medicina campeira

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS AGROVETERINÁRIAS CAV PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS MESTRADO EM PRODUÇÃO VEGETAL CAROLINA CUSTÓDIO AMORIM ESPÉCIES VEGETAIS UTILIZADAS NA “MEDICINA CAMPEIRA” NA REGIÃO DA COXILHA RICA E ESTUDO DA ERVA-DE-TOURO (Poiretia latifolia) LAGES-SC 2010

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC

CENTRO DE CIÊNCIAS AGROVETERINÁRIAS – CAV

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS

MESTRADO EM PRODUÇÃO VEGETAL

CAROLINA CUSTÓDIO AMORIM

ESPÉCIES VEGETAIS UTILIZADAS NA “MEDICINA CAMPEIRA” NA

REGIÃO DA COXILHA RICA E ESTUDO DA ERVA-DE-TOURO

(Poiretia latifolia)

LAGES-SC

2010

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC

CENTRO DE CIÊNCIAS AGROVETERINÁRIAS – CAV

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS

MESTRADO EM PRODUÇÃO VEGETAL

CAROLINA CUSTÓDIO AMORIM

ESPÉCIES VEGETAIS UTILIZADAS NA “MEDICINA CAMPEIRA” NA

REGIÃO DA COXILHA RICA E ESTUDO DA ERVA-DE-TOURO

(Poiretia latifolia)

Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós Graduação em Ciências Agrárias (CAV/UDESC) como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Produção Vegetal. Orientador: Ph.D. Pedro Boff Co-orientador: Ph.D. Mari I. Carissimi Boff

LAGES-SC

2010

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CAROLINA CUSTÓDIO AMORIM

ESPÉCIES VEGETAIS UTILIZADAS NA “MEDICINA CAMPEIRA” NA

REGIÃO DA COXILHA RICA E ESTUDO DA ERVA-DE-TOURO

(Poiretia latifolia)

Dissertação apresentada ao Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Produção Vegetal.

Apresentado em: Homologado em: Pela banca examinadora: Por:

LAGES, 15/12/2010

________________________________ Ph.D. Pedro Boff

Orientador – UDESC/Lages-SC

________________________________ Dra. Fedra Gidged Obeso Quijano Kruger

IFSC/Lages-SC

________________________________ Dr. Murilo Dalla Costa

EPAGRI/Lages-SC

________________________________

Ph.D. Mari Inês. Carissimi Boff UDESC/Lages-SC

________________________________ Dr. Leo Rufato

Coordenador Técnico do Curso de Pós-graduação em Produção Vegetal

________________________________ Dr. Luciano Colpo Gatiboni

Coordenador Geral do Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias

________________________________ Dr. Cleimon Eduardo Amaral Dias

Diretor Geral do Centro de Ciências Agroveterinárias – CAV/UDESC/Lages-SC

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Aos meus pais, Edson Ayres Amorim e Martinha Mariza Amorim e meu irmão Rodrigo Custódio Amorim, pelo incentivo e apoio incondicional. Ao meu companheiro Geverson Bergamo pelo carinho e compreensão. Ao meu bebê que ainda está em meu ventre, que me deu motivação para concluir este desafio.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por permitir minha convivência com pessoas que contribuem para

meu crescimento profissional e humano.

Ao orientador Pedro Boff pela determinação, paciência, e persistência

comigo para a conclusão deste trabalho, diante das adversidades encontradas no

percurso. Meu imenso agradecimento!

Ao pesquisador Sadi Nazareno de Souza, pelo incentivo que me induziu à

realização desta pesquisa.

Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias da Universidade do

estado de Santa Catarina pela oportunidade em realizar o mestrado em Produção

Vegetal.

A UDESC pela bolsa de estudos concedida através do Programa de Bolsas

de Monitoria de Pós-Graduação – PROMOP.

A MCT/CT-HIDRO/CNPQ e FAPESC, através do projeto Rede Guarani/Serra

Geral pelo aporte financeiro que possibilitou o trabalho.

Aos moradores da Coxilha Rica participantes deste estudo que

possibilitaram a realização deste trabalho com imensa hospitalidade abrindo as

portas de suas casas e fornecendo informações valiosas.

A EPAGRI pela disponibilização da infra-estrutura para desenvolvimento do

trabalho.

Às laboratoristas Maria Aparecida e Elisângela pelos auxílios prestados,

amizade, conselhos e agradável convivência no laboratório.

Aos funcionários de campo Junior, Daniel e Jeferson que me acompanharam

nas expedições à Coxilha Rica.

Aos colegas Tarita Deboni, Michele Erdmann, Ariane Luckmann, Tatiane

Modolon, Luiz Gustavo Della Mea, entre outros que fizeram parte da equipe.

Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências

Agrárias da UDESC, pelos ensinamentos.

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Enfim, a todas as pessoas que direta ou indiretamente, não mediram

esforços para a realização desta pesquisa e para minha formação.

Page 7: medicina campeira

RESUMO

AMORIM, Carolina Custódio. Espécies vegetais utilizadas na medicina campeira na região da Coxilha Rica e estudo da erva-de-touro (Poiretia latifolia). 2010. 72 f. Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal) – Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias, Lages, 2010.

Os campos nativos de altitude da região da Coxilha Rica, SC, possuem biodiversidade peculiar pouco alterada, mantendo características naturais do ecossistema Campos. Isto se deve, sobretudo, pela pecuária extensiva tradicionalmente explorada há várias gerações associada a manutenção de remanescentes florestais,. Os ecossistemas pouco modificados apresentam alta riqueza de recursos genéticos e podem ser portadores de genótipos que contêm propriedades singulares para usos terapêuticos, aromáticos, condimentares, nutricionais, entre outros. A caracterização de espécies da flora silvestre dessa região é primordial para a manutenção e conservação da biodiversidade, ameaçada pela ação antrópica tais como agricultura extensiva, plantio de maciços florestais e construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCH’s). Com isto, várias espécies vegetais de ocorrência endêmica poderão reduzir gradativamente suas populações ou até mesmo desaparecerem. A região da Coxilha Rica é fortemente influenciada por uma cultura que preserva saberes tradicionais herdados de indígenas, escravos e tropeiros. O uso de plantas no tratamento de doenças na chamada “medicina campeira” faz parte da cultura popular e é uma alternativa de medicação de baixo custo. Porém, este conhecimento popular está sendo perdido ao longo do tempo. Estudos etnobotânicos poderiam auxiliar na perpetuação dos processos culturais integrados ao uso dos recursos genéticos locais. O reconhecimento e a prospecção destes germoplasmas silvestres, aliados a valorização da cultura tradicional local são essenciais para atingir a eqüidade social, resgatando a auto-estima, a dignidade e qualidade de vida do homem que ai reside. A maioria das espécies de plantas sucessionais nos campos naturais não tem ainda potencial de exploração econômica conhecido, embora já fazem parte do uso na cultura local. As plantas medicinais compõem um dos grupos de maior riqueza, tem sido utilizadas pelos moradores da região dos Campos Naturais de Altitude, originando o termo local de “medicina campeira”. Entre as espécies conhecidas e mais utilizadas pelas famílias locais, cita-se a erva-de-touro, empregada para tratar problemas estomacais e com alto potencial farmacológico e cosmético devido a sua composição com óleos voláteis aromáticos peculiares. O objetivo deste trabalho foi realizar levantamento de espécies utilizadas na “medicina campeira” por agricultores e pecuaristas da região da Coxilha Rica, SC. Foram realizadas visitas a agricultores/pecuaristas da região da Coxilha Rica, abrangendo as comunidades de Cajurú, Morrinhos, Pinheiro Seco, São Jorge, Faxinal, Km 14, Raposo, Escurinho, Pelotinhas, Vigia, Santo Cristo, Borel e Rincão do Perigo. Para cada visita foi aplicado questionário semi-estruturado abordando aspectos sócio-culturais do informante e informações sobre as plantas utilizadas medicinalmente, local de ocorrência destas plantas, formas de

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armazenagem, manipulação e uso. A erva-de-touro (Poiretia latifolia) teve caracterizado seu hábitat natural de ocorrência e a comunidade vegetal associada. Formas de multiplicação da erva-de-touro. foram estudadas em laboratório. Dados levantados permitiram verificar que moradores da região da Coxilha Rica usam com frequência plantas medicinais.Foram relatadas 121 espécies de plantas, sendo 50 de ocorrência natural da região Sul do Brasil. As plantas mais usadas foram a macela (Achyrocline satureioides), espinheira-santa (Maytenus ilicifolia), arnica (Chionolaena latifolia), pau-andrade (Persea pirifolia), carqueja (Baccharis trimera), malva (Malva sylvestris), poejo (Mentha pulegium), erva-de-touro (Poiretia latifolia) e cravo-do-campo (Trichocline macrocephala). Os usos mais comuns relatados foram para problemas digestivos, ferimentos e gripe. A erva-de-touro (P. latifolia) ocorreu predominantemente em áreas de campo e em solos pedregosos e é naturalmente dispersa em toda região da Coxilha Rica. Pode-se concluir que a erva-de-touro é um recurso genético do Planalto Serrano Catarinense, dispõe de considerável conhecimento associado à população local e tem potencial de exploração econômica. Para a domesticação da espécie e inclusão em sistemas de produção agrícola são necessários maiores estudos sobre a ecologia da espécie e formas de multiplicação. Por outro lado, outras espécies nativas são igualmente de alto valor medicinal conforme apontado pelos moradores da Coxilha Rica.

Palavras-chave: Etnobotânica. Fitoterapia. Bioativas.

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ABSTRACT

AMORIM, Carolina Custódio. Vegetal species used in peasant medicine in the Coxilha Rica region and study of “erva-de-touro” (Poiretia latifolia). 2010. 72 f. Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal) – Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias, Lages, 2010.

High land fields in the Coxilha Rica region of Santa Catarina state have a worthy biodiversity due to low anthropic interference and the singular predominant ecosystem. Traditional extensive cattle system practiced during several generations allowed to keep some reminiscent forestry. The ecosystems that had low human interference may keep high biodiversity with several species, having therapeutic, aromatic, nutritional, and condiment properties. It is very important to study the native flora in such region once biodiversity is threatened by water powering (PCH`s), re-forestation, and agriculture large plantations. Native plant species that are endemically in such region may reduce gradually its occurrence or even became extinct. Culture and customs in this region have been strongly influenced by indigenous, slaves, and gauchos knowledge. The use of plants as medicines in the local communities of Coxilha Rica is a part of its tradition, but it has been decreases with time. Ethno-knowledge may help to maintain the communities integrated with local genetic resources. To recognize and prospect native genetic resources would be essential to rescue dignity and to empowering people for local sustainable development, which may improve live quality. Mostly of plant species that are characteristic successional species in the high land fields were not yet studied for their potential economic exploration, even they are already useed for local communities. Medicinal plants consisted of the most large group of plant that are currently used by the communities living in the high land fields and it gives the spatial name of “medicina campeira”. One of the most frequently used species is Poiretia spp., that is indicated for stomach pain. The presence of volatile essential oil gives the potential to be used also as cosmetic. The objective of this work was to do assessment of medicinal plants used by farmers living in Coxilha Rica region of Santa Catarina state. Studies were carried out in the follow communities: Cajurú, Morrinhos, Pinheiro Seco, São Jorge, Faxinal, Km 14, Raposo, Escurinho, Pelotinhas, Vigia, Santo Cristo, Borel, and Rincão do Perigo. Semi-structured questionnaire was applied to each visited farmer. Informations included social-cultural aspects, indicated treatment, medicinal plant occurrence, habitat, processing, and plant storage methods. The medicinal species of Poiretia latifolia was characterized by taking data of its natural habitat and the associated plant community. Multiplication systems of Poiretia latifolia were studied in the laboratory. Results showed that the farmers living in the Coxilha Rica region used frequently plant for human treatment. It was reported 121 plant species as medicinal and 50 of them to be native occurrence in the South Brazil. The most used plants include Achyrocline satureioides, Maytenus ilicifolia, Chionolaena latifolia, Persea pirifolia, Baccharis trimera, Malva sylvestris, Mentha pulegium, Poiretia latifolia, and Trichocline macrocephala. The most frequent

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treatments with plants were for stomach pain, hunting, and colt. Poiretia latifolia occurred in field areas, shallower soil covering rocks and stones. It is dispersed in all communities of Coxilha Rica region. It may be conclude that Poiretia latifolia is a frequent genetic resorce presente in the Planalto Serrano Catarinense and it has a valuable local knowledge associated with it. This makes the species P. latifolia a potential plant species for domestication and used in economic cropping. For domestication purposes of Poiretia latifolia it is necessary further studies about multiplication and ecology. There are several native plant species occurring in high land fields of the Coxilha Rica region that would be multiplied to cultivate as medicinal plant once local farmers had been used from long time.

Keywords: Ethno-botany. Phytoterapy. Bio-active.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Distribuição do gênero Poiretia no Brasil. Fonte: Müller,1984.......... 25

Figura 2: Faixa etária dos informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009..................................................................................................

36

Figura 3: Nível de escolaridade dos informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009...................................................................................

36

Figura 4: Descendência étnica dos informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009...................................................................................

36

Figura 5: Número de moradores na casa dos informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009...................................................................................

38

Figura 6: Tamanho da propriedade onde residem os informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009......................................................

38

Figura 7: Principal fonte de renda dos informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009...................................................................................

38

Figura 8: Tempo de vivência (anos) na propriedade dos informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009......................................................

39

Figura 9: Opinião dos informantes entrevistados em relação a construção de PCH’s na região da Coxilha Rica/SC, 2009................................

39

Figura 10: Planta de Poiretia latifolia Vog. (erva-de-touro) em área de campo nativo na região da Coxilha Rica/SC, 2009......................................

42

Figura 11: Frequência de plantas de erva-de-touro em áreas com diferentes manejos, região da Coxilha Rica/SC, 2009......................................

44

Figura 12: Densidade de glândulas de óleo volátil presente nas amostras de folhas de Poiretia latifolia Vog. coletadas na região da Coxilha Rica/SC, 2009...................................................................................

44

Figura 13: Pontos de amostragem de erva-de-touro na região da Coxilha Rica/SC e entorno, 2009. Mapa-imagem obtida no Google Earth, 2010..................................................................................................

45

Page 12: medicina campeira

Figura 14: Folha de Poiretia latifolia com presença de pústulas de ferrugem, Lages, 2009......................................................................................

46

Figura 15: Fotografia das estruturas reprodutivas: uredosporos (a) e teliosporos (b) da ferrugem de Poiretia latifolia Vog. Lages, SC, 2009..................................................................................................

47

Figura 16: Coleóptero Apion apricans em vagem de Poiretia latifolia coletadas na região da Coxilha Rica/SC, 2009................................

47

Figura 17: Vespa da espécie Melittobia digitata encontrada em vagem de Poiretia latifolia, região da Coxilha Rica/SC, 2009. ........................

47

Page 13: medicina campeira

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Espécies vegetais utilizadas medicinalmente pelos agricultores/pecuaristas entrevistados da Coxilha Rica/SC, 2009..................................................................................................

29

Tabela 2: Plantas medicinais nativas e seus respectivos usos, citadas pelos agricultores/pecuaristas entrevistados da Coxilha Rica/SC, 2009..................................................................................................

33

Tabela 3: Georreferenciamento das plantas de erva-de-touro (Poiretia latifolia) estudadas na Coxilha Rica e entorno, 2009.......................

45

Tabela 4: Presença do coleóptero Apion apricans e da vespa Melittobia digitata em amostras de sementes de Poiretia latifolia, 2009..................................................................................................

48

Tabela 5: Plantas associadas a erva-de-touro (Poiretia latifolia) na região da Coxilha Rica/SC, 2009......................................................................

48

Tabela 6: Composição de sais e vitaminas do meio de cultura MS (Murashige & Skoog, 1962)..............................................................

52

Tabela 7: Número e comprimento de brotações, número de internódios e de folhas (média ± erro padrão) de explantes de erva-de-touro (Poiretia latifolia) cultivada em meio MS sob diferentes concentrações de 6-benzilaminopurina (BAP).................................

54

Tabela 8: Taxa de enraizamento, comprimento de raízes emitidas, taxa e comprimento de brotações e taxa de sobrevivência (média ± erro padrão) de estacas herbáceas de erva-de-touro (Poiretia latifolia) induzidas ao enraizamento com a auxina ácido indol-3-butírico (AIB)..................................................................................................

56

Tabela 9: Taxa de germinação (%) (média ± erro padrão) de sementes de Poiretia latifolia tratadas com homeopatias Carbo vegetabilis, Sulfur, nosódio de Poiretia em 6, 12 e 30 CH..................................

56

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO GERAL............................................................................ 15

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................... 18

2.1 CAMPOS NATURAIS DE ALTITUDE E BIODIVERSIDADE.................... 18

2.2 ETNOCONHECIMENTO........................................................................... 22

2.3 GÊNERO Poiretia sp................................................................................. 24

3 ETNOBOTÂNICA DA MEDICINA CAMPEIRA DA REGIÃO DA COXILHA RICA, LAGES, SC...................................................................

27

3.1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 27

3.2 METODOLOGIA........................................................................................ 28

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 29

4 LEVANTAMENTO ASSISTEMÁTICO DA ERVA-DE-TOURO E SEU HABITAT NA REGIÃO DA COXILHA RICA, SC.....................................

41

4.1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 41

4.2 METODOLOGIA........................................................................................ 41

4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 42

5 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA E USO DE HOMEOPATIA NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE ERVA-DE-TOURO (Poiretia latifolia).....................................................................................................

49

5.1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 49

5.2 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................... 51

5.2.1 Cultivo in vitro de Poiretia latifolia............................................................. 51

5.2.2 Enraizamento de estacas de Poiretia latifolia........................................... 52

5.2.3 Uso de homeopatia na germinação de sementes de Poiretia latifolia..... 53

5.2.4 Análise de dados...................................................................................... 53

5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 54

Page 15: medicina campeira

5.3.1 Cultivo in vitro de Poiretia latifolia............................................................ 54

5.3.2 Enraizamento de estacas de Poiretia latifolia........................................... 55

5.3.3 Uso de homeopatia na germinação de sementes de Poiretia latifolia...... 56

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 58

7 CONCLUSÕES…………………………………………………………...... 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 62

ANEXOS.............................................................................................................. 70

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15

1 INTRODUÇÃO GERAL

O Planalto Serrano Catarinense, formado por dezoito municípios incluindo

Lages, é uma região peculiar pelo modo de ocupação e uso da terra realizado ao

longo do tempo. A fitogeografia predominante ao ecossistema Campos Naturais de

Altitude associado a Mata de Araucária tem revelado, também, um alto potencial

turístico. Nesta região o sistema extensivo de criação de gado tem permitido a

remanescência de alta diversidade biológica, apesar da prática anual de queimada

dos campos. Por outro lado, nos últimos anos devido a pressões de mercado, os

pecuaristas da região passaram a optar por outras alternativas de renda como

reflorestamento com pinus e cultivo de grãos (MAESTRI, 2008).

A particular região da Coxilha Rica, compreende parte dos municípios de

Lages e Capão Alto e tornou-se recentemente alvo de atenção pela opinião pública,

pois pequenas centrais hidrelétricas (PCH’s) estão projetadas para serem

construídas nos rios Lavatudo e Pelotinhas, que fazem parte da bacia hidrográfica

do rio Pelotas. A construção das PCH’s provoca alagamento em diversas áreas de

terra ocasionado pela formação dos reservatórios (AMURES, 2009). Áreas não

alagadas podem indiretamente serem influenciadas pelas mudanças causadas no

ambiente e alteração do microclima. Com isto, várias espécies vegetais de

ocorrência endêmica poderão ser afetadas, reduzindo gradativamente suas

populações ou até mesmo desaparecerem. A maioria das espécies de plantas

sucessionais nos campos naturais não tem ainda potencial de exploração

econômica conhecido, embora já fazem parte dos diversos usos na cultura local. As

plantas medicinais compõem um dos grupos de maior riqueza, sendo largamente

utilizadas pelos moradores da região dos Campos Naturais de Altitude, originando o

termo regional de “medicina campeira”. Entre as espécies conhecidas e largamente

utilizadas pelas famílias locais cita-se a erva-de-touro, empregada para tratar

problemas estomacais e com alto potencial farmacológico e cosmético devido a sua

composição com óleos voláteis aromáticos peculiares.

Page 17: medicina campeira

16

Devido a fatores históricos, culturais, climáticos e geográficos, o Planalto

Serrano Catarinense é a região financeiramente mais pobre do estado de Santa

Catarina. Porém, sob ponto de vista dos recursos naturais é ainda a mais

preservada e de valor inestimável (SILVA, 2008). Isto oferece condição singular para

o desenvolvimento de sistemas produtivos em base ecológica, visto poderem ser

otimizados os recursos locais.

A Convenção da Biodiversidade de 1992 acordada por mais de 100 países

signatários, incluindo o Brasil, estabelece o compromisso formal para que os países

incorporem a conservação da biodiversidade em sua agenda científica, produtiva e

política (SANTILLI, 2005). Em Santa Catarina, a agricultura pode oferecer excelente

oportunidade para integrar a conservação da biodiversidade com atividades

econômicas, dada sua estrutura fundiária em pequenas unidades familiares e a

presença de remanescentes florestais em várias regiões.

O cultivo de espécies nativas pela agricultura familiar aumenta as opções de

geração de renda pela venda in natura ou de processados e agregando maior valor

na produção em sistemas agroecológicos. Isto porque os (as) agricultores (as)

podem desenvolver suas atividades sem agredir o ambiente, tornando-se

independentes dos pacotes tecnológicos os quais são onerantes e degradantes. O

desenvolvimento de sistemas produtivos em base ecológica permite ainda

contemplar as dimensões sociais, ambientais, econômicas, políticas, técnicas e

culturais, em processos educativos e metodologicamente adequados. Nestes, os

(as) trabalhadores (as) assumem o protagonismo e aumentam seu poder de

intervenção na sociedade de forma organizada (CEPAGRI, 1998).

É cada vez maior a demanda por novas tecnologias de produção vegetal de

modo sustentável para satisfazer as expectativas de melhores condições de

qualidade de vida e do meio ambiente tanto do espaço rural quanto urbano. Desta

forma, os processos produtivos devem ser ao mesmo tempo eficientemente

adequados para a preservação dos recursos naturais e para a produção de

alimentos saudáveis. Portanto, reveste-se de grande importância o uso de

componentes da diversidade biológica e processos de transformação destes

recursos, levando em conta a cultura e o conhecimento local. A otimização do

processo produtivo e a conservação do ambiente estão intimamente associadas à

diversidade de espécies manejadas.

Page 18: medicina campeira

17

Espécies nativas de uso popular apresentam alto potencial de exploração

econômica, o que justifica introduzi-las nos sistemas de cultivo de base ecológica.

Para tanto faz-se necessário desenvolver tecnologias adequadas de produção e

promover ações de divulgação que possibilitem torná-las conhecidas ao público

consumidor. Cabe salientar, também, a importância destas espécies nativas para

serem utilizadas na recomposição de matas ciliares e de áreas degradadas.

O uso e a conservação da diversidade vegetal existente poderá ser melhor

usufruída pela sociedade, caso estudos de reconhecimento de espécies e saber

local sejam reconhecidas e sistematizados. Isto possibilitaria prevenir a erosão

genética e progredir para o estudo e desenvolvimento de sistemas de cultivo em

base ecológica, minimizando os efeitos decorrentes do alagamento na construção

das PCH’s.

O objetivo deste trabalho foi estudar a “medicina campeira” na região da

Coxilha Rica, para subsidiar a definição de estratégias de atuação no

desenvolvimento econômico local com a conservação da biodiversidade existente,

valorizando aspectos culturais e identificar espécies com potencial bioativo através

do conhecimento popular. A erva-de-touro (Poiretia latifolia) foi estudada de modo

particular, coletando-se dados relacionados ao habitat natural de ocorrência, a

comunidade vegetal associada, e avaliando formas de multiplicação.

Esta dissertação está organizada em três capítulos de pesquisa. No primeiro

capítulo é apresentado o estudo etnobotânico realizado na Coxilha Rica, elucidando

aspectos da dinâmica do conhecimento acumulado das famílias residentes nesta

região e as principais espécies usadas medicinalmente por elas. O segundo capítulo

aborda aspectos do hábitat da erva-de-touro (Poiretia latifolia Vog.), planta bioativa,

com propriedades aromáticas e medicinais. No terceiro capítulo é apresentado o

estudo sobre a propagação da erva-de-touro, com intuito que isso possa auxiliar a

multiplicação para o cultivo da espécie em escala comercial.

Page 19: medicina campeira

18

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 CAMPOS NATURAIS DE ALTITUDE E USO DA BIODIVERSIDADE

A diversidade biológica é o que permite manter a terra habitável dada a sua

influência direta no clima e composição do ar. O número conhecido de espécies da

biosfera até o momento é de dois milhões. Estima-se que restam por descobrir,

outros cinquenta milhões de espécies, mostrando que os ecossistemas abrigam

grande diversidade biológica ainda não estudada. O Brasil é o país que apresenta a

maior biodiversidade do planeta, no que se refere a mamíferos e plantas. O número

de espécies vegetais endêmicas chega a 7% das catalogadas até hoje (RESERVA

DA BIOSFERA DA MATA ATLÂNTICA, 1992).

O estado de Santa Catarina caracteriza-se por condições edafoclimáticas

peculiares e muito diversificadas. O clima na região do Planalto Catarinense é

considerado como clima chuvoso, com invernos e verões brandos (Cfb). O Planalto

Serrano, região ao sul do Planalto Catarinense a temperatura média das mínimas e

máximas do mês mais frio é de -3 e 18°C, respectivamente. A média anual de

precipitação é de 1.457mm (RITTER e SORRENSON, 1985). Essa região apresenta

altitudes ao redor de 1.000 m e invernos rigorosos.

No Planalto Serrano Catarinense predomina o Bioma Mata Atlântica onde os

ecossistemas Campos Naturais de Altitude associam-se a Floresta de Araucária

(VELOSO et al., 1991). O Planalto Serrano Catarinense abriga o maior

remanescente dos Campos Naturais de Altitude, com 90% do restante no sul do

Brasil. Uma microrregião aí contida, a Coxilha Rica, é a menos alterada de Santa

Catarina, no que se refere à manutenção das características naturais do meio

ambiente. Isto se deve em parte por ser pouco povoada, sobretudo dada a ocupação

predominante pela pecuária extensiva, tradicionalmente explorada há várias

gerações. Associado aos Campos Naturais de Altitude encontra-se remanescentes

florestais do tipo Mata de Araucária. Atualmente, a atividade agropecuária na Coxilha

Rica não tem permitido uma remuneração financeira mínima necessária à

Page 20: medicina campeira

19

manutenção das famílias. Isto se deve, em parte, pela redução no tamanho das

áreas por divisão de herança, assim como por mudanças profundas na economia.

A região da Coxilha Rica possui cerca de 100 quilômetros em diâmetro

médio de extensão e abrange a zona rural de parte dos municípios de Lages e

Capão Alto. Caracteriza-se por ser uma grande planície de coxilhas com altitudes

que alcançam 1500m, temperatura média anual abaixo de 18 C e no inverno com

frequentes temperaturas negativas. O solo é pouco profundo, pedregoso, ácido e de

baixa fertilidade. A vegetação predominante são Campos Naturais de Altitude, com

fragmentos de Florestas de Araucária. Os principais rios da região são o Pelotas,

Pelotinhas, Penteado, Lageado Bonito e Lavatudo. A principal atividade econômica é

a pecuária extensiva, utilizando pastagem natural. Recentemente, a plantação de

florestas de pinus vem tomando espaço cada vez maior. A Coxilha Rica tem alto

valor como patrimônio histórico e cultural, pois passava por lá uma das primeiras

vias terrestres de ligação entre o Sul e o Sudeste do Brasil, o Caminho das Tropas,

traçado no século XVIII (MAESTRI, 2008).

Empreendimentos agrícolas, tais como culturas anuais de grãos e perenes

com frutíferas têm sido implementados em pequena e média escala, mas limitadas

pelo tipo de solo e topografia. Sistemas de exploração pecuários mais intensivos

tendem a aumentar com a introdução de espécies forrageiras exóticas de maior

produtividade que as nativas. Reflorestamento com espécies exóticas,

principalmente Pinus sp. tem sido a opção de maior expressão e crescimento nos

últimos anos. Estas atividades, isoladas ou em conjunto poderão exercer grande

impacto ambiental na redução da biodiversidade, uma vez que estão sendo

incorporadas áreas representativas e inalteradas, principalmente do ecossistema

Campos Naturais de Altitude. O grau de alteração e prejuízo ambiental pela

mudança dos ciclos biológicos, geológicos e químicos tende a assumir grandes

proporções, causando perda crescente de espécies ou completa alteração dos

ecossistemas. Isto se deve principalmente pelas grandes áreas sendo incorporadas

aos maciços florestais e ao grau de alteração induzido pelo reflorestamento com

pinus (AGOSTINI, 2001). O processo de mudanças em curso na região faz parte do

modelo de intensificação da agricultura pelo uso exclusivo de recursos genéticos

com alta resposta de produtividade o qual tem estreitado, sobremaneira, a base

genética das plantas cultivadas e facilitando, ao mesmo tempo, a “erosão genética”.

Além disso, o modelo produtivista da agricultura industrializada, que se baseia em

Page 21: medicina campeira

20

um número limitado de espécies cultivadas, conduz a uma uniformidade de

paisagem, simplificando os processos naturais e pondo em risco o equilíbrio

ecológico do próprio agroecossistema, do qual provém a maior parte das espécies

cultivadas (NODARI et al., 2001).

Apesar desta mudança em curso, tem-se observado que a maior fração da

área dos ecossistemas Campos Naturais de Altitude e Mata de Araucária na Coxilha

Rica está ainda pouco modificada, apresentando alta riqueza de diversidade vegetal.

Estes ecossistemas podem ser portadores de recursos genéticos vegetais que

contenham propriedades singulares para usos como terapêuticos, aromáticos,

condimentares, nutricionais, entre outros. A grande vantagem destas espécies é a

adaptação às condições edafoclimáticas locais e, por conseguinte, apresentarem

alta rusticidade, no caso de serem utilizadas em sistemas de produção agrícola. O

reconhecimento e estudo dos recursos genéticos manejados por agricultores, aliado

à diversidade existente, são fatores fundamentais para resgatar a auto-estima e a

dignidade das famílias que ali vivem, cujo benefício pode se estender a toda

sociedade catarinense. A manutenção e o cultivo de espécies nativas proporcionam,

ainda, um ambiente biologicamente diversificado no entorno aos sistemas agrícolas

o que lhe oferece proteção contra perturbações naturais ou provocadas pelo ser

humano. (BEGOSSI et al., 2006).

A diversificação da matriz produtiva é o melhor caminho para aumentar a

rentabilidade do agricultor, em especial para as pequenas propriedades (ARL, 2005).

Novos sistemas de produção podem ser integrados às atividades tradicionais

permitindo mudar o perfil produtivo, gerando novos postos de trabalho, agregando

renda aos produtores e conseqüentemente aumentando o PIB regional. O cultivo de

espécies alternativas, tais como plantas bioativas ou fruteiras nativas, constituem-se

em opção com grande potencial para ser usufruído. Isto devido ao fato de serem

culturas que não requerem altos investimentos e com grande potencial econômico,

além de permitirem com facilidade a produção em sistemas agroecológicos e de

menos riscos financeiros. Muitas espécies pouco estudadas, mas de uso popular,

podem ter potencial para exploração econômica, tanto para a produção de alimentos

ou de matéria-prima industrial, como para a recuperação de áreas degradadas e

conservação de mananciais de água.

Para a região da Coxilha Rica estão previstas dez hidrelétricas, sendo nove

de pequeno porte (PCH’s) e uma grande usina, a Pai-querê, que juntas podem

Page 22: medicina campeira

21

exercer grande influência negativa na biodiversidade na região (AMURES, 2009). A

redução de áreas com vegetação nativa como resultado da intensificação das

atividades humanas e construção de barragens para aproveitamento hidroelétrico

põe em risco de extinção muitas espécies nativas com potencial para serem

domesticadas. O reconhecimento de espécies nativas de uso popular é o primeiro

passo para a geração de alternativas econômicas aos agricultores, além de

contribuir para a manutenção da diversidade biológica regional. As espécies nativas

são excelentes oportunidades de diversificação, especialmente para pequenas

propriedades rurais, onde o manejo agroecológico tem demonstrado resultados

promissores sob o ponto de vista sócio-econômico. A valorização do conhecimento

local e empírico dos agricultores, a socialização desse conhecimento e sua

aplicação ao objetivo comum da sustentabilidade são princípios inclusos na ciência

da Agroecologia que proporciona o desenvolvimento de estilos de agricultura mais

sustentáveis (ALTIERI, 2002).

A agroecologia atua em várias dimensões da sustentabilidade. A dimensão

ecológica prevê a manutenção da biodiversidade, contribuindo para a preservação

do meio ambiente que, combinada a dimensão econômica, viabiliza uma cadeia

produtiva de modo inovador. Ao considerar-se que haja repartição de benefícios, o

desenho de sistemas produtivos em base ecológica tem também impactos sociais,

que ao mesmo tempo empodera os agricultores e preserva os valores culturais

existentes. Este cenário nos traz a necessidade de organização da comunidade que

se fortalece politicamente em suas regiões, mantendo a ética na produção de

alimentos sadios e saudáveis, sem contaminação, tanto para agricultores como para

consumidores (ARL, 2005). O enfoque do sistema agroecológico visa analisar e

entender a propriedade como um todo de forma dinâmica, pensar globalmente, agir

localmente. Os processos agroecológicos de produção contribuem, portanto, para a

manutenção da biodiversidade, sendo os mais indicados para serem trabalhados na

domesticação de espécies nativas.

Page 23: medicina campeira

22

2.2 ETNOCONHECIMENTO

A etnociência organiza-se pelo conhecimento que as populações tradicionais

possuem sobre si próprios e a relação com a natureza. Ao estudar o conhecimento

das populações humanas sobre os processos naturais, procura-se descobrir a lógica

subjacente ao conhecimento humano do mundo natural (DIEGUES, 2000). A

etnobotânica, como ramo da etnociência, expressa o conhecimento popular

associado a plantas. Inclui, ainda, a interação de comunidades humanas com o

mundo vegetal, em suas dimensões antropológica, ecológica e botânica. Esses

estudos, de grande importância na manutenção da cultura, permitem combinar

conhecimentos tradicionais e modernos, e oferecem melhor investigação da flora

ainda desconhecida, bem como sua conservação e manejo sustentável (DIEGUES,

2000).

Estudos etnobotânicos podem subsidiar trabalhos sobre uso sustentável da

biodiversidade, através da valorização e do aproveitamento do conhecimento

empírico das sociedades humanas. Auxiliam na definição dos sistemas de manejo, a

partir do conhecimento científico e tecnológico voltados ao uso sustentável dos

recursos naturais. A etnobotânica tem sido considerada em debates sobre a

conservação biológica, principalmente quando os recursos vegetais são extraídos ou

manejados pelas populações locais de maneira sustentável (BEGOSSI et al., 2006).

As práticas de uso de recursos vegetais com potencial de conservação devem ser

analisadas criteriosamente, em especial quando a extração de recursos vegetais

visa suprir demandas de mercado. A etnobotânica auxilia, portanto, na manutenção

da biodiversidade e na perpetuação dos processos culturais integrados ao uso dos

recursos genéticos locais. A valorização e resgate de conhecimentos e recursos

genéticos tradicionais é o caminho para a manutenção de toda esta riqueza

existente (DIEGUES, 2000).

Cada espécie vegetal ou animal existente possui um potencial intrínseco a

ela, que poderá fornecer benefícios econômicos para a sociedade em algum

determinado momento no futuro. Segundo Myers (1984), a isso chamamos valor de

opção. O uso de plantas para fins terapêuticos está inserido em um contexto social e

ecológico que vai moldá-lo, de modo que muitas das peculiaridades deste emprego

não podem ser entendidas se não levar em consideração fatores culturais

envolvidos, além do ambiente físico onde ele ocorre.

Page 24: medicina campeira

23

A solução para um problema de saúde emergente poderia estar em animais

ou plantas não considerados ainda como fonte de tratamento. Por isso agências de

assistência à saúde e indústrias farmacêuticas estão buscando coletar e identificar

espécies cujos compostos tenham a capacidade de superar doenças humanas.

Assim, se a redução da diversidade biológica continuar no ritmo atual, a

possibilidade dos cientistas em localizar e utilizar novas espécies para tais fins será

diminuída. Devemos levar em conta, também, que as espécies mais vulneráveis à

extinção têm características particulares tais como: distribuição em pequenas

extensões geográficas; apenas uma ou poucas populações; pequena densidade

demográfica; densidade demográfica em declínio; e um valor econômico que

favorece a super-exploração pelo ser humano. Conforme Toledo (1992), é difícil

planejar uma política consistente de conservação dos recursos naturais sem levar

em consideração a dimensão cultural, que é o profundo relacionamento existente

desde os tempos remotos entre a natureza e o ser humano. Isto se torna mais

evidente em um país que é caracterizado pela diversidade cultural da população

rural. Cada espécie de planta ou grupo de animais, tipo de solo e paisagem quase

sempre tem uma expressão lingüística correspondente, uma categoria de

conhecimento, um uso prático, um sentido religioso, um papel em um ritual, uma

vitalidade individual ou coletiva. Salvaguardar a herança biológica do país sem

resguardar as culturas que lhe têm dado vida é reduzir a natureza a algo sem

reconhecimento, estático, distante e quase morto. É fundamental, portanto, analisar

e comparar as relações entre a população humana e a biodiversidade disponível ou

como esta biodiversidade é conhecida, utilizada e manejada (BEGOSSI et al., 2006).

Para obtenção de informações dos agricultores sobre as espécies em uso

relevantes a comunidade é necessário o reconhecimento do próprio ser humano

envolvido. Entre os métodos utilizados para acessar esse conhecimento, as

entrevistas estão entre os mais adequados, pois envolvem questionamentos abertos

e às vezes questões objetivas fechadas, que se denomina semi-estruturado, e tem-

se oportunidade de discorrer sobre o tema proposto. A entrevista se assemelha ao

contexto de uma conversa informal; porém, possibilita a organização de dados para

análise comparativa (BONI; QUARESMA, 2008).

Outro fator importante na revalorização da biodiversidade local é conhecer a

ecologia das espécies na sua ocorrência natural. Isto pode ser feito parcialmente

Page 25: medicina campeira

24

através de observação assistemática. Na observação assistemática, os dados são

recolhidos e registrados sem a utilização de meios técnicos especiais, ou seja, sem

planejamento ou controle. A observação assistemática é bem aplicada em estudos

exploratórios de campo (BONI; QUARESMA, 2008). A observação assistemática é

uma ferramenta importante no inicio da caracterização do habitat de espécies que

ainda são pouco estudadas.

2.3 GÊNERO Poiretia sp.

A utilização da espécie vegetal Poiretia latifolia Vog. nos Campos Naturais

de Altitude do Planalto Sul Brasileiro é de longa data por fazer parte da medicina

campeira regional. É popularmente conhecida como erva-de-touro, chá-do-campo e

limãozinho-do-campo, nomes comuns atribuídos a Poiretia latifolia Vog. (JANKE;

OLIVEIRA, 1988). A planta pertence ao filo Magnoliophyta, classe Magnoliopsida,

ordem Fabales, família Fabaceae, tribo Hedysareae (MÜLLER, 1984). Segundo

Müller (1984), o gênero é composto por doze espécies divididas em duas secções: a

secção Poiretia Vent., monoespecífica com Poiretia punctata (Willd) Desv. ex Rudd e

a secção Virgata C.Müller, composta por P. angustifolia Voguel, P. latifolia Voguel, P.

coriifolia Voguel, P. longipes Harms, P. unifoliolata Mello Barreto ex Martins &

Pedersolli, P. tetraphylla (Poir.)Burkart, P. bahiana C.Müller, P. crenata C.Müller, P.

elegans C.Müller, P. marginatta C.Müller e P. mattogrossensis C.Müller. A

predominância de uma ou outra espécie está relacionada às condições de clima e

solo. Conforme Müller (1984), Poiretia latifolia Vog. ocorre no sul do Brasil, nos

estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A dispersão das espécies

da secção Virgata ocorre restritamente entre 12 e 40 de latitude sul (FIGURA 1).

Existe o relato da ocorrência, também, na Argentina, Paraguai e Uruguai (MÜLLER,

1984).

Page 26: medicina campeira

25

Figura 1: Distribuição do gênero Poiretia no Brasil. Fonte: Müller,1984.

A erva-de-touro tem sido citada por agricultores no tratamento de problemas

estomacais e possui potencial para ser utilizado na farmacologia devido a

composição em óleos essenciais. Além de ser medicinal, o potencial bioativo dessa

espécie inclui propriedades aromáticas pelo alto conteúdo de óleo aromático volátil

peculiar (SILVA, 2005). O aumento do uso de erva-de-touro com a possível

divulgação destas propriedades poderá estimular a coleta regular extrativista o que

ameaçaria sua ocorrência natural. Para tanto, se necessita desenvolver meios de

propagação, a fim de preservá-la em seu ambiente natural. A multiplicação por

sementes, propagação vegetativa e micropropagação são meios que viabilizam seu

cultivo. Entretanto, a domesticação para cultivo comercial da Poiretia sp. carece de

estudos. O estudo do hábitat natural oferece fonte de conhecimento para o

desenvolvimento de sistemas de cultivo em base ecológica.

As espécies nativas estão naturalmente evoluídas e adaptadas em

ambientes de alta diversidade biológica. Em paralelo, as propostas de sistemas

agroecológicos de produção priorizam o desenho de agroecossistemas mais

complexos e diversificados, visto que um sistema com alta diversidade terá maior

Page 27: medicina campeira

26

ganho energético e favorece interações benéficas (GLIESSMAN, 2001). Faz-se

necessário, portanto, conhecer profundamente o hábitat de ocorrência natural das

espécies e suas relações com as demais espécies da comunidade vegetal onde

ocorre. Desse modo, serão criados subsídios necessários aos processos seguintes

de domesticação e inclusão da espécie em sistemas de produção agrícola.

Page 28: medicina campeira

27

3 ETNOBOTÂNICA DA MEDICINA CAMPEIRA DA REGIÃO DA COXILHA RICA,

LAGES, SC

3.1 INTRODUÇÃO

A Coxilha Rica é uma região do Planalto Sul Catarinense, abrangendo as

microbacias hidrográficas dos rios Lavatudo, Pelotinhas e norte do rio Pelotas.

Encerra um complexo de colinas de campos naturais de altitude que pertencem a

um bioma característico, com vegetação que integra parcelas de duas regiões

fitoecológicas: a Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucária) e a Estepe

(Campos Gerais Planálticos) (SILVA, 2008). Nesta região, a biodiversidade é

peculiar e ainda pouco alterada, mantendo características naturais do ecossistema.

Isto se deve, sobretudo, pela pecuária extensiva que conservou também os

remanescentes florestais adjacentes aos campos e, tradicionalmente mantida há

várias gerações. A Coxilha Rica é a maior área rural despovoada de Santa Catarina.

Possui 42% do território de Lages e é maior que a maioria dos municípios do Estado.

Possui área de 1.135 Km2 e pouco mais de 200 habitantes. O nome “coxilha” dá-se

ao fato da região ser formada por uma planície ondulada com declividade pouco

acentuada (CORREIO LAGEANO, 2010). Os ecossistemas ainda pouco modificados

nesta região apresentam alta riqueza de recursos genéticos e podem ser portadores

de genótipos que contém propriedades singulares para usos terapêuticos,

aromáticos, condimentares, nutricionais, entre outros.

A construção de hidrelétricas de pequeno porte (PCH’s) e uma grande usina

previstas para a região da Coxilha Rica pode ocasionar alterações microclimáticas e

ameaças a biodiversidade local. Medidas compensatórias estão sendo propostas

com a criação de uma área de proteção ambiental (APA) para valorização e

preservação da biodiversidade e dos patrimônios naturais, cultural, paisagísticos e

arquitetônicos presentes. Para tanto, a caracterização da flora nativa é primordial

para a manutenção e conservação da biodiversidade regional, ameaçada pela ação

antrópica no plantio de maciços florestais, e pela construção de hidrelétricas

Page 29: medicina campeira

28

(MAESTRI, 2008; EXPRESSIVA, 2010). Além disso, estudos em etnobotânica

auxiliam na perpetuação dos processos culturais integrados ao uso dos recursos

genéticos locais (BONI e QUARESMA, 2005). O resgate do conhecimento local

associado a biodiversidade auxilia na tomada de decisões sobre estratégias que

aliem o desenvolvimento econômico com a conservação da biodiversidade. O

reconhecimento e a prospecção destes germoplasmas nativos, aliados à valorização

da cultura tradicional local, são essenciais para manutenção do equilíbrio dos

ecossistemas naturais e atingir a eqüidade social, resgatando a auto-estima, a

dignidade e qualidade de vida das pessoas que residem nesses campos (DIEGUES,

2000). Além disso, estes genótipos têm a vantagem de já estarem adaptados às

condições edafoclimáticas locais e apresentarem alta rusticidade.

O objetivo deste trabalho foi realizar levantamento das espécies nativas e

naturalizadas utilizadas como medicinais pelos moradores das comunidades

pertencentes à região da Coxilha Rica, SC, bem como a disponibilidade de uso e

dinâmica do conhecimento local das famílias residentes nesta região.

3.2 METODOLOGIA

O estudo foi realizado na região da Coxilha Rica, interior dos municípios de

Lages e Capão Alto, SC, durante o período de novembro de 2008 a outubro de

2009. O levantamento etnobotânico constou do registro do conhecimento tradicional

de 34 famílias moradoras desta região, das localidades de Cajurú, Morrinhos,

Pinheiro Seco, São Jorge, Faxinal, Km 14, Raposo, Escurinho, Pelotinhas, Vigia,

Santo Cristo, Borel e Rincão do Perigo. A escolha dos entrevistados se deu através

de orientação prévia com moradores conhecidos de referência da região e a partir

destes, indicações de outros na metodologia de “bola de neve” (BIERNACKI;

WALDORF, 1981). Antes da entrevista, era realizada uma abordagem de

esclarecimento sobre o objetivo do estudo e o entrevistado, na opção de acordo,

firmava anuência em ceder as informações (Anexo A).

O questionário aplicado foi do tipo semi-estruturado, sob contexto de

conversa informal abordando aspectos sócio-culturais do informante e informações

sobre as plantas utilizadas medicinalmente, local de ocorrência destas plantas,

formas de armazenagem, manipulação e uso (Anexo B). Durante as entrevistas, as

Page 30: medicina campeira

29

informações foram anotadas e realizada verificação in loco das espécies citadas

existentes no local, bem como quando necessário, coleta de material para

herborização e posterior confirmação da identificação da espécie citada,

comparando com exsicatas do herbário da Universidade do Estado de Santa

Catarina e auxilio de bibliografia especializada. Foram feitas correlações entre as

informações socioeconômicas e o uso das plantas medicinais citadas.

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os entrevistados relataram o uso medicinal de 121 espécies de plantas

(Tabela 1), sendo que deste total, 50 são de ocorrência natural da região Sul do

Brasil (Tabela 2).

Tabela 1: Espécies vegetais utilizadas medicinalmente pelos agricultores/pecuaristas entrevistados da Coxilha Rica/SC, 2009.

Espécie Nome comum F*

Acca sellowiana (Berg) Burret. goiabeira 14

Achillea millefolium L. anador/nevalgina/pronto-alívio/mil folhas 15

Achyrocline satureioides (lam.) DC macela 31

Adiantum raddianum C Presl. avenca-do-mato 5

Aloe vera (L.) Burm. F. babosa 2

Allium cepa L. cebola 1

Allium porrum L. alho burro 4

Allium sativum L. alho 11

Aloysia triphylla (L 'Hér.) Britton cidró 5

Aloysia virgata Juss. erva-cheirosa 18

Alternanthera brasiliana (L.) O. Kunt. melhoral/ penicilina 4

Annona muricata L. ariticum grande 2

Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze pinheiro 3

Aristida pallens Cav. capim-barba-de-bode 1

Aristolochia cymbifera Mart. & Zucc. milome 7

Artemisia absinthium L. losna 13

Artemisia canphorata Vill. canfro 6

Artemisia vulgaris L. artemísia 4

Avena sativa L. aveia 1

Baccharis trimera (Less.) DC. carqueja 22

Bambusa sp taquara 3

Bauhinia candicans Benth. pata-de-vaca 15

Page 31: medicina campeira

30

Tabela 1: Continuação.

Espécie Nome comum F*

Berberis laurina Billb. são joão 4

Bidens pilosa L. picão 5

Boerhavia diffusa L. erva-tostão 1

Brassica oleracea L. couve 2

Campomanesia xanthocarpa O. Berg. guabiroba 4

Casearia sylvestris SW. guacetumba 1

Chelidonium majus L. iodo 3

Chenopodium ambrosioides L. erva de santa maria 9

Chionolaena latifolia Baker. arnica-do-campo 24

Citrus aurantium L. laranjeira 8

Citrus aurantium subsp bergamia (Risso) Wigth & Arn. bergamota 2

Citrus limon (L.) Burm. F. limão 2

Coronopus didymus (L.) Sm. mintruz 13

Cucurbita maxima L. abobora 2

Cuphea carthagenensis (jacq.) J.F. Macbr. sete sangrias 7

Cymbopogon citratus (DC) Stapf capim-cidreira 5

Cynara scoymus L. alcachofra 10

Cyperus rotundus L. tiririca 1

Dicksonia sellowiana Hook. miolo de xaxim 1

Diospyrus kaki L.f. caqui 2

Dorstenia brasiliensis Lam. caiapiá 6

Drimys brasiliensis Miers. casca-d'anta 11

Echinodorus grandifloruhs Mich. chapéu-de-couro 13

Equisetum hiemale L. cavalinha 3

Eucalyptus sp eucalipto 8

Eugenia pyriformis Camb. uvaia 1

Eugenia uniflora L. pitanga 1

Foeniculm vulgare Mill. funcho 9

Fragaria x ananassa Duch. morango 1

Fumaria officinalis L. fumária 3

Glycyrrhiza glabra L. alcaçuz 1

Gochnatia polymorpha (Less.) Cabr. cambará 8

Hydrangea macrophylla Ser. hortência 1

Hyptis suaveolens (L.) Poit. melissa 4

Juncus capillaceus Lam. capim-pelo-de-porco 1

Lactuca sativa L. alface 1

Lantana camara L. cambarazinho-do-campo 2

Laurus nobilis L. loro 2

Lippia alba (Mill.) N.E. Br. salva 3

Lithraea brasiliensis March. bugre 6

Malva sylvestris L. malva 22

Matricaria chamomilla L. camomila 5

Maytenus ilicifolia Reissek espinheira-santa 27

Medicago sativa L. alfafa 2

Page 32: medicina campeira

31

Tabela 1: Continuação.

Espécie Nome comum F*

Melissa officinalis L. cidreira 17

Mentha pulegium L. poejo 19

Mentha x villosa Huds. hortelã 18

Mikania glomerata Spreng. guaco 3

Musa spp banana 1

Nasturtium officinale R. Br. agrião 3

Ocimum gratissimum L. alfavaca 3

Origanum majorana L. manjerona 8

Parietaria officinalis L. sant'ana 1

Persea americana Mill. abacate 1

Persea pirifolia Ness pau-andrade 23

Petiveria alliacea L. guiné 2

Petroselinum crispum (Mill.) A.W. Hill salsa 2

Phyllanthus tenellus Roxb. quebra-pedra 15

Piper aduncum L. jaborandi 4

Plantago australis Lam. trançagem 15

Plectranthus barbatus And. boldo 3

Poiretia latifolia Vog. erva-de-touro 19

Polygonum hydropiperoides Michx. erva-de-bixo 1

Prunus persica (L.) Batsch pessegueiro 3

Psidium guineense Sw. araça-do-campo 3

Pteridium aquilinum Kuhn samambaia 3

Punica granatum L. romã 3

Rosa alba L. rosa branca 3

Rosmarinus officinalis L. alecrim 7

Rubus rosifolius Sm. amora branca 6

Rumex obtusifolius L. língua-de-vaca 1

Ruta graveolens L. arruda 7

Salvia officinalis L. sálvia 2

Sambucus australis Cham. & Schltdl. sabugueiro 4

Schinus terebinthifolius Raddi aroeira branca 1

Schinus weimanniifolius Mart. ex Engl. aroeira rasteira 1

Sechium edule (Jacq.) Sw. chuchu 3

Sedum dendroideum Moc. & Sesse ex DC. bálsamo-branco 2

Senecio brasiliensis Less. maria mole 1

Senna corymbosa (Lam.) H.S. Irwin & Barneby sene 1

Sida rhombifolia L. guanxuma 6

Smilax japicanga Griseb. salsaparilla 3

Solidago chilensis Meyer voadeira 1

Stachytarpheta elatior Schrad. gervão 10

Struthanthus flexicaulis (Mart. ex Schult. f.) Mart. erva de passarinho 1

Symphytum officinale L. confrei 3

Syzygum cumini (L.) Skeels joão-bolão 1

Tanacetum vulgare L. catinga-de-mulata 8

Page 33: medicina campeira

32

Tabela 1: Continuação.

Espécie Nome comum F*

Taraxacum officinale Weber dente-de-leao 1

Tillandsia usneoides L. barba de velho 1

Trichocline macrocephala Less. cravo-do-campo 19

Uncaria tomentosa (Willd. ex Schult.) DC. unha-de-gato 1

Urtica urens L. urtiga 2

Viola odorata L. violeta 3

Zea mayz L. cabelo-de-milho 2

Zingiber officinale Roscoe gengibre 2

*F refere-se ao número de citações da respectiva planta nas 34 entrevistas realizadas.

As espécies de plantas da medicina campeira utilizadas pelas famílias da

Coxilha Rica estão distribuídas em 57 famílias botânicas, sendo que as famílias mais

representativas em número de espécies foram Asteraceae (17), Lamiaceae (08) e

Myrtaceae (04). As plantas mais citadas pelos entrevistados foram a macela

(Achyrocline satureioides) (31), espinheira-santa (Maytenus ilicifolia) (27), arnica

(Chionolaena latifolia) (24), pau-andrade (Persea pirifolia) (23), carqueja (Baccharis

trimera) e malva (Malva silvestris) (22), poejo (Mentha pulegium), erva-de-touro

(Poiretia latifolia) e cravo-do-campo (Trichocline macrocephala) (19). A erva-cheirosa

(Aloysia virgata), de ocorrência natural na Argentina, encontra-se adaptada a região

da Coxilha Rica e seu uso freqüente descrito pelos entrevistados indica ser mais

usada do que ervas medicinais mais comuns, como a cidreira (Melissa officinalis). A

espécie é utilizada pelo seu sabor agradável, com uso relatado para resfriados.

Possivelmente, seu uso foi introduzido na região através da incorporação de

elementos culturais transmitidos pelos tropeiros e povos residentes na região ao

longo das gerações. O cravo-do-campo (Trichocline macrocephala), usado

frequentemente pelos moradores para afecções pulmonares, descritas como

“pontadas” é uma planta endêmica dos campos de altitude e em risco de extinção

(MMA, 2007; BIODIVERSIDADE RS, 2009). Os entrevistados relataram a dificuldade

de encontrar a planta, o que confirma que sua população está diminuindo. A parte

utilizada do cravo-do-campo é a raíz, portanto para fazer o chá é necessário

arrancar a planta, contribuindo ainda mais para sua extinção. A arnica, nome comum

relacionado à planta Chionolaena latifolia é usada de forma macerada em álcool

para machucaduras e diferencia-se da arnica relatada na bibliografia como Solidago

chilensis, que por sua vez é conhecida entre os entrevistados por “voadeira”

(LORENZI; MATOS, 2002).

Page 34: medicina campeira

33

Os usos mais comuns das espécies citadas, descritos pelos entrevistados

foram para problemas digestivos, machucaduras e gripe. Embora seja bastante

comum o uso de plantas medicinais na região, os entrevistados relataram uma

diminuição no uso da fitoterapia, pois muitos passam a aceitar o tratamento alopático

como mais eficaz. A prefeitura municipal de Lages mantém programa de

atendimento médico e odontológico itinerante nestas localidades, tornando mais fácil

o acesso ao tratamento alopático, o que pode ser uma das causas da diminuição do

uso das plantas medicinais. Todos os entrevistados relataram o uso das plantas

medicinais apenas para consumo da família, não realizando nenhum tipo de

transação econômica com as plantas medicinais. A coleta é de forma eventual.

Muitos relatam coletar as plantas como parte de um ritual religioso seguido à

gerações pelas famílias da região, que consiste em sair ao amanhecer da sexta-feira

santa para coletar as plantas medicinais. Este ritual é comumente praticado no sul

do Brasil principalmente com a macela, porém alguns entrevistados relataram coletar

também outras plantas medicinais. A transferência do conhecimento a respeito do

uso destas plantas deu-se ao longo das gerações dentro das próprias famílias.

Todos os entrevistados relataram adquirir o conhecimento do uso das plantas

medicinais através dos mais idosos. Apenas quatro entrevistados relataram adquirir

também o conhecimento em troca de experiências entre vizinhos. Ficou, assim,

evidente o destaque da importância da sabedoria passada de “pai para filho” a

respeito do uso das plantas medicinais na região da Coxilha Rica. A distância entre

as propriedades e a dificuldade de acesso pode ser um dos fatores que

influenciaram a não transferência de conhecimentos entre vizinhos e ao mesmo

tempo a necessidade de ter algum recurso de tratamento mais próximo, ou seja, na

própria propriedade.

Tabela 2: Plantas medicinais nativas e seus respectivos usos, citadas pelos agricultores/pecuaristas entrevistados da Coxilha Rica/SC, 2009.

Família Nome popular (nome científico) Usos citados

Rosaceae amora branca (Rubus rosifolius) limpeza do sangue, colesterol

Myrtaceae araça-do-campo (Psidium araca) dor de barriga, diabete

Asteraceae arnica (Chionolaena latifolia) machucado

Anacardiaceae aroeira branca (Schinus terebinthifolius) dor de dente

Anacardiaceae aroeira rasteira (Schinus weimanniifolius) dor de dente

Bromeliaceae barba de velho (Tillandsia usneoides) pressão arterial

Anacardiaceae bugre (Lithraea brasiliensis) pressão alta, diarréia, colesterol, emagrecer

Moraceae caiapiá (Dorstenia brasiliensis) antibiótico, pneumonia, dor de dente

Page 35: medicina campeira

34

Tabela 2: Continuação.

Família Nome popular (nome científico) Usos citados

Verbenaceae cambarazinho-do-campo (Lantana camara) figado, abre apetite

Poaceae capim-barba-de-bode( Aristida pallens) reumatismo

Juncaceae capim-pelo-de-porco (Juncus capillaceus) dor nas costas, rins, bexiga

Compositae carqueja (Baccharis trimera) dor de barriga, diarréia, emagrecer

Winteraceae casca-d'anta (Drimys brasiliensis) machucado, antibiótico, garrotilho

Alismataceae chapéu-de-couro (Echinodorus grandiflorus) reumatismo, acido úrico, dor muscular

Asteraceae cravo-do-campo (Trichocline macrocephala) pneumonia

Chenopodiaceae erva de santa maria (Chenopodium ambrosioides) vermes

Polygonaceae erva-de-bixo (Polygonum hydropiperoides ) hemorróidas

Fabaceae erva-de-touro (Poiretia latifolia) bexiga

Nyctaginaceae erva-tostão (Boerhavia diffusa) dor de barriga, diarréia

Celastraceae espinheira-santa (Maytenus ilicifolia) estômago, inflamação, pressão alta, rins

Verbenaceae gervão (Stachytarpheta elatior) figado, congestão,pulmão, machucado

Myrtaceae goiabeira (Acca sellowiana) dor de barriga, diarréia, dor de garganta

Myrtaceae guabiroba (Campomanesia xanthocarpa) dor de barriga, tosse

Flacourtiaceae guacetumba (Casearia sylvestris) tristeza do gado, varizes

Asteraceae guaco (Mikania glomerata) bronquite, tosse, dor de garganta

Asteraceae macela (Achyrocline satureioides) estomago, dor de cabeça, gripe, tosse

Asteraceae maria mole (Senecio brasiliensis) dor de ouvido

Amaranthaceae melhoral, penicilina (Alternanthera brasiliana) dor

Lamiaceae melissa (Hyptis suaveolens) calmante

Aristolochiaceae milome (Aristolochia cymbifera) reumatismo

Brassicaceae mintruz (Coronopus didymus) inflamação, infecção, machucado

Dicksoniaceae miolo de xaxim (Dicksonia sellowiana) reumatismo

Caesalpinaceae pata-de-vaca (Bauhinia candicans) rins, bexiga, fígado

Lauraceae pau-andrade (Persea pirifolia)

diarréia, dor de barriga, machucado,

cicatrizante, ulcera

Asteraceae picão (Bidens pilosa) pneumonia,hepatite

Araucariaceae pinheiro (Araucaria angustifólia) feridas

Myrtaceae pitanga (Eugenia uniflora) diabetes

Euforbiaceae quebra-pedra (Phyllanthus tenellus) rins, bexiga

Caprifoliaceae sabugueiro (Sambucus australis) sarampo

Liliaceae salsaparilha (Smilax japicanga) limpeza do sangue

Verbenaceae salva (Lippia alba) gripe, constipação

Pteridadeae samambaia (Pteridium aquilinum) carrapato (uso em animais)

Berberidaceae são joão (Berberis laurina) diabetes

Caesalpinaceae sene (Senna corymbosa) prisão de ventre

Lythraceae sete sangrias (Cuphea carthagenensis) machucadura, diabete, colesterol

Poaceae taquara (Bambusa sp.) próstata, emagrecer

Plantaginaceae trançagem (Plantago australis) inflamação, infecção, machucado

Urticaceae urtiga (Urtica urens) sangramento do nariz

Myrtaceae uvaia (Eugenia pyriformis) dor de barriga

Asteraceae voadeira (Solidago chilensis) machucado

Page 36: medicina campeira

35

Observou-se que as plantas nativas usadas como medicinais abrangem

distintas enfermidades, supondo que este conhecimento se fazia necessário para

tratar várias doenças, quando não se tinha acesso a recursos terapêuticos

convencionais. Percebe-se que este conhecimento vem sendo transmitido ao longo

das gerações até o presente.

Analisando os aspectos sociais das 34 famílias entrevistadas, observou-se

que os informantes encontram-se distribuídos em 16 (47%) do gênero masculino e

18 (53%) do gênero feminino. Entretanto a predominância de informantes que

relataram o uso de mais de 20 espécies de plantas como medicinais foi do gênero

feminino. Tanto homens quanto mulheres detêm a informação sobre o uso das

plantas medicinais.

Em relação a idade, 12% dos informantes tinham menos de 40 anos, 21%

entre 41 a 50 anos, 32% entre 51 a 60 anos, 12% entre 61 a 70 e 23% mais de 70

anos (Figura 2). Ressalta-se que os informantes que descreveram o uso de mais de

20 plantas, apresentavam mais de 50 anos de idade, com exceção de um informante

de 37 anos que relatou o uso de 33 plantas. Por outro lado, apenas seis informantes

com mais de 50 anos relataram menos de 20 plantas. Isso é um indicativo que a

sabedoria popular sobre o uso de plantas medicinais na localidade é patrimônio

cultural e continua sendo transferida entre as gerações. Em relação ao nível de

escolaridade, 20% declararam não ter escolaridade, 62% possuiam ensino

fundamental e 18% ensino médio (Figura 3). A escolaridade parece não ter

influenciado no conhecimento sobre uso das plantas medicinais. Em relação a

descendência étnica declarada pelos entrevistados, 15% descendem de alemães,

21% descendem de italianos, 32% declararam descender de caboclos e 32%

declararam-se brasileiros (Figura 4). O termo “caboclo” citados pelos informantes

refere-se a miscigenações entre brancos, negros e indígenas. Dos entrevistados,

41% relataram ser de origem da própria região e arredores. Se considerarmos os

que se declararam brasileiros como mais antigos no local ou mesmo descendentes

de espanhóis ou portugueses, teremos 64%, somando-se aos caboclos, o que

sugere o conhecimento ter sido construído na própria região, ou mesmo aprendido

com indígenas não miscigenados. Isto explica o grande número de espécies nativas

sendo utilizadas. Por outro lado, se considerarmos como grupos étnicos

independentes, o conhecimento sobre o uso de plantas medicinais na região

independe da descendência do informante. Isso poderia sugerir que a sabedoria

Page 37: medicina campeira

36

popular sobre o uso de plantas medicinais está presente entre as várias etnias da

região.

Figura 2: Faixa etária dos informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009.

Figura 3: Nível de escolaridade dos informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009.

Figura 4: Descendência étnica dos informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009.

4; 12%

7; 21%

11; 32%

4; 12%

8; 23%< 40 anos

41 a 50 anos

51 a 60 anos

61 a 70 anos

> 70 anos

7; 20%

21; 62%

6; 18%

sem escolaridade

ensino fundamental

ensino médio

11; 32%

7; 21%5; 15%

11; 32%cabocla

italiana

alema

brasileira

Page 38: medicina campeira

37

Os núcleos familiares dos informantes possuem tamanho médio de 3

pessoas, sendo 12% com mais de cinco pessoas, 15% com quatro pessoas, 50%

com três pessoas e 23% com duas pessoas ou menos (Figura 5). Isto demonstra

uma tendência à diminuição do tamanho dos núcleos familiares na região,

considerando que em décadas passadas eram comuns famílias com mais de seis

integrantes. As 34 famílias entrevistadas, quanto aos aspectos econômicos, 26%

vivem em propriedades de até 50 ha, 18% de 51 a 100 ha, 9% de 101 a 200 ha,

23% de 201 a 500 ha, 6% de 501 a 1000 ha e 18% em propriedades com mais de

1000 ha (Figura 6). Considerando o módulo rural de 20 ha, a maioria não se

enquadra como agricultor familiar de até 4 módulos. Entretanto, considerando

estudos anteriores ao enquadramento do PRONAF (MDA), propriedades de até 200

ha com atividade de pecuária seria classificada como pecuária familiar.

Pela declaração dos entrevistados, 50% são proprietários e outros 50% são

empregados nas propriedades. Por este fato não há relação entre tamanho da

propriedade e conhecimento das plantas medicinais.

Com relação à fonte de renda principal referida pelos entrevistados,

observou-se que a pecuária (68%) é a principal, seguido de renda diversa (pecuária,

trabalhos eventuais, aposentadoria, 23%) (Figura 7).

Trinta e oito por cento dos entrevistados relataram um tempo de vivência na

propriedade de mais de 30 anos, ao passo que 15% relataram viver na propriedade

menos de 10 anos (Figura 8).

Os entrevistados foram também questionados em relação a sua opinião

sobre a construção das pequenas centrais hidrelétricas (PCH’s) na região e se isto

influenciaria de alguma forma na disponibilidade das plantas medicinais existentes

para auto-consumo. Dos entrevistados, 38% relataram não ter opinião formada

sobre o assunto, 34% acredita que as PCH’s trarão malefícios à comunidade, 19%

acredita que elas trarão benefícios e outros 9% acredita que as PCH’s trarão tanto

malefícios quanto benefícios (Figura 9). Os principais prejuízos levantados pelos

entrevistados foi em relação a mudanças climáticas, influência na diversidade das

plantas da região e descaracterização das paisagens. As vantagens apontadas

foram a melhoria dos acessos (estradas) e desenvolvimento econômico da região.

Page 39: medicina campeira

38

Figura 5: Número de moradores na casa dos informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009.

Figura 6: Tamanho da propriedade onde residem os informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009.

Figura 7: Principal fonte de renda dos informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009.

8; 23%

17; 50%

5; 15%

4; 12%

< 2 moradores

3 moradores

4 moradores

> 5 moradores

9; 26%

6; 18%

3; 9%

8; 23%

2; 6%

6; 18%até 50 ha

51 a 100 ha

101 a 200 ha

201 a 500 ha

501 a 1000 ha

mais de 1001 ha

23; 68%1; 3%

1; 3%

1; 3%

8; 23% pecuaria

agricultura

reflorestamento

arrendo

composta

Page 40: medicina campeira

39

Figura 8: Tempo de vivência (anos) na propriedade dos informantes entrevistados sobre o conhecimento de plantas medicinais na região da Coxilha Rica/SC, 2009.

Figura 9: Opinião dos informantes entrevistados em relação a construção de PCH’s na região da

Coxilha Rica/SC, 2009.

Conclui-se que há um bom etnoconhecimento associado a grande

diversidade de espécies de plantas medicinais entre os moradores da Coxilha Rica,

incluindo espécies nativas. Este conhecimento está intimamente associado aos

aspectos culturais e religiosos da região, onde a transferência do conhecimento tem-

se dado ao longo das gerações desde a época dos tropeiros e indígenas. Os

mesmos faziam uso das plantas medicinais, onde para algumas famílias a coleta das

plantas medicinais faz parte de ritual religioso. A maioria portadora deste

conhecimento são mulheres, de mais idade, com ensino fundamental completo. O

conhecimento esta difundido entre as varias etnias da região. As famílias estão

menores, em média com três moradores nas casas, onde a principal fonte de renda

ainda é a pecuária. A maioria das famílias vive a mais de trinta anos na propriedade,

caracterizando uma grande intimidade com a região e a diversidade de plantas ali

existente. As propriedades vão de pequenas a grandes, caracterizando a dinâmica

5; 15%

9; 26%

7; 21%

13; 38%< 10 anos

10 a 20 anos

21 a 30 anos

> 30 anos

12; 38%

11; 34%

6; 19%

3; 9%

sem opinião formadamalefíciobenefício

ambos

Page 41: medicina campeira

40

da região onde muitas propriedades são partilhadas por herança. Outras são

agregadas por aquisição de investidores.

A mudança fundiária que esta em curso na região da Coxilha Rica, causada

principalmente pela introdução do pinus, contrução de PCH’s e plantio de lavouras

de grãos pode alterar profundamente a cultura local com a perda deste

conhecimento e do hábito de uso das plantas medicinais. Agrega-se a isto a

intervenção pelo atendimento médico municipal na localidade. A região da Coxilha

Rica dispõe de uma rica diversidade de plantas com potencial para serem

domesticadas e cultivadas para uso e venda à população urbana como fitoterápicos,

embora careça de pesquisas mais direcionadas aos reais efeitos destas plantas na

saúde humana. É importante a proteção do patrimônio genético com

etnoconhecimento local associado para evitar a exploração destes recursos por

empresas farmacêuticas sem vínculo ou interesse com o desenvolvimento local. A

maioria das famílias possuidoras desta sabedoria tem conservado e transmitido de

geração a geração, porém, sem registros escritos.

Page 42: medicina campeira

41

4 LEVANTAMENTO ASSISTEMÁTICO DA ERVA-DE-TOURO E SEU HÁBITAT NA

REGIÃO DA COXILHA RICA, SC.

4.1 INTRODUÇÃO

A espécie Poiretia latifolia Vog. é uma planta nativa e de ocorrência comum

nos Campos Naturais de Altitude do Planalto Sul Catarinense. É denominada

popularmente de erva-de-touro, chá-do-campo e limãozinho-do-campo. Tem sido

utilizada na medicina campeira principalmente para tratar problemas estomacais.

Tem alto potencial para ser utilizada também na cosmética devido a sua composição

com óleos voláteis aromáticos peculiares.

A espécie pertence a família Fabaceae e tribo Hedysareae. Segundo Müller

(1984), o gênero é composto por doze espécies divididas em duas secções: a

secção Poiretia monoespecífica com P. punctata e a secção Virgata composta pelas

demais 11 espécies, entre as quais a P. latifolia Voguel. A predominância de uma ou

outra espécie está relacionada às condições de clima e solo.

O alto potencial terapêutico e cosmético dessa espécie tem despertado

grande interesse no estudo tanto do cultivo como para aplicação no

desenvolvimento de produtos. O estudo do hábitat natural de ocorrência da espécie

é fonte primordial de informações e indicativo de desenhos de sistemas sustentáveis

de produção.

O objetivo deste trabalho foi estudar aspectos relacionados ao hábitat

natural de ocorrência e a comunidade vegetal associada a Poiretia latifolia.

4.2 METODOLOGIA

Este estudo foi realizado em expedições técnicas na região da Coxilha Rica,

durante o período de novembro de 2008 a outubro de 2009. Locais estudados foram

indicados pelos agricultores entrevistados cuja ocorrência da erva-de-touro tenha

sido observada em maior freqüência. Foram estudados 12 pontos de ocorrência

Page 43: medicina campeira

42

natural da espécie P. latifolia e um plantio na Estação Experimental da Epagri de

Lages, onde existem acessos da espécie comparando-se a sua ocorrência em

hábitat natural. Em cada local foram registradas características morfológicas da

planta, o solo, declividade, posicionamento, luminosidade, uso e manejo do local e

presença de animais. Os locais de ocorrência foram georeferenciados com GPS

Garmin - Etrex legend®. Um espécime em cada local foi tomado como referência, no

qual foi realizada aferição de altura, estádio fenológico, sanidade e presença de

insetos. Espécies arbustivas e herbáceas associadas a erva-de-touro em um raio de

um metro foram identificadas. Quando necessário, amostras foram coletadas para

posterior estudos de taxonômicos.

Amostras de folhas de plantas de P. latifolia de cada local foram colhidas e

levadas ao laboratório para avaliação das glândulas de óleo. Cada amostra continha

cinco folíolos de aproximadamente 5 cm, retirados aleatoriamente de toda planta.

Em 01 cm de borda e em 01 cm2 no limbo das folhas amostradas foi registrado o

número de glândulas presentes com auxilio de microscópio estereoscópico.

4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste estudo, observou-se que a planta de P. latifolia na Região da Coxilha

Rica ocorre predominantemente em áreas de campo e em solos pedregosos (Figura

10). Da mesma forma Janke e Oliveira (1988) constataram no Rio Grande do Sul a

ocorrência de erva-de-touro em campos secos, pedregosos, graminosos ou

arbustivos.

Figura 10: Planta de Poiretia latifolia Vog. (erva-de-touro) em área de campo nativo na região da Coxilha Rica/SC, 2009.

Page 44: medicina campeira

43

De acordo com Müller (1984), Poiretia sp. é uma planta herbácea e perene,

mas a parte aérea seca completamente no inverno. Seu sistema radicular é longo e

volumoso assemelhando-se a um rizoma que se espalha pelo solo, permitindo que a

planta rebrote na primavera. Isto faz com que a planta apareça geralmente em

reboleiras no campo. Esta característica parece conferir à planta uma adaptação às

queimadas, prática bastante utilizada no nos campos do Planalto Serrano. Na Figura

11, observa-se que sete das treze plantas referenciadas estavam em locais onde as

queimadas eram realizadas com muita freqüência e três em locais onde se realizam

queimadas eventuais ou não. Segundo Araújo (1940), a espécie não é forrageira,

mas de acordo com relatos dos pecuaristas da região, o gado consome a planta. Isto

é evidenciado dado que nos locais de fácil acesso aos bovinos as plantas

apresentavam menor tamanho (menos de 30 cm). A presença de animais pode

interferir no desenvolvimento da planta. Porém, observa-se que há um equilíbrio no

número de plantas ocorrentes em locais com e sem a presença de animais (Figura

11).

A brotação foi observada ocorrer entre meados de setembro e floração de

novembro a fevereiro.

Segundo relatos dos entrevistados da região, a planta é utilizada como

diurética e pelos tropeiros era usada para “enganar o estômago” durante as

tropeadas de gado. Ao mascar as folhas da erva-de-touro tem-se a sensação de

saciedade da fome. Conforme Janke e Oliveira (1988), no Rio Grande do Sul, é

utilizada para afecções do estômago. As folhas são também misturadas a cachaça e

usada como aperitivo. Na Coxilha Rica, o relato de maior freqüência de uso é no

chimarrão, conferindo-lhe um sabor característico. Alguns moradores da região

Coxilha Rica relataram que a planta tem efeito no desempenho sexual masculino,

porém os depoimentos são controversos. Foram registrados ora como estimulante

ora como causa de impotência.

A presença de óleos voláteis do grupo dos monoterpenos confere aroma

muito marcante a P. latifolia (SILVA, 2005). Amostras de folhas mostraram alta

densidade de glândulas de óleo volátil tanto nas bordas como no centro das folhas

(Figura 12). Essa característica torna a planta interessante sob aspecto industrial,

tendo potencial de extração de seu óleo para fins aromáticos e terapêuticos. O

rendimento do óleo volátil de P. latifolia é de 0,5% a 0,6% (JANKE; OLIVEIRA, 1988;

SILVA, 2005). A essência é incolor a amarelo claro. A quantidade de glândulas pode

Page 45: medicina campeira

44

refletir na produção de óleo. Na localidade de Pelotinhas (amostra 8) o número de

glândulas de óleo no centro das folhas foi superior as demais localidades. Isto pode

estar relacionado com características específicas do local como também pode ter

relação com diferentes ecótipos da espécie.

Figura 11: Frequência de plantas de erva-de-touro em áreas com diferentes manejos, região da Coxilha Rica/SC, 2009.

Figura 12: Densidade de glândulas de óleo volátil presente nas amostras de folhas de Poiretia latifolia Vog. coletadas na região da Coxilha Rica/SC, 2009.

Nos locais estudados, observou-se a ocorrência das plantas em

agrupamentos. De acordo com os relatos dos moradores da região não é muito

freqüente encontrá-las isoladas ou em população generalizadas.

A Figura 13, obtida no Google Earth®, mostra a distribuição dos treze locais

onde foi realizado o levantamento. Nos treze locais mapeados, a altitude variou de

900 a 1167 metros (Tabela 3). Todas as plantas, exceto o acesso cultivado na

Epagri-Lages, ocorreram em local de campo aberto e solo pedregoso. Essa

constatação vai ao encontro dos relatos de Janke e Oliveira (1988) para a ocorrência

no Rio Grande do Sul. Ocorre em locais de baixa a média declividade, com

4654 54

3123

46

23 23

0

20

40

60

80

100

roçada queimada animais

Fre

qu

ên

cia

(%)

presença

ausência

eventual

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

me

ro d

e g

lân

du

las

N ̊ da amostra

bordas

centro

Page 46: medicina campeira

45

posicionamento variado, em pleno sol, com altura da planta variando de 49 a 100

cm.

Figura 13: Pontos de amostragem de erva-de-touro na região da Coxilha Rica, SC e entorno, 2009. Mapa-imagem obtida no Google Earth, 2010.

Tabela 3: Georreferenciamento das plantas de erva-de-touro (Poiretia latifolia) estudadas na Coxilha

Rica e entorno, 2009.

Local Latitude Longitude Elevação (m) N Planta

BR 116 27°58'32.98"S 50°30'27.19"O 965 1

Morrinhos 1 28°07'07.09"S 50°15'31.66"O 1076 2

Morrinhos 2 28°10'12.66"S 50°15'30.23"O 1149 3

Santa Lucia 27°59'58.84"S 50°24'21.81"O 1094 4

Raposo 28°01'58.91"S 50°21'27.13"O 1167 5

Epagri 27°48'27.67"S 50°19'45.37"O 932 6

Posto do vinho 27°41'13.37"S 50°20'04.71"O 900 7

Pelotinhas 28°05'50.57"S 50°20'46.18"O 995 8

Negreiros 28°17'44.27"S 50°19'27.73"O 1074 9

São Jorge 28°12'31.23"S 50°26'14.05"O 1010 10

BR 2 28°11'50.62"S 50°41'41.51"O 980 11

Bodegão 28°18'28.20"S 50°27'03.75"O 1019 12

Lagoa Grande 28°02'00.70"S 50°27'48.63"O 1054 13

Page 47: medicina campeira

46

Plantas amostradas de P. latifolia apresentaram interação com alguns

microorganismos e insetos. O fungo Puccinia sp. do grupo das ferrugens esteve

presente em 50% das plantas observadas, causando manchas do tipo pústulas com

severidade fraca a moderada (Figura 14). Em um sistema produtivo, esta doença

poderia interferir quantitativamente na produção de óleo da planta, já que a infecção

é na folha, local onde se concentram as glândulas de óleo volátil.

Insetos mais freqüentes observados a campo associados a erva-de-touro

foram formigas e afídeos. Nas vagens, observou-se um coleóptero da família

Apionidae, conhecido como besouro das sementes dos trevos, espécie Apion

apricans. O inseto encontrava-se alojado dentro dos septos do legume, consumindo

a semente (Figura 16). Associado a ocorrência do coleóptero foi encontrada nas

vagens, uma vespa da família Eulophidae, espécie Melittobia digitata (Figura 17).

Esta espécie é parasitóide de Coleopteros, Lepdopteros, Dipteros e Hymenopteros,

de ocorrência natural nos Estados Unidos, México e Canadá (MATTHEWS, 2000;

GONZÁLEZ, 2002) e possivelmente estava parasitando o coleóptero A. apricans.

Amostras de sementes coletadas oriundas do município de Ipê, RS, também

continham ambos insetos relacionados. Na Tabela 4, observa-se o percentual de

infestação das sementes de P. latifolia pelos insetos relacionados.

Figura 14: Folha de Poiretia latifolia com presença de pústulas de ferrugem, Lages, 2009.

Page 48: medicina campeira

47

Figura 15: Fotografia das estruturas reprodutivas: uredosporos (a) e teliosporos (b) da ferrugem de

Poiretia latifolia Vog. Lages, SC, 2009.

Figura 16: Coleóptero Apion apricans em vagem de Poiretia latifolia coletadas na região da Coxilha Rica/SC, 2009.

Figura 17: Vespa da espécie Melittobia digitata encontrada em vagem de Poiretia latifolia, região da

Coxilha Rica, SC, 2009.

a b

Page 49: medicina campeira

48

Tabela 4: Percentual de adultos do coleóptero Apion apricans e da vespa Melittobia digitata em amostras de sementes de Poiretia latifolia, 2009.

Amostra Coleóptero Vespa

BR 116 7,6% 1,8%

Ipê-RS 15,2% 6,8%

BR 2 14,2% 4,4%

Santa Lúcia 10,8% 2,8%

Negreiros 5,0% 1,2%

Na tabela 5 verificam-se as plantas associadas a P. latifolia na região da Coxilha Rica, todas plantas de ocorrência comum na região do planalto catarinense.

Tabela 5: Plantas associadas a erva-de-touro (Poiretia latifolia) na região da Coxilha Rica/SC, 2009.

Local de Coleta Plantas Associadas

BR 116 capim mimoso, carqueja, hipérico Morrinhos 1 guamirim do campo, carqueja, hipérico, samambaia, capim mimoso,maria-

mole Morrinhos 2 samambaia, azedinha, carqueja, capim mimoso, caraguatá Santa Lucia samambaia,caraguatá, hipérico, capim mimoso

Raposo carqueja, campim mimoso, samambaia Epagri língua-de-vaca, amora, goiaba serrana, caruru

Posto do vinho capim mimoso, hipérico Pelotinhas alecrim-do-campo, capim mimoso, margarida-do-campo, caraguatá Negreiros carqueja, samambaia, campim mimoso, tanchagem, capororoca São Jorge carqueja, samambaia, campim mimoso

BR 2 carqueja, campim mimoso,cravo do campo Bodegão carqueja, cravo do campo, erva de santa maria, capim mimoso

Lagoa Grande hiperico, carqueja, erva de santa maria, samambaia

As plantas mais frequentemente associadas a P. latifolia foram capim-

mimoso (11) e carqueja (9), embora outras 16 espécies foram encontradas no raio

de 1 metro. Estas plantas são típicas dos Campos Naturais de Altutude, de porte

baixo que associam-se a P. latifolia sem interferirem diretamente na luminosidade.

Neste trabalho, pode-se observar que P. latifolia é uma planta de ocorrência

dispersa na região da Coxilha Rica. Devido aos riscos de diminuição das populações

com as mudanças que poderão ocorrer na região é urgente a realização de estudos

mais específicos como característica de ecótipos, espécies de polinizadores,

associação com rizóbios e micorrizas.

Page 50: medicina campeira

49

5 PROPAGAÇÃO VEGETATIVA E USO DE HOMEOPATIA NA GERMINAÇÃO DE

SEMENTES DE ERVA-DE-TOURO (Poiretia latifolia)

5.1 INTRODUÇÃO

A domesticação de espécies vegetais passa pelos processos de conservação

e multiplicação, permitindo assim a reprodução de propágulos e inclusão dos

recursos genéticos em sistemas de produção agrícola. Nesse processo, a

multiplicação das espécies pode ser conduzida por meio de propágulos vegetativos,

como estacas, rizomas e mudas, por exemplo, ou por sementes. Ao mesmo tempo,

a multiplicação permite a conservação dos recursos genéticos em locais

diferenciados ao de origem de coleta do material (ex situ), em complementação ao

material conservado ou cultivado no local de origem (in situ) (COHEN et al., 1991). A

conservação ex situ permite formar banco de germoplasma, constituindo assim uma

estratégia que evita riscos de extinção ou de diminuição da diversidade genética.

Pode ainda disponibilizar material propagativo para o repovoamento da espécie nos

locais de origem ou para o cultivo, caso seja uma espécie já estabelecida em

sistemas agrícolas.

A conservação e multiplicação de plantas medicinais ex situ, como etapa

posterior ao reconhecimento e anterior à domesticação e cultivo, vem a cada dia

recebendo mais interesse de trabalhos de pesquisa em nosso país, em virtude da

imensa diversidade genética pouco estudada e da necessidade iminente de

conservação de recursos genéticos em risco ou passíveis de biopirataria (VIEIRA,

1999; MOREIRA et al., 2006; NASS et al., 2009). Neste último caso, o grande

interesse determinante é a exploração econômica, uma vez que em torno de 25%

dos medicamentos são derivados de extratos vegetais (RATES, 2001).

A erva-de-touro (Poiretia latifolia) é um recurso genético do bioma Mata

Atlântica e reconhecido pelas propriedades terapêuticas nas populações locais do

Planalto Serrano de Santa Catarina (AMORIM & BOFF, 2009). Essa espécie é

utilizada no tratamento de problemas de bexiga, como aromatizante de chimarrão e

Page 51: medicina campeira

50

é considerada afrodisíaca (MULLER, 1984; AMORIM & BOFF, 2009). Recentemente,

se identificou óleos essenciais com atividade antibiótica potencial a bactérias e

fungos patogênicos ao ser humano (PORTO et al., 2010). A espécie tem distribuição

geográfica restrita aos três estados do sul do Brasil e regiões da Argentina, Paraguai

e Uruguai e ainda não é manejada em sistemas de produção agrícola (MULLER,

1984). O aumento do conhecimento das formas de propagação e multiplicação da

erva-de-touro permitirá a domesticação desse recurso genético para usos futuros na

agricultura, especialmente a de base agroecológica, e geração de produtos de

interesse. Ao mesmo tempo, permitirá a manutenção da diversidade genética da

espécie.

O uso de homeopatia pode auxiliar na produção de mudas de erva-de-touro a

partir de sementes, pela aceleração e aumento na taxa de germinação. Os trabalhos

relacionados a uso de homeopatia em plantas ainda é incipiente e como terapia não

residual, é bastante promissora, promovendo a manutenção da saúde das plantas e

o desenvolvimento equilibrado dentro de sistemas de produção agroecológicos

(BOFF, 2008).

Em relação à propagação vegetativa, a produção de mudas por meio de

enraizamento de estacas e a micropropagação in vitro são formas de multiplicação

que podem ser utilizadas nessa espécie, especialmente na manutenção de

características desejáveis e na produção em escala de mudas para cultivos

comerciais. A micropropagação in vitro é uma biotecnologia que congrega técnicas

para geração de novas plantas a partir de meristemas caulinares cultivados em

meios de cultura nutritivos e em condições controladas. No Brasil, essa forma de

conservação ex situ foi aplicada em estudos para preservação de espécies

ameaçadas de extinção, como o mogno (Swietenia macrophylla) (COUTO et al.,

2004) e multiplicação e conservação espécies medicinais, como pau-andrade

(Persea spp.) (FIOR et al., 2007), poejo (Cunila galioides) (FRACARO &

ECHEVERRIGARAY, 2001), ginseng brasileiro (Pfaffia tuberosa) (FLORES et al.,

2006) e Phyllanthus spp. (quebra-pedra) (CATAPAN et al., 2009).

O objetivo deste experimento foi avaliar formas de propagação vegetativa, por

meio de micropropagação in vitro e enraizamento de estacas herbáceas, e o uso de

homeopatia na germinação de sementes de erva-de-touro (Poiretia latifolia).

Page 52: medicina campeira

51

5.2 MATERIAL E MÉTODOS

5.2.1 Cultivo in vitro de Poiretia latifolia

Mudas de erva-de-touro, cultivadas em casa de vegetação da Estação

Experimental da Epagri/Lages, foram utilizadas para os procedimentos de cultivo in

vitro. Para a introdução nos meios de cultura nutritivos, a parte aérea dessas plantas

foi podada e seccionada, fornecendo segmentos nodais com uma gema axilar cada.

No Laboratório de Biotecnologia da Estação Experimental de Lages, com auxílio de

câmara de fluxo laminar, os segmentos nodais foram desinfestados ou esterilizados

superficialmente por meio da mergulhia em álcool etílico 70% por 30 segundos e 15

minutos em solução de alvejante comercial 60% (NaOCl 1,5%) e em seguida lavado

três vezes com água destilada estéril.

Os explantes foram transferidos individualmente e na posição vertical a tubos

de ensaio contendo 20 mL de meio de cultura nutritivo. Como meio basal, utilizou-se

a formulação de sais e vitaminas MS (Tabela 6), acrescido de sacarose (30 g L-1)

como fonte de carbono, mio-inositol (100 mg L-1) como fator de crescimento e agar

(7 g L-1) como agente geleificante (MURASHIGE & SKOOG, 1962). A partir dessa

formulação, foram testadas sete combinações de meio de cultura com doses da

citocinina sintética 6-benzilaminopurina (BAP):

T1 – MS + 0,2 mg L-1 de BAP

T2 – MS + 0,4 mg L-1 de BAP

T3 – MS + 0,6 mg L-1 de BAP

T4 – MS + 0,8 mg L-1 de BAP

T5 – MS + 1,0 mg L-1 de BAP

T6 – MS + 2,0 mg L-1 de BAP

T7 – MS + 3,0 mg L-1 de BAP

Page 53: medicina campeira

52

Tabela 6: Composição de sais e vitaminas do meio de cultura MS (Murashige & Skoog, 1962).

Fonte Reagente Concentração final

Macronutrientes NH4NO3 1,65 g L-1

CaCl2.2H2O 0,44 g L-1

MgSO4.7H2O 0,37 g L-1

KH2PO4 0,17 g L-1

KNO3 1,90 g L-1

Micronutrientes MnSO4.H2O 17,3 mg L-1

ZnSO4.7H2O 8,6 mg L-1

H3BO3 6,2 mg L-1

KI 0,83 mg L-1

Na2MoO4.2H2O 0,25 mg L-1

CuSO4.5H2O 0,025 mg L-1

CoCl2.6H2O 0,025 mg L-1

FeSO4.7H2O 27,8 mg L-1

Na2EDTA.2H2O 37,25 mg L-1

Vitaminas Glicina 2 mg L-1

Ácido nicotínico 0,5 mg L-1

Cloridrato de piridoxina

0,5 mg L-1

Tiamina hidroclórica 0,1 mg L-1

No preparo dos meios de cultura, o pH foi ajustado a 5,8 antes da adição do

agar e os meios testados foram autoclavados a 121°C por 20 minutos antes do uso.

Os explantes permaneceram em cultivo em sala de crescimento com

temperatura de 24±1°C, fotoperíodo de 16 horas de luz por dia e luminosidade

incidente de 50 μmol m-2 s-1. Após 40 dias, foram avaliados o número e o

comprimento de brotações, número de internódios formados, número de folhas

emitidas in vitro e presença de clorose foliar.

O experimento foi conduzido em delineamento completamente casualizado

com dez repetições por tratamento, sendo cada repetição formada por um tubo de

ensaio com um segmento nodal.

5.2.2 Enraizamento de estacas de Poiretia latifolia

Estacas herbáceas de erva-de-touro com 10 cm de comprimento foram

obtidas da parte aérea de mudas da espécie a campo. Esse material vegetal teve

1/3 do comprimento total imerso por cinco minutos em soluções da auxina e indutor

de enraizamento ácido indol-3-butírico, nas concentrações de 500, 1.000, 2.000 ou

4.000 ppm. Como controle, parte das estacas herbáceas foi imersa em água nas

mesmas condições. Em seguida, foram transferidas a vasos contendo substrato a

Page 54: medicina campeira

53

base de areia e vermiculita (1:1, v/v) e cultivadas em casa de vegetação com

irrigação intermitente. Após 93 dias, as estacas foram avaliadas quanto a formação e

comprimento de raízes, número e comprimento de brotações da parte aérea e taxa

de sobrevivência das estacas. O experimento foi conduzido entre novembro de 2008

e fevereiro de 2009, em delineamento completamente casualizado com quatro

repetições por tratamento e 10 unidades amostrais por repetição.

5.2.3 Uso de homeopatia na germinação de sementes de Poiretia latifolia

Sementes de erva-de-touro foram amostradas após a maturação no mês de

janeiro de 2009. As sementes foram secas em estufa a 40° C por três dias e

armazenadas em câmara seca na Estação Experimental da Epagri/Lages.

Subamostras foram submetidas a testes de germinação conforme metodologia

padrão descrita nas Regras para Análise de Sementes (RAS).

Foram aplicadas as seguintes homeopatias: Sulfur 6, 12 e 30 CH, Carbo

vegetabilis 6, 12 e 30 CH, Nosódio de Poiretia 6, 12 e 30 CH e respectivos controles.

As sementes foram transferidas a bandejas de germinação com células individuais e

mantidas em casa de vegetação por 40 dias, quando foi avaliado a taxa de

germinação pelo contagem do número de plântulas germinadas.

O experimento foi conduzido em delineamento completamente casualizado

com três repetições por tratamento e 10 unidades amostrais por repetição. O

experimento formou um fatorial 4 x 3, composto por quatro tratamentos

homeopáticos (Sulfur, Carbo vegetabilis, Nosódio de Poiretia e controle) e três

diluições centesimais hannemanniana (6, 12 e 30 CH).

5.2.4 Análise de dados

Os dados de cultivo in vitro e enraizamento de estacas foram submetidos a

análise de variância e teste F. Os dados de uso de homeopatia na germinação de

sementes de Poiretia latifolia também foram submetidos a análise de variância e

teste F após foi aplicado teste de separação de médias (Newman-Keuls, P≤0,05).

Page 55: medicina campeira

54

5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3.1 Cultivo in vitro de Poiretia latifolia

Não foram constatadas diferenças entre os tratamentos testados para as

variáveis número e comprimento de brotações, número de internódios formados e

número de folhas emitidas in vitro (Tabela 2).

Tabela 7: Número e comprimento de brotações, número de internódios e de folhas (média ± erro padrão) de explantes de erva-de-touro (Poiretia latifolia) cultivada em meio MS sob diferentes concentrações de 6-benzilaminopurina (BAP).

Tratamento (BAP, mg L-1)

Brotações (nº)

Comprimento de brotações

(cm)

Internódios (nº)

Folhas (nº)

Clorose foliar (%)

0,2 1,1 ± 0,1 0,57 ± 0,10 0,8 ± 0,2 1,0 ± 0,5 80 0,4 2,0 ± 0,4 0,53 ± 0,15 1,1 ± 0,5 1,7 ± 0,6 70 0,6 1,3 ± 0,3 0,77 ± 0,07 1,1 ± 0,1 2,0 ± 0,5 60 0,8 1,3 ± 0,2 0,52 ± 0,08 1,0 ± 0,3 1,4 ± 0,4 50 1,0 1,4 ± 0,3 0,35 ± 0,13 0,4 ± 0,2 0,3 ± 0,2 40 2,0 1,6 ± 0,4 0,65 ± 0,11 1,4 ± 0,7 2,6 ± 0,1 50 3,0 1,3 ± 0,3 0,69 ± 0,17 0,9 ± 0,1 1,1 ± 0,4 30

P (Teste F) 0,33 0,30 0,55 0,12 ---

Constatou-se uma diminuição gradual da taxa de clorose com o aumento dos

níveis de BAP no meio de cultura. BAP é uma citocinina sintética que age no

controle do desenvolvimento vegetal, estimulando a divisão celular e a formação de

parte aérea em explantes cultivados in vitro (VAN STADEN et al., 2008). Em falso

índigo (Amorpha fruticosa), a maior taxa de proliferação foi obtida com a

concentração de 8 mg L-1 de BAP (GAO et al., 2004). Sucesso na micropropagação

de variedades de leucena (Leucaena leucocephala), a partir de segmentos nodais,

foi obtido na combinação de 20,9 μM (4,7 mg L-1) de BAP e 5,37 μM (1 mg L-1) da

auxina ácido naftalenoacético (RASTOGI et al., 2008). Os resultados com essas

leguminosas mostram que trabalhos futuros com erva-de-touro in vitro poderão ter

maior sucesso utilizando-se doses mais elevadas de BAP.

A concentração ideal de BAP no estabelecimento in vitro é variável para cada

espécie e o uso desse regulador de crescimento é utilizado na regeneração direta da

parte aérea de leguminosas a partir de segmentos nodais (GULATI & JAIWAL, 1996;

ANAND et al., 1998; GAO et al., 2004; RASTOGI et al., 2008; PARVEEN &

SHAHZAD, 2010). Entretanto, são bastante comuns trabalhos que utilizam BAP

Page 56: medicina campeira

55

associado com a auxina ácido naftalenoacético, para, em um primeiro momento,

promover a indução de calos com capacidade embrionária, seguida de uma segunda

fase de regeneração de parte área (REY & MROGINSKI, 1996; ANAND et al., 1998;

BARI et al., 2008; PACHECO et al., 2008; CENKCI et al., 2008). Essa via de

produção de mudas in vitro pode ser mais viável e em trabalhos futuros ser testada.

O uso de sementes germinadas in vitro e de segmentos cotiledonares vem

sendo usado na regeneração e multiplicação de leguminosas (CHAND & SINGH,

2004; JHA et al., 2004; GAO et al., 2004; PARVEEN & SHAHZAD, 2010) e essas

condições se mostram como ideais para estabelecer protocolo de micropropagação,

uma vez que utiliza material relativamente uniforme, com menos risco de

contaminação e, em espécies lenhosas, com pouca lignificação ou deposição de

compostos fenólicos. De fato, espécies lenhosas são recalcitrantes in vitro devido a

dinâmicas de crescimento sazonais, crescimento lento nas condições in vitro e a

problemas de oxidação de tecidos devido a presença de compostos fenólicos,

resultando em baixa taxa de regeneração e proliferação de explantes in vitro

(McCOWN, 2000). Possivelmente tais fatores estão relacionados ao caráter

recalcitrante de espécies leguminosas, relatado como recorrente em trabalhos in

vitro (RASTOGI et al., 2008; RAO & SITA, 1996; WISZNIEWSKA & PINDEL, 2010).

Em erva-de-touro esse fato pode estar associado ao pouco sucesso e a dificuldade

na regeneração de parte aérea resultantes deste trabalho.

A queda prematura de folhas é um dos problemas presentes na fase de

introdução de segmentos nodais de leguminosas in vitro (RASTOGI et al., 2008), um

resultado da clorose da parte aérea observada neste trabalho. Nesse caso, os

autores sugerem a adição de glutamina, na concentração de 100 mg L-1, como forma

de transpor o problema; esse aminoácido aumenta a capacidade de regeneração

dos explantes e aumenta o número e vigor da parte aérea (RASTOGI et al., 2008).

Essa estratégia também poderá ser avaliada em estudos futuros com o cultivo in

vitro de Poiretia latifolia.

5.3.2 Enraizamento de estacas de Poiretia latifolia

Não foram constatadas diferenças entre os tratamentos testados para as

variáveis analisadas (Tabela 8). Foi observado valores numericamente maiores nos

Page 57: medicina campeira

56

tratamentos com 2.000 e 4.000 ppm do fitorregulador, embora não tenham se

diferenciado dos demais tratamentos.

Tabela 8: Taxa de enraizamento, comprimento de raízes emitidas, taxa e comprimento de brotações e taxa de sobrevivência (média ± erro padrão) de estacas herbáceas de erva-de-touro (Poiretia latifolia) induzidas ao enraizamento com a auxina ácido indol-3-butírico (AIB).

Tratamento Enraizamento (%)

Comprimento de raízes (mm)

Brotação (%)

Comprimento de brotações

(mm)

Sobrevivência (%)

controle 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 38 ± 13 17 ± 4 78 ± 11 AIB 500 ppm

2,5 ± 2,5 0,7 ± 0,7 48 ± 10 24 ± 6 83 ± 5

AIB 1.000 ppm

0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 40 ± 6 13 ± 2 73 ± 3

AIB 2.000 ppm

10,0 ± 4,1 3,5 ± 1,7 33 ± 8 20 ± 6 68 ± 13

AIB 4.000 ppm

7,5 ± 4,8 6,0 ± 3,7 20 ± 12 5 ± 3 43 ± 25

P (Teste F) 0,11 0,13 0,39 0,08 0,33

5.3.3 Uso de homeopatia na germinação de sementes de Poiretia latifolia

Foi constatado um efeito estimulante de Carbo vegetabilis 6 CH na

germinação das sementes de Poiretia latifolia. Esse tratamento se diferenciou dos

demais, inclusive em relação a dinamizações mais elevadas. De acordo com

Arenales (1998) o medicamento Carbo Vegetabilis tem auxiliado na quebra de

dormência de sementes.

Tabela 9: Taxa de germinação (%) (média ± erro padrão) de sementes de Poiretia latifolia tratadas

com homeopatias Carbo vegetabilis, Sulfur, nosódio de Poiretia em 6, 12 e 30 CH.

Homeopatia

CH Carbo vegetabilis

Sulfur Nosódio de Poiretia

Controle média

6 27 ± 3 a 13 ± 3 b 10 ± 0 b 0 ± 0 c 13 ± 3 a 12 10 ± 0 b 0 ± 0 c 10 ± 0 b 10 ± 0 b 8 ± 1 b 30 0 ± 0 c 0 ± 0 c 0 ± 0 c 10 ± 0 b 3 ± 1 b

média 12 ± 4 a 4 ± 2 b 7 ± 2 b 7 ± 2 b

Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Newman-Keuls (P≤0,05). A baixa taxa de germinação das sementes pode estar relacionada a

problemas de fertilização de flores, possivelmente não visitada pela abelha

doméstica e dependente de insetos polinizadores nativos, como demonstrado para a

espécie Adesmia latifolia (CAMACHO & FRANKE, 2008), outra leguminosa do

Page 58: medicina campeira

57

Planalto Serrano e pertencente taxonomicamente a mesma tribo (Hedysareae) de

Poiretia (CRIA, 2010).

Os problemas associados à baixa regeneração in vitro da espécie e à baixa

taxa de enraizamento de estacas e de germinação da espécie mostram a urgência

de propostas de estudos para a multiplicação e manutenção da diversidade genética

da erva-de-touro. Embora não há exploração sistemática desse recurso genético

apesar de seu potencial medicinal, os resultados desse trabalho mostram a

dificuldades relacionadas a produção de mudas, primeiro passo na etapa de

domesticação e inclusão da erva-de-touro em sistemas de produção agrícola.

Page 59: medicina campeira

58

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A região da Coxilha Rica possui uma grande diversidade de plantas com

potencial ainda a ser descoberto. A redução de áreas com vegetação nativa como

resultado da intensificação das atividades humanas põe em risco de extinção muitas

espécies com potencial para serem domesticadas. Muitas delas podem nem chegar

a serem conhecidas, pois as mudanças em curso, na região, pela construção de

PCH’s, plantio de maciços florestais de pinus e plantio de extensas áreas de

lavouras anuais trazem significativos impactos, quer acelerando o desaparecimento

ou interferindo em sua dispersão. Portanto, espécies com potencial para serem

domesticadas e cultivadas carecem de pesquisas mais direcionadas.

O estudo realizado demonstra a existência de rico etnoconhecimento

associado a grande diversidade de espécies de plantas medicinais entre os

moradores da Coxilha Rica incluindo as espécies nativas. Famílias que residem no

local têm grande intimidade com a região e a diversidade de plantas, associada aos

aspectos sociais e religiosos, constitui-se em um patrimônio cultural singular. A

valorização e resgate desses conhecimentos e dos recursos genéticos tradicionais é

o caminho que melhor viabiliza a manutenção de toda a riqueza existente.

O reconhecimento e estudo deste germoplasma, aliado à diversidade

existente, são fatores fundamentais para resgatar a auto-estima e a dignidade das

famílias que ali vivem, cujo benefício se estende a toda sociedade catarinense. A

manutenção e o cultivo de espécies nativas proporcionam, ainda, um ambiente

biologicamente diversificado no entorno aos sistemas agrícolas o que lhe oferece

proteção contra perturbações naturais ou provocadas pelo homem.

Pelo presente estudo, verificou-se o uso de grande número de espécies

medicinais. Por outro lado, percebe-se que está em curso a substituição dessas

plantas da medicina campeira por indicações de drogas de farmácia. Percebe-se

ainda que, se por um lado a iniciativa da prefeitura em levar o atendimento médico

aos moradores das localidades rurais contribui para a melhora da qualidade de vida

destas populações, pois proporciona um acesso mais facilitado aos recursos

Page 60: medicina campeira

59

médicos. Por outro lado essa prática pode estar contribuindo de forma muito

significativa para a perda do conhecimento local a respeito de uso de plantas

medicinais. Uma estratégia para amenizar isto seria a de aliar ao tratamento

alopático convencional usado na saúde pública municipal, o uso da fitoterapia como

coadjuvante no tratamento, com iniciativas onde a própria comunidade faça parte

desta estratégia, contribuindo com seus conhecimentos a respeito do uso das

plantas medicinais.

O reconhecimento de espécies nativas com conhecimento popular de seu

uso poderia transformar-se em alternativa econômica, além de contribuir para a

manutenção da diversidade biológica regional. As espécies nativas são excelentes

oportunidades de diversificação, especialmente para pequenas propriedades rurais,

onde o manejo agroecológico tem demonstrado resultados promissores sob o ponto

de vista sócio-econômico. O cultivo de espécies alternativas, tais como plantas

bioativas ou fruteiras nativas, poderia compor sistemas diversificados de produção

como os Sistemas Agroflorestais (SAFs). Devido ao fato de serem culturas que não

requerem altos investimentos e apresentarem alta densidade econômica, a produção

de medicinais pode ser viabilizada em sistemas agroecológicos e de menos riscos

financeiros.

A espécie Poeretia latifolia é um exemplo que pode ser observado neste

contexto, pois seu potencial bioativo pela presença de óleo volátil é de singular

importância. Silva (2005) detectou os componentes de monoterpenos carvona,

limoneno e trans-dihidrocarvona, verificando ainda atividade antimicrobiana deste

óleo. Os campos da região da Coxilha Rica, onde ocorre com maior frequência a P.

latifolia, apresentam-se rasos e pedregosos, que correspondem as características

típicas dessa região. P. latifolia tem um sistema radicular bastante volumoso,

assemelhando-se a um rizoma que se espalha pelo solo e emite brotações, fazendo

com que a planta apareça geralmente em reboleiras no campo. Esse sistema

radicular parece conferir à planta uma adaptação à queima de campo. Apesar da

planta produzir grande quantidade de legumes, poucas são as sementes viáveis. A

inviabilidade das sementes pode estar relacionada também à presença do

coleóptero Apion apricans no seu interior. Para o cultivo de extração do óleo não

interferiria, pois o inseto não ataca as folhas, porém dificultaria a propagação da

planta para obtenção de mudas. O outro inseto encontrado nas sementes, a vespa

Melittobia digitata, parece ser um parasitóide de A. apricans. Estudos com esta

Page 61: medicina campeira

60

vespa poderiam auxiliar nas práticas de controle biológico. Por outro lado, sementes

inteiras, não atacadas pelo coleóptero mostraram baixa germinação, provavelmente

devido a algum fator de dormência. A queima de campo pode ser uma forma de

quebra de dormência, fazendo com que as sementes presentes no campo germinem

após a ação do fogo e calor no tegumento.

A propagação para produção de mudas é uma das primeiras etapas de

domesticação da erva-de-touro para adequá-la a sistemas de produção agrícola.

Porém, os problemas associados à propagação de P. latifolia evidenciam a

necessidade de propostas de estudos para a multiplicação in vitro que auxilie a

manutenção da diversidade genética, re-introduzindo-a em vários locais.

Conhecimentos mais detalhados sobre a dinâmica da ecologia da espécie,

estudo direcionado aos possíveis insetos polinizadores e identificação de ecótipos

são necessários para avançar na domesticação da espécie e inclusão em um

sistema produtivo.

Page 62: medicina campeira

61

7 CONCLUSÕES

Os moradores da região da Coxilha Rica usam com frequência plantas

medicinas. Uma diversidade considerável de espécies nativas dos Campos Naturais

de Altitude são utilizadas na medicina campeira e esse conhecimento está em poder

de pessoas mais idosas que tem profunda relação com os costumes da região. A

transferência do conhecimento a respeito do uso das plantas medicinais tem

ocorrido ao longo das gerações das famílias, mas corre o risco de se perder devido a

mudanças culturais e alterações na diversidade de espécies vegetais existentes.

A erva-de-touro (P. latifolia) ocorre predominantemente em áreas de campo

e em solos pedregosos. É naturalmente dispersa em toda região da Coxilha Rica. É

um recurso genético nativo do Planalto Serrano com etnoconhecimento associado à

população local e tem potencial de exploração farmacológica e cosmética. Para a

domesticação da espécie e inclusão em sistemas de produção agrícola são

necessários maiores estudos sobre a ecologia da espécie, interação com insetos

praga e doenças, especificamente o coleóptero Apion apricans, a vespa Mellitobia

digitata e o fungo Puccinia sp.

Page 63: medicina campeira

62

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

ANEXO A – Termo de consentimento (anuência prévia)

Sou Carolina Custódio Amorim, estudante de mestrado da Universidade do Estado de Santa Catarina. Estou desenvolvendo um trabalho sobre o uso de plantas medicinais na Região da Coxilha Rica e um estudo sobre a erva-de-touro. Neste trabalho busco saber quais as plantas medicinais mais usadas pelos moradores da Região da Coxilha Rica e os principais usos de cada planta, principalmente as plantas nativas. Também busco identificar a ocorrência da erva-de-touro e faço um estudo do habitat (lugar onde vive) desta planta. O nome do trabalho é “Etnobotânica da Medicina Campeira na Região da Coxilha Rica, SC e Bioprospecção da Erva-de-touro”. Além de mim, as outras pessoas que participam do trabalho são os pesquisadores da Epagri Pedro Boff e Sadi Nazareno de Souza. Além das perguntas feitas na entrevista, algumas amostras de plantas serão coletadas e levadas para o laboratório, para realização de estudos. Mas para que este trabalho possa ser realizado, gostaria de pedir autorização para visitá-lo, entrevistá-lo, coletar algumas folhas e sementes das plantas em sua propriedade e tirar algumas fotos da plantas e de vocês. Em qualquer momento você pode interromper nossa conversa ou desistir de participar do trabalho, sem nenhum prejuízo. É importante destacar que não temos nenhum objetivo financeiro e que os resultados da pesquisa serão passados a vocês e só serão usados para comunicar outros pesquisadores e revistas científicas. Caso tenha alguma dúvida basta nos procurar no seguinte endereço e telefone: Laboratório de Homeopatia e Saúde Vegetal Epagri - Lages Rua João José Godinho, sn, bairro: Morro do Posto, Caixa Postal: 181 CEP 88502-970 / Fone: 049-32244400 ramal 225 Entrevistado: Sabendo sobre a pesquisa, do direito que tenho de não participar ou desistir dela sem prejuízo para mim e de como os resultados serão usados, eu concordo em participar desta pesquisa e autorizo o uso das informações por mim prestadas para a realização do trabalho. Nome completo do entrevistado:_______________________________________________ Ass: ____________________________ ____________________________ Entrevistado Entrevistador

__________________________________ Município, localidade e data

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ANEXO B – Guia de Campo para Levantamento Etnobotânico

Data: _________ Local:_______________________________________________________

1. Caracterização do informante e família:

Nome do informante: __________________________________________________________

Origem: _________________Etnia:_________________tempo na propriedade: ___________

Membros da Família:

Nome idade escolaridade sexo

2. Caracterização da propriedade e das atividades produtivas:

Tamanho da Propriedade: ___________

Atividades: (marcar as atividades e ressaltar com asterisco (*) a principal fonte de renda)

( ) Pecuária

( ) Agricultura comercial (produtos: ______________________________________________)

( ) Agricultura subsistência (produtos: ____________________________________________)

( )Reflorestamento

Histórico de uso da Terra: (informações sobre o uso, queimadas....)

3. Caracterização do uso dos Recursos Naturais:

Como é feito o planejamento do uso das áreas (campo, mato, lavouras. critérios de definição)?

Como são vistos os recursos florestais?

Como são vistos os recursos hídricos?

O que acha da construção das PCH’s na região?

Quais facilidades/dificuldades para explorar os recursos naturais (madeira, ervas, água)?

Qual a perspectiva de uso das espécies citadas? (manejo, autoconsumo, comercialização...)

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ANEXO B – Continuação

4. Plantas utilizadas:

Nome da planta: ________________________________ Auto consumo ( ) comercial ( )

Utilidade:_____________________________________________________________________

Parte utilizada:_________________________________________________________________

Época e forma de coleta:________________________________________________________

Forma de preparo e administração:________________________________________________

Conhece contra-indicação ou efeito indesejável para o uso da planta?

Forma de conservação/armazenamento:____________________________________________

Quem, como, quando lhe passou o conhecimento:____________________________________

Hábito:

( )herbácea ( ) subarbustiva ( )arbustiva ( ) arbórea ( )epífita ( )trepadeira

( )parasita

Época de florescimento:_________________________________________________________

Cor da flor:____________________________________________________________________

Época de frutificação: ___________________________________________________________

Cor e forma de fruto:____________________________________________________________

Animais e insetos associados:_____________________________________________________

Local de ocorrência: ( ) floresta ( )capoeira ( )clareira ( )campos ( )banhado ( )outro

Ciclo: ( ) anual ( )perene

Outras informações: