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1 MEDIDAS ALTERNATIVAS COERCITIVAS QUE SUBSTITUEM A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS Rodrigo Gelain Funck 1 Emanuela Cristina Andrade Lacerda 2 RESUMO: O presente artigo tem como objeto verificar as alternativas que substituam a prisão civil do devedor de alimentos, solucionando com idêntica eficácia a imprescindível obrigação alimentar, contudo, sobre o patrimônio do devedor. A escolha do tema se perfaz no tocante ao afrontamento da respectiva medida coercitiva com a dignidade e liberdade do alimentante, princípios garantidos pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Aborda as principais características da execução do débito alimentar pelo cárcere do devedor, apontando controvérsias quanto ao seu cumprimento e focaliza na necessidade de exaurimento de todas as formas de cobrança que recaiam sobre os bens do devedor, impondo a prisão civil somente em caráter excepcional de execução. Por fim, busca trazer à tona medidas coercitivas saudáveis que obriguem o inadimplente a arcar com o seu ônus, ou seja, estabelecer modalidades que garantam a satisfação da obrigação através do patrimônio do devedor, deixando de atacar a sua liberdade por um débito civil, o que, nos dias de hoje, pode-se configurar como uma agressão aos direitos humanos do alimentante. PALAVRAS-CHAVE: Prisão civil. Devedor de alimentos. Medidas alternativas. Medidas coercitivas. SUMÁRIO: Introdução; 1. Prisão civil; 2. Das divergências envolvendo a prisão civil; 3. Das medidas alternativas incidentes sobre o devedor de alimentos; Considerações Finais; Referências Bibliográficas; INTRODUÇÃO A partir do Pacto Social de 1988, depreendeu-se a necessidade de estabelecer normas que assegurassem, acima de tudo, a solidariedade e o bem-estar social, procurando proporcionar aos cidadãos, medidas protecionistas que garantissem o desenvolvimento da sociedade, consubstanciado em uma vida digna, buscando satisfazer as necessidades básicas fundamentais do indivíduo. Entre essas garantias sociais, relutou-se visivelmente pela proteção à família. O que antes era defendida com maior relevância sobre a parte 1 Acadêmico do 9º Período do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI. 2 . Professora da Univali. Graduada e Mestre em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí. E- mail: [email protected]

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MEDIDAS ALTERNATIVAS COERCITIVAS QUE SUBSTITUEM A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS

Rodrigo Gelain Funck 1 Emanuela Cristina Andrade Lacerda2

RESUMO: O presente artigo tem como objeto verificar as alternativas que substituam a prisão civil do devedor de alimentos, solucionando com idêntica eficácia a imprescindível obrigação alimentar, contudo, sobre o patrimônio do devedor. A escolha do tema se perfaz no tocante ao afrontamento da respectiva medida coercitiva com a dignidade e liberdade do alimentante, princípios garantidos pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Aborda as principais características da execução do débito alimentar pelo cárcere do devedor, apontando controvérsias quanto ao seu cumprimento e focaliza na necessidade de exaurimento de todas as formas de cobrança que recaiam sobre os bens do devedor, impondo a prisão civil somente em caráter excepcional de execução. Por fim, busca trazer à tona medidas coercitivas saudáveis que obriguem o inadimplente a arcar com o seu ônus, ou seja, estabelecer modalidades que garantam a satisfação da obrigação através do patrimônio do devedor, deixando de atacar a sua liberdade por um débito civil, o que, nos dias de hoje, pode-se configurar como uma agressão aos direitos humanos do alimentante.

PALAVRAS-CHAVE: Prisão civil. Devedor de alimentos. Medidas alternativas. Medidas coercitivas.

SUMÁRIO: Introdução; 1. Prisão civil; 2. Das divergências envolvendo a prisão civil; 3. Das medidas alternativas incidentes sobre o devedor de alimentos; Considerações Finais; Referências Bibliográficas;

INTRODUÇÃO

A partir do Pacto Social de 1988, depreendeu-se a necessidade de

estabelecer normas que assegurassem, acima de tudo, a solidariedade e o

bem-estar social, procurando proporcionar aos cidadãos, medidas

protecionistas que garantissem o desenvolvimento da sociedade,

consubstanciado em uma vida digna, buscando satisfazer as necessidades

básicas fundamentais do indivíduo.

Entre essas garantias sociais, relutou-se visivelmente pela proteção à

família. O que antes era defendida com maior relevância sobre a parte

1 Acadêmico do 9º Período do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

2. Professora da Univali. Graduada e Mestre em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí. E-

mail: [email protected]

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econômica, incluiu-se como essencial o vínculo social, inseridos nos princípios

e objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, assegurando,

dentre outros, a dignidade da pessoa humana, e a construção de uma

sociedade livre, justa e solidária3.

Nesse diapasão, inserido como pretexto da dignidade da pessoa

humana no meio familiar, encontra-se o dever de alimentos4, com o qual o

texto constitucional preocupou-se em assegurar às partes vulneráveis desse

ente, o direito de que o responsável financeiro garanta aos alimentandos,

quando necessário, o auxílio para prover as necessidades vitais próprias5.

Contudo, infelizmente há um grande número de alimentantes que se

esquivam de prestar o auxílio alimentício que foi condenado, às vezes, agindo

por falta de recursos financeiros, mas na maioria dos casos, por motivo de

vingança ao seu ex-convivente, deixando muitas vezes em risco a subsistência

de quem o necessita (geralmente os filhos), rechaçando os atos dignos e

exemplares de convivência humana.

Ainda, há que se considerar que a prisão como medida executiva não

condiz com o desenvolvimento dos valores sociais que permeiam o direito nos

dias de hoje, sendo que a referida condenação, igualmente aplicada em

tempos passados em que o mal pagador respondia com a sua vida pelas

obrigações pecuniárias insatisfeitas, vão em sentido oposto aos princípios

norteadores que a própria Carta Magna de 1988 promulgou, sobretudo a

respeito da dignidade e da liberdade do indivíduo, nesse caso, do alimentante.

3 FARIAS, Cristiano Chaves de. Prisão Civil Por Alimentos E A Questão Da Atualidade Da

Dívida À Luz Da Técnica De Ponderação De Interesses (Uma Leitura Constitucional Da Súmula 309 Do Stj): O Tempo É O Senhor Da Razão. Panóptica, Vitória, ano 1, n. 2, out. 2006, p. 34-59. Disponível em: <http://www.panoptica.org>. Acesso em: 20/04/2012.

4 Aplicando o princípio vetor constitucional no âmbito alimentício resulta que os alimentos

tendem a proporcionar uma vida de acordo com a dignidade de quem recebe (alimentando) e de quem os presta (alimentante), pois nenhuma delas é superior, nem inferior. Nessa linha de ideias, resulta que fixar o quantum alimentar em percentual aquém do mínimo imprescindível à sobrevivência do alimentando ou além das possibilidades econômico-financeiras do devedor ofende, de maneira direta, o princípio da dignidade humana. (FARIAS, Cristiano Chaves de. Prisão Civil Por Alimentos E A Questão Da Atualidade Da Dívida À Luz Da Técnica De Ponderação De Interesses (Uma Leitura Constitucional Da Súmula 309 Do Stj): O Tempo É O Senhor Da Razão. Panóptica, Vitória, ano 1, n. 2, out. 2006, p. 34-59. Disponível em: <http://www.panoptica.org>. Acesso em: 20/04/2012.

5 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 7 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2010, p. 503.

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Com foco nessa situação difícil de lidar, e considerando a inércia de

nossos legisladores na criação de medidas executivas sobre o patrimônio do

devedor, igualmente eficazes como a coerção da prisão civil, é que o presente

trabalho visa analisar as alternativas que garantam o direito de subsistência do

alimentando, porém, não interferindo na liberdade do alimentante, atendendo

aos ditames sociais impostos pela Constituição Cidadã, sendo este o ponto de

partida para a resolução desse litígio.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de

Investigação6 foi utilizado o Método Indutivo7, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano8, e, o Relatório dos Resultados expresso no presente

artigo é composto na base lógica Indutiva, com as Técnicas do Referente9, da

Categoria10, do Conceito Operacional11 e da Pesquisa Bibliográfica12.

1. DA PRISÃO CIVIL

Assegurado o seu cabimento, conforme dispõe o art. 5º, LXVII da

Constituição da República Federativa do Brasil, a prisão civil decorrente de

pensão alimentícia, trata-se de um meio coercitivo que objetiva ensejar o

6 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83.

7 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma

percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 86.

8 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja

LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

9 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o

alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54.

10 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25.

11 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37.

12 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209.

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pagamento forçado pelo alimentante das prestações alimentares13 fixadas em

condenação judicial, à pessoa com vínculo parental que dela dependa.

Importante destacar, que a custódia civil priva a liberdade do

alimentante no intuito único de forçá-lo a arcar com o ônus que fora condenado

na justiça civil, ou seja, a prestação alimentícia, uma vez que pago o débito,

regressa o seu direito de ir e vir livremente antes mesmo de verificado o prazo

decretado, diferentemente da prisão criminal, em que o infrator que pratica um

delito penal deverá cumprir a pena em sua plenitude como forma de punição e

reeducação.14

De acordo com o artigo 733, §1º do Código de Processo Civil, poderá

ser decretada a prisão civil do alimentante, pelo período mínimo de 01 (um), e

máximo de 03 (três) meses de detenção.

Contudo, o entendimento majoritário jurisdicional atual, vem decretando

a prisão civil pelo prazo máximo de 60 (sessenta) dias, consubstanciado no

artigo 19, caput, da Lei 5.478/68 – Lei dos Alimentos15 -, uma vez que,

tratando-se de Lei Especial promulgada posteriormente ao Código de Processo

Civil, poderá prevalecer a execução com os ditames mais benéficos ao

devedor, conforme preceitua o artigo 620 do referido Codex, no entanto, nada

obsta a decretação pelo juiz da pena máxima de 03 (três) meses.16

13

Araken de Assis, pontuando Pontes de Miranda, expõe que “[...] a palavra alimento, conforme a melhor acepção técnica, e, conseguintemente, podada de conotações vulgares, possui o sentido amplo de compreender tudo quanto for imprescindível ao sustento, à habitação, ao vestuário, ao tratamento das enfermidades e às despesas de criação e de educação. [...] Hoje em dia, ao catálogo mencionado se acrescenta o lazer, fator essencial ao desenvolvimento equilibrado e à sobrevivência sadia da pessoa humana.” (ASSIS, Araken de. Da execução de alimentos e prisão do devedor. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 88.)

14 BRITO, Irandir Rocha. A prisão civil por inadimplemento de pensão alimentícia. 2011,

Disponível em <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5375>. Acesso em 25/04/2012.

15 Art. 19. O juiz, para instrução da causa, ou na execução da sentença ou do acordo, poderá tomar todas as providências necessárias para seu esclarecimento ou para o cumprimento do julgado ou do acordo, inclusive a decretação de prisão do devedor até 60 (sessenta) dias. Lei de Alimentos – Nº 5.478/68.

16 DIDIER JR, Fredie & Outros. Curso de Direito Processual Civil. 2º ed. Bahia: JusPODIVM. 2010, p. 692.

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Acerca da divergência predominante, Arnaldo Marmitt17 expõe que:

A definição do tempo da prisão entre o mínimo e o máximo legais, é tarefa que incumbe ao julgador. Para tal mister socorrer-se-á das peculiaridades e das circunstâncias que emoldurarem o quadro concreto, mas o seu prudente arbítrio, e os fins sociais a que se dirige a lei, aliado às exigências do bem comum, como impõe o artigo 5º da lei de introdução ao Código Civil.

Vale ressaltar que, independentemente do entendimento do magistrado

quanto à imposição máxima da pena, tanto em 60 (sessenta) dias, quanto em

03 (três) meses, é salutar que não poderá o devedor ser mantido encarcerado

até que satisfaça o débito exigido, até porque se estaria possibilitando a

aplicação da pena perpétua, o que é inadmissível no ordenamento jurídico

pátrio, conforme estabelece o artigo 5º, XLVII, “b” da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988.

Nas palavras de Arnaldo Marmitt18, “prisão 'até que seja paga a dívida'

equivale a prisão por tempo indeterminado, o que evidentemente é

inadmissível”, mesmo porque segundo o autor, esse caráter fere o preconizado

no procedimento processual.

É fundamental consignar, ainda, que o respectivo cárcere prevalecerá

em relação aos débitos alimentícios referentes aos três meses imediatamente

anteriores à propositura da execução e as parcelas que se vencerem no curso

da demanda, conforme estabeleceu o Superior Tribunal de Justiça através da

Súmula 30919, ou seja, caso o devedor satisfaça o respectivo débito, estará

desincumbido de cumprir a pena em sua totalidade, ainda que haja prestações

vencidas anteriormente à propositura da execução.

17

MARMITT, Arnaldo. Prisão Civil por alimentos e depositário infiel. Rio de Janeiro: Aide, 1989, p. 123.

18 MARMITT, Arnaldo. Prisão Civil por alimentos e depositário infiel. Rio de Janeiro: Aide, 1989, p. 32.

19 STJ Súmula nº. 309 - Débito Alimentar - Prisão Civil - Prestações Anteriores ao Ajuizamento

da Execução e no Curso do Processo. O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo. (TOLEDO, Antonio Luiz de. & outros. Vade Mecum. 11. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 1916.).

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Nessa premissa, Marcus Vinícius Rios Gonçalves20 frisa que apenas

“as três últimas parcelas devidas e as que venceram no curso do processo

podem ser cobradas pelo rito processual da prisão. O débito alimentar

acumulado por período superior a três meses, perde o seu caráter alimentar”.

Significa dizer que não poderá ser decretada a ordem de prisão em

relação às parcelas vencidas há mais de três meses da ação de execução, em

razão de que estas perderam o caráter alimentar, podendo somente ser

cobradas mediante execução por quantia certa contra devedor solvente, de

acordo com os artigos 646 ao 732 do Código de Processo Civil.

Nessa linha, esclarece Yussef Said Cahali21:

Assim, sempre no pressuposto de que as prestações pretéritas terão perdido o caráter de dívida de alimento, afirma-se que se processa a execução na forma do disposto no art. 733, quanto às prestações recentemente vencidas (tem-se falado nas três últimas parcelas); processa-se a execução na forma do disposto no art. 732, quanto às prestações vencidas anteriormente.

Decorrido o prazo do cárcere alimentício, o devedor imediatamente

readquirirá sua liberdade, independentemente do pagamento do débito, porém,

não se eximirá de quitá-lo, o qual caberá ao credor executá-lo por quantia

certa.

Acerca disso, Amílcar de Castro assevera:

[...] ainda porque não se trata de pena, ou punição, pelo inadimplemento da obrigação, o cumprimento integral da prisão decretada não eximirá o executado do pagamento das prestações alimentícias vincendas, ou vencidas e não pagas; pois, se a prestação alimentícia não foi convertida em pena de prisão, e se o encarceramento foi apenas imposto, não como um substitutivo do inadimplemento da obrigação, mas sim como experiência, ou tentativa, para averiguar a solvência do executado, claro está que não pode mesmo a prisão civil ter por efeito a extinção do débito.

Nesse contexto, Arnaldo Parizatto22 especifica que:

Em vista de que o juiz não poderá decretar a prisão civil mais de uma vez pela mesma dívida, tem-se que se o devedor cumprir a prisão contra si

20

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3. São Paulo: Saraiva. 2008, p. 230.

21 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 6ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 771.

22 PARIZATTO, João Roberto. Execução de prestação alimentícia: doutrina, jurisprudência,

prática forense. Rio de janeiro: Aide, 1995, p. 72.

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decretada, o credor terá de executar seu crédito através de execução por quantia certa, nos termos dos artigos 646 a 731 do Código de Processo civil.

Ainda assim, nada impede a decretação de nova prisão civil do

devedor, desde que incida sobre outro fato gerador, ou seja, um novo período

de 03 (três) meses de inadimplemento posterior ao cumprimento da prisão

referente ao primeiro fato gerador, podendo o devedor ser reconduzido ao

cárcere privado como forma de obrigá-lo a quitar as recentes prestações

alimentícias.

A par disso, tendo a decretação da prisão civil como característica

primordial à coação para que o devedor quite seu débito, no momento em que

essa situação lograr êxito, deve imediatamente o réu readquirir a liberdade que

lhe é de direito, visto que o objetivo foi saciado.

Nesses casos, ocorrerá a suspensão ou a revogação da prisão, ou

seja, caso o devedor venha a adimplir o débito anteriormente ao cumprimento

do mandado de ordem de prisão, respectivo ato deverá ser suspenso pela

autoridade competente, ou ainda, venha a sanar no período em que se

encontrar encarcerado, revogar-se-á imediatamente a prisão, visto que não

haverá mais motivo para tal penalidade, como reza o artigo 733, §3º do Código

de Processo Civil, abordado por Arnaldo Marmitt23 quando expõe que, “[...] por

equivaler a uma coação imposta com finalidade econômica, uma vez satisfeito

o interesse pecuniário, a prisão civil deixa de existir.”.24

Do mesmo modo, respectivos atos jurídicos poderão sobrevir em razão

da prova convincente de que o alimentante não possui condições financeiras

suficientes a arcar o ônus alimentício, impossibilitando sua ida, ou permanência

na prisão.

Nessa toada, Arnaldo Marmitt25, citando Celso Neves26, aborda que,

23

MARMITT, Arnaldo. Prisão Civil por alimentos e depositário infiel. Rio de Janeiro: Aide, 1989, p. 23.

24 FARIAS, Zelindro Ismael. Abolição ao Constrangimento Legal do Devedor de Alimentos.

Disponível em < http://www.iceej.com.br/?pagina=artigos&art=9>. Acesso em 16/04/2012.

25 MARMITT, Arnaldo. Prisão Civil por alimentos e depositário infiel. Rio de Janeiro: Aide, 1989, p. 101.

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[...] ao devedor compete justificar a impossibilidade de efetuar o pagamento nos três dias subsequentes à citação “pelos meios de provas que as circunstâncias do caso imponham. Nada impede, todavia, a insinuação da prova, nesse prazo, podendo o juiz determinar as providências que o incidente exija, inclusive mediante requisição de informações, desde que plausível a impossibilidade invocada.”.

Outro aspecto relevante que concerne à ordem de prisão civil do

alimentante, diz respeito à decretação de ofício pelo magistrado, visto que foi

eleito pelo credor este meio executório como via para satisfazer tal obrigação,

ou o requerimento posterior do credor, que entenderá se respectiva privação de

liberdade poderá ser útil para que o débito seja sanado.

Cumpre estabelecer que o parágrafo primeiro do artigo 733 do Código

de Processo Civil salienta que poderá o juiz, caso não quitado o débito nos três

dias posteriores à citação, decretar de ofício a prisão do alimentante. Contudo,

respectivo ato afronta o Princípio da Demanda, exposto sob o artigo 2º do

referido Codex, em que explana, in verbis - “Nenhum juiz prestará a tutela

jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer [...]”27 –, ou seja,

se está aqui discutindo uma discordância fundada na própria execução da lei.28

Acerca desse conflito legislativo, coube aos juristas e doutrinadores

encontrarem a resolução mais correta para proceder a decretação da prisão.

De um lado, encontram-se doutrinadores como Barbosa Moreira29, defendendo

que, “[...] omisso o executado em efetuar o pagamento, ou em oferecer escusa

que pareça justa ao órgão judicial, este, sem necessidade de requerimento do

credor, decretará a prisão do devedor.” Ponto de vista igualmente defendido

por Pontes de Miranda30 quando explana que, “[...] a prisão é decretável de

26

NEVES, Celso. Código de Processo Civil Comentado – Vol. 3. São Paulo: Forense, 1977,

p. 123.

27 TOLEDO, Antonio Luiz de. & outros. Vade Mecum. 11. ed. atual. e ampl. São Paulo:

Saraiva, 2011, p. 415.

28 FARIAS, Zelindro Ismael. Abolição ao Constrangimento Legal do Devedor de Alimentos.

Disponível em < http://www.iceej.com.br/?pagina=artigos&art=9>. Acesso em 16/04/2012.

29 MOREIRA, José Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro. Rio de Janeiro:

Forense, 1976, p. 115.

30 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado. 4ª. ed. São Paulo: RT, 1974, p. 483.

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ofício [...]; a decretação é pelo juiz do cível, a requerimento do credor ou de

ofício.”.

Contudo, acredita-se não ser esse o entendimento majoritário presente

entre doutrinadores e órgãos superiores do Judiciário. Já asseverou o Superior

Tribunal de Justiça acerca da impossibilidade do magistrado decretar a

custódia civil do devedor de alimentos sem o devido requerimento do credor,

situação essa sustentada também quando Amílcar de Castro31 expõe que:

[...] não obstante a redação imperativa do art. 733, § 1º, a prisão civil não pode ser decretada de ofício; depende de requerimento do credor, porque este estará sempre em melhores condições que o juiz para avaliar sua eficácia e oportunidade; deixa-se ao exequente a liberdade de pedir, ou não, a aplicação desse meio executivo de coação, quando, no caso concreto, veja que lha vai ser de utilidade, pois pode muito bem acontecer que o exequente, maior interessado na questão, por qualquer motivo, não julgue oportuna a prisão do executado.

Como se vê, restou ao aplicador da lei solucionar o confronto de regras

que permeiam essa questão, e este, majoritariamente, aplicou-a da maneira

mais correta, visto que, conforme expõe Humberto Theodoro Júnior32 acerca da

custódia civil, “[...] é o credor que sempre estará em melhores condições que o

juiz para avaliar a sua eficácia e oportunidade [...]”, pois, sendo este o maior

interessado na resolução da demanda, saberá se essa medida coativa será útil

para a satisfação da obrigação, ou poderá se tornar inconveniente e até

prejudicial para a quitação do débito.33

Requerido pelo credor a decretação da prisão do devedor depois de

decorrido o prazo executório para pagamento, ou mesmo para justificar a

impossibilidade de fazê-lo, é cediço que o juiz deverá analisar a admissibilidade

de respectiva coação, proferindo despacho rigorosamente fundamentado, com

as razões e os motivos bem esclarecidos, uma vez que, conforme expõe

31

CASTRO, Amílcar de. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 1974, p.

374.

32 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 42º ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 419.

33 BRITO, Irandir Rocha. A prisão civil por inadimplemento de pensão alimentícia. 2011,

Disponível em <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5375>. Acesso em

25/04/2012.

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Yussef Said Cahaly34, “[...] não se admite que o despacho venha

desacompanhado de convincente fundamentação, a fim de propiciar inclusive

os indispensáveis elementos para a defesa identificar os motivos da constrição

pessoal.”.

É preponderante salientar também, nessa esfera alimentar, a

existência de três tipos de alimentos que ensejam a prestação alimentícia,

sendo eles os indenizatórios, os voluntários e os legítimos. Em relação aos

indenizatórios, decorrem de ações ex delicto, isto é, resultantes de algum ato

ilícito que, consubstanciado nos artigos 948, inciso II e 950 do Código Civil,

gera a obrigação de indenizar a vítima. Quanto aos voluntários, pode-se dizer

que são aqueles da própria vontade do homem, através de transações inter

vivos ou causa mortis. E, por fim, os legítimos, que serão aqueles que derivam

de um vínculo familiar, ou seja, é a obrigação do responsável financeiro a

prestar auxílio a quem dele dependa ou dependia35.

Porém, não obstante todos possuírem caráter alimentar, com o objetivo

de suprir as necessidades de quem deles dependa, apenas os alimentos

legítimos, decorrentes de prestação pecuniária, poderão ser passíveis de

resultar ao alimentante a decretação da prisão civil, conforme estabelece o

artigo 733 do Código de Processo Civil, e o artigo 19 da Lei 5.478/68, restando

aos credores de alimentos indenizatórios e voluntários, somente a execução

por quantia certa contra devedor solvente.36

Levantadas as principais características quanto a aplicação da custódia

civil, o presente estudo visa, nesse momento, abordar a predominância

insistente deste meio coercitivo como forma de forçar o alimentante a satisfazer

sua obrigação, já que o respectivo meio executivo restou abolido em relação à

custódia do depositário infiel pelo Decreto nº. 678/92, a partir da Convenção

Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica -, de 22

34

CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 6ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 790.

35 NADER, Paulo. Curso de Direito Civil; Direito de Família. vol. 5. 3ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 425.

36 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, vol. 5: direito de família. 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 651.

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de novembro de 196937, e que finalmente foi declarado findo após o crivo do

Supremo Tribunal Federal no ano de 2008, o que leva a entender que não é a

privação da liberdade a forma mais correta para sanar uma obrigação

pecuniária patrimonial.38

No entanto, essa linha de pensamento não se instaurou no âmbito da

prestação alimentícia, em que o devedor ainda responde com sua liberdade

pela inadimplência alimentar.

2. DAS DIVERGÊNCIAS ENVOLVENDO A PRISÃO CIVIL

A finalidade da prisão, pois, é exclusivamente econômica, uma vez que

não tem como objetivo a punição do devedor, mas é “consequência da

aplicação de um processo coercitivo, com o fito de despertar o inadimplente, de

conscientizá-lo dos compromissos que assumiu, para que ele satisfaça o

quantum que lhe é exigido”39.

Respectiva medida coercitiva se instaurou no ordenamento jurídico

ainda na Constituição de 1946, perdurando até os dias de hoje, possibilitando

ao credor de alimentos, além dos demais meios executórios para ver adimplido

o seu saldo, a imposição pelo judiciário da privação de liberdade do devedor

como forma de forçá-lo a quitar o débito.

Indubitavelmente, a pena de prisão civil do devedor de alimentos gera

inúmeros debates e polêmicas entre os juristas que entendem que respectiva

medida afronta a liberdade e a dignidade do indivíduo, respondendo este, de

forma pessoal, sobre uma dívida que, na realidade, deveria recair sobre o seu

patrimônio.

37

"Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandatos de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar”.

38 FARIAS, Zelindro Ismael. Abolição ao Constrangimento Legal do Devedor de Alimentos.

Disponível em < http://www.iceej.com.br/?pagina=artigos&art=9>. Acesso em 16/04/2012.

39 MARMITT, Arnaldo. Prisão Civil por alimentos e depositário infiel. Rio de Janeiro: Aide, 1989, p. 07/08.

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Destarte, nas palavras de Yussef Said Cahali40 a respectiva medida “é

meio executivo de finalidade econômica”, pois visa prender o executado “não

para puni-lo, como se criminoso fosse, mas para força-lo indiretamente a

pagar”, e ainda destaca o citado autor que tal medida supõe que o executado

possua meios de pagar evitando assim sua prisão, ou readquirindo a liberdade.

Na mesma linha, Arnaldo Mamitt41 destaca que “a custódia civil assim

decretada não passa de simples meio executivo com finalidade econômica”, e

ainda pontua o autor que a característica reside no fato de ter alcançado status

de remédio heroico a disposição do credor, a ser acionado em casos de

extrema necessidade.

Nessa vertente, Arnaldo Marmitt destaca ainda que “a prisão civil, pois,

nenhuma vinculação possui com a pena imposta ao infrator no juízo criminal.

Não tem essa índole de retribuição e de penalização, ou de expiação pela

prática de um delito”.42

O meio punitivo da privação de liberdade, molda-se necessário no

âmbito penal para restringir indivíduos que cometem algum ato ilícito criminal

que os impossibilite de conviver de forma pacífica perante os demais, usando o

Estado dessa medida enérgica para garantir a ordem social, diferentemente da

esfera civil, em que o devedor de alimentos é coagido a adimplir seu débito

através da custódia, quando, na realidade, deveria responder como as demais

obrigações cíveis, isto é, por meio dos seus bens.

Nessa linha de pensamento Arnaldo Marmitt43 correlaciona:

Enquanto a causa primeira, indireta, da prisão criminal é o crime, ato jurídico ilícito absoluto, a causa primeira, indireta da prisão civil é também ato jurídico ilícito, mas relativo. As causas diferem, não podendo gerar efeitos jurídicos idênticos.

40

CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 6ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 751.

41 MARMITT, Arnaldo. Prisão Civil por alimentos e depositário infiel. Rio de Janeiro: Aide, 1989, p. 82/83.

42 MARMITT, Arnaldo. Prisão Civil por alimentos e depositário infiel. Rio de Janeiro: Aide, 1989, p. 08.

43 MARMITT, Arnaldo. Prisão Civil por alimentos e depositário infiel. Rio de Janeiro: Aide, 1989, p. 40.

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Assim, acerca da privação da liberdade na esfera civil, Mattirolo44,

apontado por Yussef Said Cahaly45, “[...] a considera flagrante violação dos

princípios fundamentais do direito e um absurdo econômico.” Na concepção do

autor, do mesmo modo que não se pode alienar incondicionalmente a própria

liberdade, através de contrato, não se deve admitir que o organismo humano

possa ser utilizado como meio de garantia para as obrigações civis.

Percebe-se, com isso, a divergência de objetivos em relação à prisão

civil e a prisão criminal, pois, enquanto esta visa punir e ao mesmo tempo

reeducar e ressocializar o criminoso para que possua plenas condições de

conviver livremente, aquela busca, em último caso, coagir o inadimplente a

arcar com as prestações devidas, não obstante fracassadas as alternativas

mais brandas sobre o patrimônio do devedor no intuito de satisfazer o débito.

A propósito, essa é outra questão demasiadamente debatida entre

doutrinadores e juristas e que se perfaz em relação à execução da prisão civil

desde logo, ou necessário seria o esgotamento de todos os outros meios legais

visando a cobrança da obrigação, para que, assim, caso não logre êxito, possa

ser decretada respectiva medida coercitiva pessoal.

A legislação alimentícia - Lei n.º 5.478/68 - é clara quando enuncia sob

os artigos 16, 17 e 18, em que, inicialmente, devem-se exaurir as tentativas de

desconto em folha de pagamento, de aluguéis ou de qualquer outra fonte de

rendimento para satisfazer a obrigação alimentícia, e somente com o insucesso

destes meios, poderá ser executada a sentença com os preceitos do artigo 733

do Código de Processo Civil. Salienta-se, ainda, embora já suscitado, que na

existência de várias modalidades executivas, deverá o juiz optar pela menos

gravosa ao devedor, conforme expõe o artigo 620 do referido pergaminho

legal.46

44

MATTIROLO, Luigi. Trattato di diritto giudiziario civile iltaliano. Torino, 1904-1906, p. 377.

45 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 6ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 763.

46 ASSIS, Araken de. Manual do Processo de Execução. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 905.

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Em favor da corrente que entende pela necessidade de exaurir todas

tentativas de recebimento do débito sobre o patrimônio, Yussef Said Cahali47,

citando Amilcar Castro48, expõe que,

[...] a prisão civil só será decretada se não houver possibilidade de desconto em folha de vencimentos, ou de arresto de bens ou rendimentos do devedor; trata-se de remédio heroico, só aplicável em casos extremos, por violento e vexatório. [...] só deve ser decretada a prisão em último caso, depois de esgotados todos os outros meio executivos mais brandos, cuja aplicação passo torná-la desnecessária no caso concreto.

Dessa forma, não se está apenas exaurindo o devedor de alimentos de

uma medida drástica que poderá gerar desamparos a si perante a sociedade,

mas também buscando diversificadas maneiras de sanar a obrigação sobre o

patrimônio do alimentante, pois, sendo a prisão civil o meio executivo mais

rigoroso, entendem Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart49 que, “[...]

sua adoção somente é possível quando não existem meios idôneos à tutela do

direito. Isto pelo simples motivo de que os meios de execução se subordinam

às regras do meio idôneo e da menor restrição possível.”

Assim, configurado o caráter excepcional desta rigorosa medida

coercitiva, ou seja, imposta somente em últimos casos, diante do malogro em

satisfazer a obrigação devida pela alimentante a partir de seu patrimônio, é de

razoável concepção que a sua custódia civil de nada irá adiantar para o

levantamento de valores para quitar sua obrigação, mas, pelo contrário, irá

gerar despesas ao Estado enquanto de sua permanência encarcerado, além de

continuar o credor de alimentos à mercê de sérios riscos de subsistência.

Nessa seara, ao invés de solucionar respectiva obrigação, privando a

liberdade do devedor, como meio de forçá-lo e constrangê-lo a sanar a dívida,

sendo que encarcerado não terá como gerar recursos para isso, deveria o

Estado buscar alternativas construtivas para a resolução desse desiderato,

como, por exemplo, a disposição de emprego ao alimentante, visto que mais do

47

CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 6ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 763.

48 CASTRO, Amílcar de. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 1974, p.

377.

49 MARINONI, Luiz Guilherme & ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil – Execução. Volume 3. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 380.

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que ninguém, considerando a incontestável necessidade em que se encontra o

alimentando, necessita do labor para levantar recursos e, consequentemente,

sanar com o seu ônus, descontando diretamente em folha de pagamento o

valor da pensão, além de auxiliar na melhor condição de vida de ambos, nada

mais sendo do que dever fundamental do Estado.50

No momento em que o credor opta como última alternativa a execução

do devedor pelo artigo 733 do Código de Processo Civil, após insatisfeitos

todos os meios executivos sobre seu patrimônio, pode-se claramente perceber

que tal medida possui mais caráter vingativo do que propriamente eficaz

quanto à resolução do débito alimentar. Por essa razão, é função essencial do

aplicador da lei verificar a real eficiência dessa medida executiva em cada caso

particular, pois não deve o Estado transformar-se em um amuleto jurídico

promulgativo da vingança alheia, mas, pelo contrário, encontrar melhores

caminhos que satisfaçam a resolução pacífica do conflito, resguardando o

complexo balanço entre o direito à vida do assistido e o direito à liberdade do

alimentante.

Acerca da desnecessidade de restringir a liberdade do indivíduo que

afirma não possuir condições financeiras suficientes para prestar o auxílio

devido, decorrente de seu desemprego e outros fatores que agravam ainda

mais sua situação, visualiza-se nas decisões denegatórias de Habeas Corpus

que a simples afirmação do alimentante sobre a sua impossibilidade de arcar

com ônus, não configura pressuposto convincente e concreto de exauri-lo da

condenação, senão veja-se um exemplo, que retrata a realidade mais comum

nos julgados pátrios:51

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. PENSÃO ALIMENTÍCIA. DESEMPREGO. PAGAMENTO PARCIAL. I - A prisão civil de devedor de pensão alimentar é cabível quando a cobrança se refere às três últimas parcelas em atraso, anteriores à citação e as que lhe são subsequentes. Esse pagamento tem de ser total e não parcial. II - Não desobriga o devedor de pensão alimentícia a simples alegação de

50

FARIAS, Zelindro Ismael. Abolição ao Constrangimento Legal do Devedor de Alimentos.

Disponível em < http://www.iceej.com.br/?pagina=artigos&art=9>. Acesso em 16/04/2012.

51 RHC 16268 – RS, 3ª Turma – rel. Min. ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, j. em 13/09/2004, DJ 25.10.2004 p. 333.

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desemprego e o pagamento parcial muito aquém do valor devido. III - Recurso em habeas corpus desprovido.

No caso em tela, o alimentante impetrou ordem de Habeas Corpus,

contra a decisão do juízo da 6ª Vara da Família e Sucessões da Capital do Rio

Grande do Sul, a qual, decretou-lhe a prisão pela falta de pagamento das três

últimas prestações vencidas e não quitadas.

Alegou, em sua defesa, as dificuldades que persistiam em decorrência

do recente desemprego, e que, no momento, passava por sérias dificuldades

financeiras. Contudo, respectivas alegações não convenceram nem o juízo que

lhe decretou a prisão, nem a Turma do Superior Tribunal de Justiça,

entendendo que a simples alegação de hipossuficiência não configuraria válida

para colocá-lo novamente em liberdade, além de que, como exercia o cargo de

professor, e possuía vasta experiência técnica, não encontraria dificuldades

para encontrar um novo local de trabalho.

Observa-se a contradição exarada no presente julgamento, no

momento em que restringe a liberdade pelo inadimplemento e pela falta de

convicção sobre as reais dificuldades financeiras do devedor, constrangendo-o

como forma de sanar sua dívida, porém, fundamenta que facilmente esse

poderia encontrar um novo emprego. Ora, se houve o entendimento pelos

julgadores da facilidade do alimentante em encontrar um novo labor, questiona-

se: Por que então privá-lo de tal solução? Encarcerando-o, além de estar

impossibilitando respectivo desiderato, dificultará ainda mais quando do seu

retorno à liberdade, pois, como se sabe, o repúdio que permeia um ex-

encarcerado a encontrar um novo emprego é enorme, ainda mais se tratando

do cargo de professor, como no presente caso.

São situações como essas que levantam o questionamento da

verdadeira eficiência acerca dessa medida executiva, uma vez que priva o

alimentante da buscar por condições financeiras suficientes que visem

satisfazer sua obrigação, além de gerar mais gastos e despesas ao Estado,

continuando o alimentado a passar necessidade, pois o essencial objetivo da

lide não foi solucionado.

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3. DAS MEDIDAS ALTERNATIVAS INCIDENTES SOBRE O DEVEDOR DE

ALIMENTOS

Nessa oportunidade, questiona-se a inviabilidade e a inconveniência da

prisão como medida coercitiva, habitualmente aplicada em eras remotas, em

que o mal pagador de dívidas respondia com o seu corpo como forma de

punição e repreensão aos demais que praticassem a mesma conduta.52

Contudo, vive-se hoje em meio a uma sociedade moderna, que busca

a resolução dos conflitos da forma mais justa e digna, atuando de modo direto

sobre o ponto que os soluciona. Nessa esfera, acerca da custódia pelo

inadimplemento dos alimentos, diversos países entenderam pela abolição

desse meio coercitivo de seu ordenamento jurídico, ressaltando que, tratando-

se de obrigação pecuniária, deverá o devedor ser executado e responder do

mesmo modo que as demais dívidas civis, ou seja, com o seu patrimônio.53

Nessa linha de pensamento, leciona Arnaldo Marmitt54:

A supressão da liberdade individual para fins de satisfação de um dever civil tem sido combatida ao longo dos tempos. Na verdade, trata-se de permissivo excepcional e restritivo, vez que só o patrimônio do devedor é o objeto de execução, que sempre é real e deve incidir sobre os bens de quem deve, e não sobre a sua pessoa [...]. Desde priscas eras, ainda antes do cristianismo, a orientação é a de que não se responde por dívida com o corpo, mas só com o patrimônio [...].

Na realidade, a legislação civil defende uma medida que pode

facilmente ser aplicada no âmbito penal, preconizada sob o artigo 244 do

Código Penal, em que o devedor que, sem justa causa, deixar de prestar

pensão alimentícia a quem dele dependa, ser-lhe-á decretada detenção de 01

a 04 anos, e multa.55 Com isso, visualiza-se a desnecessidade de respectiva

medida coercitiva no âmbito civil, pois caso realmente seja esse o modo de o

52

ASSIS, Araken de. Manual do Processo de Execução. 5ª ed. ver. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 75.

53 FARIAS, Zelindro Ismael. Abolição ao Constrangimento Legal do Devedor de Alimentos.

Disponível em < http://www.iceej.com.br/?pagina=artigos&art=9>. Acesso em 16/04/2012.

54 MARMITT, Arnaldo. Prisão Civil por alimentos e depositário infiel. Rio de Janeiro: Aide, 1989, p. 17/18.

55 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, vol. 5: direito de família. 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 653.

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inadimplente arcar com seu ônus, o direito penal poderá satisfazer tal

situação.56

Ao contrário de impor medidas drásticas sobre a pessoa do devedor,

deveria a legislação civilista, no momento em que promulgou as Leis que

reformaram a execução sobre títulos judiciais – Lei n.º 11.232/2005 e Lei n.º

11.382/2006 -, aproveitando-se da fragilidade e da falta de eficiência que

permeia a execução de alimentos, promoverem medidas que realmente

visassem solucionar com agilidade a séria prestação alimentar dependida por

milhares de desamparados, conforme expôs Araken de Assis, onde, “A reforma

da execução do título judicial, promovida pela Lei 11.232/2005, não alterou,

curiosamente, a disciplina da execução de alimentos, objeto do Capítulo V do

Título II do Livro II”.57, 58

Nesse contexto, tentar-se-á encontrar aqui alternativas ágeis e

eficientes que recaiam sobre o patrimônio do devedor, fazendo com que a

prisão civil atue somente em casos excepcionais em que se tente ludibriar a

justiça e o credor.

Conforme já ressaltado, leciona a Lei de Alimentos que anteriormente à

execução pela prisão civil, dever-se-á esgotar os meios sobre o patrimônio em

relação ao desconto em folha de pagamento, de aluguéis percebidos, ou

qualquer outra fonte de seu rendimento. Contudo, acredita-se na imposição de

diversificadas medidas executivas, as quais são hoje utilizadas para sanar as

diversas modalidades de execuções civis que permeiam o direito.

Entre elas, consubstanciado no artigo 655-A do Código de Processo

Civil, ressalta-se a utilização da penhora online, meio pelo qual o juiz, a

requerimento do credor, requisita ao Banco Central informações em relação

aos ativos disponíveis em nome do devedor, e que, logrando êxito, poderá

56

FARIAS, Zelindro Ismael. Abolição ao Constrangimento Legal do Devedor de Alimentos.

Disponível em < http://www.iceej.com.br/?pagina=artigos&art=9>. Acesso em 16/04/2012.

57 ASSIS, Araken de. Manual do Processo de Execução. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 903.

58 BRITO, Irandir Rocha. A prisão civil por inadimplemento de pensão alimentícia. 2011, Disponível em <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5375>. Acesso em 25/04/2012.

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determinar a sua indisponibilidade até o valor da execução. Nessa seara, tem-

se como essencial a agilidade desse instituto, visto que independe dos meios

burocráticos que envolvem as demais penhoras. Nesse ponto de vista, Luiz

Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart59 afirmam que “[...] diante da

natureza do crédito alimentar, que não concilia com a demora da execução que

se realiza através da alienação de bens, tem grande importância a penhora

online.”.60

Entretanto, sabe-se que as demais modalidades de expropriação de

bens, dispostas no artigo 647 do Código de Processo Civil, podem perdurar por

muito tempo até a sua satisfação, tendo em vista a provável imposição de

embargos, procrastinando demasiadamente o cumprimento da obrigação, e

ferindo a agilidade e urgência que devem prevalecer sobre o ônus da prestação

alimentar.

Consubstanciado nesse problema, levanta-se aqui a interferência do

Estado como alternativa para bancar, ainda que de forma momentânea, a

devida prestação ao alimentando que dela tanto necessita. Dispõe o artigo 203,

caput da Constituição Federal que, “A assistência social será prestada a quem

dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social [...]”.61

Apoiado por esse benefício, oportuno seria se referido instituto do governo

amparasse os necessitados de prestação alimentícia até o desfecho da ação

executiva que impera sobre o devedor, pois estarão estes necessitados de uma

proteção que garanta a sua subsistência.62

Cabe esclarecer que não se está, aqui, transferindo a responsabilidade

para o Estado, mas apenas impondo uma alternativa que visa garantir a

59

MARINONI, Luiz Guilherme & ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil – Execução. Vol. 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 328.

60 BRITO, Irandir Rocha. A prisão civil por inadimplemento de pensão alimentícia. 2011, Disponível em <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5375>. Acesso em 25/04/2012.

61 TOLEDO, Antonio Luiz de. & outros. Vade Mecum. 11. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva,

2011, p. 74.

62 BRITO, Irandir Rocha. A prisão civil por inadimplemento de pensão alimentícia. 2011, Disponível em <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5375>. Acesso em 25/04/2012.

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prestação alimentícia com a urgência de quem dela dependa, sub-rogando-se,

posteriormente, as parcelas pagas como futuros créditos de responsabilidade

do devedor.

A respeito dessa alternativa, Maria Berenice Dias63, defende que:

Não possuindo os pais meio de atender ao dever imposto pelo poder familiar, nem os demais parentes que, em decorrência dos vínculos de consanguinidade, têm obrigação alimentar, mister reconhecer a obrigação do Estado de assegurar a manutenção dos jovens carentes no âmbito da assistência social.

Outra fonte que buscaria solucionar o litígio, sem necessitar do uso

excepcional da custódia civil, embasaria na oportunidade garantida pelo Estado

ao devedor, de um serviço social temporário, em que os valores que

resultariam de seu labor seriam convertidos diretamente ao credor de

alimentos, o que não deixaria de ser uma medida coercitiva, visto que está

impondo o devedor a ocupar uma longa jornada de seu tempo, por algo que

não lhe trará lucros, apenas obrigações.

Essa tese é igualmente defendida por Maria Berenice Dias64, quando

expõe que:

Em relação a quem tem capacidade laborativa, desonera-se o Poder Público de tal dever fomentado o desenvolvimento social e o crescimento econômico, de forma a garantir o trabalho a todos. Por meio do trabalho é que as pessoas conseguem manter a si e a sua família, com o que se desonera o Estado de diretamente alcançar-lhes alimentos.

Assim, ao invés de encarcerar o devedor, impondo-o ao ócio que

persiste em prevalecer em nosso sistema penitenciário, estar-se-á

oportunizando a este o exercício de uma atividade laboral, e, ao mesmo tempo,

cumprindo com a obrigação alimentar dependida pelo alimentando, papel

institucional do Estado que busca a construção de uma sociedade

desenvolvida.

Ademais, alternativa que vale destacar, que, de certa forma, possui a

finalidade coercitiva que a prisão civil visa impor, contudo, referente sobre o

63

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 7 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 536.

64 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 7 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 536.

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patrimônio do devedor, é a inscrição do nome do devedor em órgãos de

restrição ao crédito – SPC/SERASA – em que, nesta ocasião, o privará de

exercer uma série de direitos inerentes sobre créditos, prejudicando, de certa

forma, a sua liberdade creditícia para realização de negócios e transações.

Por fim, como última alternativa, em caráter de excepcionalidade que

deverá prevalecer sobre a prisão civil do devedor de alimentos, questiona-se a

conversão do cumprimento da respectiva pena em sede domiciliar ou de

albergue. É cediço que no âmbito da execução penal, respectivo mecanismo

impera em situações em que a condenação incidiu em até 04 (quatro) anos de

reclusão, caso não seja o réu reincidente, conforme expõe o artigo 33, § 2º,

alínea “c” do Código Penal. Assim, conforme recomendação já exarada pela

Corregedoria Geral de Justiça do Rio Grande do Sul, sob o Ofício Circular n.º

59 de 06.08.199965, é cabível a hipótese de substituir respectiva medida

drástica que impõe ao cidadão descumpridor de obrigação civil, a convivência

irresignável com criminosos da pior índole imaginável, por um tratamento mais

benévolo e condizente com a sanção acometida pelo devedor de alimentos.66

Nessa seara, extrai-se de julgamento do Superior Tribunal de Justiça67:

Prisão civil. Prisão albergue. Prisão domiciliar. 1. A nova orientação da Corte em matéria de prisão civil recomenda a manutenção do regime prisional acolhido pelo Acórdão recorrido, assim a prisão albergue, e, na ausência desta, a prisão domiciliar, compatível o julgado com a prudente interpretação do art. 201 da Lei de Execuções Penais. 2. Recurso especial não conhecido.

Respectivos regimes especiais que imperam sobre o devedor de

alimentos, condizem de maneira mais adequada com a coerção que tal instituto

visa garantir, pois ao invés de encarcerar o descumpridor de obrigação civil

juntamente com criminosos praticantes de ilícitos penais, onde estará impondo-

o à indolência prevalecente em nossas penitenciárias, sem falar no alto custo

65

“Considerando a absoluta inconveniência de cumprimento de prisão civil em estabelecimento destinado a apenados por fatos criminosos, recomenda que, não sendo caso de prisão domiciliar, seja determinada, sempre que possível, seu cumprimento sob regime aberto em casas de albergado” (Of. Cir. 59, de 06.08.1999). (DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 7 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 577.).

66 FARIAS, Zelindro Ismael. Abolição ao Constrangimento Legal do Devedor de Alimentos.

Disponível em < http://www.iceej.com.br/?pagina=artigos&art=9>. Acesso em 16/04/2012.

67 STJ, 3ª Turma. REsp 199802/RS, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, j. em 27/04/2000, DJ 26/06/2000, p. 158.

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gerado ao Estado visando garantir o seu sustento enquanto de sua

permanência na prisão, com a adoção do regime de prisão albergue ou

domiciliar, estar-se-á ao mesmo tempo coagindo-o com a obrigação de

pernoitar em recintos específicos, porém, não o impossibilitando de exercer um

labor durante o dia, na perspectiva de sanar com sua obrigação.

Contudo, é importante consignar que através da condenação do

devedor de alimentos ao cárcere em regime especial, é de fundamental

relevância estabelecer que o condenado no período do dia em que detiver sua

liberdade, encontre meios para satisfazer seu dever, ou mesmo, com a

justificativa da impossibilidade de fazê-lo, seja garantido pelo Estado, conforme

já ressaltado, a disponibilidade de emprego, ainda que de forma temporária,

para que, assim, atenda aos preceitos e objetivos que imperam sobre a

execução alimentícia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objeto as medidas alternativas

coercitivas que substituem a prisão civil do devedor de alimentos. Nesse

sentido, desde a promulgação da Constituição, em 1988, ficou claramente

assegurada a necessidade de garantir aos cidadãos medidas de proteção com

vistas para uma vida digna e com a saciedade de suas necessidades. Entre

essas garantias, está a dignidade da pessoa humana no seio familiar, no qual

está inserido o dever de alimentar.

No entanto, há inúmeros alimentantes que se eximem dessa obrigação,

expondo, muitas vezes, em risco a subsistência de quem o necessita. Dessa

forma, a intervenção do Estado, impondo medidas coercitivas sobre o

alimentante, é fator essencial para o desiderato perseguido por quem necessita

de alimentos.

Entre essas medidas coercivas, está o encarceramento, com o intuito

de forçá-lo a arcar com seu ônus, sob pena de ter privada sua liberdade de ir e

vir, ou seja, por meio de pressão psicológica, que este satisfaça seu débito

junto ao seu credor.

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Perante essas considerações, como medidas alternativas à prisão do

alimentante e da privação do seu direito à liberdade, buscou-se resolver esse

impasse através de alternativas construtivas por meio do Estado, segundo

explanado no presente estudo.

Há de se destacar que as alternativas abordadas visam substituir a

prisão civil do devedor de alimentos, buscando solucionar de modo eficiente a

indispensável obrigação do alimentante, arcando com seu ônus de maneira

saudável, sempre que possível, haja vista que na mesma via em que se

procede à cobrança, por direito, de auxílio alimentício ao subsistente, faz-se

necessário garantir, também, o direito à liberdade do alimentante, não

interferindo no seu direito de ir e vir, ultrapassando o patrimônio do devedor.

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