atlacircntica Peninsula Nelas Fundaccedilatildeo da Lapa do Lobo p 47-66RENFREW C (1973) - Before Civilisation The Radiocarbon Revolution and Prehisto-

320 |

ric Europe London Jonathan CapeRENFREW C (1976) - Megaliths territories and populations In S J De Laet (ed) Acculturation and Continuity in Atlantic Europe Bruges de Tempel p 198-220ROCHA L (2005) ndash Estudo do megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central a con-tribuiccedilatildeo de Manuel Heleno Dissertaccedilatildeo de Doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa policopiadoROCHA L amp DUARTE C (2009) ndash Megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central os da-dos antropoloacutegicos das escavaccedilotildees de Manuel Heleno In POLO CERDAacute amp GARCIacuteA-PROacuteSPER E (eds) ndash Investigaciones histoacutericomeacutedicas sobre salud y enfermedad en el pasado Actas del IX Congreso Nacional de Paleopatologiacutea Valencia Grupo Paleolab amp Sociedad Espantildeola de Paleopatologia p 763-781SAVORY H (1968) - Spain and Portugal the Prehistory of the Iberian Peninsula London Thames and HudsonSENNA-MARTINEZ JC (1989) ndash Preacute-Histoacuteria Recente da Bacia do Meacutedio e Alto Mon-dego algumas contribuiccedilotildees para um modelo sociocultural Tese de Doutoramento em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Faculdade de Letras de Lisboa 3 VolsSHENNAN S DOWNEY S S TIMPSON A EDINBOROUGH K COLLEDGE S KERIG T MANNING K THOMAS M G (2013) - Regional population collapse followed initial agriculture booms in mid-Holocene Europe Nature Communications 4 Article number 2486 p1-8SOARES J (2010) ndash Doacutelmen da Pedra Branca Dataccedilotildees radiomeacutetricas Musa 3 p 70-82STRAUS L G ALTUNA J FORD D MARAMBAT L RHINE J S SCHWARCZ J-H P VERNET J-L (1992) ndash Early farming in the Algarve (Southern Portugal) A preliminary view from two cave excavations near Faro Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 32 p141ndash161VALENTE MJ amp CARVALHO AF (2014) - Zooarchaeology in the Neolithic and Chal-colithic of Southern Portugal Environmental Archaeology 93 p226-240VALERA A C (2013b) ndash Cronologia dos Recintos de Fossos da Preacute-Histoacuteria recente em territoacuterio portuguecircs ARNAUD J M MARTINS A NEVES C (coords) Arqueologia em Portugal - 150 Anos Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses Lisboa p345-350 VALERA A C coord (2013a) - Sobreira de Cima necroacutepole de hipogeus do Neoliacutetico (Vidigueira Beja) Lisboa Era Arqueologia

| 321

| 2018

Agrave procura da Terra dos Vivos os lugares de povoamento das primeiras fases do Megalitismo funeraacuterio no Centro e Sul de Portugal

Looking for the Land of the Living the settlement places of the beginning of the Funerary Megalithism in Central and Southern Portugal

RESUMONo debate cientiacutefico em torno das origens do Megalitismo funeraacuterio no Oci-dente Peninsular um dos principais toacutepicos de discussatildeo relaciona-se com o parco conhecimento que ainda existe acerca dos espaccedilos de habitat das comunidades que teratildeo construiacutedo e utilizado esses monumentosPartindo do quadro cronomeacutetrico disponiacutevel natildeo haacute evidecircncias que no Centro e Sul do actual territoacuterio portuguecircs o arranque do Megalitismo funeraacuterio ocorra antes do intervalo de tempo situado entre ~3700-3300 cal BC momento que Rui Boaventura denominou de Fase 1 ndash preacute-iacutedolos-placa (Boaventura 2009)Em termos crono-culturais esse espaccedilo temporal parece integrar uma fase plena do Neoliacutetico meacutedio momento onde se regista um conjunto de com-portamentos humanos com profundas alteraccedilotildees dos sistemas sociais que demonstram quadros de grande complexidade social e simboacutelica visiacutevel es-sencialmente na selecccedilatildeo e transformaccedilatildeo antroacutepica de uma paisagem e na construccedilatildeo dos discursos e das memoacuterias sociaisO Neoliacutetico meacutedio no Ocidente Peninsular na sua fase mais plena (segundo e terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC) parece corresponder a um momento de estabilizaccedilatildeo e uniformidade de um maior conhecimento colectivo cultural-mente reconhecido por grupos que ocupam um vasto territoacuterio partilhando uma identidade cada vez mais comum Eacute inserida nesta dinacircmica que ocorre a entrada em cena das arquitecturas fu-neraacuterias megaliacuteticas num fenoacutemeno que marca indubitavelmente o Neoliacutetico meacutedio pleno e que tambeacutem define a cronologia de arranque desta etapa Com as origens do Megalitismo funeraacuterio como cenaacuterio de reflexatildeo central

Ceacutesar Neves Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Portugal caugustonevesgmailcom

Mariana Diniz UNIARQ ndash Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Portugal Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses mdinizflulpt

322 |

este texto incidiraacute essencialmente nos espaccedilos de habitat contemporacircneos dessa etapa correlacionando os dados empiacutericos disponiacuteveis destacando dois elementos principais Cronologia e Cultura-Material PALAVRA-CHAVE Megalitismo Habitat Neoliacutetico meacutedio Cronologia 4ordm mileacutenio cal BC

ABSTRACTIn the scientific debate about the origins of funerary Megalithism in Western Iberia one of the main topics in discussion is related with the limited know- ledge about the settlements places of the communities that had constructed and used these monumentsStarting from the available chronometric record there is no evidence that in the Centre and South Portugal the start of Funerary Megalithism starts before ~ 3700-3300 cal BC a moment that Rui Bonaventura called Phase 1 - ldquoPre- idol-plaquesrdquo (Boaventura 2009)In chrono-cultural terms this time space seems to fit in a 2nd phase of the Middle Neolithic At this moment a set of human behaviours occurs with deep changes of social systems and with huge symbolic complexity visible mainly in the selection and anthropic transformation of a landscape and the construc-tion of social memoriesThe Middle Neolithic in the Western Iberia in its 2nd phase (second and third quarter of the 4th millennium cal BC) seems to correspond to a moment of stabilization and uniformity with a collective knowledge culturally recognized by human groups who occupy a large territory sharing an increasingly com-mon identity It is between in this dynamic that the megalithic funerary monu-ments emerged in a phenomenon that belongs to the 2nd phase of the Middle Neolithic and which also defines the beginning in chronological terms of this momentStarting from the available empirical data and with the beginning of the funer-ary Megalithism as main analysing topic this paper will focus essentially on the contemporary settlement places highlighting two main elements Chrono- logy and Material Culture KEY WORDS Megalithism Settlement Middle Neolithic Chronology 4th mil-lennium cal BC

1 INTRODUCcedilAtildeOOs Espaccedilos da Morte das Antigas Sociedades Camponesas no Centro e Sul de Portugal em particular os sepulcros megaliacuteticos correspondem a um das temaacuteticas de anaacutelise na qual a investigaccedilatildeo arqueoloacutegica tem investido com mais regularidade (obtendo daiacute um valioso retorno cientiacutefico)

| 323

| 2018

No entanto o conhecimento que existe para o fenoacutemeno do Megalitismo funeraacuterio eacute claramente desigual nomeadamente no que diz respeito agraves suas origens Esta situaccedilatildeo resulta por um lado de um menor nuacutemero de dados relacionados com este momento e acima de tudo do desconhecimento que ainda se tem acerca do periacuteodo crono-cultural em que este episoacutedio se in-sere o Neoliacutetico meacutedioNo essencial para esta fase crono-cultural o registo arqueoloacutegico disponiacutevel eacute feito de reduzida informaccedilatildeo cronoloacutegica e de elos culturalmente perdi-dos Trata-se de um momento que apesar do reconhecido aumento da base empiacuterica foi ateacute haacute pouco tempo (Neves 2018) exclusivamente abordado atraveacutes da vertente funeraacuteriaA escassa informaccedilatildeo disponiacutevel para o Neoliacutetico meacutedio fase parcamente reconhecida em contextos domeacutesticos traduz um desvio arqueograacutefico acentuado e natildeo um dado histoacuterico concreto que resulta da maacute definiccedilatildeo das caracteriacutesticas especiacuteficas dos modelos de povoamento da organizaccedilatildeo dos habitats e da componente artefactual das comunidades A escassez de dados relacionados com os espaccedilos de cariz domeacutestico faz com que a car-acterizaccedilatildeo dos conjuntos artefactuais assente mais na ausecircncia de deter-minados elementos do que na presenccedila inequiacutevoca de um ldquofoacutessil directorrdquoNo debate acerca da construccedilatildeo dos primeiros monumentos megaliacuteticos continua a sentir-se o menor peso da caracterizaccedilatildeo dos habitats contem-poracircneos (Diniz 2000) Na uacuteltima deacutecada o estudo sobre o Neoliacutetico meacutedio daacute um salto qualitativo determinante nomeadamente na construccedilatildeo de um maior quadro cronomeacutetrico mais estreito e fiaacutevel na anaacutelise da constituiccedilatildeo geneacutetica das populaccedilotildees na definiccedilatildeo do subsistema econoacutemico das aacutereas de circulaccedilatildeo destes grupos e por fim na caracterizaccedilatildeo do espoacutelio voti-vo que por norma lhe estaacute associado nos espaccedilos da Morte (Boaventura 2009 Boaventura e Mataloto 2013 Cardoso e Carvalho 2008 Carvalho 2014a 2014b 2014c Carvalho e Cardoso 2010-2011 Carvalho e Cardo-so 2015 Mataloto e Boaventura 2009)A investigaccedilatildeo desenvolvida trouxe ao debate novas linhas de anaacutelise mais focadas nas populaccedilotildees neoliacuteticas dando maior destaque agraves do Neoliacutetico meacutedio em questotildees relacionadas com a sua origem lugares de exploraccedilatildeo e circulaccedilatildeo bem como agraves praacuteticas de subsistecircncia e cronologia (Carvalho e Petchey 2013 Price 2014 Carvalho et al 2015 Carvalho e Rocha 2016)No entanto em contraste com este crescimento notoacuterio da base empiacuterica o conhecimento relativo aos lugares de habitat tem progredido atraveacutes de pas-sos mais curtos mas cremos igualmente soacutelidos procurando ultrapassar o quadro tradicional que o tiacutetulo ldquoMuitas antas pouca genterdquo (Gonccedilalves

324 |

2000) sintetizavaO texto que aqui se apresenta tem como temaacutetica central os siacutetios de habitat que datam da fase inicial do Megalitismo funeraacuterio no Centro e Sul de Portu-gal procurando dessa forma contribuir para um maior conhecimento acerca deste fenoacutemeno complexo e acima de tudo das comunidades que lhe estatildeo associadas no quadro da investigaccedilatildeo que se tem vindo a desenvolver na uacuteltima deacutecada (Neves 2012 2015a 2015b 2016 e 2018 Neves e Diniz 2014 Nunes e Carvalho 2013)

2 O ARRANQUE DO MEGALITISMO FUNERAacuteRIO NO OCIDENTE PENIN-SULARNo Ocidente peninsular a emergecircncia dos sepulcros megaliacuteticos - que tradi-cionalmente tecircm vindo a ser utilizados como os foacutesseis-directores do Neoliacuteti-co meacutedio - tendo em conta os monumentos datados essencialmente atraveacutes de restos osteoloacutegicos humanos (de fiabilidade segura) o periacuteodo entre o segundo e o terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC parece corresponder ao limite cronoloacutegico inferior deste complexo fenoacutemeno arquitectoacutenico segundo a proposta de Rui Boaventura (Boaventura 2009 p335) construiacuteda para o Centro (Boaventura 2009) e para o Sul de Portugal (Boaventura 2011 Boaventura e Mataloto 2013) na sequecircncia de um trajecto de investigaccedilatildeo que constitui uma indispensaacutevel referecircncia para a Preacute-histoacuteria do Ocidente peninsularPartindo do quadro cronomeacutetrico hoje disponiacutevel natildeo haacute evidecircncias que o arranque do Megalitismo funeraacuterio no Centro e Sul de Portugal ocorra antes do intervalo de tempo situado entre ~3700-3300 cal BC inserindo-se dessa forma no momento que Rui Boaventura denominou de Fase 1 ndash preacute-iacutedolos--placa (Boaventura 2009) Este periacuteodo crono-cultural situado entre o segundo e o terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC corresponderaacute no Ocidente Peninsular ao Neoliacutetico meacutedio pleno como foi recentemente definido (Neves 2018)Em termos arquitectoacutenicos os monumentos inseridos neste momento cor-respondem em termos gerais a pequenos sepulcros de cacircmara simples e pequenos sepulcros de corredor curto com espoacutelio ldquoantigordquo (Mataloto An-drade e Pereira 2016-2017) Trata-se de espaccedilos funeraacuterios com reduzido nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos aiacute depositados a que se associa um espoacutelio tambeacutem ele pouco numeroso e pouco diversificado constituiacutedo por elementos de pedra polida (machados e enxoacutes) pequenas lacircminas ou lamelas raramente retocadas armaduras geomeacutetricas - dominam os trapeacutezios sobre os segmentos e triacircngulos em

| 325

| 2018

muito menor nuacutemero - e onde se destaca a ausecircncia ou a presenccedila muito reduzida de recipientes ceracircmicosEste ldquopacoterdquo seraacute transversal a um conjunto de sepulcros e tambeacutem ocorre em grutas naturais e em hipogeus coevos (Boaventura e Mataloto 2013 Carvalho 2014b Cardoso e Carvalho 2008 Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017) naquilo que pode ser a demonstraccedilatildeo de uma unidade cultural (e cronoloacutegica) associada ao Neoliacutetico meacutedio e que ultrapassa (e aproxima) espaccedilos regionais ateacute haacute pouco pensados como distintos (Neves 2018) Esta etapa terminaraacute com o aparecimento nos espoacutelios de novos materiais ausentes dos mobiliaacuterios votivos desta 1ordf fase como os iacutedolos-placa e as suas variantes as pontas bifaciais ndash pontas de seta punhais e alabardas - as grandes lacircminas retocadas lacircminas ovoacuteides e os recipientes ceracircmicos em grande nuacutemero e com grande heterogeneidade de formas (Boaventura 2009 p346) Estes itens artefactuais estaratildeo jaacute associados a monumen-tos megaliacuteticos de meacutediagrande dimensatildeo e monumentos de falsa cuacutepu-la bem como a grutas-necroacutepole e hipogeus atribuiacutedos aos finais do 4ordm e ao longo do 3ordm mileacutenio cal BC (Boaventura e Mataloto 2013 Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017)Na fase de arranque do megalitismo funeraacuterio inserem-se ndash de acordo com criteacuterios arquitectoacutenicos artefactuais e cronomeacutetricos - os sepulcros da So-breira 1 (Elvas) Rabuje 5 (Monforte) Cabeceira 4 (Mora) Cabeccedilo da Areia (Montemor-o-Novo) e Carrascal de Agualva (Sintra) bem como as primei-ras utilizaccedilotildees de Pedras Grandes (Odivelas) e Pedra Branca (Gracircndola) conferindo solidez a esta leitura interpretativa (Boaventura 2006 e 2009

Tabela 1

326 |

Rocha e Duarte 2009 Soares 2010 Boaventura Ferreira e Silva 2013 Carvalho e Rocha 2016 Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017) (Ta-bela 1)

3 OS ESPACcedilOS DE HABITAT DO INIacuteCIO DO MEGALITISMO FUNERAacuteRIO CRONOLOGIA E CULTURA MATERIALA base empiacuterica disponiacutevel para os espaccedilos de habitat associados agrave 1ordf fase do Megalitismo funeraacuterio eacute muito limitada em parte devido agrave ausecircncia de ldquofoacutes-seis-directoresrdquo o que torna estes siacutetios menos visiacuteveis no registo arqueoloacutegicoDe momento e de acordo com criteacuterios tipoloacutegicos inserem-se nesta etapa as ocupaccedilotildees registadas na Moita do Ourives (Benavente) na camada Da do Abrigo da Pena drsquoAacutegua (Torres Novas) assim como no concheiro da Barrosinha (Comporta) (Carvalho 1998 e 2016 Neves 2018 Soares e Silva 2013) Destes contextos apenas a pequena intervenccedilatildeo levada a cabo no concheiro da Barrosinha ndash onde foram identificadas duas ocupaccedilotildees intercaladas tempo-ralmente (Camada 4 e 2) mas que os seus investigadores consideram ambas integradas na Fase II da Comporta (Soares e Silva 2013) ndash forneceu dataccedilotildees absolutas Ao contraacuterio da Moita do Ourives e da camada Da do Abrigo da Pena drsquoAacutegua na Barrosinha foi possiacutevel obter dataccedilotildees absolutas para os dois niacuteveis genericamente enquadrados na segunda metade do 4ordm mileacutenio cal BC No geral as dataccedilotildees desta Fase II da Comporta obtidas sobre conchas de moluscos marino-estuarinos e devidamente corrigidas do efeito de reservatoacuterio oceacircnico apontam para o segundo e terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC situando-se entre 3761 e 3373 cal BC (Idem 2013)A este horizonte cronoloacutegico pertence igualmente a 2ordf fase de ocupaccedilatildeo do siacutetio da Senhora da Alegria (Coimbra) de acordo com a dataccedilatildeo absoluta de 3636--3376 cal BC obtida sobre uma amostra de carvatildeo recolhida numa estrutura de combustatildeo (Valera 2013) Uma leitura cronomeacutetrica semelhante parece observar-se naquela que seraacute a fase mais antiga dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) tendo em conta o resultado de uma dataccedilatildeo sobre Sus sp numa amostra recolhida numa fossa claramente enquadrada no mesmo horizonte em discussatildeo ndash 3620-3370 cal BC (Valera et al 2017)Utilizando unicamente habitats para os quais existem dataccedilotildees absolutas ape-nas trecircs siacutetios podem ser enquadrados na fase de arranque do Megalitismo fu-neraacuterio no Centro e Sul de Portugal Senhora da Alegria Barrosinha e Perdigotildees Trata-se de siacutetios com estrateacutegias de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo do espaccedilo distintas e possivelmente com diferentes tipologias funcionais demonstrando heteroge-neidade cultural na abordagem aos cenaacuterios de acccedilatildeo das comunidades de uma fase plena do Neoliacutetico meacutedio

| 327

| 2018

No entanto estas ocupaccedilotildees ndash ainda que datadas - apresentam lim-itaccedilotildees significativas para este debate No geral correspondem a siacute-tios ainda insuficientemente caracterizados quer parcialmente como eacute o caso da Barrosinha (onde ainda se desconhece a in-duacutestria liacutetica) quer na totalidade como eacute o caso dos contextos da Senhora da Alegria (em estudo) e dos Perdigotildees (ainda em esca- vaccedilatildeo e estudo - Valera et al 2017 p64) (Figura 1)Perante este cenaacuterio a caracterizaccedilatildeo dos lugares de habitat do Neoliacuteti-co meacutedio pleno contemporacircneos do arranque do Megalitismo funeraacuterio assenta no campo da cultura material ndash no siacutetio da Moita do Ourives jaacute objecto de estudo integral (Neves 2018) A partir deste contexto e analisando os dados obtidos na Barrosinha (suportados por dataccedilotildees cronomeacutetricas) (Soares e Silva 2013) e observando a sequecircncia es-tratigraacutefica do Abrigo da Pena drsquoAacutegua que coloca a camada Da entre os niacuteveis de ocupaccedilatildeo do Neoliacutetico meacutedio inicial e do Neoliacutetico final (Car-valho 1998 e 2016) foi possiacutevel delinear um quadro artefactual para o Neoliacutetico meacutedio pleno que futura investigaccedilatildeo poderaacute precisar (Tabela 2 e 3 Figura 2 a 4)

Figura 1 Sepulcros megaliacuteticos datados do Neoliacutetico meacutedio pleno e habitats contemporacirc-neos (Centro e Sul de Portugal) (base cartograacutefica Boaventura 2009)

328 |

Contrastando esta imagem com a que caracteriza a etapa imediatamente an-terior ndash Neoliacutetico meacutedio inicial (~4500-3700 cal BC ndash Neves 2018) eacute na pro-duccedilatildeo de recipientes ceracircmicos que se identificam os elementos que melhor poderatildeo melhor caracterizar o quadro artefactual do Neoliacutetico meacutedio pleno Os contextos domeacutesticos do Neoliacutetico meacutedio na sua fase plena apresentam ao niacutevel da ceracircmica conjuntos totalmente desprovidos de decoraccedilatildeo ainda que em alguns casos mantenham uma presenccedila muito residual embora sem

Tabela 2 Habitats do Neoliacutetico meacutedio pleno (segundo e terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC) ndash Cultura Material - Induacutestria liacutetica

Tabela 3 Habitats do Neoliacutetico meacutedio pleno (segundo e terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC) ndash Cultura Material ndash Ceracircmica

| 329

| 2018

Figura 2 Cultura Material do Neoliacutetico meacutedio pleno ndash exemplares da Moita do Ourives 1 -3 ndash Ceracircmica lisa 4 ndash Machado de pedra polida 5 ndash Lacircmina 6 ndash Lamela 7-8 ndash Trapeacutezio 9 ndash Lasca com traccedilos de utilizaccedilatildeo (Neves 2018)

330 |

Figura 3 Conjunto artefactual correspondente ao Neoliacutetico meacutedio da camada Da do Abri-go da Pena drsquoAacutegua (Carvalho 1998b p65)

| 331

| 2018

Figura 4 Conjunto ceracircmico correspondente ao Neoliacutetico meacutedio da Comporta ndash Fase II (Adaptado de Soares e Silva 2013 p161)

expressividade percentual de elementos decorados geralmente incisosEste quadro estaraacute claramente demonstrado em trecircs dos siacutetios de habitat enun-ciados neste texto e que se localizam em trecircs aacutereas regionais distintas Pena drsquoAacutegua - Estremadura portuguesa Moita do Ourives - Baixo Vale do Tejo Bar-rosinha - Costa Sudoeste Na jaacute referida camada Da da Pena drsquoAacutegua o nuacutemero de elementos decorados natildeo excede os 7 Na Moita do Ourives regista-se a presenccedila de 6 fragmentos decorados (todos a incisatildeo) correspondendo a somente 2 do total da amos-tra Mais a Sul na ocupaccedilatildeo identificada na camada 4 da Barrosinha obser-va-se a existecircncia de um conjunto ceracircmico totalmente liso com excepccedilatildeo de um uacutenico exemplar decorado com sulco abaixo do bordo dando agrave ceracircmica decorada uma representatividade percentual de cerca de 1 (Carvalho 2016 Soares e Silva 2013 Neves 2018) (Figura 5)Como jaacute foi referido este niacutevel de ocupaccedilatildeo da Barrosinha com dataccedilotildees absolutas compreendidas entre segundo e terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC (Soares e Silva 2013 p154) apresenta um patamar cronoloacutegico muito se-melhante ao registado na ocupaccedilatildeo do Neoliacutetico meacutedio da Senhora da Alegria e em duas fossas dos Perdigotildees Apesar destes contextos estarem ainda em estudo natildeo sendo por isso possiacutevel proceder agrave anaacutelise dos dados arqueoloacutegicos na sua totalidade as informaccedilotildees avanccediladas apontam para um pacote arte- factual com estas caracteriacutesticas Na Senhora da Alegria siacutetio constituiacutedo por vaacuterias linhas de fossos foi possiacutevel

332 |

Figura 5 Percentagem das Ceracircmicas decoradas vs Ceracircmica lisa no Neoliacutetico meacutedio pleno (a partir de Neves 2018 Carvalho 2016 Soares e Silva 2013)

obter a partir de uma lareira uma dataccedilatildeo de 3636-3376 cal BC associada a ldquouma cultura material caracterizada por ceracircmicas de formas esfeacutericas e em calote totalmente lisas e a uma induacutestria liacutetica ainda com uma importante com-ponente microliacutetica com geomeacutetricos e ausecircncia de pontas de setardquo (Valera 2013 p338) A estas referecircncias agrave componente artefactual acresce-se uma presenccedila significativa de pedra polida (machados e enxoacutes) e afeiccediloada (dor-mentes e moventes) o que permite integrar o conjunto no modelo tiacutepico que parece corresponder ao Neoliacutetico meacutedio pleno como o temos vindo a esta-belecer A abundacircncia de elementos de pedra polida ndash nem sempre registada nos habitats desta etapa ndash deve associar-se agrave especificidade funcional deste contextoNos Perdigotildees as descriccedilotildees preliminares da cultura material provenientes das fossas jaacute datadas do Neoliacutetico meacutedio pleno remetem para a presenccedila de uma induacutestria liacutetica de produccedilatildeo de lascas e lamelas alguma utensilagem geomeacutetri-ca e recipientes de morfologia simples (hemisfeacutericos e globulares) onde se des- taca a ausecircncia de carenas e motivos decorativos (Valera et al 2017 p64) O enquadramento cronoloacutegico dos contextos analisados os indicadores dis-poniacuteveis para o seu pacote artefactual bem como a sua localizaccedilatildeo geograacutefica faz antever uma difusatildeo ampla destes conjuntos artefactuais onde a ausecircncia do peso social das gramaacuteticas decorativas nos recipientes ceracircmicos eacute o ele-mento de diagnoacutestico mais evidente num momento crono-culturalmente con-

| 333

| 2018

sentacircneo com a dispersatildeo e expansatildeo do Megalitismo funeraacuterio no extremo Ocidente Peninsular

4 DISCUSSAtildeOO iniacutecio de uma segunda fase do Neoliacutetico meacutedio parece ocorrer a partir do final do primeiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC prolongando-se ateacute ao iniacutecio do uacuteltimo quartel do mesmo mileacutenioA partir desta fase assiste-se a um processo histoacuterico com etapas cada vez mais curtas onde o crescimento e complexificaccedilatildeo econoacutemica e social atingem uma dinacircmica bastante intensa muitas vezes difiacutecil de captar pelos intervalos (ainda longos) do radiocarbono Apesar de corresponder a um periacuteodo ligeiramente su-perior a 500 anos no Neoliacutetico meacutedio pleno regista-se um conjunto de compor-tamentos com profundas alteraccedilotildees dos sistemas culturais que demonstram quadros de grande complexidade social e simboacutelica visiacuteveis essencialmente na selecccedilatildeo e transformaccedilatildeo antroacutepica de uma paisagem e na construccedilatildeo dos dis-cursos e das memoacuterias sociais do qual o Megalitismo eacute parte integranteCorresponde a um momento de estabilizaccedilatildeo e maior uniformidade cultural de um conhecimento colectivo culturalmente reconhecido por grupos que ocupam um territoacuterio vasto partilhando uma identidade comum A mobilidade dos gru-pos e dos indiviacuteduos que as anaacutelises bio-antropoloacutegicas tecircm vindo a demonstrar justificaraacute a forte homogeneidade que se detecta nesta fase no campo da cul-tura material Os ldquoregionalismosrdquo a existirem natildeo satildeo neste momento oacutebvios e a funcionalidade dos siacutetios parece a causa fundamental da diversidade que se possa detectar natildeo nas tipologias dos artefactos mas na densidade de pre-senccedilas registadas nos conjuntos E eacute inserida nesta dinacircmica que ocorreraacute a entrada em cena das arquitectur-as funeraacuterias megaliacuteticas no Centro e Sul do actual territoacuterio portuguecircs num fenoacutemeno que marca indubitavelmente o Neoliacutetico meacutedio pleno e que tambeacutem define a cronologia de arranque desta etapa (~3700-3200 cal BC)A coincidecircncia cronoloacutegica com o arranque do Megalitismo funeraacuterio e algumas diferenccedilas na cultura material relativamente ao Neoliacutetico meacutedio inicial (Neves 2015a 2015b e 2018) marcam esta segunda fase do Neoliacutetico meacutedio (~3700--3200 cal BC) a que se seguiraacute o Neoliacutetico final (Tabela 4 e Figura 6)Nas primeiras necroacutepoles megaliacuteticas reconhecem-se conjuntos votivos de re-duzida dimensatildeo e diversidade num ldquopacoterdquo artefactual transversal a um con-junto de sepulcros de distinta natureza e tipologia - grutas naturais e hipogeus ndash que cruzando diferentes geografias demonstram a unidade cultural associada ao Neoliacutetico meacutedio (Neves 2018) No mesmo sentido observa-se que para o mesmo intervalo de tempo encon-

334 |

Figura 6 Representaccedilatildeo graacutefica dos intervalos de tempo ndash Sepulcros megaliacuteticos com dataccedilotildees mais antigas disponiacuteveis e Habitats do Neoliacutetico meacutedio inicial e pleno Foram utilizadas as curvas IntCal 13 e o Marine 13 (Reimer et al 2013) e o programa CALIB VER 702

Tabela 4 Dataccedilotildees absolutas ndash Neoliacutetico meacutedio inicial e pleno

| 335

| 2018

tram-se as ocupaccedilotildees domeacutesticas da Barrosinha e Senhora da Alegria situadas genericamente entre ~3700-3200 cal BC espaccedilo cronoloacutegico que apontamos para a Moita do Ourives e da camada Da da Pena drsquoAacuteguaEstes habitats do Neoliacutetico meacutedio pleno situados em espaccedilos regionais distin-tos mantecircm a homogeneidade artefactual jaacute existente no Neoliacutetico meacutedio ini-cial com a principal diferenccedila entre as duas fases a verificar-se ao niacutevel da ceracircmica com os recipientes a surgirem agora praticamente desprovidos de decoraccedilatildeo e idecircnticos agravequeles que se identificam nos espaccedilos funeraacuterios deste periacuteodo com a esta caracteriacutestica a constituir-se como o ldquofoacutessil-directorrdquo mais expliacutecito na caracterizaccedilatildeo por via de criteacuterios tipoloacutegicos deste momento

5 CONCLUSAtildeO E PERSPECTIVAS DE INVESTIGACcedilAtildeO FUTURAEm termos culturais e cronomeacutetricos estes habitats da Moita do Ourives Bar-rosinha a ocupaccedilatildeo do niacutevel Da da Pena drsquoAacutegua bem como a 2ordf fase da Sen-hora de Alegria deveratildeo ser contemporacircneos da Fase 1 ndash preacute-iacutedolos-placa que segundo o modelo interpretativo de Rui Boaventura para os sepulcros da Es-tremadura e Alentejo centra-se entre c 3700-3300 cal BC e que envolve dis-tintos lugares e praacuteticas funeraacuterias (Boaventura 2009) Aleacutem das grutas natu-rais utilizadas desde as fases iniciais do processo de Neolitizaccedilatildeo juntam-se a partir deste momento os primeiros monumentos megaliacuteticos de cariz funeraacuterio e tambeacutem as primeiras construccedilotildees e utilizaccedilotildees de grutas artificiaisA uniformidade artefactual que parece verificar-se nos espaccedilos domeacutesticos do Neoliacutetico meacutedio e que jaacute se verificaria na sua fase inicial parece tambeacutem suceder nos ambientes funeraacuterios sincroacutenicos Agrave semelhanccedila do mundo dos vivos esta homogeneidade igualmente observaacutevel nos mobiliaacuterios votivos tem lugar em longos e distintos espaccedilos regionais percorrendo um territoacuterio cada vez mais uno na sua evoluccedilatildeo sociocultural deixando definitivamente () para traacutes identidades regionais bem delimitadas que teratildeo existido ateacute ao final do Neoliacutetico antigo evolucionado (primeira metade do 5ordm mileacutenio cal BC) (Diniz 2007 Neves 2015b e 2018)No futuro relativamente ao conhecimento dos lugares de povoamento das primeiras ldquocomunidades megaliacuteticasrdquo e dessa forma do Neoliacutetico meacutedio ple-no no Ocidente Peninsular torna-se imperioso aumentar o quadro empiacuterico disponiacutevel Actualmente o nuacutemero de habitats associados a este momento quando comparado com as etapas imediatamente anteriores e posteriores (Neoliacutetico antigo e Neoliacutetico final) eacute claramente inferior Uma vez que os cenaacuterios de acccedilatildeo e as estrateacutegias de exploraccedilatildeo do espaccedilo parecem apresentar continuidades oacutebvias com as do Neoliacutetico antigo a iden-tificaccedilatildeocaracterizaccedilatildeo de um maior nuacutemero de contextos domeacutesticos que

336 |

se integrem neste periacuteodo especiacutefico passaraacute obrigatoriamente pela anaacutelise tecno-tipoloacutegica mas tambeacutem quantitativa dos elementos da Cultura Mate- rial A construccedilatildeo dos quadros de elementos artefactuais de diagnoacutestico vai no sentido de ajudar na identificaccedilatildeo de novos siacutetios e tambeacutem na reavaliaccedilatildeo de outros ainda incaracteriacutesticos ou parcamente analisadosConsequentemente torna-se imperioso alargar o quadro cronomeacutetrico exis-tente para os espaccedilos domeacutesticos no sentido de validar as leituras aqui repro-duzidas (Neoliacutetico meacutedio pleno = arranque do Megalitismo de cariz funeraacuterio) e que possa igualmente abranger um espaccedilo mais alargado do territoacuterio ateacute mesmo nas fronteiras seleccionadas para esta anaacuteliseA inexistecircncia de um estudo integral e publicaccedilatildeo dos dados produzidos nas ocupaccedilotildees da segunda metade do 4ordm mileacutenio da Senhora da Alegria e mais recentemente Perdigotildees condiciona por agora as leituras produzidas No entanto o enquadramento cronoloacutegico que as dataccedilotildees absolutas indicam claramente compatiacuteveis com as realidades artefactuais sumariamente dis-ponibilizadas vai ao encontro de um momento pleno do Neoliacutetico meacutedio para-lelizaacutevel com as ocupaccedilotildees da Moita do Ourives camada Da da Pena drsquoAacutegua e Barrosinha bem como dos lugares datados mais antigos associados ao Megalitismo funeraacuterioA conexatildeo agraves paisagens megaliacuteticas teraacute de permanecer na agenda e debate cientiacutefico Os espaccedilos de habitat hoje conhecidos e aqui enumerados situ-am-se a alguma distacircncia dos territoacuterios dos primeiros monumentos megaliacuteti-cos desconhecendo-se se esta cartografia corresponde a um desvio arque-ograacutefico ou a uma realidade histoacuterica concreta que importa esclarecer e interpretar

Lisboa Julho de 2018

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICASARMBRUESTER Tanya (2008) - Technology neglected A painted ceramic fragment from the dated Middle Neolithic site of Vale Rodrigo 3 Vipasca Aljustrel 2ordf seacuterie 2 p 83 ndash 94BOAVENTURA R (2006) ndash Os IV e III mileacutenios ane na regiatildeo de Monforte para aleacutem dos mapas com pontos os casos do cluster de Rabuje e do povoado com fossos de Moreiros 2 Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 9 (2) p61-74BOAVENTURA R (2009) - As antas e o megalitismo da regiatildeo de Lisboa Dissertaccedilatildeo de Doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2 Vols (pol-icopiado)BOAVENTURA R (2011) - Chronology of megalithism in South-Central Portugal Menga Revis-ta de Prehistoria de Andaluciacutea 1 p159-190

| 337

| 2018

BOAVENTURA R MATALOTO R (2013) - Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 16 p81ndash101CARDOSO J L amp CARVALHO AF (2008) ndash A Gruta do Lugar do Canto (Alcanede) e a sua im-portacircncia no faseamento do Neoliacutetico no territoacuterio portuguecircs In CARDOSO J L (ed) Home-nagem a Octaacutevio da Veiga Ferreira Oeiras Cacircmara Municipal de Oeiras p 269 300 (Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras 16)CARVALHO A F (1998) ndash Abrigo da Pena drsquo Aacutegua (Rexaldia Torres Novas) resultados das campanhas de sondagem (1992-1997) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 12 p 39-72CARVALHO A F ed (2014a) ndash Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Faro Universidade do Algarve (Promontoria Monograacutefica 17)CARVALHO A F (2014b) ndash Funerary contexts In CARVALHO A F (ed) Bom Santo Cave (Lis-bon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Faro Universidade do Algarve (Promontoria Monograacutefica 17) p19-26CARVALHO A F (2014c) ndash Bom Santo Cave in context A preliminar contribution to the study of the first megalith builders of Southern Portugal In CARVALHO A F (ed) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Faro Universidade do Al-garve (Promontoria Monograacutefica 17) p209-230CARVALHO A F (2016) ndash The Pena drsquoAacutegua rock-shelter (Torres Novas Portugal) two distinct life ways within a Neolithic sequence Del neoliacutetic a lrsquoedat del bronze en el Mediterrani occiden-tal Estudis en homenatge a Bernat Martiacute Oliver TV SIP 119 Valegravencia p 211-223CARVALHO AF ALVES-CARDOSO F GONCcedilALVES D GRANJA R CARDOSO JL DEAN RM GIBAJA JF MASUCCI MA ARROYO-PARDO E FERNAacuteNDEZ E PETCHEY F PRICE TD MATEUS JE QUEIROZ PF CALLAPEZ PM PIMENTA C REGALA FT (2015) - The Bom Santo Cave (Lisbon Portugal) catchment diet and patterns of mobility of a Middle Neo-lithic population European Journal of Archaeology p1-28CARVALHO A F amp CARDOSO J L (20102011) ndash A cronologia absoluta das ocupaccedilotildees fu-neraacuterias da gruta da Casa da Moura (Oacutebidos) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras 18 Oeiras Cacircmara Municipal p 393-405CARVALHO A F amp CARDOSO J L (2015) ndash Insights on the changing dynamics of cemetery use in the Neolithic and Chalcolithic of Southern Portugal Radiocarbon dating of Lugar do Canto cave (Santareacutem) SPAL Sevilla 24 p 35-63CARVALHO A F amp PETCHEY F (2013) ndash Stable Isotope Evidence of Neolithic Palaeodiets in the Coastal Regions of Southern Portugal Jornal of Island and Coastal Archaeology 8 p 361-383CARVALHO A F amp ROCHA L (2016) ndash Dataccedilatildeo directa e anaacutelise de paleodietas dos indiviacutedu-os da anta de Cabeceira 4ordf (Mora Portugal) digitAR nordm 3 Imprensa da Universidade de Coimbra p 53-61DINIZ M (2000) ndash Neolitizaccedilatildeo e megalitismo arquitecturas do tempo no espaccedilo In GONCcedilALVES V (ed) ldquoMuitas antas pouca genterdquo Actas do I Coloacutequio Internacional de Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 105-116DINIZ M (2007) ndash O Siacutetio da Valada do Mato (Eacutevora) aspectos da neolitizaccedilatildeo no InteriorSul de Portugal Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 48)GONCcedilALVES V (ed) ldquoMuitas antas pouca genterdquo Actas do I Coloacutequio Internacional de Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia

338 |

LARSSON L (2000) - Symbols in stone ritual activities and petrified traditions Actas do 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Porto 3 ADECAP p 445 ndash 458MATALOTO R amp BOAVENTURA R (2009) ndash Entre vivos e mortos nos IV e III mileacutenios ane do Sul de Portugal um balanccedilo relativo do povoamento com base em dataccedilotildees pelo radiocarbo-no Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 122 p 39-77MATALOTO R ANDRADE M A PEREIRA A (2016-2017) - O Megalitismo das pequenas antas novos dados para um velho problema Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras 23 p33-156NEVES C (2010) ndash Monte da Foz 1 (Benavente) um episoacutedio da Neolitizaccedilatildeo na margem esquerda do Baixo Tejo Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Arqueologia apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2 Vols (policopiado)NEVES C (2012) - A induacutestria de pedra lascada do Monte da Foz 1 (Benavente Portugal) contribuiccedilatildeo para o conhecimento do talhe da pedra na segunda metade do V mileacutenio aC Revista Portuguesa de Arqueologia Igespar Lisboa 15 p 5-30NEVES C (2015a) ndash A ceracircmica decorada com sulco abaixo do bordo do siacutetio neoliacutetico do Monte da Foz 1 (Benavente Portugal) SAEacuteZ DE LA FUENTE I TEJERIZO GARCIacuteA C ELORZA GONZAacuteLEZ DE ALAIZA L HERNAacuteNDEZ BELOQUI B HERNANDO AacuteLVAREZ C (Coords) Ar-queologiacuteas sociales Arqueologiacutea en sociedad Actas de las VII Jornadas de Joacutevenes en Investi-gacioacuten Arqueoloacutegica Vitoria-Gasteiz Arkeogazte-JAS Arqueologiacutea p458-465NEVES C (2015b) - A 2ordf metade do V Mileacutenio no Ocidente Peninsular algumas problemaacuteti-cas a partir da cultura material GONCcedilALVES VS DINIZ M SOUSA A C (eds) 5ordm Congres-so do Neoliacutetico Peninsular Actas Lisboa UNIARQ p314-321NEVES C (2016) - A produccedilatildeo ceracircmica na segunda metade do 5ordm mileacutenio AC leitura(s) a partir do Monte da Foz 1 (Benavente Portugal) COELHO I P TORRES J B GIL L S RAMOS T (coords) Entre ciecircncia e cultura Da interdisciplinaridade agrave transversalidade da arqueologia Actas das VIII Jornadas de Jovens em Investigaccedilatildeo Arqueoloacutegica Lisboa CHAM-FCSHUNL-UAccedil e IEM-FCSHUNL p87-97NEVES C (2018) ndash O Neoliacutetico meacutedio no Ocidente Peninsular o siacutetio da Moita do Ourives (Benavente) no quadro do povoamento do 5ordm e 4ordm mileacutenio AC Dissertaccedilatildeo de Doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2 Vols (policopiado)NEVES C amp DINIZ M (2014) - Acerca dos cenaacuterios da acccedilatildeo estrateacutegias de implantaccedilatildeo e exploraccedilatildeo do espaccedilo nos finais do 5ordm e na primeira metade do 4ordm mileacutenio AC no Sul de Portugal Estudos do Quaternaacuterio 11 APEQ Braga p45-58NUNES A amp CARVALHO A F (2013) - O Neoliacutetico Meacutedio no Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho estado actual dos conhecimentos e perspectivas de investigaccedilatildeo futura In ARNAUD J M MARTINS A NEVES C (coords) Arqueologia em Portugal ndash 150 anos Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 329-334PRICE T D (2014) ndash Isotope proveniencing In CARVALHO A F (ed) Bom Santo Cave (Lis-bon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Faro Universidade do Algarve (Promontoria Monograacutefica 17) p 151 158REIMER PJ BARD E BAYLISS A BECK JW BLACKWELL PG RAMSEY CB BUCK CE CHENG H EDWARDS RL FRIEDRICH M GROOTES PM GUILDERSON TP HAFLIDA-SON H HAJDAS I HATTEacute C HEATON TJ HOFFMANN DL HOGG AG HUGHEN KA KAISER KF KROMER B MANNING SW NIU M REIMER RW RICHARDS DA SCOTT EM SOUTHON JR STAFF RA TURNEY CSM y VAN DER PLICHT J (2013) - IntCal13 and Marine13 Radiocarbon Age Calibration Curves 0ndash50000 Years cal BP Radiocarbon 55(4)

| 339

| 2018

DOI 102458azu_js_rc5516947ROCHA L DUARTE C (2009) ndash Megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central os dados an-tropoloacutegicos das escavaccedilotildees de Manuel Heleno In POLO CERDAacute amp GARCIacuteA-PROacuteSPER E (eds) ndash Investigaciones histoacutericomeacutedicas sobre salud y enfermedad en el pasado Actas del IX Congreso Nacional de Paleopatologiacutea Valencia Grupo Paleolab amp Sociedad Espantildeola de Paleopatologia p763-781SOARES J amp SILVA C T (2013) ndash Economia agro-mariacutetima na Preacute-Histoacuteria do estuaacuterio do Sado Novos dados sobre o Neoliacutetico da Comporta Preacute-histoacuteria das Zonas Huacutemidas Pais-agens de Sal SOARES J (ed) Setuacutebal Arqueoloacutegica 14 MAEDS Setuacutebal p 145-170VALERA A C (2013) ndash Cronologia dos Recintos de Fossos da Preacute-Histoacuteria recente em ter-ritoacuterio portuguecircs ARNAUD J M MARTINS A NEVES C (coords) Arqueologia em Portugal - 150 Anos Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses Lisboa p345-350VALERA A C SIMAtildeO I NUNES T PEREIRO T COSTA C (2017) - Neolithic ditched enclo-sures in Southern Portugal (4th millennium BC) new data and new perspectives Estudos do Quaternaacuterio 17 APEQ Braga p 57-76

340 |

| 341

| 2018

O MENIR DO CABECcedilO DA AREIA (BROTAS MORA)

El menhir del Cabeccedilo da Areia (Brotas Mora)

ROCHA L Universidade de Eacutevora Escola de Ciecircncias Sociais Investigadora do CEAACP Universidades de Coimbra e do Algarvelrochauevorapt

ALVIM P (1975-2015)

RESUMOA escavaccedilatildeo do menir do Cabeccedilo da Areia (Brotas Mora) enquadrou-se no acircmbito de dois projetos de investigaccedilatildeo coordenados pelos signataacute- rios ldquoMegalitismo Funeraacuterio Alentejano - MFArdquo dirigido por Leonor Rocha e ldquoConjunto Megaliacutetico da Ribeira da Laje contexto geograacutefico e arqueo- loacutegicordquo dirigido por Pedro AlvimO principal objetivo desta intervenccedilatildeo foi o de tentar obter novos dados arqueoloacutegicos para a compreensatildeo da geacutenese e evoluccedilatildeo dos contextos megaliacuteticos preacute-histoacutericos neste concelho em particular e no Alentejo em geral Para aleacutem disso consideramos que os menires tombados e as sepulturas de pequenas dimensotildees satildeo monumentos dispostos a afe-taccedilotildees irreversiacuteveis pelo que accedilotildees de recuperaccedilatildeo arqueoloacutegica e ar-quitetoacutenica onde se incluem accedilotildees de divulgaccedilatildeo entre as comunidades locais satildeo extremamente importantes se queremos salvaguardar este tipo de patrimoacutenio tatildeo sensiacutevelEm termos globais os resultados desta intervenccedilatildeo natildeo forneceram dados crono-culturais significativos devido por um lado agrave tiacutepica escas-sez de espoacutelio deste tipo de monumentos os materiais recolhidos satildeo poucos e incaracteriacutesticos natildeo permitindo uma afericcedilatildeo cronoloacutegica satisfatoacuteria e por outro a total ausecircncia de mateacuteria orgacircnica suscetiacutevel de ser datada No entanto foi possiacutevel comprovar que a estrutura de sus-tentaccedilatildeo do menir se encontrava parcialmente preservada (como se su-punha antes da intervenccedilatildeo) e proceder agrave sua recuperaccedilatildeoPALAVRAS-CHAVE Menires Alentejo Mora Portugal

RESUMENLa excavacioacuten del menhir Cabeccedilo da Areia (Brotas Mora) era parte del

342 |

marco de dos proyectos de investigacioacuten coordinados por los firmantes ldquoMegalitismo Funeraacuterio Alentejano - MFArdquo de Leonor Rocha y ldquoConjunto Megaliacutetico da Ribeira da Laje contexto geograacutefico e arqueoloacutegicordquo de Pedro AlvimEl principal objetivo de esta intervencioacuten fue el de intentar obtener nuevos datos arqueoloacutegicos para la comprensioacuten de la geacutenesis y evolucioacuten de los contextos megaliacuteticos prehistoacutericos en este municipio en particular y en el Alentejo en general Ademaacutes consideramos que los menires tumbados y las sepulturas de pequentildeas dimensiones son monumentos dispuestos a afecciones irreversibles por lo que acciones de recuperacioacuten arqueoloacutegi-ca y arquitectoacutenica donde se incluyen acciones de divulgacioacuten entre las comunidades locales son extremadamente importantes si queremos sal-vaguardar este tipo de patrimonio tan sensibleEn teacuterminos globales los resultados de esta intervencioacuten no proporciona-ron datos crono-culturales significativos debido por una parte a la tiacutepi-ca escasez de botiacuten de este tipo de monumentos los materiales recogidos son pocos e inquebaacuteticos no permitiendo una verificacioacuten cronoloacutegica sa- tisfactoria y por otra la total ausencia de materia orgaacutenica susceptible de ser fechada Sin embargo fue posible comprobar que la estructura de sustentacioacuten del menir se encontraba parcialmente preservada (como se suponiacutea antes de la intervencioacuten) y proceder a su recuperacioacutenPALABRAS CLAVEMenhires Alentejo Mora Portugal

1 INTRODUCcedilAtildeONo acircmbito de anteriores projectos de investigaccedilatildeo foram realizadas algu-mas intervenccedilotildees em monumentos megaliacuteticos natildeo funeraacuterios do con-celho de Mora (Cromeleque das Fontaiacutenhas e Cromeleque de Vale drsquoel Rei) no qual participaram os signataacuterios quer como co-responsaacuteveis (LR) quer como arqueoacutelogos de campo (PA)A escavaccedilatildeo do menir do Cabeccedilo da Areia em 2011 foi inserida em dois projectos de investigaccedilatildeo em curso um sobre o megalitismo funeraacuterio dirigido por Leonor Rocha e o outro vocacionado para o megalitismo natildeo funeraacuterio dirigido por Pedro Alvim e tinha por objetivo a compreensatildeo do megalitismo alentejano na sua globalidade interessava-nos estabelecer moldes de comparaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo entre monumentos e respecti-vas tipologias que pelas suas caracteriacutesticas arqueoloacutegicas tendem a disponibilizar escassos dados crono-culturaisPara aleacutem disso consideramos que menires tombados e sepulturas de menores dimensotildees satildeo monumentos dispostos a afectaccedilotildees irre-versiacuteveis pelo que acccedilotildees de recuperaccedilatildeo arqueoloacutegica e arquitectoacutenica

| 343

| 2018

onde se incluem acccedilotildees de divulgaccedilatildeo entre as comunidades locais satildeo extremamente importantes para a sua salvaguarda e fruiccedilatildeo por toda a comunidade Eacute entendimento dos signataacuterios que o estudo arqueoloacutegico natildeo deve ser estanque fechado em torno de limites riacutegidos e que a cooperaccedilatildeo entre projectos especializados dirigidos por diferentes investigadores que visam investigar as mesmas realidades arqueoloacutegicas eacute uma praacutetica profiacutecua uma vez que aporta benefiacutecios aos proacuteprios investigadores e ao conhecimento em geral

2 OBJECTIVOSO objectivo desta intervenccedilatildeo era antes de mais tentar obter dados ar-queoloacutegicos para a compreensatildeo da geacutenese e evoluccedilatildeo dos contextos megaliacuteticos preacute-histoacutericos neste concelho em particular e no Alentejo em geralComo objectivo secundaacuterio tendo em conta que a suposta base do menir

Figura 1 Enquadramento megaliacutetico do menir do Cabeccedilo da Areia

344 |

se encontrava ainda cravada no solo e com a suspeita de que o alveacuteolo e a sua coroa de sustentaccedilatildeo pudessem estar parcialmente preservados pretendia-se reabilitar o monumento de forma a protegecirc-lo de agressotildees devidas a trabalhos agriacutecolas do tipo que se tem verificado em diversos monumentos megaliacuteticos da regiatildeoDe salientar que este menir se localiza numa aacuterea com elevado poten-cial cientiacutefico devido agrave existecircncia de menires isolados e em grupo (foi identificado um conjunto de menires na aacuterea no decurso dos trabalhos realizados em 2011) e de monumentos funeraacuterios com uma grande va- riedade em termos de dimensotildees e tipologia arquitectoacutenica (Alvim e Ro-cha 2011) (Fig1)Pretendia-se tambeacutem abrir uma sondagem alargada para prospectar eventuais estruturas negativas na envolvente do monoacutelito e recuperar espoacutelio que pudesse informar o monumento crono-culturalmente contu-do a dureza das terras constatada no iniacutecio da escavaccedilatildeo impediu este objectivo tendo em conta a equipa era reduzida e o tempo disponiacutevel para efectuar os trabalhos pouco alargado

3 ENQUADRAMENTO DA INTERVENCcedilAtildeOO menir do Cabeccedilo da Areia situa-se na Herdade das Aacuteguias sendo o acesso efectuado por caminho rural de terra batida a partir da Torre das Aacuteguias e foi identificado pelo filho do proprietaacuterio da Herdade Eng Joaquim Fernandes que o deu a conhecer a um dos signataacuterios (LR) em 2005 Administrativamente pertence agrave freguesia de Brotas concelho de Mora distrito de Eacutevora e tem as seguintes coordenadas Hayford-Gauss Datum Lisboa (GPS) M= 201905 P = 210397 (Carta Militar de Portugal escala 125000 folha 409)O menir localiza-se numa mancha restrita classificada como ldquoComplexo Greso-Argiloso e Conglomeraacutetico dos Planaltosrdquo na bacia sedimentar do Tejo a poucas centenas de metros do limite Ocidental do maciccedilo Hes-peacuterico (Zbyszewski e Carvalhosa 1980)Esta cobertura pedoloacutegica eacute caracteriacutestica e reconhecida pelos trabalhos rurais da aacuterea como tendo um periacuteodo de sazatildeo muito curto transfor-mando-se rapidamente em lama sob pluviosidade e extremamente com-pacta logo apoacutes razatildeo pela qual se encontravam tatildeo endurecidas duran-te os trabalhos arqueoloacutegicosO monoacutelito de granito encontrava-se tombado aparentemente in situ no iniacutecio de uma vertente suave virada a Nordeste (Fig2)

| 345

| 2018

Figura 2 Menir do Cabeccedilo da Areia antes da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica

O terreno eacute actualmente utilizado para pastoreio de gado bovino

4 ESTRATEacuteGIAS E METODOLOGIA DA INTERVENCcedilAtildeOOs primeiros trabalhos realizados consistiram no levantamento topograacute- fico da aacuterea do monumento (realizado pelos signataacuterios) num raio de cerca de 50 metros e posteriormente a implantaccedilatildeo da quadriacutecula de escavaccedilatildeo em torno do monumento (Fig3)Em termos altimeacutetricos e planimeacutetricos natildeo foi possiacutevel coordenar a es-cavaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave rede geodeacutesica nacional devido agrave existecircncia de abundante vegetaccedilatildeo arboacuterea (Quercus e Pinus) que mais uma vez im-possibilitaram a visibilidade para os veacutertices geodeacutesicos existentes na aacuterea envolventeNo iniacutecio dos trabalhos de campo a quadriacutecula definindo um quadrado de 2m x 2m foiorientada segundo os pontos cardeais magneacuteticos (X = Este-Oeste Y = Sul-Norte) Posteriormente a orientaccedilatildeo da quadriacutecula foi relacionada com o Norte Cartograacutefico (assinalado nas plantas) com recurso agrave sobre-posiccedilatildeo do levantamento agrave cartografia agrave escala 110000 em termos altimeacutetricos foi estabelecido um ponto zero convencional na origem dos

346 |

Figura 3 Levantamento topograacutefico do Menir com indicaccedilatildeo da quadriacutecula

Figura 4 Aspeto da [0]

| 347

| 2018

eixos x e yOs trabalhos arqueoloacutegicos de escavaccedilatildeo e registo seguiram sempre que possiacutevel os pressupostos metodoloacutegicos propostos por Barker (BARKER 1989) e Harris (HARRIS 1991) onde se preconiza a remoccedilatildeo dos de-poacutesitos por niacuteveis naturais seguindo a sequecircncia oposta agrave sua formaccedilatildeo com registo graacutefico e fotograacutefico de todas as unidades identificadas bem como o registo de artefactos de acordo com as unidades estratigraacuteficas que os contecircm Os sedimentos removidos foram integralmente crivados

5 CONTEXTOS ARQUEOLOacuteGICOS OBSERVADOSDesde o iniacutecio da escavaccedilatildeo da [0] foi possiacutevel verificar a extrema com-pacticidade das terras que se manteve ateacute ao niacutevel de base e que dificul-taram a escavaccedilatildeo (Fig 4) Nas terras que envolviam o monoacutelito e tam-beacutem debaixo dele foram observados diversos fenoacutemenos de bioturbaccedilatildeo (galerias de aracniacutedeos e formigueiros) Apesar destas dificuldades que obrigou a uma maior morosidade dos trabalhos a continuidade da escavaccedilatildeo permitiu identificar a fossa de implantaccedilatildeo do menir [4] e alguns dos calces do alveacuteolo [3] que se en-contravam em muito mau estado de conservaccedilatildeo (Fig 5 e 6)No final dos trabalhos o monumento foi recolocado no alveacuteolo e reposicio-nado na vertical a aacuterea do alveacuteolo foi coberta com rede de obra sobre a qual se assentou um enrocamento de pedras recolhidas nas imediaccedilotildees de modo a assegurar a estabilidade do monoacutelito posteriormente o enro-camento foi coberto e colmatado com as terras crivadas provenientes da

Figura 5 e 6 Fossa de implantaccedilatildeo e calccediles do menir

348 |

escavaccedilatildeoOs deslocamentos do menir durante os trabalhos de escavaccedilatildeo e duran-te a sua reabilitaccedilatildeo foram efectuados por meio de cordas e correntes metaacutelicas com protecccedilatildeo de uma manga de borracha (cacircmara de ar de pneu de tractor agriacutecola) de forma a evitar qualquer agressatildeo agrave superfiacute-cie do menir e traccedilatildeo manual e mecacircnica (Fig 7 e 8)51 Unidades Estratigraacuteficas[0] ndash Camada superficial Composta por areias argilosas (complexo gre-so-argiloso e conglomeraacutetico dos planaltos [Zbysweski e Carvalhosa 1980 Fl 36-A Pavia] e extremamente compacta de tonalidade acinzen-tada sem raiacutezes e com pequenos fragmentos de quartzo rolados (entre 5mm e 10mm) Define-se em toda a aacuterea intervencionada Sem materi-ais arqueoloacutegicos[1] ndash Monoacutelito de granito com 160mx070mx045m de dimensotildees maacute- ximas medidas sobre os eixos volumeacutetricos O menir apresentava na sua face superior diversas marcas de arado testemunhos da afectaccedilatildeo an-troacutepica que teraacute afectado tambeacutem a parte superior do alveacuteolo[2] ndash Camada subjacente agrave [0] constituiacuteda por areias argilosas muito com-pactas de tonalidade acinzentada Eacute equivalente ao substrato geoloacutegico Sem materiais arqueoloacutegicos[3] ndash Terras menos compactas mais escuras e arenosas do que o que se verificou na [2]Embalava algumas pedras exoacutegenas ao local A existecircncia de um maior nuacutemero de gratildeos de quartzo nesta unidade parece estar relacionada

Figura 7 e 8 Trabalhos de conservaccedilatildeo e restauro do menir

| 349

| 2018

com as pedras de granito que se encontram em desagregaccedilatildeo estas pedras teratildeo sido verosimilmente calces da estrutura de sustentaccedilatildeo do menir Esta UE deveraacute corresponder ao topo do enchimento do alveacuteolo afectado por antropizaccedilatildeo e bioturbaccedilatildeo[4] ndash Fossa do alveacuteolo escavada no substrato geoloacutegico (equivalente agrave [2])[5] ndash Enchimento do alveacuteolo (preservado apenas na base e testemunha-do nesta UE) embebendo parcialmente algumas pedras da coroa de sustentaccedilatildeo Muito argilosa de tonalidade cinzento-escura muito com- pacta e gordurosa Esta camada natildeo foi totalmente removida52 EspoacutelioEm termos de espoacutelio os dados satildeo muito escassos e incaraceriacutesticos como se pode verificar pela Tabela 1 Natildeo se recolheu nenhum material orgacircncio susceptiacutevel de ser datado

Tabela 1 Espoacutelio recolhido na intervenccedilatildeo

350 |

6 MENIR DO CABECcedilO DA AREIA MAIS UM PASSO EM FRENTEEsta intervenccedilatildeo natildeo forneceu dados crono-culturais significativos devi-do agrave tiacutepica escassez de espoacutelio deste tipo de monumentos os materiais recolhidos satildeo poucos e incaracteriacutesticos natildeo permitindo uma afericcedilatildeo cronoloacutegica satisfatoacuteria No entanto atendendo a estas caracteriacutesticas e pequena dimensatildeo do mesmo consideramos que a sua construccedilatildeo teraacute ocorrido numa fase inicial do Neolitico provavelmente durante o estabe-lecimento dos primeiros grupos populacionais nesta aacutereaOutro dos aspetos positivos foi sem duacutevida a possibilidade de compro-var que o menir se encontava in situ com a estrutura de sustentaccedilatildeo parcialmente preservada tal como se supunha antes da intervenccedilatildeo A observaccedilatildeo dos restos da estrutura de sustentaccedilatildeo permitiu caracterizar mais uma vez o tipo de processos tafonoacutemicos que afectam este tipo de monumentos e estruturas criando valor no conhecimento cientiacutefico sobretudo para enquadrar futuras intervenccedilotildees em contextos similares nesta regiatildeoPor uacuteltimo foi possiacutevel reabilitar o monumento e assim protegecirc-lo de trabalhos agriacutecolas (apesar de atualmente o siacutetio estar vigiado pelos pro-prietaacuterios) O menir deixou de ser ldquomais uma pedra no campordquo tendo

Figura 9 Menir do Cabeccedilo da Areia ndash aspeto final apoacutes escavaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo

| 351

| 2018

recuperado a sua identidade na paisagemUm outro aspecto que a equipa considerou extremamente positivo foi a possibilidade de conviver com trabalhadores agriacutecolas que no iniacutecio se mostraram extremamente ceacutepticos em relaccedilatildeo agrave intervenccedilatildeo em curso mas que no final puderam constatar que ldquoa pedrardquo era um monumen-to milenar e certamente no futuro estaratildeo mais atentos a ocorrecircncias semelhantes

BIBLIOGRAFIAALVIM P (2009) - Recintos megaliacuteticos do Ocidente do Alentejo central arquitectura e paisagem na transiccedilatildeo Mesoliacutetico-Neoliacutetico Tese de mestrado apresentada agrave Uni-versidade de Eacutevora Eacutevora UEacute (policopiada)ALVIM P e ROCHA L (2011) ndash Os menires do Alto da Cruz novos dados e algumas reflexotildees sobre o megalitismo da aacuterea de Brotas (Mora) Revista Portuguesa de Ar-queologia 14 Lisboa IGESPAR 41-55CALADO M (2000) - O Recinto megaliacutetico de Vale Maria do Meio (Eacutevora Alentejo) In Gonccedilalves V S (ed) Muitas antas pouca gente - Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Trabalhos de Arqueologia 16 Lisboa IPA 167-182CALADO M ROCHA L e ALVIM P (2007) - Neolitizaccedilatildeo e Megalitismo o recinto megaliacutetico das Fontainhas (Mora Alentejo Central) Revista Portuguesa de Arqueolo-gia 10 2 Lisboa IPA 75-100CALADO M ROCHA L e ALVIM P Coord (2013) - O tempo das Pedras Carta Arque-oloacutegica de Mora Mora Cacircmara Municipal de MoraFEIO M (1997) ndash Os principais tipos de utilizaccedilatildeo do solo no Alentejo meridional Evoluccedilatildeo de 1885 a 1951 Finisterra XXXII 63 Lisboa 147-158GOMES M V (1986) - O Cromeleque da Herdade de Cuncos (Montemor-o-Novo Eacutevo-ra) Almansor 4 Montemor-o-Novo CMMN 7-41GOMES M V (2002) - Cromeleque dos Almendres um monumento soacutecio-religioso neoliacutetico Tese de mestrado apresentada agrave Faculdade de Ciecircncias Sociais e Humanas da UniversidadeTeacutecnica de Lisboa Lisboa FCSHUTL (policopiada)GONCcedilALVES J P (1970) - Menires de Monsaraz Arqueologia e Histoacuteria Vol II Lis-boa AAP151-176HARRIS E C (1991) ndash Princiacutepios de estratigrafia arqueoloacutegica Madrid Editorial Crit-icaROCHA L (2000) - O alinhamento da Tera Pavia (Mora) resultados da 1ordf campanha (1996) in Gonccedilalves V S (ed) Muitas antas pouca gente - Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Trabalhos de Arqueologia 16 Lisboa IPA 183-194ROCHA L (2003) - O monumento megaliacutetico do Monte da Tera (Pavia Mora) Sector 2 resultados das uacuteltimas escavaccedilotildees in Gonccedilalves V S (ed) Muitas Antas Pouca Gente Actasdo I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Trabalhos de Arqueolo-gia 25 Lisboa IPA 339-349ROCHA L (2005) - Origens do megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central o contribu-to de Manuel Heleno Tese de doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2 Vols Lisboa FLUL (policopiada)i A equipa foi constituiacuteda pelos signataacuterios os arqueoacutelogos Ivo Santos Gertrudes Branco e Rosaacuterio Fernandes e pelos estudantes Catarina Leitatildeo Joatildeo Rocha e Marisa Santos Agradece-se a autorizaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo do proprietaacuterio Eng Joaquim Fernandes em todos os trabalhos de investigaccedilatildeo arqueoloacutegica em propriedades rurais sobre as quais tem responsabilidadesAgradece-se o apoio logiacutestico e financeiro da Cacircmara Municipal em Mora particularmente ao seu presidente Eng Luiacutes Simatildeo

352 |

ROCHA L (2009) ndash Carta Arqueoloacutegica de Mora Relatoacuterio final do projecto Acessiacutevel nos Arquivos do IGESPAR Lisboa PortugalZBYSZEWSKI G CARVALHOSA A B FERREIRA O da (1980) - Notiacutecia explicativa da Folha 36 - A Pavia Carta Geoloacutegica de Portugal Esc 1 50 000 Lisboa SGP

| 353

| 2018

Territoacuterios de fronteira o Megalitismo nas abas da Serra drsquoOssa (Estremoz-Redondo Alentejo Portugal)

Border Territories Megalithism on the shoulders of the Ossa mountain range (Estremoz-Redondo Alentejo Portugal)

RESUMOO perfil imponente da Serra drsquoOssa agindo como oacutebvio marco topograacute- fico na paisagem alto-alentejana (entendida geograficamente e natildeo cul-turalmente como a aacuterea esfraldada entre o curso do Tejo a Norte e a Serra do Mendro a Sul) parece ter assinalado a transiccedilatildeo como laquofron-teira naturalraquo entre dois universos megaliacuteticos individuais o universo centro-alentejano caracterizado pelos monumentos do eixo Montem-or-Eacutevora-Reguengos e o universo norte-alentejanoextremenho carac-terizado pelos monumentos do grupo Crato-Nisa-Alcaacutentara Com base nos trabalhos conduzidos por M Heleno G e V Leisner e pela equipa do projecto MEGAGEO (dirigida por R Boaventura) nas aacutereas de Estremoz e Redondo os autores pretendem esboccedilar algumas leituras a respeito dos patamares evolutivos do Megalitismo nas abas da Serra drsquoOssa ndash leituras estas baseadas tanto na anaacutelise das arquitecturas e respectivos mobiliaacuterios votivos como na proacutepria situaccedilatildeo espacial dos monumentos e sua consequente dispersatildeo territorial Com efeito regista-se nesta regiatildeo uma interessante diversidade arquitectoacutenica desde os pequenos sepulcros de Cacircmara simples (como Godinhos Chatildes 1 Barroca ou Ta- lha 3) aos sepulcros afins dos tholoi (como Caladinho) passando pelos pequenos sepulcros de Corredor curto (como Outeirotildees 2 ou Courela da Anta) e pelos sepulcros de Corredor de meacutediagrande dimensatildeo (como Casas do Canal 1 Entre Aacuteguas Vidigueira ou Casas Novas 1) com tem-pos de utilizaccedilatildeo estendidos genericamente desde meados do 4ordm mileacutenio ane ateacute finais do 3ordmprimeira metade do 2ordm mileacutenio ane ndash revelando

Marco Antoacutenio Andrade UNIARQ ndash Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa marcoandradecampusulpt

Rui Mataloto Municiacutepio de Redondo rmatalotogmailcom

Andreacute Pereira UNIARQ ndash Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa andrepereiraletrasulisboapt

354 |

as caracteriacutesticas tecno-tipoloacutegicas dos artefactos componentes dos pa-cotes votivos a possiacutevel ligaccedilatildeo entre dois complexos simboacutelico-funeraacute- rios distintos na qual o passo da Serra drsquoOssa ainda em uso no acircmbito de movimentos de gados transumantes ateacute ao seacuteculo XIX teraacute desempe- nhado papel fundamentalPALAVRAS-CHAVE Megalitismo Origem e Desenvolvimento Serra drsquoOs-sa Alto Alentejo

ABSTRACTThe imposing silhouette of the Ossa mountain range acting as an obvious topographical mark in the landscape of Upper Alentejo (geographical-ly yet not culturally understood as the area between the course of the Tagus River to the North and the Mendro mountain range to the South) seems to have marked the transition as a laquonatural frontierraquo between two individual megalithic universes the one of Central Alentejo characte- rized by the monuments of the Montemor-Eacutevora-Reguengos axis and the one of North Alentejo and Spanish Extremadura characterized by the monuments of the Crato-Nisa-Alcaacutentara group Based on the works of M Heleno G and V Leisner and the team from the MEGAGEO project (directed by R Boaventura) the authors intend to outline some readings regarding the evolutionary levels of Megalithism in the shoulders of the Ossa mountain range ndash based both on the analysis of architectures and their respective votive sets as well as on the spatial situation of monu-ments and their consequent territorial dispersion In fact there is an in-teresting architectural diversity in this region from the small tombs with simple Chamber (like Godinhos Chatildes 1 Barroca or Talha 3) to the tho-los-like tombs (like Caladinho) through the small tombs with short Cor-ridor (like Outeirotildees 2 or Courela da Anta) and the mediumlarge-size passage graves (like Casas do Canal 1 Entre Aacuteguas Vidigueira or Casas Novas 1) with use times generally extended since the mid-4th millennium BCE until the late 3rd millenniumfirst half of the 2nd millennium BCE The techno-typological features of the artefacts composing the votive sets reveal the possible connection between two distinct symbolic-funerary complexes in which the pass of the Ossa mountain range still in use until the 19th century in the context of movements of transhumant herds would have played a fundamental roleKEYWORDS Megalithism Origin and Development Ossa Mountain Range Upper Alentejo

| 355

| 2018

1 INTRODUCcedilAtildeO O ESTUDO DO MEGALITISMO NAS ABAS DA SERRA DrsquoOSSAO Megalitismo da aacuterea da Serra drsquoOssa incluindo os concelhos de Estremoz e Redondo eacute conhecido desde praticamente meados do seacuteculo XIX (se natildeo contarmos aqui com a referecircncia agraves antas da serra feita por Frei Martinho de Satildeo Paulo em 1571 publicada posteriormente por Frei Henrique de Santo Antoacutenio em 1745 e de forma abreviada por Frei Manuel de Satildeo Caetano em 1793 cf Calado e Mataloto 2001 p 12) Com efeito as primeiras referecircn-cias laquocientiacuteficasraquo registam-se com as menccedilotildees de autores como G Perei-ra J Possidoacutenio da Silva M Eacutemile Cartailhac ou J Leite de Vasconcellos a sepulcros da aacuterea do Redondo ndash nomeadamente as Antas da Candeeira Colmieiro (Tesouras) Vidigueira Paccedilo e Silveira Grande (cf Pereira 1875 e 1879 Silva 1878 Cartailhac 1886 Vasconcellos 1897 e 1916) contan-do-se ainda neste mesmo contexto cronoloacutegico a curiosa laquocontribuiccedilatildeoraquo de J Rocha Espanca (Espanca 1894)Para a aacuterea de Estremoz agrave parte a referecircncia geneacuterica (natildeo confirmada agrave altura) feita por F Pereira da Costa agrave Anta da Venda do Duque (Costa 1868) o primeiro laquoreconhecimento cientiacuteficoraquo daacute-se precisamente com as escavaccedilotildees conduzidas por M Heleno em 1934 no nuacutecleo de Satildeo Bento do Corticcedilo (Talha Outeirotildees Caldeireira etc) e nos sepulcros de Nossa Senho-ra da Conceiccedilatildeo dos Olivais Mal Dorme e Lebre ndash referenciando tambeacutem para aleacutem de outros localizados no aro de Eacutevoramonte os monumentos do nuacutecleo das Casas do Canal (natildeo tendo aqui aparentemente realizado quais-quer trabalhos de escavaccedilatildeo cf Cadernos de Campo nordm 1 a 3 Escavaccedilotildees nos arredores de Estremoz acessiacuteveis no Museu Nacional de Arqueologia) Estes trabalhos permaneceram ineacuteditos ateacute bem recentemente sendo que a importacircncia do Megalitismo de Estremoz eacute efectivada apenas com os tra-balhos de G e V Leisner nos monumentos situados nas propriedades da Casa de Braganccedila ndash destacando-se as Antas 1 a 5 das Casas do Canal a Anta de Entre Aacuteguas ou as Antas 1 a 3 das Palhas (Leisner e Leisner 1955) A par destes registam-se outros trabalhos ocasionais dirigidos por A Viana e A Dias de Deus no acircmbito dos seus estudos sobre os doacutelmens da regiatildeo de Elvas (Viana e Deus 1957) sendo referenciados os dois monumentos entretanto destruiacutedos da Melroeira e a Anta da Courela da Anta (agrave altura jaacute escavada por M Heleno designando-a como Anta de Satildeo Bento do Corticcedilo e registando a curiosa anotaccedilatildeo de que jaacute teria sido laquovioladaraquo) Regista-se igualmente a nota de O da Veiga Ferreira agrave Anta 1 das Casas do Canal (Fer-reira 1950)Nos seus Megalithgraumlber (1956 e 1959) G e V Leisner inventariam 28

356 |

monumentos na aacuterea de Estremoz incluindo alguns daqueles anteriormente intervencionados por M Heleno tais como as Antas de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais Caldeireira Talha e Courela da Anta (Leisner e Leis-ner 1959 p 152-159) Na aacuterea do Redondo satildeo registados cerca de 24 monumentos incluindo referecircncias natildeo confirmadas ou antas entretanto destruiacutedas ou natildeo localizadas (cf Leisner e Leisner 1959 p 159-164) ndash aumentando a cifra de pouco mais de uma dezena de sepulcros anterior-mente referenciados aquando do inventaacuterio dos monumentos megaliacuteticos dos arredores de Eacutevora (Leisner 1949 p 43-47) Posteriormente com os trabalhos realizados no acircmbito da Carta Arqueoloacutegica do Redondo novos monumentos foram identificados fazendo ascender para o dobro o nuacutemero de monumentos megaliacuteticos inventariados nesta aacuterea (cf Calado e Mataloto 2001) o qual tem vindo a ser aumentado com o registo de novas antasA inclusatildeo dos monumentos de Estremoz e Redondo em estudos acadeacutemi-cos efectiva-se com os trabalhos de M Calado (cf Calado 2001 e 2004) e L Rocha este uacuteltimo incidindo especificamente na compilaccedilatildeo e filtragem dos dados colectados durante os trabalhos de M Heleno na aacuterea de Estremoz com base nos seus apontamentos de campo (cf Rocha 2005) Mais recen-temente conta-se o estudo do nuacutecleo de Satildeo Bento do Corticcedilo no acircmbito da Dissertaccedilatildeo de Doutoramento de um dos signataacuterios (MAA) e a publicaccedilatildeo dos dados recolhidos durante a escavaccedilatildeo da Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (Boaventura et al 2014-2015) estando em prepa-raccedilatildeo o tiacutetulo referente agraves Antas de Mal Dorme e Lebre Saliente-se ainda a identificaccedilatildeo e escavaccedilatildeo recente da Anta da Barroca (Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017)No acircmbito do projecto MEGAGEO ndash Movendo megaacutelitos no Neoliacutetico a pro-veniecircncia geoloacutegica dos esteios de antas no Centro-Sul de Portugal (dirigido por R Boaventura) incluindo a aacuterea do Redondo como case study foi con-templada para aleacutem da definiccedilatildeo da origem geoloacutegica dos suportes constru-tivos (cf por exemplo Nogueira et al 2015 Pedro et al 2015) a limpeza e desenho de diversos monumentos da aacuterea do Freixo para aleacutem da escav-accedilatildeo da Anta da Candeeira (Boaventura et al 2014) Todavia durante a uacuteltima deacutecada tem vindo a promover-se a escavaccedilatildeo e publicaccedilatildeo dos sep-ulcros da Vidigueira Godinhos 1 das Chatildes 4 da Quinta do Freixo Valdanta e Barroca esta jaacute no concelho de Estremoz (cf Mataloto e Boaventura 2010 Mataloto et al 2015 Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017) sucedendo agrave escavaccedilatildeo realizada em anos anteriores no sepulcro do Caladinho (Mata-loto e Rocha 2007)Com perto de nove dezenas de sepulcros inventariados ateacute ao momento

| 357

| 2018

Figura 1 ndash Em cima agrave esquerda situaccedilatildeo dos monumentos analisados (indicados pelos pontos vermelhos limites municipais indicados pela linha tracejada) no contexto do Megalitismo do Centro-Sul de Portugal em relaccedilatildeo agrave Geologia (cartografia elaborada no acircmbito do projecto MEGAGEO) em cima agrave direita situaccedilatildeo dos monumentos analisados (indicados pelos pontos vermelhos limites municipais indicados pela linha tracejada) em relaccedilatildeo agrave Serra drsquoOssa e ao Antiforma de Estremoz no contexto do Megalitismo do Alto Alentejo (entre o curso do Tejo e a Serra do Mendro) com indicaccedilatildeo das principais vias naturais de tracircnsito (base cartograacutefica Google Maps 2017) ao centro vista aeacuterea obliacutequa da aacuterea da Serra drsquoOssa e do Antiforma de Estremoz (a centro da imagem) enquadrados a Sul pela Planiacutecie Central do Redondo e a Norte pela bacia hidrograacutefica da Ribeira da Seda (base Google Earth 2018) em baixo perfil topograacutefico NE-SW com indicaccedilatildeo das principais unidades paisagiacutesticas

358 |

(com outros ainda passiacuteveis de serem identificados como o demonstra o caso da Anta da Barroca) o conjunto megaliacutetico da Serra drsquoOssa prima pre-cisamente pela sua posiccedilatildeo geograacutefica especiacutefica (Figura 1) Com efeito o perfil imponente deste acidente topograacutefico teraacute agido como oacutebvio marco geograacutefico na paisagem alto-alentejana aqui entendida em termos geograacute- ficos e natildeo culturais especificamente no que ao Megalitismo diz respeito como a aacuterea esfraldada entre o curso do Tejo a Norte e a Serra do Mendro a Sul Parece pois ter assinalado a transiccedilatildeo como laquofronteira naturalraquo entre dois universos megaliacuteticos individuais o universo centro-alentejano (carac-terizado pelos monumentos do eixo Montemor-Eacutevora-Reguengos) e o univer-so norte-alentejanoextremenho (caracterizado pelos monumentos do gru-po Crato-Nisa-Alcaacutentara) recolhendo oacutebvios paralelos em ambas aacutereas mas com algumas particularidades evidentes ndash lidas tanto na composiccedilatildeo dos mobiliaacuterios votivos como na disposiccedilatildeo arquitectoacutenica dos sepulcros com tempos de utilizaccedilatildeo que se estendem genericamente desde a meados do 4ordm mileacutenio ateacute agrave segunda metade do 3ordm mileacutenio ane e primeira metade do seguinteEste facto particular justifica a anaacutelise integrada destes monumentos en-quadrando-os num contexto cultural mais vasto que inclui os grupos megaliacuteti-cos acima enunciados ndash assumindo a aacuterea da Serra drsquoOssa como um ter-ritoacuterio de cruzamento de influecircncias comuns possivelmente motivadas por movimentaccedilotildees verticais de gentes e rebanhos durante os 4ordm e 3ordm mileacutenios ane traduzidas tanto em transmissotildees materiais (recursos abioacuteticos) como imateriais (preceitos construtivos ou rituais)

2 A ABA NORTE OS MONUMENTOS MEGALIacuteTICOS NO SOPEacute DO ANTI-FORMA DE ESTREMOZOs monumentos megaliacuteticos da aacuterea de Estremoz (Figura 2) distribuem-se genericamente por dois grupos principais o nuacutecleo das Casas do Canal e o nuacutecleo de Satildeo Bento do Corticcedilo ndash a par dos quais se registam outros agrupa-mentos pouco numerosos (como os conjuntos de Alfaiates-Venda do Duque talvez jaacute relacionados com os monumentos de Satildeo Bento do Mato-Vale do Pereiro no concelho de Eacutevora) ou sepulcros aparentemente isolados na paisagem (como Torrinha ou Leatildeo embora aparentemente jaacute associados a monumentos das aacutereas de Fronteira e Monforte)O nuacutecleo das Casas do Canal principalmente disposto ao longo da Ribei-ra do Canal implanta-se numa zona adjacente ao importante eixo de cir-culaccedilatildeo Este-Oeste que interliga a bacia do Guadiana com a bacia do Tejo justamente no amplo corredor aberto entre as espaldas Sudoeste do Antifor-

| 359

| 2018

Figura 2 ndash Monumentos megaliacuteticos da aacuterea do concelho de Estremoz Levantamentos de G e V Leisner (1955 1956 e 1959) A Viana e A Dias de Deus (1957) MEGAGEO e MAA Talha 3 Outeirotildees 3 Mal Dorme e Lebre de planta actualmente imperceptiacutevel ou natildeo localizados desenhados a partir das indicaccedilotildees de campo de M Heleno elementos actualmente em falta em Outeirotildees 1 e 2 e Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais desenhados a partir das indicaccedilotildees de campo de M Heleno As setas indicam elementos com laquocovinhasraquo insculpidas

360 |

ma de Estremoz e as espaldas Nordeste da Serra drsquoOssa caracterizando-se genericamente pelos vales das Ribeiras de Lucefeacutece e TeraEacute composto pelas Antas 1 a 6 das Casas do Canal Entre Aacuteguas Cotovi- eira (ou Foro do Ferreiro) e Defesa da Junceira que se caracterizam como monumentos de xisto de pequena a meacutedia dimensatildeo maioritariamente de Cacircmara e Corredor diferenciados ndash sendo este de curto a meacutediolongo em extensatildeo com Cacircmaras de sete ou oitos esteios organizados a partir do esteio de Cabeceira Corresponde assim em termos arquitectoacutenicos a um conjunto homogeacuteneo respeitando os paracircmetros geneacutericos do Megalitismo alentejanoA este nuacutecleo associam-se os nuacutecleos secundaacuterios compostos pelas Antas 1 e 2 do Montinho e pelas Antas 1 a 3 de Palhas ndash sepulcros com caracteriacutesti-cas arquitectoacutenicas semelhantes agravequelas registadas no nuacutecleo estrito das Casas do Canal estando o primeiro conjunto implantado sobre o vale imedi-ato da Ribeira da Tera e o uacuteltimo disposto em torno a um dos bastiotildees mais setentrionais da Serra drsquoOssa o Outeiro da Cerca Associam-se igualmente um pouco mais distantes as Antas dos Penedos Mijadouros e ValongoO nuacutecleo de Satildeo Bento do Corticcedilo prima jaacute pela heterogeneidade dos seus constituintes registando-se uma maior diversidade em relaccedilatildeo agrave com-posiccedilatildeo arquitectoacutenica dos monumentos (o que lhe confere uma certa identidade proacutepria dentro do contexto geneacuterico dos monumentos da mar-gem esquerda da Ribeira da Seda) Implanta-se no rebordo da peneplaniacutecie que desce ateacute ao vale da Ribeira Grande (numa ampla paisagem aberta cingida a Sudoeste pelos relevos da Serra de Satildeo Bartolomeu no limite das cristas xistosas) sendo principalmente drenada pelas Ribeiras de Sousel e Ana Loura ndash encontrando-se no contexto de uma via natural de tracircnsito cor- respondente agrave linha de festo destes dois cursos de aacutegua tendo igualmente acesso agrave feacutertil aacuterea aplanada dos calcretos de Casa Branca-Cano pelo vale das Ribeiras de Almadafe e AlcocircrregoEste nuacutecleo compotildee-se por dois conjuntos paralelamente dispostos em am-bas margens da Ribeira de Sousel ndash encontrando-se na margem esquerda as Antas 1 a 3 dos Outeirotildees Cascalho e Espadanal e na margem direita as Antas 1 a 3 da Talha 1 e 2 da Caldeireira e Courela da Anta Um pouco mais a Norte sobre o vale da Ribeira de Sousel localizar-se-ia o conjunto das Antas 1 e 2 da Melroeira e um pouco mais afastada a Anta da Cabeccedila da Ovelha (jaacute no concelho de Sousel) Usando xisto como suporte construtivo estes conjuntos satildeo compostos por pequenos sepulcros de Cacircmara simples (Anta 3 da Talha Anta 1 dos Outeirotildees Anta 1 da Caldeireira) pequenos sepulcros de Cacircmara alongada (Anta 2 da Caldeireira) e pequenos sepulcros

| 361

| 2018

de Corredor incipiente (Antas 2 e 3 dos Outeirotildees Anta da Courela da Anta) ndash registando-se na Anta 1 da Talha o caso de uma grande Cacircmara rectangular transversal aberta a nascente sem vestiacutegios de CorredorNo espaccedilo entre os nuacutecleos das Casas do Canal e Satildeo Bento do Corticcedilo encontram-se monumentos aparentemente isolados (sem ligaccedilatildeo espacial directa a qualquer conjunto definido) como as Antas de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais Mal Dorme e Lebre ndash correspondendo o primeiro a um grande monumento de Cacircmara e Corredor diferenciados construiacutedo em ortognaisse graniacutetico e calcaacuterio dolomiacutetico o segundo a um monumento de xisto de planta alongada (com um laquopseudo-corredorraquo sugerido por um leve estrangulamento na transiccedilatildeo para a Cacircmara) e o uacuteltimo a um pequeno monumento de xisto deficientemente conservado Implantam-se em aacutereas levemente onduladas com alguns relevos residuais e vales sumariamente encaixados no contexto de uma paisagem aberta geneacuterica (principalmente para poente) no extremo Noroeste do corredor de circulaccedilatildeo no contexto do qual se implanta o nuacutecleo das Casas do CanalPoder-se-aacute referir igualmente os monumentos aparentemente isolados da Torrinha e Leatildeo ndash embora estes como dito acima se possam relacionar (mesmo que indirectamente) com monumentos jaacute localizados nas aacutereas dos concelhos de Fronteira e MonforteParticularmente interessante eacute tambeacutem o caso do monumento da Barroca devendo ser lido em conjunto com as Antas 1 e 2 das Chatildes (jaacute no conce- lho do Redondo) implantado sobre o mesmo patamar de circulaccedilatildeo (jaacute na viragem para a aba Sul da Serra drsquoOssa) e correspondendo igualmente a um pequeno monumento de Cacircmara simples construiacutedo em granito xisto metamorfizado e gnaisse ndash sendo contudo de tendecircncia alongada e com uma estrutura tumular bastante mais complexaCom efeito registam-se na aacuterea de Estremoz algumas soluccedilotildees construti-vas curiosas Seraacute de mencionar por exemplo a escassa representatividade topograacutefica das estruturas tumulares nos monumentos de Satildeo Bento do Corticcedilo ndash facto jaacute evidenciado por M Heleno parecendo os monumentos terem sido construiacutedos laquoem negativoraquo em fossas posteriormente revestidas com esteios (como a Anta 3 da Talha ou as Antas 2 e 3 dos Outeirotildees) Refira-se igualmente a colocaccedilatildeo de lajes de compartimentaccedilatildeo do espaccedilo interno da Cacircmara (laquolajes-divisoacuteriaraquo formando laquonichosraquo nas palavras de M Heleno) identificadas nas Anta do Cascalho Anta 2 dos Outeirotildees e Anta da Lebre podendo corresponder a espaccedilos de deposiccedilatildeo especiacuteficos ndash con-tando-se ainda no uacuteltimo caso a colocaccedilatildeo de uma laquolaje de fechoraquo agrave entra-da do monumento vedando o acesso a este A construccedilatildeo da Cacircmara da

362 |

Figura 3 ndash Exemplos dos componentes dos mobiliaacuterios votivos registados nos monumen-tos megaliacuteticos da aacuterea de Estremoz armaduras geomeacutetricas (Outeirotildees 1 a 3 Talha 3 Lebre Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) lacircminas (Outeirotildees 3 Talha 3 Barroca Cascalho) pontas de seta (Cascalho Talha 2 Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) artefactos de pedra polida (Barroca Talha 2 e 3) recipientes ceracircmicos (Talha 1 e 2 Es-padanal) elementos de adorno (Lebre Talha 1 Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) placa de xisto gravada (Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) placa de greacutes esculpida (Espadanal)

| 363

| 2018

Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais parece ter seguido tam-beacutem preceitos especiacuteficos ndash natildeo tendo sido escavadas fossas individuais para implantaccedilatildeo dos esteios (como eacute comum na maioria dos monumentos megaliacuteticos alentejanos) mas antes um fosso contiacutenuo de periacutemetro circu-lar com cerca de 4 m de diacircmetro (conforme atestado por M Heleno) Da mesma maneira a delimitaccedilatildeo da estrutura tumular da Anta da Barroca foi efectivada com a construccedilatildeo de um anel perifeacuterico formado por duas fiadas concecircntricas de lajes fincadas de contorno sensivelmente circular ndash regis- tando-se tambeacutem neste monumento o bloqueio intencional da entrada (cf Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017)Os mobiliaacuterios votivos recolhidos nestes monumentos (Figura 3) repartem-se pelas duas crono-culturas geneacutericas definidas para o Megalitismo alenteja-no (cf Boaventura 2011 Boaventura e Mataloto 2013)O primeiro episoacutedio enquadrado segundo cremos no terccedilo central do 4ordm mileacutenio ane (e extensiacutevel talvez ateacute ao seu uacuteltimo quartel) encontra-se re- presentado em sepulcros de Cacircmara simples e pequenos monumentos de Corredor incipiente ndash com conjuntos funeraacuterios formados pela associaccedilatildeo de armaduras geomeacutetricas (maioritariamente trapeacutezios produzidos em siacutelex calcedoacutenia e quartzo) pequenas lacircminas natildeo retocadas extraiacutedas por percussatildeo indirecta e artefactos de pedra polida (machados e enxoacutes pro-duzidos em anfibolito xisto anfiboacutelico e rochas metamorfizadas brandas) sendo raros os recipientes ceracircmicos Tratam-se genericamente de conjun-tos com um nuacutemero reduzido de componentes como se atesta nos casos da Anta da Barroca (uma lacircmina um machado e uma enxoacute) Anta 1 da Cal-deireira (dois machados e uma enxoacute) ou Anta 1 dos Outeirotildees (um trapeacutezio) referindo-se possivelmente a um nuacutemero restrito de inumaccedilotildees A excepccedilatildeo encontra-se no caso da Anta 3 da Talha com um mobiliaacuterio votivo composto por um maior nuacutemero de artefactos (21 armaduras geomeacutetricas duas lacircmi-nas 13 artefactos de pedra polida) podendo indicar jaacute possiacuteveis inumaccedilotildees muacuteltiplas apesar da pequena dimensatildeo do sepulcroO segundo momento balizado entre o uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane e meados do seguinte atesta-se tanto em pequenos monumentos de Cor- redor curto como em monumentos de Cacircmara e Corredor diferenciados de meacutediagrande dimensatildeo assim como em sepulcros de planta excepcional (Anta 1 da Talha) ou indeterminaacutevel (Anta do Espadanal Anta do Cascalho e Anta 2 da Talha) Regista-se jaacute a inclusatildeo significativa de recipientes ceracircmi-cos e um maior nuacutemero de elementos de adorno incluindo exemplares em laquopedra verderaquo e azeviche (por exemplo Anta do Cascalho Anta 1 da Talha e Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) No campo dos artefactos

364 |

de pedra lascada conta-se a introduccedilatildeo das grandes lacircminas de siacutelex reto-cadas (Anta do Cascalho Anta 3 dos Outeirotildees Anta 1 da Talha Anta 1 das Casas do Canal) e das pontas de seta (bem representadas pelos exemplares de base convexa e triangular) produzidas em siacutelex quartzo hialino e opa-laopalina (Anta do Cascalho Anta 2 da Talha Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais)Elementos caracteriacutesticos desta segunda fase satildeo as placas votivas estan-do presentes placas de xisto gravadas de influecircncia centro-alentejana (Anta 3 dos Outeirotildees Anta 1 da Talha Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) e as tiacutepicas placas de greacutes alto-alentejanas ndash sejam os exemplares lisos (Anta do Espadanal Anta 3 dos Outeirotildees Anta 1 da Talha Anta 1 das Casas do Canal) ou os exemplares esculpidos com motivos antropomoacuterficos (aqui representados pelo conhecido exemplar da Anta do Espadanal) En-contram-se igualmente placas de micaxisto com motivos laquoimitandoraquo as re- presentaccedilotildees antropomoacuterficas das placas de greacutes esculpidas (como no caso da Anta 1 da Talha)Contudo regista-se ainda nestes monumentos laquoculturalmente evoluiacutedosraquo para aleacutem de um nuacutemero ainda consideraacutevel de artefactos de pedra polida (maioritariamente enxoacutes) a presenccedila de armaduras geomeacutetricas (Antas 1 e 2 da Talha Anta 3 dos Outeirotildees) por vezes em nuacutemero significativo e com caracteriacutesticas morfoloacutegicas peculiares (como na Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) ndash podendo indicar mais do que dois momentos di- ferenciaacuteveis de uso uma utilizaccedilatildeo continuada dos sepulcros ou o uso de espoacutelio laquosupervivencialraquo Possiacuteveis episoacutedios de transiccedilatildeo poderatildeo estar re- presentados na Anta da Lebre com um conjunto de caracteriacutesticas laquoantigasraquo mas onde se inclui jaacute uma placa de greacutes lisa e elementos de adorno em laquopedra verderaquoUm ponto interessante nos monumentos da aacuterea de Estremoz eacute o seu reuso a partir da segunda metade do 3ordm mileacutenio ane representado nas Antas 1 das Casas do Canal Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais e Mal Dorme para aleacutem do duvidoso caso da Anta 2 dos Outeirotildees ndash problemaacutetica parti- cular discutida no ponto 5 abaixo

3 A ABA SUL OS MONUMENTOS MEGALIacuteTICOS SOBRANCEIROS Agrave PLANIacuteCIE CENTRAL DO REDONDOA aacuterea do concelho do Redondo integra-se jaacute na ampla regiatildeo megaliacutetica do Alentejo Central genericamente caracterizada pelos monumentos do eixo Montemor-Eacutevora-Reguengos ndash apresentando-se assim relativamente rica em termos de patrimoacutenio laquomegaliacuteticoraquo Ao contraacuterio da aacuterea de Estre-

| 365

| 2018

Figura 4 ndash Monumentos megaliacuteticos da aacuterea do concelho do Redondo Levantamentos de G e V Leisner (1949 1956 e 1959) RM e MEGAGEO As setas indicam elementos com laquocovinhasraquo insculpidas

366 |

moz onde se registam localizaccedilotildees territorialmente mais concentradas (com nuacutecleos espacialmente bem delimitados) os grupos do Redondo parecem apresentar um maior iacutendice de dispersatildeo territorial mas reflectindo contudo uma ocupaccedilatildeo modular do espaccedilo com conjuntos instalados em segmentos bem localizados da paisagemCom efeito estando estes nuacutecleos mais diluiacutedos no espaccedilo (por assim dizer) a sua implantaccedilatildeo revela uma ocupaccedilatildeo mais extensiva do territoacuterio sobre ou nas margens do amplo corredor de rochas granitoacuteides (ou outras litolo-gias com capacidade para serem usadas como suporte construtivo) que se estende no Patamar a Sul da Serra drsquoOssa sobranceiro agrave Planiacutecie Central (como prolongamento para Este dos nuacutecleos de Satildeo Miguel e Nossa Senho-ra de Machede jaacute em Eacutevora)Este extenso patamar que medeia entre as elevaccedilotildees mais altas da Serra drsquoOssa e a Planiacutecie Central a Sul parece ser assim a aacuterea de eleiccedilatildeo para a instalaccedilatildeo destes monumentos Na verdade a sua maior amplitude na zona Noroeste do concelho na envolvente da aldeia do Freixo talvez tenha conduzido a uma maior concentraccedilatildeo de monumentos os quais superam aiacute as trecircs dezenas As regiotildees mais a Sul mais intensamente agricultadas natildeo tiveram (ou natildeo conservaram) mais que um reduzido nuacutemero de sepulcros como os monumentos aparentemente isolados de Zambujeiro Pegas e Nos-sa Senhora da Piedade A aparente escassez de sepulcros nesta aacuterea mais a Sul poderaacute estar eventualmente relacionada tambeacutem com condicionantes geoloacutegicas registando-se extensas manchas de depoacutesitos cenozoacuteicos (prin-cipalmente entre a Aacuterea da Vigia e a Planiacutecie Sul) onde natildeo se encontram suportes construtivos capazes agrave erecccedilatildeo de monumentos megaliacuteticosAs antas do concelho do Redondo (Figura 4) enquadram-se na sua grande maioria no tipo claacutessico do Megalitismo regional (o designado laquotipo alente-janoraquo) sendo constituiacutedo por monumentos de Cacircmara poligonal de sete es-teios organizados a partir do esteio de Cabeceira e Corredor diferenciado Satildeo usualmente construiacutedas em granito (ou granodiorito) sendo tambeacutem conhecidas em xisto ou inclusivamente com ambosAinda que a maioria dos monumentos apresente dimensotildees de certo modo modestas estatildeo documentados alguns monumentos de meacutediagrande di-mensatildeo caso da Anta da Vidigueira Anta 1 do Colmeeiro Anta da Candeeira ou Anta 1 das Casas Novas (laquoAnta Granderaquo) incluiacuteveis genericamente no gru-po dos sepulcros caracteriacutesticos de finais do 4ordm e iniacutecios do 3ordm mileacutenio ane no Alentejo Central A par destes registam-se pequenos monumentos de xisto e gnaisse (incluindo pequenos sepulcros de Cacircmara simples como as Antas 1 e 2 das Chatildes ou Godinhos) e monumentos intermeacutedios em termos

| 367

| 2018

Figura 5 ndash Exemplos dos componentes dos mobiliaacuterios votivos registados nos monumen-tos megaliacuteticos da aacuterea do Redondo armaduras geomeacutetricas (Chatildes 1 Godinhos Vidi- gueira Caladinho) lacircminas (Vidigueira) pontas de seta (Vidigueira Caladinho) arte- factos de pedra polida (Chatildes 1 Caladinho) recipientes ceracircmicos (Godinhos Caladinho) elementos de adorno (Caladinho) placa de xisto gravada e baacuteculo (Caladinho)

368 |

da sua morfologia e dimensatildeo talvez relativos a momentos anteriores ao uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane (como a Anta da Vinha ou as Antas 3 e 4 do Colmieiro a uacuteltima com dois esteios de Cabeceira alinhados semelhante a alguns exemplos da aacuterea da Ribeira da Seda)Como dito os monumentos concentram-se na metade Norte do concelho (principalmente na parcela Noroeste) podendo estar relacionados com a demarcaccedilatildeo de aacutereas de ocupaccedilatildeo preferencial potenciada pela ocorrecircn-cia de solos graniacuteticos propiacutecios tanto agrave construccedilatildeo dos monumentos como agraves praacuteticas agriacutecolas de subsistecircncia como o parece demonstrar tambeacutem a concentraccedilatildeo de vestiacutegios de povoamento aiacute documentada (cf Calado e Mataloto 2001) Situam-se assim proacuteximos das cabeceiras dos principais cursos de aacutegua que cortam longitudinalmente o territoacuterio nomeadamente as Ribeiras da Pardiela Freixo Satildeo Bento e Alcorovisco-Vale de Vasco sub-sidiaacuterias do Rio DegebeDois nuacutecleos principais satildeo distinguiacuteveis neste contexto geneacuterico ndash no-meadamente os grupos de Vidigueira-Quinta do Freixo (composto por seis monumentos ao quais se poderaacute associar tambeacutem os dois monumentos de Martes) e Colmieiro-Casas Novas-Godinha de Cima (composto por nove monumentos com a associaccedilatildeo espacial dos dois monumentos do Paccedilo Hospital Pinheiro e os cinco monumentos das Casas)A sua relaccedilatildeo com vias naturais de tracircnsito eacute tambeacutem evidente Com efeito o extenso Patamar onde se encontra a maioria dos monumentos corresponde a um dos principais eixos de circulaccedilatildeo transversal do territoacuterio no rebordo da Serra drsquoOssa culminando numa ampla portela aberta a Este formada pelos bastiotildees Sudeste da serra (cabeccedilo da Argolia) e o extremo Norte da crista xistosa que desce desde a aacuterea do Caladinho para Sul (Crista do Re-dondo) Neste mesmo eixo de circulaccedilatildeo ao longo do sopeacute Sul da serra sur-gem os monumentos de Valdanta Zorreira Monte Branco Vale de Sobrados e Candeeira (esta uacuteltima jaacute em posiccedilatildeo destacada nas estribaccedilotildees da ser-ra) ndash sendo aqui o tracircnsito tambeacutem controlado durante finais do 4ordm mileacutenio ane pelo povoado do Monte da Ribeira (instalado precisamente no centro desta aacuterea encontrando-se outros siacutetios jaacute do 3ordm mileacutenio ane nos cabeccedilos marginais como Satildeo Pedro Caladinho Pereiras Argolia e Fonte Ferrenha) Ao longo da Crista do Redondo junto das suas portelas encontramos os monumentos da Vinha Silveira Caladinho e Orvalha (Antas 1 e 2)Em relaccedilatildeo a caminhos de travessia da serra no sentido longitudinal do territoacuterio encontram-se monumentos como Candeeira (para aleacutem da qual se localizariam os dois monumentos do Convento da Serra) ou Godinhos (acessiacutevel a partir do nuacutecleo de Colmieiro-Casas Novas-Godinha de Cima) ndash

| 369

| 2018

para aleacutem dos dois pequenos monumentos das Chatildes instalados sobre um patamar de circulaccedilatildeo no rebordo Oeste da serra relacionados (como dito acima) com o monumento da Barroca jaacute no concelho de EstremozEm termos da afericcedilatildeo crono-cultural da construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo destes sepulcros esta baseia-se principalmente nas arquitecturas ndash dado que ao contraacuterio da aacuterea de Estremoz apenas uma pequena percentagem dos monumentos foi objecto de escavaccedilatildeo (nomeadamente os monumentos de Caladinho Vidigueira Candeeira Vale da Anta Godinhos e Chatildes cf Matalo-to e Rocha 2007 Mataloto e Boaventura 2010 Mataloto et al 2015 Ma-taloto Andrade e Pereira 2016-2017) Contudo referem-se a escavaccedilotildees recentes com dados considerados pertinentes para a definiccedilatildeo da origem e desenvolvimento do fenoacutemeno megaliacutetico nesta aacuterea regional com evidecircn-cias artefactuais ainda significativas (Figura 5)As etapas iniciais do Megalitismo poderatildeo estar representadas em pequenos monumentos de Cacircmara simples de tendecircncia laquocistoacuteideraquo de que satildeo exem- plo as Antas 1 da Chatildes e Godinhos O mobiliaacuterio votivo recolhido nestes mo- numentos eacute pouco diversificado ndash referindo-se no primeiro caso a duas ar-maduras geomeacutetricas (trapeacutezios) e trecircs artefactos de pedra polida (um ma- chado e duas enxoacutes) e no segundo a trecircs armaduras geomeacutetricas (trapeacutezios) e um artefacto de pedra polida contando jaacute com a inclusatildeo de recipientes ceracircmicos Assim se a Anta 1 das Chatildes pode ser genericamente atribuiacute-da um intervalo de tempo centrado em meados do 4ordm mileacutenio ane o mo- numento dos Godinhos poderaacute corresponder jaacute a um momento avanccedilado desse mesmo mileacutenio talvez coevo com o pequeno monumento de Corredor curto do Poccedilo da Gateira 1 em Reguengos de Monsaraz (cf Leisner e Leis-ner 1951 Gonccedilalves 1992 e 1999)Uma caracteriacutestica interessante destes pequenos monumentos eacute a de se tratarem de efectivos sepulcros laquoabertosraquo apresentando no lado Este dois esteios-pilaretes laterais que poderiam corresponder a laquoportaisraquo eventual-mente como apoio de uma estrutura amoviacutevel que permitisse o acesso ao seu interior (cf Mataloto et al 2015 Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017)Jaacute relativos ao uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane e primeiro quartel do se-guinte satildeo os tiacutepicos monumentos de Cacircmara e Corredor diferenciados al-guns de dimensatildeo consideraacutevel ndash como a Anta 1 das Casas Novas ou de dimensatildeo mais modestas (mas ainda assim significativa) as Antas da Vidi- gueira Candeeira 1 do Colmieiro ou 1 do Paccedilo) Monumentos jaacute tiacutepicos do 3ordm mileacutenio ane poderatildeo ser encontrados nos exemplos do Caladinho e Fontanas O sepulcro do Caladinho natildeo correspondendo necessariamente a

370 |

um tholos tambeacutem natildeo corresponde a uma anta tiacutepica (contudo encontran-do-se espacialmente associado a uma a Anta da Silveira) Com efeito com-potildee-se por uma Cacircmara circular formada por perto de uma dezena de esteios ldquomegaliacuteticosrdquo de xisto agrave qual se acede por um estreito Corredor estando cons- truiacutedo laquoem positivoraquo (e natildeo laquoem negativoraquo como eacute comum nas caracteriacutesticas construccedilotildees de tipo tholos) natildeo sendo igualmente claro que tipo de cobertura apresentariaOs mobiliaacuterios votivos recolhidos nestes monumentos satildeo igualmente carac-teriacutesticos desta fase crono-cultural Apesar de a escavaccedilatildeo dos monumentos de Candeeira e Vidigueira terem fornecido escasso espoacutelio (possivelmente motivado por perturbaccedilotildees ulteriores) este eacute ainda representativo ndash desta-cando-se um fragmento de placa de xisto gravada no primeiro monumento e pontas de seta de base recta a cocircncava e grandes lacircminas de siacutelex no se-gundo No sepulcro do Caladinho para aleacutem de elementos semelhantes aos da Anta da Vidigueira (com realce para as pontas de seta de base cocircncava a muito cocircncava com exemplares em xisto silicioso e lidito) destaca-se conjun-to das placas de xisto gravadas que apesar de muito fragmentado eacute ainda ilustrativo ndash incluindo exemplares reaproveitados exemplares natildeo perfurados (possivelmente referentes a inumaccedilotildees secundaacuterias) e ateacute mesmo um baacuteculoRegista-se ainda tal como se atesta nos monumentos acima da Serra drsquoOssa a presenccedila de armaduras geomeacutetricas nestes monumentos laquoevoluiacutedosraquo ndash con-forme o demonstra a sua presenccedila na Anta da Vidigueira ou mais curiosa-mente no sepulcro do CaladinhoUm caso curioso parece registar-se na Anta de Vale da Anta tratando-se de um monumento de significativa dimensotildees que parece natildeo ter sido concluiacutedo (como se conhecem alguns escassos exemplos na aacuterea alentejana) hipoacutetese para a qual concorre a completa ausecircncia de espoacutelio votivo (estudo em fase de conclusatildeo por um dos signataacuterio RM)Tal como na aacuterea de Estremoz tambeacutem alguns dos monumentos do Redon-do apresentam evidecircncias de reutilizaccedilotildees em finais do 3ordm mileacutenio ane e mesmo da primeira metade do seguinte registadas nos monumentos dos Go-dinhos Caladinho e Casas ndash sendo igualmente discutidas no ponto 5 abaixo

4 MEGALITISMO E laquoARTE RUPESTREraquo MONUMENTOS E ROCHAS COM laquoCOVINHASraquo NAS ABAS DA SERRA DrsquoOSSAUma das particularidades registadas nos monumentos em estudo eacute a sua associaccedilatildeo ao geacutenero de laquomanifestaccedilotildees artiacutesticasraquo comummente desig-nadas como laquocovinhasraquo seja tanto pela proximidade espacial entre sepul-cros megaliacuteticos e rochas insculpidas com estes elementos como pela sua

| 371

| 2018

presenccedila nos componentes arquitectoacutenicos dos monumentos Este facto eacute particularmente evidente nas antas de xisto da aacuterea de Estremoz ndash sendo que os dados recolhidos tanto aqui como na aacuterea do Redondo mesmo natildeo possibilitando o esclarecimento rigoroso da sua funcionalidade especiacutefica permitem pela menos acrescentar alguns pontos agrave definiccedilatildeo da sua crono-logia relativa (principalmente os casos gravados em esteios de monumentos megaliacuteticos)O principal elemento de destaque na aacuterea de Estremoz eacute o de Santo Estevatildeo 3 cuja relaccedilatildeo com a Anta 2 dos Outeirotildees (da qual dista cerca de 80 m para Sul) jaacute havia sido anotada por M Heleno Trata-se de um grande aflo-ramento de xisto com uma ampla fachada vertical voltada agrave anta na qual se encontra insculpido um conjunto pouco extenso de laquocovinhasraquo na base desta fachada vertical encontra-se uma plataforma destacada formando laquodegrauraquo com 8 m de comprimento por 050 m de largura com cerca de 21 laquocovinhasraquo insculpidas uma das quais larga e profunda (25 cm de diacircmetro e 24 cm de profundidade) Ainda em relaccedilatildeo com os monumentos de Ou-teirotildees encontra-se Santo Estevatildeo 2 correspondendo a uma laje de xisto solta com cerca de 13 laquocovinhasraquo (Calado 2004 vol 3 p 25 Rocha 2005 vol 2 p 488) tendo sido identificado recentemente por um de noacutes (MAA) um outro elemento referenciado como Santo Estevatildeo 4 tratando-se de um afloramento de xisto com uma grande laquocovinharaquo isolada semelhante agrave de maior dimensatildeo presente em Santo Estevatildeo 3Em relaccedilatildeo agrave Anta do Espadanal seraacute de referir o elemento registado por M Heleno a cerca de 20 m a Sudoeste do monumento Outro elemento Santo Estevatildeo 1 foi recentemente identificado em associaccedilatildeo espacial com este monumento (a cerca de 150 m) descrito como uma laje de xisto solta onde se encontram insculpidas uma seacuterie de laquocovinhasraquo (Calado 2004 vol 3 p 25) As suas particularidades permitiram levantar a hipoacutetese de se tratar de um esteio deslocado da Anta do Espadanal jaacute colapsada agrave altura da esca- vaccedilatildeo de M Heleno embora este autor natildeo refira qualquer laquocovinharaquo grava-da nos esteios deste monumentoSeraacute de referir igualmente os interessantes paineacuteis de xisto de Falcatos 1 e 2 (Andrade 2009) jaacute localizados no espaccedilo do concelho de Sousel mas espacialmente associados agrave Anta da Torrinha na margem oposta da Ribeira de Ana Loura ndash ou os casos de Grilas 1 possivelmente associado agrave Anta de Mamotildees (Horta da Grila cf Leisner e Leisner 1959 p 158 Calado 2004 vol 3 p 72) e Monte dos Penedos 2 em relaccedilatildeo agrave Anta dos Penedos refe- renciada por M Heleno (cf Rocha 2005 vol 2 p 450)Para a aacuterea do Redondo estatildeo disponiacuteveis vaacuterias dezenas de registos de

372 |

rochas com laquocovinhasraquo usando afloramentos ou lajes de granito (ou diorito) gnaisse grauvaque e xisto como suporte (cf Calado 2001 e 2004 Calado e Mataloto 2001) Encontram-se maioritariamente associados a monumen-tos megaliacuteticos sendo de notar igualmente a sua associaccedilatildeo a espaccedilos de habitat coevos ndash como por exemplo Eira dos Mouros e Horta da Ribeira (o uacuteltimo correspondendo a um grande afloramento com cerca de meia cente-na de laquocovinhasraquo insculpidas) associados ao jaacute referido povoado de Monte da Ribeira sendo de mencionar igualmente as lajes laquoreaproveitadasraquo nas estruturas do povoado murado de Satildeo PedroA sua associaccedilatildeo a sepulcros eacute particularmente destacada por alguns casos especiacuteficos Quinta do Freixo 7 corresponde a uma grande laje de diorito com cerca de 150 laquocovinhasraquo algumas de grande dimensatildeo (entre 10 e 25 cm de diacircmetro) associadas a sulcos (formando laquohalteriformesraquo) A cerca de 30 m deste elemento encontra-se outra laje igualmente de grande di-mensatildeo com cerca de 26 laquocovinhasraquo insculpidas As caracteriacutesticas destes elementos (nomeadamente grandes lajes de diorito) permitiram considerar a hipoacutetese de que se pudessem tratar de componentes arquitectoacutenicos de um monumento desmantelado (cf Calado e Mataloto 2001 p 33-34) Es-tes elementos encontram-se associados ao nuacutecleo megaliacutetico da Quinta do Freixo (Antas 1 a 5) ao qual se associa tambeacutem a rocha com laquocovinhasraquo da Espinheira (mais proacutexima agraves Antas 2 e 3)Outros elementos de interesse encontram-se em Martes 3 (espacialmente associado agraves Antas 1 e 2 de Martes) Monte das Casas 4 (24 laquocovinhasraquo em afloramento associado agraves Antas 1 a 4 das Casas) Monte do Cabaccedilo (entre-tanto natildeo relocalizado associado agrave Anta da Candeeira) Paccedilo 3 e 5 (o uacuteltimo combinando laquocovinhasraquo e figuras cruciformes associados agraves Antas 1 e 2 do Paccedilo) Aroeira de Cima Monte Branco da Piedade e Piedade (associados agraves Antas das Pegas e de Nossa Senhora da Piedade) ou Caladinho 2 (associado agrave Anta da Silveira e ao sepulcro do Caladinho)Outros elementos aparentemente natildeo associados a sepulcros ou a espaccedilos de habitat poderatildeo marcar lugares especiacuteficos na paisagem como Pombal e Pedratildeo 1 e 2 (contudo associados a possiacuteveis menires) os grandes aflo-ramentos isolados de Monte Novo da Cabida e Monte do Albuquerque ou o Penedo do Magalhatildees posicionado sobre a linha de cumeada no topo da serra ao longo da qual se registaram recentemente diversos paineacuteis hori-zontais enquadrados pela ocupaccedilatildeo do Bronze Final do Castelo VelhoOutros elementos de arte rupestre referem-se na aacuterea de Estremoz agraves gravuras filiformes ou picotadas sem motivo graacutefico discerniacutevel de Poccedilo

| 373

| 2018

Figura 6 ndash Elementos arquitectoacutenicos de monumentos megaliacuteticos com laquocovinhasraquo inscul-pidas nas aacutereas dos concelhos de Estremoz e Redondo Courela da Anta (Chapeacuteu) Casas do Canal 1 (Chapeacuteu) Candeeira (Chapeacuteu) Vidigueira (Chapeacuteu) Entre Aacuteguas (estela) Lebre (esteios do laquopseudo-corredorraquo) Casas Novas 1 (esteio-pilarete do Corredor) Lebre desenhado a partir de fotografia de campo de M Heleno

374 |

de Moleiros 2 e Bacoreira 4 e 5 identificadas sobre suportes de xisto em associaccedilatildeo espacial ao povoado de Bacoreira 1 e natildeo muito distante da Anta da Gatuna referenciada por M Heleno Seraacute de referir igualmente jaacute na aacuterea do Redondo os sulcos associados a laquocovinhasraquo compondo figuras laquohalteri-formesraquo na jaacute referida laje de Quinta do Freixo 7Mas com efeito eacute a sua presenccedila em elementos arquitectoacutenicos de mo- numentos megaliacuteticos (Figura 6) que permite dispensar algumas conside- raccedilotildees a respeito da sua cronologia relativa Como parece ser comum na larga maioria dos sepulcros alentejanos com laquocovinhasraquo insculpidas nos seus componentes arquitectoacutenicos estas encontram-se preferencialmente nas aacutereas de Estremoz e Redondo nas faces externas daqueles elemen-tos ndash seja no Chapeacuteu ou nos esteios componentes da Cacircmara Satildeo disso exemplo na aacuterea de Estremoz a Anta da Courela da Anta (Chapeacuteu e es-teio da Cacircmara o primeiro com figura laquohalteriformeraquo) Anta 3 dos Outeirotildees (Chapeacuteu) ou Anta 1 das Casas do Canal (Chapeacuteu) na aacuterea do Redondo Anta da Vidigueira (Chapeacuteu) Anta da Candeeira (Chapeacuteu) ou Anta do Hospital (esteio da Cacircmara)Como jaacute referido (Andrade 2010 p 11) esta circunstacircncia poderaacute ser ex-plicada por duas hipoacuteteses interpretativas tratam-se de elementos grava-dos com o propoacutesito especiacutefico de ficarem ocultos pela estrutura tumular ou em alternativa tratam-se de elementos gravados em momentos em que a estrutura tumular estaria jaacute parcialmente desmantelada Tal situaccedilatildeo jaacute havia sido anotada por G Leisner principalmente a respeito da sua gravaccedilatildeo na superfiacutecie externa do Chapeacuteu naquilo que seria a porccedilatildeo mais alta da estrutura tumular (Leisner 1949 p 11) Este facto levou R Parreira a con-siderar que as laquocovinhasraquo pudessem estar relacionadas com coreografias rituais especiacuteficas (Parreira 1996 p 50 e 56) tendo sido possivelmente ins-culpidas nos diversos episoacutedios de visitaccedilatildeo dos monumentos (para novas deposiccedilotildees ou rituais de laquoculto de antepassadosraquo)Se esta hipoacutetese eacute aplicaacutevel ao caso dos Chapeacuteus tecnicamente acessiacuteveis e amoviacuteveis para novas deposiccedilotildees (sendo as laquocovinhasraquo potencialmente gravadas nestas circunstacircncias) o mesmo natildeo se aplica ao caso dos esteios ndash especialmente se natildeo considerarmos a proposta de terem sido gravadas aquando da construccedilatildeo do monumento e intencionalmente ocultadas sen-do necessaacuterio que a estrutura tumular estivesse jaacute pelo menos parcialmente desmantelada para possibilitar a sua gravaccedilatildeo Poderatildeo assim privilegiando a segunda hipoacutetese explicativa estar relacionadas com usos tardios destes monumentos (como as reutilizaccedilotildees registadas a partir da segunda metade do 3ordm mileacutenio ane) algo que apenas se atesta incontestavelmente na aacuterea

| 375

| 2018

Figura 7 ndash Componentes dos mobiliaacuterios votivos registados em reusos de monumentos megaliacuteticos da aacuterea de Estremoz e Redondo a segunda metade do 3ordm mileacutenio ane e primeira metade do seguinte Casas do Canal 1 (caccediloila campaniforme com decoraccedilatildeo incisa vaso acampanado liso e vaso ciliacutendrico liso) Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (caccediloila campaniforme lisa vaso troncocoacutenico liso pequena caccediloila lisa) Outeirotildees 2 (pequena caccediloila lisa) Mal Dorme (vaso acampanado liso) Godinhos (vaso troncocoacuteni-co liso braccedilal de arqueiro e folha de ouro) Caladinho (taccedila carenada e ponta de cobre) Casas (vaso bojudo com decoraccedilatildeo plaacutestica)

376 |

em estudo no caso da Anta 1 das Casas do CanalNo entanto satildeo as laquocovinhasraquo insculpidas nas faces internas dos elemen-tos arquitectoacutenicos em espaccedilos supostamente laquovedadosraquo que fornecem algumas luzes sobre a sua possiacutevel cronologia relativa ndash aparentemente as- sociando-as agrave construccedilatildeo e uso pleno destes monumentos como elementos perfeitamente integrados na sua composiccedilatildeoNa Anta da Lebre por exemplo um conjunto de laquocovinhasraquo foi insculpido na face interna de um dos esteios do laquopseudo-corredorraquo com maior concen-traccedilatildeo junto agrave sua base nesta mesma anta encontram-se ainda gravuras geomeacutetricas na base de um dos esteios da Cacircmara (lateral agrave Cabeceira) que M Heleno pertinentemente associou agraves gravuras das placas de xisto (descrevendo-as como laquoem dentes de loboraquo) Na Anta 2 dos Outeirotildees para aleacutem de uma laquocovinharaquo isolada insculpida sensivelmente a meia altura no esteio de Cabeceira a laquolaje-divisoacuteriaraquo da Cacircmara apresentava uma seacuterie de laquocovinhasraquo insculpidas em ambas faces associadas a pintura ndash estando pelo menos um destes elementos segundo M Heleno laquopintadoraquo no seu in-terior Na Anta 3 dos Outeirotildees contiacutegua agrave anterior para aleacutem das laquocovinhasraquo na superfiacutecie externa do Chapeacuteu referidas acima encontram-se conjuntos pouco extensos de laquocovinhasraquo insculpidas nas faces internas de dois dos es-teios laterais da Cacircmara proacuteximo agrave sua base Da mesma maneira na Anta 1 de Casas Novas as laquocovinhasraquo encontram-se gravadas na face interna de um pilarete implantado na transiccedilatildeo Corredor-Cacircmara uma oacutebvia laquoaacuterea sim-boacutelicaraquo na composiccedilatildeo arquitectoacutenica final do monumentoTendo em conta estes dados eacute perfeitamente aceitaacutevel considerar estes elementos como coevos com a construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo plena destes se- pulcros Esta circunstacircncia poderaacute ser confirmada por exemplo no monumento de Juan Roacuten 1 onde agrave semelhanccedila da Anta da Lebre um conjunto de laquocovinhasraquo foi insculpido na face interna de um dos estei-os do Corredor pouco acima da sua base segundo P Bueno Ramiacuterez e colaboradores estas estariam laquoliteralmente tapadas por el depoacutesito del corredor con lo que se certifica su factura megaliacutetica sin ninguna duda (Bueno Ramiacuterez et al 1998 p 165) Da mesma maneira no monumen-to de Maacuteimon 1 as laquocovinhasraquo encontram-se igualmente insculpidas na face interna de uma das tampas do Corredor podendo-se conjecturar que teriam sido insculpidas anteriormente agrave colocaccedilatildeo da mesma (Bue-no Ramiacuterez et al 1999)Outro elemento curioso refere-se agrave laje com laquocovinhasraquo tombada imedia- tamente a Este da Anta de Entre Aacuteguas natildeo sendo claro se se trata de uma tampa do Corredor deslocada podendo referir-se a uma possiacutevel es-

| 377

| 2018

tela implantada junto agrave boca do monumento ndash agrave semelhanccedila do que foi avanccedilado para as duas lajes de xisto com laquocovinhasraquo reutilizadas no tra-mo inicial do Corredor da Anta 2 do Olival da Pega (cf Gonccedilalves 1992 e 1999)

5 OS MONUMENTOS MEGALIacuteTICOS DAS ABAS DA SERRA ENTRE A SE-GUNDA METADE DO 3ordm E A PRIMEIRA METADE DO 2ordm MILEacuteNIO ANE REUSOS E REINTERPRETACcedilOtildeESA subsistecircncia do caraacutecter dos sepulcros megaliacuteticos enquanto laquoespaccedilos simboacutelicosraquo poderaacute ser evidenciada no seu reuso (ou uso tardio) particular- mente a partir da segunda metade do 3ordm mileacutenio ane (possivelmente mais centrado no seu uacuteltimo quartel) e estendendo-se pela primeira metade do mileacutenio seguinte ndash de que satildeo exemplo preciso alguns dos monumentos das aacutereas de Estremoz e Redondo (Figura 7) Dever-se-aacute recordar todavia que estas situaccedilotildees poderatildeo ser mais recorrentes do que o actual registo arqueoloacutegico deixa transparecer se nos basearmos apenas nas caracteriacutesti-cas morfo-tipoloacutegicas dos artefactos votivos como jaacute se chamou agrave atenccedilatildeo noutro local (cf Mataloto 2017) e como demonstrado por exemplo no caso da Anta 3 de Santa Margarida em Reguengos de Monsaraz (cf Gonccedilalves 2003)Estes reusos caracterizam-se principalmente por enterramentos acompa- nhados por espoacutelio campaniforme ou de laquofiliaccedilatildeo campaniformeraquo revelan-do igualmente especificidades rituais com paralelos em outros contextos do interior alentejanoextremenho (cf Boaventura et al 2014-2015 Ma-taloto 2017 Bueno Ramiacuterez Barroso Bermejo e Vaacutezquez Cuesta 2008) Na aacuterea em estudo resumem-se ateacute ao momento aos contextos da Anta 1 das Casas do Canal Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais Mal Dorme e Godinhos para aleacutem do caso duvidoso da Anta 2 dos Outeirotildees Tratam-se genericamente de elementos tardios dentro do Calcoliacutetico com enquadra-mento cronoloacutegico relativo atribuiacutevel ao uacuteltimo quartel do 3ordm mileacutenio ane ndash atribuiccedilatildeo esta ratificada pela dataccedilatildeo obtida na Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (conforme exposto abaixo)O caso da Anta 1 das Casas do Canal refere-se ao putativo enterramento realizado no espaccedilo do Corredor acompanhado por uma grande caccediloila com decoraccedilatildeo incisa de tipo Ciempozuelos dentro da qual se encontra-va depositado um vaso acampanado liso proacuteximo a estes possivelmente enquadrando a deposiccedilatildeo funeraacuteria pelo lado oposto encontrava-se um vaso ciliacutendrico igualmente liso Esta deposiccedilatildeo usando o espaccedilo do Cor- redor como se de uma pequena cista se tratasse implicou a clausura do

378 |

acesso agrave Cacircmara estando ainda segundo G e V Leisner coberto por uma camada de blocos peacutetreos (cf Leisner e Leisner 1955)Semelhanccedilas rituais satildeo demonstradas pelo contexto da Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais O enterramento igualmente realizado no espaccedilo do Corredor e tambeacutem coberto (ou delimitado) por uma camada de blocos peacutetreos era acompanhado por uma grande caccediloila lisa dentro da qual se encontrava depositado um vaso troncocoacutenico igualmente liso com rebordo no fundo (designado como laquocoporaquo) Fazendo parte deste conjunto estava igualmente presente uma pequena caccediloila lisa ndash sendo possivel-mente daqui proveniente tambeacutem a pequena caccediloila arrolada agrave Anta 2 dos Outeirotildees no MNA (natildeo referida por M Heleno nas suas notas de campo)Segundo M Heleno este enterramento encontrava-se junto aos esteios Sul do Corredor paralelo a este com a cabeccedila voltada para a Cacircmara contudo pela anaacutelise da posiccedilatildeo dos membros inferiores os uacutenicos conservados in situ para registo durante a escavaccedilatildeo depreende-se que o corpo estaria dis-posto transversalmente ao eixo do Corredor estando os vasos depositados no lado Norte possivelmente junto agrave cabeccedila Trata-se da deposiccedilatildeo de um indiviacuteduo adulto do sexo masculino cuja dataccedilatildeo aponta para um interva-lo de tempo centrado em finais do 3ordm mileacutenio ane (Wk-17089 3758plusmn36 BP fornecendo o resultado calibrado a 2σ com 954 de probabilidade de 2288-2040 cal BCE cf Rocha e Duarte 2009 p 766-768 Boaventura et al 2014-2015)Em relaccedilatildeo agrave Anta do Mal Dorme a delimitaccedilatildeo da deposiccedilatildeo eacute mais pro- blemaacutetica eacute referido somente por M Heleno a recolha de fragmentos ceracircmi-cos na aacuterea da Cacircmara tendo a sua reconstituiccedilatildeo recente demonstrado que se trata de um vaso acampanado liso sem qualquer outro elemento caracteriacutestico associadoNo caso da Anta dos Godinhos a deposiccedilatildeo era acompanhada por um vaso troncocoacutenico liso semelhante (embora de colo mais baixo) ao recolhido na Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais ao qual se associava um pequeno braccedilal de arqueiro em xisto e uma lacircmina de ouro torcida deposi- tados os primeiros no lado Sudoeste e a uacuteltima no lado Nordeste da pequena Cacircmara megaliacutetica junto aos seus esteios (cf Mataloto et al 2015)Seraacute de referir igualmente o diadema e o brinco de ouro de tipo Ermegei-ra de proveniecircncia desconhecida adquiridos e atribuiacutedos genericamente agrave aacuterea de Estremoz (mas possivelmente recolhidos num monumento megaliacuteti-co) ndash elementos caracteriacutesticos da ourivesaria de finais do 3ordm mileacutenio ane (conforme atestado em numerosos exemplos do Sudoeste peninsular)Os reusos relativos agrave Idade do Bronze encontram-se atestados principal-

| 379

| 2018

mente no sepulcro do Caladinho referindo-se agrave recolha de uma pequena taccedila carenada e uma ponta de cobre de folha curta e peduacutenculo alongado ndash tratando-se de elementos genericamente atribuiacuteveis agrave Idade do Bronze InicialPleno (Calado e Rocha 2007) A recolha neste mesmo sepulcro de formas carenadas mais caracteriacutesticas de etapas mais avanccediladas poderaacute indicar outros episoacutedios de utilizaccedilatildeoocupaccedilatildeo mais tardiosO caso da herdade das Casas revela-se mais problemaacutetico trata-se de um vaso bojudo com conjuntos de trecircs mamilos dispostos em fiadas verticais a partir do bordo do recipiente tiacutepico da Idade do Bronze do Sudoeste recolhido no contexto geneacuterico daquela propriedade sem outras especifi-caccedilotildees (Mataloto 2005) Satildeo conhecidos neste espaccedilo vaacuterios monumentos megaliacuteticos (Antas 1 a 5 das Casas Anta do Pinheiro) sendo perfeitamente admissiacutevel que um destes sepulcros possa corresponder ao contexto de recolha deste recipiente Contudo natildeo se rejeita que possa provir de uma sepultura em cista tiacutepica da Idade do Bronze aiacute localizada neste caso tra-ta-se natildeo do reuso de um monumento preacute-existente mas de todo um espaccedilo de necroacutepole ndash com a instalaccedilatildeo de novos sepulcros espacialmente associa-dos aos sepulcros anteriores como se conhecem vaacuterios exemplos na aacuterea alentejana (caso das aacutereas do Barrocal das Freiras em Montemor-o-Novo ou dos Cebolinhos em Reguengos de Monsaraz contando-se tambeacutem aqui com o reuso dos proacuteprios monumentos megaliacuteticos)O significado destes reusos de sepulcros megaliacuteticos foi jaacute abordado noutros locais (cf Kalb 1994 Garciacutea Sanjuaacuten 2000 e 2005 Mataloto 2005 2006 e 2007 Mataloto et al 2015 Tejedor Rodriacuteguez 2008 e 2013 Andrade 2016) levantando-se a hipoacutetese de se tratarem apenas de laquoparasitagemraquo (com utilizaccedilatildeo oportunista de uma estrutura preacutevia jaacute laquodisponiacutevelraquo) ou de serem reflexo de evidente continuidade simboacutelica com o reconhecimento e reinterpretaccedilatildeo de espaccedilos de caraacutecter alegoacuterico Parece-nos a noacutes que tendo em conta a persistecircncia incontestaacutevel do caraacutecter laquosagradoraquo dos mo- numentos megaliacuteticos ao longo dos tempos independentemente das oacutebvias transmutaccedilotildees sociais culturais e ideoloacutegicas que teratildeo operado a partir de meados do 3ordm mileacutenio ane a segunda hipoacutetese seraacute a mais viaacutevel A projecccedilatildeo temporal do caraacutecter simboacutelico do Megalitismo reflecte-se assim na manutenccedilatildeo de uma certa dimensatildeo inter-grupal (ou social) diacroacutenica baseando-se na proacutepria definiccedilatildeo da sacralidade laquoancestralraquo dos espaccedilos megaliacuteticos (Garciacutea Sanjuaacuten 2000) A sua possiacutevel recuperaccedilatildeo simboacutelica e sua reinserccedilatildeo nas paisagens socio-culturais permite precisamente que sejam assumidos como laquolugares de memoacuteria e identidaderaquo perpetuados (Mataloto 2007 Mataloto et al 2015)

380 |

Contudo dever-se-aacute referir que apesar de se tratarem maioritariamente de monumentos que oferecem algum destaque na paisagem (principalmente devido agrave sua implantaccedilatildeo especiacutefica) natildeo se tratam de sepulcros eminente-mente laquomonumentaisraquo sendo basicamente de pequenameacutedia dimensatildeo Estes reusos natildeo podem assim ser explicados simplesmente pela monu-mentalidade dos sepulcros e consequente atracccedilatildeo visual que suscitariam ndash facto particularmente evidente no caso da pequena Anta dos Godinhos (cf Mataloto et al 2015) Neste caso o seu reuso poderaacute ser explicado por motivos mais complexos lembrando que estes monumentos tecircm a sua proacutepria integraccedilatildeo especiacutefica na paisagem contribuindo activamente para a transformaccedilatildeo desta em territoacuterio ndash podendo estar relacionados ainda tal como aquando da sua construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo original com vias de tracircnsito fulcrais ainda em actividadeNoutro sentido (e de acordo com Gibson 2016) estes reusos poderatildeo estar relacionados com a recuperaccedilatildeo de locais de caraacutecter emblemaacutetico espe-ciacutefico possivelmente reflectindo rituais de encerramentocondenaccedilatildeo do monumento como o parece demonstrar os casos das Antas 1 das Casas do Canal e Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais ndash correspondendo a inumaccedilotildees bem individualizadas no espaccedilo do Corredor no primeiro caso com o encerramento intencional da Cacircmara

6 CONCLUSAtildeO OS TERRITOacuteRIOS DE FRONTEIRA E A OCUPACcedilAtildeO DO ESPACcedilO NO CONTEXTO DA ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO MEGA- LITISMO NAS ABAS DA SERRA DrsquoOSSAComo visto as particularidades dos conjuntos megaliacuteticos de ambos lados da Serra drsquoOssa permitem assumir esta aacuterea como um verdadeiro territoacuterio de fronteira agindo aquele marco geograacutefico (coincidindo sensivelmente com a estrema entre os concelhos de Estremoz e Redondo e com o fes-to entre as bacias hirdrograacuteficas do Tejo e do Guadiana) como verdadeiro espaccedilo de charneira entre dois universos megaliacuteticos culturalmente distin-tos Tratam-se assim de duas entidades apartadas contudo concomitantes que deveratildeo ser lidas no seu acircmbito regional mais alargado ndash em conjunto com os monumentos das aacutereas da Ribeira Grande Crato e Bacia do Sever e zona ocidental da Extremadura espanhola (Andrade 2009 2011 e 2013 Boaventura 2006 Parreira 1996 Oliveira 1998 e 2006 Bueno Ramiacuterez 1988) e com os monumentos das aacutereas de Reguengos de Monsaraz e Eacutevora (Leisner 1949 Leisner e Leisner 1951 Gonccedilalves 1992 e 1999) natildeo descurando a sua leitura conjunta com os monumentos de Borba Vila Viccedilosa Elvas e Alandroal (Albergaria e Dias 2000 Calado 1993 1994

| 381

| 2018

2001 e 2004 Calado e Roque 2013 Deus e Viana 1953 Paccedilo Ferreira e Viana 1957 Viana e Deus 1952 1955 e 1957) e com os monumentos de Arraiolos e Mora (Correia 1921 Moita 1956 Rocha 1999 e 2005) Com efeito tratam-se de aacutereas onde estas muacuteltiplas correntes de influecircncia se imiscuem significativamente consubstanciando-se em convergecircncias e di-vergecircncias das caracteriacutesticas arquitectoacutenicas dos monumentos e dos mo-biliaacuterios votivos aiacute recolhidosNo que respeita agraves arquitecturas e apesar de na aacuterea norte-alentejana se reconhecer a presenccedila maioritaacuteria dos tiacutepicos sepulcros de Cacircmara e Corredor diferenciados nota-se uma maior variabilidade em relaccedilatildeo aos seus congeacuteneres centro-alentejanos com o registo significativo de soluccedilotildees construtivas diversas Este facto poder-se-aacute dever talvez a uma maior aber-tura daquela aacuterea a influecircncias beiratildes e mesetenhas em oposiccedilatildeo a uma maior homogeneidade cultural com um cunho regional mais demarcado no Alentejo Central ndash onde independentemente da dimensatildeo dominam os designados monumentos de laquotipo alentejanoraquoOs espoacutelios votivos por seu lado permitem consolidar a hipoacutetese destes cruzamentos de influecircncias ndash seja a niacutevel das particularidades laquoculturaisraquo dos artefactos ou das mateacuterias-primas usadas no seu fabrico Para tal os ar-gumentos baseiam-se principalmente nas caracteriacutesticas das placas votivas e em algumas particularidades das induacutestrias de pedra lascadaSe as placas de xisto gravadas natildeo satildeo desconhecidas em contextos megaliacuteti-cos norte-alentejanos (estendendo-se a sua aacuterea de dispersatildeo ateacute agrave baixa pene-planiacutecie albicastrense) teratildeo um oacutebvio foco de emergecircncia na aacuterea centro-alentejana na esfera cultural do eixo Montemor-Eacutevora-Reguengos (onde se conhecem monumentos com muitas dezenas destes artefactos como a Anta 3 de Barrocal das Freiras laquotholosraquo do Escoural Anta 1 do Paccedilo Anta Grande do Zambujeiro Anta 1 do Olival da Pega) ndash estando presentes na aacuterea em estudo em conjuntos numericamente pouco significativos mas ainda assim consideraacuteveis (tanto na aacuterea de Estremoz como do Redondo destacando-se os conjunto da Anta 1 da Talha e do sepulcro do Caladinho incluindo-se no uacuteltimo tambeacutem um baacuteculo)Por outro lado as placas de greacutes (especialmente os exemplares esculpidos com motivos antropomoacuterficos) satildeo jaacute elemento caracteriacutestico das culturas megaliacuteticas norte-alentejanas ndash sendo aparentemente inexistentes ou pelo menos resumidas a escassos exemplares lisos abaixo da Serra drsquoOssa Ateacute ao momento nos conjuntos em estudo reconhecem-se somente na aacuterea de Estremoz ndash destacando-se a placa da Anta do Espadanal de oacutebvia ins- piraccedilatildeo norte-alentejanaextremenha recolhendo paralelos notoacuterios a niacutevel

382 |

da composiccedilatildeo iconograacutefica numa outra recolhida na Anta da Horta igual-mente incluiacuteda na bacia da margem esquerda da Ribeira da Seda (cf Olivei-ra 2006)Em relaccedilatildeo aos padrotildees distintivos das induacutestrias de pedra lascada estes lecircem-se principalmente nas caracteriacutesticas tecno-tipoloacutegicas das armaduras geomeacutetricas e das pontas de seta Uma das particularidades das armaduras geomeacutetricas registadas na aacuterea de Estremoz (e especialmente evidente no conjunto da Anta 3 da Talha) eacute a presenccedila de trapeacutezios rectacircngulos cuja laquotruncaturaraquo basal foi efectuada por fractura fleccionada natildeo tendo sido posteriormente objecto de retoque (como comum neste tipo de produccedilotildees) Esta caracteriacutestica parece natildeo ser tatildeo comum em contextos mais austrais muito embora o estudo rigoroso das colecccedilotildees de M Heleno (assim como a realizaccedilatildeo de novos trabalhos de escavaccedilatildeo) possa trazer novos dados sobre esta problemaacutetica No grupo das pontas de seta por seu lado regis-ta-se um domiacutenio dos exemplares de base cocircncava usando tambeacutem outras mateacuterias-primas que natildeo o siacutelex (como xistos siliciosos e liditos) em contex-tos centro-alentejanos (como se atesta por exemplo na Anta da Vidigueira ou no sepulcro do Caladinho) ndash sendo este tipo pouco comum (mas natildeo desconhecido) acima da Serra drsquoOssa onde satildeo frequentes as pontas de seta de base triangular e convexa (conforme jaacute intuiacutedo por M Calado e rea- firmado em Boaventura et al 2014-2015) Este facto evidencia-se por ex-emplo na Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais onde as pontas de base convexa e triangular estatildeo representadas em nuacutemero quase equiva-lente enquanto no Caladinho na aba Sul natildeo estatildeo sequer representadasPara aleacutem desta pretensa laquorelevacircncia culturalraquo na ligaccedilatildeo entre dois univer-sos distinguiacuteveis a importacircncia da aacuterea da Serra drsquoOssa lecirc-se igualmente na disponibilidade de recursos aiacute existente ndash tanto a niacutevel bioacutetico como abioacuteticoNo primeiro caso constata-se que os monumentos se dispotildeem ocupando segmentos bem localizados da paisagem seja em relaccedilatildeo a vias naturais de tracircnsito ou a aacutereas de ocupaccedilatildeoexploraccedilatildeo preferencial em ambiente ecotoacutenico entre as encostas da serra e as chatildes na sua base ndash comple-mentando-se assim aacutereas de pasto e caccedila com aacutereas agriacutecolas localizadas no sopeacute drenadas por uma rede hidrograacutefica significativa Destacam-se a Sul da Serra drsquoOssa a Planiacutecie Central do Redondo e mais abaixo a Aacuterea da Vigia e a Planiacutecie Sul (extensiacutevel ateacute Reguengos de Monsaraz e agrave pene-planiacutecie oriental de Eacutevora) A Norte de Serra drsquoOssa distinguem-se a bacia da Ribeira de Almadafe (a Sudoeste da Serra de Satildeo BartolomeuAntiforma de Estremoz) a peneplaniacutecie graniacutetica ateacute ao vale da Ribeira Grande e a aacuterea aplanada dos calcretos de Casa Branca-Cano (a Nordeste e Noroeste da

| 383

| 2018

Serra de Satildeo BartolomeuAntiforma de Estremoz respectivamente)A instalaccedilatildeo destes monumentos no contexto de vias naturais de tracircnsito poderaacute estar igualmente relacionada com a manutenccedilatildeo de recursos bioacuteti-cos ndash nomeadamente pecuaacuterios possibilitando estes caminhos a local de gados ao longo do territoacuterio imediato Contudo a proacutepria disposiccedilatildeo dos agrupamentos de monumentos poderaacute indicar diferentes diagramas de ocu-paccedilatildeoexploraccedilatildeo do espaccedilo ndash lidos igualmente nos vestiacutegios de espaccedilos habitacionais a eles associados Com efeito o maior iacutendice de concen-traccedilatildeo localizada destas evidecircncias na aacuterea de Estremoz contrastando com amplas aacutereas laquovaziasraquo a par da sua maior coberturadisseminaccedilatildeo territorial na aacuterea do Redondo poderaacute ser evidecircncia de possiacuteveis diferenccedilas demograacutefi-cas e consequentemente de possiacuteveis diferenccedilas nas bases econoacutemicas de sustentaccedilatildeo Assim e conforme jaacute anotado (cf Calado 2001 Andrade 2009) poderiacuteamos ter abaixo da Serra drsquoOssa redes de povoamento mais estaacuteveis com bases econoacutemicas assentes principalmente na agricultura registando-se aparentemente uma malha de povoamento mais esparsa nas aacutereas a Norte talvez mais vocacionadas para a pastoriacuteciaEstas provaacuteveis divergecircncias demograacuteficas poderatildeo ser teoricamente atestadas com a comparaccedilatildeo dos resultados do caacutelculo dos esforccedilos de tra-balho aplicados a monumentos de ambas aacutereas por exemplo com recursos a rolos de madeira e alavancas seria necessaacuterio um nuacutemero miacutenimo de cerca de 61 indiviacuteduos (176 se apenas com recurso a rolos de madeira) para o transporte por arrasto do esteio de Cabeceira da Anta 1 de Casas Novas cuja fonte de aprovisionamento provaacutevel se localiza a cerca de 1 km Tal cifra contrasta significativamente com a meacutedia exigida para o transporte dos es-teios utilizados nos monumentos contemporacircneos da aacuterea de Estremoz (sal-vaguardando-se contudo o caso da Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) em que um nuacutemero razoavelmente menor de indiviacuteduos seria necessaacuterioComplementarmente a integraccedilatildeo oacuteptima destes monumentos na paisagem (para aleacutem da sua associaccedilatildeo a rochas com laquocovinhasraquo oacutebvios laquomarcadores activosraquo do territoacuterio) lecirc-se tambeacutem na sua implantaccedilatildeo geoloacutegica especiacutefi-ca registando-se o aproveitamento rigoroso dos suportes disponiacuteveis local-mente na sua construccedilatildeo Com efeito as caracteriacutesticas geoloacutegicas diversas do territoacuterio parecem natildeo ter funcionado como condicionante fundamental agrave instalaccedilatildeo dos monumentos ndash encontrando-se estes em contextos geoloacutegi-cos diversos desde os granitoacuteides aos xistos mas sempre com potenciali-dade para serem usados enquanto suporte construtivo e em meacutedia nunca mais distantes do que poucas centenas de metros Para os monumentos de

384 |

Estremoz maioritariamente instalados em contextos de xistos siluacutericos esta eacute a mateacuteria-prima essencialmente usada ndash destacando-se os monumentos de Alfaiates-Venda do Duque ou Leatildeo usando os granitoacuteides junto dos quais se encontram instalados De referir igualmente a utilizaccedilatildeo de xisto anfiboacuteli-co na tampa do Corredor da Anta da Courela da Anta (provavelmente prove-niente de contextos mais distantes) ou o recurso a suportes geologicamente distintos mas ainda assim locais na Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (questatildeo debatida mais agrave frente)Na aacuterea do Redondo regista-se por seu lado uma maior variedade nos suportes construtivos possivelmente dependentes de uma maior variedade de litologias disponiacuteveis ndash encontrando-se monumentos construiacutedos em granitoacuteides gnaisses e diversos tipos de xistos Segundo as anaacutelises efectua- das no acircmbito do projecto MEGAGEO apesar desta evidente variabilidade a disponibilidade dos recursos construtivos eacute tal como em Estremoz emi- nentemente local obtidos nunca a mais de poucas centenas de metros Destaca-se contudo o caso dos granodioritos usados na Anta 1 das Casas Novas cuja aacuterea de proveniecircncia provaacutevel estaacute localizada a cerca de 1 km (cf Pedro et al 2015 Nogueira et al 2015)O recurso num mesmo monumento a suportes com origens geoloacutegicas distintas estaacute igualmente atestado principalmente naqueles implantados sobre ou proacuteximo a aacutereas de interface litoloacutegica ndash destacando-se o caso das Antas de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (construiacuteda em calcaacuterio dolomiacutetico com um esteio de ortognaisse graniacutetico) Barroca (construiacuteda em granito xisto metamorfizado e gnaisse) Covas (conjugando esteios de xisto e granito) Godinha de Cima (esteios de xisto e chapeacuteu de granito) e Godinhos (usando granito e micaxisto) Seja como for a sua disponibilidade eacute sempre local ndash sendo imediata a sua acessibilidade reafirmando o aproveitamento oacuteptimo de recursos acima mencionadoA niacutevel dos recursos abioacuteticos (para aleacutem daqueles usados como suporte construtivo nos monumentos) correspondendo esta aacuterea ao extremo oci-dental da Zona Metavulcacircnica de Ossa-Morena estatildeo disponiacuteveis vaacuterios tipos de mateacuterias-primas comprovadamente usados na produccedilatildeo de arte-factos liacuteticos (lascados e polidos) no contexto geneacuterico alentejano Para aleacutem da ubiacutequa presenccedila de filotildees e massas de quartzo leitoso e liditos regis-ta-se a ocorrecircncia de mono-cristais de quartzo hialino nos contextos xistosos em torno ao maciccedilo calcaacuterio de Estremoz-Vila Viccedilosa ndash maioritariamente de pequena dimensatildeo embora o grande cristal recolhido na Anta do Casca- lho sugira a presenccedila local de exemplares de maior dimensatildeo Poderatildeo en-contrar-se tambeacutem rochas siliciosas facilmente trabalhaacuteveis neste contexto

| 385

| 2018

cronoloacutegico as calcedoacutenias aacutegatas e opalasopalinas usadas na produccedilatildeo de armaduras geomeacutetricas e pontas de seta poderatildeo estar disponiacuteveis lo-cal ou regionalmente em mineralizaccedilotildees secundaacuterias em contexto vulcano- -sedimentar (hipoacutetese a confirmar embora estejam cartografadas silicifi-caccedilotildees nos calcaacuterios dolomiacuteticos da aacuterea de Estremoz) Da mesma maneira os xistos siliciosos usados principalmente a partir do 3ordm mileacutenio ane para a produccedilatildeo de pontas de seta poderatildeo estar disponiacuteveis em contextos cacircm-bricospreacute-cacircmbricos no sopeacute da Serra drsquoOssa ou no Sinforma de Terena A rocha metamorfizada branda correspondendo possivelmente a vulcanitos de contextos vulcano-sedimentares estaacute disponiacutevel no entorno do Antiforma de Estremoz sendo extensamente utilizada na produccedilatildeo de artefactos liacuteticos talhados durante o Neoliacutetico Antigo e Meacutedio regionais e preferencialmente usada na produccedilatildeo de artefactos de pedra polida (principalmente enxoacutes) durante o 4ordm mileacutenio ane (conforme jaacute anotado em Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017) Seraacute de registar igualmente a presenccedila local e regional de rochas anfiboacutelicas no contexto dos micaxistos e paragnaisses da For-maccedilatildeo de Ossa ou nos niacuteveis cacircmbricos e preacute-cacircmbricos da bacia da Ribeira da Seda por exemplo Regista-se igualmente a ocorrecircncia dos calcaacuterios e maacutermores usados na produccedilatildeo de iacutedolos e vasos de pedra ndash ateacute ao mo-mento natildeo representados na aacuterea em estudo mas presentes em contextos habitacionais de Avis e Monforte sendo comprovadamente provenientes da aacuterea de Estremoz-Vila Viccedilosa aqueles recolhidos nos Perdigotildees (cf Dias et al 2017)Como contra-partida regista-se a presenccedila de siacutelices provenientes de con-textos da Estremadura portuguesa usados na produccedilatildeo de lacircminas arma-duras geomeacutetricas e pontas de seta ndash correspondendo a siacutelex de contextos cenomanianos das aacutereas de Rio Maior e Oureacutem e de contextos oxfordianos da aacuterea de Tomar (presente residualmente representado apenas em duas lacircminas das Antas 2 da Talha e 3 dos Outeirotildees e numa lamela da Anta da Lebre) Regista-se igualmente a ocorrecircncia do siacutelex opaco de tonalidade acinzentada de proveniecircncia ainda indeterminada mas particularmente usado na produccedilatildeo de pequenas lacircminas e geomeacutetricos durante o 4ordm mileacute-nio ane e aparentemente natildeo utilizado nas produccedilotildees liacuteticas lascadas du-rante o mileacutenio seguinte (igualmente anotado em Mataloto Andrade e Perei-ra 2016-2017)Tambeacutem o azeviche representado numa conta de colar da Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais sendo particularmente comum em con-textos funeraacuterios estremenhos (como nas grutas de Lapa da Galinha Casa da Moura Cova da Moura ou Lapa do Bugio) poderaacute provir de depoacutesitos

386 |

plio-plistoceacutenicos da Estremadura portuguesa (como nas aacutereas de Sesimbra ou Rio Maior por exemplo) Jaacute as laquopedras verdesraquo poderatildeo ter origem localregional tendo as anaacutelises realizadas aos exemplares das Antas de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais e Lebre comprovado que se tratam de moscovitesA inclusatildeo da aacuterea da Serra drsquoOssa nos circuitos de intercacircmbio de mateacuterias-primas extra-regionais por vezes de consideraacutevel amplitude ates-ta-se na presenccedila de uma ponta de seta de siacutelex ooliacutetico provavelmente proveniente da regiatildeo sub-beacutetica no conjunto artefactual da Anta de Nos-sa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (cf Boaventura et al 2014-2015) ndash mateacuteria-prima que se confirmou recentemente estar tambeacutem localmente presente nos conjuntos dos siacutetios de Montoito 2 e Satildeo Pedro e que poderia ter acompanhado as rotas de intercacircmbio de outras mateacuterias-primas exoacuteti-cas como o acircmbar e o marfim recolhidos em alguns monumentos megaliacuteti-cos alentejanos (Anta da Capela Anta Grande do Zambujeiro Anta Grande da Comenda da Igreja)As deslocaccedilotildees motivadas por este mesmo abastecimento de mateacuterias- -primas assumindo-se a aacuterea da Serra drsquoOssa como origem e como des-tino de produtos essenciais poderatildeo enquadrar-se igualmente no contex-to de outras actividades de subsistecircncia ndash como por exemplo o abaste-cimento de sal ou a pastoriacutecia transumante mesmo que apenas a uma escala localregional Com efeito e como referido a instalaccedilatildeo dos mo- numentos e consequentemente das comunidades que os erigiram e uti-lizaram junto a vias naturais de tracircnsito poderaacute favorecer estas hipoacuteteses Como vimos acima (e igualmente ilustrado na Figura 1) a coincidecircncia da sua situaccedilatildeo com os principais eixos de ligaccedilatildeo entre as aacutereas norte- -alentejanas e centro-alentejanas (ou noutros termos entre os vales do Tejo e do Guadiana) poderaacute demonstrar a posiccedilatildeo e importacircncia destas mes-mas vias nos padrotildees de ocupaccedilatildeo do territoacuterio Mesmo que tratando-se de um fenoacutemeno relativamente recente motivado pela produccedilatildeo de carne e latilde essencialmente a partir de Eacutepoca Moderna (sendo problemaacutetico o seu recuo ateacute tempos preacute-histoacutericos) a circunstacircncia de esta aacuterea ser cruzada pelas rotas de transumacircncia usadas ateacute ao seacuteculo XIX ligando as encostas da Serra da Estrela agraves planiacutecies alentejanas desde Eacutevora a Ourique (cf Silbert 1978 Morais 1998) reforccedila o seu papel enquanto elo de ligaccedilatildeo de regiotildees geo-culturalmente distintasAssim neste contexto geneacuterico de trocas de influecircncia a aacuterea da Serra drsquoOs-sa regista ocupaccedilotildees laquomegaliacuteticasraquo que se estendem por todas as fases da origem e desenvolvimento deste fenoacutemeno sensivelmente entre meados do

| 387

| 2018

4ordm mileacutenio ane e meados do seguinte (cf Boaventura 2011 Boaventu-ra e Mataloto 2013 Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017) Com efeito estatildeo aqui registados os pequenos monumentos simples ou de Corredor incipiente com espoacutelio pouco diversificados caracteriacutesticos de um patam-ar inicial do Megalitismo assim como os monumentos de meacutediagrande dimensatildeo de Cacircmara e Corredor diferenciado ou os tholoi (ou pelo menos sepulcros seus congeacuteneres) com mobiliaacuterios votivos mais diversificados tiacutepi-cos da sua fase de apogeu Evidencia-se assim com base no exposto acima que estes laquocaminhosraquo estiveram sempre activos desde os primeiros momen-tos do Megalitismo reafirmando-se com a consolidaccedilatildeo das sociedades camponesas estaacuteveis ndash principalmente nas aacutereas abaixo da Serra drsquoOssa (conforme o registo arqueograacutefico parece deixar transparecer)A prevalecircncia deste papel de relevo da aacuterea da Serra drsquoOssa consubstan-ciado assim na implantaccedilatildeo dos sepulcros durante o Neoliacutetico e Calcoliacutetico poderaacute ler-se precisamente no seu reuso durante as etapas finais do Cal-coliacutetico (Anta 1 das Casas do Canal Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais Anta do Mal Dorme Anta dos Godinhos) e mesmo jaacute entrada a Idade do Bronze (sepulcro do Caladinho ou Casas) natildeo necessariamente em continuidade crono-cultural com os momentos plenos de construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo destes monumentos ndash mas em oacutebvia continuidade laquosimboacutelicaraquo Neste sentido natildeo entendemos estes reusos como uma mera apropriaccedilatildeo de estruturas disponiacuteveis mas sim como a utilizaccedilatildeo de componentes activos na constituiccedilatildeo de uma nova paisagem soacutecio-cultural em que os elementos relacionados com antigas vias de tracircnsito continuam activos ndash po-dendo estes caminhos manter ainda a sua funccedilatildeo baacutesicaCom efeito apesar de maioritariamente se tratarem de monumentos com algum destaque na paisagem estes reusos natildeo podem ser explicados uni-camente pela monumentalidade dos sepulcros ndash como se atesta no caso da Anta dos Godinhos tratando-se de um pequeno monumento com impacto praticamente nulo na paisagem Neste caso haacute que encontrar outras expli-caccedilotildees para o seu reuso podendo estar relacionado com a sua posiccedilatildeo es-peciacutefica no contexto de uma via natural de tracircnsito no passo da Serra drsquoOs-sa sendo (conforme jaacute salientado em Mataloto et al 2015 p 73) o primeiro monumento que se encontra ao baixar da serra ou o uacuteltimo ao subir desde a planiacutecieDe qualquer maneira a manutenccedilatildeo destes laquoespaccedilos simboacutelicosraquo com a sua recuperaccedilatildeo e reintroduccedilatildeo nas paisagens socio-culturais legitima o seu caraacutecter como indicadores de um territoacuterio ocupado com estrateacutegias de ocupaccedilatildeo especiacuteficas em desenvolvimento possivelmente desde a pri-

388 |

meira metade do 4ordm mileacutenio ane nas quais o relevo da Serra drsquoOssa teraacute desempenhado papel fundamental

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICASALBERGARIA J DIAS A C (2000) ndash Antas de Elvas Lisboa IPPAR (Roteiros da Arqueo-logia Portuguesa)ANDRADE M A (2009) ndash Megalitismo e comunidades megaliacuteticas na aacuterea da Ribeira Grande (Alto Alentejo) definiccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo do fenoacutemeno de laquomegalitizaccedilatildeoraquo da paisagem na aacuterea austral do Norte alentejano Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2 vols policopiadoANDRADE M A (2010) ndash Rochas com laquocovinhasraquo no contexto do megalitismo alto-alente-jano o painel de Satildeo Domingos 2 (Fronteira) Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacute-nio Lisboa 6 p 7-14ANDRADE M A (2011) ndash Fronteira megaliacutetica algumas consideraccedilotildees gerais (enquanto as particulares natildeo estatildeo ainda disponiacuteveis) a respeito das laquonecroacutepoles megaliacuteticasraquo da aacuterea do Concelho de Fronteira In CARNEIRO A OLIVEIRA J ROCHA L MORGADO P (coords) ndash Arqueologia do Norte Alentejano Comunicaccedilotildees das 3as Jornadas Lisboa Ediccedilotildees Colibri p 63-82ANDRADE M A (2013) ndash Em torno ao conceito de necroacutepole megaliacutetica na aacuterea da Ri-beira Grande (Alto Alentejo Portugal) monumentos espaccedilos paisagens e territoacuterios In ARNAUD J M MARTINS A NEVES C (coords) ndash Arqueologia em Portugal 150 anos Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 417-426ANDRADE M A (2016) ndash Intervenccedilotildees de Manuel de Mattos Silva no Megalitismo da aacuterea de Avis 1 as antas de Satildeo Martinho e Assobiador (Maranhatildeo) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 19 p 41-62BOAVENTURA R (2006) ndash Os IV e III mileacutenios ane na regiatildeo de Monforte para aleacutem dos mapas com pontos os casos do cluster de Rabuje e do povoado com fossos de Moreiros 2 Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 9 2 p 61-74BOAVENTURA R (2011) ndash Chronology of megalithism in South-Central Portugal In GARCIacuteA SANJUAacuteN L SCARRE Ch WHEATLEY D W (eds) ndash Exploring Time and Matter in Prehistoric Monuments Absolute Chronology and Rare Rocks in European Megaliths Antequera Junta de Andaluciacutea (Menga Monograacutefica 1) p 159-190BOAVENTURA R MATALOTO R (2013) ndash Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cro-nologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 16 p 81-101BOAVENTURA R MATALOTO R ANDRADE M A NUKUSHINA D (2014-2015) ndash Es-tremoz 7 ou a Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (Estremoz Eacutevora) O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 5ordf seacuterie 45 p 171-231BUENO RAMIacuteREZ P (1988) ndash Los doacutelmenes de Valencia de Alcaacutentara Madrid Ministerio de Cultura (Excavaciones Arqueoloacutegicas en Espantildea 155)BUENO RAMIacuteREZ P BALBIacuteN BEHRMANN R BARROSO BERMEJO R ALDECOA QUIN-TANA M A CASADO MATEOS A B (1998) ndash Sepulcros megaliticos en el Tajo excavacioacuten y restauracioacuten de doacutelmenes en Alcaacutentara Caacuteceres Espantildea Ibn Maruaacuten Marvatildeo 8 p 135-182BUENO RAMIacuteREZ P BALBIacuteN BEHRMANN R BARROSO BERMEJO R ALDECOA QUIN-

| 389

| 2018

TANA M A CASADO MATEOS A B (1999) ndash Arte megaliacutetico en Extremadura los dol-menes de Alcantara Caacuteceres Espantildea Estudos Preacute-Histoacutericos Viseu 7 p 85-110BUENO RAMIREZ P BARROSO BERMEJO R VAacuteZQUEZ CUESTA A (2008) ndash The Beaker phenomenon and the funerary contexts of the International Tagus In BUENO RAMIREZ P BARROSO BERMEJO R BALBIacuteN-BEHRMANN (eds) ndash Graphical Markers and Mega-lithic Builders in the International Tagus Iberian Peninsula Oxford Archaeopress (BAR International Series 1765) p 141-155CALADO M (1993) ndash Carta arqueoloacutegica do Alandroal Alandroal Cacircmara MunicipalCALADO M (1994) ndash A necroacutepole dolmeacutenica do Monte Lucas (Terena Alandroal) In Ac-tas das V Jornadas Arqueoloacutegicas da Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses 2 p 125-131CALADO M (2001) ndash Da Serra drsquoOssa ao Guadiana um estudo de Preacute-Histoacuteria regional Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 19)CALADO M (2004) ndash Menires do Alentejo Central Geacutenese e evoluccedilatildeo da paisagem megaliacutetica regional Dissertaccedilatildeo de Doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 3 vols policopiadoCALADO M MATALOTO R (2001) ndash Carta Arqueoloacutegica do Redondo Redondo Cacircmara MunicipalCALADO M ROQUE C (2013) ndash Nova Carta Arqueoloacutegica do Alandroal Alandroal Cacircmara MunicipalCARTAILHAC M E (1886) ndash Les acircges preacutehistoriques de lrsquoEspagne et du Portugal Paris Ch Reinwald LibraireCORREIA V (1921) ndash El Neolitico de Pavia (Alentejo Portugal) Madrid Museo Nacional de Ciencias Naturales (ediccedilatildeo fac-similada 1999)COSTA F A P (1868) ndash Descripccedilatildeo de alguns dolmins ou antas de Portugal Lisboa Commissatildeo Geoloacutegica de PortugalDEUS A D VIANA A (1953) ndash Mais trecircs doacutelmens da regiatildeo de Elvas (Portugal) Zeph-yrus Salamanca 4 p 227-240DIAS M I KASZTOVSZKY Z S PRUDEcircNCIO M I VALERA A C MAROacuteTI B HARSAacuteNYI I KOVAacuteCS I SZOKEFALVI-NAGY Z (2017) ndash X-ray and neutron-based non-invasive ana- lysis of prehistoric stone artefacts a contribution to understand mobility and interaction networks Archaeological and Anthropological Sciences 457ESPANCA J J R (1894) ndash Estudos sobre as antas e seus congeacuteneres dissertaccedilatildeo archeo- logica Vila Viccedilosa Cacircmara MunicipalFERREIRA O V (1950) ndash Notas arqueoloacutegicas de Estremoz e Vila Viccedilosa A Cidade de Eacutevora Eacutevora 2122GARCIacuteA SANJUAacuteN L (2000) ndash Grandes Piedras Paisajes Sagrados PH Boletiacuten del Insti-tuto Andaluz del Patrimonio Histoacuterico Sevilla 31 p 171-178GARCIacuteA SANJUAacuteN L (2005) ndash Las piedras de la memoria La permanencia del Mega- litismo en el Suroeste de la Peniacutensula Ibeacuterica durante el II e I milenios ANE Trabajos de Prehistoria Madrid 62 1 p 85-109GIBSON C (2016) ndash Closed for business or cultural change Tracing the re-use and final blocking of megalithic tombs during the Beaker period In KOCH J T CUNLIFFE B (eds) ndash Celtic from the West 3 Atlantic Europe in the Metal Ages ndash question of shared language Oxford Oxbow Books p 103-110GONCcedilALVES V S (1992) ndash Revendo as antas de Reguengos de Monsaraz Lisboa

390 |

UNIARQ (Cadernos da UNIARQ 2)GONCcedilALVES V S (1999) ndash Reguengos de Monsaraz territoacuterios megaliacuteticos Lisboa Cacircmara Municipal de Reguengos de MonsarazGONCcedilALVES V S (2003) ndash STAM-3 a anta 3 da Herdade de Santa Margarida (Reguen-gos de Monsaraz) Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 32)KALB Ph (1994) ndash Reflexotildees sobre a utilizaccedilatildeo de necroacutepoles megaliacuteticas na Idade do Bronze In Actas do Seminaacuterio laquoO Megalitismo no Centro de Portugalraquo Viseu Centro de Estudos Preacute-Histoacutericos da Beira Alta (Estudos Preacute-Histoacutericos 2) p 415-426LEISNER G (1949) ndash Antas dos arredores de Eacutevora Eacutevora Ediccedilotildees Nazareth (Separata de A Cidade de Eacutevora 15-16 17-18)LEISNER G LEISNER V (1955) ndash Antas nas Herdades da Casa de Braganccedila no Con-celho de Estremoz Lisboa Fundaccedilatildeo da Casa de BraganccedilaInstituto para a Alta CulturaLEISNER G LEISNER V (1956) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel der Westen Berlin Walther de Gruyter amp Co 1 1LEISNER G LEISNER V (1959) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel der Westen Berlin Walther de Gruyter amp Co 1 2MATALOTO R (2005) ndash A propoacutesito de um achado na Herdade das Casas (Redondo) megalitismo e Idade do Bronze no Alto Alentejo Revista Portuguesa de Arqueologia Lis-boa 8 2 p 115-128MATALOTO R (2006) ndash Entre Ferradeira e Montelavar um conjunto artefactual da Fundaccedilatildeo Paes Teles (Ervedal Avis) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 9 2 p 83-108MATALOTO R (2007) ndash Paisagem memoacuteria e identidade tumulaccedilotildees megaliacuteticas no poacutes-megalitismo alto-alentejano Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 10 1 p 123-140MATALOTO R (2017) ndash We are ancients as ancient as the sun campaniforme antas e gestos funeraacuterios nos finais do 3ordm mileacutenio BCE no Alentejo Central In GONCcedilALVES V S (ed) ndash Sinos e Taccedilas Junto ao Oceano e mais longe Aspectos da presenccedila campani-forme na Peniacutensula Ibeacuterica Lisboa UNIARQFL-UL (Estudos amp Memoacuterias 10) p 58-81MATALOTO R ANDRADE M A PEREIRA A (2016-2017) ndash O Megalitismo das pequenas antas novos dados para um velho problema Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras 23 p 33-156MATALOTO R BOAVENTURA R (2010) ndash Anta da Vidigueira (Freixo Redondo) inter-venccedilatildeo de caracterizaccedilatildeo Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 13 1 p 5-24MATALOTO R BOAVENTURA R NUKUSHINA D VALEacuteRIO P INVERNO J SOARES R M RODRIGUES M BEIJA F (2015) ndash O sepulcro megaliacutetico dos Godinhos (Freixo Redondo) usos e significados no acircmbito do Megalitismo alentejano Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 18 p 55-79MATALOTO R ROCHA L (2007) ndash O monumento do Caladinho (Redondo Eacutevora) estudo preliminar de um monumento megaliacutetico no Redondo Vipasca Aljustrel 2ordf seacuterie 2 (Ac-tas do III Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular) p 107-116MOITA I N (1956) ndash Subsiacutedios para o estudo do Eneoliacutetico do Alto Alentejo O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Nova seacuterie 3 p 135-176MORAIS J A D (1998) ndash Transumacircncia de gados serranos e o Alentejo Eacutevora Cacircmara Municipal (Novos Estudos Eborenses 3)

| 391

| 2018

NOGUEIRA P MOITA P BOAVENTURA R PEDRO J MAacuteXIMO J ALMEIDA L MA- CHADO S MATALOTO R PEREIRA A RIBEIRO S SANTOS J F (2015) ndash A spatial data warehouse to predict lithic sources of tombs from South of Portugal mixing geochemistry petrology cartography and archaeology in spatial analysis Comunicaccedilotildees Geoloacutegicas Lisboa 102 1 p 79-82OLIVEIRA J (1998) ndash Monumentos megaliacuteticos da bacia hidrograacutefica do Rio Sever Lis-boa Ediccedilotildees Colibri 1OLIVEIRA J (2006) ndash Patrimoacutenio arqueoloacutegico da Coudelaria de Alter e as primeiras co-munidades agropastoris Lisboa Ediccedilotildees ColibriUniversidade de EacutevoraPACcedilO A FERREIRA O V VIANA A (1957) ndash Antiguidades de Fontalva Neo-eneoliacutetico e eacutepoca romana Zephyrus Salamanca 8 p 111-133PARREIRA R (1996) ndash O conjunto megaliacutetico do Crato (Alto Alentejo) contribuiccedilatildeo para o registo das antas portuguesas Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto 2 vols policopiadoPEDRO J MOITA P BOAVENTURA R ALMEIDA L MACHADO S NOGUEIRA P MAacute- XIMO J MATALOTO R PEREIRA A RIBEIRO S SANTOS J F (2015) ndash Proveniecircncias no Neoliacutetico arqueometria em contextos geoloacutegicos distintos Comunicaccedilotildees Geoloacutegicas Lisboa 102 1 p 157-160PEREIRA G (1875) ndash Dolmens ou Antas dos arredores de Eacutevora Eacutevora Typ Francisco da Cunha BravoPEREIRA G (1879) ndash O dolmen furado da Candeeira Notas drsquoarcheologia Eacutevora Typ Francisco da Cunha BravoROCHA L (1999) ndash Povoamento Megaliacutetico de Pavia Contributo para o conhecimento da Preacute-histoacuteria regional Mora Cacircmara MunicipalROCHA L (2005) ndash Estudo do megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central a contribuiccedilatildeo de Manuel Heleno Dissertaccedilatildeo de Doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2 vols policopiadoROCHA L DUARTE C (2009) ndash Megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central os dados antropoloacutegicos das escavaccedilotildees de Manuel Heleno In POLO CERDAacute GARCIacuteA-PROacuteSPER E (eds) ndash Investigaciones histoacuterico-meacutedicas sobre salud y enfermedad en el passado Actas del IX Congreso Nacional de Paleopatologia Valecircncia Grupo Paleolab amp Sociedad Espantildeola de Paleopatologia p 763-781SILBERT A (1978) ndash Le Portugal meacutediterraneacuteen agrave la fin de lrsquoAncien Reacutegime XVIIIe-Deacutebut du XIXe sieacutecle Contribution agrave lrsquohistoire agraire compareacutee Lisboa INICSILVA J P (1878) ndash Novos monumentos megaliacutethicos em Portugal Boletim da Real As- sociaccedilatildeo dos Architectos Civis e Archeoacutelogos Portuguezes Lisboa 2ordf seacuterie 2 6 p 90-91TEJEDOR RODRIacuteGUEZ C (2008) ndash El monumento en el tiempo planteamento teoacuterico y metodoloacutegico para el anaacutelisis de las reutilizaciones megaliacuteticas In Actas de las I Jornadas de Joacutevenes en Investigacioacuten Arqueoloacutegica Dialogando con la Cultura Madrid Compantildeia Espantildeola de Repografiacutea y Servicios 2 p 441-448TEJEDOR RODRIacuteGUEZ C (2013) ndash La pervivencia de los laquousos megaliacuteticosraquo en el Valle del Duero a lo largo de la Prehistoria Reciente (III-II milenio aC) Una aproximacioacuten al estudio en la regioacuten del Alto Douro In SASTRE BLANCO J C CATALAacuteN RAMOS R FUENTES MELGAR P (coords) ndash Arqueologiacutea en el Valle del Duero Del Neoliacutetico a la Antiguumledad Tardiacutea nuevas perspectivas Madrid Ediciones de la Ergaacutestula p 33-40VASCONCELLOS J L (1897) ndash Religiotildees da Lusitacircnia Lisboa Imprensa Nacional 1

392 |

VASCONCELLOS J L (1916) ndash Entre Tejo e Odiana O Archeoacutelogo Portuguecircs Lisboa 1ordf seacuterie 21 p 152-195VIANA A DEUS A D (1952) ndash Exploracioacuten de algunos dolmenes de la regioacuten de Elvas Portugal In Croacutenica del II Congreso Arqueoloacutegico Nacional Madrid Zaragoza Secretariacutea Nacional de los Congresos Arqueologicos Nacionales p 185ndash201VIANA A DEUS A D (1955) ndash Notas para o estudo dos doacutelmens da regiatildeo de Elvas Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto Nova Seacuterie 15 3-4 p 143-189VIANA A DEUS A D (1957) ndash Mais alguns doacutelmens da regiatildeo de Elvas (Portugal) In Congreso Arqueoloacutegico Nacional 4 Burgos 1955 Zaragoza Secretariacutea General de

| 393

| 2018

Muitas antas e muita gente As relaccedilotildees entre os recintos de fossos e os monumentos megaliacuteticos no Alentejo Central

Lots of dolmens and lots of people The relations between ditched enclosures and megalithic monuments in Alentejo Central

RESUMOEm Portugal mais concretamente na regiatildeo centro-alentejana o universo fu-neraacuterio das sociedades camponesas do 4ordm e 3ordm mileacutenio ane foi tratado ateacute aos finais da deacutecada de rsquo90 do seacuteculo passado separadamente do ldquomundo dos vivosrdquo Tal devia-se por um lado agrave visibilidade dos monumento megaliacuteti-cos na paisagem e por outro lado aos diferentes trabalhos que lhes foram di-rigidos especificamente dos quais se destaca o do casal Leisner no concelho de Reguengos de Monsaraz (Leisner amp Leisner 1985) O potencial informativo dos ldquopovoadosrdquo e das antas era de tal forma desequili-brado que foram organizados encontros cientiacuteficos sob a temaacutetica ldquoMuitas an-tas pouca genterdquo (Gonccedilalves 2000) contraditadas apoacutes a descoberta dos Perdigotildees e apoacutes a execuccedilatildeo dos trabalhos de minimizaccedilatildeo de impactes na aacuterea do regolfo da Barragem de Alqueva com o binoacutemio ldquoMuita gente poucas antasrdquo (Gonccedilalves 2003) O reconhecimento na primeira deacutecada do seacuteculo XXI de dezenas de recintos de fossos alterou definitivamente o paradigma ateacute entatildeo conhecido sendo possiacutevel afirmar hoje que na regiatildeo centro-alentejana havia muita gente e por isso muitas antas natildeo obstante a ausecircncia de estudos especiacuteficos sobre a demografia preacute-histoacutericaNa presente comunicaccedilatildeo pretende-se debater as relaccedilotildees espaciais entre os recintos de fossos e os monumentos megaliacuteticos alentejanos procurando in-ferir os comportamentos sociais dos grupos que ocupavam esta aacuterea geograacute-fica atraveacutes dos dados empiacutericos disponiacuteveisPALAVRA-CHAVE SW Peninsular Recintos de fossos Megalitismo Relaccedilotildees espaciais

Filipa Rodrigues1

1Crivarque Lda UNIARQ ndash FLUL STEA ndash Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia

394 |

ABSTRACTThis paper aims to discuss the spatial analysis between ditched enclosures and megalithic monuments in Alentejo Central in order to infer the social beha- viors of groups that occupied this region during the Late Neolithic periodKEY WORDS SW Iberia Ditched Enclosures Megalithism Spatial Analysis

1 INTRODUCcedilAtildeO A actual regiatildeo centro-alentejana2 despertou desde muito cedo o interesse de vaacuterios arqueoacutelogos nacionais e estrangeiros que nela reconheceram um enorme potencial para a investigaccedilatildeo sobre as comunidades preacute-histoacutericas traduzido desde logo pela identificaccedilatildeo de inuacutemeros monumentos megaliacuteti-cos funeraacuterios Eacute neste contexto de produccedilatildeo cientiacutefica que o Alentejo Central eacute elevado ao estatuto de territoacuterio paradigmaacutetico do megalitismo funeraacuterio portuguecircs estando reconhecidos cerca de 130 monumentos megaliacuteticos A par destes conhecem-se ainda cromeleques e menires isolados que embora possam ter nalguns casos cronologias antigas dentro da diacronia neoliacutetica partilharam o espaccedilo com os seus congeacuteneres funeraacuterios Numa fase mais recente da investigacatildeo outros tipos de siacutetios quer relacio-nados com o ldquomundo dos mortosrdquo quer relacionados com o ldquomundos dos vivosrdquo surgiram nesta regiatildeo Eacute o caso dos hipogeus da Sobreira de Cima (Va- lera 2013) e das gravuras rupestres identificadas no Santuaacuterio Exterior do Escoural ou nas margens do Guadiana que demonstram que esta regiatildeo foi palco de vaacuterios cenaacuterios de vivecircncia ao longo de toda a Preacute-Histoacuteria Recente Todos estes siacutetios normalmente conectados com as manifestacotildees simboacuteli-cas e a vertente ideoteacutecnica das comunidades preacute-histoacutericas encontram-se ao lado de uma rede de povoamento ainda mal conhecida De facto ateacute ao momento conhecem-se alguns ldquopovoados abertosrdquo e raros ldquopovoados forti-ficadosrdquo sendo esta lacuna aparentemente preenchida pela proliferacatildeo de recintos de fossos que na uacuteltima deacutecada tecircm sido dados a conhecer quer atra- veacutes de escavacotildees arqueoloacutegicas quer atraveacutes do seu reconhecimento por fo-tografia aeacutereaNesta regiatildeo a construccedilatildeo dos recintos de fossos tem iniacutecio na uacuteltima eta-pa do Neoliacutetico ou seja durante a segunda metade do 4ordm mileacutenio ane e emerge de um processo histoacuterico caracterizado pelabull comprovada mobilidade populacional entre a Estremadura e o Alentejo privilegiando o contacto entre o litoral e o interior com forte interacatildeo intra e intergrupal considerando os resultados das anaacutelises paleogeneacuteticas e isotoacutepi-cas realizadas no Algar do Bom Santo (Carvalho 2014) 2 Regiatildeo artificial recentemente criada que de um modo geneacuterico se circunscreve ao distrito de Eacutevora Do ponto de vista paisagiacutestico e geomorfoloacutegico corresponde agrave planiacutecie alentejana estando neste trabalho delimitada a Norte pela Serra de Ossa a Oeste pela Sera de Monfurado a Sul pela Serra do Mendro utilizando-se como limite Este a fronteira poliacutetica do paiacutes

| 395

| 2018

bull ldquoterritorializacatildeo da paisagemrdquo atraveacutes da construcatildeo dos monumentos funeraacuterios megaliacuteticos normalmente conectado com um aumento demograacutefi- co e complexificacatildeo social considerando a anaacutelise das dataccedilotildees absolutas documentadas para o fenoacutemeno megaliacutetico3 (Boaventura amp Mataloto 2013)Ainda que de forma desigual neste momento estatildeo disponiacuteveis dados empiacuteri-cos provenientes de 11 recintos de fossos crono-culturalmente integrados no designado Neoliacutetico Final sendo eles bull Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) (Rodrigues 2008 2013 e 2015) bull Moreiros 2 (Monforte Portalegre) (Boaventura 2006 Valera Becker amp Boaventura 2013) bull Cabeco do Torratildeo (Elvas Portalegre) (Lago amp Albergaria 2001) bull Paraiacuteso (Elvas Portalegre) (Mataloto amp Costeira 2008 e 2009 Mataloto et alii 2011) bull Juromenha 1 (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Mataloto 1998 Mataloto amp Boaventura 2009) bull Malhada das Mimosas (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Rocha 2000) bull Aacuteguas Frias (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Rocha 2004) bull Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz Eacutevora) (Lago et alii 1998 Valera 2008 Valera 2010 Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) bull Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) (Arnaud 1993 Valera amp Filipe 2004 (Santos et alli 2014) bull Fareleira 3 (Vidigueira Beja) (Figueiredo 2013) bull Igreja Velha de Satildeo Jorge (Serpa Beja) (Soares 1994 e 1996) (v Fig 1)4

3 Neste caso importa referir as dataccedilotildees aferidas para a ocupaccedilatildeo realizada anteriormente agrave construccedilatildeo do monumento 2 de Vale Rodrigo que de acordo com Boaventura e Mataloto (2013) estabelecem ldquo[] momentos de termini post quosrdquo de-marcando o iniacutecio de uma Fase 1 do ldquoprocesso de megalitizaccedilatildeordquo Ua 10830 3940 ndash 3250 cal BC e KIA 31381 3940-3700 cal BCE) (Armbruester 2006 e 2007)

Figura 1

396 |

Destes 11 apenas cinco se encontram datados pelo radiocarbono ndash Moreiros 2 Juromenha 1 Igreja Velha de Satildeo Jorge Porto Torratildeo e Perdigotildees Se por um lado as distribuiccedilotildees de probabilidades entre as dataccedilotildees mais antigas e com maior grau de fiabilidade de cada recinto mencionado natildeo permitem admitir de imediato a sua sincronia por outro lado tambeacutem natildeo permitem rejeitaacute-la existindo uma estreita janela que possibilita o seu tratamento em simultacircneo (v Fig 2) Havendo uma evidente analogia entre o espoacutelio reco- lhido nos cinco recintos datados e os restantes seis e partindo do princiacutepio que a anaacutelise sobre estes siacutetios tem de comeccedilar por algum lado ainda que com fragilidades claramente assumidas os onze recintos foram tratados para efeitos do presente trabalho de forma sincroacutenica

Assim natildeo sendo o objectivo deste texto debater a funcionalidade dos recintos de fossos identificados na regiatildeo alentejana mas sim compreender a sua relaccedilatildeo com os monumentos megaliacuteticos reconhecidos no seu entor-no imediato pretende-se com o presente exerciacutecio responder agraves seguintes questotildees1) existem aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteti-cos e se sim estatildeo associadas aos recintos de fossos

4 Devido agrave escassez de dados sobre esta temaacutetica especiacutefica foram considerados os recintos de fossos do Porto Torratildeo Fareleira 3 e Igreja Velha de Satildeo Jorge localizados no Baixo Alentejo e natildeo na regiatildeo centro-alentejana conforme se indica desde logo no tiacutetulo deste trabalho

Figura 2

| 397

| 2018

2) a presenccedila dos recintos de fossos inibiu a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos nas suas aacutereas directas de accedilatildeo3) como eacute que se efectua a gestatildeo da morte nos recintos de fossos do Neoliacuteti-co Final e quais as inferecircncias sociais que daiacute advecircem

Desta forma nos proacuteximos pontos seratildeo descritos (i) a metodologia uti-lizada para atingir os objectivos previamente definidos (ii) quais os resulta-dos obtidos e (iii) as primeiras leituras sociais que se podem efectuar

2 METODOLOGIA De modo a responder agraves questotildees delineadas recorreu-se aos Sistemas de Informaccedilatildeo Geograacutefica (SIG) mais concretamente ao programa ArcGis 93 para efectuar uma anaacutelise espacial da implantaccedilatildeo quer dos recintos de fos-sos enquanto unidades de estudo individuais quer dos recintos associados aos monumentos megaliacuteticos existentes no seu entorno imediatoTodos os siacutetios arqueoloacutegicos em apreccedilo foram devidamente implantados numa base cartograacutefica digital que teve por base as Cartas Militares de Por-tugal agrave escala 125 000 o que significa que o resultado obtido considera curvas de niacutevel distanciadas entre si 10m A implantaccedilatildeo dos siacutetios foi rea- lizada mediante as coordenadas disponiacuteveis quer na bibliografia quer no inventaacuterio geral de siacutetios arqueloacutegicos produzido pela Direcccedilatildeo-Geral do Pa- trimoacutenio Cultural ndashEndoveacutelicoApoacutes esta implantaccedilatildeo implementou-se em torno de cada recinto de fossos um buffer de 5km utilizando como referencia teoacuterica de partida os criteacuteri-os claacutessicos estabelecidos por Higgs e Vitta-Finzi (1972) que definiram a partir de estudos etnograacuteficos que as sociedades agropastoris plenamente sedentarizadas natildeo exploram territoacuterios que se localizem a uma distacircncia superior a essa a partir do lugar de povoamento No entanto apreciando o atual estado do conhecimento acerca dos recintos de fossos do SW Penin-sular considerou-se pertinente estabelecer fronteiras mais latas na ordem dos 10 km (normalmente associadas agraves sociedades de caccediladores recolecto-res) natildeo tanto para perceber que aacutereas do territoacuterio foram economicamente exploradas mas sim eventuais redes de contacto entre siacutetios partindo do princiacutepio de que em determinado momento estes poderatildeo ter sido sincroacuteni-cos Esta opccedilatildeo justifica-se pelos recentes dados empiacutericos referentes ao periacuteodo imediatamente antecedente - o Neoliacutetico Meacutedio - que revelaram uma grande mobilidade das populacotildees conquanto para o Neoliacutetico Final e Calcoliacutetico da regiatildeo de Torres Vedras (portanto mais proacuteximas cronologica-mente das aqui estudadas) se possa concluir por uma notaacutevel reducatildeo da mobilidade humana a julgar pelos dados publicados por Watermann et alii

398 | 5 ldquoPastos Naturais satildeo comunidades vegetais compostas de espeacutecies herbaacuteceas ou lenhosas (ou ambas)1113088 que produzempastagem principalmente utilizada como alimento pelos animais domeacutesticos Podem ser cultivados conhecidos como pastos agriacutecolas ou podem natildeo ser cultivados conhecidos como pastos permanentes ou pastagens naturaisrdquo (Papanastasis V P (sd)

(2013) Ao mapa dos recintos de fossos devidamente delimitados pelos buffers de 5 e 10km acrescentou-se os dados geograacuteficos referentes agraves antas inventa- riadas num raio de 20 km em torno dos siacutetios em anaacutelise de modo a obter uma imagem espacial de ambas as realidades De referir que este mapa natildeo considera1) a vertente temporal das antas e dos recintos ou seja assume-se na sua execuccedilatildeo a sincronia entre todos os monumentos megaliacuteticos e entre estes e todos os recintos de fossos em apreccedilo o que natildeo corresponde agrave verdade histoacuterica fundamentalmente este desvio arqueograacutefico adveacutem (1) da na-tureza de muitos trabalhos sobre os monumentos megaliacuteticos correspon-dentes agrave sua identificaccedilatildeo ndash prospeccedilatildeo ndash sem escavaccedilatildeo arqueoloacutegica as- sociada que permita a aquisiccedilatildeo de uma cronologia fina para a sua utilizaccedilatildeo e por conseguinte (2) a ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que possibilitem estabelecer eventuais relaccedilotildees de contemporaneidade entre siacutetios o que provoca uma imagem artificial distorcida e condensada2) alguns monumentos megaliacuteticos mais recentes nomeadamente os que se conhecem em torno do recinto de fossos do Porto Torratildeo ndash nuacutecleo de tholoi da Horta do Joatildeo da Moura (Pereiro 2010 Corga amp Ferreira 2011 informaccedilatildeo pessoal de Raquel Santos ndash Neoeacutepica) Monte do Cardim 6 (Fi- gueiredo 2009) e Monte do Pombal (Dias amp Figueiredo 2009)3) as formas ldquosubterracircneasrdquo de megalitismo funeraacuterio ndash hipogeus ndash conhe-cidos quer na Sobreira de Cima (Valera 2013) quer em torno do Porto Tor-ratildeo ndash Monte do Carrascal (Santos 2010 Neves amp Mendes 2011) ndash sendo este uacuteltimo bastante relevante para a anaacutelise da emergecircncia dos recintos de fossos do Neoliacutetico Final pelo que seraacute analisado particularmente adiante

3 RESULTADOS 31 A relaccedilatildeo entre recintos de fossosPara melhor compreensatildeo dos dados obtidos na anaacutelise espacial ldquorecintos de fossos ndash antasrdquo impora efectuar uma breve descriccedilatildeo dos resultados ob-tidos na anaacutelise da implantaccedilatildeo de cada recinto de fossos em apreccedilo (natildeo demonstrados no presente trabalho uma vez que esse natildeo eacute o objectivo que se pretende atingir)

Assim nos 11 siacutetios analisados atraveacutes dos SIG verificou-se a sistemaacutetica implantaccedilatildeo em lugares planos ou com declives suaves sendo as inclinaccedilotildees orientadas a Sul ou Sudeste congregando algumas das condiccedilotildees essen- ciais e fundamentais para a execuccedilatildeo das actividades agriacutecolas que estatildeo na base da economia das sociedades neoliacuteticas A anaacutelise das condiccedilotildees

| 399

| 2018

ambientais a 5km e 10km permitiu ainda constatar a presenccedila de territoacute- rios aptos para diferentes praacuteticas pecuaacuterias ndash pastos naturais5- passiacuteveis de constituir verdadeiras paisagens pastoris6 (Rodrigues 2015)

Mas se a anaacutelise das condiccedilotildees de implantaccedilatildeo revelam uma conjun-tura especiacutefica que conduz agrave fixaccedilatildeo das comunidades construtoras dos recintos de fossos visando uma estrateacutegia econoacutemica previamente esta-belecida tambeacutem demonstra preocupaccedilotildees de controlo de territoacuterio e de comunicaccedilatildeo intergrupal

O nuacutemero consideraacutevel de siacutetios jaacute identificados a Norte da Serra de Portel permite a ponderaccedilatildeo de um eixo de controlo territorial no sentido N S que nas regiotildees a Sul desse relevo ainda natildeo estaacute comprovado mas que eacute sugerido atraveacutes da posiccedilatildeo geograacutefica dos recintos Neste caso a existecircncia de uma organizaccedilatildeo territorial idecircntica teria uma orientaccedilatildeo no sentido W-E

Assim no designado ldquoeixo N-Srdquo reconhece-se (1) uma grande pro- ximidade fiacutesica entre siacutetios praticamente constante (2) a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de intersecccedilatildeo (eventualmente correspondente a zonas de inte- racccedilatildeo grupal) bastante semelhantes (3) assim como a intervisibilidade entre recintos o que permite a assunccedilatildeo de uma base poliacutetica comum que se organiza de forma estrateacutegica para melhor controlar um territoacuterio que por ancestralidade eacute seu (v Fig 3)

Figura 3 6 ldquoPaisagens pastoris satildeo terras heterogeacuteneas compostas por uma variedade de comunidades de plantas em que todas ou a grande maioria satildeo frequentadas e utilizadas como pasto para o gado Por outras palavras as paisagens pastoris incluem mais do que um tipo de pastos espalhados numa aacuterea especiacutefica e utilizados por uma ou mais espeacutecies de gadordquo (Papanas-tasis V P (sd)

400 |

32 A relaccedilatildeo entre recintos de fossos e monumentos megaliacuteti-cos funeraacuteriosDa cartografia geral produzida (Fig 4) sobressai a disparidade entre o nuacutemero de monumentos megaliacuteticos situados a Norte da Serra de Portel e a escassez registada a Sul deste maciccedilo montanhoso A explicaccedilatildeo para tal fenoacutemeno poderaacute estar relacionada com as condicionantes geoloacutegicas das regiotildees verificando-se a Norte uma zona predominante-mente graniacutetica com disponibilidade de mateacuteria-prima para a execuccedilatildeo dos monumentos e a Sul uma carecircncia destes materiais tendo as so-ciedades preacute-histoacutericas procurado soluccedilotildees alternativas tais como a es-cavaccedilatildeo de hipogeus Regista-se assim um nuacutemero muito limitado de monumentos em torno dos recintos de fossos localizados na zona Sulbull dentro dos buffers do Porto Torratildeo natildeo haacute qualquer monumento dolmeacutenico identificado estando no entanto registadas diferentes for-mas de tratamento dos mortos como se veraacute numa discussatildeo adiante ndash tholoi hipogeus enterramentos em fossos despejo de restos humanos no interior do fossos delimitadores do recintobull nas aacutereas de exploraccedilatildeo do recinto de fossos da Fareleira 3 registam-se apenas dois monumentos megaliacuteticos integrados no buffer de 10 kmbull junto ao recinto de fossos da Igreja Velha de Satildeo Jorge registam-se dois monumentos megaliacuteticos ndash Monte da Velha 1 e Monte da Velha 2 (Soares amp Arnaud 1984 Soares 2008) ndash localizados a uma distacircncia inferior a1km do siacutetio em apreccedilo Situaccedilatildeo completamente oposta eacute a que se verifica nos recintos de fos-sos a Norte da Serra de Portel onde parece haver um pleno ldquoconviacuteviordquo entre ambas as formas de apropriaccedilatildeo dos territoacuterios sem que uma ex-clua a outra Por outras palavras existe uma ldquoharmoniardquo entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo ldquo[] onde o rito se conforma com o haacutebitordquo (Boaventura amp Mataloto 2013 84) Assim em torno de cada recinto em anaacutelise encontram-se monumentos megaliacuteticos quer dentro do buffer de 5km quer dentro do buffer de 10km o que demonstra que independentemente de haver ou natildeo sincronia nas construccedilotildees e nas utilizaccedilotildees a presenccedila de um recinto ou a presenccedila de um monumento megaliacutetico natildeo foi impeditiva que outras construccedilotildees similares posteri-ores ou simultacircneas tivessem lugar Ou seja haacute uma sobreposiccedilatildeo no espaccedilo entre todos os elementos analisados- recintos de fossos e monu-mentos megaliacuteticos - em plena convivecircncia territorialA elaboraccedilatildeo de Cartas de Visibilidades Acumuladas para cada um dos recintos de fossos e respectivos monumentos megaliacuteticos situados num

| 401

| 2018

raio de 10 km em torno dos primeiros permitiu ainda aferir que todos os siacutetios satildeo visiacuteveis entre si sendo possiacutevel assumir que os construtores de antas satildeo os contrutores dos recintos de fossos e vice-versa (Fig 6 7 8 e 9)Esta ocupaccedilatildeo massiva do territoacuterio sem qualquer termo comparativo com os periacuteodos antecedentes torna-se assim consentacircnea natildeo soacute com a ideia de um aumento demograacutefico exponencial na regiatildeo mas tambeacutem com a efectiva sedentarizaccedilao dos grupos humanos que satildeo cada vez mais in- tervenientes e modeladores da paisagem que os rodeia territorializando-a e reclamando-a para si Este espaccedilo natildeo soacute eacute o lugar que habitam mas eacute tambeacutem o lugar onde se eterniza a sua ancestralidade

Figura 4

402 |

Figura 6

Figura 5

| 403

| 2018

Figura 7

Figura 8

404 |

No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo uacuteltimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

Figura 9

| 405

| 2018

a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nuacutecleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

406 |

natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

| 407

| 2018

(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de muacuteltiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no nuacutemero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos induacutestria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

408 |

Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

| 409

| 2018

ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

410 |

Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

| 411

| 2018

Uma anaacutelise arqueotanatoloacutegica em trecircs hipogeus os contributos dos siacutetios de Monte Canelas I (Portimatildeo) e do Monte do Carrascal 2 (Ferreira do Alentejo) para a compreensatildeo das praacuteticas funeraacuterias nos 4ordm e 3ordm mileacutenio aC no Sul de Portugal

AN ARCHAEONNATOLOGICAL ANALYSIS OF THREE HYPOGEA THE CONTRIBUTION OF MONTE CANELAS I (PORTIMAtildeO) AND MONTE DO CARRASCAL 2 (FERREIRA DO ALENTEJO) TO THE UNDERSTANDING OF 4TH AND 3RD MILLENNIA BC FUNERARY PRACTICES IN SOUTH PORTUGAL

RESUMOApesar dos hipogeus (ou grutas artificiais) serem explorados desde a deacutecada de 1870 eacute apenas da uacuteltima deacutecada do seacuteculo XX que um destes monumentos eacute pela primeira vez alvo de uma intervenccedilatildeo levada a cabo por arqueoacutelogos e antropoacutelogos ndash o Hipogeu de Monte Canelas I Aqui o tipo de registo efectuado permitiu realizar uma anaacutelise arqueotanatoloacutegi-ca do siacutetio vinte anos apoacutes a sua escavaccedilatildeo devidamente balizada por um conjunto de dataccedilotildees de radiocarbonoJaacute nos finais da primeira deacutecada do seacutec XXI uma outra intervenccedilatildeo de Arqueologia no Monte dos Carrascal 2 sito nas imediaccedilotildees do grande siacutetio de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) permitiu recolher dados aturados acerca das praacuteticas funeraacuterias ali levadas a cabo A esca- vaccedilatildeo arqueotanatoloacutegica de dois destes sepulcros veio lanccedilar luz sobre as modalidades de gestatildeo e tratamento dos mortos naqueles siacutetios numa perspectiva sincroacutenica e diacroacutenica enquadrada radio-cronometricamenteApresentam-se aqui os resultados dos estudos realizados nestes trecircs sepulcros colectivos procurando-se caracterizar e identificar os traccedilos comuns e aqueles que individualizam cada um dos monumentos no que respeita ao tratamento dos mortos nos 4ordm e 3ordm mileacutenio aC PALAVRA-CHAVE Sepulcros colectivos 43ordm mileacutenio aC Hipogeus Monte Canelas I Monte do Carrascal 2

Maria Joatildeo Neves1 e Ana Maria Silva12

1 CIAS - Research Centre for Anthropology and Health Department of Life Sciences University of Coimbra 3000-456 Coimbra Portugal2 UNIARQ Universidade de Lisboa e-mail para correspondecircncia marianevesciucptXimi sequiatur Uciti quias quos comniminctae labor aut ut abore sequiditiore ea volupta tusame deliquam eossuntur comnit intion platur recuptatqui dolore dolor sequam sandigendus unt ulpa volecte mporibea quasper ferspitem quist quidesequam volum repere dunt aut la nis excerum faceatem ad qui cuptae Et quam est volo con exerferibus alit et qui dolores re voluptia vit porem ut quassunt

412 |

ABSTRACTAlthough hypogea or artificial caves have been explored since the 1870s it was only in the late 20th century that one of these monuments was carefully excavated by a team of archaeologists and anthropologists mdash Hipogeum of Monte Canelas I This site allowed a detailed ana- lysis of anthropological radiocarbon dating and spatial informationIn 2011 another intervention permitted to collect a considerable amount of data concerning funeral practices carried out in Monte dos Carrascal 2 a necropolis located near the large site of Porto Torratildeo (Beja Portu-gal)The archaeotanatological excavation of two of these tombs shed light on the modalities of management and treatment of the dead in those sites in a synchronous and diachronic perspective radio-chronometrically con-textualizedThe results of the studies carried out in these three collective tombs are presented here aiming to characterize and identify the common traits and those that individualise each of the monuments regarding the treatment of the dead in the 4th and 3rd millennium BCKEY WORDSCollective graves IVIII millennium BC Hypogea Monte Canelas I Monte do Carrascal 2

1 INTRODUCcedilAtildeO Os hipogeus ou grutas artificiais satildeo conhecidos na Peniacutensula Ibeacuterica desde a deacutecada de 1870 (Gaacutelan 1986) Desde entatildeo e ateacute agrave segunda metade do seacutec XX acumularam-se uma seacuterie de colecccedilotildees osteoloacutegi-cas frequentemente truncadas cuja contextualizaccedilatildeo arqueoloacutegica era muitas vezes incompleta dando por isso respostas insuficientes no que respeita quer agrave caracterizaccedilatildeo paleobioloacutegica da populaccedilatildeo ali depos-itada quer ao conhecimento das praacuteticas funeraacuterias preteacuteritas (Silva 2002 Boaventura 2009 Neves e Silva 2010 Boaventura et al 2014)Foi apenas em 1993 aquando da identificaccedilatildeo do Hipogeu Neo-Cal-coliacutetico de Monte Canelas I (Alcalar Portimatildeo) que pela primeira vez se levou a cabo uma operaccedilatildeo de salvamento que contou com a partici-paccedilatildeo conjunta de arqueoacutelogos e antropoacutelogos fiacutesicos (Parreira e Ser-pa 1995 Silva 1996 Silva e Parreira 2010) Foi desenhada uma in-tervenccedilatildeo cuidada e orientada para responder a trecircs questotildees fulcrais (e que ateacute entatildeo eram de difiacutecil resposta em contextos semelhantes) a quem pertenciam os ossos ali encontrados quando eacute que ali tinham sido depositados e quais as praacuteticas funeraacuterias ali levadas a cabo

| 413

| 2018

Tendo sido em 1996 concluiacutedo o estudo antropoloacutegico da seacuterie por Silva a sua anaacutelise arqueotanatoloacutegica permaneceu por realizar durante vaacuterias deacutecadas (Neves e Silva 2010) tendo sido apenas entrevista a partir de 2011 altura em que finalmente se viram reunidas as condiccedilotildees (teacutecnicas e financeiras) para proceder a tal investigaccedilatildeo (Neves em preparaccedilatildeo)Tal estudo orientado essencialmente para a documentaccedilatildeo das praacuteticas e dos gestos funeraacuterios levados a cabo com base nos princiacutepios da Arqueotana-tologia centrou-se na anaacutelise dos registos da escavaccedilatildeo congregados com as informaccedilotildees antropoloacutegicas numa base de dados SIGTambeacutem em 2011 surgiu a oportunidade de dar continuidade agrave escavaccedilatildeo de dois hipogeus no Alentejo interior no Monte do Carrascal 2 (Ferreira do Alentejo Beja) nas imediaccedilotildees do grande siacutetio Neo-Calcoliacutetico do Porto Torratildeo sendo entatildeo possiacutevel implementar e testar um protocolo de escavaccedilatildeo arque-otanatoloacutegico elaborado no quadro da dissertaccedilatildeo de uma de noacutes (Neves em preparaccedilatildeo)Assim neste trabalho apresentam-se e discutem-se os dados alcanccedilados com as anaacutelises destes trecircs hipogeus (Fig 1) perspectivando-se novas anaacutelises

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos dois nuacutecleos sepulcrais em anaacutelise no texto Monte Canelas I e Monte do Carrascal 2 Dados cartograacuteficos ESRI SA Dryas Arqueologia Datum_73_Hayford_Gauss_IGeoE

414 |

capazes de sustentar uma melhor compreensatildeo das praacuteticas funeraacuterias nos 4ordm e 3ordm mileacutenios aC

2 PRINCIacutePIOS BAacuteSICOS DE ARQUEOTANATOLOGIAEacute premissa fundamental deste trabalho o assentar da anaacutelise dos hipogeus numa anaacutelise arqueotanatoloacutegica isto eacute num conjunto de procedimentos orientados para a recolha pormenorizada do registo osteoloacutegico e da infor-maccedilatildeo contextual que lhe estaacute associada dados fundamentais agrave percepccedilatildeo das alteraccedilotildees que os cadaacuteveres sofrem desde a sua deposiccedilatildeo (Duday 2010 Zemour 2016)Tal anaacutelise eacute essencial agrave compreensatildeo de qualquer contexto funeraacuterio mas eacute-o mais ainda em contextos funeraacuterios complexos como eacute o caso dos se- pulcros colectivosEacute uma abordagem dinacircmica cujo alcance para a compreensatildeo dos compor-tamentos funeraacuterios inclui os conceitos de cadeia operatoacuteria e de tempo fu-neraacuterio ndash entendido na sua acepccedilatildeo bioloacutegica antropoloacutegica e arqueoloacutegica (Pereira 2013)O conceito de cadeia operatoacuteria evoca as transformaccedilotildees sucessivas que o cadaacutever sofre permitindo a destrinccedila entre as etapas de transformaccedilatildeo a partir da imagem estaacutetica dada pela escavaccedilatildeo do contexto sepulcral ou mortuaacuterio (Pereira 2013 Zemour 2016) Ulteriormente a comparaccedilatildeo das diversas cadeias operatoacuterias registadas agrave escala da necroacutepole permite iden-tificar os tempos e os gestos levando assim ao reconhecimento dos compor-tamentos funeraacuterios dentro ou fora da norma (Valentin et al 2016)Para tal eacute imprescindiacutevel a criacutetica tafonoacutemica dos restos e contextos es-sencial agrave identificaccedilatildeo de um gesto funeraacuterio ou uma distorccedilatildeo provocada por um qualquer factor tafonoacutemico (Janaway 1996 Ferreira 2012 Stjerna 2016)Para aleacutem das distorccedilotildees tafonoacutemicas que podem afectar a preservaccedilatildeo dos contextos funeraacuterios interessa agrave Arqueotanatologia identificar o tipo de deposiccedilatildeo ndash primaacuteria ou secundaacuteria ndash a que os cadaacuteveres foram sujeitos sendo tal discussatildeo particularmente relevante no que concerne a toda a dis-cussatildeo em torno das praacuteticas funeraacuterias dos 4ordm e 3ordm mileacutenios cal aC (Silva 2002 Boaventura et al 2014 Silva et al 2017)Relembrando rapidamente uma inumaccedilatildeo primaacuteria corresponde a uma situaccedilatildeo em que o corpo natildeo eacute deslocado para fora do local onde eacute de-positado originalmente natildeo ocorrendo por isso os designados funerais duplos O cadaacutever eacute deposto num local definitivo onde se desenrolaratildeo os processos de decomposiccedilatildeo cadaveacuterica conducentes agrave esqueletizaccedilatildeo e

| 415

| 2018

depois agrave dissoluccedilatildeo completa (salva a fossilizaccedilatildeo) dos vestiacutegios humanos (Ferreira 2012) Assim o seu reconhecimento eacute baseado essencialmente na presenccedila da (quase) totalidade dos ossos sobretudo daqueles supor-tados por conexotildees laacutebeis (Duday 2010) Este tipo de conexatildeo presente essencialmente nas falanges das matildeos e dos peacutes eacute alvo de uma raacutepida decomposiccedilatildeo em oposiccedilatildeo agrave das conexotildees osteoloacutegicas persistentes que se libertam das suas estruturas de contenccedilatildeo num momento mais tardio da decomposiccedilatildeo Estas uacuteltimas incluem a atlanto-occipital a coluna lombar a sacro-iliacuteaca a tiacutebio-femoral a tiacutebio-taacutersica e a dos ossos do tarso A presenccedila de pequenos ossos como as falanges ou os ossos do metatarso e do meta-carpo satildeo tambeacutem um indicador de uma inumaccedilatildeo primaacuteria (Neves et al 2012 Duday 2010 Knuumlsel 2014)Como a cedecircncia das conexotildees laacutebeis pode suceder num clima tempera-do em apenas algumas semanas (Duday e Guillon 2006) a presenccedila de conexotildees laacutebeis ou dos pequenos ossos mantidos por essas conexotildees satildeo tidos como indicadores fiaacuteveis para identificar o caraacutecter primaacuterio de uma sepultura de inumaccedilatildeo ainda que haja uma panoacuteplia de situaccedilotildees em que se podem registar excepccedilotildees mumificaccedilatildeo das extremidades (Sellier et al 2013) acondicionamento dentro de luvas meias sapatos etcA posiccedilatildeo da totalidade dos ossos eacute outro dos elementos fundamentais agrave compreensatildeo arqueotanatoloacutegica dos contextos funeraacuterios Como os proces-sos de decomposiccedilatildeo cadaveacuterica conduzem ao esvaecimento progressivo dos tecidos moles ao surgimento de espaccedilos vazios no interior do espaccedilo corporal e agrave ruptura progressiva das articulaccedilotildees observa-se frequente-mente a migraccedilatildeo de peccedilas esqueleacuteticas para fora da sua posiccedilatildeo original indicando assim o tipo de ambiente em que o cadaacutever se decompocircs (Pi- nheiro 2006 Duday 2010 Neves et al 2012 Ferreira 2012) A posiccedilatildeo dos ossos eacute tambeacutem particularmente informativa acerca de estruturas pereciacuteveis entretanto desaparecidas Os ldquoefeitos de parederdquo constituem um dos testemunhos dessas estruturas (Zemour 2016)O deslocamento dos ossos nomeadamente o tipo e a sua amplitude satildeo portanto condicionados pela natureza do ambiente deposicional que pode ocorrer em espaccedilo aberto fechado ou com uma colmataccedilatildeo progressiva (Duday 2009)Para realizar esta inferecircncia satildeo avaliadas pelo menos a movimentaccedilatildeo de quatro grandes regiotildees anatoacutemicas com valor diagnoacutestico o colapso da cin-tura escapular o abatimento da caixa toraacutecica a deslocaccedilatildeo parcial da colu-na e o colapso da cintura peacutelvica (Neves et al 2012)A inexistecircncia de barreiras fiacutesicas que impeccedilam a movimentaccedilatildeo dos ossos

416 |

como sedimento ou estruturas e materiais pereciacuteveis junto ao cadaacutever leva agrave sua movimentaccedilatildeo e consequentemente agrave identificaccedilatildeo da decomposiccedilatildeo em espaccedilo aberto Nestes casos os cadaacuteveres natildeo satildeo assim cobertos per-manecendo expostos ou jacentes sobre uma qualquer superfiacutecie Por este motivo quando tal acontece em locais visitados amiuacutede como eacute o caso dos sepulcros colectivos caso os cadaacuteveres se encontrem depostos agrave superfiacutecie ocorrem deslocaccedilotildees dos ossos para fora do volume corporalA ocorrecircncia de fenoacutemenos naturais (lixiviaccedilatildeo por exemplo) ou a acccedilatildeo de necroacutefagos podem ser tambeacutem responsaacuteveis pela acumulaccedilatildeo de ossos sem conexatildeo anatoacutemica de dimensotildees que podem variar entre o tama- nho reduzido a grande Tambeacutem os animais de pequeno porte podem ser responsaacuteveis pela acumulaccedilatildeo de ossos ou outros objectos em partes espe-ciacuteficas dos siacutetios ou mesmo dentro de cracircniosA entrada e a deposiccedilatildeo de novos corpos pode tambeacutem ser responsaacutevel por alteraccedilotildees na posiccedilatildeo dos elementos esqueleacuteticos anteriormente deposita-dos (Chambon 1999) Deste modo a identificaccedilatildeo de ligaccedilotildees osteoloacutegicas de segunda ordem ndash fragmentos do mesmo osso ossos simeacutetricos com contiguidade articular com lesotildees patoloacutegicas correlacionaacuteveis ou que apre-sentem o mesmo estado de maturaccedilatildeo ndash constitui a chave para identificar a evoluccedilatildeo poacutes-deposicional do siacutetio potenciando a capacidade de reunir elementos capazes de iluminar as utilizaccedilotildees sepulcrais destes locaisPor fim a cronologia interna das deposiccedilotildees eacute de fundamental para a com-preensatildeo da utilizaccedilatildeo do siacutetio sincroacutenica e diacronicamente Contextos co- lectivos extremamente complexos exigem natildeo soacute a identificaccedilatildeo de cada osso da pertenccedila a cada um dos indiviacuteduos como a notaccedilatildeo da relaccedilatildeo estratigraacutefica entre os diversos elementos

3 MATERIAIS E MEacuteTODOSCom vista a realizar uma anaacutelise arqueotanatoloacutegica dos trecircs hipogeus foi desenhada uma estrateacutegia que incluiacutea a anaacutelise dos documentos existentes para Monte Canelas I compilados e analisados depois em ambiente SIG e um protocolo de terreno e posterior anaacutelise de dados tambeacutem em ambiente SIG para o Monte do Carrascal 2Deste modo para Monte Canelas I foi utilizado o amplo acervo documental resultante da escavaccedilatildeo que incluiacutea a planta geral do siacutetio planos e perfis agrave escala 120 planos agrave escala 11 dos planos onde tinham sido identificados os vestiacutegios osteoloacutegicos o relatoacuterio de escavaccedilatildeo o inventaacuterio de material osteoloacutegico a cartografia topograacutefica e geoloacutegica e as fotografias dos tra-balhos de campo

| 417

| 2018

Para o Monte do Carrascal 2 a intervenccedilatildeo foi orientada de acordo com os princiacutepios da Arqueotanatologia tendo-se implementado e testado um proto-colo de recuperaccedilatildeo de vestiacutegios osteoloacutegicos (Neves em preparaccedilatildeo)A escavaccedilatildeo dos dois hipogeus foi realizada manualmente por unidades es-tratigraacuteficas definidas com base nas caracteriacutesticas geoloacutegicas e estruturais dos depoacutesitos ou com base na identificaccedilatildeo de contextos arqueoloacutegicos A implantaccedilatildeo duma quadriacutecula do siacutetio com unidades miacutenimas de 50x50 cm visou facilitar a leitura e interpretaccedilatildeo da estratigrafia e obter um corte estratigraacutefico longitudinal de acordo com o eixo maior das estruturas Possi-bilitou ainda a recuperaccedilatildeo do material crivado referenciado espacialmenteOs trabalhos de Arqueotanatologia foram realizados de acordo com as recomendaccedilotildees de Duday (2009) A totalidade dos ossos e material arque-oloacutegico foram georreferenciados inventariados registados graficamente so-bre ortofoto e embalados de forma individualizada (Neves em preparaccedilatildeo)A anaacutelise dos paracircmetros do perfil bioloacutegico foi feita com recurso aos meacutetodos compilados por Buikstra e Ubelaker (1994) e Scheuer e Black (2000) Utilizou-se ainda o meacutetodo de Wasterlain (2000) para a diagnose sexual A recolha de dados osteomeacutetricos foi realizada de acordo com as recomendaccedilotildees de Olivier (1960)Os elementos graacuteficos foram vectorizados mediante a criaccedilatildeo de shapefiles na extensatildeo ArcCatalog (1022) tendo sido depois importados e editados na extensatildeo ArcMap (1022) Os objectos vectorizados estatildeo associados a uma base de dados onde constam as informaccedilotildees relativas aos elemen-tos osteoloacutegicos e arqueoloacutegicos Os trabalhos de anaacutelise espacial e de ela- boraccedilatildeo de mapas de distribuiccedilatildeo dos vestiacutegios constaram de uma anaacutelise exploratoacuteria mediante a selecccedilatildeo e a classificaccedilatildeo de dados geo-espaciais de acordo com a sua localizaccedilatildeo e atributos

4 PRAacuteTICAS FUNERAacuteRIAS NOS HIPOGEUS DE MONTE CANELAS I E MONTE DO CARRASCAL 241 Monte Canelas 1Este hipogeu eacute constituiacutedo por duas cacircmaras de perfil abobadado sendo o seu acesso realizado a partir duma rampa na cacircmara Norte que comunica com a Sul atraveacutes duma estreita passagem Na primeira cacircmara existia tam-beacutem um pequeno nichoA utilizaccedilatildeo do sepulcro bem como a sua derrocada mais ou menos constan- te teraacute ditado a colmataccedilatildeo da entrada original passando o seu acesso a ser realizado por uma claraboiaA planta integral do monumento eacute desconhecida dado que o sepulcro foi

418 |

truncado longitudinalmente aquando da abertura dum arruamento motivo da sua escavaccedilatildeo (Parreira e Serpa 1995)A estratificaccedilatildeo comporta duas fases de utilizaccedilatildeo funeraacuteria diferenciadas separadas por um denso niacutevel de derrube e de diferentes cronologias (Fig 2) A mais antiga integra-se nos finais do 4ordm e iniacutecios do 3ordm mileacutenio aC e a mais recente jaacute em finais do 3ordm mileacutenio aCA escavaccedilatildeo permitiu recuperar 7749 peccedilas esqueleacuteticas pertencentes pelo menos a 171 indiviacuteduos repartidos pelos dois niacuteveis funeraacuterios (Silva 1996)No niacutevel inferior o mais antigo teratildeo sido depositados pelo menos 147 in-diviacuteduos dos quais 97 satildeo adultos mdash 38 mulheres 15 homens e 12 de sexo indeterminado mdash e 50 natildeo adultos (Silva 1996)Os restos esqueleacuteticos surgem na sua vasta maioria desprovidos de co- nexatildeo anatoacutemica tendo sido apenas identificados cinco esqueletos dois dos quais bastante incompletos Esta fragmentaccedilatildeo e remobilizaccedilatildeo dos

Figura 2 ndash Datas calibradas dos Hipogeus de Monte Canelas (MtCI) e Monte do Carras-cal 2 (MtC2) Hipogeu I (HI) e Hipogeu 2 (H2)

| 419

| 2018

ossos dificultaram a leitura dos gestos e das praacuteticas funeraacuterias Ainda as-sim foi possiacutevel identificar o modo de deposiccedilatildeo para quatro dos cinco indiviacute- duos trecircs encontravam-se depostos em posiccedilatildeo fetal e um em posiccedilatildeo flectida Dos cinco foi possiacutevel observar que pelo menos trecircs foram coloca-dos com os braccedilos flectidos Quatro deles foram depostos sobre o lado di-reito e apenas um sobre o esquerdo (Silva 1996 Silva e Parreira 2010)No que toca agrave orientaccedilatildeo trecircs estavam no sentido nordeste-sudoeste e um no sentido nor-nordestesu-sudoeste estando todos com a cabeccedila orienta-da para a entrada do hipogeu Num caso natildeo foi possiacutevel identificar a orien-taccedilatildeo em que o indiviacuteduo tinha sido depositado (Silva 1996)O abatimento constante de pedras do topo e das paredes da estrutura condi-cionou a preservaccedilatildeo do material esqueleacutetico e a sua distribuiccedilatildeo espacial jaacute que surgem acantonados sobretudo junto agraves paredes do hipogeu onde os desmoronamentos parecem ter sido menos importantes (Fig 3)No que concerne ao ambiente de decomposiccedilatildeo cadaveacuterica e uma vez que a vasta maioria dos elementos esqueleacuteticos natildeo possuiacute qualquer conti-

Figura 3 ndash Representaccedilatildeo do niacutevel superior (agrave esquerda) e do niacutevel inferior (agrave direita) de Monte Canelas I Importa notar o acumulado de clastos no niacutevel superior que condiciona de sobremaneira a distribuiccedilatildeo dos vestiacutegios humanos

420 |

nuidade anatoacutemica que as conexotildees laacutebeis e persistentes quando identi-ficadas se encontram em descontinuidade anatoacutemica e que os niacuteveis fu-neraacuterios satildeo essencialmente formados por ossos fragmentados intercala-dos por finas deposiccedilotildees de sedimentos e pedras pode admitir-se que os cadaacuteveres ficariam frequentemente depostos na superfiacutecie do hipogeu ateacute agrave decomposiccedilatildeo dos tecidos moles e do colapso das ligaccedilotildees osteoloacutegicasNo niacutevel superior apenas foram depositados pelo menos 12 natildeo adultos e 12 adultos um de sexo masculino sete femininos e quatro de sexo indeter-minado (Silva 1996)O espaccedilo para realizar novas deposiccedilotildees ter-se-ia visto mais reduzido jaacute que a acumulaccedilatildeo de vestiacutegios dos niacuteveis inferiores o teraacute assim ditado O con-tinuo desmoronamento e provavelmente uma utilizaccedilatildeo mais parca do mo- numento ilustrada no nuacutemero mais reduzido de inumados e na perda quase sistemaacutetica de conexotildees anatoacutemicas (Silva 1996) teraacute contribuiacutedo para o aspecto aparentemente caoacutetico do niacutevel funeraacuterioFace ao contacto directo dos ossos e dada a perda de continuidade oacutessea sistemaacutetica eacute de crer que os cadaacuteveres fossem simplesmente deixados na superfiacutecie do hipogeu sem serem cobertos por terra A decomposiccedilatildeo em espaccedilo aberto agrave semelhanccedila do registado para o niacutevel inferior facilitaria ulteriormente a perda de continuidade oacutessea e a dispersatildeo dos ossos hu-manos mais sujeitos agrave gravidade agrave acccedilatildeo da fauna antroacutepica e de eventos geoloacutegicosQuanto agrave utilizaccedilatildeo do espaccedilo eacute a cacircmara sul a mais recocircndita e protegida aquela que foi mais utilizada para realizar as deposiccedilotildees funeraacuterias prolon-gando-se tambeacutem durante mais no tempo o seu uso Note-se uma vez mais que satildeo as aacutereas onde existem menos amontoados peacutetreos aquelas onde se regista uma maior acumulaccedilatildeo de vestiacutegios esqueleacuteticos Esta cacircmara foi a mais utilizada sendo inclusivamente a uacutenica em uso no uacuteltimo momento do hipogeu O nicho lateral foi tambeacutem intensivamente utilizado como local de arrumaccedilatildeo de vestiacutegios esqueleacuteticos jaacute que nesta aacuterea natildeo foi identifica-da nenhuma ligaccedilatildeo osteoloacutegica de segunda ordem42 Monte do Carrascal 2421 Hipogeu 1A aacuterea escavada possibilitou a identificaccedilatildeo de uma cacircmara com uma aber- tura no topo de morfologia sub-circular que se vai alargando do topo da estrutura para a base e cujo acesso na fase final se fazia a partir duma aber- tura no topo tipo coelheiraNo total e para todo o hipogeu foram recuperadas e coordenadas 4679 peccedilas esqueleacuteticas

| 421

| 2018

Dado que a ue [2] foi intervencionada numa aacuterea maior do que as restantes unidades escavadas (4 m2 face a 075 m2) 78 das peccedilas esqueleacuteticas proveacutem desta unidade As restantes unidades estratigraacuteficas foram esca- vadas numa aacuterea perifeacuterica da cacircmara podendo natildeo ser representativas da totalidade do sepulcroDo total das peccedilas oacutesseas 2409 (51) pertenciam a conjuntos esqueleacuteticos em continuidade anatoacutemica correspondendo a 71 indiviacuteduosDos 71 indiviacuteduos exumados 49 eram adultos e 22 natildeo-adultos Entre os adultos incluiacuteam-se dois adultos jovens e um idoso Dos 49 adultos apenas foi possiacutevel diagnosticar o sexo em 24 indiviacuteduos pertencendo 21 ao sexo feminino e trecircs ao sexo masculinoO hipogeu apresentava um preenchimento inter-estratificado que incluiacutea nove niacuteveis estratigraacuteficos agrupados em seis fases Da mais recente para a mais antiga temosA) o abandono da utilizaccedilatildeo do hipogeu enquanto espaccedilo sepulcral e a entra- da de depoacutesitos sedimentares e claacutesticos a partir do topo da estrutura (ue[1])

Figura 4 ndash Planos dos esquele-tos em conexatildeo identificados no Hipogeu I do Monte do Carrascal agrupados por deca-pagem A distribuiccedilatildeo espacial dos elementos esqueleacuteticos evidencia a existecircncia de efeitos de parede reveladores de estruturas natildeo peacutetreas entretanto desaparecidas

422 |

B) um aproveitamento mais intenso e prolongado do espaccedilo sepulcral (ue [2]) Aqui foram recuperados 62 indiviacuteduos (22 satildeo natildeo adultos e 40 adultos repartidos por dez decapagens arqueoloacutegicas O nuacutemero de indiviacuteduos de-positado em cada decapagem varia entre um miacutenimo de quatro e um maacutexi-mo de dez indiviacuteduos (Fig 4)A anaacutelise arqueotanatoloacutegica dos inumados bem como a sua distribuiccedilatildeo espacial indicam que os indiviacuteduos seriam depositados numa superfiacutecie natildeo colmatada e delimitada por uma estrutura entretanto desaparecida (natildeo peacutetrea) A distribuiccedilatildeo espacial dos esqueletos e ossos humanos bem como a existecircncia de claros efeitos de parede testemunham a sua existecircnciaDos 62 indiviacuteduos apenas foi possiacutevel identificar o modo de deposiccedilatildeo em 35 casos dois foram inumados em decuacutebito dorsal 16 em decuacutebito lateral direito oito em decuacutebito lateral esquerdo e nove em decuacutebito ventralAtentando ao modo de deposiccedilatildeo do cracircnio dos membros superiores e inferiores ressalta sempre o nuacutemero importante de observaccedilotildees que natildeo puderam ser realizadas Assim em 7581 dos indiviacuteduos (N=47) natildeo foi possiacutevel saber como se encontrava deposto o cracircnio Para os restantes dez estavam apoiados sobre a face direita e cinco sobre a esquerda Em 40 casos natildeo foi possiacutevel observar a posiccedilatildeo dos membros superiores Dos casos observaacuteveis cumpre notar a presenccedila de uma mulher com mais de 45 anos que apresentava os braccedilos estendidos e paralelos ao corpo enquanto que os restantes 21 indiviacuteduos tinham os membros superiores flectidos Dos 62 indiviacuteduos escavados soacute foi possiacutevel averiguar a forma de colocaccedilatildeo dos membros inferiores em 18 indiviacuteduos oito natildeo adultos e 18 adultos apresen-tavam as pernas flectidasPara 19 natildeo foi possiacutevel indagar a orientaccedilatildeo das deposiccedilotildees jaacute que a preser-vaccedilatildeo dos esqueletos natildeo o permitiu Para os restantes registou-se uma maior frequecircncia de indiviacuteduos depositados no sentido nordeste-sudoeste (N=16) sudeste-noroeste (N=9) e sudoeste-nordeste (N=7) No sentido oes-te-este registou-se apenas uma deposiccedilatildeo funeraacuteriaA obtenccedilatildeo de uma data de 14C aponta para uma utilizaccedilatildeo do sepulcro na primeira metade do 3ordm mileacutenio aC (cfr Fig 2)C) um momento em que se regista um abatimento importante de parte da estrutura peacutetrea do hipogeu materializado na acumulaccedilatildeo de clastos de caliccediloD) uma utilizaccedilatildeo intensa e sucessiva do hipogeu enquanto espaccedilo sep-ulcral (ue[7][6][4]) Nestes depoacutesitos foram identificadas diversas con- tinuidades anatoacutemicas sendo elevado o nuacutemero de peccedilas oacutesseas recu-peradas Atendendo agrave posiccedilatildeo dos indiviacuteduos as inumaccedilotildees poderiam ser

| 423

| 2018

efectuadas a partir do topo e de forma sucessiva muito embora os dados disponiacuteveis sejam apenas parciais natildeo revelando uma visatildeo total da aacuterea Juntamente com as inumaccedilotildees regista-se uma penetraccedilatildeo de elementos sedimentares e claacutesticos constituindo a fracccedilatildeo matricial do depoacutesitoE) um momento em que o espaccedilo sepulcral (ue [8]) na aacuterea escavada surge utilizado duma forma menos intensa ou rara eF) uma fase que corresponde agrave utilizaccedilatildeo funeraacuteria mais antiga reconhecida ndash a ue [9] caracterizada essencialmente pela presenccedila de peccedilas oacutesseas sem continuidade anatoacutemica remexidas e amontoadas na periferia da es-trutura sugerindo uma organizaccedilatildeo do espaccedilo sepulcral distinta das subse-quentes em que os ossos seriam empurrados para a periferia Ainda assim foi identificado um indiviacuteduo em conexatildeo anatoacutemica (indiviacuteduo nordm63)422 Hipogeu 2O monumento 2 corresponde a uma grande estrutura sub-circular alargan-do-se para a base em todas as direcccedilotildees e com um corredor associado orientado a nascenteA estratificaccedilatildeo ilustra as diversas fases construtivas e de utilizaccedilatildeo da es-trutura e de interrupccedilatildeo do seu uso As duas dataccedilotildees disponiacuteveis permitem balizar a utilizaccedilatildeo funeraacuteria entre o primeiro quartel (relativa a um indiviacuteduo inumado na [ue16]) e meados do 3ordm mileacutenio aC (um indiviacuteduo da [ue3]) (cfr Fig 2)No hipogeu foram identificados trecircs niacuteveis sepulcrais ([ue 3] [ue14] e [ue 16]) escavados parcialmente Foram no total recuperadas 2966 peccedilas esqueleacuteticas Destas apenas 414 pertenciam a indiviacuteduos em conexatildeo anatoacutemica contabilizados num total de 48 indiviacuteduos (Fig 5) Dos 48 36 eram adultos (sendo cinco homens seis mulheres e 22 de sexo indetermi-nado) dois adultos jovens (um de sexo masculino e outro indeterminado) e sete natildeo adultos Para trecircs dos indiviacuteduos devido ao seu grau de fragmen-taccedilatildeo e incompletude natildeo foi possiacutevel averiguar o grau de maturidade Ape-nas num niacutevel ndash a ue ([14]) ndash natildeo foram identificados quaisquer vestiacutegios osteoloacutegicos de natildeo adultosO niacutevel mais recente de utilizaccedilatildeo funeraacuteria a [ue3] corresponde aquele onde foi encontrado o maior nuacutemero de peccedilas esqueleacuteticas do siacutetio (N=2595) Destas 2274 pertenciam ao grupo das peccedilas osteoloacutegicas sem conexatildeo anatoacutemica enquanto as restantes 321 pertenciam aos 38 indiviacuteduos aqui inumados Foi possiacutevel diagnosticar o estado de maturaccedilatildeo em 2428 peccedilas pertencendo 2160 a adultos e 268 a natildeo adultosEntre os ossos sem continuidade anatoacutemica pertencentes a natildeo adultos e adultos estatildeo todos os tipos de peccedilas oacutesseas nomeadamente as que satildeo

424 |

mantidas conexotildees laacutebeis como os pequenos ossos das matildeos e dos peacutesA percentagem de fragmentaccedilatildeo francamente assinalaacutevel deve-se agrave acccedilatildeo de factores tafonoacutemicos e alteraccedilotildees poacutes-deposicionais do siacutetio que se sal-daram numa importante verticalizaccedilatildeo dos ossos humanos e deformaccedilatildeo daquele niacutevel arqueoloacutegico Muitas das fracturas indiciam que a movimen-taccedilatildeo poacutes-deposicional dos depoacutesitos ocorreu numa fase em que parte dos ossos natildeo estava ldquosecardquo tendo a deformaccedilatildeo ocorrido quando parte dos cadaacuteveres eou ossos tivessem ainda alguns tecidos mantendo inclusiva-mente a conectividade anatoacutemicaRelativamente agraves conexotildees laacutebeis o nuacutemero de casos em que estas natildeo se conservam eacute muito significativo sendo sempre superior a 85 Para as conexotildees anatoacutemicas persistentes em mais de 84 dos casos natildeo pocircde ser observada a sua continuidadeFoi possiacutevel identificar o modo de deposiccedilatildeo apenas em sete indiviacuteduos sen-do que cinco estavam depositados em decuacutebito dorsal e dois em decuacutebito ventral Dois indiviacuteduos apoiavam o cracircnio sobre a face direita Os membros superiores encontravam-se flectidos em dois casos natildeo tendo sido possiacutevel averiguar este paracircmetro nos restantes 36 casos Os membros inferiores encontravam-se flectidos em cinco indiviacuteduosAinda que tenha sido possiacutevel averiguar o modo de deposiccedilatildeo para estes 38 indiviacuteduos jaacute a orientaccedilatildeo levantou muitas duacutevidas face ao estado muito incompleto dos indiviacuteduosA anaacutelise da reparticcedilatildeo espacial dos ossos vecirc-se bastante dificultada face agraves alteraccedilotildees poacutes-deposicionais que o depoacutesito sofreu No entanto eacute possiacutevel observar que natildeo existem padrotildees de fragmentaccedilatildeo diferencial (os ossos surgem genericamente fragmentados em toda a aacuterea) ou de arrumaccedilatildeo par-ticular (adultos vs natildeo adultos) A outra unidade onde foram identificados restos osteoloacutegicos eacute a [ue14] sita no corredor de acesso agrave cacircmara do hipogeu Aqui foram identificados cinco indiviacuteduos adultos dois femininos dois masculinos e um de sexo indetermi-nadoEste niacutevel sepulcral foi tambeacutem profundamente afectado ainda em tempos preacute-histoacutericos pela constituiccedilatildeo sobre o niacutevel funeraacuterio de um pavimento em caliccedilo compactado que recobria todo o corredor ([13]) resultando na ab-lacccedilatildeo e da mobilizaccedilatildeo de algumas peccedilas esqueleacuteticasNo que concerne agraves observaccedilotildees arqueotanatoloacutegica notou-se a presenccedila de algumas regiotildees anatoacutemicas laacutebeis em conexatildeo anatoacutemica possivelmente mantidas por algum elemento de contenccedilatildeo em tecido couro ou num ma-terial vegetal Relativamente agraves regiotildees mantidas por conexotildees persistentes

| 425

| 2018

verifica-se a manutenccedilatildeo em conexatildeo nalgumas nomeadamente da regiatildeo temporo-mandibular tiacutebio-fibular e dos ossos do tarsoFoi possiacutevel averiguar o modo de disposiccedilatildeo dos cadaacuteveres em trecircs casos tendo sido um indiviacuteduo depositado em decuacutebito lateral esquerdo um em direito e outro em decuacutebito dorsal O modo de disposiccedilatildeo do cracircnio assente sobre a face esquerda foi observado apenas numa inumaccedilatildeo Tambeacutem unicamente num caso foi possiacutevel inferir o modo de arranjo dos membros superiores que se encontravam flectidos Jaacute para os membros inferiores foi registada a posiccedilatildeo flectida apenas em dois casosPor fim e no que concerne agrave orientaccedilatildeo dois indiviacuteduos foram inumados no sentido este-oeste e um possivelmente no sentido oposto oeste-este Em dois casos natildeo foi possiacutevel identificar a orientaccedilatildeo dos cadaacuteveresRegistou-se tambeacutem a sobreposiccedilatildeo de um nuacutemero significativo de indiviacute- duos o que pode significar uma utilizaccedilatildeo intensiva deste espaccedilo naquela fase A ulterior perturbaccedilatildeo resultante da constituiccedilatildeo do piso de caliccedilo limi- ta a leitura dos gestos e praacuteticas funeraacuteriasO niacutevel funeraacuterio mais antigo corresponde agrave [ue16] onde as primeiras depo- siccedilotildees funeraacuterias foram realizadas sobre a rocha de base Restringem-se espacialmente agrave aacuterea da cacircmara funeraacuteria do hipogeuNesta unidade foram recuperadas 221 peccedilas esqueleacuteticas 219 ossos e dois dentes soltos Dos 219 ossos humanos 188 encontravam-se desprovi-dos de qualquer conexatildeo anatoacutemica pertencendo os restantes (N=33) aos cinco indiviacuteduos identificados no seio deste niacutevel funeraacuterio (cfr Fig 5)No que concerne aos indiviacuteduos adultos em conexatildeo dois satildeo masculinos dois femininos e um de sexo indeterminado Todos sofreram alteraccedilotildees tafonoacutemicas resultantes quer de acccedilotildees antroacutepicas da passagem de pequenos animais e da acumulaccedilatildeo de aacutegua das chuvas A proacutepria super-fiacutecie dos ossos encontra-se muito alterada e fragilizada devido a alteraccedilotildees decorrentes da diageacuteneseDe forma a avaliar o ambiente de decomposiccedilatildeo cadaveacuterica foi anotado o estado de continuidade anatoacutemica tendo sido apenas num caso registada uma conexatildeo laacutebil em continuidade anatoacutemica Os resultados obtidos apon-tam para que os indiviacuteduos tivessem sido colocados directamente sobre o caliccediloTambeacutem no que toca aos modos de deposiccedilatildeo dos cadaacuteveres as infor-maccedilotildees reunidas satildeo bastante diminutas Dos cinco indiviacuteduos soacute foi pos-siacutevel indagar o modo de deposiccedilatildeo para um indiviacuteduo que se encontrava colocado em decuacutebito dorsal Um outro tinha os membros superiores flecti-dos

426 |

Soacute num caso foi possiacutevel averiguar o sentido de deposiccedilatildeo (oeste-este) natildeo se tendo podido observar as orientaccedilotildees para os demaisPara esta unidade os dados recolhidos nesta aacuterea devem ser encarados com alguma prudecircncia jaacute que a aacuterea escavada eacute muito reduzida Com efeito seria necessaacuteria uma intervenccedilatildeo mais alargada para que se pudesse com alguma seguranccedila caracterizar a utilizaccedilatildeo sepulcral desta fase

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAISTendo em conta o nuacutemero de hipogeus conhecidos no territoacuterio portuguecircs a anaacutelise destes trecircs contextos eacute necessariamente insuficiente para traccedilar um perfil aturado das praacuteticas funeraacuterias deste tipo de siacutetio No entanto graccedilas ao detalhe do trabalho de campo agrave anaacutelise arqueotanatoloacutegica dos remanescentes esqueleacuteticos e ao seu efectivo numeacuterico estes trecircs sepul-cros constituem um bom ponto de partida para o conhecimento das praacuteti-cas funeraacuterias no seio de hipogeus construiacutedos e utilizados entre os 4ordm e 3ordm mileacutenios aCDeste modo e tendo em conta os resultados obtidos eacute possiacutevel concluir quemdash os espaccedilos funeraacuterios satildeo bastante diversificados entre si mesmo quan-do sitos no mesmo nuacutecleo sepulcral Tais diferenccedilas satildeo notoacuterias ao niacutevel das plantas e alccedilados dos materiais escavados e utilizados no acircmbito de reformulaccedilotildees arquitectoacutenicas e das teacutecnicas construtivas A utilizaccedilatildeo de estruturas em materiais pereciacuteveis encontra-se bem demonstrada e teraacute contribuiacutedo frequentemente para gestatildeo dos espaccedilos funeraacuteriosmdash as dataccedilotildees obtidas as estratificaccedilotildees complexas e diferenciadas as reformulaccedilotildees arquitectoacutenicas e o modo de utilizaccedilatildeo de alguns sepulcros (onde se nota a total desarticulaccedilatildeo dos ossos humanos significativas da passagem de pelo menos alguns anos entre deposiccedilotildees) evocam utilizaccedilotildees longas com persistecircncia da memoacuteria dos locais de enterramento duran-te largas geraccedilotildees Estas praacuteticas seratildeo enraizadas no final do 4ordm mileacutenio sobrevivendo ateacute quase aos finais do 3ordm mileacutenio aCmdash o tipo de ossos identificados (ainda que sem conectividade anatoacutemica) e a identificaccedilatildeo de esqueletos articulados comprovam o caraacutecter primaacuterio destes locais A ocorrecircncia de praacuteticas funeraacuterias secundaacuterias natildeo pode ser completamente afastada mas a sua ocorrecircncia tambeacutem natildeo estaacute de todo comprovadamdash os hipogeus satildeo utilizados de forma consecutiva justapondo-se directa-mente os cadaacuteveres de natildeo adultos e adultos de ambos os sexos deposita-dos na superfiacutecie dos siacutetios jazendo uns sobre os outros directamente o es-poacutelio que os acompanha salvo raros casos perde a ligaccedilatildeo com o inumado

| 427

| 2018

e integra o conjunto fuacutenebremdash a decapagem cuidada e sucessiva dos niacuteveis sepulcrais testemunha o ritmo das deposiccedilotildees a sua sincronia e diacronia o estado de preservaccedilatildeo dos esqueletos como eacute o caso do Hipogeu I do Monte do Carrascal 2 indi-ca ora a passagem de curtos espaccedilos de tempo entre as deposiccedilotildees dos inumados Ao inveacutes o estado de grande desarticulaccedilatildeo de Monte Canelas I sugere a passagem de periacuteodos mais espaccedilados em que os restos perdem a continuidade anatoacutemicamdash a existecircncia de estruturas em materiais pereciacuteveis como parece ser o caso na [ue2] do Hipogeu I do Monte do Carrascal 2 e possivelmente da [ue14] do Hipogeu 2 reconheciacutevel mediante a anaacutelise da posiccedilatildeo dos ossos em relaccedilatildeo agrave arquitectura da anatomia humana potencia a preservaccedilatildeo da con-tinuidade articular do material esqueleacuteticomdash no que concerne agrave colocaccedilatildeo dos mortos a praacutetica dominante parece ser a colocaccedilatildeo do cadaacutever em posiccedilatildeo flectida sobre um qualquer lado do corpo ainda que surjam variantes os corpos natildeo satildeo cobertos por sedimen-to o que facilita a acccedilatildeo de diversos factores tafonoacutemicos como a proacutepria acccedilatildeo de gravidade da aacutegua das chuvas ou a acccedilatildeo de animais necroacutefagos de pequeno porte responsaacuteveis pelo transporte de ossos no seio dos sepul-cros as orientaccedilotildees de deposiccedilatildeo satildeo diversas existindo indiviacuteduos deposi- tados em todos os sentidos dos pontos cardeais emdash a visitaccedilatildeo aos sepulcros eacute feita com a intenccedilatildeo de depositar novos inu-mados mas tambeacutem de manter e reformular os espaccedilos ou acondicionar e arrumar os remanescentes esqueleacuteticos a sobreposiccedilatildeo de novos cadaacute-veres sobre outros parece indicar o retomar de um novo ciclo funeraacuterio os episoacutedios de abatimento desmoronamento eou colapso das estruturas provocam interrupccedilotildees de uso mas eacute sobretudo o esgotamento do espaccedilo disponiacutevel para proceder novas inumaccedilotildees que dita o abandono das estru-turas nalguns casos centenas de anos apoacutes a sua utilizaccedilatildeo inaugural

BIBLIOGRAFIABOAVENTURA R (2009) mdash As antas e o megalitismo da regiatildeo de Lisboa Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Universidade de Lisboa para obtenccedilatildeo do grau de Doutor em Preacute-Histoacuteria Policopiado Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Lisboa 412 pBOAVENTURA R FERREIRA MT NEVES MJ E SILVA AM (2014) mdash Funerary practices and Anthropology during middle-late Neolithic (4th and 3rd millennia BCE) in Portugal Old Bones New insights Anthropologie 183 ndash 205BUIKSTRA J E UBELAKER D (1994) mdash Standards for data collection from human skele-tal remains Arkansas Arkansas Archaeological Survey Research SeriesCHAMBON P (1999) Du cadavre aux ossements ndash la gestion des seacutepultures collectives

428 |

dans la France Neacuteolithique Thegravese de doctorat Universiteacute de Paris I 2 volDUDAY H (2010) mdash The Archaeology of the Dead Lectures in Archaeothanatology Trans-lated by Anna Maria Cipriani and John Pearce Oxford Oxford University Press 148 pDUDAY H E GUILLON M (2006) mdash Understanding the circumstances of decomposition when the body is skeletonized In Schmitt A Cunha E e Pinheiro J (eds) Forensic anthropology and Medicine complementary sciences from recovery to cause of death Humana Press New Jersey 117-158FERREIRA M T (2012) mdash Para laacute da morte Estudo tafonoacutemico da decomposiccedilatildeo ca-daveacuterica e da degradaccedilatildeo oacutessea e implicaccedilotildees na estimativa do intervalo poacutes-morte Tese de Doutoramento para a obtenccedilatildeo do grau de Doutor em Antropologia Forense apresentada agrave Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade de Coimbra 212 pGAacuteLAN E R (1988) mdash Anaacutelisis de las cuevas artificiales en Andaluciacutea y Portugal Colegio Universitario de la Eaacutebida Publicaciones de la Universidad de Sevilla 231 pJANAWAY RC (1996) mdash The decay of buried human remains and their associated mate-rials In Hunter J Roberts C Martin A (eds) Studies in Crime An Introduction to Forensic Archaeology London B T Batsford 58-85KNUumlSEL C J (2014) mdash Crouching in fear Terms of engagement for funerary remains Journal of Social Archaeology Vol 14 (1) 26-58NEVES MJ (em preparaccedilatildeo) mdash 5000 anos na terra Uma leitura arqueotanatoloacutegica das praacuteticas funeraacuterias nos Hipogeus de Monte Canelas I (Alcalar Portimatildeo) e Monte do Carrascal 2 (Ferreira do Alentejo Beja) Dissertaccedilatildeo para obtenccedilatildeo do grau de Doutor Departamento de Ciecircncias da Vida Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade de CoimbraNEVES MJ FERREIRA MT ALMEIDA M E PINHEIRO J (2012) mdash A importacircncia dos processos de decomposiccedilatildeo cadaveacuterica para a interpretaccedilatildeo do registo osteo-arqueoloacutegi-co Almadan IIordf seacuterie nordm17 30-37NEVES M J E SILVA A M (2010) mdash Lrsquohypogeacutee funeacuteraire de Monte Canelas I reacutevision des donneacutes et potentiel informatif Antropo 22 11-18OLIVIER G (1960) mdash Pratique Anthropologique Vigot Fregraveres eds Paris 299 pPARREIRA R E SERPA F (1995) Novos dados sobre o povoamento da regiatildeo de Alcalar (Portimatildeo) no IV III mileacutenios aC Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto Vol 35 (3) pp 44-47PEREIRA G (2013) mdash Introduction une Archeacuteologie des temps funeacuteraires Les Nouvelles de lrsquoArcheacuteologie 3 3-7PINHEIRO J (2006) mdash Decay Process of a Cadaver In Schmit A Cunha E Pinheiro J (eds) Forensic Anthropology and Medicine Complementary sciences from recovery to cause of death Tottowa Human Press 85-116SCHEUER L E BLACK S (2000) mdash Juvenil developmental osteology London Academic PressSELLIER P e BENDEZU-SARMIENTO J (2013) mdash Diffeacuterer la deacutecomposition l e temps suspendu Les signes drsquoune momification preacutealable Les Nouvelles de lrsquoArcheacuteologie 3 30-36SILVA AMS (1996) mdash O hipogeu de Monte Canelas I (IV-III mileacutenios A C) estudo paleo-bioloacutegico da populaccedilatildeo humana exumada Provas de Aptidatildeo Pedagoacutegica e Capacidade Cientiacutefica Departamento de Antropologia Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Univer-sidade de Coimbra 217 p

| 429

| 2018

SILVA AM (2002) mdash Antropologia funeraacuteria e paleobiologia das populaccedilotildees portugue-sas (litorais) do Neoliacutetico Final Calcoliacutetico Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade de Coimbra para obtenccedilatildeo do grau de Doutor em Antropologia Bioloacutegica Policopiado Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade de Coimbra CoimbraSILVA AM GARCIA M LEANDRO I EVANGELISTA L TODRIGUES T e VALERA AC (2017) mdash Mortuary practices in Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz Portugal) Bio-an-thropological approach to tomb 2 Menga - Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 871-87SILVA AMS e PARREIRA R (2010) mdashHipogeu I de Monte Canelas caracterizaccedilatildeo antro-poloacutegica dos enterramentos in situ e das conexotildees anatoacutemicas In Gonccedilalves V e Sousa C Transformaccedilotildees e mudanccedila no centro e sul de Portugal o 4ordm e o 3ordm mileacutenio ANE Cacircmara Municipal de Cascais 421-428STJERNA RP (2016) mdash Death in the Mesolithic Or mortuary practices of the last hunter gatherers Iberian peninsula 7th-6th Millennium BCE Occasional papers in archaeology 60 Uppsala University 511 pWASTERLAIN S (2000) mdash Anaacutelise das proporccedilotildees entre os membros dimorfismo sexual e estatura de uma amostra de uma colecccedilatildeo de esqueletos identificados do Museu An-tropoloacutegico da Universidade de Coimbra Dissertaccedilatildeo de mestrado em Evoluccedilatildeo Huma-na DAUC Coimbra 2000ZEMOUR A (2016) mdash De lrsquoanthropologie de terrain agrave lrsquoarcheacuteologie de la mort histoire concepts et deacuteveloppements Qursquoest-ce qursquoune seacutepulture Humaniteacutes et systegravemes funeacuteraires de la Preacutehistoire agrave nos jours XXXVIe rencontres internationales drsquoArcheacuteologie et drsquoHistoire drsquoAntibes pp 23-34

430 |

| 431

| 2018

A Necroacutepole da Lobagueira Viseu expressotildees de arte e arquitetura do megalitismo da Beira Alta Centro de Portugal

The NECROPOLIS OF LOBAGUEIRA VISEU MEGALITHIC ART AND ARCHITECTURE IN BEIRA ALTA CENTRAL PORTUGAL

RESUMOA necroacutepole da Lobagueira localizada na freguesia de Coutos de Viseu no con-celho de Viseu Centro de Portugal eacute sem duacutevida uma das mais extensas e complexas concentraccedilotildees de monumentos sob tumuli de Portugal Se por um lado esta vasta necroacutepole eacute dominada pelas grandes mamoas do Neoliacutetico natildeo podemos descurar a quantidade de monumentos de menor dimensatildeo com cronologias mais recentes que na maioria satelitizam as mamoas neoliacuteti-cas como a conhecida Antela do RepilauNo entanto uma das particularidades desta necroacutepole eacute a presenccedila de arte gravada e pintada nomeadamente na Mamoa do Fojo ou Lobagueira 4 e na Lapa do Repilau Este artigo pretende assim apresentar os resultados dos es-tudos recentemente efetuados das manifestaccedilotildees artiacutesticas nestes dois mo- numentos enquadrando-os no seu contexto crono-cultural e geograacutefico Natildeo obstante o conhecimento ainda muito parcelar de que dispomos na actuali-dade procurar-se-aacute capturar momentos de inteligibilidade histoacuterica no tempo longo de vigecircncia da necroacutepole mediante uma reflexatildeo em torno das continui-dades e descontinuidades entre arte arquitecturas e os usos do espaccedilo na- turalPALAVRA-CHAVE Megalitismo Arte megaliacutetica Centro-norte de Portugal

ABSTRACTLobagueira megalithic tombs are located in the parish of Coutos de Viseu Viseucounty in central-northern Portugal and is one of the most extensive and complex portuguese assemblages The cluster is dominated by large Neolithicmounds yet we cannot disregard the number of monuments smaller in size and

Pedro Sobral de Carvalho Eon Induacutestrias Criativas Lda

Lara Bacelar Alves Bolseira Poacutes-doc (FCT) Centro de Estudos em Arqueologia Artes e Ciecircncias do Patrimoacutenio Universidade de Coimbra

432 |

more recent in date that frequently sit around Neolithic tombs like Antela do Lara Bacelar Alves Bolseira Poacutes-doc (FCT) Centro de Estudos em Arqueolo-gia Artes e Ciecircncias do Patrimoacutenio Universidade de Coimbra Pedro Sobral de Carvalho Eon Industrias Criativas Lda 294 |RepilauOne of the particularities of this group is the presence of paintings and carvingson the tombrsquos slabs namely at Mamoa do Fojo or Lobagueira 4 and Lapa doRepilau This paper intends to present the results of the most recent studies carried out on the megalithic art of both these monuments in the frame of their chronological socio-cultural and geographic contexts Despite the limi- ted knowledge available at present we shall attempt to capture a few moments of the long-term biography of both the tombs and the clusters by means of a re-assessment of the continuities and discontinuitiesKEY WORDS Megaliths Megalithic art Central-northern Portugal

1 INTRODUCcedilAtildeO A necroacutepole da Lobagueira localiza-se a cerca de 7 Km a noroeste da cidade de Viseu encontrando-se inserida na freguesia de Coutos de Viseu no con-celho de ViseuEm pleno planalto beiratildeo a uma altitude meacutedia de 500 m anm os monu-mentos distribuem-se nos terrenos mais elevados hoje ocupados por mato e coberto arboacutereo em torno da feacutertil vaacuterzea onde se ergueu a povoaccedilatildeo de Lobagueira (Figura 1)De acordo com a Carta Geoloacutegica de Portugal agrave escala 1 50 000 folha 17-A o conjunto ocupa uma zona caracterizada pela presenccedila de uma litologia de granitos moscoviacuteticos de gratildeo meacutedio a fino de duas micas pertencente ao maciccedilo da Srordf do Castro A zona da necroacutepole eacute atravessada por uma falha geoloacutegica como sentido NNW-SSE Imediatamente para poente estende-se ateacute uma distacircncia de cerca de 6 kms da necroacutepole uma aacuterea de enorme concentraccedilatildeo de exploraccedilotildees mineiras de estanho balizada entre a bacia de recolha da ribeira de Asnes e ateacute agrave ribeira de Ribamaacute

2 APONTAMENTOS HISTORIOGRAacuteFICOS A necroacutepole da Lobagueira eacute referida pela primeira vez por Amorim Giratildeo em 1923 (Giratildeo 1923) apontando a existecircncia de nove monumentos Lapa do Repilau Mamoa dos 25 Marcos Mamoas 1 a 3 das Queimadas Mamoas 1 e 2 da Lameira do Fojo e mais dois monumentos de difiacutecil localizaccedilatildeo um ldquoa sul da povoaccedilatildeo das Pereirasrdquo (1923 285) e outro ldquoum pouco a Nascente da Mamoa dos 25 Marcosrdquo (idem ibidem) Em relaccedilatildeo a este uacuteltimo cremos ter havido alguma confusatildeo do autor repetindo-se visto tratar-se de uma

| 433

| 2018

das mamoas da Lameira do Fojo concretamente a mamoa 1Alguns monumentos desta necroacutepole voltam a ser alvo de referecircncia em 1968 em resultado de trabalhos arqueoloacutegicos executados em 1966 em alguns tuacutemulos da Beira Alta no acircmbito da Missatildeo arqueoloacutegica LeisnerRi-beiro (Ribeiro 1968) Grande parte dos resultados obtidos foram estudados por Vera Leisner e publicados postumamente (Leisner 1998) De facto o primeiro texto publicado sobre estes trabalhos refere escavaccedilotildees no monu-mentos Chatilde dos Brancos Vale da Cabra Torta Repilau e ldquomais trecircs outros juntos agrave povoaccedilatildeo da Lubagueirardquo (Ribeiro 1968 13) Destes apenas con-seguimos localizar o Vale da Cabra e o do Repilau sendo provaacutevel que os trecircs monumentos referidos junto agrave povoaccedilatildeo da Lobagueira correspondam aos monumentos 1 a 3 das Queimadas Vera Leisner por outro lado refere igualmente um monumento relativamente proacuteximo que denomina de Penedo da Argola na freguesia de Bodiosa que ainda natildeo conseguimos relocalizar (Leisner 1998 33)Em 1966 Irisalva Moita inclui no seu inventaacuterio de monumentos megaliacuteticos da Beira Alta alguns monumentos repetindo a informaccedilatildeo de A Giratildeo (Moi-ta 1966 211-212)Em 1989 integrado no programa ldquoValorizaccedilatildeo do Patrimoacutenio Megaliacuteticordquo

Figura 1 Localizaccedilatildeo da necroacutepole da C M P 125000 flordf 177

434 |

desenvolvido pelo entatildeo Serviccedilo Regional de Arqueologia foram efetuados trabalhos arqueoloacutegicos na Lapa do Repilau e na Antela do Repilau Infe-lizmente apenas os resultados do segundo monumento foram publicados (Cruz et alii 1989)Esta necroacutepole eacute igualmente referida no Roteiro Arqueoloacutegico da Regiatildeo de Turismo Datildeo Lafotildees (Pedro et alii 1994 116-120) onde ressalta o aponta-mento de um terceiro monumento no nuacutecleo do Fojo muito destruiacutedo (idem ibidem 118)Um estudo um pouco mais completo da necroacutepole eacute feito em 1994 no acircm-bito de um artigo sobre a Mamoa 1 da Lameira do Fojo (Gomes amp Carvalho 1995) Os autores referem 14 monumentos em redor da povoaccedilatildeo da Loba-gueira dividindo-os em trecircs nuacutecleos Repilau Fojo e QueimadasEfetivamente na mesma linha de raciociacutenio podemos incluir os monumen-tos sob tumuli em torno das povoaccedilotildees de Lobagueira e de Pereiras numa uacutenica e ampla necroacutepole a Necroacutepole da Lobagueira constituiacuteda por 191 monumentos de diversas tipologias e cronologias que se podem dividir em quatro nuacutecleos Repilau Queimadas Lameira do Fojo e Pereiras Interessa no entanto realccedilar a intensa cobertura vegetal deste territoacuterio que impede a relocalizaccedilatildeo e descriccedilatildeo de alguns monumentos comprometendo seria-mente a identificaccedilatildeo de outros que eventualmente possam existirEsta vasta necroacutepole localizada em pleno no Planalto de Viseu aproveita algumas superfiacutecies aplanadas para a implantaccedilatildeo dos monumentos e faz parte de um conjunto certamente bem mais numeroso de monumentos sob tumuli cuja realidade estaacute longe de ser conhecida2 O facto mais relevante de uma anaacutelise ainda que geneacuterica eacute a constataccedilatildeo de que os nuacutecleos que compotildeem esta necroacutepole incluem monumentos de diversas tipologias e cro-nologias sendo claro deste modo o processo de necropolizaccedilatildeo ao longo de vaacuterias centenas de anos Ainda que faltem estudos exaustivos dos resul-tados obtidos nos monumentos intervencionados (Lapa do Repilau Mamoa 1 da Lameira do Fojo Mamoas 1 a 3 das Queimadas)3 e tendo como base os resultados publicados na obra poacutestuma de Vera Leisner tudo leva a crer ter havido um primeiro momento no Neoliacutetico Final sensivelmente entre os finais do Vordm e princiacutepios do IVordm mileacutenio a C caracterizado por monumen-tos de grandes dimensotildees com e sem corredor alguns dos quais teratildeo sido reocupados em fases posteriores no Calcoliacutetico ou Idade do Bronze como parece apontar parte do espoacutelio da Lapa do Repilau caracterizados essen-cialmente por peccedilas liacuteticas evoluiacutedas e vasos tronco-coacutenicos Admitimos no entanto a construccedilatildeo de novos monumentos neste mesmo periacuteodo coe- xistindo desta forma com os sepultamentos em ldquovelhosrdquo doacutelmens reuti-

1 Grande parte das consideraccedilotildees que fazemos sobre a necroacutepole resultam da prospeccedilatildeo de campo efetuada por um dos autores (PSC) e Luis Filipe Coutinho em 1991De referir igualmente a referecircncia a um monoacutelito em granito perto da povoaccedilatildeo de Pereiras (40ordm 42rsquo 30199rsquorsquo N 08ordm 00rsquo 23170rsquorsquo W) considerado como menir (Caninas et alii 2004 B44) A presenccedila nas imediaccedilotildees de muitos outros monoacutelitos do geacutenero fazem-nos duvidar desta interpretaccedilatildeo podendo antes ser considerado uma demarcaccedilatildeo de terreno

| 435

| 2018

lizando-os Num momento posterior cronologicamente situado nos finais da Idade do Bronze algures entre o seacutec XII e o IX a C teratildeo sido construiacutedas as pequenas mamoas das Queimadas 4 a 7 uma delas com uma estrutura cistoide na zona central A construccedilatildeo deste tipo de tumuli nas periferias das necroacutepoles megaliacuteticas ou a satelitizar as mamoas neoliacuteticas eacute uma consta- taccedilatildeo cada vez mais generalizada do fenoacutemeno tumular da Preacute-histoacuteria Recente da Beira Alta Por outro lado cremos que teraacute sido numa destas pequenas mamoas que teraacute sido feito o achado de uma urna com cinzas citado por Amorim Giratildeo quando refere ldquonuma dessas mamoas quando se tiravam pedras que escondia aparecera lsquouma tijela de barro vermelha cheia de cinzarsquo e vaacuterios objetos que natildeo puderam precisarrdquo (Giratildeo 1921 285)

3 A NECROacutePOLE DA LOBAGUEIRA31 Os monumentos311 Nuacutecleo do RepilauConjunto de trecircs monumentos (Lapa do Repilau Antela do Repilau e Cabe-cinho da Mama) com volumetrias e implantaccedilotildees diferenciadas Se por um lado a Lapa do Repilau e o Cabecinho da Mama se encontram inseridos numa aacuterea de vale aberto jaacute a Antela do Repilau ocupa uma pequena es-planada estrangulada e rodeada de afloramentos havendo uma clara in-tenccedilatildeo de ao inveacutes dos monumentos vizinhos se esconder e mimetizar na paisagem envolvente

Lapa do RepilauCNS 1000 Coordenadas Geograacuteficas 40deg41rsquo421rsquorsquo N 07deg59rsquo189rsquorsquo WLocaliza-se no siacutetio denominado de ldquoRepilaurdquo em terreno de pinhal a 500m SSO da povoaccedilatildeo da Lobagueira freguesia dos Coutos de Viseu concelho de ViseuReferido pela primeira vez por Amorim Giratildeo (Giratildeo 1923-24 283-284) que o visita e descreve apoacutes uma visita feita em 1921 ressaltando a publi-caccedilatildeo de uma foto do monumento ostentando ainda a laje de cobertura da cacircmara entretanto fragmentada nos anos 60 do seacutec XX para a construccedilatildeo de uma represa de aacutegua (Cruz 1990 1)Em 1988 este monumento eacute alvo de novos trabalhos arqueoloacutegicos no acircm-bito do projeto de Valorizaccedilatildeo de Monumentos megaliacuteticos da regiatildeo centro desenvolvido pelo Serviccedilo Regional de Arqueologia da Zona Centro sob a direccedilatildeo de Domingos Cruz A uacutenica referecircncia sobre os resultados destes trabalhos eacute uma nota em que se refere que foi exumado numeroso espoacutelio nomeadamente ldquoconjuntos de pontas de seta ndash predominando as de base 2 A prospeccedilatildeo das aacutereas ardidas do concelho de Vouzela aumentou em mais de 200 o nuacutemero conhecido de monumentos deste concelho (Carvalho amp Carvalho neste volume)3 O uacutenico monumento exaustivamente estudado foi a Antela do Repilau (Cruz et alii 1989)

436 |

triangular e corpo curto _ microacutelitos trapezoidais lacircminas objetos de ador-no etc aleacutem de um lsquoiacutedolo-placarsquo em greacutes com gravaccedilatildeo nas duas faces e uma lsquoplaquinharsquo de tipo idoliforme eacute tambeacutem significativo o conjunto cera-moloacutegico ()rdquo (Cruz 1990 1) A Lapa do Repilau eacute um monumental doacutelmen complexo composto por uma cacircmara poligonal alargada de nove esteios com 275m de comprimento 4m de largura e 275m de altura e corredor desenvolvido orientado a ESE com 540m de comprimento diferenciado da cacircmara em planta e alccedilado con-stituiacutedo por oito esteios no lado norte e nove do lado sul mantendo a altura constante de 180m (figura 2)Antela do RepilauCNS 33621 Coordenadas Geograacuteficas 40deg41rsquo475rsquorsquo N 07deg59rsquo146rsquorsquo WMonumento constituiacutedo por tumulus baixo tipo cairn planta subcircular com 6 m de diacircmetro A cacircmara inseria-se sensivelmente na parte central do tumulus descentrada no sentido NO com planta circular de 170m de diacircmetro formada por 21 pequenos esteios dispostos segundo duas fiadas sobrepostos oscilando entre os 40 cm e 120 cm de altura colocados diretamente sobre o substrato rochoso (Cruz et alii 1989)Mamoa da Cabecinha AgudaCNS 33629 Coordenadas Geograacuteficas 40deg41rsquo285rsquorsquo N 07deg59rsquo258rsquorsquo W

Figura 2 Plantas e alccedilados da Lapa do Repilau 1 Segundo Leisner 1998 2 Segundo Cruz 1998 3 Segundo Carvalho 2013

| 437

| 2018

473m Mamoa de planta subcircular com 17m de diacircmetro e aproximadamente 1m de altura implantado num relevo natural que lhe proporciona maior mon-umentalidade Natildeo apresenta sinais evidentes de violaccedilatildeo e nem eacute visiacutevel qualquer esteio da sua estrutura interna Um muro de divisoacuteria de terreno atravessa o monumento no sentido NNE-SSOJoseacute Coelho refere no dia 1091933 o topoacutenimo ldquoCabecinha Aguda Lapa (doacutelmen)rdquo (Coelho 1933-1934 fl 24) Seraacute que se referia a este monumen-to ou agrave Lapa do Repilau312 Nuacutecleo das QueimadasEste eacute sem duacutevida um dos nuacutecleos mais interessantes da necroacutepole da Lobagueira e cremos do megalitismo beiratildeo pois integra natildeo apenas monumentos megaliacuteticos de cacircmara simples e de corredor como tambeacutem pequenos tumuli do Bronze Final que encerraratildeo estruturas funeraacuterias de tipo cista ou fossa do geacutenero das estudadas na Casinha DerribadaSerra da Muna na freguesia de Mundatildeo ou na Senhora da Ouvida Castro Daire entre outrosEste nuacutecleo de monumentos eacute referido primeiro por A Giratildeo que aponta trecircs ldquoconstruccedilotildees megaliacuteticas bastante danificadasrdquo das quais faz planta Mamoa 1 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40deg42rsquo055rsquorsquo N 07deg59rsquo014rsquorsquo W 543m Denominado por Lobagueira 1 por Vera Leisner (LEISNER 1998 34) tra-ta-se de um monumento de cacircmara simples poligonal alargada (comp maacuteximo - 220 m larg maacutexima - 246 m) com sete esteios visiacuteveis em grani-to natildeo sobrepostos mas sim encostadosA mamoa implantada sobre um pequeno relevo natural que lhe permite maior monumentalidade ostenta um contorno circular com diacircmetro meacutedio de 1450m e aproximadamente 15m de altura Este monumento eacute referenciado por Amorim Giratildeo mencionando a existecircn-cia de 6 esteios (Giratildeo 1923-1924 284-285) Dos trabalhos arqueoloacutegicos efetuados por Vera Leisner natildeo resultou a ob-tenccedilatildeo de qualquer espoacutelio (Leisner 1998 34 e Estampa 21 I-15-40) Mamoa 2 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40deg42rsquo076rsquorsquo N 07deg59rsquo022rsquorsquo W 543 m Doacutelmen de cacircmara poligonal simples bastante arruinado conservando qua-tro esteios completos visiacuteveis em granitoA mamoa implantada sobre um pequeno relevo natural o que lhe confere maior monumentalidade apresenta um contorno circular com cerca de 19 m de diacircmetro e aproximadamente 15 m de altura

438 |

Este monumento eacute referenciado por Amorim Giratildeo mencionando a existecircn-cia de 3 esteios (Giratildeo 1923-1924 284)Dos trabalhos arqueoloacutegicos efetuados por Vera Leisner neste monumento que denomina por Lobagueira 2 natildeo resultou a obtenccedilatildeo de qualquer es-poacutelio (Leisner 1998 34 e Estampa 21 I-15-41) Praticamente encostado ao limite noroeste do tumulus encontra-se uma pequena mamoa sateacutelite (Mamoa 4 das Queimadas)A planta feita em 1991 tem como ponto 0 convencional o topo do esteio 2Mamoa 3 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40ordm 42rsquo 076rsquorsquoN 07ordm 59rsquo 022rsquorsquo W 540m Mamoa de contorno subcircular com cerca de 10 m de diacircmetro e aproxima-damente 1 m de altura que encerra provavelmente um doacutelmen de corredor Da sua estrutura interna bastante arruinada e com profunda concavidade central conservam-se pelo menos quatro esteios graniacuteticos parcial ou total-mente deslocadosO monumento eacute utilizado como elemento demarcatoacuterio de propriedade sen-do atravessado por um muro de pedra vatildeDos trabalhos arqueoloacutegicos efetuados por Vera Leisner neste monumento que denomina de Lobagueira 3 natildeo resultou a obtenccedilatildeo de qualquer es-poacutelio (Leisner 1998 34 e Estampa 21 I-15-42) Amorim Giratildeo tambeacutem o refere mencionando a existecircncia de sete esteios (Giratildeo 1923-1924 284-285)Mamoa 4 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40deg42rsquo077rsquorsquo N 07deg59rsquo029rsquorsquo W 540 mTumulus de reduzidas dimensotildees e pouco percetiacutevel no terreno podendo envolver uma ou mais estruturas do tipo cista ou outro tipo de estruturasEm terra e pedras ostenta um contorno subcircular com cerca de 45m de diacircmetro e aproximadamente 020m de altura e assume-se como um sateacutelite da Mamoa 2A sua cronologia deve situar-se em torno dos finais da Idade do BronzeMamoa 5 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40deg42rsquo100rsquorsquo N 07deg59rsquo079rsquorsquo W 541 m Monumento inserido na periferia da chatilde pouco relevante no terreno even-tualmente encerrando uma cacircmara de tipo cistoide ou outro tipo de estru-turaO tumulus de contorno subcircular com cerca de 8m de diacircmetro e 040m de altura eacute constituiacutedo por inuacutemeros elementos peacutetreos graniacuteticos de pequenas e meacutedias dimensotildees apresentando uma ligeira depressatildeo cen-tral e delimitado por anel liacutetico

| 439

| 2018

Sobre este numa posiccedilatildeo relativamente descentrada e aproximando-se da periferia oeste afloram os topos de duas pequenas lajes - c de 011 m de espessura variando o comprimento entre os 038 m e os 045 m indiciando a existecircncia de uma estrutura cistoide Sensivelmente a meio do tumulus conserva-se um fragmento de laje podendo corresponder agrave tampa desta mesma estruturaMamoa 6 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40deg42rsquo084rsquorsquo N 07deg59rsquo057rsquorsquo WMonumento de pequenas dimensotildees e pouco relevado no terreno4 Pode encerrar uma estrutura do tipo cista e estruturalmente do mesmo tipo dos monumentos 4 e 5 do nuacutecleo das QueimadasMamoa 7 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40ordm42rsquo0845rsquorsquo N 07ordm59rsquo059rsquorsquo WPequena mamoa com as mesmas caracteriacutesticas da anterior foi parcial-mente destruiacuteda por um caminho carreteiro Pode encerrar uma estrutura do tipo cista e estruturalmente do mesmo tipo dos monumentos 4 5 e 6 do nuacutecleo das QueimadasMamoa 8 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40ordm42rsquo062rsquorsquo N 07ordm59rsquo174rsquorsquo WMamoa de terra e pedras truncada a sul pela Rua das Eiras (estrada de acesso agrave Subestaccedilatildeo eleacutectrica da Bodiosa) conservando-se apenas a sua metade norte O diacircmetro eacute de 13m Natildeo satildeo visiacuteveis esteiosMamoa 9 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40ordm42rsquo067rsquorsquo N 07ordm59rsquo189rsquorsquo WMamoa de terra e pedras truncada a sul pela Rua das Eiras (estrada de acesso agrave Subestaccedilatildeo eleacutectrica da Bodiosa) conservando-se apenas a sua metade norte O diacircmetro eacute de 10m Do lado oposto agrave estrada encontra-se um provaacutevel esteio deste monumento deslocado313 Nuacutecleo da Lameira do FojoMamoa 1 do FojoCNS 2427 Coordenadas Geograacuteficas 40ordm41rsquo547rsquorsquo N 07ordm58rsquo495rsquorsquo WEste monumento encontra-se situado no lugar da ldquoLameira do Fojordquo numa zona aplanada agrave cota meacutedia de 532m em aacuterea de pinhal junto a um camin-ho de terra batida que se dirige para a ldquoSenhora do Castrordquo cerca de 400m para E da aldeia da LobagueiraReferenciado pela primeira vez por Amorim Giratildeo (1923-24 285) este monumento foi parcialmente escavado em 1966 por Vera Leisner e Leo-nel Ribeiro permitindo a obtenccedilatildeo de algum espoacutelio que com as devidas reservas parece apontar para um momento antigo do megalitismo beiratildeo 4 A intensa cobertura vegetal que cobre o terreno facto que ocorria jaacute em 1991 natildeo permitiu a correta descriccedilatildeo das mamoas 6 e 7

440 |

natildeo parecendo ter existido uma reutilizaccedilatildeo posterior (Leisner 1998 34 e Estampas 21 I-15-43 22 e 23) Durante estes trabalhos foi identificado o motivo pintado num dos esteios da cacircmara Seratildeo estas pinturas que E Shee Towig vem ver e estudar na deacutecada de 70 do seacuteculo passado acres-centando novos motivos que colocam este monumento numa posiccedilatildeo iacutempar no contexto do megalitismo europeu A Mamoa 1 da Lameira do Fojo classificada como Imoacutevel de Interesse Puacute-blico (Decreto nordm 26-A92 de 1 de Junho) encerra um doacutelmen de corredor desenvolvido cuja cacircmara se apresenta muito destruiacuteda conservando apenas trecircs dos nove ou onze esteios que primitivamente constituiacuteam esta parte do monumento O estado atual dos elementos peacutetreos existentes eacute o seguinte E9 ndash completo in situ E10 ndash Idem E11 ndash fragmentado ao niacutevel meacutedio inferior mas com a base no siacutetio original A altura maacutexima visiacutevel da cacircmara eacute de 198m O corredor diferenciado da cacircmara em planta e secccedilatildeo apresenta-se em oacuteptimo estado de conservaccedilatildeo e parcialmente obstruiacutedo mantendo grande parte das lajes de cobertura Eacute composto por oito esteios do lado sul e dez do lado norte Com exceccedilatildeo do esteio 13 fracturado ao niacutevel da base e tom-bado para o interior e do esteio 21 ligeiramente deslocado todos os outros se conservam completos e nas suas posiccedilotildees primitivasO mesmo eacute extensivo agraves lajes de cobertura em nuacutemero de cinco faltando apenas a que se apoiaria nos esteios 7 13 e 14 O corredor com uma altu-ra mais ou menos constante e com todos os seus esteios sobrepostos vai alargando agrave medida que se aproxima da entrada da cacircmara O comprimento total eacute de aproximadamente 650m a largura agrave entrada a meio e no teacutermi-no deste eacute respetivamente de 040m 096m e 192m Orientado a ESEO tumulus em terra e pedras e cobrindo parcialmente as lajes do corredor eacute de grandes dimensotildees com cerca de 3m de altura e muito alongado no sentido nascente medindo no seu eixo maior (E-O) cerca de 30m No lado norte apresenta-se ligeiramente cortado pelo caminho de terra batidaNa aacuterea fronteira ao corredor conservam-se vestiacutegios de outras estruturas que parecem relacionar-se com o sistema de acesso ao monumento ndash ldquocorredor intratumularrdquo e ldquoaacutetriordquo ndash paralelizaacuteveis com outras do mesmo tipo recentemente estudadas no Centro e Norte de PortugalMamoa 2 do FojoCNS 5086 Coordenadas Geograacuteficas 40ordm41rsquo507rsquorsquo N 07ordm58rsquo472rsquorsquo WMamoa de grandes dimensotildees de contorno subcircular com 18m de diacircme- tro do eixo N-S composta por pedras de granito parcialmente truncada a este pelo estradatildeo apresentando cerca de 3m de altura e uma profunda e

| 441

| 2018

extensa cratera de violaccedilatildeo central que se estende para sul por onde teratildeo sido arrancados os esteiosMamoa 3 do FojoCNS 5086 Coordenadas Geograacuteficas (medida aproximada) 40deg41rsquo5271rdquoN 07deg58rsquo4763rdquoWMamoa referida no mapa de Vera Leisner (Leisner 1998 estampa 21 A) e por Inecircs Vaz que diz ldquoEntre as duas situa-se a mamoa do Fojo 3 de que resta apenas a base circular pois o monumento foi completamente destruiacute-do (Pedro et alii 119)Atualmente natildeo foi possiacutevel a identificaccedilatildeo deste monumentoMamoa dos 25 MarcosCNS 5063 Coordenadas Geograacuteficas (aproximadas) 40deg41rsquo5853rdquoN 07deg58rsquo5868rdquoWNa deacutecada de 20 do seacutec XX no acircmbito de prospecccedilotildees que entatildeo desen-volvia no concelho Amorim Giratildeo mencionava a existecircncia de uma grande mamoa com cerca de 30m de diacircmetro cujas grandes pedras haviam sido retiradas para construccedilotildees vaacuterias Colheu ainda a informaccedilatildeo de que ldquo() em volta daquele morouccedilo () havia em tempos um passeio como na Cava de Viriato em Viseu ()rdquo adiantando a hipoacutetese de estar-se perante um ldquo() monumento sepulcral () rodeado por um ciacuterculo de pedras ou cromelechrdquo (Giratildeo 1923-24 284-285)Atualmente os uacutenicos vestiacutegios deste monumento limitam-se a um amon-toado caoacutetico de elementos graniacuteticos de dimensotildees vaacuterias que muito provavelmente fariam parte da estrutura do tumulus Haacute algumas dezenas de anos foi completamente arrasado a fim de possibilitar um melhor aprovei- tamento agriacutecola do terreno onde estava implantado Segundo o parecer de um popular que participou nessa mesma destruiccedilatildeo teratildeo sido arrancados grandes blocos de pedras semelhantes aos da Lameira do Fojo 1Tendo como base estas informaccedilotildees cremos que este seria um doacutelmen de corredor com uma dimensatildeo consideraacutevel314 Nuacutecleo das PereirasMamoa 1 de PereirasCoordenadas Geograacuteficas 40ordm42rsquo123rsquorsquo N 07ordm59rsquo545rsquorsquo W 524mTumulus implantado sobre um pequeno relevo natural apresentando um contorno ovalado com cerca de 175 de diacircmetro N-S e 19m de diacircmetro E-O A altura eacute de aproximadamente 15m Ostenta uma pequena depressatildeo central natildeo sendo visiacutevel qualquer esteio da sua estrutura internaMamoa 2 de PereirasCoordenadas Geograacuteficas 40ordm42rsquo119rsquorsquo N 07ordm59rsquo526rsquorsquo W 531m

442 |

Montiacuteculo tumular aparentemente de meacutedias dimensotildees e talvez bastante compactado com cerca de 10m no eixo N-S e 12m no eixo E-O sendo a altura de cerca de 1m Apresenta depressatildeo central embora natildeo muito profunda sendo visiacuteveis dois esteios da cacircmara inclinados para o interior e aflorando acima do solo atual em cerca de 034m e 040mPoderaacute corresponder ao mencionado por Amorim Giratildeo (GIRAtildeO 1923-24 285) e eventualmente ao que mereceu a atenccedilatildeo por parte de Vera Leisner e Leonel Ribeiro (RIBEIRO amp LEISNER 1968 13)Mamoa 3 de Pereiras40ordm42rsquo157rsquorsquo N 07ordm59rsquo326rsquorsquo W 530mMonumento identificado no acircmbito dos trabalhos de acompanhamento arqueoloacutegico da instalaccedilatildeo da linha eleacutetrica (Canha amp Costa 2005) Trata-se de uma mamoa em terra e pedra de planta eliacuteptica com 8m de diacircmetro N-S e 1230m de diacircmetro E-O e cerca de 1m de altura Da esqueleto peacutetreo eacute possiacutevel observar-se o topo de 3 esteios em granito que aparentam estar fraturados pelo topo estando 2 deles in situO asseio da linha tem contribuiacutedo para a quase total destruiccedilatildeo deste mo- numento

5 A ARTE MEGALIacuteTICA DA LAPA DO REPILAUOs resultados do levantamento da arte megaliacutetica da Lobagueira foram da-dos a conhecer publicamente por um de noacutes (PSC) no IIordm Coloacutequio Interna- cional sobre Arqueologia de Transiccedilatildeo o mundo funeraacuterio realizado em Eacutevo-ra entre os dias 29 de Abril e 1 de Maio de 2013 Um aspecto interessante relativamente agrave arte megaliacutetica e em particular da Lapa do Repilau prende-se com o que foi observado e natildeo o que natildeo foi agrave passagem de diversos estudiosos e ao longo de quase um seacuteculo O monumento foi identificado em 1921 por Amorim Giratildeo (1923-1924) que apenas menciona a presenccedila de fossetes nalguns esteios do corredor Tampouco Leonel Ribeiro (1968) se refere agrave existecircncia de representaccedilotildees graacuteficas na cacircmara De igual modo E Shee Twohig na sua obra seminal ldquoThe Megalithic Art of Western Europerdquo (1981) regista somente as pinturas da mamoa 1 do Fojo que inventaria sob a designaccedilatildeo lsquoLubagueira 4rsquo seguin-do as indicaccedilotildees de Celso Tavares da Silva (1981 151) A autora menciona a Lapa do Repilau apenas como referecircncia de localizaccedilatildeo do monumento que estudou constante no artigo de A Giratildeo (idem ibidem) Jaacute nos finais da deacutecada de 1990 e iniacutecios do ano 2000 Fernando Carrera no acircmbito do seu doutoramento e seguindo as mesmas referecircncias bibliograacuteficas efetua registo fotograacutefico dos esteios pintados da mamoa do Fojo visita a Lapa do

| 443

| 2018

Repilau mas menciona apenas a presenccedila de gravuras (Carrera 2011 170 e lacircmina 53-3) recorrendo a informaccedilotildees contidas no relatoacuterio ineacutedito da autoria Domingos Cruz (1989) que procedera agrave escavaccedilatildeo do monumento na deacutecada anteriorA Lapa do Repilau ostenta figuraccedilotildees pintadas eou gravadas em dois dos esteios da cacircmara funeraacuteria no monumental esteio de cabeceira e no que se encontra imediatamente a norte (figura 3) O acervo representa cremos uma pequena parte da decoraccedilatildeo que originalmente recobriria aqueles elemen-tos peacutetreos Tal como se pode apreciar na fotografia publicada por Amorim Giratildeo (1923-1924 283) a laje de cobertura da cacircmara5 encontrava-se ligei-ramente inclinada para norte abrigando o esteio onde se conservam os mo-tivos pintados enquanto o de cabeceira onde apenas se registam gravuras e um pequeno traccedilo pintado se encontrava exposto aos elementos Jaacute E Shee Twohig assinalara que a presenccedila da laje de cobertura permite a melhor con- servaccedilatildeo da pintura na medida em que estaacute ausente de todos os monumen-tos que apresentam apenas gravuras agrave exceccedilatildeo de dois (1981 34)

Figura 3 Vista dos motivos no alccedilado S-N da cacircmara da Lapa do Repilau

444 |

Neste artigo apresentamos os registos graacuteficos dos dois ortostatos decora-dos obtidos durante os trabalhos de levantamento da arquitetura da Lapa do Repilau em 2013 O esteio de cabeceira com c de 2 20m x 1 60m de granito de gratildeo fino a meacutedio exibe a c de 0 60 m do solo dois mo-tivos de feiccedilatildeo vagamente antropomoacuterfica Esta eacute sugerida na figura de cima pelo contorno da cabeccedila e ombros e na figura de baixo inserida no corpo volumoso incompleto da primeira tambeacutem pelos braccedilos e torso que configuram uma morfologia cruciforme Ambas ostentam duas pequenas linhas retas verticais na zona da cabeccedila O corpo largo do motivo 2 recor-da de certa forma as imagens da chamada lsquopele esticada de animalrsquo Natildeo se tratam de representaccedilotildees comuns no reportoacuterio figurativo da arte megaliacutetica peninsular sobretudo na sua forma gravada Pode encontrar-se um paralelo aproximado para o motivo 1 a figura de feiccedilatildeo cruciforme da Orca de Forles ou mesmo do contorno da zona superior (cabeccedila e mem-bros superiores) do antropomorfo pintado no esteio 5 do doacutelmen de Vila- rinho da Castanheira Um outro aspeto muito relevante nesta composiccedilatildeo eacute a presenccedila de um seg-mento de linha pintada a vermelho que ocupa o interior de um dos sulcos na extremidade superior direita do motivo 1 e se estende para o seu exte-rior (Fig 4) A c de 0 50 m desta composiccedilatildeo registou-se um outro motivo gravado a picotado com forma de gancho sendo a base marcada por uma linha retaO esteio imediatamente agrave direita da laje de cabeceira exibe um magniacutefico conjunto de motivos figurativos pintados a vermelho de traccedilo esquemaacutetico entre os quais se contam dois antropomorfos um ramiforme e um provaacutevel zoomorfo (Figs 5 e 6) O motivo 1 surge na zona inferior esquerda do ortostato a c de 0 20 m da linha do solo atual e configura a representaccedilatildeo de uma figura humana com cabeccedila alongada braccedilos delineados a traccedilo grosso e pernas em arco O motivo 2 encontra-se bastante delido poreacutem sugere-se que se trataraacute da representaccedilatildeo esquemaacutetica de um quadruacutepede figurado na vertical Na parte superior do esteio encontram-se duas figuras lado a lado O motivo 3 eacute um antropomorfo esquemaacutetico bastante delido na zona da cabeccedila que apresenta um ponto entre os membros inferiores detalhe que remete claramente para o universo estiliacutestico da Arte Esque-maacutetica pintada e gravada ao ar livre Do seu lado direito foi representado um ramiforme (motivo 4) formado por um eixo vertical sobreposto por seis traccedilos paralelosHaacute dois aspetos principais a salientar relativamente aos recursos teacutecnicos e acervo figurativo identificaacuteveis na decoraccedilatildeo plaacutestica da cacircmara 5 O autor refere que a laje de cobertura hoje desaparecida teria contorno ldquogrosseiramente hexagonalrdquo media 2 50 m de comprimento por 2 40 m de largura e encontrava-se disposta obliquamente (Giratildeo 1923-1924 284)

| 445

| 2018

A presenccedila de pintura no interior de um sulco gravado vem consubstanciar a proposta avanccedilada por F Carrera e R Faacutebregas de que na maioria dos monumentos que hoje apenas conservam gravuras teraacute existido igualmente pintura simples que poderia ser aplicada sobre os sulcos complementando o seu desenvolvimento (2006 80-81) Do conjunto de arte parietal em se- pulcros megaliacuteticos no norte e centro de Portugal satildeo 16 aqueles onde se verifica a complementaridade entre pintura e gravura sendo que no doacutelmen do Juncal Mota Grande e Aliviada se pode ainda observar pigmento verme- lho no interior dos sulcos gravados Esta complementaridade parece ser rela- tivamente frequente Mais se acresce que a identificaccedilatildeo de elementos dormentes de moacutes manuais com vestiacutegios de pigmento em monumentos onde apenas satildeo hoje observaacuteveis gravuras a exemplo da mamoa 1 do Taco (Alves e Carvalho 2017) ou do doacutelmen 1 do Carapito (Ribeiro 1968) poderaacute ser indicador de que outrora essa complementaridade poderaacute ter existido naqueles tuacutemulos Por seu lado no que respeita agrave iconografia presente na Lapa do Repilau observa-se um certo contraste entre o conjunto de motivos pintados e gra-vados sendo que o primeiro encerra uma notoacuteria coerecircncia estiliacutestica inte-grando figuraccedilotildees com paralelos noutros monumentos megaliacuteticos do inte-

Figura 4 Pormenor do segmento de linha pintada a vermelho que ocupa o interior de um dos sulcos na extremidade superior direita do motivo 1

446 |

rior centro e norte da Peniacutensula assim como em siacutetios com Arte Esquemaacuteti-ca quer pintada quer gravada Como se sabe esta uacuteltima tradiccedilatildeo artiacutestica em formaccedilotildees rochosas naturais eacute tipificada pela figuraccedilatildeo esquematizada da figura humana e as caracteriacutesticas teacutecno-morfoloacutegicas dos antropomor-fos presentes no monumento em apreccedilo satildeo indissociaacuteveis dos que ocorrem nas pinturas rupestres em abrigos Satildeo aliaacutes numerosos os exemplos de antropomorfos esquemaacuteticos pintados em contexto megaliacutetico Eles surgem na vizinha mamoa 1 do Fojo (Lubagueira 4) na sobejamente conhecida Orca de Juncais Arquinha da Moura Orca do Tanque doacutelmen de Zedes Padratildeo e no doacutelmen do Picoto do Vasco Algumas tipologias surgem mesmo nos trecircs tipos de suporte como eacute o caso do motivo 1 da Lapa do Repilau que apresenta semelhanccedilas formais com um dos antropomorfos no abrigo das Lapas Cabreiras (Reis et al 2017) com um outro pintado no doacutelmen do Padratildeo (eg Shee 1981) e com o motivo 92 gravado na rocha F-155 no vale do Tejo (Baptista 1981) O detalhe que acima assinalaacutemos relativamente ao motivo 3 surge numa das figuras que integra a composiccedilatildeo central do abrigo 1 do Colmeal (Reis et al 2017) e num dos antropomorfos pintados no doacutelmen de Zedes (eg Shee 1981 Fig 32) Os ramiformes satildeo conhecidos em contexto megaliacutetico nos doacutelmenes de Pedralta e Mamaltar de Vale de Fa-chas (idem ibidem) Em formaccedilotildees rochosas naturais ocorrem nos abrigos

Figura 5 Motivos pintados com imagem polarizada

Figura 6 Levantamento das pinturas do esteio lateral

| 447

| 2018

da Pala Pinta no abrigo 1 da Ribeira do Mosteiro e no painel A do Forno da Velha (Figueiredo 2013) Curiosamente tal como sucede na Lapa do Repi- lau neste uacuteltimo abrigo verifica-se a associaccedilatildeo entre ramiformes e zoomorfos no mesmo painel sendo que a mesma ocorre no doacutelmen de Cu-billero de Lara (Burgos) A associaccedilatildeo entre motivos zoomoacuterficos e antropo-morfos eacute bem conhecida dos doacutelmenes da Arquinha da Moura e Orca de Juncais

6 NECROacutePOLE DA LOBAGUEIRA ARTE E ARQUITETURAS NO CONTEXTO DA PREacute-HISTOacuteRIA RECENTE DO NORTE DE PORTUGALNa descriccedilatildeo da iconografia registada na Lapa do Repilau sublinhou-se a relaccedilatildeo morfo-estiliacutestica entre o acervo de motivos pintados e o reportoacuterio figurativo da pintura esquemaacutetica em abrigos sob rocha Eacute hoje consensual que a presenccedila destes motivos nos doacutelmens da Beira Alta e Traacutes-os-Montes vai ao encontro da proposta de Primitiva Bueno e Rodrigo Balbin (1992) de que a arte megaliacutetica pode ser considerada uma expressatildeo da Arte Esque-maacutetica Poreacutem um de noacutes (LBA) tem vindo a enfatizar a ideia de que se se atender agraves caracteriacutesticas da arte no interior dos monumentos megaliacuteticos na Galiza ocidental e litoral norte de Portugal verifica-se que a sua expressatildeo eacute maio- ritariamente abstrata e geomeacutetrica o que motivou a seu tempo J M Bello Dieacuteguez a individualizar este conjunto sob a designaccedilatildeo de ldquogrupo noroci-dental de arte megaliacuteticardquo (eg Alves 2003 2009) O mesmo autor sugeriu mesmo que se poderia definir uma lsquozona de transiccedilatildeorsquo entre este e o chama-do lsquogrupo de Viseursquo ao longo do cordatildeo montanhoso galaico-duriense (Bello Dieacuteguez 1995)Este aspeto conduz agrave necessaacuteria reflexatildeo em torno da relaccedilatildeo espacial temporal e estiliacutestica entre as diversas tradiccedilotildees artiacutesticas que convergem no centro-norte de Portugal no Neoliacutetico De acordo com os conhecimentos atuais a Arte Atlacircntica e a pintura Esquemaacutetica ocupam aacutereas diferenciadas no norte de Portugal correspondendo agraves duas grandes aacutereas biogeograacutefi-cas europeias que convergem no noroeste peninsular a regiatildeo Atlacircntica e a regiatildeo Mediterracircnica (Alves 2012) Considerando a nossa proposta de recuo da cronologia da origem da Arte Atlacircntica para o IVordm mileacutenio aC estas duas tradiccedilotildees rupestres teriam sido parcialmente contemporacircneasUm simples exerciacutecio cartograacutefico permite verificar que a aacuterea por onde se distribui a arte megaliacutetica de tendecircncia abstrata e geomeacutetrica coincide gros-so modo com a distribuiccedilatildeo geograacutefica da Arte Atlacircntica peninsular (Alves 2003) Pese embora sejam escassos os motivos individuais comuns agrave

448 |

tradiccedilatildeo megaliacutetica e agrave arte de ar livre agrave exceccedilatildeo da combinaccedilatildeo de ciacuterculos concecircntricos gravada num esteio da Mota Grande (Baptista 1997) as se-melhanccedilas formais das composiccedilotildees em cacircmaras dolmeacutenicas ao longo da aacuterea da fachada Atlacircntica do Noroeste consubstanciam a existecircncia de um certo lsquoar de famiacuteliarsquo (eg Alves 2003 2009 2014) Mas as questotildees que mantemos eacute satildeo as seguintes- se a criaccedilatildeo da Arte Atlacircntica em afloramentos rochosos estaacute intimamente relacionada com a perceccedilatildeo e experiecircncia da paisagem seria expectaacutevel que exatamente as mesmas convenccedilotildees fossem aplicadas no interior dos monumentos megaliacuteticos imbuiacutedos de distinta funcionalidade - poderiacuteamos estar a lidar com um amplo sistema de representaccedilatildeo sim-boacutelica de caraacutecter iminentemente abstrato com convenccedilotildees estiliacutesticas di- ferentes uma vocacionada para contextos funeraacuterios outra que incita agrave perce- ccedilatildeo da paisagem a arte de ar livre uma laquoarte geograacuteficaraquo como a definiu R Bradley (1997)A necroacutepole da Lobagueira eacute sem duacutevida um dos mais fantaacutesticos conjun-tos tumulares preacute-histoacutericos do concelho de Viseu Do conjunto de 19 mo- numentos apenas 3 foram arqueologicamente intervencionados sendo que os resultados se encontram na sua maioria por tratar e divulgar dificul- tando obviamente uma anaacutelise de conjunto Mesmo assim julgamos po- der fazer algumas consideraccedilotildees gerais que serviratildeo essencialmente como base para futuros trabalhos que privilegiem o estudo do conjunto tumular e natildeo um ou outro monumento isoladoEsta necroacutepole integra numa aacuterea relativamente restrita monumentos de diversas cronologias e arquiteturas Se por um lado se podem observar doacutelmens complexos de cacircmara e corredor edificados no Neoliacutetico como a Lapa do Repilau a Mamoa 1 da Lameira do Fojo e muito provavelmente a Mamoa da Cabecinha Aguda Mamoa 3 das Queimadas a Mamoa dos 25 Marcos e a Mamoa 2 do Fojo tambeacutem satildeo registados doacutelmens simples com uma cronologia igualmente neoliacutetica () como as mamoas 1 e 2 das Queimadas Por outro lado agrave semelhanccedila de tantas outras necroacutepoles da Beira Alta a necroacutepole foi crescendo num verdadeiro movimento de necro- polizaccedilatildeo sendo de registar pelo menos para a Idade do Bronze a edifi-caccedilatildeo de novos monumentos como a Antela do Repilau e mais tarde jaacute nos finais da Idade do Bronze as mamoas 4 a 9 das QueimadasContudo alguns monumentos complexos como a Lapa do Repilau e a Ma-moa 1 da Lameira do Fojo teratildeo tido uma reocupaccedilatildeo posterior ao Neoliacuteti-co podendo abarcar um periacuteodo amplo que compreende o Calcoliacutetico FinalBronze Inicial evidenciado essencialmente pelo caraacutecter evolucionado de

| 449

| 2018

alguns dos materiais liacuteticos e ceracircmicosEm conclusatildeo a necroacutepole da Lobagueira parece obedecer a um padratildeo que se comeccedila a desenhar em que algures no Neoliacutetico final entre os finais do Viniacutecios do IV mileacutenio a C teratildeo sido edificados grandes monumentos de corredor e muito provavelmente monumentos de cacircmara simples (esta eacute ainda uma questatildeo em aberto que apenas poderaacute ser respondida com futuros trabalhos em doacutelmens desta tipologia) Mais tarde no Calcoliacuteticoiniacute- cios da Idade do Bronze por volta do III mileacutenio alguns destes monumen-tos de corredor teratildeo sido reutilizados mas assistir-se-agrave igualmente agrave construccedilatildeo de novos monumentos sobretudo na Idade do Bronze Efetiva-mente embora natildeo haja cronologias absolutas para a Antela do Repilau a sua implantaccedilatildeo topograacutefica a sua arquitetura e o espoacutelio exumado apontam para que seja um monumento enquadraacutevel nos iniacutecios ou meados da Idade do Bronze refletindo uma nova postura perante a morte simbolizada entatildeo na construccedilatildeo de monumentos de caraacutecter individual O epiacutelogo deste movi-mento tumular termina com a proliferaccedilatildeo de pequenos tumuli construiacutedos nos finais da Idade do Bronze entre os seacutec XI e IX a C que tanto satetilizam os monumentos neoliacuteticos como eacute o caso do nuacutecleo das Queimadas como formam autecircnticas necroacutepoles que se distribuem por toda a regiatildeo centro com exemplos flagrantes na Plataforma Central junto agrave cidade de Viseu [necroacutepoles da Casinha Derribada e Serra da Muna - Monumento 4 da Serra da Muna Viseu (Cruz et alii 1998)] na Serra do Montemuro [necroacutepole da Senhora da Ouvida (Cruz amp Vilaccedila 1999)] na Serra do Caramulo [necroacutepole das Almas do Capitatildeo Albitelhe Vale de Espinho] (Carvalho amp Carvalho neste volume) no Maciccedilo da Gralheira (Silva 1997) e mais recentemente na Cordilheira Central a sul da Serra da Estrela (Caninas et alii 2008) Este universo dos tumuli dos finais da Idade do Bronze eacute extremamente in- teressante mas muito complexo com estruturas que compreendem cistas covachos recintos peacutetreos estruturas anexas etc cujo estudo ainda se en-contra numa fase muito precoce e que merece tratamento num texto de outro acircmbito (Vilaccedila 2017)

BIBLIOGRAFIAALVES Lara Bacelar (2003) - The movement of Signs-Post-glacial rock art in North-wes-tern Iberia Department of Archaeology PhD thesis Universidad de ReadingALVES Lara Bacelar (2009) - O sentido dos signos - reflexotildees e perspectivas para o estu-do da arte rupestre do poacutes-glaciar no Norte de Portugal in R de Balbiacuten Behrmann (ed) Arte Prehistoacuterico al aire libre en el sur de Europa Junta de Castilla y Leon 381-413ALVES Lara Bacelar (2012) - The circle the cross and the limits of abstraction and figu-ration in north-western Iberian rock art in A Cochrane and A Jones (eds) Visualising the

450 |

Neolithic abstraction figuration performance representation Neolithic Studies Group Seminar Papers 13 Chapter 13 Oxbow Books Oxford 198-214ALVES Lara Bacelar (2014) - Intermitecircncias a arte e a Idade do Bronze no Ocidente pen-insular A Idade do Bronze em Portugal Antrope ndash seacuterie monograacutefica 1113088 Em linha1113088 nordm1 Centro de Preacute-histoacuteria Instituto Politeacutecnico de Tomar 15-51 Disponiacutevel em linha httpwwwcphiptptpagina=unidade_editorial_e_didacticaampseccao=revista_-antrope-ampme-dia=monografiaamplang=PTmediaALVES Lara Bacelar e CARVALHO Pedro Sobral de (2017) - A arte megaliacutetica da Mamoa 1 do Taco (Albergaria-a-Velha Aveiro) Novos resultados Arqueologia em Portugal 2017 ndash Estado da Questatildeo - Actas do II Congresso da Associaccedilatildeo Portuguesa de Arqueoacutelogos Lisboa 1001-1015BAPTISTA Antoacutenio Martinho (1981) - A rocha F-155 e a origem da arte do vale do Tejo Monografias arqueoacutelogicas 1 Porto GEAPBELLO DIEacuteGUEZ J M 1995 Arquitectura arte parietal y manifestaciones escultoricas en el Megalitismo noroccidental in F P Losada and L Castro Peacuterez (eds) Arqueoloxiacutea e arte na Galicia Prehistoacuterica e Romana Monografias 7 A Coruntildea Museu Arqueoloacutexico e Histoacuterico de A CoruntildeaCANHA Alexandre COSTA Faacutetima (2005) - Relatoacuterio final dos trabalhos de acompanha-mento arqueoloacutegico Linha A 60 KV Bodiosa ndash Gumiei ndash Apoios nordm 1 nordm 2 e nordm 3 Linha A 60KV Orgens ndash Bodiosa ndash Apoios nordm 49 nordm 48 e nordm 47 Zeacutephyrus PolicopiadoCANINAS Joatildeo Carlos CANHA Alexandre SABROSA Armando HENRIQUES Francisco HENRIQUES Fernando Robles CORREIA Alexandre CHAMBINO Maacuterio (2004) - Adita-mento ao Estudo de Incidecircncias Ambientais do Parque Eoacutelico de Fornelo do Monte e Interligaccedilotildees Eleacutectricas a Vouzela Bodiosa e Tondela Emerita Empresa Portuguesa de Arqueologia policopiadoCANINAS J C Sabrosa A HENRIQUES F MONTEIRO J L CARVALHO E Batista Aacute CHAMBINO M HENRIQUES F R MONTEIRO M CANHA A CARVALHO L GERMANO A (2008) Novos dados para o conhecimento da Preacute-Histoacuteria Recente do Maciccedilo Central na Beira Interior Sul Tumuli e Gravuras Rupestres na Serra Vermelha e na Serra de Al-veacutelos (Oleiros ndash Castelo Branco) Atas das I Jornadas do Patrimoacutenio de Belmonte Cacircmara Municipal de Belmonte pp 1-38CARRERA RAMIacuteREZ Fernando (2011) ndash El Arte parietal en los monumentos megaliacuteticos de l Noroeste Ibeacuterico BAR International series 2190 OxfordCARRERA RAMIacuteREZ Fernando e FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten (2006) ndash Arte parietal megaliacutetico en el Noroeste Peninsular Conocimiento y conservacioacuten Toacuterculo Edicioacutens Santiago de Compostela COELHO Joseacute (1933-1934) - Cadernos de Notas Arqueoloacutegicas nordm 12 fl 24CRUZ Domingos J Da (1990) ndash Visita de estudo Itineraacuterio Preacute-histoacuterico Os monumentos megaliacuteticos e de tradiccedilatildeo megaliacutetica II Coloacutequio Arqueoloacutegico de Viseu (Viseu Abr 1990) policopCRUZ Domingos J da CUNHA Ana Maria Leite da GOMES Luis Filipe C CARVALHO Pedro Sobral de (1989) - Escavaccedilatildeo da Antela do Repilau (Couto de Cima Viseu) Beira Alta vol XLVIII (fasc 3-4) pp 387-400CRUZ Domingos GOMES Luiacutes Filipe CARVALHO Pedro Sobral de (1998a) O grupo de tumuli da Casinha Derribada (Concelho de Viseu) Resultados preliminares dos trabalhos de escavaccedilatildeo dos monumentos 3 4 e 5 Coniacutembriga 37 pp 5-76

| 451

| 2018

CRUZ Domingos VILACcedilA Raquel (1999) O grupo de tumuli da Senhora da Ouvida (Mon-teiras Castro Daire Viseu) Resultado dos trabalhos arqueoloacutegicos Estudos Preacute-histoacuteri-cos Centro de Estudos Preacute-Histoacutericos da Beira Alta vol VII pp 129-161FIGUEIREDO Sofia Soares de (2013) ndash A arte esquemaacutetica do Noroeste Transmontano contextos e linguagens Universidade do Minho Tese de doutoramento 2 volsGIRAtildeO Amorim (1923-1924) - Monumentos preacute-histoacutericos do concelho de Viseu O Ar-cheologo Portuguecircs 1ordf Seacuterie 26 Lisboa pp 282-288GOMES Luiacutes Filipe Coutinho Lopes CARVALHO Pedro M Sobral de (1995) ndash A Mamoa 1 da Lameira do Fojo (Couto de Cima Viseu) Estudos Preacute-histoacutericos Vol III Centro de Estudos Preacute-histoacutericos pp 213-221LEISNER Vera (1998) Die Megalithgraumlber der Ibeirichen Halbinsel Der Western 4 Lieferung Walter de Gruyter Berlin-New YorkMOITA Irisalva (1966) - Caracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Alta Ethnos 5 Lisboa pp 189-277PEDRO Ivone VAZ Joatildeo L Inecircs ADOLFO Jorge (1994) - Roteiro Arqueoloacutegico da Regiatildeo de Turismo Datildeo Lafotildees ViseuREIS Maacuterio ALVES Lara Bacelar CARDOSO Joatildeo Muralha CARVALHO Baacuterbara (2017) - Art-facts ndash os contextos arqueoloacutegicos da Arte Esquemaacutetica no Vale do Cocirca In Garcecircs S Gomes H Martins A e Oosterbeek L A Arte das Sociedades Preacute-histoacutericas (Actas do IV Congresso de Doutorandos e Poacutes-doutorandos 26-29 de Novembro Maccedilatildeo 2015) Techne 3 (1) 97-111RIBEIRO Leonel (1968) Relatoacuterio dos trabalhos da missatildeo arqueoloacutegica LeisnerRibeiro realizados na Beira Alta de 30 de Abril a 24 de Agosto de 1966 todos eles subsidiados pela Gulbenkian Arqueologia e Histoacuteria 9ordf Seacuterie Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses pp 11-28SILVA Fernando Augusto Pereira da (1997) Contextos Funeraacuterios da Idade do Bronze nos Planaltos Centrais do Centro-Norte Litoral Portuguecircs tradiccedilatildeo ou inovaccedilatildeo II Con-greso de Arqueologiacutea Peninsular Tomo II ndash Neoliacutetico Calcoliacutetico y Bronce Fundacioacuten Rei Afonso Henriques Zamora pp 605-620VILACcedilA Raquel (2017) Da morte e seu rituais em finais da Idade do Bronze no Centro de Portugal 20 anos de investigaccedilatildeo in Atas da Mesa-Redonda lsquoA Preacute-histoacuteria e a Pro-to-histoacuteria no Centro de Portugal avaliaccedilatildeo e perspetivas de futurorsquo (Mangualde Nov 2011) Estudos Preacute-histoacutericos vol XVII Centro de Estudos Preacute-histoacutericos da Beira Alta Viseu pp 101-133

452 |

| 453

| 2018

A anta dos Currais do Galhordas (Castelo de Vide Alto Alentejo Portugal) anaacutelise quiacutemica de resiacuteduos orgacircnicos identificados em recipientes ceracircmicos1

The megalithic tomb of Currais do Galhordas (Castelo de Vide Alto Alentejo Portugal) chemical analysis of the organic content of ceramic vases

RESUMORecorrendo agrave cromatografia gasosa com deteccedilatildeo por massa analisaram-se os conteuacutedos orgacircnicos extraiacutedos de quatro vasos da anta dos Currais do Galhordas monumento erigido na segunda metade do 4ordm mileacutenio cal BC e reutilizado pelo menos no 3ordm e no 2ordm mileacutenios cal BCAo que tudo indica os quatro vasos relacionam-se com a reutilizaccedilatildeo mais recente do monumento megaliacutetico durante o Bronze Pleno (2ordm mileacutenio cal BC) Em dois vasos identificaram-se vestiacutegios de uva ou frutos vermelhos e peixe no terceiro detetaram-se restos de gordura animal possivelmente leite as- sociado a oacuteleos de plantas no quarto vestiacutegios de oacuteleos vegetais Os resulta-dos obtidos a partir dos quatro recipientes ceracircmicos estatildeo em concordacircncia com os observados por outros autores em amostras de eacutepoca genericamente idecircntica recolhidas em aacutereas geograacuteficas relativamente proacuteximas da anta dos Currais do GalhordasPALAVRAS-CHAVE Anta dos Currais do Galhordas Conteuacutedos orgacircnicos em vasos Megalitismo Alto Alentejo

Seacutergio Monteiro-Rodrigues Universidade do Porto ndash Faculdade de Letras Centro de Investigaccedilatildeo Transdisciplinar Cultura Espaccedilo e Memoacuteria (CITCEM) Via Panoracircmica sn 4150-564 Porto Portugal sergiomonteirorodriguesgmailcom

Ceacutesar Oliveira REQUIMTELAQV ndash Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) Rua Dr Antoacutenio Bernardino de Almeida 431 4249-015 Porto Portugal Universidade do Porto ndash Faculdade de Letras Departamento de Ciecircncias e Teacutecnicas do Patrimoacutenio Via Panoracircmica sn 4150-564 Porto Portugalcesaroliveiragraqisepipppt

1 Uma parte significativa deste texto foi jaacute publicada no nuacutemero 18 dos Estudos do QuaternaacuterioQuaternary Studies (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) Na versatildeo agora apresentada incluem-se os resultados ineacuteditos decorrentes da anaacutelise cromatograacutefica de um outro recipiente ceracircmico recentemente estudado (vaso 2)

454 |

ABSTRACTThe organic content of four ceramic vases uncovered in the megalithic tomb of Currais do Galhordas (Central Eastern Portugal) ndash a monument built in the second half of the 4th millennium cal BC and reused in the 3th and in the 2nd

millennia cal BC ndash was analysed by gas-chromatography with mass detection The vases are allegedly connected with the latest use of the monument during the Bronze Age (2nd millennium cal BC) Two of them presented traces of grapes or red fruits together with fish the third vase exhibited animal fat remains pos- sibly milk associated with plant oils the forth traces of vegetable oil The re-sults are compatible with other data from Iberian archaeological sites of iden-tical period in some cases located relatively close to the megalithic tomb of Currais do GalhordasKEYWORDS Megalithic tomb of Currais do Galhordas Organic content in vases Megalithism Alto Alentejo

0 INTRODUCcedilAtildeONo decurso das vaacuterias campanhas de escavaccedilatildeo arqueoloacutegica levadas a cabo na anta dos Currais do Galhordas recolheram-se diversos recipi-entes ceracircmicos inteiros que continham no interior sedimentos finos e homogeacuteneos Apesar de natildeo apresentarem sinais que indiciassem presenccedila de mateacuteria orgacircnica nomeadamente a habitual cor escura resultante dos processos de decomposiccedilatildeo optou-se pela sua conservaccedilatildeo no interior dos recipientes na expectativa de futuramente poder vir a realizar-se qualquer tipo de anaacutelise que permitisse identificar conteuacutedos Por outro lado e nes-ta mesma perspetiva a conservaccedilatildeo dos sedimentos no interior dos vasos visou tambeacutem diminuir o risco de contaminaccedilatildeo das respetivas paredes tendo-se procedido agrave sua remoccedilatildeo apenas em ambiente laboratorial Em 2013 no acircmbito de uma parceria entre os autores deste texto subme-teu-se um primeiro vaso (vaso 10) a uma anaacutelise por cromatografia gasosa com deteccedilatildeo por massa (CGDM) no Centro de Quiacutemica da Universidade do Minho detetando-se vestiacutegios de material orgacircnico (Monteiro-Rodrigues 2013 2016) Tal facto despoletou a anaacutelise de mais dois recipientes (vasos 6 e 11) que vieram a revelar igualmente resultados positivos A divulgaccedilatildeo inicial dos resultados destas anaacutelises foi feita no encontro internacional ArchaeoAnalytics que decorreu em Esposende em Setembro de 2014 ten-do os referidos resultados sido posteriormente publicados nas respetivas atas (Oliveira et al 2015) Apesar da relevacircncia da informaccedilatildeo obtida ndash e da proacutepria natureza inovadora do estudo realizado ndash atribuiu-se a esta pub-licaccedilatildeo um caraacutecter preliminar natildeo soacute porque agrave data natildeo tinha ainda sido

| 455

| 2018

feito qualquer ldquocontrolo de brancordquo (ie a anaacutelise de amostras de sedimen-to das aacutereas em torno dos vasos para despistar eventuais contaminaccedilotildees ambientais) como tambeacutem natildeo se dispunha de dados cronoloacutegicos que proporcionassem o enquadramento temporal mais preciso da realidade ar-queoloacutegica em estudoEntretanto a obtenccedilatildeo de quatro dataccedilotildees pelo radiocarbono para a anta dos Currais do Galhordas a realizaccedilatildeo de anaacutelises quiacutemicas de despiste a solo recolhido na cacircmara funeraacuteria juntamente com os dados arqueoloacutegicos decorrentes das diversas campanhas de escavaccedilatildeo permitiram compilar de forma mais detalhada a informaccedilatildeo que se dispotildee para este monumento megaliacutetico (vide Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018)Muito recentemente e ainda no contexto da referida colaboraccedilatildeo entre os autores foi possiacutevel proceder agrave anaacutelise cromatograacutefica de mais trecircs recipi-entes ceracircmicos desta feita no Instituto Superior de Engenharia do Porto encontrando-se jaacute disponiacuteveis os resultados quiacutemicos relativos a um deles (vaso 2) Neste sentido pretende-se com este texto divulgar este dado novo completando os dados anteriormente obtidos

1 A ANTA DOS CURRAIS DO GALHORDASA anta dos Currais do Galhordas localiza-se na Tapada do Souto freguesia de S Joatildeo Baptista concelho de Castelo de Vide distrito de Portalegre (Fig 1) A sua descoberta ocorrida em 1993 resultou de prospeccedilotildees desenvolvidas por elementos da Secccedilatildeo de Arqueologia da Cacircmara Municipal de Castelo de Vide Os trabalhos de escavaccedilatildeo foram realizados por um dos signataacuterios (S Monteiro-Rodrigues) em 2011 2013 e 2015 (Monteiro-Rodrigues 2013 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018 Oliveira et al 2015)Do ponto de vista arquitetoacutenico a anta dos Currais do Galhordas eacute um monu-mento megaliacutetico construiacutedo em granito com cacircmara poligonal definida por sete esteios e corredor longo ligeiramente desviado relativamente ao eixo de simetria da anta (Monteiro-Rodrigues 2013 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) Tal como acontece na maior parte dos doacutelmenes da regiatildeo o corredor cumpre a normal orientaccedilatildeo a leste (Oliveira 1995 1997) (Fig 2)A mamoa eacute composta essencialmente por blocos de granito embalados num sedimento areno-siltoso adquirindo por isso uma grande compacidade Os referidos blocos tendem a adensar-se junto agrave cacircmara funeraacuteria funcionando assim como contraforte dos respetivos esteios Sob este montiacuteculo de ldquoterra e pedrasrdquo surge um depoacutesito arenoso que parece corresponder ao ldquosolordquo an-tigo no qual foram fincados os esteios do monumento (Monteiro-Rodrigues 2013 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018)

456 |

Tendo como referecircncia outros monumentos megaliacuteticos do concelho de Cas-telo de Vide (Oliveira 1995 1997) pode dizer-se que a anta dos Currais do Galhordas eacute extremamente pobre no que toca agrave pedra talhada Os vasos ceracircmicos por sua vez aparecem em nuacutemero significativo e demonstram alguma variedade morfotipoloacutegica possivelmente reflexo das inuacutemeras utilizaccedilotildees que a anta foi tendo ao longo dos tempos (Monteiro-Rodrigues 2013 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018 Oliveira 1995 1997)Estas utilizaccedilotildees para aleacutem de gerarem a diversidade do espoacutelio teratildeo tido simultaneamente repercussotildees na proacutepria estrutura do monumento megaliacutetico criando-se em determinadas alturas eventuais novos acessos agrave cacircmara funeraacuteria e ao corredor quer atraveacutes da fraturaccedilatildeo de esteios quer

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo da anta dos Currais do Galhordas em extrato da Carta Militar de Portugal na escala 125000 folha 335 (Castelo de Vide) 1999 Coordenadas geograacutefi-cas 39ordm 27rsquo 404rsquorsquo N 07ordm 32rsquo 399rsquorsquo W Greenwich

| 457

| 2018

atraveacutes da sua substituiccedilatildeo por blocos de granito de menores dimensotildees mais facilmente amoviacuteveis ou mesmo por construccedilotildees em pedra seca (Mon-teiro-Rodrigues 2013 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018 Oliveira 1995 1997)Durante a campanha de escavaccedilatildeo de 2015 verificou-se que o corredor da anta dos Currais do Galhordas numa determinada fase foi alvo de um

Figura 2 ndash Em cima anta dos Currais do Galhordas vista de leste Em baixo planta parcial da anta

458 |

prolongamento realizado com pequenas pedras terminando numa espeacutecie de aacutetrio no lado da entrada (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) (Fig 3) Originalmente seria portanto um corredor meacutedio e natildeo um corredor longo (Gonccedilalves 1989) Neste prolongamento foram identificados artefactos ndash essencialmente placas de ldquoxistordquo e recipientes ceracircmicos com formas e de- coraccedilotildees especiacuteficas (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) ndash que segundo alguns autores podem ser considerados ldquotardiosrdquo (Boaventura e Mataloto 2013 Cardoso e Gradim 2008 Mataloto 2007 2018) Tal facto sugere que estas accedilotildees (re)construtivas teratildeo decorrido em etapas posteriores agrave construccedilatildeo do monumento (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) A uacutenica dataccedilatildeo absoluta obtida para o corredor como se veraacute de seguida remete para Idade do Bronze

2 CRONOLOGIA Fragmentos de carvatildeo recolhidos na base do esteio de cabeceira da anta dos Currais do Galhordas ndash amostra S4 ndash (Fig 4) muito possivelmente resultantes de accedilotildees relacionadas com o momento da sua construccedilatildeo permitiram dataacute-la dos uacuteltimos 300 anos do 4ordm mileacutenio cal BC (3340-

Figura 3 ndash Anta dos Currais do Galhordas vista de NE Observe-se a cacircmara funeraacuteria poligonal o corredor ldquooriginalrdquo (com uma laje de cobertura) o prolongamento do corre-dor (assinalado pelas linhas amarelas) e o possiacutevel aacutetrio

| 459

| 2018

Quadro 1 ndash Anta dos Currais do Galhordas dataccedilotildees pelo radiocarbono

-3030 cal BC 2 ) (Quadro 1) Ao que tudo indica os monumentos com cacircmara poligonal corredor meacutedio e corredor longo como Coureleiros 4 (Oliveira 1995 1997) teratildeo sido erigidos na regiatildeo pelo menos a partir dos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio cal BC (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018)A descoberta durante a campanha de escavaccedilatildeo de 2013 de uma pon-ta de seta de base convexa em quartzito xistento ndash tipologia que aponta genericamente para o Neoliacutetico final (Leisner e Leisner 1951 1965 Leis-ner 1983 Forenbaher 1999 Boaventura 2009 Andrade 2016) ndash na base do contraforte da cacircmara funeraacuteria parece estar de acordo com este resultado cronomeacutetrico (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018)As duas outras dataccedilotildees com valores enquadraacuteveis na preacute-histoacuteria ndash 2571-2307 cal BC 2 e 1683-1499 cal BC 2 ndash indicam a reutilizaccedilatildeo da anta dos Currais do Galhordas respetivamente no terceiro quartel do 3ordm mileacutenio cal BC (dataccedilatildeo obtida a partir de uma amostra recolhida na cacircmara funeraacuteria ndash amostra S1) e no segundo quartel do 2ordm mileacutenio cal BC (dataccedilatildeo obtida a partir de uma amostra recolhida sob uma laje soleira que demarca o final do corredor e o iniacutecio da cacircmara funeraacuteria ndash

460 |

amostra S2) (Fig 4) (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) Seguindo a proposta de Boaventura e Mataloto (2013) a primeira destas duas dataccedilotildees poderia articular-se com um periacuteodo jaacute posterior ao uso das placas de ldquoxistordquo gravadas ndash ldquofase 4 - poacutes iacutedolos-placardquo (Boaventura e Mataloto 2013 p 95) ndash as quais na anta dos Currais do Galhordas surgem nas terras da mamoa (fragmentos) no prolongamento do cor- redor e na cacircmara funeraacuteria havendo pelo menos duas com claras evi- decircncias de reafeiccediloamento (Monteiro-Rodrigues 2013 2016 Mon-teiro-Rodrigues e Oliveira 2018)A segunda dataccedilatildeo marca uma etapa de utilizaccedilatildeo tardia do sepulcro (fi-nal da ldquofase 4rdquo) jaacute durante o Bronze Pleno (Oliveira 1995 1997 1997a 1998 1999-2000 Boaventura e Mataloto 2013 Mataloto 2007 2018) em que se ldquopoderaacute natildeo ter gerado a construccedilatildeo destes espaccedilos funeraacuteri-os mas tatildeo soacute a utilizaccedilatildeo dos existentesrdquo (Oliveira 1995 p 678 Bueno Ramiacuterez et al 2010) A quarta dataccedilatildeo obtida a partir de sedimento orgacircnico extraiacutedo do inte-rior do vaso 10 (amostra S3) (vide infra) revelou-se anoacutemala (402-207 cal BC 2 ) (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018)

3 OS VASOS ANALISADOSOs conteuacutedos orgacircnicos analisados foram extraiacutedos de quatro vasos des- critos seguidamente (Fig 4) Vaso 6 ndash Vaso hemisfeacuterico de boca ligeiramente reentrante e laacutebio plano-convexo Apresenta pasta homogeacutenea e compacta com elementos natildeo plaacutesticos constituiacutedos por quartzo e alguma mica com dimensotildees que podem atingir os 3-4 mm A superfiacutecie interior e exterior mostram vestiacutegios de alisamento Apesar de sujeito a cozedura oxidante existem manchas negras decorrentes de atmosfera redutora A teacutecnica de fabrico natildeo eacute clara sendo provaacutevel a modelagem a partir de uma bola de barro Dimensotildees maacutex = 170 mm Alt maacutex= 91 mm Vaso 10 ndash Pequeno vaso com carena baixa bastante pronunciada corpo troncocoacutenico de paredes tendencialmente cocircncavas laacutebio plano-convexo e base convexa ligeiramente espessada Tem pasta homogeacutenea e compac-ta com grande quantidade de elementos natildeo plaacutesticos muito finos (lt 1 mm) constituiacutedos basicamente por quartzo e mica que lhe conferem uma textura algo arenosa As superfiacutecies foram bem alisadas eventualmente polidas a exterior tem cor bege a interior e o nuacutecleo cor cinzenta a negra Trata-se de um recipiente que se distingue pela sua regularidade simetria e bom acabamento Dimensotildees maacutex = 95 mm Alt maacutex = 57 mm

| 461

| 2018

Figura 4 ndash Distribuiccedilatildeo espacial dos vasos analisados ndash vasos 10 e 6 cacircmara funeraacuteria vasos 2 e 11 corredor ndash e localizaccedilatildeo das amostras de carvatildeo datadas pelo 14C (S)

Vaso 11 ndash Pequeno vaso troncocoacutenico de paredes convexas base plano-convexa e laacutebio irregular tendencialmente arredondado A espes-sura das paredes eacute muito variaacutevel e as respetivas superfiacutecies interior e exterior evidenciam alisamento sumaacuterio A pasta eacute homogeacutenea e com-pacta incluindo elementos natildeo plaacutesticos muito finos essencialmente quartzo e mica que atingem no maacuteximo 1 mm A tonalidade avermel-hada que cobre a totalidade do vaso indica cozedura oxidante ou mais provavelmente coloraccedilatildeo por engobe Tal como no vaso 6 a teacutecnica de fabrico parece ter sido a modelagem a partir de uma pequena bola de barro Apresenta vestiacutegios de fuligem Dimensotildees maacutex = 87 mm Alt maacutex = 56 mm Vaso 2 ndash Vaso globalmente semelhante ao recipiente 10 distinguin-do-se apenas pelo seu aspecto mais irregular maior concavidade das paredes carena baixa mais pronunciada e elementos natildeo plaacutesticos mais grosseiros (gt 1 mm) Dimensotildees maacutex = 95 mm Alt maacutex = 49 mm

462 |

Apesar da grande longevidade da forma expressa no vaso 6 (conheci-da desde o Neoliacutetico agrave Idade do Bronze) avanccedila-se a hipoacutetese de ele se relacionar com uma fase antiga de utilizaccedilatildeo (ou mesmo com a fase fundacional) da anta dos Currais do Galhordas Efetivamente as carac-teriacutesticas globais deste recipiente permitem a sua inclusatildeo na chamada ldquoceracircmica dolmeacutenicardquo bem documentada por exemplo na Gruta do Es-coural (Montemor-o-Novo) onde foi datada da segunda metadeuacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio BC (Arauacutejo e Lejeune 1995 Boaventura 2009) Todavia eacute provaacutevel que os conteuacutedos orgacircnicos analisados natildeo remon-tem a essa fase mas sim a uma etapa mais tardia De facto este re-cipiente apresentava uma fratura que lhe suprimia parte do bordo e da panccedila encontrando-se intencionalmente encostado a um dos esteios da cacircmara funeraacuteria aparentemente para que este impedisse a saiacuteda do seu conteuacutedo (Fig 5) Deste modo o aproveitamento deste recipiente partido sugere tratar-se de uma reutilizaccedilatildeo pelo que o material orgacircni-co identificado no seu interior deveraacute relacionar-se com uma utilizaccedilatildeo ldquorecenterdquo do monumento Por outro lado eacute de referir que o vaso 6 surgiu num ldquoniacutevelrdquo que se implantava 14 cm acima daquele de onde foi reco- lhida a amostra S1 datada do terceiro quartel do 3ordm mileacutenio cal BC (vaso 6 ndash Z 126 cm amostra S1 ndash Z 140 cm) (Fig 4) Apesar do criteacuterio es-tratigraacutefico valer pouco nestes contextos em que se verificam utilizaccedilotildees recorrentes dos espaccedilos assume-se para jaacute que a localizaccedilatildeo do vaso 6 reflete a posterioridade do seu uso relativamente agrave referida dataccedilatildeoDe acordo com diversos autores (Oliveira 1995 1997 1997a 1998 1999-2000 Mataloto 2007 2018 Ponte et al 2012 Baptista et al 2013 Mataloto et al 2013 Cardoso e Gradim 2008) as formas care-nadas como as documentadas pelos vasos 10 e 2 remetem para a Idade do Bronze do Sul de Portugal (2ordm mileacutenio BC) periacuteodo em que como se referiu muitos monumentos megaliacuteticos teratildeo sido revisitados Tendo em conta que o vaso 10 surgiu globalmente agrave mesma cota do vaso 6 e portanto a cerca de 11 cm acima da amostra S1 (2571-2307 cal BC 2 ) (vaso 10 ndash Z 129 cm vaso 6 ndash Z 126 cm amostra S1 ndash Z 140 cm) (Fig 4) pode aceitar-se que tambeacutem na anta dos Currais do Galhordas as formas com carena baixa testemunham reutilizaccedilotildees daquele periacuteo-do cronoloacutegico Ou seja o vaso 10 poderaacute eventualmente relacionar-se com o intervalo 1683-1499 cal BC 2 obtido a partir da amostra S2 exumada no corredor (Fig 4) O recipiente 2 por seu turno associava-se a um pequeno conjunto de vasos de reduzidas dimensotildees identificados sensivelmente no sector

| 463

| 2018

central do corredor interpretado como uma deposiccedilatildeo primaacuteria (Fig 6) (Monteiro-Rodrigues 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) Esta lo-calizaccedilatildeo permite relacionaacute-lo tambeacutem com a ldquouacuteltimardquo fase de utilizaccedilatildeo da anta por um lado porque se articula em termos espaciais com a referida dataccedilatildeo dos meados do 2ordm mileacutenio cal BC (Fig 4) por outro porque a referida deposiccedilatildeo sugere praacuteticas que pressupotildeem de certa forma a anulaccedilatildeo do corredor enquanto zona de passagem Ou seja estar-se-ia porventura numa etapa em que se assistiria ao aparecimento de uma nova loacutegica no que respeita agrave utilizaccedilatildeofunccedilatildeo dos diferentes espaccedilos da anta materializada em diversas alteraccedilotildees arquitectoacutenicas (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) O facto de o vaso 2 se encontrar a cerca de 13 cm abaixo da amostra S2 (1683-1499 cal BC 2 ) (Fig 4) natildeo significa obrigatoriamente e neste caso a anterioridade cronoloacutegica do vaso em relaccedilatildeo agrave amostra Tal di- ferenccedila de cota resulta apenas da existecircncia de uma certa inclinaccedilatildeo para leste do plano sobre o qual foi realizada a deposiccedilatildeo primaacuteria do corredor (Fig 6) A atribuiccedilatildeo dos vasos 10 e 2 agrave Idade do Bronze do Sudoeste pode ainda ser corroborada pelos ldquoacabamentos de grande qualidaderdquo que evidenci-am sendo que estes acabamentos parecem corresponder a uma carac-teriacutestica bastante recorrente nos recipientes ceracircmicos daquele periacuteodo (Mataloto et al 2013 p 322)

Figura 5 ndash Posiccedilatildeo do vaso 6 Observe-se a zona da frac-tura encostada ao esteio da cacircmara funeraacuteria

464 |

No entanto e natildeo obstante as evidecircncias atraacutes apresentadas a referi-da atribuiccedilatildeo cronoloacutegica deve ser encarada de forma necessariamente provisoacuteria uma vez que haacute autores que remetem os vasos com carena baixa exumados em contextos megaliacuteticos para momentos mais antigos da preacute-histoacuteria recente nomeadamente o Neoliacutetico Final e o Calcoliacutetico (Oliveira 1997 2010 Diniz 2000 Gonccedilalves e Sousa 2000 Mataloto e Boaventura 2009 Andrade 2014 Gonccedilalves e Andrade 2014 An-drade 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) Trata-se portanto de uma questatildeo que necessita de mais investigaccedilatildeo e sobretudo de mais contextos bem datados Relativamente ao vaso 11 estaacute-se uma vez mais perante uma forma que transcorre boa parte da preacute-histoacuteria recente natildeo sendo por isso faacutecil atribuir-lhe um balizamento cronoloacutegico preciso Tendo em conta o ligeiro aplanamento da base o possiacutevel engobe a sua articulaccedilatildeo com as de-posiccedilotildees efetuadas no corredor intratumular normalmente consideradas mais tardias (Oliveira 1995 1997 Boaventura 2009 Bueno Ramiacuterez et al 2010 Mataloto et al 2013 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) e ainda o facto de nesse mesmo espaccedilo ter sido obtida a referida dataccedilatildeo 14C do segundo quartel do 2ordm mileacutenio cal BC assume-se que tambeacutem ele poderaacute remeter para a Idade do Bronze do Sul do Paiacutes Por outro lado a semelhanccedila entre os conteuacutedos orgacircnicos dos vasos 6 e 11 (vide infra) poderaacute indiciar que as respetivas utilizaccedilotildees se encontram proacuteximas no tempo conectando-se como se disse com a etapa mais avanccedilada da frequentaccedilatildeo da antaEm suma os dados disponiacuteveis ndash essencialmente a localizaccedilatildeo espacial e a posiccedilatildeo estratigraacuteficatopograacutefica dos recipientes ceracircmicos anali-sados as dataccedilotildees absolutas obtidas e a tipologia dos vasos 10 e 2 ndash sugerem que os conteuacutedos orgacircnicos identificados poderatildeo remontar agrave Idade do Bronze Pleno eventualmente agrave primeira metade do 2ordm mileacutenio BC relacionando-se deste modo com os ldquouacuteltimos rituaisrdquo praticados nos espaccedilos sepulcrais megaliacuteticos Trata-se todavia de uma hipoacutetese que necessita de verificaccedilatildeo futura

4 OS CONTEUacuteDOS ORGAcircNICOS DOS RECIPIENTES CERAcircMICOS41 Amostragem e preparaccedilatildeo das amostrasOs trabalhos laboratoriais foram realizados de modo a minimizar a con-taminaccedilatildeo das amostras com resiacuteduos orgacircnicos atuais Assim todas elas foram manipuladas com luvas de nitrilo sem poacute obtidas e trata-das com recurso a lacircminas de bisturi novas Evitou-se ainda a utilizaccedilatildeo

| 465

| 2018

de embalagens de plaacutestico armazenando-se as amostras em papel de alumiacutenio para menorizar o seu contacto com materiais plastificantes Todo o material de vidro utilizado foi previamente limpo de resiacuteduos orgacircnicos por imersatildeo em soluccedilatildeo cromossulfuacuterica durante 24h A raspa-gem dos recipientes ceracircmicos para obtenccedilatildeo das amostras foi efetuada antes da sua lavagem consolidaccedilatildeo e restauro No sentido de detetar eventuais contaminaccedilotildees poacutes-deposicionais dos recipientes por influecircncia de lenccediloacuteis de aacutegua aacuteguas de escorrecircncia in-corporaccedilatildeo de materiais orgacircnicos provenientes do solo ou outros ana-

Figura 6 ndash Em cima representaccedilatildeo em alccedilado do corredor da anta dos Currais do Gal-hordas com indicaccedilatildeo do seu sector original e do prolongamento Indica-se tambeacutem a localizaccedilatildeo da deposiccedilatildeo primaacuteria Em baixo escavaccedilatildeo da deposiccedilatildeo primaacuteria constituiacute-da por diversos recipientes ceracircmicos A seta indica o vaso 2

466 |

lisou-se uma amostra de controlo constituiacuteda por sedimentos areno-silto-sos recolhidos na cacircmara funeraacuteria nas proximidades de dois dos vasos estudados (vasos 6 e 10) Tal anaacutelise foi realizada segundo os mesmos procedimentos postos em praacutetica na anaacutelise dos materiais extraiacutedos dos recipientes ceracircmicosA anaacutelise aos vasos 2 6 10 e 11 da anta dos Currais do Galhordas foi efetuada sobre aliacutequotas de massa 02 a 03 g obtidas como se disse por raspagem dos fundos e da parte interna das paredes dos recipien-tes tendo os materiais sido pulverizados num almofariz de aacutegata Efe- tuaram-se extraccedilotildees sequenciais com diclorometano e metanol (a dis-cussatildeo dos resultados foi baseada apenas nos extratos de metanol por serem os mais informativos para estas amostras) utilizando um sistema Soxhlet sendo os extratos orgacircnicos concentrados em evaporador rota-tivo transferidos para vials e secos em corrente reduzida de azoto Os extratos polares contendo grupos hidroxilo e carboxilo foram sililados por adiccedilatildeo de bis(trimetilsilil)trifluroacetamida (BSTFA) Trimetilclorosilano (TMCS) 991 seguindo-se 15 minutos num forno a 70ordmC42 Equipamento e condiccedilotildees cromatograacuteficasOs extratos recolhidos nos vasos 6 10 e 11 foram analisados num cro-matoacutegrafo Varian 4000 Performance operado no modo Full Scan (gama de massas 50 a 600 mz) nas seguintes condiccedilotildees a) coluna DB-5MS 30 m times 025 mm times 025 μm com heacutelio como gaacutes de arraste a um caudal constante de 1 mL min-1 b) 1 μL de volume de injeccedilatildeo c) temperatura do injetor 250 ordmC d) programa de temperaturas 60 ordmC (1 min) 60 a 150 ordmC (10 ordmC min-1) 150 a 290 ordmC (5 ordmC min-1) 290 ordmC (27 min) e) modo de aquisiccedilatildeo impacto electroacutenico a 70 eV f) interface e fonte ioacutenica a 290 ordmC A amostra do vaso 2 foi analisada num cromatoacutegrafo Thermo Scientifictrade ISQ recorrendo a condiccedilotildees experimentais idecircnticas ex-cetuando o uso de uma coluna cromatograacutefica mais longa (60 m) que obrigou agrave utilizaccedilatildeo de um programa cromatograacutefico necessariamente mais demorado A identificaccedilatildeo dos compostos baseou-se na anaacutelise dos padrotildees de fragmentaccedilatildeo assim como na comparaccedilatildeo dos espetros resultantes com espetros das livrarias comerciais Wiley 6 e Nist0843 Resultados e discussatildeoA anaacutelise aos sedimentos areno-siltosos recolhidos do interior da cacircmara funeraacuteria em associaccedilatildeo aos vasos 6 e 10 revelou a ausecircncia de vestiacute-gios orgacircnicos demonstrando que o material orgacircnico identificado nos vasos natildeo decorre de qualquer contaminaccedilatildeo posterior agrave sua utilizaccedilatildeoNa figura 7 apresenta-se o cromatograma do extrato metanoacutelico respeit-

| 467

| 2018

ante ao vaso 6 Optou-se por natildeo incluir o cromatograma relativo ao vaso 11 por este ser semelhante ao daquele vaso (pelo que tambeacutem as con-clusotildees obtidas satildeo similares) As figuras 8 e 9 dizem respeito a dois cromatogramas referentes ao vaso 10 e a figura 10 a um cromatograma relativo ao vaso 2Da anaacutelise efetuada aos quatro vasos podem retirar-se as seguintes con-clusotildeesVaso 6 ndash A deteccedilatildeo dos aacutecidos suciacutenico maacutelico cinacircmico fumaacuterico e tartaacuterico (Fig 7) eacute compatiacutevel com a presenccedila de vestiacutegios de sumo de uvafrutos vermelhos ou de bagos de uvafrutos vermelhos fermentados (Barnard et al 2011 Jerković et al 2011 McGovern 1998 McGovern et al 1996 McGovern e Michel 1996 Pecci et al 2013 Teodor et al 2014) A presenccedila de colesterol aacutecido fitacircnico e alguns aacutecidos carboxiacutelicos in-saturados como os aacutecidos eruacutecico (C221cis9ω9) 9-tetradecenoico (C141cis9ω7) (miristoleico) e trans-9-hexadecenoico (C161trans9ω7) (palmitoleico) sugerem a existecircncia de vestiacutegios de peixe (Hansel et al 2004 Hansel e Evershed 2009) Esta hipoacutetese eacute reforccedilada pela pre-senccedila dos aminoaacutecidos glicina aspargina alanina e tirosina que podem ter origem na hidroacutelise das proteiacutenas de peixe (Cowey 1994 Degens et

Figura 7 ndash Cromatograma em modo full scan do extrato de metanol referente ao vaso 6

468 |

al 1969)Os compostos oleanitrilo oleamida e fitol (Vaccaro et al 2013) assim como a hexadecanamida e octadecanamida sugerem a presenccedila de algas ou plantas aquaacuteticas (Dembitsky et al 2000 Subhashini et al 2013 Bai et al 2014) corroborando a hipoacutetese anteriormente avanccedilada sobre a presenccedila de peixeOs extratos orgacircnicos encontram-se dominados pelo aacutecido palmiacutetico exi- bindo quantidades mais reduzidas dos aacutecidos miriacutestico e esteaacuterico num padratildeo tiacutepico da degradaccedilatildeo de oacuteleos ou gorduras De facto tanto as gorduras animais como os oacuteleos de algumas plantas satildeo ricos em tria-cilgliceroacuteis que com o tempo se degradam a diacilgliceroacuteis monoacil-gliceroacuteis e aacutecidos carboxiacutelicos encontrados abundantemente na amostra estudada Foram ainda identificados diversos compostos carateriacutesticos de oacuteleos de plantas como o isoeugenol linalol e β-sitosterol (McGovern et al 2009) A deteccedilatildeo de aacutecido pimaacuterico e de aacutecido desidroabieacutetico um produto da oxidaccedilatildeo do aacutecido abieacutetico (Jerkovic et al 2011) suporta a hipoacutetese de se tratar de vestiacutegios de plantas resinosas como o pinheiro (Caseiro e Oliveira 2012) A ausecircncia de levoglucosano um marcador molecular da queima incompleta de biomassa vegetal que se encontra em quantidades apreciaacuteveis nas partiacuteculas da pluma de fumo (Caseiro e Oliveira 2012 Fabbri et al 2009 Fraser e Lakshmanan 2000 Gao

Figura 8 ndash Cromatograma em modo full scan do extrato de metanol referente ao vaso 10

| 469

| 2018

et al 2016 Kirchgeorg et al 2014 Kuo et al 2008 Simoneit 2002 Simoneit et al 1999) indica que o conteuacutedo do vaso natildeo foi cozinhadoA interpretaccedilatildeo destes resultados sugere que o conteuacutedo orgacircnico do recipiente seria composto por bagos de uva ou de frutos vermelhos ndash destaca-se o facto das evidencias quiacutemicas detetadas neste estudo natildeo permitirem diferenciar vinho da fermentaccedilatildeo natural de bagos de uvafrutos vermelhos ndash e peixe natildeo cozinhado A este propoacutesito eacute de referir a existecircncia de um curso de aacutegua a poucas centenas de metros da anta (ribeira de Nisa) onde os peixes poderiam ter sido capturadosTanto quanto se conhece encontram-se no Iratildeo as evidecircncias quiacutemi-cas mais antigas do consumo de vinho remontando ao neoliacutetico (5400 a 5000 BC) os recipientes onde este foi detetado (McGovern 1998 McGovern et al 1996 McGovern et al 1997) Os vestiacutegios encontrados na Peniacutensula Ibeacuterica satildeo contudo bem mais recentes Aqui a produccedilatildeo viniacutecola teve iniacutecio ao que tudo indica durante a primeira metade do 1ordm mileacutenio BC devendo-se aos contactos entre a populaccedilatildeo indiacutegena e as coloacutenias comerciais Feniacutecias e Gregas (Buxoacute 2008 Nuacutentildeez e Walker 1989) De facto ambas as civilizaccedilotildees introduziram gradualmente a vi-deira da espeacutecie Vitis vinifera L substituindo gradualmente a espeacutecie selvagem Vitis vinifera subsp sylvestris variedade abundante durante o Quaternaacuterio (Iriarte-Chiapusso et al 2017) particularmente apoacutes a uacutelti-ma glaciaccedilatildeo (Lehmann e Boumlhm 2011) Esta videira selvagem seria mais

Figura 9 ndash Sobreposiccedilatildeo de cromatogramas em modo SIM (Selected Ion Monitoring) rela- tivos aos aacutecidos laacuteurico (mz 257) e miriacutestico (mz 285)

470 |

frequente no sul da Europa concentrando-se especialmente nas mar-gens dos rios em aacutereas florestadas e em locais huacutemidos sobretudo de cota baixa (Arnold et al 1998 Levadoux 1956) Como acima se referiu a proximidade da anta dos Currais do Galhordas de uma linha de aacutegua poderia corroborar a existecircncia de uvas silvestres entre os elementos orgacircnicos identificadosVaso 10 ndash Na figura 8 apresenta-se um cromatograma do extrato de metanol obtido a partir do vaso 10 encontrando-se assinalados os compostos mais relevantes Os resiacuteduos orgacircnicos mostram compos-tos tiacutepicos de gorduras em elevado estado de degradaccedilatildeo De facto os triacilgliceroacuteis presentes em gorduras animais e em oacuteleos vegetais de-gradam-se rapidamente em aacutecidos gordos exibindo glicerol e elevadas quantidades de aacutecidos n-alcanoacuteicos palmiacutetico (C160) e esteaacuterico (C180) cujos picos se destacam claramente no cromatograma e contribuiccedilotildees menores dos aacutecidos de cadeia mais curta Em condiccedilotildees de elevado grau de degradaccedilatildeo eacute frequente encontrar-se apenas glicerol e aacutecidos gordos livres indicando a degradaccedilatildeo total dos triacilgliceroacuteis A razatildeo entre os aacutecidos C160 e C180 eacute por vezes usada como um indicador da origem ani- mal ou vegetal das gorduras encontradas (Copley et al 2005 Evershed et al 2002) Se o aacutecido palmiacutetico se apresentar mais abundante que o esteaacuterico poderaacute indiciar a presenccedila de gordura vegetal (Copley et al 2005) enquanto que uma maior quantidade de aacutecido esteaacuterico aponta para a origem animal da gorduraNeste contexto vaacuterios autores associaram a ocorrecircncia de diferentes razotildees C160C180 agrave presenccedila de material orgacircnico de origens distintas (Copley et al 2005 Dudd et al 1999 Romanus et al 2007)Assimi) C160C180 lt 13 - gorduras de animais ruminantesii) 22 lt C160C180 lt 49 - leite e derivados ou gorduras de animais natildeo ruminantesiii) 40 lt C160C180 lt 94 - azeite

Na anaacutelise deste vaso detetou-se glicerol aacutecidos orgacircnicos saturados como o suciacutenico e o laacutectico aacutecidos gordos insaturados como o oleico linoleico e palmitoleico e elevadas concentraccedilotildees dos aacutecidos palmiacutetico e esteaacuterico relativamente aos restantes aacutecidos com uma razatildeo C160C180

entre 14 e 25 De acordo com as informaccedilotildees apresentadas anterior-mente esta razatildeo sugere a presenccedila de restos de leite ou de gordura de animais natildeo ruminantes (Dudd et al 1999 Copley et al 2005 Roma-

| 471

| 2018

nus et al 2007)A distinccedilatildeo entre gorduras animais ou leite eacute normalmente efetuada por teacutecnicas isotoacutepicas (Baeten et al 2013 Copley et al 2005 Evershed et al 2002 Regert 2011 Romanus et al 2007) que natildeo se encon-traram disponiacuteveis para este trabalho Contudo sabendo que a de-gradaccedilatildeo do leite origina quantidades mais elevadas de aacutecidos de menor cadeia como os aacutecidos laacuteurico (C120) e miriacutestico (C140) (Cramp et al 2014) pode distinguir-se entre a presenccedila de resiacuteduos de carne ou de leite avaliando-se os niacuteveis destes dois aacutecidosNa figura 9 apresentam-se os cromatogramas relativos a estes dois com-postos obtidos por extraccedilatildeo dos iotildees com mz 257 e 285 correspon-dendo respetivamente aos aacutecidos laacuteurico e miriacutestico Da anaacutelise destes cromatogramas podem observar-se picos intensos sugerindo tratar-se de leite de acordo com os pressupostos anteriormente mencionados Esta conclusatildeo eacute tambeacutem suportada pela presenccedila de aminoaacutecidos proveni-entes da degradaccedilatildeo de proteiacutenas animais pelo colesterol e pelas for-mas oxidadas deste compostoEncontram-se ainda compostos resultantes da queima de biomassa ve- getal particularmente de madeiras resinosas como o pinheiro (levoglu-cosano e aacutecido desidroabieacutetico) (Simoneit et al 1999 Jerkovic et al 2011) indicando a utilizaccedilatildeo destas no aquecimentopreparaccedilatildeo dos materiais orgacircnicos ou eventualmente na iluminaccedilatildeo da antaA presenccedila de compostos carateriacutesticos de oacuteleos de plantas como o isoeu-genol oleanitrilo quercetina e fitol pode indicar i) uma contaminaccedilatildeo ou reutilizaccedilatildeo do vaso ou ii) a utilizaccedilatildeo de plantas juntamente com o leite como ainda se faz na preparaccedilatildeo de queijo da Serra da Estrela Refira-se que o leite de animais domeacutesticos nomeadamente de ovicapriacutedeos estaacute normalmente associado a estas primeiras sociedades agro-pastoris Vaso 11 ndash Os resultados da anaacutelise quiacutemica ao vaso 11 encontram-se em linha com os apresentados para o vaso 6 pelo que como referido se optou por natildeo se apresentar os cromatogramas respetivos A interpretaccedilatildeo destes resultados sugere que o conteuacutedo orgacircnico do recipiente ceracircmico seria composto por bagos de uvafrutos vermelhos e peixe O conteuacutedo do vaso teraacute sido cozinhado ou exposto ao fumoVaso 2 ndash Na figura 10 apresenta-se um cromatograma obtido a partir da anaacutelise do extrato de metanol do vaso 2 O cromatograma revelou-se mais simples do que os outros relativos aos vasos previamente estuda-dos (Figs 7 a 9) tendo sido detetado um menor nuacutemero de traccediladores orgacircnicos Da sua anaacutelise destaca-se a forte presenccedila de oleanitrilo

472 |

composto que pode dever-se a uma reaccedilatildeo do aacutecido oleico em ambien-tes alcalinos sendo por isso considerado um indicador para a presenccedila de oacuteleos vegetais Como se referiu anteriormente a deterioraccedilatildeo dos triacilgliceroacuteis pre-sentes em gorduras animais e em oacuteleos vegetais origina reaccedilotildees de degradaccedilatildeo produzindo di e monoacilgliceroacuteis aacutecidos gordos e glicerol De facto nesta anaacutelise detetaram-se dois monoacilgliceroacuteis a monopal-mitina e a monoestearina os aacutecidos n-alcanoacuteicos palmiacutetico (C160) e esteaacuterico (C180) e glicerol Este conjunto de compostos sugere a pre-senccedila de resiacuteduos de oacuteleos vegetais fortemente degradados Todavia a ausecircncia de marcadores quiacutemicos adicionais torna difiacutecil inferir sobre a constituiccedilatildeo do oacuteleo vegetal em questatildeo No entanto da anaacutelise cromato-graacutefica destaca-se a elevada quantidade de oleanitrilo (como se disse um composto proveniente da degradaccedilatildeo do aacutecido oleico em ambientes alcalinos) relativamente aos restantes compostos detetados Sabendo que as azeitonas satildeo particularmente ricas em aacutecido oleico podendo este atingir 60 a 85 dos aacutecidos gordos presentes no azeite (Amaral et al 2010) a elevadiacutessima quantidade de oleanitrilo detetada pode indi-ciar tratar-se de resiacuteduos daquele fruto muito provavelmente da sua vari-ante silvestre (Olea europea L var oleaster) (Monteiro-Rodrigues 2011 Duque Espino 2004 2005) Todavia a ausecircncia de outros indicadores quiacutemicos como por exemplo os fitoesteroacuteis aconselha alguma cautela

Figura 10 ndash Cromatograma em modo full scan do extrato de metanol referente ao vaso 2 Note-se que a linha de base do cromatograma foi ampliada de forma a tornar visiacuteveis os picos de intensidade mais reduzida Em consequecircncia a intensidade maacutexima do pico 6 deve considerar-se como sendo cerca de 5 vezes superior ao maacuteximo representado

| 473

| 2018

nesta interpretaccedilatildeoSalienta-se ainda a ausecircncia de levoglucosano natildeo se tratando por isso de um conteuacutedo cozinhado

5 CONCLUSOtildeESTendo em conta os dados obtidos e assumindo o enquadramento tem-poral acima proposto pode afirmar-se que na anta dos Currais do Gal-hordas as ldquooferendasrdquo funeraacuterias do 2ordm mileacutenio BC contemplavam entre outros elementos produtos alimentares diversificados sugerindo praacuteti-cas de comensalidade associadas aos cerimoniais fuacutenebres desta eacutepoca (eg Porfiacuterio e Serra 2010 Bueno Ramiacuterez et al 2010) Alguns destes produtos tais como os frutos e o peixe seriam obtidos atraveacutes de atividades de tipo caccedilapesca-recoleccedilatildeo outros como o leite e derivados ligar-se-iam agraves atividades produtoras desenvolvidas essen-cialmente a partir do Neoliacutetico meacutedio (Bueno Ramiacuterez et al 2010 Mon-teiro-Rodrigues 2010 2011) Deduz-se portanto que a praacutetica de ambas as estrateacutegias de obtenccedilatildeo de recursos alimentares ndash caccedila-recoleccedilatildeo e criaccedilatildeo de animais-agricultura ndash estaria ainda em curso durante a Idade do Bronze o que de certo modo permite estender no tempo a noccedilatildeo de ldquoeconomia de amplo espectrordquo (eg Flannery 1969) Este aspeto mais do que traduzir a permanecircncia de um sistema arcaizante poderaacute antes justificar o aparecimento de sociedades cada vez mais sedentaacuterias com maior ligaccedilatildeo agrave terra maior expressatildeo demograacutefica e maior complexi-dade socio-culturalNoutros contextos funeraacuterios e nalguns habitacionais genericamente de-sta fase cronoloacutegica e geograficamente mais ou menos proacuteximos da anta dos Currais do Galhordas a presenccedila de vestiacutegios de produtos alimen-tares em recipientes ceracircmicos tem vindo a ser igualmente documenta-da Na Bacia Interior do Tejo por exemplo Bueno Ramiacuterez et al (2008 2010 2010a 2013) assinalaram a presenccedila de gorduras animais sal restos vegetais (eg trigo e cevada) mel (eou hidromel) peixe e cerveja entre outros em vasos exumados em grutas e em monumentos megaliacuteti-cos com distintas tipologiasNa Sub-meseta Norte em vasos campaniformes identificaram-se vestiacute-gios de cerveja e de hidromel (Delibes et al 2009 Guerra Doce 2006) na mesma regiatildeo mas em vasos dos ldquohorizontesrdquo Protocogotas e Cogo-tas I reconheceu-se um preparado de leite com cereais e gordura de carne (Guerra Doce et al 2011-2012)Nos siacutetios de Perdigotildees e Bela Vista 5 com ocupaccedilotildees dos finais do 4ordm e

474 |

do 3ordm mileacutenio BC a aplicaccedilatildeo de cromatografia gasosa com deteccedilatildeo por massa agrave anaacutelise de fragmentos ceracircmicos permitiu a deteccedilatildeo de liacutepidos e aparentemente de uma espeacutecie de ldquosopardquo ou guisado com carne este uacuteltimo nos Perdigotildees (vaso 5153) (Bastos 2015) Num outro contexto ndash o dos hipogeus e das cistas do Bronze Meacutedio do Baixo Alentejo (Frade et al 2012) ndash o uso de outras teacutecnicas que per-mitem igualmente a deteccedilatildeo de material orgacircnico em contextos arqueo- loacutegicos (neste caso a espectroscopia de infravermelho FTIR e piroacutelise seguida de cromatografia gasosa acoplada agrave espectrometria de massa Py-GCMS) possibilitou a identificaccedilatildeo de gordura de suiacuteno cera de abe- lha e proacutepolis em lajes que integram monumentos funeraacuterios daquele tipoNo que diz respeito agrave azeitona e ao zambujeiro os seus vestiacutegios satildeo bem conhecidos em diversos siacutetios preacute-histoacutericos peninsulares quer atraveacutes de macro-restos (normalmente carbonizados) quer atraveacutes de poacutelenes Esta ocorrecircncia tatildeo frequente em contextos arqueoloacutegicos remete para a importacircncia que seguramente fruto e madeira teriam para as sociedades do passado (Monteiro-Rodrigues 2011 Duque Espino 2004 2005)Em suma a realizaccedilatildeo mais sistemaacutetica de procedimentos quiacutemicos que permitam identificar conteuacutedos orgacircnicos em vasos preacute-histoacutericos (bem como noutros elementos arqueoloacutegicos) contribuiraacute de forma decisiva para um melhor conhecimento das paleodietas (sobretudo quando ar-ticulados com a anaacutelise dos isoacutetopos estaacuteveis de carbono e de azoto do colageacutenio de ossos humanos) dos rituais funeraacuterios e das estrateacutegias de subsistecircncia das sociedades do passado No caso do Megalitismo do Sul de Portugal e no sentido de melhor contextualizar este tipo de anaacutelises seria fundamental desenvolver projetos que incidissem na dataccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos e sempre que possiacutevel na dataccedilatildeo dos recipi-entes ceracircmicos neles exumados

AGRADECIMENTOSOs trabalhos de escavaccedilatildeo e de restauro efetuados na anta dos Cur-rais do Galhordas bem como os estudos complementares realizados (dataccedilotildees pelo radiocarbono e identificaccedilatildeo dos conteuacutedos orgacircnicos dos vasos ceracircmicos por CGDM) foram integralmente financiados pelo Municiacutepio de Castelo de Vide a quem os autores agradecem Agrade-cem tambeacutem a Joatildeo Pedro Tereso (CIBIO) a identificaccedilatildeo taxonoacutemica dos carvotildees datados Ceacutesar Oliveira agradece ao Instituto de Ciecircncias e Tecnologias Agraacuterias

| 475

| 2018

e Agro-Alimentares - Porto (ICETA) o seu contrato ao abrigo do projeto NORTE-01-0145-FEDER-000011

BIBLIOGRAFIAAMARAL Joana S MAFRA Isabel OLIVEIRA M Beatriz PP (2010) ndash Characterization of three Portuguese varietal olive oils based on Fatty Acids Triacylglycerols Phytosterols and Vitamin E profiles Application of chemometrics In Victor R Preedy and Ronald Ross Watson (Eds) Olives and Olive Oil in Health and Disease Prevention Oxford Academic Press p 581-589ANDRADE Marco A S (2014) ndash Contextos perdidos obscurantismos heleacutenicos espoacutelio de um mon-umento megaliacutetico de Alter do Chatildeo pertencente agrave colecccedilatildeo de Manuel Heleno Revista Portuguesa de Arqueologia 17 p 35-60ANDRADE Marco A S (2016) ndash Sobre os pequenos vasos carenados do megalitismo Alto-alentejano Questotildees morfoloacutegicas e cronologia In Inecircs Pinto Coelho Joana Bento Torres Luiacutes Serratildeo Gil Tiago Ramos (Eds) Entre Ciecircncia e Cultura da Interdisciplinaridade agrave Transversalidade da Arqueologia Actas das VIII Jornadas de Jovens em Investigaccedilatildeo Arqueoloacutegica CHAM-FCSHUNL e IEM-FCSHUNL p 107-116ARAUacuteJO Ana C LEJEUNE Marylise (1995) ndash Gruta do Escoural Necroacutepole Neoliacutetica e Arte Rupes-tre Paleoliacutetica IPPAR (Trabalhos de Arqueologia 8) ARNOLD C GILLET F GOBAT J M (1998) ndash Situations de la vigne sauvage vitis vinifera subsp silvestris en Europe Vitis 37 p 159-170 BAETEN Jan JERVIS Ben DE VOS Dirk WAELKENS Marc (2013) ndash Molecular evidence for the mixing of meat fish and vegetables in Anglo-Saxon coarseware from Hamwic UK Archaeometry 55 p 1150-1174BAI Xiujun DUAN Peigao XU Yuping ZHANG Aiyun SAVAGE Phillip E (2014) ndash Hydrother-mal catalytic processing of pretreated algal oil a catalyst screening study Fuel 120 p 141-149BAPTISTA Liacutedia OLIVEIRA Lurdes SOARES Antoacutenio M GOMES Seacutergio (2013) ndash Contributos para a discussatildeo da construccedilatildeo da paisagem nas bacias das Ribeiras do Aacutelamo e do Pisatildeo (Beringel e Trigaches Beja) entre IVordm e Iordm Mileacutenios aC In J Jimeacutenez Aacutevila Macarena Bustamante M Garciacutea Cabezas (Eds) Actas del VI Encuentro de Arqueologiacutea del Suroeste Peninsular (Villafranca de los Bar-ros 4-6 de Octubre de 2012) Ayuntamiento de Villafranca de Los Barros p 792-827 BARNARD Hans DOOLEY Alek N ARESHIAN Gregory GASPARYAN Boris FAULL Kym (2011) ndash Chemical evidence for wine production around 4000 BCE in the Late Chalcolithic near East-ern Highlands Journal of Archaeological Science 38 p 977-984BASTOS Beatriz (2015) ndash Potential of lipid analysis on Prehistoric Portuguese pottery Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 10 ERANIA p 21-31BOAVENTURA Rui (2009) ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa Dissertaccedilatildeo de Doutora-mento apresentada agrave Universidade de LisboaBOAVENTURA Rui MATALOTO Rui (2013) ndash Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 16 p 81-101 BUENO RAMIREZ Primitiva BARROSO-BERMEJO Rosa BALBIacuteN-BERHMANN Rodrigo (2008) ndash The necropolis of Era de La Laguna Santiago de Alcaacutentara Caacuteceres in the context of the Megalithism of the Central Region of the International Tagus In Primitiva Bueno Ramirez Rosa Bar-roso-Bermejo Rodrigo de Balbiacuten-Berhmann (Eds) Graphical markers and megalith builders in the International Tagus BAR International Series 1765 41-59 BUENO RAMIREZ Primitiva BARROSO-BERMEJO Rosa BALBIacuteN-BERHMANN Rodrigo

476 |

(2010) ndash Megalitos en la cuenca interior del Tajo Munibe (Suplemento) 32 p 152-187 BUENO RAMIREZ Primitiva BARROSO-BERMEJO Rosa BALBIacuteN-BERHMANN Rodrigo (2010a) ndash Entre lo visible y lo invisible registros funerarios de la Prehistoria reciente de la Meseta Sur In Primitiva Bueno Antonio Gilman Concha Martiacuten Morales F-Javier Saacutenchez-Palencia (Eds) Arque-ologiacutea Sociedad Territorio y Paisaje Estudios sobre Prehistoria Reciente Protohistoria y Transicioacuten al Mundo Romano Homenaje a Mordf Dolores Fernaacutendez Posse Madrid 53-73 BUENO RAMIREZ Primitiva BARROSO-BERMEJO Rosa BALBIacuteN-BERHMANN Rodrigo (2013) ndash Interior regions and places of collective memory the megalithism of the interior basin of the Tagus Iberian Peninsula A reflection after reading of the Tara project In Muiris OrsquoSullivan Chris Scarre Maureen Doyle (Eds) TARA ndash From the Past to the Future Towards a New Research Agenda Dublin 484-501 BUXOacute Ramon (2008) ndash The agricultural consequences of colonial contacts on the Iberian Peninsula in the first millennium BC Vegetation History and Archaeobotany 17 p 145-154CARDOSO Joatildeo L GRADIM Alexandra (2008) A necroacutepole de cistas da Idade do Bronze das Soal-heironas Alcoutim Primeira notiacutecia dos trabalhos realizados e dos resultados obtidos Promontoria 6 (Ano 6) 223-248CASEIRO Alexandre OLIVEIRA Ceacutesar (2012) ndash Variations in wood burning organic marker con-centrations in the atmospheres of four European cities Journal of Environmental Monitoring 14 p 2261-2269COPLEY Mark S BLAND Helen A ROSE P HORTON M EVERSHED Richard P (2005) ndash Gas chromatographic mass spectrometric and stable carbon isotopic investigations of organic residues of plant oils and animal fats employed as illuminants in archaeological lamps from Egypt Analyst 130 p 860-871 COWEY C B (1994) ndash Amino acid requirements of fish a critical appraisal of present values Aqua-culture 124 p 1ndash11 CRAMP Lucy JONES Jennifer SHERIDAN Alison SMYTH Jessica WHELTON Helen MUL-VILLE Jacqui SHARPLES Niall EVERSHED Richard P (2014) ndash Immediate replacement of fishing with dairying by the earliest farmers of the northeast Atlantic archipelagos Proceedings of the Royal Society B 281 p 1-8DEGENS Egon T DEUSER W G HAEDRICH R L (1969) ndash Molecular structure and composition of fish otoliths Marine Biology 2 p 105-113DELIBES DE CASTRO Germaacuten GUERRA DOCE Elisa TRESSERRAS-JUAN Jordi (2009) ndash Tes-timonios de consumo de cerveza durante la Edad del Cobre en la tierra de Olmedo (Valladolid) In M I del Val Valdivieso P Martiacutenez Sopena (Eds) Castilla y el mundo feudal Homenaje al profesor Julio Valdeoacuten Tomo III Junta de Castilla y Leoacuten p 585-599 DEMBITSKY Valery M SHKROB Ilia ROZENTSVET Olga A (2000) ndash Fatty acid amides from freshwater green alga Rhizoclonium hieroglyphicum Phytochemistry 54 p 965-967DINIZ Mariana (2000) ndash Neolitizaccedilatildeo e megalitismo arquitecturas do tempo no espaccedilo Muitas An-tas Pouca Gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo (Trabalhos de Arqueologia 16) p 105-116DUDD Stephanie N EVERSHED Richard P GIBSON Alex M (1999) ndash Evidence for varying pat-terns of exploitation of animal products in different prehistoric pottery traditions based on lipids pre-served in surface and absorbed residues Journal of Archaeological Science 26 p 1473-1482DUQUE ESPINO David M (2004) ndash La gestioacuten del paisaje vegetal en la Prehistoria Reciente y Pro-tohistoria en la Cuenca Media del Guadiana a partir de la Antracologiacutea Tese de Doutoramento Uni-verdidad de Extremadura

| 477

| 2018

DUQUE ESPINO David M (2005) ndash Resultados antracoloacutegicos de los yacimientos de la Coudelaria de Alter do Chatildeo y su integracioacuten en las secuencias paleoecoloacutegicas y paleoambientales de la Prehistoria Reciente del Suroeste peninsular Revista Portuguesa de Arqueologia Vol 8 n 1 p 21-41EVERSHED Richard P DUDD Stephanie N COPLEY Mark S BERSTAN Robert STOTT An-drew W MOTTRAM Hazel BUCKLEY Stephen A CROSSMAN Zoe (2002) ndash Chemistry of Ar-chaeological Animal Fats Accounts of Chemical Research 35 p 660-668FABBRI Daniele TORRI Cristian SIMONEIT Bernd R T MARYNOWSKI Leszek RUSHDI Ahmed I FABIAŃSKA Monika J (2009) ndash Levoglucosan and other cellulose and lignin markers in emissions from burning of Miocene lignites Atmospheric Environment 43 p 2286-2295FRASER Matthew P LAKSHMANAN Kalyan (2000) ndash Using levoglucosan as a molecular marker for the long-range transport of biomass combustion aerosols Environmental Science amp Technology 34 p 4560-4564FRADE Joseacute C SOARES Antoacutenio M CANDEIAS Antoacutenio RIBEIRO Maria I M NUNES DA PONTE Teresa SERRA Miguel PORFIacuteRIO Eduardo (2012) ndash Beeswax and propolis as sealants of funerary chambers during the Middle Bronze Age in the South-Western Iberian Peninsula In Proceed-ings of the 39th International Symposium for Archaeometry Centre for Archaeological Science Leuven p 141-145FLANNERY Kent (1969) ndash Origins and ecological effects of early domestication in Iran and the Near East In Peter J Ucko G W Dimbleby (Eds) The Domestication and Exploitation of Plants and Ani-mals Chicago p 73-100FORENBAHER Staso (1999) ndash Production and Exchange of Bifacial Flaked Stone Artifacts during the Portuguese Chalcolithic BAR International Series 756 GAO Xiaodong NORWOOD Matthew FREDERICK C MCKEE A MASIELLO Caroline A LOUCHOUARN Patrick (2016) ndash Organic geochemical approaches to identifying formation processes for middens and charcoal-rich features Organic Geochemistry 94 p 1-11GONCcedilALVES Viacutector S (1989) ndash Megalitismo e metalurgia no Alto Algarve Oriental uma aproxi-maccedilatildeo integrada Lisboa UNIARQINICGONCcedilALVES Viacutector S ANDRADE Marco A (2014) ndash Pequenos siacutetios objectos perdidos artefactos sem contexto 2 Antas ineacuteditas do grupo megaliacutetico Crato-Nisa (Anta das Romeiras e Anta da Ferra-nha) Revista Portuguesa de Arqueologia Vol 17 p 61-94 GONCcedilALVES Viacutector S SOUSA Ana C (2000) ndash O grupo megaliacutetico de Reguengos de Monsaraz e a evoluccedilatildeo do megalitismo no Ocidente Peninsular (espaccedilos de vida espaccedilos de morte sobre as antigas sociedades camponesas em Reguengos de Monsaraz In VS Gonccedilalves (Coord) Muitas antas pouca gente Actas do Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo (Trabalhos de Arqueologia 16) p 11-104 GUERRA DOCE Elisa (2006) ndash Sobre la funcioacuten y el significado de la ceraacutemica campaniforme a la luz de los anaacutelisis de contenidos Trabajos de Prehistoria 63 (1) p 69-84 GUERRA DOCE Elisa DELIBES DE CASTRO Germaacuten RODRIacuteGUEZ MARCOS Joseacute A CRE-SPO DIacuteEZ Manuel GOacuteMEZ PEacuteREZ Alicia HERRAacuteN MARTIacuteNEZ Joseacute I TRESSERRAS JUAN Jordi MATAMALA MELLIacuteN Juan C (2011-2012) ndash Residuos de productos laacutecteos y de grasa de carne en dos recipientes ceraacutemicos de la Edad del Bronce del Valle Medio del Duero BSAA Arqueologiacutea LXXVII-LXXVIII p 105-137 HANSEL Fabricio A COPLEY Mark S MADUREIRA Luiz A S EVERSHED Richard P (2004) ndash Thermally produced ω-(o-alkylphenyl)alkanoic acids provide evidence for the processing of marine products in archaeological pottery vessels Tetrahedron Letters 45 p 2999-3002 HANSEL Fabricio A EVERSHED Richard P (2009) ndash Formation of dihydroxy acids from Z-mono-unsaturated alkenoic acids and their use as biomarkers for the processing of marine commodities in

478 |

archaeological pottery vessels Tetrahedron Letters 50 p 5562-5564IRIARTE-CHIAPUSSO Maria-Joseacute OCETE-PEacuteREZ C A HERNAacuteNDEZ-BELOQUI Begontildea OCETE-RUBIO R (2017) ndash Vitis vinifera in the Iberian Peninsula a review Plant Biosystems - An International Journal Dealing with all Aspects of Plant Biology 151 p 245ndash257JERKOVIĆ Igor MARIJANOVIĆ Zvonimir GUGIĆ Mirko ROJE Marin (2011) ndash Chemical profile of the organic residue from ancient amphora found in the Adriatic Sea determined by direct GC and GC-MS analysis Molecules 16 p 7936-7948KIRCHGEORG Torben SCHUumlPBACH Simon KEHRWALD Natalie MCWETHY David B BARBANTE Carlo (2014) ndash Method for the determination of specific molecular markers of biomass burning in lake sediments Organic Geochemistry 71 p 1-6KUO Li-Jung HERBERT Bruce E LOUCHOUARN Patrick (2008) ndash Can levoglucosan be used to characterize and quantify charcharcoal black carbon in environmental media Organic Geochemistry 39 1466-1478LEHMANN Jan BOumlHM Jorge (2011) ndash Reflections of the presence of Vitis sylvestris during the Ice Age in Iberia In J Boumlhm (Ed) Atlas das castas da Peniacutensula Ibeacuterica Lisbon Dinalivro p 88-90LEISNER Georg LEISNER Vera (1951) ndash Antas do concelho de Reguengos de Monsaraz Materiais para o estudo da cultura megaliacutetica em Portugal Lisboa Instituto para a Alta Cultura (Reediccedilatildeo de 1985 UNIARCH)LEISNER Georg LEISNER Vera (1956) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Vol 1 Berlin Walther de GruyterLEISNER Georg LEISNER Vera (1965) Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Vol 3 Berlin Walther de GruyterLEISNER Vera (1983) ndash As Diferentes Fases do Neoliacutetico em Portugal Arqueologia 7 p 7-15LEVADOUX Louis (1956) ndash Les populations sauvages et cultiveacutees des Vitis vinifera L Institut National de la Recherche AgronomiqueMATALOTO Rui (2007) ndash Paisagem memoacuteria e identidade tumulaccedilotildees megaliacuteticas no poacutes-megalit-ismo alto-alentejano Revista Portuguesa de Arqueologia Vol 10 1 p 123-140MATALOTO Rui (2018) ndash Whorsquos U Um santuaacuterio da Idade do Bronze no Cromlech do Arneiro dos Pinhais (LavreCiborro-Montemor-o-Novo) Almansor 3 3ordf seacuterie p 5-42MATALOTO Rui BOAVENTURA Rui (2009) ndash Entre vivos e mortos nos IV e III mileacutenios ane do Sul de Portugal um balanccedilo relativo do povoamento com base em dataccedilotildees pelo radiocarbono Revista Portuguesa de Arqueologia Vol 2 2 p 31-77MATALOTO Rui MARTINS Joseacute M M SOARES Antoacutenio M M (2013) ndash Cronologia absoluta para o Bronze do Sudoeste Periodizaccedilatildeo base de dados tratamento estatiacutestico Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras 20 p 303-338MCGOVERN Patrick E MIRZOIAN Armen HALL Gretchen R (2009) ndash Ancient Egyptian herbal wines Proceedings of the National Academy of Sciences 106 p 7361-7366MCGOVERN Patrick E (1998) ndash Wine for eternity - How molecular archaeologists identified the contents of vessels found in the tomb of an Egyptian king Archaeology 51 p 28-32MCGOVERN Patrick E GLUSKER Donald L EXNER Lawrence J VOIGT Mary M (1996) ndash Neolithic resinated wine Nature 381 p 480-481MCGOVERN Patrick E HARTUNG Ulrich BADLER Virginia R GLUSKER Donald L EXNER Lawrence J (1997) ndash The beginnings of winemaking and viniculture in the ancient Near East and Egypt Expedition The magazine of the University of Pennsylvania 39 p 3-21MCGOVERN Patrick E MICHEL Rudolph H (1996) ndash The analytical and archaeological challenge of detecting ancient wine two case studies from the ancient Near East In P E McGovern S J Fleming

| 479

| 2018

S H Katz (Eds) The origins and ancient history of wine New York Gordon and Breach p 57-67MONTEIRO-RODRIGUES Seacutergio (2010) ndash Algumas consideraccedilotildees acerca do Processo de Neo-litizaccedilatildeo no Norte de Portugal In Ana M S Bettencourt M I Caetano Alves S Monteiro-Rodrigues (Eds) Variaccedilotildees Paleoambientais e Evoluccedilatildeo Antroacutepica no Quaternaacuterio do Ocidente Peninsular Bra-ga APEQ e CITCEM p 73-82MONTEIRO-RODRIGUES Seacutergio (2011) ndash Pensar o Neoliacutetico Antigo Contributo para o Estudo do Norte de Portugal entre o VII e o V mileacutenios BC Viseu (Estudos Preacute-histoacutericos 16)MONTEIRO-RODRIGUES Seacutergio (2013) ndash A Anta dos Currais do Galhordas (Castelo de Vide ndash Centro Leste de Portugal) Resultados da primeira campanha de escavaccedilatildeo Estudos do Quaternaacuterio 9 p 57-70 Disponiacutevel em httpwwwapeqptojsindexphpapeqMONTEIRO-RODRIGUES Seacutergio (2016) ndash Resultados da primeira campanha de escavaccedilatildeo na Anta dos Currais do Galhordas (Castelo de Vide ndash Centro Leste de Portugal) ndash Breve Siacutentese Estudos Preacute-histoacutericos 18 (Actas da II Mesa-Redonda ldquoArtes Rupestres da Preacute-histoacuteria e da Proto-histoacuteriardquo Porto Novembro de 2011) p 195-202MONTEIRO-RODRIGUES Seacutergio OLIVEIRA Ceacutesar (2018) ndash A anta dos Currais do Galhordas (Castelo de Vide Alto Alentejo Portugal) Arquitetura cronologia e anaacutelise quiacutemica de resiacuteduos orgacircni-cos de recipientes ceracircmicos Estudos do Quaternaacuterio 18 p 15-34NUacuteNtildeEZ Diego Rivera WALKER Michael J (1989) ndash A review of palaeobotanical findings of early Vitis in the mediterranean and of the origins of cultivated grape-vines with special reference to new pointers to prehistoric exploitation in the western mediterranean Review of Palaeobotany and Paly-nology 61 p 205-237OLIVEIRA Ceacutesar MONTEIRO-RODRIGUES Seacutergio ARAUacuteJO Alfredo (2015) ndash Anaacutelise quiacutemica de resiacuteduos orgacircnicos identificados em vasos da Anta dos Currais do Galhordas (Castelo de Vide Alto Alentejo Portugal) In Ceacutesar Oliveira Rui Morais Aacutengel Morillo Cerdaacuten (Eds) ArchaeoAnalytics Chromatography and DNA analysis in Archaeology Municiacutepio de Esposende p 85-101 OLIVEIRA Jorge (1995) ndash Monumentos Megaliacuteticos da Bacia Hidrograacutefica do Rio Sever Dissertaccedilatildeo de Doutoramento apresentada agrave Universidade de Eacutevora policopiadoOLIVEIRA Jorge (1997) ndash Monumentos Megaliacuteticos da Bacia Hidrograacutefica do Rio Sever Marvatildeo (Ibn Maruan)OLIVEIRA Jorge (1997a) ndash Datas absolutas de monumentos megaliacuteticos da bacia hidrograacutefica do riacuteo Sever Actas del II Congreso de Arqueologiacutea Peninsular Tomo II (Neoliacutetico Calcoliacutetico y Bronce) Zamora p 29-240OLIVEIRA Jorge (1998) ndash A Anta da Joaninha e a da Era de Guardias (Cedillo-Caacuteceres) no ambiente megaliacutetico da foz do rio Sever Ibn Maruaacuten 8 p 203-245OLIVEIRA Jorge (1999-2000) ndash A Anta II de Satildeo Gens (Nisa) Ibn Maruaacuten 9-10 p 181-238PECCI Alessandra GIORGI Gianluca SALVINI Laura CAU ONTIVEROS Miguel Aacutengel (2013) ndash Identifying wine markers in ceramics and plasters using gas chromatography-mass spectrometry Ex-perimental and archaeological materials Journal of Archaeological Science 40 p 109-115PONTE Teresa R N da SOARES Antoacutenio M M ARAUacuteJO Maria de F FRADE Joseacute C RIBEIRO Isabel RODRIGUES Zeacutelia SILVA Rui J C VALEacuteRIO Pedro (2012) ndash O Bronze Pleno do Sudoeste da Horta do Folgatildeo (Serpa Portugal) Os Hipogeus Funeraacuterios O Arqueoacutelogo Portuguecircs Seacuterie V 2 p 265-295PORFIacuteRIO Eduardo M B SERRA Miguel A P (2010) ndash Rituais funeraacuterios e comensalidade no Bronze do Sudoeste da Peniacutensula Ibeacuterica novos dados a partir de uma intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no siacutetio da Torre Velha 3 (Serpa) Estudos do Quaternaacuterio 6 49-66 REGERT Martine (2011) ndash Analytical strategies for discriminating archeological fatty substances from

480 |

animal origin Mass Spectrometry Reviews 30 p 177-220REIMER P J et al (2013) ndash IntCal 13 and MARINE 13 radiocarbon age calibration curves 0-50000 years calBP Radiocarbon 55(4) p 1869-1887ROMANUS Kerlijne POBLOME Jeroen VERBEKE K LUYPAERTS A JACOBS Pierre DE VOS Dirk WAELKENS Marc (2007) ndash An evaluation of analytical and interpretative methodologies for the extraction and identification of lipids associated with pottery sherds from the site of Sagalassos Turkey Archaeometry 49 p 729-747SIMONEIT Bernd R T (2002) ndash Biomass burning ndash a review of organic tracers for smoke from incom-plete combustion Applied Geochemistry 17 p 129-162 SIMONEIT Bernd R T SCHAUER James J NOLTE Christopher G OROS Daniel R ELIAS V O FRASER Matthew P ROGGE Wolfgang F CASS Glenn R (1999) ndash Levoglucosan a tracer for cellulose in biomass burning and atmospheric particles Atmospheric Environment 33 p 173-182STUIVER Minze REIMER Paula J (1993) ndash Calib Radiocarbon Calibration Program Radiocarbon 35 p 215-230SUBHASHINI Ponnambalam DILIPAN Elangovan THANGARADJOU Thirunavukkarasu PA-PENBROCK Jutta (2013) ndash Bioactive natural products from marine angiosperms abundance and functions Natural Products and Bioprospecting 3 p 129-136TEODOR Eugenia BADEA Georgiana ALECU Andreia CALU Larisa RADU Gabriel (2014) ndash Interdisciplinary study on pottery experimentally impregnated with wine Chemical Papers 68 1022-1029VACCARO Emanuele GHISLENI Mariaelena ARNOLDUS-HUYZENDVELD Antonia GREY Cam BOWES Kim MACKINNON Michael MERCURI Anna Maria PECCI Alessandra CAU ONTIVEROS Miguel Aacutengel RATTIGHERI Eleonora RINALDI Rossella (2013) ndash Excavating the Roman peasant II excavations at Case Nuove Cinigiano (GR) Papers of the British School at Rome 81 p 129-179

| 481

| 2018

LA NECROacutePOLIS DE CUEVAS ARTIFICIALES DE LOS ALGARBES (TARIFA CAacuteDIZ) UN EJEMPLO DE LA PERMANENCIA TEMPORAL DE LAS CONSTRUCCIONES MEGALIacuteTICAS

The necropolis of artificial caves of Algarbes (Tarifa Caacutediz) An example of the temporary projection of the megalithic constructions

Yolanda Costela Muntildeoz Universidad de Caacutedizyolandacostelaucaes

Vicente Castantildeeda Fernaacutendez Universidad de Caacutedizvicentecastanedaucaes

Fernando Prados Martiacutenez Universidad de Alicantefernandopradosuaes

Ivaacuten Garciacutea Jimeacutenez Conjunto Arqueoloacutegico de Baelo Claudiaivangarciajuntadeandaluciaes

Helena Jimeacutenez Vialaacutes Universidad de Murciavialasumes

RESUMENLa necroacutepolis de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) se localiza al sur de la Peniacutensula Ibeacuterica en un espacio geograacutefico tremendamente interesante como es el aacuterea de influencia del Estrecho de Gibraltar un territorio a caballo entre dos continentes y dos mares cuya proximidad unioacute maacutes que separoacute en estas fechas ademaacutes de favorecer el contacto entre dife- rentes realidades culturales desde la Prehistoria Los trabajos desarrollados dentro del Proyecto de Investigacioacuten I+D+i denominado La necroacutepolis de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) La permanencia del paisaje funerario en el aacutembito del Estrecho de Gibraltar (HAR2011--25200) autorizado y financiado por el Ministerio de Economiacutea y Competitividad del Gobierno de Espantildea han permitido explicar y comprender la permanencia temporal de esta necroacutepolis y de su paisaje simboacutelico que ha sobrepasado los liacutemites de la Prehistoria para convertirse en un paisaje sacralizado de culto y enterramiento a lo largo de la Historia Los hallazgos de diversos materiales fenicios y puacutenicos en nuestras intervenciones ademaacutes de la documentacioacuten de estructuras funerarias de eacutepoca histoacuterica sentildealan que la necroacutepolis prehistoacuterica mantuvo su caraacutecter funerario a lo largo del tiempo PALABRAS CLAVE Necroacutepolis megalitismo proyeccioacuten temporal paisaje funerario cuevas artificiales

482 |

ABSTRACTThe necropolis of Algarbes (Tarifa Caacutediz) is located to the south of the Iberian Peninsula This area is an interesting geographic space be-cause itacutes an influential area of the Strait of Gibraltar For this rea-son itacutes a border territory and itacutes located between two continents and two seas This fact favored the contact between different cul-tures since Prehistory Our works have been developed inside the I+D+I research project titled ldquoLa necroacutepolis de Los Algarbes (Ta- rifa Caacutediz) La permanencia del paisaje funerario en el aacutembito del Estrecho de Gibraltar (HAR2011-25200) authorized and financed by the Ministry of Economy and Competitively of the Spanish Go- vernment The results have evidenced the great temporary perma-nency of this necropolis and its symbolic landscape For this rea-son the funerary use of this archaeological site has trespassed the limits of Prehistory and it has transformed itself in a sacred land-scape of cult and burial throughout History The findings of diffe- rent materials like Phoenician and Punic in our interventions in addi-tion to the documentation of funerary structures from other historic pe- riods shows that the necropolis kept its funerary character along the timeKEY WORDSNecropolis megalithism temporary projection funerary landscape artificial caves

1 ANTECEDENTESLa necroacutepolis de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) se situacutea en el extremo Sur de la Peniacutensula Ibeacuterica en el aacutembito del Estrecho de Gibraltar un territorio de encuentro entre los continentes europeo y africano En este contex-to el registro funerario se convierte en un elemento fundamental para profundizar en los contactos y en las posibles tradiciones culturales co-munes donde se pueden plasmar distintas creencias y manifestaciones religiosas y simboacutelicasLas distintas estructuras funerarias de la necroacutepolis se localizan hasta la fecha excavadas en un afloramiento de arenisca de una de las estri-baciones de la colina de Paloma Alta a unos 50 msnm en la orilla derecha del riacuteo del Valle y en las proximidades de la Ensenada de Val-devaqueros Su situacioacuten elevada permite que sea visible desde la costa (se localiza a menos de 1 km de eacutesta) desde el continente africano y des-de una de las viacuteas naturales terrestres principales que funcionoacute desde la prehistoria (trazado que actualmente queda fosilizado bajo la carretera N-340) Todas estas caracteriacutesticas geograacuteficas convierten al sitio de Los Algarbes en un referente geograacutefico e histoacuterico dentro del aacutembito del Es-

| 483

| 2018

trecho de Gibraltar (Figura 1) Esta necroacutepolis fue objeto de diferentes campantildeas de excavacioacuten arqueo- loacutegica a fiacutenales de los antildeos 60 y principios de los 70 del siglo pasado (Posac 1975) realizaacutendose posteriormente una intervencioacuten relaciona-da con la limpieza delimitacioacuten y proteccioacuten del enclave (Mata 1990) Las fechas en las que se realizaron estas intervenciones haciacutean nece-saria una actualizacioacuten de la informacioacuten centrada en su conservacioacuten investigacioacuten y difusioacuten por lo que decidimos formalizar en forma de proyecto un programa de investigacioacuten1 bajo nuevos presupuestos teoacuteri-cos y metodoloacutegicos relacionados con los estudios de la muerte Las estructuras funerarias localizadas los rituales de enterramiento los ajuares y las primeras dataciones absolutas nos permiten fechar esta necroacutepolis prehistoacuterica durante la segunda mitad del III milenio ane A pesar de ello hemos comprobado coacutemo eacutesta pudo ser reutilizada como espacio de culto y enterramiento en eacutepoca histoacuterica (Prados Garciacutea y Castantildeeda 2010)

2 EL USO FUNERARIO DIACROacuteNICO DE LA NECROacutePOLIS DE LOS ALGARBESEl estudio de la permanencia temporal de las construcciones megaliacuteticas 1 Nuestro programa de investigacioacuten se plasmoacute en el Proyecto de Investigacioacuten I+D+i titulado La necroacute-polis de Los Al-garbes (Tarifa Caacutediz) La permanencia del paisaje funerario en el aacutembito del Estrecho de Gibraltar (2012ndash14) (HAR2011-25200) autorizado y financiado por el Ministerio de Economiacutea y Compe-titividad del Gobierno de Espantildea

Figura 1 Localizacioacuten geograacutefica de la necroacutepolis de Los Algarbes

484 |

es un fenoacutemeno relativamente reciente especialmente en la Peniacutensula Ibeacuterica donde el Megalitismo ha sido considerado durante mucho tiem-po como una realidad cultural estaacutetica y circunscrita a un periacuteodo concre-to que podiacutea variar de una regioacuten a otra Sin embargo y debido a la con-sideracioacuten de los monumentos megaliacuteticos como elementos sagrados del paisaje en la actualidad son concebidos como realidades orgaacutenicas y dinaacutemicas (Tejedor 2008 p 443) que poseen una enorme carga tem-poral pues no solo fueron utilizados por las comunidades prehistoacutericas que los construyeron sino que fueron reinterpretados y reutilizados per-diendo en muchos casos su sentido original Como argumenta G Delibes (2004 p 211) hay que entender el Megalitismo como un fenoacutemeno de larga duracioacuten en el que existen periacuteodos de mayor actividad frente a otros de menor actividad o incluso una completa inactividad (Criado amp alii 2005 p 863)En la actualidad son considerables los trabajos que estudian la proyec- cioacuten temporal de los monumentos megaliacuteticos Aun asiacute parece maacutes aceptado por parte de los investigadores la reutilizacioacuten de estructuras megaliacuteticas en momentos maacutes cercanos al periacuteodo de uso original como pueden ser la Edad del Bronce y la Edad del Hierro De ahiacute que sean cada vez maacutes numerosos los investigadores que centran sus estudios en la reutilizacioacuten de estructuras megaliacuteticas durante la Prehistoria Re-ciente (Aranda 2014 2015 Costela 2015 2016 2017 Delibes 2004 Fernaacutendez 2004 Garciacutea Sanjuaacuten 2005 Lorrio amp Montero 2004 Mantildea-na 2003 Mataloto 2007 Tejedor 2008 2013 2014 2015) Con todo el uso por parte de las sociedades histoacutericas ha quedado relegado y auacuten en la actualidad se cuestiona que determinados monumentos megaliacuteti-cos fueran reutilizados en eacutepoca romana o medieval a pesar de los nu-merosos hallazgos documentados en distintas construcciones megaliacuteti-cas No obstante cada vez son maacutes los investigadores que se preocupan por analizar su uso en eacutepoca histoacuterica destacando los trabajos de M Martintildeoacuten-Torres (2001) L Garciacutea Sanjuaacuten P Garrido y F Lozano (2007) o C Oliveira (2001 2008) De esta forma nosotros abogamos por el concepto de biografiacutea de uso que tiene su origen en el mundo anglosajoacuten (Bradley 1993 1998 Brad-ley amp Williams 1998 etc) destacando los trabajos de C Holtorf (1998) en los que argumenta la posibilidad de analizar la biografiacutea completa de los monumentos megaliacuteticos Asiacute Holtorf (1998) identifica fundamental-mente dos periacuteodos de uso El primero es el nacimiento o infancia que se tratariacutea del periacuteodo de construccioacuten y uso inicial de estas edificaciones Gibraltar (2012ndash14) (HAR2011-25200) autorizado y financiado por el Ministerio de Economiacutea y Compe-titividad del Gobierno de Espantildea

| 485

| 2018

y una segunda etapa que eacutel identifica como el periacuteodo de adultez mo-mento en el que pierden su significado original y surgen las distintas reinterpretaciones En la Peniacutensula Ibeacuterica recientes trabajos como los de C Tejedor amp alii (2017) o los de E Aacutelvarez (2011) estaacuten apostando seriamente por la reconstruccioacuten de la biografiacutea completa de los monu-mentos megaliacuteticos lo cual estaacute abriendo un sinfiacuten de posibilidades al conocimiento de la proyeccioacuten temporal de estas construcciones monu-mentales En nuestro caso las distintas intervenciones arqueoloacutegicas realizadas en la necroacutepolis de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) han permitido comprobar que dicha necroacutepolis se caracteriza por un uso diacroacutenico a lo largo del tiempo especialmente como lugar de culto y enterramiento Por ello en las siguientes paacuteginas trataremos de acercarnos a la secuencia de uso que presenta la necroacutepolis a traveacutes del anaacutelisis de las distintas fases de utilizacioacuten funeraria Esta secuencia histoacuterica ha sido establecida me-diante el estudio de la cultura material documentada y la presencia de estructuras funerarias de eacutepoca histoacuterica en ausencia de cronologiacuteas ab-solutas que apoyen estos testimonios materiales No obstante tenemos que decir que como consecuencia del uso prolongado que la necroacutepolis tuvo hasta eacutepoca bastante reciente las estructuras funerarias presen-tan un alto grado de destruccioacuten y procesos de vaciado por lo que tan

Figura 2 Grupos de estructuras funerarias documentadas

486 |

solo podemos basarnos en aquellos testimonios que han dejado alguna huella arqueoloacutegica De hecho pensamos que el uso de la necroacutepolis fue mucho maacutes profuso y diverso de lo que vamos a presentar aquiacute por lo que es tan solo una muestra de la riqueza histoacuterica y temporal que este espacio sagrado presentoacute a lo largo del tiempo21- Fase I uso y construccioacuten durante la Prehistoria RecienteLas diferentes campantildeas de excavacioacuten y prospeccioacuten arqueoloacutegica lleva-das a cabo en el yacimiento han permitido localizar hasta la fecha cer-ca de 40 estructuras funerarias prehistoacutericas agrupadas en diferentes niveles a modo de terrazas (Figura 2) (grupos de estructuras 1 2 y 3) estando orientadas en su mayoriacutea hacia el N y el NE es decir hacia la principal viacutea natural terrestre Tan soacutelo dos presentan una orientacioacuten EEl estudio arquitectoacutenico nos indica que la mayoriacutea de las estructuras funerarias se corresponden con cuevas artificiales de acceso lateral con una tipologiacutea muy variada (con una o varias caacutemaras algunas con un atrio exterior con hornacinas laterales que compartimentan el es-pacio funerariohellip) mientras que tan soacutelo una de ellas se corresponde

Figura 3 Planta de la Estructura 14

| 487

| 2018

con una cueva artificial de construccioacuten mixta (Castantildeeda amp alii 2014) con un caraacutecter monumental y localizada en una posicioacuten central dentro de la distribucioacuten espacial de la necroacutepolis Sin duda estas diferencias tipoloacutegicas deben ponerse en relacioacuten con el tratamiento desigual ante la muerte (y ante la vida) de los alliacute enterradosLas distintas estructuras funerarias excavadas especialmente la nordm 14 y los ajuares localizados (Figura 3) algunos de ellos con una importante carga ideoloacutegica-simboacutelica nos estaacute permitiendo profundizar en las creen-cias los ritos el conservadurismo y la pervivencia de ciertas tradiciones constataacutendose igualmente el caraacutecter colectivo de los enterramientos Pero esta colectividad no debe ser entendida como una igualdad social ya que posiblemente estas estructuras mantuvieron un uso continuado en el tiempo permitiendo el depoacutesito de los cuerpos de un mismo grupo familiar Eacutestos presentariacutean un caraacutecter diferencial y jeraacuterquico frente a buena parte de la sociedad que no tendriacutea acceso a estos bienes y a ser enterrados en estas estructuras (Castantildeeda amp alii 2013) Todo ello debe ser entendido como indicadores del ldquoestatus socialrdquo de los alliacute enterra-dos evidenciando la existencia de un acceso desigual a la muerte y en definitiva una diferenciacioacuten social legitimada y reproducida mediante el culto a la memoria de los antepasados alliacute enterrados Sin duda el sitio de Los Algarbes favoreceriacutea el mantenimiento como lugar sagrado en la memoria colectiva para diferentes sociedades posteriores (Prados amp alii 2010)En cuanto a la cronologiacutea de las distintas estructuras excavadas debi-do al alto deterioro que presentan y al hecho de haber sido expoliadas en eacutepoca histoacuterica es difiacutecil establecerla con exactitud No obstante el estudio de la cultura material hallada en algunas de las sepulturas exca-vadas junto con dataciones absolutas auacuten no publicadas nos permiten situar el uso original de la necroacutepolis en torno a mediados del III Milenio y principios del II Milenio Aun asiacute es posible que algunas sepulturas fueran reutilizadas durante el Bronce Final ya que se han constatado diversos fragmentos de ceraacutemica de este periacuteodo pero que no permiten por el momento precisar maacutes en este sentido Por tanto la construccioacuten de la necroacutepolis prehistoacuterica de Los Algarbes precisoacute de un trabajo colectivo y cooperativo especialmente en aquellas estructuras maacutes monumentales en tamantildeo y complejidad constructiva como es el caso de la Estructura 1-2 (Figura 4) realizadas con la finali-dad de perdurabilidad presencia y visibilidad (Castantildeeda amp alii 2014) Sin duda el desarrollo de ciertos ritos cultos y ceremonias reforzariacutean la

488 |

identidad cultural de determinados grupos sociales y la reproduccioacuten del orden establecido centrados en una clara diferenciacioacuten social22- Fase II reutilizacioacuten funeraria en momentos fenicio-puacutenicosLa facies fenicio-puacutenica que hemos detectado en esta necroacutepolis viene a corroborar la informacioacuten de distintas intervenciones arqueoloacutegicas que se reparten por todo el aacuterea campogibraltarentildea es decir la constatacioacuten

Figura 4 Planta de la Estructura 1-2

| 489

| 2018

de una presencia fenicia arcaica en la zona Los estudios desarrollados en la bahiacutea de Algeciras desde los antildeos setenta con la localizacioacuten de enclaves como el Cerro del Prado (Pellicer 1977) la cueva-santuario de Gorham (Gutieacuterrez amp alii 2012) o la presencia de materiales del s VII bajo la actual Carteia puacutenico-romana (Prados 2018) son elocuentes en este sentido Maacutes recientemente las excavaciones efectuadas por un equipo franco-espantildeol en La Silla del Papa (Moret amp alii 2017) o las in-tervenciones en el casco histoacuterico de Tarifa (Peacuterez-Malumbres amp Martiacuten 1998) dibujan un panorama en el que la instalacioacuten estable de comuni-dades semitas en la zona es un hecho Cabe recordar que para fenicios y puacutenicos enterrar para devolver el cuerpo a la tierra fue el maacutes antiguo de los ritos funerarios y seguramente el maacutes frecuente Un dato que no adquiririacutea relevancia de no ser porque el sustrato local de la zona se caracteriza precisamente por todo lo contrario De hecho la reciente lo-calizacioacuten de la necroacutepolis de La Silla del Papa y su excavacioacuten ponen el acento en el componente exoacutegeno ndashafricano- o de tradicioacuten puacutenico-mau-ritana de sus monumentos funerarios y de la ritualidad documentada subrayando de nuevo la inexistencia de necroacutepolis prerromanas indiacutege-nas entre el Estrecho y el Guadalquivir con posterioridad a la edad del Bronce (Moret amp alii 2017)En segundo lugar cabe sentildealar que el tipo maacutes caracteriacutestico de sepul-cro para fenicios y puacutenicos fue el hipogeo construccioacuten que plasmaba su monumentalidad en el interior tratando de pasar desapercibida al exterior seguramente por miedo a la violacioacuten de la tumba Necroacutepolis de hipogeos se conocen en el norte de Aacutefrica en la peniacutensula Ibeacuterica y en todos los terrenos insulares del Mediterraacuteneo central y occidental por ese motivo se considera uno de los foacutesiles directores de la cultura fenicio-puacutenicaComo hipogeos entendemos las tumbas de caacutemara excavadas en la roca que podiacutean ser individuales o colectivas aunque tambieacuten se viene llamando incorrectamente hipogeo a la cueva artificial tallada en los aflo-ramientos de roca como sucede en Los Algarbes Ambos tipos ndashhipogeos y cuevas artificiales- los encontramos en las necroacutepolis fenicio-puacutenicas y se han realizado diversos ensayos de caracterizacioacuten tipoloacutegica (Tejera 1979 Ramos 1990) por lo que no entraremos con maacutes detalle en ello Los sepulcros en cuevas artificiales aparecen vinculados a los contextos culturales nuacutemidas en Aacutefrica donde se conocen como haouanet (Camps 1961 Longerstay 1993) aunque siempre se ha sentildealado una influencia puacutenica son eacutestos ejemplos libio-puacutenicos o puacutenico-nuacutemidas los que pare-

490 |

cen haber tenido una mayor influencia en el caso hispano Asiacute podemos entender el reempleo de los sepulcros de Los Algarbes o los llamados hipogeos de Carissa Aurelia (Espera-Bornos Caacutediz) aacutembitos de una clara influencia puacutenica (Prados amp alii 2010 Prados 2017) Para explicar la facies fenicio-puacutenica que se constata en la necroacutepolis de Los Algarbes por tanto hay que entender que entre los siglos VII y II aC el aacuterea campogibraltarentildea reflejoacute un proceso cultural paralelo al aacuterea norteafricana vecina en torno al Cabo Espartel donde conocemos modelos de enterramiento similares Los ejemplos de necroacutepolis hipo-geicas del Campo de Gibraltar son comparables tambieacuten con otras del aacutembito cultural fenicio-puacutenico tales como las sardas las ibicencas o las tunecinas tanto en los citados haouanet como en los hipogeos Por todo ello podemos aseverar que en el aacuterea objeto de estudio contamos tanto con hipogeos funerarios realizados ex novo como en la isla de las Palo-mas de Tarifa y con otros modelos de reutilizaciones de los sepulcros en cuevas artificiales de la edad del Bronce caso del que analizamos en estas paacuteginas Junto al esquema tipoloacutegico y constructivo al que acabamos de aludir cabe sentildealar que en Los Algarbes la reocupacioacuten durante el primer milenio aC ha sido tambieacuten atestiguada gracias a algunos materiales recuperados durante las labores de puesta en valor del yacimiento Es-tos hallazgos han sobrevenido durante la ejecucioacuten de limpiezas tanto en el exterior como en el interior de las caacutemaras por lo que no cabe duda de que los materiales estaacuten relacionados con una utilizacioacuten del aacutembito funerario y no con un uso secundario o residual del entorno de la necroacutepolis como quizaacutes sucedioacute para otras eacutepocas posteriores Por otro lado todos los materiales ceraacutemicos encontrados se pueden rela-cionar con tipos propios de contextos funerarios siendo fundamental-mente formas abiertas (platos de barniz rojo tardiacuteo o de tipo Kouass jarras y cuencos-lucerna o paacuteteras) que pudieron formar parte de rituales funerarios u ofrendas En todos los casos estas formas detectadas se pueden poner en relacioacuten con los elementos de ajuar o de iluminacioacuten del interior de la caacutemara Los materiales descritos son paralelizables con los documentados en los citados enterramientos del Cabo Espartel por M Ponsich (1970) y presentan un abanico cronoloacutegico del siglo VI al III aC claro reflejo a su vez de una dilatada perduracioacuten del uso funerario de la necroacutepolisCabe indicar tambieacuten que en las proximidades de la necroacutepolis fue lo-calizado un pequentildeo asentamiento denominado ldquoAlgarbes IIrdquo donde se

| 491

| 2018

recuperaron materiales similares a los descritos anteriormente y fecha-dos entre los siglos V y III aC (Martiacuten et al 2006) La existencia de este enclave y el reempleo del espacio funerario de la necroacutepolis han de ser puestos sin lugar a dudas en relacioacutenLa excavacioacuten realizada por nuestro equipo ha permitido igualmente localizar diversos fragmentos ceraacutemicos en la denominada estructura 20 donde destaca un cuenco-triacutepode fenicio junto a diversos fragmentos de aacutenfora y de plato En la estructura 1-2 fueron asimismo detectados diversos fragmentos de aacutenfora fenicia de forma indeterminada pero de produccioacuten aparentemente gadirita Sobre la estructura 20 ademaacutes cabe referir que presenta una construccioacuten circular inscrita en la roca trabajada muy similar a las que se estaacuten excavando actualmente en la vecina necroacutepolis de La Silla del Papa ubicada en la sierra de la Plata aneja a esta de San Bartolomeacute y con la que podraacuten guardar relacioacutenDel material fenicio-puacutenico que se ha recogido pues consideramos muy relevante el hallazgo de la citada urna del tipo ldquoCruz del Negrordquo que apa-recioacute completa (Figura 6) Este tipo de piezas se encuentra bien tipificada y en nuestro caso se trata de un ejemplar evolucionado de forma oval

Figura 5 Restos materiales de eacutepoca romana y fenicio-puacutenica

492 |

con base coacutencava a modo de umbo La forma es bien conocida y su lo-calizacioacuten es muy frecuente en contextos de necroacutepolis destacando los ejemplares procedentes del aacuterea de Carmona o Medelliacuten (tipo 8) donde ha sido fechada entre 525-475 aC por sus excavadores (Torres 2008 p 634) Consideramos que su aparicioacuten en Los Algarbes es por tanto un rasgo muy elocuente tanto de la permanencia del uso funerario de la necroacutepolis a lo largo del primer milenio como de su adscripcioacuten a la tradicioacuten cultural semita23- Fase III reutilizacioacuten de estructuras en eacutepoca romanaSobre el material romano que hemos localizado poco se puede decir en lo que concierne a una perduracioacuten del uso funerario de esta necroacutepolis Los fragmentos ceraacutemicos detectados tanto en superficie como durante la excavacioacuten arqueoloacutegica (Figura 5 1 y 2) al contrario de lo que se ha comentado para la eacutepoca fenicio-puacutenica dibujan un panorama en el que

Figura 6 Ceraacutemica tipo de ldquoCruz del Negrordquo

| 493

| 2018

el factor domeacutestico o habitacional cobra maacutes fuerza que el estrictamente funerario Si los elementos arqueoloacutegicos pertenecientes a eacutepoca feni-cio-puacutenica pueden ser faacutecilmente atribuibles a un uso ritual las ceraacutemi-cas comunes y las ollas de cocina maacutes bien seriacutean indicativas de otro tipo de utilizacioacuten que hasta el momento no estamos en condiciones de precisar La continuacioacuten de los trabajos en la necroacutepolis podraacute arrojar maacutes informacioacuten a este hecho en los proacuteximos antildeos 24- Fase IV construccioacuten de sepulturas de cronologiacutea tardo-anti-gua en asociacioacuten a cuevas artificiales prehistoacutericasDurante los trabajos arqueoloacutegicos desarrollados en la necroacutepolis fueron halladas dos estructuras excavadas en el sustrato rocoso cuya tipologiacutea se corresponde con la definida como tumbas rupestres excavadas en la roca de tipo rural (Bernal amp Lorenzo 2000 122) Una de ellas habiacutea sido documentada por C Posac (1975) mientras que nosotros hemos docu-mentado una segunda tumba a escasos tres metros de eacutesta Igualmente E Mata (1990) indica que en las proximidades se hallan tres estructuras maacutes las cuales no han podido ser identificadas Este tipo de estructura funeraria tiene una repercusioacuten muy amplia en el sur peninsular sobre todo en las provincias de Caacutediz y Maacutelaga debido a

Figura 7 Tumba antropomorfa Estructura 11

494 |

la naturaleza caliza de las Sierras Subbeacuteticas de esta zona (Loacutepez 2006 p 48) Se trata de una tipologiacutea de enterramiento compuesta por tum-bas excavadas en el sustrato rocoso de cronologiacutea tardo-antigua donde normalmente la longitud de la fosa suele coincidir con la estatura del difunto lo que indicariacutea que las fosas se construiriacutean para la persona que acababa de morir (Vargas 2011 p 152) de ahiacute que sean conoci-das comuacutenmente como tumbas antropomorfas Un aspecto singular de este tipo de enterramiento es su ubicacioacuten en espacios sacralizados y de cronologiacutea prehistoacuterica De hecho es comuacuten la presencia de este tipo de tumbas en las inmediaciones de cuevas abrigos monumentos megaliacuteti-cos y cuevas artificiales ya que se encuentran excavadas en afloramien-tos rocosos Este hecho hizo que fueran consideradas durante mucho tiempo tumbas de cronologiacutea prehistoacuterica (Loacutepez 2006 p 48)En el caso de la Estructura 11 (Figura 7) presenta una longitud de 115 m en su eje Norte-Sur 030 m de ancho en su eje Este-Oeste y 025 m de profundidad Aunque su estado de conservacioacuten es bastante bue-no se encontraba vaciacutea Tiene una orientacioacuten es Norte-Sur estando su cabecera hacia el Sur En el caso de la Estructura 12 debe tratarse de la tumba de un individuo infantil debido a su pequentildeo tamantildeo (longitud en el eje Norte-sur de 150 m una anchura en el eje Este-Oeste de 057 m y una altura conservada de 025 m) Al igual que la anterior presenta una buena conservacioacuten aunque tambieacuten se encontraba vaciada presentan-do una orientacioacuten Norte-Sur La existencia de este tipo de sepulturas en la necroacutepolis y a muy corta distancia de las cuevas artificiales de cronologiacutea prehistoacuterica en concre-to en el grupo de estructuras 1 (Figura 2) no hace maacutes que confirmar la gran permanencia temporal que esta necroacutepolis tuvo a lo largo del tiempo pues la comunidad que dio sepultura a sus fallecidos durante el periodo conocido como tardo-antiguo eligioacute este lugar sagrado de forma consciente Parece que este hecho es algo recurrente al menos en la provincia de Caacutediz ya que son numerosos los ejemplos de tumbas rupes-tres que se localizan en las inmediaciones de monumentos megaliacuteticos y cuevas artificiales de eacutepoca prehistoacuterica Dos casos muy similares son la necroacutepolis de la Ermita del Almendral de Puerto Serrano (Loacutepez 2006) y la necroacutepolis del Almendral en el teacutermino municipal de El Bosque (Alarcoacuten amp Aguilera 1993) En ambos casos se documentaron este tipo de tum-bas en asociacioacuten espacial a cuevas artificiales de cronologiacutea prehistoacuteri-ca con la diferencia de que presentan tipologiacuteas distintas Mientras que las halladas en la necroacutepolis de Los Algarbes tienen forma antropomorfa

| 495

| 2018

donde la parte de la cabeza es siempre maacutes ancha que la parte donde se situacutean los pies con la peculiaridad de que la cabecera es de forma semicircular (Vargas 2011 p 153) en el caso de la Ermita del Almen-dral de Puerto Serrano presentan tendencia ligeramente trapezoidal de doble fosa y excavadas en dos planos para formar un reborde escalona-do donde encajariacutean las laacutepidas hoy desaparecidas (Loacutepez 2006 p 56) Igualmente las documentadas en la necroacutepolis del Almendral de El Bosque tienen forma de bantildeera y en doble fosa con un reborde que tambieacuten serviriacutean de apoyo a las cubiertas no conservadas (Alarcoacuten amp Aguilera 1993) Asimismo C Mergelina (1924 p 115) localizoacute en la an-tigua laguna de la Janda en las inmediaciones del conjunto megaliacutetico concretamente en el nuacutecleo de Purenque-Larraez una serie de sepul-turas excavadas en la roca del tipo rupestre de tipologiacutea antropomor-fa Por uacuteltimo en la sierra de El Retiacuten se localizan algunos monumentos megaliacuteticos a los que se asocian igualmente varias sepulturas antropo-morfas excavadas en la roca (Tornero 1998 p 87-88) Por tanto parece que en estos momentos de transicioacuten al periacuteodo medieval existe una tendencia generalizada en esta zona a construir este tipo de necroacutepolis rurales en asociacioacuten a monumentos sacralizados del pasado caso de monumentos megaliacuteticos y cuevas artificiales

3- CONCLUSIONESLas distintas intervenciones arqueoloacutegicas desarrolladas nos han per-mitido conocer la gran permanencia temporal de la que ha sido objeto la necroacutepolis de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) A pesar de que en estas paacuteginas nos hemos centrado en su uso como espacio de culto y enter-ramiento los materiales arqueoloacutegicos documentados y la historiografiacutea existente sobre la misma nos hablan de una ocupacioacuten mucho maacutes vari-ada y diversificada Aunque su construccioacuten se produjo en eacutepoca prehistoacuterica su carga sim-boacutelica siguioacute patente con posterioridad cuando fue reutilizada en distin-tos momentos histoacutericos Probablemente durante el Bronce Final hubo reutilizaciones aunque por el momento no hemos podido determinar de queacute iacutendole En eacutepoca fenicio-puacutenica algunas de las estructuras pre-histoacutericas fueron reutilizadas como lugares de culto y enterramiento tal y como indican muchos de los materiales hallados Los restos materiales de eacutepoca romana no permite por el momento definir un uso determinado pero su presencia en la necroacutepolis nos habla de que la necroacutepolis fue frecuentada en estos momentos aunque auacuten no sabemos la naturaleza

496 |

de esta ocupacioacuten Como parece ser frecuente en toda la provincia en base a los indicios ya comentados en eacutepoca tardo-antigua se atestigua el fin del uso funerario de la necroacutepolis cuando se excavan sepulturas de tipo rural en las inmediaciones de las tumbas prehistoacutericas Sin em-bargo esto no significa el ocaso definitivo de la necroacutepolis pues tanto en nuestras intervenciones arqueoloacutegicas como en las realizadas con anterioridad (Posac 1975 Mata 1990 Bravo 2012) se ha documen-tado material de distintas eacutepocas histoacutericas A falta de un estudio maacutes exhaustivo del material hallado parece que estos usos posteriores no tuvieron un significado funerario pero si nos hablan del uso prolongado en el tiempo de la necroacutepolis hasta eacutepoca reciente Todo ello nos hace re-currir al concepto de ldquobiografiacutea de usordquo de la que hablaacutebamos al principio de este trabajo Como argumenta C Holtorf (1998) las construcciones megaliacuteticas y dentro de ellas podemos incluir las cuevas artificiales pre-sentan una biografiacutea completa de uso que puede ser conocida a traveacutes de un anaacutelisis exhaustivo de todas sus fases de utilizacioacuten Como monumentos destacados del paisaje las distintas comunidades que con ellos convivieron los reutilizaron y dotaron de un nuevo significa-do dejando de alguna manera alguna huella arqueoloacutegica que debemos saber interpretar Por tanto para conocer de forma completa la historia de un monumento megaliacutetico no podemos conformarnos con estudiar exclusivamente su uso original durante la Prehistoria Tan solo estudian-do su biografiacutea completa de uso podremos reconstruir la verdadera histo-ria que estas construcciones monumentales guardan en su interior

BIBLIOGRAFIacuteA ALARCOacuteN CASTELLANO Francisco Javier AGUILERA RODRIacuteGUEZ Luis (1993) - Inter-vencioacuten arqueoloacutegica de emergencia El Almendral (El Bosque) Anuario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea 1991 Vol III Actividades de urgencia pp 47-50AacuteLVAREZ VIDAURRE Ester (2011) - Historia de la percepcioacuten del Megalitismo en Na-varra y Guipuacutezcoa Aproximacioacuten a una biografiacutea de sus monumentos EUNSA (Ed Universidad de Navarra) PamplonaARANDA JIMEacuteNEZ Gonzalo (2014) - La memoria como forma de resistencia cultural Continuidad y reutilizacioacuten de espacios funerarios colectivos en eacutepoca argaacuterica Mov-ilidad contacto y cambio Actas del II Congreso de Prehistoria de Andaluciacutea pp 255-277 Consejeriacutea de Educacioacuten Cultura y Deporte de la Junta de Andaluciacutea Sevilla ARANDA JIMEacuteNEZ Gonzalo (2015) - Resistencia e involucioacuten social en las comuni-dades de la Edad del Bronce del sureste de la Peniacutensula Ibeacuterica Trabajos de Prehis-toria 751 pp 126-144BERNAL CASASOLA Dariacuteo LORENZO MARTIacuteNEZ Lourdes (2000) - La arqueologiacutea de eacutepoca bizantina e hispano-visigoda en el Campo de Gibraltar Primeros elementos

| 497

| 2018

para una siacutentesis Caetaria 3 pp 97-134BRADLEY Richard (1993) - Altering the earth The origins of monuments in Britain and continental Europe Mono-graph Series 8 Edinburgh Society of Antiquaries of ScotlandBRADLEY Richard WILLIAMS Howard (eds) (1998) - The past in the past The reuse of ancient monuments World Ar-chaeology 30 (1) London RoutledgeBRAVO Salvador (2012) - Memoria de los trabajos realizados en relacioacuten con la activ-idad arqueoloacutegica puntual titulada control de movimiento de tierras en la necroacutepolis prehistoacuterica de los Algarbes y necroacutepolis de Betis en el TM de Tarifa (Caacutediz)CAMPS Gabriel (1961) ndash Aux origines de la Berberie Monuments et rites funeacuteraires protohistoriques Paris Centre National de la Recherche ScientifiqueCASTANtildeEDA Vicente GARCIacuteA JIMEacuteNEZ Ivaacuten PRADOS MARTIacuteNEZ FERNANDO (2013) - Cuestiones sobre la arqueologiacutea funeraria en el aacutembito del Estrecho de Gibraltar El ejemplo de la necroacutepolis de cuevas artificiales de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) Espa-cio Tiempo y Forma Prehistoria y Arqueologiacutea UNED 6 pp 197-217 MadridCASTANtildeEDA FERNAacuteNDEZ Vicente GARCIacuteA JIMEacuteNEZ Ivaacuten COSTELA MUNtildeOZ Yolan-da TORRES ABRIL Francisco Luis (2014) - La Estructura 1-2 de la necroacutepolis de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) Su reinterpretacioacuten a raiacutez de las nuevas investigaciones Al Qantir 16 pp 207-212 CaacutedizCOSTELA MUNtildeOZ Yolanda (2015) - La permanencia del paisaje funerario en el sur-oeste de la Peniacutensula Ibeacuterica El Megalitismo durante el II y I milenio ANE Tesis Doc-toral Universidad de CaacutedizCOSTELA MUNtildeOZ Yolanda (2016) - La pervivencia del paisaje megaliacutetico en el norte de la Peniacutensula Ibeacuterica Una introduccioacuten a los casos documentados durante la pre-historia reciente (II-I Milenio ANE) Arqueogazte 6 pp 155-170COSTELA MUNtildeOZ Yolanda (2017) - La pervivencia de la ideologiacutea megaliacutetica durante el II y I milenios ANE Un caso de estudio el sur de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologiacutea 20 pp 45-60CRIADO BOADO Felipe MANtildeANA BORRAZAacuteS Patricia GIANOTTI GARCIacuteA Camila (2005) - Espacios para vivos-espacios para muertos Perspectivas comparadas entre la monumentalidad del Atlaacutentico Ibeacuterico y el sudamericano Actas del III Congreso del Neoliacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica (Santander 5-8 de octubre de 2003) pp 857-865DELIBES DE CASTRO Gonzalo (2004) - La impronta Cogotas I en los doacutelmenes del Occidente de la Cuenca del Duero o el mensaje megaliacutetico renovado Mainake XXVI pp 211-231FERNAacuteNDEZ RUIZ Juan (2004) - Uso de estructuras megaliacuteticas por parte de grupos de la Edad del Bronce en el marco de Riacuteo Grande (Maacutelaga) Mainake XXVI pp 273-292GARCIacuteA SANJUAacuteN Leonardo (2005) - Las piedras de la memoria La permanencia del Megalitismo en el suroeste de la Peniacutensula Ibeacuterica durante el II y I milenio a n erdquo Trabajos de Prehistoria 621 85-109GARCIacuteA SANJUAacuteN Leonardo GARRIDO GONZAacuteLEZ Pablo LOZANO GOacuteMEZ Fernan-do (2007) - Las piedras de la memoria (II) El uso en eacutepoca romana de espacios y monumentos sagrados prehistoacutericos del Sur de la Peniacutensula Ibeacuterica Complutum 18 pp 109-130GUTIEacuteRREZ Joseacute Mariacutea REINOSO Mariacutea Cristina GILES Francisco FINLAY-SON

498 |

Clive SAacuteEZ Antonio (2012) ndash La Cueva de Gorham (Gibraltar) un santuario feni-cio en el confiacuten occidental del Mediterraacuteneo In PRADOS Fernando GARCIacuteA Ivaacuten BERNARD Gwladis eds ndash Confines El extremo del mundo durante la Antiguumle-dad Alicante Universidad de Alicante pp 303-381 HOLTORF Cornelius (1998) - The life-histories of megaliths in Mecklenburg-Vorpo-mmen (Germany) In BRADLEY Richard WILLIAMS Howard (Eds) - The Past in the Past The Reuse of Ancient Monuments World Archaeology 301 pp 23-39 Lon-dresLONGERSTAY Monique (1993) ndash Representation de mausoleeacutes dans les haouanet de la Tunisie Antiquiteacutes Africaines 29 pp 17-51LOacutePEZ ROSENDO Ester (2006) - La necroacutepolis rupestre de la Ermita del Almendral de Puerto Serrano un modelo de espacio funerario paleocristiano en la provincia de Caacutediz Revista de Historia Ubi Sunt 20 pp 48-61LORRIO Alberto MONTERO Ignacio (2004) - Reutilizacioacuten de sepulcros colectivos en el sureste de la Peniacutensula Ibeacuterica la coleccioacuten Siret Trabajos de Prehistoria 611 pp 99-116MANtildeANA BORRAZAacuteS Patricia (2003) - Vida y muerte de los megalitos iquestSe aban-donan los tuacutemulos Era Arqueologia 5 pp 164ndash177MARTIacuteN RUIZ Juan Antonio PEacuteREZ-MALUMBRES LANDA Alejandro CUENCA MUNtildeOZ Montserrat MARTIacuteN RUIZ Joseacute Manuel (2006) ndash El yacimiento de los Al-garbes II (Tarifa Caacutediz) y la ocupacioacuten ibeacuterica en el Campo de Gibraltar Almoraima revista de estudios campogibraltarentildeos 33 pp 107-116MARTINtildeOacuteN-TORRES Marcos (2001) - Los megalitos del termino croacutenica del valor territorial de los monumentos megaliacuteticos a partir de las fuentes escritas Trabajos de Prehistoria 581 pp 95-108MATA Esperanza (1990) - Informe sobre la intervencioacuten arqueoloacutegica en la necroacutepo-lis prehistoacuterica de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) Anuario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea Actividades de Urgencia III pp 83-93 SevillaMATALOTO Rui (2007) - Paisagem memoacuteria e identidade tumulaccediloes megaliacuteticas no poacutes-megalitismo alto-alentejano Revista Portuguesa de Arqueologia 101 pp 123-140MERGELINA Cayetano (1924) - Los focos dolmeacutenicos de la Laguna de la Janda Me-morias de la Sociedad Espantildeola de Antropologiacutea Etnografiacutea y Prehistoria III 1 y 2 pp 97-126MORET Pierre PRADOS Fernando FABRE J-M FERNAacuteNDEZ E GARCIacuteA FJ JIMEacuteNEZ Helena (2017) ndash La Silla del Papa haacutebitat y necroacutepolis (Campantildeas 2014-2016) Meacutelanges de la Casa de Velaacutezquez 47 1 pp 49-71PELLICER CATALAacuteN Manuel (1977) ndash Para una metodologiacutea de localizacioacuten de colo-nias fenicias en las costas ibeacutericas El Cerro del Prado Habis 8 pp 217-227PEacuteREZ-MALUMBRES LANDA Alejandro MARTIacuteN RUIZ Juan Antonio (1998) ndash Presen-cia prerromana en el Cerro del Castillo de Guzmaacuten el Bueno (Tarifa Caacutediz) In LAacuteZA-RO Mario GOacuteMEZ Joseacute Luis RODRIacuteGUEZ Beleacuten (coords) ndash Homenaje al Profesor Carlos Posac Mon Ceuta Instituto de Estudios Ceutiacutees pp 151-164PONSICH Michel (1970) ndash Recherches archeacuteologiques agrave Tanger et dans sa reacutegion Paris Centre National de la Recherche ScientifiquePRADOS MARTIacuteNEZ Fernando (2017) ndash Arquitectura funeraria en el aacutembito puacutenico

| 499

| 2018

Hitos en un paisaje de poder y memoria In ADROIT Steacutephanie GRAELLS Raimon (eds) ndash Arquitectura funeraria y memoria La gestioacuten de las necroacutepolis en Europa Occidental Roma Osanna Edizioni pp 75-94PRADOS MARTIacuteNEZ Fernando (2018) ndash Las ceraacutemicas pintadas puacutenicas de Carteia Campantildeas 2007-2013 In ROLDAacuteN Lourdes BLAacuteNQUEZ Juan eds ndash Carteia Me-moria Cientiacutefica de la II Fase (2007-2013) Junta de Andaluciacutea (ep)PRADOS MARTIacuteNEZ Fernando GARCIacuteA JIMEacuteNEZ Ivaacuten CASTANtildeEDA FERNAacuteNDEZ Vi-cente (2010) - El mundo funerario fenicio-puacutenico en el Campo de Gibraltar Los casos de las necroacutepolis de Los Algarbes y la Isla de las Palomas (Tarifa Caacutediz Mainake XXXII (I) pp 251-278 Diputacioacuten de Maacutelaga MaacutelagaOLIVEIRA Catarina (2001) ndash Lugar e memoacuteria Testemunhos megaliacuteticos e leituras do pasado Ediccedilotildees ColibriOLIVEIRA Catarina (2008) - Hacia una etnologiacutea del Megalitismo Usos y memorias de los sitios megaliacuteticos en las poblaciones rurales del sur de Portugal PH Boletiacuten del Instituto Andaluz del Patrimonio Histoacuterico nordm 67 Especial Monograacutefico 097 pp 96-107POSAC MON Carlos (1975) - Los Algarbes (Tarifa) una necroacutepolis de la Edad del Broncerdquo Noticiario Arqueoloacutegico Hispaacutenico 4 pp 85-120 MadridRAMOS SAINZ Mariacutea Luisa (1990) ndash Estudio sobre el ritual funerario en las necroacutepo-lis fenicias y puacutenicas de la Peniacutensula Ibeacuterica Madrid Universidad Autoacutenoma de Ma-dridTEJEDOR Cristina (2008) - El monumento en el tiempo planteamiento teoacuterico y met-odoloacutegico para el anaacutelisis de las reutilizaciones megaliacuteticas In OrJIA (Coord) Actas de las I Jornadas de Joacutevenes en Investigacioacuten Arqueoloacutegica (3-5 de septiembre de 2008) pp 441-448TEJEDOR Cristina (2013) - La pervivencia de los usos megaliacuteticos en el Valle del Due-ro a lo largo de la Prehistoria Reciente (III-II Milenio BC) Una aproximacioacuten al estudio en la regioacuten del Alto Douro In SASTRE Carlos CATALAacuteN Rauacutel FUENTES Patricia (Coords) - Arqueologiacutea en el Valle del Duero Del Neoliacutetico a la Antiguumledad tardiacutea un estado de la cuestioacuten pp 33-40TEJEDOR Cristina (2015) - La pervivencia de los ldquousos megaliacuteticosrdquo en el valle del Du-eroDouro a lo largo de la Prehistoria Reciente (IV-II Milenio cal BC) Tesis doctoral Universidad de Valladolid Valladolid TEJERA GASPAR Antonio (1979) ndash Las tumbas fenicias y puacutenicas del Mediterraacuteneo occidental Sevilla Universidad de SevillaTORNERO GOacuteMEZ Jesuacutes (1998) - La Sierra de El Retiacuten El campo de Adiestramiento de la Armada y sus valores ambientales Ministerio de Defensa TORRES ORTIZ Mariano (2008) ndash Urnas Cruz del Negro In ALMAGRO Martiacuten dir ndash La necroacutepolis de Medelliacuten II el estudio de los hallazgos Bibliotheca Archaeologica Hispana Madrid Real Academia de la Historia 26-2 pp 631-654VARGAS GIROacuteN Joseacute Manuel (2011) - El fenoacutemeno funerario rupestre en el Campo de Gibraltar Un estado de la cuestioacuten Almoraima 42 pp 143-165

500 |

| 501

| 2018

LA NECROacutePOLIS MEGALIacuteTICA DEL TAJO DE LAS FIGURAS (BENALUP-CASAS VIEJAS CAacuteDIZ)

THE MEGALITHIC NECROPOLIS OF THE TAJO DE LAS FIGURAS (BENALUP-CASAS VIEJAS CAacuteDIZ)

Mariacutea Lazarich Doctora y Profesora Titular de Prehistoria de la Universidad de Caacutediz Responsable del Grupo de Investigacioacuten PAIDI HUM 812 ldquoEstudio de las formaciones sociales de la Prehistoria recienterdquo de la Universidad de Caacutedizmarialazarichucaes

Antonio Ramos-Gil Doctor en Prehistoria Universidad de Caacutediz Miembro del Grupo de Investigacioacuten PAIDI HUM 812 Universidad de Caacutedizaramosgiltelefonicanet

Mercedes Versaci Doctora en Prehistoria Universidad de Caacutediz Miembro del Grupo de Investigacioacuten PAIDI HUM 812 de la Universidad de Caacutediz

Mariacutea Narvaez Cabeza de Vaca Doctoranda y miembro del grupo de investigacioacuten PAIDI HUM-812 de la Universidad de Caacutediz

RESUMENA los pocos antildeos del descubrimiento del importante conjunto de arte rupestre cono- cido como Tajo de las Figuras Henri Breuil en una de las exploraciones que realizoacute para el estudio de las pinturas en 1916 localizoacute un conjunto de tumbas megaliacuteticas bajo tuacutemulo en las terrazas del riacuteo Celemiacuten que discurre al pie de estas cavidades pin-tadas Sin embargo por diversas circunstancias no llegoacute nunca a ser bien estudiado ni excavado incluso se pensoacute que la necroacutepolis habiacutea sido totalmente saqueada y des- truida Recientemente hemos llevado a cabo estudios de prospeccioacuten y delimitacioacuten -tras la limpieza de vegetacioacuten- que nos ha permitido recuperar informacioacuten sobre es-tos doacutelmenes ademaacutes de localizar unos diez sepulcros maacutes cuyo estudio presenta- mosRealizamos un anaacutelisis de la distribucioacuten y posicioacuten de las sepulturas en el territorio y su relacioacuten con las manifestaciones graacuteficas de los abrigos que la circundan Todo ello nos ha permitido obtener inferencias sobre las praacutecticas sociales funerarias de las diversas entidades sociales que ocuparon el territorio dentro de un espacio tem-poral entre el IVordm y el IIordm milenios aCPALABRAS CLAVE Tumbas megaliacuteticas Prehistoria Reciente Pinturas rupestres

502 |

ABSTRACTA few years after the discovery of the important set of rock art known as the Tajo de las Figuras Henri Breuil in one of the explorations he carried out to study the paintings in 1916 located a set of megalithic tombs with mounds on the ter-races of the Celemiacuten river which runs at the foot of these painted cavities How-ever due to various circumstances it never came to be well studied or excava- ted it was even thought that the necropolis had been completely sacked and destroyed Recently we have carried out prospecting and delimitation studies - after vegetation cleaning - that has allowed us to recover information about these dolmens and we have located ten more graves whose study we presentWe perform an analysis of the distribution and position of the graves in the ter-ritory and their relationship with the graphic manifestations of the shelters that surround it All this has allowed us to obtain inferences about the funerary social practices of the various social entities that occupied the territory within a tem-porary space between the 4th and 2nd millennium BCKEY WORDS Megalithic tombs Recent Prehistory Rock paintings

1 INTRODUCCIOacuteN En el extremo sur de la Peniacutensula Ibeacuterica dentro de la provincia de Caacutediz en el teacutermino municipal de Benalup-Casas Viejas existen un conjunto de pequentildeos abrigos pintados adscritos normativamente al arte esquemaacutetico de la Prehistoria reciente El conjunto estaacute formado por ocho abrigos entre los que destacan por presentar un mayor nuacutemero de pinturas los deno- minados Cueva del Arco Cueva Cimera o de los Cochinos y el Tajo de las Figuras que al ser el maacutes importante por el gran nuacutemero de pictogramas que presenta (962) ha dado nombre a todo el Conjunto Aunque el descubrimiento oficial de esta cavidad se produce en 1913 (Mo-lina) y vienen a ella diversos investigadores con el objetivo de realizar su estudio (Cabreacute y Hernaacutendez Pacheco 1914 Verner 1914a b y c Breuil y Burkitt 1929) no es hasta 1916 en una de las visitas que realiza Breuil al Tajo de las Figuras cuando localiza una necroacutepolis megaliacutetica de la que describe los vestigios de diez estructuras tumulares y una onceava dudosa (Breuil y Verner 1917) Posteriormente Cayetano de Mergelina (1924) rea- liza la excavacioacuten de una de las estructuras tumulares en concreto la deno- minada por Breuil como estructura IV sin embargo tendraacute que abandonar sus trabajos al prohibirle el duentildeo de la propiedad donde se localizan las tumbas que continuara con las excavaciones Algunos antildeos despueacutes Breuil y Burkitt en su obra sobre las pinturas rupestres de la provincia de Caacutediz hacen referencia a ellas afirmando que en 1926 habiacutean sido destruidas

| 503

| 2018

por los buscadores de tesoros (Breuil y Burkitt 1929 p 11) Las posteriores publicaciones que mencionan la necroacutepolis uacutenicamente se limitan a repetir lo mismo (Romero de Torres 1934 Leisner y Leisner 1943) Ya en la deacuteca-da de los antildeos ochenta del pasado siglo se retoman las investigaciones en el Conjunto de abrigos con pinturas por Martiacuten Maacutes Cornellaacute quieacuten realiza nuevas prospecciones en la zona pero a la hora de mencionar las estruc-turas megaliacuteticas nos informa que no ha localizado vestigios de ellas y se reafirma en la idea de que habiacutean sido totalmente destruidas (Mas Cornellaacute 1991 y 2000 p 320)Hacia finales del antildeo 2009 nos solicitaron desde la Delegacioacuten de Cultura de Caacutediz que documentaacuteramos el Conjunto de abrigos con pinturas para la realizacioacuten del expediente BIC Tajo de las Figuras (Benalup-Casas Viejas) Tras analizar la informacioacuten bibliograacutefica existente iniciamos los trabajos de prospeccioacuten para valorar el estado de conservacioacuten de los distintos abrigos con pinturas rupestres (8 cavidades) y yacimientos adyacentes Igualmente estuvimos llevando a cabo una prospeccioacuten sistemaacutetica de todos los alre-dedores del Conjunto rupestre del Tajo de las Figuras con el propoacutesito de localizar otros posibles enclaves arqueoloacutegicos y delimitar su extensioacuten Du-rante el desarrollo de estas actividades arqueoloacutegicas redescubrimos los 10 doacutelmenes localizados por H Breuil en 1916 (Breuil y Verner 1917) y aunque comprobamos que muchos de ellos habiacutean sido explosionados y saqueados otros se conservaban maacutes o menos igual que cuando los hallaron El olvido de estas estructuras fue debido fundamentalmente a que el trazado de la carretera habiacutea sido cambiado a partir de principios de la deacutecada de los antildeos setenta al realizar las obras del embalse del Celemiacuten El trazado actual separa los abrigos con pinturas de la necroacutepolis hecho que no sucediacutea en la eacutepoca de H Breuil Asiacute en sus descripciones hace referencia al pie del Tajo de las Figuras en la margen derecha de la carretera que conduce desde el Monasterio del Cuervo a Casas Viejas (Breuil y Verner 1917 p 179) Tal vez sea esta la razoacuten por la que los investigadores no localizaron vestigios de estas estructuras con anterioridad a nuestras prospecciones Igualmente como fruto de nuestros trabajos de prospeccioacuten sistemaacutetica en la zona hemos podido localizar nuevos doacutelmenes tanto en la terraza dere-cha del antiguo riacuteo Celemiacuten hoy embalse junto a los hallados por Breuil como en la margen izquierda donde hemos descubierto una nueva sepul-tura de tipo tholos que estaacute sumergida en las aguas del embalse junto con otras dos maacutes de las que soacutelo se ven cuando baja el nivel de las aguas algu-nas piedras de gran tamantildeo que corresponde probablemente a las cobijas de la cubierta

504 |

2 EL MEDIO NATURAL La necroacutepolis se emplaza en ambas orillas de riacuteo Celemiacuten (Fig 1) que es uno de los afluentes principales de riacuteo Barbate pero que en el momento en que estuvo en funcionamiento esta necroacutepolis vertiacutea sus aguas a una lagu-na desecada artificialmente en la deacutecada de los antildeos sesenta del pasado siglo que se conoce como La Janda Al producirse la transgresioacuten Flandriense a comienzos del Holoceno el nivel del mar ascendioacute desde -120 m hasta el nivel actual en torno al 4500 a C La subida del nivel del mar provocariacutea que la laguna de La Janda se comuni-que con el mar por lo que la depresioacuten pasa a ser una bahiacutea interior A partir de estas fechas contando tambieacuten con reajustes y oscilaciones climaacuteticas se produce una sedimentacioacuten fluvio-marina hasta por lo menos 3800 BP Es en ese momento cuando se produjo la colmatacioacuten de la depresioacuten y por lo tanto el cierre del estrecho paso que comunicaba la laguna con el mar (Zazo et al 1999)La zona por sus caracteriacutesticas geograacuteficas ha ofrecido y ofrece un lugar idoacuteneo para el establecimiento de poblaciones muy vinculadas a su eco-sistema Es por ello que no pueden ni deben comprenderse los diferentes

Figura 1 Ortofoto del embalse del riacuteo Celemiacuten con la ubicacioacuten de las tumbas megaliacuteticas

| 505

| 2018

enclaves arqueoloacutegicos maacutes que dentro de un aacutembito espacial de caraacutecter econoacutemico social cultural y simboacutelico que le da sentido y que constituye la esencia de lo que conocemos como Tajo de las FigurasEsto ha llevado a que fuera una zona transitada por bandas de cazadores- -recolectores del Paleoliacutetico inferior y Medio (Graveras del Celemiacuten) y por so-ciedades de cazadores especializados del Paleoliacutetico superior (Cubeta de la Paja) (Ripoll Maacutes y Perdigones 1991) quienes plasmaron sus primeras manifestaciones graacuteficas en algunos de los abrigos Pero sobre todo su ocu-pacioacuten maacutes intensa corresponde ya al periodo holoceacutenico con asentamien-tos neoliacuteticos y calcoliacuteticos (Lazarich et al 2012) una necroacutepolis megaliacutetica y las representaciones graacuteficas de gran singularidad de comunidades agro- pastoriles en las que todaviacutea la caza juega un papel importante para la sub-sistencia pero al mismo tiempo estas actividades cinegeacuteticas adquieren nuevas connotaciones simboacutelicas y de poder (Lazarich et al 2013)

3 ANAacuteLISIS DE LAS DIVERSAS ESTRUCTURAS DE LA NECROacutePOLIS Tras localizar los diez tuacutemulos megaliacuteticos descubiertos por H Breuil y W Verner en 1916 con mucho esfuerzo dada la intensa vegetacioacuten de la zona solicitamos permiso de desbroce y limpieza de las estructuras funerarias para eliminar la vegetacioacuten y poder delimitar la verdadera extensioacuten que teniacutean y el estado de conservacioacuten 31 Los trabajos arqueoloacutegicos en los tuacutemulos megaliacuteticos descu-biertos por H BreuilEn primer lugar acometimos uno a uno el desbroce y destoconamiento de la maleza crecida de forma incontrolada alrededor y sobre los tuacutemulos de los doacutelmenes Hay que sentildealar por las fotografiacuteas aportadas tanto por Breuil y Burkitt (1929) como por Mergelina (1924) en la zona no existiacutea la vegetacioacuten que hay en la actualidad por lo que las estructuras tumulares que encerraban las sepulturas megaliacuteticas eran visibles y destacaban del terreno circundante Despueacutes eliminamos la capa de tierra vegetal acumu-lada hasta llegar a la arcilla base Esta tarea se realizoacute con el objetivo de descubrir aquellas piedras que formaban parte de las estructuras primitivas al margen de haber sido removidas por las explosiones u otros agentes ex-poliadores Este sistema teniacutea ademaacutes la misioacuten de dejar al descubierto las piedras ortostatos y cobijas para poder realizar el dibujo de las mismas posteriormenteRealizamos el trazado de cuadriculas de 2 m de intervalo que abarcaba la totalidad de los tuacutemulos materializaacutendola mediante estacas y cordeles Esta retiacutecula nos serviriacutea como eje de coordenadas y asiacute ortofotografiar todos y

506 |

cada uno de las cuadriculas que unidas digitalmente dariacutea como resultado una ortofoto de todo el conjunto de cada uno de los tuacutemulos Realizamos el fotografiado de todas y cada una de las aproximadamente 100 cuadriacuteculas de cada dolmen a una altura de 25 m con la caacutemara colocada de for-ma perpendicular al suelo y situando previamente una claqueta con la indi-cacioacuten del nordm de la cuadriacutecula y la escala correspondiente para tener refe- rencia de la situacioacuten exacta de cada foto Tras ello se tomaban y anotaban las alturas topograacuteficas de cada cuadricula mediante nivel y escala con el objeto de poder dibujar posteriormente el relieve en 3D de cada uno de los tuacutemulos Finalmente se obtuvieron de coordenadas UTM ED50 en el centro y en las esquinas de la retiacutecula para su posterior acoplamiento en el pla-no topograacutefico Tambieacuten se realizaron una serie de fotos aeacutereas mediante una caacutemara instalada en un DROM sin embargo dada la cantidad de aacuterbo-les (acebuches) que existen en los tuacutemulos de las estructuras impediacutean la visioacuten de eacutestos hecho que siacute pudimos realizar mediante la fotografiacutea digital como ya hemos comentado Tras la toma de las fotografiacuteas realizamos una ortofoto compuesta por to-das las fotografiacuteas de las cuadriculas de 2 por 2 m Para ello se utiliza una cuadricula virtual sobre una imagen en blanco (Programa Adobe Photoshop 811) sobre la que se van colocando las diferentes fotos Estas se ajustan a la cuadricula virtual absorbiendo de esta manera las pequentildeas deforma-ciones que la posicioacuten de la caacutemara adquiere al no estar colocada milimeacutetri-camente en el centro de la cuadricula de 2 por 2 en el terreno El trazo de los cordeles fotografiados se hace coincidir con las liacuteneas de la cuadricula virtual trazadas por el programa a escala de 2 m por 2 m y se completa el trabajo incorporando a la imagen la cuadricula virtual mediante liacuteneas traza-das de forma que se puedan visualizar en un archivo JPG Posteriormente se realiza el dibujo de las piedras de las estructuras tumu-lares ortostatos y cobijas Mediante el uso de un programa de dibujo vecto-rial (FreeHand 10) se traslada la imagen conseguida en el proceso anterior colocaacutendola en una capa En otra capa superior se van dibujando los con-tornos de todas las piedras que se observan en la imagen Debido a la alta calidad de las fotos originales (de 2 a 3 Mb de resolucioacuten) se pueden dibujar piedras de hasta unos pocos cm de diaacutemetro asiacute como los detalles de las piedras que formaban las estructuras megaliacuteticas El objetivo del citado trabajo era poder apreciar las liacuteneas circulares de las piedras que forman los anillos de sujecioacuten del tuacutemulo (cuando existe) y los liacutemites de los mismos Tambieacuten sirve para determinar la orientacioacuten del corredor yo la posicioacuten de las cabeceras Todo ello era necesario debido a

| 507

| 2018

que la mayoriacutea de estos doacutelmenes estaban en muy mal estado de conser-vacioacuten por lo que es difiacutecil el averiguar la posicioacuten teoacuterica de los elementos constructivos sin acometer su excavacioacutenTodos eacutestos tuacutemulos se encuentran ubicados en las terrazas fluviales de la margen derecha del rio Celemiacuten hoy represado en el embalse del mismo nombre Las altitudes sobre el nivel del mar son similares oscilando entre los 34 m del DB-I a los 30 m del DB-VII que se corresponden con la terraza media (Pleistoceno medio) En cuanto a las orientaciones de sus declives estas vienen condicionadas por la orografiacutea del terreno cuya pendiente es en general de N a S 311 Descripcioacuten de las estructuras dolmeacutenicas existentes en la actualidadPara ello nos basamos en la documentacioacuten aportada por Breuil (Breuil y Verner 1917) y por Mergelina (1924) y en los vestigios que se observan

Figura 2 Ortofoto detalle de la ubicacioacuten de los doacutelmenes descubiertos por Breuil y los nuevos hallazgos adyacentes a estos Obseacutervese en la fotografiacutea los ciacuterculos de los tuacutemu-los tras la eliminacioacuten de la vegetacioacuten en ellos La liacutenea roja marca la direccioacuten donde se localiza el Conjunto rupestre del Tajo de las Figuras

508 |

Figura 3 A Planimetriacutea DB I A1 seguacuten Breuil y Verner 1917 A2 Dolmen ldquoGrdquo de C Merge-lina 1927 A3 situacioacuten en 2012 B Planimetriacutea DB II B1 seguacuten Breuil y Verner 1917 B2 Dolmen ldquoFrdquo de C Mergelina 1927 B3 situacioacuten en 2012 C Planimetriacutea DB III C1 seguacuten Breuil y Verner 1917 C2 Dolmen ldquoErdquo de C Mergelina1927 C3 situacioacuten en 2012 D Planimetriacutea DB IV D1 seguacuten Breuil y Verner 1917 D2 Dolmen ldquoArdquo de C Mergelina1927 D3 situacioacuten en 2012 (Dibujos planimetriacuteas A Ramos-Gil Situacioacuten 2012 Grupo PAIDI-HUM812)

| 509

| 2018

en superficie despueacutes de la limpieza de vegetacioacuten y de la eliminacioacuten de la capa de tierra vegetal depositada a posteriori de la construccioacuten de los tuacutemulos Dolmen DB-I Ubicado al este del conjunto dolmeacutenico (Figs 2 y 3A) presenta una destruc-cioacuten casi total Solo se conserva una gran laja de cubierta al N la misma que aparece en los dibujos de Breuil y de Mergelina En el centro hay un craacuteter de unos 3 m de diaacutemetro y una profundidad de unos 30 cm signo inequiacutevoco de haber sido expoliado Tambieacuten se observan restos de algunos ortostatos En la planimetriacutea no se observa la presencia de anillos tumulares aunque no se descarta su existencia a mayor profundidad cuestioacuten que no quedaraacute resuelta hasta la excavacioacuten sistemaacutetica del dolmen El tuacutemulo es de poca elevacioacuten (136 m) con unos diaacutemetros de 20 m (ori-entacioacuten NS) y de 18 m (orientacioacuten EW) La direccioacuten del corredor con cabecera al N seriacutea hacia el SWDolmen DB-II Situado a 36 metros al sur del DB-I se ubica en el centro de un tuacutemulo aterr0a- zado (Figs 2 y 3B) que desciende a maacutes de tres metros en direccioacuten SW y de unos 24 m (NS) y 22 m (EW) de diaacutemetros En la planimetriacutea correspon- diente se insinuacutean los ciacuterculos de contencioacuten formados por numerosos can-tos rodados Es uno de los mejores conservados desde las descripciones de Breuil y Mergelina lo que se aprecia comparando los dibujos correspondientes con el actual Tiene alrededor de 5 m de longitud En todos ellos se pueden apreciar las rocas nombradas por Mergelina como ldquobrdquo ldquocrdquo y ldquodrdquo (Fig 3B 2) no asiacute la cabecera ldquoardquo que aparece en el dibujo de Breuil en vertical (Fig 3B 1) y que en la actualidad estaacute fragmentada pero auacuten in situ su parte inferior (Fig 3B 3) Igualmente le faltan lajas de la cubierta Esta circunstancia y el hecho de no aparecer craacuteter alguno nos hace sospechar que este dolmen no ha sido removido al menos desde su primer descubrimiento Presenta un tuacutemulo de unos 23 m Tiene planta rectangular y una orientacioacuten SSW (208ordm aprox)Dolmen DB-IIIUbicado a unos 50 m del anterior y separado por un pequentildeo arroyo que discurre paralelo a ambos se asienta sobre otro de los salientes de las terra- zas del riacuteo Celemiacuten Este se encuentra en mal estado de conservacioacuten con varios fragmentos de cobijas de la cabecera desplazadas y volteadas a dos metros de su ubicacioacuten original como podemos observar en la comparativa entre los dibujos de las plantas de Breuil y los nuestros en la actualidad

510 |

Figura 4 E Planimetriacutea DB V E1 seguacuten Breuil y Verner 1917 E2 Dolmen ldquoCrdquo de C Mergelina 1927 E3 situacioacuten en 2012 F Planimetriacutea DB VI B1 seguacuten Breuil y Verner 1917 F2 Dolmen ldquoBrdquo de C Mergelina 1927 F3 situacioacuten en 2012 G Planimetriacutea DB VII G1 seguacuten Breuil y Verner 1917 G2 Dolmen ldquoDrdquo de C Mergelina1927 G3 situacioacuten en 2012 H Planimetriacutea DB VIII H1 seguacuten Breuil y Verner 1917 H2 Dolmen ldquoIrdquo de C Mergelina 1927 H3 situacioacuten en 2012 (Dibujos planimetriacuteas A Ramos-Gil Situacioacuten 2012 Grupo PAIDI-HUM812)

| 511

| 2018

(Figs 2 y 3C) seguramente debido a la explosioacuten a la que fue sometida y que la fracturoacuteLa estructura tumular estaacute situada a 31 msnm y estaacute construida a base de tierra y cantos rodados conformando anillos de refuerzo Alcanza una altura de 33 m y 18 m de diaacutemetro La estructura funeraria tiene planta rectangular con una orientacioacuten SW (205ordm aprox) Su longitud es de 6 m con una gran laja de cubierta de 235 x 155 mDolmen DB-IVEs el de mayores dimensiones del conjunto y al parecer el que se encon-traba en un mejor estado de conservacioacuten (Breuil y Verner 1917) por lo que Cayetano de Mergelina (1924) acometioacute su excavacioacuten Estaacute situado a 32 msnm (Figs 2 y 3D) Presenta un tuacutemulo con un diaacutemetro maacuteximo de 24 m que coincide con el eje donde se localizaba la estructura que teniacutea planta rectangularSin embargo fue explosionada y destruida totalmente la galeriacutea funeraria por los propietarios de la finca Eacutesta se encontraba orientada en direccioacuten Norte-Nordeste y su longitud alcanzaba los 850 m La laja de la cabe- cera contaba con unas dimensiones de 2 por 243 m (Fig 3D 2) Seguacuten Mergelina teniacutea una profundidad en la parte de la cabecera de 184 m Fue excavado por este uacuteltimo hasta un nivel de -0rsquo60 m Halloacute un fragmento de plato de borde almendrado varios elementos de hoz y otros restos de talla de cuarcita La orientacioacuten de la estructura funeraria es SW (205o aprox)Dolmen DB-VSe localiza a pocos metros del anterior (Figs 2 y 4E) y a la misma altitud (32 msnm) Soacutelo conserva el tuacutemulo y algunos ortostatos de la galeriacutea y le faltan las lajas de la cubierta y el interior parece estar saqueado casi en su totalidad Durante la limpieza encontramos un fragmento de hoja-cuchillo de siacutelex La orientacioacuten de la cabecera era nordeste La longitud conservada de la galeriacutea es de 250 m Seguacuten Mergelina se levantaba sobre un tuacutemulo de 11 m de diaacutemetro (Mergelina 1924) sin embargo este es mayor en la realidad pues alcanza en su eje mayor los 17 m La orientacioacuten de la galeriacutea es SW (212o aprox)Dolmen DB-VILocalizado a 31 msnm junto al anterior (Figs 2 y 4F) de manera que los tuacutemulos de ambos estaacuten unidos La estructura dolmeacutenica tiene una longitud de alrededor 5 m con una laja de cubierta en la cabecera de 235 por 159 m La cabecera estaba orientada al Nordeste La gran laja de la cubierta conservada auacuten en 1924 presentaba 17 cazoletas (Fig 4F 2) sin embar-

512 |

Figura 5 J Planimetriacutea DB IX J1 seguacuten Breuil y Verner 1917 J2 Dolmen ldquoHrdquo de C Mergelina1927 J3 situacioacuten en 2012 K Planimetriacutea DB X K1 seguacuten Breuil y Verner 1917 K2 Dolmen ldquoGrdquo de C Mergelina 1927 K3 situacioacuten en 2012 L Dolmen ldquoCel-emin Irdquo M Dolmen ldquoPentildearroyo 1rdquo ambos descubiertos por el Grupo PAIDI-HUM812 (Dibujos planimetriacuteas y doacutelmenes A Ramos-Gil)

| 513

| 2018

go esta aparece hoy totalmente fracturada (Fig 4F 3) posiblemente como resultado de la explosioacuten a la que fue sometida al igual que ocurrioacute con las estructuras III y IV y posiblemente tambieacuten con las V y VII Solo conserva tres ortostatos in situ sin embargo el tuacutemulo de unos 15 m de diaacutemetro en su eje mayor se encuentra en buen estado de conservacioacuten conformado medi-ante anillos de cantos rodados de diverso tamantildeo y tierra La Orientacioacuten de la galeriacutea es SWW (205o aprox)Dolmen DB-VIIEsta unido por su tuacutemulo a la estructura VI (Figs 2 y 4G) y se situacutea a la mis-ma altitud La galeriacutea teniacutea una longitud de alrededor de 5 m y planta rec- tangular La orientacioacuten es SSW (190ordm aprox) Su tuacutemulo tiene una altitud conservada respecto al terreno que los circunda de 15 m y estaacute formado por tierra y anillos de piedra (cantos rodados) con un diaacutemetro de 13 m Este no parece tal alterado como los anteriores pues conserva varios ortostatos in situ pero le faltan las lajas de la cubierta Dolmen DB-VIIIEacuteste estaacute situado maacutes al norte (Figs 2 y 4H) a 32 msnm y parece formar parte de otro conjunto junto con el dolmen IX que se ubica a pocos metros Aunque muestra alterada su entrada y ha sufrido derrumbes de la mayor parte de la galeriacutea tuvo que ser saqueado antes del siglo XX ya que se en-contraba tal y como los dibujaron Breuil y Verner (1917) y Mergelina (1924) La longitud es difiacutecil de saber Conserva una gran cobija de 252 m por 180 mEl tuacutemulo estaba muy bien conservado y formado al igual que el resto de tierra y cantos rodados con un diaacutemetro conservado de 15 m y de una altu-ra conservada de 2 m La orientacioacuten es SW (220o aprox)Dolmen DB-IXCerca del anterior se situacutea el numerado como IX por Breuil y Burkitt (1919) (Figs 2 y 5I) Si observamos los ortostatos que existen hoy (Fig 5I 3) y los comparamos con las plantas de Breuil (Fig 5I 1) y Mergelina (Fig 5I 2) comprobamos que este dolmen no debioacute de ser saqueado No hemos en-contrado vestigios de explosioacuten ni de saqueo por lo que la peacuterdida de las lajas de la cubierta fue anterior al descubrimiento por Breuil Al igual que todas las galeriacuteas megaliacuteticas localizadas en la margen derecha del riacuteo Celemiacuten tiene planta rectangular de algo maacutes de 6 m La estructura tumular formada mediante anillos de cantos rodados y tierra tiene unos 18 m en su eje mayor La orientacioacuten es SW (212o aprox)Dolmen DB-XEste se localiza al otro lado de un pequentildeo arroyo estacional que lo sepa-

514 |

ra del resto de la necroacutepolis hallada por Breuil (Fig 2) y a una cota de 32 msnm Al igual que el anterior no parece muy alterado (Fig 5J 3) en re- lacioacuten a los planos de Breuil y Burkitt (1917) (Fig 5J 1) y Mergelina (1924) (Fig 5J 2) Sin embargo creemos que posiblemente se encontraba saquea-do con anterioridad a su descubrimiento Es el maacutes pequentildeo del conjunto y la estructura tumular tiene de 16 m y estaacute conformada por un relleno de tierra y cantos desordenados La orientacioacuten es S (180ordm aprox)32 Los nuevos hallazgos321 Los nuevos doacutelmenes de la necroacutepolis de BreuilEn la misma terraza donde se localizan los doacutelmenes hallados por Breuil (DB-I a DB-IX) hemos localizado otros restos de estructuras dolmeacutenicas El que hemos denominado Dolmen XI (Fig 2) siguiendo la nomenclatura dada por H Breuil se localiza inmediato al dolmen VII A pocos metros maacutes hacia el oeste hemos localizado vestigios de otras tres nuevas estructuras (XII XIII y XIV) en las que sin embargo no hemos acometido auacuten tareas sistemaacuteti-cas de limpieza por lo que la vegetacioacuten no nos permite por el momento mayor precisioacuten sobre ellas salvo que algunas como ocurre con el DB-XI se encuentra en un excelente estado de conservacioacuten pues el tuacutemulo no pre-senta huellas de haber sido alterado por lo que soacutelo observamos los anillos de piedras que conforman la estructura tumular Esta estructura ademaacutes parce estar integrada por un gran tuacutemulo y dos maacutes pequentildeos inmediatos en direccioacuten S322 Los doacutelmenes denominados del CelemiacutenEstas estructuras dolmeacutenicas se localizan igualmente en la orilla derecha del embalse del Celemiacuten (Fig 1) Son visibles en los meses de estiacuteo des-de que se acometieron las obras del pantano y la erosioacuten del agua los ha emergido al ir desapareciendo la estructura tumular que los cubriacutea Ello ha provocado el desplazamiento de las cubiertas incluso de algunos de los or-tostatos y jambas de las entradas No se han acometido auacuten excavaciones pues al situarse bajo la cota de inundacioacuten desde el antildeo 2009 que comen-zamos los trabajos de prospeccioacuten pocos diacuteas estaacuten libres de las aguas Celemiacuten11

La que hemos denominado Celemiacuten 1 parece ser la uacutenica de las tres sepul-turas que se conserva in situ (Fig 5L) Cuenta con una caacutemara maacutes o menos rectangular de la que se visualizan cuatro ortostatos laterales uno en la cabecera y una gran laja que aunque desplazada parece corresponder a la cubierta de aquella (Lazarich et al 2013)Celemiacuten 2 se encuentra en una cota algo maacutes alta (Fig 1) sobre una ter-raza del antiguo cauce y que ha sido arrasada en parte por las aguas del 1 La denominamos asiacute para diferenciarlas de los doacutelmenes hallados por Breuil porque auacuten que auacuten no habiacuteamos localizado estos uacuteltimos sabiacuteamos que se trataban de estructuras diferentes a las publicadas por Breuil y Burkitt (1917) maacutes tarde por Mergelina (1924) y por G y V Leisner (1943)

| 515

| 2018

embalse Se observan cuatro lajas probablemente correspondientes a las paredes de la estructura funeraria que se presentan desplazadas en un aacuterea de unos 25 o 30 m2 Celemiacuten 3Finalmente el dolmen Celemiacuten 3 (Fig 1) que al igual que el anterior parte de los elementos de la estructura que lo conforman habiacutean sido movidos por las aguas Consiste en un conjunto de lajas de gran tamantildeo correspon-dientes a las paredes y a la cubierta de la tumba ademaacutes de un pilar Una de ellas presenta numerosas cazoletas que si bien creemos tienen un origen natural a partir de la erosioacuten de pisolitos algunas de ellas podriacutean haber sido alteradas y sobre todo como ocurriacutea en el dolmen VII de Breuil de esta misma necroacutepolis fueron elegidas para formar parte de estas estructuras por tener alguacuten significado para estas comunidades Eacutestas son frecuentes en otras estructuras dolmeacutenicas de Andaluciacutea como ocurre el Dolmen de Viera (Antequera) con decenas de estas concavidades en las caras internas de varios ortostatos del corredor y el sitio Arqueoloacutegico de Pentildeas de Cabrera (Maura Mijares 2010) en la provincia de Maacutelagapero son abundantes en otras zonas peninsulares como las existentes en los doacutelmenes del aacuterea del Tajo (Bueno et al 2010) y en grabados en los farallones al aire libre en el propio riacuteoLos doacutelmenes de PentildearroyoEn la orilla izquierda del antiguo cauce del riacuteo Celemiacuten hoy pantano se lo-caliza otro conjunto megaliacutetico integrado al menos por tres estructuras que hemos denominado Pentildearroyo por hallarse cercano al arroyo de este nom-bre (Fig 1) De eacutel destaca el sepulcro de corredor Pentildearroyo I (Fig 5M) Eacuteste estuvo oculto por las aguas del embalse del Celemiacuten hasta finales de 2009 en el que el pantano alcanzoacute su nivel maacutes bajo desde haciacutea 15 antildeos Desa-fortunadamente las fuertes lluvias del otontildeo-invierno del 2010 lo volvieron a cubrir y hasta la fecha no se ha vuelto a ver Que sepamos no se cono- ciacutea la existencia de esta tumba megaliacutetica aunque los vecinos de la zona comentan muy vagamente que de vez en cuando bajo las aguas del em-balse se observan alineadas algunas piedras de gran tamantildeo que podriacutean corresponder a construcciones megaliacuteticas Sin embargo los mayores del lugar afirman que antes de la construccioacuten del pantano (1968) eacutestas no eran visiblesLa sepultura de Pentildearroyo I es un sepulcro de corredor de al menos 880 m de longitud cuyas paredes estaacuten realizadas de mamposteriacutea y cubier-tas por grandes lajas de piedra Presenta un atrio de entrada coronado por dos menhires verticales hecho que se repite tras finalizar el corredor y el

516 |

comienzo de la primera caacutemara Eacutesta tiene forma circular y con un diaacutemetro maacuteximo de 290 m se puede acceder a un estrecho corredor que posible-mente deacute paso a otra u otras caacutemaras secundariacuteas que se introducen en el tuacutemulo de arcilla por lo que desconocemos sus verdaderas dimensiones Las paredes del corredor se encuentran destruidas en parte lo mismo que la cubierta cuyas grandes cobijas han sido desplazadas por las aguas El estado de conservacioacuten de esta tumba no parece malo y no hay indicios de que haya sufrido ninguacuten saqueo Es interesante resaltar que estamos ante la primera estructura tipo tholos hallada en la zona ya que el resto son galeriacuteas cubiertas cuevas artificiales o estructuras de tipo mixto como ocurre con las estructuras E-2 y E-IV de la necroacutepolis de Paraje de Monte Bajo (Lazarich 2007) Hemos localizado indicios de otros dos enterramientos maacutes en las inmedia-ciones (Pentildearroyo II y III) por la presencia de grandes ortostatos sin embar-go eacutestos al encontrarse en una cota maacutes baja aparecen siempre cubiertos por las aguas De todas formas habraacute que estar atentos en los proacuteximos antildeos si es que se produce una nueva bajada del nivel del pantano para intentar si fuera posible ponerlos a salvo

VALORACIOacuteN FINALExiste una estrecha relacioacuten entre la necroacutepolis y los abrigos con pinturas sobre todo con el principal ldquoTajo de las Figurasrdquo Desde la boca de este abri-go se divisa toda la necroacutepolis visibilidad que se hace igualmente patente en las tumbas pues no soacutelo desde ellas se ve el abrigo sino que se visua- lizan entre ellas La idea de perpetuidad queda patente en los materiales constructivos uti-lizados pero tambieacuten la propia visibilidad de las tumbas aporta un caraacutecter monumental a la necroacutepolis que se expande en el paisaje Esta monumen-talizacioacuten del paisaje creemos que sirve aquiacute como un elemento de legiti-macioacuten del territorioLa orientacioacuten de las construcciones megaliacuteticas se ha relacionado con la observacioacuten de los astros (solsticios y equinoccios) a veces relacionado con un punto del relieve donde se situacutea el sol o las estrellas de una conste- lacioacuten posiblemente con el propoacutesito de controlar los ciclos de la naturaleza para un mejor conocimiento y dominio de las estrategias agrarias Todos los megalitos descubiertos por Breuil seguacuten hemos podido constatar estaacuten orientados al S-SO (con un acimut entre los 180ordm-220ordm) Esta orientacioacuten aunque no es comuacuten en otras zonas peninsulares sin embargo en las estructuras dolmeacutenicas del sur la provincia de Caacutediz parece ser la norma

| 517

| 2018

Los doacutelmenes de Aciscar (nordm 1 al 4 de Breuil asiacute como el denominado C y descubierto por C de Mergelina) tienen una orientacioacuten parecida con un acimut comprendido entre los 214ordm y los 250ordm (Hoskin et al 2001 54-55) Un caso aparte lo constituyen la galeriacutea cubierta de los Charcones (Lazarich et al 2013) ubicada cerca del poblado del mismo nombre (Ramos et al 1995) con una orientacioacuten NE (acimut 32) y el tholos de Pentildearroyo I que mira N-NE (acimut 25) Las prospecciones y estudios llevados a cabo por nuestro grupo de inves-tigacioacuten nos han permitido ademaacutes conocer la ubicacioacuten de los lugares de haacutebitat con presencia de pequentildeos asentamientos estacionales y aldeas algunas de eacutestas con estructuras emergentes significativas

BIBLIOGRAFIacuteABREUIL H and BURKITT MC (1929) - Rock Paintings of Southern Andalusia A Descrip-tion of a Neolithic and Copper Age Art Group Oxford Clarendon PressBREUIL H y VERNER W (1917) - Deacutecouverte de deux centres dolmeacuteniques sur les bords de la Laguna de la Janda (Cadix)rdquo Bulletin Hispanique XIX p 157-188BUENO RAMIacuteREZ P DE BALBIacuteN BERHMANN R y BARROSO BERMEJO R (2010) - Grafiacuteas de los grupos productores y metaluacutergicos en la cuenca interior del Tajo La re-alidad del cambio simboacutelico en Gonccedilalves VS y Sousa AC (eds) Transformaccedilao e Mudanccedila no Centro e Sul de Portugal o 4ordm e o 3ordm mileacutenios ane Caacutemara Municipal de Cascais p 489-517BUENO RAMIacuteREZ P BALBIacuteN BEHRMANN R DE BARROSO BERMEJO R CARRERA RAMIacuteREZ F Y AYORA IBAacuteNtildeEZ C (2013)- Secuencias de arquitecturas y siacutembolos en el Dolmen de Viera (Antequera Maacutelaga Espantildea) Menga Revista de Prehistoria de Anda-luciacutea 4 p 251-266HOSKIN M et al (2001) - ldquoStudies in Iberian Archaeoastronomy (8) Orientations of megalithic and tholos tombs of Portugal and Southwest Spainrdquo Archaeoastronomy 26 (JHA XXXII) p 53-64LAZARICH M GOMAR A Mordf RUIZ A TORRES F RAMOS-GIL A Mordf J CRUZ (2012) - Las manifestaciones rupestres postapeloliacuteticas del entorno de la Laguna de La Janda (Caacutediz) nuevas perspectivas de estudio Seminario de arte prehistoacuterico (Valencia) 2011 Varia X p 179-207LAZARICH M BRICENtildeO E CRUZ Mordf J SANtildeUDO J RAMOS A (2013) - Las necroacutepolis megaliacuteticas del entorno de la Laguna de La Janda (Caacutediz) VI Encuentro de Arqueologiacutea del Suroeste Peninsular p 208-228LEISNER G Y LEISNER V (1943) - Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Suumlden BerlinLUQUE L ZAZO C RECIO JM DUENtildeAS MA GOY JL LARIO J GONZAacuteLEZ-HERNAacuteN-DEZ F DABRIO CJ amp GONZAacuteLEZ-DELGADO A (1999) - Evolucioacuten sedimentaria de la Laguna de la Janda (Caacutediz) durante el Holoceno Cuaternario y Geomorfologiacutea 13 (3-4) p 43-50MAURA MIJARES R (2010) - Guiacutea del Enclave Arqueoloacutegico Pentildeas de Cabrera Junta de Andaluciacutea Sevilla

518 |

MAS CORNELLAgrave M (1991) - Prospecciones arqueoloacutegicas en Sierra Momia (Caacutediz) Anu- ario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea 1991 II p 93-98 MAS CORNELLAgrave M (2000)- Las manifestaciones rupestres prehistoacutericas de la zona ga-ditana Sevilla Junta de Andaluciacutea Consejeriacutea de CulturaMERGELINA C de (1924) - Los focos dolmeacutenicos de la Laguna de la Janda Memorias de la Sociedad Espantildeola de Antropologiacutea Etnografiacutea y Prehistoria III p 97-126MOLINA Y PASTORIZA V (1913) - Arqueologiacutea y prehistoria de la provincia de Caacutediz en Lebrija y Medina Sidonia Boletiacuten de la Real Academia de la Historia LXII p 554-562RAMOS J CASTANtildeEDA V PEacuteREZ M LAZARICH M MARTIacuteNEZ C MONTANtildeEacuteS M LOZANO J M y CALDEROacuteN D (1995) - Los Charcones Un poblado agriacutecola del III y II milenios aC Su vinculacioacuten con el foco dolmeacutenico de la Laguna de la Janda Almoraima 13 p 30-50RIPOLL S MAS CORNELLAacute M y PERDIGONES L (1991) Actuaciones de urgencia en las Cuevas de Levante y Cubeta de la Paja (Sierra Momia Benalup Caacutediz) Anuario Ar-queoloacutegico de Andaluciacutea 1991 III p 105-110 ROMERO DE TORRES E (1934)- Catalogo Monumental de Espantildea Provincia de Caacutediz (1908-1909) Ministerio de Instruccioacuten Puacuteblica y Bellas Artes Madrid VERNER W W C (1914a)- Prehistoric man in Southern Spain I Country Life 911 p 901-904VERNER W (1914b) - Prehistoric man in Southern Spain IIrdquo Country Life 914 p 41-45VERNER W (1914c) - Prehistoric man in Southern Spain IIIrdquo Country Life 916 p 114--118

| 519

| 2018

Megalitismos del aacuterea de Huelva Investigacioacuten y puesta en valor

Megalithisms of the Huelva area Research and valorization

RESUMENEl aacuterea de Huelva presenta un megalitismo destacado por la gran variabilidad arquitectoacutenica y por la singularidad de ciertos modelos de monumentos El de-sarrollo en los uacuteltimos antildeos de un conjunto de intervenciones con una meto- dologiacutea interdisciplinar de puesta en valor en el marco de la Ruta Dolmeacutenica ha contribuido a la investigacioacuten conservacioacuten difusioacuten y valorizacioacuten social del patrimonio megaliacutetico En cuanto a la investigacioacuten se han documentado una amplia diversidad megalitismos desarrollados en la zona desde el Neoliacutetico Medio a la Edad del Bronce Antiguo El anaacutelisis arqueoloacutegico de los sitios ha confirma-do la existencia de monumentos de amplias secuencias arquitectoacuteni-cas y usos de larga temporalidad caso del grupo de Los Llanetes dolmen de Soto y El Seminario El estudio de las fases constructivas y de la evolucioacuten diacroacutenica de los sitios permiten plantear una se-cuencia de la zona en grandes etapas 1) un megalitismo menhiacuterico desde el Neoliacutetico Medio 2) un antiguo y potente megalitismo fune- rario desde inicios del Neoliacutetico Reciente con diversos modelos de doacutelmenes (caacutemaras simples caacutemaras alargadas galeriacuteas cu-biertas y caacutemaras muacuteltiples) 3) los procesos de monumental-izacioacuten re-construccioacuten y reutilizacioacuten de los doacutelmenes en el Neoliacutetico Final y Edad del Cobre 4) la proliferacioacuten de las se- pulturas colectivas subterraacuteneas (hipogeos) y semisubterraacuteneas (hipo-geos mixtos y tholoi) en la Edad del Cobre 5) la permanencia del megali- tismo en la Edad del Bronce Antiguo mediante dos formas de monumen-talidadEn todos los sitios se han realizado trabajos de conservacioacuten combinados de diversa naturaleza (limpieza conservacioacuten preventiva consolidacioacuten

Joseacute Antonio Linares Catela Phd colaborador con el aacuterea de Prehistoria de la Universi-dad de Huelva UMR 6566 CReAAH Universiteacute de Rennes 1Director teacutecnico de Cota Cero GPH SLe-mail jalinarescatelagmailcom

520 |

eliminacioacuten de restauraciones previas y recuperacioacuten paisajiacutestica) que garantizan la preservacioacuten de estos complejos yacimientos arqueoloacutegi-cos su exhibicioacuten y uso como sitios visitables En la actualidad se pre-sentan carencias en la tutela patrimonial de los sitios megaliacuteticos sien-do uno de los retos a solucionar en el futuroPALABRAS CLAVE Megalitismos Monumentalidades Investigacioacuten Con-servacioacuten Valorizacioacuten

ABSTRACTThe Huelva area presents a megalithism highlighed by the great architectu- ral variability and the singularity of certain models of monuments The develop- ment in recent years of a set of interventions with an interdisciplinary metho- dology in the Megalithic Route has contributed to the research conservation dissemi-nation and social valorization of the megalithic heritageIn terms of research a wide diversity of megalithisms developed in the area from the Middle Neolitic to the Early Bronze Age have been documented The archaeological analysis of the sites has confirmed the existence of monuments with extensive architectu- ral sequences and long-term uses such as the Llanetes group the dolmen of Soto and the El Seminario The study of the construction phases and of the dia-chronic evolution of the sites allows us to propose a sequence of the area in great stages 1) a standing stones from the Middle Neolithic 2) an old and outstanding funerary megalithism from the beginning of the Recent Neolithic with different mod-els of dolmens (simple chambers elongated chambers covered gallery graves and multiple chambers) 3) the processes of monumentalization re-construction and reuse of dolmens in the Last Neolithic and Copper Age 4) the proliferation of collective underground (hypogeums) and semi-subterranean (mixed hypogeums and tholoi) tombs in the Copper Age 5) the permanence of megalithism in the Early Bronze Age through two forms of monumentality In all the sites have been carried out combined conservation works of di-verse nature which guarantee the preservation of these complex archaeologi-cal sites their exhibition and use as visitable sites At present there are shotco- mings in the heritage protection of megalithic sites and this is one of the challenges to be solved in the futureKEY-WORDS Megalithisms Monumentalities Research Conservation Valorization

1 INTRODUCCIOacuteNEl aacuterea de Huelva es un aacutembito geograacutefico relevante para la investigacioacuten y la valorizacioacuten social del megalitismo del sur peninsular dado los potenciales pat-rimoniales que contiene Por un lado es una de las aacutereas de mayor nuacutemero

| 521

| 2018

y concentracioacuten de monumentos megaliacuteticos en Andaluciacutea occidental contabi-lizaacutendose en la actualidad cerca de 300 sitios de una gran variabilidad formal y diversidad de teacutecnicas constructivas presentaacutendose arquitecturas represen-tativas del megalitismo menhiacuterico y del megalitismo funerario en todas las uni-dades geoloacutegicas y comarcas geograacuteficas de la provincia (Fig 1) (Linares Catela 2011 2012) Especialmente relevantes son dos formas arquitectoacutenicas funer-arias 1) las laquogaleriacuteas cubiertasraquo con varias soluciones formales (longitudinales y acodados) siendo el modelo regional maacutes numeroso y representativo 2) los doacutelmenes provistos de caacutemaras muacuteltiples caso de los conjuntos de El Pozuelo o Las Huecas al ser construcciones exclusivas en el contexto de la Peniacutensula Ibeacuteri-ca (Cerdaacuten et al 1952 Leisner y Leisner 1943 1956 1959 Cabrero 1985 Pintildeoacuten Varela 1987 2004 Linares Catela 2011 2016 2017) Por otro lado la existencia de la Ruta Dolmeacutenica desde su creacioacuten a fines de la deacutecada de 1990 ha propiciado la realizacioacuten de un conjunto actuaciones para la investigacioacuten conservacioacuten y valorizacioacuten social del patrimonio megaliacutetico trabajando diferentes equipos en los sitios que conforman el itinerario Soto El Labradillo Los Gabrieles El Pozuelo El Gallego-Hornueco y Pasada del Abad (Fig 2) Esta ruta patrimonial estaacute promovida por la Consejeriacutea de Cultura de la Junta de Andaluciacutea siendo el organismo competente en materia de la tutela del patrimonio histoacuterico andaluz En la uacuteltima deacutecada se han priorizado las interven-ciones en dos sitios de titularidad puacuteblica dolmen de Soto y conjunto de El Po-zuelo programaacutendose actuaciones para garantizar la puesta en valor de estos bienes introducir la ruta en la Red de Espacios Culturales de Andaluciacutea (RECA) (Fondevilla y Rastrojo Lunar 2009) y crear un itinerario cultural del megalitismo a ambos lados del riacuteo Guadiana mediante el desarrollo del Proyecto UADITOUR enmarcado en el Programa de Cooperacioacuten Transfronterizo Espantildea-Portugal 2007-2013 (POCTEP)A ello habriacutea que antildeadir el creciente intereacutes de los ciudadanos y especialmente de determinados colectivos sociales (asociaciones de patrimonio asociaciones ciacutevicas clubes de senderismo) en la visita y conocimiento de estas arquitecturas milenarias

2 METODOLOGIacuteA DE INTERVENCIOacuteN PARA LA PUESTA EN VALOR DE LOS MONUMENTOS MEGALIacuteTICOS Los monumentos megaliacuteticos contienen una naturaleza patrimonial muacuteltiple dado que son a la vez yacimientos arqueoloacutegicos monumentos arquitectoacutenicos documentos pre-histoacutericos y fragmentos fosilizados de ldquopaisajes monumental-esrdquo de la Prehistoria Reciente Por tanto el estudio conservacioacuten y divulgacioacuten demanda la realizacioacuten de proyectos integradores que contemplen estrategias

522 |

Fig1 Monumentos megaliacuteticos del aacuterea de Huelva

| 523

| 2018

patrimoniales interdisciplinares como hemos realizado en las intervenciones de puesta en valor en diversos conjuntos dolmeacutenicos del Andeacutevalo oriental (Los Ga-brieles El Gallego-Hornueco El Pozuelo) dolmen de Soto y ciacuterculo de La Pasada del Abad acometidas por el equipo de Cota Cero GPH SLLa mayoriacutea de los sitios intervenidos con excepcioacuten del dolmen de Soto (2012-2013) (Linares Catela y Mora Molina 2015) y el dolmen 5 de El Pozuelo (2015) se presentaban como monumentos funerarios sin cobertura tumular estando las arquitecturas expuestas al aire libre y sin medidas de conservacioacuten o restau-racioacuten tras las excavaciones realizadas en deacutecadas anteriores caso de Los Ga-brieles (2002-2004) (Linares Catela 2006 2010b) grupo de Los Llanetes del conjunto de El Pozuelo (2010-2014) (Linares Catela 2016) y otros no excavados con evidentes signos de expolio especialmente los megalitos del conjunto de El Gallego-Hornueco (2005-2006) doacutelmenes de Puerto de los Huertos y El Casullo y cista de El Casullo II (Linares Catela 2010 b 2010c 2010d ) El ciacuterculo de pie-dras de La Pasada del Abad (2003) presentaba un gran deterioro estructural fruto de una intencional extraccioacuten de los bloques peacutetreos y de los socavones de expolio de su interior (Linares Catela 2010a)Entendemos la puesta en valor de los monumentos megaliacuteticos como una es-trategia combinada de distintas acciones cuyo fin es el conocimiento preser-vacioacuten y el uso social de estos bienes patrimoniales en su contexto territorial y paisajiacutestico (Linares Catela 2013) Para ello en cada sitio intervenido se ha realizado un Plan Integral de puesta en valor que contempla tres grandes aacutereas la investigacioacuten la conservacioacuten y la difusioacuten Los pilares baacutesicos son la investi-gacioacuten arqueoloacutegica y la conservacioacuten de los sitios habiendo desarrollado una metodologiacutea transdisciplinar entre ambas esferas Asiacute a traveacutes de las excava-ciones y estudios cientiacuteficos se ha generado un detallado conocimiento arque-oloacutegico arquitectoacutenico constructivo geoloacutegico y paisajiacutestico de los monumentos constituyendo la base desde la cual se han determinado las labores de conser-vacioacuten preventiva y de consolidacioacuten21 Investigacioacuten arqueoloacutegica La investigacioacuten de los monumentos megaliacuteticos contempla dos escalas de tra-bajo a) escala semi-micro centrada en el anaacutelisis arqueoloacutegico de los sitios b) escala macroespacial orientada al estudio territorial El anaacutelisis arqueoloacutegico de los monumentos se centra en cuatro aacutembitos de estudio la arquitectura la con-struccioacuten los usos (funerarios rituales y territoriales) y las temporalidades Para ello se ha articulado una metodologiacutea interdisciplinar (Linares Catela 2017) apli-cada de forma sistemaacutetica al grupo de Los Llanetes que integra las siguientes teacutecnicas- Excavacioacuten arqueoloacutegica en extensioacuten de los monumentos con apertura de

524 |

aacutereas selectivas sin agotar el registro estructural-estratigraacutefico de los sitios al objeto de realizar un estudio integral y registro microespacial de las arquitec-turas de los espacios externos y de los emplazamientos En el caso de los doacutel-menes se han explorado los tuacutemulos las estructuras internas los espacios fron-tales y las aacutereas circundantes - Aplicacioacuten del sistema de anaacutelisis de la arqueologiacutea de la arquitectura para determinar las unidades arquitectoacutenicas identificar los meacutetodos y teacutecnicas de las obras de construccioacuten-transformacioacuten y las fases arquitectoacutenicas de cada proyecto- Estudio de las cadenas operativas y de los procesos de construccioacuten a partir de la secuencias de las obras y del estudio de los tratamientos teacutecnicos de los soportes - El desarrollo de muacuteltiples de sistemas topograacuteficos y de levantamientos planimeacutetricos que combinan el dibujo claacutesico la topografiacutea convencional el scanner 3D y la fotogrametriacutea con apoyo de drones (Linares Catela et al 2013)- Estudio de los elementos grafiacuteas y sistemas decorativos del ldquoarte megaliacuteticordquo estelas grabados y pinturas

Fig2 Sitios megaliacuteticos de la Ruta Dolmeacutenica de Huelva

| 525

| 2018

- Estudios geoarqueoloacutegicos llevando a cabo dos tipos de anaacutelisis a) estudio geoteacutecnico de los emplazamientos soportes peacutetreos de construccioacuten y arcillas (granulometriacutea liacutemite liacutequidoplaacutestico y expansividad) b) estudio litoloacutegico y car-tografiacutea geoloacutegica determinando los tipos de rocas y las aacutereas de procedencia (fuentes de aprovisionamiento y canteras) mediante anaacutelisis petrograacuteficos y prospecciones De especial relevancia es el conocimiento de las propiedades de los materiales empleados (composicioacuten resistencia consistencia estabilidad estructural etc) en relacioacuten con la identificacioacuten de patologiacuteas de deterioro el establecimiento de las actuaciones de conservacioacuten y seleccioacuten de materiales de consolidacioacuten (rellenos de tierra y moteros de barro)- Anaacutelisis paleaombientales palinologiacutea y antracologiacutea- Anaacutelisis de la temporalidad de los monumentos mediante dataciones radiocar-boacutenicas y elaboracioacuten de modelados bayesianos - Anaacutelisis arqueomeacutetricos de los materiales y objetos mueblesEl anaacutelisis territorial viene precedido del desarrollo de prospecciones geoarque-oloacutegicas sistemaacuteticas en el medio circundante de los monumentos intervenidos posibilitando la identificacioacuten de los elementos que conformaron los diversos ldquoterritorios megaliacuteticosrdquo caso de los conjuntos de Los Gabrieles El Gallego-Hor-nueco o Los Llanetes (Linares Catela 2010b 2010c 2016)22 ConservacioacutenLos objetivos principales de las actuaciones de conservacioacuten se han centrado en corregir los dantildeos materiales frenar el deterioro garantizar la preservacioacuten futura y prolongar la vida material de estos bienes patrimoniales milenarios Los principios generales de conservacioacuten se derivan de la legislacioacuten de Patrimonio Histoacuterico de Andaluciacutea de las pautas internacionales y criterios normalizados sobre intervencioacuten en Patrimonio Histoacuterico y de propuestas de conservacioacuten en megalitos (Carrera 2002 2006 2011)En las actuaciones se ha priorizado la conservacioacuten preventiva de los sitios preservaacutendose los monumentos en el estado en el que nos han llegado por cu-atro motivos fundamentales a) por la constatacioacuten de que el aparente estado de ruina en el que se preservan los monumentos responde a diversas acciones de reapropiacioacuten y de reutilizacioacuten de los sitios desde la Edad del Bronce en adelante siendo su conservacioacuten un correlato material de su biografiacutea y usos b) por la concepcioacuten de los sitios como yacimientos arqueoloacutegicos debiendo facil-itar futuras intervenciones estudios arqueoloacutegicos y tareas de mantenimiento c) por el necesario equilibrio sostenible entre la originalidad de los monumentos y su conservacioacuten ya que la aportacioacuten de materiales y la consolidacioacuten de ele-mentos forman una nueva capa estratigraacutefica antildeadida a la secuencia e ldquohistoria constructivardquo de los yacimientos d) por la compatibilidad entre la conservacioacuten y

526 |

las visitas actividades de estos sitiosSe ha disentildeado un Plan de Conservacioacuten especiacutefico estructurado en tres fases de trabajo 1) el estudio y diagnoacutestico patoloacutegico previo derivado del anaacutelisis ar-queoloacutegico 2) el informe de valoracioacuten que conforma el plan de actuacioacuten 3) la ejecucioacuten de las obras de conservacioacuten-consolidacioacuten que se rigen por seis principios esenciales miacutenima intervencioacuten respecto a los valores histoacutericos y documentales no falsificacioacuten ni reconstruccioacuten respeto a la paacutetina histoacuterica conservacioacuten in situ y reversibilidad Las actuaciones han sido particulares en cada sitio dependiendo de las caracteriacutesticas arqueoloacutegicas elementos arqui-tectoacutenicos dantildeos materiales elementos de riesgo medidas de exhibicioacuten ade-cuacioacuten a las visitas y tareas de mantenimiento futuras

3 RESULTADOS DEL PROGRAMA DE INTERVENCIONES31 Investigacioacuten megalitismos y formas de monumentalidadLas excavaciones arqueoloacutegicas y los anaacutelisis cientiacuteficos en los sitios interveni-dos en la ruta patrimonial y en otros yacimientos caso de El Seminario se han enmarcado en un proceso de investigacioacuten que ha contribuido a un mejor con-ocimiento de los megalitismos del aacuterea de Huelva y su contextualizacioacuten en rel-acioacuten con las arquitecturas y formas de monumentalidad del sur peninsular en Prehistoria Reciente como se ha plasmado en nuestra tesis doctoral (Linares Catela 2017) El estudio de la secuencia arquitectoacutenica de las fases constructivas y de los episodios de usos de cada monumento ha permitido determinar su historia con-structiva y biografiacutea En el caso de los monumentos funerarios se ha constatado que estas construcciones estuvieron sometidas a reiterados proyectos arqui-tectoacutenicos que condicionaron su continua transformacioacuten estructural y remodel-acioacuten espacial tanto en los doacutelmenes (conjuntos de El Pozuelo Los Gabrieles El Gallego-Hornueco y Soto) como en las necroacutepolis de arquitecturas subterraacuteneas (hipogeos) y semisubterraacuteneas (tholoi) de El Seminario Consecuentemente la configuracioacuten formal y el estado definitivo de estos monumentos obedecen a la sucesioacuten de fases arquitectoacutenicas y usos desarrollados en un largo proceso temporal respondiendo a estrategias y procesos de monumentalizacioacuten con diversos significados intencionalidades y funciones sociales condicionando la superposicioacuten de diversos modelos de monumentos e incluso de formas de monumentalidad en algunos sitios caso de Los Llanetes y dolmen de Soto En Los Llanetes se ha constatado una evolucioacuten diacroacutenica en los monumentos desde el Neoliacutetico Reciente hasta la Edad del Bronce Antiguo que permite recon-struir parte de la secuencia arquitectoacutenica del aacuterea de Huelva (Fig3) (Linares Catela 2017)

| 527

| 2018

Otra aportacioacuten radica en haber puesto de manifiesto la antiguumledad y la larga durabilidad temporal del megalitismo en esta zona estructurado en una se-cuencia diacroacutenica que comprende desde el Neoliacutetico Medio hasta la Edad del Bronce Antiguo que ampliacutea la cronologiacutea tradicional propuesta en las investi-gaciones anteriores que lo circunscribiacutean de forma mayoritaria o exclusiva a la Edad del Cobre (Cabrero 1985 Pintildeoacuten Varela 1987 2004 Nocete et al 1999 2004 Nocete y Peramo 2010) La secuencia geneacuterica de la zona evi-dencia el siguiente proceso (Linares Catela 2017) - La geacutenesis de un megalitismo menhiacuterico en el Neoliacutetico Medio- La existencia de un potente megalitismo funerario dolmeacutenico desde inicios del Neoliacutetico Reciente perdurando durante el Neoliacutetico Final y la Edad del Cobre - La monumentalizacioacuten de los espacios externos de los doacutelmenes durante el

Fig3 Monumentos del grupo de los Llanetes (El Pozuelo) Secuencia arquitectoacutenica

528 |

Neoliacutetico Final y Edad del Cobre Antiguo y Pleno- La implantacioacuten y consolidacioacuten de tres formas de sepulturas colectivas a lo largo de la Edad del Cobre hipogeos hipogeos mixtos y sepulcros de falsa cuacutepula- La permanencia del megalitismo en la Edad del Bronce Antiguo con dos for-mas de monumentalidad a) recintos de terrazas b) monumentalismo funer-ario de tumbas individuales en sepulturas colectivasEl megalitismo menhiacuterico de la zona se compone de menhires individuales o monumentos formados por agrupaciones (ciacuterculos y posibles alineamientos) Estas arquitecturas representan la existencia de un megalitismo pre-funerario o no-funerario del Neoliacutetico Medio-Reciente (desde mediados del V milenio hasta el IV milenio ANE) desarrollado en diversas zonas- Rivera del Chanza donde se presentan menhires (Montechico La Alcalabo-za Chanzilla Era de la Piedra Pie de Sierra) y agrupaciones circulares de pie-dras (Pasada del Abad Llano de la Belleza) con cazoletas en algunos soportes de pizarra y granito (Garciacutea Sanjuaacuten et al 2006 Linares Catela 2010a 2011)- Cuenca del Bajo Guadiana constataacutendose menhires de grauvaca tanto aislados (Piedra Hincada Alto de las Piedras) como en agrupaciones lineales (Linares Catela 2011)- Cuenca media y baja del riacuteo Tinto en el Andeacutevalo oriental y franja norte de la Tierra Llana en los que se ha constatado estelas y menhires integrados y reutilizados como elementos de las construcciones megaliacuteticas de varios doacutel-menes Los Gabrieles 2 y 4 Fuente de la Corcha y Soto (Linares Catela 2010b 2011 Bueno et al 2013) Ello puede representar una estrategia social de reapropiacioacuten simboacutelica de las laquopiedras de los ancestrosraquo y su inclusioacuten en la arquitectura de los muertos (Bueno et al 2014 2015) En la intervencioacuten reciente del dolmen de Soto se han registrado fosas de cimentacioacuten de pie-dras verticales que posibilitan plantear la existencia de una fase previa a la construccioacuten del monumento funerario posiblemente formada por agrupa-ciones circulares o lineales de bloques peacutetreos estelas y menhires de diversas litologiacuteas (grauvaca calcarenita y conglomerados) siendo posteriormente ex-traiacutedos fragmentados y reciclados en la galeriacutea megaliacutetica y en el anillo peri-staliacutetico (Linares Catela y Mora Molina 2015)El megalitismo funerario dolmeacutenico se caracteriza por dos variables 1) por la existencia de varios modelos de monumentos tumulares construidos y tras-formados a lo largo del IV milenio ANE caacutemaras simples caacutemaras alargadas laquogaleriacuteas cubiertasraquo y caacutemaras muacuteltiples con una marcada permanencia de la actividad constructiva y de reuacuteso de los espacios sepulcrales durante la Edad del Cobre 2) por la continuidad de la teacutecnica constructiva en la mayoriacutea de

| 529

| 2018

los conjuntos dolmeacutenicos como consecuencia de una especializacioacuten arqui-tectoacutenica y de una fuerte tradicioacuten cultural e identidad social colectiva genera-da en tono a la esfera de la muerte (Linares Catela 2017) Los primeros doacutelmenes fueron erigidos desde inicios del IV milenio ANE con-stataacutendose una diversidad de monumentos de caacutemaras simples (trapezoi-dales ovaladas alargadas y rectangulares) de variados tamantildeos y teacutecnicas constructivas Los monumentos ortostaacuteticos alargados se gestaron en el se-gundo tercio del IV milenio ANE en el inicio del Neoliacutetico Final consolidaacutendose en las centurias centrales del IV milenio como arquitecturas de marcada seg-mentacioacuten espacial por la presencia de elementos verticales (pilares y estelas) y dos estancias internas caacutemaras y antecaacutemaras La realizacioacuten de proyectos arquitectoacutenicos de alargamiento de las estructuras ortostaacuteticas condiciona-ron la formacioacuten de las denominadas laquogaleriacuteas cubiertasraquo longitudinales (El Pozuelo 4 Soto 1 y 2) o acodadas (Los Gabrieles 4 y 6) contando probable-mente con una mayor presencia territorial y actividad constructiva durante la segunda mitad del IV milenio ANE como se propone para el conjunto de An-daluciacutea (Garciacutea Sanjuaacuten et al 2011) De manera paralela desde el segundo tercio del IV milenio ANE se desarrollaron los monumentos tumulares circu-lares con caacutemaras muacuteltiples caso de los conjuntos de El Pozuelo y las Hue-cas Las excavaciones arqueoloacutegicas realizadas en el grupo de Los Llanetes han demostrado que la formacioacuten de estos monumentos obedece a la con-catenacioacuten de varios proyectos arquitectoacutenicos sobre los mismos doacutelmenes (Fig 3) coexistiendo temporalmente en la mismas necroacutepolis doacutelmenes de caacutemaras duales de diversas composiciones estructurales caacutemaras paralelas con acceso independientes (dolmen 1) caacutemaras perpendiculares (dolmen 2) y caacutemaras paralelas con antecaacutemara y corredor convergente (dolmen 3)Los doacutelmenes de caacutemaras alargadas y de caacutemaras muacuteltiples estuvieron sometidos a diversos procesos de monumentalizacioacuten durante el Neoliacutetico Final y Edad del Cobre documentaacutendose proyectos de modificacioacuten de las entradas formalizacioacuten de fachadas y disposicioacuten de estructuras en los atrios en relacioacuten con el incremento de las praacutecticas rituales en los espacios exter-nos desde el uacuteltimo tercio del IV milenio a mediados del III milenio ANE En los Llanetes se han documentado aacutereas pavimentadas con estelas altares y hogueras en los espacios frontales y estructuras en las aacutereas circundantes (Linares Catela 2016) En el dolmen de Soto en el espacio frontal externo se han registrado agrupaciones de estructuras de diversas funcionalidades y fases cronoloacutegicas cabantildeas fosas deposicionales y votivas un hipogeo entre otras (Linares Catela y Mora Molina 2015) Los doacutelmenes continuaron re-construyeacutendose y reusaacutendose a lo largo de la

530 |

Edad del Cobre como evidencian las dataciones de los grupos del Andeacutevalo ori-ental cuyos resultados se concentran en el III milenio ANE La Paloma y La Venta del conjunto de El Villar El Pozuelo 6 Los Gabrieles Puerto de los Huertos y El Casullo del conjunto de El Gallego-Hornueco (Nocete et al 2004 Linares Catela 2006 Linares Catela y Garciacutea Sanjuaacuten 2010) De forma paralela desde inicios de la Edad del Cobre se asiste a una proliferacioacuten de tres modelos de sepulturas colectivas hipogeos hipogeos mixtos y sepulcros de falsa cuacutepula organizados en necroacutepolis asociadas a poblados caso de los tholoi de La Zarcita (Cerdaacuten et al 1952 Pintildeoacuten Varela 1987 2004) En la necroacutepolis de El Seminario se ha evi-denciado la existencia de continuos procesos de transformacioacuten arquitectoacutenicos y de reorganizacioacuten espacial de los depoacutesitos funerarios en las tumbas (hipo-geos hipogeos mixtos y tholoi) con una multiplicidad de gestos y praacutecticas mor-tuorias derivadas del uso reiterado en varias fases a lo largo del III milenio ANE (Linares Catela y Vera Rodriacuteguez 2015 Linares Catela 2017)Los diferentes procesos de reapropiacioacuten de los monumentos por parte de las sociedades de la Edad del Bronce Antiguo supusieron el desarrollo de situa-ciones muacuteltiples a) la transformacioacuten de los sitios y la reutilizacioacuten de los espa-cios sepulcrales con fines funerarios como se ha documentado en los doacutelmenes 1 y 4 de Los Gabrieles (Cabrero 1978 Linares Catela 2006 2010b 2011) b) el desmantelamiento intencional y la destruccioacuten deliberada de los monumen-tos funerarios constataacutendose esta praacutectica de condenacioacuten en los doacutelmenes de Puerto de los Huertos y El Casullo (Linares Catela 2010b Linares Catela y Garciacutea Sanjuaacuten 2010 c) la creacioacuten de otras formas de monumentalidad por la reapropiacioacuten de los espacios arquitectoacutenicos ancestrales Asiacute por un lado en el grupo de Los Llanetes se ha constatado la presencia de recintos de terrazas formados por estructuras (muros rampas plataforma circular en el monumen-to 1) dispuestas en niveles escalonados de gran perceptibilidad visual (Fig 4) Estos monumentos fueron construidos con diversas teacutecnicas de mamposteriacutea (ortostaacutetica en seco y con morteros de barro) empleaacutendose los materiales procedentes del desmonte de los doacutelmenes cuyos esqueletos megaliacuteticos y tuacutemulos desmantelados fueron integrados (Linares Catela 2016) Por otro lado en la necroacutepolis de El Seminario se ha documentado un monumentalis-mo funerario sustentado en la construccioacuten de tumbas individuales (covachas subterraacuteneas ldquocistasrdquo y fosas) en el interior de las caacutemaras de las sepulturas calcoliacuteticas (hipogeos y tholoi) que perpetuaron algunos esquemas concep-tuales y teacutecnicas constructivas tradicionales del megalitismo caso de las cu-briciones tumulares (Linares Catela y Vera Rodriacuteguez 2015 Linares Catela 2017)A ello ademaacutes hay que antildeadir las acciones de reapropiacioacuten y reutilizacioacuten

| 531

| 2018

Fig4 Monumento 1 de Los Llanetes (El Pozuelo) Recinto de terrazas con plataforma circular en el nivel superior

de la mayoriacutea de los monumentos a partir de la Edad del Bronce y en diversos periodos histoacutericos que condicionaron la permanencia yo transformacioacuten fiacutesi-ca de los sitios32 Conservacioacuten recuperacioacuten y preservacioacuten de los yacimientos arqueoloacutegicos La existencia de varios megalitismos la complejidad arqueoloacutegica de los monumentos y la diversidad de estados de conservacioacuten de los sitios ha condicionado el desarrollo de cinco tipos de intervenciones combinadas de distinto alcance limpieza conservacioacuten preventiva consolidacioacuten eliminacioacuten de restauraciones previas y recuperacioacuten paisajiacutestica (Fig 5) En ninguacuten caso se han realizado actuaciones de reconstruccioacuten En todas las intervenciones el objetivo baacutesico ha sido garantizar la conservacioacuten de cada yacimiento arque-oloacutegico haciendo compatible su preservacioacuten y exhibicioacuten como sitios patrimo-niales visitables de la Ruta DolmeacutenicaEn todos los sitios se han realizado labores de limpieza de los monumentos y su entornos consistentes en la eliminacioacuten de vegetacioacuten (arbustos y aacuterboles) y elementos de alteracioacuten Los trabajos de conservacioacuten preventiva se han centrado en dos acciones a) el tapado preventivo del interior de las estruc-

532 |

Fig5 Actuaciones de conservacioacuten preventiva en varios de los monumentos intervenidos

| 533

| 2018

turas ortostaacuteticas con interposicioacuten de geotextil y relleno de tierra al objeto de preservar los niveles y suelos arqueoloacutegicos originales b) la consolidacioacuten tapado y relleno preventivo de las aacutereas de excavaciones de los espacios ex-ternos hasta cota del firme preservaacutendose las estructuras concentradas en los emplazamientos caso del grupo de Los Llanetes y en el dolmen de Soto Con esto se ha garantizado la preservacioacuten de estos elementos evitaacutendose la afeccioacuten previsible de las estructuras y la peacuterdida de niveles estratigraacuteficos sometidos a los agentes de deterioro naturales y antroacutepicos Los elementos arquitectoacutenicos que quedan expuestos al aire libre han sido consolidados mediante varios tratamientos dotaacutendolos de una mayor consis-tencia material y solidez estructural Para la eleccioacuten de los materiales y la aplicacioacuten de las soluciones de consolidacioacuten se han tomado en consideracioacuten las caracteriacutesticas arquitectoacutenicas y las teacutecnicas originales empleadas en las obras de construccioacuten de los monumentos Los trabajos que se han ejecutado son totalmente reversibles al emplearse morteros de barro formados por las arcillastierras originarias de los sitios y del entorno geoloacutegico local enriqueci-das con cal En los doacutelmenes se han usado tres tipos de morteros de consoli-dacioacuten de agarre para ortostatos y masas tumulares de acabado para juntas y superficies lisas y de relleno para los suelos internos y externos dispuestos con pendientes de evacuacioacuten para las aguas Para su correcta composicioacuten y dosificacioacuten se han realizado ensayos geoteacutecnicos en el grupo de Los Llanetes seleccionaacutendose los maacutes idoacuteneos en funcioacuten de la resistencia de los mismos consistencia maleabilidad tonalidad etc En ciertos materiales desplazados a su posicioacuten original (ortostatos desplomados o tumbados lajas desplomadas de los anillos peristaliacuteticos etc) se han realizado operaciones de restitucioacuten con el objeto de garantizar la preservacioacuten fiacutesica de estos elementos y propiciar una formalizacioacuten constructiva de los sectores alterados Puntualmente en el caso de algunos ortostatos fracturados en varios bloques se han realizado trabajos de reintegracioacuten o anastilosis restituyendo los soportes en sus mor-fologiacuteas primarias mediante el pegado de los diversos fragmentos con cosido de varillas de acero inoxidable y resinas epoxi En el caso de los monumentos del grupo de Los Llanetes se ha empleado un consolidante-hidrofugante (Estel 1100) para el tratamiento de los soportes de filita con el objeto de evitar la peacuterdida masiva de materialidad por exfoliacioacuten y descamacioacuten muy afectados por los agentes de la intemperieEn el dolmen 5 de El Pozuelo se ha realizado en 2015 una intervencioacuten de desmonte y eliminacioacuten de elementos de restauracioacuten recientes (techumbre adintelada y cubricioacuten tumular) reconstruidas en la actuacioacuten de 1998-1999 (Nocete et al 1999) ante el riesgo de colapso estructural del monumento

534 |

ademaacutes de la consolidacioacuten de los soportes verticales y conservacioacuten preventi-va de los suelos internos Con esto se ha recuperado en parte el estado formal previo de esta compleja construccioacuten megaliacutetica En el grupo de Los Llanetes se ha realizado una actuacioacuten de recuperacioacuten paisajiacutestica al objeto de favorecer la puesta en valor de los monumentos en su dimensioacuten territorial La plantacioacuten de eucaliptos dispuesta desde la deacutecada de 1950 en este paraje supuso su transformacioacuten topograacutefica y ambiental Mediante la tala-eliminacioacuten de esta especie y de labores de regeneracioacuten nat-ural del bosque-sotobosque mediterraacuteneo en el entorno se ha recuperado el paisaje de la zona antes de las plantaciones forestales Con esta medida se ha contribuido a la preservacioacuten y a la perceptibilidad visual del paisaje mon-umental del grupo pudiendo observarse los elementos que lo componen el emplazamiento natural las formaciones naturales que lo jalonan los mon-umentos los asentamientos y las minas de cobre y de aacutereas de actividad metaluacutergicas de Chinfloacuten33 Difusioacuten divulgacioacuten y valorizacioacuten socialDe forma paralela a las actuaciones se han realizado medidas de difusioacuten en-caminadas a la valorizacioacuten social del patrimonio megaliacutetico- La realizacioacuten de publicaciones de divulgacioacuten de diversa escala a) guiacutea en la que se aporta una visioacuten de los diferentes megalitismos y de los paisajes mon-umentales (Linares Catela 2011 2014) b) cuadernos y folletos de difusioacuten- La sentildealizacioacuten y carteleriacutea en los enclaves para facilitar la localizacioacuten y visita- La realizacioacuten de una exposicioacuten itinerante en 2013 y su cataacutelogo (Linares Catela 2012) recorriendo los municipios que integran la ruta y el Museo de Huelva con el objeto de propiciar una amplia divulgacioacuten y concienciacioacuten so-cial sobre la importancia de este legado patrimonial- La apertura del centro de visitantes del dolmen de Soto con contenidos au-diovisuales que ofrecen una visioacuten geneacuterica del monumento y de otros sitios de la ruta

4 Situacioacuten actual y necesidadesEl potencial patrimonial del aacuterea de Huelva para la investigacioacuten y puesta en valor del megalitismo es muy elevado Desde el punto de la investigacioacuten es una de las zonas maacutes dinaacutemicas para el estudio de los megalitismos de la Peniacuten-sula Ibeacuterica por cuanto se presenta una gran variabilidad de arquitecturas y formas de monumentalidad desarrolladas desde el Neoliacutetico Medio hasta la Edad del Bronce Antiguo Su estudio posibilita plantear nuevas lecturas generar interpretaciones alternativas e introducir otros elementos de discusioacuten en el sur peninsular acordes a los debates actuales sobre la monumentalidad de Europa

| 535

| 2018

occidental lo que demanda la realizacioacuten de futuros proyectos de investigacioacuten sistemaacuteticos Sin embargo esta relevancia no encuentra una correspondencia al mismo nivel en el aacutembito de la tutela patrimonial existiendo en la actualidad carencias y deficiencias que pueden provocar un efecto contrario a las premisas de partida de la propia Ruta Dolmeacutenica es decir una desvalorizacioacuten patrimo-nial y social (Linares Catela 2015)En materia de proteccioacuten se precisa un inventario o cataacutelogo actualizado que recoja la totalidad de los sitios conocidos en el que se establezcan las medidas de salvaguarda necesarias dado que en la actualidad soacutelo estaacuten legalmente declarados y protegidos escasos conjuntos y sitios Soto El Pozuelo y los mon-umentos de la Sierra de Huelva En el terreno de la conservacioacuten urge la real-izacioacuten de labores de mantenimiento de forma perioacutedica de los sitios visitables debiendo realizarse trabajos de conservacioacuten preventiva que palien el deterioro natural y los dantildeos generados por usos inadecuados por parte de grandes gru-pos de excursionistas y de ciudadanos desaprensivos Respecto a la gestioacuten el uacutenico enclave arqueoloacutegico de megalitismo con oacutergano de administracioacuten en la provincia es el Dolmen de Soto siendo responsable el ayuntamiento de Trigueros Este sitio presenta carencias por cuanto las acciones se centran en la promocioacuten turiacutestica del dolmen y del municipio a pesar de ser uno de los monu-mentos maacutes excepcionales de la Peniacutensula Ibeacuterica Para superar estas limitaciones seriacutea preciso contar con un oacutergano competente y capacitado a escala provincial comarcal o intermunicipal formado por un equipo de especialistas dedicado a la gestioacuten integral de los sitios megaliacuteticos Una posibilidad seriacutea contar con un Conjunto Arqueoloacutegico desde el que se ar-ticulasen las actuaciones de investigacioacuten conservacioacuten difusioacuten valorizacioacuten social y reacutegimen de visitas de los sitios megaliacuteticos

BIBLIOGRAFIacuteACABRERO Rosario (1978) - El conjunto megaliacutetico de los Gabrieles Huelva Arqueoloacutegica IV pp79-143BUENO Primitiva de BALBIacuteN Rodrigo BARROSO Rosa (2013) - Siacutembolos para los muertos siacutembolos para los vivos Arte megaliacutetico en Andaluciacutea In Martiacutenez J Hernaacutendez MS eds - Arte rupestre esquemaacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica Actas del II Congreso de comarca de los Veacutelez 5-8 de mayo de 2010 Almeriacutea Ayuntamiento de Veacutelez Blanco pp 25-47BUENO Primitiva de BALBIacuteN Rodrigo BARROSO Rosa (2014) - Custodian bones human images in the megalitismo of the Southern Iberian Peninsula In Cruz A Cerrillo-Cuenca E Bueno P Caninas JC Batata C eds - Rendering Death Ideological an Archaeological Nar-ratives from Recent Prehistory (Iberia) BAR International Series 2648 Oxford Archaeopress pp 3-12BUENO Primitiva de BALBIacuteN Rodrigo BARROSO Rosa (2015) - Human images images of ancestors identity images The south of the Iberian Peninsula In Rodriacuteguez G Marchesi H

536 |

eds - Statues-menhirs et pierres leveacutees du Neacuteolithique agrave audjhourdrsquohui Actes du 3e colloque international sur la statuarie meacutegalithique Saint-Pons-de-Thomiegraveres Saint-Pons-de-Thom-iegraveres GASP pp 443-455CARRERA Fernando (2002) - Sugerencias para la preservacioacuten del patrimonio megaliacutetico MINIUS IX pp47-70CARRERA Fernando (2008) - Tras la bruma Megalitos difusioacuten y conservacioacuten en el noroeste de Espantildea In Garciacutea Sanjuaacuten L coord - Patrimonio megaliacutetico maacutes allaacute de los liacutemites de la Prehistoria Revista PH 67 Sevilla Junta de Andaluciacutea pp134-141CARRERA Fernando (2011) - El arte parietal en monumentos megaliacutetico del Noroeste Pen-insular Dimensioacuten del fenoacutemeno y propuestas de conservacioacuten BAR International Series 2190 Oxford ArchaeopressCERDAacuteN Carlos LEISNER Georg LEISNER Vera (1952) - Los sepulcros megaliacuteticos de Huel-va Informes y Memorias de la Comisariacutea de Excavaciones Arqueoloacutegicas 26 Madrid Minis-terio de Educacioacuten NacionalFONDEVILLA Juan Joseacute RASTROJO LUNAR Francisco Javier (2009) - La patrimonializacioacuten del megalitismo en el Andeacutevalo Revista PH 70 paacuteg 62GARCIacuteA SANJUAacuteN Leonardo RIVERA Timoteo WHEATLEY David (2006) - Prospeccioacuten de superficie y documentacioacuten graacutefica en el Dolmen del Llano de la Belleza (Aroche Huelva) Anuario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea2003 vol III 181-192GARCIacuteA SANJUAacuteN Leonardo WEATHLEY David COSTA CARAMEacute Manuel (2011) - The nu-merical chronology of the megalithic phenomenon in southern Spain progress and problems In Garciacutea Sanjuaacuten L Scarre C Weathley D eds - Exploring Time and Matter in Prehistoric Monuments Absolute Chronology and Rare Rocks in European Megaliths Proceedings of the 2nd European Megalithic Studies Group Meeting (Seville Spain November 2008) Menga RPAM 01 Sevilla Junta de Andaluciacutea pp 121-157LEISNER Georg LEISNER Vera (1943) - Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Suden Roumlmisch Germanische Forschungen Band 17 Berliacuten Walter de Gruyter amp CoLEISNER Georg LEISNER Vera (1956) - Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Madrider Forschungen Band 1 Berliacuten Walter de Gruyter amp CoLEISNER Georg LEISNER Vera (1959) - Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Madrider Forschungen Band 12 Berliacuten Walter de Gruyter amp CoLINARES CATELA Joseacute Antonio (2006) - Documentacioacuten consolidacioacuten y puesta en valor del Conjunto Dolmeacutenico de Los Gabrieles (Valverde del Camino Huelva) 2ordf Fase Anuario Arque-oloacutegico de Andaluciacutea2003 vol III pp 200-214LINARES CATELA Joseacute Antonio (2010a) - El ciacuterculo megaliacutetico de la Pasada del Abad (Rosal de la Frontera Huelva) El megalitismo no funerario de la rivera del Chanza In Peacuterez Maciacuteas JA Romero Bomba E eds - Actas del IV Encuentro de Arqueologiacutea de Suroeste Peninsular (Aracena 2008) Huelva Universidad de Huelva pp 174-208LINARES CATELA Joseacute Antonio (2010b) - Anaacutelisis arquitectoacutenico y territorial de los conjun-tos megaliacuteticos de Los Gabrieles (Valverde del Camino) y El Gallego-Hornueco (Berrocal-El Madrontildeo) El megalitismo en el Andeacutevalo oriental In Peacuterez Maciacuteas JA Romero Bomba E eds - Actas del IV Encuentro de Arqueologiacutea de Suroeste Peninsular (Aracena 2008) Huelva Universidad de Huelva pp 209-248LINARES CATELA Joseacute Antonio (2010c) - Puesta en valor de los Doacutelmenes de Berrocal (Huel-va) II prospecciones arqueoloacutegicas de superficie y anaacutelisis territorial de los monumentos megaliacuteticos Anuario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea2006 Huelva pp 2321-2339

| 537

| 2018

LINARES CATELA Joseacute Antonio (2010d) - Puesta en valor de los Doacutelmenes de Berrocal (Huel-va) I excavaciones arqueoloacutegicas y obras de consolidacioacuten Anuario Arqueoloacutegico de Andalu-ciacutea 2006 Huelva pp 2193-2217LINARES CATELA Joseacute Antonio (2011) - Guiacutea del megalitismo en la provincia de Huelva Terri-torios paisajes y arquitecturas megaliacuteticas Madrid Junta de Andaluciacutea-SMLINARES CATELA Joseacute Antonio (2012) - El megalitismo en la provincia de Huelva El legado de la arquitectura megaliacutetica en el suroeste peninsular Itinerarios de un paisaje cultural simboacuteli-co Sevilla Junta de AndaluciacuteaLINARES CATELA Joseacute Antonio (2013) - La puesta en valor de los monumentos megaliacuteticos del Andeacutevalo oriental (Huelva) Criterios arqueoloacutegicos de intervencioacuten y conservacioacuten In de Haro J Garciacutea Rincoacuten JM Goacutemez Toscano F Linares Catela JA coord - Arqueologiacutea en la provincia de Huelva Homenaje a Javier Rastrojo Lunar Huelva Universidad de Huelva pp 299-316LINARES CATELA JA (2014) - Guiacutea del megalitismo en la provincia de Huelva Una visioacuten de los territorios paisajes y arquitecturas para la difusioacuten del patrimonio megaliacutetico In Garciacutea Alfonso E ed - Movilidad Contacto y Cambio II Congreso de Prehistoria de Andaluciacutea Sevilla Junta de Andaluciacutea pp 499-507LINARES CATELA Joseacute Antonio (2015) - La Ruta Dolmeacutenica de Huelva iquestValorizacioacuten social del patrimonio megaliacutetico Andaluciacutea en la Historia 48 pp96-97LINARES CATELA Joseacute Antonio (2016) - The megalithic architecture of Huelva (Spain) typolo-gy construction and technical traditions in eastern Andeacutevalo In Laporte L Scarre C eds - The Megalithic Architectures of Europe Oxford Oxbow Books pp 111-126LINARES CATELA Joseacute Antonio (2017) - El megalitismo en el sur de la Peninsula Ibeacuterica Ar-quitectura construccioacuten y usos de los monumentos del area de Huelva Andaluciacutea occidental Tesis doctoral Universidad de Huelva-Universiteacute de Rennes 1 IneacuteditaLINARES CATELA Joseacute Antonio GARCIacuteA SANJUAacuteN Leonardo (2010) - Contribuciones a la cronologiacutea absoluta del megalitismo andaluz Nuevas fechas radiocarboacutenicas de sitios megaliacuteticos del Andeacutevalo oriental (Huelva) Menga Revista de prehistoria de Andaluciacutea 01 pp 135-151LINARES CATELA Joseacute Antonio MORA MOLINA Coronada (2015) - El dolmen de Soto Una construccioacuten megaliacutetica monumental de la Prehistoria Reciente de la Peniacutensula Ibeacuterica Re-vista PH 88 pp 102-109LINARES CATELA Joseacute Antonio VERA RODRIacuteGUEZ Juan Carlos (2015) - La necroacutepolis del III milenio de El Seminario (Huelva) Organizacioacuten espacial contextos y praacutecticas funerarias In Rocha L Bueno Ramiacuterez P Branco G eds- Death as Archaeology of Transition Thoughts and Materials BAR International Series 2708 Archaeopress Oxford pp 275-290LINARES CATELA David LINARES CATELA Joseacute Antonio LOZANO Francisco Ramoacuten BARRE-RA Joseacute Antonio PALLARES Viacutector (2013) - Topografiacutea de vanguardia en los levantamientos de los yacimientos megaliacuteticos Estrategias para el conocimiento Meacutetodos Virtual Archaeolo-gy Review VAR 4 (8) pp125-129NOCETE Francisco LIZCANO Rafael BOLANtildeOS Carlos (1999) - Maacutes que grandes piedras Patrimonio Arqueologiacutea e Historia desde la Primera Fase del programa de puesta en valor del Conjunto Megaliacutetico de El Pozuelo (Zalamea la Real Huelva) Sevilla Junta de AndaluciacuteaNOCETE Francisco LIZCANO Rafael NIETO Joseacute Miguel SAacuteEZ Reinaldo LINARES Joseacute Antonio ORIHUELA Antonio RODRIacuteGUEZ Mariacutea Oliva (2004) - El desarrollo del proceso in-terno el territorio megaliacutetico en el Andeacutevalo orientalrdquo In Nocete F coord - Odiel Proyecto de

538 |

investigacioacuten arqueoloacutegica para el anaacutelisis del origen de la desigualdad social en el Suroeste de la Peniacutensula Ibeacuterica Monografiacuteas de Arqueologiacutea Sevilla Junta de Andaluciacutea pp 47-77 NOCETE Francisco PERAMO Ana (2010) - More than big stones Peripherical and confined or resistant lineage societies in the pristine class-society territorial framework of the south-west-ern iberian peninsula (2900-2000 BC) In Calado D Baldia M Boulanger M eds - Monu-mental Questions Prehistoric Megaliths Mounds and Enclosures BAR International Series 2122 Oxford Archaeopress pp 71-82PINtildeOacuteN VARELA Fernando (1987) - Constructores de sepulcros megaliacuteticos en Huelva prob-lemas de una implantacioacuten El Megalitismo en la Peniacutensula Ibeacuterica Madrid Ministerio de Cul-tura pp 45-72PINtildeOacuteN VARELA Fernando (2004) - El horizonte cultural megaliacutetico en el aacuterea de Huelva Monografiacuteas de Arqueologiacutea Sevilla Junta de Andaluciacutea

| 539

| 2018

BASES PARA EL ESTUDIO DE LOS RITUALES DE COMENSALIDAD EN LAS SEPULTURAS MEGALIacuteTICAS DE LA PENIacuteNSULA IBEacuteRICA

BASES PARA O ESTUDO DOS RITUAIS DE COMENALIDADE NAS SEPULTURAS MEGALIacuteTICAS DA PENIacuteNSULA IBEacuteRICA

Estefaniacutea Carrillo Vaacutezquez

RESUMENEn las estructuras funerarias megaliacuteticas es frecuente hallar indicios sobre determinados rituales de comensalidad Partimos del anaacutelisis del propio concepto y del significado dado por los diversos autores que se han dedicado a su estudio Analizamos los diversos elementos que pueden llevarnos a identificarlos tales como la presencia de determi-nadas ceraacutemicas macrorestos vegetales restos oacuteseos de fauna resi- duos de materia orgaacutenica etc Finalmente contextualizamos los diversos indicios de este tipo de ritual con el propoacutesito de situarlos geograacutefica y cronoloacutegicamentePALABRAS CLAVE Megalitismo Comensalidad Rituales funerarios Pre-historia Reciente

RESUMONas estruturas funeraacuterias megaliacuteticas eacute comum encontrar indicaccedilotildees so-bre certos rituais comensais Partimos da anaacutelise do proacuteprio conceito e do significado dado pelos vaacuterios autores que se dedicaram ao seu estudo Analisamos os vaacuterios elementos que podem nos levar a identificaacute-los como a presenccedila de certas ceracircmicas macrorestos vegetais restos de esqueletos de fauna resiacuteduos de mateacuteria orgacircnica etc Por fim contextualizamos as diversas indicaccedilotildees desse tipo de ritual com o propoacutesito de localizaacute-las geograficamente e cronologicamente PALAVRAS-CHAVE Megalitismo Comensalidade Rituais Funeraacuterios Preacute-Histoacuteria Recente

1 INTRODUCCIOacuteNComer y beber es algo baacutesico para la supervivencia pero los humanos han tenido la gran capacidad de a traveacutes del simbolismo convertirlo en un aspecto muy importante para ciertos aspectos teniendo como ejem-

540 |

plo los banquetes funerariosEs la comunidad que realiza este tipo de ritual quien condiciona el uso de ciertos alimentos y bebidas Ello parece estar condicionado por di-versos motivos pero es la propia disponibilidad de estos manjares es decir la dificultad o no de su obtencioacuten lo que les da la posibilidad de ser considerados como elementos de prestigio (Viola 2008) Estos festines rituales supondraacuten la creacioacuten de ciertos viacutenculos entre aquellos que re-ciben y los que ofrecen estas comidas y tambieacuten surgiraacuten las relaciones de poder por la exhibicioacuten del poder en lo que se refiere a los alimentos y bebidas ofrecidos y en como se ofrecen (Mintz y Du Bois 2002 Delgado Hervaacutes 2008)En la Prehistoria reciente tenemos documentados banquetes ligados a rituales funerarios pero tambieacuten existen indicios en contextos habitacio-nales o lugares de culto aunque son maacutes complicados de identificar de-bido a las limpiezas ciacuteclicas de la zona A pesar de ello estos rituales han sido estudiados principalmente a partir de la informacioacuten etnograacutefica aunque en la actualidad con la mejora de las teacutecnicas aplicadas a la ar-queologiacutea vemos como se han documentado muchas praacutecticas ligadas al consumo de carne en sepulturas hecho que en un principio pasaba desapercibido (Aranda y Esquivel 2006 2007 Sardagrave 2010)Estos rituales de comensalidad quedan recogidos en el registro arqueo- loacutegico ya que el desarrollo de esta actividad deja una serie de resi- duos que quedan depositados en los recipientes utilizados como con-tenedores ya sean ceraacutemicos o metaacutelicos o bien restos fauniacutesticos de los que hablaremos maacutes adelante (Andreacutes 2005 Aranda y Esquivel 2006 Sardagrave 2010)Debemos tener en cuenta que en muchas ocasiones estos objetos pueden aparecer fragmentados lo que nos posibilita a plantear la hipoacutete-sis de que fueron fracturados de forma intencionada como un acto sim-boacutelico con el fin de evitar la reutilizacioacuten posterior de estos recipientes (Armada y Vilaccedila 2016)

2 FUENTES PARA LA DOCUMENTACIOacuteN DEL RITUAL DE COMENSAL-IDADPara identificar un ritual de comensalidad debemos tener en cuenta una serie de factores o caracteriacutesticas Fundamentalmente a partir del regis-tro arqueoloacutegico es donde podemosencontrar una mayor y mejor informacioacuten Es sobre todo a partir de la va-jilla empleada en estos rituales sobre todo la ceraacutemcia de la que pode-

| 541

| 2018

mos obtener informacioacuten sobre todo si tenemos la posibilidad de anali-zar sus contenidosLa ceraacutemica es uno de los materiales maacutes abundantemente documentados en un yacimiento Este material debido principalmente a las caracteriacutesticas fiacutesicas que presenta es decir su fragilidad genera gran cantidad de depoacutesitos ceraacutemicos Desde que hace su aparicioacuten en la etapa neoliacutetica vinculada a unas determinadas actividades relacionadas con la domesticacioacuten de plan-tas y animales ademaacutes de la necesidad de recipientes para las actividades culinarias consumo y almacenamiento de los alimentos (soacutelidos o liacutequidos)Como sabemos existe una gran variedad de tipos de estudio para la ceraacutemica como la tipologiacutea ceraacutemica el estudio de las pastas y desgrasantes la funcio-nalidad pero para nuestro caso de estudio es muy importante el anaacutelisis de contenidos ceraacutemicos por el cual podemos ver el producto que conteniacutea esta ceraacutemica (Eiroa 2009 Renfrew 2011) La teacutecnica maacutes efectiva para realizar estas analiacuteticas de contenidos es la cromatografiacutea de gases combinada con otras teacutecnicas isotoacutepicas (Inserra 2016)Pero a la hora de la aplicacioacuten de este tipo de teacutecnicas debemos tener en cuen-ta el concepto de biomarcador arqueoloacutegico basado en la idea de Evershed Estos biomarcadores que podemos ver en la tabla 1 son las huellas que de-

Fig 1 Tabla 1 Biomarcadores arqueoloacutegicos

542 |

jan los elementos orgaacutenicos en las paredes de la ceraacutemica cosa que se puede comparar con la de sustancias actuales A pesar de poder identificarlos estos biomarcadores pueden llegar a desaparecer debido a las caracteriacutesticas que presenta la sustancia orgaacutenica misma o por otros procesos de degradacioacuten como son la limpieza del recipiente o el propio entorno en el que se encuentra la pieza (Molina 2015 Inserra 2016)En primer lugar podemos hablar de la ionizacioacuten de llama (GC-FID) a traveacutes de la cual se puede llevar a cabo una primera identificacioacuten de los contenidos El siguiente paso es la realizacioacuten de la cromatografiacutea de gases acoplada a un espectroacutemetro de masas (GCMS) por la cual se pueden detectar liacutepidos en las paredes de la ceraacutemica En el caso de que esto no funcione se puede recurrir a la espectrometriacutea de masas de relaciones isotoacutepicas (GC-C-IRMS) a traveacutes de la cual se pueden detectarlos aacutecidos grasos de aceites y grasas y los sistemas metaboacutelicos de estos (Molina 2015 Inserra 2016)A pesar de contar con estas pautas para la identificacioacuten se debe te- ner en cuenta que la presencia de una sustancia concreta es difiacutecil de de-terminar de una forma rotunda ya que puede haber una falta de da-tos para su interpretacioacuten asiacute como haberse producido los procesos de degradacioacuten antes mencionados y la acumulacioacuten de varios biomarcadores por la utilizacioacuten reiterada del recipiente (Molina 2015)Otro de los indicadores para la identificacioacuten de nuestro ritual es la presen-cia de huesos de animales ya que evidenciaraacuten el consumo de carne Estos animales eran sacrificados como ofrendas pudiendo ver en el estudio de sus huesos el meacutetodo por el que fueron sacrificados a traveacutes de las marcas de corte o ausencia de ellas Lo que siacute debemos diferenciar es entre ofrenda simboacutelica y los restos de un banquete funerario ya que presentan caracteriacutesti-cas distintas Cuando hablamos de una ofrenda simboacutelica nos referimos a las que fueron depositadas con un significado especial y por tanto los animales pueden aparecer en conexioacuten anatoacutemica o partes especialmente selecciona-das como la cabeza pezuntildeas cornamentas etc Sim embargo cuando se trata de los restos de un banquete los restos de animales no apareceraacuten en conexioacuten sino fragmentados ademaacutes de presentar algunas marcas de corte A veces tales actividades pueden aparecer en las tumbas en las proximidades del difunto (Albizuri Canadell 2011)

3 EJEMPLOS DE RITUALES DE COMENSALIDAD EN CONSTRUC-CIONES MEGALIacuteTICAS EN LA PENIacuteNSULA IBEacuteRICAA continuacioacuten se expondraacuten algunos ejemplos de este tipo de este tipo de ritual en algunos yacimientos de la Peniacutensula Ibeacuterica pero se debe

| 543

| 2018

tener en cuenta que no son los uacutenicosLas necroacutepolis megaliacuteticas hicieron su aparicioacuten en la eacutepoca neoliacutetica con la aparicioacuten de las economiacuteas productoras y fueron utilizados en eacutepocas posteriores como la Calcoliacutetica e incluso en algunas zonas llega-ron a usarse hasta la Edad del Bronce (Barandiaraacuten et al 2015)Un ejemplo donde se ha documentado este tipo de ritual es en la necroacutepo-lis documentada en el Valle de Higueras fechada en eacutepoca Calcoliacutetica y con una reutilizacioacuten en el horizonte Campaniforme Esta necroacutepolis consta de una serie de enterramientos en hipogeos de caraacutecter muacuteltiple en los que se encontraron individuos de todas las edades sobre camas de piedra y delimitados por su ajuar el cual variaraacute de unos a otros tanto en cantidad como en calidad marcando asiacute la diferenciacioacuten social (Bue-no Barroso y de Balbiacuten 2007)El ajuar depositado en estas tumbas es muy variado encontrando desde conchas y cuentas de collar o piezas liacuteticas a ofrendas de comidas y bebidas relacionaacutendose estas con los restos de banquetes funerarios y las ofrendas que estos supusieron De esta necroacutepolis se han realizado anaacutelisis de contenidos de los ajuares campaniformes entre los que se encuentran un cuenco liso de la estructura 3b en el que se ha documen-tado los biomarcadores de lo que pareceser cerveza de cebada De la tumba 3ordf se han documentado en los reci- pientes la presencia de grasa animal en uno y en otro la presencia de una bebida tipo hidromiel (Guerra 2006 Bueno Barroso y de Balbiacuten 2007 Rojo Garrido y Garcia-Martiacutenez de Lagraacuten 2008)Otro ejemplo lo tenemos en la necroacutepolis megaliacutetica de Paraje de Monte Bajo en Alcalaacute de los Gazules Caacutediz Aquiacute se documentaron 4 estructu-ras de caraacutecter mixto semiexcavadas en la roca y con la utilizacioacuten de ortostatos para la separacioacuten del corredor y la caacutemara Estaacuten fechadas entre el IV y III milenio aC El ritual de enterramiento que se documentoacute en esta necroacutepolis es de caraacutecter colectivo y secundario observando en estos el paso de las sociedades de comunidades tribales a sociedades jerarquizadas Ademaacutes se observa el uso del ocre en todas ellas ligados tanto a ajuares como a los cuerpos (Lazarich 2007 Lazarich Bricentildeo et al 2009 Lazarich Valetiacuten et al 2009 Bricentildeo Lazarich y Fellu 2011 Lazarich et al 2011 2013)De la estructura que los excavadores denominaron E2 se encontraron maacutes de 60 individuos pero se documentoacute la presencia de dos perros que fueron enterrados en primer lugar siguiendo el patroacuten de ofrenda simboacutelica y asociaacutendose a proteccioacuten y compantildeiacutea de los difuntos Tam-

544 |

bieacuten se documentoacute en esta sepultura la presencia de un ritual de cierre el cual presentaba la presencia de dos cazuelas carenadas en la que se documentoacute una sustancia orgaacutenica de aspecto grasiento aunque to-daviacutea no ha podido ser analizada Otro detalle curioso de esta tumba es que se encontraron pequentildeos trozos de ceraacutemica ligados a los cuerpos presentando una fragmentacioacuten intencionada y pudieacutendose interpretar como la ceraacutemica utilizada en los rituales previos al enterramiento del difunto y siendo este fragmento depositado de forma simboacutelica (Lazarich 2007 Lazarich Bricentildeo et al 2009 Lazarich Valetiacuten et al 2009 Lazarich et al 2015)En la tumba E4 se documentaron 8 individuos y una reutilizacioacuten en el horizonte Campaniforme de un varoacuten Como ajuar ceraacutemico se do- cumentoacute la presencia de una fuente campaniforme de borde biselado con decoracioacuten incisa perteneciente a la reutilizacioacuten asiacute como platos de borde almendrado vasijas globulares y cuencos y como ajuar caacuterni-co se vio la presencia de fauna de la zona tanto salvaje (ciervo) como domeacutestica (boacutevidos y ovicaacutepridos) ademaacutes de productos liacuteticos diversos (Lazarich 2007 Lazarich et al 2011)Tambieacuten en la provincia de Caacutediz se ha documentado otra necroacutepolis ligada al megalitismo estando fechada en el traacutensito de la Edad del Co-bre al Bronce Se trata de la necroacutepolis de Los Algarbes en Tarifa donde las construcciones son mixtas excavadas en laroca y con ortostatos en el caso de la Estructura 1 mientras que el resto son cuevas artificiales maacutes o menos complejas En esta necroacutepolis se han documentado diversos ajuares que concuerdan con nuestro estudio como la presencia de fauna boacutevidos y ovicaacutepridos asiacute como malacofau-na y ofrendas ceraacutemicas relacionadas con el consumo y almacenaje de alimentos como cuencos vasijas globulares o platos Tambieacuten se doc-umentoacute otro tipo de ajuar como una industria liacutetica de grandes dimen-siones cuentas de collar y objetos metaacutelicos como alabardas o anillos Esta necroacutepolis estaacute siendo revisada en la actualidad y llevaacutendose a cabo nuevos trabajos de excavacioacuten para una mejor informacioacuten de sus caracte- riacutesticas (Castantildeeda Garciacutea Jimeacutenez y Prados 2009)El Tholos de las Canteras en Sevilla seraacute otro ejemplo a pesar de encontrarse expoliado en gran medida Este tholos estaacute fechado en eacutepo-ca Calcoliacutetica y con una reutilizacioacuten en el Campaniforme Ademaacutes acop-lados a este se documentaron una serie de covachas individuales siendo consideradas como estructuras parasitarias En este tholos se documen-taron la presencia de ceraacutemica variada asiacute como la ofrenda caacuternica de

| 545

| 2018

un suido y tambieacuten puntas de flecha cuentas de collar y una laacutemina de oro repujada En la zona exterior se documentoacute la presencia de una zanja en la que tambieacuten se llevoacute a cabo la excavacioacuten de diversos ma-teriales y por ello se le atribuye un caraacutecter ritual (Hurtado y de Amores 1984)El uacuteltimo de los ejemplos lo encontramos en Portugal en el yacimiento de Torre Velha 3 donde se documentoacute un campo de hoyos de eacutepoca Calcoliacutetica con una reutilizacioacuten en el Bronce Pleno De esta uacuteltima eacutepo-ca son los 25 hipogeos documentados los cuales contaraacuten con una ti-pologiacutea variada pero que tienen en comuacuten la presencia de un atrio una antecaacutemara donde se realizaban los rituales y la caacutemara funeraria (Alves et al 2010)Un ejemplo de nuestro ritual en esta necroacutepolis es en el hipogeo denomi-nado [1298] ndash [1695] nuacutemeros que corresponden a la antecaacutemara y a la caacutemara respectivamente En eacutel se localizoacute un uacutenico individuo acompantildea-do de un punzoacuten de cobre un puntildeal de ribetes tres vasos ceraacutemicos y una ofrenda caacuternica procedente del banquete En lo que se refiere a las ofrendas caacuternicas de esta necroacutepolis vemos que aparecieron en 10 de los hipogeos que se documentaron siendo en 9 ocasiones boacutevidos y en soacutelo en uno ovicaacuteprido apareciendo la parte distal de las patas delan-teras y con marcas de procesado (Ibiacutedem)

4 CONCLUSIOacuteNEn primer lugar podemos ver la gran capacidad que tiene el ser humano llegar a dar simbolismo a actos tan rutinarios como es el comer o beber cosa que se puede comprobar desde eacutepoca prehistoacutericaCuando hacemos referencia a los rituales de comensalidad vemos como existen una serie de pautas las cuales hacen maacutes sencillas la identifi-cacioacuten de este tipo de rituales Pero lo primero que debemos tener en cuenta es la diferenciacioacuten entre ofrenda simboacutelica y de resto de ban-quetes cosa que se puede ver a traveacutes de las caracteriacutesticas que presen-tan los objetos documentados en la excavacioacutenCuando hablamos de la ceraacutemica vemos que es uno de los restos maacutes documentados en un yacimiento y que es uno de los elementos que ca- racterizan a estos rituales de comensalidad Presentan una forma estaacuten-dar a la hora de la fabricacioacuten pero esto entraraacute tambieacuten a jugar un papel importante a la hora de su utilizacioacuten ya que las mejor elaboradas son las que utilizan las clases maacutes pudientesCon respecto a la ceraacutemica vemos coacutemo pueden utilizarse otros medios

546 |

para la asociacioacuten de estos recipientes a un banquete ritual como son las analiacuteticas de contenidos orgaacutenicos por medio de la cromatografiacutea de gases y otras teacutecnicas adosadas a estas A pesar de ello podemos ver como son pocos los casos en los que se han llevado a cabo este tipo de analiacuteticas pudiendo deberse esto a factores diversos como econoacutemicos o incluso el desconocimiento de ellasTambieacuten podemos ver como existen otro tipo de contenedores como los metaacutelicos los cuales aparecen siempre muy fragmentados y asociados a poblados pero cuando los encontramos asociados a un enterramiento denotaraacute el estatus social de la persona ya que el bronce es un material de prestigio en esta eacutepocaYa en relacioacuten con el consumo de carne destacar la presencia de utensi- lios como los ganchos o los asadores metaacutelicos los cuales no han sido estudiados en profundidad pero que se relacionaraacuten con estos banque- tes rituales Tambieacuten relacionado con este consumo de carne estaacute la pre- sencia de huesos de animales de los cuales podemos ver como existe una relacioacuten entre la eleccioacuten del animal y el estatus de la persona enter-rada Otra cosa que se observa es la eleccioacuten de partes del animal con un gran potencial caacuternico para la ofrenda cosa muy simboacutelica ya que puede relacionarse con la alimentacioacuten del muerto para el viaje al maacutes allaacuteVemos como en los contextos estudiados podemos decir que los objetos documentados nos ayudan de forma general a afirmar la hipoacutetesis de nuestro trabajo centrada en la localizacioacuten de los elementos comunes para la identificacioacuten de este tipo de ritualesComo conclusioacuten general sobre el tema se puede decir que el mundo de los muertos es algo que ha preocupado a la humanidad desde muy temprano tanto en la construccioacuten de monumentos como con las praacutecti-cas funerarias que se asocian a las diferentes culturas que han pasado a lo largo de la historia En relacioacuten a los banquetes funerarios se puede decir que estas praacutecticas han perdurado hasta hoy diacutea como podemos ver en muchas culturas religiosas como el Diacutea de los Muertos en Meacutexico o las comidas para atender asuntos de negocios o celebraciones familia- res

BIBLIOGRAFIacuteAALBIZURI CANADELL S (2011) Animales sacrificados para el cortejo funebre duran-te el bronce inicial (2300-1300 BC) El asentamiento de Can Roqueta II (Sabadell Barcelona) Quaderns de Prehistograveria i Arqueologia de Castelloacute 29 p 7ndash26ALVES C COSTEIRA C ESTRELA S MONGE SOARES AM MORENO-GARCIacuteA M y PORFIRIO E (2010) Hipogeus funeraacuterios do Bronze pleno da Torre Velha 3 (Serpa

| 547

| 2018

Portugal) O sudeste no sudoeste Zephyrus 3(66) p 133ndash153ANDREacuteS RUPEacuteREZ M T (2005) Concepto y anaacutelisis del cambio cultural su percepcioacuten en la materia funeraria del Neoliacutetico y Eneoliacutetico Universidad de Zaragoza ZaragozaARANDA JIMEacuteNEZ G y ESQUIVEL GUERRERO J A (2006b) Ritual funerario y comen-salidad en las sociedades de la Edad del Bronce del Sureste Peninsular la Cultura del Argar Trabajos de Prehistoria 63 p 117ndash133 doi 103989tp2006v63i220ARANDA JIMEacuteNEZ G y ESQUIVEL GUERRERO J A (2007) Poder y prestigio en las so-ciedades de la cultura de el Argar El consumo comunal de boacutevidos y ovicaacutepridos en los rituales de enterramiento Trabajos de Prehistoria 64 p 95ndash118 doi 103989tp2007v64i2111ARMADA PITA X L (2008) iquestCarne drogas o alcohol Calderos y banquetes en el Bronce Final en la Peniacutensula Ibeacuterica Cuadernos de Prehistoria y Arqueologiacutea de la Universidad de Granada 18(0211-3228) p 125ndash162ARMADA X-L y VILACcedilA R (2016) Rituales de comensalidad en el Bronce Final de la Iberia atlaacutentica artefactos metaacutelicos contextos e interpretacioacuten en Vilaccedila R y Serra M (eds) To feed the body to nourish the soul to create sociability Food and commensality in pre and protohistoric societies Coimbra p 127ndash157BARANDIARAacuteN I et al (2015) Prehistoria de la Peniacutensula Ibeacuterica Ariel Historia Bar-celonaBRICENtildeO BRICENtildeO E M LAZARICH GONZAacuteLEZ M y FELLU ORTEGA M J (2011) Polvo rojo para los difuntos La utilizacioacuten de los ocres en la necroacutepolis de Paraje de Monte Bajo (Alcalaacute de los Gazules Caacutediz) Memorial Luis Siret I Congreso dePrehistoria de Andaluciacutea p 587ndash590BUENO RAMIacuteREZ P BARROSO BERMEJO R y de BALBIacuteN BEHRMANN R (2007) Campaniforme en las construcciones hipogeas del megalitismo reciente al interior de la peniacutensula ibeacuterica Veleia Revista de Prehistoria Historia Antigua Arqueologiacutea y Filologiacutea Claacutesicas (24ndash25) p 771ndash790CASTANtildeEDA FERNAacuteNDEZ V GARCIacuteA JIMEacuteNEZ I y PRADOS MARTIacuteNEZ F (2009) Arqueologiacutea de la Muerte en el campo de Gibraltar De los Algarbes a Baelo Claudia Almoraina 39 p 443ndash456DELGADO HERVAacuteS A (2008) Alimentos poder e identidad en las comunidades fe-nicias occidentales Cuadernos de Prehistoria de la Universidad de Granada 18 p 163ndash188EIROA J J (2009) Nociones de Prehistoria general Ariel Prehistoria BarcelonaGARRIDO-PENA R (2012) Alcohol prestigio y poder ritos de comensalidad en el Campaniforme del interior peninsular (2500-2000 aC) De la cocina y sus ingredien-tes a la mesa y sus rituales Desde los oriacutegenes hasta las tradiciones populares en la Peniacutensula Ibeacuterica2 47 p 47ndash59GUERRA DOCE E (2006) Sobre la funcioacuten y el significado de la ceraacutemica campani-forme a la luz de los anaacutelisis de contenidos Trabajos de Prehistoria 63(1) p 69ndash84GUERRA DOCE E (2014) Alcohol y drogas en las ceremonias funerarias de la prehis-toria La muerte en la prehistoria Casos de estudio p 125ndash136HURTADO PEacuteREZ V y de AMORES CARREDANO F (1984) El tholos de Las Canteras y los enterramientos del Bronce en la necroacutepolis de El Gandul (Alcalaacute de Guadaira Sevilla) Cuadernos de Prehistoria y Arqueologiacutea de la Universidad de Granada 9(1) p 147ndash174INSERRA F (2016) Alimentacioacuten en el nordeste de la peniacutensula ibeacuterica durante la An-

548 |

tiguumledad Tardiacutea a traveacutes del anaacutelisis de residuos orgaacutenicos en ceraacutemica Universidad de Barcelona Tesis doctoralLAZARICH GONZAacuteLEZ M (2007) La Necroacutepolis de Paraje de Monte Bajo (Alcalaacute de los gazules Caacutediz) Un acercamiento al conocimiento de las praacutecticas funerarias pre-histoacutericas Servicio de publicaciones de la Universidad de Caacutediz CaacutedizLAZARICH M BRICENtildeO E RAMOS A CARRERAS A FERNAacuteNDEZ JV JENKINS V FELIU MJ VERSACI M TORRES F RICHARTE MJ PERALTA P MESA M NUacuteNtildeEZ M STRATTON S SAacuteNCHEZ M y GRILLEacute JM (2009) La necroacutepolis colec-tiva en cuevas artificiales de paraje de Monte Bajo (Alcalaacute de los Gazules Caacutediz) IV Encuentro de Arqueologiacutea del Suroeste Peninsular p 193ndash203LAZARICH M VALETIacuteN FERNAacuteNDEZ DE LA GALA J JENKINS V BRICENtildeO E RA-MOS A RICHARTE MJ CARRERAS AM NUacuteNtildeEZ M VERSACI M STRATTON S SAacuteNCHEZ M y GRILLEacute JM (2009) Paraje de Monte Bajo (Alcalaacute de los Gazules) Una nueva necroacutepolis de cuevas artificiales en el sur de la provincia de Caacutediz Almo-raima 39 p 67ndash83LAZARICH M RAMOS A CARRERAS AM BRICENtildeO E FERNAacuteNDEZ DE LA GALA JV RICHARTE MJ NUacuteNtildeEZ M y VERSACI M (2011) Contribucioacuten al conocimiento de las costumbres funerarias del III y II milenios A C en la BajaAndaluciacutea la necroacutepolis de Paraje de Monte Bajo Memorial Luis Siret I Congreso de Prehistoria de Andaluciacutea p 557ndash560LAZARICH M RAMOS A BRICENtildeO E CRUZ MJ y SANtildeUDO J (2013) Las necroacutepo-lis megaliacuteticas del entorno de la Laguna de la Janda (Caacutediz) VI Encuentro de Arque-ologiacutea del Suroeste Peninsular p 207ndash230LAZARICH M BRICENtildeO E CRUZ MJ FERNAacuteNDEZ DE LA GALA JV y RAMOS A (2015) Nuevos datos para el conocimiento de los rituales funerarios practicados por las comunidades agropastoriles en la Baja Andaluciacutea La necroacutepolis de Paraje de Monte Bajo (Alcalaacute de los Gazules Caacutediz) en Goncalves V S Diniz M y Catarina Sousa A (eds) 5a Congresso do Neoliacutetico Peninsular LisboaMINTZ S W y DU BOIS C M (2002) The Anthropology of Food and Eating Annual Review of Anthropology 31(1) p 99ndash119 doi 101146annurevan-thro32032702131011MOLINA MUNtildeOZ E (2015) La produccioacuten ceraacutemica en el Sudeste de la Peniacutensula Ibeacuterica durante el III y II milenio ANE (2200-1550 CAL ANE) integracioacuten del anaacutelisis de residuos orgaacutenicos en la caractericacioacuten funcional de los recipientes argaacutericos Universitat Autogravenoma de Barcelona Tesis doctoralRENFREW C (2011) Arqueologiacutea Teoriacutea meacutetodos y praacutecticas Ediciones Akal MadridROJO GUERRA M GARRIDO-PENA R y GARCIacuteA MARTIacuteNEZ DE LAGRAacuteN Iacute (2008) No soacutelo cerveza Nuevos tipos de bebidas alcohoacutelicas identificados en anaacutelisis de contenidos de ceraacutemicas Campaniformes del Valle de Ambrona (Soria) Cuardernos de Prehistoria de la Universidad de Granada 18 p 91ndash105SARDAacute SEUMA S (2010) El giro comensal nuevos temas y nuevos enfoques en la protohistoria peninsular Herakleion (3) p 37ndash65VIOLA M (2008) Estudios sobre modelos de consumo una visioacuten desde teoriacuteas y metodologiacuteas Revista chilena de nutricioacuten 35(2) p 93ndash99 doi 104067S0717-75182008000200002

| 549

| 2018

iquestLa Yarda megaliacutetica o Vara megaliacutetica

The megalithic Yard or megalithic Rod

RESUMENSe parte de la base de que la humanidad prehistoacuterica poseiacutea unos cono-cimientos de caraacutecter matemaacutetico que siglos despueacutes afloraron y se de-sarrollaron en las civilizaciones mesopotaacutemicas y egipcias y que a traveacutes de Grecia y Roma llegaron hasta la Revolucioacuten Francesa Estos conceptos incluiacutean una serie de patrones antropomeacutetricos para medir distancias lineales como eran la braza la vara el codo la palma o el pie Se ha escrito bastante sobre si una de estas medidas ldquola yarda megaliacuteticardquo fue usada por los constructores de los ciacuterculos de piedra de Inglaterra Escocia Gales y Bretantildea Sobre todo Alexander Thom que desde 1955 ha venido publicando numerosas monografiacuteas al respecto Pero el proble-ma es que para este enfoque siempre se han realizado las mediciones de los rdquociacuterculos de piedrardquo con unidades anglosajonas actuales como son la yarda (yd = 914 cm) el pie (ft = 3048 cm) y la pulgada (in = 2540 mm) cuando no tambieacuten sus aproximaciones decimales Este trabajo trata de comprobar si los moradores de una serie de regiones geograacuteficas de la Peniacutensula Ibeacuterica que la habitaron en el Neoliacutetico y Edad del Cobre usa-ron alguna unidad de medida del Sistema Antropomeacutetrico Antiguo para trazar los diaacutemetros de sus monumentos megaliacuteticos como por ejemplo la vara de 12 palmas Para ello se han medido los diaacutemetros interiores de casi doscientos monumentos de las regiones de Huelva Badajoz en Espantildea y Eacutevora y Portoalegre en Portugal Aunque los resultados no son concluyentes si queda demostrado que en algunos casos pudieron emplear este tipo de unidad de medida o sus fracciones para el trazado preliminar de sus ciacuterculos de piedraPALABRA CLAVE Unidad antropomeacutetrica Vara megaliacutetica Megalitismo Prehistoria reciente

ABSTRACTIt is based on the premise that prehistoric humanity possessed mathe-matical knowledge which centuries later emerged and developed in the

Antonio Ramos Gil Dr en Historia Investigador de la Universidad de Caacutediz Grupo HUM 812aramosgiltelefonicanet

550 |

Mesopotamian and Egyptian civilizations and that through Greece and Rome reached the French Revolution These concepts included a series of anthropometric patterns to measure linear distances such as the breast-stroke the rod the elbow the palm or the foot It has been written quite a bit about whether one of these measures ldquothe megalithic yardrdquo was used by the builders of the stone circles of England Scotland Wales and Brittany Especially Alexander Thom who since 1955 has been publis- hing numerous monographs on the subject But the problem is that for this approach have always made the measurements of the ldquostone circlesrdquo with current Anglo-Saxon units such as the yard (yd = 914 cm) the foot (ft = 3048 cm) and the inch (in = 2540 mm) when not also its decimal approximations This work tries to verify if the inhabitants of a series of geographic regions of the Iberian Peninsula that inhabited it in the Eneolithic used some unit of measurement of the Ancient Anthropometric System to trace the diameters of its megalithic monuments such as the rod of 12 palms For this the interior diameters of almost two hundred monuments of the regions of Huelva and Badajoz in Spain and Eacutevora and Portoalegre in Portugal have been measured Although the results are not conclusive if it is demonstrated that in some cases they could use this type of unit of measure or its fractions for the preliminary drawing of their stone circlesKEY WORDSAnthropometric Unit Megalithic Rod Megalithism Recent Prehistory

INTRODUCCIOacuteNiquestCuaacutendo se planteoacute el hombre primitivo la necesidad de medir las cosas con referencia a unos patrones maacutes o menos fijos que le sirvieran para la formacioacuten de los sistemas de clasificacioacuten y el surgimiento de las nociones abstractas (Kula 1980 p 30)Para los cazadores recolectores seguramente no teniacutea demasiada impor-tancia tener unos patrones para saber el tamantildeo de las cosas les bastaba su apreciacioacuten sensorial para evaluar si un animal era grande o pequentildeo o si la distancia que debiacutea recorrer hasta el siguiente apostadero de caza equivaliacutea a dos diacuteas y dos noches o quizaacutes algo maacutes Pero con la seden-tarizacioacuten todo seraacute diferente es conveniente saber delimitar unos espa-cios maacutes o menos acotados donde se siembren las semillas y que no las recolecte la tribu vecina Tambieacuten es necesario el poder medir la cantidad de grano que se ha recolectado ya que no seriacutea suficiente contar el nuacutemero de puntildeados conseguidos Cuando la cuantificacioacuten de los espacios abiertos no era condicionante para la labor productiva bastaba con saber la distancia

| 551

| 2018

que habiacutea entre un manantial de agua y otro Por tanto podemos decir que las primeras medidas estariacutean en relacioacuten con el nacimiento de la agricultu-ra (Kula 1980p6)Aunque tambieacuten otros procesos de produccioacuten habriacutean necesitado el esta-blecimiento de ciertos patrones de medida Es el caso de los telares donde el ancho de una pieza estaba condicionado al ancho del telar pero no asiacute su longitud En las sociedades maacutes desarrolladas a lo largo de la Prehistoria reciente el proceso continuacutea ampliaacutendose cuanta madera o cal es necesar-ia para cargar un horno o cuantos carros son necesarios para transportar el trigo hasta el granero comunal Similar problema presentaba el alma- cenamiento de liacutequidos y su transporte recipientes ceraacutemicos barriles y otros contenedores debiacutean ser ldquonormalizadosrdquo para evitar el ldquoengantildeordquo Y son precisamente estos posibles fraudes los que van a desarrollar hasta liacutemites insospechados las distintas medias de longitud superficie y volu-men como veremos maacutes adelantePor tanto parece evidente que cuando aparece el poder en las sociedades organizadas es este mismo poder el que establece la obligatoriedad de que todos guarden unos ldquopatrones de medidasrdquo que estaraacuten vigentes en los territorios bajo su autoridad e incluso estas medidas tendraacuten un caraacutecter sagrado fijaacutendose en las fachadas de palacios y templos Esta situacioacuten llegaraacute desde Grecia y Roma hasta la Edad Moderna pasando por la Edad MediaEl historiador Gaetano de Sanctis (1870-1957) dijo ldquoLa metrologiacutea non egrave scienza egrave un incubo (Pommerenting 2005 p3) Esta frase puede conden-sar la opinioacuten de los expertos en relacioacuten al estudio y conocimiento de las medidas en la antiguumledad que es el objeto de la ldquoMetrologiacutea Histoacutericardquo Todos ellos se han esforzado en saber queacute unidades o patrones se usaron en Egipto y en menor medida en Mesopotamia India China Grecia Roma etc pero sobre todo sus esfuerzos se han centrado en querer descifrar las ldquoequivalenciasrdquo de todas esas magnitudes con nuestro patroacuten actual el metro Y es aquiacute donde surgen las disparidades de criterios y por tanto la gran confusioacuten pues se unen a la gran cantidad de medidas y denom-inaciones que se han desarrollado a lo largo del tiempo en las diferentes culturas las diferentes interpretaciones de sus valores en el Sistema Meacutetri-co Decimal (SMD)Como ejemplo ilustrativo de la complejidad y variedad de unidades de me-dida antiguas podemos ver la Fig1 donde se reproduce el cuadro resu-men que RCA Rottlaumlnder publicoacute en relacioacuten del codo de Nippur la yarda megaliacutetica y los diferentes ldquocodosrdquo y ldquopiesrdquo de la Protohistoria (Rottlander

552 |

Fig 1 Tabla de Rottlaumlnder sobre medidas en la antiguumledad (Rottlander 1996 p 2)

1996 en Jones 2012 p76)Pero maacutes importante que saber ldquoexactamenterdquo cuaacutentos miliacutemetros (e in- cluso deacutecimas de miliacutemetro) media un codo egipcio o un pie romano lo que nos interesa es indagar si realmente existieron esos patrones y sobre todo si estos patrones se usaron en las construcciones megaliacuteticasEn este sentido se conserva el llamado ldquoPatroacuten Mayardquo en el Museo del Louvre y el ldquoPatroacuten de Khardquo en el Museo Egipcio de Turiacuten1 Ademaacutes se puede plantear que medir monumentos no es ni mucho menos un meacuteto- do infalible En el paso desde el proyecto ideal del edificio proyecto que probablemente siacute esteacute trazado en medidas enteras exactas al edificio real terminado se producen infinidad de pequentildeas variaciones en las medidas reales (juntas dilataciones etc) que acumuladas suponen variaciones en las medidas finales Por tanto las medidas finales del edificio real probable-mente no correspondan exactamente a las medidas teoacutericas proyectadas Es pues maacutes uacutetil estudiar los patrones fiacutesicos que recojan el posible sistema de medidasEn este aspecto el Ingeniero de Puentes y Caminos Pierre-Simon Girard2

escribioacute ldquoLas proporciones del cuerpo humano que los antiguos habiacutean estudiado particular-mente si juzgamos por las estatuas admirables que han escapado a la injuria de los siglos proporcionan una nueva prueba de lo que acabo de adelantar Se sabe en efecto que consideraban el codo natural como la cuarta parte de la altura del cuerpo De ahiacute 1 Otro de los trabajos sobre este tema es la Tesis de Antoine Pierre Hirsch (2013)2 PS Girard fue otro de los integrantes de la Expedicioacuten a Egipto de Napoleoacuten Bonaparte y coautor junto a Jomard y otros de la ldquofaraoacutenicardquo obra Descrption de LrsquoEgypte publicada en veinte tomos entre 1809 y 1822

| 553

| 2018

se seguiriacutea que el tipo del codo de Elefantina3 de 527 miliacutemetros habriacutea sido proporcio-nado por un individuo con una altura de 2 metros 108 miliacutemetros [6 pies 8 pulgadas] estatura realmente gigantesca mientras que si se disminuye este codo de un seacuteptimo o de la palma adicional se lo reduciraacute a 450 miliacutemetros y la altura del individuo que lo habraacute proporcionado no seraacute maacutes que de 1 metro 80 centiacutemetros4 [5 pies 6 pulgadas 6 liacuteneas] talla ciertamente ventajosa pero que no tiene nada de extraordinariordquo (Girard 1809 p14)Actualmente todos los investigadores coinciden en que el hombre comenzoacute a tener conciencia del mundo que le rodeaba cuando se decidioacute a comparar el tamantildeo de las cosas con partes de su propio cuerpo la mano el pulgar el codo el pie los brazos abiertos el puntildeo los pasos y maacutes allaacute de siacute mis-mo con el tiro de una piedra o de una flecha el alcance de la vista o la de su propia voz (Ruiz Moraacuteles 2011 p9) Surgen asiacute las llamadas medidas antropomeacutetricas de antropo y metriacutea (medidas del cuerpo humano) Aquiacute el vocablo metriacutea no tiene relacioacuten con metro sino con metroacuten = medidaEste sistema implicaba una serie de problemas a resolver en primer lugar estas medidas del propio cuerpo podiacutean servir para los habitantes de una aldea o campamento donde seguramente al jefe de este clan seriacutea el que determinariacutea el valor de ldquosurdquo palmo ldquosurdquo pie o ldquosurdquo braza Pero el conflic-to surgiriacutea cuando estos patrones se teniacutean que comparar con los de otras tribus o grupos con los que seguramente intercambiaban productos iquestCuaacutel era el vaacutelido ldquotuacuterdquo codo o ldquoel miacuteordquo Y si habiacutea que medir un campo iquestqueacute ldquopasordquo prevaleciacutea el ldquotuyordquo o ldquoel miacuteordquoOtro de los problemas que surgiriacutea fue la necesidad de buscar medidas maacutes grandes yo maacutes pequentildeas que los miembros anatoacutemicos Aparece pues la obligacioacuten de buscar muacuteltiplos y divisores de esas medidas Para grandes distancias se empleoacute ldquola distancia que alcanza una flecha tirada con arcordquo o hasta que se oiga la voz humana gritando a todo pulmoacuten En el aacutembito de lo pequentildeo aparece la medida del ldquodedordquo del ldquogranordquo de cereal (cebada avena o trigo) e incluso el ldquopelo de camellordquo y el ldquopelo de la cola de una mulardquo (Kula 1980 p31)La gran ventaja de estas ldquomedidasrdquo era que siempre se llevaban consi-go mismo para medir la longitud de un astil le bastaba colocar la mano extendida y contar el nuacutemero de palmos (enteros) que habiacutea y los dedos que los completaban Y si teniacutea que realizar la medicioacuten de una distancia sobre el terreno contariacutea el nuacutemero de ldquopiesrdquo si era esta relativamente corta y empleariacutea los ldquopasosrdquo para longitudes mayoresUn aspecto muy importante ampliamente debatido por los especialistas es siacute el conjunto de medidas en un momento determinado y en un lugar 3 Con la palabra codo Girard se refiere aquiacute a un patroacuten fiacutesico de medida no a la parte anatoacutemica4 La negrita es nuestra

554 |

concreto estaban organizadas en un ldquosistemardquo estructurado con muacuteltiplos y subdivisiones o por el contrario las medidas eran fruto de las costumbres y por tanto elegidas al azar En este sentido seguacuten las investigaciones de Luis Castantildeo propone que existioacute un ldquoCanon Originalrdquo y un ldquoSistema de Medidas Antiguordquo basado en el cuerpo humano de estatura = 180 m (Castantildeo 2015 p3) De esta manera en un momento indeterminado un individuo del geacutenero homo averiguoacute que siacute sus cuatro dedos de la mano era una palma5 resulta que su estatura ldquoHrdquo eran 24 palmas Y que si estiraba sus brazos en cruz observoacute que de extremo a extremo de los dedos media igual que su estatura y a esta medida le llamoacute braza Y a la mitad de la braza se le denominoacute vara que mediacutea 12 palmas Pero es que si doblaba el codo la distancia que habiacutea desde el extremo de sus dedos hasta el mismo codo era la misma que desde el codo al centro de su pecho con lo cual dedujo que 1 braza eran 4 codos y que un codo media 6 palmas o bien 24 dedos Entonces si la altura de un humano que llamaremos Homo se dividiacutea en dos varas cada vara en dos codos y cada codo en seis palmas y cada palma en cuatro dedos ya teniacutean un sistema de medidas que teniacutea la ventaja de que se llevaba ldquopuestordquo sobre el mismo cuerpo Claro que para medir distancias en el suelo era muy trabajoso hacerlo con los codos o con las palmas era maacutes coacutemodo ha-cerlo con los pies Los detractores de estas hipoacutetesis sostienen que no es posible ldquounificarrdquo la estatura de todos los seres humanos en diversas razas y geografiacuteas para sacar una estatura ldquouacutenica de 180 cmrdquo Este enfoque es totalmente erroacuteneo ya que no se trata de saber cuaacutento median todos los humanos en una eacutepoca y lugar determinado sino que en un momento de la prehisto-ria se ve la conveniencia y hasta necesidad de establecer un Patroacuten de Medidas y que este sea una estatura determinada cuyas subdivisiones de codos o pies se fijen sobre un elemento inerte como sea una barra de metal o de madera y esta se conserve en el templo o palacio del poder para que sirva de modelo donde contrastar estas medidas de una forma praacutecticaEste ordenamiento primitivo de las medidas antropomeacutetricas se debioacute de usar durante muchos milenios hasta el momento en que surgen las primeras sociedades jerarquizadas y el control del ldquopoderrdquo de los primeros reyessacerdotes de Mesopotamia eacutestos establecieron los primeros patrones materializados en barras metaacutelicas o reglas de made-ra Asiacute cuando se producen las primeras manifestaciones de la escritu-ra cuneiforme aproximadamente en el antildeo 3000 a C ldquoya se habiacutean 5 No confundir Palma con Palmo el palmo (palmus maior) es la distancia entre el dedo pulgar y el mentildeique con la mano estirada mientras que palma (palmus minor) es el ancho de la mano o sea de los cuatro dedos sin contar el pulgar Al palmo tambieacuten se le llama ldquocuartardquo ya que es una cuarta parte de la vara y a su vez corresponde a tres palmas6 Filetero fue un rey de Peacutergamo en el s III aC

| 555

| 2018

concebido y estandarizado algunas unidades de medida que con el tiem-po se transformariacutean en los sistemas meacutetricos del mundo antiguordquo(Ruiz Moraacuteles 2011 p16)Las equivalencias si llamamos ldquohomordquo a la altura total de un hombre seriacutean las siguientes ldquoHomordquo o Cana= 1 braza (se mide igual de suelo a cabeza que de extremo a extremo de los dedos con los brazos abiertos)Braza = 2 varas (tambieacuten conocida como orquia)Vara = 2 codos (equivalente a la Yarda)Codo = 6 palmasPalma = 4 dedos maacutes cuatro separaciones (pelos de camello) Tambieacuten conocido como ldquoPalmo menorrdquoDedo = 4 granos de cebada = frac14 palmaGrano de cebada = 6 pelos de camello = frac14 dedoPelo de camello = 16 grano de cebada = 124 dedo

Pero en todo este ldquosistemardquo parece que nos hemos olvidado del pie y es que de todas las medidas antropomeacutetricas eacutesta es la maacutes complicada y controvertida de todas Seguacuten Heroacuten de Alejandriacutea el Pie Real o Filetero6 me-dia cuatro palmas es decir 4 x 4 = 16 dedos Pero hay otras equivalenciasbull Pie doacutericobull Pie itaacutelico = 13 dedos maacutes 13 de dedo(Pou 1802 1129)bull Pie romano = 4 palmas bull Pie drusiano o druacutesico = 98 de pie romano bull Pie de rey franceacutes = 18 dedos (toesa francesa = 6 pies de rey)bull Pie castellano = 67 del pie franceacutes bull Pie ingleacutes = 1516 de pie de rey franceacutes

Y el gran Leonardo da Vinci definiacutea el pie como ldquoLa longitud desde el taloacuten al dedo gordordquo y valiacutea ldquola seacuteptima parte del hombrerdquo de la altura de un hombre se entiende Aunque lo que hace Leonardo es interpretar lo que escribioacute Vitrubio7 de que ldquocuatro palmas hacen un pierdquo y es aquiacute donde estaacute una de las discrepancias ya que si hemos supuesto que la altura del hombre es de 96 dedos el pie seguacuten Leonardo equivaldriacutea a 967 = 1371 dedos Sin embargo si hacemos caso a Vitrubio la medida seriacutea = 4 palmas x 4 dedos = 16 dedos o lo que es lo mismo que 966= 16Otro tanto se puede decir de la pulgada cuya mayor acepcioacuten es que es la doceava parte del pie pero tambieacuten es la ldquolongitud de la falange distal 7 En el tercero de sus ldquoDiez Libros de arquitecturardquo Vitrubio dice que ldquoLa cabeza es 18 del total de la altura y 18 de la nuca a la parte superior del pecho De lo alto del pecho hasta la raiacutez del pelo 16 parte y hasta la coronilla 14 El rostro se divide en tres partes iguales del mentoacuten a la nariz desde eacutesta al entrecejo y desde alliacute hasta la raiacutez de los cabellos El pie es 16 de la altura del hombre el codo 14 el palmo 124 ()rdquo (Franco Taboada 1998 p 3)

556 |

del dedo pulgarrdquo o ldquoel ancho del dedo pulgarrdquo Para Mayora la pulgada no tiene nada que ver con el dedo ni el codo sino que pertenece a las llamadas ldquomedidas itinerariasrdquo (Mayora 1855 p25)ldquoTodas las naciones antiguas adoptaron la base anterior en sus divisiones y las moder-nas han seguido lo mismo hasta la fundacioacuten del sistema meacutetrico franceacutes pero aplicada aacute medidas mayores oacute menores y perdida la memoria de la relacioacuten primitiva resultaron unos monstruos notaacutendose que la mayor parte de los dedos palmos codos estaturas etc no pertenecen aacute la especie humana La misma ignorancia ha introducido el error de aplicar la divisioacuten duodecimal de la pulgada al dedo al codo y otras partes del cuerpo humano sin reflexionar que la pulgada es la unidad del pieacute que pertenece aacute las medidas itinerariasrdquoEl modelo de Leonardo Da Vinci es conocido como ldquoHombre de Vitrubiordquo o ldquoCanon de las proporciones humanasrdquo y se sintetiza en un documento que se conserva en la Galeriacutea de la Academia de Venecia donde se representa la imagen de un hombre inscrito en un cuadrado y en un ciacuterculo con unas anotaciones autograacuteficas del propio Leonardo (Fig 2a)

Fig2 a) el ldquoHombre de Vitrubiordquo dibujo de Leonardo da Vinci Foto Luis Castantildeo Academia de Venecia Exposicioacuten de 2011 b) La cuadricula propuesta por Vitrubio (seguacuten Castantildeo 2012)

| 557

| 2018

Esta imagen y su interpretacioacuten ha sido objeto de numerosos trabajos y pu- blicaciones (Piera 2002) (Saacutenchez-Montantildea 2005a) (Franco Taboada 1998) (Llorente 2001) (Castantildeo 2012)En el dibujo de Leonardo (Fig 2a) aparece una doble imagen del hombre una postura en ldquoXrdquo y otra en ldquoTrdquo o en cruz y que seguacuten Castantildeo tienen connota-ciones diferentes La postura en ldquoXrdquo se inscribe en un ciacuterculo mientras que la ldquoTrdquo se inscribe en el cuadradoSeguacuten Castantildeo (Castantildeo 20123) la dimensioacuten de la ldquoescala ldquoque Leonardo dibujoacute en la parte inferior mide ldquoexactamenterdquo 18 centiacutemetros8 Esta escala da pie para poder dibujar una cuadricula sobre la imagen en ldquoTrdquo (Fig 2b) de 18 x 18 cm y de 24 x 24 cuadriculas que corresponden con las diferentes partes anatoacutemicas de la Figura Por lo tanto cada cuadricula mediraacute 180 mm dividido por 24 igual a 75 mm del dibujo Si el dibujo estaacute realizado a una escala de 110 esto quiere decir que a tamantildeo natural el hombre mediriacutea 180 cm de alto y de aquiacute se podriacutea deducir con bastante facilidad simplemente contando las cuadriculas de 75 cm (corres- pondientes a una palma el resto de medidas 1codo = 6 cuadriculas = 45 cm la palma = 1 cuadricula = 75 cm y un dedo seria la cuarta parte de una palma = 75 cm x 14 = 1875 cm)Sobre la medida del dedo Castantildeo hace su interpretacioacuten afirmando que en realidad mide 18 cm y que los restantes 075 mm corresponden al ldquoespacio interdigitalrdquo o marcas entre los dedos (Castantildeo 2015 p9) De esta manera se cumpliriacutea de que la estatura del hombre se corresponde con 100 dedos de 18 mm o con 96 dedos + espacios interdigitales de 1875 mm En este uacuteltimo caso se cumpliriacutea lo que dice Vitrubiordquo4 dedos hacen una palma (y) 24 palmas hacen a un hombrerdquo Hombre = 100 dedos x 18 mm = 1800 mm = 180 cm = 180 m Hombre = 98 dedos x 1875 mm = 1800 mm = 180 cm = 180 mPor tanto podemos establecer las siguientes correspondencias entre el siste-ma antropomeacutetrico y el SMD Braza = 180 cm Vara = frac12 Braza = 90 cm Codo = frac14 de Braza = 45 cm Palma = 18024= 75 cmSobre la llamada ldquoYarda Megaliticardquo se supone que esta supuesta medi-da antigua deberiacutea haber existido con anterioridad a las medidas mesopo-taacutemicas o egipcias la diferencia con estas uacuteltimas es que no es un ldquopatroacutenrdquo fiacutesicamente conservado sino solo una hipoacutetesis del investigador Alexan-der Thom quien en 1955 propuso por primera vez este teacutermino en su obra 8 Seguacuten pudo comprobar personalmente midiendo sobre el dibujo en la Galeriacutea de la Academia de Venecia donde se expone al puacuteblico tan solo una vez cada diez antildeos

558 |

A statistical examination of megalhitic sitesStonehenge Avebury y otros cuatrocientos sitios maacutes de Inglaterra Escocia Gales y Bretantildea fueron estudiados y medidos por este profesor de ingenieriacutea de Oxford el cual llegoacute a la conclusioacuten de que los constructores megaliacuteticos utilizaron una unidad de longitud especifica a la que llamoacute ldquoyarda megaliacuteticardquo y que la cifroacute en 272 pies ingleses naturalmente Trasladados al SMD esta medida son 8290560 cm aunque el 1971 refinoacute sus caacutelculos llegando a los 270 plusmn0003 pies (Sixsmith 2009 p2) lo cual parece una verdadera quime-ra pensar en que los prehistoacutericos llegasen a este tipo de precisiones Pero ademaacutes siete antildeos maacutes tarde llego a la conclusioacuten de que una yarda megaliacuteti-ca equivaliacutea a 2722 plusmn 0002 pies (iexcl) o sea 8296656 plusmn 06096 cmEn nuestra opinioacuten este empecinamiento en calcular con precisioacuten milimeacutetrica el resultado de sus investigaciones fue lo que le produjo el rechazo de la ldquocien-cia oficialrdquo y aunque Thom utilizoacute herramientas estadiacutesticas sofisticadas sus resultados fueron examinados por SR Broadbent para comprobar ldquohasta que punto un determinado corpus de datos implica la utilizacioacuten de un cuantum o patroacuten de medidardquo (Ferrar 1992 p 2)Hubo detractores de los Thoms (Alexandre y su hijo Archie) que incluso inten-taron demostrar la invalidez de sus teoriacuteas llevando a cabo las mediciones fiacutesicas de 27 mujeres y 64 hombres es el caso de Ronal Hicks que en 1977 midioacute la distancia entre dedos extremos (braza) asiacute como sus estaturas de 91 estudiantes voluntarios (Hicks 1977 p2) Es increiacuteble como pretendiacutea sacar conclusiones de una muestra tan ridiacutecula y que ademaacutes no es esta la razoacuten de ser de las medidas antropomeacutetricas sino que estas se fijaron como modelo o patroacuten de un sistema de unidades muacuteltiplos y submuacuteltiplos y que todo el mundo podiacutea entender ya que usaban las propias partes del cuerpo codos pies palmas y dedosDe su trabajo A Thom sacoacute tres conclusiones Primero que los ciacuterculos de pie-dra no eran solo ciacuterculos sino que estaban trazados como elipses u oacutevalos con gran precisioacuten geomeacutetrica Segundo que los diaacutemetros y maacutes bien los radios de estos ciacuterculos pareciacutean tener como unidad de medida lo que llamoacute yarda megaliacutetica y Tercero que muchos de estos megalitos estaban orientados ha-cia alineaciones astronoacutemicas especificas como los solsticios de verano o los movimientos lunares de donde se acuntildeoacute el teacutermino de ldquoastronomiacutea megaliacuteti-cardquo Estas precisiones implicariacutean unos sofisticados conocimientos astronoacutemi-cos por parte de sus constructores Antes de Thom se sabiacutea que algunos de los monumentos megaliacuteticos no eran circulares pero fue el primero en demostrar que fueron construidos asiacute deliberadamente De igual forma la idea de que los megalitos tienen alineaciones astronoacutemicas ya se recogen en los escritos del

| 559

| 2018

anticuario William Stukeley en 1740 (Davenhall 2007 p1138)Junto a su hijo Archie examinaron el trazado de los ciacuterculos de piedra analizan-do sus geometriacuteas y la relacioacuten con la yarda megaliacutetica En cualquier caso parece poco probable que los constructores de croacutemlechs los sepulcros de corredor con o sin caacutemara circular y demaacutes estructuras megaliacuteticas usasen unas medidas con decimales de la unidad que fuese bien la yarda (vara) codo o pie ya que en primer lugar no conociacutean las fracciones decimales y siacute otras fracciones como las usadas por los egipcios (12 13 14 15 23 etc) Por tanto la intencioacuten de buscar un ldquopatroacutenrdquo en pies in- gleses actuales en los trazados de hace 4500 antildeos o maacutes no parece una idea plausibleUno de los objetivos de este trabajo es comprobar si en la construccioacuten de las estructuras megaliacuteticas se utilizoacute alguacuten tipo de patroacuten de medida de longitud y para ello hemos ldquomedidordquo el diaacutemetro medio de las caacutemaras circulares9 de de una serie de enterramientos megaliacuteticos del sur de la peniacuten-sula Ibeacuterica La fuente principal han sido los dibujos de las 108 laacuteminas del libro del matrimonio Leisner Die Megalithgraumlber der Iberrischen Hablbinsel (1959) (Leisner amp Leisner p 1965) En ellas se reproducen con exquisito de- talle no solamente la planta ya alzado de maacutes de doscientas estructuras funer-arias del sur de Portugal y de la baja Andaluciacutea sino todos los elementos de ajuar de cada uno de ellos cuencos de ceraacutemica puntas de proyectil iacutedolos tableta hachas y azuelas cuchillos lascas de piedra tallada etc todo ello dibujado indicando las diferentes escalas para cada objeto dentro de una mis-ma laacutemina De esta manera ha sido posible medir el dibujo con un calibre pie de rey digital que nos ha dado una precisioacuten de la centeacutesima de miliacutemetro y su posterior conversioacuten a la escala real de cada dibujo Todos estos valores se han volcado en una base de datosDe un total de 192 sepulcros megaliacuteticos de caacutemara circular ldquomedidosrdquo el 64 se ubican en el Distrito de Eacutevora (provincia de Alentejo) El 26 estaacuten en el Distrito de Portalegre (Alentejo) Es decir que la mayoriacutea se encuentran en territorio portugueacutes (90) mientras que solo el 10 restante lo son en provin-cias espantildeolas Huelva (3)y Badajoz (7) Para la medicioacuten de los ciacuterculos y sus diaacutemetros debemos tener las siguientes consideracionesa) Si bien los ortostatos estaacuten colocados en ciacuterculos estos no se corresponden con liacuteneas geomeacutetricas prefectasb) Aunque el trazado inicial se hubiese trazado con una estaca y cordel la apertura de los huecos para colocar las grandes piedras y la misma colo-cacioacuten de estas presentan muchas variaciones muy lejos de una precisioacuten de 9 Hemos elegido las caacutemaras y no los corredores para nuestra investigacioacuten ya que las primeras sus medidas se han conservado mejor que en los segundos

560 |

centiacutemetrosc) Por tanto para nuestra medicioacuten se han tomado las distancias entre ortos- tatos por la cara interior de la caacutemara en direccioacuten N-S y E-W obtenieacutendose la media aritmeacuteticad) La posible unidad de medida o ldquopatroacutenrdquo utilizado en el trazado de los ciacutercu-los megaliacuteticos no tiene por queacute ser ldquouniversalrdquo sino que en cada comunidad prehistoacuterica pudieron utilizar una diferente o bien emplear varios muacuteltiplos y submuacuteltiplos de ellae) Las medidas en cm se han ldquotraducidordquo a ldquovaras (de 90 cm) y fracciones de esta ya que en posible que en algunos casos usasen 12 13 23 de vara u otras fraccionesLos resultados agrupados por zonas geograacuteficas se exponen a continuacioacuten Para la muestra mayor (Eacutevora = 122 sepulcros de caacutemara circular) se han obtenido unos resultados que nos muestran que el diaacutemetro maacutes repetido es el de 3 varas (270 cm) que aparece en el 23 de las mediciones La serie se extiende desde las 2 + 15 de vara (198 cm) hasta los 4 frac12 de vara (405 cm) Graacutefico 1 (Fig 3)Las estructuras de Portalegre presentan diaacutemetros similares aunque por su menor muestra (solo 49 doacutelmenes) sus valores son menos representativos Los de la Provincia de Huelva se han medido solo 5 de caacutemara circular hay cuatro con un diaacutemetro de 2 frac14 y 2 45 de vara (202 cm y 250 cm) y uno el mayor de 4 varas de diaacutemetro (260 cm) que corresponde con el de Bartolomeacute de la Torre En conjunto si comparamos las tres aacutereas anteriores los resultados se mues-tran en el grafico de cajas y bigotes (boxplot) nordm2 (Fig 4) donde podemos apre-ciar que los valores de primer y tercer cuartil para Eacutevora y Portoalegre estaacuten muy cercanos a la mediana (gran concentracioacuten) y que eacutesta (segundo cuartil) toma el valor de 3 varas (270 m)Los enterramientos de caacutemara circular medidos de la provincia de Badajoz han mostrado unas dimensiones mayores que los anteriores Con un total de 16 medi-ciones el 25 miden 5 + 14 de vara (473 cm)

CONCLUSIOacuteNHay que sentildealar que dado que el fenoacutemeno megaliacutetico tiene una amplia cronologiacutea y distribucioacuten geograacutefica habriacutea ampliar en aacutembito de la mues-tra y hacer una valoracioacuten contando con las tumbas que posean fechas de datacioacuten radiocarboacutenicas y al mismo tiempo observar si en el transcurso de los varios milenios que dura el fenoacutemeno del megalitismo hubo cambios en los patrones y si estos presentan variaciones seguacuten las zonas geograacuteficas donde

| 561

| 2018

Fig3 Grafico 1 Diaacutemetros de las estructuras megaliacuteticas de Eacutevora Portoalegre y Huelva

Fig4 Graacutefico 2 Diaacutemetros medidos interiores circulares Entre pareacutentesis el total de me-didos Obseacutervese el diaacutemetro de 27 m (tres varas) para los doacutelmenes de Portugal

562 |

se emplazan las sepulturas Hipoacutetesis que tendremos que comprobar en un proacuteximo futuroEn conclusioacuten podriacuteamos afirmar que aunque algunas comunidades de las estudiadas pudiesen haber conocido unas ldquovaras de medirrdquo para el trazado de sus ciacuterculos de piedra no las usaron de una manera sistemaacutetica ni predeter-minada aunque en algunos casos asiacute parece haber sido como demuestran nuestras mediciones Pero en cualquier caso estamos plenamente convenci-dos y asiacute lo hemos expuesto en mi tesis de doctorado (Ramos-Gil 2017) de que hombre y la mujer prehistoacuterica tuvieron una serie de conocimientos de iacutendole matemaacutetico y que la necesidad de supervivencia les fue desarrollando cada vez maacutes y que en el futuro cuando los arqueoacutelogos y prehistoriadores estudien cualquier vestigio material del pasado sean capaces de aplicar una nueva visioacuten a dicho objeto es decir no solamente medirlo y pesarlo en nues-tras unidades meacutetricas decimales sino ser capaces de buscar las medidas que posiblemente utilizaron sus creadores las partes de su propia anatomiacutea BIBLIOGRAFIACASTANtildeO L (2015) Metrologiacutea Histoacuterica Una Nueva Propuesta para el Antiguo Egipto httpswwwacademiaeduRPI_CA-499-14 (Mayo 2017)CASTANtildeO L (2012) Reflexiones sobre el Homo ad Circulum httpsindependentaca-demiaeduLuisCastaC3 (Mayo 2017) DAVENHALL C (2007) The Biographical Encyclopedia of Astronomers Thom Alexan-der p1137-1138FRANCO TABOADA M (1998) La cuestioacuten del centro de la figura humana a partir del laquohomo bene figuratusraquo de Vitruvio En VII Congreso Internacional de Expresioacuten Graacutefica Arquitectoacutenica de San Sebastian Mayo 1998 p 1-17HICKS R (1977) Thomrsquos Megalithic Yard and Traditional Measurements Irish Archaeo-logical Research Forum Vol4 nordm1 p1-7JONES MW (2012) Doric Measure and Architectural Design 1 The Evidence of the Relief from Salamis American Journal of Archaeology 104(1) p73-93KULA W (1980) Las medidas y los hombres S A Siglo XXI de Espantildea Editores MadridLEISNER G amp LEISNER V (1959) Die Megalithgraumlber der iberischen Halbinsel Westen Madrider Forschungen Berlin W de GruyterMAYORA M de (1855) Cosmoacutemetro Tratado de las Medidas de la Naturaleza Imprenta y Libreriacutea Politeacutecnica de Tomaacutes Gorcns ed BarcelonaPOMMERENTING T (2005) Die altaumlgyptischen Hohlmasse Buske VerlagPOU BSJ (1802) Herodoto de Halicarnaso Fuentes Digitales p1-1233RAMOS-GIL A (2017) Matemaacuteticas y Arqueologiacutea estado de la investigacioacuten sobre la aplicacioacuten matemaacutetica en los estudios de Prehistoria Tesis de doctorado Universidad de CaacutedizROTTLANDER RCA (1996) Studien zur Verwendung des Rasters in der Antike 2 Ojh 65 p 1-86RUIZ MORAacuteLES M (2011) Metrologiacutea Histoacuterica en la descripcioacuten de Egipto Granada

| 563

| 2018

Servicio Publicacioacuten Universidad de GranadaSIXSMITH E (2009) The megalithic story of Professor Alexander Thom Significance p 94 ndash 96 Nottingham Trent University

564 |

| 565

| 2018

APORTACIOacuteN AL ESTUDIO DE LOS CILINDROS DECORADOS DE LA PREHISTORIA RECIENTE DE LA PENIacuteNSULA IBEacuteRICA LOS HALLAZGOS EN MEGALITO

CONTRIBUTION TO THE STUDY OF THE DECORATED CYLINDERS OF THE RECENT PREHISTORIC PERIOD IN THE IBERIAN PENINSULA THE FINDINGS IN MEGALITHS

Mariacutea Narvaacuteez Cabeza de Vaca Perintildean Miembro del grupo de investigacioacuten PAIDI HUM 812 Estudio de las formaciones sociales de la Prehistoria reciente Universidad de Caacutediz

RESUMEN Los cilindros decorados de la Prehistoria reciente son unos objetos con una morfologiacutea peculiar y una funcioacutenpor determinar Aparecen siempre en entorno funerario ligados en un alto porcentaje al megalitismo con cronologiacuteas que van desde el Neoliacutetico a la Edad del Bronce El presente trabajo aborda el estudio de estos objetos y las estructuras megaliacuteticas donde se han hallado para desentrantildear su funcioacuten y significado dentro de los modos de vida de las sociedades de la Prehistoria reciente de la Peniacutensula IbeacutericaPALABRAS CLAVES Cilindros decorados dolmen tholos

ABSTRACT The decorated cylinders of the recent Prehistory are objects with a pe-culiar morphology and a function to be determined They always appear in a funeral environment linked in a high percentage to megalithic with chronologies ranging from the Neolithic to the Bronze Age The present work deals with the study of these objects and the megalithic structures where they have been foundin an attempt to unravel their function and meaning within the lifestyles of the societies ofrecent Prehistoric times in the Iberian PeninsulaKEY WORDS decorated cylinders dolmen tholos

ANTECEDENTESLos cilindros decorados son unos objetos que se han ido documentando a lo largo del siglo XX como parte de los ajuares funerarios en enterra-mientos de la Prehistoria reciente en la Peniacutensula Ibeacuterica Pero a pesar

566 |

de presentar unas caracteriacutesticas morfoloacutegicas uacutenicas han pasado desa- percibidos para los investigadores hasta praacutecticamente las uacuteltimas deacuteca-das del siglo XX Pues apenas son mencionados de pasada en algunas publicacionesLa peculiar plaacutestica que presentan estos objetos los hace unos comple-tos desconocidos en lo que se refiere a una funcioacuten o funciones pues aunque tienen aspecto de recipiente carecen de fondoNosotros comenzamos su estudio en 2015 con apenas unas cuantas referencias bibliograacuteficas y algunas fotos de principios del siglo XX desde entonces hemos recopilado maacutes de medio centenar de estos objetos conocido las materias primas con las que se fabricaron sus procesos de fabricacioacuten y distribucioacuten su amplia cronologiacutea que se extiende desde el Neoliacutetico pleno a la Edad del Bronce inicial y tambieacuten amplia distribucioacuten territorial que presentan Espantildea Portugal Norte de Aacutefrica y el aacutembito mediterraacuteneo (Narvaacuteez Cabeza de Vaca 20152016 Narvaacuteez Cabeza de Vaca y Lazarich 2016)Por otra parte tambieacuten hemos podido observar coacutemo estaacuten estrecha-mente ligados al mundo funerario y al fenoacutemeno del megalitismo en un gran porcentajeAdemaacutes al ser unos objetos que no han sido apenas estudiados hemos establecido unas clasificaciones tipoloacutegicas basaacutendonos en sus mor-fologiacuteas basaacutendonos en metodologiacuteas de estudio de otros objetos como la ceraacutemicaTodo ello con la intencioacuten de desentrantildear el rompecabezas que es su funcioacuten y significado dentro de los modos de vida de las comu-nidades primitivas de la Prehistoria RecienteEn esta ocasioacuten vamos a dar a conocer los hallazgos que se han realiza-do en estructuras funerarias de tipo megaliacutetico

LOS CILINDROS DECORADOS MATERIAS PRIMAS ESTUDIO MOR-FOLOacuteGICO Y CLASIFICACIOacuteN TIPOLOacuteGICAAl iniciar estos estudios lo uacutenico que conociacuteamos de los cilindros de- corados era su vinculacioacuten con el mundo funerario y su peculiar aspecto Sin embargo ese aspecto o morfologiacutea uacutenica ha hecho que los inves-tigadores desconozcan su funcioacuten y significado A veces contamos con objetos que han quedado obsoletos pero conocemos su funcioacuten bien porque alguien nos lo ha descrito en alguacuten texto o simplemente tenemos objetos parecidos en nuestro entorno que cumplen la misma funcioacuten El problema es cuando un objeto queda olvidado en el tiempo y no queda rastro de eacutel ni en los textos ni en la memoria Este es el caso de los ci-

| 567

| 2018

lindros decorados de la Prehistoria reciente por ellocomenzamos por estudiar su materia y morfologiacuteaRespecto a las materias primas sabemos que han sido fabricados en cinco materiales diferentes hueso marfil asta de boacutevidoalabastro y madera De estas las maacutes utilizadas son el hueso y el marfil le sigue el alabastro sin embargo el resto de materias primas son testimoniales En estructuras megaliacuteticas se han hallado cilindros de hueso marfil y alabastro (Figura 1)Por otra parte tanto el marfil como el alabastro son materias primas de prestigio pues conocemos la existencia de redes de intercambio de es-tos materiales en la Prehistoria reciente Para el marfil contamos con el trabajo realizado en 2012 por Thomas Shuhmacher que tras el estudio de maacutes de 1200 objetos de marfil procedentes de 151 yacimientos de la Peniacutensula Ibeacuterica desde el Calcoliacutetico inicial hasta el Bronce inicial queda confirmado que se dio un flujo constante de intercambios de ma-terias primas y manufacturas de marfil ademaacutes de determinar el tipo maacutes utilizado en cada etapa en cuanto a la especie de animal se refiere (Schuhmacher2012)

Figura 1 Cilindros Mariacutea Narvaacuteez Mapa de distribucioacuten de los cilindros decorados seguacuten materias primas

568 |

Por otra parte para el conocimiento de los cilindros fabricados en hue-so hicimos un estudio osteomeacutetrico que consistioacute en la comparacioacuten de estos con los huesos largos para intentar identificar no solo los huesos utilizados a nivel esqueleacutetico sino tambieacuten los taxones Comprobamos como las bases maacutes probables por su forma tubular son el feacutemur y la tibia sin descartar metatarsos metacarpos radio y huacutemero En cuanto a los taxones los maacutes probables son de boacutevidos eacutequidos y ovicaacutepridos con alguna presencia de ceacutervidoEn el caso del alabastro sabemos de la existencia de afloramientos de este material en las provincias de Granada Almeriacutea y Murcia (Lozano et alii 2010)El resto de materias primas son faacuteciles de obtener sin embargo tanto los tratamientos de superficies como las decoraciones son trabajos artesa-nales que no seriacutean de faacutecil obtencioacutenUna vez conocidas las materias primas hemos hecho varias clasifica-ciones en funcioacuten de la morfologiacutea y la plaacutestica delos cilindros decoradosEn primer lugar observamos los rasgos comunes a todos los cilindros que son la forma tubular la boca y la base Luego hay caracteres que pueden aparecer o no como es la presencia de perforaciones y de liacuteneas incisas como decoraciones A partir de la presencia o ausencia de estos uacuteltimos rasgos hemos hecho varias clasificaciones y para ello hemos tomado metodologiacuteas de anaacutelisis de otros objetos ya que no contaacutebamos con criterios de anaacutelisis establecidos anteriormenteLa primera clasificacioacuten se ha basado en la presencia o no de tratamien-tos de superficies y decoraciones asiacute hemos visto como hay cilindros que tienen los dos caracteres otros que solo tienen decoraciones otros tratamientos pero no decoraciones y otros nada (Figura 2)En lo que respecta a la clasificacioacuten tipoloacutegica hemos tenido en cuenta atributos como el grado de inclinacioacuten del perfil del objeto con respecto a un aacutengulo recto de 90deg fijaacutendose asiacute cuatro categoriacuteas distintas la primera comprende los cilindros con paredes rectas (90deg) la segunda con inclinaciones inferiores a 99degla tercera con inclinaciones iguales o superiores a 99deg y la cuarta los cilindros con paredes con una inclinacioacuten inferior a 90 Luego distinguimos dos tamantildeos diferenciados de cilindros en lo que se refiere a la altura anchura y grosor de las bases Otra clasificacioacuten respecto a la plaacutestica lo hemos elaborado a partir de las decoraciones El motivo que maacutes se repite es el reticulado oblicuo o diamantiforme seguida de la lineal el zigzag y por uacuteltimo el cuneiforme Por uacuteltimo hemos tomado en cuenta otros criterios como la presencia

| 569

| 2018

de carenado de liacuteneas incisas justo bajo el borde de la boca y de perfora-ciones a lo largo del tubo

LAS ESTRUCTURAS FUNERARIAS LOS HALLAZGOS EN MEGALITOSLos cilindros decorados de la Prehistoria reciente se localizan en una gran variedad de estructuras funerarias Estaacuten presentes en las cons- trucciones megaliacuteticas cuevas artificiales cistas y en fosas incluso en este uacuteltimo tipo algunas aparecen dentro de cuevas naturales En este momento de nuestras investigaciones hemos documentado y estudiado 50 cilindros y cuyos hallazgos se distribuyen por un territorio que abarca la zona meridional el levante y las islas Baleares en Espantildea los conce-jos de Sintra Torres Vedras y Palmela en Portugal y la costa noroeste de Marruecos En lo que se refiere a los cilindros hallados en estructuras megaliacuteticas objetos del presente estudio de los 50 registros ya mencionados 26 han sido hallados en este tipo de estructuras lo que supone un 52 del registro Si estos porcentajes los observamos por paiacuteses en Espantildea de

Figura 2 Cilindros Mariacutea Narvaacuteez Mapa de distribucioacuten de los diversostipos de cilindros decorados

570 |

26cilindros registrados 16 se han hallado en megalitos lo que supone un 62 del registro En Portugal tenemos un total de 21 cilindros regis-trados de los cuales 10 se han hallado en estructuras megaliacuteticas lo que supone un 48 del registro Por otra parte el uacutenico cilindro decorado lo-calizado por el momento en Marruecos no ha sido hallado en estructura megaliacutetica sino en fosaLos altos porcentajes obtenidos hasta el momento en este estudio ponen en evidencia la fuerte conexioacuten de este tipo de estructuras megaliacuteticas con el hallazgo de cilindros decorados Lo que nos hace barajar cada vez con maacutes fuerza la idea de que estos objetos independientemente de la funcioacuten estaban reservados para los estamentos privilegiados(Figura 3)Respecto a los cilindros decorados de Espantildea como he mencionado en el paacuterrafo anterior tenemos 16 registros localizados en tumbas megaliacuteti-cas de estos 15 se localizan en Andaluciacutea y 1 en Extremadura en con-creto en la provincia de Badajoz En lo que respecta al tipo de estructu- ras tenemos 4 cilindros en galeriacutea cubierta (dolmen) y 12 en sepulcro de corredor tipo tholos Cronoloacutegicamente los cilindros decorados hallados en estas tumbas van desde el Neoliacutetico pleno al Calcoliacutetico reciente

Figura 3 Cilindros Mariacutea Narvaacuteez Mapa de distribucioacuten por tipos de estructura megaliacutetica

| 571

| 2018

En cuanto a los cilindros hallados en estructura dolmeacutenicasel primero de ellos se localizoacute en el Dolmen de Fonelas que pertenece al parque megaliacutetico de la regioacuten de Gorafe en la comarca de Guadix-Baza en la provincia de Granada Es un sepulcro de corredor de caacutemara trapezoidal formado por 11 ortostatos y cubierta de una gran losa El corredor es corto cerrado hacia la caacutemara y abierto al exterior Para su excavacioacuten se necesitoacute la retirada de la gran losa de la cubierta pues estaba colmata-da por sedimentos casi en su totalidad Esta colmatacioacuten obligoacute a los investigadores a llevar a cabo la excavacioacuten del dolmen connivelaciones artificiales Presentaba una clara reutilizacioacuten del sepulcro como reve-lariacutea maacutes tarde el estudio de los ajuares y restos oacuteseos La estratigrafiacutea de la caacutemara estaba compuesta por 9 niveles siendo 3 de ellos esteacuteriles el resto proporcionoacute evidencias de al menos 4 enterramientos diferentes en el quinto sexto seacuteptimo y octavo nivel respectivamente En cuanto al corredor su excavacioacuten resultoacute esteacuteril (Palma 1977)El cilindro decorado hallado en este dolmen pertenece al octavo nivel aparecioacute junto a restos humanos huesos de animales conchas frag-mentos ceraacutemicos algunas herramientas de siacutelex y dos hachas de cobre Este es de hueso tiene forma tubular y estaacute decorado con incisionesEl segundo cilindro decorado hallado en galeriacutea cubierta pertenece al dolmen de El Juncal en Ubrique (Caacutediz) fechado por sus excavadores en el IV milenio aC El juncal es un dolmen de galeriacutea con planta trapezoi-dal dividido en compartimentos por una laja transversal La caacutemara se ensancha desde el atrio de 080 m a 180 m El sepulcro queda sellado con una gran laja de roca caliza a modo de cubierta En este dolmen hay seis inhumaciones uno de ellos infantil Parece ser un depoacutesito primario pues los restos oacuteseos aparecen en su mayoriacutea aun en conexioacuten anatoacutemica En lo que respecta al ajuar se han hallado un hacha pulimentada un cristal de roca (BN1G) una decena de geomeacutetri-cos cuentas de aacutembar y esquisto y un cilindro decorado de marfil todo elloasociado al individuo de mayor edad Ademaacutes se han localizado en el dolmen geomeacutetricos de forma trapezoidal laacuteminas de siacutelex de gran formato una azuela de dolerita y dos laminitasEn cuanto al cilindro decorado presenta motivos lineales en la zona su-perior y en la base ademaacutes de liacuteneas en zigzag en el cuerpo Tiene forma tubular pero sin fondo y muestra un conjunto de perforaciones en la zona de la boca (Gutieacuterrez 2007)El siguiente cilindro decorado hallado en una estructura dolmeacutenica per-tenece al igual que Fonelas al parque megaliacutetico de Gorafe en Granada

572 |

se trata del dolmen del Llano de la Sabina o La Sabina L4 data del Cal-colitico reciente Este dolmen es de planta trapezoidal de 265 por 230 m y una altura de 180 m las losas de la cubierta se habiacutean derrumbado en el interior de la caacutemara En eacutel se hallaron seis individuos y un ajuar compuesto por un hacha pulimentada seis puntas de flecha dos cuchil-los fragmentos ceraacutemicos correspondientes de al menos trece vasijas y tres fragmentos de siacutelex El cilindro decorado hallado es de hueso de ovicaacuteprido estaacute decorado con motivo diamantiforme y lineal antes de la embocadura y presenta carenado (Siret 1891)El uacuteltimo cilindro decorado hallado en un dolmen fue localizado en Gor5 que al igual que Fonelas y el Llano de la Sabina pertenecen al parque dolmeacutenico de Gorafe en Granada Data del Calcoliacutetico reciente Este dol-men estaba destruido casi en su totalidad por lo que no se puede dar unas dimensiones fiables de la estructura solo se presume que seriacutea de grandes dimensiones(Siret 1891) Lo que siacute se sabe es que estaacute excava-da en parte en roca natural y que de la construccioacuten solo se conservan las lajas de la cubierta y 3 pilaresEn cuanto al enterramiento se localizaron restos de once individuos ademaacutes de puntas de flecha varias hojas de cuchillo dos hachas frag-mentos de cinco vasijas ceraacutemicas y huesos de animales El cilindro de- corado de este dolmen tambieacuten es de hueso presumiblemente de boacutevi-do o eacutequido por sus grandes dimensiones presenta decoracioacuten de tipo incisa con motivo diamantiforme (Ibidem 1891)El tipo constructivo funerario que maacutes cilindros ha aportado es el sepul-cro de corredor con caacutemara de falsa boacuteveda (tholos)Tenemos doce re- gistros El primero de ellos pertenece al yacimiento de la Pijotilla en Badajoz Extremadura Se trata de un tholos semihipogeo datado en el Calcoliacutetico que presenta una disposicioacuten en V con la tumba 1 del mismo complejo Fue excavado en tierra caliza y se piensa que la caacutemara estaba cubierta con una falsa cuacutepula que no se ha conservado(Hurtado 1981)En cuanto al cilindro decorado este es de hueso presenta decoracioacuten de tipo incisa con decoracioacuten geomeacutetrica de tipo diamantiforme y lineal previa a la base y boca carece de fondo presenta carenado y dos per-foraciones una a cada extremo del tubo El siguientecilindro decorado hallado en tumba tipo tholos corresponde a la necroacutepolis megaliacutetica del Gandul en Alcalaacute de Guadaira en la provin-cia de Sevilla concretamente a la tumba de Cantildeada honda B La tumba es un sepulcro de corredor con caacutemara circular de 313 m de diaacutemetro

| 573

| 2018

fue excavada en la roca natural previamente rebajada y recubierta por las lajas de pizarra de 159 m de altura de las que se conservan oncejun-to a la cubierta El corredor tiene una longitud de 1420 m por 080 de ancho del que solo se conservoacute un tramo de 670 m Pertenece al Cal-coliacutetico antiguo El ajuar estaba compuesto de un martillo de piedra y una concha en el nivel superior y fragmentos ceraacutemicos de platos de borde engrosado once puntas de flecha de base coacutencava y aletas un geomeacutetri-co una laacutemina de siacutelex dos fragmentos de ceraacutemica campaniforme y huesos humanos fracturados en el nivel inferior ademaacutes de fragmentos de ceraacutemica campaniforme en el corredor y un vaso completo en forma de tulipaacuten sin decoracioacuten (Lazarich 1999)El cilindro decorado es de hueso largo de boacutevido o eacutequido estaacute semi-completo carece de fondo y presenta decoracioacuten de tipo incisa con mo-tivo diamantiformeLuego tenemos dos cilindros hallados en la necroacutepolis de la Rambla de Huechar en Gaacutedor Almeriacutea (cerca de los Millares) concretamente en la tumba nordm 2 Esta tumba es un con caacutemara circular corredor simple divi-dido en dos tramos y falsa cuacutepulaEl enterramiento es bastante importante pues se hallaron restos de cien-to catorce individuos con un ajuar compuesto de ochenta y cinco puntas de flechas ceraacutemica simboacutelica cobre punzones hojas de piedra un peine de marfil una veintena de iacutedolos de distinta tipologiacutea y material un hacha de metal y un puntildeal de siacutelex (Almagro et alii 1963)Los 2 cilindros decorados son de alabastro presentan fondo El primero de ellos es de forma troncocoacutenica presenta decoracioacuten incisa diamanti-forme y lineal en la base y fondo es maacutes pequentildeo que el segundo cilindro de Rambla de Huechar Este otro por su parte presenta paredes rectas y gruesas fondo y decoracioacuten de tipo inciso lineal bajo la boca y la base pero ademaacutes presenta una banda de motivos piramidales invertidos bajo las liacuteneas de la bocaPor uacuteltimo tenemos ocho cilindros decorados repartidos en cuatro tholos de la necroacutepolis megaliacutetica de los Millares Cronoloacutegicamente Millares pertenece al periodo Calcoliacutetico pero se dividen en dos periodosMillares I (2800-2300) y Millares II (2300-1800) Los tholoi que estudiamos aquiacute pertenecen a Millares I que a su vez se subdivide en otros cuatro sub-periodos del ldquoardquo al ldquodrdquo El tholos nordm 5 presenta caacutemara ovalada y corredor dividido en tres tra-mos estaacute compuesto de dos anillos conceacutentricos de piedra cubiertos por un tuacutemulo La caacutemara es de 35por310 m excavada en la roca hasta 25

574 |

m de profundidad y el corredor mide 285 m de largo por 1 m de ancho El ajuar estaba compuesto por 1 hacha 1 punta de punzoacuten y 1 hoja plana 1 trozo de cobre 2 iacutedolos de hueso plano 2 iacutedolos falange de hueso 1 ob-jeto de hueso plano 1 collar de tubos de hueso 6 conchas de moluscos 1 cabeza de aguja de hueso 65 puntas e siacutelex 1 hoja de siacutelex lascas 8 cuchillos de siacutelex 4 hojas de cuchillo2 cuencos de arcilla 1 caja con cinabrio varios colmillos de jabaliacute 1 escudilla y 1 vasija(Ibidem 1963)En esta tumba tenemos 4 cilindros 3 de marfil y 1 de hueso este uacuteltimo estaacute fabricado sobre un tercio de diaacutefisis de hueso largo presumiblemente de ovicaacuteprido presenta decoracioacuten de tipo incisa con motivo reticulado oblicuo o diamantiforme no tiene carena pero siacute muestra perforaciones en la boca y en la baseLos 3 cilindros de marfil son tubulares sin fondo con decoraciones incisas con motivos diamantiforme presentando 2 de ellos perforaciones en la boca y baseLa tumba nordm 16 es un tholos de caacutemara circular y corredor dividido en cuatro tramos La caacutemara estaacute formada por bloques irregulares de piedra caliza tiene unas proporciones de 370por360 m esta acoge los restos del derrumbe de la cuacutepula El corredor mide 350 m de largo y 110 m de ancho la divisioacuten del mismo estaba realizada con losas de 150 m de alto En cuanto al ajuar este se compone de varios punzones un iacutedolo tolva de alabastro varios fragmentos de hueso plano una falange huma-na alisada un botoacuten circular de caliza y otro ovalado del mismo material una cuenta discoidal de caliza veintitreacutes puntas de flecha de siacutelex una gran hoja de puntildeal dos cuchillos cinco hojas de siacutelex una vasija globu-lar tres vasijas enteras fragmentos de otras ceraacutemicas y dos conchas de moluscos(Almagro et alii 1963) El cilindro hallado en esta tumba estaacute fabricado en marfil estaacute decorado con liacuteneas incisas y pulimentadoLa sepultura 7 es un sepulcro de caacutemara circular el corredor estaacute divi-dido en dos partes encontraacutendose bloqueado el acceso al mismo En su origen en el tuacutemulo se formaba un ciacuterculo de ortostatos de 13 m de diaacutemetro El corredor mide 365 m de longitud 1 m de ancho en su prim-er tramo y 115 m en el segundo las losas que lo conforman son de roca caliza pero las losas de divisioacuten son de pizarra la estructura descansa directamente sobre el suelo natural En lo que respecta a la caacutemara esta es de planta ligeramente circular con 430por 420 m estaacute formada por 21 losas de caliza y el suelo es de roca caliza natural El ajuar de esta tumba es similar al del tholos 5 destaca una gran presencia de diversos tipos de iacutedolos y ocho fragmentos de alabastro (Ibidem 1963)En esta tumba se han hallado dos cilindros decorados el primero es

| 575

| 2018

de marfil tiene decoracioacuten de tipo inciso con motivo diamantiforme sin carenado y el segundo es de hueso de boacutevido no presenta decoracioacuten ni carenado solo un tratamiento de pulimentado en su superficiePor uacuteltimo el tholos 40 es la estructura de mayores dimensiones de la necroacutepolis de los Millares y con el ajuar maacutes emblemaacutetico de este yacimientoincluye un hacha de metal ocho punzones y un fragmento indeterminado de cobre 85 puntas de flecha abundantes hojas de cuchillo y un puntildeal de siacutelex maacutes de 20 iacutedolos de distinto material y tipologiacutea ceraacutemica simboacutelica 11 elementos de hueso y 1 peine de marfil Se trata de un tholos de caacutemara central circular y corredor dividido en 3 secciones (Almagro et alii 1963)El cilindro decorado es de alabastro siendo el uacutenico de todo el conjunto de los Millares de este material pero no es un material raro pues aparece como materia prima de otro tipo de objetos en las tumbas de esta zona Este cilindro tiene fondo presenta decoracioacuten incisa con motivo reticula-do y carenadoEn Portugal tenemos hasta el momento localizados 10 cilindros decora-dos hallados en estructuras funerarias megaliacuteticas Hemos de decir que nuestro estudio de estos objetos en territorio luso estaacute en sus inicios por lo que la informacioacuten de la disponemos es escasa e incompleta auacutenLos 10 cilindros decorados hallados hasta la fecha se encuentran repar-tidos entre los Concejos de Sintra Torres Vedras y Palmela Dos se loca- lizan en estructuras dolmeacutenicas y 8 en tholoiLos dos primeros pertenecen al conjunto de Antas de Belas situado en el Concejo de Sintra compuesto de tres estructuras Anta do Monte Abraao Anta de Estria y Anta da Pedra dos Mouros Este conjunto fue descubierto a finales del siglo XIX Cronoloacutegicamente pertenece al perio-do transicional entre el Neoliacutetico reciente y el Calcoliacutetico inicialEn Anta do Monte Abraao es el dolmen de mayor tamantildeo estaacute compues-to por una caacutemara poligonal de 35 m de diaacutemetro formado por ocho losas y un corredor de 8 m de longitud y 2 m de anchura (Cardoso et alii 2011)En cuanto a los cilindros decorados el primero de ellos estaacute fa- bricado en hueso no tiene decoracioacuten pero siacute liacuteneas incisas previas a la zona de embocadura ademaacutes de dos perforaciones El segundo cilindro tambieacuten es de hueso se conserva casi completo estaacute decorado por todo el tubo con series paralelas de liacuteneas en zigzag ademaacutes de presentar liacuteneas previas a la boca y carenado que le proporciona a la boca un borde saliente engrosadoAl igual que en el territorio espantildeol que hemos analizado en Portugal pre-

576 |

domina el tipo tholos como lugar de hallazgo maacutes comuacuten de los cilindros que analizamosEn Praia das Maccedilas en el Concejo de Sintra Se han hallado cinco cilin-dros decorados La estructura funeraria data del periodo Calcoliacutetico y consta de una caacutemara circular con un diaacutemetro de unos 550 m situada en el medio de la construccioacuten A partir de ella se extienden dos corre-dores el maacutes corto acaba en una pequentildea caacutemara y el tramo maacutes largo es maacutes estrecho a la salida de la caacutemara ensanchaacutendose al final Esta extrantildea configuracioacuten parece ser fruto de la reutilizacioacuten de la estruc-tura pues al parecer en su origen fue un hipogeo del periodo Neoliacutetico (Gonccedilalves1982)El ajuar estaacute formado por geomeacutetricos hojas retocadas y sin retocar pun-tas de flecha de base rectangular o pedunculadas azuelas y hachas pu-limentadas ademaacutes de alfileres de hueso de cabeza segmentada iacutedolos ciliacutendricos placas de pizarra grabadas ceraacutemica esfeacuterica lisa y varios cuencosLos 5 cilindros decorados son de hueso 2 de ellos no presentan de- coracioacuten pero siacute liacuteneas incisas justo debajo de la boca El de mayores dimensiones presenta una perforacioacuten en la base Los otros 3 cilindros estaacuten profusamente decorados 2 de ellos presentan decoracioacuten dia-mantiforme con liacutenea incisa antes del borde o parte superior y el restante tiene 3 conjuntos de liacuteneas incisas paralelas en el centro del tubo y en los bordesEl siguiente tholos con cilindros decorados es Cabeccedilo da Arruda en el Con-cejo de Torres Vedras Fue descubierto en 1948 y a pesar de estar praacutecti-camente destruido se han podido recuperar diversos objetos En el ajuar se hallaron huesos humanos ceraacutemica campaniforme puntas de flecha hojas retocadas de siacutelex agujas de hueso fragmentos de una azuela y un hacha de anfibolita azul una luacutenula iacutedolos de roca caliza y arenisca etc(Silva1999)En cuanto a la estructura es de caacutemara circular con corredor la caacutemara mediacutea 25m de diaacutemetro y el corredor 45 m de largo Estaacute construido aprovechando un monumento megaliacutetico anterior concretamente un dol-men (Ibidem1999) En lo que respecta al cilindro decorado este es de hueso no presenta decoracioacuten en la superficie del tubo pero siacute presenta varias liacuteneas incisas previas al borde que es salienteLos dos cilindros decorados que restan pertenecen al tholos de Serra da Vila en el Concejo de Torres Vedras (Leisner1965) Ambos cilindros estaacuten fabricados en hueso el primero de ellos es de mayor tamantildeo y grosor

| 577

| 2018

presenta decoracioacuten de tipo incisa con motivo diamantiforme ademaacutes de carenado antes del borde que es saliente El segundo cilindro es algo maacutes pequentildeo no tiene decoracioacuten pero siacute presenta carenado y borde saliente

FUNCIOacuteNEn cuanto a las posibles funciones de los cilindros decoradosla primera que hemos considerado es la de contenedor como ya hemos comen-tado sin embargo la ausencia de fondo hace que esta funcioacutenla con-sideremos con ciertas reservas Para los soacutelidos seriacutea posible su uso si tuvieron un tapoacuten de materia orgaacutenica o bienun saquito de piel o tejido sujeto al borde mediante una cuerda Tenemos tres cilindros en la Cova degraves Carritx en Menorca (Lull 2006)que pueden ayudarnos a confirmar la utilizacioacuten de recipiente para soacutelidos pues se hallaron rellenos de pelo humano de esta forma la funcioacuten de guardapelo podriacutea ser una de las razones de su utilidad como contenedor (Lazarich et alii 2004) En el caso de los liacutequidos esta funcioacuten queda descartada pues no es posible garantizar la estanqueidad del cilindroPor otra parte tenemos cinco ci- lindros con fondo todos localizados en Andaluciacutea por lo que la funcioacuten

Cilindros Mariacutea Narvaacuteez Prueba de enmangue (Lazarich 2007) Foto Dra Esther Bricentildeo

578 |

contenedora es una de las maacutes probablesLa segunda funcioacuten considerada es la de enmangueno tenemos de mo-mento ejemplos de enmangues en estructuras megaliacuteticas sin embargo la hemos tenido en consideracioacuten porque tenemos un ejemplo muy claro en el yacimiento de la Cova Ampla del Montgoacute en Javea (Alicante) (Soler Diacuteaz 2002) El cilindro hallado presenta una serie de huellas de uso en su interior que dan muestra de haber sido cortado y encajado en otro ob-jeto en repetidas ocasiones Nosotros a este respecto hemos acudido a la arqueologiacutea experimental para realizar algunas pruebas de enmangue de las hojas de siacutelex halladas junto a los cilindros decorados del Paraje de Monte Bajo en Alcalaacute de los Gazules (Caacutediz) donde hemos visto que seriacutea una funcioacuten posible si se calza la hoja de siacutelex con alguacuten tipo de rel-leno para su sujecioacuten (Figura 4)(Lazarich 2002) Por ello consideramos el enmangue como uno de los usos maacutes probablesLa siguiente funcioacuten considerada es la de embellecedor basaacutendonos en la hipoacutetesis del investigador Joseacute Mariacutea Gutieacuterrez Loacutepez (2007) para el cilindro hallado en el dolmen de El Juncal en Ubrique (Caacutediz) Este asocia el cilindro con el embellecimiento de un carcaj de flechas al basarse en las perforaciones que presenta la pieza y la cercaniacutea del objeto con proyectiles de flecha hallados en la tumba La uacuteltima funcioacuten considerada es la de coletero o adorno para el pelo Para esta nos apoyamos por una parte en elementos como las liacuteneas inci-sas y las pequentildeas perforaciones que presentan los cilindros y por otra en la antropologiacutea cultural pues tenemos ejemplos de la utilizacioacuten de elementos similares para este fin en las Islas Marquesas en la Polinesia francesa Son pequentildeas figurillas antropomorfas tubulares para recoger el pelo estas presentan liacuteneas y perforaciones similares a las de los ci- lindros para la sujecioacuten de estas con cordajes (Kjellgren 2005) Pero sabemos que las Islas Marquesas se encuentran a muchos kiloacutemetros de la Peniacutensula Ibeacuterica por ello hemos fijado la vista en el mundo mediter-raacuteneo asiacute encontramos en las representaciones pictoacutericas de culturas como la egipcia (Albalat 2006) o la minoica (Martiacutenez 2011)elementos tubulares para la recogida y adorno del cabello similares a los cilindros decorados

VALORACIOacuteN FINALEn este estudio sobre los cilindros decorados de la Prehistoria reciente de la Peniacutensula Ibeacuterica hemos podido conocer que el 52 de los regis-

| 579

| 2018

tros han sido hallados en estructuras megaliacuteticas tanto en galeriacutea cubi-erta como en sepulcro corredor tipo tholos De ellos un 62 han sido hallados en sepulturas del territorio espantildeol y el resto en PortugalEstos porcentajes sacan a relucir la fuerte conexioacuten de este tipo de estructuras megaliacuteticas con el hallazgo de cilindros decoradosEn Espantildea hemos localizado 4 cilindros en galeriacutea cubierta y 12 en se- pulcro de corredor tipo tholos En galeriacutea cubierta o dolmen tenemos Fonelas El Juncal Llano de la Sabina o Sabina L4 y Gor5 siendo Fonelas y el Juncal los de mayor antiguumledad ambos del Neoliacutetico pleno Este uacutelti-mo destaca no solo por su antiguumledad sino por la monumentalidad de su estructura y el rico ajuar hallado que incluye un cristal roca (BN1G)cuen-tas de aacutembar y esquisto y el cilindro decorado de marfil (Gutieacuterrez 2007)En sepulcro de corredor tipo tholos tenemos La Pijotilla El Gandul Rambla de Huechar y los Millares siendo los Millares el yacimiento maacutes destacado pues en eacutel se han hallado ocho de los cilindros decorados ademaacutes de tres de las cinco materias primas conocidaspara su fabri-cacioacuten hueso marfil y alabastro En este conjunto destaca el tholos nordm40 por ser la estructura maacutes grande del conjunto y con el ajuar maacutes rico (Almagro et alii 1963)En Portugal hemos identificado hasta la fecha 10 cilindros decorados en estructuras megaliacuteticas 2 en galeriacutea cubierta y 8 en sepulcro de corre-dor En galeriacutea cubierta tenemos el Anta do Monte Abraao que pertenece al conjunto de Antas de Belas Cronoloacutegicamente pertenece al periodo transicional entre Neoliacutetico reciente y Calcoliacutetico inicialEn cuanto a sepulcro de corredor tenemos Praia das Maccedilas Cabeccedilo da Arruda y Serra da Vila Entre estos destaca Praia das Maccedilas con 5 cilin-dros decorados de hueso del periodo Calcoliacutetico Esta estructura ha dado indicios de haber sido reutilizada por su extrantildea configuracioacuten siendo en origen un hipogeo datado en el Neoliacutetico reconvertido en tholos en el Cal-coliacutetico (Gonccedilalves1982) En cuanto al ajuar destaca el sepulcro de fal-sa cuacutepula de Cabeccedilo da Arruda con ceraacutemica campaniforme puntas de flecha hojas retocadas de siacutelex agujas de hueso una azuela y un hacha de anfibolita azul una luacutenula e iacutedolos de caliza y arenisca (Silva1999)Son cinco las materias primas con las que fueron fabricados hueso mar-fil asta de boacutevido alabastro y madera Destacando el hueso como el material maacutes utilizado y el marfil y el alabastro como materias primas de prestigio obtenidas eacutestas gracias a una amplia red de intercambiosPor otra parte en este estudio hemos conocido las caracteriacutesticas mor-foloacutegicas y plaacutesticas de estos objetos como la forma tubular la falta de

580 |

fondo y tapadera de la mayor parte de ellos -salvo en tres casos- ademaacutes de las decoraciones de tipo inciso con motivos geomeacutetricosOtras de las caracteriacutesticas es el pulimento de sus superficies y caracteres especiales en algunos de elloscomo las liacuteneas incisasen la zona superior inmediata al borde y perforaciones previas a eacutelHemos considerado una serie de atributos para realizar clasificaciones tipoloacutegicasbasaacutendonos en sus caracteriacutesticas morfoloacutegicas y plaacutesticas La primera clasificacioacuten se ha basado en la presencia o no de tratamien-tos de superficies y decoraciones continuando con otra clasificacioacuten basada en el grado de inclinacioacuten del perfil del objeto con respecto a un aacutengulo de 90ordm al tamantildeo basado en la altura el ancho y el grosor de las basesRespecto a la plaacutestica hemos observado a partir de los motivosque muestran las decoraciones siendo el reticulado oblicuo o diamantiforme el maacutes destacado Por uacuteltimo hemos tomado en cuenta otros criterios como la presencia de carenado de liacuteneas incisas y perforaciones justo bajo los bordes de los cilindrosLos cilindros decorados se han datado en una franja temporal amplia que va desde el Neoliacutetico pleno al Broce inicialTodo lo expuesto es un intento de desentrantildear la posible funcioacuten y sig-nificado que tuvieron estos objetos para las comunidades de la Prehisto-ria reciente de la Peniacutensula Ibeacuterica con la inclusioacuten de diversas hipoacutete-sis a este respecto como la de recipiente o contenedor de soacutelidos de enmangue de herramientas o uacutetiles embellecedor de otros objetos o de coleteros para el pelo

BIBLIOGRAFIacuteAALBALAT Davinia (2008) La Mujer en el antiguo EgiptoFograverum de Recerca nordm13 p 275-282 ALMAGRO Martiacuten ARRIBAS Antonio (1963)El poblado y la necroacutepolis megaliacuteticos de Los Millares Santa Fe de Monduacutejar Almeriacutea Bibliotheca Praehistoacuterica Hispaacutenica III Madrid BATE Luis Felipe (1978) Sociedad Formacioacuten Econoacutemico-Social y Cultura Ed de Cultura Popular MeacutexicoCARDOSO Joatildeo Luiacutes BOAVENTURA Rui The megalithic tombs in the region of Belas (Sintra Portugal) and their aesthetic manifestations Trabajos de Prehistoria 2011 vol 68 p 297-312GONCcedilALVES Joatildeo Ludgero Marques Monumento preacute-histoacuterico da praia das Maccedilatildes (Sintra) noticia preliminar 1982HURTADO Viacutector (1981) Las figuras humanas del yacimiento de la Pijotilla(Badajoz)

| 581

| 2018

Madrider Mitteilungen 22 p 78-88KJELLGREN E IVORY C S (2005)Adornando el mundo El arte de las islas marque-sas Metropolitan Museum of Art LAZARICH Mariacutea (2002)Informe preliminar del estudio de los productos arqueoloacutegi-cos hallados en las diversas excavaciones de urgencia en el asentamiento de ldquoEl Jadramilrdquo (Arcos de la Frontera Caacutediz)Anuario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea Campantildea de 1999 Actividades sistemaacuteticas SevillaLAZARICH Mariacutea RICHARTE Mariacutea Joseacute y BUENO SANCHEZ Olga (2004) Estudio antropoloacutegico y de los productos arqueoloacutegicos hallados en la necroacutepolis de ldquoLas Val-derasrdquo (Arcos de la Frontera Caacutediz) depositados en los fondos del Museo provincial de Caacutediz Anuario arqueoloacutegico de Andaluciacutea 2001 p 83-93LOZANO RODRIacuteGUEZ Joseacute Antonio CARRIOacuteN MEacuteNDEZ Francisco MORGADO RO-DRIGUEZ Antonio GARCIacuteA GONZAacuteLEZ David AFONSO MARRERO Joseacute Andreacutes MARTIacuteNEZ FERNAacuteNDEZ Gabriel MOLINA GONZAacuteLEZ Fernando y CAacuteMARA SERRA-NO Juan Antonio(2010) Materias primas productos liacuteticos y circulacioacuten Informe preliminar del estudio de los ajuares de la necroacutepolis de Los Millares (Santa Fe de Monduacutejar Almeriacutea) Minerales y rocas en las sociedades de la Prehistoria Universi-dad de CaacutedizCaacutediz p 285-295MEDEROS Alfredo (1995) La cronologiacutea absoluta de la Prehistoria reciente del Sur-este de la Peniacutensula Ibeacuterica Pyrenae nordm 26 p 53-90 MEDEROS Alfredo (1996) La cronologiacutea absoluta de Andaluciacutea Occidental durante la Prehistoria reciente (6100-850 AC)rdquo SPAL 5pp 45-86 NARVAEZ CABEZA DE VACA Mariacutea (2015) Bases para el estudio de los cilindros dec-orados de la Prehistoria reciente III y II milenios aC en el sur este e islas baleares del territorio espantildeol Trabajo de Fin de Maacutester Universidad de CaacutedizNARVAEZ CABEZA DE VACA Mariacutea (2016) Bases para el estudio de los cilindros dec-orados de la Prehistoria Reciente de AndaluciacuteaTrabajo de Fin de Grado Universidad de CaacutedizNARVAEZ CABEZA DE VACA Mariacutea LAZARICH Mariacutea(2016)Los denominados cilin-dros decorados de hueso de la Prehistoria Reciente en la provincia de Caacutediz IX En-contro de Arqueologiacutea do sudoeste Peniacutensular Troacuteia-Setuacutebal(en prensa)PALMA Joseacute Ferrer (1977) La necroacutepolis megaliacutetica de Fonelas (Granada) El sep-ulcro ldquodomingo 1rdquo y sus niveles de enterramiento Cuadernos de Prehistoria y Arque-ologiacutea de la Universidad de Granadanordm 2 p 173-211 SCHUHMACHER Thomas X (2012) El marfil en Espantildea desde el Calcolitico al Bronce Antiguo Resultados de un proyecto de investigacioacuten interdisciplinar Marfil y elefan-tes en la Peniacutensula Ibeacuterica y el Mediterraacuteneo occidental Actas del coloquio interna-cional p 45-68SILVA Ana Maria(1999) A neacutecropole neolitica do Cabeccedilo da Arruda (Torres Vedras Portugal) os dados paleobioloacutegicos SAGVNTVM Extra vol 2 p 355-360SIRET Luis(2001) Espantildea prehistoacuterica Consejeriacutea de Cultura EPG TRINDADE Leonel DA VEIGA FERREIRA Octaacutevio (1956) A necroacutepole do Cabeccedilo de Arruda

582 |

| 583

| 2018

584 |

Page 2: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular

4 |

DE GIBRALTAR AOS PIRENEacuteUS Megalitismo Vida e Morte na Fachada Atlacircntica Peninsular

Editores CientiacuteficosJoatildeo Carlos de Senna-Martinez (UniarqFLUL)Mariana Diniz (UniarqFLUL)Antoacutenio Faustino de Carvalho (CEAACPU Algarve)

EdiccedilatildeoFundaccedilatildeo Lapa do Lobo

Design Graacutefico Maria Tavares de AlmeidaImpressatildeo graacutefica GrafinelasTiragem 120 exemplaresDepoacutesito Legal 44724218ISBN 978-989-98163-5-0Ano 2018

| 5

| 2018

iacutendice

Prefaacutecio11

Apresentaccedilatildeo15

Comissotildees19

Ana Cristina Martins21Megalitismo e discursos identitaacuterios textos contextos e pretextos

Pedro Sobral de Carvalho e Antoacutenio Faustino Carvalho37 Para uma recuperaccedilatildeo do megalitismo de Lafotildees O concelho de Vouzela (Distrito de Viseu) enquanto case-study

Joseacute Manuel Quintatilde Ventura51 Nuacutecleo Megaliacutetico dos Fiais-Azenha (Carregal dos Sal) um balanccedilo

Rita Peyroteo Stjerna Ana Cristina Arauacutejo e Mariana Diniz65The dead at Escoural Cave (Montemor-o-Novo Portugal) early farmerrsquos interactions in south-western Iberian Peninsula

Ramoacuten Faacutebregas Valcarce Carlos Rodriacuteguez-Rellaacuten Juliaacuten Bustelo Abuiacuten e Viacutector Barbeito Pose85Building up the land a new appraisal to the megalithic phenomenon in the Barbanza peninsula (Galicia NW Spain)

Juan Carlos Castro Carrera 99 Actuaciones de excavacioacuten y rehabilitacioacuten en los conjuntos de tuacutemulos funerarios de Chan de Castintildeeiras y Chan de Armada peniacutensula del Morrazo Galicia

Faacutebio Soares 123A invulgar localizaccedilatildeo de uma estrutura em negativo na Mamoa de Eireira (Afife Viana do Castelo)

6 |

Pablo Arias Cabal e Miriam Cubas 133Muerte y ritual en el Neoliacutetico del noroeste El megalitismo y otras manifestaciones del comportamiento funerario de las sociedades de los milenios V y IV aC en el cuadrante noroccidental de la peniacutensula ibeacuterica

Elsa Luiacutes e Telma Ribeiro155As comunidades neocalcoliacuteticas de Traacutes-os-Montes pensar a sua tradiccedilatildeo ceracircmica numa perspectiva de perenidade

Joatildeo Carlos Senna-Martinez167 A shrine in the Neolithic Orca da Lapa do Lobo Nelas (c5000-3000 BC)

Joatildeo Carlos Senna-Martinez e Margarida M Carvalho183 Ideotechnical representations in the Megalithism of Mondegoacutes Platform The stelae of Orca da Lapa do Lobo

Antoacutenio Faustino Carvalho 201Anta da Lapa da Meruje (Vouzela Viseu) resultados preliminares dos trabalhos em curso

Antoacutenio Faustino Carvalho Telmo Pereira Juan Francisco Gibaja217 Proveniecircncias e utilizaccedilatildeo do siacutelex no Megalitismo de Lafotildees (Viseu Portugal) Primeira abordagem a partir dos conjuntos dos doacutelmenes da Lapa da Meruje e de Antelas

Nelson J Almeida Luiz Oosterbeek Chris Scarre Cristiana Ferreira Joatildeo Belo e Luiacutes Costa233Dawn of the dead funerary behavior in the Middle Tagus Neolithic

Telmo Pereira Sandra Assis Patriacutecia Monteiro Eduardo Paixatildeo Sofia Baacuterbara David Nora Vacircnia Carvalho e Trenton Holliday247Abrigo da Buraca da Moira contributos para o conhecimento da ocupaccedilatildeo humana do Neoliacutetico finalCalcoliacutetico na regiatildeo de Leiria Portugal

Leonor Rocha Gertrudes Branco Antoacutenio Monteiro e Fernando Silva263 Estudo do espoacutelio arqueoloacutegico da Anta da Casa da Moura (Soure Portugal)

Joatildeo Carlos de Senna-Martinez277Parasitic frequentation or cultural continuity The re-use of megalithic monuments in the AncientMiddle Bronze Age of the Mondegorsquos Platform

| 7

| 2018

Mariana Dniz303The origins of Megalitism in Western Iberia resilient signs of a symbolic revolution

Ceacutesar Neves e Mariana Diniz321Agrave procura da Terra dos Vivos os lugares de povoamento das primeiras fases do Megalitismo funeraacuterio no Centro e Sul de Portugal

Leonor Rocha e Pedro Alvim 341O menir do Cabeccedilo da Areia (Brotas Mora)

Marco Antoacutenio Andrade Rui Mataloto e Andreacute Pereira353Territoacuterios de fronteira o Megalitismo nas abas da Serra drsquoOssa (Estremoz-Redondo Alto Alentejo Portugal)

Filipa Rodrigues393Muitas antas e muita gente As relaccedilotildees entre os recintos de fossos e os monumentos megaliacuteticos no Alentejo Central

Maria Joatildeo Neves e Ana Maria Silva411Uma anaacutelise arqueotanatoloacutegica em trecircs hipogeus os contributos dos siacutetios de Monte Canelas I (Portimatildeo) e do Monte do Carrascal 2 (Ferreira do Alentejo) para a compreensatildeo das praacuteticas funeraacuterias nos 4ordm e 3ordm mileacutenio aC no Sul de Portugal

Pedro Sobral de Carvalho e Lara Bacelar Alves431A Necroacutepole da Lobagueira Viseu expressotildees de arte e arquitetura do megalitismo da Beira Alta Centro de Portugal

Seacutergio Monteiro Rodrigues e Ceacutesar Oliveira453A Anta dos Currais do Galhordas (Castelo de Vide Alto Alentejo Portugal) anaacutelise quiacutemica de resiacuteduos orgacircnicos identificados em recipientes ceracircmicos

Yolanda Costela Muntildeoz Vicente Castantildeeda Ivaacuten Garciacutea e Fernando Prado 481La necroacutepolis de cuevas artificiales de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) Un ejemplo de la permanencia temporal de las construcciones megaliacuteticas

Mariacutea Lazarich Antonio Ramos-Gil Mercedes Versaci Mariacutea Narvaacuteez Cabeza de Vaca501La necroacutepolis megaliacutetica del Tajo de las Figuras (Benalup-Casas Viejas Caacutediz)

8 |

Joseacute Antonio Linares Catela519Megalitismos del aacuterea de Huelva Investigacioacuten y puesta en valor

Estefaniacutea Carrillo Vaacutezquez 539Bases para el estudio de los rituales de comensalidad en las sepulturas megaliacuteticas de la Peniacutensula Ibeacuterica

Antoacutenio Ramos Gil549iquestYarda megaliacutetica o vara megaliacutetica

Mariacutea Narvaacuteez Cabeza de Vaca Perintildean565Aportacioacuten al estudio de los cilindros decorados de la Prehistoria Reciente de la Peniacutensula Ibeacuterica Los hallazgos en megalitos

| 9

| 2018

10 |

| 11

| 2018

Prefaacutecio

A Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo eacute uma entidade privada sem fins lucrativos com objetivos culturais e educativos A aacuterea de abrangecircncia geograacutefica da sua atuaccedilatildeo eacute fundamentalmente os concelhos de Nelas e Carregal do Sal envolvendo-se pontualmente em alguns projetos de acircmbito mais alargadoNasce da vontade de uma famiacutelia com fortes ligaccedilotildees agrave aldeia da Lapa do Lobo que decidiu numa determinada fase da sua vida e com os seus proacuteprios recursos desenvolver um projeto local de serviccedilo agrave comunidade que pudesse ajudar a desenvolver o pensamento cultural das pessoasCriada em 2007 inicia a sua accedilatildeo na preservaccedilatildeo do patrimoacutenio arquitetoacutenico civil da aldeia e nos apoios a estudantes dos dois conce- lhos A reaccedilatildeo da comunidade e dos agentes locais aos projetos e ati- vidades que vai desenvolvendo progressivamente origina uma dinacircmica crescente que leva agrave inauguraccedilatildeo da sua sede em 9 de outubro de 2010 e passados 5 anos agrave ampliaccedilatildeo das suas instalaccedilotildees A 3 de abril de 2017 recebe a visita do Senhor Presidente da Repuacuteblica de Portugal que a definiu como ldquoum bom exemplo da forma como os cidadatildeos tambeacutem podem ter um papel importantiacutessimo no desenvolvimento do nosso paiacutesrdquo Cultura e educaccedilatildeo em sentido lacto satildeo sem duacutevida os grandes pilares da atuaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo A Biblioteca o Serviccedilo Educativo os Cursos e Ateliers de artes e ofiacutecios as Exposiccedilotildees e a Programaccedilatildeo Cultural variada (cinema teatro muacutesica debates conferecircncias etc) satildeo os instrumentos de trabalho que privilegiamos Como natildeo poderia deixar de ser a Fundaccedilatildeo tem vindo a acompanhar e a apoiar desde o primeiro momento em conjunto com a Cacircmara Municipal de Nelas Associaccedilatildeo Humanitaacuteria dos Bombeiros Voluntaacuterios de Canas de Senhorim e Juntas de Freguesia de Canas de Senhorim e de Lapa do Lobo as campanhas de escavaccedilotildees no siacutetio arqueoloacutegico da Orca da Lapa do Lobo (Concelho de Nelas Distrito de Viseu) Intervenccedilatildeo esta realizada no acircmbito do Projeto NeoMega dirigido pelo Prof Doutor Joatildeo Carlos de Senna-Martinez (Uniarq) tambeacutem director da escavaccedilatildeo com colaboraccedilatildeo da Mestre Telma Ribeiro e da Drordf Margarida Carvalho

12 |

e com a participaccedilatildeo de alunos de Mestrado em Arqueologia das Uni-versidades de Lisboa e Coimbra e da Licenciatura em Arqueologia das Universidades de Lisboa e EacutevoraA divulgaccedilatildeo dos resultados obtidos nas quatro campanhas jaacute efetuadas (2015-2018) no siacutetio da Orca da Lapa do Lobo agrave comunidade cientiacutefica na proacutepria aldeia da Lapa do Lobo cenaacuterio real dessa ldquoHistoacuteriardquo eacute um motivo de enorme orgulho para a Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo que abre as-sim as suas portas para a realizaccedilatildeo do Congresso ldquoDe Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo Vida e Morte na Fachada Atlacircntica Peninsularrdquo nestes dias 2 3 e 4 de Novembro de 2018Aquilo que somos hoje deve-se sempre em parte agravequilo que fomos on-tem Soacute conhecendo a fundo de onde vimos poderemos perceber o que somos e decidir para onde vamosA todos os que participam neste Congresso bem como a todos os que em conjunto connosco tornaram possiacutevel a sua realizaccedilatildeo na Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo um grande bem-haja

Maria do Carmo BatalhaVice-presidente da Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo

| 13

| 2018

14 |

| 15

| 2018

APRESENTACcedilAtildeO

O livro que agora se apresenta De Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo Vida e Morte na Fachada Atlacircntica Peninsular eacute o resultado de um Con-gresso que decorreu em Nelas e Carregal do Sal realizado em parceria com a Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo nos dias 2 3 e 4 de Novembro de 2018 Era objectivo nuclear deste Congresso discutir no espaccedilo da fachada atlacircn- tica da Peniacutensula Ibeacuterica de Gibraltar aos Pireneacuteus o Megalitismo como fenoacutemeno amplo do espaccedilo europeu que encontra neste territoacuterio da Beira Alta um dos seus nuacutecleos mais pujantes e com uma mais longa histoacuteria de investigaccedilatildeo Entender o Megalitismo significa para aleacutem da atenccedilatildeo ao regional e ao local cruzar territoacuterios analisar num tempo lon-go e num espaccedilo amplo as arquitecturas os rituais as paisagens onde se cruzam vivos e mortos e onde se materializam as cosmogonias das antigas sociedades agro-pastoris A reconstituiccedilatildeo de redes de circulaccedilatildeo de mateacuterias-primas e de artefactos mas tambeacutem de pessoas e de siacutem-bolos de curta mas tambeacutem de meacutedia e longa distacircncia eacute nos quadros da presente investigaccedilatildeo fundamental para explicar um fenoacutemeno que combina elementos de grande dispersatildeo com materialidades especiacuteficas de um Tempo e de um Espaccedilo Agrave chamada numa demonstraccedilatildeo clara das presentes dinacircmicas da in-vestigaccedilatildeo arqueoloacutegica responderam investigadores de toda a fachada atlacircntica da Peniacutensula Ibeacuterica da Universidade de Caacutediz agrave Universidade da Cantaacutebria passando pela Universidade de Huelva do Algarve de Eacutevo-ra de Lisboa de Coimbra do Porto do Minho e de Santiago de Compos-tela e Valladollid investigadores provenientes do sector empresarial da administraccedilatildeo puacuteblica e de museusOs capiacutetulos deste livro reflectem a diversidade de toacutepicos de debate e de metodologias de anaacutelise que hoje definem os trabalhos sobre Mega- litismo O estudo de monumentos especiacuteficos o Megalitismo de aacutereas re-gionais a Arqueotanatologia e as praacuteticas funeraacuterias o significados dos siacutembolos e a construccedilatildeo das paisagens significativas a historiografia as siacutenteses e os modelos explicativos e ainda aspectos de gestatildeo e valori-zaccedilatildeo do patrimoacutenio arqueoloacutegico satildeo algumas das temaacuteticas fundamen

16 |

tais desta obra discutidas naqueles dias de Novembro Esta apresentaccedilatildeo breve natildeo estaria concluiacuteda sem um agradecimento agraves Cacircmaras Municipais de Nelas e Carregal do Sal pelo apoio concedido a esta iniciativa e agrave Fundaccedilatildeo da Lapa do Lobo inexcediacutevel anfitriatilde destes trabalhos Um agradecimento particular eacute devido agrave Engordf Maria do Carmo Batalha cuja inesgotaacutevel energia foi fundamental ao longo de toda a or-ganizaccedilatildeo deste Congresso e das publicaccedilotildees que lhe estatildeo associadas e agrave Designer Maria Tavares de Almeida que as levou a bom termo

Joatildeo Carlos de Senna-MartinezMariana Diniz

Antoacutenio Faustino de Carvalho

| 17

| 2018

18 |

| 19

| 2018

ORGANIZACcedilAtildeO

Fundaccedilatildeo Lapa do LoboCentro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (Uniarq)Centro de Estudos de Arqueologia Arte e Ciecircncias do Patrimoacutenio da Universidade do Algarve

Comissatildeo de Honra

Presidente da Cacircmara Municipal de NelasPresidente da Cacircmara Municipal de Carregal do SalPresidente da Fundaccedilatildeo Lapa do LoboPresidente da Associaccedilatildeo Humanitaacuteria dos Bombeiros Voluntaacuterios de Canas de Senhorim

Comissatildeo Organizadoraexecutiva

Prof Doutor Joatildeo Carlos Senna-Martinez (UniarqFLUL)Profordf Doutora Mariana Diniz (UniarqFLUL)Prof Doutor Antoacutenio Faustino de Carvalho (CEAACPUAlg)Engordf Maria do Carmo Batalha (Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo)Soacutenia Simatildeo (Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo)Aires Manuel Antunes dos Santos (Cacircmara Municipal de Nelas)Dr Seacutergio Espiacuterito Santo (Cacircmara Municipal de Nelas)Dr Joseacute Sousa Baptista (Cacircmara Municipal de Carregal do Sal)

Comissatildeo Cientiacutefica

Prof Doutor Joatildeo Carlos Senna-Martinez (UniarqFLUL)Profordf Doutora Mariana Diniz (UniarqFLUL)Prof Doutor Antoacutenio Faustino de Carvalho (CEAACPUAlg)Prof Doutor Pablo Arias Cabal (U Cantaacutebria)Doutora Gertrudes Branco (DGPC-DRCC)Doutora Ana Cristina Martins (IHC-CEHFCI-UIE-FCSH-UNIUniarqFLUL)

20 |

| 21

| 2018

Megalithism and identity dialogues texts contexts and pretexts

Megalitismo e discursos identitaacuterios textos contextos e pretextos

laquoOs megaacutelitos satildeo sem duacutevida os mais comuns e ao mesmo tempoos mais impressionantes monumentos preacute-histoacutericos da Europaraquo

(Arnaud 1977)

ABSTRACTSince at least the medieval time that the megalithic structures have aroused curiosity and pretexted various theories around its construction and functio- nality With the beginning of the formative process of the lsquonation-statesrsquo they became particularly interesting in visually marking the territory and referring to a certain pre-Roman ancestry A preterit that was reinforced already in the 19th century in reaction to the Napoleonic political project that legitimized subsequent national and regional identity affirmationsPortugal was no exception not so much for the political assertion as for the need felt by the pioneers of archaeology in the country to fit into the lsquostate of the artrsquo of European research regarding prehistoric archaeology From then on this theme no longer went beyond its horizons but rather strengthened according to the prevalence of personal (rather than institutional) agendasWe will therefore proceed to a very brief analysis of some of the contexts that in Portugal have pretexted the production of texts on megalithic structures from the end of the 19th century to the 3rd Archaeological Conference of the Association of Portuguese Archaeologists (1977)KEY WORDS History of Archeology Megalithism Portugal

RESUMODesde pelo menos os tempos medievos que as estruturas megaliacuteticas susci-taram curiosidade e pretextaram diversas teorias em torno da sua construccedilatildeo e funcionalidade Com o iniacutecio do processo formativo dos Estados-naccedilatildeo elas tornaram-se particularmente interessantes ao marcarem visualmente o ter-

Ana Cristina Martins (FCT IHC-CEHFCI-UEacute-FCSH-NOVA Uniarq-UL)

22 |

ritoacuterio e remeterem para uma determinada ancestralidade preacute-romana Um preteacuterito que foi reforccedilado jaacute no seacuteculo 19 em reacccedilatildeo ao projecto poliacutetico napoleoacutenico que legitimou subsequentes afirmaccedilotildees identitaacuterias de acircmbito nacional e regionalPortugal natildeo foi excepccedilatildeo natildeo tanto pela asserccedilatildeo poliacutetica quanto pela necessidade sentida pelos pioneiros da arqueologia no paiacutes de se enquadrarem no lsquoestado da artersquo da investigaccedilatildeo europeia em mateacuteria de arqueologia preacute-histoacuterica De entatildeo em diante esta temaacutetica natildeo mais saiu dos seus horizontes antes fortalecendo de acordo com a prevalecircncia de agendas pessoais (mais do que institucionais)Procederemos por conseguinte a uma breviacutessima anaacutelise de alguns dos contextos que em Portugal pretextaram a produccedilatildeo de textos sobre o mega- litismo desde finais de Oitocentos ateacute agraves III Jornadas Arqueoloacutegicas da Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses (1977)PALAVRAS -CHAVEHistoacuteria da Arqueologia Megalitismo Portugal

1 GENERAL CONTEXTS AND PRETEXTSAs far as we know it was especially during medieval times that megaliths motivated several and contradictory feelings among European people The reasons were certainly various but their usual mega dimension was cer-tainly central together with the lack of knowledge regarding its meaning and purpose And the continuous questioning about their use signified that there were no written sources or even oral traditions which could help deciphering this kind of enigma And this meant that no one knew who their builders and users were simply because they belonged to very old times from which there was no intellectual clue And the absence of knowledge in first place and of clues in second opened a Pandorarsquos box to most fascinating theoriesUnsurprisingly common people dealt with their presence very easily and somehow comfortably They have stood there ever since in the middle of nowhere useful in rainy and stormy days in protecting shepherds during their transhumance paths Moreover they served as unofficial landmarks extremely important for several reasons one of them being the need of people to belong to a place a territory a geography to an identity however restricted it could be Additionally deprived of their original meaning some of them were totally or partially reused accordingly to circumstantial needsBut this was letrsquos say the practical side of the megaliths as there was anoth-er one the mystery they carried on in consequence of the ignorance about their origins But one thing was for sure they were built by giants or even clever dwarfs More than that they could simply be the result of some telluric

| 23

| 2018

phenomenon It could not be otherwise If not how were they built them especially dolmens And how to explain the fact that in most cases their raw material was carried from far regions Yes their builders should be giants giants that no longer existedIn the meanwhile the increasing presence and prevalence of Christianity in the country ended with some ndash then already seen as pagan - periodical festivities always linked to the agriculture cycles or ndash more wisely - incorpora- ted them into new religious practices Gradually some megaliths were trans-formed in chapels others in shelters of witches and therefore abandoned and untouched until the forests covered them totally and were forgotten for centu-ries But other megaliths continued to be used accordingly ancient practices far from the church control Mainly by women unmarried and unchilded wo- men who expected to be touched by the strength of an ancient mystery stron-gly embodied of magic a magic condemned by the Church with fire And this condemn began to frighten common people and to keep them away from those bizarre abnormal structures It was another way of controlling minds and social practicesBut this apparent fear fascination ndash two very close feelings - had a positive effect the megaliths were preserved in most of the cases and some of the unintelligible (for those times) artefacts discovered inside and or around them were included in the social prestigious and private lsquocabinet of curiosi-tiesrsquo At least until the 18th century when a new entourage political economic social and cultural justified the multiplication of academies libraries hortus zoological gardens laboratories collections etc together with the publication of monographs and scientific journal It was the ante camera of the Illuminated Era And it was precisely with the advent of this intellectual movement that some researchers began to link the Celts to the megaliths which lead to the recognition of a pre-Gaul period mostly known through the Julius Cesarrsquos descriptions which interpreted the megaliths as altars of human sacrifices An idea which survived all over a significant part of the 19th century But the most important thing here was that they began to be analysed as resulting from human action More than that they were assumed as endogenous structures built by the hands of the Gaulrsquos eager-ly accepted by academicians as direct ancestors of the French It was then time to search for their primeval roots as the origin ndash somehow ndash of the 19th century Liberalism Predictably Napoleon I financed the lsquoAcadeacutemie Celtiquersquo (lsquoCeltic Academyrsquo) (1804) and in 1858 it was founded the lsquoCommission de Topographie des Gaulesrsquo (Commission for the Topography of the Gaulsrsquo) which members studied the French geography history and archaeology previously to

24 |

the Carolingian EmpirePortugal also had its kind of ante-chamber of the Enlightenment when one of the officious Maecenas of catholic Rome King Joatildeo V (1689-1750) foun- ded the Royal Academy of History (RAH) (1720) followed one year later by the decree obliging everyone who found ancient artefacts during their agricultu- ral activities to notify the regional governors who in return should send them to Lisbon to be analysed studied and divulged by the academicians in confe- rences and papers published in the RAHrsquo annals And the interesting thing is that due to this decree there were identified more than 300 megalithic struc-tures in the country not knowing their prehistorical origin as it would be neces-sary to wait for more than a century to classify them as soUnfortunately the earthquake of 1755 which affected tremendously Lisbon and had serious impacts in other Portuguese and even Spanish locals and regions obliged politicians to left aside most of the previously established cul-ture issues There was simply no time and no room for them The priority was to bury the death bodies and to take care of the livings whilst the new prime minister Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo (1699-1782) future Marquis of Pombal mason projected a new capital based on the prevailing French ra-tionalistic principles rebuilding the historical centre with orthogonal streets situated between its two main squares one of which opened to the river-sea welcoming the outlanders Of course he was attentive to the heritage situation He simply could not ignore totally the decree 1721 (see above) but there were other priorities Even so he asked for instance Lisbon priests to list every his-torical building situated in each parish to have a better notion of the damages and to save them from future hazards An aim expanded by Queen Maria I (1734-1816) in creating the Royal Academy of Sciences (1779) to which were transferred some projects took on by the RAH shut down after the earthquakeBut what about megaliths during Neoclassicism following the rediscovery of such ancient cities as Pompeii Herculaneum and Stabia Who cared about megalithic structures when the elites the intellectuals of the western world were amazed and delighted with the very few news coming from the excava-tions financed nearby Naples by the future Spanish King Carlos III (1816-1888) before they could read about them in rare illustrated albums of big dimension or even in some examples of voyage literature and in the writings of Johann Joachim Winckelmannrsquos (1717-1768)Who could be really interested in this archaic architecture when the recen- tly available private collections of Carlos III brought together the splendour of roman times exhumed directly from some of its primary sources and what was more important unveiling the colourful of their everyday lifersquos What

| 25

| 2018

could be better than to collect artefacts from these and other classical pla- ces obtained through a growing illicit market of antiquities Antiquities which became a source of social prestige not so for nobles as for the bourgeoisie even if nobles including princes and kings made use of collections museums academies laboratories etc as an invigorating way of competing ideologically and politically with each other mainly in the context of the making of the lsquoNa-tion-statesrsquo which urged for a new iconography It was the beginning of neoclassical times which influenced greatly the western aesthetics the way of thinking and of living inspiring artists architects decorators writers and some manufactures and industries such as furniture ceramics jewellery and clothing Altogether it became the metaphorical vestibule of the 19th century revivals being the 18th century Neoclassicism the inspirational oneSo which context allowed reviving the interest towards other preterits beyond the classics which were also much appreciated in Portugal considering the works of priest Manuel do Cenaacuteculo (1724-1814) and the personal investment of Queen Maria I in the study of the roman ruins of Troacuteia (Setuacutebal Portugal)We argue that regardless of dominant neoclassical aesthetics and ornament grammar a tiny - but significant - number of intellectuals valued other antiquities as they symbolized the uniqueness of their regions and countries far beyond classical times especially the roman ones and more specifical-ly the ones that could testify its imperial period ie their dominance over local people In truth a long path had been already crossed in this direction if we remind the consequences of Reform and Counter-Reform in historical studies as it was the commencement of lsquonational antiquitiesrsquo in counterpoint to the lsquoclassicalrsquo ones So there was already a basis where to build new projects concerning megaliths Megaliths or other pre and post-roman structures as was the case for iron age hill-forts and elements from primeval Christianity But the world was bigger than that and the need to expand horizons of knowledge led 18th century naturalists and adventurers to other continents in search for the diversity of Godrsquos work and information relevant to the new western indus-tries and markets whilst Napoleon I (1769-1821) was organizing the first truly holistic Expedition to Egypt (1798) giving way to the lsquoEgyptomaniarsquo which would overwhelm every angles of western elites day lifeOf course there were always local elites curious about megalithic structures for all the mystery which surrounded them and because they represented the long ancestry of some places and regions Nonetheless one political episode established their systematic inventory and study and linked them to national feelings and needs I fact the lsquoContinental Blockadersquo (1789-1915) imposed

26 |

to Great-Britain by Napoleon I had some unpredictable consequences one of them being cultural and more specifically archaeological in its - yet - anti-quarian version Why With difficulties in accomplishing the Grand Tour during those years young nobles gentries and representatives from high bourgeoisie whose close male relatives were mostly members of such respected socie- ties as the Dilettanti (1734) and the Antiquaries of London (1751) were forced to travel around their own country in search for its natural and cultural distinctiveness Suddenly they discovered a territory full of different geogra-phies physical cultural and psychological which should be described be-fore being destroyed distorted or forgotten by the strength of the locomotive symbol of the accelerated industrial process started in the Highlands And these travellers found draw and wrote about many ancient buildings includ-ing hundreds of megaliths mostly of them dolmens A precious work since for different reasons some of these specimens do not exist anymore or were reused in a such way that one hardly can recognize themAnd we must not Forget that this episode went together with the quarrel between lsquoAncient and Modernsrsquo leading for example to minucious excava-tions of ancient monuments whilst there were some efforts to connect the Bible genealogy to the cultural specificity of each country to legitimate and honour each of them (Mintielle 1972) Partially due to the Celtic revival connected to the megaliths emerged a certain urgency in demonstrate that these ancient structures existed long before any material evidence of the ex-orient lux theory holding that together with Egyptians and Chinese the Celts was one of the oldest people in the World Besides they were at the basis of Monotheism to withdraw the idea about dolmens as places for the pagan barbarian practice of human sacrifices (Daniel 1963 p 24-42) Even if not officially and unconsciously this was an attempt to contradict the generally accepted idea regarding the Germanic supremacy ndash the Kulturvolker ndash and migration (more than diffusion) of new modus vivendi e faciendi arriving from the Near EastA revival to be introduced also in Portugal at least by the hands of Augusto Filipe Simotildees (1835-1884) referring to dolmens as culturally belonging to the Celts and to some artefacts discovered inside them as being originally used by druids being however one of the first ones to sustain the endogenous evolution of the megaliths in the country The same was affirmed by Joaquim Possidoacutenio Narciso da Silva (1806-1896) namely during the seminars he coordinated in 1872 on history of art and archaeology (AHAAP Actas do Conselho Facul-tativo n ordm 99 1521872) at the lsquoRoyal Association of Portuguese Archaeolo-gistsrsquo and still by the end of the 80s when described some dolmens from the

| 27

| 2018

lsquoBeira interiorrsquo as Celtic tombs of higher priests and chief leaders disproving hence their assumed use as altar for human sacrifices Subsequent authors ndash like Manuel Heleno (1894-1970) the second director of the nowadays Nation-al Museum of Archaeology (1893) - sustained the endogenous phenomenon of megalithism in what Portugal is nowadays by saying that ldquomaybe we should invert the itinerary to contradict the idea of a megalithic civilization resulting from external influences spread by sea throughout European shoresrdquo (Severo 1905-1908 p 7015 Our translation)But the importance of all these exercises was more than a dilettanti way of live The typologies repeatedly found in these sketchbooks and memoires ndash megaliths and churches (mainly Anglican built in a gothic or neogothic style) ndash indicated a silent but vibrant opposition to the roman imperial period ichno-graphically adopted by Napoleon I as he visual grammar of his political agen-da Predictably megaliths become for opponents of napoleon era a central topic of many paintings watercolours and drawings intertwined with elements of druidism considered distinctive of the British culture Thoughts feelings ideologies and political needs which went side by side with an increasing romantic scenario expanded by intellectuals such as Johann Wolfgang von Goumlethe (1749-1832) in a time when the nostalgia for a non-imperial classical preterit lived together with the necessity to underline medieval and pre-clas-sical predicates of each region and country required by the French Empire An Empire that unexpectedly also rooted its programme in megalithic times even if in an anachronic way by linking it to the hero Vercingetorix (82-46 aC) But this was a bit latter episodeIt was the past serving as nuclear argument to oppose territorial pretensions It was the beginning of a systematic use of the ancestors to reaffirm borders both geographical ethnical cultural and or psychological In short it was the implementation of a geo-political strategy based on memories renamed as heri- tage transformed in national because presumably unique (as symbols)

2 MEGALITHS IN PORTUGAL AND ITS STUDY DURING THE 19TH CENTURY (a brief glimpse)Differently of what happened in such countries like Great-Britain or France the nonexistence of regional pro-autonomy actions in the Portugal may explain the absence of similar iconographic registers observed beyond our boundaries where images of antiquarians portrayed next to megalithic monuments were getting usualNevertheless Portugal could not ignore he amount and diversity of studies published abroad on this theme That is also why amongst activities undertook

28 |

by the lsquoComissatildeo Geoloacutegica do Reinorsquo (lsquoGeological Commission of the King-domrsquo) (1857) the most studied megalithic typology - dolmens - was included in the general category of prehistoric monuments thought anachronically under-stood as Celtic graves A conclusion certainly resulting from the weak links their leaders still maintained with the most recent European research networks on this subject Notwithstanding their authors tried to understand the emergence and geo-graphical distribution of the identified dolmens (lsquoantasrsquo in Portuguese) by analysing its architectural characteristics having in mind that ldquomore civilised nations do not stop from the performance of their archaeological researches because they may be thought of as sublimerdquo (Silva 1888 p 26 Our transla-tion) Additionally it was stated that ldquothe different objects discovered during excavations conducted under those monuments are now attributed to the first Prehistoric migrations whose period and duration are unknown (Id 1881 p 69-71 Our translation) So there was a strong believe that megaliths were built in what is now Portugal as a result of a migration process to be examined fol-lowing the work of the French prehistorian Eacutemille Cartailhac (1845-1921) lsquoLes Acircges Preacutehistoriques drsquoEspagne et du Portugalrsquo (1886) where their architectural types were connected to associated assemblages as probable clues to under-stand the occupational evolution in a given region In relation to this one of our researchers V do M Gabriel Pereira (1847-1911) stated that

Eacutevora dolmens [Southeast Portugal] are undoubtedly unique and their study important to the establishment of the civilisation and relations between primitive people living here if attention is given to differences observed between them and those from other areas [] not so much in their construction but in their position [in relation to] objects found in the surrounding area (IANTT 1876 VIIIa 8ordf 1260 Our translation and original underscore)

Because some Portuguese researchers were much interested in this mega-lithic research ldquoagendardquo and since some of them had been already totally or partially destroyed by landowners to reuse their stone elements in different ways the Board of the lsquoReal Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses (lsquoRoyal Association of Portuguese Archaeologistsrsquo) (1863) requested (1874) its mem-bers to survey the megaliths eventually standing in their regions and to draw them (Id 1885 XVI 8ordf 3320) enlarging the geographic spectrum of the pre-vious one focused on Eacutevora and undertook in 1871 by the lsquoDirecccedilatildeo Geral dos Trabalhos Geoloacutegicosrsquo (lsquoGeneral Board of Geologic Worksrsquo) probably aiming to obtain something similar to the Archeacuteologie Nationale of the French archaeol-ogist pioneer of the Gaul and Gaul-roman archaeology founder and first direc-

| 29

| 2018

tor of the Museacutee des Antiquiteacutes Nationales (Saint-Germain-en-Laye) Alexandre Louis Joseph Bertrand (1820-1902) Additionally these maps should become eventually included in a more ambitious project of recording archaeological heritage ldquoavant que le vandalisme nrsquoait deacutetruir un plus gran nombre de ces anciennes constructionsrdquo (ldquoDiscussionrdquo 1873 p 726 Our underscore)

3 THE ldquoPORTUGUESErdquo MEGALITHS ABROAD (another brief vision)Based on the information sent by regional memberships an advised by Eacute Cartailhac regarding the method of classification to be adopted for standing stones the president of the lsquoRoyal Associationrsquo the architect and archaeolo-gist J Possidoacutenio N da Silva (1806-1896) compared published and presen- ted them in 1879 to the lsquoCongregraves International drsquoanthropologie et drsquoarcheacuteolo-gie Preacutehistoriquersquo and the lsquoCongregraves de lrsquoAssociation Franccedilaise pour lrsquoAvance-ment des Sciencesrsquo The result of this was the travel of the Swedish archaeo- logist Oscar Montellius (1843-1921) to Lisbon to study artefacts exhibited at the lsquoMuseu Arqueoloacutegico do Carmorsquo (lsquoCarmo Archaeological Museumrsquo) (1864) Afterwards he stated that Portuguese archaeological studies were ldquobeaucoup plus avanceacutes qursquoen Espagne [et] peut nous donner la solution de bien des questions importants relatives aux peuples des dolmensrdquo (IANTT 1879 XI 8ordf 1767 Original underscore) lsquoDolmen peoplerdquo which he considered as ex-clusively prehistoric and generating in the North of Europe whereas in 1868 the Portuguese writer and historian Inaacutecio de Vilhena Barbosa (1811-1890) published a paper in the journal lsquoArchivo Pittorescorsquo arguing their belonging to Neolithic till Bronze Age In the meanwhile other national authors searched for the ethnogenesis of this lsquonomad peoplersquo in the Near East believing in its Semitic origins hence reinforcing the theory on cultural precedency of South Europe by claiming a direct inheritance from pre-classical civilizations emerged in that region Comparing the dolmens existing in Portugal and Spain and based on a linear evolutionist approach some Portuguese scholars concluded that the first would be older as the stones used in the latter ones ldquoare more regular and the vertical remain in a position closer to the vertical conceptrdquo (Mello 1886 p 121 Our translation) whilst Possidoacutenio da Silva was persuaded that ldquoles Celtes sont venus dans la peacuteninsule Ibeacuterique para la rive droite de la Guadi-anardquo (Silva 1881 p 620 Our underscore) Moreover ldquoCette circonstance doit servir beaucoup pour aider agrave faire les recherches pour trouver la marche que les Celtes auront prise pour entrer dans lrsquoEuroperdquo (ldquoDiscussionrdquo 1873 p 726 Our underscore) Besides during a presentation at the lsquoAssociation Franccedilaise pour lrsquoAvancement des Sciencesrsquo (Montpellier 1879) he referred that the Celts

30 |

gave preference to what was nowadays Portugal ldquoaux cours de riviegraveres [as] ils ont en suite laisseacute ces monuments sur leur chemin pour marquer leur passage dans la contreacutee aux tribus qui les auraient suivis dans leur immigration pour les indiquer aussi ougrave eacutetaient enselevis leurs chefsrdquo (Silva 1879 p 1)This meant that he thought megaliths began by being built in Iberia more spe-cifically in what is now Portugal and concretely in South Alentejo A conclusion mostly interesting since Portugal had no need to emphasize the legitimacy of its political frontiers as it was one of the oldest European countries to have them established and had no internal movements towards autonomy which could put in danger its unity Quite the opposite as shown during the Napo-leonic invasions and the presence of the British troops in the first half of the centuryBut this was the decade ndash 70s ndash of some Iberian union revival supported by many politicians and intellectuals Fiercely opponent to this purpose Possidoacute-nio da Silva tried to demonstrate through archaeology the logics of our nation-al frontiers unique and cohesive More than this and even unconsciously he considered megaliths as a lsquofossil-directorrsquo of the Celtic presence Even though he was aware that much more Portuguese regions should have dolmens in its domains the reason why he asked for an intensive and extensive geographic survey of the toponym anta the word by which dolmens were widely known in Portugal (Silva 1881b p 620) In addition some Portuguese authors like A Filippe Simotildees and Possidonio da Silva believed that some associated mate-rials like engraved stone plaques which seemed to abound in what was now-adays Portugal could be specific of this Iberian region which in their minds seemed to indorse the logics of our national frontier an interpretation suppor- ted by 20th century Portuguese archaeologists like the priest and prehistorian Eugeacutenio Jalhay (1891-1950) for instance Moreover they intended to esta- blish a dolmenrsquos chronology by analysing the shape and contents of those same engrave plaques

4 PROTECTING MEGALITHS IN PORTUGAL TO KEEP HISTORY ALIVE (one more brief insight)Mapping the different megalithic typologies known in Portugal linked to its asso-ciated artefacts and obeying to a specific methodology like the one discussed during the lsquoInternational Congress for Anthropology and Prehistorical Archaeolo-gyrsquo (Budapest 1878) (Silva 1879 p 4) Possidoacutenio da Silva intended to call the attention of politicians towards the importance of their study and the urgency of their protection and aware provincial scholars of their relevance for local history though believed that Central Government should be responsible for

| 31

| 2018

their good preservation not only to avoid their destruction and loss capital that they repre-sent but also that they may be converted into productive capital for the Country in general and a true and active element of prosperity for the lands that have them since everywhere they form a powerful stimulus to the curiosity of travellers (Silva 1888 p 7 Our translation and underscore)

In brief they could contribute to the establishment and development of the most recent western industry tourism especially cultural tourism This could be achieved by creating community museums holding archaeological collec-tions also to reinforce local and regional feelings essential to sustain heritage safeguard and the inherent common historical memories Consequently they could become an important source of national and regional and local revenue considering that

If some of these antiquities have escaped constant destruction continued to the present it is because the dust and the earth lifted by storms and dragged by torrential rains during centuries have gathered over those precious relics of an extinct greatness until hiding them entirely for the coveting gaze of destroyers as implacable as they are ignorant (Ibidem Our translation)

But stoping their destruction required their classification as ldquonational mo- numentsrdquo (AHAAP Actas da Assembleia Geral 132 741889 Id Idem 137 22121889) which demanded an exhaustive inventory not only of the building itself but of all the artefacts and other realities identified inside and on them simply because these data could differentiate chronologies and cultu- ral belongings as remembered the archaeologist art historian and Professor Vergiacutelio Correia Pinto da Fonseca (1888-1944) when referring to rock paint-ings wrote in an almost kossinian statement on the hypothetical symbiosis between territory ethnos and material culture and interpreting megaliths as a Neolithic phenomenon that

The stylised and schematic character of those figures shows that they are Neolithic like those discovered throughout the neighbouring country especially in the mountains of the South betraying the occupation of the Peninsula by a single population in race and culture (Correia 1922 p 147 Our translation and underscore)

Independently to these questions the efforts of Portuguese scholars many acting in the context of activities developed in connection with the lsquoRoyal Asso-ciation of Portuguese Archaeologistsrsquo resulted in the creation of the lsquoComissatildeo

32 |

dos Monumentos Nacionaisrsquo (lsquoCommission for National Monumentsrsquo) (1881) after the elaboration of a first list of ancient structures which should deserve such a classification including dolmens and standing stones This effort would be crowned in 1910 year of the publication of the first list of classified monu-ments as ldquonational monumentsrdquo including the relation of megaliths A list little different from that proposed some years earlier although resulting from suc-cessive explorations conducted in the field by the mentor and Director of the lsquoMuseu Etnograacutefico Portuguecircs (lsquoPortuguese Ethnographic Museum) (1893) the archaeologist ethnographer and Professor Joseacute Leite de Vasconcellos (1858-1941) who manifested always a particular interest by this archaeolo- gical typology whose effective preservation was much complicated by the fact that the monuments were located in private lands

5 SOME FINAL REMARKSContinuing to call the attention of several scholars amateurs and common people thanks to their ancestry diverse typology abundance high visibility unique and almost indecipherable associated artefacts ample geographical distribution the awareness of their link to the Neolithic phenomenon and their reuse by several generations megaliths played and stil play a central role in many archaeological projects as they have much to ldquotellrdquo to all those who em-brace them as their scientific programIt could be almost enough to read the works of our main archaeologists from the first half of the 20th century to be sure of this above all about the quarrels established between those like M Heleno who argued about multiple focus of emergency and development of megalithism in our country and its spread from here to French and British shores (Moita 1956 p 135-136) and the ones who claimed almost the opposite as was the case for A Mendes Correia (1888-1960) from the University of Porto ldquothe Northwest Iberia [hellip] [was] the focus from where irradiated a certain megalithic culturerdquo (Correia 1944 p 32 Our translation) diffused to the North of Europe as ldquopresumptuous example of and old Atlantic thalassocracy of a true anonymous western empire with more than 4 000 yearsrdquo (Ibidem Our translations and underscores)This was perhaps one of the attempts of using archaeological artefacts in a pre-sumable scientific narrative to reaffirm individual agendas and or to sensitize politicians towards the relevance of financing archaeological research in this case by connecting ancestral realities to the Portuguese overseas mission A link underlined when Spain related the idea of its own empire to the hypothetical endogenous Tartessian Empire (Wulff Alonso and Martiacute-Aguilar 2003 p 124- -133) before Portugal began the feel the international pressure over its Empire

| 33

| 2018

However the 1st National Congress of Archaeology (Lisbon 1958) demons- trated how this subject continued to be central in national studies and was up-dated amongst national and international archaeologists From the 84 papers published in two volumes (1959 and 1970) only seven included the words lsquomegalithrsquo and lsquomegalithismrsquo in their titles But this did not mean a disinterest over the them It only meant that other papers dealt with it from other points of view and that many other scholars began to work on different thematics from Palaeolithic to museum studies The same can be observed reading the proceedings from the Archaeological Colloquiums of Oporto (1961-1966) or even the ones from the 1st Archaeological Journeys organized by the Asso-ciation of Portuguese Archaeologists (1969) where among 36 papers only two expressed indirectly the analysis of this issue by using the word lsquoNeolithicrsquo clearly more adequate to the new theoretical demands of the time Theories and new methods like thermoluminescence and the C14 which would be de-tailed analysed by one member of the new generation of archaeologists acting in Portugal after the Revolution April 1974th Joseacute Morais Arnaud writing from Cambridge University where thanks to a scholarship conceded by the State Office of Culture he was getting a specialization And with these last editions a new chapter was open to the Neolithic and almost inherently to the megalithic studies in PortugalNevertheless this does not mean that there is no currently revival of the megalithic imagetics due to some political and social groups acting all around Europe An issue to be scrutinized very seriously considering their eventual consequences

Lisbon October 2018

AcknowlegmentTo the Congress organizers for all the solidarity and for accepting this paper sent long beyond all deadlines

ReferencesArchivesAHAAP (1889) - Actas da Assembleia Geral Lisboa 132 74AHAAP (1889) - Actas da Assembleia Geral Lisboa 137 2212IANTT (1876a) - Correspondecircncia artistica e scientifica mantida com J Pos-sidoacutenio da Silva Lisboa VIIIa 8ordf 1260IANTT (1876b) - Correspondecircncia artistica e scientifica mantida com J Pos-sidoacutenio da Silva Lisboa VIIIa 8ordf 1353IANTT (1879) - Correspondecircncia artistica e scientifica mantida com J Pos-

34 |

sidoacutenio da Silva Lisboa XI 8ordf 1767IANTT (1885) - Correspondecircncia artistica e scientifica mantida com J Pos-sidoacutenio da Silva Lisboa XVI 8ordf 3320

BIBLIOGRAPHY(1873) ndash Discussion Compte Rendu de la 1egraveme session de lrsquoAssociation Franccedilaise pour lrsquoAvancemente des Sciences Paris Secreacutetariat de lrsquoAssociation p 726ARNAUD J M (1978) ndash ldquoO megalitismo em Portugal problemas e perspectivasrdquo Actas das III Jornadas Arqueoloacutegicas 1977 Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesCARTAILHAC Eacute (1886) ndash Les ages preacutehistoriques de lrsquoEspagne et du Portugal Paris Reinwald LibraireCORREIA V (1922) - Arte rupestre em Portugal A Pala Pinta Aditamento Terra Portuguesa 32-34 p 147DANIEL G (1963) ndash The megalith builders of Western Europe London Penguin BooksDIacuteAZ-ANDREU M (1997) - ldquoNacioacuten e internacionalizacioacuten La Arqueologiacutea en Espantildea en las tres primeras deacutecadas del siglo XXrdquo La Cristalizacioacuten del Pasado Geacutenesis y Desarrollo del Marco Institucional de la Arqueologiacutea en Espantildea MORA G e DIacuteAZ-ANDREU M eds lits ndash Maacutelaga Servicio de Publicaciones de la Universidad de MaacutelagaFABIAtildeO C (1999) - ldquoUm seacuteculo de Arquelogia em Portugal - Irdquo Al-madan S 2 8 Almada Centro de Arqueologia de AlmadaHELENO M (1956b) - ldquoUm quarto de seacuteculo de investigaccedilatildeo arqueoloacutegicardquo O Arqueoacutelogo Portuguecircs N s 3 Lisboa MNAELVJALHAY E (1936) - ldquoAs Novas Directrizes no Estudo da Preacute-Histoacuteriardquo Trabalhos da Associaccedilatildeo dos Ar-queoacutelogos Portugueses 2 Lisboa AAPJAMES S (1999) ndash The atlantic celts Ancient people or modern invention London British Museum PressJORGE V O (2002) - ldquoMegalitismo Europeu e Portuguecircs breves consideraccedilotildees histoacutericas em jeito de balanccedilordquo Arqueologia e Histoacuteria 54 Lisboa AAP p 79-85MARTINS A C (2003) - Possidoacutenio da Silva (1806-1896) e o elogio da Memoacuteria Um percurso na Arque-ologia de oitocentos Lisboa AAPMARTINS A C (2005) ndash A Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses na senda da salvaguarda patrimo-nial Cem anos de (trans)formaccedilatildeo 1863-1963 Texto policopiado Tese de doutoramento em Histoacuteria apresentada agrave Universidade de LisboaMARTINS A C (1999a) ndash Possidoacutenio da Silva a RAACAP e os Estudos Preacute-Histoacutericos no Portugal Oitocen-tista Arqueologia Porto 24MARTINS A C (1999b) ndash Possidoacutenio da Silva a RAACAP e a Arqueologia no Portugal de Oitocentos A Conservaccedilatildeo dos Monumentos Arqueoloacutegicos Actas do 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Vila RealMARTINS A C (2001a) - Estudos Preacute-histoacutericos e Nacionalismo uma Perspectiva Possidoniana Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 4 1MARTINS A C (2001b) - O 1ordm Curso Elementar de Archeologia (Lisboa 1885) Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 55MARTINS A C (2003) - Possidoacutenio da Silva (1806-1896) e o Elogio da Memoacuteria Um Percurso na Arque-ologia de Oitocentos Lisboa AAPMELLO A J de (1886) - Primeiro Curso de Archeologia Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa S 2 5 9 p 121

| 35

| 2018

MINTIELLE P (1972) ndash Sur les chemins de la Preacutehistoire Paris DecoeumllROCHA L M P (2005) - Origens do megalitismo funeraacuterio no Alentejo central a contribuiccedilatildeo de Manuel Heleno Texto policopiado Tese de Doutoramento em Preacute-histoacuteria Faculdade de Letras da Universidade de LisboaSEVERO R (dir) ndash Portugalia materiaes para o estudo do povo portuguez T 2 fasc 1 a 4 (1905-1908) Porto Imprensa PortuguezaSILVA J P N da (1881a) - Archeologia Prehistorica Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa S 2 3 5 p 69-71SILVA J P N da (1881b) - Fouilles faites dans les dolmens en Portugal en 1881 Compte Rendu de la 11egraveme session de lrsquoAssociation Franccedilaise pour lrsquoAvancemente des Sciences Paris Secreacutetariat de lrsquoAs-sociation p 620SILVA J P N da (1888a) - Monumentos Celticos Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa S 2 6 2 p 26SILVA J P N da (1888b) - Monumentos Celticos Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa S 2 6 9 p 7SILVA J P N da (1897) Notice sur les Monuments Meacutegalithiques du Portugal Association Franccedilaise pour lrsquoAvancement des Sciences Paris Secreacutetariat de lrsquoAssociationVVAA (1970) ndash Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas 2 vols Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portu-guesesWULFF ALONSO F and MARTIacute-AGUILAR Aacute (eds) (2003) ndash Antiguumledad y Franquismo (1936-1975) Maacutelaga Diputacioacuten Provincial de MaacutelagaCORREIA A A E M (1944) ndash Geacutermen e cultura Porto Imprensa Portuguesa SPAE

36 |

| 37

| 2018

PARA UMA RECUPERACcedilAtildeO DO MEGALITISMO DE LAFOtildeES (VISEU PORTUGAL) O CONCELHO DE VOUZELA ENQUANTO CASE-STUDY

PIECING TOGETHER THE LAFOtildeES MEGALITHISM (VISEU PORTUGAL) THE MUNICIPALITY OF VOUZELA AS CASE-STUDY

RESUMOO fenoacutemeno tumular da regiatildeo de Lafotildees revelado pelos trabalhos pioneiros de Amorim Giratildeo de haacute cem anos integra o contexto e tradiccedilatildeo megaliacuteticas da Beira Alta A prospeccedilatildeo arqueoloacutegica realizada em 2017-2018 no concelho de Vouze-la beneficiou de condiccedilotildees de visibilidade do solo muito favoraacuteveis propiciadas pelo incecircndio de Outubro de 2017 e permitiu aumentar o nuacutemero de siacutetios de 40 para 114 que poderatildeo assim constituir-se como um case-study muito rele-vante na regiatildeo Foi possiacutevel (re)identificar vaacuterias dezenas de monumentos funeraacuterios de diver-sas tipologias e cronologias distribuiacutedos maioritariamente pela Serra do Cara-mulo os quais indicam uma variedade arquitetoacutenica modos de implantaccedilatildeo e dimensotildees que parecem revelar padrotildees recorrentes Os megaacutelitos neoliacuteticos satildeo de grandes dimensotildees e surgem isolados ou agrupados em pequenas necroacutepoles Na Idade do Bronze observa-se a construccedilatildeo de pequenos tumu-li nalguns casos satelizando monumentos neoliacuteticos preexistentes formando grandes necroacutepoles compostas por cinco a duas dezenas de mamoasIdentificou-se tambeacutem um novo tipo de monumento associado a necroacutepoles neoliacuteticas difiacutecil de reconhecer no terreno ldquoafloramentos monumentalizadosrdquo isto eacute estruturas monticulares construiacutedas em torno de afloramentos naturais Tratar-se-atildeo de monumentos simboacutelicosrituais relacionados com as praacuteticas funeraacuterias levadas a cabo naqueles doacutelmenes

Pedro Sobral de CarvalhoEON - Induacutestrias Criativas Lda Rua D Duarte 55-57 3500-120 Viseu PortugalE-mail pedrosobraldecarvalhoeonicpt

Antoacutenio Faustino CarvalhoCEAACP - Centro de Estudos de Arqueologia Artes e Ciecircncias do Patrimoacutenio Universidade do Algarve FCHS Campus de Gambelas 8000-117 Faro PortugalE-mail afcarvaualgpt [autor para correspondecircncia]

38 |

Este mundo funeraacuterio lafonense em curso de redescoberta eacute extremamente diversificado nas suas manifestaccedilotildees materiais e eacute testemunho de um passado dinacircmico pelo que exige projetos de investigaccedilatildeo que privilegiem os estudos sistemaacuteticos das necroacutepoles como um todo PALAVRAS-CHAVE Lafotildees Megalitismo Neoliacutetico Calcoliacutetico Idade do Bronze

ABSTRACTRevealed by the pioneer work of Amorim Giratildeo one hundred years ago the nu-merous mound structures of the Lafotildees region integrates the broader megalithic context and tradition of the Beira Alta province of central-northern Portugal The systematic survey carried out in 2017-2018 at the municipality of Vouzela benefi- ted from very favourable visibility conditions permitted by the October 2017 for-est fires The outcome of this work was an increase in the number of sites from 40 to 114 a number that may constitute itself as a relevant case-study within the region It was possible to (re)identify several dozens of funerary monuments of diversi-fied typologies and chronologies mainly distributed in the Caramulo mountain range which seem to reveal variable architectonic location and size patterns The Neolithic megaliths are large-sized and can be found isolated or clustered in small necropolises In the Bronze Age the building of small mounds can be observed sometimes bordering older Neolithic monuments These form vast necropolises with five to more than twenty moundsAlthough of difficult recognition in fieldwork a new type of monument associa- ted to Neolithic necropolises was also identified ldquomonumentalized outcropsrdquo ie stone mounds built around natural outcrops These may be symbolicritual monuments related to the funerary practices that were carried out in the near dolmensThis funerary world at Lafotildees presently under re-discovery is extremely di-versified in its material manifestations This is testimony of a dynamic past thus demanding research projects aiming at the systematic study of complete necropolises KEY WORDS Lafotildees Megalithism Neolithic Chalcolithic Bronze Age

INTRODUCcedilAtildeO O MEGALITISMO NA REGIAtildeO HISTOacuteRICA DE LAFOtildeES O setor mais setentrional da proviacutencia portuguesa da Beira Alta eacute marcado por dois importantes domiacutenios geomorfoloacutegicos Por um lado os planaltos centrais e a Plataforma do Mondego que se constituem como o coraccedilatildeo desta ampla regiatildeo e por outro uma importante cadeia de montanhas de orientaccedilatildeo Norte-Sul mdash Serra do Montemuro Maciccedilo da Gralheira e Serra do Caramulo mdash que separa aquelas terras altas das planiacutecies litorais do centro-norte de Portugal Eacute entre a Gralheira e o Caramulo mdash portanto no meacutedio curso do Rio Vouga mdash que

| 39

| 2018

se encontra a regiatildeo histoacuterica de Lafotildees (Fig 1 A) cuja origem remonta agrave Idade Meacutedia a qual foi municiacutepio ateacute agrave reforma territorial definida pelo Decreto de 6 de Novembro de 1836 Com a reorganizaccedilatildeo administrativa saiacuteda desta lei o con-celho de Lafotildees foi extinto e o seu territoacuterio deu lugar aos atuais municiacutepios de S Pedro do Sul Oliveira de Frades e Vouzela com algumas das suas freguesias a serem incorporadas tambeacutem nos concelhos vizinhos de Sever do Vouga Castro Daire e Viseu Aleacutem dessa longevidade histoacuterica Lafotildees apresenta tambeacutem algumas carac-teriacutesticas biogeograacuteficas particulares que lhe advecircm da sua posiccedilatildeo de charnei-ra entre o interior beiratildeo e o litoral atlacircntico agraves quais se devem adicionar alguns traccedilos de personalidade cultural que a distinguem dos territoacuterios envolventes Natildeo cabe aqui desenvolver a questatildeo da individualidade histoacuterico-geograacutefica de Lafotildees mas deve ser salientado que esse quadro particular poderaacute recuar a periacuteodos proto-histoacutericosE com efeito a proacutepria histoacuteria dos estudos megaliacuteticos em Lafotildees tem mereci-do natildeo sem interrupccedilotildees a atenccedilatildeo de diversos investigadores O iniacutecio destes estudos em termos sistemaacuteticos tem lugar com o trabalho pioneiro de prospeccedilatildeo e escavaccedilatildeo levado a cabo por A de Amorim Giratildeo (1921) haacute um seacuteculo Depois dele seraacute sob a direccedilatildeo de L Albuquerque e Castro que se identificaratildeo e es-

Figura 1 A - Localizaccedilatildeo da da regiatildeo histoacuterica de Lafotildees na Peniacutensula Ibeacuterica B - Mapa do concelho de Vouzela com indicaccedilatildeo dos monumentos tumulares conhecidos (ciacuterculos) e da aacuterea representada na Figura 3 (retacircngulo) Mapa elaborado pelos serviccedilos da Cacircmara Mu-nicipal de Vouzela

40 |

tudaratildeo novos monumentos do meacutedio Vouga (Castro et al 1956) entre os quais o notaacutevel doacutelmen pintado de Antelas (Castro et al 1957) Os dados resultantes de ambas as investigaccedilotildees satildeo depois incorporados em siacutenteses regionais prin-cipalmente por I Moita (1966) e V Leisner (1998) ou mesmo de escala penin-sular mdash relembremo-nos da tese ldquoocidentalistardquo de Bosch-Gimpera (1966) que colocava a origem do megalitismo ibeacuterico no quadrante noroeste da peniacutensula incluindo portanto a Beira Alta Mais recentemente outras siacutenteses circunscritas ao municiacutepio de Vouzela retomaratildeo novamente aquelas contribuiccedilotildees (Cardoso 1999 Marques 1999) As uacuteltimas intervenccedilotildees em megaacutelitos de Vouzela em concreto na Malhada do Cambarinho (Carvalho et al 1993) tiveram lugar haacute exatamente um quarto de seacuteculoFoi este o historial que determinou os objetivos e a estruturaccedilatildeo do projeto de investigaccedilatildeo ldquoEstudo do patrimoacutenio histoacuterico-cultural de Vouzelardquo (Real et al 2017) estabelecendo-se entatildeo que a prospeccedilatildeo de monumentos tumulares preacute e proto-histoacutericos se direcionaria preferencialmente para os locais onde havia jaacute conhecimento preacutevio da sua existecircncia O objetivo desta opccedilatildeo era duplo por um lado avaliar e documentar o estado de conservaccedilatildeo das ocorrecircncias jaacute conhe-cidas e por outro identificar novas mamoas eventualmente associadas a essas necroacutepoles Com efeito a densa cobertura florestal da regiatildeo impedia a obser-vaccedilatildeo do solo na larga maioria da sua extensatildeo e soacute nalguns setores se poderia ambicionar a descoberta de siacutetios ineacuteditos No entanto o traacutegico incecircndio de 15 de outubro de 2017 implicou uma alteraccedilatildeo completa dessa estrateacutegia A partir daquela data desenhou-se uma abordagem extensiva agraves aacutereas ardidas agora desprovidas de vegetaccedilatildeo tendo em vista a avaliaccedilatildeo do impacte do sinistro sobre este patrimoacutenio e aproveitar as condiccedilotildees favoraacuteveis de observaccedilatildeo do ter-reno para a busca de novos monumentos Tendo o incecircndio consumido mais de 90 do coberto florestal do territoacuterio vouzelense nunca ateacute agora teratildeo havido semelhantes condiccedilotildees para tal empreendimento

2 EXPRESSOtildeES TUMULARES E CULTUAIS NA PREacute E PROTO-HISTOacuteRIA DO MUNICIacutePIO DE VOUZELA21 O territoacuterioO municiacutepio de Vouzela (Fig 1 B) ocupa o setor norte e noroeste da Serra do Caramulo e os vales encaixados adjacentes correspondentes ao Vouga e seus tributaacuterios da margem esquerda Poreacutem uma vez que a larga maioria dos mo- numentos identificados se distribui pela serra (ver adiante) a morfologia deste acidente orograacutefico confere alguma inteligibilidade agraves estrateacutegias de ocupaccedilatildeo deste espaccedilo que conveacutem portanto esboccedilar Um dos aspetos que melhor caracteriza a metade norte daquela serra (Ferrei-

| 41

| 2018

ra 1978) eacute a dissimetria das suas vertentes Enquanto o lado ocidental desce progressivamente dos 1050-1000 m ateacute dominar a plataforma litoral a vertente oposta eacute formada por uma escarpa Poreacutem esta natildeo se compotildee de um soacute lanccedilo eacute possiacutevel observarem-se patamares a altitudes intermeacutedias com aacutereas reduz-idas mas muitas vezes aproveitadas para a construccedilatildeo de tumuli Nos pontos mais altos da serra em torno do veacutertice de Janus (1043 m) podem-se observar aplanamentos talhados nos chamados ldquogranitos de Lafotildeesrdquo onde se encon-tram as mais emblemaacuteticas necroacutepoles megaliacuteticas do municiacutepio (Vale drsquoAnta e Malhada do Cambarinho) A sudoeste de Janus aqueles aplanamentos agora de granitos porfiroides e xistos tornam-se mais estreitos e formam cumeadas alongadas Neste setor localiza-se por exemplo a importante necroacutepole de S Barnabeacute A norte de Destriz desenvolve-se um amplo niacutevel agrave cota dos 500-450 m designado por ldquoniacutevel de Campiardquo que se delimita a sudoeste e a noroeste por vertentes altas e iacutengremes Os principais cursos de aacutegua do ldquoniacutevel de Campiardquo o Rio Alfusqueiro e o seu subsidiaacuterio o Alcofra deveratildeo ter assumido um papel central na implantaccedilatildeo das necroacutepoles dos finais da Idade do Bronze dada a densidade de tumuli desta eacutepoca aqui existentes22 As realidades tumulares identificadasA cartografia e tipologia dos monumentos sob tumuli do concelho de Vouzela assim como o seu elevado nuacutemero vieram colocar a descoberto a fragilidade dos atuais estereoacutetipos sobre as arquiteturas dos monumentos e as opccedilotildees subjacentes agrave sua implantaccedilatildeo no territoacuterio Por outro lado estes novos dados demonstram tambeacutem a necessidade de alargar este tipo de trabalhos sistemaacuteti-cos a aacutereas geograacuteficas contiacuteguas Com efeito tudo aponta para que as reali-dades agora identificadas no setor setentrional da Serra do Caramulo se esten-dam pelas aacutereas adjacentes e possam mesmo conformar-se como um traccedilo cultural comum a todo o territoacuterio de LafotildeesComo eacute oacutebvio as observaccedilotildees que se apresentam de seguida constituem-se apenas como primeiros apontamentos resultantes da inspeccedilatildeo superficial de monumentos que com exceccedilatildeo da anta da Lapa da Meruje (Carvalho 2018) natildeo estatildeo a ser objeto de qualquer intervenccedilatildeo arqueoloacutegica intrusiva Este texto reveste-se portanto de um caraacuteter preliminar No entanto eacute hoje possiacutevel con-tabilizar 114 monumentos (sete dos quais destruiacutedos no uacuteltimo meio seacuteculo) distribuiacutedos entre o Neoliacutetico Meacutedio (iniacutecios do IV mileacutenio aC) e o final da Idade do Bronze (seacuteculos XII-VIII aC) Daquele total 75 satildeo completamente ineacuteditos o que corresponde a um aumento de quase 200 face ao inventaacuterio disponiacutevel antes do arranque do projeto Apesar de natildeo escavados esta densidade de monumentos na paisagem vouzelense confere alguma solidez ao seu tratamen-to integrado e permite mesmo a utilizaccedilatildeo do modelo resultante deste exerciacutecio

42 |

como um case-study para outros setores da Beira AltaDe uma forma geral os monumentos podem ser ordenados tendo como base dois indicadores principais a sua arquitetura e a respetiva localizaccedilatildeodis-tribuiccedilatildeo geograacutefica Eacute seguro afirmar que existem monumentos muito diferentes nas suas com-posiccedilotildees arquitetoacutenicas diferenccedilas que deveratildeo corresponder a soluccedilotildees funeraacuterias diferenciadas (Quadro 1) Os paralelos existentes na Beira Alta per-mitem distinguir sepulcros de inumaccedilatildeo coletivos e individuais e sepulcros de incineraccedilatildeo Os monumentos de inumaccedilatildeo coletiva corresponderatildeo aos grandes monumentos do Neoliacutetico e os de inumaccedilatildeo individual (em cista) faratildeo parte de um novo paradigma da Morte que se teraacute generalizado na Idade do Bronze mas cujo iniacutecio poderaacute remontar ao periacuteodo calcoliacutetico anterior Por uacuteltimo os mo- numentos de incineraccedilatildeo deveratildeo datar dos finais da Idade do Bronze e satildeo de pequena dimensatildeo apresentando-se pouco expressivos no terreno

Quadro 1 - Siacutentese das manifestaccedilotildees tumulares preacute e proto-histoacutericas do concelho de Vouzela

| 43

| 2018

Figura 2 A - Mamoa 1 do Rebordinho (Necroacutepole de Campia) vista de poente no centro da imagem (cortada pelo caminho) B - afloramento monumentalizado de Vale drsquoAnta (Fornelo do Monte) no centro da imagem em frente das infraestruturas do parque eoacutelico local notando-se a cintura monticular em torno do afloramento C e D - Mamoa 2 de Valampra Urgueira vista de oeste e pormenor do topo dos esteios da cista E - vista geral das Mamoas 19 e 20 de Albitelhe que se salientam pela pre-senccedila de blocos de quartzo branco F - Monumento 1 de Morroloba notando-se em primeiro plano o anel liacutetico que delimita a mamoa e no horizonte a Serra da Estrela

44 |

221 NeoliacuteticoOs monumentos neoliacuteticos caracterizam-se em termos arquitetoacutenicos pe-los grandes tumuli ou mamoas algumas com diacircmetros superiores a 20 m e aneacuteis peacutetreos exteriores que incorporam doacutelmens simples ou de corredor Estas grandes mamoas satildeo constituiacutedas por camadas de terra e pedra que lhes con-ferem uma elevada robustez mdash como se pode verificar no corte da Mamoa 1 de Rebordinho (Fig 2 A) mdash a que acresce o facto de poderem conter contrafortes como jaacute documentado na Lapa da Meruje (Carvalho 2018) e terem sido reves-tidas por carapaccedilas ou couraccedilas peacutetreas A observaccedilatildeo das estruturas internas de alguns monumentos permite conside- rar a existecircncia de pelo menos dois subtipos de doacutelmenes simples as cacircmaras poligonais com nove esteios (p ex Mamoa 1 de Vale drsquoAnta) algo comuns no megalitismo beiratildeo e as cacircmaras simples de planta sub-retangular (p ex Ma-moa 1 do Salgueiral) bastante mais raras e muito mal estudadas Deste uacuteltimo caso eacute exemplo a Pedra da Moura 5 em Sever do Vouga (Carvalho 2013) Por seu lado os doacutelmens complexos satildeo compostos por cacircmaras poligonais corre-dores de acesso e toda a complexidade de estruturas adjacentes a estes uacuteltimos (aacutetrios corredores intratumulares) Deve referir-se que existe um conjunto consideraacutevel de tumuli de menor tama- nho de difiacutecil caracterizaccedilatildeo cronoloacutegica mas que poderatildeo ser neoliacuteticos com diacircmetros em torno dos 10 m e alturas que natildeo atingem 1 m Estes tumuli que tanto se encontram englobados em necroacutepoles megaliacuteticas (p ex Mamoa 2 da Malhada do Cambarinho) como em necroacutepoles de pequenas mamoas (p ex Levides) podem encerrar por vezes pequenos doacutelmens de corredor (eacute o caso da Mamoa 2 do Marco da Mata e da Mamoa 2 da Malhada de Cambarinho) Um dos dados mais importantes deste trabalho foi o reconhecimento de um novo tipo de siacutetio que natildeo se integra na categoria dos monumentos funeraacuterios megaliacuteticos Agrave falta de melhor denominaccedilatildeo sugere-se a designaccedilatildeo de ldquoaflo-ramento monumentalizadordquo (Fig 2 B) Efetivamente associados agraves necroacutepoles da Malhada do Cambarinho e do Vale drsquoAnta foram identificados afloramentos rochosos bem destacados envoltos numa estrutura de tipo tumulus em tudo semelhante agrave dos monumentos funeraacuterios Estas cinturas monticulares satildeo mais baixas que os afloramentos centrais natildeo parecendo ter sido edificadas por forma a cobri-los parecendo antes terem visado a criaccedilatildeo de um ambiente ce-nograacutefico muito proacuteprio O primeiro siacutetio apresenta tambeacutem um anel liacutetico exteri-or Natildeo foram ainda intervencionados mas a sua localizaccedilatildeo junto a necroacutepoles megaliacuteticas permite colocar a hipoacutetese de uma correlaccedilatildeo cronoloacutegica e logo funcional entre ambas as realidades No caso do afloramento monumentalizado da Malhada do Cambarinho existe um conjunto de fossetes distribuiacutedas pela

| 45

| 2018

estrutura central e pelos blocos do anel liacutetico exterior no exemplar do Vale drsquoAnta haacute tambeacutem trecircs fossetes no afloramento central Todos estes dados sugerem a presenccedila de um tipo de monumento provavelmente votivo associado a rituais estruturados e relacionados com os monumentos funeraacuterios vizinhos O parale-lo mais proacuteximo formalmente parece ser o siacutetio da Pedra Encavalada (Abrantes) onde num primeiro momento (V mileacutenio aC) se aproveitou um grande aflo-ramento em gnaisse para a construccedilatildeo de uma cacircmara simples de inumaccedilatildeo individual e de um recinto com 10 m de diacircmetro tendo sido depois (V-IV mileacutenio aC) construiacuteda uma mamoa peacutetrea que cobria nove fossas de enterramento individual dispostas em torno daquele afloramento (Cruz 2016)Em termos de implantaccedilatildeo um aspeto arquitetoacutenico recorrente nos monumen-tos neoliacuteticos eacute a inserccedilatildeo ou aproveitamento de afloramentos rochosos nas mamoas Se de facto este pode ateacute nem ser um fator ineacutedito no megalitismo regional ele natildeo eacute no entanto muito comum Contudo assume em Vouzela uma expressatildeo significativa ao ponto de se tornar quase uma norma em algu-mas necroacutepoles como eacute o caso do Vale drsquoAnta Estas necroacutepoles satildeo por regra formadas por pequenos nuacutecleos de dois ou trecircs monumentos mdash eacute o caso das necroacutepoles da Malhada do Cambarinho Marco da Mata e Vale drsquoAnta mdash ou sur-gem isoladamente mdash doacutelmenes de Adside Mamoa do Cabo das Moutas e Lapa da Meruje mdash em planaltos rechatildes ou pequenos vales de montanha Um aspeto interessante eacute o facto de algumas se encontrarem junto a nascentes ou aacutereas alagadiccedilas como acontece respetivamente com a necroacutepole da Malhada do Cambarinho (junto ao Rio Alfusqueiro) ou com a Lapa da Meruje222 Calcoliacutetico e Idade do BronzeUm tipo particular de monumento com apenas um exemplar identificado mdash a Mamoa 2 de Valampra Urgueira (Fig 2 C-D) mdash caracteriza-se por apresentar uma uacutenica estrutura cistoide na aacuterea central do tumulus Trata-se de uma soluccedilatildeo tumular rara para inumaccedilatildeo individual O paralelo mais evidente e geograficamente proacuteximo pode ser encontrado na Sepultura do Rei em Se- ver do Vouga (Carvalho 2013 Marques e Marques 2013) mas haacute registos similares noutros setores da Beira Alta mdash por exemplo nas cistas de Vale da Casa em Vila Nova de Foz Cocirca (Cruz 1998) ou dos Lenteiros em Vila Nova de Paiva (Cruz 2001) mdash que foram datadas do Calcoliacutetico e da Idade do Bronze respetivamente Soacute a escavaccedilatildeo de algumas destas mamoas vouzelenses poderaacute esclarecer a cronologia deste tipo de monumentos na regiatildeoNa fase final na Idade do Bronze proliferaratildeo os pequenos tumuli com diacircme- tros que variam nos 4-10 m de diacircmetro e com uma altura de 02-05 m portanto muito pouco visiacuteveis na paisagem Na construccedilatildeo de alguns recor-

46 |

reu-se agrave utilizaccedilatildeo de elementos em quartzo nas mamoas certamente para os evidenciar Este eacute o caso por exemplo dos monumentos da necroacutepole de Albitelhe cujas mamoas 19 e 20 incluem tambeacutem pequenas lajes em xisto cinzento luzente certamente para as tornar ainda mais visiacuteveis e brilhantes (Fig 2 E) Um grande nuacutemero destes tumuli apresenta aneacuteis peacutetreos de con-tenccedilatildeodelimitaccedilatildeo perifeacuterica mas o aspeto construtivo mais comum seraacute o envolvimento de afloramentos rochosos nas suas estruturas monticulares Alguns apresentam tambeacutem estruturas anexas agraves mamoas Eacute o exemplo das Mamoas 2 e 5 de Levides onde encostadas ao rebordo Este dos tumuli se encontram pequenos montiacuteculos com diacircmetros em torno dos 2 m cuja fun-cionalidade soacute poderaacute ser esclarecida atraveacutes da sua escavaccedilatildeo O achado de um fragmento ceracircmico de tipo BaiotildeesSanta Luzia na super-fiacutecie do que restava da Mamoa 12 das Almas do Capitatildeo eacute um elemento importante para a atribuiccedilatildeo destes tuacutemulos ao final da Idade do Bronze Estes monumentos vouzelenses deveratildeo ser assim interpretados agrave luz do que tem sido proposto para siacutetios similares da Beira Alta onde se admite que estes cairns ldquoteratildeo sido utilizados para guardar resiacuteduos eventualmente de incineraccedilotildees ocorridas em pira crematoacuteria das imediaccedilotildees estes seriam de-positados nos recetaacuteculos centrais neste caso definidos por singelas lajes e blocosrdquo (Cruz e Vilaccedila 1999 p 155)No acircmbito destes monumentos deve assinalar-se um interessantiacutessimo caso na vertente Este do Caramulo sobranceiro ao planalto beiratildeo (sobre o qual tem aliaacutes uma visibilidade iacutempar) e com a Serra da Estrela no horizonte trata-se do Monumento 1 da Morroloba (Fig 2 F) primeiramente identifica-do por Caninas et al (2004) O montiacuteculo tem cerca de 9 m de diacircmetro e exibe um anel liacutetico com cerca de 6 m de diacircmetro definido por pequenas lajes de granito fincadas verticalmente O enchimento eacute constituiacutedo por blo-cos de granito e de quartzo leitoso estes de menores dimensotildees Embora se encontre parcialmente violado natildeo restam duacutevidas de que se insere no mesmo contexto cronoloacutegico-cultural da Lameira da Travessa dos Lobos em Castro Daire (Vilaccedila 2017 Vilaccedila et al 2017) As semelhanccedilas arquitetoacuteni-cas entre ambos satildeo impressionantes natildeo tendo apenas sido possiacutevel de-terminar se as lajes do monumento vouzelense por estarem quase totalmente enterradas se encontraratildeo tambeacutem gravadas com temas abstratos Os numerosos monumentos da Idade do Bronze parecem obedecer a dois ti-pos de implantaccedilatildeo Se por um lado satildeo construiacutedos nas imediaccedilotildees das necroacutepoles neoliacuteticas satelitizando as grandes mamoas mdash havendo hoje da-dos que apontam tambeacutem para a ocasional realizaccedilatildeo de tumulaccedilotildees no interior dos doacutelmenes como no caso da Lapa da Meruje (Carvalho 2018) mdash

| 47

| 2018

por outro tendem tambeacutem a agrupar-se em amplas necroacutepoles localizadas em pequenas cumeadas e esplanadas de vertentes sobranceiras a vales feacuterteis e bem irrigados em particular nas que se encontram voltadas para os rios Alfusqueiro (p ex Almas do Capitatildeo Vale de Espinho Levides) e Alcofra (p ex Albitelhe Lousa e Tapadinho) A distribuiccedilatildeo das mamoas do Tapadi- nho ao longo da vertente eacute um excelente exemplo de tipo de implantaccedilatildeo des-tas necroacutepoles (Fig 3) Esta dicotomia significa que em algum momento houve um movimento de necropolizaccedilatildeo de novos espaccedilos na paisagem Aquela proli- feraccedilatildeo de pequenos monumentos ao longo dos referidos rios em nuacutemero de 61 tumuli eacute sem duacutevida o exemplo mais flagrante de uma realidade que urge estu-dar uma vez que esta se constitui como uma das maiores concentraccedilotildees deste tipo de estruturas funeraacuteriasrituais da Idade do Bronze de toda a Beira Alta

3 CONCLUSAtildeO LINHAS DE INVESTIGACcedilAtildeO FUTURAComo referido no iniacutecio o objetivo deste texto eacute uma primeira apresentaccedilatildeo dos dados receacutem-obtidos na prospeccedilatildeo extensiva realizada no municiacutepio de Vouze-la em 2017-2018 isto eacute apoacutes os incecircndios florestais de outubro de 2017 Neste momento os dados de terreno estatildeo ainda a ser objeto de tratamen-to Porque apenas a Lapa da Meruje foi escavada (Carvalho 2018) as con-

Figura 3 Localizaccedilatildeo das mamoas 1 a 6 da Necroacutepole do Tapadinho (Campia) e do castro do Cabeccedilo do Couccedilo (Bronze Final e Idade do Ferro) sobre extrato da Carta Mi- litar de Portugal nordm 187 Atente-se na localizaccedilatildeo de todo este complexo arqueoloacutegi-co sobranceiro ao Rio Alcofra

48 |

clusotildees que se podem retirar destas inspeccedilotildees de terreno mdash ou seja sem qualquer trabalho intrusivo mdash seratildeo certamente alteradas agrave medida que se possam vir a escavar alguns monumentos sob tumuli agora identificadosDe todo o modo os dados satildeo jaacute suficientemente robustos para abordar a tipologia destes monumentos propor cronologias relativas com base em paralelos regionais e abordar as distintas espacialidades que este exerciacutecio permite inferirPerante o desconhecimento de contextos habitacionais neoliacuteticos mdash ateacute ao momento apenas na Casa da Moura do Vale da Redonda (Tente e Carvalho 2017) e sob a mamoa da Lapa da Meruje (Carvalho 2018) foram identifica-dos com as devidas reservas contextos que poderatildeo ser deste tipo mdash os potenciais fatores subjacentes agrave localizaccedilatildeo das necroacutepoles deste periacuteodo satildeo presentemente inuacutemeros Soacute uma anaacutelise mais fina dos padrotildees loca-tivos destes megaacutelitos e o contexto socioeconoacutemico e ideoloacutegico dos seus construtores poderaacute revelar as hipoacuteteses interpretativas mais verosiacutemeisAo Calcoliacutetico parecem neste momento da investigaccedilatildeo ser de atribuir mui-to poucos monumentos Eacute provaacutevel que a maior parte das tumulaccedilotildees ocor-ridas nesta eacutepoca tenham tido lugar em doacutelmenes neoliacuteticos preexistentes agrave imagem aliaacutes do que parece ser o padratildeo na restantes regiatildeo beiratilde (p ex Cruz 2001 Senna-Martinez e Ventura 2008) A grande mudanccedila nos paradigmas da gestatildeo da Morte e consequente-mente nas suas manifestaccedilotildees materiais parece ter lugar apenas na Idade do Bronze e em particular na sua fase final Para a Beira Alta dispotildee-se de importantes paralelos formais (ver acima) que ilustram natildeo apenas as soluccedilotildees arquitetoacutenicas agora recorrentes (Quadro 1) como tambeacutem as praacuteticas e rituais que lhes estariam associadas No caso concreto de Lafotildees deve notar-se que estes monumentos deveratildeo ter sido construiacutedos pelas co-munidades que habitariam nos vaacuterios povoados fortificados por vezes exis-tentes nas suas proximidades cujo tratamento ultrapassa os objetivos deste texto No entanto esta correlaccedilatildeo espacial pode ser observada a tiacutetulo de exemplo entre a necroacutepole do Tapadinho e o castro do Cabeccedilo do Couto (Fig 3) onde as sondagens realizadas em 1997 revelaram ocupaccedilotildees do Bronze Final e da Idade do Ferro (Marques 1999)Com a conclusatildeo do projeto no quadro do qual estes trabalhos de prospeccedilatildeo tiveram lugar (Real et al 2017) ir-se-aacute avanccedilar com um modelo interpreta-tivo destas realidades sob tumuli do municiacutepio de Vouzela por forma a pro- videnciar um corpo estruturado de dados de terreno que se constitua como um soacutelido case-study que possa assim orientar a proacutepria investigaccedilatildeo na regiatildeo de Lafotildees e de um modo geral em toda a Beira Alta

| 49

| 2018

NOTA FINAL E AGRADECIMENTOSDeve ser aqui feita menccedilatildeo ao facto de todo o trabalho de campo de que resul-tou este trabalho ter sido suportado pela Cacircmara Municipal de Vouzela o que se deve ao dinamismo e entusiasmo com que o seu Presidente o Sr Engordm Rui Ladeira tem promovido o estudo e a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio histoacuterico-cultural do seu concelho Agradecemos tambeacutem a Daniel de Melo Branco e Luiacutes Andreacute Pereira toda a colaboraccedilatildeo prestada durante estes trabalhos

BIBLIOGRAFIABOSCH-GIMPERA P (1966) - Cultura megaliacutetica portuguesa y culturas espantildeolas Revista de Guimaratildees 76 3-4 p 249-306CANINAS JC HENRIQUES F SABROSA A CANHA A CHAMBINO M (2004) - Estudo de in-cidecircncias ambientais do Parque Eoacutelico da Bezerreira - Serra do Caramulo e interligaccedilatildeo eleacutec-trica ao Parque Eoacutelico de Fornelo do Monte (Oliveira de Frades Vouzela e Tondela Relatoacuterio de prospeccedilatildeo policopiadoCARDOSO JL (1999) - Monumentos megaliacuteticos do concelho de Vouzela Vouzela estudos histoacutericos Lisboa Academia Portuguesa da Histoacuteria p 169-208CARVALHO AF (2018) - Anta da Lapa da Meruje (Vouzela Portugal) Resultados preliminares dos trabalhos em curso In SENNA-MARTIacuteNEZ JC DINIZ M CARVALHO AF eds - De Gibral-tar aos Pireneacuteus Megalitismo vida e morte na fachada atlacircntica peninsular Nelas Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo neste volumeCARVALHO PMS (2013) - Preacute-Histoacuteria os senhores das montanhas Genius loci O espiacuterito do lugar Sever do Vouga Cacircmara Municipal de Sever do Vouga p 42-65CARVALHO PMS GOMES LFC COIMBRA AMM (1993) - Casa da Orca da Malhada de Cambarinho (Vouzela distrito de Viseu) Estudos Preacute-Histoacutericos 1 p 97-103CASTRO LA FERREIRA OV VIANA A (1956) - Acerca dos monumentos megaliacuteticos da Bacia do Vouga XXIII Congresso Luso-Espanhol 7ordf Secccedilatildeo Ciecircncias Histoacutericas e Filoloacutegicas VIII Coimbra Associaccedilatildeo Portuguesa para o Progresso das Ciecircncias p 471-481CASTRO LA FERREIRA OV VIANA A (1957) - O doacutelmen pintado de Antelas (Oliveira de Frades) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal XXXVIII II p 325-348CRUZ AR (2016) - Pedra Encavalada (Abrantes Portugal) um monumento que justapocircs a singularidade e a mudanccedila Almadan On-Line II Seacuterie 211 p 34-44CRUZ DJ (1998) - Expressotildees funeraacuterias e cultuais no Norte da Beira Alta (V-II mileacutenios aC) A Preacute-Histoacuteria na Beira Interior Viseu Centro de Estudos Preacute-Histoacutericos da Beira Alta (Estudos Preacute-Histoacutericos 6) p 149-166CRUZ DJ (2001) - O Alto Paiva Megalitismo diversidade tumular e praacuteticas rituais durante a Preacute-Histoacuteria recente Coimbra Universidade de Coimbra (Dissertaccedilatildeo de Doutoramento policopiada)CRUZ DJ VILACcedilA R (1999) - O grupo de tumuli da Senhora da Ouvida (Monteiras Castro Daire Viseu) Resultado dos trabalhos arqueoloacutegicos Estudos Preacute-Histoacutericos VII p 129-161FERREIRA AB (1978) - Planaltos e montanhas do Norte da Beira Estudo de Geomorfologia Lisboa Centro de Estudos Geograacuteficos (Memoacuterias 4)GIRAtildeO AA (1921) - Antiguidades preacute-histoacutericas de Lafotildees Contribuiccedilatildeo para o estudo da

50 |

arqueologia portuguesa Coimbra Imprensa da UniversidadeLEISNER V (1998) - Die megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Die Westen Berlin Walter de GruyterMARQUES FT MARQUES M F P (2013) - Museu do Passado Ecomusealizaccedilatildeo da pais-agem A Sepultura do Rei Relatoacuterio policopiadoMARQUES JAM (1999) - Carta arqueoloacutegica do concelho de Vouzela Vouzela Cacircmara Mu-nicipal de VouzelaMOITA IN (1966) - Caracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Alta Ethnos V p 189-297REAL ML CARVALHO AF TENTE C (2017) - Projeto de estudo do patrimoacutenio histoacuterico- -arqueoloacutegico de Vouzela (Viseu) objetivos e primeiros resultados II Congresso da Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses Arqueologia em Portugal 2017 - Estado da questatildeo Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 113-123SENNA-MARTINEZ JC VENTURA JMQ (2008) - Neolitizaccedilatildeo e Megalitismo na plataforma do Mondego algumas reflexotildees sobre a transiccedilatildeo Neoliacutetico Antigo Neoliacutetico Meacutedio IV Con-greso del Neoliacutetico Peninsular II Alicante Museo Arqueoloacutegico de Alicante p 77-84TENTE C CARVALHO AF (2018) - Casa dos Mouros de Vale do Redondo (Vasconha Quei- ratilde concelho de Vouzela) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo policopiadoVILACcedilA R (2017) - Da morte e seus rituais em finais da Idade do Bronze no Centro de Portu-gal 20 anos de investigaccedilatildeo Atas da Mesa-Redonda ldquoA Preacute-Histoacuteria e a Proto-Histoacuteria no cen-tro de Portugal avaliaccedilatildeo e perspectivas de futurordquo Viseu Centro de Estudos Preacute-histoacutericos da Beira Alta (Estudos Preacute-Histoacutericos XVII) p 101-133VILACcedilA R CRUZ DJ (1999) - Praacuteticas funeraacuterias e cultuais dos finais da Idade do Bronze na Beira Alta Arqueologia 24 p 73-99VILACcedilA R CRUZ DJ SANTOS AT MARQUES JN (2017) - Encenar a morte ritualizar o espaccedilo o monumento da Travessa da Lameira de Lobos (Castro Daire Viseu Portugal) In ADROIT S GRAELLS R eds - Arquitecturas funerarias y memoria La gestioacuten de las necroacutepolis en Europa occidental (ss X-III aC) Osanna Edizioni (Archeologia Nuova Serie 4) p 129-141

| 51

| 2018

Nuacutecleo Megaliacutetico dos Fiais-Azenha (Carregal do Sal Portugal) um balanccedilo

The Megalithic Cluster of Fiais-Azenha (Carregal do Sal Portugal) State of the question

RESUMOApresenta-se aqui um balanccedilo de 33 anos de investigaccedilatildeo arqueoloacutegica na plataforma do Mondego em especial no concelho de Carregal do SalUm dos aspetos mais marcantes foi sem duacutevida o reconhecimento da existecircncia de uma ocupaccedilatildeo do Neoliacutetico antigo bem como a relaccedilatildeo entre estas primei-ras comunidades a sua evoluccedilatildeo e posteriormente o arranque do fenoacutemeno megaliacutetico na regiatildeoJulgamos que estas comunidades desenvolveram formas de subsistecircncia e de apropriaccedilatildeo do territoacuterio que foram cristalizadas no planeamento construccedilatildeo e orientaccedilatildeo dos sepulcros megaliacuteticos da plataformaEsta inter-relaccedilatildeo iraacute manter-se bem ateacute momentos mais tardios jaacute integraacuteveis na Idade do Bronze regionalPALAVRAS-CHAVE Neoliacutetico antigo Neoliacutetico meacutedio Neoliacutetico final Megalitis-mo Beira Alta

ABSTRACTWe present here a balance of 33 years of archaeological research on the Mondego platform especially in the municipality of Carregal do SalOne of the most striking aspects was undoubtedly the recogni-tion of the existence of an occupation from the ancient Neolithic period as well as the relation between these early communities their evolution and later the megalithic phenomenon in the regionWe believe that these communities developed forms of subsistence and appropriation of the territory which were crystallized in the planning construction and orientation of the megalithic tombs of the platformThis interrelationship will continue until later times in communities of the regional Bronze AgeKEY WORDS Early Neolithic Middle Neolithic Late Neolithic Mega-lithism Beira Alta

Joseacute Manuel Quintatilde Ventura1

1Licenciado em Histoacuteria e em Histoacuteria variante de Arqueologia pela FLUL Mestrado em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia FLUL Investigador do NeoMega e colaborador da UNIARQ FLUL Av Dr Joseacute Pontes n45 8ordmEsq Venteira 2720-205 Amadora PORTUGAL

52 |

Passado o periacuteodo pioneiro de Joseacute Leite de Vasconcelos nesta regiatildeo muito por accedilatildeo do seu empregado Maximiano Apolinaacuterio seraacute soacute nos anos sessen-ta do seacuteculo passado com Irisalva Moita (MOITA 1966) que os monumentos megaliacuteticos da plataforma do Mondego seratildeo revisitados mas mais uma vez numa situaccedilatildeo episoacutedicaA partir de 1985 primeiro com um reconhecimento mas seguido em 1986 por um conjunto de trabalhos arqueoloacutegicos teve iniacutecio uma dinacircmica de investi-gaccedilatildeo que persiste ateacute agrave atualidadeSe num primeiro momento o estudo se concentrou nos monumentos megaliacuteti-cos entatildeo existentes eou redescobertos pelos trabalhos de 1985 correspon-dendo a um grande monumento (Lapa da Moura ou Orca dos Fiais da Telha) jaacute identificado e outro redescoberto depressa a dinacircmica da investigaccedilatildeo ar-queoloacutegica foi permitindo a identificaccedilatildeo de outros arqueossiacutetios envolvendo abrigos habitats e gravuras rupestresNa realidade um dos aspetos mais marcantes desta investigaccedilatildeo foi o reconhe-cimento da existecircncia de um Nuacutecleo Megaliacutetico numa aacuterea associada ao Mon-dego bem como a existecircncia de um Neoliacutetico Antigo regional (SENNA-MARTINEZ amp VENTURA 2000b)

O TERRITOacuteRIOA nossa zona preferencial de estudo eacute a plataforma do Mondego aacuterea aplana-da rasgada pelo vale do Mondego e limitada a norte pelo vale encaixado do rio Datildeo e caracterizada a niacutevel geomorfoloacutegico maioritariamente por granitos ainda que esporadicamente estes sejam atravessados por filotildees quartzosos O granito surge nas suas variedades de monozoniacutetico de duas micas e biotiacutetico de gratildeo meacutedio a fino Os depoacutesitos quaternaacuterios de cobertura satildeo formados por argilas e arcoses diversas (TEIXEIRA 19618-9) de fraca potecircncia reduzidos a escassas manchas na envolvecircncia imediata do siacutetio arqueoloacutegico em questatildeo A zona em questatildeo abrange grosso modo os atuais concelhos de Carregal do Sal e Nelas ainda que as mesmas caracteriacutesticas se possam aplicar aos conce- lhos vizinhos a norte do Datildeo bem como a sul do Mondego DOS PEQUENOS MONUMENTOS AOS GRANDES COM UMA PASSAGEM PELOS PRIMEIROS POVOADORESPor volta dos iniacutecios do V mileacutenio cal aC o som dos primeiros rebanhos a subi- rem as vertentes da plataforma do meacutedio e alto Mondego constitui o primeiro indicador das profundas alteraccedilotildees que iratildeo ocorrer nos mileacutenios seguintes transformando a paisagem de uma aacuterea de onde ateacute entatildeo a presenccedila hu-mana estava mais ou menos arredada ndash apesar de ter sido possiacutevel a incursatildeo

| 53

| 2018

de grupos do Paleoliacutetico superior por zonas das Beiras ao longo das bacias hidrograacuteficas mais importantes como os dados de Foz Coa e do Prazo (MON-TEIRO-RODRIGUES 2010) podem comprovarO reconhecimento da existecircncia de um Neoliacutetico antigo no interior da Peniacutensula inicia-se nos finais dos anos 80 do seacuteculo passado nomeadamente na Meseta mas tambeacutem no nordeste portuguecircs onde foram surgindo arqueossiacutetios inte-graacuteveis neste momento cronoloacutegico e datados dos iniacutecios do V mileacutenio cal aC no caso do niacutevel 4 do abrigo do Buraco da Pala (SANCHES 1997) Na Beira Alta nomeadamente na Plataforma do Mondego a primeira identifi-caccedilatildeo de um siacutetio arqueoloacutegico integraacutevel naquela etapa crono-cultural ocorre em 1991 com a descoberta do siacutetio das Carriceiras (SENNA-MARTINEZ amp ESTE-VINHA 1994) Nos anos seguintes vatildeo surgindo materiais atribuiacuteveis ao Neoliacutetico antigo remo-bilizados em duas mamoas do Nuacutecleo Megaliacutetico do Ameal-Azenha bem como a identificaccedilatildeo de cabanas sob a Orca do Folhadal (SENNA-MARTINEZ amp VENTU-RA 1999b) consubstanciando os dados anteriores Mas estas descobertas satildeo seguidas de outras que neste momento ascendem a cerca de uma dezena de siacutetios conhecidos ateacute agora na Plataforma do Mon-dego quatro siacutetios de habitat abertos (Folhadal Outeiro dos Castelos de Beijoacutes Quinta da Assentada e Quinta das Rosas) duas oficinas de talhe (Carriceiras e Quinta do Soito) duas ocupaccedilotildees em abrigo (Penedo da Penha 1 e Buraco da Moura de S Romatildeo) trecircs situaccedilotildees estratigraacuteficas de palimpsesto com materi-ais remobilizados em terras de mamoas pertencentes a monumentos megaliacuteti-cos de primeira fase (Orca 2 do Ameal Orca 2 de Oliveira do Conde e Orca do Folhadal)No estado atual dos nossos conhecimentos o povoamento associado ao Neoliacuteti-co antigo parece escolher locais abertos sem condiccedilotildees especiais de controlo da paisagem e muito menos defensivas localizados preferencialmente em ver-tentes suaves ou rechatildes com boa exposiccedilatildeo a nascente ou ainda em abrigos sob penedos graniacuteticos que no caso do Complexo 1 do Penedo da Penha tam-beacutem abre a nascente A detecccedilatildeo de remobilizaccedilotildees de materiais atribuiacuteveis ao Neoliacutetico antigo em ter-ras das mamoas de monumentos megaliacuteticos (casos da Orca 2 do Ameal Orca 2 de Oliveira do Conde e Folhadal mas agraves quais se podem associar monumen-tos como a Orca de Travanca) simultaneamente com a identificaccedilatildeo do Habitat do Folhadal indiciam localizaccedilotildees coincidentes de habitats na proximidade de locais onde futuramente se desenvolveraacute a implantaccedilatildeo de necroacutepoles megaliacuteti-cas Julgamos que natildeo se trata de uma singular coincidecircncia mas antes que a implantaccedilatildeo dos primeiros monumentos megaliacuteticos na regiatildeo ndash reconheccedila-se

54 |

a singularidade desta situaccedilatildeo que ateacute ao momento natildeo foi reconhecida em nenhuma outra regiatildeo ndash vem legitimar tanto pela dupla presenccedila proacutexima dos antepassados como pela construccedilatildeo de espaccedilos formais de deposiccedilatildeo dos mortos a hipoacutetese da reocupaccedilatildeo sazonal dos territoacuterios de invernia situados nas terras ldquobaixasrdquo da Plataforma do Mondego por parte de comunidades que cada vez mais julgamos ocuparem as terras altas da Serra da Estrela durante a primavera e o veratildeoComo resultanotdo do estudo palinoloacutegico de uma seacuterie de sondagens efetuadas nas deacutecadas de oitenta e noventa nas turfeiras da Serra da Estrela (cf KNAAP amp LEEUWEN 1994) eacute hoje possiacutevel ler a evoluccedilatildeo holoceacutenica do respetivo cober-to vegetal como a sucessatildeo de uma seacuterie de episoacutedios de degradaccedilatildeo cuja cau-sa mais plausiacutevel parece ter sido a intervenccedilatildeo antroacutepica provavelmente atra- veacutes do pastoreio (revelada nomeadamente por indiacutecios de desflorestaccedilotildees por incecircndio sem consequente regeneraccedilatildeo integral da floresta Idem)Pelos dados cronomeacutetricos pode-se atribuir uma cronologia de segunda meta-de do V mileacutenio cal AC2 para um primeiro episoacutedio de desflorestaccedilatildeo (KNAAP amp JANSSEN 1991) que podem consubstanciar uma do Neoliacutetico antigo regio- nal no que satildeo coevas com as cronometrias radio-carboacutenicas disponiacuteveis para etapas similares da Serra da Freita (CORDEIRO 1992) Galiza (RAMIL REGO SOBRINO amp GOacuteMEZ-ORELLANA 2001) as ocupaccedilotildees do Buraco da Pala da Fraga drsquoAia e do Prazo (SANCHES 1997 RODRIGUES 2000) e com os conjun-tos de datas da Estremadura (SIMOtildeES 1999) Sul de Portugal (SIMOtildeES 1999 e DINIZ 2001) e Meseta Norte (ESTREMERA PORTELA 2003 ROJO GUERRA amp ESTREMERA PORTELA 2000)As formas de subsistecircncia destas comunidades neoliacuteticas na plataforma do Mondego tecircm levantado vaacuterias questotildees nomeadamente pela falta de elemen-tos diretos que nos permitam recriar a ldquopaisagem neoliacuteticardquo em especial se em comparaccedilatildeo com outras aacutereas mais a sul natildeo parece ter-se verificado uma ocupaccedilatildeo agriacutecola do espaccedilo dadas as caracteriacutesticas dos solos e o quadro hoje disponiacutevel para realidades posteriores a partir do Neoliacutetico Final (SENNA-MARTI-NEZ 19951996 SENNA-MARTINEZ amp VENTURA 2000a amp 2000b)Poreacutem se analisarmos os dados das turfeiras da Serra da Estrela na longa du-raccedilatildeo tudo parece indiciar uma relativa manutenccedilatildeo da floresta densa de Quer-cus sp3 sem grande evidecircncia de desbaste (cf KNAAP amp LEEUWEN 1994) numa dinacircmica algo diferente do que parece ocorrer em outras aacutereas onde o ritmo de degradaccedilatildeo da cobertura original de Quercus parece ser superior (FERNAacuteNDEZ RODRIacuteGUEZ amp RAMIL REGO 1994) Para o caso da Galiza temos um marcador para estes acontecimentos entre 5400 a 3000 BP onde ocorre uma laquoregressatildeo paulatina do bosque de Quercusraquo 2 Esta cronologia resulta da calibragem das datas obtidas por aqueles investigadores como termini post quem para os pri-meiros episoacutedios como tal interpretados nos perfis da Candeeira (C10D1 - 5730 100 BP = 4802-4354 cal AC) e da Lagoa das Salgadeiras (45 - 5700 60 BP = 4713-4369 cal AC) cf KNAAP amp JANSSEN 1991

| 55

| 2018

(cf GUITIAN RAMIL-REGO GOacuteMEZ-ORELLANA E SOBRINO 1996 RAMIL REGO SOBRINO amp GOacuteMEZ-ORELLANA 2001) Se a esta regressatildeo satildeo normalmente associados fenoacutemenos de erosatildeo e accedilatildeo antroacutepica mas sendo a regressatildeo con-tiacutenua ao longo do processo com os niacuteveis poliacutenicos de Quercus a regredirem de valores proacuteximos dos 80 para menos de 50 no final do espaccedilo temporal referido situaccedilatildeo que parece natildeo ser paralelizaacutevel com a situaccedilatildeo das turfeiras da Serra da EstrelaPor outro lado a relativa ausecircncia de elementos de moagem nos siacutetios conhe-cidos ndash quando comparados com arqueossiacutetios localizados mais a sul ndash bem como a fraca representaccedilatildeo (contrastando com momentos subsequentes) de instrumentos cortantes em pedra polida satildeo elementos a favor da fraca compo-nente agriacutecola nas economias regionais deste periacuteodoEm textos anteriores foi jaacute possiacutevel defender para esta aacuterea um modelo para a economia dos construtores e utilizadores dos sepulcros megaliacuteticos valorizan-do como elementos fundamentais praacuteticas de recoleccedilatildeo e torrefaccedilatildeo (bolota e outros ldquofrutos de invernordquo) caccedila e pastoriacutecia num processo de transumacircncia (SENNA-MARTINEZ 1994a 19951996 e 1996 SENNA-MARTINEZ LOacutePEZ PLAZA amp HOSKIN 1997) A manutenccedilatildeo e a pouca degradaccedilatildeo da cobertura vegetal original entre 6400-3400 cal BP (CONNOR ARAUacuteJO KNAAP amp LEEU-WEN 2012) parecem indicar que ao contraacuterio de outras aacutereas onde a floresta original eacute sistematicamente desbastada e o espaccedilo ocupado por variedades de gramiacuteneas na Beira Alta a cobertura de Quercus seria lato senso mantida e preservada pelas comunidades neoliacuteticasEste bosque de Quercus vai manter-se na longa duraccedilatildeo (6400-3400 cal BP) onde os valores de presenccedila variam entre os 65 e os 55 ao longo deste periacuteodo com pouca flutuaccedilatildeo A maior flutuaccedilatildeo ocorre nos poacutelenes de elemen-tos vegetais de menor porte estando estas flutuaccedilotildees associadas ao surgimen-to de poacutelenes e cinzas de cereais a partir de 6000 cal BP (CONNOR ARAUacuteJO KNAAP amp LEEUWEN 2012117 Fig2) mas numa percentagem iacutenfimaAteacute um certo ponto as comunidades humanas neolitizadoras da Plataforma do Mondego poderatildeo assim corresponder a sociedades de pastores caccediladores-re-colectores ndash para o que temos jaacute o estudo das pontas de projeacutetil (VENTURA amp SENNA-MARTINEZ 2003) ndash e com uma agricultura incipiente esta uacuteltima em pequenas veigas e zonas de lameiras Estas comunidades parecem desenvol- ver um padratildeo de subsisnottecircncia caracterizado pela enorme mobilidade por isso mesmo baseada em recursos tambeacutem eles moacuteveis e natildeo fixos a um espaccedilo especifico o que implica a exploraccedilatildeo de diversos tipos de territoacuterios de forma sazonalmente diferenciadaCom um valor nutricional de 509 calorias4 por cada 100 gramas a bolota sob 3Em especial as espeacutecies autoacutectones com a Q coccifera Q ilex subsp Ballota Q suber Q roacutebur Q pyrenaica Q faginea subsp faginea4Cf httpswwwyaziocomptalimentosbolota-secahtml

56 |

a forma de fruto seco ou torrado apresenta-se como um elemento de grande valor energeacutetico bem mais elevado que o trigo que apresenta valores caloacutericos de 337 por 100 gramas quando moiacutedo5Em texto recente (CARVALHO PEREIRA DUARTE amp TENTE 2017) desenvolve-se um modelo explicativo onde se apresentam diversas razotildees restritivas em como seria difiacutecil a subsistecircncia destas comunidades neoliacuteticas transumantes nas aacutereas mais altas da Serra da Estrela se os cereais como o trigo fossem um dos elementos fundamentais uma vez que a produccedilatildeo deste se encontra limitada a um maacuteximo de 800 m de altitude E de facto tendo em conta estas variaacuteveis os autores tecircm razatildeo mas apenas se o trigo for aqui o elemento primordial A mancha de Quercus na altura poderia ir ateacute aos 1200 metros de altitude e o processo de floraccedilatildeo corresponderia exatamente ao momento de ida das co-munidades para a serra (SENNA-MARTINEZ 19951996 SENNA-MARTINEZ LOacutePEZ PLAZA amp HOSKIN 1997) coincidindo o regresso com a conclusatildeo da formaccedilatildeo da bolota Na nossa perspetiva durante o V mileacutenio cal aC a pressatildeo humana sobre os espaccedilos da Beira Alta cresceu progressivamente Assim proacuteximo da charnei-ra quintoquarto mileacutenios aC as linhas de cumeada e os interfluacutevios entre os cursos de aacutegua vatildeo comeccedilar a povoar-se dos primeiros monumentos de um es-paccedilo crescentemente humanizado Vatildeo assim nascer as primeiras necroacutepoles megaliacuteticasEntendemos aqui o conceito de monumentos como o reflexo de padrotildees de identidade social que extravasam de longe o simples significado de grandeza (Mega) mas como um elemento uacutenico distinto ocupando uma posiccedilatildeo proe- minente na paisagem ou que reforccedila essa mesma paisagem Aqui os monu-mentos megaliacuteticos na nossa opiniatildeo tecircm por funccedilatildeo cristalizar um conjunto de padrotildees sociais e de os relembrar ou reconstruir para a manutenccedilatildeo da repro-duccedilatildeo social e cultural do grupo a que pertencem Assim ultrapassam a simples funccedilatildeo de aacutereas de deposiccedilatildeo formal dos mor-tos e de marcadores de um espaccedilo sacralizado sendo tambeacutem estruturas de referecircncia coletivas quase sempre localizadas em zonas onde tenham uma elevada visibilidade ainda que o monumento seja ele proacuteprio muitas vezes in-visiacutevel de uma certa distacircncia como ocorre no nuacutecleo em apreccedilo onde tudo parece indicar que os monumentos natildeo satildeo soacute locais de laquorecolharaquo e comuni-caccedilatildeotransmissatildeo de significados ndash sobre o grupo valores conceitos e os an-tepassados ndash mas tambeacutem agentes indispensaacuteveis de criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo da sociedade ndash ou seja a reproduccedilatildeo socialJaacute anteriormente tiacutenhamos descrito a nossa conceccedilatildeo dos espaccedilos frontais que comeccedilam a estar associados a monumentos megaliacuteticos mais evoluiacutedos 5 Cf httpswwwyaziocomptalimentostrigo-moidohtml

| 57

| 2018

e a sua funccedilatildeo (VENTURA 1998a) numa sociedade que se encontra em plena expansatildeo demograacutefica e territorial onde os rituais artefactos ideoteacutecnicos e os proacuteprios monumentos permitem a manutenccedilatildeo e reproduccedilatildeo desta realidadeAssim nesta perspetiva os monumentos natildeo soacute satildeo laquomeios de comunicaccedilatildeoraquo mas tambeacutem laquotutoresraquo a estabelecer e relembrar o que eacute social cultural e con-ceptualmente correto numa funccedilatildeo normativa que engloba a laquomemoacuteria coleti-varaquo e construccedilatildeo de uma paisagem culturalEsta forma de memoacuteria coletiva dos monumentos megaliacuteticos ultrapassa o conceito mais associado a mitos e conceccedilotildees fantasistas de um passado e res-petivos rituais (druiacutedicos ou natildeo) plasmando uma memoacuteria social dos constru-tores ou reutilizadores destes monumentos jaacute que cada vez mais se comeccedila entender o ciclo de vida de um monumento para aleacutem da sua primeira fase de construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo mas tambeacutem com reutilizaccedilotildees laquodesconstruccedilotildeesraquo e laquore-construccedilotildeesraquo que vatildeo muito para aleacutem da simples laquoparasitagemraquoEsta forma de prolongar o tempo de vida das memoacuterias ou tradiccedilotildees orais faz destes monumentos formas de transmissatildeo de conhecimento institucionalizado (BRADLEY 2002)Monumentalidade poderaacute ser assim uma praacutetica de estabilizar um territoacuterio de forma visual natildeo soacute para os ancestrais mas tambeacutem para as geraccedilotildees futuras como forma de laquomemoacuteria socialraquoDesta forma os monumentos megaliacuteticos correlacionam-se normalmente des-de a sua geacutenese com estrateacutegias de utilizaccedilatildeo do espaccedilo com fixaccedilatildeo sazon-al ou permanente Deste modo os mais antigos monumentos megaliacuteticos da Plataforma do Mondego quase sempre de dimensotildees modestas constituem a um tempo uma primeira monumentalizaccedilatildeo arquitetural funeraacuteria e verdadei-ras acircncoras na paisagem para populaccedilotildees que por outro lado parecem manter uma grande mobilidade sazonal (Senna-Martinez e Ventura 2008b 324)Julgamos como foi jaacute afirmado ser tambeacutem marcante a sobreposiccedilatildeo destes monumentos a espaccedilos de habitat anteriores6 numa situaccedilatildeo que julgamos agora natildeo ser coincidecircncia processo este de continuidade de um determinado grupo humano bem como de uma certa laquomanipulaccedilatildeoraquo ou laquodomesticaccedilatildeoraquo do espaccediloDesta forma ocorreraacute o que consideramos ser regionalmente uma das trans-formaccedilotildees fundamentais do Neoliacutetico meacutedio a passagem dos ldquoterritoacuterios de utilizaccedilatildeordquo a ldquoterritoacuterios de ocupaccedilatildeordquo (SENNA-MARTINEZ amp VENTURA 1999b 2000a 2000b e 2008a)Do ponto de vista arquitetural e associados a esta primeira fase do megali- tismo regional conhecemos monumentos de cacircmara poligonal sem corredor (Orcas 1 e 2 do Ameal por exemplo) monumentos de corredor curto (Orca 6Nos casos dos monumentos 2 do Ameal e 2 de Oliveira do Conde detetou-se remobilizaccedilatildeo de materiais nas terras da ma-moa materiais esses muito provavelmente provenientes das terras existentes antes da construccedilatildeo dos monumentos

58 |

1 dos Troviscos) e em alguns casos quase simboacutelico (como o caso proacuteximo da Orca de Pramelas e Orca de Santo Tisco) aos quais se pode integrar um monumento de cacircmara eventualmente megaliacutetica mas com um corredor in-tra-tumular (Orca 2 de Oliveira do Conde)Quanto agraves mamoas (nos casos em que as mesmas foram alvo de escavaccedilatildeo) estas revelam uma grande homogeneidade nas soluccedilotildees encontradas para a sua edificaccedilatildeo aos esteios normalmente cravados em fossas abertas na rocha da base e calccedilados com pedras de meacutedias dimensotildees surge adossado pelo exterior um contraforte em pedra vatilde no qual em alguns casos eacute possiacutevel distinguir diferentes etapas construtivas um enchimento (ou anel) de terras envolve o contraforte e eacute sustido por um anel exterior de pedra Deste anel exterior parte uma carapaccedila de pedras que recobria a mamoa A interrupccedilatildeo da mamoa na aacuterea frontal do monumento pode dar origem como vimos a um corredor intratumular e a um espaccedilo de aacutetrio empedradoDeste modo tambeacutem para a Beira Alta e agrave semelhanccedila do que acontece noutras aacutereas regionais peninsulares as soluccedilotildees construtivas apresentam desde cedo um marcado polimorfismo nas arquiteturasO caacutelculo das ldquomassas tumulares meacutediasrdquo efetuado para seis monumentos da Plataforma do Mondego (VENTURA 1999b Quadro 1) aponta para um valor meacutedio de 71plusmn108 m3 o que equivale a uma meacutedia de 2235plusmn44 horas de trabalho Por outro lado o mesmo caacutelculo efetuado para o peso da laje de maiores dimensotildees da estrutura megaliacutetica (normalmente a tampa da cacircmara) forneceu um valor meacutedio de 135plusmn025 t implicando a utilizaccedilatildeo de um nuacutemero meacutedio miacutenimo de 8plusmn15 indiviacuteduos para o seu arrastamento com roletes (Idem Quadro 2) Estes valores indicam que a respetiva construccedilatildeo estaria ao alcance de uma comunidade familiar alargada ou de uma pequena aldeiaO nuacutemero relativamente reduzido dos elementos de espoacutelio encontrados nos monumentos do Neoliacutetico meacutedio sobretudo se tivermos em consideraccedilatildeo o que sucede na etapa seguinte no Neoliacutetico final pode querer dizer que nem todos os elementos da comunidade aiacute encontraram a uacuteltima morada Outras das realidades identificadas na plataforma do Mondego foi o reconhe-cimento de que nesta plataforma estes monumentos tecircm como laquohorizonte organizadorraquo a Serra da Estrela acidente geograacutefico que ao longo da histoacuteria regional desempenha um papel organizador da paisagem e da vida das gen-tes do Mondego interior A partir do Neoliacutetico meacutedio esta apresentar-se-ia entatildeo como uma aacuterea im-portante do espaccedilo ocupado por estas comunidades a um tempo fonte de recursos e local de deslocaccedilatildeo sazonal obrigatoacuteria (fundamental pelos pas-

| 59

| 2018

tos de primaveraveratildeo que oferecia) e ldquohorizonte geograacutefico de referecircnciardquo dominando do alto as terras da plataforma do Mondego sobre o qual as dife- rentes posiccedilotildees ocupadas pelo sol nascente ao longo do ano serviriam even-tualmente de referecircncia agrave organizaccedilatildeo do calendaacuterio sazonal de atividadesNum momento de transiccedilatildeo para o Neoliacutetico final comeccedilam a surgir monu-mentos onde estatildeo patentes teacutecnicas construtivas complexas natildeo obstante manterem uma certa continuidade A um tempo surgem grandes monumen-tos de corredor desenvolvido e diferenciado em altura em relaccedilatildeo agrave cacircmara agora de estrutura poligonal de nove esteios como o caso da Orca dos Fiais da Telha ou entatildeo raramente de sete esteios e com estruturas complexas na aacuterea frontal com abandonocondenaccedilatildeo de vaacuterios monumentos de menores dimensotildees e construccedilatildeo menos complexa da fase antecedente (por exemplo a Orca do Folhadal cf SENNA-MARTINEZ amp VENTURA 1999a)Mas um dos elementos mais importantes desta evoluccedilatildeo seraacute a laquonova vidaraquo que alguns destes monumentos teratildeo jaacute no III mileacutenio aC que em alguns casos parece estar associado a um processo de laquodesconstruccedilatildeo e recons- truccedilatildeoraquo de alguns monumentosNo caso da Orca 1 de Troviscos no limite norte do nuacutecleo em apreccedilo a um monumento eventualmente do Neoliacutetico meacutedio ou mesmo das primeiras fases do Neoliacutetico final no qual mais uma vez se sobrepotildeem as estruturas de habi- tat anteriores eacute apresentada uma cacircmara megaliacutetica claacutessica de 7 esteios ndash ateacute mais ver ndash e um corredor baixo quase simboacutelico de cerca de 2 metros associado a um curto corredor intratumular e a um fecho do mesmo na zona frontalEm momento ainda natildeo determinado o monumento eacute encerrado por uma estrutura de condenaccedilatildeo que parece associar-se a uma ampliaccedilatildeo em di-mensatildeo da estrutura tumular e assiste-se a uma remoccedilatildeo e recolocaccedilatildeo de alguns elementos peacutetreos ndash esteios e tampas de corredor ndash sendo-lhe tambeacutem adicionadas estruturas complexas tipo laquoaacutetrioraquo na zona frontal onde ocorrem deposiccedilotildees de materiais de momentos coevos do III mileacutenio aC regionalA mesma situaccedilatildeo parece tambeacutem ocorrer mais a norte noutro nuacutecleo no concelho de Nelas na Orca do Pinhal dos Amiais onde numa estrutura de fecho que se expande em forma de laquoaacutetrio empedradoraquo na zona frontal foram sistematicamente identificadas deposiccedilotildees de materiais maioritariamente ceracircmicos de um periacuteodo que podemos situar tambeacutem no III mileacutenio aC momento esse que julgamos estar associado agrave reativaccedilatildeo do monumen-to megaliacutetico para algumas deposiccedilotildees funeraacuterias mas principalmente na sua manutenccedilatildeo como elemento monumental da renovaccedilatildeo da reproduccedilatildeo

60 |

social de um determinado grupo social

Carregal do Sal 22 de julho de 2018

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICASBRADLEY Richard (2002) - The Past in Prehistoric Societies LondonCARRIOacuteN JOSEacute (coord) (2015) Cinco millones de antildeos de cambio floriacutestico y vegetal en la Peniacutensula Ibeacuterica e Islas Baleares Universidade de Muacutercia y Fundacioacuten Seacuteneca MuacuterciaCARVALHO A F (1999) - 0s siacutetios de Quebradas e de Quinta da Torrinha (Vila Nova de Foz Coa) e o Neoliacutetico antigo do Baixo Coa in Revista Portuguesa de Arqueologia 2(1) pp39-70CARVALHO A F PEREIRA V DUARTE C amp TENTE C (2017) - Neolithic archaeology at the Penedo dos Mouros rock-shelter (Gouveia Portugal) and the issue of primitive transhumance practices in the Estrela Mountain range in ZEPHYRVS Vol LXXIX pp19-38CONNOR SE ARAUacuteJO J KNAAP W amp LEEUWEN J (2012) - A long-term perspective on biomass burning in the Serra da Estrela Portugal in Quaternary Science Reviews 55 (2012) pp 114-124CORDEIRO AMR (1992) - ldquoO Homem e o Meio no Holoceacutenico Portuguecircs Paleo-ambientes e erosatildeordquo in Mediterracircneo 1 pp89-109DINIZ M (2001) - ldquoUma dataccedilatildeo absoluta para o siacutetio do Neoliacutetico Antigo da Valada do Mato Eacutevorardquo in Revista Portuguesa de Arqueologia 4(2) pp111-113ESTREMERA PORTELA M S (2003) - Primeros agricultores y ganaderos en la Meseta Norte El Neoliacutetico de la Cueva de la Vaquera (Torreiglesias Sogovia) Zamora Junta de Castilla y Leoacuten Memorias Arqueologiacutea en Castilla y Leoacuten 11FERNAacuteNDEZ RODRIacuteGUEZ C amp RAMIL REGO P (1994) - ldquoFechas de C14 en yacimientos arqueoloacutegicos depoacutesitos orgaacutenicos y suelos de Galiciardquo in Gallaecia 13 pp151-176FERREIRA AB (1978) - Planaltos e Montanhas do Norte da Beira Memoacuterias do Centro de Estudos Geograacuteficos 4 Lisboa FURHOLT M and MUumlLLER J (2011) - The earliest monuments in Europe ndasharchitecture and social structures (5000-3000 cal BC) in Megaliths and Identities Dr Rudolf Habelt GmbH Bonn pp 15-32HOSKIN M et alii (1998) - ldquoStudies in Iberian Archaeoastronomy (5) Orientations of Megalith-ic Tombs of Northern and Western Iberiardquo in Archaeoastronomy 23 (JHA xxix) pp S39-S87HOSKIN M (2001) Tombs Temples and their Orientations A new perspective on Mediterra-nean Prehistory Bognor Regis OcarinaKNAAP W O V amp JANSSEN C R (1991) - Utrecht on the Rocks - Serra da Estrela (Portugal) XV Peat Excurnotsion of the Syst-Geobo Institute University of Bern Part II Laboratory of Paleo-botany and Palynonotlogy State University of UtrechtThe NetherlandsKNAAP W O V amp VAN LEEUWEN J F N (1994) - ldquoHolocene vegetation human impact and climatic change in the Serra da Esnottrela Portugalrdquo in A F LOTTER amp B AMMANN Eds Fest-schrift Gerhard Lang laquoDissertationes Botanicaeraquo 234 pp497-535MOITA I (1966) - ldquoCaracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Altardquo in Eth-nos V pp189-297RAMIL-REGO P SOBRINO C M GOacuteMEZ-ORELLANA L (2001) ndash Histoacuteria Ecoloacutegica de Galiza Modificaciones del paisaje a lo largo del Cenozoico in SEMATA vol13 pp67-103 RODRIGUES S (2000) - ldquoA estaccedilatildeo neoliacutetica do Prazo (Freixo de Numatildeo ndash Norte de Portu-

| 61

| 2018

gal) no contexto do Neoliacutetico Antigo do Noroeste Peninsular Algumas consideraccedilotildees prelimi- naresrdquo149-168ROJO GUERRRA M amp ESTREMERA PORTELA S (2000) - ldquoEl valle de Ambrona y la Cueva de la Vaquera testimonios de la primera ocupacioacuten neoliacutetica en la cuenca del Duerordquo in Actas do 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular III ndash Neolitizaccedilatildeo e Megalitismo da Peniacutensula Ibeacuterica pp91-95SANCHES M J (1995) - O Abrigo do Buraco da Pala (Mirandela) no contexto da Preacute-Histoacuteria recente de Traacutes-os-Montes e Alto Douro Tese de Doutoramento em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Porto FLUP 2 Vol policopiadoSANCHES M J (1997) - Preacute-Histoacuteria Recente de Traacutes-os-Montes e Alto Douro O Abrigo do Buraco da Pala (Mirandela) no contexto regional 2 vols Porto Sociedade Portuguesa de Antropologia e EtnologiaSENNA-MARTINEZ J C (1994) - ldquoMegalitismo habitat e sociedades a Bacia do Meacutenotdio e Alto Mondego no conjunto da Beira Alta (c5200-3000 BP)rdquo in Actas do Seminaacuterio ldquoO Megalitis-mo no Centro de Portunotgalrdquo laquoEstudos Preacute-Histoacutericosraquo 2 pp15-29SENNA-MARTINEZ J C (19951996) - ldquoPastores recolectores e construtores de megaacutelitos na Plataforma do Mondego no IV e III mileacutenios AC (1) O siacutetio de Habitat do Ameal-VIrdquo in Tra-balhos de Arqueologia da EAM 34 Lisboa Colibri pp85-126SENNA-MARTINEZ J C (1996) - ldquoDo espaccedilo domeacutestico ao espaccedilo funeraacuterio ideologia e cul-tura material na Preacute-Histoacuteria Renotcente do Centro de Portugalrdquo in OPHIUSSA 0 Revista do Instituto de Arqueologia da FLUL Lisboa Colibri pp65-76SENNA-MARTINEZ J C LOacutePEZ PLAZA M S amp HOSKIN M (1997) ldquoTerritorio ideologiacutea y cultura material en el megalitismo de la plataforma del Mondego (Centro de Portugal)rdquo in O Neoliacutetico Atlaacutentico e as Orixes do Megalitismo Actas del Coloquio Internacional (Santiago de Compostela 1-6 de Abril de 1996) Santiago de Compostela laquoCursos e Congresos da Univer-sidade de Santiago de Compostelaraquo 101 pp657-676SENNA-MARTINEZ J C amp ESTEVINHA I (1994) - O siacutetio de habitat das Carriceiras (Carregal do Sal) Notiacutecia preliminar Actas do Seminaacuterio laquoO Meganotlinottismo no Centro de Portugalraquo (Man-gualde Nov 1992) Viseu CEPBA p55-61SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA J M Q (1994a) - ldquoA Orca dos Fiais da Telha a Cam-panha 2(987)rdquo in Inform Arqueoloacutegica 9 pp86-87 e 95-96SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA JMQ (1999a) - ldquoEvoluccedilatildeo das Paisagens Culturais na Preacute-Histoacuteria Recente na Plataforma do Mondego - O Projecto PAISAGENSrdquo in Trabalhos de Arqueologia da EAM 5 pp9-20SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA JMQ (1999b) - ldquo Espaccedilo Funeraacuterio e ldquoEspaccedilo Ceacutenicordquo a Orca do Folhadal (Nelas)rdquo in Trabalhos de Arqueologia da EAM 5 pp21-34SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA JMQ (2000a) - ldquo Espaccedilo Funeraacuterio e ldquoEspaccedilo Ceacuteni-cordquo a Orca do Folhadal (Nelas)rdquo in Actas do II Congresso de Arqueologia Peninsular Vol III pp379-397SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA JMQ (2000b) - ldquoOs Primeiros Construtores de Megaacuteli-tosrdquo in J C SENNA-MARTINEZ amp I PEDRO Eds Por Terras de Viriato Arqueologia da Regiatildeo de Viseu Viseu Governo Civil do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia pp35-38SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA JMQ (2000c) - ldquoPastores recolectores e construtores de megaacutelitos O Neoliacutetico Finalrdquo in J C SENNA-MARTINEZ amp I PEDRO Eds Por Terras de Viriato Arqueologia da Regiatildeo de Viseu Viseu Governo Civil do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia pp53-62

62 |

SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA JMQ (2008a) ldquoNeolitizaccedilatildeo e Megalitismo na Plata-forma do Mondego Algumas reflexotildees sobre Transiccedilatildeo Neoliacutetico AntigoNeoliacutetico Meacutediordquo in Actas do IV Congreso del Neoliacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica Alicante II pp 77-84SENNA-MARTINEZ J C e VENTURA JMQ (2008b) ndash Do mundo das sombras ao mundo dos vivos Octaacutevio da Veiga Ferreira e o megalitismo da Beira Alta meio seacuteculo depois Homena-gem a Octaacutevio da Veiga Ferreira Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p317-350SIMOtildeES T (1999) - O Siacutetio Neoliacutetico de Satildeo Pedro de Canaferrim Sintra Contribuiccedilotildees para o estudo da neolitizaccedilatildeo da peniacutensula de Lisboa laquoTrabalhos de Arqueologiaraquo 12 Lisboa IPASILVA Fabio (2012) - Landscape and Astronomy in Megalithic Portugal the Carregal do Sal Nucleus and Star Mountain Range Papers from the Institute of Archaeology 22 pp 99-114SILVA Fabio (2013) - Astronomia e Paisagem no Megalitismo do Norte do Paiacutes problemas e perspectivas In Arqueologia em Portugal ndash 150 anos pp 427-433SILVA Fabio (2014) - A Tomb with a View New Methods for Bridging the Gap Between Land and Sky in Megalithic Archaeology Advances in Archaeological Practice 2 pp 24-37SILVA Fabio (2015a) - The View from Within a lsquoTime-Space-Actionrsquo Approach to Megalithism in Central Portugal In SILVA Fabio CAMPION Nicholas - Skyscapes the role and importance of the sky in archaeology Oxford Oxbow Books pp 120-139SILVA Fabio (2015b) - lsquoOnce Upon a Timersquo When Prehistoric Archaeology and Folklore Con-verge Journal for the Academic Study of Religion 282 pp158-175TEIXEIRA CARVALHO BARROS MARTINS HAAS PILAR amp ROCHA (1961) - Notiacutecia explicativa da folha 17-C Santa Comba Datildeo Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de Por-tugalVENTURA J M Q (1993) - ldquoNovos monumentos megaliacuteticos no Concelho de Carregal do Sal Viseu notiacutecia prenotliminarrdquo in Trabalhos de Arqueologia da EAM 1 Lisboa Colinotbri pp9-21VENTURA J M Q (1994) - ldquoOrca 1 do Ameal (Carregal do Sal)rdquo in Actas do Seminaacuterio ldquoO Megalitismo no Centro de Portugalrdquo laquoEstudos Preacute-Histoacutericosraquo 2 pp31-42VENTURA J M Q (1994b) - ldquoA Orca 2 do Ameal Carregal do Sal resultados preliminaresrdquo in Trab Antrop e Etnotnol XXXV (1) Porto SPAE pp47-57VENTURA J M Q (1994c) - ldquoO Nuacutecleo Megaliacutetico de FiaisAmeal problemas e perspectivasrdquo in Trabalhos de Arqueolonotgia da EAM 2 Lisboa Colibri pp1-8VENTURA J M Q (1994d) - ldquoA Orca 2 do Ameal (Carregal do Sal) a campanha 2(993)rdquo in Trabalhos de Arqueolonotgia da EAM 2 Lisboa Colibri pp241-243VENTURA J M Q (1995) - ldquoOrca 2 do Ameal Carregal do Sal Viseu resultados preliminaresrdquo in Trabalhos de Antropol Etnol XXXV (1) pp47-62VENTURA J M Q (1998a) - A Necroacutepole Megaliacutetica do Ameal no contexto do Megalitismo da Plataforma do Mondego Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia apresenta-da agrave Faculdade de Letras da Universidade de LisboaVENTURA J M Q (1998b) - ldquoO nuacutecleo megaliacutetico dos FiaisAmeal um novo balanccedilordquo in Actas do Seminaacuterio ldquoA Preacute-Histoacuteria na Beira Interiorrdquo laquoEstudos Preacute-Histoacutericosraquo 6 pp11-31VENTURA J M Q (19951996)) - ldquoA Orca 2 do Ameal (Oliveira do Conde Carregal do Sal) a campanha 3(994)rdquo in Trabalhos de Arqueolonotgia da EAM 34 Lisboa Colibri pp271-276VENTURA J M Q (19951996) ldquoA Orca 2 de Oliveira do Conde (Carregal do Sal) a cam-panha 1(994)rdquo in Trabalhos de Arqueolonotgia da EAM 34 Lisboa Colibri pp277-280VENTURA J M Q (1999a) - ldquoOs Materiais da Mamoa da Orca 2 do Ameal (Carregal do Sal Viseu) Anaacutelise Tipoloacutegica e Enquadramento Cronoloacutegicordquo in Estudos Preacute-Histoacutericos 7 pp65-84

| 63

| 2018

VENTURA J M Q (1999b) - ldquoMonumentalidade e visibilidade nos monumentos megaliacuteticos da Plataforma do Mondegordquo in Trabalhos de Arqueologia da EAM 5 pp35-49VENTURA J M Q (2000e) - ldquoOrca 2 de Oliveira do Conde Carregal do Sal Viseurdquo in Tra-balhos de Arqueologia da EAM 6 pp1-24VENTURA J M Q amp SENNA-MARTINEZ J M (2003) - ldquoDo conflito agrave guerra Aspectos do desenvolvimento e institucionalizaccedilatildeo da violecircncia na Preacute-Histoacuteria Recente Peninsularrdquo in Turres Veteras V Torres Vedras Cacircmara Municipal de Torres Vedras pp9-19

64 |

| 65

| 2018

The dead at Escoural Cave (Montemor-o-Novo Portugal) early farmerrsquos interactions in south-western Iberian Peninsula

Os mortos na Gruta do Escoural (Montemor-o-Novo Portugal) interaccedilotildees nas primeiras sociedades camponesas do sudoeste da Peniacutensula Ibeacuterica

ABSTRACTThe arrival of farmers to the south-western Iberian Peninsula was followed by a period of complex human interaction after 5500 BCE This marked the arrival of new technologies and subsistence practices such as pottery husbandry and do-mestication of plants but also the co-existence of diverse social structures and world-views in a territory populated by hunter-gatherersBiological and sociocultural interactions between local and migrant groups at the onset and establishment of the Neolithic in Atlantic Europe are poorly un-derstood The Neolithic funerary context in the Escoural cave Montemor-o-Novo Portugal offers a research opportunity to examine these processes because it is uniquely well preserved and its use intersects key periods to understand multi-layered human interaction In this paper we present a synthesis of what is known about the Neolithic use of the cave complemented by new observations in the scope of a multidisciplinary project centred on the Escoural Cave started in 2018 KEY WORDS Escoural Cave Neolithic Archaeology of Death Archaeolo- gical Science

Rita Peyroteo-StjernaritapeyroteostjernaebcuuseHuman Evolution Department of Organismal Biology Uppsala University SwedenUNIARQ Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Portugal

Ana Cristina ArauacutejoacaraujodgpcptLARC Laboratoacuterio de Arqueociecircncias da DGPCCIBIOInBIO Centro de Investigaccedilatildeo em Biodiversidade e Recursos GeneacuteticosUNIARQ Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Portugal

Mariana DinizmdinizflulptUNIARQ Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Portugal

66 |

RESUMOA entrada dos primeiros agricultores no SO da Peniacutesula Ibeacuterica c 5500 BCE foi acompanhada pela introduccedilatildeo de novas tecnologias e formas de subsistecircncia As interacccedilotildees que se estabeleceram entre grupos locais e mi-grantes nesta etapa do processo histoacuterico que marca o advento e a con-solidaccedilatildeo do Neoliacutetico na Europa Atlacircntica satildeo mal conhecidas O con-texto funeraacuterio da Gruta do Escoural (Montemor-o-Novo) constitui uma oportunidade para investigar estes processos natildeo soacute devido ao seu grau de preservaccedilatildeo mas porque a sua utilizaccedilatildeo intercepta periacuteodos-chave para a compreensatildeo de muacuteltiplos aspectos dessa interacccedilatildeo humana Os materiais arqueoloacutegicos escavados na deacutecada de 1960 incluem restos humanos arte-factos em pedra e osso ceracircmicas e adornos Apesar de a cultura material sugerir uma afiliaccedilatildeo ao Neoliacutetico Meacutedio (c 4500-3500 BCE) a dataccedilatildeo de restos humanos sugere um intervalo de tempo mais tardio (c 3500- -3000 BCE) marcado pela construccedilatildeo de monumentos megaliacuteticos na regiatildeo O cruzamento de culturas de cronologia neoliacutetica no Es-coural eacute igualmente apoiado por ceracircmicas cardiais e impressas su-gerindo uma utilizaccedilatildeo da cavidade no Neoliacutetico Antigo (c 5500- -4700 BCE)Neste artigo apresentamos uma siacutentese dos dados conhecidos sobre a ocupaccedilatildeo Neoliacutetica da Gruta do Escoural a par de novas observa- ccedilotildees realizadas no acircmbito de um projeto iniciado em 2018 e centrado nesta cavidade O objectivo deste projecto eacute implementar uma perspec- tiva interdisciplinar ao estudo da Arqueologia da Morte investigan-do paralelamente as interacccedilotildees humanas criadas com a introduccedilatildeo e consolidaccedilatildeo de novas formas de vida na regiatildeo (c 5400-3000 BCE)PALAVRAS-CHAVE Gruta do Escoural Neoliacutetico Arqueologia da Morte Arqueociecircncias

1 INTRODUCTION The arrival of farmers to the south-western Iberian Peninsula was fol-lowed by a period of complex human interaction after 5500 BCE This marked the arrival of new technologies and subsistence practices such as pottery husbandry and domestic plants but also the co-existence of diverse social structures and world-views in a territory previously popu-lated by hunter-gatherers Also recent studies suggest greater diversity among first farmers (DINIZ et al 2016) adding layers of complexity to processes of sociocultural and biological interaction during the Neolithic in south-western Europe c 5500 ndash 3000 BCE

| 67

| 2018

Interactions between early farmers as well as between first farmers and the last hunter-gatherers during the establishment of new ways of living and world-views are poorly understood In this paper we argue that the Neolithic funerary context in the Escoural Cave offers a research oppor-tunity to examine these processes in south-western Europe because this archaeological site is uniquely well preserved and its use intersects key periods to understand multilayered human interactionThe Escoural Cave is located in southern Portugal in Montemor-o-Novo in the Alentejo region (Fig 1) The site is unique in the landscape because 1) it is the only karst system known in the interior of Alentejo 2) it is lo-cated on the interface of two key regions for human settlement in west Iberia ie the Tagus and the Sado palaeoestuaries in the north and west (the most important regions of Mesolithic settlement in Iberia) and the Eacutevora plains in the south-east (one of the main landscapes of Iberian megalithism) 3) it is naturally protected and strategically located at the edge of the Monfurado mountain range with a privileged view over the surrounding plains 4) it offers easy access to water making it a favour-able place for early populationsEscoural is the most south-western cave in Europe with Palaeolithic rock art and was classified as National Monument since its discovery in 1963 Despite its unique features the site was not continuously used by hunter-gatherers After the end of its long use during the Palaeolithic the cave was abandoned regaining its symbolic importance only several thousand years later with the placement of the dead in its underground space by Neolithic farmers being largely ignored by Mesolithic hunt-er-gatherers The use of natural caves in south-western Iberia by Mesolithic hun- ter-gatherers is well attested in other regions (ARAUacuteJO 2016) but open-air sites were preferred for the placement of the dead during this phase (PEYROTEO STJERNA 2016) In contrast the oldest evidence of Neo-lithic funerary practices in south-western Iberia was identified in caves (eg BOAVENTURA 2009 ZILHAtildeO 1992) Neolithic human remains are relatively abundant in the karst landscapes of Portuguese Estremadura and coastal Alentejo In Estremadura one of the most remarkable sites is Algar do Bom Santo Cave (CARVALHO 2014) and like Escoural it was sealed until its discovery preventing the disturbance of original contexts

68 |

by post-Neolithic occupations In this context the Escoural Cave stands out as exceptional because of 1) the preservation of articulated human remains in association with material culture such as complete vessels offers a unique opportunity to investigate Neolithic funerary practices

Figure 1 Location of the Escoural Cave Montemor-o-Novo Portugal in the context of Iberia (A) and Portugal (B)

| 69

| 2018

2) the outstanding bone preservation (human remains bone artefacts) provided by the karst environment is in contrast with the surrounding re-gion where acidic soils inhibit organic preservation 3) it is one of the few interior locations in south-western Iberia with cardial pottery (eg DINIZ 2007 ZILHAtildeO 1992) ndash an exogenous ware introduced in Iberia by early farmers of Mediterranean origin c 5400 BCE (ZILHAtildeO 2001) 4) current radiocarbon data show intensive funerary use of the cave c 3500 ndash 3000 BCE (ARAUacuteJO amp LEJEUNE 1995) while megalithic tombs were built in the region for the same function (BOAVENTURA 2009) 5) despite the late chronology of the dated human remains the material culture parallels for the most part with Middle Neolithic contexts such as Algar do Bom Santo c 3800 ndash 3400 BCE (CARVALHO 2014) The cave was surveyed and excavated in 1963ndash1968 and 1989ndash1992 while a project dedicated to the study of the rock art took off in 1977 (ARAUacuteJO 1995a SANTOS et al 1980) Most of the archaeological mate-rial was excavated in the 1960s but the results were sparsely published and focused on selected artefacts (SANTOS 1967a b) In 1989ndash1992 A C Arauacutejo and colleagues inventoried and examined for the first time the material excavated in the 1960s The resulting monograph (ARAUacuteJO amp LEJEUNE 1995) presented an overview of the main finds and is the only comprehensive work about the Neolithic use of the cave and was fol-lowed by the first attempt to address issues related with the funerary ritu-al practices (CAUWE 1996) Thus more than 50 years after its discovery Escouralrsquos Neolithic population remains unknown Standard analyses of the human skeletons remain to be done such as estimate of the number of individuals biological profile or reconstruction of funerary practices Moreover the Neolithic activity in the cave intersecting key periods in the process of establishing the farming lifeway can be further explored such as the penetration of pioneer farmers from the coast to the interior as suggested by the cardial pottery in the cave or the development of farmer groups in south-western Iberia using multiple architectures for the dead (eg caves megalithic tombs of various types) suggesting a complex Neo-lithic ideologyThe aim of this paper is to present a synthesis of what is known about the Neolithic use of the cave complemented by new observations in the scope of the ongoing project for the Escoural Cave started in 2018

70 |

2 WHATrsquoS IN THE CAVE The Escoural Cave was identified in April-17 1963 during stone mining work (SANTOS 1964) as described in several documents in the archives of the National Museum of Archaeology (MNA Museu Nacional de Arque-ologia APMHArquivo Pessoal Manuel Heleno) Human crania and complete ceramic vessels were exposed on the floor of the cave attracting the attention not only of the local population but also of the national newspapers who reported the discovery as extraor-dinary (MNAAPMH6141) Original documentation in the museumrsquos archives (MNAAPMH2311) indicate that excavations started shortly after its discovery in April-28 by a small group of experienced field work-ers from the museum (Jaime Pereira Roldatildeo Dario de Sousa) later ac-companied by the archaeologist Manuel Farinha dos Santos Initial work was focused on documenting what was perceived as distinct concentra-tions of human remains and artefacts lying on the surface (photography drawings) as well as securing the entrance of the cave and recovering artefacts removed from the cave by locals The exterior of the cave was also occupied during prehistoric times sug-gesting an understanding of the ancestry of the place as demonstrated by the chrono-cultural succession of archaeological remains A Chalcolith-ic fortified settlement was built on top of the hill above the cave (GOMES RV et al 1983 GOMES et al 2012ndash2013) as well as a megalithic tomb for the collective placement of the dead tholos (SANTOS 1967a SANTOS amp FERREIRA 1969) ndash a type of monument generally dated to c 3000 ndash 25002750 BCE Late NeolithicChalcolithic (BOAVENTURA et al 2014) An engraved outcrop was found under the structures of the settlement possibly dated to the Late Neolithic due to its stratigraphic po-sition (GOMES M V et al 1983 1994) Additionally one human burial was excavated in the exterior of the cave at the south-eastern entrance but its chronology remains unclear (ARAUacuteJO 1995a p 16 22 SANTOS 1971) Lithic material and abundant Pleistocene fauna dated to the Mid-dle Palaeolithic were excavated in the cave in 1989ndash1992 (OTTE amp SILVA 1996) However spatial distribution analyses demonstrated that this ma-terial was originally accumulated in the exterior of the cave and was trans-ported to the interior by post-depositional events The secondary position of artefacts found in the interior of the cave was observed in other areas

| 71

| 2018

such as in the archaeological context with impressed ceramics and other artefacts of Early Neolithic chronology found in the exterior and interior of the cave which due to taphonomic processes became part of the filling of the cave (ARAUacuteJO 1995a p 22 1995b p 53) Despite the large number of well-preserved Neolithic human remains and artefacts found in the cave the research has been traditionally focused on the Palaeolithic rock art (LEJEUNE 1995 GLORY et al 1966 GOMES et al 1990 OTTE amp SILVA 1996 SANTOS 1964 1967b SANTOS et al 1980 SILVA et al 2017) 21 Archaeological material in Neolithic contextThe cave is made up of a network of several galleries in three distinct levels The most important archaeological sector consists of a large room located immediately after the current entrance (room 1 sala 1) and con-nected galleries The archaeological material associated with the funer-ary use of the cave during the Neolithic was mostly found on the floor of the cave concentrated in room 1 and distributed along the galleries (6 7 and 11) (Fig 2) Most material was completely or partially covered with calcite and in extreme cases the funerary deposits containing human remains and artefacts became sealed under this layer (Fig 3) Archaeological material consists of human remains bone and stone ar-tefacts pottery personal adornments and other remains (ARAUacuteJO amp LE-JEUNE 1995) (Fig 4) The material is curated by MNA although selected assemblages are on display in local exhibitions at Centro Interpretativo da Gruta do Escoural and Museu dos Amigos de Montemor-o-NovoThe human remains excavated in the cave consist of complete and as-sociated skeletons (Fig 3) as well as disarticulated bones commingled and scattered elements at different levels of preservation A number of skeletons retained their anatomical topography and are in association with artefacts such as ceramic vessels (ARAUacuteJO 1995a CAUWE 1996) These are clear examples of deposits in primary position where the bod-ies were placed on the floor of the cave after death while still retaining their anatomical integrity Often the bones were found scattered in sec-ondary position While in some instances scattering could be explained by taphonomic processes in other cases it suggests post-depositional manipulation of the cadavers such as in the case of the crania found in niches (ARAUacuteJO 1995a CAUWE 1996) Secondary manipulation of

72 |

human remains could also be explained by the practice of reduction en-tailing the removal of the remains of a previous deposit to give place to new individuals At present the human osteological collection is considered to be of Neo-lithic chronology and there are no contextual or typological elements sug-gesting otherwise The collection remains to be studied although some specimens were analysed from an osteometric perspective (ISIDORO 1981) Preliminary estimates of the minimum number of individuals (MNI) suggest that more than 50 individuals were placed in the cave after death (Cidaacutelia Duarte pers comm)The bone industry consists of a small assemblage of bone points (n=18)

Figure 2 Plan of the Escoural Cave main and upper floors Shade highlights the archaeological areas with (A) Palaeolithic rock art Early and Late Neolithic remains (B) Middle Palaeolithic Early Neolithic remains G gallery Numbers 1ndash77 indicate locations with rock art Adapted from ARAUacuteJO amp LEJEUNE 1995

| 73

| 2018

Figure 3 Human remains in association with material culture covered with calcite Ex-cavated in 1963 in the Escoural Cave and curated at the National Museum of Archae-ology Lisbon Reproduced with permission Copyright copy Joseacute Pessoa ADF Arquivo de Documentaccedilatildeo Fotograacutefica DGPC

Figure 4 Example of archaeological material excavated in the 1960s in the Escoural Cave Reproduced with permission Copyright copy Joseacute Pessoa ADF Arquivo de Docu-mentaccedilatildeo Fotograacutefica DGPC

74 |

mostly made from long bones of ovicaprid species At least one point was carved from a red deer bone (Cervus elaphus) and was engraved with incisions The study of this material is limited to preliminary description which includes location of the artefacts in the cave and individual draw-ings (ARAUacuteJO et al 1995) Lithic industry consists of knapped and polished stone tools Prelimi-nary description drawings and the location of the finds in the cave has been published (ARAUacuteJO et al 1995) Stone tools were knapped from non-local flint and consist of a relatively homogeneous groups of blades (n=34) knapped by indirect percussion and pressure in some cases and microliths made from elongated blanks (geometric trapezes n=12) The assemblage contains three cores one prismatic for blades (flint) one bipolar for bladelets (hyaline quartz) and one interpreted as a possible scrapper (hyaline quartz) The assemblage of polished stone tools is com-posed by axes (n=6) adzes (n=10) and chisels (n=3) Macroscopic ob-servation of the material suggests that most of these artefacts were not used (ARAUacuteJO et al 1995) Other stone artefacts include polishers (n=3) and a sharpener (n=1) covered with red ochre Preliminary analysis indi-cates a non-local provenance of the raw material Pottery in Escoural is composed by several complete or almost complete vessels However most of the assemblage consists of a large number of plain fragments For this reason it has been difficult to estimate the number of vessels (ARAUacuteJO et al 1995) First analyses of the assem-blage (ARAUacuteJO et al 1995) indicate that clay matrices were homoge-nous and surfaces were smoothed out and often polished Vessel shape types include globular (19ndash23 cm in diameter) small globular (10ndash12 cm in diameter) oval mouth (9ndash16 cm in diameter) bowls and a few carenated bowls Some vessels have elements of suspension such as handles mamelon and plastic cordons The few decorated fragments found in the cave were decorated with impressed techniques Among these are the fragments with impressed cardial (n=9) which were found scattered in room 1 and seem to belong to one globular vessel (ARAUacuteJO 1995b) Other impressed ware was found in the exterior of the cave at the south-eastern entrance as well as in the interior but in secondary position (see above) One group of impressed fragments (n=8) seem to belong to one large globular vessel with narrow opening The second

| 75

| 2018

group of impressed ware (n=2) consists of one handle of a globular vessel and were found in the exterior of the cave Personal adornments were made of bone stone and shell (ARAUacuteJO et al 1995) The assemblage consists of bone (n=5) and stone (n=10) beads one hair pin made of bone (SANTOS et al 1991) a bracelet made from shell of dog cockle (Glycymeris sp) and coin shaped objects (n=3) made from common cockle shell (Cerastoderma edule) Other objects found in the cave include one fragment of a ceramic spoon and a fragment of what could be the base of a polished lime-stone object Two perforated sandstone plaques (SANTOS 1971) are among the archaeological collection but the context of their excavation is unclear (ARAUacuteJO et al 1995 p 72) Other remains found in the cave in association with archaeological ma-terial include a few large scallop shells (Pecten sp) mussels (Mytilus edulis) and oysters (Ostrea sp) as well as pebbles of various sizes foreign to the cave environment Red ochre charcoal and burnt sedi-ments were also largely documented and collected during the 1960s excavations 22 Radiocarbon datesRadiocarbon (14C) measurements on archaeological material found inside the cave were carried out in 1989ndash1995 (ARAUacuteJO amp LEJEUNE 1995) Samples consisted of human bone collected in 1989 (n=4) and in 1964 (n=1) (Table 1) One sample revealed poor quality during laboratory anal-ysis and the measurements were rejected (human tibia 1963 gallery 7 group 18 OxAndash4444 5560 plusmn 160 BP) (MONGE SOARES 1995 p 111) The oldest dates on human bone collagen from the Escoural Cave are represented by two individuals in room 1 and gallery 4 (G43) with a pos-terior density estimate for the time of burial of 3618 ndash 3102 cal BCE (95 probability) and 3506 ndash 3107 cal BCE (95 probability) respectively The other three 14C dates obtained from burials found in galleries 4 and 12 cluster in the time span c 3300 ndash3000 cal BCE (95 probability) The abundant human remains in galleries 6 7 11 have not been successfully datedCurrent 14C data predicts the start of the use of the cave for the depo-sition of the dead to have been 3841 ndash 3124 cal BCE (95 probabili-ty start of funerary activity) and its end to have been in 3344 ndash 2708

76 |

cal BCE (95 probability end of funerary activity) (Fig 5) The activity is estimated to have continued for between 0 and 506 years (95 prob-ability site use for funerary activity) It is important to emphasize that these boundaries are date estimates which have not been dated directly by 14C measurements and were calculated by OxCal (BRONK RAMSEY 2009) from the dated human remains of the series Model boundaries do not depend on any particular 14C date but on the whole assemblage of considered dates (see BRONK RAMSEY 2000 2001) As discussed below the current dataset has low resolution and new measurements will certainly refine current estimates At present Start and End boundaries were predicted based on five dates with relatively large uncertainties and should not be used to define the use of the Escoural Cave for funerary practices However while these boundaries must be used with caution as they do not represent direct dates they can be used as guidelines to

Table 1 Human bone collagen (5) samples from the Escoural Cave (ARAUacuteJO amp LE-JEUNE 1995)

| 77

| 2018

inform further research and to test hypotheses allowing refinement of further and more robust chronologies

3 DISCUSSIONDespite the number of published papers a monograph and its status as a National Monument the use of the Escoural Cave by Neolithic popula-tions and how its use intersects key periods of the neolithisation of the territory are not well understood The chronology of the funerary activity in the cave remains an open ques-tion and multilayered intersections of this occupation with key periods in the process of establishing farming lifeway should be investigated The Early Neolithic (c 5500 ndash 4700 BCE) presence in the cave is attest-ed by impressed pottery but the nature of this occupation and its abso-lute chronology are unknown Fragments of impressed cardial ware were

Figure 5 Chronological model for the funerary activity at Escoural Cave based on 14C dates on human bone collagen Agreement index for each dated event is high (Age75) and in good convergence (Cge98) The model shows satisfactory overall agreement (Aoverall=85) indicating that the 14C dates are in accordance with the prior informa-tion incorporated in the model which does not assume phases and does not impose any relative order to the dated events Calibrated with OxCal 43 (BRONK RAMSEY 2009) using atmospheric curve IntCal13 (REIMER et al 2013)

78 |

identified in room 1 where most human remains were found however its exact provenance and association with funerary deposits is unclear Whether this ceramic tradition was associated with funerary practices or with other uses of the cave during the Early Neolithic can only be tested by a systematic 14C dating programme of the human remains in the vari-ous sections of room 1 and galleries Testing the hypothesis of the use of the cave by early farmers as a place for the dead is particularly relevant because while Early Neolithic settlements are well known in the region (eg Valada do Mato c 10 km NE from the cave DINIZ 2007) the places for the dead remain unidentified Current radiometric chronology is based on human bone remains found in room 1 (n=1) and in galleries 4 (n=2) and 12 (n=2) While these results are coherent with the funerary use of the cave during one main phase further dates may refine this chronology in terms of additional phases masked by the limited number of dates The material culture ie plain globular pottery axes adzes and chisels small blades and trapezes and personal adornments such as the Pecten bracelet suggest that the main phase of funerary activity in the cave was during the Middle Neolithic (c 4500 ndash 3500 BCE NEVES amp DINIZ 2014) However the oldest dated human remains are more recent (ICEN-861 Lv-1923) ranging from c 3600 to 3100 cal BCE (95 confidence) sug-gesting either that the Middle Neolithic human remains have not been directly dated yet andor that the artefactual tradition associated with the Middle Neolithic persisted for a longer period of time at least in fu-nerary contexts indicating conservatism and continuity in the Escoural Cave The other available dates (Lv-1925 Lv-1924 Lv-1922) collected from individuals placed in different areas of the cave cluster in the time span between 3300 and 3000 cal BCE This Late Neolithic chronology is at odds with the bulk of the material culture which parallels with Middle Neolithic contexts elsewhere Although current estimates of the start and end of the funerary activity in the cave must be interpreted with caution these highlight issues requiring further investigation At present there are no burials dated after c 3300 ndash 3000 cal BCE However the extend-ed end boundary predicted by the model (c 3300 ndash 2700 cal BCE) may be plausible as it accommodates the typically later temporal framework attributed to a few artefacts also found in the cave such as the carena-

| 79

| 2018

ted vessels perforated sandstone plaques (n=2) and a fragment of po-lished limestone object (ldquoidolrdquo) In the context of the whole assemblage these elements are low in number and the context of excavation of these artefacts is not clear however the hypothesis of a later use of the cave must be investigated and further 14C dating should provide direct data to confirm or reject this hypothesis Understanding the use of the cave during the Neolithic may become more complex but better defined as more 14C measurements become available securely dating human activity over time To investigate these intricacies we need a dataset with greater resolu-tion This includes new dates with smaller uncertainties representative of the s-patial distribution of the funerary depositions in the cave allowing to effectively investigate when the funerary activity started and when it ended as well as to estimate the frequency of mortuary depositions in the caveAnalysis of the archaeological assemblage in the Escoural Cave raises se- veral important issues for the research on Neolithic population interaction and funerary practices Firstly the material culture associated with Middle Neolithic funerary practices in natural caves seems to suggest at least two cultural traditions i) a phase andor tradition defined by the presence of flaked and polished stone tools such as blades trapezes axes and adzes personal adornments on shells such as Glycymeris bracelets and few pot-tery vessels ndash largely based on recent research in Algar do Bom Santo Cave c 3800 ndash 3400 cal BCE (CARVALHO 2014) ii) a phase andor tradition char-acterized by the same votive package outlined above but with an import-ant ceramic component such as plain globular vessels in association with the dead as observed in the Escoural Cave which chronology remains to be refined Whether these traditions are the result of different chronological phases or co-existing practices remains an open question Secondly the Escoural Cave was used as a funerary space while several megalithic architectures of funerary and non-funerary nature (eg dolmens menhirs stone circles) emerged in the area (c 36003500 ndash 3000 cal BCE BOVENTURA 2009) raising interesting questions about socio-cultural diver-sity and interaction during the Neolithic After death while some individuals were placed in the Escoural Cave others were placed in dolmens or other megalithic structures Escoural is the only cave in the interior of Alentejo and even though its use for funerary practices may seem odd in a landscape po-

80 |

pulated by megalithic architectures this was common practice since the Ear-ly Neolithic in the cave rich limestone areas of Estremadura Natural caves such as Escoural were possibly prioritized by Neolithic populations for the placement the dead (BOAVENTURA 2009) Thus to understand this parti- cular place it is important to establish the origins of Escouralrsquos population as well as to investigate contemporary funerary practices in relation with choice of containers (eg cave megalithic structures) The main question that remains to be answered is who were the people placed in the Escoural Cave after death Were these people from a local population using the cave as a funerary space or from non-local groups deliberately choosing the single nat-ural cave in the area to reproduce a foreign funerary tradition Or were the dead at Escoural Cave an admixture of local and non-local groups performing and re-interpreting funerary traditions

4 FURTHER WORKThe funerary context in the Escoural Cave offers a unique research opportunity for in-depth analysis of how early farmers treated the dead to establish more accurate chronotypologies for the Neolithic for high- -resolution physical and biochemical analyses of Neolithic remains (hu-man bone artefacts) to examine sociocultural and biological interaction within early farmer groups as well as with past hunter-gatherer popula-tionsThe key questions which need to be addressed are 1) Who was placed in the Escoural cave after death 2) Can we distinguish between farmer groups at biological and sociocultural levels 3) Was the cave used by pioneer farmers for funerary practices If so how did these first farmers adapt to a new landscape and interact with local hunter-gatherersTraditional archaeological methods alone have not been able to resolve these questions The aim of the current projected focused on the Escour-al Cave is to implement an integrated interdisciplinary high-resolution ap-proach to understand human interaction at the onset and establishment of new lifeways in south-western Iberia (c 5400 ndash 3000 BCE) through the explicit application of archaeological science to archaeology of deathThe dead at Escoural must be examined in terms of time population and practice by integrating several scales of analysis osteoarchaeology genomics palaeodiet and subsistence mobility funerary practices ma-

| 81

| 2018

terial culture and chronological framework With this approach we aim to provide new knowledge from the exceptional archaeological assemblage already excavated in the Escoural Cave contributing with new value to the museum collections of this National Monument

ACKNOWLEDGMENTSThe Markus Borgstroumlm Grant Uppsala University for funding this re-search the National Museum of Archaeology (MNA) for providing access and facilities to study the Escoural collection and the National Archive of Photographic Documentation (Arquivo de Documentaccedilatildeo Fotograacutefica da DGPC) for permission to reproduce photographic material

REFERENCES ARAUacuteJO Ana Cristina (1995a) ndash O Siacutetio In ARAUacuteJO Ana Cristina LEJEUNE Marylise eds ndash Gruta do Escoural necroacutepole neoliacutetica e arte rupestre paleoliacutetica Lisboa IP-PAA pp 12ndash34 (Trabalhos de Arqueologia 8)ARAUacuteJO Ana Cristina (1995b) ndash O Neoliacutetico Antigo In ARAUacuteJO Ana Cristina LE-JEUNE Marylise eds ndash Gruta do Escoural necroacutepole neoliacutetica e arte rupestre pa-leoliacutetica Lisboa IPPAA pp 51ndash56 (Trabalhos de Arqueologia 8)ARAUacuteJO Ana Cristina (2016) ndash Une histoire des premiegraveres communauteacutes meacuteso-lithiques au Portugal Oxford BAR International Series 2782ARAUacuteJO Ana Cristina LEJEUNE Marylise (1995) ndash Gruta do Escoural necroacutepole neoliacutetica e arte rupestre paleoliacutetica Lisboa IPPAA (Trabalhos de Arqueologia 8)ARAUacuteJO Ana Cristina CAUWE Nicolas SANTOS Ana Isabel (1995) ndash A Necroacutepole Neoliacutetica (Estudo das Colecccedilotildees das Antigas Escavaccedilotildees) In ARAUacuteJO Ana Cristina LEJEUNE Marylise eds ndash Gruta do Escoural necroacutepole neoliacutetica e arte rupestre pa-leoliacutetica Lisboa IPPAA pp 57ndash109 (Trabalhos de Arqueologia 8)BOAVENTURA Rui (2009) ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa Lisboa Universidade Unpublished PhD dissertationBOAVENTURA Rui FERREIRA Maria Teresa NEVES Maria Joatildeo SILVA Ana Maria (2014) ndash Funerary practices and Anthropology during Middle-Late Neolithic (4th and 3rd millennia BCE) in Portugal old bones new insights Anthropologie LII2 pp 183ndash205BRONK RAMSEY Christopher (2000) ndash Comment on the use of Bayesian statistics for 14C dates of chronologically ordered samples a critical analysis Radiocarbon 42 (2) pp199ndash202BRONK RAMSEY Christopher (2001) ndash Development of the radiocarbon dating pro-gram Radiocarbon 43 (2A) pp 355ndash363BRONK RAMSEY Christopher (2009) ndash Bayesian analysis of radiocarbon dates Ra-diocarbon 51 (1) pp 337ndash360CARVALHO Antoacutenio Faustino (2014) ndash Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neo-lithic societies of Southern Portugal Faro Universidade do Algarve (Promontoria

82 |

Monograacutefica 17)CAUWE Nicolas (1996) ndash La neacutecropole de la grotte drsquoEscoural (prov drsquoEvora Por-tugal) essai drsquointerpreacutetation des rites funeacuteraires In OTTE Marcel SILVA Antoacutenio Carlos eds ndash Recherches preacutehistoriques agrave la grotte drsquoEscoural Portugal Liegravege Uni-versiteacute de Liegravege Service de Preacutehistoire pp 287ndash311 (ERAUL 65) DINIZ Mariana (2007) ndash O siacutetio da Valada do Mato (Eacutevora) aspectos da neolitizaccedilatildeo no interiorSul de Portugal Lisboa IPA (Trabalhos de Arqueologia 48)DINIZ Mariana NEVES Ceacutesar MARTINS Andreia (2016) ndash Sociedades neoliacuteticas e comunidades cientiacuteficas questotildees aos trajectos da Histoacuteria In DINIZ Mariana NEVES Ceacutesar MARTINS Andreia eds ndash O Neoliacutetico em Portugal antes do Horizonte 2020 perspectivas em debate Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses pp131ndash153 (Monografias da AAP 2)GLORY Andreacute VAULTIER Maxime SANTOS Manuel Farinha dos (1966) ndash La grotte orneacutee drsquoEscoural (Portugal) Bulletin de la Socieacuteteacute preacutehistorique franccedilaise Paris 62 (1) pp 110ndash17 GOMES Maacuterio Varela CARDOSO Joatildeo Luiacutes SANTOS Manuel Farinha dos (1990) ndash Artefactos do Paleoliacutetico superior da Gruta do Escoural (Montemor-o-Novo Eacutevora) Almansor Montemor-o-Novo 8 pp 15ndash36GOMES Maacuterio Varela GOMES Rosa Varela SANTOS Manuel Farinha dos (1983) ndash O Santuaacuterio exterior do Escoural Sector NE (Montemor-o-Novo Eacutevora) Zephyrvs 36 pp 287ndash307GOMES Maacuterio Varela GOMES Rosa Varela SANTOS Manuel Farinha dos (1994) ndash O Santuaacuterio exterior do Escoural Sector SE (Montemor-o-Novo Eacutevora) In Actas das V Jornadas Arqueoloacutegicas Lisboa AAP pp 93ndash108GOMES Maacuterio Varela NINITAS Joatildeo Borralho Rita (2012ndash2013) ndash Artefactos liacuteticos do povoado calcoliacutetico do Escoural (Montemor-o-Novo) Almansor Montemor-o-Novo 10 pp 5ndash60 GOMES Rosa Varela GOMES Maacuterio Varela SANTOS Manuel Farinha dos (1983) ndash Santuaacuterio exterior e povoado calcoliacutetico do Escoural Clio Arqueologia Lisboa 1 pp 77ndash78ISIDORO Agostinho Farinha (1981) ndash Espoacutelio oacutesseo humano da Gruta Neoliacutetica do Escoural Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto XXIV (1) pp 5ndash46LEJEUNE Marylise (1995) ndash LrsquoArt Parietal de La Grotte Drsquo Escoural In ARAUacuteJO Ana Cristina LEJEUNE Marylise eds ndash Gruta do Escoural necroacutepole neoliacutetica e arte rup-estre paleoliacutetica Lisboa IPPAA pp 123ndash233 (Trabalhos de Arqueologia 8)MONGE SOARES Antoacutenio (1995) ndash Dataccedilatildeo absoluta da necroacutepole ldquoneoliacuteticardquo da Gruta do Escoural In ARAUacuteJO Ana Cristina LEJEUNE Marylise eds ndash Gruta do Es-coural necroacutepole neoliacutetica e arte rupestre paleoliacutetica Lisboa IPPAA pp 111ndash119 (Trabalhos de Arqueologia 8)NEVES Ceacutesar DINIZ Mariana (2014) ndash Acerca dos cenaacuterios da acccedilatildeo estrateacutegias de implantaccedilatildeo e exploraccedilatildeo do espaccedilo nos finais do 5ordm e na primeira metade do 4ordm mileacutenio AC no sul de Portugal Estudos do Quaternaacuterio Braga APEQ 11 pp 45ndash58OTTE Marcel SILVA Antoacutenio Carlos (1996) ndash Recherches preacutehistoriques agrave la grotte drsquoEscoural Portugal Liegravege Universiteacute de Liegravege Service de Preacutehistoire (ERAUL 65) PEYROTEO STJERNA Rita (2016) ndash Roots of death origins of human burial and the re-search on Early Holocene mortuary practices in the Iberian Peninsula In GRUumlNBERG

| 83

| 2018

Judith GRAMSCH Bernhard LARSSON Lars ORSCHIEDT Joumlrg MELLER Harald eds ndash Mesolithic burials ndash Rites symbols and social organisation of early postglacial communities Halle (Saale) Tagungen des Landesmuseums fuumlr Vorgeschichte Halle pp 629ndash643 (Band 13II)REIMER Paula J BARD Edouard BAYLISS Alex BECK J Warren BLACKWELL Paul G RAMSEY C Bronk BUCK Caitlin E CHENG Hai EDWARDS R Lawrence FRIED-RICH Michael GROOTES Pieter M GUILDERSON Thomas P HAFLIDASON Haflidi HAJDAS Irka HATTEacute Christine HEATON Timothy J HOFFMANN Dirk L HOGG Alan G HUGHEN Konrad A KAISER K Felix KROMER Bernd MANNING Sturt W NIU Mu REIMER Ron W RICHARDS David A SCOTT E Marian SOUTHON John R STAFF Richard A TURNEY Christian S M VAN DER PLICHT Johannes (2013) ndash In-tCal13 and Marine13 Radiocarbon Age Calibration Curves 0ndash50000 Years cal BP Radiocarbon 55(4) pp 1869ndash1887SANTOS Manuel Farinha dos (1964) ndash Vestiacutegios de pinturas rupestres descobertos na Gruta do Escoural O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 2(5) pp 5ndash47SANTOS Manuel Farinha dos (1967a) ndash A necroacutepole de tipo ldquotholosrdquo de Santiago do Escoural O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3(1) pp 107ndash13SANTOS Manuel Farinha dos (1967b) ndash Novas gravuras rupestres descobertas na Gruta do Escoural Revista de Guimaratildees Guimaratildees 72 pp 18ndash34SANTOS Manuel Farinha dos (1971) ndash Manifestaccedilotildees votivas da necroacutepole da Gruta do Escoural In Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia Coimbra Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Nacional vol I pp 95ndash97SANTOS Manuel Farinha dos FERREIRA Octaacutevio da Veiga (1969) ndash O monumento eneoliacutetico de Santiago do Escoural O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3(3) pp 37ndash62SANTOS Manuel Farinha dos GOMES Maacuterio Varela CARDOSO Joatildeo Luiacutes (1991) ndash Dois artefactos de osso poacutes-paleoliacuteticos da Gruta da Escoural (Montemor-o-Novo Eacutevora) Almansor Montemor-o-Novo 9 pp 75ndash94SANTOS Manuel Farinha dos GOMES Maacuterio Varela MONTEIRO Jorge Pinho (1980) ndash Descobertas de arte rupestre na Gruta do Escoural In Altamira Symposium Ma-drid Ministerio de Cultura Subdireccioacuten General de Arqueologiacutea pp 205ndash242SILVA Antoacutenio Carlos MAURAN Guilherme ROSADO Tacircnia MIRAtildeO Joseacute CANDE-IAS Joseacute CARPETUDO Carlos CALDEIRA Ana Teresa (2017) ndash A arte rupestre da Gruta do Escoural novos dados analiacuteticos sobre a pintura paleoliacutetica In Arqueologia em Portugal 2017 estado aa questatildeo Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portu-gueses pp 1003ndash1019 ZILHAtildeO Joatildeo (1992) ndash Gruta do Caldeiratildeo O Neoliacutetico Antigo Lisboa IPPAA (Tra-balhos de Arqueologia 6) ZILHAtildeO Joatildeo (2001) ndash Radiocarbon evidence for maritime pioneer colonization in the Iberian Peninsula Proceedings of the National Academy of Sciences 98(24) pp14

84 |

| 85

| 2018

Building up the land a new appraisal to the megalithic phenomenon in the Barbanza peninsula (Galicia NW Spain)

Construindo o territoacuterio uma nova abordagem do fenoacutemeno megaliacutetico na Peniacutensula do Barbanza (Galiza NO de Espanha)

ABSTRACTFunerary mounds whether megalithic or not feature prominently among the Galician archaeology and their sheer number and monumentality have attracted the attention of scholars ever since the end of the 19th century The Barbanza peninsula (western coast of Galicia) stands out for its numer-ous barrows with a noticeable cluster of those on the high plateau where spatial analyses were undertaken by researchers in the early 80rsquoIn the last decade there has been a renewed effort at surveying the Barbanza peninsula leading to the discovery of scores of new mounds thus significan- tly modifying the distribution of these monuments and breaking some-what the paramount role of the high sierra Moreover by employing new methodologies such as Geographical Information Systems and spatial statistics we can observe that mounds are indeed associa- ted with transit routes and at a local scale with conspicuous areas more often than for instance rock art sitesTherefore an image surges forward where megalithic architecture does not act exclusively as a static milestone but rather as a dynamic agent linked to a cognitive geography developed by communities in the Late Prehistory that undertake the exploitation of different landscapes and resources from the very coast to the uplands In the framework of this process however a marked variability can be observed regarding the conspicuity that these monuments might have had in the prehistoric lands- cape This may suggest a multiplicity of roles or audiences ranging from those intended to be real landmarks to others apparently designed to go unnoticed KEY WORDS Prehistoric mounds prehistoric mobility perceptibility GIS spa-tial statistics

Ramoacuten Faacutebregas Valcarce1 Carlos Rodriacuteguez-Rellaacuten1 Juliaacuten Bustelo Abuiacuten1 Viacutector Barbeito Pose2

1GEPN-AAT Facultade de Xeografiacutea e Historia Universidade de Santiago de Compostela Praza da Universidade 1 15703 Santiago de Compostela A Coruntildea Spain ramonfabregasusces2Centro Arqueoloacutexico do Barbanza 15991 Cespoacuten Boiro A Coruntildea Spain

86 |

RESUMOOs tuacutemulos funeraacuterios sejam megaliacuteticos ou natildeo destacam-se dentro da ar-queologia galega e o seu nuacutemero e monumentalidade tecircm atraiacutedo a atenccedilatildeo dos estudiosos desde o final do seacuteculo XIX A peniacutensula de Barbanza (costa ocidental da Galiza) destaca-se pelos seus numerosos tumulos com um no-taacutevel agrupamento daqueles no planalto onde as anaacutelises espaciais foram rea- lizadas por investigadores no iniacutecio dos anos 80Na ultima deacutecada houve um esforccedilo renovado de examiner peniacutensula de Barbanza levando agrave descoberta de dezenas de novos tumulos modifi-cando significativamente a distribuiccedilatildeo desses monumentos e quebrando um pouco o papel primordial da alta serra em relaccedilatildeo a esse fenoacutemeno fune- raacuterio Aleacutem disso ao empregar novos meacutetodos como Sistemas de Informaccedilatildeo Geograacutefica e estatiacutesticas espaciais podemos observar que os tumulos estatildeo de facto associados a rotas de tracircnsito e em escala local com aacutereas conspiacutecuas mais frequentemente do que por exemplo siacutetios de arte rupestrePortanto surge uma imagem onde a arquitectura megaliacutetica natildeo atua como um marco estaacutetico mas sim como um agente dinacircmico ligado a uma geografia cognitiva desenvolvida por comunidades na preacute-histoacuteria tardia que empreendem a exploraccedilatildeo de diferentes paisagens e recursos desde a costa agraves terras altas No acircmbito deste processo no entanto uma variabilidade acentuada pode ser observada em relaccedilatildeo agrave conspicuidade que esses monumentos poderiam ter na paisagem preacutehistoacuteri-ca Isso pode sugerir uma multiplicidade de papeacuteis ou audiecircncias variando daqueles destinados a ser marcos reais para outros aparentemente destinados a passar despercebidoPALAVRAS-CHAVE Tumulos preacute-histoacutericos mobilidade preacute-histoacuterica perceptibilidade GIS estatiacutesticas espaciais

1 FOREWORDThe relationship between megaliths and movement has been tirelessly explored in the last three decades in almost every area of the Iberian Peninsula where these monuments are present Galicia has not been an exception the impact that ldquoLandscape Archaeologyrdquo had in the area during the 90s leading to the pub-lication of numerous studies exploring the correlation between the mound loca-tion and paths across the landscape (Criado amp Vaquero 1993 Criado amp Faacutebre-gas 1994) Thus Galician mounds have been systematically linked to what has been called the ldquogeography of movementrdquo (Infante amp alii 1992) with their loca-tion analysed in terms of proximity to paths and key points for the transit across the prehistoric landscapes In such a theoretical framework monuments were

| 87

| 2018

understood as agents humanising and structuring the space shaping it accor- ding to the perceptions and beliefs of the groups responsible for the cons- truction of the monuments (Criado amp Villoch 2000)The Barbanza peninsula (Figure 1) has been the paradigmatic sce-nario of several of the most influential approaches of this kind (Criado amp Villoch 1998 2000 Villoch 1995) and the research in the area continues to the present with work carried out after the genera- lization of the GIS (Llobera 2015 Rodriacuteguez-Rellaacuten amp Faacutebregas IP) Still several of these attempts share limitations from a metho- dological and archaeological point of view A thorough review of the inventory of monuments -leading to the discovery of 29 new mounds- combined with the use of GIS and statistics can help us to take a step forward towards the unders- tanding of the role that megaliths played within the landscape and the mobility patterns of the prehistoric human groups in the Barbanza peninsula

2 MOUNDS IN THE BARBANZA PENINSULAThe most up-to-date inventory for the Barbanza Peninsula comprises a total of 209 mounds including 29 new monuments and discarding 6 sites mista- kenly catalogued as such but being ndashin factndashaccumulations of earth of natural origin or recent chronology This inventory shows that while the highlands of the Barbanza peninsula follow the general distribution patterns of the funerary

Figure 1 Top Location of mounds with-in the Barbanza Peninsula Bottom Al-titudinal distribution of mounds (line) compared to that of the terrain in the study area (bars)

88 |

tumuli in north-west Iberia which tends to show a noticeable concentration of these along medium-height plateaus and the flattened top of mountain ranges (Figure 1) barely 46 (22 ) of the reported 209 mounds are located above 400 meters high while 138 (66 ) are found on the coastal platform (0-200 masl) (Bustelo amp alii IP) If we consider the relative presence of monuments against the weight of the different altitudinal ranges within the study area (Figure 1 bottom) the per-centage of mounds in the highlands is higher than the terrain in that specific altitudinal range but ndashagainndash so it is in the coastal platform Moreover the lat-ter is densely populated and the landscape there has been much more altered It is quite possible ndashthereforendash that the initial number of mounds in the coastal platform were even greater with a good proportion of monuments destroyed over the last two centuries due to agricultural and building activities Signifi-cantly the 3 mounds that have been recently destroyed in the study area were located in the coastal areaRegarding the density of monuments in the highlands the highest values identi-fied (185 mounds per km2) are not superior to the lower areasrsquos (239 mounds per km2) Finally no significant statistical differences have been found between the mounds located at the top of the sierra and those in other areas of the Bar-banza peninsula in terms of size (diameter height or volume) or structural cha- racteristics (Bustelo amp alii IP)

3 PREVIOUS APPROACHES Despite recent analyses suggesting the absence of an altitudinal zonation of the megalithic phenomenon of the Barbanza Peninsula many of the studies in the area have focused on the monuments located at the top of the Sierra (Criado amp Villoch 1998 Llobera 2015) These approaches have remarked the existence of an alleged link between mounds and highlands (Criado amp Faacutebre-gas 1994 Criado amp alii 1991) opposing the distribution of these monuments to that of other archaeological sites such as petroglyphs and settlements (Faacutebregas amp Rodriacuteguez 2012) These proposals have contributed to promote a ndashsomehowndash dualistic vision of the landscape in which the highlands would have been a territory with a high symbolic content and partially devoid of po- pulation (Criado 2005) The reason why these works have focused almost exclusively on the highland tumuli is difficult to determine but it seems to be more aesthetic than strictly archaeological The landscape on the top of the Serra do Barbanza has been significantly less transformed by the pass of time apparently retaining a more ldquoprehistoricrdquo appearance The absence of buildings trees etchellip makes the

| 89

| 2018

mounds more easily perceptible and its monumentality seems to be some-what increased therefore providing a good framework for testing hypotheses about the role of these monuments in the creation and organization of terri-tories However the results of these approaches are in our view dangerouly skewed given the reduced size and low variability of the sample used during the analysis Although the results achieved by some of the traditional studies in the area are undoubtedly useful (eg Criado amp Villoch 1998 Villoch 1995) they tend to show some of the limitations typical of these pioneering approaches such as the ldquogratuityrdquo of many of the statements made regarding complex processes such as movement and perception (Llobera 2001) Thus in most cases the paths and routes through which the movement would have been implemented were defined in an ad hoc manner based on field observations conducted only in the proximity of the sites subjected to analysis (Bradley amp alii 1994 Criado amp Villoch 1998) As it happens the resulting path networks do not actually connect different places in the landscape but rather different clusters of monuments (Cri-ado amp Villoch 2000) and ndashas suchndash they have little in common with the tradition-al road network (Figure 2) This kind of approaches increase the risk of artificially overestimating the spatial relationship between mounds or other sites (such as petroglyphs) and transit routes The surge of the GIS technology has drastically changed the analysis of move-

Figure 2 A Paths as proposed by Criado amp Villoch (1998) B Historic paths across the Barbanza (orange The Way of Saint-James according to Naacuterdiz amp alii 1999 red roads in D Fontaacutenrsquos map) C Least-Cost-Paths net-work and density kernel derived from it

90 |

ment and perceptibility allowing the calculation ndash in a quick and relatively simple manner ndash of potential routes across the landscape based on the economy of effort and the energy consumption of the virtual walkers Thus least cost path (LCP) analyses have become routine in the archaeological studies Among the numerous works applying this kind of simulations some have included innova-tive solutions trying to solve the limitations of the LCP analysis such as those derived from the impact of the election of different points of origin and destina-tion on the final outcome (Faacutebrega-Aacutelvarez 2006 White amp Barber 2012 among many others)The Barbanza peninsula has been also the subject to attention by other research-ers using GIS (Rodriacuteguez 2012 Rodriacuteguez amp Faacutebregas 2015) Among them we must highlight the recent work by Llobera (2015) which shows the existence of a link between the mounds located ndashagainndash in the highlands of the Barbanza and the transit corridors connecting different parts of the peninsula

4 ONE MORE APPROACH FROM THE GISIn this paper we have taken into account variables such as altitude slope distance to the nearest LCP density of LCPs topographic prominence (Llobera 2001) cumulative viewsheds horizon height (Hofierka amp alii 2007) and sky-view factor (Zakšek amp alii 2011) registering their values in the locations of the 209 mounds known in the Barbanza In order to determine whether they are different from those of any other place within the study area the same variables have been analysed in the location of 209 (the same number as the mounds) points randomly distributed across the Barbanza peninsula These calculations have been conducted over a 5-metre resolution DEM and using GRASS GIS (version 74) Aiming to detect the existence of significant differenc-es regarding the aforementioned variables the mounds and random points have been analysed together using a generalised linear model (GLM) Such statistical analyses have been conducted on R version 350 (R Core Team 2018)In order to contextualise the monuments within the general movement net-work across the study area we have used a simple approach based on the calculation of a dense net of LCPs connecting those points in the study area where prehistoric settlements have been documented (Faacutebregas amp Rodriacuteguez 2012) that may be coetaneous with the construction and use of the megaliths and thus may have belonged to the same communities those areas that may have played a significant role in getting in and out of the Barbanza peninsula and ndashfinallyndash random points located in both the Northern and Southern shores of the Barbanza

| 91

| 2018

The selection of these areas as points of origin and destiny of our LCP has allowed us to calculate the movement network independently from the mounds contextualising these monuments in the general transit network across the study area which connected the settled zones with both shorelines and with the paths in and out of the Barbanza peninsula This network probably reflects some of the everyday movement patterns of the local groups during the prehis-tory in a reasonably realistic wayThus 5800 LCPs have been calculated across the Barbanza peninsula The sum of all the routes ndash despite being sensibly lower in number than those cal-culated by Llobera (2015) ndash allowed us to estimate the potential transit intensi-ty for the study area identifying those places with a higher probability of having acted as nodes or key points in the transit network (Figure 2C) The results identify several areas that would have higher probabilities of being walked some of which closely match some of the historical routes in the Barbanza such as the local branches of the Way of St James (Naacuterdiz amp alii 1999) (Figure 2A) or the roads featuring in the map by Domingo Fontaacuten (1817-1834) (Figure 2B) thus suggesting that this method might be useful for approaching the tra-ditional movement strategies across the landscapeThe interaction between mounds petroglyphs and the prehistoric landscape was probably not only determined by the remoteness or proximity to important transit routes but also by their capacity of being noticed from the surroundings However while remoteness is relatively easy to approach from a GIS perspec-tive the simulations of the level of perceptibility of a given spotmonument have not yet been implemented in a satisfactory manner Regarding the Gali-cian prehistoric monuments their perceptibility has only been addressed spo-radically (Bradley 2009) usually being confused with the ldquovisibilityrdquo exerted from the monuments (Faacutebregas amp Rodriacuteguez-Rellaacuten 2015)The specific location size or the presence of a cairn made of quartz cobbles or other shining stones would have acted as important elements for modulating the perceptibility of a given mound (Bradley amp alii 2000) However it is impor- tant to remember that the capacity to be noticed is not entirely (or even mainly) based on physical factors the social or ritual significance of a specific mound might have multiplied its perceptibility regardless of its remoteness or size However this kind of socially-based factors can hardly be managed by either Archaeology or ndashmore specificallyndash spatial and GIS studies (Gaffney amp Leusen 1995) Nonetheless very interesting approaches have been carried out trying to determine the possible significance of specific places within the landscape (Rennell 2012 Wheatley 2000) Most of them are based on similar concepts those areas more noticeable from the surroundings are more likely to have

92 |

acted as landmarks and thus might have played a significant role within the cognitive and symbolic geography of the human groups living nearby A recurrent setting of archaeological sites in those prominent or conspicuous areas might imply that these were purposely built in those places where they would have had a higher chance of being noticed and they also shared the im-portance andor symbolism of the place One of the approaches to analyse the potential significance of a given area within the local landscape is the ldquotopo-graphic prominencerdquo described as the percentage of locations that lie below a specific location within a certain radius (Llobera 2001) Another important characteristic for ensuring the perceptibility of a given mo- nument is whether it is located in an open space where it could be easily seen from the surroundings In his work analysing the mounds of the Sierra del Bar-banza Llobera (2015) remarked upon the tendency of mounds to be located in places that would have acted as local horizons as a circumstance that he relates with the will of modulating the perceptibility of these monuments either making them patent or restricting their view to certain areas (Ibid)We have also approached this variable albeit in a much simpler way For this purpose we have calculated the horizon height (Hofierka amp alii 2007) in the areas where mounds petroglyphs and random points are located A type of calculation with outcomes similar to these is the sky-view factor a value deter-mining the portion of the visible sky from each area as limited by the surround-ing relief (Zakšek amp alii 2011) The higher this factor the higher the openness of the area where the monument is located thus increasing its possibilities of being noticed The next step in attempting to measure the perceptibility of mounds and petro-glyphs of the Barbanza peninsula was to calculate the level of conspicuity of their specific locations The calculation of such a variable can be very difficult to implement although several approaches such as the ldquovisual affordancesrdquo or ldquovisualscapesrdquo have proven quite useful (Llobera amp alii 2010) These simu-lations are based on calculating either a cumulative viewshed for a significant number of points unevenly distributed across the area of interest or a total viewshed in which a viewshed analysis is conducted for each of the cells in the study area In our case we have created a cumulative viewshed from points generated every 500 metres along the 5800 routes crossing the study area 5400 points randomly generated and 2193 points forming a grid separated by 500 metres

5 RESULTSThe distribution of the 209 mounds known in the Barbanza peninsula suggests

| 93

| 2018

that mounds are not specially linked to higher altitudes As we have already no- ted only 22 of these are located above 400 meters high while the 66 are found in the coastal platform While the GLM suggests that the altitude may have had some statistical significance in explaining the location of mounds (Table 1) the Estimate points to a decrease in the probability of finding mounds as the al-titude increases clearly indicating that the traditional link between mounds and highlands in the study area should be qualified In fact the results of the GLM show that -rather than altitude- slope gradient is much more powerful as explanatory variable (Table 1) suggesting that the mounds were preferentially located in places with no or gentle slopes rather than in areas with a specific altitude This circumstance may explain also the altitu-dinal distribution of megaliths in the Barbanza Peniacutensula since mounds tend to cluster in the ranges between 0 and 200 masl and ndashagainndash between 500 and 650 meters Meanwhile monuments are very scarce in those intermediate altitudes which ndashin the Barbanza peninsulandash are characterized by the presence of strong slopes The analysis of the monuments in our inventory suggests the existence of a strong relationship between mounds and LCPs especially in the case of the

Table 1 Generalized Linear Model showing the comparison between mounds and random points (Significant at 01 level Significant at 0001 level)

Figure 3 Detail of the den-sity of Least-Cost-Paths and accumulative viewsheds in the mounds at the top of Ser-ra do Barbanza

94 |

cluster located at the top of the Sierra del Barbanza (Figures 2 and 3) ndashwhere all the megaliths located on or immediately adjacent to those areas have a higher probability of being walked as Llobera (2015) has already reported- and also in several areas of the coastal platform The results of the GLM specifically comparing mounds and random points show that the variable LCP density is significantly different and thus the proximity to areas that are more likely to have played an important role in the movement across the Barbanza peninsu-la would be a useful predictor for the position of barrows (Table 1) This is not the case for the variable ldquodistance to LCPrdquo which ndashunlike in former analyses (Rodriacuteguez-Rellaacuten amp Faacutebregas IP)ndash does not seem to be statistically relevantThe distribution of mounds regarding the other variables considered in this paper shows how mounds tend to be mainly located in those places with a low horizon height and a high sky-view factor that is in open spaces with no ma-jor topographic obstacles hampering their conspicuousness (Figure 3) Being

Figure 4 Classification of mounds according to the sum of accumulative viewsheds of their locations

| 95

| 2018

built in these areas mounds may have been able to act as local horizons and thus become significant landmarks Likewise the analysis of the relationship between mounds and topographic dominance points towards a trend of these monuments to being located in places with a higher prominence than the im-mediate surroundings (Rodriacuteguez-Rellaacuten amp Faacutebregas IP) However the GLM shows that the difference between mounds and random locations is significant in the case of the topographic prominence (Table 1) but not for the variables horizon and sky-view and viewshed suggesting that the latter have a low predictive power regarding the location of mounds within the study area Such a circumstance does not exclude the possibility of mounds sometimes being preferentially located at open places where they could have acted as local horizons and therefore being widely seen as it seems to happen in the clusters analysed in detail in this paper or previous ones (Llobera 2015) although our analyses suggest that this is not a characteristic widely shared by the barrows in our areaAs a result the analysis of mounds in the Barbanza peninsula seems to sug-gest an important variability regarding the location of these monuments with monuments located near major routes or easily perceptible from the surroun- dings while others seem to have been conceived to go almost unnoticed (Figure 4) resembling the relationship with the landscape shown by the rock art (Rodriacuteguez-Rellaacuten amp Faacutebregas IP)

6 CONCLUSIONSA case has been made for mounds in NW Iberia acting not as simple land-marks but rather as reference points in a social landscape presided by a no-ticeable degree of mobility This seems to be fit among communities whose life was not altogether settled until well into the Copper Age and groups or individu-als moved about relatively ample distances and exploited different sections of the landscape which included both high- and lowland or coastal areas Assu- ming this circumstance we have tried to ascertain and objectify the relation-ship between mounds and mobility across the landscape choosing an area ndash the Barbanza peninsula ndash that has been well studied in recent decadesThe results of the calculations made using the GIS and statistical tools suggest that the mounds of the Barbanza peninsula tend to be located near those ar-eas that might have played a significant role as keypoints or nodes in the mo-bility across the study area Such a circumstance seems to endorse the results of both the traditional approaches and previous GIS analyses implemented in this area and it reinforces the notion of the Galician megaliths as monuments linked to the movement between different sectors of the landscape

96 |

However at the same time our results convey the idea that the levels of percep-tibility or conspicuity of the monumentsrsquo settings are highly variable with mounds placed in areas that may have acted as local landmarks and others situated in spots that ndash at least apparently ndash would have made them less noticeable from the surroundings Such diversity calls for a qualification of the automatic consideration of these monuments as landmarks intended to be seen Although such a wish is indubitable for some barrows in the study area there would be other monuments that may be intended to pass as unnoticed as possible This variability is only un-derstandable for a cultural phenomenon that ndash in NW Iberia ndash comprises several thousand tumuli and lasted for more than 2500 years

7 REFERENCESBRADLEY Richard (2009) ndash Image and Audience Rethinking prehistoric art Oxford Oxford University PressBRADLEY Richard CRIADO BOADO Felipe FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten (1994) ndash Rock art research as landscape archaeology a pilot study in Galicia North-West Spain World Archaeology 253 pp 374ndash390BRADLEY Richard PHILLIPS Tim RICHARDS Colin WEBB Matilda (2000) ndash Decorating the Houses of the Dead Incised and Pecked Motifs in Orkney Chambered Tombs Cam-bridge Archaeological Journal 111 pp 45ndash67BUSTELO ABUIacuteN Juliaacuten RODRIacuteGUEZ-RELLAacuteN Carlos FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten BAR-BEITO POSE Viacutector (In Press) ndash Aleacuten da Serra O fenoacutemeno tumular na Peniacutensula do Bar-banza a traveacutes dos SIX e a estatiacutestica espacial GallaeciaCRIADO BOADO F (ed) (1991) ndash Arqueologiacutea del Paisaje El aacuterea Bocelo-Furelos entre los tiempos paleoliacuteticos y medievales ArqueoloxiacuteaInvestigacioacuten 6 Santiago de Compostela Xunta de GaliciaCRIADO BOADO Felipe (2005) ndash Megalitismo da Barbanza In AYAacuteN VILA X M ed ndash Os Castros de Neixoacuten Boiro A Coruntildea Noia Toxosoutos pp 13ndash35CRIADO BOADO Felipe FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten VAQUERO LASTRES Jacobo (1994) ndash Regional Pattering among the Megaliths of Galicia Oxford Journal of Archaeology 131 pp 33ndash47CRIADO BOADO Felipe VAQUERO LASTRES Jacobo (1993) ndash Monumentos nudos en el pantildeuelo Megalitos nudos en el espacio Anaacutelisis del emplazamiento de los monumentos tumulares gallegos Espacio Tiempo y Forma 6 pp 205ndash248CRIADO BOADO Felipe VILLOCH VAacuteZQUEZ Victoria (1998) ndash La monumentalizacioacuten del paisaje percepcioacuten actual y sentido original en el Megalitismo de la Sierra de Barbanza (Galicia) Trabajos de Prehistoria 551 pp 63ndash80CRIADO BOADO Felipe VILLOCH VAacuteZQUEZ Victoria (2000) ndash Monumentalizing landscape from present perception to the past meaning of Galician megalithism (North-West Iberian Peninsula) European Journal of Archaeology 32 pp 188ndash216LLOBERA Marcos FAacuteBREGA-AacuteLVAREZ P PARCERO-OUBINtildeA C (2011) ndash Order in move-ment a GIS approach to accessibility Journal of Archaeological Science 384 pp 843ndash851FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten RODRIacuteGUEZ RELLAacuteN Carlos (2012) ndash A Prehistoria Recen-

| 97

| 2018

te do Barbanza In FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten amp RODRIacuteGUEZ RELLAacuteN Carlos eds ndash A arte rupestre no Norte do Barbanza Santiago de Compostela Andavira Editora pp 61ndash84FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten RODRIacuteGUEZ-RELLAacuteN Carlos (2015) ndash Walking on the stones of years Some remarks on the north-west Iberian rock art In SKOGLUND Peter LING Johan amp BERTILSSON Ulf eds ndash Picturing the Bronze Age Oxford Oxbow Books pp 47ndash63GAFFNEY V LEUSEN V (1995) ndash PostscriptmdashGIS environmental determinism and archae-ology a parallel text In LOCK G R amp STANCIC Z eds ndash Archaeology and geographic in-formation systems a European perspective New York Taylor and Francis pp 367ndash382HOFIERKA J HULD T CEBECAUER T SURI M (2007) ndash Open Source Solar Radiation Tools for Environmental and Renewable Energy Applications ndash International Symposium on Environmental Software Systems PragueINFANTE ROURA Faustino VAQUERO LASTRES Jacobo CRIADO BOADO Felipe (1992) ndash Vacas caballos abrigos y tuacutemulos definicioacuten de una geografiacutea del movimiento para el es-tudio arqueoloacutegico Cuadernos de Estudios Gallegos 40105 pp 21ndash39LLOBERA Marcos (2001) ndash Building Past Landscape Perception With GIS Understanding Topographic Prominence Journal of Archaeological Science 289 pp 1005ndash1014LLOBERA Marcos (2015) ndash Working the digital some thoughts from landscape archaeolo-gy In CHAPMAN R amp WYLIE Alison eds ndash Material Evidence Learning from archaeologi-cal practice Abingdon Routledge pp 173ndash188LLOBERA Marcos WHEATLEY David STEELE James COX Simon PARCHMENT Oz (2010) ndash Calculating the inherent visual structure of a landscape (inherent viewshed) using high-throughput computing Tomlin 1990NAacuteRDIZ ORTIZ Carlos CREUS ANDRADE Juan VARELA GARCIacuteA Alberto (1999) ndash Car-tografiacutea histoacuterica de los Caminos de Santiago en la provincia de A Clruntildea A Coruntildea Diputacioacuten Provincial de A CoruntildeaR_CORE_TEAM (2018) ndash R A Language and Environment for Statistical ComputingR_Core_Team 2016 Vienna (Austria 2018) httpwwwR-projectorgRENNELL Rebecca (2012) ndash Landscape Experience and GIS Exploring the Potential for Methodological Dialogue Journal of Archaeological Method and Theory 194 pp 510ndash525RODRIacuteGUEZ AacuteLVAREZ Emilio (2012) ndash Os petroacuteglifos do Barbanza dende unha perspectiva espacial In FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten amp RODRIacuteGUEZ RELLAacuteN Carlos eds ndash A arte rupestre no Norte do Barbanza Santiago de Compostela Andavira Editora pp 119ndash134RODRIacuteGUEZ RELLAacuteN Carlos FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten (2015) ndash Arte rupestre galai-ca unha achega dende a estatiacutestica espacial e os SIX Semata Ciencias Sociais e Humani-dades 27 pp 9ndash34RODRIacuteGUEZ-RELLAacuteN Carlos FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten (In Press) ndash Monuments on the move Assessing megalithsrsquo interaction with the NW Iberian Landscapes In HINZ Mar-tin ed ndash Megaliths Societies and Landscapes Early Monumentality and Social Differenti-ation in Neolithic Europe Kiel Universitaumlt zu Kiel VILLOCH VAacuteZQUEZ Victoria (1995) ndash Monumentos y petroglifos la construccioacuten del espacio en las sociedades constructoras de tuacutemulos del Noroeste peninsular Trabajos de Prehisto-ria 521 pp 39ndash55VILLOCH VAacuteZQUEZ Victoria (1998) ndash Un nuevo menhir en Cristal Gallaecia 17 pp 107ndash120

98 |

WHEATLEY D (2000) ndash Spatial Technology and archaeologial theory revisited In LOCK-YEAR K SLY J T amp MIHAILESCU-BIRLIBA V eds ndash CAA rsquo96mdashcomputer applications and quantitative methods in archaeology Oxford Archaeopress pp 123ndash132WHITE Devin A BARBER Sarah B (2012) ndash Geospatial modeling of pedestrian transporta-tion networks a case study from precolumbian Oaxaca Mexico Journal of Archaeological Science 398 pp 2684ndash2696ZAKŠEK Klemen OŠTIR Kristof KOKALJ Žiga (2011) ndash Sky-view factor as a relief visualiza-tion technique Remote Sensing 32 pp 398ndash415

| 99

| 2018

ldquoActuaciones de excavacioacuten y rehabilitacioacuten en los conjuntos de tuacutemulos funerarios de Chan de Castintildeeiras y Outeiro de Ombra peniacutensula del Morrazo Galiciardquo

ldquoExcavation and restoration interventions in the burial mounds of Chan de Castintildeeiras and Outeiro de Ombra peniacutensula of Morrazo Galiciardquo

Juan C Castro Carrera arqueoacutelogo Anta de Moura SLjuancastroantademouracom

RESUMENEn relacioacuten con su puesta en valor se llevan a cabo una serie de actua-ciones de conservacioacuten y rehabilitacioacuten de los conjuntos megaliacuteticos de Chan de Castintildeeiras Outeiro de Ombra y Chan de Armada en los ayun-tamientos de Vilaboa y Mariacuten en la peniacutensula del Morrazo suroeste de Galicia Se actuacutea en un total de doce tuacutemulos de un aacutembito total que in-tegra a veinte si bien con distinto grado de intensidad En tres de ellos se llevan a cabo intervenciones de excavacioacuten con el objeto de rehabilitar sus caacutemaras funerarias En este texto nos centraremos en la descripcioacuten de las intervenciones y resultados para los dos primeros conjuntos cita-dos que han permitido mejorar las condiciones de conservacioacuten y legibi-lidad de los monumentos funerarios al tiempo que un registro preciso de su morfologiacutea y nuevos datos sobre sistemas constructivos que permiten un mejor conocimiento de la arquitectura megaliacutetica del NW peninsularPALABRAS CLAVE Maacutemoa rehabilitacioacuten arquitectura

ABSTRACTIn relation to its enhancement a series of conservation and restoration actions are carried out on the megalithic groups of Chan de Castintildeeiras Outeiro de Ombra and Chan de Armada in the municipalities of Vilaboa and Mariacuten on the Morrazo peninsula southwest of Galicia The actions were carried out on a total of twelve mounds of an area that integrates twenty although with different degrees of intensity In three of them exca-vation interventions are carried out in order to rehabilitate their burial chambers In this text we will focus on the description of the interventions and results for the first two sets which have allowed for the improvement of the conditions of conservation and readability of the funeral monu-

100 |

ments while providing an accurate record of their morphology and new data on construction systems that allow for a better knowledge of the megalithic architecture of the NW peninsulaKEY WORDS Maacutemoa restoration architecture

INTRODUCCIOacuteNLos trabajos de campo de las actuaciones arqueoloacutegicas y de rehabilitacioacuten objeto de este texto tuvieron lugar en varios tuacutemulos funerarios de los ayun-tamientos de Vilaboa Mariacuten y Moantildea situados en la Peniacutensula del Morrazo entre las riacuteas de Vigo y Pontevedra provincia de Pontevedra en el suroeste de Galicia

Las intervenciones se encuadraron en un proyecto de puesta en valor de un conjunto de monumentos megaliacuteticos Estas maacutemoas1 estaacuten situadas entre los lugares de Chan de Castintildeeiras y Chan de Arquintildea y se define una ruta de poco maacutes de 7 kiloacutemetros que permite visitar un total de 20 tuacutemu-los Promovidos por la Direccioacuten Xeral de Patrimonio Cultural de la Xunta de Galicia (en adelante DXPC) se redactan en 2005 de forma coordinada dos proyectos el de acondicionamiento fiacutesico y ambiental de una senda y el de actuaciones arqueoloacutegicas y de conservacioacuten a llevar a cabo en todo el aacutem-bito (redactado este por quien suscribe)No seraacute hasta 2008 cuando las actuaciones se ejecuten siendo las arqueo- loacutegicas financiadas por los ayuntamientos de Vilaboa (las que centran este texto) Mariacuten la DXPC y la Comunidad de Montes de Domaio (Moantildea) El objetivo principal de las intervenciones era rehabilitar las estructuras intra-tumulares de algunas de las maacutemoas y hacer reconocibles los tuacutemulos en todas ellas toda vez que algunos de ellos teniacutean una capa de humus sobre su superficie que modificaba considerablemente su fisonomiacutea En el caso de las estructuraras megaliacuteticas la rehabilitacioacuten estaba condicionada por los resultados de la excavacioacuten arqueoloacutegica previa Tiene esto que ver con las 1 Topoacutenimo maacutes extendido en Galicia para hacer referencia a un tuacutemulo funerario prehistoacuterico

Fig 1 Localizacioacuten del aacutembito de estudio en el NW peninsular

| 101

| 2018

conocidas alteraciones generalizadas de los tuacutemulos funerarios de Galicia debido a acciones furtivas en busca de los tesoros que la tradicioacuten oral deciacutea que se escondiacutean bajo tierra o el aprovechamiento de las propias losas que conformaban el megalito En uacuteltima instancia se trataba de facilitar a los visi- tantes la legibilidad de cada tuacutemulo en el marco de la puesta en valor de los yacimientos Es por lo anterior que desde el proyecto inicial se establecieron distintos grados de intervencioacuten desde limpiezas de cubierta vegetal hasta excavaciones en aacutereaLas excavaciones aportaron mucha informacioacuten relativa al proceso con-structivo de los megalitos a las cimentaciones de los ortostatos y en general sobre la arquitectura de estos monumentos Esta informacioacuten fue poste-riormente incorporada a las rehabilitaciones que en general siguieron los procesos teacutecnicas y materiales documentados aunque no los medios em-pleados Esto uacuteltimo hubiera sido de enorme intereacutes para avanzar auacuten maacutes en el conocimiento de la arquitectura megaliacutetica pero como es obvio habriacutea requerido de mayor disponibilidad econoacutemica y de tiempo y desde el prin-cipio no se contemplaba esta opcioacutenEl precedente de este proyecto fue la rehabilitacioacuten de la ldquoMaacutemoa do Reirdquo (Chan de Castintildeeiras 1) ejecutada entre los antildeos 2001-03 (Castro y Vaacutezquez 2006 p 205-211) Aquella actuacioacuten tuvo como objetivo principal mejorar las condiciones de conservacioacuten del monumento megaliacutetico de cara a su futura puesta en valor y la intensa rehabilitacioacuten se concibioacute como un proyecto experimental y privilegiando los aspectos didaacutecticos Quince antildeos despueacutes de concluido con la perspectiva del uso de este espacio por el puacute-blico en general y el conocimiento de sus reacciones consideramos que la actuacioacuten fue acertada y funciona plenamente desde los puntos de vista de conservacioacuten y didaacutectico el visitante tiene en este monumento la opcioacuten de entrar en una tumba de comprender en toda su complejidad la arquitectura megaliacutetica y asiacute luego visitar el resto de los tuacutemulos con una idea maacutes pre-cisa de los elementos presentes y ausentes y la variabilidad que caracteriza a estos monumentosCentraremos este artiacuteculo en las intervenciones realizadas en el tramo norte de la ruta con 13 tuacutemulos a lo largo de 2 kiloacutemetros de senda en las necroacutepolis de Chan de Castintildeeiras y Outeiro de Ombra Comentaremos tambieacuten la intervencioacuten puntual en la maacutemoa situada en el extremo sur de la ruta (Chan de Arquintildea) y citaremos la realizada en una de las de mayor entidad del conjunto Chan de Armada 1 que debido a su complejidad resulta imposible abordar aquiacute El objetivo es aportar una visioacuten general de las actuaciones realizadas centraacutendonos maacutes en los aspectos

102 |

vinculados a la rehabilitacioacuten que en los estrictamente arqueoloacutegicosEn su conjunto la actuacioacuten fue un trabajo interdisciplinar como no podiacutea ser de otro modo en el que ademaacutes de arqueoacutelogos participaron especialis-tas en diversas disciplinas bajo la direccioacuten de quien suscribe2Contexto arqueoloacutegico La peniacutensula del Morrazo es un espacio geograacute- fico de gran riqueza arqueoloacutegica con una notable concentracioacuten de yacimientos catalogados y como han puesto en evidencia las numerosas intervenciones arqueoloacutegicas realizadas y sus resultados Existe en el Mor-razo un buen nuacutemero de ldquomaacutemoasrdquo pero destaca el grupo que se localiza en la parte alta de su eje central en el extremo norte por el gran nuacutemero de caacutemaras megaliacuteticas conservadas algunas de corredor incluso con presen-cia de arte parietal (Carrera 2011 pp 385-404)En el extremo norte del aacutembito de actuacioacuten se localiza el conjunto fune- rario maacutes numeroso el de ldquoChan de Castintildeeirasrdquo Este grupo estaacute emplaza-do entre las cotas de 405-425 m en los teacuterminos municipales de Vilaboa y Mariacuten y estaacute compuesto por 8 tuacutemulos Todos ellos tienen vestigios visibles de caacutemara funeraria con distinto grado de conservacioacuten pero en general afectados por expolios y en varios casos con excavaciones arqueoloacutegicas de los antildeos 50 del pasado siglo Nos referimos a los trabajos de Ramoacuten Sobrino Lorenzo-Ruza si bien su prematura muerte nos dejoacute sin gran parte

2 Al margen del equipo de arqueoacutelogos auxiliares y topoacutegrafos formaron parte del equipo en la fase de rehabilitacioacuten Rosa Benavides Garciacutea e Iria Loacutepez Baltar (restauradoras) Joseacute Luis Basanta (arquitecto) A Otero y Miguel Aacute Fandintildeo Gondar (canteros) y Mariacutea Formoso Beloso (ingeniera forestal y de montes) Contamos ademaacutes con el asesoramiento y participacioacuten

Fig 2 Localizacioacuten de las maacutemoas del aacutembito de actuacioacuten Con nuacutemero rojo aquellas en las que se intervino

F

| 103

| 2018

de los datos que aportaron sus investigaciones (Sobrino 1956a) Intervino en las maacutemoas de Chan de Castintildeeiras 1 2 3 y 4 Pedralonga en Chan de Armada 1 y 2 y en Chan de Arquintildea (Sobrino 1956b) y existen dudas sobre algunos de los otros tuacutemulos En general estos tuacutemulos tienen diaacutemetros de entre 11-15 m alturas entre 050-110 m con presencia de coraza en la mayoriacutea Del conjunto sobresale la ldquoMaacutemoa do Reirdquo que haciendo honor a su topoacutenimo tiene un diaacutemetro de 26 m y una altura de 2 m con caacutemara poligonal con corredor de acceso y con gravados y restos de pintura en uno de sus ortostatos Tambieacuten tiene gravados en su caacutemara la maacutemoa de Pe-dralongaEl otro conjunto del que daremos cuenta es el de Outeiro de Ombra situado aproximadamente a 1 kiloacutemetro al SW del anterior y compuesto por 5 tuacutemu-los Cuatro de ellos estaacuten muy cercanos entre siacute a una cota en torno a 410 m y fue en ellos en los que se intervino Son tuacutemulos con diaacutemetros de entre 13-18 m y alturas entre 080-145 m con presencia en todos ellos de vestigios de caacutemara funeraria y coraza peacutetrea El quinto tuacutemulo del grupo tiene dimensiones algo inferiores y tambieacuten se aprecian restos de caacutemara funeraria estaacute situado a unos 250 m al SW de los anteriores a una cota maacutes bajaRelacionamos en la tabla que sigue los monumentos que forman parte de la ruta en su mitad norte que fue donde se actuoacute con el antildeadido de Chan de Arquintildea situada en el extremo sur Estaacuten numerados de norte a sur (1ordf columna que es el nuacutemero con el que se identifican en el plano de la Figura

puntual del Dr Fernando Carrera Ramiacuterez arqueoacutelogo y restaurador especialista en arte parietal megaliacutetico(Escuela Superior de Restauracioacuten y Conservacioacuten de Bienes Culturales de Galicia) y del Dr Antonio Martiacutenez Cortizas edafoacutelogo (Departa-mento de Edafologiacutea y Quiacutemica Agriacutecola Universidad de Santiago de Compostela) a quienes agradecemos su desinteresada colaboracioacuten

104 |

2) con fondo en gris en aquellos en los que se intervino en las actuaciones de las que damos cuenta En la segunda columna relacionamos la clave con la que figuran en el Inventario de la DXPCLos 4 tuacutemulos restantes son los dos de Chan de Fonteseca y los otros dos de Lagocheiras en S Tomeacute de Pintildeeiro (Mariacuten) situados a escasa distancia al SW del conjunto de Chan de Armada En todos los casos la propiedad es privada comunal En total se intervino en 12 tuacutemulos que se suman a la actuacioacuten previa en la ldquoMaacutemoa do Reirdquo (Chan de Castintildeeiras 1) si bien soacutelo en tres de ellos se rehabilitoacute la caacutemara funeraria

CRITERIOS DE INTERVENCIOacuteN- Garantizar la reversibilidad de la intervencioacuten permitiendo asiacute la posibilidad de una eventual correccioacuten y mejora futura- Identificacioacuten de los nuevos elementos que se incorporen a fin de que sea posible diferenciar original de antildeadido- La restitucioacuten volumeacutetrica del tuacutemulo deberaacute disponer de una base arqueo- loacutegica solvente para evitar una reconstruccioacuten artificiosa non deseable- La exposicioacuten nunca pondraacute en riesgo la conservacioacuten del monumento siendo un objetivo la compatibilizacioacuten de ambos fines- En la rehabilitacioacuten de las caacutemaras se respetan las teacutecnicas constructivas ori- ginales empleando teacutecnicas actuales tan solo cuando es imprescindible garan-tizar la estabilidad de la estructura peacutetrea cuestioacuten que se considera prioritaria La consecucioacuten de este fin no debe suponer una alteracioacuten de las caracteriacutesticas arquitectoacutenicas del monumento- La excavacioacuten arqueoloacutegica deberaacute aportar todos los datos necesarios para permitir llevar en su caso los ortostatos desplazados a su posicioacuten original Asiacute mismo aportaraacute los datos que se utilizaraacuten en la eleccioacuten del sistema que garan-tice la estabilidad de la estructura- La rehabilitacioacuten de la estructura intratumular tendraacute como prioridad garan-tizar su solidez evitando asiacute posibles problemas en el futuro Este objetivo deberaacute alcanzarse en coherencia con la esteacutetica y arquitectura original del monumento- Seraacute necesario reconstruir el suelo original para volver a abrir las fosas de cimentacioacuten de las losas caiacutedas Para esto ese suelo reconstruido deberaacute tener la compactacioacuten necesaria para garantizar la estabilidad de la pieza- Si a los efectos de garantizar la estabilidad y durabilidad de la estructura intra-tumular o de facilitar la comprensioacuten del monumento por el puacuteblico fuese preci-so reponer alguna pieza esta se obtendraacute mediante las teacutecnicas constructivas originales y su condicioacuten seraacute reconocible en el monumento original y en la totalidad de la documentacioacuten que se elabore

| 105

| 2018

- En la restitucioacuten volumeacutetrica de la masa tumular el volumen a restituir seraacute cubierto con geotextil que actuaraacute como un elemento diferenciador separando las partes intervenidas del tuacutemulo de aquellas no intervenidas- En los trabajos de cubierta vegetal no se emplearaacute ninguacuten tipo de herbicida a fin de evitar cualquier contaminacioacuten de las muestras que eventualmente se pudieran recoger La revegetacioacuten no podraacute afectar a la conservacioacuten del monu-mento ni alterar el paisaje en el que se inserta

ACTUACIONES REALIZADAS EN CADA MAacuteMOADescribimos ahora la actuacioacuten realizada en cada uno de los tuacutemulos en los que se intervino volviendo despueacutes con maacutes detalle sobre aquellos en los que se realizoacute una rehabilitacioacuten del dolmen La descripcioacuten de los trabajos realizados es necesariamente somera para adaptarnos al espacio del que disponemosComentamos a continuacioacuten brevemente algunos aspectos comunes a todas las actuacionesElemento diferenciador en tumulacioacuten Se utilizoacute siempre geotextil para cubrir las superficies del tuacutemulo donde se detuvo la excavacioacuten tanto planta como perfiles antes de comenzar su restituacioacuten volumeacutetricaCubierta vegetal Sobre el tuacutemulo y contorno inmediato se sembroacute una foacutermula cespitosa similar a la existente de forma natural si bien privilegiando especies de crecimiento maacutes lento y de mayor resistencia a fin de facilitar el manten-imiento En los tuacutemulos en los que la coraza quedariacutea a la vista (los de Outeiro de Ombra) se utilizoacute otra especie la festuca ovina Fue la elegida por ser tapizante (crece muy poco) cubriendo con tierra los huecos entre las piedras de la coraza de manera que evita la erosioacuten Tiene un sistema radicular potente pero no tanto como para mover las piedras de las corazas Ya la habiacuteamos empleado unos antildeos antes en la coraza de la ldquoMaacutemoa do Reirdquo de Chan de Castintildeeiras y los resultados en los antildeos posteriores a su implantacioacuten fueron excelentesEn todos los casos se llevaron a cabo las siguientes intervenciones que relacio-namos ahora y ya no lo citaremos en cada una de las actuacionessectDocumentacioacuten topograacutefica fotograacutefica y planimeacutetricasectLimpieza en detalle de la cubierta vegetal sobre el tuacutemulo y su contorno inme-diatosectRevegetacioacuten del tuacutemuloEstas intervenciones baacutesicas fueron las uacutenicas realizadas en las actuaciones llevadas a cabo en Chan de Castintildeeiras 5 Chan de Castintildeeiras 8 y Chan de Castintildeeiras 7 En las demaacutes maacutemoas se realizaron otras intervenciones a mayores de las baacutesicas que pasamos a describir

106 |

Chan de Castintildeeiras 4 sectDefinicioacuten de la morfologiacutea del tuacutemulo (mediante sondeos y posterior retirada de rellenos de eacutepoca contemporaacutenea identificados)sectExcavacioacuten arqueoloacutegica en aacuterea centrada en la caacutemarasectRehabilitacioacuten de la caacutemarasectRestitucioacuten volumeacutetrica de la masa tumular Se llevoacute a cabo en los siguientes sectores- Los excavados con metodologiacutea arqueoloacutegica en esta intervencioacuten- Los excavados en intervenciones antiguas- Los excavados por furtivos yo animales- Huecos dejados por tocones de aacuterboles

Chan de Castintildeeiras 3sectLimpieza y documentacioacuten de los perfiles de la excavacioacuten de los antildeos 50sectReconstruccioacuten del craacuteter de expolio central como medio de devolver la fi-sonomiacutea del tuacutemulo a una situacioacuten anterior a su excavacioacuten arqueoloacutegica en los antildeos 50 del pasado siglo al tiempo que constituiacutea la mejor manera de ldquosujetarrdquo el uacutenico ortostado conservado y proteger la masa tumular visible en los perfiles que dejoacute la excavacioacuten de los antildeos 50

Fig 3 Chan de Castintildeeiras 8 a la finalizacioacuten de la intervencioacuten desde S

| 107

| 2018

Fig 4 Outeiro de Ombra limpieza cubierta vegetal desde SE

Chan de Castintildeeiras 2 sectDefinicioacuten de la morfologiacutea del tuacutemulo (mediante sondeos y posterior retirada de los rellenos de eacutepoca contemporaacutenea identificados)sectExcavacioacuten arqueoloacutegica en aacuterea centrada en la caacutemarasectRehabilitacioacuten de la caacutemarasectRestitucioacuten volumeacutetrica de la masa tumular Se llevoacute a cabo en los siguientes sectores Los excavados con metodologiacutea arqueoloacutegica en esta intervencioacuten Los excavados en intervenciones antiguas Los excavados por furtivos yo animales Huecos dejados por tocones de aacuterboles

Outeiro de Ombra 1 2 3 y 4sectAcondicionamiento espacio entre piedras de las corazas a fin de facilitar el crecimiento de la cubierta herbaacutecea y de este modo asegurar la coraza al ti-empo que se deja visiblesectRevegetacioacuten de la masa tumular y coraza

108 | 3 Esta intervencioacuten complementaria fue financiada por la DXPC siendo la inicial por el Ayuntamiento de Mariacuten

Fig 5 Outeiro de Ombra al finalizar la intervencioacuten desde SE En primer teacutermino la 10 detraacutes la 11 y al fondo la 12 (seguacuten numeracioacuten de Fig 2)

Chan de Armada 1Como dijimos y debido a su gran complejidad no podremos tratar en este texto la actuacioacuten realizada en este megalito pero siacute queremos apuntar las liacuteneas baacutesicas que la caracterizaron La excavacioacuten dio a conocer un mo- numento complejo en el que se advierten reformas y distintas estructu- ras ademaacutes de la intratumular previamente conocida (caacutemara poligonal con corredor) sin duda el principal hallazgo es una caacutemara peacutetrea anterior al monumento conocido y auacuten otra estructura anterior insuficientemente caracterizada La rehabilitacioacuten fue muy compleja y delicada condicionada por la ausencia de un suelo interior y por las patologiacuteas de los ortostatos La actuacioacuten realizada consistioacute ensectDefinicioacuten de la morfologiacutea del tuacutemulo mediante sondeos y posterior retira-da de los rellenos de eacutepoca contemporaacutenea identificadossectExcavacioacuten arqueoloacutegica Se centroacute en la estructura intratumular pero se realizaron sondeos complementarios3 en distintos puntos del tuacutemulo debido a los hallazgos que se dieron en los sondeos previos de definicioacutensectRehabilitacioacuten de la caacutemarasectRestitucioacuten volumeacutetrica de la masa tumular

| 109

| 2018

Fig 6 Chan de Arquintildea al finalizar la intervencioacuten desde S

Chan de Arquintildea (Castro 2008) sectAporte de tierra vegetal entre las piedras de coraza descubiertas por la erosioacutensectRevegetacioacuten de la masa tumular y coraza

La excavacioacuten y rehabilitacioacuten de Chan de Castintildeeiras 4De todas las intervenciones de este proyecto esta fue sin duda la maacutes com-pleja en lo que a la caacutemara megaliacutetica se refiere no asiacute en cuanto al tuacutemulo que fue la de Chan de Armada 1Antes del inicio de la intervencioacuten en la parte central del tuacutemulo se apre-ciaban cinco ortostatos y restos pertenecientes a otros dos ademaacutes de una losa de funcioacuten indeterminada Los ortostatos estaban caiacutedos en casi todos los casos como probable consecuencia de su apeo con maderas en la excavacioacuten de los antildeos 50 (que finalmente acabaron pudriendo) y por la accioacuten furtiva posterior dando un aspecto de caos al conjunto

110 |

Fig 8 Chan de Castintildeeiras 4 previo retirada ortostatos desde W

Se planteoacute la excavacioacuten de una superficie rectangular de 650 x 400 m que la incluiacutea completamente la caacutemara Dentro de esta superficie se optoacute por excavar soacutelo el nivel superficial en una franja de 350 x 100 m a fin de proteger y garantizar la estabilidad de los 2 ortostatos que conservaban su posicioacuten original

Fig 7 Chan de Castintildeeiras 4 estado inicial

| 111

| 2018

Fig 9 Chan de Castintildeeiras 4 tras retirada ortostatos y antes de completar la excavacioacuten de las fosas de cimentacioacuten desde W

Al finalizar la excavacioacuten se retiraron las piezas caiacutedas y las desplazadas para poder asiacute definir el sistema de cimentacioacuten compuesto por fosas in-dividuales para cada ortostato calzos y una preparacioacuten del terreo previo a la excavacioacuten de las fosas Soacutelo dos de las piezas permanecieron in situ al encontrarse en la ubicacioacuten original aunque con los calzos del interior a la vista Esto tambieacuten nos permitioacute estudiar su morfologiacutea y disposicioacuten No entraremos en los detalles de los resultados de esta excavacioacuten soacutelo apun-tamos que aportoacute una caracterizacioacuten muy completa de la planta del mo- numento que permitioacute asiacute proceder a la rehabilitacioacuten Todos los ortostatos fueron inspeccionadas con luz natural y artificial a fin de verificar la eventual existencia de grabados o restos de pinturaAl disponer de todos los datos necesarios que permitiacutean la restitucioacuten de los ortostatos a su posicioacuten original se pudo realizar una rehabilitacioacuten cientiacutefi-camente rigurosa de otra manera no se hubiera hecho La excavacioacuten nos aportoacute la planta de la caacutemara de forma que la fase de rehabilitacioacuten comenzoacute en gabinete con la elaboracioacuten de un modelo digital Se trabajoacute en base a las dimensiones de las piezas originales los giros de las dos piezas que todo el tiempo permanecieron in situ y la geometriacutea y las distintas op-ciones de aacutengulos de giro de cada pieza retirada que obviamente debiacutean ser

112 |

Fig 10 Chan de Castintildeeiras 4 caacutemara restituida desde E En el ortostato de la izquierda se aprecia un grabado pero es de hace unas deacutecadas

coherentes con las improntas de cimentacioacuten documentadas y compatibles con las piezas conservadas in situ Una vez concluido el trabajo de gabinete se replanteo en campo y se comenzoacute la restitucioacutenLas piezas previamente retiradas fueron restituidas a su posicioacuten original a la fosa previamente definida en la excavacioacuten arqueoloacutegica Con respecto a la cubierta la ausencia de restos de las losas que suponemos tuvo la caacutemara imposibilitaba que la rehabilitacioacuten abordara este aspecto Para la uacutenica pieza que planteaba dudas finalmente la interpretamos como ortosta-to de cierre de la caacutemara por el este como luego comentaremosUna vez restituidas ortostato de cabecera y los dos que apoyan en aquel se procedioacute a asegurarlos en su base por dentro y por fuera con el material elegido como sustituto del suelo original la zahorra Tras compactar conve-nientemente continuamos con la colocacioacuten de piezas hasta completar la caacutemara a excepcioacuten de la pieza que faltaba

| 113

| 2018

Fig 11 Chan de Castintildeeiras 4 aspecto final soacutelo a falta de la revegetacioacuten del tuacutemulo

Luego se comenzoacute la tumulacioacuten utilizando el mismo sedimento previamente extraiacutedo en la fase de excavacioacutenAntes de concluir la restitucioacuten volumeacutetrica del tuacutemulo se colocoacute un ortostato nuevo por la ausencia del original en el lateral sur de la caacutemara Una vez co-locado se continuoacute y finalizoacute la tumulacioacuten para despueacutes concluir la rehabi- litacioacuten con la revegetacioacuten del tuacutemulo Tambieacuten se restituyeron a su posicioacuten original varias piezas de coraza peacutetrea que habiacutean sido retiradas al inicio de la excavacioacuten no sin antes registrar su posicioacuten tridimensional para que la poste-rior restitucioacuten fuera precisaPor su ubicacioacuten y morfologiacutea interpretamos una de las piezas como la ldquopuer-tardquo de la caacutemara que cerrariacutea su acceso por el este Antes de tumular compro-bamos que esta pieza es faacutecil de mover giraacutendola sobre si misma para permitir el acceso a la caacutemara y para ello fueron suficientes dos personasEl ortostato nuevo se elaboroacute siguiendo la morfologiacutea de los originales ya que no teniacuteamos siquiera un fragmento del ausente Su introduccioacuten estaba justifi-cada por la necesidad de dar solidez a la estructura y evitar su futuro deterioro y tambieacuten para evitar confusioacuten en la lectura del visitante para que el hueco existente no pareciera el acceso que no eraLa caacutemara rehabilitada es poligonal y la conforman 8 ortostatos todos originales excepto el antes citado

114 |

La planta tiene unas dimensiones de 240 x 170 m (en cota de uso) y los ortostatos tienen dimensiones de entre 160-190 x 080-100 m con un espe-sor en su parte media de en torno a 30 cmHay que sentildealar tambieacuten que se actuoacute sobre el tuacutemulo para mejorar su apre-ciacioacuten retirando tierras acumuladas puntualmente En este sentido fue relevante la identificacioacuten (mediante un sondeo) y posterior retirada de una escombrera de tierra sobre el tuacutemulo que interpretamos se generoacute en la excavacioacuten de los antildeos 50

La excavacioacuten y rehabilitacioacuten de Chan de Castintildeeiras 2Esta maacutemoa fue excavada en los antildeos 50 del pasado siglo y en 1982 se llevoacute a cabo una intervencioacuten limpieza y registro planimeacutetrico por parte del Museo de Pontevedra (bajo la direccioacuten de A de la Pentildea Santos) El aspecto que nos encontramos era el que ya teniacutea en esta uacuteltima intervencioacuten con las dos losas del lateral sur caiacutedas contra las dos del lateral norte que permaneciacutean en su ubicacioacuten original

Fig 12 Chan de Castintildeeiras 2 estado inicial desde NW

| 115

| 2018

Fig 13 Chan de Castintildeeiras 2 estado al final de la excavacioacuten desde NW

Pese a esto destacaba la fuerte deformacioacuten del tuacutemulo por estar cortado por el norte por una carretera y por el depoacutesito sobre eacutel y su contorno inmediato de tierras procedentes del acondicionamiento de la cuneta de esa carretera y de un cortafuegos cercanoLa definicioacuten del tuacutemulo resultoacute muy laboriosa con sondeos previos que nos ayudaron a diferenciar el original de los aportes recientes y con la posterior retirada de todos ellos Con todo se trata de un tuacutemulo de pequentildeas dimen-siones poca altura y muy poco resaltado en el terreno No se identificoacute ni cora-za ni anillo liacutetico perimetralEn cuanto a la caacutemara se planteoacute la excavacioacuten de una superficie rectangular de 550 x 250 m que la incluiacutea completamente y una serie de sondeos com-plementarios que en conjunto permitieron caracterizar convenientemente su sistemas de cimentacioacuten y constructivo Una vez excavada pudimos compro-bar que la construccioacuten de la caacutemara no se realizoacute por fosas individuales de cimentacioacuten para cada ortostato sino que se excavoacute en el terreno una uacutenica fosa para luego instalar en su interior las losas y rellenarla construyendo asiacute un nuevo suelo La definicioacuten de este sistema de cimentacioacuten encontroacute poco

116 |

despueacutes un paralelo en la misma provincia de Pontevedra en el tuacutemulo de Chousa Nova 1 (Boacuteveda y Vilaseco 2015) con una caacutemara ademaacutes muy pare-cida a la que nos ocupa Sin duda el tamantildeo relativamente pequentildeo de los ortostatos y su verticalidad unido al trabajo estructural de las losas de cubier-ta (desparecidas) le daba al conjunto estabilidad suficiente Ademaacutes de estas losas de cubierta que suponemos existieron ya que no quedaba ninguacuten vesti-gio tambieacuten faltaba el ortostato de cabecera La excavacioacuten permitioacute definir la estructura de cierre del acceso a la caacutemara orientada al sureste constituida por una suerte de ldquotapoacutenrdquo conformado por varias piedras de formas irregu-lares apiladas y con tierra entre mediasLa rehabilitacioacuten centroacute los trabajos en- Restitucioacuten a su posicioacuten original de las dos losas caiacutedas- Elaboracioacuten de una nueva losa de cabecera Esta pieza resultaba impres- cindible no tanto para la comprensioacuten de la caacutemara como por su estabilidad ya que las dos siguientes que conforman los laterales ya apoyan en ella y las siguientes en las anteriores Si bien las cargas y empujes no son las mis-mas que en una estructura megaliacutetica al uso con unos giros maacutes acusados la funcioacuten de este ortostato de cabecera es la misma en el funcionamiento como estructura de la caacutemara- Restauracioacuten de una de las losas laterales a la que fue preciso unirle un fragmento roto empleando para ellos varilla de fibra de vidrio y resinas Tam-bieacuten se siguioacute la misma metodologiacutea para unir los dos fragmentos en los que estaba rota una de las piezas del cierre del acceso- Reconstruccioacuten del suelo interior de la caacutemara con aporte de zahorra y pos-terior compactacioacuten- Tumulacioacuten y compactacioacuten de la masa tumular restituida- Revegetacioacuten del tuacutemuloLa estructura intratumular tiene planta rectangular con aspecto de cista con-formada por 4 losas en los laterales (2 en cada uno) y una losa en la cabecera En el extremo SE se encuentran dispuestas varias piedras de tamantildeo pequentildeo y mediano a modo de cierre del acceso Una vez rehabilitada presenta una longitud maacutexima de unos 255 m en su eje longitudinal (excluido el cierre) y ancho maacuteximo de unos 143 m miacutenimo de unos 052 m (extremo SE) y 120 m (extremo NW) Las dimensiones interiores son de 210 m x 085 m si bien a penas 050 m en el extremo SE Las losas laterales tienen una longitud de entre 140-170 m altura entre 100-130 m y espesor en torno a 10 cm si bien una de ellas es maacutes gruesa y llega a superar los 20 cm Todas las piezas fueron inspeccionadas con luz artificial y natural a fin de verificar la eventual existencia de grabados o restos de pintura

| 117

| 2018

VALORACIONESDesde una perspectiva arqueoloacutegica hay que sentildealar en primer lugar que las intervenciones realizadas permitieron disponer de unos datos precisos de las dimensiones de tuacutemulos estructuras intratumulares y otros aspectos de estas construcciones gracias a la limpieza en detalle de la cubierta vegetal de los tuacutemulos Fue un trabajo maacutes laborioso de lo previsto por el espesor del manto vegetal que en general cubriacutea cada tuacutemulo pero al tiempo el resul-tado superoacute los objetivos Se mejoroacute considerablemente la percepcioacuten de los tuacutemulos en el paisaje cuestioacuten especialmente destacable ya que en general son tuacutemulos de poca altura y se registraron caracteriacutesticas significativas de la morfologiacutea general que no habiacutean sido registradas con anterioridad (existencia de estructura intratumular coraza anillo liacutetico perimetral dimensiones de or-tostatos etc) Sirvan de ejemplo los casos de Chan de Castintildeeiras 7 y 8 que soacutelo despueacutes la retirada de una muy espesa capa de humus (con abundantes restos vegetales consecuencia del aprovechamiento forestal de la zona du-rante deacutecadas) dejaron ver los vestigios de caacutemara y coraza Tambieacuten en el caso de los 4 tuacutemulos intervenidos en Outeiro de Ombra en los que sin duda llama la atencioacuten las imponentes corazas peacutetreas que quedaron a la vista en particular en Outeiro de Ombra 2 y 3 que recubren toda la superficie tumular

Fig 14 Chan de Castintildeeiras 2 estado final con su nueva cubierta vegetal creciendo desde NW

118 |

Aunque no tratamos la cultura material en este texto siacute haremos un breve apunte soacutelo relativo a las dos excavaciones en aacuterea A pesar de que estas se centraban en las caacutemaras ya excavadas en los antildeos 50 y objeto ademaacutes de expolio fue auacuten posible el registro de materiales ceraacutemicos (muy escaso el prehistoacuterico) y liacuteticos Tanto en Chan de Castintildeeiras 2 como 4 la mayor parte de los registros son de liacuteticos con predominio de las lascas de cuarzo Tambieacuten se documentaron en ambas maacutemoas manos de molino y un cierto nuacutemero de prismas de cuarzo mayoritariamente semicristalinoDesde la perspectiva de conocimiento de la arquitectura megaliacutetica las rehabilitaciones han aportado una gran cantidad de datos acerca del com-portamiento de las caacutemaras como estructuras la loacutegica de su geometriacutea los sistemas de cimentacioacuten la preparacioacuten del terreo previo al inicio de la erec-cioacuten de los ortostatos o la configuracioacuten de los tuacutemulos en este uacuteltima caso tanto desde una perspectiva constructiva como simboacutelica La metodologiacutea de rehabilitacioacuten de estructuras intratumulares empleada implica un impres- cindible proceso continuo de investigacioacuten sobre arquitectura megaliacutetica a nivel general y en lo particular sobre aspectos relativos al sistema con-structivo los giros de las piezas y su grado de empotramiento en el suelo funcionamiento de los calzos aprovisionamiento y acondicionamiento de ortostatos construccioacuten de contrafuerte de la caacutemara coraza etc El re- gistro fue minucioso con el dibujo de todos los ortostatos de las caacutemaras rehabilitadas dimensiones aacutengulos de giro o fracturas de preparacioacutenResultan muy interesantes los datos que aportoacute Chan de Castintildeeiras 2 en relacioacuten a la cimentacioacuten de las losas A diferencia de lo que es habitual no se excavoacute una zanja continua o fosas de cimentacioacuten para cada orto-stato sino que se excavoacute una gran fosa y se metieron dentro las losas en posicioacuten vertical para luego sujetarlas mediante un relleno que convenien-temente compactado sirvioacute para dar estabilidad a la estructura conjunta-mente con las losas de cubierta que suponemos tuvo Tambieacuten el periacuteme- tro exterior de la caacutemara tuvo un relleno con una composicioacuten que facilita-ba su compactacioacuten y contribuiacutea a su solidezDesde la perspectiva de la conservacioacuten lo primero que hay apuntar es que las intervenciones de rehabilitacioacuten en las caacutemaras permitieron fre-nar su deterioro solucionar patologiacuteas existentes y facilitar su legibilidad al visitante cuestioacuten importante en el marco de un proyecto de puesta en valor del conjunto Los datos arqueoloacutegicos que proporcionaron las excavaciones previas permitieron restituir con rigurosidad las piezas a su posicioacuten original devolviendo a la estructura la solidez que tuvo gracias esa restitucioacuten y la introduccioacuten de una pieza ausente (una en cada caso

| 119

| 2018

en Chan de Castintildeeiras 2 y 4) o extremadamente deteriorada (en Chan de Armada 1) Tambieacuten mediante la reconstruccioacuten de un suelo original que habiacutea desaparecido por las excavaciones de los antildeos 50 La utilizacioacuten de zahorra como material para dicha reconstruccioacuten ya se habiacutea contrastado anteriormente en rehabilitaciones que habiacuteamos acometido como la de Maacutemoa do Rei de Vilaboa siendo los antildeos transcurridos sin ninguacuten tipo de problema el mejor aval para su eleccioacutenEsa misma perspectiva temporal avala la metodologiacutea empleada y la bue-na ejecucioacuten de los trabajos realizados ya que no se han producido de-splazamientos o caiacutedas de ortostatos ni asentamientoshundimientos de la masa tumular restituida En cambio si debemos decir que hubo prob-lemas con la revegetacioacuten de la cubierta vegetal en el caso de las maacutemoas de Outeiro de Ombra (en parte por el traacutensito de motos y bicicletas sobre ellas una vez vandalizada la valla de proteccioacuten que se habiacutea instalado) que requieren de una nueva actuacioacuten que garantice la visualizacioacuten de las corazas sin comprometer su conservacioacuten cuestioacuten esta factible como demuestra el caso de la ldquoMaacutemoa do Reirdquo de Chan de Castintildeeiras Otro caso de revegetacioacuten de cubierta vegetal que no funcionoacute fue el de Chan de Arquintildea La actuacioacuten tratoacute soacutelo de reforzar esa cubierta vegetal de pradera natural a fin de que ldquosujetarardquo la masa tumular y la coraza con la que cuenta el monumento en particular en los sectores erosionados La intervencioacuten no resultoacute efectiva porque el denso arbolado a penas dejaba pasar el sol impidiendo asiacute que la hierba se recuperase en las zonas maacutes pisadas por los visitantesComo es habitual en actuaciones de puesta en valor el principal proble-ma una vez concluidas es el mantenimiento en general no fue distinto en este caso Los trabajos sobre la cubierta vegetal fueron esporaacutedicos sin la necesaria regularidad que ademaacutes permite que el terreno empradice Tampoco hubo esa regularidad en el mantenimiento de las estructuras in-tratumulares si bien estas aguantaron bastante bien Por fin en 2016 en Chan de Castintildeeiras se realizoacute un desbroce general del aacuterea entre Chan de Castintildeeiras 5 y 2 por iniciativa de la Comunidad de Montes propietaria4 y se intervino en ldquoMaacutemoa do Reirdquo que desde su rehabilitacioacuten no habiacutea tenido una intervencioacuten de mantenimiento sobre su coraza y estructura in-tratumular en este caso promovida por la DXPC (Castro 2016) Confiemos en que estas actuaciones tengan continuidad y se extiendan a todo el aacutem-bito ya que su regularidad es la mejor garantiacutea de conservacioacuten y correcta exposicioacuten del conjunto arqueoloacutegico ademaacutes de que a la larga conllevaraacute un menor coste de mantenimiento 4 Se realizoacute una supervisioacuten de estos trabajos por quien subscribe y se instaloacute un panel interpretativo

120 |

BIBLIOGRAFIacuteA BOacuteVEDA FERNANDEZ Mordf J y VILASECO VAacuteZQUEZ X I (2015) - La caacutemara megaliacuteti-ca de Chousa Nova 1 (Silleda Pontevedra) iquestRotura intencional o colapso en Actas del 5ordm Congresso do Neoliacutetico Peninsular (7-9 abril 2011) ed Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa pp 564-570 CARRERA RAMIacuteREZ F (2011) - El arte parietal en monumentos megaliacuteticos del No-roeste Ibeacuterico Valoracioacuten diagnoacutestico conservacioacuten Oxford Archaeopress (BAR In-ternational Series 2190) pp 385-404 CASTRO CARRERA J C (2005) - Proyecto de ldquoAcondicionamento arqueoloacutexico e am-biental dun sendeiro das maacutemoas do Morrazo entre o Lago Castintildeeiras e Monte Faro Vilaboa-Mariacuten-Moantildea (Pontevedra)rdquo Anta de Moura SL proyecto teacutecnico in-eacutedito depositado en la DXPC CASTRO CARRERA J C y VAacuteZQUEZ COLLAZO S (2007) - La `Maacutemoa do Reiacute re-habilitacioacuten de un yacimiento tumular en el marco de su puesta en valor (Chan de Castintildeeiras - Vilaboa - Pontevedra) en Actas del IV Congreso internacional sobre musealizacioacuten de xacementos arqueoloacutexicos onservacioacuten e presentacioacuten de xace-mentos arqueoloacutexicos no medio rural Impacto social no territorio ed Conselleriacutea de Cultura e Deporte de la Xunta de Galicia 2007 pp 205-2011 CASTRO CARRERA J C (2008) - Memoria Teacutecnica de ldquoIntervencioacuten arqueoloacutexica no monumento megaliacutetico de Chan de Arquintildea no contexto dos traballos de acondicio-

Fig 15 Maacutemoa do Rei al finalizar la intervencioacuten de acondicionamiento de 2016 desde E

| 121

| 2018

namento arqueoloacutexico e ambiental dun sendeiro das maacutemoas do Morrazordquo Anta de Moura SL informe teacutecnico ineacutedito depositado en la DXPC CASTRO CARRERA J C (2016) - Memoria Teacutecnica del ldquoAcondicionamento da Maacutemoa do Rei San Martintildeo de Vilaboa Vilaboardquo Anta de Moura SL informe teacutecnico ineacutedito depositado en la DXPC SOBRINO LORENZO-RUZA R (1956a) - Prospecciones arqueoloacutegicas en Morrazo El Museo de Pontevedra Pontevedra 10 pp 17-22 SOBRINO LORENZO-RUZA R (1956b) - Excavacioacuten de una sepultura megaliacutetica en Moantildea Peniacutensula de Morrazo (Pontevedra) Noticiario Arqueoloacutegico Hispaacutenico Ma-drid III y IV Cuadernos 1-3 1954-55 pp 27-36

122 |

| 123

| 2018

A INVULGAR LOCALIZACcedilAtildeO DE UMA ESTRUTURA EM NEGATIVO NA MAMOA DE EIREIRA (AFIFE VIANA DO CASTELO)

ldquoThe unusual location of a negative structure of Eireirarsquos Mound (Afife Viana do Castelordquo

Faacutebio Soares Arqueoacutelogo Universidade do Minhofabiosoaresarqgmailcom

RESUMOO presente trabalho tem como objetivo dar a conhecer a localizaccedilatildeo invulgar de uma estrutura em negativo aberta no substrato rochoso na aacuterea do corredor detetada no decurso das duas uacuteltimas campanhas de escavaccedilatildeo levadas a cabo na Mamoa de Eireira (Afife Viana do Castelo) por Eduardo Jorge Lopes da Silva na segunda metade da deacutecada de 80 do seacuteculo passado Tendo em conta que a mesma em mo-mento algum foi referida quer nas parcas publicaccedilotildees sobre o imoacutevel em causa quer nos relatoacuterios entregues agrave tutela e que da sua esca- vaccedilatildeo resultou espoacutelio significativo de acordo com as gentis infor-maccedilotildees facultadas por Horaacutecio Faria que na eacutepoca teve a oportuni-dade de participar voluntariamente nos trabalhos arqueoloacutegicos eacute nosso objetivo analisaacute-la de forma mais detalhada Neste sentido em julho de 2013 de modo a cumprir o objetivo atraacutes descrito pro-cedemos em primeiro lugar agrave limpeza desta estrutura dado que se encontrava repleta de vegetaccedilatildeo herbaacutecea e de escassos sedimen-tos e de seguida efetuamos o seu registo graacutefico e fotograacutefico com vista agrave sua possiacutevel interpretaccedilatildeo PALAVRAS-CHAVE Neoliacutetico Contextos e praacuteticas funeraacuterias NW de Portugal Mamoa de Eireira

ABSTRACTThe present paper presents and discusses the unusual location of an open negative structure on the rocky substrate in the cor- ridor area detected during the last two excavation campaigns car-ried out at Mamoa de Eireira (Afife Viana do Castelo) by Eduardo Jorge Lopes da Silva in the second half of the eighties of last centu-

124 |

ry In view of the fact that it has not been mentioned at all in the few publications on the monument in question or in the reports submitted to the DGPC and that from its excavation come several artefacts according to the kind information provided by Horacio Faria who at the time had the opportunity to participate voluntarily in the archaeologi-cal digg it is our goal to analyse it in more detail In this sense in July 2013 in order to fulfill the objective described above we first cleaned this structure since it was full of herbaceous vegetation and scarce sediment and then we recorded it graphically and photographically with a view to its possible interpretationKEY WORDS Neolithic Contexts and funerary practices NW of Portu-gal Mamoa de Eireira

1 INTRODUCcedilAtildeOA Mamoa de Eireira foi alvo de quatro campanhas de escavaccedilatildeo entre 1986 e 1989 por Eduardo Jorge Lopes da Silva no acircmbito do projeto de investi-gaccedilatildeo ldquoO Estudo do Megalitismo Minhoto e a sua Correlaccedilatildeo com o Douro Litoral e Beirasrdquo No entanto a publicaccedilatildeo monograacutefica dos resultados natildeo foi levada a cabo tendo o monumento sido apenas referido parcialmente em alguns artigos (SILVA 1988 1991 1992 1997) e em capiacutetulos de atas de congresso (Idem 1994 2003) Desconhecem-se assim as carateriacutesti-cas construtivas deste imoacutevel a mateacuteria com que foi erigido e a sua contex-tualizaccedilatildeo no espaccedilo em que se insere Trabalhos de limpeza efetuados em julho de 2013 no acircmbito do projeto ENARDAS permitiram detetar novos motivos de arte megaliacutetica gravada e pintada precisar a sua localizaccedilatildeo identificar esteios com tons alaranjadosavermelhados de origem natural (SOARES 2013) assim como detetar uma estrutura em negativo de loca- lizaccedilatildeo invulgar no interior da estrutura dolmeacutenica a qual foi escavada mas em momento algum referenciada por Eduardo Jorge Lopes da Silva e que aqui pretendemos dar a conhecer

2 LOCALIZACcedilAtildeO E CONTEXTO FIacuteSICO E AMBIENTALA Mamoa de Eireira localiza-se no distrito e concelho de Viana do Castelo freguesia de Afife no lugar da Eireira ou Madorro O monumento encon-tra-se a uma altitude de cerca de 30 m numa plataforma da vertente no-roeste da Serra de Santa Luzia a cerca de 400 m para nascente da linha de costa e nas imediaccedilotildees de um vale bem irrigado que lhe fica a sul As co- ordenadas geograacuteficas em graus decimais no sistema WGS 84 satildeo La- titude 41 792883ordm N e Longitude -8 867022ordm W (Fig 1) O substrato

| 125

| 2018

Fig 1 Localizaccedilatildeo da Mamoa de Eireira na Carta Militar de Portugal 27 na escala 125000

Fig 2 Vista geral da Mamoa de Eireira a partir de W com o esteio de cabeceira deslocado

126 |

geoloacutegico eacute composto por granitos de duas micas de gratildeo meacutedio a fino por vezes com turmalina e raras granadas que afloram em alguns locais (TEI- XEIRA et al 1972) Tambeacutem ocorre mas com menor expressatildeo um grani-to de duas micas porfiroide de gratildeo meacutedio a fino (Idem 1972)

3 DESCRICcedilAtildeO DO MONUMENTOA Mamoa de Eireira apresenta um tumulus de contorno ovalar com 2450 m no sentido E-W e 1990 m no sentido N-S A estrutura dolmeacutenica orientada no sentido W-E tem uma cacircmara e um corredor duplamente indiferenciados ndash em planta e alccedilado ndash (SILVA 1988b129) preservando ainda 16 esteios in situ embora o esteio de cabeceira esteja deslocado Todos os esteios que configuram a estrutura dolmeacutenica apresentam a mesma altimetria e estatildeo acentuadamente inclinados para o interior embora alguns tambeacutem estejam ligeiramente deslocados (Idem 1988129-130) Natildeo se encontrou qualquer laje de cobertura (Fig 2) Junto agrave cabeceira foi encontrado um pilar derruba-do que por conter pinturas bem preservadas encontra-se depositado no Museu de Artes Decorativas de Viana do Castelo

Fig 3 Fotografia da cacircmara e corredor da Mamoa de Eireira podendo observar-se ao fundo do corredor uma estrutura em negativo (SILVA 1992)

| 127

| 2018

Fig 4 Plano da estrutura em negativo na aacuterea do corredor Registo graacutefico elaborado agrave escala 120

Fig 5 Perfil sul da estrutura em negativo na aacuterea do corredor Registo graacutefico elaborado agrave escala 120

128 |

Fig 6 Perfil oeste da estrutura em negativo na aacuterea do corredor Registo graacutefico elaborado agrave escala 120

Fig 7 Secccedilatildeo AB da estrutura em negativo na aacuterea do corredor Registo graacutefico elaborado agrave escala 120

| 129

| 2018

4 A ESTRUTURA EM NEGATIVONa aacuterea do corredor entre os esteios nos 7 6 e 5 ndash do alccedilado norte ndash e os esteios nos 10 11 e 12 ndash do alccedilado sul respetivamente foi detetada e escavada em profundidade uma estrutura em negativo nas uacuteltimas duas campanhas de escavaccedilatildeo levadas a cabo na Mamoa de Eireira Em momen-to algum Eduardo Jorge Lopes da Silva faz referecircncia agrave mesma quer nos relatoacuterios entregues agrave tutela os quais tivemos a oportunidade de consultar quer nas publicaccedilotildees onde refere este monumento Sabemos que foi en-contrada aquando das escavaccedilotildees porque aparece na fotografia final dos trabalhos que se publicou num desdobraacutevel de divulgaccedilatildeo (Fig 3) (Idem 1992) como nos foi referida pelo Engenheiro Horaacutecio Faria funcionaacuterio da Cacircmara Municipal de Viana do Castelo e membro do NAIAA que com cerca de 20 anos participou na escavaccedilatildeo deste monumento e na escavaccedilatildeo da referida estrutura Segundo este erudito de arqueologia teraacute sido desta aacuterea que resultou o material mais significativo tal como ldquopontas de seta de siacutelex e xistordquo ldquolouccedila grosseirardquo e ldquoum fragmento osteoloacutegico que talvez perten-cesse a um maxilar inferiorrdquo Neste sentido em julho de 2013 procede- mos agrave limpeza desta estrutura registo graacutefico e fotograacutefico com vista agrave sua possiacutevel interpretaccedilatildeo Esta apresenta um contorno grosseiramente ovalar tendo cerca de 250 m de comprimento por 1 m de largura maacutexima com um estrangulamento no meio num dos lados como se tivesse resultado de duas fossas (Figs 4 5 e 6) A sua profundidade maacutexima aproxima-se dos

Fig 8 Secccedilatildeo CD da estrutura em negativo na aacuterea do corredor Registo graacutefico elaborado agrave escala 120

130 |

Fig 9 Estrutura em negativo na aacuterea do corredor vista a partir de W

| 131

| 2018

040 m Atualmente haacute uma acumulaccedilatildeo de calhaus e de blocos de granito e de quartzo e de um seixo rolado no interior W desta estrutura que natildeo sabemos se era original motivo pela qual natildeo os retiramos A secccedilatildeo longi-tudinal desta estrutura que se orienta no sentido W-E (Fig 7) mostra que a sua base era aplanada mas com diferentes profundidades Jaacute a secccedilatildeo N-S mostra uma maior irregularidade (Figs 8)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAISTendo em conta as afirmaccedilotildees de Horaacutecio Faria assim como as dimensotildees que a referida estrutura apresenta apenas podemos colocar a hipoacutetese desta ter servido originalmente para um enterramento individual na qual o cadaacutever estaria numa posiccedilatildeo de decuacutebito lateral com o cracircnio voltado para leste acompanhado claro de oferendas simboacutelicas que poderiam ou natildeo refletir as suas atividades em vida No entanto a localizaccedilatildeo desta no seio da estrutura dolmeacutenica em pleno corredor natildeo eacute algo usual Tambeacutem natildeo podemos descartar um outro dado incontornaacutevel isto eacute grosso modo os monumentos funeraacuterios megaliacuteticos foram alvo de violaccedilotildees e atos de vandalismo durante o periacuteodo romano e em eacutepocas posteriores na acircnsia de encontrar ldquotesourosrdquo Contudo e para dececcedilatildeo destas comunidades muitas vezes os ldquotesourosrdquo eram ingloacuterios e natildeo valiam sequer o esforccediloempenho nos atos deliberados de saque e vandalismo Ainda assim estes atos afetaram indubitavelmente os monumentos funeraacuterios megaliacuteticos A Mamoa de Eireira natildeo foi exceccedilatildeo Assim e tendo em conta que da estru-tura em negativo resultou ldquolouccedila grosseirardquo houve necessariamente um revolvimento das terras que ateacute entatildeo cobriam o espaccedilo sepulcral o que por conseguinte fez com que muitos artefactos se deslocassem das suas posiccedilotildees originais Neste sentido e de acordo com o que atraacutes foi descri-to colocamos muitas aspas em qualquer tentativa de categorizaccedilatildeo desta estrutura

AGRADECIMENTOSEste trabalho foi desenvolvido no acircmbito do projeto de dissertaccedilatildeo de mes- trado do signataacuterio intitulado ldquoContextos e praacuteticas funeraacuterias do Neoliacuteti-co na fachada costeira entre o Acircncora e o Lima (Norte de Portugal) a partir da Mamoa de Eireirardquo que por sua vez se inseria na tarefa 2 do projeto Espaccedilos Naturais Arquiteturas Arte rupestre e Deposiccedilotildees na Preacute-histoacuteria recente da Fachada Ocidental do Centro e Norte Portuguecircs das Accedilotildees aos Significados ndash ENARDAS (PTDCHIS-ARQ112983) finan-

132 |

ciado pelo COMPETE e pelo FEDER Agradecemos ao Eng Horaacutecio Faria as informaccedilotildees prestadas relativas agrave estrutura em negativo objeto de anaacutelise neste trabalho e a Filipe Pereira pela cartografia usada neste trabalho REFEREcircNCIASSILVA E J L (1988) ndash A Mamoa de Afife breve siacutentese de 3 campanhas de escavaccedilatildeo Trabalhos de Antropologia e Etnologia ISSN 2183-0266 Porto Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia Vol 281-2 p 127-132SILVA E J L (1991) ndash Descobertas recentes de arte megaliacutetica no Norte de Portugal Cadernos Vianenses ISSN 0871-4282 Viana do Castelo Cacircmara Municipal Nordm 15 p 31-45SILVA E J L (1992) ndash Estaccedilotildees arqueoloacutegicas de Viana ndash Mamoa de Afife Viana do Castelo Cacircmara Municipal [Desdobraacutevel]SILVA E J L (1994) ndash Megalitismo do Norte de Portugal o litoral minhoto In Actas do Seminaacuterio ldquoO Megalitismo no Centro de Portugal novos dados problemaacutetica e relaccedilotildees com outras aacutereas peninsularesrdquo Viseu Centro de Estudos Preacute-histoacutericos da Beira Alta p 157-169 SILVA E J L (1997) ndash Arte megaliacutetica da costa norte de Portugal Brigantium ISSN 0211-318X Galiza Museu Arqueoloacutexico e Histoacuterico de Coruntildea Vol 10 p 179-189 SILVA E J L (2003) ndash Novos dados sobre o Megalitismo do Norte de Portugal In Tra-balhos de Arqueologia ndash Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo ISBN 972-8662-09-2 Lisboa Ministeacuterio da Cultura e Instituto Portuguecircs de Arqueologia Nordm 25 p 269-279 SOARES F (2013) ndash New data from the megalithic art of the Eireira Mound (Viana do Castelo) and some reflections on death conceptions in the Neolithic 2nd Colloquium Enardas Recorded places experienced places Matter space time liminarity and mem-ory in the holocene rock art of the Iberia atlantic margin Braga Associaccedilatildeo Portuguesa para o Estudo do Quaternaacuterio ndash APEQ Departamento de Histoacuteria da Universidade do Minho Centro de Investigaccedilatildeo Transdisciplinar Cultura Espaccedilo e Memoacuteria ndash CITCEMUM Disponiacutevel na wwwltURL URLhttpswwwacademiaedu5170513New_data_from_the_megalithic_art_of_the_Eireira_Mound_Viana_do_Castelo_and_some_reflec-tions_on_death_conceptions_in_the_NeolithicgtTEIXEIRA C MEDEIROS A C e COELHO A P (1972) ndash Carta Geoloacutegica de Portugal na escala 150000 Notiacutecia explicativa da folha 5-A (Viana do Castelo) Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal

| 133

| 2018

Muerte y ritual en el Neoliacutetico del noroeste ibeacuterico El megalitismo y otras manifestaciones del comportamiento funerario de las sociedades de los milenios V y IV aC en la regioacuten cantaacutebrica y Galicia

Death and ritual in the Neolithic of the Iberian North West Megaliths and other pieces of evidence of the funerary behaviour of the 5th and 4th millennia cal BC in Cantabrian Spain and Galicia

RESUMENEl noroeste de la peniacutensula ibeacuterica es un aacutembito geograacutefico particularmente interesante para estudiar la evolucioacuten del comportamiento funerario durante el Neoliacutetico Desde el mismo proceso de neolitizacioacuten se observan transfor-maciones muy relevantes en el registro sepulcral Los cazadores-recolecto-res del VI milenio cal BC realizaban inhumaciones individuales en cuevas en ocasiones agrupadas Sin embargo en la primera mitad del V milenio en un contexto de continuidad con el Mesoliacutetico final se observa un brusco abandono de estas praacutecticas Los testimonios del comportamiento funerario en esta fase se limitan a algunos restos humanos aislados en cuevaEn el segundo tercio del V milenio se inicia en toda la regioacuten la construccioacuten de monumentos megaliacuteticos Estos no obstante muestran una gran variabilidad regional y en algunos casos ciertas evidencias de conti- nuidad con la tradicioacuten mesoliacutetica sugiriendo que la adopcioacuten del mega- litismo se debe considerar como una serie variada y heterogeacutenea de inter-pretaciones del nuevo universo funerario por parte de comunidades neoliacuteti-cas diversas En torno a 4000 cal BC se produce en el NO peninsular una verdade-ra explosioacuten del fenoacutemeno megaliacutetico La regioacuten se cubre de millares de

Pablo Arias Instituto Internacional de Investigaciones Prehistoacutericas de Cantabria UNIVERSIDAD DE CANTABRIApabloariasunicanes

Miriam Cubas Departamento de HistoriaSociedad de Ciencias Aranzadimcubasmoreragmailcom

134 |

monumentos configurando un auteacutentico paisaje simboacutelico El registro funerario del IV milenio cal BC presenta una enorme complejidad Des- taquemos entre sus rasgos maacutes sobresalientes el desarrollo de construc-ciones megaliacuteticas maacutes convencionales como caacutemaras ortostaacuteticas o se- pulcros de corredor la destacada presencia de expresioacuten graacutefica en el interior de las caacutemaras o los indicios de relaciones a larga distancia de los que son un ejemplo particularmente notorio la presencia en los ajuares de hachas pulimentadas en rocas exoacuteticas No obstante los doacutelmenes no eran la uacutenica opcioacuten para disponer de los cuerpos de los difuntos pues hay evidencia de otras praacutecticas como la utilizacioacuten de cuevas sepulcrales PALABRAS CLAVE Simbolismo Neolitizacioacuten Arqueologiacutea de la Muerte Peniacutensula Ibeacuterica

ABSTRACTThe Northwest of the Iberian Peninsula can be considered a particularly interes- ting area for the study of the evolution of the funerary behaviour during the Neolithic Since the very process of transition from the Mesolithic outstanding changes in the sepulchral record can be observed The 6th millennium cal BC hunter- -gatherers produced individual occasionally clustered burials in caves Yet during the first half of the 5th millennium in a cultural context of continuity with the late Mesolithic a sharp abandonment of those practices can be observed The evidence of funerary behaviour in this stage is limited to some loose human remains in caves Building of megalithic monuments starts along the region during the second third of the 5th millennium However they display a large regional variability and in some cases indices of continuity with the Mesolithic tradition sugges- ting that the adoption of megalithism should be considered to be the result of va- ried and heterogeneous interpretations of the new funerary realm by diverse Neolithic communitiesAround 4000 cal BC a real explosion of the megalithic phenomenon occurred in Northwestern Iberia The region was covered by thousands of monuments shaping a real symbolic landscape The funerary record of the 4th millen-nium cal BC is particularly complex Let us highlight the development of more conventional megalithic buildings such as polygonal dolmens or pas-sage graves the outstanding presence of pieces of graphic expression in the inside of the chambers or the evidence of long distance contacts of which a particularly noticeable example are the presence among the grave goods of polished axes made in exotic rocks However dolmens were not the only option to dispose of the deceasedrsquos bodies as evidence of other practices such as the use of burial caves existsKEY WORDS Symbolism Neolithisation Archaeology of Death Iberian Peninsula

| 135

| 2018

INTRODUCCIOacuteNEn el presente trabajo expondremos y discutiremos la documentacioacuten ar-queoloacutegica disponible para el Neoliacutetico del norte y el noroeste de la peniacutensu-la ibeacuterica durante los milenios V y IV intervalo cronoloacutegico que corresponde aproximadamente al Neoliacutetico regional entendiendo como tal el periacuteodo comprendido entre la adopcioacuten de la agricultura y la ganaderiacutea y la aparicioacuten de los primeros testimonios de la metalurgia que en esta aacuterea es aproxi-madamente simultaacutenea de cambios en los sistemas sociales que parecen relacionados con una mayor complejidad social (Arias 1991 Alonso Mathias y Bello 1997 Ontantildeoacuten 2003 Cubas et al 2016) La zona de estudio inclu-iraacute Galicia y la regioacuten cantaacutebrica comprendiendo eacutesta Asturias Cantabria Vizcaya Guipuacutezcoa y la parte atlaacutentica de Navarra aunque se tendraacute en cuenta la documentacioacuten de las zonas vecinas (norte de Portugal y vertiente meridional de la cordillera cantaacutebrica) Previamente presentaremos de for-ma sucinta los precedentes inmediatos la informacioacuten disponible para el Mesoliacutetico avanzado

LOS PRECEDENTES EL COMPORTAMIENTO FUNERARIO DE LOS UacuteLTIMOS CAZADORESEl norte de Espantildea es una de las regiones maacutes ricas en testimonios arque-oloacutegicos del ritual funerario mesoliacutetico en la peniacutensula ibeacuterica (Arias et al 2009 Arias 2012a 2012b 2014) La mayor parte se situacutean en la parte oriental de Asturias (destaquemos Los Canes El Molino de Gaspariacuten o Tito Bustillo) aunque tambieacuten se conocen algunos en Cantabria (El Truchiro) el Paiacutes Vasco (J3 Linatzeta) y las montantildeas de Leoacuten (La Brantildea-Arintero) En Galicia hasta el presente no se dispone de informacioacuten de este tipo pues los restos humanos de Chan do Lindeiro (Lugo) no parecen corresponder a un depoacutesito funerario sino a una muerte accidental (Vidal et al 2017) Todos los contextos funerarios del Mesoliacutetico cantaacutebrico conocidos hasta el presente se localizan en cuevas y abrigos que por lo general presentan indicios de asentamiento del periacuteodo No obstante en muchos casos parece que el uso sepulcral no fue simultaacuteneo del habitacional o al menos existioacute una separacioacuten espacial entre las aacutereas domeacutesticas y las funerariasEn lo que se refiere al tipo de estructura sepulcral se observa un claro pre-dominio de la inhumacioacuten individual en fosas A diferencia de otras aacutereas del Mesoliacutetico europeo no se conocen enterramientos muacuteltiples o dobles pues aunque existen algunos casos en los que se han encontrado restos de maacutes de un individuo en la misma estructura parecen corresponder a la remocioacuten de tumbas anteriores para practicar nuevas sepulturas individuales o a su

136 |

reutilizacioacuten tal como sucede en la compleja tumba II de Los Canes No obstante el predominio de la inhumacioacuten individual se constata una cierta variabilidad en la morfologiacutea sepulcral Si bien lo maacutes frecuente es la existencia de fosas rellenas de sedimento conocemos al menos un caso de un sepulcro hueco a modo de sarcoacutefago (de nuevo Los Canes II) y otros en los que el cadaacutever fue depositado en el suelo de una galeriacutea interior de la caverna sin enterrar como sucede en La Brantildea-Arintero y en Tito Bustillo Una interesante informacioacuten adicional se ha obtenido en El Truchiro donde se constatoacute que el cadaacutever estaba colocado sobre una estructura de corteza de roble Desde otro punto de vista se observa una considerable regulari-dad en la posicioacuten de los cuerpos que suelen estar tumbados de espalda con las piernas fuertemente flexionadas Al igual que en otras zonas de Europa en buena parte de las sepulturas no aparece nada maacutes que el esqueleto de la persona inhumada No obstante hay varios casos de asociacioacuten con objetos que parecen corresponder a una ofrenda funeraria En su mayor parte consisten en objetos de uso cotidiano en ocasiones aparentemente no usados como sucede con los picos astu- rienses de El Molino de Gaspariacuten (Arias 1991) y restos de fauna probable-mente relacionados con piezas de carne depositadas junto al esqueleto o con restos de banquetes rituales Tambieacuten se encuentran frecuentemente elementos de adorno en su mayor parte conchas perforadas que parecen corresponder a la vestimenta y los ornamentos personales del difunto En al-gunos casos se documentan ajuares de considerable complejidad tal como sucede con la tumba II de Los Canes (fig 1) uno de los casos maacutes notables del sur de Europa con diversos objetos interpretables como objetos de pres-tigio (un bastoacuten perforado un gran punzoacuten de hueso un canto rodado con restos de pintura una posible figurilla antropomorfa) decenas de conchas perforadas y uno de los pocos casos en la peniacutensula ibeacuterica de depoacutesito fu-nerario de testuces de animales un comportamiento bien representado en el Mesoliacutetico de la Francia atlaacutentica y el norte de Europa (Arias 2016)La presencia de indicios de sepulturas infantiles en contextos del VII y VI milenios cal BC (Los Canes Linatzeta) sugiere que al igual que sucede en otras zonas de la peniacutensula ibeacuterica el tratamiento funerario de los nintildeos era anaacutelogo al de los adultos (Arias y Aacutelvarez Fernaacutendez 2004) Se constata tambieacuten otra tendencia general del Mesoliacutetico peninsular y en general del continente europeo (Arias y Aacutelvarez Fernaacutendez 2004 Gruumlnberg 2000) el in-cremento de los testimonios funerarios durante el Mesoliacutetico final algo que probablemente se relacione con la tendencia al comportamiento territorial y con el conocido fenoacutemeno de los cementerios

| 137

| 2018

Fig1 - Sepultura II de la cueva de Los Canes (Cabrales Asturias)

Conviene indicar tambieacuten que en el Mesoliacutetico cantaacutebrico se han documen-tado bastantes casos de huesos humanos aislados (Poza lrsquoEgua Balmori Mazaculos Cuartamentero Arangas) Es este un fenoacutemeno de difiacutecil inter-pretacioacuten pues podriacutea explicarse por el desmantelamiento de tumbas du-rante el propio periacuteodo mesoliacutetico pero tambieacuten como testimonio de otras praacutecticas funerarias (descarnado de los esqueletos descomposicioacuten al aire libre conservacioacuten de reliquias de los ancestroshellip) De hecho la aparicioacuten de huesos humanos sueltos (etiquetados frecuentemente con las siglas in-glesas LHB) es relativamente frecuente en el Paleoliacutetico final y el Mesoliacutetico europeo (Meiklejohn et al 2009 Osterholtz et al 2014 Hellewell y Milner 2016)

UNA EacutePOCA OSCURA LA PRIMERA MITAD DEL V MILENIO A pesar de la intensa actividad investigadora centrada en los inicios del Neoliacutetico regional desde la deacutecada de 1980 la introduccioacuten de la economiacutea de produccioacuten uacutenicamente se puede explorar a partir de un reducido nuacuteme-ro de yacimientos arqueoloacutegicos diseminados a lo largo del territorio (Cubas et al 2016) Frente al relativamente abundante registro funerario mesoliacutetico los restos humanos datados en el V milenio cal BC son muy escasos y vaga-

138 |

mente permiten una reconstruccioacuten del comportamiento funerario ligado a la introduccioacuten de las praacutecticas agriacutecolas y ganaderas La evidencia funeraria maacutes occidental procede de la ya mencionada cueva de Los Canes El inicio del V milenio cal BC estaacute representado por la unidad estratigraacutefica 7 en la que se han documentado restos de varios individuos Las dataciones radiocarboacutenicas reflejan que algunos de ellos proceden de estructuras mesoliacuteticas del VI milenio desmanteladas sin embargo uno se ha datado directamente en la primera mitad del V milenio cal BC (TO-11219 5980 plusmn 65 BP) A esta misma eacutepoca se puede adscribir un peroneacute humano procedente de Lumentxa (Lequeitio Vizcaya) datado directamente en el segundo cuarto del V milenio cal BC (OxA-18236 6122 plusmn 38 BP) aunque su adscripcioacuten es-tratigraacutefica es problemaacutetica Las intervenciones arqueoloacutegicas en la cavidad fueron dirigidas por Telesforo de Aranzadi y Jose Miguel de Barandiaraacuten en-tre 1926 y 1929 (Aranzadi y Barandiaraacuten 1935) quienes documentaron un nivel neoliacutetico por encima de la secuencia pleistocena La datacioacuten radiocar-boacutenica permitiriacutea situar este resto humano en el Neoliacutetico inicial sin embargo la ausencia de un contexto arqueoloacutegico claro impide precisar con seguridad su atribucioacuten cultural La informacioacuten proporcionada por el anaacutelisis isotoacutepico (δ13C δ15N) evidencia una elevada contribucioacuten de proteiacutenas de origen ma-rino que tradicionalmente se han relacionado con una alimentacioacuten carac-teriacutestica de grupos de cazadores-recolectores Sin embargo la informacioacuten isotoacutepica disponible en la peniacutensula ibeacuterica entre el ca 8000 y el 3000 cal BC refleja la gran heterogeneidad de la base de subsistencia de las pobla-ciones mesoliacuteticas que presentan una mayor contribucioacuten de proteiacutenas de origen marino frente a las posteriores comunidades neoliacuteticas aunque eacutesta no estaacute completamente ausente (Cubas et al en prensa) Tambieacuten estaacute datado en este momento un hueso humano de El Portillo del Arenal (Pieacutelagos Cantabria) (AA-20043 5743plusmn111 BP) Procede de una prospeccioacuten superficial en una cueva en la que se han recuperado restos de al menos dieciseacuteis individuos junto con indicios arqueoloacutegicos de di-versas cronologiacuteas desde la Prehistoria reciente a la Edad Media (Muntildeoz y Morlote 2000) La datacioacuten por termoluminiscencia de una ceraacutemica (MAD-667 5193 plusmn 405 BP) sugiere que parte de los materiales se podriacutean asociar al posible enterramiento Las dataciones absolutas permiten reconocer una cierta actividad sepulcral de la cavidad durante la primera mitad del V mile- nio cal BCComo acabamos de exponer el registro funerario adscrito a la primera mitad del V milenio cal BC en la regioacuten estaacute compuesto por restos humanos

| 139

| 2018

aislados cuyo contexto arqueoloacutegico no permite realizar inferencias sobre el comportamiento funerario asociado ya que o bien los conjuntos son muy escasos o bien se trata de hallazgos superficiales Hasta el momento no se ha identificado ninguna estructura sepulcral como las que se conocen en el valle del Ebro y la Meseta (Rojo et al 2016) fosas con enterramientos primarios en cuevas (Chaves) o al aire libre (El Prado Paternanbidea Los Cascajos) (Garciacutea Gazoacutelaz 2007 Garciacutea Gazoacutelaz y Sesma 2007 Rojo et al 2016 Alonso Fernaacutendez 2017)

MONUMENTOS FUNERARIOS EN EL PAISAJE EL MEGALITISMO Los monumentos megaliacuteticos constituyen la parte fundamental del registro funerario del Neoliacutetico del NO peninsular (Teira 1994 de Blas 1997b Faacutebre-gas y Vilaseco 2004 2006 2016 Arias et al 2005 2006) La regioacuten es particularmente rica en este tipo de sepulcros Aunque no existe un cataacutelogo fiable y contamos con numerosos testimonios de destrucciones en oca- siones masivas (Martinoacuten-Torres 2001 2002 Suaacuterez 2001) en eacutepoca histoacuterica se puede estimar miacutenimo de 4000 monumentos para Galicia y unos 1400 para la regioacuten cantaacutebrica Por su abundancia y por su tendencia a localizarse en sitios muy destacados del territorio (lugares elevados re- ferencias topograacuteficas viacuteas de comunicacioacutenhellip) (Criado y Vaquero 1993 Teira 1994) constituyen hitos fundamentales que han articulado el paisaje de la regioacuten desde el Neoliacutetico Como sucede en otras zonas de la fachada atlaacutentica europea no es faacutecil establecer la cronologiacutea de su inicio pues la datacioacuten de los monumentos megaliacuteticos es un problema muy arduo debido a la complejidad del uso de estas construcciones y a la deficiente conservacioacuten de la mayor parte de ellas No obstante tanto en Galicia como en el Cantaacutebrico (y en zonas vecinas como el norte de Portugal o el alto Ebro) la evidencia disponible per-mite constatar la existencia de megalitos en torno al 4300 cal BC (Scarre et al 2003) e incluso existen indicios aunque problemaacuteticos que permitiriacutean adelantar la cronologiacutea a alguacuten momento del segundo tercio del VI milenio Se observa no obstante un importante incremento en el nuacutemero de data-ciones situadas en el traacutensito del V al IV milenios Todo apunta a que en torno a 4000 aC se produjo una verdadera explosioacuten en la construccioacuten de monumentos megaliacuteticos que en poco tiempo debieron de cubrir toda la regioacuten desde la costa hasta las maacutes altas montantildeas (hay monumentos en el sector central del Cantaacutebrico a maacutes de 1800 msnm) proporcionando la pri-mera evidencia clara de colonizacioacuten humana en el conjunto la regioacuten Esta fiebre constructiva parece haberse prolongado a lo largo de la primera mitad

140 |

del IV milenio A partir de ahiacute la situacioacuten es maacutes confusa Ciertamente en los uacuteltimos siglos del IV milenio y durante el III e incluso ocasionalmente en la primera mitad del II existen indicios de la construccioacuten de monumentos megaliacuteticos pero las referencias cronoloacutegicas disponibles en muchos casos apuntan en mayor medida a la utilizacioacuten y en ocasiones la transformacioacuten de monumentos erigidos anteriormente que a la construccioacuten ex novo El caso mejor estudiado es el del famoso monumento de Dombate en Cabana (La Coruntildea) donde se ha documentado una larga secuencia que se inicia verosiacutemilmente en el V milenio cal BC con la construccioacuten de una pequentildea caacutemara poligonal que es derruida y sustituida por un gran sepulcro de corre-dor en torno a 3700 cal BC el cual se mantuvo en uso hasta su clausura ritual en torno a 28002700 cal BC (Bello 199293 Alonso Mathias y Bello 1997) en total en torno a milenio y medio de actividad funeraria y ritual Las investigaciones de los uacuteltimos antildeos han puesto de relieve que la reali-dad arqueoloacutegica del megalitismo del NO peninsular es mucho maacutes comple-ja que lo que suponiacutea la visioacuten monoliacutetica que predominaba hasta no hace mucho tiempo En realidad bajo el teacutermino ldquomegalitismordquo cubrimos una enorme variedad de soluciones constructivas y de actividades funerarias y rituales dotadas de relativa unidad ademaacutes de por la aparente uniformi-dad exterior proporcionada por las masas tumulares en forma de casquete esfeacuterico por la nocioacuten de la monumentalidad aplicada al comportamiento funerario Sin embargo si profundizamos en la realidad arqueoloacutegica con-creta constatamos una gran variabilidad Esto es particularmente notorio en la propia fase de constitucioacuten del fenoacutemeno megaliacutetico regional en la que junto a construcciones que podriacuteamos calificar de convencionales como las pequentildeas caacutemaras ortostaacuteticas poligonales sin corredor que pare-cen caracterizar esta etapa en Galicia y que tambieacuten encontramos en el Cantaacutebrico tambieacuten se documentan otras soluciones como espacios defini-dos por losas de pequentildeo tamantildeo empedrados estructuras de madera simples agujeros excavados en el suelo natural postes o estelas peacutetreas hincadas Podemos citar ejemplos como Cotogrande 1 (Abad 1992-93) o Illade 0 (Vaquero 1995) en Galicia los monumentos V y XII de Monte Areo (de Blas 1999) y el tuacutemulo 24 de Sierra Plana de la Borbolla (Arias y Peacuterez 1990) en Asturias Hayas I en Cantabria (Serna 1997) o Trikuaizti I en el Paiacutes Vasco (Mujika y Armendariz 1991)Este fenoacutemeno no es exclusivo de la parte atlaacutentica del NO peninsular pues si dirigimos la mirada al Alto Ebro nos encontramos un panorama similar con algunas estructuras datadas en el V milenio como Valdemuriel o Fuen-tepecina II (Delibes et al 1993) bien distintas de los grandes sepulcros de

| 141

| 2018

Fig2 - Sierra Plana de la Borbolla Tuacutemulo SV 24 Estructura megaliacutetica no dolmeacutenica datada en el V milenio cal BC

corredor que seraacuten caracteriacutesticos de la zona maacutes tarde Esto apunta a que la extensioacuten del megalitismo por la fachada atlaacutentica se explica de forma maacutes satisfactoria por la difusioacuten entre comunidades neoliacuteticas diversas de una serie de ideas y nociones simboacutelicas rituales (la monumentalidad en las construcciones funerarias la inhumacioacuten colectiva) que por otro tipo de explicaciones que se han propuesto como la expansioacuten deacutemica de determi-nados grupos (Gonzaacutelez Morales 1992) o el proselitismo religioso En relacioacuten con lo anterior cabe preguntarse si en algunos casos las comu-nidades que levantaron estos monumentos podriacutean considerarse herederos de algunos aspectos de la tradicioacuten funeraria de los cazadores-recolectores regionales A ello parece apuntar la compleja documentacioacuten de la Sierra Plana de la Borbolla (Llanes Asturias) donde ademaacutes de algunas construc-ciones ldquoatiacutepicasrdquo como la del monumento SV24 donde se levantoacute una gran estela hincada frente a un arco de pequentildeas lajas con un hoyo entre ellas (fig 2) (Arias y Peacuterez 1990) o las enigmaacuteticas estructuras descritas por J F Meneacutendez en los antildeos 1920 (Meneacutendez 1927) cabe destacar la aparicioacuten en los megalitos de picos asturienses la misma ofrenda funeraria obser-vada en la vecina sepultura mesoliacutetica de el Molino de Gaspariacuten (Carbal-lo 1926) La inusual circunstancia de que los picos de ambos yacimientos

142 |

carezcan del caracteriacutestico desgaste en la punta (Arias 1991) refuerza la hipoacutetesis de que se trate de una ofrenda deliberada que estableceriacutea un puente simboacutelico a traveacutes del proceso de neolitizacioacuten Tambieacuten cabe pre-guntarse si la antiquiacutesima datacioacuten de Monte Areo VI situada en torno a 4700 cal BC (de Blas 1999) se debe considerar necesariamente un outlier o por el contrario nos proporciona un indicio de ensayos muy tempranos de monumentalizacioacuten en pleno proceso de transicioacuten al Neoliacutetico bien do- cumentado en la comarca del cabo Pentildeas a traveacutes de los estudios paleo-ambientales (Loacutepez Merino et al 2010) A este respecto conviene resentildear que en el NO peninsular tambieacuten se ha encontrado alguacuten indicio de que las construcciones megaliacuteticas se erigieron sobre ocupaciones anteriores tal como sugieren los datos de Illade 0 y tal vez la presencia repetida en varios doacutelmenes gallegos de polen de cereal en los paleosuelos datados en el VI milenio que eacutestos cubren (Barbanza As Rozas Parxubeira As Pereiras) (veacuteanse comentarios al respecto en Arias 2007)Es interesante resentildear que la variabilidad arquitectoacutenica no es exclusiva de las fases tempranas En la eacutepoca de apogeo del fenoacutemeno megaliacutetico en la primera mitad del IV milenio cal BC se constata tambieacuten una marcada regionalizacioacuten Ciertamente en toda la regioacuten parece asistirse a una ten-dencia a una mayor monumentalizacioacuten a la construccioacuten de estructuras maacutes grandes en ocasiones realmente enormes como la propia segunda fase de Dombate los tuacutemulos gallegos de A Mota Grande (Chao 2000) y A Madorra da Granxa (Chao y Aacutelvarez Merayo 2000) o el caacutentabro del Cotero de la Mina (Armendariz y Teira 2000) No obstante es notable la existencia de soluciones distintas en unas zonas y otras Asiacute como en Galicia la opcioacuten preferida parece haber sido la ereccioacuten de grandes sepulcros de corredor en el Cantaacutebrico este tipo arquitectoacutenico estaacute totalmente ausente sustitui-do en cualquier caso por grandes caacutemaras poligonales que en ocasiones tienen una especie de poacutertico marcado - caso del dolmen de la capilla de Santa Cruz (fig 3) (Vega del Sella 1919 de Blas 1979) o de Monte Areo XV (de Blas 1999) y quizaacute del Cotero de la Mina - aunque lo maacutes frecuente son caacutemaras de planta rectangular o trapezoidal de pequentildeo tamantildeo (Tei-ra 1994 Arias et al 2005 2006) Al sur de la cordillera Cantaacutebrica en la vecina regioacuten del Alto Ebro y en la submeseta septentrional volvemos a en-contrarnos desde al menos la constitucioacuten en torno a 4000 cal BC de la lla-mada ldquofacies funeraria Miradero-San Martiacutenrdquo (Delibes et al 1987) grandes construcciones que ciertamente son definibles como sepulcros de corredor pero que en realidad son bastante distintas de las gallegas con caacutemaras de tendencia circular con una cubricioacuten indeterminada (posiblemente de

| 143

| 2018

Fig3 - Planta y repre-sentaciones graacuteficas del dolmen de la capilla de Santa Cruz (Cangas de Oniacutes Asturias) (A partir de Blas 1979)

madera) Parece por tanto que las comunidades neoliacuteticas del NO penin-sular continuacutean interpretando de maneras muy diversas la nocioacuten de monu-mentalidad y las tendencias evolutivas generales extendidas por la fachada atlaacutentica europea del comportamiento funerarioEscasa es la informacioacuten que tenemos sobre la disposicioacuten de los cadaacute-veres pues el predominio en el aacuterea de estudio de suelos aacutecidos hace que raramente se conserven los restos oacuteseos No obstante en los pocos casos (sobre todo en la parte oriental del territorio) en que se han conservado parece que se confirma la asociacioacuten de los monumentos megaliacuteticos a la inhumacioacuten colectiva tal como se constata en Larrarte (12 individuos a pesar del reducido tamantildeo de la caacutemara) en Jentillari (27 individuos) o en Igaratza Sur (30 individuos) asiacute como la presencia de personas de am-bos sexos y de todas las edades Por otra parte en el mencionado dolmen de Larrarte se ha constatado una praacutectica que debioacute ser frecuente y ha sido

144 |

certificada tambieacuten en cuevas sepulcrales de la regioacuten consistente en el reacondicionamiento del sepulcro para dejar espacio a nuevas inhuma-ciones (Mujika y Armendariz 1991)Un aspecto particularmente notable del megalitismo de la regioacuten es el gran desarrollo de la expresioacuten graacutefica De hecho el NO de la peniacutensula ibeacuteri-ca es uno de los grandes nuacutecleos del arte megaliacutetico europeo (Shee-Two-hig 1981) En los uacuteltimos antildeos se ha constatado que este fenoacutemeno estaacute mucho maacutes extendido en la peniacutensula ibeacuterica de lo que se presumiacutea (Bueno y Balbiacuten 2006 2009 2012 Bueno et al 2013) Esto no obsta para corrobo-rar que el NO peninsular y muy en particular Galicia es una de las aacutereas de mayor densidad de manifestaciones graacuteficas megaliacuteticas con la particulari-dad ademaacutes del uso sistemaacutetico de la teacutecnica pictoacuterica muy rara aunque no totalmente ausente en otras zonas de Europa (Bueno et al 2016) El nuacutecleo galaico se extiende hacia el Cantaacutebrico (de Blas 1997a) donde las manifestaciones en esta regioacuten son mucho maacutes escasas si bien incluyen un importante nuacutecleo en el valle del Sella con dos monumentos muy rele-vantes los doacutelmenes de Santa Cruz (fig 3) y Abamia (de Blas 1979 1997a) Aunque existe alguna problemaacutetica datacioacuten maacutes antigua (Anta do Serramo Coto dos Mouros Monte dos Marxos) la cronologiacutea de las manifestaciones parietales parece situarse en un segmento temporal relativamente restrin-gido ca 3900-3600 cal BC (Carrera y Faacutebregas 2006) Parecen coetaacuteneas por tanto de la fase de apogeo caracterizada por la construccioacuten de grandes sepulcros de corredor y de hecho se asocian por lo general a este tipo de sepulturas (Bello y Carrera 1997) Es evidente que las pinturas y grabados parietales de los doacutelmenes tienen una relacioacuten directa con el universo fune- rario Maacutes complejo es acercarse a su papel en el simbolismo y el ritual De hecho la iconografiacutea no es faacutecil de interpretar Los motivos representados describibles como formas geomeacutetricas son de difiacutecil lectura y se han pro-puesto diversas alternativas de problemaacutetica contrastacioacuten (casas mortuo-rias ofidioshellip) No obstante en los uacuteltimos antildeos parece abrirse camino una hipoacutetesis que a nuestro juicio abre perspectivas muy interesantes la inter-pretacioacuten de algunos ortostatos como representaciones antropomorfas en las que los motivos geomeacutetricos pintados y grabados tratariacutean de sugerir la vestimenta de forma anaacuteloga a la de objetos mobiliares como las placas decoradas Un caso claro seriacutea el de Santa Cruz (fig 3) en el que a la forma vagamente antropomorfa de la gran laja de cabecera se le uniriacutean motivos en zigzag y triaacutengulos que encontramos en representaciones interpretables como personas vestidas (Bueno 2010) La importancia simboacutelica de la figura humana se confirma por la existen-

| 145

| 2018

Fig4 - Representaciones antropomorfas esquemaacuteti-cas del megalitismo galle-go (seguacuten Faacutebregas y Vila-seca 2004 parcialmente basadas en Rodriacuteguez Casal 1988)

cia en numerosos monumentos megaliacuteticos particularmente gallegos pero tambieacuten algunos cantaacutebricos de representaciones de bulto redondo va- gamente antropomorfas como cantos con escotaduras (Faacutebregas 1993 Faacutebregas y Vilaseco 2006) o estelas (fig 4) Se ha constatado su presencia en los corredores tal como sucede en Dombate donde estaban colocadas en hilera en el umbral de la sepultura (Bello 1994) Otro caso notable es el del dolmen coruntildeeacutes de A Mina de Parxubeira en el que se encontraron alineados en una zona exterior denominada ldquoaacuterea santuariordquo cuatro es-telas antropomorfas y dos betilos (Rodriacuteguez Casal 1988) En el caso del Cantaacutebrico cabe mencionar la estela recuperada en la caacutemara de Larrarte (Guipuacutezcoa) (Mujika y Armendariz 1991) o en un contexto maacutes tardiacuteo ya Calcoliacutetico la estela hincada ante el dolmen de Collaacute Cimera en Asturias (de Blas 1992) Posiblemente quepa incluir tambieacuten aquiacute algunos objetos muebles vinculados al megalitismo asturiano como los cantos con liacuteneas

146 |

pintadas o grabadas de El Baradal y Las Paniciegas comparables a los ejemplares gallegos mencionados maacutes arribaFinalmente quedan por considerar los ajuares que acompantildeaban habitual-mente a los individuos inhumados Aparecen compuestos por elementos de iacutendole muy diversa como corresponde a las presumiblemente variadas tradiciones culturales en un aacuterea tan extensa y al largo intervalo cronoloacutegi-co en que se desarrolla el fenoacutemeno megaliacutetico A pesar de ello se obser-van algunas pautas comunes Una parte importante se compone de ciertos utensilios liacuteticos estandarizados y en ocasiones elaborados con el uacutenico fin de su depoacutesito en las sepulturas Se trata de microlitos geomeacutetricos que a partir de fines del IV milenio son sustituidos por puntas de retoque plano y hojas que se elaboran en siacutelex de excelente calidad Junto a ello son tam-bieacuten frecuentes las hachas de piedra pulimentada La presencia de objetos de evidente valor simboacutelico como las armas y las hachas muy vinculados con los nuevos modos de vida neoliacuteticos parece evidente (Bradley 1990) Por su parte las ceraacutemicas de los megalitos neoliacuteticos son por general muy simples formas globulares sin decoracioacuten o con decoracioacuten muy sumaria lo que contrasta visiblemente con la aparicioacuten en los ajuares del III milenio de producciones ricamente decoradas sobre todo en Galicia donde apare-cen vasijas con esquemas inciso-metopados y ceraacutemicas campaniformes (Faacutebregas y Vilaseco 2004) relativamente frecuentes estas en esta regioacuten y en el Paiacutes Vasco Mencioacuten aparte merece la aparicioacuten de materiales exoacuteticos como las hachas pulimentadas realizadas en materiales exoacuteticos entre los que desta-can unos pocos casos de jadeiacuteta alpina (Faacutebregas et al 2017) la magniacutefica hacha de silimanita del dolmen de la capilla de Santa Cruz (elaborada en una roca aunque probablemente ibeacuterica de origen lejano) el azabache de Dombate (Bello 1995) o la mayoriacutea del siacutelex de buena calidad que aparece en los doacutelmenes gallegos y buena parte de los asturianos

OTRAS PRAacuteCTICAS FUNERARIASLa introduccioacuten y apogeo del megalitismo en la regioacuten no supone el fin de los enterramientos en cueva que se mantienen a lo largo del IV milenio cal BC A esta cronologiacutea se adscriben evidencias funerarias de distinta entidad En la mayor parte de los casos la ausencia de publicaciones completas o el caraacutecter del depoacutesito funerario provoca una imagen claramente fragmenta- ria En cualquier caso la documentacioacuten de estos restos aislados en cueva denota una perduracioacuten de esta praacutectica funeraria Posiblemente el caso maacutes conocido en la bibliografiacutea sea el enterramiento

| 147

| 2018

Fig5 - Esquema de la sepultura neoliacutetica en cueva de Marizulo (Guipuacutezcoa) (seguacuten Laborde et al 1967)

de Marizulo (Urnieta Guipuacutezcoa) datado en torno a 4000 cal BC Se trata de un individuo adulto masculino en posicioacuten flexionada y cuyo espacio fu-nerario estaba configurado por tres grandes rocas de caliza abierto hacia el este y aparentemente asociado a los restos de un perro y una oveja (fig 5) (Laborde et al 1967) La inhumacioacuten aparecioacute en la base del nivel I en cuya parte superior se documentaron numerosos restos adscritos al Calcoliacutetico y la Edad del Bronce (Alday y Mujika 1999)A esta misma cronologiacutea corresponden los restos humanos recientemente documentados en la cueva de Linatzeta (Deba Guipuacutezcoa) auacuten no publica-dos en detalle (Tapia et al 2008) y una mandiacutebula humana hallada en la cueva de Ekain (Deba Guipuacutezcoa) (Altuna 2009) En este uacuteltimo caso se trata de un fragmento de mandiacutebula infantil asociada a algunos fragmentos ceraacutemicos con decoracioacuten impresa a base de ungulaciones y digitaciones La datacioacuten directa del fragmento mandibular permite adscribirlo al IV milen-io cal BC (Ua-36855 4960plusmn60BP) Un hueso humano procedente del Portillo del Arenal (Pieacutela-gos Cantabria) (Muntildeoz y Morlote 2000) estaacute datado directa-mente a finales del IV o inicios del III milenio cal BC (AA-20044 4443plusmn104BP) El nuacutemero de huesos humanos adscritos a estas cronologiacuteas ha aumentado exponencialmente gracias a la excavacioacuten de nuevos yacimientos arqueoloacutegicos como El Carabioacuten (Voto Cantabria) o El Toral III (Llanes Asturias) o a la revisioacuten y datacioacuten de otros tradicio- nalmente conocidos como por ejemplo Los Avellanos (La Busta Canta-bria) (Vega y Gonzaacutelez Morales 2016) o Las Caacutescaras (Ruiloba Cantabria) En el primero de los yacimientos se documentaron seis fragmentos de craacuteneo de un individuo juvenil en el nivel I cuya datacioacuten (Poz-30592 5440plusmn40BP) permite adscribirlo a esta cronologiacutea La UE 3 del yacimiento de El Toral III tambieacuten ha registrado un fragmento humano datado a finales

148 |

del Neoliacutetico (Noval 2013) Como se puede observar la evidencia funeraria neoliacutetica en cuevas de la regioacuten cantaacutebrica es muy pobre y aun lo es maacutes en Galicia donde la uacutenica datacioacuten de un enterramiento de esta cronologiacutea procede de Pala do Rebolal (Vidal et al 2017) Sin embargo la presencia de estas evidencias funerar-ias aisladas nos permiten sostener una cierta continuidad en las praacutecticas rituales de las poblaciones asentadas en la regioacuten cantaacutebrica que no se ven interrumpidas con la introduccioacuten y apogeo del megalitismo La documentacioacuten de restos humanos en cuevas y monumentos megaliacuteti-cos reflejan una dualidad en las tradiciones funerarias difiacutecil de valorar adecuadamente ante la falta de informacioacuten detallada sobre el ritual fune- rario (Ontantildeoacuten y Armendariz 20052006)

REFLEXIOacuteN FINALComo acabamos de ver el noroeste de la peniacutensula ibeacuterica es una de las aacutereas maacutes relevantes para el estudio del comportamiento funerario de las comunidades neoliacuteticas de la peniacutensula ibeacuterica La regioacuten posee una ele- vadiacutesima densidad de sitios (probablemente cerca de 5000 en su mayor parte monumentos megaliacuteticos) y un registro funerario bastante completo Se constata la brusca extincioacuten del ritual funerario caracteriacutestico del Me-soliacutetico final y su sustitucioacuten a mediados del V milenio cal BC tras una etapa mal documentada en la fase de neolitizacioacuten por la inhumacioacuten colectiva en monumentos megaliacuteticos Estos muestran una gran variabilidad regional y en algunos casos ciertas evidencias de continuidad con la tradicioacuten mesoliacuteti-ca sugiriendo que la adopcioacuten del megalitismo se debe considerar como una serie variada y heterogeacutenea de interpretaciones del nuevo universo fu-nerario por parte de comunidades neoliacuteticas diversas En la primera mitad del IV milenio cal BC la regioacuten se cubre de millares de monumentos configurando un auteacutentico paisaje simboacutelico El registro funer-ario de este periacuteodo presenta una enorme complejidad Destaquemos entre sus rasgos maacutes sobresalientes el desarrollo de construcciones megaliacuteticas maacutes convencionales como caacutemaras ortostaacuteticas simples o sepulcros de corredor la destacada presencia de expresioacuten graacutefica en el interior de las caacutemaras o los indicios de relaciones a larga distancia de los que son un ejemplo particularmente notorio la presencia en los ajuares de hachas pu-limentadas en rocas exoacuteticas No obstante los doacutelmenes no eran la uacutenica opcioacuten para disponer de los cuerpos de los difuntos pues hay evidencia de otras praacutecticas como la utilizacioacuten de cuevas sepulcrales

| 149

| 2018

AGRADECIMIENTOS Este trabajo se ha realizado en el marco del proyecto de investigacioacuten ldquoSiacutem-bolos subterraacuteneos Una aproximacioacuten al pensamiento de los cazadores-re-colectores del Tardiglacial y el Holoceno usando tecnologiacuteas informaacuteticasrdquo (SimTIC) del Plan Estatal de Investigacioacuten Cientiacutefica y Teacutecnica y de Inno-vacioacuten 2013-2016 (HAR2017-82557-P)

REFERENCIAS BIBLIOGRAacuteFICASABAD XC 1992-93 Balance de las actuaciones arqueoloacutegicas llevadas a cabo en la necroacutepolis megaliacutetica de Cotogrande (Cabral) (Canmpantildeas de 1989-1992 Castrelos 5-6 pp 7-28ALDAY A y MUJIKA JA 1999 Nuevos datos de cronologiacutea absoluta concerniente al Holoceno medio en el aacuterea vasca XXIV Congreso Nacional de Arqueologiacutea Cartagena 1997 Murcia Instituto de Patrimonio Histoacuterico Comunidad Autoacutenoma de la Regioacuten de Murcia pp 95-106ALONSO FERNAacuteNDEZ C 2017 Vida y muerte en el asentamiento del Neoliacutetico Antiguo de El Prado (Pancorbo Burgos) Construyendo el Neoliacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica Ar-chaeoress (BAR International Series 2876) Oxford Oxford ArchaeopressALONSO MATHIAS F y BELLO JM 1997 Cronologiacutea y periodizacioacuten del henoacutemeno megaliacutetico en Galicia a la luz de las dataciones por C14 In AA RODRIacuteGUEZ CASAL ed O Neoliacutetico Atlaacutentico e as orixes do megalitismo Actas do Coloquio Internacional Santiago de Compostela 1-6 de abril de 1996 Santiago de Compostela Servicio de Publicacioacutens e Intercambio Cientiacutefico da Universidade de Santiago de Compostela pp 507-520ALTUNA J 2009 Cueva de Ekain 2ordf fase I Campantildea Arkeoikuska 2008 Arkeologi Iker-ketaInvestigacioacuten Arqueoloacutegica Vitoria Servicio Central de Publicaciones del Gobierno Vasco pp 358-365ARANZADI T y BARANDIARAacuteN JM 1935 Exploraciones en la caverna de Santimamintildee (Basondo Corteacutezubi) 3ordf memoria-Yacimientos azilienses y paleoliacuteticos Exploraciones en la caverna de Lumentxa (Lequeitio) Bilbao Excma Diputacioacuten de VizcayaARIAS P 1991 De cazadores a campesinos La transicioacuten al neoliacutetico en la regioacuten cantaacutebrica Santander Servicio de Publicaciones de la Universidad de Cantabria-Asam-blea Regional de CantabriaARIAS P 2007 Neighbours but diverse social change in north-west Iberia during the transition from the Mesolithic to the Neolithic (5500-4000 cal BC) In A WHITTLE y V CUMMINGS eds Going OverThe Mesolithic-Neolithic Transition in North-West Europe Oxford Oxford University Press pp 53-71ARIAS P 2012a Despueacutes de Los Azules Las praacutecticas funerarias en las sociedades mesoliacuteticas de la regioacuten cantaacutebrica In JR MUNtildeIZ ed Ad Orientem Del final del Paleo-litico en el norte de Espantildea a las primeras civilizaciones del Oriente Proacuteximo Estudios en homenaje al profesor Juan Fernaacutendez-Tresguerres Velasco Oviedo Universidad de Oviedo-Meacutensula Ediciones pp 253-273ARIAS P 2012b Funerary practices in Cantabrian Spain (9000-3000 cal BC) In JF GIBAJA AF CARVALHO y P CHAMBON eds Funerary Practices in the Iberian Peninsula

150 |

from the Mesolithic to the Chalcolithic Oxford Archaeopress pp 7-20ARIAS P 2014 La muerte entre los cazadores-recolectores El comportamiento funer-ario en la Peniacutensula Ibeacuterica durante el Paleoliacutetico Superior y el Mesoliacutetico In E GUERRA y J FERNAacuteNDEZ MANZANO eds La muerte en la Prehistoria ibeacuterica Casos de estudio Valladolid Universidad de Valladolid pp 49-75ARIAS P 2016 Grave goods in the Mesolithic of Southern Europe an overview In JM GRUumlNBERG B GRAMSCH L LARSSON J ORSCHIEDT y H MELLER eds Mesolithic Burials ndash Rites symbols and social organisation of early postglacial communities = Me-solithische Bestattungen ndash Riten Symbole und soziale Organisation fruumlher postglazialer Gemeinschaften Halle Landesamt fuumlr Denkmalpflege und Archaumlologie Sachsen-Anhalt pp 693-704ARIAS P y AacuteLVAREZ FERNAacuteNDEZ E 2004 Les chasseurs-cueilleurs de la Peacuteninsule Ibeacuterique face agrave la mort Une reacutevision des donneacutees sur les contextes funeacuteraires du Paleacuteo-lithique supeacuterieur et du Meacutesolithique In M OTTE ed La Spiritualiteacute Actes du Colloque international de Liegravege (10-12 deacutecembre 2003) Liegravege Universiteacute de Liegravege pp 221-236ARIAS P ARMENDARIZ Aacute BALBIacuteN RD FANO MAacute FERNAacuteNDEZ-TRESGUERRES JA GONZAacuteLEZ MORALES MR IRIARTE MJ ONTANtildeOacuteN R ALCOLEA JJ AacuteLVAREZ FERNAacuteNDEZ E ETXEBERRIA F GARRALDA MD JACKES M y ARRIZABALAGA Aacute 2009 Burials in the cave new evidence on mortuary practices during the Mesolithic of Cantabrian Spain In SB MCCARTAN RJ SCHULTING G WARREN y P WOODMAN eds Mesolithic Horizons Papers presented at the Seventh International Conference on the Mesolithic in Europe Belfast 2005 Oxford Oxbow pp 650-656ARIAS P ARMENDARIZ Aacute y TEIRA LC 2005 El fenoacutemeno megaliacutetico en la regioacuten Cantaacutebrica Estado de la cuestioacuten In P ARIAS R ONTANtildeOacuteN y C GARCIacuteA-MONCOacute eds Actas del III Congreso del Neoliacutetico en la Peninsula Ibeacuterica Santander 5 a 8 de octubre de 2003 Santander Servicio de Publicaciones de la Universidad de Cantabria pp 751-759ARIAS P ARMENDARIZ Aacute y TEIRA LC 2006 The megalithic complex in Cantabrian Spain In AA RODRIacuteGUEZ CASAL ed Le Meacutegalithisme AtlantiqueThe Atlantic Mega-liths Acts of the XIVth UISPP Congress University of Liegravege Belgium 2-8 September 2001 Symposium 94 Oxford Archaeopress pp 11-29ARIAS P y PEacuteREZ C 1990 Investigaciones prehistoacutericas en la Sierra Plana de La Bor-bolla (1979-1986) Excavaciones arqueoloacutegicas en Asturias 1983-86 Oviedo Servicio de Publicaciones del Principado de Asturias pp 143-151ARMENDARIZ Aacute y TEIRA LC 2000 El megalitismo en la Marina occidental de Canta-bria Excavacioacuten arqueoloacutegica del dolmen Cotero de la Mina (San Vicente de la Barquera) In R ONTANtildeOacuteN ed Actuaciones arqueoloacutegicas en Cantabria 1984-1999 Santander Consejeriacutea de Cultura y Deporte del Gobierno de Cantabria pp 283-284BELLO JM 199293 El monumento de Dombate en el marco del megalitismo del no-roeste peninsular Aspectos arquitectoacutenicos Portugaacutelia Nova seacuterie 13-14 pp 139-148BELLO JM 1994 Grabados pinturas e iacutedolos en Dombate (Cabana La Coruntildea) iquestGru-po de Viseu o grupo noroccidental Aspectos taxonoacutemicos y cronoloacutegicos O megalitismo no centro de Portugal-novos dados problemaacutetica e relaccedilotildees com outras aacutereas peninsu-lares Viseu CEPBA pp 287-304BELLO JM 1995 Autoctonismo vs relaciones en el megalitismo noroccidental El caso de los monumentos de Dombate Actas del XXII Congreso Nacional de Arqueologiacutea Vigo

| 151

| 2018

1993 Vigo pp 25-32BELLO JM y CARRERA F 1997 Las pinturas del monumento megaliacutetico de Dombate estilo teacutecnica y composicioacuten In AA RODRIacuteGUEZ CASAL ed O Neoliacutetico Atlaacutentico e as orixes do megalitismo Actas do Coloquio Internacional Santiago de Compostela 1-6 de abril de 1996 Santiago de Compostela Servicio de Publicacioacutens e Intercambio Cientiacutefico da Universidade de Santiago de Compostela pp 819-828BLAS MAacute 1979 La decoracioacuten parietal del dolmen de la Santa Cruz (Cangas de Oniacutes Asturias) Boletiacuten del Instituto de Estudios Asturianos 33(98) pp 717-757BLAS MAacute 1992 Trabajos finales en el dolmen de la Collaacute Cimera y en la necroacutepolis de La Cobertoria (divisoria Lena-Quiroacutes) Excavaciones arqueoloacutegicas en Asturias 1987-90 Oviedo Servicio de Publicaciones del Principado de Asturias pp 53-57BLAS MAacute 1997a El arte megaliacutetico en el territorio cantaacutebrico un fenoacutemeno entre la nitidez y la ambiguumledad III Coloquio Internacional de Arte Megaliacutetico La Coruntildea Museo de La Coruntildea pp 69-89BLAS MAacute 1997b Megalitos en la Regioacuten Cantaacutebrica una visioacuten de conjunto In AA RODRIacuteGUEZ CASAL ed O Neoliacutetico Atlaacutentico e as orixes do megalitismo Actas do Colo-quio Internacional Santiago de Compostela 1-6 de abril de 1996 Santiago de Compos-tela Servicio de Publicacioacutens e Intercambio Cientiacutefico da Universidade de Santiago de Compostela pp 311-334BLAS MAacute 1999 El Monte Areo en Carrentildeo (Asturias) un territorio funerario de los milenios V a III a de JC Candaacutes Ayuntamiento de CarrentildeoBRADLEY R 1990 The passage of arms An Archaeological analysis of Prehistoric hoards and votive deposits Cambridge Cambridge University PressBUENO P 2010 Ancestros e imaacutegenes antropomorfas muebles en el aacutembito del megal-itismo occidental las placas decoradas In C CACHO R MAICAS E GALAacuteN and JA MARTOS eds Ojos que nunca se cierran iumldeolos en las primeras sociedades campesi-nas Madrid Ministerio de Cultura pp 39-77BUENO P y BALBIacuteN R 2006 Arte parietal megaliacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica In F CARRERA y R FAacuteBREGAS eds Arte arietal megaliacutetico en el noroeste peniacutensular cono-cimiento y conservacioacuten Santiago de Compostela Toacuterculo pp 61-151BUENO P y BALBIacuteN R 2009 Marcadores graacuteficos y territorios tradicionales en la Pre-historia de la peniacutensula ibeacuterica Cuadernos de Prehistoria y Arqueologiacutea de la Universidad de Granada 19 pp 65-100BUENO P y BALBIacuteN R 2012 Holocene rock art of the Iberian Peninsula 2005-2009 In PG BAHN N FRANKLIN y M STRECKER eds Rock Art Studies News of the World IV Oxford Oxbow pp 45-59BUENO P BALBIacuteN R BARROSO R CARRERA F y AYORA C 2013 Secuencia de arquitecturas y siacutemblos en el dolmen de Viera (Antequera Maacutelaga Espantildea) Menga 04 pp 251-266BUENO P BALBIacuteN R LAPORTE L BARROSO R GOUEacuteZIN P COUSSEAU F HER-NANZ A y IRIARTE M 2016 Decorative techiniques in Breton megalithic tombs (France) the role of paintings In L LAPORTE y C SCARRE eds The megalithic architec-tures of Europe Oxford Oxbow pp 197-205CARBALLO J 1926 El esqueleto humano maacutes antiguo de Espantildea Santander edicioacuten del autorCARRERA F y FAacuteBREGAS R 2006 Datacioacuten directa de pinturas megaliacuteticas de Galicia

152 |

In F CARRERA y R FAacuteBREGAS eds Arte arietal megaliacutetico en el noroeste peniacutensular conocimiento y conservacioacuten Santiago de Compostela Toacuterculo pp 37-60CHAO FJ 2000 Intervencioacuten arqueoloacutegica en A Mota Grande aproximacioacuten a su arqui-tectura Brigantium pp 23-40CHAO FJ y AacuteLVAREZ MERAYO IA 2000 A Madorra da Granxa iquestO tuacutemulas maacutesi grande de Galicia Brigantium 12 pp 41-63CRIADO F y VAQUERO J 1993 Monumentos nudos en el pantildeuelo Megalitos nudos en el espacio Anaacutelisis del emplazamiento de los monumentos tumulares gallegos Espacio Tiempo y Forma-Prehistoria y Arqueologiacutea 6 pp 205-248CUBAS M ALTUNA J AacuteLVAREZ FERNAacuteNDEZ E ARMENDARIZ Aacute FANO MAacute LOacutePEZ-DOacuteRIGA I MARIEZKURRENA K TAPIA J TEIRA LC y ARIAS P 2016 Re-evaluating the Neolithic the impact and consolidation of farming practices in the Can-tabrian region (northern Spain) Journal of World Prehistory 29 pp 79-116CUBAS M STJERNA RP FONTANALS MF LLORENTE L LUCQUIN A CRAIG OE y COLONESE AC in press Long-term dietary change in Atlantic and Mediterranean Iberia with the introduction of agriculture a stable isotope perspective Archaeological and Anthropological SciencesDELIBES G ALONSO M y ROJO MAacute 1987 Los sepulcros colectivos del Duero medio y Las Loras y su conexioacuten con el foco dolmeacutenico riojano El megalitismo en la Peniacutensula Ibeacuterica Madrid Ministerio de Cultura pp 181-197DELIBES G ROJO MAacute y REPRESA JI 1993 Doacutelmenes de La Lora Burgos Valladolid Junta de Castilla y LeoacutenFAacuteBREGAS R 1993 Representaciones de bulto redondo en el megalitismo del No-roeste Trabajos de Prehistoria 50 pp 87-101FAacuteBREGAS R RODRIacuteGUEZ RELLAacuteN C y LOMBERA AD 2017 Des Alpes agrave la peacuteninsule Ibeacuterique une longue route sinueuse In P PEacuteTREQUIN E GAUTHIER y A PEacuteTREQUIN eds Jade Objets-signes et interpreacutetations sociales des jades alpins dans lrsquoEiurope neacuteo-lithique Tome 3 Besanccedilon Presses Universitaires de Franche-Comteacute-Centre de Recher-che Archeacuteologique de la Valleacutee de lrsquoAin pp 419-429FAacuteBREGAS R y VILASECO XI 2004 El megalitismo gallego a inicios del xiglo XXI Main-ake XXVI pp 63-87FAacuteBREGAS R y VILASECO XI 2006 En torno al megalitismo gallego In F CARRERA y R FAacuteBREGAS eds Arte arietal megaliacutetico en el noroeste peniacutensular conocimiento y conservacioacuten Santiago de Compostela Toacuterculo pp 11-36FAacuteBREGAS R y VILASECO XI 2016 Building forever or just for the time being A view from north-western Iberia In L LAPORTE y C SCARRE eds The megalithic architectures of Europe Oxford Oxbow pp 101-110GARCIacuteA GAZOacuteLAZ J 2007 Los enterramientos neoliacuteticos del yacimiento de Paternan-bidea (Ibero) La tierra te sea leve Arqueologiacutea de la muerte en Navarra Pamplona Go-bierno de Navarra pp 59-65GARCIacuteA GAZOacuteLAZ J y SESMA J 2007 Enterramientos en el poblado neoliacutetico de Los Cascajos (Los Arcos) La tierra te sea leve Arqueologiacutea de la muerte en Navarra Pamplo-na Gobierno de Navarra pp 52-58GONZAacuteLEZ MORALES MR 1992 Mesoliacuteticos y megaliacuteticos la evidencia arqueoloacutegica de los cambios en las formas productivas en el paso al megalitismo en la costa cantaacutebri-ca In A MOURE ed Elefantes ciervos y ovicaprinos economiacutea y aprovechamiento del

| 153

| 2018

medio en la Prehistoria de Espantildea y Portugal Santander Servicio de Publicaciones de la Universidad de Cantabria pp 185-202GRUumlNBERG JM 2000 Mesolithische Bestattungen in Europa Ein Beitrag zur vergle-ichenden Graumlberkunde RahdenWestfalen LeidorfHELLEWELL E and MILNER N 2016 Analyses of the placement of disarticulated hu-man remins in the Stone Age shell middens in Europe In JM GRUumlNBERG B GRAMSCH L LARSSON J ORSCHIEDT and H MELLER eds Mesolithic Burials ndash Rites symbols and social organisation of early postglacial communities = Mesolithische Bestattungen ndash Riten Symbole und soziale Organisation fruumlher postglazialer Gemeinschaften Halle Landesamt fuumlr Denkmalpflege und Archaumlologie Sachsen-Anhalt pp 545-554LABORDE M BARANDIARAacuteN JM ATAURI JM and ALTUNA J 1967 Excavaciones en Marizulo (Urnieta) (Campantildeas de 1965 y 1967) Munibe XIX pp 261-270LOacutePEZ MERINO L MARTIacuteNEZ CORTIZAS A and LOacutePEZ JA 2010 Early agriculture and paleoenvironmental history in the North of the Iberian Peninsula a multi-proxy analysis of the Monte Areo mire (Asturias Spain) Journal of Archaeological Science 37 pp 1978-1988MARTINOacuteN-TORRES M 2001 Os monumentos megaliacuteticos depois do megalitismo Ar-queoloxiacutea e Historia dos megalitos galegos a traveacutes das fontes escritas (s VI-XIX) Valga Concello de ValgaMARTINOacuteN-TORRES M 2002 Defying God and the King a 17th century gold rush for megalithic treasure Public Archaeology 2(4) pp 220-235MEIKLEJOHN C BRINCH PETERSEN E and BABB J 2009 From single graves to cem-eteries An initial look at chronology in Mesolithic burial practice In SB MCCARTAN RJ SCHULTING G WARREN and P WOODMAN eds Mesolithic Horizons Papers presented at the Seventh International Conference on the Mesolithic in Europe Belfast 2005 Ox-ford Oxbow pp 639-645MENEacuteNDEZ JF 1927 La necroacutepolis dolmeacutenica de la Sierra Plana en Vidiago Primera estacioacuten neoliacutetica descubierta en Asturias Ibeacuterica XXVII(678) pp 312-317MUJIKA JA and ARMENDARIZ Aacute 1991 Excavaciones en la estacioacuten megaliacutetica de Murumendi (Beasain Gipuzkoa) Munibe (Antropologia-Arkeologia) 43 pp 105-165MUNtildeOZ E and MORLOTE JM 2000 Documentacioacuten arqueoloacutegica de la cueva del Calero II y la sima del Portillo del Arenal en Pieacutelagos In R ONTANtildeOacuteN ed Actuaciones arqueoloacutegicas en Cantabria 1984-1999 Santander Consejeriacutea de Cultura y Deporte del Gobierno de Cantabria pp 263-266NOVAL MA 2013 Excavacioacuten arqueoloacutegica en la cueva de El Toral III (Andriacuten Llanes) Excavaciones arqueoloacutegicas en Asturias 2007-2012 En el centenario del descubrimien-to de la caverna de La Pentildea de Candamo Oviedo Consejeriacutea de Educacioacuten Cultura y Deporte del Principado de Asturias pp 381-384ONTANtildeOacuteN R 2003 Caminos hacia la complejidad el Calcoliacutetico en la regioacuten cantaacutebrica Santander Servicio de Publicaciones de la Universidad de CantabriaONTANtildeOacuteN R and ARMENDARIZ Aacute 20052006 Cuevas y megalitos los contextos sep-ulcrales colectivos en la Prehistoria reciente cantaacutebrica Homenaje a Jesuacutes Altuna Tomo II Arqueologiacutea San Sebastiaacuten Sociedad de Ciencias Aranzadi pp 275-286OSTERHOLTZ AJ BAUSTIAN KL and MARTIN DL eds 2014 Commingled and disar-ticulated human remains Working toward improved theory method and data New Yorl Springer

154 |

RODRIacuteGUEZ CASAL AA 1988 La necroacutepolis megaliacutetica de Parxubeira A Coruntildea Mu-seu Arqueoloacutexico ProvincialROJO MAacute GARCIacuteA MARTIacuteNEZ DE LAGRAacuteN IacuteNtildeIGO GARRIDO R TEJEDOR C SUBIREacute ME GARCIacuteA GAZOacuteLAZ J SESMA J GIBAJA JF UNZU M PALOMINO L JIMEacuteNEZ I ARROYO E y ARCUSA H 2016 Enterramientos del Neoliacutetico antiguo en el interior peninsular nuevos datos para una actualizacioacuten de la evidencia empiacuterica Del neoliacutetic a lrsquoedat del bronze en el Mediterrani occidental Estudis en homenatge a Bernat Martiacute Oliver Valencia SIP pp 181-210SCARRE C ARIAS P BURENHULT G FANO MAacute OOSTERBEEK L SCHULTING RJ SHERIDAN A y WHITTLE A 2003 Megalithic chronologies In G BURENHULT ed Stones and bones Formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the Mesoli thic-Neolithic interface 6000-3000 BC Archaeological Conference in Honour of the Late Professor Michael J OrsquoKelly Proceedings of the Stones and Bones Conference in Sligo Ireland May 1-5 2002 Oxford Archaeopress pp 65-111SERNA MR 1997 Neolitizacioacuten y megalitismo en la Cornisa Cantaacutebrica el yacimiento de Guriezo-Hayas In R BALBIacuteN y P BUENO eds II Congreso de Arqueologiacutea Peninsu-larTomo II-Neoliacutetico Calcoliacutetico y Bronce Zamora Fundacioacuten Rei Afonso Henriques pp 199-206SHEE-TWOHIG E 1981 The megalithic art of Western Europe Oxford Clarendon PressSUAacuteREZ J 2001 Tesoros ayalgas y chalgueiros la fiebre del oro en Asturias Gijoacuten Museo del Pueblo de AsturiasTAPIA J AacuteLVAREZ FERNAacuteNDEZ E CUBAS M CUETO M ETXEBERRIA F GUTIEacuteRREZ ZUGASTI I HERRASTI L y RUIZ M 2008 La cueva de Linatzeta (Lastur Deba Gipuz-koa) Un nuevo contexto para el estudio del Mesoliacutetico en Gipuzkoa Munibe (Antropolo-gia-Arkeologia) 59 pp 119-131TEIRA LC 1994 El megalitismo en Cantabria Aproximacioacuten a una realidad arqueoloacutegi-ca olvidada Santander Servicio de Publicaciones de la Universidad de CantabriaVAQUERO J 1995 Tuacutemulos del NW peninsular Escenas Actas del XXII Congreso Nacio-nal de Arqueologiacutea Vigo 1993 Vigo pp 39-45VEGA DEL SELLA CONDE DE LA 1919 El dolmen de la capilla de Santa Cruz (Asturias) Madrid Museo Nacional de Ciencias NaturalesVEGA C y GONZAacuteLEZ MORALES MR 2016 Estratigrafiacutea y cronologiacutea para la ceraacutemica inciso-impresa en el traacutensito del III al II milenio cal aC en Cantabria In G SANZ ed Actuaciones Arqueoloacutegicas en Cantabria 2004-2011 Santander Gobierno de Canta-bria Consejeriacutea de Educacioacuten Cultura y Deporte pp 154-160VIDAL ROMANIacute JR GRANDAL DrsquoANGLADE A y VAQUEIRO RODRIacuteGUEZ M 2017 El mundo de una mujer llamada Elba hace 9300 antildeos Cadernos do Laboratorio Xeoloacutexico de Laxe 39 pp 11-22

| 155

| 2018

AS COMUNIDADES NEOCALCOLIacuteTICAS DE TRAacuteS-OS-MONTES PENSAR A SUA TRADICcedilAtildeO CERAcircMICA NUMA PERSPECTIVA DE PERENIDADE

The Neolithic and Calcolithic communities of Traacutes-os-Montes thinking their pottery tradition in a perspective of perennity

RESUMOAs comunidades neocalcoliacuteticas de Traacutes-os-Montes Oriental deixaram-nos evi-decircncias de uma longa continuidade da sua cultura material na qual a repro-duccedilatildeo repetida de motivos decorativos nos recipientes ceracircmicos ao longo do IV e III mileacutenios aC nos leva a equacionar os mecanismos mentais que condi- cionam a sua produccedilatildeo artesanal Mais que uma simples manifestaccedilatildeo artiacutestica ou preocupaccedilatildeo esteacutetica estas decoraccedilotildees fazem parte de um estilo proacuteprio cons- truiacutedo atraveacutes de uma repeticcedilatildeo de gestos condicionada que entre outras pos-sibilidades poderaacute traduzir um posicionamento destas comunidades perante o passar do tempo distinguindo-se o longo do curto cada um com investimentos diferentes e pautado por continuidades ou mudanccedilasProcuramos assim perceber se esta sua cultura material eacute portanto um mar-cador de dinacircmicas de perenidade e continuidade tal como estaacute inerente ao proacuteprio conceito de megalitismo como construccedilotildees que satildeo feitas para durar por muito tempo na paisagemPALAVRAS-CHAVE Neocalcoliacutetico Cultura Material Decoraccedilatildeo Ceracircmica Traacutes- -os-Montes

ABSTRACTThe Neolithic and Calcolithic communities of Eastern Traacutes-os-Montes region have left us evidence of a long continuity of their material culture in which the repeated reproduction of decorative motifs in the ceramic vessels throughout the IV and III millennia BC leads us to equate the mental mechanisms that condition said production More than a mere artistic manifestation or aesthetic concern these decorations are part of a style of their own built through the repetition of conditioned gestures which among other possibilities can infer a positioning of these communities towards the passage of time distinguishing between long and short conceptions of time each with different investments and based on conti- nuities or changes

Elsa Luiacutes e Telma Susana O Ribeiro

156 |

We aim thus to question if this material culture is therefore a marker of peren- nial dynamics and continuity akin to the very concept of megalithism as constructions that are made to last perpetually in the landscape KEY WORDS Neolithic Chalcolithic Material Culture Pottery Decoration Traacutes-os-Montes

1 INTRODUCcedilAtildeOTomando como pretexto a aparente homogeneidade e padronizaccedilatildeo dos reci- pientes ceracircmicos das comunidades neoliacuteticascalcoliacuteticas de Traacutes-os-Montes Oriental equacionamos um problema aparentemente simples na sua cons- truccedilatildeo mas que enuncia uma enorme complexidade que dificilmente conse-guiremos explorar na sua plenitude as concepccedilotildees que estaratildeo subjacentes a esta padronizaccedilatildeo da cultura material Assumimos que determinado comporta-mento material das sociedades camponesas neocalcoliacuteticas eacute recorrente na cro-nologia e que essa proacutepria recorrecircncia eacute significante quanto agraves estruturas sociais e mentais que lhes subjazem Cumpre-nos assim discutir problematizar ainda que de forma superficial as possiacuteveis razotildees subjacentes a esse comportamen-to repetido

2 A PRODUCcedilAtildeO CERAcircMICA DAS SOCIEDADES NEOCALCOLIacuteTICAS DE TRAacuteS-OS-MONTES ORIENTALTraacutes-os-Montes Oriental eacute considerada uma regiatildeo geograacutefica com limites claros situada entre a cadeia montanhosa das serras da Brunheira Padrela Falperra a Oeste (Lemos 1993 p 98) a fronteira com Espanha a Norte e Este e o rio Douro a Sul correspondendo genericamente ao distrito de Braganccedila e agrave parte Leste do distrito de Vila Real No que respeita agraves suas sociedades camponesas do IV e III mileacutenios aC o estado actual dos conhecimentos ainda se encontra longe do desejaacutevel e do que jaacute estaacute disponiacutevel para outras aacutereas regionais faltando nes-ta regiatildeo uma concentraccedilatildeo da investigaccedilatildeo na recolha de dados sobretudo atraveacutes da escavaccedilatildeo arqueoloacutegica de siacutetios jaacute identificados e o desenvolvimen-to de projectos de investigaccedilatildeo Seria igualmente fundamental conduzir novas escavaccedilotildees que permitissem obter uma estratigrafia mais fina e consequen-temente uma melhor caracterizaccedilatildeo da evoluccedilatildeo diacroacutenica dos materiais e estruturas idealmente pautadas com uma bateria de dataccedilotildees radiomeacutetricas Satildeo vaacuterios os siacutetios identificados com ocupaccedilotildees desta cronologia relativa-mente faacuteceis de identificar em contexto de prospecccedilatildeo pela homogeneidade da sua produccedilatildeo ceracircmica ainda que quanto a estruturas sejam muito pouco visiacuteveis na paisagem

| 157

| 2018

Figura 1 ndash Mapa de localizaccedilatildeo dos siacutetios arqueoloacutegicos 1 Xaires 2 Alto da Mador-ra 3Cunho 4 Barrocal Alto 5 Quinta do Rio 16 6 Monte da Poia [base cartograacutefica de Rui Boaventura adaptado]

Figura 2 ndash Tabela de formas neocalcoliacuteticas (segundo Luiacutes 2016)

158 |

Os conjuntos ceracircmicos aqui considerados provecircm na totalidade de siacutetios in-terpretados como sendo de habitaccedilatildeo concentrando-se nos actuais concelhos de Mogadouro Torre de Moncorvo e Macedo de Cavaleiros coincidindo com os territoacuterios que foram alvo de mais intervenccedilotildees e projectos de investigaccedilatildeo Muitos dos siacutetios sofreram intervenccedilatildeo sob a forma de sondagem ou vaacuterias sondagens dificultando o cruzamento de informaccedilatildeo dentro do mesmo siacutetio ou a compreensatildeo da estrutura interna dos povoados Consideramos aqui os conjuntos ceracircmicos provenientes de Xaires em Talhas Macedo de Cavaleiros (Carvalho Ventura e Pinheiro 2009 2010 2011 Luiacutes 2016) Alto da Madorra em Vale Benfeito Macedo de Cavaleiros (Carvalho et alli 1997 Luiacutes 2016) Cu- nho (Sanches e Marcos 1985 Sanches 1992 Luiacutes 2016) e Barrocal Alto (San- ches 1992 Luiacutes 2016) ambos em Peredo da Bemposta Mogadouro Quinta do Rio 16 (Gaspar et al 2014 Luiacutes 2016) e Monte da Poia (Martins 2009 Luiacutes 2016) ambos em Cardanha Torre de Moncorvo Na generalidade trata-se de siacutetios com posiccedilatildeo de destaque na paisagem com domiacutenio visual e controlo territorial das aacutereas envolventes nomeadamente siacutetios

Figura 3 ndash Tabela de organizaccedilotildees decorativas (segundo Luiacutes 2016)

| 159

| 2018

em topos de cabeccedilo e aproveitando em muitos casos os afloramentos rocho-sos para apoio de estruturas ou protecccedilatildeo do povoado relativamente a ventos Em nenhum dos siacutetios intervencionados e aqui considerados se identificaram vestiacutegios de estruturas de caraacutecter defensivo As estruturas habitacionais iden-tificadas satildeo sempre arquitecturalmente simples recorrendo a uma maioria de materiais pereciacuteveis e o recurso agrave pedra faz-se apenas para estruturas de pequena dimensatildeo como lareiras buracos de poste alinhamentos e empedra-dos por vezes recorrendo ao complemento de fragmentos ceracircmicos e argila para os preenchimentos Em vaacuterios siacutetios detectou-se a presenccedila em quanti-dades diferentes de barro de revestimento indicando que as paredes das estru-turas habitacionais seriam revestidas a argila Natildeo parece existir um grande in-vestimento construtivo para estabilidade e durabilidade sendo necessaacuteria uma renovaccedilatildeo perioacutedica das estruturas A anaacutelise particular e comparativa dos conjuntos ceracircmicos destes siacutetios arqueo- loacutegicos permitiu verificar que existe uma tendecircncia para a homogeneidade da produccedilatildeo dos aspectos formais e das estrateacutegias decorativas dos recipientes ceracircmicos com variaccedilotildees de menor significado estatiacutestico (Luiacutes 2016) Enten-demos assim que estamos perante uma produccedilatildeo ceracircmica organizada com a reproduccedilatildeo de traccedilos e elementos estruturantes que se repetem nos vaacuterios contextos considerados Apesar das dificuldades de reconstituiccedilatildeo das formas e das organizaccedilotildees decorativas devido ao quase sempre elevado grau de frag-mentaccedilatildeo dos recipientes verifica-se que se trata na esmagadora maioria dos casos de recipientes de bases convexas raramente englobando elementos de preensatildeo com bordos quase sempre direitos ou exvertidos cujas formas predominantes satildeo por ordem de importacircncia as taccedilas os globulares e os esfeacutericos As decoraccedilotildees encontram-se bem representadas nos conjuntos (aproximada-mente 20 das formas reconstituiacuteveis) situando-se na esmagadora maioria dos casos no lado exterior do recipiente e quando eacute possiacutevel aferir na sua parte superior onde seria mais visiacutevel Dentro das teacutecnicas decorativas sobressai a impressatildeo simples seguida da incisatildeo simples depois a combinaccedilatildeo da im-pressatildeo com incisatildeo o boquique e a incisatildeo penteada Nos motivos decorativos em quase todos os contextos domina a organizaccedilatildeo decorativa III as sequecircn-cias horizontais de impressotildees com excepccedilatildeo do sector B do Alto da Madorra e o Monte da Poia em que predomina a organizaccedilatildeo V A segunda organizaccedilatildeo melhor representada eacute a II os triacircngulos preenchidos na generalidade dos siacute-tios Nos contextos onde os motivos a incisatildeo penteada (organizaccedilatildeo V) estatildeo identificados esta tende a ser a segunda opccedilatildeo atraacutes da organizaccedilatildeo III em detrimento da II Por outro lado as organizaccedilotildees menos representadas satildeo as

160 |

restantes dentro das quais a I (organizaccedilatildeo metopada) a VII (linhas incisas ho rizontais paralelas) a X (banda em ziguezague) a XII (linhas incisas largas em ziguezague) e a XL (banda de impressotildees circulares associada a espiga incisa)A ocupaccedilatildeo destes siacutetios teraacute ocorrido de uma forma geral entre os finais do IV e meadosfinais do III mileacutenio aC podendo em alguns contextos particu-lares ter-se estendido aos finais do III mileacutenio aC ou iniacutecios do II mileacutenio aC subsistindo a dificuldade de uma cronologia mais fina e de situar as diversas ocupaccedilotildees numa diacronia As dataccedilotildees disponiacuteveis satildeo muito escassas e mes-mo a comparaccedilatildeo dos conjuntos com outros provenientes de siacutetios arqueoloacutegi-cos de outras aacutereas regionais com maior quantidade de dados natildeo permitiram avanccedilar substancialmente num esboccedilo de comportamento diacroacutenico da pro-duccedilatildeo ceracircmica Algumas inferecircncias importantes foram feitas para os contex-tos com predomiacutenio da organizaccedilatildeo decorativa V associada agrave teacutecnica da incisatildeo penteada verificando-se que seraacute a partir de meados do III mileacutenio aC que se tornaraacute progressivamente na organizaccedilatildeo decorativa predominante (Luiacutes 2016 p 202-203) ou seja estamos perante uma modificaccedilatildeo na decoraccedilatildeo dos recipientes introduzida jaacute numa eacutepoca mais avanccedilada de uma tradiccedilatildeo oleira genericamente designada de neocalcoliacutetica Ora esta dificuldade de definiccedilatildeo diacroacutenica decorre essencialmente de um

Figura 4 ndash Graacutefico de representatividade das formas por contexto (segundo Luiacutes 2016)

| 161

| 2018

problema de amostra arqueoloacutegica mas deveraacute tambeacutem relacionar-se com uma grande perduraccedilatildeo no tempo dos mesmos modelos de produccedilatildeo ceracircmica com a repeticcedilatildeo constante das mesmas formas e das mesmas organizaccedilotildees decorativas ainda que com pequenas variaccedilotildees estatiacutesticas

3 INFEREcircNCIAS SOCIAIS A PARTIR DE UMA MODA OLEIRAA produccedilatildeo ceracircmica das sociedades transmontanas do IV-III mileacutenios aC apesar do muito que nos falta ainda conhecer e compreender aparenta demons- trar uma manutenccedilatildeo no tempo e no espaccedilo de formas concretas de saber faz-er e uma reproduccedilatildeo constante de elementos considerados estruturantes (pelo menos por noacutes) Natildeo parece neste sentido existir uma liberdade criativa ainda que este seja um conceito provavelmente demasiado contemporacircneo para a produccedilatildeo artesanal concretamente neste acircmbito para a produccedilatildeo oleira E a questatildeo que se impotildee vem exactamente nesta sequecircncia quais satildeo as razotildees que subjazem a esta reproduccedilatildeo artesanal (e cultural) controlada que aparen-temente natildeo deixa espaccedilo e liberdade para a criaccedilatildeo particular ou individual A produccedilatildeo artesanal nestas sociedades preacute-histoacutericas como vimos nos casos acima referidos e como eacute jaacute substancialmente conhecido (Lemonnier 2002 Shanks e Tilley 1987 Lima 2011 Sanches 1997 Plog 1980 Dietler e Her-bich 1998) estaacute embutida de formas de fazer especiacuteficas de escolhas que as comunidades tomaram nos modos de produccedilatildeo que consideram eficazes e que assumem como suas e como expressatildeo de si mesmas e das suas estrutu-ras mentais e culturais ou seja tecircm um estilo proacuteprio que eacute ensinado e repetido ao longo de um tempo variaacutevel A estandardizaccedilatildeo da cultura material ou o seu estilo ldquoprovides a coherence consistency to the fabric of everyday existence that promotes social livingrdquo (Sackett 1977 p 372) e eacute tambeacutem parte activa de uma identidade de grupo e porque presente e observaacutevel garante o sentimento de pertenccedila (ou por oposiccedilatildeo de diferenccedila) a um grupo e a um conjunto de nor-mas e prerrogativas sociais que enquadram a vida do indiviacuteduo e igualmente a sobrevivecircncia identitaacuteria do grupo Portanto a cultura material ldquois in no sense to be regarded as a product of unmediated individual intentionality but as a produc-tion of the intersubjective social construction of reality Individuals are structured in terms of the social and concomitantly material culture is socially rather than individually structuredrdquo (Shanks e Tilley 1987 p 97-98)Neste mesmo sentido a cultura material assume estrutura de comunicaccedilatildeo dentro das comunidades como vaacuterios autores tecircm apontado (Jones 2007 Shanks e Tilley 1987 Karacan 2016 Rowlands 1993 Ames 1980) sendo assim os recipientes ceracircmicos similarmente recipientes de mensagens e de coacutedigos com significado social Dificilmente conseguiremos lsquotraduzirrsquo essas

162 |

mensagens na sua plenitude contextual no que realmente cada organizaccedilatildeo decorativa ou cada fusatildeo entre formadecoraccedilatildeo e ateacute funccedilatildeocontexto de uti-lizaccedilatildeo representa mas podemos discutir concepccedilotildees mais abstractas subja-centes a estes coacutedigos sociais Um sentido mais imediato eacute o de que a cultura material constitui parte de um sistema geral de depoacutesito de memoacuteria colectiva pelo menos a dois niacuteveis Um deles eacute a transmissatildeo do saber fazer antigo e instituiacutedo que funciona tecnicamente a mais faacutecil transmissatildeo de ferramentas do dia a dia porque implica pouco tempo de conceptualizaccedilatildeo e experimentaccedilatildeo teacutecnica agilizando o quotidiano e criando poucas tensotildees sociais em eventuais alturas de premecircncia dos proacuteprios objectos Este niacutevel entraraacute no campo do en-raizamento de praacuteticas sociais pouco pensadas muitas vezes ateacute inconscientes da sua origem ou justificaccedilatildeo praacutetica mas que por habitus (segundo P Bordieu apud Garciacutea Borja Molina Balague e Bernabeu Aubaacuten 2005) satildeo ensinadas e reproduzidas ldquoporque sempre se fez assimrdquo ou numa melhor descriccedilatildeo porque ldquoa central part of social memory and the transmission of cultural knowledge is associated with repeated habitual actions such as learning to hunt learning to make poterry etcrdquo (Lucas 2005 p 77)Um segundo niacutevel em que a cultura material pode ser considerada de repositoacuterio da memoacuteria colectiva eacute talvez mais difiacutecil de conceptualizar que seraacute o de en-carar a cultura material como forma activa de transmissatildeo cultural e de conhe-cimento social (Jones 2007) especialmente utilizado em sociedades orais ou natildeo literatas como ldquoa symbolic medium for orientating people in their natural

Figura 5 ndash Graacutefico das organizaccedilotildees decorativas por contexto (segundo Luiacutes 2016)

| 163

| 2018

and social environment because of the relative permanence of material culture vis a vis speech actsrdquo (Shanks e Tilley 1987 p 96-97) Sendo uma forma de linguagem utilizamo-la para ldquoorganize transfer and understand ideas notions and values of group members which makes it a precondition for a collectively constructed pastrdquo (Karacan 2016 p 34) tendo ainda a ldquocapacity to evoke and to establish with past experience [hellip] because as a material symbol rather than verbalized meaning they provide a special form of access to both individual and group unconscious processesrdquo (Rowlands 1993 p 144) Neste particular os objectos a cultura material servem como uma mnemoacutenica como um elemento activador da memoacuteria colectiva e provavelmente remetem para um sentido de passado comum conferindo estabilidade ao colectivo e agrave identidade individual e do grupo No entanto da mesma forma que a presenccedila da cultura material e a sua re-produccedilatildeo controlada remetem para um passado colectivo quer enquanto elemento agregador quer enquanto transmissor de valores e praacuteticas sociais podem tambeacutem traduzir uma forma particular de estar no mundo de enca- rar o seu proacuteprio devir social e cultural Referimo-nos concretamente agrave forma destas sociedades encararem o passar do tempo ldquohow a society views the world is inextricably linked to their material relations with the world that material culture encapsulates the conceptual symbolic or cognitive structure of a society as much as its technology or economyrdquo (Lucas 2005 p67) Desta forma po-demos admitir que a produccedilatildeo material tem sempre em si impliacutecita a noccedilatildeo de ldquotempordquo e as estrateacutegias temporais da sociedade em que se insere Como Lucas (2005 p68) afirma ldquoIndeed not only will certain activities be structured in a temporal manner (eg harvesting the crop at a certain time burying the dead on a certain day) the temporal perceptions associated with the activity form an inte-gral part of the nature of that activityrdquo Atraveacutes da repeticcedilatildeo de gestos e praacuteticas e de histoacuterias e objectos estas comunidades poderiam querer evocar ateacute de forma inconsciente um sentido de continuidade com o passado conferindo es-tabilidade na vida quotidiana que em uacuteltima anaacutelise poderaacute ser encarada como eventual mecanismo de resposta a inseguranccedilas e ser uma forma de lidar com as preocupaccedilotildees do futuro Inerentemente presumimos um sentido de previsi-bilidade no quotidiano justificado pela repeticcedilatildeo de ensinamentos antigos que confinaraacute uma maior confianccedila ao futuro e agraves novas geraccedilotildees E neste sentido a cultura material pode ser encarada tambeacutem como uma ponte de ligaccedilatildeo entre o passado as origens a tradiccedilatildeo a estabilidade do grupo e o proacuteprio futuro na transmissatildeo desses mesmos valores e sobretudo da passagem de um testemu-nho uma heranccedila cultural antiga mas actual conferindo continuidade e esta-bilidade A forma de olhar para o tempo eacute de certa forma um acto continuado

164 |

entre o passado e o futuroDa mesma forma que a cultura material moacutevel como os recipientes ceracircmicos que aqui destacaacutemos os proacuteprios monumentos megaliacuteticos realidade pre-sente em Traacutes-os-Montes Oriental (Sanches 1992 Sanches e Nunes 2005) serviratildeo ldquocomo repositoacuterios mais visiacuteveis das memoacuterias identitaacuteriasrdquo (Sanches e Nunes 2005 p 60) que dentro dos seus muacuteltiplos significados e funciona-lidades enunciam uma marca na paisagem construiacuteda para a longa duraccedilatildeo novamente remetendo para dinacircmicas de continuidade e perpetuaccedilatildeo de es-truturas sociais Poderemos entatildeo equacionar como Shanks e Tilley (1987 p103-104) diferentes escalas e meios de transmissatildeo renovaccedilatildeo e garante de continuidade cultural sendo o megalitismo o meio de maior escala fiacutesica de maior visibilidade e ateacute o testemunho de uma preocupaccedilatildeo pela passagem de um longo tempo por outro lado a ceracircmica e a sua decoraccedilatildeo podem aqui ser entendidos como meios de menor escala fiacutesica e temporal mas que vecircm ain-da assim reforccedilar a ideia de perenidade pois ldquo(hellip)os artefactos ou construccedilotildees satildeo mais ou menos duraacuteveis ou renovaacuteveis de acordo natildeo somente com as suas propriedades fiacutesicas mas essencialmente em funccedilatildeo do valor cultural de que satildeo imbuiacutedos Eacute esse valor ou carga simboacutelica que determina a sua atem-poralidade (ou longevidade) [hellip] Sendo renovaacuteveis conduzem em princiacutepio agrave repeticcedilatildeo ou fabrico segundo ldquoum certo estilordquo conforme ao anterior pois deste modo asseguraratildeo a continuidade entregeracional desejadardquo (Sanches 1997 p158)

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAISNeste breve ensaio pretendemos aflorar a problemaacutetica dos significados da ma-nutenccedilatildeo da cultura material tomando como ponto de partida as sociedades neoliacuteticas e calcoliacuteticas de Traacutes-os-Montes Oriental De facto apesar da carecircncia de dados e investigaccedilatildeo eacute possiacutevel identificar-se nestes contextos uma repro-duccedilatildeo recorrente de um estilo ceracircmico com poucas variaccedilotildees de significado estatiacutestico que nos sugere uma intencionalidade e um controlo social da pro-duccedilatildeo artesanal Pensamos que esta homogeneidade da cultura material estaraacute relacionada com a funccedilatildeo social desses mesmos objectos o de constituiacuterem expressatildeo activa destas comunidades como forma de linguagem de materializaccedilatildeo de elemen-tos socialmente importantes e como repositoacuterio de memoacuteria social portanto e como tal passiacuteveis de enorme controlo social da sua reproduccedilatildeo A cultura ma-terial incluindo as formas de a saber fazer e o proacuteprio objecto terminado satildeo ele-mentos de memoacuteria de registo identitaacuterio que eacute preciso manter e colocar como legado histoacuterico e ancestral para as proacuteximas geraccedilotildees A forma como essa

| 165

| 2018

mensagem eacute transmitida poderaacute ter diferentes meios e escalas de repeticcedilatildeo dentro de uma esfera de continuidade como parece acontecer com a produccedilatildeo ceracircmica e sua decoraccedilatildeo e claramente com a construccedilatildeo de monumentos megaliacuteticos Por outro lado a proacutepria reproduccedilatildeo cultural parece ter inerente um sentido de tempo de longa duraccedilatildeo que aproxima atraveacutes da repeticcedilatildeo continuada de ges-tos e materialidades o passado e as origens do futuro conferindo estabilidade e seguranccedila ao todo social As especificidades e contingecircncias de cada grupo especialmente destas socie-dades transmontanas seratildeo muito mais complexas do que esta aproximaccedilatildeo necessariamente abstracta e superficial poreacutem pelo menos procuraacutemos criar linhas de pensamento e de anaacutelise que possam encaminhar-nos no progressivo conhecimento das dinacircmicas sociais e culturais destes seres humanos que tatildeo distantes no tempo continuam a manter vivas tenuemente a sua histoacuteria e as suas mensagens

BIBLIOGRAFIAAMES KL (1980) ndash Material Culture as NonVerbal Communication A Historical Case Study Journal of American Culture 3(4) p619-641CARVALHO H A VENTURA JMQ PINHEIRO P (2011) ndash Xaires (Macedo de Cavaleiros) Um siacutetio de habitat calcoliacutetico em Traacutes-os-Montes Oriental A campanha 3 (2010) Cadernos Terras Quentes 8 p 25-32CARVALHO H A VENTURA J M Q PINHEIRO P A (2010) ndash Um Habitat Calcoliacutetico em Traacutes-os-Montes Oriental O Arqueosiacutetio de Xaires (Macedo de Cavaleiros) Cadernos Terras Quentes 7 p 7-13CARVALHO H A VENTURA JMQ PINHEIRO P (2009) ndash Xaires (Macedo de Cavaleiros) Um siacutetio de Habitat da Preacute-Histoacuteria Recente em Traacutes-os-Montes Oriental A Sondagem (2008) Cadernos Terras Quentes 6 p 91-96CARVALHO P S GOMES LF FRANCISCO J P BOTELHO I T (1997) ndash Os habitats preacute-histoacutericos do Alto da Madorra e Urreta de Moacutes (Macedo de CavaleirosBraganccedila) Em Busca do Passado 19941997 Lisboa Junta Autoacutenoma das Estradas p 92-108DIETLER M HERBICH I (1998) ndash Habitus techniques style an integrated approach to the social understanding of material culture and boundaries In STARK M (ed) The Archaeology of Social Boundaries Smithsonian Institution Press p 232-263GARCIacuteA BORJA P MOLINA BALAGUE L BERNABEU AUBAacuteN J (2005) ndash Primeros resultados en el estudio estiliacutestico ceraacutemico neoliacutetico Las cuevas de Sarsa y Nerja In Arias P Ontantildeoacuten R Garciacutea-Moncoacute C (eds) III Congreso del Neoliacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica Universidad de Cantabria p 316-326GASPAR R DONOSO G MAY A VAZ F (2014c) ndash Relatoacuterio Final das sondagens de diag-noacutestico Quinta do Rio 16 EP627 Plano de Salvaguarda do Patrimoacutenio da Empreitada Geral de Construccedilatildeo do Aproveitamento Hidroeleacutectrico do Baixo Sabor Relatoacuterio policopiadoJONES A (2007) ndash Memory and material culture Cambridge Cambridge University PressKARACAN E (2016) ndash Remembering the 1980 Turkish Military Coup drsquoEacutetat Memory Vio-

166 |

lence and Trauma Springer VSLEMONNIER P (ed) ndash Technological choices Transformation in material cultures since the Neolithic RoutledgeLEMOS F S (1993) ndash O Povoamento Romano de Traacutes-os-Montes Oriental Dissertaccedilatildeo de Doutoramento na especialidade de Preacute-histoacuteria e Histoacuteria da Antiguidade apresentada agrave Uni-versidade do Minho Braga policopiadoLIMA T A (2011) ndash Cultura Material a dimensatildeo concreta das relaccedilotildees sociais Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 6 (1) p 11-23LUCAS G (2005) ndash The Archaeology of Time Abingdon amp New York RoutledgeLUIacuteS E (2016) ndash Mudanccedila e transformaccedilatildeo Calcoliacutetico Bronze Inicial e Bronze Meacutedio em Traacutes-os-Montes Oriental reflexotildees a partir dos recipientes ceracircmicos Tese de Doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa PolicopiadoMARTINS C (2010) ndash Relatoacuterio final ndash sondagens diagnoacutestico do Monte da Poia EP337 Plano de Salvaguarda do Patrimoacutenio da Empreitada Geral de Construccedilatildeo do Aproveitamento Hidroeleacutectrico do Baixo Sabor Relatoacuterio policopiadoPLOG S (1980) ndash Stylistic Variation in Prehistoric Ceramics Cambridge University Press Cam-bridgeROWLANDS M (1993) ndash The role of memory in the transmission of culture World Archaeolo-gy Conceptions of Time and Ancient Society 25(2) p 141-151SACKETT JR (1977) ndash The meaning of style in Archaeology a general model American An-tiquity 42(3) p 369-380SANCHES M J (1997) ndash Preacute-Histoacuteria Recente de Traacutes-os-Montes e Alto Douro O Abrigo do Buraco da Pala (Mirandela) no contexto regional Porto Sociedade Portuguesa de Antropolo-gia e Etnologia 2 volumesSANCHES M J (1992) ndash Preacute-Histoacuteria Recente no Planalto Mirandecircs (Leste de Traacutes-os-Mon-tes) Monografias Arqueoloacutegicas 3 Porto Grupo de Estudos Arqueoloacutegicos do PortoSANCHES M J MARCOS D (1985) ndash O povoado preacute-histoacuterico do Cunho ndash Mogadouro (resul-tados preliminares da escavaccedilatildeo de 1983) Arqueologia 12 p 141-154SANCHES M J MARCOS D (1984) ndash Relatoacuterio da estaccedilatildeo do Cunho 2ordf campanha de escavaccedilatildeo Relatoacuterio policopiadoSANCHES M J NUNES S (2005) ndash Monumentos em pedra numa regiatildeo de Traacutes-os-Mon-tes ndash Nordeste de Portugal Sua expressatildeo na paisagem habitada durante o 4ordm e 3ordm mil BC Revista da Faculdade de Letras Ciecircncias e Teacutecnicas do Patrimoacutenio I Seacuterie vol IV p 53-82SHANKS M TILLEY C (1987) ndash Social theory and archaeology University of New Mexico Press

| 167

| 2018

A Shrine in the Neolithic Orca da Lapa do Lobo Nelas (c 5000-3000 BC)

Um Santuaacuterio no Neoliacutetico A Orca da Lapa do Lobo Nelas (c 5000-3000 a C)

ABSTRACTThe Orca of Lapa do Lobo is already mentioned in a medieval document (1303) as defining one of the limits of the then ldquoCanas de Senhorimrdquo county In 1905 Leite de Vasconcelos mentions it as a megalithic monument in the place of Lapa of Lobo near the geodesic landmark of ldquoOrcardquo and that would have been de-stroyed by the construction of the current EN-234 (Vasconcelos 1905 p313) As early as 1966 Irisalva Moita again refers to it as being lost Similarly we could not find it during the regional surveys we conducted in the summer of 1985It was necessary to wait until October 2013 so that a cut of vegetation on the site would reveal what appeared to be the remains of a tumulus buried under scrub and very close to the place where in previous editions of the CMP sheet 211 we can read the place name ldquoOrcardquoDuring a vegetation clean-up action on April 23 2014 on the initiative of the Countyrsquos Council and with the presence of the regional representative of the DGPC it was possible to confirm that it looked like a tumulus which led to its study during four excavation campaigns in 2015 2016 2017 and 2018In this paper we present and discuss the surprising results of these campaigns namely the existence of a stratigraphically underlying Early Neolithic habitat and the fact that more than a grave site it looks like a ldquoSanctuaryrdquo Finally we address the regional implications of these findings to our understanding of the regional Neolithic ways of lifeKEY WORDS Megalithism Mondego Platform Neolithic Symbolic Practices

RESUMOMencionada jaacute num documento de 1303 como definindo um dos limites dos ldquocoutos de Canas de Senhorimrdquo a Orca da Lapa do Lobo volta ser referida em 1905 por Leite de Vasconcelos como tratando-se de um monumento megaliacutetico sito no lugar da Lapa do Lobo proacuteximo do marco geodeacutesico da ldquoOrcardquo e que te-ria sido destruiacutedo pela construccedilatildeo da actual EN-234 (Vasconcelos 1905 p313)

Joatildeo Carlos de Senna-Martinez1

1 Centre for Archaeology (Uniarq) University of Lisbon 1600-2014 Lisbon smartinezflulpt

168 |

Jaacute em 1966 Irisalva Moita volta a referir-se-lhe como perdido Do mesmo modo natildeo a conseguimos encontrar durante prospecccedilotildees efectuadas no veratildeo de 1985Foi preciso esperar por Outubro de 2013 para que um corte de matos no local viesse revelar o que pareciam ser os restos de uma mamoa sepultada sob mata-gal e muito proacuteximo do local onde em anteriores ediccedilotildees da folha 211 da CMP se pode ainda ler o topoacutenimo ldquoOrcardquoAlvo de uma acccedilatildeo de limpeza da vegetaccedilatildeo em 23 de Abril de 2014 de iniciativa da Autarquia e com a presenccedila da representante regional da DGPC foi possiacutevel confirmar que se tratava de uma mamoa o que conduziu ao seu estudo de que se efectuaram jaacute quatro campanhas de escavaccedilotildees em 2015 2016 2017 e 2018Satildeo os surpreendentes resultados dessas campanhas nomeadamente a existecircn-cia de um habitat do Neoliacutetico Antigo subjacente ao monumento e o facto de este se configurar mais como um ldquoSantuaacuteriordquo do que uma sepultura que aqui se discutem nas suas implicaccedilotildees regionais PALAVRAS-CHAVE Megalitismo Plataforma do Mondego Neoliacutetico Praacuteti-cas Simboacutelicas

Fig 1 ndash Orca da Lapa do Lobo location in Sheet 211 of the Carta Militar de Portugal scale 125000

| 169

| 2018

1 GEOGRAPHICAL SETTING AND SITE BACKGROUNDThe Orca da Lapa do Lobo (ORLL ndash CNS34620) is located in the homonymous village in Central Portugal on a flat terrain occupied by olive trees bordering the 9th July Avenue part of the EN234 that connects the Counties of Nelas and Carregal do Sal (Latitude 40470802 Longitude -7922419 - Sheet 211 of CMP 125000 1992 edition ndash Fig1)The Orca of Lapa do Lobo is already mentioned in a medieval document (1303) as defining one of the limits of the then ldquoCanas de Senhorimrdquo county Leite de Vasconcelos refers the existence of a megalithic monument in the place of Lapa do Lobo near the geodetic vertex Orca concluding that it would have been destroyed by the construction of EN-234 (Vasconcelos 1905 p313)In turn in 1966 Irisalva Moita describes it as ldquo Completely destroyed rdquo (Moi-ta 1966)When in the summer of 1985 we carried out a survey in the region for the preparation of our PhD thesis and in the framework of the ldquoArchaeological Study Program for the Middle and Upper Mondego Basin (PEABMAM)rdquo in vain searching for traces of this monument we came to wonder if there would be any confusion with the Orca do Outeiro do Rato relatively close (Senna-Marti-nez 1989 p70)It was necessary to wait for October 2013 when a local co-worker Horaacutecio

Fig 2 ndash Location of the toponim Orca in 1866 Carta Corografica

170 |

Fig 3 ndash Orca da Lapa do Lobo elevated view from SE at the end of 2014 clean-up in griseacute the remains of the surface carapace [3] emplacement of pit SU[2] [27] emplacement of pit SU[28] ORLL-1460 emplacement of the stela-menhir ORLL-1460

Fig 4 ndash Orca da Lapa do Lobo upper interface of the earth level [SU9] under the dolmen tumulus cut by the post-holes of four huts (CABANA 1 2 3 and 4) and the base of a fire-pit of Cabana 1 belonging to the Early Neolithic habitat

| 171

| 2018

Peixoto relocated it buried under shrubs and near the place where in old edi-tions of the Portu-guese 125000 Military Map (Fig1) as well as in the Choro-graphic Chart 1100000 of 1886 (Fig2) one can still read the toponym ldquoOrcardquo referring to the respective geodetic vertex but lying 700m further east and in the northern side of the roadIn 2014 our colleague Gertrudes Branco (DGPC-DRC) after a vegetation clean-up was then able to confirm that it was a seemingly ruined tumulus cor-responding to the lost monumentAt the Nelas County invitation we began the first of our four excavation seasons in the monument (20015-2018) in July 2015

2 RESULTS OF THE 2015-2018 CAMPAIGNS THE FIELD DATAThe archaeological site of ORLL has revealed a long and complex stratigraphic story After the 2014 clean-up (Fig3) we could see that the south-western quarter of the tumulus as well as its central areas were well preserved while most of the northern parts were partially destroyed by previous earth removing which in some places reached the inner stone buttress [SU26] In the south-western quarter of the tumulus even the cover-ing carapace of quartz pebbles [SU4] was partially preserved The remaining preserved tumulus surface showed a uniform brown-yellowish earth level [SU1] that was cut by two pits [SUs2 and 28] seemingly filled by stones On the south-eastern corner of the tumulus we found a stela-menhir lying down on its decorated face (ORLL-1460)So we started by a clean-up of the previously destroyed parts of the tumulusThe Early Neolithic Habitat ndash After cleaning the destruction areas of the south-western quarter of the tumulus we discovered partially underneath it traces of the first human occupation of the site represented by evidence (a few post-holes) of a habitat stratigraphically underlying its constructionAs we did previously at Orca do Folhadal (ORFOL ndash Senna-Martinez and Ventu-ra 1999) we decided to extend the clean-up of the area where we found evi-dence of a first hut that encompasses the area outside of the full south-eastern quarter of the tumulus (Fig4) This was we were able to recover the complete layout of an ellipsoidal hut (Cabana 1) of about 46m x 3m with 19 peripheral post-holes and 3 interior ones probably to support a thatched roof In its north-eastern half we found the scorched bottom of a fire pit [SU22]As can be seen in Fig4 we were also able to expose the partial floor plan of another three huts (cabanas 2 3 and 4) and of a smaller pentagonal structure made with three posts probably to sustain an elevated siloSince the depth of the recovered post-holes averaged only 8cm we interpreted

172 |

Fig 5 ndash Orca da Lapa do Lobo stone artefacts from the Early Neolithic habitat remobilized into the earth [SU1] of de dolmen tumulus 1718- prox-imal end of a silex bladelet 1803- quartz cortical bladelet 1795- scraper 2774- geomet-ric microlith (triangle) in quartz shown both sides

Fig 6 ndash Orca da Lapa do Lobo The stela-menhir ORLL-1460 after it was redressed

Fig 7 ndash Orca da Lapa do Lobo ldquoidol-likerdquo quartz pebbles from the tumulus cara-pace 881 1233 and 3598 pentagonal type 1087 1120 and 1337 anthropomor-phic type

| 173

| 2018

this habitat as we did with the Folhadal one as being composed of pole and daub ellipsoidal huts (we actually found some pieces of daub-like burnt clay in the excavation) from witch only remained the lower part of the post-holes and the basis of one of the inner fireplaces The upper two-thirds of the huts floor were surely removed and we found evidence of the removed earth being reused in the building of the dolmen tumulus together with some Early Neo-lithic stone artefacts like it happened at ORFOL (Fig5 ndash Senna-Martinez and Ventura 1999 24) and other nearby megalithic tombs excavated by our teamAs no further evidence of this habitat was recovered in the rest of the exposed tumulus periphery we suppose it extended south-westwards to the area now occupied by olive trees which prevented further excavation to expose itSo with the ORLL habitat we have the second confirmed finding of an Early Neolithic habitat site having a Middle Neolithic dolmen built over its remains ever found in this regionThe ldquoStelae Sanctuaryrdquo ndash After discovering the stela-menhir ORLL-1460 (Fig6) we were already aware that something different from a regional stan-dard Middle Neolithic dolmen was awaiting us So after exposing the huts of the Early Neolithic habitat we registered and removed what was left of the mon-ument carapace [SU4] paying close attention to what stones were laying there That is how we noticed that six of the revetment pebbles we recovered (Fig7) had shapes that reminded us of the Stelae previously found in several mega-lithic monuments in Iberia ndash as in the dolmen of Lagunita III (Bueno Ramiacuterez Barroso Bermejo and Balbiacuten Behrmann 2012 fig14) and systematised by Marta Diacuteaz-Guardamino (2010) ndash we consider them to be idoliforme pebbles specially chosen by their anthropomorphic shape like in other known cases The laying place o the stela-menhir also could be significant perhaps marking the front of the monument It has the shoulders cut to enhance the head and in the front two crude arms can be found in relief (Fig6) giving it an unmis- takable human shapeAs no other disturbances could be found at the monuments surface we exca-vated next the two pits that cut it beginning by [SUs2] After cleaning up the surface earth filling the pit it become apparent a situation where two granite Stelae were lying as they were left within two small to medium stones circles thus enabling us to redress them upright to be photographed in what we sup-pose to be their original position (Fig8) After registering and securing these first two stelae as we excavated further down the infillings of pit [SUs2] we found successive stelae lying down one upon another complete but some-times broken into two fragments either in pairs or alone (33 in total) till the bottom of the pit as well as three idoliforme pebbles

174 |

Fig 8 ndash Orca da Lapa do Lobo Stelae 271 and 353 in their supposed original places after being redressed

| 175

| 2018

Fig 9 ndash Orca da Lapa do Lobo The second phase interface of the ldquostelae-shrinerdquo exposed after removal of [SU1] [26] the inner buttress spreading like an U and opening to South-East around the shrine area [141 154156] second phase pits with stelae and ldquoidol-likerdquo quartz pebbles [163] support structure for stele-monolith 4387 in the inner buttress 3627 stele-monolith fixed into [UE140]

Fig 10 ndash Orca da Lapa do Lobo Vertical drone photo of the whole site at the end of 2018 fieldwork showing the reconstructed tumulus and the musealization of part of the Early Neolithic habitat on the lower left corner

176 |

Fig 12 ndash Orca da Lapa do Lobo Geometric Microliths trapezes

Fig 11 ndash Orca da Lapa do Lobo Vertical drone photo of the central area at the end of 2018 campaign [157] the third phase interface of the ldquostelae-shrinerdquo exposed after removal of infillings of [SU141] and [SU158] E1 E2 E3 E4 four stone uprights probably from the chamber of the original dolmen

| 177

| 2018

From the other pit [SU28] a very shallow one only one stele was found (2199)In order to further understand what the central layout of the monument was we then started to excavate the upper level of the tumulus [SU1] which we proceeded to remove in a square area of 8m X 6mThus we exposed what we interpreted as the upper interface [SU140] of the ldquostelae-shrinerdquo building middle phase featuring (Fig9)- Three new pits [SUs141 154 156] filled with stones making support struc-tures for stelae and ldquoidol-likerdquo quartz pebbles (49 stelae and 11 ldquoidol-likerdquo quartz pebbles in total)- The upper part of the inner buttress [SU26] with a supporting structure [163] for the stele-monolith 3627 and another stele-monolith in the top northwest of the excavated area (3627)- Another stele (3982) was found laying in the surface of [SU140]So we excavated the infillings of the new three pits starting by [SU141] We were thus able to recover- From pit [SU141] infillings [SUs139 142 144 146 148 150] 42 stelae and 11ldquoidol-likerdquo quartz pebbles- From [SUs 153 155] six other stelaeThe bottom of pit [SU141] is constituted by the superior interface of a new earth level [SU157] into which a smaller pit was cut [SU159] filled with brown-ish-dark earth [SU158] containing five stelae and five ldquoidol-likerdquo quartz peb-bles At the lower inter-face of [SU158] we found a layer of small to medium quartz pebbles and granite stones and protruding from it the upper part of four stones upright probably from the previous megalithic chamber but rearranged to be one in front of another from what would have been the back of the cham-ber (Figs10 11)The Middle Neolithic Dolmen ndash Accordingly to the situation at the end of campaign 4(2018) it seems that probably in the Middle Neolithic a megalithic monument (the Orca) is constructed that seems to have had a small polygonal chamber without corridor To the use of this funerary space may correspond to two geometrics made on flint blade fragments and recovered this year in [SU158] in a probably remobilized situation (Fig12)

3 THE STRATIGRAPHIC STORY OF THE SITE OF ORCA DA LAPA DO LOBO AS WE UNDERSTAND IT AT THE END OF CAMPAIGN 4(2018)In this archaeological site we are facing a complex story that we are trying to reconstruct from the recovered stratigraphic sequence- In a first moment an Early Neolithic habitat occupied the site in a situation simi-lar to what we found at Orca do Folhadal Orca 2 do Ameal and Orca 2 de

178 |

Oliveira do Conde (Ventura this volume)- Then somewhere in the Middle Neolithic a megalithic monument was built over it with probably a small polygonal orthostatic chamber To it would belong the four orthostats we found remobilized at the end 2018 campaign and the two geometric microliths made on flint blade fragments- In a third moment what initially would have been a burial monument was transformed into an ldquoancestorrsquos sanctuaryrdquo The chamber was dismantled and the four orthostats were rearranged one packed against the other in where the headstone of the chamber would have been Then the tumulus was raised three times with successive earth levels accumulation each corresponding to the structuring of a pit in the middle of the monument with ldquostone nestsrdquo built to support granite stelae andor ldquoidol-likerdquo quartz pebbles (Senna-Martinez and Carvalho this volume) In the middle tumulus rising the central pit was complemented with two smaller ones with equal function and in the upper phase with one more with identical functionAs seen in Figs 9 and 11 the rearrangement of the chamber orthostats the central pit and the two complementary ones belonging to the middle tumulus rising are in alignment NW-SE as the axis of a regional megalithic monument would be The modern place name of the local ldquoCruz Altardquo hints at a Christianization of a previous sacred place of an ancient ldquomemory placerdquo So what do we have in this siteOur proposed interpretation is as follows (1) the Middle Neolithic dolmen was built in a chosen high place in order to be central to the settlements and other contemporary monuments dispersed around it (2) at the end of the Middle Neolithic or the beginnings of the Late Neolithic the chamber of the dolmen was rearranged in order to transform a previous ldquoplace of memoryrdquo (for the first lineage ancestors) into an ldquoancestors sanctuaryrdquo where further rituals would be practiced by laying new ancestors representations (the granite stelae and the ldquoidol-likerdquo quartz pebbles) in successive moments In this way the place would function as an axis mundi for the surrounding populations to con-gre-gate This could have happened in a simpler but not so different way from the South-western Portugalrsquos enclosures (Valera 2016)

4 CONCLUDINGSo once again we face a situation that can validate our previous assumption that ldquo the megalithic monuments would take on a multifunctional and orga-nizer character of the life of these communities that would absolutely surpass the role of a simple formal area of deposition of the deadrdquo (Senna-Martinez

| 179

| 2018

1996 72 Senna-Martinez Loacutepez Plaza e Hoskin 1997 671)This assumption is both right for the first megalithic monuments of the Mon-degorsquos Platform almost always of modest dimensions and the later Late Neo-lithic big dolmens with large chambers and corridors differentiated in height In both cases we think dolmens constitute at the same time first funerary architectural monuments and true anchors in the landscape for populations that on the other hand maintain a great seasonal mobilityOur hypothesis that the food-economy with acorn-intensive recollection and roasting proved regionally by archaeologically recovered data from the Late Neolithic to the Late Bronze Age (Senna-Martinez and Ventura 2000b Sen-na-Martinez and Pedro 2000) can be associated with the whole old peasant societies (from the Early Neolithic to the Late Bronze Age) of our work region ndash recently discussed and reinforced by Ventura (this volume) ndash can probably help to explain the behavior behind their symbolic practicesWe think that the Neolithic saw a change both of territorial behavior and terri-torial awareness for which the implantation of the megalithic necropolis would provide the legitimatizing of increasing territorial appropriation of space Acorn recollection probably being one of the critical economic resources behind it This practice can thus justify the frequent founding of manual grinding stone quern parts incorporated into megalithic structures (as in the present case of ORLL) or even as in the case of Orca de Pramelas (Senna-Martinez and Valera 1989) deposited as an offeringFall acorn and other winter fruits gathering and processing seems to go to-gether in sev-eral Iberian regional areas with the period (fall and winter) when building of megalithic tombs took place either we agree with the solar hypoth-esis for their orientations (Hoskin et al 1998 Hoskin 2001) or take into con-sideration other proposed astronomical orientations (Silva 2012)As we argued before in more general terms (Senna-Martinez 2014) most of the sym-bolic components associated with life and death in the Mondegoacutes Platform Neolithic can be viewed as part of the symbolic of the agricultural cycle as metaphor for life and death (Williams 2003) as well as closely con-nected to the lineage system responsible for these communities biological and cultural reproduction These symbolic expressions probably reflect a long trend world view we can call Neolithic and that we think characterize this first stage of the Prehistory of Peasant SocietiesBesides seeing the the seasonal cycle of activities being stabilized the Late Neolithic also saw some changes in the interrelation of the living with the dead (Senna-Martinez and Ventura 2008) The perception of the ancestorsdead as ldquoprotective entitiesrdquo seems to be reinforced in the Late Neolithic to take into

180 |

account the increased effort in the construction of the great monumentsThe Late Neolithic dolmens all endowed with complex entrances and atrium would welcome (as in other regional areas) an increased number of bodies materialized in the clear increase of the artefactual assemblages deposited with them The parallel growth of complexity between the socio-economic and symbolic aspects of society could then perhaps find a particular regional ex-pression in the case of Orca da Lapa do Lobo with the transformation of an early dolmen into a ldquosanctuaryrdquo for the local lineages ancestors

Canas de Senhorim Calberlah-Allerbuumlttel and Moumlrfelden-Walldorf August 2018

REFERENCESBUENO RAMIacuteREZ P BALBIacuteN BEHRMANN R and BARROSO BERMEJO R (2016) ndash Mega-lithic art in the Iberian Peninsula Thinking about graphic discourses in the European Mega-liths Guillaume Robin et al Eds Fonctions utilisations et repreacutesentations de lrsquoespace dans les seacutepultures monumentales du Neacuteolithique europeacuteen Paris Presses Universitaires de France p185-203BUENO RAMIacuteREZ P BARROSO BERMEJO R and BALBIacuteN BEHRMANN R (2012) ndash Meacutega-lithes Statues Gravures et Peintures dans le Bassin Inteacuterieur du Tage Espagne Maiumlteacute-na Sohn et Jean Vaquer Eds Seacutepultures collectives et mobiliers funeacuteraires de la fin du Neacuteolithique en Europe occidentale Paris Eacutecole des Hautes Eacutetudes en Sciences Sociales p333-358DIacuteAZ-GUARDAMINO M (2010) ndash Las estelas decoradas en la Prehistoria de la Peniacutensula Ibeacuterica Madrid Universidad Complutense de Madrid PhD ThesisHOSKIN M et al (1998) ndash Studies in Iberian Archaeoastronomy (5) Orientations of mega-lithic Tombs of Northern and Western Iberia Archaeoastronomy 23 (JHA xxix) p S59-S62HOSKIN M (2001) ndash Tombs Temples and their Orientations Bognor Regis Ocarina BooksMOITA I (1966) ndash Caracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Alta Eth-nos V p189-297SENNA-MARTINEZ JC (1989) ndash Preacute-Histoacuteria Recente da Bacia do Meacutedio e Alto Mondego algumas contribuiccedilotildees para um modelo sociocultural Lisboa Faculdade de Letras da Uni-versidade de Lisboa Tese de Doutoramento em Preacute-Histoacuteria e Arqueolo-gia 3 VolsSENNA-MARTINEZ J C (1996) ndash Do Espaccedilo Domeacutestico ao Espaccedilo Funeraacuterio Ideologia e Cultura Material na Preacute-Histoacuteria Recente do Centro de Portugal Lisboa Uniarq OPHIUSSA 0 p65-76SENNA-MARTINEZ JC and CARVALHO Margarida M (this volume) ndash Ideotechnical Repre-sentations in the Megalithism of Mondegoacutes Platform The case of Orca da Lapa do Lobo J C Senna-Martinez Mariana Diniz e A Faustino de Carvalho Eds De Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo Vida e Morte no Ocidente Peninsular Fundaccedilatildeo Lapa do LoboSENNA-MARTINEZ JC LOacutePEZ PLAZA S amp HOSKIN M (1997) ndash Territorio ideologiacutea y cultura material en el megalitismo de la plataforma del Mondego (Centro de Portugal) O Neoliacutetico Atlaacutentico e as Orixes do Megalitismo Actas del Coloquio Internacional (Santiago de Compostela 1-6 de Abril de 1996) Santiago de Compostela Cursos e Congresos da Universidade de Santiago de Compostela 101 p 657-676

| 181

| 2018

SENNA-MARTINEZ JC amp PEDRO I (2000) ndash O Grupo BaiotildeesSanta Luzia no Quadro do Bronze Final do Centro de Portugal J C SENNA-MARTINEZ e I PEDRO Eds Por Terras de Viriato Arqueologia da Regiatildeo de Viseu Viseu Governo Civil do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia p 119-131SENNA-MARTINEZ J C amp VALERA A C (1989) ndash A Orca de Pramelas Canas de Senhorim Actas do I Coloacutequio Arqueoloacutegico de Viseu Viseu p 37-50SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA J M (1999) ndash Espaccedilo Funeraacuterio e laquoEspaccedilo Ceacutenicoraquo a Orca do Folhadal (Nelas) Trabalhos de Arqueologia da EAM Lisboa 5 p21-34SENNA-MARTINEZ JC and VENTURA JMQ (2000) ndash Pastores recolectores e constru-tores de megaacutelitos O Neoliacutetico Final J C SENNA-MARTINEZ e I PEDRO Eds Por Terras de Viriato Arqueologia da Regiatildeo de Viseu Viseu Governo Civil do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia p 53-62SENNA-MARTINEZ JC and VENTURA JMQ (2008) ndash Do mundo das sombras ao mundo dos vivos Octaacutevio da Veiga Ferreira e o megalitismo da Beira Alta meio seacuteculo depois Homenagem a Octaacutevio da Veiga Ferreira Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p317-350SILVA F (2012) ndash Landscape and Astronomy in Megalithic Portugal the Carregal do Sal Nucleus and Star Mountain Range Papers from the Institute of Archaeology (PIA) 22 p99-114 DOI httpdxdoiorg105334pia405VALERA AC (2016) ndash Ditched enclosures and the ideologies of death in the Late Neolithic and Chalcolithic South Portugal V Ard and L Pillot Eds Giants in the land-scape Monu-mentaly and Territories in the European Neolithic Oxford Archaeopress p69-84VASCONCELOS JL (1905) ndash Antiguidades prehistoricas da Beira IV- Notiacutecia de duas Orcas O Archeoacutelogo Portuguecircs 10 P313VENTURA JMQ (this volume) ndash O Nuacutecleo Megaliacutetico dos Fiais-Azenha (Carregal do Sal Portugal) um balanccedilo J C Senna-Martinez Mariana Diniz e A Faustino de Carvalho Eds De Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo Vida e Morte no Ocidente Peninsular Fundaccedilatildeo Lapa do LoboWILLIAMS M (2003) ndash Growing metaphors The agricultural cycle as metaphor in the later prehistoric period of Britain and North-Western Europe Journal of Social Ar-chaeology 3 p223-255

182 |

| 183

| 2018

IDEOTECHNICAL REPRESENTATIONS IN THE MEGALITHISM OF MONDEGOacuteS PLATFORM THE CASE OF ORCA DA LAPA DO LOBO NELAS

Representaccedilotildees Ideoteacutecnicas no Megalitismo da Plataforma do Mondego O caso da Orca da Lapa do Lobo Nelas

Joatildeo Carlos de Senna-Martinez Centre for Archaeology (Uniarq) University of Lisbon 1600-214 Lisbon Portugal smartinezflulpt

Margarida M Carvalho MA in Archaeology Centre for Archaeology (Uniarq) University of Lisbon 1600-214 Lisbon Portugalmaggiecarvalhosapopt

ABSTRACTThe four excavation campaigns (2015-2018) carried out in the ldquo Orca da Lapa do Lobordquo (County of Nelas District of Viseu) revealed a situation unique in the regional context in which it operates of a tumular structure functioning in fact as an ldquoancestors sanctuaryrdquoThe symbolic practices associated with the various regional groups of Ibe-rian Peninsula Megalithism have been receiving increasing attention in particular in what regards the ideotechnical representations associated with it both structurally and within the scope of the mobile elements that make up the respective list of offeringsIn the second case we have the elements identified as ldquostelaerdquo or ldquoidolsrdquo usually of anthropomorphic interpretation From the site un-der study the set of one hundred thirty four mobile ideotechnical representations and a ldquofixedrdquo one the study of which is presented here ndash 98 stelae 4 stele-monoliths 31 ldquoidol-like pebblesrdquo and one ceramic representation in the first group and a stela-menhir in the se- cond - constitutes the largest group of ideotechnique artefacts so far re-covered in Iberia from a single megalithic monumentWe also discuss the possible significance of these items within the frame-work of the symbolic practices known and associated with the Neolithic of the Mondego PlatformKEY WORDS Megalithism Mondego Platform Ideotechnical Represen-tations

184 |

RESUMOAs quatro campanhas de escavaccedilotildees (2015-2018) efectuadas na ldquoOrca da Lapa do Lobordquo (Concelho de Nelas Distrito de Viseu) revela- ram uma situaccedilatildeo unica no acircmbito regional em que se insere de uma estrutura tumular funcionando de facto como um ldquosantuaacuterio de ante- passadosrdquo As praacuteticas simboacutelicas associadas aos diversos grupos regionais do megalitismo da Peniacutensula Ibeacuterica tecircm vindo a merecer crescen-te atenccedilatildeo em particular no que toca agraves representaccedilotildees de cariz ideoteacutecnico a ele associadas quer estruturalmente quer no acircmbito dos elementos moacuteveis que integram o respectivo espoacutelio associadoNo segundo caso se inserem elementos identificados como ldquoestelasrdquo ou ldquoiacutedolosrdquo normalmente de interpretaccedilatildeo antropomoacuterfica No caso em estudo o conjunto de cento e trinta e quatro representaccedilotildees ideo- teacutecnicas moacuteveis e uma ldquofixardquo cujo estudo aqui se apresenta ndash 98 es-telas 4 estelas-monoacutelitos 31 ldquoseixos idoliformesrdquo e uma figuraccedilatildeo ceracircmica no primeiro grupo e uma estela-menhir no segundo ndash cons- titui no acircmbito peninsular o maior conjunto de artefactos ideoteacutecni-cos provenientes de um uacutenico monumento megaliacutetico ateacute agora conhecidoDiscute-se ainda a respectiva integraccedilatildeo no acircmbito das praacuteticas simboacuteli-cas conhecidas e associadas ao Neoliacutetico da Plataforma do MondegoPALAVRAS-CHAVE Megalitismo Plataforma do Mondego Represen-taccedilotildees Ideoteacutecnicas

The symbolic practices associated with the various regional groups of Iberian Peninsula Megalithism have been receiving increasing attention in particu-lar in what regards the ideotechnical representations associated with it both structurally and within the scope of the mobile elements that make up the respective list of offerings (Bueno Ramiacuterez Balbiacuten Behrmann and Barroso Bermejo 2016)In the second case we have the elements identified as ldquostelaerdquo or ldquoidolsrdquo usually of an-thropomorphic interpretation From the site under study the set of one hundred thirty four mobile ideotechnical representations and a ldquofixedrdquo one a first attempt to the study of which is presented here ndash 98 stelae 4 stele-monoliths 31 ldquoidoliform pebblesrdquo and one ceramic represen-tation in the first group and a stela-menhir in the second ndash constitutes the largest group of ideotechnique artefacts so far recovered in Iberia from a single megalithic monument

| 185

| 2018

1 ORCA DA LAPA DO LOBO GEOGRAPHICAL SETTING SITE DISCO- VERY AND EXCAVATION BACK-GROUNDThe region surrounding the archaeological site is covered by the geological sheet no 17C (Santa Comba Datildeo) of the Portuguese Geological Map at the scale 150 000 edited by Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal in 1961 It cor-responds to a flat area that rises slightly to the west reaching altitudes over 400 meters in the region of Canas de Senhorim This flat area between the Serras do Caramulo and Estrela is strongly incised by the deep and narrow valleys of the Mondego and Datildeo river basins which inland from their conflu-ence at Santa Comba Datildeo are closely parallel to each other with a NE-SW orientation Considering the paleogeographic divisions of the Iberia Peninsula the area of study belongs to the Central Iberian Zone which is according to Azevedo and Aguado (2013 p 377) the segment of the European variscan orogeny where granitic rocks outcrop ex-tensively and with great typological variabilityIn the surroundings of the archaeological site it is possible to find three diffe- rent varie-ties of two mica monzonite granite described in the geological map

Fig 1 ndash Geological map of the region south of Viseu with the location of the archaeo-logical site (adapted from the Geological Map of Portugal scale 1500000 1992 ed acquired by WMS from LNEG at httpwwwigeoptWMSGeologiaCGP500K) (Oliveira Pereira Antunes et al 1992)

186 |

(Fig1) The archaeological site is located on an outcrop of porfiroid grani- te with very coarse grain to medium grain however nearby there are also porfiroid granite with minerals of metamor-phism (cordierite silimanite and andalusite) porfiroid granite with medium to fine grain and lastly two mica granite with medium to fine grain (Teixeira Brito de Carvalho Barros et al 1961 p 16ndash20) Partially covering the granites it is possible to find arkose-clay deposits which include three different levels ndash (from top to bottom) quartz and quart-zite cobbles thick arkosic-sandstone and green compact colored clay (Tei- xeira Brito de Carvalho Barros et al 1961 p 9ndash10) Since the geological map of Santa Comba Datildeo (1962) is much older than the map of the region of Viseu (sheet no17-A of 2009 ) which is more detailed and uses different nomenclature it was deemed important to co-relate the granitic rocks des- cribed in both maps The granites found in the region of Viseu are mainly divided according to the third variscan deformation phase (D3) and the ones described to the SE of the Viseu geologi-cal map and therefore closest to the area of study are latepost-tectonic granites These are not as deformed as the

Fig 2 ndash Google aerial photo (2015) of the Orca da Lapa do Lobo and surroundings (1) Av 9 de Julho 109 (2) The frontier marker between Nelas and Carregal do Sal counties

1 1303 Agosto 3 Viseu ndash Sentenccedila sobre a devaccedilatildeo do couto de Canas dada por juiacutezes de Viseu em que anulam e revogam a sentenccedila dada por Lourenccedilo Pirez de Oliveira do Conde contra os herdamentos do Cabido no couto de Canas de Senhorim Arquivo Distrital de Viseu Pergaminhos m29 doc24 170x410 mm goacutetica semi-curs

| 187

| 2018

sin-tectonic variety and include calcic plagioclase two mica (mostly biotite) and have a porfiroid texture (Godinho Neves Pereira et al 2010 p 15) which in general matches the granites described in the geological map of Santa Comba DatildeoThe Orca da Lapa do Lobo (ORLL ndash CNS34620) is located in the homony-mous village in Central Portugal on a slightly elevated terrain occupied by olive trees bordering the 9th July Avenue part of the EN234 that connects the Counties of Nelas and Carregal do Sal (Latitude 40470802 Longitude -7922419 - Sheet 211 of CMP 125000 1992 edi-tion ndash Fig2)The monument has a long story beginning with a mention in a medieval document (1303) when it is referred to as defining one of the limits of the then ldquoCanas de Senhorimrdquo county1All trace of the site location was then lost during the XIXth and XXth centu-ries Succes-sively sought for by Leite de Vasconcelos (Vasconcelos 1905 p313) Irisalva Moita (Moita 1966) and one of us (Senna-Martinez 1989 p70) only in 2013 it was redis-covered by Horaacutecio Peixoto (Senna-Marti-nez this volume)

Fig 3 ndash Orca da Lapa do Lobo The stela-menhir ORLL-1460 after it was redressed

2 Our field work was supported by Nelas County Lapa do Lobo Foundation The Fireman Humanitarian Association of Canas de Senhorim and the parishes of Canas de Senhorim and Lapa do Lobo

188 |

In 2014 our colleague Gertrudes Branco (DGPC-DRC) after a vegetation clean-up was then able to confirm that it was a seemingly ruined tumulus corresponding to the lost monumentAt the Nelas County invitation we began the first of our four excavation sea-sons in the monument (20015-2018)2 in July 2015

2 GRANITE STELA-MENHIR STELAE AND STELAE-MONOLITHS AND ldquoIDOL-LIKErdquo QUARTZ PEBBLES STRATIGRAPHIC CONTEXT TYPOLOGY AND CLASSIFICATIONWe have discussed elsewhere the complex stratigraphic situation presen- ted by the site of Orca da Lapa do Lobo (Senna-Martinez this volume) so

Fig 4 ndash Orca da Lapa do Lobo ldquoidol-likerdquo quartz pebbles from the tumulus carapace 881 1233 and 3598 pentagonal type 1087 1120 and 1337 anthropomorphic type

3 The artefacts from this site are identified by the sitersquos acronym ORLL followed by a serial number (so the stele-menhir is ORLL-1460) in this paper and for the sake of simplicity we retain only the number as we assume the referred to items all belong to ORLL

| 189

| 2018

wersquoll only discuss here briefly those aspects pertaining to the discovery of the ideotechnic elements The first to be found was the stele-menhir 14603

This granite upright was found laying in the tumulus surface and its laying place could be significant perhaps marking the front of the monument The stele-menhir was made of a stone slab 80cm long by 68cm wide and with a medium thickness of 14cm it has the shoulders cut to enhance the head and in the front two crude arms can be found in relief (Fig3) giving it an unmistakable human shapeAfter discovering the stela-menhir we became aware that something diffe- rent from a regional standard Middle Neolithic dolmen was awaiting us So we proceeded to re-move with extra care what was left of the monument carapace We found it to be made mostly of unprocessed quartz pebbles six of which had shapes that reminded us of the Stelae previously found in several megalithic monuments in Iberiandash as in the dolmen of Lagunita III (Bue-no Ramiacuterez Barroso Bermejo and Balbiacuten Behrman n 2012 fig14) ndash we consi- der them to be idoliforme pebbles specially chosen by their anthropomorphic shape like in other known cases (Fig4)The remaining elements come from a completely different stratigraphic layout that left no doubt of its deliberate nature Wersquoll summarize here our interpretation of the site stratigraphic layout

1- In a first moment an Early Neolithic habitat occupied the site in a situation similar to what we found at Orca do Folhadal Orca 2 do Ameal and Orca 2 de Oliveira do Conde (Ventura this volume)2- Then somewhere in the Middle Neolithic a megalithic monument was built over it with probably a small polygonal orthostatic chamber3- In a third moment what initially would have been a burial monu-ment was transformed into an ldquoancestorrsquos sanctuaryrdquo The chamber was dismantled and the four orthostats were rearranged one packed against the other in where the head-stone of the chamber would have been The deliberate nature of this situation is substantiated by the fact that the tumulus was raised three times with successive earth levels accumulation each corresponding to the structuring of a pit in the middle of the monument with ldquostone nestsrdquo built to support granite stelae andor ldquoidol-likerdquo quartz pebbles In the middle phase of tumulus rising the central pit was complemented with two smaller ones with equal function and in the upper phase with one more with identical function (Senna-Martinez this volume)

Table-I summarizes the stratigraphic distribution of the ideotechnique items found

190 |

Fig 5 ndash Orca da Lapa do Lobo A- granite Stelae (5421751 664 3758 3760 4433) and ldquoIdol-likerdquo quartz pebbles (4576 4939) of Type-1 (Pentagonal) B- granite Stelae (662 549 353689 1125 2016 570) and ldquoIdol-likerdquo quartz pebbles (2939 282 989 576) of Type-2 (Anthropomorphic) C- granite Stelae (4153 4092 3768 1988 2199 2016) and ldquoIdol-likerdquo quartz pebbles (2108 4564 2353 3091) of Type-3 (Lozengic) D- granite Stelae (1088 671 663 4135 3660 2560 570 3616) and ldquoIdol-likerdquo quartz pebbles (4294 2552 2632) of Type-4 (Necked) E- granite Stelae (3955 3033 4329 1713 41303793 4291 927) of Type-5 (Sub-parallelepiped) F- Stelae-monoliths (4329 3627 4387)

| 191

| 2018

The recent attempt by Diaacutez Guardamino (2010) to systematize the ideo-graphic stele-like elements present in the Iberian Prehistory of Peasant Societies addressed mainly the larger ones stelae-menhir and other upright stones and left much of the mobile ones out So next we will address the question of typologyAfter considering shape and relative dimensions of the items under study we propose the following types to classify themType 1 ndash Pentagonal ndash Its one of the most obvious ones and with some variation it can be considered as expressing a clear enough anthropo-morphic resemblance (Fig5-A) as registered by Bueno Ramiacuterez Balbiacuten Behrmann and Barroso Bermejo (2016 fig5B)Type 2 ndash Anthropomorphic ndash As the first exemplar to be found (353) they have shapes hinting to a human one with variations (Fig5-B)

192 |

Type 3 ndash Lozengeful ndash With the approximate shape of a lozenge but closely anthropo-morphic (Fig5-C)Type 4 ndash Necked ndash With a well marked neck (Fig5-D)Type 5 ndash Sub-parallelepiped ndash With a sub-rectangular shape in front view (Fig5-E)Type 6 ndash Irregular ndash All other shapes vaguely anthropomorphicStelae-monoliths ndash Another category of ideotechnic items less mobile then Stelae and ldquoidol-likerdquo pebbles is the Stelae-monoliths They are cha- racteristically very elongated their widthlength ratio being always inferior to 38 (Fig5-F) We found four of them one in the upper shrine phase two in the middle shrine phase and one in the buttress The one in the upper phase and another of the middle phase were found in their original positions (Fig6)Pottery idol or idols ndash One of the only two non-lithic items in our collection is ORLL-4037 an idol-like pentagonal figure (Type-1) made of pottery (Fig7) Its fabric is very coarse crudely finished and at first sight we took it to be another idol-like pebble This finding makes us sure the shape is no coincidence It be-longs to the upper phase of the ldquoancestorrsquos sanctuaryrdquo buildingThe other non-lithic item that can be addressed as a possible ideotechnique artefact is an octagonal short prism in pottery (ORLL-4617 ndash Fig8) that was found at the bottom of the lower shrine phase and for which we donrsquot have any direct parallel The closest artefacts we find regionally with any simila-

rities are much later and slightly different We are thinking of the Buraco da Moura de S Romatildeo Early Bronze Age small pottery reel (Senna-Martinez 1993) Nevertheless we could be in presence of an early prototypeWe compare in Table-II the stelae and idol-like pebbles according to type re- presenta-tivenessThe results show quite different situations for the considered classes of

| 193

| 2018

ideotechnique artefacts While for stelae types 1 4 and 5 (anthropomor-phic necked and sub-parallelepiped) account for about one fourth of the whole sample each for the pebbles types 1 with 45 and 2 with 39 together represent more than 80 If in the stelae case we can suppose other anthropic reasons behind form-choosing in the pebbles case the choosing would be regulated by geological constraints determining what natural forms would be availableIn what regards the geological nature of the stelae and ldquoidol-likerdquo pebbles found at Orca da Lapa do Lobo there are two main groups ndash quartz pebbles and graniteThe 31 ldquoidoliformrdquo pebbles are made out of quartz and are generally white with an av-erage size of 738 cm of length 585 cm of width and 319 cm of thick-ness These rocks were most likely recovered from the previously mentioned Coja Nave de Haver and Longroiva Arkose formation that outcrop at about 1km NW of the site

Fig 6 ndash Orca da Lapa do Lobo Stele-monolith 4387 viewed from SE-NW after it was redressed

194 |

Fig 7 ndash Orca da Lapa do Lobo Pottery idol-like pentagonal figure (Type-1)

Fig 8 ndash Orca da Lapa do Lobo Octagonal pottery prism (4617) from the lower phase of the shrine

| 195

| 2018

Regarding the stelae these are made out of granite and consist of two main groups in terms of texture 75 are phaneritic equi- or inequigranular while 25 are porfiroid with feldspar minerals generally over 1cm of length In terms of mineralogy these rocks are mostly composed of quartz feldspar phyllosili-cate minerals and mafic minerals (amphibole andor pyroxene) the difference usually concerns the presence of either more muscovite or more biotite This type of granite including differences in texture occurs in the location of the ar-chaeological site or near it as was previously mentioned in the geological set-ting In terms of measurements these stelae have an average length of 2074 cm width of 1324 cm and thickness of 606 cm For both the ldquoidoliformrdquo peb-bles and the stelae the width and thickness rise proportionally to the length and more dramatically so for the four stele-monoliths (Fig9)

Fig 9 ndash Orca da Lapa do Lobo Graphic representation of Length vs Thickness and Length vs Width for the 101 Stelae and Stele-monoliths (the 4 outliers) and 31 ldquoIdol-Likerdquo pebbles recovered

196 |

3 CONCLUDINGhellip ldquoANCESTORS SHRINErdquo AND REGIONAL CULTURAL SETTINGThe emergence of early peasant societies brings in what we can consider an increased awareness of the natural seasonal cycle for plants and animals and its parallels with the agricultural cycle One of the consequences of this state of affairs will be that these cy-cles become a metaphor for the symbolic explanation and regulation of life and deathAnother consequence will be that almost everywhere the earliest peasant societies will develop more or less schematic ideotechnique representations of women which consti-tute according Gimbutas a part of a ldquomatrifocal and probably matrilineal agricultural and sedentary egalitarian and peacefulrdquo society (Gimbutas 1996 p9)The transition to a peasantrsquos way of life occurred at a different pace and in multiple forms in the different regions of Iberia combined or not with hunter-gatherer practices This way itrsquos by no means a sure thing that ag-riculture was everywhere in Iberia a pre-condition to the emergence of the construction of megalithic funerary monumentsIn several areas it can be argued that animal husbandry predominates (namely of ovi-caprids) together with different degrees of what we can call horticulture hunting and gathering Such is the case we have been arguing for Beira-Alta (Senna-Martinez 1989 Senna-Martinez and Ventura 2008b Ventura this volume) In our case study we have been stressing the impor-tance of acorn gathering Specialized gathering such as acorns as in Central Portugal have in common with the different regional scales of agriculture and animal husbandry the adoption of a proprietarily attitude toward land (Fairbairn 2000) leading to what we have called the passage from ldquouse- -territoriesrdquo to ldquooccupation territoriesrdquo (Senna-Martinez and Ventura 1999a 2008a) which we think to be behind the beginnings of the megalithism (Senna-Martinez and Ventura 2008b)The Neolithic saw a change both of territorial behavior and territorial aware-ness that we think would be legitimatized by the implantation of the mega-lithic necropolis Thus local ancestorsrsquo presence account for an increasing territorial appropriation of spaceThe surge in complexity brought about in the Late Neolithic megalithic mo- numents both in their architecture and the funerary offerings found with-in (Senna-Martinez and Ventura 2000 2008a) represents a positive rein-forcement of the legitimizing relation-ship between the livings with the dead The perception of the ancestorsdead as ldquoprotec-tive entitiesrdquo seems thus to be reinforced in the Late Neolithic to take into account the increased effort

| 197

| 2018

in the construction of the great monumentsThe Late Neolithic dolmens would welcome (as in other regional areas) an in-creased number of bodies materialized in the clear increase of the artefac-tual assemblages de-posited within them while their complex intra-tumular corridors and atriums would accommodate a growing number of participants in the rituals taking place (Senna-Martinez and Ventura 1999b)We think that the case of the Orca da Lapa do Lobo ldquoancestors shrinerdquo can thus be seen in the light of these transformations So the story of the site could probably be told like this

Fig 10 ndash Habitat sites and megalithic monuments of the Orca da Lapa do Lobo surroundings(1) Early Neolithic habitat sites near or under Middle Neolithic dolmens 6 - Orca 2 do Ameal 8 - Orca 2 de Oliveira do Conde 11 ndash Orca da Lapa do Lobo (2) Other Middle Neolithic dolmens 5 - Orca 1 do Ameal (3) Late Neolithic habitat sites large dolmens and the stelae ldquoancestors shrinerdquo of Orca da Lapa do Lobo 1- Habitat do Ameal-VI 2 - Habitat do Mimosal 3 - Habitat do Campo de Tiro 4 - Orca dos Fiais da Telha 7 - Orca 1 de Oliveira do Conde 9 - Orca do Santo 10 - Orca do Outeiro do Rato 11 ndash Orca da Lapa do Lobo

4 Fall acorn and other winter fruits gathering and processing seems to go together in several Iberian re-gional areas namely in Beira--Alta with the period (fall and winter) when building of megalithic tombs took place either we agree with the solar hypothesis for their orientations (Hoskin et al 1998 Hoskin 2001) or take into consideration other proposed astronomical orientations (Silva 2012)

198 |

1- Somewhere during the Early Neolithic the highest place in the area would see the establishment of a small village already living through a seasonal cycle wintering in the lowlands and using springsummer highland pastures in Serra da Estrela42- With the reinforcement of a more territorial attitude in the Middle Neo-lithic the building of a small dolmen begun the process of legitimizing the nearby settlement of people Would it be the tomb of the local first lineage ancestors3- The more complex situation developing with the beginning of the Late Neolithic led to the establishing of a necropolis of several large dolmens with several habitat sites in between them (Fig10) The site of Orca da Lapa do Lobo would then be transformed into a kind of an ldquoancestorsrsquo shrinerdquo like an axis mundi organizing the symbolic life of the surrounding communities4- The site being abandoned at the end of the Neolithic somewhere in the Middle Age the local place name was changed to ldquoCruz Altardquo reclaiming to the Christian orbit an ancient ldquomemory placerdquo

Canas de Senhorim Bruxelas Lisboa August 2018

REFERENCESAZEVEDO M and AGUADO B (2013) ndash Origem e instalaccedilatildeo de Granitoacuteides Varis-cos na Zona Centro-Ibeacuterica Geologia de Portugal Lisboa Escolar Editora Vol I ndash Geologia Preacute-Mesozoacuteica de Portugal p377ndash401BUENO RAMIacuteREZ P BALBIacuteN BEHRMANN R and BARROSO BERMEJO R (2016) ndash Megalithic art in the Iberian Peninsula Thinking about graphic discourses in the Europe-an Megaliths Guillaume Robin Andreacute DrsquoAnna Aurore Schmitt and Maxence Bailly Eds Fonctions utilisations et repreacutesentations de lrsquoespace dans les seacutepultures monumentales du Neacuteolithique europeacuteen Aix-en-Provence Presses Universitaires de Provence p185-203DIacuteAZ-GUARDAMINO M (2010) ndash Las estelas decoradas en la Prehistoria de la Peniacutensunot-la Ibeacuterica Madrid Universidad Complutense de Madrid PhD ThesisFAIRBAIRN AS (2000) ndash On the spread of crops across Neolithic Britain with spe-cial reference to the southern England AS FAIRBAIRN ed Plants in Neolithic Brit-ain and beyond Oxford Oxbow Books p107-121GIMBUTAS M (1996) ndash The Goddesses and Gods of Old Europe London Thames and HudsonGODINHO M M NEVES L PEREIRA A SEQUEIRA A CASTRO P and BENTO DOS SANTOS T (2010) ndash Notiacutecia Explicativa da Folha 17-A (Viseu) (N Ferreira Ed) Lisboa Unidade de Geologia e Cartografia Geoloacutegica (Laboratoacuterio Nacional de Energia e Geolo-gia)HOSKIN M et al (1998) ndash Studies in Iberian Archaeoastronomy (5) Orientations of

| 199

| 2018

megalithic Tombs of Northern and Western Iberia Archaeoastronomy 23 (JHA xxix) p S59-S62HOSKIN M (2001) ndash Tombs Temples and their Orientations Bognor Regis Ocarina BooksMOITA I (1966) ndash Caracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Alta Eth-nos V p189-297OLIVEIRA J T PEREIRA E ANTUNES M T and MONTEIRO J H (1992) ndash Carta Geoloacutegi-ca de Portugal Escala 1500000 Serviccedilos Geoloacutegicos de PortugalSENNA-MARTINEZ JC (1989) ndash Preacute-Histoacuteria Recente da Bacia do Meacutedio e Alto Monde-go algumas contribuiccedilotildees para um modenotlo sociocultural Lisboa Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Tese de Doutoramento em Preacute-Histoacuteria e Arqueolo-gia 3 VolsSENNA-MARTINEZ JC (1993) ndash A ocupaccedilatildeo do Bronze Pleno da lsquoSala 20rsquo do Bura-co da Moura de Satildeo Romatildeo Tranotbanotlhos de Arqueologia da EAM 1 p55-76SENNA-MARTINEZ JC (this volume) ndash A Shrine in the Neolithic Orca da Lapa do Lobo Nelas (c 5000-3000 BC) J C Senna-Martinez Mariana Diniz e A Faustino de Carval-ho Eds De Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo Vida e Morte no Ocidente Peninsular Fundaccedilatildeo Lapa do LoboSENNA-MARTINEZ JC amp VENTURA JMQ (1999a) ndash Evoluccedilatildeo das Paisagens Culturais na Plataforma do Mondego na Preacute-Histoacuteria Recente (c5000-550 cal AC) Trabalhos de Arqueologia da EAM Lisbon Colibri 5 p 9-20SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA J M (1999b) ndash Espaccedilo Funeraacuterio e laquoEspa-ccedilo Ceacuteni-coraquo a Orca do Folhadal (Nelas) Trabalhos de Arqueologia da EAM Lisboa 5 p21-34SENNA-MARTINEZ JC and VENTURA JMQ (2000) ndash Pastores recolectores e constru-tores de megaacutelitos O Neoliacutetico Final J C SENNA-MARTINEZ e I PEDRO Eds Por Terras de Viriato Arqueologia da Regiatildeo de Viseu Viseu Governo Civil do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia p 53-62SENNA-MARTINEZ JC e VENTURA JMQ (2008a) ndash Do mundo das sombras ao mun-do dos vivos Octaacutevio da Veiga Ferreira e o megalitismo da Beira Alta meio seacuteculo de-pois Homenagem a Octaacutevio da Veiga Ferreira Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p317-350SENNA-MARTINEZ JC e VENTURA JMQ (2008b) ndash Neolitizaccedilatildeo e Megalitismo na Plataforma do Mondego Algumas Reflexotildees sobre a Transiccedilatildeo Neoliacutetico Anti-goNeoliacuteti-co Meacutedio Actas del IV Congreso del Neoliacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica Ali-cante 2 p 77-84SILVA F (2012) ndash Landscape and Astronomy in Megalithic Portugal the Carregal do Sal Nucleus and Star Mountain Range Papers from the Institute of Archaeology (PIA) 22 p99-114 DOI httpdxdoiorg105334pia405TEIXEIRA C BRITO DE CARVALHO L H BARROS R F AacuteVILA MARTINS J and HAAS W E L (1961) ndash Notiacutecia Explicativa da Folha 17-C (Santa Comba Datildeo) Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de PortugalVASCONCELOS JL (1905) ndash Antiguidades prehistoricas da Beira IV- Notiacutecia de duas Orcas O Archeoacutelogo Portuguecircs 10 p313WILLIAMS M (2003) ndash Growing metaphors The agricultural cycle as metaphor in the later prehistoric period of Britain and North-Western Europe Journal of Social Archaeol-ogy 3 p223-255

200 |

| 201

| 2018

ANTA DA LAPA DA MERUJE (VOUZELA PORTUGAL) RESULTADOS PRELIMINARES DOS TRABALHOS EM CURSO

DOLMEN OF LAPA DA MERUJE (VOUZELA PORTUGAL) PRELIMINARY RESULTS OF ONGOING RESEARCH

Antoacutenio Faustino Carvalho CEAACP - Centro de Estudos de Arqueologia Artes e Ciecircncias do Patrimoacutenio Universidade do Algarve FCHS Campus de Gambelas 8000-117 Faro Portugalafcarvaualgpt

RESUMO A anta da Lapa da Meruje foi descoberta e primeiramente sondada por A de Amorim Giratildeo em 1917 tendo sido dada a conhecer na sua obra de 1921 ldquoAntiguidades preacute-histoacutericas de Lafotildeesrdquo e desde aiacute citada por outros investigadores que se dedica- ram ao estudo do megalitismo beiratildeo A sus escavaccedilatildeo foi retomada em 2016 tendo por fim uma caracterizaccedilatildeo arqueoloacutegica mais aprofundada e a sua futura valori-zaccedilatildeo in situ para usufruto puacuteblicoTrata-se de um doacutelmen de grandes dimensotildees com cacircmara e corredor diferenciaacuteveis em planta e alccedilado A cacircmara de sete esteios tem 3x3 metros e o corredor atinge 9 metros de comprimento Dispotildee ainda de um aacutetrio que teraacute sido deliberadamente colmado aquando do encerramento do doacutelmen A mamoa com um diacircmetro de 32 metros e uma espessura maacutexima de 2 metros conserva uma carapaccedila peacutetrea na maior parte da sua extensatildeo O topo do chapeacuteu apresenta gravuras modernas (covinhas e um ldquojogo do alquerquerdquo) e a face interna dos esteios da cacircmara e do corredor tecircm gravuras preacute-histoacutericas esquemaacuteticas para aleacutem de uma custoacutedia feita em eacutepoca muito recente (seacuteculo XX) Na linha da escassez de espoacutelio que caracteriza o megalitismo lafonense a primei-ra utilizaccedilatildeo da anta estaacute representada principalmente por geomeacutetricos em siacutelex Alguma ceracircmica pedra polida e grandes lacircminas de siacutelex pertencem a ocupaccedilotildees mais tardias Estes dois conjuntos artefactuais sugerem que a construccedilatildeo do doacutelmen ocorreu no IV mileacutenio AC (Neoliacutetico Meacutedio) e que o seu encerramento teraacute tido lugar entre finais do IV iniacutecios do III mileacutenio AC (Neoliacutetico Final Calcoliacutetico) Sob a ma-moa identificou-se um niacutevel formado por talhe da pedra ceracircmica lisa e abundantes carvotildees cujo estatuto (ritual preacutevio agrave construccedilatildeo niacutevel de ocupaccedilatildeo anterior) estaacute por definir cabalmente Outros achados indicam reutilizaccedilotildees proto-histoacutericas medie- vais e contemporacircneasPALAVRAS-CHAVE Megalitismo Lafotildees Neoliacutetico

202 |

ABSTRACTThe dolmen of Lapa da Meruje was discovered and first tested by A de Amorim Giratildeo in 1917 having been made known in his work of 1921 ldquoAntiguidades Preacute-histoacutericas de Lafotildeesrdquo (ldquoPrehistoric Anti- quities of Lafotildeesrdquo) and since then cited by other researchers working in the region Its excavation was resumed in 2016 aiming at a comprehensive archae-ological characterization of the site for future restoration and in situ opening to the publicThis is a large dolmen with chamber and passage which are differentiated in both plan and profile The chamber with seven orthostats has an area of 3X3 metres and the passage is around nine metres long There is also a vestibule that was deliberately infilled when the dolmen was closed The mound is 35 metres in diameter and has a preserved height of two metres A stone cairn is still very well preserved in most of the moundrsquos area On top of the capstone there is a set of modern engravings (cupmarks and a traditional game known as ldquoalquerquerdquo) in the orthostats of the chamber and passage there are also schematic prehistoric engravings besides a very recent (20th century) depiction of a Christian cross In line with the scarcity of grave goods that characterises the Lafotildees mega-lithism the first funerary occupation recorded at Lapa da Meruje is mainly represented by flint geometrics A few potsherds polished stone tools and large flint blades belong to later occupations Together both assemblages suggest the beginning of the fourth millennium BC (Middle Neolithic) as the dolmenrsquos cons- truction date and its closure in the late 4th early 3rd millennium BC (Late Neo-lithic Chalcolithic) An archaeological level formed by knapped stone plain pottery and abundant charcoal was found below the mound its status (a ritual related to the building of the monument an older occupation) is still be fully understood Other finds indicate Protohistoric Medieval and contemporary re-uses of the dolmenKEY WORDSMegalithism Lafotildees Neolithic

1 INTRODUCcedilAtildeOPor solicitaccedilatildeo da Cacircmara Municipal de Vouzela teve iniacutecio em 2016 um projeto de estudo intitulado ldquoEstudo do patrimoacutenio histoacuterico-cultural de Vouzelardquo Com conclusatildeo prevista para 2019 o seu acircmbito e principais ob-jetivos foram jaacute entretanto tornados puacuteblicos Como explicitamente afirma-do ldquo[o] conjunto de dados assim reunidos constituiraacute a base sobre a qual se procederaacute com a conclusatildeo do presente projeto agrave elaboraccedilatildeo de um programa que vise atraveacutes de diversas valecircncias e accedilotildees a definir nesse momento a valorizaccedilatildeo deste patrimoacutenio e a definiccedilatildeo de estrateacutegias para o seu usufruto puacuteblicordquo (Real et al 2017 p 116) Assim o projeto encon-

| 203

| 2018

Figura 1 Localizaccedilatildeo da anta da Lapa da Meruje no territoacuterio portuguecircs

204 |

tra-se estruturado em quatro eixos de investigaccedilatildeo principais levantamen-to documental prospeccedilatildeo arqueoloacutegica estudo de espoacutelios de escavaccedilotildees antigas e escavaccedilatildeo de siacutetios selecionados mdash isto eacute escavaccedilotildees dirigidas a locais de potencial museoloacutegico tendo em vista a sua futura valorizaccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo ao puacuteblico Eacute neste quadro que tecircm tido lugar os trabalhos de escavaccedilatildeo na anta da Lapa da Meruje localizada neste municiacutepio (Fig 1) os quais se iniciaram logo no primeiro ano de funcionamento do projeto A seleccedilatildeo deste siacutetio como exemplo dos vaacuterios monumentos megaliacuteticos ex-istentes no municiacutepio natildeo foi casual Com efeito a sua localizaccedilatildeo a 925 m de altitude no ambiente paisagiacutestico beliacutessimo proporcionado por uma depressatildeo situada na vertente noroeste da Serra do Caramulo adjacente a uma lagoa artificial onde se dispotildee jaacute de diversas infraestruturas de apoio construiacutedas pela autarquia na deacutecada de 1990 (acessos para automoacuteveis aacuterea de estacionamento delimitaccedilatildeo fiacutesica do siacutetio e um passadiccedilo de ma-deira em torno da mamoa) foram criteacuterios que pesaram bastante nessa es-colha (Fig 2A) Para aleacutem disso e num criteacuterio mais estritamente cientiacutefico o bom estado de conservaccedilatildeo da arquitetura do monumento fazia tambeacutem antever um potencial arqueoloacutegico significativo por forma a providenciar natildeo soacute conteuacutedos concretos para a sua integraccedilatildeo num roteiro patrimonial megaliacutetico concelhio (com data de inauguraccedilatildeo prevista para 2018) como tambeacutem contribuir para uma recuperaccedilatildeo do megalitismo lafonense e sua integraccedilatildeo no contexto regional mais alargado da Beira Alta (Carvalho e Car-valho 2018)O objetivo do presente texto eacute assim a apresentaccedilatildeo sumaacuteria dos objeti-vos que presidiram agraves campanhas de escavaccedilatildeo de 2016-2018 na Lapa da Meruje e dos principais resultados que se obtiveram O ano de 2019 reserva-se para a completaccedilatildeo pontual dos trabalhos de campo (p ex de-calque de gravuras) Os estudos finais compreenderatildeo a interpretaccedilatildeo da sua localizaccedilatildeo geograacutefica e estruturas arquitetoacutenicas das suas diversas componentes artefactuais e elementos paleoambientais e respetiva inte-graccedilatildeo regional Estes toacutepicos de estudo de caraacuteter interdisciplinar encon-tram-se neste momento em curso

2 A ANTA DA LAPA DA MERUJE21 Descoberta e primeiros trabalhosA anta da Lapa da Meruje foi noticiada pela primeira vez nas ldquoAntiguidades preacute-histoacutericas de Lafotildeesrdquo por A de Amorim Giratildeo [1895ndash1960] onde este autor a descreve do seguinte modo ldquoSubindo ao alto da serra em direcccedilatildeo a Vermilhas (Vouzela) encontraremos uma

| 205

| 2018

nova anta no siacutetio denominado Meruje Esta anta vulgarmente conhecida pela de- signaccedilatildeo de Lapa da Meruje eacute um soberbo exemplar sobretudo pelas dimensotildees da tampa que mede 320 m de comprimento por 280 m de largura sendo susten- tada por seis esteios monoliacuteticos de cecircrca de 3 m de altura tendo a mamoa 10 m de raio aproximadamente [] A situaccedilatildeo decircste monumento mesmo no centro duma bacia de fundo pouco deprimido onde a mamoa coberta de mato sobres-sai rodeada por uma grinalda de pequenas elevaccedilotildees em que o granito assume por vezes formas muito caprichosas eacute das mais interessantes que conhecemos A anta encontra-se ainda bem conservada apesar de terem sido desviadas vaacuterias

Figura 2 A - Vista aeacuterea da escavaccedilatildeo a partir de Sul durante a campanha 2016 B - Vista da cacircmara e corredor a partir de Nascente segundo A de Amorim Giratildeo (1921) C - Fo-tografia publicada por C Moreira de Figueiredo (1953)

206 |

pedras da galeria e de apresentar evidentes sinais de violaccedilatildeo no recinto da cacircmara sepulcral Uma ligeira escavaccedilatildeo que fizemos nesta uacuteltima parte do megaacutelito nada produziu digno de menccedilatildeordquo (Giratildeo 1921 p 47)Conquanto natildeo se encontre explicitado deduz-se do proacutelogo daquela obra que os trabalhos de escavaccedilatildeo (ldquouma ligeira pesquisardquo como referido na p VII) teratildeo tido lugar a 29 de marccedilo de 1917 Esta sondagem teraacute sido precedida de uma ldquoexploraccedilatildeordquo que se deduz ter sido apenas de reconhe- cimento em data incerta mas no decorrer do ano de 1916 Amorim Giratildeo refere tambeacutem que o doacutelmen havia sido anteriormente ldquo[] visitado pelo saacutebio botacircnico Sr Dr Juacutelio Henriquesrdquo (p VI) mas natildeo refere no entanto onde ou como obteve esta informaccedilatildeo O facto de nesta obra haver outras referecircncias a este investigador e mesmo fotografias da sua autoria suge-re uma proximidade entre estes professores conimbricenses que explicaraacute algum tipo de colaboraccedilatildeo entre ambos Eacute tambeacutem aqui que se publica a primeira fotografia conhecida desta anta (Fig 2B)A partir deste trabalho pioneiro a Lapa da Meruje constaraacute depois em di-versas outras siacutenteses sobre o megalitismo regional (Moita 1966 Leisner 1998) sobre o patrimoacutenio de Vouzela (Marques 1999 2014) ou mesmo a propoacutesito de outras temaacuteticas Eacute o caso do ensaio de Moreira de Figueiredo (1953) sobre as vias romanas da regiatildeo que a ilustra com a segunda fo-tografia mais antiga que se lhe conhece (Fig 2C) Note-se a este propoacutesito que o inventaacuterio descritivo de ldquoDie megalithgraumlber der Iberischen Halbinselrdquo (Leisner 1998 p 68 e taf 59) refere erradamente esta anta como perten-cente ao concelho de Tondela um lapso que teraacute induzido em erro autores posteriores mdash p ex natildeo figura na siacutentese de Cardoso (1999) sobre o mega- litismo vouzelense mdash mas que se explica pela sua localizaccedilatildeo a menos de um quiloacutemetro das extremas de ambos os municiacutepios o que teraacute propiciado esta confusatildeo22 Os trabalhos de 2016-2018Enquadrados pelos objetivos-base do projeto de investigaccedilatildeo mdash que re-corde-se se constitui como etapa de estudo preacutevia agrave valorizaccedilatildeo e museal-izaccedilatildeo do patrimoacutenio histoacuterico vouzelense mdash os trabalhos mais recentes na Lapa da Meruje obedeceram a uma estrateacutegia de intervenccedilatildeo delibera-damente subordinada a opccedilotildees de preservaccedilatildeo in situ de elementos ar-quitetoacutenicos com potencial de valorizaccedilatildeo no futuro Tratou-se assim de uma intervenccedilatildeo minimalista com objetivos muito especiacuteficos direcionados para os diversos espaccedilos do monumento a saber1 Escavaccedilatildeo da cacircmara do doacutelmen atraveacutes da realizaccedilatildeo de um corte para a relocalizaccedilatildeo da sondagem de 1917 avaliar o impacto de violaccedilotildees que

| 207

| 2018

possam ter ocorrido no passado e identificar a eventual presenccedila de grafis-mos preacute-histoacutericos nos esteios2 Escavaccedilatildeo do corredor conectando-se assim a aacuterea da cacircmara ao ex-terior do monumento de modo a documentar este setor do monumento e permitir depois o acesso dos visitantes agraves proacuteprias aacutereas de circulaccedilatildeo originais (leia-se neoliacuteticas) do mesmo3 Escavaccedilatildeo do aacutetrio tendo em vista a documentaccedilatildeo desta realidade ar-quitetoacutenica (cuja existecircncia se presumia desde o iniacutecio dos trabalhos dada a depressatildeo na topografia da mamoa que se observava neste sector) e a criaccedilatildeo futura de um espaccedilo de acesso ao interior do monumento4 Abertura de uma sanja de orientaccedilatildeo Norte-Sul na metade Sul da ma-moa para registo das respetivas sequecircncias estratigraacuteficas e construtivas e averiguaccedilatildeo da existecircncia de ocupaccedilotildees anteriores agrave sua construccedilatildeo A natildeo intervenccedilatildeo noutros quadrantes da mamoa deveu-se agraves referidas con-tingecircncias autoimpostas para a conservaccedilatildeo de elementos arquitetoacutenicos originais do monumentoApoacutes os trabalhos de escavaccedilatildeo realizados pode-se hoje descrever com maior rigor as caracteriacutesticas arquitetoacutenicas deste monumento A Lapa da Meruje eacute pois um doacutelmen de grandes dimensotildees cuja cacircmara e corredor se distinguem tanto em planta como em alccedilado (Fig 2A) A cacircmara eacute forma-da por sete esteios e mede cerca de 3times3 m de aacuterea enquanto o corredor irregular e ligeiramente desviado para nordeste tem 8-9 m de comprimento Apenas na cacircmara se preserva ainda uma laje de cobertura de contorno trapezoidal com cerca de 6times6 m e uma espessura variando entre 30 e 50 cm Haacute a registar a existecircncia de gravuras nos esteios da cacircmara e corre-dor de tipologia claramente preacute-histoacuterica ou que se encontravam totalmente cobertas por sedimentos ateacute agrave sua escavaccedilatildeo mdash baacuteculo luacutenula covinhas e signos de tendecircncia pectiforme mdash que estatildeo presentemente em curso de le-vantamento e estudo Junto a esta arte megaliacutetica haacute ainda a representaccedilatildeo de uma custoacutedia na cacircmara que de acordo com informaccedilotildees orais teraacute ter sido realizada na segunda metade do seacuteculo XX enquanto que no topo do chapeacuteu se encontra um numeroso conjunto de grafismos de eacutepoca histoacuteri-ca que inclui covinhas cruzes e um tabuleiro de ldquojogo do alquerquerdquo natildeo referenciados ateacute ao momento em qualquer publicaccedilatildeo acerca deste siacutetio 221 CacircmaraAs escavaccedilotildees realizadas em 2016-2017 na cacircmara que atingiram a sua base permitiram identificar uma depressatildeo oval preenchida com sedimen-tos muito finos e pulverulentos soltos com ocasionais blocos de granito e quase sem materiais arqueoloacutegicos que deveraacute corresponder agrave sondagem

208 |

aberta por Amorim Giratildeo em 1917 Abaixo desta unidade desenvolvem-se niacuteveis de remeximentos mais antigos que incorporam diversos fragmentos de ceracircmica medieval (atribuiacutevel ao seacuteculo XII) o que permitiu concluir que a cacircmara teraacute sido esvaziada do seu conteuacutedo preacute-histoacuterico original muito provavelmente durante a Idade Meacutedia Por seu lado a escavaccedilatildeo junto agrave face interna de um dos esteios natildeo revelou quaisquer pinturas Este facto aliado agraves observaccedilotildees anteriores quanto reutilizaccedilatildeo do doacutelmen em eacutepocas poacutes-neoliacuteticas sugere que a terem existido pinturas estas natildeo teratildeo sobre-vivido aos episoacutedios de reutilizaccedilatildeo deste espaccedilo apenas as gravuras se conservaram ateacute hojePara aleacutem da ceracircmica medieval foi possiacutevel recolher tambeacutem geomeacutetricos em siacutelex (trapeacutezios e crescentes sobre lacircmina) nos sedimentos remexidos da cacircmara os quais se constituem como testemunhos da fase de construccedilatildeo e primeira utilizaccedilatildeo do monumento Com a mesma proveniecircncia haacute ainda ceracircmica decorada de cronologia calcoliacutetica (triacircngulos preenchidos a pon-tilhado) e um elemento de xorca de ldquotipo sanguessugardquo em bronze dataacutevel do final da Idade do Bronze Este conjunto de achados mdash a que se devem adicionar as gravuras modernas e as tradiccedilotildees orais que estatildeo associadas agrave anta mdash evidencia o papel que este monumento nunca deixou de desem-penhar na paisagem para as sucessivas comunidades que a percorreram ou exploraramNote-se que por razotildees que se prendem com a estabilidade da cacircmara e a seguranccedila da equipa natildeo foi escavado o depoacutesito sedimentar que se en-contra sob o pesado chapeacuteu que muito singularmente caracteriza a Lapa da Meruje (Fig 2A) mdash e de onde lhe adviraacute certamente o nome A futura esca- vaccedilatildeo deste depoacutesito poderaacute vir a proporcionar observaccedilotildees que consubs- tanciem de forma mais robusta as ideias jaacute adquiridas acerca dos processos de formaccedilatildeo deste sector do monumento222 CorredorO corredor da Lapa da Meruje eacute formado por nove esteios na sua parte norte e dez na sua parte sul perfazendo um comprimento total aproximado de nove metros (Fig 3A) Em planta pode observar-se que os esteios que fazem a ligaccedilatildeo com a cacircmara estatildeo dispostos de modo a conformar um estrangulamento depois afunila ligeiramente na direccedilatildeo da entrada (de 18 m para 12 m) onde os esteios aiacute existentes definem um outro estrangula-mento (de cerca de 08 m de largura ao longo de um troccedilo de 15 m) A escavaccedilatildeo do corredor que teve lugar em 2018 revelou que o seu sector mais proacuteximo da cacircmara se encontrava igualmente violado pela ocupaccedilatildeo medieval do monumento A separaccedilatildeo entre a parte reocupada na Idade

| 209

| 2018

Meacutedia e a parte conservada do corredor estava claramente definida por uma acumulaccedilatildeo caoacutetica de blocos graniacuteticos Na parte conservada o topo do depoacutesito apresentava-se quase esteacuteril em termos arqueoloacutegicos o que ates-ta o estado intocado da sua parte inferior E aqui com efeito encontrou-se um pequeno mas significativo conjunto artefactual formado por ceracircmica (pelo menos um vaso liso quase inteiro) e uma enxoacute em pedra polida ao niacutevel da base Esta uacuteltima peccedila em particular estava colocada num inters- tiacutecio entre dois esteios do lado norte do corredor e junto agrave entrada suger-indo tratar-se de uma deposiccedilatildeo intencional A proximidade espacial entre os diversos fragmentos de ceracircmica alguns dos quais ainda em conexatildeo sugere o mesmo comportamento no que respeita a esta classe artefactualO pequeno nuacutemero de artefactos recuperados no corredor natildeo permite uma atribuiccedilatildeo cronoloacutegico-cultural fina mas a presenccedila de ceracircmica indica que se trataratildeo de deposiccedilotildees posteriores ao momento de construccedilatildeo e primeiro uso do monumento223 AacutetrioA escavaccedilatildeo da aacuterea em frente da entrada do corredor que se desenrolou em 2017-2018 veio comprovar que de facto a depressatildeo que se obser-vava na mamoa correspondia a um sector que estaria originalmente ao ar livre De facto foi possiacutevel documentar aqui a existecircncia de um aacutetrio orig-inalmente lajeado com grandes blocos graniacuteticos que conformaria um es-paccedilo exterior adjacente agrave entrada do monumento A entrada do corredor

Figura 3 A - Vista geral do aacutetrio e corredor apoacutes a sua escavaccedilatildeo em 2018 B - Vista geral do aacutetrio e da entrada onde se pode observar em primeiro plano parte do lajeado original do aacutetrio e do lado esquerdo um esteio que formaria a fachada deste espaccedilo (o esteio do lado oposto teraacute sido arrancado em data indeterminada)

210 |

estaria assim ladeada do seu lado exterior por esteios dispostos de forma perpendicular ao mesmo resultando numa autecircntica fachada que delimita-va o aacutetrio pelo menos na sua parte poente (Fig 3A e B) Poreacutem todo este espaccedilo exterior seria colmatado em data posterior A sua escavaccedilatildeo permitiu verificar que parte do lajeado foi levantada principal-mente na sua periferia e que o aacutetrio foi depois preenchido com uma cama-da de terra e blocos de meacutedias dimensotildees sobre a qual se colocou uma car-apaccedila peacutetrea rematada com um niacutevel de clastos de pequenas dimensotildees bem acamados e imbrincados Trata-se portanto da selagem intencional do monumento ou em suma da construccedilatildeo de uma ldquoestrutura de conde-naccedilatildeordquo equiparaacutevel a outras jaacute identificadas em monumentos megaliacuteticos da Beira Alta Estaacute por esclarecer a cronologia (coevo do lajeado ou da ldquoes-trutura de condenaccedilatildeordquo) e funcionalidade de um murete circular que de-limita o aacutetrio pelo exteriorAs componentes artefactuais associadas a esta ldquoestrutura de condenaccedilatildeordquo poreacutem satildeo muito escassas o que limita inferecircncias acerca da cronologia

Figura 4 Vista do corte nascente da sanja nos trabalhos de 2016 Note-se a acumulaccedilatildeo de blocos correspondente ao preenchimento do contraforte delimitado por dois grandes blocos (na parte mais profunda da sanja) e o niacutevel superior de blocos que cobre toda a estrutura e se prolonga ateacute ao limite inferior da mamoa

| 211

| 2018

deste evento de encerramento definitivo do doacutelmen A presenccedila de restos de ceracircmica e de lacircminas robustas de siacutelex sugere que esta colmataccedilatildeo teraacute ocorrido no Neoliacutetico Final ou o mais tardar jaacute em eacutepoca calcoliacutetica224 MamoaNo contacto entre a base da mamoa e o paleossolo foi identificado um delgado (lt10 cm) niacutevel arqueoloacutegico formado por ceracircmica lisa associada a uma induacutestria de lascas (sobretudo em quartzo) de boa fatura A ine- xistecircncia de outros elementos impede a determinaccedilatildeo de uma cronolo-gia fina (que seraacute no entanto neoliacutetica) e a interpretaccedilatildeo das atividades que lhe teratildeo dado origem (contexto habitacional praacuteticas rituais preacutevias agrave construccedilatildeo do monumento) A identificaccedilatildeo de troccedilos muito bem con-servados da couraccedila peacutetrea em quadrados adjacentes agrave sanja inicial (ver abaixo) impediu por razotildees de conservaccedilatildeo a sua escavaccedilatildeo ateacute agrave base e deste modo a documentaccedilatildeo de uma aacuterea maior deste niacutevel preacute-megaliacuteti-co O interior do setor escavado da mamoa por seu lado revelou duas importantes componentes da arquitetura da mamoasect Um contraforte com uma largura de cerca de 65 m composto por uma densa acumulaccedilatildeo de blocos de dimensotildees meacutedias (40-50 cm) em-balados em sedimentos arenoargilosos de coloraccedilotildees negras (Fig 4) e contidos no seu limite externo pela colocaccedilatildeo de grandes blocos (gt1 m) de formato lajiforme que formam um anel liacutetico de contenccedilatildeo do contraforte (Figs 4 e 5) sect Uma couraccedila peacutetrea com 30-40 cm de espessura mas que se vai adelgaccedilando agrave medida que se aproxima do exterior da mamoa (Figs 4 e 5) Tratar-se-aacute da base conservada e compactada da couraccedila original uma vez que o topo desta estrutura se encontra hoje pelo menos meio metro abaixo da cota de topo do chapeacuteu da cacircmara Eacute formada por blocos graniacuteti-cos de dimensotildees pequenas a meacutedias (10-50 cm) e sedimentos iguais aos do contraforte Junto ao seu rebordo exterior haacute um alinhamento de lajes colocados na vertical (Fig 5) que a delimitava provavelmente em todo o periacutemetro Uma vez que os objetivos da escavaccedilatildeo estavam determina-dos pela sua valorizaccedilatildeo posterior optou-se por natildeo sacrificar atraveacutes de escavaccedilatildeo este elemento arquitetoacutenico ilustrativo das teacutecnicas e opccedilotildees construtivas do monumento em eacutepoca neoliacutetica A localizaccedilatildeo da sanja para escavaccedilatildeo da mamoa visou averiguar uma de-pressatildeo existente na sua superfiacutecie A escavaccedilatildeo revelou com efeito que a couraccedila se encontrava parcialmente destruiacuteda na sua metade superior pela extraccedilatildeo de pedra em eacutepoca moderna para construccedilatildeo dos muros de divisatildeo de propriedade que se encontram em torno do monumento

212 |

3 CONCLUSOtildeES A LAPA DA MERUJE E O MEGALITISMO DE LAFOtildeESUma das uacuteltimas siacutenteses sobre o megalitismo vouzelense destacava uma tendecircncia de acordo com a qual os doacutelmenes deste municiacutepio se localizaratildeo por norma em plataformas ou rechatildes ldquo[] implantando-se frequentemente em pequenos cocircmoros deles destacados Torna-se deste modo evidente que os monumentos natildeo se distribuem no terreno de forma aleatoacuteria [] Quanto agrave micro-distribuiccedilatildeo dos monumentos eacute frequente observarem-se nuacutecleos de dois ou trecircs monumentos a curta distacircncia entre si sendo mutuamente intervisiacuteveis configurando a situaccedilatildeo de verdadeiras necroacutepoles megaliacuteticas []rdquo (Cardoso 1999 p 192) Nos seus traccedilos essenciais esta observaccedilatildeo foi corroborada pelos resultados das prospeccedilotildees de 2017-2018 (Carvalho e Carvalho 2018) em particular no que respeita agrave dupla circunstacircncia de se acharem doacutelmenes isolados ou agrupados em pequenas necroacutepoles de dois a trecircs tumuli A Lapa da Meruje eacute assim um testemunho da primeira destas realidades e encontra paralelo noutros doacutelmenes vouzelenses tais como Adside (Campia) ou Cabo das Moutas (Alcofra) No estado atual dos estudos megaliacuteticos da regiatildeo de Lafotildees eacute ainda difiacutecil propor cenaacuterios explicativos soacutelidos para a referida dicotomia ou mesmo para os padrotildees gerais de implantaccedilatildeo destes monumentos Tal como se tecircm vindo a reconhecer no caso de Vouzela (Carvalho e Carvalho 2018) estes monumentos localizam-se sempre em ambiente de montanha mdash seja em planaltos rechatildes ou pequenos vales elevados mdash e muitas vezes junto a nascentes ou aacutereas alagadiccedilas Ou seja neste caso a Serra do Caramulo e as terras altas adjacentes reuacutenem a quase totalidade dos doacutelmenes jaacute registados O desconhecimento dos respetivos contextos habitacionais que poderatildeo talvez estar soterrados nos depoacutesitos sedimentares dos fundos dos vales eacute uma limitaccedilatildeo severa no conhecimento dos modelos gerais de ocu-paccedilatildeo do territoacuterio Portanto o papel desempenhado pela Lapa da Meruje nos momentos iniciais da ocupaccedilatildeo megaliacutetica daquela serra mdash isto eacute nos primeiros seacuteculos do IV mileacutenio aC correspondentes ao Neoliacutetico Meacutedio mdash eacute ainda difiacutecil de avaliar Eacute certo que de um modo geral a topografia e as condiccedilotildees edaacuteficas deste maciccedilo natildeo satildeo de molde a favorecer uma pre-senccedila neoliacutetica de caraacuteter permanente nos seus setores mais elevados A informaccedilatildeo disponiacutevel para a Serra da Estrela onde a investigaccedilatildeo tem sido mais sistemaacutetica pode constituir-se como analogia para o caso do Caramulo Ali a compartimentaccedilatildeo altitudinal das culturas tradicionais es-tabelece os 800 m anm como o limite superior do cultivo do trigo (Ribeiro e Santos 1951) e talvez os 1500 m para a cevada (sujeito a confirmaccedilatildeo) Isto significaraacute que em eacutepoca neoliacutetica apenas o pastoreio teria sido viaacutevel

| 213

| 2018

Figura 5 Vista da escavaccedilatildeo da sanja em 2017 No lado esquerdo sobre o substrato graniacuteti-co veem-se os dois blocos que fazem parte do anel liacutetico do contraforte no lado direito vecirc-se a couraccedila peacutetrea conservada na parte inferior da qual existe um alinhamento de lajes originalmente colocadas na vertical (para sustentaccedilatildeo da couraccedila)

214 |

nas aacutereas planaacutelticas superiores Poreacutem foi recentemente avanccedilado um modelo segundo o qual o pastoreio se teria entatildeo confinado agraves terras baixas (lt 600 m) em torno do sopeacute da serra (Carvalho et al 2017) Este pastoreio seria levado a cabo no quadro geral de uma mobilidade humana de tipo residencial associado agrave agricultura nos territoacuterios abaixo dos 600 m pontu-ado por monumentos dolmeacutenicos Portanto ao inveacutes do defendido por ou- tros autores este modelo de pastoriacutecia natildeo defende a existecircncia de praacuteticas transumantesEste sistema de povoamento pode ser provisoriamente extrapolado para a Serra do Caramulo embora este exerciacutecio deva futuramente atender tam-beacutem aos particularismos bioclimaacuteticos deste territoacuterio no Holoceno Meacutedio Deste quadro comparativo parecem poder resultar dois modelos alternati-vos para a ocupaccedilatildeo das suas rechatildes e planaltos da faixa dos 800-1050 m onde se localizam diversas necroacutepoles dolmeacutenicas (a proacutepria Lapa da Meruje estaacute a 925 m de altitude) um em que a atividade econoacutemica as-sentaria em exclusividade no pastoreio outro em que a esta praacutetica se as-sociaria uma agricultura especializada na cevada Claramente a segunda possibilidade parece menos verosiacutemil uma vez que as praacuteticas agriacutecolas jaacute documentadas para o Neoliacutetico Antigo e Meacutedio do atual territoacuterio portu-guecircs parecem assentar numa agricultura mista com trigos e cevadas e uma importante componente de leguminosas (para uma siacutentese atualizada ver Carvalho 2018) Assim a natildeo ser que se equacione a possibilidade alter-nativa de estarmos unicamente perante uma ldquopaisagem ritualrdquo os setores mais elevados do Caramulo seriam natildeo propriamente ocupados mas sim frequentados no quadro de um regime de pastoreio itinerante de pequena ou meacutedia escalaNo sentido desta hipoacutetese de trabalho os diversos doacutelmenes assim como os ldquoafloramentos monumentalizadosrdquo do Vale drsquoAnta e da Malhada do Cam-barinho (Carvalho e Carvalho 2018) poderatildeo estar a marcar simultanea-mente uma apropriaccedilatildeo simboacutelica (funeraacuteria e ritual) deste territoacuterio e os caminhos percorridos pelos pastores neoliacuteticos e seus rebanhos Este papel duplo dos monumentos megaliacuteticos do Caramulo e por extensatildeo tambeacutem de toda a regiatildeo de Lafotildees teraacute de ser avaliado no prosseguimento da in-vestigaccedilatildeo Para jaacute o ambiente natural em que se insere a Lapa da Meru-je junto a um acesso natural aos planaltos mais elevados da serra e as caracteriacutesticas da sua arquitetura designadamente a existecircncia de um aacutetrio exterior consignado a rituais hoje impossiacuteveis de recuperar totalmente satildeo elementos que parecem ilustrar bem aquele duplo caraacuteter de que se teraacute revestido o megalitismo deste antigo territoacuterio

| 215

| 2018

AGRADECIMENTOSA imagem aeacuterea com drone da Figura 2A foi obtida por Juacutelio Rocha e a vis-ta geral do corredor e aacutetrio reproduzida na Figura 3A eacute da autoria de Joatildeo Rocha Agradece-se agrave Cacircmara Municipal de Vouzela a disponibilizaccedilatildeo do apoio logiacutestico necessaacuterio para os trabalhos na Lapa da Meruje e em parti- cular a prestimosa colaboraccedilatildeo de Luiacutes Andreacute Pereira e Daniel Melo Branco

BIBLIOGRAFIACARDOSO JL (1999) - Monumentos megaliacuteticos do concelho de Vouzela Vouzela Estu-dos Histoacutericos Lisboa Academia Portuguesa da Histoacuteria p 169-208CARVALHO AF (2018) - When the Mediterranean met the Atlantic A socio-economic view on Early Neolithic communities in central-southern Portugal Quaternary Interna-tional 470 p 472-484 DOI httpsdoiorg101016jquaint201612045CARVALHO AF PEREIRA V DUARTE C TENTE C (2017) - Neolithic archaeology at the Penedo dos Mouros Rock-shelter (Gouveia Portugal) and the issue of primitive transhu-mance practices in the Estrela mountain range Zephyrus LXXIX p 19-38 DOI httpsdoiorg1014201zephyrus2017791938CARVALHO PS CARVALHO AF (2018) - Para uma recuperaccedilatildeo do megalitismo de Lafotildees (Viseu Portugal) O concelho de Vouzela enquanto case-study In SEN-NA-MARTIacuteNEZ JC DINIZ M CARVALHO AF eds - De Gibraltar aos Pireneacuteus Megal-itismo vida e morte na fachada atlacircntica peninsular Nelas Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo neste volumeFIGUEIREDO CJM (1953) - Subsiacutedios para o estudo da viaccedilatildeo romanas das Beiras Beira Alta 122-3 p 153-208GIRAtildeO AA (1921) - Antiguidades preacute-histoacutericas de Lafotildees Contribuiccedilatildeo para o estudo da arqueologia portuguesa Coimbra Imprensa da UniversidadeLEISNER V (1998) - Die megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Die Westen Berlin Walter de GruyterMARQUES JAM (1999) - Carta Arqueoloacutegica do Concelho de Vouzela Vouzela Cacircmara Municipal de VouzelaMARQUES JAM (2014) - Lafotildees Histoacuteria e Patrimoacutenio Viseu Ediccedilotildees EsgotadasMOITA IN (1966) - Caracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Alta Ethnos V p 189-297REAL ML CARVALHO AF TENTE C (2017) - Projeto de estudo do patrimoacutenio histoacuteri-co-arqueoloacutegico de Vouzela (Viseu) objetivos e primeiros resultados II Congresso da Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses Arqueologia em Portugal 2017 - Estado da questatildeo Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 113-123RIBEIRO O SANTOS MAP (1951) - Montanhas pastoris de Portugal Tentativa de rep-resentaccedilatildeo cartograacutefica Compte Rendu du XVIe Congregraves International de Geacuteographie Travaux de la Section IV vol III Lisboa Union Geacuteographique International p 59-69

216 |

| 217

| 2018

PROVENIEcircNCIAS E UTILIZACcedilAtildeO DO SIacuteLEX NO MEGALITISMO DE LAFOtildeES (VISEU PORTUGAL) PRIMEIRA ABORDAGEM A PARTIR DOS CONJUNTOS DOS DOacuteLMENES DE LAPA DA MERUJE E DE ANTELAS

FLINT PROVENANCE AND USE IN THE LAFOtildeES MEGALITHISM (VISEU PORTUGAL) FIRST APPROACH BASED ON THE ASSEMBLAGES FROM THE DOLMENS OF LAPA DA MERUJE AND ANTELAS

Antoacutenio Faustino Carvalho CEAACP - Centro de Estudos de Arqueologia Artes e Ciecircncias do Patrimoacutenio Universidade do Algarve FCHS Campus de Gambelas 8000-117 Faro Portugalafcarvaualgpt [autor para correspondecircncia]

Telmo Pereira ICArEHB - Interdisciplinary Center for Archaeology and Evolution of Human Behaviour Universidade do Algarve FCHS Campus de Gambelas 8000-117 Faro Portugaltelmojrpereiragmailcom Juan Francisco Gibaja Institucioacuten Milaacute i Fontanals (IMF CSIC) - Grupo de Arqueologiacutea de las Dinaacutemicas Sociales C Egipciacuteaques Barcelona 08001 Espanhajfgibajaimfcsices

RESUMO Os artefactos em siacutelex dos doacutelmenes da Lapa da Meruje (Vouzela) e de Antelas (Oliveira de Frades) cuja construccedilatildeo se atribui aos iniacute- cios do IV mileacutenio aC foram analisados por forma a providenciar uma primeira imagem abrangente das estrateacutegias de exploraccedilatildeo circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do siacutelex no megalitismo da regiatildeo de Lafotildees uma das subaacutereas do importante nuacutecleo megaliacutetico da Beira Alta Os conjun-tos satildeo formados sobretudo por geomeacutetricos trapezoidais surgindo os segmentos em segundo plano A origem do siacutelex pocircde determinar-se para o primeiro caso (aacuterea de Rio Maior) sendo que em Antelas se observaram cinco possiacuteveis aacutereas de aprovisionamento (por identifi-car) A anaacutelise traceoloacutegica revelou que a larga maioria das peccedilas de Antelas natildeo foi utilizada antes da sua deposiccedilatildeo naqueles doacutelmenes inversamente os geomeacutetricos da Lapa da Meruje foram obtidos a partir lacircminas previamente utilizadas e depois efetivamente usados como pon-tas de projeacutetil Nota-se nestes casos que as pontas foram encabadas

218 |

transversalmente uma teacutecnica que jaacute havia sido reconhecida na famosa pintura de arqueiro do doacutelmen de Juncais (Vila Nova de Paiva) No seu conjunto estes primeiros resultados revelam uma elevada complexidade dos circuitos de abastecimento de siacutelex no megalitismo beiratildeo As dife- rentes intensidades observadas no seu uso significaraacute tambeacutem dife- rentes capacidades de aquisiccedilatildeo de mateacuterias-primas exoacutegenas A expli-caccedilatildeo para tais contrastes deveraacute radicar no quadro socioeconoacutemico e na organizaccedilatildeo social destas comunidadesPALAVRAS-CHAVE Megalitismo anaacutelise liacutetica proveniecircncia intercacircmbio traceologia

ABSTRACTThe flint artefacts from the dolmens of Lapa da Meruje (Vouze-la) and Antelas (Oliveira de Frades) which were built at the begin-ning of the fourth millennium BC were analysed in order to provide a first comprehensive portrayal of its exploration circulation and use in the megalithic region of Lafotildees one of the subareas of the impor- tant megalithic clusters of Beira Alta These assemblages are formed main-ly by trapezoidal geometrics followed by segments The origin of the flint could be determined for the first case (Rio Maior area) with five possible supply areas (to be identified) being observed among the Antelas material The analysis showed that the vast majority of the Antelas artefacts were not used before their deposition conversely the geometrics from Lapa of Meruje were obtained from previously used blades and later effectively used as projectile points It should be noted in these latter cases that they were transversely hafted a technique that had already been recognized in the famous painting of an archer at the dolmen of Juncais (Vila Nova de Paiva) Taken together these preliminary results reveal a high complexi-ty of the flint supply circuits in the Beira Alta megalithism The different intensities observed in the use of flint artefacts will also mean different capacities for the acquisition of exogenous raw materials An explanation for such contrasts should lie in the socioeconomic and social organization framework of these communitiesKEY WORDS Megalithism lithic analysis provenance exchange use- -wear

1 INTRODUCcedilAtildeOEacute comumente aceite que na regiatildeo portuguesa da Beira Alta se encontra um dos grupos mais pujantes do megalitismo da Peniacutensula Ibeacuterica Natildeo cabe aqui fazer o historial da investigaccedilatildeo mas deve assinalar-se que os

| 219

| 2018

primeiros trabalhos cientiacuteficos entatildeo sobretudo de inventariaccedilatildeo e cartogra-fia tiveram o seu iniacutecio ainda em meados do seacuteculo XIX O prosseguimento desta investigaccedilatildeo viria a revelar uma realidade muito singular com mon-umentos tumulares de diversas tipologias dispersos por uma vasta aacuterea e ostentando frequentemente manifestaccedilotildees pictoacutericas pintadas e grava-das Nos iniacutecios do seacuteculo seguinte reconhecer-se-ia que estas realidades neoliacuteticas se estendiam igualmente para a regiatildeo histoacuterica de Lafotildees (Giratildeo 1921) A partir do uacuteltimo quartel do seacuteculo XX os estudos megaliacuteticos na Beira Alta superam aquela perspetiva sobretudo descritiva mdash ou quanto muito de raiz histoacuterico-culturalista mdash e direcionam-se para outros toacutepicos de investigaccedilatildeo Entre estes emergem as questotildees relacionadas com a proveniecircncia e cir-culaccedilatildeo de mateacuterias-primas Houve desde cedo a perceccedilatildeo de que os por vezes abundantes conjuntos em siacutelex encontrados no megalitismo beiratildeo teratildeo sido importados a partir da Estremadura Portuguesa regiatildeo onde se localizaratildeo as fontes de aprovisionamento mais proacuteximas e que a sua cir-culaccedilatildeo se faria no acircmbito de diversos circuitos de trocas de escala inter-re-gional Como referido haacute jaacute um quarto de seacuteculo por Senna-Martinez (1994 p 17) ldquo[u]ma origem estremenha para o megalitismo da Beira Alta pode aliaacutes explicar a origem do siacutelex (inexistente na Beira Alta) que [] domina desde o iniacutecio as produccedilotildees artefactuais em pedra talhada do megalitismo regional e como veremos ateacute momentos bem avanccedilados Como contra-par-tida para a lsquoimportaccedilatildeorsquo do siacutelex poderiacuteamos ter as rochas anfiboacutelicas uti-lizadas para a produccedilatildeo de artefactos polidos e inexistentes na Estremad-ura [] O mesmo pode ter sucedido com as lsquovariscitesrsquo e outras lsquorochas verdesrsquo utilizadas para a produccedilatildeo de adornos e potencialmente existentes nos afloramentos siluacutericos da Beira Alta []rdquo Hoje sabe-se que elementos de adorno em variscite de doacutelmenes beirotildees seratildeo importaccedilotildees das minas de Palazuelo de las Cuevas (Zamora) embora a exploraccedilatildeo de pequenas jazidas de minerais verdes locais natildeo possa por enquanto ser totalmente descartada (Carvalho sd) Que estas redes de circulaccedilatildeo poderiam atingir escalas suprarregionais eacute um facto testemunhado pelo achado de um longo machado em xisto no doacutelmen I do Carapito (Aguiar da Beira) uma imitaccedilatildeo local de protoacutetipos fabricados em jade alpino que entatildeo circulariam pela Eu-ropa ocidental (Faacutebregas et al 2012 2018) Esta peccedila particular encontra-va-se associada a um pequeno machado em fibrolite trecircs geomeacutetricos em siacutelex 320 contas discoides em xisto seis em variscite e uma conta esfeacuteri-ca em grauvaque (Leisner e Ribeiro 1968) constituindo-se portanto como uma associaccedilatildeo artefactual mdash datada de c 3650 cal BC (GrN-5110 4850 plusmn

220 |

Figura 1 Localizaccedilatildeo dos doacutelmenes mencionados em texto 1 - Lapa da Meruje (Vouzela) 2 - Antelas (Oliveira de Frades) 3 - Juncais (Vila Nova de Paiva) 4 - Carapito (Aguiar da Beira) A seta indica a proveniecircncia do siacutelex de Rio Maior identificado no primeiro siacutetio

| 221

| 2018

40 BP) a partir de carvotildees da lareira em torno da qual se estruturava mdash que ilustra muito bem a diversidade de proveniecircncias materiais e de influecircncias estiliacutesticas de que se revestiram as fases iniciais do megalitismo beiratildeo isto eacute durante o Neoliacutetico MeacutedioAssim o objetivo do presente trabalho eacute um primeiro estudo integrado dos artefactos em siacutelex provenientes dos doacutelmenes da Lapa da Meruje (Vouzela) e de Antelas (Oliveira de Frades) localizados na regiatildeo de Lafotildees mdash portanto no setor mais ocidental da Beira Alta (Fig 1) mdash por forma a produzir uma pri-meira caracterizaccedilatildeo das origens circulaccedilatildeo e uso desta mateacuteria-prima na regiatildeo em contexto megaliacutetico Este estudo envolve a realizaccedilatildeo de anaacutelis-es geoquiacutemicas para caracterizaccedilatildeo do siacutelex e determinaccedilatildeo das respetivas proveniecircncias anaacutelise de tecnologia e tipologia e microscopia liacutetica para classificaccedilatildeo funcional

2 MATERIAL E MEacuteTODOS21 Os doacutelmenes da Lapa da Meruje e de AntelasA anta da Lapa da Meruje foi primeiramente referenciada por Amorim Giratildeo (1921) pioneiro da arqueologia preacute-histoacuterica da regiatildeo de Lafotildees que a descreve A ldquoligeira escavaccedilatildeordquo que realizou em 1917 na cacircmara natildeo teraacute produzido qualquer resultado ldquodigno de menccedilatildeordquo pelo que muito pouco se conhece destes trabalhos No entanto esta anta entraraacute depois em im-portantes siacutenteses sobre o megalitismo da Beira Alta ateacute agrave retoma do seu estudo em 2016 (Carvalho 2018) Trata-se de um doacutelmen de grandes di-mensotildees que apresenta cacircmara e corredor diferenciaacuteveis em planta e alccedila-do A cacircmara de sete esteios tem 3x3 m e o corredor atinge cerca de 10 m de comprimento A mamoa com um diacircmetro de 32 m e uma altura de 2 m conserva ainda parte substancial da sua carapaccedila peacutetrea O topo do chapeacuteu da cacircmara apresenta gravuras modernas e os esteios tecircm diversas repre-sentaccedilotildees preacute-histoacutericas gravadas para aleacutem da representaccedilatildeo recente de uma custoacutedia junto ao esteio de cabeceira da cacircmara Na linha da escas-sez de espoacutelio que caracteriza o megalitismo lafonense a fase de utilizaccedilatildeo neoliacutetica da anta estaacute representada quase exclusivamente por um pequeno conjunto de geomeacutetricos em siacutelex o que de acordo com o esquema evolu-tivo do megalitismo regional e a cronologia absoluta disponiacutevel (Cruz 2001 Senna-Martinez e Ventura 2008) indica que este monumento dataraacute dos primeiros seacuteculos do IV mileacutenio aCPor seu lado o doacutelmen de Antelas conquanto identificado tambeacutem pelo mesmo investigador (Giratildeo 1921) soacute eacute escavado em 1956-1957 (Castro et al 1957) e depois em 1993 para trabalhos de restauro (Cruz 1995)

222 |

Este monumento eacute formado por uma cacircmara de oito esteios com 25times3 m de aacuterea e um corredor de 35 m de comprimento que tal como no caso da Lapa da Meruje se diferencia em planta e alccedilado A mamoa apresentava 20 m de diacircmetro e 25 m de altura ao momento da escavaccedilatildeo Poreacutem a componente mais notaacutevel de Antelas satildeo as impressionantes pinturas a negro e vermelho que graccedilas agrave sensata opccedilatildeo tomada por Castro et al (1957) de imediato soterramento do doacutelmen apoacutes a escavaccedilatildeo podem ainda hoje ser vistas apesar da raacutepida degradaccedilatildeo que as tem atingido desde os uacuteltimos trabalhos A dataccedilatildeo direta das pinturas atraveacutes de uma amostra de pigmento preto resultou em cerca de 3450 cal BC (OxA-5433 4655 plusmn 60 BP) poreacutem as cinco dataccedilotildees sobre corticcedila carbonizada encontrada sob as lajes do corredor intratumular (Cruz 2001) sugerem que a sua construccedilatildeo remontaraacute provavel-mente a 3900-3700 cal BCNo seu total a amostra analisada no presente estudo eacute composta por 22 peccedilas em siacutelex quatro geomeacutetricos da Lapa da Meruje (Fig 2) e uma lacircmina e 14 geomeacutetricos de Antelas (Fig 3) Para efeitos comparativos utilizam-se

Figura 2 Geomeacutetricos da Lapa da Meruje 1 e 3 - trapeacutezios (N22 e N2321 respetiva-mente) 2 e 4 - segmentos (N2315 e N235 respetivamente) Desenhos por Y Costela

| 223

| 2018

tambeacutem trecircs peccedilas em siacutelex (uma lacircmina uma lasca natildeo cortical e um noacutedulo parcialmente cortical) da Casa dos Mouros do Vale da Redonda uma pequena gruta-abrigo no concelho de Vouzela que teraacute sido um acampamento tem-poraacuterio em fase indeterminada do Neoliacutetico (Tente e Carvalho 2017)22 Anaacutelise de fluorescecircncia de Raios-X com equipamento portaacutetilA anaacutelise geoquiacutemica dos artefactos liacuteticos em siacutelex foi efetuada atraveacutes de Fluorescecircncia de Raios-X com equipamento portaacutetil (doravante FRXp) e recorrendo a um protocolo que permite a deteccedilatildeo de elementos pesados e leves desde o Magneacutesio (12Mg) ateacute ao Uracircnio (92U) A opccedilatildeo pelo equipa-mento portaacutetil deveu-se agrave necessidade de aceder a materiais de museu neste caso a coleccedilatildeo do doacutelmen de Antelas que se encontra depositada no Museu Geoloacutegico (Lisboa) O equipamento utilizado foi um Brukertrade S1 Titanreg equipado com um tubo de raios-X em Roacutedio um detetor FASTreg SDD e um colimador de 5 mm um filtro S1RemoteCtrl e o software S1Syncreg Foi utilizada a configuraccedilatildeo de calibraccedilatildeo de faacutebrica recomendada para ro-chas usando a aplicaccedilatildeo GeoChem e o meacutetodo DualMining A fiabilidade e

Figura 3 Geomeacutetricos e lacircmina de Antelas (segundo Castro et al 1957 fig 2)

224 |

calibraccedilatildeo foi assegurada pelo representante da Bruker em Portugal Dias de Sousa SA As leituras foram feitas em zonas homogeacuteneas dos artefac-tos seguindo o protocolo utilizado em trabalhos anteriores com o mesmo propoacutesito (Pereira et al 2016 Carvalho e Pereira 2017) isto eacute 120 segun-dos para os elementos pesados e 120 segundos para os elementos leves Os resultados obtidos (ver adiante) seratildeo complementados futuramente e descritos atraveacutes dos respetivos valores numeacutericos absolutos apoacutes confron-taccedilatildeo sistemaacutetica com os dados geoquiacutemicos da LusoLit a litoteca da Uni-versidade do Algarve23 Anaacutelise traceoloacutegicaA observaccedilatildeo das peccedilas foi realizada conjugando uma lupa binocular Leica MZ16A que abarca 10-90 aumentos e um microscoacutepio metalograacutefico Olym-pus BH2 cujos aumentos vatildeo desde 50times a 400times aumentos dotado de uma cacircmara fotograacutefica Canon 450D Para aleacutem disto empregou-se um software fotograacutefico (Helicon Focus v462) para obter imagens totalmente focadas Antes do iniacutecio da limpeza e posterior anaacutelise do material foi efetuada uma primeira observaccedilatildeo com lupa binocular com o objetivo de detetar e registar todos os possiacuteveis registos orgacircnicos e inorgacircnicos que pudessem ainda estar aderidos agrave superfiacutecie das peccedilas Posteriormente efetuou-se uma lim-peza com aacutegua e sabatildeo Natildeo foi necessaacuterio utilizar soluccedilotildees aacutecidas para eliminar concreccedilotildees calcaacuterias pois estas natildeo existiam O material dos trecircs siacutetios estava muito alterado tendo-se observado lustres arredondamentos e por vezes alteraccedilotildees teacutermicas Estas afetaccedilotildees limitaram o diagnoacutestico funcional de algumas peccedilas

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeOA induacutestria em siacutelex analisada da anta da Lapa da Meruje reporta-se apenas ao material recolhido nas campanhas de escavaccedilatildeo de 2016 e 2017 estan-do por analisar as peccedilas de 2018 Assim o conjunto eacute formado apenas por dois trapeacutezios e dois segmentos produzidos com recurso a retoque abrupto direto e tratamento teacutermico a partir de suportes com secccedilotildees triangulares e trapezoidais No caso do doacutelmen de Antelas o conjunto eacute formado origi-nalmente por uma uacutenica lacircmina e 15 geomeacutetricos poreacutem destes uacuteltimos apenas 14 estavam disponiacuteveis para estudo no Museu Geoloacutegico Estes satildeo compostos principalmente por trapeacutezios (n=10) estando os segmentos em segundo plano (n=4) configurados por norma atraveacutes de retoque abrupto direto com tratamento teacutermico aplicado a cerca de metade dos efetivos e foram obtidos sobretudo a partir de suportes laminares de secccedilatildeo triangular (9 em 14 exemplares)

| 225

| 2018

As anaacutelises de FRXp dos quatro geomeacutetricos da Lapa da Meruje que rece-beram os nuacutemeros 452 e 551amp552 a 555amp556 correspondem a uma uacuteni-ca leitura (no caso da peccedila 452) ou a duas leituras em aacutereas homogeacuteneas e separadas (nos restantes trecircs casos 551amp552 553amp554 e 555amp556) A sua classificaccedilatildeo litoloacutegica de base macroscoacutepica indicou um siacutelex de gratildeo fino homogeacuteneo de coloraccedilatildeo bege-acinzentada E com efeito as anaacutelises revelaram composiccedilotildees quiacutemicas bastante semelhantes em que como era expectaacutevel o elemento dominante eacute a siacutelica e depois o alumiacutenio seguido do foacutesforo potaacutessio caacutelcio e ferro Ainda assim observa-se alguma variabili-dade geoquiacutemica neste conjunto Tal situaccedilatildeo eacute sobretudo notoacuteria no que diz respeito ao alumiacutenio onde a peccedila 551amp552 apresenta valores significativa-mente baixos (15076 plusmn 01846) ao passo que a peccedila 553amp554 apresen-ta valores mais elevados (44558 plusmn 02253) Tambeacutem em linha com esta observaccedilatildeo estaacute a peccedila 553amp554 que apresenta maiores frequecircncias de foacutesforo (03552 plusmn 002105) e de potaacutessio (01852 plusmn 000625) valores proacutex-imos dos registados na peccedila 555amp556 (foacutesforo = 02533 plusmn 001825 potaacutes-

Figura 4 Anaacutelise de correspondecircncia dos siacutelices do conjunto de Antelas Siacutelex 1 468 Siacutelex 2 459 461 Siacutelex 3 460 463 465 462 Siacutelex 4 466 467 470 471 Siacutelex 5 464 Siacutelex 6 457 Siacutelex 7 458 469

226 |

Figura 5 Anaacutelise funcional 1 e 2 - geomeacutetricos da Lapa da Meruje empregues como pro-jeacuteteis (N22 e N2315 respetivamente) cujos suportes originais foram utilizados para ras-par pele seca (as fotografias macroscoacutepicas mostram as fraturas de impacto resultantes do seu uso como projeacutetil e as microscoacutepicas as modificaccedilotildees no gume como resultado da raspagem de pele seca) 3 - lacircmina da Casa dos Mouros do Vale do Redondo empregue em ambos os gumes no corte de plantas natildeo lenhosas Fotos micro a 100times

| 227

| 2018

sio = 01765 plusmn 00061) No seu conjunto estes resultados indicam que as quatro peccedilas provecircm se natildeo de uma mesma fonte muito provavelmente de uma aacuterea delimitada De acordo com a composiccedilatildeo quiacutemica observada a possiacutevel fonte de aprovisionamento localizar-se-aacute na extremidade sul do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho a Oeste de Vale Comprido (Rio Maior) Esta jazida de siacutelex onde abundam noacutedulos de excelente qualidade agrave superfiacutecie por erosatildeo total do afloramento original dista da Lapa da Meruje cerca de 170 km em linha retaOs artefactos de Antelas receberam os nuacutemeros 455 a 471 As anaacutelises 455 e 456 referem-se agrave uacutenica lacircmina existente e as anaacutelises 457 a 471 incidi-ram sobre os geomeacutetricos O siliacutecio regista valores sempre acima dos 95 a uacutenica exceccedilatildeo sendo a leitura 468 onde estes valores satildeo relativamente baixos (895065 plusmn 05190) O conjunto de Antelas pode no entanto ser dividido em dois subgrupos um onde o siacutelex eacute mais puro com o siliacutecio a ron-dar valores na ordem dos 100 (plusmn Ma 77352) e outro onde o siliacutecio ronda os 96-98 A seguir ao siliacutecio os elementos que mais se destacam satildeo o alumiacutenio potaacutessio cloro enxofre caacutelcio titacircnio vanaacutedio cromo magneacutesio e ferro com valores variaacuteveis mas que permitem identificar agrupamentos que sugerem a reduccedilatildeo a sete tipos de siacutelex com caracteriacutesticas distintas (Fig 4) Siacutelex 1 468 Siacutelex 2 459 461 Siacutelex 3 460 463 465 462 Siacutelex 4 466 467 470 471 Siacutelex 5 464 Siacutelex 6 457 Siacutelex 7 458 469 Dada a proximidade de resultados obtidos para o Siacutelex 2 3 e 4 poderemos es-tar perante a reduccedilatildeo do mesmo bloco em cada um dos casos ao passo que no caso do Siacutelex 7 poderemos estar perante mateacuteria-prima proveniente de uma mesma aacuterea ou fonte Por seu turno os resultados obtidos para o Siacutelex 1 5 e 6 sugerem que se tratam de casos em que a mateacuteria-prima seraacute proveniente de contextos geoloacutegicos eou tafonoacutemicos distintos entre si e dos demais espeacutecimes analisados Natildeo foi possiacutevel ainda atribuir estas peccedilas a jazidas concretas soacute a continuaccedilatildeo dos estudos permitiraacute aferir a semelhanccedila destes siacutelices com amostras geoloacutegicas recolhidas em territoacuterio portuguecircs reunidas na LusoLit a litoteca da Universidade do Algarve a fim de aferir o seu local de proveniecircnciaNo que respeita agrave anaacutelise funcional os quatro geomeacutetricos da Lapa da Meruje revelaram ldquobiografiasrdquo bastante complexas que podem ser descri-tas do seguinte modo

N22 e N2315 mdash Na zona apical do extremo dos gumes destes geomeacutetri-cos identificam-se fraturas aburiladas associada a importantes marcas de uso Estas modificaccedilotildees indicam-nos que estaremos provavelmente perante projeacuteteis empregues como ldquotranchantsrdquo ou seja encabadas

228 |

transversalmente Mas para aleacutem disso o estudo microscoacutepico dos gumes maiores permitiu-nos documentar que antes da sua configu-raccedilatildeo como geomeacutetricos os respetivos suportes laminares tinham sido empregues na raspagem de pele seca (Fig 5 nordm 1 e 2 respetivamente) Este modelo de reutilizaccedilatildeo natildeo eacute habitual noutros contextos neoliacuteti-cos peninsulares designadamente do atual territoacuterio portuguecircs eacute pos-siacutevel que esteja relacionado com um aproveitamento maximizado dos suportes laminaresN235 mdash Num dos extremos deste segmento observa-se uma fratura de tipo ldquohingerdquo Eacute difiacutecil fazer um diagnoacutestico a partir desta fratura mas eacute possiacutevel conceber que a peccedila tivesse sido utilizada como ponta de pro-jeacutetilN2321 mdash Este trapeacutezio apresenta pequenas fraturas em ambos os ex-tremos de morfologia de tipo ldquosnaprdquo e ldquofeatherrdquo No entanto as suas caracteriacutesticas formais e tamanho natildeo permitem determinar se a peccedila foi ou natildeo usada Estas fraturas podem ter sido produzidas devido ao seu uso como projeacuteteis ou como resultado de alguma alteraccedilatildeo mecacircnica

De Antelas analisaram-se 14 geomeacutetricos e uma lacircmina Em relaccedilatildeo aos primeiros 12 deles natildeo apresentam quaisquer fraturas de impacto A maior parte estaacute intacta ou mostra algumas pequenas marcas de uso ou roturas natildeo diagnosticaacuteveis de tipo ldquosnaprdquo Somente em dois casos se observam possiacuteveis fraturas aburiladas que talvez natildeo tenham origem funcional mas sim em alteraccedilotildees mecacircnicas inclusivamente modernas Em suma podem-os afirmar que 12 geomeacutetricos de Antelas natildeo se apresentam usados e que em dois casos natildeo foi possiacutevel reunir criteacuterios suficientes para afirmar ou negar a sua utilizaccedilatildeo Quanto agrave lacircmina a superfiacutecie estava muito alterada apresentava um lustre de solo consideraacutevel e diversas estrias em direccedilotildees aleatoacuterias pelo que se considera esta peccedila natildeo analisaacutevel A escassez de traccedilos de uso convida-nos a pensar que teraacute sido depositada sem qualquer utilizaccedilatildeo preacutevia poreacutem tratar-se-ia de uma proposta arriscada uma vez que esses sinais de uso poderatildeo ter sido produzidos por alteraccedilatildeo ou mes-mo por utilizaccedilatildeo sobre mateacuteria branda

4 CONCLUSOtildeESPara complementar as inferecircncias que os doacutelmenes da Lapa da Meruje e de Antelas permitem produzir acerca dos sistemas de circulaccedilatildeo de siacutelex no megalitismo de Lafotildees os respetivos resultados foram comparados com os da gruta-abrigo neoliacutetico da Casa dos Mouros do Vale da Redonda Deste siacutetio foram analisados por FRXp um noacutedulo cortical (445 na zona sem

| 229

| 2018

coacutertex e 446 na zona com coacutertex) uma lasca natildeo cortical (447) e uma lacircmi-na (448) Esta anaacutelise revelou que o noacutedulo eacute substancialmente diferente dos restantes siacutelices talhados por apresentar valores muito baixos de siliacutecio na ordem dos 76 e valores elevados de alumiacutenio (77) e de magneacutesio (13) Estes resultados de certa forma surpreendentes parecem sugerir agrave primeira vista a existecircncia de fontes de obtenccedilatildeo e corredores de transporte distintos para noacutedulos brutos e utensiacutelios finais estivessem estes retocados ou natildeo Os doacutelmenes estudados integrar-se-atildeo na segunda situaccedilatildeo Poreacutem haacute que salientar que estamos a trabalhar com uma amostra bastante reduz-ida e num territoacuterio onde o conhecimento acerca das origens e circulaccedilatildeo desta mateacuteria-prima eacute ainda muito incipiente pelo que uma compreensatildeo mais soacutelida destes comportamentos econoacutemicos soacute seraacute possiacutevel atraveacutes de trabalho detalhado e do avolumar de dados empiacutericos De todo o modo a Lapa da Meruje e Antelas distinguem-se claramente quanto agrave proveniecircncia dos siacutelices talhados Enquanto no primeiro caso se definiu uma uacutenica origem para as quatro peccedilas (na aacuterea de Rio Maior) no segundo foi possiacutevel verifi-car uma multiplicidade de proveniecircncias para as 15 peccedilas estudadas que parece apontar para a exploraccedilatildeo de cinco jazidas de siacutelex diferentes (cuja identificaccedilatildeo estaacute por realizar)Quanto agrave anaacutelise funcional a lacircmina da Cova dos Mouros do Vale da Re-donda eacute uma peccedila fragmentada e com sinais de utilizaccedilatildeo em ambos os gumes onde se observa um polimento muito extenso relacionado com o corte de plantas natildeo lenhosas (Fig 5 nordm 3) As caracteriacutesticas do polimento fazem-nos pensar que se teraacute destinado ao corte de cereais verdes ou de algum tipo de planta silvestre O desenvolvimento diferenciado do polimento demonstra que o lado esquerdo esteve muito mais sujeito a utilizaccedilatildeo que o oposto ou seja que quem a utilizou preferiu mudar de gume quando o primeiro perdeu efetividade ao inveacutes de o reavivar Em todo o caso trata-se de um instrumento que natildeo estaacute esgotado e que poderia ter continuado a ser utilizado Este caraacuteter natildeo exaustivo do uso do siacutelex observado nesta gruta-abrigo integra-se no padratildeo tambeacutem verificado em Antelas onde a larga maioria das peccedilas natildeo teraacute sido utilizada previamente agrave sua incorpo-raccedilatildeo no ambiente funeraacuterio Aqui a norma foi a produccedilatildeo intencional de oferendas natildeo o reaproveitamento de artefactos que estivessem ateacute esse momento em utilizaccedilatildeo O contraste com o conjunto da Lapa da Meruje natildeo podia ser mais niacutetido Os quatro geomeacutetricos haviam sido utilizados e dois deles passaram por uma complexa sequecircncia que implicou o talhe e uso das lacircminas originais a sua segmentaccedilatildeo em pontas de projeacutetil de formas geomeacutetricas as quais foram efetivamente utilizadas enquanto tais antes da

230 |

sua deposiccedilatildeo em contexto funeraacuterioA propoacutesito do modo de encabamento dos geomeacutetricos da Lapa da Meruje em posiccedilatildeo transversal assinale-se que apesar da sua singularidade jaacute se conhecia para a regiatildeo da Beira Alta um elemento que providenciava uma imagem muito clara de uma opccedilatildeo funcional por agora aparentemente confinada a esta regiatildeo (Fig 1) trata-se da famosa pintura de um caccedilador de veados acompanhado dos seus catildees executada num dos esteios do doacutelmen dos Juncais (Vila Nova de Paiva) em cujo arco se pode observar claramente o tipo de encabamento agora identificado pela traceologia nos geomeacutetricos da Lapa da Meruje (Leisner 1934 taf 13)Em conclusatildeo os dados obtidos neste estudo mostram uma realidade mais complexa do que inicialmente suposto no que diz respeito agrave circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do siacutelex em ambiente megaliacutetico Embora haja necessidade de aumentar as amostras analisadas na Lapa da Meruje a sua comparaccedilatildeo com Antelas revelou natildeo soacute diferentes estrateacutegias de abastecimento ao niacutevel da proveniecircncia e rotas de circulaccedilatildeo do siacutelex (cujos reais contornos soacute se poderatildeo definir apoacutes a determinaccedilatildeo das jazidas de origem do siacutelex do segundo siacutetio exerciacutecio atualmente em curso) como sobretudo permitiu observar estrateacutegias tecnoeconoacutemicas muito contrastantes com conjun-tos fabricados exclusivamente para incorporaccedilatildeo em contexto funeraacuterio e outros previamente utilizados de forma intensiva Este duplo padratildeo parece revelar a existecircncia de grupos humanos com diferentes graus de acesso a mateacuterias-primas exoacutegenas o que abre todo um novo campo de investigaccedilatildeo acerca das condiccedilotildees socioeconoacutemicas e modelos de organizaccedilatildeo social das comunidades do Neoliacutetico Meacutedio da Beira Alta insuspeitos ateacute ao mo-mento e que urge aprofundar mas que talvez estejam na base dos padrotildees de distribuiccedilatildeo desses bens de exceccedilatildeo que agora se comeccedilam a observar

AGRADECIMENTOSAgradecemos ao Museu Geoloacutegico (Laboratoacuterio Nacional de Energia e Geo-logia) a pronta autorizaccedilatildeo e cedecircncia de espaccedilo para a anaacutelise do conjun-to liacutetico do doacutelmen de Antelas e a Yolanda Costela Muntildeoz o desenho das peccedilas em siacutelex da Lapa da Meruje

BIBLIOGRAFIACARVALHO AF (2018) - Anta da Lapa da Meruje (Vouzela Portugal) Resultados prelim-inares dos trabalhos em curso In SENNA-MARTIacuteNEZ JC DINIZ M CARVALHO AF eds - De Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo vida e morte na fachada atlacircntica peninsular Nelas Fundaccedilatildeo Lapa do Lobo neste volumeCARVALHO AF (sd) - Patterns of variscite acquisition and circulation in Neolithic and

| 231

| 2018

Chalcolithic Portugal In QUERREacute G CASSEN S VIGIER E eds - Roches amp Socieacuteteacutes La parure en callaiumls du Neacuteolithique europeacuteen nature exploitation circulation et utilisation Rennes Presses Universitaires de Rennes (Collection Archeacuteologie et Culture) no preloCARVALHO AF PEREIRA T (2017) - Flint variability in a Cardial context A preliminary evaluation by portable X-ray fluorescence of artefacts from Cerradinho do Ginete (Portu-guese Estremadura) In PEREIRA T TERRADAS X BICHO NF eds - The exploitation of raw materials in Prehistory sourcing processing and distribution Cambridge Cambridge Scholars Publishing p 265-283CASTRO LA FERREIRA OV VIANA A (1957) - O doacutelmen pintado de Antelas (Oliveira de Frades) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal XXXVIII II p 325-348CRUZ DJ (1995) - Doacutelmen de Antelas (Pinheiro de Lafotildees Oliveira de Frades Viseu) Um sepulcro-templo do Neoliacutetico Final Estudos Preacute-Histoacutericos 3 p 263-264CRUZ DJ (2001) - O Alto Paiva Megalitismo diversidade tumular e praacuteticas rituais du-rante a Preacute-Histoacuteria recente Coimbra Universidade de Coimbra (Dissertaccedilatildeo de Douto-ramento policopiada)FAacuteBREGAS R LOMBERA A RODRIacuteGUEZ-RELLAacuteN C (2012) - Spain and Portugal long chisels and perforated axes Their context and distribution In PEacuteTREQUIN P CASSEN S ERRERA M KLASSEN L SHERIDAN A eds - Jade Grandes haches alpines du Neacuteolithique europeacuteen Ve et IVe milleacutenaires av J-C vol 2 Besanccedilon Presses Universi-taires de Franche-Comteacute p 1108-1135 FAacuteBREGAS R LOMBERA A RODRIacuteGUEZ-RELLAacuteN C PEacuteTREQUIN P (2018) - Green andor far away the case of the Alpine axes in Iberia In CRUZ AR GIBAJA JF eds - In-terchange in Pre- and Protohistory Case studies in Iberia Romania Turkey and Israel Ox-ford Archaeopress (British Archaeological Reports - International Series 2891) p 61-67GIRAtildeO AA (1921) - Antiguidades preacute-histoacutericas de Lafotildees Contribuiccedilatildeo para o estudo da arqueologia portuguesa Coimbra Imprensa da UniversidadeLEISNER G (1934) - Die malereien des dolmen Pedra Coberta Jahrbuch fuumlr Praumlhis-torische und Ethnographische Kunst 9 p 23-44LEISNER V RIBEIRO L (1968) - Die dolmen von Carapito Madrider Mitteilugen 9 p 11-62 PEREIRA T ANDRADE C COSTA M FARIAS A MIRAtildeO J CARVALHO AF (2016) - Lithic economy and territory of Epipaleolithic hunter-gatherers in the Middle Tagus The case of Pena drsquoAacutegua (Portugal) Quaternary International 412 p 135-144 DOI httpsdoiorg101016jquaint201508081 SENNA-MARTINEZ JC (1994) - Megalitismo habitat e sociedades a bacia do Meacutedio e Alto Mondego no conjunto da Beira Alta (c 5200-3000 BP) Seminaacuterio ldquoO Megalitismo no Centro de Portugalrdquo Viseu Centro de Estudos Preacute-Histoacutericos da Beira Alta (Estudos Preacute-Histoacutericos 2) p 15-30TENTE C CARVALHO AF (2018) - Casa dos Mouros de Vale do Redondo (Vasconha Queiratilde concelho de Vouzela) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo policopiado

232 |

| 233

| 2018

Dawn of the dead funerary behaviour in the Middle Tagus Neolithic

O Amanhecer dos Mortos comportamento funeraacuterio no Neoliacutetico do Meacutedio Tejo

ABSTRACTThe Middle Tagus region in central Portugal is a region with significant geolo- gical and geomorphological variability where the funerary behaviour of the first farming societies relates broadly to the type of substrate the areas of the Limestone Massif have cave burials whe-reas in the Hesperic Massif and Tagus Basin dominated by schist granite and detritic deposits megalithic tombs are abundant There are exceptions to this pattern such as the megalithic complex of Rego da Murta in Alvaiaacutezere within the limestone zone but in gene- ral the distinction between the geological zones holds firmWe present a regional synthesis of evidence for land use material culture and chronology alongside the typology of burials and funerary structures Our aim is to contextualize the megalithic fune-rary phenomena within the regional dynamics of funerary behaviour during the Neolithic especially by comparing megalithic burials with cave burialsThe nature and distribution of the evidence currently available raise a number of questions how do the chronologies and material culture(s) of burial caves and megaliths compare and how are the two related in diachronicsynchro- nic terms did burial in megalithic tombs reflect continuity or discontinuity with previous behaviour were megaliths closely connected with a predom-inantly pastoralist way of life how do funerary sites relate to settlements in the region These questions will be discussed in the context of regional and macro-regional perspectivesKEY WORDS Middle Tagus Neolithic funerary behaviour megalithic tombs burial caves

RESUMOA regiatildeo do Meacutedio Tejo em Portugal Central apresenta uma variabi- lidade geoloacutegica e geomorfoloacutegica significante na qual o comportamento funeraacuterio das primeiras sociedades produtoras se relaciona com o tipo de

Nelson J Almeida12 Luiz Oosterbeek123 Chris Scarre4 Cristiana Ferreira23 Joatildeo Belo5 Luis Costa1

1 Polytechnic Institute of Tomar Portugal 2Geosciences Centre University of Coimbra Portugal 3Earth and Memory Institute Portugal 4Department of Archaeology Durham University England 5FlyGIS ndash UAV Surveys Portugal Instituto Terra e Memoacuteria Largo Infante D Henrique 6120-750 Maccedilatildeo Portugal nelsonjalmeidagmailcom

234 |

substrato as aacutereas do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho apresentam enterramentos em gruta enquanto no Maciccedilo Hespeacuterico e Bacia do Tejo dominados por xis-tos granitos e depoacutesitos detriacuteticos o megalitismo funeraacuterio eacute abundante Exis- tem contudo excepccedilotildees a este padratildeo como o complexo megaliacutetico de Rego da Murta em Alvaiaacutezere na zona calcaacuteria mas grosso modo a distinccedilatildeo entre as zonas geoloacutegicas manteacutem-se Apresentamos uma siacutentese regional de uso do solo cultura material e crono- logia assim como tipologia de enterramentos e estruturas funeraacuterias O intuito eacute o de contextualizar o fenoacutemeno megaliacutetico funeraacuterio nas dinacircmicas regionais de comportamento funeraacuterio durante o Neoliacutetico em especial atraveacutes da compara-ccedilatildeo de contextos megaliacuteticos e em grutaA natureza e distribuiccedilatildeo das evidecircncias levantam vaacuterias questotildees como as cronologias e cultura material dos enterramentos em gruta e megaacutelitos se compara e como ambas se relacionam em termos diacroacutenicossincroacuteni- cos os enterramentos em megaacutelitos funeraacuterios reflectem continuidade ou de-scontinuidade com comportamentos anteriores os megaacutelitos estatildeo conecta- dos com um modo de vida predominantemente pastoril como se rela- cionam os siacutetios funeraacuterios com as ocupaccedilotildees de caraacutecter domeacutesti-co na regiatildeo Estas questotildees seratildeo discutidas no contexto de pers- pectivas regionais e macro-regionaisPALAVRAS-CHAVE Meacutedio Tejo Neoliacutetico comportamento funeraacuterio megalitis- mo funeraacuterio grutas necroacutepole

ldquoLife is and death is not at allrdquoFyodor DostoyevskyDemons

1 INTRODUCTIONThe study of Neolithic funerary behaviour has been a major focus of research on the later prehistory of Western Iberia Several of the earliest sites associated with food-producing economies in Central Portugal are funerary contexts a pattern that persists until the late Neolithic since even with the growing number of do-mestic occupations (eg Neves 2018) cave-necropolises and megalithic tombs are still far greater in number (Leisner amp Leisner 1959 Leisner 1967 1998 Kalb 1987 Cruz 1997 Oosterbeek 1997 Zilhatildeo 1992 Boaventura 2009)A relationship may be established between funerary practices and their evolu-tion during the Neolithic period the earlier stages identified in the limestone areas have individualized funerary contexts including on occasions a se-quence of individual burials in spaces that were regularly re-used accompa-

| 235

| 2018

nied essentially by Early Neolithic material culture whereas the collectivization of death seems to start during the Middle Neolithic and become dominant from the mid 4th millennium cal BCEIn this paper we seek to determine how megalithic tombs relate to cave burials in the Portuguese Middle Tagus and discuss the regional dynamics by compar-ing this information with other contexts in the Lower Tagus Basin

2 THE STARTING POINT BURYING AND DWELLINGThe Middle Tagus is a region where three major geomorphological units con-verge the Estremadura Limestone Massif with an abundance of Neolithic cave-necropolises some ephemeral rock-shelter and open-air occupations of a domestic character and more rarely megalithic tombs the Tagus detritic Basin where both open-air occupations and funerary contexts are known and the Hesperic Massif dominated by schist granite and gneiss where a number of megalithic tombs punctuate the landscape The hydrography of this region is dominated by the Tagus River and its main tributaries (Almonda Alviela Nabatildeo and Zecirczere)It is a region with a significant amount of research on the Neolithic transition process and several models have been proposed in the past (eg Zilhatildeo 1992 Cruz 1997 2011 Oosterbeek 1997 Carvalho 2008) Funerary be-haviour assumes an important role in this perspective not only because it is one of the better-known domains of activity of the first food-producing eco- nomies especially in comparison to domestic contexts but also because the organic preservation in some of these deposits allows the acquisition of fine-grained absolute dates and also more recently palaeodietary palaeomobility and palaeogenetic analysesBy contrast funerary megaliths present problems of organic preservation as well as the lack of absolute chronologies (but see Burbidge amp alii 2014) and the re-use and modification of contexts and structures Several authors have discussed how megalithic tombs fit into Neolithic population dynamics (eg Oosterbeek 2003 Boaventura 2009 2011 Boaventura amp Mataloto 2013 Mataloto amp Boaventura 2009)One objective of a current FCT funded project (MTAS ndash PTDCEPH-HIS43562014) comprising field surveys excavations and laboratory ana- lyses is the excavation of relevant funerary contexts both in cave (Gruta do Cadaval Tomar) and megalithic tombs (Anta 1 de Vale da Laje Tomar) along with related settlement contexts (Salvador Abrantes) The main focus is to un-derstand the evolution of settlement patterns and their relationship to the dis-tribution of funerary contexts

236 |

For this paper a number of sites located in the Middle Tagus and beyond have been selected due to the kinds of evidence they offer for discussion of the abovementioned aspects (eg absolute chronologies material culture and other published data) (Figure 1)

3 A BRIEF REGIONAL SYNTHESISThe Neolithic of the region has evidence for two successive funerary cycles The first of these is dated to around 5500 ndash 3800 cal BCE comprising what is traditionally referred as Early Cardial Early Evolved and Initial Middle Neolithic In the Estremadura Limestone Massif this first cycle is represented by sites such as Galeria da Cisterna (Almonda karstic system Torres Novas ndash Zilhatildeo 2001 2008 Zilhatildeo amp Carvalho 2011) Gruta do Caldeiratildeo (Tomar ndash Zilhatildeo 1992) and Gruta de Nossa Senhora das Lapas (Tomar ndash Oosterbeek 1993a)

Figure 1 Digital Terrain Model (DTM) with indication of the limits of the Middle Tagus region and location of selected archaeological sites 1 Algar do Bom Santo 2 Lugar do Canto 3 Carrascos 4 Algar do Barratildeo 5 Galinha 6 Galeria da Cisterna (Almonda) 7 Anta 1 de Vale da Laje 8 Pedra da Encavalada 9 Anta da Foz do Rio Frio 10 Gruta do Caldeiratildeo 11 Gruta do Morgado superior 12 Gruta dos Ossos 13 Nossa Senhora das Lapas 14 Gruta do Cadaval 15 Megalithic Complex of Rego da Murta 16 Cabeccedilo dos Pendentes 17 Anta da Lajinha

| 237

| 2018

These earlier funerary contexts with individualized interments span all of the Early Neolithic and may continue even into the Initial Middle Neolithic as sug-gested by Carvalho amp Cardoso with reference to the layer D of Gruta do Cadaval (Tomar ndash Oosterbeek 1997) and the ldquofounderrdquo phase of Lugar do Canto (Al-canede ndash Carvalho amp Cardoso 2015)In these earlier contexts human remains were normally not found in anatom-ical connection but scattered throughout the stratigraphy due to post-depo-sitional processes (eg Tomeacute amp alii 2017) The re-use of burial spaces is a particular problem and palimpsests are the norm rather than the exception hindering the understanding of the funerary behaviour(s) involved as well as challenging the undisputed relationship between absolute dates and artefacts (Oosterbeek 2000) These factors have occasionally led to the interpretation of some of these contexts as collective burials or even as ossuaries Yet where it is possible to ascertain these earlier contexts correspond to individual inhu-mations mainly of a primary character accompanied by decorated ceramics personal ornaments (beads and pendants of shell animal teeth and bones) blades and bladelets and some polished stone elements The later part of this first cycle overlaps with the earliest megalithic burials whereas its earlier part may be contemporary with the dawn of megaliths represented by the earliest menhirs (eg Vilarinha 3 in southern Portugal ndash Gomes 2008 pp 63-64) Later around 3800 cal BCE (Figure 2) the dynamics of funerary behaviour shift towards collective burials These constitute the second cycle and collec-tive burials predominate up to the Final Neolithic and beyond (eg Tomeacute 2011 Carvalho amp Cardoso 2015 Carvalho 2014a) Among the first collectivized buri-als are those from Lugar do Canto (Alcanede ndash Leitatildeo amp alii 1997 Cardoso amp Carvalho 2008) Algar do Bom Santo (Carvalho 2014a) layer C at the Gruta do Cadaval (Oosterbeek 1997 Cruz 1997) and later Gruta dos Ossos (Tomar) (Oosterbeek 1993b 1997 Cruz 1997)The almost complete lack of absolute dates for funerary megaliths in the region is still a problem and the possible existence of a proto-megalithic phase (Silva amp Soares 2000) comprising simple burials accompanied by a limited number of artefacts should be considered Here the site of Jogada 5 Pedra da Enca- valada (Abrantes ndash Cruz 2011) should be mentioned because it consists of an atypical megalithic monument which incorporates a gneiss bedrock outcrop in a mid-slope position associated with nine deposits in pits that seem to correspond to individual burials (Cruz 2011) TL dates on ceramics gave results that place these contexts at the end of the 5th and beginning of the 4th millennium BCENormally found in clusters of monuments Middle Tagus funerary megaliths are not considered as impressive as that of other regions of Iberia but still

238 |

Figure 2 Absolute dates for collective funerary contexts in the Estremadura region (after Carvalho amp alii 2003 Carvalho and Cardoso 20102011 2015 Carvalho and Petchey 2013 Cruz 1997 Gonccedilalves 2008 Lubell amp alli 1994 Oosterbeek 1997 Tomeacute 2006) Dates calibrated using OxCal 424 (Bronk Ramsey 2009 Bronk Ramsey and Lee 2013) with atmospheric curve IntCal13 (Reimer amp alii 2013)

| 239

| 2018

falls part of that wider phenomenon (eg Bueno Ramirez amp alii 2006 Santos 2000 Oliveira 2000 Cardoso 2008) Scarre amp Oosterbeek (2010) referring specifically to the megalithic tombs of the Northern Maccedilatildeo area suggested that they could be a part of the Proenccedila-a-Nova megalithic cluster representing an inland phenomenon without immediate links to the Tagus valley Nonethe-less the Proenccedila-a-Nova megalithic tombs are part of the larger cluster that includes sites in Vila Velha de Roacutedatildeo which are close to the Tagus Among the main megalithic tombs in the region are Anta 1 de Vale da Laje (Tomar ndash Drewett amp alii 1992 Oosterbeek amp alii 1992) Anta da Lajinha Anta do Pereiro (Maccedilatildeo ndash Silva Louro 1939 Horta Pereira 1970 Scarre amp Ooster-beek 2010) and the megalithic complex of Rego da Murta (Alvaiaacutezere ndash Figuei- redo 2006 2010)

4 THE DEAD AND THE LIVINGAs already observed absolute chronologies are an issue in understanding Neolithic funerary dynamics The individual burials at Pedra da Encavalada (Abrantes ndash Cruz 2011) would fit well within the first cycle of funerary be-haviour ie Early and Initial Middle Neolithic if we accept 3800 cal BCE as marking the beginning of the collectivization of death The absolute dates for collective cave-necropolises in the limestone areas would ideally be compared with similar information from megalithic tombs but the latter is lacking Excep-tions could be Anta da Lajinha (Maccedilatildeo) that has several TL results indicating a chronology of between 4300 and 3800 BCE with tumulus construction pro- bably around 3800 BCE (Burbidge amp alii 2014) and the chronologically more recent contexts of Rego da Murta in the limestone areas of Alvaiaacutezere (Figuei- redo 2006 2010)Available data for Early and Middle Neolithic settlement sites is scarce espe-cially in the inner Tagus regions (Oosterbeek 1994 Cruz 1997 2011 Carva- lho 2008 Neves 2018) Several factors might be hindering the identification of these types of contexts but the use of cave-necropolises for non-funerary activities has already been suggested for the Early Neolithic of Gruta do Cal-deiratildeo (Rowley-Conwy 1992) and the Middle Neolithic of Gruta do Cadaval (Almeida 2017) both in the Nabatildeo area north of Tomar With the exception of a few domestic sites that have evidence of a more per-manent occupation in inland Tagus (Cruz 1997 2011 Oosterbeek 1997) current interpretations indicate the importance of sporadically used sites of a more ephemeral or specialized nature (eg Rowley-Conwy 1992 Carvalho 2008 Correia amp alii 2015) This is not only inferred from the type of occupa-tions and settlement patterns but also from the material culture the lack of

240 |

large pottery vessels being an example These types of contexts are also diffi-cult to identify and easily destroyed or disturbed by agricultural activities (see Carvalho et al 2013)Evidence of material culture and its dispersion along with the direct skeletal analysis of the human groups involved in the earlier development of food-producing economies suggest the very diversified nature of the process itself Looking specifically at data for the Middle (and Final) Neo-lithic published information (Fernaacutendez Domiacutenguez amp Arroyo-Pardo 2014) suggests an interesting scenario of groups composed of individuals from diffe- rent regions with a diversified pattern of provenance and mobility (Price 2014 Waterman amp alii 2013) or palaeodiet (Carvalho 2013 Carvalho amp Petchey 2013 Carvalho amp Rocha 2016 Guiry amp alii 2016)Palaeobotanical studies conducted in the Middle Tagus (synthesis in Ferreira 2017) show that pastoral and agricultural practices co-existed from the appea- ran-ce of the first food-producing economies even if oscillations in their respec-tive importance might have occurred throughout these initial phases In fact di-rect indicators of plant cultivation are generally lacking (but see Carvalho amp alii 2013 Loacutepez-Doacuteriga amp Simotildees 2015) while animal domesticates exist but their relative importance is still far from understood (synthesis in Valente amp Carval-ho 2014 Almeida 2017) and the impact of these activities on the landscape seems to have been negligible until the Final Neolithic Chalcolithic (Almeida amp alii 2014 Ferreira 2017) Besides that the mountainous hinterland areas such as the northern part of Maccedilatildeo region are not easily associated with cereal agriculture due to poor soils and rugged terrain being more suitable for a mobile economy based on pasto-ralism than settled arable farming (Scarre amp Oosterbeek 2010 Scarre amp alii 2011) The only relevant evidence comes from the Middle Neolithic faunal data but it is relatively scarce throughout all of the Lower Tagus basin and limited to sites located at higher altitudes Gruta do Cadaval (Almeida 2017) Costa do Pereiro (Carvalho 2008) and Abrigo da Pena drsquoAacutegua (Valente 1998 Correia amp alii 2015) all in the Limestone Massif It is interesting to note the predominance of Cervus elaphus or OvisCapra at these sites a faunal profile that matches the dominant zoomorphic representations in Tagus basin rock artUnfortunately the chronological geographical or even cultural applicability of this information to the inner areas where funerary megaliths punctuate the landscape is problematic at least and there are no preserved boneshellip

ACKNOWLEDGEMENTSThis research was undertaken in the context of the strategic project UID

| 241

| 2018

Multi000732013 of the Polytechnic Institute of Tomar Instituto Terra e Memoacuteria Geosciences Centre of the University of Coimbra funded by the Por-tuguese Foundation for Science and Technology (FCT) in Portugal under which Luiacutes Costa has a research scholarship It also benefitted from the relevant per-mits of the Portuguese Ministry of Culture for heritage implications Nelson J Almeida is a Postdoctoral research fellow of the Polytechnic Institute of Tomar within the Geosciences Centre of the University of Coimbra in the scope of the MTAS project (PTDCEPH-ARQ43562014) funded by FCT Portugal

BIBLIOGRAPHYALMEIDA NJ (2017) ndash Zooarqueologia e Tafonomia da Transiccedilatildeo para a Agro-Pastoriacutecia no Baixo e Meacutedio Vale do Tejo PhD Thesis Vila Real UTADALMEIDA NJ FERREIRA C ALLUEacute E BURJACHS F CRUZ AR OOSTERBEEK L ROSI-NA P SALADIEacute P (2014) ndash Acerca do impacte climaacutetico e antropozoogeacutenico nos iniacutecios da economia produtora o registo do Alto Ribatejo (Portugal Central Oeste Ibeacuterico) In ZOCCHE J CAMPOS JB ALMEIDA NJ RICKEN C orgs ndash Arqueofauna e Paisagem Erixim Ha-bilis Editora pp 63ndash86BOAVENTURA R (2009) ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa PhD thesis Lis-bon ULBOAVENTURA R (2011) ndash Chronology of megalithism in south-central Portugal In WHEAT-LEY DW SCARRE C GARCIacuteA SANJUAacuteN L eds - Exploring Time and Matter in Prehistoric Monuments Absolute Chronology and Rare Rocks in European Megaliths Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 1 pp159-190BOAVENTURA R MATALOTO R (2013) ndash Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da crono-logia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 16 pp 81-101BRONK RAMSEY C (2009) ndashBayesian analysis of radiocarbon dates Radiocarbon 51 1 pp 337-360BRONK RAMSEY C LEE S (2013) ndash Recent and planned developments of the program OxCal Radiocarbon 55 2-3 pp 720-730BUENO-RAMIacuteREZ P BARROSO BERMEJO R DE BALBIacuteN BEHRMANN R CARRERA RAMIacuteREZ F (2006) ndash Megalitos y Marcadores graacuteficos en el Tajo Internacional Santiago de Alcaacutentara (Caacuteceres) Santiago de Alcaacutentara Ayuntiamento Santiago de AlcaacutentaraBURBIDGE CI TRINDADE MJ CARDOSO GJO DIAS MI OOSTERBEEK L SCARRE C ROSINA P CRUZ A CURA S CURA P CARON L PRUDEcircNCIO MI GOUVEIA A FRANCO D MARQUES R GOMES H (2014) ndash Luminescence dating and associated analyses in transition landscapes of the Alto Ribatejo Central Portugal Quaternary Geo-chronology 20 pp 65-77 CARDOSO JL (2008) ndash The megalithic tombs of southern Beira interior Portugal recent contributions In BUENO RAMIacuteREZ P BARROSO BERMEJO R DE BALBIacuteN BEHRMANN R eds - Graphical Markers and Megalith Builders in the International Tagus Iberian Penin-sula Oxford Archaeopress pp 103-15CARDOSO JL CARVALHO AF (2008) ndash A Gruta do Lugar do Canto (Alcanede) e sua importacircncia no faseamento do Neoliacutetico no territoacuterio portuguecircs In CARDOSO JL ed ndash

242 |

Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao Homem ao Arqueoacutelogo e ao Professor Oeiras Cacircmara Municipal de Oeiras pp 269-300CARVALHO AF (2018) ndash A Neolitizaccedilatildeo do Portugal Meridional Os exemplos do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho e do Algarve occidental Promontoria Monograacutefica 12 Faro Univer-sidade do AlgarveCARVALHO AF (2013) ndash Anaacutelise de isoacutetopos estaacuteveis de quatro indiviacuteduos do Sepulcro 1 da necroacutepole de hipogeus da Sobreira de Cima (Vidigueira Beja) primeiros resultados pal-eodieteacuteticos para o Neoliacutetico do interior alentejano In VALERA AC ed ndash Sobreira de Cima Necroacutepole de hipogeus do Neoliacutetico (Vidigueira Beja) Era Monograacutefic 1 Lisboa Era-Arque-ologia SA pp 109-112CARVALHO AF (2014) ndash Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Promontoria Monograacutefica 17 Faro Universidade do AlgarveCARVALHO AF ANTUNES-FERREIRA N VALENTE M J (2003) ndashA gruta-necroacutepole neoliacuteti-ca do Algar do Barratildeo (Monsanto Alcanena) Revista Portuguesa de Arqueologia 6 1 pp 101ndash119CARVALHO AF GIBAJA JF CARDOSO JL (2013) ndash Insights into the earliest agriculture of Central Portugal sickle implements from the Early Neolithic site of Corticcediloacuteis (Santareacutem) Comptes Rendus Palevol 12 pp 31-43CARVALHO AF PETCHEY F (2013) ndashStable Isotope Evidence of Neolithic Palaeodiets in the Coastal Regions of Southern Portugal The Journal of Island and Coastal Archaeology 8 3 pp 361-383CARVALHO AF CARDOSO JL (201011) ndashA cronologia absoluta das ocupaccedilotildees fu-neraacuterias da gruta da Casa da Moura (Oacutebidos) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras 18 pp 393ndash405CARVALHO AF CARDOSO JL (2015) ndash Insights of the changing dynamics of cemetery use in the Neolithic and Chalcolithic of Southern Portugal Radiocarbon dating of Lugar do Canto Cave (Santareacutem) Spal 24 pp 35-53CARVALHO AF ROCHA L (2016) ndash Dataccedilatildeo directa e anaacutelise de paleodietas dos indiviacutedu-os da Anta de Cabeceira 3ordf (Mora Eacutevora) digitAR Revista Digital de Arqueologia Arquitec-tura e Artes 3CORREIA FR LUIacuteS S FERNANDES PV VALENTE MJ CARVALHO AF (2015) ndash Hunt-er-herders in the limestone massif of Estremadura Middle Neolithic fauna from Pena drsquoAacutegua rock-shelter (Torres Novas Portugal) Estudos do Quaternaacuterio 13 pp 23-31CRUZ AR (1997) ndash Vale do Nabatildeo do Neoliacutetico agrave Idade do Bronze Arkeos 3 Tomar CEI-PHARCRUZ AR (2011) ndash A Preacute-Histoacuteria Recente do Vale do Baixo Zecirczere Arkeos 30 Tomar CEIPHARDREWETT P OOSTERBEEK L CRUZ AR FELIX P (1992) ndash The excavation of a passage grave at Tomar Portugal Bulletin of the Institute of Archaeology 28 pp 133-147FERNAacuteNDEZ E ARROYO-PARDO E (2014) ndash Palaeogenetic study of the human remains in Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal In CAR-VALHO AF ed ndash Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Promontoria Monograacutefica 17 Faro Universidade do Algarve pp 133-142FERREIRA C (2017) ndash Dinacircmicas Ambientais e Humanas durante o Holoceacutenico no Vale do Tejo PhD thesis Vila Real UTADFIGUEIREDO A (2006) ndash Complexo Megaliacutetico de Rego da Murta Preacute-Histoacuteria recente do

| 243

| 2018

Alto Ribatejo (IV-IIordm mileacutenio aC) problemaacuteticas e interrogaccedilotildees PhD thesis Porto UPFIGUEIREDO A (2010) ndash Rituals and death cults in recent prehistory in Central Portugal (Alto Ribatejo) Documenta Praehistorica XXXVII pp 85-94GOMES MV (2008) O alinhamento da Vilarinha (Satildeo Bartolomeu de Messines Silves) Arquitetura e Arte Megaliacutetica Xelb vol 8 pp51-74GONCcedilALVES V S (2008) ndash A utilizaccedilatildeo preacute-histoacuterica da gruta de Porto Covo (Cascais) Tem-pos Antigos 1 Cascais Cacircmara Municipal de CascaisGUIRY E HILLIER M BOAVENTURA R SILVA AM OOSTERBEEK L TOME T VALERA A CARDOSO JL HEPBURN JC RICHARDS MP (2016) ndash The transition to agriculture in south-western Europe new isotopic insights from Portugalrsquos Atlantic coast Antiquity 90 351 pp 604-616HORTA PEREIRA MA (1970) ndash Monumentos Histoacutericos do Concelho de Maccedilatildeo Maccedilatildeo Cacircmara Municipal de MaccedilatildeoKALB P (1987) ndash Monumentos megaliacuteticos entre Tejo e Douro Inn CASTRO GD ed- El megalitismo en la peniacutensula ibeacuterica Madrid Ministerio de Cultura pp 95ndash109LEISNER V (1967) ndash Die verschiedenen phasen des neolithikums in Portugal Palaeohis-toria 12 pp 363-372LEISNER V (1998) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbin- sel Der Westen 4 Lieferung Berlin amp New York Walter de GruyterLEISNER G LEISNER V (1959) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der West-en Berlin Walter de Gruyter amp CoLEITAtildeO M NORTH CT NORTON J FERREIRA OV ZBYSZEWSKI G (1987) ndash A gruta preacute-histoacuterica do Lugar do Canto Valderde (Alcanede) O Arqueoacutelogo Portuguecircs Seacuterie IV 5 pp 37-66LOacutePEZ-DOacuteRIGA I SIMOtildeES T (2015) ndash Los cultivos del Neoliacutetico Antiguo de Sintra Lapiaacutes das Lameiras e Satildeo Pedro de Canaferrim resultados preliminares In GONCcedilALVES VS DINIZ M SOUSA AC eds ndash 5ordm Congresso do Neoliacutetico Peninsular Actas Estudos amp Memoacuterias 8 Lisboa UNIARQ pp 96-105LUBELL D JACKES M SCHWARCZ H KNYF M MEIKLEJOHN C (1994) ndash The Mesolith-ic-Neolithic transition in Portugal isotopic and dental evidence of diet Journal of Archaeo-logical Science 21 pp 201ndash216MATALOTO R BOAVENTURA R (2009) ndash Entre vivos e mortos nos IV e III mileacutenios ane do Sul de Portugal um balanccedilo relativo do povoamento com base em dataccedilotildees pelo radiocar-bono Revista Portuguesa de Arqueologia 12 2 pp 31-77NEVES C (2018) ndash O Neoliacutetico meacutedio no Ocidente Peninsular o siacutetio da Moita do Ourives (Benavente) no quadro do povoamento do 5ordm e 4ordm mileacutenio AC PhD thesis Lisbon ULOLIVEIRA J de (2000) ndash O megalitismo de xisto da Bacia do Sever (Montalvatildeo ndash Cedillo) In GONCcedilALVES V ed ndash Muitas Antas Pouca Gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisbon IPA pp 135-158OOSTERBEEK L (1993a) ndash Nossa Senhora das Lapas ndash excavation of Prehistoric cave burials in Central Portugal Papers of the Institute of Archaeology 4 pp 49-62OOSTERBEEK L (1993b) ndash Gruta dos Ossos ndash Tomar um ossuaacuterio do Neoliacutetico final Bole-tim Cultural 18 pp 10-28OOSTERBEEK L (1997) ndash Echoes from the East late Prehistory of the North Ribatejo Arke-os 2 Tomar CEIPHAROOSTERBEEK L (2000) ndash Continuidade e descontinuidade na preacute-histoacuteria - estatuto epis-

244 |

temoloacutegico da Arqueologia e da Preacute-Histoacuteria Trabalhos de Antropologia e Etnologia 40 pp 51-74OOSTERBEEK L (2003) ndash Megaliths in Portugal the western network revisited In Buren-hult G ed ndash Stones and Bones Formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the Mesolithic-Neolithic interface 6000-3000 BC BAR-International Series 1201 Oxford Archaeopress pp 27-37OOSTERBEEK L CRUZ AR FEacuteLIX P (1992) ndashAnta 1 de Val da Laje notiacutecia de 3 anos de escavaccedilatildeo 1989-91 Boletim Cultural 16 pp 31-49PRICE T D (2014) ndash Isotope proveniencing In CARVALHO AF ed ndashBom Santo Cave (Lis-bon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Promontoria Monograacutefica 17 Faro Universidade do Algarve pp 151-157REIMER PJ BARD R BAYLISS A BECK JW BLACKWELL PG BRONK RAMSEY C GROOTES PM GUILDERSON TP HAFLIDASON H HAJDAS I HATTEacute C HEATON TJ HOFFMANN DL HOGG AG HUGHEN K KAISER KF KROMER B MANNING SW NIU M REIMER RW RICHARDS DA SCOTT EM SOUTHON JR STAFF RA TURNEY CSM VAN DER PLICHT J (2013) ndash InCal13 and Marine 13 Radiocarbon Age Calibration Curves 0-50000 Years cal BP Radiocarbon 55 4 pp 1869-1887ROWLEY-CONWY P (1992) ndash The Early Neolithic bones from Gruta do Caldeiratildeo In ZILHAtildeO J ed- Gruta do Caldeiratildeo O Neoliacutetico antigo Lisboa Instituto Portuguecircs do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico pp 231-257SANTOS TA (2000) ndash O megalitismo da aacuterea da Barragem Marechal Carmona (concelho de Idanha-a-Nova) una anaacutelise especial In OLIVEIRA JORGE V ed ndash Neolitizaccedilatildeo e Megal-itismo da Peniacutensula Ibeacuterica Porto ADECAP pp 413-427SCARRE C OOSTERBEEK L (2010) ndash The megalithic tombs of the middle Tagus basin and agro-pastoral origins in Western Iberia In ARMBRUESTER T HEGEWISCH M ed ndash On Pre- and Earlier History of Iberia and Central Europe Studies in honour of Philine Kalb Studien Zur Archaologie Europas 11 Verlag Bonn pp 97-110SCARRE C OOSTERBEEK L FRENCH C (2011) ndash Tombs Landscapes and Settlement in the Tagus Hill-Country In BUENO RAMIREZ P CERRILLO CUENCA E GONZALEZ CORDE-RO A eds ndash From the Origins the Prehistory of the Inner Tagus Region BAR International Series 2219 Oxford Archaeopress pp 83-91SILVA CT SOARES J (2000) ndash Protomegalitismo no Sul de Portugal inauguraccedilatildeo das paisagens megaliacuteticas In GONCcedilALVES V ed ndash Muitas Antas Pouca Gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Trabalhos de Arqueologia 16 Lisboa IPA pp 117-134SILVA LOURO H de (1939) ndash Monografia de Cardigos Cucujatildeis Escola Tipica das MissotildeesTOMEacute T (2006) ndash Reflexos da Vida na Morte Paleobiologia das populaccedilotildees do Neoliacutetico FinalCalcoliacutetico do Vale do Nabatildeo ndash Gruta dos Ossos MsC thesis Vila Real UTAD TOMEacute T (2011) ndash Ateacute que a morte nos reuacutena transiccedilatildeo para o agro-pastoralismo na Bacia do Tejo e Sudoeste Peninsular PhD thesis Vila Real UTADTOMEacute T CUNHA C SILVA AM OOSTERBEEK L CRUZ A (2017) ndash Assessing spatial dispersion of human remains in collective burials A GIS approach to the burial-caves of the Nabatildeo Valley (North Ribatejo Portugal) In TOMEacute T DIacuteAZ-ZORITA BONILLA M SILVA AM CUNHA C BOAVENTURA R eds ndash Current approaches to collective burials in the Late European Prehistory Oxford Archaeopress pp 119-127VALENTE MJ (1998) ndash Anaacutelise preliminar da fauna mamaloacutegica do Abrigo da Pena drsquoAacutegua

| 245

| 2018

(Torres Novas) Campanhas de 1992-1994 Revista Portuguesa de Arqueologia 1 2 pp 85-96VALENTE MJ CARVALHO AF (2014) ndash Zooarchaeology in the Neolithic and Chalcolithic of Southern Portugal Environmental Archaeology 19 3 pp 226-240WATERMAN AJ FIGUEIREDO A THOMAS JT PEATE DW (2013) ndash Identifying migrants in the Late Neolithic burials of the Antas of Rego da Murta (Alvaiaacutezere Portugal) using Strontium Isotopes Antrope 0 pp 189-196ZILHAtildeO J (1992) Gruta do Caldeiratildeo O Neoliacutetico Antigo Trabalhos de Arqueologia 6 Lis-bon IPPAAZILHAtildeO J (2001) ndash Radiocarbon evidence for maritime pioneer colonization at the origins of farming in west Mediterranean Europe Proceedings of the National Academy of Scienc-es of the USA 98 pp 14180-14185ZILHAtildeO J (2008) ndash The Early Neolithic artifact assemblage from the Galeria da Cisterna (Al-monda karstic system Torres Novas Portugal) In De Meacutediterraneacutee et drsquoailleurs Meacutelanges offerts agrave Jean Guilaine Toulouse Archives drsquoEacutecologie Preacutehistorique pp 821-835ZILHAO J CARVALHO AF (2011) ndash Galeria da Cisterna (Rede Caacuterstica da Nascente do Almonda) In BERNABEU AUBAacuteN J ROJO GUERRA MA BALAGUER LM eds ndashLas Pri-meras Producciones Ceraacutemicas El VI Milenio cal AC en la Peniacutensula Ibeacuterica Sagvntvm Papeles del Laboratorio de Arqueologiacutea de Valencia Extra 12 pp 251-254

246 |

| 247

| 2018

Abrigo da Buraca da Moira contributos para o conhecimento da ocupaccedilatildeo humana do Neoliacutetico finalCalcoliacutetico na regiatildeo de Leiria Portugal

Abrigo da Buraca da Moira contribution for the understanding of the human occupation during the Final NeolithicChalcolithic in Leiria region Portugal

RESUMOA localizaccedilatildeo geograacutefica e o enquadramento ambiental iacutempares da regiatildeo de Leiria teratildeo desde tempos imemoriais contribuiacute-do para a fixaccedilatildeo de grupos humanos De facto vaacuterias satildeo as evi- decircncias arqueoloacutegicas que atestam a presenccedila humana na regiatildeo desde o Paleoliacutetico Inferior Contudo e para o Neoliacutetico Final e Calcoliacutetico poucos

Telmo Pereira ICArHEB - Interdisciplinary Centre for Archaeology and Evolution of Human Behaviour Universidade do Algarve Portugal telmojrpereiragmailcom

Sandra Assis CRIA - Centro em Rede de Investigaccedilatildeo em Antropologia Universidade Nova de Lisboa Portugal CIAS ndash Centro de Investigaccedilatildeo em Antropologia e Sauacutede Universidade de Coimbra Portugal sandraassis78gmailcom

Patriacutecia Monteiro ICArHEB - Interdisciplinary Centre for Archaeology and Evolution of Human Behaviour Universidade do Algarve Portugal patriciaadmonteirogmailcom

Eduardo Paixatildeo TraCEr - Laboratory for Traceology and Controlled Experiments MON-REPOS ndash Archaeological Research Centre and Museum for Human Behavioural Evolution RGZM GERMANY ICArHEB - Interdisciplinary Centre for Archaeology and Evolution of Human Behaviour Universidade do Algarve Portugal paixaorgzmde

Sofia Baacuterbara Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Departamento de Ciecircncias da Vida Universidade de Coimbra Portugal sofiabarbara_95outlookpt

David Nora ICArHEB - Interdisciplinary Centre for Archaeology and Evolution of Human Behaviour Universidade do Algarve Portugal davidacnoragmailcom

Vacircnia Carvalho Museu de Leiria Cacircmara Municipal de Leiria Portugal vcarvalhocm-leiriapt

Trenton Holliday Tulane University New Orleans Estados Unidos da Ameacuterica thollidtulaneedu

248 |

satildeo os dados disponiacuteveis para a bacia hidrograacutefica do Rio Lis A presente comunicaccedilatildeo visa apresentar dados referentes agrave intervenccedilatildeo arqueo- loacutegica realizada entre os anos de 2015 e 2017 no complexo caacutersico do Abrigo da Buraca da Moira localizado no vale dos Murtoacuterios (Boa Vis-ta Leiria) A escavaccedilatildeo arqueoloacutegica decorreu no acircmbito do projeto de investigaccedilatildeo EcoPLis ndash Ocupaccedilatildeo Humana Plistoceacutenica nos Ecoacutetonos do Rio Lis e permitiu identificar numerosos vestiacutegios esqueleacuteticos hu-manos desarticulados designadamente dentes fragmentos de maxila e mandiacutebula e ossos das extremidades (pe falanges) perfazendo ateacute ao momento um total de 990 fragmentos oacutesseos eou peccedilas dentaacuterias pertencentes a cerca de oito indiviacuteduos adultos e natildeo-adultos A recupe- raccedilatildeo de artefactos em quartzo e siacutelex de uma placa de xisto e de adornos em osso e concha associados a estes vestiacutegios esqueleacuteticos humanos sugerem uma ocupaccedilatildeo do Holoceacutenico Meacutedio Pretende-se com esta comunicaccedilatildeo apresentar os dados preliminares referentes ao estudo do espoacutelio osteoloacutegico humano e do acervo material recolhido assim como discutir a funcionalidade e significado da cavidade caacutersica que parece apontar para um espaccedilo funeraacuterio consentacircneo com outros contextos funeraacuterios do NeoliacuteticoCalcoliacutetico da Peniacutensula IbeacutericaPALAVRA-CHAVE Contextos funeraacuterios Grutas Preacute-histoacuteria Recente Leiria Portugal

ABSTRACTThe unique geographic location and environmental setting of the Leiria re-gion have contributed since time immemorial to the establishment of human groups In fact there is a plethora of archaeological evidence that attests to a human presence in the region since the Lower Paleolithic However for the Late Neolithic and Chalcolithic few archaeological data are available for the River Lis basin The current paper presents data concerning the archaeolo- gical excavation carried out between 2015 and 2017 in the Abrigo da Bu-raca da Moira karst complex a cave located in Vale dos Murtoacuterios (Boa Vista Leiria) The archaeological excavation was carried out as part of the research pro-ject called EcoPLis - Pleistocene Human Occupation in the Ecotones of the River Lis and allowed the identification of numerous disjointed skele- tal human remains namely teeth fragments of maxilla and mandible and bones of the extremities (eg phalanges) To date a total of 990 bone frag-ments and or dental pieces belonging to about twelve adult and nona- dult individuals has been recovered The recovery of quartzite quartz and flint artifacts a schist plaque and bone and shell adornments suggests a

| 249

| 2018

Middle Holocene occupation In this communication we present the preliminary data regarding the study of the human osteological spe- cimens and the collected material collection as well as discuss the functionality and meaning of the karst cave which seems to point to a fu-nerary space in line with other funerary contexts of the Neolithic Calco-lithic of the Iberian PeninsulaKEY WORDS Funerary contexts Caves Early Prehistory Leiria Portugal

1 INTRODUCcedilAtildeO11 Localizaccedilatildeo e historialO Abrigo da Buraca da Moira (Leiria) eacute de facto uma gruta localizada a 26 km da atual costa ocidental de Portugal continental na margem esquerda da Ribeira dos Murtoacuterios (Figura 1) uma ribeira que se desenvolve sobre calcaacuterios cretaacuteci-cos do Turoniano formando margens estreitas com paredes rochosas abruptas e um curso bem encaixadoA identificaccedilatildeo do siacutetio tem contornos sinuosos Desde logo e estranhamente natildeo surge referido nem cartografado na Carta Geoloacutegica de Portugal publica-da em 1968 (Teixeira et al 1968) apesar de o ser uma outra gruta esta sem vestiacutegios arqueoloacutegicos localizada a cerca de 200 m Assim a sua primeira referecircncia surge no Plano Nacional de Trabalhos Arqueoloacutegicos (PNTA) A Preacute-histoacuteria do Maciccedilo Calcaacuterio das Serras de Aire e Candeeiros e Bacias de Drena-gem Adjacentes (Cunha-Ribeiro 2003) onde eacute identificado como gruta sem que aiacute se tenham desenvolvido quaisquer trabalhos Mais tarde em 2005 e no acircmbito dos trabalhos de acompanhamento da remodelaccedilatildeo do saneamento in-

Figura 1 Localizaccedilatildeo do Abrigo da Buraca da Moira

250 |

termunicipal o siacutetio foi relocalizado mas referido como abrigo (Carvalho et al 2005 Carvalho amp Pajuelo 2005a Carvalho amp Carvalho 2007 Carvalho 2011) Em ambos os casos natildeo se reportaram vestiacutegios Em 2012 no acircmbito do PNTA FirstHumanEco - Ecodinacircmicas das primeiras ocupaccedilotildees no Oeste Peninsular o local eacute apresentado a Telmo Pereira pela equipa do Gabinete de Arqueologia da Cacircmara Municipal de Leiria a fim de ser reavaliado tendo em vista uma potencial intervenccedilatildeo Esses trabalhos acabam por ocorrer trecircs anos mais tarde jaacute no acircmbito do projeto EcoPLis ndash Ocupaccedilatildeo Humana Plistoceacutenica nos Ecoacutetonos do Rio Lis estando atualmente em plena fase de escavaccedilatildeoEm 2015 o afloramento rochoso onde o siacutetio se localiza encontrava-se de tal forma coberto por silvas que era praticamente impossiacutevel penetrar ou observar a entrada Foi exactamente esse manto de vegetaccedilatildeo (associado aos constran- gimentos que determinavam o estrito seguimento do troccedilo de afectaccedilatildeo da obra) que impediu uma detalhada observaccedilatildeo do local durante os trabalhos de 200512 Caracteriacutesticas gerais do siacutetioApoacutes a limpeza de vegetaccedilatildeo que obstruiacutea o acesso ao afloramento foi pos-siacutevel visualizar com uma parede calcaacuteria parcialmente cortada por uma pe-dreira de idade desconhecida onde no extremo norte se desenvolve uma pequena entrada de gruta abobadada com 4 m de largura por 15 m de altu-ra Do contorno exterior Norte da base desta aboacuteboda arranca um teto baixo entre 30 e 50 cm do chatildeo que se desenvolve ao longo de cerca de 30 m e que lhe daacute entatildeo aspeto de abrigoAgrave superfiacutecie os pacotes sedimentares nestas duas aacutereas eram tambeacutem con-sideravelmente distintos Assim se por um lado na zona exterior onde o tecto quase tocava no chatildeo o sedimento siltoso beije se encontra extremamente carbonatado com abundante cascalho resultante da erosatildeo do tecto e sem vestiacutegios visiacuteveis agrave superfiacutecie na zona mais interior da sala o sedimento era mais acinzentado solto visivelmente perturbado por tocas com vestiacutegios ar-queoloacutegicos e osteoloacutegicos humanos dispersosNa prospeccedilatildeo realizada nas imediaccedilotildees foi possiacutevel detetar outros abrigos com vestiacutegios arqueoloacutegicos e antropoloacutegicos bem como um conjunto de ga-lerias sobrejacentes agrave gruta e que deveratildeo ter ligaccedilatildeo entre si Outras galerias imediatamente a Norte poderatildeo ter ligaccedilatildeo ou natildeo

2 MEacuteTODOS E MATERIAISA fim de caracterizar o depoacutesito foram abertas duas aacutereas Uma na zona ex-terior com 2m2 na aacuterea que tinha dado o aspeto de abrigo e outra na zona interior com 6m2 jaacute dentro da cavidade A metodologia de escavaccedilatildeo jaacute de- talhadamente descrita em Nora et al (2017) pelo que nos abstemos de a

| 251

| 2018

repetir mas no geral a escavaccedilatildeo obedeceu agraves Unidades Estratigraacuteficas definidas por qualquer variaccedilatildeo no sedimento com coordenaccedilatildeo tridimen-sional de todos os achados visiacuteveis crivagem de sedimentos a aacutegua nos de-poacutesitos perturbados e recolha da totalidade do sedimento para flutuaccedilatildeo nos depoacutesitos preservados

3 RESULTADOS31 Caracteriacutesticas gerais dos depoacutesitosNa aacuterea exterior foi registado um pacote sedimentar com uma espessura en-tre 1 e 14 m siltoso fortemente carbonatado e muito perturbado por raiacutezes e tocas (Figura 2A e 2B) O facto de esta aacuterea ter sido um covil de texugos re-sultou na recuperaccedilatildeo de milhares de restos osteoloacutegicos de microfauna e de lagomorfos bem como de um cracircnio de texugo desarticulado do restante es-queleto Foi tambeacutem identificado um esqueleto de catildeo em conexatildeo anatoacutemi-ca e muito mais bem preservado que a restante fauna sugerindo um enterra-mento recente Poreacutem a forte perturbaccedilatildeo associada agrave intensa precipitaccedilatildeo

Figura 2 Aspecto geral da estratigrafia A e B sondagem I-J20 aberta no exterior e esca- vada ateacute ao afloramento rochoso C e D sondagem P-Q24-26 aberta no interior e actual-mente em escavaccedilatildeo onde eacute possiacutevel ver a grande afectaccedilatildeo por tocas sobre o sedimento arqueoloacutegico original

252 |

calcaacuteria obliterou as marcas do contorno da bolsa aberta para o enterramento deste catildeo Na aacuterea interior foi registado ateacute ao momento um pacote sedimentar com uma espessura de 1 m o qual se divide em dois grandes blocos um de topo castanho-acinzentado muito orgacircnico siltoso carbonatado e muito per-turbado por tocas e raiacutezes sendo que muitas tocas se intersectam umas agraves outras atestando a utilizaccedilatildeo deste espaccedilo tambeacutem como covil de texugo mas tambeacutem de outros animais natildeo carniacutevoros jaacute que algumas delas continham acumulaccedilotildees de bolotas e de outros restos vegetais nalguns casos ainda fres-cos Subjacente encontra-se um pacote sedimentar bege tambeacutem ele silto-so carbonatado e perturbado por tocas mas com muito menor componente orgacircnica mais homogeacuteneo compacto e cujo topo estaacute manchado por cinza e pontilhado por pequenos carvotildees (Figura 2C e 2D) No topo e nos centiacutemetros superiores deste pacote bege verificam-se fragmentos do manto estalagmiacuteti-co que se encontra ainda parcialmente presente na gruta Infelizmente esta camada encontra-se profusamente atravessada por tocas mas poderaacute corres-

Figura 3 a) Placa de xisto natildeo decorada b e c) Littorina obtusata perfuradas d) Crassostrea angulata perfurada e) Conta em osso f) Fragmento de peccedila em osso decorada g) Conta em pedra h) Pendente em pedra i) Ponta de seta j) Truncatura obliacutequa sobre lacircmina k) Fragmento de lacircmina

| 253

| 2018

ponder jaacute ao depoacutesito original da Preacute-histoacuteria RecentePara aleacutem da perturbaccedilatildeo natural a zona interior apresenta tambeacutem uma forte perturbaccedilatildeo antroacutepica desde logo pela presenccedila de fragmentos de vasos resineiros tijolos pregos arames uma bota e um casaco tendo alguns destes elementos sido recuperados a meio metro de profundidade 32 O espoacutelio arqueoloacutegicoDe um modo geral e descartando os vestiacutegios de eacutepoca recente as duas aacutereas satildeo dominadas por espoacutelio atribuiacutevel a um contexto de necroacutepole do Neoliacutetico Final ou Calcoliacutetico da Estremadura portuguesa (Figura 3) Existe poreacutem um conjunto de vestiacutegios tiacutepicos do Paleoliacutetico Superior (com destaque para uma Ponta crenada e uma Ponta de Vale Comprido) que se registaram na zona interior juntamente com outro liacuteticos que embora natildeo sendo diagnoacutesticos do Paleoliacutetico Superior tambeacutem natildeo constituem materiais tiacutepicos de oferenda em contexto de necroacutepole Estatildeo entre estes lascas natildeo corticais e parcialmente corticais em quartzito quartzo e siacutelex peccedilas de adelgaccedilamento bifacial e outro material de manutenccedilatildeo fragmentos de talhe e lamelas irregulares Algumas peccedilas desta natureza foram tambeacutem registadas embora em menor quanti-dade na sondagem aberta no exteriorParece assim ser razoaacutevel afirmar que da perturbaccedilatildeo causada principal-mente pelas tocas resultou numa dupla mistura de materiais uma vertical que teraacute trazido aos deciacutemetros superiores materiais plistoceacutenicos pro- venientes de estratos subjacentes e outra horizontal em que essas mes-mas tocas teratildeo dispersado e revolvido os vestiacutegios holoceacutenicos se natildeo em toda a aacuterea da gruta pelo menos em grande parte destaAssim sendo o pacote de vestiacutegios que para jaacute se considera como cons- tituinte e caracterizador do contexto funeraacuterio assenta em dois pilares os restos osteoloacutegicos humanos e um conjunto de artefactos seriados por ana-logia com outros contextos coevos da regiatildeo Ou seja no que concerne agrave atribuiccedilatildeo do espoacutelio cultural os nossos resultados preliminares padecem de pensamento circular aceitando-se os tiacutepicos e rejeitando-se os atiacutepi-cos tais como as lascas e lamelas irregulares e fragmentos de talhe Um melhor esclarecimento desta situaccedilatildeo poderaacute eventualmente vir a ser pos-siacutevel quando a escavaccedilatildeo se encontrar mais avanccedilada e os conjuntos es-tudados em detalhe No entanto haacute que ter em conta que o elevado grau de perturbaccedilatildeo do contexto poderaacute inviabilizar em grande medida esse es-clarecimentoDito isto o conjunto artefactual que parece compor o contexto funeraacuterio eacute- Uma quantidade muito reduzida de ceracircmica preacute-histoacuterica sendo apenas dois fragmentos identificaacuteveis e com dimensotildees consideraacuteveis um fragmen-

254 |

Figura 4 Fragmento direito de uma mandiacutebula sem conexatildeo anatoacutemica (adulto) in situ Sa liente-se a presenccedila de uma raiz que se desenvolveu entre os dentes molares B e C Detalhe do fragmento direito de mandiacutebula com os trecircs dentes molares in situ D Pormenor do des-gaste dentaacuterio observado nos molares (superfiacutecie oclusal) mais evidente no 1ordm e 2ordm molar

Figura 5 Exemplo do tipo de vestiacutegios esqueleacuteticos humanos recolhidos no ABM A Fragmentos de reduzidas dimensotildees de natureza indeterminada B Fragmento de mandiacutebula com trecircs dentes in situ (canino e preacute-molares direitos adulto) C Fragmento de mandiacutebula com o canino esquerdo in situ natildeo erupcionado (natildeo-adulto) D Fragmento de cracircnio (indeterminado) E 2ordm molar defi- nitivo inferior esquerdo F Fragmento de corpo de omoplata esquerda (natildeo-adulto) G Fragmento de veacutertebra lombar (arco neural adulto) H Fragmento de costela direita (adulto) I 4ordm metacar-po direito (adulto) J Falange proximal da matildeo (adulto) K Falange intermeacutedia da matildeo (adulto) L Talus ou astraacutegalo direito (adulto) M Fragmento de osso longo (membro inferior adulto) N 1ordm metatarso direito (adulto) O 2ordm metatarso direito (adulto) P Falange proximal do peacute (adulto)

| 255

| 2018

to de bordo de vaso liso e com parede relativamente fina e um fragmento de bordo de taccedila carenada ambos recolhidos na sala- Pequenos fragmentos dispersos de placa de xisto natildeo decorados recolhi-dos na escavaccedilatildeo da sala- Uma placa de xisto natildeo decorada quebrada in situ recolhida na base da sondagem aberta no exterior- Fragmentos de lacircmina com arestas e nervuras simeacutetricas e regulares reco- lhidos nas duas aacutereas- Uma ponta de seta triangular duas truncaturas obliacutequas sobre lacircmina com arestas e nervuras simeacutetricas e regulares - Duas contas em rocha e uma conta em osso tambeacutem recolhidas na esca- vaccedilatildeo dentro da gruta - Trecircs fragmentos de osso decorado por traccedilos retiliacuteneos sub-paralelos

Material que poderaacute compor tambeacutem o conjunto funeraacuterio- Uma valva de Crassostrea angulata perfurada- Trecircs Littorina obtusata perfuradas

No entanto estes casos principalmente os casos das Littorina obtusata per-furadas devem ser tidos com grandes reservas dado que tais vestiacutegios satildeo tambeacutem abundantes no Paleoliacutetico Superior nomeadamente na sepultura gravetense do Abrigo do Lagar Velho)33 O espoacutelio osteoloacutegico humanoEmbora ainda por datar e carecendo de anaacutelises de isoacutetopos ou de ADN o espoacutelio osteoloacutegico humano recuperado no Abrigo da Buraca da Moira parece natildeo oferecer duacutevidas relativamente agrave sua cronologia da Preacute-histoacuteria Recente Os dados que se seguem satildeo uma suacutemula preliminar de trecircs anos de intervenccedilatildeo cujos detalhes podem ser consultados nos relatoacuterios de pro-gresso de Assis (2016 2017 2018)A intervenccedilatildeo arqueoloacutegica revelou a presenccedila de vestiacutegios esqueleacuteticos humanos desarticulados e fragmentados (Figura 4) Uma inventariaccedilatildeo preliminar do espoacutelio recuperado permitiu a identificaccedilatildeo de cerca de 990 fragmentos oacutesseos eou peccedilas dentaacuterias (Figura 5) Do conjunto referido (n=990) 346 pertencem a indiviacuteduos adultos (35) e 45 a indiviacuteduos natildeo-adultos (4) Esta subdivisatildeo (adulto versus natildeo-adulto) considerou os timings de desenvolvimento dentaacuterio e oacutesseo (por exemplo calcificaccedilatildeo e erupccedilatildeo dentaacuterias e fusatildeo epifiseal) de acordo com as recomendaccedilotildees de Buikstra e Ubelaker (1994) e Schaefer et al (2009) Para os restantes ele-mentos do esqueleto (n=599 61) natildeo foi possiacutevel aferir se pertenciam a

256 |

Figura 6 Distribuiccedilatildeo dos vestiacutegios esqueleacuteticos humanos recuperados (adultos versus natildeo-adultos e indeterminados)

Figura 7 1ordm Metacarpo de um indiviacuteduo adulto exibindo uma excelente preservaccedilatildeo B Pars basilares de um indiviacuteduo natildeo-adulto (neonato) razoavelmente preservado C Iacutesquio esquerdo de um natildeo-adulto (feto) razoavelmente preservado

| 257

| 2018

indiviacuteduos adultos ou a indiviacuteduos natildeo-adultos (Figura 6 e 7) Este subcon-junto eacute essencialmente composto por elementos oacutesseosdentaacuterios de redu- zidas dimensotildees e inclui fragmentos indeterminados de osso longotubu-lar (432) fragmentos de ossos cranianos (127) do esqueleto axial e da cintura peacutelvica (6) das extremidades - matildeo e peacute (17) e fragmentos oacutesseos indistintos (364) Para o subconjunto formado pelos fragmentos esqueleacuteticos de indiviacuteduos adultos e natildeo-adultos (n=391) verificou-se uma maior frequecircncia de dentes definitivos soltos (263 103391) sendo este valor secundado por falanges da matildeo (133 52391) Quando conside- rado o subconjunto dos indiviacuteduos adultos sobressaiu a elevada frequecircn-cia de dentes definitivos recuperados (n=96) logo seguido por falanges da matildeo (n=48) Para o subconjunto dos natildeo-adultos foi identificado uma maior frequecircncia de dentes deciduais (n=11) De um modo geral os ossos do cracirc-nio do esqueleto axial (costelas e veacutertebras) da cintura escapular e peacutelvica assim como os ossos longos dos membros superiores (MS) e inferiores (MI) foram os menos representados (Tabela 1)A anaacutelise da lateralidade apenas foi possiacutevel para 160 fragmentos oacutesseos peccedilas dentaacuterias de adulto (n=85 lado direito n=75 lado esquerdo) Dos fragmentos oacutesseos de natildeo-adulto recuperados apenas 22 permitiram a anaacutelise da lateralidade (n=10 lado direito n=12 lado esquerdo) Em termos de preservaccedilatildeo os fragmentos oacutesseos de adulto oscilaram entre o excelente (861 n=161) e o escassamente (919 n=113) preservado

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo dos fragmentos oacutesseos recuperados por graus de preservaccedilatildeo (adultos versus natildeo-adultos)

258 |

Igual constataccedilatildeo foi aferida para os elementos oacutesseosdentaacuterios perten-centes a indiviacuteduos natildeo-adultos (Figura 8) Em termos gerais os elementos do esqueleto que exibiram uma melhor preservaccedilatildeo foram os dentes e as falanges Por exemplo 88 dentes definitivos e 44 falanges de indiviacuteduos adultos exibiram uma preservaccedilatildeo elevada (grau 1 gt75 preservaccedilatildeo) No domiacutenio das alteraccedilotildees tafonoacutemicas de textura refira-se a presenccedila de erosatildeo e escamaccedilatildeo de superfiacutecie assim como a presenccedila de alteraccedilotildees se-cundaacuterias ao contacto com raiacutezes (erosatildeo dendriacutetica de superfiacutecie Figura 9)A estimativa do nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos (NMI) baseou-se na contabi-lizaccedilatildeo dos elementos oacutesseos mais representados por lateralidade e na anaacutelise do grau de desenvolvimento das peccedilas oacutesseas eou dentaacuterias se-guindo as recomendaccedilotildees de Herrmann et al (1990) Tendo por base este pressuposto verificou-se que os fragmentos oacutesseos recolhidos poderatildeo per-tencer a pelo menos 12 indiviacuteduos seis adultos (estimativa feita a partir de alguns dentes isolados) e seis natildeo-adultos estes uacuteltimos incluem um feto quatro infantesjuvenis (3-12 anos de idade-agrave-morte) e um possiacutevel adoles-cente (gt 12 anos de idade-agrave-morte) No subconjunto de fragmentos oacutesseos de adulto natildeo foi observado nenhum indicador passiacutevel de estimar a idade-agrave-morte Jaacute a recuperaccedilatildeo de trecircs astraacutegalos (ou talus) esquerdos com um comprimento maacuteximo que oscilou entre os 56mm e os 59mm sugere a pos-siacutevel presenccedila de pelo menos trecircs indiviacuteduos do sexo masculino Contudo

Figura 9 Fragmentos de osso occipital (adulto) Saliente-se a presenccedila de erosatildeo na superfiacutecie provavelmente causada por contacto com raiacutezes

| 259

| 2018

a natildeo recuperaccedilatildeo dos restantes elementos do esqueleto designadamente do cracircnio e do coxal ndash mais discriminantes (Mays e Cox 2000 Chamberlain 2006) impede uma diagnose sexual mais fiaacutevel A anaacutelise meacutetrica supra-mencionada considerou a proposta metodoloacutegica de Wasterlain (2000) Em termos das alteraccedilotildees de cariz paleopatoloacutegico apenas a salientar a presenccedila de desgaste dentaacuterio mais conspiacutecuo na denticcedilatildeo posterior mas igualmente presente em dentes definitivos e deciduais (ver Figura 4) o que poderaacute estar associado por exemplo a uma dieta rica em alimentos fibrosos e mais rijos (Roberts amp Manchester 2005) Refira-se ainda a presenccedila de uma lesatildeo compatiacutevel com uma fratura no processo coronoacuteide de uma ulna direita (Assis et al 2016 e 2018) Exceptuando o caso da lesatildeo traumaacutetica que foi analisado com mais detalhe todos os dados aqui apresentados satildeo preliminares requerendo uma anaacutelise mais aprofundada e minuciosa

4 INTERPRETACcedilAtildeO (com base nos dados de 2015 a 2017)O microtopoacutenimo ldquoMoirardquo que se regista num pequeno troccedilo de escassos 500 metros da Ribeira dos Murtoacuterios onde o siacutetio se encontra deveraacute decorrer da identificaccedilatildeo dos restos humanos preacute-histoacutericos durante a extraccedilatildeo de pedra que expocircs a gruta No entanto e curiosamente natildeo eacute esta cavidade que apa-rece cartografada na carta geoloacutegica mas outra sob a designaccedilatildeo ldquoBuraca da Moirardquo localizada a cerca de 200 metros mas na qual natildeo existem quais-quer vestiacutegios arqueoloacutegicos Parece ser assim possiacutevel afirmar que natildeo foi a memoacuteria da ldquocousa antigardquo que se perdeu com o tempo mas antes a sua localizaccedilatildeo exata o que permite extrapolar a hipoacutetese de existir um espaccedilo de tempo significativo entre a identificaccedilatildeo da necroacutepole durante os trabalhos da pedreira e a visita da equipa dos Serviccedilos Geoloacutegicos no acircmbito da elaboraccedilatildeo da Carta Geoloacutegica de PortugalNo que diz respeito ao depoacutesito sedimentar este encontra-se truncado faltan-do-lhe o primeiro metro de espessura de topo Esta afirmaccedilatildeo eacute segura e en-contra-se sustentada na presenccedila de um manto estalagmiacutetico com cerca de 15 cm de espessura actualmente suspenso cuja base ondulada denuncia a morfologia original do depoacutesito sedimentar que selou apoacutes esta por motivos desconhecidos e provavelmente nunca alcanccedilaacuteveis se fechou Fenoacutemenos anaacutelogos na Estremadura portuguesa com idades coevas do Uacuteltimo Maacuteximo Glaciar e selando sequecircncias estratigraacuteficas moustierenses satildeo conhecidos por exemplo na Gruta da Oliveira (Hoffman et al 2013) e na Gruta Nova da Columbeira (Carvalho et al submetido) tambeacutem na Gruta da Furninha (embo-ra aqui com cronologia desconhecida) mas neste caso a selar os niacuteveis de Pa-leoliacutetico Superior e Paleoliacutetico Meacutedio (Delgado 1884) A profusatildeo de fragmen-

260 |

tos deste manto na base do depoacutesito rico em restos osteoloacutegicos humanos sugere que o mesmo teraacute sido rompido pelas populaccedilotildees da Preacute-histoacuteria Re-cente que decidiram utilizar a cavidade como contexto funeraacuterio Assim por exerciacutecio loacutegico se deduz que teratildeo sido essas pessoas durante esse mesmo processo que teratildeo esvaziado parte do sedimento a fim de ganhar espaccedilo para colocarem os seus mortos Assim sendo natildeo eacute para jaacute claro se os ma-teriais do Paleoliacutetico Superior identificados provecircm de niacuteveis subjacentes ou se se tratam de restos que sobejaram do processo de esvaziamento do siacutetio A clarificaccedilatildeo desta questatildeo fica pendente da continuaccedilatildeo dos trabalhos a desenvolver durante a campanha de 2018 e seguintes Jaacute no que concerne agrave interpretaccedilatildeo do contexto parece tambeacutem ser cada vez mais claro que a totalidade do depoacutesito interior e do depoacutesito hoje exterior (que tambeacutem deveria ser interior antes dos trabalhos da pedreira) correspondem a um contexto funeraacuterio da Preacute-histoacuteria Recente o qual a avaliar pela cultura material deveraacute corresponder muito provavelmente ao Neoliacutetico Final eou ao Calcoliacutetico As caracteriacutesticas do espoacutelio osteoloacutegico humano parecem sugerir que se tratou de um espaccedilo de inumaccedilatildeo primaacuteria para esqueletizaccedilatildeo tendo os elementos de maiores dimensotildees sido depois transferidos para outro local ficando para traacutes os dentes e outros elementos oacutesseos fragmentados eou de reduzidas dimensotildees pertencentes por exemplo agraves articulaccedilotildees laacutebeis bem como elementos de decoraccedilatildeo pessoal incompletos e pouco numero-sos anaacutelogos de outros contextos estremenhos e ibeacutericos (eg Zilhatildeo 1992 Gibaja et al 2012 Carvalho 2014 Andrade 2015) A presenccedila de cinza e de um consistente pontilhado de pequenos carvotildees na base do depoacutesito rico em restos osteoloacutegicos humanos sugerem a possibilidade de ter havido uma acccedilatildeo de higienizaccedilatildeo (ritual ou natildeo) antes da gruta ter sido utilizada como espaccedilo fuacutenebre podendo representar assim o interface com niacuteveis selados pelo manto estalagmiacutetico mais antigos possivelmente plistoceacutenicos

BIBLIOGRAFIAANDRADE Marco (2015) ndash Contributo para a definiccedilatildeo das praacuteticas funeraacuterias neoliacuteticas e calcoliacuteticas no Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho 2 As placas votivas da ldquonecroacutepole megaliacuteticardquo das Lapas (Torres Novas) e o hipogeiacutesmo na Alta Estremadura Nova Augusta 27 294-322ASSIS Sandra (2016) - Relatoacuterio Antropoloacutegico de campo Projeto EcoPLis Ocupaccedilatildeo Hu-mana Plistoceacutenica nos Ecoacutetonos do Rio Lis Abrigo e Galerias da Buraca da Moira Abril de 2016 ASSIS Sandra (2017) - Relatoacuterio Antropoloacutegico de campo (2ordf Campanha ndash Ano 2016) Abri-go da Buraca da Moira Projeto EcoPLis Ocupaccedilatildeo Humana Plistoceacutenica nos Ecoacutetonos do Rio Lis Fevereiro de 2017 ASSIS Sandra (2018) - Relatoacuterio Antropoloacutegico de campo (3ordf Campanha ndash Ano 2017) Abri-

| 261

| 2018

go da Buraca da Moira Projeto EcoPLis Ocupaccedilatildeo Humana Plistoceacutenica nos Ecoacutetonos do Rio Lis Maio de 2018ASSIS Sandra BRANCO Rute CARVALHO Vacircnia DIAS Rita DUARTE Carlos EacuteVORA Ma-rina FARIAS Anne HOLLIDAY Trenton MARREIROS Joatildeo MATIAS Roxane MONTEIRO Patriacutecia NORA David PAIXAtildeO Eduardo PEREIRA Telmo (2016) ndash Uma Possiacutevel Fratura de Avulsatildeo num Fragmento de Ulna Recuperado no Complexo Caacutersico com Ocupaccedilatildeo Preacute-Histoacuterica do Siacutetio da Buraca da Moira (Boa Vista Leiria) V Jornadas Portuguesas de Paleopatologia Coimbra Portugal 25-26 Novembro ASSIS Sandra BRANCO Rute CARVALHO Vacircnia DIAS Rita DUARTE Carlos EacuteVORA Ma-rina FARIAS Anne HOLLIDAY Trenton MARREIROS Joatildeo MATIAS Roxane MONTEIRO Patriacutecia NORA David PAIXAtildeO Eduardo PEREIRA Telmo (2018) An unusual coronoid fracture in a fragment of ulna recovered from the Prehistoric site of Buraca da Moira Rock Shelter (Boa Vista Leiria) Antropologia Portuguesa BUIKSTRA Jane UBELAKER Douglas (1994) - Standards for data collection from human skeletal remains Proceedings of a Seminar at the Field Museum of Natural History Fayette-ville Arkansas Archaeological Survey Research Series 44CARVALHO Antoacutenio Faustino (2007) ndash Algar do Bom Santo a research project on the Neo-lithic populations of Portuguese Estremadura (6th-4th millennia BC) Promontoria 5 185-198CARVALHO Antoacutenio Faustino (2014) ndash Bom Santo cave (Lisbon) And The Middle Neolithic So-cieties Of Southern Portugal Promontoacuteria Monograacutefica 17 Faculdade de Ciecircncias Humanas e Sociais da Universidade do Algarve Faro 256 p CARVALHO Susana CARVALHO Vacircnia (2007) ndash Relatoacuterio de progresso da Carta Arque-oloacutegica de Leiria (2004-2007) Cacircmara Municipal de Leiria Leiria CARVALHO Vacircnia (2011) ndash O Abrigo do Lagar Velho e o Paleoliacutetico Superior em Leiria Portu-gal anaacutelise dos dados arqueoloacutegicos no actual contexto da evoluccedilatildeo humana Tese de disser-taccedilatildeo de Mestrado Universidade De Coimbra CARVALHO Vacircnia GOMES Rosa PAJUELO Ana (2005) ndash Acompanhamento arqueoloacutegico dos trabalhos de escavaccedilatildeo das empreitadas de execuccedilatildeo das infra-estruturas da 2ordf fase do Sistema Multimunicipal de saneamento do Lis Relatoacuterio Final de Trabalhos Arqueoloacutegi-cos OcrimiraCARVALHO Vacircnia PAJUELO Ana (2005a) ndash Novas realidades no campo da investigaccedilatildeo arqueoloacutegica ndash minimizaccedilatildeo de impactos e arqueologia preventiva projecto Simlis 2002 a 2005 In Carvalho Susana (coord) Habitantes e Habitats - Preacute e Proto-Histoacuteria na Bacia do Lis Cacircmara Municipal de Leiria Leiria 135-156CHAMBERLAIN Andrew (2006) - Demography in Archaeology Cambridge Cambridge Uni-versity Press CUNHA-RIBEIRO Joatildeo Pedro (2003) ndash Vale do Lis ndash prospecccedilotildees realizadas em 2001 e 2002 ndash projeto Maciccedilo Relatoacuterio do PNTA98 ndash A Preacute-Histoacuteria do Maciccedilo Calcaacuterio das Ser-ras d`Aire e Candeeiros e bacias de drenagem adjacentes Processo do IPA nordm 981 (744) [Natildeo publicado]DELGADO Joaquim Filipe Nery (1884) ndash La Grotte de Furninha a Peniche In Congregraves In-ternational drsquoAnthropologie et drsquoArcheacuteologie Preacutehistoriques Compte-rendu de La Neuviegraveme Session agrave Lisbonne (1880) 207ndash279 Lisbonne Acadeacutemie Royale des SciencesGIBAJA Juan CARVALHO Antoacutenio Faustino CHAMBON Philippe (2012) ndash Funerary prac-tices in the Iberian Peninsula from the Mesolithic to the Chalcolithic British Archaeological

262 |

Reports Vol 2417 pp 123HERRMANN Bernd GRUPE Gisela HUMMEL Susanne PIEPENBRINK Hermann SCHUT-KOWSKI Holger (1990) - Praehistorische Anthropologie Berlin Springer Verlag HOFFMANN Dirk L ALISTAIR WG Pike KARINE Wainer JOAtildeO Zilhatildeo (2013) New U-Series Results for the Speleogenesis and the Palaeolithic Archaeology of the Almonda Karstic Sys-tem (Torres Novas Portugal) Quaternary International 294 168ndash82MARTINS Alfredo (1949) ndash Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho Contribuiccedilatildeo para um estudo e Geografia fiacutesica Coimbra Universidade de CoimbraMAYS Simon Cox Margaret (2000) - Sex determination in skeletal remains In Cox Mar-garet Mays Simon (eds) Human Osteology In Archaeology and Forensic Science London Greewich Medical Media Ltd 117ndash130ROBERTS Charlotte MANCHESTER Keith (2005) - The archaeology of disease Gloucester-shire Sutton PublishingSCHAEFER Maureen BLACK Sue SCHEUER Louise (2009) - Juvenile osteology a labora-tory and field manual Amsterdam ElsevierTEIXEIRA Carlos ZBYSZEWSKI George ASSUNCcedilAtildeO C T MANUPPELLA G (1968) ndash Carta Geoloacutegica de Portugal na escala 150000 Notiacutecia explicativa da folha 23-C Leiria Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de PortugalTELES Virgiacutenia (1992) ndash Erosatildeo fluvial em aacutereas caacutersicas Os vales do Lapedo da Que-brada e da Fonte Nova (Bordadura setentrional do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho) Tese de Mestrado Universidade de CoimbraWASTERLAIN Rosa Sofia (2000) - Morpheacute anaacutelise das proporccedilotildees entre os membros dimorfismo sexual e estatura de uma amostra da colecccedilatildeo de esqueletos identificados do Museu de Antropologia da Universidade de Coimbra Dissertaccedilatildeo de mestrado em Evoluccedilatildeo Humana Departamento de Antropologia Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade de CoimbraZILHAtildeO Joatildeo (1992) ndash Gruta do Caldeiratildeo O Neoliacutetico Antigo Trabalhos de Arqueologia nordm6 (J Zilhatildeo Ed) (p 326) Lisboa IPPARZILHAtildeO Joatildeo (1997) ndash O Paleoliacutetico Superior da Estremadura portuguesa (2 volumes) Ediccedilotildees Colibri Lisboa

| 263

| 2018

ESTUDO DO ESPOacuteLIO ARQUEOLOacuteGICO DA ANTA DA CASA DA MOURA (SOURE PORTUGAL)

STUDY OF THE ARCHAEOLOGICAL COLLECTION OF ANTA CASADA MOURA (SOURE PORTUGAL)

Leonor Rocha Universidade EacutevoraECS CEAACPlrochauevorapt

Gertrudes BrancoCHAIAUEacute gertrudesbrancogmailcom

Antoacutenio Monteiroajoaomonteirogmailcom

Fernando Silva

RESUMOA Anta da Casa da Moura identificada no iniacutecio dos anos 90 do seacute-culo passado eacute um dos escassos monumentos megaliacuteticos reg-istados no concelho de Soure No decurso da 1ordf deacutecada do seacutec XXI foram realizadas trecircs curtas campanhas de escavaccedilatildeo arqueoloacutegica Estas apesar de natildeo terem permitido concluir a escavaccedilatildeo da totalidade do monumento possibilitaram a recolha de um signifi- cativo e importante espoacutelio arqueoloacutegico e antropoloacutegico que contribui de forma significativa para o conhecimento das praacuteticas funeraacuterias desta regiatildeoApresenta-se neste Poster os resultados dos estudos realizados sobre o conjunto artefactual recolhidoPALAVRAS-CHAVE Casa da Moura Espoacutelios Megalitismo funeraacuterio Soure

ABSTRACT The Anta da Casa da Moura identified in the early 90rsquos of last century is one of the few megalithic monuments registered in the region of Soure Three short campaigns of archaeological excavation were carried out during the 1st decade of the 21st century Although they were not able to coplete the excavation of the whole monument they enabled the recovery of a significant and important archaeological and anthropological collection that contributed significantly to the knowledge of the funerary practices of this region

264 |

This poster presents the results of the studies carried out on the archaeological materials KEY WORDS Casa da Moura Megalithism Soure archaeological materials

1 A ANTA DA CASA DA MOURA ESPACcedilO GEOGRAacuteFICO E ARQUEOLOacuteGICO11 Espaccedilo fisiograacuteficoO Maciccedilo do Sicoacute destaca-se na paisagem envolvente pelo seu relevo que correspondem a calcaacuterios do Juraacutessico meacutedio Trata-se de uma aacuterea que apresenta alguma diversidade geoloacutegica encontrando-se este maciccedilo ldquobor-dejado a Norte e a Este pelos arenitos (Greacutes de Silves) do Triaacutesico que es-tabelecem a transiccedilatildeo para os contrafortes do Maciccedilo Antigo a Oestepelos greacutes e argilas do Cretaacutecico e do Cenozoico e a Sul por um complexo materi-ais que de Este para Oeste corre toda a sequecircncia mesozoacuteica dos Greacutes de Silves aos greacutes Cretaacutecicos e Terciaacuteriosrdquo (Silva 2011 27) Esta diversidade reflete-se naturalmente em diferentes capacidades de retenccedilatildeo de aacutegua no tipo de vegetaccedilatildeo (desde as mais antigas e nativas como os carvalhos azinheiras sobreiros os maquis ou matos bravos as orquiacutedeas mediter-racircneas as ervas aromaacuteticas) na capacidade dos solos na riqueza da sua fauna selvagem (javali veado coelho) e na atratividade para a fixaccedilatildeo de povoamento desde os periacuteodos mais remotos (Silva 2011)No Dicionaacuterio Geograacutefico de Portugal para as antigas freguesias de Degra-

Figura 1 Localizaccedilatildeo da Anta da Casa da Moura na bacia do rio Mondego

| 265

| 2018

cias e de Pombalinho refere-se somente que os frutos da terra satildeo ldquoparcosrdquo sendo apenas o trigo o milho a cevada e a fava Eacute neste ambiente de fronteiras e assimetrias fiacutesicas e paisagiacutesticas entre um vale feacutertil e as serras aacuteridas na bacia hidrograacutefica do rio Mondego que se localiza a Anta da Casa da Moura Como se percebe pela anaacutelise da fi- gura 1 o monumento encontra-se estranhamente isolado quer em termos de povoamento neocalcoliacutetico quer pela ausecircncia de outros monumentos funeraacuterios Este aparente vazio deve resultar apenas de uma escassez de investigaccedilatildeo sobre este periacuteodo no concelho de Soure12 Histoacuteria do siacutetioO estudo que agora se apresenta resulta de trabalhos realizados entre 2001 e 2003 (Figura 2) coordenados por Fernando Silva e Antoacutenio Monteiro O prematuro falecimento do primeiro investigador acabou por conduzir a duas situaccedilotildees natildeo previstas i) a natildeo continuidade dos trabalhos neste monu-mento ii) a ausecircncia de um estudo e publicaccedilatildeo dos resultados obtidosPassados 15 anos e atendendo agrave riqueza do espoacutelio recuperado que inte- gra um conjunto significativo de restos osteoloacutegicos - jaacute estudados e apre-sentados noutro congresso da especialidade (Calado et al no prelo) ndash con-siderou-se importante publicar os dados existentes apesar de existirem

Figura 2 Quadrados intervencionados na Anta da Casa da Moura

266 |

Graacutefico 1 Espoacutelio preacute-histoacuterico recolhido entre 2001-2003

Graacutefico 2 Mateacuterias-primas presentes na Anta da Casa da Moura

| 267

| 2018

Graacutefico 3 Percentagem de ceracircmica por modo de produccedilatildeo

algumas limitaccedilotildees relacionadas com as plantas e os cadernos de campo que acabaram por se perder (Silva et al 2017)Com o estudo dos espoacutelios recolhidos terminamos a investigaccedilatildeo sobre os trabalhos realizados nestas primeiras campanhas esperando que num fu-turo natildeo muito longiacutenquo se possa vir a concluir a escavaccedilatildeo deste monu-mento atendendo agrave sua importacircncia para o conhecimento do megalitismo regional e nacional

2 CULTURA MATERIALApesar de se cingirem a uma aacuterea relativamente restrita (14m2 natildeo inte-gralmente escavados) o conjunto artefactual recolhido nas trecircs campanhas realizadas na anta da Casa da Moura (Graacutefico 1) evidenciam uma grande variedade e riqueza nos depoacutesitos votivos realizados sobretudo a niacutevel da pedra lascada e dos objetos de adorno Em termos cronoloacutegicos este con-junto corresponde a diferentes usos reusos eou violaccedilotildees do monumento ateacute pelo menos agrave Idade ModernaAo observamos o conjunto de mateacuterias-primas recolhidos nestas trecircs campanhas (Graacutefico 2) destacam-se dois grupos o das ceracircmicas e o das rochas siliciosas Na realidade como veremos no ponto 21 o grande grupo das ceracircmicas eacute o que evidencia e testemunha as vaacuterias fases de uso e reutilizaccedilotildees que este monumento vivenciou Os restan-

268 |

tes tipos satildeo importantes para na ausecircncia de dataccedilotildees de C14 se poder estabelecer alguma proximidade cronoloacutegica e sobretudo per-ceber algumas dinacircmicas de trocas deste grupo que poderatildeo estar evi- denciadas em algumas das mateacuterias-primas presentes como a pedra verde o xisto e o anfibolito21 CeracircmicaO conjunto artefactual constituiacutedo pelas ceracircmicas pode ser um bom in-dicador cronoloacutegico nos casos em que se encontra bem representado e em bom estado de conservaccedilatildeo o que infelizmente natildeo eacute o caso da Anta da Casa da MouraForam recolhidos neste monumento um total de 252 fragmentos sendo que apenas 91 exemplares satildeo claramente de fabrico manual preacute-histoacuteri-co Para aleacutem destes estatildeo representados fragmentos de ceracircmica de diferentes tipologias e funcionalidades que em termos cronoloacutegicos nos parecem englobar um amplo quadro cronoloacutegico que vai do periacuteodo ro-mano ateacute pelo menos a eacutepoca moderna De realccedilar a significativa pre-senccedila de materiais de clara filiaccedilatildeo romana com pastas finas alaranja-das mas tambeacutem pastas cinzentas correspondem a cerca de 285 do conjunto ceracircmico recolhidoDada a escassez da amostra e estado de conservaccedilatildeofragmentaccedilatildeo desta coleccedilatildeo optou-se por se realizar uma classificaccedilatildeo geneacuterica mas que de um modo geral seguisse criteacuterios anteriormente estabelecidos por outros investigadores (Gonccedilalves 1989) de modo a facilitar futuros estudos comparativos com outros conjuntos artefactuaisO conjunto de ceracircmicas preacute-histoacutericas eacute constituiacutedo maioritariamente por fragmentos de bojo de pequenas dimensotildees sem qualquer tipo de decoraccedilatildeo Dos 19 bordos existentes 10 satildeo preacute-histoacutericosA compreensatildeo e reparticcedilatildeo dos exemplares recolhidos dos diferentes periacuteodos cronoloacutegicos por Quadrado e Unidade Estratigraacutefica natildeo for-nece dados especiacuteficos uma vez que as ceracircmicas de roda estatildeo pre-sentes em todos os quadrados e unidades estratigraacuteficas em que se identificaram ceracircmicas manuaisEm relaccedilatildeo agraves pastas natildeo nos foi ainda possiacutevel realizar uma anaacutelise petrograacutefica mas a observaccedilatildeo superficial realizada com lupa binocular permitiu-nos concluir que em termos de homogeneidade as pastas satildeo compactas apesar de por vezes se poderem apresentar uma superfiacutecie porosa Os elementos natildeo plaacutesticos variam entre o gratildeo fino a meacutedio e satildeo maioritariamente constituiacutedos por quartzos feldspatos e micasAs argilas utilizadas satildeo todas bastante similares o que sugere a uti-

| 269

| 2018

Graacutefico 4 Percentagem de ceracircmica por tipo

lizaccedilatildeo de um mesmo barreiro eventualmente numa aacuterea relativamente proacutexima uma vez que natildeo apresentam diferenccedilas significativas com a terra da aacuterea envolvente As superfiacutecies apresentam-se regularizadas provavelmente atraveacutes da teacutecnica de alisamento tanto a niacutevel externo como interno em termos gerais o processo de cozedura mais utilizado foi o redutor (46) seguido do oxidante (24) e do redutor com arrefecimento oxidante (20)Em relaccedilatildeo agraves tipologias dos recipientes existentes como se referiu ante-riormente o nuacutemero de bordos conjugado com a sua (por vezes) reduzi-da dimensatildeo natildeo nos permite por ora realizar uma reconstituiccedilatildeo deste conjunto No entanto algumas leituras satildeo possiacuteveis como a inexistecircncia de bordos espessados e natildeo existirem indiacutecios de grandes recipientes22 Pedra LascadaEm termos de mateacuterias-primas encontramos presentes as rochas sili-ciosas (de diferentes tonalidades) quartzos quartzo hialino xisto pedra verde e calcaacuterios representando as rochas siliciosas 73 do conjunto (Graacutefico 6) De acordo com T Aubry existem no Maciccedilo calcaacuterio de Sicoacute-Al-viaacutezere e na Formaccedilatildeo de Degracias ldquohorizontes mais ou menos densos de noacutedulos de siacutelexrdquo (Aubry et al 2014174) encontrando-se a sua ex-ploraccedilatildeo e utilizaccedilatildeo documentada desde o Paleoliacutetico meacutedio

270 |

Graacutefico 6 Percentagem de ceracircmica por tipo

Graacutefico 7 Tipos de artefactos de pedra lascada recolhidos

| 271

| 2018

Do total de 87 registos de pedra lascada (Graacutefico 7) 47 correspon-dem a restos e subprodutos de talhe assim como lascas indicadores da existecircncia de preparaccedilatildeo (talhe) no local Acresce ainda a existecircncia ain-da que residual de nuacutecleos (2)No conjunto de instrumentos de pedra lascada recolhido temos a pre-senccedila em maior nuacutemero de lamelas (13) lacircminas (12) pontas de seta (10) e o grupo dos geomeacutetricos que no total atingem tambeacutem uma deze-na (Est I II e IV) Valores tatildeo similares em conjuntos que poderatildeo ter dife- rentes valecircncias cronoloacutegicas deixa mais interrogaccedilotildees que certezas so-bre este monumentoOs produtos siliciosos foram utilizados na produccedilatildeo de pontas de seta produtos alongados (lacircminas) alguns dos quais foram posteriormente transformados noutro tipo de utensiacutelios nomeadamente geomeacutetricosA escassez de coacutertex na pedra lascada natildeo eacute compatiacutevel com a leitura ante- rior ou seja a debitagem ter sido realizada no localA niacutevel da secccedilatildeo em termos gerais predominam as secccedilotildees triangulares nas lamelas e as trapezoidais nos geomeacutetricos e nas lacircminas23 Pedra PolidaNo que concerne agrave pedra polida os exemplares recolhidos foram bastan-te escassos apenas dois Com base nos criteacuterios descritivos (funcionais)

Est I Est II

272 |

Est III

| 273

| 2018

utilizados para este tipo de materiais (Cooney e Mandal 1998 Le Roux 1999) trata-se apenas de machados apesar de apresentarem secccedilotildees completamente distintas (Est III) O mais robusto de rocha anfiboacutelica apresenta uma fratura longitudinal e o gume completamente desgastado pelo uso tal como o talatildeo que apre-senta evidentes sinais de percussatildeo O corpo encontra-se integralmente polido Tem um comprimento total de 95mm largura de 34mm e espes-sura de 52 mm secccedilatildeo quadrangularO segundo exemplar de rocha meta-sedimentar apresenta-se integral-mente polido (apenas com algumas irregularidades da proacutepria rocha) com gume simeacutetrico intacto Tem um comprimento total de 106mm lar-gura de 41mm e espessura de 23 mm secccedilatildeo ovalada alongada24 AdornoNo capiacutetulo do adorno consideraram-se as contas de colar (16) lago-morfo (1) e alfinete da cabeccedila (1) (Est III) Em termos de mateacuterias-pri-mas estes elementos foram realizados em calcaacuterio (3 contas de colar) pedra verde (2 contas de colar e 1 lagomorfo) xisto (10 contas de colar e 1 alfinete de cabeccedila) e pasta viacutetrea (a conta de colar)Excetuando a conta de colar em pasta viacutetrea que nos remete para con-textos da Idade do Ferro ou romanos os restantes elementos de adorno podem ser todos resultado de uma mesma utilizaccedilatildeo funeraacuteria dentro da preacute-histoacuteria recente25 MetaisO conjunto de objetos em metal recolhido nesta intervenccedilatildeo eacute escasso (7 peccedilas) e quase todo incaracteriacutestico Para aleacutem de uma pequena meda- lha em cobre com uma imagem de um lado e letras no anverso os restan-tes elementos satildeo em ferro e apenas dois nos parecem corresponder a restos de um espigatildeo e de uma lacircmina de objeto cortante Dos restantes 3 satildeo escoacuterias e o outro corresponde a ferro muito corrosionadoIndependentemente do seu estado todos os elementos desta catego-ria correspondem (e atestam) momentos de reutilizaccedilatildeo eou violaccedilotildees deste monumento em eacutepocas posteriores agrave da sua utilizaccedilatildeo original26 Outras categoriasDentro desta categoria considerou-se um conjunto de elementos que pela sua tipologia tamanho estado de conservaccedilatildeo natildeo nos foi possiacutevel colocar numa das anteriores Eacute o caso de um pequeno seixo esferoidal um fragmento de concha um fragmento de uma peccedila que nos parece corresponder eventualmente a uma cabeccedila de um iacutedolo em pedra cal-caacuteria Trata-se assim de um conjunto diversificado de elementos que em

274 |

termos cronoloacutegicos poderatildeo corresponder a diferentes momentos de utilizaccedilatildeo deste espaccedilo

3 ANTA DA CASA DA MOURA PROPOSTA DE DATACcedilAtildeO(OtildeES)Apesar dos condicionalismos inerentes a esta escavaccedilatildeo a sua principal relevacircncia consiste na sequecircncia de dados e informaccedilotildees que este siacutetio nos fornece sobre as praacuteticas funeraacuterias eventuais redes de trocas e principalmente a possibilidade de virmos a obter dataccedilotildees absolutasQuando analisamos a distribuiccedilatildeo dos materiais recolhidos por tipoquadrado verificamos que natildeo existe nestas primeiras campanhas ne- nhum dado que sobressaiaO conjunto de artefactos de adorno em pedra verde satildeo sem duacutevida mui-to interessantes pois permitem-nos perceber a singularidade deste siacutetio no contexto dos monumentos funeraacuterios neo-calcoliacuteticos existentes em Portu-gal (apesar de existirem milhares resumem-se a umas escassas dezenas os que tecircm este tipo de objetos) e das redes de trocas existentes a niacutevel peninsular De facto a variscite que te vindo a ser estudada nos uacuteltimos anos por um conjunto de investigadores eacute rara e apesar da sua presenccedila em afloramentos estar documentada em cinco locais na P Ibeacuterica apenas

Figura 3 Tipo de espoacutelio recolhido por quadrado

| 275

| 2018

PRANCHA IV

em dois deles (Can Tintorer e Pico Centeno em Espanha) existem evidecircncias da sua exploraccedilatildeo na Preacute-histoacuteria (Odriozola et al 2013)Em termos gerais o espoacutelio recolhido indica-nos a existecircncia de pelo menos 3 periacuteodos de utilizaccedilatildeo deste espaccedilo1) Neo-calcoliacutetico representada pela induacutestria de pedra lascada pedra po- lida objetos de adorno (excetuando a conta em pasta viacutetrea) e a ceracircmica manual

276 |

2) Periacuteodo romano representado pela ceracircmica fina e de pastas claras a con-ta de pasta viacutetrea e provavelmente os objetos em ferro3) Periacuteodo indeterminado (modernocontemporacircneo) representado por al-gumas ceracircmicas mais grosseiras fragmentos de telha e medalha de cobreComo se depreende pela leitura do enunciado anteriormente na ausecircncia de dataccedilotildees de C14 ficamos com duacutevidas sobre o conjunto osteoloacutegico recu-perado podendo corresponder a apenas ao primeiro momento de ocupaccedilatildeo do monumento ou aos dois (neo-calcoliacutetico e romano) A anaacutelise dos dentes que normalmente podem fornecer mais dados por sofrerem diretamente des-gastes ou accedilotildees corrosivas provocadas pela alimentaccedilatildeo parecem remeter este conjunto para o seu periacuteodo de ocupaccedilatildeo original Mas como se referiu apenas a realizaccedilatildeo de dataccedilotildees de C14 poderaacute vir a esclarecer esta prob-lemaacutetica de forma cabal

BIBLIOGRAFIADicionaacuterio Geograacutefico de Portugal 17221832 (1758) ndash Degracias Rabaccedilal Vol 13 PTTTMPRQ29210 [em linha httpdigitarqarquivosptdetailsid=4239869 ] Dicionaacuterio Geograacutefico de Portugal 17221832 (1758) ndash Pombalinho Coimbra Vol 29 PTTTMPRQ29210 [em linha httpdigitarqarquivosptdetailsid=4241258] AUBRY T LLACH J M MATIAS H (2014) ndash Mateacuterias - primas das ferramentas em pedra lascada da Preacute-histoacuteria do Centro e Nordeste de Portugal PA Dinis A Gomes S Mon-teiro-Rodrigues (Eds) Proveniecircncias de Materiais Geoloacutegicos Associaccedilatildeo Portuguesa para o Estudo do Quaternaacuterio 165-192CALADO T ANSELMO D ROCHA L LOacutePEZ COSTAS O SILVA F MONTEIRO A BRANCO G (no prelo) - O conjunto osteoloacutegico da Anta da Casa da Moura (Soure Portugal) XIV Con-greso Nacional e Internacional de Paleopatologia Alicante (Espanha)COONEY G amp MANDAL S (1998) - The irish stone axe project Monograph 1 Wicklow Wordwell Ltd 229ppGONCcedilALVES V S (1989) ndash Megalitismo e Metalurgia no Alto Algarve Oriental uma aproxi-maccedilatildeo integrada Lisboa INICUNIARQ (2 volumes)LE ROUX C-T (1999) - Lrsquooutillage de pierre polie enmeacuteta-doleacuterite du type A Les ateliers de Plussulien (CocirctesdrsquoArmor) Production et diffusion au Neacuteolithique dans la France de lrsquoouest et au-delagrave Travaux du Laboratoire ldquoAnthropologie Preacutehistoire et Quaternaire Armoricains 43 UMR 6566 Universiteacute de Rennes IODRIOZOLA C SOUSA AC BOAVENTURA R VILLALOBOS R (2013) - Componen-tes de adornos de pedra verde de Vila Nova de Satildeo Pedro (Azambuja) estudo de proveniecircncias e redes de troca no 3ordm mileacutenio ane no actual territoacuterio portuguecircs Arqueologia em Portugal 150 anos Lisboa AAP p 457-462SILVA C (2011) ndash SICOacute a dimensatildeo cultural das paisagens Um estudo de Turismo nas suas vertentes Cultural e Natureza Coimbra Universidade de Coimbra Tese de doutoramento policopiadaSILVA F MONTEIRO A BRANCO G ROCHA L (2017) - Anta da Casa da Moura um monumento megaliacutetico no Maciccedilo calcaacuterio de Sicoacute Arqueologia em Portugal 2017 ndash Estado da Questatildeo Lisboa AAP p 521-530

| 277

| 2018

Parasitic frequentation or cultural continuity The re-use of megalithic monuments in the Ancient Middle Bronze Age of the Mondegorsquos Platform

Parasitagem ou continuidade cultural A reutilizaccedilatildeo de monumentos megaliacuteticos no Bronze Antigo Meacutedio da Plataforma do Mondego

ABSTRACTReuse of the big dolmens with long and well developed corridors during the First Bronze Age (Early Middle Bronze Age ndash EBAMBA) has been for some time a well known situation in different areas of Por-tugal namely in the Mondegorsquos Platform Regionally this type of mo- numents were usually built in the Late Neolithic and their first use seems to terminate with that periodrsquos end exceptionally reaching the regio- nal Chalcolithic in a few known cases the corridorrsquos entrance was then ritually closedIf the fact of the reuse of big dolmens in the EBAMBA is well known and generally accepted the reasons behind this fact remain otherwise very much open to discussion Is the phenomenon a simple reuse of a fune- rary space whose functional memory has been preserved or are there behind it other reasons associated with the transformations and socio-cultural changes of the transition tothe Bronze AgeThese and other questions that are raised by such re-uses are then discussed taking into account recent progresses in our knowledge of the transitional processes between the Chalcolithic and the EBA in IberiaKEY WORDS EarlyMiddle Bronze Age Mondegorsquos Platform Megalithism Mentalities

RESUMOA reutilizaccedilatildeo dos grandes dolmens com corredores longos e bem desenvolvi-dos durante a Primeira Idade do Bronze (Bronze AntigoMeacutedio ndash EBA MBA) eacute desde algum tempo uma situaccedilatildeo bem conhecida em diferentes aacutereas de Portugal nomeadamente na Plataforma do Mondego Regionalmente esse

Joatildeo Carlos de Senna-Martinez 1

1 Centre for Archaeology (Uniarq) University of Lisbon 1600-214 Lisboa smartinezflulpt

278 |

tipo de monumentos era habitualmente construiacutedo no Neoliacutetico Final e seu primeiro uso parece acabar com o teacutermino desse periacuteodo chegando excepcio-nalmente ao Calcoliacutetico regional em alguns casos conhecidos a entrada do corredor era entatildeo ritualmente fechadaSe o facto da reutilizaccedilatildeo de grandes dolmens na EBA MBA eacute bem conhecido e geralmente aceite as razotildees por traacutes desse facto perma- necem abertas agrave discussatildeo Consiste o fenoacutemeno numa simples reutilizaccedilatildeo de um espaccedilo funeraacuterio cuja memoacuteria funcional foi preservada ou haacute por detraacutes outras razotildees associadas agraves transformaccedilotildees e mudanccedilas soacutecio-culturais da transiccedilatildeo para a Idade do BronzeEssas e outras questotildees que satildeo levantadas por tais reutilizaccedilotildees satildeo entatildeo dis-cutidas levando-se em conta os recentes avanccedilos do nosso conhecimento dos processos de transiccedilatildeo entre o Calcoliacutetico e a Idade do Bronze na Peniacutensula IbeacutericaPALAVRAS-CHAVE Bronze AntigoMeacutedio Plataforma do Mondego Megali^- tismo Mentalidades

INTRODUCTIONBetween c 24002300 and 1250 BC the development of the first Bronze Age (EarlyMiddle Bronze Age ndash EBAMBA) will bring to Western Iberia along with important continuities some archeographical ruptures which seem to indicate the growing of some social complexities (Senna-Marti-nez and Luis 2016)Particularly in Beira Alta food economies ndash with a developed and stable transhumant pasture component (with in order of importance sheepgoat and cattle ndash cf Cardoso Senna-Martinez and Valera 1995 1998)also incorporating plant gathering components (acorns) and agriculture seeming to have a minor rule ndash really represent the permanence of mark-edly seasonal rhythms of activity with few productivity gains regarding previous historical moments (Senna-Martinez 2000)In the realm of the dead and in addition to the systematic reuse of the great megalithic monuments built in the Final Neolithic ndash reuse which is by itself indicative of some cultural conservatism ndash the first individual funeral constructions arise with burial in cist or pit under tumulus (Cruz 2001)In the funerary offerings the first metallic objects to emerge regionally and some particular forms of pottery - from which bell-beakers are a first expression - hint at some differentiation in social statutes (Senna-Marti-nez and Luis 2016)Coming back to the reuse (or what V Oliveira Jorge called ldquoparasitic fre-quentation2rdquo - JORGE et al 1997) of almost all of the large megalithic

| 279

| 2018

monuments with developed corridor of Beira Alta in the EBAMBA let us explore how this notion accompanying the regional EBAMBA definition and characterization comes into being(1) Vera Leisner first mentioned the idea in an article in which a propos of a pottery vessel found in a Traacutes-os-Montes Dolmen (Leisner 1958) she develops a series of considerations on the related artefacts found in similar situations in the Portuguese Beiras and Northwest Later in the publication of the megalithic necropolis of Carapito (Leisner and Ribeiro 1968) she establishes from the excavation of monument 3 the strati-graphic and temporal differentiation of a set of equivalent materials in relation to a lower level corresponding to a first (Middle Neolithic) use of the monument(2) Already in the seventies of the twentieth century Konrad Spindler and O da Veiga Ferreira formalized the designation Carapito Keramik (Spind- ler and Ferreira 1974 56 and Abb 9) giving it an equivalent meaning to the concept of the Southwest Bronze created by Schubart (1975)(3) In 1984 we produced a first synthesis of all the materials that in the megalithic monuments of Beira Alta we thought meant an EBAMBA re-use of them (Senna-Martinez 1984)(4) Our subsequent excavations of the megalithic monuments of Outeiro do Rato and Fiais da Telha produced contexts that pointed to the reuse of the respective frontal areas with a similar chronology (Senna-Martinez 1989)(5) However it was the excavation (between 1987 and 1989) of ldquoCham-ber 20rdquo of Buraco da Moura de Satildeo Romatildeo (BMSR-203ndash Senna-Martinez 1993b Valera Senna-Martinez and Estevinha 1989) that allowed the first identification in Beira-Alta of an EBAMBA habitat soil attributable to this cultural stage Such identification was all the more important since the soil was clearly stratified between units attributable to the Chalcoli- thic bellow and the Late Bronze Age (LBA) above(6) Finally the study by Antonio Valera of the sites of Linhares (Santa Comba Datildeo ndash Valera 1994a 1994b) Malhada (MALHADA) and Fraga da Pena (FPENA ndash in Fornos de Algodres ndash VALERA 1995 1997 1999) complemented this panorama with new habitat contexts that seem to cover the transition III II millennia cal AC (c2300-1900 cal AC) and date in FPENA case and thus began to prove the long held idea about an EBA dating of most of Central Portugal Bell-beakers (Senna-Martinez 1982 1994 Senna-Martinez and Amaro 1987)Nowadays the Bell-beaker complex earlier disputable beginnings not-2 A concept we personally tend to dislike as it implies an a priori negative view of such reuse that over-simplifies this cultural phenomenon 3After a first mention of a site like this wersquoll be using the acronym

280 |

withstanding (Cardoso 2014 Jeunesse 2015) is currently accepted as representing a package of ldquoStatus Symbolsrdquo appropriated by a few indi-viduals and that in the Iberian area appears between the second half of the third millennium BC and the first quarter of the second (Guerra Doce and Lettow-Vorbeck 2016 Guerra Doce and Lettow-Vorbeck Eds 2016) thus encompassing the Late Chalcolithic and the EBA So we think that in its later phase ndash comprising the PalmelaGeomet-ric and Late Ciempozuelos Groups (Silva and Soares 197677) ndash the bell-beaker phenomenon is an integral part of the process of the genesis of the peninsular cultural groups of the EBA In some cases and at least in the initial stages it constitutes an important part of their respective material culture (Like in the Spanish Meseta Norte) while in others it will function as an intrusive element (even when copied and adapted region-ally) continuing to represent as in the initial moments of the phenome-non for other areas the addition of ritualprestige elements to areas of material culture particularly poor in this elements like Beira Alta (Sen-na-Martinez 2002)

THE UPPER AND MIDDLE MONDEGO BASIN IN THE CONTEXT OF BEI-RA ALTA THE GEOGRAPHICAL AND GEOLOGICAL SETTINGThe Mondego River basin upstream from the Penacova gorges (Fig1) constitutes a transition zone in several and different ways It has been both culturally and geographically ldquothe place where the Atlantic Portugal gives way to Mediterranean Portugalrdquo (Ribeiro 1986152) Its southern limits are the Portuguese central highlands the Serras of Lousatilde Accedilor and Estrela The Serra da Estrela has very good spring and summer pas-tures whose use seems to extend as far back as the Neolithic (Knaap and Van Leeuwen 1994) The western and northwestern boundary the Maciccedilo Marginal separates the middle Mondego basin from the coastal lowlands By going around the Serra do Caramulo the middle Mondego basin opens up to the Vouga and Paiva riversrsquo upper basins whose val-leys constitute two natural passages The first one of these is controlled by the Castro da Senhora da Guia a Late Bronze Age fortified settlement Looking east and north of the Celorico basin the northern Meseta step divides the Mondego basin from north-central Iberia Nevertheless there exist several natural paths as shown by medieval castles defending both sides of the border zone with Castile In the North of our study area the high basins of the Paiva and the Taacutevora rivers link it to the Douro basin which might explain some of the cultural contacts detected

| 281

| 2018

The central part of the upper and middle Mondego basin is a large platform tilted to the Southwest (Ferreira 1978141) Depressed between the Serras of Caramulo and Estrela it is drained mainly by the Monde-go Hercynic granites constitute the bedrock which accounts for its rigid and well-preserved profile Strongly affected by tectonics (Ferreira 197823-8) two NNE-SSW tardi-hercynic fault systems are responsible for the separation of the Beira-Alta central plateaux and the Mondegorsquos platform in relation to the Meseta to the east and to the Maciccedilo Margin-al Gralheira and Montemuro highlands in the West (Ribeiro Lautensach and Daveau 1987245) Other diversely oriented faults determine the formation of the Lousatilde Arganil and Mortaacutegua sedimentary basins near the limits of the Central and Montemuro highlands (Daveau Birot and Ribeiro 1985 1986 Ferreira 1978 174-97)The ldquoschist-grauwacke complexrdquo forms a landscape that differs from the Mondegorsquos platform granites It comprises part of the Central Highlands most of the Alvarsquos basin and some patches in the Northeast of the area

Fig 1 ndash The Middle and Upper Mondego Basin (Gris Oval) The coastline represents the maximum of the flandrian transgression

282 |

studiedThe Serra da Estrela is the arearsquos main hydric reservoir with an annual precipitation of over 1400 mm (Ribeiro Lautensach and Daveau 1988 398 Fig 67) The remaining part of the area considered also has an av-erage annual precipitation between 1400-1200 mm with fresh and cold winters and warm to mild summers (Ibid 434 440 and figs 89 94) Water availability and areas of A class soils form patches of great fertility en-circled by others of class C and F soils (cf Atlas do Ambiente - Carta de Capacidade de Uso do Solo) Nevertheless the post-Medieval transformation of the landscape with marked forest degradation soil alluviation and bottom valley deposition makes it difficult to use modern data for reference and reconstruction of prehistoric soil availability All the modern vegetation cover with the possible exception of the Margaraccedila Reserve and a few other areas is the product of human action The principal vegetation cover for the peri-od under consideration seems to have been a deciduous temperate oak forest (Quercus pyrenaica at altitudes over 600-800m and Quercus robur at lower altitudes - cf Janssen 1985 Janssen and Woldringh 1981 Van Den Brink and Janssen 1985 and Knaap and Van Leeuwen 1994)Palynological analyses of peat cores at Lagoa Comprida and other sites allow Janssen Knaap and Van Leeuwen (Janssen 1985 Knaap and Van Leeuwen 1994) to develop a model of several episodes of degradation of this forest which they attribute to human impact They are marked by deforestation and bush fires at middle and high altitudes of Serra da Estrela and according to the authors quoted could be due to pastoralismA main episode about 3500 BC can well be correlated with the principal phase of development of the megalithic necropoli studied here (Middle Neolithic ndash MN)A second deforestation episode dated from about 1600-1500 BC (MBA) is associated with the first appearance of rye (Secale cereale) The process of deforestation intensifies again from 1000-900 BC onwards (Janssen 1985) All this as we demonstrated (Senna-Martinez 1989 1995 Sen-na-Martinez and Ventura 2008) is consistent with the archaeological data on cultural evolution at the lower altitudesOld paths some of them subsequently followed by the Roman roads (Alarcatildeo 1988 102-5 and fig 20) surely criss-crossed the country How-ever the principal access to our study area from the lower Mondego and littoral plains must have been the river until very recent times (Martins 1940164-6 Oliveira 19721-5) According to Dias (1987) following a

| 283

| 2018

quick transgression in Early Holocene times (c10000-8000 BP Dias 1987330) the sea level stabilised near its present situation invading deeply the lower river valleys (Daveau 198024) between 5000-3000 BP (Dias 1987 334) Even if we cannot be very precise about its limits the Mondegoacutes flandrian estuary can be reconstructed in broad lines for the period under study clearly establishing its importance as a waterway to access the more inland areas Thus the location of lower Mondego late prehistoric sites becomes significant in terms of their possible relations with the ones in our study area

CONTEXTUALIZING AND DISCUSSING THE DATAThe basic data on the known sixteen Megalithic Tombs of Mondegorsquos Platform Group (70) and seven from Alto VougaAlto Paiva Group (30) reused in the First Bronze Age (EBAMBA ndash Senna-Martinez 1989 Sen-na-Martinez Garcia and Rosa 1984) as well as seven other non-funer-ary sites can be found in Table-I It includes their location by County main diagnostic materials present and main references availableAs we argued before pottery types and metal artefacts are between the most distinctive items that can be used to characterize an EBAMBA reuse of archaeological sites in Western Iberia and namely in Beira-Alta (Senna-Martinez 1989 1993a 1994 2000 2009 2013 Senna-Marti-nez Garcia and Rosa 1984 Senna-Martinez and Luis 2016)In the Iberian Atlantic facade more elaborate and sometimes finer wares preferentially dedicated to funerary use are the rule during Early and Middle Bronze Ages in contrast to what happens previously during the Late Neolithic and most of the Chalcolithic when all domestic ceram-ic types found their way into funerary use (Senna-Martinez 2009 p468)During the EBA ldquo2nd generationrdquo beakers can be preferentially used in some regional areas while different and new pottery types predominate in others (Senna-Martinez and Luis 2016)In North-Western Iberia and Beira Alta we can document new technical improvements in general use vessels during the Early and Middle Bronze Ages (Luis 2013 2010 Senna-Martinez 1994 1993a 1993b) Namely better clay and temper preparation flat bottoms generalization roll han-dles and composite profiles appearAll alongside Atlantic faccedilade of Iberia the transition for the EBA will see that all the diverse and complicated ritual collective arrangements (funer-ary or other ndash Senna-Martinez 2014) collapse at the end of the Chalco-lithic and are replaced by simpler set-tlement systems and an individual

284 |

treatment of the dead that concentrate some wealth and status display in very few masculine individuals (Senna-Martinez and Luis 2016)The elaborate female representations linked to Chalcolithic ritual and the agricultural cycle as a metaphor for the perception of life and death (Wil-liams 2003) will also dis-appear with the beginning of the EBA and a new and very restricted status iconography will appear which is based on the male gender and on metallic weapons and jewellery (Senna-Martinez 2014)To put it simple the higher communitarian investment in ritual and so-cial regulation which is in its maximum complexity in Middle Chalcolithic Western Iberia settlement systems will collapse in the Late Chalcolithic and will be replaced by simpler individualized systemsIt seems that what is in question in the beginning of the Bronze Age is ultimately the replacement of systems requiring a great collective effort in the construction and maintenance of various architectural types used for burial and ritual by more economic ones That way and in the new EBA systems the larger collective investment of the Chalcolithic is replaced by a smaller one now individualized and related to the first masculine power figures (Senna-Martinez and Luis 2016)Until 1992 the only habitat context known on the Mondego platform and attributable to the EBA was the intermediate occupation of BMSR-20 (Senna-Martinez 1993b) When the ldquomonumentalizedrdquo site of the FPENA was discovered studied (Valera 1994b 1997 2007) and complemented with the data of the habitat sites of MALHADA (Valera 1994b 1995) and Linhares (LINH ndash Valera 1994a 1999) the situation changedThe analysis of funerary contexts in the reused megalithic monuments led to the charac-terization of a whole new series of types of pottery (Fig2) which differed significantly from previously known regional neo-chalco-lithic productions (Senna-Martinez 1984 and 1993a 72-74 Senna-Mar-tinez Garcia and Rosa 1984) Among these several of the newly iden-tified pottery forms allowed inter-regional parallels with Southern Iberia the Atlantic Estremadura and the Portuguese Northwest cultural areas (Senna-Martinez 1993a) allowing the possibility of a study of interre-gional interactions As the study of BMSR-20 EBAMBA occupation showed and was con-firmed at Fraga da Pena this pottery types with preferential funerary use were also present in these domestic contexts being associated there with a whole set of pottery forms belonging to what we have been designating since 1989 as a ldquoneo-chalcolithic common pottery fundrdquo

| 285

| 2018

Fig 2 ndash Beira Alta EBAMBA pottery types (according to Senna-Martinez Garcia and Rosa 1984)

286 |

(Senna-Martinez 1989) But while EBAMBA pottery types represented only 11 of the ones found at BMSR-20 (and similarly at FPENA ndash Valera 2007) those of the ldquocommon fundrdquo reached 89 while the situation reversed completely in the megalithic monuments studied (Senna-Marti-nez 1993b 55-65) Instead of what happened in the regional Final Neo-lithic only a few elements of the ceramic equipment then in use were thought to be adequate for preferential funerary deposition with the out-come of the EBABecause of its location contexts and structures we think that BMSR-20 occupational levels represent a human presence with eminently season-al or even temporary contours The EBAMBA occupation complex habitat soil that was excavated in Room 20 may have resulted from frequent vis-its with such character (Senna-Martinez 2000) The same interpretation can be proposed about the habitat site of Linhares (Valera 2007) and probably also to the still unpublished collection of materials from S Tomeacute (STOME ndash Travanca de S Tomeacute Carregal do Sal) So we think that only FPENA and MALHADA can thus correspond to more permanent types of habitat sites (Valera 2007) The nature of the reuse of megalithic monuments during the EBAMBA in Beira Alta is the next question we want to address We first thought (Senna-Martinez Garcia and Rosa 1983 Senna-Martinez 1989) that a funerary utilization was the probable explanation here as in other West-ern Iberian Peninsula areas (Jorge et al 1997 Oliveira 1995) This is surely a probable explanation when excavated contexts show the finds to be dispersed in the interior of the chamber and corridor of the monu-ments as for example in the cases of Orca de Seixas (ORSEI ndash cf the late Bell-beaker set in the top of the corridor sediments ndash Leisner 1998 Abb1 Senna-Martinez 1994) Orca das Castenairas (ORCAST ndash Leisner 1998 Abb3) Orca do Outeiro do Rato (OROR ndash Senna-Martinez 1989 1994 Senna-Martinez and Amaro 1987) and Dolmen 3 do Carapito (CARP3 ndash cf the upper level of depositions ndash Leisner and Ribeiro 1968) The two human bone C14 dates obtained for Arquinha da Moura (ARQM ndash which have a sum of probabilities of 2197-1978 cal BC for a 2 σ prob-ability (Cruz 2001 265) clearly situate the associated pottery vessels (Fig3) in the EBAOtherwise in other cases some or all of the EBAMBA materials are deposited at the entrance of the megalithic monuments in what can be called an atrium for example in the cases of OROR (Senna-Martinez 1989 1994 Senna-Martinez and Amaro 1987) Orca dos Fiais da Telha

| 287

| 2018

(ORFI ndash Senna-Martinez 1989 Ventura 1998) and Orca do Pinhal dos Amiais (ORAMI ndash Pinheiro 2012) In the case of ORCAST the dating of charcoal patches in the atrium (fireplaces) provided two C14 dates (OxA-7436 and GrA-9314) with a sum of probabilities of 1740-1438 cal BC for a 2 σ probability (Senna-Martinez and Ventura 2008) that fits well within the MBA reuse of the monu-ment We think that this last type of reuse of the monuments demonstrates that the role of the atrium as a ldquoscenic or representational spacerdquo which made this type of monuments to function like ldquotemplesrdquo in the full sense of the term with closed spaces and reserved access (chamber and corri-dor) and open spaces (atriums) for a wide audience (Senna-Martinez and Ventura 1999) maintained its function with the advent of the EBA even in the cases of a previous condemnation of the corridors entrance (in the Late Neolithic) as in the cases of ORCAST and ORFI for exampleThe pottery type that is the most represented in the EBAMBA reuse of

Fig 3 ndash Arquinha da Moura EBA pottery (drawings courtesy JA Dias montage JC Senna-Martinez)

288 |

the monuments under study is our type 26 (Figs2 and 4) the so called vasos tronco-coacutenicos invertidos (inverted tronco-conical vessels) This vessel type which are now generally considered to mostly belong to the EBAMBA and in the EBA may occur in parallel or associated with late bell-beakers for instance in the Iberian North-West (Prieto Martiacutenez 2011)The demonstration that they were sometimes used in the consumption of beer (Id Ibid) may be part of the explanation why they seem to have had a preferential use as a grave good ndash eventually in a ritual role of commen-sality followed by the offering of the vessel ndash namely in the northern half of the Portuguese territory (Senna-Martinez and Luiacutes 2016 117)We have proposed that the inverted tronco-conical vessels represent an early standardised system for volume measurement that arose in EBA (Senna-Martinez 1984 1993a) Up to now no contradiction of the sta-tistical basis of our model was advanced despite some week criticism of the archaeological implications of our hypothesis proposed by Vilaccedila (1995) and Valera (2007)Recently our attention was called to an important paper by A Valera re-garding neo-chalcolithic salt production (Valera 2017) in Western Iberia In it the author reviews the available evidence for salt production in the lower Tagus and Sado rivers estuaries We are here particularly interest-ed in the site of Monte da Quinta 2 (Benavente) for which the complete process of production could be reconstructed (Valera 2017 106-111) The moulds used for salt crystallisation are specially produced for the effect locally in a standardized mode resulting in inverted tronco-conical vessels (Fig5 ndash cf Valera 2017fig4c-d)The average capacity of Monte da Quinta 2 salt moulds is of 320 cm3 (Valera 2017 111 Table 2) which falls within the statistical interval we found for our EBAMBA inverted tronco-conical vessels ldquocluster 2rdquo 289 plusmn 37 cm3 (Senna-Martinez 1993a 86) So it could be that an empirical system of volume measurement linked to salt circulation appeared in the lower Tagus basin area during the Final Neolithic and Chalcolithic With the advent of the EBA the system could have been adopted northwards and extended to be used with other products The production of a more robust long-lasting and as we mentioned above multifunc-tional type of container must be seen in the context of the transition for the EBAWe recently acknowledged a deficit of information about EBA and MBA set-tlement systems in western Iberia (Senna-Martinez and Luis 2016 124)

| 289

| 2018

Fig 4 ndash Funerary contexts and habitat sites mentioned in the paper in use during the EBAMBA in Central Portugal with inverted tronco-conical vessels ( Caves ndash

Megalithic Monuments ndash Habitats) The coastline represents the maximum of the flandrian transgression 1- Redondas 2- Carvalhal de Turquel 3- Casal da Torre 4- Praganccedila 5- Buraco da Moura de S Romatildeo 6- Complexo 1 do Penedo da Penha 7- Dolmen of Bobadela 8- Dolmen of Seixo of Beira 9- Dolmen of Sobreda 10- Fraga da Pena 11- Malhada 12- Orca dos Fiais da Telha 13- Orca do Outeiro do rato 14- Orca do Pinhal Dos Amiais 15- Orca de Rio Torto 16- Orca do Carvalhal da Louccedila 17- Orca dos Braccedilais 18- Orca dos Padrotildees 19- Casa da Orca da Cunha Baixa 20- Orca 3 do Carapito 21-Grupo do Alto VougaAlto Paiva (Orca de Antas Orca das Castenairas Orca de Seixas Orca do Tanque Orca dos Juncais Orca de Forles)

290 |

Fig 5 ndash Moulds for salt production from Monte da Quinta 2 From Valera 2017 fig4C-D with permission

Fig 6 ndash The Stelae Route in the EBAMBA and the stelae that signal it through the Portuguese Beiras till East-ern Traacutes-os-Montes

| 291

| 2018

This situation was already recognized by Susana Oliveira Jorge (Jorge 19961997) who blamed the proliferation of smaller more disperse and consequently less archaeographically visible set-tlements after the ldquoChal-colithic collapserdquo but left open the question of why it happenedIn Western Iberia and in the areas where we actually have some infor-mation there is no evidence of special ldquochiefrsquos housesrdquo much less of a hierarchical settlement system in between them There is also no evi-dence for the existence of central food storage facilities thus implying the lack of evidence for any kind of centralized accumulation In particular for Beira-Alta all the available evidence points to very conservative EBAMBA communities namely in the funerary practices and we only know two indi-vidual burial mounds for all the area under consideration whose dating fall within the EBAMBA (Serra da Muna 1 and 3 ndash Cruz 2001 267 Quadro XLVIII) There are however various others known which were not yet excavated or object of C14 dating (Cruz 2001) The concentration of the later in the eastern periphery of Beira Alta must be considered together with other dataEastern Beira Alta (or Beira Transmontana) is crossed from South to North by the Cocirca river basin which constitutes part of an old natural way (nowadays mostly followed by the IP2) linking Northeast Alentejo to Traacutes-os-Montes and which we have been calling the stelae route (Senna-Mar-tinez 2013a 2013b) The importance of this passageway can be followed from Late Palaeo-lithic (when it probably functioned as a seasonal transhumance route for herbivores emphasised by the Lower Cocirca open air ldquosanctuaryrdquo of Palae-olithic Art ndash cf Zilhatildeo Ed 1997) through the Neolithic (as a circulation route for the variscites from the Zamora area) with a clear increase in im-portance from the Late Chalcolithic through the Bronze Age (Senna-Mar-tinez 2013a 2013b) During the EBAMBA this route through the Portuguese Beiras is signalled by the first ldquopower figuresrdquo (Fig6) materialized in the menhir-statues with weapons placed alongside it from Beira Baixa to Southern Galicia The presence of the stelae of Longroiva (EBA) Corgas (MBA) Nave (MBA) and Atauacutedes (MBA) with the respective representations of metal weap-ons constitutes the materialization of one of the important social chang-es that the EBA introduced regarding the Neo-Chalcolithic the emergence of a new symbolic system revealed by the fading of feminine iconogra- phic representation the development of a masculine iconography and the role of metal weapons and jewellery as social markers of prestige and

292 |

Table-IM

egalithic Tombs and H

abitat Sites of Mondegorsquos Platform

and Alto VougaA

lto Paiva Groups used or reused in the EarlyM

iddle Bronze

Age

| 293

| 2018

power (Senna-Martinez 2007 p120)We think there is no coincidence that the northeastern concentration of non-megalithic tombs of the MBALBA studied by Domingos Cruz (Cruz 2001) borders the stelae route This route was instrumental for the NorthSouth circulation of products ideas and by necessity people When the Beaker Complex disperses throughout Iberia where modern genetic analysis shows that the majority of Beaker-complex-associated individuals was genetically most similar to preceding Iberian populations and lacked steppe affinities that are present all through Central Europe to the British Isles (Olalde et al 2018) the reasons behind this expansion are probably more socio-cultural then demicThe thirteen metal artefacts from Beira Alta attributed to the EBAMBA are summarized in Table-II with their chemical composition when known The table also includes the only foundry testimony we have from the EBA a crucible fragment from the Malhada habitat (Fornos de Algocircdres ndash cf Valera 2007)All the items of Table-II belong to the EBA with the exception of the axe of Barcelos type from Canas de Sabugosa (Tondela) which can be attributed to the MBA

Fig 7 ndash Frontal Skeuomophs from Eastern Beira Alta and Beira Baixa North Portugal and Western North-ern Meseta 1- Atauacutedes 2- Bouccedila 3- Longroiva 4- Nave 1 5- Nave 2 6- Soalar 7- Tremedal de Tormes 8- S Martinho 3

294 |

If ldquometals do not make the world go aroundrdquo in Bronze Age Iberia as we argued (Senna-Martinez and Luis 2016) they nevertheless are surely archaeographic markers of social development namely when the scale of metallurgical operations is very small and simple producing metal mainly through use of open-vessel reduction of copper oxides andor carbonate ores (Rovira and Ambert 2002) As we proposed ldquohellipthe EBA will see the generalization of copper artefacts production in Iberia (mainly arsenical copper) as well as the first golden pieces of jewellery (and rarely of silver) In several Iberian regional areas the first weapons in arsenical cooper (halberds tongue-daggers Palmela points first swords) and simple jewellery of beaten gold (spiral rings ear-rings diadems and ldquoarcher brassardsrdquo) will go together with what we usu-ally call ldquosecond generationrdquo bell-beakershelliprdquo (Senna-Martinez 2013a 11-12)This is the type of situation when only a few ldquoselectrdquo individuals will have access to metal artefacts and these will constitute status symbols (Sen-na-Martinez and Luis 2016 118)As Table-II shows for Beira Alta we clearly have a situation where the scarcity of the items produced in arsenical copper ndash not to mention the absolute rarity of items in gold ndash and their main association as funerary offerings of select few burials (even when they reuse previously built large dolmens) points towards a non-technomical character for the regional

Table-IIEarlyMiddle Bronze Age Metal Artefacts from the Mondegorsquos Platform

EDxRF elementary analysis

| 295

| 2018

Fig 8 ndash Dorsal Skeuomophs from Eastern Beira Alta North Portugal and Western Northern Meseta 1- Cha-ves 2- Muintildeo de San Pedro 3- Tameiroacuten 4- Satildeo Joatildeo de Ver (Redrawn from Diacuteaz-Guardamino (2009)

EBA metallurgy The situation could be compounded by the fact that the absence of known metal working areas ndash with the sole crucible fragment from Malhada being the possible indicator of an exception ndash could imply that we are in presence of artefacts produced either locally or elsewhere

CONCLUDINGhellip THE NEED FOR POWER LEGITIMATION IN EBA BEI-RA ALTAWe have characterized the development of Beira Alta societies during the EBAMBA as conservative (Senna-Martinez 2000) The reuse of older megalithic monuments for a new era of symbolism surely fits this descrip-tion but we think the reason behind this fact lies with the need of the new male protagonists to reclaim the old Neolithic matrilineages as ancestors and a legitimization source of the new powers to be We can add to the conservatism the reuse in the new ldquopower figuresrdquo iconography of an old Neolithic symbol the ldquoskeuomorphrdquo This symbol depicting a skinned hide and occupying either the front or the back of the male power fi- gure (Figs7-8) is present in the Longroiva stela and many others (Fig9) where it represents a probable late maintenance of the Neolithic sym-bol present in the ldquomegalithic artrdquo of the northern half of Western Iberia (Twohig 1981 23) These symbols distribution in Iberia follows mostly the ldquostelae routerdquo of Eastern Beira Alta (cf Diacuteaz-Guardamino 2009 143)We argued that various tensions and balances pass through the neo-chal-

296 |

colithic system of beliefs that underlies the megalithic art in Beira Alta For us the symbolic oppositions complementarities present in its ico-nography reflect the characteristics of the regional Neolithic a world where hunting and pastoralism are associated with winter-fruits collect-ing (mainly acorns) in societies not yet fully agricultural and in which andriarchal values and representations remain structural (Senna-Marti-nez and Ventura 2008 328-332) In the new EBA system male power legitimation can thus be seen in continuity with earlier Neolithic social beliefs adding and transforming what was needed to fulfil the new power agenda and legitimate the new power actors

Lisbon ndash July 2018

Fig 9 ndash The distribution of the EBAMBA Stelae and Menhir-Statues in Iberia Based in Diacuteaz-Guardamino (2009 143 fig92) redrawn

| 297

| 2018

REFERENCESALARCAtildeO AM 1988 O Domiacutenio Romano em Portugal Europa-Ameacuterica Mem-Mar-tinsALMAGRO M (1966) ndash Las Estelas Decoradas del Suroeste Peninsular Madrid Con-sejo Superior de Investigaciones Cientiacuteficas (Bibliotheca Praehistorica His-pana Vol VIII)ALVES L REIS M (2011) ndash Memoriais de pedra siacutembolos de Identidade Duas novas peccedilas escultoacutericas de Cervos (Montalegre Vila Real) Actas das IV Jornadas Raianas ldquoEstelas e estaacutetuas-menires da Preacute agrave Proto-histoacuteria Sabugal p187-216BANHA C VEIGA AM e FERRO S (2009) ndash A Estaacutetua-Menir de Corgas (Donas Fundatildeo) Contributo para o Estudo da Idade do Bronze Na Beira Interior Asso-ciaccedilatildeo de Estudos do Alto Tejo ACcedilAFA On Line nordm 2 (httpwwwaltotejoorgacafadocsN2A_estatua-menir_de_Corgaspdf)CARDOSO J L (2014) ndash Absolute chronology of the Beaker phenomenon north of the Tagus estuary demographic and social implications Trabajos de Prehistoria 71 p56ndash75CARDOSO JL SENNA-MARTINEZ JC and VALERA AC (1995) ndash Um indicador econoacutemico para o Bronze Pleno da Beira Alta A fauna de grandes mamiacuteferos da Unidade Estratigraacutefica 4 da lsquoSala 20rsquo do Buraco da Moura de S Romatildeo (Concelho de Seia) Actas do III Encontro do Quaternaacuterio Ibeacuterico Coimbra pp 457-460CARDOSO JL SENNA-MARTINEZ JC and VALERA AC (1998) ndash Aspectos da Economia Alimentar do Bronze Pleno da Beira Alta A fauna de grandes mamiacuteferos das laquoSalas 2 e 20raquo do Buraco da Moura de S Romatildeo (Seia) Trabalhos de Arqueologia da EAM 34 p253-261CASTRO MARTIacuteNEZ P V CHAPMAN RW SURINtildeACH SG LULL V MICOacute PEREZ R RIHUETE HERRADA C RISCH R and SANAHUJA YLL ME (1993-94) ndash Tiempos sociales de los contextos funerarios argaacutericos Murcia Anales de la Universidad de Murcia 9-10 p 77-105COMENDADOR REY B RODRIacuteGUEZ MUNtildeIZ V e MANTEIGA BREA A (2011) ndash A estatua menhir do Tameiroacuten no contexto dos resultados do proxecto de intervencioacuten arqueoloacutexica no Monte Urdintildeeira e o seu contorno (A Gudintildea-Rioacutes Ourense) Actas das IV Jornadas Raianas ldquoEstelas e estaacutetuas-menires da Preacute agrave Proto-histoacuteria Sabu-gal p217-244CRUZ D (2001) ndash O Alto Paiva megalitismo diversidade tumular e praacuteticas rituais durante a Preacute-histoacuteria Recente PhD Thesis University of Coimbra PolicopiedCRUZ D e SANTOS AT (2011) ndash As estaacutetuas-menires da serra da Nave (Moimenta da Beira Viseu) no contexto da ocupaccedilatildeo preacute-histoacuterica do Alto Paiva e da Beira Alta Actas das IV Jornadas Raianas ldquoEstelas e estaacutetuas-menires da Preacute agrave Proto-histoacuteria Sabugal p117-242CUNHA AM (1995) ndash Anta da Arquinha da Moura (Tondela) Trabalhos de Antro-po-logia e Etnologia 35(3) p133-151CUNHA AM (1993) ndash Pinturas rupestres na anta da Arquinha da Moura (Concelho de Tondela Viseu) notiacutecia preliminar Estudos Preacute-Histoacutericos 1 p83-95DAVEAU S (1980) ndash Espaccedilo e tempo Evoluccedilatildeo do ambiente geograacutefico de Portugal ao longo dos tempos preacute-histoacutericos Clio 2 pp13-37DAVEAU S BIROT P and RIBEIRO O (1985) ndash Les Bassins de Lousatilde et drsquoArga-nil

298 |

VolI - Le Bassin Seacutedimentaire Lisboa Centro de Estudos Geograacuteficos da Universi-dade de LisboaDAVEAU S BIROT P and RIBEIRO O (1986) ndash Les Bassins de Lousatilde et drsquoArga-nil VolII - LrsquoEacutevolution du Relief Lisboa Centro de Estudos Geograacuteficos da Uni-versidade de LisboaDIAS JMA (1987) ndash Dinacircmica sedimentar e evoluccedilatildeo recente da plataforma con-ti-nental portuguesa setentrional PhD Thesis in Geography University of LisbonDIacuteAZ-GUARDAMINO MM (2009) ndash Las Estelas Decoradas en la Prehistoria de la Peniacutensula Ibeacuterica PhD thesis Madrid Facultad de Geografiacutea e Histo-riaUniversidad Complutense de Madrid 2 VolsESTEVINHA IMA SENNA-MARTINEZ JC and VALERA AC (1989) ndash O Complexo 1 do Penedo da Penha Vale de Madeiros (Canas de Senhorim) alguns resultados pre-liminares da campanha 1(987) Actas do I Coloacutequio Arqueoloacutegico de Viseu Governo Civil de Viseu p125-142FERREIRA AB (1978) ndash Planaltos e Montanhas do Norte da Beira Lisboa Memoacute-rias do Centro de Estudos Geograacuteficos 4GOMES L F (1996) ndash A necroacutepole megaliacutetica da Lameira de Cima (Penedono - Vi-seu) Viseu laquoEstudos Preacute-Histoacutericosraquo 4GOMES LF and CARVALHO PS (1993) ndash Novos elementos sobre o vaso campa-ni-forme na Beira Alta Estudos Preacute-Histoacutericos 1 p29-49GUERRA DOCE E and LETTOW-VORBECK CL (2016) ndash Introduction E Guerra Doce and C Liesau Von Lettow-Vorbeck Eds Analysis of the Economic Foundations Sup-porting the Social Supremacy of the Beaker Groups Oxford Archaeopress pv-viGUERRA DOCE E and LETTOW-VORBECK CL Eds (2016) ndash Analysis of the Eco-nomic Foundations Supporting the Social Supremacy of the Beaker Groups Oxford ArchaeopressJANSSEN CR (1985) ndash Histoacuteria da vegetaccedilatildeo S Daveau Ed Livro-Guia da Preacute-Re-uniatildeo Glaciaccedilatildeo da Serra da Estrecircla - Aspectos do Quaternaacuterio da Orla Atlacircn-tica Lisboa GTPEQ-GETQ p66-72JANSSEN CR and WOLDRINGH RE (1981) ndash A preliminary radiocarbon dated pollen sequence from the Serra da Estrela Portugal Finisterra XVI (32) p299-309JEUNESSE C (2015) ndash The dogma of the Iberian origin of the Bell Beaker attempting its deconstruction Journal of Neolithic Archaeology 16 p158ndash166JORGE S O (19961997) ndash Diversidade regional na Idade do Bronze da Peniacutensu-la Ibeacuterica Visibilidade e opacidade do registo arqueoloacutegico Portugalia (NS) 17-18 p77-96JORGE V BAPTISTA AM SILVA EJL and JORGE SO (1997) ndash As mamoas do Alto da Portela do Pau (Castro Laboreiro Melgaccedilo) Trabalhos de 1992 a 1994 Porto SPAEJORGE V O e JORGE S O (1990) ndash Statues-Menhirs et Stegraveles du Nord du Portugal Revista da Faculdade de Letras (Porto) II Seacuterie VII p299-324KNAAP W O V amp VAN LEEUWEN J F N (1994) ndash Holocene vegetation human im-pact and climatic change in the Serra da estrela Portugal A F Lotter amp B Am-Mann Eds Festschrift Gerhard Lang laquoDissertationes Botanicaeraquo 234 p497-535LEISNER V (1998) Die Megalithgraber der Iberischen Halbinsel Der Westen 4 Lie-ferung Berlin Walter de Gruyter amp CO

| 299

| 2018

LEISNER V (1958) ndash Nota sobre um vaso transmontano Arqueologia e Histoacuteria 8ordf Seacuterie VIII p145-53LEISNER V and RIBEIRO L (1968) ndash Die Dolmen von Carapito Madrider Mitteilun-gen 9 p11-62LUIacuteS E (2013) ndash Fraga dos Corvos habitat site (Macedo de Cavaleiros) - the ceramic industry in the context of northern Portugalrsquos Bronze Age J C Sastre Blanco R Catalaacuten Ramos and P Fuentes Melgar Eds Arqueologiacutea en el Valle del Duero Del Neoliacutetico a la Antiguumledad Tardiacutea Nuevas perspectivas Madrid Ediciones de la Er-gastula p67-75LUIacuteS E (2010) ndash A Primeira Idade do Bronze no Noroeste O conjunto ceracircmico da Sondagem 2 do Siacutetio da Fraga dos Corvos (Macedo de Cavaleiros) MA thesis in Ar-chaeology University of LisbonMARTINS AF (1940) ndash O Esforccedilo do Homem na Bacia do Mondego CoimbraRIBEIRO O (1986) ndash Portugal o Mediterracircneo e o Atlacircntico Lisboa Saacute da Costa 4ordf EdOLALDE I et al (2018) ndash The Beaker phenomenon and the genomic transformation of northwest Europe Nature 555 p190-196OLIVEIRA A (1971) ndash A Vida Econoacutemica e Social de Coimbra de 1537 a 1640 VolI Coimbra Imprensa da UniversidadeOLIVEIRA A (1972) ndash A Vida Econoacutemica e Social de Coimbra de 1537 a 1640 VolII Coimbra Imprensa da UniversidadeOLIVEIRA J (1995) ndash Introduccedilatildeo ao estudo das sepulturas megaliacuteticas da margem esquerda do rio Sever PhD Thesis in Prehistory and Archaeology University of Eacutevora 3 VolsPINHEIRO P (2012) ndash A Orca do Pinhal dos Amiais no contexto do Megalitismo na Plataforma do Mondego MA Thesis in Archaeology University of LisbonPRIETO MARTIacuteNEZ Maria del Pilar (2011) ndash Vasos troncocoacutenicos y cerveza en con-textos campaniformes de Galicia la cista de A Forxa como ejemplo Maria del Pi-lar Prieto Martiacutenez y Laure Salanova Eds Las Comunidades Campaniformes en Galicia Cambios sociales en el III y II milenios BC en el NW de la Peniacutensula Ibeacute-rica Pontevedra Diputacioacuten de Pontevedra p 119-125RIBEIRO O LAUTENSACH H and DAVEAU S (1987) ndash Geografia de Portugal I A Posiccedilatildeo Geograacutefica e o Territoacuterio Lisboa Saacute da CostaRIBEIRO O LAUTENSACH H and DAVEAU S (1988) ndash Geografia de Portugal II O Ritmo Climaacutetico e a Paisagem Lisboa Saacute da CostaSANTONJA GOacuteMEZ M e SANTONJA ALONSO M (1978) ndash La estatua-menhir de Val-defuentes de Sangusiacuten (Salamanca) Boletiacuten Informativo de la Asociacioacuten Es-pantildeola de Amigos de la Arqueologia 10 p19-24SCHUBART H (1975) ndash Die Kultur der Bronzezeit im Sudwesten der Iberischen Hal-binsel Walter de Gruynotter Berlin 2 VolsSENNA-MARTINEZ JC (2014) ndash Death as ldquolifersquos mirrorrdquo Funerary practices and tra-jectories of complexity in the prehistory of peasant societies of Iberia A CRUZ et al Eds Rendering Death Ideological and Archaeological Narratives from Recent Prehis-tory (Iberia) Oxford Archaeopress BAR International Series 2648 p35-44SENNA-MARTINEZ JC (2013a) ndash Metals Technique and Society The Iberian Pen-in-sula between the first Peasant Societies with Metallurgy and the ldquoUrban Revolu-tionrdquo

300 |

MF GUERRA and I TISSOT Eds A Ourivesaria Preacute-Histoacuterica do Ocidente Peninsular Atlacircntico Compreender para Preservar Lisbon Projecto AuCORRE p11-20SENNA-MARTINEZ JC (2013b) ndash Um rio na(s) rota(s) do estanho O Tejo entre a Idade do Bronze e a Idade do Ferro Vila Franca de Xira Cacircmara Municipal de V Franca de Xira CIRA Arqueologia 2 p7-18SENNA-MARTINEZ J C (2009) ndash Armas lugares e homens Aspectos das praacuteticas simboacutelicas na Primeira Idade do Bronze Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 17 p 467-488SENNA-MARTINEZ J C (2007) ndash Aspectos e Problemas das Origens e Desenvolvi-mento da Metalurgia do Bronze na Fachada Atlacircntica Peninsular Estudos Arqueoloacutegi-cos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 15 p 119-134SENNA-MARTINEZ J C (2002) ndash Aspectos e Problemas da Investigaccedilatildeo da Idade do Bronze em Portugal na segunda metade do seacuteculo XX Arqueologia 2000 Balanccedilo de um seacuteculo de investigaccedilatildeo arqueoloacutegica em Portugal Lisboa Associaccedilatildeo dos Ar-queoacutelogos Portugueses p103-124SENNA-MARTINEZ JC (2000) ndash O Bronze Pleno Uma Transformaccedilatildeo na Con-tinui-dade J C Senna-Martinez and I Pedro Eds Por Terras de Viriato Arqueologia da Regiatildeo de Viseu Viseu Governo Civil do Distrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia p105-114SENNA-MARTINEZ JC (1995) ndash The Late Prehistory of Central Portugal a first dia-chronic view KT Lillios Ed The Origins of Complex Societies in Late Pre-historic Ibe-ria Ann Harbor Michigan International Monographs in Prehistory laquoArchaeological Seriesraquo 8 p64-94SENNA-MARTINEZ JC (1994) ndash Notas para o estudo da geacutenese da Idade do Bronze na Beira Alta o fenoacutemeno campaniforme Trabalhos de Arqueologia da EAM 2 p163-190SENNA-MARTINEZ JC (1993a) ndash Duas contribuiccedilotildees arqueomeacutetricas para o estudo do Bronze AntigoMeacutedio do Centro e Noroeste de Portugal Trabalhos de Arqueologia da EAM 1 p77-91SENNA-MARTINEZ JC (1993b) ndash A ocupaccedilatildeo do Bronze Pleno da lsquoSala 20rsquo do Bura-co da Moura de Satildeo Romatildeo Trabalhos de Arqueologia da EAM 1 p55-76SENNA-MARTINEZ JC (1989) ndash Preacute-Histoacuteria Recente da Bacia do Meacutedio e Alto Mon-dego algumas contribuiccedilotildees para um modelo sociocultural PhD Thesis in Prehistory and Archaeology University of Lisbon 3 VSENNA-MARTINEZ JC (1984) ndash Contribuiccedilotildees arqueomeacutetricas para um modelo so-ciocultural padrotildees volumeacutetricos na Idade do Bronze do Centro e NW de Portugal ClioArqueologia 1 p169-188SENNA-MARTINEZ JC (1982) ndash Materiais campaniformes do Concelho de Oliveira do Hospital (Distrito de Coimnotbra) Clio 4 p19-34SENNA-MARTINEZ JC and AMARO R (1987) ndash Campaniforme tardio e iniacutecios da Idade do Bronze na Orca do Outeiro do Rato Lapa do Lobo nota preliminar Da Preacute-Histoacuteria agrave Histoacuteria Homenagem a Octaacutevio da Veiga Ferreira Lisboa Delta p265-271SENNA-MARTINEZ J C e LUIacuteS E (2016) ndash Technique and Social Complexity Deve- lopment Trajectories of Peasant Societies with Metallurgy during the Bronze Age of Western Iberia J Soares Ed Social complexity in a long term perspective Proceed-

| 301

| 2018

ings of Session B15 of UISPP 17th Congress Setuacutebal Arqueoloacutegica 16 p115-130SENNA-MARTINEZ J C LUIacuteS E REPREZAS J LOPES F FIGUEIREDO E ARAUacuteJO MF and SILVA RJC (2013) ndash Os Machados BujotildeesBarcelos e as Origens da Me- talurgia do Bronze na Fachada Atlacircntica Peninsular JM Arnaud A Martins and C Neves Eds Arqueologia em Portugal ndash 150 Anos Lisbon Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelo-gos Portugueses p591-600SENNA-MARTINEZ JC GARCIA MF and ROSA MJ (1984) ndash Contribuiccedilotildees para uma tipologia da olaria do megalitismo das Beiras olaria da Idade do Bronze (I) ClioArqueologia 1 pp105-38SENNA-MARTINEZ J C e VENTURA JMQ (2008) ndash Do mundo das sombras ao mun-do dos vivos Octaacutevio da Veiga Ferreira e o megalitismo da Beira Alta meio seacuteculo depois Homenagem a Octaacutevio da Veiga Ferreira Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p317-350SENNA-MARTINEZ J C amp VENTURA J M (1999) ndash Espaccedilo Funeraacuterio e laquoEspaccedilo Ceacuteni-coraquo a Orca do Folhadal (Nelas) Trabalhos de Arqueologia da EAM Lisboa 5 p21-34SILVA C T and SOARES J (197677) ndash Contribuiccedilatildeo para o conhecimento dos povo-ados calcoliacuteticos do Baixo-Alentejo e Algarve Setuacutebal Arqueoloacutegica 2-3 p179-272SPINDLER K and FERREIRA O V (1974) ndash Das Vorgeschichtliche Fundmaterial aus der Gruta do CarvalhalPortugal Madrider Mitteilungen 15 p28-76TWOHIG E S (1981) ndash The Megalithic Art of Western Europe Oxford Oxford Uni-ver-sity PressVALERA AC (2017) ndash Salt in the 4th and 3rd Millennia BC in Portugal specialization distribution and consumption Cuaternario y Geomorfologiacutea 31 (1-2) p105-122VALERA AC (2007) ndash Dinacircmicas locais de identidade estruturaccedilatildeo de um espaccedilo de tradiccedilatildeo no 3ordm mileacutenio AC (Fornos de Algodres Guarda) Fornos de Algodres Mu-niciacutepio de Fornos de Algodres Terras de Algodres ndash Associaccedilatildeo de Promoccedilatildeo do Patrimoacutenio de Fornos de AlgodresVALERA AC (1999) ndash O habitat preacute-histoacuterico de Linhares (Santa Comba Datildeo - Viseu) Trabalhos de Arqueologia da EAM 5 Lisboa Colibri p51-62VALERA AC (1997) ndash Fraga da Pena (Sobral Pichorro Fornos de Algodres) uma pri-meira caracterizaccedilatildeo no contexto da rede local de povoamento Estudos Preacute-Histoacuteri-cos 5 p55-84VALERA AC (199596) ndash A geacutenese da Idade do Bronze no Mondego interior anaacutelise de alguns aspectos das suas construccedilotildees arqueograacuteficas e historiograacuteficas Tra-balhos de Arqueologia da EAM 3 p215-251VALERA AC (1995) ndash O habitat da Malhada (Fornos de Algodres - Guarda) uma anaacutelise preliminar no contexto do povoamento local durante o III mileacutenio AC Estudos Preacute-histoacutericos 3 p121-139VALERA AC (1994a) ndash Notiacutecia das sondagens de emergecircncia no siacutetio de Linhares (Santa Comba Datildeo) ndash 1994 Trabalhos de Arqueologia da EAM 2 p 249-251VALERA AC (1994b) ndash Preacute-Histoacuteria Recente do concelho de Fornos de Algodres (Guarda) resultados das escavaccedilotildees e prospecccedilotildees de 199293 Trabalhos de Ar-queologia da EAM 2 p145-172VALERA A C SENNA-MARTINEZ J C and ESTEVINHA I M (1989) ndash O Buraco da Moura de S Romatildeo (Seia) alguns resultados preliminares da Campanha 1(987) Actas do I Coloacutequio Arqueoloacutegico de Viseu Viseu Governo Civil de Viseu p149-174

302 |

VAN DEN BRINK LM and JANSSEN CR (1985) ndash The effect of human activities during cultural phases on the development of montane vegetation in the Serra da Estrela Portugal Review of Palaeobotany and Palinotnology 44 p193-205VENTURA JMQ (1993) ndash Novos Monumentos Megaliacuteticos do Concelho de Carregal do Sal Trabalhos de Arqueologia da EAM 1 p9-21VENTURA JMQ (1998) ndash A Necroacutepole Megaliacutetica do Ameal no contexto do Megal-itismo da Plataforma do Mondego MA Thesis in Archaeology University of LisbonVILACcedilA R (1995) - Aspectos do povoamento da Beira Interior (Centro e Sul) nos finais da Idade do Bronze laquoTrabalhos de Arqueologiaraquo 9 Lisbon IPPARVILACcedilA R CRUZ D J SANTOS A T MARQUES J N (2001) ndash A estaacutetua-menir de ldquoAtauacutedesrdquo (Figueira de Castelo Rodrigo Guarda) no seu contexto regional Estudos Preacute-histoacutericos Viseu 9 p69-82WILLIAMS M (2003) ndash Growing metaphors The agricultural cycle as metaphor in the later prehistoric period of Britain and North-Western Europe Journal of Social Archaeology 3 p223-255ZILHAtildeO J Ed (1997) ndash Arte Rupestre e Preacute-Histoacuteria do Vale do Cocirca Trabalhos de 1995-1996 Lisbon Ministeacuterio da Cultura

| 303

| 2018

The Origins of Megalithism in Western Iberia resilient signs of a symbolic revolution

As origens do Megalitismo no Ocidente peninsular sinais resilientes de uma revoluccedilatildeo simboacutelica

ABSTRACTThe long-term debate on the rise of Megalithism have been mainly con-cern with chronological and geographic issues In archaeological litera-ture when and where were major questions relying the causes for such a complex symbolic phenomenon as a secondary item After Oriental mis-sionaries and Segmentary societies explanations fall out Environmental changes have recently been pointed out as a trigger for Megalithism This vast array of explanations reflect how difficulty is to identify the historical reasons laying beyond such a wide phenomenon were global and local features are combine in a multitude of ways Creation mimic transfers and adaptations are social mechanisms that underlie Megalithism and for each one of this scenarios different reasons could be invoke to explain its origins In this text the origins of Megalithism in western Iberia ndash particu-larly in southern Portugal ndash will be discuss testing the traditional materia- list perspectives ndash either Marxist or Processual that considered innovative ideological manifestations as the output of changes in a particular eco-nomic infrastructure or subsystem ndash against Middle Neolithic data Under those traditional paradigms signs of economic variations that can explain the emergence of Megalithism as significant changes in faunalbotanic assemblages and settlement patterns were search forConsidering the archaeographic absence for an economic turnover the origins of Megalithism seems ndash in Western Iberia - the result of a sym-bolic revolution entailed by Middle Neolithic groups and for the moment devoid of a visible economic ingredient In southern Portugal the origins of Megalithism ndash dated c 3600 BC ndash are not connected neither to the Neolithisation process ndash c two millennia earlierndash neither to the Secondary Products Revolution ndash c 300400 hundred years after By the middle of the 4th millennium BC in a scenario of an apparent economic continuity

Mariana Diniz UNIARQ ndash Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Portugal Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses mdinizflulpt

304 |

this symbolic disruption described as Megalithism will emerge The origins of this innovative symbolic landscapes will be here discussKEY WORDS Megalithism Origins Western Iberia Middle Neolithic Sym-bolic revolution

RESUMONa literatura arqueoloacutegica o longo debate sobre as origens dos monumentos megaliacuteticos tem focado principalmente as questotildees cronoloacutegicas e geograacutefi-cas Quando e onde surgem estas arquitecturas satildeo os toacutepicos dominantes e as causas profundas de um fenoacutemeno simboacutelico tatildeo complexo parecem se-cundaacuterias sobretudo depois do abandono de quadros explicativos como os que assentavam na entrada de missionaacuterios orientais no espaccedilo europeu ou na evoluccedilatildeo autoacutectone e universal das sociedades segmentaacuterias Recentemente as mudanccedilas ambientais foram apontadas como um catalizador do Megali- tismo demonstrando a complexidade efectiva de um fenoacutemeno que combina em simultacircneo elementos trans-regionais e regionais em distintas versotildees Criaccedilatildeo mimetizaccedilatildeo transferecircncia e adaptaccedilatildeo satildeo diferentes mecanismos sociais que subjazem aos Megalitismos e que possuem distintas causalidades histoacutericasNeste texto as origens do Megalitismo no Ocidente peninsular - particular-mente no Sul de Portugal - seratildeo discutidas confrontando as perspectivas ma-terialistas tradicionais (marxistas ou processuais) que consideram as rupturas simboacutelicas como causa uacuteltima da alteraccedilatildeo da infra-estrutura ou do subsistema econoacutemico com o registo arqueoloacutegico do Neoliacutetico meacutedio Vatildeo ser por isso procurados elementos do registo como dados fauniacutesticos botacircnicos e padrotildees de povoamento que possam reflectir alteraccedilotildees econoacutemicas que ndash de acordo com os paradigmas materialistas - podem explicar as origens deste fenoacutemenoNo Neoliacutetico meacutedio a mais significativa ruptura que se detecta no registo arqueograacutefico eacute o aparecimento de estruturas megaliacuteticas que nesta regiatildeo particular materializa uma revoluccedilatildeo simboacutelica que neste momento parece desprovida de componente econoacutemica visiacutevelNo sul de Portugal as origens do Megalitismo ndash datadas de cerca de 3600 AC - natildeo estatildeo conectadas com o processo de Neolitizaccedilatildeo ndash que as antecede em dois mileacutenios - nem estatildeo relacionadas com a Revoluccedilatildeo dos Produtos Secundaacuterios que viraacute a acontecer c 300400 anos mais tarde Por isso em meados do 4ordm mileacutenio AC num cenaacuterio de aparente continuidade econoacutemica esta imensa mudanccedila descrita como Megalitismo pode ser designada como uma revoluccedilatildeo simboacutelica cujas origens devem ser discutidasPALAVRAS-CHAVE Megalitismo Origens Ocidente peninsular Neoliacutetico Meacutedio Revoluccedilatildeo simboacutelica

| 305

| 2018

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash MAKING A LONG STORY SHORTldquoOriginsrdquo is a theme that ranks among the most discussed and passio- nate topics in historical sciences The origins of Megalithism in Prehisto- ric Europe have been one of the Big Issues addressed by archaeologists since the 19th century An almost endless list of references about the Iberian Peninsula could be gathered describing the peninsula alone as one of Megalithic Europersquos core areas (eg Daniel 1963 p 72 Savory 1971 p 87) Like other phenomena regarding Prehistoric Europe in the first half of the 20th century debates on Megalithism were strongly influenced by geohis-torical determinism and by the Ex Oriente Lux paradigmAfter a long historiographic period during which Megalithic origins were considered the most important (and sometimes the only) issue deser- ving attention the Radiocarbon Revolution (as C Renfrew put it in 1973) changed the status quo of the interpretation according to which Mega-lithism was an endogenous invention of Western EuropeSince then the issue of the ldquoOriginsrdquo became less important in archaeo-logical literature Sometimes it was even absent from it the focus turned to other economic and territorial topics instead From then on Mega-lithism was seen mainly in the light of strategies developed by compe- ting agropastoral societies to organize Neolithic territories and 14C dating was expected to solve the chronological issues related with Megalithism In the last decades of the 20th century archaeologists from different regions of Megalithic Europe used the most abundant archaeological organic material ndash charcoal ndash to date megalithic monuments Charcoal samples collected in different locations within the monuments ndash from paleo-soils from before the monumental building pits dug for setting the monoliths funerary chambers corridors and even tumulus ndash were used to establish a (non-critical) 14C chronology for Megalithism in Atlantic and Mediterranean EuropeBrittany was then considered the pioneering area and Southern Portugal ndash though not yet dated by 14C method ndash was also considered one of the first megalithic regions in Europe with a supposed chronology ranging from 5000-4500 cal BCE (Muller 1998 in Paulsson 2017 p6) in view of local architectures and grave goods New megalithic 14C time ranges recently established based mainly on human bones using the AMS technique combined with Bayesian analy-sis triggered a revision of these previously accepted chronologiesFollowing these methodological innovations which determined the Third

306 |

Radiocarbon Revolution (Taylor 1996 Bayliss 2009) Southern Portugal lost its role as a focus of megalithic architectures In view of the newly available radiometric dates the origins of Megalithism in Southern Portu-gal are not older than 3600-3400 BCE (Boaventura 2009 Rocha 2005 Mataloto et al 2017) ndash almost one thousand years later than expected In other regions where Megalithism had been considered a very early phenomenon 14C dates established by means of human bones point at the first half of the 5th millennium ndash eg Brittany at Les ChironsBougons (Paulsson 2017 p71) Such early chronology could not be confirmed in other territories traditionally classified also as pioneers In the Cantabria region 14C dates based only on human bones with a standard deviation of less than 100 years also point at the second quarter of the 4th millen-nium BCE ndash eg at LarrarteGipuzkoa (Mujika and Edeso 2011)In view of this reappraised chronology the issue of the Origins can also be readdressed using this new data to discuss different scenarios potentially related to Megalithism in southern PortugalConsidering the multiple aspects of Megalithism we should stress that only funerary Megalithism involving acts of buildingdigging an archi-tectural feature for the dead will be discussed here Burials in natural caves that also evidence a ldquomegalithic phaserdquo already pointed out by V Gonccedilalves (1978) none the less represent a previous and earlier tradi-tion that existed since the Early Neolithic and was in use until the final Chalcolithic

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash NEW TYPES OF EXPLANATIONSFollowing a long period of Orientalist influence discarded by the 14C Re- volution after the 1970s the origins of Megalithism were debated under two major theoretical paradigms defended by Processual and Historical Materialist archaeologyReflecting a perhaps not random coincidence ndash due to the seminal role played by Lewis Morgan as a common ancestor of Processual and Marxist archaeology ndash both schools considered Economy to be the major subsysteminfrastructure in History Symbolic subsystem or ideological superstructure are understood as by-products of the material dimensions of life As subsidiary elements ndash not driving forces of human dynamics ndash ideological and symbolic aspects should reflect the way in which eco-nomic forces act in a given environmental context Ideological and symbo- lic aspects should legitimise strengthen and pacify social relations that emerge from an economic status quo

| 307

| 2018

Changes affecting the economic subsystem or infrastructure caused either by environmental change demographic growth or class conflicts ndash just to mention the most popular variables evoked by Processual and Marxist archaeology should be reflected in changes of the ideological and symbolic apparatus of any society According to some authors his-torical movements are expected to end not to begin in those peripheral almost useless symbolic domains ndash for some hyper materialistic pers- pectives According to this theoretical background societies at some point of their development predictably start to build huge buildings for the dead to shape social topography Considering Megalithic monuments as an almost imperative phase of social development it was accepted that they could have emerged from multiple foci as different Neolithic groups in different geographies could have simultaneously reached the same maturity level according to Renfrew (1976) Studies on Megalithism began to develop a more regionalist approach (eg in Portugal Jorge 1982 Gonccedilalves 1992 Senna-Martinez 1989) and prehis-toric societies were considered in their territorial background in which social systems and social tensions predictably were the major historical forces ndash with minimum external contributions (or even none)Megalithism was mostly described as a territorial issue virtually emptied of its funerary and symbolic dimensions In many cases social investment in mo- nument building was considered a transgenerational program that could be ex-plained by the frontier role played by Megaliths in the landscape defined by seg-mentary societies (eg Renfrew Chapman 1981 1991) In line with such perspectives and therefore considering Megalithism main-ly a multi-foci indigenous creation thus rendering chronology indeed a secon- dary matter the economic subsystems of Middle Neolithic groups must pre- sent clear signs of maturation that should be detected in the archaeological record

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash ECONOMIC DATA ON A NEW PHASEIn view of the radiometric sequence available for southern Portugal the emer-gence of Megalithism seems well defined Around 3600 BCE (Fig1) Neolithic groups resorted to a new set of practices involving dead bodies and for the first time they massive used stone to builddig monuments for the dead (Table 1 and Fig1) In line with materialistic perspectives such moment of disruption ndash a label to be discussed later ndash should have been entailed by a disruptive change in the economic and social organization We shall briefly consider data on the economy and settlement of the Late Middle Neolithic to analyse such change

308 |

Table 1 Chronology for Megalithism Origins in Souther Portugal (using only human bones as samples)

Fig1- Graphical representation of the calibration of 14 C results for human bones from southern Portugal earliest dolmens and hipogea (using Reiner et al 2013 calibration curve)

| 309

| 2018

Table 2 Early and Middle Neolithic Faunal Remains in Southern Portugal

Despite a quantitative dimension introduced by the number of + Southern Portugal faunal assemblages are very poor due to taphonomic reasons and thus do not allow a statistical analysis of the data Adapted from Valente amp Carvalho 2014 Table 1

Table 3 Early and Middle Neolithic Domesticated Plant Remains Pollensin Southern Portugal

In Southern Portugal the extreme scarcity of botanical remains is due to taphonomic reasons but also to the still unusual use of the paleo-botanic protocol to retrieve botanical remains

310 |

Table 4 Early and Middle Neolithic Settlement patterns in Southern Portugal

According to Neves and Diniz 2014 Neves 2018)

In what concerns the economic patterns the absence of quantitative data can indeed masquerade an effective change in human behaviour from Early to Middle Neolithic However different aspects of the archaeological record ndash particularly those related to settlement patterns ndash during the Middle Neolithic show no trace of any economic intensification related to agropastoral strategies On the contrary some evidence may suggest that group mobility became increasing fundamental to Middle Neolithic groups (Valente and Carvalho 2014 Carvalho and Valente 2017) Be-side Senhora da Alegria (Pereiro 2013 Valera 2013) open air habitats do not suggest any significant investment nor long stays There seems to be a trend of continuity between Early Neolithic and Middle Neolithic in terms of settlement and economic patterns The global picture shows a very irregular scenario with habitats reflecting diverse economic stra- tegies closely related to local environments Frequently the agriculturepastoralisthunter-gatherer role assigned to each group relies more on

| 311

| 2018

interpretative scenarios than in ecofacts According to Lameiras (Lopeacutez--Doriga and Simotildees 2015) the fully agropastoral character of the Early Neolithic economy is proven but besides that there are no other bota- nical remains prior to the Late Neolithic Any possible crisis of the Middle Neolithic as reported elsewhere (eg Shennan et al 2013) can-not be considered due to the scarcity of currently available data There could a risk of wrongly interpreting archaeographic problems ndash already highlighted (Neves 2018) as archaeological facts Even so and despite economic stability the Middle Neolithic period was characterised by a ground-breaking set of changes described as Megalithism Once again and against theoretical expectations it was performed at symbolic areas considered by traditional models not as a driven force but mainly as an output of progress

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash A NEW WAY OF BEING DEADIn economic terms stability prevailed At the funerary level the archaeo- logical record shows continuity rather than change According to some authors (Carvalho 2016 p 121) the key features and burial practices of Megalithism already existed at the beginning of the 4th millennium BCE in natural limestone caves of Estremadura such as Algar do Bom Santo In Southern Portugal burials in natural caves and megalithic ar-chitectures share common features such as the complex treatment of the corpses hand-made arrangements of the funerary area and grave goodsBesides continuity in funerary behaviours other traits traditionally re-la-ted with the origins of Megalithism could be described as minor fea-tures considering the non-megalithic dimensions of the earliest megalith-ic monumentsIn Southern Portugal funerary Megalithism dated by human remains emerged not only in the form of ldquosmall monumentsrdquo ndash as predicted by some linear evolutionist thought but also as medium-size structures that could be quickly built by very few people (see a detailed synthesis in Boaventura 2009 Rocha 2005 Mataloto et al 2017)Those monuments like the first hypogea required a very small amount of labour especially if we consider the number of working hours needed to build the large megalithic monuments of the apogee phaseDespite such common traits ie shared behaviours with burials in natural caves and minor efforts required to builddig the earliest monuments Megalithism should be considered a disruptive moment since megalithic funerary architectures evidence a new kind of relationship with Death

312 |

and the landscapeAround 3600-3500 BCE at least in inland Southern Portugal some groups changed their traditional funerary practices in an impressive way According to 14C chronology Early Neolithic groups settled in the area in the late 6th millennium BCE as shown at the settlement of Valada do Mato in Eacutevora (Diniz 2007) No information is however available for funerary practices during the 5th and the first centuries of the 4th millen-nium BCE The presence of Cardial sherds among other Early Neolithic pottery is not enough to classify the cave of Escoural (Montemor-o-Novo) as a necropolis during that period though the on-going project at this cave can shed some light on the matter (Peyroteo-Sterjna et al 2018) Given the archaeographic invisibility of the Early Neolithic dead in the area regardless of the treatment given to the dead bodies it suffered a serious and very briefly viral change around 3600-3500 BCEBuildingdigging a funerary monument heralds a new kind of decisions and gestures a new type of movements and relationships with the lands- cape and within the group New choices had to be made and the selection of a precise area where to builddig the monument meant a sharp con-trast with the a priori location of natural caves Selecting the people and tools to builddig identifying the availability of raw material transporting the stone slabs and gathering earth and stone to create the tumulus were some of the actions (even though simple ones) that inaugurated these new symbolic landscapes (Fig2)

Fig2 - Southern Portugal ear- liest Megalithic monuments ndash after 3600 BC (dolmens and hipogea)

| 313

| 2018

This group performance empowered the Dead ndash at least those few who were chosen to rest inside the monuments ndash but also the living in an unprecedented way After a long period in which funerary practices left no trace Death and the Dead (at least some of them) now performed in a privileged symbolic and social scenario But the emergence of Mega-lithism in Southern Portugal as a historical process meant that at a given moment groups changed their funerary practices starting to be-haved like other communities settled along the Atlantic shores and the Mediterranean basin replicatingadapting positive and negative archi-tectures whose prototypes are well documented in those areas These megalithic architectures enlarged the funerary landscape which had so far been detected only in limestone areas ndash limited to the use of natural caves and pits as in Castelo Belinho (Gomes 2008) Different monu-ment morphology (ie small dolmens smallmedium size dolmens with passage and hypogea) built in different geological formations reflect the new ways of being Dead and a significant change in Neolithic symbolic structuresThe available 14C dates clearly indicate that Megalithism does not match disproving the previous historiographic tradition (eg Jorge 1990) the beginning of a new era called Middle Neolithic On the contrary mega-lithic monuments did not appear before the final phase of the Middle Neolithic period As no archaeographic signs of economic change can be ascribed to this very significant innovation in the symbolic and social sphere explanations for its emergence must be found elsewhere

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash SYMBOLS IN ACTIONThe symbolic dimension of the origins of Megalithism ndash considered either at the global or regional level ndash has been underestimated in the last decades Authors tended to focus on more-or-less detailed archi- tectures and grave goods sequences to organize a very complex archa- eological record Even so the role of symbolic issues in triggering changes in social dyna- mics was highlighted for major phenomenon like Near Eastern or Euro-pean Neolithisation (Cauvin 1994 Hodder 1990) at the end of the 20th century However his type of discourse was never developed for the ori-gins of MegalithismSymbolic issues can act for Megalithism origins ndash as for Neolithisation ndash within primary but also in reception areas as Southern Portugal In this re-gion Death and the Dead appear as significant beings in the landscape

314 |

without evident signs of an economic maturation of the system claiming the intervention of the AncestorsConsidering the available data the most powerful and economic expla-nation for the origins of Megalithism in Southern Portugal is imitation or mimetic behaviour ndash a fundamental trait of cognition in humans and other species (eg Chavalarias 2005) Such fundamental mimetic be-haviours ndash eg adapting dolmens from the Atlantic faccedilade or hypogea from the Mediterranean basin do not exclude Neolithic agency as clearly evidenced by the diversity of Megalithic architecturesIgnoring local geology more suitable to digging than to building the uncommon use of limestone slabs at the dolmens of Carrascal and Pe-dras Grandes (Boaventura 2009 pp 68 and 120) reflects a cultural choice emerging from group identity ndash albeit a pioneering attempt with no continuity These dolmens - Carrascal and Pedras Grandes ndash repre-sent a rather different solution from the hypogeum of Satildeo Pedro do Estoril located only 15 km awayIn reception areas like Southern Portugal this type of transfers could trig-ger a Symbolic Revolution with consequences that impacted on the entire social system inducing competition emulation and economic intensifica-tion by way of group festivities and rituals In fact Megalithic monuments preceded the technological take-off of Final Neolithic but the construction of larger monuments with more complex grave goods could also have re- presented an important stimulus to groups economic enlargementThe fact that mimetic behaviours can explain the origins of Megalithism in reception areas does not mean that local groups could not produce original symbolic phenomena Mimicking allows rebuilding mechanisms and changes to the archetype there are reflected in regional and chrono-logical differences If in this case we consider the chronology of Brittany and the Mediterranean it seems that mimesis was the actual historical occurrence that triggered Megalithism as a consequence of endlessness travelled over Neolithic landscapes

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash GAMES WITHOUT FRONTIERSIn the last decades long distance mobility was the subject of renewed interest Theoretical debates around diffusionism and indigenism were overcome Movement could again be researched since the late 1990s with no risk of one being described as a historical-culturalist archaeolo-gist Archaeographic analysis mainly within petrographic studies iden-tified raw-material displacements potentially reaching several hundred

| 315

| 2018

kilometres by land and sea Central Mediterranean obsidian (eg Lugliegrave 2012) Alpine jade (eg Dominguez-Bella et al 2015) and Iberian va- riscite (eg Odriozola et al 2016) ranked among the durable materials that travelled long distances during the Neolithic period Ancient DNA analysis ndash despite all problems raised by this type of data ndash recently con-firmed as expected that human displacements were standard behaviour during Prehistory ndash not only among hunter-gatherers but also in agropas-toral societies (Fregel 2018)Middle Neolithic networks have been described mainly at a regional le- vel for Southern Portugal Tooth enamel analysis revealed medi-um-distance human movements (Carvalho 2016) already document-ed since Early Neolithic period by flint and amphibole circulation be-tween different geologic areas in CentralSouthern Portugal Some marine shells used as raw-material or adornments also travelled but exotic items like amber and ivory are not documented during this phase ndash rendering their long-distance mobility and networks al-most invisible From an archaeographic point of view Middle Neolithic groups seem to have used only local and regional productsalthough the mere presence of Megalithic monuments denies that proposi-tion During the Middle Neolithic influences from the Atlantic and Me- diterranean areas reached Western Iberia The chronology and typology of hypogea such as Monte do Marquecircs Sobreira de Cima and Satildeo Pedro do Estoril and the chronology and typology of the (not so small) dolmens of Pedra Branca Carrascal Pedras Grandes Cabeccedilo da Areia Cabeceira 4 and Sobreira 1 can hardly be interpreted as a cultural independent phenomenon considering the pre-existing Atlantic and Mediterranean megalithic landscapesAlso reflecting the intensity of displacementsnetworks in Southern West-ernmost Iberia no gradual chronological differences are found between coastal and inland (following the definition of Arias et al 2009) areas Human bones from the Satildeo Pedro do Estoril hypogeum (Cascais) are da- ted from the same period of Monte do Marquecircs 5 (Beja) and Sobreira de Cima 3 (Vidigueira) ndash approximately 150km apart The same applies to the chronology of the dolmens of Pedras Grandes (Odivelas) and Car-rascal da Agualva (Sintra) that are contemporary to Sobreira 1 (Elvas) ndash roughly 180 km awayConcerning the rise of Megalithism the construction and digging ges-tures both in littoral and interior areas appear simultaneously ndash to the extent that 14C dates can reflect Time

316 |

THE ORIGINS OF MEGALITHISM ndash PRELUDE TO AN ENDIn recent decades Megalithism research has been mainly focused on the regional level trying to establish architectural sequences and distri-bution areas of grave goods The 14C chronology using AMS technique combined with a critical reappraisal of samples selection served as foun-dations for a new chronology in which certain areas traditionally consi- dered pioneers such as Southern Portugal lost their status and ren-frewrsquos Segmentary Societies Model stands as the last Grand Narrative concerning Megalithism origins The role played by symbolic issues in the cultural status quo is generally underestimated and explanations tend to assume that economic aspects as a response to environmental change demographic grow or social competition acted as the driving force legiti-mised by ideologyThe Megalithic Origins in Southern Portugal seem to be well dated The building of megalithic monuments began between 3600-3300 BCE al-though those new gestures that inaugurated a new symbolic landscape do not seem to correspond to a turning point in the economy In Southern Portugal Megalithism appears to be the consequence of a mimetic be-haviour an adoption of funerary solutions created elsewhere Why exactly did it appear at that precise moment No evidence of maturation of the Neolithic economy were found so far but the mechanisms ruling social mimesis can offer a solid explanation Mimetic behaviour does not re-quire Childersquos missionaries but inter-group communication networks are indeed mandatoryAccording to radiocarbon dating the rise of Megalithism in Southern Portugal was marked by the simultaneous construction of monuments inspired by both Atlantic dolmens and Mediterranean hypogea Why were local communities ready to choose different funerary behaviours at that time Part of the answer is certainly found in long-distance displace-ments and different architectural solutions as some of the votive items clearly demonstrate the integration into a common religious system that travelled far and surpassed natural and cultural frontiersAs occurred before with the Neolithisation process communities trans-ported and adapted a common set of exogenous items to other cultu- ral and geographic backgrounds In Southern Portugal according to 14C dates synchronicity between coastal and inland areas revealed the vital-ity of local Neolithic networksIn Southern Portugal Middle Neolithic Megalithism involves a Symbol-ic revolution that could have been induced by mimetic behaviours vis-agrave-

| 317

| 2018

-vis earlier Atlantic and Mediterranean funerary architectures If so dis-tinct aspects of social systems appear to have travelled independently thus making a historical process like Megalithism the result of endless movement across the landscape from which transfers of ideologies arose

ACKNOWLEDGMENTSTo Ceacutesar Neves who draw the map and calibrated the 14C resultsTo Miriam Cubas for Cantabriarsquos data and 14C dates

REFERENCESARIAS P CERRILLO-CUENCAE AacuteLVAREZ FERNAacuteNDEZ E GOacuteMEZ PELLOacuteN E GONZAacuteLEZ CORDERO A (2009) - A view from the edges the Mesolithic settlement of the interior areas of the Iberian Peninsula reconsidered In Sineacutead McCartan Rick Schulting Graeme Warren and Peter Woodman Eds Mesolithic Horizons Papers pre-sented at the Seventh International Conference on the Mesolithic in Europe Belfast 2005 Oxford Oxbow books p303-311 BAPTISTA L OLIVEIRA L SOARES A M GOMES S (2013) ndash Contributos para a discussatildeo da construccedilatildeo da paisagem nas bacias das Ribeiras do Aacutelamo e do Pisatildeo (Beringel e Trigaches Beja) entre o IV e Iordm mileacutenios aC In JIMEacuteNEZ AacuteVILA J BUSTA-MANTE AacuteLVAREZ M amp GARCIacuteA CABEZAS M (eds) ndash VI Encuentro de Arqueologiacutea del Suroeste Peninsular p 791-827 Ediccedilatildeo electroacutenicaBAYLISS A (2009) Rolling out Revolution using Radiocarbon dating in Archeology Radiocarbon 51(1) p 23-147BOAVENTURA R (2009) - As antas e o megalitismo da regiatildeo de Lisboa Tese de doutoramento apresentada agrave Universidade de Lisboa (policopiado)BOAVENTURA R FERREIRA M T SILVA A M (2013) ndash Perscrutando espoacutelios antigos a anta de Sobreira 1 (Elvas) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 16 p63-79CARVALHO A F amp ROCHA L (2016) ndash Dataccedilatildeo directa e anaacutelise de paleodietas dos indiviacuteduos da anta de Cabeceira 4ordf (Mora Portugal) digitAR nordm 3 Imprensa da Universidade de Coimbra p 53-61CARVALHO A F ed (2014a) ndash Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Faro Universidade do Algarve (Promontoria Mono-graacutefica 17)CARVALHO A F PETCHEY F (2013) ndash Stable Isotope Evidence of Neolithic Pala-eodiets in the Coastal Regions of Southern Portugal Journal of Island and Coastal Archaeology 8 p 361-383CARVALHO A F VALENTE M J (2017) ndash Emergence of itinerant pastoralism and changes in grazing systems in Neolithic and Chalcolithic Portugal 6th-3rd millennia BC A first comprehensive overview Poacutester apresentado ao Iberian Zooarchaeology Meeting Faro 26-29 de Abril de 2017CARVALHO AF (2013b) - Anaacutelise de isoacutetopos estaacuteveis de quatro indiviacuteduos do Sepulcro 1 da necroacutepole de hipogeus da Sobreira de Cima (Vidigueira Beja) pri-

318 |

meiros resultados paleodieteacuteticos para o Neoliacutetico do interior alentejano In VALERA AC (coord) Sobreira de Cima Necroacutepole de hipogeus do Neoliacutetico (Vidigueira Beja) Lisboa Era-Arqueologia SA (Era Monograacutefica 1) p 109ndash112CARVALHO AF (2016) - On mounds and mountains ldquoMegalithic behavioursrdquo in Bom Santo Cave Montejunto mountain range (Lisbon Portugal) Megalithic Monuments and Cult Practices Proceedings of the Second International Symposium Publisher Neofit Rilski University Press p114-123CHAPMAN R (1995) Ten Years AftermdashMegaliths Mortuary Practices and the Ter- ritorial Model In LA BECK (ed) Regional Approaches to Mortuary Analysis Interdis-ciplinary Contributions to Archaeology Springer Boston MA doiorg101007978-1-4899-1310-4_2CHAVALARIAS D (2005) - Metamimetic Games Modeling Metadynamics Social Cog-nition p 1-32 httpsarxivorgftpnlinpapers05080508006pdfDANIEL G (1963) - The Megalithic Builders of Western Europe Baltimore PenguinDEMBECK R KUNST M THIEMEYER H ARIE K VAN LEEUWAARDEN W HERR-MANN N (2015) - Onde eacute que habitaram Novos dados sobre a Neolitizaccedilatildeo retira-dos do exemplo do Vale do rio Sizandro (Torres Vedras Portugal) In Gonccedilalves VS Diniz M Sousa AC (Eds) 5deg Congresso do Neoliacutetico Peninsular UNIARQ Lisboa pp 385ndash396 httphdlhandlenet1045128060DINIZ M (2000) ndash Neolitizaccedilatildeo e megalitismo arquitecturas do tempo no espaccedilo In GONCcedilALVES V (ed) ―Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional de Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 105-116DINIZ M (2007) ndash O Siacutetio da Valada do Mato (Eacutevora) aspectos da neolitizaccedilatildeo no InteriorSul de Portugal Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 48)DINIZ M (2009) ndash Ainda antes do 4ordm mileacutenio aC As praacuteticas simboacutelicas das comu-nidades neoliacuteticas no ocidente peninsular Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras 17 p157-17DOMIacuteNGUEZ-BELLA S CASSEN S PEacuteTREQUIN P PŘICHYSTAL A MARTIacuteNEZ J RAMOS J MEDINA N (2016) - Aroche ( (Huelva Andaluciacutea) A new Neolithic axehead of Alpine jade in the southwest of the Iberian Peninsula Archaeological and Anthropological Sciences p205-222 DOI 101007s12520-015-0232-9FREGEL R L MENDEZYOUSSEF BOKBOT F DIMAS MARTIN-SOCAS MD CAMA-LICH-MASSIEU J S MORALES J AVILA-ARCOS MC UNDERHILL P SHAPIRO B WOJCIK G RASMUSSEN M SOARES A KAPP J SOCKELL A RODRIGUEZ-SAN-TOS F MIKDAD A TRUJILLO-MEDEROS A BUSTAMANTE C (2018) - Ancient ge-nomes from North Africa evidence prehistoric migrations to the Maghreb from both the Levant and EuropePNAS June 26 2018 115 (26) 6774-6779 doi httpsdoiorg101101191569 GOMES M V (2008) ndash Castelo Belinho (Algarve Portugal) and the first Southwest Iberian Villages DINIZ M (ed) The Early Neolithic in the Iberian Peninsula Regional and Transregional Components Oxford British Archaeological Reports p 71-78GONCcedilALVES V S (1978) ndash Para um programa de estudo do Neoliacutetico em Portugal Zephyrus Salamanca 28-29 p 147-162GONCcedilALVES V S (1992) ndash Revendo as antas de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARQ

| 319

| 2018

GONCcedilALVES VS (2009) - Construir para os mortos Grutas artificiais e antas na Peniacutensula de Lisboa algumas leituras preacutevias Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras 17 Oeiras Cacircmara Municipal p 237-260HODDER I (1982) ndash Symbols in action Ethnoarchaeological studies of material cul-ture Cambridge CUPJORGE S O (1990) - A consolidaccedilatildeo do sistema agro-pastoril J SERRAtildeO e AH OLIVEIRA MARQUES (dir) Nova Histoacuteria de Portugal Portugal das origens agrave roma- nizaccedilatildeo Ed Presenccedila Lisboa p102-162LUGLIEgrave C (2012) - From the perspective of the source Neolithic production and exchange of Monte Arci obsidians (central-western sardinia) In Xarxes al Neoliacutetic ndash Neolithic Networks Congreacutes Internacional Rubricatum Revista del Museu de Gavagrave 5 p 173-180MATALOTO R ANDRADE M PEREIRA A (2016-2017) - O Megalitismo das pequenas antas novos dados para um velho problema Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras 23 A Rui Boaventura Homenagem agrave sua Memoacuteria Oeiras Cacircmara Municipal p 33-156MUJIKA JA EDESO JM (2011) - Los primeros agricultores y ganaderos en Gipuz-koa del Neoliacutetico a la Edad del Hierro Diputacioacuten Foral de Gipuzkoa San SebastianNEVES Ceacutesar (2018) - O Neoliacutetico meacutedio no Ocidente Peninsular o siacutetio da Moita do Ourives (Benavente) no quadro do povoamento do 5ordm e 4ordm mileacutenio AC Tese de Doutora-mento apresentada agrave Universidade de Lisboa httphdlhandlenet1045133908NEVES C amp DINIZ M (2014) - Acerca dos cenaacuterios da acccedilatildeo estrateacutegias de implan-taccedilatildeo e exploraccedilatildeo do espaccedilo nos finais do 5ordm e na primeira metade do 4ordm mileacutenio AC no Sul de Portugal Estudos do Quaternaacuterio 11 APEQ Braga p45-58ODRIOZOLA C GARCIacuteA R BURBIDGE C BOAVENTURA R SOUSA A RODRI-GUEZ-ARIZA O Parrilla-Giraldez R Prudecircncio MI DIAS M (2016) Distribution and chronological framework for Iberian variscite mining and consumption at Pico Centeno Encinasola Spain Quaternary Research 85(1) 159-176 doi101016jyqres201511010PAULSSON B (2017) - Time and Stone The Emergence and Development of Mega-liths and Megalithic Societies in Europe London Archaeopress PublishingPEREIRO T (2013) Senhora da Alegria (Coimbra) os contextos do Neoliacutetico Antigo ao Neoliacutetico Final (Oral presentation) REIMER PJ BARD E BAYLISS A BECK JW BLACKWELL PG RAMSEY CB BUCK CE CHENG H EDWARDS RL FRIEDRICH M GROOTES PM GUILDER-SON TP HAFLIDASON H HAJDAS I HATTEacute C HEATON TJ HOFFMANN DL HOGG AG HUGHEN KA KAISER KF KROMER B MANNING SW NIU M REIMER RW RICHARDS DA SCOTT EM SOUTHON JR STAFF RA TURNEY CSM y VAN DER PLICHT J (2013) - IntCal13 and Marine13 Radiocarbon Age Cal-ibration Curves 0ndash50000 Years cal BP Radiocarbon 55(4) DOI 102458azu_js_rc5516947PEYROTEO-STERJNA R ARAUacuteJO AC DINIZ M (2018) - Os mortos na Gruta do Escoural (Montemor-o--Novo Portugal) interaccedilotildees nas primeiras sociedades cam-ponesas do sudoeste da Peniacutensula Ibeacuterica In JC Senna-Martinez M Diniz e A F Carvalho (eds) - Gibraltar aos Pireneacuteus Megalitismo Vida e Morte na Fachada Atlacircntica Peninsula Nelas Fundaccedilatildeo da Lapa do Lobo p 47-66RENFREW C (1973) - Before Civilisation The Radiocarbon Revolution and Prehisto-

320 |

ric Europe London Jonathan CapeRENFREW C (1976) - Megaliths territories and populations In S J De Laet (ed) Acculturation and Continuity in Atlantic Europe Bruges de Tempel p 198-220ROCHA L (2005) ndash Estudo do megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central a con-tribuiccedilatildeo de Manuel Heleno Dissertaccedilatildeo de Doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa policopiadoROCHA L amp DUARTE C (2009) ndash Megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central os da-dos antropoloacutegicos das escavaccedilotildees de Manuel Heleno In POLO CERDAacute amp GARCIacuteA-PROacuteSPER E (eds) ndash Investigaciones histoacutericomeacutedicas sobre salud y enfermedad en el pasado Actas del IX Congreso Nacional de Paleopatologiacutea Valencia Grupo Paleolab amp Sociedad Espantildeola de Paleopatologia p 763-781SAVORY H (1968) - Spain and Portugal the Prehistory of the Iberian Peninsula London Thames and HudsonSENNA-MARTINEZ JC (1989) ndash Preacute-Histoacuteria Recente da Bacia do Meacutedio e Alto Mon-dego algumas contribuiccedilotildees para um modelo sociocultural Tese de Doutoramento em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Faculdade de Letras de Lisboa 3 VolsSHENNAN S DOWNEY S S TIMPSON A EDINBOROUGH K COLLEDGE S KERIG T MANNING K THOMAS M G (2013) - Regional population collapse followed initial agriculture booms in mid-Holocene Europe Nature Communications 4 Article number 2486 p1-8SOARES J (2010) ndash Doacutelmen da Pedra Branca Dataccedilotildees radiomeacutetricas Musa 3 p 70-82STRAUS L G ALTUNA J FORD D MARAMBAT L RHINE J S SCHWARCZ J-H P VERNET J-L (1992) ndash Early farming in the Algarve (Southern Portugal) A preliminary view from two cave excavations near Faro Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 32 p141ndash161VALENTE MJ amp CARVALHO AF (2014) - Zooarchaeology in the Neolithic and Chal-colithic of Southern Portugal Environmental Archaeology 93 p226-240VALERA A C (2013b) ndash Cronologia dos Recintos de Fossos da Preacute-Histoacuteria recente em territoacuterio portuguecircs ARNAUD J M MARTINS A NEVES C (coords) Arqueologia em Portugal - 150 Anos Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses Lisboa p345-350 VALERA A C coord (2013a) - Sobreira de Cima necroacutepole de hipogeus do Neoliacutetico (Vidigueira Beja) Lisboa Era Arqueologia

| 321

| 2018

Agrave procura da Terra dos Vivos os lugares de povoamento das primeiras fases do Megalitismo funeraacuterio no Centro e Sul de Portugal

Looking for the Land of the Living the settlement places of the beginning of the Funerary Megalithism in Central and Southern Portugal

RESUMONo debate cientiacutefico em torno das origens do Megalitismo funeraacuterio no Oci-dente Peninsular um dos principais toacutepicos de discussatildeo relaciona-se com o parco conhecimento que ainda existe acerca dos espaccedilos de habitat das comunidades que teratildeo construiacutedo e utilizado esses monumentosPartindo do quadro cronomeacutetrico disponiacutevel natildeo haacute evidecircncias que no Centro e Sul do actual territoacuterio portuguecircs o arranque do Megalitismo funeraacuterio ocorra antes do intervalo de tempo situado entre ~3700-3300 cal BC momento que Rui Boaventura denominou de Fase 1 ndash preacute-iacutedolos-placa (Boaventura 2009)Em termos crono-culturais esse espaccedilo temporal parece integrar uma fase plena do Neoliacutetico meacutedio momento onde se regista um conjunto de com-portamentos humanos com profundas alteraccedilotildees dos sistemas sociais que demonstram quadros de grande complexidade social e simboacutelica visiacutevel es-sencialmente na selecccedilatildeo e transformaccedilatildeo antroacutepica de uma paisagem e na construccedilatildeo dos discursos e das memoacuterias sociaisO Neoliacutetico meacutedio no Ocidente Peninsular na sua fase mais plena (segundo e terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC) parece corresponder a um momento de estabilizaccedilatildeo e uniformidade de um maior conhecimento colectivo cultural-mente reconhecido por grupos que ocupam um vasto territoacuterio partilhando uma identidade cada vez mais comum Eacute inserida nesta dinacircmica que ocorre a entrada em cena das arquitecturas fu-neraacuterias megaliacuteticas num fenoacutemeno que marca indubitavelmente o Neoliacutetico meacutedio pleno e que tambeacutem define a cronologia de arranque desta etapa Com as origens do Megalitismo funeraacuterio como cenaacuterio de reflexatildeo central

Ceacutesar Neves Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Portugal caugustonevesgmailcom

Mariana Diniz UNIARQ ndash Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Portugal Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses mdinizflulpt

322 |

este texto incidiraacute essencialmente nos espaccedilos de habitat contemporacircneos dessa etapa correlacionando os dados empiacutericos disponiacuteveis destacando dois elementos principais Cronologia e Cultura-Material PALAVRA-CHAVE Megalitismo Habitat Neoliacutetico meacutedio Cronologia 4ordm mileacutenio cal BC

ABSTRACTIn the scientific debate about the origins of funerary Megalithism in Western Iberia one of the main topics in discussion is related with the limited know- ledge about the settlements places of the communities that had constructed and used these monumentsStarting from the available chronometric record there is no evidence that in the Centre and South Portugal the start of Funerary Megalithism starts before ~ 3700-3300 cal BC a moment that Rui Bonaventura called Phase 1 - ldquoPre- idol-plaquesrdquo (Boaventura 2009)In chrono-cultural terms this time space seems to fit in a 2nd phase of the Middle Neolithic At this moment a set of human behaviours occurs with deep changes of social systems and with huge symbolic complexity visible mainly in the selection and anthropic transformation of a landscape and the construc-tion of social memoriesThe Middle Neolithic in the Western Iberia in its 2nd phase (second and third quarter of the 4th millennium cal BC) seems to correspond to a moment of stabilization and uniformity with a collective knowledge culturally recognized by human groups who occupy a large territory sharing an increasingly com-mon identity It is between in this dynamic that the megalithic funerary monu-ments emerged in a phenomenon that belongs to the 2nd phase of the Middle Neolithic and which also defines the beginning in chronological terms of this momentStarting from the available empirical data and with the beginning of the funer-ary Megalithism as main analysing topic this paper will focus essentially on the contemporary settlement places highlighting two main elements Chrono- logy and Material Culture KEY WORDS Megalithism Settlement Middle Neolithic Chronology 4th mil-lennium cal BC

1 INTRODUCcedilAtildeOOs Espaccedilos da Morte das Antigas Sociedades Camponesas no Centro e Sul de Portugal em particular os sepulcros megaliacuteticos correspondem a um das temaacuteticas de anaacutelise na qual a investigaccedilatildeo arqueoloacutegica tem investido com mais regularidade (obtendo daiacute um valioso retorno cientiacutefico)

| 323

| 2018

No entanto o conhecimento que existe para o fenoacutemeno do Megalitismo funeraacuterio eacute claramente desigual nomeadamente no que diz respeito agraves suas origens Esta situaccedilatildeo resulta por um lado de um menor nuacutemero de dados relacionados com este momento e acima de tudo do desconhecimento que ainda se tem acerca do periacuteodo crono-cultural em que este episoacutedio se in-sere o Neoliacutetico meacutedioNo essencial para esta fase crono-cultural o registo arqueoloacutegico disponiacutevel eacute feito de reduzida informaccedilatildeo cronoloacutegica e de elos culturalmente perdi-dos Trata-se de um momento que apesar do reconhecido aumento da base empiacuterica foi ateacute haacute pouco tempo (Neves 2018) exclusivamente abordado atraveacutes da vertente funeraacuteriaA escassa informaccedilatildeo disponiacutevel para o Neoliacutetico meacutedio fase parcamente reconhecida em contextos domeacutesticos traduz um desvio arqueograacutefico acentuado e natildeo um dado histoacuterico concreto que resulta da maacute definiccedilatildeo das caracteriacutesticas especiacuteficas dos modelos de povoamento da organizaccedilatildeo dos habitats e da componente artefactual das comunidades A escassez de dados relacionados com os espaccedilos de cariz domeacutestico faz com que a car-acterizaccedilatildeo dos conjuntos artefactuais assente mais na ausecircncia de deter-minados elementos do que na presenccedila inequiacutevoca de um ldquofoacutessil directorrdquoNo debate acerca da construccedilatildeo dos primeiros monumentos megaliacuteticos continua a sentir-se o menor peso da caracterizaccedilatildeo dos habitats contem-poracircneos (Diniz 2000) Na uacuteltima deacutecada o estudo sobre o Neoliacutetico meacutedio daacute um salto qualitativo determinante nomeadamente na construccedilatildeo de um maior quadro cronomeacutetrico mais estreito e fiaacutevel na anaacutelise da constituiccedilatildeo geneacutetica das populaccedilotildees na definiccedilatildeo do subsistema econoacutemico das aacutereas de circulaccedilatildeo destes grupos e por fim na caracterizaccedilatildeo do espoacutelio voti-vo que por norma lhe estaacute associado nos espaccedilos da Morte (Boaventura 2009 Boaventura e Mataloto 2013 Cardoso e Carvalho 2008 Carvalho 2014a 2014b 2014c Carvalho e Cardoso 2010-2011 Carvalho e Cardo-so 2015 Mataloto e Boaventura 2009)A investigaccedilatildeo desenvolvida trouxe ao debate novas linhas de anaacutelise mais focadas nas populaccedilotildees neoliacuteticas dando maior destaque agraves do Neoliacutetico meacutedio em questotildees relacionadas com a sua origem lugares de exploraccedilatildeo e circulaccedilatildeo bem como agraves praacuteticas de subsistecircncia e cronologia (Carvalho e Petchey 2013 Price 2014 Carvalho et al 2015 Carvalho e Rocha 2016)No entanto em contraste com este crescimento notoacuterio da base empiacuterica o conhecimento relativo aos lugares de habitat tem progredido atraveacutes de pas-sos mais curtos mas cremos igualmente soacutelidos procurando ultrapassar o quadro tradicional que o tiacutetulo ldquoMuitas antas pouca genterdquo (Gonccedilalves

324 |

2000) sintetizavaO texto que aqui se apresenta tem como temaacutetica central os siacutetios de habitat que datam da fase inicial do Megalitismo funeraacuterio no Centro e Sul de Portu-gal procurando dessa forma contribuir para um maior conhecimento acerca deste fenoacutemeno complexo e acima de tudo das comunidades que lhe estatildeo associadas no quadro da investigaccedilatildeo que se tem vindo a desenvolver na uacuteltima deacutecada (Neves 2012 2015a 2015b 2016 e 2018 Neves e Diniz 2014 Nunes e Carvalho 2013)

2 O ARRANQUE DO MEGALITISMO FUNERAacuteRIO NO OCIDENTE PENIN-SULARNo Ocidente peninsular a emergecircncia dos sepulcros megaliacuteticos - que tradi-cionalmente tecircm vindo a ser utilizados como os foacutesseis-directores do Neoliacuteti-co meacutedio - tendo em conta os monumentos datados essencialmente atraveacutes de restos osteoloacutegicos humanos (de fiabilidade segura) o periacuteodo entre o segundo e o terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC parece corresponder ao limite cronoloacutegico inferior deste complexo fenoacutemeno arquitectoacutenico segundo a proposta de Rui Boaventura (Boaventura 2009 p335) construiacuteda para o Centro (Boaventura 2009) e para o Sul de Portugal (Boaventura 2011 Boaventura e Mataloto 2013) na sequecircncia de um trajecto de investigaccedilatildeo que constitui uma indispensaacutevel referecircncia para a Preacute-histoacuteria do Ocidente peninsularPartindo do quadro cronomeacutetrico hoje disponiacutevel natildeo haacute evidecircncias que o arranque do Megalitismo funeraacuterio no Centro e Sul de Portugal ocorra antes do intervalo de tempo situado entre ~3700-3300 cal BC inserindo-se dessa forma no momento que Rui Boaventura denominou de Fase 1 ndash preacute-iacutedolos--placa (Boaventura 2009) Este periacuteodo crono-cultural situado entre o segundo e o terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC corresponderaacute no Ocidente Peninsular ao Neoliacutetico meacutedio pleno como foi recentemente definido (Neves 2018)Em termos arquitectoacutenicos os monumentos inseridos neste momento cor-respondem em termos gerais a pequenos sepulcros de cacircmara simples e pequenos sepulcros de corredor curto com espoacutelio ldquoantigordquo (Mataloto An-drade e Pereira 2016-2017) Trata-se de espaccedilos funeraacuterios com reduzido nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos aiacute depositados a que se associa um espoacutelio tambeacutem ele pouco numeroso e pouco diversificado constituiacutedo por elementos de pedra polida (machados e enxoacutes) pequenas lacircminas ou lamelas raramente retocadas armaduras geomeacutetricas - dominam os trapeacutezios sobre os segmentos e triacircngulos em

| 325

| 2018

muito menor nuacutemero - e onde se destaca a ausecircncia ou a presenccedila muito reduzida de recipientes ceracircmicosEste ldquopacoterdquo seraacute transversal a um conjunto de sepulcros e tambeacutem ocorre em grutas naturais e em hipogeus coevos (Boaventura e Mataloto 2013 Carvalho 2014b Cardoso e Carvalho 2008 Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017) naquilo que pode ser a demonstraccedilatildeo de uma unidade cultural (e cronoloacutegica) associada ao Neoliacutetico meacutedio e que ultrapassa (e aproxima) espaccedilos regionais ateacute haacute pouco pensados como distintos (Neves 2018) Esta etapa terminaraacute com o aparecimento nos espoacutelios de novos materiais ausentes dos mobiliaacuterios votivos desta 1ordf fase como os iacutedolos-placa e as suas variantes as pontas bifaciais ndash pontas de seta punhais e alabardas - as grandes lacircminas retocadas lacircminas ovoacuteides e os recipientes ceracircmicos em grande nuacutemero e com grande heterogeneidade de formas (Boaventura 2009 p346) Estes itens artefactuais estaratildeo jaacute associados a monumen-tos megaliacuteticos de meacutediagrande dimensatildeo e monumentos de falsa cuacutepu-la bem como a grutas-necroacutepole e hipogeus atribuiacutedos aos finais do 4ordm e ao longo do 3ordm mileacutenio cal BC (Boaventura e Mataloto 2013 Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017)Na fase de arranque do megalitismo funeraacuterio inserem-se ndash de acordo com criteacuterios arquitectoacutenicos artefactuais e cronomeacutetricos - os sepulcros da So-breira 1 (Elvas) Rabuje 5 (Monforte) Cabeceira 4 (Mora) Cabeccedilo da Areia (Montemor-o-Novo) e Carrascal de Agualva (Sintra) bem como as primei-ras utilizaccedilotildees de Pedras Grandes (Odivelas) e Pedra Branca (Gracircndola) conferindo solidez a esta leitura interpretativa (Boaventura 2006 e 2009

Tabela 1

326 |

Rocha e Duarte 2009 Soares 2010 Boaventura Ferreira e Silva 2013 Carvalho e Rocha 2016 Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017) (Ta-bela 1)

3 OS ESPACcedilOS DE HABITAT DO INIacuteCIO DO MEGALITISMO FUNERAacuteRIO CRONOLOGIA E CULTURA MATERIALA base empiacuterica disponiacutevel para os espaccedilos de habitat associados agrave 1ordf fase do Megalitismo funeraacuterio eacute muito limitada em parte devido agrave ausecircncia de ldquofoacutes-seis-directoresrdquo o que torna estes siacutetios menos visiacuteveis no registo arqueoloacutegicoDe momento e de acordo com criteacuterios tipoloacutegicos inserem-se nesta etapa as ocupaccedilotildees registadas na Moita do Ourives (Benavente) na camada Da do Abrigo da Pena drsquoAacutegua (Torres Novas) assim como no concheiro da Barrosinha (Comporta) (Carvalho 1998 e 2016 Neves 2018 Soares e Silva 2013) Destes contextos apenas a pequena intervenccedilatildeo levada a cabo no concheiro da Barrosinha ndash onde foram identificadas duas ocupaccedilotildees intercaladas tempo-ralmente (Camada 4 e 2) mas que os seus investigadores consideram ambas integradas na Fase II da Comporta (Soares e Silva 2013) ndash forneceu dataccedilotildees absolutas Ao contraacuterio da Moita do Ourives e da camada Da do Abrigo da Pena drsquoAacutegua na Barrosinha foi possiacutevel obter dataccedilotildees absolutas para os dois niacuteveis genericamente enquadrados na segunda metade do 4ordm mileacutenio cal BC No geral as dataccedilotildees desta Fase II da Comporta obtidas sobre conchas de moluscos marino-estuarinos e devidamente corrigidas do efeito de reservatoacuterio oceacircnico apontam para o segundo e terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC situando-se entre 3761 e 3373 cal BC (Idem 2013)A este horizonte cronoloacutegico pertence igualmente a 2ordf fase de ocupaccedilatildeo do siacutetio da Senhora da Alegria (Coimbra) de acordo com a dataccedilatildeo absoluta de 3636--3376 cal BC obtida sobre uma amostra de carvatildeo recolhida numa estrutura de combustatildeo (Valera 2013) Uma leitura cronomeacutetrica semelhante parece observar-se naquela que seraacute a fase mais antiga dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) tendo em conta o resultado de uma dataccedilatildeo sobre Sus sp numa amostra recolhida numa fossa claramente enquadrada no mesmo horizonte em discussatildeo ndash 3620-3370 cal BC (Valera et al 2017)Utilizando unicamente habitats para os quais existem dataccedilotildees absolutas ape-nas trecircs siacutetios podem ser enquadrados na fase de arranque do Megalitismo fu-neraacuterio no Centro e Sul de Portugal Senhora da Alegria Barrosinha e Perdigotildees Trata-se de siacutetios com estrateacutegias de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo do espaccedilo distintas e possivelmente com diferentes tipologias funcionais demonstrando heteroge-neidade cultural na abordagem aos cenaacuterios de acccedilatildeo das comunidades de uma fase plena do Neoliacutetico meacutedio

| 327

| 2018

No entanto estas ocupaccedilotildees ndash ainda que datadas - apresentam lim-itaccedilotildees significativas para este debate No geral correspondem a siacute-tios ainda insuficientemente caracterizados quer parcialmente como eacute o caso da Barrosinha (onde ainda se desconhece a in-duacutestria liacutetica) quer na totalidade como eacute o caso dos contextos da Senhora da Alegria (em estudo) e dos Perdigotildees (ainda em esca- vaccedilatildeo e estudo - Valera et al 2017 p64) (Figura 1)Perante este cenaacuterio a caracterizaccedilatildeo dos lugares de habitat do Neoliacuteti-co meacutedio pleno contemporacircneos do arranque do Megalitismo funeraacuterio assenta no campo da cultura material ndash no siacutetio da Moita do Ourives jaacute objecto de estudo integral (Neves 2018) A partir deste contexto e analisando os dados obtidos na Barrosinha (suportados por dataccedilotildees cronomeacutetricas) (Soares e Silva 2013) e observando a sequecircncia es-tratigraacutefica do Abrigo da Pena drsquoAacutegua que coloca a camada Da entre os niacuteveis de ocupaccedilatildeo do Neoliacutetico meacutedio inicial e do Neoliacutetico final (Car-valho 1998 e 2016) foi possiacutevel delinear um quadro artefactual para o Neoliacutetico meacutedio pleno que futura investigaccedilatildeo poderaacute precisar (Tabela 2 e 3 Figura 2 a 4)

Figura 1 Sepulcros megaliacuteticos datados do Neoliacutetico meacutedio pleno e habitats contemporacirc-neos (Centro e Sul de Portugal) (base cartograacutefica Boaventura 2009)

328 |

Contrastando esta imagem com a que caracteriza a etapa imediatamente an-terior ndash Neoliacutetico meacutedio inicial (~4500-3700 cal BC ndash Neves 2018) eacute na pro-duccedilatildeo de recipientes ceracircmicos que se identificam os elementos que melhor poderatildeo melhor caracterizar o quadro artefactual do Neoliacutetico meacutedio pleno Os contextos domeacutesticos do Neoliacutetico meacutedio na sua fase plena apresentam ao niacutevel da ceracircmica conjuntos totalmente desprovidos de decoraccedilatildeo ainda que em alguns casos mantenham uma presenccedila muito residual embora sem

Tabela 2 Habitats do Neoliacutetico meacutedio pleno (segundo e terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC) ndash Cultura Material - Induacutestria liacutetica

Tabela 3 Habitats do Neoliacutetico meacutedio pleno (segundo e terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC) ndash Cultura Material ndash Ceracircmica

| 329

| 2018

Figura 2 Cultura Material do Neoliacutetico meacutedio pleno ndash exemplares da Moita do Ourives 1 -3 ndash Ceracircmica lisa 4 ndash Machado de pedra polida 5 ndash Lacircmina 6 ndash Lamela 7-8 ndash Trapeacutezio 9 ndash Lasca com traccedilos de utilizaccedilatildeo (Neves 2018)

330 |

Figura 3 Conjunto artefactual correspondente ao Neoliacutetico meacutedio da camada Da do Abri-go da Pena drsquoAacutegua (Carvalho 1998b p65)

| 331

| 2018

Figura 4 Conjunto ceracircmico correspondente ao Neoliacutetico meacutedio da Comporta ndash Fase II (Adaptado de Soares e Silva 2013 p161)

expressividade percentual de elementos decorados geralmente incisosEste quadro estaraacute claramente demonstrado em trecircs dos siacutetios de habitat enun-ciados neste texto e que se localizam em trecircs aacutereas regionais distintas Pena drsquoAacutegua - Estremadura portuguesa Moita do Ourives - Baixo Vale do Tejo Bar-rosinha - Costa Sudoeste Na jaacute referida camada Da da Pena drsquoAacutegua o nuacutemero de elementos decorados natildeo excede os 7 Na Moita do Ourives regista-se a presenccedila de 6 fragmentos decorados (todos a incisatildeo) correspondendo a somente 2 do total da amos-tra Mais a Sul na ocupaccedilatildeo identificada na camada 4 da Barrosinha obser-va-se a existecircncia de um conjunto ceracircmico totalmente liso com excepccedilatildeo de um uacutenico exemplar decorado com sulco abaixo do bordo dando agrave ceracircmica decorada uma representatividade percentual de cerca de 1 (Carvalho 2016 Soares e Silva 2013 Neves 2018) (Figura 5)Como jaacute foi referido este niacutevel de ocupaccedilatildeo da Barrosinha com dataccedilotildees absolutas compreendidas entre segundo e terceiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC (Soares e Silva 2013 p154) apresenta um patamar cronoloacutegico muito se-melhante ao registado na ocupaccedilatildeo do Neoliacutetico meacutedio da Senhora da Alegria e em duas fossas dos Perdigotildees Apesar destes contextos estarem ainda em estudo natildeo sendo por isso possiacutevel proceder agrave anaacutelise dos dados arqueoloacutegicos na sua totalidade as informaccedilotildees avanccediladas apontam para um pacote arte- factual com estas caracteriacutesticas Na Senhora da Alegria siacutetio constituiacutedo por vaacuterias linhas de fossos foi possiacutevel

332 |

Figura 5 Percentagem das Ceracircmicas decoradas vs Ceracircmica lisa no Neoliacutetico meacutedio pleno (a partir de Neves 2018 Carvalho 2016 Soares e Silva 2013)

obter a partir de uma lareira uma dataccedilatildeo de 3636-3376 cal BC associada a ldquouma cultura material caracterizada por ceracircmicas de formas esfeacutericas e em calote totalmente lisas e a uma induacutestria liacutetica ainda com uma importante com-ponente microliacutetica com geomeacutetricos e ausecircncia de pontas de setardquo (Valera 2013 p338) A estas referecircncias agrave componente artefactual acresce-se uma presenccedila significativa de pedra polida (machados e enxoacutes) e afeiccediloada (dor-mentes e moventes) o que permite integrar o conjunto no modelo tiacutepico que parece corresponder ao Neoliacutetico meacutedio pleno como o temos vindo a esta-belecer A abundacircncia de elementos de pedra polida ndash nem sempre registada nos habitats desta etapa ndash deve associar-se agrave especificidade funcional deste contextoNos Perdigotildees as descriccedilotildees preliminares da cultura material provenientes das fossas jaacute datadas do Neoliacutetico meacutedio pleno remetem para a presenccedila de uma induacutestria liacutetica de produccedilatildeo de lascas e lamelas alguma utensilagem geomeacutetri-ca e recipientes de morfologia simples (hemisfeacutericos e globulares) onde se des- taca a ausecircncia de carenas e motivos decorativos (Valera et al 2017 p64) O enquadramento cronoloacutegico dos contextos analisados os indicadores dis-poniacuteveis para o seu pacote artefactual bem como a sua localizaccedilatildeo geograacutefica faz antever uma difusatildeo ampla destes conjuntos artefactuais onde a ausecircncia do peso social das gramaacuteticas decorativas nos recipientes ceracircmicos eacute o ele-mento de diagnoacutestico mais evidente num momento crono-culturalmente con-

| 333

| 2018

sentacircneo com a dispersatildeo e expansatildeo do Megalitismo funeraacuterio no extremo Ocidente Peninsular

4 DISCUSSAtildeOO iniacutecio de uma segunda fase do Neoliacutetico meacutedio parece ocorrer a partir do final do primeiro quartel do 4ordm mileacutenio cal BC prolongando-se ateacute ao iniacutecio do uacuteltimo quartel do mesmo mileacutenioA partir desta fase assiste-se a um processo histoacuterico com etapas cada vez mais curtas onde o crescimento e complexificaccedilatildeo econoacutemica e social atingem uma dinacircmica bastante intensa muitas vezes difiacutecil de captar pelos intervalos (ainda longos) do radiocarbono Apesar de corresponder a um periacuteodo ligeiramente su-perior a 500 anos no Neoliacutetico meacutedio pleno regista-se um conjunto de compor-tamentos com profundas alteraccedilotildees dos sistemas culturais que demonstram quadros de grande complexidade social e simboacutelica visiacuteveis essencialmente na selecccedilatildeo e transformaccedilatildeo antroacutepica de uma paisagem e na construccedilatildeo dos dis-cursos e das memoacuterias sociais do qual o Megalitismo eacute parte integranteCorresponde a um momento de estabilizaccedilatildeo e maior uniformidade cultural de um conhecimento colectivo culturalmente reconhecido por grupos que ocupam um territoacuterio vasto partilhando uma identidade comum A mobilidade dos gru-pos e dos indiviacuteduos que as anaacutelises bio-antropoloacutegicas tecircm vindo a demonstrar justificaraacute a forte homogeneidade que se detecta nesta fase no campo da cul-tura material Os ldquoregionalismosrdquo a existirem natildeo satildeo neste momento oacutebvios e a funcionalidade dos siacutetios parece a causa fundamental da diversidade que se possa detectar natildeo nas tipologias dos artefactos mas na densidade de pre-senccedilas registadas nos conjuntos E eacute inserida nesta dinacircmica que ocorreraacute a entrada em cena das arquitectur-as funeraacuterias megaliacuteticas no Centro e Sul do actual territoacuterio portuguecircs num fenoacutemeno que marca indubitavelmente o Neoliacutetico meacutedio pleno e que tambeacutem define a cronologia de arranque desta etapa (~3700-3200 cal BC)A coincidecircncia cronoloacutegica com o arranque do Megalitismo funeraacuterio e algumas diferenccedilas na cultura material relativamente ao Neoliacutetico meacutedio inicial (Neves 2015a 2015b e 2018) marcam esta segunda fase do Neoliacutetico meacutedio (~3700--3200 cal BC) a que se seguiraacute o Neoliacutetico final (Tabela 4 e Figura 6)Nas primeiras necroacutepoles megaliacuteticas reconhecem-se conjuntos votivos de re-duzida dimensatildeo e diversidade num ldquopacoterdquo artefactual transversal a um con-junto de sepulcros de distinta natureza e tipologia - grutas naturais e hipogeus ndash que cruzando diferentes geografias demonstram a unidade cultural associada ao Neoliacutetico meacutedio (Neves 2018) No mesmo sentido observa-se que para o mesmo intervalo de tempo encon-

334 |

Figura 6 Representaccedilatildeo graacutefica dos intervalos de tempo ndash Sepulcros megaliacuteticos com dataccedilotildees mais antigas disponiacuteveis e Habitats do Neoliacutetico meacutedio inicial e pleno Foram utilizadas as curvas IntCal 13 e o Marine 13 (Reimer et al 2013) e o programa CALIB VER 702

Tabela 4 Dataccedilotildees absolutas ndash Neoliacutetico meacutedio inicial e pleno

| 335

| 2018

tram-se as ocupaccedilotildees domeacutesticas da Barrosinha e Senhora da Alegria situadas genericamente entre ~3700-3200 cal BC espaccedilo cronoloacutegico que apontamos para a Moita do Ourives e da camada Da da Pena drsquoAacuteguaEstes habitats do Neoliacutetico meacutedio pleno situados em espaccedilos regionais distin-tos mantecircm a homogeneidade artefactual jaacute existente no Neoliacutetico meacutedio ini-cial com a principal diferenccedila entre as duas fases a verificar-se ao niacutevel da ceracircmica com os recipientes a surgirem agora praticamente desprovidos de decoraccedilatildeo e idecircnticos agravequeles que se identificam nos espaccedilos funeraacuterios deste periacuteodo com a esta caracteriacutestica a constituir-se como o ldquofoacutessil-directorrdquo mais expliacutecito na caracterizaccedilatildeo por via de criteacuterios tipoloacutegicos deste momento

5 CONCLUSAtildeO E PERSPECTIVAS DE INVESTIGACcedilAtildeO FUTURAEm termos culturais e cronomeacutetricos estes habitats da Moita do Ourives Bar-rosinha a ocupaccedilatildeo do niacutevel Da da Pena drsquoAacutegua bem como a 2ordf fase da Sen-hora de Alegria deveratildeo ser contemporacircneos da Fase 1 ndash preacute-iacutedolos-placa que segundo o modelo interpretativo de Rui Boaventura para os sepulcros da Es-tremadura e Alentejo centra-se entre c 3700-3300 cal BC e que envolve dis-tintos lugares e praacuteticas funeraacuterias (Boaventura 2009) Aleacutem das grutas natu-rais utilizadas desde as fases iniciais do processo de Neolitizaccedilatildeo juntam-se a partir deste momento os primeiros monumentos megaliacuteticos de cariz funeraacuterio e tambeacutem as primeiras construccedilotildees e utilizaccedilotildees de grutas artificiaisA uniformidade artefactual que parece verificar-se nos espaccedilos domeacutesticos do Neoliacutetico meacutedio e que jaacute se verificaria na sua fase inicial parece tambeacutem suceder nos ambientes funeraacuterios sincroacutenicos Agrave semelhanccedila do mundo dos vivos esta homogeneidade igualmente observaacutevel nos mobiliaacuterios votivos tem lugar em longos e distintos espaccedilos regionais percorrendo um territoacuterio cada vez mais uno na sua evoluccedilatildeo sociocultural deixando definitivamente () para traacutes identidades regionais bem delimitadas que teratildeo existido ateacute ao final do Neoliacutetico antigo evolucionado (primeira metade do 5ordm mileacutenio cal BC) (Diniz 2007 Neves 2015b e 2018)No futuro relativamente ao conhecimento dos lugares de povoamento das primeiras ldquocomunidades megaliacuteticasrdquo e dessa forma do Neoliacutetico meacutedio ple-no no Ocidente Peninsular torna-se imperioso aumentar o quadro empiacuterico disponiacutevel Actualmente o nuacutemero de habitats associados a este momento quando comparado com as etapas imediatamente anteriores e posteriores (Neoliacutetico antigo e Neoliacutetico final) eacute claramente inferior Uma vez que os cenaacuterios de acccedilatildeo e as estrateacutegias de exploraccedilatildeo do espaccedilo parecem apresentar continuidades oacutebvias com as do Neoliacutetico antigo a iden-tificaccedilatildeocaracterizaccedilatildeo de um maior nuacutemero de contextos domeacutesticos que

336 |

se integrem neste periacuteodo especiacutefico passaraacute obrigatoriamente pela anaacutelise tecno-tipoloacutegica mas tambeacutem quantitativa dos elementos da Cultura Mate- rial A construccedilatildeo dos quadros de elementos artefactuais de diagnoacutestico vai no sentido de ajudar na identificaccedilatildeo de novos siacutetios e tambeacutem na reavaliaccedilatildeo de outros ainda incaracteriacutesticos ou parcamente analisadosConsequentemente torna-se imperioso alargar o quadro cronomeacutetrico exis-tente para os espaccedilos domeacutesticos no sentido de validar as leituras aqui repro-duzidas (Neoliacutetico meacutedio pleno = arranque do Megalitismo de cariz funeraacuterio) e que possa igualmente abranger um espaccedilo mais alargado do territoacuterio ateacute mesmo nas fronteiras seleccionadas para esta anaacuteliseA inexistecircncia de um estudo integral e publicaccedilatildeo dos dados produzidos nas ocupaccedilotildees da segunda metade do 4ordm mileacutenio da Senhora da Alegria e mais recentemente Perdigotildees condiciona por agora as leituras produzidas No entanto o enquadramento cronoloacutegico que as dataccedilotildees absolutas indicam claramente compatiacuteveis com as realidades artefactuais sumariamente dis-ponibilizadas vai ao encontro de um momento pleno do Neoliacutetico meacutedio para-lelizaacutevel com as ocupaccedilotildees da Moita do Ourives camada Da da Pena drsquoAacutegua e Barrosinha bem como dos lugares datados mais antigos associados ao Megalitismo funeraacuterioA conexatildeo agraves paisagens megaliacuteticas teraacute de permanecer na agenda e debate cientiacutefico Os espaccedilos de habitat hoje conhecidos e aqui enumerados situ-am-se a alguma distacircncia dos territoacuterios dos primeiros monumentos megaliacuteti-cos desconhecendo-se se esta cartografia corresponde a um desvio arque-ograacutefico ou a uma realidade histoacuterica concreta que importa esclarecer e interpretar

Lisboa Julho de 2018

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICASARMBRUESTER Tanya (2008) - Technology neglected A painted ceramic fragment from the dated Middle Neolithic site of Vale Rodrigo 3 Vipasca Aljustrel 2ordf seacuterie 2 p 83 ndash 94BOAVENTURA R (2006) ndash Os IV e III mileacutenios ane na regiatildeo de Monforte para aleacutem dos mapas com pontos os casos do cluster de Rabuje e do povoado com fossos de Moreiros 2 Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 9 (2) p61-74BOAVENTURA R (2009) - As antas e o megalitismo da regiatildeo de Lisboa Dissertaccedilatildeo de Doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2 Vols (pol-icopiado)BOAVENTURA R (2011) - Chronology of megalithism in South-Central Portugal Menga Revis-ta de Prehistoria de Andaluciacutea 1 p159-190

| 337

| 2018

BOAVENTURA R MATALOTO R (2013) - Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 16 p81ndash101CARDOSO J L amp CARVALHO AF (2008) ndash A Gruta do Lugar do Canto (Alcanede) e a sua im-portacircncia no faseamento do Neoliacutetico no territoacuterio portuguecircs In CARDOSO J L (ed) Home-nagem a Octaacutevio da Veiga Ferreira Oeiras Cacircmara Municipal de Oeiras p 269 300 (Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras 16)CARVALHO A F (1998) ndash Abrigo da Pena drsquo Aacutegua (Rexaldia Torres Novas) resultados das campanhas de sondagem (1992-1997) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 12 p 39-72CARVALHO A F ed (2014a) ndash Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Faro Universidade do Algarve (Promontoria Monograacutefica 17)CARVALHO A F (2014b) ndash Funerary contexts In CARVALHO A F (ed) Bom Santo Cave (Lis-bon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Faro Universidade do Algarve (Promontoria Monograacutefica 17) p19-26CARVALHO A F (2014c) ndash Bom Santo Cave in context A preliminar contribution to the study of the first megalith builders of Southern Portugal In CARVALHO A F (ed) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Faro Universidade do Al-garve (Promontoria Monograacutefica 17) p209-230CARVALHO A F (2016) ndash The Pena drsquoAacutegua rock-shelter (Torres Novas Portugal) two distinct life ways within a Neolithic sequence Del neoliacutetic a lrsquoedat del bronze en el Mediterrani occiden-tal Estudis en homenatge a Bernat Martiacute Oliver TV SIP 119 Valegravencia p 211-223CARVALHO AF ALVES-CARDOSO F GONCcedilALVES D GRANJA R CARDOSO JL DEAN RM GIBAJA JF MASUCCI MA ARROYO-PARDO E FERNAacuteNDEZ E PETCHEY F PRICE TD MATEUS JE QUEIROZ PF CALLAPEZ PM PIMENTA C REGALA FT (2015) - The Bom Santo Cave (Lisbon Portugal) catchment diet and patterns of mobility of a Middle Neo-lithic population European Journal of Archaeology p1-28CARVALHO A F amp CARDOSO J L (20102011) ndash A cronologia absoluta das ocupaccedilotildees fu-neraacuterias da gruta da Casa da Moura (Oacutebidos) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras 18 Oeiras Cacircmara Municipal p 393-405CARVALHO A F amp CARDOSO J L (2015) ndash Insights on the changing dynamics of cemetery use in the Neolithic and Chalcolithic of Southern Portugal Radiocarbon dating of Lugar do Canto cave (Santareacutem) SPAL Sevilla 24 p 35-63CARVALHO A F amp PETCHEY F (2013) ndash Stable Isotope Evidence of Neolithic Palaeodiets in the Coastal Regions of Southern Portugal Jornal of Island and Coastal Archaeology 8 p 361-383CARVALHO A F amp ROCHA L (2016) ndash Dataccedilatildeo directa e anaacutelise de paleodietas dos indiviacutedu-os da anta de Cabeceira 4ordf (Mora Portugal) digitAR nordm 3 Imprensa da Universidade de Coimbra p 53-61DINIZ M (2000) ndash Neolitizaccedilatildeo e megalitismo arquitecturas do tempo no espaccedilo In GONCcedilALVES V (ed) ldquoMuitas antas pouca genterdquo Actas do I Coloacutequio Internacional de Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 105-116DINIZ M (2007) ndash O Siacutetio da Valada do Mato (Eacutevora) aspectos da neolitizaccedilatildeo no InteriorSul de Portugal Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 48)GONCcedilALVES V (ed) ldquoMuitas antas pouca genterdquo Actas do I Coloacutequio Internacional de Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia

338 |

LARSSON L (2000) - Symbols in stone ritual activities and petrified traditions Actas do 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Porto 3 ADECAP p 445 ndash 458MATALOTO R amp BOAVENTURA R (2009) ndash Entre vivos e mortos nos IV e III mileacutenios ane do Sul de Portugal um balanccedilo relativo do povoamento com base em dataccedilotildees pelo radiocarbo-no Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 122 p 39-77MATALOTO R ANDRADE M A PEREIRA A (2016-2017) - O Megalitismo das pequenas antas novos dados para um velho problema Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras 23 p33-156NEVES C (2010) ndash Monte da Foz 1 (Benavente) um episoacutedio da Neolitizaccedilatildeo na margem esquerda do Baixo Tejo Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Arqueologia apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2 Vols (policopiado)NEVES C (2012) - A induacutestria de pedra lascada do Monte da Foz 1 (Benavente Portugal) contribuiccedilatildeo para o conhecimento do talhe da pedra na segunda metade do V mileacutenio aC Revista Portuguesa de Arqueologia Igespar Lisboa 15 p 5-30NEVES C (2015a) ndash A ceracircmica decorada com sulco abaixo do bordo do siacutetio neoliacutetico do Monte da Foz 1 (Benavente Portugal) SAEacuteZ DE LA FUENTE I TEJERIZO GARCIacuteA C ELORZA GONZAacuteLEZ DE ALAIZA L HERNAacuteNDEZ BELOQUI B HERNANDO AacuteLVAREZ C (Coords) Ar-queologiacuteas sociales Arqueologiacutea en sociedad Actas de las VII Jornadas de Joacutevenes en Investi-gacioacuten Arqueoloacutegica Vitoria-Gasteiz Arkeogazte-JAS Arqueologiacutea p458-465NEVES C (2015b) - A 2ordf metade do V Mileacutenio no Ocidente Peninsular algumas problemaacuteti-cas a partir da cultura material GONCcedilALVES VS DINIZ M SOUSA A C (eds) 5ordm Congres-so do Neoliacutetico Peninsular Actas Lisboa UNIARQ p314-321NEVES C (2016) - A produccedilatildeo ceracircmica na segunda metade do 5ordm mileacutenio AC leitura(s) a partir do Monte da Foz 1 (Benavente Portugal) COELHO I P TORRES J B GIL L S RAMOS T (coords) Entre ciecircncia e cultura Da interdisciplinaridade agrave transversalidade da arqueologia Actas das VIII Jornadas de Jovens em Investigaccedilatildeo Arqueoloacutegica Lisboa CHAM-FCSHUNL-UAccedil e IEM-FCSHUNL p87-97NEVES C (2018) ndash O Neoliacutetico meacutedio no Ocidente Peninsular o siacutetio da Moita do Ourives (Benavente) no quadro do povoamento do 5ordm e 4ordm mileacutenio AC Dissertaccedilatildeo de Doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2 Vols (policopiado)NEVES C amp DINIZ M (2014) - Acerca dos cenaacuterios da acccedilatildeo estrateacutegias de implantaccedilatildeo e exploraccedilatildeo do espaccedilo nos finais do 5ordm e na primeira metade do 4ordm mileacutenio AC no Sul de Portugal Estudos do Quaternaacuterio 11 APEQ Braga p45-58NUNES A amp CARVALHO A F (2013) - O Neoliacutetico Meacutedio no Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho estado actual dos conhecimentos e perspectivas de investigaccedilatildeo futura In ARNAUD J M MARTINS A NEVES C (coords) Arqueologia em Portugal ndash 150 anos Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 329-334PRICE T D (2014) ndash Isotope proveniencing In CARVALHO A F (ed) Bom Santo Cave (Lis-bon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Faro Universidade do Algarve (Promontoria Monograacutefica 17) p 151 158REIMER PJ BARD E BAYLISS A BECK JW BLACKWELL PG RAMSEY CB BUCK CE CHENG H EDWARDS RL FRIEDRICH M GROOTES PM GUILDERSON TP HAFLIDA-SON H HAJDAS I HATTEacute C HEATON TJ HOFFMANN DL HOGG AG HUGHEN KA KAISER KF KROMER B MANNING SW NIU M REIMER RW RICHARDS DA SCOTT EM SOUTHON JR STAFF RA TURNEY CSM y VAN DER PLICHT J (2013) - IntCal13 and Marine13 Radiocarbon Age Calibration Curves 0ndash50000 Years cal BP Radiocarbon 55(4)

| 339

| 2018

DOI 102458azu_js_rc5516947ROCHA L DUARTE C (2009) ndash Megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central os dados an-tropoloacutegicos das escavaccedilotildees de Manuel Heleno In POLO CERDAacute amp GARCIacuteA-PROacuteSPER E (eds) ndash Investigaciones histoacutericomeacutedicas sobre salud y enfermedad en el pasado Actas del IX Congreso Nacional de Paleopatologiacutea Valencia Grupo Paleolab amp Sociedad Espantildeola de Paleopatologia p763-781SOARES J amp SILVA C T (2013) ndash Economia agro-mariacutetima na Preacute-Histoacuteria do estuaacuterio do Sado Novos dados sobre o Neoliacutetico da Comporta Preacute-histoacuteria das Zonas Huacutemidas Pais-agens de Sal SOARES J (ed) Setuacutebal Arqueoloacutegica 14 MAEDS Setuacutebal p 145-170VALERA A C (2013) ndash Cronologia dos Recintos de Fossos da Preacute-Histoacuteria recente em ter-ritoacuterio portuguecircs ARNAUD J M MARTINS A NEVES C (coords) Arqueologia em Portugal - 150 Anos Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses Lisboa p345-350VALERA A C SIMAtildeO I NUNES T PEREIRO T COSTA C (2017) - Neolithic ditched enclo-sures in Southern Portugal (4th millennium BC) new data and new perspectives Estudos do Quaternaacuterio 17 APEQ Braga p 57-76

340 |

| 341

| 2018

O MENIR DO CABECcedilO DA AREIA (BROTAS MORA)

El menhir del Cabeccedilo da Areia (Brotas Mora)

ROCHA L Universidade de Eacutevora Escola de Ciecircncias Sociais Investigadora do CEAACP Universidades de Coimbra e do Algarvelrochauevorapt

ALVIM P (1975-2015)

RESUMOA escavaccedilatildeo do menir do Cabeccedilo da Areia (Brotas Mora) enquadrou-se no acircmbito de dois projetos de investigaccedilatildeo coordenados pelos signataacute- rios ldquoMegalitismo Funeraacuterio Alentejano - MFArdquo dirigido por Leonor Rocha e ldquoConjunto Megaliacutetico da Ribeira da Laje contexto geograacutefico e arqueo- loacutegicordquo dirigido por Pedro AlvimO principal objetivo desta intervenccedilatildeo foi o de tentar obter novos dados arqueoloacutegicos para a compreensatildeo da geacutenese e evoluccedilatildeo dos contextos megaliacuteticos preacute-histoacutericos neste concelho em particular e no Alentejo em geral Para aleacutem disso consideramos que os menires tombados e as sepulturas de pequenas dimensotildees satildeo monumentos dispostos a afe-taccedilotildees irreversiacuteveis pelo que accedilotildees de recuperaccedilatildeo arqueoloacutegica e ar-quitetoacutenica onde se incluem accedilotildees de divulgaccedilatildeo entre as comunidades locais satildeo extremamente importantes se queremos salvaguardar este tipo de patrimoacutenio tatildeo sensiacutevelEm termos globais os resultados desta intervenccedilatildeo natildeo forneceram dados crono-culturais significativos devido por um lado agrave tiacutepica escas-sez de espoacutelio deste tipo de monumentos os materiais recolhidos satildeo poucos e incaracteriacutesticos natildeo permitindo uma afericcedilatildeo cronoloacutegica satisfatoacuteria e por outro a total ausecircncia de mateacuteria orgacircnica suscetiacutevel de ser datada No entanto foi possiacutevel comprovar que a estrutura de sus-tentaccedilatildeo do menir se encontrava parcialmente preservada (como se su-punha antes da intervenccedilatildeo) e proceder agrave sua recuperaccedilatildeoPALAVRAS-CHAVE Menires Alentejo Mora Portugal

RESUMENLa excavacioacuten del menhir Cabeccedilo da Areia (Brotas Mora) era parte del

342 |

marco de dos proyectos de investigacioacuten coordinados por los firmantes ldquoMegalitismo Funeraacuterio Alentejano - MFArdquo de Leonor Rocha y ldquoConjunto Megaliacutetico da Ribeira da Laje contexto geograacutefico e arqueoloacutegicordquo de Pedro AlvimEl principal objetivo de esta intervencioacuten fue el de intentar obtener nuevos datos arqueoloacutegicos para la comprensioacuten de la geacutenesis y evolucioacuten de los contextos megaliacuteticos prehistoacutericos en este municipio en particular y en el Alentejo en general Ademaacutes consideramos que los menires tumbados y las sepulturas de pequentildeas dimensiones son monumentos dispuestos a afecciones irreversibles por lo que acciones de recuperacioacuten arqueoloacutegi-ca y arquitectoacutenica donde se incluyen acciones de divulgacioacuten entre las comunidades locales son extremadamente importantes si queremos sal-vaguardar este tipo de patrimonio tan sensibleEn teacuterminos globales los resultados de esta intervencioacuten no proporciona-ron datos crono-culturales significativos debido por una parte a la tiacutepi-ca escasez de botiacuten de este tipo de monumentos los materiales recogidos son pocos e inquebaacuteticos no permitiendo una verificacioacuten cronoloacutegica sa- tisfactoria y por otra la total ausencia de materia orgaacutenica susceptible de ser fechada Sin embargo fue posible comprobar que la estructura de sustentacioacuten del menir se encontraba parcialmente preservada (como se suponiacutea antes de la intervencioacuten) y proceder a su recuperacioacutenPALABRAS CLAVEMenhires Alentejo Mora Portugal

1 INTRODUCcedilAtildeONo acircmbito de anteriores projectos de investigaccedilatildeo foram realizadas algu-mas intervenccedilotildees em monumentos megaliacuteticos natildeo funeraacuterios do con-celho de Mora (Cromeleque das Fontaiacutenhas e Cromeleque de Vale drsquoel Rei) no qual participaram os signataacuterios quer como co-responsaacuteveis (LR) quer como arqueoacutelogos de campo (PA)A escavaccedilatildeo do menir do Cabeccedilo da Areia em 2011 foi inserida em dois projectos de investigaccedilatildeo em curso um sobre o megalitismo funeraacuterio dirigido por Leonor Rocha e o outro vocacionado para o megalitismo natildeo funeraacuterio dirigido por Pedro Alvim e tinha por objetivo a compreensatildeo do megalitismo alentejano na sua globalidade interessava-nos estabelecer moldes de comparaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo entre monumentos e respecti-vas tipologias que pelas suas caracteriacutesticas arqueoloacutegicas tendem a disponibilizar escassos dados crono-culturaisPara aleacutem disso consideramos que menires tombados e sepulturas de menores dimensotildees satildeo monumentos dispostos a afectaccedilotildees irre-versiacuteveis pelo que acccedilotildees de recuperaccedilatildeo arqueoloacutegica e arquitectoacutenica

| 343

| 2018

onde se incluem acccedilotildees de divulgaccedilatildeo entre as comunidades locais satildeo extremamente importantes para a sua salvaguarda e fruiccedilatildeo por toda a comunidade Eacute entendimento dos signataacuterios que o estudo arqueoloacutegico natildeo deve ser estanque fechado em torno de limites riacutegidos e que a cooperaccedilatildeo entre projectos especializados dirigidos por diferentes investigadores que visam investigar as mesmas realidades arqueoloacutegicas eacute uma praacutetica profiacutecua uma vez que aporta benefiacutecios aos proacuteprios investigadores e ao conhecimento em geral

2 OBJECTIVOSO objectivo desta intervenccedilatildeo era antes de mais tentar obter dados ar-queoloacutegicos para a compreensatildeo da geacutenese e evoluccedilatildeo dos contextos megaliacuteticos preacute-histoacutericos neste concelho em particular e no Alentejo em geralComo objectivo secundaacuterio tendo em conta que a suposta base do menir

Figura 1 Enquadramento megaliacutetico do menir do Cabeccedilo da Areia

344 |

se encontrava ainda cravada no solo e com a suspeita de que o alveacuteolo e a sua coroa de sustentaccedilatildeo pudessem estar parcialmente preservados pretendia-se reabilitar o monumento de forma a protegecirc-lo de agressotildees devidas a trabalhos agriacutecolas do tipo que se tem verificado em diversos monumentos megaliacuteticos da regiatildeoDe salientar que este menir se localiza numa aacuterea com elevado poten-cial cientiacutefico devido agrave existecircncia de menires isolados e em grupo (foi identificado um conjunto de menires na aacuterea no decurso dos trabalhos realizados em 2011) e de monumentos funeraacuterios com uma grande va- riedade em termos de dimensotildees e tipologia arquitectoacutenica (Alvim e Ro-cha 2011) (Fig1)Pretendia-se tambeacutem abrir uma sondagem alargada para prospectar eventuais estruturas negativas na envolvente do monoacutelito e recuperar espoacutelio que pudesse informar o monumento crono-culturalmente contu-do a dureza das terras constatada no iniacutecio da escavaccedilatildeo impediu este objectivo tendo em conta a equipa era reduzida e o tempo disponiacutevel para efectuar os trabalhos pouco alargado

3 ENQUADRAMENTO DA INTERVENCcedilAtildeOO menir do Cabeccedilo da Areia situa-se na Herdade das Aacuteguias sendo o acesso efectuado por caminho rural de terra batida a partir da Torre das Aacuteguias e foi identificado pelo filho do proprietaacuterio da Herdade Eng Joaquim Fernandes que o deu a conhecer a um dos signataacuterios (LR) em 2005 Administrativamente pertence agrave freguesia de Brotas concelho de Mora distrito de Eacutevora e tem as seguintes coordenadas Hayford-Gauss Datum Lisboa (GPS) M= 201905 P = 210397 (Carta Militar de Portugal escala 125000 folha 409)O menir localiza-se numa mancha restrita classificada como ldquoComplexo Greso-Argiloso e Conglomeraacutetico dos Planaltosrdquo na bacia sedimentar do Tejo a poucas centenas de metros do limite Ocidental do maciccedilo Hes-peacuterico (Zbyszewski e Carvalhosa 1980)Esta cobertura pedoloacutegica eacute caracteriacutestica e reconhecida pelos trabalhos rurais da aacuterea como tendo um periacuteodo de sazatildeo muito curto transfor-mando-se rapidamente em lama sob pluviosidade e extremamente com-pacta logo apoacutes razatildeo pela qual se encontravam tatildeo endurecidas duran-te os trabalhos arqueoloacutegicosO monoacutelito de granito encontrava-se tombado aparentemente in situ no iniacutecio de uma vertente suave virada a Nordeste (Fig2)

| 345

| 2018

Figura 2 Menir do Cabeccedilo da Areia antes da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica

O terreno eacute actualmente utilizado para pastoreio de gado bovino

4 ESTRATEacuteGIAS E METODOLOGIA DA INTERVENCcedilAtildeOOs primeiros trabalhos realizados consistiram no levantamento topograacute- fico da aacuterea do monumento (realizado pelos signataacuterios) num raio de cerca de 50 metros e posteriormente a implantaccedilatildeo da quadriacutecula de escavaccedilatildeo em torno do monumento (Fig3)Em termos altimeacutetricos e planimeacutetricos natildeo foi possiacutevel coordenar a es-cavaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave rede geodeacutesica nacional devido agrave existecircncia de abundante vegetaccedilatildeo arboacuterea (Quercus e Pinus) que mais uma vez im-possibilitaram a visibilidade para os veacutertices geodeacutesicos existentes na aacuterea envolventeNo iniacutecio dos trabalhos de campo a quadriacutecula definindo um quadrado de 2m x 2m foiorientada segundo os pontos cardeais magneacuteticos (X = Este-Oeste Y = Sul-Norte) Posteriormente a orientaccedilatildeo da quadriacutecula foi relacionada com o Norte Cartograacutefico (assinalado nas plantas) com recurso agrave sobre-posiccedilatildeo do levantamento agrave cartografia agrave escala 110000 em termos altimeacutetricos foi estabelecido um ponto zero convencional na origem dos

346 |

Figura 3 Levantamento topograacutefico do Menir com indicaccedilatildeo da quadriacutecula

Figura 4 Aspeto da [0]

| 347

| 2018

eixos x e yOs trabalhos arqueoloacutegicos de escavaccedilatildeo e registo seguiram sempre que possiacutevel os pressupostos metodoloacutegicos propostos por Barker (BARKER 1989) e Harris (HARRIS 1991) onde se preconiza a remoccedilatildeo dos de-poacutesitos por niacuteveis naturais seguindo a sequecircncia oposta agrave sua formaccedilatildeo com registo graacutefico e fotograacutefico de todas as unidades identificadas bem como o registo de artefactos de acordo com as unidades estratigraacuteficas que os contecircm Os sedimentos removidos foram integralmente crivados

5 CONTEXTOS ARQUEOLOacuteGICOS OBSERVADOSDesde o iniacutecio da escavaccedilatildeo da [0] foi possiacutevel verificar a extrema com-pacticidade das terras que se manteve ateacute ao niacutevel de base e que dificul-taram a escavaccedilatildeo (Fig 4) Nas terras que envolviam o monoacutelito e tam-beacutem debaixo dele foram observados diversos fenoacutemenos de bioturbaccedilatildeo (galerias de aracniacutedeos e formigueiros) Apesar destas dificuldades que obrigou a uma maior morosidade dos trabalhos a continuidade da escavaccedilatildeo permitiu identificar a fossa de implantaccedilatildeo do menir [4] e alguns dos calces do alveacuteolo [3] que se en-contravam em muito mau estado de conservaccedilatildeo (Fig 5 e 6)No final dos trabalhos o monumento foi recolocado no alveacuteolo e reposicio-nado na vertical a aacuterea do alveacuteolo foi coberta com rede de obra sobre a qual se assentou um enrocamento de pedras recolhidas nas imediaccedilotildees de modo a assegurar a estabilidade do monoacutelito posteriormente o enro-camento foi coberto e colmatado com as terras crivadas provenientes da

Figura 5 e 6 Fossa de implantaccedilatildeo e calccediles do menir

348 |

escavaccedilatildeoOs deslocamentos do menir durante os trabalhos de escavaccedilatildeo e duran-te a sua reabilitaccedilatildeo foram efectuados por meio de cordas e correntes metaacutelicas com protecccedilatildeo de uma manga de borracha (cacircmara de ar de pneu de tractor agriacutecola) de forma a evitar qualquer agressatildeo agrave superfiacute-cie do menir e traccedilatildeo manual e mecacircnica (Fig 7 e 8)51 Unidades Estratigraacuteficas[0] ndash Camada superficial Composta por areias argilosas (complexo gre-so-argiloso e conglomeraacutetico dos planaltos [Zbysweski e Carvalhosa 1980 Fl 36-A Pavia] e extremamente compacta de tonalidade acinzen-tada sem raiacutezes e com pequenos fragmentos de quartzo rolados (entre 5mm e 10mm) Define-se em toda a aacuterea intervencionada Sem materi-ais arqueoloacutegicos[1] ndash Monoacutelito de granito com 160mx070mx045m de dimensotildees maacute- ximas medidas sobre os eixos volumeacutetricos O menir apresentava na sua face superior diversas marcas de arado testemunhos da afectaccedilatildeo an-troacutepica que teraacute afectado tambeacutem a parte superior do alveacuteolo[2] ndash Camada subjacente agrave [0] constituiacuteda por areias argilosas muito com-pactas de tonalidade acinzentada Eacute equivalente ao substrato geoloacutegico Sem materiais arqueoloacutegicos[3] ndash Terras menos compactas mais escuras e arenosas do que o que se verificou na [2]Embalava algumas pedras exoacutegenas ao local A existecircncia de um maior nuacutemero de gratildeos de quartzo nesta unidade parece estar relacionada

Figura 7 e 8 Trabalhos de conservaccedilatildeo e restauro do menir

| 349

| 2018

com as pedras de granito que se encontram em desagregaccedilatildeo estas pedras teratildeo sido verosimilmente calces da estrutura de sustentaccedilatildeo do menir Esta UE deveraacute corresponder ao topo do enchimento do alveacuteolo afectado por antropizaccedilatildeo e bioturbaccedilatildeo[4] ndash Fossa do alveacuteolo escavada no substrato geoloacutegico (equivalente agrave [2])[5] ndash Enchimento do alveacuteolo (preservado apenas na base e testemunha-do nesta UE) embebendo parcialmente algumas pedras da coroa de sustentaccedilatildeo Muito argilosa de tonalidade cinzento-escura muito com- pacta e gordurosa Esta camada natildeo foi totalmente removida52 EspoacutelioEm termos de espoacutelio os dados satildeo muito escassos e incaraceriacutesticos como se pode verificar pela Tabela 1 Natildeo se recolheu nenhum material orgacircncio susceptiacutevel de ser datado

Tabela 1 Espoacutelio recolhido na intervenccedilatildeo

350 |

6 MENIR DO CABECcedilO DA AREIA MAIS UM PASSO EM FRENTEEsta intervenccedilatildeo natildeo forneceu dados crono-culturais significativos devi-do agrave tiacutepica escassez de espoacutelio deste tipo de monumentos os materiais recolhidos satildeo poucos e incaracteriacutesticos natildeo permitindo uma afericcedilatildeo cronoloacutegica satisfatoacuteria No entanto atendendo a estas caracteriacutesticas e pequena dimensatildeo do mesmo consideramos que a sua construccedilatildeo teraacute ocorrido numa fase inicial do Neolitico provavelmente durante o estabe-lecimento dos primeiros grupos populacionais nesta aacutereaOutro dos aspetos positivos foi sem duacutevida a possibilidade de compro-var que o menir se encontava in situ com a estrutura de sustentaccedilatildeo parcialmente preservada tal como se supunha antes da intervenccedilatildeo A observaccedilatildeo dos restos da estrutura de sustentaccedilatildeo permitiu caracterizar mais uma vez o tipo de processos tafonoacutemicos que afectam este tipo de monumentos e estruturas criando valor no conhecimento cientiacutefico sobretudo para enquadrar futuras intervenccedilotildees em contextos similares nesta regiatildeoPor uacuteltimo foi possiacutevel reabilitar o monumento e assim protegecirc-lo de trabalhos agriacutecolas (apesar de atualmente o siacutetio estar vigiado pelos pro-prietaacuterios) O menir deixou de ser ldquomais uma pedra no campordquo tendo

Figura 9 Menir do Cabeccedilo da Areia ndash aspeto final apoacutes escavaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo

| 351

| 2018

recuperado a sua identidade na paisagemUm outro aspecto que a equipa considerou extremamente positivo foi a possibilidade de conviver com trabalhadores agriacutecolas que no iniacutecio se mostraram extremamente ceacutepticos em relaccedilatildeo agrave intervenccedilatildeo em curso mas que no final puderam constatar que ldquoa pedrardquo era um monumen-to milenar e certamente no futuro estaratildeo mais atentos a ocorrecircncias semelhantes

BIBLIOGRAFIAALVIM P (2009) - Recintos megaliacuteticos do Ocidente do Alentejo central arquitectura e paisagem na transiccedilatildeo Mesoliacutetico-Neoliacutetico Tese de mestrado apresentada agrave Uni-versidade de Eacutevora Eacutevora UEacute (policopiada)ALVIM P e ROCHA L (2011) ndash Os menires do Alto da Cruz novos dados e algumas reflexotildees sobre o megalitismo da aacuterea de Brotas (Mora) Revista Portuguesa de Ar-queologia 14 Lisboa IGESPAR 41-55CALADO M (2000) - O Recinto megaliacutetico de Vale Maria do Meio (Eacutevora Alentejo) In Gonccedilalves V S (ed) Muitas antas pouca gente - Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Trabalhos de Arqueologia 16 Lisboa IPA 167-182CALADO M ROCHA L e ALVIM P (2007) - Neolitizaccedilatildeo e Megalitismo o recinto megaliacutetico das Fontainhas (Mora Alentejo Central) Revista Portuguesa de Arqueolo-gia 10 2 Lisboa IPA 75-100CALADO M ROCHA L e ALVIM P Coord (2013) - O tempo das Pedras Carta Arque-oloacutegica de Mora Mora Cacircmara Municipal de MoraFEIO M (1997) ndash Os principais tipos de utilizaccedilatildeo do solo no Alentejo meridional Evoluccedilatildeo de 1885 a 1951 Finisterra XXXII 63 Lisboa 147-158GOMES M V (1986) - O Cromeleque da Herdade de Cuncos (Montemor-o-Novo Eacutevo-ra) Almansor 4 Montemor-o-Novo CMMN 7-41GOMES M V (2002) - Cromeleque dos Almendres um monumento soacutecio-religioso neoliacutetico Tese de mestrado apresentada agrave Faculdade de Ciecircncias Sociais e Humanas da UniversidadeTeacutecnica de Lisboa Lisboa FCSHUTL (policopiada)GONCcedilALVES J P (1970) - Menires de Monsaraz Arqueologia e Histoacuteria Vol II Lis-boa AAP151-176HARRIS E C (1991) ndash Princiacutepios de estratigrafia arqueoloacutegica Madrid Editorial Crit-icaROCHA L (2000) - O alinhamento da Tera Pavia (Mora) resultados da 1ordf campanha (1996) in Gonccedilalves V S (ed) Muitas antas pouca gente - Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Trabalhos de Arqueologia 16 Lisboa IPA 183-194ROCHA L (2003) - O monumento megaliacutetico do Monte da Tera (Pavia Mora) Sector 2 resultados das uacuteltimas escavaccedilotildees in Gonccedilalves V S (ed) Muitas Antas Pouca Gente Actasdo I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Trabalhos de Arqueolo-gia 25 Lisboa IPA 339-349ROCHA L (2005) - Origens do megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central o contribu-to de Manuel Heleno Tese de doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2 Vols Lisboa FLUL (policopiada)i A equipa foi constituiacuteda pelos signataacuterios os arqueoacutelogos Ivo Santos Gertrudes Branco e Rosaacuterio Fernandes e pelos estudantes Catarina Leitatildeo Joatildeo Rocha e Marisa Santos Agradece-se a autorizaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo do proprietaacuterio Eng Joaquim Fernandes em todos os trabalhos de investigaccedilatildeo arqueoloacutegica em propriedades rurais sobre as quais tem responsabilidadesAgradece-se o apoio logiacutestico e financeiro da Cacircmara Municipal em Mora particularmente ao seu presidente Eng Luiacutes Simatildeo

352 |

ROCHA L (2009) ndash Carta Arqueoloacutegica de Mora Relatoacuterio final do projecto Acessiacutevel nos Arquivos do IGESPAR Lisboa PortugalZBYSZEWSKI G CARVALHOSA A B FERREIRA O da (1980) - Notiacutecia explicativa da Folha 36 - A Pavia Carta Geoloacutegica de Portugal Esc 1 50 000 Lisboa SGP

| 353

| 2018

Territoacuterios de fronteira o Megalitismo nas abas da Serra drsquoOssa (Estremoz-Redondo Alentejo Portugal)

Border Territories Megalithism on the shoulders of the Ossa mountain range (Estremoz-Redondo Alentejo Portugal)

RESUMOO perfil imponente da Serra drsquoOssa agindo como oacutebvio marco topograacute- fico na paisagem alto-alentejana (entendida geograficamente e natildeo cul-turalmente como a aacuterea esfraldada entre o curso do Tejo a Norte e a Serra do Mendro a Sul) parece ter assinalado a transiccedilatildeo como laquofron-teira naturalraquo entre dois universos megaliacuteticos individuais o universo centro-alentejano caracterizado pelos monumentos do eixo Montem-or-Eacutevora-Reguengos e o universo norte-alentejanoextremenho carac-terizado pelos monumentos do grupo Crato-Nisa-Alcaacutentara Com base nos trabalhos conduzidos por M Heleno G e V Leisner e pela equipa do projecto MEGAGEO (dirigida por R Boaventura) nas aacutereas de Estremoz e Redondo os autores pretendem esboccedilar algumas leituras a respeito dos patamares evolutivos do Megalitismo nas abas da Serra drsquoOssa ndash leituras estas baseadas tanto na anaacutelise das arquitecturas e respectivos mobiliaacuterios votivos como na proacutepria situaccedilatildeo espacial dos monumentos e sua consequente dispersatildeo territorial Com efeito regista-se nesta regiatildeo uma interessante diversidade arquitectoacutenica desde os pequenos sepulcros de Cacircmara simples (como Godinhos Chatildes 1 Barroca ou Ta- lha 3) aos sepulcros afins dos tholoi (como Caladinho) passando pelos pequenos sepulcros de Corredor curto (como Outeirotildees 2 ou Courela da Anta) e pelos sepulcros de Corredor de meacutediagrande dimensatildeo (como Casas do Canal 1 Entre Aacuteguas Vidigueira ou Casas Novas 1) com tem-pos de utilizaccedilatildeo estendidos genericamente desde meados do 4ordm mileacutenio ane ateacute finais do 3ordmprimeira metade do 2ordm mileacutenio ane ndash revelando

Marco Antoacutenio Andrade UNIARQ ndash Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa marcoandradecampusulpt

Rui Mataloto Municiacutepio de Redondo rmatalotogmailcom

Andreacute Pereira UNIARQ ndash Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa andrepereiraletrasulisboapt

354 |

as caracteriacutesticas tecno-tipoloacutegicas dos artefactos componentes dos pa-cotes votivos a possiacutevel ligaccedilatildeo entre dois complexos simboacutelico-funeraacute- rios distintos na qual o passo da Serra drsquoOssa ainda em uso no acircmbito de movimentos de gados transumantes ateacute ao seacuteculo XIX teraacute desempe- nhado papel fundamentalPALAVRAS-CHAVE Megalitismo Origem e Desenvolvimento Serra drsquoOs-sa Alto Alentejo

ABSTRACTThe imposing silhouette of the Ossa mountain range acting as an obvious topographical mark in the landscape of Upper Alentejo (geographical-ly yet not culturally understood as the area between the course of the Tagus River to the North and the Mendro mountain range to the South) seems to have marked the transition as a laquonatural frontierraquo between two individual megalithic universes the one of Central Alentejo characte- rized by the monuments of the Montemor-Eacutevora-Reguengos axis and the one of North Alentejo and Spanish Extremadura characterized by the monuments of the Crato-Nisa-Alcaacutentara group Based on the works of M Heleno G and V Leisner and the team from the MEGAGEO project (directed by R Boaventura) the authors intend to outline some readings regarding the evolutionary levels of Megalithism in the shoulders of the Ossa mountain range ndash based both on the analysis of architectures and their respective votive sets as well as on the spatial situation of monu-ments and their consequent territorial dispersion In fact there is an in-teresting architectural diversity in this region from the small tombs with simple Chamber (like Godinhos Chatildes 1 Barroca or Talha 3) to the tho-los-like tombs (like Caladinho) through the small tombs with short Cor-ridor (like Outeirotildees 2 or Courela da Anta) and the mediumlarge-size passage graves (like Casas do Canal 1 Entre Aacuteguas Vidigueira or Casas Novas 1) with use times generally extended since the mid-4th millennium BCE until the late 3rd millenniumfirst half of the 2nd millennium BCE The techno-typological features of the artefacts composing the votive sets reveal the possible connection between two distinct symbolic-funerary complexes in which the pass of the Ossa mountain range still in use until the 19th century in the context of movements of transhumant herds would have played a fundamental roleKEYWORDS Megalithism Origin and Development Ossa Mountain Range Upper Alentejo

| 355

| 2018

1 INTRODUCcedilAtildeO O ESTUDO DO MEGALITISMO NAS ABAS DA SERRA DrsquoOSSAO Megalitismo da aacuterea da Serra drsquoOssa incluindo os concelhos de Estremoz e Redondo eacute conhecido desde praticamente meados do seacuteculo XIX (se natildeo contarmos aqui com a referecircncia agraves antas da serra feita por Frei Martinho de Satildeo Paulo em 1571 publicada posteriormente por Frei Henrique de Santo Antoacutenio em 1745 e de forma abreviada por Frei Manuel de Satildeo Caetano em 1793 cf Calado e Mataloto 2001 p 12) Com efeito as primeiras referecircn-cias laquocientiacuteficasraquo registam-se com as menccedilotildees de autores como G Perei-ra J Possidoacutenio da Silva M Eacutemile Cartailhac ou J Leite de Vasconcellos a sepulcros da aacuterea do Redondo ndash nomeadamente as Antas da Candeeira Colmieiro (Tesouras) Vidigueira Paccedilo e Silveira Grande (cf Pereira 1875 e 1879 Silva 1878 Cartailhac 1886 Vasconcellos 1897 e 1916) contan-do-se ainda neste mesmo contexto cronoloacutegico a curiosa laquocontribuiccedilatildeoraquo de J Rocha Espanca (Espanca 1894)Para a aacuterea de Estremoz agrave parte a referecircncia geneacuterica (natildeo confirmada agrave altura) feita por F Pereira da Costa agrave Anta da Venda do Duque (Costa 1868) o primeiro laquoreconhecimento cientiacuteficoraquo daacute-se precisamente com as escavaccedilotildees conduzidas por M Heleno em 1934 no nuacutecleo de Satildeo Bento do Corticcedilo (Talha Outeirotildees Caldeireira etc) e nos sepulcros de Nossa Senho-ra da Conceiccedilatildeo dos Olivais Mal Dorme e Lebre ndash referenciando tambeacutem para aleacutem de outros localizados no aro de Eacutevoramonte os monumentos do nuacutecleo das Casas do Canal (natildeo tendo aqui aparentemente realizado quais-quer trabalhos de escavaccedilatildeo cf Cadernos de Campo nordm 1 a 3 Escavaccedilotildees nos arredores de Estremoz acessiacuteveis no Museu Nacional de Arqueologia) Estes trabalhos permaneceram ineacuteditos ateacute bem recentemente sendo que a importacircncia do Megalitismo de Estremoz eacute efectivada apenas com os tra-balhos de G e V Leisner nos monumentos situados nas propriedades da Casa de Braganccedila ndash destacando-se as Antas 1 a 5 das Casas do Canal a Anta de Entre Aacuteguas ou as Antas 1 a 3 das Palhas (Leisner e Leisner 1955) A par destes registam-se outros trabalhos ocasionais dirigidos por A Viana e A Dias de Deus no acircmbito dos seus estudos sobre os doacutelmens da regiatildeo de Elvas (Viana e Deus 1957) sendo referenciados os dois monumentos entretanto destruiacutedos da Melroeira e a Anta da Courela da Anta (agrave altura jaacute escavada por M Heleno designando-a como Anta de Satildeo Bento do Corticcedilo e registando a curiosa anotaccedilatildeo de que jaacute teria sido laquovioladaraquo) Regista-se igualmente a nota de O da Veiga Ferreira agrave Anta 1 das Casas do Canal (Fer-reira 1950)Nos seus Megalithgraumlber (1956 e 1959) G e V Leisner inventariam 28

356 |

monumentos na aacuterea de Estremoz incluindo alguns daqueles anteriormente intervencionados por M Heleno tais como as Antas de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais Caldeireira Talha e Courela da Anta (Leisner e Leis-ner 1959 p 152-159) Na aacuterea do Redondo satildeo registados cerca de 24 monumentos incluindo referecircncias natildeo confirmadas ou antas entretanto destruiacutedas ou natildeo localizadas (cf Leisner e Leisner 1959 p 159-164) ndash aumentando a cifra de pouco mais de uma dezena de sepulcros anterior-mente referenciados aquando do inventaacuterio dos monumentos megaliacuteticos dos arredores de Eacutevora (Leisner 1949 p 43-47) Posteriormente com os trabalhos realizados no acircmbito da Carta Arqueoloacutegica do Redondo novos monumentos foram identificados fazendo ascender para o dobro o nuacutemero de monumentos megaliacuteticos inventariados nesta aacuterea (cf Calado e Mataloto 2001) o qual tem vindo a ser aumentado com o registo de novas antasA inclusatildeo dos monumentos de Estremoz e Redondo em estudos acadeacutemi-cos efectiva-se com os trabalhos de M Calado (cf Calado 2001 e 2004) e L Rocha este uacuteltimo incidindo especificamente na compilaccedilatildeo e filtragem dos dados colectados durante os trabalhos de M Heleno na aacuterea de Estremoz com base nos seus apontamentos de campo (cf Rocha 2005) Mais recen-temente conta-se o estudo do nuacutecleo de Satildeo Bento do Corticcedilo no acircmbito da Dissertaccedilatildeo de Doutoramento de um dos signataacuterios (MAA) e a publicaccedilatildeo dos dados recolhidos durante a escavaccedilatildeo da Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (Boaventura et al 2014-2015) estando em prepa-raccedilatildeo o tiacutetulo referente agraves Antas de Mal Dorme e Lebre Saliente-se ainda a identificaccedilatildeo e escavaccedilatildeo recente da Anta da Barroca (Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017)No acircmbito do projecto MEGAGEO ndash Movendo megaacutelitos no Neoliacutetico a pro-veniecircncia geoloacutegica dos esteios de antas no Centro-Sul de Portugal (dirigido por R Boaventura) incluindo a aacuterea do Redondo como case study foi con-templada para aleacutem da definiccedilatildeo da origem geoloacutegica dos suportes constru-tivos (cf por exemplo Nogueira et al 2015 Pedro et al 2015) a limpeza e desenho de diversos monumentos da aacuterea do Freixo para aleacutem da escav-accedilatildeo da Anta da Candeeira (Boaventura et al 2014) Todavia durante a uacuteltima deacutecada tem vindo a promover-se a escavaccedilatildeo e publicaccedilatildeo dos sep-ulcros da Vidigueira Godinhos 1 das Chatildes 4 da Quinta do Freixo Valdanta e Barroca esta jaacute no concelho de Estremoz (cf Mataloto e Boaventura 2010 Mataloto et al 2015 Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017) sucedendo agrave escavaccedilatildeo realizada em anos anteriores no sepulcro do Caladinho (Mata-loto e Rocha 2007)Com perto de nove dezenas de sepulcros inventariados ateacute ao momento

| 357

| 2018

Figura 1 ndash Em cima agrave esquerda situaccedilatildeo dos monumentos analisados (indicados pelos pontos vermelhos limites municipais indicados pela linha tracejada) no contexto do Megalitismo do Centro-Sul de Portugal em relaccedilatildeo agrave Geologia (cartografia elaborada no acircmbito do projecto MEGAGEO) em cima agrave direita situaccedilatildeo dos monumentos analisados (indicados pelos pontos vermelhos limites municipais indicados pela linha tracejada) em relaccedilatildeo agrave Serra drsquoOssa e ao Antiforma de Estremoz no contexto do Megalitismo do Alto Alentejo (entre o curso do Tejo e a Serra do Mendro) com indicaccedilatildeo das principais vias naturais de tracircnsito (base cartograacutefica Google Maps 2017) ao centro vista aeacuterea obliacutequa da aacuterea da Serra drsquoOssa e do Antiforma de Estremoz (a centro da imagem) enquadrados a Sul pela Planiacutecie Central do Redondo e a Norte pela bacia hidrograacutefica da Ribeira da Seda (base Google Earth 2018) em baixo perfil topograacutefico NE-SW com indicaccedilatildeo das principais unidades paisagiacutesticas

358 |

(com outros ainda passiacuteveis de serem identificados como o demonstra o caso da Anta da Barroca) o conjunto megaliacutetico da Serra drsquoOssa prima pre-cisamente pela sua posiccedilatildeo geograacutefica especiacutefica (Figura 1) Com efeito o perfil imponente deste acidente topograacutefico teraacute agido como oacutebvio marco geograacutefico na paisagem alto-alentejana aqui entendida em termos geograacute- ficos e natildeo culturais especificamente no que ao Megalitismo diz respeito como a aacuterea esfraldada entre o curso do Tejo a Norte e a Serra do Mendro a Sul Parece pois ter assinalado a transiccedilatildeo como laquofronteira naturalraquo entre dois universos megaliacuteticos individuais o universo centro-alentejano (carac-terizado pelos monumentos do eixo Montemor-Eacutevora-Reguengos) e o univer-so norte-alentejanoextremenho (caracterizado pelos monumentos do gru-po Crato-Nisa-Alcaacutentara) recolhendo oacutebvios paralelos em ambas aacutereas mas com algumas particularidades evidentes ndash lidas tanto na composiccedilatildeo dos mobiliaacuterios votivos como na disposiccedilatildeo arquitectoacutenica dos sepulcros com tempos de utilizaccedilatildeo que se estendem genericamente desde a meados do 4ordm mileacutenio ateacute agrave segunda metade do 3ordm mileacutenio ane e primeira metade do seguinteEste facto particular justifica a anaacutelise integrada destes monumentos en-quadrando-os num contexto cultural mais vasto que inclui os grupos megaliacuteti-cos acima enunciados ndash assumindo a aacuterea da Serra drsquoOssa como um ter-ritoacuterio de cruzamento de influecircncias comuns possivelmente motivadas por movimentaccedilotildees verticais de gentes e rebanhos durante os 4ordm e 3ordm mileacutenios ane traduzidas tanto em transmissotildees materiais (recursos abioacuteticos) como imateriais (preceitos construtivos ou rituais)

2 A ABA NORTE OS MONUMENTOS MEGALIacuteTICOS NO SOPEacute DO ANTI-FORMA DE ESTREMOZOs monumentos megaliacuteticos da aacuterea de Estremoz (Figura 2) distribuem-se genericamente por dois grupos principais o nuacutecleo das Casas do Canal e o nuacutecleo de Satildeo Bento do Corticcedilo ndash a par dos quais se registam outros agrupa-mentos pouco numerosos (como os conjuntos de Alfaiates-Venda do Duque talvez jaacute relacionados com os monumentos de Satildeo Bento do Mato-Vale do Pereiro no concelho de Eacutevora) ou sepulcros aparentemente isolados na paisagem (como Torrinha ou Leatildeo embora aparentemente jaacute associados a monumentos das aacutereas de Fronteira e Monforte)O nuacutecleo das Casas do Canal principalmente disposto ao longo da Ribei-ra do Canal implanta-se numa zona adjacente ao importante eixo de cir-culaccedilatildeo Este-Oeste que interliga a bacia do Guadiana com a bacia do Tejo justamente no amplo corredor aberto entre as espaldas Sudoeste do Antifor-

| 359

| 2018

Figura 2 ndash Monumentos megaliacuteticos da aacuterea do concelho de Estremoz Levantamentos de G e V Leisner (1955 1956 e 1959) A Viana e A Dias de Deus (1957) MEGAGEO e MAA Talha 3 Outeirotildees 3 Mal Dorme e Lebre de planta actualmente imperceptiacutevel ou natildeo localizados desenhados a partir das indicaccedilotildees de campo de M Heleno elementos actualmente em falta em Outeirotildees 1 e 2 e Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais desenhados a partir das indicaccedilotildees de campo de M Heleno As setas indicam elementos com laquocovinhasraquo insculpidas

360 |

ma de Estremoz e as espaldas Nordeste da Serra drsquoOssa caracterizando-se genericamente pelos vales das Ribeiras de Lucefeacutece e TeraEacute composto pelas Antas 1 a 6 das Casas do Canal Entre Aacuteguas Cotovi- eira (ou Foro do Ferreiro) e Defesa da Junceira que se caracterizam como monumentos de xisto de pequena a meacutedia dimensatildeo maioritariamente de Cacircmara e Corredor diferenciados ndash sendo este de curto a meacutediolongo em extensatildeo com Cacircmaras de sete ou oitos esteios organizados a partir do esteio de Cabeceira Corresponde assim em termos arquitectoacutenicos a um conjunto homogeacuteneo respeitando os paracircmetros geneacutericos do Megalitismo alentejanoA este nuacutecleo associam-se os nuacutecleos secundaacuterios compostos pelas Antas 1 e 2 do Montinho e pelas Antas 1 a 3 de Palhas ndash sepulcros com caracteriacutesti-cas arquitectoacutenicas semelhantes agravequelas registadas no nuacutecleo estrito das Casas do Canal estando o primeiro conjunto implantado sobre o vale imedi-ato da Ribeira da Tera e o uacuteltimo disposto em torno a um dos bastiotildees mais setentrionais da Serra drsquoOssa o Outeiro da Cerca Associam-se igualmente um pouco mais distantes as Antas dos Penedos Mijadouros e ValongoO nuacutecleo de Satildeo Bento do Corticcedilo prima jaacute pela heterogeneidade dos seus constituintes registando-se uma maior diversidade em relaccedilatildeo agrave com-posiccedilatildeo arquitectoacutenica dos monumentos (o que lhe confere uma certa identidade proacutepria dentro do contexto geneacuterico dos monumentos da mar-gem esquerda da Ribeira da Seda) Implanta-se no rebordo da peneplaniacutecie que desce ateacute ao vale da Ribeira Grande (numa ampla paisagem aberta cingida a Sudoeste pelos relevos da Serra de Satildeo Bartolomeu no limite das cristas xistosas) sendo principalmente drenada pelas Ribeiras de Sousel e Ana Loura ndash encontrando-se no contexto de uma via natural de tracircnsito cor- respondente agrave linha de festo destes dois cursos de aacutegua tendo igualmente acesso agrave feacutertil aacuterea aplanada dos calcretos de Casa Branca-Cano pelo vale das Ribeiras de Almadafe e AlcocircrregoEste nuacutecleo compotildee-se por dois conjuntos paralelamente dispostos em am-bas margens da Ribeira de Sousel ndash encontrando-se na margem esquerda as Antas 1 a 3 dos Outeirotildees Cascalho e Espadanal e na margem direita as Antas 1 a 3 da Talha 1 e 2 da Caldeireira e Courela da Anta Um pouco mais a Norte sobre o vale da Ribeira de Sousel localizar-se-ia o conjunto das Antas 1 e 2 da Melroeira e um pouco mais afastada a Anta da Cabeccedila da Ovelha (jaacute no concelho de Sousel) Usando xisto como suporte construtivo estes conjuntos satildeo compostos por pequenos sepulcros de Cacircmara simples (Anta 3 da Talha Anta 1 dos Outeirotildees Anta 1 da Caldeireira) pequenos sepulcros de Cacircmara alongada (Anta 2 da Caldeireira) e pequenos sepulcros

| 361

| 2018

de Corredor incipiente (Antas 2 e 3 dos Outeirotildees Anta da Courela da Anta) ndash registando-se na Anta 1 da Talha o caso de uma grande Cacircmara rectangular transversal aberta a nascente sem vestiacutegios de CorredorNo espaccedilo entre os nuacutecleos das Casas do Canal e Satildeo Bento do Corticcedilo encontram-se monumentos aparentemente isolados (sem ligaccedilatildeo espacial directa a qualquer conjunto definido) como as Antas de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais Mal Dorme e Lebre ndash correspondendo o primeiro a um grande monumento de Cacircmara e Corredor diferenciados construiacutedo em ortognaisse graniacutetico e calcaacuterio dolomiacutetico o segundo a um monumento de xisto de planta alongada (com um laquopseudo-corredorraquo sugerido por um leve estrangulamento na transiccedilatildeo para a Cacircmara) e o uacuteltimo a um pequeno monumento de xisto deficientemente conservado Implantam-se em aacutereas levemente onduladas com alguns relevos residuais e vales sumariamente encaixados no contexto de uma paisagem aberta geneacuterica (principalmente para poente) no extremo Noroeste do corredor de circulaccedilatildeo no contexto do qual se implanta o nuacutecleo das Casas do CanalPoder-se-aacute referir igualmente os monumentos aparentemente isolados da Torrinha e Leatildeo ndash embora estes como dito acima se possam relacionar (mesmo que indirectamente) com monumentos jaacute localizados nas aacutereas dos concelhos de Fronteira e MonforteParticularmente interessante eacute tambeacutem o caso do monumento da Barroca devendo ser lido em conjunto com as Antas 1 e 2 das Chatildes (jaacute no conce- lho do Redondo) implantado sobre o mesmo patamar de circulaccedilatildeo (jaacute na viragem para a aba Sul da Serra drsquoOssa) e correspondendo igualmente a um pequeno monumento de Cacircmara simples construiacutedo em granito xisto metamorfizado e gnaisse ndash sendo contudo de tendecircncia alongada e com uma estrutura tumular bastante mais complexaCom efeito registam-se na aacuterea de Estremoz algumas soluccedilotildees construti-vas curiosas Seraacute de mencionar por exemplo a escassa representatividade topograacutefica das estruturas tumulares nos monumentos de Satildeo Bento do Corticcedilo ndash facto jaacute evidenciado por M Heleno parecendo os monumentos terem sido construiacutedos laquoem negativoraquo em fossas posteriormente revestidas com esteios (como a Anta 3 da Talha ou as Antas 2 e 3 dos Outeirotildees) Refira-se igualmente a colocaccedilatildeo de lajes de compartimentaccedilatildeo do espaccedilo interno da Cacircmara (laquolajes-divisoacuteriaraquo formando laquonichosraquo nas palavras de M Heleno) identificadas nas Anta do Cascalho Anta 2 dos Outeirotildees e Anta da Lebre podendo corresponder a espaccedilos de deposiccedilatildeo especiacuteficos ndash con-tando-se ainda no uacuteltimo caso a colocaccedilatildeo de uma laquolaje de fechoraquo agrave entra-da do monumento vedando o acesso a este A construccedilatildeo da Cacircmara da

362 |

Figura 3 ndash Exemplos dos componentes dos mobiliaacuterios votivos registados nos monumen-tos megaliacuteticos da aacuterea de Estremoz armaduras geomeacutetricas (Outeirotildees 1 a 3 Talha 3 Lebre Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) lacircminas (Outeirotildees 3 Talha 3 Barroca Cascalho) pontas de seta (Cascalho Talha 2 Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) artefactos de pedra polida (Barroca Talha 2 e 3) recipientes ceracircmicos (Talha 1 e 2 Es-padanal) elementos de adorno (Lebre Talha 1 Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) placa de xisto gravada (Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) placa de greacutes esculpida (Espadanal)

| 363

| 2018

Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais parece ter seguido tam-beacutem preceitos especiacuteficos ndash natildeo tendo sido escavadas fossas individuais para implantaccedilatildeo dos esteios (como eacute comum na maioria dos monumentos megaliacuteticos alentejanos) mas antes um fosso contiacutenuo de periacutemetro circu-lar com cerca de 4 m de diacircmetro (conforme atestado por M Heleno) Da mesma maneira a delimitaccedilatildeo da estrutura tumular da Anta da Barroca foi efectivada com a construccedilatildeo de um anel perifeacuterico formado por duas fiadas concecircntricas de lajes fincadas de contorno sensivelmente circular ndash regis- tando-se tambeacutem neste monumento o bloqueio intencional da entrada (cf Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017)Os mobiliaacuterios votivos recolhidos nestes monumentos (Figura 3) repartem-se pelas duas crono-culturas geneacutericas definidas para o Megalitismo alenteja-no (cf Boaventura 2011 Boaventura e Mataloto 2013)O primeiro episoacutedio enquadrado segundo cremos no terccedilo central do 4ordm mileacutenio ane (e extensiacutevel talvez ateacute ao seu uacuteltimo quartel) encontra-se re- presentado em sepulcros de Cacircmara simples e pequenos monumentos de Corredor incipiente ndash com conjuntos funeraacuterios formados pela associaccedilatildeo de armaduras geomeacutetricas (maioritariamente trapeacutezios produzidos em siacutelex calcedoacutenia e quartzo) pequenas lacircminas natildeo retocadas extraiacutedas por percussatildeo indirecta e artefactos de pedra polida (machados e enxoacutes pro-duzidos em anfibolito xisto anfiboacutelico e rochas metamorfizadas brandas) sendo raros os recipientes ceracircmicos Tratam-se genericamente de conjun-tos com um nuacutemero reduzido de componentes como se atesta nos casos da Anta da Barroca (uma lacircmina um machado e uma enxoacute) Anta 1 da Cal-deireira (dois machados e uma enxoacute) ou Anta 1 dos Outeirotildees (um trapeacutezio) referindo-se possivelmente a um nuacutemero restrito de inumaccedilotildees A excepccedilatildeo encontra-se no caso da Anta 3 da Talha com um mobiliaacuterio votivo composto por um maior nuacutemero de artefactos (21 armaduras geomeacutetricas duas lacircmi-nas 13 artefactos de pedra polida) podendo indicar jaacute possiacuteveis inumaccedilotildees muacuteltiplas apesar da pequena dimensatildeo do sepulcroO segundo momento balizado entre o uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane e meados do seguinte atesta-se tanto em pequenos monumentos de Cor- redor curto como em monumentos de Cacircmara e Corredor diferenciados de meacutediagrande dimensatildeo assim como em sepulcros de planta excepcional (Anta 1 da Talha) ou indeterminaacutevel (Anta do Espadanal Anta do Cascalho e Anta 2 da Talha) Regista-se jaacute a inclusatildeo significativa de recipientes ceracircmi-cos e um maior nuacutemero de elementos de adorno incluindo exemplares em laquopedra verderaquo e azeviche (por exemplo Anta do Cascalho Anta 1 da Talha e Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) No campo dos artefactos

364 |

de pedra lascada conta-se a introduccedilatildeo das grandes lacircminas de siacutelex reto-cadas (Anta do Cascalho Anta 3 dos Outeirotildees Anta 1 da Talha Anta 1 das Casas do Canal) e das pontas de seta (bem representadas pelos exemplares de base convexa e triangular) produzidas em siacutelex quartzo hialino e opa-laopalina (Anta do Cascalho Anta 2 da Talha Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais)Elementos caracteriacutesticos desta segunda fase satildeo as placas votivas estan-do presentes placas de xisto gravadas de influecircncia centro-alentejana (Anta 3 dos Outeirotildees Anta 1 da Talha Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) e as tiacutepicas placas de greacutes alto-alentejanas ndash sejam os exemplares lisos (Anta do Espadanal Anta 3 dos Outeirotildees Anta 1 da Talha Anta 1 das Casas do Canal) ou os exemplares esculpidos com motivos antropomoacuterficos (aqui representados pelo conhecido exemplar da Anta do Espadanal) En-contram-se igualmente placas de micaxisto com motivos laquoimitandoraquo as re- presentaccedilotildees antropomoacuterficas das placas de greacutes esculpidas (como no caso da Anta 1 da Talha)Contudo regista-se ainda nestes monumentos laquoculturalmente evoluiacutedosraquo para aleacutem de um nuacutemero ainda consideraacutevel de artefactos de pedra polida (maioritariamente enxoacutes) a presenccedila de armaduras geomeacutetricas (Antas 1 e 2 da Talha Anta 3 dos Outeirotildees) por vezes em nuacutemero significativo e com caracteriacutesticas morfoloacutegicas peculiares (como na Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) ndash podendo indicar mais do que dois momentos di- ferenciaacuteveis de uso uma utilizaccedilatildeo continuada dos sepulcros ou o uso de espoacutelio laquosupervivencialraquo Possiacuteveis episoacutedios de transiccedilatildeo poderatildeo estar re- presentados na Anta da Lebre com um conjunto de caracteriacutesticas laquoantigasraquo mas onde se inclui jaacute uma placa de greacutes lisa e elementos de adorno em laquopedra verderaquoUm ponto interessante nos monumentos da aacuterea de Estremoz eacute o seu reuso a partir da segunda metade do 3ordm mileacutenio ane representado nas Antas 1 das Casas do Canal Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais e Mal Dorme para aleacutem do duvidoso caso da Anta 2 dos Outeirotildees ndash problemaacutetica parti- cular discutida no ponto 5 abaixo

3 A ABA SUL OS MONUMENTOS MEGALIacuteTICOS SOBRANCEIROS Agrave PLANIacuteCIE CENTRAL DO REDONDOA aacuterea do concelho do Redondo integra-se jaacute na ampla regiatildeo megaliacutetica do Alentejo Central genericamente caracterizada pelos monumentos do eixo Montemor-Eacutevora-Reguengos ndash apresentando-se assim relativamente rica em termos de patrimoacutenio laquomegaliacuteticoraquo Ao contraacuterio da aacuterea de Estre-

| 365

| 2018

Figura 4 ndash Monumentos megaliacuteticos da aacuterea do concelho do Redondo Levantamentos de G e V Leisner (1949 1956 e 1959) RM e MEGAGEO As setas indicam elementos com laquocovinhasraquo insculpidas

366 |

moz onde se registam localizaccedilotildees territorialmente mais concentradas (com nuacutecleos espacialmente bem delimitados) os grupos do Redondo parecem apresentar um maior iacutendice de dispersatildeo territorial mas reflectindo contudo uma ocupaccedilatildeo modular do espaccedilo com conjuntos instalados em segmentos bem localizados da paisagemCom efeito estando estes nuacutecleos mais diluiacutedos no espaccedilo (por assim dizer) a sua implantaccedilatildeo revela uma ocupaccedilatildeo mais extensiva do territoacuterio sobre ou nas margens do amplo corredor de rochas granitoacuteides (ou outras litolo-gias com capacidade para serem usadas como suporte construtivo) que se estende no Patamar a Sul da Serra drsquoOssa sobranceiro agrave Planiacutecie Central (como prolongamento para Este dos nuacutecleos de Satildeo Miguel e Nossa Senho-ra de Machede jaacute em Eacutevora)Este extenso patamar que medeia entre as elevaccedilotildees mais altas da Serra drsquoOssa e a Planiacutecie Central a Sul parece ser assim a aacuterea de eleiccedilatildeo para a instalaccedilatildeo destes monumentos Na verdade a sua maior amplitude na zona Noroeste do concelho na envolvente da aldeia do Freixo talvez tenha conduzido a uma maior concentraccedilatildeo de monumentos os quais superam aiacute as trecircs dezenas As regiotildees mais a Sul mais intensamente agricultadas natildeo tiveram (ou natildeo conservaram) mais que um reduzido nuacutemero de sepulcros como os monumentos aparentemente isolados de Zambujeiro Pegas e Nos-sa Senhora da Piedade A aparente escassez de sepulcros nesta aacuterea mais a Sul poderaacute estar eventualmente relacionada tambeacutem com condicionantes geoloacutegicas registando-se extensas manchas de depoacutesitos cenozoacuteicos (prin-cipalmente entre a Aacuterea da Vigia e a Planiacutecie Sul) onde natildeo se encontram suportes construtivos capazes agrave erecccedilatildeo de monumentos megaliacuteticosAs antas do concelho do Redondo (Figura 4) enquadram-se na sua grande maioria no tipo claacutessico do Megalitismo regional (o designado laquotipo alente-janoraquo) sendo constituiacutedo por monumentos de Cacircmara poligonal de sete es-teios organizados a partir do esteio de Cabeceira e Corredor diferenciado Satildeo usualmente construiacutedas em granito (ou granodiorito) sendo tambeacutem conhecidas em xisto ou inclusivamente com ambosAinda que a maioria dos monumentos apresente dimensotildees de certo modo modestas estatildeo documentados alguns monumentos de meacutediagrande di-mensatildeo caso da Anta da Vidigueira Anta 1 do Colmeeiro Anta da Candeeira ou Anta 1 das Casas Novas (laquoAnta Granderaquo) incluiacuteveis genericamente no gru-po dos sepulcros caracteriacutesticos de finais do 4ordm e iniacutecios do 3ordm mileacutenio ane no Alentejo Central A par destes registam-se pequenos monumentos de xisto e gnaisse (incluindo pequenos sepulcros de Cacircmara simples como as Antas 1 e 2 das Chatildes ou Godinhos) e monumentos intermeacutedios em termos

| 367

| 2018

Figura 5 ndash Exemplos dos componentes dos mobiliaacuterios votivos registados nos monumen-tos megaliacuteticos da aacuterea do Redondo armaduras geomeacutetricas (Chatildes 1 Godinhos Vidi- gueira Caladinho) lacircminas (Vidigueira) pontas de seta (Vidigueira Caladinho) arte- factos de pedra polida (Chatildes 1 Caladinho) recipientes ceracircmicos (Godinhos Caladinho) elementos de adorno (Caladinho) placa de xisto gravada e baacuteculo (Caladinho)

368 |

da sua morfologia e dimensatildeo talvez relativos a momentos anteriores ao uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane (como a Anta da Vinha ou as Antas 3 e 4 do Colmieiro a uacuteltima com dois esteios de Cabeceira alinhados semelhante a alguns exemplos da aacuterea da Ribeira da Seda)Como dito os monumentos concentram-se na metade Norte do concelho (principalmente na parcela Noroeste) podendo estar relacionados com a demarcaccedilatildeo de aacutereas de ocupaccedilatildeo preferencial potenciada pela ocorrecircn-cia de solos graniacuteticos propiacutecios tanto agrave construccedilatildeo dos monumentos como agraves praacuteticas agriacutecolas de subsistecircncia como o parece demonstrar tambeacutem a concentraccedilatildeo de vestiacutegios de povoamento aiacute documentada (cf Calado e Mataloto 2001) Situam-se assim proacuteximos das cabeceiras dos principais cursos de aacutegua que cortam longitudinalmente o territoacuterio nomeadamente as Ribeiras da Pardiela Freixo Satildeo Bento e Alcorovisco-Vale de Vasco sub-sidiaacuterias do Rio DegebeDois nuacutecleos principais satildeo distinguiacuteveis neste contexto geneacuterico ndash no-meadamente os grupos de Vidigueira-Quinta do Freixo (composto por seis monumentos ao quais se poderaacute associar tambeacutem os dois monumentos de Martes) e Colmieiro-Casas Novas-Godinha de Cima (composto por nove monumentos com a associaccedilatildeo espacial dos dois monumentos do Paccedilo Hospital Pinheiro e os cinco monumentos das Casas)A sua relaccedilatildeo com vias naturais de tracircnsito eacute tambeacutem evidente Com efeito o extenso Patamar onde se encontra a maioria dos monumentos corresponde a um dos principais eixos de circulaccedilatildeo transversal do territoacuterio no rebordo da Serra drsquoOssa culminando numa ampla portela aberta a Este formada pelos bastiotildees Sudeste da serra (cabeccedilo da Argolia) e o extremo Norte da crista xistosa que desce desde a aacuterea do Caladinho para Sul (Crista do Re-dondo) Neste mesmo eixo de circulaccedilatildeo ao longo do sopeacute Sul da serra sur-gem os monumentos de Valdanta Zorreira Monte Branco Vale de Sobrados e Candeeira (esta uacuteltima jaacute em posiccedilatildeo destacada nas estribaccedilotildees da ser-ra) ndash sendo aqui o tracircnsito tambeacutem controlado durante finais do 4ordm mileacutenio ane pelo povoado do Monte da Ribeira (instalado precisamente no centro desta aacuterea encontrando-se outros siacutetios jaacute do 3ordm mileacutenio ane nos cabeccedilos marginais como Satildeo Pedro Caladinho Pereiras Argolia e Fonte Ferrenha) Ao longo da Crista do Redondo junto das suas portelas encontramos os monumentos da Vinha Silveira Caladinho e Orvalha (Antas 1 e 2)Em relaccedilatildeo a caminhos de travessia da serra no sentido longitudinal do territoacuterio encontram-se monumentos como Candeeira (para aleacutem da qual se localizariam os dois monumentos do Convento da Serra) ou Godinhos (acessiacutevel a partir do nuacutecleo de Colmieiro-Casas Novas-Godinha de Cima) ndash

| 369

| 2018

para aleacutem dos dois pequenos monumentos das Chatildes instalados sobre um patamar de circulaccedilatildeo no rebordo Oeste da serra relacionados (como dito acima) com o monumento da Barroca jaacute no concelho de EstremozEm termos da afericcedilatildeo crono-cultural da construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo destes sepulcros esta baseia-se principalmente nas arquitecturas ndash dado que ao contraacuterio da aacuterea de Estremoz apenas uma pequena percentagem dos monumentos foi objecto de escavaccedilatildeo (nomeadamente os monumentos de Caladinho Vidigueira Candeeira Vale da Anta Godinhos e Chatildes cf Matalo-to e Rocha 2007 Mataloto e Boaventura 2010 Mataloto et al 2015 Ma-taloto Andrade e Pereira 2016-2017) Contudo referem-se a escavaccedilotildees recentes com dados considerados pertinentes para a definiccedilatildeo da origem e desenvolvimento do fenoacutemeno megaliacutetico nesta aacuterea regional com evidecircn-cias artefactuais ainda significativas (Figura 5)As etapas iniciais do Megalitismo poderatildeo estar representadas em pequenos monumentos de Cacircmara simples de tendecircncia laquocistoacuteideraquo de que satildeo exem- plo as Antas 1 da Chatildes e Godinhos O mobiliaacuterio votivo recolhido nestes mo- numentos eacute pouco diversificado ndash referindo-se no primeiro caso a duas ar-maduras geomeacutetricas (trapeacutezios) e trecircs artefactos de pedra polida (um ma- chado e duas enxoacutes) e no segundo a trecircs armaduras geomeacutetricas (trapeacutezios) e um artefacto de pedra polida contando jaacute com a inclusatildeo de recipientes ceracircmicos Assim se a Anta 1 das Chatildes pode ser genericamente atribuiacute-da um intervalo de tempo centrado em meados do 4ordm mileacutenio ane o mo- numento dos Godinhos poderaacute corresponder jaacute a um momento avanccedilado desse mesmo mileacutenio talvez coevo com o pequeno monumento de Corredor curto do Poccedilo da Gateira 1 em Reguengos de Monsaraz (cf Leisner e Leis-ner 1951 Gonccedilalves 1992 e 1999)Uma caracteriacutestica interessante destes pequenos monumentos eacute a de se tratarem de efectivos sepulcros laquoabertosraquo apresentando no lado Este dois esteios-pilaretes laterais que poderiam corresponder a laquoportaisraquo eventual-mente como apoio de uma estrutura amoviacutevel que permitisse o acesso ao seu interior (cf Mataloto et al 2015 Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017)Jaacute relativos ao uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane e primeiro quartel do se-guinte satildeo os tiacutepicos monumentos de Cacircmara e Corredor diferenciados al-guns de dimensatildeo consideraacutevel ndash como a Anta 1 das Casas Novas ou de dimensatildeo mais modestas (mas ainda assim significativa) as Antas da Vidi- gueira Candeeira 1 do Colmieiro ou 1 do Paccedilo) Monumentos jaacute tiacutepicos do 3ordm mileacutenio ane poderatildeo ser encontrados nos exemplos do Caladinho e Fontanas O sepulcro do Caladinho natildeo correspondendo necessariamente a

370 |

um tholos tambeacutem natildeo corresponde a uma anta tiacutepica (contudo encontran-do-se espacialmente associado a uma a Anta da Silveira) Com efeito com-potildee-se por uma Cacircmara circular formada por perto de uma dezena de esteios ldquomegaliacuteticosrdquo de xisto agrave qual se acede por um estreito Corredor estando cons- truiacutedo laquoem positivoraquo (e natildeo laquoem negativoraquo como eacute comum nas caracteriacutesticas construccedilotildees de tipo tholos) natildeo sendo igualmente claro que tipo de cobertura apresentariaOs mobiliaacuterios votivos recolhidos nestes monumentos satildeo igualmente carac-teriacutesticos desta fase crono-cultural Apesar de a escavaccedilatildeo dos monumentos de Candeeira e Vidigueira terem fornecido escasso espoacutelio (possivelmente motivado por perturbaccedilotildees ulteriores) este eacute ainda representativo ndash desta-cando-se um fragmento de placa de xisto gravada no primeiro monumento e pontas de seta de base recta a cocircncava e grandes lacircminas de siacutelex no se-gundo No sepulcro do Caladinho para aleacutem de elementos semelhantes aos da Anta da Vidigueira (com realce para as pontas de seta de base cocircncava a muito cocircncava com exemplares em xisto silicioso e lidito) destaca-se conjun-to das placas de xisto gravadas que apesar de muito fragmentado eacute ainda ilustrativo ndash incluindo exemplares reaproveitados exemplares natildeo perfurados (possivelmente referentes a inumaccedilotildees secundaacuterias) e ateacute mesmo um baacuteculoRegista-se ainda tal como se atesta nos monumentos acima da Serra drsquoOssa a presenccedila de armaduras geomeacutetricas nestes monumentos laquoevoluiacutedosraquo ndash con-forme o demonstra a sua presenccedila na Anta da Vidigueira ou mais curiosa-mente no sepulcro do CaladinhoUm caso curioso parece registar-se na Anta de Vale da Anta tratando-se de um monumento de significativa dimensotildees que parece natildeo ter sido concluiacutedo (como se conhecem alguns escassos exemplos na aacuterea alentejana) hipoacutetese para a qual concorre a completa ausecircncia de espoacutelio votivo (estudo em fase de conclusatildeo por um dos signataacuterio RM)Tal como na aacuterea de Estremoz tambeacutem alguns dos monumentos do Redon-do apresentam evidecircncias de reutilizaccedilotildees em finais do 3ordm mileacutenio ane e mesmo da primeira metade do seguinte registadas nos monumentos dos Go-dinhos Caladinho e Casas ndash sendo igualmente discutidas no ponto 5 abaixo

4 MEGALITISMO E laquoARTE RUPESTREraquo MONUMENTOS E ROCHAS COM laquoCOVINHASraquo NAS ABAS DA SERRA DrsquoOSSAUma das particularidades registadas nos monumentos em estudo eacute a sua associaccedilatildeo ao geacutenero de laquomanifestaccedilotildees artiacutesticasraquo comummente desig-nadas como laquocovinhasraquo seja tanto pela proximidade espacial entre sepul-cros megaliacuteticos e rochas insculpidas com estes elementos como pela sua

| 371

| 2018

presenccedila nos componentes arquitectoacutenicos dos monumentos Este facto eacute particularmente evidente nas antas de xisto da aacuterea de Estremoz ndash sendo que os dados recolhidos tanto aqui como na aacuterea do Redondo mesmo natildeo possibilitando o esclarecimento rigoroso da sua funcionalidade especiacutefica permitem pela menos acrescentar alguns pontos agrave definiccedilatildeo da sua crono-logia relativa (principalmente os casos gravados em esteios de monumentos megaliacuteticos)O principal elemento de destaque na aacuterea de Estremoz eacute o de Santo Estevatildeo 3 cuja relaccedilatildeo com a Anta 2 dos Outeirotildees (da qual dista cerca de 80 m para Sul) jaacute havia sido anotada por M Heleno Trata-se de um grande aflo-ramento de xisto com uma ampla fachada vertical voltada agrave anta na qual se encontra insculpido um conjunto pouco extenso de laquocovinhasraquo na base desta fachada vertical encontra-se uma plataforma destacada formando laquodegrauraquo com 8 m de comprimento por 050 m de largura com cerca de 21 laquocovinhasraquo insculpidas uma das quais larga e profunda (25 cm de diacircmetro e 24 cm de profundidade) Ainda em relaccedilatildeo com os monumentos de Ou-teirotildees encontra-se Santo Estevatildeo 2 correspondendo a uma laje de xisto solta com cerca de 13 laquocovinhasraquo (Calado 2004 vol 3 p 25 Rocha 2005 vol 2 p 488) tendo sido identificado recentemente por um de noacutes (MAA) um outro elemento referenciado como Santo Estevatildeo 4 tratando-se de um afloramento de xisto com uma grande laquocovinharaquo isolada semelhante agrave de maior dimensatildeo presente em Santo Estevatildeo 3Em relaccedilatildeo agrave Anta do Espadanal seraacute de referir o elemento registado por M Heleno a cerca de 20 m a Sudoeste do monumento Outro elemento Santo Estevatildeo 1 foi recentemente identificado em associaccedilatildeo espacial com este monumento (a cerca de 150 m) descrito como uma laje de xisto solta onde se encontram insculpidas uma seacuterie de laquocovinhasraquo (Calado 2004 vol 3 p 25) As suas particularidades permitiram levantar a hipoacutetese de se tratar de um esteio deslocado da Anta do Espadanal jaacute colapsada agrave altura da esca- vaccedilatildeo de M Heleno embora este autor natildeo refira qualquer laquocovinharaquo grava-da nos esteios deste monumentoSeraacute de referir igualmente os interessantes paineacuteis de xisto de Falcatos 1 e 2 (Andrade 2009) jaacute localizados no espaccedilo do concelho de Sousel mas espacialmente associados agrave Anta da Torrinha na margem oposta da Ribeira de Ana Loura ndash ou os casos de Grilas 1 possivelmente associado agrave Anta de Mamotildees (Horta da Grila cf Leisner e Leisner 1959 p 158 Calado 2004 vol 3 p 72) e Monte dos Penedos 2 em relaccedilatildeo agrave Anta dos Penedos refe- renciada por M Heleno (cf Rocha 2005 vol 2 p 450)Para a aacuterea do Redondo estatildeo disponiacuteveis vaacuterias dezenas de registos de

372 |

rochas com laquocovinhasraquo usando afloramentos ou lajes de granito (ou diorito) gnaisse grauvaque e xisto como suporte (cf Calado 2001 e 2004 Calado e Mataloto 2001) Encontram-se maioritariamente associados a monumen-tos megaliacuteticos sendo de notar igualmente a sua associaccedilatildeo a espaccedilos de habitat coevos ndash como por exemplo Eira dos Mouros e Horta da Ribeira (o uacuteltimo correspondendo a um grande afloramento com cerca de meia cente-na de laquocovinhasraquo insculpidas) associados ao jaacute referido povoado de Monte da Ribeira sendo de mencionar igualmente as lajes laquoreaproveitadasraquo nas estruturas do povoado murado de Satildeo PedroA sua associaccedilatildeo a sepulcros eacute particularmente destacada por alguns casos especiacuteficos Quinta do Freixo 7 corresponde a uma grande laje de diorito com cerca de 150 laquocovinhasraquo algumas de grande dimensatildeo (entre 10 e 25 cm de diacircmetro) associadas a sulcos (formando laquohalteriformesraquo) A cerca de 30 m deste elemento encontra-se outra laje igualmente de grande di-mensatildeo com cerca de 26 laquocovinhasraquo insculpidas As caracteriacutesticas destes elementos (nomeadamente grandes lajes de diorito) permitiram considerar a hipoacutetese de que se pudessem tratar de componentes arquitectoacutenicos de um monumento desmantelado (cf Calado e Mataloto 2001 p 33-34) Es-tes elementos encontram-se associados ao nuacutecleo megaliacutetico da Quinta do Freixo (Antas 1 a 5) ao qual se associa tambeacutem a rocha com laquocovinhasraquo da Espinheira (mais proacutexima agraves Antas 2 e 3)Outros elementos de interesse encontram-se em Martes 3 (espacialmente associado agraves Antas 1 e 2 de Martes) Monte das Casas 4 (24 laquocovinhasraquo em afloramento associado agraves Antas 1 a 4 das Casas) Monte do Cabaccedilo (entre-tanto natildeo relocalizado associado agrave Anta da Candeeira) Paccedilo 3 e 5 (o uacuteltimo combinando laquocovinhasraquo e figuras cruciformes associados agraves Antas 1 e 2 do Paccedilo) Aroeira de Cima Monte Branco da Piedade e Piedade (associados agraves Antas das Pegas e de Nossa Senhora da Piedade) ou Caladinho 2 (associado agrave Anta da Silveira e ao sepulcro do Caladinho)Outros elementos aparentemente natildeo associados a sepulcros ou a espaccedilos de habitat poderatildeo marcar lugares especiacuteficos na paisagem como Pombal e Pedratildeo 1 e 2 (contudo associados a possiacuteveis menires) os grandes aflo-ramentos isolados de Monte Novo da Cabida e Monte do Albuquerque ou o Penedo do Magalhatildees posicionado sobre a linha de cumeada no topo da serra ao longo da qual se registaram recentemente diversos paineacuteis hori-zontais enquadrados pela ocupaccedilatildeo do Bronze Final do Castelo VelhoOutros elementos de arte rupestre referem-se na aacuterea de Estremoz agraves gravuras filiformes ou picotadas sem motivo graacutefico discerniacutevel de Poccedilo

| 373

| 2018

Figura 6 ndash Elementos arquitectoacutenicos de monumentos megaliacuteticos com laquocovinhasraquo inscul-pidas nas aacutereas dos concelhos de Estremoz e Redondo Courela da Anta (Chapeacuteu) Casas do Canal 1 (Chapeacuteu) Candeeira (Chapeacuteu) Vidigueira (Chapeacuteu) Entre Aacuteguas (estela) Lebre (esteios do laquopseudo-corredorraquo) Casas Novas 1 (esteio-pilarete do Corredor) Lebre desenhado a partir de fotografia de campo de M Heleno

374 |

de Moleiros 2 e Bacoreira 4 e 5 identificadas sobre suportes de xisto em associaccedilatildeo espacial ao povoado de Bacoreira 1 e natildeo muito distante da Anta da Gatuna referenciada por M Heleno Seraacute de referir igualmente jaacute na aacuterea do Redondo os sulcos associados a laquocovinhasraquo compondo figuras laquohalteri-formesraquo na jaacute referida laje de Quinta do Freixo 7Mas com efeito eacute a sua presenccedila em elementos arquitectoacutenicos de mo- numentos megaliacuteticos (Figura 6) que permite dispensar algumas conside- raccedilotildees a respeito da sua cronologia relativa Como parece ser comum na larga maioria dos sepulcros alentejanos com laquocovinhasraquo insculpidas nos seus componentes arquitectoacutenicos estas encontram-se preferencialmente nas aacutereas de Estremoz e Redondo nas faces externas daqueles elemen-tos ndash seja no Chapeacuteu ou nos esteios componentes da Cacircmara Satildeo disso exemplo na aacuterea de Estremoz a Anta da Courela da Anta (Chapeacuteu e es-teio da Cacircmara o primeiro com figura laquohalteriformeraquo) Anta 3 dos Outeirotildees (Chapeacuteu) ou Anta 1 das Casas do Canal (Chapeacuteu) na aacuterea do Redondo Anta da Vidigueira (Chapeacuteu) Anta da Candeeira (Chapeacuteu) ou Anta do Hospital (esteio da Cacircmara)Como jaacute referido (Andrade 2010 p 11) esta circunstacircncia poderaacute ser ex-plicada por duas hipoacuteteses interpretativas tratam-se de elementos grava-dos com o propoacutesito especiacutefico de ficarem ocultos pela estrutura tumular ou em alternativa tratam-se de elementos gravados em momentos em que a estrutura tumular estaria jaacute parcialmente desmantelada Tal situaccedilatildeo jaacute havia sido anotada por G Leisner principalmente a respeito da sua gravaccedilatildeo na superfiacutecie externa do Chapeacuteu naquilo que seria a porccedilatildeo mais alta da estrutura tumular (Leisner 1949 p 11) Este facto levou R Parreira a con-siderar que as laquocovinhasraquo pudessem estar relacionadas com coreografias rituais especiacuteficas (Parreira 1996 p 50 e 56) tendo sido possivelmente ins-culpidas nos diversos episoacutedios de visitaccedilatildeo dos monumentos (para novas deposiccedilotildees ou rituais de laquoculto de antepassadosraquo)Se esta hipoacutetese eacute aplicaacutevel ao caso dos Chapeacuteus tecnicamente acessiacuteveis e amoviacuteveis para novas deposiccedilotildees (sendo as laquocovinhasraquo potencialmente gravadas nestas circunstacircncias) o mesmo natildeo se aplica ao caso dos esteios ndash especialmente se natildeo considerarmos a proposta de terem sido gravadas aquando da construccedilatildeo do monumento e intencionalmente ocultadas sen-do necessaacuterio que a estrutura tumular estivesse jaacute pelo menos parcialmente desmantelada para possibilitar a sua gravaccedilatildeo Poderatildeo assim privilegiando a segunda hipoacutetese explicativa estar relacionadas com usos tardios destes monumentos (como as reutilizaccedilotildees registadas a partir da segunda metade do 3ordm mileacutenio ane) algo que apenas se atesta incontestavelmente na aacuterea

| 375

| 2018

Figura 7 ndash Componentes dos mobiliaacuterios votivos registados em reusos de monumentos megaliacuteticos da aacuterea de Estremoz e Redondo a segunda metade do 3ordm mileacutenio ane e primeira metade do seguinte Casas do Canal 1 (caccediloila campaniforme com decoraccedilatildeo incisa vaso acampanado liso e vaso ciliacutendrico liso) Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (caccediloila campaniforme lisa vaso troncocoacutenico liso pequena caccediloila lisa) Outeirotildees 2 (pequena caccediloila lisa) Mal Dorme (vaso acampanado liso) Godinhos (vaso troncocoacuteni-co liso braccedilal de arqueiro e folha de ouro) Caladinho (taccedila carenada e ponta de cobre) Casas (vaso bojudo com decoraccedilatildeo plaacutestica)

376 |

em estudo no caso da Anta 1 das Casas do CanalNo entanto satildeo as laquocovinhasraquo insculpidas nas faces internas dos elemen-tos arquitectoacutenicos em espaccedilos supostamente laquovedadosraquo que fornecem algumas luzes sobre a sua possiacutevel cronologia relativa ndash aparentemente as- sociando-as agrave construccedilatildeo e uso pleno destes monumentos como elementos perfeitamente integrados na sua composiccedilatildeoNa Anta da Lebre por exemplo um conjunto de laquocovinhasraquo foi insculpido na face interna de um dos esteios do laquopseudo-corredorraquo com maior concen-traccedilatildeo junto agrave sua base nesta mesma anta encontram-se ainda gravuras geomeacutetricas na base de um dos esteios da Cacircmara (lateral agrave Cabeceira) que M Heleno pertinentemente associou agraves gravuras das placas de xisto (descrevendo-as como laquoem dentes de loboraquo) Na Anta 2 dos Outeirotildees para aleacutem de uma laquocovinharaquo isolada insculpida sensivelmente a meia altura no esteio de Cabeceira a laquolaje-divisoacuteriaraquo da Cacircmara apresentava uma seacuterie de laquocovinhasraquo insculpidas em ambas faces associadas a pintura ndash estando pelo menos um destes elementos segundo M Heleno laquopintadoraquo no seu in-terior Na Anta 3 dos Outeirotildees contiacutegua agrave anterior para aleacutem das laquocovinhasraquo na superfiacutecie externa do Chapeacuteu referidas acima encontram-se conjuntos pouco extensos de laquocovinhasraquo insculpidas nas faces internas de dois dos es-teios laterais da Cacircmara proacuteximo agrave sua base Da mesma maneira na Anta 1 de Casas Novas as laquocovinhasraquo encontram-se gravadas na face interna de um pilarete implantado na transiccedilatildeo Corredor-Cacircmara uma oacutebvia laquoaacuterea sim-boacutelicaraquo na composiccedilatildeo arquitectoacutenica final do monumentoTendo em conta estes dados eacute perfeitamente aceitaacutevel considerar estes elementos como coevos com a construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo plena destes se- pulcros Esta circunstacircncia poderaacute ser confirmada por exemplo no monumento de Juan Roacuten 1 onde agrave semelhanccedila da Anta da Lebre um conjunto de laquocovinhasraquo foi insculpido na face interna de um dos estei-os do Corredor pouco acima da sua base segundo P Bueno Ramiacuterez e colaboradores estas estariam laquoliteralmente tapadas por el depoacutesito del corredor con lo que se certifica su factura megaliacutetica sin ninguna duda (Bueno Ramiacuterez et al 1998 p 165) Da mesma maneira no monumen-to de Maacuteimon 1 as laquocovinhasraquo encontram-se igualmente insculpidas na face interna de uma das tampas do Corredor podendo-se conjecturar que teriam sido insculpidas anteriormente agrave colocaccedilatildeo da mesma (Bue-no Ramiacuterez et al 1999)Outro elemento curioso refere-se agrave laje com laquocovinhasraquo tombada imedia- tamente a Este da Anta de Entre Aacuteguas natildeo sendo claro se se trata de uma tampa do Corredor deslocada podendo referir-se a uma possiacutevel es-

| 377

| 2018

tela implantada junto agrave boca do monumento ndash agrave semelhanccedila do que foi avanccedilado para as duas lajes de xisto com laquocovinhasraquo reutilizadas no tra-mo inicial do Corredor da Anta 2 do Olival da Pega (cf Gonccedilalves 1992 e 1999)

5 OS MONUMENTOS MEGALIacuteTICOS DAS ABAS DA SERRA ENTRE A SE-GUNDA METADE DO 3ordm E A PRIMEIRA METADE DO 2ordm MILEacuteNIO ANE REUSOS E REINTERPRETACcedilOtildeESA subsistecircncia do caraacutecter dos sepulcros megaliacuteticos enquanto laquoespaccedilos simboacutelicosraquo poderaacute ser evidenciada no seu reuso (ou uso tardio) particular- mente a partir da segunda metade do 3ordm mileacutenio ane (possivelmente mais centrado no seu uacuteltimo quartel) e estendendo-se pela primeira metade do mileacutenio seguinte ndash de que satildeo exemplo preciso alguns dos monumentos das aacutereas de Estremoz e Redondo (Figura 7) Dever-se-aacute recordar todavia que estas situaccedilotildees poderatildeo ser mais recorrentes do que o actual registo arqueoloacutegico deixa transparecer se nos basearmos apenas nas caracteriacutesti-cas morfo-tipoloacutegicas dos artefactos votivos como jaacute se chamou agrave atenccedilatildeo noutro local (cf Mataloto 2017) e como demonstrado por exemplo no caso da Anta 3 de Santa Margarida em Reguengos de Monsaraz (cf Gonccedilalves 2003)Estes reusos caracterizam-se principalmente por enterramentos acompa- nhados por espoacutelio campaniforme ou de laquofiliaccedilatildeo campaniformeraquo revelan-do igualmente especificidades rituais com paralelos em outros contextos do interior alentejanoextremenho (cf Boaventura et al 2014-2015 Ma-taloto 2017 Bueno Ramiacuterez Barroso Bermejo e Vaacutezquez Cuesta 2008) Na aacuterea em estudo resumem-se ateacute ao momento aos contextos da Anta 1 das Casas do Canal Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais Mal Dorme e Godinhos para aleacutem do caso duvidoso da Anta 2 dos Outeirotildees Tratam-se genericamente de elementos tardios dentro do Calcoliacutetico com enquadra-mento cronoloacutegico relativo atribuiacutevel ao uacuteltimo quartel do 3ordm mileacutenio ane ndash atribuiccedilatildeo esta ratificada pela dataccedilatildeo obtida na Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (conforme exposto abaixo)O caso da Anta 1 das Casas do Canal refere-se ao putativo enterramento realizado no espaccedilo do Corredor acompanhado por uma grande caccediloila com decoraccedilatildeo incisa de tipo Ciempozuelos dentro da qual se encontra-va depositado um vaso acampanado liso proacuteximo a estes possivelmente enquadrando a deposiccedilatildeo funeraacuteria pelo lado oposto encontrava-se um vaso ciliacutendrico igualmente liso Esta deposiccedilatildeo usando o espaccedilo do Cor- redor como se de uma pequena cista se tratasse implicou a clausura do

378 |

acesso agrave Cacircmara estando ainda segundo G e V Leisner coberto por uma camada de blocos peacutetreos (cf Leisner e Leisner 1955)Semelhanccedilas rituais satildeo demonstradas pelo contexto da Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais O enterramento igualmente realizado no espaccedilo do Corredor e tambeacutem coberto (ou delimitado) por uma camada de blocos peacutetreos era acompanhado por uma grande caccediloila lisa dentro da qual se encontrava depositado um vaso troncocoacutenico igualmente liso com rebordo no fundo (designado como laquocoporaquo) Fazendo parte deste conjunto estava igualmente presente uma pequena caccediloila lisa ndash sendo possivel-mente daqui proveniente tambeacutem a pequena caccediloila arrolada agrave Anta 2 dos Outeirotildees no MNA (natildeo referida por M Heleno nas suas notas de campo)Segundo M Heleno este enterramento encontrava-se junto aos esteios Sul do Corredor paralelo a este com a cabeccedila voltada para a Cacircmara contudo pela anaacutelise da posiccedilatildeo dos membros inferiores os uacutenicos conservados in situ para registo durante a escavaccedilatildeo depreende-se que o corpo estaria dis-posto transversalmente ao eixo do Corredor estando os vasos depositados no lado Norte possivelmente junto agrave cabeccedila Trata-se da deposiccedilatildeo de um indiviacuteduo adulto do sexo masculino cuja dataccedilatildeo aponta para um interva-lo de tempo centrado em finais do 3ordm mileacutenio ane (Wk-17089 3758plusmn36 BP fornecendo o resultado calibrado a 2σ com 954 de probabilidade de 2288-2040 cal BCE cf Rocha e Duarte 2009 p 766-768 Boaventura et al 2014-2015)Em relaccedilatildeo agrave Anta do Mal Dorme a delimitaccedilatildeo da deposiccedilatildeo eacute mais pro- blemaacutetica eacute referido somente por M Heleno a recolha de fragmentos ceracircmi-cos na aacuterea da Cacircmara tendo a sua reconstituiccedilatildeo recente demonstrado que se trata de um vaso acampanado liso sem qualquer outro elemento caracteriacutestico associadoNo caso da Anta dos Godinhos a deposiccedilatildeo era acompanhada por um vaso troncocoacutenico liso semelhante (embora de colo mais baixo) ao recolhido na Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais ao qual se associava um pequeno braccedilal de arqueiro em xisto e uma lacircmina de ouro torcida deposi- tados os primeiros no lado Sudoeste e a uacuteltima no lado Nordeste da pequena Cacircmara megaliacutetica junto aos seus esteios (cf Mataloto et al 2015)Seraacute de referir igualmente o diadema e o brinco de ouro de tipo Ermegei-ra de proveniecircncia desconhecida adquiridos e atribuiacutedos genericamente agrave aacuterea de Estremoz (mas possivelmente recolhidos num monumento megaliacuteti-co) ndash elementos caracteriacutesticos da ourivesaria de finais do 3ordm mileacutenio ane (conforme atestado em numerosos exemplos do Sudoeste peninsular)Os reusos relativos agrave Idade do Bronze encontram-se atestados principal-

| 379

| 2018

mente no sepulcro do Caladinho referindo-se agrave recolha de uma pequena taccedila carenada e uma ponta de cobre de folha curta e peduacutenculo alongado ndash tratando-se de elementos genericamente atribuiacuteveis agrave Idade do Bronze InicialPleno (Calado e Rocha 2007) A recolha neste mesmo sepulcro de formas carenadas mais caracteriacutesticas de etapas mais avanccediladas poderaacute indicar outros episoacutedios de utilizaccedilatildeoocupaccedilatildeo mais tardiosO caso da herdade das Casas revela-se mais problemaacutetico trata-se de um vaso bojudo com conjuntos de trecircs mamilos dispostos em fiadas verticais a partir do bordo do recipiente tiacutepico da Idade do Bronze do Sudoeste recolhido no contexto geneacuterico daquela propriedade sem outras especifi-caccedilotildees (Mataloto 2005) Satildeo conhecidos neste espaccedilo vaacuterios monumentos megaliacuteticos (Antas 1 a 5 das Casas Anta do Pinheiro) sendo perfeitamente admissiacutevel que um destes sepulcros possa corresponder ao contexto de recolha deste recipiente Contudo natildeo se rejeita que possa provir de uma sepultura em cista tiacutepica da Idade do Bronze aiacute localizada neste caso tra-ta-se natildeo do reuso de um monumento preacute-existente mas de todo um espaccedilo de necroacutepole ndash com a instalaccedilatildeo de novos sepulcros espacialmente associa-dos aos sepulcros anteriores como se conhecem vaacuterios exemplos na aacuterea alentejana (caso das aacutereas do Barrocal das Freiras em Montemor-o-Novo ou dos Cebolinhos em Reguengos de Monsaraz contando-se tambeacutem aqui com o reuso dos proacuteprios monumentos megaliacuteticos)O significado destes reusos de sepulcros megaliacuteticos foi jaacute abordado noutros locais (cf Kalb 1994 Garciacutea Sanjuaacuten 2000 e 2005 Mataloto 2005 2006 e 2007 Mataloto et al 2015 Tejedor Rodriacuteguez 2008 e 2013 Andrade 2016) levantando-se a hipoacutetese de se tratarem apenas de laquoparasitagemraquo (com utilizaccedilatildeo oportunista de uma estrutura preacutevia jaacute laquodisponiacutevelraquo) ou de serem reflexo de evidente continuidade simboacutelica com o reconhecimento e reinterpretaccedilatildeo de espaccedilos de caraacutecter alegoacuterico Parece-nos a noacutes que tendo em conta a persistecircncia incontestaacutevel do caraacutecter laquosagradoraquo dos mo- numentos megaliacuteticos ao longo dos tempos independentemente das oacutebvias transmutaccedilotildees sociais culturais e ideoloacutegicas que teratildeo operado a partir de meados do 3ordm mileacutenio ane a segunda hipoacutetese seraacute a mais viaacutevel A projecccedilatildeo temporal do caraacutecter simboacutelico do Megalitismo reflecte-se assim na manutenccedilatildeo de uma certa dimensatildeo inter-grupal (ou social) diacroacutenica baseando-se na proacutepria definiccedilatildeo da sacralidade laquoancestralraquo dos espaccedilos megaliacuteticos (Garciacutea Sanjuaacuten 2000) A sua possiacutevel recuperaccedilatildeo simboacutelica e sua reinserccedilatildeo nas paisagens socio-culturais permite precisamente que sejam assumidos como laquolugares de memoacuteria e identidaderaquo perpetuados (Mataloto 2007 Mataloto et al 2015)

380 |

Contudo dever-se-aacute referir que apesar de se tratarem maioritariamente de monumentos que oferecem algum destaque na paisagem (principalmente devido agrave sua implantaccedilatildeo especiacutefica) natildeo se tratam de sepulcros eminente-mente laquomonumentaisraquo sendo basicamente de pequenameacutedia dimensatildeo Estes reusos natildeo podem assim ser explicados simplesmente pela monu-mentalidade dos sepulcros e consequente atracccedilatildeo visual que suscitariam ndash facto particularmente evidente no caso da pequena Anta dos Godinhos (cf Mataloto et al 2015) Neste caso o seu reuso poderaacute ser explicado por motivos mais complexos lembrando que estes monumentos tecircm a sua proacutepria integraccedilatildeo especiacutefica na paisagem contribuindo activamente para a transformaccedilatildeo desta em territoacuterio ndash podendo estar relacionados ainda tal como aquando da sua construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo original com vias de tracircnsito fulcrais ainda em actividadeNoutro sentido (e de acordo com Gibson 2016) estes reusos poderatildeo estar relacionados com a recuperaccedilatildeo de locais de caraacutecter emblemaacutetico espe-ciacutefico possivelmente reflectindo rituais de encerramentocondenaccedilatildeo do monumento como o parece demonstrar os casos das Antas 1 das Casas do Canal e Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais ndash correspondendo a inumaccedilotildees bem individualizadas no espaccedilo do Corredor no primeiro caso com o encerramento intencional da Cacircmara

6 CONCLUSAtildeO OS TERRITOacuteRIOS DE FRONTEIRA E A OCUPACcedilAtildeO DO ESPACcedilO NO CONTEXTO DA ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO MEGA- LITISMO NAS ABAS DA SERRA DrsquoOSSAComo visto as particularidades dos conjuntos megaliacuteticos de ambos lados da Serra drsquoOssa permitem assumir esta aacuterea como um verdadeiro territoacuterio de fronteira agindo aquele marco geograacutefico (coincidindo sensivelmente com a estrema entre os concelhos de Estremoz e Redondo e com o fes-to entre as bacias hirdrograacuteficas do Tejo e do Guadiana) como verdadeiro espaccedilo de charneira entre dois universos megaliacuteticos culturalmente distin-tos Tratam-se assim de duas entidades apartadas contudo concomitantes que deveratildeo ser lidas no seu acircmbito regional mais alargado ndash em conjunto com os monumentos das aacutereas da Ribeira Grande Crato e Bacia do Sever e zona ocidental da Extremadura espanhola (Andrade 2009 2011 e 2013 Boaventura 2006 Parreira 1996 Oliveira 1998 e 2006 Bueno Ramiacuterez 1988) e com os monumentos das aacutereas de Reguengos de Monsaraz e Eacutevora (Leisner 1949 Leisner e Leisner 1951 Gonccedilalves 1992 e 1999) natildeo descurando a sua leitura conjunta com os monumentos de Borba Vila Viccedilosa Elvas e Alandroal (Albergaria e Dias 2000 Calado 1993 1994

| 381

| 2018

2001 e 2004 Calado e Roque 2013 Deus e Viana 1953 Paccedilo Ferreira e Viana 1957 Viana e Deus 1952 1955 e 1957) e com os monumentos de Arraiolos e Mora (Correia 1921 Moita 1956 Rocha 1999 e 2005) Com efeito tratam-se de aacutereas onde estas muacuteltiplas correntes de influecircncia se imiscuem significativamente consubstanciando-se em convergecircncias e di-vergecircncias das caracteriacutesticas arquitectoacutenicas dos monumentos e dos mo-biliaacuterios votivos aiacute recolhidosNo que respeita agraves arquitecturas e apesar de na aacuterea norte-alentejana se reconhecer a presenccedila maioritaacuteria dos tiacutepicos sepulcros de Cacircmara e Corredor diferenciados nota-se uma maior variabilidade em relaccedilatildeo aos seus congeacuteneres centro-alentejanos com o registo significativo de soluccedilotildees construtivas diversas Este facto poder-se-aacute dever talvez a uma maior aber-tura daquela aacuterea a influecircncias beiratildes e mesetenhas em oposiccedilatildeo a uma maior homogeneidade cultural com um cunho regional mais demarcado no Alentejo Central ndash onde independentemente da dimensatildeo dominam os designados monumentos de laquotipo alentejanoraquoOs espoacutelios votivos por seu lado permitem consolidar a hipoacutetese destes cruzamentos de influecircncias ndash seja a niacutevel das particularidades laquoculturaisraquo dos artefactos ou das mateacuterias-primas usadas no seu fabrico Para tal os ar-gumentos baseiam-se principalmente nas caracteriacutesticas das placas votivas e em algumas particularidades das induacutestrias de pedra lascadaSe as placas de xisto gravadas natildeo satildeo desconhecidas em contextos megaliacuteti-cos norte-alentejanos (estendendo-se a sua aacuterea de dispersatildeo ateacute agrave baixa pene-planiacutecie albicastrense) teratildeo um oacutebvio foco de emergecircncia na aacuterea centro-alentejana na esfera cultural do eixo Montemor-Eacutevora-Reguengos (onde se conhecem monumentos com muitas dezenas destes artefactos como a Anta 3 de Barrocal das Freiras laquotholosraquo do Escoural Anta 1 do Paccedilo Anta Grande do Zambujeiro Anta 1 do Olival da Pega) ndash estando presentes na aacuterea em estudo em conjuntos numericamente pouco significativos mas ainda assim consideraacuteveis (tanto na aacuterea de Estremoz como do Redondo destacando-se os conjunto da Anta 1 da Talha e do sepulcro do Caladinho incluindo-se no uacuteltimo tambeacutem um baacuteculo)Por outro lado as placas de greacutes (especialmente os exemplares esculpidos com motivos antropomoacuterficos) satildeo jaacute elemento caracteriacutestico das culturas megaliacuteticas norte-alentejanas ndash sendo aparentemente inexistentes ou pelo menos resumidas a escassos exemplares lisos abaixo da Serra drsquoOssa Ateacute ao momento nos conjuntos em estudo reconhecem-se somente na aacuterea de Estremoz ndash destacando-se a placa da Anta do Espadanal de oacutebvia ins- piraccedilatildeo norte-alentejanaextremenha recolhendo paralelos notoacuterios a niacutevel

382 |

da composiccedilatildeo iconograacutefica numa outra recolhida na Anta da Horta igual-mente incluiacuteda na bacia da margem esquerda da Ribeira da Seda (cf Olivei-ra 2006)Em relaccedilatildeo aos padrotildees distintivos das induacutestrias de pedra lascada estes lecircem-se principalmente nas caracteriacutesticas tecno-tipoloacutegicas das armaduras geomeacutetricas e das pontas de seta Uma das particularidades das armaduras geomeacutetricas registadas na aacuterea de Estremoz (e especialmente evidente no conjunto da Anta 3 da Talha) eacute a presenccedila de trapeacutezios rectacircngulos cuja laquotruncaturaraquo basal foi efectuada por fractura fleccionada natildeo tendo sido posteriormente objecto de retoque (como comum neste tipo de produccedilotildees) Esta caracteriacutestica parece natildeo ser tatildeo comum em contextos mais austrais muito embora o estudo rigoroso das colecccedilotildees de M Heleno (assim como a realizaccedilatildeo de novos trabalhos de escavaccedilatildeo) possa trazer novos dados sobre esta problemaacutetica No grupo das pontas de seta por seu lado regis-ta-se um domiacutenio dos exemplares de base cocircncava usando tambeacutem outras mateacuterias-primas que natildeo o siacutelex (como xistos siliciosos e liditos) em contex-tos centro-alentejanos (como se atesta por exemplo na Anta da Vidigueira ou no sepulcro do Caladinho) ndash sendo este tipo pouco comum (mas natildeo desconhecido) acima da Serra drsquoOssa onde satildeo frequentes as pontas de seta de base triangular e convexa (conforme jaacute intuiacutedo por M Calado e rea- firmado em Boaventura et al 2014-2015) Este facto evidencia-se por ex-emplo na Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais onde as pontas de base convexa e triangular estatildeo representadas em nuacutemero quase equiva-lente enquanto no Caladinho na aba Sul natildeo estatildeo sequer representadasPara aleacutem desta pretensa laquorelevacircncia culturalraquo na ligaccedilatildeo entre dois univer-sos distinguiacuteveis a importacircncia da aacuterea da Serra drsquoOssa lecirc-se igualmente na disponibilidade de recursos aiacute existente ndash tanto a niacutevel bioacutetico como abioacuteticoNo primeiro caso constata-se que os monumentos se dispotildeem ocupando segmentos bem localizados da paisagem seja em relaccedilatildeo a vias naturais de tracircnsito ou a aacutereas de ocupaccedilatildeoexploraccedilatildeo preferencial em ambiente ecotoacutenico entre as encostas da serra e as chatildes na sua base ndash comple-mentando-se assim aacutereas de pasto e caccedila com aacutereas agriacutecolas localizadas no sopeacute drenadas por uma rede hidrograacutefica significativa Destacam-se a Sul da Serra drsquoOssa a Planiacutecie Central do Redondo e mais abaixo a Aacuterea da Vigia e a Planiacutecie Sul (extensiacutevel ateacute Reguengos de Monsaraz e agrave pene-planiacutecie oriental de Eacutevora) A Norte de Serra drsquoOssa distinguem-se a bacia da Ribeira de Almadafe (a Sudoeste da Serra de Satildeo BartolomeuAntiforma de Estremoz) a peneplaniacutecie graniacutetica ateacute ao vale da Ribeira Grande e a aacuterea aplanada dos calcretos de Casa Branca-Cano (a Nordeste e Noroeste da

| 383

| 2018

Serra de Satildeo BartolomeuAntiforma de Estremoz respectivamente)A instalaccedilatildeo destes monumentos no contexto de vias naturais de tracircnsito poderaacute estar igualmente relacionada com a manutenccedilatildeo de recursos bioacuteti-cos ndash nomeadamente pecuaacuterios possibilitando estes caminhos a local de gados ao longo do territoacuterio imediato Contudo a proacutepria disposiccedilatildeo dos agrupamentos de monumentos poderaacute indicar diferentes diagramas de ocu-paccedilatildeoexploraccedilatildeo do espaccedilo ndash lidos igualmente nos vestiacutegios de espaccedilos habitacionais a eles associados Com efeito o maior iacutendice de concen-traccedilatildeo localizada destas evidecircncias na aacuterea de Estremoz contrastando com amplas aacutereas laquovaziasraquo a par da sua maior coberturadisseminaccedilatildeo territorial na aacuterea do Redondo poderaacute ser evidecircncia de possiacuteveis diferenccedilas demograacutefi-cas e consequentemente de possiacuteveis diferenccedilas nas bases econoacutemicas de sustentaccedilatildeo Assim e conforme jaacute anotado (cf Calado 2001 Andrade 2009) poderiacuteamos ter abaixo da Serra drsquoOssa redes de povoamento mais estaacuteveis com bases econoacutemicas assentes principalmente na agricultura registando-se aparentemente uma malha de povoamento mais esparsa nas aacutereas a Norte talvez mais vocacionadas para a pastoriacuteciaEstas provaacuteveis divergecircncias demograacuteficas poderatildeo ser teoricamente atestadas com a comparaccedilatildeo dos resultados do caacutelculo dos esforccedilos de tra-balho aplicados a monumentos de ambas aacutereas por exemplo com recursos a rolos de madeira e alavancas seria necessaacuterio um nuacutemero miacutenimo de cerca de 61 indiviacuteduos (176 se apenas com recurso a rolos de madeira) para o transporte por arrasto do esteio de Cabeceira da Anta 1 de Casas Novas cuja fonte de aprovisionamento provaacutevel se localiza a cerca de 1 km Tal cifra contrasta significativamente com a meacutedia exigida para o transporte dos es-teios utilizados nos monumentos contemporacircneos da aacuterea de Estremoz (sal-vaguardando-se contudo o caso da Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais) em que um nuacutemero razoavelmente menor de indiviacuteduos seria necessaacuterioComplementarmente a integraccedilatildeo oacuteptima destes monumentos na paisagem (para aleacutem da sua associaccedilatildeo a rochas com laquocovinhasraquo oacutebvios laquomarcadores activosraquo do territoacuterio) lecirc-se tambeacutem na sua implantaccedilatildeo geoloacutegica especiacutefi-ca registando-se o aproveitamento rigoroso dos suportes disponiacuteveis local-mente na sua construccedilatildeo Com efeito as caracteriacutesticas geoloacutegicas diversas do territoacuterio parecem natildeo ter funcionado como condicionante fundamental agrave instalaccedilatildeo dos monumentos ndash encontrando-se estes em contextos geoloacutegi-cos diversos desde os granitoacuteides aos xistos mas sempre com potenciali-dade para serem usados enquanto suporte construtivo e em meacutedia nunca mais distantes do que poucas centenas de metros Para os monumentos de

384 |

Estremoz maioritariamente instalados em contextos de xistos siluacutericos esta eacute a mateacuteria-prima essencialmente usada ndash destacando-se os monumentos de Alfaiates-Venda do Duque ou Leatildeo usando os granitoacuteides junto dos quais se encontram instalados De referir igualmente a utilizaccedilatildeo de xisto anfiboacuteli-co na tampa do Corredor da Anta da Courela da Anta (provavelmente prove-niente de contextos mais distantes) ou o recurso a suportes geologicamente distintos mas ainda assim locais na Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (questatildeo debatida mais agrave frente)Na aacuterea do Redondo regista-se por seu lado uma maior variedade nos suportes construtivos possivelmente dependentes de uma maior variedade de litologias disponiacuteveis ndash encontrando-se monumentos construiacutedos em granitoacuteides gnaisses e diversos tipos de xistos Segundo as anaacutelises efectua- das no acircmbito do projecto MEGAGEO apesar desta evidente variabilidade a disponibilidade dos recursos construtivos eacute tal como em Estremoz emi- nentemente local obtidos nunca a mais de poucas centenas de metros Destaca-se contudo o caso dos granodioritos usados na Anta 1 das Casas Novas cuja aacuterea de proveniecircncia provaacutevel estaacute localizada a cerca de 1 km (cf Pedro et al 2015 Nogueira et al 2015)O recurso num mesmo monumento a suportes com origens geoloacutegicas distintas estaacute igualmente atestado principalmente naqueles implantados sobre ou proacuteximo a aacutereas de interface litoloacutegica ndash destacando-se o caso das Antas de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (construiacuteda em calcaacuterio dolomiacutetico com um esteio de ortognaisse graniacutetico) Barroca (construiacuteda em granito xisto metamorfizado e gnaisse) Covas (conjugando esteios de xisto e granito) Godinha de Cima (esteios de xisto e chapeacuteu de granito) e Godinhos (usando granito e micaxisto) Seja como for a sua disponibilidade eacute sempre local ndash sendo imediata a sua acessibilidade reafirmando o aproveitamento oacuteptimo de recursos acima mencionadoA niacutevel dos recursos abioacuteticos (para aleacutem daqueles usados como suporte construtivo nos monumentos) correspondendo esta aacuterea ao extremo oci-dental da Zona Metavulcacircnica de Ossa-Morena estatildeo disponiacuteveis vaacuterios tipos de mateacuterias-primas comprovadamente usados na produccedilatildeo de arte-factos liacuteticos (lascados e polidos) no contexto geneacuterico alentejano Para aleacutem da ubiacutequa presenccedila de filotildees e massas de quartzo leitoso e liditos regis-ta-se a ocorrecircncia de mono-cristais de quartzo hialino nos contextos xistosos em torno ao maciccedilo calcaacuterio de Estremoz-Vila Viccedilosa ndash maioritariamente de pequena dimensatildeo embora o grande cristal recolhido na Anta do Casca- lho sugira a presenccedila local de exemplares de maior dimensatildeo Poderatildeo en-contrar-se tambeacutem rochas siliciosas facilmente trabalhaacuteveis neste contexto

| 385

| 2018

cronoloacutegico as calcedoacutenias aacutegatas e opalasopalinas usadas na produccedilatildeo de armaduras geomeacutetricas e pontas de seta poderatildeo estar disponiacuteveis lo-cal ou regionalmente em mineralizaccedilotildees secundaacuterias em contexto vulcano- -sedimentar (hipoacutetese a confirmar embora estejam cartografadas silicifi-caccedilotildees nos calcaacuterios dolomiacuteticos da aacuterea de Estremoz) Da mesma maneira os xistos siliciosos usados principalmente a partir do 3ordm mileacutenio ane para a produccedilatildeo de pontas de seta poderatildeo estar disponiacuteveis em contextos cacircm-bricospreacute-cacircmbricos no sopeacute da Serra drsquoOssa ou no Sinforma de Terena A rocha metamorfizada branda correspondendo possivelmente a vulcanitos de contextos vulcano-sedimentares estaacute disponiacutevel no entorno do Antiforma de Estremoz sendo extensamente utilizada na produccedilatildeo de artefactos liacuteticos talhados durante o Neoliacutetico Antigo e Meacutedio regionais e preferencialmente usada na produccedilatildeo de artefactos de pedra polida (principalmente enxoacutes) durante o 4ordm mileacutenio ane (conforme jaacute anotado em Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017) Seraacute de registar igualmente a presenccedila local e regional de rochas anfiboacutelicas no contexto dos micaxistos e paragnaisses da For-maccedilatildeo de Ossa ou nos niacuteveis cacircmbricos e preacute-cacircmbricos da bacia da Ribeira da Seda por exemplo Regista-se igualmente a ocorrecircncia dos calcaacuterios e maacutermores usados na produccedilatildeo de iacutedolos e vasos de pedra ndash ateacute ao mo-mento natildeo representados na aacuterea em estudo mas presentes em contextos habitacionais de Avis e Monforte sendo comprovadamente provenientes da aacuterea de Estremoz-Vila Viccedilosa aqueles recolhidos nos Perdigotildees (cf Dias et al 2017)Como contra-partida regista-se a presenccedila de siacutelices provenientes de con-textos da Estremadura portuguesa usados na produccedilatildeo de lacircminas arma-duras geomeacutetricas e pontas de seta ndash correspondendo a siacutelex de contextos cenomanianos das aacutereas de Rio Maior e Oureacutem e de contextos oxfordianos da aacuterea de Tomar (presente residualmente representado apenas em duas lacircminas das Antas 2 da Talha e 3 dos Outeirotildees e numa lamela da Anta da Lebre) Regista-se igualmente a ocorrecircncia do siacutelex opaco de tonalidade acinzentada de proveniecircncia ainda indeterminada mas particularmente usado na produccedilatildeo de pequenas lacircminas e geomeacutetricos durante o 4ordm mileacute-nio ane e aparentemente natildeo utilizado nas produccedilotildees liacuteticas lascadas du-rante o mileacutenio seguinte (igualmente anotado em Mataloto Andrade e Perei-ra 2016-2017)Tambeacutem o azeviche representado numa conta de colar da Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais sendo particularmente comum em con-textos funeraacuterios estremenhos (como nas grutas de Lapa da Galinha Casa da Moura Cova da Moura ou Lapa do Bugio) poderaacute provir de depoacutesitos

386 |

plio-plistoceacutenicos da Estremadura portuguesa (como nas aacutereas de Sesimbra ou Rio Maior por exemplo) Jaacute as laquopedras verdesraquo poderatildeo ter origem localregional tendo as anaacutelises realizadas aos exemplares das Antas de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais e Lebre comprovado que se tratam de moscovitesA inclusatildeo da aacuterea da Serra drsquoOssa nos circuitos de intercacircmbio de mateacuterias-primas extra-regionais por vezes de consideraacutevel amplitude ates-ta-se na presenccedila de uma ponta de seta de siacutelex ooliacutetico provavelmente proveniente da regiatildeo sub-beacutetica no conjunto artefactual da Anta de Nos-sa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (cf Boaventura et al 2014-2015) ndash mateacuteria-prima que se confirmou recentemente estar tambeacutem localmente presente nos conjuntos dos siacutetios de Montoito 2 e Satildeo Pedro e que poderia ter acompanhado as rotas de intercacircmbio de outras mateacuterias-primas exoacuteti-cas como o acircmbar e o marfim recolhidos em alguns monumentos megaliacuteti-cos alentejanos (Anta da Capela Anta Grande do Zambujeiro Anta Grande da Comenda da Igreja)As deslocaccedilotildees motivadas por este mesmo abastecimento de mateacuterias- -primas assumindo-se a aacuterea da Serra drsquoOssa como origem e como des-tino de produtos essenciais poderatildeo enquadrar-se igualmente no contex-to de outras actividades de subsistecircncia ndash como por exemplo o abaste-cimento de sal ou a pastoriacutecia transumante mesmo que apenas a uma escala localregional Com efeito e como referido a instalaccedilatildeo dos mo- numentos e consequentemente das comunidades que os erigiram e uti-lizaram junto a vias naturais de tracircnsito poderaacute favorecer estas hipoacuteteses Como vimos acima (e igualmente ilustrado na Figura 1) a coincidecircncia da sua situaccedilatildeo com os principais eixos de ligaccedilatildeo entre as aacutereas norte- -alentejanas e centro-alentejanas (ou noutros termos entre os vales do Tejo e do Guadiana) poderaacute demonstrar a posiccedilatildeo e importacircncia destas mes-mas vias nos padrotildees de ocupaccedilatildeo do territoacuterio Mesmo que tratando-se de um fenoacutemeno relativamente recente motivado pela produccedilatildeo de carne e latilde essencialmente a partir de Eacutepoca Moderna (sendo problemaacutetico o seu recuo ateacute tempos preacute-histoacutericos) a circunstacircncia de esta aacuterea ser cruzada pelas rotas de transumacircncia usadas ateacute ao seacuteculo XIX ligando as encostas da Serra da Estrela agraves planiacutecies alentejanas desde Eacutevora a Ourique (cf Silbert 1978 Morais 1998) reforccedila o seu papel enquanto elo de ligaccedilatildeo de regiotildees geo-culturalmente distintasAssim neste contexto geneacuterico de trocas de influecircncia a aacuterea da Serra drsquoOs-sa regista ocupaccedilotildees laquomegaliacuteticasraquo que se estendem por todas as fases da origem e desenvolvimento deste fenoacutemeno sensivelmente entre meados do

| 387

| 2018

4ordm mileacutenio ane e meados do seguinte (cf Boaventura 2011 Boaventu-ra e Mataloto 2013 Mataloto Andrade e Pereira 2016-2017) Com efeito estatildeo aqui registados os pequenos monumentos simples ou de Corredor incipiente com espoacutelio pouco diversificados caracteriacutesticos de um patam-ar inicial do Megalitismo assim como os monumentos de meacutediagrande dimensatildeo de Cacircmara e Corredor diferenciado ou os tholoi (ou pelo menos sepulcros seus congeacuteneres) com mobiliaacuterios votivos mais diversificados tiacutepi-cos da sua fase de apogeu Evidencia-se assim com base no exposto acima que estes laquocaminhosraquo estiveram sempre activos desde os primeiros momen-tos do Megalitismo reafirmando-se com a consolidaccedilatildeo das sociedades camponesas estaacuteveis ndash principalmente nas aacutereas abaixo da Serra drsquoOssa (conforme o registo arqueograacutefico parece deixar transparecer)A prevalecircncia deste papel de relevo da aacuterea da Serra drsquoOssa consubstan-ciado assim na implantaccedilatildeo dos sepulcros durante o Neoliacutetico e Calcoliacutetico poderaacute ler-se precisamente no seu reuso durante as etapas finais do Cal-coliacutetico (Anta 1 das Casas do Canal Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais Anta do Mal Dorme Anta dos Godinhos) e mesmo jaacute entrada a Idade do Bronze (sepulcro do Caladinho ou Casas) natildeo necessariamente em continuidade crono-cultural com os momentos plenos de construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo destes monumentos ndash mas em oacutebvia continuidade laquosimboacutelicaraquo Neste sentido natildeo entendemos estes reusos como uma mera apropriaccedilatildeo de estruturas disponiacuteveis mas sim como a utilizaccedilatildeo de componentes activos na constituiccedilatildeo de uma nova paisagem soacutecio-cultural em que os elementos relacionados com antigas vias de tracircnsito continuam activos ndash po-dendo estes caminhos manter ainda a sua funccedilatildeo baacutesicaCom efeito apesar de maioritariamente se tratarem de monumentos com algum destaque na paisagem estes reusos natildeo podem ser explicados uni-camente pela monumentalidade dos sepulcros ndash como se atesta no caso da Anta dos Godinhos tratando-se de um pequeno monumento com impacto praticamente nulo na paisagem Neste caso haacute que encontrar outras expli-caccedilotildees para o seu reuso podendo estar relacionado com a sua posiccedilatildeo es-peciacutefica no contexto de uma via natural de tracircnsito no passo da Serra drsquoOs-sa sendo (conforme jaacute salientado em Mataloto et al 2015 p 73) o primeiro monumento que se encontra ao baixar da serra ou o uacuteltimo ao subir desde a planiacutecieDe qualquer maneira a manutenccedilatildeo destes laquoespaccedilos simboacutelicosraquo com a sua recuperaccedilatildeo e reintroduccedilatildeo nas paisagens socio-culturais legitima o seu caraacutecter como indicadores de um territoacuterio ocupado com estrateacutegias de ocupaccedilatildeo especiacuteficas em desenvolvimento possivelmente desde a pri-

388 |

meira metade do 4ordm mileacutenio ane nas quais o relevo da Serra drsquoOssa teraacute desempenhado papel fundamental

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICASALBERGARIA J DIAS A C (2000) ndash Antas de Elvas Lisboa IPPAR (Roteiros da Arqueo-logia Portuguesa)ANDRADE M A (2009) ndash Megalitismo e comunidades megaliacuteticas na aacuterea da Ribeira Grande (Alto Alentejo) definiccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo do fenoacutemeno de laquomegalitizaccedilatildeoraquo da paisagem na aacuterea austral do Norte alentejano Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2 vols policopiadoANDRADE M A (2010) ndash Rochas com laquocovinhasraquo no contexto do megalitismo alto-alente-jano o painel de Satildeo Domingos 2 (Fronteira) Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacute-nio Lisboa 6 p 7-14ANDRADE M A (2011) ndash Fronteira megaliacutetica algumas consideraccedilotildees gerais (enquanto as particulares natildeo estatildeo ainda disponiacuteveis) a respeito das laquonecroacutepoles megaliacuteticasraquo da aacuterea do Concelho de Fronteira In CARNEIRO A OLIVEIRA J ROCHA L MORGADO P (coords) ndash Arqueologia do Norte Alentejano Comunicaccedilotildees das 3as Jornadas Lisboa Ediccedilotildees Colibri p 63-82ANDRADE M A (2013) ndash Em torno ao conceito de necroacutepole megaliacutetica na aacuterea da Ri-beira Grande (Alto Alentejo Portugal) monumentos espaccedilos paisagens e territoacuterios In ARNAUD J M MARTINS A NEVES C (coords) ndash Arqueologia em Portugal 150 anos Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 417-426ANDRADE M A (2016) ndash Intervenccedilotildees de Manuel de Mattos Silva no Megalitismo da aacuterea de Avis 1 as antas de Satildeo Martinho e Assobiador (Maranhatildeo) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 19 p 41-62BOAVENTURA R (2006) ndash Os IV e III mileacutenios ane na regiatildeo de Monforte para aleacutem dos mapas com pontos os casos do cluster de Rabuje e do povoado com fossos de Moreiros 2 Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 9 2 p 61-74BOAVENTURA R (2011) ndash Chronology of megalithism in South-Central Portugal In GARCIacuteA SANJUAacuteN L SCARRE Ch WHEATLEY D W (eds) ndash Exploring Time and Matter in Prehistoric Monuments Absolute Chronology and Rare Rocks in European Megaliths Antequera Junta de Andaluciacutea (Menga Monograacutefica 1) p 159-190BOAVENTURA R MATALOTO R (2013) ndash Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cro-nologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 16 p 81-101BOAVENTURA R MATALOTO R ANDRADE M A NUKUSHINA D (2014-2015) ndash Es-tremoz 7 ou a Anta de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo dos Olivais (Estremoz Eacutevora) O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 5ordf seacuterie 45 p 171-231BUENO RAMIacuteREZ P (1988) ndash Los doacutelmenes de Valencia de Alcaacutentara Madrid Ministerio de Cultura (Excavaciones Arqueoloacutegicas en Espantildea 155)BUENO RAMIacuteREZ P BALBIacuteN BEHRMANN R BARROSO BERMEJO R ALDECOA QUIN-TANA M A CASADO MATEOS A B (1998) ndash Sepulcros megaliticos en el Tajo excavacioacuten y restauracioacuten de doacutelmenes en Alcaacutentara Caacuteceres Espantildea Ibn Maruaacuten Marvatildeo 8 p 135-182BUENO RAMIacuteREZ P BALBIacuteN BEHRMANN R BARROSO BERMEJO R ALDECOA QUIN-

| 389

| 2018

TANA M A CASADO MATEOS A B (1999) ndash Arte megaliacutetico en Extremadura los dol-menes de Alcantara Caacuteceres Espantildea Estudos Preacute-Histoacutericos Viseu 7 p 85-110BUENO RAMIREZ P BARROSO BERMEJO R VAacuteZQUEZ CUESTA A (2008) ndash The Beaker phenomenon and the funerary contexts of the International Tagus In BUENO RAMIREZ P BARROSO BERMEJO R BALBIacuteN-BEHRMANN (eds) ndash Graphical Markers and Mega-lithic Builders in the International Tagus Iberian Peninsula Oxford Archaeopress (BAR International Series 1765) p 141-155CALADO M (1993) ndash Carta arqueoloacutegica do Alandroal Alandroal Cacircmara MunicipalCALADO M (1994) ndash A necroacutepole dolmeacutenica do Monte Lucas (Terena Alandroal) In Ac-tas das V Jornadas Arqueoloacutegicas da Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses 2 p 125-131CALADO M (2001) ndash Da Serra drsquoOssa ao Guadiana um estudo de Preacute-Histoacuteria regional Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 19)CALADO M (2004) ndash Menires do Alentejo Central Geacutenese e evoluccedilatildeo da paisagem megaliacutetica regional Dissertaccedilatildeo de Doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 3 vols policopiadoCALADO M MATALOTO R (2001) ndash Carta Arqueoloacutegica do Redondo Redondo Cacircmara MunicipalCALADO M ROQUE C (2013) ndash Nova Carta Arqueoloacutegica do Alandroal Alandroal Cacircmara MunicipalCARTAILHAC M E (1886) ndash Les acircges preacutehistoriques de lrsquoEspagne et du Portugal Paris Ch Reinwald LibraireCORREIA V (1921) ndash El Neolitico de Pavia (Alentejo Portugal) Madrid Museo Nacional de Ciencias Naturales (ediccedilatildeo fac-similada 1999)COSTA F A P (1868) ndash Descripccedilatildeo de alguns dolmins ou antas de Portugal Lisboa Commissatildeo Geoloacutegica de PortugalDEUS A D VIANA A (1953) ndash Mais trecircs doacutelmens da regiatildeo de Elvas (Portugal) Zeph-yrus Salamanca 4 p 227-240DIAS M I KASZTOVSZKY Z S PRUDEcircNCIO M I VALERA A C MAROacuteTI B HARSAacuteNYI I KOVAacuteCS I SZOKEFALVI-NAGY Z (2017) ndash X-ray and neutron-based non-invasive ana- lysis of prehistoric stone artefacts a contribution to understand mobility and interaction networks Archaeological and Anthropological Sciences 457ESPANCA J J R (1894) ndash Estudos sobre as antas e seus congeacuteneres dissertaccedilatildeo archeo- logica Vila Viccedilosa Cacircmara MunicipalFERREIRA O V (1950) ndash Notas arqueoloacutegicas de Estremoz e Vila Viccedilosa A Cidade de Eacutevora Eacutevora 2122GARCIacuteA SANJUAacuteN L (2000) ndash Grandes Piedras Paisajes Sagrados PH Boletiacuten del Insti-tuto Andaluz del Patrimonio Histoacuterico Sevilla 31 p 171-178GARCIacuteA SANJUAacuteN L (2005) ndash Las piedras de la memoria La permanencia del Mega- litismo en el Suroeste de la Peniacutensula Ibeacuterica durante el II e I milenios ANE Trabajos de Prehistoria Madrid 62 1 p 85-109GIBSON C (2016) ndash Closed for business or cultural change Tracing the re-use and final blocking of megalithic tombs during the Beaker period In KOCH J T CUNLIFFE B (eds) ndash Celtic from the West 3 Atlantic Europe in the Metal Ages ndash question of shared language Oxford Oxbow Books p 103-110GONCcedilALVES V S (1992) ndash Revendo as antas de Reguengos de Monsaraz Lisboa

390 |

UNIARQ (Cadernos da UNIARQ 2)GONCcedilALVES V S (1999) ndash Reguengos de Monsaraz territoacuterios megaliacuteticos Lisboa Cacircmara Municipal de Reguengos de MonsarazGONCcedilALVES V S (2003) ndash STAM-3 a anta 3 da Herdade de Santa Margarida (Reguen-gos de Monsaraz) Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 32)KALB Ph (1994) ndash Reflexotildees sobre a utilizaccedilatildeo de necroacutepoles megaliacuteticas na Idade do Bronze In Actas do Seminaacuterio laquoO Megalitismo no Centro de Portugalraquo Viseu Centro de Estudos Preacute-Histoacutericos da Beira Alta (Estudos Preacute-Histoacutericos 2) p 415-426LEISNER G (1949) ndash Antas dos arredores de Eacutevora Eacutevora Ediccedilotildees Nazareth (Separata de A Cidade de Eacutevora 15-16 17-18)LEISNER G LEISNER V (1955) ndash Antas nas Herdades da Casa de Braganccedila no Con-celho de Estremoz Lisboa Fundaccedilatildeo da Casa de BraganccedilaInstituto para a Alta CulturaLEISNER G LEISNER V (1956) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel der Westen Berlin Walther de Gruyter amp Co 1 1LEISNER G LEISNER V (1959) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel der Westen Berlin Walther de Gruyter amp Co 1 2MATALOTO R (2005) ndash A propoacutesito de um achado na Herdade das Casas (Redondo) megalitismo e Idade do Bronze no Alto Alentejo Revista Portuguesa de Arqueologia Lis-boa 8 2 p 115-128MATALOTO R (2006) ndash Entre Ferradeira e Montelavar um conjunto artefactual da Fundaccedilatildeo Paes Teles (Ervedal Avis) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 9 2 p 83-108MATALOTO R (2007) ndash Paisagem memoacuteria e identidade tumulaccedilotildees megaliacuteticas no poacutes-megalitismo alto-alentejano Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 10 1 p 123-140MATALOTO R (2017) ndash We are ancients as ancient as the sun campaniforme antas e gestos funeraacuterios nos finais do 3ordm mileacutenio BCE no Alentejo Central In GONCcedilALVES V S (ed) ndash Sinos e Taccedilas Junto ao Oceano e mais longe Aspectos da presenccedila campani-forme na Peniacutensula Ibeacuterica Lisboa UNIARQFL-UL (Estudos amp Memoacuterias 10) p 58-81MATALOTO R ANDRADE M A PEREIRA A (2016-2017) ndash O Megalitismo das pequenas antas novos dados para um velho problema Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras 23 p 33-156MATALOTO R BOAVENTURA R (2010) ndash Anta da Vidigueira (Freixo Redondo) inter-venccedilatildeo de caracterizaccedilatildeo Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 13 1 p 5-24MATALOTO R BOAVENTURA R NUKUSHINA D VALEacuteRIO P INVERNO J SOARES R M RODRIGUES M BEIJA F (2015) ndash O sepulcro megaliacutetico dos Godinhos (Freixo Redondo) usos e significados no acircmbito do Megalitismo alentejano Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa 18 p 55-79MATALOTO R ROCHA L (2007) ndash O monumento do Caladinho (Redondo Eacutevora) estudo preliminar de um monumento megaliacutetico no Redondo Vipasca Aljustrel 2ordf seacuterie 2 (Ac-tas do III Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular) p 107-116MOITA I N (1956) ndash Subsiacutedios para o estudo do Eneoliacutetico do Alto Alentejo O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Nova seacuterie 3 p 135-176MORAIS J A D (1998) ndash Transumacircncia de gados serranos e o Alentejo Eacutevora Cacircmara Municipal (Novos Estudos Eborenses 3)

| 391

| 2018

NOGUEIRA P MOITA P BOAVENTURA R PEDRO J MAacuteXIMO J ALMEIDA L MA- CHADO S MATALOTO R PEREIRA A RIBEIRO S SANTOS J F (2015) ndash A spatial data warehouse to predict lithic sources of tombs from South of Portugal mixing geochemistry petrology cartography and archaeology in spatial analysis Comunicaccedilotildees Geoloacutegicas Lisboa 102 1 p 79-82OLIVEIRA J (1998) ndash Monumentos megaliacuteticos da bacia hidrograacutefica do Rio Sever Lis-boa Ediccedilotildees Colibri 1OLIVEIRA J (2006) ndash Patrimoacutenio arqueoloacutegico da Coudelaria de Alter e as primeiras co-munidades agropastoris Lisboa Ediccedilotildees ColibriUniversidade de EacutevoraPACcedilO A FERREIRA O V VIANA A (1957) ndash Antiguidades de Fontalva Neo-eneoliacutetico e eacutepoca romana Zephyrus Salamanca 8 p 111-133PARREIRA R (1996) ndash O conjunto megaliacutetico do Crato (Alto Alentejo) contribuiccedilatildeo para o registo das antas portuguesas Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto 2 vols policopiadoPEDRO J MOITA P BOAVENTURA R ALMEIDA L MACHADO S NOGUEIRA P MAacute- XIMO J MATALOTO R PEREIRA A RIBEIRO S SANTOS J F (2015) ndash Proveniecircncias no Neoliacutetico arqueometria em contextos geoloacutegicos distintos Comunicaccedilotildees Geoloacutegicas Lisboa 102 1 p 157-160PEREIRA G (1875) ndash Dolmens ou Antas dos arredores de Eacutevora Eacutevora Typ Francisco da Cunha BravoPEREIRA G (1879) ndash O dolmen furado da Candeeira Notas drsquoarcheologia Eacutevora Typ Francisco da Cunha BravoROCHA L (1999) ndash Povoamento Megaliacutetico de Pavia Contributo para o conhecimento da Preacute-histoacuteria regional Mora Cacircmara MunicipalROCHA L (2005) ndash Estudo do megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central a contribuiccedilatildeo de Manuel Heleno Dissertaccedilatildeo de Doutoramento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 2 vols policopiadoROCHA L DUARTE C (2009) ndash Megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central os dados antropoloacutegicos das escavaccedilotildees de Manuel Heleno In POLO CERDAacute GARCIacuteA-PROacuteSPER E (eds) ndash Investigaciones histoacuterico-meacutedicas sobre salud y enfermedad en el passado Actas del IX Congreso Nacional de Paleopatologia Valecircncia Grupo Paleolab amp Sociedad Espantildeola de Paleopatologia p 763-781SILBERT A (1978) ndash Le Portugal meacutediterraneacuteen agrave la fin de lrsquoAncien Reacutegime XVIIIe-Deacutebut du XIXe sieacutecle Contribution agrave lrsquohistoire agraire compareacutee Lisboa INICSILVA J P (1878) ndash Novos monumentos megaliacutethicos em Portugal Boletim da Real As- sociaccedilatildeo dos Architectos Civis e Archeoacutelogos Portuguezes Lisboa 2ordf seacuterie 2 6 p 90-91TEJEDOR RODRIacuteGUEZ C (2008) ndash El monumento en el tiempo planteamento teoacuterico y metodoloacutegico para el anaacutelisis de las reutilizaciones megaliacuteticas In Actas de las I Jornadas de Joacutevenes en Investigacioacuten Arqueoloacutegica Dialogando con la Cultura Madrid Compantildeia Espantildeola de Repografiacutea y Servicios 2 p 441-448TEJEDOR RODRIacuteGUEZ C (2013) ndash La pervivencia de los laquousos megaliacuteticosraquo en el Valle del Duero a lo largo de la Prehistoria Reciente (III-II milenio aC) Una aproximacioacuten al estudio en la regioacuten del Alto Douro In SASTRE BLANCO J C CATALAacuteN RAMOS R FUENTES MELGAR P (coords) ndash Arqueologiacutea en el Valle del Duero Del Neoliacutetico a la Antiguumledad Tardiacutea nuevas perspectivas Madrid Ediciones de la Ergaacutestula p 33-40VASCONCELLOS J L (1897) ndash Religiotildees da Lusitacircnia Lisboa Imprensa Nacional 1

392 |

VASCONCELLOS J L (1916) ndash Entre Tejo e Odiana O Archeoacutelogo Portuguecircs Lisboa 1ordf seacuterie 21 p 152-195VIANA A DEUS A D (1952) ndash Exploracioacuten de algunos dolmenes de la regioacuten de Elvas Portugal In Croacutenica del II Congreso Arqueoloacutegico Nacional Madrid Zaragoza Secretariacutea Nacional de los Congresos Arqueologicos Nacionales p 185ndash201VIANA A DEUS A D (1955) ndash Notas para o estudo dos doacutelmens da regiatildeo de Elvas Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto Nova Seacuterie 15 3-4 p 143-189VIANA A DEUS A D (1957) ndash Mais alguns doacutelmens da regiatildeo de Elvas (Portugal) In Congreso Arqueoloacutegico Nacional 4 Burgos 1955 Zaragoza Secretariacutea General de

| 393

| 2018

Muitas antas e muita gente As relaccedilotildees entre os recintos de fossos e os monumentos megaliacuteticos no Alentejo Central

Lots of dolmens and lots of people The relations between ditched enclosures and megalithic monuments in Alentejo Central

RESUMOEm Portugal mais concretamente na regiatildeo centro-alentejana o universo fu-neraacuterio das sociedades camponesas do 4ordm e 3ordm mileacutenio ane foi tratado ateacute aos finais da deacutecada de rsquo90 do seacuteculo passado separadamente do ldquomundo dos vivosrdquo Tal devia-se por um lado agrave visibilidade dos monumento megaliacuteti-cos na paisagem e por outro lado aos diferentes trabalhos que lhes foram di-rigidos especificamente dos quais se destaca o do casal Leisner no concelho de Reguengos de Monsaraz (Leisner amp Leisner 1985) O potencial informativo dos ldquopovoadosrdquo e das antas era de tal forma desequili-brado que foram organizados encontros cientiacuteficos sob a temaacutetica ldquoMuitas an-tas pouca genterdquo (Gonccedilalves 2000) contraditadas apoacutes a descoberta dos Perdigotildees e apoacutes a execuccedilatildeo dos trabalhos de minimizaccedilatildeo de impactes na aacuterea do regolfo da Barragem de Alqueva com o binoacutemio ldquoMuita gente poucas antasrdquo (Gonccedilalves 2003) O reconhecimento na primeira deacutecada do seacuteculo XXI de dezenas de recintos de fossos alterou definitivamente o paradigma ateacute entatildeo conhecido sendo possiacutevel afirmar hoje que na regiatildeo centro-alentejana havia muita gente e por isso muitas antas natildeo obstante a ausecircncia de estudos especiacuteficos sobre a demografia preacute-histoacutericaNa presente comunicaccedilatildeo pretende-se debater as relaccedilotildees espaciais entre os recintos de fossos e os monumentos megaliacuteticos alentejanos procurando in-ferir os comportamentos sociais dos grupos que ocupavam esta aacuterea geograacute-fica atraveacutes dos dados empiacutericos disponiacuteveisPALAVRA-CHAVE SW Peninsular Recintos de fossos Megalitismo Relaccedilotildees espaciais

Filipa Rodrigues1

1Crivarque Lda UNIARQ ndash FLUL STEA ndash Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia

394 |

ABSTRACTThis paper aims to discuss the spatial analysis between ditched enclosures and megalithic monuments in Alentejo Central in order to infer the social beha- viors of groups that occupied this region during the Late Neolithic periodKEY WORDS SW Iberia Ditched Enclosures Megalithism Spatial Analysis

1 INTRODUCcedilAtildeO A actual regiatildeo centro-alentejana2 despertou desde muito cedo o interesse de vaacuterios arqueoacutelogos nacionais e estrangeiros que nela reconheceram um enorme potencial para a investigaccedilatildeo sobre as comunidades preacute-histoacutericas traduzido desde logo pela identificaccedilatildeo de inuacutemeros monumentos megaliacuteti-cos funeraacuterios Eacute neste contexto de produccedilatildeo cientiacutefica que o Alentejo Central eacute elevado ao estatuto de territoacuterio paradigmaacutetico do megalitismo funeraacuterio portuguecircs estando reconhecidos cerca de 130 monumentos megaliacuteticos A par destes conhecem-se ainda cromeleques e menires isolados que embora possam ter nalguns casos cronologias antigas dentro da diacronia neoliacutetica partilharam o espaccedilo com os seus congeacuteneres funeraacuterios Numa fase mais recente da investigacatildeo outros tipos de siacutetios quer relacio-nados com o ldquomundo dos mortosrdquo quer relacionados com o ldquomundos dos vivosrdquo surgiram nesta regiatildeo Eacute o caso dos hipogeus da Sobreira de Cima (Va- lera 2013) e das gravuras rupestres identificadas no Santuaacuterio Exterior do Escoural ou nas margens do Guadiana que demonstram que esta regiatildeo foi palco de vaacuterios cenaacuterios de vivecircncia ao longo de toda a Preacute-Histoacuteria Recente Todos estes siacutetios normalmente conectados com as manifestacotildees simboacuteli-cas e a vertente ideoteacutecnica das comunidades preacute-histoacutericas encontram-se ao lado de uma rede de povoamento ainda mal conhecida De facto ateacute ao momento conhecem-se alguns ldquopovoados abertosrdquo e raros ldquopovoados forti-ficadosrdquo sendo esta lacuna aparentemente preenchida pela proliferacatildeo de recintos de fossos que na uacuteltima deacutecada tecircm sido dados a conhecer quer atra- veacutes de escavacotildees arqueoloacutegicas quer atraveacutes do seu reconhecimento por fo-tografia aeacutereaNesta regiatildeo a construccedilatildeo dos recintos de fossos tem iniacutecio na uacuteltima eta-pa do Neoliacutetico ou seja durante a segunda metade do 4ordm mileacutenio ane e emerge de um processo histoacuterico caracterizado pelabull comprovada mobilidade populacional entre a Estremadura e o Alentejo privilegiando o contacto entre o litoral e o interior com forte interacatildeo intra e intergrupal considerando os resultados das anaacutelises paleogeneacuteticas e isotoacutepi-cas realizadas no Algar do Bom Santo (Carvalho 2014) 2 Regiatildeo artificial recentemente criada que de um modo geneacuterico se circunscreve ao distrito de Eacutevora Do ponto de vista paisagiacutestico e geomorfoloacutegico corresponde agrave planiacutecie alentejana estando neste trabalho delimitada a Norte pela Serra de Ossa a Oeste pela Sera de Monfurado a Sul pela Serra do Mendro utilizando-se como limite Este a fronteira poliacutetica do paiacutes

| 395

| 2018

bull ldquoterritorializacatildeo da paisagemrdquo atraveacutes da construcatildeo dos monumentos funeraacuterios megaliacuteticos normalmente conectado com um aumento demograacutefi- co e complexificacatildeo social considerando a anaacutelise das dataccedilotildees absolutas documentadas para o fenoacutemeno megaliacutetico3 (Boaventura amp Mataloto 2013)Ainda que de forma desigual neste momento estatildeo disponiacuteveis dados empiacuteri-cos provenientes de 11 recintos de fossos crono-culturalmente integrados no designado Neoliacutetico Final sendo eles bull Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) (Rodrigues 2008 2013 e 2015) bull Moreiros 2 (Monforte Portalegre) (Boaventura 2006 Valera Becker amp Boaventura 2013) bull Cabeco do Torratildeo (Elvas Portalegre) (Lago amp Albergaria 2001) bull Paraiacuteso (Elvas Portalegre) (Mataloto amp Costeira 2008 e 2009 Mataloto et alii 2011) bull Juromenha 1 (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Mataloto 1998 Mataloto amp Boaventura 2009) bull Malhada das Mimosas (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Rocha 2000) bull Aacuteguas Frias (Alandroal Eacutevora) (Calado amp Rocha 2004) bull Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz Eacutevora) (Lago et alii 1998 Valera 2008 Valera 2010 Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) bull Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) (Arnaud 1993 Valera amp Filipe 2004 (Santos et alli 2014) bull Fareleira 3 (Vidigueira Beja) (Figueiredo 2013) bull Igreja Velha de Satildeo Jorge (Serpa Beja) (Soares 1994 e 1996) (v Fig 1)4

3 Neste caso importa referir as dataccedilotildees aferidas para a ocupaccedilatildeo realizada anteriormente agrave construccedilatildeo do monumento 2 de Vale Rodrigo que de acordo com Boaventura e Mataloto (2013) estabelecem ldquo[] momentos de termini post quosrdquo de-marcando o iniacutecio de uma Fase 1 do ldquoprocesso de megalitizaccedilatildeordquo Ua 10830 3940 ndash 3250 cal BC e KIA 31381 3940-3700 cal BCE) (Armbruester 2006 e 2007)

Figura 1

396 |

Destes 11 apenas cinco se encontram datados pelo radiocarbono ndash Moreiros 2 Juromenha 1 Igreja Velha de Satildeo Jorge Porto Torratildeo e Perdigotildees Se por um lado as distribuiccedilotildees de probabilidades entre as dataccedilotildees mais antigas e com maior grau de fiabilidade de cada recinto mencionado natildeo permitem admitir de imediato a sua sincronia por outro lado tambeacutem natildeo permitem rejeitaacute-la existindo uma estreita janela que possibilita o seu tratamento em simultacircneo (v Fig 2) Havendo uma evidente analogia entre o espoacutelio reco- lhido nos cinco recintos datados e os restantes seis e partindo do princiacutepio que a anaacutelise sobre estes siacutetios tem de comeccedilar por algum lado ainda que com fragilidades claramente assumidas os onze recintos foram tratados para efeitos do presente trabalho de forma sincroacutenica

Assim natildeo sendo o objectivo deste texto debater a funcionalidade dos recintos de fossos identificados na regiatildeo alentejana mas sim compreender a sua relaccedilatildeo com os monumentos megaliacuteticos reconhecidos no seu entor-no imediato pretende-se com o presente exerciacutecio responder agraves seguintes questotildees1) existem aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteti-cos e se sim estatildeo associadas aos recintos de fossos

4 Devido agrave escassez de dados sobre esta temaacutetica especiacutefica foram considerados os recintos de fossos do Porto Torratildeo Fareleira 3 e Igreja Velha de Satildeo Jorge localizados no Baixo Alentejo e natildeo na regiatildeo centro-alentejana conforme se indica desde logo no tiacutetulo deste trabalho

Figura 2

| 397

| 2018

2) a presenccedila dos recintos de fossos inibiu a construccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos nas suas aacutereas directas de accedilatildeo3) como eacute que se efectua a gestatildeo da morte nos recintos de fossos do Neoliacuteti-co Final e quais as inferecircncias sociais que daiacute advecircem

Desta forma nos proacuteximos pontos seratildeo descritos (i) a metodologia uti-lizada para atingir os objectivos previamente definidos (ii) quais os resulta-dos obtidos e (iii) as primeiras leituras sociais que se podem efectuar

2 METODOLOGIA De modo a responder agraves questotildees delineadas recorreu-se aos Sistemas de Informaccedilatildeo Geograacutefica (SIG) mais concretamente ao programa ArcGis 93 para efectuar uma anaacutelise espacial da implantaccedilatildeo quer dos recintos de fos-sos enquanto unidades de estudo individuais quer dos recintos associados aos monumentos megaliacuteticos existentes no seu entorno imediatoTodos os siacutetios arqueoloacutegicos em apreccedilo foram devidamente implantados numa base cartograacutefica digital que teve por base as Cartas Militares de Por-tugal agrave escala 125 000 o que significa que o resultado obtido considera curvas de niacutevel distanciadas entre si 10m A implantaccedilatildeo dos siacutetios foi rea- lizada mediante as coordenadas disponiacuteveis quer na bibliografia quer no inventaacuterio geral de siacutetios arqueloacutegicos produzido pela Direcccedilatildeo-Geral do Pa- trimoacutenio Cultural ndashEndoveacutelicoApoacutes esta implantaccedilatildeo implementou-se em torno de cada recinto de fossos um buffer de 5km utilizando como referencia teoacuterica de partida os criteacuteri-os claacutessicos estabelecidos por Higgs e Vitta-Finzi (1972) que definiram a partir de estudos etnograacuteficos que as sociedades agropastoris plenamente sedentarizadas natildeo exploram territoacuterios que se localizem a uma distacircncia superior a essa a partir do lugar de povoamento No entanto apreciando o atual estado do conhecimento acerca dos recintos de fossos do SW Penin-sular considerou-se pertinente estabelecer fronteiras mais latas na ordem dos 10 km (normalmente associadas agraves sociedades de caccediladores recolecto-res) natildeo tanto para perceber que aacutereas do territoacuterio foram economicamente exploradas mas sim eventuais redes de contacto entre siacutetios partindo do princiacutepio de que em determinado momento estes poderatildeo ter sido sincroacuteni-cos Esta opccedilatildeo justifica-se pelos recentes dados empiacutericos referentes ao periacuteodo imediatamente antecedente - o Neoliacutetico Meacutedio - que revelaram uma grande mobilidade das populacotildees conquanto para o Neoliacutetico Final e Calcoliacutetico da regiatildeo de Torres Vedras (portanto mais proacuteximas cronologica-mente das aqui estudadas) se possa concluir por uma notaacutevel reducatildeo da mobilidade humana a julgar pelos dados publicados por Watermann et alii

398 | 5 ldquoPastos Naturais satildeo comunidades vegetais compostas de espeacutecies herbaacuteceas ou lenhosas (ou ambas)1113088 que produzempastagem principalmente utilizada como alimento pelos animais domeacutesticos Podem ser cultivados conhecidos como pastos agriacutecolas ou podem natildeo ser cultivados conhecidos como pastos permanentes ou pastagens naturaisrdquo (Papanastasis V P (sd)

(2013) Ao mapa dos recintos de fossos devidamente delimitados pelos buffers de 5 e 10km acrescentou-se os dados geograacuteficos referentes agraves antas inventa- riadas num raio de 20 km em torno dos siacutetios em anaacutelise de modo a obter uma imagem espacial de ambas as realidades De referir que este mapa natildeo considera1) a vertente temporal das antas e dos recintos ou seja assume-se na sua execuccedilatildeo a sincronia entre todos os monumentos megaliacuteticos e entre estes e todos os recintos de fossos em apreccedilo o que natildeo corresponde agrave verdade histoacuterica fundamentalmente este desvio arqueograacutefico adveacutem (1) da na-tureza de muitos trabalhos sobre os monumentos megaliacuteticos correspon-dentes agrave sua identificaccedilatildeo ndash prospeccedilatildeo ndash sem escavaccedilatildeo arqueoloacutegica as- sociada que permita a aquisiccedilatildeo de uma cronologia fina para a sua utilizaccedilatildeo e por conseguinte (2) a ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que possibilitem estabelecer eventuais relaccedilotildees de contemporaneidade entre siacutetios o que provoca uma imagem artificial distorcida e condensada2) alguns monumentos megaliacuteticos mais recentes nomeadamente os que se conhecem em torno do recinto de fossos do Porto Torratildeo ndash nuacutecleo de tholoi da Horta do Joatildeo da Moura (Pereiro 2010 Corga amp Ferreira 2011 informaccedilatildeo pessoal de Raquel Santos ndash Neoeacutepica) Monte do Cardim 6 (Fi- gueiredo 2009) e Monte do Pombal (Dias amp Figueiredo 2009)3) as formas ldquosubterracircneasrdquo de megalitismo funeraacuterio ndash hipogeus ndash conhe-cidos quer na Sobreira de Cima (Valera 2013) quer em torno do Porto Tor-ratildeo ndash Monte do Carrascal (Santos 2010 Neves amp Mendes 2011) ndash sendo este uacuteltimo bastante relevante para a anaacutelise da emergecircncia dos recintos de fossos do Neoliacutetico Final pelo que seraacute analisado particularmente adiante

3 RESULTADOS 31 A relaccedilatildeo entre recintos de fossosPara melhor compreensatildeo dos dados obtidos na anaacutelise espacial ldquorecintos de fossos ndash antasrdquo impora efectuar uma breve descriccedilatildeo dos resultados ob-tidos na anaacutelise da implantaccedilatildeo de cada recinto de fossos em apreccedilo (natildeo demonstrados no presente trabalho uma vez que esse natildeo eacute o objectivo que se pretende atingir)

Assim nos 11 siacutetios analisados atraveacutes dos SIG verificou-se a sistemaacutetica implantaccedilatildeo em lugares planos ou com declives suaves sendo as inclinaccedilotildees orientadas a Sul ou Sudeste congregando algumas das condiccedilotildees essen- ciais e fundamentais para a execuccedilatildeo das actividades agriacutecolas que estatildeo na base da economia das sociedades neoliacuteticas A anaacutelise das condiccedilotildees

| 399

| 2018

ambientais a 5km e 10km permitiu ainda constatar a presenccedila de territoacute- rios aptos para diferentes praacuteticas pecuaacuterias ndash pastos naturais5- passiacuteveis de constituir verdadeiras paisagens pastoris6 (Rodrigues 2015)

Mas se a anaacutelise das condiccedilotildees de implantaccedilatildeo revelam uma conjun-tura especiacutefica que conduz agrave fixaccedilatildeo das comunidades construtoras dos recintos de fossos visando uma estrateacutegia econoacutemica previamente esta-belecida tambeacutem demonstra preocupaccedilotildees de controlo de territoacuterio e de comunicaccedilatildeo intergrupal

O nuacutemero consideraacutevel de siacutetios jaacute identificados a Norte da Serra de Portel permite a ponderaccedilatildeo de um eixo de controlo territorial no sentido N S que nas regiotildees a Sul desse relevo ainda natildeo estaacute comprovado mas que eacute sugerido atraveacutes da posiccedilatildeo geograacutefica dos recintos Neste caso a existecircncia de uma organizaccedilatildeo territorial idecircntica teria uma orientaccedilatildeo no sentido W-E

Assim no designado ldquoeixo N-Srdquo reconhece-se (1) uma grande pro- ximidade fiacutesica entre siacutetios praticamente constante (2) a sobreposiccedilatildeo de aacutereas de intersecccedilatildeo (eventualmente correspondente a zonas de inte- racccedilatildeo grupal) bastante semelhantes (3) assim como a intervisibilidade entre recintos o que permite a assunccedilatildeo de uma base poliacutetica comum que se organiza de forma estrateacutegica para melhor controlar um territoacuterio que por ancestralidade eacute seu (v Fig 3)

Figura 3 6 ldquoPaisagens pastoris satildeo terras heterogeacuteneas compostas por uma variedade de comunidades de plantas em que todas ou a grande maioria satildeo frequentadas e utilizadas como pasto para o gado Por outras palavras as paisagens pastoris incluem mais do que um tipo de pastos espalhados numa aacuterea especiacutefica e utilizados por uma ou mais espeacutecies de gadordquo (Papanas-tasis V P (sd)

400 |

32 A relaccedilatildeo entre recintos de fossos e monumentos megaliacuteti-cos funeraacuteriosDa cartografia geral produzida (Fig 4) sobressai a disparidade entre o nuacutemero de monumentos megaliacuteticos situados a Norte da Serra de Portel e a escassez registada a Sul deste maciccedilo montanhoso A explicaccedilatildeo para tal fenoacutemeno poderaacute estar relacionada com as condicionantes geoloacutegicas das regiotildees verificando-se a Norte uma zona predominante-mente graniacutetica com disponibilidade de mateacuteria-prima para a execuccedilatildeo dos monumentos e a Sul uma carecircncia destes materiais tendo as so-ciedades preacute-histoacutericas procurado soluccedilotildees alternativas tais como a es-cavaccedilatildeo de hipogeus Regista-se assim um nuacutemero muito limitado de monumentos em torno dos recintos de fossos localizados na zona Sulbull dentro dos buffers do Porto Torratildeo natildeo haacute qualquer monumento dolmeacutenico identificado estando no entanto registadas diferentes for-mas de tratamento dos mortos como se veraacute numa discussatildeo adiante ndash tholoi hipogeus enterramentos em fossos despejo de restos humanos no interior do fossos delimitadores do recintobull nas aacutereas de exploraccedilatildeo do recinto de fossos da Fareleira 3 registam-se apenas dois monumentos megaliacuteticos integrados no buffer de 10 kmbull junto ao recinto de fossos da Igreja Velha de Satildeo Jorge registam-se dois monumentos megaliacuteticos ndash Monte da Velha 1 e Monte da Velha 2 (Soares amp Arnaud 1984 Soares 2008) ndash localizados a uma distacircncia inferior a1km do siacutetio em apreccedilo Situaccedilatildeo completamente oposta eacute a que se verifica nos recintos de fos-sos a Norte da Serra de Portel onde parece haver um pleno ldquoconviacuteviordquo entre ambas as formas de apropriaccedilatildeo dos territoacuterios sem que uma ex-clua a outra Por outras palavras existe uma ldquoharmoniardquo entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo ldquo[] onde o rito se conforma com o haacutebitordquo (Boaventura amp Mataloto 2013 84) Assim em torno de cada recinto em anaacutelise encontram-se monumentos megaliacuteticos quer dentro do buffer de 5km quer dentro do buffer de 10km o que demonstra que independentemente de haver ou natildeo sincronia nas construccedilotildees e nas utilizaccedilotildees a presenccedila de um recinto ou a presenccedila de um monumento megaliacutetico natildeo foi impeditiva que outras construccedilotildees similares posteri-ores ou simultacircneas tivessem lugar Ou seja haacute uma sobreposiccedilatildeo no espaccedilo entre todos os elementos analisados- recintos de fossos e monu-mentos megaliacuteticos - em plena convivecircncia territorialA elaboraccedilatildeo de Cartas de Visibilidades Acumuladas para cada um dos recintos de fossos e respectivos monumentos megaliacuteticos situados num

| 401

| 2018

raio de 10 km em torno dos primeiros permitiu ainda aferir que todos os siacutetios satildeo visiacuteveis entre si sendo possiacutevel assumir que os construtores de antas satildeo os contrutores dos recintos de fossos e vice-versa (Fig 6 7 8 e 9)Esta ocupaccedilatildeo massiva do territoacuterio sem qualquer termo comparativo com os periacuteodos antecedentes torna-se assim consentacircnea natildeo soacute com a ideia de um aumento demograacutefico exponencial na regiatildeo mas tambeacutem com a efectiva sedentarizaccedilao dos grupos humanos que satildeo cada vez mais in- tervenientes e modeladores da paisagem que os rodeia territorializando-a e reclamando-a para si Este espaccedilo natildeo soacute eacute o lugar que habitam mas eacute tambeacutem o lugar onde se eterniza a sua ancestralidade

Figura 4

402 |

Figura 6

Figura 5

| 403

| 2018

Figura 7

Figura 8

404 |

No que respeita agraves atividades funeraacuterias que estatildeo diretamente associa-das aos recintos de fossos conhecem-se dados provenientes daqueles que satildeo os lugares com a diacronia de ocupaccedilatildeo mais ampla os Per-digotildees e o Porto Torratildeo Quer num quer noutro siacutetio satildeo conhecidas dife- rentes actividades funeraacuterias e respectivo tratamento dos mortos Mas se para o primeiro caso ndash Perdigotildees ndash tem vindo a ser colocada a questatildeo de ldquo[] os Perdigotildees [] serem essencialmente um siacutetio de gestatildeo simboacutelica e praacutetica da morte e da vida um cenaacuterio para as mais variadas praacuteticas sociais ritualizadas [] para o qual nos falta uma designaccedilatildeo concreta pe- rante a cada vez maior desadequaccedilatildeo operativa de conceitos como povoa-do necroacutepole monumento etc pelo caraacutecter compartimentador e exclusivo que encerramrdquo (Valera amp Godinho 201037) para o segundo siacutetio ndash Porto Torratildeo ndash os dados revelam a criaccedilatildeo de aacutereas de necroacutepole bem definidas fora do periacutemetro delineado pelo sistema de fossos identificado (Rodrigues 2014) Analisando ambos os casos1 Complexo Arqueoloacutegico dos PerdigotildeesNo uacuteltimos anos tecircm sido identificadas no interior do Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees diferentes ocorrecircncias que induzem os seus investigadores

Figura 9

| 405

| 2018

a assumir uma diversidade de praacuteticas funeraacuterias a saber ldquo[] deposiccedilotildees primaacuterias manipulaccedilatildeo poacutes-deposiccedilatildeo primaacuteria trasladaccedilotildees e deposiccedilotildees secundaacuterias cremaccedilotildees deposiccedilotildees em fossa deposiccedilotildees em fossos de-posiccedilotildees em sepulcros de tradiccedilatildeo megaliacuteticardquo (Valera amp Godinho 201037) cuja compreensatildeo passa por ldquo[] linking them to the ideological principles that are present in (and reinforced by) the location of the site and the mea- ningful relationship it establishes with the local landscape (both terrestrial and celestial) as well as in the architectonic design of the enclosures or in the practices of filling ditches and pits with intentional and formal depositsrdquo (Valera Silva amp Maacuterquez Romero 2014) Estes dados tecircm levado os investi-gadores do siacutetio a afastar a ideia de uma compartimentaccedilatildeo espacial entre ldquomundo dos vivosrdquo e ldquomundo dos mortosrdquo e a encarar os recintos de fossos do SW Peninsular como locais que poderatildeo ter sofrido um ldquo[] fenoacutemeno de ldquonecropolizaccedilatildeordquo (Valera amp Godinho 201037) O mais recente estudo acerca da temporalidade deste siacutetio permitiu esta-belecer diferentes etapas cronoloacutegicas da sua construccedilatildeo estando incluiacutedas nesta situaccedilatildeo as distintas estruturas com contextos funeraacuterios associados Este exerciacutecio assume especial importacircncia quando se pretende verificar se os restos humanos estatildeo (1) ldquoespalhadosrdquo ou ldquoconcentradosrdquo em determi-nadas aacutereas do recinto ou (2) se acompanham a evoluccedilatildeo arquitectoacutenica do siacutetio podendo-se definir eventuais aacutereas interiores ou exteriores de uti-lizaccedilatildeo Obviamente este tipo de exerciacutecio deteacutem agrave luz dos conhecimen-tos actuais alguns obstaacuteculos significativos vinculados ao facto de ainda existirem estruturas delimitadoras a escavar e a datar Poreacutem os dados empiacutericos disponiacuteveis devem ser analisados com as devidas salvaguar-das de forma a natildeo se cair na posiccedilatildeo de impasse de nada propor e de nada interpretar Assim quando confrontada a imagem proporcionada pe-los trabalhos de prospeccedilatildeo geofiacutesica onde foram devidamente implantados os contextos funeraacuterios identificados ateacute ao momento com o esquema de fases de construccedilatildeo arquitetoacutenica atestado atraveacutes da bateria de dataccedilatildeo radiomeacutetricas verifica-se que grande parte das atividades funeraacuterias que tiveram lugar neste recinto encontravam-se fora da aacuterea delimitada pelos fossos agrave eacutepoca em que foram realizadas Ou seja aparentemente as de-posiccedilotildees em fossa do Neoliacutetico Final encontram-se afastadas daquele que eacute o nuacutecleo central do recinto correspondente agrave aacuterea ativa nesta eacutepoca natildeo havendo assim uma relaccedilatildeo direta entre o que se passava no seu interior e as atividades funeraacuterias que tiveram lugar no seu exterior Ou seja ava- liando os dados empiacutericos permitidos pela leitura arquitetoacutenica elaborada pelos investigadores as actividades funeraacuterias datadas do Neoliacutetico Final

406 |

natildeo estatildeo diretamente associada agraves atividades intrassiacutetio pelo que natildeo se pode relacionar a fundaccedilatildeo desse recinto de fossos com o simbolismo as-sociado agraves praacuteticas funeraacuterias Refira-se tambeacutem que se no caso das estru-turas megaliacuteticas de tipo tholoi existe uma relaccedilatildeo (1) com as orientaccedilotildees da entradas conhecidas (2) com a dicotoacutemica relaccedilatildeo Este Oeste (3) assim como com a presenccedila do cromeleque a Este jaacute para os enterramentos em fossa do Neoliacutetico Final esse simbolismo natildeo pode ser aplicado de modo categoacuterico Efetivamente estes contextos localizam-se a Noroeste num local afastado dos sepulcros de tipo tholoi Ou seja as associaccedilotildees que tecircm vindo a ser reclamadas perdem assim o sentido deixando cair os significados que se pretendem vislumbrar 2 Porto TorratildeoTambeacutem neste siacutetio foram reconhecidas diferentes atividades funeraacuterias que agrave exceccedilatildeo dos contextos de cremaccedilatildeo em tudo se assemelham ao que jaacute foi descrito para os Perdigotildees Associados agravequele que eacute o maior recinto de fossos conhecido na aacuterea em apreccedilo reconhecem-se diferentes modos de tratamento dos mortos enterramentos em fossa (Rebelo 2009 Rebuge Saacute amp Cheney 2010 Neto et alii 2013) enterramentos em monumentos funeraacuterios de tipo tholoi e hipogeus (Dias amp Figueiredo 2009 Figueiredo 2009 Pereiro 2010 Neves amp Mendes 2011 Corga amp Ferreira 2011) e de-posiccedilatildeo de restos humanos no interior de fossos (Rodrigues 2014)Atestada essa diversidade que evidenciava diferentes localizaccedilotildees espa-ciais torna-se imperativo perceber se haveria aacutereas preferenciais de de-posiccedilatildeo dos restos humanos independentemente do tipo de tratamento que haviam sofrido (deposiccedilatildeo primaacuteria secundaacuteria com sem ritual) O tratamento estatiacutestico do nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos presentes em cada um dos contextos permitiu a perceccedilatildeo de que ldquodespite the fact that human remains apear throughout the entire archaeological complex there is a clear prevalence of this type of context outside the enclosed area And that is com-patible with the notion of a relatively well bounded necropolis Not in a par-ticular place (there are funerary monuments on the East and South sides of the enclosed area) but markedly out the enclosed areardquo (Rodrigues 2014) A descriccedilatildeo acima exposta reflete o cocircmputo dos contextos funeraacuterios iden-tificados neste siacutetio independentemente da sua cronologia No entanto se estes dados forem restringidos apenas agrave cronologia em apreccedilo a situaccedilatildeo natildeo difere Dos diferentes siacutetios onde foram identificados enterramentos e restos humanos o conjunto de hipogeus do Monte do Carrascal eacute aquele que apresenta uma cronologia enquadrada na etapa final do Neoliacutetico

| 407

| 2018

(Neves amp Mendes 2011) sendo igualmente o local de enterramento com o nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduoas mais elevado o que mais uma vez re- vela que eacute fora das aacutereas definidas pelos recintos que se processa grande parte das actividades funeraacuterias destas comunidades Haacute no entanto uma excepccedilatildeo correspondente a um enterramento em fossa identificado na aacuterea intrafossos que pode ser cronologicamente enquadrado no Neoliacutetico Final (Neto et alii 2013) Apesar de natildeo se saber qual a relaccedilatildeo temporal entre os hipogeus do Monte do Carrascal e o enterramento em fossa do Porto Torratildeo eacute notoacuterio que haacute tratamento diferencial de determinados indiviacuteduos quer no que respeita ao ritual e lugar de enterramento quer no que respeita agrave sua individualidade

4 PRIMEIRAS LEITURASA recente identificaccedilatildeo de muacuteltiplas formas de sepultar tratar os mortos identificadas quer nos recintos de fossos quer nas suas aacutereas mais proacuteximas demonstram que as actividades funeraacuterias dos gru-pos do final do Neoliacutetico na regiatildeo do Alentejo natildeo satildeo exclusivas das antas mas aplica-se igualmente aos monumentos subterracirc-neos ndash os hipogeus ndash aos enterramentos em fossa agraves cremaccedilotildees e ao despejo literal de partes de restos humanos para o interior de estruturas negativas (fossos) Ainda que haja problemas associa-dos agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas que atestem quer o iniacutecio des- tas actividades quer a sua contemporaneidade estaacute corroborada a diver-sidade que eventualmente pode assumir contornos sociais conectaacuteveis com as relaccedilotildees intra e intergrupaisConsiderando os dois casos especiacuteficos acima expostos ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash estatildeo evidenciadas duas situaccedilotildees inegaacuteveisbull aumento demograacutefico demonstrado no nuacutemero significativo de contex-tos funeraacuterios que natildeo tecircm qualquer termo comparativo com as eacutepocas precedentes embora natildeo existam estudos demograacuteficos aprofundados acredita-se que esta circunstacircncia soacute eacute possiacutevel porque haacute definitivamente mais gente sedentarizada neste territoacuterio a partir do Neoliacutetico Finalbull diversidade no tratamento dos mortos natildeo obstante a coesatildeo cultural verificada no ldquomundo dos vivosrdquo verificado nas arquiteturas (ldquopovoadosrdquo monumentos megaliacuteticos recintos de fossos) na cultura material (con-juntos ceracircmicos induacutestria liacuteticas artefactos ideoteacutecnicos) e nas estrateacute-gias de subsistecircncia (economia mista de produccedilatildeo de alimentos e ati- vidades cinegeacuteticas eventualmente associada agrave recoleccedilatildeo de recursos silvestres)

408 |

Quanto agraves questotildees previamente definidas1) A macro anaacutelise efectuada natildeo permite aferir aacutereas preferenciais para a construccedilatildeo das antas em torno dos recintos de fossos em estudo contudo ao avaliar-se os siacutetios sobre os quais existe mais informaccedilatildeo ndash Perdigotildees e Porto Torratildeo ndash observa-se que durante a etapa final do Neoliacutetico os grupos construtores de recintos optaram por realizar as suas actividades funeraacuterias nas imediaccedilotildees desses lugares2) Apesar dos imensos desvios arqueograacuteficos que podem existir neste exerciacutecio devido fundamentalmente agrave ausecircncia de dataccedilotildees absolutas ve- rifica-se que a construccedilatildeo preacutevia de qualquer um dos elementos arquitecoacuteni-cos em anaacutelise natildeo inibiu a construccedilatildeo do outro as imagens produzidas parecem aliaacutes sugerir o contraacuterio se considerarmos que os recintos de fossos poderatildeo ter funcionado como polos de agregaccedilatildeo social com ocu-paccedilotildees residenciais e permanentes temos de aceitar que no seu entorno imediato desenvolveram-se actividades pertencentes ao quotidiano dessas comunidades e entre essas a gestatildeo da morte teria um tratamento especial mas natildeo distante3) Os dados dos Perdigotildees e do Porto Torratildeo parecem sugerir que haacute uma preferecircncia para o desenvolvimento das actividades funeraacuterias fora das aacutereas delimitadas pelos fossos durante o Neoliacutetico Final no entanto exis- tem excepccedilotildees que permitem assumir a existecircncia de um tratamento dis-tinto entre indiviacuteduos uns satildeo inumados em estruturas colectivas enquanto outros tecircm enterramentos individuais se esta diferenciaccedilatildeo eacute ou natildeo sin-croacutenica eacute uma questatildeo que por agora fica obrigatoriamente em aberto

AGRADECIMENTOSA autora agradece agrave equipa da Direcccedilatildeo-Geral do Patrimoacutenio Cultural que gere a base de dados Endoveacutelico pela disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo geograacutefica referente agrave implantaccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos inventa- riados na regiatildeo estudada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICASArnaud J M (1993) O povoado calcoliacutetico de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) siacutentese das investigaccedilotildees realizads Vipasca 41-60Boaventura R (2011) Cronologiacutea del megalitismo en el Centro-Sur de Portugal Menga Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 158-190Boaventura R amp Mataloto R (2013) Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 81-101Calado M amp Mataloto R (1998) Relatoacuterio intercalar referente aos trabalhos do Blo-co 2 do Plano de Minimizaccedilatildeo de Impactes do Regolfo do Alqueva Escavaccedilatildeo do Povo-

| 409

| 2018

ado Neoliacutetico de Juromenha 1 (Alandroal) Campanha 1 (Abril a Julho de 1998) Lisboa Fundaccedilatildeo da Unoversidade de LisboaCalado M amp Rocha A (2000) Relatoacuterio de escavaccedilatildeo do povoado da Malhada das Mimosas (Alandroal) - Campanha 2 - 2000 Lisboa Fundaccedilatildeo da Universidade de Lisboa Centro de Arqueologia de Lisboa EDIA SACarvalho A F (Ed) (2014) Bom Santo Cave (Lisbon) and the Middle Neolithic Societies of Southern Portugal Universidade do AlgarveCorga M amp Ferreira M T (2011) Horta do Joatildeo da Moura 1 - Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirinha e Valbom - Fase de Obra exemplar policopiado Styx estudos de antropologia EDIA SADias S amp Figueiredo M (2009) Relatoacuterio preliminar dos trabalhos arqueoloacutegicos e an-tropoloacutegicos do Monte do Pombal 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2009) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos e Antropoloacutegicos Monte do Cardim 6 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SAFigueiredo M (2013 Fevereiro 5) Fareleira 3 ditched enclosure Retrieved Junho 20 2014 from Portuguese Prehistoric Enclosures wwwportugueseenclosuresblogspotptGonccedilalves V S (2000) Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de ArqueologiaGonccedilalves V S (2003) Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo Actas do II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Por-tuguecircs deAHiggs E S amp Vita Finzi C (1972) Prehistoric Economies a territorial aproach In Papers in Economic Prehistory (pp 27-36) London Cambridge University PressLago M amp Albergaria J (2001) O Cabeccedilo do Torratildeo (Elvas) contextos e interpretaccedilotildees preacutevias de um lugar do Neoliacutetico alentejano Era Arqueologia 4 pp 39-62Lago M Duarte C Valera A Albergaria J Almeida F amp Carvalho A (1998) Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) dados preliminares dos trabalhos arqueoloacutegi-cos realizados em 1997 Revista Portguesa de Arqueologia 45-152Leisner G amp Leisner V (1985) Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCHMataloto R amp Costeira C (2008) O povoado calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia 11 5-27Mataloto R amp Costeira C (2009) O Povoado Calcoliacutetico do Paraiacuteso (Elvas Alto Alentejo) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo IV Encontro de Arqueologia del Suroeste Peninsular (pp 107-133) HuelvaMataloto R Davis S Costeira C Clemente R amp Santos I (2011) Os povoados de fossos do Paraiacuteso uma ocipaccedilatildeo do IV III mileacutenios aC na regiatildeo de Elvas Balanccedilo das intervenccedilotildees 2009-2010 Actas do V Encontro de Arqueologia Peninsular (pp 39-72)Neto N Rocha M Santos R amp Rebelo P (2013) Povoado calcoliacutetico do Porto Torratildeo - uma inumaccedilatildeo em fossa Arqueologia em Portugal - 150 anos (pp 379-385) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesNeves M J amp Mendes C (2011) Monte do Carrascal 2 - Trabalhos arqueoloacutegicos e ntropoloacutegicos de minimizaccedilatildeo de impactes decorrentes do Bloco de Rega de Ferreira Figueirnha e Valbom - Fase de obra Styx EDIA SAPereiro T (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Horta do Joatildeo da Moura 1 exemplar policopiado Era Arqueologia EDIA SARebelo P (2009) Relatoacuterio Final da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no Povoado do Porto

410 |

Torratildeo Ferreira do Alentejo Beja Neoeacutepica EDIA SARebuge J Saacute A amp Cheney A (2010) Intervenccedilatildeo Arqueoloacutegica em Porto Torratildeo (Sector 3 Oeste) Beja Archeoestudos EDIA SARodrigues F (2008) O recinto de fossos da Ponte da Azambuja 2 (Porte Eacutevora) primeira notiacutecia Apontamentos de Arquologia e Patrimoacutenio pp 49-56Rodrigues F (2013) Iacutedolomania figuras antropomoacuterficas e ldquoiacutedolos de cornosrdquo do recinto de fossos do Neoliacutetico Final da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) Arqueologia em Portugal 150 anos (pp 435-446) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos PortuguesesRodrigues F (2014) Skeletons in the ditch funerary activity in ditched enclosures of Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo Beja) Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices in Europe (pp 59-69) Oxford ArchaeopressRodrigues F (2015) O siacutetio da Ponte da Azambuja 2 (Portel Eacutevora) e a emergecircncia dos recintos de fossos no SW Peninsular nos finais do 4ordm mileacutenio ane Tese de Doutoramen-to exemplar policopiadoSantos H (2010) Relatoacuterio dos Trabalhos Arqueoloacutegicos Monte do Carrascal 2 Era Ar-queologia EDIA SASantos R Rebelo P Neto N Rebuge J Saacute A Cheney A et al (2014) Porto Torratildeo resultados preliminares 4ordm Coloacutequio de Arqueologia de Alqueva O plano de rega Beja EDIA SASoares A M (1994) Descoberta de um povoado do Neoliacutetico junto agrave Igreja Velha de Satildeo Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Resultados Preliminares Vipasca 3 pp 41-49Soares A M (1996) Dataccedilatildeo absoluta da estrutura neoliacutetica junto agrave Igreja Velha de S Jorge (Vila Verde de Ficalho Serpa) Vipasca 5 51-58Soares A M amp Arnaud J M (1984) Escavaccedilotildees do Sepulcro Megaliacutetico MV2 (Vila Verde de Ficalho Serpa) Arquivo de Beja II1 67-82Valera A C amp Filipe I (2004) O povoado do Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) Novos dados e novas problemaacuteticas no contexto da calcolitizaccedilatildeo do Sudoeste peninsular Era Arqueologia 7 pp 23-32Valera A C amp Godinho R (2010) Ossos humanos provenientes dos fossos 3 e 4 e gestatildeo da morte nos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 6 pp 29-40Valera A C Becker H amp Boaventura R (2013) Moreiros 2 (Arronches Portalegre) geofiacutesica e cronologia dos recintos interiores Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 9 37-46Valera A C (2014 February 2) Perdigotildees NE gate Retrieved Juin 20 2014 from Portu-guese Prehistoric Enclosures wwwportuguese enclosresblogspotptValera A C Silva A M amp Maacuterquez Romero J (2014) The temporality of Perdigotildees En-closures absolute chronology of the structures and social practices Spal 23 pp 11-26Waterman A J Peate D W Silva A M amp Thomas J T (2013) In search of homelands using strontium isotopes to identify biological markers of mobility in lata prehistoric Portu-gal Journal of Archaeological Science p no prelo

| 411

| 2018

Uma anaacutelise arqueotanatoloacutegica em trecircs hipogeus os contributos dos siacutetios de Monte Canelas I (Portimatildeo) e do Monte do Carrascal 2 (Ferreira do Alentejo) para a compreensatildeo das praacuteticas funeraacuterias nos 4ordm e 3ordm mileacutenio aC no Sul de Portugal

AN ARCHAEONNATOLOGICAL ANALYSIS OF THREE HYPOGEA THE CONTRIBUTION OF MONTE CANELAS I (PORTIMAtildeO) AND MONTE DO CARRASCAL 2 (FERREIRA DO ALENTEJO) TO THE UNDERSTANDING OF 4TH AND 3RD MILLENNIA BC FUNERARY PRACTICES IN SOUTH PORTUGAL

RESUMOApesar dos hipogeus (ou grutas artificiais) serem explorados desde a deacutecada de 1870 eacute apenas da uacuteltima deacutecada do seacuteculo XX que um destes monumentos eacute pela primeira vez alvo de uma intervenccedilatildeo levada a cabo por arqueoacutelogos e antropoacutelogos ndash o Hipogeu de Monte Canelas I Aqui o tipo de registo efectuado permitiu realizar uma anaacutelise arqueotanatoloacutegi-ca do siacutetio vinte anos apoacutes a sua escavaccedilatildeo devidamente balizada por um conjunto de dataccedilotildees de radiocarbonoJaacute nos finais da primeira deacutecada do seacutec XXI uma outra intervenccedilatildeo de Arqueologia no Monte dos Carrascal 2 sito nas imediaccedilotildees do grande siacutetio de Porto Torratildeo (Ferreira do Alentejo) permitiu recolher dados aturados acerca das praacuteticas funeraacuterias ali levadas a cabo A esca- vaccedilatildeo arqueotanatoloacutegica de dois destes sepulcros veio lanccedilar luz sobre as modalidades de gestatildeo e tratamento dos mortos naqueles siacutetios numa perspectiva sincroacutenica e diacroacutenica enquadrada radio-cronometricamenteApresentam-se aqui os resultados dos estudos realizados nestes trecircs sepulcros colectivos procurando-se caracterizar e identificar os traccedilos comuns e aqueles que individualizam cada um dos monumentos no que respeita ao tratamento dos mortos nos 4ordm e 3ordm mileacutenio aC PALAVRA-CHAVE Sepulcros colectivos 43ordm mileacutenio aC Hipogeus Monte Canelas I Monte do Carrascal 2

Maria Joatildeo Neves1 e Ana Maria Silva12

1 CIAS - Research Centre for Anthropology and Health Department of Life Sciences University of Coimbra 3000-456 Coimbra Portugal2 UNIARQ Universidade de Lisboa e-mail para correspondecircncia marianevesciucptXimi sequiatur Uciti quias quos comniminctae labor aut ut abore sequiditiore ea volupta tusame deliquam eossuntur comnit intion platur recuptatqui dolore dolor sequam sandigendus unt ulpa volecte mporibea quasper ferspitem quist quidesequam volum repere dunt aut la nis excerum faceatem ad qui cuptae Et quam est volo con exerferibus alit et qui dolores re voluptia vit porem ut quassunt

412 |

ABSTRACTAlthough hypogea or artificial caves have been explored since the 1870s it was only in the late 20th century that one of these monuments was carefully excavated by a team of archaeologists and anthropologists mdash Hipogeum of Monte Canelas I This site allowed a detailed ana- lysis of anthropological radiocarbon dating and spatial informationIn 2011 another intervention permitted to collect a considerable amount of data concerning funeral practices carried out in Monte dos Carrascal 2 a necropolis located near the large site of Porto Torratildeo (Beja Portu-gal)The archaeotanatological excavation of two of these tombs shed light on the modalities of management and treatment of the dead in those sites in a synchronous and diachronic perspective radio-chronometrically con-textualizedThe results of the studies carried out in these three collective tombs are presented here aiming to characterize and identify the common traits and those that individualise each of the monuments regarding the treatment of the dead in the 4th and 3rd millennium BCKEY WORDSCollective graves IVIII millennium BC Hypogea Monte Canelas I Monte do Carrascal 2

1 INTRODUCcedilAtildeO Os hipogeus ou grutas artificiais satildeo conhecidos na Peniacutensula Ibeacuterica desde a deacutecada de 1870 (Gaacutelan 1986) Desde entatildeo e ateacute agrave segunda metade do seacutec XX acumularam-se uma seacuterie de colecccedilotildees osteoloacutegi-cas frequentemente truncadas cuja contextualizaccedilatildeo arqueoloacutegica era muitas vezes incompleta dando por isso respostas insuficientes no que respeita quer agrave caracterizaccedilatildeo paleobioloacutegica da populaccedilatildeo ali depos-itada quer ao conhecimento das praacuteticas funeraacuterias preteacuteritas (Silva 2002 Boaventura 2009 Neves e Silva 2010 Boaventura et al 2014)Foi apenas em 1993 aquando da identificaccedilatildeo do Hipogeu Neo-Cal-coliacutetico de Monte Canelas I (Alcalar Portimatildeo) que pela primeira vez se levou a cabo uma operaccedilatildeo de salvamento que contou com a partici-paccedilatildeo conjunta de arqueoacutelogos e antropoacutelogos fiacutesicos (Parreira e Ser-pa 1995 Silva 1996 Silva e Parreira 2010) Foi desenhada uma in-tervenccedilatildeo cuidada e orientada para responder a trecircs questotildees fulcrais (e que ateacute entatildeo eram de difiacutecil resposta em contextos semelhantes) a quem pertenciam os ossos ali encontrados quando eacute que ali tinham sido depositados e quais as praacuteticas funeraacuterias ali levadas a cabo

| 413

| 2018

Tendo sido em 1996 concluiacutedo o estudo antropoloacutegico da seacuterie por Silva a sua anaacutelise arqueotanatoloacutegica permaneceu por realizar durante vaacuterias deacutecadas (Neves e Silva 2010) tendo sido apenas entrevista a partir de 2011 altura em que finalmente se viram reunidas as condiccedilotildees (teacutecnicas e financeiras) para proceder a tal investigaccedilatildeo (Neves em preparaccedilatildeo)Tal estudo orientado essencialmente para a documentaccedilatildeo das praacuteticas e dos gestos funeraacuterios levados a cabo com base nos princiacutepios da Arqueotana-tologia centrou-se na anaacutelise dos registos da escavaccedilatildeo congregados com as informaccedilotildees antropoloacutegicas numa base de dados SIGTambeacutem em 2011 surgiu a oportunidade de dar continuidade agrave escavaccedilatildeo de dois hipogeus no Alentejo interior no Monte do Carrascal 2 (Ferreira do Alentejo Beja) nas imediaccedilotildees do grande siacutetio Neo-Calcoliacutetico do Porto Torratildeo sendo entatildeo possiacutevel implementar e testar um protocolo de escavaccedilatildeo arque-otanatoloacutegico elaborado no quadro da dissertaccedilatildeo de uma de noacutes (Neves em preparaccedilatildeo)Assim neste trabalho apresentam-se e discutem-se os dados alcanccedilados com as anaacutelises destes trecircs hipogeus (Fig 1) perspectivando-se novas anaacutelises

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo dos dois nuacutecleos sepulcrais em anaacutelise no texto Monte Canelas I e Monte do Carrascal 2 Dados cartograacuteficos ESRI SA Dryas Arqueologia Datum_73_Hayford_Gauss_IGeoE

414 |

capazes de sustentar uma melhor compreensatildeo das praacuteticas funeraacuterias nos 4ordm e 3ordm mileacutenios aC

2 PRINCIacutePIOS BAacuteSICOS DE ARQUEOTANATOLOGIAEacute premissa fundamental deste trabalho o assentar da anaacutelise dos hipogeus numa anaacutelise arqueotanatoloacutegica isto eacute num conjunto de procedimentos orientados para a recolha pormenorizada do registo osteoloacutegico e da infor-maccedilatildeo contextual que lhe estaacute associada dados fundamentais agrave percepccedilatildeo das alteraccedilotildees que os cadaacuteveres sofrem desde a sua deposiccedilatildeo (Duday 2010 Zemour 2016)Tal anaacutelise eacute essencial agrave compreensatildeo de qualquer contexto funeraacuterio mas eacute-o mais ainda em contextos funeraacuterios complexos como eacute o caso dos se- pulcros colectivosEacute uma abordagem dinacircmica cujo alcance para a compreensatildeo dos compor-tamentos funeraacuterios inclui os conceitos de cadeia operatoacuteria e de tempo fu-neraacuterio ndash entendido na sua acepccedilatildeo bioloacutegica antropoloacutegica e arqueoloacutegica (Pereira 2013)O conceito de cadeia operatoacuteria evoca as transformaccedilotildees sucessivas que o cadaacutever sofre permitindo a destrinccedila entre as etapas de transformaccedilatildeo a partir da imagem estaacutetica dada pela escavaccedilatildeo do contexto sepulcral ou mortuaacuterio (Pereira 2013 Zemour 2016) Ulteriormente a comparaccedilatildeo das diversas cadeias operatoacuterias registadas agrave escala da necroacutepole permite iden-tificar os tempos e os gestos levando assim ao reconhecimento dos compor-tamentos funeraacuterios dentro ou fora da norma (Valentin et al 2016)Para tal eacute imprescindiacutevel a criacutetica tafonoacutemica dos restos e contextos es-sencial agrave identificaccedilatildeo de um gesto funeraacuterio ou uma distorccedilatildeo provocada por um qualquer factor tafonoacutemico (Janaway 1996 Ferreira 2012 Stjerna 2016)Para aleacutem das distorccedilotildees tafonoacutemicas que podem afectar a preservaccedilatildeo dos contextos funeraacuterios interessa agrave Arqueotanatologia identificar o tipo de deposiccedilatildeo ndash primaacuteria ou secundaacuteria ndash a que os cadaacuteveres foram sujeitos sendo tal discussatildeo particularmente relevante no que concerne a toda a dis-cussatildeo em torno das praacuteticas funeraacuterias dos 4ordm e 3ordm mileacutenios cal aC (Silva 2002 Boaventura et al 2014 Silva et al 2017)Relembrando rapidamente uma inumaccedilatildeo primaacuteria corresponde a uma situaccedilatildeo em que o corpo natildeo eacute deslocado para fora do local onde eacute de-positado originalmente natildeo ocorrendo por isso os designados funerais duplos O cadaacutever eacute deposto num local definitivo onde se desenrolaratildeo os processos de decomposiccedilatildeo cadaveacuterica conducentes agrave esqueletizaccedilatildeo e

| 415

| 2018

depois agrave dissoluccedilatildeo completa (salva a fossilizaccedilatildeo) dos vestiacutegios humanos (Ferreira 2012) Assim o seu reconhecimento eacute baseado essencialmente na presenccedila da (quase) totalidade dos ossos sobretudo daqueles supor-tados por conexotildees laacutebeis (Duday 2010) Este tipo de conexatildeo presente essencialmente nas falanges das matildeos e dos peacutes eacute alvo de uma raacutepida decomposiccedilatildeo em oposiccedilatildeo agrave das conexotildees osteoloacutegicas persistentes que se libertam das suas estruturas de contenccedilatildeo num momento mais tardio da decomposiccedilatildeo Estas uacuteltimas incluem a atlanto-occipital a coluna lombar a sacro-iliacuteaca a tiacutebio-femoral a tiacutebio-taacutersica e a dos ossos do tarso A presenccedila de pequenos ossos como as falanges ou os ossos do metatarso e do meta-carpo satildeo tambeacutem um indicador de uma inumaccedilatildeo primaacuteria (Neves et al 2012 Duday 2010 Knuumlsel 2014)Como a cedecircncia das conexotildees laacutebeis pode suceder num clima tempera-do em apenas algumas semanas (Duday e Guillon 2006) a presenccedila de conexotildees laacutebeis ou dos pequenos ossos mantidos por essas conexotildees satildeo tidos como indicadores fiaacuteveis para identificar o caraacutecter primaacuterio de uma sepultura de inumaccedilatildeo ainda que haja uma panoacuteplia de situaccedilotildees em que se podem registar excepccedilotildees mumificaccedilatildeo das extremidades (Sellier et al 2013) acondicionamento dentro de luvas meias sapatos etcA posiccedilatildeo da totalidade dos ossos eacute outro dos elementos fundamentais agrave compreensatildeo arqueotanatoloacutegica dos contextos funeraacuterios Como os proces-sos de decomposiccedilatildeo cadaveacuterica conduzem ao esvaecimento progressivo dos tecidos moles ao surgimento de espaccedilos vazios no interior do espaccedilo corporal e agrave ruptura progressiva das articulaccedilotildees observa-se frequente-mente a migraccedilatildeo de peccedilas esqueleacuteticas para fora da sua posiccedilatildeo original indicando assim o tipo de ambiente em que o cadaacutever se decompocircs (Pi- nheiro 2006 Duday 2010 Neves et al 2012 Ferreira 2012) A posiccedilatildeo dos ossos eacute tambeacutem particularmente informativa acerca de estruturas pereciacuteveis entretanto desaparecidas Os ldquoefeitos de parederdquo constituem um dos testemunhos dessas estruturas (Zemour 2016)O deslocamento dos ossos nomeadamente o tipo e a sua amplitude satildeo portanto condicionados pela natureza do ambiente deposicional que pode ocorrer em espaccedilo aberto fechado ou com uma colmataccedilatildeo progressiva (Duday 2009)Para realizar esta inferecircncia satildeo avaliadas pelo menos a movimentaccedilatildeo de quatro grandes regiotildees anatoacutemicas com valor diagnoacutestico o colapso da cin-tura escapular o abatimento da caixa toraacutecica a deslocaccedilatildeo parcial da colu-na e o colapso da cintura peacutelvica (Neves et al 2012)A inexistecircncia de barreiras fiacutesicas que impeccedilam a movimentaccedilatildeo dos ossos

416 |

como sedimento ou estruturas e materiais pereciacuteveis junto ao cadaacutever leva agrave sua movimentaccedilatildeo e consequentemente agrave identificaccedilatildeo da decomposiccedilatildeo em espaccedilo aberto Nestes casos os cadaacuteveres natildeo satildeo assim cobertos per-manecendo expostos ou jacentes sobre uma qualquer superfiacutecie Por este motivo quando tal acontece em locais visitados amiuacutede como eacute o caso dos sepulcros colectivos caso os cadaacuteveres se encontrem depostos agrave superfiacutecie ocorrem deslocaccedilotildees dos ossos para fora do volume corporalA ocorrecircncia de fenoacutemenos naturais (lixiviaccedilatildeo por exemplo) ou a acccedilatildeo de necroacutefagos podem ser tambeacutem responsaacuteveis pela acumulaccedilatildeo de ossos sem conexatildeo anatoacutemica de dimensotildees que podem variar entre o tama- nho reduzido a grande Tambeacutem os animais de pequeno porte podem ser responsaacuteveis pela acumulaccedilatildeo de ossos ou outros objectos em partes espe-ciacuteficas dos siacutetios ou mesmo dentro de cracircniosA entrada e a deposiccedilatildeo de novos corpos pode tambeacutem ser responsaacutevel por alteraccedilotildees na posiccedilatildeo dos elementos esqueleacuteticos anteriormente deposita-dos (Chambon 1999) Deste modo a identificaccedilatildeo de ligaccedilotildees osteoloacutegicas de segunda ordem ndash fragmentos do mesmo osso ossos simeacutetricos com contiguidade articular com lesotildees patoloacutegicas correlacionaacuteveis ou que apre-sentem o mesmo estado de maturaccedilatildeo ndash constitui a chave para identificar a evoluccedilatildeo poacutes-deposicional do siacutetio potenciando a capacidade de reunir elementos capazes de iluminar as utilizaccedilotildees sepulcrais destes locaisPor fim a cronologia interna das deposiccedilotildees eacute de fundamental para a com-preensatildeo da utilizaccedilatildeo do siacutetio sincroacutenica e diacronicamente Contextos co- lectivos extremamente complexos exigem natildeo soacute a identificaccedilatildeo de cada osso da pertenccedila a cada um dos indiviacuteduos como a notaccedilatildeo da relaccedilatildeo estratigraacutefica entre os diversos elementos

3 MATERIAIS E MEacuteTODOSCom vista a realizar uma anaacutelise arqueotanatoloacutegica dos trecircs hipogeus foi desenhada uma estrateacutegia que incluiacutea a anaacutelise dos documentos existentes para Monte Canelas I compilados e analisados depois em ambiente SIG e um protocolo de terreno e posterior anaacutelise de dados tambeacutem em ambiente SIG para o Monte do Carrascal 2Deste modo para Monte Canelas I foi utilizado o amplo acervo documental resultante da escavaccedilatildeo que incluiacutea a planta geral do siacutetio planos e perfis agrave escala 120 planos agrave escala 11 dos planos onde tinham sido identificados os vestiacutegios osteoloacutegicos o relatoacuterio de escavaccedilatildeo o inventaacuterio de material osteoloacutegico a cartografia topograacutefica e geoloacutegica e as fotografias dos tra-balhos de campo

| 417

| 2018

Para o Monte do Carrascal 2 a intervenccedilatildeo foi orientada de acordo com os princiacutepios da Arqueotanatologia tendo-se implementado e testado um proto-colo de recuperaccedilatildeo de vestiacutegios osteoloacutegicos (Neves em preparaccedilatildeo)A escavaccedilatildeo dos dois hipogeus foi realizada manualmente por unidades es-tratigraacuteficas definidas com base nas caracteriacutesticas geoloacutegicas e estruturais dos depoacutesitos ou com base na identificaccedilatildeo de contextos arqueoloacutegicos A implantaccedilatildeo duma quadriacutecula do siacutetio com unidades miacutenimas de 50x50 cm visou facilitar a leitura e interpretaccedilatildeo da estratigrafia e obter um corte estratigraacutefico longitudinal de acordo com o eixo maior das estruturas Possi-bilitou ainda a recuperaccedilatildeo do material crivado referenciado espacialmenteOs trabalhos de Arqueotanatologia foram realizados de acordo com as recomendaccedilotildees de Duday (2009) A totalidade dos ossos e material arque-oloacutegico foram georreferenciados inventariados registados graficamente so-bre ortofoto e embalados de forma individualizada (Neves em preparaccedilatildeo)A anaacutelise dos paracircmetros do perfil bioloacutegico foi feita com recurso aos meacutetodos compilados por Buikstra e Ubelaker (1994) e Scheuer e Black (2000) Utilizou-se ainda o meacutetodo de Wasterlain (2000) para a diagnose sexual A recolha de dados osteomeacutetricos foi realizada de acordo com as recomendaccedilotildees de Olivier (1960)Os elementos graacuteficos foram vectorizados mediante a criaccedilatildeo de shapefiles na extensatildeo ArcCatalog (1022) tendo sido depois importados e editados na extensatildeo ArcMap (1022) Os objectos vectorizados estatildeo associados a uma base de dados onde constam as informaccedilotildees relativas aos elemen-tos osteoloacutegicos e arqueoloacutegicos Os trabalhos de anaacutelise espacial e de ela- boraccedilatildeo de mapas de distribuiccedilatildeo dos vestiacutegios constaram de uma anaacutelise exploratoacuteria mediante a selecccedilatildeo e a classificaccedilatildeo de dados geo-espaciais de acordo com a sua localizaccedilatildeo e atributos

4 PRAacuteTICAS FUNERAacuteRIAS NOS HIPOGEUS DE MONTE CANELAS I E MONTE DO CARRASCAL 241 Monte Canelas 1Este hipogeu eacute constituiacutedo por duas cacircmaras de perfil abobadado sendo o seu acesso realizado a partir duma rampa na cacircmara Norte que comunica com a Sul atraveacutes duma estreita passagem Na primeira cacircmara existia tam-beacutem um pequeno nichoA utilizaccedilatildeo do sepulcro bem como a sua derrocada mais ou menos constan- te teraacute ditado a colmataccedilatildeo da entrada original passando o seu acesso a ser realizado por uma claraboiaA planta integral do monumento eacute desconhecida dado que o sepulcro foi

418 |

truncado longitudinalmente aquando da abertura dum arruamento motivo da sua escavaccedilatildeo (Parreira e Serpa 1995)A estratificaccedilatildeo comporta duas fases de utilizaccedilatildeo funeraacuteria diferenciadas separadas por um denso niacutevel de derrube e de diferentes cronologias (Fig 2) A mais antiga integra-se nos finais do 4ordm e iniacutecios do 3ordm mileacutenio aC e a mais recente jaacute em finais do 3ordm mileacutenio aCA escavaccedilatildeo permitiu recuperar 7749 peccedilas esqueleacuteticas pertencentes pelo menos a 171 indiviacuteduos repartidos pelos dois niacuteveis funeraacuterios (Silva 1996)No niacutevel inferior o mais antigo teratildeo sido depositados pelo menos 147 in-diviacuteduos dos quais 97 satildeo adultos mdash 38 mulheres 15 homens e 12 de sexo indeterminado mdash e 50 natildeo adultos (Silva 1996)Os restos esqueleacuteticos surgem na sua vasta maioria desprovidos de co- nexatildeo anatoacutemica tendo sido apenas identificados cinco esqueletos dois dos quais bastante incompletos Esta fragmentaccedilatildeo e remobilizaccedilatildeo dos

Figura 2 ndash Datas calibradas dos Hipogeus de Monte Canelas (MtCI) e Monte do Carras-cal 2 (MtC2) Hipogeu I (HI) e Hipogeu 2 (H2)

| 419

| 2018

ossos dificultaram a leitura dos gestos e das praacuteticas funeraacuterias Ainda as-sim foi possiacutevel identificar o modo de deposiccedilatildeo para quatro dos cinco indiviacute- duos trecircs encontravam-se depostos em posiccedilatildeo fetal e um em posiccedilatildeo flectida Dos cinco foi possiacutevel observar que pelo menos trecircs foram coloca-dos com os braccedilos flectidos Quatro deles foram depostos sobre o lado di-reito e apenas um sobre o esquerdo (Silva 1996 Silva e Parreira 2010)No que toca agrave orientaccedilatildeo trecircs estavam no sentido nordeste-sudoeste e um no sentido nor-nordestesu-sudoeste estando todos com a cabeccedila orienta-da para a entrada do hipogeu Num caso natildeo foi possiacutevel identificar a orien-taccedilatildeo em que o indiviacuteduo tinha sido depositado (Silva 1996)O abatimento constante de pedras do topo e das paredes da estrutura condi-cionou a preservaccedilatildeo do material esqueleacutetico e a sua distribuiccedilatildeo espacial jaacute que surgem acantonados sobretudo junto agraves paredes do hipogeu onde os desmoronamentos parecem ter sido menos importantes (Fig 3)No que concerne ao ambiente de decomposiccedilatildeo cadaveacuterica e uma vez que a vasta maioria dos elementos esqueleacuteticos natildeo possuiacute qualquer conti-

Figura 3 ndash Representaccedilatildeo do niacutevel superior (agrave esquerda) e do niacutevel inferior (agrave direita) de Monte Canelas I Importa notar o acumulado de clastos no niacutevel superior que condiciona de sobremaneira a distribuiccedilatildeo dos vestiacutegios humanos

420 |

nuidade anatoacutemica que as conexotildees laacutebeis e persistentes quando identi-ficadas se encontram em descontinuidade anatoacutemica e que os niacuteveis fu-neraacuterios satildeo essencialmente formados por ossos fragmentados intercala-dos por finas deposiccedilotildees de sedimentos e pedras pode admitir-se que os cadaacuteveres ficariam frequentemente depostos na superfiacutecie do hipogeu ateacute agrave decomposiccedilatildeo dos tecidos moles e do colapso das ligaccedilotildees osteoloacutegicasNo niacutevel superior apenas foram depositados pelo menos 12 natildeo adultos e 12 adultos um de sexo masculino sete femininos e quatro de sexo indeter-minado (Silva 1996)O espaccedilo para realizar novas deposiccedilotildees ter-se-ia visto mais reduzido jaacute que a acumulaccedilatildeo de vestiacutegios dos niacuteveis inferiores o teraacute assim ditado O con-tinuo desmoronamento e provavelmente uma utilizaccedilatildeo mais parca do mo- numento ilustrada no nuacutemero mais reduzido de inumados e na perda quase sistemaacutetica de conexotildees anatoacutemicas (Silva 1996) teraacute contribuiacutedo para o aspecto aparentemente caoacutetico do niacutevel funeraacuterioFace ao contacto directo dos ossos e dada a perda de continuidade oacutessea sistemaacutetica eacute de crer que os cadaacuteveres fossem simplesmente deixados na superfiacutecie do hipogeu sem serem cobertos por terra A decomposiccedilatildeo em espaccedilo aberto agrave semelhanccedila do registado para o niacutevel inferior facilitaria ulteriormente a perda de continuidade oacutessea e a dispersatildeo dos ossos hu-manos mais sujeitos agrave gravidade agrave acccedilatildeo da fauna antroacutepica e de eventos geoloacutegicosQuanto agrave utilizaccedilatildeo do espaccedilo eacute a cacircmara sul a mais recocircndita e protegida aquela que foi mais utilizada para realizar as deposiccedilotildees funeraacuterias prolon-gando-se tambeacutem durante mais no tempo o seu uso Note-se uma vez mais que satildeo as aacutereas onde existem menos amontoados peacutetreos aquelas onde se regista uma maior acumulaccedilatildeo de vestiacutegios esqueleacuteticos Esta cacircmara foi a mais utilizada sendo inclusivamente a uacutenica em uso no uacuteltimo momento do hipogeu O nicho lateral foi tambeacutem intensivamente utilizado como local de arrumaccedilatildeo de vestiacutegios esqueleacuteticos jaacute que nesta aacuterea natildeo foi identifica-da nenhuma ligaccedilatildeo osteoloacutegica de segunda ordem42 Monte do Carrascal 2421 Hipogeu 1A aacuterea escavada possibilitou a identificaccedilatildeo de uma cacircmara com uma aber- tura no topo de morfologia sub-circular que se vai alargando do topo da estrutura para a base e cujo acesso na fase final se fazia a partir duma aber- tura no topo tipo coelheiraNo total e para todo o hipogeu foram recuperadas e coordenadas 4679 peccedilas esqueleacuteticas

| 421

| 2018

Dado que a ue [2] foi intervencionada numa aacuterea maior do que as restantes unidades escavadas (4 m2 face a 075 m2) 78 das peccedilas esqueleacuteticas proveacutem desta unidade As restantes unidades estratigraacuteficas foram esca- vadas numa aacuterea perifeacuterica da cacircmara podendo natildeo ser representativas da totalidade do sepulcroDo total das peccedilas oacutesseas 2409 (51) pertenciam a conjuntos esqueleacuteticos em continuidade anatoacutemica correspondendo a 71 indiviacuteduosDos 71 indiviacuteduos exumados 49 eram adultos e 22 natildeo-adultos Entre os adultos incluiacuteam-se dois adultos jovens e um idoso Dos 49 adultos apenas foi possiacutevel diagnosticar o sexo em 24 indiviacuteduos pertencendo 21 ao sexo feminino e trecircs ao sexo masculinoO hipogeu apresentava um preenchimento inter-estratificado que incluiacutea nove niacuteveis estratigraacuteficos agrupados em seis fases Da mais recente para a mais antiga temosA) o abandono da utilizaccedilatildeo do hipogeu enquanto espaccedilo sepulcral e a entra- da de depoacutesitos sedimentares e claacutesticos a partir do topo da estrutura (ue[1])

Figura 4 ndash Planos dos esquele-tos em conexatildeo identificados no Hipogeu I do Monte do Carrascal agrupados por deca-pagem A distribuiccedilatildeo espacial dos elementos esqueleacuteticos evidencia a existecircncia de efeitos de parede reveladores de estruturas natildeo peacutetreas entretanto desaparecidas

422 |

B) um aproveitamento mais intenso e prolongado do espaccedilo sepulcral (ue [2]) Aqui foram recuperados 62 indiviacuteduos (22 satildeo natildeo adultos e 40 adultos repartidos por dez decapagens arqueoloacutegicas O nuacutemero de indiviacuteduos de-positado em cada decapagem varia entre um miacutenimo de quatro e um maacutexi-mo de dez indiviacuteduos (Fig 4)A anaacutelise arqueotanatoloacutegica dos inumados bem como a sua distribuiccedilatildeo espacial indicam que os indiviacuteduos seriam depositados numa superfiacutecie natildeo colmatada e delimitada por uma estrutura entretanto desaparecida (natildeo peacutetrea) A distribuiccedilatildeo espacial dos esqueletos e ossos humanos bem como a existecircncia de claros efeitos de parede testemunham a sua existecircnciaDos 62 indiviacuteduos apenas foi possiacutevel identificar o modo de deposiccedilatildeo em 35 casos dois foram inumados em decuacutebito dorsal 16 em decuacutebito lateral direito oito em decuacutebito lateral esquerdo e nove em decuacutebito ventralAtentando ao modo de deposiccedilatildeo do cracircnio dos membros superiores e inferiores ressalta sempre o nuacutemero importante de observaccedilotildees que natildeo puderam ser realizadas Assim em 7581 dos indiviacuteduos (N=47) natildeo foi possiacutevel saber como se encontrava deposto o cracircnio Para os restantes dez estavam apoiados sobre a face direita e cinco sobre a esquerda Em 40 casos natildeo foi possiacutevel observar a posiccedilatildeo dos membros superiores Dos casos observaacuteveis cumpre notar a presenccedila de uma mulher com mais de 45 anos que apresentava os braccedilos estendidos e paralelos ao corpo enquanto que os restantes 21 indiviacuteduos tinham os membros superiores flectidos Dos 62 indiviacuteduos escavados soacute foi possiacutevel averiguar a forma de colocaccedilatildeo dos membros inferiores em 18 indiviacuteduos oito natildeo adultos e 18 adultos apresen-tavam as pernas flectidasPara 19 natildeo foi possiacutevel indagar a orientaccedilatildeo das deposiccedilotildees jaacute que a preser-vaccedilatildeo dos esqueletos natildeo o permitiu Para os restantes registou-se uma maior frequecircncia de indiviacuteduos depositados no sentido nordeste-sudoeste (N=16) sudeste-noroeste (N=9) e sudoeste-nordeste (N=7) No sentido oes-te-este registou-se apenas uma deposiccedilatildeo funeraacuteriaA obtenccedilatildeo de uma data de 14C aponta para uma utilizaccedilatildeo do sepulcro na primeira metade do 3ordm mileacutenio aC (cfr Fig 2)C) um momento em que se regista um abatimento importante de parte da estrutura peacutetrea do hipogeu materializado na acumulaccedilatildeo de clastos de caliccediloD) uma utilizaccedilatildeo intensa e sucessiva do hipogeu enquanto espaccedilo sep-ulcral (ue[7][6][4]) Nestes depoacutesitos foram identificadas diversas con- tinuidades anatoacutemicas sendo elevado o nuacutemero de peccedilas oacutesseas recu-peradas Atendendo agrave posiccedilatildeo dos indiviacuteduos as inumaccedilotildees poderiam ser

| 423

| 2018

efectuadas a partir do topo e de forma sucessiva muito embora os dados disponiacuteveis sejam apenas parciais natildeo revelando uma visatildeo total da aacuterea Juntamente com as inumaccedilotildees regista-se uma penetraccedilatildeo de elementos sedimentares e claacutesticos constituindo a fracccedilatildeo matricial do depoacutesitoE) um momento em que o espaccedilo sepulcral (ue [8]) na aacuterea escavada surge utilizado duma forma menos intensa ou rara eF) uma fase que corresponde agrave utilizaccedilatildeo funeraacuteria mais antiga reconhecida ndash a ue [9] caracterizada essencialmente pela presenccedila de peccedilas oacutesseas sem continuidade anatoacutemica remexidas e amontoadas na periferia da es-trutura sugerindo uma organizaccedilatildeo do espaccedilo sepulcral distinta das subse-quentes em que os ossos seriam empurrados para a periferia Ainda assim foi identificado um indiviacuteduo em conexatildeo anatoacutemica (indiviacuteduo nordm63)422 Hipogeu 2O monumento 2 corresponde a uma grande estrutura sub-circular alargan-do-se para a base em todas as direcccedilotildees e com um corredor associado orientado a nascenteA estratificaccedilatildeo ilustra as diversas fases construtivas e de utilizaccedilatildeo da es-trutura e de interrupccedilatildeo do seu uso As duas dataccedilotildees disponiacuteveis permitem balizar a utilizaccedilatildeo funeraacuteria entre o primeiro quartel (relativa a um indiviacuteduo inumado na [ue16]) e meados do 3ordm mileacutenio aC (um indiviacuteduo da [ue3]) (cfr Fig 2)No hipogeu foram identificados trecircs niacuteveis sepulcrais ([ue 3] [ue14] e [ue 16]) escavados parcialmente Foram no total recuperadas 2966 peccedilas esqueleacuteticas Destas apenas 414 pertenciam a indiviacuteduos em conexatildeo anatoacutemica contabilizados num total de 48 indiviacuteduos (Fig 5) Dos 48 36 eram adultos (sendo cinco homens seis mulheres e 22 de sexo indetermi-nado) dois adultos jovens (um de sexo masculino e outro indeterminado) e sete natildeo adultos Para trecircs dos indiviacuteduos devido ao seu grau de fragmen-taccedilatildeo e incompletude natildeo foi possiacutevel averiguar o grau de maturidade Ape-nas num niacutevel ndash a ue ([14]) ndash natildeo foram identificados quaisquer vestiacutegios osteoloacutegicos de natildeo adultosO niacutevel mais recente de utilizaccedilatildeo funeraacuteria a [ue3] corresponde aquele onde foi encontrado o maior nuacutemero de peccedilas esqueleacuteticas do siacutetio (N=2595) Destas 2274 pertenciam ao grupo das peccedilas osteoloacutegicas sem conexatildeo anatoacutemica enquanto as restantes 321 pertenciam aos 38 indiviacuteduos aqui inumados Foi possiacutevel diagnosticar o estado de maturaccedilatildeo em 2428 peccedilas pertencendo 2160 a adultos e 268 a natildeo adultosEntre os ossos sem continuidade anatoacutemica pertencentes a natildeo adultos e adultos estatildeo todos os tipos de peccedilas oacutesseas nomeadamente as que satildeo

424 |

mantidas conexotildees laacutebeis como os pequenos ossos das matildeos e dos peacutesA percentagem de fragmentaccedilatildeo francamente assinalaacutevel deve-se agrave acccedilatildeo de factores tafonoacutemicos e alteraccedilotildees poacutes-deposicionais do siacutetio que se sal-daram numa importante verticalizaccedilatildeo dos ossos humanos e deformaccedilatildeo daquele niacutevel arqueoloacutegico Muitas das fracturas indiciam que a movimen-taccedilatildeo poacutes-deposicional dos depoacutesitos ocorreu numa fase em que parte dos ossos natildeo estava ldquosecardquo tendo a deformaccedilatildeo ocorrido quando parte dos cadaacuteveres eou ossos tivessem ainda alguns tecidos mantendo inclusiva-mente a conectividade anatoacutemicaRelativamente agraves conexotildees laacutebeis o nuacutemero de casos em que estas natildeo se conservam eacute muito significativo sendo sempre superior a 85 Para as conexotildees anatoacutemicas persistentes em mais de 84 dos casos natildeo pocircde ser observada a sua continuidadeFoi possiacutevel identificar o modo de deposiccedilatildeo apenas em sete indiviacuteduos sen-do que cinco estavam depositados em decuacutebito dorsal e dois em decuacutebito ventral Dois indiviacuteduos apoiavam o cracircnio sobre a face direita Os membros superiores encontravam-se flectidos em dois casos natildeo tendo sido possiacutevel averiguar este paracircmetro nos restantes 36 casos Os membros inferiores encontravam-se flectidos em cinco indiviacuteduosAinda que tenha sido possiacutevel averiguar o modo de deposiccedilatildeo para estes 38 indiviacuteduos jaacute a orientaccedilatildeo levantou muitas duacutevidas face ao estado muito incompleto dos indiviacuteduosA anaacutelise da reparticcedilatildeo espacial dos ossos vecirc-se bastante dificultada face agraves alteraccedilotildees poacutes-deposicionais que o depoacutesito sofreu No entanto eacute possiacutevel observar que natildeo existem padrotildees de fragmentaccedilatildeo diferencial (os ossos surgem genericamente fragmentados em toda a aacuterea) ou de arrumaccedilatildeo par-ticular (adultos vs natildeo adultos) A outra unidade onde foram identificados restos osteoloacutegicos eacute a [ue14] sita no corredor de acesso agrave cacircmara do hipogeu Aqui foram identificados cinco indiviacuteduos adultos dois femininos dois masculinos e um de sexo indetermi-nadoEste niacutevel sepulcral foi tambeacutem profundamente afectado ainda em tempos preacute-histoacutericos pela constituiccedilatildeo sobre o niacutevel funeraacuterio de um pavimento em caliccedilo compactado que recobria todo o corredor ([13]) resultando na ab-lacccedilatildeo e da mobilizaccedilatildeo de algumas peccedilas esqueleacuteticasNo que concerne agraves observaccedilotildees arqueotanatoloacutegica notou-se a presenccedila de algumas regiotildees anatoacutemicas laacutebeis em conexatildeo anatoacutemica possivelmente mantidas por algum elemento de contenccedilatildeo em tecido couro ou num ma-terial vegetal Relativamente agraves regiotildees mantidas por conexotildees persistentes

| 425

| 2018

verifica-se a manutenccedilatildeo em conexatildeo nalgumas nomeadamente da regiatildeo temporo-mandibular tiacutebio-fibular e dos ossos do tarsoFoi possiacutevel averiguar o modo de disposiccedilatildeo dos cadaacuteveres em trecircs casos tendo sido um indiviacuteduo depositado em decuacutebito lateral esquerdo um em direito e outro em decuacutebito dorsal O modo de disposiccedilatildeo do cracircnio assente sobre a face esquerda foi observado apenas numa inumaccedilatildeo Tambeacutem unicamente num caso foi possiacutevel inferir o modo de arranjo dos membros superiores que se encontravam flectidos Jaacute para os membros inferiores foi registada a posiccedilatildeo flectida apenas em dois casosPor fim e no que concerne agrave orientaccedilatildeo dois indiviacuteduos foram inumados no sentido este-oeste e um possivelmente no sentido oposto oeste-este Em dois casos natildeo foi possiacutevel identificar a orientaccedilatildeo dos cadaacuteveresRegistou-se tambeacutem a sobreposiccedilatildeo de um nuacutemero significativo de indiviacute- duos o que pode significar uma utilizaccedilatildeo intensiva deste espaccedilo naquela fase A ulterior perturbaccedilatildeo resultante da constituiccedilatildeo do piso de caliccedilo limi- ta a leitura dos gestos e praacuteticas funeraacuteriasO niacutevel funeraacuterio mais antigo corresponde agrave [ue16] onde as primeiras depo- siccedilotildees funeraacuterias foram realizadas sobre a rocha de base Restringem-se espacialmente agrave aacuterea da cacircmara funeraacuteria do hipogeuNesta unidade foram recuperadas 221 peccedilas esqueleacuteticas 219 ossos e dois dentes soltos Dos 219 ossos humanos 188 encontravam-se desprovi-dos de qualquer conexatildeo anatoacutemica pertencendo os restantes (N=33) aos cinco indiviacuteduos identificados no seio deste niacutevel funeraacuterio (cfr Fig 5)No que concerne aos indiviacuteduos adultos em conexatildeo dois satildeo masculinos dois femininos e um de sexo indeterminado Todos sofreram alteraccedilotildees tafonoacutemicas resultantes quer de acccedilotildees antroacutepicas da passagem de pequenos animais e da acumulaccedilatildeo de aacutegua das chuvas A proacutepria super-fiacutecie dos ossos encontra-se muito alterada e fragilizada devido a alteraccedilotildees decorrentes da diageacuteneseDe forma a avaliar o ambiente de decomposiccedilatildeo cadaveacuterica foi anotado o estado de continuidade anatoacutemica tendo sido apenas num caso registada uma conexatildeo laacutebil em continuidade anatoacutemica Os resultados obtidos apon-tam para que os indiviacuteduos tivessem sido colocados directamente sobre o caliccediloTambeacutem no que toca aos modos de deposiccedilatildeo dos cadaacuteveres as infor-maccedilotildees reunidas satildeo bastante diminutas Dos cinco indiviacuteduos soacute foi pos-siacutevel indagar o modo de deposiccedilatildeo para um indiviacuteduo que se encontrava colocado em decuacutebito dorsal Um outro tinha os membros superiores flecti-dos

426 |

Soacute num caso foi possiacutevel averiguar o sentido de deposiccedilatildeo (oeste-este) natildeo se tendo podido observar as orientaccedilotildees para os demaisPara esta unidade os dados recolhidos nesta aacuterea devem ser encarados com alguma prudecircncia jaacute que a aacuterea escavada eacute muito reduzida Com efeito seria necessaacuteria uma intervenccedilatildeo mais alargada para que se pudesse com alguma seguranccedila caracterizar a utilizaccedilatildeo sepulcral desta fase

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAISTendo em conta o nuacutemero de hipogeus conhecidos no territoacuterio portuguecircs a anaacutelise destes trecircs contextos eacute necessariamente insuficiente para traccedilar um perfil aturado das praacuteticas funeraacuterias deste tipo de siacutetio No entanto graccedilas ao detalhe do trabalho de campo agrave anaacutelise arqueotanatoloacutegica dos remanescentes esqueleacuteticos e ao seu efectivo numeacuterico estes trecircs sepul-cros constituem um bom ponto de partida para o conhecimento das praacuteti-cas funeraacuterias no seio de hipogeus construiacutedos e utilizados entre os 4ordm e 3ordm mileacutenios aCDeste modo e tendo em conta os resultados obtidos eacute possiacutevel concluir quemdash os espaccedilos funeraacuterios satildeo bastante diversificados entre si mesmo quan-do sitos no mesmo nuacutecleo sepulcral Tais diferenccedilas satildeo notoacuterias ao niacutevel das plantas e alccedilados dos materiais escavados e utilizados no acircmbito de reformulaccedilotildees arquitectoacutenicas e das teacutecnicas construtivas A utilizaccedilatildeo de estruturas em materiais pereciacuteveis encontra-se bem demonstrada e teraacute contribuiacutedo frequentemente para gestatildeo dos espaccedilos funeraacuteriosmdash as dataccedilotildees obtidas as estratificaccedilotildees complexas e diferenciadas as reformulaccedilotildees arquitectoacutenicas e o modo de utilizaccedilatildeo de alguns sepulcros (onde se nota a total desarticulaccedilatildeo dos ossos humanos significativas da passagem de pelo menos alguns anos entre deposiccedilotildees) evocam utilizaccedilotildees longas com persistecircncia da memoacuteria dos locais de enterramento duran-te largas geraccedilotildees Estas praacuteticas seratildeo enraizadas no final do 4ordm mileacutenio sobrevivendo ateacute quase aos finais do 3ordm mileacutenio aCmdash o tipo de ossos identificados (ainda que sem conectividade anatoacutemica) e a identificaccedilatildeo de esqueletos articulados comprovam o caraacutecter primaacuterio destes locais A ocorrecircncia de praacuteticas funeraacuterias secundaacuterias natildeo pode ser completamente afastada mas a sua ocorrecircncia tambeacutem natildeo estaacute de todo comprovadamdash os hipogeus satildeo utilizados de forma consecutiva justapondo-se directa-mente os cadaacuteveres de natildeo adultos e adultos de ambos os sexos deposita-dos na superfiacutecie dos siacutetios jazendo uns sobre os outros directamente o es-poacutelio que os acompanha salvo raros casos perde a ligaccedilatildeo com o inumado

| 427

| 2018

e integra o conjunto fuacutenebremdash a decapagem cuidada e sucessiva dos niacuteveis sepulcrais testemunha o ritmo das deposiccedilotildees a sua sincronia e diacronia o estado de preservaccedilatildeo dos esqueletos como eacute o caso do Hipogeu I do Monte do Carrascal 2 indi-ca ora a passagem de curtos espaccedilos de tempo entre as deposiccedilotildees dos inumados Ao inveacutes o estado de grande desarticulaccedilatildeo de Monte Canelas I sugere a passagem de periacuteodos mais espaccedilados em que os restos perdem a continuidade anatoacutemicamdash a existecircncia de estruturas em materiais pereciacuteveis como parece ser o caso na [ue2] do Hipogeu I do Monte do Carrascal 2 e possivelmente da [ue14] do Hipogeu 2 reconheciacutevel mediante a anaacutelise da posiccedilatildeo dos ossos em relaccedilatildeo agrave arquitectura da anatomia humana potencia a preservaccedilatildeo da con-tinuidade articular do material esqueleacuteticomdash no que concerne agrave colocaccedilatildeo dos mortos a praacutetica dominante parece ser a colocaccedilatildeo do cadaacutever em posiccedilatildeo flectida sobre um qualquer lado do corpo ainda que surjam variantes os corpos natildeo satildeo cobertos por sedimen-to o que facilita a acccedilatildeo de diversos factores tafonoacutemicos como a proacutepria acccedilatildeo de gravidade da aacutegua das chuvas ou a acccedilatildeo de animais necroacutefagos de pequeno porte responsaacuteveis pelo transporte de ossos no seio dos sepul-cros as orientaccedilotildees de deposiccedilatildeo satildeo diversas existindo indiviacuteduos deposi- tados em todos os sentidos dos pontos cardeais emdash a visitaccedilatildeo aos sepulcros eacute feita com a intenccedilatildeo de depositar novos inu-mados mas tambeacutem de manter e reformular os espaccedilos ou acondicionar e arrumar os remanescentes esqueleacuteticos a sobreposiccedilatildeo de novos cadaacute-veres sobre outros parece indicar o retomar de um novo ciclo funeraacuterio os episoacutedios de abatimento desmoronamento eou colapso das estruturas provocam interrupccedilotildees de uso mas eacute sobretudo o esgotamento do espaccedilo disponiacutevel para proceder novas inumaccedilotildees que dita o abandono das estru-turas nalguns casos centenas de anos apoacutes a sua utilizaccedilatildeo inaugural

BIBLIOGRAFIABOAVENTURA R (2009) mdash As antas e o megalitismo da regiatildeo de Lisboa Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Universidade de Lisboa para obtenccedilatildeo do grau de Doutor em Preacute-Histoacuteria Policopiado Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Lisboa 412 pBOAVENTURA R FERREIRA MT NEVES MJ E SILVA AM (2014) mdash Funerary practices and Anthropology during middle-late Neolithic (4th and 3rd millennia BCE) in Portugal Old Bones New insights Anthropologie 183 ndash 205BUIKSTRA J E UBELAKER D (1994) mdash Standards for data collection from human skele-tal remains Arkansas Arkansas Archaeological Survey Research SeriesCHAMBON P (1999) Du cadavre aux ossements ndash la gestion des seacutepultures collectives

428 |

dans la France Neacuteolithique Thegravese de doctorat Universiteacute de Paris I 2 volDUDAY H (2010) mdash The Archaeology of the Dead Lectures in Archaeothanatology Trans-lated by Anna Maria Cipriani and John Pearce Oxford Oxford University Press 148 pDUDAY H E GUILLON M (2006) mdash Understanding the circumstances of decomposition when the body is skeletonized In Schmitt A Cunha E e Pinheiro J (eds) Forensic anthropology and Medicine complementary sciences from recovery to cause of death Humana Press New Jersey 117-158FERREIRA M T (2012) mdash Para laacute da morte Estudo tafonoacutemico da decomposiccedilatildeo ca-daveacuterica e da degradaccedilatildeo oacutessea e implicaccedilotildees na estimativa do intervalo poacutes-morte Tese de Doutoramento para a obtenccedilatildeo do grau de Doutor em Antropologia Forense apresentada agrave Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade de Coimbra 212 pGAacuteLAN E R (1988) mdash Anaacutelisis de las cuevas artificiales en Andaluciacutea y Portugal Colegio Universitario de la Eaacutebida Publicaciones de la Universidad de Sevilla 231 pJANAWAY RC (1996) mdash The decay of buried human remains and their associated mate-rials In Hunter J Roberts C Martin A (eds) Studies in Crime An Introduction to Forensic Archaeology London B T Batsford 58-85KNUumlSEL C J (2014) mdash Crouching in fear Terms of engagement for funerary remains Journal of Social Archaeology Vol 14 (1) 26-58NEVES MJ (em preparaccedilatildeo) mdash 5000 anos na terra Uma leitura arqueotanatoloacutegica das praacuteticas funeraacuterias nos Hipogeus de Monte Canelas I (Alcalar Portimatildeo) e Monte do Carrascal 2 (Ferreira do Alentejo Beja) Dissertaccedilatildeo para obtenccedilatildeo do grau de Doutor Departamento de Ciecircncias da Vida Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade de CoimbraNEVES MJ FERREIRA MT ALMEIDA M E PINHEIRO J (2012) mdash A importacircncia dos processos de decomposiccedilatildeo cadaveacuterica para a interpretaccedilatildeo do registo osteo-arqueoloacutegi-co Almadan IIordf seacuterie nordm17 30-37NEVES M J E SILVA A M (2010) mdash Lrsquohypogeacutee funeacuteraire de Monte Canelas I reacutevision des donneacutes et potentiel informatif Antropo 22 11-18OLIVIER G (1960) mdash Pratique Anthropologique Vigot Fregraveres eds Paris 299 pPARREIRA R E SERPA F (1995) Novos dados sobre o povoamento da regiatildeo de Alcalar (Portimatildeo) no IV III mileacutenios aC Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto Vol 35 (3) pp 44-47PEREIRA G (2013) mdash Introduction une Archeacuteologie des temps funeacuteraires Les Nouvelles de lrsquoArcheacuteologie 3 3-7PINHEIRO J (2006) mdash Decay Process of a Cadaver In Schmit A Cunha E Pinheiro J (eds) Forensic Anthropology and Medicine Complementary sciences from recovery to cause of death Tottowa Human Press 85-116SCHEUER L E BLACK S (2000) mdash Juvenil developmental osteology London Academic PressSELLIER P e BENDEZU-SARMIENTO J (2013) mdash Diffeacuterer la deacutecomposition l e temps suspendu Les signes drsquoune momification preacutealable Les Nouvelles de lrsquoArcheacuteologie 3 30-36SILVA AMS (1996) mdash O hipogeu de Monte Canelas I (IV-III mileacutenios A C) estudo paleo-bioloacutegico da populaccedilatildeo humana exumada Provas de Aptidatildeo Pedagoacutegica e Capacidade Cientiacutefica Departamento de Antropologia Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Univer-sidade de Coimbra 217 p

| 429

| 2018

SILVA AM (2002) mdash Antropologia funeraacuteria e paleobiologia das populaccedilotildees portugue-sas (litorais) do Neoliacutetico Final Calcoliacutetico Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade de Coimbra para obtenccedilatildeo do grau de Doutor em Antropologia Bioloacutegica Policopiado Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade de Coimbra CoimbraSILVA AM GARCIA M LEANDRO I EVANGELISTA L TODRIGUES T e VALERA AC (2017) mdash Mortuary practices in Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz Portugal) Bio-an-thropological approach to tomb 2 Menga - Revista de Prehistoria de Andaluciacutea 871-87SILVA AMS e PARREIRA R (2010) mdashHipogeu I de Monte Canelas caracterizaccedilatildeo antro-poloacutegica dos enterramentos in situ e das conexotildees anatoacutemicas In Gonccedilalves V e Sousa C Transformaccedilotildees e mudanccedila no centro e sul de Portugal o 4ordm e o 3ordm mileacutenio ANE Cacircmara Municipal de Cascais 421-428STJERNA RP (2016) mdash Death in the Mesolithic Or mortuary practices of the last hunter gatherers Iberian peninsula 7th-6th Millennium BCE Occasional papers in archaeology 60 Uppsala University 511 pWASTERLAIN S (2000) mdash Anaacutelise das proporccedilotildees entre os membros dimorfismo sexual e estatura de uma amostra de uma colecccedilatildeo de esqueletos identificados do Museu An-tropoloacutegico da Universidade de Coimbra Dissertaccedilatildeo de mestrado em Evoluccedilatildeo Huma-na DAUC Coimbra 2000ZEMOUR A (2016) mdash De lrsquoanthropologie de terrain agrave lrsquoarcheacuteologie de la mort histoire concepts et deacuteveloppements Qursquoest-ce qursquoune seacutepulture Humaniteacutes et systegravemes funeacuteraires de la Preacutehistoire agrave nos jours XXXVIe rencontres internationales drsquoArcheacuteologie et drsquoHistoire drsquoAntibes pp 23-34

430 |

| 431

| 2018

A Necroacutepole da Lobagueira Viseu expressotildees de arte e arquitetura do megalitismo da Beira Alta Centro de Portugal

The NECROPOLIS OF LOBAGUEIRA VISEU MEGALITHIC ART AND ARCHITECTURE IN BEIRA ALTA CENTRAL PORTUGAL

RESUMOA necroacutepole da Lobagueira localizada na freguesia de Coutos de Viseu no con-celho de Viseu Centro de Portugal eacute sem duacutevida uma das mais extensas e complexas concentraccedilotildees de monumentos sob tumuli de Portugal Se por um lado esta vasta necroacutepole eacute dominada pelas grandes mamoas do Neoliacutetico natildeo podemos descurar a quantidade de monumentos de menor dimensatildeo com cronologias mais recentes que na maioria satelitizam as mamoas neoliacuteti-cas como a conhecida Antela do RepilauNo entanto uma das particularidades desta necroacutepole eacute a presenccedila de arte gravada e pintada nomeadamente na Mamoa do Fojo ou Lobagueira 4 e na Lapa do Repilau Este artigo pretende assim apresentar os resultados dos es-tudos recentemente efetuados das manifestaccedilotildees artiacutesticas nestes dois mo- numentos enquadrando-os no seu contexto crono-cultural e geograacutefico Natildeo obstante o conhecimento ainda muito parcelar de que dispomos na actuali-dade procurar-se-aacute capturar momentos de inteligibilidade histoacuterica no tempo longo de vigecircncia da necroacutepole mediante uma reflexatildeo em torno das continui-dades e descontinuidades entre arte arquitecturas e os usos do espaccedilo na- turalPALAVRA-CHAVE Megalitismo Arte megaliacutetica Centro-norte de Portugal

ABSTRACTLobagueira megalithic tombs are located in the parish of Coutos de Viseu Viseucounty in central-northern Portugal and is one of the most extensive and complex portuguese assemblages The cluster is dominated by large Neolithicmounds yet we cannot disregard the number of monuments smaller in size and

Pedro Sobral de Carvalho Eon Induacutestrias Criativas Lda

Lara Bacelar Alves Bolseira Poacutes-doc (FCT) Centro de Estudos em Arqueologia Artes e Ciecircncias do Patrimoacutenio Universidade de Coimbra

432 |

more recent in date that frequently sit around Neolithic tombs like Antela do Lara Bacelar Alves Bolseira Poacutes-doc (FCT) Centro de Estudos em Arqueolo-gia Artes e Ciecircncias do Patrimoacutenio Universidade de Coimbra Pedro Sobral de Carvalho Eon Industrias Criativas Lda 294 |RepilauOne of the particularities of this group is the presence of paintings and carvingson the tombrsquos slabs namely at Mamoa do Fojo or Lobagueira 4 and Lapa doRepilau This paper intends to present the results of the most recent studies carried out on the megalithic art of both these monuments in the frame of their chronological socio-cultural and geographic contexts Despite the limi- ted knowledge available at present we shall attempt to capture a few moments of the long-term biography of both the tombs and the clusters by means of a re-assessment of the continuities and discontinuitiesKEY WORDS Megaliths Megalithic art Central-northern Portugal

1 INTRODUCcedilAtildeO A necroacutepole da Lobagueira localiza-se a cerca de 7 Km a noroeste da cidade de Viseu encontrando-se inserida na freguesia de Coutos de Viseu no con-celho de ViseuEm pleno planalto beiratildeo a uma altitude meacutedia de 500 m anm os monu-mentos distribuem-se nos terrenos mais elevados hoje ocupados por mato e coberto arboacutereo em torno da feacutertil vaacuterzea onde se ergueu a povoaccedilatildeo de Lobagueira (Figura 1)De acordo com a Carta Geoloacutegica de Portugal agrave escala 1 50 000 folha 17-A o conjunto ocupa uma zona caracterizada pela presenccedila de uma litologia de granitos moscoviacuteticos de gratildeo meacutedio a fino de duas micas pertencente ao maciccedilo da Srordf do Castro A zona da necroacutepole eacute atravessada por uma falha geoloacutegica como sentido NNW-SSE Imediatamente para poente estende-se ateacute uma distacircncia de cerca de 6 kms da necroacutepole uma aacuterea de enorme concentraccedilatildeo de exploraccedilotildees mineiras de estanho balizada entre a bacia de recolha da ribeira de Asnes e ateacute agrave ribeira de Ribamaacute

2 APONTAMENTOS HISTORIOGRAacuteFICOS A necroacutepole da Lobagueira eacute referida pela primeira vez por Amorim Giratildeo em 1923 (Giratildeo 1923) apontando a existecircncia de nove monumentos Lapa do Repilau Mamoa dos 25 Marcos Mamoas 1 a 3 das Queimadas Mamoas 1 e 2 da Lameira do Fojo e mais dois monumentos de difiacutecil localizaccedilatildeo um ldquoa sul da povoaccedilatildeo das Pereirasrdquo (1923 285) e outro ldquoum pouco a Nascente da Mamoa dos 25 Marcosrdquo (idem ibidem) Em relaccedilatildeo a este uacuteltimo cremos ter havido alguma confusatildeo do autor repetindo-se visto tratar-se de uma

| 433

| 2018

das mamoas da Lameira do Fojo concretamente a mamoa 1Alguns monumentos desta necroacutepole voltam a ser alvo de referecircncia em 1968 em resultado de trabalhos arqueoloacutegicos executados em 1966 em alguns tuacutemulos da Beira Alta no acircmbito da Missatildeo arqueoloacutegica LeisnerRi-beiro (Ribeiro 1968) Grande parte dos resultados obtidos foram estudados por Vera Leisner e publicados postumamente (Leisner 1998) De facto o primeiro texto publicado sobre estes trabalhos refere escavaccedilotildees no monu-mentos Chatilde dos Brancos Vale da Cabra Torta Repilau e ldquomais trecircs outros juntos agrave povoaccedilatildeo da Lubagueirardquo (Ribeiro 1968 13) Destes apenas con-seguimos localizar o Vale da Cabra e o do Repilau sendo provaacutevel que os trecircs monumentos referidos junto agrave povoaccedilatildeo da Lobagueira correspondam aos monumentos 1 a 3 das Queimadas Vera Leisner por outro lado refere igualmente um monumento relativamente proacuteximo que denomina de Penedo da Argola na freguesia de Bodiosa que ainda natildeo conseguimos relocalizar (Leisner 1998 33)Em 1966 Irisalva Moita inclui no seu inventaacuterio de monumentos megaliacuteticos da Beira Alta alguns monumentos repetindo a informaccedilatildeo de A Giratildeo (Moi-ta 1966 211-212)Em 1989 integrado no programa ldquoValorizaccedilatildeo do Patrimoacutenio Megaliacuteticordquo

Figura 1 Localizaccedilatildeo da necroacutepole da C M P 125000 flordf 177

434 |

desenvolvido pelo entatildeo Serviccedilo Regional de Arqueologia foram efetuados trabalhos arqueoloacutegicos na Lapa do Repilau e na Antela do Repilau Infe-lizmente apenas os resultados do segundo monumento foram publicados (Cruz et alii 1989)Esta necroacutepole eacute igualmente referida no Roteiro Arqueoloacutegico da Regiatildeo de Turismo Datildeo Lafotildees (Pedro et alii 1994 116-120) onde ressalta o aponta-mento de um terceiro monumento no nuacutecleo do Fojo muito destruiacutedo (idem ibidem 118)Um estudo um pouco mais completo da necroacutepole eacute feito em 1994 no acircm-bito de um artigo sobre a Mamoa 1 da Lameira do Fojo (Gomes amp Carvalho 1995) Os autores referem 14 monumentos em redor da povoaccedilatildeo da Loba-gueira dividindo-os em trecircs nuacutecleos Repilau Fojo e QueimadasEfetivamente na mesma linha de raciociacutenio podemos incluir os monumen-tos sob tumuli em torno das povoaccedilotildees de Lobagueira e de Pereiras numa uacutenica e ampla necroacutepole a Necroacutepole da Lobagueira constituiacuteda por 191 monumentos de diversas tipologias e cronologias que se podem dividir em quatro nuacutecleos Repilau Queimadas Lameira do Fojo e Pereiras Interessa no entanto realccedilar a intensa cobertura vegetal deste territoacuterio que impede a relocalizaccedilatildeo e descriccedilatildeo de alguns monumentos comprometendo seria-mente a identificaccedilatildeo de outros que eventualmente possam existirEsta vasta necroacutepole localizada em pleno no Planalto de Viseu aproveita algumas superfiacutecies aplanadas para a implantaccedilatildeo dos monumentos e faz parte de um conjunto certamente bem mais numeroso de monumentos sob tumuli cuja realidade estaacute longe de ser conhecida2 O facto mais relevante de uma anaacutelise ainda que geneacuterica eacute a constataccedilatildeo de que os nuacutecleos que compotildeem esta necroacutepole incluem monumentos de diversas tipologias e cro-nologias sendo claro deste modo o processo de necropolizaccedilatildeo ao longo de vaacuterias centenas de anos Ainda que faltem estudos exaustivos dos resul-tados obtidos nos monumentos intervencionados (Lapa do Repilau Mamoa 1 da Lameira do Fojo Mamoas 1 a 3 das Queimadas)3 e tendo como base os resultados publicados na obra poacutestuma de Vera Leisner tudo leva a crer ter havido um primeiro momento no Neoliacutetico Final sensivelmente entre os finais do Vordm e princiacutepios do IVordm mileacutenio a C caracterizado por monumen-tos de grandes dimensotildees com e sem corredor alguns dos quais teratildeo sido reocupados em fases posteriores no Calcoliacutetico ou Idade do Bronze como parece apontar parte do espoacutelio da Lapa do Repilau caracterizados essen-cialmente por peccedilas liacuteticas evoluiacutedas e vasos tronco-coacutenicos Admitimos no entanto a construccedilatildeo de novos monumentos neste mesmo periacuteodo coe- xistindo desta forma com os sepultamentos em ldquovelhosrdquo doacutelmens reuti-

1 Grande parte das consideraccedilotildees que fazemos sobre a necroacutepole resultam da prospeccedilatildeo de campo efetuada por um dos autores (PSC) e Luis Filipe Coutinho em 1991De referir igualmente a referecircncia a um monoacutelito em granito perto da povoaccedilatildeo de Pereiras (40ordm 42rsquo 30199rsquorsquo N 08ordm 00rsquo 23170rsquorsquo W) considerado como menir (Caninas et alii 2004 B44) A presenccedila nas imediaccedilotildees de muitos outros monoacutelitos do geacutenero fazem-nos duvidar desta interpretaccedilatildeo podendo antes ser considerado uma demarcaccedilatildeo de terreno

| 435

| 2018

lizando-os Num momento posterior cronologicamente situado nos finais da Idade do Bronze algures entre o seacutec XII e o IX a C teratildeo sido construiacutedas as pequenas mamoas das Queimadas 4 a 7 uma delas com uma estrutura cistoide na zona central A construccedilatildeo deste tipo de tumuli nas periferias das necroacutepoles megaliacuteticas ou a satelitizar as mamoas neoliacuteticas eacute uma consta- taccedilatildeo cada vez mais generalizada do fenoacutemeno tumular da Preacute-histoacuteria Recente da Beira Alta Por outro lado cremos que teraacute sido numa destas pequenas mamoas que teraacute sido feito o achado de uma urna com cinzas citado por Amorim Giratildeo quando refere ldquonuma dessas mamoas quando se tiravam pedras que escondia aparecera lsquouma tijela de barro vermelha cheia de cinzarsquo e vaacuterios objetos que natildeo puderam precisarrdquo (Giratildeo 1921 285)

3 A NECROacutePOLE DA LOBAGUEIRA31 Os monumentos311 Nuacutecleo do RepilauConjunto de trecircs monumentos (Lapa do Repilau Antela do Repilau e Cabe-cinho da Mama) com volumetrias e implantaccedilotildees diferenciadas Se por um lado a Lapa do Repilau e o Cabecinho da Mama se encontram inseridos numa aacuterea de vale aberto jaacute a Antela do Repilau ocupa uma pequena es-planada estrangulada e rodeada de afloramentos havendo uma clara in-tenccedilatildeo de ao inveacutes dos monumentos vizinhos se esconder e mimetizar na paisagem envolvente

Lapa do RepilauCNS 1000 Coordenadas Geograacuteficas 40deg41rsquo421rsquorsquo N 07deg59rsquo189rsquorsquo WLocaliza-se no siacutetio denominado de ldquoRepilaurdquo em terreno de pinhal a 500m SSO da povoaccedilatildeo da Lobagueira freguesia dos Coutos de Viseu concelho de ViseuReferido pela primeira vez por Amorim Giratildeo (Giratildeo 1923-24 283-284) que o visita e descreve apoacutes uma visita feita em 1921 ressaltando a publi-caccedilatildeo de uma foto do monumento ostentando ainda a laje de cobertura da cacircmara entretanto fragmentada nos anos 60 do seacutec XX para a construccedilatildeo de uma represa de aacutegua (Cruz 1990 1)Em 1988 este monumento eacute alvo de novos trabalhos arqueoloacutegicos no acircm-bito do projeto de Valorizaccedilatildeo de Monumentos megaliacuteticos da regiatildeo centro desenvolvido pelo Serviccedilo Regional de Arqueologia da Zona Centro sob a direccedilatildeo de Domingos Cruz A uacutenica referecircncia sobre os resultados destes trabalhos eacute uma nota em que se refere que foi exumado numeroso espoacutelio nomeadamente ldquoconjuntos de pontas de seta ndash predominando as de base 2 A prospeccedilatildeo das aacutereas ardidas do concelho de Vouzela aumentou em mais de 200 o nuacutemero conhecido de monumentos deste concelho (Carvalho amp Carvalho neste volume)3 O uacutenico monumento exaustivamente estudado foi a Antela do Repilau (Cruz et alii 1989)

436 |

triangular e corpo curto _ microacutelitos trapezoidais lacircminas objetos de ador-no etc aleacutem de um lsquoiacutedolo-placarsquo em greacutes com gravaccedilatildeo nas duas faces e uma lsquoplaquinharsquo de tipo idoliforme eacute tambeacutem significativo o conjunto cera-moloacutegico ()rdquo (Cruz 1990 1) A Lapa do Repilau eacute um monumental doacutelmen complexo composto por uma cacircmara poligonal alargada de nove esteios com 275m de comprimento 4m de largura e 275m de altura e corredor desenvolvido orientado a ESE com 540m de comprimento diferenciado da cacircmara em planta e alccedilado con-stituiacutedo por oito esteios no lado norte e nove do lado sul mantendo a altura constante de 180m (figura 2)Antela do RepilauCNS 33621 Coordenadas Geograacuteficas 40deg41rsquo475rsquorsquo N 07deg59rsquo146rsquorsquo WMonumento constituiacutedo por tumulus baixo tipo cairn planta subcircular com 6 m de diacircmetro A cacircmara inseria-se sensivelmente na parte central do tumulus descentrada no sentido NO com planta circular de 170m de diacircmetro formada por 21 pequenos esteios dispostos segundo duas fiadas sobrepostos oscilando entre os 40 cm e 120 cm de altura colocados diretamente sobre o substrato rochoso (Cruz et alii 1989)Mamoa da Cabecinha AgudaCNS 33629 Coordenadas Geograacuteficas 40deg41rsquo285rsquorsquo N 07deg59rsquo258rsquorsquo W

Figura 2 Plantas e alccedilados da Lapa do Repilau 1 Segundo Leisner 1998 2 Segundo Cruz 1998 3 Segundo Carvalho 2013

| 437

| 2018

473m Mamoa de planta subcircular com 17m de diacircmetro e aproximadamente 1m de altura implantado num relevo natural que lhe proporciona maior mon-umentalidade Natildeo apresenta sinais evidentes de violaccedilatildeo e nem eacute visiacutevel qualquer esteio da sua estrutura interna Um muro de divisoacuteria de terreno atravessa o monumento no sentido NNE-SSOJoseacute Coelho refere no dia 1091933 o topoacutenimo ldquoCabecinha Aguda Lapa (doacutelmen)rdquo (Coelho 1933-1934 fl 24) Seraacute que se referia a este monumen-to ou agrave Lapa do Repilau312 Nuacutecleo das QueimadasEste eacute sem duacutevida um dos nuacutecleos mais interessantes da necroacutepole da Lobagueira e cremos do megalitismo beiratildeo pois integra natildeo apenas monumentos megaliacuteticos de cacircmara simples e de corredor como tambeacutem pequenos tumuli do Bronze Final que encerraratildeo estruturas funeraacuterias de tipo cista ou fossa do geacutenero das estudadas na Casinha DerribadaSerra da Muna na freguesia de Mundatildeo ou na Senhora da Ouvida Castro Daire entre outrosEste nuacutecleo de monumentos eacute referido primeiro por A Giratildeo que aponta trecircs ldquoconstruccedilotildees megaliacuteticas bastante danificadasrdquo das quais faz planta Mamoa 1 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40deg42rsquo055rsquorsquo N 07deg59rsquo014rsquorsquo W 543m Denominado por Lobagueira 1 por Vera Leisner (LEISNER 1998 34) tra-ta-se de um monumento de cacircmara simples poligonal alargada (comp maacuteximo - 220 m larg maacutexima - 246 m) com sete esteios visiacuteveis em grani-to natildeo sobrepostos mas sim encostadosA mamoa implantada sobre um pequeno relevo natural que lhe permite maior monumentalidade ostenta um contorno circular com diacircmetro meacutedio de 1450m e aproximadamente 15m de altura Este monumento eacute referenciado por Amorim Giratildeo mencionando a existecircn-cia de 6 esteios (Giratildeo 1923-1924 284-285) Dos trabalhos arqueoloacutegicos efetuados por Vera Leisner natildeo resultou a ob-tenccedilatildeo de qualquer espoacutelio (Leisner 1998 34 e Estampa 21 I-15-40) Mamoa 2 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40deg42rsquo076rsquorsquo N 07deg59rsquo022rsquorsquo W 543 m Doacutelmen de cacircmara poligonal simples bastante arruinado conservando qua-tro esteios completos visiacuteveis em granitoA mamoa implantada sobre um pequeno relevo natural o que lhe confere maior monumentalidade apresenta um contorno circular com cerca de 19 m de diacircmetro e aproximadamente 15 m de altura

438 |

Este monumento eacute referenciado por Amorim Giratildeo mencionando a existecircn-cia de 3 esteios (Giratildeo 1923-1924 284)Dos trabalhos arqueoloacutegicos efetuados por Vera Leisner neste monumento que denomina por Lobagueira 2 natildeo resultou a obtenccedilatildeo de qualquer es-poacutelio (Leisner 1998 34 e Estampa 21 I-15-41) Praticamente encostado ao limite noroeste do tumulus encontra-se uma pequena mamoa sateacutelite (Mamoa 4 das Queimadas)A planta feita em 1991 tem como ponto 0 convencional o topo do esteio 2Mamoa 3 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40ordm 42rsquo 076rsquorsquoN 07ordm 59rsquo 022rsquorsquo W 540m Mamoa de contorno subcircular com cerca de 10 m de diacircmetro e aproxima-damente 1 m de altura que encerra provavelmente um doacutelmen de corredor Da sua estrutura interna bastante arruinada e com profunda concavidade central conservam-se pelo menos quatro esteios graniacuteticos parcial ou total-mente deslocadosO monumento eacute utilizado como elemento demarcatoacuterio de propriedade sen-do atravessado por um muro de pedra vatildeDos trabalhos arqueoloacutegicos efetuados por Vera Leisner neste monumento que denomina de Lobagueira 3 natildeo resultou a obtenccedilatildeo de qualquer es-poacutelio (Leisner 1998 34 e Estampa 21 I-15-42) Amorim Giratildeo tambeacutem o refere mencionando a existecircncia de sete esteios (Giratildeo 1923-1924 284-285)Mamoa 4 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40deg42rsquo077rsquorsquo N 07deg59rsquo029rsquorsquo W 540 mTumulus de reduzidas dimensotildees e pouco percetiacutevel no terreno podendo envolver uma ou mais estruturas do tipo cista ou outro tipo de estruturasEm terra e pedras ostenta um contorno subcircular com cerca de 45m de diacircmetro e aproximadamente 020m de altura e assume-se como um sateacutelite da Mamoa 2A sua cronologia deve situar-se em torno dos finais da Idade do BronzeMamoa 5 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40deg42rsquo100rsquorsquo N 07deg59rsquo079rsquorsquo W 541 m Monumento inserido na periferia da chatilde pouco relevante no terreno even-tualmente encerrando uma cacircmara de tipo cistoide ou outro tipo de estru-turaO tumulus de contorno subcircular com cerca de 8m de diacircmetro e 040m de altura eacute constituiacutedo por inuacutemeros elementos peacutetreos graniacuteticos de pequenas e meacutedias dimensotildees apresentando uma ligeira depressatildeo cen-tral e delimitado por anel liacutetico

| 439

| 2018

Sobre este numa posiccedilatildeo relativamente descentrada e aproximando-se da periferia oeste afloram os topos de duas pequenas lajes - c de 011 m de espessura variando o comprimento entre os 038 m e os 045 m indiciando a existecircncia de uma estrutura cistoide Sensivelmente a meio do tumulus conserva-se um fragmento de laje podendo corresponder agrave tampa desta mesma estruturaMamoa 6 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40deg42rsquo084rsquorsquo N 07deg59rsquo057rsquorsquo WMonumento de pequenas dimensotildees e pouco relevado no terreno4 Pode encerrar uma estrutura do tipo cista e estruturalmente do mesmo tipo dos monumentos 4 e 5 do nuacutecleo das QueimadasMamoa 7 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40ordm42rsquo0845rsquorsquo N 07ordm59rsquo059rsquorsquo WPequena mamoa com as mesmas caracteriacutesticas da anterior foi parcial-mente destruiacuteda por um caminho carreteiro Pode encerrar uma estrutura do tipo cista e estruturalmente do mesmo tipo dos monumentos 4 5 e 6 do nuacutecleo das QueimadasMamoa 8 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40ordm42rsquo062rsquorsquo N 07ordm59rsquo174rsquorsquo WMamoa de terra e pedras truncada a sul pela Rua das Eiras (estrada de acesso agrave Subestaccedilatildeo eleacutectrica da Bodiosa) conservando-se apenas a sua metade norte O diacircmetro eacute de 13m Natildeo satildeo visiacuteveis esteiosMamoa 9 das QueimadasCoordenadas Geograacuteficas 40ordm42rsquo067rsquorsquo N 07ordm59rsquo189rsquorsquo WMamoa de terra e pedras truncada a sul pela Rua das Eiras (estrada de acesso agrave Subestaccedilatildeo eleacutectrica da Bodiosa) conservando-se apenas a sua metade norte O diacircmetro eacute de 10m Do lado oposto agrave estrada encontra-se um provaacutevel esteio deste monumento deslocado313 Nuacutecleo da Lameira do FojoMamoa 1 do FojoCNS 2427 Coordenadas Geograacuteficas 40ordm41rsquo547rsquorsquo N 07ordm58rsquo495rsquorsquo WEste monumento encontra-se situado no lugar da ldquoLameira do Fojordquo numa zona aplanada agrave cota meacutedia de 532m em aacuterea de pinhal junto a um camin-ho de terra batida que se dirige para a ldquoSenhora do Castrordquo cerca de 400m para E da aldeia da LobagueiraReferenciado pela primeira vez por Amorim Giratildeo (1923-24 285) este monumento foi parcialmente escavado em 1966 por Vera Leisner e Leo-nel Ribeiro permitindo a obtenccedilatildeo de algum espoacutelio que com as devidas reservas parece apontar para um momento antigo do megalitismo beiratildeo 4 A intensa cobertura vegetal que cobre o terreno facto que ocorria jaacute em 1991 natildeo permitiu a correta descriccedilatildeo das mamoas 6 e 7

440 |

natildeo parecendo ter existido uma reutilizaccedilatildeo posterior (Leisner 1998 34 e Estampas 21 I-15-43 22 e 23) Durante estes trabalhos foi identificado o motivo pintado num dos esteios da cacircmara Seratildeo estas pinturas que E Shee Towig vem ver e estudar na deacutecada de 70 do seacuteculo passado acres-centando novos motivos que colocam este monumento numa posiccedilatildeo iacutempar no contexto do megalitismo europeu A Mamoa 1 da Lameira do Fojo classificada como Imoacutevel de Interesse Puacute-blico (Decreto nordm 26-A92 de 1 de Junho) encerra um doacutelmen de corredor desenvolvido cuja cacircmara se apresenta muito destruiacuteda conservando apenas trecircs dos nove ou onze esteios que primitivamente constituiacuteam esta parte do monumento O estado atual dos elementos peacutetreos existentes eacute o seguinte E9 ndash completo in situ E10 ndash Idem E11 ndash fragmentado ao niacutevel meacutedio inferior mas com a base no siacutetio original A altura maacutexima visiacutevel da cacircmara eacute de 198m O corredor diferenciado da cacircmara em planta e secccedilatildeo apresenta-se em oacuteptimo estado de conservaccedilatildeo e parcialmente obstruiacutedo mantendo grande parte das lajes de cobertura Eacute composto por oito esteios do lado sul e dez do lado norte Com exceccedilatildeo do esteio 13 fracturado ao niacutevel da base e tom-bado para o interior e do esteio 21 ligeiramente deslocado todos os outros se conservam completos e nas suas posiccedilotildees primitivasO mesmo eacute extensivo agraves lajes de cobertura em nuacutemero de cinco faltando apenas a que se apoiaria nos esteios 7 13 e 14 O corredor com uma altu-ra mais ou menos constante e com todos os seus esteios sobrepostos vai alargando agrave medida que se aproxima da entrada da cacircmara O comprimento total eacute de aproximadamente 650m a largura agrave entrada a meio e no teacutermi-no deste eacute respetivamente de 040m 096m e 192m Orientado a ESEO tumulus em terra e pedras e cobrindo parcialmente as lajes do corredor eacute de grandes dimensotildees com cerca de 3m de altura e muito alongado no sentido nascente medindo no seu eixo maior (E-O) cerca de 30m No lado norte apresenta-se ligeiramente cortado pelo caminho de terra batidaNa aacuterea fronteira ao corredor conservam-se vestiacutegios de outras estruturas que parecem relacionar-se com o sistema de acesso ao monumento ndash ldquocorredor intratumularrdquo e ldquoaacutetriordquo ndash paralelizaacuteveis com outras do mesmo tipo recentemente estudadas no Centro e Norte de PortugalMamoa 2 do FojoCNS 5086 Coordenadas Geograacuteficas 40ordm41rsquo507rsquorsquo N 07ordm58rsquo472rsquorsquo WMamoa de grandes dimensotildees de contorno subcircular com 18m de diacircme- tro do eixo N-S composta por pedras de granito parcialmente truncada a este pelo estradatildeo apresentando cerca de 3m de altura e uma profunda e

| 441

| 2018

extensa cratera de violaccedilatildeo central que se estende para sul por onde teratildeo sido arrancados os esteiosMamoa 3 do FojoCNS 5086 Coordenadas Geograacuteficas (medida aproximada) 40deg41rsquo5271rdquoN 07deg58rsquo4763rdquoWMamoa referida no mapa de Vera Leisner (Leisner 1998 estampa 21 A) e por Inecircs Vaz que diz ldquoEntre as duas situa-se a mamoa do Fojo 3 de que resta apenas a base circular pois o monumento foi completamente destruiacute-do (Pedro et alii 119)Atualmente natildeo foi possiacutevel a identificaccedilatildeo deste monumentoMamoa dos 25 MarcosCNS 5063 Coordenadas Geograacuteficas (aproximadas) 40deg41rsquo5853rdquoN 07deg58rsquo5868rdquoWNa deacutecada de 20 do seacutec XX no acircmbito de prospecccedilotildees que entatildeo desen-volvia no concelho Amorim Giratildeo mencionava a existecircncia de uma grande mamoa com cerca de 30m de diacircmetro cujas grandes pedras haviam sido retiradas para construccedilotildees vaacuterias Colheu ainda a informaccedilatildeo de que ldquo() em volta daquele morouccedilo () havia em tempos um passeio como na Cava de Viriato em Viseu ()rdquo adiantando a hipoacutetese de estar-se perante um ldquo() monumento sepulcral () rodeado por um ciacuterculo de pedras ou cromelechrdquo (Giratildeo 1923-24 284-285)Atualmente os uacutenicos vestiacutegios deste monumento limitam-se a um amon-toado caoacutetico de elementos graniacuteticos de dimensotildees vaacuterias que muito provavelmente fariam parte da estrutura do tumulus Haacute algumas dezenas de anos foi completamente arrasado a fim de possibilitar um melhor aprovei- tamento agriacutecola do terreno onde estava implantado Segundo o parecer de um popular que participou nessa mesma destruiccedilatildeo teratildeo sido arrancados grandes blocos de pedras semelhantes aos da Lameira do Fojo 1Tendo como base estas informaccedilotildees cremos que este seria um doacutelmen de corredor com uma dimensatildeo consideraacutevel314 Nuacutecleo das PereirasMamoa 1 de PereirasCoordenadas Geograacuteficas 40ordm42rsquo123rsquorsquo N 07ordm59rsquo545rsquorsquo W 524mTumulus implantado sobre um pequeno relevo natural apresentando um contorno ovalado com cerca de 175 de diacircmetro N-S e 19m de diacircmetro E-O A altura eacute de aproximadamente 15m Ostenta uma pequena depressatildeo central natildeo sendo visiacutevel qualquer esteio da sua estrutura internaMamoa 2 de PereirasCoordenadas Geograacuteficas 40ordm42rsquo119rsquorsquo N 07ordm59rsquo526rsquorsquo W 531m

442 |

Montiacuteculo tumular aparentemente de meacutedias dimensotildees e talvez bastante compactado com cerca de 10m no eixo N-S e 12m no eixo E-O sendo a altura de cerca de 1m Apresenta depressatildeo central embora natildeo muito profunda sendo visiacuteveis dois esteios da cacircmara inclinados para o interior e aflorando acima do solo atual em cerca de 034m e 040mPoderaacute corresponder ao mencionado por Amorim Giratildeo (GIRAtildeO 1923-24 285) e eventualmente ao que mereceu a atenccedilatildeo por parte de Vera Leisner e Leonel Ribeiro (RIBEIRO amp LEISNER 1968 13)Mamoa 3 de Pereiras40ordm42rsquo157rsquorsquo N 07ordm59rsquo326rsquorsquo W 530mMonumento identificado no acircmbito dos trabalhos de acompanhamento arqueoloacutegico da instalaccedilatildeo da linha eleacutetrica (Canha amp Costa 2005) Trata-se de uma mamoa em terra e pedra de planta eliacuteptica com 8m de diacircmetro N-S e 1230m de diacircmetro E-O e cerca de 1m de altura Da esqueleto peacutetreo eacute possiacutevel observar-se o topo de 3 esteios em granito que aparentam estar fraturados pelo topo estando 2 deles in situO asseio da linha tem contribuiacutedo para a quase total destruiccedilatildeo deste mo- numento

5 A ARTE MEGALIacuteTICA DA LAPA DO REPILAUOs resultados do levantamento da arte megaliacutetica da Lobagueira foram da-dos a conhecer publicamente por um de noacutes (PSC) no IIordm Coloacutequio Interna- cional sobre Arqueologia de Transiccedilatildeo o mundo funeraacuterio realizado em Eacutevo-ra entre os dias 29 de Abril e 1 de Maio de 2013 Um aspecto interessante relativamente agrave arte megaliacutetica e em particular da Lapa do Repilau prende-se com o que foi observado e natildeo o que natildeo foi agrave passagem de diversos estudiosos e ao longo de quase um seacuteculo O monumento foi identificado em 1921 por Amorim Giratildeo (1923-1924) que apenas menciona a presenccedila de fossetes nalguns esteios do corredor Tampouco Leonel Ribeiro (1968) se refere agrave existecircncia de representaccedilotildees graacuteficas na cacircmara De igual modo E Shee Twohig na sua obra seminal ldquoThe Megalithic Art of Western Europerdquo (1981) regista somente as pinturas da mamoa 1 do Fojo que inventaria sob a designaccedilatildeo lsquoLubagueira 4rsquo seguin-do as indicaccedilotildees de Celso Tavares da Silva (1981 151) A autora menciona a Lapa do Repilau apenas como referecircncia de localizaccedilatildeo do monumento que estudou constante no artigo de A Giratildeo (idem ibidem) Jaacute nos finais da deacutecada de 1990 e iniacutecios do ano 2000 Fernando Carrera no acircmbito do seu doutoramento e seguindo as mesmas referecircncias bibliograacuteficas efetua registo fotograacutefico dos esteios pintados da mamoa do Fojo visita a Lapa do

| 443

| 2018

Repilau mas menciona apenas a presenccedila de gravuras (Carrera 2011 170 e lacircmina 53-3) recorrendo a informaccedilotildees contidas no relatoacuterio ineacutedito da autoria Domingos Cruz (1989) que procedera agrave escavaccedilatildeo do monumento na deacutecada anteriorA Lapa do Repilau ostenta figuraccedilotildees pintadas eou gravadas em dois dos esteios da cacircmara funeraacuteria no monumental esteio de cabeceira e no que se encontra imediatamente a norte (figura 3) O acervo representa cremos uma pequena parte da decoraccedilatildeo que originalmente recobriria aqueles elemen-tos peacutetreos Tal como se pode apreciar na fotografia publicada por Amorim Giratildeo (1923-1924 283) a laje de cobertura da cacircmara5 encontrava-se ligei-ramente inclinada para norte abrigando o esteio onde se conservam os mo-tivos pintados enquanto o de cabeceira onde apenas se registam gravuras e um pequeno traccedilo pintado se encontrava exposto aos elementos Jaacute E Shee Twohig assinalara que a presenccedila da laje de cobertura permite a melhor con- servaccedilatildeo da pintura na medida em que estaacute ausente de todos os monumen-tos que apresentam apenas gravuras agrave exceccedilatildeo de dois (1981 34)

Figura 3 Vista dos motivos no alccedilado S-N da cacircmara da Lapa do Repilau

444 |

Neste artigo apresentamos os registos graacuteficos dos dois ortostatos decora-dos obtidos durante os trabalhos de levantamento da arquitetura da Lapa do Repilau em 2013 O esteio de cabeceira com c de 2 20m x 1 60m de granito de gratildeo fino a meacutedio exibe a c de 0 60 m do solo dois mo-tivos de feiccedilatildeo vagamente antropomoacuterfica Esta eacute sugerida na figura de cima pelo contorno da cabeccedila e ombros e na figura de baixo inserida no corpo volumoso incompleto da primeira tambeacutem pelos braccedilos e torso que configuram uma morfologia cruciforme Ambas ostentam duas pequenas linhas retas verticais na zona da cabeccedila O corpo largo do motivo 2 recor-da de certa forma as imagens da chamada lsquopele esticada de animalrsquo Natildeo se tratam de representaccedilotildees comuns no reportoacuterio figurativo da arte megaliacutetica peninsular sobretudo na sua forma gravada Pode encontrar-se um paralelo aproximado para o motivo 1 a figura de feiccedilatildeo cruciforme da Orca de Forles ou mesmo do contorno da zona superior (cabeccedila e mem-bros superiores) do antropomorfo pintado no esteio 5 do doacutelmen de Vila- rinho da Castanheira Um outro aspeto muito relevante nesta composiccedilatildeo eacute a presenccedila de um seg-mento de linha pintada a vermelho que ocupa o interior de um dos sulcos na extremidade superior direita do motivo 1 e se estende para o seu exte-rior (Fig 4) A c de 0 50 m desta composiccedilatildeo registou-se um outro motivo gravado a picotado com forma de gancho sendo a base marcada por uma linha retaO esteio imediatamente agrave direita da laje de cabeceira exibe um magniacutefico conjunto de motivos figurativos pintados a vermelho de traccedilo esquemaacutetico entre os quais se contam dois antropomorfos um ramiforme e um provaacutevel zoomorfo (Figs 5 e 6) O motivo 1 surge na zona inferior esquerda do ortostato a c de 0 20 m da linha do solo atual e configura a representaccedilatildeo de uma figura humana com cabeccedila alongada braccedilos delineados a traccedilo grosso e pernas em arco O motivo 2 encontra-se bastante delido poreacutem sugere-se que se trataraacute da representaccedilatildeo esquemaacutetica de um quadruacutepede figurado na vertical Na parte superior do esteio encontram-se duas figuras lado a lado O motivo 3 eacute um antropomorfo esquemaacutetico bastante delido na zona da cabeccedila que apresenta um ponto entre os membros inferiores detalhe que remete claramente para o universo estiliacutestico da Arte Esque-maacutetica pintada e gravada ao ar livre Do seu lado direito foi representado um ramiforme (motivo 4) formado por um eixo vertical sobreposto por seis traccedilos paralelosHaacute dois aspetos principais a salientar relativamente aos recursos teacutecnicos e acervo figurativo identificaacuteveis na decoraccedilatildeo plaacutestica da cacircmara 5 O autor refere que a laje de cobertura hoje desaparecida teria contorno ldquogrosseiramente hexagonalrdquo media 2 50 m de comprimento por 2 40 m de largura e encontrava-se disposta obliquamente (Giratildeo 1923-1924 284)

| 445

| 2018

A presenccedila de pintura no interior de um sulco gravado vem consubstanciar a proposta avanccedilada por F Carrera e R Faacutebregas de que na maioria dos monumentos que hoje apenas conservam gravuras teraacute existido igualmente pintura simples que poderia ser aplicada sobre os sulcos complementando o seu desenvolvimento (2006 80-81) Do conjunto de arte parietal em se- pulcros megaliacuteticos no norte e centro de Portugal satildeo 16 aqueles onde se verifica a complementaridade entre pintura e gravura sendo que no doacutelmen do Juncal Mota Grande e Aliviada se pode ainda observar pigmento verme- lho no interior dos sulcos gravados Esta complementaridade parece ser rela- tivamente frequente Mais se acresce que a identificaccedilatildeo de elementos dormentes de moacutes manuais com vestiacutegios de pigmento em monumentos onde apenas satildeo hoje observaacuteveis gravuras a exemplo da mamoa 1 do Taco (Alves e Carvalho 2017) ou do doacutelmen 1 do Carapito (Ribeiro 1968) poderaacute ser indicador de que outrora essa complementaridade poderaacute ter existido naqueles tuacutemulos Por seu lado no que respeita agrave iconografia presente na Lapa do Repilau observa-se um certo contraste entre o conjunto de motivos pintados e gra-vados sendo que o primeiro encerra uma notoacuteria coerecircncia estiliacutestica inte-grando figuraccedilotildees com paralelos noutros monumentos megaliacuteticos do inte-

Figura 4 Pormenor do segmento de linha pintada a vermelho que ocupa o interior de um dos sulcos na extremidade superior direita do motivo 1

446 |

rior centro e norte da Peniacutensula assim como em siacutetios com Arte Esquemaacuteti-ca quer pintada quer gravada Como se sabe esta uacuteltima tradiccedilatildeo artiacutestica em formaccedilotildees rochosas naturais eacute tipificada pela figuraccedilatildeo esquematizada da figura humana e as caracteriacutesticas teacutecno-morfoloacutegicas dos antropomor-fos presentes no monumento em apreccedilo satildeo indissociaacuteveis dos que ocorrem nas pinturas rupestres em abrigos Satildeo aliaacutes numerosos os exemplos de antropomorfos esquemaacuteticos pintados em contexto megaliacutetico Eles surgem na vizinha mamoa 1 do Fojo (Lubagueira 4) na sobejamente conhecida Orca de Juncais Arquinha da Moura Orca do Tanque doacutelmen de Zedes Padratildeo e no doacutelmen do Picoto do Vasco Algumas tipologias surgem mesmo nos trecircs tipos de suporte como eacute o caso do motivo 1 da Lapa do Repilau que apresenta semelhanccedilas formais com um dos antropomorfos no abrigo das Lapas Cabreiras (Reis et al 2017) com um outro pintado no doacutelmen do Padratildeo (eg Shee 1981) e com o motivo 92 gravado na rocha F-155 no vale do Tejo (Baptista 1981) O detalhe que acima assinalaacutemos relativamente ao motivo 3 surge numa das figuras que integra a composiccedilatildeo central do abrigo 1 do Colmeal (Reis et al 2017) e num dos antropomorfos pintados no doacutelmen de Zedes (eg Shee 1981 Fig 32) Os ramiformes satildeo conhecidos em contexto megaliacutetico nos doacutelmenes de Pedralta e Mamaltar de Vale de Fa-chas (idem ibidem) Em formaccedilotildees rochosas naturais ocorrem nos abrigos

Figura 5 Motivos pintados com imagem polarizada

Figura 6 Levantamento das pinturas do esteio lateral

| 447

| 2018

da Pala Pinta no abrigo 1 da Ribeira do Mosteiro e no painel A do Forno da Velha (Figueiredo 2013) Curiosamente tal como sucede na Lapa do Repi- lau neste uacuteltimo abrigo verifica-se a associaccedilatildeo entre ramiformes e zoomorfos no mesmo painel sendo que a mesma ocorre no doacutelmen de Cu-billero de Lara (Burgos) A associaccedilatildeo entre motivos zoomoacuterficos e antropo-morfos eacute bem conhecida dos doacutelmenes da Arquinha da Moura e Orca de Juncais

6 NECROacutePOLE DA LOBAGUEIRA ARTE E ARQUITETURAS NO CONTEXTO DA PREacute-HISTOacuteRIA RECENTE DO NORTE DE PORTUGALNa descriccedilatildeo da iconografia registada na Lapa do Repilau sublinhou-se a relaccedilatildeo morfo-estiliacutestica entre o acervo de motivos pintados e o reportoacuterio figurativo da pintura esquemaacutetica em abrigos sob rocha Eacute hoje consensual que a presenccedila destes motivos nos doacutelmens da Beira Alta e Traacutes-os-Montes vai ao encontro da proposta de Primitiva Bueno e Rodrigo Balbin (1992) de que a arte megaliacutetica pode ser considerada uma expressatildeo da Arte Esque-maacutetica Poreacutem um de noacutes (LBA) tem vindo a enfatizar a ideia de que se se atender agraves caracteriacutesticas da arte no interior dos monumentos megaliacuteticos na Galiza ocidental e litoral norte de Portugal verifica-se que a sua expressatildeo eacute maio- ritariamente abstrata e geomeacutetrica o que motivou a seu tempo J M Bello Dieacuteguez a individualizar este conjunto sob a designaccedilatildeo de ldquogrupo noroci-dental de arte megaliacuteticardquo (eg Alves 2003 2009) O mesmo autor sugeriu mesmo que se poderia definir uma lsquozona de transiccedilatildeorsquo entre este e o chama-do lsquogrupo de Viseursquo ao longo do cordatildeo montanhoso galaico-duriense (Bello Dieacuteguez 1995)Este aspeto conduz agrave necessaacuteria reflexatildeo em torno da relaccedilatildeo espacial temporal e estiliacutestica entre as diversas tradiccedilotildees artiacutesticas que convergem no centro-norte de Portugal no Neoliacutetico De acordo com os conhecimentos atuais a Arte Atlacircntica e a pintura Esquemaacutetica ocupam aacutereas diferenciadas no norte de Portugal correspondendo agraves duas grandes aacutereas biogeograacutefi-cas europeias que convergem no noroeste peninsular a regiatildeo Atlacircntica e a regiatildeo Mediterracircnica (Alves 2012) Considerando a nossa proposta de recuo da cronologia da origem da Arte Atlacircntica para o IVordm mileacutenio aC estas duas tradiccedilotildees rupestres teriam sido parcialmente contemporacircneasUm simples exerciacutecio cartograacutefico permite verificar que a aacuterea por onde se distribui a arte megaliacutetica de tendecircncia abstrata e geomeacutetrica coincide gros-so modo com a distribuiccedilatildeo geograacutefica da Arte Atlacircntica peninsular (Alves 2003) Pese embora sejam escassos os motivos individuais comuns agrave

448 |

tradiccedilatildeo megaliacutetica e agrave arte de ar livre agrave exceccedilatildeo da combinaccedilatildeo de ciacuterculos concecircntricos gravada num esteio da Mota Grande (Baptista 1997) as se-melhanccedilas formais das composiccedilotildees em cacircmaras dolmeacutenicas ao longo da aacuterea da fachada Atlacircntica do Noroeste consubstanciam a existecircncia de um certo lsquoar de famiacuteliarsquo (eg Alves 2003 2009 2014) Mas as questotildees que mantemos eacute satildeo as seguintes- se a criaccedilatildeo da Arte Atlacircntica em afloramentos rochosos estaacute intimamente relacionada com a perceccedilatildeo e experiecircncia da paisagem seria expectaacutevel que exatamente as mesmas convenccedilotildees fossem aplicadas no interior dos monumentos megaliacuteticos imbuiacutedos de distinta funcionalidade - poderiacuteamos estar a lidar com um amplo sistema de representaccedilatildeo sim-boacutelica de caraacutecter iminentemente abstrato com convenccedilotildees estiliacutesticas di- ferentes uma vocacionada para contextos funeraacuterios outra que incita agrave perce- ccedilatildeo da paisagem a arte de ar livre uma laquoarte geograacuteficaraquo como a definiu R Bradley (1997)A necroacutepole da Lobagueira eacute sem duacutevida um dos mais fantaacutesticos conjun-tos tumulares preacute-histoacutericos do concelho de Viseu Do conjunto de 19 mo- numentos apenas 3 foram arqueologicamente intervencionados sendo que os resultados se encontram na sua maioria por tratar e divulgar dificul- tando obviamente uma anaacutelise de conjunto Mesmo assim julgamos po- der fazer algumas consideraccedilotildees gerais que serviratildeo essencialmente como base para futuros trabalhos que privilegiem o estudo do conjunto tumular e natildeo um ou outro monumento isoladoEsta necroacutepole integra numa aacuterea relativamente restrita monumentos de diversas cronologias e arquiteturas Se por um lado se podem observar doacutelmens complexos de cacircmara e corredor edificados no Neoliacutetico como a Lapa do Repilau a Mamoa 1 da Lameira do Fojo e muito provavelmente a Mamoa da Cabecinha Aguda Mamoa 3 das Queimadas a Mamoa dos 25 Marcos e a Mamoa 2 do Fojo tambeacutem satildeo registados doacutelmens simples com uma cronologia igualmente neoliacutetica () como as mamoas 1 e 2 das Queimadas Por outro lado agrave semelhanccedila de tantas outras necroacutepoles da Beira Alta a necroacutepole foi crescendo num verdadeiro movimento de necro- polizaccedilatildeo sendo de registar pelo menos para a Idade do Bronze a edifi-caccedilatildeo de novos monumentos como a Antela do Repilau e mais tarde jaacute nos finais da Idade do Bronze as mamoas 4 a 9 das QueimadasContudo alguns monumentos complexos como a Lapa do Repilau e a Ma-moa 1 da Lameira do Fojo teratildeo tido uma reocupaccedilatildeo posterior ao Neoliacuteti-co podendo abarcar um periacuteodo amplo que compreende o Calcoliacutetico FinalBronze Inicial evidenciado essencialmente pelo caraacutecter evolucionado de

| 449

| 2018

alguns dos materiais liacuteticos e ceracircmicosEm conclusatildeo a necroacutepole da Lobagueira parece obedecer a um padratildeo que se comeccedila a desenhar em que algures no Neoliacutetico final entre os finais do Viniacutecios do IV mileacutenio a C teratildeo sido edificados grandes monumentos de corredor e muito provavelmente monumentos de cacircmara simples (esta eacute ainda uma questatildeo em aberto que apenas poderaacute ser respondida com futuros trabalhos em doacutelmens desta tipologia) Mais tarde no Calcoliacuteticoiniacute- cios da Idade do Bronze por volta do III mileacutenio alguns destes monumen-tos de corredor teratildeo sido reutilizados mas assistir-se-agrave igualmente agrave construccedilatildeo de novos monumentos sobretudo na Idade do Bronze Efetiva-mente embora natildeo haja cronologias absolutas para a Antela do Repilau a sua implantaccedilatildeo topograacutefica a sua arquitetura e o espoacutelio exumado apontam para que seja um monumento enquadraacutevel nos iniacutecios ou meados da Idade do Bronze refletindo uma nova postura perante a morte simbolizada entatildeo na construccedilatildeo de monumentos de caraacutecter individual O epiacutelogo deste movi-mento tumular termina com a proliferaccedilatildeo de pequenos tumuli construiacutedos nos finais da Idade do Bronze entre os seacutec XI e IX a C que tanto satetilizam os monumentos neoliacuteticos como eacute o caso do nuacutecleo das Queimadas como formam autecircnticas necroacutepoles que se distribuem por toda a regiatildeo centro com exemplos flagrantes na Plataforma Central junto agrave cidade de Viseu [necroacutepoles da Casinha Derribada e Serra da Muna - Monumento 4 da Serra da Muna Viseu (Cruz et alii 1998)] na Serra do Montemuro [necroacutepole da Senhora da Ouvida (Cruz amp Vilaccedila 1999)] na Serra do Caramulo [necroacutepole das Almas do Capitatildeo Albitelhe Vale de Espinho] (Carvalho amp Carvalho neste volume) no Maciccedilo da Gralheira (Silva 1997) e mais recentemente na Cordilheira Central a sul da Serra da Estrela (Caninas et alii 2008) Este universo dos tumuli dos finais da Idade do Bronze eacute extremamente in- teressante mas muito complexo com estruturas que compreendem cistas covachos recintos peacutetreos estruturas anexas etc cujo estudo ainda se en-contra numa fase muito precoce e que merece tratamento num texto de outro acircmbito (Vilaccedila 2017)

BIBLIOGRAFIAALVES Lara Bacelar (2003) - The movement of Signs-Post-glacial rock art in North-wes-tern Iberia Department of Archaeology PhD thesis Universidad de ReadingALVES Lara Bacelar (2009) - O sentido dos signos - reflexotildees e perspectivas para o estu-do da arte rupestre do poacutes-glaciar no Norte de Portugal in R de Balbiacuten Behrmann (ed) Arte Prehistoacuterico al aire libre en el sur de Europa Junta de Castilla y Leon 381-413ALVES Lara Bacelar (2012) - The circle the cross and the limits of abstraction and figu-ration in north-western Iberian rock art in A Cochrane and A Jones (eds) Visualising the

450 |

Neolithic abstraction figuration performance representation Neolithic Studies Group Seminar Papers 13 Chapter 13 Oxbow Books Oxford 198-214ALVES Lara Bacelar (2014) - Intermitecircncias a arte e a Idade do Bronze no Ocidente pen-insular A Idade do Bronze em Portugal Antrope ndash seacuterie monograacutefica 1113088 Em linha1113088 nordm1 Centro de Preacute-histoacuteria Instituto Politeacutecnico de Tomar 15-51 Disponiacutevel em linha httpwwwcphiptptpagina=unidade_editorial_e_didacticaampseccao=revista_-antrope-ampme-dia=monografiaamplang=PTmediaALVES Lara Bacelar e CARVALHO Pedro Sobral de (2017) - A arte megaliacutetica da Mamoa 1 do Taco (Albergaria-a-Velha Aveiro) Novos resultados Arqueologia em Portugal 2017 ndash Estado da Questatildeo - Actas do II Congresso da Associaccedilatildeo Portuguesa de Arqueoacutelogos Lisboa 1001-1015BAPTISTA Antoacutenio Martinho (1981) - A rocha F-155 e a origem da arte do vale do Tejo Monografias arqueoacutelogicas 1 Porto GEAPBELLO DIEacuteGUEZ J M 1995 Arquitectura arte parietal y manifestaciones escultoricas en el Megalitismo noroccidental in F P Losada and L Castro Peacuterez (eds) Arqueoloxiacutea e arte na Galicia Prehistoacuterica e Romana Monografias 7 A Coruntildea Museu Arqueoloacutexico e Histoacuterico de A CoruntildeaCANHA Alexandre COSTA Faacutetima (2005) - Relatoacuterio final dos trabalhos de acompanha-mento arqueoloacutegico Linha A 60 KV Bodiosa ndash Gumiei ndash Apoios nordm 1 nordm 2 e nordm 3 Linha A 60KV Orgens ndash Bodiosa ndash Apoios nordm 49 nordm 48 e nordm 47 Zeacutephyrus PolicopiadoCANINAS Joatildeo Carlos CANHA Alexandre SABROSA Armando HENRIQUES Francisco HENRIQUES Fernando Robles CORREIA Alexandre CHAMBINO Maacuterio (2004) - Adita-mento ao Estudo de Incidecircncias Ambientais do Parque Eoacutelico de Fornelo do Monte e Interligaccedilotildees Eleacutectricas a Vouzela Bodiosa e Tondela Emerita Empresa Portuguesa de Arqueologia policopiadoCANINAS J C Sabrosa A HENRIQUES F MONTEIRO J L CARVALHO E Batista Aacute CHAMBINO M HENRIQUES F R MONTEIRO M CANHA A CARVALHO L GERMANO A (2008) Novos dados para o conhecimento da Preacute-Histoacuteria Recente do Maciccedilo Central na Beira Interior Sul Tumuli e Gravuras Rupestres na Serra Vermelha e na Serra de Al-veacutelos (Oleiros ndash Castelo Branco) Atas das I Jornadas do Patrimoacutenio de Belmonte Cacircmara Municipal de Belmonte pp 1-38CARRERA RAMIacuteREZ Fernando (2011) ndash El Arte parietal en los monumentos megaliacuteticos de l Noroeste Ibeacuterico BAR International series 2190 OxfordCARRERA RAMIacuteREZ Fernando e FAacuteBREGAS VALCARCE Ramoacuten (2006) ndash Arte parietal megaliacutetico en el Noroeste Peninsular Conocimiento y conservacioacuten Toacuterculo Edicioacutens Santiago de Compostela COELHO Joseacute (1933-1934) - Cadernos de Notas Arqueoloacutegicas nordm 12 fl 24CRUZ Domingos J Da (1990) ndash Visita de estudo Itineraacuterio Preacute-histoacuterico Os monumentos megaliacuteticos e de tradiccedilatildeo megaliacutetica II Coloacutequio Arqueoloacutegico de Viseu (Viseu Abr 1990) policopCRUZ Domingos J da CUNHA Ana Maria Leite da GOMES Luis Filipe C CARVALHO Pedro Sobral de (1989) - Escavaccedilatildeo da Antela do Repilau (Couto de Cima Viseu) Beira Alta vol XLVIII (fasc 3-4) pp 387-400CRUZ Domingos GOMES Luiacutes Filipe CARVALHO Pedro Sobral de (1998a) O grupo de tumuli da Casinha Derribada (Concelho de Viseu) Resultados preliminares dos trabalhos de escavaccedilatildeo dos monumentos 3 4 e 5 Coniacutembriga 37 pp 5-76

| 451

| 2018

CRUZ Domingos VILACcedilA Raquel (1999) O grupo de tumuli da Senhora da Ouvida (Mon-teiras Castro Daire Viseu) Resultado dos trabalhos arqueoloacutegicos Estudos Preacute-histoacuteri-cos Centro de Estudos Preacute-Histoacutericos da Beira Alta vol VII pp 129-161FIGUEIREDO Sofia Soares de (2013) ndash A arte esquemaacutetica do Noroeste Transmontano contextos e linguagens Universidade do Minho Tese de doutoramento 2 volsGIRAtildeO Amorim (1923-1924) - Monumentos preacute-histoacutericos do concelho de Viseu O Ar-cheologo Portuguecircs 1ordf Seacuterie 26 Lisboa pp 282-288GOMES Luiacutes Filipe Coutinho Lopes CARVALHO Pedro M Sobral de (1995) ndash A Mamoa 1 da Lameira do Fojo (Couto de Cima Viseu) Estudos Preacute-histoacutericos Vol III Centro de Estudos Preacute-histoacutericos pp 213-221LEISNER Vera (1998) Die Megalithgraumlber der Ibeirichen Halbinsel Der Western 4 Lieferung Walter de Gruyter Berlin-New YorkMOITA Irisalva (1966) - Caracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Alta Ethnos 5 Lisboa pp 189-277PEDRO Ivone VAZ Joatildeo L Inecircs ADOLFO Jorge (1994) - Roteiro Arqueoloacutegico da Regiatildeo de Turismo Datildeo Lafotildees ViseuREIS Maacuterio ALVES Lara Bacelar CARDOSO Joatildeo Muralha CARVALHO Baacuterbara (2017) - Art-facts ndash os contextos arqueoloacutegicos da Arte Esquemaacutetica no Vale do Cocirca In Garcecircs S Gomes H Martins A e Oosterbeek L A Arte das Sociedades Preacute-histoacutericas (Actas do IV Congresso de Doutorandos e Poacutes-doutorandos 26-29 de Novembro Maccedilatildeo 2015) Techne 3 (1) 97-111RIBEIRO Leonel (1968) Relatoacuterio dos trabalhos da missatildeo arqueoloacutegica LeisnerRibeiro realizados na Beira Alta de 30 de Abril a 24 de Agosto de 1966 todos eles subsidiados pela Gulbenkian Arqueologia e Histoacuteria 9ordf Seacuterie Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses pp 11-28SILVA Fernando Augusto Pereira da (1997) Contextos Funeraacuterios da Idade do Bronze nos Planaltos Centrais do Centro-Norte Litoral Portuguecircs tradiccedilatildeo ou inovaccedilatildeo II Con-greso de Arqueologiacutea Peninsular Tomo II ndash Neoliacutetico Calcoliacutetico y Bronce Fundacioacuten Rei Afonso Henriques Zamora pp 605-620VILACcedilA Raquel (2017) Da morte e seu rituais em finais da Idade do Bronze no Centro de Portugal 20 anos de investigaccedilatildeo in Atas da Mesa-Redonda lsquoA Preacute-histoacuteria e a Pro-to-histoacuteria no Centro de Portugal avaliaccedilatildeo e perspetivas de futurorsquo (Mangualde Nov 2011) Estudos Preacute-histoacutericos vol XVII Centro de Estudos Preacute-histoacutericos da Beira Alta Viseu pp 101-133

452 |

| 453

| 2018

A anta dos Currais do Galhordas (Castelo de Vide Alto Alentejo Portugal) anaacutelise quiacutemica de resiacuteduos orgacircnicos identificados em recipientes ceracircmicos1

The megalithic tomb of Currais do Galhordas (Castelo de Vide Alto Alentejo Portugal) chemical analysis of the organic content of ceramic vases

RESUMORecorrendo agrave cromatografia gasosa com deteccedilatildeo por massa analisaram-se os conteuacutedos orgacircnicos extraiacutedos de quatro vasos da anta dos Currais do Galhordas monumento erigido na segunda metade do 4ordm mileacutenio cal BC e reutilizado pelo menos no 3ordm e no 2ordm mileacutenios cal BCAo que tudo indica os quatro vasos relacionam-se com a reutilizaccedilatildeo mais recente do monumento megaliacutetico durante o Bronze Pleno (2ordm mileacutenio cal BC) Em dois vasos identificaram-se vestiacutegios de uva ou frutos vermelhos e peixe no terceiro detetaram-se restos de gordura animal possivelmente leite as- sociado a oacuteleos de plantas no quarto vestiacutegios de oacuteleos vegetais Os resulta-dos obtidos a partir dos quatro recipientes ceracircmicos estatildeo em concordacircncia com os observados por outros autores em amostras de eacutepoca genericamente idecircntica recolhidas em aacutereas geograacuteficas relativamente proacuteximas da anta dos Currais do GalhordasPALAVRAS-CHAVE Anta dos Currais do Galhordas Conteuacutedos orgacircnicos em vasos Megalitismo Alto Alentejo

Seacutergio Monteiro-Rodrigues Universidade do Porto ndash Faculdade de Letras Centro de Investigaccedilatildeo Transdisciplinar Cultura Espaccedilo e Memoacuteria (CITCEM) Via Panoracircmica sn 4150-564 Porto Portugal sergiomonteirorodriguesgmailcom

Ceacutesar Oliveira REQUIMTELAQV ndash Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) Rua Dr Antoacutenio Bernardino de Almeida 431 4249-015 Porto Portugal Universidade do Porto ndash Faculdade de Letras Departamento de Ciecircncias e Teacutecnicas do Patrimoacutenio Via Panoracircmica sn 4150-564 Porto Portugalcesaroliveiragraqisepipppt

1 Uma parte significativa deste texto foi jaacute publicada no nuacutemero 18 dos Estudos do QuaternaacuterioQuaternary Studies (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) Na versatildeo agora apresentada incluem-se os resultados ineacuteditos decorrentes da anaacutelise cromatograacutefica de um outro recipiente ceracircmico recentemente estudado (vaso 2)

454 |

ABSTRACTThe organic content of four ceramic vases uncovered in the megalithic tomb of Currais do Galhordas (Central Eastern Portugal) ndash a monument built in the second half of the 4th millennium cal BC and reused in the 3th and in the 2nd

millennia cal BC ndash was analysed by gas-chromatography with mass detection The vases are allegedly connected with the latest use of the monument during the Bronze Age (2nd millennium cal BC) Two of them presented traces of grapes or red fruits together with fish the third vase exhibited animal fat remains pos- sibly milk associated with plant oils the forth traces of vegetable oil The re-sults are compatible with other data from Iberian archaeological sites of iden-tical period in some cases located relatively close to the megalithic tomb of Currais do GalhordasKEYWORDS Megalithic tomb of Currais do Galhordas Organic content in vases Megalithism Alto Alentejo

0 INTRODUCcedilAtildeONo decurso das vaacuterias campanhas de escavaccedilatildeo arqueoloacutegica levadas a cabo na anta dos Currais do Galhordas recolheram-se diversos recipi-entes ceracircmicos inteiros que continham no interior sedimentos finos e homogeacuteneos Apesar de natildeo apresentarem sinais que indiciassem presenccedila de mateacuteria orgacircnica nomeadamente a habitual cor escura resultante dos processos de decomposiccedilatildeo optou-se pela sua conservaccedilatildeo no interior dos recipientes na expectativa de futuramente poder vir a realizar-se qualquer tipo de anaacutelise que permitisse identificar conteuacutedos Por outro lado e nes-ta mesma perspetiva a conservaccedilatildeo dos sedimentos no interior dos vasos visou tambeacutem diminuir o risco de contaminaccedilatildeo das respetivas paredes tendo-se procedido agrave sua remoccedilatildeo apenas em ambiente laboratorial Em 2013 no acircmbito de uma parceria entre os autores deste texto subme-teu-se um primeiro vaso (vaso 10) a uma anaacutelise por cromatografia gasosa com deteccedilatildeo por massa (CGDM) no Centro de Quiacutemica da Universidade do Minho detetando-se vestiacutegios de material orgacircnico (Monteiro-Rodrigues 2013 2016) Tal facto despoletou a anaacutelise de mais dois recipientes (vasos 6 e 11) que vieram a revelar igualmente resultados positivos A divulgaccedilatildeo inicial dos resultados destas anaacutelises foi feita no encontro internacional ArchaeoAnalytics que decorreu em Esposende em Setembro de 2014 ten-do os referidos resultados sido posteriormente publicados nas respetivas atas (Oliveira et al 2015) Apesar da relevacircncia da informaccedilatildeo obtida ndash e da proacutepria natureza inovadora do estudo realizado ndash atribuiu-se a esta pub-licaccedilatildeo um caraacutecter preliminar natildeo soacute porque agrave data natildeo tinha ainda sido

| 455

| 2018

feito qualquer ldquocontrolo de brancordquo (ie a anaacutelise de amostras de sedimen-to das aacutereas em torno dos vasos para despistar eventuais contaminaccedilotildees ambientais) como tambeacutem natildeo se dispunha de dados cronoloacutegicos que proporcionassem o enquadramento temporal mais preciso da realidade ar-queoloacutegica em estudoEntretanto a obtenccedilatildeo de quatro dataccedilotildees pelo radiocarbono para a anta dos Currais do Galhordas a realizaccedilatildeo de anaacutelises quiacutemicas de despiste a solo recolhido na cacircmara funeraacuteria juntamente com os dados arqueoloacutegicos decorrentes das diversas campanhas de escavaccedilatildeo permitiram compilar de forma mais detalhada a informaccedilatildeo que se dispotildee para este monumento megaliacutetico (vide Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018)Muito recentemente e ainda no contexto da referida colaboraccedilatildeo entre os autores foi possiacutevel proceder agrave anaacutelise cromatograacutefica de mais trecircs recipi-entes ceracircmicos desta feita no Instituto Superior de Engenharia do Porto encontrando-se jaacute disponiacuteveis os resultados quiacutemicos relativos a um deles (vaso 2) Neste sentido pretende-se com este texto divulgar este dado novo completando os dados anteriormente obtidos

1 A ANTA DOS CURRAIS DO GALHORDASA anta dos Currais do Galhordas localiza-se na Tapada do Souto freguesia de S Joatildeo Baptista concelho de Castelo de Vide distrito de Portalegre (Fig 1) A sua descoberta ocorrida em 1993 resultou de prospeccedilotildees desenvolvidas por elementos da Secccedilatildeo de Arqueologia da Cacircmara Municipal de Castelo de Vide Os trabalhos de escavaccedilatildeo foram realizados por um dos signataacuterios (S Monteiro-Rodrigues) em 2011 2013 e 2015 (Monteiro-Rodrigues 2013 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018 Oliveira et al 2015)Do ponto de vista arquitetoacutenico a anta dos Currais do Galhordas eacute um monu-mento megaliacutetico construiacutedo em granito com cacircmara poligonal definida por sete esteios e corredor longo ligeiramente desviado relativamente ao eixo de simetria da anta (Monteiro-Rodrigues 2013 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) Tal como acontece na maior parte dos doacutelmenes da regiatildeo o corredor cumpre a normal orientaccedilatildeo a leste (Oliveira 1995 1997) (Fig 2)A mamoa eacute composta essencialmente por blocos de granito embalados num sedimento areno-siltoso adquirindo por isso uma grande compacidade Os referidos blocos tendem a adensar-se junto agrave cacircmara funeraacuteria funcionando assim como contraforte dos respetivos esteios Sob este montiacuteculo de ldquoterra e pedrasrdquo surge um depoacutesito arenoso que parece corresponder ao ldquosolordquo an-tigo no qual foram fincados os esteios do monumento (Monteiro-Rodrigues 2013 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018)

456 |

Tendo como referecircncia outros monumentos megaliacuteticos do concelho de Cas-telo de Vide (Oliveira 1995 1997) pode dizer-se que a anta dos Currais do Galhordas eacute extremamente pobre no que toca agrave pedra talhada Os vasos ceracircmicos por sua vez aparecem em nuacutemero significativo e demonstram alguma variedade morfotipoloacutegica possivelmente reflexo das inuacutemeras utilizaccedilotildees que a anta foi tendo ao longo dos tempos (Monteiro-Rodrigues 2013 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018 Oliveira 1995 1997)Estas utilizaccedilotildees para aleacutem de gerarem a diversidade do espoacutelio teratildeo tido simultaneamente repercussotildees na proacutepria estrutura do monumento megaliacutetico criando-se em determinadas alturas eventuais novos acessos agrave cacircmara funeraacuteria e ao corredor quer atraveacutes da fraturaccedilatildeo de esteios quer

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo da anta dos Currais do Galhordas em extrato da Carta Militar de Portugal na escala 125000 folha 335 (Castelo de Vide) 1999 Coordenadas geograacutefi-cas 39ordm 27rsquo 404rsquorsquo N 07ordm 32rsquo 399rsquorsquo W Greenwich

| 457

| 2018

atraveacutes da sua substituiccedilatildeo por blocos de granito de menores dimensotildees mais facilmente amoviacuteveis ou mesmo por construccedilotildees em pedra seca (Mon-teiro-Rodrigues 2013 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018 Oliveira 1995 1997)Durante a campanha de escavaccedilatildeo de 2015 verificou-se que o corredor da anta dos Currais do Galhordas numa determinada fase foi alvo de um

Figura 2 ndash Em cima anta dos Currais do Galhordas vista de leste Em baixo planta parcial da anta

458 |

prolongamento realizado com pequenas pedras terminando numa espeacutecie de aacutetrio no lado da entrada (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) (Fig 3) Originalmente seria portanto um corredor meacutedio e natildeo um corredor longo (Gonccedilalves 1989) Neste prolongamento foram identificados artefactos ndash essencialmente placas de ldquoxistordquo e recipientes ceracircmicos com formas e de- coraccedilotildees especiacuteficas (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) ndash que segundo alguns autores podem ser considerados ldquotardiosrdquo (Boaventura e Mataloto 2013 Cardoso e Gradim 2008 Mataloto 2007 2018) Tal facto sugere que estas accedilotildees (re)construtivas teratildeo decorrido em etapas posteriores agrave construccedilatildeo do monumento (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) A uacutenica dataccedilatildeo absoluta obtida para o corredor como se veraacute de seguida remete para Idade do Bronze

2 CRONOLOGIA Fragmentos de carvatildeo recolhidos na base do esteio de cabeceira da anta dos Currais do Galhordas ndash amostra S4 ndash (Fig 4) muito possivelmente resultantes de accedilotildees relacionadas com o momento da sua construccedilatildeo permitiram dataacute-la dos uacuteltimos 300 anos do 4ordm mileacutenio cal BC (3340-

Figura 3 ndash Anta dos Currais do Galhordas vista de NE Observe-se a cacircmara funeraacuteria poligonal o corredor ldquooriginalrdquo (com uma laje de cobertura) o prolongamento do corre-dor (assinalado pelas linhas amarelas) e o possiacutevel aacutetrio

| 459

| 2018

Quadro 1 ndash Anta dos Currais do Galhordas dataccedilotildees pelo radiocarbono

-3030 cal BC 2 ) (Quadro 1) Ao que tudo indica os monumentos com cacircmara poligonal corredor meacutedio e corredor longo como Coureleiros 4 (Oliveira 1995 1997) teratildeo sido erigidos na regiatildeo pelo menos a partir dos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio cal BC (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018)A descoberta durante a campanha de escavaccedilatildeo de 2013 de uma pon-ta de seta de base convexa em quartzito xistento ndash tipologia que aponta genericamente para o Neoliacutetico final (Leisner e Leisner 1951 1965 Leis-ner 1983 Forenbaher 1999 Boaventura 2009 Andrade 2016) ndash na base do contraforte da cacircmara funeraacuteria parece estar de acordo com este resultado cronomeacutetrico (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018)As duas outras dataccedilotildees com valores enquadraacuteveis na preacute-histoacuteria ndash 2571-2307 cal BC 2 e 1683-1499 cal BC 2 ndash indicam a reutilizaccedilatildeo da anta dos Currais do Galhordas respetivamente no terceiro quartel do 3ordm mileacutenio cal BC (dataccedilatildeo obtida a partir de uma amostra recolhida na cacircmara funeraacuteria ndash amostra S1) e no segundo quartel do 2ordm mileacutenio cal BC (dataccedilatildeo obtida a partir de uma amostra recolhida sob uma laje soleira que demarca o final do corredor e o iniacutecio da cacircmara funeraacuteria ndash

460 |

amostra S2) (Fig 4) (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) Seguindo a proposta de Boaventura e Mataloto (2013) a primeira destas duas dataccedilotildees poderia articular-se com um periacuteodo jaacute posterior ao uso das placas de ldquoxistordquo gravadas ndash ldquofase 4 - poacutes iacutedolos-placardquo (Boaventura e Mataloto 2013 p 95) ndash as quais na anta dos Currais do Galhordas surgem nas terras da mamoa (fragmentos) no prolongamento do cor- redor e na cacircmara funeraacuteria havendo pelo menos duas com claras evi- decircncias de reafeiccediloamento (Monteiro-Rodrigues 2013 2016 Mon-teiro-Rodrigues e Oliveira 2018)A segunda dataccedilatildeo marca uma etapa de utilizaccedilatildeo tardia do sepulcro (fi-nal da ldquofase 4rdquo) jaacute durante o Bronze Pleno (Oliveira 1995 1997 1997a 1998 1999-2000 Boaventura e Mataloto 2013 Mataloto 2007 2018) em que se ldquopoderaacute natildeo ter gerado a construccedilatildeo destes espaccedilos funeraacuteri-os mas tatildeo soacute a utilizaccedilatildeo dos existentesrdquo (Oliveira 1995 p 678 Bueno Ramiacuterez et al 2010) A quarta dataccedilatildeo obtida a partir de sedimento orgacircnico extraiacutedo do inte-rior do vaso 10 (amostra S3) (vide infra) revelou-se anoacutemala (402-207 cal BC 2 ) (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018)

3 OS VASOS ANALISADOSOs conteuacutedos orgacircnicos analisados foram extraiacutedos de quatro vasos des- critos seguidamente (Fig 4) Vaso 6 ndash Vaso hemisfeacuterico de boca ligeiramente reentrante e laacutebio plano-convexo Apresenta pasta homogeacutenea e compacta com elementos natildeo plaacutesticos constituiacutedos por quartzo e alguma mica com dimensotildees que podem atingir os 3-4 mm A superfiacutecie interior e exterior mostram vestiacutegios de alisamento Apesar de sujeito a cozedura oxidante existem manchas negras decorrentes de atmosfera redutora A teacutecnica de fabrico natildeo eacute clara sendo provaacutevel a modelagem a partir de uma bola de barro Dimensotildees maacutex = 170 mm Alt maacutex= 91 mm Vaso 10 ndash Pequeno vaso com carena baixa bastante pronunciada corpo troncocoacutenico de paredes tendencialmente cocircncavas laacutebio plano-convexo e base convexa ligeiramente espessada Tem pasta homogeacutenea e compac-ta com grande quantidade de elementos natildeo plaacutesticos muito finos (lt 1 mm) constituiacutedos basicamente por quartzo e mica que lhe conferem uma textura algo arenosa As superfiacutecies foram bem alisadas eventualmente polidas a exterior tem cor bege a interior e o nuacutecleo cor cinzenta a negra Trata-se de um recipiente que se distingue pela sua regularidade simetria e bom acabamento Dimensotildees maacutex = 95 mm Alt maacutex = 57 mm

| 461

| 2018

Figura 4 ndash Distribuiccedilatildeo espacial dos vasos analisados ndash vasos 10 e 6 cacircmara funeraacuteria vasos 2 e 11 corredor ndash e localizaccedilatildeo das amostras de carvatildeo datadas pelo 14C (S)

Vaso 11 ndash Pequeno vaso troncocoacutenico de paredes convexas base plano-convexa e laacutebio irregular tendencialmente arredondado A espes-sura das paredes eacute muito variaacutevel e as respetivas superfiacutecies interior e exterior evidenciam alisamento sumaacuterio A pasta eacute homogeacutenea e com-pacta incluindo elementos natildeo plaacutesticos muito finos essencialmente quartzo e mica que atingem no maacuteximo 1 mm A tonalidade avermel-hada que cobre a totalidade do vaso indica cozedura oxidante ou mais provavelmente coloraccedilatildeo por engobe Tal como no vaso 6 a teacutecnica de fabrico parece ter sido a modelagem a partir de uma pequena bola de barro Apresenta vestiacutegios de fuligem Dimensotildees maacutex = 87 mm Alt maacutex = 56 mm Vaso 2 ndash Vaso globalmente semelhante ao recipiente 10 distinguin-do-se apenas pelo seu aspecto mais irregular maior concavidade das paredes carena baixa mais pronunciada e elementos natildeo plaacutesticos mais grosseiros (gt 1 mm) Dimensotildees maacutex = 95 mm Alt maacutex = 49 mm

462 |

Apesar da grande longevidade da forma expressa no vaso 6 (conheci-da desde o Neoliacutetico agrave Idade do Bronze) avanccedila-se a hipoacutetese de ele se relacionar com uma fase antiga de utilizaccedilatildeo (ou mesmo com a fase fundacional) da anta dos Currais do Galhordas Efetivamente as carac-teriacutesticas globais deste recipiente permitem a sua inclusatildeo na chamada ldquoceracircmica dolmeacutenicardquo bem documentada por exemplo na Gruta do Es-coural (Montemor-o-Novo) onde foi datada da segunda metadeuacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio BC (Arauacutejo e Lejeune 1995 Boaventura 2009) Todavia eacute provaacutevel que os conteuacutedos orgacircnicos analisados natildeo remon-tem a essa fase mas sim a uma etapa mais tardia De facto este re-cipiente apresentava uma fratura que lhe suprimia parte do bordo e da panccedila encontrando-se intencionalmente encostado a um dos esteios da cacircmara funeraacuteria aparentemente para que este impedisse a saiacuteda do seu conteuacutedo (Fig 5) Deste modo o aproveitamento deste recipiente partido sugere tratar-se de uma reutilizaccedilatildeo pelo que o material orgacircni-co identificado no seu interior deveraacute relacionar-se com uma utilizaccedilatildeo ldquorecenterdquo do monumento Por outro lado eacute de referir que o vaso 6 surgiu num ldquoniacutevelrdquo que se implantava 14 cm acima daquele de onde foi reco- lhida a amostra S1 datada do terceiro quartel do 3ordm mileacutenio cal BC (vaso 6 ndash Z 126 cm amostra S1 ndash Z 140 cm) (Fig 4) Apesar do criteacuterio es-tratigraacutefico valer pouco nestes contextos em que se verificam utilizaccedilotildees recorrentes dos espaccedilos assume-se para jaacute que a localizaccedilatildeo do vaso 6 reflete a posterioridade do seu uso relativamente agrave referida dataccedilatildeoDe acordo com diversos autores (Oliveira 1995 1997 1997a 1998 1999-2000 Mataloto 2007 2018 Ponte et al 2012 Baptista et al 2013 Mataloto et al 2013 Cardoso e Gradim 2008) as formas care-nadas como as documentadas pelos vasos 10 e 2 remetem para a Idade do Bronze do Sul de Portugal (2ordm mileacutenio BC) periacuteodo em que como se referiu muitos monumentos megaliacuteticos teratildeo sido revisitados Tendo em conta que o vaso 10 surgiu globalmente agrave mesma cota do vaso 6 e portanto a cerca de 11 cm acima da amostra S1 (2571-2307 cal BC 2 ) (vaso 10 ndash Z 129 cm vaso 6 ndash Z 126 cm amostra S1 ndash Z 140 cm) (Fig 4) pode aceitar-se que tambeacutem na anta dos Currais do Galhordas as formas com carena baixa testemunham reutilizaccedilotildees daquele periacuteo-do cronoloacutegico Ou seja o vaso 10 poderaacute eventualmente relacionar-se com o intervalo 1683-1499 cal BC 2 obtido a partir da amostra S2 exumada no corredor (Fig 4) O recipiente 2 por seu turno associava-se a um pequeno conjunto de vasos de reduzidas dimensotildees identificados sensivelmente no sector

| 463

| 2018

central do corredor interpretado como uma deposiccedilatildeo primaacuteria (Fig 6) (Monteiro-Rodrigues 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) Esta lo-calizaccedilatildeo permite relacionaacute-lo tambeacutem com a ldquouacuteltimardquo fase de utilizaccedilatildeo da anta por um lado porque se articula em termos espaciais com a referida dataccedilatildeo dos meados do 2ordm mileacutenio cal BC (Fig 4) por outro porque a referida deposiccedilatildeo sugere praacuteticas que pressupotildeem de certa forma a anulaccedilatildeo do corredor enquanto zona de passagem Ou seja estar-se-ia porventura numa etapa em que se assistiria ao aparecimento de uma nova loacutegica no que respeita agrave utilizaccedilatildeofunccedilatildeo dos diferentes espaccedilos da anta materializada em diversas alteraccedilotildees arquitectoacutenicas (Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) O facto de o vaso 2 se encontrar a cerca de 13 cm abaixo da amostra S2 (1683-1499 cal BC 2 ) (Fig 4) natildeo significa obrigatoriamente e neste caso a anterioridade cronoloacutegica do vaso em relaccedilatildeo agrave amostra Tal di- ferenccedila de cota resulta apenas da existecircncia de uma certa inclinaccedilatildeo para leste do plano sobre o qual foi realizada a deposiccedilatildeo primaacuteria do corredor (Fig 6) A atribuiccedilatildeo dos vasos 10 e 2 agrave Idade do Bronze do Sudoeste pode ainda ser corroborada pelos ldquoacabamentos de grande qualidaderdquo que evidenci-am sendo que estes acabamentos parecem corresponder a uma carac-teriacutestica bastante recorrente nos recipientes ceracircmicos daquele periacuteodo (Mataloto et al 2013 p 322)

Figura 5 ndash Posiccedilatildeo do vaso 6 Observe-se a zona da frac-tura encostada ao esteio da cacircmara funeraacuteria

464 |

No entanto e natildeo obstante as evidecircncias atraacutes apresentadas a referi-da atribuiccedilatildeo cronoloacutegica deve ser encarada de forma necessariamente provisoacuteria uma vez que haacute autores que remetem os vasos com carena baixa exumados em contextos megaliacuteticos para momentos mais antigos da preacute-histoacuteria recente nomeadamente o Neoliacutetico Final e o Calcoliacutetico (Oliveira 1997 2010 Diniz 2000 Gonccedilalves e Sousa 2000 Mataloto e Boaventura 2009 Andrade 2014 Gonccedilalves e Andrade 2014 An-drade 2016 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) Trata-se portanto de uma questatildeo que necessita de mais investigaccedilatildeo e sobretudo de mais contextos bem datados Relativamente ao vaso 11 estaacute-se uma vez mais perante uma forma que transcorre boa parte da preacute-histoacuteria recente natildeo sendo por isso faacutecil atribuir-lhe um balizamento cronoloacutegico preciso Tendo em conta o ligeiro aplanamento da base o possiacutevel engobe a sua articulaccedilatildeo com as de-posiccedilotildees efetuadas no corredor intratumular normalmente consideradas mais tardias (Oliveira 1995 1997 Boaventura 2009 Bueno Ramiacuterez et al 2010 Mataloto et al 2013 Monteiro-Rodrigues e Oliveira 2018) e ainda o facto de nesse mesmo espaccedilo ter sido obtida a referida dataccedilatildeo 14C do segundo quartel do 2ordm mileacutenio cal BC assume-se que tambeacutem ele poderaacute remeter para a Idade do Bronze do Sul do Paiacutes Por outro lado a semelhanccedila entre os conteuacutedos orgacircnicos dos vasos 6 e 11 (vide infra) poderaacute indiciar que as respetivas utilizaccedilotildees se encontram proacuteximas no tempo conectando-se como se disse com a etapa mais avanccedilada da frequentaccedilatildeo da antaEm suma os dados disponiacuteveis ndash essencialmente a localizaccedilatildeo espacial e a posiccedilatildeo estratigraacuteficatopograacutefica dos recipientes ceracircmicos anali-sados as dataccedilotildees absolutas obtidas e a tipologia dos vasos 10 e 2 ndash sugerem que os conteuacutedos orgacircnicos identificados poderatildeo remontar agrave Idade do Bronze Pleno eventualmente agrave primeira metade do 2ordm mileacutenio BC relacionando-se deste modo com os ldquouacuteltimos rituaisrdquo praticados nos espaccedilos sepulcrais megaliacuteticos Trata-se todavia de uma hipoacutetese que necessita de verificaccedilatildeo futura

4 OS CONTEUacuteDOS ORGAcircNICOS DOS RECIPIENTES CERAcircMICOS41 Amostragem e preparaccedilatildeo das amostrasOs trabalhos laboratoriais foram realizados de modo a minimizar a con-taminaccedilatildeo das amostras com resiacuteduos orgacircnicos atuais Assim todas elas foram manipuladas com luvas de nitrilo sem poacute obtidas e trata-das com recurso a lacircminas de bisturi novas Evitou-se ainda a utilizaccedilatildeo

| 465

| 2018

de embalagens de plaacutestico armazenando-se as amostras em papel de alumiacutenio para menorizar o seu contacto com materiais plastificantes Todo o material de vidro utilizado foi previamente limpo de resiacuteduos orgacircnicos por imersatildeo em soluccedilatildeo cromossulfuacuterica durante 24h A raspa-gem dos recipientes ceracircmicos para obtenccedilatildeo das amostras foi efetuada antes da sua lavagem consolidaccedilatildeo e restauro No sentido de detetar eventuais contaminaccedilotildees poacutes-deposicionais dos recipientes por influecircncia de lenccediloacuteis de aacutegua aacuteguas de escorrecircncia in-corporaccedilatildeo de materiais orgacircnicos provenientes do solo ou outros ana-

Figura 6 ndash Em cima representaccedilatildeo em alccedilado do corredor da anta dos Currais do Gal-hordas com indicaccedilatildeo do seu sector original e do prolongamento Indica-se tambeacutem a localizaccedilatildeo da deposiccedilatildeo primaacuteria Em baixo escavaccedilatildeo da deposiccedilatildeo primaacuteria constituiacute-da por diversos recipientes ceracircmicos A seta indica o vaso 2

466 |

lisou-se uma amostra de controlo constituiacuteda por sedimentos areno-silto-sos recolhidos na cacircmara funeraacuteria nas proximidades de dois dos vasos estudados (vasos 6 e 10) Tal anaacutelise foi realizada segundo os mesmos procedimentos postos em praacutetica na anaacutelise dos materiais extraiacutedos dos recipientes ceracircmicosA anaacutelise aos vasos 2 6 10 e 11 da anta dos Currais do Galhordas foi efetuada sobre aliacutequotas de massa 02 a 03 g obtidas como se disse por raspagem dos fundos e da parte interna das paredes dos recipien-tes tendo os materiais sido pulverizados num almofariz de aacutegata Efe- tuaram-se extraccedilotildees sequenciais com diclorometano e metanol (a dis-cussatildeo dos resultados foi baseada apenas nos extratos de metanol por serem os mais informativos para estas amostras) utilizando um sistema Soxhlet sendo os extratos orgacircnicos concentrados em evaporador rota-tivo transferidos para vials e secos em corrente reduzida de azoto Os extratos polares contendo grupos hidroxilo e carboxilo foram sililados por adiccedilatildeo de bis(trimetilsilil)trifluroacetamida (BSTFA) Trimetilclorosilano (TMCS) 991 seguindo-se 15 minutos num forno a 70ordmC42 Equipamento e condiccedilotildees cromatograacuteficasOs extratos recolhidos nos vasos 6 10 e 11 foram analisados num cro-matoacutegrafo Varian 4000 Performance operado no modo Full Scan (gama de massas 50 a 600 mz) nas seguintes condiccedilotildees a) coluna DB-5MS 30 m times 025 mm times 025 μm com heacutelio como gaacutes de arraste a um caudal constante de 1 mL min-1 b) 1 μL de volume de injeccedilatildeo c) temperatura do injetor 250 ordmC d) programa de temperaturas 60 ordmC (1 min) 60 a 150 ordmC (10 ordmC min-1) 150 a 290 ordmC (5 ordmC min-1) 290 ordmC (27 min) e) modo de aquisiccedilatildeo impacto electroacutenico a 70 eV f) interface e fonte ioacutenica a 290 ordmC A amostra do vaso 2 foi analisada num cromatoacutegrafo Thermo Scientifictrade ISQ recorrendo a condiccedilotildees experimentais idecircnticas ex-cetuando o uso de uma coluna cromatograacutefica mais longa (60 m) que obrigou agrave utilizaccedilatildeo de um programa cromatograacutefico necessariamente mais demorado A identificaccedilatildeo dos compostos baseou-se na anaacutelise dos padrotildees de fragmentaccedilatildeo assim como na comparaccedilatildeo dos espetros resultantes com espetros das livrarias comerciais Wiley 6 e Nist0843 Resultados e discussatildeoA anaacutelise aos sedimentos areno-siltosos recolhidos do interior da cacircmara funeraacuteria em associaccedilatildeo aos vasos 6 e 10 revelou a ausecircncia de vestiacute-gios orgacircnicos demonstrando que o material orgacircnico identificado nos vasos natildeo decorre de qualquer contaminaccedilatildeo posterior agrave sua utilizaccedilatildeoNa figura 7 apresenta-se o cromatograma do extrato metanoacutelico respeit-

| 467

| 2018

ante ao vaso 6 Optou-se por natildeo incluir o cromatograma relativo ao vaso 11 por este ser semelhante ao daquele vaso (pelo que tambeacutem as con-clusotildees obtidas satildeo similares) As figuras 8 e 9 dizem respeito a dois cromatogramas referentes ao vaso 10 e a figura 10 a um cromatograma relativo ao vaso 2Da anaacutelise efetuada aos quatro vasos podem retirar-se as seguintes con-clusotildeesVaso 6 ndash A deteccedilatildeo dos aacutecidos suciacutenico maacutelico cinacircmico fumaacuterico e tartaacuterico (Fig 7) eacute compatiacutevel com a presenccedila de vestiacutegios de sumo de uvafrutos vermelhos ou de bagos de uvafrutos vermelhos fermentados (Barnard et al 2011 Jerković et al 2011 McGovern 1998 McGovern et al 1996 McGovern e Michel 1996 Pecci et al 2013 Teodor et al 2014) A presenccedila de colesterol aacutecido fitacircnico e alguns aacutecidos carboxiacutelicos in-saturados como os aacutecidos eruacutecico (C221cis9ω9) 9-tetradecenoico (C141cis9ω7) (miristoleico) e trans-9-hexadecenoico (C161trans9ω7) (palmitoleico) sugerem a existecircncia de vestiacutegios de peixe (Hansel et al 2004 Hansel e Evershed 2009) Esta hipoacutetese eacute reforccedilada pela pre-senccedila dos aminoaacutecidos glicina aspargina alanina e tirosina que podem ter origem na hidroacutelise das proteiacutenas de peixe (Cowey 1994 Degens et

Figura 7 ndash Cromatograma em modo full scan do extrato de metanol referente ao vaso 6

468 |

al 1969)Os compostos oleanitrilo oleamida e fitol (Vaccaro et al 2013) assim como a hexadecanamida e octadecanamida sugerem a presenccedila de algas ou plantas aquaacuteticas (Dembitsky et al 2000 Subhashini et al 2013 Bai et al 2014) corroborando a hipoacutetese anteriormente avanccedilada sobre a presenccedila de peixeOs extratos orgacircnicos encontram-se dominados pelo aacutecido palmiacutetico exi- bindo quantidades mais reduzidas dos aacutecidos miriacutestico e esteaacuterico num padratildeo tiacutepico da degradaccedilatildeo de oacuteleos ou gorduras De facto tanto as gorduras animais como os oacuteleos de algumas plantas satildeo ricos em tria-cilgliceroacuteis que com o tempo se degradam a diacilgliceroacuteis monoacil-gliceroacuteis e aacutecidos carboxiacutelicos encontrados abundantemente na amostra estudada Foram ainda identificados diversos compostos carateriacutesticos de oacuteleos de plantas como o isoeugenol linalol e β-sitosterol (McGovern et al 2009) A deteccedilatildeo de aacutecido pimaacuterico e de aacutecido desidroabieacutetico um produto da oxidaccedilatildeo do aacutecido abieacutetico (Jerkovic et al 2011) suporta a hipoacutetese de se tratar de vestiacutegios de plantas resinosas como o pinheiro (Caseiro e Oliveira 2012) A ausecircncia de levoglucosano um marcador molecular da queima incompleta de biomassa vegetal que se encontra em quantidades apreciaacuteveis nas partiacuteculas da pluma de fumo (Caseiro e Oliveira 2012 Fabbri et al 2009 Fraser e Lakshmanan 2000 Gao

Figura 8 ndash Cromatograma em modo full scan do extrato de metanol referente ao vaso 10

| 469

| 2018

et al 2016 Kirchgeorg et al 2014 Kuo et al 2008 Simoneit 2002 Simoneit et al 1999) indica que o conteuacutedo do vaso natildeo foi cozinhadoA interpretaccedilatildeo destes resultados sugere que o conteuacutedo orgacircnico do recipiente seria composto por bagos de uva ou de frutos vermelhos ndash destaca-se o facto das evidencias quiacutemicas detetadas neste estudo natildeo permitirem diferenciar vinho da fermentaccedilatildeo natural de bagos de uvafrutos vermelhos ndash e peixe natildeo cozinhado A este propoacutesito eacute de referir a existecircncia de um curso de aacutegua a poucas centenas de metros da anta (ribeira de Nisa) onde os peixes poderiam ter sido capturadosTanto quanto se conhece encontram-se no Iratildeo as evidecircncias quiacutemi-cas mais antigas do consumo de vinho remontando ao neoliacutetico (5400 a 5000 BC) os recipientes onde este foi detetado (McGovern 1998 McGovern et al 1996 McGovern et al 1997) Os vestiacutegios encontrados na Peniacutensula Ibeacuterica satildeo contudo bem mais recentes Aqui a produccedilatildeo viniacutecola teve iniacutecio ao que tudo indica durante a primeira metade do 1ordm mileacutenio BC devendo-se aos contactos entre a populaccedilatildeo indiacutegena e as coloacutenias comerciais Feniacutecias e Gregas (Buxoacute 2008 Nuacutentildeez e Walker 1989) De facto ambas as civilizaccedilotildees introduziram gradualmente a vi-deira da espeacutecie Vitis vinifera L substituindo gradualmente a espeacutecie selvagem Vitis vinifera subsp sylvestris variedade abundante durante o Quaternaacuterio (Iriarte-Chiapusso et al 2017) particularmente apoacutes a uacutelti-ma glaciaccedilatildeo (Lehmann e Boumlhm 2011) Esta videira selvagem seria mais

Figura 9 ndash Sobreposiccedilatildeo de cromatogramas em modo SIM (Selected Ion Monitoring) rela- tivos aos aacutecidos laacuteurico (mz 257) e miriacutestico (mz 285)

470 |

frequente no sul da Europa concentrando-se especialmente nas mar-gens dos rios em aacutereas florestadas e em locais huacutemidos sobretudo de cota baixa (Arnold et al 1998 Levadoux 1956) Como acima se referiu a proximidade da anta dos Currais do Galhordas de uma linha de aacutegua poderia corroborar a existecircncia de uvas silvestres entre os elementos orgacircnicos identificadosVaso 10 ndash Na figura 8 apresenta-se um cromatograma do extrato de metanol obtido a partir do vaso 10 encontrando-se assinalados os compostos mais relevantes Os resiacuteduos orgacircnicos mostram compos-tos tiacutepicos de gorduras em elevado estado de degradaccedilatildeo De facto os triacilgliceroacuteis presentes em gorduras animais e em oacuteleos vegetais de-gradam-se rapidamente em aacutecidos gordos exibindo glicerol e elevadas quantidades de aacutecidos n-alcanoacuteicos palmiacutetico (C160) e esteaacuterico (C180) cujos picos se destacam claramente no cromatograma e contribuiccedilotildees menores dos aacutecidos de cadeia mais curta Em condiccedilotildees de elevado grau de degradaccedilatildeo eacute frequente encontrar-se apenas glicerol e aacutecidos gordos livres indicando a degradaccedilatildeo total dos triacilgliceroacuteis A razatildeo entre os aacutecidos C160 e C180 eacute por vezes usada como um indicador da origem ani- mal ou vegetal das gorduras encontradas (Copley et al 2005 Evershed et al 2002) Se o aacutecido palmiacutetico se apresentar mais abundante que o esteaacuterico poderaacute indiciar a presenccedila de gordura vegetal (Copley et al 2005) enquanto que uma maior quantidade de aacutecido esteaacuterico aponta para a origem animal da gorduraNeste contexto vaacuterios autores associaram a ocorrecircncia de diferentes razotildees C160C180 agrave presenccedila de material orgacircnico de origens distintas (Copley et al 2005 Dudd et al 1999 Romanus et al 2007)Assimi) C160C180 lt 13 - gorduras de animais ruminantesii) 22 lt C160C180 lt 49 - leite e derivados ou gorduras de animais natildeo ruminantesiii) 40 lt C160C180 lt 94 - azeite

Na anaacutelise deste vaso detetou-se glicerol aacutecidos orgacircnicos saturados como o suciacutenico e o laacutectico aacutecidos gordos insaturados como o oleico linoleico e palmitoleico e elevadas concentraccedilotildees dos aacutecidos palmiacutetico e esteaacuterico relativamente aos restantes aacutecidos com uma razatildeo C160C180

entre 14 e 25 De acordo com as informaccedilotildees apresentadas anterior-mente esta razatildeo sugere a presenccedila de restos de leite ou de gordura de animais natildeo ruminantes (Dudd et al 1999 Copley et al 2005 Roma-

| 471

| 2018

nus et al 2007)A distinccedilatildeo entre gorduras animais ou leite eacute normalmente efetuada por teacutecnicas isotoacutepicas (Baeten et al 2013 Copley et al 2005 Evershed et al 2002 Regert 2011 Romanus et al 2007) que natildeo se encon-traram disponiacuteveis para este trabalho Contudo sabendo que a de-gradaccedilatildeo do leite origina quantidades mais elevadas de aacutecidos de menor cadeia como os aacutecidos laacuteurico (C120) e miriacutestico (C140) (Cramp et al 2014) pode distinguir-se entre a presenccedila de resiacuteduos de carne ou de leite avaliando-se os niacuteveis destes dois aacutecidosNa figura 9 apresentam-se os cromatogramas relativos a estes dois com-postos obtidos por extraccedilatildeo dos iotildees com mz 257 e 285 correspon-dendo respetivamente aos aacutecidos laacuteurico e miriacutestico Da anaacutelise destes cromatogramas podem observar-se picos intensos sugerindo tratar-se de leite de acordo com os pressupostos anteriormente mencionados Esta conclusatildeo eacute tambeacutem suportada pela presenccedila de aminoaacutecidos proveni-entes da degradaccedilatildeo de proteiacutenas animais pelo colesterol e pelas for-mas oxidadas deste compostoEncontram-se ainda compostos resultantes da queima de biomassa ve- getal particularmente de madeiras resinosas como o pinheiro (levoglu-cosano e aacutecido desidroabieacutetico) (Simoneit et al 1999 Jerkovic et al 2011) indicando a utilizaccedilatildeo destas no aquecimentopreparaccedilatildeo dos materiais orgacircnicos ou eventualmente na iluminaccedilatildeo da antaA presenccedila de compostos carateriacutesticos de oacuteleos de plantas como o isoeu-genol oleanitrilo quercetina e fitol pode indicar i) uma contaminaccedilatildeo ou reutilizaccedilatildeo do vaso ou ii) a utilizaccedilatildeo de plantas juntamente com o leite como ainda se faz na preparaccedilatildeo de queijo da Serra da Estrela Refira-se que o leite de animais domeacutesticos nomeadamente de ovicapriacutedeos estaacute normalmente associado a estas primeiras sociedades agro-pastoris Vaso 11 ndash Os resultados da anaacutelise quiacutemica ao vaso 11 encontram-se em linha com os apresentados para o vaso 6 pelo que como referido se optou por natildeo se apresentar os cromatogramas respetivos A interpretaccedilatildeo destes resultados sugere que o conteuacutedo orgacircnico do recipiente ceracircmico seria composto por bagos de uvafrutos vermelhos e peixe O conteuacutedo do vaso teraacute sido cozinhado ou exposto ao fumoVaso 2 ndash Na figura 10 apresenta-se um cromatograma obtido a partir da anaacutelise do extrato de metanol do vaso 2 O cromatograma revelou-se mais simples do que os outros relativos aos vasos previamente estuda-dos (Figs 7 a 9) tendo sido detetado um menor nuacutemero de traccediladores orgacircnicos Da sua anaacutelise destaca-se a forte presenccedila de oleanitrilo

472 |

composto que pode dever-se a uma reaccedilatildeo do aacutecido oleico em ambien-tes alcalinos sendo por isso considerado um indicador para a presenccedila de oacuteleos vegetais Como se referiu anteriormente a deterioraccedilatildeo dos triacilgliceroacuteis pre-sentes em gorduras animais e em oacuteleos vegetais origina reaccedilotildees de degradaccedilatildeo produzindo di e monoacilgliceroacuteis aacutecidos gordos e glicerol De facto nesta anaacutelise detetaram-se dois monoacilgliceroacuteis a monopal-mitina e a monoestearina os aacutecidos n-alcanoacuteicos palmiacutetico (C160) e esteaacuterico (C180) e glicerol Este conjunto de compostos sugere a pre-senccedila de resiacuteduos de oacuteleos vegetais fortemente degradados Todavia a ausecircncia de marcadores quiacutemicos adicionais torna difiacutecil inferir sobre a constituiccedilatildeo do oacuteleo vegetal em questatildeo No entanto da anaacutelise cromato-graacutefica destaca-se a elevada quantidade de oleanitrilo (como se disse um composto proveniente da degradaccedilatildeo do aacutecido oleico em ambientes alcalinos) relativamente aos restantes compostos detetados Sabendo que as azeitonas satildeo particularmente ricas em aacutecido oleico podendo este atingir 60 a 85 dos aacutecidos gordos presentes no azeite (Amaral et al 2010) a elevadiacutessima quantidade de oleanitrilo detetada pode indi-ciar tratar-se de resiacuteduos daquele fruto muito provavelmente da sua vari-ante silvestre (Olea europea L var oleaster) (Monteiro-Rodrigues 2011 Duque Espino 2004 2005) Todavia a ausecircncia de outros indicadores quiacutemicos como por exemplo os fitoesteroacuteis aconselha alguma cautela

Figura 10 ndash Cromatograma em modo full scan do extrato de metanol referente ao vaso 2 Note-se que a linha de base do cromatograma foi ampliada de forma a tornar visiacuteveis os picos de intensidade mais reduzida Em consequecircncia a intensidade maacutexima do pico 6 deve considerar-se como sendo cerca de 5 vezes superior ao maacuteximo representado

| 473

| 2018

nesta interpretaccedilatildeoSalienta-se ainda a ausecircncia de levoglucosano natildeo se tratando por isso de um conteuacutedo cozinhado

5 CONCLUSOtildeESTendo em conta os dados obtidos e assumindo o enquadramento tem-poral acima proposto pode afirmar-se que na anta dos Currais do Gal-hordas as ldquooferendasrdquo funeraacuterias do 2ordm mileacutenio BC contemplavam entre outros elementos produtos alimentares diversificados sugerindo praacuteti-cas de comensalidade associadas aos cerimoniais fuacutenebres desta eacutepoca (eg Porfiacuterio e Serra 2010 Bueno Ramiacuterez et al 2010) Alguns destes produtos tais como os frutos e o peixe seriam obtidos atraveacutes de atividades de tipo caccedilapesca-recoleccedilatildeo outros como o leite e derivados ligar-se-iam agraves atividades produtoras desenvolvidas essen-cialmente a partir do Neoliacutetico meacutedio (Bueno Ramiacuterez et al 2010 Mon-teiro-Rodrigues 2010 2011) Deduz-se portanto que a praacutetica de ambas as estrateacutegias de obtenccedilatildeo de recursos alimentares ndash caccedila-recoleccedilatildeo e criaccedilatildeo de animais-agricultura ndash estaria ainda em curso durante a Idade do Bronze o que de certo modo permite estender no tempo a noccedilatildeo de ldquoeconomia de amplo espectrordquo (eg Flannery 1969) Este aspeto mais do que traduzir a permanecircncia de um sistema arcaizante poderaacute antes justificar o aparecimento de sociedades cada vez mais sedentaacuterias com maior ligaccedilatildeo agrave terra maior expressatildeo demograacutefica e maior complexi-dade socio-culturalNoutros contextos funeraacuterios e nalguns habitacionais genericamente de-sta fase cronoloacutegica e geograficamente mais ou menos proacuteximos da anta dos Currais do Galhordas a presenccedila de vestiacutegios de produtos alimen-tares em recipientes ceracircmicos tem vindo a ser igualmente documenta-da Na Bacia Interior do Tejo por exemplo Bueno Ramiacuterez et al (2008 2010 2010a 2013) assinalaram a presenccedila de gorduras animais sal restos vegetais (eg trigo e cevada) mel (eou hidromel) peixe e cerveja entre outros em vasos exumados em grutas e em monumentos megaliacuteti-cos com distintas tipologiasNa Sub-meseta Norte em vasos campaniformes identificaram-se vestiacute-gios de cerveja e de hidromel (Delibes et al 2009 Guerra Doce 2006) na mesma regiatildeo mas em vasos dos ldquohorizontesrdquo Protocogotas e Cogo-tas I reconheceu-se um preparado de leite com cereais e gordura de carne (Guerra Doce et al 2011-2012)Nos siacutetios de Perdigotildees e Bela Vista 5 com ocupaccedilotildees dos finais do 4ordm e

474 |

do 3ordm mileacutenio BC a aplicaccedilatildeo de cromatografia gasosa com deteccedilatildeo por massa agrave anaacutelise de fragmentos ceracircmicos permitiu a deteccedilatildeo de liacutepidos e aparentemente de uma espeacutecie de ldquosopardquo ou guisado com carne este uacuteltimo nos Perdigotildees (vaso 5153) (Bastos 2015) Num outro contexto ndash o dos hipogeus e das cistas do Bronze Meacutedio do Baixo Alentejo (Frade et al 2012) ndash o uso de outras teacutecnicas que per-mitem igualmente a deteccedilatildeo de material orgacircnico em contextos arqueo- loacutegicos (neste caso a espectroscopia de infravermelho FTIR e piroacutelise seguida de cromatografia gasosa acoplada agrave espectrometria de massa Py-GCMS) possibilitou a identificaccedilatildeo de gordura de suiacuteno cera de abe- lha e proacutepolis em lajes que integram monumentos funeraacuterios daquele tipoNo que diz respeito agrave azeitona e ao zambujeiro os seus vestiacutegios satildeo bem conhecidos em diversos siacutetios preacute-histoacutericos peninsulares quer atraveacutes de macro-restos (normalmente carbonizados) quer atraveacutes de poacutelenes Esta ocorrecircncia tatildeo frequente em contextos arqueoloacutegicos remete para a importacircncia que seguramente fruto e madeira teriam para as sociedades do passado (Monteiro-Rodrigues 2011 Duque Espino 2004 2005)Em suma a realizaccedilatildeo mais sistemaacutetica de procedimentos quiacutemicos que permitam identificar conteuacutedos orgacircnicos em vasos preacute-histoacutericos (bem como noutros elementos arqueoloacutegicos) contribuiraacute de forma decisiva para um melhor conhecimento das paleodietas (sobretudo quando ar-ticulados com a anaacutelise dos isoacutetopos estaacuteveis de carbono e de azoto do colageacutenio de ossos humanos) dos rituais funeraacuterios e das estrateacutegias de subsistecircncia das sociedades do passado No caso do Megalitismo do Sul de Portugal e no sentido de melhor contextualizar este tipo de anaacutelises seria fundamental desenvolver projetos que incidissem na dataccedilatildeo dos monumentos megaliacuteticos e sempre que possiacutevel na dataccedilatildeo dos recipi-entes ceracircmicos neles exumados

AGRADECIMENTOSOs trabalhos de escavaccedilatildeo e de restauro efetuados na anta dos Cur-rais do Galhordas bem como os estudos complementares realizados (dataccedilotildees pelo radiocarbono e identificaccedilatildeo dos conteuacutedos orgacircnicos dos vasos ceracircmicos por CGDM) foram integralmente financiados pelo Municiacutepio de Castelo de Vide a quem os autores agradecem Agrade-cem tambeacutem a Joatildeo Pedro Tereso (CIBIO) a identificaccedilatildeo taxonoacutemica dos carvotildees datados Ceacutesar Oliveira agradece ao Instituto de Ciecircncias e Tecnologias Agraacuterias

| 475

| 2018

e Agro-Alimentares - Porto (ICETA) o seu contrato ao abrigo do projeto NORTE-01-0145-FEDER-000011

BIBLIOGRAFIAAMARAL Joana S MAFRA Isabel OLIVEIRA M Beatriz PP (2010) ndash Characterization of three Portuguese varietal olive oils based on Fatty Acids Triacylglycerols Phytosterols and Vitamin E profiles Application of chemometrics In Victor R Preedy and Ronald Ross Watson (Eds) Olives and Olive Oil in Health and Disease Prevention Oxford Academic Press p 581-589ANDRADE Marco A S (2014) ndash Contextos perdidos obscurantismos heleacutenicos espoacutelio de um mon-umento megaliacutetico de Alter do Chatildeo pertencente agrave colecccedilatildeo de Manuel Heleno Revista Portuguesa de Arqueologia 17 p 35-60ANDRADE Marco A S (2016) ndash Sobre os pequenos vasos carenados do megalitismo Alto-alentejano Questotildees morfoloacutegicas e cronologia In Inecircs Pinto Coelho Joana Bento Torres Luiacutes Serratildeo Gil Tiago Ramos (Eds) Entre Ciecircncia e Cultura da Interdisciplinaridade agrave Transversalidade da Arqueologia Actas das VIII Jornadas de Jovens em Investigaccedilatildeo Arqueoloacutegica CHAM-FCSHUNL e IEM-FCSHUNL p 107-116ARAUacuteJO Ana C LEJEUNE Marylise (1995) ndash Gruta do Escoural Necroacutepole Neoliacutetica e Arte Rupes-tre Paleoliacutetica IPPAR (Trabalhos de Arqueologia 8) ARNOLD C GILLET F GOBAT J M (1998) ndash Situations de la vigne sauvage vitis vinifera subsp silvestris en Europe Vitis 37 p 159-170 BAETEN Jan JERVIS Ben DE VOS Dirk WAELKENS Marc (2013) ndash Molecular evidence for the mixing of meat fish and vegetables in Anglo-Saxon coarseware from Hamwic UK Archaeometry 55 p 1150-1174BAI Xiujun DUAN Peigao XU Yuping ZHANG Aiyun SAVAGE Phillip E (2014) ndash Hydrother-mal catalytic processing of pretreated algal oil a catalyst screening study Fuel 120 p 141-149BAPTISTA Liacutedia OLIVEIRA Lurdes SOARES Antoacutenio M GOMES Seacutergio (2013) ndash Contributos para a discussatildeo da construccedilatildeo da paisagem nas bacias das Ribeiras do Aacutelamo e do Pisatildeo (Beringel e Trigaches Beja) entre IVordm e Iordm Mileacutenios aC In J Jimeacutenez Aacutevila Macarena Bustamante M Garciacutea Cabezas (Eds) Actas del VI Encuentro de Arqueologiacutea del Suroeste Peninsular (Villafranca de los Bar-ros 4-6 de Octubre de 2012) Ayuntamiento de Villafranca de Los Barros p 792-827 BARNARD Hans DOOLEY Alek N ARESHIAN Gregory GASPARYAN Boris FAULL Kym (2011) ndash Chemical evidence for wine production around 4000 BCE in the Late Chalcolithic near East-ern Highlands Journal of Archaeological Science 38 p 977-984BASTOS Beatriz (2015) ndash Potential of lipid analysis on Prehistoric Portuguese pottery Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio 10 ERANIA p 21-31BOAVENTURA Rui (2009) ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa Dissertaccedilatildeo de Doutora-mento apresentada agrave Universidade de LisboaBOAVENTURA Rui MATALOTO Rui (2013) ndash Entre mortos e vivos noacutetulas acerca da cronologia absoluta do Megalitismo do Sul de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologia 16 p 81-101 BUENO RAMIREZ Primitiva BARROSO-BERMEJO Rosa BALBIacuteN-BERHMANN Rodrigo (2008) ndash The necropolis of Era de La Laguna Santiago de Alcaacutentara Caacuteceres in the context of the Megalithism of the Central Region of the International Tagus In Primitiva Bueno Ramirez Rosa Bar-roso-Bermejo Rodrigo de Balbiacuten-Berhmann (Eds) Graphical markers and megalith builders in the International Tagus BAR International Series 1765 41-59 BUENO RAMIREZ Primitiva BARROSO-BERMEJO Rosa BALBIacuteN-BERHMANN Rodrigo

476 |

(2010) ndash Megalitos en la cuenca interior del Tajo Munibe (Suplemento) 32 p 152-187 BUENO RAMIREZ Primitiva BARROSO-BERMEJO Rosa BALBIacuteN-BERHMANN Rodrigo (2010a) ndash Entre lo visible y lo invisible registros funerarios de la Prehistoria reciente de la Meseta Sur In Primitiva Bueno Antonio Gilman Concha Martiacuten Morales F-Javier Saacutenchez-Palencia (Eds) Arque-ologiacutea Sociedad Territorio y Paisaje Estudios sobre Prehistoria Reciente Protohistoria y Transicioacuten al Mundo Romano Homenaje a Mordf Dolores Fernaacutendez Posse Madrid 53-73 BUENO RAMIREZ Primitiva BARROSO-BERMEJO Rosa BALBIacuteN-BERHMANN Rodrigo (2013) ndash Interior regions and places of collective memory the megalithism of the interior basin of the Tagus Iberian Peninsula A reflection after reading of the Tara project In Muiris OrsquoSullivan Chris Scarre Maureen Doyle (Eds) TARA ndash From the Past to the Future Towards a New Research Agenda Dublin 484-501 BUXOacute Ramon (2008) ndash The agricultural consequences of colonial contacts on the Iberian Peninsula in the first millennium BC Vegetation History and Archaeobotany 17 p 145-154CARDOSO Joatildeo L GRADIM Alexandra (2008) A necroacutepole de cistas da Idade do Bronze das Soal-heironas Alcoutim Primeira notiacutecia dos trabalhos realizados e dos resultados obtidos Promontoria 6 (Ano 6) 223-248CASEIRO Alexandre OLIVEIRA Ceacutesar (2012) ndash Variations in wood burning organic marker con-centrations in the atmospheres of four European cities Journal of Environmental Monitoring 14 p 2261-2269COPLEY Mark S BLAND Helen A ROSE P HORTON M EVERSHED Richard P (2005) ndash Gas chromatographic mass spectrometric and stable carbon isotopic investigations of organic residues of plant oils and animal fats employed as illuminants in archaeological lamps from Egypt Analyst 130 p 860-871 COWEY C B (1994) ndash Amino acid requirements of fish a critical appraisal of present values Aqua-culture 124 p 1ndash11 CRAMP Lucy JONES Jennifer SHERIDAN Alison SMYTH Jessica WHELTON Helen MUL-VILLE Jacqui SHARPLES Niall EVERSHED Richard P (2014) ndash Immediate replacement of fishing with dairying by the earliest farmers of the northeast Atlantic archipelagos Proceedings of the Royal Society B 281 p 1-8DEGENS Egon T DEUSER W G HAEDRICH R L (1969) ndash Molecular structure and composition of fish otoliths Marine Biology 2 p 105-113DELIBES DE CASTRO Germaacuten GUERRA DOCE Elisa TRESSERRAS-JUAN Jordi (2009) ndash Tes-timonios de consumo de cerveza durante la Edad del Cobre en la tierra de Olmedo (Valladolid) In M I del Val Valdivieso P Martiacutenez Sopena (Eds) Castilla y el mundo feudal Homenaje al profesor Julio Valdeoacuten Tomo III Junta de Castilla y Leoacuten p 585-599 DEMBITSKY Valery M SHKROB Ilia ROZENTSVET Olga A (2000) ndash Fatty acid amides from freshwater green alga Rhizoclonium hieroglyphicum Phytochemistry 54 p 965-967DINIZ Mariana (2000) ndash Neolitizaccedilatildeo e megalitismo arquitecturas do tempo no espaccedilo Muitas An-tas Pouca Gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo (Trabalhos de Arqueologia 16) p 105-116DUDD Stephanie N EVERSHED Richard P GIBSON Alex M (1999) ndash Evidence for varying pat-terns of exploitation of animal products in different prehistoric pottery traditions based on lipids pre-served in surface and absorbed residues Journal of Archaeological Science 26 p 1473-1482DUQUE ESPINO David M (2004) ndash La gestioacuten del paisaje vegetal en la Prehistoria Reciente y Pro-tohistoria en la Cuenca Media del Guadiana a partir de la Antracologiacutea Tese de Doutoramento Uni-verdidad de Extremadura

| 477

| 2018

DUQUE ESPINO David M (2005) ndash Resultados antracoloacutegicos de los yacimientos de la Coudelaria de Alter do Chatildeo y su integracioacuten en las secuencias paleoecoloacutegicas y paleoambientales de la Prehistoria Reciente del Suroeste peninsular Revista Portuguesa de Arqueologia Vol 8 n 1 p 21-41EVERSHED Richard P DUDD Stephanie N COPLEY Mark S BERSTAN Robert STOTT An-drew W MOTTRAM Hazel BUCKLEY Stephen A CROSSMAN Zoe (2002) ndash Chemistry of Ar-chaeological Animal Fats Accounts of Chemical Research 35 p 660-668FABBRI Daniele TORRI Cristian SIMONEIT Bernd R T MARYNOWSKI Leszek RUSHDI Ahmed I FABIAŃSKA Monika J (2009) ndash Levoglucosan and other cellulose and lignin markers in emissions from burning of Miocene lignites Atmospheric Environment 43 p 2286-2295FRASER Matthew P LAKSHMANAN Kalyan (2000) ndash Using levoglucosan as a molecular marker for the long-range transport of biomass combustion aerosols Environmental Science amp Technology 34 p 4560-4564FRADE Joseacute C SOARES Antoacutenio M CANDEIAS Antoacutenio RIBEIRO Maria I M NUNES DA PONTE Teresa SERRA Miguel PORFIacuteRIO Eduardo (2012) ndash Beeswax and propolis as sealants of funerary chambers during the Middle Bronze Age in the South-Western Iberian Peninsula In Proceed-ings of the 39th International Symposium for Archaeometry Centre for Archaeological Science Leuven p 141-145FLANNERY Kent (1969) ndash Origins and ecological effects of early domestication in Iran and the Near East In Peter J Ucko G W Dimbleby (Eds) The Domestication and Exploitation of Plants and Ani-mals Chicago p 73-100FORENBAHER Staso (1999) ndash Production and Exchange of Bifacial Flaked Stone Artifacts during the Portuguese Chalcolithic BAR International Series 756 GAO Xiaodong NORWOOD Matthew FREDERICK C MCKEE A MASIELLO Caroline A LOUCHOUARN Patrick (2016) ndash Organic geochemical approaches to identifying formation processes for middens and charcoal-rich features Organic Geochemistry 94 p 1-11GONCcedilALVES Viacutector S (1989) ndash Megalitismo e metalurgia no Alto Algarve Oriental uma aproxi-maccedilatildeo integrada Lisboa UNIARQINICGONCcedilALVES Viacutector S ANDRADE Marco A (2014) ndash Pequenos siacutetios objectos perdidos artefactos sem contexto 2 Antas ineacuteditas do grupo megaliacutetico Crato-Nisa (Anta das Romeiras e Anta da Ferra-nha) Revista Portuguesa de Arqueologia Vol 17 p 61-94 GONCcedilALVES Viacutector S SOUSA Ana C (2000) ndash O grupo megaliacutetico de Reguengos de Monsaraz e a evoluccedilatildeo do megalitismo no Ocidente Peninsular (espaccedilos de vida espaccedilos de morte sobre as antigas sociedades camponesas em Reguengos de Monsaraz In VS Gonccedilalves (Coord) Muitas antas pouca gente Actas do Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo (Trabalhos de Arqueologia 16) p 11-104 GUERRA DOCE Elisa (2006) ndash Sobre la funcioacuten y el significado de la ceraacutemica campaniforme a la luz de los anaacutelisis de contenidos Trabajos de Prehistoria 63 (1) p 69-84 GUERRA DOCE Elisa DELIBES DE CASTRO Germaacuten RODRIacuteGUEZ MARCOS Joseacute A CRE-SPO DIacuteEZ Manuel GOacuteMEZ PEacuteREZ Alicia HERRAacuteN MARTIacuteNEZ Joseacute I TRESSERRAS JUAN Jordi MATAMALA MELLIacuteN Juan C (2011-2012) ndash Residuos de productos laacutecteos y de grasa de carne en dos recipientes ceraacutemicos de la Edad del Bronce del Valle Medio del Duero BSAA Arqueologiacutea LXXVII-LXXVIII p 105-137 HANSEL Fabricio A COPLEY Mark S MADUREIRA Luiz A S EVERSHED Richard P (2004) ndash Thermally produced ω-(o-alkylphenyl)alkanoic acids provide evidence for the processing of marine products in archaeological pottery vessels Tetrahedron Letters 45 p 2999-3002 HANSEL Fabricio A EVERSHED Richard P (2009) ndash Formation of dihydroxy acids from Z-mono-unsaturated alkenoic acids and their use as biomarkers for the processing of marine commodities in

478 |

archaeological pottery vessels Tetrahedron Letters 50 p 5562-5564IRIARTE-CHIAPUSSO Maria-Joseacute OCETE-PEacuteREZ C A HERNAacuteNDEZ-BELOQUI Begontildea OCETE-RUBIO R (2017) ndash Vitis vinifera in the Iberian Peninsula a review Plant Biosystems - An International Journal Dealing with all Aspects of Plant Biology 151 p 245ndash257JERKOVIĆ Igor MARIJANOVIĆ Zvonimir GUGIĆ Mirko ROJE Marin (2011) ndash Chemical profile of the organic residue from ancient amphora found in the Adriatic Sea determined by direct GC and GC-MS analysis Molecules 16 p 7936-7948KIRCHGEORG Torben SCHUumlPBACH Simon KEHRWALD Natalie MCWETHY David B BARBANTE Carlo (2014) ndash Method for the determination of specific molecular markers of biomass burning in lake sediments Organic Geochemistry 71 p 1-6KUO Li-Jung HERBERT Bruce E LOUCHOUARN Patrick (2008) ndash Can levoglucosan be used to characterize and quantify charcharcoal black carbon in environmental media Organic Geochemistry 39 1466-1478LEHMANN Jan BOumlHM Jorge (2011) ndash Reflections of the presence of Vitis sylvestris during the Ice Age in Iberia In J Boumlhm (Ed) Atlas das castas da Peniacutensula Ibeacuterica Lisbon Dinalivro p 88-90LEISNER Georg LEISNER Vera (1951) ndash Antas do concelho de Reguengos de Monsaraz Materiais para o estudo da cultura megaliacutetica em Portugal Lisboa Instituto para a Alta Cultura (Reediccedilatildeo de 1985 UNIARCH)LEISNER Georg LEISNER Vera (1956) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Vol 1 Berlin Walther de GruyterLEISNER Georg LEISNER Vera (1965) Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Vol 3 Berlin Walther de GruyterLEISNER Vera (1983) ndash As Diferentes Fases do Neoliacutetico em Portugal Arqueologia 7 p 7-15LEVADOUX Louis (1956) ndash Les populations sauvages et cultiveacutees des Vitis vinifera L Institut National de la Recherche AgronomiqueMATALOTO Rui (2007) ndash Paisagem memoacuteria e identidade tumulaccedilotildees megaliacuteticas no poacutes-megalit-ismo alto-alentejano Revista Portuguesa de Arqueologia Vol 10 1 p 123-140MATALOTO Rui (2018) ndash Whorsquos U Um santuaacuterio da Idade do Bronze no Cromlech do Arneiro dos Pinhais (LavreCiborro-Montemor-o-Novo) Almansor 3 3ordf seacuterie p 5-42MATALOTO Rui BOAVENTURA Rui (2009) ndash Entre vivos e mortos nos IV e III mileacutenios ane do Sul de Portugal um balanccedilo relativo do povoamento com base em dataccedilotildees pelo radiocarbono Revista Portuguesa de Arqueologia Vol 2 2 p 31-77MATALOTO Rui MARTINS Joseacute M M SOARES Antoacutenio M M (2013) ndash Cronologia absoluta para o Bronze do Sudoeste Periodizaccedilatildeo base de dados tratamento estatiacutestico Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras 20 p 303-338MCGOVERN Patrick E MIRZOIAN Armen HALL Gretchen R (2009) ndash Ancient Egyptian herbal wines Proceedings of the National Academy of Sciences 106 p 7361-7366MCGOVERN Patrick E (1998) ndash Wine for eternity - How molecular archaeologists identified the contents of vessels found in the tomb of an Egyptian king Archaeology 51 p 28-32MCGOVERN Patrick E GLUSKER Donald L EXNER Lawrence J VOIGT Mary M (1996) ndash Neolithic resinated wine Nature 381 p 480-481MCGOVERN Patrick E HARTUNG Ulrich BADLER Virginia R GLUSKER Donald L EXNER Lawrence J (1997) ndash The beginnings of winemaking and viniculture in the ancient Near East and Egypt Expedition The magazine of the University of Pennsylvania 39 p 3-21MCGOVERN Patrick E MICHEL Rudolph H (1996) ndash The analytical and archaeological challenge of detecting ancient wine two case studies from the ancient Near East In P E McGovern S J Fleming

| 479

| 2018

S H Katz (Eds) The origins and ancient history of wine New York Gordon and Breach p 57-67MONTEIRO-RODRIGUES Seacutergio (2010) ndash Algumas consideraccedilotildees acerca do Processo de Neo-litizaccedilatildeo no Norte de Portugal In Ana M S Bettencourt M I Caetano Alves S Monteiro-Rodrigues (Eds) Variaccedilotildees Paleoambientais e Evoluccedilatildeo Antroacutepica no Quaternaacuterio do Ocidente Peninsular Bra-ga APEQ e CITCEM p 73-82MONTEIRO-RODRIGUES Seacutergio (2011) ndash Pensar o Neoliacutetico Antigo Contributo para o Estudo do Norte de Portugal entre o VII e o V mileacutenios BC Viseu (Estudos Preacute-histoacutericos 16)MONTEIRO-RODRIGUES Seacutergio (2013) ndash A Anta dos Currais do Galhordas (Castelo de Vide ndash Centro Leste de Portugal) Resultados da primeira campanha de escavaccedilatildeo Estudos do Quaternaacuterio 9 p 57-70 Disponiacutevel em httpwwwapeqptojsindexphpapeqMONTEIRO-RODRIGUES Seacutergio (2016) ndash Resultados da primeira campanha de escavaccedilatildeo na Anta dos Currais do Galhordas (Castelo de Vide ndash Centro Leste de Portugal) ndash Breve Siacutentese Estudos Preacute-histoacutericos 18 (Actas da II Mesa-Redonda ldquoArtes Rupestres da Preacute-histoacuteria e da Proto-histoacuteriardquo Porto Novembro de 2011) p 195-202MONTEIRO-RODRIGUES Seacutergio OLIVEIRA Ceacutesar (2018) ndash A anta dos Currais do Galhordas (Castelo de Vide Alto Alentejo Portugal) Arquitetura cronologia e anaacutelise quiacutemica de resiacuteduos orgacircni-cos de recipientes ceracircmicos Estudos do Quaternaacuterio 18 p 15-34NUacuteNtildeEZ Diego Rivera WALKER Michael J (1989) ndash A review of palaeobotanical findings of early Vitis in the mediterranean and of the origins of cultivated grape-vines with special reference to new pointers to prehistoric exploitation in the western mediterranean Review of Palaeobotany and Paly-nology 61 p 205-237OLIVEIRA Ceacutesar MONTEIRO-RODRIGUES Seacutergio ARAUacuteJO Alfredo (2015) ndash Anaacutelise quiacutemica de resiacuteduos orgacircnicos identificados em vasos da Anta dos Currais do Galhordas (Castelo de Vide Alto Alentejo Portugal) In Ceacutesar Oliveira Rui Morais Aacutengel Morillo Cerdaacuten (Eds) ArchaeoAnalytics Chromatography and DNA analysis in Archaeology Municiacutepio de Esposende p 85-101 OLIVEIRA Jorge (1995) ndash Monumentos Megaliacuteticos da Bacia Hidrograacutefica do Rio Sever Dissertaccedilatildeo de Doutoramento apresentada agrave Universidade de Eacutevora policopiadoOLIVEIRA Jorge (1997) ndash Monumentos Megaliacuteticos da Bacia Hidrograacutefica do Rio Sever Marvatildeo (Ibn Maruan)OLIVEIRA Jorge (1997a) ndash Datas absolutas de monumentos megaliacuteticos da bacia hidrograacutefica do riacuteo Sever Actas del II Congreso de Arqueologiacutea Peninsular Tomo II (Neoliacutetico Calcoliacutetico y Bronce) Zamora p 29-240OLIVEIRA Jorge (1998) ndash A Anta da Joaninha e a da Era de Guardias (Cedillo-Caacuteceres) no ambiente megaliacutetico da foz do rio Sever Ibn Maruaacuten 8 p 203-245OLIVEIRA Jorge (1999-2000) ndash A Anta II de Satildeo Gens (Nisa) Ibn Maruaacuten 9-10 p 181-238PECCI Alessandra GIORGI Gianluca SALVINI Laura CAU ONTIVEROS Miguel Aacutengel (2013) ndash Identifying wine markers in ceramics and plasters using gas chromatography-mass spectrometry Ex-perimental and archaeological materials Journal of Archaeological Science 40 p 109-115PONTE Teresa R N da SOARES Antoacutenio M M ARAUacuteJO Maria de F FRADE Joseacute C RIBEIRO Isabel RODRIGUES Zeacutelia SILVA Rui J C VALEacuteRIO Pedro (2012) ndash O Bronze Pleno do Sudoeste da Horta do Folgatildeo (Serpa Portugal) Os Hipogeus Funeraacuterios O Arqueoacutelogo Portuguecircs Seacuterie V 2 p 265-295PORFIacuteRIO Eduardo M B SERRA Miguel A P (2010) ndash Rituais funeraacuterios e comensalidade no Bronze do Sudoeste da Peniacutensula Ibeacuterica novos dados a partir de uma intervenccedilatildeo arqueoloacutegica no siacutetio da Torre Velha 3 (Serpa) Estudos do Quaternaacuterio 6 49-66 REGERT Martine (2011) ndash Analytical strategies for discriminating archeological fatty substances from

480 |

animal origin Mass Spectrometry Reviews 30 p 177-220REIMER P J et al (2013) ndash IntCal 13 and MARINE 13 radiocarbon age calibration curves 0-50000 years calBP Radiocarbon 55(4) p 1869-1887ROMANUS Kerlijne POBLOME Jeroen VERBEKE K LUYPAERTS A JACOBS Pierre DE VOS Dirk WAELKENS Marc (2007) ndash An evaluation of analytical and interpretative methodologies for the extraction and identification of lipids associated with pottery sherds from the site of Sagalassos Turkey Archaeometry 49 p 729-747SIMONEIT Bernd R T (2002) ndash Biomass burning ndash a review of organic tracers for smoke from incom-plete combustion Applied Geochemistry 17 p 129-162 SIMONEIT Bernd R T SCHAUER James J NOLTE Christopher G OROS Daniel R ELIAS V O FRASER Matthew P ROGGE Wolfgang F CASS Glenn R (1999) ndash Levoglucosan a tracer for cellulose in biomass burning and atmospheric particles Atmospheric Environment 33 p 173-182STUIVER Minze REIMER Paula J (1993) ndash Calib Radiocarbon Calibration Program Radiocarbon 35 p 215-230SUBHASHINI Ponnambalam DILIPAN Elangovan THANGARADJOU Thirunavukkarasu PA-PENBROCK Jutta (2013) ndash Bioactive natural products from marine angiosperms abundance and functions Natural Products and Bioprospecting 3 p 129-136TEODOR Eugenia BADEA Georgiana ALECU Andreia CALU Larisa RADU Gabriel (2014) ndash Interdisciplinary study on pottery experimentally impregnated with wine Chemical Papers 68 1022-1029VACCARO Emanuele GHISLENI Mariaelena ARNOLDUS-HUYZENDVELD Antonia GREY Cam BOWES Kim MACKINNON Michael MERCURI Anna Maria PECCI Alessandra CAU ONTIVEROS Miguel Aacutengel RATTIGHERI Eleonora RINALDI Rossella (2013) ndash Excavating the Roman peasant II excavations at Case Nuove Cinigiano (GR) Papers of the British School at Rome 81 p 129-179

| 481

| 2018

LA NECROacutePOLIS DE CUEVAS ARTIFICIALES DE LOS ALGARBES (TARIFA CAacuteDIZ) UN EJEMPLO DE LA PERMANENCIA TEMPORAL DE LAS CONSTRUCCIONES MEGALIacuteTICAS

The necropolis of artificial caves of Algarbes (Tarifa Caacutediz) An example of the temporary projection of the megalithic constructions

Yolanda Costela Muntildeoz Universidad de Caacutedizyolandacostelaucaes

Vicente Castantildeeda Fernaacutendez Universidad de Caacutedizvicentecastanedaucaes

Fernando Prados Martiacutenez Universidad de Alicantefernandopradosuaes

Ivaacuten Garciacutea Jimeacutenez Conjunto Arqueoloacutegico de Baelo Claudiaivangarciajuntadeandaluciaes

Helena Jimeacutenez Vialaacutes Universidad de Murciavialasumes

RESUMENLa necroacutepolis de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) se localiza al sur de la Peniacutensula Ibeacuterica en un espacio geograacutefico tremendamente interesante como es el aacuterea de influencia del Estrecho de Gibraltar un territorio a caballo entre dos continentes y dos mares cuya proximidad unioacute maacutes que separoacute en estas fechas ademaacutes de favorecer el contacto entre dife- rentes realidades culturales desde la Prehistoria Los trabajos desarrollados dentro del Proyecto de Investigacioacuten I+D+i denominado La necroacutepolis de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) La permanencia del paisaje funerario en el aacutembito del Estrecho de Gibraltar (HAR2011--25200) autorizado y financiado por el Ministerio de Economiacutea y Competitividad del Gobierno de Espantildea han permitido explicar y comprender la permanencia temporal de esta necroacutepolis y de su paisaje simboacutelico que ha sobrepasado los liacutemites de la Prehistoria para convertirse en un paisaje sacralizado de culto y enterramiento a lo largo de la Historia Los hallazgos de diversos materiales fenicios y puacutenicos en nuestras intervenciones ademaacutes de la documentacioacuten de estructuras funerarias de eacutepoca histoacuterica sentildealan que la necroacutepolis prehistoacuterica mantuvo su caraacutecter funerario a lo largo del tiempo PALABRAS CLAVE Necroacutepolis megalitismo proyeccioacuten temporal paisaje funerario cuevas artificiales

482 |

ABSTRACTThe necropolis of Algarbes (Tarifa Caacutediz) is located to the south of the Iberian Peninsula This area is an interesting geographic space be-cause itacutes an influential area of the Strait of Gibraltar For this rea-son itacutes a border territory and itacutes located between two continents and two seas This fact favored the contact between different cul-tures since Prehistory Our works have been developed inside the I+D+I research project titled ldquoLa necroacutepolis de Los Algarbes (Ta- rifa Caacutediz) La permanencia del paisaje funerario en el aacutembito del Estrecho de Gibraltar (HAR2011-25200) authorized and financed by the Ministry of Economy and Competitively of the Spanish Go- vernment The results have evidenced the great temporary perma-nency of this necropolis and its symbolic landscape For this rea-son the funerary use of this archaeological site has trespassed the limits of Prehistory and it has transformed itself in a sacred land-scape of cult and burial throughout History The findings of diffe- rent materials like Phoenician and Punic in our interventions in addi-tion to the documentation of funerary structures from other historic pe- riods shows that the necropolis kept its funerary character along the timeKEY WORDSNecropolis megalithism temporary projection funerary landscape artificial caves

1 ANTECEDENTESLa necroacutepolis de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) se situacutea en el extremo Sur de la Peniacutensula Ibeacuterica en el aacutembito del Estrecho de Gibraltar un territorio de encuentro entre los continentes europeo y africano En este contex-to el registro funerario se convierte en un elemento fundamental para profundizar en los contactos y en las posibles tradiciones culturales co-munes donde se pueden plasmar distintas creencias y manifestaciones religiosas y simboacutelicasLas distintas estructuras funerarias de la necroacutepolis se localizan hasta la fecha excavadas en un afloramiento de arenisca de una de las estri-baciones de la colina de Paloma Alta a unos 50 msnm en la orilla derecha del riacuteo del Valle y en las proximidades de la Ensenada de Val-devaqueros Su situacioacuten elevada permite que sea visible desde la costa (se localiza a menos de 1 km de eacutesta) desde el continente africano y des-de una de las viacuteas naturales terrestres principales que funcionoacute desde la prehistoria (trazado que actualmente queda fosilizado bajo la carretera N-340) Todas estas caracteriacutesticas geograacuteficas convierten al sitio de Los Algarbes en un referente geograacutefico e histoacuterico dentro del aacutembito del Es-

| 483

| 2018

trecho de Gibraltar (Figura 1) Esta necroacutepolis fue objeto de diferentes campantildeas de excavacioacuten arqueo- loacutegica a fiacutenales de los antildeos 60 y principios de los 70 del siglo pasado (Posac 1975) realizaacutendose posteriormente una intervencioacuten relaciona-da con la limpieza delimitacioacuten y proteccioacuten del enclave (Mata 1990) Las fechas en las que se realizaron estas intervenciones haciacutean nece-saria una actualizacioacuten de la informacioacuten centrada en su conservacioacuten investigacioacuten y difusioacuten por lo que decidimos formalizar en forma de proyecto un programa de investigacioacuten1 bajo nuevos presupuestos teoacuteri-cos y metodoloacutegicos relacionados con los estudios de la muerte Las estructuras funerarias localizadas los rituales de enterramiento los ajuares y las primeras dataciones absolutas nos permiten fechar esta necroacutepolis prehistoacuterica durante la segunda mitad del III milenio ane A pesar de ello hemos comprobado coacutemo eacutesta pudo ser reutilizada como espacio de culto y enterramiento en eacutepoca histoacuterica (Prados Garciacutea y Castantildeeda 2010)

2 EL USO FUNERARIO DIACROacuteNICO DE LA NECROacutePOLIS DE LOS ALGARBESEl estudio de la permanencia temporal de las construcciones megaliacuteticas 1 Nuestro programa de investigacioacuten se plasmoacute en el Proyecto de Investigacioacuten I+D+i titulado La necroacute-polis de Los Al-garbes (Tarifa Caacutediz) La permanencia del paisaje funerario en el aacutembito del Estrecho de Gibraltar (2012ndash14) (HAR2011-25200) autorizado y financiado por el Ministerio de Economiacutea y Compe-titividad del Gobierno de Espantildea

Figura 1 Localizacioacuten geograacutefica de la necroacutepolis de Los Algarbes

484 |

es un fenoacutemeno relativamente reciente especialmente en la Peniacutensula Ibeacuterica donde el Megalitismo ha sido considerado durante mucho tiem-po como una realidad cultural estaacutetica y circunscrita a un periacuteodo concre-to que podiacutea variar de una regioacuten a otra Sin embargo y debido a la con-sideracioacuten de los monumentos megaliacuteticos como elementos sagrados del paisaje en la actualidad son concebidos como realidades orgaacutenicas y dinaacutemicas (Tejedor 2008 p 443) que poseen una enorme carga tem-poral pues no solo fueron utilizados por las comunidades prehistoacutericas que los construyeron sino que fueron reinterpretados y reutilizados per-diendo en muchos casos su sentido original Como argumenta G Delibes (2004 p 211) hay que entender el Megalitismo como un fenoacutemeno de larga duracioacuten en el que existen periacuteodos de mayor actividad frente a otros de menor actividad o incluso una completa inactividad (Criado amp alii 2005 p 863)En la actualidad son considerables los trabajos que estudian la proyec- cioacuten temporal de los monumentos megaliacuteticos Aun asiacute parece maacutes aceptado por parte de los investigadores la reutilizacioacuten de estructuras megaliacuteticas en momentos maacutes cercanos al periacuteodo de uso original como pueden ser la Edad del Bronce y la Edad del Hierro De ahiacute que sean cada vez maacutes numerosos los investigadores que centran sus estudios en la reutilizacioacuten de estructuras megaliacuteticas durante la Prehistoria Re-ciente (Aranda 2014 2015 Costela 2015 2016 2017 Delibes 2004 Fernaacutendez 2004 Garciacutea Sanjuaacuten 2005 Lorrio amp Montero 2004 Mantildea-na 2003 Mataloto 2007 Tejedor 2008 2013 2014 2015) Con todo el uso por parte de las sociedades histoacutericas ha quedado relegado y auacuten en la actualidad se cuestiona que determinados monumentos megaliacuteti-cos fueran reutilizados en eacutepoca romana o medieval a pesar de los nu-merosos hallazgos documentados en distintas construcciones megaliacuteti-cas No obstante cada vez son maacutes los investigadores que se preocupan por analizar su uso en eacutepoca histoacuterica destacando los trabajos de M Martintildeoacuten-Torres (2001) L Garciacutea Sanjuaacuten P Garrido y F Lozano (2007) o C Oliveira (2001 2008) De esta forma nosotros abogamos por el concepto de biografiacutea de uso que tiene su origen en el mundo anglosajoacuten (Bradley 1993 1998 Brad-ley amp Williams 1998 etc) destacando los trabajos de C Holtorf (1998) en los que argumenta la posibilidad de analizar la biografiacutea completa de los monumentos megaliacuteticos Asiacute Holtorf (1998) identifica fundamental-mente dos periacuteodos de uso El primero es el nacimiento o infancia que se tratariacutea del periacuteodo de construccioacuten y uso inicial de estas edificaciones Gibraltar (2012ndash14) (HAR2011-25200) autorizado y financiado por el Ministerio de Economiacutea y Compe-titividad del Gobierno de Espantildea

| 485

| 2018

y una segunda etapa que eacutel identifica como el periacuteodo de adultez mo-mento en el que pierden su significado original y surgen las distintas reinterpretaciones En la Peniacutensula Ibeacuterica recientes trabajos como los de C Tejedor amp alii (2017) o los de E Aacutelvarez (2011) estaacuten apostando seriamente por la reconstruccioacuten de la biografiacutea completa de los monu-mentos megaliacuteticos lo cual estaacute abriendo un sinfiacuten de posibilidades al conocimiento de la proyeccioacuten temporal de estas construcciones monu-mentales En nuestro caso las distintas intervenciones arqueoloacutegicas realizadas en la necroacutepolis de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) han permitido comprobar que dicha necroacutepolis se caracteriza por un uso diacroacutenico a lo largo del tiempo especialmente como lugar de culto y enterramiento Por ello en las siguientes paacuteginas trataremos de acercarnos a la secuencia de uso que presenta la necroacutepolis a traveacutes del anaacutelisis de las distintas fases de utilizacioacuten funeraria Esta secuencia histoacuterica ha sido establecida me-diante el estudio de la cultura material documentada y la presencia de estructuras funerarias de eacutepoca histoacuterica en ausencia de cronologiacuteas ab-solutas que apoyen estos testimonios materiales No obstante tenemos que decir que como consecuencia del uso prolongado que la necroacutepolis tuvo hasta eacutepoca bastante reciente las estructuras funerarias presen-tan un alto grado de destruccioacuten y procesos de vaciado por lo que tan

Figura 2 Grupos de estructuras funerarias documentadas

486 |

solo podemos basarnos en aquellos testimonios que han dejado alguna huella arqueoloacutegica De hecho pensamos que el uso de la necroacutepolis fue mucho maacutes profuso y diverso de lo que vamos a presentar aquiacute por lo que es tan solo una muestra de la riqueza histoacuterica y temporal que este espacio sagrado presentoacute a lo largo del tiempo21- Fase I uso y construccioacuten durante la Prehistoria RecienteLas diferentes campantildeas de excavacioacuten y prospeccioacuten arqueoloacutegica lleva-das a cabo en el yacimiento han permitido localizar hasta la fecha cer-ca de 40 estructuras funerarias prehistoacutericas agrupadas en diferentes niveles a modo de terrazas (Figura 2) (grupos de estructuras 1 2 y 3) estando orientadas en su mayoriacutea hacia el N y el NE es decir hacia la principal viacutea natural terrestre Tan soacutelo dos presentan una orientacioacuten EEl estudio arquitectoacutenico nos indica que la mayoriacutea de las estructuras funerarias se corresponden con cuevas artificiales de acceso lateral con una tipologiacutea muy variada (con una o varias caacutemaras algunas con un atrio exterior con hornacinas laterales que compartimentan el es-pacio funerariohellip) mientras que tan soacutelo una de ellas se corresponde

Figura 3 Planta de la Estructura 14

| 487

| 2018

con una cueva artificial de construccioacuten mixta (Castantildeeda amp alii 2014) con un caraacutecter monumental y localizada en una posicioacuten central dentro de la distribucioacuten espacial de la necroacutepolis Sin duda estas diferencias tipoloacutegicas deben ponerse en relacioacuten con el tratamiento desigual ante la muerte (y ante la vida) de los alliacute enterradosLas distintas estructuras funerarias excavadas especialmente la nordm 14 y los ajuares localizados (Figura 3) algunos de ellos con una importante carga ideoloacutegica-simboacutelica nos estaacute permitiendo profundizar en las creen-cias los ritos el conservadurismo y la pervivencia de ciertas tradiciones constataacutendose igualmente el caraacutecter colectivo de los enterramientos Pero esta colectividad no debe ser entendida como una igualdad social ya que posiblemente estas estructuras mantuvieron un uso continuado en el tiempo permitiendo el depoacutesito de los cuerpos de un mismo grupo familiar Eacutestos presentariacutean un caraacutecter diferencial y jeraacuterquico frente a buena parte de la sociedad que no tendriacutea acceso a estos bienes y a ser enterrados en estas estructuras (Castantildeeda amp alii 2013) Todo ello debe ser entendido como indicadores del ldquoestatus socialrdquo de los alliacute enterra-dos evidenciando la existencia de un acceso desigual a la muerte y en definitiva una diferenciacioacuten social legitimada y reproducida mediante el culto a la memoria de los antepasados alliacute enterrados Sin duda el sitio de Los Algarbes favoreceriacutea el mantenimiento como lugar sagrado en la memoria colectiva para diferentes sociedades posteriores (Prados amp alii 2010)En cuanto a la cronologiacutea de las distintas estructuras excavadas debi-do al alto deterioro que presentan y al hecho de haber sido expoliadas en eacutepoca histoacuterica es difiacutecil establecerla con exactitud No obstante el estudio de la cultura material hallada en algunas de las sepulturas exca-vadas junto con dataciones absolutas auacuten no publicadas nos permiten situar el uso original de la necroacutepolis en torno a mediados del III Milenio y principios del II Milenio Aun asiacute es posible que algunas sepulturas fueran reutilizadas durante el Bronce Final ya que se han constatado diversos fragmentos de ceraacutemica de este periacuteodo pero que no permiten por el momento precisar maacutes en este sentido Por tanto la construccioacuten de la necroacutepolis prehistoacuterica de Los Algarbes precisoacute de un trabajo colectivo y cooperativo especialmente en aquellas estructuras maacutes monumentales en tamantildeo y complejidad constructiva como es el caso de la Estructura 1-2 (Figura 4) realizadas con la finali-dad de perdurabilidad presencia y visibilidad (Castantildeeda amp alii 2014) Sin duda el desarrollo de ciertos ritos cultos y ceremonias reforzariacutean la

488 |

identidad cultural de determinados grupos sociales y la reproduccioacuten del orden establecido centrados en una clara diferenciacioacuten social22- Fase II reutilizacioacuten funeraria en momentos fenicio-puacutenicosLa facies fenicio-puacutenica que hemos detectado en esta necroacutepolis viene a corroborar la informacioacuten de distintas intervenciones arqueoloacutegicas que se reparten por todo el aacuterea campogibraltarentildea es decir la constatacioacuten

Figura 4 Planta de la Estructura 1-2

| 489

| 2018

de una presencia fenicia arcaica en la zona Los estudios desarrollados en la bahiacutea de Algeciras desde los antildeos setenta con la localizacioacuten de enclaves como el Cerro del Prado (Pellicer 1977) la cueva-santuario de Gorham (Gutieacuterrez amp alii 2012) o la presencia de materiales del s VII bajo la actual Carteia puacutenico-romana (Prados 2018) son elocuentes en este sentido Maacutes recientemente las excavaciones efectuadas por un equipo franco-espantildeol en La Silla del Papa (Moret amp alii 2017) o las in-tervenciones en el casco histoacuterico de Tarifa (Peacuterez-Malumbres amp Martiacuten 1998) dibujan un panorama en el que la instalacioacuten estable de comuni-dades semitas en la zona es un hecho Cabe recordar que para fenicios y puacutenicos enterrar para devolver el cuerpo a la tierra fue el maacutes antiguo de los ritos funerarios y seguramente el maacutes frecuente Un dato que no adquiririacutea relevancia de no ser porque el sustrato local de la zona se caracteriza precisamente por todo lo contrario De hecho la reciente lo-calizacioacuten de la necroacutepolis de La Silla del Papa y su excavacioacuten ponen el acento en el componente exoacutegeno ndashafricano- o de tradicioacuten puacutenico-mau-ritana de sus monumentos funerarios y de la ritualidad documentada subrayando de nuevo la inexistencia de necroacutepolis prerromanas indiacutege-nas entre el Estrecho y el Guadalquivir con posterioridad a la edad del Bronce (Moret amp alii 2017)En segundo lugar cabe sentildealar que el tipo maacutes caracteriacutestico de sepul-cro para fenicios y puacutenicos fue el hipogeo construccioacuten que plasmaba su monumentalidad en el interior tratando de pasar desapercibida al exterior seguramente por miedo a la violacioacuten de la tumba Necroacutepolis de hipogeos se conocen en el norte de Aacutefrica en la peniacutensula Ibeacuterica y en todos los terrenos insulares del Mediterraacuteneo central y occidental por ese motivo se considera uno de los foacutesiles directores de la cultura fenicio-puacutenicaComo hipogeos entendemos las tumbas de caacutemara excavadas en la roca que podiacutean ser individuales o colectivas aunque tambieacuten se viene llamando incorrectamente hipogeo a la cueva artificial tallada en los aflo-ramientos de roca como sucede en Los Algarbes Ambos tipos ndashhipogeos y cuevas artificiales- los encontramos en las necroacutepolis fenicio-puacutenicas y se han realizado diversos ensayos de caracterizacioacuten tipoloacutegica (Tejera 1979 Ramos 1990) por lo que no entraremos con maacutes detalle en ello Los sepulcros en cuevas artificiales aparecen vinculados a los contextos culturales nuacutemidas en Aacutefrica donde se conocen como haouanet (Camps 1961 Longerstay 1993) aunque siempre se ha sentildealado una influencia puacutenica son eacutestos ejemplos libio-puacutenicos o puacutenico-nuacutemidas los que pare-

490 |

cen haber tenido una mayor influencia en el caso hispano Asiacute podemos entender el reempleo de los sepulcros de Los Algarbes o los llamados hipogeos de Carissa Aurelia (Espera-Bornos Caacutediz) aacutembitos de una clara influencia puacutenica (Prados amp alii 2010 Prados 2017) Para explicar la facies fenicio-puacutenica que se constata en la necroacutepolis de Los Algarbes por tanto hay que entender que entre los siglos VII y II aC el aacuterea campogibraltarentildea reflejoacute un proceso cultural paralelo al aacuterea norteafricana vecina en torno al Cabo Espartel donde conocemos modelos de enterramiento similares Los ejemplos de necroacutepolis hipo-geicas del Campo de Gibraltar son comparables tambieacuten con otras del aacutembito cultural fenicio-puacutenico tales como las sardas las ibicencas o las tunecinas tanto en los citados haouanet como en los hipogeos Por todo ello podemos aseverar que en el aacuterea objeto de estudio contamos tanto con hipogeos funerarios realizados ex novo como en la isla de las Palo-mas de Tarifa y con otros modelos de reutilizaciones de los sepulcros en cuevas artificiales de la edad del Bronce caso del que analizamos en estas paacuteginas Junto al esquema tipoloacutegico y constructivo al que acabamos de aludir cabe sentildealar que en Los Algarbes la reocupacioacuten durante el primer milenio aC ha sido tambieacuten atestiguada gracias a algunos materiales recuperados durante las labores de puesta en valor del yacimiento Es-tos hallazgos han sobrevenido durante la ejecucioacuten de limpiezas tanto en el exterior como en el interior de las caacutemaras por lo que no cabe duda de que los materiales estaacuten relacionados con una utilizacioacuten del aacutembito funerario y no con un uso secundario o residual del entorno de la necroacutepolis como quizaacutes sucedioacute para otras eacutepocas posteriores Por otro lado todos los materiales ceraacutemicos encontrados se pueden rela-cionar con tipos propios de contextos funerarios siendo fundamental-mente formas abiertas (platos de barniz rojo tardiacuteo o de tipo Kouass jarras y cuencos-lucerna o paacuteteras) que pudieron formar parte de rituales funerarios u ofrendas En todos los casos estas formas detectadas se pueden poner en relacioacuten con los elementos de ajuar o de iluminacioacuten del interior de la caacutemara Los materiales descritos son paralelizables con los documentados en los citados enterramientos del Cabo Espartel por M Ponsich (1970) y presentan un abanico cronoloacutegico del siglo VI al III aC claro reflejo a su vez de una dilatada perduracioacuten del uso funerario de la necroacutepolisCabe indicar tambieacuten que en las proximidades de la necroacutepolis fue lo-calizado un pequentildeo asentamiento denominado ldquoAlgarbes IIrdquo donde se

| 491

| 2018

recuperaron materiales similares a los descritos anteriormente y fecha-dos entre los siglos V y III aC (Martiacuten et al 2006) La existencia de este enclave y el reempleo del espacio funerario de la necroacutepolis han de ser puestos sin lugar a dudas en relacioacutenLa excavacioacuten realizada por nuestro equipo ha permitido igualmente localizar diversos fragmentos ceraacutemicos en la denominada estructura 20 donde destaca un cuenco-triacutepode fenicio junto a diversos fragmentos de aacutenfora y de plato En la estructura 1-2 fueron asimismo detectados diversos fragmentos de aacutenfora fenicia de forma indeterminada pero de produccioacuten aparentemente gadirita Sobre la estructura 20 ademaacutes cabe referir que presenta una construccioacuten circular inscrita en la roca trabajada muy similar a las que se estaacuten excavando actualmente en la vecina necroacutepolis de La Silla del Papa ubicada en la sierra de la Plata aneja a esta de San Bartolomeacute y con la que podraacuten guardar relacioacutenDel material fenicio-puacutenico que se ha recogido pues consideramos muy relevante el hallazgo de la citada urna del tipo ldquoCruz del Negrordquo que apa-recioacute completa (Figura 6) Este tipo de piezas se encuentra bien tipificada y en nuestro caso se trata de un ejemplar evolucionado de forma oval

Figura 5 Restos materiales de eacutepoca romana y fenicio-puacutenica

492 |

con base coacutencava a modo de umbo La forma es bien conocida y su lo-calizacioacuten es muy frecuente en contextos de necroacutepolis destacando los ejemplares procedentes del aacuterea de Carmona o Medelliacuten (tipo 8) donde ha sido fechada entre 525-475 aC por sus excavadores (Torres 2008 p 634) Consideramos que su aparicioacuten en Los Algarbes es por tanto un rasgo muy elocuente tanto de la permanencia del uso funerario de la necroacutepolis a lo largo del primer milenio como de su adscripcioacuten a la tradicioacuten cultural semita23- Fase III reutilizacioacuten de estructuras en eacutepoca romanaSobre el material romano que hemos localizado poco se puede decir en lo que concierne a una perduracioacuten del uso funerario de esta necroacutepolis Los fragmentos ceraacutemicos detectados tanto en superficie como durante la excavacioacuten arqueoloacutegica (Figura 5 1 y 2) al contrario de lo que se ha comentado para la eacutepoca fenicio-puacutenica dibujan un panorama en el que

Figura 6 Ceraacutemica tipo de ldquoCruz del Negrordquo

| 493

| 2018

el factor domeacutestico o habitacional cobra maacutes fuerza que el estrictamente funerario Si los elementos arqueoloacutegicos pertenecientes a eacutepoca feni-cio-puacutenica pueden ser faacutecilmente atribuibles a un uso ritual las ceraacutemi-cas comunes y las ollas de cocina maacutes bien seriacutean indicativas de otro tipo de utilizacioacuten que hasta el momento no estamos en condiciones de precisar La continuacioacuten de los trabajos en la necroacutepolis podraacute arrojar maacutes informacioacuten a este hecho en los proacuteximos antildeos 24- Fase IV construccioacuten de sepulturas de cronologiacutea tardo-anti-gua en asociacioacuten a cuevas artificiales prehistoacutericasDurante los trabajos arqueoloacutegicos desarrollados en la necroacutepolis fueron halladas dos estructuras excavadas en el sustrato rocoso cuya tipologiacutea se corresponde con la definida como tumbas rupestres excavadas en la roca de tipo rural (Bernal amp Lorenzo 2000 122) Una de ellas habiacutea sido documentada por C Posac (1975) mientras que nosotros hemos docu-mentado una segunda tumba a escasos tres metros de eacutesta Igualmente E Mata (1990) indica que en las proximidades se hallan tres estructuras maacutes las cuales no han podido ser identificadas Este tipo de estructura funeraria tiene una repercusioacuten muy amplia en el sur peninsular sobre todo en las provincias de Caacutediz y Maacutelaga debido a

Figura 7 Tumba antropomorfa Estructura 11

494 |

la naturaleza caliza de las Sierras Subbeacuteticas de esta zona (Loacutepez 2006 p 48) Se trata de una tipologiacutea de enterramiento compuesta por tum-bas excavadas en el sustrato rocoso de cronologiacutea tardo-antigua donde normalmente la longitud de la fosa suele coincidir con la estatura del difunto lo que indicariacutea que las fosas se construiriacutean para la persona que acababa de morir (Vargas 2011 p 152) de ahiacute que sean conoci-das comuacutenmente como tumbas antropomorfas Un aspecto singular de este tipo de enterramiento es su ubicacioacuten en espacios sacralizados y de cronologiacutea prehistoacuterica De hecho es comuacuten la presencia de este tipo de tumbas en las inmediaciones de cuevas abrigos monumentos megaliacuteti-cos y cuevas artificiales ya que se encuentran excavadas en afloramien-tos rocosos Este hecho hizo que fueran consideradas durante mucho tiempo tumbas de cronologiacutea prehistoacuterica (Loacutepez 2006 p 48)En el caso de la Estructura 11 (Figura 7) presenta una longitud de 115 m en su eje Norte-Sur 030 m de ancho en su eje Este-Oeste y 025 m de profundidad Aunque su estado de conservacioacuten es bastante bue-no se encontraba vaciacutea Tiene una orientacioacuten es Norte-Sur estando su cabecera hacia el Sur En el caso de la Estructura 12 debe tratarse de la tumba de un individuo infantil debido a su pequentildeo tamantildeo (longitud en el eje Norte-sur de 150 m una anchura en el eje Este-Oeste de 057 m y una altura conservada de 025 m) Al igual que la anterior presenta una buena conservacioacuten aunque tambieacuten se encontraba vaciada presentan-do una orientacioacuten Norte-Sur La existencia de este tipo de sepulturas en la necroacutepolis y a muy corta distancia de las cuevas artificiales de cronologiacutea prehistoacuterica en concre-to en el grupo de estructuras 1 (Figura 2) no hace maacutes que confirmar la gran permanencia temporal que esta necroacutepolis tuvo a lo largo del tiempo pues la comunidad que dio sepultura a sus fallecidos durante el periodo conocido como tardo-antiguo eligioacute este lugar sagrado de forma consciente Parece que este hecho es algo recurrente al menos en la provincia de Caacutediz ya que son numerosos los ejemplos de tumbas rupes-tres que se localizan en las inmediaciones de monumentos megaliacuteticos y cuevas artificiales de eacutepoca prehistoacuterica Dos casos muy similares son la necroacutepolis de la Ermita del Almendral de Puerto Serrano (Loacutepez 2006) y la necroacutepolis del Almendral en el teacutermino municipal de El Bosque (Alarcoacuten amp Aguilera 1993) En ambos casos se documentaron este tipo de tum-bas en asociacioacuten espacial a cuevas artificiales de cronologiacutea prehistoacuteri-ca con la diferencia de que presentan tipologiacuteas distintas Mientras que las halladas en la necroacutepolis de Los Algarbes tienen forma antropomorfa

| 495

| 2018

donde la parte de la cabeza es siempre maacutes ancha que la parte donde se situacutean los pies con la peculiaridad de que la cabecera es de forma semicircular (Vargas 2011 p 153) en el caso de la Ermita del Almen-dral de Puerto Serrano presentan tendencia ligeramente trapezoidal de doble fosa y excavadas en dos planos para formar un reborde escalona-do donde encajariacutean las laacutepidas hoy desaparecidas (Loacutepez 2006 p 56) Igualmente las documentadas en la necroacutepolis del Almendral de El Bosque tienen forma de bantildeera y en doble fosa con un reborde que tambieacuten serviriacutean de apoyo a las cubiertas no conservadas (Alarcoacuten amp Aguilera 1993) Asimismo C Mergelina (1924 p 115) localizoacute en la an-tigua laguna de la Janda en las inmediaciones del conjunto megaliacutetico concretamente en el nuacutecleo de Purenque-Larraez una serie de sepul-turas excavadas en la roca del tipo rupestre de tipologiacutea antropomor-fa Por uacuteltimo en la sierra de El Retiacuten se localizan algunos monumentos megaliacuteticos a los que se asocian igualmente varias sepulturas antropo-morfas excavadas en la roca (Tornero 1998 p 87-88) Por tanto parece que en estos momentos de transicioacuten al periacuteodo medieval existe una tendencia generalizada en esta zona a construir este tipo de necroacutepolis rurales en asociacioacuten a monumentos sacralizados del pasado caso de monumentos megaliacuteticos y cuevas artificiales

3- CONCLUSIONESLas distintas intervenciones arqueoloacutegicas desarrolladas nos han per-mitido conocer la gran permanencia temporal de la que ha sido objeto la necroacutepolis de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) A pesar de que en estas paacuteginas nos hemos centrado en su uso como espacio de culto y enter-ramiento los materiales arqueoloacutegicos documentados y la historiografiacutea existente sobre la misma nos hablan de una ocupacioacuten mucho maacutes vari-ada y diversificada Aunque su construccioacuten se produjo en eacutepoca prehistoacuterica su carga sim-boacutelica siguioacute patente con posterioridad cuando fue reutilizada en distin-tos momentos histoacutericos Probablemente durante el Bronce Final hubo reutilizaciones aunque por el momento no hemos podido determinar de queacute iacutendole En eacutepoca fenicio-puacutenica algunas de las estructuras pre-histoacutericas fueron reutilizadas como lugares de culto y enterramiento tal y como indican muchos de los materiales hallados Los restos materiales de eacutepoca romana no permite por el momento definir un uso determinado pero su presencia en la necroacutepolis nos habla de que la necroacutepolis fue frecuentada en estos momentos aunque auacuten no sabemos la naturaleza

496 |

de esta ocupacioacuten Como parece ser frecuente en toda la provincia en base a los indicios ya comentados en eacutepoca tardo-antigua se atestigua el fin del uso funerario de la necroacutepolis cuando se excavan sepulturas de tipo rural en las inmediaciones de las tumbas prehistoacutericas Sin em-bargo esto no significa el ocaso definitivo de la necroacutepolis pues tanto en nuestras intervenciones arqueoloacutegicas como en las realizadas con anterioridad (Posac 1975 Mata 1990 Bravo 2012) se ha documen-tado material de distintas eacutepocas histoacutericas A falta de un estudio maacutes exhaustivo del material hallado parece que estos usos posteriores no tuvieron un significado funerario pero si nos hablan del uso prolongado en el tiempo de la necroacutepolis hasta eacutepoca reciente Todo ello nos hace re-currir al concepto de ldquobiografiacutea de usordquo de la que hablaacutebamos al principio de este trabajo Como argumenta C Holtorf (1998) las construcciones megaliacuteticas y dentro de ellas podemos incluir las cuevas artificiales pre-sentan una biografiacutea completa de uso que puede ser conocida a traveacutes de un anaacutelisis exhaustivo de todas sus fases de utilizacioacuten Como monumentos destacados del paisaje las distintas comunidades que con ellos convivieron los reutilizaron y dotaron de un nuevo significa-do dejando de alguna manera alguna huella arqueoloacutegica que debemos saber interpretar Por tanto para conocer de forma completa la historia de un monumento megaliacutetico no podemos conformarnos con estudiar exclusivamente su uso original durante la Prehistoria Tan solo estudian-do su biografiacutea completa de uso podremos reconstruir la verdadera histo-ria que estas construcciones monumentales guardan en su interior

BIBLIOGRAFIacuteA ALARCOacuteN CASTELLANO Francisco Javier AGUILERA RODRIacuteGUEZ Luis (1993) - Inter-vencioacuten arqueoloacutegica de emergencia El Almendral (El Bosque) Anuario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea 1991 Vol III Actividades de urgencia pp 47-50AacuteLVAREZ VIDAURRE Ester (2011) - Historia de la percepcioacuten del Megalitismo en Na-varra y Guipuacutezcoa Aproximacioacuten a una biografiacutea de sus monumentos EUNSA (Ed Universidad de Navarra) PamplonaARANDA JIMEacuteNEZ Gonzalo (2014) - La memoria como forma de resistencia cultural Continuidad y reutilizacioacuten de espacios funerarios colectivos en eacutepoca argaacuterica Mov-ilidad contacto y cambio Actas del II Congreso de Prehistoria de Andaluciacutea pp 255-277 Consejeriacutea de Educacioacuten Cultura y Deporte de la Junta de Andaluciacutea Sevilla ARANDA JIMEacuteNEZ Gonzalo (2015) - Resistencia e involucioacuten social en las comuni-dades de la Edad del Bronce del sureste de la Peniacutensula Ibeacuterica Trabajos de Prehis-toria 751 pp 126-144BERNAL CASASOLA Dariacuteo LORENZO MARTIacuteNEZ Lourdes (2000) - La arqueologiacutea de eacutepoca bizantina e hispano-visigoda en el Campo de Gibraltar Primeros elementos

| 497

| 2018

para una siacutentesis Caetaria 3 pp 97-134BRADLEY Richard (1993) - Altering the earth The origins of monuments in Britain and continental Europe Mono-graph Series 8 Edinburgh Society of Antiquaries of ScotlandBRADLEY Richard WILLIAMS Howard (eds) (1998) - The past in the past The reuse of ancient monuments World Ar-chaeology 30 (1) London RoutledgeBRAVO Salvador (2012) - Memoria de los trabajos realizados en relacioacuten con la activ-idad arqueoloacutegica puntual titulada control de movimiento de tierras en la necroacutepolis prehistoacuterica de los Algarbes y necroacutepolis de Betis en el TM de Tarifa (Caacutediz)CAMPS Gabriel (1961) ndash Aux origines de la Berberie Monuments et rites funeacuteraires protohistoriques Paris Centre National de la Recherche ScientifiqueCASTANtildeEDA Vicente GARCIacuteA JIMEacuteNEZ Ivaacuten PRADOS MARTIacuteNEZ FERNANDO (2013) - Cuestiones sobre la arqueologiacutea funeraria en el aacutembito del Estrecho de Gibraltar El ejemplo de la necroacutepolis de cuevas artificiales de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) Espa-cio Tiempo y Forma Prehistoria y Arqueologiacutea UNED 6 pp 197-217 MadridCASTANtildeEDA FERNAacuteNDEZ Vicente GARCIacuteA JIMEacuteNEZ Ivaacuten COSTELA MUNtildeOZ Yolan-da TORRES ABRIL Francisco Luis (2014) - La Estructura 1-2 de la necroacutepolis de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) Su reinterpretacioacuten a raiacutez de las nuevas investigaciones Al Qantir 16 pp 207-212 CaacutedizCOSTELA MUNtildeOZ Yolanda (2015) - La permanencia del paisaje funerario en el sur-oeste de la Peniacutensula Ibeacuterica El Megalitismo durante el II y I milenio ANE Tesis Doc-toral Universidad de CaacutedizCOSTELA MUNtildeOZ Yolanda (2016) - La pervivencia del paisaje megaliacutetico en el norte de la Peniacutensula Ibeacuterica Una introduccioacuten a los casos documentados durante la pre-historia reciente (II-I Milenio ANE) Arqueogazte 6 pp 155-170COSTELA MUNtildeOZ Yolanda (2017) - La pervivencia de la ideologiacutea megaliacutetica durante el II y I milenios ANE Un caso de estudio el sur de Portugal Revista Portuguesa de Arqueologiacutea 20 pp 45-60CRIADO BOADO Felipe MANtildeANA BORRAZAacuteS Patricia GIANOTTI GARCIacuteA Camila (2005) - Espacios para vivos-espacios para muertos Perspectivas comparadas entre la monumentalidad del Atlaacutentico Ibeacuterico y el sudamericano Actas del III Congreso del Neoliacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica (Santander 5-8 de octubre de 2003) pp 857-865DELIBES DE CASTRO Gonzalo (2004) - La impronta Cogotas I en los doacutelmenes del Occidente de la Cuenca del Duero o el mensaje megaliacutetico renovado Mainake XXVI pp 211-231FERNAacuteNDEZ RUIZ Juan (2004) - Uso de estructuras megaliacuteticas por parte de grupos de la Edad del Bronce en el marco de Riacuteo Grande (Maacutelaga) Mainake XXVI pp 273-292GARCIacuteA SANJUAacuteN Leonardo (2005) - Las piedras de la memoria La permanencia del Megalitismo en el suroeste de la Peniacutensula Ibeacuterica durante el II y I milenio a n erdquo Trabajos de Prehistoria 621 85-109GARCIacuteA SANJUAacuteN Leonardo GARRIDO GONZAacuteLEZ Pablo LOZANO GOacuteMEZ Fernan-do (2007) - Las piedras de la memoria (II) El uso en eacutepoca romana de espacios y monumentos sagrados prehistoacutericos del Sur de la Peniacutensula Ibeacuterica Complutum 18 pp 109-130GUTIEacuteRREZ Joseacute Mariacutea REINOSO Mariacutea Cristina GILES Francisco FINLAY-SON

498 |

Clive SAacuteEZ Antonio (2012) ndash La Cueva de Gorham (Gibraltar) un santuario feni-cio en el confiacuten occidental del Mediterraacuteneo In PRADOS Fernando GARCIacuteA Ivaacuten BERNARD Gwladis eds ndash Confines El extremo del mundo durante la Antiguumle-dad Alicante Universidad de Alicante pp 303-381 HOLTORF Cornelius (1998) - The life-histories of megaliths in Mecklenburg-Vorpo-mmen (Germany) In BRADLEY Richard WILLIAMS Howard (Eds) - The Past in the Past The Reuse of Ancient Monuments World Archaeology 301 pp 23-39 Lon-dresLONGERSTAY Monique (1993) ndash Representation de mausoleeacutes dans les haouanet de la Tunisie Antiquiteacutes Africaines 29 pp 17-51LOacutePEZ ROSENDO Ester (2006) - La necroacutepolis rupestre de la Ermita del Almendral de Puerto Serrano un modelo de espacio funerario paleocristiano en la provincia de Caacutediz Revista de Historia Ubi Sunt 20 pp 48-61LORRIO Alberto MONTERO Ignacio (2004) - Reutilizacioacuten de sepulcros colectivos en el sureste de la Peniacutensula Ibeacuterica la coleccioacuten Siret Trabajos de Prehistoria 611 pp 99-116MANtildeANA BORRAZAacuteS Patricia (2003) - Vida y muerte de los megalitos iquestSe aban-donan los tuacutemulos Era Arqueologia 5 pp 164ndash177MARTIacuteN RUIZ Juan Antonio PEacuteREZ-MALUMBRES LANDA Alejandro CUENCA MUNtildeOZ Montserrat MARTIacuteN RUIZ Joseacute Manuel (2006) ndash El yacimiento de los Al-garbes II (Tarifa Caacutediz) y la ocupacioacuten ibeacuterica en el Campo de Gibraltar Almoraima revista de estudios campogibraltarentildeos 33 pp 107-116MARTINtildeOacuteN-TORRES Marcos (2001) - Los megalitos del termino croacutenica del valor territorial de los monumentos megaliacuteticos a partir de las fuentes escritas Trabajos de Prehistoria 581 pp 95-108MATA Esperanza (1990) - Informe sobre la intervencioacuten arqueoloacutegica en la necroacutepo-lis prehistoacuterica de Los Algarbes (Tarifa Caacutediz) Anuario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea Actividades de Urgencia III pp 83-93 SevillaMATALOTO Rui (2007) - Paisagem memoacuteria e identidade tumulaccediloes megaliacuteticas no poacutes-megalitismo alto-alentejano Revista Portuguesa de Arqueologia 101 pp 123-140MERGELINA Cayetano (1924) - Los focos dolmeacutenicos de la Laguna de la Janda Me-morias de la Sociedad Espantildeola de Antropologiacutea Etnografiacutea y Prehistoria III 1 y 2 pp 97-126MORET Pierre PRADOS Fernando FABRE J-M FERNAacuteNDEZ E GARCIacuteA FJ JIMEacuteNEZ Helena (2017) ndash La Silla del Papa haacutebitat y necroacutepolis (Campantildeas 2014-2016) Meacutelanges de la Casa de Velaacutezquez 47 1 pp 49-71PELLICER CATALAacuteN Manuel (1977) ndash Para una metodologiacutea de localizacioacuten de colo-nias fenicias en las costas ibeacutericas El Cerro del Prado Habis 8 pp 217-227PEacuteREZ-MALUMBRES LANDA Alejandro MARTIacuteN RUIZ Juan Antonio (1998) ndash Presen-cia prerromana en el Cerro del Castillo de Guzmaacuten el Bueno (Tarifa Caacutediz) In LAacuteZA-RO Mario GOacuteMEZ Joseacute Luis RODRIacuteGUEZ Beleacuten (coords) ndash Homenaje al Profesor Carlos Posac Mon Ceuta Instituto de Estudios Ceutiacutees pp 151-164PONSICH Michel (1970) ndash Recherches archeacuteologiques agrave Tanger et dans sa reacutegion Paris Centre National de la Recherche ScientifiquePRADOS MARTIacuteNEZ Fernando (2017) ndash Arquitectura funeraria en el aacutembito puacutenico

| 499

| 2018

Hitos en un paisaje de poder y memoria In ADROIT Steacutephanie GRAELLS Raimon (eds) ndash Arquitectura funeraria y memoria La gestioacuten de las necroacutepolis en Europa Occidental Roma Osanna Edizioni pp 75-94PRADOS MARTIacuteNEZ Fernando (2018) ndash Las ceraacutemicas pintadas puacutenicas de Carteia Campantildeas 2007-2013 In ROLDAacuteN Lourdes BLAacuteNQUEZ Juan eds ndash Carteia Me-moria Cientiacutefica de la II Fase (2007-2013) Junta de Andaluciacutea (ep)PRADOS MARTIacuteNEZ Fernando GARCIacuteA JIMEacuteNEZ Ivaacuten CASTANtildeEDA FERNAacuteNDEZ Vi-cente (2010) - El mundo funerario fenicio-puacutenico en el Campo de Gibraltar Los casos de las necroacutepolis de Los Algarbes y la Isla de las Palomas (Tarifa Caacutediz Mainake XXXII (I) pp 251-278 Diputacioacuten de Maacutelaga MaacutelagaOLIVEIRA Catarina (2001) ndash Lugar e memoacuteria Testemunhos megaliacuteticos e leituras do pasado Ediccedilotildees ColibriOLIVEIRA Catarina (2008) - Hacia una etnologiacutea del Megalitismo Usos y memorias de los sitios megaliacuteticos en las poblaciones rurales del sur de Portugal PH Boletiacuten del Instituto Andaluz del Patrimonio Histoacuterico nordm 67 Especial Monograacutefico 097 pp 96-107POSAC MON Carlos (1975) - Los Algarbes (Tarifa) una necroacutepolis de la Edad del Broncerdquo Noticiario Arqueoloacutegico Hispaacutenico 4 pp 85-120 MadridRAMOS SAINZ Mariacutea Luisa (1990) ndash Estudio sobre el ritual funerario en las necroacutepo-lis fenicias y puacutenicas de la Peniacutensula Ibeacuterica Madrid Universidad Autoacutenoma de Ma-dridTEJEDOR Cristina (2008) - El monumento en el tiempo planteamiento teoacuterico y met-odoloacutegico para el anaacutelisis de las reutilizaciones megaliacuteticas In OrJIA (Coord) Actas de las I Jornadas de Joacutevenes en Investigacioacuten Arqueoloacutegica (3-5 de septiembre de 2008) pp 441-448TEJEDOR Cristina (2013) - La pervivencia de los usos megaliacuteticos en el Valle del Due-ro a lo largo de la Prehistoria Reciente (III-II Milenio BC) Una aproximacioacuten al estudio en la regioacuten del Alto Douro In SASTRE Carlos CATALAacuteN Rauacutel FUENTES Patricia (Coords) - Arqueologiacutea en el Valle del Duero Del Neoliacutetico a la Antiguumledad tardiacutea un estado de la cuestioacuten pp 33-40TEJEDOR Cristina (2015) - La pervivencia de los ldquousos megaliacuteticosrdquo en el valle del Du-eroDouro a lo largo de la Prehistoria Reciente (IV-II Milenio cal BC) Tesis doctoral Universidad de Valladolid Valladolid TEJERA GASPAR Antonio (1979) ndash Las tumbas fenicias y puacutenicas del Mediterraacuteneo occidental Sevilla Universidad de SevillaTORNERO GOacuteMEZ Jesuacutes (1998) - La Sierra de El Retiacuten El campo de Adiestramiento de la Armada y sus valores ambientales Ministerio de Defensa TORRES ORTIZ Mariano (2008) ndash Urnas Cruz del Negro In ALMAGRO Martiacuten dir ndash La necroacutepolis de Medelliacuten II el estudio de los hallazgos Bibliotheca Archaeologica Hispana Madrid Real Academia de la Historia 26-2 pp 631-654VARGAS GIROacuteN Joseacute Manuel (2011) - El fenoacutemeno funerario rupestre en el Campo de Gibraltar Un estado de la cuestioacuten Almoraima 42 pp 143-165

500 |

| 501

| 2018

LA NECROacutePOLIS MEGALIacuteTICA DEL TAJO DE LAS FIGURAS (BENALUP-CASAS VIEJAS CAacuteDIZ)

THE MEGALITHIC NECROPOLIS OF THE TAJO DE LAS FIGURAS (BENALUP-CASAS VIEJAS CAacuteDIZ)

Mariacutea Lazarich Doctora y Profesora Titular de Prehistoria de la Universidad de Caacutediz Responsable del Grupo de Investigacioacuten PAIDI HUM 812 ldquoEstudio de las formaciones sociales de la Prehistoria recienterdquo de la Universidad de Caacutedizmarialazarichucaes

Antonio Ramos-Gil Doctor en Prehistoria Universidad de Caacutediz Miembro del Grupo de Investigacioacuten PAIDI HUM 812 Universidad de Caacutedizaramosgiltelefonicanet

Mercedes Versaci Doctora en Prehistoria Universidad de Caacutediz Miembro del Grupo de Investigacioacuten PAIDI HUM 812 de la Universidad de Caacutediz

Mariacutea Narvaez Cabeza de Vaca Doctoranda y miembro del grupo de investigacioacuten PAIDI HUM-812 de la Universidad de Caacutediz

RESUMENA los pocos antildeos del descubrimiento del importante conjunto de arte rupestre cono- cido como Tajo de las Figuras Henri Breuil en una de las exploraciones que realizoacute para el estudio de las pinturas en 1916 localizoacute un conjunto de tumbas megaliacuteticas bajo tuacutemulo en las terrazas del riacuteo Celemiacuten que discurre al pie de estas cavidades pin-tadas Sin embargo por diversas circunstancias no llegoacute nunca a ser bien estudiado ni excavado incluso se pensoacute que la necroacutepolis habiacutea sido totalmente saqueada y des- truida Recientemente hemos llevado a cabo estudios de prospeccioacuten y delimitacioacuten -tras la limpieza de vegetacioacuten- que nos ha permitido recuperar informacioacuten sobre es-tos doacutelmenes ademaacutes de localizar unos diez sepulcros maacutes cuyo estudio presenta- mosRealizamos un anaacutelisis de la distribucioacuten y posicioacuten de las sepulturas en el territorio y su relacioacuten con las manifestaciones graacuteficas de los abrigos que la circundan Todo ello nos ha permitido obtener inferencias sobre las praacutecticas sociales funerarias de las diversas entidades sociales que ocuparon el territorio dentro de un espacio tem-poral entre el IVordm y el IIordm milenios aCPALABRAS CLAVE Tumbas megaliacuteticas Prehistoria Reciente Pinturas rupestres

502 |

ABSTRACTA few years after the discovery of the important set of rock art known as the Tajo de las Figuras Henri Breuil in one of the explorations he carried out to study the paintings in 1916 located a set of megalithic tombs with mounds on the ter-races of the Celemiacuten river which runs at the foot of these painted cavities How-ever due to various circumstances it never came to be well studied or excava- ted it was even thought that the necropolis had been completely sacked and destroyed Recently we have carried out prospecting and delimitation studies - after vegetation cleaning - that has allowed us to recover information about these dolmens and we have located ten more graves whose study we presentWe perform an analysis of the distribution and position of the graves in the ter-ritory and their relationship with the graphic manifestations of the shelters that surround it All this has allowed us to obtain inferences about the funerary social practices of the various social entities that occupied the territory within a tem-porary space between the 4th and 2nd millennium BCKEY WORDS Megalithic tombs Recent Prehistory Rock paintings

1 INTRODUCCIOacuteN En el extremo sur de la Peniacutensula Ibeacuterica dentro de la provincia de Caacutediz en el teacutermino municipal de Benalup-Casas Viejas existen un conjunto de pequentildeos abrigos pintados adscritos normativamente al arte esquemaacutetico de la Prehistoria reciente El conjunto estaacute formado por ocho abrigos entre los que destacan por presentar un mayor nuacutemero de pinturas los deno- minados Cueva del Arco Cueva Cimera o de los Cochinos y el Tajo de las Figuras que al ser el maacutes importante por el gran nuacutemero de pictogramas que presenta (962) ha dado nombre a todo el Conjunto Aunque el descubrimiento oficial de esta cavidad se produce en 1913 (Mo-lina) y vienen a ella diversos investigadores con el objetivo de realizar su estudio (Cabreacute y Hernaacutendez Pacheco 1914 Verner 1914a b y c Breuil y Burkitt 1929) no es hasta 1916 en una de las visitas que realiza Breuil al Tajo de las Figuras cuando localiza una necroacutepolis megaliacutetica de la que describe los vestigios de diez estructuras tumulares y una onceava dudosa (Breuil y Verner 1917) Posteriormente Cayetano de Mergelina (1924) rea- liza la excavacioacuten de una de las estructuras tumulares en concreto la deno- minada por Breuil como estructura IV sin embargo tendraacute que abandonar sus trabajos al prohibirle el duentildeo de la propiedad donde se localizan las tumbas que continuara con las excavaciones Algunos antildeos despueacutes Breuil y Burkitt en su obra sobre las pinturas rupestres de la provincia de Caacutediz hacen referencia a ellas afirmando que en 1926 habiacutean sido destruidas

| 503

| 2018

por los buscadores de tesoros (Breuil y Burkitt 1929 p 11) Las posteriores publicaciones que mencionan la necroacutepolis uacutenicamente se limitan a repetir lo mismo (Romero de Torres 1934 Leisner y Leisner 1943) Ya en la deacuteca-da de los antildeos ochenta del pasado siglo se retoman las investigaciones en el Conjunto de abrigos con pinturas por Martiacuten Maacutes Cornellaacute quieacuten realiza nuevas prospecciones en la zona pero a la hora de mencionar las estruc-turas megaliacuteticas nos informa que no ha localizado vestigios de ellas y se reafirma en la idea de que habiacutean sido totalmente destruidas (Mas Cornellaacute 1991 y 2000 p 320)Hacia finales del antildeo 2009 nos solicitaron desde la Delegacioacuten de Cultura de Caacutediz que documentaacuteramos el Conjunto de abrigos con pinturas para la realizacioacuten del expediente BIC Tajo de las Figuras (Benalup-Casas Viejas) Tras analizar la informacioacuten bibliograacutefica existente iniciamos los trabajos de prospeccioacuten para valorar el estado de conservacioacuten de los distintos abrigos con pinturas rupestres (8 cavidades) y yacimientos adyacentes Igualmente estuvimos llevando a cabo una prospeccioacuten sistemaacutetica de todos los alre-dedores del Conjunto rupestre del Tajo de las Figuras con el propoacutesito de localizar otros posibles enclaves arqueoloacutegicos y delimitar su extensioacuten Du-rante el desarrollo de estas actividades arqueoloacutegicas redescubrimos los 10 doacutelmenes localizados por H Breuil en 1916 (Breuil y Verner 1917) y aunque comprobamos que muchos de ellos habiacutean sido explosionados y saqueados otros se conservaban maacutes o menos igual que cuando los hallaron El olvido de estas estructuras fue debido fundamentalmente a que el trazado de la carretera habiacutea sido cambiado a partir de principios de la deacutecada de los antildeos setenta al realizar las obras del embalse del Celemiacuten El trazado actual separa los abrigos con pinturas de la necroacutepolis hecho que no sucediacutea en la eacutepoca de H Breuil Asiacute en sus descripciones hace referencia al pie del Tajo de las Figuras en la margen derecha de la carretera que conduce desde el Monasterio del Cuervo a Casas Viejas (Breuil y Verner 1917 p 179) Tal vez sea esta la razoacuten por la que los investigadores no localizaron vestigios de estas estructuras con anterioridad a nuestras prospecciones Igualmente como fruto de nuestros trabajos de prospeccioacuten sistemaacutetica en la zona hemos podido localizar nuevos doacutelmenes tanto en la terraza dere-cha del antiguo riacuteo Celemiacuten hoy embalse junto a los hallados por Breuil como en la margen izquierda donde hemos descubierto una nueva sepul-tura de tipo tholos que estaacute sumergida en las aguas del embalse junto con otras dos maacutes de las que soacutelo se ven cuando baja el nivel de las aguas algu-nas piedras de gran tamantildeo que corresponde probablemente a las cobijas de la cubierta

504 |

2 EL MEDIO NATURAL La necroacutepolis se emplaza en ambas orillas de riacuteo Celemiacuten (Fig 1) que es uno de los afluentes principales de riacuteo Barbate pero que en el momento en que estuvo en funcionamiento esta necroacutepolis vertiacutea sus aguas a una lagu-na desecada artificialmente en la deacutecada de los antildeos sesenta del pasado siglo que se conoce como La Janda Al producirse la transgresioacuten Flandriense a comienzos del Holoceno el nivel del mar ascendioacute desde -120 m hasta el nivel actual en torno al 4500 a C La subida del nivel del mar provocariacutea que la laguna de La Janda se comuni-que con el mar por lo que la depresioacuten pasa a ser una bahiacutea interior A partir de estas fechas contando tambieacuten con reajustes y oscilaciones climaacuteticas se produce una sedimentacioacuten fluvio-marina hasta por lo menos 3800 BP Es en ese momento cuando se produjo la colmatacioacuten de la depresioacuten y por lo tanto el cierre del estrecho paso que comunicaba la laguna con el mar (Zazo et al 1999)La zona por sus caracteriacutesticas geograacuteficas ha ofrecido y ofrece un lugar idoacuteneo para el establecimiento de poblaciones muy vinculadas a su eco-sistema Es por ello que no pueden ni deben comprenderse los diferentes

Figura 1 Ortofoto del embalse del riacuteo Celemiacuten con la ubicacioacuten de las tumbas megaliacuteticas

| 505

| 2018

enclaves arqueoloacutegicos maacutes que dentro de un aacutembito espacial de caraacutecter econoacutemico social cultural y simboacutelico que le da sentido y que constituye la esencia de lo que conocemos como Tajo de las FigurasEsto ha llevado a que fuera una zona transitada por bandas de cazadores- -recolectores del Paleoliacutetico inferior y Medio (Graveras del Celemiacuten) y por so-ciedades de cazadores especializados del Paleoliacutetico superior (Cubeta de la Paja) (Ripoll Maacutes y Perdigones 1991) quienes plasmaron sus primeras manifestaciones graacuteficas en algunos de los abrigos Pero sobre todo su ocu-pacioacuten maacutes intensa corresponde ya al periodo holoceacutenico con asentamien-tos neoliacuteticos y calcoliacuteticos (Lazarich et al 2012) una necroacutepolis megaliacutetica y las representaciones graacuteficas de gran singularidad de comunidades agro- pastoriles en las que todaviacutea la caza juega un papel importante para la sub-sistencia pero al mismo tiempo estas actividades cinegeacuteticas adquieren nuevas connotaciones simboacutelicas y de poder (Lazarich et al 2013)

3 ANAacuteLISIS DE LAS DIVERSAS ESTRUCTURAS DE LA NECROacutePOLIS Tras localizar los diez tuacutemulos megaliacuteticos descubiertos por H Breuil y W Verner en 1916 con mucho esfuerzo dada la intensa vegetacioacuten de la zona solicitamos permiso de desbroce y limpieza de las estructuras funerarias para eliminar la vegetacioacuten y poder delimitar la verdadera extensioacuten que teniacutean y el estado de conservacioacuten 31 Los trabajos arqueoloacutegicos en los tuacutemulos megaliacuteticos descu-biertos por H BreuilEn primer lugar acometimos uno a uno el desbroce y destoconamiento de la maleza crecida de forma incontrolada alrededor y sobre los tuacutemulos de los doacutelmenes Hay que sentildealar por las fotografiacuteas aportadas tanto por Breuil y Burkitt (1929) como por Mergelina (1924) en la zona no existiacutea la vegetacioacuten que hay en la actualidad por lo que las estructuras tumulares que encerraban las sepulturas megaliacuteticas eran visibles y destacaban del terreno circundante Despueacutes eliminamos la capa de tierra vegetal acumu-lada hasta llegar a la arcilla base Esta tarea se realizoacute con el objetivo de descubrir aquellas piedras que formaban parte de las estructuras primitivas al margen de haber sido removidas por las explosiones u otros agentes ex-poliadores Este sistema teniacutea ademaacutes la misioacuten de dejar al descubierto las piedras ortostatos y cobijas para poder realizar el dibujo de las mismas posteriormenteRealizamos el trazado de cuadriculas de 2 m de intervalo que abarcaba la totalidad de los tuacutemulos materializaacutendola mediante estacas y cordeles Esta retiacutecula nos serviriacutea como eje de coordenadas y asiacute ortofotografiar todos y

506 |

cada uno de las cuadriculas que unidas digitalmente dariacutea como resultado una ortofoto de todo el conjunto de cada uno de los tuacutemulos Realizamos el fotografiado de todas y cada una de las aproximadamente 100 cuadriacuteculas de cada dolmen a una altura de 25 m con la caacutemara colocada de for-ma perpendicular al suelo y situando previamente una claqueta con la indi-cacioacuten del nordm de la cuadriacutecula y la escala correspondiente para tener refe- rencia de la situacioacuten exacta de cada foto Tras ello se tomaban y anotaban las alturas topograacuteficas de cada cuadricula mediante nivel y escala con el objeto de poder dibujar posteriormente el relieve en 3D de cada uno de los tuacutemulos Finalmente se obtuvieron de coordenadas UTM ED50 en el centro y en las esquinas de la retiacutecula para su posterior acoplamiento en el pla-no topograacutefico Tambieacuten se realizaron una serie de fotos aeacutereas mediante una caacutemara instalada en un DROM sin embargo dada la cantidad de aacuterbo-les (acebuches) que existen en los tuacutemulos de las estructuras impediacutean la visioacuten de eacutestos hecho que siacute pudimos realizar mediante la fotografiacutea digital como ya hemos comentado Tras la toma de las fotografiacuteas realizamos una ortofoto compuesta por to-das las fotografiacuteas de las cuadriculas de 2 por 2 m Para ello se utiliza una cuadricula virtual sobre una imagen en blanco (Programa Adobe Photoshop 811) sobre la que se van colocando las diferentes fotos Estas se ajustan a la cuadricula virtual absorbiendo de esta manera las pequentildeas deforma-ciones que la posicioacuten de la caacutemara adquiere al no estar colocada milimeacutetri-camente en el centro de la cuadricula de 2 por 2 en el terreno El trazo de los cordeles fotografiados se hace coincidir con las liacuteneas de la cuadricula virtual trazadas por el programa a escala de 2 m por 2 m y se completa el trabajo incorporando a la imagen la cuadricula virtual mediante liacuteneas traza-das de forma que se puedan visualizar en un archivo JPG Posteriormente se realiza el dibujo de las piedras de las estructuras tumu-lares ortostatos y cobijas Mediante el uso de un programa de dibujo vecto-rial (FreeHand 10) se traslada la imagen conseguida en el proceso anterior colocaacutendola en una capa En otra capa superior se van dibujando los con-tornos de todas las piedras que se observan en la imagen Debido a la alta calidad de las fotos originales (de 2 a 3 Mb de resolucioacuten) se pueden dibujar piedras de hasta unos pocos cm de diaacutemetro asiacute como los detalles de las piedras que formaban las estructuras megaliacuteticas El objetivo del citado trabajo era poder apreciar las liacuteneas circulares de las piedras que forman los anillos de sujecioacuten del tuacutemulo (cuando existe) y los liacutemites de los mismos Tambieacuten sirve para determinar la orientacioacuten del corredor yo la posicioacuten de las cabeceras Todo ello era necesario debido a

| 507

| 2018

que la mayoriacutea de estos doacutelmenes estaban en muy mal estado de conser-vacioacuten por lo que es difiacutecil el averiguar la posicioacuten teoacuterica de los elementos constructivos sin acometer su excavacioacutenTodos eacutestos tuacutemulos se encuentran ubicados en las terrazas fluviales de la margen derecha del rio Celemiacuten hoy represado en el embalse del mismo nombre Las altitudes sobre el nivel del mar son similares oscilando entre los 34 m del DB-I a los 30 m del DB-VII que se corresponden con la terraza media (Pleistoceno medio) En cuanto a las orientaciones de sus declives estas vienen condicionadas por la orografiacutea del terreno cuya pendiente es en general de N a S 311 Descripcioacuten de las estructuras dolmeacutenicas existentes en la actualidadPara ello nos basamos en la documentacioacuten aportada por Breuil (Breuil y Verner 1917) y por Mergelina (1924) y en los vestigios que se observan

Figura 2 Ortofoto detalle de la ubicacioacuten de los doacutelmenes descubiertos por Breuil y los nuevos hallazgos adyacentes a estos Obseacutervese en la fotografiacutea los ciacuterculos de los tuacutemu-los tras la eliminacioacuten de la vegetacioacuten en ellos La liacutenea roja marca la direccioacuten donde se localiza el Conjunto rupestre del Tajo de las Figuras

508 |

Figura 3 A Planimetriacutea DB I A1 seguacuten Breuil y Verner 1917 A2 Dolmen ldquoGrdquo de C Merge-lina 1927 A3 situacioacuten en 2012 B Planimetriacutea DB II B1 seguacuten Breuil y Verner 1917 B2 Dolmen ldquoFrdquo de C Mergelina 1927 B3 situacioacuten en 2012 C Planimetriacutea DB III C1 seguacuten Breuil y Verner 1917 C2 Dolmen ldquoErdquo de C Mergelina1927 C3 situacioacuten en 2012 D Planimetriacutea DB IV D1 seguacuten Breuil y Verner 1917 D2 Dolmen ldquoArdquo de C Mergelina1927 D3 situacioacuten en 2012 (Dibujos planimetriacuteas A Ramos-Gil Situacioacuten 2012 Grupo PAIDI-HUM812)

| 509

| 2018

en superficie despueacutes de la limpieza de vegetacioacuten y de la eliminacioacuten de la capa de tierra vegetal depositada a posteriori de la construccioacuten de los tuacutemulos Dolmen DB-I Ubicado al este del conjunto dolmeacutenico (Figs 2 y 3A) presenta una destruc-cioacuten casi total Solo se conserva una gran laja de cubierta al N la misma que aparece en los dibujos de Breuil y de Mergelina En el centro hay un craacuteter de unos 3 m de diaacutemetro y una profundidad de unos 30 cm signo inequiacutevoco de haber sido expoliado Tambieacuten se observan restos de algunos ortostatos En la planimetriacutea no se observa la presencia de anillos tumulares aunque no se descarta su existencia a mayor profundidad cuestioacuten que no quedaraacute resuelta hasta la excavacioacuten sistemaacutetica del dolmen El tuacutemulo es de poca elevacioacuten (136 m) con unos diaacutemetros de 20 m (ori-entacioacuten NS) y de 18 m (orientacioacuten EW) La direccioacuten del corredor con cabecera al N seriacutea hacia el SWDolmen DB-II Situado a 36 metros al sur del DB-I se ubica en el centro de un tuacutemulo aterr0a- zado (Figs 2 y 3B) que desciende a maacutes de tres metros en direccioacuten SW y de unos 24 m (NS) y 22 m (EW) de diaacutemetros En la planimetriacutea correspon- diente se insinuacutean los ciacuterculos de contencioacuten formados por numerosos can-tos rodados Es uno de los mejores conservados desde las descripciones de Breuil y Mergelina lo que se aprecia comparando los dibujos correspondientes con el actual Tiene alrededor de 5 m de longitud En todos ellos se pueden apreciar las rocas nombradas por Mergelina como ldquobrdquo ldquocrdquo y ldquodrdquo (Fig 3B 2) no asiacute la cabecera ldquoardquo que aparece en el dibujo de Breuil en vertical (Fig 3B 1) y que en la actualidad estaacute fragmentada pero auacuten in situ su parte inferior (Fig 3B 3) Igualmente le faltan lajas de la cubierta Esta circunstancia y el hecho de no aparecer craacuteter alguno nos hace sospechar que este dolmen no ha sido removido al menos desde su primer descubrimiento Presenta un tuacutemulo de unos 23 m Tiene planta rectangular y una orientacioacuten SSW (208ordm aprox)Dolmen DB-IIIUbicado a unos 50 m del anterior y separado por un pequentildeo arroyo que discurre paralelo a ambos se asienta sobre otro de los salientes de las terra- zas del riacuteo Celemiacuten Este se encuentra en mal estado de conservacioacuten con varios fragmentos de cobijas de la cabecera desplazadas y volteadas a dos metros de su ubicacioacuten original como podemos observar en la comparativa entre los dibujos de las plantas de Breuil y los nuestros en la actualidad

510 |

Figura 4 E Planimetriacutea DB V E1 seguacuten Breuil y Verner 1917 E2 Dolmen ldquoCrdquo de C Mergelina 1927 E3 situacioacuten en 2012 F Planimetriacutea DB VI B1 seguacuten Breuil y Verner 1917 F2 Dolmen ldquoBrdquo de C Mergelina 1927 F3 situacioacuten en 2012 G Planimetriacutea DB VII G1 seguacuten Breuil y Verner 1917 G2 Dolmen ldquoDrdquo de C Mergelina1927 G3 situacioacuten en 2012 H Planimetriacutea DB VIII H1 seguacuten Breuil y Verner 1917 H2 Dolmen ldquoIrdquo de C Mergelina 1927 H3 situacioacuten en 2012 (Dibujos planimetriacuteas A Ramos-Gil Situacioacuten 2012 Grupo PAIDI-HUM812)

| 511

| 2018

(Figs 2 y 3C) seguramente debido a la explosioacuten a la que fue sometida y que la fracturoacuteLa estructura tumular estaacute situada a 31 msnm y estaacute construida a base de tierra y cantos rodados conformando anillos de refuerzo Alcanza una altura de 33 m y 18 m de diaacutemetro La estructura funeraria tiene planta rectangular con una orientacioacuten SW (205ordm aprox) Su longitud es de 6 m con una gran laja de cubierta de 235 x 155 mDolmen DB-IVEs el de mayores dimensiones del conjunto y al parecer el que se encon-traba en un mejor estado de conservacioacuten (Breuil y Verner 1917) por lo que Cayetano de Mergelina (1924) acometioacute su excavacioacuten Estaacute situado a 32 msnm (Figs 2 y 3D) Presenta un tuacutemulo con un diaacutemetro maacuteximo de 24 m que coincide con el eje donde se localizaba la estructura que teniacutea planta rectangularSin embargo fue explosionada y destruida totalmente la galeriacutea funeraria por los propietarios de la finca Eacutesta se encontraba orientada en direccioacuten Norte-Nordeste y su longitud alcanzaba los 850 m La laja de la cabe- cera contaba con unas dimensiones de 2 por 243 m (Fig 3D 2) Seguacuten Mergelina teniacutea una profundidad en la parte de la cabecera de 184 m Fue excavado por este uacuteltimo hasta un nivel de -0rsquo60 m Halloacute un fragmento de plato de borde almendrado varios elementos de hoz y otros restos de talla de cuarcita La orientacioacuten de la estructura funeraria es SW (205o aprox)Dolmen DB-VSe localiza a pocos metros del anterior (Figs 2 y 4E) y a la misma altitud (32 msnm) Soacutelo conserva el tuacutemulo y algunos ortostatos de la galeriacutea y le faltan las lajas de la cubierta y el interior parece estar saqueado casi en su totalidad Durante la limpieza encontramos un fragmento de hoja-cuchillo de siacutelex La orientacioacuten de la cabecera era nordeste La longitud conservada de la galeriacutea es de 250 m Seguacuten Mergelina se levantaba sobre un tuacutemulo de 11 m de diaacutemetro (Mergelina 1924) sin embargo este es mayor en la realidad pues alcanza en su eje mayor los 17 m La orientacioacuten de la galeriacutea es SW (212o aprox)Dolmen DB-VILocalizado a 31 msnm junto al anterior (Figs 2 y 4F) de manera que los tuacutemulos de ambos estaacuten unidos La estructura dolmeacutenica tiene una longitud de alrededor 5 m con una laja de cubierta en la cabecera de 235 por 159 m La cabecera estaba orientada al Nordeste La gran laja de la cubierta conservada auacuten en 1924 presentaba 17 cazoletas (Fig 4F 2) sin embar-

512 |

Figura 5 J Planimetriacutea DB IX J1 seguacuten Breuil y Verner 1917 J2 Dolmen ldquoHrdquo de C Mergelina1927 J3 situacioacuten en 2012 K Planimetriacutea DB X K1 seguacuten Breuil y Verner 1917 K2 Dolmen ldquoGrdquo de C Mergelina 1927 K3 situacioacuten en 2012 L Dolmen ldquoCel-emin Irdquo M Dolmen ldquoPentildearroyo 1rdquo ambos descubiertos por el Grupo PAIDI-HUM812 (Dibujos planimetriacuteas y doacutelmenes A Ramos-Gil)

| 513

| 2018

go esta aparece hoy totalmente fracturada (Fig 4F 3) posiblemente como resultado de la explosioacuten a la que fue sometida al igual que ocurrioacute con las estructuras III y IV y posiblemente tambieacuten con las V y VII Solo conserva tres ortostatos in situ sin embargo el tuacutemulo de unos 15 m de diaacutemetro en su eje mayor se encuentra en buen estado de conservacioacuten conformado medi-ante anillos de cantos rodados de diverso tamantildeo y tierra La Orientacioacuten de la galeriacutea es SWW (205o aprox)Dolmen DB-VIIEsta unido por su tuacutemulo a la estructura VI (Figs 2 y 4G) y se situacutea a la mis-ma altitud La galeriacutea teniacutea una longitud de alrededor de 5 m y planta rec- tangular La orientacioacuten es SSW (190ordm aprox) Su tuacutemulo tiene una altitud conservada respecto al terreno que los circunda de 15 m y estaacute formado por tierra y anillos de piedra (cantos rodados) con un diaacutemetro de 13 m Este no parece tal alterado como los anteriores pues conserva varios ortostatos in situ pero le faltan las lajas de la cubierta Dolmen DB-VIIIEacuteste estaacute situado maacutes al norte (Figs 2 y 4H) a 32 msnm y parece formar parte de otro conjunto junto con el dolmen IX que se ubica a pocos metros Aunque muestra alterada su entrada y ha sufrido derrumbes de la mayor parte de la galeriacutea tuvo que ser saqueado antes del siglo XX ya que se en-contraba tal y como los dibujaron Breuil y Verner (1917) y Mergelina (1924) La longitud es difiacutecil de saber Conserva una gran cobija de 252 m por 180 mEl tuacutemulo estaba muy bien conservado y formado al igual que el resto de tierra y cantos rodados con un diaacutemetro conservado de 15 m y de una altu-ra conservada de 2 m La orientacioacuten es SW (220o aprox)Dolmen DB-IXCerca del anterior se situacutea el numerado como IX por Breuil y Burkitt (1919) (Figs 2 y 5I) Si observamos los ortostatos que existen hoy (Fig 5I 3) y los comparamos con las plantas de Breuil (Fig 5I 1) y Mergelina (Fig 5I 2) comprobamos que este dolmen no debioacute de ser saqueado No hemos en-contrado vestigios de explosioacuten ni de saqueo por lo que la peacuterdida de las lajas de la cubierta fue anterior al descubrimiento por Breuil Al igual que todas las galeriacuteas megaliacuteticas localizadas en la margen derecha del riacuteo Celemiacuten tiene planta rectangular de algo maacutes de 6 m La estructura tumular formada mediante anillos de cantos rodados y tierra tiene unos 18 m en su eje mayor La orientacioacuten es SW (212o aprox)Dolmen DB-XEste se localiza al otro lado de un pequentildeo arroyo estacional que lo sepa-

514 |

ra del resto de la necroacutepolis hallada por Breuil (Fig 2) y a una cota de 32 msnm Al igual que el anterior no parece muy alterado (Fig 5J 3) en re- lacioacuten a los planos de Breuil y Burkitt (1917) (Fig 5J 1) y Mergelina (1924) (Fig 5J 2) Sin embargo creemos que posiblemente se encontraba saquea-do con anterioridad a su descubrimiento Es el maacutes pequentildeo del conjunto y la estructura tumular tiene de 16 m y estaacute conformada por un relleno de tierra y cantos desordenados La orientacioacuten es S (180ordm aprox)32 Los nuevos hallazgos321 Los nuevos doacutelmenes de la necroacutepolis de BreuilEn la misma terraza donde se localizan los doacutelmenes hallados por Breuil (DB-I a DB-IX) hemos localizado otros restos de estructuras dolmeacutenicas El que hemos denominado Dolmen XI (Fig 2) siguiendo la nomenclatura dada por H Breuil se localiza inmediato al dolmen VII A pocos metros maacutes hacia el oeste hemos localizado vestigios de otras tres nuevas estructuras (XII XIII y XIV) en las que sin embargo no hemos acometido auacuten tareas sistemaacuteti-cas de limpieza por lo que la vegetacioacuten no nos permite por el momento mayor precisioacuten sobre ellas salvo que algunas como ocurre con el DB-XI se encuentra en un excelente estado de conservacioacuten pues el tuacutemulo no pre-senta huellas de haber sido alterado por lo que soacutelo observamos los anillos de piedras que conforman la estructura tumular Esta estructura ademaacutes parce estar integrada por un gran tuacutemulo y dos maacutes pequentildeos inmediatos en direccioacuten S322 Los doacutelmenes denominados del CelemiacutenEstas estructuras dolmeacutenicas se localizan igualmente en la orilla derecha del embalse del Celemiacuten (Fig 1) Son visibles en los meses de estiacuteo des-de que se acometieron las obras del pantano y la erosioacuten del agua los ha emergido al ir desapareciendo la estructura tumular que los cubriacutea Ello ha provocado el desplazamiento de las cubiertas incluso de algunos de los or-tostatos y jambas de las entradas No se han acometido auacuten excavaciones pues al situarse bajo la cota de inundacioacuten desde el antildeo 2009 que comen-zamos los trabajos de prospeccioacuten pocos diacuteas estaacuten libres de las aguas Celemiacuten11

La que hemos denominado Celemiacuten 1 parece ser la uacutenica de las tres sepul-turas que se conserva in situ (Fig 5L) Cuenta con una caacutemara maacutes o menos rectangular de la que se visualizan cuatro ortostatos laterales uno en la cabecera y una gran laja que aunque desplazada parece corresponder a la cubierta de aquella (Lazarich et al 2013)Celemiacuten 2 se encuentra en una cota algo maacutes alta (Fig 1) sobre una ter-raza del antiguo cauce y que ha sido arrasada en parte por las aguas del 1 La denominamos asiacute para diferenciarlas de los doacutelmenes hallados por Breuil porque auacuten que auacuten no habiacuteamos localizado estos uacuteltimos sabiacuteamos que se trataban de estructuras diferentes a las publicadas por Breuil y Burkitt (1917) maacutes tarde por Mergelina (1924) y por G y V Leisner (1943)

| 515

| 2018

embalse Se observan cuatro lajas probablemente correspondientes a las paredes de la estructura funeraria que se presentan desplazadas en un aacuterea de unos 25 o 30 m2 Celemiacuten 3Finalmente el dolmen Celemiacuten 3 (Fig 1) que al igual que el anterior parte de los elementos de la estructura que lo conforman habiacutean sido movidos por las aguas Consiste en un conjunto de lajas de gran tamantildeo correspon-dientes a las paredes y a la cubierta de la tumba ademaacutes de un pilar Una de ellas presenta numerosas cazoletas que si bien creemos tienen un origen natural a partir de la erosioacuten de pisolitos algunas de ellas podriacutean haber sido alteradas y sobre todo como ocurriacutea en el dolmen VII de Breuil de esta misma necroacutepolis fueron elegidas para formar parte de estas estructuras por tener alguacuten significado para estas comunidades Eacutestas son frecuentes en otras estructuras dolmeacutenicas de Andaluciacutea como ocurre el Dolmen de Viera (Antequera) con decenas de estas concavidades en las caras internas de varios ortostatos del corredor y el sitio Arqueoloacutegico de Pentildeas de Cabrera (Maura Mijares 2010) en la provincia de Maacutelagapero son abundantes en otras zonas peninsulares como las existentes en los doacutelmenes del aacuterea del Tajo (Bueno et al 2010) y en grabados en los farallones al aire libre en el propio riacuteoLos doacutelmenes de PentildearroyoEn la orilla izquierda del antiguo cauce del riacuteo Celemiacuten hoy pantano se lo-caliza otro conjunto megaliacutetico integrado al menos por tres estructuras que hemos denominado Pentildearroyo por hallarse cercano al arroyo de este nom-bre (Fig 1) De eacutel destaca el sepulcro de corredor Pentildearroyo I (Fig 5M) Eacuteste estuvo oculto por las aguas del embalse del Celemiacuten hasta finales de 2009 en el que el pantano alcanzoacute su nivel maacutes bajo desde haciacutea 15 antildeos Desa-fortunadamente las fuertes lluvias del otontildeo-invierno del 2010 lo volvieron a cubrir y hasta la fecha no se ha vuelto a ver Que sepamos no se cono- ciacutea la existencia de esta tumba megaliacutetica aunque los vecinos de la zona comentan muy vagamente que de vez en cuando bajo las aguas del em-balse se observan alineadas algunas piedras de gran tamantildeo que podriacutean corresponder a construcciones megaliacuteticas Sin embargo los mayores del lugar afirman que antes de la construccioacuten del pantano (1968) eacutestas no eran visiblesLa sepultura de Pentildearroyo I es un sepulcro de corredor de al menos 880 m de longitud cuyas paredes estaacuten realizadas de mamposteriacutea y cubier-tas por grandes lajas de piedra Presenta un atrio de entrada coronado por dos menhires verticales hecho que se repite tras finalizar el corredor y el

516 |

comienzo de la primera caacutemara Eacutesta tiene forma circular y con un diaacutemetro maacuteximo de 290 m se puede acceder a un estrecho corredor que posible-mente deacute paso a otra u otras caacutemaras secundariacuteas que se introducen en el tuacutemulo de arcilla por lo que desconocemos sus verdaderas dimensiones Las paredes del corredor se encuentran destruidas en parte lo mismo que la cubierta cuyas grandes cobijas han sido desplazadas por las aguas El estado de conservacioacuten de esta tumba no parece malo y no hay indicios de que haya sufrido ninguacuten saqueo Es interesante resaltar que estamos ante la primera estructura tipo tholos hallada en la zona ya que el resto son galeriacuteas cubiertas cuevas artificiales o estructuras de tipo mixto como ocurre con las estructuras E-2 y E-IV de la necroacutepolis de Paraje de Monte Bajo (Lazarich 2007) Hemos localizado indicios de otros dos enterramientos maacutes en las inmedia-ciones (Pentildearroyo II y III) por la presencia de grandes ortostatos sin embar-go eacutestos al encontrarse en una cota maacutes baja aparecen siempre cubiertos por las aguas De todas formas habraacute que estar atentos en los proacuteximos antildeos si es que se produce una nueva bajada del nivel del pantano para intentar si fuera posible ponerlos a salvo

VALORACIOacuteN FINALExiste una estrecha relacioacuten entre la necroacutepolis y los abrigos con pinturas sobre todo con el principal ldquoTajo de las Figurasrdquo Desde la boca de este abri-go se divisa toda la necroacutepolis visibilidad que se hace igualmente patente en las tumbas pues no soacutelo desde ellas se ve el abrigo sino que se visua- lizan entre ellas La idea de perpetuidad queda patente en los materiales constructivos uti-lizados pero tambieacuten la propia visibilidad de las tumbas aporta un caraacutecter monumental a la necroacutepolis que se expande en el paisaje Esta monumen-talizacioacuten del paisaje creemos que sirve aquiacute como un elemento de legiti-macioacuten del territorioLa orientacioacuten de las construcciones megaliacuteticas se ha relacionado con la observacioacuten de los astros (solsticios y equinoccios) a veces relacionado con un punto del relieve donde se situacutea el sol o las estrellas de una conste- lacioacuten posiblemente con el propoacutesito de controlar los ciclos de la naturaleza para un mejor conocimiento y dominio de las estrategias agrarias Todos los megalitos descubiertos por Breuil seguacuten hemos podido constatar estaacuten orientados al S-SO (con un acimut entre los 180ordm-220ordm) Esta orientacioacuten aunque no es comuacuten en otras zonas peninsulares sin embargo en las estructuras dolmeacutenicas del sur la provincia de Caacutediz parece ser la norma

| 517

| 2018

Los doacutelmenes de Aciscar (nordm 1 al 4 de Breuil asiacute como el denominado C y descubierto por C de Mergelina) tienen una orientacioacuten parecida con un acimut comprendido entre los 214ordm y los 250ordm (Hoskin et al 2001 54-55) Un caso aparte lo constituyen la galeriacutea cubierta de los Charcones (Lazarich et al 2013) ubicada cerca del poblado del mismo nombre (Ramos et al 1995) con una orientacioacuten NE (acimut 32) y el tholos de Pentildearroyo I que mira N-NE (acimut 25) Las prospecciones y estudios llevados a cabo por nuestro grupo de inves-tigacioacuten nos han permitido ademaacutes conocer la ubicacioacuten de los lugares de haacutebitat con presencia de pequentildeos asentamientos estacionales y aldeas algunas de eacutestas con estructuras emergentes significativas

BIBLIOGRAFIacuteABREUIL H and BURKITT MC (1929) - Rock Paintings of Southern Andalusia A Descrip-tion of a Neolithic and Copper Age Art Group Oxford Clarendon PressBREUIL H y VERNER W (1917) - Deacutecouverte de deux centres dolmeacuteniques sur les bords de la Laguna de la Janda (Cadix)rdquo Bulletin Hispanique XIX p 157-188BUENO RAMIacuteREZ P DE BALBIacuteN BERHMANN R y BARROSO BERMEJO R (2010) - Grafiacuteas de los grupos productores y metaluacutergicos en la cuenca interior del Tajo La re-alidad del cambio simboacutelico en Gonccedilalves VS y Sousa AC (eds) Transformaccedilao e Mudanccedila no Centro e Sul de Portugal o 4ordm e o 3ordm mileacutenios ane Caacutemara Municipal de Cascais p 489-517BUENO RAMIacuteREZ P BALBIacuteN BEHRMANN R DE BARROSO BERMEJO R CARRERA RAMIacuteREZ F Y AYORA IBAacuteNtildeEZ C (2013)- Secuencias de arquitecturas y siacutembolos en el Dolmen de Viera (Antequera Maacutelaga Espantildea) Menga Revista de Prehistoria de Anda-luciacutea 4 p 251-266HOSKIN M et al (2001) - ldquoStudies in Iberian Archaeoastronomy (8) Orientations of megalithic and tholos tombs of Portugal and Southwest Spainrdquo Archaeoastronomy 26 (JHA XXXII) p 53-64LAZARICH M GOMAR A Mordf RUIZ A TORRES F RAMOS-GIL A Mordf J CRUZ (2012) - Las manifestaciones rupestres postapeloliacuteticas del entorno de la Laguna de La Janda (Caacutediz) nuevas perspectivas de estudio Seminario de arte prehistoacuterico (Valencia) 2011 Varia X p 179-207LAZARICH M BRICENtildeO E CRUZ Mordf J SANtildeUDO J RAMOS A (2013) - Las necroacutepolis megaliacuteticas del entorno de la Laguna de La Janda (Caacutediz) VI Encuentro de Arqueologiacutea del Suroeste Peninsular p 208-228LEISNER G Y LEISNER V (1943) - Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Suumlden BerlinLUQUE L ZAZO C RECIO JM DUENtildeAS MA GOY JL LARIO J GONZAacuteLEZ-HERNAacuteN-DEZ F DABRIO CJ amp GONZAacuteLEZ-DELGADO A (1999) - Evolucioacuten sedimentaria de la Laguna de la Janda (Caacutediz) durante el Holoceno Cuaternario y Geomorfologiacutea 13 (3-4) p 43-50MAURA MIJARES R (2010) - Guiacutea del Enclave Arqueoloacutegico Pentildeas de Cabrera Junta de Andaluciacutea Sevilla

518 |

MAS CORNELLAgrave M (1991) - Prospecciones arqueoloacutegicas en Sierra Momia (Caacutediz) Anu- ario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea 1991 II p 93-98 MAS CORNELLAgrave M (2000)- Las manifestaciones rupestres prehistoacutericas de la zona ga-ditana Sevilla Junta de Andaluciacutea Consejeriacutea de CulturaMERGELINA C de (1924) - Los focos dolmeacutenicos de la Laguna de la Janda Memorias de la Sociedad Espantildeola de Antropologiacutea Etnografiacutea y Prehistoria III p 97-126MOLINA Y PASTORIZA V (1913) - Arqueologiacutea y prehistoria de la provincia de Caacutediz en Lebrija y Medina Sidonia Boletiacuten de la Real Academia de la Historia LXII p 554-562RAMOS J CASTANtildeEDA V PEacuteREZ M LAZARICH M MARTIacuteNEZ C MONTANtildeEacuteS M LOZANO J M y CALDEROacuteN D (1995) - Los Charcones Un poblado agriacutecola del III y II milenios aC Su vinculacioacuten con el foco dolmeacutenico de la Laguna de la Janda Almoraima 13 p 30-50RIPOLL S MAS CORNELLAacute M y PERDIGONES L (1991) Actuaciones de urgencia en las Cuevas de Levante y Cubeta de la Paja (Sierra Momia Benalup Caacutediz) Anuario Ar-queoloacutegico de Andaluciacutea 1991 III p 105-110 ROMERO DE TORRES E (1934)- Catalogo Monumental de Espantildea Provincia de Caacutediz (1908-1909) Ministerio de Instruccioacuten Puacuteblica y Bellas Artes Madrid VERNER W W C (1914a)- Prehistoric man in Southern Spain I Country Life 911 p 901-904VERNER W (1914b) - Prehistoric man in Southern Spain IIrdquo Country Life 914 p 41-45VERNER W (1914c) - Prehistoric man in Southern Spain IIIrdquo Country Life 916 p 114--118

| 519

| 2018

Megalitismos del aacuterea de Huelva Investigacioacuten y puesta en valor

Megalithisms of the Huelva area Research and valorization

RESUMENEl aacuterea de Huelva presenta un megalitismo destacado por la gran variabilidad arquitectoacutenica y por la singularidad de ciertos modelos de monumentos El de-sarrollo en los uacuteltimos antildeos de un conjunto de intervenciones con una meto- dologiacutea interdisciplinar de puesta en valor en el marco de la Ruta Dolmeacutenica ha contribuido a la investigacioacuten conservacioacuten difusioacuten y valorizacioacuten social del patrimonio megaliacutetico En cuanto a la investigacioacuten se han documentado una amplia diversidad megalitismos desarrollados en la zona desde el Neoliacutetico Medio a la Edad del Bronce Antiguo El anaacutelisis arqueoloacutegico de los sitios ha confirma-do la existencia de monumentos de amplias secuencias arquitectoacuteni-cas y usos de larga temporalidad caso del grupo de Los Llanetes dolmen de Soto y El Seminario El estudio de las fases constructivas y de la evolucioacuten diacroacutenica de los sitios permiten plantear una se-cuencia de la zona en grandes etapas 1) un megalitismo menhiacuterico desde el Neoliacutetico Medio 2) un antiguo y potente megalitismo fune- rario desde inicios del Neoliacutetico Reciente con diversos modelos de doacutelmenes (caacutemaras simples caacutemaras alargadas galeriacuteas cu-biertas y caacutemaras muacuteltiples) 3) los procesos de monumental-izacioacuten re-construccioacuten y reutilizacioacuten de los doacutelmenes en el Neoliacutetico Final y Edad del Cobre 4) la proliferacioacuten de las se- pulturas colectivas subterraacuteneas (hipogeos) y semisubterraacuteneas (hipo-geos mixtos y tholoi) en la Edad del Cobre 5) la permanencia del megali- tismo en la Edad del Bronce Antiguo mediante dos formas de monumen-talidadEn todos los sitios se han realizado trabajos de conservacioacuten combinados de diversa naturaleza (limpieza conservacioacuten preventiva consolidacioacuten

Joseacute Antonio Linares Catela Phd colaborador con el aacuterea de Prehistoria de la Universi-dad de Huelva UMR 6566 CReAAH Universiteacute de Rennes 1Director teacutecnico de Cota Cero GPH SLe-mail jalinarescatelagmailcom

520 |

eliminacioacuten de restauraciones previas y recuperacioacuten paisajiacutestica) que garantizan la preservacioacuten de estos complejos yacimientos arqueoloacutegi-cos su exhibicioacuten y uso como sitios visitables En la actualidad se pre-sentan carencias en la tutela patrimonial de los sitios megaliacuteticos sien-do uno de los retos a solucionar en el futuroPALABRAS CLAVE Megalitismos Monumentalidades Investigacioacuten Con-servacioacuten Valorizacioacuten

ABSTRACTThe Huelva area presents a megalithism highlighed by the great architectu- ral variability and the singularity of certain models of monuments The develop- ment in recent years of a set of interventions with an interdisciplinary metho- dology in the Megalithic Route has contributed to the research conservation dissemi-nation and social valorization of the megalithic heritageIn terms of research a wide diversity of megalithisms developed in the area from the Middle Neolitic to the Early Bronze Age have been documented The archaeological analysis of the sites has confirmed the existence of monuments with extensive architectu- ral sequences and long-term uses such as the Llanetes group the dolmen of Soto and the El Seminario The study of the construction phases and of the dia-chronic evolution of the sites allows us to propose a sequence of the area in great stages 1) a standing stones from the Middle Neolithic 2) an old and outstanding funerary megalithism from the beginning of the Recent Neolithic with different mod-els of dolmens (simple chambers elongated chambers covered gallery graves and multiple chambers) 3) the processes of monumentalization re-construction and reuse of dolmens in the Last Neolithic and Copper Age 4) the proliferation of collective underground (hypogeums) and semi-subterranean (mixed hypogeums and tholoi) tombs in the Copper Age 5) the permanence of megalithism in the Early Bronze Age through two forms of monumentality In all the sites have been carried out combined conservation works of di-verse nature which guarantee the preservation of these complex archaeologi-cal sites their exhibition and use as visitable sites At present there are shotco- mings in the heritage protection of megalithic sites and this is one of the challenges to be solved in the futureKEY-WORDS Megalithisms Monumentalities Research Conservation Valorization

1 INTRODUCCIOacuteNEl aacuterea de Huelva es un aacutembito geograacutefico relevante para la investigacioacuten y la valorizacioacuten social del megalitismo del sur peninsular dado los potenciales pat-rimoniales que contiene Por un lado es una de las aacutereas de mayor nuacutemero

| 521

| 2018

y concentracioacuten de monumentos megaliacuteticos en Andaluciacutea occidental contabi-lizaacutendose en la actualidad cerca de 300 sitios de una gran variabilidad formal y diversidad de teacutecnicas constructivas presentaacutendose arquitecturas represen-tativas del megalitismo menhiacuterico y del megalitismo funerario en todas las uni-dades geoloacutegicas y comarcas geograacuteficas de la provincia (Fig 1) (Linares Catela 2011 2012) Especialmente relevantes son dos formas arquitectoacutenicas funer-arias 1) las laquogaleriacuteas cubiertasraquo con varias soluciones formales (longitudinales y acodados) siendo el modelo regional maacutes numeroso y representativo 2) los doacutelmenes provistos de caacutemaras muacuteltiples caso de los conjuntos de El Pozuelo o Las Huecas al ser construcciones exclusivas en el contexto de la Peniacutensula Ibeacuteri-ca (Cerdaacuten et al 1952 Leisner y Leisner 1943 1956 1959 Cabrero 1985 Pintildeoacuten Varela 1987 2004 Linares Catela 2011 2016 2017) Por otro lado la existencia de la Ruta Dolmeacutenica desde su creacioacuten a fines de la deacutecada de 1990 ha propiciado la realizacioacuten de un conjunto actuaciones para la investigacioacuten conservacioacuten y valorizacioacuten social del patrimonio megaliacutetico trabajando diferentes equipos en los sitios que conforman el itinerario Soto El Labradillo Los Gabrieles El Pozuelo El Gallego-Hornueco y Pasada del Abad (Fig 2) Esta ruta patrimonial estaacute promovida por la Consejeriacutea de Cultura de la Junta de Andaluciacutea siendo el organismo competente en materia de la tutela del patrimonio histoacuterico andaluz En la uacuteltima deacutecada se han priorizado las interven-ciones en dos sitios de titularidad puacuteblica dolmen de Soto y conjunto de El Po-zuelo programaacutendose actuaciones para garantizar la puesta en valor de estos bienes introducir la ruta en la Red de Espacios Culturales de Andaluciacutea (RECA) (Fondevilla y Rastrojo Lunar 2009) y crear un itinerario cultural del megalitismo a ambos lados del riacuteo Guadiana mediante el desarrollo del Proyecto UADITOUR enmarcado en el Programa de Cooperacioacuten Transfronterizo Espantildea-Portugal 2007-2013 (POCTEP)A ello habriacutea que antildeadir el creciente intereacutes de los ciudadanos y especialmente de determinados colectivos sociales (asociaciones de patrimonio asociaciones ciacutevicas clubes de senderismo) en la visita y conocimiento de estas arquitecturas milenarias

2 METODOLOGIacuteA DE INTERVENCIOacuteN PARA LA PUESTA EN VALOR DE LOS MONUMENTOS MEGALIacuteTICOS Los monumentos megaliacuteticos contienen una naturaleza patrimonial muacuteltiple dado que son a la vez yacimientos arqueoloacutegicos monumentos arquitectoacutenicos documentos pre-histoacutericos y fragmentos fosilizados de ldquopaisajes monumental-esrdquo de la Prehistoria Reciente Por tanto el estudio conservacioacuten y divulgacioacuten demanda la realizacioacuten de proyectos integradores que contemplen estrategias

522 |

Fig1 Monumentos megaliacuteticos del aacuterea de Huelva

| 523

| 2018

patrimoniales interdisciplinares como hemos realizado en las intervenciones de puesta en valor en diversos conjuntos dolmeacutenicos del Andeacutevalo oriental (Los Ga-brieles El Gallego-Hornueco El Pozuelo) dolmen de Soto y ciacuterculo de La Pasada del Abad acometidas por el equipo de Cota Cero GPH SLLa mayoriacutea de los sitios intervenidos con excepcioacuten del dolmen de Soto (2012-2013) (Linares Catela y Mora Molina 2015) y el dolmen 5 de El Pozuelo (2015) se presentaban como monumentos funerarios sin cobertura tumular estando las arquitecturas expuestas al aire libre y sin medidas de conservacioacuten o restau-racioacuten tras las excavaciones realizadas en deacutecadas anteriores caso de Los Ga-brieles (2002-2004) (Linares Catela 2006 2010b) grupo de Los Llanetes del conjunto de El Pozuelo (2010-2014) (Linares Catela 2016) y otros no excavados con evidentes signos de expolio especialmente los megalitos del conjunto de El Gallego-Hornueco (2005-2006) doacutelmenes de Puerto de los Huertos y El Casullo y cista de El Casullo II (Linares Catela 2010 b 2010c 2010d ) El ciacuterculo de pie-dras de La Pasada del Abad (2003) presentaba un gran deterioro estructural fruto de una intencional extraccioacuten de los bloques peacutetreos y de los socavones de expolio de su interior (Linares Catela 2010a)Entendemos la puesta en valor de los monumentos megaliacuteticos como una es-trategia combinada de distintas acciones cuyo fin es el conocimiento preser-vacioacuten y el uso social de estos bienes patrimoniales en su contexto territorial y paisajiacutestico (Linares Catela 2013) Para ello en cada sitio intervenido se ha realizado un Plan Integral de puesta en valor que contempla tres grandes aacutereas la investigacioacuten la conservacioacuten y la difusioacuten Los pilares baacutesicos son la investi-gacioacuten arqueoloacutegica y la conservacioacuten de los sitios habiendo desarrollado una metodologiacutea transdisciplinar entre ambas esferas Asiacute a traveacutes de las excava-ciones y estudios cientiacuteficos se ha generado un detallado conocimiento arque-oloacutegico arquitectoacutenico constructivo geoloacutegico y paisajiacutestico de los monumentos constituyendo la base desde la cual se han determinado las labores de conser-vacioacuten preventiva y de consolidacioacuten21 Investigacioacuten arqueoloacutegica La investigacioacuten de los monumentos megaliacuteticos contempla dos escalas de tra-bajo a) escala semi-micro centrada en el anaacutelisis arqueoloacutegico de los sitios b) escala macroespacial orientada al estudio territorial El anaacutelisis arqueoloacutegico de los monumentos se centra en cuatro aacutembitos de estudio la arquitectura la con-struccioacuten los usos (funerarios rituales y territoriales) y las temporalidades Para ello se ha articulado una metodologiacutea interdisciplinar (Linares Catela 2017) apli-cada de forma sistemaacutetica al grupo de Los Llanetes que integra las siguientes teacutecnicas- Excavacioacuten arqueoloacutegica en extensioacuten de los monumentos con apertura de

524 |

aacutereas selectivas sin agotar el registro estructural-estratigraacutefico de los sitios al objeto de realizar un estudio integral y registro microespacial de las arquitec-turas de los espacios externos y de los emplazamientos En el caso de los doacutel-menes se han explorado los tuacutemulos las estructuras internas los espacios fron-tales y las aacutereas circundantes - Aplicacioacuten del sistema de anaacutelisis de la arqueologiacutea de la arquitectura para determinar las unidades arquitectoacutenicas identificar los meacutetodos y teacutecnicas de las obras de construccioacuten-transformacioacuten y las fases arquitectoacutenicas de cada proyecto- Estudio de las cadenas operativas y de los procesos de construccioacuten a partir de la secuencias de las obras y del estudio de los tratamientos teacutecnicos de los soportes - El desarrollo de muacuteltiples de sistemas topograacuteficos y de levantamientos planimeacutetricos que combinan el dibujo claacutesico la topografiacutea convencional el scanner 3D y la fotogrametriacutea con apoyo de drones (Linares Catela et al 2013)- Estudio de los elementos grafiacuteas y sistemas decorativos del ldquoarte megaliacuteticordquo estelas grabados y pinturas

Fig2 Sitios megaliacuteticos de la Ruta Dolmeacutenica de Huelva

| 525

| 2018

- Estudios geoarqueoloacutegicos llevando a cabo dos tipos de anaacutelisis a) estudio geoteacutecnico de los emplazamientos soportes peacutetreos de construccioacuten y arcillas (granulometriacutea liacutemite liacutequidoplaacutestico y expansividad) b) estudio litoloacutegico y car-tografiacutea geoloacutegica determinando los tipos de rocas y las aacutereas de procedencia (fuentes de aprovisionamiento y canteras) mediante anaacutelisis petrograacuteficos y prospecciones De especial relevancia es el conocimiento de las propiedades de los materiales empleados (composicioacuten resistencia consistencia estabilidad estructural etc) en relacioacuten con la identificacioacuten de patologiacuteas de deterioro el establecimiento de las actuaciones de conservacioacuten y seleccioacuten de materiales de consolidacioacuten (rellenos de tierra y moteros de barro)- Anaacutelisis paleaombientales palinologiacutea y antracologiacutea- Anaacutelisis de la temporalidad de los monumentos mediante dataciones radiocar-boacutenicas y elaboracioacuten de modelados bayesianos - Anaacutelisis arqueomeacutetricos de los materiales y objetos mueblesEl anaacutelisis territorial viene precedido del desarrollo de prospecciones geoarque-oloacutegicas sistemaacuteticas en el medio circundante de los monumentos intervenidos posibilitando la identificacioacuten de los elementos que conformaron los diversos ldquoterritorios megaliacuteticosrdquo caso de los conjuntos de Los Gabrieles El Gallego-Hor-nueco o Los Llanetes (Linares Catela 2010b 2010c 2016)22 ConservacioacutenLos objetivos principales de las actuaciones de conservacioacuten se han centrado en corregir los dantildeos materiales frenar el deterioro garantizar la preservacioacuten futura y prolongar la vida material de estos bienes patrimoniales milenarios Los principios generales de conservacioacuten se derivan de la legislacioacuten de Patrimonio Histoacuterico de Andaluciacutea de las pautas internacionales y criterios normalizados sobre intervencioacuten en Patrimonio Histoacuterico y de propuestas de conservacioacuten en megalitos (Carrera 2002 2006 2011)En las actuaciones se ha priorizado la conservacioacuten preventiva de los sitios preservaacutendose los monumentos en el estado en el que nos han llegado por cu-atro motivos fundamentales a) por la constatacioacuten de que el aparente estado de ruina en el que se preservan los monumentos responde a diversas acciones de reapropiacioacuten y de reutilizacioacuten de los sitios desde la Edad del Bronce en adelante siendo su conservacioacuten un correlato material de su biografiacutea y usos b) por la concepcioacuten de los sitios como yacimientos arqueoloacutegicos debiendo facil-itar futuras intervenciones estudios arqueoloacutegicos y tareas de mantenimiento c) por el necesario equilibrio sostenible entre la originalidad de los monumentos y su conservacioacuten ya que la aportacioacuten de materiales y la consolidacioacuten de ele-mentos forman una nueva capa estratigraacutefica antildeadida a la secuencia e ldquohistoria constructivardquo de los yacimientos d) por la compatibilidad entre la conservacioacuten y

526 |

las visitas actividades de estos sitiosSe ha disentildeado un Plan de Conservacioacuten especiacutefico estructurado en tres fases de trabajo 1) el estudio y diagnoacutestico patoloacutegico previo derivado del anaacutelisis ar-queoloacutegico 2) el informe de valoracioacuten que conforma el plan de actuacioacuten 3) la ejecucioacuten de las obras de conservacioacuten-consolidacioacuten que se rigen por seis principios esenciales miacutenima intervencioacuten respecto a los valores histoacutericos y documentales no falsificacioacuten ni reconstruccioacuten respeto a la paacutetina histoacuterica conservacioacuten in situ y reversibilidad Las actuaciones han sido particulares en cada sitio dependiendo de las caracteriacutesticas arqueoloacutegicas elementos arqui-tectoacutenicos dantildeos materiales elementos de riesgo medidas de exhibicioacuten ade-cuacioacuten a las visitas y tareas de mantenimiento futuras

3 RESULTADOS DEL PROGRAMA DE INTERVENCIONES31 Investigacioacuten megalitismos y formas de monumentalidadLas excavaciones arqueoloacutegicas y los anaacutelisis cientiacuteficos en los sitios interveni-dos en la ruta patrimonial y en otros yacimientos caso de El Seminario se han enmarcado en un proceso de investigacioacuten que ha contribuido a un mejor con-ocimiento de los megalitismos del aacuterea de Huelva y su contextualizacioacuten en rel-acioacuten con las arquitecturas y formas de monumentalidad del sur peninsular en Prehistoria Reciente como se ha plasmado en nuestra tesis doctoral (Linares Catela 2017) El estudio de la secuencia arquitectoacutenica de las fases constructivas y de los episodios de usos de cada monumento ha permitido determinar su historia con-structiva y biografiacutea En el caso de los monumentos funerarios se ha constatado que estas construcciones estuvieron sometidas a reiterados proyectos arqui-tectoacutenicos que condicionaron su continua transformacioacuten estructural y remodel-acioacuten espacial tanto en los doacutelmenes (conjuntos de El Pozuelo Los Gabrieles El Gallego-Hornueco y Soto) como en las necroacutepolis de arquitecturas subterraacuteneas (hipogeos) y semisubterraacuteneas (tholoi) de El Seminario Consecuentemente la configuracioacuten formal y el estado definitivo de estos monumentos obedecen a la sucesioacuten de fases arquitectoacutenicas y usos desarrollados en un largo proceso temporal respondiendo a estrategias y procesos de monumentalizacioacuten con diversos significados intencionalidades y funciones sociales condicionando la superposicioacuten de diversos modelos de monumentos e incluso de formas de monumentalidad en algunos sitios caso de Los Llanetes y dolmen de Soto En Los Llanetes se ha constatado una evolucioacuten diacroacutenica en los monumentos desde el Neoliacutetico Reciente hasta la Edad del Bronce Antiguo que permite recon-struir parte de la secuencia arquitectoacutenica del aacuterea de Huelva (Fig3) (Linares Catela 2017)

| 527

| 2018

Otra aportacioacuten radica en haber puesto de manifiesto la antiguumledad y la larga durabilidad temporal del megalitismo en esta zona estructurado en una se-cuencia diacroacutenica que comprende desde el Neoliacutetico Medio hasta la Edad del Bronce Antiguo que ampliacutea la cronologiacutea tradicional propuesta en las investi-gaciones anteriores que lo circunscribiacutean de forma mayoritaria o exclusiva a la Edad del Cobre (Cabrero 1985 Pintildeoacuten Varela 1987 2004 Nocete et al 1999 2004 Nocete y Peramo 2010) La secuencia geneacuterica de la zona evi-dencia el siguiente proceso (Linares Catela 2017) - La geacutenesis de un megalitismo menhiacuterico en el Neoliacutetico Medio- La existencia de un potente megalitismo funerario dolmeacutenico desde inicios del Neoliacutetico Reciente perdurando durante el Neoliacutetico Final y la Edad del Cobre - La monumentalizacioacuten de los espacios externos de los doacutelmenes durante el

Fig3 Monumentos del grupo de los Llanetes (El Pozuelo) Secuencia arquitectoacutenica

528 |

Neoliacutetico Final y Edad del Cobre Antiguo y Pleno- La implantacioacuten y consolidacioacuten de tres formas de sepulturas colectivas a lo largo de la Edad del Cobre hipogeos hipogeos mixtos y sepulcros de falsa cuacutepula- La permanencia del megalitismo en la Edad del Bronce Antiguo con dos for-mas de monumentalidad a) recintos de terrazas b) monumentalismo funer-ario de tumbas individuales en sepulturas colectivasEl megalitismo menhiacuterico de la zona se compone de menhires individuales o monumentos formados por agrupaciones (ciacuterculos y posibles alineamientos) Estas arquitecturas representan la existencia de un megalitismo pre-funerario o no-funerario del Neoliacutetico Medio-Reciente (desde mediados del V milenio hasta el IV milenio ANE) desarrollado en diversas zonas- Rivera del Chanza donde se presentan menhires (Montechico La Alcalabo-za Chanzilla Era de la Piedra Pie de Sierra) y agrupaciones circulares de pie-dras (Pasada del Abad Llano de la Belleza) con cazoletas en algunos soportes de pizarra y granito (Garciacutea Sanjuaacuten et al 2006 Linares Catela 2010a 2011)- Cuenca del Bajo Guadiana constataacutendose menhires de grauvaca tanto aislados (Piedra Hincada Alto de las Piedras) como en agrupaciones lineales (Linares Catela 2011)- Cuenca media y baja del riacuteo Tinto en el Andeacutevalo oriental y franja norte de la Tierra Llana en los que se ha constatado estelas y menhires integrados y reutilizados como elementos de las construcciones megaliacuteticas de varios doacutel-menes Los Gabrieles 2 y 4 Fuente de la Corcha y Soto (Linares Catela 2010b 2011 Bueno et al 2013) Ello puede representar una estrategia social de reapropiacioacuten simboacutelica de las laquopiedras de los ancestrosraquo y su inclusioacuten en la arquitectura de los muertos (Bueno et al 2014 2015) En la intervencioacuten reciente del dolmen de Soto se han registrado fosas de cimentacioacuten de pie-dras verticales que posibilitan plantear la existencia de una fase previa a la construccioacuten del monumento funerario posiblemente formada por agrupa-ciones circulares o lineales de bloques peacutetreos estelas y menhires de diversas litologiacuteas (grauvaca calcarenita y conglomerados) siendo posteriormente ex-traiacutedos fragmentados y reciclados en la galeriacutea megaliacutetica y en el anillo peri-staliacutetico (Linares Catela y Mora Molina 2015)El megalitismo funerario dolmeacutenico se caracteriza por dos variables 1) por la existencia de varios modelos de monumentos tumulares construidos y tras-formados a lo largo del IV milenio ANE caacutemaras simples caacutemaras alargadas laquogaleriacuteas cubiertasraquo y caacutemaras muacuteltiples con una marcada permanencia de la actividad constructiva y de reuacuteso de los espacios sepulcrales durante la Edad del Cobre 2) por la continuidad de la teacutecnica constructiva en la mayoriacutea de

| 529

| 2018

los conjuntos dolmeacutenicos como consecuencia de una especializacioacuten arqui-tectoacutenica y de una fuerte tradicioacuten cultural e identidad social colectiva genera-da en tono a la esfera de la muerte (Linares Catela 2017) Los primeros doacutelmenes fueron erigidos desde inicios del IV milenio ANE con-stataacutendose una diversidad de monumentos de caacutemaras simples (trapezoi-dales ovaladas alargadas y rectangulares) de variados tamantildeos y teacutecnicas constructivas Los monumentos ortostaacuteticos alargados se gestaron en el se-gundo tercio del IV milenio ANE en el inicio del Neoliacutetico Final consolidaacutendose en las centurias centrales del IV milenio como arquitecturas de marcada seg-mentacioacuten espacial por la presencia de elementos verticales (pilares y estelas) y dos estancias internas caacutemaras y antecaacutemaras La realizacioacuten de proyectos arquitectoacutenicos de alargamiento de las estructuras ortostaacuteticas condiciona-ron la formacioacuten de las denominadas laquogaleriacuteas cubiertasraquo longitudinales (El Pozuelo 4 Soto 1 y 2) o acodadas (Los Gabrieles 4 y 6) contando probable-mente con una mayor presencia territorial y actividad constructiva durante la segunda mitad del IV milenio ANE como se propone para el conjunto de An-daluciacutea (Garciacutea Sanjuaacuten et al 2011) De manera paralela desde el segundo tercio del IV milenio ANE se desarrollaron los monumentos tumulares circu-lares con caacutemaras muacuteltiples caso de los conjuntos de El Pozuelo y las Hue-cas Las excavaciones arqueoloacutegicas realizadas en el grupo de Los Llanetes han demostrado que la formacioacuten de estos monumentos obedece a la con-catenacioacuten de varios proyectos arquitectoacutenicos sobre los mismos doacutelmenes (Fig 3) coexistiendo temporalmente en la mismas necroacutepolis doacutelmenes de caacutemaras duales de diversas composiciones estructurales caacutemaras paralelas con acceso independientes (dolmen 1) caacutemaras perpendiculares (dolmen 2) y caacutemaras paralelas con antecaacutemara y corredor convergente (dolmen 3)Los doacutelmenes de caacutemaras alargadas y de caacutemaras muacuteltiples estuvieron sometidos a diversos procesos de monumentalizacioacuten durante el Neoliacutetico Final y Edad del Cobre documentaacutendose proyectos de modificacioacuten de las entradas formalizacioacuten de fachadas y disposicioacuten de estructuras en los atrios en relacioacuten con el incremento de las praacutecticas rituales en los espacios exter-nos desde el uacuteltimo tercio del IV milenio a mediados del III milenio ANE En los Llanetes se han documentado aacutereas pavimentadas con estelas altares y hogueras en los espacios frontales y estructuras en las aacutereas circundantes (Linares Catela 2016) En el dolmen de Soto en el espacio frontal externo se han registrado agrupaciones de estructuras de diversas funcionalidades y fases cronoloacutegicas cabantildeas fosas deposicionales y votivas un hipogeo entre otras (Linares Catela y Mora Molina 2015) Los doacutelmenes continuaron re-construyeacutendose y reusaacutendose a lo largo de la

530 |

Edad del Cobre como evidencian las dataciones de los grupos del Andeacutevalo ori-ental cuyos resultados se concentran en el III milenio ANE La Paloma y La Venta del conjunto de El Villar El Pozuelo 6 Los Gabrieles Puerto de los Huertos y El Casullo del conjunto de El Gallego-Hornueco (Nocete et al 2004 Linares Catela 2006 Linares Catela y Garciacutea Sanjuaacuten 2010) De forma paralela desde inicios de la Edad del Cobre se asiste a una proliferacioacuten de tres modelos de sepulturas colectivas hipogeos hipogeos mixtos y sepulcros de falsa cuacutepula organizados en necroacutepolis asociadas a poblados caso de los tholoi de La Zarcita (Cerdaacuten et al 1952 Pintildeoacuten Varela 1987 2004) En la necroacutepolis de El Seminario se ha evi-denciado la existencia de continuos procesos de transformacioacuten arquitectoacutenicos y de reorganizacioacuten espacial de los depoacutesitos funerarios en las tumbas (hipo-geos hipogeos mixtos y tholoi) con una multiplicidad de gestos y praacutecticas mor-tuorias derivadas del uso reiterado en varias fases a lo largo del III milenio ANE (Linares Catela y Vera Rodriacuteguez 2015 Linares Catela 2017)Los diferentes procesos de reapropiacioacuten de los monumentos por parte de las sociedades de la Edad del Bronce Antiguo supusieron el desarrollo de situa-ciones muacuteltiples a) la transformacioacuten de los sitios y la reutilizacioacuten de los espa-cios sepulcrales con fines funerarios como se ha documentado en los doacutelmenes 1 y 4 de Los Gabrieles (Cabrero 1978 Linares Catela 2006 2010b 2011) b) el desmantelamiento intencional y la destruccioacuten deliberada de los monumen-tos funerarios constataacutendose esta praacutectica de condenacioacuten en los doacutelmenes de Puerto de los Huertos y El Casullo (Linares Catela 2010b Linares Catela y Garciacutea Sanjuaacuten 2010 c) la creacioacuten de otras formas de monumentalidad por la reapropiacioacuten de los espacios arquitectoacutenicos ancestrales Asiacute por un lado en el grupo de Los Llanetes se ha constatado la presencia de recintos de terrazas formados por estructuras (muros rampas plataforma circular en el monumen-to 1) dispuestas en niveles escalonados de gran perceptibilidad visual (Fig 4) Estos monumentos fueron construidos con diversas teacutecnicas de mamposteriacutea (ortostaacutetica en seco y con morteros de barro) empleaacutendose los materiales procedentes del desmonte de los doacutelmenes cuyos esqueletos megaliacuteticos y tuacutemulos desmantelados fueron integrados (Linares Catela 2016) Por otro lado en la necroacutepolis de El Seminario se ha documentado un monumentalis-mo funerario sustentado en la construccioacuten de tumbas individuales (covachas subterraacuteneas ldquocistasrdquo y fosas) en el interior de las caacutemaras de las sepulturas calcoliacuteticas (hipogeos y tholoi) que perpetuaron algunos esquemas concep-tuales y teacutecnicas constructivas tradicionales del megalitismo caso de las cu-briciones tumulares (Linares Catela y Vera Rodriacuteguez 2015 Linares Catela 2017)A ello ademaacutes hay que antildeadir las acciones de reapropiacioacuten y reutilizacioacuten

| 531

| 2018

Fig4 Monumento 1 de Los Llanetes (El Pozuelo) Recinto de terrazas con plataforma circular en el nivel superior

de la mayoriacutea de los monumentos a partir de la Edad del Bronce y en diversos periodos histoacutericos que condicionaron la permanencia yo transformacioacuten fiacutesi-ca de los sitios32 Conservacioacuten recuperacioacuten y preservacioacuten de los yacimientos arqueoloacutegicos La existencia de varios megalitismos la complejidad arqueoloacutegica de los monumentos y la diversidad de estados de conservacioacuten de los sitios ha condicionado el desarrollo de cinco tipos de intervenciones combinadas de distinto alcance limpieza conservacioacuten preventiva consolidacioacuten eliminacioacuten de restauraciones previas y recuperacioacuten paisajiacutestica (Fig 5) En ninguacuten caso se han realizado actuaciones de reconstruccioacuten En todas las intervenciones el objetivo baacutesico ha sido garantizar la conservacioacuten de cada yacimiento arque-oloacutegico haciendo compatible su preservacioacuten y exhibicioacuten como sitios patrimo-niales visitables de la Ruta DolmeacutenicaEn todos los sitios se han realizado labores de limpieza de los monumentos y su entornos consistentes en la eliminacioacuten de vegetacioacuten (arbustos y aacuterboles) y elementos de alteracioacuten Los trabajos de conservacioacuten preventiva se han centrado en dos acciones a) el tapado preventivo del interior de las estruc-

532 |

Fig5 Actuaciones de conservacioacuten preventiva en varios de los monumentos intervenidos

| 533

| 2018

turas ortostaacuteticas con interposicioacuten de geotextil y relleno de tierra al objeto de preservar los niveles y suelos arqueoloacutegicos originales b) la consolidacioacuten tapado y relleno preventivo de las aacutereas de excavaciones de los espacios ex-ternos hasta cota del firme preservaacutendose las estructuras concentradas en los emplazamientos caso del grupo de Los Llanetes y en el dolmen de Soto Con esto se ha garantizado la preservacioacuten de estos elementos evitaacutendose la afeccioacuten previsible de las estructuras y la peacuterdida de niveles estratigraacuteficos sometidos a los agentes de deterioro naturales y antroacutepicos Los elementos arquitectoacutenicos que quedan expuestos al aire libre han sido consolidados mediante varios tratamientos dotaacutendolos de una mayor consis-tencia material y solidez estructural Para la eleccioacuten de los materiales y la aplicacioacuten de las soluciones de consolidacioacuten se han tomado en consideracioacuten las caracteriacutesticas arquitectoacutenicas y las teacutecnicas originales empleadas en las obras de construccioacuten de los monumentos Los trabajos que se han ejecutado son totalmente reversibles al emplearse morteros de barro formados por las arcillastierras originarias de los sitios y del entorno geoloacutegico local enriqueci-das con cal En los doacutelmenes se han usado tres tipos de morteros de consoli-dacioacuten de agarre para ortostatos y masas tumulares de acabado para juntas y superficies lisas y de relleno para los suelos internos y externos dispuestos con pendientes de evacuacioacuten para las aguas Para su correcta composicioacuten y dosificacioacuten se han realizado ensayos geoteacutecnicos en el grupo de Los Llanetes seleccionaacutendose los maacutes idoacuteneos en funcioacuten de la resistencia de los mismos consistencia maleabilidad tonalidad etc En ciertos materiales desplazados a su posicioacuten original (ortostatos desplomados o tumbados lajas desplomadas de los anillos peristaliacuteticos etc) se han realizado operaciones de restitucioacuten con el objeto de garantizar la preservacioacuten fiacutesica de estos elementos y propiciar una formalizacioacuten constructiva de los sectores alterados Puntualmente en el caso de algunos ortostatos fracturados en varios bloques se han realizado trabajos de reintegracioacuten o anastilosis restituyendo los soportes en sus mor-fologiacuteas primarias mediante el pegado de los diversos fragmentos con cosido de varillas de acero inoxidable y resinas epoxi En el caso de los monumentos del grupo de Los Llanetes se ha empleado un consolidante-hidrofugante (Estel 1100) para el tratamiento de los soportes de filita con el objeto de evitar la peacuterdida masiva de materialidad por exfoliacioacuten y descamacioacuten muy afectados por los agentes de la intemperieEn el dolmen 5 de El Pozuelo se ha realizado en 2015 una intervencioacuten de desmonte y eliminacioacuten de elementos de restauracioacuten recientes (techumbre adintelada y cubricioacuten tumular) reconstruidas en la actuacioacuten de 1998-1999 (Nocete et al 1999) ante el riesgo de colapso estructural del monumento

534 |

ademaacutes de la consolidacioacuten de los soportes verticales y conservacioacuten preventi-va de los suelos internos Con esto se ha recuperado en parte el estado formal previo de esta compleja construccioacuten megaliacutetica En el grupo de Los Llanetes se ha realizado una actuacioacuten de recuperacioacuten paisajiacutestica al objeto de favorecer la puesta en valor de los monumentos en su dimensioacuten territorial La plantacioacuten de eucaliptos dispuesta desde la deacutecada de 1950 en este paraje supuso su transformacioacuten topograacutefica y ambiental Mediante la tala-eliminacioacuten de esta especie y de labores de regeneracioacuten nat-ural del bosque-sotobosque mediterraacuteneo en el entorno se ha recuperado el paisaje de la zona antes de las plantaciones forestales Con esta medida se ha contribuido a la preservacioacuten y a la perceptibilidad visual del paisaje mon-umental del grupo pudiendo observarse los elementos que lo componen el emplazamiento natural las formaciones naturales que lo jalonan los mon-umentos los asentamientos y las minas de cobre y de aacutereas de actividad metaluacutergicas de Chinfloacuten33 Difusioacuten divulgacioacuten y valorizacioacuten socialDe forma paralela a las actuaciones se han realizado medidas de difusioacuten en-caminadas a la valorizacioacuten social del patrimonio megaliacutetico- La realizacioacuten de publicaciones de divulgacioacuten de diversa escala a) guiacutea en la que se aporta una visioacuten de los diferentes megalitismos y de los paisajes mon-umentales (Linares Catela 2011 2014) b) cuadernos y folletos de difusioacuten- La sentildealizacioacuten y carteleriacutea en los enclaves para facilitar la localizacioacuten y visita- La realizacioacuten de una exposicioacuten itinerante en 2013 y su cataacutelogo (Linares Catela 2012) recorriendo los municipios que integran la ruta y el Museo de Huelva con el objeto de propiciar una amplia divulgacioacuten y concienciacioacuten so-cial sobre la importancia de este legado patrimonial- La apertura del centro de visitantes del dolmen de Soto con contenidos au-diovisuales que ofrecen una visioacuten geneacuterica del monumento y de otros sitios de la ruta

4 Situacioacuten actual y necesidadesEl potencial patrimonial del aacuterea de Huelva para la investigacioacuten y puesta en valor del megalitismo es muy elevado Desde el punto de la investigacioacuten es una de las zonas maacutes dinaacutemicas para el estudio de los megalitismos de la Peniacuten-sula Ibeacuterica por cuanto se presenta una gran variabilidad de arquitecturas y formas de monumentalidad desarrolladas desde el Neoliacutetico Medio hasta la Edad del Bronce Antiguo Su estudio posibilita plantear nuevas lecturas generar interpretaciones alternativas e introducir otros elementos de discusioacuten en el sur peninsular acordes a los debates actuales sobre la monumentalidad de Europa

| 535

| 2018

occidental lo que demanda la realizacioacuten de futuros proyectos de investigacioacuten sistemaacuteticos Sin embargo esta relevancia no encuentra una correspondencia al mismo nivel en el aacutembito de la tutela patrimonial existiendo en la actualidad carencias y deficiencias que pueden provocar un efecto contrario a las premisas de partida de la propia Ruta Dolmeacutenica es decir una desvalorizacioacuten patrimo-nial y social (Linares Catela 2015)En materia de proteccioacuten se precisa un inventario o cataacutelogo actualizado que recoja la totalidad de los sitios conocidos en el que se establezcan las medidas de salvaguarda necesarias dado que en la actualidad soacutelo estaacuten legalmente declarados y protegidos escasos conjuntos y sitios Soto El Pozuelo y los mon-umentos de la Sierra de Huelva En el terreno de la conservacioacuten urge la real-izacioacuten de labores de mantenimiento de forma perioacutedica de los sitios visitables debiendo realizarse trabajos de conservacioacuten preventiva que palien el deterioro natural y los dantildeos generados por usos inadecuados por parte de grandes gru-pos de excursionistas y de ciudadanos desaprensivos Respecto a la gestioacuten el uacutenico enclave arqueoloacutegico de megalitismo con oacutergano de administracioacuten en la provincia es el Dolmen de Soto siendo responsable el ayuntamiento de Trigueros Este sitio presenta carencias por cuanto las acciones se centran en la promocioacuten turiacutestica del dolmen y del municipio a pesar de ser uno de los monu-mentos maacutes excepcionales de la Peniacutensula Ibeacuterica Para superar estas limitaciones seriacutea preciso contar con un oacutergano competente y capacitado a escala provincial comarcal o intermunicipal formado por un equipo de especialistas dedicado a la gestioacuten integral de los sitios megaliacuteticos Una posibilidad seriacutea contar con un Conjunto Arqueoloacutegico desde el que se ar-ticulasen las actuaciones de investigacioacuten conservacioacuten difusioacuten valorizacioacuten social y reacutegimen de visitas de los sitios megaliacuteticos

BIBLIOGRAFIacuteACABRERO Rosario (1978) - El conjunto megaliacutetico de los Gabrieles Huelva Arqueoloacutegica IV pp79-143BUENO Primitiva de BALBIacuteN Rodrigo BARROSO Rosa (2013) - Siacutembolos para los muertos siacutembolos para los vivos Arte megaliacutetico en Andaluciacutea In Martiacutenez J Hernaacutendez MS eds - Arte rupestre esquemaacutetico en la Peniacutensula Ibeacuterica Actas del II Congreso de comarca de los Veacutelez 5-8 de mayo de 2010 Almeriacutea Ayuntamiento de Veacutelez Blanco pp 25-47BUENO Primitiva de BALBIacuteN Rodrigo BARROSO Rosa (2014) - Custodian bones human images in the megalitismo of the Southern Iberian Peninsula In Cruz A Cerrillo-Cuenca E Bueno P Caninas JC Batata C eds - Rendering Death Ideological an Archaeological Nar-ratives from Recent Prehistory (Iberia) BAR International Series 2648 Oxford Archaeopress pp 3-12BUENO Primitiva de BALBIacuteN Rodrigo BARROSO Rosa (2015) - Human images images of ancestors identity images The south of the Iberian Peninsula In Rodriacuteguez G Marchesi H

536 |

eds - Statues-menhirs et pierres leveacutees du Neacuteolithique agrave audjhourdrsquohui Actes du 3e colloque international sur la statuarie meacutegalithique Saint-Pons-de-Thomiegraveres Saint-Pons-de-Thom-iegraveres GASP pp 443-455CARRERA Fernando (2002) - Sugerencias para la preservacioacuten del patrimonio megaliacutetico MINIUS IX pp47-70CARRERA Fernando (2008) - Tras la bruma Megalitos difusioacuten y conservacioacuten en el noroeste de Espantildea In Garciacutea Sanjuaacuten L coord - Patrimonio megaliacutetico maacutes allaacute de los liacutemites de la Prehistoria Revista PH 67 Sevilla Junta de Andaluciacutea pp134-141CARRERA Fernando (2011) - El arte parietal en monumentos megaliacutetico del Noroeste Pen-insular Dimensioacuten del fenoacutemeno y propuestas de conservacioacuten BAR International Series 2190 Oxford ArchaeopressCERDAacuteN Carlos LEISNER Georg LEISNER Vera (1952) - Los sepulcros megaliacuteticos de Huel-va Informes y Memorias de la Comisariacutea de Excavaciones Arqueoloacutegicas 26 Madrid Minis-terio de Educacioacuten NacionalFONDEVILLA Juan Joseacute RASTROJO LUNAR Francisco Javier (2009) - La patrimonializacioacuten del megalitismo en el Andeacutevalo Revista PH 70 paacuteg 62GARCIacuteA SANJUAacuteN Leonardo RIVERA Timoteo WHEATLEY David (2006) - Prospeccioacuten de superficie y documentacioacuten graacutefica en el Dolmen del Llano de la Belleza (Aroche Huelva) Anuario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea2003 vol III 181-192GARCIacuteA SANJUAacuteN Leonardo WEATHLEY David COSTA CARAMEacute Manuel (2011) - The nu-merical chronology of the megalithic phenomenon in southern Spain progress and problems In Garciacutea Sanjuaacuten L Scarre C Weathley D eds - Exploring Time and Matter in Prehistoric Monuments Absolute Chronology and Rare Rocks in European Megaliths Proceedings of the 2nd European Megalithic Studies Group Meeting (Seville Spain November 2008) Menga RPAM 01 Sevilla Junta de Andaluciacutea pp 121-157LEISNER Georg LEISNER Vera (1943) - Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Suden Roumlmisch Germanische Forschungen Band 17 Berliacuten Walter de Gruyter amp CoLEISNER Georg LEISNER Vera (1956) - Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Madrider Forschungen Band 1 Berliacuten Walter de Gruyter amp CoLEISNER Georg LEISNER Vera (1959) - Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Madrider Forschungen Band 12 Berliacuten Walter de Gruyter amp CoLINARES CATELA Joseacute Antonio (2006) - Documentacioacuten consolidacioacuten y puesta en valor del Conjunto Dolmeacutenico de Los Gabrieles (Valverde del Camino Huelva) 2ordf Fase Anuario Arque-oloacutegico de Andaluciacutea2003 vol III pp 200-214LINARES CATELA Joseacute Antonio (2010a) - El ciacuterculo megaliacutetico de la Pasada del Abad (Rosal de la Frontera Huelva) El megalitismo no funerario de la rivera del Chanza In Peacuterez Maciacuteas JA Romero Bomba E eds - Actas del IV Encuentro de Arqueologiacutea de Suroeste Peninsular (Aracena 2008) Huelva Universidad de Huelva pp 174-208LINARES CATELA Joseacute Antonio (2010b) - Anaacutelisis arquitectoacutenico y territorial de los conjun-tos megaliacuteticos de Los Gabrieles (Valverde del Camino) y El Gallego-Hornueco (Berrocal-El Madrontildeo) El megalitismo en el Andeacutevalo oriental In Peacuterez Maciacuteas JA Romero Bomba E eds - Actas del IV Encuentro de Arqueologiacutea de Suroeste Peninsular (Aracena 2008) Huelva Universidad de Huelva pp 209-248LINARES CATELA Joseacute Antonio (2010c) - Puesta en valor de los Doacutelmenes de Berrocal (Huel-va) II prospecciones arqueoloacutegicas de superficie y anaacutelisis territorial de los monumentos megaliacuteticos Anuario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea2006 Huelva pp 2321-2339

| 537

| 2018

LINARES CATELA Joseacute Antonio (2010d) - Puesta en valor de los Doacutelmenes de Berrocal (Huel-va) I excavaciones arqueoloacutegicas y obras de consolidacioacuten Anuario Arqueoloacutegico de Andalu-ciacutea 2006 Huelva pp 2193-2217LINARES CATELA Joseacute Antonio (2011) - Guiacutea del megalitismo en la provincia de Huelva Terri-torios paisajes y arquitecturas megaliacuteticas Madrid Junta de Andaluciacutea-SMLINARES CATELA Joseacute Antonio (2012) - El megalitismo en la provincia de Huelva El legado de la arquitectura megaliacutetica en el suroeste peninsular Itinerarios de un paisaje cultural simboacuteli-co Sevilla Junta de AndaluciacuteaLINARES CATELA Joseacute Antonio (2013) - La puesta en valor de los monumentos megaliacuteticos del Andeacutevalo oriental (Huelva) Criterios arqueoloacutegicos de intervencioacuten y conservacioacuten In de Haro J Garciacutea Rincoacuten JM Goacutemez Toscano F Linares Catela JA coord - Arqueologiacutea en la provincia de Huelva Homenaje a Javier Rastrojo Lunar Huelva Universidad de Huelva pp 299-316LINARES CATELA JA (2014) - Guiacutea del megalitismo en la provincia de Huelva Una visioacuten de los territorios paisajes y arquitecturas para la difusioacuten del patrimonio megaliacutetico In Garciacutea Alfonso E ed - Movilidad Contacto y Cambio II Congreso de Prehistoria de Andaluciacutea Sevilla Junta de Andaluciacutea pp 499-507LINARES CATELA Joseacute Antonio (2015) - La Ruta Dolmeacutenica de Huelva iquestValorizacioacuten social del patrimonio megaliacutetico Andaluciacutea en la Historia 48 pp96-97LINARES CATELA Joseacute Antonio (2016) - The megalithic architecture of Huelva (Spain) typolo-gy construction and technical traditions in eastern Andeacutevalo In Laporte L Scarre C eds - The Megalithic Architectures of Europe Oxford Oxbow Books pp 111-126LINARES CATELA Joseacute Antonio (2017) - El megalitismo en el sur de la Peninsula Ibeacuterica Ar-quitectura construccioacuten y usos de los monumentos del area de Huelva Andaluciacutea occidental Tesis doctoral Universidad de Huelva-Universiteacute de Rennes 1 IneacuteditaLINARES CATELA Joseacute Antonio GARCIacuteA SANJUAacuteN Leonardo (2010) - Contribuciones a la cronologiacutea absoluta del megalitismo andaluz Nuevas fechas radiocarboacutenicas de sitios megaliacuteticos del Andeacutevalo oriental (Huelva) Menga Revista de prehistoria de Andaluciacutea 01 pp 135-151LINARES CATELA Joseacute Antonio MORA MOLINA Coronada (2015) - El dolmen de Soto Una construccioacuten megaliacutetica monumental de la Prehistoria Reciente de la Peniacutensula Ibeacuterica Re-vista PH 88 pp 102-109LINARES CATELA Joseacute Antonio VERA RODRIacuteGUEZ Juan Carlos (2015) - La necroacutepolis del III milenio de El Seminario (Huelva) Organizacioacuten espacial contextos y praacutecticas funerarias In Rocha L Bueno Ramiacuterez P Branco G eds- Death as Archaeology of Transition Thoughts and Materials BAR International Series 2708 Archaeopress Oxford pp 275-290LINARES CATELA David LINARES CATELA Joseacute Antonio LOZANO Francisco Ramoacuten BARRE-RA Joseacute Antonio PALLARES Viacutector (2013) - Topografiacutea de vanguardia en los levantamientos de los yacimientos megaliacuteticos Estrategias para el conocimiento Meacutetodos Virtual Archaeolo-gy Review VAR 4 (8) pp125-129NOCETE Francisco LIZCANO Rafael BOLANtildeOS Carlos (1999) - Maacutes que grandes piedras Patrimonio Arqueologiacutea e Historia desde la Primera Fase del programa de puesta en valor del Conjunto Megaliacutetico de El Pozuelo (Zalamea la Real Huelva) Sevilla Junta de AndaluciacuteaNOCETE Francisco LIZCANO Rafael NIETO Joseacute Miguel SAacuteEZ Reinaldo LINARES Joseacute Antonio ORIHUELA Antonio RODRIacuteGUEZ Mariacutea Oliva (2004) - El desarrollo del proceso in-terno el territorio megaliacutetico en el Andeacutevalo orientalrdquo In Nocete F coord - Odiel Proyecto de

538 |

investigacioacuten arqueoloacutegica para el anaacutelisis del origen de la desigualdad social en el Suroeste de la Peniacutensula Ibeacuterica Monografiacuteas de Arqueologiacutea Sevilla Junta de Andaluciacutea pp 47-77 NOCETE Francisco PERAMO Ana (2010) - More than big stones Peripherical and confined or resistant lineage societies in the pristine class-society territorial framework of the south-west-ern iberian peninsula (2900-2000 BC) In Calado D Baldia M Boulanger M eds - Monu-mental Questions Prehistoric Megaliths Mounds and Enclosures BAR International Series 2122 Oxford Archaeopress pp 71-82PINtildeOacuteN VARELA Fernando (1987) - Constructores de sepulcros megaliacuteticos en Huelva prob-lemas de una implantacioacuten El Megalitismo en la Peniacutensula Ibeacuterica Madrid Ministerio de Cul-tura pp 45-72PINtildeOacuteN VARELA Fernando (2004) - El horizonte cultural megaliacutetico en el aacuterea de Huelva Monografiacuteas de Arqueologiacutea Sevilla Junta de Andaluciacutea

| 539

| 2018

BASES PARA EL ESTUDIO DE LOS RITUALES DE COMENSALIDAD EN LAS SEPULTURAS MEGALIacuteTICAS DE LA PENIacuteNSULA IBEacuteRICA

BASES PARA O ESTUDO DOS RITUAIS DE COMENALIDADE NAS SEPULTURAS MEGALIacuteTICAS DA PENIacuteNSULA IBEacuteRICA

Estefaniacutea Carrillo Vaacutezquez

RESUMENEn las estructuras funerarias megaliacuteticas es frecuente hallar indicios sobre determinados rituales de comensalidad Partimos del anaacutelisis del propio concepto y del significado dado por los diversos autores que se han dedicado a su estudio Analizamos los diversos elementos que pueden llevarnos a identificarlos tales como la presencia de determi-nadas ceraacutemicas macrorestos vegetales restos oacuteseos de fauna resi- duos de materia orgaacutenica etc Finalmente contextualizamos los diversos indicios de este tipo de ritual con el propoacutesito de situarlos geograacutefica y cronoloacutegicamentePALABRAS CLAVE Megalitismo Comensalidad Rituales funerarios Pre-historia Reciente

RESUMONas estruturas funeraacuterias megaliacuteticas eacute comum encontrar indicaccedilotildees so-bre certos rituais comensais Partimos da anaacutelise do proacuteprio conceito e do significado dado pelos vaacuterios autores que se dedicaram ao seu estudo Analisamos os vaacuterios elementos que podem nos levar a identificaacute-los como a presenccedila de certas ceracircmicas macrorestos vegetais restos de esqueletos de fauna resiacuteduos de mateacuteria orgacircnica etc Por fim contextualizamos as diversas indicaccedilotildees desse tipo de ritual com o propoacutesito de localizaacute-las geograficamente e cronologicamente PALAVRAS-CHAVE Megalitismo Comensalidade Rituais Funeraacuterios Preacute-Histoacuteria Recente

1 INTRODUCCIOacuteNComer y beber es algo baacutesico para la supervivencia pero los humanos han tenido la gran capacidad de a traveacutes del simbolismo convertirlo en un aspecto muy importante para ciertos aspectos teniendo como ejem-

540 |

plo los banquetes funerariosEs la comunidad que realiza este tipo de ritual quien condiciona el uso de ciertos alimentos y bebidas Ello parece estar condicionado por di-versos motivos pero es la propia disponibilidad de estos manjares es decir la dificultad o no de su obtencioacuten lo que les da la posibilidad de ser considerados como elementos de prestigio (Viola 2008) Estos festines rituales supondraacuten la creacioacuten de ciertos viacutenculos entre aquellos que re-ciben y los que ofrecen estas comidas y tambieacuten surgiraacuten las relaciones de poder por la exhibicioacuten del poder en lo que se refiere a los alimentos y bebidas ofrecidos y en como se ofrecen (Mintz y Du Bois 2002 Delgado Hervaacutes 2008)En la Prehistoria reciente tenemos documentados banquetes ligados a rituales funerarios pero tambieacuten existen indicios en contextos habitacio-nales o lugares de culto aunque son maacutes complicados de identificar de-bido a las limpiezas ciacuteclicas de la zona A pesar de ello estos rituales han sido estudiados principalmente a partir de la informacioacuten etnograacutefica aunque en la actualidad con la mejora de las teacutecnicas aplicadas a la ar-queologiacutea vemos como se han documentado muchas praacutecticas ligadas al consumo de carne en sepulturas hecho que en un principio pasaba desapercibido (Aranda y Esquivel 2006 2007 Sardagrave 2010)Estos rituales de comensalidad quedan recogidos en el registro arqueo- loacutegico ya que el desarrollo de esta actividad deja una serie de resi- duos que quedan depositados en los recipientes utilizados como con-tenedores ya sean ceraacutemicos o metaacutelicos o bien restos fauniacutesticos de los que hablaremos maacutes adelante (Andreacutes 2005 Aranda y Esquivel 2006 Sardagrave 2010)Debemos tener en cuenta que en muchas ocasiones estos objetos pueden aparecer fragmentados lo que nos posibilita a plantear la hipoacutete-sis de que fueron fracturados de forma intencionada como un acto sim-boacutelico con el fin de evitar la reutilizacioacuten posterior de estos recipientes (Armada y Vilaccedila 2016)

2 FUENTES PARA LA DOCUMENTACIOacuteN DEL RITUAL DE COMENSAL-IDADPara identificar un ritual de comensalidad debemos tener en cuenta una serie de factores o caracteriacutesticas Fundamentalmente a partir del regis-tro arqueoloacutegico es donde podemosencontrar una mayor y mejor informacioacuten Es sobre todo a partir de la va-jilla empleada en estos rituales sobre todo la ceraacutemcia de la que pode-

| 541

| 2018

mos obtener informacioacuten sobre todo si tenemos la posibilidad de anali-zar sus contenidosLa ceraacutemica es uno de los materiales maacutes abundantemente documentados en un yacimiento Este material debido principalmente a las caracteriacutesticas fiacutesicas que presenta es decir su fragilidad genera gran cantidad de depoacutesitos ceraacutemicos Desde que hace su aparicioacuten en la etapa neoliacutetica vinculada a unas determinadas actividades relacionadas con la domesticacioacuten de plan-tas y animales ademaacutes de la necesidad de recipientes para las actividades culinarias consumo y almacenamiento de los alimentos (soacutelidos o liacutequidos)Como sabemos existe una gran variedad de tipos de estudio para la ceraacutemica como la tipologiacutea ceraacutemica el estudio de las pastas y desgrasantes la funcio-nalidad pero para nuestro caso de estudio es muy importante el anaacutelisis de contenidos ceraacutemicos por el cual podemos ver el producto que conteniacutea esta ceraacutemica (Eiroa 2009 Renfrew 2011) La teacutecnica maacutes efectiva para realizar estas analiacuteticas de contenidos es la cromatografiacutea de gases combinada con otras teacutecnicas isotoacutepicas (Inserra 2016)Pero a la hora de la aplicacioacuten de este tipo de teacutecnicas debemos tener en cuen-ta el concepto de biomarcador arqueoloacutegico basado en la idea de Evershed Estos biomarcadores que podemos ver en la tabla 1 son las huellas que de-

Fig 1 Tabla 1 Biomarcadores arqueoloacutegicos

542 |

jan los elementos orgaacutenicos en las paredes de la ceraacutemica cosa que se puede comparar con la de sustancias actuales A pesar de poder identificarlos estos biomarcadores pueden llegar a desaparecer debido a las caracteriacutesticas que presenta la sustancia orgaacutenica misma o por otros procesos de degradacioacuten como son la limpieza del recipiente o el propio entorno en el que se encuentra la pieza (Molina 2015 Inserra 2016)En primer lugar podemos hablar de la ionizacioacuten de llama (GC-FID) a traveacutes de la cual se puede llevar a cabo una primera identificacioacuten de los contenidos El siguiente paso es la realizacioacuten de la cromatografiacutea de gases acoplada a un espectroacutemetro de masas (GCMS) por la cual se pueden detectar liacutepidos en las paredes de la ceraacutemica En el caso de que esto no funcione se puede recurrir a la espectrometriacutea de masas de relaciones isotoacutepicas (GC-C-IRMS) a traveacutes de la cual se pueden detectarlos aacutecidos grasos de aceites y grasas y los sistemas metaboacutelicos de estos (Molina 2015 Inserra 2016)A pesar de contar con estas pautas para la identificacioacuten se debe te- ner en cuenta que la presencia de una sustancia concreta es difiacutecil de de-terminar de una forma rotunda ya que puede haber una falta de da-tos para su interpretacioacuten asiacute como haberse producido los procesos de degradacioacuten antes mencionados y la acumulacioacuten de varios biomarcadores por la utilizacioacuten reiterada del recipiente (Molina 2015)Otro de los indicadores para la identificacioacuten de nuestro ritual es la presen-cia de huesos de animales ya que evidenciaraacuten el consumo de carne Estos animales eran sacrificados como ofrendas pudiendo ver en el estudio de sus huesos el meacutetodo por el que fueron sacrificados a traveacutes de las marcas de corte o ausencia de ellas Lo que siacute debemos diferenciar es entre ofrenda simboacutelica y los restos de un banquete funerario ya que presentan caracteriacutesti-cas distintas Cuando hablamos de una ofrenda simboacutelica nos referimos a las que fueron depositadas con un significado especial y por tanto los animales pueden aparecer en conexioacuten anatoacutemica o partes especialmente selecciona-das como la cabeza pezuntildeas cornamentas etc Sim embargo cuando se trata de los restos de un banquete los restos de animales no apareceraacuten en conexioacuten sino fragmentados ademaacutes de presentar algunas marcas de corte A veces tales actividades pueden aparecer en las tumbas en las proximidades del difunto (Albizuri Canadell 2011)

3 EJEMPLOS DE RITUALES DE COMENSALIDAD EN CONSTRUC-CIONES MEGALIacuteTICAS EN LA PENIacuteNSULA IBEacuteRICAA continuacioacuten se expondraacuten algunos ejemplos de este tipo de este tipo de ritual en algunos yacimientos de la Peniacutensula Ibeacuterica pero se debe

| 543

| 2018

tener en cuenta que no son los uacutenicosLas necroacutepolis megaliacuteticas hicieron su aparicioacuten en la eacutepoca neoliacutetica con la aparicioacuten de las economiacuteas productoras y fueron utilizados en eacutepocas posteriores como la Calcoliacutetica e incluso en algunas zonas llega-ron a usarse hasta la Edad del Bronce (Barandiaraacuten et al 2015)Un ejemplo donde se ha documentado este tipo de ritual es en la necroacutepo-lis documentada en el Valle de Higueras fechada en eacutepoca Calcoliacutetica y con una reutilizacioacuten en el horizonte Campaniforme Esta necroacutepolis consta de una serie de enterramientos en hipogeos de caraacutecter muacuteltiple en los que se encontraron individuos de todas las edades sobre camas de piedra y delimitados por su ajuar el cual variaraacute de unos a otros tanto en cantidad como en calidad marcando asiacute la diferenciacioacuten social (Bue-no Barroso y de Balbiacuten 2007)El ajuar depositado en estas tumbas es muy variado encontrando desde conchas y cuentas de collar o piezas liacuteticas a ofrendas de comidas y bebidas relacionaacutendose estas con los restos de banquetes funerarios y las ofrendas que estos supusieron De esta necroacutepolis se han realizado anaacutelisis de contenidos de los ajuares campaniformes entre los que se encuentran un cuenco liso de la estructura 3b en el que se ha documen-tado los biomarcadores de lo que pareceser cerveza de cebada De la tumba 3ordf se han documentado en los reci- pientes la presencia de grasa animal en uno y en otro la presencia de una bebida tipo hidromiel (Guerra 2006 Bueno Barroso y de Balbiacuten 2007 Rojo Garrido y Garcia-Martiacutenez de Lagraacuten 2008)Otro ejemplo lo tenemos en la necroacutepolis megaliacutetica de Paraje de Monte Bajo en Alcalaacute de los Gazules Caacutediz Aquiacute se documentaron 4 estructu-ras de caraacutecter mixto semiexcavadas en la roca y con la utilizacioacuten de ortostatos para la separacioacuten del corredor y la caacutemara Estaacuten fechadas entre el IV y III milenio aC El ritual de enterramiento que se documentoacute en esta necroacutepolis es de caraacutecter colectivo y secundario observando en estos el paso de las sociedades de comunidades tribales a sociedades jerarquizadas Ademaacutes se observa el uso del ocre en todas ellas ligados tanto a ajuares como a los cuerpos (Lazarich 2007 Lazarich Bricentildeo et al 2009 Lazarich Valetiacuten et al 2009 Bricentildeo Lazarich y Fellu 2011 Lazarich et al 2011 2013)De la estructura que los excavadores denominaron E2 se encontraron maacutes de 60 individuos pero se documentoacute la presencia de dos perros que fueron enterrados en primer lugar siguiendo el patroacuten de ofrenda simboacutelica y asociaacutendose a proteccioacuten y compantildeiacutea de los difuntos Tam-

544 |

bieacuten se documentoacute en esta sepultura la presencia de un ritual de cierre el cual presentaba la presencia de dos cazuelas carenadas en la que se documentoacute una sustancia orgaacutenica de aspecto grasiento aunque to-daviacutea no ha podido ser analizada Otro detalle curioso de esta tumba es que se encontraron pequentildeos trozos de ceraacutemica ligados a los cuerpos presentando una fragmentacioacuten intencionada y pudieacutendose interpretar como la ceraacutemica utilizada en los rituales previos al enterramiento del difunto y siendo este fragmento depositado de forma simboacutelica (Lazarich 2007 Lazarich Bricentildeo et al 2009 Lazarich Valetiacuten et al 2009 Lazarich et al 2015)En la tumba E4 se documentaron 8 individuos y una reutilizacioacuten en el horizonte Campaniforme de un varoacuten Como ajuar ceraacutemico se do- cumentoacute la presencia de una fuente campaniforme de borde biselado con decoracioacuten incisa perteneciente a la reutilizacioacuten asiacute como platos de borde almendrado vasijas globulares y cuencos y como ajuar caacuterni-co se vio la presencia de fauna de la zona tanto salvaje (ciervo) como domeacutestica (boacutevidos y ovicaacutepridos) ademaacutes de productos liacuteticos diversos (Lazarich 2007 Lazarich et al 2011)Tambieacuten en la provincia de Caacutediz se ha documentado otra necroacutepolis ligada al megalitismo estando fechada en el traacutensito de la Edad del Co-bre al Bronce Se trata de la necroacutepolis de Los Algarbes en Tarifa donde las construcciones son mixtas excavadas en laroca y con ortostatos en el caso de la Estructura 1 mientras que el resto son cuevas artificiales maacutes o menos complejas En esta necroacutepolis se han documentado diversos ajuares que concuerdan con nuestro estudio como la presencia de fauna boacutevidos y ovicaacutepridos asiacute como malacofau-na y ofrendas ceraacutemicas relacionadas con el consumo y almacenaje de alimentos como cuencos vasijas globulares o platos Tambieacuten se doc-umentoacute otro tipo de ajuar como una industria liacutetica de grandes dimen-siones cuentas de collar y objetos metaacutelicos como alabardas o anillos Esta necroacutepolis estaacute siendo revisada en la actualidad y llevaacutendose a cabo nuevos trabajos de excavacioacuten para una mejor informacioacuten de sus caracte- riacutesticas (Castantildeeda Garciacutea Jimeacutenez y Prados 2009)El Tholos de las Canteras en Sevilla seraacute otro ejemplo a pesar de encontrarse expoliado en gran medida Este tholos estaacute fechado en eacutepo-ca Calcoliacutetica y con una reutilizacioacuten en el Campaniforme Ademaacutes acop-lados a este se documentaron una serie de covachas individuales siendo consideradas como estructuras parasitarias En este tholos se documen-taron la presencia de ceraacutemica variada asiacute como la ofrenda caacuternica de

| 545

| 2018

un suido y tambieacuten puntas de flecha cuentas de collar y una laacutemina de oro repujada En la zona exterior se documentoacute la presencia de una zanja en la que tambieacuten se llevoacute a cabo la excavacioacuten de diversos ma-teriales y por ello se le atribuye un caraacutecter ritual (Hurtado y de Amores 1984)El uacuteltimo de los ejemplos lo encontramos en Portugal en el yacimiento de Torre Velha 3 donde se documentoacute un campo de hoyos de eacutepoca Calcoliacutetica con una reutilizacioacuten en el Bronce Pleno De esta uacuteltima eacutepo-ca son los 25 hipogeos documentados los cuales contaraacuten con una ti-pologiacutea variada pero que tienen en comuacuten la presencia de un atrio una antecaacutemara donde se realizaban los rituales y la caacutemara funeraria (Alves et al 2010)Un ejemplo de nuestro ritual en esta necroacutepolis es en el hipogeo denomi-nado [1298] ndash [1695] nuacutemeros que corresponden a la antecaacutemara y a la caacutemara respectivamente En eacutel se localizoacute un uacutenico individuo acompantildea-do de un punzoacuten de cobre un puntildeal de ribetes tres vasos ceraacutemicos y una ofrenda caacuternica procedente del banquete En lo que se refiere a las ofrendas caacuternicas de esta necroacutepolis vemos que aparecieron en 10 de los hipogeos que se documentaron siendo en 9 ocasiones boacutevidos y en soacutelo en uno ovicaacuteprido apareciendo la parte distal de las patas delan-teras y con marcas de procesado (Ibiacutedem)

4 CONCLUSIOacuteNEn primer lugar podemos ver la gran capacidad que tiene el ser humano llegar a dar simbolismo a actos tan rutinarios como es el comer o beber cosa que se puede comprobar desde eacutepoca prehistoacutericaCuando hacemos referencia a los rituales de comensalidad vemos como existen una serie de pautas las cuales hacen maacutes sencillas la identifi-cacioacuten de este tipo de rituales Pero lo primero que debemos tener en cuenta es la diferenciacioacuten entre ofrenda simboacutelica y de resto de ban-quetes cosa que se puede ver a traveacutes de las caracteriacutesticas que presen-tan los objetos documentados en la excavacioacutenCuando hablamos de la ceraacutemica vemos que es uno de los restos maacutes documentados en un yacimiento y que es uno de los elementos que ca- racterizan a estos rituales de comensalidad Presentan una forma estaacuten-dar a la hora de la fabricacioacuten pero esto entraraacute tambieacuten a jugar un papel importante a la hora de su utilizacioacuten ya que las mejor elaboradas son las que utilizan las clases maacutes pudientesCon respecto a la ceraacutemica vemos coacutemo pueden utilizarse otros medios

546 |

para la asociacioacuten de estos recipientes a un banquete ritual como son las analiacuteticas de contenidos orgaacutenicos por medio de la cromatografiacutea de gases y otras teacutecnicas adosadas a estas A pesar de ello podemos ver como son pocos los casos en los que se han llevado a cabo este tipo de analiacuteticas pudiendo deberse esto a factores diversos como econoacutemicos o incluso el desconocimiento de ellasTambieacuten podemos ver como existen otro tipo de contenedores como los metaacutelicos los cuales aparecen siempre muy fragmentados y asociados a poblados pero cuando los encontramos asociados a un enterramiento denotaraacute el estatus social de la persona ya que el bronce es un material de prestigio en esta eacutepocaYa en relacioacuten con el consumo de carne destacar la presencia de utensi- lios como los ganchos o los asadores metaacutelicos los cuales no han sido estudiados en profundidad pero que se relacionaraacuten con estos banque- tes rituales Tambieacuten relacionado con este consumo de carne estaacute la pre- sencia de huesos de animales de los cuales podemos ver como existe una relacioacuten entre la eleccioacuten del animal y el estatus de la persona enter-rada Otra cosa que se observa es la eleccioacuten de partes del animal con un gran potencial caacuternico para la ofrenda cosa muy simboacutelica ya que puede relacionarse con la alimentacioacuten del muerto para el viaje al maacutes allaacuteVemos como en los contextos estudiados podemos decir que los objetos documentados nos ayudan de forma general a afirmar la hipoacutetesis de nuestro trabajo centrada en la localizacioacuten de los elementos comunes para la identificacioacuten de este tipo de ritualesComo conclusioacuten general sobre el tema se puede decir que el mundo de los muertos es algo que ha preocupado a la humanidad desde muy temprano tanto en la construccioacuten de monumentos como con las praacutecti-cas funerarias que se asocian a las diferentes culturas que han pasado a lo largo de la historia En relacioacuten a los banquetes funerarios se puede decir que estas praacutecticas han perdurado hasta hoy diacutea como podemos ver en muchas culturas religiosas como el Diacutea de los Muertos en Meacutexico o las comidas para atender asuntos de negocios o celebraciones familia- res

BIBLIOGRAFIacuteAALBIZURI CANADELL S (2011) Animales sacrificados para el cortejo funebre duran-te el bronce inicial (2300-1300 BC) El asentamiento de Can Roqueta II (Sabadell Barcelona) Quaderns de Prehistograveria i Arqueologia de Castelloacute 29 p 7ndash26ALVES C COSTEIRA C ESTRELA S MONGE SOARES AM MORENO-GARCIacuteA M y PORFIRIO E (2010) Hipogeus funeraacuterios do Bronze pleno da Torre Velha 3 (Serpa

| 547

| 2018

Portugal) O sudeste no sudoeste Zephyrus 3(66) p 133ndash153ANDREacuteS RUPEacuteREZ M T (2005) Concepto y anaacutelisis del cambio cultural su percepcioacuten en la materia funeraria del Neoliacutetico y Eneoliacutetico Universidad de Zaragoza ZaragozaARANDA JIMEacuteNEZ G y ESQUIVEL GUERRERO J A (2006b) Ritual funerario y comen-salidad en las sociedades de la Edad del Bronce del Sureste Peninsular la Cultura del Argar Trabajos de Prehistoria 63 p 117ndash133 doi 103989tp2006v63i220ARANDA JIMEacuteNEZ G y ESQUIVEL GUERRERO J A (2007) Poder y prestigio en las so-ciedades de la cultura de el Argar El consumo comunal de boacutevidos y ovicaacutepridos en los rituales de enterramiento Trabajos de Prehistoria 64 p 95ndash118 doi 103989tp2007v64i2111ARMADA PITA X L (2008) iquestCarne drogas o alcohol Calderos y banquetes en el Bronce Final en la Peniacutensula Ibeacuterica Cuadernos de Prehistoria y Arqueologiacutea de la Universidad de Granada 18(0211-3228) p 125ndash162ARMADA X-L y VILACcedilA R (2016) Rituales de comensalidad en el Bronce Final de la Iberia atlaacutentica artefactos metaacutelicos contextos e interpretacioacuten en Vilaccedila R y Serra M (eds) To feed the body to nourish the soul to create sociability Food and commensality in pre and protohistoric societies Coimbra p 127ndash157BARANDIARAacuteN I et al (2015) Prehistoria de la Peniacutensula Ibeacuterica Ariel Historia Bar-celonaBRICENtildeO BRICENtildeO E M LAZARICH GONZAacuteLEZ M y FELLU ORTEGA M J (2011) Polvo rojo para los difuntos La utilizacioacuten de los ocres en la necroacutepolis de Paraje de Monte Bajo (Alcalaacute de los Gazules Caacutediz) Memorial Luis Siret I Congreso dePrehistoria de Andaluciacutea p 587ndash590BUENO RAMIacuteREZ P BARROSO BERMEJO R y de BALBIacuteN BEHRMANN R (2007) Campaniforme en las construcciones hipogeas del megalitismo reciente al interior de la peniacutensula ibeacuterica Veleia Revista de Prehistoria Historia Antigua Arqueologiacutea y Filologiacutea Claacutesicas (24ndash25) p 771ndash790CASTANtildeEDA FERNAacuteNDEZ V GARCIacuteA JIMEacuteNEZ I y PRADOS MARTIacuteNEZ F (2009) Arqueologiacutea de la Muerte en el campo de Gibraltar De los Algarbes a Baelo Claudia Almoraina 39 p 443ndash456DELGADO HERVAacuteS A (2008) Alimentos poder e identidad en las comunidades fe-nicias occidentales Cuadernos de Prehistoria de la Universidad de Granada 18 p 163ndash188EIROA J J (2009) Nociones de Prehistoria general Ariel Prehistoria BarcelonaGARRIDO-PENA R (2012) Alcohol prestigio y poder ritos de comensalidad en el Campaniforme del interior peninsular (2500-2000 aC) De la cocina y sus ingredien-tes a la mesa y sus rituales Desde los oriacutegenes hasta las tradiciones populares en la Peniacutensula Ibeacuterica2 47 p 47ndash59GUERRA DOCE E (2006) Sobre la funcioacuten y el significado de la ceraacutemica campani-forme a la luz de los anaacutelisis de contenidos Trabajos de Prehistoria 63(1) p 69ndash84GUERRA DOCE E (2014) Alcohol y drogas en las ceremonias funerarias de la prehis-toria La muerte en la prehistoria Casos de estudio p 125ndash136HURTADO PEacuteREZ V y de AMORES CARREDANO F (1984) El tholos de Las Canteras y los enterramientos del Bronce en la necroacutepolis de El Gandul (Alcalaacute de Guadaira Sevilla) Cuadernos de Prehistoria y Arqueologiacutea de la Universidad de Granada 9(1) p 147ndash174INSERRA F (2016) Alimentacioacuten en el nordeste de la peniacutensula ibeacuterica durante la An-

548 |

tiguumledad Tardiacutea a traveacutes del anaacutelisis de residuos orgaacutenicos en ceraacutemica Universidad de Barcelona Tesis doctoralLAZARICH GONZAacuteLEZ M (2007) La Necroacutepolis de Paraje de Monte Bajo (Alcalaacute de los gazules Caacutediz) Un acercamiento al conocimiento de las praacutecticas funerarias pre-histoacutericas Servicio de publicaciones de la Universidad de Caacutediz CaacutedizLAZARICH M BRICENtildeO E RAMOS A CARRERAS A FERNAacuteNDEZ JV JENKINS V FELIU MJ VERSACI M TORRES F RICHARTE MJ PERALTA P MESA M NUacuteNtildeEZ M STRATTON S SAacuteNCHEZ M y GRILLEacute JM (2009) La necroacutepolis colec-tiva en cuevas artificiales de paraje de Monte Bajo (Alcalaacute de los Gazules Caacutediz) IV Encuentro de Arqueologiacutea del Suroeste Peninsular p 193ndash203LAZARICH M VALETIacuteN FERNAacuteNDEZ DE LA GALA J JENKINS V BRICENtildeO E RA-MOS A RICHARTE MJ CARRERAS AM NUacuteNtildeEZ M VERSACI M STRATTON S SAacuteNCHEZ M y GRILLEacute JM (2009) Paraje de Monte Bajo (Alcalaacute de los Gazules) Una nueva necroacutepolis de cuevas artificiales en el sur de la provincia de Caacutediz Almo-raima 39 p 67ndash83LAZARICH M RAMOS A CARRERAS AM BRICENtildeO E FERNAacuteNDEZ DE LA GALA JV RICHARTE MJ NUacuteNtildeEZ M y VERSACI M (2011) Contribucioacuten al conocimiento de las costumbres funerarias del III y II milenios A C en la BajaAndaluciacutea la necroacutepolis de Paraje de Monte Bajo Memorial Luis Siret I Congreso de Prehistoria de Andaluciacutea p 557ndash560LAZARICH M RAMOS A BRICENtildeO E CRUZ MJ y SANtildeUDO J (2013) Las necroacutepo-lis megaliacuteticas del entorno de la Laguna de la Janda (Caacutediz) VI Encuentro de Arque-ologiacutea del Suroeste Peninsular p 207ndash230LAZARICH M BRICENtildeO E CRUZ MJ FERNAacuteNDEZ DE LA GALA JV y RAMOS A (2015) Nuevos datos para el conocimiento de los rituales funerarios practicados por las comunidades agropastoriles en la Baja Andaluciacutea La necroacutepolis de Paraje de Monte Bajo (Alcalaacute de los Gazules Caacutediz) en Goncalves V S Diniz M y Catarina Sousa A (eds) 5a Congresso do Neoliacutetico Peninsular LisboaMINTZ S W y DU BOIS C M (2002) The Anthropology of Food and Eating Annual Review of Anthropology 31(1) p 99ndash119 doi 101146annurevan-thro32032702131011MOLINA MUNtildeOZ E (2015) La produccioacuten ceraacutemica en el Sudeste de la Peniacutensula Ibeacuterica durante el III y II milenio ANE (2200-1550 CAL ANE) integracioacuten del anaacutelisis de residuos orgaacutenicos en la caractericacioacuten funcional de los recipientes argaacutericos Universitat Autogravenoma de Barcelona Tesis doctoralRENFREW C (2011) Arqueologiacutea Teoriacutea meacutetodos y praacutecticas Ediciones Akal MadridROJO GUERRA M GARRIDO-PENA R y GARCIacuteA MARTIacuteNEZ DE LAGRAacuteN Iacute (2008) No soacutelo cerveza Nuevos tipos de bebidas alcohoacutelicas identificados en anaacutelisis de contenidos de ceraacutemicas Campaniformes del Valle de Ambrona (Soria) Cuardernos de Prehistoria de la Universidad de Granada 18 p 91ndash105SARDAacute SEUMA S (2010) El giro comensal nuevos temas y nuevos enfoques en la protohistoria peninsular Herakleion (3) p 37ndash65VIOLA M (2008) Estudios sobre modelos de consumo una visioacuten desde teoriacuteas y metodologiacuteas Revista chilena de nutricioacuten 35(2) p 93ndash99 doi 104067S0717-75182008000200002

| 549

| 2018

iquestLa Yarda megaliacutetica o Vara megaliacutetica

The megalithic Yard or megalithic Rod

RESUMENSe parte de la base de que la humanidad prehistoacuterica poseiacutea unos cono-cimientos de caraacutecter matemaacutetico que siglos despueacutes afloraron y se de-sarrollaron en las civilizaciones mesopotaacutemicas y egipcias y que a traveacutes de Grecia y Roma llegaron hasta la Revolucioacuten Francesa Estos conceptos incluiacutean una serie de patrones antropomeacutetricos para medir distancias lineales como eran la braza la vara el codo la palma o el pie Se ha escrito bastante sobre si una de estas medidas ldquola yarda megaliacuteticardquo fue usada por los constructores de los ciacuterculos de piedra de Inglaterra Escocia Gales y Bretantildea Sobre todo Alexander Thom que desde 1955 ha venido publicando numerosas monografiacuteas al respecto Pero el proble-ma es que para este enfoque siempre se han realizado las mediciones de los rdquociacuterculos de piedrardquo con unidades anglosajonas actuales como son la yarda (yd = 914 cm) el pie (ft = 3048 cm) y la pulgada (in = 2540 mm) cuando no tambieacuten sus aproximaciones decimales Este trabajo trata de comprobar si los moradores de una serie de regiones geograacuteficas de la Peniacutensula Ibeacuterica que la habitaron en el Neoliacutetico y Edad del Cobre usa-ron alguna unidad de medida del Sistema Antropomeacutetrico Antiguo para trazar los diaacutemetros de sus monumentos megaliacuteticos como por ejemplo la vara de 12 palmas Para ello se han medido los diaacutemetros interiores de casi doscientos monumentos de las regiones de Huelva Badajoz en Espantildea y Eacutevora y Portoalegre en Portugal Aunque los resultados no son concluyentes si queda demostrado que en algunos casos pudieron emplear este tipo de unidad de medida o sus fracciones para el trazado preliminar de sus ciacuterculos de piedraPALABRA CLAVE Unidad antropomeacutetrica Vara megaliacutetica Megalitismo Prehistoria reciente

ABSTRACTIt is based on the premise that prehistoric humanity possessed mathe-matical knowledge which centuries later emerged and developed in the

Antonio Ramos Gil Dr en Historia Investigador de la Universidad de Caacutediz Grupo HUM 812aramosgiltelefonicanet

550 |

Mesopotamian and Egyptian civilizations and that through Greece and Rome reached the French Revolution These concepts included a series of anthropometric patterns to measure linear distances such as the breast-stroke the rod the elbow the palm or the foot It has been written quite a bit about whether one of these measures ldquothe megalithic yardrdquo was used by the builders of the stone circles of England Scotland Wales and Brittany Especially Alexander Thom who since 1955 has been publis- hing numerous monographs on the subject But the problem is that for this approach have always made the measurements of the ldquostone circlesrdquo with current Anglo-Saxon units such as the yard (yd = 914 cm) the foot (ft = 3048 cm) and the inch (in = 2540 mm) when not also its decimal approximations This work tries to verify if the inhabitants of a series of geographic regions of the Iberian Peninsula that inhabited it in the Eneolithic used some unit of measurement of the Ancient Anthropometric System to trace the diameters of its megalithic monuments such as the rod of 12 palms For this the interior diameters of almost two hundred monuments of the regions of Huelva and Badajoz in Spain and Eacutevora and Portoalegre in Portugal have been measured Although the results are not conclusive if it is demonstrated that in some cases they could use this type of unit of measure or its fractions for the preliminary drawing of their stone circlesKEY WORDSAnthropometric Unit Megalithic Rod Megalithism Recent Prehistory

INTRODUCCIOacuteNiquestCuaacutendo se planteoacute el hombre primitivo la necesidad de medir las cosas con referencia a unos patrones maacutes o menos fijos que le sirvieran para la formacioacuten de los sistemas de clasificacioacuten y el surgimiento de las nociones abstractas (Kula 1980 p 30)Para los cazadores recolectores seguramente no teniacutea demasiada impor-tancia tener unos patrones para saber el tamantildeo de las cosas les bastaba su apreciacioacuten sensorial para evaluar si un animal era grande o pequentildeo o si la distancia que debiacutea recorrer hasta el siguiente apostadero de caza equivaliacutea a dos diacuteas y dos noches o quizaacutes algo maacutes Pero con la seden-tarizacioacuten todo seraacute diferente es conveniente saber delimitar unos espa-cios maacutes o menos acotados donde se siembren las semillas y que no las recolecte la tribu vecina Tambieacuten es necesario el poder medir la cantidad de grano que se ha recolectado ya que no seriacutea suficiente contar el nuacutemero de puntildeados conseguidos Cuando la cuantificacioacuten de los espacios abiertos no era condicionante para la labor productiva bastaba con saber la distancia

| 551

| 2018

que habiacutea entre un manantial de agua y otro Por tanto podemos decir que las primeras medidas estariacutean en relacioacuten con el nacimiento de la agricultu-ra (Kula 1980p6)Aunque tambieacuten otros procesos de produccioacuten habriacutean necesitado el esta-blecimiento de ciertos patrones de medida Es el caso de los telares donde el ancho de una pieza estaba condicionado al ancho del telar pero no asiacute su longitud En las sociedades maacutes desarrolladas a lo largo de la Prehistoria reciente el proceso continuacutea ampliaacutendose cuanta madera o cal es necesar-ia para cargar un horno o cuantos carros son necesarios para transportar el trigo hasta el granero comunal Similar problema presentaba el alma- cenamiento de liacutequidos y su transporte recipientes ceraacutemicos barriles y otros contenedores debiacutean ser ldquonormalizadosrdquo para evitar el ldquoengantildeordquo Y son precisamente estos posibles fraudes los que van a desarrollar hasta liacutemites insospechados las distintas medias de longitud superficie y volu-men como veremos maacutes adelantePor tanto parece evidente que cuando aparece el poder en las sociedades organizadas es este mismo poder el que establece la obligatoriedad de que todos guarden unos ldquopatrones de medidasrdquo que estaraacuten vigentes en los territorios bajo su autoridad e incluso estas medidas tendraacuten un caraacutecter sagrado fijaacutendose en las fachadas de palacios y templos Esta situacioacuten llegaraacute desde Grecia y Roma hasta la Edad Moderna pasando por la Edad MediaEl historiador Gaetano de Sanctis (1870-1957) dijo ldquoLa metrologiacutea non egrave scienza egrave un incubo (Pommerenting 2005 p3) Esta frase puede conden-sar la opinioacuten de los expertos en relacioacuten al estudio y conocimiento de las medidas en la antiguumledad que es el objeto de la ldquoMetrologiacutea Histoacutericardquo Todos ellos se han esforzado en saber queacute unidades o patrones se usaron en Egipto y en menor medida en Mesopotamia India China Grecia Roma etc pero sobre todo sus esfuerzos se han centrado en querer descifrar las ldquoequivalenciasrdquo de todas esas magnitudes con nuestro patroacuten actual el metro Y es aquiacute donde surgen las disparidades de criterios y por tanto la gran confusioacuten pues se unen a la gran cantidad de medidas y denom-inaciones que se han desarrollado a lo largo del tiempo en las diferentes culturas las diferentes interpretaciones de sus valores en el Sistema Meacutetri-co Decimal (SMD)Como ejemplo ilustrativo de la complejidad y variedad de unidades de me-dida antiguas podemos ver la Fig1 donde se reproduce el cuadro resu-men que RCA Rottlaumlnder publicoacute en relacioacuten del codo de Nippur la yarda megaliacutetica y los diferentes ldquocodosrdquo y ldquopiesrdquo de la Protohistoria (Rottlander

552 |

Fig 1 Tabla de Rottlaumlnder sobre medidas en la antiguumledad (Rottlander 1996 p 2)

1996 en Jones 2012 p76)Pero maacutes importante que saber ldquoexactamenterdquo cuaacutentos miliacutemetros (e in- cluso deacutecimas de miliacutemetro) media un codo egipcio o un pie romano lo que nos interesa es indagar si realmente existieron esos patrones y sobre todo si estos patrones se usaron en las construcciones megaliacuteticasEn este sentido se conserva el llamado ldquoPatroacuten Mayardquo en el Museo del Louvre y el ldquoPatroacuten de Khardquo en el Museo Egipcio de Turiacuten1 Ademaacutes se puede plantear que medir monumentos no es ni mucho menos un meacuteto- do infalible En el paso desde el proyecto ideal del edificio proyecto que probablemente siacute esteacute trazado en medidas enteras exactas al edificio real terminado se producen infinidad de pequentildeas variaciones en las medidas reales (juntas dilataciones etc) que acumuladas suponen variaciones en las medidas finales Por tanto las medidas finales del edificio real probable-mente no correspondan exactamente a las medidas teoacutericas proyectadas Es pues maacutes uacutetil estudiar los patrones fiacutesicos que recojan el posible sistema de medidasEn este aspecto el Ingeniero de Puentes y Caminos Pierre-Simon Girard2

escribioacute ldquoLas proporciones del cuerpo humano que los antiguos habiacutean estudiado particular-mente si juzgamos por las estatuas admirables que han escapado a la injuria de los siglos proporcionan una nueva prueba de lo que acabo de adelantar Se sabe en efecto que consideraban el codo natural como la cuarta parte de la altura del cuerpo De ahiacute 1 Otro de los trabajos sobre este tema es la Tesis de Antoine Pierre Hirsch (2013)2 PS Girard fue otro de los integrantes de la Expedicioacuten a Egipto de Napoleoacuten Bonaparte y coautor junto a Jomard y otros de la ldquofaraoacutenicardquo obra Descrption de LrsquoEgypte publicada en veinte tomos entre 1809 y 1822

| 553

| 2018

se seguiriacutea que el tipo del codo de Elefantina3 de 527 miliacutemetros habriacutea sido proporcio-nado por un individuo con una altura de 2 metros 108 miliacutemetros [6 pies 8 pulgadas] estatura realmente gigantesca mientras que si se disminuye este codo de un seacuteptimo o de la palma adicional se lo reduciraacute a 450 miliacutemetros y la altura del individuo que lo habraacute proporcionado no seraacute maacutes que de 1 metro 80 centiacutemetros4 [5 pies 6 pulgadas 6 liacuteneas] talla ciertamente ventajosa pero que no tiene nada de extraordinariordquo (Girard 1809 p14)Actualmente todos los investigadores coinciden en que el hombre comenzoacute a tener conciencia del mundo que le rodeaba cuando se decidioacute a comparar el tamantildeo de las cosas con partes de su propio cuerpo la mano el pulgar el codo el pie los brazos abiertos el puntildeo los pasos y maacutes allaacute de siacute mis-mo con el tiro de una piedra o de una flecha el alcance de la vista o la de su propia voz (Ruiz Moraacuteles 2011 p9) Surgen asiacute las llamadas medidas antropomeacutetricas de antropo y metriacutea (medidas del cuerpo humano) Aquiacute el vocablo metriacutea no tiene relacioacuten con metro sino con metroacuten = medidaEste sistema implicaba una serie de problemas a resolver en primer lugar estas medidas del propio cuerpo podiacutean servir para los habitantes de una aldea o campamento donde seguramente al jefe de este clan seriacutea el que determinariacutea el valor de ldquosurdquo palmo ldquosurdquo pie o ldquosurdquo braza Pero el conflic-to surgiriacutea cuando estos patrones se teniacutean que comparar con los de otras tribus o grupos con los que seguramente intercambiaban productos iquestCuaacutel era el vaacutelido ldquotuacuterdquo codo o ldquoel miacuteordquo Y si habiacutea que medir un campo iquestqueacute ldquopasordquo prevaleciacutea el ldquotuyordquo o ldquoel miacuteordquoOtro de los problemas que surgiriacutea fue la necesidad de buscar medidas maacutes grandes yo maacutes pequentildeas que los miembros anatoacutemicos Aparece pues la obligacioacuten de buscar muacuteltiplos y divisores de esas medidas Para grandes distancias se empleoacute ldquola distancia que alcanza una flecha tirada con arcordquo o hasta que se oiga la voz humana gritando a todo pulmoacuten En el aacutembito de lo pequentildeo aparece la medida del ldquodedordquo del ldquogranordquo de cereal (cebada avena o trigo) e incluso el ldquopelo de camellordquo y el ldquopelo de la cola de una mulardquo (Kula 1980 p31)La gran ventaja de estas ldquomedidasrdquo era que siempre se llevaban consi-go mismo para medir la longitud de un astil le bastaba colocar la mano extendida y contar el nuacutemero de palmos (enteros) que habiacutea y los dedos que los completaban Y si teniacutea que realizar la medicioacuten de una distancia sobre el terreno contariacutea el nuacutemero de ldquopiesrdquo si era esta relativamente corta y empleariacutea los ldquopasosrdquo para longitudes mayoresUn aspecto muy importante ampliamente debatido por los especialistas es siacute el conjunto de medidas en un momento determinado y en un lugar 3 Con la palabra codo Girard se refiere aquiacute a un patroacuten fiacutesico de medida no a la parte anatoacutemica4 La negrita es nuestra

554 |

concreto estaban organizadas en un ldquosistemardquo estructurado con muacuteltiplos y subdivisiones o por el contrario las medidas eran fruto de las costumbres y por tanto elegidas al azar En este sentido seguacuten las investigaciones de Luis Castantildeo propone que existioacute un ldquoCanon Originalrdquo y un ldquoSistema de Medidas Antiguordquo basado en el cuerpo humano de estatura = 180 m (Castantildeo 2015 p3) De esta manera en un momento indeterminado un individuo del geacutenero homo averiguoacute que siacute sus cuatro dedos de la mano era una palma5 resulta que su estatura ldquoHrdquo eran 24 palmas Y que si estiraba sus brazos en cruz observoacute que de extremo a extremo de los dedos media igual que su estatura y a esta medida le llamoacute braza Y a la mitad de la braza se le denominoacute vara que mediacutea 12 palmas Pero es que si doblaba el codo la distancia que habiacutea desde el extremo de sus dedos hasta el mismo codo era la misma que desde el codo al centro de su pecho con lo cual dedujo que 1 braza eran 4 codos y que un codo media 6 palmas o bien 24 dedos Entonces si la altura de un humano que llamaremos Homo se dividiacutea en dos varas cada vara en dos codos y cada codo en seis palmas y cada palma en cuatro dedos ya teniacutean un sistema de medidas que teniacutea la ventaja de que se llevaba ldquopuestordquo sobre el mismo cuerpo Claro que para medir distancias en el suelo era muy trabajoso hacerlo con los codos o con las palmas era maacutes coacutemodo ha-cerlo con los pies Los detractores de estas hipoacutetesis sostienen que no es posible ldquounificarrdquo la estatura de todos los seres humanos en diversas razas y geografiacuteas para sacar una estatura ldquouacutenica de 180 cmrdquo Este enfoque es totalmente erroacuteneo ya que no se trata de saber cuaacutento median todos los humanos en una eacutepoca y lugar determinado sino que en un momento de la prehisto-ria se ve la conveniencia y hasta necesidad de establecer un Patroacuten de Medidas y que este sea una estatura determinada cuyas subdivisiones de codos o pies se fijen sobre un elemento inerte como sea una barra de metal o de madera y esta se conserve en el templo o palacio del poder para que sirva de modelo donde contrastar estas medidas de una forma praacutecticaEste ordenamiento primitivo de las medidas antropomeacutetricas se debioacute de usar durante muchos milenios hasta el momento en que surgen las primeras sociedades jerarquizadas y el control del ldquopoderrdquo de los primeros reyessacerdotes de Mesopotamia eacutestos establecieron los primeros patrones materializados en barras metaacutelicas o reglas de made-ra Asiacute cuando se producen las primeras manifestaciones de la escritu-ra cuneiforme aproximadamente en el antildeo 3000 a C ldquoya se habiacutean 5 No confundir Palma con Palmo el palmo (palmus maior) es la distancia entre el dedo pulgar y el mentildeique con la mano estirada mientras que palma (palmus minor) es el ancho de la mano o sea de los cuatro dedos sin contar el pulgar Al palmo tambieacuten se le llama ldquocuartardquo ya que es una cuarta parte de la vara y a su vez corresponde a tres palmas6 Filetero fue un rey de Peacutergamo en el s III aC

| 555

| 2018

concebido y estandarizado algunas unidades de medida que con el tiem-po se transformariacutean en los sistemas meacutetricos del mundo antiguordquo(Ruiz Moraacuteles 2011 p16)Las equivalencias si llamamos ldquohomordquo a la altura total de un hombre seriacutean las siguientes ldquoHomordquo o Cana= 1 braza (se mide igual de suelo a cabeza que de extremo a extremo de los dedos con los brazos abiertos)Braza = 2 varas (tambieacuten conocida como orquia)Vara = 2 codos (equivalente a la Yarda)Codo = 6 palmasPalma = 4 dedos maacutes cuatro separaciones (pelos de camello) Tambieacuten conocido como ldquoPalmo menorrdquoDedo = 4 granos de cebada = frac14 palmaGrano de cebada = 6 pelos de camello = frac14 dedoPelo de camello = 16 grano de cebada = 124 dedo

Pero en todo este ldquosistemardquo parece que nos hemos olvidado del pie y es que de todas las medidas antropomeacutetricas eacutesta es la maacutes complicada y controvertida de todas Seguacuten Heroacuten de Alejandriacutea el Pie Real o Filetero6 me-dia cuatro palmas es decir 4 x 4 = 16 dedos Pero hay otras equivalenciasbull Pie doacutericobull Pie itaacutelico = 13 dedos maacutes 13 de dedo(Pou 1802 1129)bull Pie romano = 4 palmas bull Pie drusiano o druacutesico = 98 de pie romano bull Pie de rey franceacutes = 18 dedos (toesa francesa = 6 pies de rey)bull Pie castellano = 67 del pie franceacutes bull Pie ingleacutes = 1516 de pie de rey franceacutes

Y el gran Leonardo da Vinci definiacutea el pie como ldquoLa longitud desde el taloacuten al dedo gordordquo y valiacutea ldquola seacuteptima parte del hombrerdquo de la altura de un hombre se entiende Aunque lo que hace Leonardo es interpretar lo que escribioacute Vitrubio7 de que ldquocuatro palmas hacen un pierdquo y es aquiacute donde estaacute una de las discrepancias ya que si hemos supuesto que la altura del hombre es de 96 dedos el pie seguacuten Leonardo equivaldriacutea a 967 = 1371 dedos Sin embargo si hacemos caso a Vitrubio la medida seriacutea = 4 palmas x 4 dedos = 16 dedos o lo que es lo mismo que 966= 16Otro tanto se puede decir de la pulgada cuya mayor acepcioacuten es que es la doceava parte del pie pero tambieacuten es la ldquolongitud de la falange distal 7 En el tercero de sus ldquoDiez Libros de arquitecturardquo Vitrubio dice que ldquoLa cabeza es 18 del total de la altura y 18 de la nuca a la parte superior del pecho De lo alto del pecho hasta la raiacutez del pelo 16 parte y hasta la coronilla 14 El rostro se divide en tres partes iguales del mentoacuten a la nariz desde eacutesta al entrecejo y desde alliacute hasta la raiacutez de los cabellos El pie es 16 de la altura del hombre el codo 14 el palmo 124 ()rdquo (Franco Taboada 1998 p 3)

556 |

del dedo pulgarrdquo o ldquoel ancho del dedo pulgarrdquo Para Mayora la pulgada no tiene nada que ver con el dedo ni el codo sino que pertenece a las llamadas ldquomedidas itinerariasrdquo (Mayora 1855 p25)ldquoTodas las naciones antiguas adoptaron la base anterior en sus divisiones y las moder-nas han seguido lo mismo hasta la fundacioacuten del sistema meacutetrico franceacutes pero aplicada aacute medidas mayores oacute menores y perdida la memoria de la relacioacuten primitiva resultaron unos monstruos notaacutendose que la mayor parte de los dedos palmos codos estaturas etc no pertenecen aacute la especie humana La misma ignorancia ha introducido el error de aplicar la divisioacuten duodecimal de la pulgada al dedo al codo y otras partes del cuerpo humano sin reflexionar que la pulgada es la unidad del pieacute que pertenece aacute las medidas itinerariasrdquoEl modelo de Leonardo Da Vinci es conocido como ldquoHombre de Vitrubiordquo o ldquoCanon de las proporciones humanasrdquo y se sintetiza en un documento que se conserva en la Galeriacutea de la Academia de Venecia donde se representa la imagen de un hombre inscrito en un cuadrado y en un ciacuterculo con unas anotaciones autograacuteficas del propio Leonardo (Fig 2a)

Fig2 a) el ldquoHombre de Vitrubiordquo dibujo de Leonardo da Vinci Foto Luis Castantildeo Academia de Venecia Exposicioacuten de 2011 b) La cuadricula propuesta por Vitrubio (seguacuten Castantildeo 2012)

| 557

| 2018

Esta imagen y su interpretacioacuten ha sido objeto de numerosos trabajos y pu- blicaciones (Piera 2002) (Saacutenchez-Montantildea 2005a) (Franco Taboada 1998) (Llorente 2001) (Castantildeo 2012)En el dibujo de Leonardo (Fig 2a) aparece una doble imagen del hombre una postura en ldquoXrdquo y otra en ldquoTrdquo o en cruz y que seguacuten Castantildeo tienen connota-ciones diferentes La postura en ldquoXrdquo se inscribe en un ciacuterculo mientras que la ldquoTrdquo se inscribe en el cuadradoSeguacuten Castantildeo (Castantildeo 20123) la dimensioacuten de la ldquoescala ldquoque Leonardo dibujoacute en la parte inferior mide ldquoexactamenterdquo 18 centiacutemetros8 Esta escala da pie para poder dibujar una cuadricula sobre la imagen en ldquoTrdquo (Fig 2b) de 18 x 18 cm y de 24 x 24 cuadriculas que corresponden con las diferentes partes anatoacutemicas de la Figura Por lo tanto cada cuadricula mediraacute 180 mm dividido por 24 igual a 75 mm del dibujo Si el dibujo estaacute realizado a una escala de 110 esto quiere decir que a tamantildeo natural el hombre mediriacutea 180 cm de alto y de aquiacute se podriacutea deducir con bastante facilidad simplemente contando las cuadriculas de 75 cm (corres- pondientes a una palma el resto de medidas 1codo = 6 cuadriculas = 45 cm la palma = 1 cuadricula = 75 cm y un dedo seria la cuarta parte de una palma = 75 cm x 14 = 1875 cm)Sobre la medida del dedo Castantildeo hace su interpretacioacuten afirmando que en realidad mide 18 cm y que los restantes 075 mm corresponden al ldquoespacio interdigitalrdquo o marcas entre los dedos (Castantildeo 2015 p9) De esta manera se cumpliriacutea de que la estatura del hombre se corresponde con 100 dedos de 18 mm o con 96 dedos + espacios interdigitales de 1875 mm En este uacuteltimo caso se cumpliriacutea lo que dice Vitrubiordquo4 dedos hacen una palma (y) 24 palmas hacen a un hombrerdquo Hombre = 100 dedos x 18 mm = 1800 mm = 180 cm = 180 m Hombre = 98 dedos x 1875 mm = 1800 mm = 180 cm = 180 mPor tanto podemos establecer las siguientes correspondencias entre el siste-ma antropomeacutetrico y el SMD Braza = 180 cm Vara = frac12 Braza = 90 cm Codo = frac14 de Braza = 45 cm Palma = 18024= 75 cmSobre la llamada ldquoYarda Megaliticardquo se supone que esta supuesta medi-da antigua deberiacutea haber existido con anterioridad a las medidas mesopo-taacutemicas o egipcias la diferencia con estas uacuteltimas es que no es un ldquopatroacutenrdquo fiacutesicamente conservado sino solo una hipoacutetesis del investigador Alexan-der Thom quien en 1955 propuso por primera vez este teacutermino en su obra 8 Seguacuten pudo comprobar personalmente midiendo sobre el dibujo en la Galeriacutea de la Academia de Venecia donde se expone al puacuteblico tan solo una vez cada diez antildeos

558 |

A statistical examination of megalhitic sitesStonehenge Avebury y otros cuatrocientos sitios maacutes de Inglaterra Escocia Gales y Bretantildea fueron estudiados y medidos por este profesor de ingenieriacutea de Oxford el cual llegoacute a la conclusioacuten de que los constructores megaliacuteticos utilizaron una unidad de longitud especifica a la que llamoacute ldquoyarda megaliacuteticardquo y que la cifroacute en 272 pies ingleses naturalmente Trasladados al SMD esta medida son 8290560 cm aunque el 1971 refinoacute sus caacutelculos llegando a los 270 plusmn0003 pies (Sixsmith 2009 p2) lo cual parece una verdadera quime-ra pensar en que los prehistoacutericos llegasen a este tipo de precisiones Pero ademaacutes siete antildeos maacutes tarde llego a la conclusioacuten de que una yarda megaliacuteti-ca equivaliacutea a 2722 plusmn 0002 pies (iexcl) o sea 8296656 plusmn 06096 cmEn nuestra opinioacuten este empecinamiento en calcular con precisioacuten milimeacutetrica el resultado de sus investigaciones fue lo que le produjo el rechazo de la ldquocien-cia oficialrdquo y aunque Thom utilizoacute herramientas estadiacutesticas sofisticadas sus resultados fueron examinados por SR Broadbent para comprobar ldquohasta que punto un determinado corpus de datos implica la utilizacioacuten de un cuantum o patroacuten de medidardquo (Ferrar 1992 p 2)Hubo detractores de los Thoms (Alexandre y su hijo Archie) que incluso inten-taron demostrar la invalidez de sus teoriacuteas llevando a cabo las mediciones fiacutesicas de 27 mujeres y 64 hombres es el caso de Ronal Hicks que en 1977 midioacute la distancia entre dedos extremos (braza) asiacute como sus estaturas de 91 estudiantes voluntarios (Hicks 1977 p2) Es increiacuteble como pretendiacutea sacar conclusiones de una muestra tan ridiacutecula y que ademaacutes no es esta la razoacuten de ser de las medidas antropomeacutetricas sino que estas se fijaron como modelo o patroacuten de un sistema de unidades muacuteltiplos y submuacuteltiplos y que todo el mundo podiacutea entender ya que usaban las propias partes del cuerpo codos pies palmas y dedosDe su trabajo A Thom sacoacute tres conclusiones Primero que los ciacuterculos de pie-dra no eran solo ciacuterculos sino que estaban trazados como elipses u oacutevalos con gran precisioacuten geomeacutetrica Segundo que los diaacutemetros y maacutes bien los radios de estos ciacuterculos pareciacutean tener como unidad de medida lo que llamoacute yarda megaliacutetica y Tercero que muchos de estos megalitos estaban orientados ha-cia alineaciones astronoacutemicas especificas como los solsticios de verano o los movimientos lunares de donde se acuntildeoacute el teacutermino de ldquoastronomiacutea megaliacuteti-cardquo Estas precisiones implicariacutean unos sofisticados conocimientos astronoacutemi-cos por parte de sus constructores Antes de Thom se sabiacutea que algunos de los monumentos megaliacuteticos no eran circulares pero fue el primero en demostrar que fueron construidos asiacute deliberadamente De igual forma la idea de que los megalitos tienen alineaciones astronoacutemicas ya se recogen en los escritos del

| 559

| 2018

anticuario William Stukeley en 1740 (Davenhall 2007 p1138)Junto a su hijo Archie examinaron el trazado de los ciacuterculos de piedra analizan-do sus geometriacuteas y la relacioacuten con la yarda megaliacutetica En cualquier caso parece poco probable que los constructores de croacutemlechs los sepulcros de corredor con o sin caacutemara circular y demaacutes estructuras megaliacuteticas usasen unas medidas con decimales de la unidad que fuese bien la yarda (vara) codo o pie ya que en primer lugar no conociacutean las fracciones decimales y siacute otras fracciones como las usadas por los egipcios (12 13 14 15 23 etc) Por tanto la intencioacuten de buscar un ldquopatroacutenrdquo en pies in- gleses actuales en los trazados de hace 4500 antildeos o maacutes no parece una idea plausibleUno de los objetivos de este trabajo es comprobar si en la construccioacuten de las estructuras megaliacuteticas se utilizoacute alguacuten tipo de patroacuten de medida de longitud y para ello hemos ldquomedidordquo el diaacutemetro medio de las caacutemaras circulares9 de de una serie de enterramientos megaliacuteticos del sur de la peniacuten-sula Ibeacuterica La fuente principal han sido los dibujos de las 108 laacuteminas del libro del matrimonio Leisner Die Megalithgraumlber der Iberrischen Hablbinsel (1959) (Leisner amp Leisner p 1965) En ellas se reproducen con exquisito de- talle no solamente la planta ya alzado de maacutes de doscientas estructuras funer-arias del sur de Portugal y de la baja Andaluciacutea sino todos los elementos de ajuar de cada uno de ellos cuencos de ceraacutemica puntas de proyectil iacutedolos tableta hachas y azuelas cuchillos lascas de piedra tallada etc todo ello dibujado indicando las diferentes escalas para cada objeto dentro de una mis-ma laacutemina De esta manera ha sido posible medir el dibujo con un calibre pie de rey digital que nos ha dado una precisioacuten de la centeacutesima de miliacutemetro y su posterior conversioacuten a la escala real de cada dibujo Todos estos valores se han volcado en una base de datosDe un total de 192 sepulcros megaliacuteticos de caacutemara circular ldquomedidosrdquo el 64 se ubican en el Distrito de Eacutevora (provincia de Alentejo) El 26 estaacuten en el Distrito de Portalegre (Alentejo) Es decir que la mayoriacutea se encuentran en territorio portugueacutes (90) mientras que solo el 10 restante lo son en provin-cias espantildeolas Huelva (3)y Badajoz (7) Para la medicioacuten de los ciacuterculos y sus diaacutemetros debemos tener las siguientes consideracionesa) Si bien los ortostatos estaacuten colocados en ciacuterculos estos no se corresponden con liacuteneas geomeacutetricas prefectasb) Aunque el trazado inicial se hubiese trazado con una estaca y cordel la apertura de los huecos para colocar las grandes piedras y la misma colo-cacioacuten de estas presentan muchas variaciones muy lejos de una precisioacuten de 9 Hemos elegido las caacutemaras y no los corredores para nuestra investigacioacuten ya que las primeras sus medidas se han conservado mejor que en los segundos

560 |

centiacutemetrosc) Por tanto para nuestra medicioacuten se han tomado las distancias entre ortos- tatos por la cara interior de la caacutemara en direccioacuten N-S y E-W obtenieacutendose la media aritmeacuteticad) La posible unidad de medida o ldquopatroacutenrdquo utilizado en el trazado de los ciacutercu-los megaliacuteticos no tiene por queacute ser ldquouniversalrdquo sino que en cada comunidad prehistoacuterica pudieron utilizar una diferente o bien emplear varios muacuteltiplos y submuacuteltiplos de ellae) Las medidas en cm se han ldquotraducidordquo a ldquovaras (de 90 cm) y fracciones de esta ya que en posible que en algunos casos usasen 12 13 23 de vara u otras fraccionesLos resultados agrupados por zonas geograacuteficas se exponen a continuacioacuten Para la muestra mayor (Eacutevora = 122 sepulcros de caacutemara circular) se han obtenido unos resultados que nos muestran que el diaacutemetro maacutes repetido es el de 3 varas (270 cm) que aparece en el 23 de las mediciones La serie se extiende desde las 2 + 15 de vara (198 cm) hasta los 4 frac12 de vara (405 cm) Graacutefico 1 (Fig 3)Las estructuras de Portalegre presentan diaacutemetros similares aunque por su menor muestra (solo 49 doacutelmenes) sus valores son menos representativos Los de la Provincia de Huelva se han medido solo 5 de caacutemara circular hay cuatro con un diaacutemetro de 2 frac14 y 2 45 de vara (202 cm y 250 cm) y uno el mayor de 4 varas de diaacutemetro (260 cm) que corresponde con el de Bartolomeacute de la Torre En conjunto si comparamos las tres aacutereas anteriores los resultados se mues-tran en el grafico de cajas y bigotes (boxplot) nordm2 (Fig 4) donde podemos apre-ciar que los valores de primer y tercer cuartil para Eacutevora y Portoalegre estaacuten muy cercanos a la mediana (gran concentracioacuten) y que eacutesta (segundo cuartil) toma el valor de 3 varas (270 m)Los enterramientos de caacutemara circular medidos de la provincia de Badajoz han mostrado unas dimensiones mayores que los anteriores Con un total de 16 medi-ciones el 25 miden 5 + 14 de vara (473 cm)

CONCLUSIOacuteNHay que sentildealar que dado que el fenoacutemeno megaliacutetico tiene una amplia cronologiacutea y distribucioacuten geograacutefica habriacutea ampliar en aacutembito de la mues-tra y hacer una valoracioacuten contando con las tumbas que posean fechas de datacioacuten radiocarboacutenicas y al mismo tiempo observar si en el transcurso de los varios milenios que dura el fenoacutemeno del megalitismo hubo cambios en los patrones y si estos presentan variaciones seguacuten las zonas geograacuteficas donde

| 561

| 2018

Fig3 Grafico 1 Diaacutemetros de las estructuras megaliacuteticas de Eacutevora Portoalegre y Huelva

Fig4 Graacutefico 2 Diaacutemetros medidos interiores circulares Entre pareacutentesis el total de me-didos Obseacutervese el diaacutemetro de 27 m (tres varas) para los doacutelmenes de Portugal

562 |

se emplazan las sepulturas Hipoacutetesis que tendremos que comprobar en un proacuteximo futuroEn conclusioacuten podriacuteamos afirmar que aunque algunas comunidades de las estudiadas pudiesen haber conocido unas ldquovaras de medirrdquo para el trazado de sus ciacuterculos de piedra no las usaron de una manera sistemaacutetica ni predeter-minada aunque en algunos casos asiacute parece haber sido como demuestran nuestras mediciones Pero en cualquier caso estamos plenamente convenci-dos y asiacute lo hemos expuesto en mi tesis de doctorado (Ramos-Gil 2017) de que hombre y la mujer prehistoacuterica tuvieron una serie de conocimientos de iacutendole matemaacutetico y que la necesidad de supervivencia les fue desarrollando cada vez maacutes y que en el futuro cuando los arqueoacutelogos y prehistoriadores estudien cualquier vestigio material del pasado sean capaces de aplicar una nueva visioacuten a dicho objeto es decir no solamente medirlo y pesarlo en nues-tras unidades meacutetricas decimales sino ser capaces de buscar las medidas que posiblemente utilizaron sus creadores las partes de su propia anatomiacutea BIBLIOGRAFIACASTANtildeO L (2015) Metrologiacutea Histoacuterica Una Nueva Propuesta para el Antiguo Egipto httpswwwacademiaeduRPI_CA-499-14 (Mayo 2017)CASTANtildeO L (2012) Reflexiones sobre el Homo ad Circulum httpsindependentaca-demiaeduLuisCastaC3 (Mayo 2017) DAVENHALL C (2007) The Biographical Encyclopedia of Astronomers Thom Alexan-der p1137-1138FRANCO TABOADA M (1998) La cuestioacuten del centro de la figura humana a partir del laquohomo bene figuratusraquo de Vitruvio En VII Congreso Internacional de Expresioacuten Graacutefica Arquitectoacutenica de San Sebastian Mayo 1998 p 1-17HICKS R (1977) Thomrsquos Megalithic Yard and Traditional Measurements Irish Archaeo-logical Research Forum Vol4 nordm1 p1-7JONES MW (2012) Doric Measure and Architectural Design 1 The Evidence of the Relief from Salamis American Journal of Archaeology 104(1) p73-93KULA W (1980) Las medidas y los hombres S A Siglo XXI de Espantildea Editores MadridLEISNER G amp LEISNER V (1959) Die Megalithgraumlber der iberischen Halbinsel Westen Madrider Forschungen Berlin W de GruyterMAYORA M de (1855) Cosmoacutemetro Tratado de las Medidas de la Naturaleza Imprenta y Libreriacutea Politeacutecnica de Tomaacutes Gorcns ed BarcelonaPOMMERENTING T (2005) Die altaumlgyptischen Hohlmasse Buske VerlagPOU BSJ (1802) Herodoto de Halicarnaso Fuentes Digitales p1-1233RAMOS-GIL A (2017) Matemaacuteticas y Arqueologiacutea estado de la investigacioacuten sobre la aplicacioacuten matemaacutetica en los estudios de Prehistoria Tesis de doctorado Universidad de CaacutedizROTTLANDER RCA (1996) Studien zur Verwendung des Rasters in der Antike 2 Ojh 65 p 1-86RUIZ MORAacuteLES M (2011) Metrologiacutea Histoacuterica en la descripcioacuten de Egipto Granada

| 563

| 2018

Servicio Publicacioacuten Universidad de GranadaSIXSMITH E (2009) The megalithic story of Professor Alexander Thom Significance p 94 ndash 96 Nottingham Trent University

564 |

| 565

| 2018

APORTACIOacuteN AL ESTUDIO DE LOS CILINDROS DECORADOS DE LA PREHISTORIA RECIENTE DE LA PENIacuteNSULA IBEacuteRICA LOS HALLAZGOS EN MEGALITO

CONTRIBUTION TO THE STUDY OF THE DECORATED CYLINDERS OF THE RECENT PREHISTORIC PERIOD IN THE IBERIAN PENINSULA THE FINDINGS IN MEGALITHS

Mariacutea Narvaacuteez Cabeza de Vaca Perintildean Miembro del grupo de investigacioacuten PAIDI HUM 812 Estudio de las formaciones sociales de la Prehistoria reciente Universidad de Caacutediz

RESUMEN Los cilindros decorados de la Prehistoria reciente son unos objetos con una morfologiacutea peculiar y una funcioacutenpor determinar Aparecen siempre en entorno funerario ligados en un alto porcentaje al megalitismo con cronologiacuteas que van desde el Neoliacutetico a la Edad del Bronce El presente trabajo aborda el estudio de estos objetos y las estructuras megaliacuteticas donde se han hallado para desentrantildear su funcioacuten y significado dentro de los modos de vida de las sociedades de la Prehistoria reciente de la Peniacutensula IbeacutericaPALABRAS CLAVES Cilindros decorados dolmen tholos

ABSTRACT The decorated cylinders of the recent Prehistory are objects with a pe-culiar morphology and a function to be determined They always appear in a funeral environment linked in a high percentage to megalithic with chronologies ranging from the Neolithic to the Bronze Age The present work deals with the study of these objects and the megalithic structures where they have been foundin an attempt to unravel their function and meaning within the lifestyles of the societies ofrecent Prehistoric times in the Iberian PeninsulaKEY WORDS decorated cylinders dolmen tholos

ANTECEDENTESLos cilindros decorados son unos objetos que se han ido documentando a lo largo del siglo XX como parte de los ajuares funerarios en enterra-mientos de la Prehistoria reciente en la Peniacutensula Ibeacuterica Pero a pesar

566 |

de presentar unas caracteriacutesticas morfoloacutegicas uacutenicas han pasado desa- percibidos para los investigadores hasta praacutecticamente las uacuteltimas deacuteca-das del siglo XX Pues apenas son mencionados de pasada en algunas publicacionesLa peculiar plaacutestica que presentan estos objetos los hace unos comple-tos desconocidos en lo que se refiere a una funcioacuten o funciones pues aunque tienen aspecto de recipiente carecen de fondoNosotros comenzamos su estudio en 2015 con apenas unas cuantas referencias bibliograacuteficas y algunas fotos de principios del siglo XX desde entonces hemos recopilado maacutes de medio centenar de estos objetos conocido las materias primas con las que se fabricaron sus procesos de fabricacioacuten y distribucioacuten su amplia cronologiacutea que se extiende desde el Neoliacutetico pleno a la Edad del Bronce inicial y tambieacuten amplia distribucioacuten territorial que presentan Espantildea Portugal Norte de Aacutefrica y el aacutembito mediterraacuteneo (Narvaacuteez Cabeza de Vaca 20152016 Narvaacuteez Cabeza de Vaca y Lazarich 2016)Por otra parte tambieacuten hemos podido observar coacutemo estaacuten estrecha-mente ligados al mundo funerario y al fenoacutemeno del megalitismo en un gran porcentajeAdemaacutes al ser unos objetos que no han sido apenas estudiados hemos establecido unas clasificaciones tipoloacutegicas basaacutendonos en sus mor-fologiacuteas basaacutendonos en metodologiacuteas de estudio de otros objetos como la ceraacutemicaTodo ello con la intencioacuten de desentrantildear el rompecabezas que es su funcioacuten y significado dentro de los modos de vida de las comu-nidades primitivas de la Prehistoria RecienteEn esta ocasioacuten vamos a dar a conocer los hallazgos que se han realiza-do en estructuras funerarias de tipo megaliacutetico

LOS CILINDROS DECORADOS MATERIAS PRIMAS ESTUDIO MOR-FOLOacuteGICO Y CLASIFICACIOacuteN TIPOLOacuteGICAAl iniciar estos estudios lo uacutenico que conociacuteamos de los cilindros de- corados era su vinculacioacuten con el mundo funerario y su peculiar aspecto Sin embargo ese aspecto o morfologiacutea uacutenica ha hecho que los inves-tigadores desconozcan su funcioacuten y significado A veces contamos con objetos que han quedado obsoletos pero conocemos su funcioacuten bien porque alguien nos lo ha descrito en alguacuten texto o simplemente tenemos objetos parecidos en nuestro entorno que cumplen la misma funcioacuten El problema es cuando un objeto queda olvidado en el tiempo y no queda rastro de eacutel ni en los textos ni en la memoria Este es el caso de los ci-

| 567

| 2018

lindros decorados de la Prehistoria reciente por ellocomenzamos por estudiar su materia y morfologiacuteaRespecto a las materias primas sabemos que han sido fabricados en cinco materiales diferentes hueso marfil asta de boacutevidoalabastro y madera De estas las maacutes utilizadas son el hueso y el marfil le sigue el alabastro sin embargo el resto de materias primas son testimoniales En estructuras megaliacuteticas se han hallado cilindros de hueso marfil y alabastro (Figura 1)Por otra parte tanto el marfil como el alabastro son materias primas de prestigio pues conocemos la existencia de redes de intercambio de es-tos materiales en la Prehistoria reciente Para el marfil contamos con el trabajo realizado en 2012 por Thomas Shuhmacher que tras el estudio de maacutes de 1200 objetos de marfil procedentes de 151 yacimientos de la Peniacutensula Ibeacuterica desde el Calcoliacutetico inicial hasta el Bronce inicial queda confirmado que se dio un flujo constante de intercambios de ma-terias primas y manufacturas de marfil ademaacutes de determinar el tipo maacutes utilizado en cada etapa en cuanto a la especie de animal se refiere (Schuhmacher2012)

Figura 1 Cilindros Mariacutea Narvaacuteez Mapa de distribucioacuten de los cilindros decorados seguacuten materias primas

568 |

Por otra parte para el conocimiento de los cilindros fabricados en hue-so hicimos un estudio osteomeacutetrico que consistioacute en la comparacioacuten de estos con los huesos largos para intentar identificar no solo los huesos utilizados a nivel esqueleacutetico sino tambieacuten los taxones Comprobamos como las bases maacutes probables por su forma tubular son el feacutemur y la tibia sin descartar metatarsos metacarpos radio y huacutemero En cuanto a los taxones los maacutes probables son de boacutevidos eacutequidos y ovicaacutepridos con alguna presencia de ceacutervidoEn el caso del alabastro sabemos de la existencia de afloramientos de este material en las provincias de Granada Almeriacutea y Murcia (Lozano et alii 2010)El resto de materias primas son faacuteciles de obtener sin embargo tanto los tratamientos de superficies como las decoraciones son trabajos artesa-nales que no seriacutean de faacutecil obtencioacutenUna vez conocidas las materias primas hemos hecho varias clasifica-ciones en funcioacuten de la morfologiacutea y la plaacutestica delos cilindros decoradosEn primer lugar observamos los rasgos comunes a todos los cilindros que son la forma tubular la boca y la base Luego hay caracteres que pueden aparecer o no como es la presencia de perforaciones y de liacuteneas incisas como decoraciones A partir de la presencia o ausencia de estos uacuteltimos rasgos hemos hecho varias clasificaciones y para ello hemos tomado metodologiacuteas de anaacutelisis de otros objetos ya que no contaacutebamos con criterios de anaacutelisis establecidos anteriormenteLa primera clasificacioacuten se ha basado en la presencia o no de tratamien-tos de superficies y decoraciones asiacute hemos visto como hay cilindros que tienen los dos caracteres otros que solo tienen decoraciones otros tratamientos pero no decoraciones y otros nada (Figura 2)En lo que respecta a la clasificacioacuten tipoloacutegica hemos tenido en cuenta atributos como el grado de inclinacioacuten del perfil del objeto con respecto a un aacutengulo recto de 90deg fijaacutendose asiacute cuatro categoriacuteas distintas la primera comprende los cilindros con paredes rectas (90deg) la segunda con inclinaciones inferiores a 99degla tercera con inclinaciones iguales o superiores a 99deg y la cuarta los cilindros con paredes con una inclinacioacuten inferior a 90 Luego distinguimos dos tamantildeos diferenciados de cilindros en lo que se refiere a la altura anchura y grosor de las bases Otra clasificacioacuten respecto a la plaacutestica lo hemos elaborado a partir de las decoraciones El motivo que maacutes se repite es el reticulado oblicuo o diamantiforme seguida de la lineal el zigzag y por uacuteltimo el cuneiforme Por uacuteltimo hemos tomado en cuenta otros criterios como la presencia

| 569

| 2018

de carenado de liacuteneas incisas justo bajo el borde de la boca y de perfora-ciones a lo largo del tubo

LAS ESTRUCTURAS FUNERARIAS LOS HALLAZGOS EN MEGALITOSLos cilindros decorados de la Prehistoria reciente se localizan en una gran variedad de estructuras funerarias Estaacuten presentes en las cons- trucciones megaliacuteticas cuevas artificiales cistas y en fosas incluso en este uacuteltimo tipo algunas aparecen dentro de cuevas naturales En este momento de nuestras investigaciones hemos documentado y estudiado 50 cilindros y cuyos hallazgos se distribuyen por un territorio que abarca la zona meridional el levante y las islas Baleares en Espantildea los conce-jos de Sintra Torres Vedras y Palmela en Portugal y la costa noroeste de Marruecos En lo que se refiere a los cilindros hallados en estructuras megaliacuteticas objetos del presente estudio de los 50 registros ya mencionados 26 han sido hallados en este tipo de estructuras lo que supone un 52 del registro Si estos porcentajes los observamos por paiacuteses en Espantildea de

Figura 2 Cilindros Mariacutea Narvaacuteez Mapa de distribucioacuten de los diversostipos de cilindros decorados

570 |

26cilindros registrados 16 se han hallado en megalitos lo que supone un 62 del registro En Portugal tenemos un total de 21 cilindros regis-trados de los cuales 10 se han hallado en estructuras megaliacuteticas lo que supone un 48 del registro Por otra parte el uacutenico cilindro decorado lo-calizado por el momento en Marruecos no ha sido hallado en estructura megaliacutetica sino en fosaLos altos porcentajes obtenidos hasta el momento en este estudio ponen en evidencia la fuerte conexioacuten de este tipo de estructuras megaliacuteticas con el hallazgo de cilindros decorados Lo que nos hace barajar cada vez con maacutes fuerza la idea de que estos objetos independientemente de la funcioacuten estaban reservados para los estamentos privilegiados(Figura 3)Respecto a los cilindros decorados de Espantildea como he mencionado en el paacuterrafo anterior tenemos 16 registros localizados en tumbas megaliacuteti-cas de estos 15 se localizan en Andaluciacutea y 1 en Extremadura en con-creto en la provincia de Badajoz En lo que respecta al tipo de estructu- ras tenemos 4 cilindros en galeriacutea cubierta (dolmen) y 12 en sepulcro de corredor tipo tholos Cronoloacutegicamente los cilindros decorados hallados en estas tumbas van desde el Neoliacutetico pleno al Calcoliacutetico reciente

Figura 3 Cilindros Mariacutea Narvaacuteez Mapa de distribucioacuten por tipos de estructura megaliacutetica

| 571

| 2018

En cuanto a los cilindros hallados en estructura dolmeacutenicasel primero de ellos se localizoacute en el Dolmen de Fonelas que pertenece al parque megaliacutetico de la regioacuten de Gorafe en la comarca de Guadix-Baza en la provincia de Granada Es un sepulcro de corredor de caacutemara trapezoidal formado por 11 ortostatos y cubierta de una gran losa El corredor es corto cerrado hacia la caacutemara y abierto al exterior Para su excavacioacuten se necesitoacute la retirada de la gran losa de la cubierta pues estaba colmata-da por sedimentos casi en su totalidad Esta colmatacioacuten obligoacute a los investigadores a llevar a cabo la excavacioacuten del dolmen connivelaciones artificiales Presentaba una clara reutilizacioacuten del sepulcro como reve-lariacutea maacutes tarde el estudio de los ajuares y restos oacuteseos La estratigrafiacutea de la caacutemara estaba compuesta por 9 niveles siendo 3 de ellos esteacuteriles el resto proporcionoacute evidencias de al menos 4 enterramientos diferentes en el quinto sexto seacuteptimo y octavo nivel respectivamente En cuanto al corredor su excavacioacuten resultoacute esteacuteril (Palma 1977)El cilindro decorado hallado en este dolmen pertenece al octavo nivel aparecioacute junto a restos humanos huesos de animales conchas frag-mentos ceraacutemicos algunas herramientas de siacutelex y dos hachas de cobre Este es de hueso tiene forma tubular y estaacute decorado con incisionesEl segundo cilindro decorado hallado en galeriacutea cubierta pertenece al dolmen de El Juncal en Ubrique (Caacutediz) fechado por sus excavadores en el IV milenio aC El juncal es un dolmen de galeriacutea con planta trapezoi-dal dividido en compartimentos por una laja transversal La caacutemara se ensancha desde el atrio de 080 m a 180 m El sepulcro queda sellado con una gran laja de roca caliza a modo de cubierta En este dolmen hay seis inhumaciones uno de ellos infantil Parece ser un depoacutesito primario pues los restos oacuteseos aparecen en su mayoriacutea aun en conexioacuten anatoacutemica En lo que respecta al ajuar se han hallado un hacha pulimentada un cristal de roca (BN1G) una decena de geomeacutetri-cos cuentas de aacutembar y esquisto y un cilindro decorado de marfil todo elloasociado al individuo de mayor edad Ademaacutes se han localizado en el dolmen geomeacutetricos de forma trapezoidal laacuteminas de siacutelex de gran formato una azuela de dolerita y dos laminitasEn cuanto al cilindro decorado presenta motivos lineales en la zona su-perior y en la base ademaacutes de liacuteneas en zigzag en el cuerpo Tiene forma tubular pero sin fondo y muestra un conjunto de perforaciones en la zona de la boca (Gutieacuterrez 2007)El siguiente cilindro decorado hallado en una estructura dolmeacutenica per-tenece al igual que Fonelas al parque megaliacutetico de Gorafe en Granada

572 |

se trata del dolmen del Llano de la Sabina o La Sabina L4 data del Cal-colitico reciente Este dolmen es de planta trapezoidal de 265 por 230 m y una altura de 180 m las losas de la cubierta se habiacutean derrumbado en el interior de la caacutemara En eacutel se hallaron seis individuos y un ajuar compuesto por un hacha pulimentada seis puntas de flecha dos cuchil-los fragmentos ceraacutemicos correspondientes de al menos trece vasijas y tres fragmentos de siacutelex El cilindro decorado hallado es de hueso de ovicaacuteprido estaacute decorado con motivo diamantiforme y lineal antes de la embocadura y presenta carenado (Siret 1891)El uacuteltimo cilindro decorado hallado en un dolmen fue localizado en Gor5 que al igual que Fonelas y el Llano de la Sabina pertenecen al parque dolmeacutenico de Gorafe en Granada Data del Calcoliacutetico reciente Este dol-men estaba destruido casi en su totalidad por lo que no se puede dar unas dimensiones fiables de la estructura solo se presume que seriacutea de grandes dimensiones(Siret 1891) Lo que siacute se sabe es que estaacute excava-da en parte en roca natural y que de la construccioacuten solo se conservan las lajas de la cubierta y 3 pilaresEn cuanto al enterramiento se localizaron restos de once individuos ademaacutes de puntas de flecha varias hojas de cuchillo dos hachas frag-mentos de cinco vasijas ceraacutemicas y huesos de animales El cilindro de- corado de este dolmen tambieacuten es de hueso presumiblemente de boacutevi-do o eacutequido por sus grandes dimensiones presenta decoracioacuten de tipo incisa con motivo diamantiforme (Ibidem 1891)El tipo constructivo funerario que maacutes cilindros ha aportado es el sepul-cro de corredor con caacutemara de falsa boacuteveda (tholos)Tenemos doce re- gistros El primero de ellos pertenece al yacimiento de la Pijotilla en Badajoz Extremadura Se trata de un tholos semihipogeo datado en el Calcoliacutetico que presenta una disposicioacuten en V con la tumba 1 del mismo complejo Fue excavado en tierra caliza y se piensa que la caacutemara estaba cubierta con una falsa cuacutepula que no se ha conservado(Hurtado 1981)En cuanto al cilindro decorado este es de hueso presenta decoracioacuten de tipo incisa con decoracioacuten geomeacutetrica de tipo diamantiforme y lineal previa a la base y boca carece de fondo presenta carenado y dos per-foraciones una a cada extremo del tubo El siguientecilindro decorado hallado en tumba tipo tholos corresponde a la necroacutepolis megaliacutetica del Gandul en Alcalaacute de Guadaira en la provin-cia de Sevilla concretamente a la tumba de Cantildeada honda B La tumba es un sepulcro de corredor con caacutemara circular de 313 m de diaacutemetro

| 573

| 2018

fue excavada en la roca natural previamente rebajada y recubierta por las lajas de pizarra de 159 m de altura de las que se conservan oncejun-to a la cubierta El corredor tiene una longitud de 1420 m por 080 de ancho del que solo se conservoacute un tramo de 670 m Pertenece al Cal-coliacutetico antiguo El ajuar estaba compuesto de un martillo de piedra y una concha en el nivel superior y fragmentos ceraacutemicos de platos de borde engrosado once puntas de flecha de base coacutencava y aletas un geomeacutetri-co una laacutemina de siacutelex dos fragmentos de ceraacutemica campaniforme y huesos humanos fracturados en el nivel inferior ademaacutes de fragmentos de ceraacutemica campaniforme en el corredor y un vaso completo en forma de tulipaacuten sin decoracioacuten (Lazarich 1999)El cilindro decorado es de hueso largo de boacutevido o eacutequido estaacute semi-completo carece de fondo y presenta decoracioacuten de tipo incisa con mo-tivo diamantiformeLuego tenemos dos cilindros hallados en la necroacutepolis de la Rambla de Huechar en Gaacutedor Almeriacutea (cerca de los Millares) concretamente en la tumba nordm 2 Esta tumba es un con caacutemara circular corredor simple divi-dido en dos tramos y falsa cuacutepulaEl enterramiento es bastante importante pues se hallaron restos de cien-to catorce individuos con un ajuar compuesto de ochenta y cinco puntas de flechas ceraacutemica simboacutelica cobre punzones hojas de piedra un peine de marfil una veintena de iacutedolos de distinta tipologiacutea y material un hacha de metal y un puntildeal de siacutelex (Almagro et alii 1963)Los 2 cilindros decorados son de alabastro presentan fondo El primero de ellos es de forma troncocoacutenica presenta decoracioacuten incisa diamanti-forme y lineal en la base y fondo es maacutes pequentildeo que el segundo cilindro de Rambla de Huechar Este otro por su parte presenta paredes rectas y gruesas fondo y decoracioacuten de tipo inciso lineal bajo la boca y la base pero ademaacutes presenta una banda de motivos piramidales invertidos bajo las liacuteneas de la bocaPor uacuteltimo tenemos ocho cilindros decorados repartidos en cuatro tholos de la necroacutepolis megaliacutetica de los Millares Cronoloacutegicamente Millares pertenece al periodo Calcoliacutetico pero se dividen en dos periodosMillares I (2800-2300) y Millares II (2300-1800) Los tholoi que estudiamos aquiacute pertenecen a Millares I que a su vez se subdivide en otros cuatro sub-periodos del ldquoardquo al ldquodrdquo El tholos nordm 5 presenta caacutemara ovalada y corredor dividido en tres tra-mos estaacute compuesto de dos anillos conceacutentricos de piedra cubiertos por un tuacutemulo La caacutemara es de 35por310 m excavada en la roca hasta 25

574 |

m de profundidad y el corredor mide 285 m de largo por 1 m de ancho El ajuar estaba compuesto por 1 hacha 1 punta de punzoacuten y 1 hoja plana 1 trozo de cobre 2 iacutedolos de hueso plano 2 iacutedolos falange de hueso 1 ob-jeto de hueso plano 1 collar de tubos de hueso 6 conchas de moluscos 1 cabeza de aguja de hueso 65 puntas e siacutelex 1 hoja de siacutelex lascas 8 cuchillos de siacutelex 4 hojas de cuchillo2 cuencos de arcilla 1 caja con cinabrio varios colmillos de jabaliacute 1 escudilla y 1 vasija(Ibidem 1963)En esta tumba tenemos 4 cilindros 3 de marfil y 1 de hueso este uacuteltimo estaacute fabricado sobre un tercio de diaacutefisis de hueso largo presumiblemente de ovicaacuteprido presenta decoracioacuten de tipo incisa con motivo reticulado oblicuo o diamantiforme no tiene carena pero siacute muestra perforaciones en la boca y en la baseLos 3 cilindros de marfil son tubulares sin fondo con decoraciones incisas con motivos diamantiforme presentando 2 de ellos perforaciones en la boca y baseLa tumba nordm 16 es un tholos de caacutemara circular y corredor dividido en cuatro tramos La caacutemara estaacute formada por bloques irregulares de piedra caliza tiene unas proporciones de 370por360 m esta acoge los restos del derrumbe de la cuacutepula El corredor mide 350 m de largo y 110 m de ancho la divisioacuten del mismo estaba realizada con losas de 150 m de alto En cuanto al ajuar este se compone de varios punzones un iacutedolo tolva de alabastro varios fragmentos de hueso plano una falange huma-na alisada un botoacuten circular de caliza y otro ovalado del mismo material una cuenta discoidal de caliza veintitreacutes puntas de flecha de siacutelex una gran hoja de puntildeal dos cuchillos cinco hojas de siacutelex una vasija globu-lar tres vasijas enteras fragmentos de otras ceraacutemicas y dos conchas de moluscos(Almagro et alii 1963) El cilindro hallado en esta tumba estaacute fabricado en marfil estaacute decorado con liacuteneas incisas y pulimentadoLa sepultura 7 es un sepulcro de caacutemara circular el corredor estaacute divi-dido en dos partes encontraacutendose bloqueado el acceso al mismo En su origen en el tuacutemulo se formaba un ciacuterculo de ortostatos de 13 m de diaacutemetro El corredor mide 365 m de longitud 1 m de ancho en su prim-er tramo y 115 m en el segundo las losas que lo conforman son de roca caliza pero las losas de divisioacuten son de pizarra la estructura descansa directamente sobre el suelo natural En lo que respecta a la caacutemara esta es de planta ligeramente circular con 430por 420 m estaacute formada por 21 losas de caliza y el suelo es de roca caliza natural El ajuar de esta tumba es similar al del tholos 5 destaca una gran presencia de diversos tipos de iacutedolos y ocho fragmentos de alabastro (Ibidem 1963)En esta tumba se han hallado dos cilindros decorados el primero es

| 575

| 2018

de marfil tiene decoracioacuten de tipo inciso con motivo diamantiforme sin carenado y el segundo es de hueso de boacutevido no presenta decoracioacuten ni carenado solo un tratamiento de pulimentado en su superficiePor uacuteltimo el tholos 40 es la estructura de mayores dimensiones de la necroacutepolis de los Millares y con el ajuar maacutes emblemaacutetico de este yacimientoincluye un hacha de metal ocho punzones y un fragmento indeterminado de cobre 85 puntas de flecha abundantes hojas de cuchillo y un puntildeal de siacutelex maacutes de 20 iacutedolos de distinto material y tipologiacutea ceraacutemica simboacutelica 11 elementos de hueso y 1 peine de marfil Se trata de un tholos de caacutemara central circular y corredor dividido en 3 secciones (Almagro et alii 1963)El cilindro decorado es de alabastro siendo el uacutenico de todo el conjunto de los Millares de este material pero no es un material raro pues aparece como materia prima de otro tipo de objetos en las tumbas de esta zona Este cilindro tiene fondo presenta decoracioacuten incisa con motivo reticula-do y carenadoEn Portugal tenemos hasta el momento localizados 10 cilindros decora-dos hallados en estructuras funerarias megaliacuteticas Hemos de decir que nuestro estudio de estos objetos en territorio luso estaacute en sus inicios por lo que la informacioacuten de la disponemos es escasa e incompleta auacutenLos 10 cilindros decorados hallados hasta la fecha se encuentran repar-tidos entre los Concejos de Sintra Torres Vedras y Palmela Dos se loca- lizan en estructuras dolmeacutenicas y 8 en tholoiLos dos primeros pertenecen al conjunto de Antas de Belas situado en el Concejo de Sintra compuesto de tres estructuras Anta do Monte Abraao Anta de Estria y Anta da Pedra dos Mouros Este conjunto fue descubierto a finales del siglo XIX Cronoloacutegicamente pertenece al perio-do transicional entre el Neoliacutetico reciente y el Calcoliacutetico inicialEn Anta do Monte Abraao es el dolmen de mayor tamantildeo estaacute compues-to por una caacutemara poligonal de 35 m de diaacutemetro formado por ocho losas y un corredor de 8 m de longitud y 2 m de anchura (Cardoso et alii 2011)En cuanto a los cilindros decorados el primero de ellos estaacute fa- bricado en hueso no tiene decoracioacuten pero siacute liacuteneas incisas previas a la zona de embocadura ademaacutes de dos perforaciones El segundo cilindro tambieacuten es de hueso se conserva casi completo estaacute decorado por todo el tubo con series paralelas de liacuteneas en zigzag ademaacutes de presentar liacuteneas previas a la boca y carenado que le proporciona a la boca un borde saliente engrosadoAl igual que en el territorio espantildeol que hemos analizado en Portugal pre-

576 |

domina el tipo tholos como lugar de hallazgo maacutes comuacuten de los cilindros que analizamosEn Praia das Maccedilas en el Concejo de Sintra Se han hallado cinco cilin-dros decorados La estructura funeraria data del periodo Calcoliacutetico y consta de una caacutemara circular con un diaacutemetro de unos 550 m situada en el medio de la construccioacuten A partir de ella se extienden dos corre-dores el maacutes corto acaba en una pequentildea caacutemara y el tramo maacutes largo es maacutes estrecho a la salida de la caacutemara ensanchaacutendose al final Esta extrantildea configuracioacuten parece ser fruto de la reutilizacioacuten de la estruc-tura pues al parecer en su origen fue un hipogeo del periodo Neoliacutetico (Gonccedilalves1982)El ajuar estaacute formado por geomeacutetricos hojas retocadas y sin retocar pun-tas de flecha de base rectangular o pedunculadas azuelas y hachas pu-limentadas ademaacutes de alfileres de hueso de cabeza segmentada iacutedolos ciliacutendricos placas de pizarra grabadas ceraacutemica esfeacuterica lisa y varios cuencosLos 5 cilindros decorados son de hueso 2 de ellos no presentan de- coracioacuten pero siacute liacuteneas incisas justo debajo de la boca El de mayores dimensiones presenta una perforacioacuten en la base Los otros 3 cilindros estaacuten profusamente decorados 2 de ellos presentan decoracioacuten dia-mantiforme con liacutenea incisa antes del borde o parte superior y el restante tiene 3 conjuntos de liacuteneas incisas paralelas en el centro del tubo y en los bordesEl siguiente tholos con cilindros decorados es Cabeccedilo da Arruda en el Con-cejo de Torres Vedras Fue descubierto en 1948 y a pesar de estar praacutecti-camente destruido se han podido recuperar diversos objetos En el ajuar se hallaron huesos humanos ceraacutemica campaniforme puntas de flecha hojas retocadas de siacutelex agujas de hueso fragmentos de una azuela y un hacha de anfibolita azul una luacutenula iacutedolos de roca caliza y arenisca etc(Silva1999)En cuanto a la estructura es de caacutemara circular con corredor la caacutemara mediacutea 25m de diaacutemetro y el corredor 45 m de largo Estaacute construido aprovechando un monumento megaliacutetico anterior concretamente un dol-men (Ibidem1999) En lo que respecta al cilindro decorado este es de hueso no presenta decoracioacuten en la superficie del tubo pero siacute presenta varias liacuteneas incisas previas al borde que es salienteLos dos cilindros decorados que restan pertenecen al tholos de Serra da Vila en el Concejo de Torres Vedras (Leisner1965) Ambos cilindros estaacuten fabricados en hueso el primero de ellos es de mayor tamantildeo y grosor

| 577

| 2018

presenta decoracioacuten de tipo incisa con motivo diamantiforme ademaacutes de carenado antes del borde que es saliente El segundo cilindro es algo maacutes pequentildeo no tiene decoracioacuten pero siacute presenta carenado y borde saliente

FUNCIOacuteNEn cuanto a las posibles funciones de los cilindros decoradosla primera que hemos considerado es la de contenedor como ya hemos comen-tado sin embargo la ausencia de fondo hace que esta funcioacutenla con-sideremos con ciertas reservas Para los soacutelidos seriacutea posible su uso si tuvieron un tapoacuten de materia orgaacutenica o bienun saquito de piel o tejido sujeto al borde mediante una cuerda Tenemos tres cilindros en la Cova degraves Carritx en Menorca (Lull 2006)que pueden ayudarnos a confirmar la utilizacioacuten de recipiente para soacutelidos pues se hallaron rellenos de pelo humano de esta forma la funcioacuten de guardapelo podriacutea ser una de las razones de su utilidad como contenedor (Lazarich et alii 2004) En el caso de los liacutequidos esta funcioacuten queda descartada pues no es posible garantizar la estanqueidad del cilindroPor otra parte tenemos cinco ci- lindros con fondo todos localizados en Andaluciacutea por lo que la funcioacuten

Cilindros Mariacutea Narvaacuteez Prueba de enmangue (Lazarich 2007) Foto Dra Esther Bricentildeo

578 |

contenedora es una de las maacutes probablesLa segunda funcioacuten considerada es la de enmangueno tenemos de mo-mento ejemplos de enmangues en estructuras megaliacuteticas sin embargo la hemos tenido en consideracioacuten porque tenemos un ejemplo muy claro en el yacimiento de la Cova Ampla del Montgoacute en Javea (Alicante) (Soler Diacuteaz 2002) El cilindro hallado presenta una serie de huellas de uso en su interior que dan muestra de haber sido cortado y encajado en otro ob-jeto en repetidas ocasiones Nosotros a este respecto hemos acudido a la arqueologiacutea experimental para realizar algunas pruebas de enmangue de las hojas de siacutelex halladas junto a los cilindros decorados del Paraje de Monte Bajo en Alcalaacute de los Gazules (Caacutediz) donde hemos visto que seriacutea una funcioacuten posible si se calza la hoja de siacutelex con alguacuten tipo de rel-leno para su sujecioacuten (Figura 4)(Lazarich 2002) Por ello consideramos el enmangue como uno de los usos maacutes probablesLa siguiente funcioacuten considerada es la de embellecedor basaacutendonos en la hipoacutetesis del investigador Joseacute Mariacutea Gutieacuterrez Loacutepez (2007) para el cilindro hallado en el dolmen de El Juncal en Ubrique (Caacutediz) Este asocia el cilindro con el embellecimiento de un carcaj de flechas al basarse en las perforaciones que presenta la pieza y la cercaniacutea del objeto con proyectiles de flecha hallados en la tumba La uacuteltima funcioacuten considerada es la de coletero o adorno para el pelo Para esta nos apoyamos por una parte en elementos como las liacuteneas inci-sas y las pequentildeas perforaciones que presentan los cilindros y por otra en la antropologiacutea cultural pues tenemos ejemplos de la utilizacioacuten de elementos similares para este fin en las Islas Marquesas en la Polinesia francesa Son pequentildeas figurillas antropomorfas tubulares para recoger el pelo estas presentan liacuteneas y perforaciones similares a las de los ci- lindros para la sujecioacuten de estas con cordajes (Kjellgren 2005) Pero sabemos que las Islas Marquesas se encuentran a muchos kiloacutemetros de la Peniacutensula Ibeacuterica por ello hemos fijado la vista en el mundo mediter-raacuteneo asiacute encontramos en las representaciones pictoacutericas de culturas como la egipcia (Albalat 2006) o la minoica (Martiacutenez 2011)elementos tubulares para la recogida y adorno del cabello similares a los cilindros decorados

VALORACIOacuteN FINALEn este estudio sobre los cilindros decorados de la Prehistoria reciente de la Peniacutensula Ibeacuterica hemos podido conocer que el 52 de los regis-

| 579

| 2018

tros han sido hallados en estructuras megaliacuteticas tanto en galeriacutea cubi-erta como en sepulcro corredor tipo tholos De ellos un 62 han sido hallados en sepulturas del territorio espantildeol y el resto en PortugalEstos porcentajes sacan a relucir la fuerte conexioacuten de este tipo de estructuras megaliacuteticas con el hallazgo de cilindros decoradosEn Espantildea hemos localizado 4 cilindros en galeriacutea cubierta y 12 en se- pulcro de corredor tipo tholos En galeriacutea cubierta o dolmen tenemos Fonelas El Juncal Llano de la Sabina o Sabina L4 y Gor5 siendo Fonelas y el Juncal los de mayor antiguumledad ambos del Neoliacutetico pleno Este uacutelti-mo destaca no solo por su antiguumledad sino por la monumentalidad de su estructura y el rico ajuar hallado que incluye un cristal roca (BN1G)cuen-tas de aacutembar y esquisto y el cilindro decorado de marfil (Gutieacuterrez 2007)En sepulcro de corredor tipo tholos tenemos La Pijotilla El Gandul Rambla de Huechar y los Millares siendo los Millares el yacimiento maacutes destacado pues en eacutel se han hallado ocho de los cilindros decorados ademaacutes de tres de las cinco materias primas conocidaspara su fabri-cacioacuten hueso marfil y alabastro En este conjunto destaca el tholos nordm40 por ser la estructura maacutes grande del conjunto y con el ajuar maacutes rico (Almagro et alii 1963)En Portugal hemos identificado hasta la fecha 10 cilindros decorados en estructuras megaliacuteticas 2 en galeriacutea cubierta y 8 en sepulcro de corre-dor En galeriacutea cubierta tenemos el Anta do Monte Abraao que pertenece al conjunto de Antas de Belas Cronoloacutegicamente pertenece al periodo transicional entre Neoliacutetico reciente y Calcoliacutetico inicialEn cuanto a sepulcro de corredor tenemos Praia das Maccedilas Cabeccedilo da Arruda y Serra da Vila Entre estos destaca Praia das Maccedilas con 5 cilin-dros decorados de hueso del periodo Calcoliacutetico Esta estructura ha dado indicios de haber sido reutilizada por su extrantildea configuracioacuten siendo en origen un hipogeo datado en el Neoliacutetico reconvertido en tholos en el Cal-coliacutetico (Gonccedilalves1982) En cuanto al ajuar destaca el sepulcro de fal-sa cuacutepula de Cabeccedilo da Arruda con ceraacutemica campaniforme puntas de flecha hojas retocadas de siacutelex agujas de hueso una azuela y un hacha de anfibolita azul una luacutenula e iacutedolos de caliza y arenisca (Silva1999)Son cinco las materias primas con las que fueron fabricados hueso mar-fil asta de boacutevido alabastro y madera Destacando el hueso como el material maacutes utilizado y el marfil y el alabastro como materias primas de prestigio obtenidas eacutestas gracias a una amplia red de intercambiosPor otra parte en este estudio hemos conocido las caracteriacutesticas mor-foloacutegicas y plaacutesticas de estos objetos como la forma tubular la falta de

580 |

fondo y tapadera de la mayor parte de ellos -salvo en tres casos- ademaacutes de las decoraciones de tipo inciso con motivos geomeacutetricosOtras de las caracteriacutesticas es el pulimento de sus superficies y caracteres especiales en algunos de elloscomo las liacuteneas incisasen la zona superior inmediata al borde y perforaciones previas a eacutelHemos considerado una serie de atributos para realizar clasificaciones tipoloacutegicasbasaacutendonos en sus caracteriacutesticas morfoloacutegicas y plaacutesticas La primera clasificacioacuten se ha basado en la presencia o no de tratamien-tos de superficies y decoraciones continuando con otra clasificacioacuten basada en el grado de inclinacioacuten del perfil del objeto con respecto a un aacutengulo de 90ordm al tamantildeo basado en la altura el ancho y el grosor de las basesRespecto a la plaacutestica hemos observado a partir de los motivosque muestran las decoraciones siendo el reticulado oblicuo o diamantiforme el maacutes destacado Por uacuteltimo hemos tomado en cuenta otros criterios como la presencia de carenado de liacuteneas incisas y perforaciones justo bajo los bordes de los cilindrosLos cilindros decorados se han datado en una franja temporal amplia que va desde el Neoliacutetico pleno al Broce inicialTodo lo expuesto es un intento de desentrantildear la posible funcioacuten y sig-nificado que tuvieron estos objetos para las comunidades de la Prehisto-ria reciente de la Peniacutensula Ibeacuterica con la inclusioacuten de diversas hipoacutete-sis a este respecto como la de recipiente o contenedor de soacutelidos de enmangue de herramientas o uacutetiles embellecedor de otros objetos o de coleteros para el pelo

BIBLIOGRAFIacuteAALBALAT Davinia (2008) La Mujer en el antiguo EgiptoFograverum de Recerca nordm13 p 275-282 ALMAGRO Martiacuten ARRIBAS Antonio (1963)El poblado y la necroacutepolis megaliacuteticos de Los Millares Santa Fe de Monduacutejar Almeriacutea Bibliotheca Praehistoacuterica Hispaacutenica III Madrid BATE Luis Felipe (1978) Sociedad Formacioacuten Econoacutemico-Social y Cultura Ed de Cultura Popular MeacutexicoCARDOSO Joatildeo Luiacutes BOAVENTURA Rui The megalithic tombs in the region of Belas (Sintra Portugal) and their aesthetic manifestations Trabajos de Prehistoria 2011 vol 68 p 297-312GONCcedilALVES Joatildeo Ludgero Marques Monumento preacute-histoacuterico da praia das Maccedilatildes (Sintra) noticia preliminar 1982HURTADO Viacutector (1981) Las figuras humanas del yacimiento de la Pijotilla(Badajoz)

| 581

| 2018

Madrider Mitteilungen 22 p 78-88KJELLGREN E IVORY C S (2005)Adornando el mundo El arte de las islas marque-sas Metropolitan Museum of Art LAZARICH Mariacutea (2002)Informe preliminar del estudio de los productos arqueoloacutegi-cos hallados en las diversas excavaciones de urgencia en el asentamiento de ldquoEl Jadramilrdquo (Arcos de la Frontera Caacutediz)Anuario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea Campantildea de 1999 Actividades sistemaacuteticas SevillaLAZARICH Mariacutea RICHARTE Mariacutea Joseacute y BUENO SANCHEZ Olga (2004) Estudio antropoloacutegico y de los productos arqueoloacutegicos hallados en la necroacutepolis de ldquoLas Val-derasrdquo (Arcos de la Frontera Caacutediz) depositados en los fondos del Museo provincial de Caacutediz Anuario arqueoloacutegico de Andaluciacutea 2001 p 83-93LOZANO RODRIacuteGUEZ Joseacute Antonio CARRIOacuteN MEacuteNDEZ Francisco MORGADO RO-DRIGUEZ Antonio GARCIacuteA GONZAacuteLEZ David AFONSO MARRERO Joseacute Andreacutes MARTIacuteNEZ FERNAacuteNDEZ Gabriel MOLINA GONZAacuteLEZ Fernando y CAacuteMARA SERRA-NO Juan Antonio(2010) Materias primas productos liacuteticos y circulacioacuten Informe preliminar del estudio de los ajuares de la necroacutepolis de Los Millares (Santa Fe de Monduacutejar Almeriacutea) Minerales y rocas en las sociedades de la Prehistoria Universi-dad de CaacutedizCaacutediz p 285-295MEDEROS Alfredo (1995) La cronologiacutea absoluta de la Prehistoria reciente del Sur-este de la Peniacutensula Ibeacuterica Pyrenae nordm 26 p 53-90 MEDEROS Alfredo (1996) La cronologiacutea absoluta de Andaluciacutea Occidental durante la Prehistoria reciente (6100-850 AC)rdquo SPAL 5pp 45-86 NARVAEZ CABEZA DE VACA Mariacutea (2015) Bases para el estudio de los cilindros dec-orados de la Prehistoria reciente III y II milenios aC en el sur este e islas baleares del territorio espantildeol Trabajo de Fin de Maacutester Universidad de CaacutedizNARVAEZ CABEZA DE VACA Mariacutea (2016) Bases para el estudio de los cilindros dec-orados de la Prehistoria Reciente de AndaluciacuteaTrabajo de Fin de Grado Universidad de CaacutedizNARVAEZ CABEZA DE VACA Mariacutea LAZARICH Mariacutea(2016)Los denominados cilin-dros decorados de hueso de la Prehistoria Reciente en la provincia de Caacutediz IX En-contro de Arqueologiacutea do sudoeste Peniacutensular Troacuteia-Setuacutebal(en prensa)PALMA Joseacute Ferrer (1977) La necroacutepolis megaliacutetica de Fonelas (Granada) El sep-ulcro ldquodomingo 1rdquo y sus niveles de enterramiento Cuadernos de Prehistoria y Arque-ologiacutea de la Universidad de Granadanordm 2 p 173-211 SCHUHMACHER Thomas X (2012) El marfil en Espantildea desde el Calcolitico al Bronce Antiguo Resultados de un proyecto de investigacioacuten interdisciplinar Marfil y elefan-tes en la Peniacutensula Ibeacuterica y el Mediterraacuteneo occidental Actas del coloquio interna-cional p 45-68SILVA Ana Maria(1999) A neacutecropole neolitica do Cabeccedilo da Arruda (Torres Vedras Portugal) os dados paleobioloacutegicos SAGVNTVM Extra vol 2 p 355-360SIRET Luis(2001) Espantildea prehistoacuterica Consejeriacutea de Cultura EPG TRINDADE Leonel DA VEIGA FERREIRA Octaacutevio (1956) A necroacutepole do Cabeccedilo de Arruda

582 |

| 583

| 2018

584 |

Page 3: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 4: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 5: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 6: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 7: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 8: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 9: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 10: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 11: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 12: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 13: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 14: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 15: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 16: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 17: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 18: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 19: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 20: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 21: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 22: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 23: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 24: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 25: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 26: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 27: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 28: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 29: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 30: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 31: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 32: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 33: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 34: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 35: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 36: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 37: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 38: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 39: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 40: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 41: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 42: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 43: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 44: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 45: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 46: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 47: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 48: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 49: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 50: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 51: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 52: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 53: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 54: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 55: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 56: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 57: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 58: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 59: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 60: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 61: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 62: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 63: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 64: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 65: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 66: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 67: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 68: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 69: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 70: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 71: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 72: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 73: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 74: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 75: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 76: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 77: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 78: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 79: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 80: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 81: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 82: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 83: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 84: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 85: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 86: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 87: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 88: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 89: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 90: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 91: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 92: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 93: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 94: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 95: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 96: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 97: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 98: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 99: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 100: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 101: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 102: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 103: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 104: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 105: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 106: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 107: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 108: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 109: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 110: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 111: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 112: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 113: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 114: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 115: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 116: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 117: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 118: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 119: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 120: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 121: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 122: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 123: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 124: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 125: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 126: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 127: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 128: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 129: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 130: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 131: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 132: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 133: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 134: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 135: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 136: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 137: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 138: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 139: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 140: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 141: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 142: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 143: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 144: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 145: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 146: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 147: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 148: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 149: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 150: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 151: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 152: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 153: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 154: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 155: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 156: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 157: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 158: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 159: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 160: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 161: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 162: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 163: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 164: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 165: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 166: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 167: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 168: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 169: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 170: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 171: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 172: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 173: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 174: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 175: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 176: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 177: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 178: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 179: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 180: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 181: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 182: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 183: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 184: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 185: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 186: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 187: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 188: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 189: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 190: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 191: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 192: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 193: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 194: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 195: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 196: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 197: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 198: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 199: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 200: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 201: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 202: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 203: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 204: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 205: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 206: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 207: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 208: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 209: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 210: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 211: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 212: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 213: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 214: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 215: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 216: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 217: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 218: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 219: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 220: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 221: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 222: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 223: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 224: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 225: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 226: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 227: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 228: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 229: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 230: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 231: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 232: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 233: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 234: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 235: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 236: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 237: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 238: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 239: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 240: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 241: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 242: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 243: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 244: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 245: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 246: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 247: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 248: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 249: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 250: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 251: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 252: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 253: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 254: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 255: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 256: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 257: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 258: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 259: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 260: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 261: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 262: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 263: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 264: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 265: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 266: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 267: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 268: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 269: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 270: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 271: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 272: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 273: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 274: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 275: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 276: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 277: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 278: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 279: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 280: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 281: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 282: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 283: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 284: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 285: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 286: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 287: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 288: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 289: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 290: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 291: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 292: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 293: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 294: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 295: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 296: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 297: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 298: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 299: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 300: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 301: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 302: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 303: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 304: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 305: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 306: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 307: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 308: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 309: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 310: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 311: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 312: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 313: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 314: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 315: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 316: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 317: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 318: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 319: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 320: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 321: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 322: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 323: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 324: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 325: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 326: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 327: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 328: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 329: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 330: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 331: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 332: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 333: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 334: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 335: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 336: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 337: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 338: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 339: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 340: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 341: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 342: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 343: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 344: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 345: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 346: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 347: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 348: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 349: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 350: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 351: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 352: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 353: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 354: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 355: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 356: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 357: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 358: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 359: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 360: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 361: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 362: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 363: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 364: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 365: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 366: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 367: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 368: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 369: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 370: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 371: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 372: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 373: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 374: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 375: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 376: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 377: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 378: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 379: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 380: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 381: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 382: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 383: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 384: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 385: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 386: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 387: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 388: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 389: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 390: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 391: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 392: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 393: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 394: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 395: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 396: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 397: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 398: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 399: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 400: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 401: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 402: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 403: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 404: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 405: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 406: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 407: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 408: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 409: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 410: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 411: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 412: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 413: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 414: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 415: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 416: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 417: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 418: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 419: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 420: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 421: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 422: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 423: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 424: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 425: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 426: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 427: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 428: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 429: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 430: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 431: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 432: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 433: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 434: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 435: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 436: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 437: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 438: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 439: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 440: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 441: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 442: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 443: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 444: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 445: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 446: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 447: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 448: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 449: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 450: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 451: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 452: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 453: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 454: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 455: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 456: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 457: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 458: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 459: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 460: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 461: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 462: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 463: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 464: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 465: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 466: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 467: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 468: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 469: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 470: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 471: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 472: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 473: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 474: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 475: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 476: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 477: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 478: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 479: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 480: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 481: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 482: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 483: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 484: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 485: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 486: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 487: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 488: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 489: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 490: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 491: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 492: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 493: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 494: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 495: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 496: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 497: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 498: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 499: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 500: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 501: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 502: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 503: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 504: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 505: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 506: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 507: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 508: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 509: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 510: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 511: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 512: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 513: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 514: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 515: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 516: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 517: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 518: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 519: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 520: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 521: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 522: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 523: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 524: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 525: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 526: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 527: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 528: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 529: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 530: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 531: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 532: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 533: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 534: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 535: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 536: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 537: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 538: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 539: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 540: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 541: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 542: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 543: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 544: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 545: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 546: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 547: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 548: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 549: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 550: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 551: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 552: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 553: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 554: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 555: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 556: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 557: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 558: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 559: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 560: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 561: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 562: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 563: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 564: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 565: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 566: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 567: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 568: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 569: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 570: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 571: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 572: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 573: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 574: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 575: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 576: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 577: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 578: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 579: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 580: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 581: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular
Page 582: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular