medidas de defesa comercial no brasil e impacto anticoncorrencial — 1989 a 2015

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  • 7/25/2019 MEDIDAS DE DEFESA COMERCIAL NO BRASIL E IMPACTO ANTICONCORRENCIAL 1989 A 2015

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    UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAO E CONTABILIDADE

    DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

    VINCIUS CAMARGO ARAJO

    MEDIDAS DE DEFESA COMERCIAL NO BRASIL E IMPACTO

    ANTICONCORRENCIAL1989 A 2015

    Braslia

    2015

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    VINCIUS CAMARGO ARAUJO

    MEDIDAS DE DEFESA COMERCIAL NO BRASIL E IMPACTO

    ANTICONCORRENCIAL1989 A 2015

    Dissertao apresentada ao Departamento de

    Economia da Universidade de Braslia paraobteno do ttulo de Mestre em Economia.

    rea de concentrao: Economia do Setor

    Pblico.

    Orientador: Prof. Dr. Csar Costa Alves de

    Mattos.

    Braslia2015

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    Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

    convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

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    ARAJO, V. C. Medidas de defesa comercial: uma anlise da prtica brasileira. Dissertao

    apresentada ao Departamento de Economia da Universidade de Braslia para obteno do

    ttulo de Mestre em Economia do Setor Pblico.

    Apresentada em 09/11/2015.

    Nota:_______

    BANCA EXAMINDADORA:

    ______________________________________________________________

    Prof. Dr. Csar Costa Alves de Mattos (presidente)

    ______________________________________________________________

    Dra. Andrea Pereira Macera

    ______________________________________________________________

    Prof. Dr. Alexandre Flvio Silva Andrada

    Braslia

    2015

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    minha esposa, Polliana, e ao meu filho,

    Samuel, que me motivam com amor.

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    AGRADECIMENTOS

    Aos professores do MESP, por todo o conhecimento que me fizeram alcanar ao longo do

    curso.

    Ao Prof. Dr. Csar Mattos, pela orientao que foi extremamente importante para realizao

    deste trabalho.

    Aos meus chefes, pelos ensinamentos e pelo apoio durante a realizao do curso.

    Aos colegas da Seae, pelo aprendizado que me proporcionaram.

    Aos condiscpulos do MESP, pelo companheirismo, pelos momentos de estudo e por toda

    ajuda.

    minha famlia, pela pacincia e compreenso.

    Ao Ministrio da Fazenda, pelo patrocnio da minha participao no curso.

    A todos que, de alguma forma me ajudaram durante a realizao deste mestrado.

    A Deus.

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    A competitive marketthe epitome of

    private institutionsis itself a public good.

    (Elinor Ostrom)

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    RESUMO

    Este trabalho analisa a relao entre medidas de defesa comercial e a

    concorrncia no Brasil. Para tal, cruzamos as informaes da aplicao de medidas de defesa

    comercial com a anlise de atos de concentrao e processos instaurados pelo Conselho

    Administrativo de Defesa Econmica (CADE) para averiguar condutas anticompetitivas. Com

    o intuito de descrever a atuao brasileira na aplicao de medidas de defesa comercial, foram

    identificados todos os casos de aplicao de medidas de defesa comercial no perodo de 1989

    a agosto de 2015. As medidas de defesa comercial foram ento classificadas de acordo com o

    tipo de medida, pas de origem, tipo de alquota, o setor econmico envolvido, com base naNomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM), no nvel de seo, ocorrncia de atos de

    concentrao ou processos para apurar condutas anticompetitivas, tipo de conduta

    anticompetitiva. Para direitos antidumping foram determinadas ainda a forma de apurao do

    valor normal e se foi aplicado direito menor que a margem de dumping apurada. Esse estudo

    nos permitiu identificar quais os setores que se beneficiaram com a aplicao de medidas de

    defesa comercial, qual o grau de concentrao da indstria protegida, nmero de atos de

    concentrao e prticas de condutas anticompetitivas relacionadas a medidas de defesacomercial. Observou-se, no perodo 2010-2014, um aumento de 134% no nmero de medidas

    antidumping em vigor. As medidas de defesa comercial protegem principalmente os setores

    de bens intermedirios e os mercados concentrados.

    Palavras-chave: defesa comercial, medidas antidumping, concorrncia, protecionismo.

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    ABSTRACT

    This work analyses the Brazilian practice in applying commercial defense measures

    and its relation to the cases of anti-competiveness practices and market concentration

    analyzed by the antitrust Brazilian authority (CADE). Willing to picture the Brazilian usage

    of commercial defense measures, we identify the cases in which commercial defense

    measures were applied, considering the period from April 1989 to August 2015. The

    commercial defense measures were classified accordingly to the type of the measure, the

    economic sector of the product considered the object of the measure, based on the

    MERCOSUR Common Nomenclature (NCM), specified in the section level, the occurrenceof market concentration procedures and administrative processes to investigate

    anticompetitive behavior. This study identifies the main sectors protected by commercial

    defense measures in Brazil and how many players has these sectors, the protected sectors that

    tend to market concentration and that got involved in investigations for anticompetitive

    behavior. The anti-dumping measures in force increased by up 134% in the period 2010-2014.

    We found that the majority of commercial defense measures protects intermediate goods

    sectors and concentrated markets.

    Key-words: trade police, anti-dumping, competition, protectionism.

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    LISTA DE FIGURAS

    Grfico 1. Nmero de medidas aplicadas por pas de origem ............................................. 48

    Grfico 2. Nmero de direitos antidumping definitivos, por setor. ..................................... 55

    Grfico 3. Direitos antidumping aplicados por ano de incio da vigncia ........................... 56

    Grfico 4. Direitos antidumping em vigor, por ano. ............................................................ 57

    Grfico 5. Nmero de produtores domsticos dos produtos objetos dos direitos

    antidumping definitivos aplicados. ........................................................................................... 64

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Medidas de salvaguardas aplicadas (1989-2015) ..................................................... 42

    Tabela 2. Medidas compensatrias aplicadas (1989-2015) ...................................................... 44

    Tabela 3. Medidas compensatrias aplicadas e estrutura de mercado (1989-2015) ................ 45

    Tabela 4. Medidas compensatrias aplicadas: comparativo entre alquotas ad valoremeimposto de importao (1989-2015) ........................................................................................ 46

    Tabela 5. Medidas compensatrias aplicadas: comparativo entre medidas aplicadas na formade alquotas especficas e imposto de importao (1989-2015) ............................................... 46

    Tabela 6. Medidas antidumping aplicadas por pas de origem (1989-2015)............................ 49

    Tabela 7. Extenses do direito antidumping original, medidas antieliso ou anticircunveno(1989-2015) .............................................................................................................................. 50

    Tabela 8. Medidas antidumping suspensas............................................................................... 51

    Tabela 9. Casos de suspenso de direitos antidumping definitivos, com fundamento nasalteraes temporrias das condies de mercado, Art. 60 do Decreto n 1.602, de 23 deagosto de 1995. ......................................................................................................................... 52

    Tabela 10. Casos de suspenso de medidas antidumping, com fundamento na clusula deinteresse pblico. ...................................................................................................................... 53

    Tabela 11. Casos de alterao de direito antidumping definitivo ou aplicao em valordiferente do recomendado, com fundamento na clusula de interesse pblico. ....................... 53

    Tabela 12. Direitos antidumping: casos de interrupo da produo domstica...................... 54

    Tabela 13. Medidas antidumping por setor. ............................................................................. 55

    Tabela 14. Direitos antidumping definitivos, base para apurao do direito. .......................... 57

    Tabela 15. Mtodos de apurao de valor normal e direitos antidumping definitivos. ............ 61

    Tabela 16. Direitos antidumping, tipo de alquota. .................................................................. 61

    Tabela 17. Comparativo entre Imposto de Importao e direitos aplicados na forma dealquota ad valorem. ................................................................................................................. 62

    Tabela 18. Comparativo entre Imposto de Importao e direitos aplicados na forma dealquota especfica. ................................................................................................................... 63

    Tabela 19. Atos de concentrao identificados nos mercados dos produtos objetos de medidasantidumping. . ........................................................................................................................... 66

    Tabela 20. Condutas anticompetitivas investigadas pelo CADE, envolvendo os mercados dosprodutos objetos de medidas antidumping. .............................................................................. 67

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    SUMRIO

    I. INTRODUO ................................................................................................................ 13

    II. CONCEITOS FUNDAMENTAIS ................................................................................ 14

    II.1. Medidas de Salvaguarda ............................................................................................ 14

    II.2. Medidas Compensatrias ........................................................................................... 15

    II.3. Medidas Antidumping ............................................................................................... 15

    III. FUNDAMENTOS LEGAIS DAS MEDIDAS DE DEFESA COMERCIAL .............. 17

    III.1. O GATT 47 ............................................................................................................ 17

    III.2. O GATT 1994 ........................................................................................................ 20

    III.3. O Acordo Antidumping .......................................................................................... 20

    III.4. Acordo sobre Subsdios e Medidas Compensatrias ............................................. 23

    III.5. Acordo sobre Salvaguardas .................................................................................... 25

    III.6. Legislao Brasileira sobre o tema......................................................................... 25

    III.6.1. O Regulamento Antidumping e outras normas infra legais ............................ 26

    III.6.2. O Regulamento sobre Direitos Compensatrios ............................................. 29

    III.6.3. O Regulamento sobre Salvaguardas ............................................................... 29

    IV. REFERENCIAL TERICO .......................................................................................... 31

    IV.1. Fundamentos Econmicos...................................................................................... 31

    IV.2. Defesa Comercial e Concorrncia .......................................................................... 34

    IV.3. Interesse Pblico .................................................................................................... 35

    V. ANLISE EMPRICA DA APLICAO DE MEDIDAS DE DEFESACOMERCIAL NO BRASIL ..................................................................................................... 39

    V.1. Metodologia ............................................................................................................... 39

    V.2. Medidas De Salvaguarda ........................................................................................... 42

    V.3. Medidas Compensatrias ........................................................................................... 44

    V.4. Medidas Antidumping ............................................................................................... 47

    VI. CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................ 69

    VII. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................................... 71

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    I. INTRODUO

    As medidas antidumping, compensatrias e de salvaguardas constituem as medidas de

    defesa comercial, arquitetadas essencialmente com um conjunto de instrumentos de proteo

    definidos por acordos internacionais no mbito do processo de liberalizao comercial

    baseado no GATT1e suas rodadas de negociaes multilaterais que resultaram na formao e

    aperfeioamento da Organizao Mundial do Comrcio (OMC).

    As medidas de defesa comercial so defendidas como uma concesso fundamental

    para viabilizar acordos multilaterais de liberalizao comercial e como uma compensao

    protecionista exigida em razo dos acordos que levaram reduo de alquotas de importao,

    que exps os produtores domsticos ao mpeto de concorrentes estrangeiros.Embora a imposio de medidas de defesa comercial seja benfica a determinados

    produtores domsticos, os seus efeitos sobre outras indstrias, sobre os consumidores e sobre

    o bem-estar, nem sempre positivo. Em particular, a reduo da exposio competio

    externa pode gerar desabastecimento e aumento de preos domstico, alm do consequente

    impacto concorrencial.

    Buscamos nesse trabalho, descrever a prtica brasileira na aplicao de medidas de

    defesa comercial, identificar os principais setores que recorrem a esses instrumentos,apresentar a evoluo das medidas em vigor no Brasil e as principais caractersticas dos

    setores afetados, bem como identificar os casos de condutas anticompetitivas e atos de

    concentrao em mercados de produtos objetos da aplicao de medidas de defesa comercial.

    Este trabalho se divide da seguinte forma: a Seo II apresenta os conceitos

    fundamentais para a compreenso do presente trabalho. A Seo III dispe sobre a legislao

    referente s medidas de defesa comercial. A Seo IV apresenta o referencial terico. A Seo

    V apresenta os resultados da anlise emprica da prtica brasileira em defesa comercial e suarelao com atos de concentrao e prticas anticompetitivas. A Seo VI traz as concluses

    do presente trabalho.

    1GATT: refere-se ao Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio 1947 (GATT 47) ou ainda ao Acordo Geral deTarifas e Comrcio de 1994 (GATT 1994).

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    II. CONCEITOS FUNDAMENTAIS

    As medidas de defesa comercial compreendem medidas de proteo indstria

    nacional, normalmente aplicadas na forma de um direito aduaneiro. As medidas de defesa

    comercial aqui tratadas so trs: salvaguarda, compensatrias e antidumping. Essas trs

    medidas constam de acordos firmados no mbito da OMC, como veremos adiante.

    II.1. Medidas de Salvaguarda

    As medidas de salvaguarda so aplicadas a um produto, cujas importaes tenham

    aumentado em virtude da abertura comercial promovida em funo das obrigaes

    assumidas no GATT, como concesses tarifrias de forma a causar ou ameaar causar

    grave prejuzo indstria nacional que concorre com esses bens importados. As medidas de

    salvaguarda so aplicadas s importaes de um determinado produto, sem distino de

    origem. O objetivo dessas medidas proteger temporariamente uma indstria afetada pelo

    sbito aumento de importaes, para que com essa proteo essa indstria possa elevar seu

    grau de competitividade para ento concorrer com os produtos importados. (Barral e Brogini,

    2007)

    As medidas de salvaguardas podem consistir de uma alquota ad valorem2, alquota

    especfica3 ou combinao de ambas. Tambm podem ocorrer aplicaes de medidas de

    salvaguarda como restries quantitativas (cotas de importao).

    Para aplicao de medidas de salvaguardas deve-se verificar aumento de importaes

    de determinado produto; ocorrncia de dano ou ameaa de dano indstria domstica

    produtora de produtos similares ou produtos concorrentes; nexo causal entre o aumento de

    importaes e o dano ou ameaa de dano verificados.

    Em circunstncia crtica, na qual qualquer demora possa causar prejuzo grave de

    difcil reparao, poder ser aplicada uma medida de salvaguarda provisria, baseada em umadeterminao preliminar de que as importaes estejam causando ou ameaando causar grave

    prejuzo indstria domstica. O prazo de aplicao da medida de salvaguarda provisria ser

    computado para efeito da vigncia total da medida de salvaguarda definitiva.

    As medidas de salvaguardas devem ser aplicadas por um perodo considerado

    necessrio preveno e combate do dano indstria domstica, facilitando o ajuste desta

    2A alquota ad valorem um percentual aplicado sobre o valor aduaneiro em base CIF. Na prtica consiste emum aumento do imposto de importao.3A alquota especfica um valor monetrio por uma determinada quantidade de produto, independentemente dovalor aduaneiro. Por exemplo US$10,00 por unidade importada, ou ainda, US$100,00 por tonelada importada.

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    ltima em um prazo maior. E esse perodo no poder ser superior a quatro anos

    (prorrogveis). O perodo total de aplicao da medida de salvaguarda, incluindo o perodo da

    medida provisria e todo perodo de prorrogao, est limitado a dez anos. (Art. 9, Decreto

    1.488 de 11/5/1995).

    II.2. Medidas Compensatrias

    O GATT 47 define a medida compensatria como uma medida especial aplicada com

    o propsito de neutralizar qualquer prmio ou subveno concedidos, direta ou indiretamente,

    manufatura, produo ou exportao de qualquer mercadoria.A medida compensatria

    uma forma de combate ao subsdio governamental, proibido no mbito do GATT.

    Para aplicar uma medida compensatria, devem-se verificar importaes de produtos

    subsidiados, ocorrncia de dano indstria domstica e nexo causal entre as importaes de

    produtos subsidiados e o dano verificado indstria domstica. No caso de determinao

    positiva de dano causado por subsdios acionveis a investigao concluda com a aplicao

    de direitos compensatrios, que se limitam ao montante apurado de subsdio, sendo recolhidos

    na forma de alquotas ad valorem ou alquotas especficas.

    Medidas compensatrias provisrias (ou preliminares) podem ser aplicadas caso sejam

    necessrias para impedir que ocorra dano durante a investigao.Se o governo do pas exportador concordar em eliminar ou reduzir o subsdio ou

    adotar outras medidas relativas a seus efeitos, ou se o exportador assumir voluntariamente

    compromissos de preos eliminando efeito prejudicial decorrente do subsdio, podero ser

    suspensos os procedimentos, sem aplicao de medidas compensatrias provisrias ou

    direitos compensatrios. O aumento de preos ao amparo do compromisso est limitado ao

    montante de subsdio acionvel, podendo se limitar ao necessrio para cessar o dano

    indstria domstica. (Art. 45, Decreto 1.751 de 19/12/1995)

    Os direitos compensatrios e compromissos devem vigorar pelo tempo necessrio para

    neutralizar o subsdio acionvel causador de dano, limitando-se a cinco anos, prorrogveis

    pelos procedimentos de reviso.

    II.3. Medidas Antidumping

    O dumping a prtica da discriminao internacional de preos. Dessa forma, o

    dumping ocorre quando um pas exporta um produto a um segundo pas, a um preo de

    exportao menor que o preo praticado em seu mercado domstico.

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    O dumping uma prtica condenvel, embora no seja proibida pelos acordos da

    OMC. Para ser condenvel o dumping deve causar dano ou ameaa de dano indstria do

    pas importador ou retardar de forma relevante o seu estabelecimento.

    Na apurao de dumping devemos definir dois conceitos: valor normal e margem de

    dumping. Inicialmente, define-se o valor normal como o valor apurado dos preos

    domsticos do produto similar. Na falta de preos domsticos comparveis, utiliza-se para

    fins de apurao do valor normal o maior preo de exportao comparvel do produto

    similar para um terceiro pas qualquer (que definiremos como preo de exportao para

    terceiro pas), ou o preo construdo com base nos custos de produo, venda e lucro.

    O GATT 47 estabelece que para a constatao de dumping deve-se apurar a prtica de

    um preo de exportao maior que o valor normal. A diferena entre o preo de exportao

    e o valor normal definida como margem de dumping. Ainda nesse contexto, o GATT 47

    utiliza o termo produto similar (likely product) possibilitando que na apurao da margem

    de dumping, utilizem-se preos de produtos no idnticos, mas que guardem alguma

    semelhana, desde que comparveis.

    Sendo assim, o pas que sofre o dumping pode aplicar um direito antidumping s

    importaes do produto objeto do dumping, entendido como o produto para o qual se apuroua margem de dumping, ou, em outras palavras, o produto cujo preo de exportao maior

    que seu valor normal.

    O direito antidumping pode ser aplicado com a finalidade de neutralizar ou prevenir o

    dumping e sua aplicao no obrigatria. Nesse contexto, o direito antidumping, se

    aplicado, no pode ultrapassar a margem de dumping apurada.

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    III. FUNDAMENTOS LEGAIS DAS MEDIDAS DE DEFESA COMERCIAL

    III.1. O GATT 47

    O artigo VI do Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio 1947 (GATT 47), define

    dumping como a introduo de produtos de um pas no comrcio de um segundo pas por

    menos que seu valor normal. importante ressaltar que, embora definida como condenvel,

    a prtica de dumping no proibida. O acordo impe que para ser condenvel o dumping

    deve causar dano ou ameaa de dano indstria do pas importador ou retardar de forma

    relevante o seu estabelecimento.

    o dumping definido como a introduo de produtos de um pas nocomrcio de um segundo pas por menos que seu valor normal

    uma prtica condenvel se causar ou ameaar causar dano a umaindstria estabelecida no territrio de uma parte contratante, ou retardarelevantemente o estabelecimento de uma indstria domstica. (Naes Unidas, 1947)4.

    O GATT 47 estabelece que para constatao de dumping deve-se apurar a prtica de

    um preo de exportao maior que o valor normal, esse o conceito de margem de

    dumping. O art. VI do acordo determina que o valor normal deve ser apurado como preos

    domsticos do produto similar. Na falta de preos domsticos comparveis, utiliza-se para

    fins de apurao do valor normal o maior preo de exportao comparvel do produtosimilar para um terceiro pas qualquer (que definiremos como preo de exportao para

    terceiro pas), ou o preo construdo com base nos custos de produo, venda e lucro:

    para que se considere que um produto introduzido no comrcio deum pas importador por menos que seu valor normal, deve-seconstatar que o preo do produto exportado: (a) menor que o preocomparvel, no curso normal de comrcio, para o produto similarquando destinado ao consumo no pas exportador, ou; (b) na ausnciade tal preo domstico, menor que (i) o maior preo comparvel

    para o produto similar destinado exportaopara qualquer terceiropas no curso normal de comrcio, ou; (ii) o custo de produo doproduto no pas de origem somado a razoveis custos de venda elucro.(Naes Unidas, 1947)5

    4Traduo livre do art. VI do GATT 47: 1. The contracting parties recognize that dumping, by which productsof one country are introduced into the commerce of another country at less than the normal value of the

    products, is to be condemned if it causes or threatens material injury to an established industry in the territory ofa contracting party or materially retards the establishment of a domestic industry. 5Traduo livre do art. VI do GATT 47:For the purposes of this Article, a product is to be considered as beingintroduced into the commerce of an importing country at less than its normal value, if the price of the productexported from one country to another (a) is less than the comparable price, in the ordinary course of trade, forthe like product when destined for consumption in the exporting country, or, (b) in the absence of such domestic

    price, is less than either (i) the highest comparable price for the like product for export to any third country in

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    No contexto da apurao do valor normal, preo de exportao e margem de dumping,

    o GATT 47 determina correes quando verificadas diferenas nas condies comerciais e

    outras que possam afetar a justa comparao entre os valores:

    Deve-se proceder s devidas correes em cada caso para diferenasapuradas nas condies e termos de venda, para diferenas tributriase para outras diferenas que afetam a comparabilidade de preos6

    Ainda nesse contexto, o GATT 47 utiliza o termo produto similar ( likely product)

    possibilitando que na apurao da margem de dumping, utilize-se preos de produtos no

    idnticos, mas que guardem alguma semelhana, desde que comparveis. O dispositivo ainda

    estabelece que o pas que sofre o dumping pode aplicar um direito antidumping s

    importaes do produto objeto do dumping, entendido como o produto para o qual se apuroua margem de dumping, ou, em outras palavras, o produto cujo preo de exportao maior

    que seu valor normal. O direito antidumping pode ser aplicado com a finalidade de neutralizar

    ou prevenir o dumping e sua aplicao no obrigatria. Caso um pas, parte contratante do

    acordo, queira aplicar a medida antidumping, deve faz-lo respeitando os limites e condies

    impostas pelo art. VI do acordo. Nesse contexto, o direito antidumping, se aplicado, no pode

    ultrapassar a margem de dumping apurada em obedincia ao acordo:

    para neutralizar ou prevenir o dumping, o pas afetado (partecontratante do acordo) pode aplicar, a qualquer produto objeto dedumping, um direito antidumping no superior ao montante damargem de dumping relativa a esse produto.(Naes Unidas, 1947)7

    O GATT 47 define as medidas compensatriascomo medidas especiais aplicadas

    com o propsito de neutralizar subsdios concedidos manufatura, produo ou exportao de

    qualquer mercadoria. As medidas compensatrias tambm esto limitadas ao montante de

    subsdio apurado.

    3. Nenhuma medida compensatria dever ser aplicada a qualquerproduto originrio do territrio de qualquer parte contratanteimportado no territrio de outra parte contratante em excesso aomontante estimado de prmio ou subsdio que, conforme apurao, foi

    the ordinary course of trade, or (ii) the cost of production of the product in the country of origin plus areasonable addition for selling cost and profit.

    6Traduo livre do art. VI do GATT 47:Due allowance shall be made in each case for differences in conditionsand terms of sale, for differences in taxation, and for other differences affecting price comparability.

    7Traduo livre do art. VI do GATT 47: 2. In order to offset or prevent dumping, a contracting party may levyon any dumped product an anti-dumping duty not greater in amount than the margin of dumping in respect of

    such product.

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    concedido, direta ou indiretamente, manufatura produo ouexportao de tais produtos no pas de origem ou exportao,incluindo qualquer subsdio especial para o transporte de um produtodeterminado. O termo medidas compensatrias deve ser entendido

    como uma medida especial aplicada com o propsito de neutralizarqualquer prmio ou subveno concedidos, direta ou indiretamente, manufatura, produo ou exportao de qualquer mercadoria. (Naes Unidas, 1947)8

    vedada a aplicao, ao mesmo tempo, de medidas compensatrias e antidumping,

    nos termos do acordo:

    5. Nenhum produto originrio de qualquer parte contratanteimportado no territrio de qualquer outra parte contratante deve estar,simultaneamente, sujeito a ambas medidas antidumping ecompensatrias, objetivando compensar a mesma situao de dumpingou exportao subsidiada(Naes Unidas, 1947)9

    O Artigo XVI do GATT estabelece que concesso de uma subveno exportao

    incluindo a forma de proteo das rendas ou sustentao dos preos que tenha por efeito

    elevar as exportaespode causar prejuzo a outras partes do acordo, devendo ser evitadas.

    Probe ainda qualquer subveno exportao de produtos que no sejam produtos de base.

    O Artigo XIX do GATT estabelece o conceito de medidas de salvaguardas como

    aes emergenciais sobre importaes de determinados produtos. As salvaguardas no

    dependem da discriminao internacional de preos (dumping) nem so uma medida para

    combater a subveno governamental produo (medidas compensatrias). As salvaguardas

    so aplicadas caso, em virtude das concesses tarifrias, ou outras obrigaes assumidas no

    GATT, ocorra um aumento das importaes que cause ou ameace causar dano indstria

    domstica:

    1. (a) Se como um resultado de acontecimentos no

    previstos e do efeito das obrigaes assumidas por uma partecontratante em virtude deste acordo, incluindo concesses tarifrias,

    8Traduo livre do art. VI do GATT 47: 3. No countervailing duty shall be levied on any product of theterritory of any contracting party imported into the territory of another contracting party in excess of an amountequal to the estimated bounty or subsidy determined to have been granted, directly or indirectly, on themanufacture, production or export of such product in the country of origin or exportation, including any special

    subsidy to the transportation of a particular product. The term "countervailing duty" shall be understood tomean a special duty levied for the purpose of offsetting any bounty or subsidy bestowed, directly, or indirectly,upon the manufacture, production or export of any merchandise.

    9Traduo livre do art. VI do GATT 47: 5. No product of the territory of any contracting party imported intothe territory of any other contracting party shall be subject to both anti-dumping and countervailing duties tocompensate for the same situation of dumping or export subsidization.

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    qualquer produto est sendo importado no territrio dessa partecontratante em quantidades maiores e em condies que causem ouameacem a causar srios danos ao produtores domsticos de produtossimilares ou diretamente concorrentes naquele territrio, a parte

    contratante deve estar livre, em respeito a tal produto, e extenso, epelo tempo que possa ser necessrio para prevenir ou combater taldano, a suspender a obrigao por completo ou parcialmente, ou aindaretirar ou modificar a concesso (Naes Unidas, 1947)10

    III.2. O GATT 1994

    Da Ata Final que Incorpora os Resultados da Rodada Uruguai de Negociaes

    Comerciais Multilaterais, de 15 de abril de 1994, consta o Acordo Constitutivo da

    Organizao Mundial do Comrcio11, que estabelece os Acordos Multilaterais de Comrcio

    de Bens e dentre esses acordos temos o Acordo Geral de Tarifas e Comrcio de 1994

    (GATT 1994); o Acordo sobre a Implementao do Artigo VI do GATT 1994 (Acordo

    Antidumping); o Acordo sobre Subsdios e Medidas Compensatrias; e o Acordo sobre

    Salvaguardas.

    O GATT 94 expressamente incorpora as disposies do GATT 47 e, sendo assim, o

    seu artigo VI (Direitos Antidumping e de Compensao) e Artigo XIX (Aes Emergenciais

    sobre Importaes de Determinados Produtos) permanecem inalterados. Logo, o Acordo

    Antidumping, o Acordo sobre Subsdios e Medidas Compensatrias, e o Acordo sobre

    Salvaguardas, so acordos sobre a implementao do disposto no Artigo VI do GATT 94 que

    no difere do disposto no GATT 47 anteriormente discutido.

    III.3. O Acordo Antidumping

    O Acordo sobre a Implementao do Artigo VI do GATT 1994 (AcordoAntidumping), disciplina o disposto no Artigo VI do GATT 1994, detalhando e

    uniformizando a metodologia para determinao da margem de dumping, dano e nexo causal

    10Traduo livre do Art. XIX do GATT 47: 1. (a) If, as a result of unforeseen developments and ofthe effect of the obligations incurred by a contracting party under this Agreement, including tariff concessions,any product is being imported into the territory of that contracting party in such increased quantities and under

    such conditions as to cause or threaten serious injury to domestic producers in that territory of like or directlycompetitive products, the contracting party shall be free, in respect of such product, and to the extent and for

    such time as may be necessary to prevent or remedy such injury, to suspend the obligation in whole o r in part or

    to withdraw or modify the concession..

    11 Internalizado pelo Decreto n 1.355, de 30 de dezembro de 1994. Disponvel emhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D1355.htm.Acesso em:19/5/2015.

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D1355.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D1355.htm
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    entre dumping e dano. Sendo assim, estabelece que as medidas antidumping s podem ser

    aplicadas nas circunstncias previstas no acordo e quando as investigaes forem iniciadas e

    conduzidas de acordo com as disposies do Acordo Antidumping (Acordo Antidumping,

    1994).

    O Acordo Antidumping define trs formas para a determinao do valor normal: (1) o

    primeiro mtodo, no qual o valor normal determinado como o preo comparvel, no curso

    normal de comrcio, para o produto similar quando destinado para consumo no pas

    exportador; (2) o segundo mtodo, no qual o valor normal determinado como o preo

    comparvel do produto similar quando exportado a um terceiro pas apropriado, desde que

    esse preo seja representativo e (3) o mtodo do valor normal construdo, no qual o valor

    normal determinado como o valor construdo com base no custo de produo no pas de

    origem somado a um montante razovel referente a margem de lucro e a custos

    administrativos, comerciais e custos gerais. Deve-se adotar o segundo ou o terceiro mtodo de

    apurao do valor normal apenas quando no ocorre no pas exportador vendas domsticas do

    produto similar no curso normal de comrcio ou quando, devido a uma situao particular de

    mercado ou o baixo volume de vendas nesse mercado, tais vendas no permitam uma

    comparao adequada. (Acordo Antidumping, 1994).

    Nos casos de economias no predominantemente de mercado, o acordo no prev

    metodologia para o clculo do valor normal, abrindo margem para atuao discricionria da

    autoridade investigadora:

    Na situao particular de economias nas quais o governo tem omonoplio completo ou substancialmente completo do monoplio deseu comrcio e nas quais todos os preos domsticos so fixados peloEstado, GATT 1994 e o Acordo Antidumping reconhecem que umacomparao estrita com os preos do mercado domstico pode no ser

    apropriada. Pases importadores tm ento atuado com significantediscricionariedade no clculo do valor normal dos produtos originriosde economias no predominantemente de mercado.(OMC, 2009)12

    Para que possa impor um direito antidumping, o pas investigador deve constatar dano

    indstria domstica em decorrncia do dumping determinado na investigao, seguindo

    todos os requerimentos do Acordo Antidumping. Ento, uma vez constatado o dumping, dano

    12Traduo livre. OMC. Technical Information on anti-dumping: the particular situation of economies wherethe government has a complete or substantially complete monopoly of its trade and where all domestic prices

    are fixed by the State, GATT 1994 and the Agreement recognize that a strict comparison with home marketprices may not be appropriate. Importing countries have thus exercised significant discretion in the calculationof normal value of products exported from non-market economies.Disponvel em: < https://www.wto.org/english/tratop_e/adp_e/adp_info_e.htm>. Acesso em:10/8/2015.

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    indstria domstica e nexo causal entre dumping e dano, apurados em obedincia ao Acordo

    Antidumping, caber autoridade do pas investigador decidir se aplicar ou no o direito, e

    caso decida pela aplicao, se optar pelo direito menor ou se aplicar o direito com base no

    montante total da margem de dumping apurada:

    9.1 A deciso de impor ou no impor um direito antidumping noscasos em que os requerimentos para imposio do direito antidumpingterem sido cumpridos, e a deciso sobre aplicar o direito antidumpingno montante total da margem de dumping apurada ou aplicar umdireito menor, so decises da competncia da autoridade do membroimportador. desejvel que a imposio seja permissiva no territriode todos os membros, e que o direito seja menor que a margem, casotal direito menor possa adequadamente cessar o dano indstria

    domstica.(OMC, 1994b)

    13

    O direito antidumping deve ser aplicado de acordo com a margem de dumping

    apurada ou direito menor que a margem de dumping, sem discriminao de origens, devendo

    ser aplicado sobre todas as importaes do produto para as quais houve determinao de

    dumping e dano causado pelo dumping, independente da origem, exceto quelas importaes

    para as quais foram firmados compromissos de preos. O pas importador livre para decidir

    se aplicar ou no o direito antidumping. Mas, caso decida pela aplicao, deve aplicar para

    todos os pases que praticaram dumping e que tal dumping causou dano indstria domstica.A aplicao no pode favorecer determinado pas em detrimento de outros na mesma

    situao. Nesse sentido no pode haver discriminao de pases na aplicao do direito

    antidumping.

    No caso da aplicao de um direito menor o pas aplicador da medida antidumping

    pode decidir por aplicar um direito em valor menor do que a margem de dumping apurada na

    investigao, como, por exemplo, a margem de subcotao, nos casos em que a margem de

    subcotao apurada for menor que a margem de dumping apurada na investigao. Asubcotao a diferena entre preos da indstria domstica e o valor CIF internado das

    importaes investigadas. Sendo assim, quando a margem de subcotao for menor que a

    margem de dumping, o pas pode decidir por aplicar um direito antidumping no valor da

    margem de subcotao, por entender que esse direito menor suficiente para sanar o dano

    ou ameaa de dano sofrida pela indstria domstica. O pas importador, tambm pode decidir

    13Traduo livre do Acordo Antidumping: 9.1 The decision whether or not to impose an anti dumpingduty in cases where all requirements for the imposition have been fulfilled, and the decision whether the amount

    of the anti dumping duty to be imposed shall be the full margin of dumping or less, are decisions to be made bythe authorities of the importing Member. It is desirable that the imposition be permissive in the territory of all

    Members, and that the duty be less than the margin if such lesser duty would be adequate to remove the injury tothe domestic industry.

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    por aplicar um direito menor por razo de interesse pblico, quando por exemplo, a margem

    de dumping apurada resultar em um direito antidumping muito danoso para as cadeias

    produtivas a montante do produto objeto do direito antidumping. Entretanto, o Acordo

    Antidumping veda a aplicao de direito antidumping em valor superior margem de

    dumping devidamente apurada na investigao de dumping.

    Um direito antidumping provisrio poder ser aplicado caso seja necessrio para

    impedir que ocorra dano durante as investigaes. O direito antidumping provisrio depende

    de determinao preliminar afirmativa de dumping e consequente dano indstria nacional.

    Ainda segundo o Acordo Antidumping, o direito antidumping provisrio no pode ser

    aplicado antes de decorridos 60 dias do incio da investigao nem pode o direito exceder ao

    montante da margem de dumping provisoriamente calculada.

    O direito provisrio no deve exceder a quatro meses como regra geral, podendo

    alcanar 6 meses por deciso da autoridade investigadora, ou nove meses no caso em que a

    investigao examina a adoo de um direito menor.

    Pode-se encerrar a investigao sem aplicao de direito antidumping mediante assuno de

    compromisso voluntrio de preos ou de cessao da prtica de dumping em questo, de

    forma a eliminar seu efeito danoso. Os aumentos de preos que se realizem sob taiscompromissos no podem superar a margem de dumping apurada.(OMC, 1994b)

    III.4. Acordo sobre Subsdios e Medidas Compensatrias

    O Acordo sobre Subsdios e Medidas Compensatrios (ASMC), disciplina o

    disposto no GATT 1994, com relao aplicao de medidas compensatrias. Sendo assim,

    estabelece a definio de subsdios, especificidade14, define quais so os subsdios proibidos,

    e ainda disciplina o incio dos procedimentos de investigao de subsdios e o clculo e

    imposio de medidas compensatrias, medidas provisrias e compromissos.

    O subsdio definido como uma contribuio financeira por um governo ou qualquer

    forma de receita ou sustentao de preos com o fim de elevar as exportaes de um produto,

    reduzindo o preo de venda na exportao deste produto abaixo do preo comparvel cobrado

    aos consumidores do mercado interno para o produto similar. Dessa forma constituem

    14Subsdio especfico aquele limitado a determinadas empresas. O subsdio especfico considerado proibidopelo ASMC.

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    subsdios, por exemplo, doaes, emprstimos ou financiamentos, bem como suas garantias,

    incentivos fiscais, fornecimento ou aquisio de bens ou servios.

    So considerados proibidos os subsdios especficos vinculados ao desempenho das

    exportaes ou vinculados ao uso preferencial de produtos nacionais. Apenas o subsdio

    especfico, aquele limitado a determinadas empresas, considerado proibido pelo ASMC.

    O direito compensatrio poder ser aplicado desde que haja uma investigao iniciada

    e conduzida de acordo com o ASMC e que resulte em uma determinao final sobre a

    existncia e montante de subsdios, e determinao de danos causados pelas importaes

    subsidiadas. Alm disso, o direito compensatrio no poder ser aplicado se o subsdio que o

    motivou for retirado.

    O direito compensatrio de aplicao facultativa e o seu valor no pode superar o

    montante apurado do subsdio. Recomenda-se a aplicao de direito menor caso este seja

    suficiente para eliminar o dano causado indstria nacional. Recomenda-se ainda a avaliao

    correta de representaes feitas por partes nacionais cujos interesses tenham sido prejudicados

    pela imposio de um direito compensatrio. O direito compensatrio deve ser aplicado de

    forma no-discriminatria sobre as importaes a partir de todas as origens que se determine

    estejam subsidiando e causando dano, exceto os casos em que foi firmado compromisso ouque o subsdio tenha sido retirado. O direito compensatrio tem vigncia de 5 anos, podendo

    ser prorrogado por meio do procedimento de reviso.

    H possibilidade de suspender ou encerrar a investigao sem imposio de direitos

    compensatrios quando for firmado compromisso voluntrio pelo qual o pas exportador

    concorda em eliminar ou reduzir subsdio ou tomar outras medidas relativas a seus efeitos, ou,

    for firmado compromisso voluntrio pelo qual o exportador concorda em rever seus preos de

    forma a eliminar o dano, porm, os aumentos de preos, por via de compromissos no podemsuperar o montante de subsdio verificado.

    Direitos compensatrios provisrios podem ser aplicados no valor dos montantes de

    subsdios calculados provisoriamente quando isto for necessrio para impedir que danos

    adicionais ocorram durante as investigaes. Direitos compensatrios provisrios s podem

    ser aplicados quando houver determinao preliminar positiva de subsdio e dano causado

    pelas importaes subsidiadas. Os direitos compensatrios provisrios no podem ser

    aplicados antes de decorridos 60 dias do incio da investigao e no podem exceder operodo de 4 meses de vigncia.

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    III.5. Acordo sobre Salvaguardas

    O Acordo sobre Salvaguardas (AS) disciplina o disposto no Artigo XIX (Medidas de

    emergncia com relao importao de produtos particulares) do GATT 1994. O AS

    estabelece que uma medida de salvaguarda s poder ser aplicada a um produto quando

    determinado que as suas importaes tenham aumentado e ocorram de forma a causar ou

    ameaar causar prejuzo grave aos produtores nacionais de bens similares ou diretamente

    concorrentes.

    A medida de salvaguarda aplicada ao produto importado para todas as origens, na

    forma de alquotas ad valorem, alquotas especficas ou combinao de ambas, ou ainda na

    forma de restries quantitativas (cotas). As medidas de salvaguarda devem ser aplicadas na

    proporo necessria para prevenir ou remediar prejuzo grave e facilitar o ajustamento

    estrutural do setor nacional afetado. O perodo mximo de aplicao de quatro anos,

    podendo ser prorrogado. Entretanto, o perodo total de aplicao, incluindo a aplicao de

    medida provisria, medida original e prorrogaes, no poder exceder 8 anos, e no caso de

    pases em desenvolvimento no poder exceder 10 anos.

    A medida de salvaguarda provisria tem durao mxima de 200 dias e reservada acircunstncias crticas para afastar dano de difcil reparao. Para aplicao de medida de

    salvaguarda provisria necessrio que haja determinao preliminar sobre aumento de

    importaes que cause ou ameace causar prejuzo grave.

    III.6. Legislao Brasileira sobre o tema

    A Lei n 9.019, de 30 de maro de 1995, dispe sobre a aplicao dos direitos

    previstos no AAD e no ASMC. Essa lei trata da aplicao de direitos antidumping e direitos

    compensatrios, medidas provisrias e compromissos, na forma dos acordos (AAD e ASMC)

    descritos anteriormente.

    O Art. 10-A da Lei n 9.019/95 determina que caso sejam constatadas prticas elisivas

    que frustrem a aplicao de um direito antidumping ou compensatrio vigente, tal direito

    pode ser estendido a terceiros pases, bem como a outros produtos tais como partes, peas e

    componentes dos produtos objetos de medidas vigentes.

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    III.6.1. O Regulamento Antidumping e outras normas infra legais

    O Decreto n 8.058, de 26 de julho de 2013, denominado Regulamento Antidumping,

    regulamenta os procedimentos administrativos relativos investigao e aplicao de

    medidas antidumping. Corresponde regulamentao da Lei n 9.019/95 no que diz respeito

    aplicao do Acordo Antidumping.

    O Art. 7 do Decreto n 8.058/2013 considera prtica de dumping a introduo de um

    produto no mercado domstico brasileiro, inclusive sob as modalidades de drawback, a um

    preo de exportao inferior ao seu valor normal. Ou seja, o dispositivo define dumping

    como a importao a um preo de exportao inferior ao valor normal.

    O valor normal definido como o preo do produto similar, em operaes comerciais

    normais, destinado ao consumo no mercado interno do pas exportador. (Decreto n

    8.058/2013).

    Caso o preo praticado no mercado interno no estiver disponvel ou no for

    adequado, o valor normal pode ser definido ainda com base no preo de exportao ou valor

    construdo, na forma do Art. 14 do Decreto 8.058/2013:

    Art. 14. Caso no existam vendas do produto similar em operaes comerciais

    normais no mercado interno do pas exportador ou quando, em razo decondies especiais de mercado ou de baixo volume de vendas do produtosimilar no mercado interno do pas exportador, no for possvel comparaoadequada com o preo de exportao, o valor normal ser apurado com baseno:

    I - preo de exportao do produto similar para terceiro pas apropriado, desdeque esse preo seja representativo; ou

    II - valor construdo, que consistir no custo de produo no pas de origemdeclarado, acrescido de razovel montante a ttulo de:

    a) despesas gerais;

    b) despesas administrativas;

    c) despesas de comercializao;

    d) despesas financeiras; e

    e) lucro.

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    Na apurao de valor normal para um pas exportador que no seja considerado

    economia de mercado, como o caso da China15, utiliza-se a apurao do valor normal de um

    terceiro pas considerado economia de mercado, denominado pas substituto. Sendo assim o

    valor normal no caso de economias no consideradas de mercado determinado de trs

    formas: (a) preo do produto similar no mercado domstico do pas substituto, (b) valor

    construdo no pas substituto, (c) preo de exportao do pas substituto para outros pases,

    exceto o Brasil; (d) outro preo razovel:

    Art. 15. No caso de pas que no seja considerado economia de mercado, o valornormal ser determinado com base:

    I - no preo de venda do produto similar em um pas substituto;

    II - no valor construdo do produto similar em um pas substituto;

    III - no preo de exportao do produto similar de um pas substituto para outrospases, exceto o Brasil; ou

    IV - em qualquer outro preo razovel, inclusive o preo pago ou a pagar peloproduto similar no mercado interno brasileiro, devidamente ajustado, se necessrio,para incluir margem de lucro razovel, sempre que nenhuma das hipteses anterioresseja vivel e desde que devidamente justificado.

    O Art. 78 do Regulamento Antidumping estabelece que o direito antidumping a ser

    aplicado ser inferior margem de dumping sempre que um montante inferior a essa margem

    for suficiente para eliminar o dano indstria domstica causado por importaes objeto de

    dumping, salvo em razo de interesse pblico ou excees enumeradas no artigo nas quais o

    direito necessariamente corresponde ao montante total apurado para margem de dumping, tais

    como em determinados procedimentos de revises, redeterminaes16e quando a margem de

    dumping for apurada com base na melhor informao disponvel ou no puder ser apurada

    individualmente.

    O Art 78 do Regulamento Antidumping determina que o direito antidumping ser

    aplicado na forma de alquotas ad valorem ou especficas, fixas ou variveis, ou pela

    conjugao de ambas. A alquota ad valorem aplicada sobre o valor aduaneiro em base

    15 Protocolo de Acesso da China OMC, incorporado ao ordenamento jurdico brasileiro (Decreto n

    5.544/2005)

    16Redeterminaes: procedimento solicitado pelos produtores domsticos do produto similar que visa verificar

    se a medida antidumping tem sua eficcia comprometida, podendo resultar em alterao da medida antidumpingem vigor, caso se comprove que a aplicao do direito antidumping deveria ter resultado em aumentos noocorridos dos preos de exportao ou preos praticados no mercado domstico nos termos do Art. 155,Regulamento Antidumping.

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    Cost, Insurance&Freight (CIF) e a alquota especfica fixada em moeda estrangeira e

    convertida em moeda nacional.

    O Art. 92 do Regulamento Antidumping determina que os direitos antidumping e

    compromissos de preos permanecero em vigor enquanto perdurar a necessidade de eliminar

    o dano indstria domstica causado pelas importaes objeto de dumping. O direito

    antidumping tem vigncia de cinco anos podendo ser prorrogado por procedimento de

    reviso, conforme o Regulamento Antidumping.

    O Art. 3 do Regulamento Antidumping prev a possibilidade de suspenso, alterao

    ou at mesmo extino de direito antidumping em razo de interesse pblico:

    Art. 3 Em circunstncias excepcionais, o Conselho de Ministros poder, em razode interesse pblico:I - suspender, por at um ano, prorrogvel uma nica vez por igual perodo, aexigibilidade de direito antidumping definitivo, ou de compromisso de preos, emvigor;II - no aplicar direitos antidumpingprovisrios; ouIII - homologar compromisso de preos ou aplicar direito antidumping definitivoem valor diferente do que o recomendado, respeitado o disposto no 4 do art. 67 eno 2 do art. 78. 1 Os direitos antidumping ou os compromissos de preos suspensos com base noinciso I do caput podero ser reaplicados a qualquer momento, por deciso doConselho. 2 Os direitos antidumpingou os compromissos de preos sero extintos ao final

    do perodo de suspenso previsto no inciso I do caput, caso no tenham sidoreaplicados nos termos do 1 ou caso o ato de suspenso no estabelecerexpressamente a reaplicao ao final do perodo de suspenso. 3 Os setores industriais usurios do produto objeto da investigao e asorganizaes de consumidores podero fornecer informaes julgadas relevantes arespeito dos efeitos de uma determinao positiva de dumping, de dano e de nexode causalidade entre ambos. 4 As informaes fornecidas nos termos do 3 devero ser endereadas Secretaria-Executiva da CAMEX e sero consideradas no processo de tomada dedeciso relativo a interesse pblico. 5 A anlise de interesse pblico dever observar os procedimentos estabelecidosem ato especfico publicado pela CAMEX. 6 As decises do Conselho de Ministros, inclusive as amparadas em interesse

    pblico, devero sempre se fazer acompanhar da fundamentao que as motivou.

    Destaca-se no Regulamento que as decises de interesse pblico devem ser motivadas,

    podendo resultar em:

    a) suspenso por at um ano prorrogvel uma nica vez por igual perodo;

    b) no aplicao de direito provisrio;

    c) aplicar medida antidumping em valor diferente do recomendado;

    O pargrafo quinto prev que ato da Cmara de Comrcio Exterior (CAMEX) devedisciplinar procedimentos da anlise de interesse pblico. Sendo assim, a Resoluo CAMEX

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    n 13/2012 institui o Grupo Tcnico de Avaliao de Interesse Pblico (GTIP), com o

    objetivo de analisar a suspenso ou alterao de medidas antidumping e compensatrias

    definitivas, bem como a no aplicao de medidas antidumping e compensatrias provisrias,

    por razes de interesse pblico. O GTIP um grupo composto de representantes que integram

    a CAMEX, representando o foro para anlise tcnica das questes de interesse pblico.

    Adicionalmente, a Resoluo CAMEX n 27/2015, disciplina, no mbito do GTIP, os

    procedimentos administrativos de anlise de pleitos, definindo que o interesse pblico se

    verifica quando o impacto da imposio da medida de defesa comercial sobre os agentes

    econmicos como um todo se mostra potencialmente mais danoso se comparado aos efeitos

    positivos da aplicao da medida (Art. 2o, caput). Determina ainda alguns critrios para

    anlise de interessepblico que pode abarcar o impacto na cadeia a jusante e a montante, a

    disponibilidade de produtos substitutos em origens no afetadas pela medida de defesa

    comercial, a estrutura do mercado e a concorrncia, e a adequao s polticas pblicas

    vigentes(Art. 2o, pargrafo primeiro).

    III.6.2. O Regulamento sobre Direitos Compensatrios

    O Decreto n 1.751, de 19 de dezembro de 1995, denominado Regulamento sobreDireitos Compensatrios, regulamenta as normas que disciplinam os procedimentos

    administrativos relativos aplicao de medidas compensatrias. Corresponde

    regulamentao da Lei n 9.019/95 no que diz respeito aplicao do ASMC.

    O Art. 55 do Decreto n 1.751/1995 determina que o direito compensatrio aplicado

    com o fim de neutralizar o dano causado pelo subsdio acionvel e aplicado por meio de

    alquotas ad valorem ou especficas, ou pela combinao de ambas. A alquota ad valorem

    aplicada sobre o valor aduaneiro da mercadoria, em base CIF, enquanto a alquotaespecfica aplicada em dlares dos Estados Unidos da Amrica e convertida em moeda

    nacional.

    III.6.3. O Regulamento sobre Salvaguardas

    O Decreto n 1.488, de 11 de maio de 1995, denominado Regulamento sobre

    Salvaguardas, regulamenta as normas que disciplinam os procedimentos administrativos

    relativos aplicao de medidas de salvaguarda. Corresponde regulamentao no que diz

    respeito aplicao do Acordo sobre Salvaguardas.

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    Entretanto o Decreto n 2.667 de 10 de julho de 1998, regulamenta a aplicao de

    medidas de salvaguarda s importaes provenientes de pases no membros do Mercosul.

    Corresponde internalizao da Deciso n 17/96 (Mercosul).

    Os Arts. 63 e 64 do Regulamento Relativo Aplicao de Medidas de Salvaguarda s

    Importaes Provenientes de Pases No Membros do Mercado Comum do Sul (Mercosul)

    dispe que as medidas de salvaguarda podem ser aplicadas sob a forma de alquotas ad

    valoremou especficas ou combinao de ambas, ou ainda a forma de restries quantitativas,

    devendo o Mercosul adotar medidas somente na extenso necessria para prevenir ou reparar

    prejuzo grave decorrente do aumento de importaes e facilitar o ajuste da produo

    domstica em questo:

    Art 63. O MERCOSUL somente adotar medida de salvaguarda na extensonecessria para prevenir ou reparar prejuzo grave decorrente do aumento deimportaes e facilitar o ajuste da produo domstica do Estado-Parte.

    Art 64. A medida de salvaguarda ser aplicada:

    I - como aumento do imposto de importao, por meio de adicional a TEC, sob aforma de:

    a) alquota ad valorem;

    b) alquota especfica;

    c) combinao de ambas; ou

    II - sob a forma de restries quantitativas.

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    IV. REFERENCIAL TERICO

    IV.1. Fundamentos Econmicos

    Viner (apud TREBILCOCK e HOWSE, 2005) classifica a prtica de dumping em trs

    categorias: dumping espordico, dumping de curto prazo (intermitente) e dumping contnuo

    (longo prazo). O dumping espordico aquele que no intencional e ocorre pontualmente,

    quando, por exemplo, h necessidade de reduzir estoques. O dumping de curto prazo ou

    intermitente pode ser motivado por retaliao a dumping sofrido, atitude predatria ou busca

    por novos mercados. O dumping contnuo seria aquele no qual o dumping no interrompido,

    se justifica pela possibilidade de ganhos de escala, reduzindo custos marginais com o aumento

    da produo.

    Outra classificao de dumping o dumping cclico, que decorre de quedas de

    demanda com impossibilidade de reduo da oferta no curto prazo. (ETHIER, 1982)

    Trebilcock e Howse (2005) definem trs formas possveis de dumping: dumping como

    uma discriminao internacional de preos, dumping como preos predatrios ou como

    dumping intermitente, cada uma com sua prpria justificativa econmica.

    No dumping como discriminao internacional de preos, o exportador monopolista

    pratica preo de exportao menor que o preo domstico, discriminando preos nosmercados domsticos e no mercado importador. Com isso o exportador monopolista aumenta

    a produo total e o lucro. Quando isso ocorre, o consumidor domstico consome menos a um

    preo mais elevado enquanto o consumidor do mercado importador consome mais a um preo

    menor. Sendo assim, o excedente do consumidor ampliado no mercado importador e

    reduzido no mercado domstico, havendo ganho de bem-estar no mercado importador e perda

    de bem-estar no mercado domstico. Sendo assim, a aplicao de medidas antidumping

    reduziria o bem-estar gerado no mercado importador pela discriminao internacional de

    preos. Para que a discriminao internacional de preos ocorra necessrio que o exportador

    seja monopolista no mercado domstico para que possa impor preo maior, adicionalmente

    requer-se que os mercados sejam segmentados evitando arbitragem.

    No dumping como preos predatrios, o exportador pratica preos abaixo do custo

    (custo marginal, custo varivel mdio ou custo total mdio dependendo do critrio adotado)

    com o fim de predar o produtor do mercado importador. Durante o perodo de prtica do

    dumping predatrio o exportador obtm resultados negativos que devem ser recompensadosaps a predao com o domnio do mercado importador e consequente elevao de preos.

    Entretanto isso s pode ocorrer caso o exportador no seja contestado por competidores

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    estrangeiros, ou seja, ele deve dominar o mercado importador eliminando os produtores locais

    e eventuais competidores estrangeiros. Em geral, a prtica de preo predatrio considerada

    remota. o dumping predatrio observa condies ainda mais estritas, como a remota

    possibilidade de um monoplio mundial.

    O dumping intermitente exemplificado com os casos de dumping praticado devido a

    um excedente de produo de alimentos perecveis. Nesses casos, a prtica de dumping

    sistemtica e perdura por vrios meses ou anos, tempo suficiente para causar danos a

    produtores domsticos sem que os consumidores se beneficiem de um fornecimento de bens

    contnuo e duradouro.

    Trebilcock e Howse (2005) defendem que a nica justificativa econmica para leis

    antidumping a proibio do dumping predatrio, ou prtica de preo predatrio

    internacional. No caso do dumping como uma discriminao de preos internacional, o

    mercado que importa a preo de dumping beneficiado e os casos de dumping intermitente

    no devem ocorrer com frequncia e seu efeito lquido para o bem-estar ambguo.

    Entretanto, a legislao antidumping vigente se aplica no apenas ao dumping predatrio

    como tambm discriminao internacional de preos e ao dumping intermitente, permitindo

    que produtores domsticos evitem a competio direta com produtores estrangeiros.

    O dumping, mesmo o dumping no predatrio, frequentemente caracterizado como

    uma prtica comercial injusta ou desleal17. Essa percepo de injustia ou deslealdade

    com relao ao dumping no predatrio pode decorrer de seus impactos negativos sobre a

    indstria domstica e emprego, visto que mesmo que consumidores se beneficiem do

    dumping, os produtores domsticos podem sofrer danos severos.

    Zanardi (2004) menciona que medidas antidumping podem ter um papel importante

    permitindo a continuidade da liberalizao comercial quando de outra forma os pases noaceitariam acordar concesses tarifrias em negociaes multilaterais.

    Alega-se usualmente que os subsdios distorcem a vantagem comparativa implicando

    uma alocao ineficiente dos recursos econmicos globais. Entretanto, Trebilcock e Howse

    (2005) defendem que o subsdio pode ser um instrumento utilizado par corrigir imperfeies

    17Por exemplo o stio do Ministrio do Desenvolvimento Indstria e Comrcio Exterior afirma que Os direitos

    antidumping tm como objetivo evitar que os produtores nacionais sejam prejudicados por importaesrealizadas a preos de dumping, prtica esta considerada como desleal em termos de comrcio em acordosinternacionais. (grifo meu) Disponvel em:

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    de mercado ou externalidades, levando alocao eficiente. Alm disso, na maioria das

    circunstncias, medidas compensatrias aumentam o bem-estar social no pas importador

    embora o seu efeito no bem-estar mundial ou no bem-estar social do pas exportador seja

    incerto. Logo, do ponto de vista do pas importador, a predao internacional sustentada por

    meio de subsdios a nica circunstncia que guarda racionalidade econmica para imposio

    de medidas compensatrias.

    comum a caracterizao de subsdios como prtica comercial injusta ou desleal.

    Entretanto, segundo Trebilcock e Howse (2005) o conceito de injustia est intimamente

    relacionado com os interesses afetados.No caso de subsdios a queixa recai sobre a injustia

    na exportao em razo de subsdios que implicam vantagens artificiais aos exportadores,

    podendo ocorrer ainda subsdios implcitos, como no caso de leis permissivaspor exemplo

    na legislao referente ao meio ambiente, mercado de trabalho e antitruste. Sendo assim,

    Trebilcock e Howse (2005) afirmam que quase toda ao ou omisso governamental

    provavelmente afeta a atividade econmica domstica e se estende ao comrcio internacional

    formando as vantagens e desvantagens comparativas de um pas. Os autores, ento, alegam

    que se todos os pases tiverem condies idnticas de produo, no haveria vantagens

    comparativas e consequentemente esvaziar-se-ia a rationale econmica do comrcio

    internacional. Entende-se ento que subsdios aumentam os ganhos potenciais advindos do

    comrcio internacional, na medida em que promove a alterao do level playing field

    (TREBILCOCK e HOWSE, 2005).

    As medidas de salvaguarda so justificadas como mecanismo de compensao frente

    ao ajustamento de custos associado abertura comercial e alteraes nos padres de vantagem

    comparativa, garantindo aos produtores domsticos uma proteo temporria contra a

    exposio concorrncia direta com produtos importados, permitido assim que esses

    produtores domsticos se ajustem gradualmente abertura comercial. Para TREBILCOCK e

    HOWSE (2005) as medidas antidumping e compensatrias no deveriam ser utilizadas para

    proteger a indstria domstica do comrcio desleal ou do crescimento das importaes. A

    resposta adequada, em ateno ao processo de abertura comercial, seria o uso de medidas de

    salvaguarda complementadas por polticas de ajustamento do mercado de trabalho.

    As medidas de defesa comercial so comumente aplicadas sob a forma de tarifas. Entretanto,

    no caso das medidas de salvaguardas, possvel a aplicao de restries quantitativas

    (quotas). Helpman e Krugman (1989) demonstram que quotas criam mais poder de mercado

    para um monoplio domstico do que a aplicao de uma tarifa que restrinja as importaes

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    na mesma quantidade. Sendo assim, tanto a tarifa quanto a restrio quantitativa implicam

    menor produo domstica e preos domstico maiores. Embora ambos, tarifa e cota,

    reduzam o bem-estar social, a restrio quantitativa o reduz mais do que a aplicao de tarifas.

    Com a aplicao de restries quantitativas no ocorre arrecadao do imposto de importao

    e o excedente do consumidor extraviado (que no caso das tarifas era repartido entre governo e

    monopolista domstico) ento usurpado apenas pelo monopolista domstico. Mesmo no

    caso em que a tarifa equivalente zero e a quota equivalente igual ao nvel de comrcio

    livre, obtm-se, com a restrio quantitativa, menor produo domstica e aumento de preos.

    Isso ocorre porque as restries quantitativas criam poder de mercado para o monopolista

    domstico que restringe a produo e aumenta preos.

    IV.2. Defesa Comercial e Concorrncia

    A proteo indstria nacional assume diversas formas (tarifas, quotas, regulao,

    subsdios etc) e normalmente justificada pela proteo do emprego, proteo indstria

    nascente e manuteno e proteo de valores sociais. Essa proteo pode gerar custos sociais

    pela manuteno de indstria ineficiente e pela possibilidade de constante articulao poltico-eleitoral dessa indstria, dependendo da competitividade estrutural do mercado protegido.

    (Barral e Brogini, 2007)

    Mattos (1999) afirma que a poltica de concorrncia (legislao antitruste) tem como

    objetivo a proteo do consumidor e a eficincia econmica enquanto as medidas

    antidumping tem como objetivo a proteo do empresrio nacional. As medidas antidumping

    visam proteo da indstria domsticaque sofre dano decorrente do dumping. Entretanto

    importante entender que essa indstria domstica na realidade no abarca toda a cadeia naqual o produto objeto dessa medida est inserido, mas to somente a indstria que compete

    com o produto similar importado. Sendo assim, as medidas antidumping beneficiam uma

    determinada indstria em detrimento da concorrncia, dos consumidores finais ou no caso de

    insumos industriais, dos consumidores industriais, que utilizam o produto objeto da medida

    ou o produto similar, como insumo na produo de outros bens.

    Maiolino e Oliveira (2015, p. 11-13) defendem que o direito antidumping constitui

    uma forma de barreira entrada de novos agentes econmicos e, assim, [...]pode servir defacilitador promoo de ilcitos anticoncorrenciais, em especial a formao de cartel.

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    tendo como fim ltimo a proteo ao consumidor, o mercado de trabalho e o desenvolvimento

    industrial e tecnolgico. Uma vez fixados esses critrios que deveriam ser obrigatoriamente

    observados, o Acordo Antidumping deixaria a critrio de cada membro a forma como cada

    um avaliaria e o peso do critrio para a deciso. Cordovil entende que a anlise de interesse

    pblico deve ser estritamente econmica, baseada exclusivamente nesses critrios.

    No Canad a imposio de um direito antidumping requer ainda a anlise dos efeitos

    sobre a disponibilidade de produto substituto em origens no afetadas pelo direito

    antidumping, sobre usurios industriais intermedirios que utilizam o produto como insumo,

    sobre a competitividade, pela limitao de acesso a insumos e/ou tecnologia e sobre as

    indstrias montante da cadeia produtiva no caso de no aplicao do direito antidumping.

    (CORDOVIL, 2011)

    Na Unio Europia, entende-se que deve haver um equilbrio entre os benefcios para

    a indstria domstica (comunitria) e os impactos negativos das medidas de defesa comercial.

    Por este motivo, caso se verifique que estas medidas sero insuficientes para a recuperao do

    dano, elas no so impostas. Embora possam trazer informaes relevantes ao processo, os

    interesses dos exportadores no so necessariamente considerados na anlise de interesse

    pblico, haja vista no pertencerem ao bloco. Dessa forma foram utilizados os seguintes

    argumentos para no aplicao de uma medida antidumping: a insuficincia de produo da

    indstria domstica e suas barreiras entrada, o nvel de emprego na indstria afetada e nas

    demais, a capacidade tecnolgica e industrial dos produtores e a relevncia do setor para a

    economia nacional (CORDOVIL, 2011).

    FEENSTRA (2004) obtm a variao do bem-estar social em relao ao direito

    antidumping imposto, a partir de uma funo utilidade indireta e utilizando um modelo de

    equilbrio parcial, concluindo que a aplicao de direito antidumping implica perda de bem-

    estar social para o pas importador.

    No Brasil, a Resoluo CAMEX n 27/2015, disciplina, no mbito do GTIP, os

    procedimentos administrativos de anlise de pleitos, definindo que o interesse pblico se

    verifica quando o impacto da imposio da medida de defesa comercial sobre os agentes

    econmicos como um todo se mostra potencialmente mais danoso se comparado aos efeitos

    positivos da aplicao da medida (Art. 2o, caput). Determina ainda alguns critrios para

    anlise de interesse pblico que pode abarcar o impacto na cadeia a jusante e a montante, adisponibilidade de produtos substitutos em origens no afetadas pela medida de defesa

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    comercial, a estrutura do mercado e a concorrncia, e a adequao s polticas pblicas

    vigentes (Art. 2o, pargrafo primeiro).

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    V. ANLISE EMPRICA DA APLICAO DE MEDIDAS DE DEFESA

    COMERCIAL NO BRASIL

    A anlise emprica efetuada neste captulo est organizada da seguinte forma: a

    primeira parte consiste em explicitar a metodologia utilizada para a realizao da pesquisa dos

    casos de aplicao de medidas de defesa comercial. A segunda versa sobre a viso geral das

    medidas aplicadas ao longo do perodo analisado. A terceira trata das medidas de salvaguarda.

    A quarta apresenta as medidas compensatrias. A quinta versa sobre os direitos antidumping.

    V.1.

    Metodologia

    A metodologia utilizada nesse trabalho consiste da anlise descritiva de dados

    secundrios, obtidos por meio de pesquisa documental no stio eletrnico da Cmara de

    Comrcio Exterior (CAMEX), no stio eletrnico do Ministrio da Indstria e Comrcio

    Exterior, no stio eletrnico do Conselho Administrativo de Defesa Econmica (CADE), no

    stio eletrnico da Imprensa Nacional e obtidas por meio do Servio de Informaes ao

    Cidado da Imprensa Nacional. A partir da leitura de resolues da CAMEX, circulares da

    Secretaria de Comrcio Exterior (SECEX), portarias e portarias interministeriais disponveis

    no Dirio Oficial da Unio, foram identificados os casos de aplicao de medida de defesa

    comercial definitivas, provisrias e suas suspenses no perodo de 1989 a agosto de 2015. A

    partir da leitura de atas de sesses de julgamento do CADE, dos relatrios, votos e acrdos

    do CADE e pareceres da Seae, disponveis em seo especfica do stio eletrnico do CADE

    na internet, e ainda com base inicial na lista de medidas de defesa comercial aplicadas

    conforme apurado por BOWN (2015a; 2015b; 2015c), foram identificados os casos de atos de

    concentrao e processos administrativos relativos a condutas anticompetitivas relacionadoscom os produtos objetos de aplicao de medidas de defesa comercial.

    Foram excludos da anlise os casos com aplicao de medida de defesa comercial

    provisria para os quais no se aplicou medida definitiva. A partir da leitura do material

    pblico disponvel no stio eletrnico do CADE que consiste basicamente de votos de

    Conselheiros, pareceres da Seae, pareceres da Procuradoria Federal Especializada junto ao

    CADE (ProCADE), e outros documentos constantes dos autos, bem como o material pblico

    disponvel no stio eletrnico da CAMEX, no stio eletrnico da Imprensa Nacional e no stio

    eletrnico do Ministrio da Industria e Comrcio Exterior, que consistem basicamente de

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    resolues da Camex, portarias e portarias interministeriais e circulares da SECEX, e ainda

    com base inicial na lista de medidas de defesa comercial aplicadas conforme apurado por

    BOWN (2015a; 2015b; 2015c), foi possvel categorizar os casos de interesse de acordo com

    diversos critrios. Ressalta-se que a pesquisa no objetiva entrar na discusso detalhada de

    casos especficos, mas sim traar um perfil geral de atuao brasileira na aplicao de

    medidas de defesa comercial no perodo de 1989 a agosto de 2015.

    Buscou-se classificar as medidas de defesa comercial separando-as em medidas de

    salvaguardas, medidas compensatrias e medias antidumping. Ento, para cada medida, foram

    levantados dados sobre o produto, cdigo da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM),

    setor definido com base na NCM (no nvel de seo), alquota do imposto de importao

    poca da aplicao do direito, nmero de produtores domsticos, estrutura de mercado

    classificada em monoplio, duoplio, oligoplio (menos de cinco produtores), competio

    (mais de quatro produtores), ocorrncia de atos de concentrao e tipo de concentrao

    verificada como vertical, horizontal, ocorrncia de processos administrativos para apurar

    condutas anticompetitivas, e tipo de conduta anticompetitiva apurada.

    Os setores so definidos neste trabalho com base na NCM, no nvel de seo da

    seguinte forma:

    SEO I: ANIMAIS VIVOS E PRODUTOS DO REINO ANIMAL

    SEO II: PRODUTOS DO REINO VEGETAL

    SEO III: GORDURAS E LEOS ANIMAIS OU VEGETAIS; PRODUTOSDA SUA DISSOCIAO; GORDURAS ALIMENTARES ELABORADAS;CERAS DE ORIGEM ANIMAL OU VEGETAL

    SEO IV: PRODUTOS DAS INDSTRIAS ALIMENTARES; BEBIDAS,LQUIDOS ALCOLICOS E VINAGRES; TABACO E SEUSSUCEDNEOS MANUFATURADOS

    SEO V: PRODUTOS MINERAIS

    SEO VI: PRODUTOS DAS INDSTRIAS QUMICAS OU DASINDSTRIAS CONEXAS

    SEO VII: PLSTICOS E SUAS OBRAS; BORRACHA E SUAS OBRAS

    SEO VIII: PELES, COUROS, PELES COM PELO E OBRAS DESTASMATRIAS; ARTIGOS DE CORREEIRO OU DE SELEIRO; ARTIGOS DEVIAGEM, BOLSAS E ARTEFATOS SEMELHANTES; OBRAS DE TRIPA

    SEO IX: MADEIRA, CARVO VEGETAL E OBRAS DE MADEIRA;CORTIA E SUAS OBRAS; OBRAS DE ESPARTARIA OU DE CESTARIA

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    SEO X: PASTAS DE MADEIRA OU DE OUTRAS MATRIASFIBROSAS CELULSICAS; PAPEL OU CARTO PARA RECICLAR(DESPERDCIOS E APARAS); PAPEL OU CARTO E SUAS OBRAS

    SEO XI: MATRIAS TXTEIS E SUAS OBRAS

    SEO XII: CALADOS, CHAPUS E ARTEFATOS DE USOSEMELHANTE, GUARDA-CHUVAS, GUARDA-SIS, BENGALAS,CHICOTES, E SUAS PARTES; PENAS PREPARADAS E SUAS OBRAS;FLORES ARTIFICIAIS; OBRAS DE CABELO

    SEO XIII: OBRAS DE PEDRA, GESSO, CIMENTO, AMIANTO, MICAOU DE MATRIAS SEMELHANTES; PRODUTOS CERMICOS; VIDROE SUAS OBRAS

    SEO XIV: PROLAS NATURAIS OU CULTIVADAS, PEDRASPRECIOSAS OU SEMIPRECIOSAS E SEMELHANTES, METAISPRECIOSOS, METAIS FOLHEADOS OU CHAPEADOS DE METAIS

    PRECIOSOS (PLAQU), E SUAS OBRAS; BIJUTERIAS; MOEDASSEO XV: METAIS COMUNS E SUAS OBRAS

    SEO XVI: MQUINAS E APARELHOS, MATERIAL ELTRICO, ESUAS PARTES; APARELHOS DE GRAVAO OU DE REPRODUO DESOM, APARELHOS DE GRAVAO OU DE REPRODUO DEIMAGENS E DE SOM EM TELEVISO, E SUAS PARTES E ACESSRIOS

    SEO XVII: MATERIAL DE TRANSPORTE

    SEO XVIII: INSTRUMENTOS E APARELHOS DE PTICA, DEFOTOGRAFIA, DE CINEMATOGRAFIA, DE MEDIDA, DE CONTROLEOU DE PRECISO; INSTRUMENTOS E APARELHOS MDICO-

    CIRRGICOS; ARTIGOS DE RELOJOARIA; INSTRUMENTOSMUSICAIS; SUAS PARTES E ACESSRIOS

    SEO XIX: ARMAS E MUNIES; SUAS PARTES E ACESSRIOS

    SEO XX: MERCADORIAS E PRODUTOS DIVERSOS OBJETOS DEARTE, DE COLEO E ANTIGUIDADES

    Com relao s medidas de defesa comercial buscou-se ainda levantar dados sobre o

    perodo de aplicao, ocorrncia de medidas provisrias, ocorrncia de compromissos,

    ocorrncia de suspenses, perodo de suspenso, casos de aplicao da clusula de interesse

    pblico para alteraes ou suspenses, tipo de medida aplicada, tipo de alquota aplicada (ad

    valorem, especfica, especfica mvel), valor da alquota ad valorem e valor da alquota

    especfica dividido pelo preo de exportao. Para os direitos antidumping foram apurados

    ainda a metodologia utilizada na apurao do valor normal se com base em preos

    domsticos, preos de exportao ou valor construdo, ou ainda com base em preos

    domsticos em terceiro pas, preos de exportao de terceiro pas ou valor construdo em

    terceiro pas e se o direito antidumping aplicado corresponde totalidade da margem de

    dumping ou foi aplicado com base no menor direito ou com base na clusula do interessepblico.

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    Advertimos que somente os dados pblicos puderam ser observados. Disposies

    constantes dos autos dos processos de defesa comercial no puderam ser observadas por no

    serem de acesso pblico. Com base nos dados pblicos disponveis, no pudemos determinar

    o exato nmero de produtores domsticos em todos os casos.

    V.2. Medidas De Salvaguarda

    Essa subseo avalia a aplicao de medidas de salvaguardas no Brasil no perodo de

    1989 a agosto de 2015. Apenas duas medidas de salvaguardas foram aplicadas no perodo

    analisado: brinquedos e cocos secos (Tabela 1).

    A primeira medida aplicada foi sobre importaes de brinquedos com incio em 4 de

    julho de 1996, com uma medida provisria. A medida definitiva foi aplicada em 30/12/1996.A durao total, incluindo a vigncia da medida provisria alcanou o mximo permitido no

    Acordo sobre Salvaguardas com durao total de 10 anos. A medida de salvaguarda foi

    aplicada na forma de alquota ad valorem que variou entre 8 e 43%. No perodo final da

    aplicao, de janeiro a junho de 2006, o imposto de importao estabelecido na TEC era de

    20% ao qual se somava a alquota ad valoremde 8%, totalizando uma tarifa de 28%.

    O outro caso de salvaguarda sobre importaes de cocos secos, no houve aplicao

    de medida provisria e o direito definitivo foi aplicado em primeiro de setembro de 2002, e

    seu perodo total de vigncia, incluindo o perodo inicial da aplicao e as prorrogaes,

    alcanou o total de 10 anos, que o mximo permitido pelo Acordo sobre Salvaguardas. A

    medida de salvaguardas sobre cocos secos foi aplicada na forma de restrio quantitativa.

    Tabela 1. Medidas de salvaguardas aplicadas (1989-2015)

    Produto DT_i DT_f Forma Setor Concentraobrinquedos acabados 4/7/1996 30/06/2006 ADV XX Competio

    cocos secos 1/9/2002 31/08/2012 COTA II CompetioElaborao prpria, com base em dados disponveis no stio da imprensa nacional e CAMEX.Observaes: DT_i: data inicial de aplicao contado da medida provisria caso aplicada. DT_f: data final davigncia da medida original ou prorrogaes. Forma: forma de aplicao da medida, pode ser alquota advalorem (ADV) ou especfica (AE) ou ainda restrio quantitativa (COTA). Setor: refere-se ao setor definidocom base na NCM (nvel de seo). Concentrao: refere-se estrutura de mercado: Monoplio, Duoplio,Oligoplio (at 10 produtores ), Competio (mais de 10 produtores).

    Observamos que ambos os casos envolvem mercados competitivos com mais de

    quatro produtores domsticos identificados. No foram identificados casos de atos de

    concentrao ou apuraes de condutas anticompetitivas relacionadas aos produtos objeto de

    aplicao de medidas de salvaguardas. Atualmente no h medidas de salvaguardas em vigor.

    Ou seja, a aplicao de medidas de salvaguarda no Brasil, at agora, no teria o potencial de

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    gerar danos significativos concorrncia pois foram impostas em setores a princpio bastante

    competitivos.

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    Tabela 3. Medidas compensatrias aplicadas e estrutura de mercado (1989-2015)

    # Produto Pas Alquota Setor Concentrao1 fio de ltex Malsia ADV VII MI2 leite em p Unio Europia ADV I Concorrncia3 coco ralado desidratado Costa do Marfim ADV II Concorrncia4 coco ralado desidratado Indonsia ADV II Concorrncia5 coco ralado desidratado Malsia ADV II Concorrncia6 coco ralado desidratado Filipinas ADV II Concorrncia7 coco ralado desidratado Sri Lanka ADV II Concorrncia8 leite de coco em p Sri Lanka ADV II Concorrncia9 barras de ao inoxidvel ndia AE XV Duoplio

    10 filmes PET ndia AE VII MonoplioElaborao prpria, com base em dados disponveis no stio da imprensa nacional, stio do MDIC e CAMEX.Observaes: Alquota: medida aplicada na forma de alquota que pode ser alquota ad valorem (ADV) ouespecfica (AE). Setor: refere-se ao setor definido com base na NCM (nvel de seo). Concentrao: refere-se estrutura de mercado: Monoplio, Duoplio, Oligoplio (at 10 produtores), Competio (mais de 10

    produtores), MI: refere-se a informao faltante sobre concentrao.

    A tabela 4 apresenta as medidas compensatrias aplicadas na forma de alquota ad

    valorem informando o imposto de importao vigente e a respectiva alquota. Observamos

    que as medidas compensatrias aplicadas na forma de alquota ad valoremso maiores que a

    prpria alquota do imposto de importao chegando a superar o imposto de importao em

    mais de dez vezes. Entretanto, essa prtica no fere o ASMC, que no prev limites para as

    alquotas de medidas compensatrias.

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    Tabela 4. Medidas compensatrias aplicadas: comparativo entre alquotas ad valorem eimposto de importao (1989-2015)

    # Produto Pas II Alquota ADV_max ADV_min

    1 fio de ltex Malsia 14% ADV 16% 16%2 leite em p Unio Europia 16% ADV 21% 21%3 coco ralado desidratado Costa do Marfim 14% ADV 88% 88%4 coco ralado desidratado Indonsia 14% ADV 156% 156%5 coco ralado desidratado Malsia 14% ADV 197% 197%6 coco ralado desidratado Filipinas 14% ADV 122% 122%7 coco ralado desidratado Sri Lanka 14% ADV 81% 81%8 leite de coco em p Sri Lanka 14% ADV 176% 176%Elaborao prpria, com base em dados disponveis no stio da imprensa nacional, stio do MDIC e CAMEX.Observaes: Alquota: medida aplicada na forma de alquota que pode ser alquota ad valorem (ADV) ouespecfica (AE) .II: alquota do imposto de importao vigente poca da aplicao da me